Camelot, Guinevere e Lancelot

Eu era rainha e perdi a minha coroa,

Mulher e quebrei os meus votos;

Amante e arruinei quem amava:

Não há maior massacre.

Há poucos meses atrás eu era rainha,

E as mães mostravam-me os seus bebês

Quando eu chegava de Camelot a cavalo.

*Guinevere de Sara Teasdale

Como a quarta parte deste pequeno estudo sobre as lendas esotéricas do Rei Arthur, comentaremos sobre o elemento TERRA, representado nas lendas arthurianas por Camelot e pela Távola Redonda.

Para quem chegou agora no blog, recomendo que leiam antes os textos a respeito dos outros elementos:

FOGO (Merlin, José de Arimatéia e o Bardo Taliesin), ÁGUA (O Santo Graal e a Linhagem Sagrada e AR (Rei Arthur e Sabres de Luz).

Desde os mais remotos períodos, o Elemento Terra está associado aos rituais de fertilidade e prosperidade. No Egito e na Babilônia, era a partir da uva e do trigo que se realizavam os rituais de plantação, chegando até a consagração final do ritual de prosperidade do pão e do vinho, que eram repartidos entre os companheiros (esta palavra vem de “Companionem”, ou aqueles que dividem o pão). Jesus, como sacerdote essênio, realizou este mesmo ritual no Pessach, que ficou conhecido pela posteridade como a “Santa Ceia”.

Apesar de hoje ele ser sempre lembrado como cristão, a origem deste ritual é babilônica. Dos ritos Osirianos até os essênios, a tradição do pão e do vinho dividido entre os sacerdotes pode ser encontrada ao final das grandes celebrações. E com Yeshua e seus apóstolos não seria diferente.

Páscoa, Pão, Vinho e Hieros Gamos

Na cultura Celta, antes da Igreja destruir este culto e transformá-lo no que se conhece hoje em dia como “bruxaria”, este período entre Abril e Maio era marcado pelas celebrações da Primavera, ou comemorações em homenagem à deusa Eoste (de onde vem a palavra “Easter”). Os camponeses iam para os bosques de carvalhos à noite e acendiam enormes fogueiras para a Deusa, o que tornou esta festividade conhecida como “As Fogueiras de Beltane”.

Nesta época e local, os princípios morais vigentes eram outros, a mulher era um ser livre e não havia o machismo como hoje se conhece. As sociedades possuíam um equilíbrio entre os sexos, cada um desempenhando uma função dentro do todo. Sendo assim, nesta noite de Beltane, as moças virgens (e mesmo as casadas, que poderiam ir para as florestas com seus maridos ou não), iam para os bosques na celebração do que se chamava “Hieros Gamos” onde os rapazes copulavam com as moças sob a lua cheia guiados pelo instinto num ritual de fecundidade e vida. Eu já falei sobre o Hieros Gamos em colunas antigas.

As crianças que fossem geradas nesta noite eram consideradas sagradas e, normalmente, as meninas viravam sacerdotisas vestais e os meninos magos/druidas. Além disso, o ritual era consagrado à Deusa para que esta trouxesse sempre boas colheitas através da fertilidade da Terra. Embora o culto fosse predominantemente feminino, não se excluía, de forma alguma, o papel do Deus, pois, a essência de Beltane, sendo a fecundação, impunha sempre, a presença do feminino e masculino.

Sendo assim, no Beltane, os meninos tinham a sua cerimônia de passagem da adolescência para a maturidade. O rapaz personifica o Deus Cornífero e a virgem, a Deusa. Na escolha de um rei, o rapaz veste a pele de um Gamo (um veado real) e desafia um gamo de verdade, o líder da manada, e luta com ele até a morte de um deles.

Se o rapaz for o vencedor, terá sido escolhido Rei representando o Deus, o Gamo Rei e terá uma noite com a Virgem que representa a Deusa onde um herdeiro será concebido. O novo herdeiro, um dia deverá disputar com o pai pelo trono. O Gamo Novo e o Gamo Velho… A capa vermelha tradicional do rei e a coroa nada mais são do que resquícios deste antigo ritual de sobrevivência.

Se eu não me engano, no livro das “Brumas de Avalon” a escritora descreve este ritual realizado por Arthur (me corrijam se eu estiver errado, eu não li o “Brumas”, uma amiga me contou isso).

Mas o que isto tem a ver com a lenda do Rei Arthur?

Calma Padawan… tudo a seu tempo… Esta característica cultural dos celtas e principalmente das Rainhas Guerreiras/sacerdotisas (cuja linhagem das Damas do Lago vai até os primórdios das ilhas britânicas e através das bacantes gregas e prostitutas sagradas da babilônia) era extremamente chocante para os religiosos puritanos de Roma.

Imagine saber que a rainha, enquanto o rei estava fora em campanha, possuía um ou mais “concubinos” responsáveis por satisfazê-la sexualmente na ausência de seu esposo? Esta é uma das prováveis origens do termo “levar os chifres”. Os romanos diziam que os guerreiros celtas, enquanto estavam na floresta “levando os chifres para casa”, suas esposas estavam aquecidas na cama com outros homens.

E chegamos finalmente à relação entre Guinevere, Arthur, a Távola Redonda e Lancelot.

As bases históricas e lendárias de Guinevere

O nome Guinevere vem de Gwenhwyfar (cujo nome significa “Fantasma Branco”) e aparece pela primeira vez nas histórias chamadas “Triad of the Island of Britain”, do século VIII, onde Arthur se casa não com uma, mas com três Gwenhwyfars (Uma delas era filha do rei Cywryd, outra Gwenhwyfar era filha do rei Gwythyr Ap Greidiol e finalmente Gwenhwyfar filha de Ogrfan Gawn). Malditos celtas que fugiram da fila onde estavam sendo distribuídas as vogais…

Estes três casamentos, com três fases distintas da “fantasma branca” estão relacionadas diretamente com o casamento do Hieros Gamos do rei Sol com a rainha Lua, em suas três fases (a chamada “Tríplice lunar”), em diversas recorrências na mitologia celta.

Ela também aparece no Mabinogion, nos contos de Culhwch and Olwen mencionada algumas vezes como Gwenhwy-fawn. Em latim, é chamada de Gwanhumara ou Genebra (nome que deu origem à capital da Suíça).

Em alguns dos textos mais antigos, a rainha, antes de se tornar esposa de Arthur, é retratada como tendo um concubino chamado Medrawd, em textos do século VI (que mais tarde, nos primeiros textos que serviram de protótipo para a lenda de Arthur, especialmente os textos de Geoffrey de Monmouth “Historia Regum Britanniae”, o chamam de Mordred e o colocam como “amante” de Guinevere que, graças a esta desgraça, causou a destruição de Camelot.

E nunca mais as rainhas tiveram direito a concubinos!

O casamento de Arthur com Guinevere firmou a sua corte. Como dote Guinevere recebeu a lendária Tavola Redonda e o casal real tornou-se o centro do brilhante circulo dos cavaleiros de Arthur.

A herança de Guinevere varia conforme as diferentes lendas. De acordo com Malory, Guinevere (em galês Gwenhyvar) era filha do Rei Leodegrance de Cameliarde. Na tradição galesa, o seu pai chamava-se Gogrvan ou Ocvran. Na peça de Thelwall “The Fairy of the Lake” (1801) é posta a hipótese de ela ser filha de Vortigen. Em algumas histórias, ela tinha uma irmã chamada Gwenhwyvach e uma lenda francesa fala de uma irmã gêmea chamada Guinevere the False. Em outro conto, ela tinha um irmão que se chamava Gotegrin.

Como vocês podem ver, a falta de “copyrights” durante o período antigo/medieval fez com que o que chamamos de “Histórias do Rei Arthur” seja, na verdade, um samba do crioulo doido de autores que escreviam seus poemas de acordo com suas visões e interesses.

Assim que Arthur subiu ao trono e apesar dos avisos de Merlin que ela um dia o haveria de traír, Arthur escolheu Guinevere para sua mulher. Como dote, ela recebeu do pai de Arthur a grandiosa Tavola Redonda, feita por Merlin, a qual tinha capacidade para sentar 150 cavaleiros (em outras lendas, esta távola já estava pronta e seria um presente de casamento do pai de Guinevere).

