As Divindades Thelêmicas

Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.

A maioria das Deidades Thelêmicas é oriunda do Egito antigo. Apenas as duas principais são retiradas do Apocalipse de São João. Em Thelema, são usadas com referência de conceitos e não adoração. As Divindades Egípcias variam de significado e origem de acordo com a Dinastia.

A primeira ideia a ser descartada quando se estudam as divindades Thelêmicas é a de que elas sejam, de fato, deuses. Antes de mais nada o thelemita enxerga a divindade como a representação simbólica de um arquétipo inerente ao próprio Ser Humano. Desta forma os deuses do Panteão thelêmico não são vistos como entidades externas e sim internas.

Outra característica do Panteão Thelêmico é ser aberto. Ou seja, algumas ideias principais são expostas na figura de um determinado grupo de divindades, aqui apresentadas. Entretanto sendo as divindades representações arquetípicas, toda e qualquer divindade, de qualquer mitologia é aceita como ferramenta de trabalho dentro de Thelema.

AIWASS – o “Ministro de Hoor Paar Kraat” , aquele que ditou o Livro da Lei a Aleister Crowley em 1904. Posteriormente Crowley o reconheceu com o seu Sagrado Anjo Guardião, o S.A.G. Para uma melhor descrição ir para Liber AL vel Legis. Aiwass não soletrou a Crowley o seu nome.

Em grego é Aiwass e na Cabala Grega o nome resulta 418, o número da Grande Obra. Em hebraico é Aiwaz, que resulta 93. Crowley usava as variações de acordo com o trabalho a ser realizado, se místico, Aiwaz, se de natureza mágica, Aiwass.

AHATHOOR – a Vênus egípcia.

ANKH-F-N-KHONSU – Pronuncia-se “Ankhefenkhons”. Sacerdote da cidade de Thebas, Egito, do culto ao deus Mentu, (Deus Egípcio da Guerra) da 25ª Dinastia (cerca de 725 Antes de nossa Era; Crowley achava que era 26ª mas recentes pesquisas provam 25ª).

A Estela da Revelação seria uma tábua funerária deste Šacerdote. Crowley afirmava que ele iniciara o Æon de Osíris e ao mesmo tempo, que fora uma de suas encarnações passadas.

Ao lado, frente da Estela da Revelação, onde aparecem o Deus Ra Hoor Khuit, a Deusa Nuit, o globo alado Hadit, e o Sacerdote Ankh-f-n-Khonsu.

APOPHIS – As forças da destruição e decadência. Também chamada de Apep. Por vezes é representada por uma Serpente alada com o Disco Solar na cabeça.

BAPHOMET – Mais do que uma divindade, Baphomet é um dos maiores símbolos da Egrégora thelêmica. Sua imagem é um complexo glifo de simbolismos alquímicos, herméticos, astrológicos, etc.. Dentro da filosofia tHelêmica, a imagem de Baphomet não possui qualquer correlação com o demônio, Satã ou similares.

CHAOS – Ideia irrepresentável do princípio básico de tudo. O Caos, tal como na mitologia grega, é a matriz de onde qualquer idéia, forma, etc. pode surgir. Diferente do Chaos conforme encontrado na vertente conhecida como “Magia do Caos”, possui um valor semelhante à possibilidade e não necessariamente a um rompimento.

HADIT – O Segundo Conceito. O ponto que define a circunferência, o movimento ou o Verbo gramático. O globo solar alado de Hadit é a representação da individualidade, o Self. Simboliza a Serpente de Luz que deve se elevar para encontrar Nuit e assim alcançar a plenitude. O Sol interior, a fonte de toda a luz e sabedoria. Assemelha-se ao conceito do Logos.

HARPÓCRATES – Forma grega de Hoor Paar Kraat, o deus criança. Representado como uma criança fazendo sinal de silêncio e a letra Aleph. Crowley associava-o com o como Sagrado Anjo Guardião. Ver carta 20 do tarô, “O Aeon”.

HOOR PAAR KRAAT – o Senhor do Silêncio, uma forma de Hórus, gêmeo de Ra Hoor Khuit.

HÓRUS, HORO, HERU – A Criança Coroada e Conquistadora. Senhor do presente Æon, que iniciou em 1904 com o recebimento do Livro da Lei. Hórus é a forma grega de Heru Ra Ha, o herói solar comum a vários mitos. A sua forma egípcia possui a cabeça de falcão.

Em algumas lendas egípcias é irmão de Set em outras é seu sobrinho. Na última, matou-o por este ter assassinado seu pai, Osíris. Desde então tornou-se rei do Egito e precursor dos faraós, que seriam sua encarnação na Terra. Hórus é uma divindade dual, composta por Ra-Hoor-Khuit e Harpócrates.

Ra-Hoor-Khuit é o deus de cabeça de falcão, simbolizando o Ser Humano em sua porção ativa, masculina, material. Harpócrates é a criança nascida no Reino dos Mortos, representado como um menino nu com o dedo indicador direito sobre os lábios, representando o Ser Humano em sua porção silenciosa, passiva, feminina. Juntos eles perfazem a divindade solar Hórus, que representa o Ser Humano íntegro, divinizado.

ÍSIS – Mãe de Hórus, senhora do Æon anterior ao de Osíris, onde o poder residia na mulher.

KEPHRA, ou KEPH-RA – O Deus do Sol da Meia-Noite, com cabeça de escaravelho. O escaravelho deposita seus ovos numa grande bola de estrume e o empurra pelo sol do deserto afim de choca-los, além disso, voa contra todas as leis da aerodinâmica. Tal força de vontade não ficou indiferente aos egípcios. O estrume representa o Deus Sol Ra, e como sai debaixo da terra, das regiões ocultas, ele é um símbolo de Renascimento, o Sol interior.

KHABS – Segundo Crowley: “‘estrela’ ou ‘luz íntima’, é a essência original individual, eterna. O Khu é a vestimenta mágica que o Khabs tece para si mesmo, uma ‘forma’ para seu Ente. Além-da-Forma, pelo uso da qual ele ganha experiência através de autoconsciência, como explicado na nota aos versos 2 e 3 . O Khu é o primeiro véu, muito mais sutil que mente e corpo, e mais verdadeiro; pois sua forma simbólica depende da natureza de sua Estrela.”

KHONSU – Deus Egípcio da Lua, filho de Ammon com Mut.

KHU – ver Khabs.

MAAT, MA’AT – Deusa da Verdade e Justiça. Representada por uma mulher com uma pluma na cabeça.

Frater Achad, filho mágico de Crowley, anunciou o seu Aeon em 1948, um ano após a morte de Crowley. No ano de 1955, Kenneth Grant, na sua Loja Nu-Ísis, obteve uma experiência de contato através de um local chamado Zona Mauva.

Em 1974, uma magista chamada Soror Nema Andahadna, recebeu um livro chamado Liber Pennae Praenumbra. Seus conceitos batiam com os de Achad e os de Grant. O Aeon de Maat, evoca uma característica muito ligada ao Aeon de Hórus, conceitos, divindades, rituais, etc. Soror Nema Andahadna disse que o Aeon de Maat está “grudado” no de Hórus, além de evocar um conceito caoticista, o de que todos os Aeons acontecem simultaneamente, depende apenas do magista canalizar a energia desejada.

MENTU, MONTU – Deus da guerra Egípcio, também associado com Ra-Hoor-Khuit.

NUIT – O Primeiro Conceito. A deusa egípcia preenchida de estrelas, cujo corpo forma a abóbada celeste é a representação do Todo em um nível Macrocósmico. Sendo todo homem e toda mulher uma estrela, Nuit simboliza a união de toda a humanidade em nível espiritual. Costuma ser representada por um círculo.

A Grande Mãe e o Grande Nada/Tudo. A matéria. A circunferência infinita e complemento de Hadit, o ponto. Pode ser representada pelo Espaço Infinito e na Cabala por Ain Soph.

Ver carta 17, “A Estrela”.

OSÍRIS – O deus morto e ressuscitado. Senhor do Æon passado, onde o poder masculino era o centro mágico (phallus).

Segundo uma das principais lendas do Egito, Osíris era casado com sua irmã Isis, e invejado por seu irmão Set. Durante um banquete, Set trancafiou-o em uma urna e jogou no Nilo indo até a Fenícia. Isis, em desespero, procura por seu marido e o encontra. Set novamente ataca e o esquarteja em 14 pedaços e os espalham por todo Egito. Com a ajuda do filho Hórus, da irmã Nephtys, do sobrinho Anúbis e do deus da Magia Thoth, Isis recupera todas as partes do marido, menos uma: o pênis, que fora devorado por três peixes. Daí a sua associação como deus dos mortos. Com a ajuda deles realizou o primeiro embalsamento e graças a Thoth, ele ressuscitou para a imortalidade (no reino dos mortos). O deus egípcio dos mortos, que teve seu corpo destruído e espalhado pelo mundo e depois reconstruído por sua esposa Isis, representa o Ser Humano espiritualmente redivivo. Considera-se que o Ser Humano é composto de várias partes (corpo, mente, espírito) que encontram-se em um estado de desarmonia. Osíris simboliza, tal como em seu mito, a harmonização destes componentes do Ser Humano pleno por força de um amor maior.

Possui forte relação com o Jesus Cristo católico.

PAN, ou PÃ – Inicialmente associado com o Deus Bacco e a carta 15, “O Diabo”.

Este deus grego de extrema sexualidade representa o princípio masculino ativo e criador. É também uma simbologia para o Todo do Microcosmo. É o homem em contato com o seu eu instintual, O “pai de todos”, o homem-besta, o religare entre o racional humano e o instinto natural presente em toda a criação. Está ligado ao poder criativo e, por gematria, ao número 61, Nuit/Nada. Em grego quer dizer “Tudo”. Daí a associação metafísica de Nada = Tudo, a fórmula da iniciação universal. Ra-Hoor -Khuit – Gêmeo de Hoor Paar Kraat, uma versão de Hórus. Também é conhecido como filho de Nuit e Hadit. É o Senhor do Atual Aeon. O Capítulo III de Liber AL vel Legis é referente ao seu Aeon.

RA, AMMOUN-RA, AMMEN – O Deus Sol egípcio, um dos principais do panteão. O Deus que ressuscita toda manhã. O Deus Oculto. Seu Templo de Karnak, em Tebas, (atual Luxor) era o maior dos Templos Egípcios, e pouco antes da época de Ammenhotep IV, também conhecido como Akhénaton, na XVIII Dinastia, era detentor de 2/3 do território egípcio. Por este motivo, Akhénaton elevou o deus Aton (uma das representações do sol) no panteão, para tentar distribuir o poder sacerdotal entre outros cleros, visto que os Sacerdotes de Ammon tinham um poder tal que formavam um estado dentro do estado.

RA-HOOR-KHUIT – Gêmeo de Hoor Paar Kraat, uma versão de Hórus. Também é conhecido como filho de Nuit e Hadit. É o Senhor do Atual Aeon. O Capítulo III de Liber AL vel Legis é referente ao seu Aeon.

SHAITAN – Forma de Seth. Shaitan foi uma divindade adorada na Mesopotâmia, por um povo chamado Iezide. (Ver a obra “Renascer da Magia” ,de Kenneth Grant), e cujo culto Crowley diz ter ressuscitado.

TEITAN – Forma caldeia de Shaitan.

TEMU – O Criador, o primeiro deus a aparecer do caos (Nuit). Ao se masturbar gerou dois filhos, Shu e sua irmã Tefnut. Estes criaram Geb (o deus da Terra) e Nut, também chamada Nuit, (a deusa do Céu) que por sua vez deram origem a Osíris e Isis, Seth e Nephtys, e Harpócrates.

SETH – Aquele que assassinou Osíris. Posteriormente foi morto por Hórus, a Criança Vingadora.

É a divindade mais antiga criada pelos egípcios, assumindo diversas conotações, de vilão a herói. A sua forma mais comum é um humano com cabeça de algum animal não-identificado, ou de um crocodilo. A simbologia do crocodilo é a de devorador (de deuses).

THERION – A Grande Besta do Apocalipse. Conceito assumido por Crowley na edificação do Novo Aeon, aquele que iria acabar com o pensamento cristista associado ao Aeon de Osíris.

O poder masculino, que conjugado com o seu igual feminino, Babalon, geram a força no Aeon de Hórus. Therion é Besta em grego, e durante a sua infância, no seio de uma família fundamentalista cristã, devido ao seu comportamento bagunceiro, foi apelidado de Besta do Apocalipse pela mãe.

No Cairo ao receber o Livro da Lei, sua então esposa Rose Kelly, identificou o mensageiro na Estela da Revelação, cujo número era 666. A sincronicidade espantou Crowley que, ao assumir o grau de Magus, adotou o motto TO MEGA THERION (A Grande Besta). Também representado por um Leão, como na Carta 11 “A Luxúria”, representada ao lado, onde é cavalgado por Babalon, a Mulher Escarlate.

THOTH, TAHUTI – Deus da Sabedoria e Magia. Criou a escrita. Possui cabeça de íbis. Associa-se com Mercúrio e a Hermes Trismegisto.

TUM – Deus do oeste, o local do Sol, deus do Sol à noite.

TYPHON, TÍFON – Inicialmente mãe de Seth, deusa do caos e da noite. As vezes confundida com Seth, o Destruidor.

Amor é a lei, amor sob vontade.

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Revisão final: Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/as-divindades-thelemicas/

Além do Pylon da Cova

 

 

Por Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden, Capítulo Cinco.

 

A CHAVE para o mistério da redenção ou revitalização da múmia em Amenta repousa no uso mágico da Serpente de Fogo como ensinado nas escolas arcanas, particularmente aquelas da Asia.115 A chave está oculta no mito de Ísis e Osíris, e a busca de Ísis pelo falo perdido de Osíris.116 Este assunto é tratado por Apuleius em seu relato simbólico dos Mistérios de Ísis. Psyche, a alma, aprisionada no submundo de Plutão, é resgatada por Eros. Estes símbolos podem ser explicados em conexão com a Árvore da Vida como interpretada sob a luz da fórmula de Daäth do Novo Aeon. A Sabedoria Superna (Daäth) é representada pelo ego ou alma (Psyche) a qual adoece no Amenta. Kether, como Plutão, o Senhor do Abismo, é o mais externo, e, por analogia, o mais interno pylon de Amenta e o último Portal para o Espaço Exterior (Interior) onde a alma é liberada pela Serpente de Oito Cabeças. Oito representa a oitava, o Octimonos ou Mestre Magista, o mais alto ou altura. O simbolismo envolve o poder criativo primordial representado pela sete estrelas ‘filhas’ de Tífon no abismo do espaço (Malkuth), e a oitava, tipificada por Set ou Sothis na altura do céu (Kether). A profundidade de Malkuth e a altura de Kether é equilibrado pela Serpente de Daäth na qual a fórmula da Serpente de Fogo (Eros) está implícita. Portanto, Kether está em Malkuth, e Malkuth está em Kether, porém conforme outro modo. Em outra versão deste mito, Plutão ou Set é Kether e Eros ou a Serpente é Daäth, porque Daäth é o Jardim do ODN (Éden), o campo de força eletromagnética que é o covil da Serpente de Fogo; e a Psyche é Malkuth.

O simbolismo envolve o poder criativo primal representado pelas sete estrelas de Tífon no abismo do espaço, e o oitavo filho – Set – como a altura do céu tipificada pela estrela Sírius ou Sóthis na qual a fórmula da Serpente de Fogo está implícita. Este simbolismo, embora aparentemente complexo, é simples, como pode ser visto ao equacioná-lo com a bem conhecida fórmula budista: Primeiramente HÁ (there IS) (i.e. Malkuth) – Forma (i.e. Presença de Objeto). Então NÃO HÁ (there is NOT) (i.e. Kether) – Vazio (Void) (i.e. Presença de Sujeito). Então HÁ (there IS) (i.e. Ain) – Nem Forma nem Vazio, porém ausência da presença de ambos Objeto e Sujeito (i.e. a Ausência Absoluta, ou Vazio). Os dois primeiros estágio da fórmula compreendem toda a Árvore e suas dez zonas de poder cósmicas. Mas existe uma além de dez (i.e. onze; Daäth) que é o portal para o Ain a qual torna possível a transição do Universo representado pelo anverso da Árvore até o anti-Universo representado pelo inverso da Árvore. A pseudo-sephira, Daäth, é o espelho mágico no qual o Verdadeiro Ser é refletido em ‘matéria’ na forma de Existência.117

Este conceito era antigamente representado pela identidade de Satan o Opositor (e portanto o oposto ou reverso) com Malkuth, o universo mundano tal como este aparece no estado de consciência de vigília. Ainda assim a transição do universo irreal (representado pela Árvore) para o universo real que é NÃO (NOT) (representado pelas costas da Árvore) é ilusória, pois não existe nenhuma ponte verdadeira entre os dois universos. Existe uma solução de continuidade, e de forma à realizar isto, a altura do Abismo (a oitava estrela, Sóthis) tem que ser realizada em reverso, de forma que aquilo que se parece a altura a partir do lado frontal da Árvore seja realmente a profundidade quando observado a partir do ‘outro lado’. Satan-Set é portando a chave, e o nome do Pylon da Cova, cujo guardião é ‘aquele antigo demônio Choronzon’ cujo número, 333, é também aquele de Shugal, o Uivador, a raposa do deserto, a imagem zoomórfica de Sírius, o Negro ou Escuro, o Negativo Supremo.118

Na terminologia do Culto Tifoniano, Nuit ou Not (Não) é o Negativo Absoluto simbolizado pelas Sete Estrelas da Ursa Maior, o Possuidor-das-Faíscas ou Serpente de Fogo cujo oitavo filho é Sóthis, Set, ou Hoor-paar-Kraat. Portanto, de acordo com o antigo simbolismo onde o filho e a mãe são idênticos, Nuit e Set representam o infinito campo de possibilidade, pois em Set está ocultado seu gêmeo –Hórus– a manifestação da não- manifestacão que o ego (Daäth) sózinho torna possível.119

Austin Osman Spare demonstrou que a Postura da Morte120 é a chave para o Portal do Abismo, e sua doutrina do Nem-Nem (Neither-Neither) está intimamente entrelaçada com o complexo ego-anti-ego de Daäth. Naquela doutrina a mão simboliza o Zos, ou ‘corpo considerado como um todo’, e a mão, como foi mostrado, é um ideograma mágico do Macaco. Ela era de fato o nome do Macaco-Kaf (Kaf-Ape) no antigo Egito.121 O macaco ou cinocéfalo era o veículo de Thoth ou Daäth. O outro glifo-chave da feitiçaria de Spare, o Kia ou ‘Eu’ Atmosférico, é o despersonalizado ou anti-ego simbolizado pelo olho.122 Um certo uso mágico destes dois instrumentos – a Mão e o Olho – em consciência de vigília produz o estado de Nem-Nem que era a designação de Spare para o estado não conceitual (carente de conceito) ou pré-conceitual. Kia, portanto, é a antítese de Ra-Hoor-Khuit123 e, como tal, é idêntico a Set. A implicação Satânica está contida na identidade paranomasic(?) do Olho de Set e o ‘Eu’ de Kia.

O número de Kia, 31, é também aquele de AL, a chave de O Livro da Lei, e neste sentido Kia pode ser considerada como sendo o Olho de Nuit, o Ain, que é o ‘outro’[olho] ou o olho secreto,124 tipificado pelo ânus de Set. O cabalista medieval, Pico della Mirandola, formulou esta equação nos seguintes termos:

As letras do nome do demônio maligno que é o príncipe deste mundo [i.e. Set, Satan] são as mesmas que aquelas do nome de Deus125 – Tetragrama – e aquele que sabe como efetuar sua transposição pode extrair um do outro.126

Eliphas Lévi explica esta passagem com a declaração Daemon est Deus inversus. Em A Sabedoria Secreta da Qabalah, J.F.C. Fuller observa que ‘Satan . . . é de fato a Árvore da Vida de nosso mundo, aquela vontade livre que, para sua verdadeira existência, depende do choque das forças positiva e negativa as quais dentro da esfera moral nós denominamos bem e mal. Satan é portanto a Shekinah127 de Assiah [o mundo material]. Fuller observou previamente com respeito a Satan que:

O Deus de Assiah128 é o Sammael de Yetzirah129 invertido, que é o Metatron de Briah130 invertido, que é o Adam Qadmon de Atziluth131 invertido. Em resumo, Sammael em Assiah é o Adam Qadmon invertido três vezes removido; ele é a ‘sombra negra da manifestação do Grande Andrógino do Bem’. (Qabbalah, Isaac Myer, pág.331).

O número de Sammael, 131, é de grande importância no Aeon presente. Ele contém o número 13 e seu reverso, 31, sendo ambos vitais para a Corrente Ofidiana. Observe também que a elevação aos planos através das três zonas de poder, Malkuth-Yesod-Tiphareth, traz o foco de poder a Daäth, o vórtice que suga as energias cósmicas negativas que nutrem a Árvore. Isto é típico do ego que absorve tudo como uma esponja e então é ele próprio dissolvido no vazio do Abismo.

O Dragão cuja oitava cabeça reina em Daäth é idêntico com a Besta 666. A metade masculina é Shugal (333), o uivador no Deserto de Set; a metade feminina é Choronzon (333) ou Tífon, o protótipo de Babalon, a Mulher Escarlate. Um dos significados de Goetia é ‘uivar’132 o que sugere que os antigos grimórios eram registros primitivos da tentativa do homem em rasgar o véu do abismo e explorar o outro lado da Árvore. As elaboradas codificações de demônios e seus sigilos e os ritos acompanhando seu uso fazem paralelo com os trabalhos mágicos ortodoxos usados em conexão com a parte frontal da Árvore. Isso explicaria a necessidade de segredo e o uso frequente de nomes sagrados que velavam as verdadeiras intenções do feiticeiro.

A.E.Waite, em sua introdução à O Livro de Magia Cerimonial fala sobre as fases mais ortodoxas da magia como ‘aspectos da Tradição Secreta em tal extensão como esta declarou a si mesma ao lado de Deus’. Ele então declara ‘que existe uma tradição à rebours133. Ele observa mais:

‘Como existe a altura de Kether no Kabalismo, igualmente existe o abismo que está abaixo de Malkuth . . . ‘ Ele não diz, contudo, que o abismo abaixo de Malkuth é acessível ao homem apenas através do Portal de Daäth. Porém na página xli ele escreve:

Como existe uma porta na alma que se abre para Deus, igualmente existe outra porta que se abre para as profundezas (recremental_?), e não existe dúvida que as profundezam adentram quando ela é efetivamente aberta. Também existem os poderes do abismo.

Pode ser observado que Waite distingue entre as ‘profundezas’ e os ‘poderes do abismo’.

Existe uma Arte Negra e uma Branca . . . uma Ciência da Altura e uma Ciência do Abismo, de Metatron e Belial.134

É minha intenção mostrar que a Altura e o Profundo, i.e. o Oitavo e o Tepht135 são idênticos abaixo da imagem da Besta, cuja oitava Cabeça é a Porta do Abismo. Waite observa, corretamente, que ‘Typhon, Juggernaut,136 e Hecate137 não eram menos divinos que os deuses do supra-mundo’138. Ele contrasta o supra-mundo com o submundo ou, como poderíamos dizer, a frente da Árvore com seu lado inferior (neste caso, lado posterior).

É significativo que a incorporação da consciência humana, i.e. o homem, é, em hebraico, ‘Adam’, significando ‘terra vermelha’ ou ‘barro’, um símbolo do sangue solidificado como carne. A palavra Adam deriva do egípcio Atum ou Tum, o sol poente, o sol vermelho- sangue que está morrendo e afundando no Amenta, a terra oculta (hell). Nas tradições mais primitivas (i.e. a Draconiana), antes de o período equinocial ter sido estabelecido, o Norte, não o Oeste, era o lugar da escuridão; o esquerdo, o lado inferior; mesmo como o Sul era o Leste primitivo, como a frente ou lugar de ascensão.139 Daäth, primeiramente o norte, mais tarde se tornou identificado com o Pylon Ocidental e o bourne (início_?) da jornada do homem. A partir do momento de sua encarnação, a consciência humana inicia sua jornada para o Amenta. Então, o início está em Malkuth (terra); o fim está em Daäth (ar ou espaço).

A Besta e a Mulher unidos é a fórmula do Baphomet andrógino que era representado pela cabeça de um asno. Esta criatura era um símbolo Tifoniano do caminho, passagem ou túnel regressivo, um glifo apropriado do Abismo, o portal para o que era Daäth (Death / Morte). O símbolo da qliphoth de Yesod é conhecido como o ‘asno obsceno’, que, por sua vez é simbólico da consciência astral tipificada pela água (sangue), o elemento atribuído à Mulher Escarlate. Daäth, como Sabedoria Superna, corresponde ao elemento fogo, pois ele é o aspecto criativo do ego que gera imagens no sangue de Yesod antes da reificação na carne de Malkuth.

As cinco zonas de poder cósmico do Pilar do Meio correspondem aos cinco elementos:

Terra (Malkuth), Água (Yesod), Fogo (Tiphareth), Ar (Daäth), e Espírito (Kether). A dissolução do ego em Amenta tem que ser realizada antes da ‘ressurreição’ ou exaltação ao céu do Espírito, representado por Kether. Os cinco elementos correspondem aos cinco estados de consciência mencionados pelos hindus: Jagrat (consciência de estado de vigília), Malkuth, Terra; Svapna (consciência astral ou de sonho), Yesod, Água; Sushupti (consciência vazia), Tiphareth, Ar; Turiya (consciência transcendente), Daäth, Morte, Fogo; e Turiyatita (estado Nem-Nem de Kia), Kether, Espírito.140

Malkuth (terra) é o mênstruo de reificação; Yesod (água), o mênstruo de reflexão ou o duplo da imagem141via o sangue da lua; Tiphareth (ar), o mênstruo da aspiração pela luz da consciência solar; Daäth (fogo), o mênstruo de vibração, o Local do Logoi ou Palavra Gêmea que é ambas verdadeira e falsa, pronunciada e não pronunciada; e Kether (espírito), o mênstruo do Não-ser que transmite a Negatividade Pura do Ain.

A numeração total das Sephiroth do Pilar do Meio, incluindo Daäth, é 37, que representa a própria Unidade em sua manifestação trinitária equilibrada.142 37 é também a palavra LHB, significando a ‘chama’, ‘cabeça’, ou ‘ponto’, que resume a doutrina da Cabeça (em Daäth) como o ponto de acesso ao universo de Pura Negação. Também, 37 é o número de LVA que significa ‘Non’, ‘Neque’, ‘Nondum’, ‘Absque’, ‘Nemo’, ‘Nihil’; não, nem, não ainda, sem, nenhum, nada.

Como previamente observado, o número 333, a metade da Besta na frente (Shugal- Set) adicionado a 333, a parte detrás (Choronzon) surge como a Besta 666. Quando 333 é subtraído do número 365,143 resta 32. Este é o número da manifestação total; as coisas como elas são em sua totalidade e finalidade, como representado pela Árvore inteira: as dez sephiroth e os vinte e dois caminhos. Mais importante de tudo, entretanto, 32 é o número de IChID, o ego, self, ou alma. A palavra Ichid deriva do egípcio Akhet, o espírito, o manes, o morto, que enfatiza a natureza precisa do ego como uma upadhi – uma entidade ilusória mascarando-se como o Ser. E este upadhi é o único portal para o reino do puro Não-Ser, de onde se originam todos os fenômenos. A Besta 666 então representa o Habitante no Portal do Abismo, e seus dois aspectos – Shugal (333) e Choronzon (333), juntos resumem os 32 kalas144– que são as chaves para o Mistério da Plenitude, Santidade, Totalidade, representados pela Árvore da Vida e a Árvore da Morte.145

Em A Gênese Natural (vol.I.p.137) Massey declara:

Pode ser afirmado, de modo geral, que todos os inícios verdadeiros na tipologia, mitologia, números e linguagem, podem ser traçados até a abertura de uma Unidade (Oneness) que [se] divide e se torna dual em sua manifestação.

Isto também se aplica à metafísica da ‘Criação’. Em egípcio, o local de abertura é o Teph ou Tepht. A palavra hebraica Tophet deriva do egípcio Tepht como a ‘cova’, ‘inferno’, o ‘abismo’. A letra ‘T’ era uma forma anterior da letra ‘D’, e quando a mais recente substitui a letra inicial da palavra Tepht, nós obtemos Depth (Profundeza). Como Daäth, esta é a abertura primal para o Abismo por trás da Árvore. Massey declara mais ainda que ‘o pensamento humano verificável mais antigo estava relacionado à abertura’ no sentido de que a mãe abriu, e o um por este meio se tornou dois. O paralelo metafísico é também verdadeiro, pois o pensamento humano era uma conceitualização de energias partindo da abertura de Daäth como uma fenda no espaço, por assim dizer, através da qual as forças do Não-ser escorreram e se tornaram, no processo, pensamento conceitual. Assim o ego floresceu, e sua raiz estava no abismo. A palavra ego146 totaliza 78, que é o número de Mezla, a influência de Kether. Esta influência não fluiu diretamente para dentro de Tiphareth (o assento da consciência humana), ela veio via o Túnel de Set por trás de Daäth através do qual ela passou – como a luz através de um prisma – para terminar em pensamento conceitual; daí a sua natureza ilusória. ‘No ato da abertura, as coisas se tornaram duais’- Massey expressou portanto o assunto com relação aos fenômenos físicos; o mesmo também é verdadeiro sobre os fenômenos metafísicos. Uma passagem do Bundahish expressa a situação nesses termos:

A região da Luz é o local de Ahura-Mazda, a qual eles chamam de Luz infinita, e sua onisciência está em visão ou revelação.

Por outro lado: Aharman ‘em Escuridão, com entendimento retrógrado e desejo por destruição estava no abismo, e é ele quem não será, e o local daquela destruição, e também daquela Escuridão, é o que eles chamam de a escuridão infinita’.147

o número do ego, 78, é também um número de AIVAS, o transmissor do AL a partir de uma dimensão extraterrestre. Esta dimensão é interna (está dentro), e não externa (não está fora), e a mensagem de Aiwass procedeu desde o Abismo do Não-ser. Esta corrente negativa, ao passar através do prisma do ego,148 assumiu aqueles aspectos com os quais os estudantes do assunto estão familiarizados: ‘Aiwass é chamado o ministro de Hoor-paar-Kraat, o Deus do Silêncio; pois sua palavra é a Fala do Silêncio’149. Em outras palavras, 78 (ego) é o Logos, a pronúncia manifesta do Imanifesto. Esta vibração (Palavra), no processo de se tornar manifesta é inevitavelmente falsificada, porque de formas que ela possa ser formulada, Nada (Nuit) deve aparecer para tornar-se Algo (Hadit). O reino da palavra – no microcosmo – é o Visuddha chakra que é atribuído a Daäth. Seu elemento, ar, é o mênstruo de vibração, o meio através do qual o silêncio se manifesta em som. Em termos mágicos Daäth como ar é o meio pelo qual Hoor-paar-Kraat se manifesta como Ra-Hoor-Khuit. O numênico se torna fenomenal no chit- jada-granthi 150 ou centro-Daäth que tipifica o ego, a fonte aparente de todos os fenômenos.

Também, 78 é o número de Enoch (ChNK), significando ‘iniciar’. Enoch era a fonte das Chamadas ou Chaves usadas por Dee e Kelly em seu tráfico com entidades extraterrestres. É de fato a Dee que nós devemos o primeiro relato sobre Choronzon, o Guardião do Abismo151. Ainda mais, 78 é o número de MBVL, ‘uma enchente’ e portanto a enchente. A palavra deriva do egípcio mehber,152 que contém o nome real do abismo. Finalmente, 78 é o número de cartas que compreendem o pacote do Taro e, como tal, ele resume todas as fórmulas ocultas possíveis.

Em resumo, Daäth é a abertura primal, a fonte do universo conceitual, i.e., o ego; daí sua natureza alegadamente satânica e enganosa. A fórmula de sua resolução é a fórmula de iniciação no Real, i.e. o anti-universo ou mundo do não-ser, o negativo, o Ain.

Já foi observado que Ain, vazio fenomenal, é, no inverso, o Nia. Esta palavra, que é comum á vários dialetos africanos, denota o negativo, não (no, not). Ela era representada no Egito pela deusa Nuit. Seu determinativo hieroglífico é a mulher menstruando. O ain (olho) como nia, é o olho invertido; não o olho da luz, mas o olho da escuridão, o olho oculto, a vulva em sua fase negativa, a lua [feiticeira_?] de sangue, o eclipse lunar.

As Duas Águas ou Cheias descritas no Bundahish são consideradas como fluindo [a partir] do Norte. Este é o lugar de Daäth, a fonte do segundo dilúvio, o primeiro fluindo do Ain, ainda mais além do norte. Dion Fortune salienta que nas tradições mais antigas o Norte era considerado como o local da maior escuridão. Como a mulher foi a primeira a abrir e dividir em dois, então a escuridão precedeu a luz no sentido de que ela era o estado de ser numênico, negativo, a partir do qual a existência, o estado positivo, foi emitida. Daäth é o portal para a escuridão primal no norte. Inversamente ela é também o manifestador da existência, representada pelo sul. Set é Matéria; Nuit é Espírito. O Norte ou costas da Árvore com sua rede de túneis aparece no Sul como a frente da Árvore na forma das zonas de poder e caminhos. Como a Mãe-Escuridão era primal e representava as costas da Árvore, assim a Mão Esquerda como a mão feminina ou infernal, era também a primeira. Existe uma tradição rabínica que mantém [a idéia de] que ‘todas as coisas vieram a partir de Hé’. Hé é o número 5, que é o glifo da Mulher tipificado pela sua fase negativa; ele é também o equivalente de uma mão (cinco dedos), a própria mão sendo típica [do ato] de formar, moldar, criar. Seu ideograma era o macaco-Kaf (?) ou cinocéfalo, o veículo especial do deus Thoth (a lua), assim indicando a natureza lunar desta formação. A mulher produz o sangue a partir do qual a carne é formada. A Mão Esquerda portanto se equaciona com o simbolismo do macaco. Nos antigos mistérios egípcios o macaco era um tipo da morte transformadora, quer dizer, do nascimento dentro do mundo do espírito. O significado esotérico é que, na noite da morte (Daäth), o ego é dissolvido, descarta sua existência ilusória e alcança o ser real que é não-ego, não-ser.

