Arcano 14 – Temperança – Samekh

Significados simbólicos

A alquimia, a transmutação dos elementos.

Renovação da vida, influência celeste, circulação, adaptação.

Serenidade. Harmonia. Equilíbrio.

Interpretações usuais na cartomancia

Tolerância, paciência, praticidade, felicidade. Aceitação dos acontecimentos,

flexibilidade para adaptar-se às circunstâncias. Educação, trato social. Caráter elástico para enfrentar as transformações. Temperamento descuidado.

Mental: Espírito de conciliação, ausência de paixões no julgamento; dá o sentido profundo das coisas, como representante de um princípio eterno de moderação. Exclui a rigidez, o emperramento. Corresponde à flexibilidade e ao plástico.

Emocional: Os seres se reconhecem e se encontram por suas afinidades. Sob a influência desta carta são felizes, mas não evoluem e não conseguirão se livrar um do outro.

Físico: Conciliação nos negócios, atividades e empreendimentos. Pesam-se os prós e contras, encontra-se a maneira de estabelecer um compromisso, mas se ignora se o empreendimento será ou não coroado de êxito. Reflexão, decisão que não pode ser tomada de imediato.

Do ponto de vista da saúde: enfermidade difícil de curar, porque se alimenta de si mesma.

Sentido negativo: Desordens, discordâncias. Indiferença. Falta de personalidade, passividade. Inconstância, humor irregular, desequilíbrio. Tendência a se deixar levar pela corrente, submissão à moda e aos preconceitos. Resultados não conformes às aspirações. Derramamento, saída, fluxo involuntário. As coisas seguem o seu curso.

História e iconografia
A mulher que derrama líquido é uma alegoria muito comum durante a Idade Média para representar a virtude da temperança: supunha-se que misturava água no vinho para diminuir os seus efeitos. Curiosamente, a mesma imagem serviu durante os primeiros séculos do cristianismo para ilustrar o contrário: o milagre das bodas de Canaã, onde a mulher – por ordem de Jesus – vira a água que vai se transformar em vinho.

Com outros significados pode ser encontrada nos versos de Horácio: “O cântaro reterá por longo tempo o perfume que o encheu pela primeira vez”.

Mistura de anjo e mulher, A Temperança evocou sempre, para os investigadores do Tarô, o mito do hermafrodita. Tema recorrente e vastíssimo, por um de seus aspectos – que é o que aqui interessa – a androginia tem sido considerada desde tempos antigos como premonição feliz. Isto faz da Temperança uma carta amável, do ponto de vista adivinhatório, cuja presença alivia sempre a densidade do oráculo.

Arcano de reunião, e portanto de equilíbrio – a coniunctio oppositorum, em sua fase anterior à bissexualidade – onde o derramamento do líquido já foi interpretado como uma metáfora das transformações: a passagem do espiritual ao físico, do sentimento à razão.

Astrologicamente, não deixa dúvidas sobre sua filiação sagitariana, que guarda correspondência com o simbolismo de Indra, divindade hindu da purificação.

Wirth relaciona a androginia da Temperança ao elemento relacionado ao quinto ternário do Tarô, que provém da morte assexuada (XIII) e culmina no Diabo bissexual (XV). É preciso assinalar também sua localização como último termo do segundo setenário, que corresponde à Alma ou psique, plano da personalidade fluente, flexível e instável na natureza, relacionada às águas em quase todas as teofanias, assim como o Espírito é associado à luz (fogo, ar) e o Corpo à terra.

O tema do derramamento e dos vasos gêmeos e opostos dominam, por outro lado, as especulações sobre os prodígios terapêuticos. Neste aspecto, o Arcano XIIII é claramente o curador, o agente reparador e reconstituinte, aquele que verte a harmonia universal sobre o desequilíbrio individual. Como o Eremita, lembra os médicos, curandeiros e charlatães; mais ainda, lembra conselheiros, confessores e terapeutas.

Resta estabelecer uma leitura da Temperança no contexto do interminável simbolismo aquático, pois refere-se à matéria unívoca (o oceano primordial), à corrente circulatória que mantém a vida (chuva, seiva, leite, sangue, sêmen), à mãe (as águas como elemento pré-natal) e às imersões como rito de morte e ressurreição (batismo).

Por Constantino K. Riemma
http://www.clubedotaro.com.br/

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/arcano-14-temperan%C3%A7a-samekh

As Origens do Tarô

Tudo começou com o livro Tarô dos Boêmios (Paris, 1889) que seguramente é o primeiro na história do Tarot a abordar os arcanos, tanto sob a ótica da metafísica cabalística quanto dos jogos adivinhatórios numa única obra, pois os outros autores de sua época ou se reportavam a um ou a outro. O livro em questão foi escrito pelo médico espanhol, radicado na França, Gérard Anaclet Vincent Encausse (1865-1917), conhecido como Papus. Encontrei, com suas próprias palavras, toda sua vaidade e arrogância espiritual explicitada nas páginas 273/275 e depois no final da 309 da edição brasileira. Resumindo o conteúdo: Papus dizia que as mulheres eram todas burras o suficiente para não entenderem sua obra cheia de números, letras hebraicas e deduções abstratas, que pertencia aos homens da ciência, mas como era tradição delas jogarem cartas, ele escreveria algumas páginas para não se aborrecerem; esclarece às ignorantes leitoras que o homem tem a razão e a mulher a intuição. Pensei – Homens não jogavam cartas!? Por que ele exultou a cabala e desdenhou a cartomancia?

Tal fato foi uma luz no fim do túnel para começar o que desejava: entender um pouco do passado do Tarot. Como um detetive segui os passos de Papus para entender seu chovenismo; observei a bibliografia do Tarot dos Boêmios e percebi que de consistente e lógico sobre o estudo das cartas de Tarot, ele citava os autores de sua época até, no máximo, um século antes, precisamente, até 1775 sobre as idéias de Antoine Court de Gebelin. Comecei a ler algumas obras possíveis: Etteila (1787), Claude de Saint Martin (1790), Saint Yves d’Alveydre (1830), J.A.Vaillant (1850), Eliphas Lévi (1854), Estanislau Guaita (1886), Mac Gregor Mathers (1888), Piobb (1890), mas não cheguei a lugar nenhum porque observei que todos citavam uns aos outros e todos tinham como ponto de apoio Gebelin e Lévi. Até ai nenhuma novidade, pois todos os estudantes de Tarot já ouviram falar que eles escreveram uma vasta literatura sobre as origens do Tarot. Bem, então o melhor era começar pelo mais antigo.

Ao pesquisar Antoine Court de Gebelin (1725-1784) fiquei estarrecido com a descoberta que foi negligenciada, não sei se proposital, por ingenuidade ou falta de maiores informações dos ditos mestres ocultistas do século 19. Gebelin era filho do famoso pastor evangélico francês Antonie Court (1695-1760) que restaurou a Igreja reformada na França, fundou um importante seminário para a formação de pastores evangélicos, sendo um grande historiador de sua época. Gebelin seguiu os passos do pai, tornando-se um pastor e mais tarde, também influenciado pelo pai, interessou-se por mitologia, história e lingüística. Embora alguns livros o citem como ocultista, talvez, devido a sua obra sobre o Tarot, em sua biografia não encontrei qualquer referência a este respeito; em todo caso é mister esclarecer que ele não teve uma vida dedicada ao esoterismo. Tinha uma obsessão junto com o pai: descobrirem a língua primeva que dera origem a todas as outras e/ou explicaria as várias mitologias conhecidas; também acreditavam que esta língua seriam símbolos, talvez os hieróglifos egípcios.

Certo dia, como ele mesmo diz em sua obra (Le Mond Primitif…), inclusive citado no Tarot do Boêmios, página 231, foi convidado a conhecer um jogo de cartas que desconhecia e em menos de quinze minutos declarou ser um livro egípcio salvo das chamas, explicando, imediatamente, aos presentes, todas as alegorias das cartas. Escreveu, em sua obra, uma retórica do Tarot como sendo a chave dos símbolos da língua primeva e da mitologia; fez uma relação dos arcanos com as letras egípcias e hebraicas e, revelou que a tradução egípcia da palavra “tarot” é “tar” = caminho, estrada e “ot” = rei, real. Para tornar suas teorias pessoais mais contundentes, lançou mão de seu conhecimento em história, abordando a trajetória do Tarot (Tarot dos Boêmios, página 229 e 233), disse que ninguém antes dele desconfiou de sua ilustre origem porque as imagens eram muito comuns e por isso nenhum cientista dignou-se a estudá-las; também revelou que durante os primeiros séculos da Igreja os egípcios, que estavam muito próximos dos romanos (Era Copta, conversão absoluta do Egito ao Cristianismo – 313 a 631 d.C.), ensinaram-lhes o culto de Ísis e os jogos de cartas de seu cerimonial; assim, o jogo de Tarot ficou limitado à Itália e Alemanha (Santo Império Romano); posteriormente, chegou ao sul da França (Provença, Avignon, Marselha) e, ainda desconhecido, no norte (Paris, Lion).

A primeira vez que li sobre essa história, não atentei ao fato de que numa simples olhadela Gebelin descobre ser o Tarot um livro egípcio, que fora ensinado aos romanos pelos próprios egípcios e que ninguém antes dele sabia a respeito – se aceitarmos esta tese como verdadeira, como é possível os romanos (católicos) aprenderem uma devoção (culto de Ísis) considerada pagã aos moldes da época, passando de geração a geração durante mais de 1.500 anos (de 313 a 1775), incólume pela própria Santa Inquisição (1230/1834), sendo disseminada nas regiões que ele cita e absolutamente ninguém escreve ou fala nada a respeito de sua origem egípcia? Então, onde estaria a tradição egípcia do Tarot tão exultada pelos seus conterrâneos posteriores? No período por ele citado, a Itália teve renomados ocultistas, alquimistas, astrólogos, magistas, historiadores, filósofos, arqueólogos, enciclopedistas, todos formadores de opinião e de grande saber – o hermetismo, a gnose e a cabala eram amplamente disseminados -, e Gebelin chama-os de incapazes de observar o que ele, em sua enorme sapiência evangélica, descobriu literalmente em quinze minutos! Observe que Gebelin NÃO descobriu tal fato (a origem egípcia do Tarot) em algum livro perdido no tempo, em algum documento antigo, em alguma ordem esotérica ou revelado por alguma entidade espiritual! Então, tudo o que falamos a respeito da origem egípcia do Tarot surgiu numa simples visita a uma cartomante, numa tarde de sábado, que nem ela e nem a Europa sabiam nada a respeito? Eu me questionava.

