04/10 – Dia de São Francisco de Assis

São Francisco nasceu em 1182 em Assis, Itália. Filho de um comerciante rico, ele teve tempo e dinheiro para gastar com leituras e hospedar banquetes para os jovem nobres, que o proclamaram “O Rei de Banquetes”. Jovem e bonito, ansiou por uma vida de aventuras como cavaleiro. Assim, aos 20 anos entrou na guerra entre Assis e Perugia. Ao partir, jurou voltar consagrado cavaleiro. Foi ferido e feito prisioneiro. Passou um ano em um calabouço, onde contraiu malária. Resgatado por seu pai, voltou a Assis mais reflexivo. Ainda assim, o desejo de lutar pela “justiça” através das armas não o abandonou. Quando soube das vitórias militares do Conde Walter de Brienne voltou a querer ser um cavaleiro. A caminho de juntar-se a Brienne, Francisco parou em Spoleto e ouviu as notícias da morte de seu futuro ex-líder. Tomado pela depressão, sua malária retornou.

Uma noite, uma voz misteriosa perguntou a ele: “Quem você pensa que pode melhor recompensar você, o Mestre ou o empregado?” Francisco Respondeu, “O Mestre.” A voz continuou, “Então por que você deixa o Mestre pelo empregado?” Francisco percebeu que o empregado era o Conde Walter. Ele deixou Spoleto seguro de que Deus havia falado com ele. Durante os próximos dois anos Francisco sentiu uma força interna que o estava preparando para uma mudança. A visão de leprosos causava uma convulsão na alma sensível de Francisco. Um dia, enquanto montava seu cavalo, ele encontrou um leproso. Seu primeiro impulso era o de lançar uma moeda e esporear seu cavalo pra sair dali o mais rápido possível. Ao invés disso, Francisco desmontou, abraçou e beijou o leproso, dando-lhe uma bolsa de moedas. Muito depois, em seu leito morte, ele recordou o encontro como o momento de coroamento de sua conversão: “O que antes parecia amargo pra mim se converteu em doçura de alma e corpo”.

Passou a evitar a vida de banquetes e esportes ao lado de suas companhias habituais, que, em tom de brincadeira, perguntavam se ele estava pensando em casar. Ele respondeu “sim, com a mais formosa dama que vocês já viram”. Mais tarde saberíamos que ele se referia à Madonna Povertà – a Senhora Pobreza – como costumava dizer. Ele passou muito tempo em locais solitários, pedindo a Deus por Iluminação.

Após uma peregrinação à Roma, onde clamava pelos pobres nas portas das Igrejas, São Francisco volta a Assis e ora ante a imagem do Cristo Crucificado nas ruínas da Igreja de São Damião. No que pareceu-lhe ouvir claramente: “Francisco, Francisco, vai e repara minha casa, que, como podes ver, está em ruínas” Pensando tratar-se do velho templo onde se achava, agiu de pronto, vendendo o cavalo e os tecidos de seu pai, que tinha em mãos. Seu pai, indignado com o novo gênero de vida adotado por Francisco, após ameaças e castigos, queixou-se ao bispo Dom Guido III e, diante dele, pediu a Francisco que lhe devolvesse o dinheiro gasto. A resposta foi uma renúncia total à vultosa herança: tirou, ali mesmo na Igreja, as próprias vestes, e exclamou: “… doravante não direi mais pai Bernardone, mas Pai nosso que estás no céu…”

Ele se tornou um mendigo, e com o dinheiro dos viajantes ajudou a reconstruir mais três pequenas igrejas abandonadas: a de São Pedro, a de Porziuncola e a de Santa Maria dos Anjos, sua preferida (e lugar onde morreu).

Por essa época ouve um sermão que mudou sua vida. Era sobre Mateus 10:9, no qual Cristo fala aos seus seguidores que eles deveriam ir adiante e proclamar que o Reino de Céu estava neles, que não deveriam levar nenhum dinheiro com eles, nem mesmo uma bengala ou sapatos para a estrada. Assim, Francisco foi inspirado por esse sermão a se dedicar completamente a uma vida de pobreza. Suas humildes túnicas amarradas por um simples cordão levam até hoje três nós, são seus votos de: Pobreza, Obediência e Castidade. Começa a atrair outras pessoas com seus sermões, e em 1209 já são 11 companheiros de jornada. Frascisco recusa o título de padre, e a comunidade se dá o nome de Fratres minores (irmãos menores, em Latim). Eles vivem uma vida simples e alegre perto de Assis, sempre com muitas canções, embora fossem bastante sérios em suas pregações. Viviam em cabanas de taipa; suas igrejas eram modestas e pequenas; dormiam no chão. Não tinham cadeiras ou mesas, e possuíam poucos livros.

