Os Mantras e Bija Mantras

Mantras

A palavra mantra provém do sânscrito e tem muitas diferenças sutis de significado “instrumento da mente”, “linguagem divina” e “linguagem da fisilogia espiritual humana” são apenas algumas de suas conotações. O mantra é um instrumento para curar os problemas que todos nós enfrentamos na vida. Como afirma o mestre místico sufi Vilayat Inayat Khan: “A prática do mantra literalmente amassa a carne do corpo com a repetição de sons. As células delicadas dos complexos feixes de nervos são submetidas a um martelar constante, um ataque à carne pelas vibrações do som divino”.

A prática do mantra pode ajudar você a se sentir mais calmo e energizado. Pode ajudá-lo a lidar com situações difíceis ou desagradáveis, propiciando uma ideia do que fazer ou ajudando-o a ter paciência e perspectiva para simplesmente deixar que as coisas aconteçam. Pode ajudá-lo a realizar seus desejos e transformar seus sonhos em realidade. O mantra é um método pessoal ativo e pacífico de enfrentar as situações que você deseja mudar. São fórmulas antigas de sons divinos registrados pelos antigos sábios da Índia e mantidos em confiança e segredos durante séculos, tanto na Índia como no Tibete.

Mas o mantra não é nenhuma panaceia. Não é o único nem o melhor meio de resolver todos os problemas humanos. Sua vida e seu karma – o efeito acumulado de todos os pensamentos e atos de muitas encarnações – são demasiadamente complexos para serem dominados inteiramente por algumas semanas de trabalho com fórmulas espirituais, por mais poderosas que elas possam ser. Mas a prática do mantra pode solucionar totalmente muitos dos problemas que enfrentamos e proporcionar alívio considerável a outros.

A prática de mantras pode ajudar você a lidar com os problemas e necessidades materiais da vida. Todos nós queremos ou necessitamos de algo, ou desejamos realizar mudanças em nossa vida. Algumas pessoas querem encontrar um parceiro. Outras estão em busca de um novo trabalho ou carreira. Muitos de nós já tivemos problemas de saúde ou conhecemos alguém que tenha. Todos nós passamos por dificuldades financeiras em uma ou outra fase da vida. Temos desejos que podem ser tão simples como a compra de um carro novo ou tão complexo como aparar das arestas nas relações familiares.

Muitos de nós também queremos ajuda para lidar com emoções e conflitos interiores. Deparamo-nos com situações que provocam reações automáticas que gostaríamos de evitar. Ficamos frustrados, tristes, furiosos e enciumados. Às vezes, nossas reações podem ser mais problemáticas do que as situações que as provocaram. Algumas palavras ditas com raiva podem causar danos enormes a uma relação de amizade ou de amor. A depressão pode tornar-se tão profunda que afasta todos e tudo de nós. Os anseios e as obsessões nos isolam. A prática dos mantras pode ajudá-lo a obter clareza tanto com respeito ao propósito da sua vida quanto de si mesmo.

Às vezes, gostaríamos simplesmente de poder ajudar os outros, mas não sabemos exatamente como. Um membro da família ou colega de trabalho passando por alguma dificuldade, ou gostaríamos de poder dar uma contribuição para melhorar a comunidade ou o mundo em que vivemos – se apenas soubéssemos o que fazer. A prática de mantras pode ajudá-lo a encontrar o meio certo de promover mudanças efetivas.

Bija Mantras

Existem certos mantras, de uma única sílaba, que são extremamente potentes. Eles são conhecidos como mantras seminais, sem nenhuma conotação específica. Em sânscrito, são conhecidos como mantras bija e, na literatura védica, são abundantes os contos e lendas de seres que os praticaram e conquistaram elevados níveis de poder espiritual e material. No Rig Veda, por exemplo, o espírito da terra Kubera tornou-se o rei da prosperidade simplesmente por ter recitado alguns desses poderosos mantras seminais por um longo (sobrenaturalmente longo) período de tempo.

Diferentemente das palavras da fala corriqueira, os mantras bija são por si mesmos experiências de energia. Não são símbolos de outros objetos ou experiências do mundo. A palavra “cadeira” denota um objeto de quatro pernas, mas os mantras seminais não representam objetos e nem mesmo sentimentos. São como o perfume de uma flor ou o sabor de uma maça. Não existem palavras para definir essas experiências. As experiências é que definem as palavras.

Existem mantras bija de gênero neutro para ajudar a ativar cada um dos chakras e prepará-lo para lidar com a energia que é processada e usada em seu respectivo centro.

Lam

É o som seminal do chakra Muladhara, localizado na base da coluna. Ele é regido pelo elemento terra e tem a qualidade do olfato. Quando um devoto medita sobre o som Lam, diz-se que surge uma fragrância mística como indício de progresso espiritual.

Vam

É o som seminal do Chakra Swadhisthana, localizado no centro genital. Seu elemento é a água e sua qualidade é o paladar. Ao recitar o bija Vam visualiza uma lua crescente sobre a água. A paciência começará a se manifestar, bem como um maior controle sobre o apetite e outros sentidos.

Ram

É o som seminal do Chakra Manipura, localizado no plexo solar. É regido pelo elemento fogo e sua qualidade é a forma. Concentre-se no Ram e você verá um fogo “amigável” que é parte de você. Quando essa energia é equilibrada, desaparecem os distúrbio estomacais e problemas digestivos.

Yam

É o som seminal do Chakra Anahata, situado no centro do coração. O elemento que o rege é o ar e sua qualidade predominante é o tato. Se você concentra-se no som Yam, o som seminal do elemento ar, você poderá ouvir música ou vozes de seres divinos. (como diz a Bíblia, se você encontrar espíritos, não deixe de testá-los) A prática deste mantra bija pode ajudar a aliviar muitos os sintomas de asmas e de outras doenças pulmonares.

Ham

É o som seminal do Chakra Vishuddha, situado na região da garganta. Seu elemento é o éter e sua qualidade o som. Quando você se concentra no Hum, os problemas da garganta são curados e fica fácil aprender outras línguas.

Om (Aum)

É o som seminal correspondente ao Chakra Ajna, localizado no centro da terceira visão. As energias masculina e feminina encontram-se no centro da terceira visão. Portanto, este som seminal contém o Princípio da Unidade. Este mantra seminal está relacionado a uma qualidade de inteligência cósmica. Pela prática do Om, elimina-se as preocupações e a mente fica serena.

Cada mantra seminal tem um poder único que você mesmo terá de descobrir. Os modos como eles podem funcionar e manifestar-se para você são muito diferentes dos modos como funcionam para outros praticantes; isso é de se esperar em função das muitas e profundas diferenças kármicas pessoais. Seja receptivo a quaisquer imagens ou resultados que o mantra lhe proporcionar. Quaisquer mudanças que ocorram em sua vida podem conter o germe para a solução do problema ou o motivo pelo qual você decidiu praticar o mantra.

#Chakras #Espiritualidade #karma #Mantras

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/os-mantras-e-bija-mantras

As Três Janelas

Três janelas estão representadas no Painel da Loja de Aprendiz, a primeira a Oriente, a segunda ao Meio-Dia e a terceira a Ocidente; nenhuma janela se abre para o Norte. Essas três janelas são cobertas por uma rede. Essa rede que protege as aberturas lembra que o trabalho dos obreiros é subtraído à curiosidade do profano, cujo olhar não pode penetrar no Templo, da mesma forma que o Maçom deve olhar a vã agitação da rua. Pois a seu redor tudo esta fechado, mas nem por isso, espiritualmente, ele deve determinar o movimento do mundo sensível encarado do ponto de vista em que se encontra.

Nos antigos rituais maçônicos fazem menção a três janelas no grau de Aprendiz. Tendo como base as três portas do Templo de Salomão (Bíblia – I Livro dos Reis, VII, 4 e 5), sabe-se portanto, que o Templo se abria para Leste e para Oeste, como na maioria das catedrais. Desse modo, o Templo era iluminado pelo Sol ao alvorecer.

A janela do Oriente traz a doçura da aurora, sua renovação de atividade; ao Meio-Dia, a força e o calor; a do Ocidente dá uma luz que, a medida que se torna mas fraca, convida ao repouso . O Norte, escuro, como não recebe nenhuma luz, não precisa de janela. Porque os trabalhos do Maçons simbolicamente, começam ao Meio-Dia e terminam a Meia-Noite. Começam ao Meio-Dia, quando o Sol brilha com toda a sua força no Templo.

Os Aprendizes são colocados ao Norte porque têm necessidade de serem esclarecidos; eles recebem assim toda a luz da janela do Meio-Dia, Os companheiros, colocados ao Meio-Dia, precisam de menos luz e a sombra provocada pela parede do Templo ainda permite que sejam iluminados suficientemente, enquanto o Venerável e seus oficiais recebem, de frente, apenas a luz do crepúsculo. Em contrapartida, os Vigilantes são alertados desde a aurora pela luz que os atinge em cheio.

por José Cantos

Postagem original feita no https://mortesubita.net/sociedades-secretas-conspiracoes/as-tres-janelas/

Mensagens da Água

90% do corpo de um recém-nascido é formado por água.

Pode-se, pois, dizer que o nosso corpo é formado por cerca de 70% de água.

O pesquisador japonês Masaru Emoto, no livro Mensagens da água, revela suas experiências, em que ele investiga o fenômeno Hado (do japonês onda, ou movimento) que consiste em alterar o padrão vibratório da água, por meio de música, imagens e… oração. Sim, a prova de que a água é alterada está na observação dos seus cristais, após o congelamento. O mais interessante é que a ciência não consegue controlar o processo de formação dos cristais, mas, pelo visto, o pensamento o faz.

Emoto começou seus experimentos submetendo amostras de água destilada a diferentes condições; depois, congelou as amostras produzindo cristais, visíveis ao microscópio. São cristais como estes que formam os flocos de neve. Quando uma das amostras tinha sido exposta a uma sessão de música clássica, por exemplo, como Beethoven, Mozart ou Bach, os cristais apresentaram formações simétricas de grande beleza; se a “trilha sonora” era heavy metal (rock pesado), os cristais mudavam sensívelmente e sua forma, que normalmente seria hexagonal, rompia-se em pedaços, em fragmentos morfologicamente iguais.

“A água parece reagir negativamente a esse tipo de música (rock pesado)”, diz Emoto que, usando a canção Heartbreak Hotel, interpretada por Elvis Presley, obteve três tipos de cristais: o primeiro é a imagem de um coração partido em dois; o segundo mostra duas partes de coração que parecem se esforçar para ficar juntas e o terceiro tipo, é um coração que apresenta sinais de esforço para se manter íntegro.

Dando continuidade à experiência, o cientista fixou, no recipiente que continha amostra de água, um rótulo, escrito em japonês, com os dizeres que podem ser traduzidos como “You are fool”, ou “Você é tolo, “Você é imbecil”. A amostra foi deixada com o rótulo por uma noite e o congelamento resultou em formação de cristais semelhantes áqueles formados sob a influência do rock, caracterizados por assimetria e dispersão.

Outro rótulo, onde estava escrito “Você me deixa doente: eu vou matar você”, produziu na amostra congelada uma formação extremamente distorcida e feia, ao contrário da afirmação “Eu te amo” cujo cristal correspondente era absolutamente maravilhoso. Para Emoto, a água cristalizada sob tal influência amorosa era uma expressão “mineral” de gratidão e reciprocidade ao amor declarado.

O resultado foi que a as gotículas de água que foram mais “bem tratadas” formaram os cristais de água mais exóticos e belos, enquanto que aquelas que foram ignoradas ou xingadas não formaram cristais. O mesmo experimento ele realiza com alimentos. O arroz que recebeu mais carinho (bons pensamentos) demorou muito mais para entrar em decomposição do que o arroz xingado ou ignorado.

No Japão a crença que a alma habita no espírito da palavra é bastante difundida. O reverendo Kato Hoki, sacerdote do templo Jyuhouin, foi chamado para rezar por 1 hora ao lado de uma água cujos cristais estavam disformes e escuros. Após isto, a água se fez visivelmente mais bela, e seus cristais, após nova análise, revelaram algo que nunca o pesquisador – mesmo tendo feito mais de 10.000 experimentos – vira antes: uma rara formação heptagonal (sete pontas) dentro da clássica estrutura hexagonal. Mais tarde, o sacerdote disse ter invocado em suas preces a deusa dos rios Benzaiten (Equivalente a Sarasvati, na Índia)

Ao colocar, em diferentes copos com água, palavras – mesmo que escritas no computador – que significam a mesma idéia (foi escrito “sabedoria”, em japonês, inglês e alemão), ao congelarem os cristais formaram uma estrutura surpreendentemente similar. Segundo o físico Cheng Luojia, isto indica que não é exatamente a PALAVRA, o som de cada língua, que influi sobre a água, e sim o pensamento, a idéia. E completa: “A que conclusão podemos chegar? Que a palavra produz forma”. E deixa uma pergunta no ar: “Isso significaria que o espírito é matéria?”

Bem, o espiritismo já falava isso há mais de um século, e por isso faz a distinção entre espírito e alma, como os gregos faziam milênios atrás… é por isso que a magnetização/fluidificação/energização da água, que é feita em todos os centros espíritas, não é um ritual e sim um procedimento, explicado no Livro dos médiuns, Cap. VIII: “O Espírito atuante é o do magnetizador (o “vivo”), quase sempre assistido por outro Espírito (o “morto”). Ele opera uma transmutação por meio do fluido magnético, que é a substância que mais se aproxima da matéria cósmica, ou elemento universal. Ora, desde que ele pode operar uma modificação nas propriedades da água, pode também produzir um fenômeno análogo com os fluidos do organismo, donde o efeito curativo da ação magnética, convenientemente dirigida”

É por isso que insisto tanto: pensamento É vibração, o mundo É vibração, e você É, em espírito, o que você pensa/produz. Não é uma vibração mecânica, grosseira, como a que produz o som, mas muito mais sutil, que não encontra barreiras. Se os pensamentos podem fazer isto com a agua,o que podem fazer com nosso corpo??

veja fotos das moleculas de agua alteradas atraves de diversos padroes de pensamento em :

http://es.clearharmony.net/articles/200311/1759.html

Estes resultados conduzem a uma nova compreenção científica da relação entre os homens e a água: a água à volta do ser e a água dentro do ser. Os homens têm 75% de água na constituição de seus corpos físicos. Por isso, a descoberta de Emoto obriga a uma reflexão sobre a influência da água sobre a saúde como um todo e abre uma nova fronteira para a utilização da água como substância medicinal.

Novidade para os cientistas, o poder da água é um velho conhecido das tradições esotérico-religiosas em todas as culturas do mundo. A descoberta confere o selo da credibilidade acadêmica à “água-benta” dos cristãos-católicos, por exemplo. Shamãs e curandeiros há muito oferecem “água magnetizada” por orações ou “fórmulas mágicas” como remédio eficaz contra várias enfermidades.

O médico e ocultista Paracelso utilizava a água magnetizada em suas terapias. Outro médico ocultista, Papus, que viveu no século XIX, escreve, em seu Tratado Elementar de Magia Prática (Ed. Pensamento), que são quatro as substâncias curativas básicas da medicina hermética: água, álcool (como em vinhos e destilados), enxofre (sulfas) e sal.

Nos anos de 1990, um cientista americano encontrou uma estranha formação impressa em uma superfície de água magnetizada por um monge com o objetivo de retardar o desenvolvimento de uma larva de borboleta. O procedimento do religioso havia afetado a alcalinidade do líquido que assim permaneceu mesmo depois de afastado do local da magnetização e do magnetizador a uma distância de 50 milhas; ou seja, a intenção ou pensamento do monge permaneceu influenciando a água.

Porque são três que testificam no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes Três são Um. E Três são os que testificam na terra: o Espírito, e a água e o sangue; e estes três concordam num”

[I João 5:7,8]

As palavras escritas em negrito constituem o que os criticos do texto chamam ,em latim,Comma Joahaneum (a Cláusula Joanina).

Quando abrimos a “Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas”, das Testemunhas de Jeová, notamos que essa cláusula foi omitida do seu texto. Aliás, outras Bíblias há, além da das Testemunhas de Jeová,  também omitem esse trecho .

“. E este quem veio por meio de água e sangue, Jesus Cristo; não apenas com água, mas com a água e com o sangue.(…).O espírito, e a água, e o sangue, e os três estão de acordo.”

O SANGUE E SEUS CONSTITUINTES

Setenta por cento do corpo humano é constituído de água. O sangue é o principal distribuidor desta água.

Toda a parte líquida do sangue forma o plasma sangüíneo. Cerca de 90% do plasma constituem-se de água pura.

A troca de água do sangue para os tecidos, e vice-versa, é feita principalmente através de um fenômeno denominado difusão osmótica.

Trata-se de um processo físico que ocorre entre dois líquidos separados entre si por uma membrana permeável.

Um japones provou a acão de pensamentos e vibraçoes nas moleculas de agua,atraves de fotografias ,depois de ter submetido ( a água)  a diversas influencias mentais/energéticas.

Agora o que isto significa a nivel de nossa realidade imediata,e a nivel dos interesses desta lista,espero que seja compreensivel ao mais ingenuo dos mortais..

Alias,eu e um pequeno numero de amigos estamos realizando algumas experiencia praticas neste sentido,estarei divulgando aqui os resultados em breve.

