A Dura Verdade sobre Projeção Astral

Eis algo que você não vai ler muito em livros de ocultismo: Projeção Astral não existe.

Não me entenda mal, eu mesmo já tive diversas experiências e sei como induzi-las. O que estou tentando dizer aqui é que ‘Projeção Astral’ é um péssimo nome usado para descrever o que realmente acontece. Este é um nome que não apenas não condiz com os fatos experimentados mas que confunde ainda mais os praticantes ao empurrar discretamente goela a baixo uma série de conceitos ultrapassados e até mesmo ingênuos.

Este nome propõe, como muitas escolas esotéricas ensinam, que o ser humano é composto de diferentes corpos, sendo que um deles é o chamado corpo astral. Até ai nenhuma crítica, cada um dá ao próprio rabo o apelido que mais gosta, além disso é uma forma didática de se ver o mundo – como quem separa o sistema circulatório do sistema nervoso em um livro de anatomia, mas sabe que não pode separá-los na anatomia propriamente dita. O ponto amargo é que é justamente isso que a Projeção Astral propõe: a suposição que o corpo astral se projeta para fora do corpo, permanecendo ligado a ele por um fio luminoso infinitamente elástico, que sinceramente nunca vi.

O problema central é tentar explicar uma experiência mental usando vocabulário corporal. Outro nome horrível é EFC (OBE), sigla para “Experiência Fora do Corpo”, pois igualmente sugere que um “espírito”, “fantasma” ou qualquer coisa etérea exista e que sob as condições certas deixe corpo e saia passeando por aí. Eis o velho perigo no ocultismo, aceitar o que é dito sem refletir, estudar e experimentar um determinado assunto por si mesmo. Não se trata apenas de levianidade, mas um tipo de estupidez pois quando o praticante passa pela experiência, e vê que é real, acaba acreditando que a teoria fajuta que veio com o pacote também é verdadeira. Felizmente para a mente sagaz uma gota de bom senso basta para purificar um mar de ilusões.

De fato, não podemos dizer que ‘nada acontece’. Sabemos por algumas pesquisas que durante as projeções algo de diferente se passa. O artigo de Andra M. Smith e Claude Messierwere publicado pela Frontiers of Human Neuroscience monitorou por exemplo, algumas “projeções” via ressonância magnética e pode comprovar uma “forte desativação do córtex visual” acompanhada de  intensa atividade “no lado esquerdo de diversas áreas associadas a imagens cinestésicas”. Em outra palavras é como se a visão fosse desligada e as pessoas se movimentassem dentro de sua prrópria cabeça. Para a pessoa a experiência em si é absolutamente real e ela pode inclusive sentir que esta fora do próprio corpo. Mas quem realmente está em atividade é seu cérebro.

Isso pode ser comprovado de modo simples. Você provavelmente conhece algumas pessoas e “mestres ocultos” que dizem conseguir projetar-se para fora do corpo. Proponha para elas um teste simples. Que feche os olhos e sorteie uma carta de baralho. Sem olhar para ela coloque-a sobre uma mesa em um um recinto próximo. Feche a porta e na próxima oportunidade simplesmente se projete e veja qual foi carta sorteada. Alternativamente tente descobrir a cor de um lápis de cor também sorteado cegamente, peça para verem a a cor e depois voltem para te contar. É importante que você também feche os olhos na hora do sorteio, mesmo se estiver testando outra pessoa. De todas as pessoas a quem propus o teste, posso dizer que nenhuma foi capaz de descobrir o que havia na sala ao lado.

Em minhas experiências nunca vi nada que me convencesse da existência de um corpo astral interagindo com o mundo físico. Em outras palavras, o corpo astral não está “flutuando”, ele não “sai do corpo”, não “enxerga” nem “escuta” as coisas por onde passa. Pense no seguinte: sabemos que quando vemos algo, estamos na verdade estamos experienciando impulsos elétricos enviados a nosso cérebro, causados pela luz que é interceptada por nossa retina; se não temos mais olhos, retina ou sistema nervoso, como nosso espírito astral consegue “enxergar” qualquer coisa? Também ouvimos coisas quando vibrações do ar estimulam nossos tímpanos; como nosso corpo “astral” é estimulado por tais ondas?

Assim defendo que tudo o que experimentamos no desdobramento é uma realidade mental e não corpórea. Não é um salto para fora mas um mergulho para dentro. Se o corpo astral existe, e não é este o ponto da discussão aqui, ele apenas percebe o que podemos chamar, com certa cautela, de “plano astral” da mesma forma que o corpo físico apenas percebe o mundo físico a nossa volta. Na verdade eu me arriscaria chamar este plano de “virtual”, mas sei que muitas pessoas iriam confundir isso com uma internet fantasma e tenho medo dos desdobramentos que isso pode causar, “meu Deus… o cordão de prata é então o fio do mouse astral? Onde ele é enfiado?”

Isso não quer dizer que esta experiência não seja realmente um fenômeno genuíno e não passe de imaginação. Isso seria um contra senso pois a imaginação é também ao seu modo um fenômeno genuíno. Por falta de um nome melhor e por razões que apontarei a seguir, prefiro o nome “Desdobramento da Consciência” ou simplesmente “Desdobramento” pois o eu posso dizer que realmente experimento nestas ocasiões é uma tomada de consciência mais profunda dentro de minha própria mente. Um desdobramento mal feito é algo muito semelhante a uma visualização e um desdobramento bem feito é idêntico a um sonho lúcido. De fato quem sonha está em contato com essa realidade seja consciente ou inconscientemente.

O termo desdobramento é usado por outras pessoas que ao contrário de mim, acreditam na exteriorização de algum tipo de corpo sutil. Mas uso esse termo por uma razão diferente. Eu poderia usar termos herméticos e dizer que “O que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo”, mas prefiro me arriscar a usar alguns termos cunhados pelo físico David Bohm, um dos pais da física quântica: “Em certo sentido, o homem é um microcosmo do universo, e portanto o ser humano é uma pista do que o universo é. Nós somos o desdobramento do universo.”

Para mim o Desdobramento da Consciência é a mudança de perspectiva entre a “ordem explicita”, com a qual estamos acostumados graças aos nossos sentidos e a “ordem implícita” que é a nossa natureza anterior. O próprio termo ordem implícita me parece um pouco traiçoeiro pois o que temos la é um caos, no sentido de potencialidades infinitas e não de mera bagunça, é óbvio. Nesse sentido me agrada bastante os termos universo causal e acausal usado na Tradição Septenária. Uma ordem limitada não é mais real do que um outra além da compreensão, assim como as imagens de um canal de TV não são mais reais do que as ondas eletromagnéticas de todos os canais juntos. Ambas simplesmente duas formas de encarar a realidade. Em última estância a realidade é experimentada por nós através de nossa mente, todo o universo onde habitamos não passa de um construto mental nosso. Um mesmo fenômeno pode ser visto e experienciado de formas diferentes ou pode ser caracterizado por diferentes princípios em diferentes contextos, como por exemplo, em diferentes escalas. Um exemplo seria o processo pelo qual um aparelho de rádio transforma ondas eletromagnéticas em ondas sonoras. Outra analogia possível é a de fazer um furo em um pedaço de papel dobrado várias vezes. ao desdobrá-lo a ordem explícita de vários buracos se revelará, embora implicitamente sejam o mesmo buraco. Este modelo de como a mente funciona é semelhante ao modelo proposto pelo neurocientísta Karl H. Pribram, que descreve o funcionamento do cérebro como uma espécie de projeção holográfica.

O mundo mental não pode ser tratado da mesma forma que o mundo físico. Seria como usar regras de macro-economia para explicar o comportamento dos ácaros ou micro-biologia para falar das estrelas. Dizer que o corpo astral fica preso no corpo físico por um cordão de prata infinitamente elástico sinceramente é algo que beira o ridículo. Quando você passa por um desdobramento, você muda de tabuleiro. As peças são outras e o jogo mudou. Na realidade mental, espaço e tempo não são fatores dominantes determinando a relação de dependência ou independência dos diferentes elementos. Em seu lugar um conjunto inteiramente diferente de conexões básicas dos elementos é possível, das quais nossas noções de causa e consequência, bem como de partículas existindo separadamente são abstraídas como formas derivadas de uma ordem mais profunda. Nesta condição não é preciso ‘ir’ para ‘chegar’ pois não há distâncias a serem percorridas. Tudo o que pode ser alcançado está presente em toda parte em um único instante.