AS ORDENS

Em 1209 Francisco foi com seus 11 novos irmãos à Roma, buscar a permissão do Papa Inocêncio III para fundar uma ordem religiosa. O biógrafo Frei Boa Ventura conta que o Papa não quis aprovar logo a regra de vida proposta por Francisco, porque parecia estranha e por demais penosa às forças humanas no parecer de alguns cardeais. Mas o cardeal João de São Paulo, bispo de Sabina, intercedeu e disse a Francisco: “Meu filho, faze uma oração fervorosa a Cristo para que por teu intermédio nos mostre a sua vontade. Assim que a tivermos conhecido com maior clareza, poderemos aceder com mais segurança aos teus pedidos”.

Francisco o fez, e com suas humildes súplicas obteve do Senhor que lhe revelasse o que deveria falar ao Pontífice e que este sentisse em seu íntimo os efeitos da inspiração divina. Contou então ao Pontífice a parábola de um rei muito rico que, feliz, desposara uma bela senhora pobre e dela tivera vários filhos com a mesma fisionomia do rei, pai deles, e que por isso forem educados em seu palácio. E acrescentou: “Não há nada a temer que morram de fome os filhos e herdeiros do Rei dos céus, os quais, nascidos por virtude do Espírito Santo, à imagem de Cristo Rei, de uma mãe pobre, serão gerados pelo espírito da pobreza numa religião sumamente pobre. Pois se o Rei dos céus promete a seus seguidores a posse de um reino eterno, quanto mais seguros podemos estar de que lhes dará também todas aquelas coisas que comumente não nega nem aos bons nem aos maus!” O Papa ficou maravilhado e já não duvidava de que Cristo havia falado pela boca daquele homem. Especialmente porque tivera, pouco tempo antes, um sonho onde a basílica do Latrão estava prestes a ruir e um homem pobre, pequeno e de aspecto desprezível, a segurava nos ombros para não cair. Ainda assim, o Papa aprova as regras só verbalmente (um ano depois a aprovaria no papel). Surge assim a Fraternidade dos Irmãos Menores, a Primeira Ordem.

No Domingo de Ramos de 1212, uma nobre senhora, chamada Clara de Favarone (hoje conhecida por Santa Clara ou Clara de Assis), foi procurar Francisco para abraçar a vida de pobreza. Alguns dias depois, Inês, sua irmã, segue-lhe o caminho. Surge a Fraternidade das Pobres Damas, a Segunda Ordem. Aqueles que eram casados ou tinham suas ocupações no mundo e não podiam ser frades ou irmãs religiosas, mas queriam seguir os ideais de Francisco, não ficaram na mão: por volta de 1220, Francisco deu início à Ordem Terceira Secular para homens e mulheres, casados ou não, que continuavam em suas atividades na sociedade, vivendo o Evangelho.

NO ORIENTE

A parábola que Francisco contou ao Papa para convencê-lo a reconhecer a Ordem guarda uma fantástica semelhança com a história do Islã, pois Abraão (o patriarca do judaísmo) tinha duas esposas: Sarah e Hagar. Sarah deu a luz a Isaac, e Hagar a Ismael (futuro patriarca do povo árabe, não apenas dos islâmicos). Sarah, enciumada, pediu o banimento de Hagar e seu filho, e Abraão a mandou da Palestina para o deserto Árabe, crendo que Deus cuidaria deles. Quando acabaram as provisões (água especialmente), Hagar correu enlouquecida pelo deserto, até que Deus milagrosamente fez um poço (o Zam-Zam, que existe até hoje) e com ele se sustentaram. Uma cidade (Meca) se desenvolveu neste local, e hoje ela é O local sagrado para todo o povo árabe. A semelhança aqui é que os sufis podem ser considerados, por isso, os filhos pobres de Abraão.

