Carl Jung Reloaded

A forma do mundo em que o homem nasceu já está dentro dele como imagem virtual. (Carl Jung)

Carl Gustav Jung era um jovem psiquiatra de Zurique na época em que conheceu e ficou fascinado pelo revolucionário psicanalista Sigmund Freud, no começo do século passado. A admiração mútua durou pouco mais de uma década, tendo os dois rompido relações por incompatibilidades pessoais e intelectuais, principalmente pela rejeição de Jung ao pansexualismo de Freud. Para Jung, o comportamento humano é condicionado não somente pela sua história individual e racial (causalidade), mas também pelos seus alvos e aspirações (teologia). O passado como realidade, e o futuro como aspiração/potencialidade dirigem o comportamento presente.

“O indivíduo vive para os alvos, assim como pelas causas.” (Carl Jung)

No primeiro filme, The Matrix, Neo aprende a viver por sua aspiração, que é primeiro libertar-se de algo que ele não conseguia ver ou saber, mas cuja opressão ele podia sentir em sua alma. Ele buscou essa libertação desesperada e inconscientemente, e foi ajudado por Morpheus e Trinity a sair da Matrix. Após o conhecimento do QUE o subjugava, sobreveio o medo, e a pequenez diante do poder do carcereiro (no caso, as máquinas). Precisou, novamente, de ajuda externa, na figura de Oráculo, que progressivamente o ensinou que buscar os seus objetivos é como respirar (ou amar): não deve haver dúvidas se você pode ou não pode, você apenas respira (ou ama) e aquilo é o natural. Sua mente, enganada (e subjugada) pelas máquinas durante toda a vida, poderia novamente ser enganada (e subjugada) por uma força ainda maior: ele mesmo. Inicia-se todo um esforço de desprogramação (desintoxicação) das limitações que o cerceavam na Matrix.

Foi em um momento de absoluta necessidade, quando não havia espaço para o raciocínio lógico, que uma parte do poder de Neo aflorou, e ele salvou Trinity da queda no helicóptero numa seqüência de acontecimentos que poderíamos chamar aqui de Sincronicidade, onde cada ação ocorreu em seu momento certo, da forma correta. Embora ele tenha tido este momento de epifania, dúvidas ainda pairavam em sua mente, dúvidas essas que o levaram ao erro (a bala que passou de raspão ao tentar desviar) e foi preciso que seu corpo na Matrix morresse (simbólica e literalmente) para que uma nova consciência pudesse despertar. Essa nova consciência, finalmente liberta das amarras da ilusão (Matrix), escolheu ensinar a humanidade o poder dessa libertação.

Assim termina o primeiro filme, que retrata um combate não externo, mas interno, contra a ilusão que nubla a própria mente consciente, ou ego, como veremos nos estudos de Carl Jung:
Ego ou mente consciente

É o responsável por nossos sentimentos de identidade e continuidade e, do ponto de vista da própria pessoa, é encarado como sendo o centro da personalidade. O budismo procura justamente aniquilar o ego, essa falsa percepção de identidade. O ego não foi produzido pela natureza para seguir ilimitadamente os seus próprios impulsos arbitrários, e sim para ajudar a realizar, verdadeiramente, a totalidade da Psique. Se, por exemplo, possuo algum dom artístico de que meu ego não está consciente, este talento não se desenvolve, e é como se fora inexistente. O ego é como o boi da parábola Zen, é a tração. Mas não confunda: o boi não guia, é guiado pelo cocheiro, mas, na maioria das vezes, nós mesmos deixamos o boi tomar o rumo que ele quer.
Inconsciente individual

Onde ficam as experiências que foram reprimidas, suprimidas, esquecidas ou ignoradas, e também experiências muito fracas para marcar a consciência do individuo. É aí que se encaixam os Complexos, que são grupos organizados de sentimentos, percepções e memórias, que ficam no inconsciente, mas atuando de forma determinante no consciente, podendo atuar até mesmo como uma personalidade autônoma, usando a psique para seus próprios fins.
Inconsciente coletivo

É o alicerce de toda a estrutura da personalidade. Sobre ele estão erigidos o ego, o inconsciente individual e todas as outras

“O conhecimento baseia-se não somente na verdade, mas no erro também.” (Carl Jung)

No segundo filme, Neo é alçado a um patamar de semi-Deus pelos seus amigos e habitantes de Zion. Não apenas ele libertou-se, como dominou o código da Matrix. Neo fica um pouco desconfortável com o assédio, mas seu ego se acomoda bem à posição de Super-Homem, e sua autoconfiança dentro da Matrix é visível, e perigosa. Vejamos o que Jung tem a dizer sobre os papéis que tomamos para nós mesmos e para a sociedade:
Arquétipos

São imagens recorrentes no inconsciente coletivo (formas-pensamento), que expressam e definem uma situação. São mais que um ícone, pois contêm uma grande carga de emoção (além da informação) que é transmitida a quem vê. Ex: Jesus na cruz simboliza um arquétipo de ser bondoso que sofreu injustamente e resignado, o que causa um efeito anestésico (inconsciente) em quem está passando por provações (por identificação). Já a andrógina e decidida Trinity se tornou (pra muitos) um arquétipo feminino desta geração, assim como sensual e produzida Marilyn Monroe o foi para a geração dos anos 60. Uma vez que esses arquétipos são assimilados pela pessoa, são trabalhados individualmente, podendo até assumir o controle da personalidade (no caso da Sombra). Não é preciso entrar em contato sensorial com o arquétipo para que eles atuem, já que cada indivíduo nasce com acesso a toda a “biblioteca de Arquétipos”, via Inconsciente Coletivo.
Persona

É a máscara usada pelo indivíduo em resposta às convenções e tradições sociais e às suas próprias necessidades arquetípicas internas. É o papel que a sociedade lhe atribui, que espera que você represente na vida. O propósito da máscara é produzir uma impressão definitiva nos outros e, muitas vezes (embora não obrigatoriamente) dissimula a verdadeira natureza do indivíduo, em oposição à personalidade privada, que existe por trás da fachada social. Se o ego se identificar com a persona, como freqüentemente o faz, o indivíduo terá mais consciência do papel que está representando do que de seus sentimentos genuínos. Será sugado pelo personagem, tornando-se um alienado de si mesmo e toda a sua personalidade toma um aspecto superficial e bidimensional (a persona assemelha-se, em certos casos, ao superego categorizado por Freud). O pós-estruturalismo veio reforçar a idéia do papel como esvaziador da potência do indivíduo, como um chefe que se deixa tomar pela importância do cargo, ou homem/mulher que sofre ou se anula em prol de um símbolo, que é a família ou o casamento. Lidamos com esses símbolos todo dia, seja em casa (com o pai, irmão), seja na rua (com o guarda), nos afazeres (com o professor, o chefe), até mesmo indiretamente (como o governador e o presidente), os símbolos se interpõem entre nós e as pessoas, assim como um software de computador nos apresenta um conjunto de símbolos que intermedia nossa comunicação com o processador da máquina.

“Mais cedo ou mais tarde tudo se transforma no seu contrário.” (Carl Jung)

“Aceite que tudo gira em torno do sexo, Mr. Jung. É inevitável!”

Continuando o filme, surge o combate de Neo com Smith. Neo fica surpreso em ver como ele está mais forte, e tem de fugir para não perder o combate. Aqui fica claro que há uma estreita relação entre os dois, que ambos podem intuir, mas, como ambos se detestam, não podem compreender as implicações de que um é instrumento de evolução do outro.
Sombra

O arquétipo da Sombra é o lado escuro da mente, moradia do inconsciente. Lá estariam guardados os instintos animais que o homem herdou de espécies primitivas na evolução, e também as funções menos utilizadas da personalidade. É representada pelas idéias, desejos e memórias que foram reprimidos pelo consciente, por ser incompatível com a Persona e contrárias aos padrões morais e sociais. Quanto mais forte for nossa Persona, e quanto mais nos identificarmos com ela, mais repudiaremos outras partes de nós mesmos. A Sombra representa aquilo que consideramos inferior em nossa personalidade e também aquilo que negligenciamos e nunca desenvolvemos em nós mesmos. Em sonhos, a Sombra freqüentemente aparece na forma daquilo que detestamos. No caso de Neo, um engravatado do governo. 

O estruturalismo (Lévi-Strauss, Barthes, Lacan etc) e a teoria dos sistemas (Luhmann) decretaram a “morte do sujeito”, o indivíduo do pensamento iluminista, em favor da sociedade ex-machina, vista de cima, de forma pragmática e objetiva. Esse é o papel do Arquiteto, o programa que construiu a Matrix. Para ele pessoas são números, equações que ele deve manter equilibradas. Entretanto, o ser humano é imprevisível, e alguns poucos desequilibraram o sistema várias vezes, causando um colapso.

O pós-estruturalismo defende que é a interação entre os elementos de um sistema que causa a entropia que destrói a estutura. Cuidar desses elementos individuais é o papel de Oráculo, um programa de salvaguarda do “sistema Matrix”. Ela tenta equilibrar os interesses do Arquiteto com o dos humanos “revoltados”, e naturalmente evoluiu para ser a intermediadora entre os dois lados.

Anima e Animus

Anima (alma, em latim) é a representação feminina no inconsciente do homem (que idéia ele faz, no seu íntimo, da mulher). O caráter da Anima é, em geral, determinado pela sua mãe. Se o homem sente que sua mãe teve sobre ele uma influencia negativa, sua Anima se manifestará de forma negativa, ou seja, ele poderá ser inseguro, apático, com medo de doenças, de impotência ou de acidentes (se ele conseguir combater essas influências negativas da Anima, sua masculinidade tende a fortalecer-se). A vida adquire um aspecto tristonho e opressivo, que pode levar o homem até mesmo ao suicídio. Se, por outro lado, a experiência com a mãe tiver sido positiva, a Anima poderá deixá-lo efeminado ou explorado por mulheres, incapaz de fazer face às dificuldades da vida (menino criado com vó dá nisso!). A manifestação mais freqüente de Anima é a que toma forma como fantasia erótica, que leva o homem a consumir revistas pornográficas, sex-shows, etc. É um aspecto primitivo e grosseiro da Anima, mas que só se torna compulsivo quando o homem não cultiva suficientemente suas relações afetivas – quando sua atitude para com a vida mantém-se infantil.Animus (espírito, em Latim) é o lado masculino no inconsciente da mulher. Assim, uma mulher muito feminina tem uma alma

“O encontro de duas personalidades é como o contato de duas substâncias químicas. Se há alguma reação, ambos são transformados”

masculina não desenvolvida (trabalhada). Em seu relacionamento com o mundo, se ela é impressionável, calorosa, estimulante e envolvente, seu lado masculino interior será muito diferente: duro, crítico, agressivo, prepotente… O Animus (assim como a Anima) possui 4 estágios de desenvolvimento: o primeiro como personificação da força física (o atleta, a força pelos músculos), no estágio seguinte, como o homem de ação (iniciativa e planejamento). No terceiro, manifesta-se como verbo, como professor, e na quarta e mais elevada manifestação torna-se (assim como a Anima) mediador de uma experiência na qual a vida adquire um novo sentido. Dá à mulher uma firmeza espiritual e um amparo interior, que compensa sua brandura exterior. Relaciona a mente feminina com a evolução espiritual da época, tornando-a assim mais receptiva a novas idéias criadoras do que o homem. É por este motivo que antigamente, em muitos países, cabia à mulher adivinhar o futuro ou a vontade dos Deuses. A audácia criadora do seu Animus positivo expressa, por vezes, pensamentos e idéias que estimulam a humanidade a novos empreendimentos.

Anima/us é também uma Sombra, e como tal pode ser projetada. Isso é feito quando a pessoa apaixona-se logo de cara, quando diz “É essa/esse!” e parece que se conhece essa pessoa há tempos. Pessoas fascinantemente misteriosas são as mais fáceis do homem/mulher projetar sua Anima/us, pois em torno delas pode-se tecer as mais variadas fantasias. Para sair desta ilusão é preciso reconhecer o Anima/us como um poder e qualidade interior. O objetivo de todo esse jogo do inconsciente é forçar o ser humano a desenvolver e amadurecer o próprio ser, integrando melhor a sua personalidade inconsciente e trazendo-a à realidade da vida (mesmo que seja através de subterfúgios, como projeções).

“Cada homem sempre carregou dentro de si a imagem da mulher; não a imagem desta ou daquela mulher, mas uma imagem feminina definitiva.” (Carl Jung)

Mas a Anima/us não é só negativa. Ao contrário, uma Anima bem trabalhada pode levar o homem ao seu pleno potencial. A função mais importante da Anima é ajudar a sintonizar a mente masculina com seus valores interiores positivos, assumindo então uma posição de mediadora entre o mundo interior e o Self. E é através deste desejo íntimo de trabalhar aspectos que o homem não possui, que um homem tímido tende a procurar alguém que seja extrovertida. Como no velho ditado “os opostos se atraem”, ou a “cara metade”, a “banda da laranja”, etc. As pessoas buscam o oposto nas outras pessoas quando na verdade é um subterfúgio do inconsciente para encontrar o oposto dentro delas mesmas.

“Atrás de um grande homem sempre existe uma grande mulher“. Verdade, embora o contrário também seja verdadeiro. Vemos este arquétipo de Anima como a salvação, a luz no fim do túnel, no livro A Divina Comédia, onde Beatriz guia Dante através de um (significativo e simbólico) caminho tortuoso e íngreme, que o leva à redenção (luz). Trinity simboliza a Anima de Neo em Matrix, e através dela (direta e indiretamente) ele pôde manifestar suas potencialidades. Na Índia vemos essa dualidade/complementação no casal de Deuses Shiva/Kali e Vishnu/Parvati.

No terceiro filme Neo fica cego (simbolicamente perdido, cercado pela escuridão) e é guiado (literalmente pela mão) por Trinity, que pilota a nave até seu objetivo (a cidade das máquinas). Antes, porém ela Neo até a luz do Sol (símbolo pra uma nova iluminação, uma nova compreensão).

A Anima/us vai muito mais fundo na contraparte da personalidade (lado oposto inconsciente) que a Sombra. Se a imagem da

Se todas as funções pudessem ser igualmente fortes no consciente e harmonizadas (como se dispostas na borda de um círculo) o centro desse círculo seria o Self realizado plenamente. É o núcleo, mas também é toda a esfera. O problema é que nem sempre acessamos este núcleo. Mas não fiquem pensando que é um ponto localizável na alma humana, algo que possa ser acessado tipo “ah, eu estou falando com o Self” porque ele é um conjunto que define o ser humano como um TODO, e o ser humano TAMBÉM é sua coletividade e seu meio (inconsciente coletivo). A abordagem do Self vem de encontro à filosofia Zen, quando diz:

“Se o Zen Budismo considerasse importante expressar-se aqui apoiado no uso da terminologia, poderia fazê-lo do seguinte modo: o centro do ser situa-se além da multiplicidade, da identidade/diversidade e, no entanto, não se situa além delas. E, como situar-se além e não-além disto é igualmente uma contradição, acrescentar-se-ia como explicação: o centro do ser não é um nem outro, nem ambos, e absolutamente não pode ser descrito por meio do pensamento. Quem desejar saber o que ele é, deve percorrer o Caminho Zen”

(O caminho Zen, de Eugen Herrigel)

Nicolau de Cusa, monge filósofo do século XV, já usara imagem semelhante ao referir-se à onisciência divina: “Deus é uma esfera cujo centro está em toda parte e cuja circunferência não se delimita em parte alguma”.

