Magia e Mistério no Tibete

Os aspectos mágicos são sempre lembrados quando se fala sobre o Tibete. Com a vinda do Dalai Lama ao Brasil, a redação de Bodisatva e o C.E.B. receberam cartas com perguntas que deveriam ser formuladas a Sua Santidade buscando esclarecer estas questões. Temas como reencarnação, identificação de lamas reencarnados, oráculos, o exame do budismo pela ciência, a noção de “vazio” e sua contribuição ao pensamento ocidental, entre outros, são muito relevantes no nosso contexto cultural, sendo áreas de diálogo e superposições.

Em seu livro “Freedom in Exile”*, S.S. dedica um capítulo inteiro a este tema, cuja tradução e resumo Bodisatva aqui apresenta. A importância dessa obra pode ser avaliada pelo fato de S.S. ter ofertado cópias do livro a todas as autoridades com quem trocou presentes e a vários dos colaboradores do programa de sua visita ao Brasil.

Freqüentemente sou perguntado sobre os aspectos assim chamados “mágicos” do budismo tibetano. Muitas pessoas no Ocidente querem saber se os livros sobre o Tibete, escritos por pessoas como Lobsang Rampa e alguns outros, onde se fala em práticas ocultas, são verdadeiros. Também me perguntam se Shambhala (um país legendário referido em certas escrituras e supostamente oculto nas regiões desérticas do norte do Tibete) realmente existe. Há também a carta que eu recebi de um eminente cientista, no início dos anos 60, dizendo que ele havia ouvido que certos lamas são capazes de realizar certos fenômenos sobrenaturais, e perguntando se ele mesmo poderia realizar experimentos para determinar a veracidade disso.

Em reposta à primeira destas questões, usualmente digo que a maioria desses livros são frutos da imaginação e que Shambhala existe sim, mas não em um sentido convencional. Ao mesmo tempo, seria errado negar que algumas práticas tântricas dão origem a fenômenos misteriosos. Por essa razão, escrevendo ao cientista, por um lado disse que o que ele havia ouvido estava correto, mas, por outro lado, tinha que lastimar o fato de que tal pessoa, sobre a qual os experimentos poderiam ser realizados, ainda não havia nascido! De fato, na época, várias razões práticas tornavam impossível colaborar em pesquisas desse tipo.

Desde então, no entanto, vim a concordar com a realização de várias investigações científicas sobre a natureza de certas práticas específicas. O primeiro desses trabalhos foi realizado pelo Dr. Herbert Benson, que é atualmente o chefe do Departamento de Medicina Comportamental de Faculdade de Medicina de Universidade de Harvard, EUA. Quando nos encontramos durante a minha visita de 1979, ele me disse que estava trabalhando na análise do que ele chama de “relaxation response”, um fenômeno fisiológico encontrado quando uma pessoa entra em um estado meditativo. Ele acreditava que poderia ir adiante em seu estudo se pudesse fazer experimentos com praticantes muito avançados de meditação.

Como alguém que crê fortemente no valor da ciência moderna, decidi deixá-lo ir adiante com a idéia, não sem alguma hesitação. Eu sabia que muitos tibetano não gostavam muito dessa idéia, eles sentiam que o acesso a essas práticas deveria ser mantido restrito, uma vez que elas vêm de doutrinas secretas. Por outro lado, argumentei sobre a possibilidade de que os resultados de tal estudo poderiam beneficiar não apenas a ciência, mas também os praticantes de religião, e poderiam, portanto, ser de benefício geral para a humanidade.

No evento, Dr. Benson ficou satisfeito por ter encontrado algo extraordinário. (Suas pesquisas foram publicadas em muitos livros e jornais científicos, entre os quais Nature.) Ele veio à Índia acompanhado de dois assistentes e trazendo sofisticado equipamento científico, tendo conduzido os experimentos com alguns monges em mosteiros próximos de Dharamsala, e ao norte, no Ladakh e Sikkim.

Tais monges eram praticantes de Tum-mo Yoga, excelente para demostrar a eficiência de certas disciplinas tântricas particulares. Meditando com a atenção nos chakras (centros de energia) e nos nadis (canais de energia), o praticante é capaz de controlar e suspender temporariamente a operação dos níveis mais grosseiros da consciência, podendo experienciar níveis mais sutis de consciência. Os mais grosseiros pertencem à percepção ordinária — tato, visão, olfato, e assim por diante — enquanto que os mais sutis são os experienciados no momento da morte. Um dos objetos do Tantra é capacitar o praticante a “experienciar” a morte, pois é aí, então, que surgem as experiências espirituais mais poderosas.

Quando são suprimidos os níveis mais ordinários de consciência, podem ser observados fenômenos fisiológicos colaterais. Nos experimentos do Dr. Benson, esses efeitos incluíram a acentuada elevação da temperatura do corpo (medida internamente por uma termômetro retal e externamente por um termômetro na pele). Esses acréscimos levaram os monges a secarem lençóis mergulhados em água fria e enrolados em vota deles, mesmo em temperaturas externas abaixo de zero. O Dr. Benzon também testemunhou e mediu, de forma semelhante, monges sentados nus sobre a neve. (…)

Sejam quais forem os mecanismos aqui envolvidos, o que mais interessa é a clara visão de que existem coisas que a ciência moderna pode aprender da cultura tibetana. E mais, eu acredito que muitas outras áreas de nossa experiência poderiam ser investigadas proveitosamente. Por exemplo, eu gostaria de organizar algum dia uma experiência sobre os oráculos, que permanecem uma parte importante da vida tibetana.

Antes de falar disso em detalhe, gostaria de enfatizar que o propósito dos oráculos não é, como poderíamos supor, simplesmente antever o futuro. Isto é apenas parte do que eles fazem. Além disso, eles podem ser chamados como protetores ou, em alguns casos, como agentes de cura. Sua principal função, no entanto, é auxiliar os pessoas em sua prática do Darma. Outro ponto a lembrar é que a palavra “oráculo”, ela própria, conduz a enganos, uma vez que traz implícito que existem pessoas que possuem poderes de ser um oráculo. Isto é errado. Na tradição tibetana existem apenas certos homens e mulheres que atuam como médium entre os mundos natural e espiritual e que são chamados de kuten, o que significa, literalmente, “base física”. Também é importante enfatizar que, embora seja de uso corrente falar do oráculo como uma pessoa, isso é feito apenas por conveniência. De modo mais acurado, eles podem ser descritos como “espíritos” que estão associados a coisas particulares (por exemplo, uma estátua), pessoas e lugares. Isso não deve, no entanto, implicar na crença da existência de entidade externas independentes.

Em tempos antigos havia muitas centenas de oráculos por todo o Tibete. Poucos se mantiveram, mas os mais importantes — os usados pelo governo tibetano — ainda existem. Desses, o principal é conhecido como oráculo de Nechung. Através dele se manifesta Dorje Drakden, uma das divindades protetoras do Dalai Lama.

Nechung veio originalmente para o Tibete com um descendente do sábio indiano Dharmapala, estabelecendo-se em um lugar da Ásia Central chamado Bata Hor. Durante o reinado do rei Trisong Dretsen, no oitavo século a.C., ele foi designado pelo mestre tântrico indiano Padmasambhava, supremo guardião espiritual do Tibete, como protetor do mosteiro de Samye. Subseqüentemente, o segundo Dalai Lama desenvolveu uma relação muito próxima com Nechung, que nessa época havia estabelecida uma relação muito próxima com o monastério de Drepung, e após, Dorje Drakden designado com protetor pessoal dos Dalai Lamas que se sucederam.

Por centenas de anos até os dias presentes, tornou-se tradicional, para o Dalai Lama e para o governo tibetano, consultar Nechung durante os festivais de ano novo. Mas além dessas oportunidades, ele poderia ser chamado outras vezes para responder perguntas específicas. Eu mesmo o encontro muitas vezes por ano. Isso pode parecer estranho para os leitores ocidentais do século XX. Mesmo alguns tibetanos, que se consideram “progressistas”, não apreciam o meu uso continuado desse método antigo de buscar a compreensão das coisas. Faço isso pela razão simples de que quando olho para trás e relembro as muitas ocasiões em que formulei perguntas ao oráculo, em cada uma delas o tempo mostrou que sua reposta estava correta. Não que eu me baseie apenas nas respostas do oráculo. Não é assim. Busco sua opinião da mesma forma que busco a opinião do meu Gabinete (o Kashag), e da mesma forma que busco a opinião de minha própria consciência. Considero os deuses como minha “casa de cima”. O Kashag constitui minha “casa de baixo”. Á semelhança de outro líderes, consulto a ambos quando devo tomar uma decisão em assuntos de estado. Além disso, adicionalmente ao conselho de Nechung, também procuro levar em consideração certas profecias. Apesar de nossas funções serem similares, minha relação com Nechung é a do comandante com o ajudante: nunca me inclino a ele, ele é que se inclina ao Dalai Lama. Ainda assim somos muito próximos, quase amigos.

Ainda que possa parecer surpreendente, as respostas do oráculo raramente são vagas. Como no caso de minha fuga de Lhasa, ele é freqüentemente muito específico. Ainda assim, creio que seria difícil que algum tipo de investigação científica pudesse provar conclusivamente a validade de seus pronunciamentos. O mesmo se dá com outras áreas da experiência tibetana, por exemplo, a questão dos tulkus. Ainda assim, espero que, algum dia, possa ser realizado algum tipo de experimento com respeito a esses dois fenômenos.

Na realidade, a tarefa de identificar os tulkus é mais lógica do que pode parecer á primeira vista. Dada a crença budista no renascimento, e considerando que todo o propósito da reencarnação é possibilitar ao ser continuar seus esforços em benefício de todos os seres vivos, é uma conclusão clara que deveria ser possível identificar casos individuais. Isso habilita-os a serem educados e colocados no mundo de tal forma que continuem seu trabalho o mais rápido possível.

Certamente podem ocorrer eventuais erros nesse processo de identificação, mas as vidas da grande maioria dos tulkus (atualmente existem algumas centenas deles reconhecido, sendo que antes da invasão chinesa eram provavelmente milhares os tulkus reconhecidos) são um testemunho de sua eficácia.

Como disse, todo o propósito de reencarnação é facilitar a continuidade do trabalho de um ser. Esse fato tem grandes implicações quando se busca pelo sucessor de uma pessoa em particular. Por exemplo, ainda que meus esforços sejam geralmente dirigidos a auxiliar todos os seres, em particular eles se dirigem a auxiliar os tibetanos. Portanto, se eu morrer antes dos tibetanos readquirirem sua liberdade, seria lógico admitir que eu renasceria fora do Tibete. Naturalmente, poderia ocorrer que meu povo, nessa ocasião, não visse mais utilidade para um Dalai Lama, e nesse caso não se ocuparia de procurar-me. Assim, eu poderia renascer como um inseto, ou como um animal, de tal forma que pudesse ser de maior utilidade ao maior número de seres secientes.

O modo pelo qual o processo de identificação é procedido é também menos misterioso do que se pode parecer. Começa com um simples processo de eliminação. Digamos, por exemplo, que estamos buscando a reencarnação de um certo monge. Primeiro, devemos estabelecer quando e onde o monge morreu. Então, considerando que a nova reencarnação será concebida usualmente em torno de um ano após a morte de seu predecessor — esta duração sabemos por experiência —, fica já estabelecido um referencial temporal. Então, se um lama X morre no ano Y, sua nova encarnação provavelmente nascerá dezoito meses a dois anos após. No ano Y mais cinco, a criança deverá estar com uma idade entre três e quatro anos: o campo de busca já se estreitou consideravelmente.

A seguir, tenta-se estabelecer o lugar da reencarnação. Usualmente isso é muito fácil. Primeiro, ocorrerá dentro do Tibete? Se fora, há um número muito limitado de lugares onde seria provável: as comunidades tibetanas da Índia, Nepal, Suíça, por exemplo. Após, precisaria se decidido em que cidade a criança seria mais provavelmente encontrada. Geralmente isso é feito buscando-se referências na vida prévia.

Tendo reduzido as opções e estabelecido os parâmetros do modo descrito, o próximo passo, usualmente, é organizar o grupo de busca. Isso não significa necessariamente que um grupo de pessoas deverá ser enviado como se estivessem buscando um tesouro. De modo geral, basta perguntar a várias pessoas da comunidade para procurar pelas crianças entre três e quatro anos que poderiam ser candidatos. De modo geral, existem algumas indicações que auxiliam, como fenômenos incomuns ocorridos quando do nascimento, ou a criança pode exibir características peculiares.

Algumas vezes, duas, três ou mais possibilidades emergirão neste estágio. Ocasionalmente tal grupo será inteiramente desnecessário, porque a encarnação anterior deixou informação detalhada, inclusive com o nome de seu sucessor e de seus pais. Mas isso é rara. Outras vezes, os que buscam o monge reencarnado podem ter sonhos claros ou visões sobre onde encontrar seu sucessor. De outro lado, um elevado lama recentemente deu ordens de que sua reencarnação não deveria ser procurada. Ele disse que melhor seria instalar como seu sucessor a quem quer que pareça capaz de servir ao Darma do Buda e a sua comunidade, em lugar de preocupar-se com uma identificação precisa. Não existem regras duras, rígidas.

Se ocorre que muitas crianças surgem como candidatos, é usual que alguém muito próximo à encarnação anterior venha a fazer o exame final. Freqüentemente essa pessoa será reconhecida por uma das crianças, o que é uma forte evidência de prova; outras vezes marcas especiais no corpo são também levadas em consideração.

Algumas vezes o processo de identificação envolve a consulta a oráculos ou a alguém que tenha o poder de ngon shé (clarividência). Um dos métodos que essas pessoas usam é o Ta, através do qual o praticante fixa o olhar em um espelho, no qual ele ou ela podem ver a própria criança, ou uma construção, ou uma palavra escrita. Eu chamo isso de “televisão antiga”. Isto corresponde às visões que as pessoas tiveram no lago Lhamoi Lhatso, onde Reting Rinpoche viu as letras Ah, Ka, e Ma e teve a visão de um mosteiro e de uma casa onde começou a buscar por mim.

Algumas vezes eu mesmo sou chamado para dirigir a busca por uma reencarnação. Nessas circunstâncias, é de minha responsabilidade tomar a decisão final sobre o candidato que deve ser corretamente escolhido. É importante que diga que eu não tenho poderes de clarividência. Não tive nem tempo nem oportunidade de desenvolvê-los, apesar de ter elementos para acreditar que o Décimo Terceiro Dalai Lama tenha tido alguma habilidade nessa esfera.

Como um exemplo de como faço isso, vou relatar a história de Ling Rinpoche, meu antigo tutor. Eu sempre tive o maior respeito por Ling Rinpoche; mesmo quando eu era uma criança, bastava apenas ver seu ajudante para ficar com medo, e tão pronto ouvia seus passos, meu coração paralisava. Com o tempo, vim a valorizá-lo como um de meus maiores e mais próximos amigos. Quando ele morreu, não faz muito tempo, senti que a vida sem ele ao meu lado seria muito difícil. Ele havia se tornado uma rocha sobre a qual eu podia me apoiar.

Estava na Suíça, no verão de 1983, quando pela primeira vez ouvi sobre sua doença: ele havia sofrido um derrame cerebral e ficara paralisado. Essas notícias me perturbaram muito, ainda que, como budista, soubesse que de nada adiantaria a preocupação. Tão pronto pude, retornei a Dharamsala, onde encontrei-o ainda com vida, mas em más condições físicas. Ainda assim, sua mente continuava aguda como sempre, graças a uma vida de constante treinamento mental. Sua condição permaneceu estável por muitos meses antes de subitamente deteriorar. Ele entrou em coma, de onde nunca saiu e morreu em 25 de dezembro de 1983. Mas, como se alguma evidência de ter sido uma pessoa extraordinária ainda fosse necessária, seu corpo não começou a se decompor antes de trinta dias após ter sido declarado morto, apesar do clima quente. Era como se ele ainda habitasse seu corpo, mesmo que clinicamente estivesse sem vida.

Quando olho para trás e vejo o modo pelo qual as coisas ocorreram, fico certo de que a doença de Ling Rinpoche, com sua duração prolongada, foi inteiramente deliberada, para ajudar a que me acostumasse com sua ausência. Isso, no entanto, é apenas a metade da história. Como estamos falando de tibetanos, tudo continua de forma feliz. A reencarnação de Ling Rinpoche já foi encontrada, e ele é atualmente um garoto muito vivo e espontâneo de três anos de idade. Sua descoberta foi um exemplo de quando a criança reconhece claramente um membro do grupo de busca. Apesar de estar com apenas 18 meses de idade, ele chamou pelo nome e se dirigiu sorrindo para esta pessoa. Subseqüentemente ele identificou corretamente muitos dos pertences de seu antecessor.

Quando encontrei o menino pela primeiro vez, não tive dúvida sobre sua identidade. Ele comportou-se de um modo que ficou óbvio que havia me reconhecido. Nessa ocasião eu dei ao pequeno Ling Rinpoche uma grande barra de chocolate. Ele permaneceu impassível segurando-a, braço estendido e cabeça inclinada durante todo o tempo em que esteve na minha presença. Não consigo lembrar de qualquer criança que tenha ficado com algo doce guardado sem abrir e provar, e tenha ficado parado, em pé, tão formalmente. Então, quando recebi o menino em minha residência e ele foi trazido até a porta, comportou-se exatamente como seu predecessor. Era evidente que ele lembrava do caminho. Após, quando entrou na minha sala de trabalho, imediatamente mostrou familiaridade com um dos meus auxiliares que, nessa época, se recuperava de uma perna quebrada. Em primeiro lugar, essa pequenina figura solenemente presenteou-o com um kata, e então, cheio de risadas e brincadeiras de criança, apanhou uma das muletas de Lobsang Gawa e correu em volta, sem parar, como se aquilo fosse um pau de bandeira.

