O Aprendiz de Feiticeiro

Em 1897, um compositor francês chamado Paul Dukas resgatou o poema de Goethe em um poema sinfônico intitulado “L’Apprenti Sorcier“. Quatro décadas depois, sob influência tanto do poema de Goethe como na obra de Dukas, Walt Disney elaborou a conhecida sequência do filme Fantasia, onde Mickey é representado como um aluno de magia.  Nem o escritor brasileiro Mário Quintana escapou dos “feitiços” desta obra.

Goethe, o aprendiz

A idéia para a balada “Der Zauberlehrling” foi tirada do texto Philopseudes do escritor grego Luciano de Samósata, onde o personagem Eucrates narra a história de um feiticeiro, que  na verdade é um sacerdote de Isis chamado Pancrates.

É possível que “O Aprendiz de Feiticeiro” descreva o próprio Goethe, pois ele mesmo dedicou-se a experiências com ciências naturais, alquimia e astrologia. Além disso, teve contato com Cagliostro, um famoso alquimista da época, e foi membro da sociedade secreta os Illuminati, a qual, posteriormente tornou-se “Maçonaria Iluminada”.
“Hat der alte Hexenmeister  /  O velho feiticeiro 
Sich doch einmal wegbegeben!  /  finalmente desapareceu! 
Und nun sollen seine Geister  /  E agora seu espírito deve 
Auch nach meinem Willen leben. /  Viver de acordo com a minha Vontade”.

Cansado das atividades domésticas, o aprendiz utiliza-se da magia, que ele ainda não domina por completo, para encantar sua vassoura. Esta trabalha ininterruptamente trazendo cada vez mais água para casa até causar uma inundação.

 “Und sie laufen! Nass und nässer / E elas correm! Molhadas e cada vez mais molhadas 
wirds im Saal und auf den Stufen: / transformam-se nos aposentos e nas escadas: 
welch entsetzliches Gewässer! / que terrível enxurrada!”

Desesperado, o aprendiz resolve destruir a vassoura com um machado, e parte-a ao meio. Logo, cada metade se transforma em uma nova vassoura, trazendo o dobro de água para casa.

“Herr und Meister, hör mich rufen! – / Senhor e Mestre! Ouve-me chamando por ti! 
Ach, da kommt der Meister! / Ah, ai vem meu mestre! 
Herr, die Not ist groß! / Senhor, o perigo é grande! 
Die ich rief, die Geister, / Os espíritos que invoquei 
werd ich nun nicht los. / Agora não consigo me livrar deles”.

Ao fim o mestre reaparece e resolve o caos provocado pelo aprendiz. Mas do que seria o aprendiz sem a intervenção do mestre? O mago de Nazaré já alertava “(…) de todo aquele a quem muito é dado, muito será requerido; e daquele a quem muito é confiado, mais ainda lhe será exigido.” (Lucas 12:48) Daí sai o lema do tio Ben para o “aprendiz” Peter Parker, “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades“.

A Música

Paul Abraham Dukas (1865 – 1935), foi um compositor, professor e crítico musical. Atuou como professor catedrático de composição e foi eleito membro da Academia de Belas-Artes da França.

Em 1897, finaliza seu Poema Sinfônico, intitulado “L’Apprenti Sorcier”. Obviamente inspirado no poema de Goethe, trata-se de uma obra nitidamente descritiva,  muito brilhante tanto do ponto de vista melódico como da orquestração.

Mas o que vem a ser um Poema Sinfônico? Trata-se de uma obra musical inteiramente baseada em uma história, um romance, um poema, um conto, um tratado filosófico ou até mesmo uma pintura. Não há um esquema formal para isso, em geral são obras orquestrais imprevisíveis quanto a forma.

No entanto, mesmo sem assistirmos a versão animada da obra, é possível visualizarmos apenas com a música, o “passo a passo” das vivências do aprendiz. A fórmula mágica, a invocação, a marcha das vassouras, o pedido de ajuda e etc. Tudo isso graças a utilização de uma técnica criada por Richard Wagner chamada Leitmotiv. Esta técnica consiste em associar um tema musical a um personagem ou situação que vem a ser recorrente em toda a peça.