Guinevere e Perséfone

Em “Gawain and the Green Knight” é afirmado que Morgan le Fay enviou o Cavaleiro Verde para Camelot para assustar Guinevere. Uma das razões foi a velha rivalidade entre elas, ocorrida no início do reinado de Arthur, em que Guinevere expulsou da corte um dos amantes de Morgana. Outra razão invocada foi o fato de Guinevere e Morgana serem duas deusas de aspectos muito diferentes. Morgana, originalmente como personagem de Morrighan (ou Morrigu), é uma deusa negra que representa as poderosas qualidades do Inverno e da guerra. Por outro lado, Guinevere é chamada “the Flower Bride” (a noiva das flores), representando a Primavera e o desdobramento da vida. Como tal, estas duas mulheres são o oposto uma da outra. Lancelot, o defensor de Guinevere, tornou-se o amargo adversário de Gawain que é o Cavaleiro da Deusa – defensor de Morgana.

Simbolicamente, esta versão trata da permanente disputa entre o Inverno e o Verão.

Quando as lendas Arthurianas foram rescritas por escritores cristãos, após o período da Vulgata, tanto Guinevere, a deusa das flores e da luz, como Morgan, a Deusa Negra, permaneceram, durante algum tempo, num convento de freiras (?!?!).

Como “Noiva das Flores”, o mito diz que Guinevere é raptada por um dos seus pretendentes, sendo depois salva por outros opositores astuciosos, com a mudança das estações. Um exemplo disso é descrito em “Life of Gildas” de Caradoc de Llancarfan. Nesse texto, Melwas of the Summer Country raptou Guinevere, sendo, mais tarde salva por Arthur. A cena do rapto volta a repetir-se em diversos contos em que o raptor é Meliagraunce, o cavaleiro que desejava Guinevere. Neste conto, o salvador é LANCELOT, em vez de Arthur.

Neste segundo ciclo, mais voltado para a simbologia Greco-romana, temos uma releitura do rapto de Perséfone por Hades e seu retorno posterior para o mundo dos vivos, e Lancelot passa a fazer o papel do Sol, trazendo novamente a primavera para o ciclo do ano.

Guinevere e Sir Lancelot apaixonam-se. A Falsa Guinevere ocupou o lugar de Guinevere enquanto ela procurava amparo em Lancelot em Sorelois. A Falsa Guinevere e o seu cavaleiro Bertholai admitiram por fim a sua fraude e, depois da morte desta, a verdadeira Guineve é entregue a Arthur. Nessa altura, Guinevere e Lancelot já estavam irremediavelmente apaixonados e a luta de Lancelot com a sua consciência mantinha-o longe de Camelot.

Quando Guinevere e Lancelot decidiram terminar o seu romance, para o bem do reino, Mordred, filho ilegítimo de Arthur, encontrou-os no quarto dela. Lancelot fugiu e Mordred forçou Arthur a condenar Guinevere à morte.

Lancelot acaba salvando-a da execução, matando acidentalmente Gareth e Gaheris, irmãos de Gawain, tendo começado assim a guerra entre os exércitos da França e da Inglaterra. Enquanto Arthur estava longe lutando com Lancelot, Mordred declarou o seu pai morto, proclamando-se rei e anuncia o seu casamento com Guinevere. Ela recusa o casamento e se auto-aprisionou-se a si própria na Torre de Londres. Arthur regressou para lutar, uma vez mais, com Mordred, tendo sido atingido mortalmente por uma lança. Neste ponto, já misturam ao ciclo passagens do “Rei Pescador” e do ciclo de contos do Graal (eu falei que as lendas do Rei Arthur eram uma salada de frutas, não falei?).

Depois da morte de Arthur, Guinevere foi para um convento de freiras em Amesbury, permanecendo lá até à sua morte. Um outro conto, de Perlesvaus, diz que ela morreu como prisioneira dos Pictos (habitantes celtas da antiga Escócia), tendo sido sepultada ao lado de Arthur.

Círculos de Pedra e a Távola Redonda

As descrições da Távola Redonda mais antigas diziam que ela acomodava sem maiores problemas 150 cavaleiros com suas respectivas armaduras ao seu redor. O curioso é que o texto não menciona que os cavaleiros estejam “sentados”, mas chegaremos a isto em breve…

Fazendo uma conta simples, temos que uma pessoa de armadura ocupe um espaço de 1m em uma mesa. Teríamos, então, uma mesa com o comprimento de 150m. Usando a fórmula mágica 2*PI*R = 150, temos que R = aprox. 23,87m, ou o Diâmetro de 47m.

Nos parece óbvio que a “Távola” que teria pertencido a Gwenhyvar não era exatamente um “mesa” nas lendas mais antigas celtas e britânicas. Mas o que exatamente poderia ser, que estivesse sob os domínios da Deusa-tríplice-lunar, que fosse utilizada para celebrações e que conseguisse reunir ao mesmo tempo os 150 cavaleiros?

Agora tudo faz mais sentido. As lendas celtas não falavam em castelos, mas sim em rituais de solstícios e equinócios envolvendo os círculos de pedra. Porém, à medida em que as lendas vão sendo atualizadas para os princípios cavaleirescos, o círculo de pedra se torna uma fortificação que se torna um castelo; a Távola se torna um “Castelo com o teto estrelado” e mais tarde ainda, apenas Camelot. Na próxima vez que você estiver em um Templo Maçônico, descendentes distantes dos Templários e dos Cavaleiros do Graal, olhe para cima.

Já desvendamos todos os principais mistérios do ciclo Arthuriano. O Santo Graal, Excalibur, Merlin e agora Camelot.

#ReiArthur

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/camelot-guinevere-e-lancelot

A História da Maçonaria para Adultos

Diversos historiadores maçons se dedicaram a contar e recontar a história do surgimento da Maçonaria Especulativa como conhecemos hoje. As versões são geralmente bastante similares entre si e, pelo conteúdo, se parecem com as histórias contadas para crianças antes de dormir:

Parece uma ótima história para explicar ao seu filho de cinco anos de idade o motivo de você ser um “pedreiro-livre” e não construir casas. Mas, definitivamente, não serve como História da Maçonaria, em pleno século XXI, a ser ensinada ao novo maçom de hoje, que possui nível superior e um mínimo de senso lógico e crítico.

Não se pode contar a história da Maçonaria e de sua transição de Operativa para Especulativa sem considerar o contexto histórico e os aspectos socioeconômicos da época. A extinção da Maçonaria Operativa não se deveu por um simples processo de evolução interna dentro da Maçonaria, que teria então evoluído para Especulativa. Não foi um movimento interno, impulsionado pelos membros “aceitos”, que assumiram a liderança da instituição e promoveram seu desenvolvimento por uma via mais intelectual e elitista. Na verdade, foi um movimento estritamente externo e incontrolável pela Maçonaria. Para se compreender o fenômeno, deve-se, antes de tudo, contextualizá-lo:

A Maçonaria, sendo antiga e ocidental, teve logicamente origem no Velho Mundo: a Europa. Documentos históricos como a “Carta de Bolonha” (Século XIII), o “Poema Regius” (Século XIV), os Manuscritos de “Cooke” e “Estrasburgo” (Século XV) e alguns outros confirmam essa teoria, apresentando a Maçonaria Operativa, com suas cerimônias e Antigos Costumes, antes mesmo do descobrimento do Novo Mundo. Assim sendo, nada mais natural do que as primeiras Grandes Lojas terem surgido na Europa, nas primeiras décadas do Século XVIII.

O documento mais antigo citado, a “Carta de Bolonha”, evidencia que, já no século XIII, maçons especulativos conviviam com os operativos. Quando do surgimento da primeira Grande Loja, na Inglaterra de 1717, é sabido que, das quatro Lojas fundadoras, três eram compostas predominantemente por maçons operativos. Há inúmeros relatos e documentos que indicam que, durante quase todo o século XVIII, Lojas Operativas conviveram com Lojas Especulativas em boa parte da Europa. Isso significa que, por pelo menos 500 anos, meio milênio, os maçons operativos conviveram com os especulativos, sendo os operativos maioria. Afinal, o que então aconteceu com os maçons operativos? Por que eles desapareceram da Maçonaria no final do século XVIII?

