As Forças das Trevas

Por Konstantinos

Acusar-me de ser obcecado pela escuridão. Vá em frente. Só lhe peço que use uma palavra mais forte, e lhe digo que não estou sozinho. Não, eu não estou me referindo aqui à legião da humanidade noturna que vê as coisas na mesma, aham, luz. Deixei claro o quanto estes adultos e crianças são queridos para mim, mas não é deles que eu falo.

Acontece que os cientistas também são muito pendurados na escuridão. Ah, sim, verdadeiros e respeitados cientistas. Na verdade, na última década, mais ou menos, o trabalho mais fascinante que vem sendo feito na Mecânica Quântica e na Cosmologia tem sido o estudo da matéria escura e da energia escura. A primeira é um tipo de matéria que é invisível, mas que se acredita ocupar até noventa e cinco por cento do universo conhecido. A segunda é uma energia que se acredita estar acelerando o crescimento do universo.

O que temos nestes conceitos deliciosamente denominados são os segredos do verdadeiro poder oculto, sendo finalmente compreendido pela comunidade científica aceita. Uma peça de cada vez, a ciência do oculto, ou oculto, está sendo encontrada e quantificada, mais frequentemente sob os fenômenos bizarros que abundam na Mecânica Quântica. É um grande momento para ser um estudante das artes negras.

Como a compreensão da matéria escura e da energia escura ajuda a alcançar o domínio sobre o mundo invisível? Como isso não acontece? Estamos lidando aqui com uma forma de matéria que toca a maior parte da criação, e um tipo de energia que comprovadamente acelera o processo contínuo de criação – a expansão contínua do universo a partir do Big Bang. Coisas poderosas, de fato.

Tão perto quanto os cientistas estão chegando de quantificar a escuridão que permeia tudo, eles não estão muito perto de aproveitar seu poder. Provavelmente teremos carros movidos a fusão antes que um microwatt de energia escura seja usado de qualquer forma em um laboratório, ou seja.

Você pode usar a matéria escura e a energia em seu benefício nesta mesma noite. O ocultista já tem as ferramentas necessárias para chamar e aplicar forças cósmicas, sejam elas escuras ou claras. Mais uma vez, eu escolho a escuridão. Ao lidar com coisas complicadas como, oh, alterar a realidade, é melhor ater-se ao que é mais confortável.

As ferramentas são bastante simples, na verdade: psicodrama e elos simpáticos. Esqueça os anos de treinamento de concentração. Esqueça os estudos nos calcanhares dos chamados mestres ascendidos, que estão mais interessados em ter um servo indistinto do que em passar a sabedoria. Domine a arte de usar o psicodrama e ligá-lo a uma força universal, e essa força universal está à sua disposição.

O psicodrama é o “vestir” em um ritual: velas, incenso, cânticos, símbolos místicos ou outros métodos preparatórios – o que for preciso para que você possa ativar a parte de sua mente que está em sintonia com a energia invisível do universo. Andamos no mundo desperto muito adormecidos. O psicodrama desperta as partes de nosso cérebro que podem fazer coisas mais surpreendentes do que digitar e fazer pedidos na Starbucks, por mais importantes que essas coisas possam ser.

O conceito de ligação simpática tem sido usado para aplicar a consciência elevada a algum objetivo útil. Os bonecos Voodoo permitem enviar energia ao caminho de alguém, com o boneco atuando como um elo de ligação com a pessoa. Mas é aqui que o ocultismo pode ser extra potente. E se, em vez de aplicarmos apenas o princípio da magia simpática a um objetivo ou objeto, o aplicássemos ao acesso a uma força poderosa? Para acessar a matéria escura que permeia toda a criação, e para ter o poder enérgico da energia escura à sua disposição, tudo o que você precisa é de algo que aja como um elo de simpatia com a escuridão.

Entre na noite doce. Saia e você pode quase sentir isso como um campo etérico. Este é o melhor elo de simpatia com a matéria escura e a energia que existe. Por que se preocupar com conceitos físicos como a velocidade da luz e tentar enviar sua magia a um ritmo tão intenso? A escuridão é mais rápida que a luz. Já está lá!

Os ritos escuros que apresento em Nocturnicon permitem acesso total às forças que podem ter afugentado os exploradores do invisível no passado. O mago da morte, os seres Lovecraftianos, os demônios úteis e o próprio Lúcifer esperam por vocês em suas páginas. O psicodrama está lá para criar mudanças surpreendentes no resto de suas noites.

Ao contrário das explorações obscuras da Bruxaria Noturna e do Grimório Gótico, a magia do Nocturnicon não depende de um sistema de crenças específico da deidade. Na verdade, estes rituais nem sequer mencionam ou utilizam um ser supremo. A única coisa em que você estará confiando é na habilidade divina latente em todos nós. Sendo feitos da mesma energia e matéria invisível que o cosmos, podemos acessá-la e manipulá-la.

Corajoso o suficiente para experimentá-la? Ninguém, que eu saiba, tem sido levado a gritar pelas forças que você vai chamar. Pelo menos, ninguém que tenha vivido para contar sobre isso…

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Fonte:

KONSTANTINOS. Dark Forces. The Llewellyn’s Journal, 2005. Disponível em: <https://www.llewellyn.com/journal/article/909>. Acesso em 8 de março de 2022.

COPYRIGHT (2005). Llewellyn Worldwide, Ltd. All rights reserved.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/as-forcas-das-trevas-2/

All You Need is Love Craft

À parte da insondabilidade de suas criações, a própria carreira de Howard Phillips Lovecraft apresenta um certo mistério. Por que é que um escritor elitista, excêntrico e racista, que se dedicava a um gênero marginal de literatura – o horror cósmico – prosperou e cresceu onde outros, que poderiam ser considerados muito melhores do ele, foram atirados ao esquecimento?

No final dos anos trinta ninguém, nem o próprio Lovecraft, teria apostado no sucesso futuro de seus contos e histórias. Claro que muito de seu material gozou de alguma popularidade, e é inegável que ele inspirou muitos jovens escritores, mas quando o câncer em seu estômago o matou ele se encontrava na miséria, doente e vivendo na obscuridade. Roger Luckhurst chegou a chamá-lo de “um escritor marginal desconhecido e sem sucesso”, cujo último trabalho havia sido publicado um ano antes da própria morte – em 1936 – e cujas melhores obras se encontravam em um passado distante.

Ele descansou em paz por algum tempo, mas apenas oito anos após sua morte, Edmund Wilson escreveu uma crítica selvagem onde declarava que Lovecraft não passava de um picareta. Dizia-se que Clark Ashton Smith possuía um estilo literátrio muito superior. Muitos consideram as histórias de horror de Algernon Blackwood muito mais assustadoras e Olaf Stapledon era um artesão incomparável no campo da ficção científica. Então, por que Lovecraft sobreviveu? Por que não Smith ou Blackwood ou Fritz Leiber? Isso sem mencionar Nictzin Dyalhis e outros escritores que publicavam nas mesmas revistas que traziam os contos de Lovecraft?

Como o nerd de Providence ganhou tanta influência a ponto de em 2012, um fóssil vegetal datado da era cretácea ser batizado de Millerocaulis tekelili. Uma vespa receber o nome de Nanocthulhu lovecrafti Buffington, e uma aranha, antes disso em 1987, de Pimoa cthulhu Hormiga. Dois simbiontes que vivem nas entranhas de cupins, quando observados sob o microscópio, levaram também os biólogos a batizarem-nos de Cthulhu e Cthylla graças à sua aparência, mais especificamente: Cthulhu macrofasciculumque e Cthylla icrofasciculumque. E note que estamos falando de biologia um campo que Phillips nunca se interessou. Quão mais influente ele não é no mundo da ficção?

Esse é justamente seu mistério. Existe uma linha tênue que separa a ficção da nossa estranha realidade e Lovecraft apagou esta linha. Ele escreveu:

“Eles adoravam […] os Grandes Antigos, que viveram muitas eras antes da existência do homem e que chegaram ao recém-criado mundo vindos do céu. Esses Antigos haviam agora desaparecido no interior da terra e sob o mar; porém, mesmo mortos, haviam transmitido seus segredos em sonhos ao primeiro homem, que instaurou um culto que jamais morrera […] até o tempo em que o sumo sacerdote Cthulhu, de sua escura morada na poderosa cidade de R’lyeh, sob as águas do mar, se levantasse e pusesse de novo a terra sob seu domínio.

