O Fumo e os Terreiros de Umbanda

O fumo é a erva mais tradicional da terapêutica psico-espiritual praticada na Umbanda. Originário do mundo novo, os nativos fumavam o tabaco picado e enrolado em suas próprias folhas, ou na de outras plantas, conhecendo o processo de curar e fermentar o fumo, melhorando o gosto e o aroma.

Durante o período físico em que o fumo germina, cresce e se desenvolve, arregimenta as mais variadas energias do solo e do meio ambiente, absorvendo calor, magnetismo, raios infravermelhos e ultravioletas do sol, polarização eletrizante da lua, éter físico, sais minerais, oxigênio, hidrogênio, luminosidade, aroma, fluidos etéreos, cor, vitaminas, nitrogênio, fósforo, potássio e o húmus da terra. Assim, o fumo condensa forte carga etérea e astral que, ao ser liberada pela queima, emana energias que atuam positivamente no mundo oculto, podendo desintegrar fluídos adversos à contextura perispiritual dos encarnados e desencarnados.

O charuto e o cachimbo, ou ainda o cigarro, utilizados pelas entidades filiadas ao trabalho de Oxalá são tão somente defumadores individuais. Lançando a fumaça sobre a aura, os plexos ou feridas, vão os espíritos atuando em benefício daqueles que os procuram com fé.

Os solos com textura mais fina, com elevado teor de argila, produzem fumos mais fortes, como os destinados a charutos ou fumos de corda, enquanto os solos mais arenosos produzem fumos leves, para a fabricação de cigarros. No fabrico dos charutos (palavra derivada do tâmil churutu), as folhas, após o processo de secagem, são reunidas em manocas de 15 a 20 folhas e submetidas a fermentação, destinada a diminuir a percentagem de nicotina, aumentar a combustividade do fumo e uniformizar a sua coloração. Os tipos de fumo mais utilizados na confecção dos charutos brasileiros são: Brasil-Bahia, Virgínia, Sumatra e Havana.

Nos trabalhos umbandistas é muito utilizado por Exu Bombogira. A cigarrilha de odor especial, quando utilizada por esta entidade, melhor se ajusta ao descarrego do magiado, por proporcionar-lhe mais tranquilidade. Os cigarros são utilizados para fins mais materiais, normalmente relacionados com negócios financeiros.

Os charutos de fumo grosseiro e forte são peculiares à magia dos Exus, enquanto os charutos de fumo de melhor qualidade são usados por Caboclos. Já os Pretos-Velhos dão preferência aos cachimbos, nos quais usam diversos tipos de mistura de ervas, como o alecrim, a alfazema e outros, além de utilizarem cigarros de palha, impregnando assim os elementos com a sua própria força espiritual, transformando o tradicional “pito” em um eficiente desagregador de energias negativas. Desta maneira, como o defumador, o charuto ou o cachimbo são instrumentos fundamentais na ação mágica dos trabalhos umbandistas executados pelas entidades. A queima do tabaco funciona como um defumador individual, próprio, dirigido ao objetivo do Guia, que não traz nenhum vício tabagista, como dizem alguns, representando apenas um meio de descarrego, um bálsamo vitalizador e ativador dos chakras dos consulentes. Vemos assim que, como ensinou um Pai Velho, “na fumaça está o segredo dos trabalhos da Umbanda”.

#Umbanda

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-fumo-e-os-terreiros-de-umbanda

Alberto Magno

pesquisa & texto Ligia Cabús

albertomagno.gifO Grande Alberto ou Alberto Magno nascido na Bavária ─ Alemanha em data incerta, 1193 ou 1206, é um dos nomes mais citados entre os ocultistas de diferentes épocas, do fim da Idade Média à Renascença até o Iluminismo. Ele é um santo, [santo Albertus Magnus],  beatificado em 1622, canonizado pelo papa Pio XI e honrado com o título de Doutor da Igreja em 1931. Mestre de outros doutores, São Tomás de Aquino, figura notável da escolástica, foi seu pupilo e seus livros influenciaram fortemente a formação do abade Johannes Trithemius [1462-1516, nascido Johann Heidenberg] e Cornelius Agrippa [1486-1535].

Educado em Pádua, ali conheceu o pensamento de Aristóteles e foi um dos primeiros filósofos cristãos-católicos a se empenhar na tarefa de conciliar pensamento aristotélico e doutrina cristã. Entre 1221 e 1223 Alberto teria tido um encontro místico, uma visão com a Virgem Maria. Depois disso, contrariando a vontade paterna, decidiu se dedicar à vida religiosa. Dizem que antes da visão ele era um jovem completamente estúpido. A experiência com o sobrenatural teria resultado na “iluminação mental” que tomou conta do rapaz. Caso semelhante ocorreu com o padre Vieira no Brasil, completamente bronco até sofrer o “estalo de Vieira”, uma dor de cabeça acachapante, um desmaio e um despertar de gênio.

Albertus tornou-se membro da Ordem Dominicana e como monge dominicano foi estudar teologia em Bolonha. Em Colônia, foi pregador. Em 1254 foi designado para ser provincial, o mais alto posto regional da Ordem e, em 1260, o papa Alexandre IV ordenou-o bispo de Rosensburg. Em 1263, já beirando os 70 anos, renunciou a todos os cargos e retirou-se no convento de Wuzburg, [em Colônia], onde dedicou-se aos estudos pelo resto da vida.

Embora seja uma contradição, na Europa ocidental medieval muitos dos estudiosos proeminentes das ciências ocultas pertenceram ao clero da Igreja católica, o que deu origem a uma curiosa geração de ocultistas fervorosamente cristãos cuja herança aparece claramente nas obras de mestres como abade Thritemius, Paracelso, Agrippa, Eliphas Levi, Papus.

Na chamada Alta Idade Média ou nos primeiros tempos do cristianismo medieval os mosteiros eram centros de cultura onde a erudição da obras de cientistas e artistas clássicos era preservada em meio à treva intelectual que dominava o povo e mesmo parte da nobreza do período. Os monges, muitos dos frades enclausurados, escribas das bibliotecas, tornavam-se intelectuais que transcendiam a esfera doa teologia; eram poliglotas, estudiosos de ciências comparadas, tinham acesso aos textos pagãos e adquiriam um saber enciclopédico.

Os escritos de Alberto Magno, reunidos em 1899, somaram 38 volumes sobre os mais variados temas: lógica, botânica, geografia, astronomia, astrologia, mineralogia, química, zoologia, psicologia, frenologia (estudo da relação entre a configuração do crânio e traços de caráter e personalidade) e, naturalmente, sobre teologia. Possivelmente, foi o autor mais lido de sua época. Poucos séculos depois de sua morte, em 15 de novembro de 1280, surgiram rumores de que o bispo dominicano tinha sido um mago alquimista. Afinal, entre suas numerosas obras havia tratados como Alchemy, Metals and Materials, Secrets of Chemistry, Orign of Metals, Origns of Compounds e Theatrum Chemicum, esta, uma coleção de observações sobre a Pedra Filosofal, Sobre a pedra filosofal, um segredo que teria sido a ele transmitido pelos discípulos de São Domenico [1170-1221].

Estudava astrologia; tal como muitos intelectuais de seu tempo, Alberto Magno admitia que os corpos celestes influenciam a vida dos homens determinando características físicas e comportamentais. Escreveu sobre suas teorias astrológicas em Speculum Astronomiae. Acreditava que as pedras possuem propriedades ocultas conforme relata em De mineralibus. Atribui-se a Magno a descoberta do arsênico e diz a tradição que pouco antes de morrer em 15 de novembro de 1280 ele transmitiu o segredo da pedra filosofal para o discípulo Thomas de Aquino, a quem teria revelado que testemunhara a criação de ouro por meio de um processo de transmutação.

Bispo & Mago

É curioso que o religioso e santo Albertus Magnus, respeitado estudioso escolástico do século XIII tenha sido o mestre virtual, por meio de seus escritos, de alguns dos nomes mais destacados do ocultismo ocidental. Sua influência é evidente quando se conhece um pouco dos textos, que necessitam de uma urgente reedição em português; são títulos muito raros.

Collin Wilson, em The Occult, transcreve um ensinamento atribuído a Magno: “O alquimista deve viver em solidão, afastado dos homens. Deve ser silencioso e discreto… Deve saber escolher a hora certa para suas operações, isto é, quando os corpos celestes estão propícios”. Agrippa, Paracelso, Eliphas Levi, Papus, todos esses grandes mestres recomendam a mesma postura ao pesquisador da Magia.

É notório que Alberto Magno conhecia extensivamente as propriedades ocultas das pedras preciosas para influenciar a saúde do corpo e do espírito. a ametista, propiciando concentração; a esmeralda, inspiradora da virtude, castidade, temperança, abstenção; ágata, para a saúde dos dentes e para afastar fantasmas e serpentes.

Sobre ervas, diz que a betônica (Betônica Officinalis) produz o poder da profecia e a verbena, o encantamento do amor.  O Eupatório (Eupatorium perfoliatum) é usado no tratamento de febres, em quadros de dengue, por exemplo.

Alberto Magno, com toda a sua erudição, também ensinou sobre a eficiência da magia simpática ação à distância, indireta, sobre um objeto relacionado ao objetivo desejado. Trata-se de uma crença bastante difundida e é a base da magia que trabalha com roupas e objetos de indivíduos ou bonequinhos de cera representativos de uma pessoa.

O Grande Alberto acreditava ser possível tratar a lesão de um homem operando simultaneamente sobre o objeto/arma que o feriu: a faca, a pedra com que o golpe foi desferido ou aconteceu. A machadinha com a qual o açougueiro feriu a si mesmo em um momento de descuido deve ser “medicada” com o mesmo remédio que é ministrado ao doente.

Depois, o objeto assim “magnetizado” deve ser colocado atrás da porta do quarto. Em alguns casos, quando o paciente reclamava de dor verificava-se que o objeto tinha caído.  Outros ocultistas, nos séculos seguintes à época de Magno, repetiram o ensinamento e esforçaram-se para explicar este fenômeno. Apesar de, a primeira vista, “operar objetos” ou, ainda ─ operar as/nas secreções do paciente, no sangue ─ pareça uma providência absurda, sem lógica, o fato é que a magia simpática está na origem de todas as “técnicas” de auto-cura/auto-ajuda tão disseminadas nesta pós-modernidade doentia.

Embora as autoridades eclesiásticas insistissem em negar o teor ocultista dos escritos de Albertus classificando obras alquímicas a ele atribuídas como espúrias, em 1480, The Great Chronicle of Belgium referia-se a ele como “Grande em magia, grande em filosofia, grande em teologia”. Um escritor anônimo tenta desconstruir a imagem do monge mago alegando que Albertus jamais praticou a Arte Hermética sobre a qual escreveu.

O Andróide do Grande Alberto

Consta que uma das mais fantásticas proezas de Albertus Magnus foi a invenção de um andróide. A artefato teria consumido 30 anos de estudos das ciências ocultas e, muito evidentemente, ciências exatas. Foi confeccionado com metais cuidadosamente escolhidos sob as influências planetárias adequadas. O autômato era maravilhoso: falava e tinha a sabedoria de um oráculo infalível, respondendo a qualquer questão ou problema que lhe fosse proposto. Eliphas Levi relata o fim daquele que teria sido o primeiro robô dotado de inteligência artificial de todo o mundo:

Asseguram os cronistas que ele [Alberto Magno] … conseguiu depois de trinta anos de trabalho, a solução do problema do andróide, isto é, ele fabricou um homem artificial, vivo, falante, dizendo e respondendo a todas as questões com uma precisão e sutileza tal que Santo Tomás de Aquino [discípulo de Magno], aborrecido de não poder reduzi-lo ao silêncio, o partiu com uma cajadada. [LEVI, 2004 ─ p 208]

Eliphas Levi explica que a “lenda do andróide de Alberto, o Grande” é uma metáfora para o fanatismo aristotélico do monge, escolástico do tipo que pretendia promover a filosofia aristotélica a sustentáculo da teologia cristã-católica, fonte inesgotável de respostas para tudo com suas “palavras preparadas” pela “lógica do silogismo que argumentava em vez de raciocinar”. A filosofia de Aristóteles era o “autômato filosófico”, o “Andróide” de Alberto e a “Suma Theologica… foi o bastão magistral” que destruiu a aberração
[LEVI, 2004].

Segundo Clute e Nicholls a palavra andróide apareceu na língua inglesa em 1727 para referir-se justamente as supostas tentativas do alquimista Albertus Magnus (1200-1280) de criar o homem artificial(8) (apud Oliveira, op. cit. p. 9). …De Albertus Magnus era dito que tinha trato com o próprio diabo, pois tinha confeccionado uma cabeça de cobre que era capaz de falar e responder a estímulos. Seus inimigos o acusavam também de ter fabricado um autômato capaz de falar. [BOECHAT, , 2009]

Senhor do Tempo

Embora o Andróide seja incrível, o mais assombroso prodígio realizado pelo Grande Alberto entrou para a história da Universidade Paris. O religioso ocultista tinha convidado William II, Conde de Holanda e Rei dos Romanos para um jantar, uma ceia em sua sua casa monacal, em Colônia. Estavam em pleno inverno e Albertus mandou preparar as mesas no jardim do convento.

A terra estava coberta de neve e os cortesãos que acompanhavam William murmuravam sobre a imprudência do filósofo, expondo o príncipe ao desconforto do tempo. Porém, quando tomaram seus lugares, a neve subitamente desapareceu e todos sentiram o frescor de um dia primaveril. O jardim coloriu-se de flores perfumadas que desabrocharam, nas árvores e arbustos; pássaros voavam e cantavam sob o sol. Era uma metamorfose da natureza e espetáculo tornou-se ainda mais impressionante quando, ao fim do jantar, todas as maravilhas desapareceram em um instante e o vento frio voltou a soprar castigando o jardim invernal.

Reputação Duvidosa

Apesar da fama de poderoso, há quem diga que “Magno”, no nome de Alberto não proveio, originalmente, de sua grandeza intelectual mas, antes, é um nome de família: Albert the Groot.  Para Eliphas Levi, que notoriamente não aprecia os escolásticos aristotélicos, o prestígio do monge é um folclore entre e somente entre a plebe ignara ele é considerado “o grande mestre de todos os Magos”. De sua extensa produção científica, poucos textos genuínos teriam chegados aos dias atuais e, ironicamente, suas obras mais conhecidas seriam “espúrias”. O ocultista Gerard Anacelet Vincent Encausse, o Papus, comenta os dois textos.

