A Origem das Espécies, de Charles Darwin

As Edições Textos para Reflexão trazem a você a obra que mudou o mundo, A Origem das Espécies de Charles Darwin, exclusivamente para o seu Amazon Kindle.

Esta obra, apesar de essencialmente acadêmica, mudou para sempre a nossa concepção da vida e da natureza, e serve até hoje de alicerce primordial para ramos científicos como a biologia e a genética, que desabariam sem a teoria da seleção natural. Você já pode começar a ler em poucos minutos, pelo preço de um café:

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À seguir, trazemos alguns trechos selecionados de nossa edição digital:

[Cap. 6]

É certamente verdadeiro que se veem raramente aparecer num indivíduo novos órgãos que parecem ter sido criados com um fim especial; é mesmo o que demonstra o velho axioma de história natural de que se tem exagerado um pouco a significação: Natura non facit saltum [a natureza não dá saltos].

A maior parte dos naturalistas experimentados admitem a verdade deste adágio; ou, para empregar as expressões de Mine Edwards, a natureza é pródiga em variedades, mas avara em inovações. Para que haverá, na hipótese das criações, tantas variedades e tão poucas novidades reais? Por que é que todas as partes, todos os órgãos de tantos seres independentes, criadas, como se supõe, separadamente para ocupar um lugar distinto na natureza, estiveram tão ordinariamente ligadas umas às outras por uma série de gradações? Por que não teria passado a natureza simultaneamente de uma conformação para outra? A teoria da seleção natural faz-nos compreender claramente porque não sucede assim; a seleção natural, com efeito, atua apenas aproveitando leves variações sucessivas, não pode pois jamais dar saltos bruscos e consideráveis, só pode avançar por graus insignificantes, lentos e seguros.

[Cap. 15]

A disposição semelhante dos ossos na mão humana, na asa do morcego, na barbatana do golfinho e na perna do cavalo; o mesmo número de vértebras no pescoço da girafa e no do elefante; todos estes fatos e um número infinito de outros semelhantes explicam-se facilmente pela teoria da descendência com modificações sucessivas, lentas e ligeiras. A semelhança de tipo entre a asa e a perna do morcego, ainda que destinadas a usos tão diversos; entre as maxilas e as patas do escaravelho; entre as pétalas, os estames e pistilos de uma flor, explica-se igualmente em grande escala pela teoria da modificação gradual das partes e dos órgãos que, num antepassado afastado de cada uma dessas classes, eram primitivamente semelhantes. Vemos claramente, segundo o princípio de que as variações sucessivas não sobrevêm sempre numa idade precoce e apenas são hereditárias na idade correspondente, porque os embriões de mamíferos, de aves, de répteis e de peixes, são tão semelhantes entre si e tão diferentes no estado adulto. Podemos cessar de nos maravilhar de que os embriões de um mamífero de respiração aérea, ou de uma ave, tenham fendas branquiais e artérias em rede, como no peixe, que deve, por meio de guelras bem desenvolvidas, respirar o ar dissolvido na água.

[…] Não é possível supor que uma teoria falsa pudesse explicar, de maneira tão satisfatória, como o faz a teoria da seleção natural, as diversas grandes séries de fatos de que nos temos ocupado. Tem-se recentemente objetado que está nisto um falso método de raciocínio; mas é o que se emprega para apreciar os acontecimentos ordinários da vida, e os maiores sábios não têm desdenhado em o seguir. É assim que se chega à teoria ondulatória da luz; e a crença da rotação da Terra no seu eixo só recentemente encontrou o apoio de provas diretas. Não é uma objeção valiosa dizer que, no presente, a ciência não lança luz alguma sobre o problema bem mais elevado da essência ou da origem da vida. Quem pode explicar o que é a essência da atração ou da gravidade! Ninguém hoje, contudo, se recusa a admitir todas as consequências que ressaltam de um elemento desconhecido, a atração, posto que Leibnitz tivesse outrora censurado Newton de ter introduzido na ciência “propriedades ocultas e milagres”.

Não vejo razão alguma para que as opiniões desenvolvidas neste volume firam o sentimento religioso de quem quer que seja. Basta, além disso, para mostrar quanto estas espécies de impressões são passageiras, lembrar que a maior descoberta que o homem tem feito, a lei da atração universal, foi também atacada por Leibnitz, “como subversiva da religião natural, e, nestas condições, da religião revelada”. Um eclesiástico célebre escrevia-me um dia, “que tinha acabado por compreender que acreditar na criação de algumas formas capazes de se desenvolver por si mesmas noutras formas necessárias, é ter uma concepção bem mais elevada de Deus, do que acreditar que houvesse necessidade de novos atos de criação para preencher as lacunas causadas pela ação das leis estabelecidas”.