“O tempo seria fácil de reconhecer, pois por essa época a humanidade já teria se tornado como os Grandes Antigos: livres, selvagens, além do bem e do mal, ignorando leis e preceitos morais, com todo mundo gritando, matando e farreando em meio a feroz alegria. Então os Antigos, libertados, ensinar-lhes-iam novas formas de berrar e matar e farrear com alegria desenfreada, e toda a terra se inflamaria num holocausto de êxtase e liberdade. Até lá, cabia ao culto, mediante ritos apropriados, manter viva a memória daqueles procedimentos antediluvianos e prefigurar a profecia da volta d’Eles.”

Ele não estava brincando. Em 1977 é publicado um livro, transcrito por um monge louco chamado apenas de Simon. Na introdução do livro Simon nos conta como ele e seus conhecidos foram apresentados à tradução grega de um texto antigo, uma série de rituais que pré datavam grande parte das religiões conhecidas. O nome do livro, Necronomicon. Este mesmo livro, uma década mais tarde estava sendo apresentado em corte como evidência no julgamento de Roderick Ferrell e Glen Mason, acusados de assassinatos, de assassinato. Ferrel alegou que usava o livro durante rituais e cultos satânicos.

Nos anos oitenta do século XX, Steven Greenwood, usando o pseudônimo “Randolph Carter”, publicou o Manifesto do Aeon de Cthulhu, anunciando a reaparição da Ordem Esotérica de Dagon e no início da década de 1990, uma equipe chefiada pelo arqueólogo Nicholas Clapp, pelo aventureiro Ranulph Fiennes, pelo arqueólogo Juris Zarins e pelo advogado George Hedges, anunciou terem descoberto a cidade conhecida na antiguidade como Irem dos Mil Pilares, destruída na antiguidade por desastres naturais.

Lovecraft não era um mero escritor ou revisor de textos. Algumas pessoas o classificam como um médium perturbado, outros como um profeta do caos. Ele não era meramente um criador de mundos estranhos, mas um artesão da realidade. Seus textos provaram ter o poder não apenas de influenciar mentes ao redor do mundo, mas de mudar o mundo. Hoje podemos ver os tentáculos lovecraftianos se infiltrando em quase todos os aspectos da sociedade. Seus contos, atuais como nunca, inspiram escritores, designers, magos, cinegrafistas, estilistas, atores, músicos, e como vimos, até cientistas. Mesmo a política, como provou a campanha Vote Cthulhu já começou a sentir o gosto abissal de seus apêndices shoggothianos. E o fenômeno é global, do cinema pornô japonês ao black metal britânico suas “criações” se reproduzem na mente das pessoas como vírus alienígenas, altamente contagiosos. Como um pesadelo que toma conta da boca de quem o sonha e o acorda sussurrando: Eu sou real.

Cada uma dessas manifestações, por mais sutil que seja, se torna um sol na enorme constelação criativa e psíquica, desvelada pelo escritor americano. Uma estrela distante que encontra seu lugar na configuração do Caos que ele nos mostrou. E como prometido em seus textos, as estrelas estão corretas novamente, os antigos vivem, e cabe a cada um de nós ajudá-los a pisar novamente em nosso mundo!

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/all-you-need-is-love-craft/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/all-you-need-is-love-craft/

Alguns Conteúdos do Necronomicon

Enciclopédia Cthulhiana – Apêndice C

O famoso verso:

Não está morto aquele que pode eternamente jazer,
E em épocas estranhas até a morte pode vir a morrer.

Uma tradução literal do texto árabe seria:

Aquela coisa não está morta pois possui a capacidade de continuar existindo eternamente,
E se os ( tempos, coisas) anormais (bizarros, estranhos) chegarem, então a morte pode deixar de ser.

(“Notes on a Fragment of the Necronomicon”, Hamblin; “The Nameless City”, Lovecraft)

Uma fórmula para chamar Yog-Sothoth pode ser encontrada na página 751.
(“The Dunwich Horror”, Lovecraft)

Na página 224 está o Cântico Hoy-Dhin, que é necessário para chamar o Negro. Infelizmente o restante deste procedimento está no Cthaat Aquadingen.
(“The Horror at Oakdeene”, Lumley)

Uma cópia do símbolo dos Deuses Mais Antigos.
(“Castle Dark”, Herber (C))

O encantamento Vach-Viraj, que é usado contra Nyogtha.
(“The Salem Horror”, Kuttner)

Uma fórmula para evocar o próprio Nyogtha.
(“The Salem Horror”, Kuttner)

Um conto sobre a morte de Yakthoob, o antigo professor de Alhazred.
(“The Doom of Yathoob”, Carter)

A estória de como Kish e seus seguidores escaparam de Sarnath antes da destruição da cidade.
(“Zoth-Ommog”, Carter)

Um exorcismo no qual uma centena de demônios e espíritos do mal são nomeados (esta fórmula não aparece na versão em Latim de Wormius).
(“The Return pf the Sorcerer”, Smith)

Um feitiço que permite que o operador troque de mente com a vítima.
(“The Thing in the Doorstep”, Lovecraft)

Uma maneira de se criar um Portal no local da Esfinge, sob a pirâmide de Giza, que enviará uma pessoa diretamente a Nyarlathotep.
(“Cairo”, DiTillio e Willis (C))

O Sinal Voorish.
(“The Dunwich Horror”, Lovecraft)

O Ritual Mao.
(“The Plain of Sound”, Campbell)

O Ritual Zoan, que protege o operador contra Mnomquah.
(“Something in the Moonlight”, Carter)

Um gráfico mostrando a posição de vários corpos celestes, que está incompleto e obsoleto.
(“The Horror from de Bridge”, Campbell)

Um feitiço que pode ser usado para banir Bugg-Shash quando ele vem a esta dimensão.
(“The Kiss of Bugg-Shash”, Lumley)

E possivelmente a chave para a telepatia.
(“I Know What You Need”, King)

Daniel Harms

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/alguns-conteudos-do-necronomicon/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/alguns-conteudos-do-necronomicon/

Alan Moore em como seu novo Cthullu é cômico como (e ao contrario) Watchman

Então Watchman é este trabalho inaugural em quadrinhos certo? Ele tomos nossa sensibilidade a capas e meias e transformou-os para sempre em seu ouvido. Sem Watchman, quem sabe o que seria dos quadrinhos hoje? Poderíamos ter revertido para sorrir como Bob Kane – ao estilo Batman! Mas não o fez, e nós temos que agradecer a Alan Moore.

 

Enquanto isso, os mitos de H.P Lovecraft meio que vivem em seu próprio mundinho. Muitas luas atrás, suficientes colegas escritores do gênero trabalharam apoiando Lovecraft, chegando com todos os tipos de criaturas antigas, de criação da loucura. Mas eu penso que se estamos sendo honesto, o estilo Lovecraftiniano meio que tem definhado ao longo dos anos. Não que as pessoas não escrevam, é que nunca teve aquele momento que redefina Watchman.

E não é que Alan Moore nunca escreveu neste estilo; no passado nos ainda recomendamos sua historia “Allan and the Sundered Veil”.  E nos últimos anos, Moore também fez uma serie de quadrinhos chamada “Necronomicon” que definitivamente tinha o toque do tentáculo Lovecraft nele.

 

Mas nenhuma dessas histórias fez o que o Watchman fez tão bem – redefinir um gênero para sempre. Mas agora Alan Moore esta trabalhando no que de certa forma, é um seguimento “Neonmicon”, chamado “Providence”. E isso parecer ser um artigo genuíno. Alan Moore falou com o “The Beat” sobre isso recentemente, e o que ele tinha a dizer nos deixou muito animados. Veja isto:

 

… Com “Providence”, o que estou fazendo, olhando tanto a sociedade norte-americana em 1919, tanto quanto estou olhando Lovecraft, nos termos da minha pesquisa, e estou me conectando com os temas de Lovecraft e sua personalidade, a certo ponto que as tensões foram incrivelmente se evidenciando na sociedade americana. Assim não há o elemento do mesmo, mas a quantidade de pesquisa a qual estou fazendo dentro da América de 1919, na cultura “gay” da América de 1919, na forma que a sociedade americana estava começando a formar correntes em torno disto, e a pesquisa sobre os lugares reais, pois isto é definido em uma América de verdade – não existe Arkham nele, não existe Innsmouth, mas há verdadeiras localizações que eu acredito que são “sites” coerentes para as historias de Lovecraft aonde eu ligo. Significa que, por exemplo, com a edição de quatro, eu tenho acumulado um material enorme de referencia relativo à cidade de Athol, em Massachusetts. Eu sei mais sobre Athol, provavelmente, mais do que as pessoas que por lá vivem. Nós temos toda historia da cidade e a sua atual situação, os mapas de diferentes períodos – eu estou fazendo meu melhor para fazer tudo absolutamente autentico.

