A unidade da matéria e do universo

O mundo é como um grande organismo (macrocosmo), enquanto que o homem é um pequeno mundo (microcosmo), esta é uma das interpretações da frase: “O que está em cima é como o que está em baixo”. O próprio laboratório do alquimista é um microcosmo onde ele tenta reproduzir de maneira mais acelerada um processo semelhante ao da criação do mundo.
Toda matéria (por matéria fica entendido tudo que existe no universo, até mesmo a energia pode estar revestida pela matéria) é constituída de uma mesma unidade comum a todas as substâncias. A partir desta “semente” pode-se produzir infinitas combinações e infinitas substâncias. O símbolo alquímico do ouroboros, que é a figura de uma serpente mordendo a própria calda formando um círculo, representa estas constantes transformações em que nada desaparece nem é criado, tudo é transformado como o princípio da conservação de energia, ou primeira lei da termodinâmica, postulado muito tempo depois.
Portanto, esta unidade da matéria é única e a mesma para todas as coisas, podendo combinar-se produzindo uma variedade infinita de substâncias e energias. Matéria e energia provém de uma mesma entidade. Einstein unificou a interconversão entre matéria e energia, na equação E=m.c2 (E = energia liberada; m = matéria transformada e c = velocidade da luz).

Os alquimistas procuram reduzir a matéria à unidade comum, que não são os átomos, para assim poderem reestruturá-la, tornando possível a transmutação. Esta unidade da matéria constitui tudo que existe, desde os átomos que se combinam para formar as moléculas e estas irão formar outras substâncias mais complexas, os organismos até os planetas que formam os sistemas e galáxias. Portanto, todas as coisas possuem a mesma unidade fundamental, este é o postulado fundamental da alquimia “Omnia in unum” (Tudo em Um).

O caos primordial que deu origem ao universo é comparado no reino mineral à matéria-prima, que é uma massa em estado de desordem que dará origem à pedra filosofal.

Deus – o mundo celeste e o terreno

Tudo o que existe material ou espiritual constitui uma única unidade. O divino é expresso como sendo “o círculo cujo centro está em toda parte e a circunferência em parte alguma”. Portanto, todas as coisas surgiram do mesmo Criador, o mundo terreno é constituído pelos mesmos componentes que o mundo celeste.

Um dos grandes problemas de compreensão dos fundamentos da alquimia consiste na interpretação do espírito que só pode ser compreendido remontando a uma memória muito antiga, da época em que todos os seres do mundo celeste e do mundo terreno se comunicavam e o espírito circulava livremente entre todos os seres.

Muitos alquimistas foram grandes profetas como Nostradamos, Paracelso, dentre outros e todos eles acreditavam que em breve, no fim de mais um ciclo terrestre, haveria uma grande catástrofe que seria um novo começo para a humanidade. Restaria uma consciência coletiva, a mesma que deu origem a alquimia em outros ciclos.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-unidade-da-materia-e-do-universo/

A Sublimação do Mercúrio

Rubellus Petrinus

Sublimação do mercúrio feita pela via húmida para a Obra de Alberto o Grande descrita em Les Composé des Composés, Arché, Milano, páginas 51 a 93 e para a de Artephius em Le Livre Secret Du Tres ancien Philosophe Artephius, traintante de l’Arte ocuclte & de la pierre Philosofale:

Numa escudela de barro ou de aço inoxidável, misturai intimamente com uma colher também de aço inoxidável, 400 g de vitríolo de Marte ou de Vénus canónico eflorescido ao Sol e reduzido a pó fino num almofariz, 200 g de sal comum decrepitado e reduzido também a pó fino e 200 g de sulfureto natural de mercúrio (cinábrio), bem moído e passado por uma peneira de 60 linhas por centímetro ou 120 por polegada.

As proporções não são críticas e podereis variá-las até obterdes o melhor resultado dependendo da qualidade do mineral utilizado.

Se não conseguirdes cinábrio natural de boa qualidade, como algum proveniente das minas de Almaden em Espanha, para fim experimental, podereis fazer um Etíope mineral.

O Etíope mineral pode fazer-se da seguinte maneira: deitai, primeiro, num almofariz de vidro Pirex ou de porcelana 60 g de enxofre e, por cima deste, 100 g de azougue comum. Misturai e moei muito bem até que o enxofre absorva completamente o mercúrio, o composto fique negro e não se vejam vestígios de mercúrio.

Deitai esse amálgama de azougue e enxofre numa solução aquosa de potassa cáustica num matrás de 500 ml ou 1 litro e aquecei até à temperatura de 60º durante algumas horas. Obtereis, assim, um cinábrio artificial de uma bela cor vermelho vivo, chamado vulgarmente vermelhão que antigamente era usado na pintura. Despejai o líquido por decantação lavai-o bem com água e secai-o numa cápsula de porcelana a uma temperatura de 40 ou 50º C.

Depois de tudo muito bem misturado, por meio de um funil de boca larga, deitai a matéria numa cucúrbita cónica de 2 ou 3 litros e colocai-a numa escudela, em banho de areia, num fogão a gás. Colocai-lhe um capitel e um recipiente de 500 ml com respirador, aplicando silicone em todas as junturas.

De início, regulai o fogo para que o composto comece a suar, e depois, aumentai-o lentamente, para que destile gota a gota.

Quando não destilar mais nada, aumentai o fogo para cerca de 300º C, para que a matéria comece a sublimar. Podereis retirar o capitel e colocar uma rolha de borracha por cima da boca da cucúrbita sem a tapar completamente, regulando assim, a entrada de ar. Vereis, então, flutuando, no interior da cucúrbita, pequeninos flocos de sublimado que um alquimista ibérico, na “sua” dita obra, chamou “Pombas de Diana” e se depositarão, depois, na superfície do composto, formando uma camada branca como a neve.

Continuai sempre, com o mesmo regime de calor, até que não vejais aumentar mais a espessura da camada de sublimado. Então parai e desligai o fogo. Se o mercúrio começar a sublimar nas paredes da cucúrbita, diminuí a intensidade do fogo.

Não devereis respirar os vapores que exalam pelo respirador do recipiente ou pela abertura da cucúrbita, porque são extremamente tóxicos. Por isso, esta operação terá de ser executada num local muito bem ventilado.

No recipiente, encontrareis uma água que é uma mistura de espírito de sal de fraca graduação e vestígios de mercúrio sublimado. Rejeitai-a.

Retirai o capitel com o alambique ainda morno se não o retirastes na fase anterior. Pegai na cucúrbita pelo colo e rodai a base lateralmente por cima da palma da mão, sacudindo-a lentamente, para que a camada de sublimado se desprenda do caput. Depois, inclinai a cucúrbita e deitai o sublimado solto numa escudela. Guardai-o num frasco de boca larga bem fechado e identificado.

Com muita cautela, para não partirdes a cucúrbita, com uma colher de madeira de cabo comprido, retirai o caput, rejeitando-o também. Repeti a operação, até obterdes todo o sublimado que necessitardes.

Se o sublimado tiver ainda algumas impurezas de caput, voltai a sublimá-lo, da mesma maneira, com a mesma quantidade de vitríolo e sal. Retirai-o pelo mesmo processo, com muita cautela.

Guardai-o juntamente com o outro, num frasco de boca larga, bem fechado e bem identificado, pois trata-se de um veneno muito violento, bem conhecido pelos antigos alquimistas e espagiristas: o sublimado corrosivo ou bicloreto de mercúrio.

A propósito desta operação, não queremos deixar de vos dizer algo sobre este sublimado de mercúrio, sob o ponto de vista alquímico.

Tivemos oportunidade de contactar pessoalmente com um alquimista muito conhecido no seu país, por ter escrito diversos livros sobre alquimia e a “sua” obra em especial, nos quais a descreve alegoricamente sem fazer praticamente nenhuma referência espagírica (química) às matérias e ao modus operandi, dificultando, assim a sua compreensão mesmo àqueles que tenham bastantes conhecimentos da Arte. Digamos que este artista, pelo menos nos livros que nós lemos não foi muito “caridoso”.

Esta operação, sob o ponto de vista químico, nada tem de especial, pois trata-se de uma destilação e sublimação onde o vitríolo (sulfato), por acção do calórico, reage com o sal comum (cloreto) libertando cloro que, por sua vez, actua sobre o sulfureto (cinábrio) formando um bicloreto de mercúrio que, por ser volátil àquela temperatura, se sublima e deposita no interior da cucúrbita por cima do composto.

