O Tarô das Sombras, de Linda Falorio

Quem conhece alguma coisa sobre tarô sabe que uma característica dos tarôs espetaculares é que eles são geralmente desenhados por uma mulher. Embora Waite e Crowley tenham ficado com a fama, quem estuda um pouco – ou pelo menos lê a caixa do baralho – sabe que foi Pamela Smith a artista do famoso tarô hermético e Lady Frieda Harris quem desenhou as lâminas do tarô de Thoth. Não poderia ser diferente com o Tarô das Sombras, um deck concebido dentro da via sinistra onde o feminino é celebrado.

O Tarô das Sombras de Linda Falorio é um mergulho no arquétipo da sombras, e por isso mesmo deve usado levianamente nem manipulado por qualquer um. Para reificá-lo cada lâmina nasceu de um período de semanas ou meses de aprofundamento, tantra e meditação.

As lâminas dos Arcanos Maiores em especial são baseadas nos vinte e dois caminhos descritos por Aleister Crowley em seu Liber CCXXXI no qual trata dos “Gênios das 22 Escalas da Serpente e das Qliphoth”. Estes são os chamados Túneis de Set que foram ampliados posteriormente por Kenneth Grant, em seu clássico Nightside Of Eden.  Os Arcanos Menores por sua vez surgem a partir de uma imersão com os Espíritos descritos na Goetia, a Chave Menor de Salomão. Tornando este um baralho único para os praticantes do caminho da mão esquerda.

Esta preciosidade está em financiamento coletivo pela Editora Via Sestra em uma edição limitada e acompanhará um livro com explicação das cartas, técnicas e exemplos de uso ritualístico, meditativo e divinatório, entre outros recursos. A tradução foi encabeçada por Soror Lilith Ashtart, profunda conhecedora dos trabalhos da Linda Falorio.

Serão produzidos apenas 93 decks e o financiamento fica no ar até novembro de 2020, com entrega prevista para janeiro de 2021.

Tarô das Sombras, Catarse

 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/o-tarot-das-sombras-de-linda-falorio/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/o-tarot-das-sombras-de-linda-falorio/

Rosacruz, Maçonaria e Martinismo

Texto de G. O. Mebes, datado de 1911.

Não queremos impor a ninguém a crença de que tenha existido, efetivamente, uma Fraternidade fundada por Christian Rosenkreuz (1378 – 1484) e composta de um pequeno conjunto de místicos castos; queremos, apenas, afirmar o fato do aparecimento no astral de uma forma apresentando, nitidamente, os ideais e caminhos de aperfeiçoamento dos quais, bem mais tarde, tratou a famosa obra “FAMA FRATERNITATIS ROSAE CRUCIS”. Nela, esses ideais foram registrados em forma de um código; mas o despertar da Egrégora aconteceu numa época bem anterior.

Estudemos como se apresenta para nós a Egrégora da Rosa-Cruz inicial, segundo a obra acima citada e também conforme o “CONFESSIO FIDEI R+C”. É claramente visível que essa poderosa Egrégora atraiu a si os fluidos de três importantes e amplos fluxos da Verdade: o Gnosticismo, a Cabala e o Hermetismo da Escola Alquímica.

O “Ponto Superior acima do Iod” deste novo aspecto da Egrégora Templária foi constituído pelo ideal do trabalho teúrgico, visando a vinda do “Reino de Elias Artista” e por uma fé inabalável de que este Reino virá no futuro.

O que quer dizer isso? Quem é “Elias Artista”?; de onde surgiu “Elias” e por que “Artista”?

Na Bíblia, Elias e Enoch são símbolos de algo que é levado vivo ao céu. No entanto, o caminho direto para o Empíreo da metafísica está aberto somente aos fluxos da Verdade Absoluta. Os Arcanos Menores do Livro de Enoch fazem parte de tais fluxos. Elias, por sua vez, é como uma imagem mais concreta de Enoch, está mais próximo de nós. Portanto, “Elias” e não “Enoch”.

Como é este Elias? Por quais caminhos pode ele nos levar aos Arcanos Menores, à Reintegração Rosacruciana? Seria este o caminho dos Bem-aventurados, caminho dos corações humildes e plenos de amor, das mentes simples e sem malícia, mas possuidoras de uma fé infinita?

Não. A Egrégora não era para eles. Era para os que haviam experimentado o refinado sabor do conhecimento e já não podiam a ele renunciar, O “Elias Rosacruciano” conduz seus seguidores aos Arcanos Menores pelo caminho difícil do estudo minucioso e profundo dos Arcanos Maiores, uma analise engenhosa, constituindo verdadeira arte; dai o nome “Artista”.

O poderoso “Iod” com o qual a Egrégora modelava seus adeptos expressou-se pelo símbolo imortal da Rosa+Cruz. Seja qual for a moldura que acompanhe este símbolo, sejam quais forem os acréscimos, sua parte central e essencial permanece sempre a mesma.

A Cruz, símbolo da auto-renúncia, do altruísmo ilimitado, submissão total às Leis Superiores, é um dos seus polos. A Rosa perfumada de Hermes, símbolo da ciência e do aperfeiçoamento nos três planos, envolve a Cruz.

Os vinculados ao símbolo da Rosa+Cruz, podem carregar a Cruz mas não poderão remover dele a Rosa. Mesmo se os espinhos do conhecimento os fizerem sofrer, não renunciarão à atração de seu perfume. A Rosa é o segundo polo do Binário .

A tarefa do Rosacrucianismo é neutralizar este binário com sua própria personalidade, harmonizar em si mesmo a Ciência e a auto renuncia, fazê-las servir a um mesmo ideal . Um Rosacriciano deve assemelhar-se ao terceiro símbolo que consta do pantáculo da Rosacruz, o Pelicano, cujas asas permanecem abertas e que sacrifica-se por seus filhotes, alimenta-os com seu próprio corpo, seu sangue e sua carne.

No emblema, os filhotes do Pelicano são de cores diferentes. Nos emblemas primitivos havia apenas três filhotes, simbolizando as três Causas Primordiais; nos emblemas posteriores há sete, simbolizando as sete Causas Secundárias, sendo cada um dos filhotes de uma cor planetária diferente. Isso indica que o sacrifício deve ser feito conforme a ciência das cores, ou seja, cada um dos filhotes necessita um tratamento especifico.

Esse “lod’ apresenta um tema a ser meditado por parte de cada um dos verdadeiros Rosacrucianos.

O “Primeiro He” do Rosacrucianismo inicial era constituído por um grupo de naturezas raras e excepcionais, capazes de unir o misticismo à mais elevada intelectualidade.

O “Shin” do esquema Rosacruciano revestiu-se de uma certa auto-apreciação, em consequência natural de se considerarem instrumentos escolhidos. Havia tão poucas pessoas, capazes de satisfazer a essas exigências, que a convicção da superioridade introduziu-se por si mesma. Ela acentuou-se ainda mais, devido as severas regras da ética Rosacruciana, que os eleitos introduziram em seu viver.

O culto, o elemento “Vau”, expressava-se pela meditação sobre os símbolos, especialmente sobre o grande pantáculo da Rosa + Cruz e, em parte, pelas cerimônias místicas durante as reuniões periódicas dos Rosacrucianos.

O “Segundo He”, a “política” da Escola, constituiu-se numa atividade que, de acordo com suas convicções, os Rosacrucianos consideravam indispensável ao progresso da Humanidade. Devido a necessidade da prudência, tanto essa atividade quanto as pessoas dos membros da Corrente, eram envolvidas num estrito anonimato. Nesse “Segundo He”, podia-se perceber facilmente a reação, ainda não dissolvida no astral puro, do violento ressentimento dos Templários contra a Igreja Romana, ressentimento que chegou a criar os elementos formais do Protestantismo.

O Rosacrucianismo inicial, como já sublinhamos, não podia, naturalmente, contar com muitos adeptos, pois exigia deles características que, em geral, se excluem mutuamente.

Mais tarde, no século XVI, da Escola inicial gradualmente aquilo que poderia ser chamado de Rosacrucianismo secundário. Se o primeiro era acessível somente a poucos, o segundo podia ser seguido por todos os homens conscientes. Se o primeiro exigia quase fanaticamente que seus seguidores adotassem regras rígidas de auto-aperfeiçoamento, o segundo era caracterizado por uma tolerância maior em todos os campos da mente e do coração.

O ponto acima do Iod é o próprio elemento “Iod” permaneceram os mesmos. Visivelmente, mudou o “Primeiro He”. O ambiente dos séculos XVI, XVII e, parcialmente, do XVIII, fecundado pelos ideais Rosacrucianos, era o dos Enciclopedistas no melhor e mais amplo sentido dessa palavra. Do adepto da nova Rosa+Cruz exigia-se uma multiplicidade de facetas intelectuais, capacidade de especulação científica, amplitude do horizonte mental e dedicação aos ideais. Na Corrente Rosacruciana entravam tanto as naturezas altamente místicas como fervorosos panteístas ou pessoas de mentalidade pratica. Todavia, tornamos a repetir, eram aceitas unicamente pessoas notáveis por sua inteligência e erudição, pessoas possuindo uma vontade desenvolvida e concepções claras a respeito do trabalho a desenvolver para a elevação da humanidade.

