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Necronomicon: o Livro e Seu Autor
O Kitab Al-Azif, livro que em sua versão grega, receberia o nome de Necronomicon — provavelmente a obra mais temida (e desejada) de toda a história do ocultismo — foi escrito em cerca de 730 d.C., na cidade de Damasco (Síria), por um árabe que, segundo tradutores e comentaristas ocidentais, teria se chamado “Abdul al-Hazred”. Na verdade nenhum árabe jamais possuiu esse nome; a palavra “Abdul” não é um nome próprio, mas um título: significa “servo (Abd) de (ul)”. Assim um nome como Abdulah, por exemplo, significa “servo de Deus”. “Abdul”, apenas não faz sentido algum.
Já “Hazred” soa como uma corruptela latina do termo nominal árabe azrad, derivado do verbo zarada — que significa estrangular ou devorar. Assim o nome correto do autor do Kitab Al-Azif seria Abd al-Azrad, ou “o servo do grande devorador”.
Azrad foi um poeta, astrólogo e filósofo, mago e cientista nascido em cerca de 700 d.C. na cidade de Saana, no Iêmen. Antes de escrever a obra que imortalizaria seu nome, ele passou vários anos entre as ruínas da Babilônia, as catacumbas de Mênfis e o grande deserto da Arábia. O autor morreu em 738, em Damasco.
De acordo com o biógrafo Ibn Kallikan, Abd al-Azrad foi devorado, em plena luz do dia, por um demônio invisível. O Azif circulou secretamente em rolos de pergaminho por quase dois séculos.
Em 950, o filósofo bizantino Theodorus Philetas (lê-se Filetas) traduziu a obra para o grego, rebatizando-a como Necronomicon. O manuscrito de Philetas foi copiado várias vezes e muitos exemplares passaram a circular no Império Romano do Oriente até que, em 1050, o Patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário condenou a obra. Várias cópias foram confiscadas e queimadas; seus proprietários, mortos sob tortura.
Em 1228, Olaus Wormius, o Velho, traduziu a versão grega de Philetas para o latim, mantendo o título Necronomicon — a essa altura, o original árabe já era dado como perdido. Em 1232, o Papa Gregório IX incluiu o livro de Wormius (e o de Philetas) no Index Expurgatorium.
O Necronomicon de Wormius viu sua primeira edição produzida com tipos móveis em 1454. O incunábulo alemão, impresso em caracteres góticos, não traz data, local ou nome do impressor.
No início do século XVI — com certeza antes de 1510 —, uma versão do livro de Philetas foi impressa na Itália.
A primeira edição “censurada” do Necronomicon — sem as passagens mais terrificantes e os feitiços mais perigosos — foi elaborada em 1580 pelo Dr. John Dee, mago e médico particular da Rainha Elizabeth I da Inglaterra.
Aparentemente, Dee, ao elaborar o texto em inglês, trabalhou com base num manuscrito grego.
No século XVII, o texto em latim foi reimpresso na Espanha dos Habsburgos. Descontando-se a baixa qualidade tipográfica, o livro é tão fiel ao original quanto a primeira edição feita na Alemanha.
Exemplares Conhecidos:
Atualmente existem apenas cinco exemplares do Necronomicon no mundo — ou, ao menos, apenas cinco exemplares de conhecimento público. Várias outras cópias podem estar preservadas em bibliotecas particulares. Os exemplares que chegam ao mercado são rapidamente adquiridos por colecionadores de livros raros (ou por interessados no conteúdo místico do livro) e o preço já atinge as raias do inestimável.
As cinco únicas cópias conhecidas são todas do texto latino de Wormius. Quatro pertencem à segunda edição espanhola e apenas uma à edição alemã original. Nenhum deles é manuscrito e, devido aos poderes atribuídos ao livro (e ao grande número de seitas fanáticas que buscam apossar-se dele ou destruí-lo), nenhuma instituição permite acesso irrestrito à obra. Os exemplares pertencem aos acervos da Bibliothèque Nationale de Paris, à Biblioteca da Universidade Miskatonic, em Arkham, à Biblioteca Widener, em Harvard, e à Biblioteca da Universidade de Buenos Aires (que recebeu o livro graças ao testamento do escritor Jorge Luís Borges). O único exemplar restante da edição alemã está na Biblioteca do Museu Britânico em Londres.
O colecionador abastado de livros raros não terá muitas dificuldades em levantar no mercado uma cópia do manuscrito de John Dee ou do manuscrito de Sussex (uma segunda edição inglesa, inferior à de Dee).
Kitab al-Azif:
Oficialmente, todas as cópias do manuscrito árabe original foram destruídas. No entanto, o Professor Phileus Sadowsky, filólogo e professor de literatura árabe da Universidade de Sófia, Bulgária, afirma ter consultado um livro medieval árabe, intitulado Kitab al-Azif, na Magyar Tudomanyos Akademia Orientalisztikai Kozlemenyei, da Hungria, em meados da década de 1980.
Segundo Sadowsky, o livro mede 21 x 16 centímetros e está escrito em um pergaminho já bastante apodrecido e semi-devorado por vermes. Há marcas de queimadura na extremidade direita do volume, como se alguém o houvesse arremessado ao fogo e se arrependido logo em seguida. O livro estaria escrito em letra tremida e, segundo o Professor, não se trata do trabalho de um calígrafo ou escriba profissional. O pergaminho e o estilo dos caracteres arábicos faz presumir que a obra tenha sido copiada na Síria ou no Irã, durante o século VIII.
