Kether

Trecho extraído de “A Cabala Mística”, de Dion Fortune

1. Kether, a Coroa, localiza-se na cabeça do Pilar Medial do Equilíbrio, e nele estão suspensos os Véus Negativos da Existência. Já comentei a utilização desses Véus Negativos como estrutura para o pensamento, de modo que não repetirei esse ponto, mas lembro ao leitor qúe Kether, a Primeira Manifestação, representa a cristalização primordial na manifestação do que era até então imanifesto e, por conseguinte, incognoscível. Nada podemos saber a respeito da raiz da qual brota Kether; mas, quanto à própria Kether, podemos adiantar alguma coisa. Ela pode representar para nós, em nosso estágio de desenvolvimento, o Grande Desconhecido, mas não é o Grande Incognoscível. A mente do mago pode abarcá-la em suas visões mais elevadas. Em minhas próprias experiências com a operação conhecida como Elevação nos Planos, que consiste em elevar a consciência pelo Pilar Médio, por meio da concentração nos sucessivos símbolos a nos Caminhos, Kether, numa ocasião em que lhe toquei as fímbrias, surgiu como uma cegante luz branca, anulando por completo o pensamento.

2. Não existe forma em Kether, apenas puro ser, qualquer que seja ele. Poderíamos dizer que se trata de uma latência que se encontra a apenas um grau da não-existência. Tais conceitos são necessariamente vagos a não estou capacitada para dar-lhes a precisão que devem ter, mas ficarei satisfeita se pudermos reconhecer os graus do devir, compreendendo que a rude diferenciação entre Ser a Não-Ser não representa os fatos. Quando a existência se toma manifesta, os pares de opostos penetram o ser; mas em Kether não existe divisáo nos pares de opostos, pois estes, para se manifestarem, precisam esperar a emanação de Chokmah a Binah.

3. Kether, portanto, é o Um, que existia antes mesmo de dispor de um reflexo de si mesmo, para apresentar-se como imagem na consciência e aí estabelecer a polaridade. Devemos acreditar que ela transcende todas as leis conhecidas da manifestação – apenas existe, sem reação. Cabe lembrar, contudo, que, quando falamos de Kether, não significa uma pessoa, mas um estado de existência, a tal estado de substância existente deve ter sido completamente inerte, puro ser, sem atividade, até iniciar-se a atividade, que emana Chokmah.

4. A mente humana, não conhecendo outro modo de existência além do da forma a da atividade, tem muita dificuldade para conceber um estado inteiramente informe de passividade, o qual é, não obstante, muito distinto do não-ser. Mas precisamos realizar esse esforço, se quisermos compreender os fundamentos da filosofia cósmica. Não devemos lançar os Véus da Existência Negativa à frente de Kether ou nos condenar a uma perpétua dualidade insolúvel; Deus e o demônio lutarão para sempre em nosso cosmo, e não há finalidade em seu conflito. Devemos treinar a mente para conceber o estado de puro ser sem atributos ou atividades; podemos pensar nele como a luz branca cegante, não diferenciada em raios pelo prisma da forma; ou como a escuridão do espaço interestelar, que é nada, embora contenha as potencialidades de todas as coisas. Esses símbolos, sobre os quais repousa o olho interior, constituem um auxilio mais proveitoso para a compreensão de Kether do que todas as definições da filosofia exata. Não podemos definir a Sephirah Kether; só podemos indicá-la.

5. Constitui sempre uma experiência iluminadora descobrir o extraordinário significado das pistas contidas nas tabelas de correspondências, e o modo pelo qual elas conduzem a mente de um conceito a outro. A Primeira Sephirah chama-se Coroa, não cabeça, note-se. A Coroa é um objeto que se põe sobre a cabeça, a esse fato nos dá uma clara indicação de que Kether pertence ao nosso Cosmo, embora não esteja nele.

Descobrimos também a sua correspondência microscómica no Lótus das Mil Pétalas, o chakra Sahamsara, que se localiza na aura, imediatamente acima da cabeça. Penso que isso nos ensina claramente que a essência espiritual mais íntima de alguma coisa, seja no homem ou no mundo, nunca está na manifestação real, sendo antes a base ou raiz subjacente de onde tudo brota a pertencendo, na verdade, a uma dimensão diferente – a uma ordem diferente de ser. Esse conceito dos diferentes tipos de existência é fundamental para a filosofia esotérica a devemos tê-to sempre presente quando consideramos os reinos invisíveis do mago ou do ocultista prático.

6. Na filosofia vedanta, Kether equivaleria sem dúvida a Parabrahmâ; Chokmah, a Brahman; a Binah, a Mulaprakriti. Nos outros grandes sistemas do pensamento humano, Kether equivale ao seu conceito primário, correspondendo ao Pai dos Deuses. Se foram estes que criaram o universo no espaço, então Kether é o Deus do céu. Se o universo se originou na água, Kether é o oceano primordial. Kether relaciona-se sempre com o sentido do informe a do eterno. Os deuses de Kether são deuses terríveis que devoram suas crianças, pois Kether, embora seja o pai de todos, reabsorve o universo ao final de uma época de evolução.

7. Kether é o abismo donde se originam todas as coisas, a para onde estas voltarão ao final de sua era. Nos caminhos exotéricos associados a Kether,descobrimos, por conseguinte, a implicação da não-existência. Nos conceitos esotéricos, contudo, aprendemos que esse conceito é errôneo. Kether é a forma mais intensa de existência, ser puro, não-limitado por forma ou reação; mas essa existência pertence a um tipo diverso daquele a que estamos acostumados, aparecendo-nos, portanto, como não-existência, porque não combina com nenhum dos requisitos que a nosso ver determinam a existência. A idéia da existência de outros modos de ser está implícita em nossa filosofia a devemos tê-la sempre em mente, porquanto é a chave de Kether, a Kether é a chave da Árvore da Vida.

8. O texto yetzirático descritivo de Kether, como todos os dizeres da Sepher Yetzirah, é uma sentença oculta. Afirma ele que Kether se chama Inteligência Oculta, a os diversos títulos conferidos a Kether na literatura cabalística confirmam essa denominação. Kether é o Segredo dos Segredos, a Altura Inescrutável, a Cabeça Que Não É. Temos aqui novamente a confirmaçáo da idéia de que a coroa está acima da cabeça do Homem Celestial, o Adão Cadmo; o ser puro está atrás de toda manifestação, a não é por ela absorvido, sendo antes a causa de sua emanação ou manifestação. Tal como nos expressamos em nossas obras, assim se expressa Kether na manifestação. Mas as obras de um homem não constituem a sua personalidade, sendo, ao contrário, a expressão de sua atividade natural. Ocorre o mesmo com Kether; seu modo de existência não é manifesto, mas constitui a causa da manifestação.

9. Temos até agora considerado Kether em Atziluth, isto é, em sua natureza essencial a primordial. Devemos considerá-la agora tal como aparece nos outros três Reinos distinguidos pelos cabalistas.

10. Cada Reino, ou plano de manifestação, tem sua forma primária: a matéria, por exemplo, é, com toda probabilidade, primariamente elétrica, a essa forma primordial, segundo os esoteristas, consiste no subplano etérico que subjaz aos quatro planos elementais: Terra, Ar, Fogo a Água; ou, em outras palavras, os quatro estados da matéria densa: sólido, líquido, gasoso a etéreo.

11. Os cabalistas concebem a Árvore em cada um dos quatro Reinos, a saber: Atziluth, espírito puro; Briah, mente arquetípica; Yetzirah, consciência imagética astral; a Assiah, o mundo material em seus aspectos densos e mais sutis. As operaçáes das forças de cada Sephirah são representadas em cada mundo sob a presidência de um Nome Divino, ou Mundo do Poder, e esses mundos dão as chaves das operações do ocultismo prático nos diversos planos. O Nome de Deus representa a ação da Sephirah no Mundo de Atziluth, espírito puro; quando o ocultista invoca as forças de uma Sephirah pelo Nome de Deus, isso significa que ele deseja entrar em contato com sua essência mais abstrata, pois está buscando o princípio espiritual que sustenta a condiciona esse modo particular da manifestação. Reza uma máxima do Ocultismo Branco que toda operação deve começar pela invocação do Nome Divino na Esfera em que ocorrerá a operação. Isso assegura que a operação estará em harmonia com a lei cósmica. Nunca se deve descurar o equilíbrio da força natural, pois o equilíbrio é essencial para que o mago conduza em segurança as operações de acordo com a lei cósmica; por conseguinte, o mago deve procurar compreender o princípio espiritual envolvido em cada problema a operá-to convenientemente. Toda operação, por conseguinte, precisa ter sua unificaçâo ou resolução final em Eheieh, o nome de Deus de Kether em Atziluth.

12. A invocação da divindade sob o nome de Eheieh, isto é, a afirmação do ser puro, eterno, imutável, sem atributos ou atividades, que tudo sustém, mantém a condiciona, é a fórmula primária de toda operação mágica. Somente ao ser penetrada pela compreensão desse ser imutável a sem fim, de extraordinária concentração a intensidade, pode a mente ter qualquer compreensão do poder ilimitado. A energia derivada de qualquer outra fonte é uma energia limitada a parcial. A fonte pura de toda energia localiza-se tão-somente em Kether. As operações do mago visando à concentração da energia (e que operação não o faz?) devem sempre começar por Kether, porquanto deparamos nessa Sephirah com a força emergente que brota do Grande Imanifesto, o reservatório do poder ilimitado. É graças a Kether, o Grande Imanifesto oculto atrás dos Véus da Existência Negativa, que o poder tem origem. Se extrairmos poder de qualquer esfera especializada da natureza, estaremos, por assim dizer, tirando de Pedro para dar a Paulo. O poder vem de alguma parte a vai para algum lugar, a deve ser responsável no ajuste de contas final. É por essa razão que se diz que o mago paga com sofrimento o que obtém por meios mágicos. Isso é verdade se sua operação é realizada em qualquer uma das esferas inferiores da natureza; mas se tal operação tem início com Kether em Atziluth, o mago estará extraindo força imanifesta para colocá-la na manifestação; ele aumenta as fontes do universo e, desde que as forças se mantenham em equilíbrio, nenhuma reação rebelde ocorrerá, bem como nenhum pagamento em sofrimento pelo use dos poderes mágicos.

13. Esse é um ponto de extraordinária importância prática. Os estudantes aprenderam que as Três Sephiroth – Kether, Chokmah e Binah estão fora do alcance de qualquer obra prática enquanto estamos encarnados. Na verdade, elas estáo fora do alcance da consciência cerebral, a constituem a base essencial de todos os cálculos mágicos. Se não operamos a partir dessa base, não temos nenhum fundamento cósmico, colocando-nos entre céu e a terra a não encontrando nenhum lugar de repouso seguro. Devemos, ao contrário, manter a tensão mágica que mantém vivas as formas astrais.

14. A grande diferença entre a ciência cristã a as formas mais rudes do novo pensamento e da auto-sugestâo consiste no fato de que a primeira inicia todas as suas operações pela vida divina; e, por mais irracionais que sejam suas tentativas para filosofar o seu sistema, seus métodos são empiricamente sãos. O ocultismo, e especialmente o praticante da Magia Cerimonial, se não foi instruído nessa disciplina, tende a começar sua operação sem qualquer referência à lei cósmica ou ao princípio espiritual; conseqüentemente, as imagens mentais que ele forma são como corpos estranhos no organismo do Homem Celestial, ou Macrocosmo, a todas as forças da natureza se dirigem espontaneamente para a eliminação dá substância estranha e para a restauração do equilíbrio normal das tensões. A natureza luta contra o mago com unhas a dentes; conseqüentemente, todo aquele que recorre à Magia não-consagrada jamais pode descansar sua espada, pois precisa estar sempre na defensiva a fim de manter o que conquistou. Mas o adepto que inicia sua obra com Kether em Atziluth, isto é, no princípio espiritual, e opera esse princípio de cima para baixo a fim de expressá-to nos planos da forma, empregando para esse propósito o poder extraído do Imanifesto, integra sua operação no processo cósmico, e a natureza se coloca a seu lado, em vez de hostilizá-lo.

15. Não podemos esperar entender a natureza de Kether em Atziluth, mas podemos abrir nossa consciência à sua influência, a esta é muito poderosa, conferindo-nos uma estranha sensação de eternidade e imortalidade. Podemos saber quando a invocação de Eheieh em seu puro esplendor branco é efetiva, pois compreendemos, com completa convicção, a impermanência a insignificáncia superior dos planos da forma e a supremá importância da Vida única, que condiciona todas as formas, tal como as mãos do oleiro moldam a argila.