Os Admiráveis Segredos de Alberto, o Grande, publicado em 1791, “contém certos ensinamentos que podem ser utilizados, misturados com receitas bizarras e tradições da magia dos campos. O Grande Alberto compreende:

1º ─ Um tratado de embriologia…
2º ─  Um tratado de correspondências mágicas consagrado ao estudo das virtudes de ervas, pedras e animais, acompanhado de um quadro de influências planetárias.
3º ─  Um livro de “segredo” que se refere mais às práticas da feitiçaria que às da Magia.
4º ─  Um apêndice contendo noções fundamentais de fisionomia.

Pequeno Alberto

Segredos Maravilhosos da Magia Natural e Cabalística do Pequeno Alberto, Lion ─ 1758. O Pequeno Alberto é consagrados às tradições populares relativas à Magia. Encontram-se aí páginas inteiras inspiradas na Filosofia Oculta de Agrippa [Henry Cornelius Agrippa, 1486–1535]. São receitas ingênuas e curiosas sobre os processos empregados nos campos para inspirar e aumentar o amor… satisfação dos interesses materiais e resolução de questões de dinheiro. Relata processos mais ou menos pueris para conseguir ganhar no jogo e para a descoberta de tesouros. Este último capítulo só é interessante pelo estudo teórico que faz referente aos espíritos dos defuntos e aos que gnomos que guardam os referidos tesouros. [[PAPUS, 2003].

Sobre trechos “inspirados” na Filosofia Oculta de Agrippa, não é de se estranhar o fato: a biografia de Agrippa, [também alemão e também nascido em Colônia], mostra que este ocultista também estudou os textos atribuídos a Alberto Magno pouco mais de 200 anos depois da morte do monge, época em que, talvez, ainda fosse possível diferenciar os livros falsos dos verdadeiros. Deste modo, é muito difícil determinar se os livros de Agrippa influenciaram os “espúrios” de Alberto; se os originais de Magno influenciaram os “espúrios” de Magno; e seus originais [ou não], por sua vez, fizeram parte da formação de Agrippa.

O próprio Agrippa confessa em uma carta [epístola  23, I, I] que desde muito jovem era dominado por uma curiosidade pelos mistérios. Esse interesse pelas coisas secretas pode ter sido romantizado e exagerado pela sombra histórica do grande estudioso do oculto Alberto Magno. Ele [Agrippa] escreve a Teodorico, bispo de Cirene, que um dos primeiros livros de magia que estudou foi o Speculum, de Alberto. Devia ser fácil para um jovem corajoso e rico adquirir os grimórios de magia em um centro comercial e escolástico tão prolífero. [TYSON, 2008 ─  p 14]

O fato é que hoje a autenticidade das obras é colocada em dúvida. Em português, os títulos são raríssimos. Este articulista pesquisou e encontrou três exemplares de O Grande e o Pequeno Alberto, editado pela Edições 70 Lisboa em 1977, 458 páginas, listado em Estante Virtual, livros usados, aos preços salgadinhos de 180 e 200 reais. Online, outros poucos títulos como: O Composto dos Compostos ─ IV volume do Theatrum Chemicum  ─ e o suspeitíssimo Egyptian Secrets, White and Black Art for Man and Beast.

Os Admiráveis Segredos de Alberto, o Grande

Apesar da imensa obra deixada pelo dominicano seu nome foi eternizado justamente pelos livros considerados falsos, não escritos, de fato, por Magnus. O Grande Alberto e o Pequeno Alberto, mais se parecem com almanaques que reúnem receitas mágicas para enfrentar todo tipo de mazela ou infortúnio. O valor destes textos é conservar a memória de uma cultura que é a matéria prima de uma magia popular [magia exotérica, folclórica] que floresceu na Europa medieval, levou muita gente para a fogueira, atravessou eras e ainda se mostra presente em costumes e crenças hoje cultivados nas áreas rurais, pelas comunidades mais simplórias, especialmente no mundo ocidental.

Trata-se do conhecimento não científico mas tradicional das propriedades ocultas de plantas, pedras, animais e do poder dos rituais [e orações, pois é uma curiosa magia cristã] como forma de projeção da vontade. Algumas “receitas” são, atualmente, impensáveis, pelo tanto que ofendem aos princípios básicos da higiene e assepsia. Conforme assinala Marco Antonio Lopes em Princípios de ciência médica na época de Montaigne e Cervantes [2009]:

O pepino, por exemplo, figurava nessa farmacologia estritamente empírica como eficaz repelente de insetos. É o que afirma o tratado alemão de sabedoria médica popular intitulado Os admiráveis segredos de Alberto, o Grande, publicado em 1703, em finais da Idade Média. Para erradicar percevejos, o livro recomenda apanhar um pepino em forma de serpente, mergulhá-lo em água para, em seguida, esfregá-lo na cama infestada. Excremento de boi era recomendado para o mesmo fim, com a garantia expressa de que nenhum percevejo jamais seria encontrado nessa cama. Já o excremento de rato misturado com mel era recurso infalível para a calvície; a sua fricção tópica promovia a recomposição dos pêlos, em qualquer parte do corpo em que tinham existido [cf. Sallmann, 2002, p.172-173].

Fontes:
AUGHTERSON, Kate. The english Renaissence: Sources and Documents. Routledge, 2008. IN Google Books ─ acessado em 06/04/2009.
BOECHAT, Walter. Ficções do Corpo na Era Tecnológica: Mitologias da Ficção Científica. IN Revista Coniunctio nº 5 Volume 2 | SIZIGIA: Núcleo de Estudos em Psicologia Analítica ─ acessado em 06/04/2009.
Grimoires: Albertus Magnus.  In The Miskatonic University Library.
LEVI, Eliphas. História da Magia. [Trad. Rosabis Camayasar] São Paulo: Pensamento, 2004.
TYSON, Donald. A Vida de Agrippa IN Três Livros de Filosofia Oculta. [Trad. Marcos Malvezzi] ─  São Paulo: Madras, 2008.
WAITE, Arthur E.. Alchemists Through the Ages. In Google Books ─ acessado em 05/04/2009.

1193 – 1280

[…] dentro das paredes da Igreja. Todos os grandes alquimistas desta fase foram sacerdotes católicos. Albertus Magnus, Basilio Valentim e Roger Bacon são alguns desses nomes.  Foi apenas a partir de Nicolas Flamel […]

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/alberto-magno/ […]

[…] dentro das paredes da Igreja. Todos os grandes alquimistas desta fase foram sacerdotes católicos. Albertus Magnus, Basilio Valentim e Roger Bacon são alguns desses nomes.  Foi apenas a partir de Nicolas Flamel […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/alberto-magno/

A influência da bruxaria européia na Umbanda

A bruxaria européia entrou no Brasil via Portugal. Escreve Luís da Câmara Cascudo, em Meleagro (Rio 1951) p. 179: “A presença do feiticeiro, da feiticeira especialmente, é um documento histórico, uma constante etnográfica desde as manhãs do Brasil colonial. As denunciações e confissões prestadas ao Santo Ofício em Baía, 1591-1593, e Pernambuco, Paraíba, 1593- 1595, evidenciam a fauna prestigiosa da bruxaria européia, em funcionamento normal e regular”. E cita uma porção de portuguêsas, divulgadoras dos processos da magia tradicional. “Ao findar do séc. XVI o brasileiro estava com todos os elementos disponíveis do espírito para ser um fiel consulente do candomblé, muamba, macumba, canjerê e xangô. Os volumes que registaram as confissões e denúncias em Baía, Pernambuco e Paraíba evidenciam que a credulidade popular contemporânea tem raízes fundas na terra em que a raça se formou” (p. 181).

Nas Denunciações de Pernambuco (1593-1595), segundo publicação feita por Rodolpho Garcia (São Paulo 1929), damos com as seguintes feiticeiras e bruxas: Ana Jácome, acusada de ter embruxado uma menina recém-nascida de seis dias (pp. 24 s.); Lianor Martins, a Salteadeira, que, como se dizia, tinha um familiar, uma medrácu1a, um buço de lobo, uma carta de Santo Erasmo, semente do feito colhida na noite de São João com um clérigo revestido e com esse arsenal mágico pod1a fazer com que os homens quisessem bem às mulheres e vice-versa, com que os maridos não vissem o que as mulheres faziam e outras coisas semelhantes (pp. 108-109); Felícia Toulrinha, presa na cadeia pública por amancebada com um homem casado, tomou um chapim, pregou-lhe no meio uma tesoura e, com os dedos indicadores colocados abaixo dos anéis, levantou para o ar o chapim e de1xou-o cair, invocando o diabo guedelhudo, o diabo orelhudo, o diabo felpudo, para que lhe dissessem se certo homem ia por onde tinha dito que havia de ir (p. 187). -Mas não conseguimos ver, nas Atas publicadas das “Denunciações”, nenhum processo que lidasse diretamente com alguma bruxa “profissional”. Nos outros processos, porém, ocorrem freqüentemente casos de supostas feitiçarias, encantamentos e envultamentos. Era sem dúvida bem difundida a superstição e a credulidade no ambiente de origem européia do nosso século XVI.

Ora, a bruxaria européia, a “tradicional”, dispõe de literatura própria, que encontra sua expressão mais fiel no famoso Livro de São Cipriano. Ao lado dele há outros, do mesmo tipo, como: As Verdadeiras Clavículas de Salomão, Enquiridião do Papa Leão, Grimório do Papa Honório, O Dragão Vermelho, Os Maravilhosos Segredos do Grande e Pequeno A/berto, O Livro Completo das Bruxas, O Livro do Feiticeiro, Cruz de Caravaca, etc. Tudo traduzido para o português e exposto nas livrarias do Brasil. Estão sempre entre a literatura umbandista ou “espiritualista” (sic). Inclusive livrarias espíritas mais sérias e “ortodoxas”, como a LAKE de São Paulo, expõem e propagam a literatura que poderíamos qualificar como “sãociprianista”.

E a coisa não é de hoje. Em 1904 o conhecido jornalista João do Rio (Paulo Barreto) constatou que o Livro de São Cipriano era, já então, o vademecum dos feiticeiros cariocas. Assim lemos em As Religiões do Rio (edição de 1951), p. 40: “Mas o que não sabem os que sustentam os feiticeiros, é que a base, o fundo de toda a sua ciência é o Livro de S. Cipriano. Os maiores alufás, os mais complicados pais-de-santo, têm escondida entre os tiras e a bicharada uma edição nada fantástica do S. Cipriano. Enquanto criaturas chorosas esperam os quebrantos e as misturas fatais, os negros soletram o S. Cipriano, à luz dos candeeiros…”.
Há diferentes edições do S. Cipriano. Temos várias na nossa coleção: “O Grande e Verdadeiro Livro de São Cipriano”, “O Antigo e Verdadeiro Livro de São Cipriano” e “O Único Verdadeiro Livro de São Cipriano”. Haverá outros, “mais autênticos”. Abrimos o “Antigo e Verdadeiro” (“única edição completa conforme antigo original”). Tem 411 páginas. Apresenta o material em quatro partes distintas: I. Tesouros do Feiticeiro; II. Verdadeiro Tesouro da Mágica; III. Enguerimanços de S. Cipriano ou Prodígios do Diabo; IV. Oráculo dos Segredos. Na primeira parte, além de esconjuros e orações supersticiosas misturadas com orações católicas, há dois tratados de cartomancia e um de astrologia. Nas outras partes há numerosas receitas para fazer amuletos e talismãs, inclusive uma para fazer pacto com o demônio. Fantasiam-se modos para fazer o mal, para obrigar o marido a ser, fiel, para forçar as mulheres a dizer tudo o que tencionam fazer, para ser feliz nos negócios, para fazer-se amar pelas mulheres, para obrigar a amar contra a vontade, para fazer casamentos, para ganhar no jogo, para apressar casamento, para ligar namorados, para obrigar as almas a fazer o que se deseja, para aquecer as mulheres frias, para saber se a pessoa ausente é fiel, para fazer ouro puro, etc.

O Enquiridião do Papa Leão é apresentado como obra escrita pelo Pa.pa Leão III a Carlos Magno. São 174 páginas com orações supersticiosas, contra toda sorte de encantos, malefícios, feitiçarias, sortilégios, visões, obstáculos, malefícios de casamentos, etc. Apresenta também sinais cabalísticos com forças misteriosas contra o demônio e as adversidades. Muitas vêzes o texto é totalmente ininteligível, como, por exemplo, este da p. 89: “Adonay, Jod, Magister, dicit Jo. Oh bom Jesus, exorcisa-me! Manuel, Sathor, Jessé, adorável Tetragrammaton. Heli, Heli, Heli, Laebé Hey Hámy, este é meu corpo Tetragrammaton…”.

Já o Grimórios do Papa Honório (“Os misteriosos segredos ocultos do Papa Honório”), traduzido do francês, é um produto da mais consumada malícia. Tudo é apresentado piedosamente sob forma de uma Constituição Apostólica de Honório III. Entre blasfemas invocações do Santo Nome de Deus, da Santíssima Trindade, de Jesus, da Eucaristia, entre numerosas prescrições de Pai-Nossos, Ave-Marias, jejuns e santas missas, apresentam-se fórmulas de conjurações de demônios, espíritos e divindades. Há encantos, feitiços e magias para ver os espíritos dos quais o ar está cheio, para atrair uma moça por mais esperta que seja, para ganhar no jogo, para tornar-se invisível, para possuir ouro e prata, para ter o corpo fechado contra todos os tipos de armas, para fazer vir uma pessoa, para fazer uma moça dançar nua, para tirar o sono de alguém, para gozar e possuir a mulher a quem se deseja (é o “segredo do Padre Girard”!), para romper e destruir todos os malefícios, para aprisionar cavalos, equipagem e extraviar uma pessoa, para ajudar lebres nos partos difíceis e contra uma porção de doenças. Para calcular a maldade com que são misturadas as coisas mais sujas com as mais santas, veja-se a receita indicada na p. 90, “para fazer uma moça dançar nua”: é preciso escrever o nome da moça num pergaminho novo com uma pena molhada no sangue de um morcego e colocá-la debaixo da laje de um altar “a fim de que uma Missa seja rezada em cima”… E tudo isso numa Constituição Apostólica do Papa Honório III…

As Verdadeiras Clavículas de Salomão (“ou o Tesouro das Ciências Ocultas… acompanhadas de um grande número de segredos”), como também O Dragão Vermelho, outra forma das “Clavículas”, pretendem ensinar o modo como fazer pactos com os demônios. Descrevem o modo de “consagrar” os objetos necessários para o “trabalho” (faca, lancêta, defumadores, tinta, penas, sal), como sacrificar os animais (cabrito e galo preto), etc. Dão uma lista enorme de demônios, com nomes e especialidades, fazendo recordar a lista dos Exus da Umbanda. Há também os mais variados sinais (desenhos) cabalísticos, capazes de atrair o respectivo espírito, exatamente como os “pontos riscados” dos umbandistas.