Self

O Self é o objetivo da vida. Um alvo pelo qual as pessoas sempre lutam, mas raramente atingem. Os arquétipos dessa realização são Jesus e Buda (meus heróis, meus heróis!). O Self pode ser definido como um fator de orientação intima. Jung o compara ao daemon, ou gênio (que hoje chamamos de guia espiritual ou anjo da guarda), seja ele interior ou exterior a você. O Self é o ponto central da personalidade, em torno do qual giram todos os outros sistemas. Ele sustenta a união desses sistemas, e fornece unidade, equilíbrio e estabilidade à personalidade. Antes de o Self emergir, é necessário os vários componentes da personalidade se desenvolvam plenamente. Por essa razão, o arquétipo do Self não se torna evidente até que o indivíduo tenha atingido a idade madura. Nessa época, ele procura deslocar-se do ego consciente para um ponto a meio caminho entre o consciente e o inconsciente. Manter-se nessa região intermediária constitui-se no domínio do Self. Qualquer semelhança com o caminho do meio, de Buda, não é coincidência.

“Não posso lhe dizer como é um homem que goza de uma completa auto-realização, nunca vi nenhum… Antes de buscar a perfeição, devemos viver o homem comum, sem mutilação” (Carl Jung)

Individuação

É um processo ininterrupto de aprimoramento pessoal. A harmonização do consciente com o Self. O caminho para a iluminação. Todos estamos num processo de Individuação, no entanto, a grande maioria não o sabem. Mas os que estão suficientemente conscientes deste processo, podem tirar algum proveito disso.

Mas não é assim tão é fácil: o ego reclama, pois se sente tolhido em suas vontades ou desejos, e projeta essa frustração sobre qualquer objeto exterior (Deus, a economia, o vizinho, o namorado(a) ou o trabalho). Algumas vezes tudo parece estar bem com a pessoa, mas no íntimo ela sente tédio e um vazio mortal. Há também o perigo de identificação com a Persona. Aqueles que o fazem tendem a tentar tornar-se perfeitos demais, incapazes de aceitar seus erros ou fraquezas, ou quaisquer desvios de sua auto-imagem idealizada. Aqueles que se identificam totalmente com a Persona tenderão a reprimir todas as tendências que não se ajustam, e a projetá-las nos outros, atribuindo a eles a tarefa de representar aspectos de sua identidade negativa reprimida.

“Nós não podemos mudar nada sem que primeiro a aceitemos” (Carl Jung)

Há alguns estágios básicos para a Individuação, que são: reconhecer as máscaras (persona), confrontar a Sombra, a Anima /

Neo se defronta com as questão do que é “real” várias vezes durante os filmes. Primeiro, ele teve de se libertar da ilusão da Matrix, depois da ilusão do ego e, por fim, da ilusão da individualidade. Somente quando percebeu que não tinha sentido combater pela eternidade a Sombra (Smith) foi que Neo se deixou levar pelo SENTIDO dos acontecimentos, que no filme é chamado de propósito. Todos ali têm uma missão, uma programação, mesmo fora da Matrix. Era o indicativo de que, para além do Arquiteto e da Matrix, existiria uma OUTRA Matrix mais sutil, e percebemos isso claramente quando Neo, ao Individuar-se (na fusão com Smith) é simbolicamente retratado como Jesus na cruz – pois cumpriu o trajeto dos Mestres Crísticos, que colocaram a missão acima da individualidade – para depois sumir em uma luz que representa uma flor de Lótus (símbolo da transcendência da alma).

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/carl-jung-reloaded

O papel do Thelemita na divulgação da Lei de Thelema

Por Jonatas Lacerda

Faze o que tu queres deverá ser o todo da Lei.

Os eventos mundiais que presenciamos e a clareza de um colapso social eminente expõem a necessidade de uma revisão completa das bases de conduta moral. É necessário rever os papéis desempenhados por cada integrante da sociedade e do governo, avaliando cada ação sob diversos pontos de vista e procurando sempre desenvolver trabalhos para o crescimento do ser humano como um todo. A Lei de Thelema traz a fórmula para esta revisão, com base em seus preceitos é possível atualizar os paradigmas da convivência em comunidade e da convivência com a natureza. Não há como garantir que este colapso possa ser evitado, assim como é impossível acreditar em mudanças drásticas ou ainda pensar que o estabelecimento do Novo Æon trará a perfeição à Terra. A globalização dos preceitos Thelêmicos, no entanto, podem gerar uma mudança de perspectiva, a consciência desse Æon e dessa Lei pode fazer com que o próprio ser humano defina outros modelos de curso, procurando viver mais harmonicamente consigo, com o próximo e com a natureza, zelando pelo respeito e pela completa liberdade.

Divulgar a Lei de Thelema é a única forma de garantir que seu conceito e seus preceitos sejam difundidos. Essa difusão culminará em resultados práticos de grande valor ao ser humano, tanto no que se refere ao indivíduo, quanto ao que se refere à comunidade. Não há como manifestar completamente uma ideia sem divulgá-la, uma grande ideia ou conceito não deve ser segregado, ainda mais quando estamos falando de algo tão crucial para o Æon, fazê-lo é ir contra os preceitos da própria Lei. Não vejo razão para se manter em silêncio diante do horror das máquinas do velho Æon. Thelemitas são homens e mulheres de guerra, que visam um futuro melhor para si, para o outro, para a Nação e para a Terra. O Thelemita que se omite, o faz em detrimento da mesma Lei que ele diz seguir, a omissão é o mais maligno dos males, ela é capaz de matar, sem exprimir sequer uma palavra. A Lei do Forte: esta é a nossa Lei e a alegria do mundo.

Ao procurar avaliar as ações do indivíduo de acordo com os padrões éticos da Lei de Thelema, notamos que cada ato acaba sendo medido de acordo com esta Lei universal e infalível, aqueles atos corretos se provam corretos e aqueles dúbios ou certamente incorretos, são punidos pelo efeito natural daquele ato, sem qualquer intervenção direta. A avaliação do efeito de uma determinada ação é capaz de provar a realidade do Novo Æon e a influência direta de uma Lei no indivíduo e no meio. Desta mesma forma, a aplicação desses conceitos nas diversas camadas da sociedade, certamente nos levará a um avanço considerável em nossa conduta, ética e valores.

A divulgação da Lei de Thelema é certamente o primeiro passo para alcançar todo o avanço que abordamos. No entanto, é necessário entender que divulgação não deve ser entendida como conversão, aliás, o conceito de conversão deve ser completamente afastado de nosso meio e a divulgação em si deve, de alguma forma, expor explicitamente que a intenção está em divulgar um conceito e não em converter ou empurrar esse conceito como verdade fundamental. Portanto, é essencial divulgar com zelo e com responsabilidade, levando-a ao maior número de pessoas possível, mas sem ferir os direitos fundamentais delas.

Há muitas formas de se divulgar a Lei de Thelema e cada Thelemita pode ainda apresentar novos modelos a cada dia. A intenção deste texto é abordar itens importantes que estão diretamente ligados ao papel do Thelemita e ao formato mais efetivo que pode ser adotado na divulgação da nossa Lei.

É obrigação do Thelemita divulgar a Lei de Thelema?

Como aceitar uma tão perfeita Lei e não querer instantaneamente divulgá-la e trabalhar para estabelecê-la? Por mais que seja uma obrigação, esta é uma obrigação gratificante, já que essa divulgação possibilita o aumento gradativo de nossos horizontes.

É certo que a divulgação não é, por si só fácil e também não é recompensadora, já que seus resultados são quase imperceptíveis, mas devemos manter sempre em mente aquilo que está escrito no Livro da Lei I:44 “Pois a vontade pura, aliviada de objetivo, livre do desejo de resultado, é em todos os modos perfeita.”. Precisamos manter o desejo de resultado distante também da divulgação da Lei de Thelema.

Mesmo sendo uma obrigação implícita, não é possível ditar como cada Thelemita irá optar por divulgar a Lei e também não cabe a nenhum outro Thelemita dizer que o trabalho de A está certo ou errado, ou ainda se B divulga ou não a Lei. A estrita observância é interna, cada um deve ter a consciência do que faz e cada um deve julgar a si mesmo, procurando sempre evoluir e caminhar mais e mais em direção do Novo Æon.

O que deve ser divulgado?

Uma resposta clara e direta seria o Livro da Lei, haja visto que ele concebe a Lei e tem as bases (e chaves) do Novo Æon. Todavia, o conteúdo do Livro concebe a Lei, cabe a nós estudá-la e difundi-la (“A Lei foi proclamada. É para nós interpretá-la e estabelecê-la.” Aleister Crowley em O Método de Thelema), assim como repassar o produto desses estudos aos que encontram essa Lei. Também em O Método de Thelema encontramos “Quanto mais se examina mais profundas são as implicações da Lei de Thelema, mais se entende que ela constitui uma síntese sublime, e a única possível, dos ensinamentos de cada ciência, da embriologia à história.” e com base nisto percebemos que o estudo da Lei está intimamente ligado a cada área do pensamento humano e que este estudo ainda está começando e com certeza passará por diversos modelos com o passar do tempo. A questão principal neste contexto é, há muito a ser estudado sobre o real efeito da aplicação da Lei de Thelema e sobre o resultado a curto, médio e longo prazo. Portanto, no que cabe à divulgação, um embasamento estritamente filosófico é crucial para deixar claro qual é o nosso objetivo, método e modelo.

Existe mais um ponto importante, de que forma uma pessoa que não teve contato com nenhuma informação mística ou mágica terá condições de assimilar ao menos a parte bruta da mensagem? Mesmo que o conteúdo gere uma atração inicial no leitor, será ele capaz de chegar a alguma conclusão sem um embasamento filosófico mais claro e pertinente? Uma introdução foi adicionada ao Livro da Lei, isto sugere que realmente é necessário contextualizar o indivíduo que está, pela primeira vez, em contato com este universo.

O exposto não é extremamente conclusivo e deixa em aberto algumas questões que precisam ser consideradas quando iniciamos qualquer trabalho que tenha ligação direta ou indireta com a Lei de Thelema. De forma muito genérica é possível dizer que cada modelo de divulgação pode adotar um formato específico de abordagem, porém deve sempre estar conectado ao Livro da Lei, haja visto que ele é a base de tudo.

De forma geral é possível considerar que a divulgação da Lei de Thelema deve utilizar o Livro da Lei como base e outras instruções (um exemplo é nossa Carta de Liberdade, Liber OZ) que sejam capazes de prover mais luz e entendimento àqueles que desejam e precisam. Como ressalva, é importante frisar o que está escrito no Livro da Lei III:42 “O sucesso é a tua prova: não argumentes, não convertas; não fales demasiado!“.

Saindo do modelo comum e mais utilizado de divulgação podemos ainda abranger qualquer outro método, isto é, tudo pode se tornar um veículo direto ou indireto utilizado para levar, de alguma forma, a Lei de Thelema ao mundo. Hoje, temos sites, blogs, livros, revistas, canções, poesias e muitos outros modelos que podem ser utilizados com objetivo de expandir a consciência do Æon da Criança Coroada e Conquistadora. Muitas coisas podem ser feitas, neste ponto entra a criatividade de cada Thelemita e esta criatividade pode sim fazer a diferença, pois ela pode levar a outras pessoas essa Lei de Liberdade e talvez, essa é a Lei que esta pessoa esperava. Existem muitas estrelas por aí…

De que forma a Lei de Thelema deve ser divulgada?

Esta é uma questão cuja resposta é muito simples, a Lei de Thelema deve ser divulgada com responsabilidade e o material disponibilizado deve ser sempre da mais alta qualidade, exigindo sempre uma estrita observância da verdade e da coerência do exposto. Quanto ao Livro da Lei, está claro em III:47 “Este livro deverá ser traduzido para todas as línguas; mas sempre com o original na escrita da Besta; pois na forma casual das letras e suas posições de uma para outra: nisso estão mistérios que nenhuma Besta adivinhará . Que ele não procure tentar; mas um virá após ele, de que lugar eu não digo, que descobrirá a Chave de tudo. Então esta linha traçada é uma chave: então este círculo enquadrado em sua falha é uma chave também. E Abrahadabra. Será a criança dele & isso estranhamente. Que ele não vá atrás disso; pois desse modo ele pode cair sozinho.“. Tudo que está ligado a Lei de Thelema deve ser tratado com a mais alta dedicação e deve ser propagado com cuidado e sempre mantendo a essência da origem.

É assegurado a todo Thelemita o sagrado direito de manter uma visão estritamente pessoal das bases místicas e mágicas do Novo Æon e eu acredito, sinceramente, que o ato de compartilhar seu pensamento é o mais importante ato para o crescimento e evolução da humanidade sob este Æon. O único ponto importante sobre isso é a necessidade de se lembrar que os olhos do escritor enxergam de forma diferente dos olhos de seus leitores, cada um vê de uma forma, mesmo que em alguns casos uma forma única é encontrada. Na verdade, o mais importante é não continuar cegos e perdidos, procurando eternamente por um deus morto.

Existe um público alvo?

A resposta desta questão pode ser encontrada no próprio Livro da Lei, I:34 “Mas ela disse: os ordálios eu não escrevo: os rituais deverão ser metade conhecidos e metade ocultos: a Lei é para todos.” e em III:39 encontramos a afirmação “Tudo isso e um livro para dizer como tu fizeste para chegar até aqui e uma reprodução deste manuscrito para sempre — pois nele está a palavra secreta & não somente em Inglês — e teu comento a respeito do Livro da Lei deverá ser graciosamente impresso em tinta vermelha e preta sobre um belo papel feito à mão; e para cada homem e cada mulher que encontres, seja para jantar ou para beber com eles, esta é a Lei a dar. Então, isso é sem importância. Então eles se arriscarão a permanecer ou não nessa bem-aventurança. Faz isso rapidamente!“. Podemos notar claramente que A Lei é para todos e que o Livro da Lei é o livro que deve ser entregue para cada homem e cada mulher que encontrarmos.

Neste ponto, é necessário abrir um parênteses direcionado à visão de Aleister Crowley e de Marcelo Motta sobre a interpretação de AL III:39:

“…”a eles” pode significar “em casa deles”, isto é, nós devemos saudar com a Lei, quando reconhecemos qualquer pessoa com um rei em potencial, como aceitação de sua hospitalidade. Um significado alternativo é em honra deles.”

Aleister Crowley, no livro Os Comentários Mágickos e Filosóficos do Livro da Lei

“O significado é: a Lei deve ser dada a todo casal de homem e mulher de quem aceitamos um convite para beber ou comer. Não é necessário que sejam casados.”

Marcelo Ramos Motta, em nota no livro Os Comentários Mágickos e Filosóficos do Livro da Lei

Todo homem e toda mulher tem o sagrado direito de ter acesso e de ler o Livro da Lei, aceitá-lo é uma questão interna a cada um e a aceitação deve partir exclusivamente do indivíduo e este não deve se sentir de forma alguma forçado ou induzido a aceitá-lo.

O problema: minha maior questão é sobre como executar esta tarefa de forma tão explícita, a tarefa é clara, mas mesmo assim eu não consigo simplesmente entregar o Livro a qualquer pessoa, uma força (que considero opositora ao Æon de Hórus) me faz avaliar se a pessoa está ou não apta a ler o Livro. Ora, se a Lei é para todos, como posso simplesmente privar uma pessoa do conhecimento desta fonte de boas novas e de alegria? Como posso me achar superior ao ponto de poder tomar uma decisão que cabe apenas ao indivíduo? Estas perguntas eu realmente não tenho como responder, porque são perguntas que eu me faço sempre e minha resposta vai de encontro ao fato de que, por bem ou por mal, posso me prejudicar quando não faço esta distinção, porém não me sinto nada bem quando me pego fazendo. Mais uma vez, quem sou eu para dizer que este pode e aquele não pode ler o Livro da Lei?