Dukas faz um verdadeiro trabalho de magia com todos os naipes da orquestra. Desde o tema cômico da marcha das vassouras introduzido pelo fagote (naipe das madeiras), até a brilhante participação do glockenspiel, dos címbalos e do triângulo, coincidentemente todos representantes do elemento água.

Quarenta e três anos depois do lançamento da obra, um mago da animação nascido em Chicago resolve ilustrar a obra em um de seus filmes.

Fantasia

Em 13 de novembro de 1940, o tio Walt Disney (Demolay e Rosacruz) lança seu clássico “Fantasia“. O filme  é um misto de animação com música erudita, algo que ele já havia trabalhado em uma série de animações chamada Silly Symphonies.

No decorrer das suas oito sequências observamos lições de magia, hermetismo, ciências, cosmologia, mitologia e espiritualidade. Tudo isso sem nenhuma palavra e ao som das composições mais populares escritas pelos grandes magos da música.

A fusão das palavras de Goethe com a música de Dukas, resultaram em uma das sequências mais famosas do filme. Altamente simbólico e repleto de elementos magísticos, o que assistimos é praticamente um ritual de iniciação protagonizado pelo personagem Mickey.

O famoso chapéu azul, ilustrado com a lua e as estrelas, além de ser uma referência ao próprio universo e a astrologia, representa o primeiro princípio hermético: “O Todo é Mente; o Universo é mental”.

Ao transferir suas tarefas domésticas para a vassoura encantada, Mickey realiza uma projeção astral. Desta forma, ele governa os céus e os mares, demonstrando literalmente o princípio hermético da correspondência: “O que está em cima é como o que está embaixo. E o que está embaixo é como o que está em cima”.

O sobe e desse das marés nos remete ao princípio do ritmo: “Tudo tem fluxo e refluxo; tudo, em suas marés; tudo sobe e desce;” Ao final desta cena Mickey provoca uma tempestade unindo nuvens opostas, eis aí o princípio hermético de polaridade.

Ao retornar de sua viagem astral, Mickey percebe que o seu “sonho”, de certa forma, afeta a sua realidade. Com isto aprende de maneira dramática o princípio hermético da causa e efeito bem como o princípio do gênero: “(…)o gênero se manifesta em todos os planos” físico, mental e espiritual.”

O fim de sua iniciação se dá aos 10’30” do vídeo. Sob uma “pirâmide” de três degraus e com o Sol ao fundo, Mickey é congratulado pelo mestre (maestro) por sua iniciação ao grau de aprendiz.

Curiosidades

O escritor brasileiro Mario Quintana, publicou um livro com o mesmo título do poema. Segundo o autor, o livro se deve do fato que ele se identificou com a aventura: a magia da palavra poética, assume vida própria e multiplica os poemas no laboratório do livro.

Um dos livros infantis mais bem sucedidos do artista gráfico e ilustrador Tomi Ungerer conta a história do Feiticeiro (1971).

Em uma das cenas do filme O Aprendiz de Feiticeiro (2010), há uma pequena homenagem  à animação de 1940.

O Aprendiz de Feiticeiro é utilizado muitas vezes como material didático nas escolas. (Se teve professor por aí com problemas ao utilizar o livro Lendas de Exu imagina com este…)

No Brasil, a escritora Mônica Rodrigues da Costa é a responsável pela atual tradução da obra.
Links

Poema: “Der Zauberlehrling” de Goethe

Música: “L’Apprenti Sorcier” de Paul Dukas

Filme: Sequência “The Sorcerer’s Apprentice” (Fantasia) de Walt Disney

Biografia de Johann Wolfgang von Goethe

Mapa Astral de  Johann Wolfgang von Goethe

Mapa Astral de Walt Disney

#Biografias #Poemas #Arte #Música #hermetismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-aprendiz-de-feiticeiro

Símbolos, Fórmulas Mágicas e Rituais (Parte 4)

Por: Colorado Teus

Esta é uma série de textos que começou com Breve introdução à Magia, depois definimos nossos termos técnicos em Signos e então falamos sobre a precisão das divisões entre os planos em A Percepção e a Evolução.

