Astrologia Cabalística

A Astrologia que chamamos hoje “Cabalística” sempre existiu, sendo caracterizada como o conhecimento que D´us propiciou para que os primeiros seres humanos entendessem não só os fenômenos da natureza, como a finalidade da existência dos astros, a sucessão de dias e noites, as estações, mas sobretudo a perfeição da criação Divina. Com o tempo, e o desenvolvimento da humanidade muito deste conhecimento se perdeu, sendo mantido basicamente por aqueles que hoje chamamos de Cabalistas.

Não há neste texto o objetivo de traçar paralelismos profundos entre a Astrologia Cabalística e a convencional, já que este é um assunto mais extenso, para ser tratado num livro, o que de fato acontecerá mais à frente. A intenção aqui é familiarizar o leitor com as dinâmicas de mudanças de meses, para que possam entender com maior facilidade termos como Rosh Chodesh e Kidush Levaná, que são de vital importância no estudo e prática da Cabala Maassit (Iniciática).

Nos livros sagrados da Cabala existem inúmeras citações de nossa astrologia, através da Torá, do Talmud, além de tratados como o Zohar e os Midrashim, porém, nenhum deles vai tão longe quanto o Sêfer Yetzirá. Este livro que foi escrito pelo Patriarca Abraham é o mais antigo e misterioso de todos os textos cabalísticos, sendo a revelação Divina de como D´us iniciou o processo de criação, através das letras hebraicas, formando combinações de extremo poder e realização.

APLICAÇÃO:

Abraham como é sabido, era filho de Terach, um iminente ocultista. O Zohar então nos revela, que baseado no que aprendeu com o pai, o futuro patriarca do Povo de Israel, preveu que jamais poderia ser pai de um filho da mulher que amasse. De fato, quando Abraham conheceu Sarah, foi o que aconteceu, ela era estéril, o que dificultava com que cumprisse sua missão nesta existência. No entanto, tudo isso mudou, ao Abraham desenvolver sua consciência à níveis mais elevados.

Então, segundo a Torá o Eterno diz: “Olha para os céus, e conta as estrelas, se podes contá-las. E disse: assim será tua semente. E acreditou em D´us Abraham” (Bereshit 15:05). De maneira literal, ficamos simplesmente com a versão da promessa que o Criador faz em gerar descendência para Abraham, porém os cabalistas estão sempre preocupados em entender o sentido “Sod” (secreto) das escrituras. Cruzando o entendimento de nossos sábios, com os tratados percebemos que a intenção do Criador é ensinar ao futuro patriarca a cosmogonia do universo, além de dar proeminência à ele sobre os astros. Fato evidenciado pelo “He”, que adiciona à seu nome mudando de Abram, para Abraham.

Isto significa, que D´us concede a Abraham um conhecimento capaz de suplantar às previsões negativas que ele tinha feito para ele mesmo, o que se configurou em verdade, quando Sarah se torna mãe de Isaac. Nossos sábios nos revelam que justamente os seres humanos daquele tempo eram governados pela Mazal ou “sorte”, mas que no sentido “Sod”, significa “Conjunção Astrológica”. Este conceito descoberto e aplicado por Abraham, é algo fundamental na Astrologia Cabalística, até os dias de hoje, o poder do Livre-Arbítrio.

Este poder justamente é concedido pela letra “He”, já que seu valor numérico de Gemátria é “5? e alude justamente ao “Chumash”, que são os cinco livros da Torá e significa que aquele que estuda e pratica os princípios que nela estão contidos justamente ganha “poder sobre as estrelas”. Isto significa sair da condição de influenciado para influenciador, já que nos é expressado que “os anjos são como almas para as estrelas”. Através disso, a sabedoria da Cabala nos informa que realmente somos influenciados não pela energia do astro em si, mas sim pela energia das criaturas que estão vinculadas àquele astro, tanto anjos como Criaturas do Sitra Achrá (“Outro Lado”).

ASTROLOGIA CABALÍSTICA HOJE:

A sabedoria que temos hoje, não é aprendida através de manuais, mas vem da vivência entre o Rav (Mestre) e seus Chaverim (Discípulos), como evidenciado através por Abraham, que legou esta sabedoria à seu filho, Isaac, que depois a transmitiu para Yacoov. Posteriormente, foi transmitido à Yossef, servindo como base da implementação das 12 Tribos de Israel, que são hoje fundamentais no entendimento e aplicação de nossa astrologia. Depois de toda a perseguição sofrida no Egito, o Criador legará a sabedoria a Moshê (Moisés), que reconstruirá a linha sucessória de transmissão, até os dias de hoje.

O Calendário Hebreu se diferencia do calendário convencional, por ser Lunar e, apesar de se referir aos 12 signos do zodíaco que são amplamente conhecidos por todos, a grande verdade é que o entendimento, interpretação e esoterismo da Astrologia Cabalística estão totalmente relacionados às 12 Tribos de Israel. Sua características e particularidades são evidenciadas no nível “Pshat” ou “literal”, quando Yacoov “abençoa” cada fundador destas tribos, dotando-as com características específicas, o que é entendido de maneira profunda, através do estudo dedicado da Torá, Talmud, Sêfer Yetzirá, demais tratados e, sobretudo, do Rav.

Então, cada mês cabalístico representa uma energia nova, capaz de impulsionar o ser humano a realizar sua missão na terra. Para isso, é fundamental que a pessoa conheça a força daquele mês, suas características e especificidades, para utilizá-lo como uma “catapulta”, rumo à níveis mais elevados de consciência. Sem este conhecimento, como Hashem criou tudo “macho e fêmea”, ou seja dual, a pessoa pode ser envolvida pelas forças Klipóticas, sendo afetada negativamente pela influência do mês.

MAPA CABALÍSTICO E AS CONEXÕES CABALÍSTICAS:

É por isso, que os antigos cabalistas criaram duas forças capazes de dotar o ser humano com o mesmo poder de Abraham para suplantar a Mazalot: o Mapa Astral Cabalístico e a Conexão do Mês. O primeiro é o entendimento que da mesma forma que o DNA nos transmite características daquilo que somos funcionalmente, os astros nos passam nosso “DNA Espiritual”. Assim, quando eu estou fazendo o Mapa Cabalístico de alguém, é como estivesse olhando a sua alma, com o objetivo de proporcionar à pessoa o seu autoconhecimento, que logo, propiciará à mesma tomar as melhores decisões para si.

Já as conexões cabalísticas, a maneira que temos de sintonizar no aspecto positivo da energia mensal, com o objetivo de nos harmonizarmos com mesma. Para os sábios cabalistas, a força entre a saída e a entrada de um novo mês é tão forte, que é como se literalmente mudássemos de signo à cada variação. Por isso, sabendo que tudo foi criado à partir das letras hebraicas, nós realizamos meditações nas duas letras regentes de cada mês, que nos permite literalmente dominar aquela energia.

Os pontos altos são o Rosh Chodesh (Cabeça do Mês), que é o primeiro dia de um mês cabalístico, onde se apresenta a Lua Nova de cada signo, além da Kidush Levaná (Santificação da Lua), num ritual onde nós cabalistas agradecemos ao Eterno por nos ter dado a Lua, astro fundamental para o entendimento do sistema criado por D´us. Afinal a lunação está vinculado não só aos astros, mas à vida, desde a influência das marés, da procriação de animais, além do próprio ciclo menstrual das mulheres.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/astrologia-cabal%C3%ADstica

A Diversidade da Experiência Alquímica

Thiago Tamosauskas

Três anos depois que escrever o Principia Alchimica me considero hoje uma pessoa muito diferente. Embora isso implique na necessidade de reescrever e melhorar algumas partes do livro em edições futuras, essa transformação por si só indica que o método descrito no livro em sua essência funciona; transformação é o resultado esperado do processo.

Uma das principais diferenças que observo é que na busca por clareza, naquele primeiro momento  me esforçarei para encontrar definições bastante objetivas sobre o que a alquimia realmente ensina. Isso foi ótimo, mas teve um custo e tem um risco. O custo foi ter acreditado ao menos temporariamente ter encontrado uma definição única e definitiva da Grande Obra, o risco foi não enxergar que justamente por ser tão antiga e tão geograficamente espalhada não existe apenas uma abordagem correta do que a alquimia deva ser.

As diferentes definições desta arte já foram abordadas em outro artigo e essa percepção foi fruto de um esforço gradual para que minhas definições não me fizessem apontar as respostas de outras pessoas  com a superioridade. De fato, foi por ouvir outras pessoas, algumas muito mais experientes do que eu que entendi  que próprias experiências, justamente por serem particulares nunca poderão descrever toda realidade.

Alquimia, método ou metodologia?

Essa ideia de diversidade dentro da alquimia ganhou corpo com o tempo, mas foi preciso um empurrãozinho de uma amiga para que essa chave virasse de uma vez. Quando Priscila Praude gentilmente aceitou escrever o prefácio do Psicotropicon, meu próximo livro, ela fez um questionamento sobre a minha definição de alquimia tal como apresentada no Principia Alchimica, ou seja,  “Uma metodologia empírica para a expansão intencional da consciência”. Seu questionamento foi se aquilo que foi apresentado no livro era realmente uma metodologia ou se na verdade não era um método. Confesso que eu não soube o que responder na hora. Mas, geralmente esse silêncio e falta de pressa em dar uma resposta é o que me leva as melhores conclusões.

Para ficar claro, um Método é um roteiro, um processo, para se atingir um determinado fim. Uma Metodologia, por sua vez, o estudo dos métodos para aperfeiçoá-los e encontrar assim os melhores processos para uma determinada área de aplicação. Então, de fato o que eu apresentei na primeira edição do livro foi um método, mas meu objetivo maior sempre foi que ao conhecê-lo cada alquimista pudesse não apenas experimentá-lo mas criticá-lo, adequá-lo à sua própria realidade e então aperfeiçoá-lo à sua maneira.

Dai a importância da palavra “empírica” na definição do livro, pois esse aperfeiçoamento só pode ser feito com base nas práticas, experiências e observações de cada um. Guardada às devidas diferenças, apresentei no Principia Alchimica um bom livro de receitas para quem – mesmo sem experiência na cozinha – quisesse se aventurar e experimentar alguma coisa. Isso com certeza ficará mais claro nas segunda edição da obra. Meu objetivo é que ao final da leitura o alquimista possa não apenas executar estas receitas, mas como um verdadeiro chef seja também capaz de criar seus próprios pratos.

Os Tipos de Alquimia

A alquimia tem documentalmente dois milênios de história é possui raízes ainda mais antigas. De Maria, a judia, a Timothy Leary, essa história foi escrita em todos os continentes, por pessoas de todas as raças, gêneros e origens e é mais antiga que qualquer império, dinastia e que a maioria das religiões.

Para demonstrar o tamanho desta diversidade farei a seguir um resumo das principais abordagens e tradições alquímicas que de uma forma ou de outra nos influenciam hoje em dia. Começarei pela Alquimia Espiritual, pois acredito que nela encontramos a unidade de todas às demais.