Cheio de perversidades está O Livro Completo das Bruxas, “o único verdadeiro, completo e de acordo com os manuscritos existentes nos museus de Londres, Cairo e Louvre, bem como de diversos países do Oriente”. Sabe o A., exatamente, que os habitantes do Inferno estão divididos em 6.666 legiões, contendo cada uma 6.666 elementos, o que dá um total de 44.435.556. E que cada diabo vive aproximadamente 680.400 anos.

Bem no início da obra temos também os mandamentos da bruxa: 1) Renegar a Deus; 2) blasfemar continuamente; 3) adorar ao diabo; 4) esforçar-se por não ter filhos; 5) jurar em nome do diabo; 6) alimentar-se de carnes; 7) imaginar que pratica o ato sexual com o diabo, todas as noites; 8) trazer consigo a imagem do diabo; 9) lavar o rosto e pentear-se de 4 em 4 dias; 10) tornar banho cada 42.º dia; 11) mudar de roupa cada 57.º dia; 12) Se for homem, barbear-se cada 91.º dia; 13) não cortar nem polir as unhas… Também deverá comer quatro dentes de alho, sem tempero nenhum, em cada refeição, de quatro em quatro horas.

Entre cruzes, Pai-Nossos e Ave-Marias, invocações de Lúcifer e Satanás, conjurações e esconjuras, aparecem mil formas e fórmulas para praticar o mal e enfeitiçar meio mundo, num ambiente de meia-noite, sexta-feira, lua minguante e encruzilhadas, recorrendo a gatas pretas, galos pretos, galinhas pretas, bodes pretos, sapos pretos, ouriços pretos, corujas pretas, olhos de cães pretos, ovos de galinhas pretas, miolo de burro, corações de pombas pretas, sangue de rã, rim de lebre, pernas esquerdas de galinhas pretas, fígados de rouxinol; com o auxílio de panos pretos, seda vermelha, azeite, farofa, moedas, urinas, suores, ervas, raízes, flores, pedras de cevar, filtros de amor, cavalos marinhos, estrelas do mar, figas de Guiné, de arruda e de azeviche… É o bazar barato e constante da feitiçaria universal, sempre preocupada com questões de saúde, problemas de fortuna e os mistérios do amor.

Continua, assim, abundante a literatura da bruxaria européia: Lá está o Breviário de Nostradamus, outro Livro da Bruxa, o Tratado de Magia Oculta, o Livro dos Sonhos, o Livro do Feiticeiro e mais obras de Astrologia, Cartomancia e Quiromancia, sem esquecer os livros de Papus, Eliphas Levi, do Círculo Esotérico da Comunhão do Pensamento, das Sociedades Teosóficas, dos Rosacruzes, de Allan Kardec.

Eis as causas remotas da Umbanda. O movimento umbandista ainda está na fase de formação e elaboração. Mas é nestes elementos de origem africana, ameríndia e européia que os dirigentes da Umbanda encontram sua principal fonte. Há, certamente, também o aspecto cristão ou católico, e com ele ainda nos ocuparemos. É, porém, mais um elemento para a superfície, de decoração ou de fachada. O cerne da Umbanda não é cristão: é profunda e visceralmente contrário à autêntica vida cristã. A idolatria e as superstições do paganismo constituem a verdadeira essência do Espiritismo Umbandista. Quem conhece a vida e as práticas dos nossos terreiros ou tendas, reconhecerá imediatamente as várias causas que acabamos de lembrar.

Fonte:

KLOPPENBURG, Boaventura. A Umbanda no Brasil: Orientação para os católicos. Petrópolis, Vozes, 1961, p 37-41.

Boaventura Kloppenburg

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/alta-magia/a-influencia-da-bruxaria-europeia-na-umbanda/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alta-magia/a-influencia-da-bruxaria-europeia-na-umbanda/

A Pedra de Sangue

Shirlei Massapust

Segundo o geólogo Walter Schumann, heliotrópio é uma calcedônia opaca verde escura pontilhada de machas vermelhas: “Foram-lhe atribuídos, durante a Idade Média, poderes mágicos, porque as pequeninas manchas vermelhas eram consideradas gotas de sangue de Cristo”.[1]

Uma edição do Les Admirables Secrets D’Albert Le Grand (1703), livro mais conhecido como Grande Alberto, diz-nos que os padres se serviam do heliotrópio, importado de jazidas “na Etiópia, em Chipre e nas Índias”, para adivinhar e interpretar os oráculos e as respostas dos ídolos.[2] A homonímia da planta e da pedra conduziu à ideia do uso conjunto como ingrediente de fórmulas milagrosas:

Os caldeus chamam a primeira erva Ireos, os Gregos Mutichiol e os Latinos Eliotropium. Esta interpretação vem de Hélios, que significa o Sol, e de Tropos, que quer dizer “mudança”, porque esta erva vira-se para o Sol. Tem ela uma virtude admirável, se a colhermos no mês de agosto, quando o Sol está no signo do Leão, porque ninguém poderá falar mal, nem prejudicar com más palavras quem a trouxer consigo, envolvida numa folha de loureiro com um dente de lobo, pelo contrário, não se dirá dele senão bem. Além disso, quem a puser sob a cabeça, durante a noite, verá e conhecerá aqueles que poderiam vir roubá-lo. Mais ainda, se se puser esta erva, da maneira que acima se disse, numa igreja onde estejam mulheres, aquelas que tiverem violado a fidelidade prometida aos seus maridos não conseguirão sair se não a tirarem da igreja.[3]

A versão do personagem Rabino Hebognazar no manuscrito da Chave de Salomão (1890), compilado por Stanislas de Guaïta e François Ribadeau Dumas, ensina a produzir um anel astronômico com aro forjado numa liga de ferro e ouro e adorno superior contendo “um retalho de folha de Heliotropium europaeum, outro de Aconitum napellus, um pedacinho de pele de leão, outro de pele de lobo, um pouco de pluma de cisne e de abutre e, acima de tudo, um rubi lapidado”.[4]

O Grande Alberto atribui aos “antigos filósofos” a afirmação de que a pedra possui grandes virtudes quando associada com a planta homônima. A tradição sugere que a união do heliotrópio mineral com o vegetal produz “outra virtude muito maravilhosa sobre os olhos dos homens, que é a de suspender sua capacidade, vivacidade e penetração, e de cegá-los de forma a não poderem ver a quem os levam”.[5] Ou seja, a gema untada adquire a propriedade prodigiosa “de confundir os olhos das pessoas a ponto de tornar o usuário invisível”.[6]

Tal ideia deriva da mitologia grega, onde os artefatos de invisibilidade são propriedade dos deuses e titãs. Platão narra uma história fantástica sobre Giges, rei do Hindustão (c. 687-651 a.C.), que usou um anel de invisibilidade encontrado junto ao corpo de um gigante para assassinar o monarca anterior, Candaules, e desposar a viúva deste:

Era ele um pastor que servia em casa do que era então soberano da Lídia. Devido a uma grande tempestade e tremor de terra, rasgou-se o solo e abriu-se uma fenda no local onde ele apascentava o rebanho. Admirado ao ver tal coisa, desceu por lá e contemplou, entre outras maravilhas que para aí fantasiam, um cavalo de bronze, oco, com umas aberturas, espreitando através das quais viu lá dentro um cadáver, aparentemente maior do que um homem, e que não tinha mais nada senão um anel de ouro na mão. Arrancou-lhe e saiu. Ora, como os pastores se tivessem reunido, da maneira habitual, a fim de comunicarem ao rei, todos os meses, o que se dizia respeito aos rebanhos, Giges foi lá também, com o seu anel. Estando ele, pois, sentado no meio dos outros, deu por acaso uma volta ao engaste do anel para dentro, em direção à parte interna da mão, e, ao fazer isso, tornou-se invisível para os que estavam ao lado, os quais falavam dele como se se tivesse ido embora. Admirado, passou de novo a mão pelo anel e virou para fora o engaste. Assim que o fez, tornou-se visível. Tendo observado estes fatos, experimentou, a ver se o anel tinha aquele poder, e verificou que, se voltasse o engaste para dentro, se tornava invisível; se o voltasse para fora, ficava visível. Assim senhor de si, logo fez com que fosse um dos delegados que iam junto do rei. Uma vez lá chegado, seduziu a mulher do soberano, e com o auxílio dela, atacou-o e matou-o, e assim se assenhoreou do poder.[7]

O homem invisível pode agir livremente, conforme sua vontade, pois está protegido das reprimendas e comentários maldosos do vulgo. Henri Cornélio Agrippa (1486-1535) atribuiu a Alberto Magno e Willian de Paris o registro de crenças medievais, segundo as quais o Heliotropium europæum confere glória constante e boa reputação a quem o carrega. Francis Barret interpreta a afirmativa de que “quem a usar terá uma boa reputação, boa saúde e viverá muito tempo[8]”, concluindo que o porte da planta e/ou da pedra “faz do usuário uma pessoa segura, respeitável e famosa, e contribui para uma vida longa”.[9]

O mago envolto em brumas

O anel de heliotrópio não deveria funcionar exatamente como o hipotético anel de Giges. Aparentemente, ele deveria envolver seu possuidor em névoa… Na versão do Magus (1801), Francis Barret omitiu um efeito citado por Cornélio Agrippa (1486-1535), segundo o qual o heliotrópio “tem admirável virtude sobre os raios do sol, pois diz-se que os converte em sangue. Quer dizer, faz o sol aparecer como em um eclipse, se lhe unta com uma erva que leva o mesmo nome e o coloca em vaso cheio d’água”.[10]

Presumo que a pedra deveria ser fervida com suco de heliotrópio até que a água em ebulição produzisse uma nuvem de vapor suficientemente densa para filtrar os raios solares. Apesar de incompleta, a descrição mais extensa deste rito aparece no Grande Alberto:

Para fazer com que o Sol pareça cor de sangue deve-se usar a pedra que se chama Heliotrópio, que tem a cor verde e que se parece com a Esmeralda e é toda pintalgada como que de gotas de sangue. Todos os necromantes lhe chamam comumente a pedra preciosa de Babilônia; esta pedra, esfregada no suco de uma erva do mesmo nome, faz ver o Sol vermelho como sangue, da mesma maneira que num eclipse. A razão disto é que fazendo ferver água em grandes borbotões em forma de nuvens, ela espessa o ar que impede o Sol de ser visto como de costume. Contudo, isto não pode fazer-se sem dizer algumas palavras com certos caracteres de magia.[11]

Se as palavras e caracteres de magia forem padronizados com aquela outra tradição da Chave de Salomão, onde se utiliza a erva, as palavras consistem na invocação voltada para o ocidente “no dia e hora de marte” dos anjos “Michael, Cherub, Gargatel, Turiel, Tubiel, Bael, os Silfos Camael, Phaleg, Samael, Och, Anael”.[12] Estes caracteres de magia são gravados no halo do anel:

O que se publicou em todos os manuais de magia editados desde o fim do séc. XIX até meados do séc. XX, que tive a oportunidade de consultar, foram apenas cópias, muitas vezes incompletas, dos textos supracitados.

Por exemplo, Gérard Encausse (1865-1916) reproduz “um tratado muito curioso sobre pedras extraído de um livro sob os nomes de Evax e de Aaron”, igual aos tratados de Agripa e Kircher, adicionando-lhe a classificação das pedras “conforme as relações planetárias”.[13] A “pedra heliotrópio” foi relacionada com o Sol.[14]

Embora N.A. Molina conhecesse e recomendasse uma versão integral do Grande Alberto publicada “por um ocultista muito conhecido na Espanha e na América sob o nome de Mago Bruno[15]”, ele preferiu copiar a cópia imperfeita de Gérard Encausse com todos os seus rearranjos e omissões, conforme a tradução para português pré-existente, em seu Antigo Livro de São Cipriano.[16]

Anel de pedra heliotrópio em aro de prata forjado pelo meu finado amigo Afrânio, fazedor de joias e artigos de umbanda. Foi untado com extrato de heliotrópio.

O anel do vampiro

Waldo Vieira, fundador do Instituto Internacional de Projeciologia, autor de obras psicografadas junto com Chico Xavier, foi também um dos maiores colecionadores de gibis do Brasil. Em 1978 ele selecionou e forneceu a maioria das “histórias antológicas” publicadas pelo editor Otacílio D’Assunção Barros no número especial sobre vampiros da revista Spektro. É claro que o nível de informação nas entrelinhas subiu à estratosfera!

Um dos romances gráficos cuidadosamente seletos entre dez mil exemplares foi publicado pela primeira vez no Brasil em julho de 1954, no n º 44 de O Terror Negro. No enredo um personagem acerta uma lança no coração de um vampiro possuidor de um “anel com um morcego”.[17] Ataíde Brás incrementou o motivo num novo roteiro onde o vampiro Paolo coloca “um anel, com um morcego como enfeite” no dedo de sua amada e, imediatamente, “os caninos dela começam a crescer”.[18]

Parece que esta variante do mito surgiu de um equivoco. Todos os filmes da Hammer em que Christopher Lee interpretou Drácula terminaram com a morte do conde. O corpo, as roupas e até mesmo o castelo do nobre vampiro dissolviam-se, restando apenas um anel.  Ninguém sabia por que a joia escapava intacta nem qual era o seu significado. Todos os fãs queriam ter aquilo. Os mais crédulos desejavam que o suposto amuleto existisse e tivesse poderes mágicos.

Poucos conheciam a explicação de Christopher Lee sobre o valor emocional do apetrecho: O anel com aro de prata e pedra vermelha gravada com as iniciais B•L era mera réplica de outra joia enterrada no dedo do finado ator Bela Lugosi, que também interpretou Drácula, sendo usada pelo sucessor em sua memória.[19]

Enquanto durou a polêmica, Robert Amberlain afirmou ter encontrado manuais de feiticeiros alemães descrevendo a confecção de um anel especial:

Um Vampiro gravado na pedra heliotrópio transforma-a numa pedra de sangue. Ela dará a quem a transportar, segundo os ritos convenientes, o poder de comandar os demônios íncubos e súcubos. Ela assisti-lo-á nas suas conjurações e nas suas evocações.[20]

Juro pela alma de Nicolae Paduraru que não existe um manual de feitiçaria contendo semelhante rito ou que, se existe, é um livro particular que nunca foi editado, certamente escrito entre 1958 e 1978 por um feiticeiro fã de vampiros cinematográficos que achou que a descrição do mago envolto em brumas, no Grande Alberto, parecida com a do Conde Drácula virando névoa.