É muito claro que numa sociedade claramente de maioria Cristã é extremamente difícil executar o trabalho de divulgação da Lei de Thelema sem enfrentar a intolerância e a falta de visão normalmente encontradas nesses meios. Por este motivo ainda não sei como tratar diretamente este ponto.

O preconceito que podemos enfrentar é muito grande e com o advento da internet isso pode rapidamente afetar até o ambiente de trabalho. Eu mesmo já tive que ouvir piadas infames no meu trabalho oriundas de pesquisas pelo meu nome em ferramentas de busca como o Google. Eu não nego o que sou, sou Thelemita e ponto, mas não posso negar que fui vítima apenas de piadas e pelo menos até hoje não tive que enfrentar o preconceito de frente. Negar a existência deste preconceito, é negar que o Brasil é de maioria Cristã / Católica. Por isto, ainda tenho receio de entregar abertamente o Livro da Lei a todo homem e toda mulher que eu tenha contato. Meu receio pode ser uma falha, já que minha vontade é entregar.

O Thelemita deve passar sua visão pessoal como forma de introdução?

Tudo que está escrito sobre a Lei de Thelema que não está no Livro da Lei é fruto de uma visão pessoal, não acredito que seja um problema passar uma visão pessoal sobre esta Lei e sobre sua filosofia, mas acredito que o exagero pode levar à uma tentativa errada de conversão. Mais uma vez, é importante que o indivíduo queira estar sob esta Lei, é importante que ele aceite por si só, sem que haja interferência no fluxo dos eventos.

A leitura do Livro é e deve ser muito particular, assim como a aceitação e posteriormente o trabalho para se livrar das correntes da escravidão e livrar-se das correntes é algo que é muito mais do que difícil, estamos tão enraizados nestes conceitos escravagistas que a possibilidade de liberdade causa, em alguns casos, um certo terror. A consciência da não existência de um deus que o castigará torna o indivíduo livre, mas em consequência o indivíduo torna-se seu próprio deus, e ele é o responsável por seus atos e não há a quem culpar, ou alguém que possa redimí-lo. Não há redenção, não há pecado, mas há uma Lei inefável que rege o universo e respeitá-la é seu dever como indivíduo e como Thelemita. “Não há lei além de Faze o que tu queres” AL III:60.

Divulgar e Converter – como fazer um sem fazer o outro?

A solução para este dilema está no Livro da Lei III:42 “O sucesso é a tua prova: não argumentes, não convertas; não fales demasiado!“. São três ordens diretas e claras, quando argumentamos muito ou falamos muito sobre algo, há uma tendência normal de conversão, tentamos passar para o outro a nossa experiência, a nossa visão e tentamos automaticamente mostrar a ele o quanto é maravilhoso e bom viver sob esta Lei, o que não é mentira, mas tende à conversão.

Devemos divulgar sim, converter nunca. Nós podemos prover o acesso ao Livro da Lei, facilitar o acesso ao material de cunho Thelemico, trocar experiências e sem sombra de dúvida unir para somar, no entanto, é preciso se manter sempre alerta para que pequenos deslizes que tendenciem à conversão não existam.

Continuidade – como prover material essencial àqueles que aceitaram o Livro da Lei?

Pessoalmente, eu acho extremamente difícil divulgar a Lei de Thelema sem, em contrapartida, oferecer informações que possam dar continuidade ao processo de desenvolvimento do indivíduo que se identificou com o a Lei do Novo Æon. Sem dúvida, este problema é bem menor em países cujo idioma nativo é o inglês, o que não é o caso. Muito material já foi disponibilizado em português, mas ainda falta muita coisa a ser traduzida. Sem um conteúdo sério e razoavelmente organizado é impossível dar continuidade ao processo pessoal, já que a evolução fica obstruída pela falta de continuidade.

Além disso, é importante que estudos filosóficos, análises da sociedade e do governo, e avanços nas teorias de aplicabilidade da Lei de Thelema no mundo sejam realizados constantemente por todos os Thelemitas, cada um em sua área. Com estes avanços será possível atingir outras camadas da sociedade, podendo assim elevar os resultados concretos da aplicação da Lei de Thelema no indivíduo, no cotidiano, na sociedade e no governo, visando o desenvolvimento humano sob as bases do Æon de Hórus.

Considerações finais

A Lei de Thelema provê uma fórmula perfeita para o crescimento e evolução da humanidade. Os tempos atuais demonstram que apenas com o estabelecimento dessa Lei e com a conscientização da humanidade de que não há deus senão o homem e de que o homem deve respeitar a si mesmo e também ao meio, será possível sobreviver a um colapso. O planeta começa a reagir contra aquele que está o destruindo e é chegado um tempo de mudança e esta mudança precisa ser realizada rapidamente, cabe a nós, definir como essa mudança acontecerá.

Amor é a lei, amor sob vontade.

Publicado originalmente em

http://www.thelema.com.br/espaco-novo-aeon/ensaios/o-papel-do-thelemita-na-divulgacao-da-lei-de-thelema/

#Thelema #Crowley #AleisterCrowley #Thelemita #Aeon

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-papel-do-thelemita-na-divulga%C3%A7%C3%A3o-da-lei-de-thelema

Discurso de Neil Gaiman

Esse é o vídeo do discurso que Neil Gaiman fez para os formandos da University of the Arts, na Filadelfia, Estados Unidos em 2012.

Além de inspirador nós podemos ver o modo de pensar dele e um exemplo sobre o que é seguir sua verdadeira vontade sem medo de errar.

Abaixo o vídeo legendado e a versão traduzida em texto logo após o vídeo.

 17 de Maio de 2012

Eu nunca real­mente espe­rei me encon­trar dando con­se­lhos para pes­soas se gra­du­ando em um esta­be­le­ci­mento de ensino supe­rior. Eu nunca me gra­duei em um des­ses esta­be­le­ci­men­tos. E nunca nem come­cei um. Eu esca­pei da escola assim que pude, quando a pers­pec­tiva de mais qua­tro anos de apren­di­za­dos for­ça­dos antes que eu pudesse me tor­nar o escri­tor que dese­java ser era sufocante.

Eu saí para o mundo, eu escrevi, eu me tor­nei um escri­tor melhor na medida em que escre­via mais, e eu escrevi um pouco mais, e nin­guém nunca pare­cia se impor­tar que eu estava inven­tando na medida em que eu pros­se­guia, eles sim­ples­mente liam o que eu escre­via e paga­vam por isso, ou não, e fre­quen­te­mente eles me enco­men­da­vam alguma outra coisa pra eles.

O que me dei­xou com um sau­dá­vel res­peito e admi­ra­ção pela edu­ca­ção supe­rior do quais meus ami­gos e fami­li­a­res, que fre­quen­ta­ram uni­ver­si­da­des, se cura­ram há muito tempo atrás.

Olhando para trás, eu tri­lhei uma cami­nhada memo­rá­vel. Não tenho cer­teza de que posso chamá-la de uma car­reira, por­que uma car­reira implica que eu tivesse algum tipo de plano de car­reira, e eu nunca tive. A coisa mais pró­xima que tive foi uma lista que fiz quando tinha 15 anos com tudo que eu que­ria fazer: escre­ver um romance para adul­tos, um livro infan­til, uma revista em qua­dri­nhos, um filme, gra­var um audi­o­book, escre­ver um epi­só­dio de Dr. Who… e assim por diante. Eu não tive uma car­reira. Eu sim­ples­mente fui fazendo a pró­xima coisa da lista.

Então pen­sei em con­tar para vocês tudo que eu gos­ta­ria de saber de saída, e algu­mas coi­sas que, olhando para trás pra isso, supo­nho que eu sabia. E tam­bém em dar o melhor con­se­lho que já recebi, o qual falhei com­ple­ta­mente em seguir.
O pri­meiro de todos: Quando você começa em uma car­reira nas artes você não tem ideia do que está fazendo.

Isso é ótimo. As pes­soas que sabem o que estão fazendo conhe­cem as regras, e sabem o que é pos­sí­vel e o que é impos­sí­vel. Vocês não. E vocês não devem. As regras sobre o que é pos­sí­vel e impos­sí­vel nas  artes foram fei­tas por pes­soas que não tinham tes­tado os limi­tes do pos­sí­vel indo além deles. E vocês podem.

Se vocês não sabem que é impos­sí­vel é mais fácil fazer. E por­que nin­guém fez antes, não inven­ta­ram regras para evi­tar que alguém faça de novo, ainda.
Em segundo, se você tem uma ideia do que você quer fazer, sobre o que você foi colo­cado aqui para fazer, então sim­ples­mente vá e faça aquilo.

E isso é muito mais difí­cil do que parece e, algu­mas vezes, no fim, muito mais fácil do que você pode­ria imaginar.

Porque nor­mal­mente, há coi­sas que você pre­cisa fazer antes de que você possa che­gar aonde quer estar. Eu que­ria escre­ver qua­dri­nhos e roman­ces e his­tó­rias e fil­mes, então me tor­nei um jor­na­lista, por­que jor­na­lis­tas têm per­mis­são para fazer per­gun­tas, e para sim­ples­mente ir adi­ante e des­co­brir como o mundo fun­ci­ona, e, além disso, para fazer essas coi­sas eu pre­ci­sa­ria escre­ver e escre­ver bem, e eu estava sendo pago para apren­der como escre­ver eco­no­mi­ca­mente, cla­ra­mente, às vezes em con­di­ções adver­sas, e em tempo.

Algumas vezes o cami­nho para fazer o que você espera fazer estará cla­ra­mente deli­ne­ado; e às vezes será quase impos­sí­vel deci­dir se você estará ou não fazendo a coisa certa, por­que você terá de balan­cear suas metas e espe­ran­ças, e alimentar-se, pagar as con­tas, encon­trar tra­ba­lho, e se ade­quar ao que pode encontrar.

Uma coisa que fun­ci­o­nou para mim foi ima­gi­nar que onde eu gos­ta­ria de estar – um autor, prin­ci­pal­mente de fic­ção, fazendo bons livros, fazendo bons qua­dri­nhos e me man­tendo atra­vés de minhas pala­vras – era uma mon­ta­nha. Uma mon­ta­nha dis­tante. Minha meta.

E eu sabia que enquanto eu me man­ti­vesse andando em dire­ção à mon­ta­nha eu esta­ria bem. E quando eu ver­da­dei­ra­mente não estava certo acerca do que fazer, eu podia parar, e pen­sar se aquilo estava me levando em dire­ção à mon­ta­nha ou me afas­tando dela. Eu disse não para tra­ba­lhos edi­to­ri­ais em revis­tas, tra­ba­lhos ade­qua­dos que teriam pago um dinheiro res­pei­tá­vel por­que eu sabia que, por mais  atra­ti­vos que fos­sem, para mim eles esta­riam me dei­xando mais dis­tante da mon­ta­nha. E se essas ofer­tas tives­sem apa­re­cido mais cedo tal­vez as tivesse aceito, por­que elas ainda me dei­xa­riam mais perto da mon­ta­nha do que eu estava à época.

Eu aprendi a escre­ver escre­vendo. Eu ten­dia a fazer qual­quer coisa con­quanto que pare­cesse uma aven­tura, e a parar de fazê-la quando pare­cia tra­ba­lho, o que sig­ni­fi­cou que a vida não se pare­cia com trabalho.

Ter­ceiro, quando você começa, você pre­cisa lidar com os pro­ble­mas do fra­casso. Vocês pre­ci­sam ser osso duro de roer, pre­ci­sam apren­der que nem todo pro­jeto sobre­vi­verá. Uma vida como fre­e­lan­cer, uma vida nas artes, é mui­tas vezes como colo­car men­sa­gens em gar­ra­fas, em uma ilha deserta, e espe­rar que alguém encon­tre uma de suas gar­ra­fas, e a abra, leia, e colo­que algo em outra gar­rafa que fará seu cami­nho de volta até você: apreço, ou uma enco­menda, dinheiro, ou amor. E vocês têm de acei­tar que vocês pode­rão lan­çar uma cen­tena de coi­sas para cada gar­rafa que apa­re­cerá retornando.

Os pro­ble­mas do fra­casso são pro­ble­mas de desen­co­ra­ja­mento, de deses­pero, de ansi­e­dade. Você deseja que tudo acon­teça e você quer que as coi­sas acon­te­çam agora, e as coi­sas dão errado. Meu pri­meiro livro – uma peça de jor­na­lismo que tinha feito pelo dinheiro, e que já tinha me com­prado uma máquina de escre­ver ele­trô­nica do adi­an­ta­mento – deve­ria ter sido um best­sel­ler. Deveria ter me pagado muito dinheiro. Se a edi­tora não tivesse invo­lun­ta­ri­a­mente ido à ban­car­rota entre a pri­meira impres­são se esgo­tar e a segunda sair, e antes que quais­quer direi­tos pudes­sem ser pagos, ele teria me dado muito dinheiro.

E eu dei de ombros, eu ainda tinha minha máquina de escre­ver ele­trô­nica e dinheiro o bas­tante para pagar o alu­guel por um par de meses, e decidi que eu faria o meu melhor para no futuro não escre­ver  livros ape­nas pelo dinheiro. Se você não ganha o dinheiro, então você não tem nada. Se eu fizesse um tra­ba­lho do qual me orgu­lhasse, e não ganhasse a grana, ao menos eu teria o trabalho.

De vez em quando, eu esqueço essa regra, e sem­pre que o faço, o uni­verso me bate com força e me relem­bra dela.

Eu não sei se isso é um pro­blema para mais alguém além de mim, mas é ver­dade que nada que eu fiz na qual a única razão para fazê-lo fosse o dinheiro jamais valeu a pena, exceto como amarga expe­ri­ên­cia. Normalmente nunca dei o tra­ba­lho por encer­rado ao rece­ber o dinheiro, por outro lado. As coi­sas que fiz por­que estava empol­gado, e que­ria vê-las exis­ti­rem na rea­li­dade, nunca me decep­ci­o­na­ram, e eu nunca me arre­pendi do tempo gasto com nenhuma delas.

Os pro­ble­mas do fra­casso são difíceis.

Os pro­ble­mas do sucesso podem ser ainda mais difí­ceis, por­que nin­guém lhes avisa sobre eles.

O pri­meiro pro­blema de qual­quer tipo de sucesso limi­tado é a con­vic­ção ina­ba­lá­vel de que você está fugindo com algo, e de que a qual­quer momento irão descobri-lo. É a Síndrome do Impostor, algo que  minha esposa Amanda bati­zou de Polícia da Fraude.

Em meu caso, eu estava con­ven­cido de que have­ria uma batida na porta, e um homem com uma pran­cheta (não sei por que ele car­re­gava uma pran­cheta, em minha cabeça, mas ele car­re­gava) esta­ria lá, para me dizer que estava tudo aca­bado, e eles me pega­riam e agora eu teria de ir e con­se­guir um tra­ba­lho de ver­dade, algum que não con­sis­tisse de inven­tar coi­sas e escrevê-las, e ler livros que eu qui­sesse ler. E então eu par­ti­ria silen­ci­o­sa­mente e pega­ria o tipo de tra­ba­lho no qual você não tem de inven­tar mais coisas.