Outra história muito impressionante sobre o menino refere-se ao tempo em que ele foi levado, na idade de dois anos, a Bodh Gaya, onde eu deveria dar ensinamentos. Sem que ninguém indicasse a ele e tendo subido uma escada com suas mãos e joelhos, encontrou minha cama e colocou um kata sobre ela. Hoje Ling Rinpoche já está recitando as escrituras, ainda que esteja para ser visto se ele, após aprender a ler, será como alguns dos jovens Tulkus que memorizam textos com uma velocidade estonteante, como se estivessem apenas pegando novamente o que haviam deixado. Eu conheço muitas crianças que podem declamar, com facilidade, várias páginas de texto.

Há, certamente, um elemento de mistério nesse processo de identificação dos reencarnados. Mas é suficiente dizer que, como budista, não acredito que pessoas como Mao ou Churchill apenas “acontecem”.

Uma outra área da experiência tibetana que eu gostaria muito que fosse examinada cientificamente é o sistema de medicina tibetana. Além de datar de mais de dois mil anos, derivou de várias diferentes fontes, incluindo a antiga Pérsia; hoje os princípios são inteiramente budistas. Ela tem uma abordagem inteiramente diferente da medicina ocidental. Por exemplo, ela afirma que as causas-raiz da doença são a ignorância, o desejo ou o rancor.

De acordo com a medicina tibetana, o corpo é dominado pelos três principais nopa, literalmente “venenos”, mas freqüentemente traduzidos como “humores”. Considera-se que esses nopa estão sempre presentes no organismo. Isto significa que nunca se pode estar completamente livre das doenças, pelo menos de seu potencial, mas contanto que esteja em equilíbrio, o corpo mantém-se saudável. Entretanto, um desbalanço causado por uma das três causas-raiz se manifestará como doença, o que é diagnosticado pelo pulso do paciente ou pelo exame de sua urina. Também existem doze principais lugares nas mãos e punhos onde o pulso é examinado. A urina é similarmente examinada de diferentes maneiras (como cor, cheiro, etc.). Com respeito ao tratamento, o primeiro aspecto é a dieta; os remédios formam a segunda linha; a acupuntura e moxabustão, a terceira; a cirurgia, a quarta. Os próprios medicamentos são feitos de materiais orgânicos, algumas vezes combinados com óxidos de metais e certos minerais (incluindo, por exemplo, diamantes moídos)

Até agora tem havido pouca pesquisa clínica com respeito ao valor do sistema médico tibetano, ainda que o meu médico pessoal anterior, Dr. Yeshe Dhonden, tenha participado de uma série de experimentos de laboratório na Universidade de Virgínea, EUA. Ele teve resultados surpreendentemente bons em curar o câncer em ratos brancos, mas muito mais trabalho será necessário até que se possa chegar a conclusões definitivas. Com respeito a minha experiência própria, vejo os medicamentos tibetanos como muito eficientes. Tomo-os regularmente, não apenas para curar, mas para prevenir-me de adoecer. Percebi que esses remédios promovem um reforço da constituição física do corpo e têm efeitos colaterais desprezíveis. O resultado é que, apesar de meus longos dias e períodos intensivos de meditação, eu quase nunca experimento a sensação de cansaço.

Ainda, uma outra área onde acredito que há uma região de diálogo entre a ciência moderna e a cultura tibetana concerne ao conhecimento teórico e não experiencial. Alguma das mais recentes descobertas da física de partículas parecem apontar para a não-dualidade entre mente e matéria. Por exemplo, foi encontrado que se um vácuo (o que significa o espaço vazio) é comprimido, aparecem partículas onde nada havia antes, o que seria matéria, de alguma maneira, aparentemente inerente. Essas descobertas parecem oferecer uma área de convergência entre a ciência e a teoria budista Madhyamika do vazio. Essencialmente, essa teoria afirma que a mente e a matéria existem separadamente, mas de forma interdependente.

Estou bem consciente, no entanto, do perigo de ligar as crenças espirituais a qualquer sistema científico. Pois, enquanto o budismo continua sendo relevante dois e meio milênios após seu início, os fundamentos absolutos da ciência têm uma vida relativamente muito mais curta. Isto não é para poder afirmar que eu considero que coisas como os oráculos ou a capacidade dos monges de ficarem ao relento durante noites, em condições de congelamento, seja uma evidência de poderes mágicos. Ainda assim não posso concordar com nossos irmãos e irmãs chineses, que sustentam que a aceitação desses fenômenos é uma evidência de nosso atraso e barbárie. Mesmo do mais rigorosos ponto de vista científico, esta não é uma atitude objetiva.

Ao mesmo tempo, mesmo que um princípio seja aceito, isso não significa que tudo que esteja conectado com ele seja válido. Por analogia, seria burlesco seguir escravizadamente e sem qualquer discriminação todas as afirmações de Marx e Lênin, mesmo em face da evidência clara de que o comunismo é um sistema imperfeito. É preciso manter grande vigilância em áreas onde não temos grande experiência. Isso, naturalmente, é onde a ciência pode auxiliar. Enfim, só vemos as coisas como misteriosas quando não as entendemos.

Até agora os resultados das pesquisas que descrevi têm sido benéficos para todas as partes. Compreendo, no entanto, que esses resultados são tão acurados quanto os experimentos que conduziram a eles. Além do mais, estou consciente que se algo não é encontrado isso não significa sua inexistência, isso apenas prova que o experimento foi incapaz de encontrá-lo. Esta é a razão pela qual precisamos ser cuidadosos em nossas pesquisas, especialmente quando lidando em uma área onde a pesquisa científica é pequena. É também importante manter em mente as limitações impostas pela própria natureza. Por exemplo, enquanto a investigação cientifica não pode apreender meus pensamentos, isso não significa que eles sejam inexistentes, nem que algum outro método de pesquisa não possa descobrir algo a respeito deles, e aí é que entra a experiência tibelana. Através do treinamento mental, desenvolvemos técnicas que a ciência atual não pode ainda explicar adequadamente. Isto, então, é a base da suposto “magia e mistério” do budismo tibetano.

Por: Dalai Lama.

#Budismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/magia-e-mist%C3%A9rio-no-tibete

Carl Jung Reloaded

A forma do mundo em que o homem nasceu já está dentro dele como imagem virtual. (Carl Jung)

Carl Gustav Jung era um jovem psiquiatra de Zurique na época em que conheceu e ficou fascinado pelo revolucionário psicanalista Sigmund Freud, no começo do século passado. A admiração mútua durou pouco mais de uma década, tendo os dois rompido relações por incompatibilidades pessoais e intelectuais, principalmente pela rejeição de Jung ao pansexualismo de Freud. Para Jung, o comportamento humano é condicionado não somente pela sua história individual e racial (causalidade), mas também pelos seus alvos e aspirações (teologia). O passado como realidade, e o futuro como aspiração/potencialidade dirigem o comportamento presente.

“O indivíduo vive para os alvos, assim como pelas causas.” (Carl Jung)

No primeiro filme, The Matrix, Neo aprende a viver por sua aspiração, que é primeiro libertar-se de algo que ele não conseguia ver ou saber, mas cuja opressão ele podia sentir em sua alma. Ele buscou essa libertação desesperada e inconscientemente, e foi ajudado por Morpheus e Trinity a sair da Matrix. Após o conhecimento do QUE o subjugava, sobreveio o medo, e a pequenez diante do poder do carcereiro (no caso, as máquinas). Precisou, novamente, de ajuda externa, na figura de Oráculo, que progressivamente o ensinou que buscar os seus objetivos é como respirar (ou amar): não deve haver dúvidas se você pode ou não pode, você apenas respira (ou ama) e aquilo é o natural. Sua mente, enganada (e subjugada) pelas máquinas durante toda a vida, poderia novamente ser enganada (e subjugada) por uma força ainda maior: ele mesmo. Inicia-se todo um esforço de desprogramação (desintoxicação) das limitações que o cerceavam na Matrix.

Foi em um momento de absoluta necessidade, quando não havia espaço para o raciocínio lógico, que uma parte do poder de Neo aflorou, e ele salvou Trinity da queda no helicóptero numa seqüência de acontecimentos que poderíamos chamar aqui de Sincronicidade, onde cada ação ocorreu em seu momento certo, da forma correta. Embora ele tenha tido este momento de epifania, dúvidas ainda pairavam em sua mente, dúvidas essas que o levaram ao erro (a bala que passou de raspão ao tentar desviar) e foi preciso que seu corpo na Matrix morresse (simbólica e literalmente) para que uma nova consciência pudesse despertar. Essa nova consciência, finalmente liberta das amarras da ilusão (Matrix), escolheu ensinar a humanidade o poder dessa libertação.

Assim termina o primeiro filme, que retrata um combate não externo, mas interno, contra a ilusão que nubla a própria mente consciente, ou ego, como veremos nos estudos de Carl Jung:
Ego ou mente consciente

É o responsável por nossos sentimentos de identidade e continuidade e, do ponto de vista da própria pessoa, é encarado como sendo o centro da personalidade. O budismo procura justamente aniquilar o ego, essa falsa percepção de identidade. O ego não foi produzido pela natureza para seguir ilimitadamente os seus próprios impulsos arbitrários, e sim para ajudar a realizar, verdadeiramente, a totalidade da Psique. Se, por exemplo, possuo algum dom artístico de que meu ego não está consciente, este talento não se desenvolve, e é como se fora inexistente. O ego é como o boi da parábola Zen, é a tração. Mas não confunda: o boi não guia, é guiado pelo cocheiro, mas, na maioria das vezes, nós mesmos deixamos o boi tomar o rumo que ele quer.
Inconsciente individual

Onde ficam as experiências que foram reprimidas, suprimidas, esquecidas ou ignoradas, e também experiências muito fracas para marcar a consciência do individuo. É aí que se encaixam os Complexos, que são grupos organizados de sentimentos, percepções e memórias, que ficam no inconsciente, mas atuando de forma determinante no consciente, podendo atuar até mesmo como uma personalidade autônoma, usando a psique para seus próprios fins.
Inconsciente coletivo

É o alicerce de toda a estrutura da personalidade. Sobre ele estão erigidos o ego, o inconsciente individual e todas as outras

“O conhecimento baseia-se não somente na verdade, mas no erro também.” (Carl Jung)

No segundo filme, Neo é alçado a um patamar de semi-Deus pelos seus amigos e habitantes de Zion. Não apenas ele libertou-se, como dominou o código da Matrix. Neo fica um pouco desconfortável com o assédio, mas seu ego se acomoda bem à posição de Super-Homem, e sua autoconfiança dentro da Matrix é visível, e perigosa. Vejamos o que Jung tem a dizer sobre os papéis que tomamos para nós mesmos e para a sociedade:
Arquétipos

São imagens recorrentes no inconsciente coletivo (formas-pensamento), que expressam e definem uma situação. São mais que um ícone, pois contêm uma grande carga de emoção (além da informação) que é transmitida a quem vê. Ex: Jesus na cruz simboliza um arquétipo de ser bondoso que sofreu injustamente e resignado, o que causa um efeito anestésico (inconsciente) em quem está passando por provações (por identificação). Já a andrógina e decidida Trinity se tornou (pra muitos) um arquétipo feminino desta geração, assim como sensual e produzida Marilyn Monroe o foi para a geração dos anos 60. Uma vez que esses arquétipos são assimilados pela pessoa, são trabalhados individualmente, podendo até assumir o controle da personalidade (no caso da Sombra). Não é preciso entrar em contato sensorial com o arquétipo para que eles atuem, já que cada indivíduo nasce com acesso a toda a “biblioteca de Arquétipos”, via Inconsciente Coletivo.
Persona

É a máscara usada pelo indivíduo em resposta às convenções e tradições sociais e às suas próprias necessidades arquetípicas internas. É o papel que a sociedade lhe atribui, que espera que você represente na vida. O propósito da máscara é produzir uma impressão definitiva nos outros e, muitas vezes (embora não obrigatoriamente) dissimula a verdadeira natureza do indivíduo, em oposição à personalidade privada, que existe por trás da fachada social. Se o ego se identificar com a persona, como freqüentemente o faz, o indivíduo terá mais consciência do papel que está representando do que de seus sentimentos genuínos. Será sugado pelo personagem, tornando-se um alienado de si mesmo e toda a sua personalidade toma um aspecto superficial e bidimensional (a persona assemelha-se, em certos casos, ao superego categorizado por Freud). O pós-estruturalismo veio reforçar a idéia do papel como esvaziador da potência do indivíduo, como um chefe que se deixa tomar pela importância do cargo, ou homem/mulher que sofre ou se anula em prol de um símbolo, que é a família ou o casamento. Lidamos com esses símbolos todo dia, seja em casa (com o pai, irmão), seja na rua (com o guarda), nos afazeres (com o professor, o chefe), até mesmo indiretamente (como o governador e o presidente), os símbolos se interpõem entre nós e as pessoas, assim como um software de computador nos apresenta um conjunto de símbolos que intermedia nossa comunicação com o processador da máquina.

“Mais cedo ou mais tarde tudo se transforma no seu contrário.” (Carl Jung)

“Aceite que tudo gira em torno do sexo, Mr. Jung. É inevitável!”

Continuando o filme, surge o combate de Neo com Smith. Neo fica surpreso em ver como ele está mais forte, e tem de fugir para não perder o combate. Aqui fica claro que há uma estreita relação entre os dois, que ambos podem intuir, mas, como ambos se detestam, não podem compreender as implicações de que um é instrumento de evolução do outro.
Sombra

O arquétipo da Sombra é o lado escuro da mente, moradia do inconsciente. Lá estariam guardados os instintos animais que o homem herdou de espécies primitivas na evolução, e também as funções menos utilizadas da personalidade. É representada pelas idéias, desejos e memórias que foram reprimidos pelo consciente, por ser incompatível com a Persona e contrárias aos padrões morais e sociais. Quanto mais forte for nossa Persona, e quanto mais nos identificarmos com ela, mais repudiaremos outras partes de nós mesmos. A Sombra representa aquilo que consideramos inferior em nossa personalidade e também aquilo que negligenciamos e nunca desenvolvemos em nós mesmos. Em sonhos, a Sombra freqüentemente aparece na forma daquilo que detestamos. No caso de Neo, um engravatado do governo. 

O estruturalismo (Lévi-Strauss, Barthes, Lacan etc) e a teoria dos sistemas (Luhmann) decretaram a “morte do sujeito”, o indivíduo do pensamento iluminista, em favor da sociedade ex-machina, vista de cima, de forma pragmática e objetiva. Esse é o papel do Arquiteto, o programa que construiu a Matrix. Para ele pessoas são números, equações que ele deve manter equilibradas. Entretanto, o ser humano é imprevisível, e alguns poucos desequilibraram o sistema várias vezes, causando um colapso.

O pós-estruturalismo defende que é a interação entre os elementos de um sistema que causa a entropia que destrói a estutura. Cuidar desses elementos individuais é o papel de Oráculo, um programa de salvaguarda do “sistema Matrix”. Ela tenta equilibrar os interesses do Arquiteto com o dos humanos “revoltados”, e naturalmente evoluiu para ser a intermediadora entre os dois lados.

Anima e Animus

Anima (alma, em latim) é a representação feminina no inconsciente do homem (que idéia ele faz, no seu íntimo, da mulher). O caráter da Anima é, em geral, determinado pela sua mãe. Se o homem sente que sua mãe teve sobre ele uma influencia negativa, sua Anima se manifestará de forma negativa, ou seja, ele poderá ser inseguro, apático, com medo de doenças, de impotência ou de acidentes (se ele conseguir combater essas influências negativas da Anima, sua masculinidade tende a fortalecer-se). A vida adquire um aspecto tristonho e opressivo, que pode levar o homem até mesmo ao suicídio. Se, por outro lado, a experiência com a mãe tiver sido positiva, a Anima poderá deixá-lo efeminado ou explorado por mulheres, incapaz de fazer face às dificuldades da vida (menino criado com vó dá nisso!). A manifestação mais freqüente de Anima é a que toma forma como fantasia erótica, que leva o homem a consumir revistas pornográficas, sex-shows, etc. É um aspecto primitivo e grosseiro da Anima, mas que só se torna compulsivo quando o homem não cultiva suficientemente suas relações afetivas – quando sua atitude para com a vida mantém-se infantil.Animus (espírito, em Latim) é o lado masculino no inconsciente da mulher. Assim, uma mulher muito feminina tem uma alma

“O encontro de duas personalidades é como o contato de duas substâncias químicas. Se há alguma reação, ambos são transformados”

masculina não desenvolvida (trabalhada). Em seu relacionamento com o mundo, se ela é impressionável, calorosa, estimulante e envolvente, seu lado masculino interior será muito diferente: duro, crítico, agressivo, prepotente… O Animus (assim como a Anima) possui 4 estágios de desenvolvimento: o primeiro como personificação da força física (o atleta, a força pelos músculos), no estágio seguinte, como o homem de ação (iniciativa e planejamento). No terceiro, manifesta-se como verbo, como professor, e na quarta e mais elevada manifestação torna-se (assim como a Anima) mediador de uma experiência na qual a vida adquire um novo sentido. Dá à mulher uma firmeza espiritual e um amparo interior, que compensa sua brandura exterior. Relaciona a mente feminina com a evolução espiritual da época, tornando-a assim mais receptiva a novas idéias criadoras do que o homem. É por este motivo que antigamente, em muitos países, cabia à mulher adivinhar o futuro ou a vontade dos Deuses. A audácia criadora do seu Animus positivo expressa, por vezes, pensamentos e idéias que estimulam a humanidade a novos empreendimentos.

