O Problema da Felicidade Humana

Texto de Huberto Rohden

Os maiores médicos e psiquiatras do mundo concedem e confessam que o grosso da humanidade hodierna é neurótica, frustrada ou esquizofrênica. O Dr. Victor Frankl, diretor da Policlínica Neurológica da Universidade de Viena, em diversos livros traz estatísticas pavorosas sobre essa calamidade do homem civilizado dos nossos dias. E dá também o diagnostico do mal: a falta de uma consciência de unidade. O homem moderno, hipertrofiado na sua diversidade (ego) e atrofiado na sua unidade (Eu), é a consequência dessa descosmificação do homem, que não podia deixar de acabar num caos, em que a dispersividade derrotou a centralidade.

Frustrar é a palavra latina para despedaçar, fragmentar, desintegrar. O homem frustrado sente-se realmente como que desintegrado interiormente, o que produz nele um senso de profunda infelicidade. Em última análise, toda felicidade provém de uma consciência de coesão e integridade. O homem é infeliz porque perdeu a consciência da sua inteireza e unidade; pode ser uma personalidade, uma persona (máscara), mas deixou de ser uma individualidade, um ser indiviso em si mesmo. Unidade, integridade, felicidade, são sinônimos.

Muitos frustrados acabam em esquizofrenia. A palavra esquizofrênico quer dizer, em grego, mente partida. O homem mentalmente fragmentado é um homem desunido, descosmificado. Onde não há realização existencial há necessariamente uma frustração existencial, que é o motivo da infelicidade de milhares de homens.

O homem que deixou de ser cosmo pela unidade acaba, cedo ou tarde, num caos pela desunião consigo mesmo. As leis que regem o Universo sideral regem também o Universo Hominal. Os Mestres da vida, além de fazerem o diagnóstico da enfermidade, indicam também a sua cura. Victor Frankl cura os seus doentes frustrados com logoterapia, mostrando-lhes o caminho para restabelecer a sua integridade existencial, despertando-lhes a consciência do seu Lógos interno, o seu Eu, a sua alma. E os que conseguem fazer gravitar os planetas dos seus egos em torno do sol do seu Eu, restabelecem a harmonia e felicidade da sua existência.

Krishna, na Bhagavad Gita, afirma que o ego é o pior inimigo do Eu, mas que o Eu é o maior amigo do ego. O próprio Einstein, à luz da sua matemática metafísica, mostra que do caminho dos fatos (ego) não conduz nenhum caminho para o mundo dos valores (Eu).

Que é tudo isto senão Filosofia Univérsica, expressa de outra forma? O homem, para ter harmonia e felicidade, deve ter um centro de gravitação fixo e

imutável, deve afirmar a soberania da sua substância divina sobre todas as tiranias das circunstâncias humanas – deve ser Universificado.

Nada disto, porém, é possível, se o homem passar as 24 horas do dia na zona da dispersividade centrífuga do ego, e não der uma hora sequer à

concentração centrípeta do Eu. As leis cósmicas são inexoráveis e imutáveis, tanto no mundo sideral como no mundo hominal. Obedecer a essas leis da natureza humana é harmonia e felicidade – desobedecer-lhes é caos e infelicidade.

Não somos advogados da passividade contemplativa de certos orientais – mas defensores da harmonia e do equilíbrio entre atividade e passividade, entre introversão e extroversão, entre concentração e expansão, entre implosão e explosão, que são o característico de todos os setores da natureza. Enquanto o homem não se “naturalizar” ou cosmificar, será sempre frustrado e infeliz. Uma hora, ou meia hora, de profunda cosmo-meditação pode dar ao homem o devido equilíbrio para o resto do dia.

