Frank Land foi questionado em uma entrevista de radio como DeMolay se diferenciava de outras organizações. Ele instantaneamente respondeu, “Ela possui um Ritual”. Sua serena e rápida resposta ainda é a qualidade inerente da Ordem DeMolay. – Hi Dad, 1970, por Hebert E. Duncan.
Esse é o tesouro a nós legado por nossos fundadores, Frank S. Land que idealizou e Frank A. Marshall que escreveu nosso Ritual dos Trabalhos Secretos.
Aqui trarei algumas interpretações dos símbolos que os autores do Ritual deixaram nas entrelinhas, tanto DeMolays como da Ordem de Cavalaria, mas sem revelar nem profanar os rituais em si. Alguns desses símbolos estão claros, e outros estão velados. Mas estão lá e ninguém pode assim negar. Nosso Ritual foi criado com a mais profunda inspiração e dedicação dos nossos Dads fundadores, e são seus desejos que preservemos e cresçamos cultural e intelectualmente com seu conteúdo, nos tornando homens mais virtuosos. E a essas pessoas empenhadas em evoluir, ascender e em ajudar o próximo, que dedicarei meus textos. Não podemos mais ser comuns e benevolentes àqueles que prejudicam o nome e a egrégora de nossa Ordem e pregam o fanatismo. Precisamos urgentemente aprender sobre ela e lutar por sua preservação.
Cuidados e empecilhos
Não tenhamos medo de especular sobre interpretações e entendimentos sobre os Rituais dos Trabalhos Secretos, mas também não podemos fugir da lógica. Como disse o Ir. Hugo Lima em seus posts, nossos fundadores não deixaram nenhum manual de como ser DeMolay ou como interpretar os rituais. Isso acontece porque pregamos a Liberdade. Através da liberdade e da lógica exploraremos de simples símbolos à Kabbalah e mitologia dentro da Ordem, aprendendo sobre esses símbolos, rituais, egrégora, psicologia, e ocultismo, perceberemos o quão vasto é o campo de estudos do DeMolay e quanto uma Loja Maçônica pode contribuir para a pátria patrocinando e guiando corretamente um Capítulo.
Nenhuma interpretação ritualística deve ser dogmática, pois se assim fosse estaremos limitando nossa liberdade. O grande problema em interpretar os rituais da Ordem está na resistência de alguns irmãos demolays (normalmente os mais velhos e já dogmáticos) e de alguns maçons que insistem em afirmar que “isso não é Ordem DeMolay” por diversos motivos. A esses dou meus mais sinceros sentimentos de compreensão. Mas a tolerância também é importante, portanto se querem ir contra a lógica e a liberdade, que revejam e reflitam sobre o Ritual de Elevação e vejam em qual das posições se encontram.
Aos irmãos demolays e maçons que apoiam a causa da expansão cultural do jovem peço que compartilhem com interpretações e divulgação do conhecimento em seus blogs, em seus Capítulos, independente do seu Supremo, e em suas Lojas, independente de sua potência. Dessa maneira conseguiremos aos poucos alcançar mais e mais jovens, para que se tornem homem virtuosos e com iniciativa de mudar a sociedade, e quem sabe até consigamos alcançar o desejo de algum maçom a abrir um Capítulo em sua Loja.
O que é um ritual?
Com certeza não é um livro com falas e movimentos que devem ser simplesmente seguidos e fim de papo.
Um ritual é um guia que transmite ao praticante seu objetivo através dos seus símbolos, falas e movimentos. Símbolo é aquilo que representa uma ideia, está no mundo dos pensamentos. Nem sempre um símbolo é uma imagem, símbolo pode ser uma roupa, pode ser uma expressão, uma fala ou um objeto. São as ideias atuando em vários níveis diferentes. A interação dessas diferentes maneiras de expressão do símbolo é que permite que nós criemos o ritual e o coloquemos em ação.
Por exemplo, a Bíblia representa simbolicamente a palavra de Deus (do Criador, do Pai Celestial, etc), e quando nos ajoelhamos ou abaixamos a cabeça e fazemos uma oração estamos botando em ação vários símbolos diferentes. Se ajoelhar ou baixar a cabeça é um movimento que representa a humildade e reverência a alguém, nesse caso estamos pedindo auxílio a um Ser superior. A oração em frente a Bíblia guia nossas intenções. Tudo isso consiste na operação de diferentes símbolos, e nesse caso é um simples ritual de oração.
Outro simples exemplo são as regras de conduta ao cantar o Hino Nacional diante da Bandeira da Pátria. Estamos firmes em pé, braços estendidos ao longo do corpo (alguns botam a mão direita na altura do coração em simbolo de amor) e cabeça estendida, não devemos dar as cosas para Bandeira, não devemos bater palmas nem assoviar o Hino Nacional. Tudo isso é um simbolo de reverencia e respeito. São os símbolos que usamos quando cantamos o Hino Nacional.
Ou seja, um ritual existe para por um símbolo em ação. O ritual traz os princípios do mundo das ideias para nosso íntimo. Por isso que os rituais devem ser seguido a risca e sempre repetido da mesma maneira. O praticamente deve sentir o que faz, e não somente repetir e repetir. Um ritual quando devidamente praticado causa mudanças psicológicas no participante. Se o praticante não sentir e participar intimamente do ritual, o ritual terá formulas vazias.