O plano astral, se quiser continuar usando o termo, possui sua própria (des)ordem e sua própria (i)lógica. Esta (des)ordem não pode ser entendida apenas como meramente o arranjo regular de objetos (como uma fila) ou de eventos (como uma história), é um caos que só ganha forma com a tenção e assim dá origem a cada e toda região do espaço e tempo que você pode visitar. Veja um exemplo mais prático e didático disto, observe a imagem abaixo:

cone

 

Você pode perceber seu universo como um círculo, uma elípse, uma parábola ou uma hipérbole, dependendo apenas de como o observar, mesmo que ele seja “realmente” um cone. Acredite ou não fora de nossa mente, no mundo da astronomia e da física, a cada momento, cientistas percebem o universo “real” – vou chamá-lo de físico para não desgastar a palavra real- de maneiras diferentes. Antes algo infinito para todos os lados, então algo plano e circular, então algo em forma de pêra, então de sino… a cada vez as próprias leis da física mudavam, para corroborar essas novas visões, outras vezes novas descobertas matemáticas é que nos forçavam a mudar a nossa visão sobre o universo. O “universo astral” é apenas uma outra perspectiva.

Um ponto que quero destacar, que é imensamente importante, é que se você mergulhar profundamente em sua própria consciência verá que possui em sua cabeça muito mais informação do que imaginava. Qualquer  estudante de psicologia sabe hoje que a mente consciente é só a ponta do ice-berg de nossa Monte Everest mental. Isso fica evidente quando sonhamos, mas torna-se assustadoramente claro nos sonhos lúcidos e nos desdobramentos. Tudo o que você já viu, ouviu, tocou, cheirou, sentiu, pensou e provou está gravado. A mente como um todo é incapaz de esquecer. Por si só, isso já faria do desdobramento uma ferramenta interessantíssima de se trabalhar. Embora você não possa virar o gasparzinho para espiar a vizinha tomando banho, certamente sua mente possui coisas muito mais interessantes de se ver. Entretanto, existe ainda mais a ser explorado.

Se você mergulhar ainda mais profundamente poderá experimentar o que Jung chamou de Inconsciente Coletivo. O conteúdo atávico de onde nasceram todos os grandes épicos. A matéria prima da qual foram feitos todos os mitos e todas as religiões. Todos as deusas e todas as feras são acessíveis de forma assustadoramente interativa para quem se dedicar à prática do desdobramento. Descrevi uma forma pela qual você pode chegar a este estado no capítulo “Mergulhando no Abismo” do Lex Satanicus.

Quanto mais fundo você desce na própria mente, mais próximo fica da mente de todos os demais – para que perder tempo vendo sua vizinha pelada, quando pode literalmente transar com qualquer estrela de cinema ou modelo de revista erótica? O fato é que se fizer o teste das cartas com pessoas o suficiente verá que, algumas delas, embora não possam ver de fato a carta podem de alguma forma, que sinceramente desconheço, ver por meio da sua mente aquilo que os seus olhos viram antes. Em algum lugar abaixo do inconsciente coletivo, ou quem sabe através dele, as mentes podem se tocar.

Para uma experiência prática a este respeito existem várias técnicas as quais você pode recorrer.  Agende um dia que possa fazer isso e acorde no mesmo horário que costuma acordar. Se arrume, tome um café rápido troque de roupa como se estivesse se preparando para sair e então… volte para cama e tente dormir novamente. Percebi que, ao menos comigo, isso engana o cérebro que entende que deveria estar acordado e assim realmente torna-se mais fácil acordar dentro do sono. Outra prática benéfica é criar um diário onde todos os dias ao acordar você anote o máximo possível de seus sonhos. Em um primeiro momento tal tarefa será ardua e pouco produtiva mas com constância em breve estará escrevendo páginas e mais páginas e assim tornando-se cada vez mais consciente do universo acausal. Existem muitas outras técnicas que você pode tentar, é tudo uma questão de descobrir qual a mais adequada para você.

A respiração holotrópica, técnica desenvolvida por Stanislav Grof é outra forma de atingir resultados semelhantes e as vezes ainda mais intensos. Em tempo as pesquisas de Grof, assim como Os Campos Morfogenéticos de Rupert Sheldrake não deixam dúvidas quanto a existência de um nível mais essencial de comunicação entre as mentes de todos os seres vivos. Se você realmente se dedicar poderá levar este nível ao seu extremo e cruzar a fronteira da pessoalidade. Esta é a razão para eu ter pedido para você fechar os olhos na hora de tirar uma carta no teste acima. Como as pesquisas de Joseph Banks Rhine demonstraram, sob certas condições a mente humana tem acesso a conhecimentos que não passaram pelos seus sentidos. É razoável supor que tenham vindo de algum outro lugar. O experimento de Jacobo Grinberg-Zylberbaum mostrou que pode sim existir alguma espécie de ligação não-local entre duas mentes, embora isso passe desapercebido no nível consciente.

Podemos dizer que em um nível superficial o chamado plano astral reflete nossa própria realidade mental e em um nível mais profundo, a realidade mental da coletividade. Durante o desdobramento absolutamente tudo é simbólico. O símbolo e o simbolizado são uma coisa só. Uma casa que você visita não é exatamente uma casa de concreto armado, mas antes disso um lar, um constructo com todas as impressões simbólica e emocionais tanto de seus habitantes quando de si mesmo. Muito mais do que no chamado mundo físico, nesta outra realidade o observador e o observado influenciam e modificam um ao outro o tempo todo.

O Desdobramento deve ser a fronteira final a ser cruzada por todo psiconauta corajoso. É um mergulho dentro de si mesmo com destino ao universo. Essa é a razão porque muitas pessoas tem dificuldades com desdobramentos. Não é um problema de escolher esta ou aquela técnica, mas de se estar pronto para o que vai encarar. Quase sempre esta experiência deve ser precedida de um processo de auto-conhecimento e auto-aceitação, quando não de psicoterapia. Antes de mergulhar de cabeça, certifique-se de que a piscina está cheia. A dificuldade em conseguir experiências eficazes quase nunca é por causa do método ou receita usada, mas sim por conta das próprias travas internas de cada um. O famoso guardião do umbral possui uma face assustadoramente familiar; a sua. A dura verdade é que as pessoas têm medo de olhar para si mesmas.

Morbitvs Vividvs é autor de Lex Satanicus: O Manual do Satanista e outros livros sobre satanismo.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/a-dura-verdade-sobre-projecao-astral/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/a-dura-verdade-sobre-projecao-astral/

Campos Morfogenéticos

Havia um arquipélago no Pacífico povoado apenas por macacos. Eles se alimentavam de batatas, que tiravam da terra. Um dia, não se sabe porque, um desses macacos lavou a batata antes de comer, o que melhorou o sabor do alimento. Os outros o observaram, intrigados, e aos poucos começaram a imitá-lo. Quando o centésimo macaco lavou a sua batata, todos os macacos das outras ilhas começaram a lavar suas batatas antes de comer. E entre as ilhas não havia nenhuma comunicação aparente.

Essa história (fictícia) exemplifica uma teoria criada pelo fisiologista inglês Rupert Sheldrake, denominada teoria dos campos morfogenéticos. Segundo o cientista, os campos mórfogenéticos são estruturas invisíveis que se estendem no espaço-tempo e moldam a forma e o comportamento de todos os sistemas do mundo material. Todo átomo, molécula, célula ou organismo que existe gera um campo organizador invisível e ainda não detectável por qualquer instrumento, que afeta todas as unidades desse tipo. Assim, sempre que um membro de uma espécie aprende um comportamento, e esse comportamento é repetido vezes suficiente, o tal campo (molde) é modificado e a modificação afeta a espécie por inteiro, mesmo que não haja formas convencionais de contato entre seus membros. Isso explica porque, no exemplo, todos os macacos do arquipélago de repente começaram a lavar suas raízes, sem que houvesse comunicação entre as ilhas.