 

De modo que é muito promissor. Esta noção de realmente fazer a pesquisa e realmente compreender a realidade desse mundo que Lovecraft estava tentando retratar, poderia realmente dar a “Providence” uma vantagem que outras histórias contemporâneas de Lovecraft às vezes falta. Quanto a comparação com Watchman…

 

É obvio que é um animal completamente diferente de qualquer coisa como Watchman, mas não é este o ponto de semelhança. Começa a partir de – se os personagens de Lovecraft, se os monstros, se os locais de Lovecraft realmente existiram em um mundo real, então o que eles realmente são e como seria o mundo? Então é a mesma premissa, mas isso esta me levando em algumas direções novas interessantes.

 

Portanto você tem isso – Alan Moore esta se aproximando de “Providence” com o mesmo zelo e paixão que ele teve com Watchman. Não será o mesmo (pois nada pode ser), mas a perspectiva de Moore é revigorar os mitos Lovecraftiniano, nos fazendo salivar e ficar esperançosos de que isso ira significar um novo amanhecer para o velho Cthullu e o resto de seus amigos assustadores.

Trad. por Carolina Rezende – Hécate

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/alan-moore-em-como-seu-novo-cthullu-e-comico-como-e-ao-contrario-w&#8230; […]

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The Chaonomicon, por Jaq D Hawkins

Magia+do+Caos

Top 50 Livros de Magia do Caos coloquei no Top 1 o livro que a Jaq D Hawkins escreveu em 1996. Como a versão impressa está esgotada nas editoras, a autora resolveu escrever um livro novo na mesma linha de “Understanding Chaos Magic”. Esse mês ela lançou “The Chaonomicon” que está disponível pela Amazon brasileira.

Finalizei minha leitura agora mesmo e gostaria de compartilhar o que aprendi, incluindo alguns trechos da obra que me chamaram a atenção. Esse é um excelente livro para iniciantes, pois trata de temas como história da magia do caos, deidades do caos, teoria do caos, Austin Osman Spare, sigilos, servidores, grupos de magia, iniciação, técnicas de magia, rituais e muito mais.

Eis algumas passagens da obra:

“O termo ‘magia do caos’ foi criado pelo magista e autor Peter J. Carroll em meados dos anos 70. Ele escreveu e mantém que seu significado reflete a aleatoriedade do universo”

“A aleatoriedade na natureza não é inteiramente aleatória, mas trabalha dentro de parâmetros”

“Foi dito que se você pergunta para dez magistas do caos o que é a magia do caos, você irá obter onze respostas diferentes”

“Magia, de qualquer tipo, atrai uma certa porcentagem de pessoas que estão procurando por respostas simples para os problemas da vida. A realidade não é um conto de fadas. Nós não temos uma varinha e todos os problemas irão desaparecer. A magia pode ajudar uma situação, mas a magia é trabalho e aprender como fazê-la ser efetiva é um compromisso de toda uma vida de estudo. Por toda a reputação que a magia do caos tem de gerar ‘atalhos’ na prática mágica, tais atalhos só são efetivos se o magista sabe o que está fazendo”

“Décadas depois do começo da magia do caos, as pessoas ainda perguntam: ‘O que é isso?’. A dificuldade de responder essa pergunta simples está no fato de que ninguém pode dizer que algo não é magia do caos, porque ela é uma atitude em relação à magia e não um sistema em si. Autores modernos de livros que tratam da magia do caos escrevem sobre o misticismo oriental de uma perspectiva caoísta, um livro de rituais Discordianos ou um diário pessoal de práticas mágicas e ninguém pode dizer: ‘Mas isso não é magia do caos’”. 

“Minha própria definição, que penso ser a mais simples, é que a magia do caos é sobre entender o mecanismo da magia, a Física de como a magia funciona”

“Um dos problemas que a magia do caos gerou é a atratividade do que parecem ser métodos ritualísticos simples para os novos magistas aspirantes que podem não ter usado nenhuma outra forma de magia antes. Alguns desses magistas do caos noobs pegam o jeito muito bem, mas muitos passam mais tempo reclamando em grupos de internet e mídias sociais que tal magia não funciona do que tentando desenvolver sistemas que funcionam”

E agora vamos aos meus comentários:

A autora conversou bastante com Kenneth Grant para perguntar a ele sobre seu amigo Austin Osman Spare, então algumas das informações sobre Spare em seu livro são inéditas.

Spare costumava dividir seus sigilos em partes. Por exemplo: “Eu quero” + “obter” + “a força de um tigre” poderiam gerar três sigilos diferentes que poderiam ser posteriormente combinados. Assim você poderia guardar as duas primeiras partes para usar mais tarde. Um sigilo não precisaria ser necessariamente destruído, mas virar uma obra de arte na sua parede. Você veria o sigilo tantas vezes que em algum momento sua mente consciente não faria mas a associação entre sigilo e desejo, deixando que apenas a mente inconsciente atuasse. Ela também lembra que Spare costumava lançar seus sigilos escrevendo-os num papel em branco, colocando-o na testa e entoando alguma fórmula ritualística.

Embora Kenneth Grant tenha divulgado a magia com os Grandes Antigos de Lovecraft, foi Phil Hine seu maior divulgador através de sua obra Pseudonomicon. Também foi Hine quem divulgou o uso dos servidores em seu livro “Chaos Servitors: a User Guide” (1991). O termo “servidor” é relativamente novo e surgiu através do trabalho com formas-pensamento.

Jaq D Hawkins nos informa que, segundo uma carta de Charlie Brewster, o início da magia do caos foi em 1976. Peter Carroll começou a escrever para a revista “The New Equinox” publicada por Ray Sherwin. Em 1986 seria lançada a revista Chaos International, editada por P.D. Brown e Ray Sherwin em seus dois primeiros volumes. Nos volumes restantes, até a edição 23, Ian Read assumiu a direção. A revista teve uma pausa e retornou somente após o início do novo milênio. Outras revistas também existiram, como a americana Thanateros (1989-1990) com artigos de Lola Babylon e Peter Carroll. Também houve a revista Konton, editada por D.J. Lawrence (Dead Jellyfish, da IOT do Japão).

O objetivo inicial da IOT foi criar um grupo não hierárquico, mas frequentemente ocorre de pessoas serem vistas como líderes e abusarem do poder. Hawkins conta como isso acontece não somente na magia do caos, mas em várias outras correntes de magia, incluindo alguns covens de wicca.

Sobre a teoria do caos, Frater Choronzon em Liber Cyber nos diz que o fato de a magia do caos e a matemática do caos terem se desenvolvido mais ou menos na mesma época foi mais uma das “coincidências” mágicas que costumam ocorrer.

A autora nos fala sobre muitas divindades do caos, incluindo Exu. E ela alerta como é difícil trabalhar com as “entidades imaginárias” como as dos livros de ficção (como as obras de Lovecraft). Afinal, os efeitos advindos desses trabalhos são bem reais e pode ser um problema se o magista não souber mais separar o real e o imaginário. Para exemplificar essa abordagem, há o seguinte trecho do livro:

“Austin Spare escreveu sobre um conceito que ele chamou ‘neither-neither’. Essa é uma referência a algo que não é nem uma coisa nem outra. Nesse caso, os Deuses são vistos nem como reais e nem como não reais. Eles existem para nós, e ainda assim eles não existem. Nós damos a eles existência em nossa crença, que é uma existência bastante real. Porém, se nós escolhermos não acreditar neles, eles não existem, a não ser que outro magista escolha acreditar numa entidade particular e nós entramos em contato com isso através de uma experiência comum com o outro magista”. 

Eu diria que essa abordagem é bastante semelhante às teorias de Berkeley na filosofia de que “ser é ser percebido”.