Infelizmente tanto o governo da Hungria quanto as autoridades da Magyar Akademia negam veementemente a existência do Kitab al-Azif. Eruditos e bibliotecários ocidentais enviados à Europa Oriental após a queda dos regimes comunistas do Leste Europeu não encontraram qualquer traço do livro ou de registros a respeito de sua existência. De qualquer forma, a reputação do Professor Sadowsky é bastante sólida e parece impossível escapar a esse impasse.
O Nome:
O título grego, “necronomicon”, significa “coisas pertinentes aos costumes, leis e hábitos dos mortos”. O título original, Kitab al-Azif, pode ser traduzido como “Livro dos uivos dos demônios do deserto” ou mais poeticamente como “Livro Daquele que se aproxima”.
Poderes:
Dentre os poderes do Necronomicon, documentados por estudiosos como H.P. Lovecraft ou Henry Armitage, encontra-se um cântico capaz de trazer o demônio Yog-Sothoth a este mundo; informações sobre o pó de Ibn Ghazi, cujos poderes alucinógenos encontram-se além de qualquer descrição; e instruções para a elaboração do Signo Voorish. Há, no entanto, centenas de outros encantamentos e relatos cifrados no livro. Pois o Necronomicon não é um livro que se lê diretamente — ele precisa ser decifrado, intuído, e aqueles que o lêem, após todo o esforço e sanidade dispensados na tarefa, emergem radicalmente transformados.
That is not dead which can eternal lie,
And with strange aeons even death may die.
— Abdul Alhazred: Al Azif
Todos os meus contos partem da fundamental premissa de que as leis, interesses e emoções humanas não possuem nenhuma validade ou significância na grande imensidão do universo.
— H.P. Lovecraft
Por Carlos Orsi Martinho
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Necronomicon: da origem até nossos dias
O Necronomicon (literalmente: “Livro de Nomes Mortos”) foi escrito em Damasco, por volta de 730 d.C., sendo sua autoria atribuída a Abdul Alhazred. Ao contrário do que se pensa vulgarmente, não se trata de um grimoire (ou grimório), livro mágico de encantos, mas de um livro de histórias. Escrito em sete volumes no original, chegou à cerca de 900 páginas na edição latina, e seu conteúdo dizia respeito à coisas antigas, supostas civilizações anteriores à raça humana, numa narrativa obscura e quase ilegível.
Abdul Alhazred nasceu em Sanaa, no Iêmen, tendo feito várias viagens em busca de conhecimento, dominando vários idiomas, vagou da Alexandria ao Pundjab, na Índia, e passou muitos anos no deserto despovoado ao sul da Arábia. Embora conhecido como árabe louco, nada há que comprove sua insanidade, muito embora sua prosa não fosse de modo algum coerente. Alhazred era um excelente tradutor, dedicando-se a explorar os segredos do passado, mas também era um poeta, o que lhe permitia certas extravagâncias na hora de escrever, além do caráter dispersivo. Talvez isso explique a alinearidade do Necronomicon.
Alhazred era familiarizado com os trabalhos do filósofo grego Proclos (410-485 d.C.), sendo considerado, como ele, um neo-platônico. Seu conhecimento, como o de seu mestre, inclui matemática, filosofia, astronomia, além de ciências metafísicas baseadas na cultura pré-cristã de egípcios e caldeus. Durante seus estudos, costumava acender um incenso feito da mistura de diversas ervas, entre elas o ópio e o haxixe. As emanações desse incenso, segundo diziam, ajudavam a “clarear” o passado. É interessante notar que a palavra árabe para loucura (majnum) tem um significado mais antigo de “djinn possuído”. Djilms eram os demônios ou gênios árabes, e Al Azif, outra denominação para o livro de Alhazred, queria dizer justamente “uivo dos demônios noturnos”.
Como Determinar o Limite Entre a Loucura e a Sabedoria?
Semelhanças entre o Ragnarok, mito escandinavo do Apocalipse, e passagens do Al Azif sugerem um vínculo entre ambos. Assim como os djinns árabes e os anjos hebraicos, os deuses escandinavos seriam versões dos deuses antigos. Ambas as mitologias falam de mundos sendo criados e destruídos, os gigantes de fogo de Muspelhein equivalem aos anjos e arcanjos bíblicos, ou aos gênios árabes, e o próprio Surtur, demônio de fogo do Ragnarok, poderia ser uma corruptela para Surturiel, ou Uriel, o anjo vingador que, como Surtur, empunha uma espada de fogo no Juízo Final. Da mesma forma, Surtur destrói o mundo no Ragnrok, quando os deuses retornam para a batalha final. Embora vistas por alguns com reservas, essas ligações tornam-se mais fortes após recentes pesquisas que apontam o caminho pelo qual o Necronomicon teria chegado à Escandinávia. A cidade de Harran, no norte da Mesopotâmia, foi conquistada pelos árabes entre 633 d.c. e 643 d.c. apesar de convertidos ao islã, os harranitas mantiveram suas práticas pagãs, adorando a Lua e os sete planetas então conhecidos. Tidoa como neo-platônicos, escolheram, por imposição, da religião dominante, a figura de Hermes Trimegisto para representa-los como profeta. Um grupo de harranitas mudou-se para Bágdá, onde mantiveram uma comunidade distinta denominada sabinos. Alhazred menciona os sabinos. Era uma comunidade instruída, que dominava o grego e tinha grande conhecimento de literatura, filosofia, lógica, astronomia, matemática, medicina, além de ciências secretas relativas às culturas árabe e grega. Os sabinos mantiveram sua semi-independência até o século XI, quando provavelmente foram aniquilados pelas forças ortodoxas islâmicas, pois não se ouve mais falar deles à partir do ano 1000. No entanto, por volta de 1041, o historiador Miguel Psellus conseguiu salvar uma grande quantidade de documentos pertencentes aos sabinos, recebendo-os em Bizâncio, onde vivia. Quem levou esses documentos de Bagdá para Bizâncio permanece um mistério, mas é certo que o fez tentando preservar uma parte da cultura dos sabinos da intolerância religiosa da época. Psellus, que além de historiador era um estudioso de filosofia e ocultismo, juntou o material recebido num volume denominado “Corpore Hermeticum”. Mas haviam outros documentos, inclusive uma cópia do Al Azif, que ele prontamente traduziu para o grego.