Mas outros exemplos na natureza – desta vez verdadeiros – ilustram bem uma organização invisível no comportamento dos animais. Pegue um gato, por exemplo. Separe-o do convívio com outros gatos poucos dias após o nascimento (algo infelizmente comum) e crie-o isolado. Ele vai ter todas as características comportamentais de um gato, as brincadeiras, inclusive o cacoete de só fazer as necessidades na areia (se tiver areia no lugar, claro). Quem ensinou isso? Milhares de anos de evolução, dirão os Darwinistas. Deus, dirão os Criacionistas. Mas nem um nem outro explica a questão: Quem ensinou isso ao maldito gato que foi criado fora do convívio dos outros de sua maldita raça milenar?!

Ainda mais extraordinários são os pássaros jardineiros, cujo ninho é uma obra de arte, feito de palhas e ramos, e que não se esquecem, para encantar mais a fêmea, de enfeitar com o que se denomina “jóias”, sejam ervas ou flores, ou pedrinhas todas iguais, para atapetar o chão. Quem ensinou isso? Foi um Deus caprichoso, que estava numa fase mais artistica e deu esse dom pra esse pássaro e não para os outros? Ou foram seus genes, tão caprichosos quanto? Será que, baseado tão-somente na sobrevivência e possibilidades de acasalamento, não seria mais inteligente pra natureza espalhar essa técnica pra todos os pássaros e outros animais?

A ciência dá um valor muito alto aos genes. É uma verdadeira panacéia: se não sabemos explicar algo, simplesmente “culpamos” os genes. Exemplo disso é o processo de diferenciação e especialização celular que caracteriza o desenvolvimento embrionário. Como explicar que um aglomerado de células absolutamente iguais, dotadas do mesmo patrimônio genético, dê origem a um organismo complexo, no qual órgãos diferentes e especializados se formam, com precisão milimétrica, no lugar certo e no momento adequado? A biologia reducionista diz que isso se deve à ativação ou inativação de genes específicos, e que tal fato depende das interações de cada célula com sua vizinhança (entendendo-se por vizinhança as outras células do aglomerado e o meio ambiente). Tal formação do embrião acontece com precisão tanto aqui quanto na China, tanto no frio como no calor, tanto na poluição e radiação de NY, quanto nos bucólicos campos da Escócia…

A biologia reducionista transformou o DNA numa cartola de mágico, da qual é possível tirar qualquer coisa. Na vida real, porém, a atuação do DNA é bem mais modesta. O código genético nele inscrito coordena a síntese das proteínas, determinando a seqüência exata dos aminoácidos na construção dessas macro-moléculas. Os genes ditam essa estrutura primária e ponto. “A maneira como as proteínas se distribuem dentro das células, as células nos tecidos, os tecidos nos órgãos e os órgãos nos organismos não estão programadas no código genético”, afirma Sheldrake. “Dados os genes corretos, e portanto as proteínas adequadas, supõe-se que o organismo, de alguma maneira, se monte automaticamente. Isso é mais ou menos o mesmo que enviar, na ocasião certa, os materiais corretos para um local de construção e esperar que a casa se construa espontaneamente.”

A morfogênese, isto é, a modelagem formal de sistemas biológicos como as células, os tecidos, os órgãos e os organismos seria ditada pelos campos morfogenéticos, uma estrutura espaço-temporal que direcionaria a diferenciação celular, fornecendo uma espécie de roteiro básico ou matriz para a ativação ou inativação dos genes, um papel semelhante ao da planta de um edifício. Devemos ter claras, porém, as limitações dessa analogia. Porque a planta é um conjunto estático de informações, que só pode ser implementado pela força de trabalho dos operários envolvidos na construção. Os campos morfogenéticos, ao contrário, estão eles mesmos em permanente interação com os sistemas vivos e se transformam o tempo todo graças ao processo de ressonância entre os campos.

Tanto quanto a diferenciação celular, a regeneração de organismos simples é um outro fenômeno que desafia a biologia reducionista e conspira a favor da hipótese dos campos morfogenéticos. Ela ocorre em espécies como a dos platelmintos, por exemplo. Se um animal desses for cortado em pedaços, cada parte se transforma num organismo completo. Tal organismo parece estar associado a uma matriz invisível, que lhe permite regenerar sua forma original mesmo que partes importantes sejam removidas. Sheldrake já realizou várias pesquisas para provar que o corpo possui um campo mórfico e, quando se perde uma parte desse corpo, o campo permanece. Um exemplo é uma das experiências que fez: Uma pessoa que não tem parte do braço age como se estivesse empurrando o membro fantasma através de uma tela fina. Do outro lado da tela, uma outra pessoa tenta tocar o braço fantasma. De acordo com Sheldrake, as duas pessoas envolvidas na experiência são capazes de sentir o toque. É uma prova (subjetiva) de que alguma coisa do braço ainda existe concretamente, e não apenas no cérebro da pessoa que o perdeu.

Depois de muitos anos de estudo e pesquisa chegou-se à conclusão de que a chave desse mistério estaria numa espécie de memória: uma memória coletiva e inconsciente que faz com que formas e hábitos sejam transmitidos de geração para geração. O campo morfogenético seria uma região de influência que atua dentro e em torno de todo organismo vivo. Algo parecido com o campo eletromagnético que existe em volta dos imãs. Para o cientista, cada grupo de animais, plantas, pássaros etc, está cercado por uma espécie de campo invisível que contém uma memória, e que cada animal usa a memória de todos os outros animais da sua espécie. Esses campos são o meio pelo qual os hábitos de cada espécie se formam, se mantém e se repetem. No exemplo dos macacos, o conhecimento adquirido por um conjunto de indivíduos agrega-se ao patrimônio coletivo, provocando um acréscimo de consciência que passa a ser compartilhado por toda a espécie.

O processo responsável por essa coletivização da informação foi batizado por Sheldrake com o nome de ressonância mórfica. Por meio dela, as informações se propagam no interior do campo mórfico, alimentando uma espécie de memória coletiva.

Os seres humanos também têm uma memória comum. É o que Jung chamou de inconsciente coletivo. A respeito disso, Sheldrake lança uma luz sobre a questão da existência de vidas passadas: Ele diz que, às vezes, as pessoas podem entrar em sintonia com as memórias de uma outra pessoa que existiu no passado. Isso que não significa que elas foram realmente aquela pessoa, mas que se teve acesso à memória dela. Talvez por isso existam por aí tantas reencarnações de Napoleão e Cleópatra…

Então, o campo morfogenético é algo que está dentro de nós, e fora de nós. Nos envolve e nos define, está presente em nossos pensamentos, e nossas atitudes. Pode estar por trás do Id; Pode ser a Força. O inconsciente coletivo; O Shaktipat; Em essência, o Tao; Ou mesmo Brahma! O Reino dos céus!

Os campos morfogenéticos também são responsáveis por aquela sensação que a maioria das pessoas tem quando sente que está sendo observada. Sheldrake explica:
“Entrevistei alguns detetives particulares, pessoal da vigilância na polícia, pelotões antiterrorismo da Irlanda do Norte e outras pessoas cujo negócio é olhar outras pessoas. A maior parte destes observadores profissionais está muito consciente desse fenômeno, e alguns daqueles que operam sistemas de segurança em shoppings, edifícios, aeroportos e hospitais também estão muito conscientes desse efeito. Em uma das principais lojas de departamento de Londres, os detetives da loja disseram que podiam olhar as pessoas na loja através de uma TV, e quando viam alguém roubando, um gatuno, muitas vezes perceberam que, se olhassem para essa pessoa muito intensamente, pela tela da TV, a pessoa começava a olhar a seu redor procurando as câmeras escondidas e depois devolvia o que tinha tirado e saía da loja. Um segurança em um hospital disse que onde isso dava mais certo era com uma câmera oculta que cobria uma área onde as pessoas iam fumar, embora não fosse permitido fumar no hospital, mas quando ele observava os fumantes através da televisão de circuito fechado eles imediatamente começavam a parecer constrangidos e apagavam seus cigarros e saíam dali. Portanto, há muitas experiências práticas. No SAS britânico, que são as forças especiais usadas para tomar de assalto terroristas em embaixadas e lugares semelhantes, parte do treinamento ensina que, se você está se aproximando cuidadosamente de uma pessoa por trás, para esfaqueá-la nas costas, você não deve olhar fixamente para as costas dela, porque é quase certo que, se o fizer, ela vai se virar. E a primeira lição que um detetive particular aprende sobre seguir alguém é que você não olha para quem está seguindo, porque se olhar, ele vai se virar e seu disfarce terá sido descoberto”.