O que exterminou a Maçonaria Operativa não foi a Especulativa, nem mesmo um processo de evolução cultural. O que pôs fim à Maçonaria Operativa foi… a Revolução Industrial. A mudança no processo produtivo, originada pelas invenções de máquinas e impulsionada pelo surgimento das indústrias, pôs fim à era de produção manual baseada nas guildas.  O trabalho estritamente manual foi substituído pelo trabalho de controle de máquinas. A iniciativa inglesa rapidamente se espalhou pela Europa, promovendo um êxodo rural e o abandono dos ofícios artesanais e manuais para atender a demanda por mão-de-obra industrial. Ao fim do século XVIII, o maçom operativo não teve outra escolha a não ser se tornar operário fabril e trabalhar uma média de 80 horas por semana.

Muitos dos países europeus, preocupados em consolidar o novo modelo econômico, chegaram a adotar leis proibindo a Maçonaria Operativa. Esse foi o caso do famoso Ministro Turgot, da França, que determinou que:

Leis como essa foram o tiro de misericórdia para as poucas Lojas Operativas que ainda tentavam sobreviver aos primeiros anos da Revolução Industrial. Dessa forma, a Maçonaria Operativa desapareceu de vez, ficando a Maçonaria Especulativa como única e legítima herdeira de sua essência, responsável por preservar e passar adiante seus ensinamentos.

Essa é a história real. Sem contos de fadas.

Leia também:
– O legítimo lema da Maçonaria
– Obediência Maçônica – Conselho Profissional ou Sindicato
– Um happy hour entre o REAA e o Rito de York

#Maçonaria

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-hist%C3%B3ria-da-ma%C3%A7onaria-para-adultos

O Caminho do Darma, como nos ditou o Buda

As Edições Textos para Reflexão desta vez trazem a você o livro mais lido e traduzido do budismo, Dhammapada: O Caminho do Darma.

Segundo a tradição, ele teria sido composto pelas anotações dos discípulos que chegaram a conviver com o Buda. Ou seja, se trata do que nos foi ditado pelo próprio Buda. Monges budistas da vertente teravada registraram o Cânone Páli algumas centenas de anos após a morte do Buda. O Dhammapada é uma parte do Sutta Pitaka, que por sua vez é uma parte do Cânone Páli. Trata-se de uma coleção de 423 versos que nos demonstram como viver uma vida que conduza à iluminação. Quem consegue viver uma vida neste caminho, segue o seu Darma.

Disponível em e-book e versão impressa :

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À seguir, trazemos um trecho do Prefácio (por Rafael Arrais, tradutor da obra):

Uma criança é um Buda que não sabe que é um Buda. E um Buda é uma criança que sabe que é um Buda. (Satyaprem)

Enquanto vivia sua juventude em meio ao luxo do palácio de sua família, o príncipe Sidarta era mesmo puro, puro como a criança que tem a sorte de viver uma infância de belezas. Diz-se que seu pai, o governante de Kapilavastu (um reinado que se situava ao sul de onde hoje existe o Nepal), tentou proteger o filho de qualquer tipo de sofrimento humano, e o criou dentro dos limites do próprio palácio, sem que tivesse contato com o que havia fora dele.

Quando fez 16 anos, Sidarta Gautama se casou com uma prima da mesma idade e com ela teve um filho. Até os 29 anos, o príncipe viveu uma vida sem grandes incidentes, tendo a sua mão todo o conforto material de que poderia necessitar, embora se diga que nada disto jamais o seduziu. Talvez faltasse algo naquela vida de contos de fada, afinal…

Inquieto em meio a uma vida de perfeições palacianas, aos 29 anos Sidarta resolve sair de seu palácio (sem o conhecimento do pai), acompanhado somente por um cocheiro, que pilotava a sua luxuosa carruagem. Diz-se que ele fez quatro viagens curtas para além das muradas palacianas, finalmente tendo contato direto com o mundo lá fora:

Na primeira viagem, avistou um homem velho e decrépito, apoiado num cajado. Seu cocheiro prontamente lhe explicou que envelhecer era o destino de todas as pessoas.

Na segunda viagem, avistou um homem doente e cambaleante, ardendo em febre. Seu cocheiro complementou que muitas doenças eram inevitáveis na vida.

Na terceira viagem, avistou um corpo já em decomposição, sendo conduzido a um cemitério local. Seu cocheiro explicou que ninguém poderia escapar para sempre da morte.

Desolado e deprimido, em sua quarta viagem o príncipe finalmente avista um monge mendicante calmo e sereno, mesmo conhecendo a velhice, a doença e a morte, como todos os demais que viviam fora dos palácios. Essa visão o consola e, ao mesmo tempo, estabelece um novo sentido para a sua vida: chega de palácios artificiais, chega de infância, Sidarta desejava ser adulto em meio ao sofrimento do mundo.

Numa noite, enquanto todos no palácio dormiam, saiu novamente acompanhado de seu amigo cocheiro, cada um montando um cavalo. Desta vez, a viagem seria bem mais longa…

A alguns quilômetros de distância de Kapilavastu, Sidarta parou, cortou os próprios cabelos com sua espada, trocou as roupas luxuosas pelos trajes simples de um caçador, e se despediu do amigo, que retornou ao reino com ambos os cavalos.

Transformado em monge andarilho sob a alcunha de Gautama (o nome da sua família), dirigiu-se para Vaisali, onde um mestre bramânico indiano, Arada Kalama, ensinava um sistema filosófico que ficou conhecido como sanquia. Aprendendo-o rapidamente, mas julgando-o insuficiente, ele deixa o mestre e se dirige a Rajagarra, capital do reino Mágada, ao sul do rio Ganges. Lá conhece o rei Bimbisara, que, seduzido pelo seu já vasto conhecimento, lhe oferece a metade do próprio reinado, mas o monge Gautama gentilmente recusa a oferta, e logo se torna discípulo de outro mestre, chamado Udraka.

Após apenas um ano, domina com facilidade as técnicas e a filosofia do yoga ensinado por Udraka, e parte rumo à cidade de Gaya acompanhado por cinco discípulos, que já o tinham como mestre. Gautama se estabelece num local aprazível nas proximidades de Gaya, e lá se submete, durante alguns anos, à ascese mais severa. Chegou a se alimentar com um único grão de milho por dia.

Meditando imóvel, magro como um esqueleto coberto de parcas camadas de pele, eventualmente recebeu o título de sakyamuni (“asceta entre os Sakya”, o clã dos Gautama). Ao atingir o extremo limite da mortificação, finalmente compreendeu a inutilidade da ascese total como meio de libertação do sofrimento do mundo, e decidiu encerrar aquela prática.

Diz-se que uma mulher piedosa, ao ver o seu estado deplorável, lhe ofereceu um pote de arroz cozido. Para a imensa surpresa de seus discípulos, que naquela altura o veneravam, o monge Gautama aceita a oferta e devora o alimento. Consternados, seus cinco discípulos o abandonam a própria sorte…

Milagrosamente restaurado pelo arroz, Sidarta dirige-se a um bosque próximo, escolhe uma árvore (que eventualmente foi chamada de bodhi-druma, sânscrito para “a árvore do despertar”) e se senta ao pé de suas raízes, decidido a se levantar somente após haver obtido o “despertar”, ou seja, uma forma de se livrar definitivamente do sofrimento da existência.

Diz-se que, durante as sete semanas em que permaneceu aos pés da árvore, Sidarta foi tentado e atormentado inúmeras vezes pela entidade conhecida como Mara, que reinava sobre a morte. Ora, Sidarta ameaçava ensinar aos homens e mulheres a se libertarem definitivamente do ciclo de nascimentos, mortes e renascimentos, portanto era natural que Mara quisesse impedi-lo.

Em suas reflexões internas, Sidarta avançava rapidamente, estava a um passo de se tornar Buda, “o desperto”. O último recurso de Mara foi lhe oferecer a passagem imediata para o Nirvana, o estado além da vida onde o príncipe se encontraria livre, para sempre, dos ciclos de mortes e renascimentos. Sidarta lhe respondeu que só aceitaria entrar no Nirvana após ter estabelecido naquele mundo uma comunidade instruída e bem organizada, que soubesse ensinar o caminho da libertação…

Assim, após sete semanas aos pés da árvore do despertar, o príncipe Sidarta Gautama venceu definitivamente a tentação de Mara, e se ergueu como o Buda, o primeiro desperto, o primeiro ser que conheceu o caminho para a libertação do sofrimento.

