Tarot da Kabbalah Hermética

É com muita alegria e satisfação que posso finalmente anunciar que o Tarot da Kabbalah Hermética está na gráfica. Todos vocês sabem que um dos grandes projetos do Blog sempre foi ter um Tarot. Mas não poderia ser qualquer tarot… Na minha concepção, o Tarot é um livro onde estão guardados todos os estudos iniciáticos que um Mago precisa e o seu domínio é peça fundamental em qualquer Ordem Magística.

Por um lado, meu espírito virginiano perfeccionista não estaria satisfeito até conseguir compilar todos estes ensinamentos em um Deck Completo. Por outro lado, minhas capacidades artísticas deixam muito a desejar. Porém, desde o ano passado, estive desenvolvendo este projeto em parceria com o Rodrigo Grola, um dos melhores artistas que já tive a honra de trabalhar. Sua capacidade de materializaçao de idéias e síntese artística do uso das cores e formas já o tornaram famoso nos meios iniciáticos, com seus trabalhos na Árvore da Vida, Lamen e o fantástico Arqueômetro que trabalhamos em conjunto.

E falta pouco para este trabalho se concretizar em Malkuth.

O Tarot da Kabbalah Hermética contém todas as informações para a utilização dos Arcanos como PORTAIS, a serem usados no Altar Pessoal do Mago e para trabalhos envolvendo Anjos cabalísticos e Demônios Goéticos. Ele é o deck oficial do Arcanum Arcanorum e pode ser usado também como Guia de estudos da Árvore da Vida, Correspondências Cabalísticas e, claro, como Oráculo.

Como o processo de se criar e imprimir um tarot é MUITO caro, ainda mais na qualidade que escolhemos (cartas de PVC no estilo das de Poker, com 111x72mm, tamanho original do Thoth Tarot de Crowley), preferimos fazer uma tiragem menor primeiro e arrecadar o dinheiro para a impressão comercial do Tarot.

De forma a brindar esta idéia, imprimimos apenas 300 decks na primeira edição, em homenagem aos Bravos Guerreiros de Esparta que acreditaram na idéia em primeiro lugar. Estes 300 decks terão o verso diferenciado das edições posteriores, o que fará deles, além de tudo, objetos de colecionador.

Faremos uma festa de lançamento e uma lista de reservas da Primeira Edição.

Aguardem.

#Tarot

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/tarot-da-kabbalah-herm%C3%A9tica-2

Poster do Lamen e da Arvore da Vida na Gráfica

Já estão na fase final os posteres do TdC sobre a Árvore da Vida e sobre o Lamen Rosacruz (Arqueômetro contendo todas as correlações entre planetas, signos, arcanos e anjos cabalísticos que pesquisamos). Organizado por Marcelo Del Debbio e ilustrado pelo talentoso Rodrigo Grola, os posters possuem 55x85cm, um tamanho de respeito para alegrar qualquer ambiente de estudos.

Você pode fazer a compra direto na loja da editora Daemon.

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Hoje é Dia de Rigor

“Lembrai, lembrai do cinco de novembro

A pólvora, a traição, o ardil

Por isso não vejo como esquecer

Uma traição de pólvora tão vil”

De acordo com o dicionário online da Wikipédia:

“Vingança consiste na retaliação contra uma pessoa ou grupo em resposta a algo que foi percebido ou sentido como prejudicial. Embora muitos aspectos da vingança possam lembrar o conceito de igualar as coisas, na verdade a vingança em geral tem um objetivo mais destrutivo do que construtivo. Quem busca vingança deseja forçar o outro lado a passar pelo que passou e/ou garantir que não seja capaz de repetir a ação nunca mais.”

“Voilà! À vista, um humilde veterano vaudevilliano, apresentado vicariamente como ambos vítima e vilão pelas vicissitudes do Destino. Esta visagem, não mero verniz da vaidade, é ela vestígio da vox populi, agora vacante, vanescida, enquanto a voz vital da verossimilhança agora venera aquilo que uma vez vilificaram. Entretanto, esta valorosa visitação de uma antiga vexação, permanece vivificada, e há votado por vaporizar estes venais e virulentos verminados vanguardeiros vícios e favorecer a violentamente viciosa e voraciosa violação da volição. O único veredito é a vingança, uma vendeta, mantida votiva,não em vão, pelo valor e veracidade dos quais um dia deverão vindicar os vigilantes e os virtuosos. Verdadeiramente, esta vichyssoise de verbosidade vira mais verbose vis-a-vis uma introdução, então é minha boa honra conhecê-la e você pode me chamar de V.”