No capítulo passado sugeri uma experiência de organização e consagração do mundo físico, de modo a alterar o mundo das ideias, o mundo formativo, ou Yetzirah. Fazendo uso da capacidade do ser humano em perceber diferentes padrões, modificamos o ambiente de maneira a estabelecer um padrão que, sempre que entrarmos em tal ambiente, nossa consciência será levada a ele, de certa forma começamos a ter um domínio sobre nossos pensamentos utilizando o mundo físico para modificá-los.

Separei um trecho do livro “O Poder do Mito”, que é uma entrevista com Joseph Campbell, um dos melhores pesquisadores que o mundo já teve na área de mitologia comparada, para poder terminar de esclarecer sobre o ponto do experimento do último capítulo:

“MOYERS: Como transformamos nossa consciência?

CAMPBELL: Depende do que você esteja disposto a pensar a esse respeito. E é para isso que serve a meditação. Tudo o que diz respeito à vida é meditação, em grande parte uma meditação não intencional. Muitas pessoas gastam quase todo o seu tempo meditando de onde vem e para onde vai o seu dinheiro. Se você tem uma família para cuidar, preocupa-se com ela. Essas são todas preocupações muito importantes, mas, na maior parte dos casos, têm a ver apenas com as condições físicas. Como você pode transmitir uma consciência espiritual às crianças se você não a tem para você mesmo? Como chegar a isso? Os mitos servem para nos conduzir a um tipo de consciência que é espiritual.

Apenas como exemplo: eu caminho pela Rua 51 e pela Quinta Avenida, e entro na catedral de St. Patrick. Deixei para trás uma cidade muito agitada, uma das cidades economicamente mais privilegiadas do planeta. Uma vez no interior da catedral, tudo ao meu redor fala de mistérios espirituais. O mistério da cruz – o que vem a ser, afinal? Vejo os vitrais, responsáveis por uma forte atmosfera interior. Minha consciência foi levada a outro nível, a um só tempo, e eu me encontro num patamar diferente. Depois saio e eis-me outra vez de volta ao nível da rua. Ora, posso eu reter alguma coisa da consciência que tive quando me encontrava dentro da catedral? Certas preces ou meditações são concebidas para manter sua consciência naquele nível, em vez de deixá-la cair aqui, o tempo todo. E, afinal, o que você pode fazer é reconhecer que isto aqui é apenas um nível inferior ao daquela alta consciência. O mistério expresso ali está atuando no âmbito do seu dinheiro, por exemplo. Todo dinheiro é energia congelada. Creio que essa é a chave de como transformar a sua consciência.”

Bom, se temos o mundo físico modificando o mundo das ideias, podemos também utilizar o mundo das ideias para modificar o mundo físico. A base desse raciocínio é a de que as atitudes que tomamos no mundo físico são baseadas no nosso processo cognitivo; uma definição para cognição pode ser “O conjunto dos processos mentais usados – no pensamento – na classificação, reconhecimento e compreensão para o julgamento através do raciocínio para o aprendizado de determinados sistemas e soluções de problemas. De uma maneira mais simples, podemos dizer que cognição é a forma como o cérebro percebe, aprende, recorda e pensa sobre toda informação captada através dos cinco sentidos.”

É aqui que entra o axioma mágico “Fake until you make it”, ou “Finja até ser/fazer de fato”. Fazendo alguma coisa repetidas vezes, programamos nosso cérebro a adotar aquele padrão como uma fórmula a ser seguida no nosso dia a dia ou em situações específicas.

Um exemplo simples: repita (falando com sua voz, não somente em pensamentos) consigo mesmo “Vai dar certo!” antes de fazer qualquer coisa que julgue relativamente difícil e que já tenha feito antes, para sentir a diferença em seus pensamentos (bom para acabar com bloqueios e travas, não deixa vir o famoso “branco” que te impede de lembrar de algo que você sabe).

Este tipo de repetição é ótimo para homogeneizar algum tipo de comportamento e deixá-lo mais consistente. No caso aqui do blog utilizo o nome “Colorado Teus” para escrever, não meu nome do mundo físico. Até hoje ninguém que não soubesse antecipadamente que eu era o “Colorado Teus” conseguiu descobrir sozinho, isto porque o estado de consciência que fico ao escrever para este blog é muito diferente do meu eu natural. No começo era puro fingimento, eu fingia ser Colorado Teus e tentava sempre tomar cuidado com alguns defeitos que meu eu do dia a dia tinha, que poderiam vir para os textos contra minha vontade. Depois de muito treinamento e repetição, estes defeitos escolhidos já nem chegam perto da minha mente enquanto estou escrevendo.