Gebelin ficou rico e famoso com suas obras e, a partir de então, o Tarot se tornou uma febre parisiense, todos queriam aprender o jogo egípcio; as ciganas que eram considerados, na época, de origem egípcia, embarcaram na onda e começaram a ler cartas! Ele publicou um Tarot junto com sua obra, mas não se tem notícias de que tenha jogado ou ensinado, pois não se preocupou com jogos ou métodos em seu livro, somente com o Tarot enquanto revelação da escrita egípcia e com os símbolos das cartas como sendo a chave da mitologia. Bem, Gebelin sempre fora uma pessoa respeitada muito antes de falar sobre as origens do Tarot, era filho de um famoso pastor evangélico, historiador reconhecido e amigo pessoal de Benjamim Franklin (!). Com certeza merecia créditos; eu daria, se vivesse naquela época. Tenho que esclarecer mais um fato: Gebelin não escreveu Le Mond Primitif… para o ocultismo, foi em função de sua vaidade em buscar a mesma fama de seu pai que toda a sua obra é voltada em esclarecer a mitologia egípcia e romana e não propriamente o Tarot; embora os ocultistas o citem como tal depois de sua morte, ele era acima de tudo um evangélico! Suas obras e idéias percorreram o mundo da ciência, todos os arqueólogos queriam falar com ele, pois era uma febre francesa descobrir as chaves dos hieróglifos egípcios. Nenhum ocultista esteve com ele ou o citou em alguma obra até alguns anos após sua morte; somente uma pessoa que se tem notícia o procurou em vida para conversar sobre a origem egípcia e fins adivinhatórios: o francês Etteila, anagrama de seu verdadeiro nome Aliette.

Não encontrei muitas referências sobre a vida de Etteila, nome completo ou datas pessoais, além do que está exposto nas obras dos ocultistas do século 19; diziam que ele era um peruqueiro da corte francesa, professor de álgebra, amigo íntimo de Mlle Lenormand (famosa cartomante de Napoleão) e de Julia Orsini (outra famosa cartomante francesa) – não se tem notícias de que tivesse pertencido a alguma ordem ou fraternidade oculta; em todas as suas referências é tido como charlatão. Lévi e Papus revelam que ele se apropriou para benefício próprio das idéias da origem egípcia, da relação das letras hebraicas e egípcias feitas por Gebelin, criando seu próprio Tarot corrigido, compilando as obras de suas amigas, escrevendo onze livros. Instalou-se num dos mais luxuosos hotéis de Paris, Hotel de Crillon, e começou a atender e ensinar a nata parisiense! Voilá, cherry! Gebelin e Etteila devem ter falecido ricos e felizes; um sob a visão da fama científica e o outro do misticismo.

Vamos sair do contexto ocultista e voltar aos historiadores e arqueólogos que devem ter acreditado na figura respeitada, aos olhos parisienses, de Antoine Court de Gebelin, até que Jean-François Champollion (1790-1832) decifrasse os hieróglifos através da Pedra de Roseta. Champollion publicou em 1822 a relação legítima do alfabeto egípcio e seus fonemas; este trabalho lhe rendeu o disputado cargo de curador do departamento egípcio do Museu do Louvre, em Paris, em 1826. Após sua morte, foi publicado, em 1835, seu mais precioso trabalho onde revela toda a gramática e literatura egípcia jamais revelada em toda a história desde o seu desaparecimento na Era Copta. Descobre-se que tudo o que Gebelin escrevera a respeito do Tarot como língua primeva e codificação dos hieróglifos egípcios estava errado, em nada se sustentava perante as verdadeiras revelações da história do Egito – não existe a palavra tarot na língua egípcia (!), muito menos o que supostamente Gebelin disse ter traduzido (!); também, tudo o que ele decifrara de alguns hieróglifos estava absolutamente errado (!) – esta é a parte negligenciada pelos ocultistas, bem como a forma inconsistente da revelação de que precisou de quinze minutos para descobrir a própria origem das cartas de Tarot – Porque? Eu me perguntava frequentemente.

As respostas começaram a surgir quando reli as obras de Eliphas Lévi (1810-1875), pseudônimo de Alphonse Louis Constant, tido como padre por se instalar por algum tempo na ordem franciscana, em Paris, para ter acesso à vasta biblioteca sobre a cabala cristã, mas não era um padre oficializado na Igreja Católica Apostólica Romana, como se pressupõe – a roupa faz o monge, já diz o ditado popular. Um fato incontestável foi que Gebelin e Etteila mexeram com o imaginário popular e, consequentemente, dos esotéricos, pois fica muito claro nas obras de todos os ocultistas do final do século 18 e início do 19 que no âmbito tradicional do universo das ciências ocultas nunca se analisou ou questionou o Tarot – são palavras do próprio Gebelin e de todos posteriores a ele, sem exceção; este é sem dúvida um dos dados mais importantes a serem analisados no que tange à tão exultada expressão “tradição do Tarot”, pois tradição não é algo que se extingue e depois reparece.

Lévi, em seu primeiro livro (1854), Dogma e Ritual, páginas 405 a 421, e no segundo, História da Magia, páginas 76 e 242 a 252, execra as obras e a conduta de Etteila, contesta a origem egípcia de Gebelin e repudia a palavra tar=caminho e ot=real. Vai mais além, introduz o conceito de que Moisés escondeu nos símbolos do Tarot a verdadeira cabala e depois ensinou aos egípcios o jogo de carta; também, pela primeira vez, um ocultista, em toda a história da magia, faz uma acalentada tese de associações das letras hebraicas com os arcanos e diz que a palavra tarot é análoga a palavra sagrada IHVH ( h w h y ), sendo também uma variação das palavras Rota / Ot-tara / Hathor / Ator / Tora / Astaroth / Tika. Assim como no livro de Papus, numa segunda leitura, também encontrei críticas às mulheres na obra de Lévi, um pouco mais cruéis eu diria – desdenha Mlle Lenormand chamando-a de gorda, feia, ininteligível e louca, e duas outras cartomantes, Madame Bouche e Krudener, de prostitutas (coquetes ou Salomé à época) – História da Magia, paginas 346 e 347. Reparei que tanto Lévi quanto Papus condenavam as práticas femininas de cartomancia, achavam que elas usurpavam o poder do homem na ciência oculta… Indagava-me, por quê?

Bem, encontrei duas passagens em seu livro História da Magia, páginas 78 e 251, e uma no Dogma e Ritual, página 420, que me deixaram muito intrigado; pareceu-me que ele sabia da verdade sobre o passado do Tarot, mas não sei se foi por ingenuidade ou se proposital, preferiu não dar importância. Primeiro, ele diz que o Tarot mais antigo que se conhece é o Tarot de Gringonneur (1392) e que a Biblioteca Imperial tem uma vasta coleção de todas as épocas; segundo, ele contesta a origem dos ciganos revelada na obra de J.A.Vaillant – Les Rômes, historie vraie des vrais Bohémiens, 1853; a mesma obra que Papus faria sua apologia do Tarot mais tarde -; Vaillant diz que os ciganos eram egípcios e entraram na Europa no início do século 15, chegando à Paris em agosto de 1427; e Levi diz que ele estava errado pois os ciganos são originários da Índia, fato revelado historicamente à época. Temos três verdades absolutas: os ciganos são indianos, entraram no início do século 15, depois do surgimento do Tarot no fim do século 14. Surgem minhas questões: por que Lévi não questionou o porquê de tanto tempo sem que nenhum renomado ocultista falasse a respeito, visto que as cartas eram amplamente conhecidas? Por que Papus insistiu na idéia de que os ciganos eram egípcios, se já era de conhecimento publico sua origem indiana? Por que todos sustentaram a história egípcia de Gebelin, tanto na tradução da palavra Tarot quanto em sua origem, visto que, com a descoberta de Champollion, nada se descobriu em pergaminhos e papiros que as amparassem?

Antes de continuar é importante salientar que TODOS os conceitos que Lévi descreve sobre o Tarot NÃO são dele, pois Gebelin já havia feito a equiparação das letras hebraicas e o ocultista Claude de Saint Martin (1743-1803) publicou em 1792, na obra Table Natural du Rapports…, o restante que Lévi descreve para o Tarot; se você tiver paciência irá reparar em todos os escritos de Lévi que Saint Martin é constantemente citado. Outro dado impressionante, que também não havia percebido na primeira vez, é que absolutamente tudo o que Lévi e Papus escrevem sobre a cabala e os sistemas ritualísticos, podem ser encontrados nos seguintes livros da mesma época: Magus de Frances Barret (1801), A língua hebraica restituída de Fabre D`Olivet (1825) e A ciência cabalística de Lenan (1825). Vamos observar que da mesma forma que Gebelin, Lévi não se baseou em nenhum escrito antigo, lenda ou fraternidade oculta para estabelecer sua relação entre a cabala e o Tarot, foi a partir das idéias do próprio Gebelin e Saint Martin. Portanto, assim como Gebelin inventou a história egípcia, Lévi inventou a história hebraica, pois não há registros de nenhum ocultista – cabalista, magista, alquimista, gnóstico, hermetista – fraternidade ou ordem mística que tenha comentado, escrito ou usado o Tarot antes das obras deles. Para se entender o passado do Tarot ou o que escreveram sobre ele é mister observar os dados históricos; a crença e o misticismo pessoal, neste caso, somente levará à equívocos e discussões inúteis.

Contudo, verdade seja dita sobre as obras de Éliphas Lévi com relação aos textos de magia, cabala e filosofia: são perfeitos e maravilhosos; o que estou manifestando é a relação histórica do Tarot e a forma que entrou no ocultismo. A esta altura já tinha uma noção bem razoável que nem Gebelin e nem Lévi possuíam, ou seja, nada que sustentasse de forma verossímil o passado do Tarot como encontramos nas outras ciências: alquimia, hermetismo, astrologia, numerologia, i ching, magia, cabala. Está absolutamente claro o círculo vicioso de informações, um compilando do outro; talvez eles estivessem disputando quem seria o “pai da criança”. Mas tudo tem seu lado positivo, o interesse dos ocultistas pelo Tarot cresceu e, cada um ao seu modo contribuiu para a exploração inesgotável dos arcanos. Tudo é válido no âmbito de sua exploração simbólica, mas a consciência de seu surgimento é um passo importante para o seu futuro.