Além desta primeira sublimação, e baseado no que diz Filaleto no seu tratado Entrada Aberta ao Palácio Fechado do Rei sobre a purificação do mercúrio filosófico, este artista, recomenda sublimar sete vezes o “Azoth”, à semelhança do que relata Filaleto na sua obra.

Ao contrário das razões invocadas por Filaleto e Flamel para a purificação e sublimações ou destilações (pelo menos sete) do mercúrio filosófico, não entendemos a razão prática das sete sublimações do tal “Azoth”. O bicloreto de mercúrio, com as posteriores sublimações recomendadas, na nossa opinião, não se purifica mais nem melhora em qualidade, bem pelo contrário, em cada sublimação há sempre uma perda de material, de trabalho de tempo e despesa.

Com isto, apenas quisemos demonstrar-vos que, na nossa Arte, também é necessário conhecer química (espagíria) para não confundir as coisas.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-sublimacao-do-mercurio/

A Serpente e o Cavaleiro do Leão

“Eles são chamados de cobras porque vivem lá e estão escondidos em várias formas que os cobrem como roupas.”
– Dom Pernéty, Dicionário Mito-Hermético.

Quer empreste os nomes de Leviatã (1), Quetzalcoatl (2), Ouroboros (3), a serpente permanece inquestionavelmente o “símbolo eterno” ligado à antiga tradição. Tomemos apenas como exemplo a lenda que o historiador Plínio nos contou nestes termos:

Durante o verão, vê-se reunir em certas partes da Gália inúmeras serpentes que se misturam, se entrelaçam e, com a saliva unida à espuma que escorre de sua pele, produzem uma espécie de ovo. Quando está perfeito, eles o tiram e o seguram no ar com seus assobios. Um homem, a certa hora da lua, pega o ovo em um pano, pula em um cavalo que o espera e foge a toda velocidade porque as serpentes o perseguem até que ele coloque um rio entre elas e ele. Foi testado mergulhando-o na água, flutuando embora cercado por um círculo de ouro. Uma virtude mágica foi concedida ao ovo assim obtido: ele abria livre acesso aos reis e, além disso, os druidas o usavam em volta do pescoço, ricamente consagrado, e o vendiam por um preço muito alto.

Portanto, parece bastante natural que o nosso réptil também apareça com destaque no bestiário hermético dos “Cavaleiros da Távola Redonda”. Também Chrétien de Troyes nos conta a história, tão simbólica, do bravo Yvain que, durante suas muitas façanhas, teve que libertar um leão do abraço de uma serpente (4). Depois de ter deixado a Senhora de Noroison, (ou nossas razões) que o havia tratado e colocado um vestido de “vair”, nosso bravo cavaleiro, então com todas as suas “faculdades” novamente, entra na floresta profunda quando, de repente, percebe um grito de dor vindo de longe. Ele vai para o lado de onde vem a queixa e é então que surpreende em uma clareira, um leão lutando com uma cobra que “vomita” chamas; o réptil segurando-o pela cauda, ​​queima toda a sua espinha. Em suma, Chrétien de Troyes não hesita em escrever:

Sir Yvain se perguntou qual dos dois ele ajudaria e decidiu pelo leão porque só se deve prejudicar seres venenosos e criminosos.

Então os muitos detalhes que o autor nos fornece não são desprovidos de interesse para o estudante da Ciência Divina que certamente não deixará de apreciar o conteúdo, adequado para sugerir os trabalhos preliminares da Obra:

Ele desembainhou a espada, colocou o escudo na frente do rosto para se proteger do fogo que a serpente rugiu pela boca, maior que um pássaro, e atacou a fera traiçoeira: cortou-a em duas metades e golpeou e golpeou novamente … desde que ele a cortasse em mil pedaços.

Reconheçamos em tudo isso a extração do Puro da impura e viscosa matéria mercurial ou mesmo a libertação do enxofre prisioneiro da imunda matéria primordial.

Então a luta ficou tão acirrada que o bravo Yvain, para libertar o leão, teve que resolver cortar um pedaço de sua cauda. Nesse momento, ele estava com muito medo de que o animal, rebelando-se, descesse sobre ele; ele estava, portanto, em guarda:

Mas essa ideia não ocorreu ao leão. Ouça o que a fera franca e bem-humorada fez. Ela manteve seus pés estendidos e unidos e sua cabeça inclinou-se para o chão e se ajoelhou em grande humildade, molhando o rosto com lágrimas. Sir Yvain compreendeu que o leão estava agradecendo por ter matado a cobra e por tê-la livrado da morte.

E o animal agradecido seguiu para sempre o seu salvador sem querer separar-se dele, tão contente estava em servi-lo e ajudá-lo nas suas futuras façanhas, em particular na sua luta contra o Gigante Harpin. O Rei do Deserto agarrou sua pele peluda; ele o arrancou como um pedaço de casca. Além disso, ele pegou um pedaço de seu quadril e cortou os músculos de suas nádegas enquanto Yvain brandia sua espada, não demorando muito para acabar com o Gigante.

O Rei das Feras então permitiu a fama de Yvain, dando-lhe o glorioso apelido de “Cavaleiro do leão”. Bem-aventurado aquele que, por Revelação Divina, identificar a Serpente e merecer este título por saber libertar o leão de seu terrível abraço!

Além disso, se para o leigo a Realidade parece longe de superar a Ficção, ele deve, no entanto, reconhecer que muitas vezes é igual a ela. Note-se também que o nosso herói, abandonando a lenda para entrar na história, encarnava-se sob a forma de um certo Gouffier de Lastours, senhor de Chalard, uma pequena vila isolada, muito próxima de Limoges. Este grande senhor, que também foi benfeitor do mosteiro, havia libertado, no Oriente, um leão dos enrolamentos de uma serpente que queria sufocá-lo. Ele manteve o animal como um aliado e servo fiel por anos. Além disso, ele foi um herói da Primeira Cruzada; foi ele quem primeiro escalou as muralhas de Marrah. A antiga capela de Chalard uma vez continha seu túmulo. E muito naturalmente, como o seu homólogo lendário, Gouffier de Lastours adquiriu notoriedade perfeita em todo o país. Que período estranho realmente foi a Idade Média “sombria”, que soube tão bem combinar mito e realidade; “obscurantismo moderno” permanecendo inigualável!

O investigador, sem dúvida, agradecer-nos-á por concluir com a fábula da “Serpente de Vau” (5) que valeu a Nicaise (6) a evangelização da vila de Meulan, no século III da nossa era.

Perto da aldeia de Vau (localizada a 4 km a leste de Meulan, em Yvelines), uma cobra horrível vivia em uma caverna onde jorrava uma fonte, cujas águas foram envenenadas pelo monstro, que causou doenças à população vizinha. Nicaise então enviou seu discípulo, o padre Quirin, que, com um simples “sinal da cruz”, reduziu a besta à obediência, sugerindo-nos “a crucificação” da serpente, enfatizando a importância dos “três pregos da simbolismo hermético.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-serpente-e-o-cavaleiro-do-leao/

A Recolha do Orvalho

Rubellus Petrinus

O orvalho ou água celeste é a condensação atmosférica nocturna, sob a influência da Lua, e, segundo a tradição alquímica, é o veículo privilegiado do espírito universal. Os antigos alquimistas tinham a água celeste em muito apreço. Nos países da Europa central, recomendavam recolher o orvalho nos meses de Março a Maio, porque nessa altura, tem uma virtude muito especial por estar impregnado do espírito universal.

No centro e sul do nosso país, (Portugal) a melhor altura para recolher o orvalho é nos meses de Março e Abril. Nos anos de pouca pluviosidade na Primavera, no mês de Maio, a erva dos prados começa a secar, dificultando, assim, a condensação. Além da condensação ser pouca e não justificar o esforço dispendido, o orvalho recolhido nestas condições fica cheio de impurezas como tivemos ocasião de verificar pessoalmente.

Por vezes, nos seus livros, os nossos Mestres fazem referência à água celeste por analogia quando há uma condensação de vapores num vaso ou numa destilação.