“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” Gênesis 1:1

No princípio “Coloradoteus” era uma palavra, e Colorado Teus estava Comigo, e Colorado Teus era Eu.

Esta é uma fórmula mágica de criação e transformação ensinada na Bíblia. Vamos a mais uma definição:

“Uma fórmula mágica é um enunciado de como um fato ou teoria cosmológica é percebido. Uma fórmula mágica se desenvolve a partir de outra mais antiga, do mesmo modo como aumenta a habilidade humana de perceber a si mesmo e o Universo. Uma mudança na consciência torna necessária uma alteração na fórmula mágica. Isso não significa que a velha fórmula nunca mais funcione, mas apenas que a nova se revela muito melhor.” DUQUETTE, Lon Milo. 2007. A Magia de Aleister Crowley – Um manual dos Rituais de Thelema. São Paulo: Madras.

Ou seja, alguém consegue chegar num certo nível de consciência e, então, após ter o devido entendimento de como chegou até este nível, cria uma fórmula mágica que pode ajudar outras pessoas a chegarem também. Basicamente, é assim que funciona a magia a ritualística, os rituais são formados através da mistura de fórmulas mágicas, de modo que um padrão seja atingido com a pessoa alterando seu nível de consciência através das falas e encenações.

Um tipo de fórmula mágica que vale a pena ser frisada é o Símbolo. A palavra ‘símbolo’ vem do Grego e significa “Aquilo que une” (enquanto ‘diábolo’ significa “Aquilo que separa”). É um tipo específico de signo, geralmente transmite mais ideias do que as óbvias; vem de uma prática muito comum que é criar uma imagem para representar a ideia que une um grupo de pessoas ou empresa, feito com o intuito de que toda vez que estas pessoas olharem para ele, se lembrarão dos princípios e ideais que levaram à criação do grupo e como estão conectadas a esta criação, sendo assim este signo recebe a qualidade de símbolo.

Um exemplo prático, uma aliança de casamento é um ‘símbolo’, pois representa o que une duas pessoas, enquanto uma carta de divórcio é um ‘diábolo’, pois representa o que separa duas pessoas.

No processo de iniciação em uma ordem iniciática, a pessoa recebe uma introdução à base simbólica dela, de modo que a pessoa começa a aprender como aquele grupo pensa e o que os torna um grupo. Com o devido aprendizado a pessoa começa a conseguir alterar sua consciência com os símbolos da ordem e tornar seu corpo de ideias mais próximo ou harmonizado com o dos outros membros; o problema aqui é que aprender sobre um símbolo não é apenas ler em um livro sobre o que falaram dele, mas o aprendizado também está no plano dos sentimentos – aprender sobre que emoções aquele símbolo pode causar – que é o plano logo acima do plano das ideias, como foi dito na parte 3. Portanto, para se conectar concisamente com um grupo desses é necessário passar por uma série de estudos, experiências e rituais, de maneira que só assim a mudança será concisa e a pessoa será digna de falar e agir em nome do grupo e de seu trabalho.

É exatamente por isso que muitas ordens são fechadas e exigem certo nível de compreensão sobre alguma coisa antes do pretendente ser iniciado, caso a pessoa não tenha este tipo de compreensão os objetivos dos símbolos podem ser deturpados e isso pode atrapalhar futuros membros que ainda não tiveram a devida explicação, o que possivelmente provocará uma mudança de sentido no grupo ou fatalmente o destruirá, como já aconteceu com diversas ordens. Para tentar evitar isso, a maioria das ordens ensina os significados de maneira gradual, ou seja, cada pessoa ocupa um grau e vai aprendendo e experimentando os estados de consciência de acordo com seu merecimento; uma vez que chegam nos últimos graus terão grande possibilidade de atingir um grau de consciência similar ao que os criadores da ordem intencionavam que os membros atingissem.