Hawkins também nos alerta sobre o perigo de interpretarmos a realidade por somente um ponto de vista. Será que existe a ordem na natureza ou o caos? Estamos acostumados a uma interpretação linear da realidade baseada na matemática, mas “montanhas não são cones”. A teoria do caos nos aponta para uma realidade caótica, mas mesmo no interior do caos é possível encontrar padrões e ordem.

E será que a natureza funciona numa luta pela sobrevivência? Vejamos esse trecho da obra:

“O notável biólogo evolucionista Stephen Jay Gould salienta que A Origem das Espécies de Darwin foi interpretada de forma muito diferente pelo intelectual russo Petr Kropotkin da forma que foi interpretada pelos cientistas europeus e americanos. Kropotkin encontrou na natureza um sistema de cooperação em vez de competição. Biólogos eminentes como Gould mencionam que a pesquisa não apoia o ponto de vista neo-Darwiniano de que a acumulação gradual de mutações irá eventualmente levar a novas espécies”

A magia do caos nos convida a interpretar a realidade sob múltiplos pontos de vista e paradigmas, sem considerar necessariamente um melhor que o outro. A questão é: “melhor para que e para quem?”, que também é uma visão razoável para aplicar a modelos científicos, tais como nos sugeriu filósofos da ciência como Thomas Kuhn e Karl Popper.

Esses são alguns exemplos de temas abordados na obra. A autora também sugere técnicas mágicas e exercícios a serem usados por iniciantes. É um livro com uma porção de tudo que considero importante na magia. Uma valiosa leitura. E a autora já anunciou que lançará em breve um livro novo sobre magia, que aguardaremos com entusiasmo.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/the-chaonomicon-por-jaq-d-hawkins

Livro sobre caoísmo e Cthulhu

Aqui está o PDF e aqui a versão impressa.

Inicialmente minha intenção era escrever um breve livro com minha visão atual sobre o Caos, mas acabei desenhando o Cthulhu na capa. Então eu pensei: “que diabos, falemos sobre os Grandes Antigos também!”

Primeiro digo porque acho que a abordagem da magia do caos possui relevância e algumas noções filosóficas por trás dela. Depois comparo o conceito de “absurdo” das operações de Lovecraft com a teologia judaico-cristã.

Finalmente, para as práticas, falo sobre servidores, magia divina, gnose e tecnomagia. Você aprenderá como invocar Cthulhu e seus amigos, e ainda tem de brinde alguns contos sobre isso no fim. Para minha versão baseei-me um pouco em “Epoch” de Peter Carroll e em “Pseudonomicon” de Phil Hine.

Não se trata de um sistema completo, mas de um livro com pedaços de ideias sobre vários temas, com o intuito de tornar a leitura fluida.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/livro-sobre-cao%C3%ADsmo-e-cthulhu

Aklo, a “linguagem” dos Grandes Antigos de H.P.Lovecraft

Dicionários são sempre divertidos, mas nem sempre reconfortantes
– M.F.K. Fisher

É inegável que um dos maiores charmes presentes não apenas nas histórias de Lovecraft mas também de seus “afilhados”, são os fragmentos de rituais escritos em línguas alienígenas ou inumanas.

O trecho mais famoso está presente em seu conto O Chamado de Cthulhu – Call of Cthulhu – escrito em 1926 e publicado dois anos depois. No conto a história se desenrola em torno do que se identifica como o Culto a Cthulhu e suas práticas ao redor do globo desde eras imemoriais até os dias de hoje. Durante uma batida policial em um pântano encontram quase 100 membros do culto em um frênesi, cercado por corpos talhados com marcas estranhas e no centros das antenções uma estatueta, todos eles entoando a frase:

ph’nglui mglw’nafh Cthulhu R’lyeh wgah’nagl fhtagn

Eventualmente Lovecraft a traduz, dando como significado “Em sua casa em R’lyeh, Cthulhu morto espera sonhando”.

Essa língua inteligível nunca foi propriamente batizada, mas em outras três obras Lovecraft menciona um nome, criado por um de seus escritores favoritos, Arthur Machen. Em 1899 Machen escreveu As Pessoas Brancas – The White People – um conto curto de horror fantástico que mostra como uma conversa entre dois homens sobre a natureza do mal leva um deles a revelar um temido Caderno Verde, que tem em sua posse. O caderno contém os escritos de uma jovem que, de forma ingênua e provocante, descreve suas memórias de quando era ainda mais nova, além de conversas que teve com sua ama, que a inicia em um mundo secreto repleto de folclore e magia ritual. Em seu caderno a jovem faz alusões cripticas a ninfas, Dôls, voolas, cerimônias brancas, verdes e vermelhas, caracteres Aklo, às línguas Xu e Chian, jogos Mao e a um jogo chamado Cidade de Tróia.

Aklo nunca passou disso em suas primeiras evocações, Machen apenas cita “caracteres Aklo” uma vez em todo o conto, mas isso serviu para incendiar a imaginação de Lovecraft que o menciona em três contos seus, O Horror de Dunwich, escrito em 1928, O Diário de Alonzo Typer, escrito em parceria com  William Lumley em outubro de 1935 e O Assombro das Trevas, escrito em novembro de 1935.

Machen não faz nenhuma menção nem tentativa alguma de sequer explicar o que são caracteres Aklo, ou como, onde ou por quem são usados. Já Lovecraft, em o Horror de Dunwich, o menciona duas vezes em uma única passagem encontrada no diário de uma das personagens:

“Hoje aprendi o Aklo para o Sabaoth, mas não gostei, podendo ser respondido das colinas, mas não do ar.”

e

“Imagino como irei parecer quando a terra for limpa e não houverem mais nela seres terrenos. Aquele que veio com o Aklo Sabaoth disse que eu posso ser transfigurado já que muito do exterior deve ser trabalhado.”

Neste trabalho Lovecraft une Aklo ao termo Sabaoth. Sabaoth é o termo judaico para “Hoste” ou “Exército”, e é usado exclusivamente com o nome do Senhor, para designar Deus como sendo o Senhor das Hostes ou Senhor dos Exércitos. Lovecraft teve acesso a livros de Eliphas Levi, como o Dogma e Ritual da Alta magia onde o termo Sabaoth aparece em dois capítulos, O “Sabbat” dos Feiticeiros”, que foi usado por Lovecraft em seu romance O Caso de Charles Dexter Ward e “O Setenário dos Talismãs”. Em ambos os textos o nome Sabaoth aparece precedido de um dos títulos de Deus: Adonai Sabaoth e Elohim Sabaoth respectivamente. Em ambos os casos o nome parece ser usado para rituais de necromancia ou a confecção de amuletos que necessitam de rituais que envolvem sangue. Algo perfeito para Lovecraft, mas que no texto, como ele o colocou, parece ficar deslocado. Uma hipótese é que tenha usado a palavra Sabaoht no lugar da palavra Sabbath, o termo utilizado para designar, popularmente, a conferência das feiticeiras, assunto tratado à exaustão e com todos os detalhes góticos no capítulo do livro de Levi. Assim ter aprendido as runas para o Sabbath e aquele que veio do Sabbath talvez fizessem mais sentido. Mas isso é indiferente no momento.

No segundo conto que escreveu com Lumley, O Diário de Alonzo Typer, Lovecraft menciona o Aklo três vezes, dando um pouco mais de forma à idéia do que poderia ser:

“Eu acredito que possa ter se aliado a poderes que não desta terra – poderes no espaço além do tempo e além do universo. Ele se eleva como um colosso, se levarmos em consideração o que dizem os textos Aklo.”

seguido por

“Mais tarde eu subi ao sótão, onde encontrei vários baús repletos de livros estranhos – muitos de aspecto completamente alienígena, tanto em sua escrita quanto em sua forma. Um continha variações da fórmula Aklo que eu nem sabia existir.”

e finalmente

“Eu acredito que mais de uma presença possui tal tamanho e eu sei agora que o terceiro ritual Aklo – que achei no livro do sótão ontem – tornaria tal ser sólido e visível.”

Neste texto Lovecraft espande o conceito de Aklo de meros caracteres ou língua para uma cultura, os Textos Aklo, fórmulas e rituais Aklo. A idéia de que um ritual Aklo deveria ser usado para tornar um ser imaterial em uma presença sólida e visível é compatível com a idéia usada no Horror de Dunwich, onde Wilbor deseja manifestar em nosso mundo uma dessas criaturas usando as fórmulas do Necronomicon. Assim o Aklo que ele aprende pode ser uma parte fundamental do processo de evocação. Nos Diários de Alonzo Typer existe a menção a uma série de rituais e escritos Aklo. Isso poderia indicar uma forma não apenas de linguagem, mas de “escola mágica”, assim como a cabala tem sua cultura e caracteres, o Bon Po também, etc. Aklo poderia ser uma cultura que transcende apenas um alfabeto e uma linguagem.

