‘Resumo As 48 Leis do Poder

Existem duas forças universais travando uma antiga batalha.

O movimento ecológico e globalização, embora tenham trazido novidades relevantes, vendem hoje a idéia de que o progresso só acontece quando estamos em harmonia com a natureza e o mundo. Mas o mundo não está muito interessado no seu sucesso.

A antiga batalha descrita em praticamente todas as mitologias conhecidas ainda é verdadeira. De um lado, o cosmos, a natureza e as leis universais regem tudo o que existe. Do outro está você. Quando Robert Greene escreveu as “48 leis do Poder” seu objetivo era listar de forma sistemática quais estratégias você pode usar para impor a sua vontade frente a um mundo indiferente e a pessoas tão egoístas quanto você.

Este é, na verdade um dos conceitos chaves de Nicolau Maquiavel. A idéia de que o destino é guiado pela Fortuna e pela Virtù. Fortuna seria tudo aquilo que acontece que você não tem nenhum controle. Os “atos de deus”, o rio indomável da vida. O nome vem de Fortuna da deusa romana da sorte. Às vezes uma princesa, às vezes uma vadia. Do outro lado do ringue está Virtù, cujo nome remete ao antigo conceito Romano de Virtude. (não confundir com a deturpação crista do mesmo). Virtù é tudo aquilo que você faz de propósito. Quando Virtú é feita de modo coerênte com fins bem esclarecidos ela se torna idêntica ao conceito Thelemita de Verdadeira Vontade.

Essa é a exata mesma idéia por trás de toda Bíblia Satânica, especialmente do Livro de Satã. Contudo, enquanto o a Bíblia do Lavey ou o Might is Right tratam da Lei do forte de modo emocional e idealista, as 48 Leis tratam da metodologia racional com a qual esta mesma força deve ser exercida.

Assim o livro de Greene, aqui resumido, é uma coletânea de estratégias comuns aos homens que decidem tomar as rédeas do seu destino e fazer alguma coisa por si mesmos. Não é a toa que este livro é parte da lista de leituras obrigatórias do Temple of Seth. São as leis dos homens que Maquiavel chamaria de Virtuosos, Lavey chamaria de Bem Aventurados, e nós de sensatos. Boa Leitura.

 

As 48 Leis do Poder

 

LEI 1
NÃO OFUSQUE O BRILHO DO MESTRE

Faça sempre com que as pessoas acima de você se sintam confortavelmente superiores. Querendo agradar ou impressionar, não exagere exibindo seus próprios talentos ou poderá conseguir o contrário inspirar medo e insegurança. Faça com que seus mestres pareçam mais brilhantes do que são na realidade e você alcançará o ápice do poder.

 

LEI 2
NÃO CONFIE DEMAIS NOS AMIGOS, APRENDA A USAR OS INIMIGOS

Cautela com os amigos, eles o trairão mais rapidamente, pois são com mais facilidade levados à inveja. Eles também se tornam mimados e tirânicos. Mas contrate um ex-inimigo e ele lhe será mais fiel do que um amigo, porque tem mais a provar. De fato, você tem mais o que temer por parte dos amigos do que dos inimigos. Se você não tem inimigos, descubra um jeito de tê-los.

 

LEI 3
OCULTE AS SUAS INTENÇÕES

Mantenha as pessoas na dúvida e no escuro, jamais revelando o propósito de seus atos. Não sabendo o que você pretende, não podem preparar uma defesa. Leve-as pelo caminho errado até bem longe, envolva-as em bastante fumaça e, quando elas perceberem as suas intenções, será tarde demais.

 

LEI 4
DIGA SEMPRE MENOS DO QUE O NECESSÁRIO 

Quando você procura impressionar as pessoas com palavras, quanto mais você diz, mais comum aparenta ser, e menos controle da situação parece ter. Mesmo que você esteja dizendo algo banal, vai parecer original se você o tornar vago, amplo e enigmático. Pessoas poderosas impressionam e intimidam falando pouco. Quanto mais você fala, maior a probabilidade de dizer uma besteira.

 

LEI 5
MUITO DEPENDE DA REPUTAÇÃO DÊ A PRÓPRIA VIDA PARA DEFENDÊ-LA

A reputação é a pedra de toque do poder. Com a reputação apenas você pode intimidar e vencer; um deslize, entretanto, e você fica vulnerável, e será atacado por todos os lados. Torne a sua reputação inexpugnável. Esteja sempre alerta aos ataques em potencial e frustre-os antes que aconteçam. Enquanto isso aprenda a destruir seus inimigos minando as suas próprias reputações. Depois, afaste-se e deixe a opinião pública acabar com eles.

 

LEI 6
CHAME ATENÇÃO A QUALQUER PREÇO

Julga-se tudo pelas aparências; o que não se vê não conta. Não fique perdido no meio da multidão, portanto, ou mergulhado no esquecimento. Destaque-se. Fique visível, a qualquer preço. Atraia as atenções parecendo maior, mais colorido, mais misterioso do que as massas tímidas e amenas.

 

LEI 7
FAÇA OS OUTROS TRABALHAREM POR VOCÊ, MAS SEMPRE FIQUE COM O CRÉDITO 

Use a sabedoria, o conhecimento e o esforço físico dos outros em causa própria. Não só essa ajuda lhe economizará um tempo e uma energia valiosos, como lhe dará uma aura divina de eficiência e rapidez. No final, seus ajudantes serão esquecidos e você será lembrado. Não faça você mesmo o que os outros podem fazer por você.

 

LEI 8
FAÇA AS PESSOAS VIREM ATÉ VOCÊ USE UMA ISCA, SE FOR PRECISO

Quando você força os outros a agir, é você quem está no controle. É sempre melhor fazer o seu adversário vir até você, abandonando seus próprios planos no processo. Seduza-o com a possibilidade de ganhos fabulosos – depois ataque. É você quem dá as cartas.

 

LEI 9
VENÇA POR SUAS ATITUDES, NÃO DISCUTA

Qualquer triunfo momentâneo que você tenha alcançado discutindo é na verdade uma vitória de Pirro: o ressentimento e a má vontade que você desperta são mais fortes e permanentes do que qualquer mudança momentânea de opinião. É muito mais eficaz fazer os outros concordarem com você por suas atitudes, sem dizer uma palavra. Demonstre, não explique.

 

LEI 10
FUJA DO CONTÁGIO: EVITE O INFELIZ E AZARADO

A miséria alheia pode matar você. Estados emocionais são tão contagiosos quanto as doenças. Você pode achar que está ajudando o homem que se afoga, mas só está precipitando o seu próprio desastre. Os infelizes às vezes provocam a própria infelicidade; vão provocar a sua também. Associe-se, ao contrário, aos felizes e afortunados.

 

LEI 11
APRENDA A MANTER AS PESSOAS DEPENDENTES DE VOCÊ

Para manter a sua independência você deve sempre ser necessário e querido. Quanto mais dependerem de você, mais liberdade você terá. Faça com que as pessoas dependam de você para serem felizes e prósperas, e você não terá nada o que temer. Não lhes ensine o bastante a ponto de poderem se virar sem você.

 

LEI 12
USE A HONESTIDADE E A GENEROSIDADE SELETIVA PARA DESARMAR A SUA VÍTIMA

Um gesto sincero e honesto encobrirá dezenas de outros desonestos. Até as pessoas mais desconfiadas baixam a guarda diante de atitudes francas e generosas. Uma vez que a sua honestidade seletiva as desarma, você pode enganá-las e manipulá-las à vontade. Um presente oportuno, um cavalo de Tróia – será igualmente útil.

 

LEI 13
AO PEDIR AJUDA, APELE PARA O EGOÍSMO DAS PESSOAS, JAMAIS PARA A SUA MISERICORDIA OU GRATIDAO

Se precisar pedir ajuda a um aliado, não se preocupe em lembrar a ele a sua assistência e boas ações no passado. Ele encontrará um meio de ignorar você. Em vez disso, revele algo na sua solicitação, ou na sua aliança com ele, que o vá beneficiar, e exagere na ênfase. Ele reagirá entusiasmado se vir que pode lucrar alguma coisa com isso.

 

LEI 14
BANQUE O AMIGO, AJA COMO ESPIÃO

Conhecer o seu rival é importantíssimo. Use espiões para colher informações preciosas que o colocarão um passo à frente. Melhor ainda: represente você mesmo o papel de espião. Em encontros sociais, aprenda a sondar. Faça perguntas indiretas para conseguir que as pessoas revelem seus pontos fracos e intenções. Todas as ocasiões são oportunidades para uma ardilosa espionagem.

 

LEI 15
ANIQUILE TOTALMENTE O INIMIGO

Todos os grandes líderes, desde Moisés, sabem que o inimigo perigoso deve ser esmagado totalmente. (Às vezes, eles aprendem isso da maneira mais difícil.) Se restar uma só brasa, por menor que seja, acabará se transformando numa fogueira. Perde-se mais fazendo concessões do que pela total aniquilação: o inimigo se recuperará, e quererá vingança. Esmague-o, física e espiritualmente.

 

LEI 16
USE A AUSÊNCIA PARA AUMENTAR O RESPEITO E A HONRA

Circulação em excesso faz os preços caírem: quanto mais você é visto e escutado, mais comum vai parecer. Se você já se estabeleceu em um grupo, afastando-se temporariamente se tomará uma figura mais comentada, até mais admirada. Você deve saber quando se afastar. Crie valor com a escassez.

 

LEI 17
MANTENHA OS OUTROS EM UM ESTADO LATENTE DE TERROR: CULTIVE UMA ATMOSFERA DE IMPREVISIBILIDADE

Os homens são criaturas de hábitos com uma necessidade insaciável de ver familiaridade nos atos alheios. A sua previsibilidade lhes dá um senso de controle. Vire a mesa: seja deliberadamente imprevisível. O comportamento que parece incoerente ou absurdo os manterá desorientados, e eles vão ficar exaustos tentando explicar seus movimentos. Levada ao extremo, esta estratégia pode intimidar e aterrorizar.

 

LEI 18
NÃO CONSTRUA FORTALEZAS PARA SE PROTEGER O ISOLAMENTO É PERIGOSO

O mundo é perigoso e os inimigos estão por toda a parte – todos precisam se proteger. Uma fortaleza parece muito segura. Mas o isolamento expõe você a mais perigos do que o protege deles – você fica isolado de informações valiosas, transforma-se num alvo fácil e evidente. Melhor circular entre as pessoas, descobrir aliados, se misturar. A multidão serve de escudo contra os seus inimigos.

 

LEI 19
SAIBA COM QUEM ESTÁ LIDANDO NÃO OFENDA A PESSOA ERRADA

No mundo há muitos tipos diferentes de pessoas, e você não pode esperar que todas reajam da mesma forma às suas estratégias. Engane ou passe a perna em certas pessoas e elas vão passar o resto da vida procurando se vingar de você. São lobos em pele de cordeiro. Cuidado ao escolher suas vítimas e adversários, portanto jamais ofenda ou engane a pessoa errada.

 

LEI 20
NÃO SE COMPROMETA COM NINGUÉM

Tolo é quem se apressa a tomar um partido. Não se comprometa com partidos ou causas, só com você mesmo. Mantendo-se independente, você domina os outros colocando as pessoas umas contra as outras, fazendo com que sigam você.

 

LEI 21
FAÇA-SE DE OTÁRIO PARA PEGAR OS OTÁRIOS PAREÇA MAIS BOBO DO QUE O NORMAL

Ninguém gosta de se sentir mais idiota do que o outro. O truque, portanto, é fazer com que suas vítimas se sintam espertas – e não só espertas, mas mais espertas do que você. Uma vez convencidas disso, elas jamais desconfiarão que você possa ter segundas intenções.

 

LEI 22
USE A TÁTICA DA RENDIÇÃO: TRANSFORME A FRAQUEZA EM PODER

Se você é o mais fraco, não lute só por uma questão de honra; é preferível se render. Rendendo-se, você tem tempo para se recuperar, tempo para atormentar e irritar o seu conquistador, tempo para esperar que ele perca o seu poder. Não lhe dê a satisfação de lutar e derrotar você – renda-se antes. Oferecendo a outra face, você o enraivece e desequilibra. Faça da rendição um instrumento de poder.

 

LEI 23
CONCENTRE AS SUAS FORÇAS

Preserve suas forças e sua energia concentrando-as no seu ponto mais forte. Ganha-se mais descobrindo uma mina rica e cavando fundo, do que pulando de uma mina rasa para outra – a profundidade derrota a superficialidade sempre. Ao procurar fontes de poder para promovê-lo, descubra um patrono-chave, a vaca cheia de leite que o alimentará durante muito tempo.

 

LEI 24
REPRESENTE O CORTESÃO PERFEITO

O cortesão perfeito prospera num mundo onde tudo gira em torno do poder e da habilidade política. Ele domina a arte da dissimulação; ele adula, cede aos superiores, e assegura o seu poder sobre os outros da forma mais gentil e dissimulada. Aprenda e aplique as leis da corte e não haverá limites para a sua escalada na corte.

 

LEI 25
RECRIE-SE

Não aceite os papéis que a sociedade lhe impinge. Recrie-se forjando uma nova identidade, uma que chame atenção e não canse a platéia. Seja senhor da sua própria imagem, em vez de deixar que os outros a definam para você. Incorpore artifícios dramáticos aos gestos e ações públicas – seu poder se fortalecerá e sua personagem parecerá maior do que a realidade.

 

LEI 26
MANTENHA AS MÃOS LIMPAS

Você deve parecer um modelo de civilidade e eficiência: suas mãos não se sujam com erros e atos desagradáveis. Mantenha essa aparência impecável fazendo os outros de joguete e bode expiatório para disfarçar a sua participação.

 

LEI 27
JOGUE COM A NECESSIDADE QUE AS PESSOAS TÊM DE ACREDITAR EM ALGUMA COISA PARA CRIAR UM SÉQUITO DE DEVOTOS

As pessoas têm um desejo enorme de acreditar em alguma coisa. Tornese o foco desse desejo oferecendo a elas uma causa, uma nova fé para seguir. Use palavras vazias de sentido, mas cheias de promessas; enfatize o entusiasmo de preferência à racionalidade e à clareza de raciocínio. Dê aos seus novos discípulos rituais a serem cumpridos, peça-lhes que se sacrifiquem por você. Na ausência de uma religião organizada e de grandes causas, o seu novo sistema de crença lhe dará um imensurável poder.

 

LEI 28
SEJA OUSADO

Inseguro quanto ao que fazer, não tente. Suas dúvidas e hesitações contaminarão os seus atos. A timidez é perigosa: melhor agir com coragem. Qualquer erro cometido com ousadia é facilmente corrigido com mais ousadia. Todos admiram o corajoso; ninguém louva o tímido.

 

LEI 29
PLANEJE ATÉ O FIM

O desfecho é tudo. Planeje até o fim, considerando todas as possíveis conseqüências, obstáculos e reveses que possam anular o seu esforço e deixar que os outros fiquem com os louros. Planejando tudo até o fim, você não será apanhado de surpresa e saberá quando parar. Guie gentilmente a sorte e ajude a determinar o futuro pensando com antecedência.

 

LEI 30
FAÇA AS SUAS CONQUISTAS PARECEREM FÁCEIS

Seus atos devem parecer naturais e fáceis. Toda a técnica e o esforço necessários para sua execução, e também os truques, devem estar dissimulados. Quando você age, age sem se esforçar, como se fosse capaz de muito mais. Não caia na tentação de revelar o trabalho que você teve – isso só despertará dúvidas. Não ensine a ninguém os seus truques ou eles serão usados contra você.