Aos 35 anos, o Buda iniciou sua peregrinação pelos vilarejos, pequenas cidades e grandes reinados dos arredores da região onde atingiu a iluminação. A pé, carregando pouco mais que a roupa do corpo, acompanhado por dezenas de discípulos (dentre os quais, aqueles cinco que lhe haviam abandonado), o Buda passou 45 anos ensinando as chamadas quatro nobres verdades que conduziam ao Darma, o caminho para a iluminação: a existência do sofrimento; a origem do sofrimento; a interrupção do sofrimento; e o caminho que nos leva à cessação do sofrimento.

A criança havia perdido sua pureza, e conhecido as dores da vida adulta. Mas, ao contrário de tantos outros, o adulto havia encontrado um meio para se libertar definitivamente de todo o sofrimento, e alcançar novamente a pureza infantil, mesmo tendo conhecido a dor. Sidarta era novamente como uma criança, mas era também um Buda que sabia que era um Buda.

Aos 80 anos, depois de padecer de uma forte diarreia em decorrência, provavelmente, de haver ingerido carne de porco estragada, o Buda se despediu deste mundo e pôde finalmente alcançar o Nirvana. Diz-se que isto se deu no nordeste da Índia, na cidade de Kushinagar. A data provável é o ano de 483 a.C.

Assim viveu e morreu, quiçá pela última vez, Sidarta Gautama, o Buda, o homem que trouxe o budismo a este mundo.

#Budismo #Darma #eBooks #espiritualismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-caminho-do-darma-como-nos-ditou-o-buda

A Teurgia

Introdução ao estudo da Kabala mística e prática, e a operatividade de suas Tradições e seus Símbolos, visando a Teurgia, de Robert Ambelain. 

Robert Ambelain nasceu no dia 2 de setembro de 1907, na cidade de Paris. No mundo profano, foi historiador, membro da Academia Nacional de História e da Associação dos Escritores de Língua Francesa.´ Foi iniciado nos Augustos Mistérios da Maçonaria em 26 de março (o Dictionnaire des Franc-Maçons Français, de Michel Gaudart de Soulages e de Hubert Lamant, não diz o ano da iniciação, apenas o dia e o mês), na Loja La Jérusalem des Vallés Égyptiennes, do Rito de Memphis-Misraïm. Em 24 de junho de 1941, Robert Ambelain foi elevado ao Grau de Companheiro e, em seguida, exaltado ao de Mestre. Logo depois, com outros maçons pertencentes à Resistência, funda a Loja Alexandria do Egito e o Capítulo respectivo. Para que pudesse manter a Maçonaria trabalhando durante a Ocupação, Robert Ambelain recebeu todos os graus do Rito Escocês Antigo e Aceito, até o 33º, todos os graus do Rito Escocês Retificado, incluindo o de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa e o de Professo, todos os graus do Rito de Memphis-Misraïm e todos os graus do Rito Sueco, incluindo o de Cavaleiro do Templo. Robert Ambelain foi, também, Grão-Mestre ad vitam para a França e Grão-Mestre substituto mundial do Rito de Memphis-Misraïm, entre os anos de 1942 e 1944. Em 1962, foi alçado ao Grão-Mestrado mundial do Rito de Memphis-Misraïm. Em 1985, foi promovido a Grão-Mestre Mundial de Honra do Rito de Memphis-Misraïm. Foi agraciado, ainda, com os títulos de Grão-Mestre de Honra do Grande Oriente Misto do Brasil, Grão-Mestre de Honra do antigo Grande Oriente do Chile, Presidente do Supremo Conselho dos Ritos Confederados para a França, Grão-Mestre da França – do Rito Escocês Primitivo e Companheiro ymagier do Tour de France – da Union Compagnonnique dês Devoirs Unis, onde recebeu o nome de Parisien-la-Liberté.

“Uma Força mágica, adormecida pela
Queda, está latente no Homem. Ela pode
ser despertada, pela Graça de DEUS, ou
pela Arte da KABALA…”

[J.R. VAN HELMONT: “Hortus Medicinae – Leyde 1667].

1. Definição

A Teurgia [do grego theos: deus, e ergon: obra], é o aspecto mais elevado, mais puro, e também o mais sábio, disso que o vulgo denomina a Magia. Definir esta, reter a essência e o aspecto mais depurado, é chegar a primeira.

Pois bem, segundo Charles Barlet, “A Magia Cerimonial é uma operação através da qual o Homem busca forçar, pelo próprio jogo das Forças Naturais, as potências Invisíveis de diversas ordens a agirem conforme o que ele requer Delas. A esse efeito, ele as surpreende, as agarra, por assim dizer, projetando [pelo efeito das “correspondências” analógicas que supõe a Unidade da Criação], Forças das quais ele mesmo não é senhor, mas as quais ele pode abrir caminhos extraordinários, no próprio seio da Natureza. Daí esses Pantáculos, essas Substâncias especiais, essas condições rigorosas de Tempo e de Lugar, que é necessário observar sob pena dos mais graves perigos. Pois, se a direção buscada está por pouco que seja errada, o audacioso fica exposto a ação de “potências” junto as quais ele não é mais que um grão de pó…” [Charles Barlet: A Iniciação, n° de janeiro de 1897].

A Magia conforme se viu, não é mais que uma Física Transcendental.

Dessa definição, a Teurgia retém somente a aplicação prática: aquela da lei de “correspondências” analógicas, subentendendo:

1° – A unidade do Mundo, em todos seus componentes;

2° – A identidade analógica do Plano Divino e do Universo material, este sendo criado “a imagem” daquele e permanecendo seu reflexo, inferior e imperfeito;

3° – Uma relação permanente entre ambos, relação decorrente dessa identidade analógica, e podendo ser exprimida, ao mesmo tempo que estabelecida, por uma ciência secundária, chamada de Simbolismo.

Quanto ao “domínio” no qual vão se exercer esses princípios secundários, a Teurgia se separa claramente de Magia.

Esta somente aciona Forças Naturais, terrestres ou cósmicas, se exercendo só no domínio puramente material que é o Universo, e, por consequência, não sendo mesmo Causas Secundárias, no máximo “intermediárias”, de “Causas terciárias” pelo menos. Por consequência a ação da Magia perturbando a intenção das Causas Segundas, estas não fazendo mais do que exprimir a da Causa Primeira, se exercendo por uma de suas “possibilidades”. Daí esse restabelecimento inevitável do equilíbrio rompido, denominado “choque de retorno”, e que se segue a toda realização mágica, a violência desse efeito contrário é proporcional a amplidão e a duração da realização obtida. Pois é uma lei imprescritível, que o Mago deve pagar na dor, as alegrias que sua Arte tiver arrancado às “Imagens Eternas”, saídas do ABSOLUTO, depois orientadas e fixadas pelas Causas segundas.

É completamente diferente o domínio da Teurgia e das faculdades que ela movimenta, fatores puramente metafísicos e jamais cósmicos ou hiperfísicos. Pois é no próprio seio da Arquétipo, nas “possibilidades” que passam – imagens fugidias – na INTELIGÊNCIA PRIMORDIAL, que o Teurgo operará. Definamos pois esse domínio.

O Teurgo crê necessáriamente na existência de um só SER, Único, Eterno, Onipotente, Infinitamente Sábio, Infinitamente bom, Fonte e Conservação de todos os Seres emanados, e de todas as Criaturas passageiras. Esse SER único, ele o designará sob múltiplos Nomes, exprimindo por cada um dos “Raios” de Sua Glória, e que chamaremos aqui simplesmente: DEUS.

Porque DEUS em si é infinito em potências e possibilidades, o Bem e o Mal coexistem e se equilibram eternamente. Mas, porque Ele é também infinitamente Sábio, e é o Bem Absoluto, contemplando desde toda eternidade, em Sua Onisciência, todas as futuras possibilidades, opera entre eles eternamente, e por sua Onisciência, uma Discriminação que é eterna. Essa Discriminação constitui pois, face a face, o Bem e o Mal.

O que DEUS admite, retém, deseja, realiza e conserva, constitui um Universo Ideal, ou Arquetípico. É o “Mundo do Alto”, o Céu. O que Ele refuta, rejeita, reprova, e tende a destruir, constitui o “Mundo de Baixo”, o Inferno. E o Inferno é eterno, como o Mal que exprime, agora o compreendemos.

Como Deus é eterno, e contém em Si todas as “possibilidades” o Mal é eterno e Ele não pode destruí-lo. E como Ele é infinitamente bom, Ele não quer destruí-lo.