No Assombro nas Trevas Lovecraft faz apenas uma menção ao Aklo, mas desta vez mais ampla.

“Foi em junho que o diário de Blake falou de sua vitória sobre o criptograma. O texto estava escrito, ele descobriu, na sombria linguagem Aklo, usada por certos cultos de maligna antigüidade e que ele aprendera de maneira hesitante através de pesquisas anteriores. O diário é estranhamente reticente sobre o que Blake decifrou, mas ele estava claramente impressionado e desconcertado por seus resultados. Haviam referências a um Assombro das Trevas que podia ser desperto ao se contemplar nas profundezas do Trapezoedro Brilhante e conjecturas insanas sobre os golfos negros do caos de onde ele era invocado.”

Tanto o texto de Machen quanto os de Lovecraft dão a idéia clara que o Aklo se deriva de uma cultura incrivelmente antiga e muito avançada nas artes obscuras. Capazes de evocar criaturas de outras dimensões, materializá-las em nosso mundo e conhecida por poucas pessoas nos dias de hoje. Uma cultura que possuia uma língua proibida e poderosa e possivelmente não humana.

Em vários textos Lovecraft faz uso de sua língua para dar clímax a alguma passagem específica, como no Caso de Charles Dexter Ward onde a fórmula “Y’AI ‘NG’NGAH, YOG-SOTHOTH H’EE-L’GEB FAI THRODOG UAAAH” é usada. Ou os gritos de “IA SHUB-NIGGURATH” que ecoam em diversos de seus contos.

Lovecraft não apenas nunca batizou explicitamente esta língua como também nunca ligou suas diversas menções em diferentes contos com uma única fonte. Geralmente aponta que uma das personagens encontrou as evocações em livros malditos como o Necronomicon ou o De Vermis Mysteriis, cada um desses livros tendo sido escrito por diferentes pessoas em diferentes épocas, mas, implicitamente, lidando com as mesmas criaturas do panteão Lovecraftiano, conhecido como Mito de Cthulhu.

Mais do que mera linguagem

Assim podemos assumir que essa linguagem poderia de fato ter origem extra-terrestre e ser ensinada a magos, feiticeiros, sacerdotes e ocultistas que entraram em contato com os Antigos. Mas seria correto dizer que esta língua/cultura alienígena seria o Aklo? E por que não? Machen nunca se foi além de sua única menção aos “caracteres Aklo” e Lovecraft escreve que o Aklo é usado “por certos cultos de maligna antigüidade” trazendo informações sobre os horrores que se escondem além do tempo e do espaço. Os próprios nomes das divindades parecem se derivar do Aklo, ou ao menos parecem ter chegado à terra nessa língua: Cthulhu, Shub-Niggurath, Shoggots, Cthugua, Tsatogua, etc. Além de outros nomes como a cidade de R’lyeh construída por Cthulhu, o planalto de Leng ou mesmo a misteriosa Sarnath, além disso existem menções a fórmulas e rituais como a fórmula de Dho-Hna; se somarmos a isso a menção de Lovecraft ao aspecto “completamente alienígena, tanto em sua escrita quanto em sua forma” podemos associar não apenas os rituais mas a origem dos Antigos e seus costumes ao Aklo. Talvez os Antigos sejam o Aklo assim como nós somos humanos.

Um ponto importantíssimo do idioma Aklo é que, ao contrário de qualquer outro idioma conhecido, ele não foi concebido para ser pronunciado por humanos, ou por criaturas presas na forma humana. Ele não foi nem mesmo concebido para ser pronunciado com o uso da garganta e língua humana, de modo que devemos ter ciência de que um homo sapiens falando Aklo é como a Gorila Koko falando a linguagem de sinais. Sempre uma mera aproximação limitada por nossa anatomia, neurologia e nossa consciência. É um idioma que deve ser falando principalmente com a mente, e não com as cordas vocais.

Essa idéia foi desenvolvida de forma magistral por Alan Moore no conto curto O Pátio – The Courtyard -, publicado na antologia Sabedoria Estrelar: Um Tributo a H. P. Lovecraft -The Starry Wisdom: A Tribute to H. P. Lovecraft. Em sua visão Aklo não é apenas uma língua alienígena, mas uma chave para se abrir as portas da percepção da mente humana. De acordo com Moore apenas ouvir, ler ou pronunciar o Aklo não causa nenhum efeito à mente, mas se “absorvida” por um cérebro em um estado alternado de consciência os resultados podem ser devastadores. No conto o agende federal Sax ingere DMT-7, para que pudesse “receber” o Aklo. A escolha de Moore é curiosa e muito acertada, já que a DMT, ou dimetiltriptamina é uma substância psicodélica encontrada não apenas em vários gêneros de plantas como a Acacia, Mimosa, Anadenanthera, Chrysanthemum, Psychotria, Desmanthus, etc. – famosa em celebrações religiosas como o culto do Santo Daime, da ayahuasca e da Jurema – como também é sintetizada no cérebro pelo próprio corpo humano. Não se sabe até hoje de forma concreta qual a função do DMT em nosso organismo, nem que órgão o produz – frequentemente se especula que a responsável é a glândula pineal. De acordo com Moore, assim que o DMT produz seu efeito no cérebro, cada “dose”, ou palavra em Aklo destrava na mente a compreensão física para seu próprio significado. Enquanto Lovecraft trabalhava apenas com a tradução do significado de cada palavra:

ph’nglui mglw’nafh Cthulhu R’lyeh wgah’nagl fhtagn = Em sua casa em R’lyeh, Cthulhu morto espera sonhando

Moore trabalha com a compreensão de cada significado, especificamente de três palavras:

WZA-Y’EI

Conhece a Tudo. É uma palavra para o espaço conceitual negativo que rodeia um conceito positivo. As classes de coisas maiores do que o pensamento, sendo tudo o que o pensamento exclui.

DHO-HNA

Uma força que define. Algo que dá significado ao seu receptáculo como uma mão dentro de uma luva, ou vento nos moinhos de vento. Um visitante ou um intruso que cruzam um umbral, lhe dando significado.

YR NHHNGR

Não há uma definição em palavras, pensamentos esquecidos se juntam em flashes que cegam, e fusões impensáveis ocorrem. Surge uma visão de tudo o que existe além de nosso universo, não apenas físico, mas mental.

Se uma língua é um sistema formado por regras e valores presentes na mente dos falantes de uma comunidade linguística, podemos evocar Korzybski que afirmou que todos nós somos limitados por nosso sistema nervoso e nossa linguagem. Assim Moore pode ter encontrado a fórmula para se reprogramar o cérebro e a consciência com os valores presentes em uma cultura alienígena pré-humana, o DMT serviria para preparar o sistema nervoso para receber não apenas uma palavra mas todos os valores presentes nela, desta forma a pessoa aprenderia um dialeto novo não pela repetição ou pelos inúmeros atos de fala com que tem contato, mas de forma viral, já que para compreender o significado de uma palavra a pessoa entraria em contato com todas as palavras usadas para descrevê-la, e cada palavra, por si só, tem o próprio significado. Moore afirma que Aklo é a Síntaxe de Ur, o vocabulário primogênito que recebeu sua forma de ordens pré-conscientes vindas da quente incoerência de estrelas. Ela é composta de cores perdidas e intensidades esquecidas e isso faria com que, uma vez absorvida pelo cérebo, desimpedisse a mente de suas limitações ou, como escreveu Blake: “Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo apareceria para o homem tal como é: infinito”. Isso também faria com que a pessoa pudesse enlouquecer, já que os valores que temos podem ser completamente diferentes daqueles que inundarão nossa mente, e isso é uma constante nos textos de Lovecraft, onde a personagem, quando se defronta com o conhecimento alienígena/antigo enlouquece, traz para si uma antiga maldição, morre ou as três coisas – não necessariamente nesta ordem.