Como interpretar o ritual DeMolay?
Através dos seus símbolos. Símbolos gráficos (Brasão da Ordem), símbolos das falas e dos movimentos.
Em toda interpretação simbólica existe uma regra, e essa regra é a da analogia, onde nada existe de maneira isolada. Os estudantes de hermetismo conhecem essa regra, essa lógica, como a Lei ou Princípio da Correspondência. O famoso “o que está em cima é como o que está em baixo, e vice versa“.
Sim, devemos aplicar toda interpretação ritualística a essa regra, se não as interpretações terão fórmulas vazias e estaremos criando dogmas. A ultima coisa que precisamos dentro da Ordem DeMolay é “Os Conselheiros representam a jornada do o Sol porque na Sala Capitular eles sentam de leste a oeste e ponto final“. Ok, mas qual o fundamento, qual a lógica? Não é por capricho e/ou por cópia dos rituais da maçonaria que nossos fundadores colocaram nossos Conselheiros como a jornada do Sol no Céu. É adentrando no fundamento dos símbolos, procurando analogias entre outras culturas, que conseguiremos chegar a razão das coisas de serem como são. Isso dará muito mais valor ao nosso ritual e enfatizará a importância de praticá-lo de maneira correta.
A Lua, símbolo do nascimento
Deem uma olhada na figura ao lado. Observem os vários elementos que a compõe. Selecionemos um, a Lua central para uma breve interpretação.
É comumente conhecido no mundo DeMolay que a lua do Brasão representa o segredo, e que sua parte escura representa o quanto ainda faltamos evoluir. Tudo isso é muito bonito, mas agora devemos perguntar, por que? Foi dito, escrito, publicado e portanto foi aceito? Qual o fundamento dessa interpretação? É isso a isso que devemos chegar pela Lei da Correspondência.
Usemos a lei da analogia.
A lua não possuí luz própria, ela reflete a luz do sol e na sua viagem ao redor da terra, temos suas fases e o movimento das marés. Mas mesmo quando a lua está cheia, nós não a contemplamos por completo, pois ela possui um lado escuro que não conseguimos ver da terra, devido ao seu tempo de revolução e rotação. Como se ainda houvesse sempre algo que não conseguimos contemplar, algo a esconder. E nessas fases movimentam os líquidos da terra, e sabemos que os líquidos estão psicologicamente relacionado a nossas emoções. Por esse motivo que o arquétipo da lua é tido como o segredo, e também se relaciona a parte da nossa mente que é o inconsciente.
A Lua em si é um grande segredo. Os ciclos de fertilidade da mulher (quando esta está com o organismo saudável) segue também as fases da lua. As parteiras interpretam essas mesmas fases para saber quando a mulher dará a luz. Esse é o motivo pelo qual a Lua é também o símbolo da mãe.
O feto humano é gerado dentro do útero por nove voltas que a lua faz ao redor da Terra, que são também 9 meses solares. Por isso adicionemos ao arquétipo da lua o útero, o segundo chakra, e Yesod da Árvore da Vida que por acaso é a sephira número nove.
Ísis, a deusa da magia egípcia, é a deusa da Lua. É a deusa da Iniciação, cujo o homem mortal jamais levantou seu véu. Muitas religiões guiam suas datas comemorativas pelo calendário lunar, e não solar.
Não é atoa que dad Land e dad Marshall criaram a Ordem DeMolay com nove meninos. Também não é atoa que a lua esteja no centro do Brasão, pois sabemos do amor, respeito e admiração que Frank S. Land tinha pela maternidade, escolhendo como Primeira Virtude do DeMolay o Amor Filial, “aquele amor que existia antes mesmo de você nascer”.
Sintam-se a vontade fazer uma interpretação sobre o Defeito e Virtude da Lua na Astrologia (Preguiça e Humildade) e sobre o seu binário hebraico (Domínio e Servidão) representado pela letra Gimmel (G), com tudo dito aqui.
Entendido sobre o princípio da analogia na interpretação?
Espero que aproveitem e compartilhem suas idéias no comentários, e que distribuam o conhecimento. E principalmente, que criem e cheguem a suas próprias interpretações. Honremos nossos antepassados.
DeMolay ou não, Maçom ou não, lembremos do testamento de Fernando Pessoa e lutemos contra os três assassinos de Jacques DeMolay e da Ordem do Templo, a ignorância o fanatismo e a tirania, que atuam no campo material, emocional, intelectual e espiritual.
N.N.D.N.N.
Leonardo Cestari Lacerda.
Leonardo Cestari Lacerda é Sênior DeMolay do Cap. Imperial de Petrópolis, nº 470, e Maçom da A.’.R.’.L.’.S.’. Amor e Caridade 5ª, nº 0896.
Virtude Cardealé uma coluna com o propósito de desenvolver a reflexão sobre características fundamentais de todo DeMolay, bem como apresentar a Ordem aos olhos dos forasteiros.
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Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-ritual-demolay-e-sua-interpreta%C3%A7%C3%A3o