Anima/us é também uma Sombra, e como tal pode ser projetada. Isso é feito quando a pessoa apaixona-se logo de cara, quando diz “É essa/esse!” e parece que se conhece essa pessoa há tempos. Pessoas fascinantemente misteriosas são as mais fáceis do homem/mulher projetar sua Anima/us, pois em torno delas pode-se tecer as mais variadas fantasias. Para sair desta ilusão é preciso reconhecer o Anima/us como um poder e qualidade interior. O objetivo de todo esse jogo do inconsciente é forçar o ser humano a desenvolver e amadurecer o próprio ser, integrando melhor a sua personalidade inconsciente e trazendo-a à realidade da vida (mesmo que seja através de subterfúgios, como projeções).

“Cada homem sempre carregou dentro de si a imagem da mulher; não a imagem desta ou daquela mulher, mas uma imagem feminina definitiva.” (Carl Jung)

Mas a Anima/us não é só negativa. Ao contrário, uma Anima bem trabalhada pode levar o homem ao seu pleno potencial. A função mais importante da Anima é ajudar a sintonizar a mente masculina com seus valores interiores positivos, assumindo então uma posição de mediadora entre o mundo interior e o Self. E é através deste desejo íntimo de trabalhar aspectos que o homem não possui, que um homem tímido tende a procurar alguém que seja extrovertida. Como no velho ditado “os opostos se atraem”, ou a “cara metade”, a “banda da laranja”, etc. As pessoas buscam o oposto nas outras pessoas quando na verdade é um subterfúgio do inconsciente para encontrar o oposto dentro delas mesmas.

“Atrás de um grande homem sempre existe uma grande mulher“. Verdade, embora o contrário também seja verdadeiro. Vemos este arquétipo de Anima como a salvação, a luz no fim do túnel, no livro A Divina Comédia, onde Beatriz guia Dante através de um (significativo e simbólico) caminho tortuoso e íngreme, que o leva à redenção (luz). Trinity simboliza a Anima de Neo em Matrix, e através dela (direta e indiretamente) ele pôde manifestar suas potencialidades. Na Índia vemos essa dualidade/complementação no casal de Deuses Shiva/Kali e Vishnu/Parvati.

No terceiro filme Neo fica cego (simbolicamente perdido, cercado pela escuridão) e é guiado (literalmente pela mão) por Trinity, que pilota a nave até seu objetivo (a cidade das máquinas). Antes, porém ela Neo até a luz do Sol (símbolo pra uma nova iluminação, uma nova compreensão).

A Anima/us vai muito mais fundo na contraparte da personalidade (lado oposto inconsciente) que a Sombra. Se a imagem da

Se todas as funções pudessem ser igualmente fortes no consciente e harmonizadas (como se dispostas na borda de um círculo) o centro desse círculo seria o Self realizado plenamente. É o núcleo, mas também é toda a esfera. O problema é que nem sempre acessamos este núcleo. Mas não fiquem pensando que é um ponto localizável na alma humana, algo que possa ser acessado tipo “ah, eu estou falando com o Self” porque ele é um conjunto que define o ser humano como um TODO, e o ser humano TAMBÉM é sua coletividade e seu meio (inconsciente coletivo). A abordagem do Self vem de encontro à filosofia Zen, quando diz:

“Se o Zen Budismo considerasse importante expressar-se aqui apoiado no uso da terminologia, poderia fazê-lo do seguinte modo: o centro do ser situa-se além da multiplicidade, da identidade/diversidade e, no entanto, não se situa além delas. E, como situar-se além e não-além disto é igualmente uma contradição, acrescentar-se-ia como explicação: o centro do ser não é um nem outro, nem ambos, e absolutamente não pode ser descrito por meio do pensamento. Quem desejar saber o que ele é, deve percorrer o Caminho Zen”

(O caminho Zen, de Eugen Herrigel)

Nicolau de Cusa, monge filósofo do século XV, já usara imagem semelhante ao referir-se à onisciência divina: “Deus é uma esfera cujo centro está em toda parte e cuja circunferência não se delimita em parte alguma”.

Self

O Self é o objetivo da vida. Um alvo pelo qual as pessoas sempre lutam, mas raramente atingem. Os arquétipos dessa realização são Jesus e Buda (meus heróis, meus heróis!). O Self pode ser definido como um fator de orientação intima. Jung o compara ao daemon, ou gênio (que hoje chamamos de guia espiritual ou anjo da guarda), seja ele interior ou exterior a você. O Self é o ponto central da personalidade, em torno do qual giram todos os outros sistemas. Ele sustenta a união desses sistemas, e fornece unidade, equilíbrio e estabilidade à personalidade. Antes de o Self emergir, é necessário os vários componentes da personalidade se desenvolvam plenamente. Por essa razão, o arquétipo do Self não se torna evidente até que o indivíduo tenha atingido a idade madura. Nessa época, ele procura deslocar-se do ego consciente para um ponto a meio caminho entre o consciente e o inconsciente. Manter-se nessa região intermediária constitui-se no domínio do Self. Qualquer semelhança com o caminho do meio, de Buda, não é coincidência.

“Não posso lhe dizer como é um homem que goza de uma completa auto-realização, nunca vi nenhum… Antes de buscar a perfeição, devemos viver o homem comum, sem mutilação” (Carl Jung)

Individuação

É um processo ininterrupto de aprimoramento pessoal. A harmonização do consciente com o Self. O caminho para a iluminação. Todos estamos num processo de Individuação, no entanto, a grande maioria não o sabem. Mas os que estão suficientemente conscientes deste processo, podem tirar algum proveito disso.

Mas não é assim tão é fácil: o ego reclama, pois se sente tolhido em suas vontades ou desejos, e projeta essa frustração sobre qualquer objeto exterior (Deus, a economia, o vizinho, o namorado(a) ou o trabalho). Algumas vezes tudo parece estar bem com a pessoa, mas no íntimo ela sente tédio e um vazio mortal. Há também o perigo de identificação com a Persona. Aqueles que o fazem tendem a tentar tornar-se perfeitos demais, incapazes de aceitar seus erros ou fraquezas, ou quaisquer desvios de sua auto-imagem idealizada. Aqueles que se identificam totalmente com a Persona tenderão a reprimir todas as tendências que não se ajustam, e a projetá-las nos outros, atribuindo a eles a tarefa de representar aspectos de sua identidade negativa reprimida.

“Nós não podemos mudar nada sem que primeiro a aceitemos” (Carl Jung)

Há alguns estágios básicos para a Individuação, que são: reconhecer as máscaras (persona), confrontar a Sombra, a Anima /

Neo se defronta com as questão do que é “real” várias vezes durante os filmes. Primeiro, ele teve de se libertar da ilusão da Matrix, depois da ilusão do ego e, por fim, da ilusão da individualidade. Somente quando percebeu que não tinha sentido combater pela eternidade a Sombra (Smith) foi que Neo se deixou levar pelo SENTIDO dos acontecimentos, que no filme é chamado de propósito. Todos ali têm uma missão, uma programação, mesmo fora da Matrix. Era o indicativo de que, para além do Arquiteto e da Matrix, existiria uma OUTRA Matrix mais sutil, e percebemos isso claramente quando Neo, ao Individuar-se (na fusão com Smith) é simbolicamente retratado como Jesus na cruz – pois cumpriu o trajeto dos Mestres Crísticos, que colocaram a missão acima da individualidade – para depois sumir em uma luz que representa uma flor de Lótus (símbolo da transcendência da alma).

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/carl-jung-reloaded

Dalai Lama – Magia e Mistério no Tibete

Os aspectos mágicos são sempre lembrados quando se fala sobre o Tibete. Com a vinda do Dalai Lama ao Brasil, a redação de Bodisatva e o C.E.B. receberam cartas com perguntas que deveriam ser formuladas a Sua Santidade buscando esclarecer estas questões. Temas como reencarnação, identificação de lamas reencarnados, oráculos, o exame do budismo pela ciência, a noção de “vazio” e sua contribuição ao pensamento ocidental, entre outros, são muito relevantes no nosso contexto cultural, sendo áreas de diálogo e superposições.

Em seu livro “Freedom in Exile”*, S.S. dedica um capítulo inteiro a este tema, cuja tradução e resumo Bodisatva aqui apresenta. A importância dessa obra pode ser avaliada pelo fato de S.S. ter ofertado cópias do livro a todas as autoridades com quem trocou presentes e a vários dos colaboradores do programa de sua visita ao Brasil.

Freqüentemente sou perguntado sobre os aspectos assim chamados “mágicos” do budismo tibetano. Muitas pessoas no Ocidente querem saber se os livros sobre o Tibete, escritos por pessoas como Lobsang Rampa e alguns outros, onde se fala em práticas ocultas, são verdadeiros. Também me perguntam se Shambhala (um país legendário referido em certas escrituras e supostamente oculto nas regiões desérticas do norte do Tibete) realmente existe. Há também a carta que eu recebi de um eminente cientista, no início dos anos 60, dizendo que ele havia ouvido que certos lamas são capazes de realizar certos fenômenos sobrenaturais, e perguntando se ele mesmo poderia realizar experimentos para determinar a veracidade disso.

Em reposta à primeira destas questões, usualmente digo que a maioria desses livros são frutos da imaginação e que Shambhala existe sim, mas não em um sentido convencional. Ao mesmo tempo, seria errado negar que algumas práticas tântricas dão origem a fenômenos misteriosos. Por essa razão, escrevendo ao cientista, por um lado disse que o que ele havia ouvido estava correto, mas, por outro lado, tinha que lastimar o fato de que tal pessoa, sobre a qual os experimentos poderiam ser realizados, ainda não havia nascido! De fato, na época, várias razões práticas tornavam impossível colaborar em pesquisas desse tipo.

Desde então, no entanto, vim a concordar com a realização de várias investigações científicas sobre a natureza de certas práticas específicas. O primeiro desses trabalhos foi realizado pelo Dr. Herbert Benson, que é atualmente o chefe do Departamento de Medicina Comportamental de Faculdade de Medicina de Universidade de Harvard, EUA. Quando nos encontramos durante a minha visita de 1979, ele me disse que estava trabalhando na análise do que ele chama de “relaxation response”, um fenômeno fisiológico encontrado quando uma pessoa entra em um estado meditativo. Ele acreditava que poderia ir adiante em seu estudo se pudesse fazer experimentos com praticantes muito avançados de meditação.

Como alguém que crê fortemente no valor da ciência moderna, decidi deixá-lo ir adiante com a idéia, não sem alguma hesitação. Eu sabia que muitos tibetano não gostavam muito dessa idéia, eles sentiam que o acesso a essas práticas deveria ser mantido restrito, uma vez que elas vêm de doutrinas secretas. Por outro lado, argumentei sobre a possibilidade de que os resultados de tal estudo poderiam beneficiar não apenas a ciência, mas também os praticantes de religião, e poderiam, portanto, ser de benefício geral para a humanidade.

No evento, Dr. Benson ficou satisfeito por ter encontrado algo extraordinário. (Suas pesquisas foram publicadas em muitos livros e jornais científicos, entre os quais Nature.) Ele veio à Índia acompanhado de dois assistentes e trazendo sofisticado equipamento científico, tendo conduzido os experimentos com alguns monges em mosteiros próximos de Dharamsala, e ao norte, no Ladakh e Sikkim.

Tais monges eram praticantes de Tum-mo Yoga, excelente para demostrar a eficiência de certas disciplinas tântricas particulares. Meditando com a atenção nos chakras (centros de energia) e nos nadis (canais de energia), o praticante é capaz de controlar e suspender temporariamente a operação dos níveis mais grosseiros da consciência, podendo experienciar níveis mais sutis de consciência. Os mais grosseiros pertencem à percepção ordinária — tato, visão, olfato, e assim por diante — enquanto que os mais sutis são os experienciados no momento da morte. Um dos objetos do Tantra é capacitar o praticante a “experienciar” a morte, pois é aí, então, que surgem as experiências espirituais mais poderosas.

Quando são suprimidos os níveis mais ordinários de consciência, podem ser observados fenômenos fisiológicos colaterais. Nos experimentos do Dr. Benson, esses efeitos incluíram a acentuada elevação da temperatura do corpo (medida internamente por uma termômetro retal e externamente por um termômetro na pele). Esses acréscimos levaram os monges a secarem lençóis mergulhados em água fria e enrolados em vota deles, mesmo em temperaturas externas abaixo de zero. O Dr. Benzon também testemunhou e mediu, de forma semelhante, monges sentados nus sobre a neve. (…)

Sejam quais forem os mecanismos aqui envolvidos, o que mais interessa é a clara visão de que existem coisas que a ciência moderna pode aprender da cultura tibetana. E mais, eu acredito que muitas outras áreas de nossa experiência poderiam ser investigadas proveitosamente. Por exemplo, eu gostaria de organizar algum dia uma experiência sobre os oráculos, que permanecem uma parte importante da vida tibetana.

Antes de falar disso em detalhe, gostaria de enfatizar que o propósito dos oráculos não é, como poderíamos supor, simplesmente antever o futuro. Isto é apenas parte do que eles fazem. Além disso, eles podem ser chamados como protetores ou, em alguns casos, como agentes de cura. Sua principal função, no entanto, é auxiliar os pessoas em sua prática do Darma. Outro ponto a lembrar é que a palavra “oráculo”, ela própria, conduz a enganos, uma vez que traz implícito que existem pessoas que possuem poderes de ser um oráculo. Isto é errado. Na tradição tibetana existem apenas certos homens e mulheres que atuam como médium entre os mundos natural e espiritual e que são chamados de kuten, o que significa, literalmente, “base física”. Também é importante enfatizar que, embora seja de uso corrente falar do oráculo como uma pessoa, isso é feito apenas por conveniência. De modo mais acurado, eles podem ser descritos como “espíritos” que estão associados a coisas particulares (por exemplo, uma estátua), pessoas e lugares. Isso não deve, no entanto, implicar na crença da existência de entidade externas independentes.

Em tempos antigos havia muitas centenas de oráculos por todo o Tibete. Poucos se mantiveram, mas os mais importantes — os usados pelo governo tibetano — ainda existem. Desses, o principal é conhecido como oráculo de Nechung. Através dele se manifesta Dorje Drakden, uma das divindades protetoras do Dalai Lama.

Nechung veio originalmente para o Tibete com um descendente do sábio indiano Dharmapala, estabelecendo-se em um lugar da Ásia Central chamado Bata Hor. Durante o reinado do rei Trisong Dretsen, no oitavo século a.C., ele foi designado pelo mestre tântrico indiano Padmasambhava, supremo guardião espiritual do Tibete, como protetor do mosteiro de Samye. Subseqüentemente, o segundo Dalai Lama desenvolveu uma relação muito próxima com Nechung, que nessa época havia estabelecida uma relação muito próxima com o monastério de Drepung, e após, Dorje Drakden designado com protetor pessoal dos Dalai Lamas que se sucederam.

Por centenas de anos até os dias presentes, tornou-se tradicional, para o Dalai Lama e para o governo tibetano, consultar Nechung durante os festivais de ano novo. Mas além dessas oportunidades, ele poderia ser chamado outras vezes para responder perguntas específicas. Eu mesmo o encontro muitas vezes por ano. Isso pode parecer estranho para os leitores ocidentais do século XX. Mesmo alguns tibetanos, que se consideram “progressistas”, não apreciam o meu uso continuado desse método antigo de buscar a compreensão das coisas. Faço isso pela razão simples de que quando olho para trás e relembro as muitas ocasiões em que formulei perguntas ao oráculo, em cada uma delas o tempo mostrou que sua reposta estava correta. Não que eu me baseie apenas nas respostas do oráculo. Não é assim. Busco sua opinião da mesma forma que busco a opinião do meu Gabinete (o Kashag), e da mesma forma que busco a opinião de minha própria consciência. Considero os deuses como minha “casa de cima”. O Kashag constitui minha “casa de baixo”. Á semelhança de outro líderes, consulto a ambos quando devo tomar uma decisão em assuntos de estado. Além disso, adicionalmente ao conselho de Nechung, também procuro levar em consideração certas profecias. Apesar de nossas funções serem similares, minha relação com Nechung é a do comandante com o ajudante: nunca me inclino a ele, ele é que se inclina ao Dalai Lama. Ainda assim somos muito próximos, quase amigos.

Ainda que possa parecer surpreendente, as respostas do oráculo raramente são vagas. Como no caso de minha fuga de Lhasa, ele é freqüentemente muito específico. Ainda assim, creio que seria difícil que algum tipo de investigação científica pudesse provar conclusivamente a validade de seus pronunciamentos. O mesmo se dá com outras áreas da experiência tibetana, por exemplo, a questão dos tulkus. Ainda assim, espero que, algum dia, possa ser realizado algum tipo de experimento com respeito a esses dois fenômenos.