Alquimia Espiritual: A Alquimia Espiritual já foi chamada de Iluminação, Santificação, Apotheosis, Deificação e mais recentemente Individuação e Expansão da Consciência

Se magia é “a ciência e a arte de causar mudanças em conformidade com a Vontade.” então a Alquimia Espiritual pode ser entendida como uma forma de magia pois é ela é a mudança de si mesmo conforme a Vontade.

Essa mudança não é arbitrária, mas busca desenvolver a melhor possível de si mesmo.

Esse trabalho não é fácil e não pode ser resolvido pela mera leitura de um livro que massageia seu ego. Se fosse algo simples de se fazer muitos dos problemas atuais da humanidade não existiriam. 

Ainda que a compreensão do que é seja mais perfeito mude com o tempo, a busca pelo aperfeiçoamento é uma constante.

A Alquimia Espiritual é assim a pedra de toque de todas às outras formas de alquimia que veremos, uma vez que é o objetivo por trás de todas elas. 

Alquimia Mineral:

As próximas três formas de alquimia que veremos são instrumentais, ou seja, elas servem à meta de aperfeiçoamento que as justifica e as motiva.

A Alquimia Mineral por exemplo é o trabalho com elementos inorgânicos como metais, sais, minerais bem como suas assinaturas astrológicas para auxiliar a evolução pessoal.

É dividida em Via Úmida, que trata os sólidos por meio de ácidos e solventes e Via Seca que trabalha com transformações promovidas em fornos e altas temperaturas.

A Alquimia Mineral pode envolver a manipulação e consumo de elementos pesados e tóxicos como chumbo e mercúrio, por essa razão Rubellus Petrinus, alquimista português dizia que suas tinturas só deveriam ser ministradas em dose homeopática, sob a orientação de um médico da especialidade.

A verdade é que desde a ascensão da Espagiria por Paracelso a Alquimia Mineral tem perdido espaço mas ainda hoje é possível encontrar praticantes dentro de guildas como a FAR+C , a Gallaecia Arcana Philosophorum e mesmo instruções abertas nos materiais que Jean Dubuis escreveu para a já extinta Les Philosophes de la Nature.

Alquimia Vegetal: Também chamada Espagiria é provavelmente a alquimia instrumental mais comum e imediatamente reconhecida com seus destiladores, fornos e barris de fermentação.

Trata-se do trabalho com plantas e suas assinaturas astrológicas para a extração de óleos essenciais, álcool e sais para a produção de tinturas e outros produtos capazes de auxiliar a Alquimia Espiritual tanto por suas qualidades materiais como pelo processo mental-espiritual envolvido em suas produções.

A Alquimia Vegetal ganhou enorme destaque na alquimia a partir da renascença e especificamente pela obra de Paracelso. Hoje em dia o livro Espagiria de Manfred Junius é um livro básico para explorar esta área da prática alquímica.

Alquimia Animal: Pouco falada em comparação as outras vertentes a Alquimia animal faz os mesmos processos de separação, purificação e reunião com produtos de origem animal como urina, sague e fluídos sexuais para auxiliar nas transformações da Alquimia Espiritual.

A Alquimia Sexual ganhou um certo destaque no século XX como uma chave escondida em qualquer textos sobre metais e plantas, mas é curioso notar que imagem de atos sexuais explícitos eram comuns nas ilustrações e textos alquímicas.

Enquanto na idade média se usavam estes símbolos sexuais para falar de realidades metafísicas os autores modernos usam símbolos metafísicos para falar de realidades sexuais.

Entre os principais nomes abordagem sexual da alquimia estão como Aleister Crowley e o Kenneth Grant. Uma boa obra para conhecer nesta área é o Modern Sex Magick de Donald Michael Kraig.

Note que estes três últimos tipos de Alquimia podem muito facilmente se transformar em outras coisas quando desconectadas do objetivo da Alquimia Espiritual. Isso acontece quando o objetivo de tentar melhorar a si mesmo dá lugar a manipulação do mundo ao redor. Nada errado com isso, mas são objetivos diferentes e nesse caso não se fala mais de alquimia. A Alquimia Mineral se torna Metalurgia, a Alquimia Vegetal se torna fármaco-cosmética e a Alquimia Animal se torna biologia. A própria Alquimia Espiritual pode se desviar, e então em vez de uma transformação da própria consciência caímos em um estilo ou outro de feitiçaria.

As Tradições Alquímicas

Mas esta é ainda apenas uma forma de se entender a alquimia. A medida muda conforme as unidades da régua e outra forma de se  admirar a grandiosidade da alquimia é percorrer a corrente histórica que nos liga até seus primórdios e além. Para isso destaco aqui os principais momentos em que houve uma efervescência entre os praticantes da alquimia:

Alquimia Helenista: A raiz ocidental da alquimia surgiu no Egito Ptolomaico. Aqui vemos um padrão de repetição que aparecerá várias vezes na história da alquimia: sempre que as instituições entram em crise, uma nova geração de alquimistas aparece. Nessa época o território já estava nas mãos do Império Romano e as antigas escolas de mistério ou já mão existiam ou se fecharam completamente. Sem tantas instituições confiáveis os experimentadores surgiram, nesse caso influenciados pelos pré-socráticos, judeus, gnósticos e pelo Egito faraônico. Este é o ponto de partida histórico da alquimia, uma vez que é o primeiro momento em que um grupo de pessoas chamam a si mesmos de alquimistas. Seus principais nomes foram Maria, a judia e Zósimo. Pouco de sua literatura chegou intacta até os dias de hoje mas entre estas podemos citar duas muito famosas: a Tábua Esmeralda e o Corpus Hermeticum.

Alquimia Chinesa: A raiz oriental da alquimia surgiu na China, entre os sábios taoístas. Embora nunca tenham chamado a si mesmos de alquimistas às similaridades com os helenistas é muito grande para não se fazer notar ou mesmo vislumbrar uma possível raiz ainda mais antiga entre ambas. Dessa raiz nada pode ser realmente afirmado, mas conceitos como Elixir da Vida, Mutação de Princípios Universais e Cinco Elementos são encontrados desde o período das Primaveras e dos Outonos. O grande objetivo dos taoistas é a busca da imortalidade por meio da manipulação da matéria densa e sutil que compõem o ser humano. Seus principais nomes foram Lü Dongbin e Jin Ge Hong e o principal livro foi o Baopuzi com grande influência do I-Ching.

Alquimia Indiana: Assim como os chineses, os indianos nunca se chamaram a si mesmos de alquimistas, mas isso não muda o fato de que a manipulação da matéria e de si próprio com fins de auto-aperfeiçoamento pode ser encontrada em todas as seis escolas de Yoga e está presente desde o Bhagavad Gita. Contudo, no período que vai da invasão de Alexandre, o Grande até a expansão do greco-budismo a temática alquimista tornou-se cada vez mais comum. Hoje a Ayurveda pode ser considerada um sistema alquímico-espagírico independente e não por acaso práticas de pranayama, asana e mantras são incorporadas em muitas escolas ocultistas.. Seus principais nomes foram Pantajali e Nagarjuna e suas principais obras são o Rasarathnakara e o Aforismos de Pantajali.

Alquimia Islâmica: Quando o Egito foi invadido pelo califa Omar, não demorou para que a curiosidade e o gênio árabe vissem nas tradições alquímicas locais algo de grande valor. Nesta fase a alquimia se tornou bastante simbólica e poética e com um indelével gosto monoteísta bem ao sabor do misticismo islamico. De fato, todos os grandes alquimistas do período foram também sufis. Além disso, com os árabes ocorreram os primeiros intercâmbios entre as tradições alquímicas geograficamente espalhadas que vimos até agora. Seus principais nomes foram Avicena e Jabir ibne Haiane, que escreveu o principal livro alquímico da época, o Corpus Jabiriano, com forte influência do Alcorão Sagrado.

Alquimia Latina: Às cruzadas expulsaram os governantes islâmicos da Europa, mas não a influência dos alquimistas muçulmanos. Esse conhecimento foi reconhecido como poderoso pela Igreja Cristã que rapidamente articulou para que nos próximos séculos a alquimia continuasse apenas dentro das paredes da Igreja. Todos os grandes alquimistas desta fase foram sacerdotes católicos. Albertus Magnus, Basilio Valentim e Roger Bacon são alguns desses nomes.  Foi apenas a partir de Nicolas Flamel que a alquimia tornou-se novamente uma arte secular, embora a simbologia cristã e religiosa da época tenha permanecido nos vários séculos que se seguiram. Opus Majus é um dos livros mais significativos da época, com forte influência da Bíblia Sagrada.

Alquimia Renascentista: Tal como o rosacrucianismo a quem está intimamente ligada à alquimia renascentista é fruto do esforço protestante de se apoderar de um conhecimento que por muito tempo foi exclusividade da igreja católica. Com o fim do monopólio eclesiástico logo nomes de mulheres voltaram a despontar como foi o caso de Marie Meurdrac e Isabella Cortese. Também foi o retorno das influências judaicas, principalmente na figura de Chayim Vital, que além de transmissor e discípulo de Issac Luria era também alquimista (para o desgosto de seu rabi). Mas o grande nome dessa fase foi certamente Paracelso, que entre outras coisas destacou a importância da Espargiria como uma ferramenta poderosa para o estudo e aperfeiçoamento do mundo. Essa abertura da alquimia para além dos muros igreja rendeu muitos frutos interessantes. Logo surgiram os primeiros tarots, o esquema da Árvore da Vida e as primeiras óperas. Os famosos  Três Livros de Filosofia Oculta, de Agrippa são bastante representativos desta fase histórica.

Alquimia Iluminista: A popularização da alquimia secular teve suas contraindicações. Para começar a Igreja não “entregou todo o ouro” facilmente, de modo que para cada conde de Saint Germain e Cristina da Súecia surgiram centenas de enganadores querendo um empréstimo adiantado para fingir trabalhar em seus laboratórios. Não demorou para os vigaristas da época perceberem que esta era uma ótima maneia de tirar proveito da ambição alheia. A reação das autoridades foi devastadora e a alquimia ganhou uma péssima fama como ofício de trapaceiros. Nesse período a prática passou a ser condenada como charlatanismo por papas e reis, mas se lermos bem as bulas e decretos reais veremos que a proibição nunca foi direcionada aos praticantes verdadeiros. Quando esse excesso de vigarice se somou ao cientificismo da Revolução Industrial (divorciado de qualquer preocupação mística) a divisão entre Alquimia para a Química tornou-se definitiva. Apesar de tudo disso, o conhecimento alquímico não foi abandonado. Na mesma época Irineu Filaleto teve uma brilhante carreira e Elias Ashmole criou a ritualística maçônica com forte influência da simbologia alquímica. O livro Aurea Catena Homeri de Hermann Kopp é um prova viva de que mesmo em tempos conturbados a alquimia espiritual permaneceu sendo praticada.

Alquimia Hermética:  Como  reação ao descrédito que a alquimia ganhou no século anterior, no século XIX houve a ascensão de um novo tipo de abordagem alquímica. Encabeçado primeiro pela teosofia de Helena Blavatsky e em seguida pelo hermetismo da Golden Dawn a alquimia tornou-se mais espiritualizada e simbólica e menos operativa e laboratorial. Foi tratada como parte de um currículo maior que buscou sintetizar várias áreas do saber esotérico como a Kabbalah Hermética, a Yoga, Gnosticismo, a Astrologia e a Magia Cerimonial. Também nessa época, graças a nomes como Pascal RandolphMaria Naglowska começou a se falar mais abertamente de alquimia sexual. Desde então símbolos alquimistas são encontradas em todas grandes ordens ocultistas.  Grandes alquimistas desta época incluem ainda Fulcanelli autor de ‘O Mistério das Catedrais’ e A.E. Waite que traduziu toda a obra de Paracelso do alemão para o inglês.

