Feliz Ano Novo, Rosacruzes!

Nesse dia 20 de março de 2017, iniciou-se um novo ciclo para os Rosacruzes de todo planeta. O sol em sua trajetória pelo zodíaco cruza a Linha do Equador Terrestre, e assinala o equinócio de outono no hemisfério sul, e o equinócio da primavera no hemisfério norte e marca a saída do signo de Peixes, o último do Zodíaco, para o de Áries, o primeiro.

Os raios do Sol incidem nos hemisférios Norte e Sul de forma igual (daí o nome “equinócio”) e o dia e a noite se equilibram, tendo 12 horas cada.

Este momento de harmonia da Natureza, que dá fim ao Inverno no Norte e ao Verão no Sul, marca o Ano Novo Zodiacal. É como se fosse um réveillon astrológico, ideal para você começar uma nova fase com o pé direito. Um grande número de sociedades, mantém a milenar tradição de comemorar o Ano Novo no mês de março, ocasião em que tomam deliberações para o período seguinte, e em singular cerimônia, assumem o compromisso de manter os elevados ideais, bem como o de servir altruisticamente à humanidade.

A comemoração do ano novo é feita através do ritual de Ano Novo Rosacruz, que faz parte do Calendário Anual Permanente de Cerimônias Especiais Rosacruzes e deve celebrado na Convocação Ritualística mais próxima do Equinócio.

A cerimônia é organizada em duas partes. A primeira comemora o simbolicamente a vida, e a segunda, instala os novos oficiais ritualísticos e administrativos, para a nova gestão.

A todos os novos oficiais, os nossos mais sinceros votos de sucesso, que o Deus do nosso coração vós ilumine com luz, vida e amor.

E para todos os Rosacruzes, nossos votos são para que neste novo ano, possamos todos evoluir e que o caminhar na Senda nos traga mais sabedoria, saúde e amor.

Com os mais sinceros votos de paz,

A Paz mais Profunda,

Quero desejar para todos, Rosacruzes ou não,

Raul Tabajara

#rosacrucianismo #Rosacruz

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/feliz-ano-novo-rosacruzes

As Egrégoras e o Carvão

Já recebi este conto várias vezes por email, de diversas Ordens diferentes e acredito que se aplica a qualquer tipo de egrégora. começa mais ou menos assim:

“Um membro de um determinado grupo, ao qual prestava serviços regularmente, sem nenhum aviso deixou de participar de suas atividades.

Após algumas semanas, o líder daquele grupo decidiu visitá-lo. Era uma noite muito fria. O líder encontrou o homem em casa sozinho, sentado diante da lareira, onde ardia um fogo brilhante e acolhedor.

Adivinhando a razão da visita, o homem deu as boas-vindas ao líder, conduziu-o a uma grande cadeira perto da lareira e ficou quieto, esperando. O líder acomodou-se confortavelmente no local indicado, mas não disse nada. No silêncio sério que se formara, apenas contemplava a dança das chamas em torno das achas de lenha, que ardiam.

Ao cabo de alguns minutos, o líder examinou as brasas que se formaram e cuidadosamente selecionou uma delas, a mais incandescente de todas, empurrando-a para o lado.

Voltou então a sentar-se, permanecendo silencioso e imóvel. O anfitrião prestava atenção a tudo, fascinado e quieto.

Aos poucos a chama da brasa solitária diminuía, até que houve um brilho momentâneo e seu fogo apagou-se de vez. Em pouco tempo o que antes era uma festa de calor e luz, agora não passava de um negro, frio e morto pedaço de carvão recoberto de uma espessa camada de fuligem acinzentada.

Nenhuma palavra tinha sido dita desde o protocolar cumprimento inicial entre os dois amigos.

O líder, antes de se preparar para sair, manipulou novamente o carvão frio e inútil, colocando-o de volta no meio do fogo. Quase que imediatamente ele tornou a incandescer, alimentado pela luz e calor dos carvões ardentes em torno dele.

Quando o líder alcançou a porta para partir, seu anfitrião disse:

-Obrigado. Por sua visita e pelo belíssimo sermão. Estou voltando ao convívio do grupo.”

(Autor desconhecido)

#Contos

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/as-egr%C3%A9goras-e-o-carv%C3%A3o

A Sombra e a Luz

A alternância entre a Sombra e a Luz sem dúvida tem fascinado o homem desde a aurora da humanidade, primeiro na natureza terrestre, depois em sua própria natureza.

Na busca da sua verdadeira identidade nesta terra do exílio, o homem hoje se reconhece sombra por sua densidade corporal e se reconhece a luz “porque é aquele que traz em si o que é maior do que ele”.

Este é o ensinamento do Martinista. Mas quantos seres percebem a centelha luminosa que brilha em seu interior? O homem deve necessariamente tomar consciência da essênsia divina em si, se quiser descobrir Deus.

Quer se aperceba disso ou não, o homem é uma chave da Natureza divina e do Universo. Embora Deus se manifeste em suas obras, o homem não pode conhecê-lo perfeitamente em si mesmo, a não ser pela contemplação. Conseqüentemente, o homem tem como futuro tornar-se luz e, como meio, a sabedoria que é a visibilidade de Deus. Essa sabedoria “preside a todos os nascimentos espirituais”, como escreveu Jacob Boehme. Se ele está destinado a se tornar luz é porque seu estado, ou melhor, seus limites o compelem a se elevar para o seu estado primeiro. No mundo manifesto, o homem é limitado por suas próprias esperanças e seus próprios desesperos. Ele não é luz nem trevas, mas uma sombra que tende a se desfazer na medida em que ele se abre para a espiritualidade.

Diz o místico que uma “claridade não luminosa não é percebida”. Os iniciados são atraídos pelos mistérios, ou seja, pela Luz da Verdade, as outras pessoas são atraídas pelas imagens e parábolas, ou seja, pela sombra da Verdade. Essa sombra afeta os pensamentos e os sentimentos, no sentido de que ela é a oposição das virtudes divinas. Por exemplo, a sombra da alegria é a tristeza congelando a vida, como a máscara congela a expressão. Os maus pensamentos são, de algum modo, pensamentos de sombra, onde as virtudes não conseguem se expressar.

O “homem da torrente” é essa claridade não luminosa, porque leva a vida nutrindo-se de pensamentos em grande parte centralizados em sua própria pessoa. Ele tem uma visão incorreta da situação presente e do destino humano, utilizando sua energia e talentos para a finalidade de alimentar sua inquietude. O homem da torrente possui autoridade material, mas não tem a autoridade espiritual, que é o fato de sentir e ouvir a verdadeira Palavra em seu ser. A Palavra divina equilibra a luz e as trevas no corpo do homem, sem o que este seria envenenado pela angústia e aniquilado pelo sofrimento.

A cegueira interior conduz forçosamente às trevas. A vida sempre perde o viço quando não se apoia nos fundamentos divinos. O homem vivencia um inferno passivo quando seus pensamentos não são mais purificados na fonte interior, ou um inferno ativo quando suas paixões o impelem a ações demoníacas.

É importante não confundir o que está oculto com o que está na sombra. A sombra pode ser definida como uma solidão. Somos sós porque nos separamos de Deus. Por extensão, quando nos separemos dos outros homens, freqüentemente é para nos descobrirmos, ou seja, para descobrirmos Deus. A respeito dos mistérios, nosso Venerado Mestre Louis Claude de Saint-Martin dizia que “a origem oculta das coisas é um testemunho de sua eterna e invisível fonte”. Assim, os mistérios são uma chave que aproxima o homem de Deus, enquanto que a sombra é um meio importante para encontrar essa chave. Aliás, tudo que compõe a Criação possui uma sombra, pois “cada coisa deve fazer sua própria revelação”.

Como habitante do mundo, o homem deve sua salvação à misericórdia divina. Estando colocado entre a Divindade e a obscuridade, sua tarefa é espalhar a Verdade para que sejam dissolvidas as sombras que se misturam à Luz. Ele está encarregado de ser um auxiliar de Deus no plano terrestre, para pacificar e aperfeiçoar, ali onde o Divino age através do homem. Consciente, o ser humano tanto tem condições de manifestar grandeza pelo desenvolvimento de suas faculdades nos mais diversos campos, como obscurecer-se na ignorância e na ruína, que são o caminho dos vícios mais odiosos que conduzem às trevas. A inocência infantil irradia todos os elementos benfazejos para a construção de uma vida espiritual, mental e física harmoniosas. Mas esses elementos do bem são com muita freqüência aniquilados por um livre arbítrio e uma vontade que se encontram fechados às leis eternas.

Atravessar caminhos é um estado mental para os homens que ignoram que sua alma é um pensamento de Deus e que, portanto, o destino humano só pode ser espiritual. Em outras palavras, existe um caminho traçado para todos aqueles que sentem o chamado da Verdade, embora não estejam livres de passos em falso e pensamentos negativos. Esses não se desgarram porque se mantêm na estrada real, e só se atrasam devido aos seus erros quando, por exemplo, geram suas angústias e as vivenciam.

No interior do homem, a misericórdia divina se expressa na força que lhe é concedida para poder resistir as fraquezas e às coisas fáceis. Em outras palavras, a Fé o afasta da tentação e suas conseqüencias. Assim como o sangue dissolve e assimila os alimentos, evitando uma intoxicação, assim também essa força, que age sem cessar, decompõe e transforma os pensamentos mais viciosos. Sua eficácia é tanto maior quanto mais prisioneiros do Ego sejam os pensamentos. Essa marca divina, esse princípio universal, é uma fonte da vida eterna que une Deus e o homem numa aliança sagrada ou, como escreve nosso venerado Mestre Louis Claude de Sant-Martin: “Deus e o homem podem se conhecer na luz”. Essa aliança existe em todos os homens, seja qual for seu nível de consciência. E por isso que as sombras turvam o pensamento, mas não podem cristalizá-lo numa forma tenebrosa. É fácil observar sua dissipação e até mesmo seu desaparecimento quando preces e meditações são expressadas em locais tornados sagrados pelo verdadeiro Desejo. O espargimento do sopro divino é então favorecido e banha nossos pensamentos. Estes respiram a pureza ao se eriquecerem com as virtudes mantidas secretas pela mente. Os raios de luz ficam então quase que deslumbrar a consciência.

O verdadeiro Desejo se reveste de uma importância particular para o Martinista. Ele é, na verdade, a passagem obrigatória do cavaleiro para sua reintegração. A luz que não pode ser compreendida, a não ser pela revelação, está no final do caminho. A sombra se revela então sob uma nova forma. Ela não aparece mais como barreira desprezível, e sim como um meio de compreender os homens, e melhor entender suas dúvidas e infelicidade. A angústia talvez não seja mais do que a “oposição entre o desejo tenebroso e o desejo luminoso” enquanto a natureza divina não tiver sido compreendida como uma entidade viva no homem.

A consciência humana é como uma árvore que cresce simultaneamente por obra de suas raizes subterrâneas e também por obra das folhas que absorvem a luz, uma fazendo sombra às outras; o conjunto, entretanto, desenvolve a harmonia.