(A publicação do elemento Shin não foi autorizada pelo Mestre).

O elemento “Vau”, em linhas gerais, permaneceu idêntico ao da Rosacruz inicial. Segundo os vários ramos da Escola, apareceram pequenas diferenças no ritual de recepção dos novos membros, nos rituais dos graus ou nas cerimônias, durante as reuniões dos conselhos superiores. No elemento Vau devem ser também incluídos os métodos de transformação astral e de treinamento da personalidade, acrescentados à prática básica de meditação. A introdução desses métodos era devida, em grande parte, à influência de várias escolas orientais.

O ‘segundo He” ou a “política da Escola”, expressou-se pela orientação de exercer sua influência na sociedade contemporânea. No começo, essa influência tinha um caráter puramente ético, mais tarde, fortemente realizador. Os ramos e sub ramos do Rosacrucianismo Secundário possuíam seus programas políticos particulares. Estes mudavam, naturalmente com o passar do tempo, visando sempre as reformas políticas e religiosas mais necessárias. Não obstante, a Egrégora Templária, portadora do impressionante clichê da destruição do plano Físico da Corrente de Jacques DeMolay, vibrava na direção da prudência cada vez que o Rosacrucianismo se preparava para dar um passo decisivo no mundo externo, causando a escolha do modo de ação mais seguro. Em consequência de uma destas vibrações foi criada a Ordem Maçônica.

O astral muito sutil do Rosacrucianismo, apropriado ao ensino, não possuía qualidades necessárias para lidar com problemas práticos e adaptar-se aos condicionamentos e brutalidade dos homens. Podia ficar prejudicado em sua base. A fim de evitá-lo, ao redor da Rosa e da Cruz, foi criado um invólucro mais material, melhor adaptado a contatos e trabalhos externos: a MAÇONARIA.

A Maçonaria, isto é, a Maçonaria legítima do Rito Escocês, com interpretação ético-hermética do simbolismo tradicional, tornou-se a guardiã de “sua alma”, a Rosa+Cruz. Ela implantava, tanto no seu próprio ambiente, como no mundo externo, o respeito para com os símbolos tradicionais e para com seus intérpretes, os Rosacrucianos. Os Maçons espalhavam ao redor de si a convicção de que o exemplo irrepreensível de suas vidas e seu alto nível moral tinham suas bases nos ensinamentos iniciáticos.

A Maçonaria realizava as reformas decididas pelos Rosacrucianos, protegendo-os, com suas próprias pessoas, contra a possível hostilidade e as perseguições humanas no plano físico.

Os fundadores da Maçonaria, entre os quais ocupa um lugar proeminente ELIAS ASHMOLE (1817-1692), com muita habilidade adaptaram para seu uso o sistema dos graus dos Maçons Livres, fazendo dele a base de seus próprios três primeiros graus, os “simbólicos”, da Iniciação Maçônica. Este trabalho se iniciou em 1646 e em 1717 existia já um sistema dos Capítulos da Maçonaria Escocesa, plenamente organizado.

Assim, a Maçonaria tornou-se um instrumento indispensável no trabalho do Iluminismo Rosacruciano, cuja “política” (o “Segundo He”) recebeu o nome de “Maçônica”, nome que guardou até agora. Os efeitos da política Rosacruciana, alcançados pelos Maçons no mundo externo, receberam o nome de “tiros de canhão”. Entre outros, como “tiros de canhão”, foram consideradas as reformas religiosas de Lutero e de Calvino, assim como a libertação dos Estados Unidos da América do Norte da dependência britânica (Lafayette e seus oficiais Maçons). Os Rosacrucianos se utilizavam dos Maçons, tanto mais que entre eles escolhiam os que mereciam ser iniciados no Iluminismo Cristão.

Contudo, cada medalha tem seu reverso. Enquanto a Maçonaria foi uma organização submetida ao Rosacrucianismo, enquanto praticava o princípio da Sucessão Hierárquica por transmissão, ela cumpria sua tarefa e não havia problemas.

Infelizmente, diversos ramos bastante fortes resolveram introduzir o método de eleger seus dirigentes, rejeitando assim o princípio hierárquico tradicional. Em decorrência, o trabalho maçônico começou a mudar seu caráter e, de evolutivo, passou a ser quase revolucionário. Um momento importante neste novo rumo foi a dissidência de Lacorne e seus seguidores (em 1773) que, numa cisão, separaram-se da Maçonaria legítima e fundaram uma nova associação que passou a ser conhecida sob o nome de “Grande Oriente da França”.

Com isto concluiremos o nosso breve esboço relativo à Maçonaria e passaremos ao fim do século XVII, para analisar uma das correntes, ainda existente, do antigo Iluminismo Cristão.

Ao redor do ano de 1760, o famoso Martinez de Pasqually fundou uma fraternidade de “Seletos Servidores do Sagrado”, os “ELUS COHENS”, com nove graus hierárquicos. Os três graus superiores eram Rosacrucianos.

A Escola de Martinez era mágico-teúrgica, com forte predominância de métodos puramente mágicos. Após a morte de Martinez, seus dois discípulos preferidos, Willermoz e Louis Claude de Saint Martin, alteraram o caráter dessa Corrente.

Willermoz lhe deu um colorido maçônico e Claude de Saint Martin, um escritor conhecido sob o pseudônimo “Filosofo Descolhecido” encaminhou a Corrente para o lado místico-teúrgico. Contrariamente a Willermoz, ele favorecia uma Iniciação liberal e não as regras das Lojas Maçônicas. A influência de Saint Martin predominou e criou uma Corrente chamada “Martinismo”.

A Egrégora do Martinismo que possuía sua Maçonaria, seu círculo externo “encarnou” solidamente em todos os países da Europa. Ela era constituída, aproximadamente, do seguinte modo:

O ponto acima do Iod, correspondia à harmonização ética, do ser humano. O “Iod” baseava-se na filosofia espiritualista das obras de St. Martin, que variava, um pouco, segundo diversas épocas da vida do escritor.

O “Primeiro He” era constituído por um grupo de pessoas muito puras e desinteressadas, possuindo aspirações místicas mais ou menos pronunciadas, pessoas prontas a qualquer trabalho filantrópico

O elemento Shin era inexistente, provavelmente em virtude do caráter do “Primeiro He”. Os idealistas puros que aspiravam a harmonia interna, não necessitam de um ímã para atrair adeptos.

O elemento ”Vau” se limitava a um ritual muito simples, a oração e a cerimônia de Iniciação notável pela sua simplicidade. É verdade que alguns maçons, entre os Martinistas davam mais importância ao ritual e este em certas Lojas, tornou-se até imponente por sua magnificência; todavia nós frisamos agora o Martinismo puro, independente de qualquer acréscimo maçônico. No Martinismo todo valor era dado a meditação, à formação interna do “Homem de Aspiração” e não ao ambiente mágico, como foi o caso do Martinezismo ou do Willemozismo .

O “Segundo He” do Martinismo consistia do trabalho filantrópico de seus membros, ajudar aos necessitados e sofredores, evitando toda manifestação espetacular, na recusa de qualquer compromisso ético ao deparar-se com as influências externas e, em uma modéstia, simplicidade e presteza no adaptar-se a quaisquer condições externas de vida. Essas qualidades impressionavam fortemente todas as elites sociais contemporâneas.

Embora a Iniciação Martinista na época do Primeiro Império e, posteriormente, até a oitava década do século XIX, se transmitisse por um liame multo tênue, o Martinismo contava em suas fileiras pessoas de ato valor, como Chaptal, Delage, Constant e outros.

Aproximadamente, na oitava década , o bem conhecido Stanislas de Guaita, querendo recriar uma corrente mais esotérica, fundou a “Ordem Cabalística da Rosa+Cruz”, obedecendo o esquema seguinte:

O “Ponto acima do Iod” consistia numa conciliação da ciência acadêmica oficial com os ensinamentos esotéricos acessíveis, objetivando criar um trabalho frutífero, em conjunto, dos representantes dos dois aspectos do conhecimento.

O “Iod” resumia-se em uma síntese de todos o conhecimentos, acessíveis tanto pela pesquisa científica, quanto pelo estudo da Tradição.

O “Primeiro He” era de novo o ambiente dos Enciclopedistas, mas infelizmente, Enciclopedistas fracassados. Em nossa época, as pessoas capazes progridem rapidamente dentro de sua profissão ou especialização e, muitas vezes, falta-lhes o tempo para se desenvolver em outros sentidos, enquanto os que fracassaram em sua direção particular, procuram geralmente um derivativo no Enciclopedismo, que lhes forneça uma compensação. Para um observador superficial, tais pessoas podem aparentar possuir uma inteligência de muitas facetas, assemelhando-se, através disso, às pessoas realmente excepcionais como o foram os membros do Rosacrucianismo inicial.