Notas:

115 Eu expliquei os aspectos Tântricos deste Mistério em minha Trilogia Tifoniana (q.v.). Crowley foi um dos primeiros adeptos a incorporar ao ocultismo Ocidental o uso mágico das energias sexuais, embora o iniciado africano, P.B.Randolph, operando nos Estados Unidos por volta da virada do presente século foi talvez o primeiro à advogar abertamente um uso mágico do sexo. Vide Eulis (P.C.Randolph), Toledo, Ohio, 1896.

116 Para uma interpretação iniciática deste mito, vide Aleister Crowley & o Deus Oculto, capítulo 10.

117 O Ser, por si apenas, é real. Ele é a within-ness (internalização_?) das coisas; o noumenon. A existência é irreal pois, como está implícito na palavra, ela comporta a objetividade do Ser em algum estado externo, e não existe nenhum. O universo fenomenal, ou Existência (como uma ‘permanência fora’ de subjetividade) é apenas aparente.

118 A palavra Shugal é o equivalente cabalístico da palavra SaGaLa que é considerada por iniciados como sendo o nome de um metal do qual é constituída a estrela gêmea escura ou invisível de Sírius. Vide Robert Temple, O Mistério de Sírius, pág.24. O simbolismo da raposa é também implícito. Vide Temple, págs. 24, 48.

119 O Universo é conceitual, e nenhum conceito é possível sem um ego para concebê-lo.

120 Vide Imagens e Oráculos de Austin Osman Spare, Parte II, (1975).

121 Kaf em hebraico significa a ‘palma’ (da mão).

122 Olho = Ayin = Ain = Nada.

123 i.e. o ponto de vista individual.

124 i.e. a vulva.

125 Deus (God) = AL = 31; a afinidade vem, como declarado, via Kia, o Olho, AL, a Chave para a Corrente 93 (93 é três vezes 31), e Ain, o olho secreto de Nuit que, como Tífon, era a mãe ou fonte de Set.

126 Como demonstrado. Vide nota anterior. O trecho é de Kabbalistic Conclusions, XIX, citado em A.E. Waite: A Santa Kabbalah, Livro X.

127 Shekinah é o equivalente judaico de shakti, poder divino.

128 i.e. Satan.

129 Sammael (SMAL = 131 = Pan, etc) é o Guardião no Limiar (do Abismo). Yetzirah é o mundo formativo ou astral. SMAL, 131, é também o número de Mako (Set) o filho de Tífon.

130 Metatron é o Anjo de Briah, o Mundo Criativo.

131 Atziluth é o Mundo do Espírito, algumas vezes chamado de o mundo arquetípico. Os quatro mundos: Assiah, Yetzirah, Briah e Atziluth correspondem aos quatro estados de consciência referidos pelos hindus como Jagrat, Svapna, Sushupti, e Turiya. (Vide capítulo anterior).

132 Vide As Confissões de Aleister Crowley , capítulo 20.

133 Página xxxviii. A rebours significa ‘contra o grão’, i.e. ao inverso.

134O Livro da Magia Cerimonial, pág.5.

135 Tophet; a Profundeza.

136 Yog-Nuit. Compare com Yog-Sothoth.

137 Ur-Hekau, a coxa emblema do Grande Poder Mágico (shakti), conhecido pelos egípcios como o ‘Poderoso dos Encantamentos’. Vide O Livro dos Mortos.

138O Livro da Magia Cerimonial , pág.14.

139 i.e. do sol no macrocosmo e do falo no microcosmo.

140 Será notado que na série de atribuições anterior o Ar, e não o Fogo, é atribuído a Daäth. Isso é porque Daäth enquanto o Portal do Vazio = (é igual a) Espaço (Ar), ao passo que Daäth enquanto Morte = (é igual a) Dissolução (Fogo).

141 i.e. reprodução em níveis astrais.

142 111 dividido por 3.

143 O ciclo completo de manifestação como tipificado pelo círculo de 360 graus, mais os 5 dias ‘ proibidos’. Vide Cultos da Sombra, capítulo 4.

144 Dezesseis cada = 32.

145 333 + 32 = 365. O número 365 e os 16 kalas foram explicados em detalhes em Cultos da Sombra, capítulo 4.

146 Por Cabala Simplex, Ego = 25, que é o númedo d’A Besta, ChIVA, como 5 x 5, a fonte ou útero da vida. Tenho uma dívida para com a Soror Tanith por ela ter salientado para mim que ShIVA é uma metátese de AIVASh, assim identificando a Besta com o prisma egoidal através do qual as forças extraterrestres fluem para o ser (para se tornar_?) a partir dos vazios do Espaço (não-ser).

147 Citado por Massey em A Gênese Natural,vol.I, página 147 de O Bundahish , capítulo I, versos 2 e 3. (trans.West.)

148 Neste caso, Aleister Crowley.

149Comentários Mágicos e Filosóficos Sobre o Livro da Lei, p.94.

150 Um termo sânscrito que denota o nó ou centro sutil  no qual a senciência se identifica com a não-senciência e portanto parece criar uma entidade autônoma ou sujeito consciente tendo o ‘mundo’ como seu objeto.

151 Dr.John Dee, 1527-1608: ‘Existe um Poderoso Daemon, O Poderoso Choronzon, que serve para guardar as Grandes Portas do Universo Desconhecido. Conheça-O Bem e Esteja Atento’.

152Meh, ‘o abismo das águas’; ber, mais tarde bel, ‘jorrar’, ‘inchar’ , ‘ser efervescente’.

Revisão final: Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/alem-do-pylon-da-cova/

H. P. Lovecraft, Charles Dexter Ward, Joseph Curwen e Necromancia

No início do ano de 1927, Howard Phillips Lovecraft escreveu o seu único romance, entitulado “O Caso de Charles Dexter Ward“, um romance que o autor não pôde ver publicado. A história foi impressa de forma resumida em 1941, quatro anos após a morte do escritor, nas edições de Maio e Julho da revista Weird Tales e em sua forma completa apenas dois anos depois, na coleção Beyond the Wall of Sleep publicada pela editora Arkham House.

O livro conta a história de Charles Dexter Ward, um jovem preso ao passado, especialmente à figura de seu tataravô Joseph Curwen, um feiticeiro que fugiu da caça às bruxas que tomou conta da cidade de Salem indo se estabelecer na província de Providência, na Ilha de Rodes. Joseph Curwen ganhou notoriedade em sua época por seus estranhos hábitos, como vagar por cemitérios, e pelas experiências alquímicas que realizava. A semelhança física que compartilha com o antepassado é motivo de espanto para Ward, que se torna obcecado em reproduzir as experiências cabalísticos e alquímicas registradas nos diários de Curwen e, pesquisando as anotações do mago, descobre uma forma de trazer de volta à vida qualquer ser já morto, e decide que conversar com seu ascendente renderia mais frutos do que apenas estudar sobre sua vida.

Apesar do resumo da obra, o primeiro presuposto deste texto é que o leitor já tenha lido o romance. Caso não seja o seu caso seria interessante parar agora para ler a obra antes de prosseguir, não apenas porque o texto que segue contém o que pode ser considerado como spoilers, mas também porque isso contribui com um compreendimento mais amplo sobre o que será apresentado. Você pode fazer o download do texto integral clicando aqui.

Antes de continuar é importante frisar que este tratado não defende de forma alguma que Lovercraft tenha se envolvido com o ocultismo, tenha participado de alguma ordem iniciática secreta ou que praticasse qualquer forma de magia além de sua própria escrita. Ele era um homem extremamente culto, um gênio até para os padrões modernos, e tinha acesso a muita informação. De mitologia a obras de ocultismo, que já eram de conhecimento geral como os escritos de Papus, Blavatsky e Eliphas Levi – todos esses livros que poderiam ser adquiridos por qualquer curioso na época. Lovecraft cresceu entre livros e aproveitou cada oportunidade que tinha para ler e estudar. Outro ponto que não será desenvolvido aqui é o argumento que defende que mesmo não sendo mago ele era um médium, um portal de contato com uma realidade maior e mais sombria. Sabemos que ele era vítima de sonhos e devaneios que lhe serviam de inspiração para muito do que escrevia, mas qualquer tentiva de desenvolver a hipótese de um dom de vidência do desconhecido merece um tratado próprio que desenvolva o assunto com a seriedade que merece.

 

Despertando os Mortos

Conforme a história se desenrola Ward, a princípio gradualmente e então de maneira brusca, vai perdendo a sanidade e a substituindo com rituais mágicos, evocações e experimentos alquímicos que o distanciam não apenas de seus entes mais próximos como também da realidade, atingindo seu clímax quando é realizado o ritual para trazer da morte Joseph Curwen. O ritual em si é descrito de forma simples mas traz implicações profundas.

O ritual e seus elementos podem ser organizados da seguinte forma:

 

– Sais Essenciais

“Sobre a imensa mesa de mogno jazia virado para baixo um exemplar de Borellus, gasto pelo uso, trazendo muitas notas misteriosas escritas à mão por Curwen ao pé da página e entre as linhas”, este livro trazia um “trecho sublinhado” de “forma febril”. O trecho dizia:

“Os Sais Essenciais dos Animais podem ser preparados e preservados de tal forma que um Homem engenhoso possa ter toda a Arca de Noé em seu próprio Estúdio e fazer surgir a bela Forma de um Animal de suas próprias Cinzas a seu Bel-prazer; e, pelo mesmo Método, dos Sais essenciais do Pó humano, um Filósofo pode, sem recorrer à Necromancia criminosa, evocar a Forma de qualquer ancestral Falecido das cinzas resultantes da incineração de seu Corpo”.

 

– Um Local Reservado ou Afastado Para o Ritual

Conforme sua obcessão por seu antepassado, Curwen, crescia, Ward comprou uma “fazenda na Pawtuxet Road que havia sido propriedade do bruxo. Um lugar para onde se mudava, durante o verão. A propriedade era habitada apenas por duas pessoas, além do próprio Ward, um casal de índios da tribo Narragansett “o marido mudo e com curiosas cicatrizes, e a mulher com uma expressão extremamente repulsiva”, eles eram “seus únicos empregados, trabalhadores braçais e guardas”.

Em um anexo dessa casa ficava o laboratório onde era realizada a maior parte das experiências químicas. Os vizinhos mais próximos à fazenda se encontravam a uma distância de mais de um quarto de milha. Também existe menção “a um grande edifício de pedra, pouco distante da casa, com estreitas fendas em lugar das janelas”.

 

– Diagramas e figuras geométricas desenhados no chão

Dr. Willet, outro personagem central na história, quando investiga o sótão onde Ward passava tanto tempo, percebe “restos semi-apagados de círculos, triângulos e pentagramas traçados com giz ou carvão no espaço livre no centro do amplo aposento” e mais tarde, investigando o laboratório subterrâneo de que Ward montara no antigo bangalô de Curwen, em Pawtuxet, “um grande pentagrama no centro, com um círculo simples de cerca de noventa centímetros pés de diâmetro, entre este e cada um dos outros cantos”

 

– Invocação Per Adonai

Durante uma Sexta-Feira Santa, no fim do dia, “o jovem Ward começou a repetir certa fórmula num tom singularmente elevado” enquanto queimava “alguma substância de cheiro tão penetrante que seus vapores se expandiram por toda a casa”. A repetição da fórmula se prolongou por tanto tempo que a mãe de Ward foi capaz de reproduzí-la por escrito.

A fórmula descrita pela senhora Ward era:

Per Adonai Eloim, Adonai Jehova, Adonai Sabaoth, Metraton On Agla Mathon, verbum pythonicum, mysterium salamandrae, conventus sylvorum, antra gnomorum, daemonia Coeli God, Almonsin, Gibor, Jehosua, Evam, Zariatnatmik, veni, veni, veni. 

Depois de duas horas repetindo initerruptamente a evocação “se desencadeou por toda a vizinhança um pandemônio de latidos de cachorros”, tamanho foi o estardalhaço dos latidos que viraram manchetes de jornal no dia seguinte.

 

– A Invocação Dies Mies Jeschet

Então o pandemônio causado pelos cães da região foi sobrepujado por um “odor que instantaneamente se seguiu; um odor horrível, que penetrou em toda parte, jamais sentido antes nem depois” e então se seguiu “uma luz muito nítida como a do relâmpago, que poderia ofuscar e impressionar não fosse dia pleno”. Uma voz, “que nenhum ouvinte jamais poderá esquecer por causa de seu tonitroante tom distante, sua incrível profundidade e sua dissemelhança sobrenatural da voz de Charles Ward […] abalou a casa e foi claramente ouvida pelo menos por dois vizinhos, apesar do uivo dos cães”. A voz dizia claramente:

DIES MIES JESCHET BOENE DOESEF DOUVEMA ENITEMAUS 

 

– A Invocação Yi-nash-Yog-Sothoth

Logo após a poderosa voz declarar seu intento, “a luz do dia escureceu momentaneamente, embora o pôr-do-sol demorasse ainda uma hora, e então seguiu-se uma lufada de outro odor, diferente do primeiro, mas igualmente desconhecido e intolerável”. Ao mesmo tempo Ward volta a entoar de forma monótona uma nova fórmula, que era percebida como sílabas aparentemente sem sentido:

Yi-nash-Yog-Sothoth-he-lgeb-fi-throdog

Sendo seguida por um grito de YAH!, “cuja força desvairada subia num crescendo de arrebentar os tímpanos”.

Instantes depois um “grito lamentoso que irrompeu com uma explosividade desvairada e gradativamente foi se transformando num paroxismo de risadas diabólicas e histéricas”, este episódio foi seguido por um segundo grito, desta vez proferido certamente por Ward, se fez ouvir, ao mesmo tempo em que a risada continuava a ser ouvida.

 

Tão Morto Quanto Um Morto Pode Estar

Necromancia é uma forma de divinação que envolve os mortos. Na grécia antiga o objetivo do ritual era enviar o mago praticante para o mundo subterrâneo, onde ele consultaria os mortos e voltaria com o conhecimento adquirido. Com o passar do tempo a viagem às profundezas foi substituída por uma evocação, o morto era arrancado do domínio da morte e por momentos poderia se comunicar com os vivos em nosso mundo. Nekros, “morte”, e manteia, “divinação”, o termo foi adotado pelos povos cuja língua se derivou do latim, como os italianos, espanhois e franceses, como nigromancia, nigro significando também “negro”, uma forma negra, escura, de divinação; termo que deu origem a magia negra ou artes negras, uma prática que causava resultados maravilhosos graças à intervenção de espíritos mortos.

Conforme o cristianismo foi se tornando a crença dominante na europa, os espíritos dos mortos que se envolviam com tais rituais começaram a ser considerados espíritos cruéis, almas atormentadas e eventualmente demônios do próprio inferno. Se havia uma magia “negra”, em um mundo de dualidade com certeza haveria o seu oposto, a magia “branca”, se a primeira lidava com almas de mortos que habitavam o submundo e com demônios a segunda obviamente colocava o mago em contato com os espíritos dos Santos e com os Anjos de Deus. Em uma analogia ao Gênese bíblico ou ao Big-Bang moderno, a escuridão e trevas “nigro” deu origem à luz. Nesta aspecto a magia negra é muito mais antiga do que a sua contraparte branca.

 

Necromancia à Moda Antiga

A necromancia é encontrada com outras formas de divinação e magia em praticamente todas as nações da antiguidade, mas nada pode ser dito com certeza a respeito de suas origens. Strabo afirmou que era a principal forma de divinação dos Persas, ela também era praticada na Caldéia, Babilônia e Etrúria. O livro de Isaias, da Bíblia, se refere à prática entre os egípcios – 19:3 – e no livro de Deuteronômio – 18:912 – alerta os israelitas contra a sua prática, chamada de “abominação dos Cananeus”.

Como vimos, as práticas mais antigas eram de ir ao submundo buscar os mortos no reino do qual não podiam escapar, assim na Grécia e em Roma o ritual tinha lugar especialmente em cavernas ou vulcões, que supostamente tinham ligação com o submundo, ou próximo a lagos e rios, já que a água era vista como um “canal de acesso” de comunicação com os mortos, sendo o rio Acheron o mais procurado.

A menção mais antiga à prática da necromancia é a narrativa da viagem de Ulisses ao Hades e sua evocação das almas dos mortos através de vários rituais que lhe foram ensinados por Circe. Outra romantização da evocação de mortos está no sexto livro da Eneida, de Virgílio, que relata a descida de Enéas às regiões infernais, mas neste caso não existe um ritual, o herói vai fisicamente à morada das almas.

Além das narrativas poéticas e mitológicas existem inúmeros registros, por parte de historiadores, de praticantes da necromancia. Em Cabo Tenarus, Callondas evocou a alma de Archilochus. Periandro, o tirano de Coríntio, conhecido como um dos sete sábios da Grécia, enviou mensageiros para o oráculo do Rio Acheron para interrogar sua falecida esposa, depois de dois encontros os mensageiros conseguiram a resposta que buscavam. Pausanis, rei de Esparta, matou Cleonice ao confundí-la com um inimigo durante a noite, e como consequência não encontrava mais paz de espírito nem descanso, após tentativas infrutíferas de se livrar dos sentimentos que o afligiam ele se dirigiu para o Psicopompeion de Phigalia e evocou a alma da morta, recebendo a garantia de que assim que voltasse para Esparta seus pesadelos e medos desapareceriam, assim que voltou para a cidade ele morreu. Após sua morte os espartanos viajaram para Psicagogues, na Itália, para evocar e aplacar sua alma. Entre os romanos, Horácio constantemente alude à evocação dos mortos. Cícero testemunha que seu amigo Appius praticava a necromancia e que Vatinius conjurava as almas do além. O mesmo é dito a respeito do imperador Drusus, de Nero e de Caracalla.

Não existe certeza sobre os rituais realizados, ou os encantamentos feitos. A cada relato surgem descrições complexas e completamente diferentes entre si da maneira de chamar os mortos. Na odisséia Ulisses cava uma trincheira, entorna libações nela e sacrifica uma ovelha negra, cujo sangue será bebido pelas sombras, antes que elas lhe respondam a qualquer pergunta. Lucan descreve em detalhes inúmeros encantamentos e fala de sangue fresco sendo injetado nas veias de um cadáver para que ele retorne à vida. Cícero nos relata sobre Vatinius, que oferecia à alma dos mortos as entranhas de crianças e São Gregório fala de virgens e meninos sendo sacrificados e dissecados para que os mortos pudessem ser evocados ou para que o futuro pudesse ser visto.

Nos primeiros séculos depois de Cristo, os patriarcas da nova religião testemunharam a adoção da prática dentre seus novos convertidos, a necromancia era praticada em conjunto com outras artes mágicas que passaram a ser associadas com demônios, e passaram a advertir seus novos seguidores contra essas práticas nas quais: demônios se apresentavam como se fossem a alma dos mortos” (Tertuliano, De anima, LVII, em P.L., II, 793), mesmo assim, como seria de se esperar, muitos ignoravam os alertas e se entregavam à prática. Surgiram então os esforços das autoridades eclesiásticas, Papas e conselhos em suprimir por completo tal abominação. Leis criadas por imperadores cristãos como Constantino, Constantius, Valentino, Valens e Teodósio não se restringiam apenas à necromancia mas a qualquer forma de magia considerada pagã – precisamos nos lembrar que a igreja aceita que de acordo com a vontade de Deus as almas de pessoas mortas podem aparecer para os vivos lhes revelando coisas desconhecidas, ou que milagres podem ser realizados. Graças a este combate contra magia, rituais e superstição pagã, com o tempo o termo necromancia perdeu seu sentido estrito e passou a ser aplicado a toda forma de “magia negra”, se tornando associado com alquimia, bruxaria e magia. Mesmo com todos seus esforços, a igreja não conseguiu abolir essas práticas e a necromancia sobreviveu, se adaptando quando necessário, à Idade Média ganhando um novo ímpeto pela época do renascimanto.

 

As Raízes da Necromancia de Charles Dexter Ward

smackDuas coisas precisam ser levadas em consideração quando estudamos os rituais de necromancia apresentados por Lovecraft em sua obra, especialmente no Caso de Charles Dexter Ward.

Em primeiro lugar a superstição causada pela religião dominante. O cristianismo abominava qualquer ato religioso e ou mágico que não os rituais consagrados pela igreja e realizado por seus clérigos. Qualquer coisa além disso era vista de forma agressiva pelos religiosos, isso se refletiu no grande público frequentador de igreja e formado por uma sociedade criada a partir de uma moralidade cristã. O medo do sobrenatural acompanhou a raça humana desde seus primórdios, mas além deste sentimento natural houve, a partir do século IV, uma campanha focada em cristalizar esse medo e mudar seu status de característica humana em virtude humana. Isso é o motivo por até hoje religiões que não flertem diretamente com o cristianismo sejam vistas com preconceito, medo ou indiferença por uma sociedade religiosamente “morna”.

No início do século XX, a menção de rituais depravados era tabu. Ordens religiosas como a Golden Dawn, O.T.O., Maçonaria, Teosofia, Wicca e Rosa-Cruz, haviam mostrado para a Europa que cultos mágicos haviam sobrevivido ao feudo religioso da Idade Média, grimórios mágicos falavam sobre as práticas de evocação e negociação com espíritos vindo do inferno. E rumores sobre tais feitos e grupos chegavam através do oceano a um continente onde por anos a luta contra a feitiçaria havia sido uma realidade. A Inquisição teve seus ecos em solo americano, onde bruxas eram caçadas, torturadas e queimadas ainda com vida. Novas religiões nasciam em segredo e tinham que se afastar de áreas populadas para poderem ser seguidas – religiões que se derivavam do cristianismo, como os Mórmons por exemplo. Esses rumores assustavam muitas pessoas que consideravam estar a salvo da sombra do diabo e de seus seguidores.

Em segundo lugar havia a literatura gótica e fantástica. Escritores de contos de terror tinham inspiração de sobra na época. Cultos pagãos que haviam sobrevivido em segredo. Criaturas demoníacas que roubavam crianças recém nascidas e colocavam cópias maléficas em seu lugar. Livros que ensinavam a evocar o próprio demônio. Histórias que se aproveitavam dos temores mais profundos das pessoas e os exploravam para se tornarem fenômenos comerciais, em uma época, diga-se de passagem, em que o analfabetismo era a regra.

Dos principais temas góticos que se tornaram sucesso, e por isso recorrentes em inúmeros livros, temos o dos fantasmas que surgiam como pessoas vivas, interagindo com os protagonistas para apenas revelar sua natureza sobrenatural no clímax da obra, e o do alquimista que após concluída a aventura se revelava uma pessoa com séculos de idade, prolongada de forma artificial através de rituais, acordos e da química proibida. Esses livros inspiraram muito o trabalho de Lovecraft e estão presentes em muitos de seus contos como por exemplo Ar Frio, O Alquimista e A Coisa Na Soleira da Porta.

Quando Lovecraft escrevia ele buscava transpor para o papel algo que despertasse no leitor seus medos mais ocultos e violentos, um temor puro e inexplicável de algo incompreensível para a mente humana. E assim ele combinou em um texto a ficção que admirava com a superstição que dominava as pessoas, e para isso ele buscou bases reais para seu romance.

 

Senhor Mather e Mestre Borellus

Durante o desenrolar da história o nome do livro de Borellus não é citado, e nem qualquer outra informação direta sobre seu autor, mas Lovecraft nos dá uma pista importante. Durante sua narrativa ele escreve uma passagem sobre uma carta escrita por Jebediah Orne, de Salem, para Curwen na qual lemos:

“[…]Não possuo as artes químicas para imitar Borellus e confesso que fiquei confuso com o VII Livro do Necronomicon que o senhor recomenda. Mas gostaria que observasse o que nos foi dito a respeito de quem chamar, pois o senhor tem conhecimento do que o senhor Mather escreveu nos Marginalia de______”

Aqui entram dois personagens importantes na solução do mistério, Mather e suas escritas marginais em algum livro.

Mather muito provavelmente se trata de Cotton Mather, o ministro puritano da Nova Inglaterra que teve grande influência nos tribunais de caças a bruxas nos Estados Unidos, especialmente na cidade de Salém. A mera citação do nome de Mather no texto é importante pois ajuda a dar credibilidade ao passado de Joseph Curwen, um bruxo que deixou Salém na época em que bruxos era perseguidos e se isolou para dar continuidade a seu trabalho, sem perder o vínculo com os feiticeiros de lá. Em 1702, a maior obra de Mather é publicada, o Magnalia Christi Americana – Os Gloriosos Trabalhos de Cristo na América, o livro traz biografias de santos e descreve o processo de colonização da Nova Inglaterra. A obra, composta de sete livros, traz também o livro entitulado “Pietas in Patriam:  A vida de Vossa Excelência Sir William Phips”. Pietas havia sido publicado anonimamente em Londres em 1697.

Aqui se faz necessária a apresentação de outro escritor, Samuel Taylor Coleridge. Coleridge foi um famoso poeta e ensaista inglês, considerado um dos fundadores do Romantismo na Inglaterra. Dentre de suas obras mais conhecidas se destacam Balada do Antigo Marinheiro – conhecida também por ter inspirado a música de mesmo nome da banda Iron Maiden – Kubla Khan e Cristabel. Lovecraft conhecia e admirava o escritor, como deixa claro em seu O Horror Sobrenatural na Literatura. Mas além de escrever os próprio poemas e prosas, Coleridge era famoso por suas marginália nos livros que possuia. Como todo leitor da revista MAD ou qualquer fã de Sérgio Aragonés já sabe, marginália (do latim marginalia, como também é usado – sem o acento) é o termo geral que designa as notas, escritos e comentários pessoais ou editoriais feitos na margem de um livro, o termo é também usado para designar desenhos e floreados nas iluminuras dos manuscritos medievais. Tantas foram que hoje existem volumes com suas anotações pessoais sendo impressos e um livro em particular se encaixa nesta obra de Lovecraft, o Magnalia Christi Americana de Mather. A Biblioteca de Huntington contém alguns dos livros que Coleridge cobriu com suas notas e comentários e um deles é a edição de 1702 do Magnalia. A principal característica dessas notas são o tom anti puritano e anti Mather, Coleridge se surpreende com a credulidade do ministro e se perturba com suas descrições sobre bruxaria, como detectar e tratar as acusadas de feitiçaria. Em um ponto Coleridge se aborrece com a incapacidade de Mather fornecer dados suficientes para que o poeta pudesse calcular a velocidade com que um fantasma se desloca.

Neste ponto é importante frisar que não há evidência de que Lovecraft tenha descoberto o livro de Mather por causa de Coleridge, existe uma chance dele próprio ter possuido uma cópia do Magnalia, ou ao menos do Pietas. Muitas das coisas descritas ali com certeza seriam de seu interesse, especialmente as alusões ao sobrenatural e à bruxaria, um tema também tratado por ele em muitos contos. Mas de fato este livro contém a chave para a identificação de Borellus. Mather o inicia com algumas palavras sobre a natureza da arte da biografia, comparando o biógrafo com a teoria defendida por Borellus de se evocar a forma dos ancestrais – Livro II, Capítulo XII. Na época de Mather viveu um químico, alquimista, físico e botânico francês que ganhou muita notoriedade escrevendo sobre ótico, história antiga, filologia e também sobre bibliografia, Pierre Borel (1620-1679). Não é difícil de se supor que Mather, também um biógrafo apaixonado, conhecesse Pierre Borel e sua obra. Dos muitos textos existentes de Borel não existe a passagem literal citada por Mather, o que leva a crer que Mather parafraseou o alquimista francês usando suas próprias palavras. Este ponto também é importante porque mostra que Lovecraft de fato teve acesso ao livro de Mather e não à obra de Borel, cujo nome em latim era escrito Petrus Borellius, ou simplesmente Borellus, já que atribui ao alquimista a passagem literal.

Fora isso, a menção de uma Marginalia de punho do próprio Mather pode servir como subterfúgio para indicar que Curwen e Jebediah possuiam anotações não publicadas de Mather, o que agrega ao romance um ar muito mais sinistro; uma das grandes contribuições de Mather para os tribunais de feitiçaria foi o incentivo do uso de provas sobrenaturais para acusar as supostas feiticeiras. Notas marginais de Mather em  um livro de evocações demoníacas seria o mesmo que um selo legitimando o ritual.

 

A Alquimia do Sal

“Se um químico renomado como Quercetanus, juntamente com uma tribo inteira de ‘trabalhadores no fogo’, um homem culto encontra dificuldades em fazer a parte comum da humanidade acreditar que eles podem pegar uma planta em sua consciência mais vigorosa, e após a devida maceração, fermentação e separação, extrair o sal da planta, que, como se encontra, no chaos, de forma invisível reserva a forma do todo, que é seu princípio vital; e que, mantendo o sal em um pote hermeticamente selado, podem eles então, ao aplicar um fogo suave ao pote, fazer o vegetal se erguer ao poucos de suas próprias cinzas, para surpreender os espectadores com uma notável ilustração da ressurreição, na mesma fé que faz os Judeus, ao retornarem das tumbas de seus amigos, arrancarem a grama da terra, usando as palavras da Escritura que dizem “Seus ossos florecerão como uma erva”: desta forma, que todas as observações de tais escritores, como o incomparável Borellus, encontrarão a mesma dificuldade de criar em nós a crença de que os sais essenciais dos animais podem ser preparados e preservados de tal forma que um homem engenhoso possa ter toda a Arca de Noé em seu próprio estúdio e fazer surgir a bela forma de um animal de suas próprias cinzas a seu bel-prazer: e, pelo mesmo Método, dos sais essenciais do pó humano, um filósofo pode, sem recorrer à necromancia criminosa, evocar a Forma de qualquer ancestral falecido das cinzas resultantes da incineração de seu corpo. A ressurreição dos mortos será da mesma forma, um artigo tão grandioso de nossa crença, mesmo que as relações desses homens cultos se passem por incríveis romances: mas existe ainda a antecipação da abençoada ressurreição, carregando em si algumas semelhanças a estas curiosidades, quando em um livro, como no pote, nós reservamos a história de nossos amigos que partiram; e ao aquecermos tais histórias com nosso afeto nós revivemos, de suas cinzas, a forma verdadeira desses amigos, e trazemos com uma nova perspectiva tudo aquilo que era memorável e reprodutível neles.”

Magnalia Christi Americana – Livro II, Capítulo XII

Como descrito por Mather, Borellus, Quercetanus e os membros da tribo dos “Trabalhadores no Fogo” afirmam que para ressucitarmos os mortos, precisaríamos apenas de um processo puramente químico, isso se torna evidente na passagem “sem recorrer à necromancia criminosa”. Mas, em sua história, Lovecraft sugere que Borellus, em seu livro misterioso, afirmava a necessidade de componentes ritualísticos. Na troca de correspondência entre Jebediah, Hutchinson e Curwen lemos:

Jebediah:

“Eu ainda não possuo a arte química para seguir Borellus…”

Curwen:

“As substâncias químicas são fáceis de serem conseguidas, eu indico para isso bons químicos na cidade. Doutores Bowen e Sam Carew. Estou seguindo o que Borellus disse, e consegui ajuda no sétimo livro de Abdul Al-Hazred.

Hutchinson:

“Você me supera em conseguir as fórmulas para que um outro o possa dizê-las com sucesso, mas Borellus supôs que seria assim, se apenas as palavras corretas fossem proferidas.”

Isso faria com que o processo alquímico da obtenção dos sais e da sua conseguinte restauração em suas formas originais deveria ser acompanhado de certos rituais, fórmulas pronunciadas, combinando a química com a Alta Magia.

 

Entra em Cena Eliphas Levi

A fórmula recitada por Ward na Sexta-Feira Santa, anotada por sua mãe foi identificada por especialistas como uma das evocações encontradas “nos escritos místicos de ‘Eliphas Levi’, aquele espírito misterioso que se insinuou por uma fenda da porta proibida e teve um rápido vislumbre das terríveis visões do vazio além”.

Eliphas Levi era o nome mágico do ocultistas francês Alphone Louis Constant (1810-1875), um dos grandes, se não o maior, responsável pelo renascimento do ocultismo moderno. Paracelso elevou a magia ao status de ciência, Cagliostro a incorporou na religião que buscava a regeneração da espécie humana, mas foi Levi que a tranformou em literatura. A atmosfera e densidade com que trata o ocultismo diferenciava as obras de Levi dos outros grimórios que existiam e circulavam na época. O assunto que parecia tomar a forma de livros de receitas demoníacas e angelicais, passou a ser tratado com reverência, como uma filosofia e um estudo no qual eram necessários anos de aprimoramento para se dominar.

Seu livro mais conhecido do grande público é o Dogma e Ritual da Alta Magia, e é exatamente nesta obra que encontraremos a fórmula usada por Ward, mas muito provavelmente não foi este livro que Lovecraft teve em suas mãos para inspirar esta passagem.

Crowley sempre fez questão de ser conhecido e lembrado como o mais depravado dos homens, o mago negro de sua geração, a Grande Besta 666, e fez um bom trabalho nisso. Mas como devemos chamar então o seu arqui-inimigo, aquele que inspirou a vilão Arthwate do livro Moonchild escrito por Crowley?

Arthur Edward Waite se tornou um místico muito menos popular do que Crowley, mas em alguns pontos muito mais poderoso. Durante sua vida escreveu extensamente sobre ocultismo e esoterismo. Foi um dos criadores do Tarô Raider-Waite, considerado um Tarô clássico até os dias de hoje. Ele fez parte da Ordem Hermética da Aurora Dourada, Sociedade Rosa-Cruz Inglesa, Sociedade da Cruz Rosada, dentre outras. Seus trabalhos atravessaram o atlântico e acabaram chegando às mãos de Lovecraft que inclusive o incluiu em um de seus contos, também como um vilão, o mago negro Ephraim Waite de A Coisa Na Soleira da Porta. Mas não foi com seus trabalhos que Waite influenciou O Caso de Charles Dexter Ward. Além de escrever sobre Tarô, divinações, esoterismo, os Rosacruz, Maçonaria, Cabala e alquimia, Waite também traduzia e publicava muitos livros ainda inéditos na língua inglesa, e Eliphas Levi havia se tornado uma celebridade entre os praticantes de magia cerimonial. Em 1886 Waite publicou um livro intitulado Os Mistérios da Magia, formado por vários artigos tirados de livros de Levi, posteriormente em 1896 conseguiu publicar as duas obras do ocultista francês, Dogma da Alta Magia e Ritual da Alta Magia, em uma versão em inglês, rebatizada para Magia Transcedental, Sua Doutrina e Rituais. Ambos os livros possuem um mesmo capítulo entitulado O Sabbat dos Feiticeiros, e neste capítulo encontramos a fórmula Per Adonai. Hoje não há como saber com certeza de qual livro de Waite Lovecraft tirou o encantamento, mas muitos pesquisadores apontam para o livro de coletânia de textos, o Mistérios da Magia.