Alquimia Moderna: A próxima grande onda da alquimia veio junto com a primeira grande crise dos estados nações criados e é uma consequência da síntese esotérica que se tentou fazer no século anterior. Enquanto às Guerras Mundiais matavam bilhões, Carl Gustav Jung fazia em sua casa a maior biblioteca alquímica da Europa. Seu objetivo era decifrar os antigos textos e tratados do ponto de vista do que se convencionou chamar hoje de psicanálise junguiana. Mas ele não estava sozinho na leitura psicológica da antiga arte. Nomes como Mary Ann Atwood, Ethan Hitchcock, antes de Jung e Marie Louise Franz logo depois dele também participaram destes esforços de reinterpretação das ideias alquímicas. Em paralelo nadando contra a corrente a psicologização total da Grande Obra ordens rosacruzes, martinistas e maçônicas continuavam o legado da Alquimia Hermética e grupos como o Paracelsus Research Society (atual Paracelsus College ) e a Inner Garden, resgataram a tradição da alquimia laboratorial dos séculos anteriores.

Alquimia Pós-Moderna: O fácil acesso ao legado cultural anterior faz da alquimia de hoje a herdeira de todas as outras tradições que vimos até aqui. Curiosamente todo esse acesso a informação nos coloca novamente em um momento de crise das instituições espirituais, desta vez pelo excesso de oferta de ordens e gurus de todo tipo. A única forma de criar um filtro e nos orientarmos é nos tornando novamente experimentadores. Os avanços em separado das filhas da alquimia como a química, a psicologia e fármaco-botânica podem agora ser usadas novamente para cumprir o antigo e perene objetivo da Alquimia Espiritual. No nosso auxilio temos também todo desenvolvimento da alquimia hermetista no século XX e XXI que resultou nos diferentes grupos ocultistas que temos hoje além de novas “tecnologias espirituais” a serem exploradas como o tecno-xamanismo, a psiconáutica e a quimiognose psicodélica. Um dos primeiros a perceber isso foram Timothy Leary e Terence McKenna que em mais de uma ocasião chamaram a si mesmos de alquimistas. Outro nome que certamente deixará sua influência é o de Stanislav Grof, autor do enciclopédico ‘ Caminho do Psiconauta’ e Robert Anton Wilson que popularizou e desenvolveu as principais ideias de Leary. Em 2007 tivemos finalmente primeira Conferência Internacional de Alquimia com a participação de diversas guildas e alquimistas independentes.

Diante de tudo isso, por mais que eu me esforce para fazer do Principia Alchimica uma porta de entrada fácil e acessível à tradição alquímica, ninguém tem o direito de ser o guardião da única interpretação possível da alquimia, e muito menos tentar adivinhar como a alquimia do futuro deverá ser. Só podemos responder o que é a alquimia para cada um de nós agora. Ainda que usemos nomes e técnicas diferentes, se o objetivo for melhorar a nós mesmos então ainda faremos parte desta antiga tradição.

* Thiago Tamosauskas autor do Principia Alchimica, um manual simples e direto dos principais conceitos e práticas da alquimia.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-diversidade-da-experiencia-alquimica/

A Definição de “Magia” No Século 21

Por Aaron Leitch

Espere! Não vase ainda! Eu sei que este assunto – a definição de magia – foi refeito um bilhão de vezes ao longo dos anos. Tem sido o foco de debates acalorados e até mesmo de guerras de fogo e gelo – e nunca (nem uma vez!) um consenso foi alcançado.

Francamente, este debate está acontecendo há mais tempo do que você pensa. Foi uma pergunta feita durante o renascimento oculto do século 19. É até antes disso foi abordado pelos autores dos grimórios medievais. Ora, eu apostaria dinheiro real que os sacerdotes egípcios e sumérios costumavam se sentar em seus templos e discutir os mesmos malditos pontos.

Mas esse não é realmente o objetivo deste blog. Não sou ingênuo o suficiente para pensar que vamos chegar a um consenso aqui. No entanto, acho que podemos acrescentar algo à conversa – especialmente agora que entramos no século 21, e nosso relacionamento com a magia está mudando drasticamente. À medida que esse relacionamento muda, também muda nossa compreensão da magia e o que ela significa em nossa cultura.

Nos anos anteriores, o debate foi tema do ocultismo do final de 1800. A Era do Iluminismo havia despontado, a Revolução Industrial… rodado?… e a disciplina da Ciência (ou seja, divorciada de todas as preocupações místicas) havia ascendido à supremacia. A psicologia era um estudo novo e em desenvolvimento e absolutamente qualquer coisa que parecesse à mente ocidental como “ooga-booga oculto” (leia-se: praticamente qualquer forma de magia popular indígena, vodu , hoodoo , etc.) foi firmemente expulsa da casa.

Assim, as pessoas que foram criadas naquele ambiente buscaram uma explicação para a magia que se encaixasse em seu paradigma. Daí nasceu a definição “psicológica” de magia: tudo é apenas uma forma de psicologia primitiva. Magia está tudo na sua cabeça. Os espíritos e deuses são meros “nomes e rostos” que colocamos em nossos próprios instintos e complexos mentais. Ferramentas e considerações mágicas são apenas “acessórios” que ajudam sua mente a se envolver com a magia. A magia do caos surgiu neste ambiente, e também nos deu a definição frequentemente citada de Aleister Crowley :

“Magia é a ciência e a arte de causar mudanças em conformidade com a Vontade.”

Tomada pelo valor nominal, acho essa definição inútil. Se qualquer mudança que eu fizer (de propósito) no mundo ao meu redor for “magia”, então “magia” deixará de ser uma palavra útil. Se eu sair, estou realizando magia porque abri uma porta e mudei minha localização? Claro que não! No entanto, da forma como muitos estudantes interpretam a definição acima, a magia deixa de ser uma disciplina ou ofício específico. Eletricistas estão realizando magia. Os carpinteiros estão realizando magia. O sorveteiro está fazendo mágica (e ele ainda traz sorrisos para os rostos das crianças)!

Claro, Crowley acrescentou nessa palavra “Vontade”, o que significa que há muito mais em sua definição do que a maioria dos alunos imagina. Ele quer dizer fazer mudanças de acordo com sua Verdadeira Vontade (seu Destino ou Karma ), e sua definição está dizendo que qualquer ação que você toma para cumprir sua Verdadeira Vontade é um ato mágico. Isso é melhor… mas ainda nega a “magia” como uma disciplina em si mesma. Eu usei muita magia em busca da minha Verdadeira Vontade, mas também tive que fazer muitas coisas mundanas.

Hoje, estamos deixando para trás as visões do século 19 sobre magia. Embora a definição psicológica ainda tenha seus adeptos – alguns deles bastante apaixonados em defesa de sua posição – há agora um contra-movimento de praticantes de Velha Magia que acham essa visão insatisfatória. À medida que o mundo em que crescemos continua a desmoronar, as economias continuam a entrar em colapso, a medicina e outras necessidades tornam-se indisponíveis e as guerras mal definidas continuam acontecendo em todo o mundo, as pessoas não estão procurando mais por “ocultismo de auto-ajuda” da maneira que foram há vinte anos. Eles querem o negócio real: magia que pode fazer uma mudança real no mundo real. Eles querem magia que possa manter comida na barriga de suas famílias, um teto sobre suas cabeças e todos vivos e saudáveis.

Eu me enquadro nessa categoria. Nós somos os caras que veem espíritos, deuses e anjos como objetivamente reais. Achamos que as ferramentas e considerações mágicas são importantes para a tecnologia, não apenas um monte de adereços que podem ser substituídos ou dispensados inteiramente. E por causa disso, vemos as cerimônias mágicas como protocolos vitais ao lidar com espíritos, não superstições ultrapassadas que deveriam ser simplificadas, reinterpretadas ou deixadas para trás. E quanto a essas formas indígenas de magia e feitiçaria , em vez de torcer o nariz e pensar que somos de alguma forma melhores do que tudo isso, na verdade estamos nos voltando para elas e aprendendo o máximo que podemos.

Então, como esse novo movimento define a magia? Boa pergunta, e é por isso que estamos tendo essa discussão agora.

Para fazer a bola rolar, vou compartilhar com vocês a definição pela qual eu trabalho. Na verdade, é uma definição mais antiga que existia há milhares de anos antes do mundo moderno. Os grimórios salomônicos (uma especialidade minha) foram escritos sob essa definição, e acho que é hora de todos darmos uma nova olhada nele. (Encontrei isso originalmente descrito no livro Ritual Magic , de Elizabeth Butler. )

Primeiro, o ocultismo em geral é dividido em três categorias:

  1. Astrologia : O estudo das estrelas e outros corpos celestes (originalmente incluindo a astronomia) e sua influência no mundo e nos indivíduos. Havia muitas aplicações para isso — a adivinhação era primária, mas também incluía coisas como a cura.
  2. Alquimia : Isso não era apenas transformar chumbo em ouro. Abrangia toda metalurgia, mistura de remédios, fabricação de tinturas, infusões, etc. Os alquimistas se interessavam muito por alquimistas que prometiam encher seus cofres de ouro, mas o verdadeiro foco da alquimia sempre foi a cura. Nossas ciências modernas da medicina e da química começaram bem aqui.
  3. Magia ou Magick: A arte de trabalhar com espíritos. (Também chamado de feitiçaria. )

Obviamente, essas categorias são fornecidas por conveniência e não representam linhas rígidas. De fato, qualquer sistema de Magia Antiga incluirá aspectos de todos os três misturados. Por exemplo, se você não sabe muito sobre astrologia e nada sobre simbolismo alquímico, a magia espiritual descrita nos velhos grimórios não fará o menor sentido para você.

O que as categorias acima nos mostram é que, classicamente falando, a definição de “magia” era trabalhar com entidades espirituais. Quando você invoca Nomes Divinos, deuses, anjos, espíritos, familiares, heróis ou ancestrais, você está se engajando na arte e na ciência chamada “magia”.

Agora, estou ciente de que muitos de vocês vão ficar com raiva dessa definição. E quanto a encantamentos, talismãs e magia popular que não invocam nenhum desses caras? De repente eles não são mágicos? Claro que eles são mágicos! Mas você tem que perceber que todas essas coisas não foram inventadas apenas por bruxas com muito tempo em suas mãos. Aquele talismã de dinheiro que você encontrou em um livro antigo foi, de fato, entregue a um aspirante por uma entidade espiritual. Aquele encantamento para lhe trazer um amante? Foi revelado por um anjo a alguém que pediu. Aquela dança da chuva que você está fazendo? Adivinha quem a transmitiu aos xamãs ?