Parece telepatia. Mas não é. Porque, tal como a conhecemos, a telepatia é uma atividade mental superior, focalizada e intencional que relaciona dois ou mais indivíduos da espécie humana. A ressonância mórfica, ao contrário, é um processo básico, difuso e não-intencional que articula coletividades de qualquer tipo. Sheldrake apresenta um exemplo desconcertante dessa propriedade:
“Quando uma nova substância química é sintetizada em laboratório, não existe nenhum precedente que determine a maneira exata de como ela deverá cristalizar-se. Dependendo das características da molécula, várias formas de cristalização são possíveis. Por acaso ou pela intervenção de fatores puramente circunstanciais, uma dessas possibilidades se efetiva e a substância segue um padrão determinado de cristalização. Uma vez que isso ocorra, porém, um novo campo mórfico passa a existir. A partir de então, a ressonância mórfica gerada pelos primeiros cristais faz com que a ocorrência do mesmo padrão de cristalização se torne mais provável em qualquer laboratório do mundo. E quanto mais vezes ele se efetivar, maior será a probabilidade de que aconteça novamente em experimentos futuros.”

Com afirmações como essa, não espanta que a hipótese de Sheldrake tenha causado tanta polêmica. Em 1981, quando ele publicou seu primeiro livro, A New Science of Life (Uma nova ciência da vida), a obra foi recebida de maneira diametralmente oposta pelas duas principais revistas científicas da Inglaterra. Enquanto a New Scientist elogiava o trabalho como “uma importante pesquisa científica”, a Nature o considerava “o melhor candidato à fogueira em muitos anos”.

Doutor em biologia pela tradicional Universidade de Cambridge e dono de uma larga experiência de vida, Sheldrake já era, então, suficientemente seguro de si para não se deixar destruir pelas críticas. Ele sabia muito bem que suas idéias heterodoxas não seriam aceitas com facilidade pela comunidade científica. Anos antes, havia experimentado uma pequena amostra disso, quando, na condição de pesquisador da Universidade de Cambridge e da Royal Society, lhe ocorreu pela primeira vez a hipótese dos campos mórfogenéticos. A idéia foi assimilada com entusiasmo por filósofos de mente aberta, mas Sheldrake virou motivo de gozação entre seus colegas biólogos. Cada vez que dizia alguma coisa do tipo “eu preciso telefonar”, eles retrucavam com um “telefonar para quê? Comunique-se por ressonância mórfogenética”. Era uma brincadeira amistosa, mas traduzia o desconforto da comunidade científica diante de uma hipótese que trombava de frente com a visão de mundo dominante. Afinal, a corrente majoritária da biologia vangloriava-se de reduzir a atividade dos organismos vivos à mera interação físico-química entre moléculas e fazia do DNA uma resposta para todos os mistérios da vida.

A hipótese dos campos morfogenéticos é bem anterior a Sheldrake, tendo surgido nas cabeças de vários biólogos durante a década de 20. O que Sheldrake fez foi generalizar essa idéia, elaborando o conceito mais amplo de campos mórficos, aplicável a todos os sistemas naturais e não apenas aos entes biológicos. Propôs também a existência do processo de ressonância mórfica, como princípio capaz de explicar o surgimento e a transformação dos campos mórficos. Não é difícil perceber os impactos que tal processo teria na vida humana. “Experimentos em psicologia mostram que é mais fácil aprender o que outras pessoas já aprenderam”, informa Sheldrake.

Ele mesmo vem fazendo interessantes experimentos nessa área. Um deles mostrou que uma figura oculta numa ilustração em alto constraste torna-se mais fácil de perceber depois de ter sido percebida por várias pessoas. Isso foi verificado numa pesquisa realizada entre populações da Europa, das Américas e da África em 1983. Em duas ocasiões, os pesquisadores mostraram as ilustrações 1 e 2 a pessoas que não conheciam suas respectivas “soluções”. Entre uma enquete e outra, a figura 2 e sua “resposta” foram transmitidas pela TV. Verificou-se que o índice de acerto na segunda mostra subiu 76% para a ilustração 2, contra apenas 9% para a 1. Numa universidade inglesa, alguns pesquisadores conseguiram provar que as palavras cruzadas dos jornais são muito mais fáceis de resolver quando feitas no dia seguinte à publicação original.

Esse fenômeno é muito comum entre os químicos. Quando um deles tenta cristalizar um novo composto leva muito tempo para conseguir um bom resultado. Mas a partir desse momento em outros lugares do mundo muitos outros químicos conseguem cristalizar o mesmo composto num tempo muito mais curto.

Isso explicaria o porquê da geração dos anos 80 ter tido facilidade de programar o videocassete, e a geração de 90 dominar o computador e o celular?

Se for definitivamente comprovado que os conteúdos mentais se transmitem imperceptivelmente de pessoa a pessoa, essa propriedade terá aplicações óbvias no domínio da educação. “Métodos educacionais que realcem o processo de ressonância mórfica podem levar a uma notável aceleração do aprendizado”, conjectura Sheldrake. E essa possibilidade vem sendo testada na Ross School, uma escola experimental de Nova York, dirigida pelo matemático e filósofo Ralph Abraham.

Outra conseqüência ocorreria no campo da psicologia. Teorias psicológicas como as de Carl Gustav Jung e Stanislav Grof, que enfatizam as dimensões coletivas ou transpessoais da psique, receberiam um notável reforço, em contraposição ao modelo reducionista de Sigmund Freud (ver artigo “Nas fronteiras da consciência”, em Globo Ciência nº 32).

Sem excluir outros fatores, o processo de ressonância mórfica forneceria um novo e importante ingrediente para a compreensão de patologias coletivas, como o sadomasoquismo e os cultos da morbidez e da violência, que assumiram proporções epidêmicas no mundo contemporâneo, e poderia propiciar a criação de métodos mais efetivos de terapia. “A ressonância mórfica tende a reforçar qualquer padrão repetitivo, seja ele bom ou mal”, afirmou Sheldrake a Galileu. “Por isso, cada um de nós é mais responsável do que imagina, pois nossas ações podem influenciar os outros e serem repetidas”.

Abaixo, os melhores momentos da palestra de Rupert Sheldrake, intitulada “A mente ampliada” (que pode ser lida integralmente aqui):

EXPERIMENTO DO CACHORRO

Deixe-me dar um exemplo do tipo de histórias que temos em nosso banco de dados, sobre um cachorro que sabe quando seu dono está chegando em casa. Essa é de uma pessoa no Havaí: “Meu cachorro Debby sempre fica esperando na porta uma meia hora antes de meu pai chegar em casa do trabalho. Como meu pai estava no exército, ele tinha um horário de trabalho muito irregular. Não fazia diferença se meu pai ligava antes, e uma época eu achei que o cachorro reagia à chamada telefónica, mas isso obviamente não era o caso, porque às vezes meu pai dizia que estava vindo para casa mais cedo, mas tinha que ficar até mais tarde. Às vezes ele nem telefonava. O cachorro nunca se enganava, portanto eu eliminei a teoria do telefone. Minha mãe foi a primeira pessoa que notou esse comportamento. Ela estava sempre preparando o jantar quando o cachorro ia para a porta. Se o cachorro não fosse até a porta, nós sabíamos que papai ia chegar mais tarde. Se ele chegasse tarde, o cachorro mesmo assim o esperava, mas só quando ele já estivesse no caminho de casa”.