 

LEI 31
CONTROLE AS OPÇÕES: QUEM DÁ AS CARTAS É VOCÊ

As melhores trapaças são as que parecem deixar ao outro uma opção: suas vítimas acham que estão no controle, mas na verdade são suas marionetes. Dê às pessoas opções que sempre resultem favoráveis a você. Force-as a escolher entre o menor de dois males, ambos atendem ao seu propósito. Coloque-as num dilema: não terão escapatória.

 

LEI 32
DESPERTE A FANTASIA DAS PESSOAS

Em geral evita-se a verdade porque ela é feia e desagradável. Não apele para o que é verdadeiro ou real se não estiver preparado para enfrentar a raiva que vem com o desencanto. A vida é tão dura e angustiante que as pessoas capazes de criar romances ou invocar fantasias são como oásis no meio do deserto: todos correm até lá. Há um enorme poder em despertar a fantasia das massas.

 

LEI 33
DESCUBRA O PONTO FRACO DE CADA UM

Todo mundo tem um ponto fraco, uma brecha no muro do castelo. Essa fraqueza em geral é uma insegurança, uma emoção ou necessidade incontrolável; pode também ser um pequeno prazer secreto. Seja como for, uma vez encontrado esse ponto nevrálgico, é ali que você deve apertar.

 

LEI 34
SEJA ARISTOCRÁTICO AO SEU PRÓPRIO MODO AJA COMO UM REI PARA SER TRATADO COMO TAL

A maneira como você se comporta em geral determina como você é tratado: em longo prazo, aparentando ser vulgar ou comum, você fará com que as pessoas o desrespeitem. Pois um rei respeita a si próprio e inspira nos outros o mesmo sentimento. Agindo com realeza e confiança nos seus poderes, você se mostra destinado a usar uma coroa.

 

LEI 35
DOMINE A ARTE DE SABER O TEMPO CERTO

Jamais demonstre estar com pressa – a pressa trai a falta de controle de si mesmo, e do tempo. Mostre-se sempre paciente, como se soubesse que tudo acabará chegando até você. Torne-se um detetive do momento certo; fareje o espírito dos tempos, as tendências que o levarão ao poder. Aprenda a esperar quando ainda não é hora, e atacar ferozmente quando for propício.

 

LEI 36
DESPREZE O QUE NÃO PUDER TER: IGNORAR É A MELHOR VINGANÇA

Reconhecendo um problema banal, você lhe dá existência e credibilidade. Quanto mais atenção você der a um inimigo, mais forte você o torna; e um pequeno erro às vezes se torna pior e mais visível se você tentar consertá-lo. Às vezes, é melhor deixar as coisas como estão. Se existe algo que você quer, mas não pode ter, mostre desprezo. Quanto menos interesse você revelar, mais superior vai parecer.

 

LEI 37
CRIE ESPETÁCULOS ATRAENTES

Imagens surpreendentes e grandes gestos simbólicos criam uma aura de poder – todos reagem a eles. Encene espetáculos para os que o cercam, repletos de elementos visuais interessantes e símbolos radiantes que realcem a sua presença. Deslumbrados com as aparências, ninguém notará o que você realmente está fazendo.

 

LEI 38
PENSE COMO QUISER, MAS COMPORTE-SE COMO OS OUTROS 

Se você alardear que é contrário às tendências da época, ostentando suas idéias pouco convencionais e modos não ortodoxos, as pessoas vão achar que você está apenas querendo chamar atenção e se julga superior. Acharão um jeito de punir você por fazê-las se sentir inferiores. É muito mais seguro juntar-se a elas e desenvolver um toque comum. Compartilhe a sua originalidade só com os amigos tolerantes e com aqueles que certamente apreciarão a sua singularidade.

 

LEI 39
AGITE AS ÁGUAS PARA ATRAIR OS PEIXES

Raiva e reações emocionais são contraproducentes do ponto de vista estratégico. Você precisa se manter sempre calmo e objetivo. Mas, se conseguir irritar o inimigo sem perder a calma, você ganha uma inegável vantagem. Desequilibre o inimigo: descubra uma brecha na sua vaidade para confundi-lo e é você quem fica no comando.

 

LEI 40
DESPREZE O QUE VIER DE GRAÇA

O que é oferecido de graça é perigoso – em geral é um ardil ou tem uma obrigação oculta. Se tiver valor, vale a pena pagar. Pagando, você se livra de problemas de gratidão e culpa. Também é prudente pagar o valor integral com a excelência e não se economizar. Seja pródigo com seu dinheiro e o mantenha circulando, pois a generosidade é um sinal e um ímã para o poder.

 

LEI 41
EVITE SEGUIR AS PEGADAS DE UM GRANDE HOMEM

O que acontece primeiro sempre parece melhor e mais original do que o que vem depois. Se você substituir um grande homem ou tiver um pai famoso, terá de fazer o dobro do que eles fizeram para brilhar mais do que eles. Não fique perdido na sombra deles, ou preso a um passado que não foi obra sua: estabeleça o seu próprio nome e identidade mudando de curso. Mate o pai dominador, menospreze o seu legado e conquiste o poder com a sua própria luz.

 

LEI 42
ATAQUE O PASTOR E AS OVELHAS SE DISPERSAM

A origem dos problemas em geral pode estar num único indivíduo forte – o agitador, o subalterno arrogante, o envenenador da boa vontade. Se você der espaço para essas pessoas agirem, outros sucumbirão a sua influência. Não espere os problemas que eles causam se multiplicarem, não tente negociar com eles – eles são irredimíveis. Neutralize a sua influência isolando-os ou banindo-os. Ataque à origem dos problemas e as ovelhas se dispersarão.

 

LEI 43
CONQUISTE CORAÇÕES E MENTES

A coerção provoca reações que acabam funcionando contra você. É preciso atrair as pessoas para que queiram vir até você. A pessoa seduzida torna-se um fiel peão. Seduzem-se os outros atuando individualmente em suas psicologias e pontos fracos. Amacie o resistente atuando em suas emoções, jogando com aquilo de que ele gosta muito ou teme. Ignore os corações e as mentes dos outros e eles o odiarão.

 

LEI 44
DESARME E ENFUREÇA COM O EFEITO ESPELHO

O espelho reflete a realidade, mas também é a ferramenta perfeita para a ilusão. Quando você espelha os seus inimigos, agindo exatamente como eles agem, eles não entendem a sua estratégia. O Efeito Espelho os ridiculariza e humilha, fazendo com que reajam exageradamente. Colocando um espelho diante das suas psiques, você os seduz com a ilusão de que compartilha os seus valores; ao espelhar as suas ações, você lhes dá uma lição. Raros são os que resistem ao poder do Efeito Espelho.

 

LEI 45
APREGOE A NECESSIDADE DE MUDANÇA, MAS NÃO MUDE MUITA COISA AO MESMO TEMPO

Teoricamente, todos sabem que é preciso mudar, mas na prática as pessoas são criaturas de hábitos. Muita inovação é traumática, e conduz à rebeldia. Se você é novo numa posição de poder, ou alguém de fora tentando construir a sua base de poder, mostre explicitamente que respeita a maneira antiga de fazer as coisas. Se a mudança é necessária, faça-a parecer uma suave melhoria do passado.

 

LEI 46
NÃO PAREÇA PERFEITO DEMAIS

Parecer melhor do que os outros é sempre perigoso, mas o que é perigosíssimo é parecer não ter falhas ou fraquezas. A inveja cria inimigos silenciosos. É sinal de astúcia exibir ocasionalmente alguns defeitos, e admitir vícios inofensivos, para desviar a inveja e parecer mais humano e acessível. Só os deuses e os mortos podem parecer perfeitos impunemente.

 

LEI 47
NÃO ULTRAPASSE A META ESTABELECIDA; NA VITÓRIA, APRENDA A PARAR

O momento da vitória é quase sempre o mais perigoso. No calor da vitória, a arrogância e o excesso de confiança podem fazer você avançar além da sua meta e, ao ir longe demais, você conquista mais inimigos do que derrota. Não deixe o sucesso lhe subir à cabeça. Nada substitui a estratégia e o planejamento cuidadoso. Fixe a meta e, ao alcançá-la, pare.

 

LEI 48
EVITE TER UMA FORMA DEFINIDA

Ao assumir uma forma, ao ter um plano visível, você se expõe ao ataque. Em vez de assumir uma forma que o seu inimigo possa agarrar, mantenha-se maleável e em movimento. Aceite o fato de que nada é certo e nenhuma lei é fixa. A melhor maneira de se proteger é ser tão fluido e amorfo como a água; não aposte na estabilidade ou na ordem permanente. Tudo muda.

por Robert Greene e Jost Elffers

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/baixa-magia/as-48-leis-do-poder/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/baixa-magia/as-48-leis-do-poder/

O Evangelho do Agnóstico

» Parte final da série “Reflexões sobre a evangelização” ver parte 1 | ver parte 2

As bases filosóficas do agnosticismo foram assentadas no séc. XVIII por Kant e Hume. O termo, porém, foi cunhado pelo biólogo britânico Thomas Huxley em 1876 – ele definiu o agnóstico como aquele que acredita que a questão da existência de Deus não pode e talvez jamais possa ser resolvida.

“O Cosmos é tudo que existe, que existiu ou existirá” – Assim, com essa frase inesquecível, Carl Sagan inaugura o primeiro episódio da série de 13 documentários intitulada “Cosmos”, veiculados na TV americana em 1980, e depois no restante do mundo. Ao pretender explicar ciência e cosmologia para o público leigo, Sagan acabou criando um épico que abrange também muitas questões existenciais, história, mitologia, religião e espiritualidade em geral.

Em alguma costa rochosa, em alguma praia do globo, Sagan observa as ondas, os pássaros, o vento, e algum tempo depois nos traz outra pérola em sua narrativa: “Recentemente, aventuramo-nos um pouco pelo raso (do Cosmos), talvez com água a cobrir-nos o tornozelo, e essa água nos pareceu convidativa. Alguma parte de nosso ser nos diz que essa é a nossa origem. Desejamos muito retornar, e podemos fazê-lo, pois o Cosmos também está dentro de nós. Somos feitos de matéria estelar, somos uma forma do próprio Cosmos conhecer a si mesmo.”

Sagan era profundo conhecedor de religiões e mitologia, além de cientista e cético, mas não era nem ateu nem teísta ou deísta, era puramente agnóstico. Seu evangelho era constituído de uma obra de divulgação científica totalmente voltada para tal espanto, tal deslumbramento, tal amor pela natureza e todo o Cosmos a sua volta. Essa era a boa notícia de Carl…

Para muitos teístas, o fato de existirem pessoas que não creem em um Deus pessoal, ou que pelo menos não tem certeza de sua existência, parece causar um certo desconforto. Não é raro perceber, em qualquer pessoa ligada a doutrinas eclesiásticas, uma tendência a classificar ateus, agnósticos, céticos, e às vezes simplesmente todo e qualquer cientista, como “gente sem fé”, perdida, afastada de Deus, e até mesmo imoral.

Mas a verdade é que, a despeito do aparente consenso dos eclesiásticos, a moralidade, o amor, não são exclusividade daqueles que oram todos os dias a Deus, que frequentam missas, que consultam algum manual da Verdade Absoluta frequentemente. Para o religioso superficial, isto que digo não levanta muitas questões – “Ora, mas é exatamente assim: uns são bons, outros maus, crer em Deus não faz de ninguém um santo”. Sim, isso faz sentido, mas a questão é mais profunda…

Se Deus existe – e para teístas e deístas ele certamente existe –, porque ele “permite” que algumas de suas criaturas vivam sem sequer crer nele?

Em outro produto da obra de Sagan, o livro de ficção “Contato”, que também deu origem a um excelente filme homônimo, é descrito um contato com inteligências extra-terrestres de uma forma verossímel e científica. Existe também um conflito entre as crenças de cientistas e religiosos – em dado momento, a protagonista do primeiro contato (no livro são vários contatos ao longo das décadas, no filme há apenas um), uma cientista agnóstica, nos traz uma importante indagação:

“Se Deus quisesse nos mandar uma mensagem e escrituras antigas fossem a única forma que pudesse imaginar, ele poderia ter feito um trabalho melhor. E ele dificilmente teria que se confinar a escrituras. Por que não há um monstruoso crucifixo orbitando a Terra? Por que a superfície da Lua não é coberta com os Dez Mandamentos? Por que Deus deveria ser tão claro na Bíblia e tão obscuro no mundo?”

Ao contrário do que muitos eclesiásticos possam imaginar, esta mensagem não denota um pensamento que diminua de alguma forma a importância da Bíblia, mas antes um pensamento que aumenta enormemente a amplitude do que há de sagrado no mundo – o reino é todo o Cosmos. E não poderia ser de outra forma…

Podemos encontrar neste mundo ateus, agnósticos, teístas e deístas, sim isso tudo é verdade. Mas será muito difícil encontrar algum ser que negue a existência de um sistema que rege todo o universo. Seja a crença nas leis fundamentais da natureza, seja a crença nos desígnios divinos, seja um misto de ambos, todos creem em algum sistema, cuja função pode ainda ser um mistério – mas que há de ser buscado, há de ser resolvido passo a passo, por todos nós, juntos!

Sim, nós realmente somos a forma do Cosmos conhecer a si mesmo. E pouco importa, na prática, se tal Cosmos é um ser pessoal, uma força cósmica ou até mesmo um acaso miraculoso – pois no fim, conforme postularam Kant e Hume, não compreendemos ainda muito bem nenhum deles, não podemos ainda resolver tal questão. Será que poderemos um dia?

Para resolvê-la, talvez não bastem apenas orações e experiências místicas, apenas meditação e autoconhecimento, mas também o estudo meticuloso, prático, objetivo, material, profundamente mundano, da natureza a nossa volta. Há muitos gigantes da história da ciência que, buscando talvez um deus barbudo senhor dos exércitos, acabou esbarrando em verdades muito mais profundas. Talvez buscando um reino confinado a um pequeno pedaço de rocha na periferia da uma de bilhões de galáxias, acabou esbarrando no infinito.

E, se mesmo hoje existem seres que buscam aos mistérios de Deus sem sequer crer nele, que se aventuram pelas entranhas dos átomos e quarks, pelo reino bizarro da mecânica quântica, pelos códigos ocultos do DNA, pelos quasares e sóis distantes, pelas singularidades de seções inimagináveis do espaço-tempo, deixem que busquem, pois de uma coisa teremos sempre a certeza: é impossível estar “fora” de Deus.

Talvez o trabalho deles seja tão importante para o mundo quanto os mandamentos dos evangelhos. O importante é encarar as boas novas não como enigmas solucionados, mas como o início de um caminho, subjetivo e objetivo, interior e exterior, que preenche toda nossa existência.

Amai sim, o próximo, e toda a vida, como a ti mesmo. Mas amai a coletividade da vida, amai os átomos que nos conectam a tudo e a todos em uma teia sem fim, amai ao Cosmos acima de todas as coisas.

***

Crédito das imagens: Divulgação (Cosmos de Carl Sagan).

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

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Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-evangelho-do-agn%C3%B3stico

A Chave de Prata – O Ritual do Décimo Nono Portal

Morbitvs Vividvs

“Zin se encontra na Terra dos Sonhos, sob uma ancestral cidade sem nome, habitada por aterradores gigantes que também se lembram da era das Antigas Criaturas, mas não se lembram do Símbolo dos Deuses Mais Antigos…As Portas são uma caminho alternativo para a Terra dos Sonhos, o outro sendo os setecentos degraus para o Portal do Sono Profundo. O número de Portas a serem transpostas não é conhecido, mas você deve permanecer caminhando até que as trevas de Zin se manifestem, o que pode acontecer após se ter atravessado por apenas duas portas, ou se estender à travessia de não menos de oito delas. Sabe-se também que possuindo a chave correta as Portas podem levar o mago para o lugar que desejar na Terra dos Sonhos.”  – O Livro da Chave 

Este é sem dúvida o ritual mais poderoso que já compartilhei. A operação que mostrarei seguir fez parte do processo criativo que culminou em boa parte de todos os meus livros e em porção substancial de meus textos. Ela faz parte de um ensinamento oculto do do círculo interno do Templo de Satã que só agora está sendo aberto.