A atmosfera e organização da Ordem franciscana é mais parecida com os Dervixes (Ordem sufi) que qualquer outra coisa. Além dos contos sobre Francisco serem muito parecidos com os dos professores sufis, todos os tipos de pontos coincidem. Como os sufis, os franciscanos não se preocupam com sua salvação pessoal (considerado uma vaidade). Francisco iniciava suas pregações com a frase “Que a paz de Deus esteja com você”, que ele disse ter recebido de Deus, mas que era (obviamente) uma saudação árabe. Até a roupa, com seu capote coberto e mangas largas, é a mesma dos dervixes de Marrocos e da Espanha, por onde Francisco se aventurou em 1212, plena época das cruzadas, dedicando-se a tentar converter os Sarracenos pela não-violência. O próprio nome da Ordem, “Fraternidade dos Irmãos Menores”, pressupõe haver os Irmãos maiores, e os únicos com esse nome na época eram os “Grandes Irmãos”, uma Ordem sufi fundada por Najmuddin Kubra, “o Grande”. As conexões impressionam. Uma das maiores características deste grande sufi era sua misteriosa influência sobre os animais; Desenhos o mostram cercado de pássaros; Ele amansou um cachorro feroz apenas olhando para ele (exatamente como Francisco fez com um lobo). Todas essas histórias eram conhecidas no ocidente 60 anos antes de Fracisco nascer.

Por tudo isso, não é de se espantar que, em Damietta, no Egito, de alguma forma Francisco e seus companheiros tenham conseguido cruzar a linha de batalha onde os Cruzados lutavam com os Árabes e se encontrar pessoalmente com o sultão Malik el-Kamil. E ser bem recebido. Diz-se que Francisco desafiou os líderes religiosos muçulmanos a um teste de fé através do fogo, mas eles recusaram. Então Francisco propôs entrar no fogo primeiro e, se ele saísse de lá incólume, o sultão teria que reconhecer o Cristo como o verdadeiro Deus. O sultão não aceitou, mas ficou tão impressionado com a fé deste homem que permitiu aos franciscanos acesso livre aos locais sagrados para os cristãos, como a sagrada sepultura. Deu um salvo-conduto para que eles pudessem trafegar e até mesmo PREGAR em terras árabes, e ainda pediu para que ele o visitasse novamente.

Entretanto, Francisco de Assis não teve sucesso convertendo o sultão, e as últimas palavras de Malik para Francisco foram: “Reze para que Deus me revele qual Lei e fé é a mais agradável para Ele”. Francisco recusou todos os ricos presentes oferecidos pelo sultão e voltou aos exércitos cristãos. No entanto, essa viagem parece ter causado uma transformação (conversão) maior em Francisco de Assis do que no sultão, como se ele tivesse encontrado no Oriente (e no sufismo) suas raízes. Tanto é que, ao retornar aos Cruzados, tentou dissuadi-los de atacar os Sarracenos. Ele gastou alguns meses peregrinando na Terra santa, até que ele foi chamado urgentemente por notícias de mudanças que tinham acontecido na Ordem que ele tinha fundado.

DE VOLTA PRA CASA

A Ordem Franciscana tinha crescido com o passar dos anos. Em 1219 houve uma grande expansão para a Alemanha, Hungria, Espanha, Marrocos e França. Durante sua ausência, vigários modificam algumas regras da Ordem e no mesmo ano Francisco se demite da direção da mesma. Com o crescimento – quase 5.000 frades em 1221 – uma nova regra foi escrita por São Francisco em 29 de novembro de 1223 que foi aprovada pelo Papa Honório. É a que vigora até hoje.

Por volta de 1220 Francisco celebra o Natal na cidade de Greccio (perto de Assis) com uma novidade: O presépio. Ele usou animais de verdade para recriar a cena do nascimento de Jesus, de forma que as pessoas podiam experimentar sua fé fazendo uso dos sentidos, especialmente a visão.

A Ordem tinha passado para as mãos de Pietro Cattini. Entretanto, um ano depois o irmão Cattini morreu e foi enterrado em Porziuncola. Quando numerosos milagres foram atribuídos ao falecido, várias pessoas começaram a peregrinar para Porziuncola, perturbando o dia-a-dia dos frades franciscanos. Francisco, então, rezou a Pietro, pedindo que ele parasse com os milagres, obedecendo em morte do mesmo jeito que ele obedecia em vida. Os milagres então cessaram.