Os pro­ble­mas do sucesso. Eles são reais, e com sorte vocês irão experienciá-los. O ponto em que você para de dizer sim pra tudo, por­que agora as gar­ra­fas que você lança ao oce­ano estão todas vol­tando, e você pre­cisa apren­der a dizer não.

Eu obser­vei meus colegas e ami­gos, e aque­les que eram mais velhos que eu e obser­vei quão infe­li­zes alguns deles se sen­tiam: eu os ouvi con­tar pra mim que eles não podiam enca­rar um mundo no qual eles não podiam mais fazer o que sem­pre qui­se­ram fazer, por­que agora eles tinham de ganhar uma certa quan­ti­dade de grana todo mês ape­nas para se man­ter onde esta­vam. Eles não podiam ir e fazer as coi­sas que impor­ta­vam, e que real­mente que­riam fazer; e isso me pare­ceu uma tra­gé­dia tão grande quanto qual­quer pro­blema de fracasso.

E depois disso, o maior pro­blema do sucesso é que o mundo cons­pira para que você pare de fazer o que você faz, por­que você é famoso. Houve um dia em que olhei e me dei conta de que eu tinha me tor­nado alguém que pro­fis­si­o­nal­mente res­pon­dia a e-mails, e escre­via como um hobby. Eu come­cei a res­pon­der menos e-mails, e fiquei ali­vi­ado por per­ce­ber que estava escre­vendo muito mais.
Em quarto, eu espero que vocês come­tam erros. Se vocês estão come­tendo erros, sig­ni­fica que vocês estão por aí fazendo algo. E os erros em si podem ser úteis. Uma vez escrevi Caroline errado, em uma  carta, tro­cando o A e o O, e eu pen­sei, “Coraline parece um nome real…”

E lembrem-se que não importa a área em que este­jam, se você é um músico ou um fotó­grafo, um artista fino ou um car­tu­nista, um escri­tor, um dan­ça­rino, um desig­ner, o que quer que você faça, vocês têm algo que é único. Vocês têm a habi­li­dade de fazer arte.

E para mim, e para mui­tas das pes­soas que conheci, isso tem sido um salva-vidas. O salva-vidas defi­ni­tivo. Ele lhe leva atra­vés dos bons momen­tos e pelos outros.

A vida as vezes é dura. As coi­sas dão errado, na vida e no amor e nos negó­cios e nas ami­za­des e na saúde e em todos os outros modos que a vida pode dar errado. E quando as coi­sas ficam difí­ceis, isso é o que vocês devem fazer.

Façam boa arte.

Eu estou falando sério. O marido fugiu com uma política(o)? Faça boa arte. Perna esma­gada e depois devo­rada por uma jibóia mutante? Faça boa arte. Imposto de renda te ras­tre­ando? Faça boa arte. Gato explo­diu? Faça boa arte. Alguém na inter­net pensa que o que você faz é estú­pido ou mau ou já foi feito antes? Faça boa arte. Provavelmente as coi­sas se resol­ve­rão de algum modo, e even­tu­al­mente o tempo levará a dor mais aguda, mas isso não importa. Faça ape­nas o que você faz de melhor.  Faça boa arte.

Faça-a nos dias bons também.

E, em quinto: Enquanto esti­ve­rem nisso, façam a sua arte. Façam as coi­sas que só vocês podem fazer.

O impulso inicial é copiar. E isso não é uma coisa ruim. A mai­o­ria de nós só des­co­bre nos­sas pró­prias vozes depois de ter­mos soado como um monte de outras pes­soas. Mas uma coisa que você tem que nin­guém mais tem é você. Sua voz, sua mente, sua estó­ria, sua visão. Então escreva e dese­nhe e cons­trua e toque e dance e viva como só você pode viver.

No momento em que você sen­tir que, pos­si­bi­li­dade, você está andando na rua nu, expondo muito de seu cora­ção e de sua mente e do que existe em seu inte­rior, mos­trando demais de si mesmo. Esse é o momento em que você pode estar come­çando a acertar.

As coi­sas que fiz que mais fun­ci­o­na­ram foram as coi­sas das quais menos estava certo, as estó­rias as quais eu tinha cer­teza de que ou fun­ci­o­na­riam, ou, mais pro­va­vel­mente, seriam o tipo de fra­casso emba­ra­çoso que as pes­soas se jun­tam para falar a res­peito até o fim dos tem­pos. Elas sem­pre tive­ram isso em comum: olhando para em retros­pec­tiva para elas, as pes­soas expli­cam por­que foram suces­sos ine­vi­tá­veis. Enquanto as estava fazendo, eu não tinha ideia.

E ainda não tenho. E onde esta­ria a graça de fazer alguma coisa que você sou­besse que iria funcionar?

E às vezes as coi­sas que fiz real­mente não fun­ci­o­na­ram. Há estó­rias minhas que nunca foram reim­pres­sas. Algumas delas nunca sequer saí­ram da casa. Mas eu aprendi com elas tanto quando aprendi com as coi­sas que funcionaram.

Sexto. Eu pas­sa­rei algum conhe­ci­mento secreto de fre­e­lan­cer. Conhecimento secreto é sem­pre bom. E é útil para qual­quer um que alguma vez já pla­ne­jou criar arte para outras pes­soas, em entrar em um mundo de fre­e­lance de qual­quer tipo. Eu aprendi isso com os qua­dri­nhos, mas se aplica a outros cam­pos tam­bém. E é isto:

As pes­soas são con­tra­ta­das por­que, de algum modo, elas são con­tra­ta­das. Em meu caso eu fiz algo que atu­al­mente seria fácil de che­car, e me colo­ca­ria em pro­ble­mas, e quando eu come­cei, naque­les dias pré-internet, pare­cia uma estra­té­gia de car­reira sen­sata: quando edi­to­res me per­gun­ta­vam para quem eu já tinha tra­ba­lhado, eu men­tia. Eu lis­tei uma série de revis­tas que soa­vam razoá­veis, e soei con­fi­ante, e con­se­gui os empre­gos. Então trans­for­mei em uma ques­tão de honra con­se­guir escre­ver algo para cada uma das revis­tas que eu lis­tei para con­se­guir aquele pri­meiro emprego, de modo que eu não menti de fato, só fui cro­no­lo­gi­ca­mente desa­fi­ado… Você começa a tra­ba­lhar por qual­quer maneira que comece a trabalhar.

As pes­soas se mantêm tra­ba­lhando, em um mundo de fre­e­lan­ces, e mais e mais do mundo de hoje é fre­e­lance, por­que seu tra­ba­lho é bom, e por­que são fáceis de con­vi­ver, e por­que elas entre­gam o tra­ba­lho em tempo. E você nem pre­cisa de todos os três. Dois em três está bem. As pes­soas irão tole­rar quão desa­gra­dá­vel você é se seu tra­ba­lho for bom e você o entre­gar no prazo. Elas per­do­a­rão o atraso do tra­ba­lho se ele for bom, e elas gos­ta­rem de você. E você não pre­cisa ser tão bom quanto os outros se você é pon­tual e é sem­pre um pra­zer ouvi-lo(a).

Quando con­cor­dei em fazer este dis­curso, eu come­cei ten­tando pen­sar em qual tinha sido o melhor con­se­lho que já tinha rece­bido ao longo dos anos.

E ele veio do Stephen King, há vinte anos atrás, no auge do sucesso de Sandman. Eu estava escre­vendo um qua­dri­nho que as pes­soas ama­vam e esta­vam levando a sério. King gos­tara de Sandman e de meu romance com Terry Pratchett, Belas Maldições (Good Omens), e ele viu a lou­cura, as lon­gas filas de autó­gra­fos, tudo aquilo, e seu con­se­lho foi esse:
“Isso é real­mente ótimo. Você deve­ria apre­ciar isso.”
E eu não apro­vei­tei. O melhor con­se­lho que já recebi que igno­rei. Ao invés disso, eu me pre­o­cu­pei com aquilo. Eu me pre­o­cu­pei com o pró­ximo prazo, a pró­xima ideia, a pró­xima estó­ria. Não houve um momento nos pró­xi­mos qua­torze ou quinze anos em que não esti­vesse escre­vendo algo em minha cabeça, ou ima­gi­nando a res­peito. E eu não parei e olhei em redor e pen­sei, isso é real­mente diver­tido. Eu que­ria ter apro­vei­tado mais. Tem sido uma cami­nhada incrí­vel. Mas houve par­tes da tri­lha que eu perdi, por­que estava muito pre­o­cu­pado em as coi­sas darem errado, sobre o que viria depois, para apre­ciar a parte em que estava.

Essa foi a lição mais difí­cil pra mim, eu acho: rela­xar e cur­tir a cami­nhada, por­que a jor­nada o leva a alguns luga­res memo­rá­veis e inesperados.

E aqui, nesta pla­ta­forma, hoje, é um des­tes luga­res. (E eu estou cur­tindo isso imensamente.)

Para todos os gra­du­an­dos de hoje: eu desejo a vocês sorte. Sorte é útil. Frequentemente vocês des­co­bri­rão que quanto mais duro vocês tra­ba­lha­rem, e mais sabi­a­mente, mais sor­tu­dos vocês serão. Mas existe sorte, e ela ajuda.

Nós esta­mos em um mundo em tran­si­ção neste momento, se vocês estão em qual­quer campo artís­tico, por­que a natu­reza da dis­tri­bui­ção está mudando, os mode­los pelos quais os cri­a­do­res entre­ga­vam seu  tra­ba­lho ao mundo, e con­se­guiam man­ter um teto sobre suas cabe­ças e com­prar alguns san­duí­ches enquanto faziam isso, estão todos mudando. Eu falei com pes­soas do topo da cadeia ali­men­tar em publi­ca­ções, ven­das de livros, em todas essas áreas, e nin­guém sabe com o que a pai­sa­gem se pare­cerá daqui a dois anos, que dirá daqui a uma década. Os canais de dis­tri­bui­ção que as pes­soas cons­truí­ram ao longo do último século ou mais estão con­tí­nua mudança, para os impres­sos, para artis­tas visu­ais, para músi­cos, para pes­soas cri­a­ti­vas de todos os tipos.

O que é, por um lado, inti­mi­dante e, por outro, imen­sa­mente liber­ta­dor. As regras, as supo­si­ções, os agora nós deve­mos fazer de como você con­se­gue expor seu tra­ba­lho, e o que você faz a seguir, estão ruindo. Os por­tei­ros estão dei­xando seus por­tões. Vocês podem ser tão cri­a­ti­vos quanto pre­ci­sa­rem para con­se­guir visi­bi­li­dade para seus tra­ba­lhos. YouTube e a web (e o que quer que venha depois do YouTube e da web) podem dar a vocês mais pes­soas de audi­ên­cia do que a tele­vi­são jamais deu. As velhas regras estão des­mo­ro­nando e nin­guém sabe quais são as novas regras.

Então inven­tem suas pró­prias regras.

Alguém recen­te­mente me per­gun­tou como fazer alguma coisa que ela achava que seria difí­cil, em seu caso, gra­var um audi­o­book, e eu sugeri que ela fin­gisse que ela era alguém que pode­ria fazê-lo. Não fin­gir fazê-lo, mas fin­gir que era alguém que podia fazer. Ela colo­cou uma nota para este efeito na parede do estú­dio, e disse que isso ajudou.

Então sejam sábios, por­que o mundo neces­sita de mais sabe­do­ria, e se vocês não pude­rem ser sábios, fin­jam ser alguém que é sábio, e então ape­nas se com­por­tem como eles se comportariam.

E agora vão, e come­tam erros inte­res­san­tes, come­tam erros mara­vi­lho­sos, façam erros glo­ri­o­sos e fan­tás­ti­cos. Quebrem regras. Façam do mundo um lugar mais inte­res­sante por vocês esta­rem aqui.

Façam boa arte.

#HQ #NeilGaiman #VerdadeiraVontade

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/discurso-de-neil-gaiman

Aleph, o Arcano Zero – O Louco

O Louco é considerado o arcano zero do Tarot.

Cabalisticamente conecta Hochma a Keter.

Um homem anda com um bastão na mão direita. Está de costas, mas seu rosto, bem visível, aparece de três quartos. Sobre o ombro direito leva uma vara em cuja extremidade há uma pequena trouxa.

O personagem está vestido no estilo dos antigos bobos da corte: as calças rasgadas deixam ver parte da coxa direita. Um animal que poderia ser um felino parece arranhar esta parte exposta ou ter provocado o rasgão.

De um chão árido, acidentado, brotam cinco plantas.

O viajante tem a cabeça coberta por um gorro que desce até a nuca e lhe cobre as orelhas; esta estranha touca transforma seu rosto barbudo numa espécie de máscara. Veste uma jaqueta, presa por um cinto amarelo; seus pés estão cobertos por calçados vermelhos.

Significados simbólicos

A busca e o Filho Pródigo. A experiência de ultrapassar os limites.

Espontaneidade, despreocupação, admiração, saudade.

Impulsividade. Inconsciência. Alienação.

Interpretações usuais na cartomancia

Passividade, completo abandono, repouso, deixar de resistir. Irresponsabilidade. Inocência.

Escolha intuitiva acertada. Domínio dos instintos; capacidade mediúnica. Abstenção. O não-fazer.

Mental: Indeterminação devida às múltiplas preocupações que se apresentam e das quais se tem apenas uma vaga consciência. Ideias em processo de transformação. Conselhos incertos.

Emocional: Revezes sentimentais, incerteza frente aos compromissos, sentimentos vulgares e sem duração. Infidelidade.

Físico: Inconsciência, desordem, falta à palavra dada, insegurança, desprazer. Abandono voluntário dos bens materiais. Assunto ou negócio enfraquecido.

Do ponto de vista da saúde: transtornos nervosos, inflamações, abscessos.

Sentido negativo: Enquanto andarilho, o Louco significa queda ou marcha que se detém. Abandono forçado dos bens materiais; decadência sem muita possibilidade de recuperação. Complicações, atoleiro, incoerência.

Nulidade. Incapacidade para raciocinar e autodirigir-se, entrega aos impulsos cegos. Automatismo. Confusões inconscientes. Extravagância. Castigo causado pela insensatez das ações. Remorsos vãos.

História e iconografia

Reis e senhores, desde épocas remotas, tinham bufões em seus palácios, verdadeiras caricaturas da corte. Histórias sobre eles, bem como as representações gráficas desse personagem, podem ser contadas às dezenas.

Mas a imagem deste Arcano – um louco solitário que atravessa os campos e é agredido por um animal – não havia sido representada até então: é própria do Tarô e, nesse sentido, representa uma de suas contribuições mais originais do ponto de vista iconográfico.

Van Rijneberk arrisca a hipótese de que o espírito burlesco e irreverente da Idade Média teria parodiado, neste personagem, a classe dos Clerici vagante que, segundo ele, eram “estudantes migratórios e inquietos, sempre em busca de novos mestres de quem pudessem aprender ciências e idéias, e de novas tabernas onde pudessem beber fiado um pouco de vinho bom”.

Mais de um autor vê nesses viajantes insaciáveis e pouco escrupulosos os primeiros agentes – talvez ignorantes da sua missão, mas de grande eficácia real – da Reforma religiosa.

No desenho feito por Wirth aparece pela primeira vez impresso o termo Le fou (O Louco) para designar o arcano sem número, embora tradicionalmente fosse conhecido por este nome desde muito antes. Tanto o baralho Marselha original, bem como seus numerosos contemporâneos franceses (e os exemplares dos copistas espanhóis) chamam Le Mat a esta carta.