Analogamente, a adversidade e a riqueza dos pensamentos e experiências constituem o cadinho de evolução da humanidade. Entre sua própria consciência e a dos outros, surgem no homem menos zonas de sombra do que entre seu corpo físico e de outrem, embora estejamos todos infundidos com a Verdade divina. Na consciência, a sombra e a luz parecem não se excluir. Pelo contrário, parecem se misturar para preparar a expanção de um sentimento misterioso: o Sagrado.

O Sagrado está em estado latente em todo o ser humano. Tomas consciência e também fazer tomar consciência é ser esclarecido pelos valores morais universais que não podem nem devem ser ignorados. É, acima de tudo, o meio de aproximar os homens, para que estes se aproximem de Deus. Dedicar-se às consciências, este é o dever exterior do Martinista, desde que ee saiba que seu dever interior é orar.

Quando a luz e sombra se defrontam em seu interior, o homem vive momentos dramáticos, pois existe a incomunicabilidade com Deus, ou seja, a perda total da língua original que o liga a Ele. Os pontos de referência humanos são a ilusão, a idolatria e as iniqüidades. Mas, se pode acontecer do homem não ser capaz de se comunicar com o Divino, o mesmo acontece com o Divino em relação ao Homem. Constantemente um raio de sabedoria penetra na sombra que está no ser, infundindo seus pensamentos e ações. Esse raio luminoso é sentido pelo homem da torrente através de sua densidade corporal e mental. É no seu exterior, entretanto, que ele procura uma correspondência que o ajude a compreender. Neste situação é que acontece de um homem da torrente prestar atenção a um Martinista. Essa ressonância existe porque o Desejo se instala ou se expande no coração do místico.

Em busca da sabedoria, o Martinista tem condições de captar a oposição construtiva entre luz e sombra pela contemplação de sua própria dualidade. O desejo de conhecer Deus torna-se o desejo de servir a Deus, na medida em que ele descobre o Ser Supremo e Seu amor pelo homem. Desse forma, fica predisposto a compreender os homens mais desfavorecidos.

O fardo do Martinista é difícil de carregar, mas seu ardor recebe o auxílio da Mão Divina, unindo sem cessar a vontade humana ao Desejo profundo. Esse Desejo faz do verdadeiro servidor de Deus um gerador de energia, cuja missão é espargir luz para melhor dissolver a angústia e a dúvida que o cercam, transmutando em outros a energia obscura em energia luminosa.

Toda a obra do Martinista se encontra na maneira de administrar os assuntos de Deus e não legislar em Seu lugar, pois em conseqüência disto o homem paga hoje um pesado tributo. Por isso, ele não deve se preocupar com seu progresso na senda divina, nem limitar-se na ação ao seu nível de consciência, pois a luz se harmoniza com seu ser. A única necessidade assume a forma do Desejo de serviço, ao longo de toda sua evolução.

O estudante Martinista desenvolve suas virtudes na sombra, ou seja, sobre uma base da mesma natureza que a dele, pois seus pensamentos ainda estão alterados pelas nuvens da ignorância, a despeito de uma vontade serena e uma esperança viva. Sua alma deve ser reanimada pela iniciação e forjada pela experiência.

O homem de desejo a luz velada. Ele sai da sombra e vive na claridade, tendo descoberto o fogo da virtude que o harmoniza e lhe confere a missão de mostrar Deus no coração dos outros homens.

O novo homem é o pensamento de Deus. Ele está na luz. O reino de seu amor e de sua ação ali se encontra doravante, tendo ele cessado de acreditar na barreira imaginária da consciência dos homens. Suas convicções mentais deram lugar a revelação e Deus se expressa através de suas palavras.

Assim, ao tornar-se um “obreiro” de Deus, o Martinista prepara a reintegração de seus semelhantes e participa da elevação de outras criaturas viventes. Sua menssagem não é simplismente fazer sentir que a luz está no homem? Jacob Boehme disse que a luz é “o símbolo da expansão de um ser por sua elevação, enquanto que a obscuridade simboliza o estado depressivo da ansiedade e de seu rebaixamento”.

Se toda luz pressupõe uma sombra, não há qualquer dúvida de que é a sombra que deve servir à luz e não o inverso. O homem não poderá se desgarrar se seguir com o olhar interior o raio que une sua sombra com a claridade, o qual ele é suscetível de ver em seus momentos de meditação e elevação espiritual. Em harmonia consigo mesmo, ele não pode recusar a Palavra luminosa. Ele tem tudo para reconhecê-la, não como um possível substituto para os seus sentidos, mas como um princípio de sua natureza. A visão ensombrada, velada, dos sentidos não é o intervalo entre a cegueira das Trevas e o olhar luminoso para o Absoluto? Neste sentido, lembremo-nos sempre das palavras de São João: “A luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a compreenderam”.

Texto da revista “O Pentáculo da Ordem Tradicional Martinista, ano IV nº IV, achado no blog do Mathayus

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-sombra-e-a-luz

O sermão na Montanha

Um texto pouco conhecido do Eliphas Levi, que mostra um pouco do lado Martinista deste Mago.

“Depois de Jesus ter repelido numa visão todas as coroas da Terra que lhe eram oferecidas pelo gênio do mal, a quem elas pertenciam, e que lhe propunha comprar a tirania ao preço de escravidão, como estava na lei do velho mundo; Depois de ter dominado a fome, o orgulho e a ambição do poder, Jesus, o conquistador pacífico, subiu a montanha, e, cercado de pastores e pecadores, começou seu primeiro discurso: Bem-aventurados aqueles que são pobres de espírito, porque a eles pertence o reino dos céus! Isso queria dizer: Infelizes os escravos da riqueza egoísta, porque só acumularão a miséria eterna! Bem-aventurados aqueles que são dóceis, porque possuirão a terra! É como se dissesse: Infelizes os que querem reinar sobre a terra pela violência, porque o poder lhes escapará!

Bem-aventurados aqueles que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados aqueles que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.

Pobres e deserdados, esperai pois! o cristianismo vos abre a porta de um futuro feliz. Bemaventurados os misericordiosos, porque obterão a misericórdia! Compreendemos que a frase acima quer dizer também: Infelizes os homens sem piedade, porque não haverá piedade para eles! Bemaventurados aqueles que têm o coração puro, porque verão Deus! Deus é a verdade e a justiça. Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados de filhos de Deus! Um de nossos poetas disse: o amor é mais forte do que a guerra. A força bruta passará e se consumirá, mas a razão calma e senhora de si mesma triunfará e terá sempre um novo poder! Bem-aventurados aqueles que sofrem perseguição pela justiça, porque a eles pertence o reino do céu! É perdoando que os mártires provam sua realeza. Quem persegue, abdica, e quem sofre, resiste. Resistir é poder, e poder é reinar. Não vim para destruir, mas para realizar, dizia ainda o filho do carpinteiro, declarando-se assim o iniciador do progresso.

O que dizia então ao judaísmo podemos dizê-lo ao catolicismo, nós, os homens do progresso religioso; nós, seus discípulos e continuadores de sua obra! Se vossa justiça, dizia ele, não é mais rica que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus, e podemos dizer: Se não sois melhores e mais justos que os mais ardentes do

velho mundo e da Idade Média, não entrareis na associação universal do cristianismo realizado. Cristo disse: Aquele que injuriar seu irmão merecerá condenação; e nós dizemos: Aquele que não cuidar de seu irmão e que tratar como estranho um só membro da família humana, merecerá ser renegado pela família e terá lugar no julgamento dos fratricidas. Cristo disse: Perdoai sempre, e nós dizemos: Não vos ofendais mesmo com o mal que vos possam fazer. Os maus são doentes, tratai-os e não vos irriteis contra eles. Ele disse: Prestai atenção, antes do vosso sacrifício, se vosso irmão não tem alguma coisa contra vós e ide reconciliar-vos com ele antes de vossa

prece. E dizemos: Antes de vos sentardes à mesa perguntei a vosso irmão se não precisa de nada; dai primeiramente uma parte de vosso pão a quem não o tem, em seguida sentai no banquete da comunhão e Deus vos reconhecerá como seus filhos.

Ele disse: Aquele que abandona sua mulher é um adúltero, e aquele que rechaça sua companheira a impele à prostituição. E nós dizemos: Aquele que prostitui uma mulher, ultraja sua mãe, e aquele que casa sua filha por dinheiro, vende sua filha, e aquele que compra ou vende uma mulher, a prostitui; porque a essência do casamento é o amor e as relações conjugais sem amor são a impureza. Cristo disse: Não jureis, mas que vossa palavra seja sagrada. E nós dizemos: Para que a palavra seja sagrada é necessário que ela seja livre. Libertemos a inteligência; não fechemos a boca senão à mentira. Aquele que sufoca a palavra verdadeira é um deicida. Condenar não é responder. Perseguir uma idéia é sancioná-la. Um homem inteligente que fala fora de tempo pode não ter razão, para julgar é preciso ouvi-lo. Aquele que é forçado a se calar tem sempre razão. Quanto à perversidade e à estupidez, o próprio bom senso impõe-lhes silêncio. Ele disse:

Oferece a face esquerda se te baterem na direita; e se te tomarem a túnica, abandona também teu manto. E nós dizemos a nossos irmãos: Quando vos caluniarem por ter dito a verdade ireis vos expor ainda à injustiça, e quando tiverdes sofrido a injúria e a calúnia, ireis vos expor com júbilo à miséria e à morte no desprezo. Quanto mais vossos inimigos vos batem, mais eles enfraquecem; quanto mais sofreis, mais sois fortes. Cristo disse: Não sejais hipócritas. E nós dizemos: Prestai solicitude a todos, falai menos de moral e sede menos infames. Sede francos e modestamente homens, e não procureis encobrir as torpezas da estupidez sob as asas de um anjo. Ele disse: Não se pode servir a Deus e ao dinheiro. E nós dizemos:

A propriedade não se faz respeitar quando não tem por origem o trabalho e por regra a fraternidade na associação. Ele disse: Não julgueis e não sereis julgados. E nós dizemos: Operai a transformação da penalidade em higiene moral, levantai aquele que cai e não batais nele; daí às enfermidades morais tratamentos morais, e não punições ímpias; não gireis em um círculo sangrento punindo o homicídio, porque agindo dessa forma dais de algum modo razão aos assassinos e perpetuais uma guerra de canibais. Se quereis que o homicídio seja realmente um crime, fazei com que não seja jamais um direito, e lembrai-vos desse condenado que dizia: Assassinando, arrisquei minha cabeça; vós ganhais, eu pago: estamos quites. E em seu pensamento acrescentava: Somos iguais. Cristo disse: Procurai primeiramente o reino de Deus e sua justiça e o resto vos será dado por acréscimo. E nós dizemos: O reino de Deus não é o reino da fome para Lázaro e das orgias do rico mau. O reino de Deus é o sol para todos, e a terra para todos é a fraternidade do trabalho, é a prostituição tornada impossível pelo respeito à mulher, é a escada social acessível, em todos os seus degraus, ao trabalho e mérito de todos. É o trabalho para todos; é a família para todos, é a propriedade para todos, é o reino da razão, é o sacerdócio do amor, é a comunhão de cada um em todos e de todos em cada um, é a unidade divina e humana, Deus vivo na humanidade, o Cristo ressuscitado e vivo no grande corpo do povo cristão; a liberdade progressiva e submetida à ordem, a igualdade relativa na ordem da hierarquia e a fraternidade distribuindo tudo a todos, segundo as leis da harmonia, que é a eterna sabedoria.

#Martinismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-serm%C3%A3o-na-montanha

A Nuvem sobre o Santuário – Carta 3

Por Karl von Eckartshausen.

A verdade que se encontra no mais íntimo dos mistérios, é semelhante ao Sol; só é permitido ao olhar da águia (a alma do homem capaz de receber a luz), fixá-lo. A visão de outro qualquer mortal é ofuscada e a penumbra o envolve na própria luz.

Jamais a sublime “qualquer coisa” que está no mais íntimo dos santas mistérios se ocultou ao olhar da águia, daquele que é capaz de receber a luz.

Deus e a natureza não têm mistérios para seus filhos. O mistério existe somente na fraqueza do nosso ser, incapaz de suportar a luz, e ainda sem preparo para vislumbrar em toda sua pureza a verdade nua.

Esta fraqueza é a nuvem que cobre o santuário; o véu que oculta o Santo dos Santos.

Mas para que o homem pudesse recuperar a luz, a força e dignidade perdidas, a divindade amante abaixou-se à fraqueza de suas criaturas e escreveu as verdades e os mistérios interiores e eternos, no exterior das coisas, a fim de que o homem pudesse elevar-se por elas até o espírito.

Estes textos são as cerimônias ou o exterior da religião, que conduz ao espírito interior de união com Deus, ativo e cheio de vida.

Os hieróglifos dos mistérios são também partes destes textos; eles são os esquemas e os desenhos das verdades interiores e santas, que cobre o véu estendido sobre o Santuário.

A religião e os mistérios se unem para conduzir todos os nossos irmãos a uma verdade, ambos têm por finalidade uma transposição, uma renovação de nosso ser. Os dois têm por fim a reedificação de um templo no qual a sabedoria habite com o amor, Deus com o homem. Mas a religião e os mistérios seriam fenômenos inteiramente inúteis, se a Divindade não lhes houvesse dado os meios efetivos para alcançar seus grandes fins.

Ora, estes meios sempre têm estado no Santuário o mais interno; os Mistérios estão destinados a construir um templo à Religião, e a Religião está destinada a reunir nele os homens com Deus.

Tal é a grandeza da religião e esta tem sido a alta dignidade dos mistérios de todos os tempos.

Seria ultrajante para vós, irmãos intimamente amados, se pudéssemos pensar que não tivésseis “jamais” contemplado os santos mistérios em seu verdadeiro ponto de vista, que os representa como o único meio de conservar na sua pureza e sua integridade, a doutrina das verdades importantes sobre Deus, a natureza e o homem; esta doutrina estava encerrada na santa linguagem dos símbolos e as verdades que ela continha, tendo sido traduzidas pouco a pouco entre os profanos na sua linguagem comum, tornaram-se cada vez mais obscuras e mais ininteligíveis.

Os mistérios, como sabeis, irmãos caríssimos, prometem coisas que serão sempre a herança de um pequeno número de homens; mistérios que não podem ser vendidos nem ensinados publicamente, são segredos que só podem ser recebidos por um coração que se esforça para adquirir a sabedoria e o amor e aonde a sabedoria e o amor já tenham sido despertados.

Aquele no qual esta chama santa foi despertada, vive completamente feliz, contente com tudo e sente-se livre até na escravidão. Ele vê a causa da corrupção humana e sabe que ela é inevitável. Não odeia nenhum criminoso, deplora e procura levantar aquele que cai, chamando para si ao que se extraviou; não extingue o pavio que bruxuleia e de maneira alguma acaba de quebrar o caniço envergado, porque ele sente que apesar de toda corrupção, nada existe corrompido em sua totalidade.

Ele penetra num olhar firme a verdade de todos os sistemas religiosos em seus alicerces; ele conhece as origens da superstição e da incredulidade como sendo as modificações da verdade, que ainda não atingiram seu equilíbrio.

Estamos certos, dignos irmãos, que considerais o homem místico deste ponto de vista e que não atribuis de modo algum, à sua “arte real”, aquilo que a atividade desregrada de alguns indivíduos isolados tenha feito dele.

É com estes princípios, que são inteiramente os nossos, que vós considerais a religião e os mistérios das santas escolas da sabedoria como irmãos que, dando-se às mãos, têm velado pelo bem de todos os homens desde o seu nascimento.

A religião se divide em uma religião exterior e uma interior. A religião exterior tem por objeto o culto e as cerimônias, e a religião interior, a adoração em espírito e em verdade.

As escolas de sabedoria dividem-se também em escolas exteriores e interiores. As escolas exteriores possuem a letra dos hieróglifos, e as escolas interiores, o espírito e o sentido.

A religião exterior está ligada à religião interior pelas cerimônias.

As escolas exteriores dos mistérios ligam-se, pelos hieróglifos com o interior.

Mas aproximamo-nos agora dos tempos em que o espírito deve tornar a letra viva, a nuvem que cobre o Santuário desaparecerá, os hieróglifos passarão à visão real, as palavras ao entendimento.

Aproximamo-nos dos tempos em que será rasgado o grande véu que cobre o Santo dos Santos. Aquele que venera os santos mistérios não se fará mais compreender por palavras e sinais exteriores, mas pelo espírito das palavras e a verdade dos símbolos.

Assim é que a religião não será mais um cerimonial exterior, mas os mistérios interiores e santos transfigurarão o culto exterior a fim de preparar os homens à adoração de Deus em espírito e em verdade.

Não tardará que a noite escura da linguagem das imagens desapareça, a luz engendrará o dia e a santa obscuridade dos mistérios se manifestará no esplendor, da mais alta verdade.

Os caminhos da luz estão preparados para os eleitos e para aqueles que são capazes de por ele marcharem. A luz da natureza, a luz da razão e a luz da revelação se unirão.

O átrio da natureza, o templo da razão, e o santuário da revelação formarão um só Templo. É assim que o grande edifício será completamente concluído, edifício que consiste na reunião do homem com a natureza e com Deus.

O conhecimento perfeito de Deus, do homem e da natureza, serão as luzes que iluminarão os condutores da humanidade para reconduzir de todos os lados os homens seus irmãos, das verdades obscuras dos preconceitos, à razão pura, e dos recônditos das paixões tumultuosas aos caminhos da paz e da virtude.

A coroa daqueles que governam o mundo será a razão pura, seu cetro, o amor ativo, e o Santuário lhes dará a unção e a força para libertar o entendimento dos povos dos preconceitos e das trevas, seus corações das paixões, do amor próprio é do egoísmo, e sua existência física da pobreza e da doença.

Aproximamo-nos do reino da luz, do reino da sabedoria e do amor, de reino de Deus que é a origem da luz; irmãos da luz, existe somente uma religião cuja verdade simples encontra-se dividida em todas as religiões como ramos, para retornar da multiplicidade a uma religião única.

Filhos da verdade, não há senão uma ordem, uma fraternidade, uma associação de homens unidos para adquirir a luz. Deste centro, o mal-entendido fez surgir ordens inumeráveis; todas voltarão da multiplicidade de opiniões à verdade única e a verdadeira associação daqueles que são capazes de receber a luz ou a Comunidade dos Eleitos.

Com esta medida deve-se medir todas as religiões e todas as associações dos homens.

A multiplicidade está no cerimonial exterior, no interior a verdade é uma só.

A causa da multiplicidade das confrarias está na multiplicidade de explicação dos símbolos segundo o tempo, as necessidades e as circunstâncias. A verdadeira comunidade da Luz não pode ser senão uma.

Todo exterior é um envoltório que cobre o interior, assim é que todo exterior é também uma letra que se multiplica sempre, mas que não muda nem enfraquece jamais a simplicidade do espírito no interior.

A letra era necessária, devíamos encontrá-la, compô-lo e aprender a decifrá-la para recobrar o sentido interior, o espírito.

Todos os erros, todas as divisões, todos os mal-entendidos, tudo o que nas religiões e nas associações secretas, dá lugar a tantos erros, somente diz respeito à letra; tudo isso se relaciona somente com o véu exterior sobre o qual os hieróglifos, as cerimônias e os ritos são escritos; nada toca o interior, o espírito permanece intacto e santo.

Presentemente os tempos de realização para os que procuram a luz se aproximam.

Aproxima-se o tempo em que o velho deve ser ligado ao novo, o exterior ao interior, o alto ao baixo, o coração à razão, o homem a Deus, e esta época está reservada à presente idade.

Não me pergunteis, irmãos bem amados… por que na presente idade?

Tudo tem seu tempo para os seres que vivem no tempo e no espaço; assim é que, são as leis invariáveis da Sabedoria de Deus que coordenam tudo de acordo com a harmonia e a perfeição.

Os eleitos deviam primeiramente trabalhar para adquirir a sabedoria e o amor até que fossem capazes de merecer o poder que a invariável Divindade só poderá dar àqueles que conhecem e àqueles que amam.

Durante as trevas da noite espera-se a alvorada; depois o sol se levanta e atinge o meio dia onde toda sombra desaparece ante sua luz direta. No princípio a letra da verdade devia existir, em seguida veio a explicação prática, depois a própria verdade e não foi senão após ela que o Espírito de Verdade pode vir, o qual confirma a verdade e imprime o selo que autentica a luz.

Aquele que está ao alcance da verdade nos entenderá.

É a vós, irmãos intimamente amados, que vos esforçais para adquirir a verdade, que haveis conservado fielmente os hieróglifos dos santos mistérios no vosso templo, é para vos que se dirige o primeiro raio de luz, este raio penetra através das nuvens dos mistérios para anunciar o meio-dia e os tesouros que traz.

Não pergunteis “quem” são aqueles que vos escrevem; olhai o espírito e não a letra, a coisa e não as pessoas.

Nenhum egoísmo, nenhum orgulho ou móbil de baixos sentimentos reina em nosso incógnito. Conhecemos a finalidade do destino dos homens e a luz que nos ilumina guia todas nossas ações.

Somos especialmente chamados para vos escrever, irmãos bem amados na luz; e o que dá vida a nossa incumbência, são as verdades que possuímos e que vos comunicaremos ao menor indício de acordo com a medida de capacidade de cada um.

A comunicação é própria à luz, onde há receptividade e capacidade para ela, mas não obriga ninguém, e aguarda que queiram recebê-la espontaneamente.

