Os talismãs são recursos adotados pelos taoistas desde seus primórdios, chamados de Fu (符) ou Shenfu (神符). Consistem basicamente em uma composição de ideogramas convencionais, escrita arcaica, selos e carimbos, e desenhos diversos. A origem documentada dentro da tradição se encontra em algumas escrituras taoistas, como representações de sinais do Céu para trazer sua energia para a Terra ou relacionado às divindades taoistas. Seu uso é fundamental em rituais taoistas e em diversas artes mágicas. Um dos mitos chineses sobre suas origens afirma que uma gigantesca tartaruga negra saiu das águas do Rio Amarelo carregando um talismã em sua boca e o deixou em um altar diante do Imperador Amarelo (Huangdi), retornando ao rio.
Existem muitas formas de se fazer um talismã e muitas maneiras de empregá-lo. Em geral se utilizam tintas preta e vermelha sobre um papel amarelo. O talismã pode ser utilizado em uma cerimônia e queimado em seguida, pregado na parede para proteger o local ou expulsar espíritos nefastos, carregado pela pessoa para garantir proteção ou usado por um doente para recuperar a saúde. Também podem ser queimados e suas cinzas misturadas com água e bebido, especialmente para fins terapêuticos.
Fazer um talismã é complicado e demanda muito conhecimento por parte do praticante, chamado de Fulu (符籙). Cada utilização requer elementos específicos e cada tradição possui uma forma de fazê-lo. Existem inclusive linhagens especializadas nesse tipo de construção. A Tradição Lingbao (Tesouro Luminoso), por exemplo, foi formada ao redor da ciência dos talismãs. Vários de seus textos principais se referem a essa ferramenta: Lingbao wufu xu (Introdução aos Cinco Talismãs do Tesouro Luminoso), Wupian zhenwen (Escrita Perfeita em Cinco Tabuletas) e Wucheng fu (Cinco Talismãs de Correspondência).
Sua confecção está envolta em rituais especiais para garantir e reforçar a energia necessária e impregná-lo com a intenção adequada para cumprir seus objetivos e pode levar até 30 dias para ser executado devidamente. O Alquimista e médico taoista Ge Hong (283-343) [já mencionado anteriormente nesta coluna] compilou uma bibliografia taoista em uma de suas obras que lista 55 tipos de talismãs empregados em sua época.
Seus desenhos e formas geométricas e mesmo palavras escritas não se destinam a serem lidos pelos mortais, mas pelas divindades. Para isso se utilizam muito da “escrita de selo”, uma forma arcaica de escrita chinesa com caracteres curvilíneos e bastante artísticos.
Para fechar esse tema gostaria de comentar que a energia emitida por determinados desenhos e formas geométricas é bem estudada pela radiestesia há mais de cem anos. Descobriu-se que desenhos e formas geométricas emitem uma “onda de forma” específica e que possui características e atuações muito particulares. Esse tipo de pesquisa é a base dos chamados “gráficos radiestésicos”. Um dos mais poderosos emissores conhecidos pela radiestesia é o Bagua do Céu anterior.
É interessante notar também que esses desenhos dos talismãs chineses se parecem muito e tem função muito semelhante, quando feitos pelos médiuns taoistas, aos pontos riscados da Umbanda.
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Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica filosofia e cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br
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Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/talism%C3%A3s-taoistas