Então, como Ele é também o Infinitamente Sábio, Deus o transforma em Bem…

Mas , como o Mal também é eterno, como “princípio”, eterna é essa obra de Redenção dos elementos rejeitados, assim como é eterno o Bem que ele manifesta e realiza.

O Homem, como toda a criatura, leva em si uma centelha divina, sem a qual não poderia existir. Essa centelha, é a VIDA mesma. Esse “Fogo” divino, leva nele todas as possibilidades, assim como FOGO INICIAL de onde ele emana.. As boas como as más.

Pois ele não é mais que um reflexo, e entre o braseiro e a centelha, não há nenhuma diferença de natureza!

Esse “fogo” é pois suscetível de “refletir” o Bem ou de “Refletir” o Mal. Quando o Homem tende a se reaproximar de DEUS, ele sopra e anima em si o “fogo claro”, o fogo divino, o “fogo de alegria”. Quando ele tende a se afastar de DEUS, ele sopra e acende em si o “fogo sombrio”, o fogo infernal, o “fogo da Cólera”. Assim ele gera em si, como DEUS o faz no grande TODO, o Bem ou o Mal, o Céu ou o Inferno. E é em nós que levamos a raiz de nossas dores, e de nossas alegrias.

É a essa Obra de Redenção Universal e comum, que faz do Homem o auxiliar de DEUS, que a Teurgia convida o Adepto.

Talvez ele não venha a fazer milagres aparentes, e talvez ele ignore o Bem que tiver realizado. Mas, nessa própria ignorância, sua obra será cem vezes maior que aquela do mago negro, mesmo se este realizasse espantosos prestígios.

Pois estes últimos não farão mais que exprimir a realidade do Mal arquetípico e com eles colaborar. Dessa realidade, ninguém duvida, e essa colaboração lhe é bem inútil…

A Magia nos demonstra pois que nada se perde, que tudo se reencontra, e retoma seu lugar. “Cada um semeia o que colhe, e colhe o que semeou”, nos dizem as Escrituras.

O mago negro, no fundo, é um ignorante, que joga um jogo de tolo !

Seus desejos ou seus ódios envenenam seus dias, e representam o tempo perdido para o Conhecimento Verdadeiro. Ao entardecer de sua vida, ele poderá refletir. Nem Amor, nem a Fortuna, nem a Juventude, nem a Beleza, estarão mais em seu leito para justificar as Horas mal gastas. Somente lhe restará uma coisa: uma dívida a pagar, nesta ou em outra vida, e que nenhuma criatura no Mundo poderá pagar por ele.

Pois, querendo submeter “Forças” tão potentes quanto desconhecidas, tão misteriosas quanto terríveis, à seus desejos e a suas fantasias passageiras, ele terá talvez se tornado escravo inconsciente, mas jamais seu senhor!… Sem o saber, ele as terá servido…

“Quando mentimos e enganamos, diz Mephistópheles, damos o que nos pertence!…”. Pela voz de Goethe, é a multidão anônima dos Iniciados de todos os tempos que nos adverte!

Aqueles “princípios” que DEUS conserva, porque os deseja, desde toda eternidade, Ele os emana. Eles então se individualizam, depois se manifestam, por sua vez, e conforme sua natureza própria que é o Ideal inicial divino. O conjunto dessas “Emanações” constitui o Plano Divino ou Aziluth. Cada uma delas é um Atributo Metafísico. Há assim a “Justiça”, o “Rigor”, a “Misericórdia”, a “Doçura”, a “Força”, a “Sabedoria”, etc…

Como ele são de essência divina, se concebe que os metafísicos orientais, após os ter designado e dotado de um nome próprio, os tenham acrescido os finais “El” ou “Iah”, que significa “DEUS”, feminino ou masculino. Se obtém então essas denominações convencionais: “Justiça de Deus”, “Rigor de Deus”, etc…

Cada uma dessas Emanações, pois que são elas mesmas parte constituinte da DIVINDADE-UNIDADE , emana por sua vez modalidades secundárias de sua própria essência. E assim a seguir.

Assim se constituem esses seres particulares que chamamos de Anjos, Gênios ou Deuses, seres que as teodicéias agruparam em dez divisões convencionais. São os nove coros angélicos, aos quais se acrescenta aquele das “almas glorificadas”, da Teologia judeo-cristã e da Kabala.

No “Mundo de Baixo”, que DEUS rejeita [os Quliphoth, ou “Escórias”, da Kabala], cada um deles tem sua antítese, um ser absolutamente oposto, emanado por um dos Atributos Contrários, e que DEUS tende a fazer evoluir para Melhor e o Bem.

Há pois a “Injustiça”, a “Fraqueza”, a “Crueldade”, a “Insensibilidade”, e o “Erro”, e também aí se acresce os finais correspondentes, El ou Iah, se obtendo os Nomes Demoníacos: “Injustiça Suprema”, “Fraqueza Suprema”, “Crueldade Suprema”, etc…

Todas as “possibilidades”, rejeitadas “em baixo”, são destinadas a virem a ser “criaturas”, e, emergindo do Abismo pela Graça e o Amor de DEUS, elas constituem então o Mundo da prova e da Necessidade, a “Terra”, em hebreu Aretz, único reflexo superior desse Abismo.

Todos os Seres que não são, desde toda eternidade, os “Deuses Atributos” do ABSOLUTO, nascem no seio do Abismo, conjunto do que a Eterna Sabedoria rejeita eternamente. Da mesma maneira, os seres vindos de Baixo devem finalmente chegar “Ao Alto”, no “Palácio do Rei”, religados a uma das Dez Esferas antes citadas, mas aperfeiçoadas, evoluídas, se tornam por fim tais como DEUS o deseja eternamente, e ricas da totalidade de suas lembranças e de suas experiências passadas.

Todos esses seres se elevando pois outrora através de todas as “formas” possíveis e imagináveis da Vida, nesse vasto caleidoscópio que é a NATUREZA ETERNA; formas sucessivamente visíveis ou invisíveis, minerais ou vegetais, animais ou hominais. Chegadas a esse último estado, encruzilhada onde os espera a Liberdade moral e sua Responsabilidade, eles constituem então esse Mundo de Prova e de Fatalidade que é a “Terra”, precursor dos “Céus” simbólicos.

Em virtude dessa Liberdade e dessa Escolha, e se encontrando no plano de Aretz [“Terra”], submissos à Experiência, consequêntemente ao Sofrimento e a Morte transmutadora, os Homens podem, por sua aceitação ou recusa, sua escolha inteligente ou desarazoável, se elevar ou descer na Escala, escala dos “devires”.

Se notará que a Kabala dá o mesmo valor numeral a palavra Sinai e a palavra Soulam, significando escala [130]. A Guematria nos mostra aí uma das chaves principais da metafísica kabalística. Em efeito, essa “escala” está ligada a lenda do patriarca Jacó, palavra significando “que suplanta”. Para uma alma, subir, é, para uma outra descer. [Ver nos “Mabinoggion”, ou “Contos para o Discípulo”, o ensinamento bárdico a esse respeito, no conto de Peredur ab Ewrach]. E sobre a Roda Eterna, todas as almas passam sucessivamente por todos os estados [Ver a “Revolução da Almas” do rabino Issac Loriah]. Nessa subida sobre a escala , uma alma é o “suplantador” enquanto que uma outra é o degrau…

Pois, tendo chegado uma primeira vez no “Palácio Celeste”, mundo da plenitude, onde ele encontra por fim o conjunto de suas lembranças e de suas faculdades, o Ser pode tornar a descer voluntariamente sobre a “Terra”, em Aretz, e aí se encarnar, seja visando novas experiências e do benefício que daí decorre, seja com a finalidade altruística de ajudar os outros seres a se desprender do Abismo, a sair do Sheol [“Sepultura”]. E isso tantas vezes quantas ele desejar, protegido pelo Esquecimento.

Concebemos o inferno mental que seria a Vida se nos lembrássemos de tudo o que fomos ? Imaginemos o nosso eu imortal animando por exemplo uma aranha ? Nos vermos, como aranha, metida em um buraco infecto, dançando sobre uma teia, receptáculo de todas as sanies ou imundices, e devorando com as mandíbulas os cadáveres de moscas decompostos ? “O Esquecimento das vidas precedentes é um benefício de DEUS…” nos diz a tradição lamaica!