O elemento “Shin” da nova Egrégora era a perspectiva, atraente para os fracassados, de receber, devido ao prestígio da Rosacruz, a mesma consideração que os reconhecidos luminares da ciência oficial.

O elemento “Vau” era o trabalho de reeditar, traduzir e comentar as obras clássicas relativas ao ocultismo, que naquela época tornaram-se raridades bibliográficas, de preços quase inacessíveis, mesmo às pessoas bem situadas materialmente. Neste campo, os Rosacrucianos de Paris fizeram um trabalho muito útil e mereceram uma profunda gratidão dos que reverenciam os grandes monumentos deixados pela Tradição.

O pior elemento do sistema revelou-se o “Segundo He”, manifestado como uma política oportunista, a fim de atrair o mundo universitário. As teses tradicionais, na sua explanação, eram alteradas para fazê-las concordar com as últimas obras científicas, perdendo assim o seu valor. O empenho de certos Rosacrucianos em obter a aprovação dos representantes da ciência oficial, prejudicava naturalmente o prestigio da Escola. Por outro lado, as tentativas de uma parte de seus membros, para atenuar as teses Rosacrucianas, a fim de não contrariarem demais a Igreja Romana, levaram a uma cisão dentro da própria Escola (o afastamento de Peladan). Em geral, ainda no tempo de Guaita, a situação tornou- se precária. Foi feita, por isso, uma tentativa de aproximação com a Maçonaria, o que, deturpando as finalidades da Ordem, precipitou sua queda. Ela existe ainda.

Paralelamente com a fundação da Ordem Cabalística da Rosa Cruz, S. de Guaita procurou dar uma nova e grande amplitude à Corrente Martinista. O “Neo-Martinismo” de Guaita, tornou-se bem diverso da corrente inicial, toda via, o Neo-Martinismo adotou o ritual Martinista da Iniciação ao grau de S:::I::: ( Superior Incógnito – NT) e neste ritual baseou seu simbololismo.

Os ideais de Saint Martin e a formação interna do Homem de Aspiração não podiam satisfazer o enérgico Guaita, atraído demais para os resultados visíveis. Ele não admitia nenhuma interrupção voluntária da atividade externa, mesmo quando necessária para magnetizar o ambiente. Nas obras de Guaita encontram-se mesmo, muitas vezes palavras irônicas a respeito de tais interrupções.

Para que a quase renascida Egrégora de Martinez de Pasqually pudesse trazer à nova Ordem da Rosa+Cruz adeptos escolhidos entre os mais capazes S:::I::: do novo Martinismo foi preciso introduzir no esquema do mesmo uma grande tolerância no campo dogmático.

O ponto acima do Iod permaneceu, como antes, a harmonização ética interna.

A escolha do elemento “Iod” foi deixada ao livre arbítrio de cada membro da Corrente Neo-Martinista. Naturalmente, as obras de Saint Martin conservavam o seu papel de linha mestra.

O elemento “He”, como consequência da livre escolha do elemento “Iod”, veio a ser constituído por círculos de diversas tonalidades e valores. Aí podiam ser encontrados os cansados da busca religiosa, os decepcionados com a ciência oficial, os que não conseguiram ingressar na Maçonaria e procuravam algo equivalente, os impressionados pelo uso dos emblemas místicos, os que se deleitavam em debates versando temas do ocultismo durante as reuniões, os simplesmente curiosos, sempre prontos a ingressar nas organizações “misteriosas”. Havia também aqueles que chegaram à conclusão de que era preferível tornar-se membro de qualquer corrente a permanecer sem nenhuma proteção egregórica.

Como a Ordem da Rosa+Cruz recebia e recebe até agora somente os que passaram pelos três primeiros graus do novo Martinismo, entre os últimos podiam ser sempre encontradas algumas pessoas adequadas a se tornarem instrutores na corrente Martinista e orientar o desenvolvimento de seus membros. Foi isso que sustentou e vivificou o Martinismo que cresceu consideravelmente depois de Guaita, e conta agora com um grande número de adeptos. Atualmente, seu Conselho Superior está chefiado pelo Dr. Gerard Encausse, escritor e propagador do ocultismo, mais conhecido sob o pseudônimo “Papus”  (lembrando que este artigo foi escrito por G. O. Mebes em 1911 – NT).

Devido a diversidade das tendências e dos níveis evolutivos de seus membros, o “Shin” da nova Corrente Martinista foi formado por vários elementos. A uns atraia o ritual; a outros a solidariedade existente entre os membros da Corrente. A uns, a possibilidade de desenvolvimento interno; a outros, a pureza da transmissão do poder, etc.

O elemento “Vau” além das cerimônias místicas, a unirem os Martinistas, consistia em meditação obrigatória acerca de temas determinados e, facilitando essas meditações, palestras dos instrutores abordando assuntos iniciáticos.

O “Segundo He” consistia numa política, bastante passiva, de aguardar o progresso ético da sociedade, colaborando neste sentido com o exemplo de uma vida em acordo com sua consciência. Muitos círculos Martinistas acrescentavam, a esse modo de viver, um elemento mais ativo, filantrópico ou algum outro. Todavia, estas atividades particulares não de vem ser levadas em consideração numa análise dos princípios Egregóricos.

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#Maçonaria #Martinismo #Rosacruz

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/rosacruz-ma%C3%A7onaria-e-martinismo

Cursos de Hermetismo em EAD

Salve

Desde 2020 estamos realizando apenas os cursos via EAD, na plataforma própria dentro do nosso site, como na netflix.

Os cursos são estruturados em módulos de 6-8h que podem ser divididos e assistidos a qualquer tempo e horário, quantas vezes você quiser, ficando libertados na plataforma de maneira vitalícia para nossos alunos (sabemos que muitos gostam de rever os cursos antigos conforme vão aprendendo novas matérias).

A ordem indicada para começar é a seguinte:

ESSENCIAL

0 – Kabbalah Hermética

Este é a base para entender como funcionam todos os sistemas mágicos e a partir dele você pode escolher quais assuntos te interessam mais para aprofundar os estudos:

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BÁSICOS

1 – Astrologia Hermética

Tudo o que você precisa saber para conseguir interpretar seu Mapa Natal. Planetas, Signos, Casas e Aspectos

1 – Tarot Completo

Arcanos Maiores e Menores e sua correspondência direta com a kabbalah e a astrologia.

Ensina o uso oracular, simbólico e o trabalho ritualístico com os arcanos.

1 – Geomancia

O Oráculo da Terra. Um dos mais simples e apaixonantes métodos, que pode ser feito em qualquer lugar e com quaisquer materiais. Também é a base para o xamanismo urbano e a conversa com os elementos de sincronicidade ao nosso redor.

1 – Runas e Talismãs Rúnicos

As Runas estudadas sob a perspectiva da Árvore da Vida e seu uso magístico, ritualístico e oracular. Você aprenderá como criar e utilizar talismãs e amuletos rúnicos, bem como o uso em conjunto com o tarot e a Kabbalah.

1 – Consagrações (Magia Prática)

O primeiro passo na Magia ritualística é saber como consagrar e imantar objetos, armas e ferramentas para uso dentro do altar pessoal e no dia-a-dia.

1 – Mitologia Grega e a Kabbalah Hermética

Um curso de mitologia amparado pelas bases do hermetismo e pela árvore da vida.

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INTERMEDIÁRIOS

2 – Alquimia

Pré-requisito: Kabbalah

O curso com as bases filosóficas da alquimia, para se compreender os símbolos a partir da Cabala Judaica, com o prof. Rafael Daher.

2 – Especialização em Tarot de Thoth (Curso Completo)

Pré-Requisitos: Kabbalah, Tarot

Como utilizar os Arcanos maiores e menores da obra prima de Aleister Crowley. Uso oracular e magístico. O curso explana as diferenças deste tarot para os outros tarots e como se utilizar das cartas para fins magickos.

2 – Qlipoth, a Árvore da Morte

Pré-Requisitos: Kabbalah

Um dos cursos mais importantes, estuda as cascas da Árvore da Morte e os Túneis de Set. Todo o trabalho de NOX nas Ordens Iniciáticas é pautado pelo estudo da Árvore da Morte. Compreenda as engrenagens pelo qual o mal funciona, como identificá-lo e como trabalhar o abismo dentro do autoconhecimento.

2 – Magia dos Quatro Elementos

Pré-Requisitos: Consagrações

A magia natural e seus quatro elementos: Fogo, terra, Água e Ar em seu uso magístico, prático e utilitário no dia-a-dia. Como criar e utilizar as ferramentas de cada um dos elementos e suas combinações.

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AVANÇADOS

3 – Magia do Ar e Fabricação de Incensos

Pré-Requisitos: Consagrações, Magia dos 4 Elementos

O estudo das ferramentas de trabalho com o elemento ar; plantio, colheita e preparo de ervas para a confecção de incensos para trabalhos planetários

3 – Magia Planetária

Pré-Requisitos: Kabbalah, Astrologia, Consagrações

A Magia Planetária é parte da bruxaria tradicional; este curso ensina como trabalhar os sete planetas na magia, incluindo preparação de ferramentas, horas mágicas, incensos, influências, regências, invocações e como utilizar cada tipo de energia para qual tipo específico de ritual.

