Só a Compaixão é Terapêutica

Somente a compaixão é terapêutica, porque tudo o que é doença no homem é causado pela falta de amor. Tudo o que está errado com o homem, está de alguma forma associado ao amor. Ele não tem sido capaz de amar ou ele não tem sido capaz de receber amor. Ele não tem sido capaz de compartilhar o seu ser. Essa é a miséria. Isso cria toda sorte de complexos internamente.

Aquelas feridas internas podem vir à superfície de várias maneiras: elas podem se tornar doenças do físico e doenças mentais, mas no fundo o que o homem sofre é de falta de amor. Assim como o alimento é necessário para o corpo, o amor é necessário para a alma. O corpo não consegue sobreviver sem alimento e a alma não consegue sobreviver sem o amor. Na verdade, sem o amor a alma nunca nasce e nem há essa questão de sua sobrevivência.

Você simplesmente pensa que tem uma alma. Você acredita que você tem uma alma devido ao seu medo da morte. Mas você não a conheceu a não ser que você tenha amado. Somente no amor a pessoa vem a sentir que ela é mais do que o corpo, mais do que a mente.

É por isso que eu digo que a compaixão é terapêutica. O que é compaixão? Compaixão é a forma mais pura de amor. No sexo, o contato é basicamente físico, na compaixão o contato é basicamente espiritual. No amor, compaixão e sexo estão misturados. O amor está no meio do caminho entre sexo e compaixão.

Você também pode chamar a compaixão de prece. Você também pode chamar a compaixão de meditação. A forma mais elevada de energia é a compaixão. A palavra ‘compaixão’ é bela. Metade dela é ‘paixão’. De alguma forma a paixão se tornou tão refinada que ela não é mais como uma paixão. Ela se tornou compaixão.

No sexo, você usa o outro, você reduz o outro a um meio, você reduz o outro a uma coisa. É por isso que numa relação sexual você se sente culpado. Essa culpa nada tem a ver com ensinamentos religiosos, essa culpa é mais profunda que os ensinamentos religiosos. Numa relação sexual, enquanto tal, você se sente culpado. Você se sente culpado porque você está reduzindo um ser humano a uma coisa, a uma mercadoria para ser usada e jogada fora.

É por isso que no sexo você também tem uma sensação de escravidão, você também está sendo reduzido a uma coisa. E quando você é uma coisa, a sua liberdade desaparece, porque a sua liberdade somente existe quando você é uma pessoa. Quanto mais você for uma pessoa, mais livre será; quanto mais você for uma coisa, menos livre será.

Os móveis de seu quarto não são livres. Se você deixar o quarto fechado e voltar muitos anos depois, os móveis estarão nos mesmos lugares, com a mesma disposição, eles não se arrumarão numa nova disposição. Eles não têm liberdade. Mas se você deixar um homem num quarto, você não irá encontrá-lo do mesmo jeito, nem mesmo no dia seguinte, nem mesmo no momento seguinte. (…)

Para uma coisa, o futuro está fechado. Uma pedra permanecerá uma pedra. Ela não tem qualquer potencial para o crescimento. Ela não pode mudar, ela não pode evoluir. O homem nunca permanece o mesmo. Ele pode retornar, ele pode ir adiante, ele pode ir para o inferno ou para o céu, mas nunca permanece o mesmo. Ele segue se movendo, deste ou daquele jeito.

Quando você tem uma relação sexual com alguém, você reduz aquela pessoa a uma coisa. E ao reduzi-la, você também se reduz a uma coisa, porque isso é um acordo mútuo do tipo: ‘Eu lhe permito reduzir-me a uma coisa e você me permite reduzi-lo a uma coisa. Eu lhe permito usar-me e você me permite usá-lo. Nós usamos um ao outro. Nós ambos nos tornamos coisas’.

É por isso… Observe dois amantes: enquanto eles ainda não se acomodaram, o romance ainda está vivo, a lua de mel não termina e você vê as duas pessoas vibrando com a vida, prontas para explodir-se, prontas para explodir-se no desconhecido. E depois, observe um casal de marido e mulher, e você verá duas coisas mortas, dois cemitérios, lado a lado, ajudando um ao outro a se manter morto, forçando um ao outro a se manter morto. Esse é o conflito constante no casamento. Ninguém quer ser reduzido a uma coisa.

O sexo é a forma mais baixa daquela energia ‘X’. Se você é religioso chame isso de ‘Deus”; se você é um cientista, chame isso de ‘X’. Essa energia, X, pode se tornar amor. Quando ela se torna amor, então você começa a respeitar a outra pessoa. Sim, algumas vezes você usa a outra pessoa, mas você se sente agradecido por isso. Você nunca diz muito obrigado a uma coisa. Quando você está amando uma mulher e você faz amor com ela, você lhe diz: muito obrigado. Quando você faz amor com sua esposa, alguma vez você lhe disse muito obrigado? Não, você não dá valor algum. A sua esposa já lhe disse alguma vez obrigado? Talvez, muitos anos atrás, você consegue se lembrar de um tempo quando vocês ainda estavam indecisos, quando estavam experimentado, fazendo a corte, seduzindo um ao outro, talvez. Mas uma vez que vocês se acomodaram, ela disse alguma vez muito obrigado a você por alguma coisa? Você tem estado fazendo tantas coisas por ela, ela tem estado fazendo tantas coisas por você, vocês ambos têm vivido um para o outro… mas a gratidão desapareceu.

No amor existe gratidão, existe uma profunda gratidão. Você sabe que a outra pessoa não é uma coisa. Você sabe que o outro tem uma grandeza, uma personalidade, uma alma, uma individualidade. No amor você dá liberdade total ao outro. Na verdade você dá e você recebe, é uma relação de dar e receber, mas com respeito.

No sexo há uma relação de dar e receber, mas sem respeito. Na compaixão, você simplesmente dá. Não há qualquer idéia, em lugar algum em sua mente, de receber algo em troca. Você simplesmente compartilha. Não que nada retorne. Mil desdobramentos retornam, mas espontaneamente, simplesmente como uma conseqüência natural. Não há qualquer espera por isto.

No amor, se você dá alguma coisa, no fundo você fica esperando aquilo que deve vir em troca. Se aquilo não vem, você percebe uma reclamação interna. Você pode não dizer, mas de mil e uma maneiras você pode insinuar que você não está satisfeito, que você está se sentindo traído. O amor parece ser uma barganha sutil.

Na compaixão, você simplesmente dá. No amor, você está agradecido porque o outro deu alguma coisa a você. Na compaixão você está agradecido porque o outro recebeu alguma coisa de você, porque o outro não rejeitou você. Você veio com energia para dar, você veio com muitas flores para compartilhar e o outro lhe permitiu, o outro estava receptivo. Você está agradecido porque o outro estava receptivo.

A compaixão é a mais elevada forma de amor. Muita coisa vem em troca, mil desdobramentos eu digo, mas esse não é o ponto, você não fica esperando por isto. Se não vier, não há qualquer reclamação. Se vier, você simplesmente fica surpreso. Se vier, isso será inacreditável. Se não vier, não há qualquer problema, você nunca dá o seu coração a alguém por qualquer barganha. Você simplesmente distribui porque você tem. Você tem tanto que se você não distribuir, você se sentirá sobrecarregado. É exatamente como uma nuvem carregada que tem que chover. E da próxima vez quando uma nuvem estiver chovendo observe atentamente e você sempre ouvirá; quando a nuvem estiver chovendo e a terra tiver absorvido, você sempre ouvirá a nuvem dizendo à terra ‘muito obrigado’. A terra ajuda a nuvem a se descarregar.

Quando uma flor desabrocha, ela tem que compartilhar a sua fragrância ao vento. Isso é natural. Não é uma barganha, não é um negócio. Isso é simplesmente natural. A flor está repleta de fragrância. O que fazer? Se a flor mantiver a fragrância para si mesma, ela irá se sentir muito, muito tensa, em angústia profunda. A maior angústia na vida é quando você não pode expressar, quando você não pode comunicar, quando você não pode compartilhar. O homem mais pobre é aquele que nada tem a compartilhar, ou aquele que tem algo a compartilhar mas que perdeu a capacidade, a arte, a maneira de como compartilhar, aí o homem é pobre.

O homem sexual é muito pobre. Em comparação, o homem amoroso é mais rico. O homem de compaixão é o homem mais rico, ele está no topo do mundo. Ele não tem qualquer confinamento, qualquer limitação. Ele simplesmente dá e segue o seu caminho. Ele nem mesmo espera você lhe dizer um muito obrigado. Com tremendo amor ele compartilha a sua energia.

É isso que eu chamo terapêutico. (…)

Para ser compassivo é preciso que se tenha, em primeiro lugar, compaixão por si mesmo. Se você não amar a si mesmo, você nunca será capaz de amar um outro alguém. Se você não for amável consigo mesmo, você não conseguirá ser amável com ninguém mais. Os seus chamados santos, que são muito duros consigo mesmos, estão simplesmente fingindo que são amáveis com os outros. Isso não é possível. Psicologicamente isso é impossível. Se você não puder ser amável consigo mesmo, como você poderá ser amável com os outros?

Qualquer coisa que você for consigo mesmo, você será com os outros. Deixe que isso seja um ditado básico. Se você se detesta, você irá detestar os outros. E foi-lhe ensinado detestar a si mesmo. Ninguém jamais disse a você ‘ame a si mesmo’. Essa própria idéia parece absurda: amar a si mesmo? A própria idéia não faz sentido: amar a si mesmo? Nós sempre pensamos que, para amar, nós precisamos de uma outra pessoa. Mas se você não aprender consigo mesmo, você não será capaz de praticar com os outros.

Foi-lhe dito constantemente, você foi condicionado, que você não tem qualquer valor. De todas as direções lhe foi mostrado, lhe foi dito que você é sem valor, que você não é o que deveria ser, que você não é aceito como você é. Existem muitos ‘deves’ pendurados sobre a sua cabeça e todos esses ‘deves’ são quase impossíveis de serem satisfeitos. E quando você não consegue satisfazê-los, quando você tem um pequeno tropeço, você se sente condenado. Uma profunda raiva surge em você em relação a si mesmo.

Como você pode amar os outros? Tão cheio de ódio, onde você irá encontrar amor? Assim, você simplesmente finge, você simplesmente demonstra que está amoroso. No fundo você não está amoroso com ninguém, você não pode estar. Esses fingimentos são bons por uns poucos dias, depois o colorido desaparece, então a realidade se revela por si mesma.

Todo caso amoroso está em cima de pedras. Mais cedo ou mais tarde, todo caso amoroso se torna muito envenenado. E como ele se torna tão envenenado? Ambos fingem que estão amando, ambos seguem dizendo que amam. O pai diz que ama a criança, a criança diz que ama o pai, a mãe diz que ama a filha e a filha segue dizendo a mesma coisa. Irmãos dizem que amam um ao outro. Todo o mundo conversa a respeito de amor, canta canções de amor, e você poderia encontrar outro local tão destituído de amor? Nem uma pitada de amor existe, e montanhas de falatórios, um Himalaia de poesias a respeito do amor.

Parece que todas essas poesias são apenas compensações. Porque nós não conseguimos amar, nós temos que acreditar de alguma maneira, através da poesia, da canção, que nós amamos. Aquilo que nos falta na vida, nós colocamos na poesia. O que nós vamos perdendo na vida, nós colocamos no filme, na novela. O amor está absolutamente ausente porque o primeiro passo ainda não foi dado.

O primeiro passo é: aceite-se como você é. Abandone todos os ‘deves’. Não carregue qualquer ‘deve’ em seu coração. Não é para você ser algo diferente do que é. Não é de se esperar que você faça algo que não pertença a você. Você existe para ser exatamente você mesmo. Relaxe e seja simplesmente você mesmo. Seja respeitoso para com sua individualidade e tenha a coragem de assinar a sua própria assinatura. Não siga copiando as assinaturas de outros.

Não é de se esperar que você se torne um Jesus ou um Buda ou um Ramakrishna. O que se espera é que você se torne simplesmente você mesmo. Foi bom que Ramakrishna nunca tentou se tornar alguma outra pessoa, assim ele se tornou Ramakrishna. Foi bom que Jesus nunca tentou tornar-se Abraão ou Moisés, assim ele se tornou Jesus. E é bom que Buda nunca tenha tentado tornar-se Patanjali ou Krishna. Foi por isso que ele se tornou Buda.

Quando você não está tentando se tornar um outro alguém, então você simplesmente relaxa e uma graça surge. Então você está cheio de grandeza, esplendor e harmonia, porque aí não existe qualquer conflito. Nenhum lugar para ir, nada pelo qual brigar, nada para forçar nem para obrigar-se violentamente. Você se torna inocente.

Em tal inocência, você sentirá compaixão e amor por si mesmo. Você se sentirá tão feliz consigo mesmo que ainda que Deus venha bater em sua porta e diga: ‘Você gostaria de se tornar uma outra pessoa?’, você dirá: ‘Você ficou louco? Eu sou perfeito! Obrigado, e nunca mais tente fazer isso, eu sou perfeito como sou.’ (…)

As rosas desabrocham tão lindamente porque elas não estão tentando se tornar lótus. E a flor de lótus desabrocha tão lindamente porque ela nunca ouviu as lendas a respeito das outras flores. Tudo na natureza segue tão belamente em harmonia porque ninguém está tentando competir com algum outro, ninguém está tentando se tornar algum outro. Tudo é do jeito que é.

Simplesmente veja o ponto! Seja apenas você mesmo e lembre-se de que você não pode ser alguma outra coisa, faça o que você fizer. Todo esforço é fútil. Você tem que ser simplesmente você mesmo.

Existem dois caminhos: um é: rejeitando, você pode permanecer o mesmo; condenando, você pode permanecer o mesmo. Ou, aceitando, entregando-se, curtindo, deliciando-se, você pode permanecer o mesmo. A sua atitude pode ser diferente, mas você vai continuar do jeito que você é, a pessoa que você é. Uma vez que você aceite, a compaixão surge. E então, você começa a aceitar os outros. (…)

Mova-se lentamente, alerta, observando, estando amoroso. Se você for sexual, eu não digo para abandonar o sexo; eu digo faça-o mais alerta, faça-o como uma prece, faça-o mais profundo, assim ele pode tornar-se amor. Se você está amando, então faça isso com mais gratidão, traga uma gratidão, uma alegria, uma celebração e uma prece mais profunda ao amor, traga meditação para ele, assim ele pode se tornar compaixão.

A não ser que a compaixão tenha acontecido para você, não pense que você viveu corretamente, ou que você viveu de alguma maneira. Compaixão é o florescimento. E quando a compaixão acontece para uma pessoa, milhões são curadas. Qualquer um que chegue ao seu redor será curado. A compaixão é terapêutica.