Vimos um alquimista muito conhecido no seu país pelos livros que escreveu sobre a sua “obra” alquímica, esboçar um sorriso incrédulo quando lhe falámos da aplicação do orvalho na alquimia, demonstrando, assim, um desconhecimento da realidade alquímica.

Se perguntardes a um “desses” alquimistas como se recolhe e destila o orvalho e como se extrai o seu sal, certamente não saberá responder-vos, porque esse conhecimento não está ao alcance de todos, pois são muito raros os livros onde esta operação é descrita. Nós aprendemo-lo num dos livros de Solazaref.

Na nossa Arte, esta água é usada geralmente como veículo no tratamento dos sais filosóficos e não só.

A condensação do orvalho, faz-se durante a noite, perto da madrugada. Para que haja uma condensação abundante, é necessário que o céu esteja descoberto, sem nuvens, que não haja vento ou aragem, isto é, numa noite tranquila.

O tempo apropriado para recolher o orvalho, como dissemos, é na Primavera durante o quarto crescente até ao plenilúnio.

São poucas as noites que oferecem as condições ideais para a recolha do orvalho, por isso, tereis de aproveitá-las o melhor possível.

Para recolher a água celeste, necessitareis, uma toalha de algodão de tamanho médio, de preferência, muito usada, uma bacia de ferro esmaltada de 10 litros, alguns garrafões de vidro muito bem lavados com água, um funil grande de plástico e um pano fino bem limpo para servir de filtro.

No dia anterior, inspeccionai o campo aonde ireis, para verdes o melhor caminho de acesso e outras condições que vos permitam identificar bem o lugar à noite.

Escolhei um campo limpo, sem poluição, com erva curta, o máximo de um palmo de altura e que esteja bem afastado do meio urbano.

Levantai-vos duas horas antes do amanhecer e, antes de vos deslocardes para o local, verificai se o tejadilho dos automóveis que se encontram estacionados na rua, em lugar aberto afastado dos edifícios, está coberta de condensação. Isto é um bom sinal. Se não houver condensação no tejadilho dos carros, é escusado sairdes de casa porque não há orvalho. Segui o nosso conselho, porque nós sabemo-lo bem, por experiência própria.

Se houver condensação abundante, deslocai-vos para o sítio escolhido, levando todo o vosso material. A toalha deverá ser previamente lavada em água da chuva ou de nascente.

Quando chegardes ao local, desdobrai a toalha e estendei-a no chão, num dos extremos do campo. Prendei-lhe uma corda fina nas duas pontas para a poderdes arrastar pelo prado.

Arrastai a toalha bem estendida devagar, para que esta tenha tempo de absorver a água celeste que se encontra na relva. Quando começardes, notai bem o seu peso, porque à medida que se for impregnando de orvalho, pesará mais. Quando virdes que está saturada, parai e espremei-a bem para a bacia.

O orvalho, nesta época do ano, está a uma temperatura inferior a 5º ou menos e, por isso, as vossas mãos ficarão muito frias.

Continuai, da mesma maneira, arrastando a toalha e, quando estiver novamente saturada, parai e espremei-a bem para a bacia, até enchê-la. Nessa altura, ide buscar um garrafão, colocai-lhe o funil com o pano para filtrar e vazai o líquido para o garrafão.

Não vos esqueçais de levar uma lanterna eléctrica para poderdes ver, pois, como vos dissemos, a recolha do orvalho deverá ser feita em plena madrugada, antes do nascer do Sol.

Prossegui, até que os primeiros raios da aurora comecem a aparecer no horizonte, então, parai. Guardai o vosso material e regressai a casa. Numa noite, em boas condições, podereis recolher mais de 10 litros de água celeste.

O orvalho recolhido, tem uma cor de chá, ligeiramente amarelada e é inodoro.

A primeira vez que o observámos, pensámos que esta cor era devida à poeira que estava na relva onde tinha sido recolhido e, para o confirmar, na noite seguinte, quando os raios do Sol começaram a aparecer no horizonte e havia boa visibilidade, com uma esponja muito bem limpa, recolhemos, cuidadosamente, o orvalho depositado nas plantas que estavam bem limpas e sem qualquer poluição. A cor era exactamente a mesma.

Chegados a casa, no escuro, despejai o líquido dos garrafões de 5 litros, através de um funil com o pano de filtragem, para um garrafão de vidro de 20 litros e fechai-o bem com uma rolha de borracha. Arrumai o garrafão numa            cave,                  ao                         abrigo              da                luz. Se tiverdes possibilidade, isto é, se viverdes no campo fora da zona citadina, nas noites de lua cheia, despejai o orvalho numa bacia grande de plástico e deixai-o, durante a noite, exposto à luz da Lua, para este se carregar de espírito universal e, assim, aumentar a sua virtude. Recolhei-o antes do nascer do dia.

Enchei, pelo menos, mais um garrafão de 20 litros, conforme as vossas necessidades e deixai repousar na cave durante um mês. Ao cabo desse tempo, retirai, com um tudo de plástico 5 litros de orvalho para um garrafão. Fazei esta operação de noite, servindo-vos de uma pequena lanterna eléctrica.

Durante esse tempo, o orvalho apodreceu e, por isso, todas as matérias em suspensão, assentaram no fundo, deixando o líquido límpido e transparente.

Deitai os 5 litros numa cucúrbita de 6 litros, igual à que usastes para destilar o espírito de vinho e do vinagre, colocai-lhe o capitel e um recipiente de 2 litros e destilai a fogo lento, não superior a 60º. Demorará mais de uma semana a destilar tudo dependendo da abertura que tiver a vossa cucúrbita. Não nos esqueçais que esta operação deverá ser feita no escuro. Guardai o orvalho destilado em garrafões de vidro, ao abrigo da luz.

Depois de tudo destilado, ficará, no fundo da cucúrbita, uma borra, que recolhereis.

Destilai todo o vosso orvalho, da mesma maneira e recolhei sempre as borras. Depois de terdes destilado 40 litros, deitai todas as borras na cucúrbita e destilai até à secura. Retirai o caput e calcinai-o numa escudela de barro, com fogo muito forte, num fogão a gás. Extraí o sal, por lixiviação, com orvalho destilado. Obtereis umas 20 ou 30 g de sal.

Este sal de orvalho, ainda grosseiro sob o ponto de vista alquímico, contém um nitro subtil que depois de devidamente tratado como manda a Arte, é utilizado na via seca canónica.

A recolha e a destilação do orvalho, é um verdadeiro trabalho de Hércules, que requer muita paciência e perseverança e, como já vos dissemos no início, nem sempre vos será possível, dentro da época propícia, recolher o orvalho que necessitareis, devido a condições adversas, como chuva, céu encoberto com nuvens, vento, etc.

O orvalho destilado ser-vos-á muito útil na preparação dos diversos sais canónicos inerentes à nossa Arte.

Para certas operações mais correntes, podereis empregar em vez do orvalho destilado, água da chuva bem limpa e filtrada, recolhida na Primavera, de preferência em dias de trovoada.

A propósito da recolha do orvalho e por se terem levantado algumas dúvidas sobre o processo que descrevemos, relemos o livro “L’Alchimie et son Livre Muet” (Mutus Liber), Réimpression première et integrale de l’edition originale de La Rochelle, 1677, Introdution et comentaires par Eugène Canseliet F.C.H. disple de Fulcanelli, à Paris, chez Jean-Jacques Pauvert.

Pelos comentários feitos por Canseliet neste livro, não só confirmámos o que descrevemos como também o que suspeitávamos quando vimos pela primeira vez estas figuras.

Página 87 – «Pois bem! Sim, o carneiro e o touro da imagem sobre a qual nos debruçámos presentemente correspondem aos dois signos zodiacais, isto é, aos meses primaveris durante os quais a operação tendo por objectivo recolher a flor do céu é realizada exactamente tal como ela se encontra definida neste lugar.»

«Trata-se sem dissimulação da maneira simples que já primeiramente por nós mesmo utilizada e não há menos de meio século, salvo a diferença quanto à instalação das peças de roupa branca sobre as estacas. Sistema que pode explicar, na passagem de Altus, a secura do terreno, ainda que, segundo um médico inglês, toda a substância colocada por cima do solo “adquirirá mais orvalho durante uma noite bem calma, que uma substância semelhante colocada sobre a erva”.