E porque a eternidade e o Infinito Divinos fazem com que o ABSOLUTO permaneça sempre inacessível ao Ser, mesmo tendo chegado ao “Palácio dos Céus”, eternos em duração, infinitos em possibilidades são “experiências” da Criatura, e assim, a Sabedoria e o Amor Divinos a fazem participar de uma eternidade e de um infinito relativos imagens e reflexos da eternidade e do infinito divinos, e por si mesmo, geradoras de um eterno vir a ser.

Mas não devemos confundir os Seres em curso de evolução para o Plano Celeste, e os Atributos do Divino, que são partes constituintes de DEUS.

E é pela onipotência do Verbo, se exprimindo através da prece e as santa Orações, por um caminho que se aproxima, tanto quanto é permitido ao Homem, de suas próprias perfeições, que o Teurgo desperta e põe em ação os Atributos Divinos, e o faz, se elevando até eles…

E é pelo Simbolismo, que lhe permite canalizar e conduzir essa ação, a “situando” no Tempo e no Espaço, que o Teurgo age então indiretamente sobre os Seres do Universo material.

Pois, partindo do princípio iniciático universal que a “parte” vale o “Todo”, e que “o que está em baixo é como o que está no alto”, esse Simbolismo lhe permite então realizar um microcosmo realmente em relação de identidade analógica com o Macrocosmo. Essa teoria se reencontra, degradada, no princípio do Envultamento e aquele do estabelecimento de seu “vulto”.

Pelo Simbolismo, o Teurgo realiza, sobre seu Altar, sobre seus Pantáculos, ou em seus Círculos operatórios, verdadeiros “vultos” do Mundo Celeste, do Universo material, dos seres que aí residem, da Forças que aí estão encerradas.

Mas, ao contrário do praticante da Magia vulgar, realmente ligado as virtudes particulares de seu objetos, de seus ingredientes, aos ritos [tornados fórmulas supersticiosas] de seu Sacramentário, assim como o Físico ou o Químico estão a aquelas de seus aparelhos de laboratório, dos corpos que eles utilizam, a aqueles das fórmulas de seus códex, o Teurgo não tem essa servidão supersticiosa. E ele não utiliza o Simbolismo a não ser como meio de expressão, complemento de seu verbo, este expressão de seu pensamento.

Pois o Simbolismo completa [no domínio das coisas inanimadas] o Gesto do Teurgo, seu Gesto completa sua palavra, sua palavra exprime seu pensamento, e seu pensamento exprime sua Alma. E esse é exatamente o segredo das “Núpcias fecundas do Céu e da Terra”.

Desse modo temos na Trindade Divina e na Trindade Humana :

DEUS UM…………………………..ALMA UNA
Pai………………………………………..Pensamento
Filho……………………………………..Palavra
Espírito Santo…………………………Gesto

Por fim, o Teurgo não pretende submeter, mas obter, o que é muito diferente! Para o Mago, o rito submete inexoravelmente as Forças a quem ele se dirige. Possuir seu “nome”, conhecer os “encantos”, é poder encadear os Invisíveis, afirmam as tradições mágicas universais.

Mas a lógica não admite, à essa pretensão, mais que três hipóteses justificativas:

a) ou as Forças dominadas o são sujeitas porque inferiores em potência ao próprio Mago. E então, nenhum mérito em dominá-las, e nenhum benefício a alcançar. Pois a Ciência oficial, com paciência e tempo, chegará ao mesmo resultado…

b) ou elas se prestam por um momento a esse jogo, aceitando uma servidão momentânea aparentemente, e na espera de uma consequência fatal, que escapa ao homem, mas à que, logicamente deve, seu proveito. Nesse caso o Mago é enganado, a Magia é perigosa, e como tal deve ser combatida…

c) essas Forças são inconscientes, logo sem inteligência e por consequência naturais. Nesse caso , a pretensão do Magista de submeter as “potências” do Além não é mais que uma quimera. Seu ritual, fastidioso, irregular em seus efeitos, imprevisível em suas consequências últimas, deve ser substituído por um estudo científico desses fenômenos, preludiando a sua incorporação no domínio das artes e das ciências profanas. Desde então, não há mais Magia…

Para o Teurgo, nenhuma “explicação” tendente a diminuir seus poderes é temida, pois que ele afasta de primeira todo fator material dotado de qualquer virtude oculta, toda força encerrada ou infundida por ritos em seus auxiliares materiais. Somente, o Simbolismo deve o unir ao Divino, com o elã de sua alma, por veículo. Já de início ele situa o problema: se dirigindo a DEUS pelo canal do Espírito e do Coração, nenhuma defloração do grande arcano deve ser temida, e, o que quer que advenha em suas diversas realizações, o Mistério dessas últimas permanece por inteiro.

O que o Mágico pagará a continuação com dor, o Teurgo completará com alegrias. E assim como dizem as escrituras, o Teurgo acumulará tesouros inalteráveis, enquanto que o Mágico realiza um mau futuro…

Texto retirado de Hermanubis Martinista.

#hermetismo #Maçonaria #Magia #Martinismo #Kabbalah #Rosacruz

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-teurgia

O Sangue e Ossos da Bruxaria Tradicional

Com a primeira faísca da forja sagrada – a primeira gnose, palavra da mesma raiz que gnoscere, ou “conhecer”, o homo sapiens tornou-se capaz de maravilhar-se com toda a criação ao seu redor, assim como se tornou capaz de questionar as razões de tudo o que acontecia com ele. Podemos dizer que esta “faísca” caiu em um corpo que sentia medo, fome, frio, sono e o desejo de procriar, como qualquer outro animal. O homem muito provavelmente ainda nos tempos de “bicho” percebeu que um grupo era mais forte que um indivíduo solitário, assim como os lobos e os macacos, e portanto, é muito provável que ele já tivesse uma idéia do que era uma família, um clã ou tribo. A idéia de lar foi desenvolvida pelas mulheres, que também foram as inventoras da agricultura e muito provavelmente da pecuária, o que possibilitou os assentamentos humanos em regiões específicas.

Com o lar, toda a idéia das conexões entre a terra com o mundo invisível chegou à estrutura de culto – que interessantemente possui a mesma raiz etimológica que a palavra “cultivar”. Os primeiros cultos, de acordo com os resquícios mais antigos deixados pelas lendas do continente africano, foram os das divindades responsáveis em favorecer a vida na região em que se vivia e o culto aos ancestrais. Todos podiam remontar sua ancestralidade a uma divindade, o que lhes dava um ideal mítico como modelo para suas vidas. Cada ser humano era uma divindade na terra, em uma jornada humana, e este ainda é o sentido da iniciação em um culto ancestral.

Nos velhos tempos, os mortos eram enterrados em locais no mínimo significativos, naqueles considerados sagrados, e não raro, próximos ou dentro da própria moradia dos vivos, em porões ou sob o fogo que processava os alimentos. Tomando por base as culturas africanas e bascas, onde os mortos eram e muitos ainda são guardados sob o piso dos vivos, o culto aos mortos teria sido criado também pelas mulheres, que ficavam responsáveis em “cultivar” o fogo dos vivos (processando os alimentos) e o fogo dos mortos (mantendo suas memórias vivas). Algumas tradições de Bruxaria (isto é, Bruxaria Tradicional), mantêm este reconhecimento à mulher como um ser que já nasce com seus poderes completos, enquanto o homem nasceria somente com o poder do fogo, necessitando da mulher como a pedra fundamental de um clã, como aquela que doma o fogo. Nos mitos ancestrais da Nigéria, este período de poder matriarcal é relatado, e é possível observar como este período foi marcado pela tirania. O poder espiritual absoluto das mulheres foi tomado pelos homens quando eles astutamente tomaram os ossos dos mortos e dominaram o culto dos ancestrais, trazendo uma era de equilíbrio entre os gêneros, mas não sem algum conflito. O mito nos relata que os homens, ao tomarem os ossos e as vestimentas sagradas irritaram as mulheres profundamente, ao ponto do caos, e a única forma de resolver o conflito foi a de apaziguá-las com presentes, comidas, confortos e canções, gerando uma coexistência pacífica. A sociedade de Iyami, por exemplo, é sem dúvida a mais temida e poderosa, pois convencer estas “mulheres-pássaros” de uma decisão comunitária sempre dependerá do senso de justiça feminina e muito apaziguamento.