Osho; A Sudden Clash of Thunder – discourse nº 8
tradução: Sw.Bodhi Champak

#espiritualismo #Osho

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Maçonaria e Islamismo

A relação entre Islamismo e Maçonaria sempre foi tema obscuro, delicado, polêmico, e por isso evitado por muitos autores. Quando das raras vezes abordado, os autores se restringem em citar Lojas e Obediências que existiram e existem nos países árabes e, de modo geral, param por aí. Uma postura um tanto quanto incoerente se observarmos os objetivos maçônicos da livre pesquisa da verdade, da busca pela justiça e do combate à ignorância, a intolerância e o fanatismo.

O objetivo aqui é tentar apresentar algo diferente do que “mais do mesmo”, fornecendo informação válida e de forma neutra sobre o assunto e abordando as questões que realmente importam.

Após o triste dia de 11/09/01, muito se tem falado sobre o Islamismo, o qual teve sua imagem de certa forma manchada no mundo ocidental com o marcante incidente. Apesar dos esforços das autoridades, uma onda de intolerância e preconceito, reforçada pela ignorância, tem caído sobre o Islã e seus adeptos no Ocidente desde então.

Por isso, faz-se necessário esclarecer alguns pontos:

Símbolo Islã – Lua e Estrela

O Islamismo não é uma religião radical. É apenas uma religião como as demais que, por ter mais de 1,5 bilhão de adeptos, possui algumas vertentes baseadas em diferentes interpretações de diferentes passagens de seu livro sagrado, sendo que apenas uma minoria dessas é radical. O mesmo ocorre no Cristianismo, que também possui suas vertentes minoritárias radicais, fanáticas, baseadas em diferentes interpretações de suas sagradas escrituras. Não é toda mulher muçulmana que usa burca ou véu, assim como não é toda mulher cristã que tem cabelo até o joelho e saia até o calcanhar.

Shriners – Lua e Estrela

Por isso, não se pode julgar 1,5 bilhão de pessoas presentes em dezenas de países com base em grupos terroristas que agem por si próprios e sem a concordância de qualquer país ou mesmo de autoridades religiosas. E no que se refere a autoridade religiosa, o Islamismo não possui uma hierarquia com autoridade constituída, não existindo algo um “Papa” ou algo do gênero. Por esse motivo, dizer que existe uma postura oficial do Islamismo sobre determinado assunto seria, no mínimo, imprudente.

Compreendido tais questões, vejamos o Islamismo perante a Maçonaria:

Alguns maçons podem pensar que a Maçonaria talvez seja incompatível com a fé islâmica por conta de sua simbologia. Afinal de contas, muito da Maçonaria está relacionado ao Templo de Salomão, e em muitos graus de muitos ritos vê-se símbolos como letras em hebraico, cruzes, etc. Deve-se ter em mente que existem dezenas e dezenas de ritos maçônicos, sendo que alguns têm maior influência de uma ou outra religião, cultura ou época. Assim, temos ritos maçônicos com influências católicas, protestantes, judaicas, iluministas, egípcias, muçulmanas, cavaleirescas, nacionalistas, etc.Como já esclarecido, não existe uma autoridade que fale em nome da religião muçulmana. Assim sendo, é impossível que o Islamismo seja oficialmente a favor ou contra a Maçonaria. Diferente disso, outras Igrejas já se declararam oficialmente contrárias à Maçonaria, como a Igreja Católica e algumas outras Igrejas Cristãs de menor porte. Mesmo assim, isso não impediu que muitos dos fiéis dessas, sendo homens livres e de bons costumes, ingressassem na Ordem Maçônica nos últimos séculos.

Ainda nesse sentido, observa-se que a Maçonaria é Ordem voltada a homens livres, e essa liberdade também se refere às amarras da intolerância. Um exemplo claro é que muitos dos ritos maçônicos fazem referência a “São João”, ou aos “Santos de nome João”, enquanto que grande parte de seus adeptos são protestantes. Isso ocorre porque o maçom é homem racional, e compreende que a citação de “São João” não é questão dogmática, e sim referência histórica aos Solstícios.

Já Salomão e a construção de seu templo, tão presentes na Maçonaria, ao contrário do que muitos possam presumir, não se encontram apenas na cultura e religião judaica. Esse importante personagem e evento também estão descritos no Alcorão. Para os maometanos, Salomão era um rei dotado por Deus de toda a prudência e sabedoria, um grande profeta como todos os descendentes de Davi estariam predestinados a ser. E sua importância era tamanha que Deus ordenou que os homens e “gênios” obedecessem a suas ordens e trabalhassem na construção de seu templo e palácio.

Gênios? Que gênios?

Esse é um ponto tão interessante que mereceu esse destaque. Os gênios estão presentes na cultura árabe desde tempos imemoriais. Seriam seres criados por Deus, invisíveis, mas que possuem a habilidade de se materializarem entre os homens e realizarem feitos notáveis. Não são anjos, pois possuem o livre-arbítrio e podem ser castigados ou mesmo aprisionados. Dessas crenças surgiu o famoso “gênio da lâmpada”, tão explorado em contos infantis. Esses gênios teriam, sob as ordens de Salomão, auxiliado os homens na construção de seu templo.

As duas faces da moeda

A questão religiosa está presente na Maçonaria desde seu início e, apesar de não ser discutida nas Lojas, está mais em voga do que nunca. Prova disso é que, nos últimos anos, os Nobres Shriners, instituição maçônica fundada no século XIX com temática e simbologia árabe, vem discutindo sobre a redução dessa influência árabe na instituição. Em contrapartida, as históricas críticas à Ordem dos Cavaleiros Templários, último degrau do Rito de York e restrito aos maçons que professam a fé cristã, continuam mais presentes do que nunca. Qual seria o caminho ideal: a busca pela universalidade ou a promoção das diferenças?

Conclusão

A Maçonaria está para o muçulmano assim como está para o cristão: dependente da ausência de intolerância e fanatismo por parte do fiel, e da ausência de ignorância por parte dos demais integrantes.

A durabilidade e sucesso da Maçonaria sempre se deveu ao fato de sua união ser baseada nos pontos comuns e sua riqueza nos pontos diferentes. Enquanto os diversos Ritos, Ordens internas e Corpos aliados proporcionam ao maçom participar daquilo com que se identifica, cujos valores compartilha, todos os membros dessas instituições se sentem integrantes de uma única família, e constroem a fraternidade sobre os landmarks que tornam a todos iguais: a crença num Ser Supremo e na imortalidade da alma.

O Dr. SM Ghazanfar, professor emérito da Universidade de Idaho, escreveu em um de seus artigos que “alienantes por aqueles que são diferentes, nós acabamos nos afastando e diminuindo nossa própria humanidade”. Que a Maçonaria, essa Sublime Ordem cuja finalidade é a felicidade da humanidade, saiba renovar seu compromisso de unir os diferentes pelo que eles têm em comum.

#Maçonaria #Islã #Islamismo

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Curso de Tarot e História da Arte no RJ

Este é um post sobre um Curso de Hermetismo já ministrado!

Se você chegou até aqui procurando por Cursos de Ocultismo, Kabbalah, Astrologia ou Tarot, vá para nossa página de Cursos ou conheça nossos cursos básicos!

Dias 02 e 03 de Março de 2013 teremos o Curso de Tarot e História da Arte no Rio de Janeiro. Não é um curso de tarot no sentido comum da palavra e, pelo que eu sei, é o único deste tipo ministrado no Brasil. No curso de Arcanos Maiores, utilizamos 18 tarots diferentes, do período que vai desde o século XIII até baralhos contemporâneos. Estudamos cada um dos 22 Caminhos da Árvore da Vida e sua correlação simbólica e imagética com cada Arcano do Tarot, para serem utilizados tanto em rituais herméticos como portais de acesso às energias da Árvore da Vida. Observe as 5 figuras acima, do Mago. O que elas têm de semelhante? no que diferem? por quê? O que representam estes objetos? e as cores?

Começamos pelo Visconti-Sforza, do século XIII, que une a simbologia dos Trionfi renascentistas à estrutura da Árvore da Vida. Em seguida, o tradicional Tarot de Marselha (1560), Rider Waite (1909), Golden Dawn (duas versões), Tarot de Papus, Tarot Egípcio e Tarot de Thoth (Crowley). Isto nos dá uma noção muito clara de como os Arcanos se desenvolveram ao longo da história da magia e quais são as principais escolas; suas diferenças e semelhanças.

Também estudamos o Tarot Mitológico, Sephiroth Tarot (cabalístico), Tarot Alquímico, Tarot dos Santos e mais quatro ou cinco tarots modernos que eu vario de curso para curso para exemplificar a visão de outras culturas (celta, africano, dos orixás, etc). Somente com esta visão de conjunto é possível compreender a magnitude do tarot e as maneiras como ele pode ser utilizado em rituais e no seu altar pessoal.

Eu também ensino a fazer a leitura do Tarot tradicional, pelo método da Cruz Celta, mas normalmente quando se chega nessa parte do curso, a maioria dos alunos já percebeu que existem usos bem mais interessantes e poderosos do tarot do que apenas o de fazer leituras.

Arcanos Menores

No curso de Arcanos Menores, eu recomendo que a pessoa tenha feito Kabbalah primeiro e, se possível, Astrologia Hermética, pois os Arcanos Menores são praticamente um curso intermediário destas matérias.

É possível fazê-lo sem ter estes pré-requisitos, mas como CADA Arcano Menor é a representação de uma Sephira de um Elemento (10 esferas x 4 elementos = 40 Arcanos menores) e ao mesmo tempo a combinação de um Planeta em um Signo, a compreensão de todo o conjunto da obra hermética, alquimista e astrológica se faz com os 3 cursos (ex. O “Dois de Bastões” é Hochma na Árvore do Fogo/Marte em Áries e os Arcanos da Corte são as energias intermediárias do Zodíaco: Áries-Touro é o Cavaleiro de Moedas, Escorpião-Sagitário é o Rei de Bastões/Ofiúco, e assim por diante, totalizando 12 Arcanos + as 4 Princesas/Pagens, que são as energias elementais puras).

Como a maioria dos tarots utiliza a representação literal nos menores, eu utilizo cinco decks para o Curso de Arcanos Menores (Marselha, Rider-Waite, Mitológico, Crowley e Sephiroth).

Informações e Reservas: marcelo@daemon.com.br

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/curso-de-tarot-e-hist%C3%B3ria-da-arte-no-rj

Para ser feliz (parte final)

« continuando da parte 3 | ler do início

Tenho uma amiga que, de tanto andar pelos caminhos do mundo, acabou assumindo para si a difícil tarefa de tentar elucidar qual é, afinal, o caminho da felicidade. Em seu programa para o canal de TV a cabo Multishow ela já entrevistou artistas, filósofos e espiritualistas em geral. Eventualmente chegou a conversar com Matthieu Ricard, o célebre “homem mais feliz do mundo”, segundo estudos neurológicos conduzidos pela Universidade de Wisconsin. Ricard, apesar de ser filho de um renomado filósofo francês e Ph.D. em genética molecular, eventualmente se tornou um monge budista e hoje reside no Nepal, apesar de também rondar pelo mundo todo. Para ele, a espiritualidade é indissociável da felicidade:

Espiritualidade significa lidar com a mente. Pode-se dizer que o treinamento da mente é um tipo de espiritualidade. A religião se vale de técnicas para alterar a mente, mas no fim tudo depende do jeito como você lida consigo mesmo e com o mundo à sua volta… Acho que a compaixão e a empatia são qualidades humanas básicas que todos podem e devem cultivar para se tornarem pessoas melhores, independente se possuem ou não uma religião. Afinal, essas qualidades são muito mais fundamentais que a religião em si [1].

Assim, ficamos sabendo que a espiritualidade que surge da compaixão para com os outros seres é, quem sabe, uma fonte de quietude da mente, de profunda tranquilidade. Mas, e daí? Seria isso, somente isso, o que determina a sua felicidade?

Obviamente, não há absolutamente nada que Ricard possa falar que irá nos descrever exatamente “como é ser o homem mais feliz do mundo”. De fato, suas palavras seriam incapazes sequer de demonstrar “como é ser feliz”, ou ainda, “como ele está feliz no dia de hoje”. As palavras, afinal, são tão somente cascas de sentimentos, e a minha amiga estaria em maus lençóis se quisesse mesmo determinar precisa e cientificamente o que é a felicidade. Felizmente, ela já se contenta em estar no caminho que leva para lá…

Isso me lembra da corredeira que desemboca no mar, após um longo caminho, conforme vínhamos falando. E, se eu já admiti que palavras são nada mais que cascas, minha única esperança de encerrar esta série com alguma dignidade é convidar meus amigos poetas para o meu auxílio, pois que eles sim souberam imprimir em suas cascas alguma parte deste fruto eterno e sem nome [2]:

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Quando nos deixamos escorrer juntamente com o rio da Vontade, esta Vontade muito maior do que quaisquer desejos que tivemos ou possamos vir a ter, há um enorme perigo para o ego, e uma enorme promessa de genuíno contentamento para a alma. Que, para encarar o perigo e o abismo do mar, é preciso se abandonar de si, para se reencontrar no céu.

E ninguém disse que seria fácil, mas a cada passo dado, logo se nota que o horizonte a frente é muito maior e mais ensolarado, até que enfim chegamos na praia, na margem do mar que espelha o Tudo, onde brincam as criancinhas:

Na praia dos mundos sem fim as crianças se encontram, com muitas danças e algazarras.
Elas constroem suas casas com areia e brincam com as conchas vazias.
Com as folhas secas elas tecem seus barquinhos e os colocam, sorridentes, para flutuar na vastidão do mar.

As crianças brincam na praia dos mundos.
Elas não sabem nadar, e tampouco arremessar as redes.
Pescadores de pérolas mergulham atrás de pérolas, mercadores navegam em seus barcos, enquanto as crianças catam pequeninas pedras, e depois as espalham novamente.
Elas não buscam por tesouros ocultos, e tampouco sabem arremessar as redes.

Na praia dos mundos sem fim as crianças se encontram.
A tempestade ronda pelo céu sem trilhas, os navios naufragam pelo mar sem rotas, a morte está à solta, e as crianças brincam.
Na praia dos mundos sem fim ocorre o grande encontro de todas as crianças.

E é até estranho de se pensar, mas no fundo toda a criança nasce um ser iluminado, sem saber que é um ser iluminado.

Da mesma forma, é bem possível que um ser iluminado nada mais seja do que uma criança que sabe que é um ser iluminado.

Todos esses santos que foram e que voltaram, e que hoje brincam por todos os cantos, sem rumo que não o de dentro, são talvez aqueles mais indicados para nos dizer o que devemos fazer para sermos felizes… Mas isso não quer dizer que seremos plenamente capazes de compreendê-los:

E agora vocês perguntam em seus corações, “Como poderemos distinguir o que é bom no prazer do que não é bom?”.
Dirijam-se aos seus campos e jardins, e deverão aprender que o prazer da abelha é sugar o mel da flor,
Mas que é também um prazer para a flor ofertar do seu mel a abelha.
Pois para a abelha uma flor é uma fonte de vida,
E para a flor uma abelha é uma mensageira de amor,
E para ambas, abelha e flor, a doação e o recebimento do prazer são uma necessidade e um êxtase.