O objetivo desta operação é permitir ao celebrante adentrar dentro de todos os Aethyrs e de lá extrair visões. Os 30 Aethyres desenham o mapa do universo conhecido na forma de anéis concêntricos. Sendo que o 30º TEX é o mais interno e o 1º LIL é mais externo. Se você precisa de um forte influxo de inspiração e criatividade este é o mais potente caminho a seguir, em especial se busca conhecimentos do chamado Oculto ainda não disponíveis na literatura atual ou de difícil acesso.

Trata-se do mesmo mecanismo usado por John Dee, Aleister Crowley e Michael Aquino. Boa parte do currículo da Golden Dawn foi criado de ensinamentos extraídos de visitas aos Aethyres.  Aleister Crowley também buscou entrar neles e descreveu seus resultados em “A Visão e a Voz”, Liber 418 onde afirma que “O conhecimento dos Éteres é mais profundo do que o das Sephiroth, pois nos Éteres está o conhecimento dos aeons e de Thelema”. Não é segredo que às principais ideias do seu sistema de magia sexual vieram desta operação. Michael Aquino também utilizou um método semelhante na invocação chamada por ele de “Palavras de Set” e daquilo que obteve criou muitos materiais usados tanto na Church of Satan como no Temple of Set. 

Requisitos para o ritual 

Deve se garantir antes de começar vocês terá bastante tempo disponível e não será interrompidos. O ideal é realizar a operação em algum lugar afastado longe das poluições sonoras próprias das cidades.  

Tenha decorado o nome do Aethyrs que se quer chamar bem como o de seus governantes. Os nomes são aqueles encontrados nas tábuas enoquianas, para facilitar eles serão relacionados em um tópico mais a frente. 

O jejum é recomendado para aumentar os resultados das visões. O estado ideal é aquele em que o corpo já parou de reclamar de fome caso contrário a própria fome será uma distração. Se o jejum não for usado uma refeição leve é feita cerca de uma hora antes da operação. refeições pesadas devem ser evitadas de qualquer forma. 

Uma cerimônia noturna é mais indicada pois o estado de leve sonolência é apropriado. a posição rija garantirá que não se caia no sono.  Não deveria ser preciso ressaltar, mas o treinamento adequado de concentração e visualização mental são pré-requisitos.

A Chave de Prata

 

A Chave de Prata não é requisito para a operação mas mostrou-se muito útil como ferramenta de proteção. Criá-la não é difícil. O praticante deve deitar em um lugar confortável e silencioso, podendo acender um incenso se desejar. Após relaxar alguns instantes o corpo se tornará pesado e a mente enxergando as trevas deve tranquilamente dar a forma, tendo antes guardado na memória sua aparência.  

Ele deve então enxergar os raios da Lua sendo refletidos na Chave, gradualmente a tornando Prateada. O procedimento deve ser repetido por alguns dias para que a chave se torne facilmente visualizada com detalhes sempre que se quiser. 

Os Governantes dos Aethyrs 

Não é sábio avançar para Aethyrs mais externo sem passar pelos anteriores sendo que o início óbvio é TEX. Um retiro de um mês dedicado a invocação dos 30 Aethyrs é algo absolutamente transformador. 

  1. LIL

Occodon Pascomb Valgars     

  1. ARN

Doagnis Pacasna Dialioa     

  1. ZOM

Samapha Virooli Andispi     

  1. PAZ

Thotanp Axziarg Pothnir     

  1. LIT

Lazdixi Nocamal Tiarpax     

  1. MAZ

Saxtomp Vavaamp Zirzid     

  1. DEO

Opmacas Genadol Aspiaon     

  1. ZID

Zamfres Todnaon Pristac     

  1. ZIP

Oddiorg Cralpir Doanzin     

  1. ZAX

Lexarph Comanan Tabitom     

  1. ICH

Molpand Usnarda Ponodol     

  1. LOE

Tapamal Gedoons Ambriol     

  1. ZIM

Gecaond Laparin  Docepax     

  1. UTA

Tedoond Vivipos Ooanamb     

  1. OXO

Tahamdo Nociabi   Tastoxo     

  1. LEA

Cucarpt Lauacon Sochial     

  1. TAN

Sigmorf  Avdropt  Tocarzi     

  1. ZEN

Nabaomi  Zafasai Yalpamb     

  1. POP

Torzoxi  Abriond Omagrap     

  1. CHR

Zildron Parziba Totocan     

  1. ASP

Chirzpa Toantom Vixpalg     

  1. LIN

Ozidaia Paraoan Calzirg     

  1. TOR

Ronoomb Onizimp Zaxanin     

  1. NIA

Orcanir  Chialps Soageel     

  1. UTI

Mirzind Obvaors Ranglam     

  1. DES

Pophand Nigrana Bazchim     

  1. ZAA

Saziami Mathula Krpanib     

  1. BAG

Labnixp Poclsni Oxlopar     

  1. RII

Vastrim Odraxti Gmziam     

  1. TEX

Taoagla Gemnimb Advorpt  Doxmael Laxdizi  

O RITUAL 

 1 – O altar satânico é arranjado como de costume com uma cadeira em sua frente e os sete primeiros passos descritos na Bíblia Satânica são seguidos. Os nomes infernais lidos devem ser os nomes dos governadores do Aethry. 

 3 – Leitura em voz alta da  Décima Nona Chave Enoquiana (em português). 

 *O celebrante então deve sentar-se confortavelmente em uma cadeia com as costas retas, os pés firmes no chão e as mãos sobre as coxas.

 4 –  Fazer nove respirações profundas enquanto dá forma em sua mente a uma Chave de Prata..  

 5 – Entoe a Décima Nona Chave Enoquiana (em enoquiano). O celebrante deve permitir que seu senso estético o guie na entoação. É importante é que a terceira palavra da chave LIL, seja substituída pelo nome do Aethyrs que se está abrindo. 

 6 – Em seguida feche os olhos e esvaziar a mente para que possa enxergar às trevas.  

 7 – Com a imagem da chave criada na mente deve ser vista agora uma Porta atrás dela, o desenho da porta não importa, basta que seja grande o bastante para se passar por ela.  A Chave deve ser colocada sobre a porta para que esta se abra e possa ser atravessada. 

 8 – Ao atravessar deixe a mente tão receptiva quanto possível para quaisquer imagens, sons ou ideias e sentimentos que irão surgir. A experiência deverá ser semelhante a um sonho, com a diferença que você estará no controle e acordado. As coisas mais belas, estranhas e horríveis e maravilhosas poderão agora ser encontradas.  

 Caso a visão se enfraqueça, fique confusa demais veja a Chave de Prata aumentar seu brilho para limpar a mente e aumentar seu foco. Crie uma nova porta e entre por ela como fez. Se a situação complicar e você cair nas garras do medo você deve abandonar viagem o mais rápido antes de se encontrar em uma situação de real perigo 

 7 – Para encerrar a viagem você deve uma vez mais apanhar a Chave de Prata e deixar seu brilho se irradiar com cada vez mais intensidade até que nada além de sua luz prateada possa ser visto. Então o brilho deve ir reduzindo sua intensidade e você estará a salvo para retornar à sua próprias esfera. Por fim de olhos abertos entoe mais uma vez os nomes dos governantes. 

 8 –  Ritual do Pentagrama invertido em banimento.

 9 – Se encerra a cerimônia de acordo com o procedimento padrão, tocar o sino e dizendo as palavras  “Assim está feito”. 

 Conselhos práticos 

 A paciência é uma chave no momento da visualização. Para ajudar a mente após atravessar você pode imaginar outras portas sendo abertas, um imenso labirinto ou uma floresta por exemplo criando assim um ambiente para às manifestações. Mas este deve ser o máximo que a imaginação ativa deve criar. 

 Você pode não ver nada nos primeiros dez ou mesmo vinte minutos. Qualquer sentimento de se estar perdendo tempo ou se esforçando de mais pode arruinar a operação. Mantenha a postura relaxada, a mente quieta e aguarde. 

 Em grupos algumas pessoas terão mais facilidade com a prática do que outras. Nestes casos uma delas pode assumir o papel de escriba enquanto a outra descreve as imagens e impressões que surgem em sua mente. Em praticantes solitários não se deve fazer anotações para não se perde o foco, pois interromper as visões é semelhante a interromper sonhos e raramente são recuperados.  

 Nestes casos uma gravação para transcrição futuro é mais adequada. 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/enoquiano/a-chave-de-prata-o-decimo-nono-portal/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/enoquiano/a-chave-de-prata-o-decimo-nono-portal/

Pequeno manual para a conversão do infiel

» Parte 2 da série “Reflexões sobre a evangelização” ver parte 1

Conversão religiosa é a adoção de uma nova identidade religiosa, ou uma mudança de uma identidade religiosa para outra. Isto envolve tipicamente o devotamento sincero a um novo sistema de crença, mas também pode ser concebido de outras maneiras, como a adoção em uma identidade de grupo ou linha espiritual.

Todos os sistemas de crença ou doutrina religiosa se baseiam em espécies de guias, manuais passo a passo para uma vida de religiosidade mais profunda e verdadeira, em suma, uma religação mais eficiente e efetiva. Porém, me parece que podemos dividi-los em dois grandes grupos: aqueles em que o campo de aprendizado se dá única e exclusivamente por vontade e esforço próprios de cada um, sem a possibilidade de atalhos ou barganhas; e aqueles em que existe uma possibilidade de se avançar por meio de bênçãos e milagres, por barganhas diretas com Deus, em troca deste ou daquele benefício divino – um arrebatamento ao Céu, algum milagre ou salvação de última hora, ou simplesmente uma iluminação espiritual.

No segundo grupo se encontram a maior parte das igrejas ou sistemas eclesiásticos. Também pode-se dizer que este tipo de religiosidade é muito mais comum no Ocidente do que no Oriente. Por exemplo, quando determinada doutrina afirma que “só seremos salvos se aceitarmos Nosso Senhor Jesus Cristo em nosso coração”, ela opera por forma de barganha: aparentemente, o único caminho será esse, e o mérito da salvação não será exclusivamente nosso, mas muito mais uma forma de “retribuição divina” por nossa fidelidade. Ainda assim, aceitar o Senhor ainda é algo que tem mais lógica do que simplesmente doar quantias enormes de dinheiro a alguma igreja em troca da benção direta desse mesmo Senhor. Afinal, o que diabos Deus fará com seu dinheiro? Afinal, porque somente este ou aquele eclesiástico é responsável pela contabilidade divina?

No primeiro grupo, se encontram a maior parte dos religiosos que não necessariamente tem igreja. Também pode-se dizer que este tipo de religiosidade é muito mais comum no Oriente. Tais fiéis são antes fiéis a Deus, e mesmo que tenham alguma igreja ou grupo de estudos, e um dia os venha a abandonar, não necessariamente abandonará a própria doutrina em si. Estes fazem de suas casas, seus corações, suas mentes, sua única e inabalável catedral – onde sempre poderão orar, onde confessam antes de tudo a si mesmos.

Por exemplo, os dois primeiros versos do Livro do Caminho Perfeito, a obra principal do taoismo, dizem que “o caminho que pode ser seguido não é o Caminho Perfeito”. Superficialmente isto é um tanto paradoxal, é como se fosse apresentado um manual passo a passo para algum Céu em que, logo de início, já fosse afirmado que este manual não poderia ser seguido… No entanto, o que Lao Tsé queria dizer é análogo ao que muitos grandes sábios sempre afirmaram: que o caminho espiritual é próprio de cada um. Ou seja, o discípulo jamais poderá seguir o mesmo caminho do mestre, ele poderá no máximo utilizar seu exemplo de vida como base para construir o seu próprio caminho. Pois assim como não existem seres idênticos na criação, da mesma forma não existem caminhos idênticos para a religação ao Cosmos.

A mim me parece que a abordagem do primeiro grupo tem muito a ensinar ao segundo. Em realidade, existe uma disparidade tão grande e evidente à nível de profundeza espiritual entre tais grupos, que há de se perguntar se o segundo não é, em sua maioria, um grande agrupamento de visões equivocadas da religião mais aprofundada, universal, cósmica…

Há muitas igrejas, por exemplo, que foram edificadas inteiramente sobre textos sagrados aos quais se atribuí uma espécie de “ditado” direto de Deus. Não são como o Livro do Caminho Perfeito, uma mera tentativa de um sábio aconselhar aos outros sobre sua própria experiência de tentar compreender a Deus, mas antes a própria palavra de Nosso Senhor, verdadeiros Guias da Verdade Absoluta [1].

Se é que tais textos sejam mesmo o que os eclesiásticos pretendem que sejam, se é que não tenham sido enormemente adulterados com o passar do tempo, a evolução das sociedades, ou simplesmente por inúmeras traduções e compilações, ainda assim há que se pensar: se temos um nossa frente a Verdade codificada em palavras, em símbolos de escrita, será que isso nos bastará? Será que teremos plenas condições de interpretar corretamente tal Verdade? Acredito que a história das guerras religiosas nos traga uma boa resposta a essas perguntas – afinal, nenhuma guerra, nenhuma matança poderia, jamais, ser santa!

Obviamente que mesmo no Ocidente, que mesmo em tais igrejas com seus Guias Infalíveis, encontram-se os moderados, os da “ala mística”, ou que compreendem a religião, o religare, de forma mais aprofundada. Tenho certeza que esses jamais ergueriam uma espada, obrigando algum pobre coitado a se “converter” a sua doutrina…

Pois como poderia alguém, nalgum dia insano, converter outro alguém ao seu próprio pensamento, a sua própria doutrina, pela força? Pela sedução das palavras? Pelo terror anunciado de um lago de enxofre eterno aguardando todos aqueles que não se salvarem, que não aceitarem Nosso Senhor?

Ora, perguntem aos índios da América, perguntem aos negros da África, se eles nalgum dia se converteram ao Deus desses homens que os trataram como mercadoria, como escravos, como selvagens “sem alma”, mas nunca como irmãos, como seres na mesma caminhada para o Cosmos de onde todos foram catapultados na imensidão infinita. Dizer, da boca para fora, “eu aceito Nosso Senhor”, não significa que tenham aceitado. A liberdade jaz na mente e, assim como o caminho espiritual, é exclusiva de cada um, graças a Deus.

William James, um dos fundadores da psicologia, em seu grandioso tratado “Variedades da experiência religiosa”, postula que a conversão religiosa verdadeira pode aparentemente ocorrer de uma hora para outra, do dia para noite, em algum insight momentâneo, mas que quase que certamente já vinha sendo edificada, lentamente, nos calabouços ocultos do inconsciente. Que nossa questão com Deus é universal, todos temos de seguir este caminho, ainda que alguns o sigam inconscientemente ou o chamem de estudo da natureza – o importante é que, a nossa maneira, estamos todos caminhando à frente, aprimorando nossas potencialidades.

Lao Tsé e outros sábios sempre souberam que jamais poderiam converter alguém – o máximo que poderiam fazer era dar o exemplo, falar sobre sua própria experiência espiritual, sobre os percalços e as consolações do caminho, e esperar pacientemente que cada um, por si só, a seu próprio momento, convertesse a si mesmo.

Que não existe manual para o caminho alheio, apenas para o nosso próprio. O único infiel que tem de ser convertido é aquele que se encontra em nossa própria alma. Somos o juiz e o escravo, o apóstolo e o seguidor, o mestre e o discípulo, de nossa própria causa. Temos de ser fiéis ao nosso próprio ser, ao nosso tanto de fagulha divina que, ainda assim, é e sempre foi a única maneira com que Deus falou conosco – como o vento que sempre nos envolveu, embora não saibamos ao certo por onde ele tem passado.