O capítulo em questão, trata do que Levi define como “o fantasma de todos os espantos, o dragão de todas as teogonias, o Arimane dos persas, o Tifon dos egípcios, o Píton dos gregos, a antiga serpente dos hebreus, a vouivre , o graouilli , tarasque , a gargouille , a grande besta da Idade Média, pior ainda do que tudo isso, o Baphomet dos templários, o ídolo barbado dos alquimistas, o deus obsceno de Mendes, o bode do Sabbat”. Dentro do assunto tratado em seu romance, Lovecraft não podia ter escolhido uma fonte melhor de onde tirar a porção de magia cerimonial do ritual realizado por Ward. Mas apesar de tratar do ritual de adoração ao Diabo, Levi deixa clara sua visão quando afirma que “digamos bem alto, para combater os restos de maniqueísmo que ainda se revelam, todos os dias, nos nossos cristãos, que Satã, como personalidade superior e como potência, não existe. Satã é a personificação de todos os erros, perversidades e, por conseguinte, também de todas as fraquezas”. Indo mais a fundo em sua exposição, Levi classifica tais rituais em três grupos distintos:

– Os que se referem a uma realidade fantástica e imaginária;

– Aqueles que revelam os segredos expostos nas assembléias ocultas dos verdadeiros adeptos;

– Aqueles realizados por loucos e criminosos, tendo como objetivo a magia negra.

E prossegue:

“[…]e existiu realmente; até ainda existem as assembléias secretas e noturnas em que foram e são praticados os ritos do mundo antigo, e destas assembléias umas têm um caráter religioso e um fim social, outras são conjurações e orgias. É sob este duplo ponto de vista que vamos considerar e descrever o verdadeiro Sabbat , quer seja o da magia luminosa, quer o da magia das trevas.”

Levi então descreve a personalidade de alguém que será bem sucedido em suas evocações infernais. A pessoa deve ser teimosa, ter uma consciência ao mesmo tempo endurecida e acessível ao remorso e ao medo, acreditar naquilo que “a parte comum da humanidade” não acredita ser real. Para o ritual ter sucesso são necessários sacrifícios sangrentos.

Por toda a cidade se comentavam sobre os hábitos estranhos adotados pelo jovem ward, que incluíam encomendas de quantidades imoderadas de carne e sangue fresco fornecidas pelos dois açougues da vizinhança mais próxima, uma quantidade muito grande para uma casa em que habitavam apenas três pessoas.

Levi então diz que após os preparativos, que podem levar dias a evocação deve ser feita, de segunda para terça-feira ou de sexta-feira para sábado, o que coincide com o ritual realizado na Sexta-Feira Santa por Ward. A pessoa então deve traçar círculos e triângulos e os molhar não com o sangue de uma vítima, mas do próprio operador.

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“A pessoa pronunciará, então, as fórmulas de evocação que se acham nos elementos mágicos de Pedro de Apono ou nos engrimanços, quer manuscritos, quer impressos. A do Grande Grimório , repetida no vulgar Dragão Vermelho , foi voluntariamente alterada na impressão. Ei-la como deve ser lida:

“Per Adonai Elohim, Adonai Jehova, Adonai Sabaoth, Metraton On Agla Adonai Mathom, verbum pythónicum, mystérium salamándrae, convéntus sylphórum, antra gnomórum, doemónia Coeli Gad, Almousin, Gibor, Jehosua, Evam, Zariatnatmik, veni, veni, veni ”.

 

Veni, Veni, Veni

Como Levi afirma, a evocação Per Adonai já existia muito tempo antes dele a publicar em seu livro, dizendo que a do Grande Grimório, talvez mais antiga que tenha visto pessoalmente, foi reimpressa de forma alterada no Dragão Vermelho.
Apesar de na cabeça das pessoas a história dos grimórios, ou engrimaços, se perder no tempo, eles não são tão antigos assim. A maior fonte de todos os livros mágicos que surgiram na Europa até recentemente, foi a Bíblia. Os primeiros cinco livros das Escrituras Sagradas, conhecidos como Pentateuco, são atribuídos a Moisés. Muitas pessoas acreditavam que Moisés escreveu muito mais coisas do que apenas os cinco livros e não demoraram a aparecer cópias do livro entitulado o oitavo livro de Moisés. Esse livro, datado de aproximadamente IV d.C., trazia, supostamente, os ensinamentos de Deus que ficaram fora do Pentateuco, as maneiras de se chamar anjos e realizar maravilhas, curiosamente os manuscritos mais antigos retratavam Moisés como um egípcio e não um judeu. Outros textos que diziam ter sido escritos por Salomão, existiam na forma de um livro que circulava no primeiro século cristão. Outro autor bíblico que fazia sucesso era Enoque, haviam inúmeros manuscritos mágicos que descreviam o que Deus supostamente havia lhe ensinado sobre o controle das forças por trás da Criação. Todos esses livros, obviamente, não tinham ligação direta com os patriarcas bíblicos, mas eram muito populares porque as pessoas que os adquiriam acreditavam nisso, o que torna os primeiros grimórios excelentes exemplos de jogadas de marketing séculos antes do marketing sequer ser criado. Em 1436, com o advento da prensa móvel por Gutenberg, dezenas de grimórios “antigos” começaram a circular, dentre eles as Claviculas de Salomão, o Pequeno Alberto, o Grimório de Honório, o Sexto e Sétimo Livros de Moisés, o Galo Negro, Grande Grimório, Grimorium Verum e inúmeros outros. Os livros mais caros eram grandes, ilustrados, os mais baratos eram cópias mal feitas, com coletânias de textos vindo de outros livros sem muita explicação de como seguí-las, eram de fato livros de receitas em que anjos e demônios eram evocados em horas planetárias pré determinadas.
O Grande Grimório, citado por Levi, traz uma introdução que afirma que a obra foi impressa em 1552, mas não existem registros de publicações anteriores ao século XVIII. Seu autor é apresentado como Alibek, o Egípcio. Em sua página de introdução está escrito:
“Este livro é tão raro e procurado em nosso país que foi chamado, por nossos rabinos, de a verdadeira Grande Obra. Foram eles que nos entregaram este precioso original que muitos charlatães tentaram inutilmente reproduzir, tentando imitar a verdade que eles nunca encontraram, de forma a tirar vantagem de indivíduos ingênuos que tem fé em encontros com pessoas quando buscam a Fonte original.
Este manuscrito foi copiado de inúmeros escritos do grande Rei Salomão. Este Grande Rei passou muitos de seus dias na mais árdua busca atrás dos mais obscuros e inesperados segredos.”
Ao examinar o Grande Grimório é fácil perceber que a evocação Per Adonai não se encontra nele, a maior parte das evocações lá presentes são variantes da fórmula:
“Eu Te imploro, O grande e poderoso ADONAI, lider dos espíritos. Eu Te imploro, O ELOHIM, eu Te imploro O JEHOVA, O grande Rei ADONAI, seja condescendente e favorável. Que assim seja. Amém.”
Mas isso não é uma surpresa. Grimórios eram colchas de retalhos, hoje um exemplo disso é o Livro de São Cipriano, diferentes editoras o lançam com diferentes nomes, O Livro de São Cipriano, O Verdadeiro Livro de São Cipriano, São Cipriano da Capa Preta, São Cipriano da Capa Metálica, etc. Na época de Levi ainda havia o agravante de cada tradução ser uma versão diferente do grimório traduzido, partes eram introduzidas ou retiradas, assim quando mudava de língua, o livro mudava de conteúdo, não eram traduções e sim editorações de conteúdo. Outro problema era a origem do livro e seu nome real. Muitos grimórios afirmavam ser versões modernas inspiradas por livros mais antigos, no caso do Grande Grimório, há aqueles que acreditem que ele foi amplamente inspirado no livro conhecido como o Grimório Jurado de Honório, o Liber Juratus – não confundir com o Grimório do Papa Honório III. No Liber Juratos é possível se encontrar fórmulas muito mais próximas à de Levi, como por exemplo:
“HAIN, LON, HILAY, SABAOTH, HELIM, RADISH~~, LEDIEHA, ADONAY, JEHOVA, YAH, TETRAGRAMMATON, SADA!, MESSIAS, AGIOS, ISCHYROS, EMMANUEL, AGLA”
O que pode indicar que talvez o Grande Grimório ao qual Levi se referia seria na verdade o Liber Juratus. Levi o compara ao Dragão Vermelho, que se conecta de forma diferente aos dois livros, Grande Grimório e Liber Juratus. Muitos afirmam que o Dragão Vermelho e o Grande Grimório são os mesmos livros, outros afirmam que são livros diferentes, mas que o Dragão Vermelho, por seu conteúdo também era conhecido como um grande grimório, o maior e mais perverso de todos, dai o nome Grande Grimório ser mais um título no ranking dos maiores grimórios do que simplesmente o nome que trazia. Como Levi o descreve nos leva a crer que ao menos na França, onde circulava com o nome “Le Veritable Dragon Rouge” o Dragão Vermelho poderia ser uma versão mais popular do Grande Grimório original. Neste caso ele poderia ter alguma relação ao Liber Juratus e trazer uma versão mais próxima da fórmula apresentada, mas sem o livro que Levi tinha em mãos, não há como saber se a evocação se manteve fiel ao original ou não, mas hoje é sabido que Levi tinha uma estranha atração pelo livro, o que pesa a favor da fidelidade do texto, por outro lado Levi era um romancista e adorava “corrigir” textos que ele percebia haver chegado em suas mãos com desvios do original, assim essa evocação pode ter sido desenvolvida pelo próprio Levi para sua obra.
Independente de sua origem a evocação se consagrou, fazendo parte de inúmeros livros publicados posteriormente. Tais evocações, mesmo conflitantes entre si em sua formulação, eram muito comuns nos livros. Como grande parte dos os grimórios, se não todos eles, se derivaram da Bíblia, por mais nafasta que fosse a criatura evocada, ela deveria se curvar perante o poder de Deus, assim a fórmula era recitada, após os diagramas desenhados, para obrigar, em nome de Deus, que o espírito se materializasse.
Nas palavras de Cornelius Agrippa, quando fala sobre necromancia em seus Três Livros de Filosofia Oculta:
“Para a empreitada de chamar e compelir os maus espíritos, adjurando por um certo poder, especialmente aquele dos nomes divinos; pois sabemos que toda criatura teme, e reverencia, o nome de quem a criou, não é de admirar, se infiéis goetians, pagãos, judeus, sarracenos, e homens de toda seita profana e da sociedade, conseguirem controlar demônios ao se invocar o nome divino.”
Assim, a evocação Per Adonai traduzida se lê:
Por meu Senhor Deus, meu Senhor que Vive, meu Senhor Das Hostes Celestes, por Metraton[1] On[2] e o Senhor Eternamente Forte, pela quinta hora da noite, pela palavra profética, pelo mistério das salamandras, pelos espíritos das florestas, pelas cavernas dos gnomos, pela fortuna descrita nos céus pelos espíritos, por Almousin, Senhor da Força, por Jesus, por Evam[3], o Filho de Deus, VENHA, VENHA, VENHA.”
[1] Metraton é o príncipe dos Anjos, o único que fala diretamente com Deus, por isso chamado também A Voz de Deus.
[2] ON é outro nome de Deus.
[3] Evam é um termo que permanece incerto
O objetivo era, assim que um canal com o mundo dos mortos fosse aberto, obrigar, através da menção dos nomes/qualidades de Deus, o espírito escolhido a se manifestar. Mas, seguindo a lógica do texto de Lovecraft, as conversas trocadas pelo círculo de Curwen, o espírito deveria animar a forma, ou seja o corpo, criado alquimicamente a partir dos sais do corpo original, não apenas se manifestar em sua forma etérea. A alquimia criava um corpo físico, uma versão antiga da gentética de hoje, e a magia devolvia o espírito original a esse novo corpo.
E aparentemente Ward obteve sucesso em sua evocação, já que junto com seus clamores uma segunda voz lhe respondeu, uma voz que com certeza não era a sua.
Corta Para o Signore Pietro d’Abano
Também conhecido como Petrus De Apono ou Aponensis, viveu entre as décadas de 1250 e 1310, ele foi um filósofo italiano, que estudava astrologia e medicina em Pádua. Eventualmente, como toda pessoa culturalmente prolífera que não fazia parte da igreja, foi acusado de heresia e ateísmo e acabou caindo nas mãos da Inquisição, morrendo na prisão em 1315.
Durante sua vida estudou por muitos anos em Paris, onde recebeu os três graus de doutorado em filosofia e medicina, se tornando um médico talentoso e de muito renome, chegando a ser chamado de O Grande Lombardo. Foi em Pádua que ganhou sua reputação como astrólogo e físico e foi acusado pela primeira vez de praticar magia – diziam que com a ajuda do demônio ele conseguiu recuperar todo o dinheiro que gastou em sua educação e que possuia uma pedra filosofal, as pessoas que o acusavam disso não deviam saber dos honorários salgados que cobrava para exercer a medicina.
Pietro também gostava de escrever e registrar os conhecimentos que ia coletando, criando uma verdadeira enciclopédia de ciências ocultas, procurando sempre provar através de experimentos, aquilo que registrava sobre fisiognomia – diferente de fisionomia -, geomancia e quiromancia entre outros. E foi dentre esses estudos que registrou o seguinte:
pega saci“A peneira é sustentada por tenazes ou pinças que são erguidas pelos dedos médios de dois assistentes. Desta forma pode ser descoberto, com a ajuda de demônios, as pessoas que cometeram um crime ou que roubaram algo ou feriram alguém. A conjuração consiste de seis palavras – que não são compreendidas nem por aqueles que as proferem nem pelos que as escutam – que são DIES, MIES, JUSCHET, BENEDOEFET, DOWIMA e ENITEMAUS; uma vez que sejam pronunciadas elas compelem o demônio a fazer a peneira, apoiada nas tenazes, a girar no momento que o nome da pessoa culpada for pronunciado (pois o nome de todos os suspeitos devem ser pronunciados), tornando o culpado imediatamente conhecido.”
Mais de 200 anos depois da morte de Pietro, Agrippa começa a coletar o conhecimento ocultista existente até então em seus próprios escritos, que posteriormente foram coletanos em dois volumes entitulados Opera omnia em 1600 pela editora Lyons. Em seu total os volumes traziam seus três volumes do De occulta philo-sophia, De incertitudine et vanitate scientiartn argue artium declamatio, Liber de Iriplici ratione cognoscendi Dewn e In artem brevem Ravtnundi Lulli commentaria. Popularmente esse trecho foi apontado como saindo de algum dos três livros do Occulta, mas ele não se encontra neles, o que fez muitos pesquisadores modernos o atribuirem ao apócrifo quarto livro do Occulta philo-sophia, um livro que surgiu, escrito em latim, aproximadamente 30 anos após a morte do autor e que foi denunciado como fraude por Johann Weyer, um dos estudantes de Agrippa. Esse tipo de confusão entre D’Abano e Agrippa é comum já que um dos maiores tratados ocultos, o Heptameron – ou Elementos Mágicos – atribuído a D’Abano apareceu como apêndice no quarto livro de filosofia oculta atribuído a Agrippa. Em ambos os casos parece que os livros apenas foram atribuídos aos ocultistas como forma de marketing, já que parece que nenhum dos dois redigiu nenhuma das obras. Mas Agrippa faz menções a D’Abano em seu trabalho, especificamente em seu terceiro livro da Filosofia oculta, apontando o italiano como sendo sua fonte para o alfabeto Thebano, desenvolvido por Honório de Thebas, o suposto autor do Liber Juratus.
Assim um texto escrito por D’Abano se tornou famoso como sendo a Grande Evocação de Agrippa:
“Dies Mies Jeschet Boenedoesef Douvema Enitemaus”
As seis palavras, que antes surgiam como fórmulas mágicas individuais, agora são uma única frase, ou fórmula. Levi provavelmente a incluiu nesta parte de seu tratado por se tratar de uma fórmula de evocação ao demônio, e a associou ao ritual do sabbat, onde o diabo era supostamente evocado, mas como podemos ver, o objetivo original da fórmula não era chamar O diabo, e sim forçar algum diabo a identificar um malfeitor. Levi provavelmente teve acesso aos dois volumes do Opera omnia de Agrippa e reproduziu de lá a frase. E de lá cai nas mãos de Lovecraft.
Em seu texto sobre o Sabbat Levi esclarece:
“A grande evocação de Agrippa consiste somente nestas palavras: Dies Mies Jeschet Boenedoesef Douvema Enitemaus . Não temos a pretensão de entender o sentido destas palavras que, talvez, não têm nenhum, e ao menos não deve ter nenhum que seja razoável, pois que têm o poder de evocar o diabo, que é a soberana irracionalidade.”
Esta declaração talvez tenha tornado este trecho da obra de Levi irresistível a Lovecraft, pai dos livros que não podiam ser lidos, dos cultos inomináveis e dos nomes impronunciáveis. Giovanni Pico della Mirandola, o cabalista italiano do século XV, era outro que afirmava que  as palavras mais bárbaras e absolutamente ininteligíveis são as que produzem melhores resultados em rituais na magia negra. Até nas Mil e Uma Noites encontramos referências a tal prática, onde uma feiticeira apanha uma porção de água lago com as mãos e sussurra sobre ela “palavras que não podiam ser compreendidas”, e as Mil e Uma Noite foram uma das maiores fontes de inspiração de Lovecraft, tanto quando criança quanto quando adulto.
 
Eis o Professor de Aleister Crowley
O encontro de Darth Vader e Obi Wan Kenobi, no filme Uma Nova Esperança da saga Guerra nas Estrelas, se tornou um clássico do cinema, mas poderia ter sido plagiado da vida de dois outros grandes ocultistas: Samuel Liddell MacGregor Mathers e Aleister Crowley. Mathers, antigo amigo e mestre de Aleister Crowley nas artes mágicas, com o tempo se tornou um vilão para o ex-aprendiz.
Mathers era um Mestre Maçom, um membro da Societas Rosicruciana in Anglia e então em 1888 fundou a Ordem Hermética da Aurora Dourada. Ele também era um poliglota que dominava, entre outras línguas, o inglês, o francês, o latim, o grego, o hebraico, o gaélico e o copta, e dedicou parte da vida a traduzir e publicar antigos livros de magia em inglês, sua língua nativa. Um desses livros foi o grimório conhecido como A Clavícula Maior de Salomão – ou a Chave do Rei Salomão. Mathers aceitava a tradição que dizia que livro havia de fato sido escrito pela Rei Bíblico, mesmo que o manuscrito mais antigo que tenha estudado fosse datado do século XVI. Até a publicação da versão de Mathers o texto da Clavicula se encontrava fragmentado, partes dele circulavam em diferentes países até ser reunido em um único tomo na edição de 1889. No trabalho traduzido e publicado por Mather a evocação Dies Mies Jeschet aparece no capítulo IX do livro I no feitiço para “Como Saber Quem Cometeu o Roubo”, a fórmula aparece ligeiramente diferente e apesar de não haver uma tradução oferecida Mathers oferece, de forma discreta um possível significado:
“DIES MIES YES-CHET BENE DONE FET DONNIMA METEMAUZ; Deus Meu, Que liberou a santa Susanna da falsa acusação do crime”
Este feitiço descreve exatamente o mesmo procedimento do de D’Abano, se utilizando de uma peneira para descobrir quem realizou um roubo. Isso indica que Mathers pode ter tido acesso ou a algum texto de D’Abano ou a algum texto ao qual D’Abano teve acesso.
Curiosamente Lovecraft usa esta fórmula como uma resposta por parte do morto que foi trazido de volta a este mundo graças ao ritual realizado por Ward, ou talvez Lovecraft tenha achado interessante um espírito que volta da morte proferir as palavras usadas em rituais de demonologia antigos que ninguém sabe o significado. Mas historicamente Joseph Curwen e seus associados poderiam ter obtido a fórmula Dies Mies Jeschet tanto da Opera omnia de Agrippa, algum manuscrito que poderia fazer parte da Clavicula de Salomão.
Muito Trabalho, Sem Diversão
Tudo o que Jack Torrance precisou para resolver dar um fim em sua mulher e filho com um machado foi um tempo isolado nas entranhas do Hotel Overlook. De fato a isolação pode perturbar uma mente comum e ordinária, mas ela é ingrediente fundamental para a magia – tanto o isolamento quando a perturbação mental.
A magia é real e nos cerca, mas enxergá-la e lidar com ela é algo trabalhoso. O mago ou feiticeira deve aprender a percebê-la e a trabalhar com ela e para isso deve se distanciar da rotina que o cerca. Da mesma forma que um casal pode buscar lugares que despertem o desejo sexual e a inspiração luxuriante quando desejam novas experiências, o praticante deve buscar ambientes que tornem mais fácil para seus sentidos perceberem os poderes ocultos. Quando o ritual tem a ver com necromancia, o local de isolamento deve evocar sentimentos característicos no mago.
Levi recomenda “um lugar solitário e assombrado, tal como um cemitério freqüentado por maus espíritos, uma ruína temida no campo, os fundos de um convento abandonado, o lugar onde foi cometido um assassinato, um altar druídico ou um antigo templo de ídolos”.  Esta citação tem uma origem judaica, nos livros do antigo testamento que faz um alerta sobre rituais e sacrifícios realizados no alto de montanhas ou nos profundezas da terra.
Ward realizou rituais tanto no porão da casa da família, quanto no bangalô de seu antepassado, na cripta subterrânea. Curwen, antes dele, era conhecido também por vagar em cemitérios, e posteriormente construiu um laboratório subterrâneo em seu bangalô, sua “ruína no campo”.
Yog-Sothotheria: A Cabeça e a Cauda do Dragão
 
beautyful one
Seguindo a agenda de Ward, após a invocação Dies Mies, seguiu-se uma invocação a Yog-Sothoth, quando ele volta a entoar de forma monótona uma nova fórmula, que era percebida como sílabas aparentemente sem sentido:
“Yi-nash-Yog-Sothoth-he-lgeb-fi-throdog”
Sendo seguida por um grito de YAH!, “cuja força desvairada subia num crescendo de arrebentar os tímpanos”.
Esta nova fórmula descrita por Lovecraft não possui origem clássica; ou invés de se utilizar de um ritual tradicional Lovecraft parece ter inventado um ritual próprio dedicado a uma das deidades que apresentou ao público. A invocação a Yog-Sothoth criada por Lovecraft segue um padrão usado não apenas pelo autor, mas também por outros escritores, de se fazer valer da linguagem alienígena, batizada de Aklo, sempre que se tenta evocar, banir ou chamar algum de seus antigos. Essa “pseudo-liguagem” está presente em outros contos, como O Chamado de Cthulhu e o Horror de Dunwich e não possui um significado claro.
O Portão, a Chave e o Guardião
Em o Horror de Dunwich, Lovecraft nos oferece a seguinte descrição deste Antigo:
“Também não é para se pensar (dizia o texto, que Armitage ia traduzindo mentalmente) que o homem é o mais velho ou o último dos mestres da Terra, nem que a massa comum de vida e substância caminha sozinha. Os Antigos foram, os Antigos são e os Antigos serão. Não nos espaços que conhecemos, mas entre eles. Caminham serenos e primitivos, sem dimensões e invisíveis para nós. Yog-Sothoth conhece o portal. Yog-Sothoth é o portal. Yog-Sothoth é a chave e o guardião do portal. Passado, presente e futuro, todos são um em Yog-Sothoth. Ele sabe por onde os Antigos entraram outrora e por onde Eles entrarão de novo. Ele sabe por quais campos da Terra Eles pisaram, onde Eles ainda pisam e por que ninguém pode vê-los quando pisam […] Yog-Sothoth é a chave para o portal, onde as esferas se encontram.”
No conto Através dos Portões da Chave de Prata, Randolph Carter identifica Yog-Sothoth com a origem de todo o universo criado:
“Era um Tudo em Um e Um em Tudo de ser e existir ilimitado – não meramente uma coisa de um continuum de espaço-tempo, mas aliado à essência criadora máxima de toda a existência – aquele último ímpeto sem limites que não possui fronteiras e que transcende tanto a fantasia quanto a matemática. Foi, talvez, isso que certos cultos secretos da terra sussurraram como sendo Yog-Sothoth…”
Podemos dividir os seres do universo Lovecraftiano em alguns grupos. Existem aqueles que podem ser classificados como seres, indivíduos, como o próprio Cthulhu, Nyarlatothep, Shub Niggurath, e outros. Existem também as criaturas “menores” como Bronw Jenkings, shoggoths, o sabujo voador e entidades que fazem parte de uma história maior ou que estão ligadas a outros seres maiores. E existem aqueles que são como forças da natureza, Azathoth e Yog-Sothoth são exemplos desses. Eles cumprem uma função quase cósmica. Enquanto Cthulhu pode ser considerado um líder ou um sacerdote alienígena Yog-Sothoth está além da mera existência, ele não tem um propósito da forma que compreendemos propósitos. Em um primeiro momento Yog-Sothoth parece ser alguém excessivamente poderoso para ser usado apenas com o objetivo de se trazer alguém de volta da morte. Mas dentro da mitologia Lovecraftiana ele também se mostra uma escolha lógica para essa tarefa. Como vemos pela descrição do Horror de Dunwich, Yog-Sothoth é aquele que será usada pelos antigos “mortos”, como Cthulhu por exemplo, para retornarem à vida. Isso nos mostra que nossa compreensão de vida e morte é extremamente limitada, se comparada àquela de criaturas que mesmo mortas sonham, e com a afirmação de que até mesmo a morte um dia pode morrer. Assim, magos como Curwen talvez tenham enxergado uma vantagem em entrarem em contato com algo tão poderoso assim. Podemos acompanhar essa decisão na correspondência trocada por ele com outros magos de seu círculo:
“Mas eu estou disposto a enfrentar tempos difíceis, como lhe disse, e tenho trabalhado muito sobre a maneira de reaver o que perdi. Na noite passada, descobri as palavras que evocam YOGGE-SOTHOTHE e vi pela primeira vez aquele rosto de que fala Ibn Schacabac”.
Em uma carta escrita por Simon Orne encontramos a saudação “Yogg-Sothoth Neblon Zin” e mais adiante em outra escrita por Curwen lemos:
“Evoquei três vezes Yog-Sothoth e no dia seguinte fui atendido.”
Evidentemente o poder de Yog-Sothoth é reconhecido como algo que jamais poderia ser controlado após a primeira morte de Curwen, em uma carta escrita por Ezra Weeden, onde o escritor cita um aviso de Simon Orne enviado anteriormente para Curwen:
“Eu lhe digo novamente, não chame aquilo que você não possa dispensar depois; e com isso me refiro a ninguém que, por sua vez, possa evocar algo contra o senhor, algo contra o qual seus recursos mais poderosos não terão nenhuma eficácia. Busque os menores, para que aqueles que são grandes não respondam mostrando um poder maior do que o seu”.
Este não é o primeiro conto de Lovecraft onde Yog-Sothoth é evocado mas traz uma peculiaridade que não surge em nenhum outro lugar. A evocação usada por Ward, como mais tarde é descoberto por Willett, é uma das duas partes de um feitiço aparentemente maior. As fórmulas descobertas são:
Y’AI ‘NG’NGAH,
YOG-SOTHOTH
H’EE—L’GEB
F’AI THRODOG
UAAAH
OGTHROD AI’F
GEB’L—EE’H
YOG-SOTHOTH
‘NGAH’NG AI’Y
ZHRO
Assim como Willett percebeu, basta uma olhada cuidadosa em ambas as fórmulas para notarmos que uma é o inverso da outra. Se excluimos os dois gritos finais, UAAAH e ZHRO, uma fórmula é exatamente a outra com cada letra escrita de trás para frente, à excessão do nome de Yog-Sothoth. Os gritos finais são uma pista da funcionalidade das fórmulas – indicam o início e o fim, talvez uma aluzão ao A e ao Z do alfabeto, ao “Alfa et Ômega”. Junto com as  fórmulas encontramos dois símbolos:
caput e  cauda
conhecidos respectivamente como a Cabeça do Dragão e a Cauda do Dragão.
Esses dois conceitos estão presentes em três ciências que possuem ligações íntimas: a alquimia, a geomancia e a astrologia.
Quando Lovecraft escreveu o texto, seu personagem lidava com a alquimia, e nela o dragão tem um papel fundamental, como explicou Carl Gustav Jung em seu Psicologia e Alquimia:
“Quando o alquimista fala de Mercúrio ele está falando de duas coisas, superficialmente ele está falando do elemento químico mercúrio, mas de forma mais profunda ele se refere ao espírito criador do mundo que se encontra aprisionado na matéria. O dragão é provavelmente o mais antigo símbolo pictórico na alquimia que temos evidência. Ele surge como o Ouroboros, deverando a própria cauda, no Codex Marcianus, que data do século X ou XI, juntamente com a legenda ‘O Um o Todo’. Vezes sem fim o alquimista reafirma que a obra se origina no um e leve de volta ao um, que é como um círculo tal qual um dragão que devora a própria cauda. Por essa razão a obra já foi chamada de circulare (circular) e rota (roda). O Mercúrio está presente no início e no fim do trabalho: ele é a matéria prima (primeira matéria), o caput corvi, o nigredo; como o dragão ele também se devora, morrendo para então ressurgir no lápis.”
Assim um símbolo draconiano deixa claro o objetivo do trabalho, ou obra, que estava sendo realizado, seria um trabalho lidando com morte e renascimento. Algo que tanto Curwen quanto Ward estavam fazendo.
na geomancia ambos os símbolos tem uma relação oposta. Cauda Draconis está relacionada à má orientação, mau conselho, más companhias, engano, etc., já a Caput Draconis à boa orientação, bom conselho, bons contatos, boa dica. A geomancia é uma arte muito antiga, uma das ferramentas oraculares mais primitivas que se tem notícia. Suas origens remontam à Pérsia antiga, e traz consigo muitas semelhanças com o I-Ching chinês. Algumas pessoas mais exaltadas inclusive apontam para as passagens bíblicas que mostram Jesus escrevendo nas areias antes de responder aos questionamentos de alguns homens que o procuravam como evidências de Jesus ser um geomante. Os 16 símbolos geomânticos possuem hoje uma ligação direta com os planetas e signos da astrologia e com os Planetas da Alquimia.
A escolha dos símbolos atrelados à fórmula de evocação de Yog-Sothoth se mostram curiosos, pois apesar de existirem em tratados alquímicos antigos, como o Últimos Desejos e Testamento de Basil Valentine, publicado em 1671, traz um símbolo semelhante ao Caput Draconis com o significado de Sublimação ou o Medicinisch Chymisch und Alchemistisches Oraculum, publicado em 1755, que traz o símbolo equivalente ao Caput Draconis com o significado de purificação, estão ligados à astrologia a aos nodos lunares. Os dois símbolos usados na obra de Lovecraft se derivam, então, da astrologia.
A Cabeça e a Cauda do Dragão, ou Caput Draconis e Cauda Draconis, são os nomes dos dois nós ou nodos lunares; são pontos imaginários que mostram onde a órbita da lua ao redor da Terra atravessa a órbita que a terra faz ao redor do sol. Essas órbitas coincidem a cada 28 dias, em 2 momentos,como se fossem 2 nós, amarrando aquelas órbitas naquele momento específico.
Na interpretação astrológica, todos os signos têm os seus nós que em algum momento cortam a órbita ascendente e descendente. O nós ascendente é onde a lua atravessa o norte da elipse, o descendente onde cruza o sul, é por isso que as eclipses só podem ocorrer próximos aos nós lunares, os eclipses solares ocorrem apenas quando a lua cruza o nó em sua fase Nova e eclipses lunares quando a lua cruza o nó em sua fase Cheia.
Os nós recebem diferentes nomes em diferentes lugares do mundo. O nó ascendete, também chamado de nó norte, era conhecido na europa antiga como Cabeça do Dragão, ou Anabibazon, e representado pelo símbolo à esquerda. O nó descendente, ou sul, era chamado de Cauda do Dragão, ou  Catabibazon, e representado pelo símbolo da direita – uma inversão do primeiro.
Com a popularização da astrologia e seu distanciamento com a estronimia, esses nós acabaram se relacionando com aspectos ocultos e indicadores do destino das pessoas. A crença é que a Cabeça do Dragão se relacione com o caminho do destino da pessoa, enquanto a Cauda do Dragão se relaciona com o passado da pessoa, ou o Karma que traz consigo.
Não há como apontar uma obra específica que tenha inspirado Lovecraft a usar esses dois signos, mas com certeza ele estava familiarizado com eles de estudos que realizou e de contatos que tinha com entusiastas do assunto, como mostra este trecho de uma carta que escreveu para E. Hoffmann Price em fevereiro de 1933:
“Quanto a astrologia – como sempre fui um devoto da ciência real da astronomia, que tira todo o apoio no qual se baseiam os arranjos celestes irreais e aparentes todas nos quais se derivam todas predições astrológicas, eu desprezo essa arte de forma que não tenho interesse nela – exceto quando refutando suas afirmações pueris. Pelos idos de 1914 eu realizei uma pesada campanha contra um defensor local de astrologia em um de nossos jornais, e em 1926 eu li uma bela quantidade de livros astrológicos (desde então esquecidos em sua maioria) para que pudesses trabalhar como escritor fantasma em uma obra que expusesse de forma irrefutável a falsa ciência, tendo como cliente ninguém menos do que Houdini. Isto resume a soma do meu conhecimento astrológico – já que criar horóscopos nunca foi uma de minhas ambições. Se eu em algum momento me utilizar de qualquer subterfúgio astrológico em algumas de minhas histórias eu com todo o prazer lhe escreverei atrás de detalhes mais realistas”
Com o desenrolar da história a fórmula acaba se revelando não apenas a chave para de evocar o morto, para que possa se manifestar em nosso mundo, mas também a chave para despachá-lo de volta para a morte. Isso se reflete na escrita das duas chamadas, uma sendo o inverso da outra, a primeira cria a obra, a segunda a descria.
Curiosamente, o efeito reverso “Caput Draconis” parece ser muito mais poderoso do que a obra para se trazer o vivo e se recriar seu corpo a partir de seus sais. Qual o possível motivo disso?
E Se Eu Cortasse Seus Braços e Cortasse Suas Pernas?
Outro livro de ocultismo que com certeza fez parte da coleção de Lovecraft foi a Enciclopádia de Ocultismo de Lewis Spence. O artigo sobre necromancia no livro a define como “divinação através dos espíritos dos mortos”. Lovecraft foi muito além disso.
A história nos fala de duas pessoas que foram trazidas de volta: Curwen e Daniel Green.
Daniel Green foi trazido de volta por Curwen e posteriormente escapa de sua fazenda em Pawtuxet. O processo utilizado por Curwen difere em muito daquele descrito no livro de Spence, que escreve:
“Se o fantasma de uma pessoa morta deve ser chamado, a sepultura deve ser procurada à meia-noite e uma forma diferente de conjuração se faz necessária. Ainda outra é o sacramento infernal “todo corpo que já foi enforcado, afogado ou de outra forma liquidado”; e neste caso as conjurações são realizadas sobre o corpo, que finalmente se erguerá e, de pé, responderá com uma fraca voz oca as questões que lhe forem feitas.”
Parte do trabalho de Curwen reflete a necromancia clássica. Ele violou a sepultura de Green, que posteriormente foi encontrada vazia, e tinha o costume de interrogar o morto:
“A natureza das conversas pareciam sempre ser uma espécie de catequismo, como se Curwen estivesse tentando extorquir algum tipo de informação de horrorizados prisioneiros rebeldes […] a maior parte das questões que podia compreender eram de cunho histórico ou científico; ocasionalmente relativas a lugares e eras remotas.”
Mas sua obra não tinha como objetivo apenas prender uma alma a um corpo morto, ele desejava restaurar a vida ao corpo morto. Ao contrário dos processos descritos em outros livros que falam sobre necromancia, como O Livro da Magia Negra de A. E. Waite – que Lovecraft chegou a recomendar a um amigo escritor em uma carta escrita anos depois de ter terminado O Caso de Charles Dexter Ward -, o corpo utilizado por Curwen não precisava ser o de um suicida. O corpo não precisava ser de alguém que havia morrido há pouco tempo. Não necessitava ser revivido no local. O processo envolvia substâncias químicas que podiam ser obtidas de “bons químicos na cidade”
O morto deveria então ser incinerado para que seus sais – ou cinzas – fossem conseguidos antes que a operação tivesse início. A reanimação necessitava de grandes quantidades de sangue fresco, não importando se animal ou humano. Posteriormente quando revivido, Curwen diz para Ward que precisa de sangue humano por três meses – o que deu origem à série de ataques vampíricos.
O corpo revivido aparentemente pode permanecer vivo por longos períodos, mas não é imortal. Daniel Green, assim que foge da fazenda de Curwen é encontrado morto, se pelo frio ou pela falta de novas infusões de sangue não há como dizer. Curwen depois de ressuscitado viveu por mais de um ano.
A chave para esse ligação mais duradoura pode ser a presença de Yog-Sothoth, que é evocado com a fórmula da Cabeça do Dragão depois de longos rituais – Ward passou horas recitando a evocação Per Adonai, a fórmula Dies Mies, além de qualquer outra coisa que possa ter realizado que não foi percebida graças ao desmaio de sua mãe, a única testemunha do ocorrido.
E mesmo assim, o novo corpo recriado pelo trabalho com os sais não é perfeito: Daniel Green apresentava certas “peculiaridades” como um aparelho digestivo que parecia nunca ter sido usado, “enquanto toda a sua pele tinha uma textura grosseira e frouxa impossível de explicar”. Curwen também possuia os tecidos grosseiros e suas funções vitais eram mínimas, mesmo assim ele foi capaz de personificar e então tomar o lugar de seu descendente, Ward.
A necessidade constante de quantidades de sangue e a indicação de que o sistema digestivo dos novos corpos pareciam nunca ter sido usados sugerem que os novos corpos não possuiam um metabolismo próprio e necessitavam ser constantemente “alimentados”. Além da alquimia e do sangue a magia era parte fundamental de sua manutenção. Quando o Dr. Willet acaba se confrontando com Curwen, ele usa a fórmula OGTHROD AI’F, associada à Cauda Draconis, para desfazer o feitiço que mantinha a alma presa ao corpo, fazendo com que ele “morra” imediatamente. Isso indica que apesar de ser necessário muito trabalho e muita energia para se recriar e reviver alguém, apenas um encantamento pode desfazer o trabalho. Outra sugestão é que o corpo permanecesse funcional pela intervenção de Yog-Sothoth, e que a menção da fórmula Cauda Draconis encerra o acordo, Yog-Sothoth encerra seu contato, seja lá qual for, com o corpo e ele morre novamente, isso tornaria o papel de Yog-Sothoth no ritual muito mais importante do que uma mera evocação para liberar uma alma.