Au revoir

Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/mensagens-da-agua/

Entrevista com Varg Vikernes (Burzum)

Nota: muito deste artigo publicado na revista “Sounds Of Death nº 4” está incorreto, e Varg discute a realidade no “incidente em Estocolmo” numa recente entrevista em 1998. Tenha em mente que aquilo que você lê em uma revista nem sempre é verdade. Este artigo é muito mais ficção às vezes…

Numa noite tranquila em Julho, 1992, uma família, incluíndo duas crianças pequenas, dorme em sua casa suburbana em Upplands Vasby, norte de Estocolmo. Enquanto isso, fora da casa, Maria – uma jovem de 18 anos, membro do Black Circle, uma organização de cultuadores do demônio – espalha silenciosamente acetona na porta de entrada e janelas da casa e calmamente põe fogo na estrutura. Antes de fugir do local, Maria prende uma faca na porta principal, junto com a seguinte mensagem: “O Conde esteve aqui e vai voltar”. A família sente cheiro de fumaça pouco depois e consegue escapar por pouco da casa, apenas com suas vidas, antes das chamas queimarem tudo, fora de controle. A investigação policial do crime levou à prisão de Maria e o confisco de seu diário, onde ela revela que faz parte do culto secreto ao demônio, Black Circle. Numa referência a Conde Grishnackh da banda norueguesa de Black Metal Burzum, Maria escreveu: “Eu fiz em uma missão para nosso líder, o Conde. Eu amo o Conde. As fantasias dele são as melhores. Eu quero uma faca, uma faca bonita, afiada e cruel”.

A família vitimada era a família de Christoffer Jonsson, vocalista da banca sueca de Death Metal Therion. Quatro dias depois do incêndio, uma carta do Conde chegou à família. “Olá vítima! Aqui é o Conde Grishnackh do Burzum. Eu acabei de chegar de uma viagem da Suécia e acho que perdi um fósforo e um álbum autografado do Burzum, ha ha! Eu vou dar a você uma lição no medo. Nós somos mesmo mentalmente desajustados, nossos métodos são a morte e a tortura, nossas vítimas morrerão lentamente, elas devem morrer lentamente”. Pouco depois, Conde Grishnackh, nome real Varg Vikernes, é levado a interrogatório por três incêndios na Noruega e pelo incêndio em Upplands Vasby. O Conde não confessa nenhuma relação com a garota sueca Maria e declara inocência em todas as acusações. Maria é levada a um hospital para doentes mentais e solta depois de um ano de tratamento. As acusações sobre o Conde jamais são provadas.

10 de Agosto, 1993. Oystein Aarseth, conhecido também como Euronymous da banda de Black Metal Mayhem, é encontrado morto nas escadas do prédio onde morava em Oslo com várias punhaladas. Chamado de “Deus do Black Metal” e conhecido nos círculos satânicos como “O Príncipe da Morte”, Aarseth administrava uma gravadora chamada Deathlike Silence, e uma loja de discos chamada Helveye. A polícia norueguesa suspeita que o assassino primeiro apunhalou Aarseth em seu apartamento, e quando este tentava fugir pelas escadas foi pego e apunhalado novamente. Seu melhor amigo era o líder satanista norueguês Conde Grisnachk. O círculo do Conde afirma ter certeza de que os rivais satanistas suecos estão por trás do crime. Um porta-voz da polícia disse que “estes grupos realmente se odeiam e são capazes de usar quase qualquer método para punir um ao outro”. De acordo com o Conde, os suecos lêem a bíblia satânica e clamam serem satanistas, e que isto não é satanismo. Para o Conde, o verdadeiro satanismo é o praticado pelo seu grupo, que cultua a morte.

13 de Agosto, 1993. A polícia de Oslo conduz um interrogatório de oito horas com Ilsa, uma garota sueca de 16 anos que era amiga íntima tanto de Oystein Aarseth como de Conde Grishnachk. “Eu tenho certeza de que sei quem matou Oystein. O assassino era invejoso e queria tomar a posição de liderança que Oystein tinha no cenário”, disse a garota. “Eu não acredito que Oystein foi assassinado por satanistas suecos. A maioria dos suecos é muito covarde para matar alguém. Eu não vou revelar o nome do assassino. O ambiente Black Metal vai fazer sua própria vingança contra ele”. Um mês antes desta entrevista Ilsa havia estado por três semanas com Oystein Aarseth em seu apartamento em Oslo. Ela diz que Oystein falou sobre os conflitos entre os suecos e noruegueses e que ele deixou bem claro que em sua opinião esta richa havia chegado a um fim. “Aquele que eu penso ser o assassino é parte do ambiente norueguês. Muitos outros com quem eu tenho conversado também chegaram à mesma conclusão. Eu não posso dar o nome da pessoa que acredito ser o assassino porque estaria arriscando minha própria vida”. A garota prosseguiu, dizendo que Aarseth não costumava carregar armas consigo para se proteger, pois ele era fisicamente forte e se sentia capaz de se defender desarmado. “Eu não acredito que ele deixaria um estranho entrar em seu apartamento, não era seu estilo. Isso me deixa ainda mais certa sobre o nome do assassino”.

Quatro dias depois desta entrevista, Conde Grishnachk foi preso e acusado do assassinato de Aarseth. Ele está aguardando julgamento. Segue uma entrevista feita por Karl Milton Hartveit.

KM = Karl Milton Hartveit
VV = Varg Vikernes (Conde Grishnachk)

KM (Introdução) – Durante uma noite, no fim de março, eu falei com o Conde. Ele me surpreendeu, sendo uma pessoa fria e eloqüente que se expressava clara e inteligentemente. Ele respondeu às minhas questões precisamente e deixou bem claro o que ele queria responder e o que não queria. Ele demonstrou uma sabedoria convincente sobre mágica e tradições satânicas e ele formulava seus pensamentos com uma velocidade e inteligência que não se encontra facilmente em um charlatão. Eu declarei que estava trabalhando em um livro sobre satanismo e ele, sem hesitar, disse que eu poderia usar esta entrevista em meu livro. Um assunto recorrente durante a conversa foi o desejo intenso do Conde em destruir e arruinar tudo aquilo que é bom e harmônico. O fato de ele ter falado comigo em bergensk (um dialeto norueguês falado em Bergern, cidade do Conde) apenas contribuiu para aumentar ainda mais o horror trazido por sua mensagem.

VV – Bom, eu não estou tão interessado em entrevistas como no passado. As revistas distorceram minhas palavras. Eu acho essa coisa de concentrar todo o pensamento negativo em uma pessoa só é errado, não estou nesse negócio por dinheiro, fama ou fãs. Eu vejo o Burzum como um sonho sem alicerce na realidade. Foi feito para estimular a fantasia dos mortais, fazê-los sonhar. Estou cansado de ser mal interpretado pela mídia. Tudo o que escrevem sobre mim está cheio de erros, como esta merda sobre “Nidarosdomen”, a igreja que eu deveria explodir com dinamite. Quem falou isso para eles? Eu nunca ouvi falar nesta maldita igreja!

KM – Qual o objetivo de sua cruzada?

VV – Nós queremos criar o maior medo possível, caos e agonia para que esta sociedade idiota e amigável cristã possa ser destruída. Nós não estamos realmente interessados na revelação da verdade. Quando divulgamos mentira, causamos confusão; confusão leva ao caos, e finalmente à destruição que queremos. As pessoas devem ser oprimidas e nós apoiamos tudo aquilo que oprime o homem e tira dele seus sentimentos como pessoas individuais. É por esta razão que gostamos de saber que o cristianismo é poderoso… Ele oprime pessoas e todos acham que está tudo bem.

KM – Quais são seus sentimentos em relação aos praticantes da chamada “Magia Branca”?

VV – Eles são todos estúpidos e inocentes. Eles trabalham pelo bem e nós somos totalmente contra isso. Nós queremos espalhar caos e destruição.

KM – Qual sua opinião sobre Anton LeVay e seus seguidores?

VV – Anton LeVay é um idiota e as coisas que ele representa não tem nada a ver com satanismo. Ele representa o benefício próprio e egoísmo se apoiando no satanismo. Aleister Crowley também era uma farsa. Ele era tão aficionado por sexo que perdeu a verdadeira mágica.

KM – Você pode dar exemplos de como espalha caos e destruição?

VV – Através de nossa música. Ela desmantela a alma do ouvinte, e através dela espalhamos morte e devastação. Nós gostamos disso.

KM – Eu não entendo, você não gosta das músicas que você cria?

VV – Nós gostamos daquilo que ajuda a destruir o bem e pessoas estúpidas, e, portanto gostamos de nossa música.

KM – Você fala como se pertencesse a uma sociedade secreta, a uma elite no mundo. O quê é e quem faz parte desta elite?

VV – É um pequeno grupo de pessoas que cultuam o mal, você pode chamar o mal de Satã, mas este é um conceito desgastado e insípido que tem sido usado incorretamente tanto pela mídia como pela cultura cristã. Nós queremos o mal para ganhar mais poder no mundo e isso só conseguimos sendo maus. Quando simples humanos criam o mal, o poder do mal no mundo fica mais forte. Eu não vejo nada de extremista em meu ponto de vista. O que os idiotas chamam de mal, eu chamo de razão verdadeira da sobrevivência. A luta é evolução, paz é degeneração. Apenas os cegos podem negar!

KM – Você usa contatos com poderes sobrenaturais?

VV – Eu não quero falar sobre isso, mas demônios e poderes invisíveis existem e podem ser usados.

KM – Quantos de vocês existem e como estão organizados?

VV – Eu não conseguiria dizer a você quantos somos, mas existimos na maioria dos países do mundo. Apenas em países pequenos e isolados, como a Albânia, nós ainda não conseguimos nos estabelecer. Temos contato próximo entre nós e trabalhamos pelo mesmo objetivo.

KM – Vocês têm membros nas grandes cidades da Noruega?

VV – Sim, em muitas cidades.

KM – A sua organização tem um nome?

VV – Nós nos chamamos de Black Circle e somos organizados em um círculo central (Inner Circle) e vários outros círculos periféricos (Outer Circles). Aqueles que estão nos círculos periféricos são apenas usados para chegarmos aos nossos objetivos. Apenas nós pertencemos ao círculo central, que temos conhecimento completo daquilo que estamos querendo.

KM – Você diz que vocês usam pessoas e que espalham destruição, medo e ódio. Vocês não respeitam as leis e regras da sociedade?

VV – Não! Por quê deveríamos? Nós temos nossas próprias leis e não ligamos muito para as regras impostas pela sociedade.

KM – Vocês deliberadamente quebram as leis da sociedade?

VV – Não posso dizer isso, é um crime.

KM – Mas em princípio?

VV – Em princípio não temos nenhum escrúpulo em relação a quebrar as leis da sociedade. Estas leis pertencem a uma sociedade que estamos lutando para destruir.

KM – Você se vê como um rebelde?

VV – Não, nós não somos rebeldes. Nós apenas queremos destruir e espalhar o mal.

KM – Que tipos de rituais vocês praticam?

VV – Nós temos vários, mas não vou falar nada sobre eles.

KM – Os sacrifícios de sangue são parte importante destes rituais?

VV – É claro, o sangue é o poder da vida e é central aos rituais.

KM – Vocês sacrificam animais?

VV – Sim.

KM – Vocês sacrificam humanos?

VV – Isso é um crime.

KM – Mas em princípio?

VV – Em princípio não temos nenhum escrúpulo quanto ao sacrifício humano.

KM – E vocês já fizeram sacrifícios humanos?

VV – Eu não vou falar nada sobre isso.

KM – Eu não entendo. Por que você deu aquela entrevista reveladora a Bergens Tidende?

VV – Porque aquele jornalista estava me irritando e nós já tínhamos revelado parte de nossas atividades. O que eu disse naquela entrevista não era nada de novo.

KM – Mas você disse que pôs fogo em Fantoft Stavkirke e Asane Kirke.

VV – Não! Eu fui completamente mal-entendido e distorcido. Eu disse que alguém de nosso grupo sabia como os incêndios haviam começado, nada mais.

KM – Então você não teve nada a ver com estes incêndios?

VV – Eu não vou responder.

KM – Por quanto tempo você esteve envolvido no satanismo? Quando você começou a ter estes pensamentos que falou?

VV – Eu sempre os tive. Basicamente, eu sou um devoto de Odin, o deus da guerra e morte. Burzum existe exclusivamente para Odin, o inimigo de um olho do deus cristão. Desde que eu me lembro, eu odiei pessoas boas e generosas. Quando eu era um menino eu via as pessoas que estavam bem e curtindo a vida e aquilo me machucava, eu queria arruinar aquelas vidas. É isto que eu estou tentando fazer agora.

KM (Conclusão) – Grishnackh fundou o Burzum no começo de 1987, quando ele tinha apenas 14 anos, com o nome Uruk-hai. O Burzum teve então uma pausa de um ano da metade de 1990 à metade de 1991, quando o Conde, junto com Demonaz e Abbath do Immortal tocaram em uma banda chamada Satanael. Ele também tocou guitarra em uma banda de Death Metal chamada Old Funeral. Quando o Satanael acabou, Grishnachk continuou com o Uruk-hai e mudou o nome para Burzum em Agosto de 1991. “Eu sempre evitei me envolver com outros músicos no Burzum, sou muito individualista para isso. Você pode chamar de intolerância e egoísmo… Na verdade, eu tive um baixista por alguns meses em 1992, mas eu o chutei!” O Burzum lançou três álbuns por enquanto: o “debut” (“o álbum mais primitivo e cheio de ódio) em março de 1992, o EP Aske (” o álbum rock and roll “) em março de 1993 e o Det Som Engang Var (“o mais pesado e mais estranho”) em setembro de 1993. Um outro álbum, “Filosofem”, vai ser lançado mais tarde neste ano e de acordo com Grishnachk é “depressivo, transcendental e sem nenhuma dúvida o melhor de todos”.

ENTREVISTA 2

BJ = Björn Hallberg
VV = Varg Vikernes

BJ – Por favor me diga seu nome completo, idade e local onde se encontra.

VV – Meu nome completo é Varg Vikernes. Nasci no dia 11 de fevereiro de 1973, e no momento estou na prisão Trondheim.

BJ – Qual o motivo EXATO de sua condenação?

VV – Eu fui condenado por: roubo e possesão de 125kg de dinamite e 26kg de glinite (outro tipo de explosivos); incêndio premeditado de quatro templos judeus (igrejas), dos quais três queimaram até virarem cinzas; três casos de invasão de propriedades privadas (em busca de armas, alguns disseram); assassinato em primeiro grau (apesar de ter sido um assassinato em segundo grau na verdade); e… bem, acho que isso é tudo.

Eu fui acusado também de ter incendiado um quinto templo judeu (Fantoft Stavechurch); um ou dois casos de violação de túmulos; e eles também apreenderam aproximadamente 3000 balas de rifle e pistolas (mas a polícia apenas pegou essa munição, e nem ao menos mencionou-a na lista de itens confiscados). Eu fui considerado inocente no incêndio da igreja Fantoft, e o próprio promotor chegou a aconselhar o juri a não me considerar culpado destas acusações – simplesmente porque eram muito ridículas e porque não havia prova alguma de que eu tinha feito coisas como essas, como violar túmulos!

Eu mesmo disse à corte que eu era culpado do roubo e posse da dinamite/glinite, e também confessei que era culpado de “homicídio doloso” em defesa própria. Eu quis dizer que foi algo em defesa própria, mas depois entendi que na visão deles, no sistema legal deles, era chamado legalmente de “homicídio doloso”, já que eu não estava mais em uma posição onde minha vida estava DIRETAMENTE ameaçada, pois o Aarseth (o cara que eu matei) estava fugindo de seu apartamento quando eu o matei.

Não houve prova nenhuma em NENHUM dos casos de que fui acusado, a não ser na história da dinamite/glinite, é claro… Afinal eles encontraram 150kg de explosivos no meu sótão…

Em todos os outros casos eu fui considerado culpado apenas porque haviam UMA ou DUAS testemunhas em cada caso, dizendo que eu tinha feito aquilo, ou estado lá, ou coisas do tipo. Algumas provas eram tão fracas que meu novo advogado disse que estava surpreso por eu ter sido preso com base nelas. Em um caso era ÓBVIO que eu não tinha cometido o crime (o caso Åsane Kirke). Então, eu diria que fui condenado mesmo sem ninguém ter prova nenhuma contra mim!

BJ – Você diz que o fundador do Mayhem, Oystein Aarseth foi assassinado em defesa própria? Por que motivo ele queria matar você, então?

VV – Ele queria me matar por várias razões. Eu saí de sua gravadora, e fazendo isso o deixei apenas com algumas bandas que vendiam muito pouco (Abruptum, e algumas outras merdas). Eu fiz ele parecer um idiota completo em várias ocasiões, por exemplo, eu dava risada na frente dele enquanto desmascarava todas as mentiras que ele contava. Eu comecei a espalhar propaganda racista em nosso meio. Mas, o que é mais importante, eu comecei a ser mais interessante para a mídia do que ele. Por alguma razão era muito importante para ele ser “o centro” de tudo. Eu ganhava mais atenção porque de fato FAZIA as coisas que dizia, enquanto ele apenas ficava falando e falando – então depois de um tempo ninguém mais o levava a sério, pois todos viam que ele era apenas uma pessoa com muita conversa e nenhuma ação. Ele me culpava por isso, já que eu era a pessoa – ele acreditava – responsável por fazê-lo parecer um covarde (o que ele era, é claro).

Você deve se lembrar de que ele foi “o centro” do movimento por um longo tempo; ele tinha 25 anos de idade, enquanto eu tinha apenas 19 (e 20 quando o matei), e ele ficou seriamente ofendido quando as pessoas começaram a me ouvir ao invés de ouvir a ele. Ele era um comunista, e odiava o fato de que “todo mundo” estava muito mais interessado no meu nacionalismo e minha visão racista – isto é, depois de um tempo, é claro. Ele não gostou do jeito que as coisas se desenrolaram e queria acabar com isso, me matando. Primeiro ele tentou encontrar provas contra mim por vários crimes que ele “sabia” que eu tinha cometido, mas ele não conseguiu encontrar nada.

A razão pela qual eu o desrespeitava era simplesmente esta: ele era completamente incompetente e incapaz de administrar sua gravadora com eficiência. Ele era cheio de grandes palavras e nunca fazia nada daquilo que prometia. Ele tinha verdadeira obsessão por seus pensamentos “Satanistas”, enquanto eu queria espalhar o Odinismo na cena (e ele me odiava por isso também). Ele era ridículo, via filmes pornô o tempo todo, e nós até mesmo desconfiávamos que ele era bisexual ou homossexual! Eu não queria saber de nada que tinha a ver com ele, e eu nunca fiz nada de vontade própria para esconder meu ódio por ele. Ele era um porco, e eu dizia isso a “todo mundo”!