» A seguir, o evangelho do agnóstico…

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[1] Muito embora, mesmo no taoismo existam lendas que colocam Lao Tsé como uma espécie de deus na Terra. Da mesma forma que existem religiosos superficiais no Ocidente, existem também no Oriente. Este texto não pretende ser, portanto, uma exaltação da religiosidade oriental como “superior”. Apenas procura atestar que a religiosidade pura, não eclesiástica, é muito mais comum na cultura oriental – independente de seus seguidores as terem compreendido ou não.

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#Bíblia #Cristianismo #Deus #Tao

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Nosso Evangelho

Eu digo: minha religião é meu pensamento.

Pois a religião não é uma doutrina de regras fossilizadas, mas um caminho eterno, uma via que se inicia estreita, mas cujo final se perde na névoa que o próprio infinito interpõe ao horizonte.

Que não se busque a religião como quem busca um reino específico: o reino dos céus, o cume da montanha de todos os sábios, a sombra da árvore de onde se pode alcançar um nirvana…

Pois se tudo que fazemos neste mundo é reflexo daquilo que somos, daquilo que pensamos, daquilo que sentimos, daquilo que intuímos, é somente através do pensamento, da música tocada pelas mãos etéreas, que efetivamente caminhamos à frente, em Sua direção.

Eu digo: minha vida é minha bíblia

Pois ainda que exista um livro infalível, o mais sagrado de todos, isso não significa que sejamos hoje tão sagrados quanto ele. Isso não significa que estejamos em plenas condições de o compreender.

Que a verdade é como o horizonte: quanto mais a buscamos, mais e mais descobrimos o quão infinito é o mundo, e além do mundo…

No entanto, quando finalmente descobrimos uma verdade, é como se o próprio horizonte tivesse cedido, e recuado, e nos reverenciado, e nos agraciado. Este é o mistério, a angústia, e a suprema felicidade da vida: escrever nosso próprio texto sagrado com nossos passos na areia do tempo. E que hão de desvanecer, quando Seu vento soprar.

Eu digo: minha igreja é meu coração

Pois o reino não foi edificado para que fosse circundado por colunas e paredes de templos, e os escolhidos não foram apenas alguns poucos agraciados, mas todos os seres do infinito.

Que ninguém poderia ser feliz num jardim de ociosidade enquanto outros de seus irmãos ardem nos lagos de enxofre. Que o reino não é feito de fronteiras delimitadas, e todos os templos precisam ser erigidos em nossas próprias almas…

Pois se o reino está em toda parte, debaixo de pedras e dentre galhos partidos, os convites para o Seu banquete foram enviados a todos nós: os filhos do Cosmos. E só poderemos entrar no reino de mãos dadas.

Nós dizemos: Deus é nosso amor

Conforme consta em todas as leis naturais, desde o núcleo do átomo até os agrupamentos de galáxias mais distantes: tudo esta conectado, tudo está em harmonia, tudo flui, tudo vibra, tudo se atrai mutuamente pela gravidade divina, enquanto de alguma singularidade de amor Ele continua a nos arremessar no turbilhão sem fim.

Tudo se iniciou em um pensamento de amor, e todo o amor do mundo jaz neste momento aos Seus pés: o amor de todos os dias dos homens, e dos seres de outrora, e dos seres do porvir.

E todos os cânticos sagrados, e todos os poemas e orações, e todas as bênçãos e maldições, e todos os erros e acertos, e todos os códigos sagrados, e todos os evangelhos, e este nosso evangelho…

raph’11

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Crédito da imagem: Tom Grill/Corbis (modificada por Rafael Arrais)

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

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#amor #Deus #Religião

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O Uno, a Deusa Mãe, o “deus do pai” e as entidades espirituais

Neste vídeo vamos nos aventurar pela roda dos deuses, e falaremos do Uno tanto do ponto de vista da pura lógica quanto do ponto de vista teológico e religioso. Veremos também como o culto a Deusa Mãe se perdeu juntamente com o Matriarcado, e como o “deus tataravô” se tornou o deus cósmico da Bíblia. No meio do caminho, ainda falaremos de anjos, orixás, e deuses mensageiros… Ao final, ainda recito um poema de minha autoria, quando talvez descubramos, finalmente, o que diabos é Deus.

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#anjos #Deus #Espinosa

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‘Louis Claude de Saint-Martin

Louis Claude de Saint-Martin, o “Filósofo Desconhecido”, pensador profundo e grande iniciado, nasceu a 18 de janeiro de 1743 em Amboise, Tourraine, no centro da França, no seio de uma família nobre, mas pouco abastada e desconhecida. Logo depois do nascimento de Saint-Martin, sua mãe faleceu, e ele foi criado pelo pai e por uma madrasta, pessoa amável e de bom coração, que o iniciou na leitura de Jacques Abbadie, ministro protestante de Genebra. Com esse autor, apreendeu a conhecer a si mesmo, relegando a um plano secundário a análise decepcionante e estéril dos filósofos em voga na época.

“É à obra de Abbadie, A Arte de Conhecer a Si Mesmo, que devo meu afastamento das coisas mundanas; é a Burlamaqui que devo minha inclinação pelas bases naturais da razão; é a Martinez de Pasqually que devo meu ingresso nas verdades superiores; é a Jacob Böehme que devo meus passos mais importantes nos caminhos da Verdade.”(1)

Outro autor que influenciou o Filósofo Desconhecido desde sua juventude foi Pascal. Aos 18 anos, em meio às discussões filosóficas dos livros que lia, deu-se conta de que, existindo o Criador do Universo e uma alma, nada mais seria necessário para ser sábio. (2) Foi com base nessas concepções que fundou sua doutrina posterior. Na época de seus estudos no Colégio de Pontlevoi, o Ocultismo já fazia parte de suas meditações. Na Faculdade, igualmente, eram os estudos metafísicos que o atraíam. Estudou Direito conforme a vontade de seu pai, e esse ambiente proporcionou-lhe maior contato com o mundo filosófico e literário da época. Conheceu as obras de Voltaire, Rousseau, Montesquieu e outros autores não iniciados, mas sem ceder à inclinação dos enciclopedistas. “Li, vi e escutei os filósofos da matéria e os doutores que devastam o mundo com suas instruções; nenhuma gota de seus venenos penetrou-me; nem as mordidas de uma só dessas serpentes prejudicaram-me.”(3)

O jovem estudante procurava tudo o que pudesse conduzi-lo ao conhecimento da Verdade, particularmente as ciências e princípios exatos. Dedicou-se assim ao estudo filosófico dos números e, por algum tempo, esteve ligado a Lalande e sua escola filosófica, sintetizada em Ciência dos Números. Esse convívio, entretanto, não foi longo, pois seus pontos de vista eram divergentes e nosso Filósofo passou a estudar Jean Jacques Rousseau. Como ele, pensava ser o homem naturalmente bom; mas entendia que as virtudes perdidas originalmente, em razão da Queda, poderiam ser reconquistadas desde que o homem o desejasse ardentemente. Acreditava que o naufrágio no materialismo era conseqüência mais das associações viciosas e desvirtuadas do que do pecado original. E, nisso, afirma-nos seu discípulo Gence(4), ele se diferenciava de Rousseau, a quem considerava um misantropo por sua excessiva sensibilidade, ao olhar os homens, não como eram, mas como gostaria que fossem.

Saint-Martin amava a humanidade e considerava-a melhor do que parecia ser; e o encanto da sociedade da época levou nosso Filósofo a pensar que a vivência nas rodas sociais poderia levá-lo ao melhor conhecimento do homem e conduzi-lo à intimidade mais perfeita com os seus princípios. Assim, agiu conforme seu pensamento: freqüentou os saraus musicais e toda sorte de recreações da alta nobreza, desde os passeios ao campo até as conversas com amigos; os atos de gentileza eram a manifestação de sua própria alma.

“Foram de sua intimidade as pessoas da mais alta classe, dentre as quais podemos citar o Marquês de Lusignan, o Marechal de Richelieu, o Duque de Orléans, a Duquesa de Bourbon, o Cavaleiro de Fouflers e tantos outros que seria longo enumerar. Devotou-se inteiramente à busca da Verdade e à prática das Virtudes, que foram o objeto constante de seus estudos, dos seus trabalhos e das suas realizações.”(5)

Iniciado, pois no estudo das leis e da jurisprudência, aplicou-se mais à pesquisa das bases naturais da Justiça, relegando a um plano secundário as regras da jurisprudência. Paralelamente, desenvolvia seus estudos sobre os mistérios ocultos e logo descobriu que não poderia dedicar-se inteiramente à magistratura, como desejava sua família. Não encontrando sua vocação no Direito, abandonou a magistratura que exerceu em Tours durante seis meses. Alistou-se aos 22 anos de idade no Regimento de Foix, então aquartelado em Boudeaux, onde pode encontrar mais tempo para dedicar-se ao estudo do Ocultismo, que era sua verdadeira vocação. Após ter lido os autores mais em evidência no gênero, procurou a iniciação de uma maneira mais efetiva.

Foi graças a um colega do Regimento, Grainville, que bateu às portas do Templo. Grainville era iniciado em uma sociedade oculta muito importante, cujo chefe era Martinez de Pasqually. Este era casado com uma sobrinha do maior, comandante do Regimento, que se encontrava na mesma cidade de residência de Martinez. A Escola de Pasqually, seu iniciador nas práticas teúrgicas, era a Ordem dos Elus Cohens do Universo (Sacerdotes Eleitos), revigorada mais tarde pela ação de Saint-Martin e Jean Baptiste Willermoz, sob a inspiração das obras de M. Pasqually e de J. Böehme e a partir de suas próprias pesquisas.

Em fins de 1768, Saint-Martin foi iniciado nos três primeiros graus simbólicos da referida Ordem pela espada de Balzac, avô de Honoré de Balzac, o famoso romancista francês das primeiras décadas do século XIX. Com efeito, em carta de 12 de agosto de 1771, dirigida a seu colega Willermoz, de Lyon, confirmou ter sido iniciado por Balzac e que recebera de uma só vez os três graus simbólicos. “Não é comum darem-se os três graus simbólicos ao mesmo tempo; deixam-se, ao contrário”, prosseguiu Saint-Martin na referida carta, “grandes intervalos de tempo entre um grau e outro, segundo o progresso de cada um.”(6)

Assim, Saint-Martin submeteu-se em seguida ao método iniciático de Pasqually, de quem se tornou secretário particular e discípulo zeloso. Mas não deixou, logo depois, de criticar seu primeiro Mestre, por não concordar com tudo o que era feito em tal sistema. Considerava supérfluas todas as manifestações físicas exteriores e todos os detalhes do cerimonial Cohen: “São necessárias todas essas coisas para orar a Deus?”, perguntou Saint-Martin a seu mestre Martinez. “É preciso que nos contentemos com o que temos”(7), respondeu o Grão-Mestre.

Na realidade, era necessário trabalhar mais profundamente no sentido interior para produzir a luz. Isso certamente Martinez teria feito dentro de seu próprio sistema, se não tivesse partido da França e falecido em seguida. Sua semente ficou, no entanto, e coube a Saint-Martin e a Willermoz cuidar da planta que deveria nascer. A Providência Divina não os deixou abandonados; inspirou-os constantemente, colocando em seu caminho homens que os ajudaram, direta ou indiretamente, e proporcionando-lhes o conhecimento do sistema de Jacob Böehme. Esse sistema confirmou as descobertas que tinham feito e abriu as portas para a obtenção das chaves ainda não encontradas.

Na época em que conheceu Pasqually, tinha pouco mais de vinte e cinco anos e acabava de debutar no Ocultismo, de sorte que nem todas verdades da Iniciação pode receber de seu primeiro mestre, com o qual permaneceu cinco anos. Soube reconhecer mais tarde sua grandeza (porque é bom que se afirme que Martinez de Pasqually foi um adepto de grande iluminação).

“Havia coisas preciosas em nossa primeira Escola”, relata Saint-Martin a seu discípulo Kircheberger. “Sou mesmo induzido a pensar que o Sr. Martinez de Pasqually, que era nosso mestre, possuía a chave ativa referente a tudo o que nosso prezado Jacob Böehme expõe em suas teorias, mas não julgava que fôssemos capazes de entender tão altas verdades, naquela época. Ele era sabedor de alguns pontos que nosso amigo Böehme não conhecia, ou pelo menos não revelou, como a resipiscência do ser perverso, contra o qual o primeiro homem teria tido a missão de trabalhar… Quanto à Sofia e ao Rei do Mundo, ele nada nos revelou, deixando-nos com as noções comuns de Maria e do Demônio. Mas não afirmarei que ele não teve conhecimento delas e estou convicto de que chegaríamos a esse conhecimento, se o tivéssemos conosco por mais tempo…”(8)

Saint-Martin nunca concordou com a iniciação realizada fora do silêncio e da realidade invisível, que chamava de centro ou via interior. Para ele, o interior deve ser o termômetro, a verdadeira pedra de toque do que passa fora…; e o estudo da Natureza exterior só teria sentido se conduzisse à senda interior, ativa. Esse estudo poderia, pois, ser útil na medida em que conduzisse à Verdade, mas a Iniciação, explicava ele a Kircheberger, deve agir no ser central.

“Não lhe ocultarei que anteriormente entrei nesse caminho externo, e através dele me foi aberta a porta de minha carreira. Meu condutor era um homem de muitas virtudes ativas, e a maioria daqueles que o seguiram, inclusive eu, receberam confirmações que talvez tenham sido úteis para nossa instrução e desenvolvimento. Todavia, em todos os instantes, eu sentia forte inclinação para o caminho intimamente secreto, o externo nunca me seduziu, nem em minha juventude.”(9)

Entendia Saint-Martin que todo o aparato exterior não era necessário para encontrar Deus e que, ao contrário, em muitas ocasiões dificultava essa busca. Discordava das numerosas e freqüentes comunicações sensíveis de todos os tipos, manifestadas nos trabalhos de que tomava parte na sua primeira Escola, embora o signo do Reparador sempre estivesse presente, manifestando a ação da Causa Ativa e Inteligente no mundo objetivo. Afirmava, no entanto, que sua senda interior, desenvolvida depois, proporcionava-lhe resultados mil vezes superiores aos produzidos pela senda que denominava exterior e que era preconizada por Pasqually.

Afirmava, no entanto, e é bom repetir, que deveria haver trabalhos internos da Ordem que não lhes foram transmitidos por causa de sua curta passagem pelo sistema e por não terem ainda passado pelos estágios iniciais. O Mestre não poderia ter agido de modo diferente, revelam-lhes os mistérios de ordem mais elevada. Acreditava, ademais, que os Princípios Divinos poderiam mesmo nascer naquele sistema, mas os trabalhos para esse efeito deveriam ser mais alguns anos com Pasqually.

Não apenas Saint-Martin discordava do sistema de Martinez, uma vez que os resultados não se produziam de imediato; todos os discípulos reclamavam resultados espirituais que, em verdade, dependiam deles próprios. Willermoz parece ter sido o primeiro a manifestar a Saint-Martin seu descontentamento no que dizia respeito ao desenvolvimento das faculdades adormecidas do ser humano; é o que constatamos através da leitura de uma carta endereçada por Saint-Martin, do Oriente de Bordeaux, com data de 25 de março de 1771.

“Quanto à confiança que vos dignais a testemunhar-me, abrindo-me sem escrúpulos vosso pensamento sobre nossas cerimônias, não me compete, tendo em vista nossa dignidade, fazer qualquer observação a respeito; e, diante de meu juiz, eu só deveria escutar e calar. Entretanto, as disposições puras que trazeis à Sabedoria fazem-me supor que poderíeis perdoar-me antecipadamente se ouso acrescentar, às vossas, algumas idéias próprias. Procuro, como vós, esclarecer-me… Confesso que o objetivo que buscamos na iniciação parece-me muito difícil de ser atingido.