Na realidade, a tarefa de identificar os tulkus é mais lógica do que pode parecer á primeira vista. Dada a crença budista no renascimento, e considerando que todo o propósito da reencarnação é possibilitar ao ser continuar seus esforços em benefício de todos os seres vivos, é uma conclusão clara que deveria ser possível identificar casos individuais. Isso habilita-os a serem educados e colocados no mundo de tal forma que continuem seu trabalho o mais rápido possível.

Certamente podem ocorrer eventuais erros nesse processo de identificação, mas as vidas da grande maioria dos tulkus (atualmente existem algumas centenas deles reconhecido, sendo que antes da invasão chinesa eram provavelmente milhares os tulkus reconhecidos) são um testemunho de sua eficácia.

Como disse, todo o propósito de reencarnação é facilitar a continuidade do trabalho de um ser. Esse fato tem grandes implicações quando se busca pelo sucessor de uma pessoa em particular. Por exemplo, ainda que meus esforços sejam geralmente dirigidos a auxiliar todos os seres, em particular eles se dirigem a auxiliar os tibetanos. Portanto, se eu morrer antes dos tibetanos readquirirem sua liberdade, seria lógico admitir que eu renasceria fora do Tibete. Naturalmente, poderia ocorrer que meu povo, nessa ocasião, não visse mais utilidade para um Dalai Lama, e nesse caso não se ocuparia de procurar-me. Assim, eu poderia renascer como um inseto, ou como um animal, de tal forma que pudesse ser de maior utilidade ao maior número de seres secientes.

O modo pelo qual o processo de identificação é procedido é também menos misterioso do que se pode parecer. Começa com um simples processo de eliminação. Digamos, por exemplo, que estamos buscando a reencarnação de um certo monge. Primeiro, devemos estabelecer quando e onde o monge morreu. Então, considerando que a nova reencarnação será concebida usualmente em torno de um ano após a morte de seu predecessor — esta duração sabemos por experiência —, fica já estabelecido um referencial temporal. Então, se um lama X morre no ano Y, sua nova encarnação provavelmente nascerá dezoito meses a dois anos após. No ano Y mais cinco, a criança deverá estar com uma idade entre três e quatro anos: o campo de busca já se estreitou consideravelmente.

A seguir, tenta-se estabelecer o lugar da reencarnação. Usualmente isso é muito fácil. Primeiro, ocorrerá dentro do Tibete? Se fora, há um número muito limitado de lugares onde seria provável: as comunidades tibetanas da Índia, Nepal, Suíça, por exemplo. Após, precisaria se decidido em que cidade a criança seria mais provavelmente encontrada. Geralmente isso é feito buscando-se referências na vida prévia.

Tendo reduzido as opções e estabelecido os parâmetros do modo descrito, o próximo passo, usualmente, é organizar o grupo de busca. Isso não significa necessariamente que um grupo de pessoas deverá ser enviado como se estivessem buscando um tesouro. De modo geral, basta perguntar a várias pessoas da comunidade para procurar pelas crianças entre três e quatro anos que poderiam ser candidatos. De modo geral, existem algumas indicações que auxiliam, como fenômenos incomuns ocorridos quando do nascimento, ou a criança pode exibir características peculiares.

Algumas vezes, duas, três ou mais possibilidades emergirão neste estágio. Ocasionalmente tal grupo será inteiramente desnecessário, porque a encarnação anterior deixou informação detalhada, inclusive com o nome de seu sucessor e de seus pais. Mas isso é rara. Outras vezes, os que buscam o monge reencarnado podem ter sonhos claros ou visões sobre onde encontrar seu sucessor. De outro lado, um elevado lama recentemente deu ordens de que sua reencarnação não deveria ser procurada. Ele disse que melhor seria instalar como seu sucessor a quem quer que pareça capaz de servir ao Darma do Buda e a sua comunidade, em lugar de preocupar-se com uma identificação precisa. Não existem regras duras, rígidas.

Se ocorre que muitas crianças surgem como candidatos, é usual que alguém muito próximo à encarnação anterior venha a fazer o exame final. Freqüentemente essa pessoa será reconhecida por uma das crianças, o que é uma forte evidência de prova; outras vezes marcas especiais no corpo são também levadas em consideração.

Algumas vezes o processo de identificação envolve a consulta a oráculos ou a alguém que tenha o poder de ngon shé (clarividência). Um dos métodos que essas pessoas usam é o Ta, através do qual o praticante fixa o olhar em um espelho, no qual ele ou ela podem ver a própria criança, ou uma construção, ou uma palavra escrita. Eu chamo isso de “televisão antiga”. Isto corresponde às visões que as pessoas tiveram no lago Lhamoi Lhatso, onde Reting Rinpoche viu as letras Ah, Ka, e Ma e teve a visão de um mosteiro e de uma casa onde começou a buscar por mim.

Algumas vezes eu mesmo sou chamado para dirigir a busca por uma reencarnação. Nessas circunstâncias, é de minha responsabilidade tomar a decisão final sobre o candidato que deve ser corretamente escolhido. É importante que diga que eu não tenho poderes de clarividência. Não tive nem tempo nem oportunidade de desenvolvê-los, apesar de ter elementos para acreditar que o Décimo Terceiro Dalai Lama tenha tido alguma habilidade nessa esfera.

Como um exemplo de como faço isso, vou relatar a história de Ling Rinpoche, meu antigo tutor. Eu sempre tive o maior respeito por Ling Rinpoche; mesmo quando eu era uma criança, bastava apenas ver seu ajudante para ficar com medo, e tão pronto ouvia seus passos, meu coração paralisava. Com o tempo, vim a valorizá-lo como um de meus maiores e mais próximos amigos. Quando ele morreu, não faz muito tempo, senti que a vida sem ele ao meu lado seria muito difícil. Ele havia se tornado uma rocha sobre a qual eu podia me apoiar.

Estava na Suíça, no verão de 1983, quando pela primeira vez ouvi sobre sua doença: ele havia sofrido um derrame cerebral e ficara paralisado. Essas notícias me perturbaram muito, ainda que, como budista, soubesse que de nada adiantaria a preocupação. Tão pronto pude, retornei a Dharamsala, onde encontrei-o ainda com vida, mas em más condições físicas. Ainda assim, sua mente continuava aguda como sempre, graças a uma vida de constante treinamento mental. Sua condição permaneceu estável por muitos meses antes de subitamente deteriorar. Ele entrou em coma, de onde nunca saiu e morreu em 25 de dezembro de 1983. Mas, como se alguma evidência de ter sido uma pessoa extraordinária ainda fosse necessária, seu corpo não começou a se decompor antes de trinta dias após ter sido declarado morto, apesar do clima quente. Era como se ele ainda habitasse seu corpo, mesmo que clinicamente estivesse sem vida.

Quando olho para trás e vejo o modo pelo qual as coisas ocorreram, fico certo de que a doença de Ling Rinpoche, com sua duração prolongada, foi inteiramente deliberada, para ajudar a que me acostumasse com sua ausência. Isso, no entanto, é apenas a metade da história. Como estamos falando de tibetanos, tudo continua de forma feliz. A reencarnação de Ling Rinpoche já foi encontrada, e ele é atualmente um garoto muito vivo e espontâneo de três anos de idade. Sua descoberta foi um exemplo de quando a criança reconhece claramente um membro do grupo de busca. Apesar de estar com apenas 18 meses de idade, ele chamou pelo nome e se dirigiu sorrindo para esta pessoa. Subseqüentemente ele identificou corretamente muitos dos pertences de seu antecessor.

Quando encontrei o menino pela primeiro vez, não tive dúvida sobre sua identidade. Ele comportou-se de um modo que ficou óbvio que havia me reconhecido. Nessa ocasião eu dei ao pequeno Ling Rinpoche uma grande barra de chocolate. Ele permaneceu impassível segurando-a, braço estendido e cabeça inclinada durante todo o tempo em que esteve na minha presença. Não consigo lembrar de qualquer criança que tenha ficado com algo doce guardado sem abrir e provar, e tenha ficado parado, em pé, tão formalmente. Então, quando recebi o menino em minha residência e ele foi trazido até a porta, comportou-se exatamente como seu predecessor. Era evidente que ele lembrava do caminho. Após, quando entrou na minha sala de trabalho, imediatamente mostrou familiaridade com um dos meus auxiliares que, nessa época, se recuperava de uma perna quebrada. Em primeiro lugar, essa pequenina figura solenemente presenteou-o com um kata, e então, cheio de risadas e brincadeiras de criança, apanhou uma das muletas de Lobsang Gawa e correu em volta, sem parar, como se aquilo fosse um pau de bandeira.

Outra história muito impressionante sobre o menino refere-se ao tempo em que ele foi levado, na idade de dois anos, a Bodh Gaya, onde eu deveria dar ensinamentos. Sem que ninguém indicasse a ele e tendo subido uma escada com suas mãos e joelhos, encontrou minha cama e colocou um kata sobre ela. Hoje Ling Rinpoche já está recitando as escrituras, ainda que esteja para ser visto se ele, após aprender a ler, será como alguns dos jovens Tulkus que memorizam textos com uma velocidade estonteante, como se estivessem apenas pegando novamente o que haviam deixado. Eu conheço muitas crianças que podem declamar, com facilidade, várias páginas de texto.

Há, certamente, um elemento de mistério nesse processo de identificação dos reencarnados. Mas é suficiente dizer que, como budista, não acredito que pessoas como Mao ou Churchill apenas “acontecem”.

Uma outra área da experiência tibetana que eu gostaria muito que fosse examinada cientificamente é o sistema de medicina tibetana. Além de datar de mais de dois mil anos, derivou de várias diferentes fontes, incluindo a antiga Pérsia; hoje os princípios são inteiramente budistas. Ela tem uma abordagem inteiramente diferente da medicina ocidental. Por exemplo, ela afirma que as causas-raiz da doença são a ignorância, o desejo ou o rancor.

De acordo com a medicina tibetana, o corpo é dominado pelos três principais nopa, literalmente “venenos”, mas freqüentemente traduzidos como “humores”. Considera-se que esses nopa estão sempre presentes no organismo. Isto significa que nunca se pode estar completamente livre das doenças, pelo menos de seu potencial, mas contanto que esteja em equilíbrio, o corpo mantém-se saudável. Entretanto, um desbalanço causado por uma das três causas-raiz se manifestará como doença, o que é diagnosticado pelo pulso do paciente ou pelo exame de sua urina. Também existem doze principais lugares nas mãos e punhos onde o pulso é examinado. A urina é similarmente examinada de diferentes maneiras (como cor, cheiro, etc.). Com respeito ao tratamento, o primeiro aspecto é a dieta; os remédios formam a segunda linha; a acupuntura e moxabustão, a terceira; a cirurgia, a quarta. Os próprios medicamentos são feitos de materiais orgânicos, algumas vezes combinados com óxidos de metais e certos minerais (incluindo, por exemplo, diamantes moídos)

Até agora tem havido pouca pesquisa clínica com respeito ao valor do sistema médico tibetano, ainda que o meu médico pessoal anterior, Dr. Yeshe Dhonden, tenha participado de uma série de experimentos de laboratório na Universidade de Virgínea, EUA. Ele teve resultados surpreendentemente bons em curar o câncer em ratos brancos, mas muito mais trabalho será necessário até que se possa chegar a conclusões definitivas. Com respeito a minha experiência própria, vejo os medicamentos tibetanos como muito eficientes. Tomo-os regularmente, não apenas para curar, mas para prevenir-me de adoecer. Percebi que esses remédios promovem um reforço da constituição física do corpo e têm efeitos colaterais desprezíveis. O resultado é que, apesar de meus longos dias e períodos intensivos de meditação, eu quase nunca experimento a sensação de cansaço.

Ainda, uma outra área onde acredito que há uma região de diálogo entre a ciência moderna e a cultura tibetana concerne ao conhecimento teórico e não experiencial. Alguma das mais recentes descobertas da física de partículas parecem apontar para a não-dualidade entre mente e matéria. Por exemplo, foi encontrado que se um vácuo (o que significa o espaço vazio) é comprimido, aparecem partículas onde nada havia antes, o que seria matéria, de alguma maneira, aparentemente inerente. Essas descobertas parecem oferecer uma área de convergência entre a ciência e a teoria budista Madhyamika do vazio. Essencialmente, essa teoria afirma que a mente e a matéria existem separadamente, mas de forma interdependente.

Estou bem consciente, no entanto, do perigo de ligar as crenças espirituais a qualquer sistema científico. Pois, enquanto o budismo continua sendo relevante dois e meio milênios após seu início, os fundamentos absolutos da ciência têm uma vida relativamente muito mais curta. Isto não é para poder afirmar que eu considero que coisas como os oráculos ou a capacidade dos monges de ficarem ao relento durante noites, em condições de congelamento, seja uma evidência de poderes mágicos. Ainda assim não posso concordar com nossos irmãos e irmãs chineses, que sustentam que a aceitação desses fenômenos é uma evidência de nosso atraso e barbárie. Mesmo do mais rigorosos ponto de vista científico, esta não é uma atitude objetiva.

Ao mesmo tempo, mesmo que um princípio seja aceito, isso não significa que tudo que esteja conectado com ele seja válido. Por analogia, seria burlesco seguir escravizadamente e sem qualquer discriminação todas as afirmações de Marx e Lênin, mesmo em face da evidência clara de que o comunismo é um sistema imperfeito. É preciso manter grande vigilância em áreas onde não temos grande experiência. Isso, naturalmente, é onde a ciência pode auxiliar. Enfim, só vemos as coisas como misteriosas quando não as entendemos.

Até agora os resultados das pesquisas que descrevi têm sido benéficos para todas as partes. Compreendo, no entanto, que esses resultados são tão acurados quanto os experimentos que conduziram a eles. Além do mais, estou consciente que se algo não é encontrado isso não significa sua inexistência, isso apenas prova que o experimento foi incapaz de encontrá-lo. Esta é a razão pela qual precisamos ser cuidadosos em nossas pesquisas, especialmente quando lidando em uma área onde a pesquisa científica é pequena. É também importante manter em mente as limitações impostas pela própria natureza. Por exemplo, enquanto a investigação cientifica não pode apreender meus pensamentos, isso não significa que eles sejam inexistentes, nem que algum outro método de pesquisa não possa descobrir algo a respeito deles, e aí é que entra a experiência tibelana. Através do treinamento mental, desenvolvemos técnicas que a ciência atual não pode ainda explicar adequadamente. Isto, então, é a base da suposto “magia e mistério” do budismo tibetano.

Por: Dalai Lama.

#Budismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/dalai-lama-magia-e-mist%C3%A9rio-no-tibete

Dharma: a Base da Vida Humana

por Swami Paratparananda

(*) Publicado na edição de Nov/Dez de 1984 da revista “Vedanta Kesari”

(Cedo ou tarde o homem descobre que os prazeres que os sentidos trazem a ele são extremamente transientes e até contra-produtivos. É o Dharma que o coloca em contato com o mundo supra-sensório da Realidade e o eleva da existência do bruto para a vida Divina. Swami Paratparananda, dirigente do Ramakrishna Ashrama, Argentina (**) e um ex-editor da “Vedanta Kesari”, explica como Sri Ramakrishna enfatiza que o principal ingrediente do Dharma ou disciplina religiosa é a renúncia – externa, se possível, mas interna, categoricamente).

(**) de 1973 a 1988.

Vários são os significados deste termo sânscrito, Dharma. Por exemplo, retidão, a natureza inata de algo, deveres devido ao nascimento e posição na vida, são alguns deles. Nós lidaremos aqui com o mencionado em primeiro lugar, isto é, retidão, retitude ou religião como é algumas vezes definido. É claro que na Índia a religião inclui deveres de acordo com varna e âsrama (nascimento e posição na vida) apesar de que estes são conceitos não tão rigidamente praticados hoje em dia. Religião ou Dharma é algo mais do que a mera conformidade com obrigações sociais, restrições ou regras; mais do que meros dogmas e credos. Regras sociais e códigos morais podem e realmente mudam de acordo com a época e lugar. Por exemplo, o que é considerado como imoral em alguns países pode ser aceito como totalmente normal ou natural em outros, etc. Mas mera moralidade não é a meta e finalidade do homem. É apenas o meio para atingir algo superior, algo eterno e este algo é o sujeito da religião ou Dharma. Pode-se chamar este sujeito como Deus ou Espírito ou por qualquer outro nome.

A questão que surge na mente do homem moderno é: que papel pode a religião desempenhar na atual era de ciência e tecnologia? Poderá ela sobreviver aos ataques destas forças? Devemos lembrar que a ciência e a tecnologia lidam com a matéria, coisas perecíveis e não eternas. A matéria, por mais que possa durar, um dia se destrói; ela não pode durar para sempre, não pode ser permanente. Tendo sido composta de elementos, deve retornar mais cedo ou mais tarde aos seus elementos; e aquilo que não é permanente não pode dar felicidade duradoura. O homem nunca consegue felicidade duradoura. O homem nunca se satisfaz com a riqueza. Quanto mais ele tem, mais ele deseja. Assim também é o caso com os prazeres dos sentidos. O corpo pode ficar fraco, mas o desejo por eles não deixa o homem. Habilmente Bhartrihari disse no seu Vairagya Sataka: bhogâ na bhuktâ vayam eva bhuktâh, “Os prazeres mundanos não foram desfrutados por nós; pelo contrario nós mesmos temos sido devorados”. E ele continua: trsnâ na jirnâ vayam eva jirnâh, “O desejo não é enfraquecido, apesar de que nós mesmos nos debilitamos”. E mais: valibhir mukham âkrântam pâlitena ankitam sirah, gâtrâni sithilâyante trsnaikâ tarunâyate, “A face está coberta por rugas, a cabeça pintada de branco (por causa dos cabelos grisalhos), os membros se tornaram fracos, apesar de que apenas o desejo é sempre rejuvenescido”. Esta é a condição do homem entregue à satisfação dos sentidos. A ciência e a tecnologia ainda não descobriram métodos de parar ou prevenir este declínio ou deterioração das forças físicas e mentais do homem nem trazer a ele a satisfação que pode durar mesmo sob circunstâncias adversas como enfermidade e senilidade, etc.