COM OS ANIMAIS

A proximidade de Francisco com a natureza sempre foi a faceta mais conhecida deste santo. Seu amor universalista abrangia toda a Criação, e simbolizava pra muitos um retorno a um estado de inocência, como Adão e Eva no Jardim do Éden. Entretanto, esta não foi uma característica apenas de Francisco, havendo casos semelhantes de santos ingleses e irlandeses. Muitas histórias com animais cercam a vida de Francisco de Assis. Elas estão contadas no Fioretti (pequenas flores, em italiano), uma coleção póstuma de contos populares sobre este santo. Certa vez ele viajava com seus irmãos e eis que viram ao lado da estrada árvores lotadas de passarinhos. Francisco disse a seus companheiros: “aguarde por mim enquanto eu vou pregar aos meus irmãos pássaros”. Os pássaros o cercaram, atraídos por sua voz, e nenhum deles voou. Francisco falou a eles:

“Meus irmãos pássaros, vocês devem muito a Deus, por isso devem sempre e em todo lugar dar seu louvor a Ele; porque Ele lhe deu liberdade para voar pelo céu e Ele o vestiu. Vocês nem semeiam nem colhem, e Deus os alimenta e lhes dá rios e fontes para sua sede, montanhas e vales para abrigo e árvores altas para seus ninhos. E embora vocês nem saibam como tecer, Deus os veste e a suas crianças, pois o Criador os ama grandemente e o abençoa abundantemente. Então, semprem busquem louvar a Deus.”

Outra lenda do Fioretti nos fala que na cidade de Gubbio, onde Francisco viveu durante algum tempo, havia um lobo “terrível e feroz, que devorava homens e animais”. Francisco teve compaixão pela população local e foi para as colinas achar o lobo. Logo, o medo do animal fez todos os seus companheiros fugirem, mas Francisco continuou e, quando achou o lobo, fez o sinal da cruz e ordenou ao animal para vir até ele e não ferir ninguém. Milagrosamente, o lobo fechou suas mandíbulas e se colocou aos pés de Francisco. “Irmão lobo, você prejudica a muitos nestas paragens e faz um grande mal” disse Francisco. “Todas estas pessoas o acusam e o amaldiçoam. Mas, irmão lobo, eu gostaria de fazer a paz entre você e essas pessoas”. Então Francisco conduziu o lobo para a cidade e, cercado pelos cidadãos assustados, fez um pacto entre eles e o lobo. Porque o lobo tinha “feito o mal pela fome”, a obrigação da população era alimentar o lobo regularmente e, em retorno, o lobo já não os atacaria ou aos rebanhos deles. Desta maneira Gubbio ficou livre da ameaça do predador.

Também se conta que, quando Francisco agradeceu ao seu burrinho por tê-lo carregado e ajudado durante a vida, o burrinho chorou.

ÚLTIMOS ANOS

Enquanto rezava no Monte La Verna, em 1224, durante um jejum na quaresma, Francisco teve a visão de um Seraph, um anjo de seis asas numa cruz. Este anjo deu a ele um “presente”: as cinco chagas de Cristo (relativas às marcas feitas pelos pregos na cruz). Foi o primeiro caso de stigmata (estigma) registrado na história. Entretanto, Francisco manteve segredo e o caso só ficou conhecido dos próprios franciscanos dois anos depois, após sua morte, quando uma testemunha resolveu contar.

Logo após receber as chagas, Francisco ficou muito doente, e no ano seguinte ficou cego. Sofreu muito com as formas primitivas de cirurgias e tratamentos medievais, mas foi por esta época que ele escreveu seus mais belos textos – sendo considerado por muitos o primeiro poeta italiano – deixando registrado seu amor universal em lindos versos (assim como os sufis o fazem), como o O cântico do Sol (também conhecido como “Cântico das criaturas”), escrito em companhia de sua alma gêmea, Clara, em São Damião, por volta de 1224/1225, quando já sofria muitas dores e estava quase cego. A estrofe que fala da paz foi acrescentada um mês depois, a fim de reconciliar o bispo e o prefeito de Assis, que estavam em discórdia. Francisco defendia que o povo devia poder rezar a Deus em sua própria língua, por isso ele escreveu sempre no dialeto da Umbria, ao invés de Latim.

Agradeço a Sergio Scabia pela oportunidade de ler o Cântico numa tradução quase literal, sem o floreio encontrado nas versões em português:

O Cântico do Sol

Altíssimo, todo-poderoso bom Senhor

Seus são os louros, a gloria, a honra e todas as bênçãos

Somente a Ti são reservadas

e homem algum é digno de te mencionar

Louvado seja, meu Senhor, com todas suas criaturas

principalmente com o senhor irmão sol,

que é dia e ilumina por isso.

E ele é belo irradiando imenso esplendor;

de ti, traz o significado.

Louvado seja, meu Senhor, pelas irmãs lua e estrelas,

que no céu criaste claras, preciosas e belas

Louvado seja, meu Senhor, pelo irmão vento

e pelo ar e as nuvens e o céu azul e para qualquer tempo,

pelos quais às tuas criaturas fornece alimento.