(1) Ensaio sobre o orvalho, Well (William-Charles. Essais sur la Rosée, traduit par Aug. J. Tordeux, Maitre en Pharmacie, Paris, 1817, p 24.»

«Depois de muito tempo operámos diferentemente, passeando, de preferência sobre os cereais verdes, os trevos, as luzernas e os sanfenos um pano de linho cuidadosamente lavado várias vezes com água da chuva. Convém que nenhum sal da lixívia e da lavagem se dissolva por pouco que seja no licor generoso que será absorvido. Do mesmo modo deverá recear- se que o vegetal portador não esteja desgraçadamente polvilhado ou aspergido de qualquer adubo.»

Página 88 – «A prática é banal e consiste em torcer em seguida o tecido embebido à saturação a fim de espremer e de recolher o orvalho como o fazem o homem e a mulher que nós vimos em oração na segunda figura.»

Página 103 – «O leitor sério e atento não será surpreendido se nós lhe dissermos que esta nossa figura não está no seu lugar e que a quarta figura a deveria ter precedido. É fácil compreender que esta segunda parte da preparação preliminar da obra se situa depois daquela recolha inicial a qual nós observámos sobre a estampa número quatro.

O líquido precioso é agora submetido à acção do fluido universal, em largos pratos circulares onde ele parece encobrir uma borra espessa e negra. Estas duas fracções da fase preliminar da Grande Obra, devem sempre ser efectuadas na estação que designam os dois animais das suas imagens…»

Página 104 – «Desta água celeste, mais exactamente do sal precioso que ele retêm em solução, o metalóide adquire a sua grande e nova virtude.»

Canseliet não refere que a recolha do orvalho terá de ser efectuada de madrugada antes do nascer do sol. No entanto, diz que as figuras não estão colocadas pela ordem dos trabalhos da Obra e que a quarta figura deveria ser seguida da nona e, como nós referimos, depois da recolha do orvalho este deverá ser exposto à radiação Lunar.

O processo indicado pela figura acima é a recolha do orvalho por meio de lençóis de algodão branco colocados sobre estacas pela razão que refere Wells.

No entanto, Canseliet, descreve a recolha do orvalho tal como nós o fizemos sobre os cereais verdes ou relva não com uma toalha de linho mas com uma toalha de algodão muito usada.

E tal como nós afirmámos, Canseliet utilizava o sal extraído do orvalho sem especificar como, na segunda obra da Via Seca ou seja nas Águias. Sempre afirmámos que Canseliet fez a via seca tal como a descreve no seu livro a “Alchimie Expliquee Sus Ses Textes Classiques”.

Há quem diga que a via espagírica praticada por Barbault seria a via descrita no Mutus Liber. Na nossa opinião o trabalho espagírico de Barbault não se enquadra de forma alguma com a obra descrita no Mutus Liber e a via descrita neste último não é feita exclusivamente com o orvalho como podereis observar na Sétima Figura e, ao que parece, de acordo com o que lemos, o seu autor Altus não chegaria a concluí-la.

Com a chegada da Primavera é a altura propícia para recolhermos o orvalho. Desta vez resolvemos recolhê-lo tal como nos mostra a Quarta Lâmina do Mutus Liber por meio de lençóis brancos de algodão esticados e presos em estacas de madeira espetadas no solo.

Na tarde do dia 1 de Abril de 1999, às 19.00h colocámos seis estacas de madeira de 50 cm no solo do jardim num local descoberto, sem árvores, ficando estas apenas 25 cm acima do solo. Os dois lençóis mediam 1,40 x 2,50m. e foram presos com um pedaço de corda fina em cada ponta de uma estaca como podereis observar na imagem.

A noite aproximava-se tranquila sem vento nem nuvens e a Lua já estava nos primeiros dias de quarto minguante mas brilhava no horizonte nocturno com o céu estrelado. Era uma noite ideal para a recolha do orvalho.

Cerca da meia noite fomos verificar o “material”. Os lençóis estavam ligeiramente húmidos e encurvados e tivemos de esticá-los novamente e, por precaução, colocar uns cartões por baixo para evitar que tocassem o solo e se sujassem.

Aproveitámos a ocasião para limpar com um pano de flanela limpo o tejadilho e os vidros automóvel que já tinham alguma condensação.

Levantámo-nos às 05.30h (eu e minha esposa) e fomos recolher os lençóis desprendendo-os das estacas auxiliados apenas pela fraca luz da iluminação pública. Levámos os lençóis para o interior da casa e com essa fraca luz dobrámos os lençóis em quatro e tentámos espremê-los para uma bacia  de ferro esmaltado.

Não saiu nem uma gota de orvalho embora eles estivessem molhados. Desdobrámo-los e voltámos a dobrá-los novamente mas desta vez no sentido do comprimento. Esprememo-los por pequenas secções cada um torcendo no sentido inverso. Sentimos então escorrer algum orvalho para a bacia. Recomeçámos até chegarmos ao fim, fazendo a mesma coisa com o outro lençol.

Deitámos o orvalho recolhido na bacia para uma pequena garrafa de vidro escuro de 300 ml previamente lavada com água de nascente. Colocámos a garrafa dentro dum saco de plástico preto.

Por uma questão de curiosidade, limpámos o tejadilho do automóvel e os vidros com o mesmo pano de flanela ainda húmido. Esprememo-lo para a bacia e deitámos esse orvalho para outra garrafa de 300 ml que encerrámos também dentro do mesmo saco de plástico preto.

Chegados a casa verificámos que o orvalho recolhido pelos lençóis estava turvo. O que recolhemos no tejadilho e nos vidros do automóvel estava sujo de poeiras.

Ficámos completamente desiludidos com o sistema pois o orvalho recolhido nos lençóis não ultrapassou os 200 ml. Os lençóis ficaram ainda húmidos mas não nos foi possível recolher mais nada. Para humedecer os lençóis seria necessário mais de um litro de água, por isso, o total de líquido recolhido seria pelo menos 1,5 litro do qual só pudemos recolher 300 ml. O orvalho recolhido no automóvel foi aproximadamente a mesma quantidade.

O orvalho turvo talvez se deva ao facto de os lençóis não terem sido lavados previamente com água de nascente porque quisemos fazer a experiência com os lençóis completamente secos.

Nestas condições e com tão pouca quantidade de orvalho turvo não pudemos evaporá-lo para ver se conseguíamos algum sal. Provámos o orvalho recolhido e verificámos que era um líquido insípido e inodoro.

Para a próxima vez, isto é, no próximo quarto crescente até à lua cheia faremos nova experiência mas lavando previamente os lençóis com água de nascente para ver se conseguimos maior quantidade e que seja límpido para tentar extrair algum sal por evaporação lenta.

Fizemos posteriormente nova recolha com o mesmo processo, mas desta vez lavando previamente os lençóis com água de nascente e colocando-os ainda húmidos. O resultado foi mais animador. Recolhemos 1 litro de orvalho mas também turvo embora os lençóis tivessem sido lavados com água de nascente, por isso, a poluição só poderia ser atmosférica.

Conclusão: a imagem 4 do Mutus Liber é, pelo menos, falaciosa e dá-nos a impressão de que quem a desenhou ou mandou desenhar nunca recolheu o orvalho por esse processo. Quem verificar a referida Lâmina 4 ficará com a impressão de que irá recolher litros de orvalho como se pode observar pelo líquido que escorre do lençol que o casal está torcendo.

Ainda em referência ao orvalho, vejamos os comentários que Eugène Canseliet faz à Quinta Chave de Basílio Valentim, em Les Douze Clefs de la Philosophie, Les Editions de Minuit , página 140 e 141:

«O espírito universal descende dos espaços celestes na primavera e retorna no outono.

Este movimento circular de queda e ascensão determina um ciclo anual e regular no qual o espírito representa o papel de mediador entre o céu a terra. Ele é mais abundante na época da germinação que no princípio do verão e manifesta   a   sua   actividade   mais   à   noite   que   de   dia. A radiação solar dissipa-o, o calor volatiliza-o, as nuvens interceptam-no, o vento dispersa-o e impede-o de se fixar, mas pelo contrário, as radiações lunares favorecem-no e exaltam-no.

Na superfície da terra, ele une-se à água pura do orvalho que lhe serve de veículo para o reino vegetal e forma com ele um sal dotado de uma acidez particular.