Contudo, nós não dizemos que não existam pessoas que ignorem as realidades da vida e tentem desfrutar dos prazeres. Como o avestruz, que quando caçado, se diz, corre tanto quanto pode e enfia sua cabeça na areia e acredita que não há mais perigo ou inimigos. Para estas pessoas este mundo é tudo quanto existe.

No Kathopanishad, Yama diz: “O além nunca aparece diante das pessoas tolas, enganadas pela ilusão da riqueza. Aqueles que pensam: ‘Este é o único mundo e não há nenhum outro’, caem sob meu domínio inúmeras vezes”. Swami Vivekananda diz: “Somente os tolos correm atrás dos gozos dos sentidos. É fácil viver nos sentidos. É mais fácil andar pelo velho caminho com o piso batido, comendo e bebendo, mas o que estes modernos filósofos querem dizer a você é que peguem estas idéias confortáveis e coloquem o selo da religião nelas. Tal doutrina é perigosa. A morte jaz nos sentidos. A vida no plano do Espírito é a única vida, a vida em qualquer outro plano é apenas a morte”. Aqui nós encontramos a resposta também para aqueles que querem fazer da religião algo confortável, adaptada ao plano sensório.

O homem busca a felicidade e acha que pode obtê-la nos objetos dos sentidos; mas, tristemente, ele descobre que a felicidade que estes objetos podem dar é de muito pouca duração e que ele tem que ganhá-la a um custo muito elevado. Ele começa com tremendo otimismo, mas quando fica velho, gradualmente torna-se um pessimista. Swami Vivekananda declara: “A felicidade real não está nos sentidos, mas acima dos sentidos e está em todos os homens. O tipo de otimismo que vemos no mundo é o que levará até a ruína através dos sentidos.”

Novamente, por mais que o homem tenda a ignorar o fato de que o sofrimento, físico e mental é inevitável no plano sensório e mergulhe completamente nele, um dia chegará quando ele perguntará a si mesmo: “É isto tudo? Será a meta da vida viver como plantas e animais por alguns anos e morrer?” Isto é um imperativo, pois enquanto o homem retiver a faculdade do raciocínio, ele não pode deixar de colocar estas questões para si mesmo quando deparar com terríveis e insuperáveis circunstâncias. E este raciocínio deveria levá-lo a auto-análise e gradualmente à Religião, pois tendo sofrido no plano dos sentidos ele não tem outra alternativa além de tentar conseguir consolo de algo superior e não perecível.

Agora vamos ver o que a Religião realmente significa e o que ela pode fazer por nós. Religião é um sistema de disciplinas que traz uma penetração intuitiva na natureza real do mundo espiritual, pelo controle dos sentidos e a conquista da mente. Com esta penetração intuitiva, nós chegamos a conhecer o propósito real da vida humana, como também sobre a vacuidade do mundo sensual. Swami Vivekananda afirma: “Este nosso universo, o universo dos sentidos, racional, intelectual, está cercado de ambos os lados pelo ilimitado, o não-conhecível, o sempre desconhecido. Nisto está a busca, nisto estão as investigações, aqui estão os fatos; disto vem a luz que é conhecida para o mundo como religião. A Religião pertence ao Supra-sensório e não ao plano sensório. Está além de todo raciocínio e não está no plano do intelecto. É uma visão, uma inspiração, um mergulho no desconhecido e não-conhecível, fazendo o não-conhecível mais do que conhecido, pois ele jamais poderá ser conhecido.” Isto parece ser um paradoxo, à uma primeira leitura, mas se nós pararmos e refletirmos, poderemos ser capazes de compreender a verdade por detrás desta afirmação. A mente humana em sua forma impura pode conhecer apenas coisas apresentadas a ela pelos cinco sentidos e nada mais. É por isso que o Espírito é chamado de não-conhecível; mas quando esta mesma mente se livra de sua impureza, seu apego e desejos, ela é capaz de perceber o não-conhecível, fazendo-o mais do que conhecido. Pergunta Yajnavalkya: “Com o quê você conhecerá o Conhecedor”- vijnataram are kena vijaniyat. Este desconhecido pode ser percebido somente através de uma mente pura, afirma o Kathopanishad: manasaivedam aptavyam, “Somente pela mente isto será realizado.”

O melhor testemunho com relação à vida interior é daqueles que mergulharam profundamente nela e eles são os homens capazes de falar sobre o assunto. Vamos ver o que Swami Vivekananda diz sobre a necessidade desta buscado que está além: “A vida será um deserto, a vida humana será em vão, se nós não pudermos conhecer o que está além. É muito bom dizer: Contente-se com as coisas do presente. As vacas e os cães estão e estão também todos os animais e isto é o que os faz animais. Portanto se o homem contenta-se com o presente e abandona toda busca do que está além, a humanidade terá que voltar ao plano animal de novo.

É a religião, a investigação do que está além que faz a diferença entre um homem e um animal”. Respondendo à uma pergunta sobre o que a religião pode fazer por nós, ele afirma: “A salvação não consiste na quantidade de dinheiro que em seu bolso ou na roupa que você veste ou na casa em que você vive, mas na riqueza do pensamento espiritual em seu cérebro. Isto é o que promove o progresso humano, esta é a fonte de todo progresso material e intelectual, o poder motivador atrás do entusiasmo que empurra a humanidade para a frente.”

Além disto, a Religião pode nos dar a vida eterna, trazer-nos a Luz que jamais falha e a paz e tranqüilidade constantes. Contudo a religião não deveria ser julgada do ponto de vista das posses ou coisas materiais. Swami Vivekananda comenta: “Várias vezes você escuta esta objeção levantada: ‘Pode ela retirar a pobreza dos pobres?’ Suponha que ela não possa, isto provaria a inverdade da religião? Suponha que uma criança se levante entre vocês quando você está tentando demonstrar um teorema astronômico e diz, ‘Isto vai me dar biscoitos de gengibre?’ ‘Não, isto não vai dar’, você responde. ‘Então’, diz a criança, ‘não serve para nada’. Crianças julgam o universo inteiro de seu ponto de vista, de produzir biscoitos de gengibre; e assim também fazem as crianças do mundo. Nós não devemos julgar as coisas superiores de um baixo ponto de vista… A Religião interpenetra toda a vida do homem, não apenas o presente, mas o passado, presente e futuro… É lógico medir seu valor por sua ação sobre cinco minutos da vida humana?” Ele continua: “A Religião fez do homem o que ele é e fará deste humano animal um Deus. Isto é o que a religião pode fazer. Tire a religião da sociedade humana e o que restará? Nada além de uma floresta de brutos.”

Do que foi dito nós vemos como a religião está inerentemente absorvida na estrutura da existência humana, mais ainda, a própria existência do homem depende dela. E é por isso que o Senhor se encarna sempre que houver o declínio de Dharma e o crescimento de Adharma, como Ele mesmo diz no Bhagavad Gita. Agora nós veremos quais são as disciplinas que a religião recomenda para atingir o supremo estado da Eterna Bem-aventurança que ela promete. A primeira e mais importante destas disciplinas é a renúncia, sem ela o homem não pode avançar em direção à meta. Pode-se perguntar: são todas as pessoas capazes de renunciar ao mundo? Certamente que não. Então a salvação que a religião promete é para uns poucos? Se for assim, por que deveria a maioria da humanidade ter interesse nela? Sri Ramakrishna responde: “Não é possível adquirir a renúncia de forma repentina. O fator tempo deve ser levado em consideração. Mas também é verdade que um homem deveria escutar sobre ela. Quando a hora certa chegar, ele dirá a si mesmo: ‘Ó, sim, eu escutei sobre isto.’ Você deve também se lembrar de outra coisa. Constantemente ouvindo sobre a renúncia, o desejo pelos objetos do mundo gradualmente se desvanece”. Sri Ramakrishna aconselha aos chefes de família a cultivarem a renúncia interna e amor por Deus, a serem desapegados as coisas do mundo e a buscarem a companhia de pessoas santas. Mas ele categoricamente diz que sem a renúncia, pelo menos a interna, não se pode atingir a Meta.

#Budismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/dharma-a-base-da-vida-humana

Palestrantes do II Simpósio de Hermetismo

Um resumo de alguns dos Palestrantes do II Simpósio Brasileiro de Hermetismo. Como o critério de escolha foi “os melhores em suas áreas”, alguns deles não são conhecidos nos meios “internéticos”, então estou fazendo um pequeno resumo sobre cada um dos Palestrantes.

Adriano Camargo – Autor do “Sistemagia” e “Cabala Draconiana”, membro da Dragon Rouge e um dos pouquíssimos caras sérios em LHP no Brasil.

Alexandre Cumino – autor de “A História da Umbanda” e editor do “Jornal da Umbanda Sagrada”. Um dos sacerdotes mais respeitados no Brasil.

Carlos Basílio Conte – Membro da Sociedade Teosófica e Secretário de Cultura da Maçonaria, autor dos livros: “Magia Cerimonial” e “Pitagoras- Ciencia e Magia na Antiga Grecia”.

Edmundo Pellizzari – Prof. Edmundo Pellizzari é teologo (BD, BTh, OCR) com formação em estudos biblicos e judaicos.
Durante trinta anos estudou a Mistica Judaica (Kabalah) em institutos internacionais e com mestres tradicionais. E membro da Order of Corporate Reunion, da Order of Christian Renewal e da Apostolic Church of the Divine Mysteries.

Fernando Maiorino – Fundador e Presidente da Associação Educacional Sírius-Gaia (AESG). Orientador Espiritual em Umbanda Natural, vertente filosófica trazida por seus Guias Espirituais há uma década.

Frater Goya – Mais conhecido nos meios internéticos, é o fundador do Círculo Iniciático de Hermes (CIH). Já postei entrevistas com ele.

Gilberto Antônio Silva – Estudioso de filosofias e culturas orientais desde 1977, pesquisou e analisou com profundidade a cultura e o modo de pensar oriental, especialmente o Taoísmo. É atual Coordenador Editorial da revista Medicina Chinesa Brasil e Editor-responsável do jornal Saúde & Longevidade.

Marcelo Del Debbio – Arquiteto com especializações em Semiótica, História da Arte e História das Religiões Comparadas. Autor da Enciclopédia de Mitologia e coordena o blog “Teoria da Conspiração” e o Projeto Mayhem. É autor da Wikipedia de Ocultismo, com cerca de 5.000 verbetes.

Márcio Lupion – Discipulo da Maha Yoga Chegada ao Ramana Ashram do Brasil Swami Sri Maha Krishna – Aprende as 4 yogas, Bakti, Raja, Jnana e Karma Yoga. Iniciado no budismo tibetano com Chagdud Tulku Rinpoche, Templo Odsal Ling, São Paulo, SP.

Mário Alves da Silva Filho – Pratica e estuda o Sufismo ha mais de 15 anos, tendo sido membro das seguintes Ordens Sufis (Turuq): Attasiyya (foi o representante – Muqadam – para o Brasil), Khalwatiyya al-Jerahiyya e Ahmadiyya at-Tijaniyya (é membro desta atualmente). Viajou pela Turquia, Irã, Iraque e Arábia Saudita entrando em contato com diversos Shaykhs da Tradição do Tasawwuf (Sufismo), aprendendo com eles. Dirige o Centro de Estudos Filosóficos e Espirituais Caminho do Oriente (CEFECO). É membro do Grupo de Pesquisas CERAL- Centro de Estudo de Religiões Alternativas de Origem Oriental, Setor de Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP.

Renan Romão – Graduando em Psicologia e Letras (FFLCH-USP), estuda Magia e Misticismo atraves de diversas tradicoes ocidentais e orientais sob a luz do Iluminismo Cientifico. Maçom, membro da ARLS “Estrela do Brasil” n°4321 GOB/GOSP, representante do CALEN/SP e membro-fundador da Confraria de Estudos Antigos.

http://simposiohermetismo.com.br/

#SiriusGaia

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/palestrantes-do-ii-simp%C3%B3sio-de-hermetismo

Grandes Iniciados – Melquisedec

MELQUISEDEC é um ser ainda mais enigmático que o próprio APOLÔNIO DE TIANA basta que se considere que no ritual de ordenação sacerdotal da Igreja Católica consta uma parte, que foi colhida nos ensinamentos de APOLÔNIO, que diz: Tu és “SACERDOCE IN AETERNUM SECUNDUM ORDINEM MELCHISEDEC”, Tu és um sacerdote eterno, segundo a Ordem de MELQUISEDEC. Existem muitos documentos que dizem haver sido JESUS um sacerdote da Ordem de MELQUISEDEC. Então Quem é MELQUISEDEC?

Os orientais falam muito do REI DO MUNDO, um ser enigmático, e por eles considerado a mais alta forma de Consciência Divina na terra vivendo num lugar oculto denominado Shambhala.

Dizem que esse ser quando se manifesta por alguns segundo na terra toda natureza para. É como se o tempo parasse, nada se ouve, os animais se põem quietos e os passarinhos nem ao menos gorjeiam. Tudo silencia, não se escuta nem o murmúrio dos rios, nem o farfalhar das folhas, nem o rumor das ondas do mar… tudo é paz e silêncio.

Em tais momentos uma pessoa bem equilibrada sente algo bem especial, tem uma sensação como que se tudo houvesse parado e o mundo inteiro ficasse envolto num manto de quietude e de imensa paz. Até o vento se torna quieto, nenhuma folha cai, nenhuma pedra rola, nenhum regato murmura, nem ao menos se ouve o murmúrio das fontes. Tudo é paz… harmonia… silêncio. É silêncio, mas ao mesmo tempo se percebe uma vibração sonora permeando todas as coisas.[1]

É o momento de GRANDE PAZ, aquele momento em que o REI DO MUNDO, o SUBLIME MELQUISEDEC abençoa a vida na Terra e revitalizando tudo. Em determinados momentos a natureza parece parar, o vento para, todos os elementos da natureza silenciam, os animais aquietam-se, tudo se torna sereno, e os sensitivos e iniciados percebem isto claramente em determinados momentos não muito freqüentes. Naquele momento os galos cantam.

Dizem os orientais, especialmente os da Índia e outros povos que vivem nos planaltos do Himalaia, que aquele é o momento em que o “Rei do Mundo” fala com Deus. Na verdade trata-se do momento em que Melquisedec, pelos orientais ligados a G. F. B. cujo nome de Sanat Kumara, ponto focal da manifestação divina no nosso Logos Planetário, pronuncia o Som Cósmico, o AUM, confirmando pelo Amén a Sua missão de mentor da Terra perante o Absoluto Deus. Com este som ele energiza todo o planeta expressando com perfeição a Parcela Divina de um Deus sem forma.

Em 1920 um polonês que trabalhava na Rússia, F. Ossendowski foi surpreendido pela revolução bolchevista e teve, então, que empreender uma fuga através da Sibéria, Mongólia, e Tibet. Sobretudo aquilo que ocorreu durante a viagem ele escreveu um livro, que se tornou um Best Seller mundial intitulado BESTAS, HOMENS E DEUSES. Um livro muito polêmico por envolver revelações inusitadas, coisas fora do comum no mundo ocidental que ele soube e testemunhou durante 18 meses de viagem por aquelas mais recônditas regiões do planeta. Como toda obra reveladora de conhecimentos incomuns o autor foi muito criticado e posto em dúvidas, mas com o passar dos anos ninguém conseguiu provar que a historia narrada, como um todo, seja apenas fantasia.

Descrevemos o que Ossendowsky conta naquela obra, entre muitas outras coisas interessantíssimas, quando ele estava atravessando a planície perto de Tangan Luc. … “O guia da caravana, um homem simples, bruscamente disse: Parem! Desceu do camelo, havendo este, sem qualquer ordem, do guia se deitado. O mongol também se prostrou com as mãos sobre no rosto em sinal de prece e começou a repetir o mantra sagrado do Tibet” OM MANI PADME HUNG. Os outros mongóis também desceram de seus camelos e começaram a rezar.

Que será que aconteceu, perguntava a mim mesmo enquanto observava em minha volta o verde brilhante do capim que se estendia até o horizonte, onde um céu sem nuvens recebia os últimos raios do sol.

Os mongóis rezaram durante algum tempo, conversaram entre si, e depois de apertar os arreios de seus camelos, prosseguiram a viagem”.

Então Ossendowsky indagou a respeito daquela parada e o guia respondeu: “Você notou como os camel os remexiam as orelhas de medo e como o rebanho de cavalos na planície ficou imóvel?Você viu que até os carneiros e o gado deitaram-se no chão? Você notou que as aves pararam de voar, as marmotas pararam de correr e os cães emudeceram? O ar vibrava suavemente e trazia, de longe, as notas de uma canção que penetrava no coração dos homens, dos animais e das aves. O céu e a terra não se movem, o vento não sopra e o sol pára sua trajetória; num momento como esse, o lobo, que está se aproximando sorrateiramente dos carneiros, não continua no seu propósito de rapina, o rebanho de antílopes apavorados para sua fuga precipitada; a faca cai da mão do pastor que está para sacrificar a ovelha, e o voraz arminho deixa de perseguir a confiante perdiz salga. Todos os seres vivos ficam assustados e rezam, esperando que se cumpra seu destino. Foi o que aconteceu agora; e o que acontece toda vez que o Rei do Mundo, em seu palácio subterrâneo, reza procurando saber o destino dos povos da Terra”.