É assim que a Velha Magia funciona. Você pede ajuda a um espírito, e ele responde dando-lhe algum tipo de hoodoo/eitiçaria ou outra coisa para fazer para alcançar o objetivo. Faça este talismã e enterre-o ali. Recite esse encantamento em um lugar e tempo específicos. Vá deixar uma oferenda aqui em um dia específico. Os exemplos são infinitos – mas todos começaram com um xamã, bruxa ou mago fazendo contato com seus espíritos guardiões e fazendo com que eles lhe ensinassem a arte mágica.

Portanto, sinta-se à vontade para postar seus próprios pensamentos na seção de comentários. O que você acha dessa definição de magia? Qual é a sua definição? Por quê? (E, para manter as coisas simples, tenha em mente que estamos definindo a prática da magia, não a “força” intangível que muitas vezes nos referimos como magia. Esse é um debate totalmente diferente! )

Fonte: The Definition of “Magick” in the 21st Century.

COPYRIGHT (2014) Llewellyn Worldwide, Ltd. All rights reserved.

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alta-magia/a-definicao-de-magia-no-seculo-21/

Astrologia: Alavanca ou Muleta?

Por Divani Terçarolli

Quem ama a Astrologia e a conhece de fato, sabe o quanto ela é verdadeira e conhece seu potencial inesgotável de elucidar vários aspectos de nossa vida – material, emocional, espiritual, etc. Infelizmente a maioria das pessoas ainda não descobriu o valor desse saber milenar e a vê como coisa de pessoas supersticiosas, influenciáveis ou intelectualmente carentes.

Muitos astrólogos têm dedicado suas vidas a esclarecer as pessoas sobre a natureza e a utilidade prática da Astrologia. A CNA – Central Nacional de Astrologia tem feito isto pelo Brasil afora. É nossa vocação defender a Astrologia. Deve ser a paixão que nutrimos por essa ‘velha senhora’ que faz de cada um de nós um leão quando se trata de defendê-la.

Mas todo esse esforço se torna em vão quando muitas pessoas, que tiveram acesso ao conhecimento astrológico, dele se valem para justificar atitudes equivocadas e até grosseiras. É comum ouvir pessoas dizendo que são do jeito que são porque tem Saturno ou Plutão no Ascendente ou Lua em quadratura com este ou aquele planeta. Eu, particularmente, fico perplexa com isso. Afinal, a Astrologia não é para o autoconhecimento? E de que vale sabermos que somos desse ou daquele jeito, que temos esta ou aquela deficiência, se nada fazemos para melhorar? Conhecer-se deveria ser a senha para procurar lapidar a si mesmo, não é? Quem utiliza a influência astrológica como desculpa esfarrapada para suas dificuldades pessoais não merece a Astrologia, não está à altura desse conhecimento sagrado, pois como todos sabem os planetas não causam os acontecimentos, apenas os refletem, assim como o relógio não cria o tempo, apenas o mede.

A Astrologia constitui uma excelente ferramenta de diagnóstico. Infelizmente ela não trata. Não temos como saber o que a pessoa vai fazer com a informação que obtém. Mas como se diz por ai “o primeiro passo para a cura é reconhecer que estamos doentes’.

O valor da Astrologia está, principalmente, em conscientizar o indivíduo, mostrar-lhe onde estão suas dificuldades e facilidades. Ela pode fazê-lo perceber sua participação em tudo o que lhe acontece. A partir disto é provável que a pessoa comece a se policiar, a prestar mais atenção em suas atitudes, a notar quais delas causam problemas e quais as que geram simpatia e confiança. E assim ela vai mudando e melhorando a si mesma, seus relacionamentos, sua autoestima, sua vida.

Bem, esse é o uso benéfico, e mais desejável, da Astrologia – quando a usamos para o autoconhecimento e conseqüente aperfeiçoamento de nós mesmos. É por isto que gosto de dizer que a Astrologia tem o potencial de mudar, transformar vidas, o que é verdade. Mas a mudança só acontece se quisermos, se tivermos os olhos abertos e aproveitarmos a oportunidade.

Por outro lado, muitas pessoas utilizam a Astrologia como uma muleta para sua falta de vontade de agir, evitando responsabilizarem-se por si mesmas e promover as mudanças pessoais necessárias. Essa atitude não ajuda em nada à Astrologia, na medida em que pressupõe a existência de um fatalismo que deságua no conformismo e na inércia.

Há pessoas que cultivam problemas como quem cultiva um jardim e não querem realmente se livrar deles. Elas se comprazem em se lamentar como se tudo o que ocorre em suas vidas fosse obra de algum deus perverso, e não resultado de suas próprias atitudes.

Acredito que era isso que meu velho mestre queria dizer quando falava que “a Astrologia não é para quem quer e sim para quem merece”. Passados tantos anos, tendo atendido muitas pessoas e também tido a oportunidade de dar aulas para iniciantes, acho que finalmente compreendi o que ele queria dizer com aquela frase: que muitas pessoas podem ter acesso ao saber astrológico, mas só em umas poucas ele vai fincar raízes, vai frutificar em termos de entendimento de si mesmo e transbordar na forma de compreensão e amor ao próximo. (É assim que a gente se torna um estudante de Astrologia…)

E você, amigo, pretende ser terra fértil onde o conhecimento germinará ou apenas mais um curioso, tentando encontrar do lado de fora, o que está dentro de você mesmo?

#Astrologia

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/astrologia-alavanca-ou-muleta

Baopuzi nei pian (抱樸子) a Alquimia de Ge Hong

por Evgueni A. Tortchinov
St. Petersburg State University, Russia

Este artigo é dedicado ao problema das atitudes do grande alquimista chinês Ge Hong (284-363 ou 283-343 EC) em relação à ciência dentro do quadro de sua visão de mundo taoísta. É bem conhecido que Ge Hong era um representante do chamado ramo sulista da tradição do ocultismo taoísta chinês (ou a linhagem dos Três Augustos – san huang wen). Esta linhagem estava intimamente relacionada com a herança do Daoísmo Han e suas crenças nos imortais (xian) e imortalidade corpórea atingível através das práticas esotéricas de alquimia e magia.

Ge Hong era bem conhecido não apenas como alquimista e mestre taoísta ou moralista e pensador social confucionista (veja seu “Baopu-zi wai pian”), mas também como médico e farmacêutico. É bastante compreensível porque a alquimia taoísta chinesa com seu caráter iatroquímico pode ser tratada como parte da tradição médica chinesa (veja as obras de N. Sivin). Assim, nas obras de Ge Hong (e antes de tudo, em seu “Baopu-zi nei pian”; doravante – BPZNP) encontramos uma mistura bastante estranha das crenças na imortalidade física, ritos e cerimônias mágicas, astrologia, medicina e farmacologia .

Mas ainda mais interessante é o fato de que esses elementos do ocultismo alquímico são combinados nos escritos de Ge Hong com as fortes e distintamente articuladas inclinações ao ceticismo e ao racionalismo de pensamento livre. Ele ri das crenças e superstições populares, critica ardentemente a escolástica confucionista e os preconceitos das pessoas comuns, etc. A seguir darei alguns exemplos desse ceticismo com sua breve análise e algumas conclusões preliminares.

Em primeiro lugar, Ge Hong rejeita a opinião de que apenas as drogas à base de plantas são benéficas para a saúde, bem como para o prolongamento da vida.

No capítulo 4 (Jin dan) do BPZNP ele afirma que os medicamentos feitos de minerais e substâncias metálicas são muito mais úteis do que os fitoterápicos. As drogas à base de plantas são fracas e o calor forte as destrói, mas os minerais e metais são fortes e estáveis: por exemplo, o calor não pode destruir o cinábrio que se transforma na “prata da água”, ou mercúrio. Após esta declaração, Ge Hong observa que as pessoas comuns não sabem nem mesmo coisas tão simples como a origem do cinábrio (Hg S) no mercúrio. Dizem que o cinábrio é vermelho e o mercúrio é branco e, portanto, é impossível que a substância branca produza a vermelha.

O segundo aspecto desta passagem é mais interessante. Ge Hong declara que as pessoas comuns (“pessoas mundanas”, ou shi ren ) são ignorantes até mesmo de coisas como a natureza do cinábrio e, portanto, não é de surpreender que eles não acreditem em coisas sutis como o caminho da imortalidade . Acho que essa afirmação de Ge Hong tem caráter crucial para a compreensão de sua atitude em relação às conexões entre os “místicos” da imortalidade taoístas e o conhecimento “positivo”: para ele os ensinamentos taoístas sobre os imortais e as práticas de obtenção da imortalidade e poderes sobrenaturais não têm nenhum caráter místico ou irracional. Eles não têm natureza menos “positiva” do que a medicina ou o conhecimento químico sobre a composição do cinábrio e outras substâncias. E se for verdade, esse conhecimento é muito diferente (e até de natureza oposta) das crenças supersticiosas em deuses e espíritos populares com seus ritos xamanísticos sangrentos e caros e suas formas de culto. E Ge Hong não deixa de rir desses cultos e crenças, criticando-os com humor afiado e o verdadeiro sarcasmo (ver capítulo 9 Dao yi do BPZNP).

A mesma ideia pode ser encontrada no capítulo 5 (Zhi li) do BPZNP. Aqui Ge Hong descreve as qualidades curativas de diferentes plantas e ervas. Mas, como ele afirma, as pessoas comuns não querem usá-los e preferem os métodos religiosos supersticiosos de cura (como orações, sacrifícios, adivinhação, etc.). Eles não acreditam na arte dos médicos famosos, mas confiam em xamãs e feiticeiros. E se é assim, é muito natural que eles não acreditem que, por comer os elixires de ouro e cinábrio, a imortalidade possa ser obtida. Além disso, eles rejeitam até mesmo a utilidade de cogumelos e flores para o prolongamento da vida. Como podemos esperar que eles reconheçam a veracidade do caminho dos imortais?

É significativo que Ge Hong trate a alquimia taoísta com seus objetivos supermundanos nos mesmos termos que a medicina tradicional e a farmacologia. Assim, a alquimia e as “artes dos imortais” para Ge Hong não são de natureza sobrenatural ou religiosa; são “positivos” e “científicos” da mesma forma que a medicina e a farmacologia. A rejeição dessas artes atesta a ignorância das pessoas comuns que preferem os caminhos religiosos “supersticiosos” aos meios da medicina e as artes taoístas que têm o mesmo caráter da medicina. E esse caráter se opõe bastante à natureza supersticiosa das práticas puramente religiosas. Um dos argumentos de Ge Hong em defesa do método alquímico taoístas é o princípio da verificação dos preceitos relevantes dos escritos taoístas:

“Seus ensinamentos podem ser chamados de palavras elevadas, mas as pessoas comuns não acreditam e os tratem como escritos vazios. Mas se fossem apenas escritos vazios, como seria possível realizar nove transformações e nove mudanças em tão poucos dias como é dada nos preceitos? As verdades que foram obtidas pelas pessoas perfeitas não são compreensíveis para o pensamento primitivo das pessoas comuns” (BPZNP, capítulo 4).