16. A meditação sobre Kether confere-nos a compreensão intuitiva de que o resultado de uma operação tem pouco valor. “Que o sujo brinque com o sujo, se este lhe agrada.” Uma vez obtida essa compreensão, temos domínio sobre as imagens astrais e podemos operá-las à vontade. É apenas quando o operador não tem qualquer interesse pela operapão no plano físico que ele atinge esse completo domínio sobre as imagens astrais. Só a manipulação das forças lhe diz respeito, assim como a sua condução por meio da manifestação na forma; mas ele não cuida da forma que as forças podem finalmente assumir, a as deixa por si mesmas, visto que assumirão a forma mais afim a suas naturezas, sendo assim mais fiéis à lei cósmica do que a qualquer desígnio que seu limitado conhecimento poderia conferir-lhes. Essa é a chave real de todas as operações mágicas, a sua única justificativa, pois não podemos alterar o Universo para adaptá-to ao nosso capricho a conveniência, mas só nos justificamos na operação deliberada da Magia quando operamos com a grande maré da vida evolutiva a fim de chegarmos à plenitude da vida, seja qual for a forma que a experiência ou manifestação possa assumir. “Vim para que eles pudessem ter vida, a para que a tivessem em abundáncia”, disse o Senhor, a essas poderiam ser as palavras do mago.
Vida, a somente a vida, deveria ser a sua divisa, a não qualquer manifestação especializada dela como Sabedoria, Poder ou mesmo Amor.

17. Aqueles que seguiram atentamente a exposição precedente estarão em condições de descobrir algum significado nas palavras criptográficas do Texto Yetzirático atribuído a Kether. As palavras “Inteligência Oculta” dão uma pista da natureza imanifesta da existência de Kether, que é confirmada pela afirmação de que “Nenhum ser criado pode alcançar-lhe à essência”, ou seja, nenhum ser que utiliza, como veículo de consciência, um organismo dos planos da forma. Quando, contudo, a consciência foi exaltada ao ponto de transcender o pensamento, ela recebe da “Glória Primordial” o “poder de compreensão do Primeiro Princípio”; ou, em outras palavras, “Compreenderemos da mesma maneira pela qual somos compreendidos”.

18. Eheieh, Eu Sou O Que Sou, ser puro, é o Nome divino de Kether, e sua imagem mágica é um velho rei barbado visto de pèrfil. O Zohar afirma que o velho rei barbado só tem o lado direito; não vemos a imagem mágica de Kether em sua face plena, isto é, completa, mas apenas uma parte dela. Há um aspecto que deve sempre permanecer oculto para nós, como o lado escuro da lua. Esse lado de Kether é o lado que está voltado para o Imanifesto, que a natureza de nossa consciência manifesta nos impede de compreender, a que constitui um livro selado para nós. Mas, aceitando essa limitação, podemos contemplar o aspecto de Kether, o perfil do velho rei barbado, que se reflete para baixo na forma.

19. Velho é esse rei, o Antigo dos Antigos, o Velho dos Dias, que existe desde o início, quando o rosto não contemplava rosto algum. Ele é um rei, porque governa todas as coisas de acordo com sua suprema e inquestionável verdade. Em outras palavras, é a natureza de Kether que condiciona todas as coisas, porque todas as coisas surgiram dela. Ele é barbado porque, no curioso simbolismo dos rabinos, todo pêlo de sua barba tem um significado.

20. A manifestação das forças de Kether em Briah, o mundo da mente arquetípica, efetua-se por meio do arcanjo Metatron, o Príncipe das Faces, a quem a tradição atribui o papel de mestre de Moisés. A Sepher Yetzirah afirma a respeito do Décimo Caminho, Malkuth, que ele “emana uma influéncia do Príncipe dos Rostos, o arcanjo de Kether, e é a fonte de iluminação de todas as luzes do universo”. Aprendemos, assim, claramente, que não apenas o espírito flui para a manifestação na matéria, mas a matéria, por sua própria energia, lança o espírito na manifestação. Esse é um importante ponto para o praticante da Magia, pois afirma que este tem justificativas para as suas operações a que o homem não precisa esperar a palavra do Senhor, podendo invocar a Deus para ouvi-Lo.

21. Os anjos de Kether, operando no Mundo Yetziático, são os Chaioth ha Qadesh, as Criaturas Vivas a Sagradas, a esse Nome traz à mente a visão do Carro de Fogo de Ezequiel a as Quatro Santas Criaturas diante do Trono. O fato de que os quatro ases do Tarô, atribuídos a Kether, representam as raízes dos quatro elementos, Terra, Ar, Fogo a Água, confirma igualmente essa associação. Podemos, pois, considerar Kether como a fonte primordial dos elementos. Esse conceito esclarece muitas das dificuldades ocultas a metafísicas com que nos deparamos se limitamos sua operação ao plano astral a encaramos os elementais como seres pouco melhores do que os demônios, como parecem fazer algumas escolas de pensamento transcendental.

22. A questão dos anjos, archons a elementais é um tema muito discutido e muito importante no ocultismo, porque a sua aplicação prática à Magia é imediata. O pensamento cristáo pode tolerar com algum esforço a idéia dos arcanjos, mas os espíritos auxiliares, os mensageiros que são as chamas do fogo a os construtores celestes são estranhos à sua Teologia; Deus, sem ajuda a num átimo, fez os céus e a Terra. O Grande Arquiteto do Universo é também o pedreiro. A ciencia esotérica pensa de modo diferente. O iniciado conhece as legiôes de seres espirituais que são agentes da vontade de Deus e os veículos da atividade criativa. É por meio desses que ele opera, pela graça de seu arcanjo dirigente. Mas um arcanjo não pode ser conjurado por nenhum encantamento, por mais potente que este seja. Deveríamos mesmo dizer que, quando efetuamos uma operação da Esfera de uma Sephirah particular, o arcanjo opera por meio de nós para o cumprimento de sua missão. A arte do mago repousa, por conseguinte, em alinhar-se à força cósmica, a fim de que a operação que ele deseja realizar possa produzir-se como parte da operação de atividades cósmicas. Se ele for verdadeiramente puro a devoto, esse será o caso de todos os seus desejos; mas, se ele não for verdadeiramente puro a devoto, não será então um adepto, a sua palavra não será uma Palavra de Poder.

23. É interessante notar que, no Mundo de Assiah, o título da Esfera de Kether é Rashith ha Gilgalim, ou Primeiros Remoinhos, indicando, assim, que os rabinos estavam familiarizados com a teoria das nebulosas antes que a ciência tivesse conhecimento do telescópio. A maneira pela qual os amigos deduziram os fatos básicos da cosmogonia graças a meios puramente intuitivos a mercé da utilização do método de correspondências, séculos antes da invenção a aperfeiçoamento dos instrumentos de precisão que permitiram ao homem moderno realizar as mesmas descobertas de outro ângulo, será sempre um assunto de perpétua perplexidade para todo aquele que estuda a filosofia tradicional sem fanatismo.

24. Como em cima, tal é embaixo. O microcosmo corresponde ao macrocosmo, a precisamos, por conseguinte, buscar no homem a Sephirah Kether que está acima da cabeça que brilha com um puro esplendor branco em Adão Cadmo, o Homem Celeste. Os rabinos a chamam Yechidah, a Centelha Divina; os egípcios a chamam Sah; os hindus a chamam Lótus de Mil Pétalas – o núcleo do espírito puro que emana as múltiplas manifestações nos planos da forma, mas nelas não habita.

25. Enquanto estivermos encarnados, jamais poderemos nos elevar à consciência de Kether em Atziluth e reter o veículo físico intato antes de nosso regresso. Tal como Enoch caminhou com Deus e desapareceu, assim também o homem que tem a visão de Kether se desvanece no que respeita ao veículo da encarnação. Isso se explica facilmente se nos lembrarmos que não podemos entrar num modo de consciência a não ser reproduzindo-o em nós mesmos, assim como uma música nada significa para nós a menos que o coração cante com ela. Se, por conseguinte, reproduzimos em nós mesmos o modo de ser daquilo que não tem forma nem atividade, segue-se que devemos nos livrar da forma a da atividade. Se conseguirmos fazé-lo, o que foi reunido pelo modo de forma da consciencia desaparecerá a voltará aos seus elementos. Assim dissolvido, ele não pode ser reunido ao retornar à consciência. Por conseguinte, quando aspiramos à visão de Kether em Atziluth, devemos estar preparados para penetrar na Luz a nunca mais sair dela.

26. Isso não implica ser o Nirvana aniquilação, tal como uma tradução ignorante da filosofia oriental ensinou ao pensamento europeu; mas também náo implica uma completa mudança de modo ou dimensão. O que seremos, quando nos descobrirmos no mesmo nível das Criaturas Vivas a Sagradas, não o sabemos, a ninguém que alcançou a visão de Kether em Atziluth retomou para contar-nos; mas a tradição afirma que existem aqueles que o fizeram, a que eles estáo intimamente relacionados com a evolução da humanidade a são os protótipos dos super-homens, a respeito dos quais todas as raças têm uma tradição – uma tradição que, infelizmente, tem sido envilecida a degradada nos últimos anos pelos ensinamentos pseudo-ocultistas. O que quer que seja que esses seres possam ser ou não, é seguro dizer que eles não têm nem forma astral nem personalidade humana, mas são como chamas no fogo que é Deus. O estado da alma que atingiu o Nirvana pode ser comparado a uma roda que perdeu seu aro a cujos raios penetram e interpenetram toda a criação; um centro de radiação, a cuja influência não se pode determinar um limite, exceto o de seu próprio dinamismo, a que mantém a sua identidade como um núcleo de energia:

27. A experiência espiritual atribuída a Kether é a união com Deus. Esse é o fim e o objetivo de toda a experiência mística e, se procurarmos qualquer objetivo, seremos como aqueles que edificam uma casa no mundo da ilusão. Tudo o que pode reter o místico em seu caminho direto para esse objetivo produz-lhe a impressão de um grilhão, que o prende, e, que, como tal, deve ser quebrado. Tudo aquilo que sujeita a consciência à forma, todos os desejos que não sejam o da união com Deus são males para ele e, desse ponto de vista, ele está certo; agir de outra maneira invalidaria sua técnica.

28. Mas essa não é a única prova que o místico deve enfrentar; exigese-lhe que satisfaça os requisitos dos planos da forma antes de estar livre para começar sua retirada a escapar da forma. Há o Caminho da Mão Esquerda que conduz a Kether, a Kether das Qliphoth, que é o Reino do Caos. Se o adepto aspirante se aventura pelo Caminho Místico prematuramente, é para lá que ele vai, a não ao Reino da Luz. Para o homem que é naturalmente do Caminho Místico, a disciplina da forma é incompatível. E uma das mais sutis tentações é abandonar a batalha da existência na forma, a qual resiste ao seu domínio, a retirar-se pelos planos antes que o nadir tenha sido atravessado a as lições da forma tenham sido aprendidas. A forma é a matriz na qual a consciência fluídica é mantida até adquirir uma organização à prova de dispersão; até tomar-se um núcleo de individualidade diferenciada do mar amorfo do puro ser. Se a matriz for quebrada muito cedo, antes que a consciência fluídica se tenha formado como um sistema organizado de tensões estereotipadas pela repetição, a consciência se retrairá para o amorfo, assim como a argila retomará à lama se libertada do amparo do molde antes de ser queimada. Se há um místico cujo misticismo produz incapacidade mundana ou qualquer tipo de disposição da consciência, sabemos que o molde se quebrou muito cedo para ele, a ele deve retomar à disciplina da forma até que a sua lição tenha sido aprendida a sua consciência tenha alcançado uma organização coerente a coesa que nenhum Nirvana possa destruir. Que ele corte lenha a carregue água a serviço do Templo, se desejar, mas que não profane o local sagrado com suas patologias a imaturidades.

29. A virtude atribuída a Kether é a da consecução; a realização da Grande Obra, para utilizar um termo pedido de empréstimo aos alquimistas. Sem a realização não há consecução a sem consecução não há realização. Boas intenções pesam pouco na escala da justiça cósmica; é por nossa obra completada que somos conhecidos. Temos, é verdade, toda a eternidade para completá-la, mas devemos fazê-to até o Yod final. Não há misericórdia na justiça perfeita, a não ser a que nos permite tentar novamente.

30. Kether, contemplada do ponto de vista da forma, é a coroa do Reino do Esquecimento. A não ser que compreendamos a natureza vital da Pura Luz Branca, sentiremos pouca tentação de lutar por essa Coroa que não é dessa ordem de ser; e, se tivermos essa compreensão, entáo estaremos livres da limitação da manifestação a poderemos falar a todas as formas como quem realmente tem a autoridade para fazê-lo.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/kether

Hochma

Texto extraído do livro “A Cabala Mística”, de Dion Fortune

1. Toda fase de evolução tem início num estado de força instável e caminha, graças à organização, para o equilíbrio. Uma vez este alcançado, nenhum desenvolvimento posterior poderá ocorrer, se a estabilidade não for superada, dando início, mais uma vez, a uma fase de forças em conflito. Como já vimos, Kether é o ponto formulado no vazio. De acordo com a definição euclidiana, um ponto tem posição, mas não dimensões. Se, contudo, concebermos esse ponto movendo-se no espaço, ele se transformará numa linha. A natureza da organização a da evolução das Três Supremas está tão distante da nossa experiência que só podemos concebê-la simbolicamente; mas, se imaginarmos o Ponto Primordial que é Kether estendendo-se pela linha que é Hochma, teremos a representação simbólica mais adequada que seremos capazes de alcançar em nosso presente estágio de desenvolvimento.