Nosso desejo, nossa finalidade, nosso encargo é vivificar por toda parte a letra morta e fazer retornar aos hieróglifos o espírito vivo; e transformar o inativo em ativo, a morte em vida; não podemos realizar tudo isto por nós mesmos, mas pelo Espírito de Luz Daquele que é a Sabedoria, o Amor e a Luz do mundo, e deseja tornar-se também vosso espírito e vossa luz.

Até o presente, o Santuário, o mais interno, foi separado do Templo, e o Templo assediado por aqueles que estavam no exterior; aproxima-se o tempo em que o Santuário interior deve reunir-se ao Templo, para que, aqueles que nele se encontram, possam agir sobre os que estão nos átrios, até que tudo se converta em um só templo.

No nosso santuário, todos os mistérios do espírito e da verdade são conservados puramente; ele não pode ser jamais violado pelos profanos, nem maculado pelos impuros.

Este santuário é invisível como o é uma força que se conhece apenas pela própria ação.

Por esta curta descrição, caros irmãos, podeis julgar quem somos e seria supérfluo assegurar-vos que não fazemos parte dessas cabeças inquietas que, no mundo profano, querem erigir um ideal de suas próprias fantasias. Também não pertencemos àqueles que desejam representar grandes papéis no mundo e prometem prodígios que eles próprios não compreendem. Tão pouco pertencemos a essa classe de descontentes que desejariam vingar-se de sua categoria inferior, ou que têm por finalidade a sede de dominar, o gosto das aventuras e das coisas extravagantes.

Podemos assegurar-vos que não pertencemos a nenhuma outra seita e nenhuma outra associação, que a grande e verdadeira associação de todos aqueles que são capazes de receber a luz, e, nenhuma parcialidade, qualquer que seja ela, terminando por “us” ou por “er” não tem a menor influência sobre nós.

Também não pertencemos àqueles que se julgam no direito de subjugar tudo segundo seus planos e têm a arrogância de querer reformar todas as sociedades; podemos assegurar-vos com fidelidade que conhecemos exatamente o mais íntimo da Religião e dos Santos Mistérios; e que também possuímos realmente aquilo que sempre conjeturou-se estar na profundidade interna do ser, e que esta mesma posse nos dá a força de legitimarmos nosso encargo, e de comunicar por toda parte, ao hieróglifo, à letra morta, o espírito e a vida.

Os tesouros de, nosso santuário são grandes; nós possuímos o sentido e o espírito de todos os hieróglifos e de todas as cerimônias que existiram desde o dia da Criação até os nossos tempos; e as verdades, as mais internas, de todos os Livros Sagrados, com as razões dos ritos dos mais antigos povos.

Possuímos uma luz que nos unge e pela qual percebemos o mais oculto e o mais interior da natureza.

Possuímos um fogo que nos alimenta e nos dá a força para agir sobre tudo aquilo que está na natureza. Possuímos uma “Chave para abrir” as portas dos mistérios, e uma “chave para fechar” o laboratório da natureza.

Possuímos o conhecimento de um elo para nos ligar aos mundos superiores e transmitir-nos suas linguagens.

Todo o maravilhoso da natureza está subordinado ao poder de nossa vontade em união com a Divindade.

Possuímos a ciência que interroga a própria natureza, onde não existe o erro, mas somente a verdade e a luz.

Na nossa escola, tudo pode ser ensinado; pois nosso mestre é a própria Luz e o seu Espírito. A plenitude de nosso saber é o conhecimento da correspondência do mundo divino cora o mundo espiritual, deste com a mundo elemental, e, do inundo elemental com o mundo material.

Por estes conhecimentos estamos em condições de coordenar os espíritos da natureza e o coração do homem.

Nossas ciências são a herança prometida aos Eleitos ou àqueles que são capazes de receber a luz e a prática de nossa ciência é a plenitude da Divina Aliança com os filhos dos homens.

Poderíamos vos contar, queridos irmãos, coisas maravilhosas que estão ocultas no tesouro do Santuário, coisas tais que vos deixariam admirados e fora de vós mesmos; poderíamos vos falar de coisas de cuja concepção, o filósofo, pensando o mais profundamente possível, está tão afastado como a terra do sol, e das quais estamos tão próximos, como o está o ser mais interior de todos da luz mais profunda.

Mas a nossa intenção não é de excitar vossa curiosidade; a única persuasão interior e a sede do bem dos nossos irmãos deve impelir aquele que é capaz de receber a luz na fonte, onde sua sede de sabedoria pode ser aplacada e a fome de amor saciada.

A sabedoria e o amor habitam no nosso íntimo, lá não reina nenhum constrangimento; a verdade de suas incitações é o nosso poder mágico.

Podemos assegurar que tesouros de um valor infinito estão nos mistérios mais íntimos; asseguramos, também que tal simplicidade os envolve, que permanecerão sempre inacessíveis ao sábio orgulhoso, e ainda que tais tesouros, cuja procura traz a muitos profanos inquietação e loucura, são e permanecerão para nós a verdadeira sabedoria.

Bênçãos para vós meus irmãos, se sentis estas grandes verdades. A recuperação do “Tríplice Verbo” e de sua força será vossa recompensa. Vossa felicidade será a de ter a força de contribuir a reconciliar os homens com os homens, a natureza e Deus; aquele que é o verdadeiro trabalho de todo obreiro que não rejeitou a “Pedra Angular”.

Agora nós cumprimos nosso encargo e anunciamos a aproximação do grande meio-dia, e a reunião do Santuário o mais interior com o Templo.

Deixamos o resto à vossa livre vontade.

Sabemos bem, para nosso amargo desgosto, que assim como o Salvador foi pessoalmente desconhecido, ridicularizado e perseguido quando veio na Sua humildade, assim Seu Espírito que aparecerá na glória, será rejeitado e ridicularizado por muitos. Apesar disto o advento do Seu Espírito deve ser anunciado nos templos, para que aquilo que está escrito se realize.

“Bati às vossas portas e vós não as abristes; Chamei e vós não escutastes Minha voz; convidei-vos para as bodas e estáveis ocupados com outras coisas”.

A Paz e a Luz do Espírito estejam convosco.

#Martinismo #Ocultismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-nuvem-sobre-o-santu%C3%A1rio-carta-3

A Nuvem sobre o Santuário – Carta 1

Por Karl von Eckartshausen.

O nosso século é de preferência a qualquer outro o mais notável para o observador imparcial e sereno. Por toda parte existe fermentação tanto na alma como no coração do homem; encontra-se a cada passo o combate da luz e das trevas, de idéias mortas e idéias vivas, da vontade morta e inerte com a força viva e ativa; se vê por todo lado enfim, a guerra entre o homem animal e o homem espiritual que desperta.

Homem natural renuncia às tuas últimas forças; até teu próprio combate revela a tua natureza superior que repousa em teu seio. Presentes a tua dignidade, tu a sentes mesmo; porém tudo é ainda obscuro ao teu redor e a lâmpada da tua pálida razão não é suficiente para iluminar os objetos aos quais deverias aspirar.

Diz-se que vivemos no século das luzes e seria mais justo dizer que vivemos no século do crepúsculo: aqui e ali, o raio luminoso penetra através da nuvem das trevas, mas ele não ilumina ainda com toda a sua pureza nossa razão e nosso coração. Os homens não estão de acordo sobre as suas concepções: sábios disputam; e onde há disputa, não existe a luz nem se conhece a verdade.

Os objetos mais importantes para a humanidade são ainda indeterminados. Não se está de acordo nem sobre o princípio da razão, nem sobre o princípio da moralidade ou do móbil da vontade. Isto prova que mau grado estejamos na grande época das luzes, ainda não sabemos bem o que ela representa em nosso cérebro e em nosso coração.

Seria possível que nós soubéssemos tudo isto mais cedo, se não imaginássemos que temos já a flama do conhecimento em nossas mãos, ou se pudéssemos lançar um olhar sobre a nossa fraqueza e reconhecer que ainda nos falta uma luz mais elevada.

Nós vivemos nos tempos da idolatria da razão, depositamos uma tocha sobre o altar, proclamamos em altas vozes que a aurora está despontando e que por toda parte o dia aparece realmente, e deste modo o mundo se eleva cada vez mais da obscuridade à luz e a perfeição, pelas artes, as ciências, gosto refinado ou mesmo por uma perfeita compreensão da religião.

Pobres homens! até onde haveis exaltado a felicidade dos homens?

Existiu jamais um século que tivesse custado tantas vítimas como o presente? Existiu jamais um século no qual a imoralidade e o egoísmo tenham predominado mais do que neste? Conhece-se a árvore pelos seus frutos.

Insensatos!… Com o vosso falso raciocínio… onde obtivesses a luz com a qual quereis esclarecer os outros? Será que todas as vossas idéias não são tiradas dos sentidos, que não vos dão qualquer verdade mas somente os fenômenos externos?

Tudo aquilo que dá o conhecimento no tempo e no espaço não é relativo? Tudo aquilo que nós podemos chamar verdadeiro, não é apenas uma verdade relativa?… Não se pode achar a verdade absoluta na esfera dos fenômenos externos.

Assim sendo, vosso raciocínio não possui a “Essencialidade” mas somente a aparência da verdade e da Luz; assim é que, quanto mais esta aparência aumenta e se expande, mais a “Essência da luz” decresce no interior, e o homem se perde na aparência e tateia para atingir as fantásticas imagens despidas de realidade.

A filosofia do nosso século eleva a fraca razão natural a objetividade independente; atribuindo-lhe mesmo um poder legislativo, isentando-a de uma autoridade superior. Torna-a autônoma e a diviniza, suprimindo entre Deus e ela toda relação, toda comunicação, e esta razão deificada, que não tem outra lei que a sua própria, deve governar os homens e torná-los felizes!… As trevas devem expandir a luz!… A pobreza deve dar a riqueza!… E a morte deve dar a vida!…

A verdade conduz os homens à felicidade… Podeis vós dá-la?

O que, vós chamais verdade é uma forma de concepção vazia de substância cujo conhecimento foi adquirido externamente, pelos sentidos; o entendimento coordena-os por uma síntese das relações observadas em ciência ou em opiniões. Vós não tendes absolutamente verdade material, o princípio espiritual e material é para vós um Número.

Retirais das Escrituras e da tradição a verdade moral, teórica e prática; mas como a individualidade é o princípio de vossa razão, e o egoísmo é o móbil da vossa vontade, não vedes a vossa luz interior, a lei moral que governa todas as coisas, ou a rechaçais com a vossa vontade. É até lá que as luzes atuais foram conduzidas. A individualidade sob o manto da hipocrisia filosófica, é a filha da corrupção.

Quem pode afirmar que o sol está em pleno meio dia, se nenhum raio luminoso alegra a terra e nenhum calor vivifica as plantas? Se a sabedoria não melhora os homens e o amor não os torna mais felizes, bem pouca coisa se fez ainda para o todo.

Oh! se somente o homem natural ou o homem dos sentidos pudesse perceber que o principio de sua razão e o móbil de sua vontade, são somente a individualidade, e que por isto mesmo, ele devia ser extremamente miserável, procuraria um princípio mais elevado no seu interior, e aproximar-se-ia da única fonte que pode saciar a todos, porque ela é a “Sabedoria na sua própria essência”.