por Rev. Obito

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/h-p-lovecraft-charles-dexter-ward-joseph-curwen-e-necromancia/

Falsos Necronomicons

“… o Necronomicon, um texto mágico ultra-secreto publicado em edições encadernadas.”

-William S. Burroughs

Necronomicon é um livro tão controverso que o debate de sua existência deve primeiro ser substituido pelo debate de se ao menos alguma das suas várias versões é ou não real. Virtualmente todo magista do caos acaba escrevendo o seu próprio tomo, mas estas são as principais versões que podem ser encontradas hoje pelo pesquisador sério.

O Necronomicon De Camp – Scithers

O biógrafo de Lovecraft e escritor de ficção científica L. Sprague De Camp narra um conto de intrigas sobre como ele conseguiu contrabandear esse livro, entitulado Al Azif do Iraque conseguindo escapar de vários perigos. Um estudioso que tentou traduzí-lo, ele continua nos contando, terminou espalhado por todas as paredes do seu estúdio. Na verdade o livro publicado pela Owlswick Press consiste meramente de oito páginas contendo textos sírios escritos de desconexa repetidos várias e várias vezes, com os caracteres próximos à margem alterados para ajudar a mascarar a repetição. Como isso obviamente não pode ser levado a sério seria injusto considerar este livro como sendo uma fraude ao invés de uma brincadeira.

O próprio De Camp, em um comentário sobre sua introdução, disse:

“Eu espero que vocês se divirtam com essa introdução – mas eu também sei que vocês não vão levá-la a sério. Eu posso um dia desejar voltar ao Iraque e espero que essa minha brincadeira não crie complicações para a minha visita.”

O Necronomicon de Wilson-Hay-Turner-Langford

Pouco esforço foi necessário para se descobrir que esta versão do Necronomicon era falsa, já que o próprio Colin Wilson adimitiu isso em seu artigo “The Necronomicon, the Origin os a Spoof” (Necronomicon, a origem de um logro), que apareceu em Crypt of Cthulhu e foi republicada em Black Forbidden Things: Cryptical Secrets from the Crypt of Cthulhu, editada por Robert Price. As afirmações de Wilson não podem ser totalmente levadas a sério, pois ele mesmo escreve:

“De fato, qualquer um com a menor noção de latim irá instantaneamente reconhecer o livro como sendo uma fraude, ele recebe o subtítulo de O Livro dos Nomes Mortos (Aqui no Brasil saiu publicado como “Necronomicon, O Livro dos Mortos”, n.t.), quando a palavra Necronomicon significa realmente o livro das leis dos mortos.”

De fato, qualquer um com a menor noção de latim irá instantaneamente reconhecer que o título está escrito em grego.

Wilson descreve como George Hay se aproximou dele com a idéia de que ele escrevesse um aintrodução para uma sátira do necronomicon contendo histórias sobe o livro maldito. Os contos, de acordo com Wilson, eram realmente amedrontadores, todos contando histórias sobre estudiosos que acabam se encontrando com o tomo infernal, estupidamente invocam poderes maiores do que eles poderiam controlar e acabam espalhados pelas paredes. Wilson, então, propôs que eles poderiam tentar criar uma sátira que realmente pudesse passar como sendo o Necronomicon de fato. A idéia foi parcialmente inspirada por um conto escrito por David Langford, no qual uma série de análises feitas por computador provam a existência do Necronomicon, com os mesmos resultados desagradáveis. Na versão final do volume Langford chegou a contribuir com uma parte na qual ele clama que uma análise de computador decifrou o manuscrito Liber Logaeth de Jonh Dee, mostrando que ele não outro senão. RObert Turner, um praticante de magicka cerimonial contribuiu com outra sessão supostamente a tradução do Liber Logaeth. Em sua maior parte o livro é uma coletânea de material de ocultismo, com receitas mágickas típicas se utilizando de alguns nomes existente no Mito de Cthulhu. O próprio Wilson contribuiu para a introdução que nos apresenta uma colcha de retalhos de fatos e fantasia, declarando que o pai de Lovecraft pertencia à Maçonaria Egípcia (uma afirmação completamente sem fundamentos) e que através dela teria aprendido todo o tipo de segredos ocultos, os quais ele mais tarde revelou em sua loucura (real). Existe também uma carta escrita por um ‘Dr. Hinterstoisser’, que foi realmente escrita por Dominic Purcell.

A versão americana também incluia dois ensaios supostamente escritos antes da descoberta da chave para decifrar o manuscrito, e se alguma coisa vale a pena nesta versão do Necronomicon são esses ensaios. Eles são: “Dreams of Dead Names: The Scholarship of Sleep” por Christopher Frayling, que por sinal inclue uma pesquisa detalhada de como Lovecraft inventou Abdul Alhazred e o Necronomicon, e “Lovecraft and Landscape”, por Angela Carter.

No Brasil este livro foi publicado pela editora Anubis, esses ensaios foram deixados de fora e em seu lugar existe um estudo introdutório sobre os grimórios através dos tempos e algumas partes do Grimório do Papa Honório III. Excertos da obra estão disponíveis no portal para consulta.

Além disso existe pouco mais a ser dito a respeito do livro. A introdução de Wilson é interessante para aqueles com um background no assunto que saberiam separar o que é fato do que é invensão. Alguns acham que as informações sobe criptografia contidas na parte escrita por Langford interessante, existem livros inteiros sobre o assunto disponíveis que seriam uma fonte melhor de informação. O material apresentado como sendo de fato o Necronomicon não tem nenhum valor estético. Por exemplo o uso quase constante, mas inconsistente, do uso de ‘ye’ ao invés de ‘the’, na versão em inglês (na versão brasileira é possível ver isso nas imagens, cujos textos ficaram no original com algumas legendas, n.t.), seria aceitável o uso do autêntico ye arcaico. Se ele tem ou não valor para mágicos praticantes eu deixo para eles descobrirem por si mesmos.

O uso do Mito de Cthulhu também é suspeito. O verso místico conhecido de todos aparece várias vezes escrito errado como: “That which is not dead which can eternal lie…” Outras inconsistências com os conceitos de Lovecraft também aparecem: Shub-Niggurath aparece como uma deidade masculina, quando Lovecraft a descreve claramente como sendo feminina. Os Antigos estão relacionados com os quatro elementos, usando um esquema empresatado dos contos de Agust Derleth que não apenas nunca apareceu em um trabalho de Lovecraft como também não tem nenhuma consistência com ele. O trabalho também nos apresenta os dois grupos antagônicos dos Antigos e dos Deuses Mais Antigos, outra inovação de Derleth no mito Lovecraftiano assim como seus contos da guerra entre os Antigos e os Deuses Mais Antigos inpirada por seus princípios cristãos. A verdade simples e pura é que a maioria do material nesta versão do Necronomicon foi inspirada não pelos contos de Lovecraft e sim pelos de Derleth que são bem diferentes, quando não surgem apenas as receitas mágicas.

Algum tempo depois surgiu um suposto Texto de R’lyeh, compilado pelo mesmo grupo, que supostamente seria mais uma parte do manuscrito por eles apresentado anteriormente. É interessante notar que Lovecraft nunca usou o nome R’lyeh Text, que na verdade foi inventado por August Deleth após a morte de Lovecraft e que não tem semelhança nenhuma com o Necronomicon anteriormente apresentado por eles. (Supostamente ele se encontra na língua nativa de Cthulhu e possivelmente foi trazido com ele das estrelas). Em sua maior parte o livro simplesmente é o mais do mesmo, nele está incluso um interessante ensaio “Awake in the Witch-House: On the Trail os the ‘real’ Brown Jenkin”, escrito por Patricia Shore, texto esse que inclui a famigerada e falsa citação da “Magia Negra”. Achamos que no ano de 1992 os conhecimentos de alguém sobre esse assunto deveriam ser muito melhores.

O Necronomicon de Simon

Como este é o Necronomicon que se qualifica como uma fraude completa ao invés de simplesmente uma brincadeira ou um jogo entre amigos, ele vai receber uma olhada mais cautelosa do que os outros. Existem uma série de problemas com este volume, todos indo contra a sua proposta de ser o texto real do Necronomicon.

As afirmações a respeito do suposto manuscrito não convencem. O editor afirma que o original não pode ser entregue a público para qualquer tipo de confirmação ou exame. Mas estudiosos não permitiriam que se utilizassem o manuscrito original de um livro como este; eles trabalhariam a partir de cópias fotográficas dele, cópias estas que com certeza iriam apoiar a autenticidade do livro. De qualquer forma a história contada a respeito da descoberta do manuscrito é muito parecida com um conto ruim de Cthulhu para se acreditar. Além disso eles afirmam que o manuscrito é em grego quando Lovecraft deixa bem claro que a versão grega do texto se perdeu há séculos. Simon diz que uma das partes de seu suposto texto o TEXTO URILLIA “pode ser o texto de R’lyeh do qual Lovecraft falava”. Lovecraft, entretanto, nunca se referiu a um Texto de R’lyeh, que foi inventado por August Derleth após a morte de Lovecraft, e este texto é bem diferente do proposto por Derleth.

É evidente que a maior parte do trabalho é composto de adaptações de textos mágicos e religiosos existentes da Mesopotâmia reais, com alguns nomes inventados por Lovecraft espalhados aqui e ali quando não se conseguiram traduzir o texto original. Simon também joga no caldeirão materiais Sumérios, Assírios, Babilônios e outros sem discriminar o que é o quê, de uma maneira historicamente impossível de acontecer. As partes supostamente representando as línguas orignais usadas em várias encantamentos são aparentemente grunhidos sem sentido.

Simon gostaria que enxergássemos grandes semelhanças entre seu material mesopotâmico, o trabalho de Aleister Crowley e o Mito de Lovecraft, mas não nos aferece nenhuma correspondência entre eles. O pouco que ele tenta defender não convence. Ele gostaria que nós, por exemplo, víssemos grande similaridades entre o nome Cthulhu e a palavra grega stélé (como aparece no trabalho de Crowley Stélé of Revealing), se utilizarmos caracteres gregos para escrevê-la ela lembra um pouco CTH^H. As outras comparações em sua curta lista são comparações entre elementos comuns de magick e figuras de ficção científica ou coisas ainda mais esquisitas. Novamente ele quer que notemos a semelhança entre Shub-Niggurath e o Pan de Crowley (um elemento comum de Magick combinado com um elemento de ficção científica), onde ele se esquece que Shub-Niggurath é fêmea. (Uma combinação que poderia funcionar melhor seria usar Yog-Sothoth se nos baseássemos no nas bases apresentadas para o conto “The Dunwich Horror” por Arthur Machen em seu livro “The Great God Pan”). De novo ele quer que reparemos na semelhança entre a exclamação Lovecraftiana IA! e o IO! de Crowley e a deidade IAO e a deidade suméria IA, que Simon diz ser uma variante do deus EA (apesar disso em seu necronomicon a exclamação usada é a de lovecraft).

Simon também gostaria que nós pudéssemos notar a correspondência entre o Mito de Lovecraft e a mitologia mesopotâmica. Ele nos diz:

“Lovecraft nos mostrava algo semelhante à mitologia cristã e seu combate entre forças opostas entre Luz e Trevas, entre Deus e Satã, no Mito de Cthulhu.”

E novamente:

“Basicamente existem dois grupos de deuses no mito: Os Deuses Mais Antigos, sobre os quais pouco nos é revelado além do fato deles serem uma raça estrelar que ocasionalmente vem até a Terra para salvar a humanidade, e que corresponderiam à ‘Luz’ no cristianismo; e os Antigos, sobre os quais muito é dito, às vezes em muitoas detalhes, que correspondem às ‘forças das trevas’. Esses últimos são Deuses Cruéis que não desejam outra coisa que não o mal para a raça dos Homens e que constantemente tentar voltar para o nosso mundo se utilizando de um portal ou uma porta que liga a dimensão deles à nossa.”

O conhecimento moderno sobre a obra de Lovecraft nos mostra que esta descrição não bate com o trabalho dele (Lovecraft), no qual não existem Deuses mais Antigos nem um conflito cósmico entre o bem e o mal. O termo “Os Mais Antigos” (The Ancient Ones) só é usado em uma história, e nela é explicado de forma clara que eles são moralmente indiferentes à existência do Homem e não que sejam ‘malvados’. De fato esta é uma descrição precisa do Mito de Derleth ou invés do de Lovecraft, isso se levarmos em consideração que atribuir conseitos de bondade e maldade às deidades mesopotâmicas “Os Deuses mais Antigos” e “Os Antigos” é a maior tentativa de sincretisar os dois sistemas, e aparentemente essa tentativa foi feita em vão.

Em se tratando das deidades de forma individual Simon não se sai melhor. Cthulhu surge como sendo KUTULU, um nome que nunca apareceu entes desta publicação. Simon deriva este nome de KUTU, a cidade Kutha, e LU, que significaria homem. O problema é que a forma suméria correta seria LU-KUTU se se fossem fazer uma composição das palavras. De qualquer forma o nome Cthulhu tem origem alienígena e por isso não faz sentido querer procurar sua origem em alguma cultura humana.

Simon deriva Azathoth do nome composto AZAG-THOTH, onde AZAG é um demônio sumério e THOTH é o nome cópitcoda deidade egípcia Tehuti. O porquê dele ter criado essa composição permanece um mistério, assim como o fato dela nunca ter surgido em lugar nenhum antes da sua publicação neste livro.

As outras comparações de deidades são ainda mais fracas: Shub-NIggurath aparece como ISHNIGGARAB, Yog-Sothoth aparece como IAK SAKKAK.

Mesmo quando Simon cita um nome Lovecraftiano sem querer nos dar um nome correspondente ele sempre o soletra de forma diferente transformando Yog-Sothoth em Yog Sothot, Azathoth como Azatot, “o árabe louco” como “O Árabe Louco”, shoggoth como shuggoth, etc…

Pelo menos uma das deidades de grande importância do universo Lovecraftiano não aparece neste trabalho, Nyarlathotep não tem nenhuma correspondência no livro de Simon, assim como outras criações menores de Lovecraft que se seria esperado aparecerem no livro como Yig, Nug e Yeb, Ghatanothoa ou Rhan-Tegoth, em seus lugares sáo citadas inúmeras deidades sumérias que nunca surgiram ou tiveram suas correspondências no trabalho de Lovecraft, entre elas: MARDUK, TIAMAT, PAZUZU, ENKI, NANNA e INANNA (ISHTAR). Também é importante notar que as várias raças alienígenas inventadas por Lovecraft não são citadas em ponto algum do livro equanto várias criaturas sobrenaturais da mesopotâmia são, e com bastante frequência.

Outra afirmação questionável de Simon é a seguinte:

“O Mito de Lovecraft lida com o que são conhecidas como deidades chthônicas [sic], ou seja, deuses e deusas do submundo muito semelhantes ao Leviatã do Antigo Testamento. A pronúncia correta de chthônica é ‘katônica’, o que explica a famosa universidade de Miskatonic e o conhecido rio de Miskatonik que ele usa em várias de suas histórias, isso sem mencionar a deidade chefe [sic] de seu panteão, Cthulhu, um monstro marinho que se encontra “não morto, mas sonhando” nas profundezas do mundo; um Ancião supostamente inimigo da raça humana e da Raça inteligente.”

Existem uma série de problemas com esta afirmação:

  •  A pronúncia correta de Chthônica é ‘tó-nik’, o ch é mudo (em português Chthonic é traduzido como atônico ou atoniano, n.t.).
  •  Monstros marítimos não são considerados chthônicos.
  • O nome de Cthulhu se deriva de uma língua alienígena predatando a raça humanapor eras, ele não pode derivar da palavra chthonic, apesar de existir a possibilidade de Lovecraft ter sido influenciado por essa palavra ao criar o nome. De qualquer forma essa afirmação é conflitante com a proposta do próprio Simon de que o nome seria uma derivação da palavra KUTU+LU, usada em todo o Necronomicon.
  • Cthulhu não é a deidade chefe do suposto panteão de Lovecraft, mas é importante por causa de sua atuação no mito.
  • Cthulhu não é um ‘monstro marinho’ e sim uma criatura extraterrestre ou extradimensional inconsciente e aprisionada no fundo do oceano.
  • Cthulhu nunca foi referido como sendo um ‘Ancião’, apesar de ser associado com um grupo conhecido como os Antigos.
  • Cthulhu não é exatamente um inimigo da raça humana, ela simplesmente está no seu caminho. Isto é o mesmo que dizer que um humano é inimigo dos cupins porque ele exterminou aqueles que infestavam sua casa.
  • Não se sabe o que exatamente ele quis dizer com a ‘Raça inteligente’, essa raça nunca apareceu em conto nenhum de Lovecraft.

Muitos leitores parecem achar que a sessão do livro intitulada como “O testemunho do Árabe Louco” se encaixa muito bem na ficção de Lovecraft. Muitos dizem que o livro funciona maravilhosamente em práticas mágickas, sem importar se o livro é uma fraude ou não, mas isso é bem consistente com as teorias de Magick modernas.

Além da edição brochura barata, o Necronomicon de Simon foi lançado em uma cara edição encadernada com couro com uma tiragem de 666 cópias, seguida por outra tiragem de 3.333 cópias.

Existe também um Livro de Feitiços do Necronomicon de Simon (originalmente entitulado The Necronomicon Report), que não passa de um livro dedicado aos feitiços que aparecem no capítulo “O Livro dos Cinquenta Nomes”. Outro volume entitulado The Gates of Necronomicon (Os Portões do Necronomicon) foi anunciado como lançamento futuro pela editora, mas aparentemente o projeto nunca foi levado a diante. A editora americana Avon Books recentemente relançou o livro Os Feitiços do Necronomicon.

Existem vários rumores sobre a real identidade de “Simon”. Um deles diz que ele seria na verdade Herman Slater, o proprietário da livraria Magickal Childe em Nova Iorque, que por sinal recebe algumas menções no livro. Outro desses rumores afirma que ele era um mago precisando de dinheiro e que subsequentemente fez fama no rama da Magia Caótica. Outros rumores mais improváveis dizem que os reais responsáveis pelo Necronomicon de Simon poderiam ter sido um dos seguintes: L. Sprague De Camp, Colin Wilson, L. Ron Hubbard, Robert Anton Wilson, Timothy Leary ou Sandy Pearlman (o escritor das letras inspiradas por Lovecraft da banda Blue Öyster Cult).

O Necronomicon de Gregorius

Publicado na Alemanha em alemão entitulado como Das Necronomicon: Nach den Aufzeichnungen von Gregor A. Gregorius (O Necronomicon: Da Trancrição de Gregor A. Gregorius). Esta é simplesmente uma tradução do Necronomicon de Simon. O volume inclui também uma versão alemã de um autêntico grimório medieval entitulado Goetia ou Lesser Keys of King Solomon.

O Necronomicon de Quine

A suposta tradução do Necronomicon feita por Antonius Quine parecer ser tão falsa que ela sequer existe.

Entretanto se você tiver alguma informação a respeito não se sinta acanhado: atendimento@mortesubita.org

O Necronomicon de Ripel

Publicado por Frank G. Ripel, cabeça da Ordo Rosae Mysticae (Ordem da Rosa Mística), na Itália, 1987-1988, como parte da Trilogia Sabaean. Ela inclui um livro chamado Sauthenerom, de origens egipcias e um texto do Necronomicon, que supostamente teria 4000 anos de idade e que teria sido plagiarizado por Abdul Alhazred.

O Necronomicon de Perez-Vigo

Recentemente publicado na Espanha, esta versão publicada por Fernando Perez-Vigo inclui um Tarô Necronômico juntamente com um texto derivado dos necronomicons de Ripel e de Wilson-Hay-Turner-Langford.

O Necronomicon de Lin Carter

“Se o Necronomicon realmente existisse ele seria uma pequena encadernação com um prefácio escrito por Lin Carter.”
T.E.D. Klein

Lin Carter escreveu vários contos curtos que supostamente seriam capítulos da tradução do Necronomicon feitas por John Dee. Elas relatam várias aventuras de Abdul Alhazred. Obviamente e explicitamente declaradas como sendo fictícias, esta versão está inclusa aqui simplesmente para deixar este trabalho o mais completo possível.

A versão de Lin Carter está inclusa em um volume disponibilizado pela Chaosium, editada por Robert M. Price e entitulado The Necronomicon: Selected Stories and Essays Concerning the Blasphemous Tome os the Mad Arab, contendo uma série de trabalhos interessantes.

O Necronomicon de H.R. Giger

O surrealista suiço H.R. Giger usou o título Necronomicon para uma compilação de sua arte necroerótica. Obviamente este trabalho não clama ser o Necronomicon autêntico, mas foi incluído aqui não somente para tornar a pesquisa o mais completa possível como também como forma de elogiar seu fantástico trabalho. Giger também produziu uma sequência a seu trabalho entitulado Necronomicon II.

The Necronomicon Project

Este é um trabalho em conjunto para criar um Necronomicon falso na internet. Não existe nenhuma tentativa de se provar que os resultados deste trabalho sejam o real Necronomicon. Confira aqui o resultado.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/falsos-necronomicons/

Aleister Crowley: o Homem Mais Perverso do Mundo

Por Mike Karn

Revista The Square, volume 43, n° 2, junho 2017, páginas 32-34.

Aleister Crowley é considerado uma das figuras mais notáveis e sinistras do século passado. Ele foi um renomado estudioso que usou seu incrível intelecto para se tornar um especialista e praticante do ocultismo e da magia negra. Tão grande era o seu domínio que, para muitas pessoas, ele se transformou na personificação absoluta do mal. Seus ritos, orgias e cerimônias profanas chocaram até mesmo os mais cínicos e despertaram curiosidade, fúria e ódio nas outras pessoas.

​Ele sempre insistiu que seu nome fosse pronunciado como “Crow-ly” – muitas vezes acrescentando, com um sorriso malicioso: “para rimar como holy [sagrado]!”. No entanto, provavelmente é difícil, para quem desconhece a reputação de Crowley, imaginar a controvérsia que seu nome incitou no público em geral – e o ódio e medo que sentiram.

​Crowley nasceu no auge da era vitoriana, em 1875, em Leamington, Warwickshire, Inglaterra. Proveniente de uma família próspera adepta da seita dos Irmãos de Plymouth, ele foi devidamente batizado como Edward Alexander Crowley. Foi criado para acreditar que Deus era todo-poderoso e que o livre-arbítrio não era uma opção. Seu pai, Edward, era de uma rica família quaker, e ele e sua esposa, Emily, eram fanáticos religiosos que se juntaram aos Irmãos de Plymouth na fundação da seita.

​Para Crowley, o Cristianismo assumiu proporções extremas e se tornou o inimigo. Em seu tormento, ele procurava ajuda e conforto em outras fontes – essa direção por fim levava ao inimigo natural: o demônio. Ele se rebelou totalmente contra a religião de sua família e posteriormente mudou seu nome para Aleister, para não partilhar do mesmo nome de seu pai, Edward.

​Crowley teve uma infância muito infeliz. Seu pai viajava pelo país pregando, enquanto sua mãe rezava, lamentava e atormentava o filho. O pior ainda estava por vir: seu pai faleceu quando ele tinha 11 anos de idade, e sua guarda foi concedida à mãe de seu irmão, que o tratava com crueldade. Isso só foi ultrapassado por um mestre sádico de uma escola dos Irmãos Plymouth, à qual foi confiado.

​Portanto, quando criança, Crowley rezou para o demônio em segredo, para se manter protegido de sua mãe, de seu tio, do mestre e dos garotos que o maltratavam na escola. Seus sentimentos em relação ao Cristianismo e à sua família eram de puro ódio, e ele não foi criado como uma criança normal. No início de sua adolescência, como seu comportamento comum era não aceitar a doutrina dos Irmãos Plymouth, a mãe de Crowley o amaldiçoou e passou a chamá-lo de “a besta”, cujo número era 666, conforme o Livro do Apocalipse no Novo Testamento da Bíblia. Em vez de ficar ofendido com isso, ele adotou o nome e agiu como se não houvesse mais nada a fazer a não ser aceitá-lo.

Crowley frequentou a Malvern College como uma criança oprimida e mentalmente perturbada. Uma escola pública não era lugar para um garoto tão tímido e estranho, e ele sofria agressões físicas e psicológicas, a ponto de ser retirado da escola e transferido para a Tonbridge School. Mas então houve uma transformação nele. Crowley tinha crescido e se tornou forte física e mentalmente. Ele passou por uma mudança completa, como se algo tivesse sido despertado dentro dele. Deixando de lado toda a sua insegurança, superou os intimidadores e se transformou em um deles.

Nessa época, ele começou a praticar alpinismo. O cabo de Beachy Head e as montanhas galesas foram os cenários de suas primeiras expedições, mas então ele começou a escalar penhascos que ninguém jamais havia ousado, e realmente obteve muitas experiências na escalada.

Em 1895, aos 20 anos de idade e denominando-se Aleister, foi para a Trinity College, em Cambridge, como graduando do curso de ciência moral. Ele também escreveu, estudou poesia e continuou a praticar alpinismo. Crowley era considerado um jovem com um futuro promissor, mas enveredou pelo ocultismo e por todas as formas de imoralidade. Ele vivia como um aristocrata privilegiado e mantinha uma vida sexual vigorosa, conduzida com prostitutas e mulheres que ele escolhia nos bares locais, mas isso posteriormente se estendeu a atividades homossexuais. Ele também começou a publicar poesia explicitamente sexual.

Quando frequentava a Trinity College, conheceu Allan Bennett. Os dois se interessaram pelo ocultismo e começaram a experimentar rituais mágicos. Ao que tudo indica, eles obtiveram resultados impressionantes, incluindo a manifestação de uma hoste de seres sobrenaturais e de atividades de espíritos.

Em 1898, Crowley e Bennett se juntaram à Ordem Hermética da Aurora Dourada (Golden Dawn) em Londres, que praticava magia ritualística, alquimia, astrologia, tarô e outras ciências ocultas. A ordem foi fundada em 1887 por três membros da Maçonaria: Samuel MacGregor Mathers, William Robert Woodman e dr. William Wynn Westcott. Todos eles também foram membros da Sociedade Rosacruciana.

A Golden Dawn afirma que sua origem remonta de documentos codificados na posse de Wynn Westcott, segundo os quais o grupo era uma ramificação da Ordem Rosacruz alemã. Eles conceberam cinco rituais nos moldes maçônicos, que foram expandidos por Mathers. Sua influência no desenvolvimento do ocultismo moderno ocidental foi profundo, e muitos grupos afirmam serem originados da Golden Dawn.

Um ano depois, um fundo em depósito que foi estabelecido após a morte de seu pai lhe foi liberado. Crowley se tornou um homem rico, sem ter que depender mais de sua família. Ele abandonou a universidade sem concluir o curso, adquiriu um apartamento em Londres e começou a se dedicar a seus estudos ocultistas. Crowley tinha uma aptidão natural para a magia e logo fez avanços, tornando-se um mago poderoso, assim como seu amigo Allan Bennett.

Crowley não apenas se aprofundou no ocultismo, mas também foi promovido rapidamente pelos graus da Golden Dawn. Em 1889, ele completou os estudos necessários para obter o grau de Adeptus Minor. Entretanto, por causa de suas atitudes e de seu comportamento homossexual, o líderes em Londres o consideraram inadequado para avançar na Segunda Ordem. Então, Crowley foi para a França, onde o líder da Golden Dawn em Paris, MacGregor Mathers, o iniciou na Segunda Ordem.

Posteriormente, em 1900, a Golden Dawn foi fragmentada. Mathers, em uma tentativa de se unir à Loja londrina e se tornar um líder incontestável da ordem, mandou Crowley para a Inglaterra como seu “enviado especial”. Crowley fez uma tentativa frustrada de obter novamente o controle das propriedades da ordem em nome de Mathers. Ele surgiu em uma reunião ritualística vestido de maneira excêntrica com traje escocês completo e um capuz preto. Pouco tempo depois, Mathers e Crowley foram expulsos da ordem.

Crowley era maçom. Registros apontam que ele foi para a França em 1903, onde foi iniciado na Maçonaria na Loja Anglo-Saxônica nº 343, em Paris. Essa era uma Loja principalmente para expatriados e para aqueles que não podiam se afiliar à Maçonaria na Inglaterra por causa dos altos padrões da Grande Loja Unida da Inglaterra (GLUI).

Crowley afirmou ter sido recomendado por um Past Grão-Capelão Provinciano de Oxfordshire. No entanto, não existem evidências documentadas disso, e Crowley certamente nunca foi iniciado na Maçonaria inglesa. Posteriormente, ele continuou tentando ser admitido em reuniões de Lojas em Londres, mas frequentemente era recusado, pois pertencia a uma Ordem Maçônica ilegítima.

Em seu livro The Confessions of Aleister Crowley, uma auto-hagiografia, Crowley se explica:

Eu mencionei ter obtido o 33° na Cidade do México. Isso não acrescenta muita importância ao meu conhecimento dos mistérios, mas ouvi falar que a Maçonaria era uma irmandade universal e esperava ser recebido em todo o mundo por todos os Irmãos. Fui surpreendido com um considerável choque nos meses seguintes, quando, tendo a chance de discutir o assunto com um apostador arruinado ou agente de apostas – não me lembro exatamente –, descobri que ele não me “reconhecia”! Havia uma diferença simples em um dos apertos de mão ou alguma outra formalidade totalmente sem sentido. Demonstrei um desprezo imenso por todo o ritual. Eu fui admitido ao ser iniciado na Loja Anglo-Saxônica nº 343, em Paris.