Aliás, o nome “membros” vem exatamente daí, cada grau da ordem (o corpo todo) te ensina sobre o funcionamento de um pedaço do corpo e, incorporando os fundamentos de todos, você se torna este corpo.

Na fala de Joseph Campbell citada no começo deste capítulo, ele se pergunta sobre o mistério da Cruz, o que é este símbolo para um cristão? A cruz os lembra, toda vez que olham para ela, de um ato de compaixão, que é doar sua própria vida ou se arriscar por quem ama. A compaixão é tida como uma qualidade muito importante para manter um grupo de pessoas unidas, ou até mesmo uma sociedade, sendo um dos alicerces de grande parte dos grupos aqui no Brasil. Assim, sempre que alguma pessoa entra em contato com uma cruz, caso tenha sido iniciada em tal mistério, seu corpo de ideias é relembrado da ideia e ela consegue tomar decisões tendo aquilo em mente.

Para concluir este texto, vamos a um novo experimento: Atuando em um ritual.

Como aqui no TdC o Marcelo já fez um post só sobre o Ritual Menor dos Pentagramas, vou deixar o link aqui embaixo e propor, para quem quiser experimentar, que comentem sobre as reações e sensações que se tiverem durante e após a ‘encenação’. Um alarde sobre rituais: não brinquem com eles, forças que vocês nem imaginam que existem podem te ouvir e fazer com que o intencionado dê certo… a reação é obviamente sua!

A ideia do RMP é que a pessoa se coloque como Deusa e, após firmar isso em sua cabeça, movimente energias com a finalidade de alterar padrões específicos em sua consciência. No próximo texto comento um pouquinho mais sobre isso, com o aprofundamento em cada uma das fórmulas mágicas aqui utilizadas, o ritual também terá maior efeito. Então segue o link que explica como fazer o RMP:

Ritual Menor dos Pentagramas

Lembre-se, você é um Deus, possui o poder de criar com o verbo, então, Abrahadabra!

#MagiaPrática

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Sobre a Magia do Caos

Faz bastante tempo que não escrevo aqui, então resolvi dar um alô, mesmo que eu não tenha nenhuma notícia. O objetivo do post de hoje é dizer: “Magia do Caos é muito foda e aqui vão algumas das razões e faltas de razões disso; obrigada, de nada”. Tentemos fazer isso de uma maneira breve e pouco dolorosa para os miolos. Não quero meter no meio coisas como filosofia, teologia, cálculos ou qualquer coisa tirada da cartola do demônio da epistemologia.

Há aquele negócio chamado magia tradicional, que costuma ser qualquer coisa entre astrologia, cabala e tarot. Muitas outras coisas podem ser “magia clássica”, como diferentes sistemas de magia dos grimórios famosos, alguns dos quais muito me encantam. E vem a velha questão: “Por que dividir magia em ortodoxa e heterodoxa, esquerda e direita, branca e negra, cor-de-rosa e cor de capim?” Só para sistematizar, meu filho. Algumas sistematizações são mais úteis que outras. Certos agrupamentos já estão bem ultrapassados como “pessoas boas e pessoas ruins”, mas cada um com suas preferências de linguagem (contanto que se compreenda que termos adquirem diferentes conotações através dos tempos).

Eu não concordo completamente com a divisão de magia velha e magia nova, ou qualquer coisa parecida. Eu só uso esses termos quando não encontro outros melhores. A linguagem está cheia de termos inapropriados e se quisermos uma comunicação realmente eficiente vamos todos meditar e conversar nos outros planos sem usar palavras, já que, como dizia Wittgenstein “a filosofia é uma batalha contra o enfeitiçamento da nossa inteligência por meio da linguagem” (bosta, eu disse que não ia citar filósofos!!)

Então agora que estamos entendidos que eu só uso o termo “magia tradicional” e outros termos ainda piores por falta de termos melhores, vamos seguir em frente.

Vantagens da magia tradicional: confiança/fé na eficácia do sistema devido à sua antiguidade e tradição. Se já foi usado com sucesso no passado, e por tanta gente, por que falharia no presente? A egrégora provavelmente só se tornou mais forte. Esse argumento é bom e compreensível. Eu concordo com ele. Contudo, a proibição de não modificar algumas fórmulas clássicas, embora por um lado preserve as minúcias que as tornam fortes, pode torná-las não tão adequadas aos tempos atuais.