Temos agora em nosso banco de dados cerca de 580 relatos de cachorros que fazem isso, e cerca de 300 relatos de gatos que fazem isso, com esse tipo de qualidades. O cético de carteirinha irá dizer “bem, é apenas uma rotina”, mas na maioria dos casos não é uma rotina (se fosse as pessoas nem notariam). O próximo argumento do cético de carteirinha é “bom, o que deve acontecer é que as pessoas da casa sabem quando o dono está vindo e com isso seu estado emocional muda, e o animal capta essa mudança através de deixas sutis”. Bem, é claro que isso é possível se as pessoas realmente prevêem que alguém está vindo para casa, seu estado emocional pode mudar, elas podem ficar excitadas ou talvez deprimidas e o animal pode captar essa mudança emocional e reagir a ela. Mas, em muitos dos casos, as pessoas na casa não sabem quando a outra está vindo para casa, é o animal que lhes diz, e não elas que dizem ao animal.

Quando eu estava discutindo esse assunto com Nicholas Humphrey, meu amigo cético disse: “bem, tudo isso ainda não elimina a possibilidade de que eles ouvem o barulho do motor do carro, um motor de carro familiar a 30, 40 quilômetros de distância”, e eu disse: “isso é obviamente impossível”. E ele: “pelo contrário, apenas demonstra como a audição dos cachorros é aguçada”. Foi essa discussão que levou à ideia de fazer um experimento. Eu disse: “OK, e se eles vierem para casa de táxi, ou no carro de um amigo, ou de trem, ou de bicicleta da estação em uma bicicleta emprestada, para que não haja sons familiares?” E ele disse: “nesse caso, o cachorro não reagiria”, e desde a publicação deste livro eu já descobri muitos cachorros, gatos e outros animais que fazem isso.

Telefonamos para pessoas escolhidas aleatoriamente usando técnicas padronizadas de amostragem e perguntamos se elas tinham animais. Dos donos de animais, havia mais donos de cachorros do que de gatos na maior parte das localidades. Perguntávamos: então “seu animal parece saber previamente quando um membro da família está vindo para casa?” Aproximadamente 50% dos donos de cachorro em todas as localidades disseram que sim – em Los Angeles foram mais de 60% – e podemos ver através desses resultados que os gatos em todas as localidades fazem isso menos que os cachorros.

Nos primeiros experimentos que foram feitos, pedíamos às pessoas que anotassem em um caderno o comportamento do cachorro, mas os céticos disseram: “bem, assim você tem uma tendência subjetiva”. Portanto, agora nós fazemos uma fita de vídeo de todos os experimentos. Temos uma câmera de vídeo em tripé, apontando para o lugar onde o cachorro ou o gato esperam pela pessoa que vem para casa. Há um controle de tempo na câmera e ela fica funcionando por horas. Então, temos horas de filme que irão mostrar se o cachorro ou o gato vão até a janela, e por quanto tempo ficam lá, um registro objetivo e perfeito. O que vou lhes mostrar é um vídeo de um desses experimentos que foi feito com um cachorro com que trabalhei principalmente na Inglaterra. O cachorro chama-se JT e o nome de sua dona é Pam. Quando Pam sai, ela deixa JT com seus pais, que vivem no apartamento ao lado do dela. Eles observaram há muitos anos que JT sempre ia para a janela quando Pam estava a caminho de casa, ou quase sempre. Esse experimento foi filmado profissionalmente pela televisão estatal austríaca, e foi filmado com duas câmeras, para que pudéssemos ver o cachorro e a pessoa que estava na rua ao mesmo tempo. E foi combinado que eles escolhessem as horas de sua vinda para casa de maneira aleatória, que nem ela mesma soubesse previamente, que ninguém soubesse previamente; e ela viria para casa de táxi, para eliminar a possibilidade de sons de carros familiares. Esse, portanto, é um experimento que foi realizado dentro dessas condições.

Na vida real, Pam não vem para casa em horas escolhidas aleatoriamente, e que ela própria desconheça previamente. Quando está no trabalho, ou quando sai para fazer compras ou visitar amigos, ela vem para casa em vários momentos diferentes, e nós monitoramos regularmente as horas em que ela volta, mais de 200 experimentos foram monitorados, temos dezenas deles em vídeo. O cachorro nem sempre reage, cerca de 85% das vezes JT realmente espera por ela quando ela está vindo para casa, cerca de 15% ele não o faz. Analisamos as ocasiões em que ele não faz, a maioria das vezes ocorreu quando a cadela do apartamento vizinho estava no cio. Isso mostra que JT pode se distrair. Isso também ocorreu algumas vezes quando havia visitas na casa ou outro cachorro, e algumas vezes sem nenhum motivo. De qualquer forma, JT normalmente reage quando Pam decide que vai para casa. No filme vê-se que ele não começa a reagir quando ela entra no táxi, e sim quando ela estava pronta para ir para casa. Na vida real ele não reage quando ela entra no carro para ir para casa, e sim quando ela começa a se despedir dos amigos e pensando “bem, vou-me embora”. Ele parece captar essa intenção dela. É bem verdade que JT vai até a janela ocasionalmente quando Pam não está a caminho de casa, normalmente porque vai latir para um gato que passa na rua ou está olhando alguma coisa que está acontecendo do lado de fora. Nesses gráficos incluímos todos esses casos, embora fique claro no vídeo que ele não está esperando, mas como os céticos dizem que, se você usar evidência seletiva isso demonstra que você inventou a coisa toda, não fizemos nenhuma seleção aqui. Às vezes há uns trechos barulhentos, quando ele vai até a janela de qualquer maneira, mas podemos ver que isso é a média de 12 ocasiões diferentes quando ela estava fora por mais de 3 horas. O tempo que ele está esperando na janela é maior quando ela está no caminho de casa do que quando ela não está. Vemos um pequeno aumento antes de ela ir para casa que, a meu ver, tem relação com esse efeito antecipatório.

JT está obviamente esperando por ela principalmente quando ela está no caminho de casa. O que é claro nesses gráficos é que JT não vai para a janela com mais frequência quanto mais tempo ela estiver fora. Ele obviamente está muito mais na janela aqui, quando ela está no caminho de volta, do que nos períodos correspondentes aqui. Esses efeitos têm uma enorme significância estatística. Vários tipos de análise mostram significâncias que vão mais além da escala de meu computador. Esses efeitos são do tipo p é menor que .00001.

Esses resultados foram amplamente publicados na Grã-Bretanha, nos jornais, e – é claro – foram criticados pelos céticos, que estão sempre prontos para dizer que nada semelhante poderia ocorrer. Um dos céticos mais ativos na Grã-Bretanha, cujo nome é Richard Wiseman, disse que eu não tinha usado procedimentos adequados, não os tinha registrado de forma adequada, etc. Eu fiz também muitos experimentos com horas de retorno aleatórias. Pam tem umpager em seu bolso que eu ativei por telefone de Londres e ela vem para casa em momentos verdadeiramente aleatórios, usando um desses pagers da telecom. De qualquer forma, ele criticou os detalhes, então eu disse: “Tudo bem, por que você mesmo não faz o experimento? Eu organizo tudo para que você possa fazê-lo com o mesmo cachorro. Emprestamos uma câmera de vídeo, Pam irá onde você quiser, o seu ajudante ficará observando-a”. Na verdade, então, o próprio Wiseman filmou o cachorro e ficou no apartamento dos pais da Pam, enquanto seu ajudante ia com a Pam para pubs, ou outros lugares, até que em um momento determinado aleatoriamente fosse decidido que eles voltariam para casa. Eles checavam o tempo todo para garantir que não haveria chamadas telefônicas secretas, nenhum meio de comunicação invisível, nenhuma fraude ou trapaça.