E aqui novamente Ge Hong não apenas demonstra o contraste entre o conhecimento “científico” dos sábios e a ignorância das pessoas comuns, mas usa o conteúdo “positivo” ou “experimental” dos textos taoístas para apoiar suas abordagens taoístas. E aqui, mais uma vez, a abordagem crítica das pessoas comuns aos objetivos taoístas torna-se o testemunho de sua ignorância, e as crenças de Ge Hong na imortalidade e na alquimia obtêm seu fundamento “científico” nos lados empíricos e positivos dos clássicos taoístas (jing) tornando-se os resultados comprovados do conhecimento real verificado. Assim, conhecimento e experiência (não fé, ou intuição) eram a base das crenças de Ge Hong nos imortais e nos métodos taoístas de alcançar seu estado exaltado.

No entanto, é óbvio que a BPZNP está repleta de informações sobre eventos mágicos e sobrenaturais que são para o observador externo bastante idênticas ao conteúdo das crenças dos oponentes dos Ge Hong. Mas para o próprio Ge Hong elas são muito diferentes: para ele as crenças taoístas, como ardente defensor que ele era, tinham uma natureza científica e positiva baseada nos dados experimentais e no conhecimento positivo dos sábios (sendo do mesmo tipo que os dados de medicina, etc.), e as crenças de seus oponentes eram desprovidas de tal base, sendo supersticiosas e ignorantes. É possível notar que havia dois tipos de oponentes e interlocutores de Ge Hong: os representantes do chamado racionalismo confucionista e os seguidores “supersticiosos” dos cultos religiosos populares.

Certamente, os confucionistas eram racionalistas, mas seu racionalismo era limitado pela análise escolástica de suas autoridades escriturísticas e o campo das investigações da natureza lhes era absolutamente estranho. Nesse campo, seu racionalismo representava apenas a manifestação do senso comum sem nenhuma abordagem especial. Eles ignoravam o significado da experiência e a alquimia taoísta e outras “artes” desse tipo eram para eles apenas exemplos de práticas vazias e inúteis. Portanto, pode-se dizer que o ceticismo experiencial de Ge Hong era de outra natureza que o chamado racionalismo confucionista. As crenças das pessoas comuns também eram estranhas à sua abordagem como frutos da fé e da ignorância. Neste caso surge um problema dos critérios usados ​​por Ge Hong para distinguir o conhecimento real das crenças supersticiosas dos profanos.

É substancial para Ge Hong ter fontes autorizadas de informação reconhecidas pela tradição taoísta (o conhecimento da linhagem dos detentores do texto também é importante). Tais fontes são chamadas por Ge Hong “Os clássicos dos imortais” (xian jing). Da autobiografia de Ge Hong e do capítulo 19 do BPZNP sabe-se que tais textos eram raridades e os taoístas gastaram muito tempo e energia para obtê-los. O próprio Ge Hong viajou para o Norte em busca desses clássicos, mas não conseguiu. Sabe-se que às vezes ele protestava contra a alta autoridade de um ou outro clássico com base em sua não autenticidade. Assim, no capítulo 4 do BPZNP ele fala sobre a popularidade de “O clássico do mecanismo de Dao” (Dao ji jing) que foi considerado por muitos taoístas como sendo a obra do lendário discípulo de Lao-zi, Yin Xi. Dedicava-se à prática da “regulação do pneumata” (xing qi) e não tinha informações sobre os grandes elixires da alquimia taoísta. Ge Hong rejeitou este texto como o livro contemporâneo escrito pelo general Wang Tu e apenas falsamente atribuído ao sábio da antiguidade.

Não só a origem nos clássicos taoístas foi o testemunho da validade das informações sobre os imortais e a imortalidade para Ge Hong. Ele também avaliou muito as testemunhas dos textos oficiais chineses da tradição confucionista e historiográfica. As notas de grandes historiadores como Ban Gu e Sima Qian sobre as técnicas da imortalidade e as atividades mágicas dos sábios taoístas foram de grande importância para Ge Hong. Ele definitivamente prefere Sima Qian a Ban Gu por causa de suas simpatias taoístas completamente alheias ao autor de “Han shu”. Ele até critica severamente Ban Gu por sua abordagem confucionista ortodoxa à doutrina taoísta na qual Ge Hong reconhece a ignorância das “pessoas comuns” (su ren; shi ren). No entanto, ele não perde a oportunidade de citar “A História Han” quando seus materiais apoiaam o ponto de vista de Ge Hong

Pode-se dizer que Ge Hong reconhece os seguintes critérios de validade das crenças e diferentes tipos de opiniões relacionadas aos temas da ciência e da religião: 1. A experiência; 2. Os testemunhos dos clássicos taoístas e dos textos não taoístas bem conhecidos e altamente estimados pela tradição chinesa. As práticas e crenças que não tinham tal suporte escritural (como no caso das crenças e cultos populares) foram rejeitadas por Ge Hong como supersticiosas e excessivas. Assim, Ge Hong tenta representar suas técnicas de imortalidade e suas idéias alquímicas e ocultas como parte integrante da “grande tradição” da cultura chinesa. Para ele, elas não são apenas iguais às idéias dos sábios confucionistas, mas ainda mais elevadas e exaltadas do que as doutrinas confucionistas (de acordo com a posição de Ge Hong, o confucionismo é um ramo e o taoísmo sua raiz).

É bastante claro que Ge Hong avalia muito a experiência e as operações alquímicas de laboratório. Mas essas operações como tais têm relações diretas com a magia e o comportamento ritual. É impossível dividir os aspectos técnicos, mágicos e ritualísticos das abordagens científicas de Ge Hong. Ele nega a ideia do efeito automático ou mecânico dos elixires, combinando os procedimentos técnicos e químicos com jejuns, orações e purificação. As passagens do capítulo 4 da BPZNP são extremamente eloquentes nesse ponto:
“Em primeiro lugar, não se pode permitir que as pessoas comuns incrédulas riam dos elixires e os blasfemem. Caso contrário, não haverá sucesso. Mestre Zheng (ou seja, Zheng Yin) disse que a preparação deste grande elixir deve ser seguida pelo Os sacrifícios devem ser servidos à Grande Unidade, à Senhora Primordial – Yuan-jun, a Lao-jun e à Donzela Misteriosa. Essas divindades virão observar as atividades do adepto. Se a pessoa que prepara as drogas não deixar a vida mundana para o eremitério e solicitude dando oportunidade para os profanos obterem os clássicos taoístas ou observarem o processo do trabalho alquímico, então os espíritos executam o alquimista. Se blasfemar o Dao, então os espíritos não podem ajudar tal pessoa. Então o pneuma malévolo entrará na substância da droga e não poderá ser completada”.

Assim, pode-se dizer que o caráter prático da alquimia de Ge Hong não o impede de declarar a natureza altamente ritualizada dos feitos alquímicos. Portanto, é notável (para a mente de um ocidental contemporâneo, é claro) uma contradição entre ciência e magia. E essa magia permeia o cerne da compreensão de Ge Hong sobre alquimia e medicina. Mas essa magia é de natureza bem diferente das crenças supersticiosas das pessoas comuns: tem suas raízes no estrato taoísta da grande tradição da cultura chinesa sendo para a mente de Ge Hong apoiada pela experiência dos sábios antigos que transmitiram suas conhecimento e métodos para os taoístas contemporâneos lançam a linhagem inquebrável de uma matéria para outra. Além disso, esta experiência dos antigos sábios não deve ser apenas um assunto da chamada “fé cega”: pode ser verificada pelo alquimista através de seus próprios feitos de laboratório. Ge Hong não admira a antiguidade como tal.

Como os antigos legalistas e seu antecessor no campo do ceticismo e do empirismo Wang Chong, Ge Hong olha para a antiguidade como o rastro de um gigante: o gigante foi embora e seu rastro não é ele mesmo. Portanto, as antigas testemunhas de Ge Hong têm seu valor apenas dentro do quadro da abordagem experimental taoísta. Se Ge Hong fosse apenas um místico, poderia esperar-se pelo seu interesse nos insights intuitivos sobre a natureza oculta da realidade subjacente aos fenômenos transitórios. Mas não podemos encontrar tal interesse. As passagens dedicadas às práticas meditativas para a compreensão metafísica são muito raras na BPZNP. A única exceção é o início do capítulo 18 desta obra (Di zhen) dedicado à contemplação do Verdadeiro (zhen yi) que é a manifestação do Misterioso Dao (xuan) nas coisas e nas estruturas fisiológicas do Taoísta “corpo sutil” (“os campos de cinábrio”, dantian). Mas mesmo esta passagem relaciona-se principalmente com as práticas da “preservação do Uno” (shou yi) e não com as meditações do tipo insight. As ajudas desse tipo de contemplação são a proteção contra os inimigos e as doenças, a obtenção de superpoderes, a multiplicação do corpo, etc.

O lado metafísico da obra de Ge Hong é bastante fraco. O primeiro capítulo da BPZNP (Chang xuan) representa por si só uma réplica do capítulo de abertura de “Huainan-zi”; sua estilística, vocabulário e imagens têm sua origem justamente naquele grande compêndio de Liu An e seus clientes (ke). As primeiras passagens do capítulo 9 (Dao yi) também não são frutos do pensamento metafísico independente sendo a reprodução poética dos lugares comuns das descrições taoístas do princípio supremo do Caminho. Os lados práticos do Taoísmo (a preparação do grande elixir da imortalidade e métodos de apoio) e a eles correspondentes as doutrinas dos imortais – xian são os principais assuntos dos interesses de Ge Hong que se correlacionam diretamente com suas abordagens científicas e experienciais. Na minha opinião, Ge Hong não era um místico ou um buscador de insights intuitivos, mas um investigador, pesquisador da natureza com atitude pragmática (a obtenção da imortalidade física) e pensador experimental e cético. A abundância de magia em seus escritos era resultado de um caráter essencial da ciência tradicional que incluía em si magia e atitudes mágicas (por exemplo, a idéia das simpatias universais, “tong lei” chinesas) não só na China, mas em todo o mundo até época de Newton, Galileu Galilei e Descartes.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/a-alquimia-do-baopuzi-nei-pian-de-ge-hong/

Brahma, Vishnu, Shiva, os Muçulmanos e o Zero

Retornando aos nossos posts históricos, estamos chegando às vésperas da Primeira Cruzada e das origens secretas dos Templários, Hospitalários e Teutônicos (e também das histórias do Rei Arthur, com suas dezenas de versões e adaptações, e a chegada do Tarot na Europa… sim, todos estes assuntos estão interligados e veremos isso em breve).
Hoje falaremos dos hindus, muçulmanos e da origem espiritual do número Zero.

Seja no oriente ou no ocidente, a imagem circular de uma mandala (ou diagrama sagrado) é uma das mais intensas e utilizadas formas presente na história da arte.
A Índia, o Tibete, o Islã e a Europa Medieval produziram círculos em abundância, assim como todas as culturas mais antigas, seja através da pintura, seja através das danças circulares.
A imensa maioria destes diagramas está baseado na divisão dos quatro quadrantes, com todas as partes internas inter relacionadas de uma maneira ou de outra. Estas obras de arte são de alguma maneira cosmológicas; representam um símbolo que é a própria estrutura do universo: o zero.
Para os antigos, a própria arte de edificar estava intimamente ligada com o ser humano e com sua percepção do macrocosmos e do microcosmos; os quatro elementos, as quatro estações, os doze signos atravessados pelo sol em seu percurso nos céus, os círculos de divindades que representam o próprio homem e seus múltiplos aspectos… mas o que mais impressiona nestes diagramas é a expressão da noção do Cosmos, ou seja, da realidade como algo organizado e completo dentro de si mesmo.
A geometria antiga dependia de alguns axiomas; ao contrário da geometria euclidiana e outras mais recentes, o ponto de partida do pensamento geométrico antigo não é uma rede de abstrações intelectuais, mas uma meditação dentro de uma unidade metafísica, seguida de uma tentativa de simbolizar através do visual a ordem pura que brotava através destas experiências divinas e incompreensíveis.