Paul Marteau levantou a hipótese de que este nome seria uma alusão ao jogo de xadrez, já que o protagonista está em cheque (pelos outros, pelo mundo), numa situação de encurralamento semelhante à do cheque mate. A palavra mat, no francês, significa “fosco, abafado, indistinto” e ainda o “cheque mate”, no xadrez. Já o termo mât, quer dizer “mastro”.

Outro estudioso do Tarô, Gwen Le Scouézec, sugere duas variantes etimológicas: o nome viria literalmente do árabe (mat: morto), ou seria uma apócope do italiano matto (louco, doido), nome com que aparece no tarocchino de Bolonha.

Por Constantino K. Riemma
http://www.clubedotaro.com.br/

#Tarot

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/aleph-o-arcano-zero-o-louco

A Mágoa

Síndrome alarmante, de desequilibro, a presença da mágoa faculta a fixação de graves enfermidades físicas e psíquicas no organismo de quem a agasalha. A mágoa pode ser comparada à ferrugem nociva que destrói o metal em que se origina. Normalmente se instala nos redutos do amor-próprio ferido e paulatinamente se desdobra em seguro processo enfermiço, que termina por vitimar o hospedeiro.

De fácil combate, no início, pode ser expulsa mediante a oração singela e nobre, possuindo, todavia, o recurso de, em habitando os tecidos delicados do sentimento, desdobrar-se em modalidades várias, para sorrateiramente apossar-se de todos os departamentos da emotividade, engedrando cânceres morais irreversíveis. Ao seu lado, instala-se, quase sempre, a aversão, que estimulam o ódio, etapa grave do processo destrutivo.

A mágoa, não obstante desgovernar aquele que a vitaliza, emite verdadeiros dardos morbíficos que atingem outras vítimas incautas, aquelas que se fizeram as causadoras conscientes ou não do seu nascimento. Borra sórdida, entorpece os canais por onde transita a esperança, impedindo-lhe o ministério consolador.

Hábil, disfarça-se, utilizando-se de argumentos bem tecidos para negar-se ao perdão ou fugir ao dever do esquecimento. Muitas distonias orgânicas são o resultado do veneno da mágoa, que, gerando altas cargas tóxicas sobre a maquinaria mental, produz desequilíbrio no mecanismo psíquico com lamentáveis consequências nos aparelhos circulatório, digestivo, nervoso…

O homem é, sem dúvida, o que vitaliza pelo pensamento. Sua idéias, suas aspirações constituem o campo vibratório no qual transita e em cujas fontes se nutre. Enfraquecendo os ideais e espalhando infundadas suspeitas, a mágoa consegue isolar o ressentido, impossibilitando a cooperação dos socorros externos, procedentes de outras pessoas.

Caça implacavelmente esses agentes inferiores, que conspiram contra a tua paz. O teu ofensor merece tua compaixão, nunca o teu revide. Aquele que te persegue sofre desequilibros que ignoras e não é justo que te afundes, com ele, no fosso da sua animosidade. Seja qual for a dificuldade que te impulsione à mágoa, reage, mediante a renovação de propósitos, não valorizando ofensas nem considerando ofensores. Através do cultivo de pensamentos salutares, pairarás acima das viciações mentais que agasalham esses miasmas mortíferos que, infelizmente, se alastram pela Terra de hoje, pestilenciais, danosos, aniquiladores. Incontáveis problemas que culminam em tragédias quotidianas são decorrência da mágoa, que virulenta se firmou, gerando o nefando comércio do sofrimento desnecessário.

Se já registras a modulação da fé raciocinada nos programas da renovação interior, apura aspirações e não te aflijas. Instado às paisagens inferiores, ascende na direção do bem. Infelicitado pela incompreensão, desculpa. Ferido nos melhores brios, perdoa. Se meditares na transitoriedade do mal e na perenidade do bem, não terás outra opção, além daquela: amar e amar sempre, impedindo que a mágoa estabeleça nas fronteiras da tua vida as balizas da sua província infeliz.

Quando estiveres orando, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe, para que vosso Pai que está nos Céus, vos perdoe as vossas ofensas.

(Marcos: 11-25)

“Não sou feliz! A felicidade não foi feita para mim!” exclama geralmente o homem em todas as posições sociais. Isto, meus caros filhos, prova melhor do que todos os raciocínios possíveis, a verdade desta máxima do Eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo”.

(Evang. Seg. Espiritismo Cap.V – Item 20)

#espiritualismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-m%C3%A1goa

A Coragem para Viver Conscientemente

Nas nossas vidas do dia-a-dia, a virtude da coragem não recebe muita atenção. Coragem é uma qualidade reservada para soldados, bombeiros e ativistas. Segurança é o que mais importa hoje em dia. Talvez você foi ensinado a evitar ser ousado demais ou destemido demais. É muito perigoso. Não assuma riscos desnecessários. Não atraia atenção para si mesmo em público. Siga tradições familiares. Não fale com estranhos. Fique de olho em pessoas suspeitas. Mantenha-se seguro.

Mas um efeito colateral de superenfatizar a importância da segurança pessoal na sua vida é que isso faz com que você viva reativamente. Ao invés de criar suas próprias metas, fazer planos e realizá-los, e persegui-los com Vontade, você se mantém “seguro”. Continua trabalhando no emprego estável, mesmo que ele não te traga satisfação. Fica no relacionamento insatisfatório, mesmo que você se sinta morto por dentro quando comparado à paixão que um dia você teve. Quem você pensa que é para empenar o sistema? Aceite o que você recebeu da vida, e faça o melhor que puder com isso. Siga o fluxo, e não páre o barco. Sua única esperança é que as correntes da vida irão arrastá-lo para uma direção favorável.

Sem dúvida que existem perigos reais na vida que você deve evitar. Mas há um imenso golfo entre negligência e coragem. Eu não estou me referindo à coragem heróica necessária para arriscar sua vida para salvar alguém de um prédio em chamas. Por coragem eu quero dizer a habilidade de encarar esses medos imaginários e recuperar a vida muito mais poderosa que você negou a si mesmo. Medo de fracasso. Medo de rejeição. Medo de falir. Medo de ficar sozinho. Medo de humilhação. Medo de falar em público. Medo de ser banido pela família e amigos. Medo de desconforto físico. Medo de arrependimento. Medo de sucesso.

Quantos desses medos estão te segurando? Como você viveria se não tivesse nenhum medo? Você ainda teria sua inteligência e seu bom senso para navegar seguramente ao redor dos perigos reais, mas sem sentir a emoção do medo, você estaria mais inclinado a assumir mais riscos, especialmente quando o pior cenário não iria machucá-lo de modo algum? Você daria discursos mais frequentemente, falaria mais com estranhos, pediria por mais vendas, mergulharia diretamente naqueles projetos ambiciosos que você tem sonhado? E se você aprendesse a aproveitar essas coisas que você atualmente teme? Que tipo de diferença isso faria na sua vida?

Você já se convenceu anteriormente de que você não está realmente com medo de nada… que sempre há boas e lógicas razões para que você não faça certas coisas? Seria rude apresentar-se para um estranho. Você não deveria tentar falar em público porque você não tem nada a dizer. Pedir por um aumento seria inapropriado porque você deveria esperar pela próxima avaliação formal. Porém, essas são apenas racionalizações – pense sobre como sua vida mudaria se você pudesse, corajosa e confiantemente fazer essas coisas sem medo algum.
O que é Coragem?

Eu gosto das definições de coragem acima, as quais sugerem que a coragem é uma habilidade que o incita a tomar ações ao invés de permanecer parado, com medo. A palavra coragem deriva do latim cor, que significa “coração”. Mas coragem verdadeira tem um sentido mais intelectual do que sentimental. Ela requer que usemos a parte cerebral única que os humanos possuem (o neocortex) para adquirir o controle, tirando-o do cérebro límbico emocional que você compartilha com outros mamíferos. Seu cérebro límbico avisa o perigo, mas o neocortex raciocina que o perigo não é real, que você simplesmente sente o medo e toma as ações mesmo assim. Quanto mais você aprender a agir ao invés de sentir medo e paralisar, mais humano você se torna. Quanto mais você seguir seus medos, mais você viverá como um mamífero inferior. Então a questão “Você é um homem ou um rato?” é consistente com a neurologia humana.

Pessoas corajosas ainda estão com medo, mas elas não deixam o medo paralizá-las. Pessoas pouco corajosas irão ceder cada vez mais ao medo, o que têm o efeito de fortalecer o medo ao longo do tempo. Quando você evita enfrentar um medo e daí se sente aliviado por ter escapado dele, isso atua como uma recompensa psicológica que reforça o comportamento-medroso-de-rato, fazendo com que a probabilidade de você evitar enfrentar um medo aumente ainda mais no futuro. Você está literalmente condicionando a si mesmo para tornar-se cada vez mais tímido e parecido com um rato.

Tal comportamento de fuga causa estagnação a longo prazo. Conforme você vai envelhecendo, você reforça suas reações de medo ao ponto em que é difícil até imaginar a si mesmo encarando seus medos. Você começa a tomar seus medos como garantidos; eles se tornam reais para você. Você cria um casulo em torno de si mesmo que o isola de todos esses medos; um estável mas infeliz casamento, um emprego que não exige que você assuma riscos, um salário que o mantém confortável. Daí você racionaliza seu comportamento: Você têm uma família para sustentar e não pode assumir riscos, você está muito velho para mudar de carreira, você não pode perder peso porque você possui genes “gordos”. Cinco anos… dez anos… vinte anos passam, e você percebe que sua vida não mudou muito. Você se acomodou. Tudo o que restou agora é viver o resto de seus anos tão alegremente quanto possível, e daí acomodar-se na terra, quando você finalmente alcançará total segurança e proteção.

Mas há algo acontecendo por trás das câmeras, não há? Aquela pequena voz na parte de trás de sua mente lembra que esta não é o tipo de vida que você queria viver. Ela quer mais, muito mais. Ela quer que você se torne muito mais rico e abundante, que você tenha um relacionamento extraordinário, que você adquira um corpo totalmente saudável e forte, que você aprenda novas habilidades, que viaje o mundo, que tenha muitos amigos admiráveis, que ajude pessoas em necessidade, que faça uma importante diferença. Essa voz te diz que esse emprego no qual você está se acomodando, onde você vende bugigangas pelo resto da vida, simplesmente não vai bastar. Essa voz o reprova sempre que você dá uma olhada na sua barriga acima do peso ou quando falta ar ao subir um lance de escadas. Ela envia mensagens de desapontamento quando vê o que sua família se tornou. Ela te diz que as razões pelas quais você tem problemas em se auto-motivar é que você não está realmente fazendo o que deveria estar fazendo com sua vida… porque você tem medo. E se você se recusa a escutá-la, ela sempre estará lá, incomodando-o sobre seus resultados medíocres até que você morra, cheio de remorsos pela vida que deveria ter sido.

Entao como você responde a essa voz geniosa que não quer calar? O que você faz quando confrontado por aquele frio na barriga de que algo não está correto na sua vida? Qual é o seu modo favorito de silenciá-lo? Talvez afogá-lo assistindo TV, escutando rádio, trabalhando longas horas em um emprego medíocre, ou consumindo álcool e cafeína e açúcar.

Mas sempre que você faz isso, você abaixa seu nível de consciência. Você afunda em direção ao instinto animal e se afasta de tornar-se um ser humano totalmente consciente. Você reage à vida ao inves de proativamente perseguir seus ideais. Você cai em um estado de impotência adquirida, onde você começa a acreditar que suas metas não são possíveis ou praticáveis para você. Você se torna cada vez mais e mais como um rato, chegando até a tentar convencer a si mesmo que uma vida como rato não deve ser tão ruim, afinal de contas, pois todos ao seu redor parecem achar que está tudo bem em levar uma vida assim. Você se envolve com seus amigos ratos, e em algumas poucas ocasiões que você encontra um ser humano totalmente consciente você se assusta mortalmente por lembrar-se o quanto de sua coragem foi perdida.
Aumente sua Consciência

A saída desse círculo vicioso é criar coragem e enfrentar sua voz interior. Encontre um lugar onde possa ficar sozinho com caneta e papel (ou computador e teclado). Escute essa voz, e encare o que quer que ela esteja lhe dizendo, não importa o quão difícil seja ouvir. (A voz é somente uma abstração – você pode não ouvir nenhuma palavra; ao invés disso você talvez veja o que você deveria estar fazendo ou simplesmente sentir-lo emocionalmente. Mas eu irei continuar a me referir como “a voz” para esse exemplo.) Essa voz poderá lhe dizer que seu casamento está morto por dez anos, e que você está recusando aceitar isso porque têm medo do divórcio. Poderá lhe dizer que você desistiu de perder peso porque você falhou em todas as tentativas anteriores, e que você é viciado em comida. Poderá lhe dizer que seus amigos com os quais você têm saído são incongruentes com a pessoa que você deseja se tornar, e que você precisa deixar esse grupo de referência para trás e construir um novo. Poderá lhe dizer que você sempre quis ser um ator ou um escritor, mas que você se acomodou com um emprego de vendedor porque parecia ser mais seguro e estável. Poderá lhe dizer que você sempre quis ajudar pessoas com necessidades, mas que você não está fazendo isso da forma que deveria. Poderá lhe dizer que você está desperdiçando seus talentos.

Veja se consegue reduzir essa voz para apenas uma palavra ou duas. O que ela está lhe dizendo? Saia. Peça demissão. Fale. Escreva. Dance. Atue. Exercite-se. Venda. Mude. Troque. Deixe. Pergunte. Aprenda. Perdoe. Seja lá o que for que você consiga desse modo, escreva. Talvez você até tenha diferentes palavras para cada área da sua vida.

Agora você tem que tomar o difícil passo de conscientemente reconhecer de que isso é o que você realmente quer. Está TUDO BEM se você pensa que isso não é possível pra você. Está TUDO BEM se você não vê uma forma de consegui-lo. Mas não negue que você o quer. Você diminui sua consciência quando faz isso. Quando você olhar para seu corpo obeso, admita que você realmente quer ficar saudável e em forma. Quando você acender aquele próximo cigarro, não negue que você queria ser um não-fumante. Quando você encontrar o(a) parceiro(a) dos seus sonhos em potencial, não negue que você adoraria estar em um relacionamento com aquela pessoa. Quando você encontra uma pessoa que parece estar em completa paz consigo mesma, não negue que você deseja ter esse nível de paz interior também. Tire-se da negação. Ao invés disso, mova-se para um lugar onde você admite, “Eu realmente quero isso, mas eu apenas não sinto ainda que tenho a habilidade para consegui-lo”. Está perfeitamente BEM querer algo que você pensa que não pode ter. E você provavelmente está errado em concluir que não pode tê-lo. Mas primeiro, pare de mentir para si mesmo e fingir que você não quer realmente aquilo.
Mova do Medo para a Ação, Mesmo que Você Ache que Vá Falhar

Agora que você reconheceu algumas coisas que você têm tido medo de encarar, como você se sente? Você provavelmente ainda se sente paralisado antes de agir. Tudo bem. Enquanto mergulhar diretamente no medo e confrontá-lo cara-a-cara pode ser bastante eficiente, isso talvez requeira mais coragem do que você acha que pode reunir nesse exato momento.

O ponto mais importante que eu quero que você aprenda neste artigo é que a verdadeira coragem é uma habilidade mental, não emocional. Neurologicamente isso significa usar a região cerebral do neocortex racional para dominar os impulsos emocionais límbicos. Em outras palavras, você usa sua inteligência humana, lógica e vontade independente para superar as limitações que você herdou como um mamífero emocional.