3 – Revolução Solar

Pré-Requisitos: Kabbalah, Astrologia, Magia Planetária (não obrigatório mas recomendado)

Este curso lida com a criação e interpretação do horóscopo trabalhando cada planeta de seu mapa astral com os aspectos de cada planeta ao longo do ano. Os trânsitos dos planetas mais afastados para descobrir os períodos benéficos e complicados do ano e os trânsitos dos planetas rápidos para a escolha de datas mágicas para rituais ao longo do mês, para aproveitar completamente os aspectos zodiacais na magia planetária.

3 – Os 72 Nomes de Deus

Pré-Requisitos: Kabbalah, Astrologia, Consagrações, Magia Planetária

Como trabalhar a Teurgia com o Shem Ha-Mephorash, as 72 emanações que regem a Árvore da Vida. Também conhecidos como “Anjos Cabalísticos”, estas entidades regem os aspectos mais puros do universo e podem melhorar as caracteristicas de cada Carta Natal, auxiliando no trabalho da Verdadeira Vontade de cada magista. Evocações angelicais, magia com salmos e seu uso para o autoconhecimento.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/cursos-de-hermetismo-em-ead

Arcano 1 – O Mago – Beth

O título francês desta carta, Le Bateleur, pode ser traduzido também como Prestidigitador, Malabarista, Pelotiqueiro, Bufão, Acrobata ou Cômico. O termo Prestidigitador talvez fosse o mais adequado ao simbolismo dinâmico do personagem, mas é comum que seu nome seja traduzido do inglês Magician, Mágico ou Mago.

Um prestidigitador, de pé, frente à mesa onde coloca os seus instrumentos, segura uma esfera ou um disco amarelo entre o polegar e o indicador da mão direita, enquanto com a mão esquerda aponta obliquamente para o chão uma vareta curta.

O personagem é representado de frente, com o rosto voltado para a esquerda. [Nas referências aos protagonistas de cada carta, será considerada sempre a esquerda e a direita do leitor]. Usa um chapéu cuja forma lembra o símbolo algébrico de infinito e seus cabelos, em cachos louros, escapam desse curioso chapéu. Veste uma túnica multicolorida, presa por um cinto amarelo.

Sobre a mesa, da qual se vêem apenas três pernas, há diversos objetos: copos, pequenos discos amontoados, dados, uma bolsa e uma faca com a lâmina descoberta ao lado de sua bainha.

O prestidigitador está só, no meio de uma campina árida com três tufos de erva; no horizonte, entre as pernas da figura, uma árvore se desenha contra o céu incolor.

Significados simbólicos
Arcano da relação entre o esforço pessoal e a realidade espiritual. Domínio, poder, auto-realização, capacidade, impulso criador, atenção, concentração sem esforço, espontaneidade.

O ser, o espírito, o homem ou Deus; o espírito que se pode compreender; a unidade geradora dos números, a substância primordial. Ponto de partida. Causa primeira. Influência mercuriana.

Interpretações usuais na cartomancia
Destreza, habilidade, finura, diplomacia, eloqüência, capacidade para convencer, espírito alerta, inteligência rápida, homem inquieto nas suas atividades e negócios.

Mental: Facilidade de combinar as coisas, apropriação inteligente dos elementos e dos temas que se apresentam ao espírito.

Emocional: Psicologia materialista; tende para a busca das sensações, do vigor, da qualidade criativa. Generosidade unida a cortesia. Fecundidade em todos os sentidos.

Físico: Muita vitalidade e poder sobre as enfermidades de ordem mental ou nervosa, neuroses e obsessões. Esta Carta indica uma tendência favorável para questões de saúde, mas não assegura a cura. Para conhecer o diagnóstico é necessário considerar outras cartas.

Sentido negativo: Charlatão persuasivo, sugestivo, ilusionista, intrigante, politiqueiro, impostor, mentiroso, explorador de inocentes. Agitação vã, ausência de escrúpulos. Discussões, brigas que podem se tornar violentas, dado o vigor do personagem. Mau uso do poder, orientação defeituosa na ação, operações inoportunas. Tendência à dispersão nas ações, falta de unidade nos processos e atividades. Duvida. Indecisão. Incerteza frente aos acontecimentos.

História e iconografia
Desde a antiguidade clássica são bem conhecidos esses personagens que ganhavam a vida com suas habilidades. Seu ofício se combinava freqüentemente com a dança e o charlatanismo – passavam o seu tempo a vagabundear pelas feiras.

Não há muitas marcas literárias de sua passagem pela cultura européia, mas, em compensação, foi um personagem de prestígio nas artes gráficas desde os primeiros tempos. As gravações medievais costumam mostrá-lo no desempenho de suas mágicas frente a um grupo de espectadores absortos.

O Tarô suprime as testemunhas e acrescenta detalhes originais (a mesa de três pernas, a posição das pernas e dos braços do protagonista, entre outros), mas o seu parentesco com os registros sobre as feiras é evidente.

Pode-se acrescentar que, no mundo islâmico, o Prestidigitador foi também um personagem de vasta popularidade.

Num sentido mais geral, o Prestidigitador é símbolo da atividade originária e do poder criador existente no homem. Como ponto de partida do Tarô, é também o primeiro passo iniciático, a vontade básica no caminho para a sabedoria, a matéria primordial dos alquimistas, o barro paradisíaco do qual será obtido o Adão Kadmon.

“Se o mundo visível não passa de ilusão – pergunta-se Oswald Wirth – o seu criador não será o ilusionista por excelência?”

Neste plano, o Prestidigitador identifica-se com a materialidade do ser criado, até que o demiurgo e a criatura tornam-se o mesmo: certamente há aqui um sentido psicológico, para o qual a identidade é produto da experiência pessoal (o homem é o resultado das suas próprias ações). Desta maneira, pode-se interpretar a supressão da quarta perna da mesa como representativa do ternário humano no mundo (espírito-psique-corpo).

Uma das especulações em torno do personagem do Arcano I pode ser estabelecida a partir da sua atividade intensa, de seu dinamismo sem repouso (produto de seu caráter de intermediário entre o sensível e o virtual), atributo que o relaciona de modo estreito ao simbolismo de Mercúrio.

Nesse sentido, a vareta que traz na mão esquerda seria a simplificação do caduceu, assim como seu estranho chapéu corresponde quase exatamente ao capacete alado da divindade. Seu nome grego significaria “intérprete, mediador”, o que confirmaria essa hipótese.

Muito já se estudou sobre o papel fundamental desempenhado por Hermes Trimegisto na história do ocultismo; os alquimistas desenvolveram boa parte de suas sutis investigações em torno do simbolismo de Mercúrio; não é absurdo, portanto, supor que o Tarô tenha sido colocado sob sua invocação.

O arcano do Mago é também relacionado ao Aleph, do alfabeto hebraico, e pode ser associado à idéia de princípio e também ao primeiro som articulável ( a ) que, segundo a tradição “expressa a força, a causa, a atividade, o poder” e seria o paradigma do homem em sua relação com as demais criaturas.

Por Constantino K. Riemma
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@MDD – Este último parágrafo está errado. A associação entre Mago e aleph foi feita por Eliphas Levi em seu livro “Rituais e Dogmas da Alta Magia” onde ele associou o arcano à letra porque a posição dos braços do mago lembra o desenho da letra, mas ao estudarmos a Kabbalah, vemos claramente que o Mago conecta Binah a Keter, sendo, portanto, representado pela letra Beth.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/arcano-1-o-mago-beth

A’Ano’Nin: O Diabo é uma Mulher de Vermelho

© Linda Falorio 1993.

No Tarô das Sombras, a carta de A’Ano’Nin fala com o lado negro de Atu XV, O Diabo dos tarôs tradicionais. O Diabo, conhecido nos ensinamentos esotéricos da Golden Dawn (Aurora Dourada) como O Senhor dos Portais da Matéria, e O Filho das Forças do Tempo, cai astrologicamente sob a égide do planeta Saturno, Cronos, Guardião do Tempo, a oitava superior da Lua em seu papel de significante dos ritmos lentos e inexoráveis ​da natureza. Alquimicamente, Saturno relaciona-se com as qualidades do chumbo, com a densidade e o peso da matéria, a solidez da Terra, a atração da gravidade que nos mantém no planeta, bem como o núcleo derretido do planeta.

Saturno, o planeta mais externo conhecido nos tempos antigos, definiu os limites do cosmos então conhecido e também define nossos limites e vulnerabilidades pessoais, tanto físicas quanto psicológicas. Onde a Lua, o brilhante satélite da Terra, nutre a vida terrena, o escuro e distante Saturno define as limitações inerentes à estrutura e forma da vida. Frio e escuro, Saturno nos remete ao Norte geofísico, a direção de onde a energia orgone flui para nossa teia de vida, discernível como a aurora pulsante da aurora boreal. Saturno, portanto, também está associado ao inverno, dezembro no Hemisfério Norte, quando o Sol entra em Capricórnio, o signo nativo de Saturno.