É esta aproximação com o divino que separa a geometria antiga (ou sagrada) da moderna (ou mundana). A geometria antiga começa pelo número um, enquanto a matemática moderna começa pelo número zero.
Antes de avançar até os muçulmanos, eu gostaria de falar mais um pouco sobre estes dois começos simbólicos: Um e Zero, porque eles proporcionam um exemplo fantástico de como os conceitos matemáticos nada mais são do que dinâmicas de pensamento, de estruturas e de ações.

Primeiramente, vamos considerar o zero, que é uma idéia relativamente recente na história do pensamento, apesar de estar tão integrado a nossos pensamentos que mal podemos conceber um mundo sem zero. As origens deste símbolo datam aproximadamente do século VIII depois de Cristo, quando aparecem os primeiros registros em textos matemáticos na Índia. É interessante notar que, paralelamente a estas anotações, florescia na Índia neste mesmo período uma Escola de Pensamento decorrente do hinduísmo (através de Shankhara) e do budismo (através do Navarana). Esta Escola tinha ênfase no objetivo de obter a transcendência através da meditação e escapar do Karma através da renúncia ao mundo material, até mesmo através da mortificação dos corpos físicos através do auto-flagelamento.
Este estado de Nirvana era atingido através do “nada”, um cancelamento total dos movimentos e dos pensamentos dentro da consciência concreta, um estado “zen”. Este aspecto de meditação era o objetivo máximo do desenvolvimento espiritual, a fusão com o “todo” e com o “nada” ao mesmo tempo.
Muitos consideram este período da historia indiana como um retrocesso, um declínio das tradições tântricas que pregavam a união e a harmonização do material e do espiritual.

Foi neste período da devoção ao “vazio” que o conceito do zero apareceu. O resultado disto foi uma manifestação tanto através de um nome específico quanto de um símbolo, tanto na matemática quanto na metafísica. Na matemática, ele acabou se tornando um número, com implicações que falarei mais adiante. Seu nome em sânscrito é “Sunya”, que significa “vazio”.

Até então, como as pessoas se viravam sem o zero?
Na Antiga babilônia, Egito, Grécia e Roma, eram utilizados símbolos que representavam quantidades, como por exemplo, I, V, X, L, C, D e M. Em valores como 1005 (MV) ou 203 (CCIII), não havia a necessidade de um zero pois os numerais eram formados por “caixinhas” que representavam uma determinada quantidade de elementos. V melancias eram 5 melancias… XII camelos eram 12 camelos e ninguém questionava os números. O conceito de “zero” camelos era marcado com um símbolo parecido com duas barras paralelas [ // ] mas existia apenas como resultado de contas, por exemplo XII – XII = // representando “todos os camelos foram vendidos”.
Mas anotar um carregamento vazio é muito diferente de tratar o zero como uma entidade tangível.
Aristóteles e outros matemáticos discutiram o conceito do zero filosoficamente, mas a matemática grega, fortificada pelas influências pitagóricas vindas do Egito, recusavam-se a incorporar o zero em seu sistema.

E chegamos aos muçulmanos…
Os árabes, que do século VI ao XIV funcionaram como os grandes transmissores do conhecimento do oriente para o ocidente, trouxeram com eles o conceito do zero, além de nove outros números que também haviam sido desenvolvidos na Índia. Os números, como os conhecemos, são baseados nos ângulos formados entre os traços, como na figura abaixo:

O responsável pela transformação dos números indianos em arábicos foi o matemático e alquimista Al-Khwrizmi, cujas obras serviram de base para os trabalhos do ocultista, astrólogo, alquimista e matemático chamado Al-Gorisma (da onde vem a palavra Algoritmo), que trouxe estes numerais para os acampamentos árabes na Espanha. Seus trabalhos foram traduzidos para o latim por volta do século XII. Gradualmente, este sistema “árabe” foi introduzido na Europa e começou a alavancar progressos na ciência e no pensamento filosófico. A mente menos mística e mais prática dos comerciantes árabes transformou o conceito espiritual do zero em algo que poderia ter aplicações práticas para facilitar os cálculos, especialmente envolvendo números grandes ou cheios de colunas vazias, como 155.521.972 ou 4.815.162.342 ou 2012, por exemplo.

Silvestre II (que foi papa de 999 a 1003), inventor do relógio mecânico, bem que tentou introduzir os algarismos na Europa, mas foi severamente reprimido e, após sua morte, seus sucessores papais consideravam o zero como sendo o “número do diabo” e mantiveram os números romanos como oficiais até meados do século XII. Apenas com a força dos comerciantes, que achavam o zero muito prático para fazer contas, é que seu uso foi definitivamente implementado na Europa.
As conseqüências para a ciência foram enormes, especialmente na aritmética. Até aquele momento, as adições de números necessariamente resultavam em números maiores que os originais. A partir do zero, chegava-se a operações como

3 + 0 = 3
3 – 0 = 3
30 = 3 x 10

Até que alguém chegou a 0 – 3 = -3… MENOS TRÊS ?!?!?
O que poderia significar aquilo? A lógica começava a quebrar. Matemáticos, rosacruzes e alquimistas se reuniram ao redor desta incrível curiosidade. Apesar de não fazer sentido no mundo real, estes “números negativos” tinham toda uma coerência dentro do sistema e despertaram uma nova gama de artifícios. Estes números eram chamados originalmente de “números espirituais”, pois não poderiam ser verificados materialmente, apesar de seus efeitos serem sentidos dentro da aritmética.
A matemática, que até então estava associada à forma e à geometria, passava a se tornar algo abstrato, mental. Originalmente, o impulso espiritual dos hindus não permitiu que o zero ficasse no início das contagens, então nos textos antigos, o zero é sempre colocado após o nove.

Somente no século XVI, quase na Era da Razão, é que o zero foi finalmente colocado antes do um.
A partir destes conceitos, foram desenvolvidos os números irracionais (como a raiz de dois, que até então era considerado um número mágico usado na geometria sagrada), logaritmos e finalmente os números imaginários (a raiz quadrada de um número negativo), números complexos (um número real adicionado a um número imaginário) e finalmente números literais (substituir números por letras).

Não apenas o zero se tornou indispensável para nossas vidas como seu uso transformou a maneira como vemos a natureza e nossas atitudes a respeito de nós mesmo. Originalmente, o zero representava o vazio (Sunya) mas foi traduzido para o latim como Chiffra (que significava “nada”), mas os conceitos intrínsecos do “vazio” hindu/zen é muito diferente do conceito materialista de “nada”. Naquele período, a palavra “Maya” em sânscrito passou de seu conceito original “véu que divide a realidade” para “ilusão” ou o aspecto ilusório do Plano Material. Durante o materialismo da matemática na Revolução Industrial, o zero tornou-se um objeto material e o Plano Espiritual tornou-se “ilusório”.
A mente racionalista começou a negar o conceito espiritual da unidade. A unidade perdeu sua posição para o zero e o advento do zero permitiu a extrapolação para as bases do ateísmo, ou “zero Deus”, a negação do espiritual.

A noção do zero também teve um efeito em nossos conceitos. Idéias como a finalidade da morte ou o medo da morte, e todas as filosofias baseadas na não-existência após a morte devem sua origem ao zero.

Al Mamum, Al-Hakim
Quando o assunto é história da arte, eu acabo me empolgando e sempre escrevo mais do que pensei a princípio… e acabei desviando do assunto…
Bem… a relação entre o início das cruzadas e a expansão dos conceitos matemáticos estão interligadas na figura dos estudiosos muçulmanos. Esta integração começa em 830 quando o califa Al-Mamum tem um sonho na qual Aristóteles conversa com ele e a partir disso, decide traduzir do grego para o árabe todos os livros de matemática e ciência que conseguissem pilhar na guerra contra os bizantinos.
Desta mistura de textos gregos, árabes e hindus, somado ao uso mais prático possível destas descobertas, que eram controle de estoques dos próprios exércitos muçulmanos… armas, comidas, saques, divisões, etc, etc, etc… sem contar a geometria, afinal de contas, os muçulmanos precisam rezar voltados para Meca, e alguém tem de calcular o ângulo correto durante as marchas dos soldados todos os dias… já parou para pensar nisso? E sem calculadoras…
Todos estes fatores fizeram com que os escribas e sábios acompanhassem a expansão do islã, chegando até a Espanha e até Jerusalém.

Como vimos nos posts anteriores, os muçulmanos tomam Jerusalém em 638, oito anos após a morte do profeta Maomé, com os exércitos do califa Omar. Jerusalém, naquele período, tornou-se um centro de estudos, pois era um ponto intermediário entre Alexandria e o oriente, servindo de passagem dos conhecimentos entre o oriente e o ocidente. Durante mais de 300 anos, a cidade tornou-se um movimentado centro de comércio e estudos.

Jerusalém é considerada a terceira cidade mais sagrada do Islamismo (atrás apenas de Meca e Medina) e neste período chegou a ter mais de 70.000 habitantes. Jerusalém estava atrás apenas de Alexandria e Bagdá em termos de estudos de matemática, astronomia, astrologia e geometria.