Na destilação ou evaporação lenta ao abrigo da luz, pode-se recolhê-lo em cristais minúsculos, verdes, muito refringentes e possuindo uma certa analogia qualitativa com o nitro ordinário.

É por isso que o Cosmopolita que o conhece muito bem, lhe impõe nos seus tratados o nome de “salpêtre” filosófico com o duplo sentido de nitro e de sal da pedra (Salpetrae).

A incorporação do espírito, a sua infiltração através da textura mais ou menos mole dos minerais, não implicam a necessidade de uma dissolução prévia nem do seu transporte num veículo aquoso. Pelo contrário, é directamente tal como ele nos chegam dos espaços celestes – sob forma de vibração obscura ou de energia invisível – que se pode aliar aos metais mineralizados.

Isto demonstra o erro de certos alquimistas que por não terem compreendido o seu modo de acção submetem o orvalho de Maio – extraído a maior parte das vezes do nostoc – metais divididos precipitados reduzidos em pó impalpável.

O fluido universal, apesar da sua grande subtileza não saberia penetrar os corpos metálicos, inicialmente porque está já corporificado ele mesmo no orvalho, em seguida porque a densidade a inércia dos metais reduzidos pela indústria humana constituem outro tanto de obstáculos à sua introdução. Se se quer conseguir a sua animação é indispensável mantê-los perfeitamente em fusão conforme o que indica nesta imagem da quinta chave, o personagem com o rosto em chamas e munido dum fole.»

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-recolha-do-orvalho/

A Quintessência Alquímica

A Quintessência (quinta essência) é o nome dado quinto Elemento.

A quintessência é uma energia espiritual psíquica que é superior aos outros quatro elementos: terra, ar, fogo e água. Ela pode unir os outros elementos ou dissolvê-los.

De acordo com Pitágoras, a quintessência era o equivalente da alma. Paracelso dizia que a quintessência permeia e anima o corpo, permitindo que ele se torne um ser vivo.

Na Alquimia, a quintessência foi mantida para curar qualquer doença ou condição e para rejuvenescer o corpo. Era importante no processo de transmutação de metais de base para o Ouro e a Prata.

O Primeiro Livro dos Segredos da Natureza ou a Quinta Essência, uma obra espúria atribuída a Raimundo Lúlio, descreve os alegados poderes miraculosos e adaptativos da quintessência: Ela preserva o corpo da corrupção, fortalece a constituição básica (elementativa), a juventude pura é restaurada por ela, unifica o espírito, dissolve os rudes, solidifica o que está solto, solta o sólido, engorda o magro, enfraquece a gordura, resfria o inflamado, aquece o frio, seca o úmido, umedece o seco; de que forma, sempre que uma e a mesma coisa pode realizar operações contrárias, o único ato de uma coisa é diversificado de acordo com a natureza do receptor, assim como o calor do sol tem efeitos contrários, pois seca a lama e liquefaz a cera.

Numerosas receitas de remédios milagrosos foram escritas com a quintessência como ingrediente chave.

A quintessência está associada com a Anima Mundi, a Prima Materia, o Pentáculo, o Pentagrama, a Rosa e o Akasha.

Leitura Adicional:

Patai, Raphael. The Jewish Alchemists. Princeton, N.J.: Princeton University Press, 1994.

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Fonte: The Encyclopedia Of Magic And Alchemy, por Rosemary Ellen Guiley.

Copyright © 2006 by Visionary Living, Inc.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-quintessencia-alquimica/

A Quarta Lâmina de Abraham, o judeu

Rubellus Petrinus

A figura principal desta lâmina é uma serpente crucificada. A serpente como se sabe é um animal frio e venenoso. Assim, o seu simbolismo alquímico será um mineral ou um metal frio e venenoso também.

Porque foi crucificada a serpente?

No lado esquerdo do braço da cruz onde a serpente está pregada, do lado direito do prego, vê-se o símbolo espagírico de Marte.

No braço do lado direito e do lado direito do prego, vê-se um símbolo parecido com um 8. Alquimicamente este símbolo aqui não faz sentido. Examinámo-lo com uma lupa e verificámos que é um globo crucífero com contornos mal definidos.

Então qual é o significado simbólico da serpente?

É fácil entender o seu simbolismo por causa dos dois símbolos espagíricos. Marte e o Globo crucífero. Na verdade a serpente é Satúrnia como é designada por Flamel no Brèviére ou Testament e é fria e venenosa como uma serpente.

Porque foi a Saturnia crucificada? Ela foi crucificada (morta) para fazer o amálgama filosófico.

Continuando. No cimo da cruz vê-se o símbolo espagírico do Sol e no centro o do Mercúrio. Os dois juntos com a Satúrnia formam o amálgama que será posteriormente destilado.

Mas há mais. Olhai a parte inferior do crucifixo. Que vedes? Os símbolos espagíricos da Lua e do amalgama (os mesmos pequenos círculos que se podem ver na ilustração p 209 na L’Alchimie de Flamel).

Alquimicamente a cruz ou crucifixo pode simbolizar duas coisas: um cadinho ou a morte (putrefacção do composto).

Aqui, a cruz significa simbolicamente, a morte do composto (amálgama filosófico) Sol ou Lua (enxofre) e o Mercúrio.

Macho e fêmea, isto é o Andrógeno!

In L’Alchimie de Flamel, Editions Savary, 42 rue Barbés, 11000 Carcassonne, France.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-quarta-lamina-de-abraham-o-judeu/

A primeira lâmina de Abraham o Judeu

Rubellus Petrinus

A interpretação das imagens com simbolismo alquímico não é uma tarefa fácil porque cada um tem a sua própria interpretação mas a Primeira Lâmina de Abraham o Judeu não é difícil de interpretar se conhecerdes as matérias e o modus operandi da obra de Flamel. As outras lâminas não são assim tão fáceis de interpretar no que respeita ao modus operandi.

A via de Flamel é uma via mista ou via do amálgamas assim, o velho empunhando um gadanho simboliza Saturno tal como nas Doze Chaves de Basílio Valentim. Saturno como todos os alquimistas sabem não é um mineral ou metal volátil, por isso o velho alado não pode ser Saturno porque ter asas significa voar e, por isso, ele terá de ser um metal ou mineral volátil.

Flamel chama-lhe Saturnia e não Saturno. Saturnia na obra de Flamel é o régulo de antimónio. Qualquer alquimista sabe que o régulo de antimónio é um metal volátil isto é, pode ser sublimado assim, o velho alado não simboliza Saturno mas o régulo de antimónio.

Aqui, o velho alado tenta cortar os pés de Mercúrio, isto é cortar a volatilidade do mercúrio. Como?

Com as devidas precauções numa pequena tigela de aço inoxidável tentai amalgamar o régulo de antimónio em pó com o azougue comum. Nunca o conseguireis! Nem com a ajuda de Vulcano o podereis fazer!

Então, como o velho alado pode cortar os pés ao Mercúrio? Ele só o poderá fazer com a ajuda da areia vermelha do relógio de areia que tem sobre a sua cabeça. A areia é vermelha e do lado direito do relógio podereis ver dois símbolos espagíricos da areia ou pó. O pó vermelho é a chave para amalgamar o régulo de antimónio em pó e o azougue; isto é o Sol ou ouro.

Isto é a primeira parte da obra de Flamel: fazer um régulo solar e reduzi-lo a pó e em seguida amalgamá-lo com o azougue e destilar o amalgama numa retorta desmontável de aço inoxidável.

Descrevemos isto em linguagem clara porque o Mestre também o fez no seu livro.

Flamel no Testamento ou no Breviário não se refere a tempo astrológico ou estações do ano ou outras coisas deste género, pelo menos não nos demos conta disso.

Simbologia Alquímica

Eis aqui um motivo interessante para reflectirmos sobre a simbologia alquímica. A Primeira Lâmina de Abraão o Judeu que já comentámos anteriormente.

Le Livre Des Figures Hieroglyphiques de Flamel, Retz, Paris, p. 74: «Quanto ao interior, as suas folhas de cascas foram gravadas com grande habilidade, escritas com um buril de ferro, em belas e muito nítidas letras Latinas coloridas».