Agora, isso pode logicamente fazer sentido, mas é mais fácil falar do que fazer. Você pode logicamente saber que não estará em perigo real se você subir em um palco e falar em frente a 1000 pessoas, mas o seu medo é disparado mesmo assim, e os medos imaginários o previne de voluntariar-se para qualquer coisa parecida com isso. Ou talvez você deva saber que está em emprego sem futuro, mas parece não ser capaz de reunir suas forças para dizer as palavras, “eu me demito”.

Coragem, no entanto, não requer que você tome ações drásticas nessas situações. Coragem é uma habilidade mental que você deve aprender e treinar, assim como musculação fortalece seus músculos. Você não iria para uma academia pela primeira vez e tentaria levantar 140 kg, então não pense que para ser corajoso você precisa enfrentar seu medo mais paralisante logo de primeira.

Há dois métodos que eu sugiro para adquirir coragem. O primeiro método é análogo ao treinamento progressivo com pesos. Comece com pesos que você pode levantar mas que ainda assim sejam desafiadores, e então vá progressivamente aumentando para pesos mais pesados conforme sua força aumenta.

Entao pegue um pedaço de papel e escreva um de seus medos que você gostaria de superar. Daí numere de um a dez, e escreva dez variações desse medo, com o número um sendo o que gera a menor sensação de ansiedade e o número dez o de maior ansiedade. Esta é a sua hierarquia do medo. Por exemplo, se você está com medo de convidar alguém para um encontro, então o número um na sua lista poderia ser ir para um lugar público e sorrir para alguém que você ache atraente (medo muito suave). Número dois pode ser sorrir para dez estranhas(os) atraentes em um único dia. Número dez pode ser convidar a pessoa ideal para você em frente de todos os seus amigos mútuos, quando você está quase certo de que será recusado de cara e todos que estão no local irão rir (medo extremo). Agora comece com o objetivo de completar o número um da sua lista. Assim que você obteve sucesso (e sucesso nesse caso é simplesmente tomar ação, não importando as consequências), então mova para o número dois, e assim por diante, até que você esteja preparado para atacar o medo número dez ou se você não sente que o medo o(a) está limitando mais. Você pode precisar ajustar os itens na sua lista para torná-los praticáveis para realmente experimentá-los. E se você em algum momento sentir que o próximo item é muito difícil, então divida-o em gradientes adicionais. Por exemplo, se você pode levantar 130 kg mas não 140 kg, então tente levantar 135 kg ou mesmo 131 kg. Use esse processo tão gradualmente quanto achar necessário, de modo que o próximo passo seja um desafio considerável mas que você se sinta satisfatoriamente confiante de que pode completá-lo. E fique à vontade para repetir um passo anterior múltiplas vezes se você achar isso útil para prepará-lo para o próximo. Siga seu próprio ritmo.

Seguindo esse processo de treinamento progressivo, você irá realizar duas coisas. Você irá parar de reforçar a reação medo/fuga que exibiu no passado. E irá condicionar a si mesmo para agir mais corajosamente em situações futuras. Daí seus sentimentos de medo irão diminuir ao mesmo tempo que sua expressão de coragem aumenta. Neurologicamente, você estará enfraquecendo o controle límbico sobre suas ações enquanto fortalece o controle do neocortex, gradualmente transformando seus comportamentos inconscientes similares aos de rato para comportamentos conscientes, mais humanos.

A segunda opção para aumentar coragem é adquirir conhecimento e habilidades adicionais dentro do domínio de seu medo. Confrontar medos cara-a-cara pode ser útil, mas se seu medo é amplamente devido a ignorância e falta de habilidade, então geralmente você pode reduzir ou eliminar o medo com informação e treinamento. Por exemplo, se você está com medo de pedir demissão de seu emprego e começar seu próprio negócio mesmo sabendo que adoraria estar nessa situação, então inicie lendo livros e participando de aulas sobre como abrir um negócio. Passe uma tarde na biblioteca local pesquisando sobre o assunto, ou faça uma pesquisa online. Entre para a Câmara de Comércio local e qualquer outra organização de comércio relevante no seu campo de atuação. Compareça a conferências. Crie conexões com outras pessoas. Peça a ajuda de um especialista. Aumente suas habilidades ao ponto que você começa a se sentir mais confiante e que você poderia na verdade conseguir, e que esse conhecimento irá lhe ajudar a agir mais ousada e corajosamente quando você estiver pronto. Esse método é especialmente eficiente quando boa parte de seu medo é relacionado ao desconhecido. Geralmente basta ler um livro ou dois sobre o assunto para que o medo se dissipe o suficiente, de tal forma que você conseguirá agir.

Esses são, pessoalmente, meus dois métodos favoritos, mas há muitas outras formas de se condicionar a conquistar o medo, incluindo programação neuro-linguística, terapia de implosão, desensibilização sistemática e auto-confrontação. Você pode pesquisá-los através de ferramentas de busca online se você deseja aprender esses métodos e aumentar suas ferramentas de destruir medos no seu arsenal. A maioria deles podem ser facilmente praticados individualmente (terapia de implosão sendo a óbvia exceção).

O processo exato que você usa para criar coragem não é importante. O que é importante é que você conscientemente o faça. Assim como seus músculos atrofiarão se você não os exercita regularmente, sua coragem atrofiará se você não desafiar a si mesmo a encarar consistentemente seus medos. Na ausência desse tipo de condicionamento consciente, você irá automaticamente se tornar fraco em ambos mente e corpo. Se você não está exercitando regularmente sua coragem, então você está automaticamente fortalecendo seus medos; não há meio termo. Assim como seus músculos irão automaticamente atrofiar por falta de uso, sua coragem vai automaticamente decair na ausência de condicionamento consciente.

Agora isso pode exageradamente pessimista, então aqui está uma forma de encarar isso positivamente. Cargas pesadas podem ser um fardo difícil de carregar, mas elas são ferramentas úteis para construir músculos fortes. Você não olharia para um halteres de 20 kg e diria, “Por que você tem de ser tão pesado?” Ele é o que é. “Pesado” é o SEU pensamento, não uma propriedade intrínseca do halteres. Similarmente, não olhe para as coisas que você teme e diga, “Por que você tem de ser tão assustador?” Medo é a SUA reação, não uma propriedade do objeto de sua ansiedade.

O Medo não é seu inimigo. É uma bússola apontando para você áreas que precisam ser desenvolvidas. Então, quando você encontrar um novo medo, celebre-o como uma oportunidade para crescimento, da mesma forma que você celebraria se alcançasse um novo nível de capacidade no treinamento com pesos.
Tenha um Vislumbre de Sua Própria Grandeza

Então, o que você fará com a sua recém adquirida coragem? Onde ela o levará? A resposta é que ela o permitirá levar uma vida com muito mais significado e satisfação. Você irá começar a viver de verdade como um ser humano ousado ao invés de um tímido roedor. Você irá descobrir e desenvolver seus maiores talentos. Você irá começar a viver muito mais consciente e intencionalmente do que jamais viveu antes. Ao invés de reagir aos acontecimentos, você irá proativamente “manufaturar” seus próprios eventos e circunstâncias.

Coragem é algo que você só pode realmente experimentar sozinho. É uma vitória privada, não pública. Reunir a coragem para ouvir seus desejos mais íntimos NÃO é uma atividade de grupo e NÃO resulta de chegar a um consenso com outros. Kahlil Gibran escreve em The Prophet, “A visão de um homem não empresta suas asas a outro homem”. O propósito de sua existência é somente você pode descobrir. Ninguém na Terra passou pelas mesmas experiências que você passou, e ninguém pensa nas mesmas coisas nem da mesma forma que você.

Vendo de uma perspectiva, essa é uma realização solitária. Se você mora sozinho ou se gosta de uma profunda intimidade com um parceiro amoroso, lá no fundo você tem que encarar a realidade que sua vida é somente sua para ser vivida. Você pode escolher temporariamente entregar o controle de sua vida para outros, seja para um companheiro, um cônjuge ou simplesmente às pressões da vida diária, mas você nunca pode entregar a sua responsabilidade pessoal pelos resultados. Se você assume controle direto e cônscio sobre sua vida ou se meramente reage a eventos assim que eles acontecem para você, não importa: você e somente você têm de tolerar as consequências.

Se você se comprometer a seguir o caminho da coragem, você vai ser inevitavelmente forçado a confrontar o que talvez seja o maior de todos os medos – que você é muito mais poderoso e capaz do que havia percebido inicialmente, que o seu poder máximo é muito maior que qualquer coisa que você experimentou no passado, e que com esse poder vêm tremenda responsabilidade. Você talvez não possa resolver todos os problemas desse planeta, mas você pode causar significante impacto nas vidas de muitas pessoas, e que esse impacto irá reverberar através das gerações futuras que virão.

Qual é a diferença entre você e uma daquelas figuras históricas lendárias que causaram tal impacto? Ambos possuem/possuíram muitos medos idênticos. Ambos nasceram com talentos em algumas áreas e deficiências em outras. A única coisa te segurando é o medo, e a única coisa que fará com que ultrapasse isso é a coragem. O que você faz da sua vida não depende de seus pais, de seu chefe ou de seu cônjuge. Depende de você e somente de você.

Ter um vislumbre da sua própria grandeza pode ser uma das experiências mais perturbadoras imagináveis. E ainda mais perturbadoras é a percepção dos imensos desafios que o esperam se você a aceitar. Viver conscientemente não é um caminho fácil, mas é uma experiência humana única, e requer fazer a decisão comprometida para permanentemente deixar para trás o rato que mora dentro de você. Ir atrás de seus maiores e mais ambiciosos sonhos e experimentar a derrota e o desapontamento, ir contra suas limitações mais humildemente humanas ao invés de viver com um medíocre preenchimento de potencial – esses medos são comuns a todos nós.

As primeiras vezes que você encontrar tais medos, você pode querer rapidamente retornar para a segurança ilusória da vida como um rato. Mas se você continuar exercitando sua coragem, você vai eventualmente amadurecer ao ponto onde você pode abertamente aceitar os desafios e responsabilidades de vida de um ser humano totalmente consciente. Continuar a viver como um roedor simplesmente não terá mais significado para você. Voce irá admitir, nos mais profundos recônditos de seu ser: Eu acordei para esse incrível potencial em mim, e eu aceito o que quer que ele requeira de mim. O que quer que isso me custe, o que quer que eu tenha de sacrificar para seguir esse caminho, peça. Eu estou pronto. Mesmo que você ainda experimente medo, você o reconhecerá pela ilusão que é, e saberá como usar sua coragem humana para encará-lo, de tal modo que o medo não mais terá o poder de pará-lo.
Aceite a Audaciosa Aventura

Enquanto você desenvolve um senso de verdadeiro propósito na vida, você pode começar a sentir uma desconexão importuna entre sua situação de vida atual e a vida em que visualiza estar. Esses dois mundos podem parecer tão diferentes que você não pode mentalmente conceber como construir uma ponte entre eles. Como você conseguiria balancear a realidade prática de tomar conta de suas obrigações tridimensionais como ganhar dinheiro para pagar suas contas e impostos, agradar seu chefe, cuidar de sua família, e manter responsabilidades sociais com pessoas que nem estão ligadas com o que você está passando versus a nova visão de si mesmo que você desesperadamente trazer à realidade? Um inteiro grupo de novos medos parecem se reunir, relacionados a essa aparente mudança impossível. Como você irá se sustentar? O que irá acontecer com seus relacionamentos? Estará você apenas se iludindo?

O melhor conselho que eu posso dar aqui é: esqueça de tentar construir uma ponte. Ao invés disso, foque em independentemente começar o processo de manifestar a nova visão de si mesmo a partir do início, como se fosse uma linha totalmente separada em sua vida. Se isso cria uma incongruência temporária na sua vida, faça-a assim mesmo. Por exemplo, suponha que você trabalha atualmente como um advogado de divórcios, mas sua coragem diz que você deve eventualmente abandonar tal trabalho. Você enxerga a si mesmo ensinando apaixonadamente a casais como curar seus relacionamentos. Mas você não pode nem imaginar a si mesmo, como um advogado, tentando falar sobre relacionamentos saudáveis, e além desse problema, você não consegue ver nenhuma forma de viver decentemente nessa nova carreira, ao menos não rapidamente. Há simplesmente uma desconexão muito grande entre a nova visão e a realidade prática. Então ao invés de tentar tapar os buracos, apenas começe a construir sua nova visão totalmente do zero em qualquer tempo vago que você tenha, mesmo que seja somente uma ou duas horas por semana. Continue fazendo seu trabalho normalmente como um advogado, mas em seu tempo livre, comece a publicar textos anonimamente em fórums de relacionamentos para dar conselhos a casais sobre como curar seus relacionamentos. Use suas habilidades de oratória que adquiriu como advogado para começar a palestrar para pequenos grupos sobre cura de relacionamentos. Pode também criar um novo site na web, e começar a escrever e publicar artigos sobre sua nova paixão. Você não precisa esconder o fato que trabalha como advogado, mas não se preocupe em construir uma ponte entre esses mundos. Viva em paradoxo. Apenas comece a desenvolver seu novo Você, e permita que o antigo continue em paralelo por um tempo.

O que vai acontecer é que você vai desenvolver habilidades em sua nova iniciativa, e irá eventualmente estar apto a se sustentar com isso, mesmo que não consiga ver como nesse momento. Você pode não ver como irá se sustentar em sua nova visão, mas não tem problema. Apenas comece assim mesmo, fazendo de graça, sem nenhuma preocupação sobre como torna-la em uma nova carreira de tempo integral. Pacientemente espere por clareza; você irá eventualmente encontrar um caminho para fazer dar certo. Então quando a época for certa, você poderá pacificamente abandonar a antiga carreira e focar toda sua energia na nova. Em algum ponto você vai poder comprometer-se totalmente para o seu novo Eu. Sua paixão pelo novo trabalho irá invariavelmente esmagar seus medos de deixar para trás sua antiga fonte de estabilidade. Então, ao invés de tentar transformar sua antiga carreira em sua nova, apenas comece o processo de construir a nova, e deixe a antiga gradualmente apagar. Mesmo que você só possa investir uma hora por semana nesse novo empreendimento, você irá provavelmente descobrir que essa hora é mais prazerosa que todas as outras horas juntas, e essa paixão irá direcioná-lo para encontrar um meio de gradualmente crescer essa presença até que preencha a maioria dos seus dias. A coisa mais importante é começar agora por introduzir sua nova visão de si mesmo na sua vida diária, mesmo que você só possa fazê-lo em uma pequena quantidade.

Não importa quão difícil isso possa parecer, faça a escolha de viver conscientemente. Não sucumba à realidade meio-consciente de pensamentos baseados em medo, preenchendo sua vida com distrações para evitar encarar o que você sente naqueles espaços silenciosos entre seus pensamentos. Ou você exercita seus dotes humanos de coragem e vai progressivamente treinando sua força para enfrentar seus mais profundos e tenebrosos medos para viver como o ser poderoso que realmente é, ou admita que seus medos são grandes demais, e abrace a vida como um roedor. Mas faça essa escolha conscientemente e com total percepção das consequências. Se você vai deixar o medo vencer a batalha da sua vida, então proclame-o vitorioso e desista da luta. Se você simplesmente evita viver consciente e corajosamente, então isso é o equivalente a desistir da vida em si mesma, onde sua existência restante se torna um pouco mais do que um período de espera antes da morte física – o nada como sendo o oposto à audaciosa aventura.