Eu estava meio puto porque tinha gastado muito tempo, fé e energia em sua gravadora, e tudo foi desperdiçado! Eu era jovem, certo, mas ainda me sentia um idiota por ter acreditado em sua gravadora no começo.

Resumindo, eu tinha muitos motivos para odiá-lo, e por causa do meu modo de lidar com este ódio (que era respeitado por “todo mundo”) ele também tinha muitos motivos para me odiar; eu disse a verdade sobre ele, e com certeza a verdade muitas vezes é desconfortável!

Eu disse – e ainda digo – que eu o matei em defesa própria simplesmente porque foi ele quem me atacou, e não o contrário, quando eu apareci em seu apartamento naquela noite para dizer a ele “parar de me encher o saco” (para colocar em palavras claras). Ele queria me torturar até a morte, filmando tudo e vendendo o filme para outras pessoas – e eu sabia disso porque um amigo dele me contou. Ele me atacou e tentou me matar (com uma faca). Por pouco ele não conseguiu, mas eu sabia que se eu não acabasse com “o show” lá eu estaria apenas dando a ele uma segunda chance e é claro que eu não vi nenhum motivo para deixar isto acontecer. E se ele tivesse mais sorte na segunda vez? É por isso que eu digo que foi em defesa própria. No começo era defesa própria, até mesmo legalmente, mas quando ele começou a fugir não era mais legalmente defesa própria, e então eu chamo este assassinato de “ação preventiva”, “defesa própria preventiva”.

BJ – Houve uma história alguns anos atrás de uma garota (Maria, ou algo do tipo), que botou fogo na casa do vocalista da banda sueca Therion perto de Estocolmo… Você ainda não quer comentar este fato?

VV – O que você quer dizer com “ainda não quer comentar”? De qualquer modo, eu não consigo entender o que isto tem a ver comigo. Essa garota (Suvi Marjatta, e não Maria) pôs fogo na casa desse cara do Therion uma semana DEPOIS de eu ter estado na Suécia. Eu acho que autografei um álbum do Burzum para este cara do Therion, por brincadeira, porque ela (Suvi M.) sabia onde eles ensaiavam e disse que podia entregar o álbum para este cara.

De qualquer modo, ela incendiou a porta da casa da família dele, e depois pregou meu álbum autografado na parede (eu acho)! Depois ela me ligou, quando eu já estava na Noruega, e me disse o que tinha feito. É claro que eu achei que ela estava doida (e estava mesmo; eu acho que ela está em um hospital para doentes mentais agora), e também um pouco engraçado. Nós (na Noruega) não levamos isso muito a sério, talvez devêssemos dar mais atenção ao fato, mas nós realmente pensávamos que era um tipo de piada. Então eu escrevi uma carta para o Therion dizendo algo do tipo “eu acho que perdi uma caixa de fósforos quando estive na Suécia, ha ha”, alguma coisa assim.

Eu autografei o álbum porque nós não gostávamos do Therion, porque eles queriam ser “Rock Stars”, e levavam a banda muito a sério, então foi uma espécie de brincadeira com isso – eu assinei o nosso “debut” como se fosse um Rock Star e o entreguei para ele (como se fosse “óbvio” que ele gostaria de uma cópia autografada). É claro que era irônico e também uma piada, mas nem preciso dizer que a tal Suvi M. “exagerou” um pouco…

Resumindo, este incêndio não teve realmente nada a ver comigo, e desde o começo era apenas uma brincadeira. Eu queria na verdade entregar o álbum pessoalmente, mas nós ficamos sem dinheiro quando estávamos lá (eu e um cara do Abruptum), então nós não tínhamos gasolina suficiente para ir até onde eles ensaiavam (mais ou menos uma hora de carro de onde nós estávamos). Foi assim que essa garota entrou na história. Ela poderia entregar o álbum por mim.

Eu tive que agüentar um monte de merda por causa disso, com algumas pessoas dizendo que eu “mandei minha namorada” botar fogo na casa dele, porque eu era muito covarde para fazê-lo por mim mesmo, e até mesmo que na próxima vez eu mandaria meu cachorro e assim por diante. No entanto, como você pode ver toda essa coisa tem pouco a ver com as versões apresentadas nestas revistas sobre Metal. Este caso me garantiu umas risadas, é claro. É incrível como podem inventar coisas sobre uma coisa tão pequena como este incidente…

BJ – O que é o Black Circle? Você ainda é ativo nele?

VV – Ha ha, eu estou surpreso por AINDA me perguntarem isso. NUNCA existiu um “Black Circle”, exceto na cabeça de Aarseth/Euronymous, que queria se fazer mais interessante criando algo como um “misterioso Black Circle”. Era apenas um produto da fantasia dele que nunca existiu. As revistas de música britânicas engoliram esta história estúpida, ou apenas fingiram acreditar para ter alguma coisa sobre o que escrever. Eu não sei.

Apesar disso, eu devo dizer que nós – outros caras que tocavam metal – também “encenávamos” e não fazíamos nada para desmentir a existência deste “Black Circle”, não fazíamos nada para espalhar que era apenas um produto da imaginação de Aarseth.

Agora que eu estou falando sobre isso, posso dizer que esta foi mais uma das “mentiras de Aarseth” que eu fiz questão de desmascarar, e uma outra razão para ele me odiar – ou me matar antes de parecer um idiota completo ao mundo.

Tradução: Metal_Maniac #metalbreath da brasnet

Postagem original feita no https://mortesubita.net/musica-e-ocultismo/entrevista-com-varg-vikernes-burzum/

Extraterrestres na Idade Média

Em 13 de agosto de 1491, Facius Cardan, pai do matemático Jerôme Cardan, anotou esta aventura:

Quando eu completei os ritos habituais, por volta das vinte horas, sete homens me apareceram, portando roupas de seda que lembravam tunicas gregas e calçados cintilantes. Usavam cotas de malha e, sob elas, roupas interiores vermelhas de extraordinária graça e beleza.  Dois deles pareciam ser um pouco mais nobres que os outros. O que tinha ar de comando tinha o rosto de cor vermelho-escuro. Disseram ter quarenta anos, embora nenhum deles parecesse ter mais que trinta. Perguntei quem eram. Responderam que eram homens compostos de ar, e seres como nós , sujeitos ao nascimento e à morte. Sua vida era muito mais longa que a nossa, podendo chegar a três séculos. Interrogados sobre a imortalidade da alma, responderam que nada sobrevive. Interrogados sobre o porque não revelavam aos homens os tesouros do seu conhecimento, responderam que uma lei severa impunha penalidades àqueles que revelavam seu saber aos homens. Demoraram com meu pai cerca de três horas. O que parecia ser o chefe negou que Deus tenha feito o mundo para toda a eternidade. Ao contrário, disse ele, o mundo é criado a cada instante ; caso Deus “desanime” , o mundo corre perigo.”

Os visitantes de Facius Cardan parecem ter sido os últimos de uma longa série , surgidos na Idade Média. Tinham o particular de se poder comunicar com os homens, não pretendiam em hipótese alguma ser anjos, não traziam nenhuma revelação; ao contrário , sua atitude parecia mais ainda com o nosso racionalismo moderno. Os visitantes de Facius Cardan negaram até a existencia de uma alma imortal, defendendo uma espécie de teoria a respeito da criação continua do Universo.

Os alquimistas e os místicos da Idade Média procuraram , evidentemente , ligar estes visitantes aos espíritos dos quais falam a Bíblia e a Cabala, mas se trata, evidentemente, de uma colaboração mitológica. De fato, houve, aparentemente, contatos com seres “fabricados”, “feitos a partir do ar”, segundo os visitantes de Cardan. Estes insistiram nos castigos que sofreriam se revelassem qualquer segredo.  Toda esta tradição permaneceu até o século XVIII data em que , nós o veremos, certos segredos serão desvendados.

Em outras regiões , estes seres foram assinalados mais tarde que na Europa: nos fins do século XVIII no Japão e para os índios da América do Norte. Nesta época os indios da Califórnia descreveram seres humanos luminosos , que paralisavam as pessoas com a ajuda de um pequeno tubo. A lenda índia precisa que as pessoas que foram para lisadas tiveram a impressão de terem sido bombardeadas com agulhas de cactus. Na Escócia, na Irlanda, tais aparições foram mencionadas desde tempos imemoriais, e até o século XIX, algumas vezes até o século XX. No século XIX, encontraram-se traços de um personagem estranho chamado Springheel Jack, luminoso à noite , capaz de saltar e voar ( Vide a musica dos Rollings Stones : Jumping Jack Flash ) , e que tentou entrar em comunicação com os homens. A primeira aparição data de novembro de 1837 – segundo testemunhas as mais seguras e precisas  –  em 20 de fevereiro de 1838, e a ultima em 1877. Desta vez, o estranho visitante cometeu a imprudencia de aparecer perto do campo de manobras de Aldershot. Duas sentinelas atiraram; o visitante revidou com jatos de chamas azuis , que exalavam um odor de ozona . As sentinelas se volatilizaram, e o visitante nunca mais apareceu.

Trata-se talve de reminiscencias . Com efeito, a densidade do fenomeno é muito inferior à do da Idade Média, onde se observa , a cada ano , aparições de estrangeiros luminosos. Em todo os relatos , estes são inseparaveis da idéia do fogo: a noção de energia não havia sido ainda inventada. Entretanto, quando interrogados, respondiam que não eram nem salamandras nem criaturas do fogo, mas homens de outra espécie.

É tentador quere atribuir-lhes a estranha série de incendios que , durante a grande peste de Londres , destruiu de súbito todas as casas que haviam sido contaminadas , e estas sómente , impedindo assim que a peste se propagasse , exterminando toda a população da Inglaterra. Seria um caso interessante de intervenção benéfica e benvinda.

É igualmente  chocante o fato de que estes visitantes sejam associados não sómente ao fogo , mas igualmente a poderes mais ou menos ligados ao fogo, em particular o poder de transmutação de metais.  Toda a Idade Média é cheia de lendas , e mesmo de sólidas crenças , a respeito da possibilidade de assinar pactos com estes visitantes. Infelizmente , nos é muito dificil compreender a mentalidade medieval.

A idéia racionalista , defendida por M. Homais , da Idade Média como um periodo de trevas , é uma caricatura da qual precisamos nos desembaraçar. A Idade Média foi um periodo de progressos rápidos , mais rápidos talvez que os nossos, mas que visavam a outros objetivos. Nós perdemos a noção mas ela seria necessária para que pudéssemos nos colocar  na mente de um homem no ano de 1000 ou do ano 1200, e compreender sua atitude frente aos visitantes que considerava como fazendo parte do
mundo em que ele vivia. Faz-se necessário salientar que os homens da Idade Média , que criam nos visitantes , eram espiritos essencialmente racionalistas, sem ligações com bruxarias ou com a Inquisição, fenomenos diferentes. Não se nega que estes contatos podem ter ocorrido , e as informações trocadas , entre os visitantes e homens como Roger Bacon, Jerôme Cardan ou Leonardo da Vinci. Em todo caso ,  a Idade Média admite, praticamente sem discussão , que é possivel entrar
em contato com criaturas revestidas de armaduras luminosas que se chamam demônios . O termo “demônio”não comporta as  conotações pejorativas de mal ou diabólico que apresenta em nossa linguagem. Ele lembra antes o sentido dos demonios de Sócrates, que discutiam com ele e lhe sugeriam idéias.

Depois de ter feito aparições no começo da era cristã , os demônios luminosos surgiram com as primeiras manifestações da franco-maçonaria, desde os séculos XIII e XIV . Foi por causa deles que os francos-maçons se denominaram “Filhos da Luz” e, a seguir , contarão os anos não a partir do nascimento do Cristo , mas sim de um ano de luz obtido adicionando-se 4.000 anos à era cristã.

Começam a se ligar a eles aspectos mais ou menos interplanetários. Em 1823, o Dr. George Oliver , historiador da franco-maçonaria , escreveu : “Anatiga tradição maçonica – e tenho boas razões para ser desta opinião – diz que nossa ciencia secreta existe desde antes da criação do globo terrestre e que ela foi largamente expandida através de outros sistemas solares”.

É contudo na Idade Média que ocorrem as aparições mais maciças de criaturas com vestimentas  de luz . Este mensageiros vão encontrar os rabinos , com quem discutem longamente sobre a Cabala, os poderes de Deus, o conhecimento e a exploração do tempo etc. Afirmam conhecer os guardiões do céu , dos quais , entretanto, não fazem parte. Vão aparecer igualmente entre os monges e os santos do Islão . São descritos sempre do mesmo modo, sua atitude intelectual é sempre racionalista. Falam de geometria, de uma sabedoria racional, à qual mesmo Deus se submete.

Saber-se-ia mais sobre eles se os arquivos dos Templários e dos Ismaelistas nos tivesse chegado às mãos . O que infelizmente não aconteceu. É certo , contudo, que, como os Templários , os Ismaelistas tinham por missão aguardar a entrada de uma Terra Santa que não é de nenhum modo, a Palestina. Uma Terra Santa que não é  localizável em nosso tempo e em nosso espaço, que possui uma geografia sacra diferente da nossa , estudada especialmente por dois franceses, Guénon e Henri Corbin. Também aí, pode-se tentar substituir a mitologia antiga por uma moderna , falar não de uma Terra Santa, mas de uma porta que se abre para uma outras dimensões que não são as três conhecidas , uma estrutura da Terra mais complexa que o globo que se vê de um satelite e na qual nossa civilização crê de maneira tão pouco crítica quanto outras civilizações acreditam na Terra plana.

Isto não é proibido, mas é ainda a troca de uma mitologia tradicional por outra mitologia saída da ficção cientifica e dos desenhos animados.E não é certo que se tenha a ganhar com isso. De maneira geral , deve-se desconfiar do simbolismo.  René Alleau escreveu: “Pode-se estabelecer ligações entre esse simbolo e as duas serpentes do caduceu de Hermes, simbolos de força que destrói e edifica, isto é, o duplo poder das chaves  de um mesmo fogo sagrado”

Tudo isso é muito belo. Mas não se pode dizer que o caduceu de Hermes representa a hélice dupla do ADN. Antes de se contentar com simbolos, é preciso , me parece, admitir que há no mundo fenomenos que não são unicamente devidos à atividade da natureza ou à atividade voluntária do homem. Depois ,estudar estes fenomenos , certamente com uma idéia preconcebida , mas sem pretender que se receba essa idéia da revelação de mestres desconhecidos ou de mansucritos provenientes de um monastério tibetano que não existe nos mapas, e apresentar esta idéia preconcebida como uma questão de fé. Não pretendo me pronunciar com autoridade absoluta sobre a origem e a constituição desses demonios luminosos. Simplesmente direi que, a meu ver, trata-se de pesquisadores enviados por seres capazes de acender e extinguir as estrelas à vontade, pesquisadores talvez criados por tais seres . Eu creio que sua origem talvez seja  a própria Terra , mas em uma região dificilmente localizável
em um mapa-múndi.

Sabe-se , com certeza , que após se manifestarem frequentemente na Idade Média , prosseguiram em suas atividades durante o Renascimento . Visitaram Cardam . Assim como seu quase contemporâneo J. N. Porta ( 1537-1615) que escreveu uma enciclopédia , Magia naturalis , cuja primeira edição data de 1584, na qual, segundo o próprio autor , ele procura associar , à pesquisas experiemtntais , um saber recebido de fonte natural. Daí o titulo : “Magia natural” Porta será o primeiro a estudar cientificamente as lentes , a descrever um telescópio, a predizer a fotografia . Ele tem , portanto , merecido lugar na história das ciencias. Mas ele foi menos estudado no domínio que nos interessa.

O Cardeal d’Este , que se apaixonava pelos seus trabalhos , fundou em 1700 uma organização , que se reunia em sua casa , e que se chamava , muito significativamente, Academia de Segredos . Muitos vêem nela a primeira academia de ciencias. De minha parte, eu (J.Bergier) a vejo acima de tudo como um organismo intermediário entre os agrupamentos desconhecidos da Idade Média e do inicio da Renascença , e o Colégio Invisivel , do qual ja falamos muito. Observemos de passagem que , sobre a Rosa-Cruz, cujos escritos mencionam constantemente os demonios, assim como as lâmpadas perpétuas que lhes deixaram, Fulcanelli escreveu, e com razão :

Os adeptos portadores do titulo são sómente irmãos pelo conhecimento e pelo sucesso de seus trabalhos. Nenhum juramento era exigido , nenhum estatuto os ligava entre si, nenhuma regra além da disciplina hermética livremente aceita, voluntáriamente observada, influenciava seu livre arbítrio. Foram e são ainda isolados, trabalhadores dispersos no mundo, pesquisadores cosmopolitas, segundo a mais estreita acepção do termo. Como os adeptos não reconheciam nenhum grau de hierarquia , a Rosa-Cruz não era uma graduação , mas apenas a consagração de seus trabalhos secretos, a da experiencia, luz positiva cuja fé viva lhes havia revelado a existencia . . . Jamais houve entre os possuidores do título outro laço senão a verdade cientifica confirmada pela aquisição da pedra. Se os Rosa-Cruzes são irmãos pela descoberta, o trabalho e a ciência, irmãos pelas obras e pelos atos, isso ocorre com um conceito filosófico , o qual  considera todos os individuos como membros da mesma familia humana

Quer dizer que não creio absolutamente em uma organização estruturada dos Rosa-Cruzes, como lojas ou células. Eu creio em encontros entre pesquisadores livres, alguns dos quais já visitados pelos demonios. Muitos tiveram em seguida conhecimentos surpreendentes, e pode-se perguntar de onde Cyrano de Bergerac tirou a descrição de um foguete por estágios ou de um poste receptor de TSF.  Pois. se os demonios não difundem o saber , eles o transportam talvez de um pesquisador a outro. Talvez mesmo mantivessem eles fora do alcance da Inquisição, um centro de saber onde seriam conservados os manuscritos. Encontram-se estas concepções no esoterismo judaico da Idade Média.