O jornalista fantástico Jean-Paul Bourre também procurou o tal livro e ouviu o seguinte quando entrevistou Vladimir S, membro da seita veneziana Ordem Verde:

Casanova foi encarcerado em Veneza, nas celas do palácio ducal. E sabem os motivos? Foi preso pela Santíssima Inquisição a seguir a uma denúncia em que foi acusado de magia negra. Manuzzi, espião dos inquisidores de Veneza, mandou apreender em sua casa os livros e manuscritos ocultos, entre os quais se contavam os seguintes: Clavículas de Salomão, as obras de Agrippa e o Livro de Abramelin o Mágico. Quais eram então as atividades ocultas do jovem veneziano? Ele afirmava, na sua correspondência, que não praticava a Cabala, mas a arte do Kab-Eli, isto é, a arte da “pedra do sol”. Esta pedra é nossa conhecida. É o heliotrópio (…), os nossos adeptos chamam-lhe “pedra de sangue”, uma vez que permite evocar os defuntos e originar o aparecimento dos vampiros. Outrora tinha também uma função medicinal ligada ao sangue: Ajudava a neutralizar as hemorragias.[21]

Essa estória vingou e se desenvolveu. De acordo com Robert Amberlain e Jean-Paul Bourre, usando isto se podia distinguir “os espectros, os manes e os Vampiros” quando o Sol aparecia vermelho por traz dos vapores. O anel mágico destinado às operações de vampirismo devia ter a pedra montada sobre prata (metal lunar, noturno), enquanto o anel de proteção seria forjado em ouro vermelho (símbolo solar, diurno).

Pela razão de que é verde (cor do astral ou do ‘mundo’ imediato dos mortos) e verde escura (os mortos maléficos), raiada de traços vermelhos (o sangue), esta pedra liga-se aos mistérios da morte, do vampirismo e do sangue. (…) Outrora era tida como capaz de parar as perdas de sangue, as hemorragias, e como proteção contra os venenos e mordeduras dos Vampiros.[22]

Robert Amberlain reconhece que quando se penetra no domínio da magia, penetra-se igualmente no da superstição. Então, “no caso de se tratar de uma seita votada ao vampirismo” os nobres afligidos pela seita poderiam ser enterrados com o anel contendo a “pedra do sangue” na crença de que ele protegeria o túmulo, os despojos e o “duplo” durante as saídas e materializações. “Imaginavam que o uso do anel maléfico lhes evitaria uma acidental e desastrosa exposição aos raios do Sol”.[23]

Jean-Paul Bourre incluiu a proteção contra “o aparecimento de caçadores de vampiros, a estaca aguçada e o fogo que podia destruir em poucos segundos o corpo do não morto”.[24] Como isso? O amuleto protege o vampiro causando a morte de quem quer que pise “dentro do perímetro mágico”. A sorte do homem que penetra na zona sagrada se assemelha a dum inseto caído numa teia de aranha. “Uma pequena e subtil vibração basta para que toda essa teia seja sacudida”. A aranha desperta e abocanha o intruso. “Sua lei é inexorável”.[25]

Fada do Heliotrópio, ilustração de Cicely Mary Barker (1895-1973), parte duma coleção de 168 fadas com plantas botanicamente corretas, no livro Flower Fairies of the Garden (1944).

Sangue de dragão

Existem lendas sobre uma pedra impossível cuja descrição parece remeter ao jaspe sanguíneo, chamado “sangue de dragão”, que só um exímio caçador de dragões consegue obter. O frade Rogério Bacon (1214-1292) escreveu o seguinte:

 

Sábios etíopes vieram à Itália, à Espanha, à França, à Grã Bretanha e essas terras cristãs onde existem bons dragões voadores. E, por uma arte oculta, que possuem, excitam os dragões a saírem das suas cavernas. E tem selas e freios já prontos, e montam esses dragões e fazem-nos voar a toda a velocidade pelos ares a fim de amolecerem a rigidez da sua carne (…) e quando desse modo amaciam esses dragões, tem a arte de preparar a sua carne (…) que utilizam contra os acidentes da velhice, para prolongarem a sua vida e subutilizarem a sua inteligência de maneira inconcebível. Porque nenhuma doutrina humana pode fornecer tanta sabedoria como o consumo da sua carne.[26]

Esse é o tipo de estória mirabolante na qual ninguém acredita, mas que todos gostam de ouvir. A temática faz boa parelha com uma instrução obscura do talvez contemporâneo livro do Grande Alberto:

Para vencer os inimigos deve usar-se a pedra Draconite, que se tira da cabeça do dragão; é boa e maravilhosa contra o veneno e a peçonha, e quem a usar no braço esquerdo sairá sempre vitorioso dos seus adversários.[27]

Estas são estórias para divertir crianças, embasadas na interpretação literal da lenda cristã onde São Jorge ou o arcanjo Miguel mata um dragão.

Em 1222, o National Council of Oxford decidiu organizar um grande festival em honra ao santo, no qual o dragão foi apresentado, à guisa de satânico adversário da verdadeira fé, para ser dominado e vencido pelo herói do dia. Por todos esses motivos foram inúmeras as histórias ligando São Jorge ao dragão, naqueles tempos. A mais popular entre todas foi, talvez, a que contou Jacques de Voragine, arcebispo de Gênova (de 1236-1898), em sua Lenda Dourada (…) Segundo essa lenda, houve uma vez, na Líbia, uma cidade chamada Selene. Todos os campos em seu redor tinham sido devastados por um monstro terrível, que somente era impedido de atacar e devastar a cidade pela oferta diária de dois gordos carneiros. Mas chegou um tempo em que não havia mais nem um só carneiro para apaziguar a fome do monstro, que imediatamente começou a aumentar sua devastação em torno da cidade. Por isso, diariamente, eram sorteadas duas crianças até a idade de quinze anos e as indicadas pela sorte eram oferecidas em sacrifício ao monstro. Um dia a sorte apontou a própria filha do rei, Cleodolinda. Imediatamente o soberano ofereceu tudo o que possuía ao cidadão que se apresentasse para substituir a infeliz. Porém todos recusaram e Cleodolinda foi abandonada, só, fora das muralhas de Selene, a fim de seguir o seu triste destino. Um tribuno do exército romano, Jorge da Capadócia, surgiu cavalgando um cavalo branco e, ao saber da triste história da jovem princesa, decidiu, imediatamente, sair ao encontro do dragão, em nome de Jesus Cristo, a fim de matar a fera ou morrer nessa empresa.

 

O monstro se atirou contra o cavalheiro e tremenda luta se seguiu, até que Jorge, com ousadia e perícia sem par, varou o dragão com sua espada. Porém a fera não morreu imediatamente e Jorge disse a Cleodolinda que passasse seu próprio cinto em redor do pescoço do monstro, a fim de o conduzir em triunfo até a cidade. Ela assim fez e o monstro seguiu-a submisso. À chegada do estranho grupo, o povo, cheio de terror, tratou de fugir. Porém, Jorge a todos serenou e, depois de os ter reunido na praça principal, degolou o dragão. Foram necessários quatro juntas de bois para arrastar para fora da cidade a imensa carcaça.

 

O rei, a rainha, Cleodolinda e vinte mil cidadãos abraçaram o cristianismo. O rei ofereceu a Jorge a mão de sua filha em casamento. Porém o santo herói, cortesmente, declinou essa proposta e, após recomendar ao rei que honrasse a religião e amasse aos pobres, beijou-o nas duas faces e continuou viagem.[28]

Quanta imaginação para dizer que nem uma princesa virgem, nem um reino inteiro valem a quebra de um voto de castidade de um santo católico!

Pedrarias genéricas

A cultura da desinformação aconselha os brasileiros a nacionalizar toda e qualquer coisa pela substituição do antigo pelo novo, do raro pelo disponível, da economia pela ostentação. Em meados do século XX um famoso autor brasileiro – que eu me absterei de identificar pelo nome – aconselhou seu público alvo, os mandingueiros, a empapar seus objetos de uso pessoal com Helianthus annuus, óleo de girassol, ao invés de extrato perfumado de Heliotropium europaeum, de fragrância agradável e duradoura, que custava seis reais o frasco.

Na virada do milênio um quilo de pedra heliotrópio custava cinco centavos de dólar no atacado, no Rio de Janeiro. Mesmo assim faltava no estoque das lojas revendedoras onde pseudo-especialistas nos ofereciam o conteúdo da caixa etiquetada “bloodstone” que poderia conter jaspe sanguíneo, hematita e até mesmo pedra imã.

Eu tive de insistir e pagar adiantado pela lapidação de um heliotrópio, pois o especialista em produção de artigos para terapeutas alternativos relutou a crer que uma mulher pudesse preferir uma pedra barata a um rubi-zoisita. Algo parecido ocorreu algumas vezes no passado. Hebognazar intercambia heliotrópio e rubi em sua Chave de Salomão. Por que trocar um pelo outro? Naquela época o herói da mineralogia George Frederick Kunz (1856-1932) ainda não havia nascido nem catalogado um batalhão de pedras mágicas de baixo custo para a alegria do povo e felicidade geral da nação.

Sem ninguém para explicar aos soberbos que gosto não se discute pareceria um desperdício gastar um aro de ouro ou prata para equipar uma pedra adquirida ao custo de poucas moedas numa barraquinha de camelô. Uns e outros pensariam ser mais adequado portar uma gema digna de ser comercializada numa joalheria que fornece certificado de origem. O problema é que a troca prejudica a lógica ritualística pondo a perder a relação de homonímia entre erva e pedra, onde o semelhante reage com o semelhante.

Notas:

[1] SCHUMANN, Walter. Gemas do Mundo. Trad. Rui Ribeiro Franco e Mario Del Rey. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico, p 128.

[2] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trad. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 163.

[3] HUSSON, Bernard (org). Obra citada, p 149-150.

[4] CLAVÍCVLAS DE SALOMON: Libro de Conjuros y Fórmulas Mágicas. Trad. Jorge Guerra. Barcelona, Editorial Humanitas, 1992, p 93 do fac simile.

[5] AGRIPPA, Cornélio. La Filosofia Oculta: Tratado de magia y ocultismo. Trad. Hector V. Morel. Buenos Aires, Kier, 1998, p 42.

[6] BARRET, Francis. Magus: Tratado completo de alquimia e filosofia oculta. Trad. Júlia Bárány. São Paulo, Mercuryo, 1994, p 60.

[7] PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1996, p 56-57.

[8] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trad. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 163.

[9] BARRET, Francis. Obra citada, p 60-61.

[10] AGRIPPA, Cornélio. Obra citada, p 42.

[11] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trad. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 163.

[12] CLAVICULAS DE SALOMON (1641). Barcelona, Humanitas, 1997, p 93 do fac simile.

[13] PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trad. E. P. São Paulo, Pensamento, 1978, p 232-233.

[14] PAPUS. Obra citada, p 235.

[15] MOLINA, N. A. Nostradamus – A Magia Branca e a Magia Negra. Rio de Janeiro, Espiritualista, p 63 e 76.

[16] MOLINA, N. A. Antigo Livro de São Cipriano: O gigante e verdadeiro capa de aço. Rio de Janeiro, Espiritualista, p 131-135.

[17] A VILA DO VAMPIRO. Em: SPEKTRO: Especial dos vampiros. Rio de Janeiro, Vecchi, março de 1978, nº 5, p 82.

[18] BRAZ, Ataíde (roteiro) e KUSSUMOTO, Roberto (desenho).  A Noite da Vingança. Em: SPEKTRO: Especial dos vampiros. Rio de Janeiro, Vecchi, março de 1978, nº 5, p 68.

[19] AS VÁRIAS FACES DE CHRISTOPHER LEE. Brasil, Dark Side, 1996, DVD.

[20] AMBERLAIN, Robert. O Vampirismo. Trad. Ana Silva e Brito. Lisboa, Livraria Bertrand, 1978, p 213.

[21] BOURRE, Jean-Paul. O Culto do Vampiro. Trad. Cristina Neves. Portugal, Europa-América, p 137.

[22] AMBERLAIN, Robert. Obra citada, p 213.

[23] AMBERLAIN, Robert. Obra citada, p 214.

[24] BOURRE, Jean-Paul. Os Vampiros. Trad. Margarida Horta. Portugal, Europa-América, 1986, p 133.

[25] BOURRE, Jean-Paul. Idem, p 133-134.

[26] BACON, Rogério. Opus Majus: Vol. II. Oxford, J. H. Bridges, 1873, p 211. Em: HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trd. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 75.

[27] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trd. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 167.

[28] SÃO JORGE: HISTÓRIA, TRADIÇÃO E LENDA. Em: EU SEI TUDO, nº 11. Abril de 1954, p 16-18.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/a-pedra-de-sangue/

A visão oculta ou condicionada das espaçonaves

trecho de Uri Geller – Um fenomeno da Parapsicologia

Às seis horas da tarde do dia 2 de dezembro , Uri e eu ( Andrija Puharich ) chegamos ao setor militar do aeroporto de Lod , a caminho da apresentação de Uri no Deserto do Sinai. Uri já me informara que somente o pessoal já verificado pelo Exército de Israel tinha permissão para ir à zona de guerra no Sinai . Mandou que eu me sentasse a um canto do aeroporto e ficasse  calado, enquanto ele tentava conseguir que eu embarcasse. Falou primeiro com o militar que distribuia as passagens aéreas , mas o homem recusou-se a conceder-me uma passagem , pois eu não tinha os documentos necessários. Uri foi então falar com o sargento Aaron , que também se recusou a entregar-me uma passagem , por falta dos documentos necessários . Meia hora depois, Uri provocava o maior tumulto no aeroporto , insistindo  que se eu, seu amigo , não pudesse ir para o Sinai , haveria graves repercussões internacionais. No fundo , eu sabia que, se tivesse mesmo de ir , algum milagre terminaria acontecendo e permitiriam a minha viagem . Por volta das sete horas da noite , com o avião já pronto para partir , Uri inesperadamente obteve a permissão para  que eu embarcasse . Até hoje não sabemos como e nem por que a permissão foi concedida. Ambos tínhamos nos rostos sorrisos largos de satisfação quando o Viscount decolou , levando-nos para alguma base aérea desconhecida no meio do Deserto do Sinai. Trinta e cinco minutos depois de partirmos de Tel Aviv , o piloto recebeu pelo rádio a comunicação de que eu já fora verificado e não apresentava riscos à segurança militar.