2. Esse fluxo de energia, representado pela linha reta ou pelo cetro ereto do poder, é essencialmente dinâmico. Trata-se, na verdade, de um dinamismo primário, pois não podemos conceber a cristalização de Kether no espaço como um processo dinâmico; ela partilha, antes, de uma certa estaticidade – a limitação do informe a do liberto, nos moldes da forma, por mais tênue que a forma possa parecer aos nossos olhos.

3. Atingidos os limites da organização dessa forma, a força que flui incessantemente do Imanifesto transcende as suas limitações, demandando modos novos de desenvolvimento a estabelecendo relações a tensões novas. Hochma é esse fluxo de força desorganizada a desequilibrada, e, sendo Hochma uma Sephirah dinâmica, que flui incessantemente como energia ilimitada, poderíamos considerá-la, apropriadamente, mais como um canal por onde passa a energia do que como um receptáculo em que a força é armazenada.

4. Hochma não é uma Sephirah organizada, a sim a Grande Estimuladora do Universo. É de Hochma que Binah, a Terceira Sephirah, recebe o seu influxo de emanação, a Binah é a primeira das Sephiroth organizadoras e estabilizantes. Não é possível compreender nenhuma Sephirah sem estudar a sua companheira; por conseguinte, para compreender Hochma, deveremos dizer algo a respeito de Binah. Notemos, preliminarmente, que Binah é atribuída ao planeta Saturno, recebendo o título de Mãe Superior.

5. Em Hochma a Binah temos, respectivamente, o positivo e o negativo arquetípicos; a masculinidade e a feminilidade primordiais, estabelecidas quando “o rosto não contemplava rosto algum” a quando a manifestação ainda era incipiente. É desses pares de opostos primários que surgem os Pilares do Universo, por entre os quais se tece a rede da manifestação.

6. Como já observamos, a.Árvore da Vida é uma representação diagramática do Universo, na qual os aspectos positivo a negativo, masculino a feminino são representados pelos dois pilares laterais, da Misericórdia e da Severidade. Pode parecer estranho que o título de Misericórdia seja conferido ao Pilar masculino a positivo, e o de Severidade ao feminino; mas, quando se compreende que a força dinâmica masculina é a que estimula a elevação e a evolução, a que é a força feminina que edifica as formas, percebe-se que a nomenclatura é adequada, pois a forma, embora seja edificadora a organizadora, é também limitadora; toda forma constituída precisa, por sua vez, ser superada, perdendo sua utilidade a assim, tomando-se um obstáculo à vida evolutiva; por conseguinte, ela é a causadora da dissolução a da desintegração que conduz à morte. O Pai é o Dador de vida; mas a Mãe é a Dadora da morte, porque seu útero é a porta de ingresso para a matéria, a por intermédio dela a vida é animada na forma, a nenhuma forma pode ser infinita ou eterna. A morte está implícita no nascimento.

7. É por entre esses dois aspectos polarizados dá manifestação – o Pai Supremo e a Mãe Suprema – que se tece a rede da vida; as almas vão a vêm entre eles, como a lançadeira de um tecelão. Em nossas vidas individuais, em nossos ritmos fisiológicos, na história da ascensão a queda das nações, observamos a mesma periodicidade rítmica.

8. Nesse primeiro par de Sephiroth, temos a chave para o sexo – o par de opostos biológicos, a masculinidade e a feminilidade. Mas a paridade de opostos não ocorre apenas no tipo; ela ocorre também no tempo, a temos épocas alternadas em nossas vidas, em nossos processos fisiológicos, a na história das nações, durante as quais atividade a passividade, construção a destruição prevalecem altemadamente; o conhecimento da periodicidade desses ciclos integra a antiga sabedoria secreta dos iniciados e é operado astrológica e cabalisticamente.

9. A imagem mágica de Hochma a os símbolos atribuídos a ela confirma essa idéia. A imagem mágica é a de um homem barbado – barbado para indicar maturidade; o pai que provou sua masculinidade, não o homem virgem inexperiente. A linguagem simbólica fala claramente, e o lingam dos hindus e o falo dos gregos são o órgão gerador masculino em seus respectivos idiomas. O pedestal, a torre e o cetro levantado simbolizam o membro viril em sua potência maior.

10. Não devemos pensar, contudo, que Hochma é apenas um símbolo fálico ou sexual. Ela é, antes de mais nada, um símbolo dinâmico ou positivo, pois a masculinidade é uma forma de força dinâmica, assim com a feminilidade é uma forma de força estática, latente ou potencial, inerte até que se lhe comunique o estímulo. O todo é maior do que a parte, a Hochma e Binah são o todo de que o sexo é uma parte. Compreendendo a relação existente entre o sexo e a força polarizante como um todo, descobrimos a chave para a correta compreensão desse aspecto da natureza, a podemos avaliar, no contexto do padrão cósmico, os ensinamentos da psicologia a da moralidade a respeito da sexualidade. Podemos observar também, com os freudianos, os inúmeros símbolos de que se vale a mente subconsciente do homem para representar o sexo, compreendendo, ademais, conforme assinalam os moralistas, o processo de sublimação do instinto sexual. A manifestação é sexual porque ocorre sempre em termos de polaridade; e o sexo é cósmico a espiritual porque suas raízes mergulham nas Três Supremas. Devemos aprender a não dissociar a flor aérea da raiz terrestre, pois a flor que é separada de sua raiz fenece, a suas sementes ficam estéreis, ao passo que a raiz, protegida pela terra-mãe, pode produzir flor após flor a levar o seu fruto à maturidade. A natureza é maior do que a moralidade convencional, que, no mais das vezes, não passa de tabu a totemismo. Felizes sáo os povos cuja moralidade incorpora as leis da natureza, pois suas vidas serão harmoniosas a eles crescerão e, multiplicados, dominarão a Terra. Desgraçados são os povos cuja moralidade é um sistema selvagem de tabus, concebido para incensar uma divindade imaginária como Moloch, pois eles serão estéreis a pecadores; a desgraçados também são os povos cuja moralidade ultraja a santidade dos processos naturais a que, ao arrancarem a flor, não prestam atenção ao fruto, pois seu corpo será doente e o seu Estado, corrupto.

11. Em Hochma , portanto, devemos ver tanto a Palavra criadora que disse “Faça-se a luz” como o lingam de Siva e o falo adorado pelas bacantes. Devemos aprender a reconhecer a força dinâmica, e a reverenciá-la, onde quer que a vejamos, pois seu nome divino é Jehovah Tetragrammaton. Vemo-la na cauda aberta do pavão a na iridescéncia do pescoço do pombo; igualmente, podemos ouvi-la no chamado do gato no cio, e a senti-la no cheiro do bode. Também a encontramos nas aventuras colonizantes das épocas mais viris da história inglesa, especialmente as de Elizabeth a Vitória ambas mulheres! Vemo-la novamente no homem diligente que se esforça em sua profissão para manter o lar. Esses aspectos pertencem todos a Hochma , cujo título adicional é Abba – Pai. Em todas essas manifestações, devemos ver o pai, o progenitor, que dá vida ao não-nascido, assim como o macho que deseja a sua companheira; teremos, assim, uma perspectiva mais autêntica dos assuntos relativos ao sexo. A atitude vitoriana, em sua reação contra a grosseria da Restauração, atingiu praticamente o padrão de tribos muito primitivas, as quais, como nos contam os viajantes, não associam a união dos sexos com o nascimento da prole.

12. Está dito que a cor de Hochma é o cinza; em seus aspectos superiores, cinza-pérola iridescente. Essa cor simboliza o velamento da pura luz branca de Kether, que desce, em sua rota de manifestação, até Binah, cuja cor é o preto.

13.O Chakra Cósmico, ou manifestação física direta de Hochma , é o Zodíaco, que em hebraico se chama Mazloth. Vemos assim que os antigos rabinos compreendiam corretamente o processo da evolução de nosso sistema solar.

14.O Texto Yetzirático atribuído a Hochma é, como de costume, extremamente obscuro em sua formulação; não obstante, podemos extrair dele algumas pistas esclarecedoras. O Segundo Caminho, como se denomina Hochma , chama-se Inteligência Iluminadora. Já nos referimos à Palavra criadora que diz “Faça-se a luz”. Entre os símbolos atribuídos a Hochma no 777 (sistema Malher-Crowley), encontramos o do Manto Intemo da Glória, que é um termo gnóstico. Essas duas idéias, tomádas em conjunto, suscitam a idéia da vida animadora – o espírito iluminador. É a força masculina que, em todos os planos, deposita a centelha fecundante no óvulo passivo e transforma a latência inerte deste no desenvolvimento ativo do crescimento a da evolução. É a força dinámica da vida, que é espírito, que anima a argila da forma física a constitui o Manto Interno da Glória.

15. O Texto Yetzirático confere também a Hochma o título de Coroa da Criação, implicando assim que essa Sephirah, como Kether, é antes extema ao universo manifesto do que imanente a ele. É a força viril de Hochma que dá impulso à manifestação e, por conseguinte, é anterior à própria manifestação. A Voz do Logos clamou “Faça-se a luz” muito antes que as águas e o firmamento fossem separados. Essa idéia se destaca ainda mais na frase do Texto Yetzirático que fala de Hochma como o Esplendor da Unidade, que o iguala, indicando assim claramente a sua afinidade antes com Kether, Unidade, do que com os planos da forma dualística. A palavra esplendor, tal como é aqui empregada, indica claramente uma emanação ou irradiação, a nos ensina a pensar em Hochma mais como a influência emanante do ser puro do que como uma coisa em si. Isso nos leva a uma compreensão mais verdadeira do sexo. Fique bem claro, contudo, que a esfera de Hochma nada tem a ver com os cultos da fertilidade como tais, salvo pelo fato de que é a masculinidade, a força dinámica, que promove a vida primordial a evoca a manifestação. Embora as manifestações superiores e inferiores da força dinãmica sejam da mesma esséncia, elas são de níveis diferentes; Priapo não é idintico a Jehovah. Não obstante, a raiz de Priapo se encontra em Jehovah, e a manifestação de Deus Pai encontra-se em Priapo, como o indica o fato de que os rabinos chamam Hochma de Yod do Tetragrammaton, e o Yod, em sua fraseologia, é idêntico ao fngam.

16. É curioso que a Sepher Yetzirah afirme, a respeito das duas Sephiroth, que elas são exaltadas sobre todas as cabeças – o que é uma contradição; no entanto, como essa afirmação diz respeito a Hochma a Malkuth, poderemos compreender-lhe o significado se meditarmos sobre seu sentido. Hochma é o Pai Supremo, Malkuth é a Mãe Inferior, e o mesmo texto que declara sua exaltação sobre todas as cabeças afirma que ela se senta no trono de Binah, a Mãe Superior, a contraparte negativa de Hochma . Ora, Hochma é a forma mais abstrata da força, a Malkuth é a forma mais densa da matéria, de modo que temos nessa afirmação uma pista de que cada um dos membros desse par de opostos extremos é a manifestação suprema de seu próprio tipo, sendo ambos igualmente sagrados em seus diferentes caminhos.

17. Devemos fazer uma distinçâo entre o rito da fertilidade, o rito da vitalidade e o rito da iluminação ou inspiração, que invoca as línguas de fogo de Pentecostes. O culto da fertilidade visa à reprodução clara a simples, seja dos rebanhos, dos campos ou das esposas; pertence a Yesod, a nada tem a ver com o culto da vitalidade, que pertence a Netzach, a esfera de VênusAfrodite, a que diz respeito a certo ensinamento esotérico muito importante, relativo ao tema das influências vitalizantes a magnéticas que os sexos exercem um sobre o outro a que é distinto do ato sexual, do qual trataremog quando estudarmos Netzach, a esfera de Vênus.

18.O rito de Hochma , se assim podemos chamá-lo, diz respeito ao influxo da energia cósmica. É informe, por ser o impulso puro da criação dinâmica; e, sendo informe, a criação a que dá lugar pode assumir toda e qualquer forma; daí a possibilidade de sublimar a força criativa, desviando-a de seu aspecto puramente priápico.

19. Até onde sei, não existe uma cerimônia mágica formal de qualquer das Trés Supremas. Só podemos entrar em contato com elas participando de sua natureza essencial. Kether, ser puro, é atingido quando alcançamos a compreensão da natureza da existência sem partes, atributos ou dimensões. Essa experiência é apropriadamente chamada de Transe da Aniquilação, a aqueles que a experimentaram caminham com Deus a não mais retomam, pois Deus os arrebata; por conseguinte, a experiência espiritual atribuída a Kether é a União Divina, a aqueles que a experimentam penetram na luz a nela permanecem.