Por essa época, era costume os imperadores bizantinos empregarem guarda-costas vikings, chamados “varanger”. A imagem que se tem dos vikings como bárbaros semi-selvagens não corresponde à realidade, eram grandes navegadores que, já no ano mil, tinham dado inicio a uma rota comercial que atravessaria milhares de quilômetros, passando pela Inglaterra, Groenlândia, América do Norte e a costa atlântica inteira da Europa, seguindo pela Rússia até Bizâncio. Falavam grego fluentemente e sua infantaria estava entre as melhores do mundo.
Entre 1030 a 1040, servia em Bizâncio como varanger um viking chamado Harald. Segundo o costume, sempre que o imperador morria, o varanger tinha permissão para saquear o palácio. Harald servia à imperatriz. Zoe, que cultivava o hábito de estrangular os maridos na banheira. Graças a ela, Harald chegou a tomar Varie em três saques, acumulando grande riqueza. Harald servia em Bizâncio ao lado de dois companheiros, Haldor Snorrason e Ulf Ospaksson. Haldor, filho de Snorri, o Padre, era reservado e taciturno. Ulf, seu oposto, era astuto e desembaraçado, tendo casado com a cunhada de Harald e tornado-se um grande 1íder norueguês. Gostava de discutir poesia grega e participava das intrigas palacianas. Entre suas companhias intelectuais preferidas estava Miguel Psellus, de quem Ulf acompanhou o trabalho de tradução do Al Azif, chegando a discutir o seu conteúdo como historiador bizantino. Segundo consta, foi durante a confusão de uma pilhagem que Ulf apoderou-se de vários manuscritos de Psellus, traduzidos para o grego. Ulf e Haldor retornaram à Noruega com Harald e, mais tarde, Haldor seguiu sozinho para a Islândia, levando consigo a narrativa do Al Azif. Seu descendente, Snorri Sturluaaon (1179-1241), a figura mais famosa da literatura islandesa, preservou essa narrativa em sua “Edda Prosista”, a fonte original para o conhecimento da mitologia escandinava. Sabe-se que Sturlusson possuía muito material disponível para suas pesquisas 1ítero-históricas e entre esse materia1certamente estava o Al Azif, que se misturou ao mito tradicional do Ragnarok.
Felizmente, Psellus ainda pôde salvar uma versão do Al Azif original, caso contrário, o Necronomicon teria sido perdido para sempre. Ao que se sabe, não existe mais nem um manuscrito em árabe do Necronomicon, o xá da antiga Pérsia (atual Irã) levou à cabo uma busca na Índia, no Egito e na biblioteca da cidade santa de Mecca, mas nada encontrou. No entanto, uma tradução latina foi feita em 1487 por um padre dominicano chamado Olaus Wormius, alemão de nascença, que era secretário do inquisidor-mor da Espanha, Miguel Tomás de Torquemada, e é provável que tenha obtido o manuscrito durante a perseguição aos mouros. O Necronomicon deve ter exercido grande fascínio sobre Wormius, para levá-1o a arriscar-se em traduzí-lo numa época e lugar tão perigosos. E1e enviou uma cópia do livro a João Tritêmius, abade de Spanhein, acompanhada de uma carta onde se lia uma versão blasfema de certas passagens do Livro de Gênese. Sua ousadia custou-lhe caro. Wormius foi acusado de heresia e queimado numa fogueira, juntamente com todas as cópias de sua tradução. Mas, segundo especulações, ao menos uma cópia teria sido conservada, estando guardada na biblioteca do Vaticano.
Seja como for, traduções de Wormius devem ter escapado da Inquisição, pois quase cem anos depois, em 1586, o livro de Alhazred reapareceria na Europa. O Dr. John Dee, famoso mago inglês, e seu assistente Edward Kelley, estavam em Praga, na corte do imperador Rodolfo II, traçando projetos para a produção de ouro alquímico, e Kelley comprou uma cópia da tradução latina de um alquimista e cabalista chamado Jacó Eliezer, também conhecido como, “rabino negro”, que tinha fugido da Itália após ser acusado de práticas de necromancia. Naquela época, Praga havia se tornado um ímã para mágicos, alquimistas e charlatões de todo tipo, não havia lugar melhor para uma cópia do Necronomicon reaparecer.