Eliphas Levi, por ter uma linguagem metafísica muito eloqüente e por sua dissertação dos conceitos cabalísticos em associação ao Tarot, chamou a atenção dos ocultistas ingleses, principalmente, Mac Gregor Mathers (1854-1918). Mac Gregor adota o sistema cabalístico de Lévi, mas faz correções segundo seu entendimento pessoal para aplicar, pela primeira vez na história da magia, o Tarot como forma de meditação e monografia para atingir os degraus de uma ordem esotérica: a Golden Dawn, 1888; esta fraternidade mudaria por completo a visão do Tarot no mundo (!) através de seus dissidentes no início do século 20 – Arthur Waite, Carl Zain, Israel Regardie, Aliester Crowley. No mesmo ano da fundação dessa ordem, ele lança um livro, The Tarot, its occult signification, com base no trabalho de Lévi, Guaita, Etteila, Gebelin, acrescentando correções que achou necessárias sobre a relação da cabala com o Tarot.

Voltemos a Papus – depois de estudar os autores citados até o momento, reli o Tarot dos Boêmios (já era a quinta vez!) e finalmente descobri que o livro é uma fonte arqueológica do Tarot! Tudo está absolutamente lá, só não vê quem não quer! Em cada título de seu livro há subtítulos se referindo a todos os demais. Dentre as obras de Tarot que ele possuía em sua biblioteca, Gebelin era o autor mais antigo e Mac Gregor o mais atual em sua época! Então, vamos observar a principal cadeia viciosa sobre as origens do Tarot: Gebelin (1775) – Etteila (1783) – Saint Martin (1792) – Vaillant (1853) – Lévi (1854) – Christian (1854) – d´Alveydre (1884) – Guaita (1886) – Mathers (1888) – Barlet (1889) – Papus (1889) e ponto final! Um se baseou no outro, cada qual colocou sua teoria, fez suas próprias correções e ninguém questionou nada – ingenuidade, manipulação, arrogância, vaidade, eloquência? Não saberia responder. A verdade dói, em mim também doeu. Eles tatearam no escuro para falarem sobre o Tarot; uma realidade bem cruel é que eles não sabiam absolutamente nada sobre o Tarot e suas origens, mas uma coisa eu achei interessante: por mais que fizessem a retórica cabalística e a verborréia para provar seus pontos de vistas, as explicações práticas sobre os jogos do Tarot terminavam nas cartilhas de Etteila e das cartomantes. Por que? Eu continuava a me indagar. Sinceramente, independente das falhas históricas grotescas que estou questionando em suas obras, eu os indicaria como os patronos do Tarot – Gebelin, Etteila, Lévi, Mac Gregor e Papus; foi graças a estes cinco personagens que o Tarot é o que é atualmente.

A esta altura, sentia-me como um órfão, abandonado de pai e mãe! Eu estava quase jogando para o alto minhas convicções de que o Tarot era sagrado, intocável pelo tempo, guardado a sete chaves por homens eruditos e que escondia toda ciência antiga; mas eu podia estar errado, eu queria acreditar em seu aspecto intocável pela profanidade! A forma como chegou a pseudo história egípcia, cigana ou hebraica do Tarot aos nossos ouvidos eu já havia descoberto: a idéia de Antonie Court de Gebelin foi ampliada por Etteila, Lévi e Mac Gregor; Papus fez uma amalgama de todos; chegou ao século 20 através das mãos dos dissidentes da Golden Dawn, que mantiveram as mesmas histórias, também acrescentando outras, todos corrigindo as imagens do Tarot, todos querendo os louros da vitória, e assim por diante… Mas e antes? Estaria, o Tarot, numa arca sagrada aos pés dos guardiões da verdade? Sendo escondido, noite após noite, do famigerado Santo Ofício?…

Durante anos bisbilhotei várias obras, referências históricas, museus, bibliotecas – tudo está detalhado em meu livro -, fiz uma mapa do tempo de tudo o que havia sobre o Tarot. Confesso que ri muito quando comecei a ver os verdadeiros fatos. É uma pena o século 19 ter sido desprovido do telefone, fax, computador, e-mail, internet, avião, pois não estaríamos dois séculos atrasados nos estudos do Tarot, inventando histórias e distorcendo a potencialidade do uso dos arcanos! Os dados históricos destronam qualquer idéia mais romântica a respeito do Tarot, mas em nada invalidam seu potencial; para continuar este manifesto do futuro do Tarot, vamos separar o que é o Tarot do que querem que o Tarot seja!

Minhas convicções sobre a “tradição” do Tarot começaram a ruir quando eu descobri que entre 1583 e 1811 na Espanha, e entre 1769 e 1832 em Portugal, houve estatais na produção de cartas de Tarot, produziam em média 250.000 pacotes por mês para consumo interno e envio para suas colônias ao redor do mundo! Para jogar adivinhação com o Tarot!? Não, para jogos lúdicos! Sim, o Tarot é usado até os dias atuais na Europa como uma jogatina, principalmente, na França, onde há campeonatos anuais; eu mesmo, já tive a oportunidade de observar um em 1998, em Avignon. O ofício de artesão de Tarot era uma profissão (!) em toda a Europa desde 1455 até o fim do século 19! As cartas pintadas à mão (valiosíssimas) constavam do espólio de famílias nobres, com clérigos! O Tarot teve altas tributações ficais em todos os países desde o século 16 até o início do século 20 – uma particularidade que achei fantástica (para acabar de vez com meu misticismo com o Tarot) foi que em 1751, o rei da França, Luiz XV, ordenou que todas as taxas provenientes do Tarot de todo território fosse para o fundo monetário da Academia Militar! E mais: os primeiros registros oficiais de cartomancia datam por volta de 1540 !!!!!

– Meu Deus!… Onde estava a Santa Inquisição que todos dizem ter persiguido o Tarot? Dormindo? O arcano 15, O Diabo, que possivelmente condenaria o Tarot aos olhos da Igreja, sempre esteve presente em todas as mesas da Europa, desde as primeiras cartas que se tem notícia no final do século 14 até os dias atuais! Como as cartomantes passaram incólumes pela fogueira? Por que Gebelin disse desconhecer as cartas de Tarot se havia alta produção de cartas em Paris e por toda Europa? Por que nenhum ocultista renomado da Europa anterior a Gebelin nunca prestou atenção na cartomancia ou nos símbolos das cartas? Por que??? Por que o Tarot não fazia parte do círculo ocultista?

Por fim soube que o Tarot não se chamava Tarot (!) e nem as cartas se chamavam de arcanos (!). – Onde está a tão exultada tradição milenar dita por Lévi e Papus sobre o nome “Tarot”? Foi a última coisa que me lembro perguntar sobre o passado do Tarot, antes de aterrissar meus pés no chão e ver que o Tarot ainda é um bebê se comparado à astrologia, numerologia, cabala, sem nenhum passado extraordinário… Os primeiros registros datam por volta de 1370/90, o que denominamos de Tarot era chamado de Ludus Cartarum (cartas lúdicas) ou Naibis; depois, por volta de 1440/1500, passou a se chamar Trunfos (mais usual à epoca), Tarocco ou Tarochino; por volta de 1550/1600 de Trunfos do Tarocco na Itália e Trunfos do Tarot na França, também outras variações chamadas de Minchiatte ou Florentino; somente por volta de 1850/1900 surge o termo Arcano do Tarot; e no século 20 cada país passa a nacionalizar a palavra: Tarocco (Itália); Taroc (países germânicos); Tarok (leste europeu); Tarot (língua portuguesa) e Tarot (na maioria dos países). Observe os espaços de datas, não são meses, são em média de um século. Imagine seu eu lhe dissesse que você iria casar daqui a cem anos? Sim, esse é o tempo de uma nominação para outra! Uma média de um século! Cadê a tradição? Onde está a base histórica de Gebelin e de todos os outros que o seguiram? A palavra “tarot” surge na França por volta de 1590/95 nos estatutos da Associação de Fabricantes de Cartas Parisienses!

As descobertas subsequentes não me aborreceram mais, muito pelo contrário: comecei a vibrar por ter certeza de que absolutamente ninguém sabe nada além do que está escrito (de certo ou errado) nos livros! Não tive nenhum trauma quando procurei referências dos grandes ocultistas renomados, formadores de opiniões, cátedras das ciências ocultas, e não encontrei nada que tivessem dito sobre o Tarot ou algo que se assemelhasse a ele. Para dizer a verdade, encontrei somente um único ocultista sem grande expressão que fez uma referência aos quatro elementos em relação ao Tarot – Guilleume de Postel (1510-1581) -, mas ninguém deu ouvidos a sua teoria até Lévi e Papus fazerem sua apologia do passado longínquo do Tarot e citá-lo como destaque. Em 400 anos de existência do Tarot, desde os primeiros registros oficiais até a história egípcia de Gebelin (~1370/~1770), somente uma única pessoa fez referências esotéricas!? Este fato corrobora ainda mais o desinteresse pela classe ocultista dos séculos 14 ao 18 pelo Tarot e sua cartomancia.

Porém, encontrei algo surpreendente fora dos círculos esotéricos sobre as cartas do Tarot: crônicas questionando o que seriam aquelas imagens enigmáticas, poesias líricas, óperas, romances, murais, quadros, uma vasta expressão artística a partir do século 15; assim, as cartas do Tarot estavam inseridas no contexto social, sendo conhecidas por todos! Repito: um fato muito curioso é que as cartilhas sobre a taromancia começaram a surgir por volta de 1530-50 e o Tarot começou a ser visto também como algo para predizer a sorte e o futuro. Por que nenhum renomado ocultista sequer comentou sobre isso – Basílio Valentin (1398-1450), Picco della Mirandola (1463-1494), Paracelso (1493-1541), Cornelius Agrippa (1486-1535), John Dee (1527-1608) -, principalmente, Robert Fludd (1574-1637) e Jacob Boehme (1575-1624) que resumiram todos os oráculos de sua época? Os aspectos de jogos lúdicos e adivinhatórios andaram lado a lado e, estes, paralelos com a astrologia, numerologia, cabala, mitologia, hermetismo, alquimia, magia até se juntarem nas obras de Gebelin, Levi. Mac Gregor e Papus. Outro dado curioso que percebi: somente mulheres jogavam o Tarot (ditas cartomantes)!… Comecei a pensar sobre a sociedade até o final do século 19 – era patriarcal e misógina! Será que houve uma descrença no sistema de cartas por causa do contexto feminino? Ou será que pelo fato do Tarot expressar símbolos comuns de sua época não teria nenhum valor ocultista? Neste caso, eu acredito que foram ambos os fatores!