No Tarô das Sombras, O Diabo, embora na maioria das vezes pensado como tipicamente masculino, em vez disso, vira um rosto feminino para nós como Set, deus egípcio dos desertos com cabeça de burro, Shaitan dos Yezidis que moram no deserto, cujos devotos adoravam voltados para o norte. Nesta carta encontramos a alma em escravidão aos sentidos e à terra: a matéria governando o espírito. No entanto, onde no tarô tradicional a ideia da matéria dominando o espírito foi vista como má, no Tarô das Sombras experimentamos isso como uma condição a ser buscada. O feminino há muito tem sido caluniado, mas há verdade nisso, pois se a existência terrena é vista como um mal a ser suportado a caminho de algum paraíso celestial, o feminino tem apenas dois papéis possíveis: o de psicopompo virginal, guiando a alma a Deus, como Beatrice fez para o poeta Dante Alighieri, ou a de sedutora, levando a alma de Deus, ligando o homem à terra como a porta física para o mundo material da sensualidade e satisfação do desejo animal através do sutil trabalho feromonal de seu corpo. De fato, a matéria (matter) é igual à mãe (mother), pois é ela que veste todas as coisas com forma, ela que mantém o feto em desenvolvimento em seu corpo, assim ela mantém nossos limites e nos mantém na realidade.

A’Ano’Nin nos chama para a dança luxuriosa do espírito revestido de forma. A alma é puxada para a encarnação pelo desejo. Encantados pelo arrebatamento dos sentidos, a miragem lançada sobre nós por nosso adorável planeta nos liga às bênçãos da terra, caímos no Tempo para que possamos nos deleitar com a alegria da existência física.

No pentagrama – a estrela de cinco pontas – vemos um antigo selo de proteção. Representa os quatro elementos dos Antigos — fogo, água, ar e terra — cujas infinitas combinações constituem o universo manifestado coroado pelo quinto elemento do espírito ao qual a humanidade aspira. Invertido, o pentagrama torna-se o signo de Pater Pan: “Pamphage, Pangenitor, o pai de todos, o progenitor de todos”. Ele representa o espírito gerador da terra fértil, o Deus dos Pés de Bode, Cernunnos, Capricórnio, Saturno – O Diabo, se você preferir – ninguém menos que o deus que “tem uma força espiral”, o espírito de A’Ano’Nin, que nos une a todos à vida.

Na carta de A’Ano’Nin, Set, o asno ruivo que passou a representar a paixão corporal e a luxúria, aparece como a sedutora Mulher Escarlate, ou Suvasini – “mulher de aroma doce” – seu corpo exalando poderosas essências feromoniais. Estes afetam as áreas límbicas do cérebro dos mamíferos primitivos que regulam os níveis mais básicos do comportamento instintivo. Há muito se sabe que as mulheres que vivem e trabalham juntas tendem a menstruar durante o mesmo período. Isso se deve à liberação de feromônios que desencadeiam hormônios em certas fases do ciclo menstrual, a biologia de uma mulher desencadeia a de outra, tudo ocorrendo inteiramente abaixo do nível de percepção consciente.

Nesta carta, as emoções intensificadas e a intensificação dos sentidos causadas por essa estimulação do antigo rinencéfalo, ou “cérebro do nariz“, através do olfato primitivo, são representadas graficamente. Sátiros e faunos são encontrados saltitando na bem-aventurança priápica engendrada, em uma selvagem Saturnália de paixão e desejo à qual Set dá o sinal de bênção. Este carnaval pagão (do L. carnem levare, “tirar a carne”, como alimento) da Saturnália era celebrado no final de dezembro, mês de Capricórnio, durante os sete dias anteriores ao Solstício de Inverno. Este festival, geralmente começando no dia quinze de dezembro, uma ocorrência interessante em que 15 é também o número dos arcanos maiores do DiaboAtu XV – comemorado o governo de Saturno, rei etrusco beneficente na lendária Idade de Ouro da paz, prosperidade , e felicidade universal, em que a ganância era desconhecida, nem havia escravidão ou propriedade privada, pois os cidadãos tinham todas as coisas em comum. A festa da Saturnália era marcada pela festa, folia e busca louca do prazer, em que os senhores trocavam de lugar com seus escravos, e todos comiam em uma mesa comum, mantendo viva a ideia de igualdade. Além disso, a guerra não pôde ser declarada e as execuções foram adiadas. Esta temporada, então como agora, era hora de dar e receber presentes.

Mas havia um lado mais sombrio na Saturnália romana. Foi também um período de licença, quando as restrições costumeiras da lei e da moral foram deixadas de lado, quando todos se entregaram ao prazer, e as paixões mais sombrias foram liberadas nunca permitidas no curso sério e sóbrio da vida comum. A personalidade humana foi autorizada a se dissolver na loucura, alimentando-se do mundo sombrio dos sentidos enquanto as mênades (também conhecidas como as bacantes) se banqueteavam com suas vítimas, despedaçadas na adoração extática de seus deuses.

A Saturnália, embora seja um festival antigo, tem uma semelhança impressionante com as práticas nativas atuais daqueles que vivem no alto das montanhas andinas do Peru. Em certas épocas do ano, esses nativos organizam festas selvagens acompanhadas de muita mastigação de folhas de coca. Durante o festival eles tocam flautas e tambores, se envolvem em ritos eróticos públicos e se entregam a lutas sangrentas, bebendo cerveja de milho e conhaque durante a noite até atingir o estupor.

O Diabo, sempre uma carta difícil de interpretar, muitas vezes tem sido explicado como a alma ou espírito em escravidão aos sentidos e à terra. Quando esta carta está ativa em nossas vidas, estão envolvidas questões de poder e controle, escravidão e submissão. A competição entra em jogo, alimentada pela ganância material e pela ambição de chegar ao topo. Os métodos podem ser encobertos, envolvendo manipulação sutil e “jogar política” para ganhar o jogo. Assim, o Diabo, Capricórnio, pode ser visto como o homem organizacional arquetípico. Ele acredita na hierarquia, no trabalho duro e na tradição, acredita no controle das paixões e emoções animais, no autocontrole e na submissão à autoridade, no sacrifício de sua individualidade em favor do bem comum. Isso, em sua mais alta expressão, apoia a criação de uma sociedade na qual o espírito humano possa ser sustentado e nutrido.

Como cada ideia contém a semente de seu próprio oposto, o Diabo como A’Ano’nin torna-se aquele selvagem, indomável espírito animal luxurioso dentro de nós, aquela força extática cega da natureza que é uma expressão da fertilidade e abundância da terra. No entanto, essa expressão livre e alegre do espírito humano é temida como arrogância (hubris) que constitui um perigo social, ameaçando as próprias ideias de hierarquia, estrutura, autoridade e controle sobre as quais as sociedades se baseiam. Portanto, para funcionar e sobreviver, uma sociedade descobre que deve colocar limites ao comportamento individual definido como perturbador para o bem comum do grupo. Além disso, para que não se transforme em anarquia e caos, deve haver um consenso de significado, um acordo sobre o que constitui sua razão de existência, seus propósitos e planos.

O indivíduo, uma vez que se tornou um perigo para o status quo, despertando a ansiedade de que o universo humano possa desmoronar no caos e a incerteza deve ser reprimido e colocado sob controle social. A sociedade, para justificar suas ações na preservação de sua estrutura de poder, apela aos estabelecimentos combinados de igreja, estado e medicina para definir tais indivíduos como “pecadores”, como “criminosos” ou “loucos” no velho jogo de “culpe a vítima”, ou bode expiatório.

A submissão a uma hierarquia morta que deixou de fornecer pouco significado ou contexto social além do imperativo ideológico de preservar sua própria capacidade de perseguir ganância e ambição materiais, gera pobreza de espírito, desesperança, desamparo e depressão, que podem eventualmente explodir em violência, raiva e agressão, ameaçando a estrutura de poder com a própria incerteza e caos que tanto teme.

Não deveria surpreender que tal liberação de energia reprimida, como encontramos na antiga Saturnália, ou nos modernos ritos peruanos, muitas vezes degenerou em orgias selvagens de luxúria e crime, nas quais talvez possamos identificar um tipo antigo de prática corrente perturbadora conhecida como “selvageria“. No entanto, a louca onda de violência e agressão antissocial aleatória de gangues conhecida como selvageria, também pode ser vista como resultado da repressão do indivíduo por uma sociedade que dá pouco significado além da busca de ganância e ambição materiais, que, em vez de nutrir o espírito humano livre permite poucas oportunidades para sua expressão, gerando violência, raiva e agressão.