P.77: «Primeiramente, na quarta Lâmina ele pintou um jovem Homem com asas nos calcanhares, tendo uma Vara (caduceu) na mão, com duas Serpentes enroscadas o qual tem um Capacete que lhe cobre a cabeça. A meu ver simboliza o Deus Mercúrio dos Pagãos. Contra ele vem correndo e voando de asas abertas um grande Velho que tem sobre a cabeça um Relógio e nas suas mãos uma foice como a Morte a qual terrível e furiosa ele quer cortar os pés do Mercúrio.»

Ora, conforme Flamel refere no texto, a imagem seria colorida como a que foi publicada por Molinier.

Na imagem a cor há um pormenor muito importante. Junto ao relógio que Saturno “alado” tem colocado sobre a cabeça está o símbolo espagírico da areia de cor vermelha que poderá, e muito bem, simbolizar o ouro. Dada a via em causa, o ouro em pó, por meio do qual Saturno (Satúrnia) poderá cortar os pés ao Mercúrio.

Se verificardes a imagem a preto e branco, além das figuras de Saturno alado não com as asas colocadas nos ombros mas na cabeça o que simbolicamente representa o mesmo, vemos também em baixo um dragão que, só por si, vem reforçar a simbologia do Saturno alado que aqui não representa Saturno mas, como Flamel diz e nós o referimos na explicação desta Lâmina anteriormente, é a Satúrnia que é completamente diferente. Daí que na Lâmina a preto e branco de origem alemã, publicada em Uraltes Chymiches, Werk, Leipzing, 1760, ter em baixo a imagem de um dragão que a Lâmina a cor não mostra.

Na nossa opinião, nesta imagem, falta a representação simbólica com a qual a Satúrnia poderá cortar os pés ao Mercúrio isto é, o amalgama com o Mercúrio.

Resumindo, qual das imagens nos merece maior confiança? Não o sabemos exactamente porque não conhecemos as imagens originais do livro de Abraão o Judeu.

É isto que causa e causará aos estudantes de alquimia a maior das confusões porque cada artista representa o simbolismo alquímico conforme o seu entendimento.

Felizmente, para nós, que conhecemos o modus operandi da via de Flamel sabemos que Saturno representado nestas Lâminas com asas nunca poderá ser Saturno mas sim Satúrnia que é um mineral completamente diferente e que, por ter sido representado com asas, é volátil e tem a propriedade de purgar o ouro tal como foi descrito na Primeira Chave das Doze Chaves de Basílio Valentim.

Para poder “cortar” os pés do Mercúrio a Satúrnia deverá ser primeiro fundida com o Sol ou com a Lua e depois sim, poderá cortar os pés de Mercúrio (amalgamado) com o Jovem alado mensageiro dos Deuses.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-primeira-lamina-de-abraham-o-judeu/

A Prima Materia – O Objetivo do Processo Alquímico

Prima materia, a matéria prima, é considerada como o objetivo do processo alquímico. A prima materia possui várias definições, sem que uma definição seja considerada proeminente.

Isso ocorre porque os alquimistas tinham definições pessoais de prima materia. Muitas definições até se contradiziam.

Elas variam de chumbo, ferro, ouro, mercúrio, sal, enxofre, vinagre, água, fogo, terra, água da vida, sangue, veneno, espírito, nuvens, céu, orvalho, sombra, mar, mãe, lua, dragão, Vênus , microcosmo e assim por diante. Não é de surpreender que o Ruland’s Lexicon (O Léxico de Ruland) dê cinquenta sinônimos e mais possam ser incluídos.

Além dessas definições, em parte químicas e mitológicas, existem as filosóficas que possuem significados mais profundos.

Por exemplo, no tratado de Komarios encontra-se a definição de “Hades”. Em Olimpiodoro, a terra negra continha os “malditos de Deus”.

O Consilium consigii diz que o pai do ouro e da prata, sua prima materia, é “o animal da terra e do mar”, ou “homem”, ou “parte do homem”, que é seu cabelo, sangue e assim por diante. Dorn, aluno de Paracelso, disse que a prima materia era “Adamica”, o que coincide com o limbus microcosmicus de Paracelso. Os materiais da pedra são nada menos que enxofre e mercúrio.

Os alquimistas supunham que o homem poderia completar o trabalho da prima materia porque possuía uma alma. Não é assim declarado, mas acreditado, que a alma vinha de Deus, portanto, o homem era capaz de fazer a obra de Deus – os alquimistas operam como Deus.

Outros trabalhos testemunham que a prima materia pode ser qualquer coisa e pode se tornar qualquer coisa. Mylius descreveu a prima materia como o elementium primordiale, o “sujeito puro e unidade das formas”. A prima materia é descrita no Rosarium como a “raiz de si mesma”. Portanto, porque se enraíza em si mesmo, é autônomo e não depende de nada.

Paracelso, em sua Philosophia ad Atheninses, declarou esta matéria única um segredo que não tem absolutamente nada a ver com os elementos. Ela preenche toda a regio aetherea e é a mãe dos elementos e de todas as coisas criadas.

A definição de Paracelso é estritamente baseada nas escrituras. Ele a descreveu como misteriosa, preparada por Deus de tal maneira que não haverá nada como ela novamente. Foi corrompida além da reparação, presumivelmente pela Queda de Adão, e não pode ser devolvida.

A descrição que Jung dá às obras de Paracelso e Dorn identifica claramente a razão ou razões pelas quais a alquimia da Idade Média assumiu uma atmosfera religiosa.

Não só Paracelso reconciliou seus pontos de vista profissionais com seu próprio cristianismo, mas ele os incutiu no pensamento alquímico.

Usando a Bíblia, Paracelso e outros, conectou a prima materia a Deus; “antes que Abraão fosse feito, eu sou”. (João 8:58) Visto que a prima materia é supostamente a pedra, isso também demonstrou que a pedra não tem começo nem fim.

Jung observou que muitos cristãos que ouvissem isso não acreditariam em seus ouvidos, mas foi claramente declarado no Liber Platonis quartorum: “Aquele de onde as coisas surgem é o Deus invisível e imóvel”.

Deve-se admitir que provavelmente apenas alguns filósofos pressionaram a essa conclusão extrema, mas mesmo seu aspecto torna suas alusões veladas mais transparentes. Embora a maior parte do pensamento alquímico pareça absurda em comparação com o pensamento científico moderno, não se deve esquecer que a Idade Média influenciou grandemente a cultura atual.

Deve-se lembrar que a diferença importante entre os alquimistas e os químicos era que os primeiros olhavam para trás enquanto os últimos olhavam para frente. Os alquimistas pensavam que aqueles antes deles, os antigos, tinham os segredos da arte; tudo o que eles precisavam fazer era descobrir esses segredos, o que, talvez, fosse parte de seu objetivo ou busca.

Para os futuros químicos, assim como outros cientistas, seu objetivo era descobrir segredos do futuro. Ao examinar essa diferença e comparação, vê-se prontamente que a maior parte da população mundial ainda está no caminho alquímico.

A maioria das pessoas se apega a crenças religiosas que, na melhor das hipóteses, lhes dão conforto superficial, assim como a pedra fez para os alquimistas. A maioria das pessoas são paracelsanas, rezam a Deus para curá-las quando estão doentes, mas vão ao médico para receitar remédios para curá-las. Paracelso procurou manter suas crenças religiosas, mas era inteligente o suficiente para iniciar a medicina moderna.

Pode-se dizer que o pensamento atual de que somos todos deuses porque temos o espírito de Deus dentro de nós mantido por alguns, principalmente os adoradores da natureza, possivelmente originou-se do pensamento alquímico.

O alquimista inglês Sir George Ripley (c. 1415-1490) escreveu: “Os filósofos dizem ao investigador que os pássaros nos trazem as lipas, todo homem as tem, está em todo lugar, em você, em mim, em tudo, em tempo e espaço.” “Ele se oferece de forma humilde [vili figura]. Dela brota nossa água eterna [aqua permanens].” Ripley disse que a prima materia é a água, o princípio material de todos os corpos, incluindo o mercúrio.

É o hyle, coisa, matéria, que Deus trouxe do caos. É a terra negra da qual Adão foi feito e que ele levou consigo do Paraíso. Como essa matéria prima continha água, também continha fogo, como se dizia que ambos estavam dentro da pedra filosofal; portanto, acredita-se que a pedra sempre existiu e também veio do Paraíso.