John Dee (1527-1608), erudito e mago elisabetano, pensava estar em contato com anjos e “outras criaturas espirituais”, por mediação de Edward Kelley. Em 1555, já fora acusado, na Inglaterra, de assassinar meninos ou de deixá-los cegos por meio de mágica. É certo que Kelley tinha grande influência sobre as práticas tenebrosas de Dee, os anjos com os quais dizia comunicar-se, e que talvez só existissem em sua cabeça, ensinaram a Dee um idioma até então desconhecido, o enoquiano, além de outras artes mágicas. Se tais contatos, no entanto, foram feitos através do Necronomicon, é coisa que se desconhece. O fato é que a doutrina dos anjos de Dee abalou a moral da época, pois pregava entre outras coisas, o hedonismo desenfreado. Em 1583, uma multidão enfurecida saqueou a casa de Dee e incendiou sua biblioteca. Após tentar invocar um poderoso espírito que, segundo o vidente, lhes traria grande sabedoria, Dee e Kelley se separaram, talvez pelo fracasso da tentativa. Em 1586, Dee anuncia sua intenção de traduzir o Necronomicon para o inglês, à partir da tradução de Wormius. Essa versão, no entanto nunca foi impressa, passando para a coleção de Elias Ashmole (1617-1692), estudioso que transcreveu os diários espirituais de Dee, e finalmente para a biblioteca de Bodleian, em Oxford.
Por cerca de duzentos e cinquenta anos, os ensinamentos e escritos de Dee permaneceram esquecidos. Nesse meio tempo, partes do Necronomicon foram traduzidas para o hebreu, provavelmente em 1664, circulando em forma de manuscritos e acompanhados de um extenso comentário feito por Nathan de Gaza. Nathan, que na época contava apenas 21 anos, era um precoce e brilhante estudante da Torah e Talumud. Influenciado pelas doutrinas messiânicas judaicas vigentes na época, ele proclamou como o messias esperado a Sabbatai Tzavi, um maníaco depressivo que oscilava entre estados de transcendência quando se dizia que seu rosto parecia reluzir, e profunda frustração, com acessos de fúria e crueldade. Tais estados de ânimo eram tidos como o meio pelo qual Sabbatai se comunicava com outros planos de existência, como um Cristo descendo aos infernos, ou Orfeu, numa tradição mais antiga. A versão hebraica do Al Azif era intitulada Sepher há’sha’are ha-Da’ath, ou o “Livro do Portal do Conhecimento”. Tratava-se de um comentário em dois capítulos do livro de Alhazred. A palavra para conhecimento, Da’ath, foi traduzida para o grego na Bíblia como gnosis, e na Cabala tem o significado peculiar de “não-existência”, sendo representada às vezes como um buraco ou portão para o abismo da consciência. Seu aspecto dual parece indicar uma ligação entre o mundo material, com sua ilusão de matéria física e ego, e o mundo invisível, obscuro, do conhecimento, mas que seria a fonte da verdadeira sabedoria, para aqueles que pudessem suportá-la. Isso parece levar ao Astaroth alquímico e à máxima da magia, que afirma que o que está em cima (no céu) é como o que está em baixo (na terra). A ligação entre os dois mundos exigiria conhecimento do Abismo, abolição do ego e negação da identidade. De dentro do Abismo, uma infinidade de portões se abre. É o caos informe, contendo as sementes da identidade.
O propósito de Nathan de Gaza parece ter sido ligar o Necronomicon à tradição judaica da Cabala, que fala de mundos antigos primordiais e do resgate da essência sublime de cada ser humano, separada desses mundos ou submergida no caos. Ao lado disso, criou seu movimento messiânico, apoiado em Sabbatai Tzevi, o qual criou cisões e conflitos na comunidade judaica, conflitos que persistiram por pelo menos um século. Há quem afirme que uma cópia do Sha’are ha-Da’ath ainda existe, em uma biblioteca privada, mas sobre isso não há qualquer evidência concreta.
O ressurgimento do Necronomicon é constantemente atribuído ao escritor Howard Phillip Lovecraft, que fez do livro a base de sua obra literária. Mas não se explica como Lovecraft teve acesso ao livro de Alhazred. O caminho mais lógico para esse ressurgimento parece indicar o mago britânico Aleister Crowley (1875-1947). Crowley tinha fama de charlatão, proxeneta, toxicômano, promíscuo insaciável e bissexual, além de traidor da pátria e satanista. Tendo se iniciado na Ordem do Amanhecer Dourado em 1898, Crowley aprendeu práticas ocultas no Ceilão, na Índia e na China. Mais tarde, ele criaria sua própria ordem, um sistema mágico e uma nova religião, da qual ele seria o próprio messias. Ao que tudo indica, essa religião denominada “Lei de Thelema” se baseava nos conhecimentos do “Livro da Lei”, poema em prosa dividido em três capítulos aparentemente ilógico, que segundo ele, lhe havia sido ditado em 1904 por um espírito chamado Aiwass.
Sabe-se que Crowley pesquisou os documentos do Dr. John Dee em Bodleian. Ele próprio se dizia uma reencarnação de Edward Kelley, o que explica em parte, seu interesse. Apesar de não mencionar a fonte de seus trabalhos, é evidente que muitas passagens do Livro da Lei foram plagiadas da tradução de Dee do Necronomicon. Crowley já era conhecido por plagiar seu mestre, Allan Bennett (1872-1923), que o iniciou no Amanhecer Dourado, mas há quem sustente que tais semelhanças foram assimiladas inconscientemente seja como for, em 1918 Crowley viria a conhecer uma modista chamada Sônia Greene. Aos 35 anos, judia, divorciada, com uma filha e envolvida numa obscura ordem mística, Sônia parecia ter a qualidade mais importante para Crowley naquele momento: dinheiro. Eles passaram a se ver durante alguns meses, de maneira irregular.