Aterrisamos no meio do deserto frio e varrido pelo vento , numa pista sem qualquer prédio. Vários caminhões , foram ao encontro do avião quando este parou e um oficial apressou-se em dar as boas-vindas a Uri. O oficial prontamente informou que alguns comandos egipcios  haviam-se infiltrado na região e que ali estavam em estado de alerta de batalha . Em seguida , ele transmitiu as senhas para a noite . Estavamos em plena zona de guerra.

Depois de uma viagem com muitos solavancos e um frio enregelante , chegamos a um acampamento militar , indo comer numa barraca-refeitório . Enquanto comíamos , fomos cercados por oficiais e soldados , todos demonstando uma inabalável admiração por Uri. Ali, na frente de combate , não mais existia a reserva típica da vida civil normal de Israel . Todos estavam alertas , presas de excitação nervosa . Não existia nenhuma distancia discernivel entre oficiais e os soldados rasos . O grande motivo de excitação não era o fato de os comandos egipcios estarem à espreita na escuridão e sim a apresentação de Uri , marcada para as onze horas daquela noite . Como americano , fiquei fascinado por aquele espirito jovial.

Uri desviou um pouco a atenção geral para o espetaculo , pedindo primeiro e depois exigindo que lhe cedesse um jipe . Insisitiu em que deveria embrenhar-se imediatamente no deserto  . . .  e sózinho. Os oficiais fizeram todo o possivel para dissuadir Uri de internar-se no deserto de jipe durante a noite . Insistiram em que era por demais perigoso , mas se Uri precisava mesmo ir , tinha que ser acompanhado por uma escolta de guardas fortemente armados. Finalmente chegou-se a um acordo de meio-termo. Uri e eu teríamos o jipe , com um motorista e um soldado fortemente armados . Se o motorista ou o soldado sentissem qualquer perigo, teríamos que nos conformar com as ordens deles. Uri aceitou e saímos para anoite fria do deserto , à espera do jipe . O motorista disse que ele e o guarda teriam que dar uma parada em uma barraca , a fim de pegarem um rifle e uma metralhadora.

Paramos diante da barraca e o motorista permaneceu no jipe com Uri e comigo , enquanto o outro soldado se afastava para buscar as armas . Quando ele voltou , notei que estava com a cabeça descoberta . Achei aquilo muito estranho. Se havia tanto perigo assim, por que ele não estava usando um capacete de aço?

Exatamente as nove horas da noite passamos pelas sentinelas à entrada do acampamento. Todos nós, à exceção de Avram , o jovem soldado , afivelamos os nossos capacetes e o jipe partiu pelo deserto afora. Eu não tinha a menor idéia do ponto do Sinai em que estavamos nem da direção dos pontos cardeais. Minha desorientação era tamanha que era como se eu estivesse na Lua.
Às 9:02 , Uri inclinou-se na minha direção , no escuro , e sussurou :

—    Estou recebendo uma mensagem . . . Trinta K . . .  O que será que isso significa ? Trinta K . . .  Ah. agora entendo !  Trinta
kilometros . Devemos seguir por trinta kilometros para sermos encontrados pela luz vermelha.

Ficamos olhando para o velocimetro . Cada vez que chegavamos a uma bifurcação ou cruzamento da estrada, Uri insistia em que eu tomasse a decisão sobre se deveriamos virar à esquerda ou à direita. As minhas decisões foram exclusivamente ao acaso..

Uri tornou a sussurrar , pouco depois :

—    Nosso mestre disse que vai aparecer-nos sob a forma de uma luz vermelha, parecida com um OVNI.

Agora eu finalmente sabia por que Uri quisera que eu o acompanhasse ao Deserto do Sinai . Àquela altura eu já localizara as constelações e as estrelas no céu , o que proporcionou a indicação dos pontos cardeais da bússola.

A nossa excitação foi aumentando à medida que o velocimetro se aproximava da marca dos trinta quilometros percorridos . No momento em que ele passou de 29 para 30 , localizei uma luz vermelha no céu , a noroeste , a cerca de 18 graus acima do horizonte . Sem dizer uma palavra , apontei-a para Uri . Ele a rejeitou , dizendo :

—    É apenas a luz de uma antena de rádio.

Mas logo ele ordenou ao motorista que parasse , virando-o antes , para que os faróis  ficassem na direção da luz vermelha. Nós dois saltamos do jipe e o motorista e o soldado nos seguiram , para vigiar-nos. Nem Uri , nm eu dissemos uma só palavra . Fomos olhar a luz vermelha de um ponto a trinta metros da estrada.

        Uri não parava de murmurar!

—    Não pode ser a nossa luz vermelha !

Tirei uma moeda americana do bolso e, segurando-a na ponta dos dedos , estendi-a para a frente , calculando então que a luz devia ter dez vezes o diametro da mais brilhante estrela do céu , suando assim a técnica bastante conhecida dos observadores das estrelas. A luz vermelha estava imóvel no céu , acima do pico de uma montanha . Mais tarde identifiquei-a como o Monte Ugrat El Ayadi , de 1.791 metros de altura . Como a noite estava bastante clara , logo pudemos perceber , sem a menor sombra de dúvida , que não havia nenhuma antena de rádio por baixo da luz , abandonando assim essa possibilidade. A qualidade da luz é que me estava deixando intrigado . Era da cor de um vinho clarete . Não cintilava , nem faiscava como as estrelas Pareceu-me que se podia olhar dentro dela e através dela, como seolhasse para um olho humano.

Uri e eu chegamos então à conclusão de que estavamos sofrendo uma alucinação. Pedi a Uri que fosse falar com o motorista e com o outro soldado, apontasse-lhe a luz e indagasse  se estavam vendo a mesma coisa que nós . Uri dirigiu-se a eles e falou-lhes em hebraico , já que nenhum dos dois sabia falar inglês. Voltou poucos minutos depois e relatou-me a sequencia do episódio.

Aproximando-se dos dois homens e, apontando-lhes a luz vermelha , perguntara o que estavam vendo . Eles disseram que estavam vendo os contrornos de uma monyanha . Uri disse:

—    Não é à montanha que me estou referindo e sim ao que está acima dela.

—    Estrelas , apenas estrelas.

—    Mas não existe uma antena de rádio naquela montanha?

—    Ao que saibamos , não.

—    Pois eu era capaz de jurar que vi uma luz vermelha em cima daquela montanha.

Uri dissera essas palavras olhando diretamente para a luz vermelha . Eles tornaram a fitar a monyanha , afirmando em seguida:

—    Não há nenhuma torre, nem luz vermelha alguma.

Depois desse relato , Uri comentou para mim:

—    Eles não vêem o que nós vemos.

—    Então eu e voce devemos estar imaginando a luz vermelha, pois queremos ver realizados os nossos desejos

Um pouco desanimado , Uri disse:

—    Há um dia que estou sendo compelido a traze-lo para o Sinai . Consigo fazê-lo e agora nem mesmo sabemos o que estamos
vendo .

Ficamos parados na quietude da noite fria , mirando o que agora parecia um olho humano no céu juncado de estrelas. Como poderiamos ter certeza daquela experiencia ?
Uri rompeu o silencio:

—    Depressa, afaste-se cinco passos para a esquerda!

Cobri essa distancia e olhei ao redor. Nada . Meu pé tocou então em algo macio . Abaixei-me para pegar. Era um gorro de faxineiro militar . Mostrei-o a Uri.

—    Mas é isso !   —   exclamou ele.    — Esse é o sinal!

—    O que está querendo dizer com isso?   —   repliquei , aborrecido.   —   É apenas um gorro de soldado que deve ter voador da
cabeça de alguém que passava de jipe por aqui.

—    Não , não ! É um sinal! Leve-o!

Relutantemente , dobrei o gorro e enfiei-o no bolso . Eu não podia entender por que Uri estava dando  uma importancia tão grande àquele trapo. Ficamos parados ali por mais dez minutos , olhando para a luz vermelha no céu, que agora parecia estar assumindo a forma de um disco arredondado . A luminosidade vermelha parecia atrair meu olhar para dentro dela e através . Mas eu absolutamente não sabia o que estava vendo , nem tampouco se estava realmente vendo alguma coisa . Comecei a sentir frio e Uri e eu voltamos para o jipe.

Uri tentou mais uma vez arrancar uma resposta dos dois soldados sobre a luz vermelha , mas eles simplesmente não a viam . Lamentei que as câmaras fotográficas fossem proibidas naquela zona de guerra . Uma unica chapa , com longa exposição , teria resolvido todas as nossas duvidas . Subimos no jipe . Com o vento soprando , estava agora mais frio ainda . Tirei o meu capacete de aço e distraidamente coloquei na cabeça o gorro de soldado que encontrara no meio do deserto. Achava-me sentado na frente , ao lado de Avram , que estava agora dirigindo. A luz vermelha ainda estav no céu , `a nossa esquerda , e inclinei-me na direção do motorista para vê-la melhor . Uri e eu pudemos perceber que a luz vermelha estava se deslocando no céu, seguindo-nos. Mas os dois soldados, embora olhando na mesma direção que nós , nada consegfuiram ver. Subitamente  Avram acendeu a luz interna para examinar mapas e olhou atentamente para o gorro que eu estava usando:

—    Onde pegou meu gorro?    —    perguntou ele, finalmente , aturdido.

Começou então a falar em hebraico , excitado , informando que , ao entrar na barraca para pegar as armas , deixara o gorro em cima de seu catre . Agora eu o estava usando . Podia-se facilmente comprovar que era o dele , ois escrevera seu nome na pala. Ele queria saber qual o truque que eu usara para apanhar o gorro , já que , em nenhum momento , eu me afastara das suas vistas . Uri tentou explicar , em hebraico , que na verdade encontraramos o gorro no lugar do deserto em que haviamos parado . nenhum dos dois quis aceitar tal explicação

Enquanto os três discutiam em hebraico sobre o “truque”, concentrei-me em meus pensamentos . Eu já tivera provas de que Uri podia fazer um objeto desaparecer  e depois reaparecer . Assim , era possivel que o gorro de Avran tivesse desaparecido do acampamento em decorrencia da mesma força, aparecendo depois a nossos pés no deserto. Mas Uri já me dissera que não “desejara” tal ocorrencia . Ele apenas sentia uma mensagem para “procurar alguma coisa” . Uri estivera obsecado com a idéia de levar-e para o deserto.

Por que Uri e eu tínhamos visto a luz vermelha e os soldados não ?  Estariam nossas mentes sendo controladas ? Aquela luz vermelha teria alguma coisa a ver com a voz que ouviramos ? E o que seria aquela voz? Se havia mentes sendo controladas , seriam as nossas ou as dos soldados? E a voz seria um fragmento da mente de Uri? Um espirito? Um deus? Teria a voz alguma relação com os Noves , que haviam entrado em contato comigo tantos anos atrás? A luz verelha que seguia  o nosso jipe parecia ser agora totalmente diferente da luz que eu vira no céu em Ossining , no Estado de Nova York , em 1963 , e no Brasil , em 1968.

Minha mente recordou o que eu lera a respeito do profeta Maomé e de sua experiencia com uma “estrela” , naqueles mesmos desertos . Antes que Deus lhe aparecesse , Maomé tinha o habito de retirar-se durante um mês , todos os anos , para meditar no Monte Hira . Ali ele “vira” uma estrela descer em sua direção . Sobre essa experiencia , o Alcorão diz o seguinte:

Quando a estrela desceu , seu irmão não ficou assustado . Ela estava no horizonte mais alto e depois desceu e ficou suspensa.

Mas depois dessa primeira visita da estrela , o Profeta teve que esperar três anos antes que ela voltasse. A estrela de Maomé teria alguma relação com a que eu estava vendo agora? Será que eu tornaria a vê-la Ao entrarmos de volta no acampamento , a luz vermelha simplesmente sumiu.

No dia 3 de janeiro de 1972, Uri tinha uma apresentação marcada num teatro em Yerucha , que fica a sudeste de Beersheba,. Saímos de tel Aviv às 6:55 da tarde e seguimos para o sul , pela estrada de Rehovot . Ao passarmos pela plava na estrada que apontava para o Centro de Pesquisas Nucleares Sorek , nós três , Uri , Ila e eu , vimos uma gigantesca estrela vermelha a oeste. Na verdade , se não soubessemos sobre as espaçonaves , terímaos pensando que se tratava apenas de uma estrela.

Uri parou o carro no acostamento . Saímos do carro , pisando na lama , para olhar.  A estrela vermelha desaparecera . A cerca de mil metros de distância , numa elevação de vinte graus , estava outra luz vermelha, com cerca de noventa metros de comprimento . Outra luz vermelha a seguia , a cerca de cem metros para a direita . Olhei para o meu relógio; a cerca de cem metros para a direita . Olhei para o meu relógio ; eram 7:15 da noite. Uri fitou atentamente a luz vermelha e disse abruptamente:

—    Vamos sair daqui!

Ele saiu , seguindo em alta velocidade. Víamos agora dezenas de luzes e naves no céu . mas Uri não queria parar para observa-las, continuando a seguir em frente a toda velocidade. tentarei descrever da melhor forma possivel o que testemunhamos naquela noite . Às 7:23 apareceu à nossa frente  uma estrela brilhante , que estava apenas a duzentos metros acima da estrada , mantendo-se sempre cerca de quatrocentos metros à nossa frente. Essa estrela cintilava em sequencia de cores vermelho , azul amarelo , verde , etc . Essa “cintilação” durou até 7:26.

Às 7:40 . quando nos aproximávamos de Kiryat Gat , duas luzes amarelas surgiram a oeste . Essas logo se apagaram e
apareceram tres chamas alaranjadas , exatamente como as sete que eu vira na noite anterior . Estavam a menos de um quilometro de distancia e iluminaram todo campo. Os pilares de fumaça ergueram-se dessas chamas cor de laranja , que não atingiram o solo , mas ficaram pairando no ar . Eu não pude deixar de pensar no Pilar de Fogo , que guiara os israelenses no Sinai , durante o Êxodo .