20. Para nos colocarmos em contato com Hochma , temos de experimentar a precipitação da energia cósmica dinâmica em sua forma pura; uma energia tão imensa que o homem mortal nela se funde a se desagrega. Conta-se que, quando Semele, mãe de Dionísio, viu Deus – seu amante divino sob a forma de Zeus -, foi ela crestada a queimada, dando à luz prematuramente o seu filho. A experiência espiritual atribuída a Hochma é a Visão de Deus face a face; a Deus (Jehovah) disse a Moisés: “Não podes contemplar minha face a sobreviver.”

21. Mas, embora a visâo do Pai Divino queime os mortais com Fogo, o Filho Divino pode ser evocado familiarmente por meio dos ritos apropriados – as Bacanálias, no caso do Filho de Zeus, e a Eucaristia, no caso do Filho de Jehovah. Vemos, assim, que existe uma forma inferior de manifestação, que “nos mostra o Pai”, mas esse rito deve sua validade apenas ao fato de que deriva sua Inteligência fuminadora, seu Manto Interno de Glória, do Pai, Hochma .

22. O grau de iniciação correspondente a Hochma é o do Mago, a as armas mágicas atribuídas a esse grau são o falo e o Manto Interno da Glória. Esses símbolos têm um significado microcósmico ou psicológico, assim como um significado macrocósmico ou místico. O Manto Interno da Glória significa seguramente a Luz Interna que ilumina todos os homens que vêm ao mundo – a visão espiritual por meio da qual o místico disceme as coisas espirituais, a forma subjetiva da Inteligência Iluminadora a que se refere o Texto Yetzirático.

23. O falo ou lingam é uma das armas mágicas do iniciado que opera o grau de Hochma . O conhecimento do significado espiritual do sexo a do significado cósmico da polaridade diz respeito a esse grau. Aquele que é capaz de compreender o aspecto mais profundo das coisas místicas a mágicas não pode deixar de perceber o fato de que, na compreensáo desse poder tremendo a misterioso (que chamamos sexo em uma de suas manifestações), reside a chave de muitas coisas. Não é por acaso que as imagens sexuais invadem as visões do vidente, desde o Untico dos Cânticos até O Castelo Interior.

24. Não se deve deduzir do que antecede que advogo ritos orgiásticos como Caminho de Iniciação; mas posso dizer claramente que sem a correta compreensão do aspecto esotérico do sexo o Caminho é um beco sem saída. Freud falou a verdade à sua geração quando apontou o sexo como a chave da psicopatologia; mas ele errou, em minha opinião, quando o transformou na única chave da multiforme alma humana. Assim como não pode haver saúde da subconsciência sem harmonia da vida sexual, não pode haver operação positiva ou dinâmica no plano da superconsciência sem a correspondente compreensão a observação das leis da polaridade. Para muitos místicos que buscam refúgio da matéria no espírito, essas palavras poderáo parecer duras, mas a experiência provará que elas traduzem a verdade; por conseguinte, é preciso dizê-las, embora isso não suscite muitos agradecimentos.

25. O tremendo fluxo descendente da força Hochma evocada por meio do Nome Divino de Quatro Letras vai do Yod macrocósmico ao Yod microcósmico, sendo, então, sublimado. Se a mente subconsciente não estiver livre de dissociações a repressôes, a todas as partes da multiforme natureza humana não estiverem coordenadas a sincronizadas, as reações e os sintomas patológicos serão o resultado desse fluxo descendente. Isso não significa que o invocador de Zeus é necessariamente um adorador de Priapo, mas significa, isto sim, que nenhum homem pode sublimar uma dissociação. Quando o canal está livre de obstruções, a força descendente pode voltear o nadir a transformar-se numa força ascendente, a qual pode ser dirigida para qualquer esfera ou transformar-se no canal que desejarmos; mas, queiramos ou não, essa força assumirá necessariamente a direção descendente antes de tomar-se ascendente e, a menos que os nossos pés estejam firmemente plantados na terra elemental, rebentaremos como velhos odres de vinho.

26. Os ocultistas práticos sabem que Freud falou a verdade, embora não toda a verdade, mas não ousam afirmá-lo, por medo de serem acusados de adoração do falo a de práticas orgiásticas. Essas coisas têm seu lugar, embora não no Templo do Espírito Santo, a negar-lhe o seu lugar é uma loucura pela qual a era vitoriana pagou bem caro com uma rica colheita de psicopatologia.

27. Quando operamos dinamicamente em qualquer plano, nós o fazemos no Pilar Direito da Árvore, derivando nossa energia primária da força Yod de Hochma . A esse respeito, devemos nos referir ao fato de que a correspondência microcósmica de Hochma se estabelece com o lado direito da face. As correspondências macrocósmicas a microcósmicas exercem um papel importante nos trabalhos práticos. O Macrocosmo, ou Grande Homem, é, naturalmente, o próprio universo; e o microcosmo é o homem individual. O homem é o único ser cuja natureza, quádrupla, corresponde exatamente aos níveis do cosmo. Os anjos carecem dos planos inferiores, a os animais carecem dos planos superiores.

28. As referências ao microcosmo não devem ser tomadas literalmente em relação às panes do corpo físico; as correspondências referem-se à aura a às funçôes das correntes magnéticas na aura, a devemos ter sempre em mente, como afirma Swami Vivelcananda, que o que está à direita no macho está à esquerda na fêmea. Além disso, deve-se lembrar que o que é positivo no plano físico é negativo no plano astral; é positivo novamente no piano mental a negativo no plano espiritual, como o indicam as serpentes gêmeas branca a preta do caduceu de Mercúrio. Se colocarmos esse caduceu sobre a Árvore quando pretendermos com ela representar os Quatro Mundos dos cabalistas, formaremos um hieróglifo que revela as operaçôes da lei da polaridade em relação aos pianos. Esse é um hieróglifo muito importante, que fornece aspectos interessantíssimos à meditação.

29. Decorre entáo que, estando a alma numa encarnação feminina, funcionará ela negativamente em Assiah a Briah, mas positivamente em Yetzirah a Atziluth. Em outras palavras, uma mulher é física a mentalmente negativa, mas psíquica a espiritualmente positiva, sucedendo o contrário no homem. Nos iniciados, contudo, há um considerável grau de compensação, pois cada um aprende a técnica tanto dos métodos psiquicos positivos quanto negativos. A Centelha Divina, que é o núcleo de toda alma viva, é, naturalmente, bissexual, contendo as raízes de ambos os aspectos, como ocorre com Kether, à qual corresponde. Nas almas altamente desenvolvidas, o aspecto compensador está desenvolvido pelo menos até certo ponto. A mulher puramente feminina e o homem puramente mascuiino estão hipersexualizados, a julgar pelos padrôes civilizados, a só podem encontrar um lugar apropriado nas sociedades primitivas, onde a fertilidade é a primeira exigência que a sociedade faz às mulheres, e a caça e a guerra são a ocupação constante dos homens.

30. Isso não significa, contudo, que as funções físicas dos sexos estão pervertidas no iniciado, ou que a configuração de seu corpo apresente qualquer modificação. A ciência esotérica ensina que a forma física e o tipo racial que a alma assume em cada encarnação são determinados pelo destino, ou Carma, a que a vida deve ser vivida de acordo com isso. É muito arriscado para nós introduzir mudanças em nosso tipo, racial ou físico, a deveríamos sempre aceitá-to como a base de nossas operaçôes, a escolher nossos métodos de acordo com ele. Há certas operações a certas atividades numa loja para as quais o veículo masculino é mais apropriado do que o feminino e, quando é preciso realizar trabalhos práticos numa cerimônia, os oficiantes são selecionados por seu tipo; mas, quando se trata de realizar os rituais referentes ao treinamento de um iniciado, é costume deixar que cada um se ocupe dos diferentes ofícios para que possam aprender a manipular os diferentes tipos de força e, assim, alcançar o equilibrio.

31. Benjamin Kidd, em seu estimulante livro, Lhe Science of Power, assinala que o tipo superior do ser humano se aproxima ao da criança. Observamos que o tamanho de sua cabeça é relativamente grande em comparação com o peso do corpo, a que as características sexuais secundárias não estão presentes. Encontramos a mesma tendência, de uma forma modificada, no adulto civilizado. O tipo superior de homem não é um gorila hirsuto, nem é o tipo superior de mulher um mamífero exagerado. A tendência da evolução na civilização é para uma aproximação do tipo entre os sexos no que diz respeito às características sexuais secundárias. Que porcentagem de varões civilizados poderia deixar erescer uma barba realmente patriarcal? O caráter sexual primário, contudo, precisa manter-se integralmente ou a raça perecerá rapidamente; a não temos razão alguma para acreditar que esse seja o caso, mesmo entre nossos mais modernos epicenos, que enchem as cortes de divórcio com abundantes evidências de sua transbordante filoprogenitividade.

32. Podemos entender melhor essas coisas se as “colocarmos sob a Ârvore”. Os dois Pilares, o positivo sob Hochma e o negativo sob Binah, correspondem, respectìvamente, ao Ida a ao Pingala dos sistemas da ioga. Essas duas correntes magnéticas, que correm na aura paralelamente à espinha, chamam-se correntes do Sol a da Lua. Numa encarnação masculina, trabalhamos predominantemente com a corrente do Sol, a fertilizadora; numa encarnação feminina, trabalhamos predominantemente com as forças da Lua. Se desejamos operar com o tipo de força oposto àquele com que somos naturalmente dotados, temos de fazê-to utilizando nosso modo natural como base de operação e, por assim dizer, fazê-to “por tabela”. O homem que deseja utiiizar as forças da Lua emprega algum artifício que lhe possibilite obter, por reflexo, a força lunar; e a mulher que deseja utilizar as forças solares emprega um artifício pelo qual é capaz de focalizá-las em si mesma a refleti-las. No plano físico, os sexos se unem, e o homem gera um filho na mulher, aproveitando-se dos poderes liuiares de que esta dispõe. A mulher, por outro lado, desejando a criação a sendo incapaz de realizá-la por si própria, seduz o homem por meio de seus desejos, até que este lhe derrame sua força solar, fecundando-a.

33. Nas operações mágicas, o homem e a mulher que deseja operar com a força oposta à de seu veículo físico (e essa operação é parte integrante da rotina do treinamento oculto) eleva o nível de consciência para o piano no qual se acha a polaridade necessária a passa a operar desse plano. O sacerdote de Osíris emprega às vezes os espíritos elementais para suplementar sua polaridade, e a sacerdotisa de Ísis invoca as influências angélicas.

34. Como toda manifestação se produz por meio dos pares de opostos, o princípio da polaridade está implícito não apenas no macrocosmo, mas também no microcosmo. Compreendendo tal princípio a sabendo aproveitar as possibilidades por ele concedidas, seremos capazes de elevar nossos poderes naturais a um nível muito acima do normal; poderemos utilizar o meio ambiente como uma rampa de empuxo, descobrindo a poderosa força de Hochma nos livros, em nossa tradiçáo racial, em nossa religião, em nossos amigos a colegas; poderemos receber de todos eles o estímulo que nos fecunda a nos toma mental, emocional a dinamicamente criativos. Fazemos o nosso meio ambiente exercer o papel de Hochma para nosso Binah. Da mesma maneira, podemos exercer o papel de Hochma para o Binah do meio ambiente. Nos planos sutis, a polaridade não é fixa, mas relativa; o que é mais poderoso do que nós é positivo para nós, tomando-nos comparativamente negativo; o que é menos poderoso do que somos em qualquer aspecto é negativo para nós, a podemos assumir comparativamente o papel positivo. Essa polaridade fluídica, sutil a flutuante constitui um dos aspectos mais importantes dos trabalhos práticos; se a compreendermos a formos capazes de aproveitá-la, poderemos fazer coisas notáveis, estabelecendo nossas vidas a nossas relações com nosso meio ambiente em bases completamente diferentes.

35. Devemos aprender a discernir quando podemos funcionar como Hochma a produzir feitos no mundo; a quando podemos atuar melhor como Binah, a fazer o nosso meio ambiente fertilizar-nos, de modo a nos tomarmos produtivos. Jamais devemos esquecer que a autofertilização envolve a esterilidade em poucas gerações, a que precisamos sempre ser fertilizados pelo meio no qual estamos trabalhando. É preciso haver um intercâmbio de polaridade entre nós a tudo o que nos propomos a fazer, a devemos estar sempre alerta para descobrir as influências polarizantes, seja na tradição, ou nos livros, seja nos colegas que operam no mesmo campo, ou mesmo na própria oposição a antagonismo dos inimigos; pois há tanta força polarizante num ódio sincero quanto no amor, quando sabemos utilizá-la. Precisamos ter estímulos se desejamos criar alguma coisa, mesmo que esta se resuma a viver uma vida útil. Hochma é o estímulo cósmico. Tudo que estimula é atribuído a Hochma , na classificação da Árvore. Os sedativos são atribuídos a Binah. Compreenderemos melhor esse princípio de polaridade cósmica quando estudarmos Binah, a Terceira Sephirah, pois é muito difícil compreender as implicações de Hochma sem as relacionar ao seu oposto polarizante, com o qual ela sempre funciona. Por conseguinte, não prosseguiremos nosso estudo da polaridade no presente capítulo, concluindo nosso exame de Hochma com o estudo das cartas que lhe são atribuídas no Tarô. Retomaremos nossa investigação sobre esse tema tão significativo quando Binah nos proporcionar mais dados.