Lembram como comecei minha pesquisa que durou dez anos (1987/97)? Sim, voltemos ao cavalo de Tróia: Gebelin, Lévi e Papus; eles me forneceram as peças de todo o quebra-cabeça. A partir da bizarra história egípcia sobre o Tarot criada por Gebelin, os ocultistas viram uma possibilidade de abarcarem as técnicas de cartomancia, sem caírem no ridículo de usarem “uma arte feminina nos vôos da imaginação”, como disse Papus, ou usaram a arte das “loucas e coquetes”, segundo Lévi. Como? Fizeram uma retórica metafísica impossível delas compreenderem – se reparar na história do ocultismo, da magia, da cabala e da alquimia observará que não há uma única mulher (eram todas consideradas bruxas, ignorantes e maldosas!) que anteceda a Helena Blavatsky (1831-1891)! Ela foi muito “macho” em peitar todos os ocultistas eruditos. Assim, não foi difícil começarem a estudar uma arte feminina, que estava ao lado de todos eles por tantos séculos, mas que nunca ousaram tocar por puro preconceito machista. Os homens (ocultistas eruditos ou não) sempre tiveram a mulher como burra e incapaz, um ser inferior; como eles iriam admitir que o poder feminino descobriria uma arte oracular que somente pertenciam às sábias mentes masculinas?

Afinal, nada melhor do que a imaginação e a intuição feminina para descobrir o significado simbólico das cartas ao invés da razão e da lógica dos eruditos que necessitavam de fórmulas complicadas para tudo. Para mim ficou muito claro o porquê da ausência do estudo do Tarot entre os renomados ocultistas até o século 18 e, principalmente, o porquê de tanto escárnio nas obras de Lévi e Papus sobre as cartomantes ou, no caso de Etteila, um homem que se atreveu a jogar cartas como elas, denegrindo a imagem do “macho esotérico que conjura demônios”… Coisas do século passado… Hoje, homens e mulheres jogam o Tarot; mas você deve ter percebido que ainda temos uma resistência em aceitar os jogos adivinhatórios e tentamos sempre lucubrá-lo com a mais alta metafísica – talvez seja o ranço herdado das obras de Levi, Papus, Mac Gregor e seus dissidentes.

Vamos falar a verdade? Não conheço um só estudante de Tarot, em qualquer lugar do mundo, que se diga “cabalista da tradição em busca do sagrado”, ou que diga “o Tarot é uma arte do autoconhecimento”, que não esteja diariamente se profanando, jogando o Tarot, querendo saber dos acontecimentos e das causas! Vamos ser honestos? No fundo todos querem aprender a abrir o Tarot como qualquer cartomante antiga! Pode falar que é orientação, autoconhecimento, espiritualidade, tradição, não importa, no fundo terminamos onde Etteila começou; aliás, aperfeiçoamos primorosamente as suas cartilhas e de todas as cartomantes! Assim como os ocultistas do século 19, também estamos nos escondendo atrás dos estudos da cabala, mitologia, astrologia, psicologia, para encontrarmos a dignidade e o direito de jogarmos cartas! Estaremos nos enganando, complicando uma arte que poderia ser simples?

Embora o Tarot fosse conhecido e utilizado há séculos na Itália, Alemanha, Suíça, Espanha e França, foi precisamente em Paris que ele criou sua própria luz espiritual, tanto no surgimento de seu nome (tarot), quanto em sua centrifugação com o ocultismo; observe que todos os autores que descrevemos são franceses e publicaram suas obras na Cidade Luz. Bem, no início do século 20, principalmente, depois da 1º Guerra Mundial, tudo mudou para a imagem feminina: elas conquistaram o direito de trabalhar, de votar, de viver sozinha, escolher sua família e, finalmente, começaram a desenhar o Tarot… ôps, esqueci de dizer, somente homens podiam ser artesãos de Tarot até o início do século 20. A primeira mulher a pintar um Tarot foi Pamela Smith que desenhou o Rider-Waite Tarot, publicado em 1910… Hoje elas tomam seu lugar glorioso no pódio das sibilas e pitonisas parisienses, italianas, americanas, espanholas, brasileiras… Avante mulheres tomem as rédeas do Tarot: ele pertence a vocês – agora posso usar a palavra – por tradição!

Quem sabe, talvez, se tivéssemos a humildade e a dignidade de admitir que o Tarot opera perfeitamente no mundo oracular e divino, mas não existe todo esse passado magnífico, mágico e tradicional que nos imputam ou em que queremos acreditar; ou ainda melhor, aceitar uma verdade tão clara e evidente: ele é um oráculo recente, jovem, aberto à exploração, ávido por uma estruturação, que nasceu há poucos séculos e depende de nós preservá-lo, estudá-lo, tomando o devido cuidado em não deformar seus símbolos por puro egocentrismo e perder essa arte maravilhosa, esse alfabeto mágico, que casualmente foi descoberto! Também por quem foi descoberto não saberemos, como não saberemos nada além do que existe de real e concreto a respeito dele; se os verdadeiros homens eruditos que se debruçavam na maravilhosa arte alquímica e hermética ou de toda espécie de filosofia oculta não sabiam, ou não procuraram saber e investigar as cartas do Tarot, nós que perdemos o elo simbólico e a visão filosófico-espiritual do mundo iremos descobrir? Nós que nos baseamos em todo o manancial de cultura simbólica desses eruditos medievais e renascentistas, que não revelaram nada, iremos desvendar? A resposta é um sonoro NÃO; o restante será apenas conjecturas insólitas e inverossímeis. O Tarot é como uma criança que precisa ser alimentada e educada, senão poderá se perder durante sua vida com tantos Tarots corrigidos que surgem e tantas informações desencontradas.

Em todo caso é compreensível o fato dos antigos ocultistas não aceitarem o Tarot no âmbito esotérico, não pelo seu aspecto de pertencer às mulheres, mas pela falta de conhecimento do conceito de “arquétipo” – padrão de comportamento que é intrínseco na vida humana, desenvolvido na metade do século 20! Hoje observamos o símbolo e não propriamente a imagem desenhada, tentamos nos transportar além de sua figura para atingir um sentido de significações. Assim, o Tarot se tornou um conjunto de modelo comportamental humano, adapta-se a qualquer sistema que se queira trabalhar ou estudar. Talvez algum iluminado, um sábio ocultista, realmente o tenha criado, pois sua estrutura não deixa dúvidas de que há elementos bem significativos de toda ciência oculta, porém acredito que não tenha sido inventado para a finalidade que utilizamos atualmente… Coisas do destino… Também observe que se aceitarmos a associação do Tarot-cabala que Levi desenvolveu, o sistema desenvolvido por Mac Gregor ou Waite estarão errados; se aceitarmos o sistema cabalístico de Crowley, o de Mac Gregor, Waite e Levi estarão errados; se aceitarmos o de Mac Gregor e Waite, o de Levi e Crowley, também, estarão errados – o mesmo ocorre com os trabalhos de Juliet S.Burk (mitologia grega), Clive Barret (mitologia nórdica), Falconnier (mitologia egípica), Anna Franklin (mitologia céltica), que se negam um ao outro em analogias! -. Quem está com a razão? Todos! Qualquer sistema se adapta ao Tarot porque ele é um conjunto arquetípico! Isto é que faz o Tarot tão rico em sua expressão e, talvez, confuso à primeira vista.

Tenho lutado para que todos desenvolvam uma elaboração estrutural do Tarot, sem ego pessoal ou assimilação de outras doutrinas, que escrevam ou conceituam mais do que apenas desenhar “seu próprio Tarot”, porque fica evidente sua deformação simbólica à medida que todos querem ter a “revelação mágica dos símbolos”; mas para tal, não podemos nos negar nada, nem que seja o absurdo de começarmos do nada, de inutilizarmos tudo, fazermos uma deliciosa fogueira exorcizando todo devaneio romântico do que foi aprendido sobre os arcanos e recomeçarmos fortes, verdadeiros, rumo a análises confiáveis e livres de dogmas pessoais. Se não partirmos da premissa básica que é o reconhecimento de seu verdadeiro passado, seja ele bom ou mau, mundano ou divino, falso ou real, lazer ou oracular, não será possível termos certeza do que temos nas mãos, nem a convicção do que poderemos fazer com o Tarot. Sei que formulei mais questionamentos, deixei muito mais perguntas do que evidenciei respostas. Também vamos ser práticos, as respostas do passado não existem, somente as do futuro: como vamos estruturar e conceituar definitivamente seus arcanos e, assim, garantir a continuidade do Tarot para futuras gerações?

Notas Importantes

1) Desenhe o Tarot que desejar, expresse sua criatividade, mas nunca deforme sua fonte original simbólica, nominativa, quantitativa e os atributos essenciais de cada carta;

2) Ao consultar tarot escreva e associe o Tarot com qualquer coisa em nosso universo, mas nunca se esqueça de que é do Tarot que está falando ou explicando – sempre deixe essa “outra associação” em segundo plano;

3) Tenha mais consciência do Tarot enquanto significado de seus arcanos e não do significado da cabala, astrologia, mitologia, numerologia, pois cada uma destas ciências tem sua própria história, estrutura e utilização; todas as associações feitas até hoje ainda são discutíveis;

4) Vamos descobrir novas estruturas, explicações e análises para o Tarot, de uma forma mais pura, mais direta, menos abstrata, como ocorre na astrologia ou numerologia: longe dos devaneios místicos;

5) Esqueça do passado tradicional do Tarot, ele não existe; pense em seu futuro!  O tarot on line e o tarot virtual são apenas um rascunho do que está por vir.

6) Diga não a tudo o que não comporte a significação dos 78 arcanos.