Na Bíblia está escrito que Abrão foi abençoado por MELQUISEDEC numa fase de sua vida, por certo quando ele ainda não havia sido envolvido. Sabemos que na realidade Abrão recebeu a bênção do REI DO MUNDO numa época em que ele ainda não havia se comprometido, mas a descrição bíblica a respeito desse Grande Ser está mesclada propositadamente com inverdades que visam desviar a pessoa do real sentido do REI DA ETERNA PAZ.

Este é um dos muitos pontos em que a Bíblia sofreu alterações profundas. Vejamos, inicialmente, aquilo que está escrito a respeito de Melki-Tsedeq[1]

O Seu nome significa Rei da Paz, Rei da Justiça, ESTÁ FEITO ASSIM À SEMELHANÇA DO FILHO DE DEUS E PERMANECE SACERDOTE PARA SEMPRE.

Na Pistis Sophia dos Gnósticos Alexandrinos, Melquisedec é citado como GRANDE RECEBEDOR DA LUZ ETERNA. Ele recebe a Luz inteligível, por um raio emanado diretamente do Princípio para refletir o mundo, que é o seu domínio. É por isso que Ele também é chamado FILHO DO SOL.

Na epistola aos Hebreus, Paulo diz que Melquisedec é o Rei da Paz; que não tem pai nem mãe nem genealogia, que não tem começo nem fim de vida, sendo, portanto feito á semelhança do filho de Deus e permanece sacerdote para sempre.

Forças negativas adulteram as citações constantes na Epistola aos Hebreus fazendo com que seja aceito que aquele que abençoou Abrão foi Melquisedec. Houve uma alteração fragrante do texto bíblico. Sendo Melquisedec Quem é, sacerdote do Deus Altíssimo, não corresponde àquele ser que como tal é citado na Bíblia. Sendo Ele, a manifestação da Justiça Divina na Terra, não cabe na posição daquele que abençoou Abrão. São duas naturezas totalmente distintas e opostas, senão vejamos:

Paulo – Epístolas – 7:1 – Este Melquisedec, rei de Salém, sacerdote de Deus altíssimo, que saiu ao encontro de Abrão, quando ele voltava de destruir os reis, e o abençoou; 7:2 a ele deu Abrão o dízimo de todos os despojos. Disse Paulo. Quanto ao seu nome, primeiramente se interpreta como ‘rei de Justiça’, e depois ‘rei de Salém’, que quer dizer rei de paz; (aparecendo) sem pai nem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias, sem fim de vida, tornado assim semelhante ao filho de Deus, permanecer sacerdote para sempre.

Agora compare-o com Gênese 14-18, 14-19 e 14-20 onde fala de Melquisedec e é dito haver ele recebido 10% de tudo aquilo que havia sido tomado dos povos vencidos, dos despojos de guerra tomado aos reis que haviam sido vencidos por Abrão. Então onde o rei de justiça? -A parte que assinalamos em negrito mostra a natureza cósmica de Melquisedec e como podemos ver não combina absolutamente com a parte anterior.

Mais uma vez Abrão foi enganado quando pensou estar pagando o dizimo dos despojos de guerra a Melquisedec. Melquisedec é o “Grande Recebedor da Luz Eterna”, O “Representante da Justiça de Deus na Terra”, como então iria Ele receber dízimo, e ainda mais em se tratando de despojos de guerra, coisas espoliados dos povos vencidos em guerras sanguinárias?…

Melquisedec, Rei de Salém… Ora, Salém quer dizer PAZ, então como é que um rei da paz recebe despojos de guerra?

Existem documentos secretos que afirmam haver Jesus participado de cerimônias de iniciação. Podemos afirmar que sim e também que uma delas ocorreu junto à Ordem de Melquisedec. Por isso é que ser Jesus um sacerdote da Ordem de Melquisedec.

A Ordem de Melquisedec é também conhecida pelo nome de ORDEM DO SACERDÓCIO REAL, ou ORDEM DA JUSTIÇA DIVINA, pois Melquisedec representa a Superior Justiça Divina na Terra, o máximo do “Reino da Eterna Paz”.

Melquisedec é um Ser que sempre esteve presente neste planeta em todos os ciclos de civilização, sendo, portanto a manifestação perene do próprio PODER SUPERIOR na Terra.

Segundo afirmam os orientais é Melquisedec é Quem exerce a função de governo oculto a Terra nos Santo dos Santos de Shambhala. Como afirma Michel Coquet[2]: Melquisedec – Sanat-Kumara – ocupa assim o mais elevado lugar sagrado de nosso planeta onde se encontra a Tradição Primordial, o lugar onde o desígnio de Deus é conhecido…

Certa vez APOLÔNIO visitou o Reino de Agartha (Shambhala) quando esteve com o Rei do Mundo, MELQUISEDEC. Quando do regresso Apolônio introduziu a Eucaristia no seio do Cristianismo. A Eucaristia era um rito praticado na Suprema Ordem de Melquisedec.

O Rei do Mundo é representado por dois atributos essenciais: PAZ e JUSTIÇA. Ele não tem, como diz a Bíblia, genealogia por não ser humano e sim Divino.

Diz René Guénon baseado no que pesquisou, e no que disse Saint Yves d’Alveydre num livro intitulado “Missão da Índia” e publicado pela primeira vez em 1910 na França: O nome Melquisedec, ou mais exatamente Melki-Tsedeq, não é outra coisa do que o nome sob o qual a própria função do “Rei do Mundo” se encontra expressamente designado na tradição Judaico Cristã.

A tradição indiana, citada por René Guénon, em sua obra O Rei do Mundo, diz: “Ele é o Manu esse homem vivo que é Melki-Tsedeq, é Manu que continua, com efeito, perpetuamente (em hebreu leôlam), isto é, por toda a duração do seu ciclo (Manvantara), ou do mundo que ele rege especialmente. É por isto que ele não tem genealogia, porque a sua origem é não humana, visto que ele próprio é o protótipo do homem. E realmente ele foi feito à semelhança do Filho de Deus visto que, pela Lei que formula, é para esse mundo a expressão e a própria imagem do Verbo Divino”.

Ainda segundo as tradições da Mongólia, da Índia, do Tibet e de muitos outros povos orientais Melk-Tjedec (= Dharma-Râja) vive em uma “cidade”, que é conhecida como o nome de Agartha, segundo muitos situada possivelmente no Himalaia.

Existe um número muito grande de lendas a respeito de “Shambhala” (Agartha), especialmente quanto à sua localização e natureza, assim como sobre o povo e o modo de vida do povo que habita, assim como citações de pessoas disseram haver estado lá. Entre muitas lendas existe uma que diz que certa vez um caçador se defrontou com um portal escondido numa floresta nas montanhas por onde penetrou e chegou ao reino de Agartha. Ao regressar ele começou a narrar o que houvera visto, então os lamas arrancaram-lhe a língua para que ele não continuasse a falar sobre aquilo que houvera visto, para que não falasse dos “MISTÉRIOS DOS MISTÉRIOS”.

Diz a TRADIÇÃO que “os seres integrantes de Agartha possuem todas as forças visíveis e invisíveis da terra, do inferno e do céu, e que tudo podem fazer pela vida e pela morte dos homens. Eles podem ressecar os mares, mudar os continentes em oceanos ou reduzir as montanhas e os mares em desertos. Eles podem fazer as árvores, as sebes e a grama brotarem, sabem transformar em moços fortes os homens velhos e fracos, e podem ressuscitar os mortos”.

O Rei do Mundo conhece todas as forças da natureza, lê em todas as almas humanas no grande livro do destino e reina invisível.

Segundo tudo indica, o clássico romance de J. Hamilton, já transformado em filme, intitulado Shangrilá é uma obra inspirada em tudo aquilo que se diz de Agartha. A história do romance se baseia na existência de um lugar paradisíaco, um lugar de perene felicidade onde as pessoas nem sequer envelheciam, tal como se diz exatamente a respeito de Agartha. Shangrilá, um mito? Uma lenda?… um vale maravilhoso, encravado entre as altíssimas montanhas do Himalaia, um vale de clima ameno no seio de um mundo coberto de neves eternas onde reina uma eterna paz.

Segundo um outro mito o Reino de Agartha situa-se num mundo subterrâneo que ocupa grande parte do planeta e que somente pessoas dignas podem chegar até ele, como aconteceu com APOLÔNIO e mui­tos outros.

O reino sagrado de Agartha seria dirigido por Melquisedec, mas há outras fontes que O colocam num nível ainda mais elevado, assim podemos dizer que uma pessoa só pode chegar até onde reina o Rei do Mundo sendo conduzido, é impossível encontrar por si mesmo o acesso, pois certamente não se trata de um local físico na Terra e sim de um plano divino a nível da Terra. Somente pela pureza, pela vibração precisa é que o acesso se torna possível, portanto somente os justos podem chegar até lá.

Muitas vezes os pontífices de Lhasa e de Urga enviaram mensageiros ao Rei do Mundo, mas nunca conseguiram encontra-lo.

O “chiang-chumn Barão Ungern mandou o jovem príncipe Puntizig ao Rei do Mundo com uma mensagem, mas ele voltou apenas com uma carta do Dalai Lama. O barão então voltou a manda-lo, mas o jovem príncipe nunca mais voltou”.

Um dos Dalai Lama do Tibet e brâmanes da Índia em certa ocasião escalaram altas montanhas que nunca tinham sido pisadas pelos habitantes da região e encontraram inscrições gravadas nas rochas, mas tudo em vão para alcançar o mundo de Agartha e desvendar o misterioso enigma do Rei do Mundo. Podemos dizer que qualquer profano jamais chegou até lá. O próprio nome Agartha significa inatingível, inacessível, inviolável, morada da paz.

A história de Melk-Tsedeq sem dúvidas é um dos mais importantes enigmas da historia da humanidade. Certa vez Ossendowsky perguntou a um Lama bibliotecário de um famoso mosteiro, se alguém já havia visto o Rei do Mundo. Ele respondeu que depois da instalação do Budismo no Oriente o Rei do Mundo já havia aparecido cinco vezes durante os festejos do Budismo antigo no Sião e na Índia. Eis o que disse o Lama: “Ele estava numa esplêndida carroça puxada por elefantes brancos, enfeitados de ouro, pedras preciosas e seda; usava uma capa branca e levava na cabeça uma tiara vermelha, da qual caiam franjas de diamantes que lhe cobriam o rosto. Abençoava o povo com uma maçã de ouro encimada de um cordeiro [3], então os cegos voltaram a ver, os surdos voltaram a ouvir, os doentes voltaram a andar e até mortos saíram de seus túmulos nos lugares por onde o Rei do Mundo passou” Faz cento e quarenta anos que Ele apareceu em Erdeni-Dzu e depois visitou também os mosteiros de Sakia e Naranchi Kure”.

Em outra ocasião o Hutuktu falou para Ossendowsky: Você vê esse trono? “Numa noite de inverno, chegou um desconhecido que subiu ao trono e retirou seu bachlyk, o ornamento que levada na cabeça. Todos os Lamas então caíram de joelhos, porque, naquele desconhecido, tinham reconhecido o homem que as bulas sagradas do Dalai Lama, do Tashi Lama e de Bogdo Khã estavam anunciando desde muito tempo. A ele pertencia o mundo inteiro e todo os mistérios da natureza eram-lhe conhecidos e ele dominava o destino de todos”.

Existem muitas estórias a respeito das aparições de Melki-Tsedeq. Conta-se como verdadeira a seguinte estória: Em certa ocasião durante as cerimônias de posse de um piedoso monarca, inesperadamente toda a natureza parou, e então apareceu o Rei do Mundo montando um cavalo imaculada­mente branco[4]. Todos os presentes se prosternaram e o Rei do mundo abençoou o recém-empossado monarca e depois se retirou abençoando a todos num clima de profunda paz. Trazia na mão o seu símbolo sagrado, um bastão encimado por uma maçã de ouro sobre a qual a imagem de um cordeiro, com que abençoou a todos os presentes. Naquela ocasião com grande intensidade aquele fenômeno típico de quando o Rei do Mundo abençoa a Terra se fez presente.

Existe uma “Terra Santa”, uma “Terra de Salém”, protótipo de todas as terras santas e centro de irradiação cósmica, centro zelosamente guardado pelas autênticas Confrarias Iniciáticas. Todas as Tradições Autênticas confluem à uma fonte única, original, representada na linguagem de todas as tradições e que falam através de símbolos, lendas e mitos, da realidade dessa misteriosa “Terra Santa” e de seu Chefe Supremo, conhecido na Índia como o “Jagrat-Dwipa”. Contudo esse Ser Supremo possui outros nomes, porque as suas funções são múltiplas e complexas. Assim, o Soberano oculto dos seres da Terra é denominado pelos Tibetanos de Ryugden-Diyepo quando se referem ao Senhor Supremo das Ordens Iniciáticas Secretas autênticas de âmbito solar. De igual modo existem várias denominações para a Ordem, mas, embora haja nomes diferentes conforme a língua, existe na realidade uma única ORDEM SUPREMA e que na Tradição Judaico-Cristã é conhecida como Ordem de Melquisedec.

Melki-Tsedeq, na sua dupla função de Soberano e Pontífice é na realidade o alfa e o omega de toda a evolução em processo em nosso globo, como organizador supremo das instituições humanas de todas as civilizações, dado que determina até mesmo o biótipo dos seres.

Ou, como o ouviu do seu Guru o grande místico e erudito Jean Marquês de Rivière, autor da obra ” L’ombre des Monastères Thibétains: “… e agora, meu filho, mistério muito mais alto que tudo o mais: Sabei que reina sobre a Terra, e muito acima dela, o Lama dos Lamas. Aquele diante do qual o próprio Trach-Lama se prosterna na maior das reverências. Aquele a quem chamamos o Senhor dos Três Mundos. Mas seu reino terrestre mantém-se oculto à visão dos homens”.

Em muitas ocasiões o nome de MELQUISEDEC esteve ligado a um, outro grande enigma, ao não menos legendário Prestes João tido como dirigente da humanidade. Durante a Idade Média muito se falava de um grande reino dirigido por um ser de grande sabedoria chamado Prestes João. O período em que mais se falou do Reino de Preste João foi no tempo de São Luís, nas viagens de Carpin e de Rubruquis. Segundo contam inúmeras estórias, teria havido quatro personagens que usavam esse título: Precisamente no Tibet, na Mongólia, na Índia e na Etiópia. Na realidade são quatro representações de um mesmo PODER. Diz um mito que, quando de suas conquistas territoriais Gengis-Kan tentou atacar o Reino do Preste João, ele foi repelido por um raio que quase aniquilou por completo o exército invasor.

Afirma o “Parasana Maitri”, no “Vishnu-Purana”: “Coroado e exaltado pelos próprios deuses e pelos seres celestes que eternamente honram as suas virtudes excelsas, encontramos o Mantenedor do Mundo. Ele detém as Forças Cósmicas. Ele torna possível a existência do nosso Globo”.

Por José Laércio do Egito – F.R.C. e João Paulo Nunes do Egito – F.R.C.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/grandes-iniciados-melquisedec

Física Quântica e a Arca da Aliança 1 ½

Conforme a tradição, ficamos entre colunas para tentar responder as questões levantadas na coluna anterior e preparar o espírito de vocês para a próxima parte.

Em primeiro lugar, queria agradecer as quase 5.000 pessoas que estão visitando esta coluna semanalmente (OBS: neste blog, as visitas estão atualmente em 12.000 visitas/semana), e também agradecer aos que estão indicando aos amigos e comentando.

Eu acho que descobri o por que de alguns posts ficaram sem resposta. A moderação do Sedentário às vezes demora para liberar algum comment e eles não aparecem necessariamente na ordem que foram postados, então às vezes alguém que postou antes acaba sendo liberado depois e o comentário dele fica “fora de ordem”. Como eu vou respondendo um por um no word para adiantar, acho que acabei “pulando” alguma questão. Se deixei de responder algo, basta perguntar de novo que uma hora eu acerto.

Renan – hummmm… deixa ver… então eu “não entendo nada de Física” porque “não coloquei as partículas subatômicas em ordem de tamanho, confundindo partículas de meio-spin (a saber: elétron, muón, tauon e os respectivos neutrinos) com partículas de spin inteiro (a saber: fótons, gluons, w+, w- e outras)”? E que eu devo ser muito ignorante por não saber que três quarks (ou anti-quarks) perfazem um bárion…

Realmente… este conhecimento mudou minha vida e eu tenho de pedir milhares de desculpas para as pessoas cujas vidas eu arruinei divulgando este monte de informações errôneas… e tudo para provar no final do texto que “espíritos não existem e chakras não servem para nada”. E, segundo nosso amigo Renan, “acupuntura não funciona e certas práticas quiropráticas podem levar o indivíduo à morte”.

Bom… de qualquer forma, esta coluna é generosa e vai lhe dar uma migalha de visitação, que é o que você deve estar querendo desde o início, pois repetiu meu nome tantas vezes no seu texto para ver se algum “google” da vida chega a você através destes links.