Retornei à Inglaterra um tempo depois, após passar meu posto na minha Loja, e, esperando me juntar ao Arco Real, dirigi-me a seu venerável Secretário. Apresentei minhas credenciais. “Ó Grande Arquiteto do Universo”, o velho homem irrompeu de raiva, “por que não queimais este impostor no fogo dos céus? Senhor, vá embora. Você não é um maçom!”.

Pensei que isso seria um pouco difícil de meu Reverendo Pai em Deus, o criador, e percebi que, obviamente, todos os ingleses e norte-americanos que visitam uma Loja na França correm o risco de expulsão ou detenção instantânea e irrevogável. Então, eu não disse nada, mas fui para outra sala no Freemasons’ Hall sem seu conhecimento, e tomei meu lugar como um Past Master em uma das Lojas mais antigas e importantes de Londres.

Em 1905, Crowley voltou a se dedicar ao alpinismo e tentou conquistar o Kangchenjunga, no Nepal, a terceira montanha mais alta no mundo. Houve grande controvérsia durante a tentativa frustrada, e Crowley foi acusado de crueldade por agredir seus carregadores e deixar outro homem morrer na montanha. Era evidente que ele não conseguia tolerar qualquer tipo de fraqueza nas outras pessoas, mas essa viagem acrescentou muitas outras histórias terríveis à sua reputação crescente como um homem perverso.

Em 1906, Crowley fez uma viagem com sua esposa e sua filha para a China e depois para o Vietnã, onde as abandonou. A criança faleceu posteriormente, e sua esposa recorreu ao consumo de álcool para aliviar a dor, chegando à loucura. Tempos depois, Crowley a internou em um sanatório, e eles por fim se divorciaram em 1909.

Em 1910, Crowley conheceu John Yarker. Yarker era maçom, costumava escrever sobre assuntos relacionados à Maçonaria e era membro da Loja Quatuor Coronati. Em 1871, ele esteve envolvido com a fundação de um Grande Conselho do Rito Antigo e Primitivo em Manchester, uma ordem que se separou da GLUI e criou uma conexão com o Rito Antigo e Aceito e com outros ritos egípcios. Isso não era considerado comum pela maioria das Grandes Lojas. Crowley se juntou à ordem, da qual mais tarde se tornou Grão-Administrador Geral e também Mestre Patriarca Geral.

Em 1913, Crowley visitou o Secretário da Loja Quatuor Coronati e o Grande Secretário do Freemasons’ Hall, buscando uma forma de se juntar à Loja inglesa. Ele então escreveu à Grande Loja solicitando seu direito de se juntar a Lojas inglesas e participar delas, baseado em sua associação à Loja francesa. Seu pedido foi negado, devido à irregularidade de sua Loja-Mãe. A Grande Loja não identificou Crowley como um membro da Maçonaria. Todas as suas afiliações estavam ligadas a órgãos irregulares, portanto lhe negaram reconhecimento.

Crowley estava escalando montanhas na Suíça quando a Primeira Guerra Mundial irrompeu e ele retornou para a Inglaterra. Estava impossibilitado de se juntar às forças armadas por causa de sua saúde debilitada, mas ofereceu seus serviços: sua escrita e sua inteligência. Supostamente, sua oferta foi rejeitada com desprezo pelo Serviço de Inteligência Britânico, e, para um homem como Crowley, isso resultou em seu ressentimento e apoio subsequente à Alemanha. Ele foi para os Estados Unidos, onde escreveu e publicou propaganda antibritânica, o que o tornou um traidor e desertor na Inglaterra.

Nos Estados Unidos, ele estudou com ocultistas norte-americanos, começou a pintar e escreveu muitos livros. Em 1919, enquanto vivia em Greenwich Village, conheceu Leah Hirsig, e os dois sentiram uma conexão imediata e instintiva. Em 1920, eles foram para a Sicília e criaram um templo em uma antiga fazenda. Eles tiveram uma filha e, sob a influência de ópio e cocaína, fundaram um novo culto religioso chamado Thelema. Com Crowley considerando-se um profeta da nova era, a famosa Abadia de Thelema foi fundada. Thelema era uma religião, e sua lei era: “Faze o que tu queres”. Rapidamente, circularam histórias sobre depravação. O povo italiano se ressentiu das atividades diabólicas de Crowley, e Benito Mussolini, o ditador italiano, determinou que ele fosse deportado. Como sempre, Crowley não negou as acusações feitas contra ele.

Crowley também foi membro da Ordo Templi Orientis (O.T.O.) e, em 1925, por fim assumiu liderança e revisou os ritos, estabelecendo rituais da ordem nos mesmos moldes da Maçonaria. A O.T.O. é uma sociedade secreta e, ao longo dos anos, ressurgiu diversas vezes. Atualmente, está em atividade em 25 países, com uma afiliação crescente de mais de 4 mil membros. Segundo consta, todos os homens e mulheres livres, com maioridade completa e bons precedentes, têm o direito de serem iniciados nos primeiros três graus dessa ordem.

Muitos livros ocultos foram escritos por Crowley, os quais, apesar de terem sido escritos com discernimento, são muitas vezes difíceis de serem acompanhados. Um deles é o sagrado Livro da Lei, que tem como princípio fundamental: “Faze o que tu queres há de ser o todo da lei”, que significa que todo homem e toda mulher deverão encontrar sua verdadeira vontade, seu propósito e seu sentido de vida, seguindo isso e nada mais. Dois de seus romances, The Diary of a Drug Fiend (1922) e Moonchild (1929), foram parcialmente baseados em sua vida pessoal e em suas alucinações egomaníacas. Acredita-se que Crowley tenha realizado muitas tentativas sem sucesso, com diferentes mulheres, de procriar uma “criança mágica”. Ele escreveu sobre essas tentativas em forma de ficção no livro Moonchild.

Crowley sempre atraiu um pequeno grupo de seguidores nos Estados Unidos e na Alemanha, talvez não mais de algumas centenas de pessoas por vez, e, por quatro anos, perambulou pela Alemanha e por Portugal, sendo financiado por seus seguidores fiéis. Ao retornar para a Inglaterra, em 1935, foi à falência após perder um processo judicial contra um jornal que o teria chamado de mago negro. A evidência contra ele era devastadora – e é de se imaginar que o caso só tenha sido levado à corte por mera publicidade!

Durante os anos seguintes, Crowley parou de viajar e permaneceu na Inglaterra, onde escreveu muitos outros livros. Ele passou seus últimos anos sozinho em uma pensão em Hastings, como um homem velho e debilitado, mal sobrevivendo por seu vício em heroína. Seu ato final foi amaldiçoar o médico que se negou a prescrever a quantidade de heroína que ele queria. Crowley morreu em 1º de dezembro de 1947, aos 72 anos de idade, e foi cremado em Brighton. Suas cinzas foram enviadas a seus seguidores nos Estados Unidos. O médico que ele amaldiçoou teria morrido em menos de 24 horas depois.

Sem arrependimentos e sem se curvar, ele partiu deste mundo com um desprezo final pela sociedade. Crowley havia preparado seu próprio funeral e, em vez do serviço religioso comum, criou seu último ritual com suas obras. Amigos leram Hymn to Pan e Collects and Anthems, de Gnostic Mass. Passagens selecionadas do Livro da Lei também foram lidas. Houve tantas reclamações por parte do público a respeito do serviço funerário que o Conselho de Brighton decidiu tomar providências para prevenir que um incidente como esse nunca mais acontecesse.

Provavelmente, Crowley foi o mago mais famoso de sua época, tornando-se ainda mais influente após sua morte do que quando estava vivo. Ele foi muitas vezes odiado em vida, mas certamente causou influência e impacto no desenvolvimento da nova era do ocultismo moderno. Seu conhecimento sobre magia e bruxaria era certamente profundo, e ele transmitiu esse conhecimento por meio de seus diversos livros. Na sociedade liberal dos dias de hoje, seus livros estão sendo procurados e reimpressos, e algumas pessoas parecem apreciar seu estranho intelecto. Sua impiedade persistente era um traço de sua personalidade e influenciou homens e mulheres, mas Crowley deixou para traz um rastro de devastação em se tratando das mulheres e dos homens em sua vida. Alcoolismo, vício em drogas, insanidade e suicídio surgiram em seu caminho. Portanto, Crowley era um mago negro perverso? Provavelmente sim, mas tão importante quanto isso era o fato de ele querer que todo mundo acreditasse nisso.

Há uma reviravolta na história, pois, quando Crowley morreu, foi encontrada uma carta da Inteligência Naval Britânica endereçada a ele, requerendo o prazer de sua companhia em uma recepção. A história então revelada é a de que ele teria sido recrutado pela Inteligência Britânica durante a Segunda Guerra Mundial, quando queriam explorar as informações de que nazistas de alto posto estavam envolvidos com astrologia e ocultismo. Agente britânico por muito tempo, Ian Fleming (que escreveu os romances de James Bond) disse que Crowley foi recrutado pela primeira vez para a investigação de Rudolf Hess. Fleming também revelou que foi Crowley quem sugeriu o símbolo de “V” de vitória usado por Churchill – o símbolo com os dois dedos sendo o oposto direto e destrutivo do símbolo solar da suástica.

Atualmente, poucas pessoas irão refutar a ideia de que Crowley teria sido um agente britânico durante a Primeira Guerra Mundial, trabalhando nos Estados Unidos e ajudando na campanha de desinformação, em vez de ter sido um traidor, como se acreditava.

Crowley foi chamado de “o homem mais perverso do mundo”. No entanto, talvez hoje em dia ele não fosse considerado assim. Ele possivelmente seria tratado como um excêntrico, com poucas pessoas se incomodando com seu comportamento – o que não seria de forma alguma apropriado para ele.

#Thelema

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/aleister-crowley-o-homem-mais-perverso-do-mundo

A’ano’nin (Túneis de Set)

Por Kenneth Grant, O Lado Noturno do Éden.

 

O 26º Túnel está sob a égide de A’ano’nin, cujo número é 237. Seu nome deve ser pronunciado num tom áspero e gritante na clave de ‘A’. Seu sigilo deve ser pintado em negro dentro de um pentagrama de cor índigo e invertido.

 

Seu túnel passa por baixo do 26º caminho que transmite o 16º kala na série de kalas microcósmicos começando com o 11º caminho. Deveria ser lembrado neste ponto que as zonas de poder Cósmico ou Aeônico constituem as dez sephiroth, não sendo Daäth um kala no sentido estrito do termo porém um portal de Ingresso e Regresso de Aiwass (78) via Kether.667 As zonas de poder microcósmicas ou sexuais são os 22 Caminhos que, junto com as 10 zonas de poder Aeônico ou macrocósmico, perfazem 32 no total.

 

Os 22 Caminhos são reflexos na consciência humana das zonas de poder da consciência cósmica. Os aeons podem também ser considerados em relação aos centros cerebrais no homem, e os kalas em relação aos centros sexuais.668 O mecanismo psicossexual dos 16 kalas na humanidade (8 na mulher; 8 no homem) é refletido dos centros aeônicos ou zonas de poder cósmico dentro do fluido cérebro-espinhal e do sistema endócrino. O 16º  kala, em um sentido macrocósmico, é igualado ao Caminho 16, o Caminho da Har ou Criança (Horus). Ele é nascido da Deusa 15, representada no Caminho 15 como A Estrela cujo emblema místico é o décimo-primeiro signo zodiacal, Aquário. Este simbolismo foi explicado em Aleister Crowley e o Deus Oculto, ao qual o leitor é convidado a examinar.

 

O reflexo de Hórus no 16º kala microcósmico, que é numerado como 26, é O Diabo, ou Duplo, de Hórus, i.e. Set. Uma perfeita fusão ou equilíbrio de forças nos macro e micro cosmos é então obtida neste 26º kala, que é regido pelas energias de Capricórnio. O Bode é o astro- glifo da Mulher Escarlate cujo OLHO (Ayin) é atribuído a este caminho via o simbolismo do Atu XV, O Diabo. Este ain, ou olho, alcança sua mais completa extensão no nome da Sentinela deste túnel, i.e. A’ano’nin. Seu número é 237 que é também aquele de Ur-He-Ka, o Poder Mágico(k) da Deusa ShPhChH (Sefekh), 393.669 237 é também o número de IERAOMI, ‘ser um sacerdote ou sacerdotisa’, o que confirma a natureza sagrada deste número.

 

O sigilo de A’ano’nin mostra o Ur-heka encimado pela cabeça do sacerdote e cercado pelas letras BKRN, que somam em 272. Este é o número de Aroa, ‘Terra’, e de Bor, ‘consumir’, ‘ser bestial’, ‘bruto’, etc. Ele é também o número de Orb, significando ‘a noite’, ou um Arab, i.e. uma pessoa vivendo no Oeste. O Oeste é o local de Babalon. Seu totem, o bode, é o glifo da terra no oeste como o local do sol poente. Obr, uma metátese de Orb denota ‘lágrimas’, ‘gotejamento de mirra’, da palavra egípcia abr, ‘ambrosia’, ‘unguento’, e de aft, significando ‘transpirando’, ‘destilando’.

 

Os poderes mágicos do Caminho 26 se relacionam ao Sabá das Feiticeiras e ao Olho Mau e este kala é aquele que é destilado pelo rito do XIo, pois o Olho Mau é o Olho da Noite (i.e. a lua), e a unção, o ungüento, ou gotejamento de mirra é o Vinum Sabbati preparado no por do sol no caldeirão da Mulher Escarlate. Capricórnio é a Chama Secreta sobre a qual ferve o caldeirão, portanto sua conexão com Vesta, que, junto com as divindades Khem, Set, Pan, e Príapo, é atribuída ao Caminho 26.

 

A doença típica deste kala é o priapismo, e os animais sagrados à ele são a ostra, o bode, e o asno. O último é o totem específico da mulher e das qliphoth associadas à Lua de Yesod, o Gamaliel ou ‘Asno Obsceno’.

 

O túnel de A’ano’nin é povoado por sátiros, faunos, e demônios do pânico, e a Ordem de Qliphoth associada à ele é a dos Dagdagiron, significando ‘os Fishy’ (‘piscosos’- relativo à peixe), o que denota a natureza feminina. A Arma Mágica correspondente é a Força Secreta representada pela lâmpada, que é uma alusão ao olho oculto dentre as nádegas do bode.

 

A atribuição do Tarô a este Caminho 26 é o Trunfo intitulado O Diabo, O Senhor dos Portões da Matéria; pois a corrente lunar é o mênstruo de reificação que ferve dentro do Cálice de Babalon. Ela é a noiva de Choronzon pois ele é em verdade Senhor dos Portões da Matéria.

 

Segundo o Liber CCXXXI:

 

O Senhor Khem surgiu, Ele que é santo entre os mais elevados, e posicionou seu bastão coroado para redimir o universo.

 

Isto significa que Set ou Pan ergue o falo para redimir o universo, de cuja redenção a fórmula técnica está resumida no XIo O.T.O. O Diamante Negro é o símbolo secreto deste operação que envolve os poderes totais da geração, pois o diamante brilha na escuridão da matéria como o Olho de Set.

 

O panteão africano é representado neste túnel por Legba, o fetiche da ‘vara nodosa’, i.e. o falo. Ele é algumas vezes conhecido como Echu, o ‘rejeitado’; rejeitado, isto é, pelo não iniciado que é incapaz de compreender o valor da Primeira Matéria e sua relação com os aspectos mais sutis da consciência. Primeira Matéria, neste contexto, é uma alusão àquele fluido excremental que forma parte do Vinum Sabbati. Isto é destilado no Banquete de Legba que é conhecido como Odun, e que é indubitavelmente o precursor do Sabá das Feiticeiras. Odun quer dizer ‘o ano’ e significa um ciclo de tempo completo, portanto conectando o simbolismo ao ciclo periódico da mulher. A referência é à serpente lunar que confere riqueza perpétua, então sua associação com o Diabo e Poder Material.

 

Como é importante fazer uma distinção entre a magia do XIo tal como praticada pelos membros contemporâneos da O.T.O., e a interpretação daquele grau fornecida por Crowley em seus Diário Mágico,670 eu me sinto justificado em citar a seguinte passagem de Aleister Crowley e o Deus Oculto com relação ao simbolismo deste túnel:

 

Este simbolismo revela a fórmula do XIo O.T.O., que é o rito reverso e complementar do IXo. Ele não envolve o uso sodomítico do sexo, como Crowley supunha, porém o uso da Corrente lunar como indicado em seu Diário Mágico pela frase El.Rub. (Elixir Rubeus).

 

Os antigos Mistérios Draconianos de Khem sobre os quais o Culto de Shaitan-Aiwass está por fim baseado são silentes a respeito de qualquer fórmula sodomítica exceto como uma perversão da prática mágica. Naquela Tradição – a mais antiga do mundo – Horus e Set representavam originalmente Norte e Sul; o calor de Set era simbolizado pelo poder escurecedor ou enrubescente do sol no sul, também por Sothis a estrela que anunciava a inundação periódica do Nilo, interpretada místicamente como um fenômeno dos Mistérios Femininos. A lama vermelha, a inundação, o Horus ‘cego’, o Osíris atado em faixas, o sol choroso ou eclipsado, todos eram igualmente simbólicos do ciclo periódico da natureza feminina. Set, como o assento, não simbolizava o fundamento literal, mas a fundação no sentido lunar e Yesódico do fluxo fisiológico que é a base verdadeira de manifestação e estabilidade. Similarmente, o simbolismo regressivo da paródia medieval destes antigos Mistérios, com seu assim chamado Sabá das feiticeiras e os obscaenum, era uma referência ainda legível à fórmula lunar. A interpretação errônea destes Mistérios em termos anais é, para o Iniciado, tanto uma perversão de doutrina (e, como tal, uma blasfêmia sacramental) quanto é a recitação do Pai Nosso de trás para frente e a violação dos sacramentos para o cristão ortodoxo.671

 

667 Existem 78 chaves ou chamadas no Livro de Thoth e todas elas tem uma posição na Árvore da Vida. 78 é um número de Aiwass, a Inteligência extra-terrestre que comunicou a Crowley a Lei do presente Aeon de Horus. Ele é também o número de Mezla, a influência do alto, ou do além. Note que 26 (o número deste túnel) vezes 3 (o número de Saturno ou Set) é igual a 78. Note também que o Atu XVI é entitulado A Torre ou Fortaleza de Deus. Compare com os ‘onze templos dos Yezidi’ com o ‘Aeon de onze torres’ mencionados por Crowley em O Trabalho Cephaloedium. Vide Mezla (editado [por]Ayers e Siebert), Nos. 5 e 6, onde este Trabalho está publicado.

 

668 Vide Cultos da Sombra, capítulos 1 e 2, para uma explicação sobre estes assuntos.

 

669 Vide notas na página 166, supra.

 

670 Vide O Diário Mágico da Besta 666 (Ed. Symonds e Grant), 1972.

 

671 Aleister Crowley e o Deus Oculto, págs.109-10.

 

***

 

Texto adaptado, revisado e editado por Ícaro Aron Soares.

 

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/aanonin-tuneis-de-set/

Demônios da Carne: O Guia Completo para a Magia Sexual do Caminho da Mão Esquerda

Por Nikolas & Zeena Schreck.

Introdução 

Para a Ordem de Babalon, a Ordem de Sekhmet e seus aliados. Dedicado às memórias do Barão Julius Evola, que começou o trabalho de despertar o caminho da mão esquerda no Ocidente, e Cameron, que serviu como avatar para a força Shakti adormecida do Ocidente. Nossos agradecimentos às muitas pessoas que nos ajudaram durante as fases de pesquisa e preparação deste livro, incluindo DM Saraswati, Janet Saunders, Ananda Parikh, Kevin Rockhill, Brian G. Lopez, Michael A. Putman, Curtis Harrington, Kevin Fordham, Nancy Hayes, Lorand Bruhacs, Forrest J Ackerman, Peter-R. Koenig, Dr. Stephan Hoeller, Walter Robinson, Laurie Lowe, Jeanne Forman, Dr. George Grigorian, The Vienna and Paris WO Dens, a equipe da Biblioteca Estadual de Berlim, Tibet House, Leon Wild e James Williamson.

Isenção de Responsabilidade:

As atividades sexuais e mágicas descritas neste livro destinam-se exclusivamente à aplicação de adultos que atingiram a maioridade, e só devem ser realizadas de forma consensual por indivíduos que possuam boa saúde física e mental. Recomendações sugerindo que o leitor realize treinamento adequado em atividades físicas que possam ser prejudiciais são intencionadas seriamente. Nem os autores nem o editor deste livro podem assumir qualquer responsabilidade por qualquer dano que possa ocorrer ao leitor como consequência dos experimentos descritos aqui.

Os Demônios da Carne: O Guia Completo para a Magia Sexual do Caminho da Mão Esquerda

 

 Vamos falar sobre o assunto mais misterioso de todo sexo. O sexo é um fenômeno eletromagnético.

– William S. Burroughs.

O desejo é a grande força.

– André Breton

Das Ewigweibliche zieht un hinan. (O Eterno Feminino nos atrai.)

– Dr. Fausto, no Fausto II de Goethe.

Preliminares:

O livro diante de você é um guia no sentido de que irá acompanhá-lo em uma jornada.

A rota que faremos passa por paisagens de estranha beleza e por abismos perigosos. É conhecido como o caminho da mão esquerda. Poucos percorreram esta estrada e menos ainda chegaram ao seu destino final e distante.

Infelizmente, a maioria dos mapas disponíveis anteriormente deste terreno misterioso foram elaborados por aqueles que nunca pisaram no caminho. No entanto, eles vão avisá-lo dos terríveis perigos enfrentados ao longo do caminho, sugerindo que sua árdua passagem só leva ao mais sombrio dos becos sem saída. Esses cartógrafos defeituosos irão adverti-lo de que as únicas almas que podem ser encontradas nesta via mal iluminada são tolos, lunáticos, canalhas e ladrões. (De fato, pode haver alguma verdade nessa última advertência, mas o aventureiro nato não será dissuadido tão facilmente.)

Existem outros mapas, oferecidos por almas um pouco menos tímidas, que se assemelham mais à realidade. No entanto, esses guias apontam alegremente apenas as atrações turísticas mais reconfortantes do roteiro turístico. Todos os becos escuros, bairros de má reputação e distritos da luz vermelha são mantidos com segurança fora de vista, considerados impróprios para consumo público. Tal escrúpulo permite ao explorador apenas uma visão cuidadosamente expurgada. Além disso, as especificações encontradas neste tipo de mapa são frequentemente tão complicadas que o viajante não sabe qual é o lado para cima.

Por fim, há o mapa elaborado por aqueles que se declaram não apenas como guias turísticos, mas também reivindicam com orgulho esta via à esquerda em sua totalidade, saudando-a como o melhor lugar para se estar. No entanto, se o viajante incauto consultar esses mapas, mesmo para as direções mais simples, imediatamente se torna aparente que houve alguma confusão. Essa confusão, ao que parece, se deve a uma simples, mas duradoura apropriação indevida de nomenclatura. A área nesses mapas marcada tão claramente como “o caminho da esquerda” acaba, em uma inspeção mais próxima, ser um caminho completamente diferente.

Os Demônios da Carne, projetado em parte como um corretivo para as falsas pistas e desvios descritos acima, traça esse caminho até então mal interpretado de uma perspectiva muito diferente. Em nosso mapa, mostramos claramente o plano rodoviário completo em toda a sua topografia e complexidade tridimensionais, a partir de seu antigo ponto de origem oriental remoto. Também rompemos a superfície visível desta calçada para revelar as camadas arqueológicas ocultas da corrente sinistra à medida que ela percorreu o tempo. Acompanhando você nesta viagem, oferecemos sugestões práticas para navegar na estrada da esquerda em um mundo ocidental contemporâneo que não oferece bússola confiável.

Mas chega de metáforas sobre mapas e caminhos. Vamos encarar, você pegou este livro para ler sobre sexo.

E certamente há muito sexo para ser encontrado nestas páginas, narrando uma infinita diversidade de experiências eróticas. Da alquimia do sangue menstrual e do sêmen ao culto ritual da vagina. Sexo com monges promíscuos e prostitutas sagradas, do Tibete à Babilônia. Sexo necrofílico em locais de cremação. Sexo coprofílico na Sicília. Sexo incestuoso na Índia. Sexo vampírico na China. O orgasmo como sacrifício. O orgasmo prolongado. Sexo com Deusas. Transexualismo psíquico. Sexo com seres desencarnados. Escravidão sexual. Domínio sexual. Transe sexual. Sexo anal egípcio antigo entre Set e seu sobrinho Hórus. Sexo oral. Sexo autoerótico. Sexo em grupo. Sexo telepático. Todos os tipos de seitas sexuais. Sexo tântrico. Sexo gnóstico. Sexo satânico. Sexo com jovens virgens. Sexo com idosos. Sexo com as esposas de outros homens. Até sexo com Jesus.

No entanto, o panorama multicorporal de deleite polimorfo que escorre deste livro não é apresentado apenas para estimular os voluptuários ennuyé (entediados) cansados ou excitados com novos desvios que ainda não experimentaram. É importante estabelecer que há uma diferença significativa entre o prazer profundo da sexualidade desfrutada por si mesma como uma experiência fisiológica e estética, e a sexualidade utilizada para propósitos mágicos ou iniciáticos autênticos – o núcleo do caminho da mão esquerda. Tirados de seu contexto apropriado, os boatos aparentemente lascivos pressionados entre estas páginas podem – e provavelmente serão – ser mal interpretados se essa distinção não for levada em conta.

Ao mesmo tempo, deve-se salientar que todo o tópico da magia sexual foi cercado por uma tremenda hipocrisia, emanando tanto dos magos sexuais praticantes quanto daqueles que meramente observam suas atividades. Por exemplo, muitos curiosos pesquisaram casualmente o nível mais superficial da magia erótica, na esperança de aprender algumas dicas de sexo para apimentar uma vida amorosa sem brilho. Na maioria das vezes, esse jogo equivocado de magia sexual é apenas uma perda de tempo, gerando pouco em termos de excitação física e absolutamente nada em termos de magia. Mas alguns magos sexuais hipócritas assumiram a posição da escola de que esse fenômeno bastante comum é “imoral” ou “espiritualmente prejudicial”, ou mesmo que a magia sexual deve ser realizada sem uma centelha de luxúria ou emoção para ser legítima. Por outro lado, o não-mágico pode zombar de toda a ideia de magia erótica, descartando-a como algum tipo de piada suja, recusando-se a aceitar que os magos do sexo estão fazendo algo mais profundo do que saciar seus apetites carnais comuns sob o pretexto de doutrina esotérica.

Por trás dessas atitudes hipócritas está a horrível banalidade a que Eros foi reduzido no mundo ocidental moderno.

Nesse espírito, alguns de nossos leitores podem imaginar que um guia para a magia sexual do caminho da mão esquerda fornecerá as emoções furtivas e baratas da pornografia velada. Literalmente falando, essa palavra tão difamada pornografia, do grego porno (puta) e graphia (escrita) significa simplesmente “escrever sobre putas”. Então, para aqueles de vocês que esperavam fervorosamente que este livro fosse pornográfico, há de fato textos suficientes sobre prostitutas nestas páginas para se qualificar tecnicamente. Claro, as prostitutas com as quais nos preocuparemos são as transportadoras daquela ars amatoria (arte amadora) há muito perdida da prostituição sagrada. Se a prostituição já serviu uma função nobre e até sagrada, então por que não uma pornografia sagrada? Tal forma seria algo muito mais subversivo e poderoso do que a repetição estereotipada de convenções que costumamos associar ao gênero. A autora britânica Angela Carter, cujos contos cruéis geralmente eram tingidos de uma sexualidade inquietante e surreal, certa vez sugeriu as possibilidades:

“O pornógrafo moral seria um artista que usa material pornográfico como parte da aceitação da lógica de um mundo de absoluta licença sexual para todos os gêneros, e projeta um modelo de como tal mundo poderia funcionar. Seu negócio seria a total desmistificação da carne e a posterior revelação, através das infinitas modulações do ato sexual… essas relações, para restabelecer a sexualidade como um modo primário de ser em vez de uma área especializada de férias do ser e mostrar que os encontros cotidianos no leito conjugal são paródias de suas próprias pretensões.

De muitas maneiras, a descrição de Carter do “guerrilheiro sexual” que derruba tabus e que desmistifica totalmente a carne é uma excelente introdução ao trabalho do magista sexual do caminho da mão esquerda que este livro ilustra. Para os magi (magos) do caminho da mão esquerda, a sexualidade é ainda mais do que “um modo primário de ser” – o estado alterado de êxtase erótico extremo é um modo de ser potencialmente divino, a dança caótica de duas energias opostas magneticamente atraídas que permite a criação de um terceiro poder transcendendo o humano. O casal que liberar esse poder oculto e psiquicamente remanifestante do caminho da mão esquerda dentro de seus organismos sob o jugo do orgasmo em toda a sua intensidade achará difícil retornar à existência pré-programada que eles levaram uma vez. O homem e a mulher que mesmo uma vez experimentam a liberdade do caminho da esquerda, expressa através de seus ritos sexuais autodeificantes, saíram do jogo humano como normalmente é jogado.

Se o caminho da mão esquerda é perigoso – um ponto com o qual tanto seus detratores quanto seus defensores concordam – um de seus principais riscos é o perigo da liberdade em um mundo quase instintivamente comprometido em esmagar a liberdade sob qualquer forma que possa aparecer. Todas as autocracias dominaram restringindo severamente o pleno desenvolvimento do poder sexual em seus súditos. O caminho da mão esquerda, um método de ativação consciente de níveis de energia erótica quase desconhecidos nas relações sexuais convencionais, deve ser visto como uma ameaça a qualquer hierarquia que procure frear o desenvolvimento do homem em deus. A gnose sexual do caminho da mão esquerda tem o potencial de forjar indivíduos heroicos e autodeterminados a partir da carne balida do rebanho humano.

As pesquisas do excêntrico (alguns diriam insano) psicólogo Wilhelm Reich sobre os mistérios inexplorados do orgasmo na consciência humana concordam parcialmente com os antigos ensinamentos do caminho da mão esquerda. Em seu Psicologia de Massas do Fascismo, Reich reconheceu a ameaça que a total liberdade erótica representaria para qualquer mecanismo de controle social. Em consonância inconsciente com a veneração do caminho da mão esquerda de Shakti, o poder sexual divino da mulher, ele escreveu: “Mulheres sexualmente despertas, afirmadas e reconhecidas como tal, significariam o colapso completo da ideologia autoritária”. George Orwell, em seu romance distópico 1984, que continua sendo um diagnóstico agudo para o culto moderno do controle, também entendeu que a limitação do poder sexual era uma das armas mais insidiosas da autocracia. Orwell faz Julia, a heroína de 1984, perceber o segredo de Eros: “Ao contrário de Winston, [ela] entendeu o significado interno do puritanismo sexual do Partido. Não foi apenas que o instinto sexual criou um mundo próprio que estava fora o controle do Partido e que, portanto, deveria ser destruído, se possível. O mais importante era que a privação sexual induzia a histeria, o que era desejável porque podia ser transformado em febre de guerra e adoração de líderes.”

O adepto do caminho da esquerda, radicalmente individuado e separado das ilusões da multidão através da transgressão sistemática do tabu e do “mundo próprio” da sexualidade transcendente, dificilmente será arrastado pelas paixões impensadas das massas. Na primeira manifestação histórica da corrente sinistra que investigaremos, a Vama Marga da Índia, esse elemento de desafio social torna-se evidente. A recusa do iniciado do caminho da esquerda indiana em seguir as restrições religiosas de sua sociedade contra o sexo entre as castas, o consumo de vinho, o consumo de certos alimentos “impuros”, é a base sobre a qual ele eventualmente transgrede o estado humano e torna-se divino. Em seitas mais extremas do caminho da esquerda, como os Aghori, a transcendência de tabus internos profundamente arraigados vai muito além. Embora esse fator crítico de subversão social tenha sido ignorado ou branqueado por intérpretes mais moderados do caminho da esquerda do que nós, você descobrirá que essa recusa em seguir as regras ditadas por outros é um dos fatores universalmente definitivos que separam a esquerda caminho da mão de formas mais brandas e menos antagônicas de magia sexual.

Seria fácil interpretar erroneamente esse desafio ao costume social e religioso como uma declaração puramente política. No entanto, uma vez libertado de um conjunto de antolhos psíquicos, o magista do caminho da mão esquerda não os troca simplesmente por um novo conjunto. Ele ou ela se esforça para alcançar um estado de espírito em que todas as formas de ortodoxia devem ser questionadas e rejeitadas.

Mesmo neste estágio inicial, o leitor perspicaz terá percebido que quando falamos de magia sexual da mão esquerda, não estamos preocupados apenas com o funcionamento da genitália para algum propósito feiticeiro. Sim, sua ferramenta central de iluminação é a sexualidade desperta. Mas a tradição do caminho da mão esquerda na verdade fornece uma abordagem para todos os aspectos da existência, uma filosofia – ou “amor de Sophia” – que posta em ação pode transformar a totalidade da estrutura psicobiológica humana, não apenas seu pênis ou vagina.

Pode-se dizer que a magia sexual do caminho da mão esquerda é uma forma de iniciação conscientemente projetada para um mundo irremediavelmente fodido. A filosofia do caminho da mão esquerda postula que é o método mais adequado para os tempos apocalípticos e fora de ordem em que a humanidade existe atualmente, uma era que a tradicional disciplina indiana do caminho da mão esquerda reconhece como Kali Yuga. São necessárias medidas excepcionais para despertar a plena consciência sob condições tão desfavoráveis. O primeiro passo é rejeitar a tristeza e o desespero que esses tempos podem inspirar e abraçar com alegria o caos do mundo em desintegração, esse espetáculo ilusório e cintilante que emana da vulva da escura Kali. E uma das grandes ferramentas de transformação sobre as quais Kali preside é a carne, especialmente quando submetida à chama do desejo.