Louvado seja, meu Senhor, pela irmã água,

a qual é muito útil e humilde e preciosa e pura.

Louvado seja, meu Senhor, pelo irmão fogo,

pelo qual iluminas as noites,

e ele é belo, brincalhão, robusto e forte.

Louvado seja, meu Senhor, pela irmã nossa mãe terra,

que nos sustenta e governa,

e produz diversos frutos, com flores coloridas e grama.

Louvado seja, meu Senhor, por aqueles que perdoam pelo seu amor,

e suportam infinitas tribulações.

Abençoados os que as suportarão em paz,

que por ti, Altíssimo, serão coroados.

Louvado seja, meu Senhor, pela irmã morte corporal,

à qual nenhum homem vivo pode escapar

Ai dos que morrerão em pecado mortal;

abençoados aqueles que se encontrarão nas tuas santíssimas vontades,

que a segunda morte não lhes fará mal

Louvem e abençoem o meu Senhor,

e agradeçam e sirvam-no com grande humildade

Uma oração que sempre me impressionou pela beleza e singeleza foi a Oração da Paz, atribuída a São Francisco de Assis e comumente denominada de “Oração de São Francisco”. Na verdade trata-se de uma oração anônima, escrita em 1912, tendo aparecido inicialmente num boletim paroquial na Normandia (França), e em menos de dois anos foi impressa em Roma numa folha onde, no verso, estava impresso uma figura de São Francisco; por isto e pelo fato de que o texto reflete muito bem o franciscanismo, esta oração começou a ser divulgada como se fosse de autoria do santo.

Senhor,

Fazei de mim um instrumento de vossa paz!

Onde houver ódio, que eu leve o amor,

Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.

Onde houver discórdia, que eu leve a união.

Onde houver dúvida, que eu leve a fé.

Onde houver erro, que eu leve a verdade.

Onde houver desespero, que eu leve a esperança.

Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.

Onde houver trevas, que eu leve a luz!

Ó Mestre,

fazei que eu procure mais.

Consolar, que ser consolado.

Compreender, que ser compreendido.

Amar, que ser amado.

Pois é dando, que se recebe.

Perdoando, que se é perdoado e

é morrendo, que se vive para a vida eterna!

Francisco morreu ouvindo o Evangelho de João, onde se narra a Páscoa do Senhor. Isso foi em 03 de outubro de 1226, num sábado, aos 45 anos. Foi sepultado no dia seguinte, na Igreja de São Jorge, na cidade de Assis. Em 1230 seus ossos foram levados para a nova Basílica construída para ele, a Basílica de São Francisco, hoje aos cuidados dos Frades Menores Conventuais.

São Francisco de Assis foi canonizado em 1228 por Gregório IX e seu dia é comemorado em 04 de outubro.

Na tradição teosófica, Francisco de Assis é o Mestre Kuthumi, da Grande Fraternidade Branca, e na linha espírita, é a reencarnação de João Evangelista (enquanto Clara fora Joana de Cusa).

#Religião

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/04-10-dia-de-s%C3%A3o-francisco-de-assis

A Cabalá e as Reencarnações

“Não é possível entender a Cabalá sem acreditar na eternidade da alma e suas reencarnações”
(Rabi Arieh Kaplan)

Com o nome de Transmigração de Almas (em hebraico Guilgul Neshamot), todos os praticantes do judaísmo, especialmente as correntes ortodoxas – como o hassidismo (aqueles caras que andam de casacos e chapéus pretos) – e cabalistas acreditam que, após a morte, a Alma reencarna numa nova forma física. O conceito da reencarnação consta nos livros Sefer-Há-Bahir (Livro da Iluminação) e no Zôhar (Livro do Esplendor). Ambos atribuem grande importância à doutrina da Reencarnação, usada para explicar que os justos sofrem porque pecaram em uma vida anterior. Nele, o renascimento é comparado a uma vinha que deve ser replantada para que possa produzir boas uvas.

A “Transmigração” emprestou um significado novo a muitos aspectos da vida do povo judeu, pois o marido morto voltava literalmente à vida no filho nascido de sua mulher e seu irmão, num casamento por Levirato. A morte de crianças pequenas era menos trágica, pois elas estariam sendo punidas por pecados anteriores e renasceriam para uma vida nova. Pessoas malvadas eram felizes neste mundo por terem praticado o bem em alguma existência prévia. Prosélitos do judaísmo eram almas judaicas que se haviam encarnado em corpos gentios ou pagãos. Ela também permitia o aperfeiçoamento gradual do indivíduo através de vidas diferentes.