Quando a Igreja tomou o poder de enterrar os mortos, ela “tomou os ossos” dos nossos ancestrais, e da mesma forma, tomou para si o culto aos mortos. Nossos mortos não mais eram enterrados em seus locais favoritos ou sagrados para serem lembrados por qualquer um que ali passasse, e assim fomos convencidos que nem suas presenças eram bem vindas perto de nós. Fomos roubados de nossos ancestrais, e a memória foi roubada deles. Nossos cemitérios são meros depósitos de ossos esquecidos, e nossos mortos são enterrados em um piscar de olhos. Já não são mais velados, enaltecidos e relembrados, e eles já não encontram mais seus lugares em nossas vidas e memórias. Roubaram-nos a nossa memória, e se não conhecemos de onde viemos como saberíamos para onde vamos?

Bruxaria e Paganismo

Pessoalmente, eu concordaria com uma “bruxaria” ligada ao paganismo se as correntes ancestrais – que dão contexto mitológico às bruxas – não estivessem rompidas. E é por esta mesma razão que a iniciação nos cultos pagãos ainda se perpetua e se faz necessária: quando entramos em um culto ancestral, recebemos não só os ensinamentos acumulados do culto, mas o vínculo espiritual com os ancestrais deste culto, que é sem dúvida o ponto central de onde toda a sabedoria parte. E é aqui que reside a diferença entre conhecimento e sabedoria, pois esta última só pode ser obtida com experiência e memória. O neopaganismo, por exemplo, tem uma enorme desvantagem neste quesito, desde que tenta reconstituir o vínculo espiritual muito frequentemente sem terem a noção precisa de quem foram estes ancestrais, e muitas vezes tateando através da história e antropologia para reconstituir fatos, e assim, limitando-se ao “conhecimento” enquanto desbrava-se o caminho rumo à “sabedoria”. Eu diria que isto é uma desvantagem, e não uma diminuição de valor, desde que a meta é a mesma.

Em especial por conta das ocorrências da Idade Média – no período que foi nomeado como a “Era das Fogueiras” – muitas pessoas ganharam o direito de clamar para si a herança “bruxa”. Pagãos, judeus, pervertidos, criminosos, alcoviteiras e feiticeiras foram os indiscutíveis bodes expiatórios que queimaram como “bruxos”. No Brasil, especificamente, ondas de novos convertidos ou degradados (ou seja, expulsos de seus países pela Santa Inquisição), mesclaram suas crenças – unidas por uma espantosa similaridade – às dos indígenas e negros escravos, dando origem a híbridos singulares e interessantes. As benzedeiras não devem em nada daquelas que foram julgadas nos tribunais inquisitórios, e apesar do freqüente rigor cristão da maioria delas, elas continuam marginalizadas pelo cristianismo moderno. Para elas, nada mudou. É bom ainda ressaltar que a Inquisição foi um processo de limpeza interna da igreja para livrá-la das heresias. Este processo que saiu fora do controle, e acabou perseguindo muitos que se consideravam “bons cristãos”, mesmo que mantivessem certos costumes remanescentes do paganismo através do velho catolicismo em uma Europa protestante. O próprio termo “auld faith”, ou como se traduziu “Antiga Religião” era uma alusão ao catolicismo anterior ao protestantismo, que considerava o culto aos santos – uma derivação pagã – uma grande heresia. Lutero, por exemplo, apontou a Igreja Católica como a “Sinagoga de Satã” por este motivo entre outros muitos. E isto, aliás, é um dos motivos pelos quais não é absurda a cristandade para uma bruxa, apesar da histeria que isto causa entre os bruxos modernos. É lógico que a própria Igreja Católica possui todo um capítulo negro em sua história, mas nem por isso deve ser descartada, desde que manteve uma herança viva dos antigos cultos – disfarçados e distorcidos ou nem tanto.

O Bruxo e a Tradição

A diferença que se faz de um “bruxo” para um “bruxo tradicional” é que o primeiro pode não estar necessariamente ligado a uma ancestralidade mítica conhecida, e assim, alguns buscam o híbrido “pagão-bruxo” da Wicca exatamente para recompor uma ancestralidade mítica perdida. Outros permanecem manifestando seus dons ancorados nas religiões exotéricas, como o catolicismo, ou dentro do misticismo new age, buscando fortalecer os laços com seus espíritos guias solitariamente. Um “bruxo tradicional” é um ser já consciente de sua ancestralidade mítica (ou ainda, de suas plurais ancestralidades míticas), que podem ser passadas através da família (blood in) ou da adoção como novo parente (blood out).

Não podemos deixar de discutir um outro subgrupo que deve ser apresentado dentro do contexto tradicional da bruxaria, que remonta de sociedades similares à Maçonaria, e que operam como “guildas de ofício”. Uma guilda de ofício é basicamente um grupo que possui uma determinada especialidade. Antigamente, todas as guildas de ofício possuíam não só um caráter social – mas um espiritual, já que possuíam suas próprias mitologias ligadas à profissão. Aqueles cuja profissão era a de ferreiro, por exemplo, prestavam cultos a deidades “ferreiras”, como Hefestos, Tubelo, Ogum, etc. Com o surgimento destas confrarias, grupos que giravam em torno de deuses ctônicos, obscuros e marginalizados pela religião oficial também surgiram. O fato é que estas guildas se formaram através de pessoas que possuíam uma linhagem ancestral em um determinado culto, e que possibilitavam a adoção de novos “parentes” ligados ao ofício.

Bruxaria e o Ofício

Para falarmos do caráter “ofício” da bruxaria, temos necessariamente que trazer à memória o arquétipo primordial do que é uma Bruxa. Aliás, se esta figura sobreviveu aos tempos, é graças à sua imagem arquetípica.

Particularmente, gosto sempre de relembrar as figuras de Circe e Medeia, mas outros “personagens” imortalizados nos contos de fadas, no folclore e nas tradições da terra contam um pouco sobre esta figura assombrosa, magnífica e incompreendida quando colocada dentro esta sociedade destituída da Tradição Perene. Ela reina absoluta no papel da resistência necessária que o herói deve enfrentar para que floresça e se torne imortalizado. Ela é a sábia que perscruta o destino dos homens, que alimenta o fogo dos vivos com seus remédios fervendo no caldeirão, assim como alimenta o fogo dos mortos ao jamais esquecê-los. Como podemos observar nas inquebradas tradições ancestrais da terra, estas mulheres são as nigromantes, curandeiras, feiticeiras e conselheiras… megeras que são donas de seus narizes e que jamais tiveram ou terão rédeas. A única forma de domá-las é através da rendição completa, é o dar-se para ter. Sem esta doação, pode-se até brincar de ser bruxo, e manter a esperança de coerência, mas em última instância, é bom torcer que esta força indomada da natureza, representada por deusas cujos mistérios são relegados a poucos, nunca preste atenção em você.

Originalmente postado em http://www.espelhodecirce.com.br/2011/05/o-sangue-e-ossos-da-bruxaria.html

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-sangue-e-ossos-da-bruxaria-tradicional

Hermes – Metais, Ervas e Pentagramas

Postado no S&H dia 26/jun/2008,

“É verdade, certo e muito verdadeiro.
O que está em baixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo, para realizar os milagres de uma única coisa.
E assim como todas as coisas vieram do Um, assim todas as coisas são únicas, por adaptação.
O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento o embalou em seu ventre, a Terra é sua ama;
O Pai de toda Telesma do mundo está nisto.
Seu poder é pleno, se é convertido em Terra.
Separarás a Terra do Fogo, o sutil do denso, suavemente e com grande perícia.
Sobe da terra para o Céu e desce novamente à Terra e recolhe a força das coisas superiores e inferiores.
Desse modo obterás a glória do mundo.
E se afastarão de ti todas as trevas.
Nisso consiste o poder poderoso de todo poder,
Vencerá todas as coisas sutis e penetrará em tudo o que é sólido.
Assim o mundo foi criado.
Esta é a fonte das admiráveis adaptações aqui indicadas.
Por esta razão fui chamado de Hermes Trismegistos, pois possuo as três partes da filosofia universal.
O que eu disse da Obra Solar é completo.”

Durante nossas matérias anteriores, falamos sobre Matrix, o Plano Astral e as diversas maneiras de se interagir com a esfera de Yesod, o estado de consciência representado pelo Mundo Subterrâneo nas antigas mitologias. Falamos sobre os Psychopompos (os famosos “condutores de almas”) das mitologias antigas e o que eles realmente representam e finalmente fizemos cinco anotações em nossos cadernos, que passaremos a decifrar nesta coluna.
Semana retrasada falamos sobre Thanatos, deus dos mortos, e sua relação com o Astral. Em seguida, comentei sobre Hecate e a intuição. Continuando a linha de raciocínio, falaremos hoje sobre Hermes, a manifestação da vontade (Thelema) no Astral.