Não recomendamos a meditação em forma de pensamentos analíticos, que é ineficiente, mas recomendamos a profunda sintonização com a alma do

Universo, o esvaziamento de toda a ego-consciência, para que a plenitude cosmo-consciência possa plenificar com as águas vivas da fonte divina a

vacuidade dos canais humanos. Enquanto a ego-plenitude (egocentrismo, egolatria) funciona, a teo-plenitude não pode funcionar. É lei cósmica: plenitude só enche vacuidade, ou na linguagem dos livros sacros, “Deus resiste aos soberbos (ego-plenos), mas dá da sua graça aos humildes (ego-vácuos)”.

Durante a cosmo-meditação deve o homem esvaziar-se de todos os conteúdos do seu ego-humano – sentimentos, pensamentos e desejos – mantendo, porém, plenamente vígil a sua consciência espiritual; deve manter 100% de teo-consciência (Eu) e reduzir a ego-consciência a 0%.

O fim da Filosofia Univérsica é, pois, estabelecer no homem a mesma harmonia que existe no Universo, com a diferença de que no homem esta harmonia é voluntária e livre, enquanto no cosmo ela é automática. Esta harmonia livremente estabelecida pode dar ao homem uma felicidade consciente infinitamente maior do que toda a harmonia, beleza e felicidade do Universo extra-hominal.

O esforço inicial dessa harmonização vale a pena pela subsequente felicidade da vida humana. No princípio necessita o principiante de períodos determinados, em lugar certo para essa integração; mais tarde pode ele manter a concentração interior no meio de todas as dispersões exteriores, pode unir a sua implosão mística com todas as explosões dinâmicas; pode viver simultaneamente no Deus do mundo e nos mundos de Deus.

Huberto Rohden foi um dos precursores do espiritualismo universalista, trabalhou como professor, conferencista e escritor onde publicou mais de 65 obras sobre ciência, filosofia e religião. Foi tradutor da Bhagavad Gita, Tao Te Ching, O Evangelho de Tomé, O Novo Testamento, dentre outros. Propôs a Filosofia Univérsica como um meio de conexão do ser humano com a consciência coletiva do universo e florescimento da essência divina do indivíduo.

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Yeshua no deserto…

Texto de Huberto Rohden

Antes de iniciar sua vida messiânica, retirou-se Jesus durante quarenta dias ao deserto da Judéia. Depois desse período de solidão e meditação enfrenta ele o “adversário”, que em grego se chama diabolus, e em hebraico shai’tan.

As teologias entendem por esse adversário uma entidade objetiva, externa, que teria tentado Jesus. Entretanto, é bem possível que esse adversário tenha sido a personalidade humana de Jesus, que se opôs ao seu Cristo divino, tentando dissuadi-lo dos seus planos de redenção e abrindo gloriosas perspectivas, em que o ego humano vê redenção.

Durante quarenta dias, havia a personalidade humana de Jesus sido suspensa das suas funções normais; nem a sua natureza física, nem as suas faculdades mentais haviam funcionado durante esse tempo, enquanto o Eu divino do seu Cristo se achava no “terceiro céu” do êxtase ou samadhi.

Era natural que, terminando esse período de ego-banimento, a personalidade humana reclamasse os seus direitos suspensos, tentando e testando a individualidade crística com três invectivas tipicamente humanas: satisfazer a sua fome material, exibir a sua magia mental e apoderar-se do domínio político do mundo inteiro.

O cristo divino derrota o seu adversário humano e dá-lhe ordem de se pôr na “retaguarda” (vade retro) como servidor, e não na vanguarda como senhor, porquanto “a deus adorarás e só a ele prestarás culto”.

A sabedoria milenar do Bhagavad Gita harmoniza-se com essa atitude, quando diz: “O ego é um péssimo senhor, mas é um ótimo servidor da nossa vida”.

O texto sacro não manda o adversário (ego humano) ir-se embora, mas, sim, pôr-se na retaguarda, como dócil servidor do Eu divino do Cristo.

E após esses dias de meditação no deserto, a primeira mensagem que, logo no princípio, dirigiu ao povo é o chamado “Sermão da Montanha”, um grande tratado de paz, que representa o programa da mística divina e da ética humana, visando a total auto-realização do homem…

(Huberto Rohden)

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