Quando nos encontramos presos a um sistema tão repressivo, em vez de seguir com o ciclo de repressão – depressão – raiva – violência, precisamos encontrar a capacidade de ver além da sabedoria convencional que nos adverte a observar silenciosamente o status quo, precisamos enxergar além das limitações sociais artificiais impostas ao comportamento. Em vez de explodir de raiva de nossos repressores, podemos então nos libertar com alegria para seguir o caminho com o coração, o ditame de nosso espírito e nossa Vontade.

Em Uma Leitura:

Quando usamos esta carta para meditação, ou quando a vemos em uma leitura, somos lembrados de viver através dos sentidos. É hora de voltar a entrar em contato com os ciclos da terra, de nos sintonizarmos com os vastos ritmos da natureza e com a sabedoria atemporal de nossos corpos. Precisamos ter tempo para voltar ao básico, perceber o mundano, apreciar e apreciar aqueles que nos rodeiam, com todas as suas falhas e falhas, na medida em que são expressões únicas das fases e ciclos que afetam a vida humana.

Às vezes, todos nos sentimos presos e estressados, frustrados pela sujeição a regras e regulamentos sem sentido. Encontramo-nos curvados à pressão social para nos conformarmos a padrões que achamos desprovidos de significado. Temos momentos em que tememos estar em perigo de nos tornarmos Mirmidões para a analidade corporativa e patriarcal, que sacrificamos obedientemente o melhor em nós, nossa vitalidade e juventude, às demandas da eficiência industrial em nossa busca por “avançar”.

Essa pressão social e excesso de trabalho tendem a bloquear as energias orgonômicas de nossos corpos, e podemos experimentar depressão, impotência sexual ou sentimentos vagos de ansiedade e culpa quando nos permitimos experimentar o prazer sensual. Ficamos nos sentindo isolados, presos, controlados, deprimidos e alienados da natureza e do corpo. Desejando escapar, podemos nos sentir atraídos por religiões ou outras visões de mundo que validam a negação do prazer sensual no aqui e agora, prometendo libertação através da transcendência do mundo material e do mundo dos sentidos. Por outro lado, quando buscamos nos libertar das sanções sociais e expressar nossa liberdade e prazer dos sentidos, podemos encontrar aqueles que, dando vazão a um senso de justiça vingativa baseada no medo, procuram impor sua moralidade sexual restritiva sobre outros — o que Wilhelm Reich chamou de “praga emocional“.

Esteja Aqui Agora“, permanecer no momento é o segredo de A’Ano’Nin, pois em sintonia com o mundo natural, encontramos a capacidade de extrair energia de cura e vitalidade do contato direto com a terra como o grego Tellus, derivou sua força. Um com a terra, somos capazes de encontrar pontos de poder e de “aterrar” forças potencialmente disruptivas, canalizando-as de volta para a terra que tudo aceita. Em nossa sintonia com a natureza, em nosso amor e aceitação da base da vida, em nossos próprios instintos naturais e humanidade, encontramos a capacidade de contatar todos os tipos de fadas, gnomos, silfos, ondinas e devas dos reinos da terra. , e se comunicar com todas as formas de vida. Sentindo-se uno com a expressão da vida, à vontade em um mundo holístico do qual a humanidade é uma parte natural, onde os instintos não são maus, onde tudo/todos/todo ato é aceitável como um desdobramento necessário da Sem Face, Hécate, La Belle Dame Sans Merci (A Bela Senhora Sem Misericórdia) – a Grande Deusa Insondável – ganhamos a capacidade de materializar o desejo no Aqui e Agora.

***

A’Ano’Nin: The Devil Is A Woman Dressed In Red.

© AnandaZone 1998 – 2019. All articles and art © Linda Falorio unless otherwise noted.

Linda Falorio / Fred Fowler Pittsburgh, PA 15224 USA

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.


Participe do financiamento O Tarô das Sombras, de Linda Falorio

Postagem original feita no https://mortesubita.net/demonologia/aanonin-o-diabo-e-uma-mulher-vestida-de-vermelho/

Arcano 2 – Sacerdotisa – Gimmel

Uma mulher sentada, com um livro aberto sobre a saia e uma coroa tripla na cabeça.

Olha para a esquerda e veste uma túnica vermelha sobre a qual se desdobra um manto azul (em algumas versões as cores são opostas). Duas partes da sua tiara estão ornadas de florões, mas a parte superior é uma simples abóbada. Um véu, que lhe cai sobre os ombros, cobre totalmente os seus cabelos; na mesma altura desse véu, por trás, aparece uma cortina cujos pontos de fixação não são visíveis. Tampouco se podem ver os pés da mulher, assim como a base do trono. Fato curioso, que é reencontrado somente no arcano XXI, é que a figura ultrapassa a margem superior do quadro: o extremo da tiara supera a linha negra, um pouco à direita do número II.

Significados simbólicos
A Sabedoria, a Gnose, a Casa de Deus e do homem, o santuário, a lei, a Cabala, a igreja oculta, a reflexão.

Fala também do binário, do princípio feminino, receptivo, materno.

Mistério. Intuição. Piedade. Paciência, influência saturnina passiva.

Interpretações usuais na cartomancia
Reserva, discrição, silêncio, meditação, fé, confiança atenta. Paciência, sentimento religioso, resignação. Favorável às coisas ocultas.

Mental: Grande riqueza de idéias. Responde a problemas concretos melhor do que a questões vagas.

Emocional: É amistosa, recebe bem. Mas não é afetuosa.

Físico: Situação garantida, poder sobre os acontecimentos, revelação de coisas ocultas, segurança de triunfo sobre o mal. Boa saúde, mas com um ritmo físico lento.

Sentido negativo: Dissimulação, hipocrisia, intenções secretas. Mesquinharia, inação, preguiça. beatice. Rancor, disposição hostil ou indiferença. Misticismo absorvente, fanático. Peso, passividade, carga. As intuições que traz invertem seu sentido e se tornam falsas. Atraso, lentidão nas realizações.

História e iconografia
A tradução exata do nome que o Tarô de Marselha dá a este arcano (La Papesse) é A Papisa. Outras versões, como A Sacerdotisa ou A Alta Sacerdotisa, vêm do nome que lhe é dado em inglês (The High Priestess).

A figura da Papisa faz alusão a um fato histórico, ou melhor, lendário, que ocupa um lugar notável na literatura da Idade Média: a pretensa existência de um Papa do sexo feminino. A tradição popular diz que uma mulher ocupou a cadeira de São Pedro durante alguns anos sob o nome de João VIII.

Várias versões aparecem, mas o mais antigo testemunho que chegou até nós é bastante posterior à data de seu suposto reinado.

De qualquer modo, para o estudo tradicional e iconográfico do Tarô, não importa estabelecer alguma fidelidade histórica. Embelezada com o correr do tempo, uma de suas versões combina admiravelmente com o simbolismo maternal que se atribui à estampa: segundo tal versão, a papisa teria ficado grávida de um dos seus familiares e, como não se recolheu à época do parto, o acontecimento teria se dado em plena rua, durante uma procissão entre a igreja de São Clemente e o palácio de Latrão.

Com a dramática descoberta do embuste, o enfurecido séquito papal teria assassinado Joana e seu filho. Antigas tradições romanas asseguram que, no lugar do homicídio, permaneceu durante séculos um túmulo ornado por seis letras P, que podiam ser lidas de três maneiras diferentes (jogando com a inicial comum a Papa, Pedro, pai e parto).

Ainda com relação a essa lenda, deve-se assinalar um fato notável: na célebre Bíblia ilustrada alemã do ano de 1533, a grande prostituta do Apocalipse está representada com uma tiara na cabeça, A tradição afirma que foi desenhada deste modo por desejo expresso e sugestão de Martinho Lutero.

Enquanto o Mágico não poderia permanecer em repouso (numa unidade andrógina onde tudo é impulso e estímulo), a Sacerdotisa é o próprio repouso: sentada, majestosa, receptiva, seu reino é binário, uma etapa na distinção da polaridade do universo. Se o binário equivale a conflito, no sentido de rompimento da unidade, de abandono do caos essencial onde não existem as magnitudes nem os nomes, é também a primeira etapa dolorosa e imprescindível das vias iniciáticas, o começo da busca da identidade.

A Sacerdotisa representa a submissão majestosa às exigências dessa iniciação, o equilíbrio que a repartição elementar de forcas produz no conflito.

O que o Arcano I era para a encarnação das energias espirituais o Arcano II o é quanto à aceitação dessa metamorfose: o reconhecimento prévio da luta entre os princípios branco-negro, dia-noite, Yang-Yin.

Alguns autores vêem na Sacerdotisa a representação de Isis, com todas as suas conotações noturnas e ocultas. Também a associam a Cassiopéia, a rainha negra da Etiópia e mãe da constelação Andrômeda, e a Belkis, a belíssima rainha de Sabá, para quem Salomão teria composto o Cântico dos Cânticos. Essa relação da Sacerdotisa com deusas e rainhas negras (ou escuras) não parece casual e acentua a contrapartida com a carta a seguir: o simbolismo branco, luminoso e diurno do Arcano III (A Imperatriz), com quem a Sacerdotisa forma a dupla oposta e complementar da feminilidade.