Povo de Orphalese, busquem ao prazer como o fazem as flores e as abelhas.

Uma necessidade, e um êxtase… No fim das contas, a felicidade é aquilo que ocorre quando não estamos pensando nela…

Quando não estamos pensando em mais nada…

Quando a alma consegue cerrar a cortina do palco da mente, e contemplar a imensidão, em silêncio:

É primavera, e tudo lá fora germina, até mesmo o enorme cipreste.
Nós não devemos abandonar este lugar.
Próximo a borda do copo em que ambos bebemos, leem-se as palavras,
“Minha vida não me pertence.”

Se alguém viesse tocar alguma música, teria de ser uma doce canção.
Nós estamos a beber vinho, mas não através dos lábios.
Nós estamos a sonhar, mas não em nossas camas.
Esfregue o copo em sua testa.
Este dia se encontra além da vida e da morte.

Desista de desejar o que os demais possuem.
Nesta via estará seguro.
“Onde, onde estarei seguro?”, você pergunta.

Este não é um dia para se fazer perguntas, este não é um dia de algum calendário. Este dia é a consciência de si mesmo.
Este dia é o amante, o pão, e a gentileza, ainda mais manifestos do que os lábios poderiam dizer.

Pensamentos tomam forma através das palavras, mas a luz desta manhã vai além, ela é ainda mais antiga do que os pensamentos e a imaginação.

Esses dois estão tão sedentos… Mas é isto o que confere suavidade a água. Suas bocas estão secas, e eles estão exaustos.
O restante deste poema está demasiadamente embaçado para que eles consigam prosseguir na leitura.

Para ser feliz, afinal, é preciso ler muito e conhecer muito, para então abandonar toda leitura e todo conhecimento…

***
[1] Livremente transcrito da entrevista para o episódio 06 da primeira temporada de No caminho da felicidade, com Susanna Queiroz.
[2] Na sequência, trechos (sempre em itálico) da poesia dos quatro grandes poetas da Alma: Fernando Pessoa, Rabindranath Tagore, Khalil Gibran e Jalal ud-Din Rumi. Onde coube, a tradução foi de Rafael Arrais.

Crédito das imagens: [topo] matthieuricard.org/Divulgação; [ao longo] Joel Robinson

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

Ad infinitum
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#Espiritualidade #Felicidade #poesia

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Quinta, Sexta e Sétima Cruzadas

Postado no S&H dia 4/12/09,

Estamos chegando na reta final das cruzadas (faltam apenas mais duas) e o conflito no Oriente Médio entre Cristãos e Muçulmanos atinge seu ápice. Neste post, comentarei sobre as cruzadas que normalmente são ignoradas pelos professores nas aulas de história.

A Cruzada das Crianças

Uma das lendas a respeito das cruzadas inclui a famosa “Cruzada das crianças”, que teria ocorrido em 1212. As diversas histórias que chegaram aos tempos modernos sobre a Cruzada das Crianças giram em torno de eventos comuns. Um rapaz na França ou na Alemanha começou a espalhar que teria sido “visitado por Jesus” que o teria instruído para liderar a próxima cruzada. Após uma série de milagres, juntou um considerável grupo de seguidores, incluído possivelmente cerca de 20 mil crianças. Conduziu os seus seguidores em direção ao Mar Mediterrâneo, onde as águas deveriam se abrir para eles poderem avançar até Jerusalém.

Como (obviamente) isto não aconteceu, dois mercadores teriam oferecido sete barcos para levar tantas crianças quantas coubessem… hummm não sei quanto a você, leitor, mas isso cheira a cilada, Bino!

Os crentes teriam entregado as crianças para os mercadores e foram, então, levadas para a Tunísia tendo morrido em naufrágios ou sido vendidas como escravos. Em alguns relatos, as crianças não terão mesmo chegado ao Mediterrâneo, morrendo no caminho de fome ou exaustão.

O que provavelmente ocorreu foram migrações de vilas inteiras de pobres por toda a Europa, motivadas pelas mudanças nas condições econômicas da época que forçaram muitos camponeses no norte de França e na Alemanha a vender as suas terras. Estes bandos eram chamados de pueri (“rapaz” em latim). Mais tarde as referências ao puer alemão Nicholas e ao puer francês Stephan, ambos liderando multidões em nome de Jesus, terão sido unificadas num único relato, tendo o termo “pueri” sido traduzido para “crianças”.

A Quinta Cruzada

A Quinta Cruzada (1217-1221), ocorreu pela iniciativa do Papa Inocêncio III, que a propôs em 1215 no quarto Concílio de Latrão, mas foi somente posta em prática por Honório III, seu sucessor no trono de São Pedro. O papado havia também contribuído para desacreditar o ideal das cruzadas, quando manipulou a fé das pessoas para esmagar os Cátaros do sul da França, na chamada Cruzada albigense. Mesmo assim, o papa Honório III conseguiu adesões para uma nova expedição.

A Quinta Cruzada foi liderada por André II, rei da Hungria; Leopoldo VI, duque da Áustria; Jean de Brienne, rei em título de Jerusalém e Frederico II, imperador do Sacro Império. O imperador Frederico II concordou em organizar a expedição.

Decidiu-se que para se conquistar Jerusalém era necessário conquistar o Egito primeiro, uma vez que este controlava esse território. Em maio de 1218, as tropas de Frederico II se puseram a caminho do Egito, sob o comando de Jean de Brienne. Desembarcados em São João D’Acre, decidiram atacar Damietta (hoje chamada de Dumyat), cidade que servia de acesso ao Cairo, a capital. Em agosto atacaram Damietta. Depois de conquistar uma pequena fortaleza de acesso aguardaram reforços. Em junho, foram reforçadas pelas tropas papais do cardeal Pelágio. Homem autoritário, Pelágio não quis subordinar-se a Brienne e também interferiu constantemente nos assuntos militares.

Depois de alguns combates, e quando tudo parecia perdido, uma série de crises na liderança egípcia permitiu os cruzados ocupar o campo inimigo. Porém, numa paz negociada em 1219 com os muçulmanos, o incrível aconteceria: Jerusalém era oferecida aos cristãos, entre outras cidades, em troca da sua retirada do Egito. Mas os chefes cruzados, nomeadamente o cardeal Pelágio, recusaram tal oferta (que, vou refrescar a memória do leitor, era o objetivo principal das Cruzadas): o papado considerava que os muçulmanos não conseguiriam resistir aos cruzados quando Frederico II chegasse com os seus exércitos.

Os cruzados começaram, então, a cercar o porto egípcio Damietta e, depois de algumas batalhas, sofreram uma derrota. O sultão renovou a proposta, mas foi novamente recusada. Depois de um longo cerco que durou de Fevereiro a novembro de 1219 a cidade caiu. A estratégia posterior requeria assegurar o controle da península do Sinai. Os conflitos entre os cruzados e muçulmanos tornaram-se praticamente diários e perdeu-se tanto tempo que os egípcios recuperaram as forças. Em julho de 1221, o cardeal ordenou uma ofensiva contra o Cairo, mas os muçulmanos levaram os cruzados a uma armadilha; quando os cristãos avançavam, os muçulmanos recuavam e levavam todos os alimentos (e envenenavam os poços)… sem comida e cercados, acabaram por ter de chegar a um acordo: retiravam do Egito e tinham as vidas salvas. Tiveram também de aceitar uma trégua de oito anos. #Fail

O principal motivo para a derrota cristã tem um nome: os reforços prometidos por Frederico II não chegaram. Razão pela qual ele foi excomungado pelo papa Gregório IX. Essa foi a última cruzada para a qual o papado mandou suas próprias tropas.

A Sexta Cruzada

A Sexta Cruzada (1228-1229), lançada em 1227 pelo imperador do Sacro Império Frederico II de Hohenstauffen, que tinha sido excomungado pelo Papa, só no ano seguinte ganharia forma.

Frederico, genro de Jean de Brienne, herdeiro do trono de Jerusalém, pretendia reclamar seus direitos sobre Chipre e Jerusalém-Acre. Depois que sua frota partiu, o imperador recebeu uma missão de paz do sultão do Egito, que retardou o seu avanço e acabou causando aquele vexame nas tropas cristãs…

Finalmente, no verão de 1228, depois de muita hesitação, acabou por partir ao Oriente para tentar se livrar da excomunhão que o papa lhe havia imposto, apesar de ser defensor do diálogo com o Islã, religião da qual era admirador, e preferir conversar em vez de combater.

Enquanto suas tropas estavam longe, o papa proclamou outra Cruzada, desta vez contra o próprio Frederico, e seguiu atacando as possessões do imperador na Península Itálica.

O minguado exército de Frederico II, auxiliado pelos cavaleiros Teotônicos, foi diminuindo com as deserções e uma semi-hostilidade das forças cristãs locais devido à sua excomunhão pelo Papa. Aproveitando-se das discórdias entre os sultões do Egito e Damasco, Frederico II conseguiu, por intermédio da diplomacia, um vantajoso tratado com o Egito de Malik el-Kamil, sobrinho de Saladino.

Pelo tratado de Jafa (1229), Jerusalém ganhou Belém, Nazaré e Sídon, um corredor para o mar, para além de uma trégua de dez anos. Em contrapartida, os cristãos reconheciam a liberdade de culto para os muçulmanos.

Por causa disso, o Papa excomunga Frederico II mais uma vez.

Frederico foi coroado rei de Jerusalém, mas por conta dos inúmeros ataques dos cruzados em suas terras e receoso de perder seu trono na Germânia e Nápoles, regressou à Europa. Retomou relações com Roma em 1230.

Sétima Cruzada

Após o fim dos dez anos da trégua de 1229 (assinada durante a Sexta Cruzada), uma expedição militar cristã, com poucos homens e poucos recursos, liderada por Ricardo de Cornualha e Teobaldo IV de Champanhe, encaminhou-se para a Terra Santa a fim de reforçar a presença cristã nos lugares santos. Não era exatamente uma “cruzada”, mas mais um reforço. Não pôde impedir, entretanto, que, em 1244, Jerusalém caísse nas mãos dos turcos muçulmanos. No ano seguinte dava-se o desastre de Gaza.

Nesse ano, quando o Papa Inocêncio IV abriu o Concílio de Lyon, o rei da França Luís IX, posteriormente canonizado como São Luís, expressou o desejo de ajudar os cristãos do Levante. Luís IX levou três anos para embarcar, mas o fez com um respeitável exército de 35.000 homens. O monarca francês aproveitou as perturbações causadas pelos mongóis no Oriente e partiu de Aigues-Mortes para o Egito em 1248. Escalou em Chipre em setembro de 1248, atacando depois o Egito

Em junho de 1249, Damietta foi recuperada para os cristãos e serviria de base de operação para a conquista da Palestina. No ano seguinte, quase conquista o Cairo, só não o conseguindo por causa de uma inundação do Nilo e porque os muçulmanos se apoderaram das provisões alimentares dos cruzados, o que provocou fome e doenças como o escorbuto nas hostes de São Luís. #Fail

Ao mesmo tempo, Roberto de Artois, irmão do rei, depois de quase vencer em Mansurá, foi derrotado devido a sua imprudência.

Perante este cenário, com seu exército dizimado pela peste de tifo, São Luís bateu em retirada. O rei é capturado e feito prisioneiro em Mansurá, sendo posteriormente libertado após o pagamento de um resgate de 800 mil peças de ouro (parecem números de MMORPG) e restituição de Damieta, em maio de 1250. Só a resistência da rainha francesa em Damietta, permitira que se conseguisse negociar com os egípcios.

Mas o pior ainda estava por vir…

Semana que vem: Corram para as colinas! Os mamelucos estão chegando!

#Templários

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/quinta-sexta-e-s%C3%A9tima-cruzadas

[parte 4/7] Alquimia, Individuação e Ourobóros: A arte Alquímica

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“Tudo vai, tudo volta; eternamente gira a roda do ser. Tudo morre, tudo refloresce, eternamente transcorre o ano do ser. Tudo se desfaz, tudo é refeito; eternamente constrói-se a mesma casa do ser. Tudo se repara, tudo volta a se encontrar; eternamente fiel a si mesmo permanece o anel do ser. Em cada instante começa o ser; em torno de todo o “aqui” rola a bola “acolá”. O meio está em toda parte. Curvo é o caminho da eternidade.”

– Nietzsche

Alquimia

Esta é a quarta parte da série de sete artigos “Alquimia, Individuação e Ourobóros”, que é melhor compreendida se lida na ordem. Caso queira acompanhar desde o começo, leia as parte 1, 2 e 3.

No post anterior, vimos que, o arquétipo de Hermes, juntamente com o simbolismo do caduceu, serve como organizador e centralizador da psique, atuando no “caos primordial”, estruturando-o e elevando seu potencial. Este caos primordial é análogo ao conceito de prima matéria dos alquimistas. Ambos os conceitos se apresentam como uma fonte de energia desordenada, cuja harmonização permite a obtenção de um potencial incalculável.

“Nasce como uma ciência natural que busca a compreensão da própria natureza a partir de uma especulação filosófica, como se pode ver já na filosofia pré-socrática no século VI a C. É dela que nasce o conceito de prima matéria a partir da crença de que o mundo tinha origem em uma única substância que era subdividida nos quatro elementos terra, ar, fogo e água, os quais, segundo diferentes recomposições faziam surgir todos os objetos físicos existentes no universo. Esta idéia, a prima matéria, teve sua evolução chegando com Aristóteles a ser considerada como pura potencialidade, que em seguida adquire forma, quando é atualizada na realidade.” (SANTOS, 2013)

Para Jung (2008), a manipulação da prima matéria, correspondente aos aspectos inconscientes dissociados. O alquimista tem que realizar a Opus Alquimica, que corresponde ao processo de individuação, transformando seus conteúdos internos e os trazendo a luz da consciência. Esse processo acontece através de três (podem ser quatro) momentos alquímicos e psíquicos: nigredo, albedo, rubedo. Vale a pena frisar que as metáfora alquímicas compreendem um vasto simbolismo, que varia entre os alquimistas e pesquisadores, porém todos resultam no mesmo objetivo: a obtenção da pedra filosofal.

Dentro destes momentos, pode-se dividir a Opus em diferentes estágios, que variam dentro do arcabouço alquímico, mas que neste trabalho, será utilizado as definições de Hauck (1999), podendo ser resumidas em sete estágios de transformação: calcinação, dissolução, separação, conjunção, fermentação, destilação e coagulação.