Estas criaturas de luz, muito ativas, do ano 1.000 ao ano 1.500 , desapareceram totalmente: no século XVII, são encontrados em pequeno número, e desaparecem inteiramente no século XVIII. Nada mais em seguida, senão uma curiosa visão de Goethe, visão que ocorreu em uma época em que ele estava muito doente.

Os demonios deixaram atrás de si, estranhos objetos. Por exemplo, esta esfera metálica da qual falam os Templários em suas confissões. Ela não sómente emitia luz, mas também radiações hoje desconhecidas. Em Chipre, ela teria destruido várias cidades e muitos castelos. Quando foi lançada no mar, uma tempestade se elevou e nesta região nunca mais houve peixes.

Há também as lâmpadas perpétuas que se encontram tanto na tradição judaica da Idade Média , como na do Islã ou da Rosa-Cruz: as lâmpadas funcionariam indefinidamente , sem azeite, sem produto que queima ou se consome. Não se podia toca-la, sob pena de provocar uma explosão capaz de destruir uma cidade inteira. Também aí encontra-se a utilização de forças , de energia, que parecem físicas , e que não correspondem aos conhecimentos da época. Muitos textos judaicos afirmam que estas lâmpadas provêm de lâmpadas do céu.

Infelizmente, nenhum dos relatos que datam da Renascença ou de depois e que fazem alusão às lampadas deste tipo encontradas em tumbas na Alemanha e Inglaterra, puderam ser confirmados. Lâmpadas muito estranhas e de grande beleza foram encontradas em Lascaux, mas ignora-se como funcionavam.

Uma tradição persistente afirma que a descoberta de um túmulo secreto contendo uma lâmpada perpétua teria sido a origem da criação da maçonaria inglesa. Esta descoberta teria ocorrido poucos anos antes da iniciação de Elias Ashmole em Warrington, em 1646. Nada o confirma. De modo geral, todas as tentativas de ligar a franco maçonaria a tradições anteriores a 1600 têm o presente momento , abortado.

Tem-se pretendido , em particular , que a Ordem do Templo não tenha sido perseguida na Inglaterra, como sistematicamente o foi em toda a Europa, e que os sobreviventes da Ordem teriam fundado a maçonaria inglesa, transportando diretamente as tradições da Ordem para esta fundação, mais ou menos em 1600. Muitos maçons sinceros crêem nesta tradição, mas nunca eu jamais encontrei quem a  confirmasse verdadeiramente. Nós temos documentos certos que provam que as lojas maçonicas funcionavam na Escócia já em 1599. Nada antes disso. De que há ligações entre a maçonaria e as “criaturas de luz”, vindas para ensinar , não há duvida. Mas não se pode sustentar que se possa deduzir  que a maçonaria prolongou a tradição dos “guardiões do céu”.

Esta tradição corresponde às aparições precisas , humanamente controláveis, e que determinaram uma  fase precisa da série de intervenções hipotéticas estudadas neste livro. Para um homem da Idade Média  , fosse ele cristão , muçulmano ou judeu, seria tão natural discutir com um ser de luz como receber a  visita de um viajante de país longinquo. Se estas criaturas inspiravam curiosidade e por vezes cobiça pelos conhecimentos que possuiam, nunca inspiraram medo ou terror. A partir de um certo nível de cultura, parecia que os cristãos , muçulmanos ou judeus, acreditavam num Centro onde o alto saber era conservado e onde os visitantes vinham até eles. Eis porque, por exemplo, a visita dos embaixadores  vindos do reino do Padre João provocou curiosidade, mas não surpresa.

Hoje em dia, certos eruditos do Islão acreditam na existencia desses Centros, mas poucas pessoas na Europa , ou na América o crêem. Em compensação na Idade Média , a existencia deste Centro e de um  Rei do Mundo governado a partir deste Centro, era geralmente admitida, e parecia totalmente natural que  esse rei enviasse mensageiros. Assim como é natural para os primitivo, hoje, ver pousar aviões, provenientes dos Estados Unidos ou do Japão, em regiões da Nova Guiné  ou da América do Sul, onde  não existe contato com a civilização avançada. Os habitantes dessas regiões sabem da existencia de  um ou vários centros de civilização mais avançada que a sua. Mas fazem idéias extremamente vagas desses centros, se bem que fundamentem nessas visitas religiões que se chamam “os Cultos do Cargo“.

Do muito tempo dos demonios luminosos nos resta um manuscrito que poderia talvez nos revelar os segredos se soubermos decifra-lo. É o famoso manuscrito Voynich.

Algumas palavras antes de entrar no mistério do manuscrito. A criptografia , arte de compor mensagens secretas , se desenvolveu paralelamente à alquimia e ao esoterismo. Para não dar mais do que dois exemplos. Trithème e Blaise de Vigenère são , ao mesmo tempo, dois grandes alquimistas, dois grandes mágicos e pioneiros da criptografia. Se, graças a eles, a criptografia progrediu até chegar a ser uma ciência exta, a arte de decifrar mensagens sem conhecer os códigos ou os simbolos é muito menos avançada. Os grandes ordenadores, certamente, facilitam o trabalho, mas não o fazem por si mesmos. Um grande decifrador funciona graças a uma espécie de percepção extra-sensorial, que o faz descobrir a informação num caos de numeros e letras.

Como testemunha esta anedota que vivi: Um dos grandes decifradores franceses, cujo nome não me é possivel citar, foi insistentemente procurado por um cura que afirmava ter inventado um código à prova de qualquer decifração. Finalmente, o decifrador consentiu em recebe-lo. Assisti à entrevista. O cura se sentou e estendeu a meu amigo uma folha de papel recoberta de grupos de cinco letras. Meu amigo deu uma olhadela , e cinco segundos depois dizia:

    –    Senhor Padre, o texto evidente de vossa mensagem é: Duas pombas se amam com amor
terno, de La Fontaine
    O cura se persignou , aterrorizado. Perguntou:
   –   Como pode o senhor. . . ?
    E ele me respondeu :
    –    Nem eu mesmo sei. Qualquer coisa na estrutura da mensagem me sugeria: Duas pombas se
amam com amor terno.

Se este relampejar de gênio não existisse, a decifração seria impossivel. Uma idéia muito simples pode
se ocultar totalmente, porque o decifrador não pensa nela.

Estamos agora prontos a  enfrentar os mistérios do manuscrito Voynich. Este manuscrito poderá ser seu, se quiser pagar por ele um milhão e cem mil francos novos. Tem duzentas e quatro páginas, vinte e  oito outras foram perdidas. Não se pode decrifar uma só palavra. Por que então esse preço astronomico,  por que desperta tanto interesse?

É que, quando o manuscrito foi descoberto em 1912 pelo especialista em livros raros, Wilfrid Voynich, ele tinha comprado da escola de jesuitas de Mondragone,  em Frascati. Itália , documentos antigos da Companhia. Documentos sensacionais . Uma missiva de 19 de agosto de 1966 , assinada por Johanes Marcus MArci, reitor da Universidade de Praga, recomendava o manuscrito ao Padre Athanase Kircher, o mais célebre criptografo de seu tempo. O reitor afirmava  que o manuscrito era de Roger Bacon. O manuscrito foi oferecido por volta de 1585 ao Imperador Rodolfo II pelo alquimista e mágico John Dee, que não havia conseguido decifra-lo, mas estava persuadido que ele continha os mais formidáveis segredos. Voynich levou o manuscrito aos Estados Unidos , onde os melhores decifradores inclusive os das Forças Armadas Americanas , o examinaram , sem nenhum sucesso.

 Em 1919 , Voynich tirou fotocópias do manuscrito e levou-as ao professor William Romaine  Newbold, que era um grande decifrador e havia prestado inumeráveis bons serviços ao governo americano. O professor de filosofia, Newbold, com cinquenta e quatro anos de idade, era um homem de cultura prodigiosa. Pretendia-se  na época ser ele o unico a saber onde estava o Santo Graal.

Em abril de 1921 , Newbold anunciou os primeiros resultados. Fantásticos. Segundo os textos, Roger Bacon havia identificado a nebulosa de Andromeda como uma galáxia, conhecia os cromossomos e seu  papel, construira um microscópio, um telescópio e outros instrumentos. Isto causou sensação no mundo inteiro, mas muitos outros decifradores não estavam de acordo com a solução de Newbold. Esta , de qualquer  modo, não era senão parcial e cobria , no máximo , um quarto do manuscrito. Parece que em certo momento o próprio método de codificação do manuscrito se modifica .

Era preciso encontrar a solução completa. Newbold não teve tempo de fazê-lo antes de sua morte, em 1926. Seu trabalho foi continuado por um dos seus colegas, Rolland Grubb Kent, que publicou resultados bem recebido por certos historiadores , não tão bem por outros. A grande objeção  feita ao trabalho de Newbold era que Bacon não podia , em sua época , conhecer as nebulosas espirais nem a constituição do nucleo celular. Eu ( J.Bergier) não estou totalmente de acordo com essa objeção: se Bacon entrou em contato com o exterior, pode muito bem ter recebido informações que parecem provir do seu futuro, e mesmo do nosso futuro.

Em 1944, o Cel. William F. Friedman, que durante a Segunda Grande Guerra decifrou o código japonês, organizou um grupo multidisciplinar constituido por matemáticos , historiadores, astrônomos e especialistas em criptologia. Este grupo utilizou máquinas muito aperfeiçoadas mas não conseguiu decifrar o manuscrito. Entretanto, encontrou-se a razão deste malogro: o manuscrito não era escrito em inglês, nem em latim, mas em uma lingua artificial, inventada não se sabe por quem ( as primeiras linguas artificiais datam do século XVII e são muito posteriores a Bacon), e não correspondem a nenhuma lingua humana conhecida. Nestas condições, como Newbold pôde decifrar  uma parte, pelo menos, do manuscrito? Por uma intuição genial, que o conduziu ao sentido pela linguagem artificial, mas que não se aplica a certas partes do manuscrito. As pesquisas continuam. Todo mundo se põe de acordo com o fato de que este manuscrito apresenta sentido e que não é brincadeira ou mistificação. Voynich morreu em 1930 , sua mulher em 1960, e seus herdeiros venderam o manuscrito a um livreiro de Nova York, Hans P. Kraus, que pede atualmente por ele um milhão e cem mil francos. E Kraus declarou recentemente que , decifrado, o manuscrito valerá dez milhões de dólares.

Pretendeu-se propor métodos de decifração fundados na “linguagem dos demonios luminosos”, que John Dee descreveu com certa precisão. Essas tentativas fracassaram. Um dos objetivos da  INFO (International Fortiana) que continuou a obra de Charles Fort, é decifrar o manuscrito Voynich. Até o presente, não o conseguiu. O segredo dos demônios e talvez outros ainda mais extraordinários se encontram nestas páginas recobertas de uma escrita medieval.
Extraido do livro Os Extraterrestres na História de Jacques Bergier  –  Editora Hemus –  1970

Postagem original feita no https://mortesubita.net/ufologia/extraterrestres-na-idade-media/

Genesis Reload

Em alguns níveis, um sonho privado se insere em temas verdadeiramente míticos e não pode ser interpretado senão em analogia com o mito. Jung fala de duas ordens de sonho, o sonho pessoal e o sonho arquetípico, ou o sonho com dimensão mítica. Você pode interpretar um sonho pessoal por associação, deduzindo o que ele diz sobre sua própria vida, ou em relação a seus problemas pessoais. Mas a qualquer momento surge um sonho que é puro mito, que contém um tema mítico, ou, como se diz, que provém do Cristo interior.

Agora, existe um outro sentido, mais profundo, do tempo do sonho, o de um tempo que é não tempo, apenas um estado de ser que se prolonga. Existe um importante mito, da Indonésia, que fala dessa era mitológica e seu término. No início, de acordo com essa história, os ancestrais não se distinguiam, em termos de sexo. Não havia nascimentos, não havia mortes. Então uma imensa dança coletiva foi celebrada e no seu curso um dos participantes foi pisoteado até a morte, cortado em pedaços, e os pedaços foram enterrados. No momento daquela morte, os sexos se separaram, para que a morte pudesse ser, a partir de então, equilibrada pela procriação, procriação pela morte, pois das partes enterradas do corpo desmembrado nasceram plantas comestíveis. Tinha chegado o tempo de ser, morrer, nascer, e de matar e comer outros seres vivos, para a preservação da vida. O tempo sem tempo, do início, tinha terminado, por meio de um crime comunitário, um assassinato ou sacrifício deliberado.

Pois bem, um dos grandes problemas da mitologia é conciliar a mente com essa pré-condição brutal de toda vida, que sobrevive matando e comendo vidas. Você não consegue se ludibriar comendo apenas vegetais, tampouco, pois eles também são seres vivos. A essência da vida, pois, é esse comer a si mesma! A vida vive de vidas, e a conciliação da mente e da sensibilidade humanas com esse fato fundamental é uma das funções de alguns daqueles ritos brutais, cujo ritual consiste basicamente em matar por imitação daquele primeiro crime primordial, a partir do qual se gestou este mundo temporal, do qual todos participamos. A conciliação entre a mente humana e as condições da vida é fundamental em todas as histórias da criação. Quanto a isso, todas se parecem muito.

Considerando a história da Criação no Gênesis, por exemplo, vemos que ela é semelhante a outras histórias de Criação.

Gênesis: “No início Deus criou os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia, e a escuridão vagava sobre a face do abismo”.

Canção do mundo: “No início havia apenas escuridão por toda parte escuridão e água. E a escuridão se reuniu e se tornou espessa em alguns lugares, acumulando se e então separando se, acumulando e separando…”

Gênesis: “E o espírito de Deus se moveu sobre a face das águas. E Deus disse: Faça se a luz, e a luz se fez”.

Upanixades: “No início, havia apenas o grande Uno refletido na forma de uma pessoa. Ao refletir, não encontrou nada além de si mesmo. Então, sua primeira palavra foi: Este sou eu”.

Gênesis: “Então Deus criou o homem à sua própria imagem, à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Sede férteis e multiplicai vos”.

Lenda dos Bassari: “Unumbotte fez um ser humano. Seu nome era Homem. Em seguida, Unumbotte fez um antílope, chamado Antílope. Unumbotte fez uma serpente, chamada Serpente… E Unumbotte lhes disse: A terra ainda não foi preparada. Vocês precisam tornar macia a terra em que estão sentados. Unumbotte deu lhes sementes de todas as espécies e disse: Plantem-nas.”

Gênesis: “Então os céus e a terra ficaram prontos, e todos os seus hóspedes. E no sétimo dia Deus terminou o trabalho que tinha realizado…”

Índios Pima: “Eu faço o mundo e eis que o mundo está terminado. Então eu faço o mundo, e eis! O mundo está terminado”.

Gênesis: “E Deus viu tudo o que tinha feito e eis que tudo era bom”.

Upanixades: “Então ele se deu conta, Eu verdadeiramente, Eu sou esta criação, pois Eu a retirei de mim mesmo. Desse modo, ele se tornou a sua criação. Em verdade, aquele que conhece isso se torna, nessa criação, um criador”.

Aí está a chave. Quando você sabe isso se identifica com o princípio criativo, que é o poder de Deus no mundo, quer dizer, dentro de você. Isso é belo.

Mas o Gênesis continua: “Vós comestes da árvore da qual ordenei que não comêsseis? O homem disse: A mulher que me destes para estar comigo, essa mulher me deu o fruto da árvore e eu comi. Então o Senhor Deus disse à mulher: Que fizestes vós? E a mulher disse: A serpente me enganou e eu comi”.

Isso de transferir responsabilidades começou muito cedo.

A lenda Bassari continua no mesmo caminho: “Um dia a Serpente disse: Nós também devíamos comer desses frutos. Por que devemos ficar com fome? O Antílope disse: Mas não sabemos nada desse fruto. Então o Homem e sua mulher colheram alguns frutos e o comeram. Unumbotte desceu do céu e perguntou: Quem comeu o fruto? Eles responderam: Nós comemos. Unumbotte perguntou: Quem lhes disse que podiam comer desse fruto? Eles responderam: A Serpente disse.”

É praticamente a mesma história. Os protagonistas apontam um terceiro como o iniciador da Queda, e em ambas as histórias, a serpente é o símbolo da vida desfazendo-se do passado e continuando a viver. O poder da vida leva a serpente a se desfazer de sua pele, exatamente como a lua se desfaz da própria sombra, para renascer. São símbolos equivalentes. Às vezes a serpente é representada como um círculo, comendo a própria cauda. É uma imagem da vida. A vida se desfaz de uma geração após outra, para renascer. A serpente representa a energia e a consciência imortais, engajadas na esfera do tempo, constantemente atirando fora a morte e renascendo. Existe algo extremamente horrível na vida, quando você a encara desse modo. Com isso, a serpente carrega em si o sentido da fascinação e do terror da vida, simultaneamente.

Além disso, a serpente representa a função primária da vida, sobretudo comer. A vida consiste em comer outras criaturas. Você não pensa muito a respeito quando faz uma boa refeição, mas o que está fazendo é comer algo que há pouco estava vivo. E quando você olha para a bela natureza e vê os passarinhos saltitando daqui para ali… eles estão comendo coisas. Você vê as vacas pastando, elas estão comendo coisas. A serpente é um canal alimentar que se move, isso é tudo. Ela lhe dá aquela sensação primária de espanto, da vida em sua condição mais primitiva. Este é um dos mistérios que aquelas formas simbólicas, paradoxais, tentam representar. Agora, em muitas culturas é dada uma interpretação positiva à serpente. Na Índia, mesmo a mais venenosa das serpentes, a naja, é um animal sagrado, e a mitológica Serpente Rei é quem está ao lado do Buda. A serpente representa o poder da vida, engajado na esfera do tempo, e o da morte, não obstante eternamente viva. O mundo não é senão a sua sombra – a pele rejeitada.