Acredito que, mesmo nos encontrando nas melhores condições, quando todas as cerimônias são empregadas com a maior regularidade, a Coisa pode ainda guardar seu véu para nós tanto quanto quiser; ela está tão pouco à disposição do homem que ele não pode, jamais, apesar de seus esforços, estar certo de obtê-la. Ele deve esperar e orar sempre, eis nossa condição. O espírito conduz seu sopro onde quer, quando quer, sem que saibamos de onde vem e para onde vai… Se o poder não se manifesta agora, ele poderá ocorrer mais tarde; se não se opera pela visão, ele prepara a forma daquele que se mantém puro para receber as impressões salutares, quando o espírito assim quiser. Não atribuais, então, o estado em que vos encontrais a algum problema de vossa parte ou à invalidade das cerimônias.”(10)

Willermoz procurava obter por carta maiores esclarecimentos acerca dos problemas que iam surgindo no transcorrer de sua jornada iniciática. Pelo que constatamos, os resultados práticos da iniciação não apareciam tão rapidamente como os discípulos desejavam. Era necessário muito trabalho, como em qualquer sistema de iniciação, para que surgisse alguma manifestação de aprimoramento espiritual.

A correspondência entre Saint-Martin e Willermoz, iniciada em 1768, estendeu-se até 1773. Em 1771, Saint-Martin abandonou a carreira militar para dedicar-se exclusivamente ao Ocultismo. Durante dois anos empregou todo o tempo disponível para trabalhar ao lado do mestre; foi durante esse período que se familiarizou com a ritualística dos Cohens e com a doutrina de Martinez, bem como com todas as suas práticas iniciáticas.

Partiu de Bordeaux em maio de 1773, na ocasião em que Martinez preparava-se para viajar para as Antilhas. Antes de se despedir, entretanto, Saint-Martin foi recebido no último grau dos Cohens, aquele de Réaux-Croix, como atesta uma carta de Martinez, datada de 17 de abril de 1772: “Após ter examinado e reexaminado os candidatos Saint-Martin e Seres, por nossa votação ordinária e em conseqüência das ordens que recebemos, nós os ordenamos Réaux-Croix…”(11)

Em 1773, finalmente, Saint-Martin conheceu Willermoz, em Lyon, após terem trocado correspondência durante cinco anos. Seu círculo de amizade limitava-se aos irmãos da Ordem: Grainville, Balzac, Hauterive, Bacon de la Chevalerie, o Abade Fournier e Willermoz. Permaneceu um ano em Lyon, seguindo para sua cidade natal e, posteriormente, para Paris. Em abril de 1785, Willermoz obteve sucesso com suas operações: a “Coisa ativa e inteligente” finalmente mostrou-se aos homens.

Saint-Martin, sabendo da notícia, partiu de Paris em junho do mesmo ano, com destino a Lyon, levando consigo uma bíblia em hebraico e um dicionário, para entreter-se na viagem. Ficou seis meses em Lyon, partindo mais tarde para Nápoles e Londres, onde tomou conhecimento das publicações de Willian Law, morto em 1761, e que pertencia à tradição de Jacob Böehme.

“Seríamos excessivamente prolixos se procurássemos seguir as pegadas do nosso Filósofo Desconhecido, ao longo de sua jornada terrena, onde a cada passo, não obstante, encontraríamos o exemplo dignificante e o traço indelével da imensa esteira de luz que marcou sua trajetória neste mundo. Difícil ainda seria penetrarmos na profundeza do seu pensamento, da sua filosofia, da sua doutrina de elevação e regeneração do homem na busca da iluminação e da paz…”(12)

Foi inicialmente de Lyon que o Filósofo Desconhecido procurou irradiar a luz, após a partida de Martinez para o Oriente Eterno. A direção da Ordem dos Elus Cohen não ficou com Saint-Martin nem com Willermoz, mas nas mãos de pessoas menos preparadas para levar adiante um sistema que ainda necessitava de aperfeiçoamento. Coube a Saint-Martin e a Willermoz a resignação de continuarem ocultamente a pesquisa da Verdade por suas próprias forças. O “Agente Incógnito” teria ditado inúmeras instruções e partes de um livro que Louis Claude de Saint-Martin publicou, destinado a lutar contra o materialismo vigente na época. (13)

Talvez por esse motivo Saint-Martin tenha iniciado uma série de viagens, verdadeiros apostolados, para realizar propaganda das idéias espiritualistas, recolher dados e informações iniciáticas e entrar em contato com discípulos e homens de ciência. Em todos esses contatos sempre conquistava novas amizades e discípulos para continuarem sua obra. Saint-Martin tinha uma conversa muito agradável, uma vez que seu verbo não fazia senão expressar sua paz interior, seus conhecimentos e a nobreza de sua alma.

Os salões mais aristocráticos de Paris disputavam sua presença. Essas qualidades eram agradáveis às mulheres, que não hesitavam em convidá-lo para as festas, pensando em casar suas filhas. Mas o Filósofo Desconhecido quis dedicar-se integralmente à sua obra de divulgação do Espírito. Em 1778, em Toulouse, esteve prestes a se casar; contudo, esse projeto desvaneceu-se como todos os demais a esse respeito. Afirmava sentir uma voz no seu interior que lhe dizia ser ele originário de um lugar onde não existem mulheres.

Agente Incógnito desapareceu de cena em 1788, época em que Saint-Martin retornou à Lyon, mas reapareceu em 1790 para destruir uma série de cadernos de instruções por ele próprio ditados: “Eu devolvi ao Agente“, conta-nos Willermoz, “a seu pedido, mais de 80 cadernos manuscritos inéditos, que destruiu.”

Com a morte de Pasqually, ocorrida em 1774 em São Domingos, o centro oculto da iniciação Cohen passou a Lyon e foi lá, como contam seus biógrafos, “que o Filósofo Desconhecido, armado com a Sabedoria Divina, passou a fazer oposição à doutrina materialista dos Enciclopedistas. Combatendo o materialismo revolucionário e sua doutrina errônea inserida em uma pretensa filosofia da natureza e da história, Saint-Martin chamou o homem de volta à Verdade, fundamentando-se no princípio do conhecimento de si mesmo e na natureza do ser inteligente”.(14)

Saint-Martin, entretanto, nunca ficou muito ligado ao rigor das instituições iniciáticas, mas, em razão da problemática da época, em pleno desenvolvimento da Revolução Francesa, procurou, para a salvaguarda das suas próprias doutrinas e das tradições de que então já era depositário, unir-se a grupos ou formar grupos cujos membros desejassem, sinceramente, dedicar-se ao culto da Verdade e à prática das Virtudes. Estudava, paralelamente, as doutrinas de Pasqually e de Swedenborg, as primeiras mostrando-lhe a ciência do Espírito e as segundas a ciência da Alma.

“A Revolução, em todas as suas fases, encontrou Saint-Martin sempre o mesmo, dedicado a seu objetivo. Por princípio, esteve acima das considerações de nascimento e opiniões, por isso não emigrou; enquanto se mantinha ao seu redor todo o horror das desordens e dos excessos, acreditou sempre que o bem podia surgir do terrível advento da Revolução Francesa, pela intermediação da Divina Providência; pensou ver um grande instrumento temporal no homem que se levantou para suprimir seus excessos.

“Foi em 1793, quando a família e a sociedade dissolviam-se, que vendeu as suas últimas posses para manter e cuidar de seu pai, velho e paralítico. Na mesma época, não obstante os estreitos limites a que ficou reduzida a sua fortuna, contribuiu para as necessidades públicas de sua comunidade. Retornando à capital, foi atingido pelo decreto de expulsão dos nobres. Saint-Martin submeteu-se e deixou Paris.(15)

Durante o terror revolucionário, era necessária muita prudência, mesmo para os assuntos iniciáticos. Saint-Martin recebeu um mandado de prisão, embora vivesse mergulhado nos estudos e na meditação, sem nunca ter feito política. Não subiu ao cadafalso porque Robespierre caiu em seguida. Havia a proteção do Alto, que o guiava na terra, obscurecida pela agitação dos homens.

“Uma corrente de prestígios inundou a inteligência humana em geral, e a dos parisienses em particular, porque a cidade, que comporta sábios e doutores de toda espécie, possui poucos que orientam seu pensamento na direção dos conhecimentos verdadeiros, e há menos ainda que buscam esses conhecimentos com um espírito reto. A maior parte deles não fazem mais que dissecar as cascas da Natureza, medir, pesar e enumerar todas as suas moléculas. Eles tentam, insensatos, a conquista de tudo que se encontra em composição no Universo, como se isso lhes fosse possível. Esses sábios, tão célebres e tão ruidosos, não sabem que o Universo (ou o Templo) é a imagem reduzida da indivisível e universal eternidade; eles podem contemplar e admirar, pelo espetáculo de suas propriedades e de suas maravilhas, … mas jamais poderão conquistar o segredo de sua existência.”(16)

Saint-Martin, para cumprir seu dever cívico, serviu na Guarda Nacional e, em Amboise, foi escolhido para ser um dos instrutores da Escola Normal Superior, que formava jovens professores; tomou parte em 1795 da primeira Assembléia Eleitoral, sem contudo tornar-se membro efetivo de qualquer corpo legislativo. O que buscava era o Conhecimento e a difusão de suas doutrinas. Jamais fez proselitismo e procurava ter por discípulos amigos fiéis da Verdade. Quem visse seu jeito humilde jamais poderia suspeitar de sua elevada espiritualidade. Sua docilidade para com o tratamento, sua serenidade, manifestava no entanto o sábio, O Novo Homem formado pela filosofia profunda do aperfeiçoamento moral e espiritual. A luz que irradiava de seu centro fazia justiça à sua condição de Homem-Espírito, o grande sol da transição ao século XIX.

Foi em 1788, em Estrasburgo, que Saint-Martin tomou conhecimento das obras de Jacob Böehme, o Teósofo Teutônico, através de Rodolphe de Salzmann. Surpreso, constatou que essa doutrina combinava com a de seu antigo mestre Martinez de Pasqually, sendo idênticas em essência.. Coube a ele a tarefa de fazer o feliz casamento das duas correntes doutrinárias, elaborando um sistema sintático, capaz de satisfazer seus anseios e colocar à disposição de todos os Homens de Desejo um caminho seguro para chegar à Iluminação.

A síntese iniciática foi obtida em poucos anos de trabalho pelo nosso Filósofo Desconhecido, secundado que foi por seu colega Jean Baptiste Willermoz. Necessitava, entretanto, de uma transmissão iniciática da corrente de Böehme para associar à sua, advinha de Pasqually. Essa corrente alemã de Jacob Böehme foi obtida ao ser iniciada pelo Barão de Salzmann, em Estrasburgo, e confirmada na linha mais antiga dos Templários, ao associar-se com a Estrita Observância Templária, do Barão de Hund.

Willermoz foi o encarregado, em Lyon, de organizar o sistema maçônico do Rito Escocês Retificado, fruto do Convento de Wilhelmsbad de 1782. Coube a Saint-Martin a chefia e a realização de iniciações individuais da Ordem Interior dos Filósofos Desconhecidos. Vários alemães foram iniciados no novo sistema (muitos dos quais já eram discípulos de Martinez de Pasqually), ingressando na iniciação real que conduz à Iluminação e à Reintegração a partir deste mundo na Unidade Divina.

Saint-Martin considerava as obras de Jacob Böehme de uma profundidade e de um valor inestimáveis e não se achava digno nem de desatar as sandálias de Jacob Böehme; entendia que seria necessário que o homem se tivesse tornado pedra ou demônio para não tirar proveito de tais obras. (17)

Foi assim que passou a estudar o alemão, com quase 50 anos de idade, para melhor penetrar no sentido oculto e no pensamento do autor. Procurou traduzir para o francês as principais obras do Mestre. A partir de então, sempre que se referia a Jacob Böehme dizia que o Iluminado teutônico foi a maior luz que veio a este mundo depois daquele que era a própria Luz, isto é, o Cristo.

Após ter percorrido parte da Europa, estabeleceu seu apostolado em Toulouse, Versailles e Lyon, sempre lançando a semente espiritual em uma terra que se tornou fecunda, recolhendo ele próprio as doutrinas mais apropriadas para o seu espírito e seu sistema. Mais tarde, centralizou sua ação em três cidades: Estrasburgo, Amboise e Paris, que eram, como confessou, seu paraíso, seu inferno e seu purgatório. Fora dessas cidades possuía membros correspondentes de sua sociedade, como o Barão de Kircheberger, que não chegou a conhecer, mas a quem enviou um emissário, o Conde Divonne, para certamente lhe transmitir a iniciação. Kircheberger era grande admirador das obras de Saint-Martin; pertencia à Escola de Böehme, da qual tomaram parte igualmente Khunrath e Gichtel.

Kircheberger escreveu a Saint-Martin que, segundo uma lenda corrente em sua Escola, a Virgem Celeste, a Divina Sofia, nos dias das núpcias compareceu com seu corpo celeste de Glória e escolheu Gichtel, vindo à sua casa, colocando em ordem seus papéis e completando com seu próprio punho os manuscritos por ele deixados inacabados. Em vida teria igualmente recebido favores de sua esposa celeste, pois como general venceu o exército de Luiz XIV, que pretendia conquistar Amsterdã, cidade onde o adepto residia. Durante toda a batalha, o general não teria saído do quarto.(18)

Não somente Saint-Martin acreditava no relato de Kircheberger, como lhe pedia maiores detalhes sobre Gichtel. “Se estivéssemos um perto do outro, escreveu-lhe Saint-Martin, eu também teria uma história de casamento para vos contar. Os mesmos passos foram dados por mim, mas de um modo um pouco diferente, embora chegando aos mesmos resultados. Creio, com efeito, ter conhecido a esposa de Gichtel…, mas não de modo tão particular como ele. Eis o que me aconteceu por ocasião do casamento de que falei: eu estava orando… e me foi dito intelectualmente, mas de modo muito claro, o seguinte: Depois que o Verbo é feito carne, nenhuma carne deve dispor dela própria sem que Ele o permita. Essas palavras penetram profundamente em meu ser; ainda que não tenham significado uma proibição formal, recusei-me a toda negociação posterior.”(19)

Acredita-se que a chave da iniciação está no desejo do homem de purificar-se, de evoluir e de atingir a iluminação. Essa evolução é necessária para remediar a degradação a que o homem se submeteu após a Queda Original. Antes, o homem podia obrar em conformidade com a Vontade do Pai, sendo dessa maneira poderoso, mas após ter se revestido de um envoltório material, suas capacidades espirituais atrofiaram-se e a Vontade e a pureza de outrora aniquilaram-se. Foi na cidade de Estrasburgo que Saint-Martin deu a um discípulo a chave de O Homem de desejo, que, por extensão, serve para a própria Iniciação:

A Chave do Homem de Desejo.

Avant qu’Adam mangeât la pomme,
Sans effort nous pouviouns oeuvrer.
Depouis, L’oeuvre ne se consomme.
Qu’au edu pur d’un ardent supir;
La Clef de l’Homme de Désir
Doit naître du désir de l’homme.

Isto é, antes de Adão ter comido a maçã, o homem podia realizar sua obra sem esforço; depois, a obra não se concretiza a não ser com a ajuda do fogo puro, emanado de um ardente suspiro, advindo do grande esforço individual. Assim, a chave do Homem de Desejo deve nascer do desejo do homem.

Seu livro O Homem de Desejo, publicado pela primeira vez em 1790, são litânias no estilo do salmista, nas quais a alma humana evolui para o seu primeiro estágio, num caminho que o Espírito pode ajudá-la a percorrer.