“V”, em algarismos romanos, como bons observadores que sei que vocês são, significa em algarismos arábicos o número 5. Que é a numeração de nossa tão bem conhecida e pouco compreendida Sephira de Guevurah. Também leva a crer que está muito bem relacionada com o Pentagrama, nosso velho amigo microcósmico. Podemos pegar uma interpretação legal daí tirando que a energia do Ani (Eu) e do Ain (Nada) se encontrem em Tipheret e o aconteça o primeiro dos momentos majestosos do iniciado ocidental, deve-se primeiro saber compreender a energia da Justiça severa desta Sephira e não cair nas “graças” de Asmodeu na Qliphoth de Golachab.

“Asmodeus: Energia Sagrada e Significado. Quando o Significado nas coisas segue adiante, essas coisas viram Cascas. Beleza sem Significado vira Orgulho vazio, Um Julgamento Duro sem Julgamento honesto se torna Raiva. Se torna uma Casca, uma Concha, se torna um Qlipphoth. Se torna EU.”

“Eis que me fiz de santo, quando na verdade era o demônio.” V

Quando a vingança é maior que a justiça, corre-se o risco de cair em desgraça. Acredito eu que as rosas vermelhas deixadas durante os assassinatos dos antigos agressores do V são uma representação alegórica da destruição dos impulsos destrutivos e das paixões inferiores durante a jornada dele. Todas elas representadas pelas suas vítimas. Depois de mortas, recebiam uma rosa. Uma Rosa-do-Espírito se abria. Rosas estas, que no filme, se diziam extintas. Poderia ser retratado de modo que o Fohat (Caminho da Espada Flamejante ou Relâmpago) seja encabeçado pelo próprio V. “O que fizeram comigo me criou, é um principio básico do universo, que toda ação cria uma reação igual e oposta!”.

V não pode agir através do pilar da Misericórdia. Para se derrubar o poder totalitário da Teocracia imposta na Inglaterra fictícia, ele precisa agir mais próximo da população e dentro do pilar da Severidade. Ele precisa reunir, aglutinar. E esta é a energia deste pilar. “Se não pode com eles, junte-se a eles”. O governo totalitário pode ser claramente associado com Binah, afinal fecha as portas da liberdade para as mentes condicionadas à sua verdade. Isso pode ficar muito claro com o símbolo deste governo (uma cruz de dois braços, ou seja, oito ângulos). Na Kabbalah do Sepher ha Bahir, as energias empregadas na destruição do poder totálitário deste governo podem ser interpretadas como o Arcano VIII (A Justiça), já que liga Gevurah à Binah (caminho de Heth). E da ligação que V trará ao povo com a oportunidade de se encontrarem (SAG) é equivalente ao Arcano XII (O Enforcado), que neste caso é equivalente ao caminho de Lamed.

Na Kabbalah aqui apresentada, estudada pelos cabalistas da Golden Dawn, as respectivas energias apresentadas anteriormente são: o Arcano VII (O Carro) e o Arcano VIII (A Justiça). Como acredito que ao invés de antagônicas, estas duas formas de apresentar a Kabbalah são complementares, peço a vocês mesmos que combinem estes dois modos de interpretar a energia empregada e compartilhem suas interpretações. Deixo esta parte com vocês. Comentem com suas interpretações.

Quando ele encontra Tipheret, ou seja, liberta seu anjo da prisão onde estava, vendo experiências anteriores, ele se sente pronto. Teve seu necessário Batismo de Fogo. Enquanto Evey é a representação do próprio povo que precisa encontrar sua liberdade. Ela é a representação de Netzach que precisa entender que Amor é se render. E precisa se sacrificar pelos outros e deixar seus medos para trás. “Deus está na chuva”.

A morte de V e sua batalha final com Creedy, o guardião de Binah, começa com a morte de Adam Sutler, o Demiurgo. Se V precisa voltar ao seu posto original em Hochmah e deixar o próprio povo como dirigentes do novo governo (Poimandres) que ele mesmo tenta ajudar a criar oferecendo sua própria vida em troca, era preciso que se derrotasse o Guardião do Abismo. V dá o seu primeiro e último beijo (Osculum Sanctum) em Evey e parte para seu Sacro Ofício. Notem que nenhuma bala faz efeito nele, mesmo que a proteção de ferro (Gevurah) que carregava sobre seu peito tenha sido totalmente crivada de balas. Ele já não era deste mundo. Creedy não podia entender o motivo dele não morrer pois só tinha conhecimento de coisas passíveis de morte. V atingira Hochmah.