 

Escrevendo Aklo

Como Lovecraft e sua turma não desenvolveram o Aklo além de citações breves e enigmáticas, coube a seus fãs modernos e contemporâneos desenvolver a língua. Inclusive muitos a rebatizaram de R’lyehan, Cthuvian e até Tsath-yo, além de Lovecraftiano e outros nomes mais estúpidos. Tanto R’lyehan quanto Cthuvian associam a língua diretamente a Cthulhu e a cidade que lhe serve de prisão, R’lyeh. O problema com esses nomes, é que além de ridículos tranformam a linguagem em um dialeto, lhe roubando a universalidade que seus criadores lhe atribuiram originalmente, é como chamar a língua falada no Brasil de Santista, Paulista ou Carioca só porque uma celebridade de alguma dessas cidades caiu na graça dos estrangeiros. Assim vamos nos ater a seu nome original.

Um primeiro obstáculo que encontramos quando começamos a estudar o Aklo é que ele foi desenvolvido por pessoas que falavam o inglês e que não tentaram desenvolver a complexidade da língua. Assim “Cthulhu fhtagn” é traduzido pra o inglês “Cthulhu Dreaming” ou Cthulhu Sonhando. “ph’nglui mglw’nafh Cthulhu R’lyeh wgah’nagl fhtagn” é traduzido para o inglês “In his house at R’lyeh dead Cthulhu waits dreaming” – Em sua casa em R’lyeh, Cthulhu morto espera sonhando. As únicas três palavras que podem ser traduzidas corretamente por comparação são dois nomes, Cthulhu e R’Lyeh e Fhtagn que significaria sonhando. Qualquer tradução palavra por palavra do texto cai no achismo, ainda mais que podemos ver que R’lyeh e Cthulhu são invertidos na tradução. Não há indicações do que “ph’nglui”, “mglw’nafh” e “wgah’nagl” signifiquem respectivamente, e ainda se pararmos para pensar que existem três palavras/termos/conceitos em Aklo que devem ser transliterados nas palavras/termos restantes, “em sua casa”, “morto” e “espera/aguarda”, não sabemos como a gramática funciona – por exemplo, em Latim, o que determina o significado de uma palavra não é sua ordem na frase, mas a terminação de cada palavra, assim ‘Caim matou Abel’ pode ser escrito, em latim, tanto ‘Caim matou Abel’ quanto ‘Abel matou Cain’ ou ainda ‘matou Abel Caim’ que saberíamos não apenas o significado da sentença mas quem faz o papel de assassino e quem foi a vítima. Poderíamos afirmar que Aklo seria semelhante ao latim ou teria uma estrutura mais rígida como o português ou inglês moderno? Não podemos afirmar nada.

Mesmo assim, compilando frases e termos em Aklo usado não apenas na ficção Lovecraftiana mas no material que surgiu posteriormente, podemos chegar a algumas conclusões:

– Aparentemente o Aklo não faz distinções entre pronomes, verbos, adjetivos e outras figuras de linguagem.

– Pronomes podem não aparecer.

– Verbos possuem apenas dois tempos: presente e não presente. A mente dos Antigos não pode ser explicada linearmente, e o nosso conceito de tempo – presente, passado e futuro – se mostra extremamente limítrofe e primitivo.

– Não existem preposições soltas, elas estão geralmente implícitas.

– As palavras se combinam facilmente com prefixos e sufixos que explicam se está sendo descrito um lugar, entidade ou dimensão, ou se algo está acontecendo agora ou não agora.

– Prefixos e sufixos são ligados, geralmente através de apóstrofe.

– Termos novos formados por duas ou mais palavras são ligados por hífem.

– O plural geralmente é indicado pela repetição da última letra.

– Não existe definição de gênero, que é uma limitação característica do tipo de existência física deste planeta, ao invés disso existe uma ligação entre energia e forma, tudo relacionado a energia é tido como masculino, tudo relacionado ao que dá forma é feminino, por isso a distinção entre Pai – principio energético – e Mãe – o ser que dá a forma à vida.

– Não existe diferenciação de localização espacial e localização temporal.

Além da forma, a direção da escrita também é vista como elemento diferenciador do sistemas Aklo. Semelhante ao grego antigo, o Aklo é escrito em linhas com direção alternada: uma linha da direita para a esquerda e a linha seguinte da esquerda para a direita, invertendo a direção das letras; a terceira linha equivalia à primeira e a quarta à segunda e assim sucessivamente. Esse método é chamado de boustrophedon, uma palavra grega que significa “da maneira como o boi ara o campo”. Em livros recentes é compreensível que a escrita seja feita da esquerda para a direita como se tornou comum no ocidente.

 

Caracteres Aklo

Não existe um alfabeto Aklo “oficial” apontado por Machen, Lovecraft ou outro escritor, o que existem são trabalhos feitos por fãs que tentam representar o que consideram ser o alfabeto. O problema com a maioria é que se revelam rebuscados demais para serem práticos. Ou runas trabalhadas demais, ou simbolos carregados de um barroquismo que interferem em sua escrita.

O Aklo sempre foi mostrado de duas formas: ou a transliteração fonética das palavras, como Fhtagn, ou descrição de arabescos e hieroglifos hediondos, antigos e não relacionados com nenhuma civilização. É sabido que a forma de escrita mais antiga que se tem conhecimento hoje era essencialmente formada por ideogramas. O desenho de um pão representava o próprio pão. Duas pernas poderiam representar tanto andar quanto ficar de pé. Com o tempo as simbolos se tornaram abstratos, deixando de representar conceitos para indicar sons. A letra M do nosso alfabeto evoluiu de um hieróglifo egípcio que representava ondas na água e o som que essas ondas faziam, a palavra egípcia água contem apenas uma consoante: M, assim a figura M não representava apenas a idéia de água mas o som que faziam.

Quando a escrita necessitou se tornar “portátil”, os ideogramas foram substituídos por caracteres que pudessem ser desenhados com rapidez pelas ferramentas de mão no meio em que seriam carregados. As ferramentas eram um instrumento pontiagudo e forma triangular e o “papel” da época eram tábuas de argila. O que determinou a evolução da escrita então foi o instrumento usado para escrever, logo que o triangular foi substituído por outro em forma de cunha, surgiu a escrita cuneiforme aproximadamente no século XXIX a.C.

Assim é lógico que qualquer tipo de escrita primitiva feita por humanos teria que seguir uma linha cuneiforme, ou sem formas que exigissem muita complexidade. Isso explicaria também a aparência alienígena atribuída aos textos encontrados nos tomos antigos.

Em 1934, seis anos após a publicação do conto O Chamado de Cthulhu, H.P. Lovecraft enviou uma carta a R.H. Barlow com uma ilustração de próprio punho da escultura de Cthulhu sentado em um bloco com inscrições ao redor.

As inscrições com certeza seriam, na estatueta descrita, Aklo. Lovecraft tentou no desenho incorporar sua versão do Aklo ou simplesmente fez rabiscos sem sentido apenas para mostrar o conceito da estatueta? Alguns dos rabiscos de Lovecraft lembram alguns caracteres do alfabeto fenício.

Outros simplesmente parecem rabiscos mesmo. Mas como os fenícios evoluiram dos sumérios, e uma das cidades estados mais conhecidas da Suméria era Ur talvez não seja um chute tão extremo dizer que Aklo poderia ser representado por caracteres que tenham sido usados pelos fenícios. Curiosamente em uma das edições mais populares do Necronomicon, a de Simon, todo panteão Lovecraftiano é associado com as divindades sumérias, mas essa associação nunca foi feita de forma explícita ou implícita pelos escritores do Mito.

Outra curiosidade a respeito do Necronomicon é que outra de suas edições, conhecida como O Necronomicon de Wilson-Hay-Turner-Langford, graças a seus autores, Colin Wilson, George Hay, Robert Turner e David Langford, oferece um alfabeto de Nug-Soth para ser usado em rituais e sigilos. Nug-Soth é personagem do conto “A Sombra fora do Tempo” de Lovecraft, um mago dos conquistadores negros que viveu no século XVII d.C – DEPOIS DE CRISTO – e que por causa de uma tranferência de mentes com um dos membros da Grande Raça dos Yith ficou aprisionado no ano 150,000,000 a.C. – ANTES DE CRISTO.