Às 7:41 a lua cheia ergueu-se por cima das colinas a leste . Ao sul da lua cheia , pudemos distinguir nitidamente quatro luzes vermelhas , em formato de disco , deslocando-se lentamente para sudeste . Uma delas logo se apagou e as outras três continuaram por mais essas quatros luzes vermelhas , surgiu uma espetacular espaçonave . Era gigantesca , tendo pelo menos mil metros de comprimento . Era circular e adernava um pouco , de forma que podíamos ver o seu lado. De uma extremidade a outra havia ali o que a principio nos pareceu serem vigias , mas que depois verificamos serem luzes que apenas se assemelhavam a vigias. Aqueles clarões iluminavam toda extensão da nave com cores que abrangiam todo o espectro da luz . A espaçonave passou a menos de um quilometro , a leste seguindo para o norte , tão brilhantes  as suas luzes que iluminavam todo o campo lá embaixo.

Havia outros carros na estrada , seguindo na mesma direção que nós e em sentido contrário. Nós três logo compreendemos que nenhum dos outros motoristas estava vendo as mesmas coisas que nós. Eu sabia , de experiencia anteriores , que aquela exibição era “para os nossos olhos apenas”. O que eu não podia compreender era por que os outros não podiam ver o mesmo que nós , quando as chamas e a espaçonave iluminavam tão feericamente todo o campo . De vez em quando , também a estrada à nossa frente ficava iluminada . Enquanto a gigantesca espaçonave deslizava silenciosamente para o norte, surgiu diretamente à nossa frente , a cerca de duzentos metros  de distancia , uma brilhante bola amarela incandescente . Veio em nossa direção , se fazer barulho algum , explodindo então ao lado do carro. À  direita da estrada , dois clarões amarelos estavam acompanhando o nosso progresso pela estrada . Eles também despreendiam fumaça. Por trás , surgiram duas chamas. Então outra bola incandescente veio do leste da estrada e explodiu acima de nós . Tudo isso acontecia no mais absoluto silêncio e não havia no ar nenhum cheiro de substancia queimada . A exibiçãoera realmente pavorosa , pois cada chama parecia mover-se de acordo com os movimentos do
nosso carro.

E de repente , nos dois lados da estrada , chamas amarelas lampejaram por uns poucos segundos , como olhos gigantescos a nos piscarem. Nos 35 minutos seguintes estivemos cercados , por cima , à direita e à esquerda , por essas chamas a despreenderem fumaça   —   chamas amarelas, douradas , vermelhas , de todos os tons possiveis. Eu não conseguia olhar para todas aquelas luzes ao mesmo tempo.

Às 8:25 apareceram duas chamas vermelhas à nossa direita , na direção noroeste . Seguiram-nos como dois olhos vermelhos , a respeitosa distancia , sempre escondendo o horizonte  Ao se deslocarem , iluminavam os campos e os bosques lá embaixo , com uma claridade intensa.  Foi ainda mais surpreendente porque nos seguiam até a cidade de Beersheba , pairando acima dos telhados  iluminando-os com um clarão vermelho . Foi uma experiencia incrivel , ter aquele par de olhos a seguir-nos até Dimona.

Em Dimona , pegamos um soldado que estava pedindo carona e ia para Yerucham . Assim que o pegamos , as luzes sumiram e não foram mais vistas naquela noite . Estavamos tão excitados com o que víramos que Uri mal conseguia concentrar-se em sua apresentação . mas acabou por se exibir muit bem , como sempre , demonstrando telepatia, consertando relógios e entortando metais. A viagem de volta a Tel Aviv durou de meia-noite às duas e meia da madrugada Não vimos uma unica luz . Não tínhamos a menor  dúvida de que víramos pelo menos uma gigantesca espaçonave naquela noite . Víramos  também dezenas de chamas coloridas, que nos haviam seguido com uma fidelidade animal . Os sete pilares de fumaça que eu vira  na noite anterior eram apenas precursores do espetaculo que nos fora proporcionado naquela noite . Permanecia , porém , o mistério  do motivo pelo qual ninguém mais o via o que presenciávamos tão nitidamente . Eu nem mesmo tentei filmar , sabendo perfeitamente que minha câmara ficaria emperrada . Verificamos nos jornais no dia seguinte. Não havia qualquer noticia a respeito de estranhas luzes no céu
, como as que víramos . Se o que víramos fora uma alucinação , então fora uma linda viagem espacial para nós três!

A noite seguinte foi 4 de janeiro. Uri tinha outra apresentação marcada nas proximidades de Beersheba , numa cidadezinha chamada Ofakim  . Saímos de Tel Aviv pela mesma estrada que seguíramos na noite anterior . No carro  estavam Uri, Íris , Ila e eu . Ao passarmos pelo Centro de Pesquisas Nucleares Sorek , vimos a primeira luz vermelha no céu , deslocando-se lentamente para oeste , numa rota senoidal . Não quero cansar o leitor , por isso digo-lhe apenas que todos nós vimos a repetição do espetaculo da noite anterior .  Vimos a gigantesca espaçonaves com as suas luzes multicoloridas , as chamas , as explosões , sendo sempre seguidos por aqueles olhos na nite. E novamente ninguém mais , além de nós , pareceu estar vendo aquele fantástico espetáculo .

Chegamos a Ofakim , onde Uri iria apresentar-se num teatro moderno e muito bonito . Para variar , fazia uma noite quente , das mais agradaveis Resolvi permanecer do lado de fora do teatro , ficando de olho no céu para novas exibições de luzes. Pelo sistema de alto-falantes do teatro , fui informado do momento exato em que Uri começou sua apresentação . Quando Uri pôs-se a falar , eu e Ila vims uma luz vermelha e uma espaçonave aproximarem-se de Ofakim , vndo do leste . Baixaram de altitude ao chegarem à cidade e foram pousar um pouco mais além , fora do alcance de nossa visão , escondidas por alguns prédios , a cerca de um quilometro de distancia . Fiquei olhando para a ärea em que a luz vermelha e a espaçonave haviam ficado invisiveis , durante todo o tempo em que Uri se exibiu. Quando Uri acabou sua apresentação , a luz vermelha e a espaçonave   ergueram-se de seu esconderijo  e seguiram para leste.

Na quarta feira, 5 de janeiro , Ila saiu para a varanda do quarto 1101 do Hotel Sharon logo depois do pôr do sol , em torno de 5:20 da tarde . Subitamente ela chamou , em pânico . Fui ao seu encontro. Vinda do sul , voando baixo sobre a Rodovia Tel Aviv – Haifa , lá estava uma gigantesca espaçonave . Tinha uma luz branca na frente e outra atrás . Entre essas duas luzes havia um casco escuro, talvez com cem metros de comprimento . Estava a uns 600 metros a leste de nós , deslocando-se a cerca de 500 quilometros horários. Era uma visão magnifica ver aquela nave sobrevoar Israel desafiadoramente , vista provavelmente só por nós.

Naquela mesma noite , Uri tinha outra exibição ao sul de Beersheba . Quando passávamos ao sul de Rishon Le Zion , às 8:40 , Uri parou o carro para mostrar uma espaçonave a Iris , Ila e a mim. Foi a performance  mais espetacular que já presenciei até hoje . A espaçonave  estava bem alta no céu e muito distante  de nós . Estava um pouco acima do cinturão do Caçador , na Constelação de Orion . Não podiamos calcular a que distancia se achava , pois parecia estar no espaço exterior, no campo estrelado . Qualquer que fosse a distancia, pudemos ver que era um gigantesco disco a girar , com uma luz vermelha em cada extremidade . E o mais espetacular é que estava efetuando manobras complicadas. Primeiro moveu-se de lado, em circulos , depois para trás , descrevendo imagens complexas , circulos , rodopios . Então começou a oscilar , em movimentos laterais . Parecia estar escrevendo coisas no céu , mas nenhum de nós conseguiu ler nada.

Pensei em filmar a cena , mas Uri dissuadiu-me   —   aquilo era sagrado, disse ele. A observação daquela espaçonave produziu um efeito tranquilizante em todos nós. Pessoalmente , fez com que eu me senti-se muito pequeno e sózinho no universo. A exibição durou quatro minutos pelo relógio , mas para mim pareceu uma eternidade.

Nas proximidades de Ashqelon , perdemos o caminho numa estrada secundária, às 9:35 . E lá nos apareceu uma pequena
espaçonave , em forma  de disco , com uma luz vermelha e outra verde. Tudo se fundiu numa unica luz vermelha , que assumiu uma posição acima e à frente do nosso carro. Seguiamos essa luz e ela nos induziu por um labirinto de estradas secundárias. Ao chegarmos novamente à estrada principal , a luz desapareceu.

A apresentação de Uri foi um sucesso estrondoso. Ao voltarmos para Tel Aviv , não vimos luzes nem espaçonaves no céu .

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/ufologia/a-visao-oculta-ou-condicionada-das-espaconaves/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/ufologia/a-visao-oculta-ou-condicionada-das-espaconaves/

Inquisição – dos Dias de Amanhã até os Dias de Ontem

A verdade é que o amanhã é uma grande entropia.

Um dos grandes mistérios da neurociência é a nossa consciência. Não se sabe ao certo como ela ocorre e tudo que temos é pressupostos antigos baseados em experiências nazistas da segunda guerra. Essa brecha permite que nós consigamos acreditar no espiritual. Mas acreditar no espiritual nunca foi algo tão difícil para o ser humano, até porque aquilo que mais nos uniu para matar o próximo, foi ele. Ops, desculpe escrevi errado. Quis dizer “amar”.

Mas vamos para a Ásia. Depois voltamos a consciência. E pulamos para a inquisição.

Mas mundo moderno não seria o mesmo sem os árabes. Se hoje você abomina o ISIS, EL e afins, lembrem-se que muito antes de destruírem cidades antigas ou resolverem decepar cabeças,  o café que tomamos, a medicina, matemática, a química (até então chamada de alquimia), várias coisas do nosso dia a dia carregam em sua história, o DNA de um povo tão interessante.  Abu Saʿd al-ʿAlaʾ ibn Sahl (c. 940–1000) foi um deles. Ele não foi somente um matemático, físico e engenheiro óptico da Era dourada Islâmica,  Ibn Sahl foi quem descobriu a Lei da Refracção, ao qual em seu tratado On Burning Mirrors and Lenses, utilizado por outro árabe, Abū ʿAlī al-Ḥasan ibn al-Ḥasan ibn al-Haytham (965 – c. 1040), ou mais conhecido como Al-Haytham, foi o primeiro a perceber que os nossos olhos recebem a luz e então a traduzem, ao contrario do que os gregos pensavam até então, que nós emitíamos a luz.

Do mesmo modo que a consciência foi um mistério para os filósofos gregos, a principal “função” da consciência foi um mistério – a luz e a tradução da mesma. A neurologia evoluiu graças a experimentos bizarros da medicina, isso inclui abrir crânios com a pessoa viva, passando por espetar o cérebro dela enquanto observa as reações dos sortudos que caíram nessas experiências. Mas tudo isso não passava de uma única busca.

A nossa consciência.

O século X foi recheado de descobertas para os árabes e aprimoramentos de descobertas de outros povos, como o espelho, ao qual nosso amigo Ibn Sahl foi o criador do espelho parabólico. Os espelhos acompanham a humanidade desde 3000 A.C., os primeiros até então, eram apenas pedras e/ou metais polidos, porém  a criação de um espelho feito já com um revestimento de prata é atribuída ao químico alemão Justus von Liebig, quando decorria o ano de 1835. Mas durante toda história os espelhos foram recheados de mistérios. Os judeus antigos temiam que as mulheres olhassem para eles, com medo de que Lilith ou Zahriel, as demônias que viviam neles, pudessem despertar vaidade nelas. O maior problema de um espelho é que ele nos dá consciência de nós mesmos. A pessoa consciente então, iria se perguntar sobre sua origem e a questão novamente iria para o âmbito metafísico. É uma merda. Nunca fugimos disso.

Então vamos fazer o que a igreja sempre fez. Vamos queimar toda essa bruxaria.

Na França, no pequeno vilarejo de Treves, o arcebispo local condena 120 homens e mulheres à morte sob a acusação de que eles interferiam nos elementos da natureza, devido ao inverno duríssimo que enfrentavam. Todos foram queimados.

A confissão havia sido conseguida através de métodos violentos de tortura.

Uma histeria coletiva surgiu após a publicação do livro “O Martelo das Bruxas” (1486), pelos monges alemães Heinrich Kramer e Jakob Sprenger, por quase 300 anos, o continente europeu viveu sob as ferozes regras de queimar e caçar as pessoas acusadas de bruxaria.

Literalmente, era um manual de processo contra os acusados de bruxaria, que delineava os métodos mais eficazes de se descobrirem as bruxas.

Parece que a consciência da existência das bruxas tornavam elas reais.  “O TODO É MENTE” era o que diziam os antigos herméticos. Talvez seja por isso que, conforme a caça prosseguiu, mais e mais bruxas e pessoas ordinárias eram queimadas. Supostamente foram várias pessoas inocentes, livres da abominação da bruxaria. Mas nós sabemos que no fundo mesmo, tudo que queria era amar o próximo.

Ops, quis dizer matar o próximo.

A palavra consciência por si só carrega um axioma científico. Mas para um texto supostamente metafísico, vou utilizar a palavra espírito. Espírito, vem do latim, spiritus, que significa “ar, sopro”. O mesmo conceito se encontra na cabala em Ruach, o sopro da vida. Os egípcios acreditavam que o espírito entra no corpo do recém nascido a partir da primeira inspiração. E que saia na última. Esse mesmo espírito era sustentado pelo prana, a energia vital que aparece em diversas culturas sob nome de Chi, Ki, Mana… O espirito se mantém vivo se alimentando de prana. Em outras palavras sua consciência se mantém lúcida por causa da respiração. As coisas ganham uma clareza espetacular quando usamos um linguajar menos místico.

Coincidência ou não, exercícios respiratórios aumentam sua capacidade de lembrar seus sonhos. Os mais místicos vão dizer que é por causa do fluxo de prana, que fortalece seu espírito dando a ele uma melhor capacidade de relembrar. Os mais céticos vão dizer que seu cérebro apenas ganha mais lucidez por causa da hiperoxigenação dentro desses exercícios.

Consciência é uma coisa tão interessante, que o fato de ter consciência de algumas informações, já te torna perigoso. Apenas por estar vivo. Vamos relembrar alguns casos de ontem.

Uma das bruxas de São Paulo foi Maria da Conceição,  queimada em uma fogueira perto do Convento São Bento, morta em 1798, no centro antigo de São Paulo.  Por motivos incertos, ela arrumou problemas com um padre conhecido somente como padre Luis. Ao que parece, ele era radicalmente contra o que ela fazia e conseguiu levá-la a julgamento por bruxaria.

Maria era uma conhecida mulher da localidade, que preparava alguns remédios para curar doentes, algumas poções para atrair homens e gozava de uma certa reputação.