J.C. é a Sabedoria, a Verdade e o Amor. Como Sabedoria Ele é o princípio da razão, a fonte do conhecimento, a mais pura. Como Amor Ele é o princípio da moralidade, o móbil essencial e puro da vontade.

O Amor e a Sabedoria engendram o Espírito da Verdade, a luz interior, esta luz ilumina em nós os objetos sobrenaturais e os torna objetivos.

É inconcebível observar até que ponto o homem cai no erro quando ele abandona as verdades simples da fé, e a elas opõe a sua própria opinião.

Nosso século procura definir cerebralmente o princípio da razão e da moralidade, ou do móbil da vontade; se os senhores sábios estivessem atentos, veriam que estas coisas encontrariam melhor resposta no coração do homem, mais simples, que em todos os seus brilhantes raciocínios.

O cristão prático encontra este móbil da vontade, princípio de toda imoralidade, objetiva e realmente no seu coração e este móbil se exprime na seguinte fórmula:

“Ama a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo”.

O amor de Deus e do próximo é, o móbil da vontade do cristão; e a essência do próprio amor é Jesus Cristo em nós.

Assim é que o princípio da razão é a sabedoria em nós; e, a essência da sabedoria, a sabedoria em sua substância é ainda J.C. – a Luz do Mundo. Assim encontramos nele o principio da razão e da moralidade.

Tudo o que eu digo aqui não é, uma extravagância hiperfísica, é a realidade, a verdade absoluta que cada um pode comprovar experimentalmente desde que recebe em si o princípio da razão e da moralidade, J.C. como sendo a Sabedoria e o Amor essenciais.

Mas a visão do homem dos sentidos é profundamente inapta para captar a base absoluta de tudo aquilo que é verdadeiro o transcendental. Mesmo a razão que nós queremos elevar hoje sobre o trono como legisladora, é tão somente a razão dos sentidos, cuja luz difere da luz transcendental, como a fosforescência do fogo-fátuo difere do esplendor do sol.

A verdade absoluta não existe para o homem dos sentidos mas somente para o homem interior e espiritual que possui um sensorium próprio; ou, para dizer mais precisamente, que possui sentido interior para perceber a verdade absoluta do mundo transcendental; um sentido espiritual que percebe os objetos espirituais tão naturalmente em objetividade, como o sentido exterior percebe os objetos exteriores.

Este sentido interior do homem espiritual, este sensorium de um mundo metafísico não é, infelizmente ainda conhecido de todos, é um mistério do reino de Deus.

A incredulidade atual para todas as coisas onde a razão dos nossos sentidos não encontra ponto de objetividade sensível, é a causa que nos faz desconhecer as verdades, as mais importantes para o homem.

Mas, como poderia ser de outra forma? Para ver é necessário ter olhos; para ouvir, ouvidos. Todo objeto sensível requer seu sentido. Assim é que o objeto transcendental requer também seu sensorium, – e este mesmo sensorium está fechado para a maioria dos homens. Desta forma o homem dos sentidos julga o mundo metafísico como o cego julga as cores, e como o surdo julga o som.

Existe um princípio objetivo e substancial da razão e um móbil objetivo e substancial da vontade. Estes dois conjuntos formam o novo princípio da vida cuja imoralidade, é essencialmente inerente. Esta substância pura da razão e da vontade reunidas é o divino e o humano em nós; J.-C. a Luz do mundo que deve entrar em relação direta conosco para ser realmente conhecida.

Este conhecimento real é a fé viva onde tudo se passa em espírito e em verdade.

Assim, deve existir necessariamente para essa comunicação um sensorium organizado e espiritual, um órgão espiritual e interior, susceptível de receber essa luz, mas que está fechado na maioria dos homens pela espessura dos sentidos.

Esse órgão interior é o sentido intuitivo do mundo transcendental, e antes que esse sentido de intuição seja aberto em nós, não podemos ter nenhuma certeza objetiva da verdade mais elevada. Este órgão foi fechado por conseqüência da queda, que atirou o homem no mundo dos sentidos.

A matéria grosseira que envolve esse sensorium interior é uma catarata, ou véu que cobre a visão interior, tornando a visão exterior inapta à visão do mundo espiritual. Esta mesma natureza ensurdece nosso ouvido interior, de maneira que não ouvimos mais os sons do mundo metafísico; ela paralisa nossa língua interior, de maneira que nós não podemos mais nem mesmo balbuciar as palavras de força do espírito que pronunciávamos outrora pelas quais nós governávamos a natureza exterior e os elementos.

A abertura desse sensorium espiritual é o mistério do Novo Homem, o mistério da Regeneração e da união a mais íntimo do homem com Deus; é a meta mais elevada da religião aqui em baixo, desta religião cuja finalidade mais sublime é de unir os homens a Deus em Espírito e Verdade.

Podemos facilmente perceber por meio disto, porque a religião tende sempre à sujeição do homem material. Ela age assim porque quer tornar o homem espiritual dominante, afim de que o homem espiritual ou verdadeiramente racional governe o homem dos sentidos.

O filósofo sente também esta verdade; seu erro somente consiste em não conhecer o Verdadeiro princípio da razão e querer colocar em seu lugar a sua individualidade, sua razão dos sentidos.

Como o homem possui em seu interior um órgão espiritual e um sensorium para receber o principio real da razão ou a Sabedoria divina, e o móbil real da vontade, ou o Amor divino, ele possui também no seu exterior, um sensorium físico e material para receber “a aparência” da, luz e da verdade. Como a natureza exterior não possui a verdade absoluta, mas somente a verdade relativa do mundo fenomenal, assim também a razão humana não pode mais adquirir verdades inteligíveis, mas somente a aparência do fenômeno que apenas excita nela, para móbil de sua vontade, a concupiscência, no que consiste a corrupção do homem sensorial e a degradação da natureza.

O sensorium externo do homem é composto de matéria corruptível, enquanto que o sensorium interior tem por substrato fundamental, substância incorruptível, transcendental e metafísica.

O primeiro é causa de nossa depravação e nossa mortalidade; o segundo é o princípio de nossa incorruptibilidade e imortalidade.

Nos domínios da natureza material e corruptível, a mortalidade esconde a imortalidade e a causa de nosso estado miserável é a matéria corruptível e perecível. Para que o homem seja libertado desta angústia, é necessário que o princípio imortal e incorruptível que está em seu íntimo se exteriorize e absorva o princípio corruptível, a fim de que o invólucro dos sentidos seja destruído e que o homem possa aparecer na sua pureza original.

Este invólucro da natureza sensível é uma substância essencialmente corruptível, que se encontra em nosso sangue, forma as ligações da carne e escraviza nosso espírito imortal a essa carne mortal.

É possível romper mais ou menos esse envoltório em cada homem e em conseqüência conceder a seu espírito, uma liberdade mais ampla, para que ele chegue a um conhecimento mais preciso do mundo transcendental.

Há três graus sucessivos de abertura em nosso sensorium espiritual.

O primeiro apenas nos eleva ao plano moral e o mundo transcendental, aí age em nós por impulsos interiores, chamados inspirações.

O segundo grau, mais elevado, abre nosso sensorium para a recepção do espiritual e do intelectual, e o mundo metafísico age em nós por iluminações interiores.

O terceiro é mais alto grau – o mais raramente alcançado – desperta o homem interior por completo. Ele nos revela o Reino do Espírito e nos torna susceptíveis de experimentar objetivamente as realidades metafísicas e transcendentais; daí todas as visões são explicadas fundamentalmente. Assim sendo, nós temos no interior, o sentido e a objetividade, como no exterior. Somente os objetos e os sentidos são diferentes. No exterior, existe o móbil animal e sensual que age sobre nós, e a matéria corruptível dos sentidos sofre a ação. No interior, é a substância indivisível e metafísica que se introduz em nós, e o ser incorruptível e imortal do nosso espírito recebe suas influências. Mas, em geral, no interior, as coisas se passam tão naturalmente como no exterior; a lei é por toda parte a mesma.

Portanto, como o espírito, ou nosso homem interior tem um senso completamente diferente e uma outra objetividade do homem natural, não devemos de maneira alguma surpreender-nos que ele fique um enigma para os sábios do nosso século, que não conhecem estes sentidos, e não tiveram jamais a percepção objetiva do mundo transcendental e espiritual. Eis aí porque eles medem o sobrenatural com a medida dos sentidos, confundem a matéria corruptível com a substância incorruptível, e seus julgamentos são necessariamente falsos sobre um assunto para a percepção do qual eles não possuem nem sentidos nem objetividade, e, por conseguinte, nem verdade relativa nem verdade absoluta. No que concerne as verdades que anunciamos aqui, temos que agradecer infinitamente à filosofia de Kant.

Kant incontestavelmente provou que a razão em seu estado natural, não sabe absolutamente nada do sobrenatural, do espiritual e do transcendental, e que ela nada pode conhecer, nem analiticamente, nem sinteticamente, e que assim sendo, ela não pode provar nem a possibilidade nem a realidade dos espíritas, das almas e de Deus.

Isto é uma grande verdade, elevada e benéfica para os nossos tempos; é verdade que São Paulo já a havia estabelecido (primeira epístola aos Coríntios Cap. I, V. 2-24); mas a filosofia pagã dos sábios cristãos soube ignorá-la até Kant.

O benefício desta, verdade é duplo. Primeiramente ela põe limites intransponíveis ao sentimento, ao fanatismo e à extravagância da razão carnal.

Em seguida põe na mais resplandecente luz a necessidade e a divindade da Revelação. O que prova que a nossa razão humana, em seu estado obtuso não tem nenhuma fonte objetiva para o sobrenatural sem a revelação; nenhuma fonte para instruir-se de Deus, do mundo espiritual, da alma e da sua imortalidade; de onde se segue que seria absolutamente impossível sem revelação, saber ou conjeturar nada sobre essas coisas.

Por isto nós somos devedores a Kant por ter provado nos nossos dias aos filósofos, corno já o havia sido desde muito tempo em escola mais elevada da comunidade da Luz, que “SEM REVELAÇÃO, NENHUM CONHECIMENTO DE DEUS E NENHUMA DOUTRINA SOBRE A ALMA SERIAM POSSÍVEIS”.

Por onde, é claro que uma revelação universal deve servir de base fundamental a todas as religiões de mundo.

Assim, segundo Kant está provado que o mundo inteligível é inteiramente inacessível à razão natural, e que Deus habita uma luz na qual nenhuma especulação da razão limitada pode penetrar.

Desta forma o homem dos sentidos ou homem natural não tem nenhuma objetividade do transcendental; daí, à revelação de verdades mais elevadas lhe é necessária e por isto também a fé na revelação, porque a fé lhe dá os meios de abrir seu sensorium interior, pelo qual as verdades inacessíveis ao homem natural lhe podem ser perceptíveis.

É perfeitamente plausível que com os novos sentidos possamos adquirir novas realidades. Estas realidades existem já, mas nós não as distinguimos porque nos falta o órgão da receptividade.