Esta imagem mandálica é um clássico da alquimia medieval, ela foi primeiramente publicada em 1959 pelo alquimista alemão Basil Valentine, e representa o conceito de Azoth:

“Azoth era considerado como um remédio universal, ou solvente universal utilizado na alquimia. Seu símbolo era o caduceu; o termo, que foi originalmente um nome para uma fórmula oculta necessária para os alquimistas parecida com a pedra filosofal, se tornou uma palavra poética para o elemento mercúrio, o nome é proveniente do Latim Medieval, uma alteração de “azoc”, sendo originalmente derivado do árabe “al-zā’būq”, que significa “o mercúrio”.” [tradução livre] http://en.wikipedia.org/wiki/Azoth

Esta imagem irá nos guiar frente ao simbolismo utilizado na metáfora alquímica. No centro da imagem temos o homem, alquimista. A sua direita, um rei, princípio masculino, solar, a sua esquerda uma rainha, princípio feminino, lunar. A dicotomia já nos é evidente, sugerindo que a integração destes aspectos seriam necessários para atingir a Opus.

Podemos notar a presença dos quatro elementos, como manifestação quaternária do todo, associados à tipologia junguiana. Vemos na imagem, o pé direito do homem na terra, seu pé esquerdo na água, sua mão direta segurando uma tocha, associada ao fogo, e sua mão esquerda segurando uma pena, associada ao elemento ar. Há também os triângulos adjacentes a roda, representando a manifestação trina do corpo, alma e espírito.

Na parte superior da figura, é possível ver uma estranha figura alada, que pode ser associada com o disco solar egípcio ou o topo do caduceu de Hermes (Mercúrio), analisado anteriormente. Exstem uma série de simbolismos na imagem, como por exemplo o leão sob o rei, a salamandra em chamas e os pássaros da roda, porém seria necessário um outro post apenas para interpretá-los.

Por fim, temos a circular dos raios, associados com diferentes cores, que representam os estágios alquímicos. Estes estágios serão nosso foco daqui pra frente.

As etapas Alquímicas

O primeiro raio está associado à calcinação, ou calcinato, intrínseca ao elemento fogo. Para Hauck, esta etapa está psicologicamente associada a morte do ego e destruição dos mecanismos de defesa, a extinção do interesse no mundo material, e as respectivas ilusões associadas a este. Inicia-se o processo de enegrecimento, podemos citar como ilustração desta etapa, “escuro e nebuloso é o início de todas as coisas, mas não o seu fim”, frase de autor desconhecido.

Para Masan (2009), esta operação é realizada na Sombra, onde permanecem os desejos instintivos e não integrados. O fogo é está ligado com a frustração dos desejos, aspecto natural do processo de desenvolvimento associado ao Si-mesmo.

“Os aspectos do ego identificados com as energias transpessoais da psique (Self ou mesmo, o fogo Divino) e utilizados para fins pessoais, sejam de poder ou de prazer, serão calcinados. Quanto maior a dicotomia entre bem e mal, certo e errado, ou seja, quanto maior a polarização desses aspectos neuróticos, mais longa será a calcinação desses elementos, até que o fogo da própria culpa esvazia a balança do julgamento por essa imagem punitiva e compensatória, representada pela ira divina, enquanto imagem arquetípica constelada no psiquismo”(MASSAN, 2009, 26).

O segundo raio está associado com a etapa de dissolução, ou solutio, representada pelo elemento água. Psicologicamente dizendo, está atrelada com a quebra das estruturas artificiais da psique, através da imersão no inconsciente, ou das partes irracionais e rejeitadas. O elemento água como uma abertura das comportas, e inundação de energias pessoais antes cristalizadas, dissolução de aspectos fixos da personalidade.

“A operação apresenta, no aspecto negativo e sombrio, um sentido de dissolução da matéria diferenciada ou conteúdo do ego […]. Por outro lado, em seus aspectos superiores, onde ocorre à transposição de opostos, consolida-se o espírito, ou seja, os aspectos transpessoais da pisque objetiva, o Si-mesmo. É o encontro com o Numinoso, que reestabelece a saúde da relação ego-Self, salvando apenas o que vale ser salvo, os conteúdos realmente alinhados com o Si-mesmo, e redimindo os conteúdos comprometidos, derretendo-os ou reordenando-os em novas estruturas”.(MASAN, 2009, 14)

O terceiro raio diz respeito à separação, ou separatio. É o momento de captar tudo aquilo que sobrou das etapas anteriores e selecionar. É recuperar a energia congelada dos hábitos e pensamentos cristalizados (pré-conceitos, crenças, fobias). Refere-se à essência e energia separada das amarras da matéria. Esta psicologicamente associada à escolha dos aspectos dissolvidos anteriormente, desapegando daquilo que não mais apresenta valor psíquico, explicitando a essência e valores espirituais, portanto, associado ao elemento ar.

“Surge aí à necessidade de dissecar esses conteúdos do inconsciente pessoal e coletivo e realizar a escolha, a separatio, trazendo a consciência, através do ato de julgar, uma vinculação com o Self. Isso requer um poder para arcar com o ônus dessa escolha, uma desvinculação da necessidade de atender aos critérios do outro, mas sim de ser fiel àquilo para o que aponta o Si-mesmo, da mesma forma como não se pode servir a dois senhores, só que sem o domínio neurótico da unilateridade” (MASAN, 2009, 25).

A conjunção, ou coniunctio, é análoga ao quarto raio da figura. Conjunção é a grande guinada do opus alquímico. Notemos que na figura, através do movimento circular, existe o deslocamento das forças da alma (na direita), para o espírito (na esquerda). Em nível pessoal, a conjunção é o fortalecimento do nosso verdadeiro Self, a união dos aspectos masculinos e femininos de nossa personalidade em um novo sistema psíquico. Esta etapa corresponde à ‘pequena pedra’, ou o primeiro esboço do que seria a pedra filosofal atingida no final da operação.

“Conjunção pode ser vista com a criação de um self superior e a conquista do que Carl Jung nomeou de individuação, no qual o self fragmentado é reunido à um todo original. A criação desta pessoa completa e harmoniosa significa que atingimos nosso máximo no plano terrestre”. (HACUK, 1999, 162)

Associada então com o elemento terra, a conjunção pode ser divida em duas sub-etapas, segundo Masan: coniunctio inferior e superior. Na primeira, a união dos opostos separados de forma imperfeita, resulta em algo que deverá ser submetido a novos procedimentos.

Masan define que a coniunctio inferior acontecerá sempre que o ego identificar aspectos inconscientes, como a sombra, anima, ou mesmo o Si-mesmo (Self), através de uma perspectiva introvertida ou coletiva. Essa identificação deve ser ‘purificada’, ou seja, eliminada, redimida, para dar continuidade ao processo de individuação. A coniunctio superior representa a conjunção mor dos aspectos previamente impossíveis de serem integrados. Após passar pelos estágios anteriores da Opus, a prima matéria pode finalmente ter seus opostos complementados.

“Assim como na alquimia, a psique, dentro do processo analítico, vai transformando-se, ora dispondo-se num lado e ora de outro, no sentido das suas polaridades, até que lhe seja capaz a absorção de uma terceira figura, gradativa e construída, surgida de dentro da sua própria alma que lhe traduz essa expressão de convivência com o dual. A dissolução do conflito, gerado pelas dicotomias neuróticas, concebe o cenário onde essa pedra, em cujo seio se fixa o espírito, se manifesta. […] O casamento Divino, que somente existirá se ali houver o Amor, sua causa e seu efeito.

Enquanto na coniunctio inferior o amor é concupiscente, aqui, na coniunctio superior, esse amor é transpessoal. Revela-se no mundo como o altruísmo em seu sentido extrovertido e na psique, como a conexão com o Si-mesmo, gerando a unidade” (MASSAN, 2009, 34).

Masan apresenta o Amor como uma das chaves para a integração psicológica dos opostos. Seria insensato pensar em amor se associá-lo com o coração. A simbologia do coração é estudada no livro “A Psique do Coração”, de Denise Ramos. A autora apresenta mitos e imagens de culturas americanas que tinham como centro o coração, sendo ele, em quase todas as histórias um ícone do sagrado ou oferecido ao sagrado.

No capítulo “Elegias Para Acalmar o Coração”, é somado às ideias de rezas para ‘abrir’ o coração e permitir o esvaziamento do sofrimento com o preenchimento de Deus. No capítulo “O Coração em Julgamento” é recapitulado toda a simbologia do coração no antigo Egito, como este sendo um exemplar da alma do indivíduo.

Ainda nesse mito egípcio, ao morrer, o coração era pesado numa balança, onde na contraparte ficava a pena de Maat. Neste julgamento especial, se o coração fosse mais pesado que a pena, ou seja, estivesse carregado das impurezas do ego, não era permitido ao falecido integrar-se a completude.

No sub-capítulo “O Lugar Secreto” é destacado o valor simbólico do coração na tradição hindu, e como o coração está associado nestas culturas como o ‘lugar da consciência”, sendo o Self em si, o lugar que o homem emana a si mesmo, um guia de luz.

Ainda segundo a autora, Anãhata é a representação do chakra cardíaco no Tantra Yoga, que une os chakras superiores com os inferiores, o Tantra Yoga tem como objetivo alinhar e equilibrar as polaridades masculinas e femininas. Tal equilíbrio acontece no coração, e quando acontece, o praticante da técnica consegue ouvir o som ‘hum’ (ॐ), do vazio, que emana por todo o tempo e espaço.

Essas informações aparecem no sub-capítulo “O Lugar do Som Universal”. Uma frase que pode exemplificar o amor como via de integração das polaridades é a de Nietzsche: “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal”.

Hauck (1999) sincretiza o processo alquímico da conjunção da seguinte forma: “Psicologicamente, Conjunção é usar a energia sexual dos corpos para transformação pessoal. Conjunção se ocupa no corpo no nível do coração”

A próxima figura, é uma foto tirada no dia 06/06/2013 no Elevado Presidente Costa e Silva, São Paulo, conhecido também como “Minhocão”:

É possível perceber inúmeras analogias com os temas tratados neste trabalho. A expressão artística urbana expressando a angústia de uma sociedade doente, cindida. Amor e Ourobóros como resoluções arquetípicas coletivas. Apesar de toda a fertilidade do tema social em questão, voltemos a descrição das etapas alquímicas.

Podemos perceber, portanto, que apesar de todo o processo alquímico estar intimamente ligado ao processo de individuação, a etapa de Conjunção é a que representa o ápice do processo, que é a integração dos aspectos complementares.

A quinta etapa do processo alquímico descrito por Hauck, observado na imagem é a fermentação. É a introdução de uma nova perspectiva de vida, resultado da etapa anterior – Conjunção – que é a ascensão para um novo estado de consciência, a transição para um estado mental elevado. Nesta etapa, existe a transição da nigredo para a leukosis, resultando no aparecimento da cauda pavonis, metáfora para imaginação ativa e ‘coloração da vida’, alguns autores definem esse amarelamento (leukosis) e o aparecimento da “cauda pavonis” como uma quarta etapa, entre o nigredo e albedo, enquanto outros, definem apenas como um aspecto transitório entre estas duas etapas. Representa psicologicamente a transição da psique para um estado mais conectado com o espírito, ou na nomenclatura junguiana, Si-mesmo (Self).

O penúltimo raio é análogo à etapa de destilação, ou destilatio. Neste estágio a metáfora que se apresenta é o aumento da pureza, associado com a cor branca, ou albedo. Psicologicamente, representa o esforço para que as impurezas do ego e do id não sejam incorporadas no último estágio. Representa a eliminação dos sentimentalismos e emoções, ou ainda melhor, das paixões egoístas e infantis, aspectos que na manifestação do verdadeiro Self, não são pertinentes, uma vez que se procura um estado pleno de espiritualidade.

“Seus pensamentos e sentimentos são os sentimentos e pensamentos do Universo inteiro”, Esta declaração descreve o processo de destilação, onde [o alquimista] se tornou muito mais interessado no bem maior do que apenas em seu próprio. É a fase de transformação onde estamos espiritualmente e emocionalmente maduros o suficiente para fundir-nos com o inconsciente coletivo sem sermos devastados pelo o que encontramos lá. A razão pela qual nós podemos manter o nosso equilíbrio, depois de ter chegado à fase de destilação é que o ego não nos controla e, portanto, podemos apreciar os mistérios do coletivo – e pessoal – material da sombra, sem a intromissão do ego.

Destilação traz o criativo fora de nós. Ela incentiva tudo o que somos se manifestar em formas equilibradas e serenamente poderosas. Ele anuncia a entrada da influência das forças superiores e do equilíbrio dessas forças com os inferiores, que fornecem firmeza, tão crucial para a totalidade” (SHANDERÁ, 2002).

O sétimo e último estágio é chamado de coagulação, ou coagulatio. Representa a ressurreição do espírito, materializado no corpo.

“A Coagulatio é uma operação que expressa, pelas suas imagens, o processo de formação do ego e sua ligação com os aspectos da vida, as forças ctônicas, através da vivência da carnalidade no seu sentido mais amplo, construindo, pelas experiências, a terra onde se lastreia o ego em seu caminhar e, logicamente, configurando, por essas mesmas vivências, a relação do eixo Ego-Self” (MASSAN, 2009, 34)

É a representação da pedra filosofal, ou Grande Pedra, antes anunciada pela coniunctio. O alquimista adentra o estágio de rubedo, e pode “curar-se de todas as feridas e enfermidades” (HAUCK, 1999, 140). Esta etapa é utilização da libido dentro de sua forma plena, integrada com a impulsão da consciência para os estados mais elevados do vir-a-ser.

“Vale ressaltar que o desejo é o agente da coagulatio. Esta operação é necessária não para aqueles que já se movimentam adequadamente dentro de sua libido, mas para aqueles outros com uma inconsistência em seu querer e o temor de colocar os pés na vida, com dificuldade, inclusive de sorver os cálices que ela dispõe. O desenvolvimento do ego nestes casos passa pelo lugar dessa consciência e realização do desejo, a fim de que haja a movimentação da energia psíquica” (MASSAM, 2009, 22).

Neste estágio, para Hamilton (1985), é manifestada, no alquimista a vontade de encarnar na terra o estado de consciência iluminado na mente e no corpo. É como se uma alma desejasse ser ‘encorpada’ sem o senso de separação do seu estado puro original. Só quando a alma está encarnada na psique que pode ser vivenciado o estado espiritual de completude. A psique pode agora expressar as qualidades da alma e da natureza. A frase “assim na terra como no céu” ilustra com perfeição este estado.

“Esta união do espírito / alma com o corpo / mente representa o final e mais importante casamento alquímico. Agora a anima torna-se a Mãe de Deus, ou a Consorte de Deus, o objeto do amor místico. As figuras de animus correspondentes são Os Iluminados – Cristo, Buda, Santos, etc. Isto significa que a consciência de Deus, ao nascer no mundo da terra, percebe sua natureza divina conscientemente – como um indivíduo transcendental e iluminado, num estado de unidade com o todo cósmico. Isso, então, é a pedra filosofal que o alquimista procurava. É o grande ponto culminante da Grande Obra” (HAMILTON, 1985, 8).