36. Como observamos no capítulo sobre Kether, os quatro naipes do baralho do Tarô são atribuídos aos quatro elementos, a vimos que os quatro ases representavam as raízes dos poderes desses elementos. Os quatro dois são atribuídos a Hochma , a representam o funcionamento polarizado desses elementos em equilíbrio harmônico; por conseguinte, um dois é sempre uma carta de harmonia.

37.O Dois de Paus, que é atribuído ao elemento Fogo, chama-se Senhor do Domínio. O pau é essencialmente um símbolo fálico masculino, e é atribuído a Hochma ah, de modo que podemos interpretar essa carta como referência à polarização – o positivo que encontrou seu parceiro no negativo a está em equilíbrio. Não há antagonismo ou resistência ao Senhor do Domínio, a um reino contente aceita o seu governo; Binah, satisfeita, aceita seu parceiro.

38.O Dois de Copas (Agua) chama se Senhor do Amor; temos aqui, novamente, o conceito da polarização harmoniosa.

39. O Dois de Espadas (Ar) chama-se Senhor da Paz Restaurada, indicando que a força destrutiva das espadas está em equilíbrio temporário.

40.O Dois de Ouros (Terra) chama-se Senhor da Mudança Harmoniosa. Aqui, como nas Espadas, vemos a natureza essencial da força elemental modificada por seu oposto polarizante, indicando, assim, o equilíbrio. A força destrutiva de Espadas retoma à paz, e a inércia e a resistência da Terra tomam-se, quando polarizadas pela influência de Hochma , um ritmo equilibrado.

41. Essas quatro cartas indicam a força Hochma na polaridade, isto é, o equilíbrio essencial do poder, tal como este se manifesta nos Quatro Mundos dos cabalistas. Quando surgem na adivinhação, elas indicam poder em equilíbrio. Não traduzem, porém, uma força dinâmica, como se poderia esperar em relação a Hochma , pois Hochma , sendo uma das Sephiroth Supremas, apresenta força positiva nos planos sutis e, conseqüentemente, nos planos da forma. O aspecto negativo de uma força dinâmica é representado pelo equilíbrio – polaridade. O aspecto negativo de um poder negativo é representado pela destruição, como podemos observar no hieróglifo de Kali, a terrível consorte de Siva, cingida de crânios a dançando sobre o corpo de seu esposo.

42. Esse conceito dá-nos uma chave para outro dos muitos problemas da Árvore – a polaridade relativa das Sephiroth. Como já se observou anteriormente, cada Sephirah é negativa em sua relação com a Sephirah que lhe é superior a da qual recebe o influxo das emanações, a positiva em relação àquela que lhe é inferior, que procede dela, a em relação à qual representa o papel de emanadora. Alguns dos pares de Sephiroth têm, contudo, uma natureza mais definitivamente positiva ou mais definitivamente negativa. Por exemplo, Cholanah é Positiva positiva a Binah é Negativa positiva. Chesed é Positiva negativa, a Binah Negativa negativa. Netzach (Vênus) a Hod (Mercúrio) são hermafroditas. Yesod (Lua) é Negativa positiva a Malkuth (Terra) é Negativa negativa. Nem Kether nem Tiphareth são predominantemente masculinas ou femininas. Em Kether, os pares de opostos estão em estado de Iatência a ainda não se manifestaram; em Tiphareth, eles estão em perfeito equilíbrio.

43. Há dois meios pelos quais a transmutação pode ser efetuada na Árvore; a esses são indicados por dois dos hieróglifos que se superpôem sobre os Sephiroth; um deles é o feróglifo dos Trés Pilares, e o outro é o Hieróglifo do Relâmpago Brilhante. Os Pilares já foram descritos; o Relâmpago Brilhante indica simplesmente a ordem de emanação das Sephiroth, que ziguezagueia de Hochma a Binah a de Binah a Chesed, para a frente a para trás, através da Árvore. Se a transmutação ocorre de acordo com o Relâmpago Brilhante, a força altera seu tipo; se ocorre de acordo com os Pilares, ela permanece do mesmo tipo, mas num arco superior ou inferior, de acordo com o caso.

44. Esse ponto pode parecer muito complexo~ a abstrato, mas os exemplos servirão para demonstrar-lhe a simplicidade e a praticidade, quando o compreendemos bem. Tomemos o problema da sublimação da força sexual, que tanto preocupa os psicoterapeutas, e a respeito do qual, embora falando muito, eles dizem tão pouco. Em Malkuth, que no microcosmo é o corpo físico, a força do sexo se expressa em termos de óvulo a espermatozóide; em Yesod, que é o duplo etéreo, ela se expressa em termos de força magnética, a respeito da qual nada sabe a psicologia ortodoxa, mas sobre a qual temos muito a dizer sob o cabeçalho da Sephirah correspondente. Hod e Netzach estão no plano astral; em Hod a força do sexo se expressa em imagens visuais e, em Netzach, num tipo diverso de magnetismo, mais sutil, popularmente referido como “aquele algo”. Em Tiphareth, o Centro Cristológico, a força torna-se inspiração espiritual, iluminação, influxo oriundo da consciência superior. Se é de tipo positivo, ela se toma inspiração dionísica, inebriação divina; se é negativa, toma-se o amor cristão impessoal a harmonizador.

45. Quando a transmutação é óperada nos Pilares, ficamos impressionados com a verdade da irônica frase francesa Plus ça change, plus c’est la Wme chose. Hochma , dinamismo puro, estímulo puro sem expressão formada, toma-se, em Chesed, o aspecto edificador a organizador da evolução; anabolismo, em oposição ao catabolismo de Geburah. Em Chesed, a força Hochma toma-se essa forma peculiarmente sutil de magnetismo que concede o poder de liderança e é a raiz da grandeza. Assim também, no Pilar Esquerdo, a força restritiva de Binah toma-se a força destrutiva de Geburah, e novamente a produtora de imagens mágicas, Mercúrio-Hermes-Thoth.

46. De tempos em tempos, os símbolos da ciência oculta transpiraram para o conhecimento popular, mas o não-iniciado não compreendeu o método de dispor esses símbolos num padrão como o da Árvore, nem soube aplicar-lhe os princípios alquímicos da transmutação a destilação, que é onde residem os segredos reais de sua utilização.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/hochma

Binah

A Cabala Mística, Dion Fortune

1. Binah é o terceiro membro do Triângulo Supremo, e a tarefa de explicá-la será, ao mesmo tempo, extensa a simples, porquanto podemos estudá-la à luz de Hochma, que a equilibra no Pilar oposto da Árvore. Jamais poderemos entender uma Sephirah se a considerarmos em separado de sua posição na Árvore, uma vez que essa posição lhe indica as relações cósmicas; vemo-la em perspectiva, por assim dizer, a podemos deduzir donde provém e para onde vai, que influências intervêm em sua criação, a qual a sua contribuição para o esquema das coisas como um todo.

2. Binah representa a potência feminina do universo, assim como Hochma representa a masculina. Como já observamos, são Positiva a Nega`tiva; Força a Forma. Cada uma encabeça o seu Pilar, Hochma no topo do Pilar da Misericórdia a Binah no topo do Pilar da Severidade. Poder-se-is pensar que essa distribuição é antinatural; que a Mãe deveria presidir a misericórdia, e a força masculina do universo, a severidade. Mas não devemos sentimentalizar essas coisas. ,Estamos tratando de princípios cósmicos, não de personalidades; a mesmo os símbolos pelos quaffs eles são apresentados dãonos boas indicaçbes, se temos olhos para ver. Freud não teria discordado da atribuição de Binah ao topo do Pilar da Severidade, pois ele tinha muitas coisas a dizer sobre a imagem da Mãe Terrível.

3. Kether, Eheieh, Eu Sou, é puro ser, onipotente, mas não ativo; quando um fluxo de atividade emana dele, chamamos essa atividade de Hochma; é esse fluxo descendente de atividade pura que constitui a força dinãmica do universo, a toda força dinâmica pertence a essa categoria.

4. Devemos lembrar que as Sephiroth são estados, não lugares. Sempre que existe um estado de ser puro a incondicionado, sem partes ou atividades, esse estado se refere a Kether. Portanto é nesses dez escaninhos de nosso fichário metafísico que podemos classificar as idéias relativas a todo o universo manifesto, sem precisar remover qualquer objeto, tal como surge à nossa compreensâo, do lugar que ocupa. Em outras palavras, sempre que tivermos energia pura em funcionamento, saberemos que a força subjacente pertence a áokmah; podemos ver, desse modo, a identidade intrínseca, quanto ao tipo, de todos esses fenõmenos, os quaffs, à primeira vista, parecem não apresentar nenhum vínculo mútuo, pois aprendemos, graças ao método cabalístico, a referi-los, de acordo com o seu tipo, às diferentes Sephiroth, podendo assim correlacioná-los com todas as classes de idéias cognatas, de acordo com o sistema de correspondências já explicado anteriormente. Esse é o método que a mente subconsciente segue automaticamenie; cabe ao ocultista treinar sua mente consciente na utilizaçáo desse mesmo método. Podemos notar, a propósito, que esse método é sempre empregado quando os indivíduos operam diretamente do subconsciente, como ocorre no gênio artístico, no lunático, a durante os sonhos ou o trance.

5. Pode parecer estranho ao leitor que essa digressão a respeito de Hochma seja incluída sob o cabeçalho de Binah, mas é apenas à luz de sua polaridade com Hochma que podemos compreender Binah; e, igualmente, teríamos muito mais a acrescentar à nossa explicação de Hochma agora que tomamos Binah para compará-la. Os membros dos pares de opostos se esclarecem mutuamente, a são incompreensíveis quando estudados em separado.

6. Mas voltemos a Binah. Os cabalistas afirmam que ela é emanada por Hochma. Traduzamos essa afirmativa em outros termos. Reza uma máxima oculta – que é, como acredito, confirmada pelas pesquisas de Einstein, embora eu não tenha o conhecimento necessário para relacionar suas descobertas com as doutrinas esotéricas – que a força jamais se move numa linha reta, mas sempre numa curva tão vasta quanto o universo, retomando eventualmente, por conseguinte, ao ponto de onde proveio, mas num arco superior, visto que o universo progride continuamente. Segue-se, portanto, que a força que assim procede, dividindo-se a redividindo-se a movendo-se em ângulos tangenciais, chegará eventualmente a um estado de tensões equilibradas e a alguma forma de estabilidade – estabilidade que será outra vez perturbada no curso do tempo quando novas forças frescas emanarem na manifestação a introduzirem novos fatores para propiciar o necessário ajustamento.

7. É esse estado de estabilidade – produzido pelas forças interatuantes quando agem a reagem a chegam a um equilíbrio – que é a base da forma, como é exemplificado no átomo, que é nada mais nada menos do que uma constelação de elétrons, cada um dos quaffs é um vórtice ou um remoinho. É a estabilidade assim obtida – a qual, note-se, é uma condição a não uma coisa em si – que os cabalistas chamam de Binah, a Terceira Sephirah. Sempre que existe um estado de tensões interatuantes que produzem a estabilidade, os cabalistas referem esse estado a Binah. Por exemplo, o átomo, sendo, para todos os propósitos práticos, a unidade estável do plano físico, é uma manifestação do tipo de força Binah. Todas as organizaçôes sociais sobre as quais pesa opresssivamente a mão morta da estagnação, tal como a civilização chinesa antes da revolução, ou nossas velhas universidades, estão sob a influência de Binah. A Binah atribui-se o deus grego Kronos (que não é outro senão o Pai do Tempo) e o deus humano Saturno. Observe-se a importância atribuída ao tempo, em outras palavras, à idade, nas instituiçaes de Binah; só os cabelos grisalhos são dignos de reverência; a capacidade por si só conta muito pouco. Ou seja, apenas aqueles que são congeniais a Kronos podem obter sucesso em tal ambiente.