[…] O resultado direto desta guerra da natureza que se traduz pela fome e pela morte, é, pois, o fato mais admirável que podemos conceber, a saber: a produção de animais superiores.

Não há uma verdadeira grandeza nesta forma de considerar a vida, com os seus poderes diversos atribuídos primitivamente pelo Criador a um pequeno número de formas, ou mesmo a uma só? Ora, enquanto que o nosso planeta, obedecendo à lei fixa da gravitação, continua a girar na sua órbita, uma quantidade infinita de belas e admiráveis formas, saídas de um começo tão simples, não têm cessado de se desenvolver e desenvolvem-se ainda hoje!

(Charles Darwin; tradução de Joaquim Dá Mesquita Paul)

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Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-origem-das-esp%C3%A9cies-de-charles-darwin

Para ser feliz (parte 1)

No Taiti, uma das belíssimas ilhas da Polinésia Francesa, Everaldo Pato está içando as velas do seu barco com a ajuda do amigo, da esposa e da filha. O cenário é deslumbrante e, logo após, o barco começa a velejar por um mar cristalino, num clima paradisíaco. Isso tudo filmado e registrado para o novo programa do Canal OFF, da TV a cabo, chamado Nalu a Bordo.

Everaldo é surfista profissional e já rodou as mais belas praias do mundo atrás da dança que o oceano faz quando encontra a praia. Como tantos outros surfistas do circuito profissional que envelhecem e têm filhos, ele poderia simplesmente voltar ao Brasil e criar Nalu, sua filhinha, de maneira convencional, numa escola erguida no seu país natal, e não numa ilha estrangeira, mas para ser feliz, para realmente ser feliz, Everaldo sabia que precisava continuar bailando com o mar pelo maior tempo possível.

Não foi da noite para o dia que o seu sonho se tornou possível. Foram anos de preparação. Nalu, a filha pequena, precisou estudar anos no Havaí para poder se adequar totalmente ao inglês, uma vez que teria de continuar seus estudos online, direto do barco. Fabiana, a esposa e cinegrafista do programa, precisou acompanhar a ambos na aventura, e abandonar as comodidades de poder viver e criar uma filha pequena numa cidade relativamente grande, abastecida de escolas, parques e shoppings…

Mas em busca dessa tal felicidade que escorre pelos dedos como a areia das praias do Taiti, eles se sacrificaram, e ninguém poderá dizer que não merecem a felicidade que conquistaram. No entanto, é até estranho de se pensar, mas mesmo velejando na Polinésia, distantes das notícias de guerras, de terrorismo, de corrupção e crises econômicas, mesmo nesse paraíso, nenhum deles parece conseguir ser inteiramente feliz todo o tempo. Claro, Everaldo mostra estar em êxtase quando desce as ondas em sua prancha, e sua mulher é a cara da felicidade quando contempla sua filha crescer, literalmente, conhecendo o mundo. Mas eles são adultos, e adultos dificilmente estão felizes todo o tempo.

Com a filha, Nalu, já não é o caso. Como tantas outras crianças que cresceram com pais amorosos e carinhosos (e não apenas as que velejam o mundo), ela parece ter chegado a este mundo com um manual de como ser feliz todo o tempo. Mas, como infelizmente sabemos, tal manual, um dia conhecido por tantos de nós, também será esquecido…

Não é que Nalu não passe por momentos de dor e tristeza, mas é que eles parecem ser raros, e bem compreendidos pelo que de fato são – algo passageiro, pois há sempre outra brincadeira mais adiante. Em As Leis, sua obra mais extensa, e que deixou inacabada, Platão nos esclarece muito bem tal questão:

Quando crianças as primeiras sensações pueris a serem experimentadas são o prazer e a dor, e é sob essa forma que a virtude e o vício surgem primeiramente na alma; mas no que concerne à sabedoria e às opiniões verdadeiras [aletheia], um ser humano será feliz se estas o alcançam mesmo na velhice, e aquele que é detentor dessas bênçãos, e de tudo que abarcam, é de fato um homem perfeito. [1]

O filósofo grego acreditava nisso que nossa intuição tenta nos mostrar todos os dias desde que aqui desembarcamos, isto é, que na experiência imaculada das crianças tanto o prazer quanto a dor são melhor discernidos do que na vida adulta, pois que, de alguma forma, a sua percepção da verdade [aletheia] ainda não foi esquecida, ocultada, perdida, como ocorre com a maior parte dos que vivem por muitos anos nesse mundo brutal que entorpece os sentidos, engana a alma, e por vezes nos faz confundir o que é dor e o que é prazer. Assim, nos perdemos do que poderia nos conduzir a virtude, ou seja, saber discernir o prazer da dor, e poder, como as crianças,  optar por ser feliz todo o tempo.