7) Tarot é Tarot.

Por Nei Naiff

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alta-magia/as-origens-do-taro/

Arcano 11 – Justiça – Lamed

Uma mulher, sentada num trono, tem em sua mão direita uma espada desembainhada com a ponta virada para cima, e na esquerda uma balança com os pratos em equilíbrio. A mão que segura a balança encontra-se à altura do coração.

Este personagem, que é visto de frente, está vestido com uma túnica cujo panejamento sugere uma mandorla (como a do arcano 21 – O Mundo), espaço de conciliação das polaridades.

Não se vêem os pés da mulher nem a cadeira propriamente dita. Aparece, em compensação, com toda nitidez, o espaldar do trono: as esferas que o arrematam estão talhadas de maneira diferente.

Significados simbólicos

Justiça, equilíbrio, ordem.

Capacidade de julgamento.

Conciliação entre o ideal e o possível. Harmonia. Objetividade, regularidade, método.

Balança, avaliação, atração e repulsão, vida e temor, promessa e ameaça.

Interpretações usuais na cartomancia

Estabilidade, ordem, persistência, normalidade. Lei, disciplina, lógica, coordenação. Flexibilidade, adaptação às necessidades. Opiniões moderadas. Razão, sentido prático. Administração, economia. Obediência.

Soluções boas e justas; equilíbrio, correção, abandono de velhos hábitos.

Mental: Clareza de juízo. Conselhos que permitem avaliar com justeza. Autoridade para apreciar cada coisa no momento oportuno.

Emocional: Aridez, secura, consideração estrita do que se diz, possibilidade de cortar os vínculos afetivos, divórcio, separação. Este arcano representa um princípio de rigor.

Físico: Processo, reabilitação, prestação de contas. Equilíbrio de saúde, mas com tendência a problemas decorrentes de excessos (obesidade, apoplexia), devido à imobilidade da carta.

Sentido negativo: Perda. Injustiça. Condenação injusta, processo com castigo. Grande desordem, perigo de ser vítima de vigaristas. Aburguesamento.

História e iconografia
A representação da Justiça como uma mulher com balança e espada (ou livro) data provavelmente de um período remoto da arte romana.

Durante a primeira parte da Idade Média, espada e balança passaram a ser atributos do Arcanjo Miguel, comumente designado por Micael ou São Miguel, que parece ter herdado as funções do Osíris subterrâneo, o pesador de almas.

Mais tarde estes elementos passam para as mãos da impassível dama, da qual há figurações relativamente antigas na arte medieval: um alto-relevo da catedral de Bamberg, datado de 1237, a representa deste modo. Pelo que parece, a iconografia do Arcano VIII seguiu com bastante fidelidade a tradição artística.

A espada e a balança são, para Aristóteles, os elementos representativos da justiça: a primeira porque se refere à sua capacidade distributiva; a segunda, à sua missão equilibradora. Ao contrário das alegorias inspiradas na Têmis grega, a Justiça do Tarô não tem venda sobre os olhos.

É comum relacionar este arcano ao signo zodiacal de Libra. Ele representa, como aquele, nem tanto a justiça exterior ou a legalidade social, mas sim a função interior justiceira que põe em movimento todo um processo psíquico (ou psicossomático) para determinar o castigo do culpado, partindo já da idéia de que “a culpa não é, em si, diferente do castigo”.

Também se atribui à balança uma função distributiva entre bem e mal, e a expressão do princípio de equilíbrio. A espada, por sua vez, representa a sentença, a decisão psíquica, a palavra de Deus.

Na divisão do Tarô em três setenários, a ordem que Wirth estabelece é descendente, correspondendo aos arcanos I-VII a esfera ativa do Espírito; aos VIII-XIV, a esfera intermediária, anímica; aos arcanos XVI-XXI, a esfera passiva do Corpo.

O segundo setenário – que se inicia com a Justiça – corresponde à Alma ou ao aspecto psicológico da individualidade.

“O primeiro termo de um setenário – diz Wirth – desempenha necessariamente um papel gerador. Assim, o espírito emana da Causa Primeira (O Prestidigitador), a alma procede do Arcano VIII, e o corpo, do XV (O Diabo)”.

Examinado do ponto de vista dos ternários, a Justiça (8), ocupa o segundo termo do terceiro ternário, sendo precedida pelo Carro (7), que cumpre aí a função geradora, enquanto ela, a Justiça, passa a exercer a função de organizadora.

Por Constantino K. Riemma
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@MDD – O Tarot de Marselha troca a numeração da Justiça (11) com a Força (8). De acordo com a Kabbalah, o caminho de Lamed / Libra, que conecta Tiferet a Geburah, é o correto para o Arcano do tarot da Justiça.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/arcano-11-justi%C3%A7a-lamed

Arcano 9 – Eremita – Yod

Um homem, de pé, tem na mão esquerda um bastão que lhe serve de apoio, enquanto que com a direita levanta uma lanterna até a altura do rosto. Está representado de três quartos, com o rosto voltado para a esquerda. Veste uma grande túnica e um manto azul com o forro amarelo. Seu capucho, caído sobre as costas, parece continuar a túnica e é arrematado por uma borla amarela.

A lâmpada, aparentemente hexagonal, tem apenas três de seus lados visíveis, sendo o central vermelho e os restantes amarelos.

O fundo da gravura é incolor, e o chão de um amarelo estriado de listas negras, muito semelhante ao reverso do manto.

Significados simbólicos

O Iniciado, o buscador incansável. Sabedoria, iluminação, estudo, autoconhecimento

Meditação, recolhimento, saber desligar-se. Reavaliação da vida e dos objetivos.

Concentração, silêncio. Profundidade.

Prudência. Reserva. Limites. Influência saturnina.

Interpretações usuais na cartomancia

Austeridade, moderação, sobriedade, discrição. Médico experiente, sábio que cala seus segredos. Celibato. Castidade.

Mental: Contribuição luminosa à resolução de qualquer problema. Esclarecimento que chegará de modo espontâneo.

Emocional: Alcançar as soluções. Coordenação, encontro de afinidades. Significa também prudência, não por temor, mas para melhor construir.

Físico: Segredo descoberto, luz que se fará sobre projetos até agora ocultos. Na saúde: conhecimento do estado real, consultas que podem remediar os problemas.

Sentido negativo: Obscuridade, concepção falsa de uma situação. Dificuldades para nadar contra a corrente. Timidez, isolamento, depressão, recusa de relações.

Mutismo, circunspecção exagerada, isolamento, caráter fechado. Avareza, pobreza. Conspirador tenebroso.

História e iconografia

O Ermitão é, sem dúvida, um dos arcanos menos alegóricos do Tarô. A imagem de um peregrino em hábito de monge, transportando um cajado, pode ser encontrado em dezenas de iluminuras em manuscritos dos séculos XV e XVI. O único detalhe que o afasta desta monotonia é a lâmpada que leva na mão direita: por ela imagina-se que seja uma ilustração da conhecida história de Diógenes em busca de um homem. Esse relato foi muito popular na alta Idade Média e no Renascimento e, de fato, vários modelos renascentistas do Tarô chamam o Arcano VIIII de Diógenes.

Alguns estudiosos acreditam que boa parte do simbolismo do Ermitão liga-se aos princípios fundamentais desse filósofo cínico: desprezo pelas convenções e vaidades, isolamento, renúncia à transmissão pública do conhecimento.

Mas este mutável personagem teve ainda outras representações: no tarocchino de Bolonha, aparece com muletas e asas; no de Carlos VI, tem uma ampulheta no lugar da lâmpada (o que o associa a Cronos ou Saturno, medidores do tempo).

Outra interpretação surge ainda do aparente erro ortográfico que se pode ver no Tarô de Marselha, onde a carta figura como L’Hermite em lugar de L’Ermite. Etimologicamente, o nome não derivaria então do grego eremites, eremos = deserto, mas provavelmente de Hermes e seu polivalente simbolismo. A esse respeito, podemos lembrar que é precisamente a Thot, equivalente egípcio de Hermes, que Gébelin e seus seguidores atribuem a invenção do Tarô.

Wirth explica os atributos do Eremita como termo final do terceiro ternário do Tarô, relacionando-o com os arcanos VII e VIII, que o precedem nesse ternário. Nessa relação, O Carro aparece como o homem jovem e impaciente para realizar a obra do progresso, que A Justiça se encarrega de retardar, amiga como é da ordem e pouco amante das improvisações; O Ermitão seria o conciliador deste antagonismo, evitando tanto a precipitação quanto a imobilidade.

Costuma-se interpretar também o seu significado como oposto e complementar ao do Arcano V (O Pontífice): o Eremita não é o codificador da liturgia, o responsável executivo de uma igreja, o pastor de um rebanho: seu pontificado é silencioso e sutil, seus discípulos são escolhidos. Na relação iniciática, é evidente que representa o “guru” e por isso foi definido como “o artesão secreto do futuro”.

No sentido negativo, o Arcano VIIII não é apenas a carta dos taciturnos; por sua minuciosidade e ritualismo, refere-se também aos temperamentos obsessivos.