Ainda para o autor, o equivalente terapêutico é fácil de ser percebido, uma vez que o paciente transcendeu a natureza de seus dilemas e conflitos, e isso envolve uma mudança de personalidade que vai acomodar e manter essa realização. O paciente percebe que sua vida tem sido uma imposição que resultou numa série de problemas, e agora inicia um processo de mudança para uma sustentação mais pertinente a sua verdadeira natureza.

Hauck (1999) define que, ao atingir este estágio, o raio de transformação se volta a terra, e é iniciado novamente o ciclo previamente proposto, indicando que os estágios e transformações são processos eternos e constantes, assim como a lapidação do Self, ou o processo de individuação proposto por Jung, fazendo com que o alquimista volte à etapa de nigredo, e continue seu processo.

“Tudo o que coagula está sujeito a transformar-se. Dai decorre que após a coagulatio, os processos de putrefactio e mortificatio se realizam também, até porque, o fim da encarnação é o desencarne, visto que está sujeito às injunções do tempo e do espaço” (MASSAN, 2009, 27).

Percebemos que o processo alquímico é cíclico, e, assim como o processo de individuação, exige um constante processo de atuação do indivíduo para com seus conteúdos, processo este que Jung define acontecer por toda a vida.

A mesma metáfora pode ser utilizada para definir o Ourobóros, um processo cíclico e constante, que representa a integração de opostos e a volta para a unidade. No capítulo seguinte iremos analisar a figura arquetípica do Ourobóros e avaliar suas correspondências com o processo alquímico e o de individuação.

Referências Bibliográficas:

HAMILTON, Nigel. The Alchemical Process of Transformation. Disponível em: http://www.sufismus.ch/assets/files/omega_dream/alchemy_e.pdf. 14/05/2013

HAUCK, Dennis Willian. The Emerald Tablet: Alchemy for Personal Transformation. Arkana. Ed.Pengun Group. 1999.

MASSAN, Francisco. Opus Alquímica e Psicoterapia. Disponível em: www.clinicapsique.com/doc/opus.doc. 14/05/2013

RAMOS, Denise Gimenez. A Psique do Coração: Uma Leitura Analítica de seu Simbolismo. São Paulo. Cultrix. 1990.

SANTOS, Vitor P. Calixto. Jung e a Metáfora Alquímica. Disponível em http://www.symbolon.com.br/artigos/jungeameta.htm. 14/05/2013

SHANDERÁ, Nanci. The Alchemy in Spiritual Progress – Part 7: Distillation. Disponível em: http://alchemylab.com/AJ3-1.htm. 14/05/2013

Imagens:

“Nigredo, Albedo e Rubedo” de Thomas Norton em ‘Ordinal of Alchemy’, 1477

“Azoth” de Basil Valentine

“Calcinato Angelus” de Suanne Iles

Trecho do filme “Elena” de Petra Costa, 2013

“Artodyssey” de Tomasz Alen Kopera

A interação das polaridades (sol e lua). “Rosarium Philosophorum”, Séc XVI

Andrógino, representando a natureza dual. “Rosarium Philosophorum”, Séc XVI

“Heart Chakra” de Ormus Oils

Coração e pena na balança em hieróglifo egípcio

“Mais amor por favor” (ygormarotta.com/mais-amor-por-favor)

Pavão em tecido

Gravura representando a destilação, capa do livro “O Museu Hermético” de Alexander Robb

“Aquamarine Muse” de Philip Rubinov Jacobson

A natureza de Buddha

Ricardo Assarice é Psicólogo, Reikiano e Escritor. Para mais artigos, informações e eventos sobre psicologia e espiritualidade acesse www.antharez.com.br

#Alquimia

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/parte-4-7-alquimia-individua%C3%A7%C3%A3o-e-ourob%C3%B3ros-a-arte-alqu%C3%ADmica

Zoantropia

Espíritos desencarnados podem ser tão ruins quanto os encarnados e, em alguns casos, se apresentam com formas animalescas que refletem sua degradação espiritual e moral.

Zoantropia é o fenômeno em que os espíritos desencarnados devotados ao mal se tornam visíveis aos homens sob formas animalescas, demonstrativas de sua degradação tanto moral quanto espiritual. Essas formas são as mais diversas, sem esquecer da forma “diabólica” em que muitos se apresentam, com cara de homem, chifres, rabo e pés de bode, ou seja, um ser misto de homem e animal.

Muitos livros de ficção foram escritos em torno do tema, e também surgiram vários filmes e novelas explorando esse filão. Como sempre, no fundo das lendas e da imaginação popular há sempre uma verdade a ser encontrada. Mas é preciso não acreditar em tudo e tampouco negar tudo. Não existe o sobrenatural, porque tudo o que ocorre na natureza é natural, obedecendo a leis emanadas do Criador. O desconhecimento dessas leis é que leva ou à descrença ou à superstição. É por isso que o homem coloca “adereços” na verdade, de forma a deturpá-la.

Muitas pessoas já me contaram casos de lobisomem (licantropo) e juram que o viram. Dessa vez, vou deixar de lado esses casos e narrar alguns encontrados principalmente dentro da hagiografia e da literatura espírita.

As forças malévolas sempre atacam aqueles que servem ao bem. E, assim sendo, não é raro encontrarmos na vida dos santos fenômenos de zoantropia.

O hagiógrafo José Hussieim, na obra Heroínas de Cristo (Editorial Poblet), relata que na vida de Santa Gemma Galgani (1878-1903) ocorreram dolorosos fenômenos de infestação espiritual produzidos por entidades malfazejas do mundo invisível, que tomavam as mais terríveis formas. Uma delas aparecia às vezes “como um cão feroz que se arrojava sobre ela ou como um monstro gigantesco que a afligia a noite inteira, gritando: Tu me pertences! Tu me pertences!”.

São Pedro de Alcântara (1499-1562) sofreu grandemente a investida das forças do mal, às quais venceu com sua humildade e devoção ao bem. Frei Estefânio José Piat, na obra São Pedro de Alcântara (Ed. Vozes), descreve um desses ataques, acompanhado de fenômenos físicos: “O Diabo entra agora em cena. Obsessiona-o sob formas asquerosas, persegue-o com escárnios, com gritos e ruídos noturnos. E chega mesmo às vias de fato: derruba-o, sufoca-o até quase o estrangular; cobre-o com chuvarada de pedras que, na manhã seguinte, ainda se encontram espalhadas pelo soalho da pobre cela”.

QUE TAMBÉM RECEBEU CRUÉIS ATAQUES DE ENTIDADES TENEBROSAS e vingativas, interessadas em prejudicar a sua obra missionária, foi Dom Bosco (1815-1888). O Padre Aufíray, na célebre obra Saint Jean Bosco (Librarie Catholique Emmanuel Vitte), descreve essas perseguições confidenciadas pelo notável santo aos padres Cagliero, Bonetti e Ruffino, que certa manhã o encontraram pálido e extenuado. Além de gritos nos ouvidos, ventos repentinos, puxões nas cobertas, estrondos no teto da casa e outros fenômenos físicos, Dom Bosco enfrentou também os fenômenos de zoantropia (inclusive a licantropia), atestando a sua mediunidade poderosa e grande espiritualidade. Os perseguidores desencarnados apareciam “sob as expressões de animais ferozes – ursos, tigres, lobos, serpentes – ou sob o aspecto de monstros indescritíveis, que o atacavam furiosamente”.

São Geraldo Majela (1726-1755), cuja vida foi povoada pelos mais extraordinários fenômenos, não escapou também a zoantropia. Seu hagiógrafo, padre Montes, narra vários casos na obra São Geraldo. O primeiro ocorreu antes do santo entrar para o noviciado dos redentoristas. Dotado de grandes virtudes e fervor, gostava de fazer vigília na igreja de Muro, sua cidade natal. “Uma noite, ao abrir a porta da igreja, viu Geraldo na obscuridade os enormes olhos esbraseados de um cão que avançou como se quisesse saltar-lhe ao pescoço. O primeiro impulso do jovem foi o de gritar e fugir. Compreendeu, todavia, que aquele cão descomunal, que se encontrava dentro do templo, não era um animal como os demais. Entrou, tomou água benta e fez o sinal da cruz. O macabro assaltante retrocedeu e, dando horroroso uivo, desapareceu como por encanto”.

Já como Irmão Coadjutor, em Iliceto e outros conventos, numerosos grupos de “demônios” apareciam-lhe em forma corpórea. “Às vezes, tais como os representa a imaginação popular, com enormes chifres, fisionomia repugnante, pele vermelha ou negra e rabo descomunal. Executavam ataques simulados e davam gritos e uivos capazes de gelar o sangue a um cristão. Outras vezes, disfarçados em enormes cães pretos e lobos medonhos, atacavam a Geraldo como querendo devorá-lo. Vendo que as ameaças não impressionavam ao heróico jovem, os espíritos infernais não se contentaram com berros e ameaças”.

“Certo dia, lançaram-se sobre Geraldo, deitaram-lhes suas asquerosas mãos, lançaram-no por terra e maltrataram-no de tal maneira que, no dia seguinte, não pode levantar-se do leito. Outra noite, precipitaram-se sobre ele dois lobos gigantes, com uivos selvagens e, agarrando-o pela batina, arrastaram-no pelos corredores, saíram com ele para a horta e lá no fundo, tendo-o arrastado por pedras e lama e quanta imundície havia, lá o deixaram semimorto”. Tentavam, também atirá-lo ao fogo ou afogá-lo.

CHAMADA DE A VIDENTE DE PREVORST, FREDERICA HAUFFE (1801-1829), sensitiva alemã de faculdades excepcionais, costumava expulsar espíritos por meio de fórmulas escritas. A pedido do dr. Justinus Kemer, ajudou Fritzien, uma senhora idosa que foi perseguida durante 24 anos. “Tudo começou quando, ao deitar-se, ainda acordada, ouviu pela primeira vez um estalo na cama; em seguida viu um jato de luz azulada e a aparição de um ser semelhante a uma raposa, que se lhe aproximou da cama e desapareceu. Outra noite percebeu a mão de uma criança na sua. Esforçando-se para retirá-la, sentiu-se opressa, como sob a influência de um grande peso. Desde então, viu-se perturbada todas as noites, a princípio por luzes brandas, depois pela aparição de formas vivas, corujas, gatos ou cavalos, todos medonhos e assustadores”. Com a ajuda prestada pela vidente cessaram as perturbações na vida de Fritzien.

Na literatura espírita encontramos as explicações de como se processam esses aviltamentos das formas. Segundo Gúbio, instrutor de André Luiz, temos que tomar “por base, acima de tudo, os elementos plásticos do perispírito”.

A zoantropia não se manifesta só nos desencarnados. Os encarnados também apresentam problemas desse tipo. Vejamos apenas três casos: um extraído da Bíblia, outro de uma obra de André Luiz e o terceiro narrado pelo Cel. Edynardo Weyne.

O caso bíblico, encontramos em Daniel (4:25 a 34), e fala do rei Nabucodonosor, da Babilônia, que viveu como animal durante sete anos, findo os quais recobrou o juízo, o reino e a figura humana, glorificando a Deus e a Sua justiça. Destaquemos o trecho em que se opera a transformação: “Anunciam a ti, rei Nabucodonosor, que teu reino te foi arrebatado. Vão expulsar-te dentro os homens para te fazer viver entre os animais dos campos; pastarás ervas como os bois. Sete tempos passarão sobre ti, até que reconheças que o Altíssimo domina sobre a realiza humana e que a confere a quem lhe apraz” (Bíblia Sagrada. Editora Ave Maria, 18. edição, 1971).

“Na mesma hora se cumpriu esta palavra na pessoa de Nabucodonosor, e ele foi lançado da companhia dos homens, e comeu feno como o boi, e o seu corpo foi molhado do orvalho do céu: de sorte que lhe cresceram os cabelos e o pelo, como as plumas das águias, e as suas unhas se fizeram como as garras das aves”.

NO CAPITULO 23 DA OBRA NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE temos um exemplo de fascinação muito interessante. Uma senhora, dominada por um terrível hipnotizador, acompanhado por vários companheiros vingativos, adquiria aspecto animalesco, “quase que uivando e coleando pelo chão”. Não fosse a assistência espiritual, seria vítima integral da licantropia deformante. O instrutor Gúbio explica: “Muitos espíritos, pervertidos no crime, abusam dos poderes da inteligência, fazendo pesar tigrina crueldade sobre quantos ainda sintonizam com eles pelos débitos do passado. A semelhantes vampiros devemos muitos quadros dolorosos da patologia mental nos manicômios, em que numerosos pacientes, sob intensiva ação hipnótica, imitam costumes, posições e atitudes de animais diversos”.

Na obra A Próxima Parada, o Cel. Edynardo narra um caso interessantíssimo: “A 5 de agosto deste ano (1983), Valdeci Ribeiro de Souza, filho de João de Souza Filho e Francisca Ribeiro de Souza, 14 anos, residente no Sítio Coqueirinho, em Mangabeira, Aquiraz, e aluno do Grupo Escolar local, teve uma crise convulsiva. Foi levado às pressas para o Posto José Frota de Mecejana. Aplicaram-lhe uma injeção de Diasepan e recomendaram que o conduzissem ao Hospital de Saúde Mental para tirar um eletroencefalograma, pois suspeitavam de epilepsia. Como as crises continuassem, não falava, não dormia e chorava sem parar, o trouxeram para o Hospital de Saúde Mental. Lá ficou por três dias”.

“Ao voltar para casa, o corpo tinha marcas de pancadas, o rosto edemaciado e um olho “preto”. Contou que apanhara muito. No nosso plantão das quartas-feiras, a família o trouxe ao Centro Espírita Amor ao Próximo. Não mais parecia uma criatura humana! A entidade que o manipulava lhe transmitira sua configuração Espiritual (fenômeno de zoantropia). Adquirira a forma de um macaco. Essa degradação do perispírito do possessor foi logo identificado por uma vidente da nossa equipe de desobsessão. Cerca de dez pessoas, que se encontravam presentes, viram-no com as mãos dobradas, como se fossem patas, tentando agredir a tapas. Com fúria animalesca, procurava morder quem dele se aproximasse. Não falava, guinchava. Sua expressão fisionômica era simiesca. Coçava a barriga exatamente como fazem os macacos. Sua força era superior a de vários homens juntos”.

Ele continua narrando que “após três sessões de transfusão energética, com complementação ectoplásmica, recuperou o aspecto humano e o comando da mente. Na segunda-feira seguinte, dia de sessão pública, mais de cem assistentes de todas as classes sociais viram o final dessa trágica metamorfose. Voltara-lhe a consciência de sua própria identidade!”