É assim que, embora as cores existam, o cego não as vê; o som também existe, mas o surdo não o escuta. Não devemos procurar a falta no objeto perceptível mas no órgão receptor.

Com o desenvolvimento de um novo órgão nós temos uma nova percepção, novas objetividades.

O mundo espiritual não existe para nós porque o órgão que o torna objetivo em nós não está desenvolvido. Com o desenvolvimento deste novo órgão, a cortina levanta-se imediatamente, o véu impenetrável até o momento, é rasgado, a nuvem à frente do santuário é dissipada, um novo mundo surge num relance para nós; as vendas tombam dos olhos e nós somos, no mesmo instante, transportados da legião dos fenômenos para a da verdade.

Só Deus é Substância, Verdade absoluta, Ele só é aquele que É, e nós somos aquilo que Ele nos fez.

Para Ele, tudo existe na unidade; para nós, tudo existe na multiplicidade.

Muitos homens não têm a menor idéia deste despertar do sensorium interior como também não a têm para o “objeto” verdadeiro e interior da “Vida do Espírito”, que não conhecem; nem sequer pressentem de nenhuma maneira.

Daí, ser-lhes impossível saber que se pode perceber o espiritual e o transcendental e que se pode ser levado ao sobrenatural até à visão.

A verdadeira edificação do templo consiste unicamente em destruir a miserável cabana adâmica e construir a templo da divindade; isto é, em outros termos, desenvolver em nós o sensorium interior ou órgão que recebe Deus; depois deste desenvolvimento, o principio metafísico e incorruptível reina sobre o princípio terrestre e o homem começa a viver, não mais no princípio do amor próprio, mas no Espírito e na Verdade de que ele é o templo.

A lei moral passa então a ser amor ao próximo e, o mais puro, enquanto que, ela não é para o homem natural exterior dos sentidos, senão uma simples forma de pensamento; e o homem espiritual regenerado no espírito, vê tudo no ser, do qual o homem natural tem somente formas vazias do pensamento, o som vazio, os símbolos e a letra, que são todos imagens mortas, sem o espírito interior.

O fim mais elevado da religião é a união a mais íntima do homem com Deus, e esta união já é possível mesmo aqui em baixo, mas ela não o é senão pela abertura de nosso sensorium interior e espiritual que torna nosso coração susceptível de receber Deus.

Aí estão os grandes mistérios dos quais a nossa filosofia não duvida, e cuja chave não pode ser encontrada entre os sábios de escola.

Contudo sempre existiu uma escola mais elevada, à qual este depósito de toda ciência foi confiado, e esta escola era a comunidade interior e luminosa do Senhor, a sociedade dos Eleitos que se propagou, sem interrupção, desde o primeiro dia da criação até aos tempos presentes; seus membros, é verdade, estão dispersas pelo mundo, mas eles estiveram sempre unidos por um espírito e por urna verdade, e não tiveram jamais senão um só conhecimento, uma única fonte de verdade, um senhor, um doutor e um mestre, em que reside substancialmente a plenitude Universal de Deus, e que os iniciou, Ele só, nos mistérios elevados da natureza e do Mundo Espiritual.

Esta comunidade da luz foi denominada em todos os tempos a Igreja invisível e interior, ou a comunidade, a mais antiga, da qual nós vos falaremos mais detalhadamente na próxima carta.

#Martinismo #Ocultismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-nuvem-sobre-o-santu%C3%A1rio-carta-1

O Cristo Recém-Nascido

Postado originalmente no site da Fraternidade Rosacruz.

O apóstolo deu-nos uma maravilhosa definição da Divindade quando disse: “Deus é Luz”, pelo que a “Luz” tem sido usada para ilustrar a natureza do Divino nos Ensinamentos Rosacruzes, especialmente o mistério da Trindade na Unidade. As Sagradas Escrituras de todos os tempos ensinam claramente que Deus é uno e indivisível. Ao mesmo tempo verificamos que, do mesmo modo que a luz branca una refrata-se nas três cores primárias – vermelho, amarelo e azul – Deus também revela-Se em papel tríplice durante a manifestação pelo exercício de três funções divinas: criação, preservação e dissolução.

Quando Ele exercita o atributo criação, Deus revela-se como Jeová, o Espírito Santo, Ele é o Senhor da lei e da geração, projetando a fertilidade solar indiferentemente através dos satélites lunares de todo planeta em que seja necessário fornecer corpos para seus seres evoluintes.

Quando Ele exercita o atributo preservação, com o propósito de sustentar os corpos gerados por Jeová sob as leis da Natureza, Deus, revela-se como Redentor, Cristo, e irradia os princípios de amor e regeneração diretamente a todo planeta, onde as criaturas de Jeová requeiram essa ajuda para libertarem-se das malhas da morte e do egoísmo, e alcançarem o altruísmo e a vida infinita.

Quando do exercício do divino atributo dissolução, Deus aparece como o Pai. Chama-nos de volta ao lar celestial para assimilarmos os fruto das experiências e do crescimento anímico que acumulamos durante o dia de manifestação. Este Solvente Universal, o raio do Pai, emana então do Invisível Sol Espiritual.

Esses processos divinos de criação e nascimento, preservação e vida, dissolução, morte e retorno ao autor de nosso ser, nós os vemos em toda parte, em tudo o que nos cerca. Então, reconhecemos o fato de que são atividades do Deus Trino em manifestação. Porventura já nos demos conta de que no mundo espiritual não existem acontecimentos definidos, nem condições estáticas; que o começo e o fim de todas as aventuras, de todas as eras estão presentes no eterno “tempo” e “espaço”?

Gradativamente, tudo se cristaliza e torna-se inerte, precisando dissolver-se para dar lugar a outras coisas e outros eventos.

Não há como escapar dessa lei cósmica, que se aplica a tudo no reino do “tempo” e do “espaço”, inclusive ao raio Crístico. Como o lago que se derrama no oceano volta a encher-se quando a água que o abandonou evapora-se e a ele retorna em forma de chuva, para tornar novamente a correr incessantemente em direção ao oceano, assim o Espírito do Amor que nasce eternamente do Pai derrama-se incessantemente, dia após dia, hora após hora, no universo solar para libertar-nos do mundo material que nos prende em seus grilhões mortais. Portanto, onda após onda partem do Sol em direção a todos os planetas, o que proporciona um impulso rítmico às criaturas que neles evoluem.

No sentido mais verdadeiro e literal, é um Cristo recém-nascido que saudamos em cada festa natalina, e o Natal é o mais importante acontecimento anual para a humanidade, quer tenhamos consciência disso ou não. Não se trata meramente de comemorar o aniversário de nascimento do nosso amado Irmão Maior, Jesus, mas sim da chegada da rejuvenescente vida-amor do nosso Pai Celestial, por Ele enviada para libertar o mundo do glacial abraço da morte. Sem esta nova infusão de vida e energia divinas, logo pereceríamos fisicamente, frustando o nosso progresso no que tange às atuais linhas de desenvolvimento. Precisamos esforçar-nos por compreender muito bem este ponto, a fim de que possamos aprender a apreciar o Natal da maneira mais profunda possível.

A este respeito, como em muitos outros, podemos aprender uma lição observando nossos filhos ou recordando a nossa própria infância. Como eram fortes nossas expectativas à aproximação dos festejos natalinos! Como ansiosamente esperávamos pela hora de receber os presentes que pensávamos serem deixados pelo Papai Noel, o misterioso benfeitor universal que distribuía os brinquedos! Como nos sentiremos se nossos pais nos dessem apenas as bonecas estragadas e os tamborzinhos já gastos do ano passado? A sensação seria certamente de infelicidade total, além de uma profunda quebra de confiança em tudo, sentimentos que os pais achariam cada vez mais difícil restaurar. Isso nada seria, comparado à calamidade cósmica que se abateria sobre a humanidade, se o nosso Pai Celestial deixasse de enviar como Presente Cósmico de Natal, o Cristo recém-nascido.

O Cristo do ano anterior não nos pode livrar da fome física, como as chuvas daquele ano não podem agora encharcar o solo e desenvolver os milhões de sementes que dormitam na terra, à espera de que as atividades germinadoras da vida do Pai as façam crescer. Assim como o calor do último verão já não nos pode aquecer, o Cristo do ano passado não pode acender de novo em nossos corações as aspirações espirituais que nos impelem para cima em busca de algo mais. O Cristo do ano passado deu-nos seu amor e sua vida sem restrições ou medidas. Quando Ele renasceu na Terra no Natal anterior, Ele impregnou de vida as sementes adormecidas, que cresceram e muito gratamente encheram os nossos celeiros com o pão da vida física. O amor que o Pai Lhe deu, Ele o derramou profusamente sobre nós, e do mesmo modo que a água do rio volta para o céu pela evaporação, assim também Ele eleva-se outra vez ao seio do Pai, após esgotar toda a sua vida e morrer na Páscoa.

Mas, o amor divino jorra infinitamente. Como um pai apieda-se de seus filhos, assim também nosso Pai Celeste compadece-se de nós, pois Ele conhece a nossa fragilidade e dependências física e espiritual. Por conseguinte, esperamos mais uma vez, confiantemente, o nascimento místico do Cristo que virá com renovada vida e renovado amor. O Pai no-Lo envia acudindo à fome física e espiritual que sofreríamos se não tivéssemos d’Ele essa amorosa oferenda anual.

As almas jovens, via de regra, acham difícil separar em suas mentes as personalidades de Deus, de Cristo e do Espírito Santo, de modo que algumas podem amar apenas a Jesus, o homem. Esquecem Cristo, o Grande Espírito, que introduziu uma nova era na qual as nações estabelecidas sob o regime de Jeová serão destroçadas, a fim de que a sublime estrutura da Fraternidade Universal possa ser edificada sobre as suas ruínas. No devido tempo, o mundo inteiro saberá que “Deus” é espírito, para ser adorado em “espírito e em verdade”. É bom que amemos Jesus e O imitemos; desconhecemos ideal mais nobre e alguém mais digno. Se pudesse ter sido encontrado alguém mais nobre, não teria sido Ele o escolhido para ser o veículo do Grande Unigênito, Cristo, em que reside a Divindade. Fazemos bem em seguir “Seus passos”.

Ao mesmo tempo devemos exaltar Deus em nossas próprias consciências, aceitando a afirmação bíblica de que Ele é espírito e que não podemos tentar representar a Sua imagem, nem retratá-Lo, pois Ele a nada se assemelha, quer nos céus quer na Terra. Podemos ver os veículos de Jeová circulando como satélites em volta de diversos planetas. Também podemos ver o Sol, que é o veículo visível de Cristo. Mas o Sol Invisível, que é o veículo do Pai e fonte de tudo, este só pode ser visto pelos maiores clarividentes e apenas como a oitava superior da fotosfera do Sol, revelando-se como um anel de luminosidade azul-violeta por trás do Sol. Mas nós não precisamos vê-Lo. Podemos sentir Seu amor e essa sensação nunca é tão grande como na época do Natal, quando Ele nos está dando o maior de todos os presentes: o Cristo do novo ano.