8. Binah, a Grande Mãe, chamada às vezes de Marah, o Grande Mar, é, naturalmente, a Mãe de Toda Vida. Ela é o útero arquetípico por meio do qual a vida vem à manifestação. Tudo que fornece uma força para servir a vida como um veículo provém dela. Devemos lembrar, contudo, que a vida confmada numa força, embora seja capaz de organizar-se a desenvolver-se, é muito menos livre do que era quando ilimitada (embora também desorganizada) em seu próprio plano. Incorporar-se numa forma é, por conseguinte, o início da morte da vida. É uma limitação a um encarceramento; uma sujeição a uma constrição. A forma limita a vida, aprisiona-a, mas, não obstante, permite-lhe organizar-se. Visto desse ponto de vista da força livre, o encarceramento numa forma é extinção. A forma disciplina a força com uma severidade sem misericórdia.

9. O espírito desencamado é imortal; não há nada nele que possa envelhecer ou morrer. Mas o espírito encarnado vê a morte no horizonte tão logo o dia nasce. Podemos compreender, portanto, quão terrível deve parecer a Grande Mãe quando aprisiona a força livre na disciplina da forma. Ela é morte para a atividade dinâmica de Hochma; a força Hochma morre quando conflui para Binah. A forma é a disciplina da força; por conseguinte, é Binah a cabeça do Pilar da Severidade.

10. Podemos conceber, assim, que a primeira Noite Cósmica tenha ocorrido – primeiro Pralaya, ou submersão da manifestação no repouso quando o Triãngulo Supremo encontrou estabilidade a equilíbrio de força na emanação a organização de Binah. Tudo era dinâmico antes, tudo era desenvolvimento a expansão; mas, com o início da manifestação do aspecto Binah, houve um entravamento a uma estabilização, e o antigo fluxo dinâmico a livre se deteve.

11. Que esse entravamento – e a conseqüente estabilização – era inevitável num universo cujas linhas de força sempre se movem em curvas, eis uma conclusão inevitável. Se compreendermos que o estado Binah era a conseqüência inevitável do estado Hochma num universo curvilíneo, entenderemos por que o tempo deve passar por épocas nas quaffs ou Binah ou Hochma tem o predomínio. Antes de as linhas de forças terem completado seu circuito no universo manifesto a começado a retomar sobre si mesmas a entrelaçar-se, tudo era Hochma, dinamismo irrestrito. Depois que Binah e Hochma, como primeiro par de opostos, encontraram o equilibrio, tudo era Binah, e a estabilidade era imutável. Mas Kether, o Grande Emanador, continua a manifestar o Grande Imanifesto; a força flui no universo, aumentando a soma da força. Este fluxo de força rompe o equilíbrio a que se havia chegado quando Hochma a Binah atuaram, reatuaram a se detiveram. A ação e a reação começam novamente, e a fase Hochma, uma fase na qual predomina a força completa, se sobrepõe à condição estática que é Binah, e o ciclo prossegue novamente quando Kether, o emanador incessante, quebra o equilíbrio em favor do princípio cinético que se opõe ao princípio estático.

12. Vemos, assim, que, se Kether, a força de todos os seres, é concebida como o supremo bem, como de fato deve ser, a que, se a natureza de Kether é cinetica, e a sua influência se inclina inevitavelmente para Hochma, segue-se obrigatoriamente que Binah, o oposto de Hochma, o opositor perpétuo dos impulsos dinâmicos, seja vista como o inirnigo de Deus, o demônio. Saturno-Satã é uma transição fácil; assim como Tempo-Morte-Demônio. Nas religiões ascéticas como o Cristianismo e o Budismo, encontra-se implícita a idéia de que a mulher é a raiz de todo o mal, porque ela é a influência que sujeita o homem, por seus desejos, a uma vida de forma. A matéria constitui, para ambas as fés, a antinomia do espírito, numa dualidade etema não-resolvida. 0 Cristianismo reconhece prontamente a natureza herética dessa crença quando ela lhe é apresentada sob a forma do Antinomianismo; mas não compreende que seus próprios ensinamentos a sua prática são igualmente antinomianistas quando concebe a matéria como o inimigo do espírito, acreditando que, como tal, ela deve ser vencida a ultrapassada. Essa crença infeliz causou tantos sofrimentos humanos nos países cristãos quanto a guerra a as pestes.

13. A Cabala ensina uma doutrina mais sábia. Para ela, todas as Sephiroth são sagradas, tanto Malkuth quanto Kether, tanto Geburah, o destruidor, quanto Chesed, o preservador. Ela reconhece que o ritmo é a base da vida, não um progresso com um único movimento para a frente. Se compreendêssemos melhor esse aspecto, evitaríamos muitos sofrimentos, pois contemplaríamos as fases Hochma a Binah como fases mutuamente sucessivas, tanto em nossas vidas como nas vidas das naçôes, a compreenderíamos o profundo significado das palavras de Shakespeare, quando diz:

“There is a tide in lhe affairs of men which taken at lhe flood leads on lhe fortune. ”
[Existe uma maré nos assuntos dos homens Que, se aproveitada quando sobe, conduz à ventura.]

14. Binah é a raiz primordial da matéria, mas o pleno desenvolvimento da matéria só pode ser obtido depois que alcançamos Malkuth, o universo material. Veremos repetidamente, no curso de nossos estudos, que as Três Supremas têm suas expressôes especializadas num arco inferior em uma ou outra das seis Sephiroth que formam o Microprosopos. Essas Esferas têm suas raízes na Tríade Superior, ou são os reflexos delas, a essas pistas têm um significado profundo. Binah vincula-sea Malkuth como a raiz ao seu fruto. Isso é indicado no Texto Yetzirático de Malkuth, que diz: “Ela sentava-se no trono de Binah.” É impraticável, por essa razão, atribuir firme a seguramente os deuses de outros panteôes às diferentes Sephiroth. Aspectos de Ísis encontram-se em Binah, Netzach, Yesod a Malkuth. Aspectos de Osíris encontram-se em Hochma, Chesed a Tiphareth. Isso é muito claro na mitologia grega, em que se dão diferentes títulos descritivos aos deuses e deusas. Por exemplo, Diana, a divindade lunar, a caçadora virgem, era adorada em Éfeso como a deusa de muitos seios; Vênus, a deusa da beleza feminina a do amor, tinha um templo em que era adorada como a Vênus Barbada. Esses fatos ensinam-nos algumas verdades importantes, instando-nos a buscar o princípio atrás da manifestação multiforme, e a compreender que o mesmo princípio assume formas diferentes em níveis diferentes. A vida não é tão simples como o desinformado gostaria de acreditar.

15. 0 significado dos nomes hebraicos da segunda e da terceira Sephiroth são Sabedoria a Entendimento, a ambas as Esferas, curiosamente, opõem-se uma a outra, como se a distinção entre os termos fosse de importância fundamental. A Sabedoria sugere às nossas mentes a idéia do conhecimento acumulado, das séries infinitas de imagens na memória; mas o Entendimento comunica-nos a idéia da penetração de seu significado, o poder para perceber-lhes a essência e a inter-relação, o que não está necessariamente implícito na Sabedoria, tomada como conhecimento intelectual. Obtemos, assim, um conceito de uma série extensa, uma cadeia de idéias associadas, em relação a Hochma, o que concorda pelo menos com o símbolo de Hochma de uma linha reta. Mas, em relação ao Entendimento, temos a idéia da síntese, da percepção de significados que se produz quando as idéias são relacionadas umas às outras, a superimpostas umas sobre as outras, em séries evolutivas do denso ao sutil. Isso sugere novamente a idéia do princípio unificador de Binah.

16. Estes sâo meios sutis da operação mental, a podem parecer fantásticos àqueles que não estão acostumados com o método de utilização mental do iniciado; mss o psicanalista os compreende a os aprecia em seu verdadeiro significado, assim como faz o poeta quando constrói suss torres nefelibatas de imagens.

17.0 Texto Yetzirático destaca a idéia da fé, a fé que reside no entendimento, o qual, por sua vez, é filho de Binah. Esse é o único local em que a fé pode repousar adequadamente. Um cínico definiu a fé como o poder de acreditar naquilo que sabemos não ser verdade, a essa parece ser uma definiçáo bastante exata das manifestações de fé tal como aparecem em muitas mentes não-instruídas, fruto da disciplina de seitas carentes de consciência mística. Mas à luz dessa consciência, podemos definir a fé como o resultado consciente da experiência superconsciente que não foi traduzida em termos de consciência cerebral, a da qual, por conseguinte, a personalidade normal não está diretamente consciente, embora, não obstante, sinta-lhe, possivelmente com grande intensidade, os efeitos, a suas reaçôes emocionais são, dessa forma, modificadas fundamental a permanentemente.

18. À luz dessa definição, podemos ver como .as raízes da fé podem de fato residir em Binah, Entendimento, o princípio sintético da consciéncia. Pois há um aspecto formal da consciência, assim como da substância, e consideraremos esse aspecto em detalhes quando estudarmos Hod, a Sephirah básica do Pilar da Severidade de Binah. Vemos, assim, mais uma vez, como as Sephiroth se inter-relacionam, propiciando o esclarecimento de suas vinculações mútuas.

19. A afirmação de que as raízes de Binah estão em Amém refere-se a Kether, pois um dos títulos de Kether é Amém. Isso indica claramente que, embora Hochma emane Binah, não devemos nos deter aqui quando buscamos as origens, mss devemos remontar à fonte de tudo que brota do Imanifesto atrás dos Véus da Existência Negativa. Esse conceito é claramente formulado pelo Texto Yetzirático de Chesed, que, falando das forças espirituais, diz: “Elas emanam uma da outra, em virtude da emanação primordial, a coroa superior, Kether.”

20. Não devemos nos confundir ou nos enganar a esse respeito pelo fato de o Texto Yetzirático de Geburah declarar que Binah, o Entendimento, emana das profundezas primordiais de Hochma, Sabedoria. Binah está em Kether, assim como em Hochma, “mss de outra maneira”. No ser puro, informe a indiviso existem as possibilidades da força a da forma; pois, onde há um pólo positivo, há necessariamente o aspecto correlato de um pólo negativo. Kether está para sempre num estado de devir. Aliás, um cabalista judeu me disse que a tradução correta de Eheieh, o Nome divino de Kether, é “Eu serei”, não “Eu sou”. Esse devir constante não pode permanecer estático; ao contrário, precisa pôr-se em atividade; a essa atividade não pode permanecer para sempre sem correlações; ela precisa organizar-se; cumpre chegar a um modo de equilíbrio entre as correntes. Temos, assim, a potencialidade tanto de Hochma quanto de Binah implícita em Kether, pois, é bom repetir, as Sephiroth Sagradas não são coisas, mss estados, e todas as coisas manifestas existem em um ou outro desses estados, a contêm uma mescla desses fatores em sua constituição, de modo que todo o universo manifesto pode ser classificado nos escaninhos apropriados de nossa mente quando o hieróglifo da Árvore é aí estabelecido. Na verdade, uma vez estabelecido a claramente formulado esse hierógtifo, a mente o utiliza automaticamente, a os complexos fenômenos de existência objetiva classificam-se em nosso entendimento. É por essa razão que o estudante de ocultismo que trabalha numa escola iniciática é instado a memorizar as principais correspondências das Dez Sephiroth Sagradas e a não depender das tabelas de referência. Muitas vezes já se objetou que isso é uma intolerável perch de tempo a energia, a que a referéncia às tabelas de correspondências, tais como a dé 777, de Crowley, é muito melhor. Mas a experiência prova que esse não é o caso, a que o esoterista que se dedica a essa disciplina, e a repete diariamente, como o católico reza o seu rosário, é amplamente recompensado pela iluminação posterior que recebe quando sua mente classifiça as inumeráveis mudanças a acasos da vida mundana na Árvore, revelando, assim, o seu significado espiritual. Deve-se ter sempre em mente que a utilização da Árvore da Vida não é apenas um exercício intelectual; é uma arte criativa, no sentido literal das palavras; a que as faculdades devem ser desenvolvidas na mente, assim como o escultor ou o músico adquire a sua habilidade manual.

21.0 Texto Yetzirático refere-se especificamente a Binah como a Inteligência Santificadora. A santificação evoca a idéia do que é sagrado a posto à parte. A Virgem Maria está intimamente associada a Binah, a Grande Mãe, a dessa atribuição passamos à idéia daquilo que dá origem a tudo, mss retém a sua virgindade; em outras palavras, daquilo cuja criatividade, não o envolve na vida de sua criação, mss permanece à parte a atrás, como a base da manifestação, a substãncia-raiz de onde surge a matéria. Pois, embora a matéria tenha suas raízes em Binah, a matéria, não obstante, tal como a conhecemos, é de uma ordem de ser muito diferente da Sephirah Suprema em que reside sua essência. Binah, a influência primordial formativa, criadora de todas as formas, está atrás a além da substãncia manifesta; em outras palavras, é etemamente virgem. É a influência formativa que subjaz a toda edificaçáo da forma, essa tendência de curvar as linhas de força para correlacionar a alcançar a estabilidade, que é Binah.