Em 1921, Sônia Greene conheceu H.P. Lovecraft. No mesmo ano, Lovecraft publicou o seu primeiro romance “A Cidade Sem Nome”, onde menciona Abdul Alhazred. Em 1922, no conto “O Cão de Caça”, ele faz a primeira menção ao Necronomicon. Em 1924, ele e Sônia Greene se casam. Nós só podemos especular sobre o que Crowley contou para Sônia Greene, e não sabemos o que ela contou a Lovecraft, mas é fácil imaginar uma situação onde ambos estão conversando sobre uma nova história que ele pretende escrever e Sônia comenta algumas idéias baseadas no que Crowley havia lhe contado, sem nem mesmo mencionar a fonte. Seria o bastante para fazer reluzir a imaginação de Lovecraft. Basta comparar um trecho de “O Chamado de Cthulhu” (1926) com partes do Livro da Lei, para notar a semelhança.
«Aquele culto nunca morreria… Cthulhu se ergueria de sua tumba e retomaria seu tempo sobre a Terra, e seria fácil reconhecer esse tempo, pois os homens seriam livres e selvagens, como os “antigos”, e além do bem e do mal, sem lei ou moralidade, com todos gritando e matando e rejubilando-se em alegria. Então os “antigos” lhes ensinariam novos modos de gritar e matar e rejubilar-se, e toda a Terra arderia num holocausto de êxtase e liberdade» (O Chamado de Cthulhu).
«Faz o que tu queres, há de ser tudo da lei… Todo homem e toda mulher é uma estrela… Todo homem tem direito de viver como quiser, segundo a sua própria lei… Todo homem tem o direito de matar quem se opuser aos seus direitos… A lei do forte, essa é a nossa lei e alegria do mundo … Os escravos servirão»(Lei Thelemita).
Não há nem uma evidência que Lovecraft tenha visto o Necronomicon, ou até mesmo soube que o livro existiu. Embora o Necronomicon que ele desenvolveu em sua obra esteja bem próximo do original, seus detalhes são pura invenção. Não há nem um Yog-Sothoth ou Azathoth ou Nyarlathotep no original, por exemplo. Mas há um Aiwass…
O Que é o Necronomicon:
O Necronomicon de Alhazred trata de especulações antediluvianas, sendo sua fonte provável o Gênese bíblico e o Livro de Enoch, além de mitologia antiga. Segundo Alhazred, muitas espécies além do gênero humano tinham habitado a Terra, vindas de outras esferas e do além. Alhazred compartilhou da visão de neoplatoniatas que acreditavam serem as estrelas semelhantes ao nosso Sol, cada qual com seus próprios planetas e formas de vida, mas elaborou essa visão introduzindo elementos metafísicos e uma hierarquia cósmica de evolução espiritual. Aos seres das estrelas, ele denominou “antigos”. Eram sobre-humanos e podiam ser invocados, desencadeando poderes terríveis sobre a Terra.
Alhazred não inventou a história do Necronomicon. Ele elaborou antigas tradições, inclusive o Apocalipse de São João, apenas invertendo o final (a Besta triunfa, e seu número é 666). A idéia de que os “antigos” acasalaram com os humanos, buscando passar seus conhecimentos para o nosso plano de existência e gerando uma raça de aberrações, casa com a tradição judaica dos nephilins (os gigantes de Gênese 6.2-6.5). A palavra árabe para “antigo” deriva do verbo hebreu para “cair” (os anjos caídos). Mas o Gênese é só um fragmento de uma tradição maior, que se completa, em parte, no Livro de Enoch. De acordo com esta fonte, um grupo de anjos guardiões enviados para observar a Terra viu as filhas dos homens e as desejou. Duzentos desses guardiões formaram um pacto, saltando dos ares e tomando as mulheres humanas como suas esposas, gerando uma raça de gigantes que logo se pôs a pecar contra a natureza, caçando aves, répteis e peixes e todas as bestas da Terra, comendo a carne e bebendo o sangue uns dos outros. Os anjos caídos lhes ensinaram como fazer jóias, armas de guerra, cosméticos, encantos, astrologia e outros segredos. O dilúvio seria a consequência das relações entre os anjos e os humanos.
«E não vi nem um céu por cima, nem a terra firme por baixo, mas um lugar caótico e horrível. E vi sete estrelas caírem dos céus, como grandes montanhas de fogo. Então eu disse: “Que pecado cometeram, e em que conta foram lançados?” Então disse Uriel, um dos anjos santos que estavam comigo, e o principal dentre eles: “Estes são os números de estrelas do céu que transgrediram a ordem do Senhor, e ficarão acorrentados aqui por dez mil anos, até que seus pecados sejam consumados”».(Livro de Enoch).
Na tradição árabe, os jinns ou djinns seriam uma raça de seres sobre-humanos que existiram antes da criação do homem. Foram criados do fogo. Algumas tradições os fazem sub-humanos, mas invariavelmente lhes são atribuídos poderes mágicos ilimitados. Os djinns sobrevivem até os nossos dias como os gênios das mil e uma noites, e no Corão eles surgem como duendes e fadas, sem as qualidades sinistras dos primeiros tempos. Ao tempo de Alhazred, os djinns seriam auxiliares na busca de conhecimento proibido, poder e riquezas.
No mito escandinavo, hoje bastante associado à história do Necronomicon, os deuses da Terra (aesires) e o gênero humano (vanas) existiam contra um fundo de poderes mais velhos e hostis, representados por gigantes de gelo e fogo que moravam ao norte e ao sul do Grande Girnnunga (o Abismo) e também por Loki (fogo) e sua descendência monstruosa. No Ragnarok, o crepúsculo dos deuses, esses seres se ergueriam mais uma vez num combate mortal. Por último, Siurtur e ou gigantes de fogo de Muspelheim completariam a destruição do mundo.