Saint-Martin escreveu este livro por sugestão do filósofo religioso Thiaman, durante suas viagens a Estrasburgo e a Londres. Lavater, então clérico em Zurique, elogiou essa obra como um dos livros que mais tinha gostado, embora reconhecesse não ter tido condições de penetrar nas bases da doutrina exposta. Kircheberger, mais familiar aos princípios do livro, considerou-o como o mais rico em pensamentos iluminados. O próprio Saint-Martin concordou que nesse livro encontram-se os germes do conhecimento que ignorava até a leitura das obras de Jacob Böehme.

O objetivo de seu livro O Homem de Desejo é mostrar que o homem deve confiar na Regeneração, chamando sua atenção para a necessidade de retorno ao Mundo Divino de onde saiu e ao trabalho que deverá realizar para alcançar esse objetivo, isto é, concentrando suas forças pelo desejo ardente de aperfeiçoar-se e tornar-se um homem de vontade forte.

“Não há nenhum outro mistério para se chegar a essa sagrada iniciação, senão penetrando cada vez mais no fundo de nosso ser e não esmorecendo até que possamos produzir a viva e edificante raiz; porque, então, todos os frutos que haveremos de gerar, conforme nossa espécie, serão produzidos dentro de nós e sem nós, naturalmente; é o que ocorre com nossas árvores terrestres, porque elas aderem às próprias raízes e, incessantemente, retiram sua seiva.”(20)

Compreende-se, assim, que o ensinamento deixado por Saint-Martin, e que veio de Martinez de Pasqually e de Jacob Böehme, era muito profundo e de natureza divina. Constitui-se uma Escola de Homens de Desejo, ávidos por adquirirem conhecimentos, uma elite do pensamento, embaçada em um sistema filosófico iniciático, tendo como objetivo o desenvolvimento moral e espiritual do homem. Não é uma Escola de especulação abstrata, mas um centro onde os membros procuram conhecer a doutrina e a experiência dos mestres e onde procuram vivê-la na vida diária, para atingir a perfeição interior, através de um processo de autotransformação.

Os grupos de homens livres eram formados por um pequeno número de pessoas inteligentes e de mente sã, escrupulosamente examinadas, Saint-Martin dizia que as grandes verdades só podem ser bem ensinadas no silêncio. Todos aqueles que não sabem calar, que falam mais do que observam, não podem ser recebidos na senda interior. Saber guardar o silêncio é condição indispensável para que o homem se torne digno de receber outros ensinamentos cada vez mais profundos, emanados não apenas de seu iniciador, como do próprio Mundo Invisível. Para isso, necessitamos de treinamento, que se efetua guardando-se o silêncio em relação às pequenas coisas, mesmo profanas. Qualquer sociedade iniciática não pode ser aberta, pois assim perderia a força que porventura tivesse recebido do Alto. Guardar o silêncio significa fechar-se às influências exteriores, às opiniões contrárias que só trazem ações conflitantes. Fechar-se em torno de si mesmo é magnetizar-se; é evitar que as próprias forças divinas se dispersem na Natureza, passando por nós. É criar um pólo de atração; é tornar-se um receptáculo das influências celestes; é tornar-se a taça que recebe o influxo divino.

A Iniciação é um processo interior de aperfeiçoamento do homem, tornando-o apto a receber as forças divinas. O homem é a soma de todos os problemas da existência; é a síntese, o enigma dos enigmas, a pedra bruta que deve ser talhada e aperfeiçoada. Esse desenvolvimento deve ocorrer de tal modo que o ser criado se religue ao Criador, através da aproximação da natureza impura com a natureza pura. Por isso, a primeira deve ser trabalhada até ficar quase no mesmo estado da segunda; somente depois haverá uma atração tal, que a Natureza Superior descerá até a inferior, purificando-a em definitivo e deixando-a conforme ela mesma: é a Iluminação do Iniciado.

Aquele que possuir o conhecimento de si mesmo terá acesso à ciência do mundo, dos demais seres. O conhecimento de si próprio é somente em si que deve buscar. É no espírito do homem que se devem encontrar as leis que dirigem sua origem. É preciso, pois, que o iniciado encontre seu centro iniciático, a divindade em si, para adquirir o pleno conhecimento de si mesmo. É necessário conhecer suas fraquezas para melhor dominá-las e não voltar a praticar os mesmos erros. Jesus Cristo dizia aos homens para não pecarem mais menos, até o dia em que, tendo encontrado seu equilíbrio iniciático, possam chegar a não pecar mais. Sua luta deve ser constante, contra as paixões, suas contrariedades internas e a ira. A docilidade representa a presença de Deus no centro iniciático; a ira representa a sua ausência.

“O homem não pode ser integralmente livre da ira e do pecado porque os movimentos do abismo deste mundo tampouco são totalmente puros ante o coração de Deus; o amor e a ira sempre lutam entre si.”(21)

A doutrina de Saint-Martin difundiu-se na Alemanha e na Rússia, através de seus discípulos. Na Rússia, a doutrina martinista encontrou um grande divulgador em Joseph de Maistre, que afirmava a existência de Deus no interior de cada indivíduo e, por conseguinte, que o segredo de toda a iniciação consistia em descobrir o centro iniciático próprio, a senda interior, a fim de proceder ao próprio desenvolvimento espiritual. Assim, a iniciação é uma senda real, interior, individual, e não se encontra no exterior, nas sociedades ou no Enciclopedismo.

Em 1803, o Filósofo Desconhecido dava seus últimos passos em direção à Eternidade, pois sua saúde mostrava-se débil. Mas não se afligiu com essa perspectiva; ao contrário, dizia que a Providência sempre lhe havia dispensado muito cuidado, de modo que só poderia render-lhe graças.

Conta-nos Gence que certa vez, visitando um amigo comum, Saint-Martin confessou-lhe que estava partindo para o Oriente Eterno e no dia seguinte, visitando seu amigo o Conde Lenoir la Roche, em Aulnay, após leve refeição, retirou-se para o quarto; sofreu um ataque de apoplexia e partiu. Era o dia 13 de outubro de 1803. Foi então que seus discípulos e amigos perderam a convivência física com o Mestre, mas ganharam a eterna e permanente proteção espiritual que nos envia do Reino da Glória, através dos Mundos Invisíveis.

Hoje, a obra de Louis Claude de Saint-Martin continua através dos Grupos de Iniciados que seguem sua doutrina. A Conquista da Iluminação é o objetivo último de todos os Homens de Desejo, que encontram nas obras do Mestre e no seu exemplo, como Homem e como Iniciado, o respaldo necessário para prosseguir na senda sem desânimo.

Que cada um possa transformar-se em um Novo Homem, renascido pela Luz, que resplandece na alma de todos, e que engendrará, no futuro, o Homem-Espírito, o novo Sol que acalentará os corações de todos com seu procedimento e com sua serenidade.

OBRAS DE LOUIS CLAUDE DE SAINT-MARTIN

1-) Des Erreurs et de la Vérité, ou les Hommes Rappelés au Principe Universel de la Science. Edimbourg, 1775, 2 vol.

2-) Suite des Erreurs et de la Vérité. A Salomonopolis, Androphile, 1784.

3-) Tableau Naturel des Rapports qui Existent entre Dieu, l’Homme et l’Univers. Édimbourg. 1782.

4-) L’Homme de Désir. Lyon, 1790.

5-) Ecce Homo. Paris, Cercle Social, 1792.

6-) Le Nouvel Homme. Paris, Cercle Social, 1792.

7-) Letre à un Ami, ou Considérations Philosophiques et Religieuses sur la Révolution Française. Paris, Louvet, Palais, Égalité, 1796.

😎 Éclair sur l’Association Humaine. Paris, Marais, 1797.

9-) Le Crocodille ou la Guerre du Bien et du Mal, Arrivée sous le Règne de Louis XV. Paris, Cercle Social, 1798.

10-) Réflexiones d’un Observateur sur la Question Proposée por l’Institut: “Quelles sont les Institutions les plus Propres à Fonder la Morale d’un Peuple?. Paris, 1798.

11-) De l’Influence des Signes sur la Pensée (inserido incialmente no Crocodile). Paris, 1799.

12-) L’Esprit des Choses ou Coup d’Deil Philosophique sur la Nature des Étres et sur l’Objet de leur Existence. Paris, 1800, 2 vol.

13-) Le Ministère de l’Homme-Esprit. Paris, 1802.

14-) Oeuvres Posthumes de Saint-Martin. Tours, 1807, 2vol.

15-) Traité des Nombres. S/1, M. Léon, 1844.

16-) Correspondence de Saint-Martin avec Kircheberger, Baron de Liebisdorf, des annèes 1792 a 1799, S. n. t.

TRADUÇÕES DAS OBRAS DE JACOB BÖEHME

17-) L’Aurore Naissante ou la Racine de la Philosophie, de l’Astrologie et de la Théologie. Paris, 1800.

18-)Des Trois Principes de l’Essence Divine ou de l’Eternel Engendrement sans Origine de l’Homme, d’où il a été Crée et pour quelle Fin. Paris, 1802, 2 vol.

19-)Quarente Questions sur l’Origine, l’Essence, l’Etre, la Nature et la Propriété de l’Âme, suivies des “Six Poit”. Paris, 1807.

20-) De la Triple Vie de l’Homme selon de Mystère des Trois Principes de la Manifestation Divine. Paris, 1809.

NOTAS

1- SAINT-MARTIN, L. C. Oeuvres Posthumes; Portrait Historique et Phisosophique de Saint-Martin fait par lui-même, p. 58-59.

2- Id., t.1, p.5.

3- Id., t.1, p.78-9.

4- J. B. M. Gence foi discípulo de Saint-Martin e com ele conviveu longos anos: seu relato encontra-se no prefácio de Teosophic Correspondence between L. C. de Saint-Martin and Kircheberger, Baron de Liebistorf, P. V.

5- Id., p. VI.

6- PAPUS. L’Illuminismo en France, 1771-1803: Louis-Claude de Saint-Martin, as Vie, as Voie Theurgique, ses Oeuvrages, son Oeuvre, ses Disciples, suivi de la Publicatino de 50 Letters Inédites, p. 109.

7- MATER, M. Saint-Martin, le Philosophe Inconnu. Ed. d’Aujourd’hui, p. 20.

8- SAINT-MARTIN, L. C. Theosophic Correspondense, op. Cit. Carta XCII.

9- Id. Carta IV.

10- PAPUS. Louis Claude de S. Martin. 1902.

11- Id., p. 12.

12- Comentário deixado por Ary Ilha Xavier, profundo conhecedor das obras de Saint-Martin.

13- Des Erreurs et de la Vérité. Edimbourg, 1775, 2v.

14- Gence. Op. Cit., p. IV.

15- Id., p. VII.

16- SAINT-MARTIN, L.C. Le Crocodile, Canto XV, p.53.

17- SAINT-MARTIN, L.C. Mont Portrait. Op. Cit., p. 42.

18- SAINT-MARTIN, L.C. Theosophic Correspondence. Op. Cit. Carta LVIII.

19- SAINT-MARTIN, L.C. Theosophic Correspondence Op. Cit. Carta LXII.

20- SAINT-MARTIN, L.C. Theosophic Correspondence. Carta número CX.

21- BÖEHME, J. Confesiones, p. 44.

Original foi retirado do site da Sociedade das Ciências Antigas.

1743 – 1803

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/louis-claude-de-saint-martin/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/louis-claude-de-saint-martin/

‘O Príncipe de Maquiavel

Nicolau Maquiavel escreveu ‘O Príncipe’, um clássico da literatura política, como um presente a Lourenço II de Medici. Era uma época muito diferente. A Itália que conhecemos hoje era ainda uma série de reinos concorrentes. Seus principados eram conquistados e perdidos o tempo todo. Era uma época onde o poder dos papas se confundia com o poder dos imperadores e a Idade Média dava lugar a Renascença.

Maquiavelismo virou sinônimo de maldade, mas não é bem assim. Acima de tudo ele retratou o que via. Ele tinha uma vasta experiência no campo da política. Atuou como diplomata nas cortes europeias por décadas e testemunhou a queda e ascensão das realezas. Estes anos na corte formaram uma visão pessimista do ser humano. Ele acreditava que as pessoas são ingratas, mentirosas, covardes e gananciosas. Como governar sabendo disso?

Os livros de história e sua carreira lhe ensinaram que não podemos confiar em ninguém. Aquele que você ajudou ontem pode te trair amanhã. Para ele quem tentar ser bom com todos o tempo todo naturalmente acabará na ruína pois terminará sendo passado para trás pelas outras pessoas que não são boas. O objetivo deste livro é ser um manual que ajudasse o príncipe a conquistar e manter o poder mediante em um mundo cruel. Ele traz uma série de conselhos, sugestões e exemplos históricos.

Desde 1513, quando o livro foi escrito, muita coisa mudou. Os principados deram lugar a estados nacionais. O feudalismo virou capitalismo. O absolutismo deu lugar a repúblicas. O poder do papa diminuiu e a democracia aumentou. Mas uma coisa não mudou: o espírito humano. Muitas das ideias  deste microbook podem facilmente ser levadas para a atualidade e vistas na política e no mundo dos negócios atuais.

Segue resumo:

Virtude e Fortuna

 

O primeiro conceito importante que Maquiavel nos entrega é que o destino é guiado pela Fortuna e pela Virtude. Estas palavras têm, nesta obra um sentido um pouco diferente do que estamos acostumados. Fortuna seria tudo aquilo que acontece que você não tem nenhum controle, os golpes de sorte e de azar, também chamados de “atos de Deus”.  Virtude por sua vez  é aquilo que você planeja e faz ativamente. Um dos principais problemas dos príncipes segundo o autor é confiar demais na fortuna e não se preparar para ativamente expandir ou manter o seu reinado. É o que chamamos hoje de comodismo.

 

Se você chega ao poder pelo caminho da virtude tem uma base forte e sabe o que precisa fazer para continuar lá. Por outro lado se o seu principado é fruto de um golpe de sorte, seu trono logo será conquistado por aqueles que ativamente querem tomá-lo. Maquiavel afirma ainda que quanto mais a sorte influenciou na chegada ao poder de um príncipe, mais esforços serão necessários para mantê-lo.

 

O segredo do caminho da fortuna é saber reter os golpes de sorte e lidar com os golpes de azar. Mais importante ainda é ser proativo o bastante e não deixar as coisas ao gosto do acaso. A primeira lição que um príncipe deve aprender é não depender da sorte.

Os Novos Principados

 

Maquiavel descreve dois tipos de principados. Os hereditários e os novos. Os hereditários costumam ter menos problemas. Nestes casos basta não desprezar os costumes dos antepassados e saber lidar com os acasos. Um príncipe hereditário não precisa de grandes capacidades estratégicas e se manterá no poder. Só algo extraordinário, como um forte usurpador pode lhe tirar o trono.

 

Os maiores problemas estão com os novos principados , aqueles que acabaram de ser conquistados. Muitas vezes os homens mudam de senhor pensando que podem melhorar de situação e essa crença pode os fazer pegar em armas contra seu senhor atual. Com medo disso, os novos príncipes sempre ocupam seus territórios conquistados com soldados. Essa não é a melhor decisão pois compromete os recursos militares. Também não impede que a família do antigo príncipe se erga em contra ataque. Além disso, mesmo os melhores soldados precisam de apoio dos habitantes locais.

 

Maquiavel sugere nesses casos duas estratégias: em primeiro lugar extinguir completamente a linhagem do antigo príncipe. É importante ter certeza que ela não brotará novamente. A segunda estratégia complementar é não alterar suas leis, costumes, nem impostos deixando o povo seguir com suas vidas. Em pouco tempo o território conquistado passa a ser incorporado ao principado.