Wiseman é um mágico, e ele é um desses céticos que está sempre afirmando que tudo pode ser feito por trapaça ou ilusionismo. Bem, ele mesmo esteve lá, e eles estavam se protegendo de tudo, e ele realizou três experimentos com Pam na casa de seus pais, e esses foram os resultados dos três experimentos que ele fez, usando todos seus controles rigorosíssimos, seu próprio procedimento aleatório, e outras coisas mais (os resultados são exatamente iguais aos outros; o público ri). Portanto, esses resultados são sólidos, mesmo com um cético, que ao fazer o experimento na verdade não quer que ele dê certo. Atualmente realizo uma série de experimentos em Santa Cruz, Califórnia, com um tipo de periquito italiano que mostra o mesmo tipo de reação: eles guincham quando o dono está vindo para casa, e obtemos quase o mesmo tipo de gráficos, mostrando que os guinchos vão aumentando de intensidade quando o dono está a caminho de casa em horas aleatórias.

Um cão e um ser humano, quando formam uma união entre eles, são parte de um grupo social. Os cães são animais intensamente sociais, eles descendem dos lobos que têm uma vida social intensa. Portanto, eu acho que o que ocorre quando uma pessoa sai de casa, é que ela ainda continua conectada pelo campo mórfico da família, do qual o cão é parte. O campo mórfico se estica, por assim dizer, mas eles ainda estão ligados por esse campo mórfico, e é devido a essa conexão contínua invisível que a informação pode viajar, as intenções da pessoa podem afetar o cachorro em casa.

Portanto, eu interpreto tudo isso em termos de campos mórfícos. É claro, outras pessoas podem querer interpretá-lo em termos de outras coisas, e pode ser que isso esteja relacionado com a não-localidade quântica, ninguém sabe. Existem na física quântica, fenômenos não-locais misteriosos, sistemas que foram conectados como parte do mesmo sistema, e quando são separados retêm essa conexão não-local e não separável à distância. Bem, uma pessoa e um cachorro, que estiveram conectados por terem vivido juntos como companheiros, quando se separam podem ter uma conexão não-local semelhante. Mas ninguém sabe se essa não-localidade quântica se estende aos fenômenos macroscópicos ou não.

MEMÓRIA COLETIVA

Acho que esses campos têm uma espécie de memória, essa é minha ideia de ressonância mórfíca, o que significa que cada tipo de campo mórfico tem uma memória de sistemas passados semelhantes, por meio de um processo de ressonância através do espaço e do tempo. Os campos são locais, estão dentro e ao redor do sistema que eles organizam, mas sistemas semelhantes têm uma influência não-local através do espaço e do tempo, oriunda da ressonância mórfíca, que dá uma memória coletiva para cada espécie. Não tenho tempo de explicar os detalhes da teoria da ressonância mórfíca, a não ser para dizer que cada espécie neste planeta teria uma memória coletiva. Todos os ratos extrairiam memórias da memória coletiva de ratos anteriores. Se ratos aprenderem um novo truque no laboratório, outros ratos em outros locais deveriam ser capazes de aprender o mesmo truque mais rapidamente. Haja evidência, que eu discuti em meus livros, de que isso realmente ocorre.

No reino humano, se as pessoas aprendem uma nova habilidade, como windsurf, ou andar de skate, ou programação de computador, o fato de que muitas pessoas já aprenderam a mesma coisa deveria fazer com que fosse mais fácil para os outros aprenderem. Bem, essa é uma teoria que, claramente, é muito polêmica, e eu a descrevi em detalhe em meus livros A new science of life e A presença do passado. Já houve um número considerável de testes experimentais, e quando um número grande de pessoas está envolvida, eles dão resultados positivos; com uma amostra pequena (20, 30 pessoas) aprendendo algo novo, os resultados são às vezes positivos e às vezes não significativos. Esses efeitos são relativamente pequenos e difíceis de detectar no contexto de variações individuais. Mas há certos tipos de evidência que surgiram espontaneamente, que são relevantes aqui, e um deles está relacionado com testes de QI. Como vocês sabem, os testes padrão de QI vêm sendo ministrados por muitos anos para medir a inteligência e esses mesmos testes são aplicados ano após ano. Foram feitos estudos para examinar a contagem de testes de QI no decorrer do tempo; quando examinamos o desempenho absoluto nesses testes – e aqui estamos falando de testes feitos por milhões de pessoas – os testes mostram um efeito muito interessante que foi descoberto pela primeira vez por James Flynn, e portanto é chamado de Efeito Flynn: há um aumento misterioso e inesperado nas porcentagens do QI com o correr do tempo. Aqui temos um gráfico mostrando resultados de testes de QI, tirado de um número recente da revista Scientific American. As porcentagens aumentaram uns três por cento a cada década, não só nos Estados Unidos, mas também na Inglaterra, na Alemanha e na França. Por que o QI é uma questão polêmica na psicologia, tem havido muita discussão sobre a razão pela qual isso aconteceu: melhor nutrição, escolas melhores, mais experiência com os testes, e assim por diante. Mas nenhuma dessas teorias foi capaz de explicar mais do que uma fração desse efeito. O próprio Flynn, após 10 anos pensando sobre isso, e testando todas essas explicações, chegou à conclusão que o efeito é desconcertante, não há explicação para ele na ciência convencional. No entanto, é apenas o tipo de efeito que seria de se esperar com a ressonância mórfíca. Não é porque as pessoas estão realmente ficando mais inteligentes, mas o que está acontecendo é que elas simplesmente estão mais eficientes quando fazem os testes de QI, e eu acho que isso ocorre porque milhões de pessoas já fizeram os mesmos testes.

CRISTAIS

Se você fizer um novo cristal que nunca existiu antes, não poderia existir um campo mórfico para esse cristal. Essa teoria se aplica também a moléculas. Se você a cristalizar repetidamente, o campo mórfico ficará mais forte, e ficaria mais fácil para a substância se cristalizar. Na verdade isso é um fato bem conhecido dos químicos, que os novos compostos se cristalizam com mais facilidade com o passar do tempo nos vários laboratórios. A explicação desses químicos é que isso ocorre porque fragmentos dos cristais anteriores são levados de um laboratório para o outro, nas barbas de químicos migrantes, ou que foram transportados da atmosfera como partículas invisíveis de poeira. Mas eu estou sugerindo que isso poderia ser um efeito da ressonância mórfica e essa é uma das áreas em que ela pode ser testada. Na química existem também outras áreas onde ela pode ser testada.

O UNIVERSO E OS ANJOS

Átomos, moléculas, cristais, organelas, células, tecidos, órgãos, organismos, sociedades, ecossistemas, sistemas planetários, sistemas solares, galáxias: cada uma dessas entidades estaria associada a um campo mórfogenético específico. São eles que fazem com que um sistema seja um sistema, isto é, uma totalidade articulada e não um mero ajuntamento de partes.

Se, através da teoria de Gaya, estamos passando a enxergar a Terra como um organismo vivo, então será que a Terra pensa? Será que ela poderia ser consciente? E o Sol? Todas as religiões tradicionais tratam o Sol como sendo consciente. É um deus (Hélios), na religião grega. Mitra, na Pérsia. Surya, na Índia, onde seus devotos o saúdam pela manhã, através de um exercício de yoga chamado Surya namaskar. Portanto, estas são tradições que existem em todas as partes, mas, é claro, para nós, com uma estrutura científica, o Sol é apenas uma grande explosão nuclear do tipo que ocorre o tempo todo emitindo radiação.