Fora da tradição do caminho da mão esquerda propriamente dita, a antiguidade pré-cristã reconhecia claramente que os estados mentais transformadores e misteriosos atingíveis através da sexualidade fazem parte do reino dos Deuses. De fato, muitos termos comuns que denotam sexualidade na linguagem moderna ainda carregam os traços indeléveis daquela antiga apreciação da natureza mágica – até mesmo religiosa – da sexualidade humana. O erótico remete ao deus Eros, o afrodisíaco refere-se à deusa Afrodite, assim como o venéreo é derivado de Vênus. As origens mágicas da palavra “fetiche” também são bastante conhecidas – deriva do português feitico (feitiço), para feitiçaria ou encanto. Quem pode negar que o poder poderoso em que um fetiche sexual escraviza o fetichista não é nada além de um fascínio, um glamour, de natureza inteiramente mágica? O caminho da esquerda, em todas as suas formas, conscientemente devolve Eros ao lugar outrora exaltado que ocupava na vida humana, reconhecendo a divindade adormecida do sexo mesmo em práticas que os profanos rejeitam como sórdidas e vergonhosas.

Sob seu exame às vezes contraditório de símbolos e premissas de magia sexual de várias tradições culturais e religiosas, Os Demônios da Carne postula um fenômeno biológico universal aparentemente conectado à consciência e sexualidade humanas. Como veremos, a expressão tântrica indiana caminho da mão esquerda descreve essa anomalia psicossexual com grande precisão. No entanto, também usamos a frase “corrente sinistra”, que indica sua existência não indígena, onipresente, não apenas em uma tradição cultural específica, mas como uma força localizada no próprio corpo.

Indicamos agora quão central é o papel que o sexo desempenha no caminho da mão esquerda, mas, presumivelmente, você pode estar se perguntando onde entra a “mágica” mencionada no subtítulo deste livro. inerente ao prazer sexual foi reduzido ao seu estado atual de degradação, assim como a outrora real arte da magia sofreu um declínio semelhante no mundo moderno. Se não se associa imediatamente a palavra com truques e prestidigitação do show business, então ela evoca o ocultista consumidor vulgar, vestido com o manto “mágico” obrigatório, recitando credulamente feitiços “mágicos” doutrinários, geralmente esperando em vão invocar o dinheiro que ele ou ela não tem as habilidades para ganhar, ou para atrair um determinado objeto de desejo sem adquirir as graças sociais para sequer iniciar uma conversa. Em outras palavras, a magia, pelo menos no mundo ocidental, tornou-se um brinquedo exótico para perdedores, a atuação de pensamentos ilusórios para alcançar objetivos transitórios mais eficientemente realizados através do desenvolvimento mundano da competência pessoal.

A magia, da perspectiva do caminho da esquerda descrita aqui, está muito distante da mercadoria bruta que se tornou no meio ocultista moderno. Estamos focados aqui na Grande Obra, a transformação sexual-alquímica do humano em semidivindade, não no desenvolvimento de alguns truques de salão. No caminho da mão esquerda indiana, os maiores magos são os divya ou bodhisattva, que não precisam recorrer a nada que se assemelhe a um ritual para criar uma transformação radical de maya, a substância da qual a mente e a matéria são compostas. Os poderes mágicos, como entendidos no Ocidente, às vezes são uma consequência da iniciação erótica, mas são secundários à remanifestação radical do eu para modos superiores de ser, que é a raison d’etre (razão de ser) do caminho da mão esquerda. Nas antigas tradições helênicas e gnósticas também consideraremos como expressões da corrente sinistra, um divya é conhecido como um magus (mago), um ser cujo poder mágico se baseia no cultivo interno do eu a níveis demoníacos de consciência.

Como esse estado de ser é o objetivo de todos os sinistros magos sexuais atuais, não fornecemos ao leitor feitiços, maldições ou rituais pré-programados. Nós também não fornecemos nomes de demônios garantidos para cumprir todos os seus comandos, nem feitiços infalíveis que atrairão os alvos de sua luxúria. Se você for ingênuo o suficiente para procurar por tais panaceias instantâneas, nossa ênfase na importância do trabalho mágico autodirigido como um processo interno de autodeificação provavelmente será extremamente frustrante. Este livro deixará claro os métodos perenes do caminho da mão esquerda que ativam o curso eterno do desenvolvimento tomado pelo divya ou o magus (mago) do caminho da mão esquerda, mas ele deliberadamente se abstém de conduzir o leitor mecanicamente através de uma lista de truques externos. Você não encontrará nada como: 1) Vagina aberta. 2) Insira o pênis. 3) Diga a palavra mágica com convicção.

Esse tipo de coisa é inútil, para não dizer um insulto à inteligência do magista iniciante. Instruções dogmáticas, para nossa experiência, não podem ser feitas para grandes magistas – elas apenas provam que o leitor pode obedecer obedientemente aos comandos. Esses atalhos e simplificações não fornecem nenhum atrito necessário para o estudante do caminho da esquerda, sem o qual nenhum esforço abrasivo necessário para iniciar a si mesmo pode ser desencadeado. Os Demônios da Carne, que somos imodestos o suficiente para classificar como um Tantra para o século XXI, é construído para fornecer esse atrito, em vez de destilar o caminho da mão esquerda em um leite materno fácil de engolir para o lactente. . Por esta razão, embora métodos práticos de procedimento sejam sugeridos, este não é tanto um livro de “como fazer” – seu foco está em “por que fazer”. Em nossa opinião, uma marca do verdadeiro magista do caminho da mão esquerda é a capacidade de integrar sistemas simbólicos complexos, sintetizá-los com a experiência pessoal e criar a partir dessa síntese sua própria direção única no caminho da mão esquerda.

Uma crença comum, mas errônea, sobre magia sexual, caminho da mão esquerda ou não, é que sua prática consiste em nada mais do que fazer um forte desejo focado durante o orgasmo. Se fosse esse o caso, dificilmente seria necessário um livro inteiro sobre o assunto – essa última frase seria suficiente para uma educação sexual-mágica completa. Este é, na verdade, apenas um dos menos sofisticados métodos de feitiçaria sexual, e embora o magista do caminho da mão esquerda possa experimentá-lo como um meio de testar a insubstancialidade de todos os fenômenos mentais, não pode ser comparado ao método da mão esquerda, muito mais essencial. métodos de caminho de iluminação sexual, como Kundalini, que remodelam a consciência para níveis supernos de realização que transcendem inteiramente o modelo pueril do “bem dos desejos” da magia sexual popular.

Talvez a prevalência dessa ideia, mesmo entre aqueles que deveriam saber melhor, se baseie no fato de que muito tem sido escrito sobre a “magia sexual” de Aleister Crowley, que em sua própria prática cotidiana consistia em pouco mais do que coordenar desejos e chegando. Mas Crowley, apesar de sua ascensão póstuma como o “nome de marca” mais reconhecível no campo da magia sexual ocidental, não é a essência da magia sexual. A ideia do orgasmo mágico não explodiu espontaneamente das entranhas de Crowley um dia. De fato, como mostraremos, os agora obscuros precursores pseudorrosacruzes de Crowley, como o magista sexual afro-americano PB Randolph e o espermófago alemão Theodor Reuss originaram muitas das ideias que se acredita que a Grande Besta 666 “descobriu”, assim como vários de seus contemporâneos e antecedentes desenvolveram essas mesmas ideias em direções mais pertinentes do que o próprio Mestre. Também tentaremos resolver a espinhosa questão de saber se Crowley é de fato um magus (mago) do caminho da esquerda.

Neste último aspecto, deve-se dizer que a prática da magia sexual por si só não qualifica um magista para o caminho da mão esquerda. Todo maluco oculto que alguma vez proclamou seu orgasmo como um evento mágico de primeira ordem não é necessariamente um iniciado no caminho da mão esquerda. Da mesma forma, a ausência de sexualidade na prática mágica de alguém é um sinal seguro de que não se está mais lidando com o caminho da esquerda em seu sentido clássico.

Colocamos a magia sexual da mão esquerda em um contexto histórico, analisando algumas das figuras históricas coloridas que praticaram a taumaturgia orgástica no Ocidente moderno. Mas devemos deixar claro que não é nossa intenção inspirar nossos leitores a imitar as vidas e lendas desses indivíduos. O caminho da esquerda está firmemente focado na autodeificação – a idolatria fanática e a adoração de heróis inculcadas por tanta literatura oculta para as “estrelas” do passado estão totalmente fora de lugar com os objetivos do caminho da esquerda. Se há uma atitude apropriada no caminho da mão esquerda a ser tomada com os famosos e infames professores de magia sexual do passado, certamente é a irreverência, não a santificação piedosa. De fato, no processo de transformar-se de consciência humana em divina por meio da iniciação erótica, é obrigatória uma irreverência saudável direcionada às próprias pretensões.

O mundo está cheio de pessoas que devoraram mil livros mágicos e ainda assim nunca realizaram um único ato genuíno de magia. Esse fenômeno é tão prevalente que a síndrome até ganhou um nome: o mágico da poltrona. Certamente não é nossa intenção criar através deste livro algo ainda pior – o mágico do sexo à beira da cama. Assumindo que você está lendo isso como uma visão geral introdutória da magia sexual do caminho da mão esquerda, e não simplesmente como uma diversão perversa, os princípios descritos aqui devem ser promulgados em sua própria carne, através da ação no mundo real, em oposição à abstração cerebral .

Claro, houve outros livros que tentaram comunicar algo dos mistérios da magia sexual. No entanto, do nosso ponto de vista, a maioria desses volumes anteriores errou o alvo. Gostaríamos de pensar que nosso objetivo será mais preciso. Na maioria das vezes, os textos de magia sexual anteriormente disponíveis suavizaram o poder penetrante disponível para o magista erótico em uma espuma pegajosa de romantismo insípido. As ofertas mais recentes foram voltadas para as sensibilidades fracas e chorosas do chamado movimento da Nova Era. Esses guias medrosos têm oferecido uma magia sexual totalmente desfigurada e domesticada a seus leitores. Este volume ficará desconfortável na prateleira com aqueles trabalhos mais suaves e menos diretos. Se sua compreensão da magia sexual foi adquirida apenas a partir desse corpo de trabalho doentio, esperamos que este livro sirva como um antídoto de purga para equívocos anteriores.

Não menos importante dos equívocos que visamos é a compreensão totalmente incoerente e historicamente inválida da natureza exata do caminho da esquerda que prevaleceu no século passado ou mais no mundo ocidental. Um dos desafios ao escrever este livro foi definir adequadamente um assunto que tantos já pensam que entendem, mas na verdade não entendem – pelo menos não por qualquer padrão objetivo que possamos identificar Ao tentar esclarecer o que a esquerda O caminho da mão é que estamos apenas começando a tarefa maior de estabelecer um modelo de trabalho congruente da corrente sinistra no Ocidente. Construído, como deve ser, sobre as ruínas da confusão do passado, esse modelo de trabalho pode levar outros cinquenta a cem anos para realmente se firmar.

Embora nós mesmos estejamos praticando magos sexuais do caminho da mão esquerda, este livro não é de forma alguma concebido como um meio de conversão ou como um dispositivo de recrutamento. Como deixaremos claro, o caminho da esquerda é, apesar de todos os seus elementos antiautoritários, uma forma elitista de iniciação. Com isso, não queremos dizer que os adeptos do caminho da esquerda necessariamente se considerem superiores aos não iniciados – apenas que a corrente sinistra não é para todos, e nunca pode ser um caminho para milhões. Ler este livro pode esclarecer para você que você não seria adequado para esta escola de iniciação.

A sexualidade é a expressão no mundo material do conceito metafísico de polaridade – o yin e yang, Shiva e Shakti, a rosa e a cruz, a união e transcendência dos opostos. Os Demônios da Carne é exatamente o que descreve, na medida em que pode ser entendido como uma magia sexual funcionando por si só. Como uma criança criada pelas energias eróticas polarizadas da sexualidade masculina e feminina gerada por seus autores, este livro ilustra como a força sexual combinada de dois magos pode criar uma terceira entidade demoníaca. Ao moldar as palavras e perspectivas colaborativas de dois magos em um todo coeso, pretendemos criar um elemental mágico que ganha uma certa vida própria, independente de seus criadores. Sempre que dois magos trabalham juntos, o resultado é a criação de tal força elementar; William S. Burroughs e Brion Gysin se referiram a esse fenômeno como “a terceira mente”. Assim como a magia erótica do caminho da esquerda cria um espaço numinoso no qual as energias muito diferentes de masculino e feminino podem se comunicar e ver além dos limites do gênero, a voz dupla deste livro fala de um ponto de vista que transcende masculino e feminino.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/demonios-da-carne-o-guia-completo-para-a-magia-sexual-do-caminho-da-mao-esquerda/

V de Vingança, Guia de Referências

Estas anotações sobre a série  V for Vendetta de Alan Moore foram preparadas por uma classe de graduação em Pesquisa Literária, sob a direção do Dr. James Means, da Universidade Estadual do Noroeste da Louisiana, durante a primavera de 1994. Na realização destas anotações, adotou-se um sistema que permite ao leitor seguir cada entrada facilmente.

O primeiro número indica a página na qual a entrada original pode ser achada. O segundo número indica a linha de arte, numerada de cima para baixo; a maioria das páginas tem três linhas de arte, enquanto algumas tem menos. Finalmente, o último número indica a coluna, numerada da esquerda para a direita.

PARTE 1

-, -, – Europa Depois do Reino (título – Na versão da Ed. Globo: O Vilão)

O título do primeiro livro refere-se à pintura Europa Depois da Chuva de Max Ernst, e retém dentro dela implicações de reviravoltas climáticas de um ataque nuclear próximo. Depois do Reino certamente se refere à dissolução da realeza com um certo anel ominoso, da mesma maneira que o título da pintura implica um grande peso em cima de todo continente. A imagem da página do título, de uma única mão enluvada (que com certeza indica tempo frio) colocando algo pesado e sombrio sob a superfície, contribui para a natureza ominosa. A pintura, intitulada L’Europe Apres la Pluie, foi criada entre 1940 e 1942. É descrita como uma cena fúnebre cheia de ruína e putrefação, povoada apenas por criaturas bestiais que vagam solitárias ao redor, (pg. 44-45). Ernst tinha criado trabalhos semelhantes que implicavam os arruinados, os fossilizados, os inanimados; superfícies parecem estar decadentes, corroídas por ácido e perfuradas com inúmeros buracos como a superfície de uma esponja, (pg. 44).
Durante algum tempo antes da Segunda Guerra (trabalhando na técnica chamada de decalcomania, datando de 1936, 37, 40 – será que foi realmente antes da guerra? Onde ele estava neste momento? Estava sendo posto em vários acampamentos, sendo reposto em outros, fugindo e finalmente voando para a América (pg. 94). Mas foi depois da sua “premonição de guerra traduzida em realidade” que ele fugido para a América. Lá, assombrado pelas recordações de uma Europa feita em pedaços, ele criou a composição também chamada Europa Nach dem Regen que se traduz como A Europa depois da Chuva ou A Europa depois da Inundação (pg. 44).
Ernst nasceu em 1891 em Bruhl, sul de Colônia, às margens do Reno (pg. 29). As suas pinturas descrevem freqüentemente um mundo no qual a história de gênero humano foi apagada completamente por um evento cataclísmico no Universo … ou pelo ato consciente de revolução que destruiu tudo (pg. 8). Em 1925, o melhor amigo dele, Paul Eluard escreveu sobre a atitude mental de Ernst, que buscou destruir toda a cultura que foi herdada ou não como resultado de experiência pessoal, como se fosse um tipo de esclerose na sociedade Ocidental: ‘Não pode haver nenhuma revolução total mas somente revolução permanente. Como o amor, é a fundamental alegria de viver’ (nota de rodapé, pg. 8).
Ernst participou de exibições dadaístas onde os observadores destruíram a sua arte e observaram seus pedaços pregados na paredes e espalhados no chão. Para alcançar a galeria onde se desenrolou o evento, espectadores atravessaram o lavatório de uma cervejaria onde uma menina vestida como uma beata que acabou de receber a comunhão recitava versos lascivos. A exibição foi fechada sob a acusação de fraude e obscenidade (baseado na estampa de Adão e Eva de D’rer, que tinham sido incorporada em um das esculturas de Ernst). Subseqüentemente, ela foi reaberta.
De acordo com Hamlyn, o evento foi realizado para embaraçar e provocar o público (nota, página 8). Este elemento de drama e provocação também é uma linha seguida em V de Vingança.

1, 1, 1, O 5 de Novembro…

Esta é a primeira referência ao dia de Guy Fawkes, o aniversário do dia em que Guy Fawkes foi pego no porão de Parlamento com uma grande quantidade de explosivos. Fawkes era um extremista católico e um herói militar que se distinguiu como um soldado corajoso e de fria determinação, através de suas façanhas lutando com o exército espanhol nos Países Baixos (Encyclopaedia Britannica 705). Ele foi recrutado por católicos insatisfeitos que conspiraram para explodir o Parlamento e matar o rei James I. James tinha trabalhado para instituir uma multa à pessoas que se recusassem a comparecer as missas anglicanas (Encyclopaedia Britannica 571), somando isso à opressão que os católicos já sofriam na Inglaterra. Um do conspiradores alugou uma casa que compartilhava parte de seu porão com o Parlamento, e o grupo encheu esse porão de pólvora. Fawkes foi escolhido para iniciar o fogo, e foi determinado que ele devia escapar em quinze minutos antes da explosão; se ele não pudesse fugir, ele estaria totalmente pronto para morrer por tão sagrada causa, (Williams 479). Um dos conspiradores tinha um amigo no Parlamento; ele advertiu o amigo para não estar presente na abertura durante o dia escolhido para o atentado, e o paranóico rei James imediatamente descobriu o complô. Fawkes foi pego no porão e foi torturado. Ele foi executado exatamente em frente ao Parlamento no dia 31 de janeiro de 1606.

2, 3, 2, Utopia (livro na estante)

Este foi o mais famoso trabalho de Sir Thomas em 1516 (Sargent 844) no qual ele esboçou as características humanitárias de um sociedade decente e planejada, (Greer 307) uma sociedade de comum propriedade de terra, liberalidade, igualdade, e tolerância (Greer 456).

2, 3, 2, Uncle Tom’s Cabin (livro na estante)

Escrito por Harriet Beecher Stowe e publicado em 1852, este romance fala sobre os deprimentes estilos de vida dos negros escravos no Sul dos EUA, contribuindo enormemente com o sentimento popular de anti-escravidão (Foster 756-66).

2, 3, 2, O Capital (livro na estante)

Este foi a obra máxima de Karl Marx, publicada em 1867. Foi seu maior tratado sobre política, economia, humanidade, sociedade, e governo; Tucker o descreve como a mais completa expressão (de Marx) de visão global.

2, 3, 2, Mein Kampf (livro na estante)

A biográfica proclamação das convicções do líder nazista Adolf Hitler, Mein Kampf (Minha Luta), foi escrita durante o seu encarceramento após a sua primeira tentativa de golpe contra o governo bávaro, em 1923 (Greer 512). Sem nenhuma dúvida, Moore quis ironizar ao colocar este trabalho próximo ao de Marx, Já que a extrema-direita nazista era forte oponente do comunismo.

2, 3, 2, Murder in the Rue Morgue (cartaz de filme)

Os Assassinatos da Rua Morgue. Este foi um filme de horror de 1932, produzido pela Universal. Foi uma importante adaptação da história de Edgar Allen Poe, estrelada por Bela Lugosi, um famoso ator do gênero. É sobre uma série de terríveis assassinatos que se supõe ser o trabalho de um macaco treinado (Halliwell 678). Esta referência pode conter alguns sinais sobre os métodos de investigação de V para os seus ataques contra o sistema, e suas características de serial killer.

2, 3, 2, Road to Morocco (cartaz de filme)

Este filme de 1942 da Paramount foi um de uma série de leves comédias românticas estreladas por Bing Crosby e Bob Hope como dois ricos playboys que viajam ao redor do mundo tendo tolas aventuras (Halliwell 825).

2, 3, 2, Son of Frankenstein (cartaz de filme)

O Filho de Frankenstein. Filme de horror de 1939 da Universal, Son of Frankenstein foi o último de uma trilogia clássica. Foi estrelado por Boris Karloff, um famoso ator de filmes de terror, e envolveu o retorno do filho do barão e seu subseqüente interesse por ele (Halliwell 906).

2, 3, 2, White Heat (cartaz de filme)

White Heat, feito em 1949 pela Warner, estrelado por James Cagney. O enredo envolvia um gângster violento com fixação por sua mãe que finalmente cai após a infiltração de um agente do governo em sua gangue (Halliwell 1073). Esta pode ser outra importante indicação, de como V também derruba o violento e disfuncional líder do partido se infiltrando através de suas fileiras.

3, 1, 3, …E novamente tornar a Bretanha grande!

Este é um sentimento tipicamente “nacionalista”. O nacionalismo europeu, que tem suas raízes na Guerra dos Cem Anos (Greer 269-275), é o conceito de que cada nação tem que manter em comum uma única cultura e uma única história e no qual se considera, inevitavelmente, que uma nação é melhor que as outras. Foi este sentimento, levado a seus extremos, que levou o partido nacional-socialista trabalhista de Hitler (o nazismo) a tentar livrar a Alemanha dos “não-alemães”. (Wolfgang 246-249).


4, 3, 3, The Multiplying vilanies of nature do swarm upon him… (de vilanias tão cumulado pela natureza…).

Esta é uma fala do Sargento no Ato I, cena II, de MacBeth, de Shakespeare (766).

7, 1, 1-2 Lembrai, lembrai do 5 de novembro, a pólvora, a traição, o ardil. Por isso, não vejo por que esquecer uma traição de pólvora tão vil.

Esta é uma versão de uma rima infantil inglesa. Em busca por um poema confirmatório, eu procurei no The Subject Index to Poetry for Children and Young People (1957-1975) que apresenta cinco coleções de poemas onde se incluiam versos sobre Guy Fawkes (Smith e Andrew 267). Um destes, Lavender’s Blue, incluiu a seguinte versão feita em, pelo menos, 1956:
Please to remember the fifth of November
Gunpowder, treason and plot
I see no reason why gunpowder treason
Should ever be forgot (Lines 161)
Cuja tradução é:

Agradeça por lembrar do 5 de novembro
A pólvora, a traição e o complô
Eu não vejo nenhuma razão por que tal traição de pólvora
Deveria para sempre ser esquecida (linha 161)
O Oxford Dictionary of Quotations atribui esta versão a uma canção de ninar infantil anônima de 1826 (Cubberlege 368), e as primeiras duas linhas como sendo tradicionais desde o século 17, (Cubberlege 9).

7, 1, 2, A explosão do Parlamento…

Nesta cena, V teve sucesso onde Fawkes falhou; a posição dele e de Evey em oposição ao Parlamento é, provavelmente, significativa, como se fosse a posição oposta ao Parlamento em que Fawkes foi enforcado (Encyclopaedia Britannica 705).

7, 2, 2, Os fogos de artifício em forma de V

Isto se refere à prática comum de explodir fogos de artifício no dia de Guy Fawkes como parte da celebração (Encyclopaedia Britannica, p.705). Também é provavelmente uma referência a ‘Arrependa-se, Arlequim!’ Disse o Ticktockman (algo como homem Tique-taque) por Harlan Ellison.
9, 3, 1, Inglaterra triunfa
Este sentimento parece muito com o impulso em um verso da peça Alfred: Uma Máscara, de James Thomson, de 1740 (Ato III, última cena):

When Britain first, at heaven’s command, Arose from
out the azure main,
This was the charter of the land, And guardian angels
sung this strain:
Rule Britannia, rule the waves; Britons never will be
slaves. (Cubberlege 545)
Cuja tradução é:

Quando a Inglaterra primeiro, ao comando do céu, Surgiu do
mar azul-celeste,
Esta foi a escritura da terra, E anjos guardiões
cantaram esta melodia:
Comande Britannia, comande as ondas; Bretões nunca serão
escravos. (Cubberlege 545).

12, 2, 3, Frankenstein (livro na estante)

Este é uma famosa explanação de ficção ciêntífica/social de 1818, por Mary Wollstonecraft Shelley. De acordo com Inga-Stina Ewbanks, é sobre o eterno tema da criação do homem que fica além de seu poder de controle, (5).

12, 2, 3, Gulliver’s Travels (livro na estante)

As viagens de Gulliver. Este foi um romance utópico escrito em 1726 por Jonathon Swift, um satírico escritor social inglês que passou a maior parte de sua vida na Irlanda (Adler ix-x).

12, 2, 3, Decline and Fall of…? (livro na estante)

Este, provavelmente, deve ser o trabalho de Edward Gibbs, The History of the Decline and Fall of the Roman Empire (A História do Declínio e Queda do Império Romano), mais comumente conhecido como The Decline and Fall of the Roman Empire (O Declínio e Queda do Império Romano). A coleção de seis volumes foi escrita entre 1776 e 1788, e é considerada como uma das melhores histórias já escritas (Rexroth 596).

12, 2, 3, Essays of Elia Lamb (livro na estante)

Elia, ou Charles Lamb, primeiro publicou seus famosos ensaios nas páginas da London Magazine, de 1820 a 1825, posteriormente encadernados em dois volumes, publicados em 1923 e 1833. Seus ensaios são considerados como pessoais, sensíveis e profundos (Altick 686-87).

12, 2, 3, Don Quixote (livro na estante)

Este foi um romance satírico sobre cavalaria, escrito por volta de 1600 (Adler) pelo autor espanhol Miguel de Cervantes. Seu herói é um caricatural cavaleiro romântico que é desesperadamente idealista (Greer 307).

12, 2, 3, Hard Times (livro na estante)

Charles Dickens escreveu este quase solitário ataque à… industrialização em 1854. Ele se justapõe aos sérios e aplicados industriais com um circo criativo e divertido que vem à cidade na qual o romance se desenrola (Ewbanks 786). Provavelmente pode ter servido de apelo ao senso de drama de V e sua vitória sobre as mazelas.

12, 2, 3, French Revolution (livro na estante)

Este volume pode ser sobre qualquer história passada durante a Revolução Francesa, ou sobre a própria Revolução Francesa, que ocorreu entre 1787 e 1792.

18, 2, 3, Faust (livro em estante)

O famoso poema de Goethe, Fausto, foi publicado no início de 1808. Ele reconta uma lenda renascentista sobre um doutor que barganha com o diabo por juventude e poder. A segunda parte, postumamente publicada, foi um tratado filosófico no qual a alma de Fausto é salva porque ele ama e serve tanto a Deus quanto a humanidade, apesar dos seus erros. Este Fausto é considerado como a encarnação do “moderno” ser humano (Greer 426).

12, 2, 3, Arabian Nights Entertainment (livro na estante)

As Mil e Uma Noites. Este livro é uma coleção de histórias folclóricas originárias da Índia, mas que foi levada para a Persia e para a Arábia. Embora iniciadas na Bagdá do século 8 ou 9, elas retêm muitos mais características do Egito do século 15, onde foram formalmente traduzidas (Wickens 164).

12, 2, 3, The Odessey (livro em estante)

A Odisséia. Um dos dois históricos poemas épicos gregos, feitos por volta de 800 A.C. e escritos por Homéro. Embora a identidade de Homéro seja incerta, e ele pode ter sido até mesmo um arquetípico personagem de si próprio, A Odisséia é uma aventureira história sobre o retorno de gregos que viram heróis que atravessam mares bravios (Greer 66).

12, 2, 3, V (livro em estante)

O romance V, escrito em 1963 por Thomas Pynchon, é considerado um dos primeiros importantes trabalhos pós-modernos. Ele combina pedaços de história, ciência, filosofia, e psicologia pop com personagens paranóicos e metáforas científicas. O trabalho de Pynchon é descrito como uma variação entre a ‘cultura intelectual’ e o meio termo da cultura pop underground das drogas, (Kadrey e McCaffery 19). Isto também pode ser dito tanto sobre a Galeria Sombria como sobre o próprio livro de V de Vingança.

12, 2, 3, Doctor No (livro na estante)

Ian Fleming, um ex-agente de inteligência britânica, escreveu este romance de espionagem em 1958. Os romances de Fleming eram supostamente baseados na vida que teve como um espião (Reilly 320).

12, 2, 3, To Russia With Love (livro na estante)

Outros dos romances de Fleming, este aqui foi escrito em 1957 (Reilly 320).

12, 2, 3, Illiad (livro na estante)

Outro poema de Homéro, A Ilíada fala sobre a violenta e sangrenta guerra de Tróia.

12, 2, 3, Shakespeare (2 volumes na estante)

Shakespeare foi um escritor elizabetano de peças de teatro cujos dramas e sonetos são considerados trabalhos clássicos do renascimento humanista (Greer 307).

12, 2, 3, Ivanhoe (livro na estante)

Um dos dramáticos romances históricos de Sir Walter Scott, Ivanhoe, foi escrito em 1820 (Greer 425).

12, 2, 3, The Golden Bough (livro na estante)

O exaustivo décimo terceiro volume do trabalho de James G. Frazer sobre superstições primitivas foi publicado primeiro em 1890. A estante de livros de V contém um único volume do trabalho.

12, 2, 3, Divine Comedy (livro em estante)

A Divina Comédia. Esta é uma obra-prima da literatura italiana, escrita por Dante Alighieri. Começada por volta de 1306 e terminada com a morte de Dante em 1321, ela trata da viagem do autor através da vida após a morte.

12, 3, 3, Martha and the Vandellas

Um grupo musical de Rhythm-and-Blues, produzido e distribuído pelo selo Motown Record entre 1963 e 1972. Eles tiveram seu começo como cantores de apoio de Marvin Gaye, outra estrela da Motown, e então se lançaram para uma carreira de sucesso como artistas agressivos e extravagantes. A canção Dancing in the Streets foi lançada em 1964. (Sadie 178).

12, 3, 3, Motown

Motown foi uma gravadora independente, de propriedade de afro-americanos, fundada em Detroit (também conhecida como Motortown, ou a Cidade dos Motores), Michigan. A palavra também descreve o distinto estilo de música pop-soul que trouxe sucesso à gravadora. Este Motown sound foi extraído do blues, do rhythm-and-blues, do gospel e do rock, mas diferente destes outros estilos musicais afro-americanos, também contou com algumas das práticas de música popular anglo-americana socialmente aceitas, e isto obscureceu algumas das mais vigorosas características da música afro-americana (Sadie 283).

13, 1, 2, Tamla e Trojan

Não consegui determinar nenhuma referencia para Tamla e Trojan. Como Motown se refere tanto a gravadora quanto para o estilo de música que ajudou a popularizar, eu não sei que relação Tamla teve com os outros grupos mencionados. Como os outros indivíduos mencionados são reais, eu acredito que Tamla e Trojan tenham existidos, mas não pude achar nenhum registro sobre eles.

13, 1, 2, Billie Holiday

Famosa Cantora de jazz, Billy Holiday foi extremamente popular entre os intelectuais brancos de esquerda de Nova Iorque. Ela gravou com alguns dos melhores do jazz, incluindo Benny Goodman e Count Basie. Ela acabou em um mundo de drogas, álcool e abusos, e morreu em 1959, com a idade de 44 anos (Sadie 409-410).

13, 1, 2, Black Uhuru

Este grupo foi uma das mais famosas bandas de reggae da Jamaica. Foi formada no ano de 1974 em Kingston (Sadie 46-47). Reggae é um típico estilo de dance music jamaicano, influenciado tanto pela música afro-caribenha quanto pelo Rhythm-and-Blues americano (Sadie 464).

13, 1, 2, A Voz do Dono…

O logo da RCA trazia um cachorro fitando o cone de um gramofone (um dos primeiro toca-discos), simbolizando o reconhecimento do animal pela voz de seu dono.

13, 3, 3, Aden

Aden tanto foi o outro nome para os habitantes da República democrática de Iêmen (o Iêmen do Sul) como a cidade da capital do país. O país que agora é fundido com o Iêmen do Norte, ocupou a extremidade Meridional da Península árabe, no sul de Arábia Saudita. Os britânicos o colonizaram, e mantiveram controle parcial ali até que o país se tornou uma república marxista em 1967 (Encyclopaedia Britannica 835). Embora a idade de Prothero não seja mencionada, ele parece ter cerca de 50 anos; é provável que ele tenha servido como soldado imediatamente antes da revolução de Iêmen. Assim, ele seria um jovem durante a revolução de 1967, e cerca de 40 durante os seus anos como chefe no Campo de Readaptação de Larkhill.

18, 3, 1, V num círculo

Este símbolo apresenta semelhanças com o sinal de anarquia de um A num círculo, e também com a dramática inicial de Zorro (Stolz 60).

19, 1, 2, Rosas “Violet Carson”

A Violet Carson é uma rosa híbrida introduzida em 1963 (Coon 201) ou 1964 (Rosas Modernas 7 432) por S. McGredy. É uma criada pelo cruzamento de uma Madame Leon Cuny com uma Spartan. É descrita como uma flor colorida, com creme (Coon 201) ou prata (Rosas Modernas 7 432) por sob as pétalas, e tem um arbusto robusto e espalhado. Não parece ser de uma variedade muito comum, e é listada em publicações de sociedades idôneas de rosas mas não em livros dirigidos a um leitor casual, assim é incerto como Finch pode tê-la reconhecido imediatamente.

20, 1, 3, The Cat (cartaz de filme)

O cartaz para um filme chamado The Cat pendurado na parede parece descrever um homem que segura uma arma. O único filme que pude achar com este título, porém, foi um drama francês de 1973 sobre a relação pouco comunicativa entre uma amarga estrela de trapézio e seu marido (Halliwell 168).

20, 1, 3, Klondike Annie (cartaz de filme)

Um filme de 1936 da Paramount, Klondike Annie foi estrelado por Mae West, como uma ardente cantora em fuga que, disfarçada como uma missionária, revitaliza uma missão no Klondike (Halliwell 542). Alguns dos filmes descritos nos cartazes parecem ter atraído V apenas por propósitos de entretenimento. Porém, este aqui pode dar o leitor uma pista sobre o caráter de V. Ele tanto está em fuga, disfarçado, quanto tenta revitalizar toda uma nação.

20, 1, 3, Monkey Business (cartaz de filme)

Este filme de 1931 dos irmãos Marx, feito pela Paramount, narra as artimanhas de quatro passageiros clandestinos em um navio que bagunçam uma festa social a bordo, onde eles capturam alguns escroques (Halliwell 666). Esta é outra pista, pois V é um clandestino num sistema social que bagunça o sistema e capturas vários inimigos.