Lidando com os estrangeiros

Quando o território ocupado tem idioma, tradições e leis muito diferentes surgem dificuldades. Neste caso um dos mais eficientes remédios é o próprio príncipe ir habitá-lo. Isso evita que o local seja saqueado por subalternos e que algum forasteiro ocupa o vácuo de poder deixado pelo príncipe anterior. Além disso a presença do novo príncipe aumenta para os novos súditos as razões para amá-lo, se forem bons e temê-lo se forem rebeldes.

 

No novo território o príncipe deve cuidar de defender os menos fortes e enfraquecer os poderosos. Temos aqui um duplo benefício. Em primeiro lugar o príncipe ganha prestígio com a maior parte da população que alimenta a crença de que as coisas estão mais favoráveis, por outro lado isso garante que nenhuma das forças locais tenha poder o suficiente para tornar-se um concorrente. Por fim, mudar-se para o novo território permite vigiar de perto as desordens e rebeliões que possam surgir. Evitar a oposição é muito mais fácil quando a pegamos no início do que quando o tempo permite que ela se fortaleça.

Chegando ao poder

Maquiavel descreve quatro formas de se conquistar um Principado: pela virtude, pela fortuna, por golpes de crimes e com o apoio do povo ou das elites. Em seguida ele analisa cada um dos métodos e estratégias. O primeiro deles é o de chegar ao poder pela virtude de suas próprias armas.

 

Criar um novo principado não é fácil e exige muita virtude de seu criador. Mas quando um príncipe é fundador do seu próprio Estado é quase certo que ele se manterá no poder sem grandes dificuldades. Maquiavel usa o exemplo de Moisés da Bíblia e de Rômulo, fundador de Roma, Círio pai dos persas e Teseu fundador de Atenas. O fato destes príncipes só terem um estado para controlar faz com que sejam residentes dos mesmos, o que como já vimos facilita muito as coisas.

 

Sobre o uso da Fortuna

 

Quem ganha um principado por fortuna só com muito esforço se mantêm. É o caso dos muitos líderes gregos que foram feitos príncipes por Dario I. Estes estão sempre vulneráveis a mesma sorte ou vontade externa que lhes deu o poder. Não sabem e não podem fazer nada para manter a sua posição. Destes dois citados modos de vir a ser príncipe, por virtude ou por fortuna, quero apontar dois exemplos ocorridos nos dias de nossa memória: estes são Francisco Sforza e César Bórgia. Em primeiro lugar é necessário extinguir as famílias dos senhores anteriores para evitar que se reergam. Em segundo, é necessário conquistar a população, por meio de um bom governo que dê um pouco de poder aos mais fracos. Em terceiro deve-se conquistar o máximo de poder para que, quando o Príncipe que lhe concedeu o estado for derrubado ou morrer você consiga se manter intacto.

 

Chegando ao poder por meio de crimes

 

Em vez de criar um estado alguns príncipes chegam ao poder por meio de golpes e ações criminosas dentro de sua própria pátria. Maquiavel usa o exemplo de Agátocles que ganhou o principado da Sicília matando seus senadores e homens ricos e Alexandre VI que matou e traiu sua própria família. Nesses casos a violência deve ser rápida e pontual de modo a não precisar renová-la a cada dia. Além disso é necessário conquistar os súditos com benefícios vindos desta violência. Os crimes devem ser feitos de uma vez para que ofendam menos e os benefícios devem ser feito aos poucos para que sejam melhor apreciados.

 

Chegando ao poder pelo prestígio

 

Em todas as cidades existem duas tendências diversas: o povo que não quer ser mandado nem oprimido pelos poderosos e estes desejam governar e oprimir o povo. Destes dois anseios diversos um Príncipe pode ganhar poder. Maquiavel sugere que entre estes dois o príncipe prefira o apoio do povo. Em primeiro lugar ele entende que os anseios do povo são mais legítimos que o dos poderosos. Os poderosos querem oprimir mais enquanto a população só não quer ser oprimida. Mas há razões práticas também: a elite é difícil de manobrar enquanto o povo está acostumado a obedecer. È ainda mais fácil se proteger da inimizade dos grandes porque são poucos e concorrem entre si do que do povo que são muitos e estão em toda parte. Por fim as elites estão sempre mudando ao passo que o povo é sempre o mesmo povo. Seja quem for que o colocar no poder um príncipe deve sempre prezar a amizade do povo. Não apenas isso mas deve pensar sempre em fazer com que seus cidadãos sempre tenham necessidade do Estado e dele mesmo. Para ilustrar este tipo de principado Maquiavel escolheu o exemplo de Nabis, líder dos espartanos que com apoio do povo suportou assédio de toda a Grécia e do exército romano.

 

Milícias e Soldados Mercenários

 

Maquiavel também trata  dos meios ofensivos e defensivos que os principados se fazem valer. Estas armas podem ser suas próprias, auxiliares ou mercenárias. É um grande perigo que a segurança do seu principado dependa de forças auxiliares ou mercenárias. Mercenários são por sua própria natureza ambiciosos, indisciplinados e infiéis. Assim como foram contratadas a você podem ser contratadas por seus inimigos. As tropas auxiliares são igualmente perigosas pois também servem interesses diferentes dos seus. No caso de uma vitória sempre se sai devedor cativo dos principados auxiliares.

 

Um príncipe prudente deve sempre evitar essas alternativas  e lutar com suas próprias forças. È melhor perder com suas próprias armas do que vencer com as dos outros, pois na verdade neste caso não é você que está vencendo. Para Maquiavel a ruína do Império Romano teve início quando começaram a pedir ajuda aos godos. Entre depender de boas armas e bons amigos, é melhor escolher as armas. Sempre que se tem boas armas os amigos aparecem. Sem ter armas próprias nenhum principado está seguro.

A Arte da Guerra

 

Um príncipe não deve ter nenhum objetivo  senão a guerra, sua preparação e disciplina. Essa virtude é o que mantém aqueles que nasceram príncipes e é a que torna homens comuns ao principado. Negligenciar esta arte é o primeiro passo para ser conquistado e deposto. Quando um príncipe pensa mais nas delicadezas da corte do que nas armas, logo perde seu estado. Ciro conquistou o império dos medas quando eles se acostumaram com a paz a ponto de se tornarem frouxos demais para a guerra.

 

O príncipe pode se manter com o pensamento guerreiro de duas formas: pela ação ou pela mente. Pela ação ele mantém suas tropas organizadas, exercitadas e disciplinadas.  Ele sugere a caça e os exercícios de guerra como uma forma dos soldados se acostumarem a fadiga e ao domínio do terreno. O príncipe deve também estar mentalmente pronto para a guerra, conhecendo as histórias e ações dos grandes homens examinando as causas de suas vitórias e derrotas.

 

Um príncipe inteligente nunca deve ficar ocioso em tempos de paz, mas sim com habilidade procurar sempre estar mais forte contra a adversidade. Desta forma quando a fortuna virar ele estará preparado.

Sobre a fama e a Infámia

 

Além das preocupações externas o príncipe deve estar sempre atento aos temores internos por parte dos súditos. Em geral a situação interna estará segura se a externa for estabilizada. Mas mesmos nestes casos deve-se estar atento a conspirações e a única forma de garantir isso é evitando ser odiado ou desprezado e mantendo o povo satisfeito.

 

Quanto mais proeminente for uma pessoa, mais alvo será de julgamentos. Isso coloca o príncipe em uma situação delicada, pois será sempre analisado para a fama ou infâmia aos olhos de todos. O ódio e o desprezo foi a causa da queda de imperadores como Heliogábalo, Macrino, e Juliano,  entre tantos outros. Para evitar isso Maquiavel recomenda que o Príncipe sempre evite a infâmia e buscar as boas qualidades. Mas as boas qualidades para um príncipe não são as mesmas dos demais homens.

 

Para Maquiavel uma qualidade virtuosa é aquela que ajuda o príncipe a conquistar ou manter seu estado. Muitas vezes as boas qualidades do povo são prejudiciais ao príncipe. Por isso Maquiavel enfatiza várias vezes que não se deve ter medo de cair em algo que seja considerado um defeito se isso for salvar ou fortalecer seu principado. Por exemplo, vale mais a pena ser amado ou temido pelos súditos? O ideal, segundo Maquiavel é ser as duas coisas. Mas na falta dessa possibilidade é melhor ser temido do que amado. Isso porque nos momentos da adversidade o medo da punição é mais resistente do que os laços de afeto.

Lidando com o povo

 

Outra implicação prática sobre a questão da fama e infâmia entre o povo é se o príncipe deve buscar a fama de piedoso ou de cruel. Diz Maquiavel que o príncipe deve ser tão piedoso quanto possível mas deve ter cuidado para que essa mesma piedade não o leve a ruína. Um Príncipe não deve ter medo de ser considerado cruel se essa crueldade manter seus súditos unidos e leais. A morte de um bandido apenas faz mal a ele mas o seu perdão, diz o autor, faz mal a toda a comunidade. Outro exemplo. Entre ter fama de miserável ou gastador o príncipe deve escolher o primeiro. É melhor ter fama de parcimonioso do que ter que roubar dos súditos para manter luxos e, o que é ainda pior, não ter recursos para a guerra quando precisar se defender.

 

Entretanto mais importante do que cultivar essas qualidades é cultivar a fama de possuí-las.  Um príncipe deve aparentar ser sempre piedoso, fiel, humano, íntegro, religioso. Deve inclusive se possível sê-lo realmente, mas estar preparado para não ser nada disso quando for necessário para manter o seu poder. Muitas vezes para proteger seu Estado terá que agir contra a fé, a caridade, a humanidade e a religião.

 

O Príncipe deve ainda estimular as virtudes entre o povo, dando oportunidade aos homens virtuosos e honrando os melhores em uma arte. Os cidadãos devem ser incentivados a exercer pacificamente suas atividades em suas ocupações e prêmios devem ser instituídos a aqueles que engrandecem a cidade. Sempre que aparecer alguém que realiza algo extraordinário, para o bem ou para o mal na vida civil, deve buscar meios de premiá-lo ou puni-lo de forma que seja bastante comentada. Em algum momento do ano, sugere Maquiavel, deve-se distrair o povo com festas e espetáculos.

 

Lidando com a corte

Na corte é necessário combater os bajuladores. Não há outro meio de se proteger da adulação do que fazer com que as pessoas entendam que não te ofendem dizendo a verdade. Por outro lado quando todos falam a verdade logo começam a faltar com a reverência. Para superar este dilema Maquiavel sugere que o príncipe escolha uns poucos homens sábios e que apenas a eles seja dada a liberdade de falar a verdade e somente daquilo que se pergunte. Deve-se consultar estes conselheiros em todos os assuntos e ouvir suas opiniões com frequência e então decidir por si mesmo o que fazer. Uma vez que a decisão seja tomada é melhor ser obstinado quanto a ela, a não ser que o cenário mude drasticamente. Quem procede de outra forma abre espaço a bajuladores e a mudança frequente de opinião frente a imensa variedade de pareceres possíveis em cada situação.

O príncipe deve demonstrar aborrecimento quando notar que algum destes conselheiros  por alguma razão não lhe diz a verdade. Deve ainda deixar claro que conselhos são bem aceitos apenas quando ele solicitar e não quando desejarem. Por outro lado ele deve solicitar essas opiniões com frequência, ser grande perguntador e paciente ouvinte das coisas perguntadas.  A todos os demais deve tolher o desejo de dar conselhos que não sejam solicitados.

Na escolha destes conselheiros e de outros possíveis ministros e secretários, Maquiavel sugere os critérios duplos da capacidade e da fidelidade. Após estar certo das boas capacidades práticas e intelectuais dos ministros o autor sugere um método simples para se reconhecer um bom ou um mal subalterno. Basta ver se ele pensa mais em si mesmo do que nos interesses do príncipe. Se for assim  jamais será um bom ministro, pois nele não se pode confiar. O príncipe deve escolher entre os homens aquele que pensa primeiro nos interesses do seu príncipe. Em compensação para conservá-lo sendo um bom ministro deve, por sua vez, pensar nele, honrando-o e fazendo-o rico,  afim de que não ambicione nada maior nem possa se imaginar sem sua proteção.

Como não perder a coroa

Nos capítulos finais de sua obra Maquiavel se dedica ao estudo das razões que levam os príncipes a serem derrubados do poder. As principais razões são a negligência das próprias armas, a inimizade do povo e a inabilidade de se proteger das elites. O autor diz que esses defeitos são muito comuns em príncipes que passam anos no poder e se acostumam com ele. Quando sua incapacidade militar ou política cobra seu preço eles erroneamente acusam a própria falta de sorte. O grande defeito dos homens, diz Maquiavel é na bonança não se preocupar com a tempestade.

A chave para não perder seu estado é saber adaptar-se às mudanças. O cenário político e militar mudam a todo momento e acreditar que o destino e a sorte lhe sorrirá sempre é um grave engano. Ainda que a fortuna varie a lição final de Maquiavel é que a fortuna deve ser dominada ou mesmo contrariada até que se faça vencer pela audácia de um príncipe obstinado.

Resumo do Resumo

  • Não confie na sorte. Estratégia e esforço deve ser a base de seu poder.
  • Esteja sempre preparado para a guerra. Não deixe os períodos de tranquilidade te amolecer.
  • Fortaleça sempre seu principado para não depender da força de aliados e mercenários.
  • O aliado mais poderoso que um Príncipe pode ter é seu próprio povo, mas é necessário estar atento aos movimentos das elites.
  • Entre ser amado ou temido escolha os dois. Mas se tiver que escolher só um caminho é melhor ser temido.
  • Proclame abertamente a importância de ser bom, justo, honesto, piedoso, mas não deixe que as virtudes sejam um obstáculo.
  • Evite bajuladores criando um conselho de poucos homens sábios que sejam honestos com você quando solicitado
  • Para manter sua coroa um príncipe deve saber adaptar-se as constantes mudanças no cenário político e militar.

 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/baixa-magia/o-principe-de-maquiavel/ […]

[…] O Príncipe, Nicolau Maquiavel […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/baixa-magia/o-principe-de-maquiavel/

A Oração ao Deus Desconhecido

“Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós!” [1]

Quem disse isso foi um dos bigodudos mais geniais da filosofia, e também um dos maiores escritores da história. Muitos “ateus militantes” tem elegido Friedrich Nietzsche, filósofo alemão que viveu no fim do século XIX, como um de seus grandes “heróis”. Talvez pelo fato de o próprio Nietzsche ter se auto-intitulado um ateu:

“Para mim o ateísmo não é nem uma consequência, nem mesmo um fato novo: existe comigo por instinto” [2]

Basear argumentos com base na opinião de escritores famosos não deixa de ser uma falácia do apelo à autoridade – não é muito diferente de defender a infalibilidade da bíblia com base no que algum papa antigo disse sobre o assunto -, mas funciona… As pessoas ficam impressionadas – “nossa, esse bigodudo escrevia muito bem, se ele falou que Deus está morto, é bem capaz de estar mesmo!”.

Estamos mesmo na era das generalizações apressadas, talvez porque com a internet os pequenos pedaços de informação tenham sido compartilhados de forma cada vez mais frenética… Faz muito efeito citar Nietzsche em 140 caracteres e completar com algo como #orgulhoateu ou coisa do gênero.

Você deve estar achando que eu estou aqui para criticar os ateus, mas não é bem esse o meu ponto: quero criticar nossa tendência a ler frases, e não parágrafos, páginas, livros, ou quem sabe até boa parte da obra e da biografia de um dado filósofo, e interpretar a crença alheia de forma super simplificada, tornando nosso próprio conhecimento um tanto quanto superficial.