A serpente também era reverenciada nas tradições dos índios americanos. Era concebida como um meio muito importante de se fazer amigos. Vá aos pueblos, por exemplo, e observe a dança da serpente, dos hopi, em que eles tomam as serpentes na boca, usam-nas para fazer amigos e depois as mandam de volta para as colinas. Elas são mandadas de volta para levar a mensagem humana às colinas, assim como tinham trazido a mensagem das colinas aos homens. A interação do homem com a natureza está representada nessa relação com a serpente. A serpente flui como a água e por isso é aquática, mas sua língua continuamente dispara fogo. Assim você tem aí o par de opostos, reunidos na serpente.

Já na história cristã a serpente é o sedutor. Isso representa a recusa em afirmar a vida. Na tradição bíblica que herdamos, a vida é corrupta e todo impulso natural é pecaminoso, a menos que tenha havido circuncisão ou batismo. A serpente é aquele ser que trouxe o pecado ao mundo. E a mulher é quem ofereceu a maçã ao homem. Essa identificação da mulher com o pecado, da serpente com o pecado, e portanto da vida com o pecado, é um desvio imposto à história da criação, no mito e na doutrina da Queda, segundo a Bíblia. A idéia é que a natureza, como a conhecemos, é corrupta, o sexo em si é corrupto, e a fêmea, como epítome do sexo, é um ser corruptor.

Por que o conhecimento do bem e do mal foi proibido a Adão e Eva? Sem esse conhecimento, seríamos todos um bando de bebês, ainda no Éden, sem nenhuma participação na vida. A mulher traz a vida ao mundo. Eva é a mãe deste mundo temporal. Anteriormente, você tinha um paraíso de sonho, ali no jardim do Éden – sem tempo, sem nascimento, sem morte, sem vida. A serpente, que morre e ressuscita, largando a pele para renovar a vida, é o senhor da árvore primordial, onde tempo e eternidade se reúnem. A serpente, na verdade, é o primeiro deus do jardim do Éden. Jeová, o que caminha por ali no frescor da tarde, é apenas um visitante. O Jardim é o lugar da serpente. Esta é uma velha, velha história. Existem sinetes sumerianos, que remontam a 3500 a.C., mostrando a serpente, a árvore e a deusa, e esta oferecendo o fruto da vida ao visitante masculino. A velha mitologia da deusa está toda aí.

Existe, na realidade, uma explicação histórica para essa imagem negativa da serpente na Bíblia, baseada na chegada dos hebreus a Canaã e na subjugação do povo de Canaã. A principal divindade desse povo era a Deusa, e, associada à Deusa, estava a serpente. Este é o símbolo do mistério da vida. Os hebreus, orientados na direção do deus masculino, rejeitaram isso. Em outras palavras, existe uma rejeição histórica da Deusa Mãe, implícita na história do jardim do Éden.

MOYERS: Que é que o mito de Adão e Eva nos diz sobre os pares de opostos? Que é que significa?

CAMPBELL: A coisa começou com o pecado – em outras palavras, com o abandono do mundo mitológico de sonhos do jardim do Paraíso, onde não há tempo e onde o homem e a mulher sequer sabem que são diferentes um do outro. Ambos são apenas criaturas. Deus e homem são praticamente o mesmo. Deus caminha no frescor da tarde no jardim onde eles estão. Aí eles comem a maçã, o conhecimento dos opostos. E quando descobrem que são diferentes, homem e mulher cobrem suas vergonhas. Como você vê, eles não pensaram em si mesmos como opostos. Macho e fêmea constituem uma oposição. Outra oposição é entre o homem e Deus. Deus e o mal é uma terceira oposição. As oposições primárias são a sexual e aquela entre seres humanos e Deus. Então surge a idéia de bem e mal no mundo. Assim, Adão e Eva se expulsaram a si mesmos do jardim da Unidade Atemporal, você pode dizer assim, pelo simples fato de haverem reconhecido a dualidade. Saindo para o mundo, você tem de agir em termos de pares de opostos. Existe uma imagem hindu (Yantra) que mostra um triângulo, que é a Deusa Mãe, e um ponto no centro do triângulo, que é a energia do transcendente ingressando na esfera do tempo. Então, a partir desse triângulo, formam se pares de triângulos em todas as direções. Do um provêm dois. Todas as coisas, na esfera do tempo, são pares de opostos. Assim, essa é a mudança de consciência, da consciência da identidade para a consciência de participação na dualidade. E então você se encontra na esfera do tempo.

MOYERS: Estará a história tentando dizer que, antes do que aconteceu nesse Jardim para nos destruir, havia a unidade da vida?

CAMPBELL: É uma questão de planos de consciência. Não tem nada a ver com o que tenha acontecido. Existe o plano de consciência em que você pode se identificar com o que transcende os pares de opostos.

MOYERS: Que vem a ser…?

CAMPBELL: Inominável. Inominável. Transcende todos os nomes.

MOYERS: Deus?

CAMPBELL: “Deus” é uma palavra ambígua, em nossa língua, pois parece referir alguma coisa conhecida. Mas o transcendente é desconhecido e incognoscível. Deus, em suma, transcende qualquer coisa, mesmo o nome “Deus”. Deus está além de nomes e formas. Mestre Eckhart disse que a suprema e mais alta renúncia é abandonar Deus por Deus, abandonar a noção de Deus por uma experiência daquilo que transcende a todas as noções. O mistério da vida está além de toda concepção humana. Tudo o que conhecemos é limitado pela terminologia dos conceitos de ser e não ser, plural e singular, verdadeiro e falso. Sempre pensamos em termos de opostos. Mas Deus, o supremo, está além dos pares de opostos, já contém em si tudo.

MOYERS: Por que pensamos em termos de opostos?

CAMPBELL: Porque não podemos pensar de outro modo. Essa é a natureza de nossa experiência da realidade. Homem/mulher, vida/morte, bem/mal, eu/você, verdadeiro/falso – tudo tem o seu oposto. Mas a mitologia sugere que sob essa dualidade existe uma singularidade em relação à qual a dualidade desempenha um papel de jogo de sombras. “A eternidade está apaixonada pela produção do tempo”, diz o poeta Blake. A fonte da vida temporal é a eternidade. A eternidade se derrama a si mesma no mundo. É a idéia mítica, básica, do deus que se torna múltiplo em nós. Na Índia, o deus que repousa em mim é chamado o “habitante” do corpo. Identificar se com esse aspecto divino, imortal, de você mesmo é identificar se com a divindade.

A suprema palavra, em nossa língua, para o transcendente é Deus. Mas aí você tem um conceito, percebe? Você pensa em Deus como o pai. Agora, nas religiões em que o deus ou o criador é a mãe, o mundo inteiro é o corpo dela. Fora daí não há nada. O deus masculino geralmente está em alguma outra parte. Mas masculino e feminino são dois aspectos de um só princípio. A divisão da vida em sexos foi uma divisão tardia. Biologicamente, a ameba não é macho nem fêmea. As células primitivas são apenas células. Elas se dividem e se tornam duas por reprodução assexual. Não sei em que estágio a sexualidade aparece, mas é um estágio tardio. Eis por que é absurdo falar em Deus como deste ou daquele sexo. O poder divino é anterior à separação sexual.

A polaridade (O “ele”, ou “ela”) é um trampolim para lançar você na direção do transcendente, e transcender é ir além da dualidade. Tudo na esfera de tempo e espaço é dual. A encarnação aparece ou como macho ou como fêmea, e cada um de nós é a encarnação de Deus. Você nasce com apenas um aspecto da sua verdadeira dualidade metafísica, pode se dizer.

MOYERS: O que diz o mito a respeito de termos tantas coisas em comum, muitas dessas histórias contendo elementos semelhantes – o fruto proibido, a mulher? Por exemplo, esses mitos, essas histórias da criação, contêm um “não farás”.

CAMPBELL: Há um motivo padrão do conto folclórico chamado “A coisa proibida”. Lembra se do Barba Azul, que diz à mulher: “Não abra aquele armário”? E aí sempre há alguém que desobedece. Na história do Velho Testamento, Deus aponta para a coisa proibida. Ora, Deus com certeza sabia muito bem que o homem ia comer o fruto proibido. Mas só procedendo assim é que o homem poderia se tornar o iniciador de sua própria vida. A vida, na realidade, começou com aquele ato de desobediência.

MOYERS: Como você explica essas similaridades?

CAMPBELL: Há duas explicações. Uma é que a psique humana é essencialmente a mesma, em todo o mundo. A psique é a experiência interior do corpo humano, que é essencialmente o mesmo para todos os seres humanos, com os mesmos órgãos, os mesmos instintos, os mesmos impulsos, os mesmos conflitos, os mesmos medos. A partir desse solo comum, constitui se o que Jung chama de arquétipos, que são as idéias em comum dos mitos.

Agora, existe também a contrateoria da difusão, que pretende dar conta da similaridade dos mitos. Por exemplo, a arte de lavrar o solo avança a partir da área em que se desenvolve primeiro, levando consigo uma mitologia que tem a ver com a fertilização da terra, com plantar e cultivar plantas alimentícias – mitos como aquele antes descrito, de matar uma divindade, cortá-la em pedaços, enterrar as partes, e daí o crescimento das plantas alimentícias. Um mito desse tipo acompanhará uma tradição agrária ou lavradora. Mas você não o encontrará numa cultura voltada para a caça. Assim, há aspectos tanto históricos como psicológicos nessa questão da similaridade dos mitos.

Quando você se dá conta de que Deus é a criação, e que você é uma criatura, percebe que Deus está dentro de você, assim como dentro do homem ou mulher com quem você conversa. Assim se dá a conscientização de dois aspectos de uma divindade. Existe o motivo mitológico básico de que, na origem, tudo era um, e então houve a separação – céu e terra, macho e fêmea, e assim por diante. Como foi que perdemos contato com a unidade? Você pode dizer que a separação foi culpa de alguém – eles comeram o fruto errado ou dirigiram a Deus as palavras erradas, que o deixaram furioso e ele se afastou. Por isso, agora, o eterno de algum modo está longe de nós e temos de encontrar um meio de restabelecer contato com ele.

Há duas ordens de mitos. Os grandes mitos, como o da Bíblia, por exemplo, são os mitos do templo ou dos grandes rituais sagrados. São explicativos dos ritos por meio dos quais as pessoas vivem em harmonia entre si e com o universo. É normal o entendimento dessas histórias como alegóricas.

Em quase todas as culturas, há duas ou três histórias da criação, e não apenas uma. Há duas na Bíblia, embora as pessoas as considerem somente uma. Você se lembra, no jardim do Éden, da história do capítulo 2: Deus pensa numa forma de entreter Adão, que ele tinha criado para ser seu jardineiro, para tomar conta do seu jardim. Esta é uma velha, velha história, tomada de empréstimo aos antigos Sumérios. Mas o jardineiro de Jeová está entediado. Então Deus tenta inventar brinquedos para ele. Cria os animais, mas tudo o que o homem pode fazer é nomeá-los. Aí Deus concebe essa magnífica idéia de extrair do próprio corpo do homem a alma da mulher – que é uma história de criação muito diferente daquela do capítulo 1 do Gênesis, em que Deus criou Adão e Eva, juntos, à sua imagem, como macho e fêmea. Ali, Deus, ele próprio, é o andrógino primordial. A história do capítulo 2 é, de longe, mais antiga, tendo se originado, talvez, por volta do século VIII a.C., enquanto a do capítulo 1 provém de um assim chamado texto sacerdotal, de cerca do século IV a.C., ou mais tarde.

Na história hindu da Identidade que sentiu medo, depois desejo e então dividiu se em dois, temos a contraparte do Gênesis 2. No Gênesis, é o homem, e não Deus, que se divide em dois.

A lenda grega, contada por Aristófanes no Banquete de Platão, é outra história dessa espécie. Aristófanes diz que, no início, havia criaturas compostas de partes que correspondem, agora, a dois seres humanos. Essas criaturas eram de três tipos: macho/fêmea, macho/macho e fêmea/fêmea. Os deuses, então, dividiram a todos em dois. Uma vez separados, tudo o que pensaram fazer foi abraçar se uns aos outros, de novo, a fim de reconstituir as unidades originais. Por isso passamos nossas vidas tentando encontrar, para tornar a abraçar, nossas metades.

MOYERS: Você está sugerindo que a mitologia é o estudo de uma única grande história da espécie humana? Qual é essa grande história única?

CAMPBELL: Que nós procedemos de um só fundamento de ser, como manifestações na esfera do tempo. A esfera do tempo é uma espécie de jogo de sombras sobre um fundamento atemporal. Jogando o jogo na esfera da sombra, você empenha o seu lado da polaridade, com todo o vigor. Mas você sabe que o seu inimigo, por exemplo, é apenas o outro lado do que você poderia ver, enquanto você mesmo, caso pudesse situar se numa posição medial.

MOYERS: Então a grande história única é nosso esforço para encontrar nosso lugar em cena?

CAMPBELL: Para entrar em acordo com a grande sinfonia que é o mundo, para colocar a harmonia do nosso corpo em acordo com essa harmonia.

#espiritualismo #Mitologia

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O Diabo Eleito

por Nicholaj de Mattos Frisvold

“Replicou-lhes Jesus: Não vos escolhi eu em número de doze?

Contudo, um de vós é diabo.”

– Do Evangelho de João 6:70

O drama que cerca a Última Ceia detalha um Grande Mistério, pois vemos aqui a necessidade cósmica do Diabo como aquele que afirma o desígnio. O papel do Diabo pode ser dado de acordo com o ditame de Destino ou ao se nomear alguém que mantenha esta dignidade. Em ambos os casos, o Diabo é aquele que marca o limite exterior da possibilidade, a contração dos mundos na dor ou prazer já que afirma a beleza e a bem-aventurança. Em suas atividades mais profanas, o Diabo apontado é meramente percebido como um causador de problemas, uma nuance, um difamador, um mentiroso – um filho desobediente de Mercúrio em todas as medidas. Ainda assim, ao ser apontado como Diabo, uma tensão é estabelecida e afirma a intenção daquele que apontou seu acusador – e o acusador então afirmará a verdade e a mentira através de sua mera existência.

Comumente “Diabo” e “Demônio” são usados intercambiavelmente, mas é importante aqui distingui-los. Se seguirmos as primeiras transcrições gregas da Bíblia Sagrada, o Manuscrito de Vaticano número 1209, também conhecido com o “Emphatic Diaglott”, é interessante notar que no Evangelho de João, capítulo 6 onde Jesus aponta Judas como seu diabo, a palavra grega original é diabolos. Em outra passagem onde a versão King James (Rei James/Tiago) usa “diabo”, como através do 11º capítulo do Evangelho de Lucas, encontramos o daimone/demônio grego em uso. Na versão de King James, esta distinção é ausente e diabo é a tradução tanto para diabolos e daimone. Diaglott nos deixa claro que o chefe dos demônios é Baelzebubth/Baelzebub – e foi com o auxílio de Baelzebubth que Jesus, o Cristo, foi acusado de controlar a hoste demoníaca. Não há conexão aqui com demônios sempre serem diabolos.

Barry W. Hale comenta, em relação a isto, em seu excelente tratado demonológico “Legion 49” que “Diabolus” também pode ser interpretado como “o que traz para baixo”, não apenas como “acusador”. Esta observação é interessante, pois Diabolus pode ser visto como aquele que descende ou cai tal qual um ídolo celestial encarnando uma intenção particular que é feita na revelação do ato de acusar.

Logo, a qualidade diabólica, ou seja, a acusação, não deve ser entendida somente como uma categoria nefasta ou profana – porque isto tornaria este mistério vulgar. Como João 6 demonstra, este é um mistério embutido na concepção cósmica. Em relação a isto, Hale menciona em um comentário sobre Mateus 12:25 que aqui falamos de um “reinado dividido contra si mesmo”. O mistério diabólico, a acusação e difamação que tomam forma internamente são relacionados à divisão dentro de si mesmo. O santo para esta divisão interna deve ser Judas Iscariotes.

Judas Iscariotes, o diabo apontado, foi instrumental para o cumprimento do propósito através da traição e acusação. Pela divisão interna ele afirmou o desígnio. A afirmação do desígnio do salvador veio com a promessa de má reputação e calúnias sobre seu legado, encontrando sua libertação ao se enforcar pelo caminho de prata. Este tema também lança luz no comentário enigmático nos Eddas, que fala sobre o penduramento de Odin como o sacrifício de si para si, e as nove noites revelando a presença do caminho e chave de prata – ao afirmar a divisão temporal e restabelecer a unidade.

Sobre isto podemos ver na cruz o símbolo atemporal para o equilíbrio, interação, sacrifício, manifestação, unidade e potência. Na cruz, o círculo se torna “quadrado” e assim, o atemporal é manifesto ao longo do rio da repetição em terras de diferença.

Na sabedoria bogomila, como em algumas linhagens Sufis como silsilyah e tariqah, o Diabolus, sob o nome Satanael, Iblis ou outro de seus muitos nomes, é considerado como o poder que define os limites e afirma a criação. Curiosamente, estes pensamentos também são expressos por Maria de Naglowska e sua exposição sobre o Terceiro Termo da Trindade, onde Judas Iscariotes assume um papel similar em relação ao drama da salvação em torno de Jesus, o Cristo. Naglowska também menciona o significado mais profundo do enforcamento de Iscariotes propriamente, carregando sua própria salvação pela afirmação e remorso nascidos pelo amor.