O Zôhar afirma ainda que a redenção do mundo acontecerá quando cada indivíduo, através de “Transmigração das Almas” (Reencarnações), completar sua missão de unificação. Ele nos diz que o termo bíblico “gerações” pode muito bem ser substituído por “encarnações”.

Baseado nestes conceitos, os cabalistas desenvolveram a sua própria interpretação sobre a aliança que Deus fez com Abraão e sua semente. Deus disse: “Estabelecerei o meu concerto entre mim e ti, e a tua semente depois de ti, nas suas gerações, por concerto perpétuo. Acreditavam que Deus havia feito esta aliança com a semente de Abraão não apenas por uma vida, mas por milhares de encarnações”.

Para os que não acreditam na visão da Cabala, o Antigo Testamento apresenta várias referências sobre a Reencarnação, como por exemplo no Gênesis (Bereshit) , numa tradução fiel ao hebraico:

Quanto a ti, em paz irás para os teus pais, serás sepultado numa velhice feliz. É na quarta geração que eles voltarão para cá, porque até lá a falta (ou erro, ou delito) dos amorreus não terá sido pago (Gênesis 15:15-16)

Isso é o cumprimento da Lei do Karma e da reencarnação, como já havia falado Deus no livro de Êxodo:

Não te prostrarás diante deles e não o servirás porque Eu, Iahvéh teu Deus, sou um Deus zeloso, que visito a culpa dos pais sobre os filhos, na terceira e quarta geração dos que me odeiam, mas que também ajo, com benevolência ou misericórdia por milhares de (infinitas) gerações (encarnações) , sobre os que me amam e guardam os meus mandamentos (Êxodo 20:5-6)

Esta é uma tradução fiel ao hebraico, infelizmente não encontrada em algumas Bíblias, que traduzem erroneamente él kaná (Deus zeloso) por Deus ciumento e tornam o Velho Testamento objeto de incompreensão e chacota. Mas isso não é o pior. Vejam a tradução da mesma passagem feita pela Bíblia João Ferreira de Almeida:

Não te encurvarás diante delas, nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam, e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos.

Todas as bíblias trocaram NA terceira geração… por ATÉ a terceira geração…, o que dá a falsa idéia de que Deus pune o mal dos pais nos filhos e netos, quando na verdade são os pais que reencarnam como netos, para pagar o que devem até o último ceitil. Óbvio que isso dos bisnetos não é uma regra (Até porque os pais geralmente estão vivos para serem avós). É antes de tudo um modo de dizer que o espírito vai ser recebido na mesma família, o que acontece com muita freqüência (dependendo, claro, da missão de vida de cada um). Famílias são núcleos problemáticos justamente porque é nelas que você vai pagar seus débitos com o passado, com pessoas que você prejudicou, enganou, matou. Pois se estes viessem como amigos, seria fácil evitá-los, e você nunca se harmonizaria com eles. É por isso que inimigos costumam vir na mesma família, e por isso Jesus deu tanta atenção ao irmão neste versículo:

Eu, porém, vos digo que todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo. e quem disser a seu irmão: Raca, será réu diante do sinédrio; e quem lhe disser: Tolo, será réu do fogo do inferno. Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar (forma de agradecimento a Deus) , e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai conciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta.
(Mateus 5:22-24)

Os atuais Rabinos também sabem muito sobre os tempos atuais e a situação dessa nossa geração. O Rabi Shamai Ende escreveu, na revista Chabad News de Dez 98: “O conceito de Guilgul (reencarnação) é originado no judaísmo, sendo que uma alma deve voltar várias vezes até cumprir todas as leis da Torah. Na verdade, cada alma tem dois tipos de missões nesse mundo. A primeira é a missão geral de cumprir todas as mitsvot da Torah. Além disso, cada alma tem uma missão específica. Caso não tenha cumprido a sua, a Alma deve retornar a este mundo para preencher tal lacuna. Somente pessoas especiais sabem exatamente qual é sua missão de vida.

Existem também encarnações punitivas para reparar alguma falha cometida numa vida anterior. Neste caso, a alma pode reencarnar até mesmo no corpo de um não-judeu, de animal ou planta.