O começo do fim ocorre quando o califa Al-Hakim ordena a destruição dos templos e sinagogas não muçulmanos, a partir de 1009, quando ordena a destruição do Santo Sepulcro. A destruição dos outros templos cristãos acabou adiada por conta das revoltas sunitas e, ironicamente, das revoltas xiitas posteriores, que acabaram fazendo com que sua atenção ficasse voltada para as próprias mesquitas destas duas facções. Mas isto foi suficiente para acender uma “luz vermelha” nas Ordens protetoras da Arca da Aliança (ou assim diz a lenda).
Uma noite, em 1021, Al-Hakim saiu para passear nos jardins de seu palácio e desapareceu. No dia seguinte, foram encontrados apenas sua montaria e seu manto, com manchas de sangue. Seu desaparecimento nunca foi solucionado…

Curiosamente, a primeira decisão de seu sucessor, Al-Zahir, foi permitir aos monges que viviam próximos ao Santo sepulcro a reconstrução do que havia sido destruído em 1009. Seu governo durou até 1036, quando faleceu vítima de uma praga. Al-Mustansir, seu filho, tornou-se califa com a idade de 6 anos, sendo assessorado por 40 vizires até atingir a idade adulta. Al-Mustansir teve altos e baixos… no começo de seu reinado, os árabes tiveram um período de prosperidade e expansão, até 1065, quando uma seca terrível, seguida de pestes e fome assolou o Egito de 1065 a 1072, somada à guerra com os turcos e a derrota e perda de diversas cidades na região.
Com a morte de Mustansir e a tomada do poder por Al-Mustali (que muitos consideravam apenas um usurpador do verdadeiro califa, que seria Na-Nizar). Com os turcos ameaçando invadir Jerusalém a qualquer momento e a ameaça de destruição total dos templos, a guerra civil prestes a explodir e a expansão dos fatimidas pelos territórios bizantinos, a região da palestina tornou-se um problema.
A qualquer momento, algum habibs maluco iria tomar o poder e provavelmente mandar destruir todas as relíquias cristãs da cidade.
Estava na hora de fazer alguma coisa…

Semana que vem

Nove homens e um segredo…

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Para quem prefere ler textos mais esotéricos e menos históricos:
– O Bode na Maçonaria
– Biografias: Theodore Reuss, o verdadeiro fundador da OTO
– Inventário da Normalidade, um texto do Paulo Coelho.
– Paganalia
– Faça sua própria pirâmide dos Illuminati
– The Mindscape of Alan Moore
– Arcano 12 – O Enforcado
– Consagrando objetos Mágicos
– A Noite Negra da Alma (alquimia)
– Biografia: Karl Kellner, o fundador da OTO

#Hinduismo #Matemática

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/brahma-vishnu-shiva-os-mu%C3%A7ulmanos-e-o-zero

O Tarot, a Kabbalah e a Alquimia

O sistema do Tarot, no seu sentido mais profundo, mais amplo e mais variado, está para a metafísica e o misticismo na mesma relação que um sistema de notação decimal ou outra qualquer está para a matemática. O Tarot poderá ser apenas uma tentativa para criar tal sistema, mas mesmo assim é interessante.

Para conhecer o Tarot, é necessário estar familiarizado com a idéia da Cabala, da Alquimia, da Magia e da Astrologia.

De acordo com a opinião muito plausível de vários comentadores do Tarot, ele é uma sinopse das ciências herméticas com as suas diversas subdivisões, ou uma tentativa de tal sinopse.

Todas essas ciências constituem um único sistema de estudo psicológico do homem nas suas relações com o mundo dos númenos (com Deus, com o mundo espiritual) e com o mundo dos fenômenos (com o mundo físico visível).

As letras do alfabeto hebraico e as várias alegorias da Cabala, os nomes dos metais, dos ácidos e sais na Alquimia, os nomes dos planetas e constelações na Astrologia, os nomes dos espíritos bons e maus na Magia, tudo isso nada mais era do que uma linguagem oculta convencional para as idéias psicológicas.

O estudo aberto da Psicologia, sobretudo no seu sentido mais amplo, era impossível. A tortura e a fogueira estavam reservadas aos investigadores.

Se nos aprofundarmos ainda mais nas épocas passadas, veremos ainda mais te­mor em todas as tentativas de estudo do homem. Como era possível em meio a toda escuridão, ignorância e superstição daqueles tempos falar e agir abertamente? O estudo livre da Psicologia está sob suspeita mesmo em nossa época, que é considerada esclarecida.

A verdadeira essência das ciências herméticas estava, por isso, oculta por trás dos símbolos da Alquimia, da Astrologia e da Cabala. Entre estas, a Alquimia adotou como meta exterior a preparação de ouro ou a descoberta do elixir da vida; a Astrologia e a Cabala, a adivinhação; e a Magia, a subjugação dos espíritos. Mas, quando o alquimista autêntico falava da busca do ouro, falava da busca do ouro na alma do homem. E, ao falar do elixir da vida, falava da busca da vida eterna e dos caminhos da imortalidade. Nesses casos, dava o nome de “ouro” ao que nos Evangelhos é chamado Reino do Céu e, no Budismo, Nirvana. Quando o astrólogo verdadeiro falava das constelações e planetas, se referia a constelações e planetas na alma do homem, isto é, a propriedades da alma humana e suas relações com Deus e o mundo. Quando o cabalista legítimo falava do Nome de Deus, ele buscava esse Nome na alma do homem e da Natureza, e não nos livros mortos, não nos textos bíblicos, como os cabalistas escolásticos. Quando o verdadeiro mago falava da subjugação dos “espíritos”, elementais e outros à vontade do homem, compreendia isso como a submissão a uma única vontade dos diferentes “eus” do homem, de seus diversos desejos e tendências. A Cabala, a Alquimia, a Astrologia e a Magia são sistemas simbólicos paralelos de Psicologia e Metafísica.

Oswald Wirth, num de seus livros (L’Imposition des mains et la médecine philosophale. Paris. Chamuel Editor, 1897), fala de modo muito interessante da Alquimia:

“A Alquimia estuda, na verdade, a metalurgia e a metafísica, isto é, as operações que a Natureza opera nos seres vivos; a mais profunda ciência da vida estava oculta aqui sob estranhos símbolos…

“Mas essas idéias imensas teriam queimado cérebros que eram demasiadamente limitados. Nem todos os alquimistas eram autênticos. A ganância atraiu para a Alquimia homens que visavam o ouro, alheios a qualquer esoterismo; eles compreendiam tudo literalmente e suas loucuras muitas vezes não conheciam limites.

“Dessa fantástica cozinha de charlatães vulgares resultou a química moderna. Mas os filósofos verdadeiros, dignos desse nome, amantes ou amigos da sabedoria, cuidadosamente separaram o sutil do grosseiro, com cuidado e previsão, como exigia a Tábua de Esmeralda, de Hermes Trismegistos, isto é, rejeitavam o significado pertencente à letra morta e conservavam apenas o espírito secreto da doutrina.

“Nos nossos dias, confundimos o sábio com o insensato e rejeitamos completamente tudo que não tem o selo oficial.”

Por P.D. Ouspensk

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A Fraternidade Rosacruz

A FRATERINIDADE ROSACRUZ – FRC (inglês, The Rosicrucian Fellowship)  foi fundada por Max Heindel entre 1909 e 1911, sua sede internacional está localizada em Mount Ecclesia, Oceanside, Califórnia (EUA); tem uma sede central e centros de estudo no Brasil e centros em Portugal. No Brasil, na cidade de São Paulo, além de uma Sede Central da Fraternidade Rosacruz, funciona também desde 1929 a Fraternidade Rosacruciana São Paulo, instituição independente, mas seguindo o modelo da escola de Max Heindel, destinada à exposição da mesma doutrina, fundada por Lourival Camargo Pereira. Não é uma dissidência, por ser mais antiga do que a filial brasileira da escola de Max Heindel, e também não mantém vínculos administrativos.

Não reivindica o título de “Ordem Rosacruz”. Considera-se apenas uma escola de exposição de suas doutrinas e de preparação para o indivíduo para ingresso em caminhos mais profundos na Ordem espiritual, sendo que a verdadeira Ordem Rosacruz funciona apenas nos mundos espirituais. Ao contrário da maioria das demais organizações rosacruzes, as escolas de Max Heindel se consideram indissociáveis do Cristianismo considerando-o como a única verdadeira religião universal e Cristo como o único salvador, daí ser mais propriamente chamada de Cristianismo Rosacruz, ou, por vezes, Cristianismo Esotérico. Outras organizações rosacruzes também se consideram cristãs, mas não com este ênfase.

A Fraternidade, edificada por Max Heindel como (suposto) arauto da Era de Aquário, realiza Serviço de Cura Espiritual e proporciona gratuitamente cursos por correspondência em Cristianismo Esotérico e Filosofia, Astrologia Espiritual e Interpretação da Bíblia; e os seus estudantes encontram-se por todo o mundo organizados em Centros e Grupos de Estudo.

Max Heindel

Diz-se que em 1908 o seu fundador, Max Heindel, teria sido escolhido e preparado pelos Irmãos Maiores da Ordem Rosacruz, com o objetivo de revelar publicamente os preceitos da doutrina rosacruciana. Em Novembro de 1909, Max Heindel publicou o “Conceito Rosacruz do Cosmos” (que tem como subtítulo: “Tratado elementar sobre a evolução passada do homem, sua constituição atual e seu futuro desenvolvimento”), uma exposição da doutrina originalmente escrita em alemão e posteriormente traduzida para outros idiomas. Algum tempo depois, foram desenvolvidos em outros livros, conferências e lições.

A Fraternidade recomenda a seus membros sobriedade na comida, abstinência de carne, de bebidas alcoólicas, pratica de jejum, meditação, etc. Essa instituição funciona de forma gratuita, segundo o preceito: “dái de graça o que de graça recebeste”. Todas as suas despesas são custeadas com as dádivas voluntárias dos seus membros, que o possam e queiram fazer, e pelas daquelas pessoas que, não sendo membros, simpatizam com ela. Lema da missão R+C: Mente pura, coração nobre, corpo são.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/sociedades-secretas-conspiracoes/a-fraternidade-rosacruz/ […]

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Curso de Tarot, Hermetismo e História da Arte

Este é um post sobre um Curso de Hermetismo já ministrado!

Se você chegou até aqui procurando por Cursos de Ocultismo, Kabbalah, Astrologia ou Tarot, vá para nossa página de Cursos ou conheça nossos cursos básicos!

Em Dezembro (Vila Mariana, São Paulo)

14/12 – Tarot (Arcanos Maiores)

15/12 – Tarot (Arcanos Menores)

No curso de Arcanos Maiores, utilizamos 18 tarots diferentes. Estudamos cada um dos 22 Caminhos da Árvore da Vida e sua correlação simbólica e imagética com cada Arcano do Tarot.

Começamos pelo Visconti-Sforza, do século XIII, que une a simbologia dos Trionfi renascentistas à estrutura da Árvore da Vida. Em seguida, o tradicional Tarot de Marselha (1560), o Tarocchi Bolognese (1780) e o Ancient Italian (século XIX) para conhecermos as variações das escolas de tarot renascentistas; o tarot de Papus (Boêmios, 1889), Oswald Wirth (1889) que trazem as primeiras interações do tarot com a Maçonaria e o rosacrucianismo; o tarot de Rider Waite (1909), Golden Dawn (1978), e Tarot de Thoth (Crowley) usados dentro de Ordens herméticas. Isto nos dá uma noção muito clara de como os Arcanos se desenvolveram ao longo da história da magia e quais são as principais escolas; suas diferenças e semelhanças.

Também estudamos o Tarot Mitológico, Sephiroth Tarot (cabalístico) e o Tarot Egípcio e mais quatro ou cinco tarots modernos que eu vario de curso para curso para exemplificar a visão de outras culturas (celta, africano, dos orixás, etc). Somente com esta visão de conjunto é possível compreender a magnitude do tarot e as maneiras como ele pode ser utilizado em rituais e no seu altar pessoal.

Informações e inscrições: marcelo@daemon.com.br

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A Percepção e a Evolução (Parte 3)

Por: Colorado Teus

Esta é uma série de textos que começou com Breve introdução à Magia e depois definimos nossos termos técnicos em Signos.

Neste texto falarei um pouco mais sobre as divisões e classificações que são feitas para alguns dos diferentes planos do além físico, e citarei algumas técnicas que são utilizadas para a eliminação de interferências que podem atrapalhar a comunicação entre eles (outros planos) e nós, entre nós e eles.