Parece-me que o diabo, assim como demônio, representa em geral qualquer deidade ou espírito estrangeiro e particularmente a corte de anjos caídos, enquanto o diabo, como em Diabolus, é mais uma reminiscência de um ofício, uma função, um verbo, em conformidade com a função jurídica mesopotâmica de ha-satan, o acusador, que poderia ser material ou imaterial. Segue-se daqui um anjo, caído ou não, bem como um homem que assume esta função seja pelo Destino ou pela nomeação. Como tal, uma calúnia direcionada ao Diabolus toma forma de fogo que permite ao acusador afirmar a verdade velada dentro do caluniador. Em face da calúnia, o Diabo somente responderá a única coisa apropriada para seu ofício, ou seja, “abençoado seja”.

A função jurídica do acusador era a de provocar o surgimento da verdade ao salientar a Companhia da Mentira. Esta função, traduzida para uma compreensão metafísica, tomará então a forma de afirmar a verdade. A verdade não deve ser confundida com simples fatos, mas sim tomada com a pureza de uma Idéia ou forma particular. Ela toma, por todas as formas e intenções, a completa profundidade da freqüente declaração de Robin the Dart, o Magister do Clan of Tubal Cain: “Que a Palavra lhe proteja da Mentira”. Com este reconhecimento, a forma do estado apropriado pode também ser percebida, assim como a Palavra se tornou Carne – porque no coração deste drama repousa a percepção, livre da corrupção, completa e pura na forma em que percebe o mundo e seus caminhos.

Nota Biográfica:

Nicholaj de Mattos Frisvold é um antropólogo e psicólogo com uma inclinação para a metafísica dos cultos de uma genealogia tradicional. Ele é um especialista nas obras de Marsilio Ficino, e é um astrólogo tradicional praticante. Autor de várias obras, entre as quais estão “Artes da Noite – A história da prática da bruxaria” (Ed. Rosa Vermelha), “Craft of the Untamed – An inspired vision of Traditional Witchcraft” (Mandrake of Oxford), “Invisible Fire” (Capall Bann) e “Pomba Gira and the Quimbanda of Mbuma Nzila” (Scarlet Imprints). É um irmão jurado do Clã de Tubal Caim e Magister do Lilium Umbrae Cuveen, sua extensão no hemisfério sul. O autor mantém o blog “The Starry Cave” (http://www.starrycave.com/).

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O Manuscrito de Mathers

O manuscrito Mathers, como a Steganographie e o manuscrito Voynich, está em código. Mas tem o bom gosto de estar em código de dupla transposição relativamente simples, o que permitiu us decifração rapidamente. Vi muitas folhas dessa decifração que me pareceu correta. Essa decifração mostra a aventura oculta mais extraordinária de nossa época, a da Ordem Golden Dawn.

Mostra, também, a redação de um conjunto de documentos mágicos, logo malditos, que, pelo que sei, nunca foi publicado, mas que já provocou muitas catástrofes.

Comecemos do início.

Um clérigo inglês, Rev. A. F. A. Woodford, passeava em Londres, ao longo da Farrington Street. Entrou na loja de um vendedor de livros de ocasião e aí encontrou manuscritos cifrados e uma carta em alemão. Isto se passou em 1880. O Rev. Woodford começou lendo a carta em alemão. Essa carta dizia que aquele que decifrasse o manuscrito podia comunicar-se com a sociedade secreta alemã Sapiens Donabitur Astris (S. D. A.), através de uma mulher, Anna Sprengel. Outras informações lhe seriam, então, comunicadas se ele fosse digno delas.

O Rev. Woodford, maçon e Rosa-Cruz, falou de sua descoberta a dois de seus amigos, o Dr. Woodman e o Dr. Winn Westcott, todos os dois eruditos eminentes e, além do mais, cabalistas. Ocupavam postos elevados na maçonaria. O Dr. Winn Westcott era “coroner”, posto jurídico muito conhecido dos leitores de romances policiais ingleses. Um “coroner” desempenha ao mesmo tempo o cargo de médico legista e de juiz de instrução. Em caso de morte suspeita, reunia um júri que pronunciava um veredicto, podendo, eventualmente, haver intervenção da justiça e da polícia. Um desses seus veredictos foi célebre no século XIX; o júri concluíra que um desconhecido encontrado morto num parque londrino havia sido assassinado “por pessoas ou coisas desconhecidas”. Seria bom poder afirmar que foi o Dr. Westcott quem redigiu esse veredicto, e de forma verdadeiramente estranha. Não podemos, no entanto, provar, isso, mas veremos, mais tarde, que o Dr. Westcott perdeu seu posto em circunstâncias singulares.

Em todo caso, Woodman e Westcott ouviram falar da Sapiens Donabitur Astris. Trata-se de uma sociedade secreta alemã composta sobretudo de alquimistas. Essa sociedade, graças aos medicamentos de alquimia, salvou a vida de Goethe que os médicos comuns haviam desistido de curar.

O fato é perfeitamente conhecido e a Universidade de Oxford publicou um livro: “Goethe, o Alquimista”. A SDA parece existir ainda em nossos dias; estava ligada aos “círculos cósmicos” organizados por Stephan George, que combateram Hitler. O Conde von Stauffenberg, organizador do atentado de 20 de julho de 1944, fazia parte desses círculos cósmicos. O último representante conhecido da SDA foi o Barão Alexander von Bernus, morto recentemente.

Westcott e Woodman decifraram facilmente o manuscrito e escreveram à Anna Sprengel. Receberam instruções para prosseguir nos trabalhos. Foram auxiliados por um outro maçon, um personagem indeterminado, de nome Samuel Liddell Mathers, casado com a irmã de Henri Bérgson. Era um homem de cultura espantosa, mas de idéias muito vagas. Redigiu o conjunto inédito dos “rituais Mathers”. Tais rituais se compõem de extratos do documento alemão original, de outros documentos de posse de Mathers, e mensagens recebidas pela Srª Mathers, pela clarividência. O conjunto foi submetido à SDA na Alemanha que autorizou o pequeno grupo inglês a fundar uma sociedade oculta exterior, isto é, aberta. A sociedade chamou-se Order of the Golden Dawn in the Outher: Ordem da Aurora Dourada no Exterior. Em 1º de março de 1888, essa autorização foi dada a Woodman, Mac Gregor Mathers e ao Dr. Westcott. Samuel Liddell Mathers acrescenta ao seu nome o título de Conde de mac Gregor, e anuncia que é a reencarnação de uma boa meia dúzia de nobres e de magos escoceses.

Em 1889, o nascimento dessa sociedade foi anunciado oficialmente. É interessante notar que foi a única vez no século XIX, assim como no século XX, que uma autoridade esotérica qualificada, a SDA, dá uma autorização para fundar uma sociedade exterior. Tal autorização nunca foi dada novamente, e não aconselho ninguém a lançar uma sociedade desse gênero sem autorização: isto seria atrair os mais sérios inimigos.

Após a morte, ao que tudo indica natural, do Dr. Woodman, a Ordem foi dirigida por Westcott e Mathers. Em 1897, Wescott teve a infelicidade de esquecer, dentro de um táxi, documentos internos sobre a Ordem. Tais documentos acabaram na polícia que não achou recomendável um “coroner” se ocupara de tais atividades, pois poderia ficar tentado a utilizar os cadáveres que são postos à sua disposição, para operações de necromancia. Westcott demitiu-se da Ordem, achando isto preferível.

A sociedade começou a se desenvolver e atraiu homens de inteligência e cultura indiscutíveis. Citemos Yeats, que deveria obter o prêmio Nobel de Literatura, Arthur Machen, Algernon Blackwood, Sax Rohmer, o historiador A. E. Waite, a célebre atriz Florence Farr e outros. Os melhores espíritos da época, na Inglaterra, faziam parte da Golden Dawn. O centro ficava em Londres. Seu chefe, o Imperador, era W. B. Yeats.

Havia outros centros na província inglesa, e em Paris, onde Mathers passa a residir, de preferência.

A ordem tem dois níveis:

– O primeiro, dividido em nove degraus, onde se ensina;

– O segundo, sem degraus nem graus, onde se pesquisa.

O ensinamento diz respeito à linguagem enoquiana de John Dee, cuja tradução é dada desde o primeiro grau do primeiro nível. Infelizmente, tais traduções foram destruídas ou escondidas. Não resta senão textos em enoquiano, particularmente um texto que permite ficar invisível: “Ol sonuf vaorsag goho iad balt, lonsh calz vonpho. Sobra Z-ol ror I ta nazps”. Isto não se parece com nenhuma língua conhecida. Parece que se recita corretamente tal ritual, é-se envolto por uma elipsóide de invisibilidade a uma distância média de 45 centímetros do corpo. Não vejo objeção.

O ensinamento era em língua enoquiana; sobre alquimia, e sobretudo sobre a dominação de si mesmo.

Desde o segundo degrau do primeiro nível, o candidato era tratado de maneira a eliminar todos os seus males mentais e todas as suas fraquezas. Conhecem-se cinqüenta tratamentos desse tipo que parecem ter bons efeitos.

Durante cinco ou seis anos, a Ordem deu satisfações a todo mundo, e todos que dela participavam dizem que mentalmente ficaram enriquecidos. Depois Mathers se pôs a fazer das suas. Em 29 de outubro de 1896, publicou um manifesto afirmando que existia um terceiro nível na Ordem. O terceiro nível era, segundo ele, constituído de seres sobre-humanos, dos quais dizia:

“Creio, no que me concerne, que eles são humanos e que vivem nesta terra. Mas possuem espantosos poderes sobre-humanos. Quando os encontro em lugares freqüentados, nada em suas aparências ou vestimentas os separa do homem comum, salvo a sensação de saúde transcendente e de vigor físico.

Em outros termos, a aparência física que deve dar, segundo a tradição, a posse do elixir da longa vida. Ao contrário, quando os encontro em lugares inacessíveis ao exterior, trajam roupas simbólicas e as insígnias de suas ordens.”

Evidentemente, pode-se pensar diversamente quanto ao conteúdo desse manifesto, e perceber a loucura de Mathers, mas é preciso pensar que ele talvez não estivesse mentindo. Tudo o que se pode dizer é que seria muito melhor que ele se calasse. De um lado, foi a partir daí sujeito a uma perseguição que o conduziu à morte em 1917. De outro lado, seu manifesto atraiu pessoas pouco recomendáveis à sociedade, como o célebre Aleister Crowley.

Personagem sinistro e sem dúvida megalomaníaco, em todo caso, delirante, Crowley apareceu um belo dia de 1900 na Loja de Londres. Trazia uma máscara negra e um costume escocês. Declarou ser enviado de Mathers, designado para dirigir a Loja de Londres. A reação foi violenta. Yeats, Imperador da Loja, depôs Mathers e expulsou Crowley. A. E. Waite pôs em dúvida a existência do terceiro nível e de superiores desconhecidos.

Em 1903, Waite e um certo número de amigos demitiram-se e constituíram uma outra ordem chamada igualmente Golden Dawn. Essa ordem se manteve até 1915, depois desapareceu. O restante dos membros da Golden Dawn continuaram até 1915, depois Yeats, Arthur Manchen e Winn Westcott se demitiram.

A ordem continuou bem ou mal sob a direção de um tal Dr. Felkin, depois caiu no esquecimento e se extinguiu. Assim terminou o que Yeats chamara de “a primeira revolta da alma contra o intelecto, mas não a última”. Parece que Mathers retirou o conjunto de rituais que permitiram reproduzir certos fenômenos. Todas as tentativas para publicá-los foram interrompidas, pois os manuscritos pegavam fogo ou ele mesmo caía doente. Morreu em 1917 completamente alquebrado. Alguns dizem que Crowley foi seu principal perseguidor, mas Crowley pareceu, com efeito, ser apenas um megalomaníaco bem pouco perigoso.

Se o conjunto de rituais de Mathers desapareceu, um certo número de rituais ou de trabalhos feitos pela Golden Dawn foi publicado. Notadamente, em quatro volumes, nos Estados Unidos, pelo Dr. Israel Regardie, e no início do ano de 1971, “The Golden Dawn its inner teachings” de R. G. Torrens BA (editor Neville Spearman, Londres).

Esse último livro tem a dupla vantagem de ser escrito de maneira racional e de dar, ao fim de cada capítulo – e ele tem quarenta e oito – uma biblioteca breve e precisa.

Por outro lado, possui-se muitos testemunhos sobre a Golden Dawn.

É possível chegar à uma conclusão. O que choca, desde logo, é um notável nível de inteligência e cultura da maioria de seus participantes. A Golden Dawn contava não somente com grandes escritores, mas também com físicos, matemáticos, peritos militares, médicos. O que é certo é que todos os que passaram pela experiência da Golden Dawn de lá saíram enriquecidos. Todos insistiram sobre o embelezamento de suas vidas, nova plenitude, senso e beleza que a Golden Dawn lhes deu.

Gustav Meyrinck escreveu: “Sabemos que existe um despertar do eu imortal.”

Parece certo que a Golden Dawn sabia provocar esse despertar, e que ela realizara esse sonho eterno dos alquimistas, dos gnósticos, dos cabalistas e dos Rosa-Cruzes, para citar apenas algumas direções de procura: a transmutação do próprio homem.

Qualquer que seja o ceticismo que se possa manifestar a respeito da magia – e meu ceticismo pessoal é bastante considerável – não resta dúvida de que a Golden Dawn chegou a uma experiência mágica melhor do que qualquer outra na história da humanidade, de nosso conhecimento. Não somente logrou conseguí-la, mas ainda foi capaz de ensiná-la.

Durante milênios o homem sonhou um estado de consciência mais desperto que seu próprio despertar. A Golden Dawn chegou a isso. O que parece não tão certo, mas pelo menos provável, foi que a Golden Dawn chegou a traduzir o alfabeto enoquiano de John Dee, e que seus dirigentes leram a obra de John Dee, a de Trithème e, talvez, o manuscrito Voynich, se é que possuíam uma cópia. Isto não é de todo impossível, pois John Dee fez muitas.

Isto admitido, a questão evidente é saber-se porque um tal acúmulo de conhecimentos e de poder não chegou a constituir uma verdadeira central de energia, uma cidadela fulgurante que teria dominado o século XX. É certo que a Golden Dawn suscitou hostilidades, mas é certo também que ela se decompôs internamente antes de sua destruição externa.

Quis-se atirar a responsabilidade dessa destruição sobre Aleister Crowley. Que este pretenso mágico era um louco varrido, é indiscutível. Além de sua loucura, que era constituída por um tipo clássico de delírio sexual, Crowley tinha o dom extraordinário de meter-se em histórias incríveis. Durante a Primeira Guerra Mundial, colocou-se ao lado da Alemanha, denunciando, violentamente, a Inglaterra. Alguns pretendem que foi ele quem, através de informações fornecidas aos serviços secretos alemães, permitiu que um submarino colhesse o transatlântico Lusitânia, cujo torpedeamento fez com que os Estados Unidos entrassem na guerra. Crowley teve um certo número de inimigo nos Estados Unidos e partiu para Sicília, onde criou uma abadia em Cefalu (atualmente, tal lugar é uma vila do clube Mediterrâneo).

Um incidente deplorável aconteceu na abadia de Crowley. Um poeta oxfordiano, chamado Raul Loveday, bebeu, durante uma cerimônia de missa negra, o sangue de um gato, e morreu instantaneamente, o que não estava previsto. Sua viúva fez um escândalo, e sob pressão da imprensa Crowley foi expulso da Sicília em 1923.

Em seguida, viveu na Inglaterra onde tentou processar a imprensa por difamação. Os juízes decidiram que Crowley era o personagem mais detestável, que jamais haviam encontrado antes, e recusaram conceder-lhe um centavo sequer de perdas e danos morais. Caiu, em seguida, numa miséria profunda, para morrer numa pensão de família, em Hastings, em 1947. a impressão que se depreende de sua vida e obra, é a de um infeliz que poderia perfeitamente receber cuidados, e não a de um personagem perigoso. Crowley não era, aliás, o único escroque nas mãos dos quais Mathers caiu.

Por volta de 1900, foi vítima de uma dupla chamada Horos, que se dizia representante de Superiores desconhecidos, e que foi condenada, no ano seguinte, como escroques, simplesmente. A Golden Dawn foi, então, bastante mencionada na imprensa, e isto deve ter provocado certas demissões.

A imprensa ocupou-se, igualmente, da Golden Dawn em 1910, quando Mathers tentou impedir a saída do jornal de Crowley, Equinox, que publicava, sem autorização, rituais da Golden Dawn. Um tribunal inglês decidiu sobre o caso e o número do jornal apareceu.

O que, evidentemente, não melhorou o prestígio de Mathers; numerosos foram os que observaram que se Mathers realmente tinha poderes, poderia exterminar Crowley, ou que se Crowley os tivesse, poderia exterminar Mathers. Conhecem-se, aliás, muitos exemplos modernos de duelos de feiticeiros que não dão, geralmente, bons resultados. É certo que a ingenuidade de Mathers o prejudicou, mas não parece ser essa a causa principal do declínio da Golden Dawn.

Segundo o que pude recolher, a partir de fontes pessoais, o exercício de um certo número de poderes, e notadamente da clarividência, tornou-se uma verdadeira droga para os membros da Ordem, e desde 1905 toda espécie de pesquisa havia cessado. Parece-me que é nisto que devemos buscar a causa do mau êxito dessa aventura que poderia ter sido mais extraordinária ainda do que foi.

As diversas sociedades secundárias fundadas por dissidentes, sem autorização, como a Stella Matutina, fundada pelo Dr. Felkin, a Sociedade da Luz Interior, fundada pelo escritor Dion Fortune, pseudônimo de Mme. Violette Firth, não parecem ter prosperado.

Essa última sociedade ainda existe ainda, e Mme. Firth escreveu novelas e romances muito interessantes.

Para ser mais completo, é necessário dizer que a Golden Dawn tinha elementos cristãos em seus seio, pertencentes à Igreja Católica anglicana, notadamente o grande escritor Charles Williams, autor de “A guerra do Graal”, e o místico Evelyn Underhill.

Certos documentos da Golden Dawn dizem respeito ao esoterismo cristão e são considerados, por especialistas no campo, como extremamente sérios.