O Sol, sabemos hoje em dia, tem uma série incrível de mutações de ressonância elétrica e magnética ocorrendo em seu interior: ciclos de onze anos, explosões de manchas solares, dinâmica caótica, freqüências ressonantes. Atualmente sistemas estão monitorando, com um detalhamento anteriormente considerado impossível, essas incríveis mudanças eletromagnéticas – minuciosas e complexas – que estão ocorrendo no Sol. Bem, se padrões elétricos complexos são uma interface suficiente para a consciência e o cérebro humano, por que é que o Sol não poderia tê-los também? Por que o Sol não poderia pensar? E se o Sol é consciente, por que não as estrelas? E se as estrelas são conscientes, por que não as galáxias? Essas últimas teriam uma consciência de um tipo muito mais inclusivo do que a das estrelas que elas contêm. E se galáxias, por que não os grupos de galaxias? Então teríamos uma idéia de níveis hierárquicos de consciência por todo o universo. É claro, na tradição ocidental, como em todas as tradições, temos uma idéia exatamente desse tipo. A idéia das hierarquias dos anjos na Idade Média não era a de seres com asas – isso era apenas uma maneira bastante ingênua de representá-los. Eles eram compreendidos tradicionalmente como níveis de consciência além do humano. Havia nove níveis, dos quais três ou mais eram relacionados com as estrelas e com a organização de corpos celestiais. Eles eram as inteligências das estrelas e dos planetas, os três níveis intermediários dos anjos. Portanto, já existe a tradição no ocidente sobre uma consciência super-humana.

#espiritualismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/campos-morfogen%C3%A9ticos

Campos Morfogenéticos e Egrégoras

A hipótese dos campos morfogenéticos foi formulada por Rupert Sheldrake. Segundo o holismo, os campos morfogenéticos são a memória coletiva a qual recorre cada membro da espécie e para a qual cada um deles contribui.

“Morfo vem da palavra grega morphe que significa forma. O campos morfogenéticos são campos de forma; padrões ou estruturas de ordem. Estes campos organizam não só os campos de organismos vivos mas também de cristais e moléculas. Cada tipo de molécula, cada proteína por exemplo, tem o seu próprio campo mórfico -a hemoglobina , um campo de insulina, etc. De um mesmo modo cada tipo de cristal, cada tipo de organismo, cada tipo de instinto ou padrão de comportamento tem seu campo mórfico. Estes campos são os que ordenam a natureza. Há muitos tipos de campos porque há muitos tipos de coisas e padrões dentro da natureza…”

Os campos morfogenéticos ou campos mórficos são campos que levam informações, não energia , e são utilizáveis através do espaço e do tempo sem perda alguma de intensidade depois tido sido criado. Eles são campos não físicos que exercem influência sobre sistemas que apresentam algum tipo de organização inerente. “

Os campos morfogenéticos agem sobre a matéria impondo padrões restritivos em processos de energia cujos resultados são incertos ou probabilísticos. Os Campos Mórficos funcionam modificando eventos probabilísticos . Quase toda a natureza é inerentemente caótica. Não é rigidamente determinada. Os Campos Mórficos funcionam modificando a probabilidade de eventos puramente aleatórios. Em vez de um grande aleatoriedade, de algum modo eles enfocam isto, de forma que certas coisas acontecem em vez de outras. É deste modo como eu acredito que eles funcionam.

“Campos mórficos são laços afetivos entre pessoas, grupos de animais – como bandos de pássaros, cães, gatos, peixes – e entre pessoas e animais. Não é uma coisa fisiológica, mas afetiva. São afinidades que surgem entre os animais e as pessoas com quem eles convivem. Essas afinidades é que são responsáveis pela comunicação.”

Um campo morfogenético não é uma estrutura inalterável mas que muda ao mesmo tempo, que muda o sistema com o qual esta associado. O campo morfogenetico de uma samambaia tem a mesma estrutura que o os campos morfogenético de samambaias anteriores do mesmo tipo. Os campos morfogenéticos de todos os sistemas passados se fazem presentes para sistemas semelhantes e influenciam neles de forma acumulativa através do espaço e o tempo.

A palavra chave aqui é ” hábito “, sendo o fator que origina os campos morfogenéticos . Através dos hábitos os campos morfogenéticos vão variando sua estrutura dando causa deste modo às mudanças estruturais dos sistemas aos que estão associados. Segundo o cientista, os campos mórficos são estruturas que se estendem no espaço-tempo e moldam a forma e o comportamento de todos os sistemas do mundo material.

Átomos, moléculas, cristais, organelas, células, tecidos, órgãos, organismos, sociedades, ecossistemas, sistemas planetários, sistemas solares, galáxias: cada uma dessas entidades estaria associada a um campo mórfico específico. São eles que fazem com que um sistema seja um sistema, isto é, uma totalidade articulada e não um mero ajuntamento de partes.

Sua atuação é semelhante à dos campos magnéticos, da física. Quando colocamos uma folha de papel sobre um ímã e espalhamos pó de ferro em cima dela, os grânulos metálicos distribuem-se ao longo de linhas geometricamente precisas. Isso acontece porque o campo magnético do ímã afeta toda a região à sua volta. Não podemos percebê-lo diretamente, mas somos capazes de detectar sua presença por meio do efeito que ele produz, direcionando as partículas de ferro. De modo parecido, os campos mórficos distribuem-se imperceptivelmente pelo espaço-tempo, conectando todos os sistemas individuais que a eles estão associados.

A analogia termina aqui, porém. Porque, ao contrário dos campos físicos, os campos mórficos de Sheldrake não envolvem transmissão de energia. Por isso, sua intensidade não decai com o quadrado da distância, como ocorre, por exemplo, com os campos gravitacional e eletromagnético. O que se transmite através deles é pura informação. É isso que nos mostra o exemplo dos macacos. Nele, o conhecimento adquirido por um conjunto de indivíduos agrega-se ao patrimônio coletivo, provocando um acréscimo de consciência que passa a ser compartilhado por toda a espécie.

O processo responsável por essa coletivização da informação foi batizado por Sheldrake com o nome de “ressonância mórfica”. Por meio dela, as informações se propagam no interior do campo mórfico, alimentando uma espécie de memória coletiva. Em nosso exemplo, a ressonância mórfica entre macacos da mesma espécie teria feito com que a nova técnica de quebrar cocos chegasse à ilha “B”, sem que para isso fosse utilizado qualquer meio usual de transmissão de informações.

Parece telepatia. Mas não é. Porque, tal como a conhecemos, a telepatia é uma atividade mental superior, focalizada e intencional que relaciona dois ou mais indivíduos da espécie humana. A ressonância mórfica, ao contrário, é um processo básico, difuso e não-intencional que articula coletividades de qualquer tipo. Sheldrake apresenta um exemplo desconcertante dessa propriedade.

Quando uma nova substância química é sintetizada em laboratório – diz ele -, não existe nenhum precedente que determine a maneira exata de como ela deverá cristalizar-se. Dependendo das características da molécula, várias formas de cristalização são possíveis. Por acaso ou pela intervenção de fatores puramente circunstanciais, uma dessas possibilidades se efetiva e a substância segue um padrão determinado de cristalização. Uma vez que isso ocorra, porém, um novo campo mórfico passa a existir. A partir de então, a ressonância mórfica gerada pelos primeiros cristais faz com que a ocorrência do mesmo padrão de cristalização se torne mais provável em qualquer laboratório do mundo. E quanto mais vezes ele se efetivar, maior será a probabilidade de que aconteça novamente em experimentos futuros.

Com afirmações como essa, não espanta que a hipótese de Sheldrake tenha causado tanta polêmica. Em 1981, quando ele publicou seu primeiro livro, A New Science of Life (Uma nova ciência da vida), a obra foi recebida de maneira diametralmente oposta pelas duas principais revistas científicas da Inglaterra. Enquanto a New Scientist elogiava o trabalho como “uma importante pesquisa científica”, a Nature o considerava “o melhor candidato à fogueira em muitos anos”.

Doutor em biologia pela tradicional Universidade de Cambridge e dono de uma larga experiência de vida, Sheldrake já era, então, suficientemente seguro de si para não se deixar destruir pelas críticas. Ele sabia muito bem que suas idéias heterodoxas não seriam aceitas com facilidade pela comunidade científica. Anos antes, havia experimentado uma pequena amostra disso, quando, na condição de pesquisador da Universidade de Cambridge e da Royal Society, lhe ocorreu pela primeira vez a hipótese dos campos mórficos. A idéia foi assimilada com entusiasmo por filósofos de mente aberta, mas Sheldrake virou motivo de gozação entre seus colegas biólogos. Cada vez que dizia alguma coisa do tipo “eu preciso telefonar”, eles retrucavam com um “telefonar para quê? Comunique-se por ressonância mórfica”.