Consciência nos leva novamente ao espírito. E espírito nos leva a magia. Bruxas.

Uma bruxa consegue ser infinitamente pior que uma caça as bruxas. Alguém que consegue usar o próprio espírito para influenciar o espíritos dos outros é uma ideia no mínimo assustadora. Quantas outras poções são feitas e empurradas pela goela baixo dos homens que se perdem em suas núpcias com outras mulheres, que secretamente venderam a alma pro diabo? Alma, vem de anima, em latim, aquilo que anima. Ou seja, o espírito. Consciência. Então elas se venderam para o diabo. Mas a histeria coletiva não foi somente séculos atrás. Pelo contrario. Vamos relembrar um outro caso em que a consciência da população sobre uma bruxa levou a histeria.

Fabiane Maria de Jesus (1980-2014) uma falsa notícia publicada na web, utilizando um retrato falado de um caso criminal ocorrido no Rio de Janeiro, acusando a mulher retratada como sendo sequestradora de crianças para a prática da bruxaria e rituais de magia negra no litoral de São Paulo. Uma página da rede social Facebook divulgou essa imagem, que foi associado por populares à Fabiane Maria de Jesus. Ela foi cercada por uma multidão, espancada e torturada. Morreu horas depois. Sua inocência foi provada posteriormente.

Mas uma noticia de ontem. Precisamos de algo de amanhã, alguma noticia sobre amanhã.

Exercito evangélico destrói terreiros. Invade festivais wiccanos e uma briga generalizada. Evangélicos ganham cargos importantes no senado. Um presidente evangélico. Brasil para Cristo. Marginalização de praticas religiosas.

E a melhor parte de todas: eles estão certos. Existe uma teoria no mundo que quando uma pessoa acredita profundamente em algo, aquilo se torna real. Vocês todos já devem ter escutado sobre isso. É repetido dia após dia, entre exemplos místicos e mundanos – o poder da crença. Curas milagrosas feitas pela fé. Pedidos atendidos. Se até hoje a fé não moveu uma montanha sequer, ao menos gerou uma montanha de dinheiro para o Vaticano e posteriormente para o movimento milionário do evangelho.

Eu digo que eles estão certos porque eles acreditam que estão certos e que estão numa guerra contra o mal.

Quando você olhar num espelho, vai ver que o espelho serve de uma auto afirmação sobre quem você pensa que é e seu papel na terra. Isso vale para todas as vezes que você olhar em um espelho e lembrar que ele foi inicialmente feito por um árabe que não era do ISIS. E lembrar que o instinto bélico da Ásia sempre foi bem a flor da pele e que cortar cabeças, sodomizar inimigos ou queima-los era uma pratica na guerra. O que hoje o ISIS faz, foi feito ontem por outros povos que viviam ali mesmo.  Talvez logo tenha isso no Brasil novamente também, levando em conta que o amanhã está sendo consumido pelas ideias da entropia evangélica que comungando com zumbis, criaram um exercito que amanhã você vai ficar sabendo que é maior do que o pensamos hoje. E eles estão certos. A certeza fortalece o espírito e o espírito fortalece a carne. É a fé que mais uma vez não foi explicada tem um poder sobrenatural sobre a nossa consciência. As crenças refletem na consciência e na forma de agir.

No fim das contas, nossa atitude é uma prostituta a serviço de nossa crença.

LöN Plo

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/mindfuckmatica/inquisicao-dos-dias-de-amanha-ate-os-dias-de-ontem/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/mindfuckmatica/inquisicao-dos-dias-de-amanha-ate-os-dias-de-ontem/

Aylan

por Raph Arrais

Primeira vez que vi anjinha foi em noite fria. Anjinha escorregou do céu e entrou em quarto de eu. Tinha vestido todo branco que nem a lua, e era tão bonita que nem mamãe. Papai e mamãe não gosta que eu vá para longe brincar com gente que não sei o nome, no parque e na rua e todo lugar. Dizem que quem a gente não sabe o nome pode ser homem mau e machucar eu. Mas anjinha não diz o nome dela.

Anjinha vai e volta de escorrega do céu ainda muitas noitinha. Como já conheço ela brinco com ela e tudo e não preciso saber de nome. Mas anjinha já sabia meu nome quando me viu primeira vez: Aylan.

Quando era bebê não sabia nada. Mas papai me diz que somos filhos do Curdão. Então eu cheguei no mundo lá em Babani, onde mamãe e papai e irmãozinho morava. Babani era lugar bonito cheio de criança que nem eu, e árvore e flor e parque e gente com sorriso. Assim eu fiquei grandinho e não era mais bebê, e achei que iria ficar para sempre ali com mamãe e papai e irmãozinho e gente amiga, no Curdão.

Um dia falei para mamãe da anjinha, e ela não gostou. Disse que essas coisa é de povo atrasado que não conhece Alá. Disse que Alá é maior que tudo e tem coração gigante que ama todo mundo. Disse que anjinha podia ser coisa da minha cuca, coisa que veio na cabeça. Não entendi mamãe nunca porque anjinha escorregava do céu, coisa que nunca vi nenhuma gente fazer. E nunca vi esse Alá.

Mas eu continuava crescendo e brincando de monte. Numa noite que tava ventando quente e fiquei olhando pro teto, anjinha apareceu e tava triste. Ela disse que ficaria tempos sem escorregar e vir a noite brincar comigo. Disse que mundo tava meio doido e que eu e mamãe e papai e irmãozinho logo teria de viajar pra bem longe. Que era perigoso, mas que ia cuidar de nós, e que um dia ela voltava para me ver. Fiquei triste de ver ela indo embora, não sabia quando ia ver anjinha de novo.

Um dia, muitos dia depois, acordei com um BUM. Papai entrou correndo no quarto de eu e irmãozinho e disse para gente ir pra baixo da cama no quarto de mamãe. Disse que era nova brincadeira que a gente ia fazer toda hora que desse um BUM. Tava com medo. Nesses dia e noite tinha muitos, muitos BUM, e a casa tremia toda que nem na história dos porquinho.

Assim foi muito tempo e eu e irmãozinho já não saia muito de casa. Em volta de casa tudo ficava cheio de pó e bem cinza, cheiro ruim! Não ia mais a parque, nem sabia se tinha parque ainda. Babani tava sendo atacada pelos homens mau do Isi. Papai falou que o povo do Curdão ia defender cidade e com máquina de fazer BUM iam fazer povo mau correr pra longe.

Eu tinha saudade de anjinha, mas não falava para mamãe nem papai porque eles já tava muito chatiado com tanto BUM que estourava em Babani. Mamãe chorava mais que irmãozinho. Eu não chorava porque meu pai falou que não era bom de homem chorar. E eu não era mais bebezinho.

No dia que papai chorou, foi porque tinha de sair de casa, sair de Babani e do Curdão. Papai pegou terra de Babani na mão e beijou, e disse que um dia a gente voltava, mas que a gente tinha de ir para a terra da titia, no Nanadá, para ter escola e parque e brincadeira para eu e irmãozinho de volta. Papai disse que a gente ia pra Tuquia e ia pegar um barco bem bonito na praia. Eu nunca tinha ido na praia nem andado de barco! Achei que anjinha tava enganada em preocupar comigo. Era muito bom fazer viagem depois de ficar tantos tempo em casa sem nada para brincar, com mamãe e irmãozinho chorando, e tanto BUM, BUM, BUM!

Assim a gente pegou camião cheio de pessoa que não sabia o nome. Mas papai disse que era tudo gente boa, que também tinha de viajar com a gente. Ali naqueles dia andando no camião com tudo tremendo, fiquei com fome e sede vez de quando, mas foi legal porque vi muitas terra de longe e conheci algumas crianças já maiores que eu. Algumas delas chorava vez de quando também. Não eu, porque sabia que anjinha tava de olho em eu, em mamãe, papai e irmãozinho.

A gente chego na praia. Que lindo o marzão. Nossa dava vontade de ir correndo lá no fundo até ver o que tinha do outro lado. Mas papai disse que eu não podia andar na água e que afundar era perigoso e coisa assim. Disse que para a gente andar em cima da água tinha de ir de barco.

Mas quando chego o barco papai ficou muito chatiado. Disse que era barquinho pequeno demais para toda a gente. Mesmo assim a gente foi. Eu gostei porque nunca tinha ido de barco, e tremia menos que camião. A gente toda apertada em barco era que nem brincadeira em parquinho com todas criança na areia. No começo as onda balançava a gente mas não muito, e assim foi indo e indo e indo, e já quase não via nem praia nem Tuquia nem Babani. Tinha saído do Curdão e indo pro Nanadá.

Depois as onda começou a balançar demais a gente. Teve gente que fez coisa feia e cuspiu comida para fora. Mas eu não fazia isso porque sabia que era coisa feia. Assim foi indo toda a gente no barco, cheio de medo. Irmãozinho começa a chorar e muita gente começa a reza para Alá. Mas eu não sei reza e daí eu só lembrava da anjinha que disse que ia cuidar de nós.

Então o barco viro e caí na água gelada do mar. Tava gelada demais e não lembro direito o que passou. Lembro que papai gritava e tentava segurar eu e irmãozinho e mamãe, mas não deu para ele segurar nós tudo porque vinha muitas onda, sobe e desce de onda enorme no mar. Assim eu nem senti direito quando escorreguei que nem fazia a anjinha, só que de baixo pra cima.

Escorreguei do mar para o céu e lá tava a anjinha e um pavão bem bonito. Não dava para entender em que casa eu tava, nem se anjinha tava triste ou feliz. Anjinha tava é preocupada com resto de nós que ficou no mar. Eu não, porque tava bem melhor ali do que na água gelada, e sabia que anjinha ia ajudar mamãe e papai e irmãozinho a chegar no Nanadá.

Eu não, eu não queria ir pro Nanadá ver titia. Queria ver anjinha, então para mim tava bom. Mas eu queria saber só uma coisa, então disse pra ela:

“Mas por que homens mau do Isi vem e faz maldade em Babani se nós nunca fez maldade para eles?”

Assim, anjinha deu sorriso que nem os tempo que vinha de noite escorregar no meu quarto e me disse:

“Aylan, eles se esqueceram a tempo demais como é ser criança…”


* Conto inspirado no que vi no documentário “Kobani Vive”, que traz o olhar do fotógrafo brasileiro Gabriel Chaim sobre as ruínas de Kobani, a cidade curda que derrotou o Estado Islâmico, perto da fronteira entre a Síria e a Turquia. Através dele, podemos imaginar porque o pai de Aylan Kurdi decidiu fugir de Kobani, onde vivia, para tentar alcançar sua irmã no Canadá. Também incluí algumas pitadas da mitologia dos Iazidis, uma minoria curda que até hoje segue uma vertente do zoroastrismo antigo. Os curdos são um dos povos, no mundo, que vive sem país próprio.

Saiba mais sobre o autor em www.raph.com.br

Obs.: Texto destinado ao site Morte Súbita inc.

 

Postagem original feita no https://mortesubita.net/espiritualismo/aylan/

Chupacabra

Tudo teve início no começo dos anos 90, onde na América central dezenas de galinhas, ovelhas e alguns mamíferos de fazendas e chácaras foram encontrados todos mortos e com a mesma características, em Porto Rico centenas de casos foram constatados e várias fazendas as mesmas mortes estranhas aconteciam, então que diabos houve?

O pior é que os fatores e a descrição era os mesmos: Animal com perfurações semelhantes a mordidas feitas por caninos afiados. Os órgãos dos animais e sangue eram completamente sugados, deixando o animal seco. Esse caso se repetiu por toda a América Central, inclusive no México.

A chegada no Brasil

Em 1996 em Sorocaba foram 3 galinhas “sugadas” por algo, 4 cabras no mês de fevereiro, até o o mês de julho foram sugadas 30 galinhas e outros animais, e para piorar todo o interior de São Paulo foi tomado por esse suposto chupacabra. Virou realmente mania, até que o programa Domingo Legal foi ao ar com essa matéria na mesma época, e um homem todo disfarçado mostrou um cadáver de um animal que ele dizia ser um chupacabra.

Durante a semana um biólogo viu o cadáver e relatou que não se passava de uma armação, era apenas uma raia morta que foi banhada com algumas substâncias químicas, mostrando ao Brasil essa fraude.

Mas durante a semana mandaram um e-mail falando que capturaram um chupacabra e ele estava vivo! Mas essa reportagem não teve procedimento, o motivo não sei até hoje.

O Brasil verdade mostrou também fatos estranhos sobre o chupacabra, um curioso foi sobre o paranormal Urandir Fernandes Oliveira (Repare as iniciais: UFO), ele diz ter contato com seres alienígena, e tem poderes paranormais por causa deles, ele afirmou que na Índia foram criados monstros, seriam esses os chupacabras?

Ele disse também que existe tipos de onças que atacam dessa maneira, o Brasil Verdade relatou essa entrevista e viu algo fora do comum, mostrou ao vivo que uma nave alienígena raptou o Urandir, isso deu uma polêmica fantástica.

O Chupa-chupa

Aconteceu também, em meados do anos 70 e 80, um estranho fenômeno: o Chupa-chupa. O Chupa-chupa era (ou melhor, é) quando os alienígenas, de alguma forma, chupam o sangue de seres vivos da Terra.

Esse fenômeno já ocorreu e ocorre no Brasil. Muitas pessoas ficavam com medo do fenômeno Chupa-chupa.

Será que o Chupacabra não é uma das manifestações do Chupa-chupa?

Mas vamos prosseguir. O fenômeno se repetiu novamente em 16 de julho, no Ceará. O fato foi relatado pelo jornal Diário do Nordeste. Um homem estava pescando no Rio Acaraú, quando foi envolvido por uma luz.

Ele então se escondeu entre um matagal e próximo a uma carnaubeira, quando foi atingido por uma sonda e caiu desacordado. Ao acordar, estava com uma cicatriz no braço. O diagnóstico constatava a formação de três lesões, com incisões, supostamente feitas pela mordida de um bicho.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/chupacabra/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/chupacabra/

Albert Mackey

Alguns autores e obras são citados constantemente na maioria dos livros pela sua importância cronológica e, mais ainda, pela contribuição imprescindível que deram na organização de nossa instituição. Poderíamos mencionar os trabalhos eternos de Joseph Paul Oswald Wirth, Robert Freke Gould, George Kloss, William Hutchinson, René Guénon, Wilhelm Begemann, Eliphas Levy, Alec Mellor e tantos outros não menos importantes. Trataremos aqui, de maneira breve, da obra de Albert Gallatin Mackey, possivelmente, o mais citado de todos os autores, fato este que se deve a especificamente um de seus legados.