Restam, de outro lado, as obras místicas ou traduções de Mathers: A Kabala (1889), Salomão, o Rei (1889), A Magia Sagrada de Abramelin (1898). Este último livro é tradução de um manuscrito que Mathers encontrou na Biblioteca do Arsenal, verdadeira mina de documentos estranhos. Um texto bastante completo foi editado recentemente em Paris, por volta de 1962.

Temos à nossa disposição uma quantidade de elementos muito interessantes, mas o que nos falta é o ritual completo de Mathers. Esse ritual devia ser o cômputo dos livros malditos, resumindo a maior parte desses livros e abrindo as portas a todos os fatos extraordinários. Que Mathers realizou, dessa forma, uma espécie de consciência superior que ele interpretou como um contato com Superiores desconhecidos não me parece absurdo. Que tenha havido perseguição a Mathers, também não é tão espantoso.

Entretanto, toda essa história se passa em nossa época, e Mathers dispunha da fotografia. Não é impossível que tenha tirado um bom número de fotos e que elas não tenham sido todas destruídas. Em 1967, pensou-se ter achado os rituais do Mathers. Naquele ano, uma colina às margens do Canal da Mancha deslizou, minada pelas águas, e objetos provindo da Golden Dawn, que aí haviam sido enterrados, foram tragados pelo mar. Infelizmente, o exame desses objetos provou que se tratava de instrumentos de trabalho e textos de lições, assim como notas tomadas ao curso de exposições. Nenhum documento vinha de Mathers.

Discutiram-se muito as influências que se exerceram nas redações de diversos cursos da Golden Dawn. Notamos, já, influências cristãs. Encontra-se, também, e sem dúvida introduzidas por Yeats, idéias de Blake. Encontra-se grande número de referências à Kabala, que provém visivelmente dos estudos de Mathers.

O que não se encontra é a tradução da língua enoquiana em linguagem corrente e sua aplicação às experiências. O termo enoquiano, ele próprio, é curioso. Os diversos Livros de Enoch são relativamente recentes e contam as viagens miraculosas do profeta Enoch a outros planetas, e mesmo a outros universos. Encontram-se edições que datam de 1883 e 1896.

A linguagem enoquiana de John Dee é uma outra história. Dee conhecia a lenda de Enoch, levado a outros planetas por uma criatura luminosa, e deu o nome de linguagem enoquiana à linguagem da criatura luminosa que lhe apareceu. Mas não existe o Livro de Enoch contemporâneo à Bíblia, como certos ingênuos crêem. Não há razões sérias para se crer que os dois livros de Enoch datem dos gnósticos. Mesmo em estado de manuscrito, não aparece antes do século XVIII.

Algumas testemunhas sobreviventes da Golden Dawn contam, com relação à linguagem enoquiana, coisas muito curiosas que não se é obrigado a crer. Falam, por exemplo, de um jogo, As Peças de Xadrez Enoquianas, um jogo semelhante ao xadrez, mas onde as peças assemelhavam-se aos deuses egípcios. Jogava-se com um adversário invisível, as peças colocadas numa metade do tabuleiro especial, movimentando-se sozinhas.

Mesmo que se descrevesse tal experiência como um tipo de escrita automática ou de telecinesia, ela tem uma certa beleza poética. Tudo nos faz lamentar ainda mais a desaparição dos rituais Mathers.

Tudo o que se pode esperar é que a desaparição não seja definitiva. Se Mathers tomou suas precauções, deve ter dissimulado em Londres ou em Paris jogos de fotografias que, um dia, reaparecerão. A menos que a misteriosa sociedade alemã SDA não se manifeste.

Alexandre Von Bernus, na Alquimia e Medicina, parece indicar que essa sociedade não está morta. Tal era, igualmente, a opinião de meu falecido amigo Henri Hunwald, que era o homem da Europa que conhecia melhor esse tipo de problema. Talvez um dia, uma nova autorização para fundar uma sociedade exterior seja dada.

por Jacques Bergier

Postagem original feita no https://mortesubita.net/enoquiano/o-manuscrito-de-mathers/

Sugar Blues: O gosto amargo do açúcar

William Dufty

Sugar, em inglês significa açúcar. Blues, pode significar um estado de depressão e melancolia revestido de medo, ansiedade e desconforto. O título deste livro, Sugar Blues revela sua temática: a ampla gama de desordens físicas e mentais causadas pelo consumo de sacarose refinada. O açúcar, em suas diversas formas é celebrado por meio de presentes entre casais e dado a crianças como forma de recompensa. Não apenas isso, mas muitos produtos industrializados contam com a presença deste elemento. Quão danoso isso pode ser para todos nós?

O açúcar é um veneno que mata lentamente milhões de pessoas. Virtualmente toda nossa sociedade pode hoje ser considerada pré-diabética pelas estatísticas oficiais. Diversas estatísticas resultantes de pesquisas científicas evidenciam consideráveis vínculos entre o açúcar refinado e as mais alarmantes doenças modernas.Entretanto, esse antinutriente viciante é impunemente adicionada a tudo que comemos.

Sugar Blues também é um nome de um lamento musical dos negros americanos do início do século. É uma história trágica mas contada de um jeito melodioso. Da mesma forma o açúcar refinado causa diversos males, mas seu sabor doce o faz estar sempre presente em nossa sociedade. Neste livro você encontrará um relato detalhado das circunstâncias nefastas que permitiram a ascensão do açúcar como a grande droga legalizada de nossa época.

Este é um livro que poderá mudar sua vida. Ou sua morte.

O mercado branco

Por milhares de anos aquilo que chamamos açúcar continuou desconhecido. A maior parte dos seus antepassados evoluiu e sobreviveu sem ele. Nenhum dos livros antigos o menciona: nem a bíblia, nem o alcorão, nem o i-ching. Certamente que existia o mel e vegetais doces, mas não o açúcar refinado.

Atribui-se aos cientistas do Império Persa, no século VII a pesquisa e desenvolvimento do processo de refino do suco da cana, dando-lhe uma forma sólida como a de um tijolo, que poderia ser estocada sem fermentar, transportada e comercializada. Nessa época, um pedaço pequeno de saccharum era uma diversão rara e preciosa reservada a reis e imperadores. Quando as armas do Islam subjugaram os persas, um dos troféus da vitória foi a posse do segredo do processamento da cana e o controle do negócio.

Os árabes comercializam o concentrado doce pelo mundo. Foram também os primeiros a  terem quantidade suficiente de açúcar para suprir, tanto a corte quanto a tropa, com doces e bebidas açucaradas. Em retrospecto a obsessão, e uso  indiscriminado do açúcar pelos soldados pode ter colaborado com as derrotas militares do séculos seguintes.

Uma história sangrenta

Quando as cruzadas terminaram, Roma decidiu colocar as mãos nas taxas e tributos do comércio de açúcar. Seguiram-se sete séculos de crime organizado com direito a genocídio de escravos nativos em massa para mão de obra. Nessa época o historiador Noel Deerr disse que: ”Não seria exagero afirmar que o tráfico escravo atingiu a cifra de 20 milhões de africanos, dois terços dos quais estão sob a responsabilidade do açúcar.”

Portugal e Espanha enriqueceram como nunca até seu declínio. Só podemos especular sobre o fato desse declínio ter sido biológico, ocasionado pela embriaguez de açúcar ao nível da corte. Mas outros poderes estavam esperando para recolher os cacos e por volta de 1660 os ingleses estavam a ponto de ir à guerra com a França para manter seu monopólio. Assim escreveu o filósofo francês Claude Adrien Helvetius: ”Nenhum barril de açúcar chega à Europa sem que esteja banhado em sangue.”

O açúcar é o maior malefício que a moderna civilização industrial impôs à América, África e ao Extremo Oriente.

O corpo em crise

A moderna fabricação do açúcar nos trouxe doenças inteiramente novas. Nosso corpo foi formado em um processo evolutivo de bilhões de anos onde o açúcar não era um elemento a ser considerado. Seu consumo precisa ser resolvido pelo nosso organismo como uma verdadeira crise a ser enfrentada.

Para a máxima eficiência do corpo, o volume de glicose no sangue deve estar em equilíbrio com o volume de oxigênio. Quando tudo vai bem este equilíbrio é mantido graças às nossas glândulas supra-renais. Quando ingerimos o açúcar refinado, ele já está a um passo de se tornar glicose então escapa do processos bioquímicos do nosso corpo e vai diretamente para os intestinos, onde torna-se glicose. Esta, por sua vez, é absorvida pelo sangue onde o nível de glicose já havia sido estabelecido em equilíbrio com o oxigênio. Desta forma, o equilíbrio é rompido.

As cápsulas supra-renais expelem hormônios que conduzem todas as reservas químicas para enfrentar o açúcar: a insulina é produzida num antagonismo complementar aos hormônios supra-renais. O nível de glicose do sangue cai bruscamente e uma nova crise se inicia. O pâncreas e as supra-renais tem agora que reagir de modo a regular a reversão na direção química e tentar reestabelecer o equilíbrio.

Se isso ocorre vários durante vários dias, após alguns anos o resultado final é a avaria das glândulas adrenais. Elas se tornam gastas, não por trabalho excessivo, mas por contínuas surras. A produção global de hormônios é baixa, os volumes não se harmonizam. Este funcionamento irregular, desequilibrado, se reflete por todo o circuito supra-renal. O resultado mais nefasto é a falta de produção do hormônio cortical adequado e o desequilíbrio entre estes hormônios. Ao mexer com os hormônios a saúde mental é comprometida.

O cérebro em crise

Tudo isso se reflete na maneira como nos sentimos.  Diante de crises rotineiras, o cérebro poderá, em breve, ter problemas sérios. Quando as glândulas suprarrenais são violentadas chega o stress. Podemos nos tornar irritados e nervosos.  Ficamos em pedaços porque não mais possuímos um sistema endócrino saudável para enfrentá-lo. Nossa eficiência se esvai a cada dia, estamos sempre cansados, parece que nunca conseguimos terminar coisa alguma.

Enquanto a glicose está sendo absorvida pelo sangue, nos sentimos eufóricos. No entanto, essa onda de energia hipotecada é sucedida por períodos de depressão. Quando o nível de glicose do sangue cai ficamos apáticos, cansados; precisamos de um esforço maior para nos mover e até mesmo para pensar, enquanto o nível de glicose do sangue está novamente se elevando.

Por isso o  famoso endocrinologista John W. Tintera era enfático em dizer: ”É perfeitamente possível melhorar sua disposição, aumentar sua eficiência e alterar para melhor a sua personalidade. A maneira de fazer isso é evitando o açúcar de cana e de beterraba sob todas as suas formas e disfarces.”

De médico e de loucos

No século dezessete o consumo de açúcar disparou de duas pitadas num barril de cerveja, de vez em quando, para mais de um milhão de quilos a cada ano. A proliferação de doenças mentais e ”o grande confinamento dos loucos,” começou no fim do século dezessete e coincidiu com o uso em massa de açúcar refinado. A relação do consumo de sacarose com índices de saúde mental só foi descoberta na década de 1940.

Dr. John Tintera descobriu a importância vital do sistema endócrino com o estupor cerebral. Ele descobriu que a principal queixa de seus pacientes era freqüentemente similar à encontrada em pessoas cujos sistemas eram incapazes de lidar com o açúcar: fadiga, nervosismo, depressão, apreensão, ânsia por doces, dificuldade para concentrar-se, alergias, baixa pressão arterial.

Um histórico da alimentação dos pacientes diagnosticados como esquizofrênicos revela que

a dieta de sua preferência é rica em doces, bolos, balas, café adocicado, bebidas cafeinadas e comidas  preparadas com açúcar. Estas comidas que sobrecarregam as glândulas adrenais, devem ser eliminadas ou severamente restritas. Isso porque não é só  a esquizofrenia mas o negativismo, a hiperatividade e o obstinado ressentimento à disciplina e até o alcoolismo tem sua raiz no hipoadrenocorticismo, o tipo endócrino causado pelo abuso crônico de açúcar.

Alergias refinadas

Dr. John Tintera também foi o primeiro a sugerir, numa revista de circulação ampla, que ”é ridículo falar-se em tipos de alergia quando existe apenas um tipo, constituído por glândulas supra-renais enfraquecidas… pelo açúcar.”

Embora hoje os médicos de todo o mundo repitam aquilo que Tintera anunciara anos antes sobre tratamento psiquiátrico e ninguém, realmente ninguém, tem mais permissão para iniciar qualquer tratamento a menos que seja submetido a um teste de tolerância de glicose, a questão da influência do açúcar na alergia ainda não é unanimidade.

Compreensível, seu argumento minaria as bases da indústria das almas alérgicas  que foram entretidas com fábulas sobre exóticas alergias – qualquer coisa, variando de plumas de cavalo a caudas de lagosta. Seria constrangedor admitir tão rapidamente que nada disso importa, e basta retirar o açúcar destas pessoas e mantê-las longe dele.

O processo de refinamento

O açúcar refinado pelo homem é oito vezes mais concentrado do que a farinha, e oito vezes mais artificial, e provavelmente oito vezes mais perigoso. É esta artificialidade que engana a língua e o apetite, conduzindo ao consumo excessivo. Quem comeria mais de um quilo de beterrabas por dia? Isto eqüivale, no entanto, a umas meras sessenta e poucas gramas de açúcar refinado.

O consumo excessivo produz diabetes, obesidade e trombose coronária, entre outras coisas. Além disso o processo de remoção das fibras vegetais naturais produz cárie nos dentes, doenças nas gengivas, problemas no estômago, veias varicosas, hemorróidas e doença diverticular.

O processo de refinamento do açúcar, seja da cana ou da beterraba elimina ainda todas as vitaminas encontradas nesses alimentos. Por essa razão a descoberta da ligação entre  entre açúcar e escorbuto foi descoberto séculos antes do conhecimento em relação a vitamina C. As proteínas também são eliminadas promovendo a aparição da úlcera péptica.

A civilização diabética

Não existem números sobre a incidência de diabetes na antigüidade. ”Para mim é difícil explicar porque Hipócrates nunca descreveu um único caso de diabetes”, observou o Dr. G. D. Campbell, autoridade sul-africana no assunto.

No século XVI,  Dr.Thomas Willi foi o primeiro a identificar os males presentes no corpo daqueles que possuem a urina tão doce a ponto de atrair as formigas.  O século dezenove assistiu a incidência destes males, antes próprios da nobreza atingir o restante da população. O diabetes  permaneceu um problema ocidental até que os missionários cristãos levaram o  açúcar para o Japão.

O século XX fez o consumo de açúcar dos séculos anteriores parecer uma brincadeira e assistiu o número de mortes por diabetes aumentar junto com consumo de açúcar, ano após ano. A descoberta da insulina foi o tipo de milagre médico que a indústria da doença gosta. A produção da insulina foi e ainda é uma benção para o ramo farmacêutico. Os diabéticos já no início do século representavam um mercado fácil de um milhão de pessoas. Cinquenta anos após sua inserção no mercado o número de diabéticos tem aumentado implacavelmente. Hoje o diabetes é a principal causa de cegueira, assim como um dos principais fatores das doenças cardíacas e renais.

Podemos dizer que hoje toda nossa sociedade é pré-diabética, com pessoas  sofrendo de hipoglicemia, hiperinsulinismo ou taxas anormais de glicose no sangue. Apelos para o autocontrole no sentido de controlar as doenças provocadas pelo açúcar são afogados pelo clamor por mais alguns milhões de dólares do fundo federal destinados à descoberta de uma poção, uma fórmula, injeção ou, talvez, um mágico pâncreas atômico pioneiro que poderá, um dia, vencer a doença. Queremos ter nossa saúde desde que possamos continuar comendo nossos doces.

Limpando a casa

Abandonar o hábito de açúcar não é fácil, mas pode ser divertido. Vai demorar, mais ou menos, um mês para mudar sua maneira de fazer compras, cozinhar e se divertir. Se você mora sozinho, a melhor maneira é recolher tudo que tenha açúcar e jogar na lata de lixo. Desta forma, se você ficar ansioso terá que tomar uma decisão na loja, em vez de ser tentado em casa. Se você não vive sozinho, largar o açúcar pode dar um pouco mais de trabalho. Por outro lado, fazê-lo acompanhado pode vir a ser delicioso. O resultado nas crianças é freqüentemente tão dramático que dá exemplo e motivação aos mais velhos.

Sorvetes sem açúcar

Se você tem um grande vício de sorvetes, não tente cortá-lo inteiramente. Existem sorvetes feitos apenas com mel. Uma vez que você se acostume ao sorvete com mel, corte a quantidade pela metade e vá diminuindo gradualmente. Deixe o sorvete como prêmio para ocasiões especiais; compre sempre pequenas quantidades.

Tomando Café

Se tomar café puro é muito forte para você, considere o chá como opção. Se você acha que não gosta de chá, talvez seja por causa do chá em saquinhos, tente, por exemplo, o banchá japonês. Tosta-se levemente o banchá numa panela e depois deixe-o em infusão num bule por uns quinze ou vinte minutos no fogo. Faça grandes quantidades e esquente quando quiser beber.  Compre uma bela garrafa térmica e leve para o escritório se preciso.

Aproveitando melhor os picnics

 

Uma das grandes alegrias de viver sem açúcar é poder deitar na praia, ou andar pelas montanhas, sem ser perturbado pelos mosquitos e outras criaturas. Uma vez que você fique sem comer açúcar por um ano, tente e veja se não é verdade. Não é por acidente que os primeiros caso de febre amarela, transmitida por mosquito, ocorreram na ilha açucareira de Barbados.

Cuidado com adoçantes

Existem hoje muitos adoçantes sintéticos, apregoados e comercializados como um inócuo substituto do açúcar. A sacarina e os ciclamatos têm muitos defensores na classe médica. Quando comparados ao açúcar, sempre se pode apresentar um caso científico demonstrando que eles são o menor de dois males. O problema que ocorre com todos os adoçantes sintéticos é que quanto mais tempo dependemos deles, tanto mais difícil se torna para nós apreciar a doçura natural dos alimentos. A dependência de adoçantes sintéticos, como a dependência de açúcar, insensibiliza nosso paladar.