Mori – agradeço os comentários e os links interessantes. O povo que vivia em Albion (Inglaterra) não era tão evoluído quanto os egípcios nem dispunham de tanta mão de obra, e principalmente não tinham uma Arca da Aliança, então o mais provável é que tiveram de erguer os monolitos de pedra no braço mesmo, sem truques de cordas.

E não tenho dúvidas de que obviamente devem existir milhares de “pedras de Ica” falsas, assim como centenas de “crânios de cristal” falsos. Mas colegas meus que já estiveram no Peru e já visitaram o museu disseram que é muito fácil para alguém com experiência (eles são arqueólogos e restauradores, trabalham atualmente na Itália restaurando obras de arte renascentistas) diferenciar as pedras falsas das verdadeiras, pela qualidade do desenho e pelo tipo de pigmentação, traçado e estilo.

Já as ESTÁTUAS DE ACAMBARO eu não conhecia. Até onde vi na wikipedia, parece que há um debate sobre se são falsas ou não. É preciso tomar cuidado com afirmações do tipo “também uma fraude” pois nunca se sabe em que Tumba do Faraó elas foram encontradas, certo? Mas agradeço pela referência. Vou procurar algum livro que fale sobre elas.

Jean bulinckx e Mateus– Grande pergunta. O que faz uma fonte ser confiável ou não? Eu acredito que utilizo o mesmo rigor que os cientistas usam para demonstrar leis da física/química. A única diferença, como já disse, é que os ocultistas possuem mais ferramentas. Eu concordo totalmente contigo quando você diz que “acreditar não implica na existência”… Eu acredito no que pode ser testado e comprovado.

Vou ficar em um exemplo simples: você acredita que uma pessoa é capaz de dobrar uma lâmina de aço na garganta? Quando comecei a treinar kung-fu era comum ouvir as lendas dos guerreiros da antiguidade que quebravam espadas com os punhos e pegavam flechas com as mãos entre outras façanhas inacreditáveis. Pois bem… um dia eu perguntei a um mestre se estas coisas eram mesmo possíveis e ele disse que sim. Como cético profissional, ao invés de simplesmente acreditar ou não nele, pedi que me ensinasse a técnica de chi kung do fogo.

O chi-kung é a manipulação de certas energias (prana) através de certos chakras. Até dominar razoavelmente as técnicas de respiração e manipulação de energia, foram 4 anos de treinos, especialmente disciplina mental. Claro que, como magista, eu já tinha muita facilidade em visualização e concentração, mas mesmo assim o treinamento é de matar. Sem falsa modéstia, eu duvido que 0,001% da população tenha a disciplina para fazer os exercícios que estas técnicas requerem. Mas funciona. Ninguém me contou ou mostrou… EU fui lá pessoalmente e provei que era possível.

Já fiz mais de 50 demonstrações em público destas técnicas (quebramento de tijolos e tacos de beisebol, garganta de ferro, camisa de ferro, palma de ferro, canela de ferro e assim por diante… o único que nunca quis tentar foi aquele de agüentar chute no saco) e poderia repeti-las no laboratório de qualquer cientista que me pagasse bem.

Abaixo tem uns vídeos de algumas destas demonstrações:
Vídeo 1
Vídeo 2
Vídeo 3

E uma demonstração de um Sifu chamado Austin Goh (15 anos de treino de chi kung)

O mesmo aconteceu com Tarot e Astrologia. Quando eu quis saber se funcionavam ou não, não fiquei como um bunda-mole acreditando que “funcionavam” porque a cigana Joana disse que sim, ou que “não funcionavam” porque o professor Boring disse que não. Eu encontrei dentro das Ordens iniciáticas um astrólogo que tinha 30 anos de experiência e fiz um curso de um ano com ele. Para concluir o curso, ele me obrigou a fazer nada menos do que 100 mapas astrais de praticamente todo mundo que eu conhecia… e o resultado foi impressionante. O mesmo com o tarot. Eu SEI que funcionam porque eu fui lá e testei. E o mesmo vale para fenômenos psíquicos.

Infelizmente (ou felizmente), não tenho nenhum tipo de mediunidade de nascimento, mas tive a sorte de conviver com vários médiuns. Pessoas que, sem possuir nenhum tipo de educação formal, quando se deixavam incorporar eram capazes de falar inglês e alemão com mais fluência do que eu (e melhor sotaque também); pessoas que, sem nenhuma habilidade artística, conseguiam pintar de maneira impressionante (como o GASPARETTO, por exemplo, que tive a oportunidade de ver ao vivo uma demonstração na qual ele pintava 4 quadros diferentes ao mesmo tempo com mãos e pés utilizando 4 técnicas diferentes); uma das minhas melhores amigas (e também uma das melhores magistas que eu conheço) é médium vidente (imagine o moleque do sexto sentido e você terá uma boa idéia) e passávamos um bom tempo interrogando os “fantasmas” e anotando e comparando as respostas… depois eu descobri que um senhor chamado WALDO VIEIRA fazia a mesma coisa que eu há 40 anos.

Mas e quanto a livros e relatos históricos? Bem… o fato de fazer parte da loja Maçônica Madras, que é considerada uma das mais ocultistas e tradicionais dentro do Grande Oriente do Brasil, também ajudou muito nisso. Dela fazem parte pessoas de todas as tradições que você puder imaginar (do budismo ao candomblé, do xamanismo ao satanismo, da teosofia à teurgia), além do possível contato com a maioria dos autores da editora MADRAS. Com isso, quando eu tinha dúvidas sobre onde tal autor encontrou tal informação, eu sempre poderia ir perguntar diretamente a ele. O mesmo ocorre dentro da Rosacruz, da Ordo Templi, das Ordens Templárias e assim por diante. E estas pessoas são extremamente acessíveis em responder às dúvidas de um pesquisador. Portanto não é tão difícil estabelecer uma “rede de autores de confiança” para pesquisar ou tirar dúvidas.

Claro… este é o MEU caso… eu respiro essas coisas desde que era moleque, mas tenho plena noção do quão difícil é para alguém “normal” encontrar autores ou textos confiáveis (ainda mais na internet). Por esta razão, aceitei o convite do eightbits para escrever pra esta coluna. Pra ver se conseguimos despertar em vocês a curiosidade que fará com que vocês mesmos corram atrás do conhecimento e vejam o que faz mais sentido para vocês.

Arthur, Krebys, Felipedecoy, Miguel, Igor Pereira – porque estas verdades não são divulgadas e onde estão as provas? Bem… existem diversos problemas, mas creio que o principal é que a humanidade ainda está tão adormecida que simplesmente não tem capacidade para entender. Existe o fator religioso (nem preciso comentar que nos EUA e até recentemente no Rio de Janeiro haviam projetos para ensinar CRIACIONISMO nas escolas como se fosse algo sério). Para estas pessoas, violar o status quo e contradizer a bíblia é algo que simplesmente não pode acontecer… custe o que custar… por isso temos de conviver com “tumbas do Faraó”, “livros escritos por Deus” e “barcos carregando dois de cada animal do planeta”.

Outro fator é o famoso “para não cair em mãos erradas”… mas o que isto realmente significa?

Neste caso eu posso contar um “causo” bem interessante. Alguns anos atrás, quando uma banda veio se apresentar no Brasil, um colega inglês pediu que um grupo ligado a OTO Inglesa monitorasse as apresentações desta banda. A razão é que, sem querer, este grupo havia usado em uma música uma batida cuja combinação de freqüências fazia com que a supra-renal produzisse quantidades enormes de adrenalina em homens (para mulheres, a música era considerada “irritante” apenas). Eles já estavam fazendo estudos sobre isto há meses, registrando uma incidência de atos de vandalismo, brigas e desordem muito superior ao normal sempre que tal banda se apresentava e tocava esta música.

Pois bem. Há registros empíricos de estudos sobre estas freqüências, documentação farta dos shows, testes feitos por irmãos militares em treinamentos (descobrimos que ela deixa os homens que a escutam mais propensos a não sentirem dor ou cansaço durante uma briga ou exercício, e a se tornarem mais violentos e impetuosos sob o efeito destas descargas de adrenalina), etc, etc… tudo dentro dos mais rigorosos padrões científicos. Esta informação está trancada dentro de algumas ordens invisíveis. Por que? Porque supondo que eu irresponsavelmente revelasse para vocês o nome da banda ou da música para “provar” que as ordens realmente possuem este poder, em uma semana ela seria o hino oficial das torcidas organizadas de times de futebol. Isto é “cair em mãos erradas”.

Zaztras – A mente emite SIM determinados tipos de energia. Ela é capaz de criar, através do pensamento e das emoções, ondas e freqüências específicas que atuam no astral (que é aquela zona de freqüências que ainda não podemos detectar). As ondas eletromagnéticas que os cientistas conseguem medir são conseqüências destas emissões mentais no plano físico (cérebro). Quando os cientistas ortodoxos conseguirem aparelhos capazes de detectar estas ondas e freqüências, será apenas um passo construir aparelhos capazes de interpretar estes sinais e teremos computadores comandados por pensamentos. Procura por “brain computer interface” no google que você encontrará centenas de páginas sobre o assunto.

Quero ver se faço um post só falando sobre disciplina mental, egrégora, telepatia, psicocinesia e visualização para dar uma noção mais completa sobre como este tipo de fenômeno de computadores mentais funcionaria (nem que seja na teoria, para quem não acredita em nada disso).

Jean, Bananeira, Preguiça – Tesla e Tunguska. Esta é uma “teoria da conspiração” mesmo, porque não é ocultista, mas sim militar e, como tal, considerada top-secret. Está mais pro pessoal dos Arquivos X, eu sou da turma dos Templários… Em todo caso, aqui estão alguns textos a favor e contra a hipótese para vocês se divertirem:

http://www.viewzone.com/tesla.tunguska.html
http://www.world-mysteries.com/sci_tesla1.htm
http://www.grandunification.com/hypertext/Tunguska_Explosion.html

Betopow – Teoria da Terra Oca. Existe uma explicação bastante razoável para estas lendas (tanto que até o Führer procurou pela cidade de Thule), mas é melhor falar sobre civilizações intraterrenas só lá pra frente, ai vocês vão entender melhor do que se trata. Por enquanto, isso é “viagem demais” mesmo pra esta coluna, ok?

Paulo Roberto – A Ordem Rosacruz AMORC e o Lectorium Rosicrucianum são fraternidades discretas, não secretas. Para entrar, basta entrar em contato com eles através dos sites.

Chuvadenovembro – “Evidence: the case for NASA UFOS” – procurar no youtube por “sts-75” ou “sts ufo”. Anotei AQUI pra me lembrar de ver depois com calma… mas realmente, naves espaciais, ufos, greys, lagartos do espaço, Ashtar Sheron e criaturas afins são coisas que eu não entendo absolutamente nada. Nunca me interessei e nunca fui atrás para ver. Mas se for depender das otoridades, devem ser todos “balões metereológicos”.

Talvez ufologia seja o campo dos ateus… eles negam Deus mas usam aqueles programas bizarros como o Boinc para procurar aliens… vai entender…

Spartaggus – Eu gosto muito do espiritismo, mas depois quando você estuda pra valer o ocultismo, percebe que ele nada mais é do que uma versão “simplificada” da teosofia e rosacrucianismo, de mais fácil compreensão para as “Massas” (não usando este termo de uma maneira pejorativa – vá tentar entender rondas, raças, manvataras e pralayas e você saberá do que estou falando – heh). Se não fosse pelo trabalho do Kardec a gente teria de decorar todos aqueles nomes impronunciáveis hindus e não teríamos um décimo dos espiritualistas que temos hoje.

Histórias a respeito dos Exilados de Capela aparecem em várias ordens ocultistas e algumas ordens satânicas também (os exilados eram a escória de Capela… você não acha que todos eles vieram mesmo para “ajudar” a Terra, acha?)

Mi , Gustavo, Thibas – Signo de Peixes – O signo de peixes está em sincronicidade com o “contato com outras dimensões” por falta de uma terminologia melhor. Ele é complicado de se lidar porque a gama de energias que rege é muito ampla. Em uma ponta estão aqueles messias, médiuns, videntes, artistas, músicos, pintores, escultores, compositores, escritores, viajantes astrais… aquelas pessoas em contato com o “cósmico”. Conforme estas energias caem para as oitavas menores, esta conexão tende a se tornar uma fuga da realidade e temos pessoas que vivem em seus próprios mundos, daydreamers, sonhadores, aéreos… gente que se isola do mundo em sua própria realidade… nos pontos mais baixos temos viciados, esquizofrênicos, pessoas que perderam a noção de onde começa a realidade 3D e onde termina os planos astrais… nos pontos mais baixos estão os depressivos e suicidas.

Por isto é extremamente importante prestar atenção se vocês tem filhos com planetas neste signo, porque ele vai estar sempre em conexão com outros estados de consciência e cabe aos pais orientar para que eles se mantenham nas OITAVAS MAIS ELEVADAS.

Guerini, Thahy, Rodrigo Guedes, Mauro – Drogas, Sexo e Rock&Roll – Sim, eles abrem (ou fecham) os chakras. Falo mais sobre isso no próximo post.

PH, Santiago, Vimerson, Ticopunkrock, Élder, Vinicius S. Abreu, Danilo, Thahy, Victor Hugo, Ed, Chitão, Damienvalek, Gustavo, Dirk – Ok, farei um post “padre Quevedo”… provavelmente a parte III desta série sobre chakras. Acho que a partir do próximo post eu irei intercalar estas colunas com “teoria da magia” com “histórias ocultas”, fazendo pares relevantes como Moisés/Kabbalah, Salomão/72 anjos cabalísticos, Pitágoras/Numerologia, Essênios/Espíritos, Hindus/Tantra-yoga, rei arthur/santo graal e assim por diante, para não cansar quem quer ver logo a história dos templários e também para não deixar as explicações sem uma base mais elaborada.

#Pirâmides

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/f%C3%ADsica-qu%C3%A2ntica-e-a-arca-da-alian%C3%A7a-1

A Magia das Palavras

Todos somos feiticeiros e a palavra é o principal ingrediente do caldeirão. Através do que é dito ou escrito podemos convidar os povos a dançar, semeando alegria e esperança ou construir muros, espalhando ódio e medo. Este é o poder e ele é seu. Assim, cada manifestação se torna um ato de magia e define qual tipo de feiticeiro escolhemos ser.

Desde tempos remotos ensina-se que a palavra tem poder. Toda palavra traz em si uma ideia. Diversas culturas ensinam valiosas lições sobre o cuidado que devemos ter com a palavra.

O cristianismo orienta que as palavras revelam o que cada um tem no coração. Elas são a exata medida do nível de consciência de quem as emite.

Os cabalistas narram uma bela história em que um professor, para corrigir um aluno que difamou o colega, pede que escreva a ofensa em um pedaço de papel. Depois que a rasgue em muitos pedaços e os solte em lugar assolado por forte ventania. Agora recolha tudo, determina o professor. Impossível, responde o aluno faltoso que já não consegue ver para onde os pedaços restaram espalhados e perdidos. Assim acontece com as nossas palavras, explica o bondoso professor, depois de ditas já não nos pertence mais e ignoramos qual será o seu destino.

– Preste atenção antes de falar. Escute todos os lados envolvidos, em toda discórdia há no mínimo duas versões, além da verdade!

– Pondere quais sentimentos te movem: ódio, ciúme, vingança, inveja ou amor e paz?

– Outro cuidado que devemos ter é não travestir o desejo de vingança com as vestes da justiça. Não raro, sob a falsa e pretensa alegação do ato nobre, ocultamos e damos vazão aos nossos sentimentos mais densos e sombrios.

– Seja claro e objetivo em suas palavras. Não é não; sim é sim. Exponha seu raciocínio serenamente e respeite o entendimento alheio contrário ao seu. Que seu coração nunca esqueça que a boa semente não se perde e, no momento oportuno, germinará.

– As mais sábias palavras despencam no abismo se não forem o espelho das atitudes de quem as disse.

– Seja sempre sincero e nunca finja afeição, porém lembre que o amor é a força mais poderosa que existe. O amor é a matéria-prima de todos os milagres. A palavra traz Luz aos cegos.

O budismo ensina que Universo é um ser vivo em eterna transformação e reage na exata razão das nossas ações. A melhor maneira de comungar com Ele é espalhando alegria por toda a gente. Para tanto, a palavra é uma sementeira poderosa e barata.

A sabedoria empresta cores à filosofia das mais diversas tradições. Reconhecer a árvore através de seu fruto é outro belo quadro desenhado com as mesmas tintas. Sendo você a árvore, os frutos são suas palavras (e atitudes). Decida se vai envenenar ou alimentar a humanidade em suas ceias espirituais. Você se define a cada ato ou palavra.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-magia-das-palavras

A Cura pela Verdade no Xamanismo

Por Yoskhaz

Os povos nativos americanos, adeptos do xamanismo, têm um símbolo sagrado chamado Roda de Cura ou Roda da Vida. Não à toa, entendem que viver é um processo infinito de cura, caminhar em beleza pela infinita estrada da vida, nas palavras de um ancião Navajo. O símbolo tem a sagrada missão de nos lembrar que através de nossas relações vamos encontrar o remédio ou o veneno para as nossas dores. Na medida que aprendemos quem somos e pacificamos o nosso convívio com tudo e com todos saltamos um aro na Roda da Vida. Ficamos mais forte para seguir adiante.