Essa é essencialmente a profecia de Alhazred sobre o retorno dos “antigos”. É também a profecia de Aleister Crowley sobre o Àeón de Hórus. Os gigantes de fogo de Muspelheim não diferem dos djinns, que por sua vez se ligam aos anjos hebraicos. Como Surtur, Uriel carrega uma espada de fogo, e sua sombra tanto pode levar à destruição quanto a um renascimento. Assim, tanto os anjos e seus nephilins hebraicos quanto os “antigos” de Alhazred poderiam ser as duas faces de uma mesma moeda.
Como os Antigos São Invocados
É inegável que o sistema enochiano de Dee e Kelley estava diretamente inspirado em partes do Necronomicon, onde há técnicas de Alhazred para a invocação dos “antigos”. Embora o Necronomicon fosse basicamente um livro de histórias, haviam algums detalhes práticos e fórmulas que funcionavam quase como um guia passo a passo para o iniciado entrar em contato com os seres sobre-humanos. Dee e Kelley tiveram que preencher muitas lacunas, sendo a 1inguagem enochiana um híbrido que reúne, basicamente, um alfabeto de 21 letras, dezenove “chaves” (invocações) em linguagem enochiana, mais de l00 quadros mágicos compostos de até 240l caracteres além de grande quantidade de conhecimento oculto. É improvável que esse material lhes tivesse sido realmente passado pelo arcanjo Uriel. Bulwer Lytton, que estudou a tradução de Dee para o Necronomicon, afirma que ela foi transcrita diretamente do livro original, e se eram ensinamentos de Uriel, o mais provável é que ele os tenha passado a Alhazred.
A ligação entre a linguagem enochiana e o Livro de Enoch parece óbvia. Como o livro de Enoch só foi redescoberto no século XVII, Dee só teria acesso à fragmentos do mesmo citados em outros manuscritos, como o Necronomicon de Alhazred, o que mais uma vez reafirma sua provável fonte de origem. Não há nenhuma dúvida que Alhazred teve acesso ao livro de Enoch, que só desapareceria no século IX d.C., sendo até então relativamente conhecido. Outra pista para essa ligação pode ser a chave dos trinta Aethyrs, a décima nona das invocações enochianas. Crowley chamava-a de “a maldição original da criação”. É como se o próprio Deus a enunciasse, pondo fim à raça humana, à todas as criaturas e ao mundo que ele próprio criara. Isso é idêntico ao Gênese 6.6, onde se lê: “E arrependeu-se o Senhor de ter posto o homem sobre a Terra, e o lamentou do fundo de seu coração”. Esse trecho segue-se à descrição dos pecados dos nephilins, que resulta na destruição do mundo pelo dilúvio. Crowley, um profundo conhecedor da Bíblia, reconheceu nisso a chave dos trinta Aethyrs, estabelecendo uma ligação. Em resumo, a chave (ou portão) para explorar os trinta Aethyrs é uma invocação no idioma enochiano, que segundo Dee seria o idioma dos anjos, e esta invocação seria a maldição que lançou os nephilins (ou “antigos”) no Abismo. Isto se liga à práticas antigas de magia negra e satanismo: qualquer meio usado pelo mago no passado para subordinar uma entidade pode ser usado também como um método de controle. Tal fórmula existe em todo grimoire medieval, em alguns casos de forma bastante explícita. A entrada no trigésimo Aethyr começa com uma maldição divina porque esse é um dos meios de afirmar controle sobre as entidades que se invoca: o nephilin, o anjo caído, o grande “antigo”. Isso demonstra, além de qualquer dúvida, que o sistema enochiano de Dee e Kelley era idêntico, na prática e em cadência, ao sistema que Alhazred descreveu no Necronomicon.
Crowley sabia disso. Uma das partes mais importantes de seu trabalho mágico (registrou-o em “A Visão e a Voz”) era sua tentativa de penetrar nos trinta Aethyrs enochianos. Para isso, ele percorreu o deserto ao norte da África, em companhia do poeta Winner Neuberg. Ele já havia tentado fazê-lo no México, mas teve dificuldade ao chegar ao 28º Aethyr, e decidiu reproduzir a experiência de Alhazred o mais proximamente possível. Afinal, Alhazred levou a cabo seus estudos mais significativos enquanto vagava pela região de Khali, uma área deserta e hostil ao sul da Arábia. O isolamento o ajudou a entrar em contato com os Aethyrs. Para um plagiador como Crowley, a imitação é o primeiro passo para a admiração, não é surpresa essa tentativa, além do que ele também pretendia repetir os feitos de Robert Burton, explorador, aventureiro, escritor, lingüista e adepto de práticas obscuras de magia sexual. Se obteve sucesso ou não, é desconhecido pois jamais admitiu suas intenções quanto à viagem, atribuindo tudo ao acaso.