Nunca foi afirmado que esse alfabeto fosse Aklo, e basta uma olhada para ver que, apesar dele ter uma funcionalidade prática para a antiguidade, lhe falta a aura alienígena e o aspecto sombrio tão presentes nos textos lovecraftianos. E assim voltamos ao alfabeto fenício. Em 1518 um alfabeto de origem desconhecida foi publicado na obra Polygraphia de Johannes Trithemius. O alfabeto foi atribuido a Honório de Tebas, uma figura cuja existência beira a lenda. Ninguém sabe quem foi Honório, já afirmaram que na verdade era o Papa Honório, e assim sua figura foi associada não apenas com um Papa mas dois: Honorius I e Honorius III. Ele é o autor de um dos maiores livros de magia negra medieval existentes, conhecido como Liber Juratus ou O Livro Jurado de Honório. Curiosamente esse alfabeto não foi encontrado em nenhum dos dois livros atribuídos a Honório que sobreviveram a Inquisição. O alfabeto Tebano, como ficou conhecido, não apresenta semelhança com os alfabetos da época em que foi publicado, seus caracteres não se assemelham a letras latinas, hebraicas, árabes ou de nenhum tipo, mas tem certa semelhança a um alfabeto mais antigo, o fenício. O Alfabeto Tebano, também conhecido como Alfabeto das Bruxas, por causa do seu uso difundido em grupos de feiticeiras ou mesmo por praticantes solitárias, tem as características oníricas e estranhas evocadas por Lovecraft e se assemelham a alguns de seus “rabiscos” na base da estátua. Se levarmos em conta sua presença em livros de magia negra medievais, sua origem desconhecida, sem uso místico, podemos ver que serve perfeitamente como um bom candidato a canal para o Aklo ser transmitido.

Assim como no Latim não existe diferença entre a pronuncia do I e do J ou do U e do V – ou o W moderno – sendo o mesmo caracter usado para indicar os diferentes sons. Não existem também diferenciação entre maiúsculas ou minúsculas, como no caso do hebraico. Assim as diferentes “letras” representam os sons pronunciados pelo mago. Também não existem apóstrofes, hífens ou qualquer pontuação além de uma indicação de fim de sentença, o que indica que o texto não era separado em frases ou parágrafos, sento escrito em bloco com o sinalizador de fim de sentença.

Isso sim é algo que esperamos encontrar garatujado no Necronomicon.

Os apóstrofes, hífens, etc. que surgem na transliteração são indicativos apenas da sonoridade da palavra, de sua pronúncia, não existem no texto Aklo original.

Baixe aqui o Alfabeto Tebano

Pronunciando Aklo

Apesar de deixar sempre claro que os nomes e palavras Aklo não poderiam ser pronunciados por gargantas humanas, existe uma aproximação fonética.

Por exemplo, apesar de Lovecraft ter sugerido diferentes pronúncias para o nome Cthulhu, a mais aceita é a que oferece em Selected Letter V: o “u” é similar a urubu, e a primeira sílaba não sendo muito diferente de “Klul”, então o primeiro “h” representa o som gutural do “u”. Isso seria, de acordo com Lovecraft, o mais próximo que as cordas vocais humanas chegariam de pronunciar uma língua alienígena.

Mas a pronúncia nos contos é muito próxima da fonética das letras. No Caso de Charles Dexter Ward a fórmula:

Y’ai ‘ng’ngah, Yog-Sothoth

é pronunciada no inglês antigo:

Aye, engengah, Yogge-Sothotha

ou, “abrasileirando”:

Iai, ingeingá, Iogui-Sototi

ou ainda:

Yi nash Yog Sothoth

ou, “abrasileirando”:

I-í náchi Ióg Sossóss

Além disso esbarramos em outro problema levantado pelo próprio Lovecraft quando desejamos aprender a pronunciar corretamente as palavras. Em O Chamado de Cthulhu ele escreve:

“[…] de um ponto indeterminado das profundezas veio uma voz que não era uma voz; uma sensação caótica que apenas uma suposição poderia traduzir como som, mas que ele tentou traduzir com um entulho de letras quase impronunciável, ‘Cthulhu fhtagn’.”

“[…] uma voz ou inteligência subterrânea gritando monotonamente em enigmáticos impactos sensoriais indescritíveis a não ser como sons inarticulados […]”

“[…] o modo de discurso [dos Grandes Antigos] era a transmissão de pensamentos.”

E no Horror de Dunwich:

“É quase errôneo chamá-los de ‘sons’, uma vez que muito do seu medonho, e grave timbre falava diretamente com lugares sombrios de consciência e do terror, muito mais sutis do que o ouvido; mesmo assim é necessário que o façamos, uma vez que sua forma era indiscutivelmente, todavia de forma vaga, a de ‘palavras’ semi-articuladas.”

Assim fica claro que qualquer transliteração de Aklo se torna apenas uma aproximação fonética da forma pronunciada da palavra, pronunciada por uma mente alienígena; forma esta que inclui imagens, sensações, emoções, impressões e qualquer outra forma de informação que o limitado cérebro humano possa processar. É um idioma que deve ser falando principalmente com a mente, e não com as cordas vocais. Faça um exercício, tente traduzir a sua última trepada em uma única palavra, escreva em um papel e depois leia a palavra e veja se ela está à altura do ato. Isso torna a proposta de Moore muito mais interessante, talvez com o uso de alguma droga, como o DTM, o aprendizado do Aklo nos leve mais próximo de seu real significado do que meramente de sua pronuncia. Já que nossa mente filtra apenas o que podemos processar e compreender podemos afirmar que o que sabemos desta língua é muito limitado se comparado com o que um Antigo pode compreender e tentar nos passar.

 

Glossário Aklo – Humano

-agl = (sufixo) lugar

aag = local/realidade dos espíritos / essência sem o corpo

ah = ação genérica, e.g. saudar, comer, fazer

‘ai = falar / chamar / glorificar

athg = firmar (contrato) / concordar

ath = nativa / nascida de

azoth = caos

azathoth = caos + nascer/ser criado

 

‘bthnk = corpo / essência

bug = ir

 

c- = (prefixo) nós / nosso

ch’ = cruzar / viajar / atravessar

chtenff = irmandade / sociedade

 

ebumna = poço

eeh = respostas

ehye = coesão / integridade

ep = não agora / então / mas

ep hai = como consequência neste momento

 

f’- = (prefixo) eles / deles

‘fhalma = mãe

fhayak = enviar / oferecer / lugar

fhhui = considerar / preparar

fhtagn = estado de não consiência do momento (contempla sem conseguir sair da contemplação) o espaço entre dois momentos a experiência mais próaxima é “dormir” ou não estar desperto.

fm’latgh = queimar

ftaghu = pele / o espaço externo que limita uma forma / os ângulos que contém uma forma

 

geb = aqui / agora / esta área

gha = vida

ghft = aquilo que revela formas / luz?

gnaiih = pai/criador

gof’n = criança/criação

gof’nn = crianças/criações

goka = garantir/garantia/assegurar

gotha = desejo/desejar

grah = o mesmo que gha

grah’n = desgarrado/larva (possivelmente grah + nnn)

 

h’- = (prefixo) aquilo/daquilo

hafh’drn = sacerdote / aquele que evoca/chama (possivelmente ai/ah + f’ + ron)

hai = agora

hlirgh = aquele que trilha o caminho próprio / que cria a própria escolha

hri = seguidor

hrii = seguidores

hupadgh = nascido de / pertencente a

 

ilyaa = esperar / aguardar

 

k’yarnak = compartilhar / trocar

kadishtu = compreender (Kadath = não compreendida?)

kn’a = indagar / aprender / absorver

 

l’geb = não aqui mas ao lado / próximo

lg = informação sem forma / “pensamento”

li’hee = “ser oprimido sensorialmente por” o sentimento mais próximo para expressar essa palavra é “sofrendo de”

ll = em / ao lado

lloig = mente / psiquê

lw = consciência livre do corpo/da restrição

lw’nafh = ensino por sonhos / influência por sonhos / doutrina por sonhos (lw + nafh?)

