O Triângulo Draconiano

Por Adriano Camargo Monteiro

O triângulo é a primeira forma geométrica completa, uma forma geométrica primitiva cujo simbolismo sintetiza o mundo superior, o plano da Criação, pois envolve três forças primárias que são a origem de Tudo em seu ciclo infinito de criação, preservação e destruição no tempo contínuo (passado, presente e futuro). Isso pode ser ilustrado por diversos símbolos, de diversas culturas e religiões ao redor do mundo. Como exemplos, podemos citar a Trimurti ou Trindade hindu (muito anterior ao cristianismo) composta pelos deuses Brahma (Criação), Vishnu (Preservação) e Shiva (Destruição). Outros exemplos são o Tridente de Shiva; o Tridente de Netuno; o Caduceu de Mercúrio com duas serpentes e um bastão; as três Nornas, deusas escandinavas do Destino (Moiras gregas, Parcas romanas), etc.

Na Clavicula Salomonis, conhecida também como Goetia, um grimório tradicionalmente atribuído a Salomão, mas possivelmente escrito na Idade Média, o triângulo simboliza a manifestação da vida e é usado na prática de evocação em que certas entidades deveriam aparecer. Esse Triângulo da Arte, não só na Goetia, mas também em diversas outras evocações, simboliza a Visão, a Força e a Ação (Visio, Vires, Actio).

Os três pontos representam também o triângulo filosófico, ou seja, o Enxofre, o Mercúrio e o Sal, os três principais elementos alquímicos. O Enxofre é o fogo luminoso, o verdadeiro Ser espiritual autoconsciente, o Eu Superior individual, o Fogo de Prometeus, o Fogo do Dragão e a Tocha de Baphomet (a união dos aspectos mercurianos/luminosos e tifonianos/sombrios), sendo esse Enxofre/Fogo a chispa imortal que vivifica cada ser. O Mercúrio é a alma ou veículo astromental que expressa emoções e pensamentos, que manifesta a inteligência e a imaginação no indivíduo encarnado; é o mediador entre o espírito e o corpo físico. O Sal simboliza o próprio corpo material denso com suas sensações e sentidos físicos, animado pelo Enxofre (o fogo vivificante, o espírito); é o receptáculo das influências espirituais (Enxofre) e das inquietudes da alma (Mercúrio).

Na Cabala Hermética e Tifoniana, os três pontos representam o triângulo superior da Árvore da Vida e da Morte, formado pelas três Sephiroth/Qliphoth, ou esferas (pontos), chamadas Kether/Thaumiel, Chokmah/Ghogiel e Binah/Satariel. Sinteticamente, pode-se dizer que Kether (Coroa) é a força neutra potencial, a centelha original e primordial da vida e do universo, e seu lado sombrio, Thaumiel, expressa as “Forças Combatentes” que “combatem” Kether e abrem um buraco para outro universo, o Universo B, em que o indivíduo expande a consciência para os planos transplutonianos (além dos limites do universo conhecido). Chokmah (Sabedoria) é a força positiva, masculina, ativa, em ação, e seu aspecto sinistro, Ghogiel, é o “Estorvador” que impede a continuidade do velho mundo, que destrói o antigo estado de coisas para dar lugar ao novo, à evolução para além do comum e corrente. Binah (Compreensão) é a força negativa, feminina, passiva, gestadora, da Criação, e seu lado obscuro, Satariel, é o “Ocultador” que oculta a luz nas profundezas, a luz de que faz o indivíduo ver (derkein = drakon), ou seja que possibilita a aquisição do conhecimento secreto. Porém, Satariel vela o acesso àqueles que não possuem as chaves, ou seja, que não estão preparados o suficiente.

Na música, os três pontos representam a tríade ou tricorde, as três notas do acorde considerado perfeito. Esse acorde primordial e básico, de três notas, é formado por intervalos de terças (tríades), por exemplo: tônica (nota dó, primeira), mais a terça (nota mi, terceira da nota dó), mais a quinta (nota sol, terceira da nota mi). Metafisicamente, o acorde perfeito, formado pela tríade, simboliza a Criação incipiente, prestes a desdobrar-se infinitamente no universo, como os muitos acordes e escalas musicais existentes para expressar os muitos aspectos do espírito humano.