“Por baixo dessa carne existe um ideal. e as idéias nunca morrem…”

Com a revolta popular no dia 5 de Novembro, passado um ano desde a proposta, o povo em sua insurreição foi à caráter, vestidos todos como V, como um só, encarar a morte na mão armada do Governo. Eles não temiam a morte. Eles não temiam o Diabo. Eles não temiam mais nada porque eram um só. eles finalmente haviam alcançado Tipheret. Isso pode ser notado quando depois da destruição do Parlamento, ou seja, depois de destruir aquilo que era símbolo máximo do governo de Adam Sutler, todos tiraram suas máscaras e eram cada um um indivíduo. Mas não o mesmo indivíduo. Não o indivíduo apático e egoísta de antes. Eles eram a Fraternidade Universal

Resumindo, isso tudo se torna de um V um VI.

V for Vendetta – Final Scene

Que as vossas Rosas floresçam na Tua Cruz.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/hoje-%C3%A9-dia-de-rigor

O Despertar da Força e a Kabbalah

Olá crianças,

Começa agora uma nova fase no Universo de Star Wars. Esta Obra magnífica e carregada de simbolismo hermético, ao se juntar com os Estúdios Disney, não poderíamos esperar outra coisa a não ser um épico de proporções cabalísticas! J.J. Abrams mandou muito bem e até agora, pode-se considerar este filme como o melhor de toda a saga.

Como não poderia deixar de ser, O DESPERTAR DA FORÇA segue a cartilha hermética que o tio Del Debbio vem explicando para vocês faz tempo. Não continue lendo se ainda não assistiu ao filme, pois a resenha abaixo contém diversos spoilers.

Nossa Jornada do herói começa pela principal protagonista, a escolhida da Força REY. Ela é nossa Tiferet, a heroína solar que percorrerá a Árvore da Vida em sua aventura. Como todo herói de uma jornada, ela começa o filme completamente inconsciente de seus poderes e responsabilidades. Vivendo no planeta Jakku (Malkuth, o Reino), Rey passa seus dias como uma pessoa comum… trabalhando e recolhendo peças de refugos em troca de pedaços de rações que a fazem empurrar um dia após o outro.

A Jornada começa com o Despertar da Consciência, e FINN representa YESOD, um stormtrooper que desperta para as atrocidades que fazia sem ter consciência e decide escapar do sistema. Em sua iniciação, ele é marcado com sangue e decide buscar o Mundo Exterior. Para isso, conta com a ajuda de GEBURAH (Poe Dameron, a Vontade) e NETZACH (BB-8, a Inspiração). Geburah, o Arquétipo do Guerreiro, vivido na Série original pela dupla Han Solo/Chewbacca, pilotavam a Millenium Falcon, o CARRO (Arcano do tarot) que conduzia o herói Luke Skywalker em sua jornada inicial. O carro retorna nos novos episódios, para conduzir nossos heróis em uma nova aventura.

BB-8 representa Netzach, a Inspiração. Tal qual seu correspondente R2-D2, ele carrega consigo uma mensagem que traz esperança e inspiração para a movimentação da jornada, além de ser retratado sem comunicação verbal, apenas “bips e bops” como seu irmão arquetipal. Poe Dameron representa a coragem e ousadia de Geburah, o melhor piloto da Rebelião. Para completar as informações que necessitam, os heróis visitam a base de Maz Kanata. Maz Kanata representa HOD, o Esplendor, uma alienígena que irá providenciar o caminho para que heroína encontre Excalibur (ou, no caso, o Sabre de Luz de Luke).

Uma vez de posse de excalibur, falta finalizar a busca pelo Santo Graal e seu mentor em CHESED. Na trilogia clássica, era o Mestre YODA (sendo YOD a letra hebraica que representa justamente o Caminho que liga Tiferet a Chesed). Como tudo evolui, o Discípulo se torna mestre e Luke Skywalker torna-se o Mestre Jedi refugiado em um local distante, cuja busca pela heroína de Tiferet será o ponto central do primeiro Ato.