É por isso, pensa este autor, que Jung disse que a Idade Média influenciou a sociedade moderna. Talvez não no sentido alquímico porque a química moderna e outras ciências provaram ser mais eficazes, mas no sentido sócio-religioso, deve-se reiterar que a cultura ocidental ainda está em um caminho alquímico. A maioria das sociedades ocidentais procura aperfeiçoar-se através de uma religião que falhou por milhares de anos.

Os líderes religiosos se assemelham aos alquimistas ao pensar que aqueles antes deles tinham as respostas quando a história religiosa é prodigalizada com histórias de ladrões, mentirosos, assassinos, adultérios e assim por diante. A religião não mudou o comportamento humano e, graças ao Diabo, não precisa mudar.

Ainda que, alegoricamente falando, a maioria, se o mundo está no caminho alquímico, ainda não é tarde demais para seguir o exemplo de Paracelso; ele reconhecia tanto a natureza boa quanto a má e a usava para promover o bem. Ele reconheceu isso quando seus críticos disseram que seus remédios eram venenosos.

Sua resposta foi que todas as coisas são venenosas; é a dosagem que importa. Embora Jung tenha demonstrado as semelhanças entre alquimia e psicologia, ele nunca negou as armadilhas de cada uma, os pontos ruins que devem ser confrontados e trabalhados.

Nesse confronto não há resposta fácil ou bala mágica, nem prima materia ou pedra filosofal. É hora de reconhecer que o mundo é a pedra hermafrodita da qual o homem vive. O mundo é bom e mau, vida e morte; como o homem usa o mundo determinará o resultado tanto do mundo quanto do homem.

O homem pode continuar buscando a pedra da eterna salvação celestial para si mesmo, ou pode, como o químico, descobrir novas maneiras pelas quais todos possam viver em paz. A dosagem ou a pedra está nas ações da humanidade.

A.G.H.

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Fonte: Prima materia.
Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-prima-materia-o-objetivo-do-processo-alquimico/

A preparação do Tártaro

Rubellus Petrinus

Enquanto o vinho fermenta lentamente nos tonéis, à proporção que o açúcar contido no suco das uvas se transforma em álcool, deposita-se nas paredes daquelas vasilhas uma crosta salina, mais ou menos espessa, mais ou menos corada, conforme a natureza e a cor das uvas de que o vinho é feito.

Também nos tonéis onde o vinho é envasilhado e guardado se deposita o tártaro, nas paredes e, principalmente no fundo, em forma de cristais. Este último, é o melhor e mais fácil tratar.

Dá-se a esta matéria, vulgarmente, o nome de sarro das pipas ou dos tonéis e, numa linguagem mais científica, o de tártaro ou bitartrato de potássio.

Os alquimistas davam-lhe e ainda lhe dão muita importância, por ser usado como fundente na via seca.

Este sal é um tartrato ácido de potássio contendo um ácido particular, a que se dá o nome de ácido tartárico.

Adquiri, pelo menos 20kg de tártaro, proveniente de vinho branco e que contenha cristais grandes e claros, isto é, que não seja só borra.

Num pilão de metal, reduzi a pó 5kg de tártaro. Vertei 20 lts de água da torneira numa panela ou terrina de aço inox, de 25 litros, e colocai-a num fogão a gás.

Quando a água estiver a ferver, deitai-lhe, por fracções sucessivas, 1kg de tártaro em pó e mexei bem, com uma colher de madeira, até o sal se dissolver todo. Este sal é pouco solúvel, pois uma parte de sal dissolve-se em 18 partes de água fervente.

Quando virdes que o sal está todo dissolvido na água e ainda, muito quente, deitai-o com uma caneca, para outro vaso igual, através de um pano de algodão bem limpo, para o filtrar das impurezas.

Deixai repousar durante uma noite. No dia seguinte, despejai a água por decantação. Encontrareis no fundo do recipiente um sal de tártaro cristalizado, ainda muito impuro e escuro. Guardai-o.

Voltai a repetir a mesma operação com os restantes 4 kg e juntai todo o sal da primeira cristalização.

Agora, com este sal, repeti a mesma operação, pelo menos, mais duas vezes, até obterdes um sal bastante claro e bem cristalizado.

Este é o verdadeiro tártaro dos alquimistas, o qual vos servirá, juntamente com o seu acólito nitro, como fundente, na primeira obra da via seca para obter o régulo marcial.

Se quiserdes extrair o seu sal ou sal de tártaro, calcinai o tártaro bruto tal como foi extraído dos tonéis, numa grande sertã de ferro, num fogão a gás, com fogo muito forte. Exalará um cheiro muito intenso a caramelo e emitirá muito fumo e, por isso, esta calcinação só deverá ser efectuada no exterior.

Depois de muito bem calcinado e não emitir mais fumo, deitai as cinzas num prato grande de porcelana ou de vidro, e colocai-o inclinado, por cima de um recipiente de vidro, num lugar fresco, ao abrigo da luz, durante uma noite.

No dia seguinte, encontrareis as cinzas todas molhadas por terem absorvido a humidade do ar e terá escorrido para o recipiente um líquido oleoso, a que os antigos alquimistas e espagiristas chamavam óleo de tártaro por delíquio, o qual, se for necessário, filtrareis.

Se quiserdes extrair o sal, lixiviai as cinzas calcinadas e vertei a água da lixiviação num funil de vidro com um tampão de algodão, para um frasco de vidro de boca larga. Coagulai-o, numa cápsula de porcelana grande, como manda a Arte, até que fique branco como a neve.

Guardai-o num frasco de vidro de boca larga, bem fechado, porque, se for bem coagulado, é muito deliquescente.

Este sal de tártaro canónico servir-vos-á para diversas operações espagíricas.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-preparacao-do-tartaro/

A Preparação do Óleo de Antimónio

Rubellus Petrinus

No livro “Le Char Triomphal de l’Antimoine“, Retz, Paris, Basílio Valentim, descreve diversas preparações do antimónio e, entre elas, a do óleo de antimónio com vista à preparação da Pedra de Fogo.

A primeira operação para extrair o óleo de antimónio é pulverizar num pilão metálico de bronze ou de ferro, pelo menos um a dois quilos de estibina de boa qualidade que tenha uma grande percentagem de mineral.

Depois de reduzida a pó fino, passá-la por uma peneira de 60 linhas por cm. Deitar o mineral reduzido a pó fino num recipiente de vidro Pyrex e colocá-lo por cima de um fogão a gás de boca larga em banho de areia para o calcinar. Esta calcinação destina-se a remover o enxofre químico do antimónio e deverá ser feita com muita prudência com um grau de fogo adequado, mexendo frequentemente com uma colher de aço inoxidável com cabo longo como podereis na imagem. Se não mexerdes a matéria frequentemente formar-se-ão aglomerados do mineral com enxofre que tereis de moer novamente e voltar a calcinar.

Depois de bem calcinado o antimónio terá uma cor castanho claro e deixará de emanar o cheiro característico do enxofre químico. É uma operação demorada que requer muita paciência para ficar bem feita. Esta calcinação é a base de todo o trabalho, por isso, não tenhais pressa em executá-la.

Seguidamente, com este antimónio em pó bem calcinado como a Arte demanda procedereis à preparação do vidro de antimónio. Basílio Valentim nos textos antecedentes, indica que se deverá juntar ao pó de antimónio calcinado bórax.

Nós nunca o fizemos por este processo e utilizámos apenas o antimónio sem adição como ele refere no texto seguinte. Vimo-lo fazer na Filiação Solazaref e fizemo-lo nós também por diversas vezes em Portugal.

Deitar num bom cadinho de tamanho médio o antimónio devidamente calcinado até enchê-lo e depois colocar a tampa no cadinho. Colocá-lo num forno a gás por cima de um ladrilho refractário fazendo incidir a chama do maçarico no centro do cadinho.

De vez em quando, com uma tenaz, retirar a tampa do cadinho e verificar se o antimónio está fundindo. Quando estiver completamente fundido, com uma tenaz apropriada retirar a tampa e segurar o cadinho pelo meio retirando-o do forno.

 

Vazar cautelosamente o seu conteúdo por cima de uma chapa de cobre ou de uma pedra mármore. Depois de arrefecer, o vidro soltar-se-á facilmente da chapa de cobre ou da pedra mármore em placas as quais partireis em pequenos pedaços que guardareis num frasco de vidro de boca larga.