“Reprimir, bloquear, dopar, submeter a choques elétricos ou bioquímicos a incipiente mediunidade de um paciente sensitivo é inócuo, quase perversidade! Jamais ele passará de um “trapo ambulante”. Nunca se chegaria a uma solução autêntica como no caso desse menino-macaco. Para esse tratamento não empregamos nenhum produto farmacêutico convencional. Apenas o humilde arsenal terapêutico da Medicina dos Espíritos: a prece, o passe, a cooperação dos benfeitores do espaço, a água fluidificada, o amor e a fé. Principalmente a fé. Fé consciente, inamovível, granítica. Aquela fé que remove montanhas, como nos falou o meigo Filho de Maria”.

Para encerrar esse artigo vou narrar mais um caso ocorrido com um encarnado, cujas faculdades mediúnicas estavam começando a aflorar. Na obra Ala Dezoito, o escritor espírita Frungilo Júnior apresenta um fenômeno de zoantropia muito interessante, ocorrido com um advogado que se encontrava internado em hospital, por apresentar comportamento anormal, devido a “visões” que estava tendo: “Roberto começa a se agitar. Abre os olhos e aquilo que lhe parecia um sonho começa a se misturar com a realidade. Em primeiro lugar, não consegue atinar com o lugar onde se encontra; iluminada pela luz de um abajur, vê a esposa deitada no sofá, porém não a vê sozinha. Ao seu lado, duas figuras animalescas assediam-na, voluptuosamente. Possuem corpo, braços, pernas, cabeça, como um ser humano, porém, suas constituições físicas, no que se refere ao que lhes serve como tecido epidérmico, são de uma textura animalesca e repugnante. Cascos, no lugar dos pés, garras como mãos, olhos obliquamente compridos, maxilares protuberantes, chifres recurvados, sexos à mostra, tudo com forte odor nauseabundo e fétido, são as características horripilantes dessas criaturas que possuem, como vestes, apenas um tipo de colete escamoso, que mais parece uma continuação de seus horrendos corpos, diferenciando de todo o resto pela cor escarlate que apresentam”.

Quando a medicina terrestre estiver de mãos dadas com o conhecimento espiritual, será mais fácil o tratamento e a cura desses problemas expostos. Aguardemos!

Extraído da revista Espiritismo e Ciência número 20, páginas 6-10

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/zoantropia

32 Papas e uma garrafa de Rum – parte II

Postado originalmente em 01.10.2008

Semana passada, começamos a esmiuçar a origem dos Templários, Rosacruzes e da Maçonaria, ligados aos cultos essênios, aos construtores do Templo de Salomão, passando pelos Pitagóricos e faraós egípcios, cuja tradição se estende até mais de 4.000 anos antes de Cristo. Chegamos nos conturbados séculos I ao IV, que formou as bases do que mais tarde seria conhecida como Igreja Católica Apostólica Romana.

Como é impossível separar a história dos Templários, Druidas, Cátaros e outros hereges da história da ICAR, pretendo intercalar um post a respeito de cada Igreja/religião, para que vocês mesmos possam traçar paralelos do que aconteceu e tirarem suas próprias conclusões.

Semana passada falei sobre o início das revoluções judaicas, da expansão do Império Romano e da guerra entre os Imperadores Romanos (que veneravam os deuses greco-romanos e acreditavam nos preceitos da cultura helenística) e os rebeldes que defendiam o tal do Jesus Cristo (Yeshua).

Acredito que a forma mais prática de entender o que aconteceu é fazer uma breve lista de todos os papas e suas contribuições para o esqueleto desta religião que estava se formando. Começaremos pelo primeiro papa:

Pedro (Petrus I) cuja mitologia católica o coloca como sucessor de Jesus. Na verdade, cada um dos doze apóstolos tomou os ensinamentos e espalharam-se pelo mundo para continuar o trabalho iniciático essênio e espiritualista que Yeshua fazia parte. São Pedro e São Paulo ficaram em Roma, onde Pedro se tornou “Bispo de Roma”, ou seja, o responsável por implantar a religião essênia dentro da boca do leão (literalmente). A palavra Bispo significa “supervisor”. Foi crucificado de cabeça para baixo pelos exércitos do imperador Tiberius Claudius. O símbolo de Pedro passou a ser a cruz de ponta cabeça. Assim como Yeshua, a história de Pedro foi “absorvida” para dar suporte aos interesses do catolicismo. Seus seguidores, porém, ao usar a cruz de ponta cabeça como símbolo, foram taxados de “satanistas”.

Lino I foi o segundo papa, coordenou o bispado de 67 a 76 e foi o responsável pelo decreto que obrigava as mulheres a cobrirem a cabeça dentro de um templo. A ICAR diz que ele morreu como mártir, mas evidências históricas dizem que isto é improvável, Foi substituído por Anacleto I, que teve muita sorte: neste período ocorreu a erupção do Vesúvio (79), com as cidades de Pompéia e Herculano soterradas e os relatos do começo do “fim do mundo” ajudaram a elevar a popularidade do cristianismo. Dele são atribuídos uma série de orientações que condenam o culto de objetos “mágicos e de feitiçaria” e de aceitarem comida oferecidas aos deuses pagãos. Também a ele é atribuída a instauração da “Saudação e Bênção Apostólica” na abertura das mensagens papais. Anacleto é perseguido pelo imperador Domiciano e morre nos leões.

Clemente I assume o bispado em 88. Neste pontificado ocorreu uma segunda perseguição aos cristãos, na época de Domiciano. Mais tarde, Clemente foi preso no reinado de Trajano. Condenado a trabalhos forçados nas minas de cobre de Galípoli, converteu muitos presos e por isso foi atirado ao mar com uma pedra amarrada ao pescoço. Clemente é importante porque foi ele quem primeiro passou a utilizar a palavra “Amém”, de origem dos rituais egipcios (onde significa “Assim seja!”) nas cerimônias cristitas.

O quinto papa, Evaristo (que ficou no bispado de 97 a 105) e o sexto papa Alexandre I (106 a 115) não fizeram grandes coisas e não são muito lembrados. Alexandre foi o bispo que absorveu o costume dos magistas romanos e gregos de utilizar água Lustral em seus rituais, que passou a chamar de “água benta” a partir de seu pontificado.

Durante este período, João Evangelista escreve seu evangelho, que ficou conhecido posteriormente como “Apocalipse” ou “Livro das Revelações”, um dos mais gnósticos e controversos textos da bíblia.

O sétimo papa foi Sisto I. Suas principais contribuições para a igreja cristita foram no sentido de sistematizar e normalizar os vários procedimentos sagrados nas cerimônias religiosas, como o de que qualquer objeto sagrado só poderia ser tocado por ministros sacramentados (este procedimento foi adaptado também dos ocultistas, que trabalham com a consagração de objetos sagrados, que não devem ser tocados por mãos profanas). É atribuída a Sisto a introdução do tríplice canto do Sanctus na missa (adaptado dos ritos de Eleusis), bem como as cartas apócrifas que tratam da doutrina da Trindade e ao Primado da Igreja de Roma. Também entrou em conflito com alguns procedimentos da Igreja da Ásia.

Sisto morreu em Roma e foi sucedido por São Telésforo. Os papas e os vários martirólogos dão-lhe o título do mártir, embora não haja registo histórico de tal evento. Sisto I estava mais para gnóstico do que para um seguidor das doutrinas da ICAR, então é quase um consenso entre historiadores que sua história foi maquiada para servir aos interesses da Igreja.

O papa Telésforo tem um mandato tranquilo, de 126 a 137. O seu reinado, embora desenrolado num período de paz, quando os imperadores Adriano e Antonino não publicaram editos de perseguição aos cristãos, foi marcado por conflitos com as comunidades não cristãs. Boa parte dos costumes católicos usurpados das religiões pagãs foi feito em seu bispado, como por exemplo: a celebração da missa do galo (também conhecida por Missa da Meia Noite, é a missa da Luz. Esta celebração é claramente inspirada nos cultos antigos, nomeadamente celtas, em que se escolhia o solstício do Inverno [22/23 de Dezembro] para prestar culto ao deus Sol. Neste ritual, os sacerdotes sacrificavam um galo em homenagem aos deuses solares), páscoa aos domingos, sete semanas de quaresma antes da páscoa (A Quaresma é uma celebração da morte de Tamuz; a lenda diz que ele foi morto por um javali selvagem aos quarenta anos. Portanto, a Quaresma celebra um dia para cada ano de vida de Tamuz) e o cancionar da Glória normalmente são atribuídos ao seu pontificado.

Em 136, é escolhido Higino como novo bispo. Ele passou maus bocados nas mãos dos gnósticos, especialmente Valentim e Cerdão. Higino mexeu nas estruturas hierárquicas e na cerimônia do batismo (adaptando-as para que ficasse mais próxima do batismo dos iniciados essênios), instituiu as ordens menores para melhorar o serviço da Igreja e preparação do sacerdócio. O décimo papa é chamado de Pio I. O seu pontificado foi marcado por questões envolvendo judeus convertidos e com heresiarcas como os gnósticos Valentino, Cerdão e Marcião, criador do Marcionismo. Procurou o diálogo com os filósofos e estudiosos heresiarcas gregos e egípcios que possuíam versões mais espiritualizadas dos evangelhos sagrados. Foi, provavelmente, martirizado em Roma e foi substituído por São Aniceto, cuja única contribuição foi a de proibir os padres de usarem cabelos compridos.

Em 166 é escolhido Sotero como o décimo-segundo papa. Esse não apenas teve de enfrentar as perseguições de Marco Aurélio como levou uma surra filosófica dos gnósticos, liderados por Montano, que formaram a seita dos Montanistas. A Igreja montanista se espalhou pela Ásia Menor, chegou a Roma e ao norte da África. Seu adepto mais famoso foi, sem dúvida, Tertuliano – o maior teólogo de então.

O papa Eleutério sobe ao poder em 175. Eleutério resolveu a questão de origem judaica, sobre a distinção entre alimentos puros e impuros, libertando os cristãos de restrições alimentares. Quando morre, em 189, Vitor I assume. Vítor I estabeleceu que qualquer tipo de água, quer seja de um rio, mar ou outras fontes, pode ser utilizada no baptismo, no caso de faltar água benta (e começam as acoxambrações da ritualística). Outra contribuição na absorção das crenças alheias foi o estabelecimento do domingo (Dia do Sol, em substituição do sábado) como dia sagrado, copiando os costumes pagãos para anexar suas culturas mais facilmente. Ele também decide fazer as missas em latim ao invés de grego, para popularizar a religião em Roma. Foi substituído por são Zeferino (que introduziu o uso da patena e do cálice de cristal) e em 217 entra São Calixto I. São Calixto era tão picareta que Hipólito, o outro candidato ao papado, se proclama o primeiro Antipapa para combater seus abusos (e fica com a Igreja dividida por 20 anos). Calixto é morto em uma revolta popular que se originou nos próprios fiéis cristãos, tamanhos os desmandos que ele cometeu e é substituído por Urbano I.

Urbano I pegou uma época tranquila, coincidindo com a benevolência do Imperador Alexandre Severo, então passou mais do seu tempo discutindo filosofia com o antipapa do que temendo os romanos. Ponciano tornou-se papa em 230 e deu continuidade pelas brigas filosóficas com o antipapa Hipólito. O que foi uma tremenda burrice, porque eles haviam se acostumado com a moleza de Alexandre e baixaram a guarda…

Quando Maximino Trácio tornou-se imperador de Roma em 235, a primeira coisa que fez foi acabar com as briguinhas entre papas e antipapas e mandar todo mundo para as minas de trabalhos forçados na Sardenha. Ali morreram tanto o papa Ponciano quanto o antipapa Hipólito.
Antero, o décimo-nono papa, ficou pouco mais do que um mês com o poder e O Imperador fez com que se juntasse a seus amiguinhos nas minas de trabalho forçado. O papa seguinte foi um tal de Fabiano I.

Conta-nos Eusébio de Cesaréia que a eleição de Fabiano foi maravilhosa. Voltava ele de fora de Roma, com alguns amigos, quando a assembléia dos Cristãos deliberava sobre a sucessão do papa São Antero. Estavam divididos os votos e não se chegava a um acordo. Foi quando uma pomba branca, vinda não se sabe de onde, pousou sobre a cabeça do admirado Fabiano, que mais admirado ficou, quando, por unanimidade, os Cristãos romanos o apontaram como novo pontífice. Foi obrigado a obedecer. Recebeu ordens sagradas e tornou-se sucessor de São Pedro. Fabiano teve muita sorte, além da pomba… seu papado coincide com as mais sangrentas disputas pelo trono de Roma, e os Imperadores passavam mais tempo protegendo o próprio rabo do que perseguindo os cristãos. Ele sobreviveu a Maximiniano, os dois Górdianos, Pupiero, Balbino, Filipe (o árabe) e Décio.

Fabiano havia batizado o imperador Filipe, o que deu aos cristitas a esperança de uma Roma segura para os cristãos… mas quando o Imperador Décio tomou o poder, a primeira coisa que fez foi picar o papa em pedacinhos e mandá-lo para os leões, só para não perder o costume.

Cornélius I sentou-se no papado por menos de 3 anos. Para variar, a disputa pelo poder da Igreja fez com que o outro candidato, Novaciano, se declarasse papa também (anti-papa na terminologia técnica). Com o poder dividido (de novo), o novo Imperador Treboniano Galo, assim que pega o poder em Roma, manda os dois “papas” brigarem nas minas de trabalhos forçados de Civitavecchia, ondem morrem, para não perder o costume…

O 22º papa, Lucio I, durou cerca de 8 meses no poder. O período do Imperador Valeriano I (253-260) foi um dos mais terríveis para os cristãos (e um dos mais prósperos para os vendedores de pipoca do coliseu). Neste período, mais de 900 cristãos serviram de atração enfrentando gladiadores e leões. Além das perseguições, o papa teve de lidar com os hereges da seita Novaciana (discípulos de Novaciano)

Uma das coisas importantes que devem ficar bem claras é que os mártires acreditavam na REENCARNAÇÃO, de maneira muito semelhante aos kardecistas e espíritas dos dias de hoje. Por esta razão deixavam-se martirizar com tamanho afinco. Eles diziam que não importava quantas vezes os romanos os sacrificassem, eles retornariam para continuar pregando. Mais tarde, quando a ICAR absorveu esse “bônus” de 400 anos no catolicismo, ela “transformou” esses mártires em santos e defensores do catolicismo.

Os papas Estevão I e Sisto II passaram praticamente seus mandatos enfrentando os Novacianos e os romanos e não tiveram tempo hábil para organizar outros projetos.