No corpo humano, representado pelo Caduceu de Mercúrio, temos o ternário bioenergético, os etéricos condutos nervosos da coluna espinhal, chamados de Idá, Pingalá e Sushumná. Idá é a “serpente”, negativa; Pingalá, a “serpente”, positiva; e Sushumná é o bastão neutro com o globo Aour (Luz). Assim, temos nos três pontos a representação de três forças primárias e fundamentais, a positiva, a negativa e a neutra, que são essenciais para gerar ou criar qualquer coisa no universo manifestado. Aliás, esse princípio pode ser visto na própria Física e na estrutura básica do átomo composto por prótons, elétrons e nêutrons. Ainda no corpo humano, temos as três funções respiratórias (inspiração, retenção e expiração), e na genética e na fisiologia temos as forças manifestadas no pai, na mãe e no filho(a). O período de gestação da vida humana no útero da mulher (o triângulo invertido) é de 9 meses, ou 3×3 (um triângulo duplo entrelaçado formando o hexagrama).

Como analogia, o triângulo, formado pelos três pontos, é também o símbolo alquímico do Fogo e do Enxofre (o triângulo sobre uma cruz equilátera). Sua forma alude ao fogo e sua chama ascendente que termina em ponta triangular. A própria manifestação física do fogo essencialmente requer a combinação de três elementos: combustível (material de combustão), comburente (oxigênio) e calor (princípio de ignição), formando assim o triângulo do fogo, ou, maçonicamente, o delta luminoso do espírito e o plano espiritual do universo.

Símbolo do Enxofre

Mas, acima de tudo, o triângulo, para a Via Draconiana, é invertido, representando o feminino primordial, o útero do qual provém o universo. O triângulo invertido é um dos principais símbolos estilizados do Sagrado Feminino e de tudo o que isso envolve, sendo, consequentemente, um dos símbolos da Via Esquerda. Representa as deusas sinistras (ou seja, esquerdas, um pleonasmo para o próprio feminino), e seus aspectos tríplices, tais como Hécate, por exemplo. Algumas outras deusas arquetípicas correspondentes são: Hel, Hikhet, Nephtis, Crone, Lilith, Kali, Po, Mama Pacha, Tlaltecuhtli e o dragão fêmeo Tiamat. É importante compreender que a palavra “sinistra” significa “esquerda”, e que seu significado original grego, desde os tempos dos gnósticos, indica sempre o gênero feminino (a Iniciatrix), sem qualquer conotação maligna, tendenciosa, dogmática ou pejorativa.

O triângulo invertido, na alquimia, representa o elemento Água, o princípio ou elemento feminino; a taça; o caldeirão; o poço escuro; o útero; a caverna para os reinos subterrâneos, metafisicamente o Sitra Ahra, o “outro lado”, reino essencialmente feminino e primordial onde jaz a sabedoria (Sophia) oculta.

O triângulo invertido também representa os três chacras secretos (Golata, Lalata e Lalana) na parte de trás da cabeça e que são despertados graças ao poder (shakti) da deusa Kali e de Kundalini, a draco-serpentina Mãe Primordial.

Aqueles que sabem ler nas entrelinhas, sabem também como proceder em questões práticas…

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Adriano C. Monteiro é escritor de Filosofia Oculta, articulista em diversas mídias e autor da Tetralogia Draconiana.

#LHP

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-tri%C3%A2ngulo-draconiano

A Pedra Esmeraldina de Lúcifer

Por Adriano Camargo.

Para que o novo possa nascer, cresce e evoluir, para que algo possa ser gerado e criado, processos destrutivos, porém necessários, devem ocorrer.

Foi o que aconteceu com a esmeralda de Lúcifer. A pedra da testa de Lúcifer não caiu, exatamente, mas foi dividida e partilhada para que o conhecimento, o entendimento e a sabedoria se manifestassem na Terra, juntamente coma “fatal” materialização da espécie humana. A parte que ficou na testa de Lúcifer representa o aspecto mais elevado do indivíduo iniciado; a parte da pedra na qual foi esculpida a taça luciferiana representa o aspecto anímico, astral/emocional; a última parte serviu para talhar a Tábua de Esmeralda, segundo o mito hermético, mas representa o aspecto astrofísico do indivíduo, assim como a manifestação do conhecimento na Terra, no plano material.