@”L”: Um feliz natal a todos. Feliz Solis Invictus! Cristo é apenas um nome. Dêem a ele a face e o nome que preferirem. O que importa é o símbolo que está representando. Muito maior do que um Papai Noel comercial, este símbolo representa aquilo que devemos aplicar todos os dias de nossas vidas, e não só numa época do ano. A Fraternidade Universal começa dentro de cada um. E se não mudarmos o íntimo que se esconde em cada um de nós, como tentaremos mudar o resto do mundo? Pronto, falei demais. hahaha Aproveitem as festividades!

Que as vossas Rosas floresçam na Tua Cruz.

Crédito da imagem: The Nativity of Jesus Christ by Logos of Icons.

Sérvio Túlio é estudante de Letras, membro do Projeto Mayhem e autor do blog Jedi Teraphim.

#Cristo #Natal

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-cristo-rec%C3%A9m-nascido

A Nuvem sobre o Santuário – Carta 2

Por Karl von Eckartshausen.

É necessário, meus caríssimos irmão no Senhor, dar-vos uma idéia pura da Igreja interior, desta “Comunidade Luminosa de Deus”, que está dispersada através do mundo; mas que é governada pela verdade e unida pelo espírito.

Esta comunidade da luz existe desde o primeiro dia da criação do mundo, e sua existência permanecerá até o último dia dos tempos.

Ela é a sociedade dos eleitos que distinguem a luz nas trevas, separando-a em sua essência.

Esta comunidade da luz possui uma escola na qual o próprio Espírito de Sabedoria instrui àqueles que têm sede de luz; e todos os mistérios de Deus e da natureza são conservados nesta escola pelos filhos da luz. O conhecimento perfeito de Deus, da natureza e da humanidade, são os objetos do ensinamento desta escola. É dela que todas as verdades vêm ao mundo; ela foi a escola dos profetas e de todos aqueles que procuram a sabedoria; e é somente nesta comunidade que se encontra a verdade e a explicação de todos os mistérios. Ela é a comunidade mais íntima e possui membros de todo o universo, eis as idéias que se podem ter dela. Em todos os tempos, o exterior tinha por base um interior do qual não era mais do que a expressão e o plano.

Assim é que, em todas as eras, existiu uma assembléia íntima, a sociedade dos eleitos, a sociedade daqueles mais capazes para a luz e que a procuravam; esta sociedade íntima era chamada o Santuário interior ou a Igreja interior.

Todos os símbolos, cerimônias e ritos que possui a Igreja exterior, correspondem à letra da qual o espírito e a verdade se acham na Igreja interior.

Portanto, a Igreja interior é uma sociedade cujos membros estão espalhados por todo o mundo, mas ligados intimamente pelo espírito do amor e da verdade, ocupada sempre na construção do grande templo para a regeneração da humanidade, pela qual o reino de Deus há de se manifestar. Esta sociedade reside na comunhão daqueles que estão mais aptos para receber a luz, ou dos eleitos.

Estes eleitos estão unidos pelo espírito e a verdade e o seu chefe é a própria Luz do Mundo, Jesus Cristo, o eleito da luz, o mediador único da espécie humana, o Caminho, a Verdade e a Vida; a luz primitiva, a sabedoria, o único “meio” pelo qual os homens podem retornar a Deus.

A Igreja interior nasceu logo após a queda do homem e recebeu de Deus, imediatamente, a revelação dos meios pelos quais a espécie humana caída seria reintegrada na sua dignidade, e libertada de sua miséria. Ela recebeu o depósito primitivo de todas as revelações e mistérios; ela recebeu a chave da verdadeira ciência, tanto divina como natural.

Mas quando os homens se multiplicaram, a fragilidade e fraqueza inerentes a espécie impuseram um culto exterior para ocultar a sociedade interior e encobrir pela letra o espírito e a verdade. Porque a coletividade, a multidão, o povo, não eram capazes de compreender os grandes mistérios interiores e constituiria um perigo demasiado grande confiar o mais santo aos incapazes, encobriram as verdades interiores nas cerimônias exteriores e sensíveis, para que o homem, pelo sensível e o exterior que é o símbolo do interior, se tornasse gradativamente capaz de aproximar-se mais das verdades internas do espírito.

Mas a essência sempre foi confiada àquele que, no seu tempo, tinha mais aptidões para receber a luz; e somente esse era o possuidor do depósito primitivo como Sumo sacerdote do Santuário.

Quando se tornou necessário que as verdades interiores fossem simbolizadas nas cerimônias exteriores, por causa da fraqueza dos homens que não eram capazes de suportar a vista da luz, o culto, exterior nasceu, mas ele foi sempre o tipo e o símbolo do interior, quer dizer, o símbolo da verdadeira homenagem feita a Deus “em espírito e verdade”.

A diferença entre o homem espiritual e o homem animal, ou entre o homem racional e o homem dos sentidos, obrigou as formas exterior e interior.

As verdades internas ou espirituais manifestaram-se envoltas em símbolos e cerimônias, para que o, homem animal ou dos sentidos pudesse despertar e ser conduzido pouco a pouco, às verdades interiores.

Portanto, o culto exterior é uma representação simbólica das verdades interiores, das verdadeiras relações do homem com Deus antes e após a queda, no estado de sua dignidade, de sua reconciliação e de sua mais perfeita união. Todos os símbolos do culto exterior estão construídos sobre estas três relações fundamentais.

O cuidado do exterior era a ocupação dos sacerdotes, e cada pai de família estava, nos tempos primitivos, encarregado deste ofício. As primícias dos frutos e as primeiras crias dos animais eram oferecidas a Deus; os primeiros simbolizando que tudo o que nos alimenta e nos conserva vem Dele; e os segundos simbolizando que o homem animal deve morrer para dar lugar ao homem espiritual e racional.

A adoração exterior de Deus não deveria jamais separar-se da adoração interior; mas como a fraqueza do homem leva-o facilmente a esquecer o espírito para agarrar-se à letra, o Espírito de Deus despertou sempre, entre todas as nações, naqueles que tinham as aptidões necessárias para a luz, e serviu-se deles, como seus agentes, para espalhar por todo o mundo a verdade e a luz, segundo a capacidade dos homens a fim de vivificar a letra morta pelo espírito e a verdade.

Por estes instrumentos divinos, as verdades interiores do santuário eram levadas às nações mais longínquas, e modificadas simbolicamente, segundo os hábitos, capacidade de cultura, clima e receptividade.

De maneira que os tipos exteriores de todas as religiões, seus cultos, suas cerimônias e seus livros santos, em geral, têm quase claramente por objeto as verdades interiores do santuário, pelas quais a humanidade será conduzida somente no devido tempo, à universalidade do conhecimento da verdade única.

Quanto mais o culto exterior de um povo permaneceu unido ao espírito das verdades interiores, mais a sua religião foi pura; quanto mais a letra simbólica se separou do espírito interior, mais a religião se tornou imperfeita, até a ponto de degenerar entre alguns, em politeísmo, quando a letra exterior perdeu completamente seu espírito interior e não restou mais de que o cerimonial exterior sem alma e sem vida.

Quando os germens das verdades mais importantes puderam ser levados aos povos pelos agentes de Deus, Ele escolheu um povo determinado para erigir um símbolo vivo, destinado a mostrar como Ele queria governar toda a espécie humana em seu estado atual, e conduzi-la à sua mais alta purificação e perfeição.

Deus próprio deu a seu povo a sua legislação exterior religiosa; e, como signo de sua verdade, entregou-lhe todos os símbolos e todas as cerimônias que continham a essência das verdades interiores e grandiosas do santuário.

Deus consagrou essa igreja exterior em Abraão, deu-lhe os mandamentos por Moisés, e assegurou-lhe sua mais alta perfeição pela dupla missão de Jesus Cristo, no princípio, vivendo pessoalmente na pobreza e no sofrimento, e depois pela comunhão de seu espírito na glória do ressuscitado.

Mas, como o próprio Deus deu os fundamentos da Igreja exterior, a totalidade dos símbolos do culto exterior formou a ciência do templo, ou dos sacerdotes daqueles tempos, e, todos os mistérios das verdades mais santas e interiores tornaram-se exteriores pela revelação.

O conhecimento científico deste simbolismo santo, era a ciência de religar Deus ao homem caído, e daí a religião recebeu seu nome como sendo a doutrina que liga o homem, separado e afastado de Deus, a Deus que é sua origem.

Vê-se facilmente por esta idéia pura do nome religião em geral, que a unidade da religião está no santuário íntimo, e que a multiplicidade das religiões exteriores não pode jamais alterar nem enfraquecer esta unidade que é a base de todo exterior.

A sabedoria do templo da antiga aliança era governada pelos sacerdotes e pelos profetas.

O exterior, a letra do símbolo, o hieróglifo; eram confiados aos sacerdotes.

Os profetas tinham a seu cuidado o interior, o espírito e a verdade, e sua função era a de conduzir sempre os sacerdotes da letra ao espírito, quando lhes acontecia esquecer o espírito e agarrar-se à letra.

A ciência dos sacerdotes era a do conhecimento dos símbolos exteriores.

A ciência dos profetas era a posse prática do espírito e da verdade destes símbolos. No exterior a letra; no interior o espírito vivificante.

Existia também, na antiga aliança, uma escola de sacerdotes e uma escola de profetas.

A dos sacerdotes ocupava-se dos emblemas e a dos profetas das verdades que estavam encerradas sob os emblemas. Os sacerdotes estavam de posse exterior da Arca, dos pães da proposição, do candelabro, do maná, da vara de Aarão, e os profetas estavam de posse das verdades interiores e espirituais que eram representadas exteriormente pelos símbolos dos quais vimos falar.

A Igreja exterior da antiga aliança era visível; a Igreja interior era sempre invisível, devia ser invisível, e entretanto governar tudo, porque somente a ela estavam confiados o poder e a força.

Quando o culto exterior abandonava o interior, caia, e Deus provava por uma continuidade das mais notáveis ocorrências, que a letra não pode subsistir sem o espírito; que ela somente é dada para conduzir ao espírito, tornando-se inútil e mesmo rejeitada de Deus, se abandona sua finalidade.

Assim como o espírito da natureza se espalha nas profundezas mais estéreis para vivificar, para conservar e para dar desenvolvimento a tudo que lhe é susceptível, assim também o espírito da luz se espalha no interior de todas as nações, para animar completamente a letra morta pelo espírito vivo.

É assim que encontramos um Jó entre os idólatras, um Melquisedeck entre as nações estrangeiras, um José entre os sacerdotes egípcios, e Moisés no país de Madian, como prova palpável de que a comunidade interior daqueles que são capazes de receber a luz, estava unida pelo espírito e pela verdade em todos os tempos e entre todas as nações.