Everaldo Pato não é filósofo e muito menos um homem perfeito, mas quando desce as ondas com sua tábua de resina, e baila com o próprio oceano, ele não está mais preocupado com a audiência do programa, com as notas da filha, ou com a sua conta bancária. Por breves momentos, sob o sol do Taiti, Everaldo se lembra do que é verdade: para ser feliz, basta estar no mundo, basta abrir os olhos, a alma, e dançar com o próprio momento, basta ser.

Logo depois, a onda passa, o sol se põe, e Everaldo esquece tudo de novo. E assim é com todos nós…

Segundo o filósofo Mario Sérgio Cortella, “a felicidade é uma vibração intensa, um momento em que sentimos a plenitude da vida dentro de nós, e desejamos que isto se eternize. É a capacidade de ser inundado por uma alegria imensa por um instante”, e prossegue: “Aliás, felicidade não é um estado contínuo, mas uma ocorrência eventual, sempre episódica. Você sentir a vida vibrando, seja num abraço, seja na realização de uma obra, seja numa situação em que seu time vence, ou algo que você fez deu certo, ou ouviu algo que queria ouvir, é claro que isso não tem perenidade. Ora, a felicidade marcada pela perenidade seria impossível, afinal de contas nós só temos a noção de felicidade pela sua carência. Se fosse contínua, não seria percebida. Nós só sentimos felicidade porque ela não acontece o tempo todo.”

Essa aparente contradição com o que estávamos dizendo ocorre precisamente porque estamos imersos num mundo de linguagem, que nos possibilita viver mais integrados a uma sociedade global, mas que também nos confunde, pois os termos, as palavras, os conceitos, são inteiramente incapazes de abarcar as sensações, a experiência, a verdade de se estar aqui, existindo.

Assim, se a felicidade não dura por ser o oposto da tristeza, e se o prazer não dura por ser o oposto da dor, é preciso tentarmos ir além do próprio termo, “felicidade”, descascá-lo para tentar encontrar o sentimento que reside ali, e que vive além do tempo. Por isso mesmo, quando falamos que as crianças são felizes todo o tempo, é porque elas não estão preocupadas em “serem felizes”, de fato elas não estão nem aí para a própria definição do que seja “a felicidade”. A sua alegria eternizada, o seu contentamento perene ante a vida, nasce justamente daquela antiga intuição, daquela verdade que nasceu com elas, e foi lentamente, dia a dia, sendo esquecida. Até que algum adulto veio e lhes perguntou, “Você está feliz? Você é feliz?”, e elas caíram na armadilha de tentar responder.

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Nessa pequena introdução a um tema tão simples, porém coberto por complexidade, e tão essencial, porém envolto em superficialidade, tentei transparecer de alguma forma de qual “felicidade” estamos falando aqui: uma felicidade que não é o oposto da tristeza, que não é ganha para ser perdida e nem perdida para ser ganha, mas que, de alguma forma, sempre esteve conosco, sempre esteve aqui, mais próxima de nós do que nossos olhos, pulsando tanto em nosso coração quanto junto às brisas do mar, e arrebentando nas praias de todo o mundo, neste exato momento, em todos os momentos.

E, se são somente as crianças que brincam de pega-pega por essas areias úmidas, para tentarmos descobrir o que é isso que nós adultos chamamos “felicidade”, mas que de fato não tem nome, nós teremos de tentar relembrar daquilo que sabíamos, mas que a linguagem soterrou em conceitos, e a vida adulta desmembrou em momentos distintos, nos confundindo… Para ser feliz, é necessário tentar resolver tal confusão.

» Na próxima parte, o manual para a vida…

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[1] Trecho de As Leis, Edipro, pág. 103 (tradução de Edson Bini).

Crédito das imagens: [topo] Nalu a Bordo/Canal OFF/Divulgação; [ao longo] GoPro/Divulgação

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do .

Ad infinitum

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Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/para-ser-feliz-parte-1