Este símbolo subterrâneo, que se refere ao aspecto esotérico da revelação, teria passado para o cristianismo sob a forma das virgens negras, cujo ritual se realiza com freqüência numa cripta ou num lugar inacessível.

Mãe, esposa celeste, senhora do saber esotérico, a Papisa ou Sacerdotisa ocupa na estrutura do Tarô o lugar da porta, da passagem entre o exterior e o interior, do ponto imóvel e comum entre a Casa e a rua.

Por Constantino K. Riemma
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#Tarot

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/arcano-2-sacerdotisa-gimmel

Curso de Tarot e História da Arte – Dezembro

Este é um post sobre um Curso de Hermetismo já ministrado!

Se você chegou até aqui procurando por Cursos de Ocultismo, Kabbalah, Astrologia ou Tarot, vá para nossa página de Cursos ou conheça nossos cursos básicos!

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Cursos de Hermetismo de Dezembro:

– Arcanos Maiores – 02/12 (Sábado) das 10h às 18h

– Arcanos Menores – 03/12 (Domingo) das 10h às 18h

– Magia Prática – 10/12 (Domingo) das 10h as 18h

No Curso de Tarot fazemos o estudo de 12 decks diferentes, comparando a simbologia de cada um dos Arcanos ao longo da História da Arte; desde os trionfi do século XIV até os mais modernos como o Rider-Waite, Thoth (Aleister Crowley) e Mitológico, passando por Marselha, Oswald Wirth, Tarô dos Boêmios, Tarô alquímico e Egípcio (Kier).

Informações e reservas: marcelo@daemon.com.br

#Cursos #Tarot

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O Tarot no Século XIV

tarot-sforza

É para a Europa, especificamente o norte da Itália, que devemos nos voltar para encontrar as primeiras manifestações do jogo do 78 cartas que hoje conhecemos pelo nome de Tarot. E, a julgar pelos mais antigos exemplares conservados, as mudanças sofridas ao longo do tempo foram muito menores do que se poderia esperar: os quatro naipes conhecidos hoje são os mesmos dos jogos italianos desde sempre: Copas, Espadas, Paus e Ouros. Além das dez cartas numéricas, as figuras são em número de quatro, para cada naipe: um rei, uma rainha (ou dama), um cavaleiro e um valete.

Restam ainda 22 cartas especiais que, de certo modo, formariam um quinto naipe e que os documentos italianos denominam de trionfi (trunfos) e, os franceses, atouts, com o mesmo sentido de trunfo, ou seja, de cartas que se sobrepõem às demais. Cada um dos vinte e dois arcanos maiores do Tarô permitem paralelos com Alquimia,

Astrologia, Sufismo, Cabala, Mística Cristã…

Restaram inúmeras cartas de tarô pintadas à mão, do século XV. São os mais antigos legados históricos, que estão sob guarda de museus ou em posse de colecionadores.

Registros concretos

Não se sabe ao certo a origem das cartas do baralho tradicional. Nem se pode afirmar, com certeza, se o conjunto dos 22 trunfos ou Arcanos Maiores – com seus desenhos emblemáticos – e as muito bem conhecidas 56 cartas dos chamados Arcanos Menores – com seus quatro naipes – foram criados separadamente e mais tarde combinados num único baralho, ou se, desde seu nascimento, tiveram a forma de um baralho de setenta e oito cartas.

Tudo indica que as 56 cartas do baralho comum foram copiadas do jogo difundido entre os guerreiros mamelucos. Os autores da adição das 22 cartas, hoje denominadas “arcanos maiores” entre os tarólogos, permanecem desconhecidos.

Existe, no entanto, um ponto de concordância entre a maior parte dos estudiosos: raros imaginam que se trataria de alguma manifestação ingênua de “cultura popular” ou de “folclore”. Ao contrário, a abstração das 40 cartas numeradas, bem como as evocações simbólicas dos trunfos, permitem associações surpreendentes com inúmeras outras linguagens simbólicas. Sugerem uma produção muito bem elaborada, um trabalho de Escola.

A maior parte dos estudiosos considera os 22 trunfos – atualmente denominados “arcanos maiores” – uma criação do norte da Itália, como atestam as cartas do Tarot Visconti Sforza.

Já as dúvidas aparecem quando se trata do conjunto das cartas numeradas – atualmente conhecidas por “arcanos menores” ou “baralho comum” –, que teriam sido levadas pelos gurreiros mamelucos à Europa durante a Idade Média. Existem menções às “cartas sarracenas” em registros do séc. 14.

Anteriores às lâminas apresentadas acima, encontramos apenas referências a um “jogo de cartas”. É bastante citado, nos estudos de Tarô, o relato de Johannes, monge alemão de Brefeld, Suíça: “um jogo chamado jogo de cartas (ludus cartarum) chegou até nós neste ano de 1377”, mas declara expressamente não saber “em que época, onde e por quem esse jogo havia sido inventado”. Sobre as cartas utilizadas, diz que os homens “pintam as cartas de maneiras diferentes, e jogam com elas de um modo ou de outro. Quanto à forma comum, e ao modo como chegaram até nós, quatro reis são pintados em quatro cartas, cada um deles sentado num trono real e segurando um símbolo em sua mão”.

Há outra menção, ainda no século XIV, embora não tenha restado exemplar algum das referidas cartas: nos livros de contabilidade de Charles Poupart, tesoureiro de Carlos IV, da França, existe uma passagem que declara que três baralhos em dourado e variegadamente ornamentados foram pintados por Jacquemin Gringonneur, em 1392, para divertimento do rei da França.

Variantes

Numa composição diferente, com 50 cartas divididas em 5 séries de 10 cartas cada, existem vários exemplares do jogo chamado Carte di Baldini (c. 1465), também conhecido como Tarocchi de Mantegna, nome de um um importante pintor do norte da Itália no séc. XV.

Alem de estruturas diferentes, exemplificada com o Tarô de Mantegna, existem inúmeros exemplos posteriores de acréscimo de cartas – como é o caso do I Tarocchi Classici – e também de cortes e supressões que acabaram por originar jogos reduzidos que se tornaram populares: Baralho Petit Lenormand, também conhecido como Baralho Cigano.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-tarot-no-s%C3%A9culo-xiv

Arcano 10 – Roda da Fortuna – Koph

Sobre o aro de uma roda de seis raios, suspensa no ar por um apetrecho de madeira, seguram-se três animais estranhos.

O fundo é branco; o chão está cortado por listas negras. A roda se apóia sobre dois pés ou suportes paralelos; o da esquerda não chega ao eixo.

Do centro da roda saem seis raios – azuis até menos da metade e em seguida brancos – que se fixam na parte interna do aro: dois deles formam ângulo reto com o chão; os outros quatro representam um xis (ou o dez romano, número da carta, ou ainda uma cruz de Santo André).

À direita, um animal intermediário entre cachorro e lebre (com patas traseiras que não combinam com esses animais) parece subir pela roda; à esquerda, uma espécie de macaco desce de cabeça para baixo. Na parte superior, uma plataforma suporta uma figura que pode ser vista como uma esfinge coroada; três das suas patas repousam sobre a base, enquanto a pata anterior esquerda empunha uma espada desembainhada.

Significados simbólicos

Os ciclos sucessivos na natureza e na vida humana. A manifestação, o movimento de ascensão e de declínio.

Influências lunares e mercurianas.

Interpretações usuais na cartomancia

Boa sorte, louvor, honra.

Alternativas da sorte. Instabilidade.

Esperteza, presença de espírito que não deixa escapar as boas oportunidades. Iniciativa feliz, adivinhação de ordem prática, sorte. Êxito casual, como o ganho na loteria. Espontaneidade, disposição inventiva. Animação, brio, bom humor.

Mental: Lógica, regularidade. Juízo equilibrado e sadio.

Emocional: Traz animação e reforça os sentimentos.

Físico: Os acontecimentos não serão estáveis, porque necessitam de uma mudança, uma evolução. Esta mudança tende a ser para melhor, no sentido do desenvolvimento.

Segurança na dúvida. Do ponto de vista da saúde: não haverá problemas circulatórios. Bons augúrios para um futuro casamento.

Sentido negativo: A transformação se fará com dificuldade, mas poderá ocorrer quando fizer falta. É preciso modificar desde o princípio, partir de outras bases. Descuido.

Especulação, jogo, abandono ao azar.

Insegurança. Imprevisão, caráter boêmio, pouca seriedade.

Situação instável: ganhos e perdas. Aventuras, riscos. Diminuição da sorte.