A cor do verdadeiro vidro de antimónio canónico feito sem adição de bórax é castanho avermelhado com pequenas manchas escuras como podereis observar na imagem. Colocando uma destas placas em frente de uma fonte de luz intensa como a do Sol é vermelho vivo por transparência.

Para fazer o óleo de antimónio é necessário moer o vidro num pilão de bronze ou de ferro tendo a precaução de colocar na face uma máscara apropriada para evitar respirar o pó fino que emana do pilão. Depois de moído é necessário passá-lo por uma peneira fina de pelo menos 60 linhas por cm.

Vejamos, agora, o que Basílio Valentim, nos diz na pg. 170, Capítulo VII, Da Maneira de Fazer o Óleo de Antimónio:

«Tomai do vidro de antimónio feito sem adição tanto quanto vos aprouvera; pulverizai-o subtilmente extraí-lhe a tintura com vinagre destilado e depois que tenhais tirado o vinagre e dulcificado o seu resíduo que é um extracto da tintura, com bom espírito de vinho e que tenhais extraído pela segunda vez, fechá-lo-eis bem num pelicano e fá-lo-eis circular durante um mês (quer dizer esta última extracção pelo espírito de vinho), depois desse tempo destilareis pura e simplesmente sem qualquer adição. E por esta simples destilação tereis um medicamento doce, agradável e admirável em forma de um belo óleo claro e vermelho com o qual se prepara a Pedra de Fogo. Este óleo é a verdadeira e melhor quintessência de antimónio que se pode obter, assim como eu já declarei no meu tratado anterior onde já fiz menção que havia quatro espécies de preparação ou de instrumentos para preparar a dita essência, e que a quinta preparação competia a Vulcano.»

Este texto descreve em linguagem espagírica própria da época como é preparado o óleo de antimónio a partir do seu vidro.

A primeira operação a executar é dissolver em “vinagre forte” (nós entendemos por vinagre forte o espírito de vinagre destilado do vinagre de vinho a 10º Baumé) o vidro de antimónio finamente moído. Esta operação apesar de parecer simples é necessário conhecer o “toque de mão” para a fazer eficientemente.

Para o efeito, devereis utilizar um circulador feito com um balão cónico ou esférico de 2 litros e outro de 500ml. como podereis ver na imagem em destaque no topo.

Deitar parte do vidro de antimónio finamente moído no balão e, por cima deste, o vinagre. Colocar o circulador num forno eléctrico à temperatura de cerca de 60ºC. Agitar circularmente o balão inferior para o pó de vidro se misturar bem com o espírito de vinagre.

Para facilitar a dissolução do vidro no espírito de vinagre agitar o circulador várias vezes ao dia. Quando a dissolução estiver bem saturada e de cor vermelha, agitar o balão inferior e retirai o superior. Deitar a dissolução num frasco de boca larga por meio de um funil com filtro. O pó de vidro não dissolvido ficará no filtro. Guardar o líquido tingido de vermelho num frasco de vidro escuro.

Retirar do filtro o pó de vidro e secá-lo à temperatura de 60ºC. numa cápsula de porcelana. Voltar a deitar este pó de vidro no circulador e, por cima, mais espírito de vinagre. Voltar a dissolver como antes para retirar toda a tintura do vidro.

Quando o vinagre não se tingir mais de cor vermelho intenso repetir a mesma operação mas não guardar o vinagre como antes se ele não tiver uma cor vermelha intensa. Neste caso retirar por filtragem o pó de vidro que separareis e adicionar-lhe outro pó de vidro recente.

Continuar com a mesma operação até retirar toda a tintura da vossa provisão de vidro de antimónio.

Seguidamente deitar toda a vossa provisão de vinagre tingido num alambique e destilar com fogo adequado à destilação do vinagre. Ter muita cautela quando a destilação se aproxima do fim. Retirar o caput do alambique com uma colher de madeira e secá-lo lentamente numa cápsula de porcelana entre 40-60ºC para lhe retirar toda a acrimónia.

Quando o pó que é um acetato estiver seco, colocá-lo num circulador (pelicano) e deitar por cima espírito de vinho soberanamente destilado a cerca de 98%. Deixar circular pelo menos um mês como o Mestre refere no texto.

Depois da circulação, o Mestre diz-nos: «…depois desse tempo destilareis pura e simplesmente sem qualquer adição. E por esta simples destilação tereis um medicamento doce, agradável e admirável em forma de um belo óleo claro e vermelho com o qual se prepara a Pedra de Fogo.»

Basílio Valentim não é bem explícito nesta parte do texto e dá-nos a entender que depois desta última destilação, já no final, sairá pelo bico do alambique “um medicamento doce e agradável”.

A tintura do antimónio mesmo depois de circulada com o espírito de vinho é tóxica e só perderá esta toxidade se passar pelo bico do alambique.

Infelizmente, por motivos alheios à nossa vontade, não pudemos fazer esta última destilação e, por isso, não vos poderemos confirmar o resultado final desta operação. Fá-la-emos quando tenhamos condições de preparar o vidro de antimónio necessário o que implica termos condições para trabalhar na via seca.

No entanto, aqui ficam descritas as principais operações que fizemos bem como o respectivo modus operandi com as imagens para aqueles que tiverem condições laboratoriais para o fazer.

Deitar parte do vidro de antimónio finamente moído no balão e, por cima deste, o vinagre. Colocar o circulador num forno eléctrico à temperatura de cerca de 60ºC. Agitar circularmente o balão inferior para o pó de vidro se misturar bem com o espírito de vinagre.

Para facilitar a dissolução do vidro no espírito de vinagre agitar o circulador várias vezes ao dia. Quando a dissolução estiver bem saturada e de cor vermelha, agitar o balão inferior e retirai o superior. Deitar a dissolução num frasco de boca larga por meio de um funil com filtro. O pó de vidro não dissolvido ficará no filtro. Guardar o líquido tingido de vermelho num frasco de vidro escuro.

Retirar do filtro o pó de vidro e secá-lo à temperatura de 60ºC. numa cápsula de porcelana. Voltar a deitar este pó de vidro no circulador e, por cima, mais espírito de vinagre. Voltar a dissolver como antes para retirar toda a tintura do vidro.

Quando o vinagre não se tingir mais de cor vermelho intenso repetir a mesma operação mas não guardar o vinagre como antes se ele não tiver uma cor vermelha intensa. Neste caso retirar por filtragem o pó de vidro que separareis e adicionar-lhe outro pó de vidro recente.

Continuar com a mesma operação até retirar toda a tintura da vossa provisão de vidro de antimónio.

Seguidamente deitar toda a vossa provisão de vinagre tingido num alambique e destilar com fogo adequado à destilação do vinagre. Ter muita cautela quando a destilação se aproxima do fim. Retirar o caput do alambique com uma colher de madeira e secá-lo lentamente numa cápsula de porcelana entre 40-60ºC para lhe retirar toda a acrimónia.

Quando o pó que é um acetato estiver seco, colocá-lo num circulador (pelicano) e deitar por cima espírito de vinho soberanamente destilado a cerca de 98%. Deixar circular pelo menos um mês como o Mestre refere no texto.

Depois da circulação, o Mestre diz-nos: «…depois desse tempo destilareis pura e simplesmente sem qualquer adição. E por esta simples destilação tereis um medicamento doce, agradável e admirável em forma de um belo óleo claro e vermelho com o qual se prepara a Pedra de Fogo.»

Basílio Valentim não é bem explícito nesta parte do texto e dá-nos a entender que depois desta última destilação, já no final, sairá pelo bico do alambique “um medicamento doce e agradável”.

A tintura do antimónio mesmo depois de circulada com o espírito de vinho é tóxica e só perderá esta toxidade se passar pelo bico do alambique.

Infelizmente, por motivos alheios à nossa vontade, não pudemos fazer esta última destilação e, por isso, não vos poderemos confirmar o resultado final desta operação. Fá-la-emos quando tenhamos condições de preparar o vidro de antimónio necessário o que implica termos condições para trabalhar na via seca.

No entanto, aqui ficam descritas as principais operações que fizemos bem como o respectivo modus operandi com as imagens para aqueles que tiverem condições laboratoriais para o fazer.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-preparacao-do-oleo-de-antimonio/