 

mg = (conjunção) ainda que

mnahn’ = sem valor

 

‘nagl = local / espaço de influência

n’ = negação do atributo / não

n’gha = não existência / não consciência / morte (n’ + gha)

n’ghft = ausência de sentidos / escuridão (n’ + ghft)

na’ = (prefixo) (contração de nafl-)

nafl- = (prefixo) não, aplicado ao agora

ng- = (prefixo) (conjunção) e / por consequência / uma ação que depende de uma ação não tomada

nglui = limite

niggur = negro

nilgh’ri = qualquer coisa / todas as coisas

nnn- = (prefixo) observar / proteger

nnn-l = tomar conta / proteger / acompanhar

nnn-lagl = aquele que espreita / aquele que observa de “não aqui”

nog = vir/estar agora

nw = cabeça / lugar / indivíduo

-nyth = (sufixo) servo / extensão da vontade de

 

-og = (sufixo) ênfase

ogg = poder perceber / estar cônscio

ooboshu = carregar / levar para / visitar

-or = (sufixo) força de / aspecto de

orr’e = essência / informação que compõe / ser sem forma ou fronteiras

-oth = (sufixo) nativo de / nascido de

 

ph’ = (prefixo) sobre / além

phlegeth = onde a informação existe / também o local onde duas mentes se encontram (ph’+ lg ?)

 

r’luh = secreto / segredo / escondido / ofuscado (R’lyeh = cidade oculta?)

r’luh-eeh = sem coerção / conhecimento secreto/proibido (R’lyeh = cidade do conhecimento secreto/proibido?)

ron = aquilo que define a vontade / “religião”

 

s’uhn = aliança

sgn’wahl = espaço que existe para mais de um / espaço compartilhado

sh = um aspecto da realidade / reino

shagg = onde sonhos existem (sh + agg ?)

shogg = onde a ausência de sentidos/escuridão existe (sh + ogg ?)

shub = sh + ub ? lugar fértil / o aspecto da fertilidade?

shub-niggurath = shub + niggur + ath = a manifestação negra (cor) viva da fertilidade

shugg = reino da Terra / dimensão onde a Terra é real

soth = forma que dá origem

sothoth = soth + oth ? aquele que nasceu da forma que dá origem

shtunggli = transmitir / contato

sll’ha = convidar / oferecer

stell’bsna = pedir / rezar por

syha’h = todo tempo / ausência de tempo (neste momento) / eternidade

 

tharanak = juramento / exorcismo / trazer a um preço (sacrifício?)

thflthkh’ngha = preparar (para) receber (a) essência/consciência/vida (daquele) que serve/que é extensão de sua vontade

throd = tremer

 

uaaah = conclusão do ritual

ub = fértil

Ugaga = Cria a vida em nosso planeta / é responsável pela vida em nosso planeta (ugg+gha ?)

ugg = Terra / nosso plano de existência

uh’e = muitos / multidão

uln = chamar / evocar / tornar real

 

vra = entrar / se tornar um com

vulgtlagln = pedir/desejar

vulgtm = pedido/desejo

 

wgah’n = ocupar / habitar / controlar

wgah’nagl = casa (de) (ocupar/controlar + local/espaço de influência)

wgn = aguardar no local que habita

wk’hmr = transferir a / impregnar com

 

y’hah = “que se realize”

y- = (prefixo) eu / meu

ya = eu

-yar = (sufixo) tempo de / momento

yog = era / tempo

yog-sothoth = yog+soth+oth = aquele que nasceu da forma que dá origem ao tempo

 

zhro – anular desejo/feitiço

por Shub-Nigger, A Puta dos Mil Bodes

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/aklo/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/aklo/

Cthulhu: uma introdução ao universo de H. P. Lovecraft

As Edições Textos para Reflexão publicam o conto mais conhecido de H. P. Lovecraft, o escritor que revolucionou o Horror Fantástico. Traduzido do inglês original por Rafael Arrais.

Na cosmologia de Lovecraft, os chamados Mitos de Cthulhu, o ser humano é uma coisa insignificante, que mal compreende as Coisas imensas e antiquíssimas que habitam o seu mundo, como deuses anciãos e raças multimilenares. Em O Chamado de Cthulhu, temos uma apavorante introdução a este universo.

Um ebook já disponível para Amazon Kindle, Kobo e Saraiva Lev:

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Abaixo, segue uma amostra com o trecho inicial do conto:

“De tais poderes grandiosos ou entidades é concebível que possa haver restado um vestígio […] um vestígio de uma era regressa onde […] a consciência era manifestada, quem sabe, em contornos e formas há muito submersos diante da maré do avanço da humanidade […] formas das quais tão somente a poesia e as lendas puderam guardar alguma memória fugidia, e então os chamaram de deuses, monstros, criaturas míticas de todos os tipos e espécies […].”

(por Algernon Blackwood – isto foi encontrado entre os papéis do já falecido Francis Wayland Thurston, em Boston)

A coisa mais misericordiosa neste mundo, penso eu, é a incapacidade da mente humana de correlacionar tudo o que nele existe. Nós vivemos numa pacata ilha de ignorância em meio a mares escuros vastos de infinito, e não era a intenção que velejássemos muito longe. As ciências, cada uma vagando em sua própria direção, até hoje pouco mal nos causaram; no entanto, algum dia a junção de conhecimentos desconexos nos abrirá os olhos para visões tão terríveis da realidade, e da nossa posição assustadora em seu meio, que nós deveremos ou enlouquecer diante da revelação ou fugir da sua luminosidade fatal, rumo à paz e a segurança de uma nova idade das trevas.

Os teosofistas têm especulado acerca da grandeza abissal do ciclo cósmico no qual o nosso mundo e a raça humana não passam de incidentes passageiros. Eles vêm aludindo a estranhos vestígios usando termos que gelariam o sangue dos incautos, não fossem mascarados por um tolo otimismo. Mas não foi deles que surgiu o breve vislumbre de éons proibidos que me arrepia quando penso no assunto, e me enlouquece quando aparece em meus sonhos.

Tal vislumbre, como todos os pavorosos vislumbres da verdade, surgiu de uma conexão acidental de duas coisas separadas – neste caso, um recorte de jornal antigo e as anotações de um professor falecido. Eu espero que ninguém mais consiga chegar a esta conexão; se eu sobreviver, é certo que jamais irei revelar propositadamente elo algum desta corrente hedionda. Eu penso que o professor também tinha a intenção de manter silêncio acerca da parte que sabia, e que teria destruído as suas anotações caso não fosse surpreendido por uma morte tão súbita.

O meu conhecimento do caso começou no inverno de 1926-27, com a morte do meu tio-avô George Gammell Angell, professor emérito de línguas semíticas na Universidade Brown, em Providence, Rhode Island. O professor Angell era amplamente reconhecido como uma autoridade em inscrições arcaicas, e era frequentemente consultado por diretores de museus importantes acerca do tema; assim sendo, o seu falecimento aos noventa e dois anos deve ser lembrado por muitos.

Localmente, no entanto, tal interesse foi intensificado pela causa da morte ser um tanto obscura. O professor sucumbiu enquanto retornava da barca de Newport; segundo testemunhas, foi uma queda súbita, após um encontrão com um negro com aparência de marujo que havia surgido de um dos pátios escuros e sinistros que podiam ser encontrados na encosta íngreme que servia de atalho da praia até a sua casa, na Williams Street.

Os médicos foram incapazes de encontrar qualquer doença visível, porém chegaram à conclusão, após debates cheios de perplexidade, que alguma lesão obscura no coração, induzida pela subida de um morro tão íngreme para um homem de idade avançada, foi a responsável pela morte. Na época eu não vi razão para divergir desta conclusão, mas ultimamente eu tenho me inclinado a questioná-la – e até mais do que isso.

(continua no ebook…)

#Lovecraft

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/cthulhu-uma-introdu%C3%A7%C3%A3o-ao-universo-de-h-p-lovecraft

H.P. Lovecraft no Cinema, Literatura e nas Ordens de Magia – Lucio Reis

Bate-Papo Mayhem 224 – 21/08/2021 (Terça) Com Lucio Reis – H.P. Lovecraft no Cinema, Literatura e nas Ordens de Magia

Os bate-Papos são gravados ao vivo todas as 3as, 5as e sábados com a participação dos membros do Projeto Mayhem, que assistem ao vivo e fazem perguntas aos entrevistados. Além disto, temos grupos fechados no Facebook e Telegram para debater os assuntos tratados aqui.

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#Batepapo

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Lovecraft e o Necronomicon – Luigi Doria

Bate-Papo Mayhem 179 – gravado dia 29/05/2021 (Sabado) Com Luigi Doria – Chtulhu, Lovecraft e o Necronomicon

Os bate-Papos são gravados ao vivo todas as 3as, 5as e sábados com a participação dos membros do Projeto Mayhem, que assistem ao vivo e fazem perguntas aos entrevistados.

Além disto, temos grupos fechados no Facebook e Telegram para debater os assuntos tratados aqui.

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