Desvantagens da magia tradicional: alguns sistemas são meio ultrapassados e monótonos (leia-se, velhos e chatos). O enfoque está em preservar a tradição e não em adaptá-los para torná-los divertidos e atraentes. Se parar para pensar, qual é a graça de assistir a uma missa católica tradicional, além de presenciar o poder da tradição? Por isso tantos jovens são atraídos para o espiritismo ou igrejas evangélicas. São adaptações que condizem mais com a onda new age de “eu tenho uma espiritualidade, mas quero segui-la do meu jeito”. Essa postura, é claro, tem seus lados positivos e negativos. Para seguir algo do seu jeito é bom estudar. Por isso os caoístas estudam tanto e fazem tantos experimentos: para realmente entender como a coisa toda funciona. Ou desvendar/inventar novos meios de fazê-la funcionar.

Um caoísta deve estudar magia tradicional? É bom ter algumas noções. Muitos caoístas apoiam seus trabalhos em sistemas tradicionais. Caso ele resolva apoiar em qualquer outra área (física, geologia, videogames ou o que valha) é esta área que deve ser explorada com cuidado e adaptada à magia.

Vantagens do caoísmo: uma magia pessoal e sob medida, como uma roupa sob encomenda. Uma magia divertida, que te dá prazer de fazer e de vivenciar. Em suma, é magia da nossa época. Por isso nós nos identificamos com as propostas. Claro, algumas pessoas se identificam com elementos de outras épocas. Isso também não impede de praticar magia do caos. O magista pode adaptar esses elementos com outras coisas que lhe agrade. Além disso, a minha parte preferida do caoísmo não é somente misturar sistemas, mas criar seus sistemas. Você não somente repete o que já foi dito (“como um papagaio”, diria Frater Xon), mas também contribui criando algo original.

Desvantagens do caoísmo: apenas leia as vantagens da magia tradicional e inverta. Muita gente não se adapta à magia do caos porque, lá no fundo de sua mente, ainda há um teimoso cujo cérebro foi moldado pelo “certo” e “errado” da sociedade, pelo que é real e imaginário, pelo que é permitido ou proibido. Em suma, algumas pessoas “não se adaptam à ideia de que adaptações são possíveis”. “Só posso realizar essa magia no horário de Saturno” ou “vermelho é melhor para uma magia de amor do que azul” ou qualquer outro dogma que a magia tradicional te fez acreditar. Isso significa que todas as regras da magia ortodoxa são mentiras? Não! Elas funcionam muito bem. Pode haver alguma verdade nelas quando utilizadas da forma correta, mas isso não significa que a magia é algo fixo, uma rocha inquebrantável, que nunca possa ser modificada sem autorização de Deuses (se acha mesmo, vá lá chamar o tal Deus, tome um chá com ele e altere as regras, diabos!). Então eu diria que provavelmente as desvantagens do caoísmo estão na nossa própria cabeça.

A Magia do Caos poderia ser um sistema totalmente divertido e eficiente se ao menos nós permitíssemos a nós mesmos toda essa liberdade e prazer. Alguns são muito rigorosos consigo mesmos. Há quem considere que existe magia verdadeira e falsa, a baixa e a alta magia. E, convenhamos: pode ser que exista. O ponto é que não faz diferença se essas coisas existem ou não. O nosso objetivo é trabalhar com esses conceitos e aplicá-los não para nos trazer angústia, mas momentos especiais. O foco não é alterar a realidade em si (que pode ser real ou uma Matrix, não sabemos e pouco importa), mas nossa percepção da realidade. O copo está pela metade (partindo do pressuposto de que o copo existe), mas você escolhe se ele está meio cheio ou meio vazio.

O objetivo da magia não é necessariamente absoluto. Cada um tem seus objetivos com magia. Quem tem paixão por história e mitologia, por exemplo, não resistirá a pesquisar a magia tradicional e experimentá-la. Isso também pode ser fantástico. Mas a magia ortodoxa e a heterodoxa não são totalmente contraditórias. Podem coexistir.