20, 1, 3, Waikiki Wedding (cartaz de filme)

Waikiki Wedding foi produzido em 1937 pela Paramount. Seu enredo envolve um agente de imprensa que está no Havaí para promover uma competição de A Rainha do Abacaxi (Halliwell 1050).

21, 3, 2, Salve uma Baleia (camiseta)

Por causa da ameaça de extinção das baleias, muitas pessoas nos anos 70 começaram a usar camisetas e bottons proclamando que alguém deveria Salvar uma Baleia. Este sentimento veio a ser associado com política e ambientalismo “liberais”.

22, 1, 1, …Quando os Trabalhistas subiram ao poder…

De acordo com a Encyclopaedia Britannica, o Partido Britânico dos Trabalhistas é um partido reformista socialista com fortes laços institucionais e financeiros com os sindicatos. Em janeiro de 1981, devido a vastas mudanças internas, o Líder do partido trabalhista eleito foi Michael Foot, um militante socialista cuja política incluia o desarmamento nuclear unilateral, a nacionalização das indústrias-chaves, união de poder e pesados impostos (82), da mesma maneira que Moore descreve em Por Trás do Sorriso Pintado (271).

22, 1, 1, …Presidente Kennedy…

A implicação é que o presidente dos Estados Unidos ou é Ted Kennedy, senador democrata ou John Kennedy Jr, respectivamente, o sobrinho e o filho do ex-presidente John F. Kennedy.

23, 2, 1, Nórdica chama

Este provavelmente é o nome de um partido estadual, com todas as bandeiras e uniformes exibindo grandes N’s. Nórdica deriva dos nórdicos ou Vikings dos países escandinavos que invadiram a Europa nos séculos V e VI (Greer 183). Eles eram ferozes, fortes, e “arianos” – a população “idealizada” pelo partido nazista de Hitler: loira e de olhos azuis (Greer 513-514). A escolha desta imagem ajuda a identificar a política do governo.

27, 2, 3, O mundo é um palco!

Esta é uma citação da peça As You Like It, de Shakespeare, Ato II, cena VII. (Bartlett 211).
40, 2, 3, …voltamos às cinco.

Uma expressão popular para dar um intervalo vem de uma frase do show business, embora leis de sindicatos agora requeiram dez minutos de intervalo (Sergal 219).

46, 3, 2, Mea Culpa

Do latin eu confesso ou a culpa é minha (Jonas 69).

47, 1, 3 – Bring me my bow of burning gold, Bring me my arrows/ of desire, Bring me My spear, O clouds unfold, Bring/ me my chariot of fire…I will not cease from mental/ flight Nor shall my sword sleep in my hand ‘Till we/ have built Jerusalem In England’s green and pleasant/ land.


Este é parte do poema de William Blake, And Did Those Feet (E Fez Esses Pés), do prefácio à sua coleção Milton. O prefácio de Blake para este trabalho foi um chamado aos cristãos para condenassem os clássicos escritos de Homéro, Ovídio, Platão, e Cícero, venerados no lugar da Bíblia. Ele declarou: Nós não queremos modelos gregos ou romanos na Inglaterra; de preferencia, ele disse, seus companheiros Cristãos deveriam se esforçar para criar esses mundos de eternidade nos quais nós viveremos para sempre, (MacLagan e Russell xix). V está, a seu modo, tentando criar a sua idéia de Jerusalém, um mundo livre, na Inglaterra. A tradução é a seguinte:
Tragam meu arco de ouro candente,
Traga minhas flechas de desejo,
Tragam minha espada, ó nuvens que se desfraldam,
Tragam minha carruagem de fogo…
Eu não cessarei minha luta espiritual…
Nem descansarei a espada em minha mão…
Até termos erguido Jerusalém…
Nas terras verdes e aprazíveis da Inglaterra.

54, 2, 2, Por favor, deixe que eu me apresente. Eu sou um homem de posses… e bom-gosto!

Esta é a abertura da canção Sympathy for the Devil, dos Rolling Stones, lançada em 1968.
56, 3, 3, Eu sou o Demônio e vim realizar a obra demoniaca!
Finch descreve esta citação como vindo de um famoso caso de assassinato, quase vinte anos antes de 1997. Uma busca em almanaques dos anos 1974 a 1979 revela que o único caso famoso de assassinato naquele tempo foi o do Filho de Sam/David Berkowitz. Berkowitz foi condenado por matar seis pessoas e ferir outras sete em ataques aleatórios nas ruas de Nova Iorque entre 29 de julho de 1976 e 31 de julho de 1977. Não havia nenhum motivo aparente por trás dos assassinatos; Berkowitz os explicou dizendo que foi um comando. Eu tive um sinal e o segui (Delury, 1978, 942). Considerando esta citação, e a aparente insanidade de Berkowitz, na qual o fez interromper seu julgamento com violentos ataques, é provável que esta citação venha desse caso.

57, 2, 1-2: O Senhor é meu pastor: e nada me faltará; Em um lugar de pastos, ali me colocou. Ele me conduziu junto a uma água de refeição. Converteu minha alma, me levou pelas veredas da justiça, por amor de seu nome!

Esta é a tradução feita da seguinte versão inglesa do 23º Salmo do livro bíblico dos Salmos, usada originalmente na versão em inglês de V de Vingança:
The Lord is my shepherd: therefore I can lack
nothing; He shall feed me in green pasture and lead
me forth beside the waters of comfort. He shall
convert my soul and bring me forth in the paths of
righteousness, for His name’s sake…
Esta parece ser uma estranha versão deste salmo. Não é nada parecida com a versão padronizada pelo Rei James:

The Lord is my shepherd, I shall not want. He maketh
me lie down in green pastures; He leadeth me
beside the still waters. He restoreth my soul: he
leadeth me in the paths of righteousness for his
name’s sake. (Bartlett 18)
Procurei em várias bíblias e descobri que cada uma tinha uma versão diferente. Em uma versão bastante comum, da Holy Bible (versão católica padrão da Bíblia), lê-se:

The Lord is my shepherd, I shall not be in want. He
makes me lie down in green pastures, he leads me
beside quiet waters, he restores my soul. He guides
me in paths of righteousness for his name’s sake. (310)

PARTE 2

9, 3, 1, The Magic Faraway Tree, por Enid Bla?? (na tradução da Ed. Globo – A Árvore distante)

Embora muitos dos livros em V de Vingança sejam reais, este aqui parece ser uma das invenções de Moore. Nem o Oxdford Companion to Children’s Literature, nem a Science Fiction Encyclopedia incluem o seu título.

15, 1, 3, Ouvi falar de um experimento…

A experiência, que não foi tão dramática quanto descrita em V de Vingança, foi administrada na Universidade de Yale em 1963 por Stanley Milgram. Os voluntários não estavam realmente acreditando que estavam matando as vítimas, e 65% (26 de 40 voluntários) continuaram administrando o que eles acreditavam ser perigosos e severos choques em suas vítimas (Milgram 376).

23, 2, 3, … uma mistura de extrato de Hipófise e Pineal.

Moore se refere-se a uma mistura de substâncias extraidas das glândulas Pituitária e Pineal, embora eu duvide que tal mistura apresente os efeitos que Moore descreve na série. Deve ser apenas uma criação de Moore.

24, 3, 3, fertilizante de amônia

Alguns fertilizantes contêm amônia que, na presença de certas bactérias, pode ser transformada em nitrato, que é usada pelas plantas (Chittenden 99).

24, 2, 2, gás mostarda

Este gás foi criado para ser usado como arma química durante a Segunda Guerra Mundial. Causa severas vesículas na pele e irritação nos olhos. Sua estrutura química é (Cl2CH2CH2)2S (sulfeto de 1,1-dicloro-etil) (Enciclopédia Americana 679).

24, 2, 3, napalm

Napalm é um explosivo derivado da gasolina, também usado durante a Segunda Guerra Mundial (Enciclopédia Americana 724). Não acho que uma pessoa possa fazer Napalm ou gás mostarda a partir de ingredientes de jardinagem. (N. do T.: Como foi apontado por outras pessoas, há a possibilidade de produzir tais substâncias com produtos de jardinagem, dependendo, é claro, das condições de produção. Mas como estamos falando de uma obra de ficção, o autor deve ter admitido que, devido a sua impressionante natureza mental, o personagem V seria capaz de tais façanhas científicas).

53, 3, 2, As Dunas de Sal

Este não é um filme real. Halliwell não dá nenhuma referência desse filme, e parece servir apenas como um ponto secundário do enredo, como um popular filme de Valerie Page.

57, 2, 3, Storm Saxon

Este programa de televisão é (felizmente) outra invenção. The Complete Encyclopedia of Television Programs de 1947-1979, não inclui nenhum programa parecido. A escolha do nome Saxon (saxão) é importante; o Saxões foram os descendentes dos conquistadores escandinavos que povoaram a França e a Inglaterra no século V (Greer 178-179). Note que a companheira de Storm é uma mulher branca de cabelos loiros chamada Heidi – o modelo de perfeição da Pureza ariana!

58, 2, 2, …na N.T.V um!

Aparentemente, N.T.V. significa Norse Fire Television (Televisão da Nórdica Chama), e é a substituição para a BBC – TV, a corporação estatal de televisão e radiodifusão britânica (Greene 566). O um se refere ao número do canal. A B.B.C. atualmente vai ao ar pelos canais Um e Dois (Greene 566).

62, 1, 3, …A gente paga, e pra quê?!

A BBC não é um canal comercial; é mantida pela venda das licenças de transmissão, pagas por donos de aparelhos de televisão e de rádio.

PARTE 3

4, 1, 2, Imagem espacial

Este é Neil Armstrong, caminhando na superfície da lua. Armstrong, a primeira pessoa a caminhar na lua, deu seu histórico passo em 1968.

6, 3, 1, Hitler

Um das imagens na colagem ao fundo é de Adolf Hitler, líder do Partido Nazista alemão, a linha de extrema-direita do governo que comandou a Alemanha de 1933 a 1945 e executou aproximadamente 6 milhões pessoas, entre judeus, ciganos, homossexuais e outros prisioneiros políticos (Sauer 248).

6, 3, 1, Stalin

O quadro de Josef Stalin está incluído porque, como Hitler e Mussolini, ele está associado com a tirania violenta. Ele controlou a antiga União Soviética de 1929 a 1953; durante os anos entre 1934 e 1939, ele prendeu e matou seus inimigos políticos, que eram quase todos membros das camadas militar, política e intelectual do país (Simmonds 571-74)

6, 3, 1, Mussolini

Benito Mussolini, outro líder apresentado na colagem, foi um líder italiano que era quase igual à Hitler em despotismo. Embora ele tenha começado como um socialista pacifista, durante a primeira grande guerra, ele formou o seu partido fascista de direita. Ele foi o ditador da Itália de 1922 a 1943, e controlou o norte da Itália de 1943 a 1945, antes de ser executado (Smith 677-78).

7, 2, 1, Imagem de tropas marchando (ao fundo)

Estas são as tropas nazistas do exército de Hitler.

A partir de agora, vamos acompanhar, por conveniência, a numeração das páginas do livro dois de V de Vingança, publicado pela Via Lettera.

17, 2, 1, … alguém que se espelha numa bandeira vermelha…

Historicamente, bandeiras vermelhas simbolizaram o movimento anarquista ou o comunista, ou ambos.

17, 3, 1, …Quero a emoção… da vontade triunfante…

 

Esta linha da canção no caberé se refere o famoso filme-documentário de propaganda nazista, The Triumph of the Will (O triunfo da Vontade, produzido por Leni Riefenstahl em 1934. O filme descreve um comício ao ar livre do partido nazista em Nuremburg como uma experiência mística, quase religiosa, da mesma maneira que a cantora está encenando (Cook 366).

18, 1, 2, …se um gato loiro…
Outra referência ao ideal da raça ariana.

18, 1, 2, O Kitty-Kat Keller

O nome da boate é uma referência ao clube burlesco Kit Kat Klub, do filme Caberet durante a subida de Hitler ao poder numa Alemanha pré II Guerra mundial. Ambos apresentam as iniciais KKK, que leva a uma inevitável associação com a infame organização racista Ku Klux Klan.

18, 3, 1, Faz ‘heil’ pra mim…

Mais uma referência ao nazismo; heil era a saudação verbal dada à Hitler com o braço direito levantado e a palma da mão virada para baixo.

43, 3, 2, …um show de marionetes muito especial…

O show que o pai de Evey menciona, e que vemos representado na página 34 é um tipo de show de marionetes conhecido como Punch & Judy, que se originou na Itália antes do século XVII. É um espetáculo extremamente violento; o boneco Punch geralmente bate nos outros personagens até a morte. Como V, Punch sempre destrói seus inimigos (Encyclopedia Americana 6).

PARTE 4

15, 2, 1, Arthur Koestler, As Raízes da Coincidência

Koestler foi um jornalista humanista e intelectual do início do século XX. Este trabalho trata de fenômenos paranormais [Enciclopédia Americana (530-31)].

34, 3, 1, 1812 Overtune Solennelle

Este peça musical, escrita em 1880 por Peter Ilich Tchaikovsky, foi a consagração da Catedral de Cristo de Moscou. A catedral foi construída em agradecimento à derrota de Napoleão em 1812. O trabalho incorporou um velho hino russo, e incluiu tanto o hino nacional francês, a Marseillaise, para representar a invasão de Napoleão e God Save The Czar (Deus Salve o Czar) para simbolizar a vitória de Rússia. Moore provavelmente escolheu este trabalho tanto pelo seu som revolucionário, quanto por um motivo incomum: a orquestração original incluía sons de tiros de um campo de batalha que o maestro produzia ao acionar interruptores elétricos (Adventures in Light Classical Music 34), uma ação que V imita com suas bombas.

48, 3, 1, Ordnung

Palavra alemã que significa, nesse caso, ordem, disciplina (Betteridge 452).
Aparentemente, na edição da Via Lettera, a grafia está errada: a palavra está escrita como Ordung.

48, 3, 2, Verwirrung

Palavra alemã que significa confusão, perplexidade, desordem (Betteridge 686).

49, 1, 1, Rodando em giro cada vez mais largo,/ O falcão não escuta o falcoeiro;/ Tudo esboroa…/… o centro não segura.

Estas palavras são do poema de William Butler Yeats, The Second Coming (A Segunda Vinda), que fala sobre uma figura que representa Cristo/anti-Cristo que sustenta a caótica história da humanidade (Donoghue 95-96). Isso ilustra visão de V de um mundo caótico, mas V acredita que como resultado do caos virá a ordem. Isto também está prenunciado, pois V representa um Cristo/anti-Cristo e Evey é a segunda vinda. O trecho em inglês do poema original é o seguinte:
Turning and turning in the widening gyre the
Falcon cannot hear the falconer.
Things fall apart…
the centre cannot hold.

54, -, – Todavia, como se diz, vale tudo no amor e na guerra. Como, no caso, trata-se de ambos, maior a validade./ Embora ostente os cornos de um traído, não serão/ eles uma coroa que usarei sozinho./ Como vê, meu rival, embora inclinado a pernoitar fora,/ Amava a mulher que tinha em casa./ Há de se arrepender/ O vilão que roubou meu único amor,/ Quando souber que, há muitos anos…/ Eu me deito com o seu.

V fala freqüentemente, como ele faz aqui, em pentâmetro iambico, que é um esquema rítmico. Cada linha consiste em cinco pés métricos, cada um dos quais contêm duas sílabas, uma breve (átona) e uma longa (acentuada), (Encyclopedia Americana 688). Simplificando, um pentâmetro iambico é uma coluna de cinco estrofes, cada uma formada por um iambo, que é uma medida – um pé de verso – constituído de uma sílaba breve e outra longa. Falando em versos brancos, característicos de peças Jacobeanas, V presta uma homenagem. Era comum que os dramas Jacobeanos fossem uma peça de vingança, que V imita em mortal adaptação ao longo da história. O texto original em inglês é o seguinte:
Still all in love and war is fair, they say,
this being both and turn-about’s fair play.
Though I must bear a cuckold’s horns, they’re not a crown that I shall bear alone. You see,
my rival, though inclined to roam, possessed
at home a wife that he adored. He’ll rue
his promiscuity, the rogue who stole
my only love, when he’s informed how
many years it is since first I bedded his.


56, -, – A Queda dos Dominós (imagem)

Os dominós, que V tem colocado em pé desde o começo, estão prontos para cair. Na pequena história de Harlan Ellison ‘Repent, Harlequin!’ said the Ticktockman ( Arrependa-se, Arlequim! disse o Homem-Tick-Tack), o primeiro ato de terrorismo do Arlequim é descrito dessa forma:
Ele tinha tocado o primeiro dominó na linha, e um após o outro, em um ‘chik, chik, chik’, tinham caído.
‘Repent, Harlequin!’ said the Ticktockman demostra uma ridícula distopia onde o tempo é tanto os meios quanto os fins para o facismo; nisto, o atraso é erradicado pela constante exigência da vingança bíblica: se um indivíduo está dez minutos atrasado, dez minutos são tomados do fim de sua vida. Neste mundo, o Arlequim, disfarçado com uma fantasia de palhaço, consegue perturbar o tempo derramando 150.000 dólares em balas de mascar em uma multidão de transeuntes que esperam em uma calçada móvel. As balas de mascar, que são um mistério já que foram deixadas de ser fabricadas há mais de cem anos (como os fogos de artifício de V e o badalar do Big Ben na página 145 de V de Vingança), literalmente impede o funcionamento da calçada e anula todo o sistema desse mundo por sete minutos. Este ato faz do Arlequim um terrorista contra o estado, e o Mestre Controlador do Tempo (o Homem-Tick-Tack do título) tem que descobrir a identidade do encrenqueiro antes do sistema ser totalmente destruído. Muitos dos truques de V são semelhantes aos do Arlequim: ambos usam fogos de artifício para se comunicar com as massas, e ambos aparecem sobre edifícios para zombar das massas com canções ou poemas. O Ticktockman sabe, como Finch, que a identidade do Arlequimé menos importante que o entendimento de o que ele é. O Arlequim e V fundamentalmente representam idéias opostas àqueles que dirigem seus mundos, e ambos, embora usem de destruição, semeiam os que detém o poder para demolir as realidades que os consomem. Ambos são, de certa forma, celebridades, e ambos são inimigos do estado porque eles querem ser reformadores deste [uma referência à Civil Disobedience (Desobediência Civil) de Henry David Thoreau].

PARTE 5

1, 2, 2, Dietilamida de Ácido Lisérgico

Também conhecido como LSD ou LSD-25, esta droga é um psicotrópico que induz a um estado de psicose. Foi isolada pela primeira vez em Basle, Suíça, em 1938 por Albert Hoffman, que a sintetizou a partir de um fungo que ataca cereais, causando uma moléstia conhecida como ferrugem de gramíneas (Stevens 3-4).

2, 1, 1, Quatro tabletes

Hoffman também foi a primeira pessoa a experimentar a LSD-25. No seu primeiro experimento, ele usou 250 miligramas (Stevens 4). Ele experimentou uma violenta viagem e as doses subseqüentes foram reduzidas para menos de dois terços da quantidade inicial (Stevens 10). Assim, os quatro tabletes de Finch, cada um com 200 miligramas, era uma quantidade muito, mas muito excessiva.

5, 3, 1, …in nomini patri, et filii, et spiritus sancti…

Latim, da missa Cristã: Em nome do Pai, e do Filho, e do espírito santo.

7, 2, -, La Voie… La Verite… La Vie.

Estas palavras são francesas, e significam, respectivamente, o caminho (ou a estrada), a verdade, a vida.

7, 3,1, Stonehenge

Um dos maiores e mais completos monumentos de pedra dispostas da Inglaterra. Sua origem e propósito são desconhecidos, mas se acredita que tenha sido ou um tipo de local de observação astrológica, ou um lugar para cerimônias religiosas, ou ambos.

9, 1, 3, Everytime we say goodbye…I die a little./ Everytime we say goodbye, I wonder/ why a little. Do the gods above me, who must/ be in the know think so little of me they’d/ allow you to go?

A citação é de uma canção de Cole Porter intitulada Ev’ry time we say goodbye (Toda Vez Que Dizemos Adeus), do espetáculo de Porter, Seven Lively Arts, de 1944. Porter (1891-1964) foi um compositor americano que escreveu trabalhos sinfônicos de jazz e musicais. Ele é mais lembrado por sua adaptação da peça de Shakespeare, The Taming of the Shrew (A Megera Domada), no musical Kiss me, Kate (Lax and Smith 611; Havelince 200).
Uma tradução livre para esse trecho da canção é a seguinte:
Toda vez que dizemos adeus… Eu morro um pouco. Toda vez que dizemos adeus, eu desejo saber um pouco porquê.
Será que os deuses acima de mim,
que sabem tanto de tudo, pensam tão pouco em mim,
a ponto de permitir que você se vá?

9, 2, 2, Faze o que quiseres, Eve. Essa será a única lei!

Esta é a Lei de Thelema, de Aleister Crowley, em sua publicação de 1904, The Book of the Law (O Livro da Lei). Crowley foi um controverso e mal-compreeendido mago e ocultista dos meados do século XIX e início do século XX. Ele declarou que esse livro foi ditado a ele por seu espírito guardião, um deus-demônio, a encarnação de Set, um deus egípcio, a quem Crowley chamava de Aiwas. Embora alguns interpretem a lei como permissão para fazer pura anarquia, pode na verdade significar que alguém tem que fazer o que deve fazer e nada mais (Guiley, 76).

13, 1, 1, … uma história de Ray Bradbury que você me leu, sobre um trigal…

A história é A Foice, do livro The October Country. O livro contém outros nove contos, e aqui no Brasil foi publicado com o nome de Outros Contos do País de Outubro.

15, 2, 1, Eu estou esperando o homem.

Esta é uma citação da canção de Velvet Underground Heroin (Heroína) sobre um viciado que espera por sua conexão que vai trazer mais de sua droga para lhe vender.

15, 3, 3, Adeus, Minha Adorada (Cartaz)

Este filme de 1945, cujo título em inglês é Farewell, My Lovely, foi produzido pela RKO. Foi um dos primeiros filmes noir, um estilo caracterizado pelo violência e depravação de suas personagens, seu enredos complexos e sua fotografia sombria e de alto-contraste. Este filme foi adaptado de um romance de Raymond Chandler, e trata da procura de um detetive particular pela namorada de um ex-condenado (Halliwell 314).

21, 2, 2, Eva Perón…, Evita…e Não Chores por mim, Argentina…
Eva Perón foi a esposa de Juan Perón, antigo presidente da Argentina,de 1946 a 1952. Eva Perón, também conhecida como Evita, controlou o sindicato trabalhista, e os purgou de seus líderes, fazendo-os assim completamente dependente do governo. Ela também suprimiu grupos que a insultavam. Porém, ela era bastante querida por muitos de Argentina. Eva Perón inspirou um musical, Evita, escrito por Andrew Lloyd Webber, e encenado pela primeira vez em Londres em 1978.

23, 1, 1, …e deu estes passos em tempos antigos…

As primeiras linhas do poema And Did Those Feets, de William Blake.

27, 2, – …então, como podes me dizer que estas sozinho…/ … e afirmar que o sol não brilha para ti?/ Dá-me tuas mãos e vem comigo pelas ruas de Londres./ Eu lhe mostrarei algumas coisas…/ … que te farão mudar de idéia.

Esta pode ser uma canção real; porém, Fui incapaz de determinar sua origem ou qualquer outra informação sobre ela.

41, 3, 1, … um funeral viking.

Os vikings enterravam seus mortos primeiro colocando o cadáver em um navio e, depois de atear fogo na embarcação, empurravam-na para dentro do mar.

41, 3, 1, Ave atque vale

Latim, que significa, Olá e adeus (Simpson 63, 70, 629).

52, 1, 2, Les Miserables (cartaz)

Este cartaz pertence a Les Miserables (Os Miseráveis), uma moderna peça de ópera de Claude-Michel Schonberg, baseada no romance de Victor Hugo e encenada pela primeira vez em Londres em 1980. Fala sobre um insignificante ex-criminoso que, saído da prisão, se torna um líder revolucionário (Behr 391).

55, 2, 2, As notícias de minha morte foram… exageradas.

Esta citação é de um telegrama enviado de Londres à Associated Press por Mark Twain, escritor americano, em 1897 (Bartletts 625).

Por Madelyn Boudreaux – 27 de abril de 1994.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/v-de-vinganca-guia-de-referencias/

Quem tem medo dos Illuminati?

Publicado no S&H dia 12/05/09

Com a estréia do próximo filme do Dan Brown nesta sexta feira, os católicos e evangélicos de todo o mundo entrarão novamente em polvorosa, com as maluquices que lhes são peculiares e todas as desculpas possíveis para aumentar a arrecadação de Dízimo para a luta contra “os maléficos Illuminati”.
Mas afinal de contas, quem são os Illuminati? De onde surgiram? Como se organizam? O que fazemos em reuniões? Eles querem mesmo dominar o mundo?
Estas e outras respostas você só encontra aqui no Teoria da Conspiração.

A Origem do Nome
O termo “Illuminati” ficou famoso por causa da loja de estudos fundada pelos professores Adam Weishaupt e Adolph Von Knigge em 1º de Maio de 1776, mas as origens deste termo são muito mais antigas e muito mais simples do que parecem.
Illuminati vem de “Iluminados”, ou seja, qualquer sacerdote ou estudioso que atingiu determinada posição dentro do Templo que permitiu a ele dispor de segredos iniciáticos até então desconhecidos aos graus inferiores.
O termo vem da correlação com o SOL. O centro do Templo, o Deus de nossos próprios corações. Simbolicamente denominado Tiferet, na Kabbalah; o grau de consciência no qual todos os quatro elementos estão dominados e o Adepto prossegue para a Câmara do Meio.
O grau de Illuminatus é um dos mais altos graus de diversas Ordens Esotéricas; o equivalente à “Faixa Preta” nas artes marciais… mas isso é tudo o que Illuminatus significa: alguém que deteve os conhecimentos de grau daquela Ordem, nada mais.
Achar que os “Illuminati” estão todos operando em uníssono para a dominação do mundo é tão ingênuo quanto achar que todos os “faixas-pretas” do mundo lutam e aprovam o mesmo estilo de combate.

A Estrutura dos Illuminati
A maioria dos graus ligados à Rosacruz ou aos gnósticos trabalha com graus baseados nas Emanações da Árvore da Vida. Esta estrutura foi desenvolvida inicialmente nos Templos de Toth/Hermes, mas contava apenas com sete graus, baseados nos Planetas Alquímicos (Lunae, Mercure, Veneris, Martis, Jovis, Saturni e Solis), sendo Solis o mais avançado. Cada grau possuía um Kamea (Quadrado Mágico) correspondente. Mais tarde os Pitagóricos finalizariam a estrutura para conter 10 esferas numeradas, como conhecemos hoje em dia.
Da relação do Sol com a iluminação tanto exotérica quanto esotérica, chamavam-se estes Mestres de “Mestres Iluminados”. O número 666 era atribuído a estes Mestres.

666? Mas não é o número do capeta?
Não… a origem do 666 é muito mais simples e prosaica; vem dos Kameas de cada um dos sete graus iniciáticos das Escolas de Toth.
Um Kamea é um “quadrado mágico” contendo os números e nomes (da conversão numérica para o alfabeto hebraico) divinos que servem como janelas para entender a natureza do ser humano e como ela interage com o macrocosmos.
Um kamea é representado como um quadrado contendo divisões internas, de acordo com a sefira da Kabbalah que aquele planeta representa: Então o Kamea de Saturno/Binah é um quadrado dividido em 3×3, o de Júpiter/Chesed 4×4, o de Marte/Geburah 5×5, o do Sol/Tiferet 6×6, o de Vênus/Netzach 7×7, o de Mercúrio/Hod 8×8 e o da Lua/Yesod 9×9.
Cada Kamea possui em seu interior os números de 1 até o quadrado da Sefira, dispostos de maneira que a SOMA de todas as linhas e colunas seja sempre o mesmo número.
Assim sendo, o Kamea de Saturno possui números de 1 a 9 (e cada linha/coluna soma 15 – ver na imagem ao lado), o de Júpiter de 1 a 16 (e cada linha/coluna soma 34), o de Marte de 1 a 25 (e cada linha/coluna soma 65), o do Sol de 1 a 36 (e cada linha/coluna soma 111), o de Vênus de 1 a 49 (e cada linha/coluna soma 175), o de Mercúrio de 1 a 64 (e cada linha/coluna soma 260) e o da Lua de 1 a 81 (e cada linha/coluna soma 369).
Além disto, cada Planeta está associado diretamente a um número sagrado, que é a somatória de todos os valores dentro do Kamea. Assim sendo, o número associado de Saturno/Binah é 45 (1+2+3+4+5+6+7+8+9), Júpiter/Chesed é 136, Marte/Geburah é 325, Vênus/Netzach é 1225, Mercúrio/Hod é 2080 e a Lua/Yesod é 3321.
E o Sol?
Se somarmos os números do Kamea do SOL, teremos 1+2+3+4…+34+35+36… adivinhem que número resulta desta soma? Isso mesmo… pode fazer as contas na sua calculadora, eu espero.
Calculou?
Exato. 666.
Tiferet representa o ser Crístico que habita dentro de todos nós. Dentro da Kabbalah, representa todos os deuses iluminados e solares:Apolo, Hórus, Bram, Lugh, Yeshua, Krishna, Buda, todos os Boddisatwas, todos os Mestres Ascencionados, todos os Serenões, todos os Mentores, todos os Pretos-velhos e assim por diante. Escolha uma religião ou filosofia e temos um exemplo máximo a ser atingido.
Tiferet representa a união do macrocosmos com o microcosmos, o momento onde o homem derrota o dragão simbólico (que representa os quatro elementos) e se torna um iluminado e, como tal, senhor de seu próprio destino. Tiferet é o mais alto grau de consciência que um encarnado pode atingir.
Desta maneira, quando se tornar um iluminado e senhor de seu próprio destino, o homem não vai mais se submeter aos mandos e desmandos de nenhuma religião dogmática… muito menos pagar DÍZIMO para ela… estão começando a entender da onde vem a associação da Igreja entre o 666, os “Iluminados” e o “anticristo” católico/evangélico?
Duvida? Aqui temos o exemplo de Washington, onde os arquitetos maçons projetaram a estrutura da Árvore da Vida dentro de um triângulo nas ruas da cidade… eu tomei a liberdade de pintar de vermelho a única parte que os evangélicos divulgam, “esquecendo” convenientemente o resto do projeto para “provar” suas teorias malucas de Illuminati…

Alumbrados, Iluminés e Rosa Cruzes
O historiador Marcelino Menéndez Pelayo encontrou registro do nome “Illuminati” já em 1492 (na forma iluminados, 1498), mas ligou-os a uma origem gnóstica, e julgou que seus ensinamentos eram promovidos na Espanha por influências vindas dos Carbonários da Itália. Um de seus mais antigos líderes, nascido em Salamanca, foi a filha de um trabalhador conhecida como a “Beata de Piedrahita”, que chamou a atenção da Inquisição em 1511, por afirmar que mantinha diálogos com Jesus Cristo e a Virgem Maria. Foi salva da fogueira por conta de padrinhos poderosos (fato citado pelo mencionado historiador espanhol em seu livro “Los Heterodoxos Españoles”, 1881, Vol. V).

Inácio de Loyola, o fundador da Companhia de Jesus, ordem religiosa da Igreja Católica cujos membros são conhecidos como jesuítas, na época em que estudava em Salamanca em 1527, foi trazido perante uma comissão eclesiástica acusado de simpatia com os alumbrados, mas escapou apenas com uma advertência. Outros não tiveram tanta sorte. Em 1529, uma congregação de ingênuos simpatizantes em Toledo foi submetida a chicoteamento e prisão. Maior rigor foi a conseqüência e por cerca de um século muitos alumbrados foram vítimas da Inquisição, especialmente em Córdoba.
Os Jesuítas, apesar de fortemente religiosos, enveredaram pelos estudos ocultistas e possuem sua própria organização interna de magistas e conhecedores de ciências herméticas. Aqui no Brasil, seu representante máximo é o famoso Padre Quevedo… esqueçam aquele personagem que vocês vêem na TV, o verdadeiro Quevedo fora das câmeras é uma pessoa totalmente diferente. É… quem diria que o Quemedo também possui o grau de Illuminatus?… isso ele não fala lá no programa da Luciana Gimenez!

Além dos Jesuítas e dos Alumbrados, o movimento com o nome de Illuminés chegou até a França em 1623, proveniente de Sevilha, Espanha, e teve início na região da Picardie francesa, quando Pierce Guérin, pároco de Saint-Georges de Roye, juntou-se em 1634 ao movimento. Seus seguidores, conhecidos por Gurinets, foram suprimidos em 1635. Um século mais tarde, outro grupo de Illuminés, mais obscuro, contudo, apareceu no sul da França em 1722 e parece ter atuado até 1794, tendo afinidades com o grupo conhecimento contemporaneamente no Reino Unido como French Prophets (Profetas Franceses), um ramo dos Camisards.

Uma classe diferente de Iluminados formam os Rosacruzes, que têm sua origem formal em 1422. Constituem uma sociedade secreta, que afirma combinar com os mistérios da alquimia a posse de princípios esotéricos de religião. Suas posições estão incorporadas em três tratados anônimos de 1614, mencionados no “Dictionnaire Universel des Sciences Ecclésiastiques”, de Richard and Giraud, Paris 1825. Os Rosacruzes deste período alegam serem herdeiros dos estudos dos Cavaleiros do Templo, ou Templários. Dentro da Filosofia Rosa Cruz Illuminati é o estágio de plenitude atingido depois de alguns anos de estudo.

O texto abaixo, da autoria do meu irmão Carlos Raposo, um dos maiores conhecedores e estudiosos da Ordo Templi no Brasil, vai ajudar a explicar os Illuminati da Baviera. 