A primeira parte dos processos de classificação é a percepção de padrões e, à partir da identificação, surgem os grupos em que cada participante tem pelo menos alguma coisa em comum. O que faz de mim um ser humano e não uma rocha? Por que chamam meu instrumento de escrita de notebook e não ipad? O que eu vejo para falar que o céu durante o dia é azul e não amarelo?

As respostas são bastante óbvias, mas enquanto alguém não se perguntou “qual a diferença entre o ser humano e uma rocha?”, não havia diferença entre a pessoa e a rocha. Esta ideia pode ser encontrada no Gênesis da Bíblia, livro que fala, de maneira metafórica, sobre os primórdios da vida do homem:

“E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.

Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.”

Gênesis 3:6-7

“Olho” (em Hebraico Ayin) é por onde enxergamos, é por onde reconhecemos as diferenças entre as coisas e, assim, também os padrões. Conseguir reconhecer as diferenças é a grande maldição que “tirou o homem do paraíso”, quando sabemos que existe algo em melhor situação que a nossa sofremos. A ignorância é uma ‘benção’ neste sentido, o paraíso relatado no Gênesis é um estado mental em que se acha que está na melhor situação possível por não conhecer outra melhor.

Porém, essa abertura da visão não é de todo ruim. No próprio Gênesis isso é melhor explicado logo depois:

“Então disse o Senhor Deus: Eis que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, o Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado.”

Gênesis 3:22-23

Se lembrarmos do clichê de que o homem havia sido feito “à Sua imagem e semelhança” (como citado no próprio livro citado, Gênesis 1:26), a única coisa que o separava de ser realmente um Deus era ter seu olho aberto e conhecer as diferenças entre cada coisa (Conhecimento ou Da’ath em Hebraico), poder perceber aquilo que não percebia.

Voltando à analogia da primeira parte desta série, do homem que dominou o fogo, o primeiro padrão que ele deve ter percebido é que sentia algum incômodo ao chegar muito próximo do fogo; um segundo é que o fogo precisava queimar algo para se manter vivo e aceso, e que não queimava tudo de uma vez… algumas coisas demoravam um pouco mais para serem queimadas ou nem queimavam ao ter contato com o fogo; uma terceira é que se ele colocasse um graveto próximo ao fogo sua ponta começava a queimar, porém, sem causar incômodo a ele enquanto o fogo estivesse só no graveto. A partir da observação, ele começou a conseguir transportar o fogo de um lugar para o outro.

Notem que a percepção de padrões está presente em qualquer processo de descoberta e essa é a principal ferramenta (como uma muleta para a Vontade, o Querer, citado no texto anterior) para a evolução do homem, para a escalada do abismo, indo de um simples animal até Deus.

Com a percepção de padrões, o homem passou a perceber que muitos deles se repetiam nas diferentes coisas do universo, por exemplo, Yin e Yang (contração e expansão) estão presentes no modo como a musculatura do ser humano se move para ele se mexer, no temperamento das pessoas (extrovertidas e introvertidas), no comportamento sexual (ativo e passivo), na presença e ausência e em infinitas outras coisas. A percepção das correspondências entre padrões é essencial para a expansão do conhecimento do ser humano, é a base do que no hermetismo chamam de ‘princípio da analogia’.

Este princípio fala que, ao começar a analisar algo, começamos a entendê-lo fazendo analogia com outros padrões previamente conhecidos; passada esta fase, começamos a fazer novas descobertas e assim o universo do conhecimento se expande.

Se antes tínhamos a ideia da Contração e Expansão que estava presente em tudo no Universo, estudando-as a fundo, tirando as cobertas, descobrimos que existe também contração dentro da Expansão e também uma expansão dentro da Contração, como foi abordado na parte 2. Podemos ir nos aprofundando cada vez mais, analisando os padrões e chegando a padrões cada vez mais precisos, como podemos notar na figura 7, que mostra como se chega aos signos astrológicos.

O total aprofundamento na precisão nem sempre é desejável, pois, muitas vezes, pode nos deixar mais perdidos do que nos ajudar. Vamos a um exemplo:

Das paletas de cores mostradas acima, qual a mais indicada para um pintor iniciante e qual a mais indicada para um pintor profissional? A paleta da esquerda normalmente é mais indicada para um pintor iniciante, pois ela é mais simples, está dividida em padrões mais fáceis de se perceber; porém, após o domínio do uso da primeira, geralmente é melhor passar a utilizar a da direita, que oferece uma diferenciação técnica maior, capaz de gerar detalhes melhores. Na maioria das vezes, o iniciante nem consegue perceber muito bem as diferenças entre uma cor e suas duas cores vizinhas na paleta da direita, o que pode atrapalhá-lo, deixá-lo perdido.

Gosto de dar o seguinte exemplo em minhas palestras: na engenharia classificamos grãos em vários grupos diferentes, como argila, silte, areia fina, areia grossa, etc. Já um pipoqueiro chama tudo isso de sujeira… e cada sistema funciona muito bem para ambos, mesmo sendo diferentes em precisão.

Voltando ao assunto, utilizaremos nesta série a divisão dos Quatro Elementos, e não outras mais precisas, por se tratar de uma apostila introdutória. Após o domínio do conteúdo apresentado aqui, sugiro o estudo de novas e mais precisas divisões, como as da Kabbalah Hermética, do Tarot, da Astrologia, da Umbanda, etc. Utilizando o padrão dos elementos para definir e classificar os diferentes planos com que o Homem consegue ter contato, fica mais ou menos assim (os nomes complicados vêm do hebraico, que é uma linguagem muito utilizada nesses meios de estudo):

– Fogo: Atziluth, o mundo arquetípico, onde estão as energias puras, fatorais, e sem combinações.

– Água: Briah, o mundo criativo, onde estão nossas emoções.

– Ar: Yetzirah, o mundo formativo, onde estão os símbolos e ideias, o plano astral.

– Terra: Assiah, o mundo ativo, onde vivemos.

Não existe uma divisão precisa destes mundos, tudo que existe em um plano pode existir nos outros como um continuum, a divisão, em teoria, é feita simplesmente para simplificar o entendimento do todo, mas as divisões têm uma certa precisão naquilo que exige mudanças bem marcantes de percepção para o entendimento. Então seria algo assim: tenho esse meu corpo físico, que está em Assiah, tenho o corpo astral (conjunto de todas as minhas ideias e conhecimentos puros) em Yetzirah, tenho meu corpo emocional (conjunto de todas as emoções que sinto ou já senti) em Briah e, por fim, meu corpo mais puro, livre de qualquer influência mundana (conjunto de utopias que persigo), que está em Atziluth. Mas, se olharmos de uma maneira geral, todos eles juntos formam a pessoa e não só uma das partes.

No primeiro texto de magia falamos do engenheiro que constrói um prédio baseado em ideias, não em simples força física. Quando ele recorre às ideias, está recorrendo a um outro “plano” e, quando isto é feito de forma consciente, é uma forma de magia.

Peço licença para propor um experimento prático e finalizar este texto.

Experimento prático – Organização e consagrações

Como foi citado no texto anterior, o mundo físico pode alterar o mundo intelectual e vice-versa. Tendo isso em mente, vamos a um experimento:

– Por uma semana deixe seu quarto, ou ambiente em que mais tempo costuma ficar, totalmente desorganizado, com as coisas todas jogadas e fora do lugar. Analise (sente e pare para observar, como uma meditação) seus pensamentos e sonhos e faça algumas anotações que achar pertinentes;

– Na semana seguinte arrume tudo, não deixe nem uma pequena sujeirinha, nada fora do lugar, tudo perfeitinho. Analise seus pensamentos e sonhos, faça algumas anotações que julgar pertinentes, e compare com as da semana anterior.

Uma semana pode ser pouco para algumas pessoas, mas a diferença será notável dependendo do tempo de cada um; se quisermos ter o corpo mental organizado e harmônico, precisamos dominar o meio físico de maneira que ele nos transmita a ideia de que estamos em um lugar organizado e harmônico. Arrumar o próprio quarto, lavar a louça, arrumar o jardim, são formas básicas de começar a controlar sua mente à partir do controle do mundo físico.

Note que desenhos, símbolos, frases, esculturas, objetos, tudo isto influencia a maneira como sua mente enxerga o ambiente: se você coloca uma escultura de um Deus que te faça sentir bem no seu quarto, sempre que entrar nesse local, ela irá modificar sua mente de maneira a ajudá-lo a se sentir bem naquele ambiente. Rezar antes de dormir pode colocar a pessoa em conexão com uma ideia com que gostaria de sonhar. Muitas são as formas de ação no mundo físico para modificar algo ou a nós mesmos no mundo das ideias.

Para finalizar este texto, podemos fazer algo para melhorar mais ainda esta força de modificação, o que é chamado de “consagração de um objeto”. A consagração é uma maneira de falar para você mesmo “Este objeto é isto e faz isso toda vez que eu olhar para ele”, por exemplo, posso consagrar uma vela para colocar no meu quarto para que me lembre, toda vez que olhar para ela, que existe um deus dentro de mim.

Existem muitas maneiras de se consagrar um objeto, uma delas é utilizando os Quatro Elementos que ajuda lembrar qual/quais será/serão o(s) plano(s) que a consagração visa atingir (existem outras melhores, esta é uma simples para quem não sabe nenhum tipo de consagração), por exemplo:

– Se quero que algo tenha um objetivo no mundo físico, como um ventilador que irá aliviar o calor, faço uma consagração jogando sal grosso (normalmente utilizado para representar o elemento Terra) nele. Passo o sal grosso nele e falo em voz alta: “Eu, Pessoa x, consagro esse ventilador com as energias de terra, com o intuito de aliviar um pouco do calor.”, ou pode-se fazer uma oração como “Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador…” pedindo para seus guias consagrarem para você.

– Se quero algo que tenha um objetivo no mundo das ideias, como uma pintura que sempre vai me lembrar de um grupo, faço uma consagração passando a fumaça (representa o elemento Ar) de um incenso pelo objeto e falo algo parecido com a consagração com a Terra (acima), mas trocando por “energias do ar”.

– Se quero algo que tenha um objetivo no mundo emocional, como um quadro que me ajuda a lembrar de alguém de que gosto, faço uma consagração passando vinho (representa o elemento Água) pelo objeto (cuidado para não estragar o objeto) e falo o mesmo já mencionado para a Terra e o Ar, mas trocando por “energias da água”.

– Se quero algo que tenha um objetivo no mundo arquetípico, como uma estatueta de um deus que me lembra dos meus objetivos mais importantes em vida, faço uma consagração passando o objeto perto da chama de uma vela (que representa o elemento fogo) e falo algo parecido, trocando por “energias do fogo”.

Não há problemas em usar um objeto para mais de um plano, para isso use mais de um elemento na consagração. Pode-se combinar com as energias astrológicas também para maior precisão na consagração, os métodos que o MDD ensina no TdC são ótimos.

Quando todos os objetos de seu quarto forem devidamente consagrados, sua mente se sentirá “em casa” e funcionará de maneira absurdamente bem e harmônica ali, mas note que se alguém que não seja você tocar seu objeto, a consagração será perdida, pois o objeto foi utilizado para algo que não era seu objetivo (objeto e objetivo são palavras bem parecidas não?!).

Vai dar certo!

#MagiaPrática

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