A guerra nas Estrelas e entrelinhas

Excelente Texto do Alexei Dodsworth.

Ao final deste texto, se você acredita em astrologia vai continuar acreditando. E, se não acredita, vai continuar sem acreditar. Sobre este posicionamento pessoal da sua parte, não estou nem aí. Mas talvez você aprenda a derradeira lição: a VEJA não é uma mídia confiável. Ela tem objetivos ideológicos claros, e seu objetivo nem de longe é apurar os fatos, e sim produzi-los.

Ao longo da matéria especial sobre astronomia e astrologia desta semana, a edição de número 2201 da VEJA desaba para o sensacionalismo barato ao afirmar que a “descoberta” de um astrônomo norte-americano causou “uma revolução”, mudando o signo de todo mundo. De acordo com este astrônomo, Parke Kunkle, as constelações tiveram suas posições celestes alteradas ao longo dos séculos e, por conseguinte, ninguém é mais do signo astrológico que julgava ser.

Ora, o argumento é tolo por dois motivos que expliquei à exaustão para a jornalista Carolina Romanini, ao longo da última semana. Após diversos telefonemas, expliquei detalhadamente para ela o que irei expor neste artigo, mas todo o meu depoimento foi omitido. Devo salientar que não acredito que a jornalista em questão tenha agido de má fé. Ela me parecia verdadeiramente imbuída do desejo de saber a verdade dos fatos, caso contrário não me ligaria tantas vezes para tirar dúvidas meticulosas. Não nasci ontem, e sei muito bem o que significa escrever uma coisa e passar pela canetada da edição. Sei que ela estava imbuida do desejo de saber a verdade.

Vamos ao pontos focais do que transmiti à repórter que assina a matéria:

1. Parke Kunkle não está a dizer nada de novo. Que as constelações não ocupam a mesma posição de dois mil anos atrás, isso é sabido tanto pelos astrônomos quanto pelos astrólogos. Ele clama para si uma “novidade” que só tem “cara de novidade” porque a mídia resolveu que, bem, teria que ser “novidade”. Eis apenas uma das provas de que se trata de notícia velha e requentada, tão requentada que nem o titulo tem criatividade. A imagem comparativa que exponho abaixo, entre a Revista da Folha de 1995 e a VEJA de 2011, foi retirada do Twitter de Ivan Freitas após indicação de Elizabeth Nakata:

Deste modo, entenda de uma vez por todas que a “descoberta fenomenal” de Parke Kunkle nada tem de “descoberta”, e obedece ao velho procedimento midiático de ressuscitar notícias velhas para causar polêmica. Como o próprio astrônomo Ronaldo Mourão declarou: “Não se deve confundir constelações zodiacais. De época em época surge essa discussão que não tem muito sentido. Não sei por que esse astrônomo Parke Kunkle da Sociedade Planetária de Minnesota resolveu levar a questão agora. Não será a falta de assunto? Ou desejo de se promover? Não se deve confundir astrologia com astronomia”.
[a declaração de Mourão foi dada para o jornal Extra, e pode ser lida no seguinte link: http://extra.globo.com/noticias/saude-e-ciencia/zodiaco-astronomos-afirmam-que-datas-dos-signos-estao-erradas-867027.html ]

Sim, Mourão está certo: a notícia é velha e não traz nada de novo.

2. Quer saber por que isso não muda nada para a astrologia? Porque signo astrológico não é constelação, nunca foi! A astrologia ocidental considera signos tropicais, e não siderais. Algumas constelações celestes levam o mesmo nome dos signos do zodíaco, mas os signos zodiacais estão na Terra, e não no céu.

Isso mesmo! Na Terra!