Onde o Necronomicon Pode Ser Encontrado:
Em nenhum lugar, com certeza, seria a resposta mais simples, e novamente somos forçados a suspeitar que a mão de Crowley pode estar metida nisto. Em 1912 ele conheceu Theodor Réuss, o 1íder da Ordo Templi Orientis alemã (O.T.O.) e trabalhou dentro daquela ordem por dez anos, até ser nomeado sucessor do próprio Réuss. Assim temos Crowley como líder de uma loja maçônica alemã. Entre 1933-1938, desapareceram algumas cópias conhecidas do Necronomicon. Não é segredo que Adolf Hitler e pessoas do alto escalão de eu governo tinham interesse em ocultismo, e provavelmente apoderaram-se dessas cópias. A tradução de Dee desapareceu de Bodleiam, roubada em 1934. O Museu Britânico também sofreu vários saques, sendo a edição de Wormius retirada de catálogo e levada para um depósito subterrâneo, em Gales, junto com as jóias da Coroa, onde permaneceu de 1939 a 1945. Outras bibliotecas simplesmente perderam cópias desse manuscrito e hoje não há nenhuma que apresente em catálogo uma cópia, seja em latim, grego ou inglês, do Necronomicon. O paradeiro atual do Al Azif original, ou de suas primeiras cópias, é desconhecido. Há muitas fraudes modernas, mas são facilmente desmascaradas por uma total falta de imaginação e inteligência, qualidades que Alhazred possuía em abundância. Mas há boatos de um esconderijo dos tempos da 2º Guerra, que estaria localizado em Osterhorn, uma área montanhosa próxima à Salzburgo, onde haveria uma cópia do manuscrito original, escrita pelos nazistas e feita com a pele e o sangue de prisioneiros de campos de concentração.
Qual o motivo para o fascínio em torno do Neconomicon? Afinal, é apenas um livro, talvez esperemos muito dele e ele não possa mais do que despejar um grão de mistério no abismo de nossos anseios pelo desconhecido. Mas é um mistério ao qual as pessoas aspiram, o mistério da criação, o mistério do bem e do mal, o mistério da vida e da morte, o mistério das coisas que se foram. Nós sabemos que o Universo é imenso, além de qualquer limite da nossa imaginação, mas o que há lá fora? E o que há dentro de cada um de nós? Seria o Universo um espelho para nós mesmos? Seriam os “antigos” apenas uma parte mais profunda de nosso subconsciente, o ego definitivo, o mais autêntico “eu sou”, que no entanto participa da natureza divina?
Sábios e loucos de outrora já se fizeram essas perguntas, e não temeram tecer suas próprias respostas, seus mitos, imaginar enfim. A maioria das pessoas, porém, prefere criar respostas seguras, onde todos falam a mesma língua, cultivam os mesmos hábitos, respeitam a diversidade,cada qual em sua classe. O Necronomicon, porém, desafia nossas certezas, pois não nos transmite qualquer segurança acerca do Universo e da existência. Nele, somos o que somos, menos que grãos de pó frente à imensidão do Cosmo e muitas coisas estranhas, selvagens e ameaçadoras estão lá fora, esperando pelo nosso chamado. Basta olhar em qualquer tratado de Astronomia ou Astrofísica, basta ler os jornais. Isso é para poucos, mas você sabe que é verdade.
Método Utilizado Por Nostradamus Para Ver o Futuro:
Recolha-se à noite em um quarto fechado, em meditação, sozinho, sentando-se diante de uma bacia posta sobre um tripé e cheia de água. Acenda uma vela sob a bacia, entre as pernas do tripé, e segure um bastão mágico com a mão direita, agitando-o sobre a chama do modo como se sabe, enquanto toca a água com a mão esquerda e borrifa os pés e a orla de seu manto. Logo ouvir-se-á uma voz poderosa, que causa medo e tremor. Então, esplendor divino; o Deus senta ao seu lado.
Incenso de Alhazred:
– Olibanum, storax, dictamnus, ópio e haxixe.
À partir de que momento uma pessoa deixa de ser o que ela própria e todos os demais acreditam que seja? Digamos que eu tenha que amputar um braço. Posso dizer: eu mesmo e meu braço. Se fossem as duas pernas, ainda poderia falar da mesma maneira: eu mesmo e minhas duas pernas. Ou os dois braços. Se me tirarem o estômago, o fígado, os rins, admitindo-se que tal coisa seja possível, ainda poderia dizer: eu mesmo e meus órgãos. Mas se cortassem a minha cabeça, ainda poderia falar da mesma maneira? O que diria então? Eu mesmo e meu corpo ou eu mesmo e minha cabeça? Com que direito a cabeça, que nem mesmo é um membro, como um braço ou uma perna, pode reivindicar o título de “eu mesmo”? Porque contém o cérebro? Mas existem larvas, vermes e muitas outras coisas que não possuem cérebro. O que se pode dizer a respeito de tais criaturas? Será que existem cérebros em algum outro lugar, para dizerem “eu mesmo e meus vermes”?
Por Daniel Low
Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/necronomicon-da-origem-ate-nossos-dias/
Morte Súbita inc entrevista Denílson Earhart
Denílson Earhart Ricci é talvez o maior entusiasta da obra de H.P.Lovecraft no Brasil. Hoje aos 34 anos e morando em Jundiaí-SP ele concedeu ao projeto Morte Súbita inc a seguinte entrevista onde explora um pouco seu fascínio e fala sobre seu atual trabalho de promoção do universo fantástico criado por este gênio do horror e da fantasia.
Conte um pouco sobre seu envolvimento com a obra de H.P Lovecraft. Como começou e como isso tem mudado como tempo.
Conheci a obra de H.P. Lovecraft em meados de 2003, quando ao fuçar no baú de um avô falecido de uma antiga amiga, descobri o primeiro livro de Lovecraft publicado no Brasil. Um exemplar raro editado pelo lendário Gumercindo Rocha Dórea: O que sussurrava nas Trevas, de 1966 – Editora GRD. A partir daí comecei a me interessar pela obra do escritor, embora na época era muito difícil encontrar suas obras a venda, mesmo em alfarrábios.