A taça, que é a “pedra verde manchada de sangue”, a Pedra Filosofal, refere-se ao receptáculo do sangue da serpente (Sophia) e do dragão (Lúcifer, Daemon), ou Pimandro (Pymander, Poimandres), o Dragão de Sabedoria e de Luz que se manifesta sobre as trevas essenciais e necessárias do macro/micro universo. O sangue representa a linhagem da iniciação luciferiana, ou seja, a encarnação de indivíduos que foram “gestados” em seus receptáculos (taças) genéticos no plano astral (a taça, o útero universal, o Feminino). Essas gerações, por seu caráter lux-venusiano, têm o ímpeto, o impulso e a inquietude interior que as levam a buscar a sabedoria avidamente quando encarnadas na Terra. O sangue da serpente também representa a lava qliphótica, ou seja, o sangue menstrual da mulher que “encarna” Sophia-Vênus no rito sexual, ou Hieros Gamos (Casamento Sagrado).

Esse sangue representa ainda as regiões qliphóticas (sombrias e “daemoníacas”) do universo e os planos interiores subconscientes do indivíduo. Alquimicamente, o sangue do dragão representa o ácido nítrico que corrói a matéria, quer dizer, destrói a ilusão desses mundos das qliphoth (ativando o olho de Lúcifer, o brilho da esmeralda de sua testa). O sangue é também a fase rubedo, o último estágio do processo alquímico (interior).

Pimandro-Lúcifer também se manifesta de maneira logoica (pela Palavra e pela Lucidez de sua sabedoria sobre o fundo negro das Trevas) na Tábua de Esmeralda.

Essa tábua também representa a Terra sob os auspícios de Vênus (Sophia, Shekinah, Shakti, Sekht), ou seja, a Sabedoria manifestada e disponível para aqueles que a buscam ardentemente. Sob o aspecto iniciático, Lúcifer e Vênus representam o ideal unificado do macho e fêmea no indivíduo como um ser espiritual autoconsciente, sábio e completo, realizando os princípios herméticos da polaridade e do gênero. Tal indivíduo torna-se então o “ungido” pelo sangue derramado da taça esmeraldina. Isso significa que aquele que desperta o Dragão-Serpente se torna um verdadeiro iniciado de consciência expandida; torna-se Ophis-Christos, Nachash-Messiah, ou, em outras palavras, o próprio “dragão-serpente ungido” (do grego/hebraico “ophis/nachash” = “serpente”, e “christos/messiah” = “ungido”), não tendo isso nada a ver com o famoso Jesus pop show muito em voga atualmente. Cabalisticamente, as palavras “nachash” e “messiah” têm o mesmo valor numérico de 358, assim identificando-se mutuamente como pares essenciais e necessários à autocriação, evolução e expansão da
consciência. O número 358, curiosamente, também constitui em parte a sequência de Fibonacci, presente na natureza, no corpo humano, na arte, na literatura, na música, na geometria sagrada, em figuras geométricas, em símbolos como o pentagrama (“cinco linhas”, em grego), etc.

Os termos gnósticos equivalentes a Nachash-Messiah são Ophis-Christos, como mencionado, e Sophia-Christos, sendo a palavra “sophia” (“sabedoria”) um anagrama da palavra “ophis” (“serpente”). Em ambas as palavras a letra grega phi (?) é central, sendo seu valor também extraído da sequência de Fibonacci, identificando assim a Sabedoria com a Serpente. Phi é também um símbolo da Filosofia e da união do phallus com a kteis (pênis e vagina). Além disso, a letra phi expressa crescimento e evolução onde quer que esteja presente, e na palavra “filosofia” sua presença indica a união amorosa entre Sophia e Pimandro (a mulher e o homem no ritual, no cerimonial mágico, no casamento alquímico, na união sagrada, etc.) que conduz à iniciação, ao crescimento e à evolução interior que torna possível a conquista da Sabedoria, a consecução da autoconsciência e a autorrealização.

Adriano Camargo Monteiro é escritor de Filosofia Oculta, membro de diversas Ordens e autor da Tetralogia Draconiana.

#LHP #Luciferianismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-pedra-esmeraldina-de-l%C3%BAcifer