22. Essas duas Sephiroth básicas da Tríade Suprema são expressamente referidas como Pai a Mãe, Abba a Ama, a suas imagens mágicas são as de um homem barbado a de uma matrona, representando, assim, não a atração sexual de Netzach a Yesod – que são representados como donzela a adolescente -, mas os seres maduros que se uniram a reproduziram. Devemos sempre fazer uma distinção entre a atração sexual magnética e a reprodução, pois ambas são coisas muito diferentes, a não constituem níveis ou aspectos diferentes da mesma coisa. Aqui está uma importante verdade oculta que consideraremos no devido tempo.

23. Hochma a Binah representam, portanto, a virilidade e a feminilidade essenciais em seus aspectos criadores. Como tal, não são imagens fálicas, mas nelas se acha a raiz de toda força vital. Jamais compreenderemos os aspectos mais profundos do esoterismo se não entendermos o verdadeiro signiiicado do falicismo. Este nada tem a ver com as orgias nos templos de Afrodite, que desgraçaram a levaram à decadência a fé pagã dos antigos e causaram a sua queda; significa que tudo reside no princípio da estimulação do inerte, mas potencial pelo princípio dinâmico, que deriva sua energia diretamente da fonte de toda energia. Esse conceito abrange tremendas chaves de conhecimento, a constitui um dos pontos mais importantes dos Mistérios. É óbvio que o sexo representa um aspecto desse fator; é igualmente óbvio que há muitas outras aplicações concementes a ele que não são sexuais. Não devemos de forma alguma permitir que nossos preconceitos sobre o sexo, ou uma atitude convencional para com esse grande a vital assunto, nos façam retroceder diante desse grande princípio da estimulação ou fecundação do inerte potencial pelo princípio ativo. Aquele que assim se inibe não está preparado para os Mistérios, sobre cujo portal estão escritas as seguintes palavras: “Conhece-to a ti mesmo.”

24. Esse conhecimento não conduz à impureza, pois a impureza implica uma perda do controle que permite às forças ultrapassarem os limites que a Natureza lhes impôs. Aquele que não controla seus próprios instintos e paixões não é mais apto para os Mistérios do que aquele que os inibe e dissocia. Fique bem claro, contudo, que os Mistérios não ensinam o ascetismo ou o celibato como um requisito, pois eles não concebem o espírito e a matéria como um par de antinomias irreconciliáveis, mas, antes, como níveis diferentes da mesma coisa. A pureza não consiste na emasculação, mas na manutenção de diferentes forças em seus níveis a lugares adequados, a no impedimento de invadirem a esfera alheia. Ela ensina que a frigidez e a impotência constituem defeitos tão sérios como qualquer outro, devendo ser consideradas como patologias sexuais, da mesma maneira que a luxúria, que destrói seu objeto e o degrada.

25. Todas as relaçóes da existência manifesta implicam a ação dos princípios de Binah a Hochma e, sendo o sexo uma perfeita representação de ambos, foi ele utilizado como tal pelos antigos, que não se perturbavarrm pela nossa timidez sobre o assunto, a tomavam suas metáforas do tema da reprodução da mesma maneira livre pela qual tomamos as nossas da Biôlia. Pois para eles a reprodução era um processo sagrado, a eles se referiam a ela, não com grosseria, a sim com reverência. Se desejamos compreendê-los, devemos nos aproximar de seus ensinamentos sobre a fonte da vida a da força vital com o mesmo espírito com que eles se aproximaram delas, a ninguém cujos olhos não estejam vendados pelo preconceito, ou que não permaneça nas trevas lançadas por seus próprios problemas irresolvidos, pode deixar de compreender que nossa atitude atual em face da vida seria mais saudável a agradável se tivesse como fermento o bom senso e o discernimento do paganismo.

26. Os princípios da masculinidade a da feminilidade manifestos em Hochma a Binah representam mais do que mera polaridade positiva a negativa, atividade a passividade. Hochma, o Pai Universal, é o veículo da força primordial, a manifestação imediata de Kether. É, na verdade, Kether em ação, pois as diferentes Sephiroth não representam diferentes coisas, mas diferentes funções da mesma coisa, isto é, força pura jorrando na manifestação, oriunda do Grande Imanifesto, que está atrás dos Véus Negativos da Existência. Hochma é força pura, assim como a expansão da gasolina, quando esta se inflama na câmara de combustão de um motor, é força pura. Mas, assim como essa força expansiva se expandiria a se perderia se não houvesse um mecanismo para transmitir seu poder, da mesma forma a energia não-direcionada de Hochma se irradiaria pelo espaço a se perderia se nada houvesse para receber seu impulso a utilizá-lo. Hochma explode como a gasolina; Binah é a câmara de combustão; Gedulah a Geburah são os movimentos altemados do pistão.

27. A força expansiva fornecida pelo combustível é energia pura, mas náo poria um carro em movimento. A organização constritiva de Binah é potencialmente capaz de fazê-lo, mas ela não pode fazê-to a não ser pondose em movimento pela expansão da energia acumulada do vapor da gasolina. Binah é potencialmente ilimitada, mas inerte. Hochma é energia pura, ilirrmitada a incansável, mas incapaz de fazer qualquer coisa, exceto irradiar-se pelo espaço se nada houver que a detenha. Mas, quando Hochma age sobre Binah, sua energia é reunida a utilizada. Quando Binah recebe o impulso de Hochma, todas as suas capacidades latentes são vitalizadas. Em suma, Hochma fornece a energia, a Binah fornece o motor.

28. Consideremos, agora, a masculinidade e a feminilidade desse par de opostos supremo, conforme se expressam no ato da geração. Os espermatozóides do macho tém uma vida brevíssima; eles são as unidades de energia mais simples possfvel; assim que essa energia se expande, eles se dissolvem. Mas o mecanismo reprodutor da fêmea, o útero que gera a os seios que alimentam, são capazes de conduzir essa vida transferida à sua própria vida independente; e, no entanto, todo esse complexo mecanismo deve ficar inerte até que o estímulo da força Hochma o ponha em ação. A unidade reprodutora feminina é potenciahnente ilimitada, mas inerte; a unidade reprodutora masculina é onipotente, mas incapaz de produzir um nascimento.

29. Muitas pessoas pensam que, sendo a masculinidade e a feminilidade, tal como as conhecem no plano físico, princípios fixos detemiinados pela estrutura, o potente e o potencial se limitam rigidamente aos seus respectivos mecanismos. Ora, isso é um erro. Existe uma contínua altemação de polaridade sobre todos os planos, exceto o físico. E, de fato, entre os tipos primitivos de vida animal, há também uma alternãncia de polaridade no plano físico. Entre os tipos superiores, especialmente entre os vertebrados, a polaridade é fixada pelo acaso do nascimento, salvo as anomalias hermafroditas, que só podem ser consideradas como patológicas, a em que apenas um sexo é sempre funcionalmente ativo, qualquer que seja o aparente desenvolvimento do outro aspecto. Um dos segredos mais importantes dos Mistérios consiste no conhecimento dessa contínua interação de polaridade. Não se trata, em absoluto, de homossexualidade, que é uma expressão pervertida a patológica desse aspecto, que surge como uma desordem de sentimento sexual quando a lei da polaridade alternante não é corretamente compreendida.

30. Em suma, embora o modo de reprodução no plano físico seja determinado em todos os indivíduos pela configuração de seu corpo, suas reaçôes espirituais não são tão fixas, pois a alma é bissexual; em outras palavras, em toda relação de vida, somos às vezes positivos a às vezes negativos, conforme sejam as circunstâncias mais fortes do que nós, ou sejamos nós mais fortes do que as circunstâncias. lsso ressalta claramente do fato de que Netzach (Vênus-Afrodite) é a Sephirah basal do Pilar de Hochma. Vemos, assim, que a natureza feminina apresenta uma polaridade diferente em níveis diferentes, pois em Netzach ela é tão positiva a dinâmica como em Binah é estática.

31. Tudo isso não é apenas desconcertante do ponto de vista intelectual, mas também muito confuso moralmente; e, mesmo sob risco de ser acusada de encorajar de todas as maneiras as anormalidades, devo tentar esclarecer o assunto, pois suas implicaçôes práticas são de grande alcance.

32. Afirmam os rabinos que toda Sephirah é negativa em relação à que lhe é superior a que a emanou, a positiva em relação à que lhe é inferior e por ela emanada. Aqui está a chave; somos negativos em nossas relações com o que apresenta um potencial superior ao nosso, a somos negativos em nossas relações com o que possui um potencial inferior. Essas relaçôes estão num perpétuo estado de futuação, o qual varia em cada ponto de nossos inúmeros contatos com o meio em que agimos.

33. Na maior parte dos casos, a relação entre um homem a uma mulher não é inteiramente satisfatória para nenhuma parte, a eles devem resignar-se a uma satisfação incompleta em suas relações sob a compulsão da pressão religiosa ou econômica, ou suprir de alguma forma a sua insatisfação, tendo como resultado a recorrência das condições anteriores, quando a novidade perdeu seu interesse. Deve-se observar que, sob tais circunstâncias, a cuhninação da satisfação sexual acha-se apenas na novidade, a esta é uma coisa que precisa ser constantemente renovada, com o conseqüente resultado desastroso para a economia sexual.

34.0 problema reside no fato de que, embora o macho forneça o estímulo físico que leva à reprodução, não é ele capaz de compreender que, nos planos intemos, em virtude da lei da polaridade inversa, é negativo, dependendo, para sua consecução, do est,.mulo concedido pela fémea. Ele depende deia para a fertilidade emocional, como se pode ver claramente no caso de uma mente altamente criativa, como Wagner ou Shelley.

35.0 matrimônio não é uma questâo de duas metades, mas de quatro quartos, que se unem numa harmonia equilibrada de fecundação recíproca. Binah a Hochma são equilibrados por Hod a Netzach. 0 homem tem deuses a deusas para adorar. Boaz a Jakin são Pilares do Templo, a apenas quando unidos produzem a estabilidade. Uma religiáo sem deuses está a meio caminho do ateísmo. Na palavra Elohim encontramos a chave verdadeira. Elohim é traduzido por “Deus” tanto na Versão Autorizada quanto
na Revisada das Sagradas Escrituras. Ela deveria ser traduzida, na verdade, por “Deus a Deusa”, pois é um substantivo feminino acrescido de uma terminação masculina de plural. Esse é um fato incontrovertível, em seu aspecto lingüístico pelo menos, e é de se presumir que os diversos autores dos livros da Bíblia conheciam seu significado, a que não utilizaram essa forma, única a peculiar, sem alguma boa razão. “E o espírito dos princípios masculino a feminino, conjunto, movia-se sobre a superfície do informe, e a manifestação teve lugar.” Se desejamos o equilrôrio, em lugar de nosso presente estado de tensôes desiguais, devemos adorar a Elohim, não a Jehovah.

36. A adoração de Jehovah, a não de Elohim, pode impedir-nos a “elevação aos planos”, isto é, a obtenção da consciência supranormal como parte de nosso equipamento normal, pois devemos estar preparados para mudar de polaridade enquanto mudamos de nível, pois o que é positivo no plano físico torna-se negativo no astral, a vice-versa. Além disso, como o trabalho oculto prático sempre invoca a utilização de mais de um plano, seja simultaneamente, como na invocação, ou sucessivamente, como quando correlacionamos os níveis de consciência segundo o trabalho psíquico, o fator negativo precisa sempre ter seu lugar em nossa obra, tanto subjetiva quanto objetivamente.

37. Isso nos abre novos aspectos do assunto. Quantas pessoas compreendem que suas próprias almas são literalmente bissexuais em si mesmas, e que os diferentes níveis de consciência agem como macho a fêmea em suas relações mútuas?

38. Freud declarou que a vida sexual determina o tipo de toda a vida. É provável, no entanto, que a vida como um todo determine o tipo da vida sexual; mas, para os propósitos práticos, sua maneira de esclarecer o fato é verdadeira, pois, embora não se possa endireitar uma vida sexual confusa operando-se sobre a vida como um todo – por exemplo, nem a riqueza nem a fama são uma compensação adequada para a repressão desse instinto fundamental -, pode-se endireitar todo o padrão vital, desemaranhando-se a vida sexual. Esse é um assunto de experiência prática a não precisa ser discutido a priori. É por essa razão, sem dúvida alguma (aprendida pela experiência prática das operações da consciência humana), que os antigos conferiam ao falicismo uma parte tão importante em seus ritos. Atualmente, ele é um ponto muito importante no aspecto cerimonial dos cultos modernos, mas o reconhecimento do significado dos símbolos empregados tradicionalmente foi reprimido pela consciência.

39. A psicologia freudiana fornece a chave para o falicismo a abre uma porta que conduz ao Adytum dos Mistérios. Não há como escapar a esse fato no ocultismo prático, por mais desagradável que possa parecer a muitos; a isso explica por que tantos empreendimentos mágicos são estéreis.