Atualmente é um pouco diferente, por estarmos vivendo na última geração do exílio e na primeira da gueulá (redenção), conforme já anunciado pelo Rebe. Maimônides escreve Leis de Techuvá (Retorno ao Judaísmo) onde a Torah prometeu, no final do exílio, que o povo fará Techuvá e imediatamente será redimido. Assim, as almas dessa geração, que vivenciarão a futura redenção, não mais passarão por reencarnações, devendo retificar o quanto antes tudo o que deve ser feito para aproximar a vinda de Mashiach (Messias).”

O Rabino Yossef Benzecry da Sinagoga Beit Chabad, do Recife, confirma a crença na vida após a morte:

O Judaísmo não crê que a vida acabe com a morte. Pelo contrário, a morte, dentro da concepção judaica, é uma continuação desta Vida, se bem que num plano diferente: o plano da alma. Conseqüentemente, a morte conduz, necessariamente, à vida da alma. Segundo a doutrina judaica, é muito difícil fazer-se uma idéia de como é a Vida no Além-túmulo, por ser algo que ultrapassa todas as concepções do cérebro humano. Vivendo esta Vida, presos no solo do mundo, não temos qualquer oportunidade de imaginar o que se passa na outra, tornando-se muito difícil conceber algo que nunca provamos.

Exemplificando, seria a mesma coisa que tentar explicar a alguém o gosto de uma fruta desconhecida. Para tanto, ter-se-ia de usar artifícios de linguagem, como comparações com algo que se aproxime rio sabor da fruta, o que se tornaria complexo e difícil.

Passagens da Bíblia que as outras religiões deturpam para esconder a Reencarnação:

Salmo 19:8, em Hebraico transliterado: “Torát Iavéh temimáh mshibat nefésh. ‘edut Iavéh neemanoáh machkimat péti”.

Tradução: “O ensinamento de Deus é perfeito, faz o espírito voltar. O testemunho de Deus é verdadeiro, transforma o simples em sábio.”

No entanto, a tradução feita pelas seguintes bíblias alteram o sentido original da reencarnação:
– Bíblia Protestante da SBB (Sociedade Bíblica do Brasil): “A Lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma.”
– Bíblia Mensagem de Deus (Edições Loyola): “A lei do Senhor é sem defeito, ela conforta a alma.”
– Bíblia de Jerusalém (Edições Paulinas): “A lei de Iahvéh é perfeita, faz a vida voltar.”

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Salmo 23, em tradução do hebraico: “Adonai é meu pastor, nada me faltará. Em verdes pastagens me fará descansar. Para a tranqüilidade das águas me conduzirá. Fará meu espírito retornar, e me guiará por caminhos justos, por causa do seu nome. Ainda que eu caminhe pelo vale da morte, não temerei nenhum mal, pois tu estarás comigo. Teu bastão e teu cajado me confortarão. Diante de mim prepararás uma mesa, na presença dos meus provocadores. Tu ungirás minha cabeça com óleo; minha taça transbordará. Certamente, bondade e benevolência me seguirão, todos os dias da minha vida. E voltarei na casa de Adonai por longos anos.”

Na tradução feita pela Bíblia católica do Centro Bíblico Católico (Editora Ave Maria) a idéia de retorno é suprimida:

“O Senhor é o meu pastor, nada me faltará. Em verdes prados ele me faz repousar. Conduz-me junto às águas refrescantes, restaura as forças de minha alma. Pelos caminhos retos ele me leva, por amor do seu nome. Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois estás comigo. Vosso bordão e vosso báculo são o meu amparo. Preparais para mim a mesa a vista dos meus inimigos. Derramais o perfume sobre minha cabeça, transborda a minha taça. A vossa bondade e misericórdia hão de seguir-me por todos os dias da minha vida. E habitarei na casa do Senhor por longos dias.”

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Ezequiel 37:11-14: “E disse a mim: Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel. Eis que dizem: Os nossos ossos estão secos e está perdida a nossa esperança. Por isso, profetiza e dize-lhes: Assim diz Adonai, o Senhor Deus: Eis que eu abro vossas sepulturas e vos farei sair delas, ó povo meu e vos reconduzirei à terra de Israel. Saberão que eu sou Iahvéh quando eu abrir os vossos túmulos e vos elevar de vossas sepulturas, ó povo meu. E dei sobre vós o meu espírito e revivereis e reporei a vós sobre a vossa terra. E eles saberão que eu sou Iahvéh, disse isto e fiz o oráculo de Iahvéh.”