Não morra sem embarcar na corajosa aventura que sua vida deveria ser. Você pode ir à falência. Você pode experimentar falhas e rejeições repetidamente. Você pode ter de passar por múltiplos relacionamentos disfuncionais. Mas essas são apenas pedras ao longo do caminho de uma vida vivida corajosamente. Elas são suas vitórias privadas, esculpindo um espaço mais profundo dentro de você para ser preenchido pela abundância da alegria, felicidade e satisfação. Então vá em frente e sinta o medo – então convoque a coragem para seguir seus sonhos mesmo assim. Isso sim é força invencível!

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Escrito e publicado originalmente por Steve Pavlina em The Courage to Live Consciously. Thank you for this amazing article, Steve!

#consciência #Virtudes

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-coragem-para-viver-conscientemente

Não se faz ouro…

Zzurto

Em todo evento com enteógenos existem algumas expectativas: seja um temor por aquele absurdo geral de se colocar a beira da realidade habitual; seja a possibilidade de novas conexões a trazerem novos discursos e caminhos, não importa muito tudo corre para um desconhecido. Mas convenhamos que existe uma atitude relativamente comum, numa parte considerável destas pessoas, que implica em aumentar o próprio terror com frases e posicionamentos sobre si bastante depreciativos acerca de suas capacidades e possíveis experiências. Não preciso me ater aqui a explicar que isso em nada auxilia. Certo de que é só um processo geral que trabalhamos na tentativa de antecipar os possíveis problemas que muitas das vezes não se realizam.

Entretanto há um fator curioso na egrégora geral destes movimentos que eu coloco como “instinto esquisotérico”, ou seria místicóide(?), que impregna essas situações com sentimentalismos tolos e frases de efeito dignas das melhores publicações de autoajuda (seria um “golpe de retorno”?). Sabendo de antemão que isso faz parte do processo de criar um sentimento geral de segurança, não vejo uma utilidade maior do que isso. Vê alguém agindo assim é estranho por simplesmente nesses momentos desejarmos verdades e sinceridades, acabamos por topar em atuações e disfarces forçados que nos causam enjoo.

É quando insistimos a olhar para o lado esperançosos de ver autenticidade por perto e satisfatoriamente percebemos que não são todos estes atores (ou ao menos não são todos atores tão ruins). Mas o espírito geral destas ações podem fatalmente “incumbir” a egrégora de que esse espírito é uma faceta necessária para que nos sintamos bem e assim já estamos magnetizados pelo frenesi abobalhado destes.

Eu considero esse tipo de gente um canal. Por esses canais passam o que há de mais básico das nossas expectativas no que se refere à segurança e afeto. Isso em momento algum é ruim, só quando parte para vozes fakes, forçadamente suaves que transparecem uma ignorância ou falsidade por parte destes, típica dos passivos religiosos, que só querem um frenesi permitido por D’us para santificarem uma fé em possibilidades remotas.

A fé é só mais um instrumento, há de se frisar isso, eu mesmo sou adepto de que a crença é mais efetiva e mais útil. Acreditar é diferente de achar possível. A espiritualidade (no sentido mais amplo do termo) não precisa de fé para que exista, mas deveríamos ser mais aptos a comprovar sua presença e a acreditarmos nela e não somente acharmos que é simplesmente possível ou provável. O que importa mesmo é sermos capazes de agir verdadeiramente ou toda a gama de informações sobre o autoconhecimento e unidade não passarão de balela.

Já li em várias publicações que um fator importante na condução da magia prática é a utilização de um teatro onde nós nos colocamos na pele de alguma divindade e implicamos na realidade a partir deste sentimento. Contudo vale a pena se transformar num personagem para vida inteira?

O rito seja este qual for é um mecanismo para estímulo de capacidades que já temos, é um teatro e serve somente durante o teatro. As condições e implicações que existam durante o teatro devem acabar ali e continuar em outro nível do inconsciente. Assim ao acabar o rito as mecânicas relacionadas devem ser deixadas de lado. Como uma peça que termina.

Perceba então que há uma quantidade considerável de indivíduos que se enquadram nos mais variados estereótipos conhecidos. Este do qual cito e que sofre do “instinto esquisotérico”, chamo de “místico algodão-doce”, onde tudo é lindo e a vida é repleta de aventuras advindas diretamente dos roteiros dos ursinhos carinhosos. Esse personagem é mais comum do que parece e não é preciso muito esforço pra descobrir que por baixo desse espírito há um ser humano normal cheio de defeitos. É provavelmente a grande razão de alguém tomar pra si esse tipo de postura, para evitar os defeitos que não se deseja mostrar ou encarar. Contudo no caminho da grande obra tomar pra si essa pureza patética é na verdade não enxergar o óbvio.

Primeiro vamos pensar no ABC que todo buscador deveria parar para refletir. O que é de fato o bem o mal? Temos em várias literaturas sérias que tais polaridades implicam em uma mesma condição observada pelos extremos. O bem e o mal, portanto, são facetas de uma mesma forma. Separamos por questões de praticidade, mas se observarmos esse divisão na verdade não existe realmente. Nossas questões morais e éticas são o que mais implicam nesse aspecto do indivíduo, e conduzimos nossas atitudes para um dos dois polos através das escolhas diárias. Separamos então para facilitar nossas compreensões da realidade e para podermos por meio disto conduzir outros aspectos menores e princípios mais básicos por meio de um consenso que nos facilite enquadrar as ações tomadas e assim avaliar e julgar. Mas como avaliar algo se o personagem vive mais do que o indivíduo real?

Partindo dessa premissa tenho eu observado constantemente o nível de veracidade de alguns indivíduos que acabo por conviver. Estes passam o tempo inteiro exalando uma aura de bondade que só convence eles mesmos. Aonde foi dito que pra ser bom é preciso falar manso? Ou sorrir com tudo e pra tudo? Esse tipo de atitude demonstra somente fraqueza e imaturidade destes e provavelmente medo de encarar a realidade crua como ela é. Certa vez escutei de um amigo que a realidade é cruel e selvagem. A vida nos consome diariamente e não enxergar isso é tolice. Claro que isso não significa que tenhamos de sair engolindo o mundo inteiro também. Isso significa que a espiritualidade esta repleta de formas e seres, e que não existe um único ser no universo inteiramente bom ou inteiramente ruim. Dizer que D’us é inteiramente bom é não ser capaz de encarar a realidade de que essa divisão é só uma forma de facilitar compreender a vida, mas na verdade isso não funciona realmente. Na verdade D’us e o Diabo são duas facetas de uma mesma forma e esse conflito entre os dois é na verdade uma alegoria da luta dual que enfrentamos durante a vida inteira.

Sendo assim implicar em uma mansidão vaga ou mesmo irreal que não se apoia em nada do indivíduo, nada verdadeiro ao menos, é pura tolice. A confiança é desenvolvida por meio de realidades e é por isso que quando uma confiança se apoia em mentiras esta fatalmente deixará de existir e provavelmente não será reconstruída tão facilmente.

Para atuar na magia há de se ter verdades incrustadas no teatro. Mesmo que personifiquemos um personagem durante o ato, este deverá se apoiar em algum aspecto do indivíduo, para que essa verdade ative outras das quais não dispomos com facilidade. Não há então um personagem totalmente criado. Quando vestimos a roupa deste, ele não poderá mais ser de mentira ou nada será extraído dessa ação. O paradoxo dessa condição é um mecanismo genial que se ativa durante o rito. No ato de apoiar o personagem em algo que já existe em você abre-se um caminho para que características deste personagem cheguem até o magista. Em suma se atua insistindo em verdades por que no fundo o vaso é capaz de conter o ouro. Ou, como o velho ditado diz, não se faz ouro sem ouro.

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Bram Stoker Pertenceu à Golden Dawn?

Por Shirlei Massapust.

Hoje é lugar comum dizer que «Stoker pertencia à famosa ordem secreta da Golden Dawn (Aurora Dourada), em companhia de escritores fantásticos como Arthur Machen e Algernon Blackwood.» Tal afirmação, retirada da introdução de uma coletânea de quadrinhos de Drácula da década de 70, deriva de uma teoria sustentada por diversos estudiosos de vampirismo. Contudo, nem todos estão de acordo. Não há registros conhecidos de obras ou anotações pessoais de Stoker mencionando o nome da ordem, da mesma forma que parece não haver também testemunhos de membros sobre a filiação de Stoker. Segundo Carlos Raposo, «o melhor e mais confiável documento a respeito da historia da GD é o The Magicians of the GD, por Ellic Howe [que não cita o nome de Stoker]. Tudo indica que esse boato sobre a suposta participação dele nessa Ordem tenha vindo do best-seller O Despertar dos Magos, da dupla Bergier e Pauwels, onde eles afirmam isso, sem citar fonte alguma.» (Mail para a Illuminati, 1997).

Na palavra de Pauwels e Bergier, «Arthur Machen tomara o nome de Filus Aquarti. Havia uma mulher filiada na Golden Dawn: Florence Farr, diretora de teatro e amiga íntima de Bernard Shah. Ali se encontravam também os escritores Blackwood, Stoker, o autor de Drácula, e Sax Rohmer, assim como Peck, o astrônomo real da Escócia, o célebre engenheiro Allan Bennett e Sir Gerald Kelly, presidente da Academia Real. Segundo parece, esses espíritos de elite foram marcados de forma indelével pela Golden Dawn. Como eles próprios confessaram, a visão que tinham do mundo foi alterada e as práticas às quais se entregaram não deixaram de lhes parecer eficazes e exaltantes.»

Em que a dupla poderia basear-se para afirmar tal coisa? Teriam acatado como provas de sua filiação a semelhança de alguns escritos de Stoker com os ritos da ordem comparando, por exemplo, Drácula com a acusação de Crowley sobre a prática de vampirismo na GD (De Arte Magica, XVIII)? Ou teriam tido acesso a documentos desconhecidos mesmo para altos membros de ordens derivadas, como a OTO e AA?

O seguinte texto – adaptado da introdução de Tony Faivre da tradução francesa de outra obra de Stoker, Le Repaire du ver Blanc, – parece simplesmente confiar em Pauwels e Bergier, partindo para analogias entre as obras de Stoker e a Aurora Dourada. Para ser lido com a devida reserva, não deixa de ser interessante e bem trabalhado.

O Mostro Branco

(Introdução)

Todo o mundo conhece Drácula, mas se conhece menos ou se desconhece completamente seu autor, Bram Stoker. A literatura fantástica é de tal modo ingrata que destrói os autores em proveito de suas obras. Stoker faz parte desses escritores sobre quem nada se sabia até recentemente; mal e mal, a data de seu nascimento e a de sua morte, inteiramente eclipsado por seus personagens e pelos sonhos que forjaram. Que há de espantoso nisso? O sonho de Bram Stoker não se chama Drácula?

Portanto, tratar-se-á aqui muito menos de Drácula que do seu autor e de alguns pontos de referência sobre sua vida e seu último livro, The Lair of the White Worm (o covil do verme branco).

Este livro foi escrito em 1911 por Bram Stoker, nascido em 1847 e falecido em 1912; lembremos que Drácula apareceu em 1897. Se se acrescentar que Frankenstein surgiu em 1818, o Doutor Jekyll e Mr Hyde (O médico e o monstro), em 1886 e que a sociedade secreta iniciadora da Golden Dawn in the Outer foi criada em 1887, nada mais nos resta se não indicar a data do aparecimento de Carmilla, de Sheridan le Fanu: 1887, e assim terminar essas referências históricas e falar um pouco de Bram Stoker.

Harry Ludlam em seu livro nos conta que Bram Stoker passou os oito primeiros anos de sua vida, encerrado, enfermo, num quarto, como se fora votado à morte. Contudo sobreviveu e saiu de seus sonhos, leituras e estórias, provindos de sua mãe, apaixonada pelo fantástico. E, coisa curiosa, tornou-se um homem de grande estatura, ruivo e barbudo, dotado duma força e duma vitalidade, irlandesas certamente, que jamais se poderia vaticinar ao pequeno enfermo, nem descobrir entre as linhas de Drácula.

Essa vitalidade permitiu a Stoker exercer várias atividades (contador, de dia; jornalista,

cronista de teatro, à noite); depois, em 1878, dedicou-se à administração do Lyceum Theatre, de Londres, do grande ator Henry Irving, por quem tinha, há longo tempo, grande admiração. Essa colaboração durou mais de trinta anos. Sua energia o leva a escrever com paixão um ensaio intitulado Sensationalism in fiction and society e, um pouco mais tarde, um livro sobre a administração irlandesa, The Dutie of clerks of petty sessions in Ireland! Porém seu trabalho com Henry Irving o põe em contato com a sociedade inglesa ou certa sociedade londrina, apaixonada pelo sobrenatural. Além disso ele sempre teve gosto pelo fantástico. Nesse fim de século, tudo é possível. Assim é que Stoker pôde encontrar em Londres “vampires personalites” ou “os sugadores de sangue” (?), cujas características permanecem contudo muito vagas. Assim filia-se também ele à sociedade mágica da Golden Dawn cuja história Pierre Victor escreveu com detalhes. E nós registramos, com espanto, a presença, ao lado de Stoker, de outros escritores tais como Willian B. Yats, Arthur Machen, Algernon Blackwood e Sax Rohmer, especialmente. Essa ordem iniciadora baseada em conhecimentos ocultos, e em práticas de magias reais, influenciou certamente tais escritores. E Drácula apareceu como uma narrativa iniciadora ao mesmo título que le Grand Dieu Pan de Machen ou os Fu-Manchu de Sax Rohmer. Zomba-se freqüentemente de tais sociedades, de tais experiências e é necessário destacar aqui sua existência; sua influência é importante, tanto sobre as obras (fantásticas ou não) como sobre a própria vida dos seres e dos povos. (é suficiente estudar a sociedade alemã a partir de 1918). O racional e o irracional estão intimamente ligados, as distinções são muito artificiais. Será mister recordar-se de Conan Doyle, no fim de sua vida, fã do espiritismo? E Samuel L. Mathers, um dos três fundadores da Golden dawn, não era o esposo da irmã de Henri Bérgson? E porque não falar do próprio Bérgson?

Mas chega de exemplos. No que concerne a Bram Stoker parece que até 1897 (data do aparecimento do Drácula), nosso autor somente escrevia nos momentos de folga ou de “férias”, repousando na costa escocesa, principalmente em Crugen Bay, lugar que o fascinava. Depois o sucesso de Drácula (sobre o qual não falaremos mais, enviando o leitor ao prefácio de Tony Faivre) coincide com as primeiras dificuldades de Stoker com Henri Bérgson, as quais levarão Bram a se entregar mais e mais somente à atividade literária.

Drácula é o ponto central de sua obra, evidentemente; os outros livros são peças “anexas” que completam a visão do conjunto. Nem tudo é de inspiração fantasmagórica, como The Mann (1905) ou, por vezes apresenta curiosa mistura de fantástico e de aventuras modernas; assim, The Lady of the shroud (1909) nos mostra a aparição de uma jovem, à noite, vestida de uma mortalha, morta ou vampiro, e, pouco depois, a evolução de uma esquadrilha de aviões que repele uma invasão num país balcânico. A inspiração de Stoker parece funcionar a jatos intermitentes, mas infelizmente não com muita freqüência. O estilo e a pureza de Drácula parecem perdidos para sempre, embora os temas permaneçam. Assim The Mystery of the sea (1902) ou The Jewel of the seven stars (1903), que narra a ressurreição de uma rainha do Egito, cinco mil anos mais tarde, possui o Dom da evocação da Antigüidade. Mas tudo se desenrola como se, a partir de Drácula, o pensamento de Stoker, se interiorizasse, não se entregando ao leitor, apenas de vez em quando. Seus livros apresentam intuições brilhantes, mas não desenvolvidas. Negligência ou vontade de Stoker? The lair of the wite worm parece responder por ele.