Era uma brincadeira amistosa, mas traduzia o desconforto da comunidade científica diante de uma hipótese que trombava de frente com a visão de mundo dominante. Afinal, a corrente majoritária da biologia vangloriava-se de reduzir a atividade dos organismos vivos à mera interação físico-química entre moléculas e fazia do DNA uma resposta para todos os mistérios da vida.

A realidade, porém, é exuberante demais para caber na saia justa do figurino reducionista.

Exemplo disso é o processo de diferenciação e especialização celular que caracteriza o desenvolvimento embrionário. Como explicar que um aglomerado de células absolutamente iguais, dotadas do mesmo patrimônio genético, dê origem a um organismo complexo, no qual órgãos diferentes e especializados se formam, com precisão milimétrica, no lugar certo e no momento adequado?

A biologia reducionista diz que isso se deve à ativação ou inativação de genes específicos e que tal fato depende das interações de cada célula com sua vizinhança (entendendo-se por vizinhança as outras células do aglomerado e o meio ambiente). É preciso estar completamente entorpecido por um sistema de crenças para engolir uma “explicação” dessas. Como é que interações entre partes vizinhas, sujeitas a tantos fatores casuais ou acidentais, podem produzir um resultado de conjunto tão exato e previsível? Com todos os defeitos que possa ter, a hipótese dos campos mórficos é bem mais plausível.

Uma estrutura espaço-temporal desse tipo direcionaria a diferenciação celular, fornecendo uma espécie de roteiro básico ou matriz para a ativação ou inativação dos genes.

Ação modesta

A biologia reducionista transformou o DNA numa cartola de mágico, da qual é possível tirar qualquer coisa. Na vida real, porém, a atuação do DNA é bem mais modesta. O código genético nele inscrito coordena a síntese das proteínas, determinando a seqüência exata dos aminoácidos na construção dessas macro-moléculas. Os genes ditam essa estrutura primária e ponto.

“A maneira como as proteínas se distribuem dentro das células, as células nos tecidos, os tecidos nos órgãos e os órgãos nos organismos não estão programadas no código genético”, afirma Sheldrake. “Dados os genes corretos, e portanto as proteínas adequadas, supõe-se que o organismo, de alguma maneira, se monte automaticamente. Isso é mais ou menos o mesmo que enviar, na ocasião certa, os materiais corretos para um local de construção e esperar que a casa se construa espontaneamente.”

A morfogênese, isto é, a modelagem formal de sistemas biológicos como as células, os tecidos, os órgãos e os organismos seria ditada por um tipo particular de campo mórfico: os chamados “campos morfogenéticos”. Se as proteínas correspondem ao material de construção, os “campos morfogenéticos” desempenham um papel semelhante ao da planta do edifício. Devemos ter claras, porém, as limitações dessa analogia. Porque a planta é um conjunto estático de informações, que só pode ser implementado pela força de trabalho dos operários envolvidos na construção. Os campos morfogenéticos, ao contrário, estão eles mesmos em permanente interação com os sistemas vivos e se transformam o tempo todo graças ao processo de ressonância mórfica.

Tanto quanto a diferenciação celular, a regeneração de organismos simples é um outro fenômeno que desafia a biologia reducionista e conspira a favor da hipótese dos campos morfogenéticos. Ela ocorre em espécies como a dos platelmintos, por exemplo. Se um animal desses for cortado em pedaços, cada parte se transforma num organismo completo.

Forma original

O sucesso da operação independe da forma como o pequeno verme é seccionado. O paradigma científico mecanicista, herdado do filósofo francês René Descartes (1596-1650), capota desastrosamente diante de um caso assim. Porque Descartes concebia os animais como autômatos e uma máquina perde a integridade e deixa de funcionar se algumas de suas peças forem retiradas. Um organismo como o platelminto, ao contrário, parece estar associado a uma matriz invisível, que lhe permite regenerar sua forma original mesmo que partes importantes sejam removidas.

A hipótese dos campos morfogenéticos é bem anterior a Sheldrake, tendo surgido nas cabeças de vários biólogos durante a década de 20. O que Sheldrake fez foi generalizar essa idéia, elaborando o conceito mais amplo de campos mórficos, aplicável a todos os sistemas naturais e não apenas aos entes biológicos. Propôs também a existência do processo de ressonância mórfica, como princípio capaz de explicar o surgimento e a transformação dos campos mórficos. Não é difícil perceber os impactos que tal processo teria na vida humana. “Experimentos em psicologia mostram que é mais fácil aprender o que outras pessoas já aprenderam”, informa Sheldrake.

Ele mesmo vem fazendo interessantes experimentos nessa área. Um deles mostrou que uma figura oculta numa ilustração em alto constraste torna-se mais fácil de perceber depois de ter sido percebida por várias pessoas. Isso foi verificado numa pesquisa realizada entre populações da Europa, das Américas e da África em 1983. Em duas ocasiões, os pesquisadores mostraram as ilustrações 1 e 2 a pessoas que não conheciam suas respectivas “soluções”. Entre uma enquete e outra, a figura 2 e sua “resposta” foram transmitidas pela TV. Verificou-se que o índice de acerto na segunda mostra subiu 76% para a ilustração 2, contra apenas 9% para a 1.

Aprendizado

Se for definitivamente comprovado que os conteúdos mentais se transmitem imperceptivelmente de pessoa a pessoa, essa propriedade terá aplicações óbvias no domínio da educação. “Métodos educacionais que realcem o processo de ressonância mórfica podem levar a uma notável aceleração do aprendizado”, conjectura Sheldrake. E essa possibilidade vem sendo testada na Ross School, uma escola experimental de Nova York dirigida pelo matemático e filósofo Ralph Abraham.

Outra conseqüência ocorreria no campo da psicologia. Teorias psicológicas como as de Carl Gustav Jung e Stanislav Grof, que enfatizam as dimensões coletivas ou transpessoais da psique, receberiam um notável reforço, em contraposição ao modelo reducionista de Sigmund Freud (leia o artigo “Nas fronteiras da consciência”, em Globo Ciência nº 32).

Sem excluir outros fatores, o processo de ressonância mórfica forneceria um novo e importante ingrediente para a compreensão de patologias coletivas, como o sadomasoquismo e os cultos da morbidez e da violência, que assumiram proporções epidêmicas no mundo contemporâneo, e poderia propiciar a criação de métodos mais efetivos de terapia.

“A ressonância mórfica tende a reforçar qualquer padrão repetitivo, seja ele bom ou mal”, afirmou Sheldrake a Galileu. “Por isso, cada um de nós é mais responsável do que imagina. Pois nossas ações podem influenciar os outros e serem repetidas”.

De todas as aplicações da ressonância mórfica, porém, as mais fantásticas insinuam-se no domínio da tecnologia. Computadores quânticos, cujo funcionamento comporta uma grande margem de indeterminação, seriam conectados por ressonância mórfica, produzindo sistemas em permanente transformação. “Isso poderia tornar-se uma das tecnologias dominantes do novo milênio”, entusiasma-se Sheldrake.

Uma das primeiras experiências levadas a cabo por Sheldrake foi a dos ratos no laboratório. Foi recapturado do tempo em que ele começou a considerar os campos morfogeneticos. Consiste em ensinar a um grupo de ratos uma certa aprendizagem, por exemplo, sair de um labirinto, em certo lugar, por exemplo, Londres, para logo observar a habilidade de outros ratos em outro lugar então, por exemplo, Nova Iorque, deixar o labirinto. Esta experiência já foi levada a cabo em numerosas ocasiões dando resultados muito positivos.

Me enviaram por email, mas achei o post original: http://www.ecodebate.com.br/9ahAutor: Antonio Silvio Hendges, Professor de Biologia e Agente Educacional no RS.

#Ciência

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/campos-morfogen%C3%A9ticos-e-egr%C3%A9goras