Fale um pouco sobre seu trabalho de divulgação da obra de Lovecraft. Acha que ele seria tão conhecido hoje pelos leitores de lingua portuguesa se não fosse seu esforço?
No início era difícil encontrar obras de Lovecraft a venda, mesmo em sebos. Então comecei a me informar em poucos e incompletos sites no começo efetivo da internet no Brasil. Aí, com algum esforço, visando reunir tudo o que se conhecia sobre o autor eu criei o www.sitelovecraft.com que com o tempo e inúmeras contribuições se tornou um grande portal de informações. Esta foi uma primeira etapa da divulgação de sua obra no Brasil. A outra etapa foi a ideia do livro ‘O Mundo Fantástico de H.P. Lovecraft’, que após anos de desenvolvimento está prestes a se tornar realidade. Sou suspeito para falar, mas muitos livros que hoje são lançados sofreram influência desse livro mesmo ele não ter sido ainda publicado (será em janeiro de 2013), pois divulgamos muita informação sobre ele ainda no prelo, visando a arrecadação de fundos para sua publicação, umas vez que foi baseado em iniciativas individuais.
Porque os ‘Mitos de Cthulhu’ fascinam tanto?
Por ser uma espécie particular de ficção de horror. Não aquela comum baseada em sustos, mas algo muito mais profundo e certos aspectos muito comuns nesse tipo de história, como a questão investigativa, prendem muito a atenção do leitor.
Os Grandes Antigos… Ficção ou realidade?
Os Grandes Antigos, são criaturas míticas da parte mais importante dos contos de Lovecraft: Os Mitos de Cthulhu. Certamente se baseiam nos seus pesadelos e imaginação extraordinária, mas quem somos nós para afirmar categoricamente que algo assim, ou parecido, não exista ou nunca existiu?
O que você tem a dizer sobre as pessoas que levam ao extremo esse fascínio, buscando rituais ou alguma forma de conexão com os Grandes Antigos?
Acho que cada um tem o direito de proferir a crença que lhe aprouver. Certamente não os chamo de malucos! Sendo o universo tão místico e cheio de enigmas, não seria estranho nos depararmos num futuro com um livro de segredos inomináveis como o nefasto Necronomicon, por exemplo. Aí a ficção viraria realidade. E se pensarmos por essa lógica, as vezes a realidade não é muito mais estranha que a ficção?
Como surgiu a ideia de produzir o livro “O MUNDO FANTÁSTICO DE H.P. LOVECRAFT”?
A ideia desse livro nasceu da insatisfação da maioria dos leitores com os péssimos livros lançados no Brasil com a obra de Lovecraft. Caindo o livro em domínio público ficou falicitada a concretização desse sonho, um livro com um bom formato, capa bem trabalhada, grande quantidade de páginas, revisão exaustiva, etc…
Quais os critérios utilizados para decidir que histórias entrariam na antologia?
A ideia foi a de fazer uma antologia. Um pouco de tudo: retratar o mito de Cthulhu, as Dreamlands (outra parte interessante da obra de Lovecraft), bem como poesias e escritos não ficcionais. Ou seja, um livro tanto para o leitor que não conhece nada sobre o assunto como para o leitor que já leu Lovecraft. Com farto material em notas, traduções excelentes e revisão ampla, esperamos que mesmo o antigo fã de Lovecraft redescubra algo novo na leitura desse livro.
Qual seu conto favorito, e porque?
Meu conto favorito é ‘O Chamado de Cthulhu’, pois condensa tudo, ou quase tudo, da mitologia criada pelo autor. Além de ter uma grande dose de terror aliado a investigação, prende a atenção do leitor do início ao fim…
Qual seu filme favorito das obras de Lovecraft?
Certamente o cinema ainda não descobriu Lovecraft. Embora alguns diretores com o famoso Guillermo Del Toro, em muitos de seus filmes trás referências a obra do escritor e tem como seu principal objetivo uma superprodução baseada em ‘Nas Montanhas da Loucura’, mas ainda hoje Del Toro não achou patrocinadores para o longa. Fora Del Toro, gosto muito dos filmes do diretor Stuart Gordon, e acho que ele se superou no filme Dagon – A Seita do Mar. O filme tem o clima perfeito do conto ‘A Sombra sobre Innsmouth’, além do que a caracterização de personagens ficou muito bem feita! Obrigatório para qualquer admirador do autor e de bons filmes de horror…
Quais seus planos para o futuro?
O que começou com uma simples brincadeira, ganhou forma e breve vamos lançar esse livro por uma editora própria a EDITORA CLOCK TOWER. Como esse livro ‘O Mundo Fantástico de H.P. Lovecraft’, vendeu apenas em pré-venda em torno de 600 exemplares, esperamos muito suscesso para quando sairem outras edições. E com isso, pretendemos, quem sabe, um especial sobre o conto ‘Nas Montanhas da Loucura’ que como ‘O Chamado de Cthulhu’, é obrigatório para qualquer admirador do autor. Essa novela não está presente no livro atual, pois é uma novela muito longa, embora nosso livro fosse grande se ele estivesse presente a ideia de antologia teria que ser abandonada… Então quem sabe um livro especial e muito bem cuidado com essa novela no futuro, ou mesmo coletâneas de contos de outros autores famosos do passado! Tudo vai depender da recepção que esse livro terá efetivamente ao ser lançado e mesmo de sua pré-venda limitada!
Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/morte-subita-inc-entrevista-denilson-earhart/