Somente o 25º papa, São Dionísio, teve um respiro, pois seu papado coincide com os bárbaros tocando o terror no Império romano e os Imperadores mais preocupados com o Asterix e seus gauleses do que com festividades à base de alimentar leões com cristãos. Nos seus quase dez anos de papado, Dionísio conseguiu reorganizar os fiéis em Roma, derrotar os Novacianos e morrer em paz de morte natural, em 268. Note-se o total paganismo no nome do papa.

Felix I, o papa com o mesmo nome do gato do desenho animado, voltou a ter problemas com o Imperador. Juntou-se aos fiéis nas catacumbas, para escapar à perseguição do Imperador Aureliano. Iniciou o sepultamento dos mártires sob o altar e a celebração da missa sobre seu túmulos. Segundo a tradição, o papa de número 26 teria morrido martirizado em 30 de dezembro de 274.

O Papa Eutiquiano, próximo da fila, nasceu em Luni. Foi eleito em 4 de janeiro de 275, governou a Igreja durante oito anos. Ordenou que os mártires fossem cobertos pela “dalmática”, (o manto dos Imperadores Romanos), hoje vestimentas dos diáconos nas cerimônias solenes. Instituiu a benção da colheita nos campos, que é originalmente uma tradição celta e pagã. Ao invés do sexo ritualístico, foi instituída uma missa, trocando o pênis pelo hissope (nome do instrumento que é usado para aspergir água benta) e o sêmen pela água.

Caio I, que reinou de 283 a 296, foi um dos idealizadores do dízimo. Para tentar fazer média com o Imperador, foi o primeiro Papa a conseguir reunir emissários imperiais e fiéis em meio a uma acalorada discussão sobre a legitimidade de se cobrar tributos sobre os cristãos que conseguiu angariar algum tipo de simpatia do poder de Roma.

Tanto Caio I quanto seu sucessor, o papa Marcelino, sofreram perseguições do Imperador e ameaça de divisão da religião, desta vez pelos Donatistas (movimento que surgiu em 304 e condenada qualquer sagração feita por bispos corruptos. Afirmavam que a validade dos sacramentos dependia do mérito daquele que o administrava). Venceu a hipocrisia e Roma decidiu que não importa se o padre seja um pedófilo ou corrupto, seu sacramento continua valendo aos olhos da Igreja.
Marcelo I, meu xará, foi escolhido em 308 e martirizado menos de um ano depois. Decidiu que nenhum concílio poderia ser realizado sem sua presença. Tanto Eusébio (309-310) quanto Melquíades (311-314) tiveram poucos problemas com os Imperadores, pois este período foi marcado por grandes guerras na Europa, Inglaterra e Hispania, contra os celtas e gauleses, o que fez com que os cultos cristãos tivessem relativa paz para se tornarem cada vez mais populares.

Constanino, o marketeiro

O fato de Constantino (272-337) ser um imperador de legitimidade duvidosa foi algo que sempre influiu nas suas preocupações religiosas e ideológicas: enquanto esteve diretamente ligado à Maximiano, ele apresentou-se como o protegido de Hércules, Deus que havia sido apresentado como padroeiro de Maximiano na primeira Tetrarquia; ao romper com seu sogro e eliminá-lo, Constantino passou a colocar-se sob a proteção da divindade padroeira dos imperadores-soldados do século anterior, Deus Sol Invicto.

Constantino acabou, no entanto, por entrar na História como primeiro imperador romano a professar o cristianismo, na seqüência da sua vitória sobre Maxêncio na Batalha da Ponte Mílvio, em 28 de outubro de 312, perto de Roma, que ele mais tarde atribuiu ao Deus cristão: segundo a tradição, na noite anterior à batalha sonhou com uma cruz brilhante nos céus, e nela estava escrito em latim “In hoc signo vinces” (“sob este símbolo vencerás”), e de manhã, um pouco antes da batalha, mandou que pintassem uma cruz nos escudos dos soldados e conseguiu um vitória esmagadora sobre o inimigo.

Claro que isso foi uma pilantragem, para assegurar a simpatia dos cristãos. Assim como o Vidente Juscelino, Constantino comentou sobre suas visões DEPOIS que a batalha foi vencida.

Em 313, o Édito de Milão faz com que os cristãos tivessem legitimidade em Roma e os coloca em pé de igualdade com o Paganismo e com o Mithraísmo. Porém, como eram extremamente numerosos, o Imperador pretendia usá-los como massa de manobra para se legitimar no poder. Vale lembrar que Constantino NUNCA se converteu a nada, mantendo seu status de “Sumo Pontífice” até o dia de sua morte.

O próximo passo no circo foi o de inventar que Helena (mãe de Constantino) havia ido até Jerusalém e encontrado pedaços da Vera Cruz (a cuz onde o Jesus teria sido crucificado). Sobre o local, manda erigir a “Igreja do Santo Sepulcro” e a faz local de peregrinações.

Em 325, ocorre o famigerado Concílio de Nicéia, onde Constantino reune-se com 318 bispos (historiadores dizem que este número pode ter sido modificado para se ajustar com o número de criados de Abraão em genesis 14:14. É daqui que vem o número 318 que a Igreja Universal usa tanto em suas propagandas) e decide “colocar ordem no galinheiro”. A quantidade de seitas, heresias, divagações e subgrupos cristãos existentes beirava uma centena, com diversos escritos de discípulos de Yeshua.

Constantino precisava de um Jesus que agradasse aos romanos, aos membros do senado e aos pagãos que seriam em breve forçados a se converter. Lembram-se que explicamos que Yeshua era um revolucionário judeu que lutava CONTRA o Império Romano e foi crucificado por ordem do governador romano? Seria quase o mesmo que tentar angariar votos para Barak Obama usando como plataforma “o homem que adora Che Guevara”. Constantino precisava de um jesus que fosse palatável aos olhos dos cidadãos romanos.

Para tanto, reuniu todas as escrituras que haviam disponíveis e acabou se decidindo por todos os textos que o aproximavam de um “deus-solar”, como Apolo ou Mithra, muito mais agradáveis do que um “messias humano iniciado nos segredos do oriente que trouxe a busca pelo autoconhecimento”. O papa Silvestre I (de onde vem o nome da corrida de São Silvestre) não assistiu a nenhum dos Concílios, tendo de aceitar o que foi decidido. A partir de então, a Igreja recebe um NOME: Igreja Católica (católica quer dizer “universal”), Apostólica (fundamentada na doutrina dos apóstolos) Romana (porque sua sede ficará em Roma), ou a famigerada ICAR.

O papa Marcos I, que coordenou a reforma e os primeiros anos da nova Igreja “oficial”, começou a compilar a lista dos bispos e mártires, trabalhando para adaptar as necessidades históricas aos interesses do Imperador. Julio I fixa a data do “nascimento de Jesus” no dia 25 de Dezembro…

Com a morte de Constantino, seu poder se divide e surgem as Igrejas do Oriente (com sede em Constantinopla) e do Ocidente (com sede em Roma). Os cristãos que não ficaram satisfeitos com a pilantragem do Imperador começam a ser perseguidos como hereges, juntamente com os judeus, que começam a ganhar (má) fama como “o povo que matou jesus”.

#ICAR

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/32-papas-e-uma-garrafa-de-rum-parte-ii

Santo Daime e Ayahuasca

Por Acid Zero.

Antes de mais nada, “Santo Daime” é o nome de uma doutrina da linha do Mestre Irineu que, segundo eles, faz “uso ritual das plantas expansoras de consciências dentro de um contexto apropriado”. Foi a doutrina que se tornou mais popular no Brasil, e por isso a bebida que eles fazem uso (Ayahuasca), rebatizada por eles de Santo Daime, acabou se tornando sinônimo de Ayahuasca para a maioria leiga (eu incluso), assim como Gillette se tornou sinônimo de lâmina de barbear. Mas chamar a bebida de “Santo Daime” dentro de outras doutrinas que fazem uso da Ayahuasca é como visitar a fábrica da Assolan e chamar de Bombril as esponjas de aço deles… Entretanto, o título do post continua, por uma questão de melhor identificação pra quem busca informações.

INTRODUÇÃO

Certa vez fui convidado a assistir a uma palestra da União do Vegetal (UDV), para escolher se tomaria ou não a Ayahuasca. Foi uma explanação interessante, onde era dito que o chá não criava dependência, não era droga, buscava a evolução espiritual, e tal… Saí de lá confuso, afinal, qualquer coisa que eu tome para deliberadamente alterar minha consciência pra mim é droga. Seja um sonífero, aspirina ou cocaína, estarei brincando perigosamente com meu cérebro.

Resolvi decidir só após consultar Oráculo. Ela não disse pra eu ir ou não ir, mas foi taxativa: aquilo é droga, assim como maconha. Falou pra eu estudar sobre os princípios ativos, e que a maioria das experiências que as pessoas têm lá são alucinações.

Acabei não indo, afinal não tenho a MENOR curiosidade em experimentar drogas alucinógenas. Alguns parentes foram, tiveram experiências boas, outras ruins, e logo deixaram de freqüentar. Pra mim não é através de experiências alucinógenas que uma pessoa alcança a iluminação. Jesus, pelo que se sabe, não usou drogas (e muito menos recomendou-as). Buda também não. Gandhi e Sócrates também não… Ao contrário, participaram ativamente de sua REALIDADE, procurando modificá-la através do Amor, do bom-senso, da responsabilidade para com o mundo e com as pessoas, e principalmente das AÇÕES.

A BEBIDA

A Ayahuasca (Vegetal, Uasca ou Santo Daime) é uma mistura de duas plantas (Cipó Mariri e Chacrona) que, após cozidas, resultam num chá de gosto amargo e alucinógeno, que normalmente evoca visões e imagens religiosas (a chamada “miração”), costumando por vezes provocar vômitos ou diarréia em quem toma (por isso os locais onde a beberagem é consumida são equipados de algum tipo de “vomitório”, e recomenda-se comer pouco nos 3 dias anteriores).

O RITUAL

O Santo Daime preserva o caráter sagrado da festa e da dança, oriundo do catolicismo popular. Convivem no seu panteão mítico Deus, Jesus, a Virgem Maria, os santos católicos, entidades originárias do universo afro-brasileiro e seres da natureza. Também são louvadas as figuras do Mestre Irineu, identificado com Jesus Cristo, e do Padrinho Sebastião, “encarnação de São João Batista” — de onde são derivadas algumas concepções messiânicas e apocalípticas. Do espiritismo kardecista são reelaboradas noções como as de karma e reencarnação. Os indivíduos possuem dentro de si elementos de uma “memória divina”; ao mesmo tempo, podem, através do próprio comportamento, alterar seu karma, “evoluindo espiritualmente” em direção a sua “salvação”. Em consonância com os sistemas xamânicos, verifica-se a existência de uma “guerra mística” entre os homens e os seres espirituais. Os daimistas são concebidos como os “soldados do Exército de Juramidam”, empenhados numa “batalha astral para doutrinar os espíritos sem luz”. Todo o ritual está permeado por um espírito militar com ênfase na ordem, na disciplina.

Na união do Vegetal (UDV) a cerimônia costuma ter a duração de quatro horas e são dirigidas ou pelo Mestre ou por quem tenha ele designado. A presença do Mestre ou do seu delegado é imprescindível para garantir a necessária concentração e o alto nível do ritual. Após terem bebido a Oaska, os participantes da sessão permanecem sentados até o fim da cerimônia. O Mestre faz então as “chamadas” (cantos iniciáticos) de abertura e inicia a doutrinação espiritual, na qual se pode intercalar alguma peça musical, para criar um clima propício a ter boas “mirações”. Nessa ocasião os discípulos têm a oportunidade de ouvir aquilo que eles mais precisam de ouvir, pois o Mestre atua como canal de ligação com a “Força Superior”, da qual provêm todos os ensinamentos espirituais. Encerrada a doutrinação, os participantes têm a oportunidade de se expressar e fazer perguntas ao Mestre. Chegada a hora de encerramento, o Mestre entoa as “chamadas” finais e dá por finda a sessão.

Já no Daime eles acrescentam a isso trabalhos espirituais de concentração (com períodos de meditação) ou bailado (execução de uma coreografia simples), podendo chegar a produzir um verdadeiro êxtase coletivo. Há também trabalhos de missa (para os mortos) e rituais de fardamento (momento em que o indivíduo adere oficialmente ao grupo, passando a usar suas vestimentas). Recentemente, vem ganhando força alguns ritos onde ocorre incorporação de espíritos, produto das influências crescentes da umbanda nesta instituição.

OS EFEITOS

O efeito alucinógeno do chá, embalado pelo ritual e egrégora do local, produzem as “mirações”, imagens contempladas durante a “burracheira” (efeito da bebida) que podem se manifestar de formas variadas: ora são duradouras, ora fugazes; ora nítidas, ora dotadas de tênues contornos; ora de aparência assustadora, ora de grande beleza. Muitas vezes as mirações revelam fatos do passado, às vezes de um passado anterior à atual encarnação. E, segundo eles, até mesmo o futuro pode ser revelado. Na verdade, as mirações constituem recursos de ilustração utilizados pela burracheira para revelar ensinamentos e o estado de espírito de cada um. Em todas é possível encontrar um significado; todas pedem uma decifração. Mas a forma pela qual elas revelam seus conteúdos é também extremamente variável: às vezes são bastante claras e diretas; outras vezes são enigmáticas e oraculares. Por este motivo, os discípulos podem precisar do auxílio do Mestre para conseguir compreender o seu significado.

Algumas vezes pode ocorrer, associada a limpeza (vômitos), uma experiência de intenso sofrimento, que os daimistas chamam de “peia”, ou “surra do Daime”. A peia está associada também a outros processos fisiológicos incômodos ou aparece, ainda, sob forma de pensamentos ou sensações. Apesar de extremamente desagradável — incluindo visões aterradoras de monstros, vermes, trevas, sensação de morte ou medo intenso, enfim, toda classe de tormentos conhecidos ou não — a peia produziria efeitos benéficos, didáticos e transformadores.

Os defensores da planta dizem que ela provoca uma limpeza física ou energética do canal ou instrumento que a usa, “pois luz não habita em templo sujo”. Então, se você estiver com problemas, numa baixa vibração, ou tiver ingerido carne ou comida pesada, vai vomitar copiosamente, ter diarréia de se acabar, ficar enjoado, etc. Só que qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento de biologia sabe porque o organismo expulsa e rejeita certas substâncias estranhas, quando ingeridas…

Existem denúncias de que o uso deste chá faz mal, a longo prazo, tendo como um dos efeitos adversos o eventual retorno da “miração” nas horas mais inadequadas, e os mais puristas até alegam que o chá apresenta riscos para a tela búdica dos usuários, ou seja, poderia fazer mal até nas próximas encarnações. Nada disso, entretanto, está confirmado, assim como não se dispõe de estudos científicos sobre os efeitos à longo prazo da ingestão do Daime.