Esse livro, escrito em 1911, um ano antes de sua morte, esclarece retrospectivamente a obra e a vida de Stoker. Se ele retoma a técnica de narração de Drácula, conforme vários pontos de vista, observado no diário íntimo dos principais personagens (Drácula conserva sempre seu mistério, dado que sempre indiretamente aproximado), o Repaire du ver blanc não alcança a síntese final que faz a grandeza de Drácula. Ao contrário, cada capítulo parece isolado um do outro, cada personagem, encerrado em sua história, não encontrando jamais, nem por acaso, os outros. Em resumo, há no contexto, quatro ou cinco histórias que, desenvolvidas, poderiam muito bem transformar-se em quatro ou cinco romances, completamente diferentes. Os personagens tem uma história pessoal, um passado e um fim a atingir, que é sobretudo individual. Drácula reunia várias pessoas para uma ação comum: destruir Drácula. O Repaire du ver blanc mostra vários indivíduos, unidos no início, que se separam, pouco a pouco, em diversas direções e com fins opostos. Cada um é enviado à sua solidão e à sua morte. Somente o jovem casal sobrevive, salvo pelo seu amor e sua energia. Não há inter-relação de personagens, mas ação separada. Esse fechamento sutil, não aparente à primeira vista, é sem dúvida um dos interesses deste livro que, de alguma maneira, sugere vários temas do fantástico. Cada tema é, sempre, apenas sugerido, para, imediatamente, ser seguido e substituído por um outro que o absorve. Dessa maneira se apresenta o tema dos pássaros e do silêncio dos campos; a presença do9 papagaio de papel e a sombra de Mesmer; os conflitos e os passes magnéticos; o personagem de Oolanga, a coleção de objetos fantásticos e, por fim, o tema da serpente e da mulher-demônio, que se desdobra com o da sobrevivência do grande mostro pré-histórico. Mas cada tema é isolado dos outros, tratando diferentemente, precisamente esboçado.

Divaga-se bastante sobre o tema do monstro, desse gênio do mal, que procura destruir os outros, sobre aquele da luta das trevas e da luz, do bem contra o mal (o personagem de Oolanga é uma encarnação espantosa da maldade, além de um racismo aparente). A primeira confusão da narrativa resulta do fato de que tudo é apresentado sobre o mesmo plano, sem distinção, o que pode enganar o leitor não avisado. Passamos agora de considerações históricas às reflexões sobre o Verme branco, quer reflexões morais, quer físicas, para terminar sobre o envio de “mensageiros” a um papagaio que se torna cada vez mais maléfico.

E tudo só se resolve no último instante, no momento de horror final, no fogo e na explosão da dinamite em que a eletricidade da tormenta desempenha papel importante. Pouco antes, Lady Arabella suportara sua última transformação, em vampiro erótico e feroz, antes de se tornar, por uma derradeira vez, no grande verme branco.

Bram Stoker sabe evocar com tanta força como Machem esse mundo pagão, do Mal, da antiguidade; os vestígios da conquista romana são tão evocativos, os símbolos são tão fortes. A sobrevivência do passado é monstruosa, porque ela apaga a noção do tempo, e então tudo é possível e se torna um pesadelo. A narração é certamente uma iniciação, visto que é a história de uma luta e de uma vitória sobre as trevas. Depois surge a luz, as últimas páginas evocam aurora radiosa, sem as nuvens portadoras de angústia.

Nos últimos anos de sua vida, Bram Stoker abateu-se com a tenaz enfermidade a que escapara por tão longo tempo. As dificuldades financeiras se tornaram oprimentes, perturbando sua velhice. Não há dúvidas que Bram desejou, pela última vez, recontar a história eterna da vitória do espírito sobre o mundo. Ele tem certeza disso; ele é um “iniciado”. Ao leitor cabe curar sua pista através das diversas estórias dos livros, e assim continuá-las e termina-las. A serenidade que transparece nas derradeiras linhas mostram bem que Stoker atingira seu fim, Drácula aí acabara de morrer e de ressuscitar do meio das trevas. Harry Ludlum escrevia: “Há um profundo mistério entre as linhas desta obra (The Lair of the White Worm)… o mistério do espírito do homem que as redigiu…”

Com efeito, devemos saber ler as linhas para descobrir o pavor sugerido e combate-lo, para chegar à “Golden Dawn” (aurora dourada) que Stoker procurara atingir. “La fête du sang” (festa do sangue ? sub-título de um livro de Thomas Preskett Prest), celebrada por Drácula, o “príncipe das trevas”, encarnação terrível do Mar, deve ela dar lugar a uma ascese mais espiritual? Para Stoker, assemelham-se os dois caminhos: é mister ir até o fim do terror e enfrenta-lo. A literatura fantástica proclama a liberdade do homem, mesmo no mal, para a escolha da ação. Todos os personagens de Stoker são positivos (embora em graus diversos) porque eles agem. A inação é a morte, a tomada de posse por “outra coisa”. Ora, não se pode compreender o mundo, a não ser que seja ele “impelido” por uma ação, seja mágica, seja religiosa, sonhada ou literária. Sabido é que Bram Stoker pretendia que Drácula lhe fora inspirado por um pesadelo, provocado por uma indigestão! Assim o mundo parte do sonho e ao sonho retorna, tomando às vezes, a forma de um pesadelo. Stoker esforçou-se por conservá-lo para melhor entender e procurar explica-lo. Sua obra é sua resposta, a nós toca apenas ler.

Texto extraído de:

FAIVRE, Tony (?). Introdução a Le Repaire du ver Blanc. Tradução e revisão de João Evangelista Franco. In: STOKER, Bram. O Monstro Branco. Global. P. 7-12.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/bram-stoker-pertenceu-%C3%A0-golden-dawn

Sagrado, Secreto e Sinistro: 666

por Adriano C. Monteiro

O “temível” e suspeito número 666 parece causar muito burburinho quando mencionado em quaisquer lugares. Mas sem divagar demais em muitas teorias e preconceitos religiosos, o número 666 encerra significações cabalísticas draconianas, ocultistas e psicológicas, o que nada tem a ver com o Diabo ou com o mal do mundo.

Seis é o número da esfera do Sol, o que representa, em nível humano, o Eu Superior em seu aspecto luminoso, a inteligência manifestada, a mente expandida. O Sol e o número 6 também podem ser representados pelo hexagrama e pela cruz (um símbolo bastante antigo e pré-cristão), que é desdobrada e desenvolvida a partir do cubo, que é um sólido geométrico de seis lados. Desdobrado na cruz invertida, esta simplesmente representa uma espada apontada para cima, um shiva-linga, quer dizer, um falo (símbolo solar, masculino) unido à vagina (o traço horizontal da cruz).

O Sol está situado – na Árvore da Vida e da Morte cabalística – nas esferas de Tiphareth/Thagirion (a “Beleza” e o “Ardente Sol Negro”), que é um nível de evolução no qual o indivíduo atinge um alto grau de autoconhecimento e autoconsciência. Mas para que a evolução seja completa e a sabedoria seja internalizada, é preciso conhecer o lado sinistro do sagrado e secreto Eu Superior (pois nada existe somente com uma face). E esse lado sinistro do Dragão de Sabedoria, do Eu Superior, é expresso pelo número 666, já que sua multiplicação e soma finalmente resultam sempre no número noturno da Lua, ou seja, 9, que é também o número do leão-serpente (teth, ?), a união entre o masculino e o feminino. A Lua representa a noite, o oculto, o secreto, o subconsciente e o sinistro (sombrio e “esquerdo” como o aspecto feminino e sexual do universo e da psique humana). Entenda-se que “sinistro” não é aquilo que seja maligno nem malévolo, ou coisa semelhante; sinistro é “esquerdo”, e no contexto prático e metafísico draconiano indica a presença de elementos sexuais, femininos poderosos, instintivos e subconscientes (a maior fonte de poder de um iniciado e de um filósofo oculto). Portanto, nada há de maligno nisso nem tem a ver com qualquer fantasia paranoica do Diabo (pois este não existe). Afinal, nós temos o lado direito e esquerdo de nosso corpo, temos a mão direita e a esquerda, o lado direito e esquerdo do cérebro, etc.

Fique só com o lado direito, então, e você verá o quão simétrico, equilibrado, harmonioso e belo você parecerá!

Na prática da filosofia oculta e do draconismo, 666 é o número da força obscura e agressiva do Eu Superior, o número do aspecto sombrio da Inteligência Solar do Daemon individual. Mas é também o número de Sorath, o Espírito do Sol, a força solar agressiva e impetuosa que impulsiona a evolução. Esse número, 666, pode ser extraído do Quadrado Mágico Solar, ou Kamea, que é dividido em 36 partes, ou quadrados menores numerados, cuja soma total é 666, o número do próprio nome de Sorath extraído pelo cálculo de suas letras hebraicas. Desse quadrado, para fins práticos, também é extraído o sigilo de Sorath, ou Deggial, como também é chamado. Sorath-Deggial é a verdadeira Besta da Revelação, a Besta 666, a correspondente revelação microcósmica do próprio Eu com seu animalismo (não confundir com animismo) natural, primitivo e intrínseco que se torna autoconsciente; é a revelação do conhecimento com compreensão, da Gnose, e da Sabedoria das sombras (o subconsciente e o aspecto feminino, Sophia/Shakti/Shekinah).

O número 36 (3×6, 666) igualmente resulta em 9, a Lua, a consorte do Sol Negro (a Grande Besta, o Dragão de Sabedoria), demonstrando assim o equilíbrio entre as forças duais (como dois pilares) do universo e do ser humano, a união entre o feminino e o masculino, entre as trevas e a luz, entre o subconsciente e o supraconsciente, etc. A Lua é a yoni (vagina) de Shakti, e o Sol Negro é o linga (pênis) de Shiva, e sua união resulta finalmente em 9, a esfera do sexo, não somente o sexo humano, fisiológico e anatômico, mas principalmente o sexo metafísico de todas as forças que são unidas para criar algo no universo e na natureza

visíveis e invisíveis.

Tal união, como toda união entre forças opostas deveria ser, resulta em uma terceira força que é, no ser humano, o nascimento da autoconsciência e o renascimento do autêntico e completo ser humano em seu alto grau evolutivo, ou seja, o Homo veritas (o humano verdadeiro). As forças opostas não se opõem, mas se unem para criar. E o ser humano verdadeiro autoconsciente, não um mero humanoide autômato, cria a si mesmo a cada etapa evolutiva. O número 666, portanto, é o número do Homem, do Anjo Guardião e da Besta (o Eu Superior, o Dragão) com suas forças em equilíbrio e com a sabedoria das Sombras e da Luz.

Contudo, as pessoas cuja compreensão parece não ir além de interpretações limitadas e condicionadas e com base em suas ideias oriundas de dogmas enganosos seculares, há muito tempo acreditam piamente que o número seiscentos e sessenta e seis seja satânico, “sujo” e sinistro. Os textos bíblicos disseminaram muitas ideias que seriam motivo de sarcasmo por parte de Satã, se ele realmente existisse como a maioria das pessoas imagina. Se tal número é da besta, besta é o próprio o homem, segundo o texto bíblico, pois “(…) calcule o número da besta, pois é o número do homem (…)”; em essência, a espécie (besta) humana é obviamente uma espécie animal. Assim, cada indivíduo tem a escolha de buscar ser uma Grande Besta sábia, pois o 666 é a face sagrada, secreta e sinistra do Ser autoconsciente.

Adriano C. Monteiro é escritor de Filosofia Oculta, membro de diversas Ordens e autor da Tetralogia Draconiana

#LHP

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Magia para passar em qualquer Concurso ou Prova

Quase todo dia, pessoas me escrevem pedindo magias ou rituais que os permitam passar em provas, concursos, exame da OAB ou testes de qualquer tipo. Recentemente, recebi autorização dos Poderes Illuminati que regem o Governo Oculto do Mundo para revelar apenas aos leitores deste blog os segredos goéticos para passar magistralmente em qualquer concurso sem levantar suspeitas.

Este é um ritual enochiano complexo que necessitará de seis meses de preparo (para um Exame da OAB ou Concurso Público), acompanhando as tábuas lunares e aspectações astrológicas, de acordo com as anotações deixadas por Aleister Crowley.

Em primeiro lugar, veja a data exata do Concurso. Isso possui uma importância fundamental astrológica no ritual.

Veja seu calendário magístico e marque exatos 6 meses, 6 horas e 6 minutos antes (666). Separe todos os livros e matérias que constam nas “Disciplinas do Edital” ou a “matéria da Prova”. Estes serão denominados de agora em diante “Coelum Philosophorum”. É importante que você separe TODOS os livros que cairão na prova ou concurso, porque precisaremos de todo o conteúdo para o pacto com as forças das trevas.

Caso seja uma prova menor, com menos matéria, o estudante pode começar a preparar o ritual exatamente 6 dias, 6 horas e 6 minutos antes da prova.

O contrato com os demônios da Goécia para realizar o pacto precisa ser feito todos os dias, sem falhas, ou o ritual não funcionará. Segundo Abramelin, durante não menos do que duas horas a cada dia, o Estudante começará a preparar os “Sigilos de Resumo” que são fórmulas cabalísticas para transformar grandes conteúdos literários em pequenos trechos que deverão ser compreendidos no pacto final. Para tanto, separe toda a matéria do Coelum Philosophorum, dividindo-o pelo número de dias que você fará as invocações.

A cada dia, certifique-se que não será perturbado pelos profanos por pelo menos duas horas. Desligue todos os equipamentos eletrônicos ao redor, pois as emanações eletromagnéticas prejudicarão o entrosamento psicomental necessário para contactar os seres goéticos.

O mago deverá usar suas vestes ritualísticas (se não possuir, poderá usar roupas pretas) e, atentamente, leia e faça anotações e RESUMOS em seu Grimório Pessoal com todo o conteúdo dos textos separados (isto é importante para que o mago saiba exatamente o conteúdo total da energia que será exigida na prova, a fim de invocar a entidade goética mais adequada). Segundo McGregor Mathers, Dion Fortune e Peter J. Carroll, esta etapa do ritual é fundamental e não pode ser negligenciada, pois os sigilos ficariam incompletos.

São Cipriano recomenda, em seu livro de capa preta, que o feiticeiro tenha ao seu lado um copo de água cheio, que deverá ser consumido durante estas duas horas de ritual.

Na noite anterior, é necessário que o Adepto medite a respeito dos objetivos e não pense mais no assunto, pois os sigilos precisam ser lançados no Astral para o dia seguinte. Com o tempo e com as práticas ritualísticas, o iniciado dominará qualquer tipo de assunto, bastando para isso incorporar novos livros ao Coelum Philosophorum.

Na hora do exame, toda a matéria resumida nos sigilos aparecerá de maneira mágica e inexplicável na mente do iniciado, trazida diretamente de seu Sagrado Anjo Guardião, fazendo com que ele consiga passar em qualquer prova ou teste!

De Paracelsus a Isaac Newton, de Agrippa a Leonardo DaVinci, todos os alquimistas utilizaram-se deste método que agora está disponível a qualquer digno estudante de ciências ocultas. Desta maneira, o estudante das ciências herméticas conseguirá os melhores resultados na escola, na faculdade ou em qualquer outro lugar, sem despertar suspeitas!

93!

Marcelo Del Debbio

Dies Martis, Sol in Aquarius, Luna in Pisces

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