Pra você entender melhor, vamos falar do quadrivium. Este era o nome dado ao conjunto de matérias ensinadas nas universidades medievais na fase inicial do percurso educativo. As 4 matérias eram a geometria (estudo do espaço), a aritmética (estudo do número), a astrologia (aplicação do estudo do espaço) e a música (aplicação do estudo do número). Se você for pesquisar, lerá em alguns lugares que a astronomia era uma das matérias do quadrivium, mas isso não é verdade. O termo “astronomia” nem existia naquela época. Astrologia e aquilo que conhecemos como astronomia eram então uma coisa só.

O que importa, aqui, é compreender que a astrologia era a aplicação da geometria. E o que é a geometria senão o estudo das medidas da Terra?

Signos, portanto, são projeções da eclíptica terrestre, divididos em doze setores iguais e imutáveis. Para um signo astrológico mudar, seria preciso que a Terra saísse de sua órbita – e, caso isso ocorresse, a última coisa com a qual nos preocuparíamos seria com astrologia, astronomia ou com a revista VEJA.

Tudo isso foi explicado à jornalista Carolina Romanini, conforme testemunhado pela advogada Daniela Schaun, que se encontrava ao meu lado durante toda a minha conversa telefônica. Digo isso porque caso seja desmentido que eu disse o que estou expondo aqui, testemunha é que não falta. Resta saber por que tudo o que eu disse foi supinamente ignorado. Talvez por desfazer a fantasia de “noticia sensacional”? Quem vai saber?

Pronto. Quer continuar a acreditar em astrologia? Seu signo não mudou, não se preocupe.

Quer continuar a NÃO acreditar em astrologia? Tudo bem, mas fundamente suas críticas em algo que não tenha a ver com este lance de constelações e signos. Esta crítica é furada e apenas expõe ignorância sobre o tema que você critica. Repito o que sempre digo: a astrologia, como qualquer outro conhecimento humano, é passível de crítica. Mas critique direito, estude pelo menos um pouco o tema sobre o qual você quer tecer críticas, caso contrário suas palavras apenas exporão sua profunda ignorância histórica.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-guerra-nas-estrelas-e-entrelinhas

Astronomia, Matemática e Música

A Metafísica Ocidental, não seria a mesma se Pitágoras não descobrisse a íntima ligação existente entre os números e a música.  Isto fez com que a Astronomia, a Música, a Matemática e a Geometria fossem disciplinas básicas de uma Cosmologia que perdurou por toda Idade Média.

Os quatro caminhos, também denominado quadrivium, era o conjunto destas quatro matérias ensinadas nas universidades medievais, uma ressonância da Fraternidade de Pitágoras que procurava unir a ciência e a religião, a matemática e a música, a cura e a cosmologia.

Depois do trivium (gramática, lógica e retórica), o quadrivium era a parte secundária do currículo descrito por Platão em “A República“. Destas disciplinas originou-se a idéia da Música das Esferas, onde a disposição dos astros correspondiam à escala musical, e que a música tocada pelo Cosmos, mesmo que além dos limites da nossa audição, seria inteligível.

A partir das suas descobertas em relação aos fundamentos matemáticos das consonâncias musicais, Pitágoras visualizou uma relação mística entre a matemática a música e a astronomia. Para ele a música era o elo de união entre o homem e o cosmos. Em sua cosmologia cada planeta produzia uma nota musical, e esta orquestra celeste executa uma harmonia cósmica tão perfeita, que nós humanos não seríamos capazes e talvez nem merecedores de ouvi-la.

Em 1766 Johann Titias, acreditando que os planetas formavam naturalmente uma cadeia de oitavas, observou que todos os planetas conhecidos na época tinham distâncias que se tornavam progressivamente maiores na razão 2:1, a razão da própria oitava. Apesar das distâncias não serem exatamente na razão 2:1, outras leis harmônicas, como a velocidade dos movimentos dos planetas na descrição das suas órbitas, podem ter passado de maneira despercebida pelos astrônomos.

Fabio Almeida é membro do Projeto Mayhem e foi autor do blog Sinfonia Cósmica (desativado)

#Astronomia #Matemática #Música #Pitágoras

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/astronomia-matem%C3%A1tica-e-m%C3%BAsica