História e iconografia
Uma das alegorias mais antigas e populares, a imagem que reproduz o Arcano X causa uma impressão estranha ao observador contemporâneo. Isto se deve ao fato de que nos últimos séculos a iconografia do tema tornou-se puramente verbal: qualquer um entende o conceito de “roda do destino”, mas dificilmente se faz dela uma representação visual. Desde a antigüidade clássica, contudo, até o Renascimento, foi justamente o contrário que aconteceu. Em vários textos romanos descreve-se o Destino como uma mulher cega, louca e insensível, que atravessa a multidão caminhando sobre uma pedra redonda (para simbolizar a sua instabilidade); a roda aparece com freqüência nos sarcófagos, como evidente alusão ao caráter cíclico da vida.

Até o final do primeiro milênio não se encontram outros exemplos valiosos sobre o tema, mas depois de uns séculos ele ressurge com maior esplendor que nunca. É já na sua plenitude iconográfica que o reencontramos a partir de meados do século XIII em rosetas de várias catedrais góticas (Amiens, Trento, Lausanne) e de numerosas igrejas: pequenas figuras, representando os momentos e estados da vida, que sobem e descem pelos raios de uma roda.

Um exemplo muito antigo pode ser visto no Hortus deliciarum, de Herrade de Landsberg, abadessa do claustro de Santa Odília (Estrasburgo), morta em 1195.

Nesta imagem completa, como em muitas posteriores, quatro personagens, que aparecem representados como reis, são movidos pela roda que é manejada pelo Destino ou Fortuna em pessoa.

As legendas que acompanham os personagens não deixam dúvida sobre o significado da alegoria: Spes, regnabo (esperança, reinarei), diz o rei ascendente da esquerda; Gaudium, regno! (Alegria, reino!), exclama o que se encontra sobre a plataforma superior; Timor, regnavi… (Temor, reinava…) murmura o da direita, que desce de cabeça para baixo; enquanto que o quarto, que foi atirado da roda e jaz na terra, aceita a evidência da sua condição: Dolor, sum sine regno (Dor, estou sem reino).

É evidente que, numa leitura alegórica, os quatro personagens não passam de um, submetido às variações do destino.

O simbolismo deste personagem quatro-em-um refere-se também às fases da lua e às idades do homem (infância, juventude, maturidade, velhice).

A substituição dos reis por animais ou monstros é um pouco mais tardia (século XIV, ou final do XIII), mas a idéia que este arcano simboliza é certamente mais antiga que a civilização ocidental.

No livro de Ezequiel, diz Wirth, encontra-se a explicação transparente do Arcano X. No plano simbólico, segundo esse autor, muitos dados podem ser extraídos do simbolismo geral da roda. “Refere-se em última instância à decomposição da ordem do mundo em duas estruturas essenciais e distintas: o movimento rotatório e a imobilidade; a circunferência da roda e seu centro, imagem do ‘motor imóvel’ aristotélico”.

O aspecto solar e zodiacal do simbolismo da roda a relaciona sem dúvida com o conceito dos ciclos (o dia, as estações, a vida do homem), ou seja, daquele que nasce para morrer, mas que também morre para ressuscitar.

Guénon afirma que a roda é símbolo de origem céltica e assinala seu evidente parentesco com as flores emblemáticas (rosa no Ocidente, lótus no Oriente), com as rosetas das catedrais góticas e, em geral, com as figuras mandálicas. No taoísmo aparece como metáfora do processo ascendente-descendente (evolução e involução, progresso espiritual e regressão).

Por Constantino K. Riemma
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Arcano 4 – Imperador – Heh

Sentado num trono com as pernas cruzadas, um homem coroado é visto de perfil. Em sua mão direita traz um cetro que termina por um globo e pela cruz, enquanto a outra mão segura o cinto. No primeiro plano, à direita, um escudo com a imagem de uma águia parece apoiar-se no chão.

Um colar amarelo prende uma pedra (ou um medalhão) de cor verde. A coroa se prolonga extraordinariamente por detrás da nuca.

O trono, uma cadeira em cujo braço esquerdo se apóia o Imperador, repousa – como a mesa do Arcano I – sobre um terreno aparentemente árido, do qual brota uma solitária planta amarela.

Ao contrário do emblema da Imperatriz, a águia do Arcano IIII olha para a esquerda. O desenho das águias, por outro lado, difere notavelmente num e noutro caso.

A notação IIII, no topo do desenho, que ocorre também nos arcanos VIIII, XIIII e XVIIII não é habitual na numeração romana (que registraria IV, IX, XIV e XIX).

@MDD – A notação IIII vem do Grego arcaico, não do romano.

Essa forma de grafar, porém, faz parte da tradição gráfica do Tarô, tal como aparece na versão de Marselha e na maioria das coleções de cartas antigas.

Significados simbólicos
O poder, o portal, o governo, a iniciação, o tetragrama, o quaternário, a pedra cúbica ou sua base. Proteção paternal.

Firmeza. Afirmação. Consistência. Poder executivo. Influência saturnina-marciana. Concretização, habilidades práticas, ordem, estabilidade, prestígio.

Interpretações usuais na cartomancia
Direito, rigor, certeza, firmeza, realização. Energia perseverante, vontade inquebrantável, execução do que está resolvido. Protetor poderoso.

Mental: Inteligência equilibrada, que não despreza o plano utilitário.

Emocional: Acordo, paz, conciliação dos sentimentos.

Físico: Os bens, o poder passageiro. Contrato firmado, fusão de sociedades, situação do acordo. Saúde equilibrada, mas com tendência à exuberância excessiva.

Sentido negativo: Resultados contrários ao pretendido, ruptura do equilíbrio. Queda. Perda dos bens, da saúde ou do domínio sobre coisas e seres. Oposição tenaz, hostilidade preconcebida. Teimosia, adversário obstinado; assunto contrário aos interesses. Autodestruição, grande risco de ser enganado. Autoritarismo, tirania, absolutismo.

História e iconografia
Alguns estudiosos chamam atenção para um aspecto significativo desta figura: o Imperador tem as pernas cruzadas. Este detalhe corroboraria a tese de inspiração germânica do arcano, visto que no antigo direito alemão esta posição era prescrita ritualmente para os altos magistrados (1220). No entanto, imagens semelhantes e igualmente antigas aparecem nas iconografias francesa e inglesa, representando altos dignitários.

O caráter cerimonial e prestigioso do cruzar as pernas pode ter uma origem mais remota, possivelmente oriental, já que isso não é habitual no panteão greco-romano.

O antigo simbolismo, convertido em liturgia pela codificação alemã, admite também um profundo sentido psicológico: cruzar as pernas e os braços indica concentração volitiva, encerra o protagonista na sua esfera pessoal e, do ponto de vista gestual, afirma claramente o desejo de individuação.

Outros detalhes merecem ser assinalados a propósito do Imperador.

É comum, associar o simbolismo do Tetragrammaton à figura do Imperador. É sabido que o tetragrama traduz ao nome de Deus omitindo-o, ao decompô-lo no nome das letras que o formam: Yod – He – Vau– He.

A leitura do nome das letras (grafadas da direita para a esquerda, em hebraico), dá Jehová, que não é o nome de Deus, mas alusão a ele.

Os cabalistas, como demonstra este exemplo, trabalham também com o pensamento analógico, tal como se vê nos demais estudos tradicionais.

“A idéia é perfeitamente clara” – diz Ouspensky – “se o Nome de Deus está realmente em tudo (se Deus está presente em tudo), então tudo deve ser análogo a tudo mais: a parte menor deverá ser análoga ao Todo, a partícula de pó análoga ao Universo, e todos análogos a Deus”.

Do ponto de vista cabalístico, a relação Tetragrama-Imperador parece muito fecunda, já que, comparada com as três letras anteriores (ou os três arcanos), consideradas respectivamente como o princípio ativo (I), o princípio passivo (II) e o princípio do equilíbrio ou neutralizador (III), a quarta letra ou carta é considerada o resultado e, também, o princípio da energia latente.

Isto se harmoniza perfeitamente com a versão de Wirth sobre o Arcano IIII, segundo a qual ele não é apenas o Príncipe deste mundo, que “reina sobre o concreto, sobre o que está corporificado”, mas é também o paradigma do homem estritamente normal, em posse de suas potencialidades, mas ainda não realizado pela iniciação.

Nesse sentido, representa o quaternário de ordem terrena, de organização da vida sensível, e pode ser relacionado também ao demiurgo dos platônicos, às divindades inferiores em geral (os heróis, antes dos deuses), e a toda tentativa de criação de vida no nível terreno e perecível.

Também se vê nele, enquanto rei que propicia a prosperidade e o crescimento de seu povo, uma correspondência ao mito de Hércules, “portador da maçã, que leva as maçãs de ouro ao jardim das Hespérides”.

Hércules, enquanto herói solar, que resume como nenhum outro as fases do processo iniciático no sentido da liberação individual que, esotericamente, só se pode alcançar através do trabalho e do esforço.

Como Hércules, também o Imperador não transcende a condição humana, embora o princípio indique que poderá levá-la à sua mais alta manifestação.

É considerado, em sua face não trabalhada, como representante do aspecto violento e agressivo do masculino, mas também como dispensador da energia vital e, neste aspecto, como a Natureza abundante, divisível, nutritiva.

Por Constantino K. Riemma
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