Sopas sem açúcar

Parece brincadeira, mas quase todas as sopas industrializadas hoje levam uma boa porção de açúcar. Se você está largando o açúcar, terá que fazê-las você mesmo. O único trabalho é encontrar bons ingredientes.

Deixe a ervilha, a lentilha e os feijões de molho em água fria durante uma noite.  A sopa é a própria simplicidade.Comece com um bom óleo vegetal, óleo de gergelim ou milho não filtrado, ou uma combinação dos dois. Refogue uma cebola cortada. Adicione aipo cortado e talvez um pouco de cenoura. Despeje lentamente o feijão e a água em que ficou de molho. Leve a uma fervura branda e cozinhe em fogo lento por, aproximadamente, uma hora, até que os vegetais estejam macios e comíveis, mas não murchos. Deixe a sopa descansar. Na hora de servir, aqueça-a novamente.

Molhos de salada

O ketchup, a maionese e as outras várias combinações chamadas temperos russos, são

também carregados de açúcar. O açúcar está em todos os lugares, inclusive no pickles. Se você deseja abandonar o açúcar, deverá reconsiderar completamente a questão das saladas. Uma opção é a salada japonesa, mas fique sempre de olho nos ingredientes,

Frutas Secas

O açúcar concentrado da uva passa faz com que ela seja um adoçante natural ideal. A groselha seca não é tão doce, mas tem um sabor azedo muito especial. Existem também as maçãs secas, pêssegos, pêras, ameixas, damascos, cerejas, amoras e até bananas e abacaxis secos.

Secar a fruta na estação e guardá-la para os longos meses de inverno é um velho costume.

A fruta seca ao sol, sem preservativos químicos, tem um sabor espetacular. Muito diferente

da fruta em lata, açucarada. Conserva-se bem e ocupa pouco espaço. Quando você abandona o açúcar refinado pelo homem, se abre para uma gama de sabores completamente diferentes muitos dos quais, ironicamente, predominavam nos artigos do passado! As combinações são infinitas.

Crepes

O crepe é simples de ser feito e delicioso. Use farinha integral de trigo. Misture a farinha com uma pitada de sal marinho. Adicione duas ou três colheres de sopa de óleo de gergelim para cada xícara de farinha. Misture bem. Adicione leite cru, leite coalhado ou creme de leite e água ou mesmo água pura. Adicione um ovo, se desejar; se houver muita massa, adicione dois. Continue adicionando os líquidos até que a massa fique fina, mas não escorregadia.

O utensílio ideal para fazer um crepe é uma frigideira francesa leve. Despeje simplesmente sua massa na chapa aquecida, que tenha recebido uma camada leve de óleo de gergelim ou de milho. Deixe-a no fogo até que a parte de cima esteja completamente seca. Quando chegar a hora, vire-o para baixo.

Para um crepe de sobremesa os recheios são infinitos. Creme de maçã natural, sem açúcar;

maçã, castanha e passas misturadas; passas cortadas e cozidas em água ou damascos cozidos, amoras secas e cascas de limão batidos no liqüidificador.

Nozes, Amêndoas e Castanhas

Nozes descascadas, levemente polvilhadas com sal marinho, tostadas em fogo baixo e

servidas ainda quentes fazem um incomparável lanche ou sobremesa. Quase todo mundo

aprecia a diferença entre amendoins crus e tostados, mas não diga que viveu até ter experimentado nozes tostadas e ainda quentes.Outras nozes familiares, como a castanha de caju e a avelã, podem ser servidas da mesma forma. O truque é encontrar castanhas e nozes que tenham sido cultivadas, curtidas e estocadas sem produtos químicos.

Amêndoas descascadas, ainda com as membranas naturais, servem a um tratamento

japonês. Coloque as amêndoas numa panela de vidro e despeje o molho de soja por cima. Mexa a amêndoa e o tamari até que aquela fique revestida por uma camada de molho; a membrana absorverá o líquido. Ponha as amêndoas na chapa de grelha, em fogo brando. Fique observando e vire-as constantemente. Leva, em geral, de dez a vinte minutos até que a amêndoa esteja tostada o bastante para ser servida.

Castanhas quentes, tostadas em frigideira, com a pele aberta, são uma especialidade

vendida pelas ruas de Paris e outras cidades cosmopolitas. Castanhas secas podem ser

guardadas e conservadas indefinidamente. Farinha de castanha é frágil e deve ser

consumida assim que for moída. A castanha é, naturalmente, doce. Combina muito bem

com maçãs e passas para bolos, tortas ou compotas. A farinha de castanha também pode ser usada com farinha integral de trigo para fazer crepes, waffles, chapati ou sonhos.

Conclusões

  • Historicamente a indústria do açúcar é banhada por escravidão, genocídio e guerras.
  • O açúcar é uma novidade em termos biológicos e para enfrentá-lo o corpo entra em crise.
  • O açúcar gera dependência física e psicológica.
  • Os efeitos do consumo de álcool no corpo não são poucos e incluem a maior sensibilidade a alergias, pressão baixa, problemas de pele, fadiga,  doença das coronárias e o diabetes, com todas as suas complicações.
  • O número de diabéticos hoje é maior do que nunca e quase toda nossa sociedade é composta por pré-diabéticos.
  • Os efeitos do consumo crônico tem impacto negativo direto mental, causando apatia, nervosismo, stress e está ligado também a esquizofrenia e a depressão.
  • Largar o açúcar pode não ser fácil, mas pode ser divertido. Abra sua mente e seu paladar para novas rotinas e hábitos. Resgate sua saúde, sanidade e experimente novos sabores.

 

 

 

 

 

Postagem original feita no https://mortesubita.net/baixa-magia/sugar-blues-o-gosto-amargo-do-acucar/

Entrevista com Lacrimosa (Tilo Wolff)

A Seguinte entrevista foi concedida por Tilo Wolff a um programa de rádio  de belgrado, Croácia, durante a turnê européia da banda em maio de 2007. Tilo fala da relação com os fãs, a atual cena gótica e seus novos valores, e da influência da religião na música da banda. Considerando que Tilo raramente dá entrevistas, é um milagre que tenha aceitado falar sobre assuntos tão diversos e pessoais.

Como têm sido a recepção ao lançamento de Lichtjahre nesta turnê ? Vocês têm exibido trechos dos vídeos antes dos show certo ?

Eu não tenho palavras para agradecer suficientemente nosso público. Eu sei que acaba sendo meio clichê, pois toda banda diz isso. Mas nossas fãs são incomparáveis. Temos de levar em consideração que a maioria das pessoas não entende as letras, mesmo aquelas com um alemão razoável, existe sempre duplas ou triplas interpretações para nossas letras e nossa forma de expressar a melodia do Lacrimosa.

Vocês têm tocado quase todas as músicas do Lichtgestalt ao vivo não ?

Isso pode variar de show para show. Tocar o mesmo set list toda a noite pode ficar meio estressante e até mesmo enfadonho. Mas quando temos um material que funciona tão bem ao vivo, é impossível não fazer o máximo de uso delas.

Podemos afirmar que você perdeu um pouco o preconceito contra festivais ? Há várias datas marcadas para o Lacrimosa em festivais em sua agenda.

Não é exatamente preconceito. Tivemos sérios problemas com equipamentos mal equalizados; falta de tempo hábil para passagem de som. E consideremos que nossa música não é Punk Rock que pode ser tocado de qualquer jeito em qualquer lugar e em qualquer hora. Quando tocamos em teatros, a coisa é diferente pois os nossos roadies são fantásticos e sabem exatamente o que queremos e como queremos. Em festivais, raramente somos considerados prioridades. Não quero regalias, porém, exijo respeito e profissionalismo daqueles que nos contratam pois sempre damos o melhor de nós em cima do palco. Faça sol ou faça chuva.

Vocês têm exibido o Konzert-Dokumentation und das Live-Album Lichtjahre antes dos shows. Como têm sido a recepção dos fãs a este trabalho ?
Magnífico. As vezes fico dando umas espiadelas na platéia e fico emocionado. As pessoas realmente entendem do que se trata. É Ótimo. É gratificante quando tudo aquilo que pensamos no estúdio, no período pré-estúdio, ou quando componho em turnê, ver os fãs realmente sendo introduzidos naquilo que pensei como música, como arte. Mas principalmente, como compreensão do sentimento e comportamento humano.

A música do Lacrimosa ficou menos depressiva através dos anos não ? Se compararmos com os primeiros discos.

Respeito sua opinião mas não concordo. É como ler más notícias nos jornais e não sermos afetados por elas. Não vivemos tempos de paz. Nem aqui na Europa nem em lugar nenhum. Sou afetado por tudo aquilo que leio, sinto e ouço. Apenas mudei a forma de abordar tais aspectos. Sinto que posso expressar esse sentimento universal de desesperança, medo e reclusão de outras formas. Mas sempre houve um fio de esperança em nossa música, em nossa mensagem.


Como enxerga religião hoje em dia ? Se acha uma pessoa religiosa ?

Não sou religioso. Não mais, mas tenho uma fé profunda. Fui criado na religião mas agora, é política pura hoje em dia, nada mais. A minha visão de fé hoje é completamente diferente do que era alguns anos atrás. Mas cantei num coral de igreja e isso era maravilhoso para mim. Pena que aquilo tudo parece ter se perdido na política.


A faixa Hohelied der Liebe é um trecho da bíblia não é ?

Sim. Algo especial para mim. A bíblia é um dos meus livros favoritos. Talvez o favorito de todos. A bíblia tem uma excepcional influência nas letras da banda.

Observação: Como sempre, Tilo torna-se quase monossilábico quando tocamos no assunto religião; num passado não tão distante ele teria feito comentários considerados anti-semitas, algo que nunca foi provado nem confirmado por ele.

Como explica o sucesso do Lacrimosa fora da Europa ?

Não procuro explicação para isso. É ignorância sobre certos aspectos. Ouvi de um jornalista na Bulgária: Como você lida com os latinos ? Eles são muito emocionais e bem pouco racionais não é verdade ? Recebo isto como uma ofensa. Terrível que no século XXI ainda tenhamos gente que pensa desta forma estúpida e irresponsável. E justamente de povos aqui do leste europeu que ainda sofre com tanta discriminação da Europa Ocidental.

O que é racionalidade no ponto de vista dele ? Acho que povos de origem latinas como hispânicos, espanhóis, italianos e franceses têm mais facilidade em expressar e lidar com seus sentimentos. Eles não têm rédeas controlando suas emoções o tempo todo. Acho isso mágico. Quando estivemos no Brasil e no Chile pela primeira vez, tive uma sensação estranha; a reação e comportamento deles era muito parecida com a que recebemos na Alemanha ou na Escandinávia.

A participação deles também era muito intensa nos shows, mas muito mais parecida com as nossas. Estava acostumado a ver a reação maravilhosamente insana em DVD’s de outras bandas e achei que teria o mesmo, mas eles nos surpreenderam de outras forma: cantando todas as nossas músicas num alemão excelente e bastante sentimental. Mesmo que não entendessem tudo o que era dito, uma maneira quase espiritual de se comunicar conosco. Gosto dessa diversificação de aspectos sentimentais em relação ao Lacrimosa. Nossa arte não foi e não é feita em vão.


Como lida com os boatos de que Anne poderia deixar o Lacrimosa e seguir carreira solo ?

Acho que o Lacrimosa é a carreira solo dela. Ela têm liberdade para exercer toda a maravilhosa criatividade dela dentro desta banda. Anne não é tão chegada a entrevistas, mas eu também não sou. É muito complicado ter de explicar cada mínimo detalhe de um disco para um jornalista ignorante que foi destacado para sua revista sem ter ao menos a menor noção de como funciona e o que significa nossa música. Mas isso não é culpa deles e sim de seus editores-chefe não é mesmo ?

Anne não vai deixar o Lacrimosa porquê o Lacrimosa é a vida dela, assim como é a minha. A gravidez da Anne na época levou idiotas a publicar coisas estúpidas como estas.


E o Snakeskin ? Como fica nesse jogo ?

Tenho composto material mas não tenho me sentido muito a vontade com esse material. Preciso burilar ele melhor, descobrir seus pontos fracos e transformá-los em pontos fortes. É mais pesado e inconsequente do que o trabalho regular do Lacrimosa. Tenho sentimentos confusos em relação ao Snakeskin para dizer a verdade. Mas o Canta-tronic têm sido uma grata surpresa devo dizer.


O que têm ouvido recentemente ?

Tenho ouvido bastante nossos próprios discos. Isso não é algo que faço com muita frequência. Aliás, nunca tinha ouvido tanto, testado tanto meu trabalho. Acho que é um recall. Uma forma de redescobrir pérolas que ficaram pelo caminho e recuperá-las. Acho que por bastante tempo acabei relegando boas músicas nossas para um segundo ou terceiro plano. É hora de redescobrí-las e encará-las de frente para o prosseguimento do Lacrimosa.


O metal voltou ao Lacrimosa recentemente não ?

Ele nunca esteve de fora. Mais uma vez é a nossa abordagem musical que acaba passando despercebida do modo que ele é tratado normalmente. O metal tradicional jamais me atraiu: bandas como Helloween, Grave Digger entre outras do típico metal alemão… ( interrompido pelo locutor )


Mas o Rammstein não é hoje o típico metal alemão ?

Acho que não. Acho que não. Tenho certeza que não. Gosto bastante do Mutter e acho ótimas canções também no Reise, Reise mas não identifico muito do Lacrimosa na banda de Till Lindemann. Mas acho-o um grande performer. Um grande artista e também seus companheiros.


Gostaria de ter sua opinião, seu parecer sobre bandas que citam o Lacrimosa como grande influência. Pode ser ?

Claro ! Por que não ? ( risos )


Birthday Massacre ?

Não tenho uma opinião formada sobre eles. Mas é bom saber que tantas bandas citam o Lacrimosa como influência. É como um pagamento por algo impossível de ser pago. Gratificante. Mas voltando ao BM, não conheço o suficiente para ter uma opinião formada sobre a banda. Infelizmente, quem sabe no futuro não os ouça mais atentamente.


Evanescence ?

É a minha favorita entre aquelas que nos citam como influência. Gosto da abordagem de Amy Lee. Sei que ela teve momentos muito difíceis recentemente e passou isso para sua música de forma brilhante. Conseguiu desabafar sem ser piegas. Ela é muito talentosa embora digam que ela seja mera produção do mainstream americano para combater o Gothic Metal europeu. O que não é mentira, mas ela consegue superar isso muito bem e mostrar todo o seu talento. Gosto particularmente da melodia vampiresca do The Open Door.


Lacuna Coil ?

Não vejo nada do Lacrimosa no Lacuna Coil. Absolutamente nada.


Epica ?

Tampouco. A abordagem é diferente. Não basta usar música clássica e orquestrações para soar idêntico. Acho o Epica uma banda de grande valor e que têm um futuro brilhante pela frente. Simone têm uma voz deslumbrante e que muitas vezes me lembra Anne na interpretação melancólica quando executa canções desesperadoras. É convincente.


O que acha de bandas como o Lacuna Coil e H.I.M que adaptaram seu som para conquistar o mercado americano ?

Difícil opinar sobre isso sem parecer crítico. Não sou de fugir de debates mas esse é muito complicado. Até onde podemos afirmar que eles se venderam para os Estados Unidos e naufragaram ?


Bem. Os fãs europeus e de longa data detestaram seus trabalhos recentes: Dark Light e Karmacode.

Eu não sei. Não tenho uma opinião formada sobre isso. O U2 adaptou seu som à América e funcionou. Isso sem ter resultados prejudiciais ao resto de seus fãs.


O Lacrimosa sentaria para ouvir uma proposta de uma gravadora para brilhar nos Estados Unidos ?

Jamais. Fora de cogitação.


O que podemos esperar dos novos trabalhos do Lacrimosa ?

Muita disposição em criar novos e grandes trabalhos. Poucas vezes estive tão animado com o andamento de processos de gravação. Devemos tirar um pequeno descanso de não mais que dois meses e voltaremos ao estúdio com boa parte da pré-produção já finalizada. Não há sobras de estúdios de trabalhos anteriores. Não acho que o novo trabalho, pelo menos até o que compomos até agora seja parecido com qualquer coisa que já tenhamos feito no passado.


Isso é um clichê não é ?

( gargalhadas de Tilo ) Pode ser. ( Mais risos )


Que tipo de reação de um fã te irrita ? Qual você considera desrespeitosa ?

Nunca tivemos problemas com isso. Fomos agraciados com amigos e fãs maravilhosos por toda a carreira da banda. Os fãs jamais foram inconvenientes ou incompreensíveis conosco. Mesmo quando tivemos de adiar shows por problemas de saúde, ou algum concerto que por razões técnicas ficou aquém do esperado.

Mas houve um episódio bastante engraçado quando um casal de fãs de Gotemburgo na Suécia, nos entregou um Demo CD contendo canções deles que em suas opiniões, encaixavam-se perfeitamente no estilo Lacrimosa. Achei interessantíssimo o som do casal e aconselhei que eles enviassem a demo para a Hall of Sermon. Porém, esta demo jamais chegou em minhas mãos e nunca mais tive notícias deles.


Que estranho !

( risos ) Coisas estranhas sempre acontecem no Lacrimosa. Mas se aparecer, certamente eles teriam grandes chances de obter um contrato para gravação de um disco. Eram bem talentosos.


Como os músicos de apoio da banda, lidam com uma certa obscuridade deles em relação à Anne e você ? Vocês são a imagem do Lacrimosa.

São músicos profissionais que só se importam com a música. Não há vaidade nenhuma. O Lacrimosa não é um outdoor ambulante nem de imagens nem de modelos. Só a música interessa.
Tradução Paulie Hollefeld

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