Por Constantino K. Riemma
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Entrevistas e Palestras de Maio/2020

Bate-Papo Mayhem 013 – Com Karla Souza – O Oráculo das Sibilas: Baralho Lenormand, cartas ciganas e a história da cartomancia
https://youtu.be/UhnSnkj07zA

Bate-Papo Mayhem 014 – Com Leo Lousada – As Sete Leis Herméticas
https://youtu.be/ThaLzNy8RZ4

Bate-Papo Mayhem 015 – Com Roberto Caldeira – A história marginal do tarot no Brasil, o lado nada glamouroso do esoterismo.
https://youtu.be/i5pGNo5WDEk

Bate-Papo Mayhem 016 – Com Roe Klukiewicz – A Iconografia dos Santos na História da Arte
https://youtu.be/86wf5xL1Rgk

Bate-Papo Mayhem #017 – Com Peu Lamaraum – Faz o que tu queres é o todo da Lei; a História da Thelema
https://youtu.be/0qRO2Ry35Dk

Bate-Papo Mayhem #018 – Com Rodrigo Grola – A História do Hermetic Kabbalah Tarot; como estudar as correlações herméticas e o tarot.
https://youtu.be/GFvwJ0VUFww

Bate-Papo Mayhem #019 – Com Danilo Cocenzo – Tai Chi, Chi Kung, Kung Fu – Paralelos entre treino de Artes Marciais e Estudo do Hermetismo.
https://youtu.be/t_c7Cs40gnI

Bate-Papo Mayhem #020 – Alexandre Nascimento e Eduardo Regis – A história da Golden Dawn (Ordem Hermética da Aurora Dourada).
https://youtu.be/1In5PXbTsVU

Bate-Papo Mayhem #021 – Com Leonardo Tremeschim – Lendas, Mitos e Folclores e suas relações com a cultura de cada tempo e lugar.
https://youtu.be/sovachDMJXo

Bate-Papo Mayhem #022 – Com Cussa Mitre – A ponte Bifrost: Runas Futhark, Mitologia Nórdica, Oráculos, Talismãs e Magia Rúnica.
https://youtu.be/PPvK050qTDM

Bate-Papo Mayhem #023 – Com Ingrid Grundig – Velas, encruzilhadas e bailes funk: Um passeio pela Quimbanda do Rio de Janeiro.
https://youtu.be/zWG1igKY7qI

Bate-Papo Mayhem #024 – Com Tiago Mazzon – Sincronicidades, Coincidências e casualidades: O oráculo do Xamã Urbano.
https://youtu.be/SIBcCCkoLns

#Batepapo

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Arcano 7 – Carro – Chet

Dois cavalos arrastam uma espécie de caixa, montada sobre duas rodas e coberta por um dossel, onde se encontra um homem coroado, que traz um cetro em sua mão direita. Na parte frontal do carro (a única visível), em boa parte dos tarôs clássicos, há um escudo com duas letras, que variam com as editoras das lâminas.

Mais do que de cavalos, poderíamos falar de dois corpos dianteiros, fundidos ao carro. Os dois animais olham para a esquerda, mas a sua disposição é tal que parecem andar cada um para o seu lado. O cavalo da esquerda levanta a pata direita, e o da direita, a pata esquerda. O dossel repousa sobre quatro colunas.

O homem, que tem uma coroa do tipo das de marquês, tem a mão esquerda sobre um cinto amarelo, na altura da cintura, e na mão direita traz um cetro que termina por um ornamento esférico encimado por um cone. O peito do personagem está coberto por uma couraça. Cada um dos seus ombros está protegido por uma meia-lua, com rostos de expressão diferente.

Os cabelos do personagem são amarelos, e seu olhar dirige-se ligeiramente para a esquerda, no mesmo sentido que o de seus cavalos.

Cinco plantas brotam do solo. Não aparecem rédeas ou qualquer outro meio de guiar o carro.

Significados simbólicos
Contemplação ativa, repouso. Vitória, triunfo.

O setenário sagrado, a realeza, o sacerdócio.

Magistério. Superioridade. Realização.

Interpretações usuais na cartomancias
Êxito legítimo, avanço merecido. Talento, dons, capacidade, aptidões postas em marcha. Tato para governar, diplomacia, direção competente.

Conciliação dos antagonismos, condução de forças divergentes. Progresso, mobilidade, viagens por terra.

Mental: As coisas se realizam, mas falta ainda montar as peças de conjunto.

Emocional: Afeto manifestado; protetor, serviçal.

Físico: Grande atividade, rapidez nas ações. Boa saúde, força, atividade intensa. Do ponto de vista do dinheiro: gastos ou ganhos, movimento de fundos.

Significa também notícia inesperada, conquista. Pode ser interpretado também como difusão da obra ou atividades do consulente através de palavras e, segundo sua localização na tiragem, significa elogios ou calúnias.

Sentido negativo: Ambições injustificadas, vanglória, megalomania. Falta de talento e de consideração. Governo ilegítimo, situação usurpada, ditadura. Oportunismo perigoso. Preocupações, cansaço, atividade febril e sem repouso. Perda de controle.

História e iconografia
O desfile dos heróis triunfantes de pé sobre seus carros de guerra é um costume pelo menos tão antigo quanto os próprios carros de guerra. Court de Gébelin – e com ele os que acreditam numa origem egípcia do Tarô – imagina que o Arcano VII nada mais é que a reapresentação do Osíris triunfal, e que os cavalos são uma herança vulgar da Esfinge.

Mais coerente, contudo, é relacioná-lo às apoteoses lendárias que comoveram a Idade Média, época em que se localiza sua iconografia.

Pode também lembrar um conto do ciclo mítico de Alexandre, o Grande, amplamente reproduzido desde a Antiguidade até o Renascimento.

Levado até o Oriente pela sucessão de seus triunfos, Alexandre teria chegado até o fim do mundo. Quis então saber se era verdade que a Terra e o Céu se tocavam num ponto comum. Para isto seduziu com ardis – é preciso recordar que a astúcia é também prerrogativa dos heróis – dois pássaros gigantes que existiam na região; prendeu-os e acomodou entre eles uma cesta.

Com uma lança na mão, em cujo extremo havia atravessado um pedaço de carne de cavalo, o conquistador subiu ao seu carro improvisado. Com a promessa de comida que oscilava ante seus olhos, os Grifos começaram a mover-se e alçaram vôo. Os heróis não podem, contudo, sobrepor-se aos deuses: na metade do caminho

Alexandre recebeu um emissário dos deuses, um enfurecido Homem Pássaro que insistiu para que ele desistisse de seu projeto. Muito a contragosto, Alexandre aceitou a censura e atirou a lança para a Terra, para onde desceram os Grifos, impacientes e vorazes.

Essa lenda, nascida certamente no Oriente, foi introduzida na Europa no fim do século II. Estendeu-se em seguida por todo o Ocidente cristão e era conhecida desde a baixa Idade Média. Numerosas ilustrações e várias esculturas que a representam chegaram até nós. A Crônica Mundial, de Rudolph von Ems (século XIII) a reproduz em uma detalhada miniatura; em São Marcos de Veneza está o relevo talvez mais significativo para rastrear as fontes inspiradoras do Arcano VII: a cesta de Alexandre é ali uma caixa semelhante à de O Carro; aparecem também as rodas esboçadas.

Durante a Idade Média, a arte dos imagiers parece ter-se servido desta lenda como uma alegoria do orgulho.

Por sua amplitude simbólica e pela beleza da sua composição, O Carro figura entre os arcanos de maior prestígio do Tarô. É, também, um dos que oferecem maiores lacunas de interpretação.

Relacionado em princípio com Zain (sétima letra do alfabeto hebreu, que corresponde ao nosso Z), denuncia uma mobilidade e inquietude que tem a ver com todo deslocamento ou ação ziguezagueante, veloz.

Há autores que relacionam as rodas do Carro aos torvelinhos de fogo da visão de Ezequiel.

Quando se traduz a lâmina pela palavra carro – protótipo dos sistemas de troca – representa o que é móvel, transferível, interpretável. Nesse caso, seu aspecto oracular é associado às mudanças provocadas pela palavra: elogios, calúnias, difusão da obra, boas ou más notícias; e, por extensão, aos sistemas de intercâmbio em geral (economian movimento de fundos).

Aponta-se aqui a questão das relações entre esta mobilidade e o dinamismo mercurial do Prestidigitador, já que esses arcanos se encontram no início e no fechamento do primeiro setenário do Tarô.

Talvez esta analogia possa ser levada mais longe, e não parece impossível que a figura toda seja uma ilustração desta passagem bíblica. Em Ezequiel (I, 4-28), com efeito, aparecem não só as rodas, o carro e os animais, mas também “sobre o trono, no alto, uma figura semelhante a um homem que se erguia sobre ele. E o que dele aparecia, da cintura para cima, era como o fulgor de um metal resplandecente”, o que é uma descrição bastante aproximada do personagem do Arcano VII. Nessa mesma passagem podem-se encontrar também analogias válidas para o simbolismo geral do Arcano XXI (O Mundo).

Há quem veja ainda, nos animais presos, uma anfisbena (serpente de duas cabeças), ou poderes antagônicos que é necessário subjugar para prosseguir – “como no caduceu se equilibram as duas serpentes contrárias”. O veículo representaria o simbolismo do Antimônio (ou a Alma Intelectual dos alquimistas), mencionado como Currus Triumphalis num tratado de Basílio Valentin (Amsterdã, 1671).

A totalidade do arcano sugere, para Wirth, a idéia do corpo sutil da alma, graças ao qual o espírito pode se manifestar no campo do material. Esta idéia de um halo ou dupla transubstancial que não pode ser relacionada a nenhum dos três aspectos do homem (corpo –> alma –> espírito), mas que tende a relacioná-los entre si, gozou de um vasto prestígio esotérico: é o corpo sideral de Paracelso (ou astral, na linguagem teosófica), como também o “corpo aromático”, de Fourier, ou o Kama rupa do budismo soteriológico.

Finalmente, permanece em aberto a explicação para as letras inscritas no escudo: S e M (no Tarô da editora Grimaud). Alguns supõem que se referem a Sua Majestade; outros, que falam dos dois princípios alquímicos, Sulfur e Mercurius). Não é este o único ponto obscuro do arcano que Éliphas Lévy chamou “o mais belo e mais completo de todos que compõem a chave do Tarô”.

Por Constantino K. Riemma
http://www.clubedotaro.com.br/

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/arcano-7-carro-chet

Arcano 6 – Zain – Os Enamorados

Um homem, entre duas mulheres, é visado por uma flecha que parece pronta para ser disparada por um anjo, Cupido, à frente de um disco solar. O homem, no centro do grupo, olha para a mulher da esquerda. Ele tem cabelos louros, as pernas descobertas, e sua vestimenta é uma túnica de listas verticais, com mangas e um cinto amarelo. Vê-se apenas uma das suas mãos, a direita, à altura do cinto.

A mulher da direita, com os cabelos louros soltos sobre os ombros, tem um rosto jovem, fino. A mão esquerda está pousada sobre o peito do homem, enquanto a direita aponta para baixo, de modo que os braços estão cruzados.

A outra mulher, a da esquerda, está representada de costas, mas o rosto aparece de perfil. Tem cabelos que escapam livremente de um curioso chapéu. Dirige a mão direita para a terra e pousa a esquerda sobre o ombro do jovem.

O anjo, de cabelos louros e asas azuis, segura uma flecha branca com uma das mãos enquanto com a outra segura um arco da mesma cor.