O americano Albert Gallatin Mackey talvez tenha sido o mais importante historiador e jurista maçônico que aquela nação já produziu. Segundo seus próprios compatriotas, até hoje não se avaliou adequadamente as conseqüência que seus trabalhos tiveram sobre a maçonaria, não só americana, mas também de todo o mundo.

Dos Irmãos Americanos que conquistaram fama internacional no mundo maçônico, vários foram escritores cujos trabalhos ajudaram na formação e na extensão da luz maçônica, dentre estes nenhum escreveu tão volumosamente como o fez Mackey.

Nascido em 12 de março de 1807 na cidade de Charleston no estado americano da Carolina do Sul, Albert Mackey graduou-se com honras na faculdade de medicina daquela cidade em 1834. Praticou sua profissão por vinte anos, após o que dedicou quase que completamente sua vida à obra maçônica.

Recebeu o grau 33, o último grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, e tornou-se membro do Supremo Conselho onde serviu como Secretario-Geral durante anos. Foi nesta época que ele manteve uma estreita associação com outro famoso maçom a americano, Albert Pike.

Participou como membro ativo de muitas lojas, inclusive a legendária “Solomon’s Lodge No. 1,” (http://www.solomonslodge.org/main.htm), fundada em 1734, que é, ainda hoje, a mais famosa e mais antiga loja operando continuamente na América do Norte. Ocupou inúmeros cargos de destaque nos mais altos postos da hierarquia maçônica de seu país.

Pessoalmente o Dr. Mackey foi considerado encantador por um círculo grande de amigos íntimos. Seu comportamento representava bem o que, entre os americanos, é chamado de cortesia sulista. Sempre que se interessava por um assunto era muito animado em sua discussão, até mesmo eloqüente. Generoso, honesto, leal, sincero, ele mereceu bem os elogios e qualificações que recebeu de inúmeros maçons de destaque.

Um revisor da obra de Mackey disse que, como autor de literatura e ciência maçônica, ele trabalhou mais que qualquer outro na América ou na Europa. Em 1845 ele publicou seu primeiro trabalho, intitulado Um Léxico de Maçonaria, depois disto seguiram-se: “The True Mystic Tie” 1851; The Ahiman Rezon of South Carolina,1852; Principles of Masonic Law, 1856; Book of the Chapter, 1858; Text-Book of Masonic Jurisprudence, 1859; History of Freemasonry in South Carolina, 1861; Manuel of the Lodge, 1862; Cryptic Masonry, 1867; Symbolism of Freemasonry, and Masonic Ritual, 1869; Encyclopedia of Freemasonry, 1874; and Masonic Parliamentary Law 1875.

Mackey esteve até o fim da vida envolvido com a produção de conhecimento maçônico. Além dos livros citados ele contribuiu com freqüência para diversos periódicos e também foi editor de alguns. Por fim, publicou uma monumental “History of Freemasonry”, que possui sete volumes. Um testemunho da importância e popularidade que os livros escritos por Mackey têm é o fato de que muitos deles são editados até hoje e estão à venda em livrarias, inclusive pela Internet. No Brasil, por exemplo, é possível encontrar pelo preço aproximado de R$54,00 um exemplar de “History of Freemasonry” (http://www.sodiler.com.br/index.cfm). No site da livraria Amazon (www.amazom.com), tida como a maior da Internet, é possível adquirir 26 edições diferentes quando se procura livros usando como referência as palavras Albert Mackey. Para quem tem habilidade de leitura em inglês, é possível ler um livro inteiro de Mackey disponível na internet. O título “Symbolism of Freemasonry” ou o Simbolismo na Maçonaria, de 364 páginas, que pode ser encontrado neste link. Dos muitos trabalhos que o Dr. Mackey legou à posteridade, um julgamento quase universal identifica a “Encyclopedia of Freemasonry” como a obra de maior importância. Anteriormente a publicação deste livro não havia nenhum de igual teor e extensão em qualquer parte do mundo. Esta obra teve muitas edições e foi revisada várias vezes por outros autores maçônicos.

A contribuição de Mackey para o pensamento e leis maçônicas, produto de sua mente clara e precisa, é tida como de fundamental importância. Praticamente toda a legislação maçônica fundamental é hoje interpretada com base em alguns de seus escritos. É verdade que algumas de suas obras contêm enganos, mas o conjunto é de extremo valor e, em particular, um trabalho tem especial destaque no mundo todo. A compilação feita por ele dos marcos ou referenciais básicos da maçonaria é adotada como fundamento em vários ritos e obediências. Estamos falando aqui dos tão mencionados e conhecidos “Landmarks”.

A primeira vez em que se fez menção à palavra Landmark em Maçonaria foi nos Regulamentos Gerais compilados em 1720 por George Payne, durante o seu segundo mandato como Grão-Mestre da Grande Loja de Londres, e adotados em 1721, como lei orgânica e terceira parte integrante das Constituições dos Maçons Livres, a conhecida Constituição de Anderson, que, em sua prescrição 39, assim, estabelecia:

“XXXIX – Cada Grande Loja anual tem inerente poder e autoridade para modificar este Regulamento ou redigir um novo em benefício desta Fraternidade, contanto que sejam mantidos invariáveis os antigos Landmarks…”

A tradução da palavra Landmark do inglês para o português resulta no substantivo “marco”, que, caso consultemos o dicionário Aurélio, tem o seguinte significado: marco [De marca.] S. m. 1. Sinal de demarcação, ordinariamente de pedra ou de granito oblongo, que se põe nos limites territoriais. [Cf. baliza (1).] 2. Coluna, pirâmide, cilindro, etc., de granito ou mármore, para assinalar um local ou acontecimento: o marco da fundação da cidade. 3. Qualquer acidente natural que se aproveita para sinal de demarcação. 4. Fig. Fronteira, limite: os marcos do conhecimento.

Estas definições exemplificam bem o contexto no qual o termo Landmark é utilizado, além de fazer uma referência quase explícita às origens operativas da maçonaria, quem já construiu algo em alvenaria sabe que a fixação dos marcos é um dos primeiros momentos da obra e um passo fundamental para a sua execução. Sem marcos bem estabelecidos fica muito difícil a obra ser bem executada.

Os Landmarks, que podem ser considerados uma “constituição maçônica não escrita”, longe de serem uma questão pacífica, se constituem numa das mais controvertidas demandas da Maçonaria, um problema de difícil solução para a Maçonaria Especulativa. Há grandes divergências entre os estudiosos e pesquisadores maçônicos acerca das definições e nomenclatura dos Landmarks. Existem várias e várias classificações de Landmarks, cada uma com um número variado deles, que vai de 3 até 54. Virgilio A. Lasca, em “Princípios Fundamentales de la Orden e los Verdaderos Landmarks”, menciona uma relação de quinze compilações.

As Potências Maçônicas latino-americanas, via de regra, adotam a classificação de vinte e cinco Landmarks compilada por Albert Gallatin Mackey. Deve-se a isto a frequência com que o Mackey é mencionado também entre nós.

Segundo estudiosos do assunto, a compilação de Mackey teve sucesso por que conseguiu ir ao passado e trazer as tradições e costumes imemoriais à prática maçônica moderna. Este trabalho estabeleceu a ordem em meio ao caos, fornecendo um ponto de partida para os juristas e legisladores maçônicos que o seguiram.

Fato é que o grande trabalho de Mackey em jurisprudência, e mesmo o que se estende além dos Landmarks ou da jurisprudência, sobreviveu ao teste do tempo. Ainda hoje ele é freqüentemente citado como uma autoridade final. Suas contribuições tiveram, e ainda tem, um efeito profundo e permeiam grande parte do pensamento maçônico moderno. Ao criar sua obra, este autor, estava na realidade criando os marcos sobre os quais foi possível edificar grande parte do conhecimento maçônico que se produziu posteriormente.

Albert Gallatin Mackey passou ao oriente eterno em Fortress Monroe, Virgínia, em 20 de junho de 1881, aos 74 anos. Foi enterrado em Washington em 26 de junho, tendo recebido as mais altas honras por parte de diversos Ritos e Ordens. Hoje existe nos Estados Unidos uma condecoração, a “Albert Gallatin Mackey Medal” , que é a mais alta condecoração concedida a alguém que muito tenha contribuído para a causa maçônica.

Bibliografia:

Este trabalho foi elaborado tendo como base a bibliografia listada abaixo, sendo que dela foram retirados as idéias centrais, referências e inclusive transcrições literais.

1-Publicação da Aug.’. Resp.’. Loj.’. Simb.’. São Paulo nº 43. (http://www.lojasaopaulo43.com.br/publicacoes.php)
2-Publicação da Gran.’. Loj.’.Maç.’.do Estado da Paraíba. (http://www.grandeloja-pb.org.br/legis_landmarks.htm)
3-The Grand Lodge of Free and Accepted Masons of the State of California (http://www.freemason.org/mased/stb/stbtitle/stb1936/stb-1936-02.txt)

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/albert-mackey/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/albert-mackey/

Migração de Almas

O que leva um povo a ser o que ele é? Cultura, tradições? Por que certas gerações dão um salto qualitativo em um país e depois desaparecem ser deixar vestígios? O que é a Grécia de hoje senão um pálido reflexo do seu passado glorioso? E onde estão os ousados navegadores portugueses e espanhóis de outrora? Como uma nação medíocre (adequadamente representados na figura do seu presidente atual) atinge o nível de única potência mundial?

Em um capítulo do livro A caminho da Luz Emmanuel nos fala das transmigrações de povos, que seriam a mudança da coletividade de almas de um país para outro, obedecendo aos desígnios do Alto, para que se cumpram as obrigações kármicas coletivas e a evolução da humanidade como um todo.

Assim, vimos nos últimos séculos os antigos fenícios reencarnarem na Espanha e em Portugal, entregando-se de novo às suas predileções pelo mar. Em Paris estava a alma ateniense nas suas elevadas indagações filosóficas e científicas, abrindo caminhos claros ao direito dos homens e dos povos. Na Alemanha e na Rússia reencarnou o belicoso grupo espiritual de Esparta, cuja educação defeituosa e transviada construiu o espírito detestável do pangermanismo na Alemanha e o atraso do Socialismo na União Soviética.

Abro aqui um imenso parêntese para falar mais do fenômeno de guerra alemão. Não através do meu ponto de vista, mas do de alguém que esteve no comando da resistência inglesa contra o avanço germânico, alguém que não era nenhum santo (nem poderia sê-lo) e a quem todos os povos livres devem a sua liberdade:

Certamente não caberá a esta geração pronunciar o veredicto final sobre a Grande Guerra. O povo alemão merece explicações melhores do que a versão leviana de que ele estava solapado pela propaganda inimiga… No entanto, os registros humanos não contêm nenhuma manifestação igual à erupção do vulcão alemão

(Winston Churchill)

Em seu livro sobre a primeira guerra, Churchill analisa a beligerância alemã:

Durante quatro anos, a Alemanha combateu e desafiou os cinco continentes do mundo por terra, mar e ar. Os exércitos alemães sustentaram seus vacilantes confederados, intervieram com êxito em todos os teatros de guerra, resistiram em toda parte no território conquistado e infligiram aos inimigos mais do dobro do derramamento de sangue que sofreram. Para lhes dominar a força e a técnica e para lhes refrear a fúria, foi necessário levar todas as maiores nações da humanidade ao campo de batalha contra eles. Populações imensas, recursos ilimitados, sacrifício incomensurável, o bloqueio marítimo não conseguiram triunfar durante cinqüenta meses. Estados pequenos foram calcados no conflito; um poderoso Império foi demolido em fragmentos irreconhecíveis; e quase vinte milhões de homens pereceram ou derramaram seu sangue antes que a espada fosse arrancada daquela terrível mão.

Na Inglaterra ficou a nata dos antigos fundadores romanos, com a sua educação e a sua prudência, retomando de novo as rédeas perdidas do Império Romano, para beneficiar as almas que aguardaram, por tantos séculos, a sua proteção e o seu auxílio.

Isso foi em 1938, quando foi escrito o livro A caminho da Luz. Mas Emmanuel já profetizava uma mudança de forças, com o crescimento da importância das Américas no cenário mundial:

“Embora compelida a participar das lutas próximas, pelo determinismo das circunstâncias de sua vida política, a América está destinada a receber o cetro da civilização e da cultura, na orientação dos povos porvindouros. Condenada pelas sentenças irrevogáveis de seus erros sociais e políticos, a superioridade européia desaparecerá para sempre, como o Império Romano, entregando à América o fruto das suas experiências, com vistas à civilização do porvir. Vive-se agora, na Terra, um crepúsculo, ao qual sucederá profunda noite; e ao século XX compete a missão do desfecho desses acontecimentos espantosos.”

Ao menos esse foi o “plano” da espiritualidade. Os norte-americanos agarraram a oportunidade e se tornaram um Império. O Brasil (que deveria ser o celeiro do mundo e a pátria do evangelho) não. Talvez tenha sido melhor, afinal os EUA são hoje a representação decadente do Império Romano, mantendo consigo seus símbolos (capitólio, águia, etc) e seu espírito belicoso e puramente explorador, entrando novamente em combate com os “bárbaros”.

Mas como toda ação gera uma reação em sentido contrário, no mundo árabe vemos o surgimento dos grupos suicidas (coisa impensável para quem segue o Alcorão, que é claramente contra o suicídio). De onde esses jovens fanáticos vieram? Que grupo espiritual alimentaria um ódio recente pelos EUA a ponto de encarnar num país apenas pela oportunidade de vingança? Como em tudo na vida, discernimento é fundamental, e devemos levar em consideração todos os fatores políticos e sociológicos, mas, como estamos falando exclusivamente da parte espiritual, podemos perceber claramente traços do espírito guerreiro japonês da segunda guerra no modus operandi desses terroristas. Morrer para matar o inimigo (mesmo que não se cumpra nenhum grande objetivo, a não ser vingança) é morrer com honra, e em 1944, nos combates do Pacífico, os Norte-americanos viram tal pensamento se materializar como um pesadelo (seja na luta ferrenha pra defender uma ilha já cercada, seja nos aviões kamikaze, ou nas bombas-oka, torpedos-humanos, etc). O ataque final do filme O último samurai não é uma licença poética: está plenamente de acordo com o espírito japonês que persistia até há pouco (hoje em dia os japoneses são umas moças, em comparação com seus ancestrais).

#Espiritualidade

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/migra%C3%A7%C3%A3o-de-almas