OBS: Observe que Iahvéh (Deus) fecha o sentido de renascimento, mostrando que os ossos simbolizam o povo de Israel e que ele fará reencarnar a todos, retirando-os dos seus túmulos e fazendo-os voltar reencarnados à sua terra. Ele (Deus) não fala que os retiraria na ressureição do último dia, mas que os retiraria da sepultura, fazendo-os renascer e para voltar à terra de Israel, e não aos céus. Aqui não existe dúvida sobre a Reencarnação e esclarece sobre a inexistência de um último dia para a ressureição, pois Deus fala: “Reporei a vós sobre a vossa TERRA”, portanto, voltar à terra não é ressuscitar e sim reencarnar.

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Jó 8:8-9: “Pergunta às gerações passadas ou primeiras e medita a experiências dos antepassados. Porque somos de ontem, não sabemos nada. Nossos dias são uma sombra sobre a terra.”

Aqui está uma recomendação de que devemos buscar, no passado, em outras vidas, as causas do nosso sofrimento. Se não lembra de ter na presente vida corporal cometido faltas que justifiquem o seu sofrimento, pergunte às gerações passadas e lá estará com certeza a resposta ao seu questionamento, uma vez que a vida na matéria, impede-nos, como uma espessa sombra, a lembrança de vidas anteriores. Deus, em sua infinita misericórdia, apaga as nossas lembranças para afastar de nós o remorso pelo delito praticado no passado, para podermos evoluir e conviver em paz com nossos semelhantes.

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Eclesiastes 1:4: “Geração vai e geração vem e a terra sempre permanece”.

Explica o Rabino Akiba este versículo no livro “BAHIR” da seguinte maneira:

Um rei tinha escravos e ele os vestiu com roupagens de seda e cetim, de acordo com sua capacidade. O relacionamento se rompeu e ele os expulsou, os repeliu e tirou deles suas roupagens. Eles, então, seguiram seus próprios caminhos. O rei tomou as roupagens, as lavou bem, até não haver nelas uma única mancha. Colocou-as com seus comerciantes, comprou outros escravos e os vestiu com as mesmas roupagens.

Não sabia se os escravos eram bons ou não, mas eram (pelo menos) dignos das roupagens que ele já possuía, as quais já haviam sido usadas anteriormente. É o mesmo que Eclesiastes 12:6: “O pó retorna a terra como era, mas o espírito retorna a Deus, que o deu”.

Este exemplo do Rabino Akiba explica tudo: as roupas de seda e cetim com que o rei vestiu os escravos são os corpos sadios que Deus dá a cada um de nós dos quais muitos abusam. Então Deus os toma e deixa que cada um siga o seu próprio destino, escolhido pelo seu livre-arbítrio. Deus então escolhe outros corpos e neles coloca estes mesmos espíritos, através da Reencarnação, segundo a necessidade de evolução de cada um.

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O livro da Sabedoria é atribuído a Salomão, embora saibamos que se trata de uma ficção literária (foi escrito 900 anos depois da morte dele). O desconhecido autor deve ter escrito para os judeus que falavam grego e viviam fora da Palestina, provavelmente no Egito. Foi escrito entre os séculos IV e I antes de Cristo e só é aceito pelos católicos, como já vimos em capítulo anterior, no entanto, apresenta conceitos referentes ao Carma e à Reencarnação.

No capítulo 8:19 vemos: “Eu era um jovem de boas qualidades, coubera-me, por sorte, uma boa alma; ou antes, sendo bom, entrara num corpo sem mancha”.

Aqui está claro que o autor acreditava que a alma existe antes do corpo. Por ser boa, a alma entrou num corpo imaculado ou sem mancha como vemos no texto. E perguntamos: Se a alma nunca tivesse encarnado antes num corpo terreno, como e onde teria se tornado boa? O autor dá a entender que as atitudes de uma existência anterior acompanharam o espírito e se acumularam nas diversas existências pregressas.

Estes conceitos estão de acordo com a crença e os princípios judaicos que. falando de família, dizem : “Eu vim para uma família grande” (ani bá lamishpahá gadol) e não “eu sou de uma família grande”, como os ocidentais costumam dizer. A idéia é que eles escolheram a família ainda no mundo espiritual, como fala Deus em Jeremias 1:5: “Antes mesmo de te formar no ventre materno, eu te conheci; e antes que saísses do útero materno, eu te consagrei. Eu te constituí profeta para as nações pagãs.”

Se alguém tiver desconfiança quanto às traduções do original hebraico, sugiro consultar nas melhores livrarias a Torah (Velho Testamento) que contém o original e ao lado a tradução correta pro português.

Publicado originalmente no blog “Saindo da Matrix”, do Acid0

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-cabal%C3%A1-e-as-reencarna%C3%A7%C3%B5es