Do disco solar surgem 24 raios pontiagudos, um dos quais é superposto pela asa do anjo.

Significados simbólicos

Sentimento. Livre arbítrio. Maioridade. Prova. Escolha.

Encadeamento, enredo, abraço, luta, antagonismo, combinação, equilíbrio.

Matrimônio, ligação, união. Integração de ambos os sexos ao poder gerador do universo.

Interpretações usuais na cartomancia

Decisão voluntária, eleição. Votos, aspirações, desejos. Exame, deliberações, responsabilidades. Afetos.

Mental: Amor pelas belas formas e pelas artes plásticas.

Emocional: Dedicação e sacrifícios.

Físico: Os desejos, o amor, o sacrifício pela pátria ou pelos ideais sociais, assim como todos os sentimentos manifestados fortemente no plano físico.

É a carta da união e do matrimônio. Representa para os consulentes de ambos os sexos, também, a infidelidade; em certos casos, a iminência de uma escolha a ser realizada.

Sentido negativo: Ruptura, separação, corte, desordem. Divórcio. Prova a ser suportada. Dúvida, falta de resolução. Tentação perigosa, risco de ser seduzido. Má conduta, libertinagem. Debilidade, falta de heroísmo.

Infidelidade, maus relacionamentos, indecisão e impotência.

História e iconografia

Em vasos e quadros da época romana, encontra-se com freqüência a imagem de um casal de namorados ante uma terceira pessoa ou elemento (em geral um Cupido).

O Arcano VI parece referir-se de forma alegórica a uma idéia diferente: a famosa parábola de Hércules na encruzilhada entre a Virtude e o Vicio, tal como conta Xenofonte nas suas lembranças de Sócrates. É bem provável que esta parábola – e suas variantes, como a de Luciano, o Jovem, disputado pela Arte e pela Ciência, entre as mais conhecidas – tenha sido popular na Idade Média, visto que é citada por vários autores dessa época (Cícero, no Tratado dos Deveres; São Basílio, no seu Discurso aos Jovens).

A idéia fundamental deste tema – ou seja, a necessidade de escolha entre dois caminhos – encontra-se igualmente em muitas imagens cristãs. Pode-se citar como exemplo uma miniatura bizantina do século X, onde Davi está representado entre duas mulheres que simbolizam a Sabedoria e a Profecia: a pomba que pousa sobre a cabeça do rei lembra em muito o Cupido do Arcano VI.

A antiguidade desta parábola é indiscutível, mesmo que as suas representações gráficas mais remotas não tenham chegado até nos. Na vida de Apolônio de Tiana, narrada por Filostrates no final do século II, há uma curiosa passagem em que um sábio egípcio diz a Apolônio:

Davi, entre a Sabedoria e a Profecia

“Tu conheces, nos livros de imagens, a representação de Hércules em que ele, jovem, ainda não escolheu o seu caminho. O Vício e a Virtude o rodeiam, tentam atraí-lo, cada um o quer para si…”

É preciso remontar mais uma vez aos pitagóricos para encontrar o simbolismo gráfico do tema, representado entre eles pela letra Y, emblema da escolha vital que todo homem realiza no final da infância.

O traço da metade inferior da letra Y representaria precisamente a infância, isenta de vícios ou virtudes; os braços que partem da bifurcação da letra representariam cada uma dessas tendências, enquanto que o ponto onde a bifurcação se produz seria o momento exato em que a puberdade se manifesta.

É comum encontrar nos manuscritos medievais esta referência à letra Y: “bifurcação, ou letra de Pitágoras”. Não é casual, assim, que alguns desenhos modernos do Tarô mencionem esta lâmina como A Dúvida ou A Prova.

Esse mesmo significado é mencionado no Antigo Testamento – no Deuteronômio, no primeiro dos Salmos, e mais explicitamente ainda em Jeremias. A idéia não reaparece no Novo Testamento, mas sim no começo dos Ensinamentos dos Doze Apóstolos, texto não canônico, presumivelmente composto por volta do século II: “Dois são os caminhos; um leva à Vida e outro à Morte”.

Uma interpretação totalmente diferente vê nessa estampa o ato do compromisso matrimonial dos noivos diante do sacerdote. Alguns dos célebres pintores renascentistas – Rafael, Perugino – deram testemunho dessa cerimônia na vida da Virgem.

Wirth vê no Enamorado a primeira fase individual da trajetória iniciática, quando o homem terminou a sua formação, mas não começou ainda o seu trabalho.

Outra vertente de interpretação menciona o simbolismo sexual do “senário”, partindo do sentido literal do nome da Carta.

“Entre os pitagóricos – disse Clemente de Alexandria – o seis é um numero sexual, chamando-se por esta razão O Matrimônio”.

Nas analogias geométricas, o Enamorado se identifica ao selo de Salomão, ou seja, tem claro vínculo com cópula dos triângulos entrelaçados.

Do ponto do vista psicológico, é sem dúvida a metáfora mais transparente do caminho para a identidade, que só se realiza no conflito e no intercâmbio com o mundo e com os outros.

Por Constantino K. Riemma
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Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/arcano-6-zain-os-enamorados

Arcano 7 – Chet – Carro

Dois cavalos arrastam uma espécie de caixa, montada sobre duas rodas e coberta por um dossel, onde se encontra um homem coroado, que traz um cetro em sua mão direita. Na parte frontal do carro (a única visível), em boa parte dos tarôs clássicos, há um escudo com duas letras, que variam com as editoras das lâminas.

Mais do que de cavalos, poderíamos falar de dois corpos dianteiros, fundidos ao carro. Os dois animais olham para a esquerda, mas a sua disposição é tal que parecem andar cada um para o seu lado. O cavalo da esquerda levanta a pata direita, e o da direita, a pata esquerda. O dossel repousa sobre quatro colunas.

O homem, que tem uma coroa do tipo das de marquês, tem a mão esquerda sobre um cinto amarelo, na altura da cintura, e na mão direita traz um cetro que termina por um ornamento esférico encimado por um cone. O peito do personagem está coberto por uma couraça. Cada um dos seus ombros está protegido por uma meia-lua, com rostos de expressão diferente.

Os cabelos do personagem são amarelos, e seu olhar dirige-se ligeiramente para a esquerda, no mesmo sentido que o de seus cavalos.

Cinco plantas brotam do solo. Não aparecem rédeas ou qualquer outro meio de guiar o carro.

Significados simbólicos

Contemplação ativa, repouso. Vitória, triunfo.

O setenário sagrado, a realeza, o sacerdócio.

Magistério. Superioridade. Realização.

Interpretações usuais na cartomancias

Êxito legítimo, avanço merecido. Talento, dons, capacidade, aptidões postas em marcha. Tato para governar, diplomacia, direção competente.

Conciliação dos antagonismos, condução de forças divergentes. Progresso, mobilidade, viagens por terra.

Mental: As coisas se realizam, mas falta ainda montar as peças de conjunto.

Emocional: Afeto manifestado; protetor, serviçal.

Físico: Grande atividade, rapidez nas ações. Boa saúde, força, atividade intensa. Do ponto de vista do dinheiro: gastos ou ganhos, movimento de fundos.

Significa também notícia inesperada, conquista. Pode ser interpretado também como difusão da obra ou atividades do consulente através de palavras e, segundo sua localização na tiragem, significa elogios ou calúnias.

Sentido negativo: Ambições injustificadas, vanglória, megalomania. Falta de talento e de consideração. Governo ilegítimo, situação usurpada, ditadura. Oportunismo perigoso. Preocupações, cansaço, atividade febril e sem repouso. Perda de controle.

História e iconografia

O desfile dos heróis triunfantes de pé sobre seus carros de guerra é um costume pelo menos tão antigo quanto os próprios carros de guerra. Court de Gébelin – e com ele os que acreditam numa origem egípcia do Tarô – imagina que o Arcano VII nada mais é que a reapresentação do Osíris triunfal, e que os cavalos são uma herança vulgar da Esfinge.

Mais coerente, contudo, é relacioná-lo às apoteoses lendárias que comoveram a Idade Média, época em que se localiza sua iconografia.

Pode também lembrar um conto do ciclo mítico de Alexandre, o Grande, amplamente reproduzido desde a Antiguidade até o Renascimento.

Levado até o Oriente pela sucessão de seus triunfos, Alexandre teria chegado até o fim do mundo. Quis então saber se era verdade que a Terra e o Céu se tocavam num ponto comum. Para isto seduziu com ardis – é preciso recordar que a astúcia é também prerrogativa dos heróis – dois pássaros gigantes que existiam na região; prendeu-os e acomodou entre eles uma cesta.

Com uma lança na mão, em cujo extremo havia atravessado um pedaço de carne de cavalo, o conquistador subiu ao seu carro improvisado. Com a promessa de comida que oscilava ante seus olhos, os Grifos começaram a mover-se e alçaram vôo. Os heróis não podem, contudo, sobrepor-se aos deuses: na metade do caminho Alexandre recebeu um emissário dos deuses, um enfurecido Homem Pássaro que insistiu para que ele desistisse de seu projeto. Muito a contragosto, Alexandre aceitou a censura e atirou a lança para a Terra, para onde desceram os Grifos, impacientes e vorazes.

Essa lenda, nascida certamente no Oriente, foi introduzida na Europa no fim do século II. Estendeu-se em seguida por todo o Ocidente cristão e era conhecida desde a baixa Idade Média. Numerosas ilustrações e várias esculturas que a representam chegaram até nós. A Crônica Mundial, de Rudolph von Ems (século XIII) a reproduz em uma detalhada miniatura; em São Marcos de Veneza está o relevo talvez mais significativo para rastrear as fontes inspiradoras do Arcano VII: a cesta de Alexandre é ali uma caixa semelhante à de O Carro; aparecem também as rodas esboçadas.

Durante a Idade Média, a arte dos imagiers parece ter-se servido desta lenda como uma alegoria do orgulho.

Por sua amplitude simbólica e pela beleza da sua composição, O Carro figura entre os arcanos de maior prestígio do Tarô. É, também, um dos que oferecem maiores lacunas de interpretação.

Relacionado em princípio com Zain (sétima letra do alfabeto hebreu, que corresponde ao nosso Z), denuncia uma mobilidade e inquietude que tem a ver com todo deslocamento ou ação ziguezagueante, veloz.