Muitos dizem que o objetivo da magia, espiritualidade ou religião é a evolução espiritual, que temos que ajudar os outros (ou, no caso do budismo Theravada, libertar-se tanto do bom karma quanto do ruim), amar, servir a sociedade e às pessoas próximas e que através disso iremos atingir um grau superior ao que nos encontramos agora.

Novamente, pode haver alguma verdade nessas palavras. Mas muito provavelmente essa não é toda a verdade, até porque, como dissemos antes, palavras são inapropriadas para expressar. Sempre haverá erros na comunicação que podem levar a desentendimentos. Sendo assim, podemos considerar que, sim, amar e ajudar é algo muito nobre, mas há outras coisas relacionadas que talvez o termo “evolução espiritual” não capte com precisão.

São João da Cruz, em seu livro “Noite Escura da Alma” descreve os “dez degraus da escada” e diz que aqueles que chegam ao último degrau serão “semelhantes a Deus”. Ele até mesmo diz que será “Deus por participação”, um termo também encontrado na Suma Teológica de Tomás de Aquino (e eu disse que não ia falar de teologia). Nesse momento quase temos um encontro entre RHP e LHP…

Mas a ideia de uma escada ainda me parece por demais metafórica. Isto é, sei lá, vai que tem mesmo uma escada! Mas não acho que para subir tal escada se deva colocar necessariamente um pé na frente do outro somente de um jeito correto, como robôs. Cada um tem características diferentes e sobe a escada do seu jeito, alguns mais rapidamente, outros tropeçando, mas cada um vai tricotando seu emaranhado de linhas até que forma seu cachecol personalizado! (eu falei tanto em tricotar no meu último livro, Sociedade do Sacrifício, que até fiquei com vontade de voltar a tricotar. Minha avó me ensinou a tricotar quando eu era criança e lembro que era uma das coisas mais relaxantes).

Magia do Caos é sobre isso: não é um ataque à magia tradicional. Ela usa a magia ortodoxa como aliada. Pega o que serve, tira o que não serve, mas não somente com base numa preferência sem reflexões e numa análise superficial. Muitos testes são realizados até que se descubra a melhor forma de fazer as coisas (a melhor forma para si, pois pode variar para cada praticante).

Que cada aranha construa sua própria teia. Não é à toa que o número 8 é celebrado no caoísmo. E mesmo que seja à toa, não nos importamos tanto assim. Há tantos números (reais, imaginários…) e tantas possibilidades que vale mais a pena viver experimentando um pouco de tudo em vez de continuar fechado na caixinha de sempre.

Existem muitas formas de viver. Não somente a forma que nos foi ensinada. E se as outras formas das quais ouvimos falar tampouco funcionam para nós, talvez seja melhor inventar uma outra: uma magia somente sua, sem cabimento: porque não “cabe” nesse universo ou nos outros; somente no universo que você criou.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/sobre-a-magia-do-caos

Hellboy

Hellboy é jovem em relação a outros quadrinhos e, apesar disso, conseguiu muito destaque e fama.

O gênio por traz dele é Mike Mignola , que fez algo totalmente original , colocando um ser que sempre é ligado ao “mal” (demônio) fazendo o “bem” , tendo uma vida dedicada a ser herói e resolver casos ligados ao sobrenatural ao redor do mundo.

A história começa em 1944 , Hellboy era um pequeno demônio , filho de um dos príncipes do inferno com uma bruxa , ele veio para terra quando o Monge Rasputin abriu um portal para o inferno perto do final da Segunda Guerra Mundial , com o objetivo de dar início ao projeto Ragnarock para usar magia negra para ganhar a guerra.

Metade demônio e metade criança , com cauda , pequenos chifres , pele vermelha e um braço direito enorme a pequena criaturinha é encontrada pelos aliados nas ruínas de um local longe do ritual dos nazistas e ganha o nome de Hellboy.

Mesmo sendo “diferente” é adotado pelo professor Trevor Bruttenholm , estudioso de paranormalidade , membro da sociedade paranormal britânica e conselheiro de assuntos desse tipo do presidente Roosevelt.

Por ser um demônio ele se tornou adulto rápido e depois se torna um agente da Bureau de Pesquisas e Defesa Paranormal , organização do governo fundada pelo Professor Trevor na mesma época em que Hellboy é encontrado , o objetivo era combater os planos dos nazistas ocultistas e posteriormente resolver casos paranormais ao redor do mundo.