Daath, o Abismo, está representado na forma de Kylo Ren (por enquanto), o vilão que traiu a luz para se entregar ao lado negro da força. Claro que já sabemos que há uma força maior por trás dele, na forma do Supreme Leader Snoke, mas ainda está muito cedo para fazer este desdobramento na trama… Caso Kylo Ren alcance a redenção, ele conseguirá atravessar o abismo e chegar a BINAH, posição ocupada por seu avô na Árvore da Vida original da saga. Como na primeira trilogia, os vilões possuem um planeta-arma capaz de sugar a energia de um sol para destruir outros planetas e cabe aos heróis impedir esta ameaça.

Finn, tal qual a princesa dos contos de fada (impossível não referenciar diretamente a Branca de Neve, da Disney), permanece adormecido dentro de um esquife de vidro, protegido pelos guerreiros da Rebelião até que o Príncipe (ou Princesa Rey, nesse caso) retorne de sua missão.

Toda a lição de casa está feita. A nova saga de Star Wars tem tudo para se tornar o maior fenômeno cult pelos próximos séculos. Joseph Campbell ficaria orgulhoso.

Para entender mais sobre Kabbalah:
Curso de Kabbalah Hermética

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-despertar-da-for%C3%A7a-e-a-kabbalah

Uma Visão diferente da Árvore da Vida

Olá crianças,

Acredito que nesta altura do Campeonato a imensa maioria de vocês já sabe como foi o meu trajeto dentro da Magia e do Hermetismo. Comecei como arquiteto especializado em História da Arte, Semiótica e Religiões comparadas mas, ao me aprofundar no estudo das artes medievais e renascentistas, esbarrei na Cabalá judaica, ou mais especificamente, na versão cristã/alquímica do estudo desta simbologia, que conhecemos por Alquimia e Tarot. A partir daí me aprofundei na Kabbalah Hermética, Maçonaria, Rosacruz e Martinismo e, inevitavelmente, trombei com a famosa imagem da “Árvore da Vida”.

A ´”Arvore da Vida” é um diagrama composto de 10 Esferas e 22 Caminhos que perfazem um Mapa da Consciência Humana. A Estrutura é genial fractal que comporta basicamente TUDO o que existe em termos de arte, pensamento, emoção e arquétipos, de maneira que não há uma única história, medieval ou moderna, que não trilhe nos Caminhos do que Joseph Campbell chamou de “A Jornada do Herói”.

Ao contrário da maioria dos estudiosos de Kabbalah, eu não comecei pela Cabalá. Eu já tinha uma bagagem enorme de conhecimento sobre a Arte renascentista, deuses, construção de templos e ordens iniciáticas antes de começar. Sem falar da Umbanda.

Então, de certa forma, nunca me senti muito à vontade com a limitação nos 22 Caminhos tradicionais, embora eles sejam perfeitos para compreender todo o processo da Magia ocidental. Mas talvez chegou o momento de dar um passo a mais nesse processo.

Esta idéia ainda está em desenvolvimento e provavelmente vou arrumar confusão com o povo mais dogmático e limitado, mas acredito que seja uma boa base para avançarmos em alguns pontos de compreensão sobre como estas emanações se manifestam. Porque, para mim, Magia sempre foi ciência e é necessário avançar sempre, derrubando fórmulas obsoletas e corrigindo tradições que sejam limitadas.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/uma-vis%C3%A3o-diferente-da-%C3%A1rvore-da-vida-1

As Aventuras de Pi – Uma análise cabalística

Aparentemente, “As Aventuras de Pi” (The Life of Pi), filme mais premiado do Oscar de 2013 (Melhor Fotografia, Melhores Efeitos Visuais, Melhor Trilha Sonora e Melhor Diretor), é apenas um filme com fotografia de encher os olhos que conta a história de Piscine Patel, vulgo Pi, que tenta provar a existência de Deus a um escritor desencorajado, relatando sua luta por sobrevivência em um bote salva-vidas, após um naufrágio em alto-mar com seu companheiro de viagem: o tigre Richard Parker. Porém, pode-se considerar redundância fazer uma análise cabalística deste filme, tão óbvio é o viés cabalístico presente em sua essência.