Há autores que relacionam as rodas do Carro aos torvelinhos de fogo da visão de Ezequiel.

Quando se traduz a lâmina pela palavra carro – protótipo dos sistemas de troca – representa o que é móvel, transferível, interpretável. Nesse caso, seu aspecto oracular é associado às mudanças provocadas pela palavra: elogios, calúnias, difusão da obra, boas ou más notícias; e, por extensão, aos sistemas de intercâmbio em geral (economian movimento de fundos).

Aponta-se aqui a questão das relações entre esta mobilidade e o dinamismo mercurial do Prestidigitador, já que esses arcanos se encontram no início e no fechamento do primeiro setenário do Tarô.

Talvez esta analogia possa ser levada mais longe, e não parece impossível que a figura toda seja uma ilustração desta passagem bíblica. Em Ezequiel (I, 4-28), com efeito, aparecem não só as rodas, o carro e os animais, mas também “sobre o trono, no alto, uma figura semelhante a um homem que se erguia sobre ele. E o que dele aparecia, da cintura para cima, era como o fulgor de um metal resplandecente”, o que é uma descrição bastante aproximada do personagem do Arcano VII. Nessa mesma passagem podem-se encontrar também analogias válidas para o simbolismo geral do Arcano XXI (O Mundo).

Há quem veja ainda, nos animais presos, uma anfisbena (serpente de duas cabeças), ou poderes antagônicos que é necessário subjugar para prosseguir – “como no caduceu se equilibram as duas serpentes contrárias”. O veículo representaria o simbolismo do Antimônio (ou a Alma Intelectual dos alquimistas), mencionado como Currus Triumphalis num tratado de Basílio Valentin (Amsterdã, 1671).

A totalidade do arcano sugere, para Wirth, a idéia do corpo sutil da alma, graças ao qual o espírito pode se manifestar no campo do material. Esta idéia de um halo ou dupla transubstancial que não pode ser relacionada a nenhum dos três aspectos do homem (corpo –> alma –> espírito), mas que tende a relacioná-los entre si, gozou de um vasto prestígio esotérico: é o corpo sideral de Paracelso (ou astral, na linguagem teosófica), como também o “corpo aromático”, de Fourier, ou o Kama rupa do budismo soteriológico.

Finalmente, permanece em aberto a explicação para as letras inscritas no escudo: S e M (no Tarô da editora Grimaud). Alguns supõem que se referem a Sua Majestade; outros, que falam dos dois princípios alquímicos, Sulfur e Mercurius). Não é este o único ponto obscuro do arcano que Éliphas Lévy chamou “o mais belo e mais completo de todos que compõem a chave do Tarô”.

Por Constantino K. Riemma
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Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/arcano-7-chet-carro

Arcano 1 – O Mago – Beth

O título francês desta carta, Le Bateleur, pode ser traduzido também como Prestidigitador, Malabarista, Pelotiqueiro, Bufão, Acrobata ou Cômico. O termo Prestidigitador talvez fosse o mais adequado ao simbolismo dinâmico do personagem, mas é comum que seu nome seja traduzido do inglês Magician, Mágico ou Mago.

Um prestidigitador, de pé, frente à mesa onde coloca os seus instrumentos, segura uma esfera ou um disco amarelo entre o polegar e o indicador da mão direita, enquanto com a mão esquerda aponta obliquamente para o chão uma vareta curta.

O personagem é representado de frente, com o rosto voltado para a esquerda. [Nas referências aos protagonistas de cada carta, será considerada sempre a esquerda e a direita do leitor]. Usa um chapéu cuja forma lembra o símbolo algébrico de infinito e seus cabelos, em cachos louros, escapam desse curioso chapéu. Veste uma túnica multicolorida, presa por um cinto amarelo.

Sobre a mesa, da qual se vêem apenas três pernas, há diversos objetos: copos, pequenos discos amontoados, dados, uma bolsa e uma faca com a lâmina descoberta ao lado de sua bainha.

O prestidigitador está só, no meio de uma campina árida com três tufos de erva; no horizonte, entre as pernas da figura, uma árvore se desenha contra o céu incolor.

Significados simbólicos
Arcano da relação entre o esforço pessoal e a realidade espiritual. Domínio, poder, auto-realização, capacidade, impulso criador, atenção, concentração sem esforço, espontaneidade.

O ser, o espírito, o homem ou Deus; o espírito que se pode compreender; a unidade geradora dos números, a substância primordial. Ponto de partida. Causa primeira. Influência mercuriana.

Interpretações usuais na cartomancia
Destreza, habilidade, finura, diplomacia, eloqüência, capacidade para convencer, espírito alerta, inteligência rápida, homem inquieto nas suas atividades e negócios.

Mental: Facilidade de combinar as coisas, apropriação inteligente dos elementos e dos temas que se apresentam ao espírito.

Emocional: Psicologia materialista; tende para a busca das sensações, do vigor, da qualidade criativa. Generosidade unida a cortesia. Fecundidade em todos os sentidos.

Físico: Muita vitalidade e poder sobre as enfermidades de ordem mental ou nervosa, neuroses e obsessões. Esta Carta indica uma tendência favorável para questões de saúde, mas não assegura a cura. Para conhecer o diagnóstico é necessário considerar outras cartas.

Sentido negativo: Charlatão persuasivo, sugestivo, ilusionista, intrigante, politiqueiro, impostor, mentiroso, explorador de inocentes. Agitação vã, ausência de escrúpulos. Discussões, brigas que podem se tornar violentas, dado o vigor do personagem. Mau uso do poder, orientação defeituosa na ação, operações inoportunas. Tendência à dispersão nas ações, falta de unidade nos processos e atividades. Duvida. Indecisão. Incerteza frente aos acontecimentos.

História e iconografia
Desde a antiguidade clássica são bem conhecidos esses personagens que ganhavam a vida com suas habilidades. Seu ofício se combinava freqüentemente com a dança e o charlatanismo – passavam o seu tempo a vagabundear pelas feiras.

Não há muitas marcas literárias de sua passagem pela cultura européia, mas, em compensação, foi um personagem de prestígio nas artes gráficas desde os primeiros tempos. As gravações medievais costumam mostrá-lo no desempenho de suas mágicas frente a um grupo de espectadores absortos.

O Tarô suprime as testemunhas e acrescenta detalhes originais (a mesa de três pernas, a posição das pernas e dos braços do protagonista, entre outros), mas o seu parentesco com os registros sobre as feiras é evidente.

Pode-se acrescentar que, no mundo islâmico, o Prestidigitador foi também um personagem de vasta popularidade.

Num sentido mais geral, o Prestidigitador é símbolo da atividade originária e do poder criador existente no homem. Como ponto de partida do Tarô, é também o primeiro passo iniciático, a vontade básica no caminho para a sabedoria, a matéria primordial dos alquimistas, o barro paradisíaco do qual será obtido o Adão Kadmon.

“Se o mundo visível não passa de ilusão – pergunta-se Oswald Wirth – o seu criador não será o ilusionista por excelência?”

Neste plano, o Prestidigitador identifica-se com a materialidade do ser criado, até que o demiurgo e a criatura tornam-se o mesmo: certamente há aqui um sentido psicológico, para o qual a identidade é produto da experiência pessoal (o homem é o resultado das suas próprias ações). Desta maneira, pode-se interpretar a supressão da quarta perna da mesa como representativa do ternário humano no mundo (espírito-psique-corpo).

Uma das especulações em torno do personagem do Arcano I pode ser estabelecida a partir da sua atividade intensa, de seu dinamismo sem repouso (produto de seu caráter de intermediário entre o sensível e o virtual), atributo que o relaciona de modo estreito ao simbolismo de Mercúrio.

Nesse sentido, a vareta que traz na mão esquerda seria a simplificação do caduceu, assim como seu estranho chapéu corresponde quase exatamente ao capacete alado da divindade. Seu nome grego significaria “intérprete, mediador”, o que confirmaria essa hipótese.

Muito já se estudou sobre o papel fundamental desempenhado por Hermes Trimegisto na história do ocultismo; os alquimistas desenvolveram boa parte de suas sutis investigações em torno do simbolismo de Mercúrio; não é absurdo, portanto, supor que o Tarô tenha sido colocado sob sua invocação.

O arcano do Mago é também relacionado ao Aleph, do alfabeto hebraico, e pode ser associado à idéia de princípio e também ao primeiro som articulável ( a ) que, segundo a tradição “expressa a força, a causa, a atividade, o poder” e seria o paradigma do homem em sua relação com as demais criaturas.

Por Constantino K. Riemma
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@MDD – Este último parágrafo está errado. A associação entre Mago e aleph foi feita por Eliphas Levi em seu livro “Rituais e Dogmas da Alta Magia” onde ele associou o arcano à letra porque a posição dos braços do mago lembra o desenho da letra, mas ao estudarmos a Kabbalah, vemos claramente que o Mago conecta Binah a Keter, sendo, portanto, representado pela letra Beth.

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RPG na Câmara dos Vereadores de São Paulo

Pela primeira vez na história, a Câmara Municipal de São Paulo, representada pelo Vereador Adolfo Quintas e em parceria com a Oscip O Caminho, abriu as portas para abordar o tema a respeito do fanatismo religioso e os preconceitos com o trabalhador esotérico. Temas relacionados : intolerância religiosa e o desenvolvimento do

Fanatismo religioso, Terapias alternativas, Tarot, Vampirismo, perseguição a cosplayers e RPGistas, ataques a obras literárias, arte e religião foram abordados. Participaram do Debate o Prof. Roberto Caldeira, o Engenheiro Serg Rios, o escritor Lord A, a terapeuta Silvana Martins e o arquiteto Marcelo Del Debbio. O vereador Adolfo Quintas abraçou o conteúdo do Debate, deixando sua agenda aberta para os participantes na elaboração dos projetos que contribuem para melhorar a qualidade de vida.

Pela primeira vez tivemos a oportunidade de relatar as perseguições que os jogos de Role-Playing Games sofrem nas mãos dos fanáticos religiosos, esclarecer os ataques estereotipados da mídia e relatar os diversos problemas que jogos como Dungeons & Dragons, Vampiro, Arkanun e outros tiveram em conflitos com o fanatismo religioso.

#RPG

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