O chá contém dois alcalóides potentes: a harmalina, no cipó, e a dimetiltriptamina (DMT), que vem da chacrona. O DMT é uma substância controlada e foi proscrita para uso humano pelo Escritório Internacional de Controle de Narcóticos, órgão da ONU encarregado de estudar substâncias químicas e aconselhar os países membros quanto à sua regulamentação. O governo dos EUA afirma que seu uso é perigoso mesmo sob supervisão médica, e seu uso é proibido em países que possuem legislação anti-drogas, mas recentemente os EUA liberaram o uso APENAS para uma pequena seita brasileira em território americano, enquanto no Brasil ele é liberado para uso religioso. Advogados da União do Vegetal (UDV) dizem que especialistas atestaram que o chá é inofensivo, mas o CONAD (Conselho Nacional Antidrogas) em seu parecer não fala nada sobre ser inofensivo, e libera apenas seu uso terapêutico, em caráter experimental, e que o “controle administrativo e social do uso religioso da ayahuasca somente poderá se estruturar, adequadamente, com o concurso do saber detido pelos grupos de usuários”. Lembrando que o LSD também já foi permitido legalmente, e que no Canadá a maconha é liberada para uso terapêutico também… o problema não são as drogas, mas o uso que se faz delas…

No site do IPPB, vemos no artigo do Dr. Luiz Otávio Zahar que explica que “a DMT (dimetiltriptamina) é naturalmente excretada pela glândula pineal, e que desempenha um papel no processo de sonhar e possivelmente nas experiências próximas à morte e em outros estados místicos. A mistura das duas plantas potencializa a ação das substâncias ativas, pois o DMT é oxidado pela enzima Monoaminoxidase (MAO), a qual está inibida pela harmina, acarretando um aumento nos níveis de serotonina, o que causa impulsão motora para o sistema límbico no sentido de aumentar a sensação de bem-estar do indivíduo, criando condições de felicidade, contentamento, bom apetite, impulso sexual, equilíbrio psicomotor e alucinações.”

Ou seja, você está ingerindo uma dose cavalar de uma substância que deveria ser naturalmente produzida pelo corpo, afetando uma parte importantíssima como o cérebro.

Lázaro Freire, da lista exotérica Voadores, explica o processo:
Há uma aceleração vibracional desordenada, onde cada chakra entra num estado vibracional de freqüência diferente. Não sei se isso é bom ou mal, se vale a pena ou não (essa resposta depende de cada um, e do que conseguirá com o processo), mas me parece um método estranho que, alterando as freqüências vibracionais / conscienciais das (áreas) corpóreas e cerebrais, só pode mesmo levar a uma saída (expulsão) do corpo físico. Além do mais, encontrei exatamente o que imaginava encontrar, do lado de lá; com detalhes de controle, e influências tanto projetivas reais quanto oníricas aceleradas pelo uso do FORTÍSSIMO alucinógeno.

A ORIGEM

A ingestão ritual de Ayahuasca por parcelas da população urbana inicia-se no Brasil, na década de 30, em Rio Branco, Acre, com o culto ao Santo Daime, sistematizado por Raimundo Irineu Serra, que atribuiu à Ayahuasca a denominação “Santo Daime” e fundou o “Centro de Iluminação Cristã Luz Universal – CICLU Alto Santo”. No final da década de 60, em Porto Velho, Rondônia, José Gabriel da Costa organizou outro grupo ayahuasquero, denominando-o “União do Vegetal” (UDV), visto que nele a Ayahuasca é chamada de “Vegetal”. O processo de divergências e de desdobramentos dos núcleos originais propiciaram a expansão das religiões ayahuasqueras por grande parte do território nacional e mesmo pelo exterior.

As religiões ayahuasqueras estão atualmente divididas em três “linhas”:
Uma, a do Mestre Irineu, fundador da seita. Não admitem incorporação, praticando estritamente o xamanismo, e não aderem e nem mesmo toleram o uso de outros psicoativos que não a Ayahuasca.
Outra, do Mestre Gabriel (União do Vegetal).
Outra ainda, a do Padrinho Sebastião Mota, do CEFLURIS (dissidência do CICLU). Esse grupo atraiu acadêmicos, jornalistas, artistas, estudantes e diferentes categorias de profissionais liberais empenhados em torná-lo objeto de estudo, notícia ou modo de vida. Algumas conseqüências decorreram dessa aliança, entre elas a adoção (não endossada pelo CEFLURIS) de muitos dos costumes e crenças dos jovens urbanos, a exemplo do controvertido uso “ritual” da Cannabis sativa (Maconha, que é chamada por esses usuários de “Santa Maria”) e Cocaína (conhecida por “Santa Clara”). Emiliano Dias Linhares, conhecido como “Gideon Lakota” (do CICLU), fez denúncias graves contra o CEFLURIS neste vídeo, em que acusa a seita de ser ponto de distribuição de drogas ilícitas.

Entretanto, é enorme o número de depoimentos de pessoas que faziam uso de álcool e drogas pesadas, foram atraídas a um desses grupos e ficaram curadas. Mas não sabemos o número de pessoas que continuam dependentes, por isso fica aqui o alerta aos pais: se seu filho(a) enveredar em qualquer um desses grupos, procure ir com ele, mesmo que não beba o chá. Procure conhecer as práticas, e principalmente os freqüentadores destes locais. Um grupo que se reúne regularmente pra tomar alucinógenos, mesmo que em uso ritual e por motivos nobres, por melhor que seja a orientação espiritual da casa, pode acabar atraindo pessoas interessadas APENAS na bebida e seus efeitos, sem nenhum comprometimento espiritual nem interesse em desenvolver-se no autoconhecimento. Pra ilustrar o que estou falando, entre no Orkut e digite “Ayahuasca”. A primeira comunidade que aparece, com o maior número de pessoas, é “Ayahuasca sem dogmas” que, pelas opiniões expostas, procura deslocar a bebida de seu contexto religioso (o que agride frontalmente a liberação do CONAD, baseada no relatório final do GMT), com pessoas oferecendo o chá a quem quiser. O problema não é a doutrina, são as pessoas que se acercam da doutrina com interesses outros, SEM PREPARO, SEM SUPERVISÃO, verdadeiros irresponsáveis que podem acabar influenciando pessoas para o uso de drogas mais pesadas. Tanto isso é verdade que, mesmo na linha de Irineu, que é rígida e não permite quaisquer outras drogas, soube-se que já teve membros presos no exterior por tráfico de drogas.

Lázaro explica os perigos:

No contexto xamânico de vários povos as ervas são usadas em eventos com conotação espiritual, visando uma determinada iniciação dentro daquele nível. Já no contexto urbano, pode ser usado como fuga da realidade. Conheço vários casos assim: as pessoas usavam porque não aguentavam conviver com um nível de realidade duro como a vida física na Terra. A substância acelera o acesso ao inconsciente, com tudo de bom ou de doentio que estiver ali. Pode ser interessante para alguns, sagrado para outros. Mas como tudo que tira a consciência do normal, e/ou altera abruptamente os estados cerebrais, tem seus preços. Neurológicos e, principalmente, psicológicos.
A mente tende sempre à compensação. O uso excessivo de Prozac, por exemplo, leva a pessoa à depressão. Café demais excita, e quando passa o efeito você se sente cansado. Cocaína deixa a pessoa entusiasmada, mas a compensação disso a faz insegura quando não usa a substância. TUDO na mente humana é assim, e o preço do acesso “espiritual” do daime é CARÍSSIMO, em termos psicológicos posteriores. A não ser, claro, que a pessoa tome mais, para ter de novo o acesso e miração, e assim sucessivamente. Dependência psicológica. E depois, sem o “espiritual” miraculoso, a vida “comum” passa a ser mais e mais vulgar. E começa tudo outra vez. Com o agravante de que até mesmo as formas de contato espiritual parecerão fúteis, afinal, como comparar com o barato do Daime? Então, essa é uma droga que rouba do dependente até mesmo o seu direito à conexão espiritual…

#ayahuasca #santodaime

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/santo-daime-e-ayahuasca

O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda: agora em e-book na Amazon

As Edições Textos para Reflexão publicam o livro mais conhecido do primeiro escritor a tratar da Umbanda em detalhes: Leal de Souza.

O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda, publicado originalmente em 1933, no Rio de Janeiro, continua sendo uma surpreendente fonte de informação acerca dos primórdios da primeira religião genuinamente brasileira (a despeito de alguns termos da língua portuguesa que caíram em desuso, e foram substituídos por sinônimos mais atuais em nossa edição).

Um ebook já disponível para Amazon Kindle e Kobo (estaremos tentando publicar também na versão impressa pela Amazon):

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Abaixo, segue uma amostra com o capítulo XVIII da obra:

XVIII. As Sete Linhas Brancas

A Linha Branca de Umbanda e Demanda compreende sete linhas:

A primeira, de Oxalá.
A segunda, de Ogum.
A terceira, de Oxóssi.
A quarta, de Xangô.
A quinta, de Iansã.
A sexta, de Iemanjá.
A sétima é a linha de santo, também chamada de Linha das Almas.

Essas designações significam, na Língua de Umbanda:

A primeira, Jesus, em sua invocação de Nosso Senhor do Bonfim.
A segunda, São Jorge.
A terceira, São Sebastião.
A quarta, São Jerônimo.
A quinta, Santa Bárbara.
A sexta, a Virgem Maria, em sua invocação de Nossa Senhora da Conceição.
A linha de santo é transversal, e mantém a sua unidade através das outras.

Cada linha tem o seu ponto emblemático e a sua cor simbólica:

A de Oxalá, a cor branca.
A de Ogum, a cor encarnada [ou avermelhada].
A de Oxóssi, a cor verde.
A de Xangô, a cor roxa.
A de Iansã, a cor amarela.
A de Iemanjá, a cor azul.

Oxalá é a linha dos trabalhadores humildes; tem a devoção dos espíritos de pretos de todas as regiões, qualquer que seja a linha de sua atividade; e é nas suas falanges, com Cosme e Damião, que em geral aparecem as entidades que se apresentam como crianças.

A linha de Ogum, que se caracteriza pela energia fluídica de seus componentes (caboclos e pretos da África, em sua maioria), contém em seus quadros as falanges guerreiras de Demanda.

A linha de Oxóssi, também de notável potência fluídica, com entidades frequentemente dotadas de brilhante saber, é, por excelência, a dos indígenas brasileiros.

A linha de Xangô pratica a caridade sob um critério de implacável justiça: quem não merece, não tem; quem faz, paga.

A linha de Iansã consta de desencarnados que na existência terrena eram devotados de Santa Bárbara.

A linha de Iemanjá é constituída dos trabalhadores do mar, espíritos das tribos litorâneas, de marujos, de pessoas que perecem afogadas no oceano.

A Linha de Santo é forma de pais de mesa, isto é, de médium de “cabeça cruzada”, assim chamados porque se submeteram a uma cerimônia pela qual assumiram o compromisso vitalício de emprestar o seu corpo, sempre que seja preciso, para o trabalho de um determinado espírito, e contraíram “obrigações” equivalentes a deveres rigorosos e realmente invioláveis, pois acarretam, quando esquecidos, penalidades duras e inevitáveis.

Os trabalhadores espirituais da Linha de Santo, caboclos ou negros, são egressos da Linha Negra, e tem duas missões essenciais na Linha Branca – preparam, em geral, os despachos propícios ao Povo da Encruzilhada, e procuram alcançar amigavelmente, de seus antigos companheiros [da Linha Negra], a suspensão de hostilidades contra os filhos e protegidos da Linha Branca. Por isso, nos trabalhos em que aparecem elementos da Linha de Santos disseminados pelas outras seis [linhas], estes ostentam, com as demais cores simbólicas, a preta, de Exu.

Na falange geral de cada linha figuram falanges especiais, como na de Oxóssi, a de Urubatan, e na de Ogum, a de Tranca-Rua, que são comparáveis as brigadas dentro das divisões de um exército.

Todas as falanges têm características próprias para que se reconheçam os seus trabalhadores quando incorporados. Não se confunde um caboclo da falange de Urubatan com outro de Araribóia, ou de qualquer outra legião.

As falanges dos nossos indígenas, com os seus agregados, formam o “povo das matas”; a dos marujos e espíritos da linha de Iemanjá, o “povo do mar”; os pretos africanos, o “povo da costa”; os baianos e demais negros do Brasil, o “povo da Bahia”.

As diversas falanges e linhas agem em harmonia, combinando os seus recursos para a eficácia da ação coletiva. Exemplo:

Muitas vezes, uma questãozinha mínima produz uma grande desgraça…

Uma mulatinha que era médium da magia negra, empregando-se em casa de gente opulenta, foi repreendida com severidade por ter reincidido na falta de abandonar o serviço para ir a esquina conversar com o namorado. Queixou-se ao dirigente do seu antro de magia, exagerando, sem dúvida, os agravos, ou supostos agravos recebidos, e arranjou contra os seus patrões um “despacho” de efeitos sinistros.

Em poucos meses, marido e mulher estavam desentendidos, um, com os negócios em descalabro, a outra, atacada de moléstia asquerosa da pele, que ninguém definia, nem curava. Vencido pelo sofrimento e sem esperança, o casal, aconselhado pela experiência de um amigo, foi a um centro da Linha Branca de Umbanda, onde, como sempre acontece, o guia, em meia hora, esclareceu-o sobre a origem de seus males, dizendo quem e onde fez o “despacho”, o que e por que mandou fazê-lo.

E, por causa desse rápido namoro de esquina, uma família gemeu na miséria, e a Linha Branca de Umbanda fez, no espaço, um de seus maiores esforços.

Ofertou-se as entidades causadoras de tantos danos um “despacho” igual ao que as lançou ao malefício; e, como o presente não surtiu resultado, por não ter sido aceito, os trabalhadores espirituais da Linha de Santo agiram, junto aos seus antigos companheiros de Encruzilhada, para alcançar o abandono pacífico dos perseguidos, mas foram informados que não se perdoava a ofensa à médiuns da Linha Negra.

Elementos da falange de Oxóssi teceram as redes de captura, e os secundaram, com o ímpeto costumeiro, a falange guerreira de Ogum; mas a resistência adversa, oposta por blocos fortíssimos de espíritos adestrados nas lutas fluídicas, obrigou a Linha Branca a tomar recursos extremos, trabalhando fora da cidade à margem de um rio.

Com a pólvora sacudiu-se o ar, produzindo-se formidáveis deslocamentos de fluidos; apelou-se, depois, para os meios magnéticos; e, por fim, as descargas elétricas fagulharam na limpidez puríssima da tarde.

Os trabalhadores de Iemanjá, com a água volatizada do oceano, auxiliados pelos de Iansã, lavaram os resíduos dos malefícios desfeitos e, enquanto os servos de Xangô encaminhavam os rebeldes submetidos, o casal se restaurava na saúde e na fortuna.

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Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-espiritismo-a-magia-e-as-sete-linhas-de-umbanda-agora-em-e-book-na-amazon