A todos esses agentes de luz da comunidade interior e única, uniu-se o mais importante de todos os agentes, o próprio Jesus Cristo, no meio do tempo como um rei-sacerdote; segundo a ordem de Melquisedeck,

Os agentes divinos da antiga aliança não representaram senão as perfeições particulares de Deus; no decorrer dos tempos uma ação poderosa devia produzir-se que mostrasse de uma só vez o todo em Um. Um tipo universal apareceu acentuando a completa unidade, abrindo uma nova porta e destruindo a numerosa servidão humana. A lei do amor começou quando a imagem emanada da própria Sabedoria mostrou ao homem toda grandeza de seu ser, revigorou-o de todas as forças, assegurou-lhe sua imortalidade e elevou seu ser intelectual para tornar-se o verdadeiro templo do Espírito.

Este agente maior de todos, este Salvador do mundo, este regenerador universal fixou toda a sua atenção sobre esta verdade primitiva, pela qual o homem pôde conservar sua existência e recobrar a dignidade que possuía.

Em suas humilhações implantou a base da redenção dos homens e prometeu cumpri-la completamente por seu espírito. Ele mostrou também num perfeito esboço aos seus apóstolos tudo o que devia se passar um dia com seus eleitos.

Ele continuou a cadeia da comunidade interior da luz, entre seus eleitos, aos quais enviou o Espírito da Verdade, e confiou-lhes o depósito primitivo mais elevado de todas, as verdades divinas e naturais, em sinal de que eles não abandonariam jamais sua comunidade interior.

Quando a letra e o culto simbólico da Igreja exterior da antiga aliança, passaram em verdade pela encarnação do Salvador, e foram atestados em sua pessoa, novos símbolos se tornaram necessários para o exterior, que mostrassem segundo a letra, a realização futura ou integral da redenção.

Os símbolos e os ritos da igreja exterior Cristã foram dispostos segundo estas verdades invariáveis e fundamentais, e anunciaram coisas de uma força e importância que não se podem descrever, nem foram reveladas àqueles que conheciam o santuário intimo.

Este santuário interior permaneceu sempre invariável, ainda que o exterior da religião, ou seja, a letra recebesse no decorrer do tempo e circunstâncias, diferentes modificações, e se afastasse das verdades interiores, que são as que podem conservar o exterior ou a letra.

O pensamento profano de querer atualizar tudo o que é cristão, e de querer cristianizar tudo o que é político, modificou o edifício exterior, e cobriu com as trevas e a morte o que estava no interior, a luz e a vida. Daí nasceram as divisões e as heresias: o espírito sofístico queria explicar a letra embora já tivesse perdido o espírito da verdade.

A incredulidade levou a corrupção ao mais elevado grau; até se procurou atacar o edifício do cristianismo em suas primitivas bases, confundindo o interior santo, com o exterior que estava sujeito às fraquezas e à ignorância dos homens frágeis.

Assim nasceu o deísmo, que engendrou o materialismo e viu como uma fantasia toda união do homem com as forças superiores; e por fim nasceu, parte pelo entendimento e parte pelo coração, o ateísmo, último grau de decadência do homem.

No meio de tudo isto, a verdade permaneceu sempre inquebrantável no interior do santuário.

Fiéis ao Espírito da verdade que prometeu jamais abandonar a sua comunidade; os membros da Igreja interior viveram em silêncio e em atividade real e uniram a ciência do templo da primitiva aliança ao espírito do Grande Salvador dos homens, a espírito da aliança interior, esperando humildemente o grande momento no qual o Senhor os chamará, e reunirá sua comunidade para dar a toda letra morta a força exterior e a vida.

Esta comunidade interior da luz é o conjunto de todos aqueles que estão capacitados para receber a luz dos eleitos, e é conhecida sob o nome de “Comunhão dos santos”. O depósito primitivo de todas as forças e de todas as verdades foi confiado em todos os tempos a esta comunidade da luz; que só ela, como disse São Paulo, estava de posse da ciência dos Santos. Por ela os agentes de Deus foram formados em cada época, passaram cio interior, ao exterior, e comunicaram o espírito e a vida à letra morta, como já dissemos anteriormente.

Esta comunidade da luz foi em todos os tempos a verdadeira escola do Espírito de Deus; e, considerada como escola, tem sua Cátedra, seu Doutor; possui um livro no qual seus discípulos estudam as formas e os objetos dos ensinamentos, e finalmente um método de estudo.

Ela tem, também, seus graus pelos quais o espírito pode desenvolver-se sucessivamente e elevar-se sempre cada vez mais.

O primeiro grau, o menor, consiste no bem moral pelo qual a vontade simples, subordinada a Deus, é conduzida ao bem pelo móbil puro da vontade, quer dizer, Jesus Cristo, que ela recebeu pela fé. Os meios dos quais o espírito desta escola se serve são chamados inspirações.

O segundo grau consiste no assentimento intelectual, pelo qual a compreensão do homem de bem que está unido a Deus, é coroada com a sabedoria e a luz do conhecimento; e os meios pelos quais o espírito se serve para este grau são chamados iluminações interiores.

O terceiro grau enfim, e o mais elevado, é o completo despertar do nosso sensorium interno, pelo qual o homem interior alcança a visão objetiva das verdades metafísicas e reais. Este é o grau mais elevado onde a fé se transforma em visões claras e os meios pelos quais o espírito se serve para isso são as visões reais.

Eis os três graus da verdadeira escola de sabedoria interior, da comunidade interior da luz. O mesmo espírito que aperfeiçoa os homens para esta comunidade, distribui também os graus, pela coação do próprio candidato, devidamente preparado.

Esta escola da sabedoria foi em todos os tempos, a mais secreta e a mais oculta do mundo, porque ela estava invisível e submissa unicamente à direção divina.

Ela não esteve jamais exposta aos acidentes do tempo nem às fraquezas dos homens. Porque nela não houve em todos os tempos senão os mais capazes que foram escolhidos pelas suas qualidades, e o Espírito que os escolheu não podia errar.

Nessa escola se desenvolveram os germens de todas as ciências sublimes que foram primeiramente recebidas pelas escolas exteriores, e, aí revestiram-se de outras formas verdadeiras algumas vezes tornadas disformes.

Esta sociedade interior de sábios comunicou, segundo o tempo e as circunstâncias, às sociedades exteriores, seus hieróglifos simbólicos para tornar o homem exterior atento às grandes verdades do interior.

Porém todas as sociedades exteriores só subsistem enquanto esta sociedade interior lhes comunica seu espírito. No momento em que as sociedades exteriores queriam emancipar-se da sociedade interior e transformar o templo de sabedoria em um edifício político, a sociedade interior retirava-se e nelas ficava somente a letra sem o espírito.

Assim é que todas as escolas exteriores secretas da sabedoria foram somente véus hieroglíficos, a verdade mesma permaneceu sempre no santuário para que não pudesse ser jamais profanada.

Nesta sociedade interior o homem encontra a sabedoria, e com ela tudo; não a sabedoria do mundo que não é senão um conhecimento científico rodeando o invólucro exterior, sem jamais tocar o centro onde residem todas as forças; mas a verdadeira sabedoria, assim como os homens que a ela obedecem.

Todas as disputas, todas as controvérsias, todos os objetos da falsa prudência do mundo, todos os idiomas estrangeiros, as vãs dissertações, os germens inúteis das opiniões que propagam a semente da desunião, todos os erros, os cismas e os sistemas, dela estão banidos. Não se encontra ali nem calúnias nem maledicências; todo homem é honrado. A sátira, o espírito que gosta de se divertir a custa do próximo, são ali desconhecidos, e somente se conhece o amor.

A calúnia, este monstro não levanta jamais entre os amigos da sabedoria, sua cabeça de serpente, o respeito mútuo é ali observado rigorosamente; ali não se nota as faltas do próximo nem se lhe fazem criticas sobre defeitos. Caridosamente, conduz-se o viajante ao caminho da verdade, procura-se persuadir, tocar o coração que está em erro, deixando a punição do pecado a clarividência do Mestre da Luz. Alivia-se a necessidade, protege-se a fraqueza, rejubila-se da elevação e da dignidade que o homem adquire.

A felicidade que é o dom do destino não eleva ninguém sobre o próximo; somente se considera feliz aquele ao qual se apresenta a ocasião de fazer o bem a seu próximo, e todos estes homens, que um espírito de verdade une, formam a Igreja invisível, a sociedade do Reino interior sob um chefe único que é Deus.

Não se deve imaginar que esta comunidade representa qualquer sociedade secreta que se reúne em certos tempos, escolhendo seus chefes e membros e propondo-se a determinados fins. Todas as sociedades, quaisquer que sejam não vêm senão depois desta comunidade interior da sabedoria; ela não conhece quaisquer formalidades que são a obra dos homens. No reino das forças todas as formas exteriores desaparecem.

O Próprio Deus é o chefe sempre presente. O homem mais perfeito de seu tempo, o primeiro chefe, não conhece por si mesmo todos os membros; mas no instante em que para a finalidade de Deus se torna necessário esse conhecimento, ele os encontra certamente no mundo para agir em direção a essa finalidade.

Esta comunidade não tem absolutamente véus exteriores. Aquele que é escolhido para agir perante Deus é o primeiro, apresenta-se aos outros sem presunção, e é recebido por eles sem inveja.

Se é necessário que verdadeiros membros se unam, eles se encontram e se reconhecem sem dúvida alguma. Não pode existir nenhum disfarce, e nenhum gérmen de hipocrisia ou dissimulação sobre os traços característicos desta comunidade, porque são fora do comum. São arrancadas a máscara e a ilusão, e tudo aparece em sua verdadeira forma.

Nenhum membro pode escolher um outro; o consentimento de todos é requerido. Todos os homens são chamados; os chamados podem ser escolhidos, se eles se tornarem aptos para a entrada.

Cada qual pode procurar a entrada, e todo homem que está no interior pode ensinar ao outro a procurar a entrada. Mas enquanto não se estiver preparado não se alcança o interior.

Homens não preparados ocasionariam desordens na comunidade, e a desordem não é compatível com o interior. Este interior expulsa tudo aquilo que não é homogêneo.

A Prudência do mundo espreita em vão este Santuário interior; em vão a malícia procura penetrar os grandes mistérios que aí estão ocultos; tudo é hieróglifo indecifrável para aquele que não está prepara do; nada pode ver nem ler no interior.

Aquele que já está preparado junta-se à corrente, muitas vezes lá onde menos pensava e a um elo do qual nem supunha a existência.

Procurar alcançar a maturidade deve ser o esforço daquele que ama a sabedoria.

Nesta comunidade santa está o depósito original das ciências mais antigas do gênero humano com os mistérios primordiais de todas as ciências e técnicas conduzindo à maturidade.

Ela é a única e verdadeira comunidade da Luz em possessão da chave de todos os mistérios e conhecendo o íntimo da natureza e da criação. Ela une as suas forças às forças superiores e compõem-se de membros de mais de um mundo. Estes formam uma república que será um dia a mãe regente do universo inteiro.

#Martinismo #Ocultismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-nuvem-sobre-o-santu%C3%A1rio-carta-2