Lá ele trabalha com diversos agentes , alguns bem singulares como Abe Sapien um homem anfíbio com poderes telepáticos , Liz Sherman uma mulher que possui a capacidade de produzir fogo , Roger o homúnculo e Johann Kraus um homem que possui apenas o corpo ectoplasmico.

Mas chega de spoiler né???

Mike Mignola escreve um tanto devagar o que faz existir uma quantidade não muito grande de edições de Hellboy e no Brasil menos ainda , mas uma quantidade até razoável , algumas bem curtas, fora as histórias solo da Bureal.

Cada edição é uma obra de arte , principalmente as capas , fora os traços de Mignola um estilo muito original.

As histórias de Hellboy giram em torno de contos , lendas urbanas ou não , folclores , mitologias , fatos históricos e ocultismo , tudo isso de várias partes do mundo .

Hellboy também é um “Ocultista Fodão” pois nem sempre resolve as coisas com porrada , mas também com magia.

Como foi dito essa hq envolve fatos históricos , como ter como personagem o monge Rasputin que realmente existiu entre outras personagens.

Baba Yaga , bruxa do folclore russo aparece em algumas histórias , também aparecem lobisomens , vampiros , zumbis , demônios , humúnculos , fantasmas , dragões e outros diversos tipos de criaturas.

Além disso também temos um assunto muito explorado , os nazistas e ocultismo , a sociedade Thule(que realmente existiu/existe) e que Hitler patrocinava pesquisas relacionadas a ocultismo.

Também explorando lendas urbanas como foi dito por exemplo a existência de uma área do governo especializada em assuntos paranormais , uma base militar estilo área 51.

Misturando suspense , aventura , terror e ficção científica Mike Mignola cria Hellboy , mostrando que ele entende de ocultismo também.

Também não podemos esquecer os dois filmes dirigidos Guillhermo del Toro (Labirinto do Fauno) ,Hellboy e Hellboy II e o Exército Dourado e também tem animações e aparentemente o terceiro filme está sendo produzido.

Quem interpretou Hellboy foi Ron Perlman , uma escolha muito boa e quem interpretou Abe Sapien foi Doug Jones que também se encaixou muito bem no papel.

#HQ

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/hellboy

Espelho de Circe

Por todos os anos de trabalho do TdC e na senda ocultista se fez necessária uma voz e uma força que falasse para todos com o poder feminino. Em tempos e meios tão masculinos, campos para o surgimento de olhares surpreendentes como dessas mulheres é um bálsamo de que há propósitos além das ondas ordinárias da vida comum.

E na última sexta feira 13 de lua cheia o Espelho de Circe nasce como uma proposta de integração, espaço acolhedor e trabalho coletivo. Pretende falar abertamente para todas as idades e orientações, também ao abordar temas rejeitados por serem tabus ou difíceis ou considerados menos importantes, o lugar que se torna esse trabalho é de criatividade e coletividade.

Uma inspiração que trata a Arte em seus recônditos mais deliciosos; no coração e no fortalecimento do indivíduo para alcançar outras reconciliações no micro e macro da criação. Com conhecimentos profundos passados na melhor forma de tradição oral e abertos ao florescimento individual e da comunidade que o cerca, Espelho de Circe sai do lugar comum e se torna um “mundo entre mundos” de beleza e liberdade.

A diversidade dos colaboradores, suas percepções diversas, suas inclinações pessoais, como escolhem se comunicar com todos é além de deslumbrante, é um alento surpreendente ao nos lembrar que a diversidade e inclusão existem e acontecem pelas mãos de todos nós, todos os dias.

Divinamente iguais. Humanamente diferentes. Totalmente livres. Não é apenas um mote, mas estabelece um novo patamar de simplicidade e genialidade nos caminhos mágicos, humanos e de liberdade das prisões concienciais antes limitadoras.

Para seguir o trabalho dessa gente espetacular acompanhe no site Espelho de Circe: https://www.espelhodecirce.org.br, pelo Facebook Espelho de Circe e pelo instagram:
@espelhodecirce

Atravesse o espelho.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/espelho-de-circe