Os famosos Illuminati da Baviera
Em Primeiro de Maio de 1776, na Alemanha, foi fundada uma sociedade que passaria a representar a síntese dos anseios e ideais compartilhados por Maçons e Rosacruzes: Os Iluminados. (ou Iluministas). Hoje, eles também são conhecidos como os Illuminati – embora haja o temerário risco do termo levá-los a serem confundidos com alguns movimentos esotéricos de nosso presente século.
Seu mentor, Adam Weishaupt (1748-1830), era um Maçom de ascendência judia, que havia tido educação católica e jesuíta. Essa singular mistura daria a Weishaupt uma grande versatilidade de pensamento, bem como independência de opiniões.
De raro e reconhecido talento, Weishaupt se graduou em Direito pela Universidade de Ingolstadt, onde passaria a exercer a profissão de professor titular de Direito Canônico, além de ser decano da Faculdade de Direto.
Durante seu estudos, antes de sua graduação acadêmica, Weishaupt obteve preciosos conhecimentos a respeito dos antigos ritos ditos pagãos e das religiões antigas. Nesses seus “aprendizados paralelos”, Adam Weishaupt muito absorveu dos antigos costumes, dando especial ênfase aos Mistérios de Elêusis e aos ensinamentos de Pitágoras.

Com base nesses conhecimentos, Weishaupt iniciava um esboço de uma Sociedade modelada segundo os conceitos do paganismo e da tradição dos mistérios ocultos. Porém, apenas após ele ter sido iniciado na Maçonaria (ao que tudo indica, Adam Weishaupt teria sido iniciado em Munique, por volta de 1774. Alguns autores, entretanto, apontam para 1777. Outros negam sua possível afiliação Maçônica) é que seu plano de formar uma nova Sociedade Secreta encontrou força suficiente para prosseguir. E assim foi feito.

Originalmente fundado como a “Sociedade dos Mais Perfeitos” (Perfekbilisten), os Iluminados, em princípio, contaram com a adesão de apenas cinco participantes.

Entretanto, tão logo foi começado a difusão de seus ideais, os Iluminados começaram a receber a adesão de vários novos membros, todos entusiastas dos propósitos de Weishaupt.

Os Iluminados da Baviera – como também eram conhecidos os Iluminados – eram dirigidos por um conselho de Areopagitas liderado por Weishaupt, que, para essa função, usava o pseudônimo de “Spartacus”. A estrutura básica dos Iluminados era composta de três graus, a saber: I* – Aprendiz (ou A Sementeira); II* – Maçonaria Simbólica; e o III* – Grau dos Mistérios. Os dois primeiros graus, por sua vez se subdividiam em outros três graus intermediários, enquanto que o III* era divido em Mistérios Menores e Maiores, que, por sua vez, também se subdividiam em graus intermediários. O total de Graus perfazia 12 estágios: começando em Noviço (o primeiro estágio do I*), até o Grau XII*, sob o título de Rex, ou Rei da Ordem. (Do sistema de graduação dos Iluminados veio a estrutura básica de algumas Ordens que hoje existem. Por exemplo, não chega a ser uma novidade o fato de uma bem famosa organização Rosacruz atual ter 12 Graus de Templo. Da mesma forma, uma das mais conhecidas Ordens Templárias de nossos dias, possui o grau de Rex, para a sua liderança)

O Grau de Noviço era tomado com a idade mínima de 18 anos, quando o novo aprendiz, através de indicação de alguém de confiança da Ordem, tinha acesso aos Iluminados, passando a receber suas primeiras instruções. Para ascender aos Graus subsequentes, havia um período de Provação de, pelo menos, um ano. (Novamente, o modelo adotado pelos Iluminados, segundo a concepção de Weishaupt, seria o padrão para uma série de outras escolas)

A função principal dos Graus superiores dos Iluminados era, através de todo um processo simbólico, baseado em toda uma temática libertária, impregnar seus Iniciados com esses ideais.

Como já dito, não só devido a proposição Iniciática de Weishaupt, mas também pelo modo como os Iluminados entendiam os sistemas políticos vigentes da época, interferindo quando julgavam necessário, logo eles alcançaram uma enorme repercussão por toda a Europa. O iluminismo, aos poucos, ganhava a adesão de importantes nomes do cenário Europeu, influenciando decisões que mudaram o rumo de alguns países do velho mundo. (os Iluminados – assim é afirmado -atuaram decisivamente na revolução francesa)
A visão política dos Iluminados era algo próximo de um Estado onde reinaria o bem comum, sendo abolidos a propriedade, autoridade social e as fronteiras. Uma espécie de anarquismo superior, saudável e utópico, onde o ser humano viveria em harmonia, numa Fraternidade Universal, baseada na sabedoria espiritual, em franca Igualdade, Liberdade e Fraternidade.

Os discursos de Igualdade, liberdade e fraternidade de Weishaupt iam de encontro aos poderes estabelecidos e esbarravam, em franca oposição à Monarquia, como instituição política; a Igreja, como instituição religiosa e aos grandes proprietários, como instituição econômica. (Hoje, por todos esses ideais, Weishaupt seria facilmente taxado de “comunista”. Entretanto, na época, esse modelo político ainda não havia sido devidamente sistematizado, nem definido). Outro ponto que devemos levar em consideração, antes de simplesmente considerá-lo um comunista, é que, as bases Religiosas que moviam os Iluminados, provavelmente eram, mesmo que uma utopia, bem nobres e absolutamente contrária ao que hoje consideramos como sendo de natureza “comunista”.

Weishaupt chegou a constituir toda uma eficiente rede de espionagem, na forma de agentes espalhados pelas principais cortes da Europa. A função básica dessa rede era se infiltrar entre o clero e os regentes, conseguindo informações políticas que permitissem a elaboração de uma estratégia de ação Illuminati, no sentido de se permitir a criação do Estado Ideal.
Após muitas tentativas de se estabelecer uma nação segundo seus princípios, os Iluminados foram politicamente extintos, em decreto instituído pelo Eleitor da Baviera, ao final do século XVIII.

E depois?
Uma vez que a semente do iluminismo foi lançada, não havia mais o que fazer por parte da Igreja. Grupos de livres-pensadores, estudiosos, cientistas e filósofos começaram a se reunir em lojas maçônicas, grupos de estudos e capítulos rosacruzes em todos os lugares do mundo.
Para tentar acabar com eles, a Igreja fez o que a Igreja faz melhor: chamou todos de “filho do demônio” e tentou distorcer ao máximo tudo o que conseguia, para continuar mantendo o povo no cabresto e arrecadar seus dízimos por ai.
Outra das estratégias da Igreja foi a de “jogar todos os gatos no mesmo balaio”. Assim como todas as Religiões afro são chamadas de “macumba” pelos fiéis, todos os estudiosos de todas as fraternidades esotéricas foram chamados de “Illuminati”.
Então “Os Illuminati isso, os Illuminati aquilo, mimimi… como eles são malvados, vamos queimá-los!”

E existem Illuminatis malvados, afinal?
Claro que existem!!! Da mesma maneira que você não tem como impedir que lutadores de jiu-jitsu faixa preta saiam pela rua batendo em mendigos, você também não tem como impedir que pessoas que tenham chegado aos últimos graus de conhecimento nas Ordens Esotéricas fundem suas próprias ordens. Basta ver que a Thulegesselshaft (que mais tarde seria a base de toda a estrutura nazista), a Ordem dos Nove Ângulos, a Igreja de Satã, o Scroll and Key, a Centúria Dourada, os Acumuladores e muitas outras ordens tidas como “fraternidades negras” tiveram entre seus fundadores pessoas que um dia obtiveram graus iniciáticos semelhantes aos dos Illuminati.
Disseram que eles estariam por trás dos Protocolos dos Sábios do Sião, por trás da Nova Ordem Mundial, por trás do Governo Oculto do Mundo, entre outras coisas, mas posso falar por experiência própria: a maioria dos Illuminati não consegue nem chegar a um acordo depois de uma sessão sobre que pizzas vão pedir para jantar, quanto mais dominar o mundo!

Os Illuminati e a Linhagem Sagrada
Outra confusão que acabou aparecendo na mídia depois dos livros do Dan Brown foi justamente a de que os Illuminati tomariam conta da Linhagem Sagrada, o que não é necessariamente falso nem verdadeiro. Muitas Ordens Esotéricas incluem estudos sobre a história das religiões em seus graus mais avançados, o que acaba levando ao conhecimento dos fatos relativos à família de Yeshua, à transformação do Yeshua-messias no Jesus-Apolo por Constantino e assim por diante.
Então obviamente existem grupos Illuminati que protegem supostos descendentes da linhagem e, ao mesmo tempo, devem existir também grupos Illuminati que desejam matar estas pessoas, ou que nem acreditam que elas existam…

E a Skull and Bones?
A Skull and Bones é uma sociedade secreta estudantil dos Estados Unidos da América, fundada em 1832. Foi introduzida na Universidade de Yale por William Huntington Russell e Alphonso Taft em 1833.
Entre 1831 e 1832, Russell estudou na Alemanha, onde supostamente teria sido iniciado em uma sociedade secreta alemã, a qual teria inspirado a criação da Skull and Bones. Tal hipótese foi confirmada durante obras realizadas no salão de convenções da Skull and Bones. Naquela ocasião foi encontrado material que se refere a Skull and Bones como o capítulo de Yale de sociedade alemã rosacruciana com influências das filosofias de Weishaupt. Skulls and Bones é uma fraternidade nos moldes das incontáveis fraternidades alfa-beta-gama dos filmes americanos tipo “A Vingança dos Nerds”, com a diferença que quem vai pra Yale tem MUITA, mas MUITA grana e poder…

E uma vez que eles saem da faculdade, eles se ajudam uns aos outros, como todas as fraternidades do planeta fazem com seus membros… a diferença é que eles estão no governo dos EUA.
Então eles NÃO são parte da maçonaria, NÂO são parte dos “Illuminati”

Junte-se aos Illuminati
Qualquer estudante sério de ocultismo consegue galgar os graus necessários para se chegar ao grau de Illuminatus em seis ou sete anos, em qualquer ramificação da Rosacruz, Maçonaria ou Martinismo. 

Semana que vem continuamos com o último capítulo da saga dos Cavaleiros da Távola Redonda.

Abraços
Marcelo Del Debbio
“Ad Rosem per Crucem;
Ad Crucem per Rosem.”

#Illuminati

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/quem-tem-medo-dos-illuminati

A Luz que não é

Por Kenneth Grant, Nightside of Eden, Capítulo III.

SEGUNDO A sabedoria oculta a Consciência Cósmica se manifesta na humanidade como sensibilidade que se concentra em um centro individualizado de consciência e divide-se em sujeito e objeto. O sujeito se identifica com o princípio consciente como ego, e o objeto é o seu mecanismo de consciência. Esta identificação de consciência com ego é ilusória e portanto o Princípio de Consciência é velado. [68] O ego se imagina como sendo uma entidade distinta dos objetos que ele sente e, ao invés de pura sensação, audição, visão, gustação, conhecimento, existe a falsa suposição que ‘eu sinto’, ‘eu ouço’, ‘eu vejo’, ‘eu experimento’, ‘eu conheço’. É assim que o mundo fenomenal (o mundo das aparências) é representado para nós como Malkuth. O processo inteiro, de Kether a Malkuth, é o de coberturas sucessivas acompanhado de uma perda crescente de consciência do Princípio de Consciência, sendo o pleno propósito da encarnação a ‘redenção’ e reintegração do Princípio perdido.

Budistas e Advaitas consideram estes véus como totalmente ilusórios, ao passo que outros os consideram como modificações do Princípio original. Sob quaisquer pontos de vista em que estes sejam considerados o problema continua inalterado: como resolver o perpétuo jogo de esconde esconde [69] que Kether joga através dos véus primários de sujeito e objeto (Chokmah e Binah), sendo o nexo deste localizado em Daäth. A causa do mistério, glamour, ou ignorância como os Budistas o chamam, é a identificação inicial e mal entendida do Self com seus objetos. Isto é causado principalmente pelo fato que, como os Qabalistas reivindicam, “Kether está em Malkuth e Malkuth está em Kether, porém de uma maneira diferente’. A presença de Kether em Malkuth [70] cria uma ilusão de realidade em todos os objetos. Este glamour engendra sensibilidade a qual desnorteia e submerge o Self em ilusão. Srí Ramakrishna compôs e cantou muitos hinos de transcendente beleza à sua ‘Maya encantadora do mundo’ ou jogo mágico de glamour e ilusão gerada nos sentidos da humanidade que confunde o irreal com o Real.

Kether é o foco da Consciência Cósmica, e a sua primeira manifestação é Luz [71]. O Ain, que é sua fonte, não é Escuridão mas a Ausência de Luz, e portanto a verdadeira essência da Luz. Kether é o ponto infinitesimal no espaço-tempo no qual a Ausência de Luz se torna sua Presença ao virar o Vazio (Ain) no avesso (de dentro para fora). Kether, e a Árvore da Vida resultante, podem portanto ser concebidos como o interior do Vazio [se] manifestando em Espaço, que é o mênstruo da Luz.

No microcosmo esta Luz se manifesta como a luz da consciência que ilumina a forma. Ela é a luz pela qual, e na qual, um pensamento pode ser visualizado na escuridão da mente; como os sonhos aparecem na escuridão do sono. Na esfera celestial, a consciência se manifesta como luz física, o sol. No reino mineral ela se manifesta como ouro. Biológicamente considerada ela é o falo que perpetua a semente de luz (consciência) no reino animal. Estas luzes são Uma Luz (Kether) e elas provém de uma infinita ausência de luz (Ain). Ao se derramar através de Kether ela é dividida em três raios que formam os três ramos supernos da Árvore. Estes possuem três pylons (portais_?): Chokmah, Daäth, e Binah, assim concentrando 16 kalas [72] que, com seu reflexo no mundo da anti-matéria (o Ain) constituem os 32 Caminhos ou Kalas da Árvore da Vida.

Escuridão é ausência de luz, uma ausência que torna possível a presença de tudo que parece ser. Não-ser, cujo símbolo é a escuridão, é a fonte do Ser, e entre estes dois terminais existe uma solution de continuité (solução de continuidade) representada pelo Abismo que separa o mundo numênico de Kether, com seus terminais gêmeos, [73] do mundo fenomenal de Malkuth. O ponto exato de discontinuité (descontinuidade) é marcado pelo Pylon de Daäth no meio do Abismo. Daäth é conhecimento do mundo fenomenal refletida para baixo através dos Túneis de Set na parte posterior da Árvore. Este conhecimento, ou Daäth, é a morte do Self. Ele representa o estágio primário no qual as mortalhas são tecidas em volta da múmia que entra em Amenta no Deserto de Set. Ele aparece na frente da Árvore como a semelhança aparentemente viva do ego com o qual ele se identifica em sua descida gradual para dentro da matéria (Malkuth). Seu despertar para a consciência mundana é em realidade um sono e uma morte dos quais o Princípio de Consciência original pode ser salvo apenas atravessando os Caminhos de Amenta em reverso. Esta jornada para trás através dos Túneis de Set começa no Tuat, a passagem preliminar ou 32o Caminho que conduz de volta de Malkuth (consciência mundana) até as esferas astrais de Yesod.

As tradições orientais tem tipificado esta descida de Consciência nos termos dos três estados de consciência sushupti (sono), svapna (sonho), e jagrat (vigília), e sua reintegração em um quarto estado – turiya – que não é realmente um estado definitivamente, mas o substrato dos outros três e o único elemento real naqueles três. Turiya se iguala com Kether (Consciência Indiferenciada), Sushupti se iguala com Daäth, Svapna com Yesod, e Jagrat com Malkuth. Este esquema se iguala à doutrina cabalista: O estado de sono profundo e sem sonhos (sushupti) é um estado no qual a mente não está consciente do universo objetivo ou fenomenal. Ele é vazio no sentido em que está isento de pensamento (imagens), e escuro no sentido em que dentro deste a luz está ausente. Sushupti funde-se em Svapna, o estado de objetividade subjetiva, ou sonho, porque Kether cria no vazio de Sushupti uma tensão que se manifesta como vibração. Esta tensão é refletida no mundo dos sonhos (Yesod) como sensibilidade latente nas zonas de poder micro cósmicas (chakras) nos quais ela assume formas elementais de éter, fogo, ar, água, e terra. Em outras palavras, esta vibração se manifesta como os seis sentidos que, por sua vez, são projetados como fenômenos objetivos no estado de vigília (jagrat; Malkuth). Desta maneira um estado ou mundo de consciência funde-se em outro. Similarmente, um estado ou nível de Consciência Cósmica se desenvolve e evolui em outro até que o Princípio de Consciência original seja objetivado com densidade crescente. Desta maneira o mundo do ‘nome e forma’ parece ao ego (o pseudo sujeito) como ‘realidade’, enquanto que no fato real a Realidade se retira enquanto o Princípio de Consciência retrocede e retorna ao ponto de sua ausência original.

Daäth como [sendo] o ego é a sombra-shakti ou poder ocultador de Kether no momento ultra rápido (como o raio) de sua bifurcação em Chokmah (sujeito) e Binah (objeto). O ego é uma sombra, mas ele é a sombra da realidade. É impossível expressar este conceito na linguagem da dualidade. Realidade é Não-Ser, e o ego é o reflexo ou reverso da Realidade nas águas do Abismo; mas a imagem não está apenas revertida, ela está também invertida. [74] Nos termos da Tradição Draconiana o ego é a miragem que aparece no Deserto de Set.

A exaltação do ego em Daäth e sua reivindicação em ser a Coroa [75] é a blasfêmia contra a divindade, e aqueles que estabeleceram este falso ídolo tem sido chamados de Irmãos Negros (Black Brothers). Por este ato eles banem a si mesmos para o Deserto de Set pela duração de um aeon; ou, se profundamente comprometidos com a hierarquia inversa, eles podem manter esta soberania de sombra durante ‘um aeon e um aeon e um aeon’, um kalpa inteiro ou Grande Ciclo de Tempo. O falso rei dura até que o kalpa seja eliminado por um Mahapralaya. [76] Contudo, tais Irmãos Negros não devem ser confundidos com os Irmãos Negros cujo ídolo não é o ego mas um certo Chefe secreto de uma hierarquia verdadeiramente inversa que resume todos os 777 [77] caminhos na parte posterior da Árvore. Eliphas Lévi indicou esta hierarquia em termos de ‘magia negra’ e do Chefe Bafomético iluminado com o enxofre do inferno e adorado pelos Templários. Outra Adepta que teve um breve vislumbre desta Hierarquia Negativa foi H.P.Blavatsky, embora sua imensa luta para retirar através do véu algum fragmento(?) de seus negros mistérios resultou apenas na confusão volumosa de suas duas obras monumentais. [78] Talvez a Ísis que ela buscou desvelar não fosse a Ísis da natureza manifesta na matéria, mas a Nova Ísis do Não Natural, da antimatéria, com seus vazios do ser e buracos negros no espaço. Antes de explorar os Túneis de Set temos que estabelecer o fato de que os mistérios do Não Ser, embora não interpretados nos tempos antigos no modo pelo qual nós os interpretamos hoje, foram não obstante considerados como possuindo um significado que era tanto vital como ameaçador. Isso é o mais surpreendente uma vez que é apenas dentro dos cinqüenta anos passados ou mais que estes assuntos obscuros tem sido iluminados através de descobertas surpreendentes nos campos da física nuclear e sub-nuclear e psicologia, nenhuma das quais tendo sido demonstrada cientificamente quando a doutrina cabalística estava sendo evoluída.

Ainda assim outro adepto dos tempos recentes, Salvador Dali, sugeriu através das ausências negras que surgem abruptamente em algumas de suas pinturas a doutrina do não-ser, do negativo,do numênico que é a Realidade subjazendo a existência fenomenal. [79]

Embora haja uma solução de continuidade entre os dois mundos – representados pelas partes anterior e posterior da Árvore – existe nada mais do que uma copula, e ela reside em uma função peculiar da sexualidade. Ela não é uma ponte em qualquer sentido positivo, e portanto ela não pode ser descrita, contudo ela pode ser pressagiada através da analogia de um raio brilhando entre eletrodos invisíveis de eletricidade positiva e negativa. As dimensões interiores do não-ser podem ser iluminadas pelo brilho ofuscante liberado pela energia sexual descarregada em conexão com certas técnicas de magia(k) Tifoniana na qual a energia pré- conceitual é capturada pelos mais tênues tentáculos da consciência assim que ela vaza através do véu do vazio a partir do olho transplutônico (Ain) além de Kether.

O Livro de Dzyan, O Livro da Lei, e os Livros Sagrados Thelêmicos, todos os quais tem sido disponibilizados durante o século passado, contém fórmulas mágicas que tem sido utilizada desde tempos imemoriais, mas não existe ainda nenhum comentário adequado à qualquer um deles, pois ambos Blavatsky e Crowley – avançados como eles indubitavelmente eram – estavam limitados por uma atitude basicamente de velho aeon perante o Vazio. Crowley, talvez em virtude de uma identificação consciente com a Corrente Draconiana (através dos mistérios do número 666), tinha compreendido intuitivamente a possibilidade de um anti-Cristo e um anti-Espírito embora ele não pudesse, ao que parece, confrontar a idéia de anti-Logos! Isto é evidenciado pelo horror com que ele se referiu ao Aeon que não possui nenhuma Palavra, um aeon ainda por vir ao qual ele atribui a letra Zain. [80] Apenas um Adepto, que eu saiba, estava atento ao fato de que Crowley não pronunciou uma Palavra, porque, sendo identificado com a Besta ele era incapaz de formulá-la [81]. Mas a reversão à falta de fala e incapacidade bestial de pronunciar uma palavra não explica a falha de Crowley que estava enraizada em sua inabilidade de sondar a dimensão atemporal onde a verdadeira anti-palavra (anti-cristo) verdadeiramente se obteve. [82]

Um exame sobre a versão de Dion Fortune sobre a Doutrina Cósmica revela uma relutância similar, ou talvez uma inabilidade genuína em perceber interiormente (insee_?) a questão a qual é a de que a Magia(k) da Luz (LVX) não se relaciona nem com magia branca nem com magia negra mas com uma corrente oculta que, como Austin Spare corretamente assumiu, vibra nos espaços intermediários [entre os espaços]; nos interstícios, por assim dizer, da ausência de espaço espiritual que existe em um vazio necessariamente atemporal por detrás, ou em algum lugar fora, da Árvore.

Se Daäth, cujo número é onze, [83] for contada junto com as quatro sephiroth remanescentes do Pilar do Meio, [84] o número 37 será obtido. Este é um número primo significando a plena manifestação da corrente mágica simbolizada por Set ou Shaitan. [85]

Aquilo que era conhecido pelos Cabalistas como a Árvore da Morte era de fato o outro lado da Árvore da Vida, e as qliphoth eram forças ‘demoníacas’, os anti-poderes ocultados nos túneis de Set que formavam a rede interior e reflexo reverso dos Caminhos.

O célebre Cabalista Isaac Luria (1534-1572) compôs as seguintes linhas as quais Gershom Scholem [86] descreve como um ‘exorcismo dos “cães insolentes”, os poderes do outro lado’:

Os cães insolentes devem ficar do lado de fora e não podem entrar, Eu chamo o ‘Antigo dos Dias’ à noite até que eles sejam dispersados, Até que sua vontade destrua as ‘conchas’. Ele os lança de volta para dentro de seus abismos, eles devem se esconder profundamente em suas cavernas. [87]

Os cães insolentes são, em um sentido muito especial, ‘os cães da Razão’ (i.e. de Daäth) mencionados em AL, capítulo 2, verso 27. A atribuição do cão aos reinos infernais deriva do Egito onde o chacal ou raposa do deserto é o típico habitante do Abismo, sendo ambos estes animais totens de Set. O simbolismo ilumina o capítulo 2, verso 19: ‘Deve um Deus viver em um cão? Não! mas os mais elevados são de nós . . .’ Cão, que é a palavra Deus ao contrário, indica o Pylon de Daäth através do qual o cão da razão entra no Abismo e ‘perece’. Um deus não deve ‘viver em um cão’, mas os ‘mais elevados são de nós’. O mais elevado é a altura representada pela oitava cabeça da Serpente que habita no Abismo. Os ‘mais elevados são de nós’ implica que existem outros três: a tríada superna ou mais elevada da Árvore, consistindo de Kether, Chokmah e Binah. Junto com o oitavo (ou mais elevado) estes três formam onze. A deusa Nuit (que é Não) proclama no capítulo 1, verso 60: ‘Meu número é 11, como todos os seus números que são de nós’. Estas palavras fornecem a chave para o mistério do Oito e do Três, ou o Um e o Três, [88] pois a Serpente é Uma embora ela tenha oito cabeças. [89] Onze é o número da magia(k), ou ‘energia tendendo à mudança’, e é no pylon de Daäth que esta morte ou modificação mágica ocorre. Daäth é o único ponto na Árvore que dá acesso ao mundo de Nuit (Não). A palavra ‘nós’, em ambos os versos, é cabalisticamente igual a 66 que é o ‘Número Místico das Qliphoth e da Grande Obra’. [90] Então aqui há uma chave para o real significado das Qliphoth que tem iludido cabalistas e ocultistas do mesmo modo, pois poucos tem sondado a função das qliphoth com relação à Grande Obra. Entretanto quando se percebe que o ‘mundo das conchas’ é formado pelo lado reverso da Árvore é possível compreender porque ele tem sido considerado como inteiramente maligno.

As qliphoth não são apenas as conchas dos ‘mortos’ mas, de forma mais importante elas são as anti-forças por trás da Árvore e o substrato negativo que subjaz toda vida positiva. Como no caso do Livro dos Mortos egípcio, cujo título significa seu oposto preciso, [91] assim também a Árvore da Morte judaica é a fonte numênica da existência fenomenal. É a última que é falsa pois o mundo fenomenal é o mundo das aparências, como seu nome implica. A fonte numênica por si É, porque ela NÃO é. Uma vez que esta verdade seja compreendida torna-se evidente que os antigos mitos sobre o mal, com sua demoníaca e terrificante parafernália de morte, inferno, e o Demônio, são sombras distorcidas do Grande Vazio (o Ain) que persistentemente assombra a mente humana. Estes mistérios são explicados em termos cabalísticos pelo número 66 que é a soma da série de números de um a onze. 66 é o número da palavra LVL que significa ‘torcer’ ou ‘circundar’(o outro lado da Árvore). Como já foi notado, a humanidade está ‘reservada a fazer um giro ao redor das costas da Árvore’ durante o Aeon de Zain. Este é o Aeon que não possuirá nenhuma Palavra porque este é o Aeon do anti-logos que será vivido no reino do cão, o que é um modo simbólico de denotar as costas da Árvore. Além do mais, Zain está conectado com o simbolismo ‘gêmeo’ de Gemini, e uma espada denotou a mulher, ou o que parte em dois (?), como mostrado na oitava chave do Taro. Esta chave também contém a fórmula do Amor através da polarização, pois no Aeon de Zain a humanidade terá transcendido as ilusões de tempo e espaço, tendo compreendido a base numênica da consciência fenomenal.

Segundo a tradição oculta o homem alcançará a iniciação final pelo Fogo antes do fechamento ou retirada final do presente Mahakalpa. [92] Sessenta e seis é também o número de DNHBH, o nome de uma Cidade de Edom que é a sombra da Cidade das Pirâmides (Binah, ) no Deserto de Set (). Seu pylon, Daäth, é o santuário daquele Chefe Secreto (o Oitavo) que os Templários adoravam sob a imagem de Baphomet, o Deus do Nome Óctuplo, Octinomos. Crowley assumiu a forma-deus de Baphomet como ‘Chefe’ da O.T.O. [93] Oito mais três (a Tríada Superna) constitui o Sagrado Onze: o número daqueles ‘que são de nós’. ‘Nós’ (66) é também o número de ALHIK que é interpretado em Deuteronômio, iv, 24, como ‘O Senhor teu Deus (é um fogo que consome)’. Pode ser demonstrado que este fogo é a Serpente de Fogo ou Corrente Ofidiana. 66 é o número de Gilgal (GLGL) ‘uma roda’ ou ‘espiral’ e é instrutivo notar que a tradição hindu dos chakras, ou rodas de força, confirma a interpretação egípcio-caldaica dos mistérios de Daäth.

Se um diagrama da Árvore da Vida for superposto de ponta cabeça sobre uma forma correta desta, vários fatos significativos virão à tona. Tiphareth permanece central, o pivô ao redor do qual nós giramos a Árvore invertida; mas ao invés do Fogo Branco do Sol nós agora temos o Fogo Negro de sua anti-imagem; e Kether se tornou Malkuth como se para ilustrar, literalmente, o texto ‘Kether está em Malkuth e Malkuth está em Kether, mas de uma maneira diferente’. Esta ‘maneira diferente’ se refere à um modo mágico associado com a fórmula do cão que, segundo meu conhecimento, foi indicada apenas em um exemplo – a saber: no Liber Trigrammaton. [94] Este livro é descrito por Crowley como um informe sobre o processo cósmico correspondente às stanzas de Dzyan em outro sistema’. [95] Finalmente, porém mais significativamente, Yesod agora cobre Daäth. Yesod é o assento das forças sexuais e do aspecto mais denso das energias eletromagnéticas da Serpente de Fogo. Ele é a morada de Shakti e o local ou centro especial de culto dos devotos de Shaitan (Set) entre os Yezidis. [96] Daäth potencializada por Yesod se torna portanto a Palavra energizada, o linga ao invés da língua, pois Daäth se equaciona com o Visuddha Chakra, como Yesod se equaciona com o Muladhara. [97] A ligação entre linguagem, [98] representada pela Palavra (Visuddha Chakra) e o linga, representado pelo Muladhara, é óbvia porque o Logos é a forma assumida pelo linga quando ele pronuncia sua Palavra suprema. [99]

A característica peculiar de Daäth sózinha é que as condições de iniciação obtidas nesta esfera requerem a total desintegração da Palavra. Em outras palavras: O Muladhara encontra seu anti-estado em Daäth, e a Palavra permanece não pronunciada. Isto em si mesmo inicia o Aeon de Zayin, que é um aeon subjetivo que começa se e quando um Adepto salta os vazios por trás da Árvore. Esta é a Grande Obra implicada pela fórmula de viparita como tipificada pelo reverso da Árvore.

Notas:

68 Isso é descrito no Liber LXV (verso 56, capítulo IV) como o ‘Erro do Início’. Esta é a falha essencial notada pelos Árabes, a ‘Queda’ original.

69 No Hinduísmo, este Jogo é descrito como um ‘Lila’ que tem sido traduzido como ‘esporte divino’, ‘máscara’ ou a eterna Dança de Shiva e Shakti. Esta ilusão básica mais tarde fez surgir o conceito de ‘pecado original’ que foi pervertido pelos cristãos se tornando uma doutrina de importância moral.

70 i.e. Consciência ou Sujeito em todos os objetos.

71 A LVX ou Luz da Gnose.

72 O número de Chokmah é 2; o de Daäth, 11; e Binah é 3; 16 kalas no total.

73 Chokmah (sujeito) e Binah (objeto).

74 Vide o Grande Símbolo de Salomão; figura 1 em Magia Transcendental de Eliphas Lévi.

75 Um título de Kether.

76 Literalmente, Grande Dissolução. O retrocesso para dentro do Vazio [por parte] do Universo após sua manifestação na matéria. Um Mahapralaya ocorre após cada sete fases de existência manifesta. Vide Aleister Crowley e o Deus Oculto, capítulo 4.

77 O número total de Caminhos e Sephiroth da Árvore da Vida.

78 Ísis Sem Véu e A Doutrina Secreta. Estas obras estão repletas com alusões à mistérios que são iluminados pela Tradição Draconiana e são explicadas no presente volume.

79 Vide em particular a pintura entitulada ‘Acomodação dos Desejos’, reproduzida em A Vida Secreta de Salvador Dali, e em outros lugares.

80 Vide capítulo anterior.

81 O adepto em questão era Charles Stansfeld Jones (1886-1950), conhecido como Frater Achad. Vide Cultos da Sombra, capítulo 8.

82 Frater Achad, com sua fórmula de reversão e negação, parece ter chegado mais próximo do verdadeiro significado de AL do que o próprio Crowley, pois os comentários de Crowley revelam uma abordagem consistentemente positiva e consequentemente fenomenal ao seu significado.

83 Daäth é 11 e 20, e portanto 31, AL, a Palavra Chave do Aeon de Hórus. 84 10 + 9 + 6 + 11 + 1 = 37.

85 Três, o número de Set ou Saturno, multiplicado por 37 resulta em 111 que é o número de Samael (Satã), Pan, e Baphomet.

86 A Kabbalah e seu Simbolismo (Routledge, 1965).

87 Velho dos Dias’, usualmente traduzido como ‘Antigo dos Dias’, é um título de Kether. As ‘Conchas’ são as qliphoth.

88 Existe um mistério maior aqui que concerne a letra de fogo – Shin. De acordo com o Sefer há-Temunah esta letra em sua forma completa possui quatro, não três, línguas. Scholem observa (ibid, pagina 81) ‘Em nosso aeon esta letra não é manifestada e portanto não ocorre em nosso Torah’. Também, ‘Todo aspecto negativo está conectado com esta letra ausente’. Shin, é a tripla língua de fogo, e a letra de Set ou Shaitan, também de Chozzar o deus da Magia(k) Atlante, e de Choronzon, a Besta do Abismo.

89 Hadit diz no capítulo 2, verso 30: ‘Eu sou oito, e um em oito’.

90 Liber D. (Vide O Equinócio, volume I, No.8).

91 i.e. O Livro dos Sempre Imortais.

92 Fogo = a chama de 3 línguas representada pela letra Shin. Segundo Crowley (Diário Mágico, p.144) ‘Shin é o Fogo de Pralaya, o “Juízo Final” ‘.

93 Ordo Templi Orientis, A Ordem do Templo do Oriente, da qual Crowley foi em uma ocasião o Grão Mestre.

94 Vide Os Comentários Mágicos e Filosóficos sobre o Livro da Lei. (Ed.Symonds and Grant; 93 Publishing, Montreal, 1974).

95 A referência é ao sistema exposto por H.P.Blavatsky.

96 Vide a Trilogia Tifoniana (Grant/Muller, 1972-75) para um informe completo sobre esta zona de poder.

97 As regiões da garganta e dos genitais respectivamente.

98 Mais corretamente, langage, no sentido de uma língua sagrada.

99 i.e. no momento do orgasmo.

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Revisão final: Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/a-luz-que-nao-e/