40. Esses assuntos constituem segredos recônditos dos Mistérios, dos quais os modernos perderam as chaves, mas a experiência da nova psicologia e a arte da psiquiatria provaram abundantemente a solidez da base com a qual os antigos fundamentaram sua adoração do princípio criativo a da fertWdade como parte importante de sua vida religiosa. É uma experiência já bem-estabelecida que a pessoa que dissociou seus sentimentos sexuais da consciência não pode agarrar-se à vida em qualquer nível. Esse fato é a base da moderna psicoterapia. No trabalho oculto, a pessoa inibida a reprimida tende para as formas desequilibradas de psiquismo a mediunidade, e é totalmente inútil para o trabalho mágico, onde o poder deve ser dirigido e manipulado pela vontade. Isso não significa que a total repressão ou a total expressão seja necessária para o trabalho mágico, mas sim que a pessoa que se apartou de seus instintos, que sâo suas raízes na Mãe Terra, a em cuja consciência há, por conseguinte, um vazio, não pode abrir o canal através do qual a força, oriunda dos planos, possa ser trazida à manifestação no plano físico.

41. Não tenho dúvidas de que serei mal-interpretada por minha franqueza nesses assuntos; mas, se alguém não se adiantar a enfrentar o ódio por falar a verdade, como poderiam os verdadeiros investigadores descobrir seu caminho para os Mistérios? Deveríamos manter na loja oculta a mesma atitude vitoriana que foi abandonada por completo fora de seu recinto? Al. guém precisa quebrar esses falsos deuses feitos à imagem de Mrs. Grundy. Estou inclinada a pensar, contudo, que as perdas que poderíamos sofrer nesse assunto serão bem pequenas, pois não seria possível treinar ou cooperar com a espécie de pessoa que se assusta quando lhe falam claramente. Não se pense também que estou convidando quem quer que seja a participar comigo de orgias fálicas, como bem poderá alguém pensar. Assinalo apenas que a pessoa que não pode compreender o significado do culto fálico do ponto de vista psicológico não tem bastante inteligência para participar dos Mistérios.

42. Tendo concedido um espaço considerável à elucidação do princípio de Binah em seu trabalho na polaridade com Hochma, uma vez que não se pode compreendê-la de outra maneira, sendo ela essencialmente um princípio de polaridade, podemos considerar agora o significado do simbolismo atribuído à terceira Sephirah. Esse simbolismo apresenta dois aspectos – o aspecto da Grande Mãe e o aspecto de Saturno, pois ambas as atribuições são conferidas a. Binah. Ela é a poderosa Mãe de Todos os Viventes, e é também o princípio da morte, porquanto a forma precisa morrer quando cumpriu sua missáo. Nos planos da forma, morte a nascimento são duas faces da mesma moeda.

43. 0 aspecto maternal de Binah expressa-se no título de Marah, o Mar, que se lhe atribui. É um fato curioso que se represente Vénus-Afrodite nascendo da espuma do mar a que a Virgem Maria receba dos católicos o nome de Stella Mans, Estrela do Mar. A palavra Marah, que é a raiz de Maria, significa também “amargura”, e a experiência espiritual atribuída a Binah é a Visáo do Sofrimento. Uma visão que evoca a imagem da Virgem chorando aos pés da cruz, com o coração atravessado por sete punhais. Lembremos também o ensinamento de Buda, segundo o qual a vida é sofrimento. A idéia da submissão à dor e à morte está implícita na idéia da descida da vida aos planos da forma.

44.0 Texto Yetzirático de Malkuth, já citado, fala do Trono de Binah. Um dos títulos conferidos à Terceira Sephirah é Khorsia, o Trono; a os anjos atribuídos a essa Sephirah chamam-se Aralim, palavra que significa também Tronos. Ora, um trono sugere essencialmente a idéia de uma base estável, um firme fundamento sobre o qual o exercitador do poder tem o seu assento a do qual não pode ser removido. É, na verdade, um bloco que suporta a ação do retrocesso de. uma força, da mesma maneira que o ombro do atirador suporta o recuo do rifle. Os grandes canhões, utilizados para disparos de longa distância, precisam ser fixados a estruturas de concreto que ofereçam resistência ao contragolpe da explosão da carga que impulsiona o projétil, pois é óbvio que a pressão na culatra do canhão deve ser igual à exercida na base do projétil quando se efetua o disparo. Essa é uma verdade que nossos credos religiosos idealizadores estão inclinados a ignorar, com o conseqüente enfraquecimento a debilitaçâo de seus ensinamentos. Binah, Marah, a matéria, é a estrutura que empresta à força vital dinámica uma base segura.

45. Da resistência à força espiritual, como já observamos, provém a idéia do mal implícito, que é tão injusta para com Binah. Isso se torna muito claro quando consideramos as idéias que surgem em associação com Saturno-Cronos. Saturno implica algo muito sinistro. Ele é o Grande Maléfico dos astrólogos, a todo aquele que encontra uma quadratura de Saturno em seu horóscopo considera-a como uma pesada aflição. Saturno é o resistente, mas, sendo um resistente, é também um estabilizador a um testador que não nos permite confiar nos’so peso àquilo que não o resistiria. É digno de nota que o Trigésimo Segundo Caminho – que conduz de Malkuth a Yesod e é o primeiro Caminho trilhado pela alma que se eleva – seja atribuído a Saturrio. Ele é o deus da forma mais antiga da matéria. 0 mito grego de C~os, que é simplesmente o nome grego para o mesmo princípio, considê’ia-o como um dos deuses mais velhos; ou seja, aqueles deuses que criaram os deuses. Ele é o pai de Júpiter-Zeus, o qual se salvou graças a um estratagema de sua máe, pois Saturno tinha o desagradável hábito de comer suas crianças. Encontramos nesse mito novamente a idéia do dador da vida e dá morte. Como já observamos, Saturno, com sua foice, converte-se facilmente na Morte. É muito interessante notar as reentráncias dessas cadeias de idéias associadas em relação a cada Sephirah, pois não podemos deixar de ver como as mesmas imagens afloram outra a outra vez em todas as cadeias de idéias que possuímos, mesmo quando partimos de idéias aparentemente muito divergentes como mãe, mar a tempo.

46. Cada planeta tem uma virtude a um vício; em outras palavras, cada planeta pode estar, nas palavras dos astrólogos, bem ou mal-aspectado, bem ou mal-exaltado. Não podemos passar pela vida sem notar que cada tipo de caráter tem os vícios de suas virtudes; isto é, suas virtudes, quando levadas ao extremo, tornam-se vícios. Ocorre o mesmo com as sete Sephiroth planetárias; elas têm seus bons a maus aspectos, de acordo com a proporção com que os apresentam; quando falta o equilrbrio, em razão da força desequilibrada de uma Sephirah particular, experimentamos as más influências dessa Sephirah; por exemplo, Saturno devorara seus filhosi A morte começa a destruir a vida antes que ela tenha cumprido suas funçôes. Nenhuma Sephirah, portanto, é totalmente má, nem mesmo Geburah, que é a destruição personificada. Todas são igualmente indispensáveis ao esquema das coisas como um todo, a suas boas a más influências relativas dependem do papel que desempenham, o qual não deve ser nem muito forte, nem muito débil, mas equilibrado. A pouca influência de uma dada Sephirah conduz ao desequilíbrio na Sephirah oposta. A influência em excesso torna-se uma influência positivamente má – uma dose excessiva de veneno.

47. A virtude de Binah é o Silêncio, a seu vício é a avareza. Vemos aqui, novamente, a influência de Saturno tomar-se presente. Keats fala do “Saturno de cabelos grisalhos, silencioso como uma pedra”, a nessas poucas palavras o poeta evoca uma imagem mágica da era a do silêncio primordial da influência satumiana. Saturno é de fato um dos velhos deuses a está relacionado ao aspecto mineral da Terra. Seu trono acha-se nas rochas mais antigas, onde não cresce planta alguma.

48. É costume dizer que o silêncio é uma das virtudes especialmente desejadas nas mulheres. Seja como for, a não há dúvida de que a língua é a sua arma mais perigosa, o silêncio indica receptividade. Se estamos calados, podemos ouvir, a assim aprender; mas, se estamos falando, as portas de entrada da mente estão fechadas. É a resistência e a receptividade de Binah que são seus poderes principais. E dessas virtudes provém o vício, que é constituído por seu excesso, a avareza, que nega em demasia a retém até o que é dispensável. Quando isso acontece, precisamos da generosa influência de Gedulah-Geburah, Júpiter-Marte, para destruir o velho deus, o devorador de seus filhos, a reinar em seu lugar.

49. Os símbolos mágicos de Binah são o Yoni e o Manto Exterior de Ocultamento. Esta é uma expressão gnóstica, a aquele, um termo indiano, que indica os genitals da mulher, a correspondência negativa do falo do homem. 0 termo Kteis, menos conhecido, é o termo europeu equivalente. Nos símbolos religiosos hindus, o yoni e o lingam surgem com muita freqüência, pois a idéia da força vital a da fertilidade são os motivos principais de sua fé.

50. A idéia da fertilidade é o motivo principal nos aspectos de Binah que se manifestam no mundo de Assiah, o nível material. A vida não apenas penetra a matéria para discipliná-la, mas também retira-se dela triunfahnente, aumentada a multiplicada. 0 aspecto da fertilidade, equilibrando o aspecto Tempo-Morte-Limitação, é essencial ao nosso conceito de Binah. 0 Tempo-Morte ceifa com sua foice o trigo de Ceres, a ambos são símbolos de Binah.

51. A idéia do Manto Exterior de Ocultamento sugere claramente a matéria, assim como o esplendor envolvente do Manto Interno de Glória do princípio vital. Ambas as idéias, reunidas, comunicam-nos o conceito do corpo animado pelo espírito; o Manto Interno ou Glória Espiritual oculto de todos os olhos pelo invólucro exterior da matéria densa. Mais a mais vezes, enquanto meditamos sobre esses mistérios, encontramos a iluminação dessa coleção aparentemente fortuita de símbolos atribuídos a cada Sepliirah. Já vimos em nosso estudo que nenhum símbolo está só, a que toda penetração da intuição a da imaginação serve para revelar as grandes linhas de relaçôes entre os símbolos.

52. Os quatro três do baralho do Tarô são as cartas atribuídas a Binah e, de fato, o número três está intimamente associado à idéia da manifestação na matéria. As duas forças opostas encontram expressão numa tercei. ra, o equilíbrio entre elas, que se manifesta num plano inferior ao de seus pais. O triângulo é um dos símbolos atribuídos a Saturno como deus da matéria mais densa, e o triãngulo de arte, como é chamado, é utilizado nas cerimônias mágicas quando o objetivo é evocar um espírito a fazê-to visível no plano da matéria; para outros modos de manifestação, utiliza-se o círculo.

53. 0 três de paus chama-se Senhor da Força Estabilizada. Temos novamente aqui a idéia do poder em equilíbrio, que é tâo característico de Binah. Lembremos que Paus representa a força dinâmica de Yod. Essa força, quando na esfera de Binah, cessa de ser dinâmica, consolidando-se.

54. Copas é, essencialmente, a forma feminina, pois a copa, ou o cálice, é um dos símbolos de Binah a está estreitamente relacionado com o yoni no simbolismo esotérico. 0 Três de Copas está, portanto, em casa em Binah, pois os dois grupos de simbolismo se completam mutuamente. 0 Três de Copas, que é corretamente chamado de Abundância, representa a fertilidade de Binah em seu aspecto de Ceres.

55.0 Três de Espadas, contudo, chama-se Sofrimento, a seu símbolo no baralho de Tarô é um coração transpassado por três punhais. Nossos leitores lembrarão a referência ao coração apunhalado da Virgem Maria no simbolismo católico, a Maria equivale a Marah, a amargura, o Mar. Ave, Maria, stella marls!

56. As Espadas são, naturalmente, cartas de Geburah e, como tal, representam o aspecto destrutivo de Binah como Kali, a consorte de Siva, a deusa hindu da destruição.

57. Ouros são as cartas da Terra e, como tal, correspondem a Binah, a forma. 0 Três de Ouros, por conseguinte, é o Senhor dos Trabalhos Materials, ou atividade no plano da forma.

58. Notemos que, assim como os planetas têm sua influência rèforçada quando estão nos signos do Zodíaco que são suas próprias casas, também as cartas do Tarô, quando o significado da Sephirah coincide com o espírito do naipe, representam o aspecto ativo da influência; e, quando a Sephirah e o naipe representam influências diferentes, a carta é maléfica. Por exemplo, a carta ígnea de espadas é uma carta de mau augúrio quando se acha na Esfera de influência de Binah.

59. Alonguei-me bastante ao comentar Binah, porque com ela se completa a Tríade Suprema e o primeiro dos pares de opostos. Ela representa não apenas a si mesma, mas também aos pares funcionais, pois é impossível compreender qualquer unidade na Árvore, a não ser em referência às outras unidades com que interage a se equilibra. Hochma sem Binah, a Binah sem Hochma, são incompreensíveis, pois o par é a unidade funcional, a não qualquer uma das Sephiroth em separado.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/binah