Certa vez ouvi de um sábio monge tibetano que o Budismo não era religião, tampouco filosofia. Budismo é convívio social, esclareceu, pois toda teoria só terá alguma serventia se aplicado aos meus relacionamentos do cotidiano. Conhecimento que não é vivido é como pão na vitrine, embora encha os olhos, não sacia a fome.

A vida nada mais é do que um processo contínuo de cura. A razão de viver é puramente de cicatrizar as feridas emocionais, extirpar tumores psicológicos, sarar dores afetivas. Só assim seremos plenos, verdadeiramente felizes. Antigas e atuais relações costumam ferir e machucar de tal maneira que, se deixarmos, o sofrimento se instala como se ali fosse a sua casa eterna. Todos que passam por nossas vidas, em maior ou menor grau de intensidade, são nossos mestres, pois trazem situações, agradáveis ou não, que permitirão florescer o melhor em nós. Desde que tenhamos coragem, sabedoria e amor de buscar as respostas na fonte de toda a verdade. Esta luz está dentro de você. Não é fácil e nem sempre o primeiro encontro é agradável, pois costumamos usar o artificio da ilusão para personificar quem gostaríamos de ser, na vã esperança que isso atenue nossas dores. É a mentira que contamos para nós que impede a cura. Indispensável despir-se do personagem social que criamos, que por irreal, atrasa o nosso encontro com a verdade, retardando o desejado trem rumo às terras altas da plenitude. Para ser feliz é preciso ser todo. Ser todo somente é possível se viajarmos de carona no vagão da verdade.

A verdade cura porque levanta o véu que embaça o perfeito olhar. O melhor entendimento te permite modificar a rota. Para tanto temos que nos lançar em voo fantástico através dos vales iluminados e sombrios do autoconhecimento. A antiga e boa filosofia socrática já nos avisava da necessidade de conhecer-te a ti mesmo. Entender quem somos de verdade é o único caminho para entender os outros.

E ficar em paz com o universo.

Todos reclamam das imperfeições do mundo e esquecem que fazem parte dele como as flores ou os espinhos; os leões ou os carneiros; o fogo ou a água. Vez como um, noutra como outro. Por ignorância ou comodidade, esquecemos que se fazemos parte das delícias da vida, somos, por vezes, elementos de suas dores também. Um pouco mais ou um pouco menos de acordo com o entendimento de cada um, porém, sem exceções. Reclamamos muito porque desejamos que tudo e todos se adequem ao nosso conforto e necessidade, como uma avenida em que os sinais vão ficando verde na medida que nosso carro se aproxima. Seria perfeito, não? E aqueles que trafegam pelas ruas transversais, terão sempre que nos esperar? O problema é que todos se imaginam na via principal.

Está instalado conflito. No entanto, todos buscamos a felicidade e mesmo quando verbalizamos nossa descrença, inconscientemente ansiamos este estado de espírito.

Para pacificar as suas relações e curar seu sofrimento é indispensável entender quais os sentimentos que te movem.

– Será que o amor não nos foi ingrato porque ansiamos por possui-lo ao invés de simplesmente vivê-lo?

– Será que a pessoa amada não partiu porque não suportou a pesada carga de ser obrigada a te fazer feliz nesse insensato ônus que você mesmo impôs a ela?

– Será que o outro não tem o direito de partir quando bem entender, fazer suas escolhas e, cabe a nós, apenas respeitar em ato repleto de dignidade, por saber que nossas decisões merecem igual consideração?

– Quando pleiteamos uma sentença estamos movido por justiça ou vingança?

– Será que quando nos sentimos maltratados não foi porque concedemos ao outro tal poder? Não estará na hora de rever tal concessão?

Apenas algumas indagações pequenas e comuns a todos nós.

O sentimento é o combustível que move a vida, no entanto é o seu nível de consciência que permite a melhor combustão.

Entender seus sentimentos e emoções é se conhecer cada vez mais e melhor, ter a capacidade de escolher as melhores reações para você e consequências para o mundo. Maturidade é entender que não há liberdade sem responsabilidade. Ser pleno, um pouco mais adiante, é entender que suas escolhas desenham a sua história e são decisivas para o mundo ao seu redor. Como uma pedra atirada no lago, a liberdade de escolha se expande em ondas até os confins do universo. Este reage aos nossos impulsos em perfeita proporção.

Em que direção seguir? Como um passageiro desorientado em uma grande estação, perguntamos em qual plataforma saíra o próximo trem. Todos desejamos o mapa secreto do paraíso e nem nos damos conta que ele pode ser o nosso próprio quintal.

Os cabalistas contam uma parábola em que um rico mercador ofereceu metade de sua fortuna se alguém fosse capaz de resumir toda a sabedoria do Talmude no curto espaço de tempo em que se equilibraria sobre uma perna. Não faça ao outro o que não quer que façam a ti, todo o resto são apenas comentários, sintetizou com perfeição um inteligente rabi.

No belo e profundo Sermão da Montanha, Jesus ensina a mesmíssima lição ao explicar que todos os mandamentos se resumem tão e somente a fazer ao outro o que deseja que façam a ti. Eis o Norte da bússola a indicar a estrada para a plenitude.

Perceber com clareza a amplitude de suas escolhas e os verdadeiros sentimentos que a movem é entender tudo e todos. O mundo se expande, serena e ilumina na medida exata que entendemos quem somos e o que fazemos. De verdade.

Publicado originalmente em http://yoskhaz.com/pt/2015/05/29/a-cura-pela-verdade/

#Alquimia #xamanismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-cura-pela-verdade-no-xamanismo

O Mago e o Feiticeiro

Minha intenção aqui não é iniciar uma polêmica a respeito do significado desses dois termos segundo diferentes autores. Também não estou diminuindo o ofício de um ou de outro, seja qual for a definição utilizada. Aprecio a sua visão a respeito do tema, mesmo que ela seja diferente da que aqui apresento. Tampouco desejo estabelecer conclusões definitivas sobre o tópico. Esclarecidos esses pontos, partirei para uma análise cujo intuito é uma reflexão saudável, que não intenciona impor o “melhor caminho”, pois a via de cada um é totalmente pessoal.

Seja na magia tradicional ou na Magia do Caos, muito ouvimos falar em feitiços, sistemas, rituais, receitas ou fórmulas, que podem variar em denominações e níveis de complexidade na execução. Muitos rituais da magia tradicional são belíssimos e ricos em simbologia, sendo que há aqueles que podem demorar longas semanas ou meses, até que se alcance um importante objetivo. Na Magia do Caos é comum a utilização dos sigilos e servidores, que podem resolver alguns problemas simples com rapidez. O método ou o tempo de duração podem depender de inúmeros fatores, sendo alguns dos mais relevantes a dificuldade da operação e as entidades envolvidas.

Existem rituais e feitiços para praticamente tudo: amor, dinheiro, cura, só para citar alguns. No ocultismo você estuda as correspondências para saber quais cores, aromas, etc, atingem o inconsciente com mais eficácia, para aumentar as chances de sucesso de certa operação. Uma magia cujo tempo de preparação é mais longo também influencia diretamente em aumentar a confiança do magista para que seu objetivo se realize, o que é fundamental.

Na magia tradicional o enfoque geralmente está nos estudos das simbologias mais adequadas, o entendimento do aspecto filosófico e a aplicação de todos esses fatores no desenvolvimento de uma magia cerimonial altamente elaborada, que poderá influenciar tanto o mundo material como a mente, no momento em que as conexões da mente do mago com a mente do mundo são estabelecidas.

No caoísmo costuma-se realizar experimentos para saber qual tipo de método poderá ser empregado para cada indivíduo. Considerando-se que cada pessoa possui uma visão de mundo e uma experiência de vida diferenciadas, seria natural supor que as influências externas as afetam de modos diversos, mesmo que em alguns momentos isso possa ocorrer num nível sutil. O caoísmo explora essas sutilezas visando mais o resultado do que as explicações por trás do processo. Tais explicações podem ser exploradas numa busca de potencializar o resultado como um entendimento relativo, não com o objetivo de sistematizar essas diretrizes através da criação de um sistema absoluto e determinado que funcione para todos.

Acredito que tanto a metodologia da magia tradicional como a do caoísmo são admiráveis, e ambas possuem seu mérito. Há momentos em que as duas se relacionam, uma utilizando técnicas da outra. Novamente, a escolha de uma linha de magia depende completamente das inclinações da pessoa, e não porque amarelo é melhor que laranja ou uvas são mais gostosas que melancias. Eventualmente praticantes da magia tradicional podem concluir que realmente o amarelo seja mais eficaz que o laranja em dada ocasião (mesmo que o magista odeie o amarelo e a cor lhe traga lembranças ruins), e sejam capazes de montar diversos quebra-cabeças do mundo para explicá-lo. Mas como os caoístas enxergam a realidade mais como um caos dançante e livre do que como uma equação a ser solucionada, talvez não seja uma questão de definir se o mundo é redondo ou quadrado, mas de ter a consciência do formato da armação de nossos óculos que enxerga o mundo dessa maneira. No final, seria extremamente agradável se tudo fosse um quebra-cabeça dançante. Assim, as duas visões seriam reconciliadas, como deseja o Princípio da Polaridade do Caibalion.

Seja qual for a sua abordagem, há realização de feitiços em muitas linhas de magia, religiões e nos mais variados sistemas e subsistemas filosóficos, herméticos e na simpatia da esquina. Para a preparação de algo assim, alguns partem de uma abordagem mais pessoal e realização de testes; outros de técnicas mais gerais, cerimoniais e altamente filosóficas.

O problema começa quando passam a existir apenas duas opções que determinem a eficácia mágica:

1- Sua magia deu certo. Você foi bem sucedido.

2- Sua magia deu errado. Você falhou.

Muitos pensam que ser bem sucedido num grande número de feitiços torna a pessoa um bom mago. Isso não é verdade. Isso faz dela um bom feiticeiro. As duas áreas estão relacionadas, mas não são a mesma coisa. De modo análogo, a habilidade de ser rápido em cálculos não torna alguém automaticamente um bom matemático. Pode ser que um matemático seja meio lento em operações aritméticas, mas possua um raciocínio lógico fenomenal para enxergar padrões em diversas áreas da matemática e relacioná-las.

Ser bom em feitiços pode ajudar um mago, mas isso não é tudo. Não é nem o começo. O princípio é perguntar-se: “Em primeiro lugar, por que eu preciso de feitiços? Estou insatisfeito com o mundo? Ou comigo mesmo? O mundo precisa mudar? Ou eu preciso mudar?”.

Nós temos a tendência a pensar que somos o centro do universo e que o mundo existe somente para nos servir. Então quando as coisas não ocorrem conforme nossa vontade ficamos tristes ou furiosos, e desejamos alterar algo lá fora rapidamente, para que o “equilíbrio seja restabelecido”, como se o equilíbrio ideal fosse sempre a satisfação imediata de todos os nossos desejos.

Não estamos sozinhos. Nossa família, nosso círculo de amigos e nossa comunidade não são tudo o que existe. Além de bilhões de pessoas, há tantos outros seres vivos, substâncias orgânicas e inorgânicas que compõem a biosfera que, por melhores que sejam nossas intenções de realizar uma magia para ajudar a nós mesmos ou a alguém, seria um desafio além de nossas forças possuir a sabedoria absoluta que determinaria quais são as ações corretas e incorretas que estariam de acordo com um “equilíbrio do universo” – sendo que até este poderia ser um “equilíbrio dinâmico”, em constante mutação.

Sabendo que não possuímos a sabedoria infinita, seria lógico entender que, por essa razão, tampouco possuímos poder infinito. Isso geraria um desequilíbrio imenso. Ter poder sem a sabedoria para usá-lo seria um perigo para os outros e para nós mesmos.

Portanto, espero que da próxima vez que um feitiço seu não dê certo, você se sinta grato. Seria realmente terrível se você fosse capaz de sair por aí alterando todas as coisas do mundo conforme sua vontade. Sabedoria e poder nem sempre evoluem proporcionalmente em todos os graus que se almeja, como ocorreu na obtenção do poder das bombas, sem a sabedoria para usar adequadamente o conhecimento das reações nucleares. Sendo assim, certas capacidades adquiridas poderiam lhe trazer solidão imensa e outros efeitos colaterais. A natureza muitas vezes freia a eficácia de algumas magias suas realizadas sem a devida sabedoria, para sua proteção e segurança, mesmo que isso lhe traga insatisfação.

Muitos magistas se tornam obcecados com a realização de feitiços, a ponto de pensar que isso é tudo o que existe no campo da magia, ou que feitiços são a magia em si. Eles são somente uma das manifestações dela.

Alguns praticantes se frustram quando cometem muitos erros, principalmente no início, e logo concluem que magia “não existe”, que é “lenda”, “não funciona”, e acham que tudo o que fizeram foi bobagem ou perda de tempo. Há também aqueles que realizam um número espetacular de acertos logo em suas primeiras experiências e se empolgam muito. Mas ao sinal do primeiro erro perdem a confiança e começam a se questionar se tudo aquilo não foi apenas “coincidência”. Sua crença no processo é abalada, e a partir daí muitos erros ocorrem em sequência, como um efeito dominó.

Para ser um bom feiticeiro é altamente desejável ser um bom mago, embora um bom magista não precise necessariamente ser exímio em feitiços. O Mago compreende que ele não é um indivíduo isolado e que sua sabedoria não é infinita. Por isso, ele entenderá com serenidade que muitos feitiços seus não irão dar certo e nem devem.

Agora nós iremos ainda mais longe na análise. Um feiticeiro que acerte mais de 60% de seus feitiços é bom, certo? E um que acerte mais de 80% seria ótimo, correto?

Não é bem assim. Até mesmo no caso de feitiços, as coisas não podem ser medidas apenas em termos de acertos e falhas. Quando se realiza um processo mágico, o efeito obtido não é apenas um resultado concreto e facilmente mensurável. Você alterou a ordem de algumas coisas lá fora, e também dentro de si mesmo.

Um feitiço seu que falhe na esfera física poderá deixar uma carga residual positiva em sua mente que contribua para a eficácia de seu próximo feitiço, caso você tenha a compreensão de que é completamente natural haver falhas e que isso não depende diretamente da sua falta de habilidade. Há inúmeros fatores em jogo. Se ao não obtiver o que deseja você pensar “Não aconteceu porque afetaria negativamente em outras partes, então eu me sinto grato”, a carga residual irá lhe favorecer, então uma parte do feitiço funcionou, pela sua sabedoria em não carregar erros físicos para a esfera mental.

Para aqueles que não se dão bem com a aparente “roda da fortuna” dos feitiços, e que não desejam transformá-la numa “roleta russa”, que retire toda sua empolgação em praticar a magia, sugiro começar com processos mais simples e mais subjetivos, como rituais para fortalecer sua confiança e coragem.

Há naturalmente pessoas com mais facilidade em obter um maior número de “acertos mensuráveis” em feitiços, mas aqueles com dificuldades não devem se desanimar, pois nada que um treino intensivo e dedicado não resolva.

Mas talvez você não seja o tipo de “mago feiticeiro”. Embora tantos grimórios possam sugerir que essa é a única categoria de magista que existe, há outras possibilidades¹. Quem sabe você não se sinta confortável, emocionalmente e filosoficamente falando, com a realização desse tipo de magia. Há os magos que defendem que a realização de feitiços vai “contra seus princípios” de aceitar a realidade como ela é e não lutar contra ela, que seria uma filosofia mais ligada ao taoísmo e budismo.

Quando você muda sua atitude mental para se harmonizar com o mundo da forma que ele nos é apresentado, nem sempre precisa realizar uma alteração mais radical lá fora (que seria o wu wei, ação pela não ação). Já no caso do budismo, você não busca diretamente poderes supramundanos. Pode acontecer de esbarrar neles ao longo da meditação, e tê-los não é considero bom e nem ruim.

Então um mago que não realiza feitiços não realiza magias? Ele realiza. O Mago é um indivíduo capaz de executar a mais poderosa alquimia: a interna, com a alteração de sua percepção do mundo e de si mesmo. Através disso, ele poderá obter o poder mais fabuloso e cobiçado: a felicidade. E essa felicidade pode ser até mesmo a capacidade de entender que ele não precisa estar feliz em todos os momentos para ser feliz, por mais paradoxal que possa parecer essa afirmação (há quem chame essa “alegria pela transitoriedade da alegria” de bem-aventurança).

Em vez de fazer o vento parar, o Mago poderá ser como a rocha, que não se abala com o sopro do vento. Ou como a árvore, que pode até se dobrar, mas não se quebrar. Há acontecimentos que poderão derrubar o nosso corpo, como a própria morte, ou até tocar a nossa mente, mas o Mago não permitirá que atinja seu espírito.

Quando entendemos que nosso espírito não é só nosso, mas está em tudo, vemos que coisas como dinheiro, saúde, pessoas ou até mesmo a felicidade não nos pertencem para que possam ser agarrados ou aprisionados. Feitiços são formas de engaiolar o pássaro por mais algum tempo. Semanas? Anos? Décadas? Um dia irá alçar voo. O Mago não engaiola a felicidade. Ele aquieta sua mente para voar com ela.

[¹Para quem deseja um exemplo de uma magia não centrada nos feitiços, aqui nós trabalhamos com uma linha de fábulas que inspiram a vivência espiritual, técnica já utilizada em tantos livros sagrados. As fábulas se relacionam a grimórios que sistematizam a porção ontológica e mágica dos sistemas. No que concerne à mente, o limite é a imaginação. Para os que não entenderam como funciona, explicarei possivelmente no meu próximo post].

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-mago-e-o-feiticeiro