Pi nasce na Índia, filho caçula do dono de um zoológico e de uma botânica. Inabalável em sua crença no sagrado, quando criança, ele encontra espaço o suficiente em seu coração para abraçar as três maiores fés do mundo: o hinduísmo, o cristianismo e o islamismo, ignorando as diferenças de dogmas e preconceitos. Pi entende a unicidade e onipresença da luz de D’us, independente das formas e dos avatares existentes na história da humanidade.

Em um episódio peculiar com Richard Parker, em seu primeiro contato íntimo com o tigre, o protagonista tenta alimentá-lo com a própria mão, encarando-o nos olhos. Pi enxerga a alma do animal e a impressão que temos é que tudo correria bem, se o pai de Pi não o tivesse impedido, com medo do que aconteceria com o filho. Para ensiná-lo uma lição, o Sr. Patel alimenta o tigre com uma cabra, pedindo-o para ficar de olhos abertos, presenciando a selvageria do animal. Pi fica desolado. Seu mundo perde a cor, e sua fé fica completamente abalada. Assim o protagonista cresce, à procura de algo que trouxesse novamente significado em sua vida.

O auge do filme, porém, ocorre após a decisão do Sr. Patel de se mudar com toda a família para o Canadá, embarcando em um navio japonês, denominado Tsimtsum, para vender os animais do zoológico. Depois de quatro dias de viagem, Pi acorda no meio da noite em meio a uma violenta tempestade. Curiosamente, ele pede “mais chuva, mais chuva” ao “Deus da Tempestade”, e o Tsimtsum afunda, deixando-o a deriva no Oceano Pacífico.

O grande cabalista Isaac Luria descreveu um fenômeno curioso. No começo não havia Nada, apenas Luz Infinita. Nesse estágio pré-Criação, não existia lugar onde algo pudesse existir. Quando Ele decidiu criar, sabendo que nada poderia existir onde existisse a Luz Infinita, tamanha sua potência, o Criador retraiu sua Luz em um determinado espaço e o circunda, resultando em um vácuo dentro da Luz Infinita. Só então Ele estendeu para dentro deste vácuo circular um raio de Luz que gerou toda a Criação.

Esse ato de contração de si mesmo para que pudéssemos existir, Luria chamou de Tsimtsum. O Criador, ao criar este espaço, delimitá-lo e enviar um raio de Luz, revela os conceitos de limite e restrição tão necessários à criação, muito similar à função do número irracional Pi.

Pi, durante a tempestade, age como a Criatura foi programada para agir: ele pede mais e mais, pois assim é a criatura em essência, em seu desejo egoísta de receber. E é nesse instante que o Tsimtsum afunda, em uma linda cena com alegorias sobre o momento da Criação para satisfazer qualquer estudante de cabala (talvez até mesmo o próprio Isaac Luria).

Após o naufrágio, o protagonista passa por diversas situações em sua luta para sobreviver. Sozinho, tendo perdido sua família, alimentando e ao mesmo tempo dominando Richard Parker, o que pode claramente ser uma alusão ao nosso Adversário, ao nosso ego e ao constante desejo de receber para si.

Durante toda a viagem de Pi e Richard Parker em alto mar, é possível identificar diversas referências cabalísticas. Em certo ponto, por exemplo, os personagens passam pela esfera de Yesod, antes de terminarem sua jornada, chegando finalmente a Malkuth. Para não entregar o ouro tão facilmente, deixemos aos leitores a percepção destes pormenores.

Ao final de sua história, Pi conta para o jornalista que existem duas versões da história e que ele deve escolher qual é a verdadeira: a que ele acabara de contar, repleta de significados, amor e milagres; e a outra, com fatos realistas e cruéis.

De acordo com Pi, D’us é a “melhor história”. Acreditar em D’us torna a vida mais rica e mais repleta de sentidos – e ainda assim, a vida é a mesma. Ele viveu seu momento pessoal de re-criação do seu universo, sobrevivendo a todas as mazelas e vendo a beleza do Criador em todas elas.

A escolha, na verdade, é sempre nossa: ver apenas o sofrimento e a dor do mundo ou descobrir o significado profundo de todas as coisas.

D’us, ao criar o Universo, oculta sua Luz de nós, para que nós possamos fazer nossas próprias escolhas. Mas Ele permanece imanentemente presente, mesmo estando oculto. De certa forma, ele está mais presente em Sua ausência que em Sua presença.

Do excelente blog CEMEC – Centro de Estudos e Meditação Cabalista

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/as-aventuras-de-pi-uma-an%C3%A1lise-cabal%C3%ADstica