E o pior de tudo é que muitos nem se dão ao trabalho de perder uns 30 minutos na própria internet para se inteirar mais sobre o assunto. É muito simples chegar a esta interpretação um pouco mais profunda da frase de Nietzsche, pesquisando na Wikipedia:

“A morte de Deus representa metaforicamente o fato dos homens não mais serem capazes de crer numa ordenação cósmica transcendente, o que os levaria a uma rejeição dos valores absolutos e, por fim, à descrença em quaisquer valores. Isso conduziria ao niilismo, que Nietzsche considerava um sintoma de decadência associada ao fato de ainda mantermos uma sombra, um trono vazio, um lugar reservado ao princípio transcendente agora destruído, que não podemos voltar a ocupar. Para isso ele procurou, com o seu projeto de transmutação dos valores, reformular os fundamentos dos valores humanos em bases, segundo ele, mais profundas do que as crenças do cristianismo.

Segundo ele, quando o cheiro do cadáver se tornasse inegável, o relativismo, a negação de qualquer valoração, tomaria conta da cultura. Seria tarefa dos verdadeiros filósofos estabelecer novos valores em bases naturais e iminentes, evitando que isso aconteça. Assim, a morte de Deus abriria caminho para novas possibilidades humanas.”

O bigodudo atacava a religião institucionalizada, baseada em dogmas “castradores do potencial humano”. Seu alvo era, sobretudo, as igrejas baseadas no cristianismo. Segundo o filósofo alemão, “o evangelho morreu na cruz”…

Ora, o que Nietzsche anunciou não era nada de novo, muitos antes dele já haviam anunciado a decadência da igreja, e uma nova oportunidade para a ascensão da religião livre, da espiritualidade genuína [3]. Poderíamos retornar até muito mais no tempo, mas bastará lembrar de Benedito de Espinosa, o grande filósofo holandês que foi excomungado do judaísmo. Espinosa, em sua Ética, havia chegado à conclusão de que “uma substância não poderia criar a si mesma, mas haveria de ter criado tudo o que há”.

A grande peça oculta do Iluminismo também foi acusado de ateísmo – mas é preciso ser racionalmente cego para acusar Espinosa de não acreditar em Deus. Toda sua obra foi dedicada a Deus… Conforme Borges bem disse em sua homenagem em forma de poema: “O feiticeiro insiste em esculpir a Deus com geometria delicada” – Mas, que espécie de Deus estaria visualizando Espinosa do alto de sua grandiosa racionalidade geométrica? Seria um Senhor dos Exércitos? Seria um deus que opera barganhas com os homens? Seria alguma espécie de avatar divino encarnado em algum profeta?

Embora possamos hoje chamar de ateu aquele que não acredita em um Criador nem tampouco em deus algum, na época de Espinosa, de Jesus, e até mesmo de Sócrates, ser acusado de ateísmo era ser acusado de não seguir a cartilha religiosa da igreja dominante, era ser acusado de subverter dogmas, de rezar secretamente, quem sabe, para “algum deus estranho e desconhecido, que ninguém sabe onde está e nem exatamente como é”… Ora, não se enganem: Espinosa foi excomungado por ser ateu! Jesus foi crucificado por ser ateu! Sócrates se viu condenado a beber veneno por ser ateu!

Mas, é claro, todos esses acreditavam em algum Criador… Esbarramos aqui em um profundo problema etimológico. É como pedir para um grupo de pessoas interpretar a frase “disciplina é liberdade” – cada qual vai interpretá-la, obviamente, de acordo com sua própria definição dos termos “disciplina” e “liberdade”. E, por mais que tais conceitos já sejam capazes de gerar uma imensidão de interpretações diversas, mesmo combinados eles mal chegam aos pés das quase infinitas interpretações para que se responda a pergunta “o que é Deus para você?”.

Nietzsche também era um filósofo profundamente espiritual, o que pode ser constatado facilmente em uma de suas obras primas, Assim falou Zaratustra. Mas, e qual seria a visão que o bigodudo tinha de Deus? Talvez este poema, que ele escreveu na juventude, possa nos dar uma boa pista:

Antes de prosseguir em meu caminho
e lançar o meu olhar para frente uma vez mais,
elevo, só, minhas mãos a Ti na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas de meu coração,
tenho dedicado altares festivos para que, em
cada momento, Tua voz me pudesse chamar.
Sobre esses altares estão gravadas em fogo estas palavras:
“Ao Deus desconhecido”.
Seu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegos.
Seu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo.
Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servi-lo.
Eu quero Te conhecer, desconhecido.
Tu, que me penetras a alma e, tal qual turbilhão, invades a minha vida.
Tu, o incompreensível, mas meu semelhante,
quero Te conhecer, quero servir só a Ti.

Oração ao Deus desconhecido (traduzido do alemão por Leonardo Boff) [4]

Existem algumas interpretações bem detalhadas sobre o motivo de Nietzsche ter escrito um poema tão profundamente espiritual, e tão aparentemente teísta, mas o que nos importa aqui é reconhecer a complexidade inata da relação que cada ser tem com Deus – e, quanto mais sábio este ser, mais deliciosamente complexa será sua interpretação, pelo menos se a formos tentar resumir com meras palavras, que no fundo são apenas cascas de sentimentos…

Se você crê ou não nalgum Criador, contente-se com sua própria crença ou descrença, pois a não ser que faça parte de alguma comunidade eclesiástica profundamente ortodoxa e dogmática, é bem provável que a interpretação do que seja Deus de seus semelhantes, mesmo aqueles mais próximos e queridos, seja algo diversa da sua própria… Uns crêem em líderes militares que comandam povos escolhidos, outros em um pai bondoso muito velho e de barba perfeitamente branca, outros em um avatar que encarnou na Terra e ressuscitou 3 dias após ser crucificado, outros em alguma espécie de ser de pela azulada que gosta muito de música e dança, outros apenas em um conceito de libertação da mente do sofrimento mundano, outros na mãe natureza, outros em uma substância que abarca a tudo e a todos, outros num evento aleatório que gerou leis profundamente simétricas por todo o Cosmos… E, quem sabe, cada um deles tenha conseguido visualizar um pequeno pedaço do incompreensível, do desconhecido, do nosso mais profundo semelhante.

Mas não adianta apenas crer, é preciso se mover em sua direção. É preciso amar. Julguemos os seres por seus frutos, por suas obras; Pois julgá-los por suas crenças ou descrenças não é muito diferente de julgar que Nietzsche era apenas mais um louco, apenas porque achamos o seu imenso bigode um tanto quanto fora de moda…

***
[1] Retirado de A Gaia Ciência, de Friedrich Nietzsche.
[2] Retirado de Ecce Homo, de Friedrich Nietzsche.
[3] Embora todo seguidor de igrejas seja religioso, nem todo religioso é um seguidor de igrejas. Religião vem do latim religare e significa “religação a Deus ou ao Cosmos”, enquanto que Igreja vem do grego ekklesia e significa algo como “a comunidade dos escolhidos por Deus”. É claro que é possível seguir uma doutrina eclesiástica ou algum dogma e ainda assim ser genuinamente religioso e espiritual, mas a maioria se contenta em repetir orações decoradas uma vez por semana, e esperar pelo tão aguardado céu de ócio eterno… A crítica de Nietzsche era endereçada diretamente e esses últimos.
[4] O texto em alemão pode ser encontrado em Die schönsten Gedichte von Friederich Nietzsche, Diogenes Taschenbuch, Zürich 2000, 11-12 ou em F.Nietzsche, Gedichte, Diogenes Verlag, Zurich 1994. Ver também o artigo Wotan, por Carl Jung; e também este trecho do livro Nietzsche, God and the Jews, por Weaver Santaniello.

***

Crédito das imagens: [topo] Bettmann/Corbis (Nietzsche); [ao longo] Philippe Lissac/Godong/Corbis (imagem de Krishna quando criança)

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

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Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-ora%C3%A7%C3%A3o-ao-deus-desconhecido

‘Baixa Magia: um estudo introdutório

Morbitvs Vividvs

Todo magista que considerar com atenção a definição de magia como “a arte de mudar a realidade conforme sua vontade” será obrigado a expandir o seu campo de atuação para além do traçar dos pentagramas.

Crowley deixou isso muito claro em Magick Without Tears e Anton Szandor LaVey também compreendia isso ao ponto de em sua Bíblia Satânica definir a prática mágica em duas categorias: A Alta Magia, de caráter ritual e natureza cerimonial e a Baixa Magia de caráter não ritual e natureza social. Segundo ele: “Magia não ritual ou manipulativa consiste de um ardil ou fraude obtida através de vários artifícios ou situações planejadas, que, quando utilizados, podem criar “mudança, de acordo com a própria vontade.”

Ele continua: “Muitas vitimas dos julgamentos das bruxas não eram bruxas. As bruxas reais raramente foram executadas, ou mesmo trazidas a julgamento, pois elas foram proficientes na arte do encantamento e podiam enfeitiçar os homens e salvar suas próprias vidas. Muitas das bruxas verdadeiras estavam dormindo com os inquisidores. Esta e a origem da palavra “glamour”. O significado antigo para “glamour” era feitiçaria. A qualidade mais importante para a bruxa moderna e a sua habilidade de ser atraente ou utilizar “glamour”. A palavra “fascinação” tem uma origem oculta similar. Fascinação foi o termo aplicado para o olho do demônio. Manter a atenção fixa da pessoa, em outras palavras, fascinar, era sua maldição com o olho do demônio.”

Em The Crystal Tablet of Set, o livro inicial que todo novo membro do Temple of Set recebe, Michael Aquino define a Baixa Magia como a arte de controlar a atenção e o comportamento das pessoas sem elas perceberem que são controladas. Em primeiro lugar isso envolve o conhecimento das motivações e leis gerais por trás das decisões das pessoas. Em seguida se aplica este conhecimento de forma a guiar as ações das pessoas de forma discreta para não ser flagrado. É em outras palavras Baixa Magia é a arte da trapaça.

Individualmente este tipo de bruxaria se traduz na maestria no traquejo social, na psicologia aplicada e em algumas leis ocultas do ser humano. Já fora do campo individual a Baixa Magia é usada para a manipulação das massas da qual o mago deve também estar atendo para se precaver – cultivando o pensamento crítico – para não cair nestas armadilhas tão comuns e indissociáveis da religião, da propaganda e da política.

Existem vários campos de estudos que podem ser explorados por quem busca a maestria nesse tipo de manipulação da realidade. Vejamos alguns deles:

Leitura das Pessoas

Significa literalmente aprender a ler o ser humano.  Consiste em um conjunto de técnicas que nos permite dizer coisas sobre a vida de uma pessoa, para impressionar, ganhar confiança ou até mesmo criar empatia. Inclui os campos de leitura fria, da leitura corporal, das leis básicas do comportamento humano e principalmente da atenção aos detalhes.

Alguns livros para quem quiser se aperfeiçoar nessa área:

Ilusionismo

Ainda em The Crystal Tablet of Set, Aquino diz que “O ilusionismo deveria ser considerado como hobby por qualquer pessoa interessada na magia de verdade. Em primeiro lugar permite placar a curiosidade daqueles que querem que você “mostre seu poder” e dá a habilidade de  maravilhar e deleitar seus amigos e quebrar o gelo com desconhecidos.

Na Bíblia Satânica LaVey diz que a quantidade de energia necessária para levitar uma xícara de chá (de fato) seria a mesma de se colocar uma ideia em um grupo de líderes mundiais motivando-os a concordar em algo. E mesmo se você tiver sucesso na levitação da xícara deveria admitir que algum tipo de truque foi usado de qualquer modo. Se deseja flutuar objetos no ar, use cordas, espelhos ou outros artifícios e guarde sua energia para coisas importantes. Diz ainda que todos os médiuns e místicos “divinos” praticam sempre a pura e aplicada mágica de palco, com seus olhos vendados e envelopes lacrados, e qualquer ilusionista competente pode duplicar o mesmo efeito.

Assim o ilusionismo é uma excelente maneira de ganhar experiência na chamada Baixa Magia de uma forma prazerosa e com um mínimo risco de ofender suas cobaias. Oferece ainda um ótimo treinamento nas técnicas básicas de controle da atenção e do comportamento humano. O mágico deve aprender a avaliar seu público e guiar sua atenção sem levantar suspeitas de modo a aparentemente realizar coisas impossíveis bem diante de seus olhos.

Embora as ilusões baseadas em prestigiação equipamentos também ajudem no desenvolvimento da habilidade do mago em manipular a plateia nenhum tipo de magia é tão adequado quando o chamado mentalismo. As técnicas do mentalismo são as mais adaptáveis às necessidades do cotidiano humano e as mais facilmente usadas foram do contexto do palco. Nelas se cria ilusão de poder ler a mente, predizer o futuro e determinar as escolhas das pessoas. Além disso as mais impressionantes rotinas de mentalismo requerem rigoroso treino de memória e outras ginásticas mentais por parte do mago que lhe trarão vantagens em várias outras esferas da vida. Ser um bom mágico é um bom começo para ser um bom mago.

Alguns livros clássicos sobre mentalismo:

Sedução

Sedução não inclui apenas o flerte bem sucedido, mas todo uso útil da sua atração pessoal. O termo latim seductione, significa literalmente “levar por outro caminho”. Da mesma forma a palavra “charme” tem origem francesa e significa “fórmula mágica”. Consiste em criar uma personalidade encantadora em todos os sentidos, em fortalecer o próprio carisma e dominar as sutilezas da comunicação não verbal, do poder dos símbolos e da estética pessoal.

Alguns bons livros sobre o tema:

Manipulação Social

Mais poderoso do que escutar espíritos e falar com demônios é saber ouvir e falar com outros seres humanos. Convencer um juiz, um chefe, um cliente ou uma multidão é tão ou mais poderoso do que convencer um espírito dentro de um triângulo.

Este talvez seja o campo mais amplo justamente por ser o próprio coração da Baixa Magia. Trata-se da percepção dos jogos sociais de um nível mais elevado, capaz de antecipar e orquestrar seus movimentos. Inclui o domínio de estratégias políticas, da oratória, da retórica, assim como técnicas de venda, negociação, liderança e propaganda.

Existem vários bons livros que podem ajudar nesse campo:

Auto-aperfeiçoamento

Por fim a Baixa Magia inclui tudo aquilo que pode ajudar a desenvolver o poder pessoal e a prevenir o praticante em não cair nas armadilhas de manipulação – em especial por aquelas praticadas a séculos pelas religiões, pelo estado e pelas grandes corporações.

Auto-Aperfeiçoamento inclui também tudo aquilo que tornará mais provável a transformação da realidade segundo a sua vontade. Fuja de cursos e grupos que simplesmente defendam o pensamento positivo ou sirvam de substituto para uma espiritualidade esvaziada. Os melhores “livros de auto-ajuda” quase nunca estarão nas prateleiras de auto ajuda.  Procure aqueles que o ajudem a desenvolver senso crítico e habilidades reais. Alguns exemplos:

Além de todas as obras indicadas neste artigo estude a biografia de grandes homens e mulheres como Mohammad, Cleópatra, Napoleão, Rainha Vitória. Existem muitos livros e filmes sobre estas e muitas outras personalidades que foram verdadeiros magos transformadores da realidade. Muitos deles como LaVey, Crowley, Rasputin e Cagliostro eram também praticantes da Alta Magia, o que pode dar a você uma compreensão maior de como estas duas modalidades da arte mágica interagem.

No fim das contas a Baixa Magia é simplesmente Magia. Consiste então em desenvolver uma inteligência aguda capaz de ver as coisas como elas realmente são e uma habilidade obstinada em transformá-las para como gostaria que fossem.

Morbitvs Vividvs é autor de Lex Satanicus: O Manual do Satanista e outros livros sobre satanismo.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/baixa-magia/a-baixa-magia-um-estudo-introdutorio/