Ao contrário de hecate, que representava a parte passiva da espiritualidade, através da mediunidade, Hermes representa a parte ativa da mediúnidade, ou a capacidade dos seres no Plano Físico atuarem sobre o Astral.
Esta atuação acontece na forma de mantras (ou palavras de poder), de objetos mágicos (círculos, espada, taças e outros objetos magnetizados pela luz astral) e da vontade do magista. Deste tipo de atuação surgiram as bases a respeito dos exorcismos, conjurações e banimentos.

Hermes
Já havia falado sobre Hermes AQUI. Recomendo a leitura antes de prosseguir.
Hermes é tido como uma das mais importantes divindades gregas do Panteão Olímpico. Considerado o mais jovem dos deuses, ele é o protetor de todos os viajantes e ladrões, é o mensageiro dos deuses, responsável por levar a palavra dos deuses até os mortais (qualquer semelhança com Prometeu ou Lúcifer NÃO é mera coincidência); Hermes é o deus da eloqüência, ao lado de Apolo, é o Deus dos diplomatas e da diplomacia (que era chamada de Hermeneus pelos gregos) e é o deus dos mistérios e interpretações (da onde vem a palavra Hermenêutica). Além disto, era um dos únicos deuses que tinha permissão para descer ao Hades e partir quando desejasse. Todos os outros (incluindo Zeus) estavam sujeitos às leis de Hades.
Hermes tinha vários símbolos, mas os mais tradicionais eram as sandálias com asas, o caduceu (que curiosamente representa a Kundalini, duas serpentes enroscadas em um cajado) e a tartaruga (de cujo casco ele criou a primeira Lira) e sua flauta de 7 notas.
Como inventor de diversos tipos de corrida e também das lutas, Hermes era considerado o patrono dos atletas. Finalmente, era tido como o inventor do Fogo (em alguns textos anteriores a Prometeu) e considerado um deus pregador de peças, que adorava aprontar com seus irmãos (isto desde seu nascimento, quando a primeira coisa que fez quando aprendeu a andar foi roubar os bois de Apolo e esconde-los). Hermes era patrono dos alquimistas, magos e filósofos.

Hermes representa HOD, ou seja, a RAZÂO. Como pudemos ver, a razão está diretamente ligada à VONTADE dentro da Magia. A escolha simbólica de Hermes como o terceiro Psycopompo traduz bem esta manifestação da magia.

Influências do Físico no Astral
Desde a antiguidade sabemos que determinados elementos físicos são capazes de atuar nos elementos sutis do Astral. Os mais conhecidos e que acabaram se tornando parte de ínumeros folclores são o Sal, o Mercúrio, o Enxofre, a Prata, o Ouro e os outros metais alquímicos. As plantas afetam o astral por causa de suas auras, que interagem eletromagneticamente com as nossas e com elementos dos planos sutis, como explicarei abaixo.

O Sal
O sal absorve emanações negativas, cristalizando-as e limpando o ambiente. Disto derivam diversos costumes que perduram até os dias de hoje.
O mais comum de todos é o “banho de sal grosso”. Água com sal marinho é uma das melhores substâncias para remover miasmas astrais de um corpo. E o melhor banho energético de todos continua sendo o banho de mar. Os antigos tinham o costume de deixar-se banhar por sete ondas para limpar quaisquer miasmas ou impurezas que tivessem. Ao contrário dos ignorantes, que “pulam” sete ondas, o correto é deixar as sete ondas cobrirem TOTALMENTE o seu corpo. Claro que as dondocas com seus vestidos caríssimos de final de ano não vão sair ensopadas do mar, então esse costume foi “ajustado”. O tio Marcelo adianta que pular sete ondas não serve para absolutamente NADA; a limpeza só funciona se você for inteiramente banhado pela água salgada.
Banhos de sal grosso podem fazer o mesmo efeito, mas há uma ressalva. Como ele age como um solvente, se a pessoa já estiver debilitada, em certos casos, não é recomendado. O melhor é um “banho de ervas”, como explicarei mais abaixo.
O sal grosso pode ser colocado nos cantos de uma sala para absorver miasmas, funcionando como uma “fossa séptica astral” (funciona pelo mesmo princípio da “Firmeza” nas tradições africanas, mas de eficácia obviamente muito menor). A cada 3 ou 7 dias, quando o sal estiver empapado, recolha e jogue em água corrente ou aos pés de uma árvore e troque o sal. Na Europa é comum espalhar sal por sobre o batente das portas, pela mesma razão.

A palavra Salário vem de “salarium argentum” que é a medida em prata ou ouro recebida pelos soldados romanos suficiente para comprar determinada quantia de sal (ao contrário do imaginário popular, eles não recebiam diretamente em sal; se fosse assim, seria muito mais rentável ficar na beira do mar coletando sal o dia inteiro do que ir para batalhas se arrebentar em troca de um punhado de cristais brancos). A palavra “Salarium” vem das estradas até as minas de sal (“Via Salarium“) que estes soldados protegiam. Os “Assalariados” eram os soldados que guardavam estas estradas.
O valor do sal estava muito associado ao seu poder mágico, por isso era costume das pessoas carregar consigo pequenos saquinhos de sal grosso e ervas amarrados em seu corpo para absorver emanações negativas. Nas tradições africanas este saquinho era chamado de Patuá e no Japão esta prática é conhecida como Kusudama. Os celtas usavam trevos como principal erva nestes amuletos, de onde veio a tradição do trevo de quatro folhas como planta da sorte.

Derramar este sal era considerado má-sorte, pois deixava a pessoa desprotegida contra ataques astrais ou psíquicos. Desse costume também vem a expressão “fulano não vale o sal que come” que mais tarde se tornou “não vale o que come”.

Lágrimas também entram na categoria de fluidos capazes de absorver más emanações (especialmente porque vem acompanhado de emanações emocionais mais fortes). Nem preciso falar a respeito da quantidade de lendas e contos medievais a respeito de “lágrimas” e seus processos curativos. A própria palavra “saudade” vem de “saldare” em referência às lágrimas vertidas pelo sentimento de falta de determinada pessoa.

E finalmente temos a Água Lustral, e posteriormente a cópia da Igreja chamada “água Benta”, muito utilizada para limpar instrumentos mágicos, locais e consagrações.

O Enxofre
Um dos mais efetivos materiais de remoção de miasmas, o enxofre era muito utilizado em defumações na antiguidade. Antes dos principais rituais religiosos ou em locais muito carregados, era costume passar com defumadores contendo mirra, louro e enxofre, especialmente em locais onde haviam muitos sacrifícios. Mais tarde, a Igreja iria inventar a associação entre o Diabo e o cheiro de enxofre baseado nisto.
No oriente, o enxofre era utilizado na forma de pólvora e fogos de artifício para dissolver miasmas e outras entidades obsessoras, especialmente elementais e construtos astrais malignos. Disto vem o costume de usar fogos de artifícios em comemorações. Eles são usados para literalmente “limpar o ambiente”.
A pólvora também é utilizada pelos cultos africanos em sessões de “descarrego” justamente por esta propriedade de dissolver larvas astrais que estejam porventura enraizadas no duplo-etérico da pessoa (e muitos picaretas universais também estão tentando adaptar a prática “em nome de Jesus” – até arrumaram a desculpa para o cheiro de enxofre que fica depois). Também é utilizada na bruxaria celta e nórdica dentro de caldeirões (a razão prática pela qual caldeirões precisam ser de ferro).

Os metais alquímicos
Os sete metais alquímicos (ouro [sol], prata [lua], mercúrio [mercúrio], cobre [vênus], ferro [marte], estanho [júpiter] e chumbo [saturno]) afetam em diferentes graus e intensidades os fluidos astrais. Por esta razão, são utilizados em diferentes rituais com diferentes finalidades, que não vêm ao caso agora.
Os mais conhecidos nas lendas são a prata, associada a Yesod/lua/Astral, que dissolve miasmas ao toque (de onde originou a lenda da prata como sendo o metal capaz de ferir lobisomens e vampiros); o ferro (que é utilizado em portões e grades de cemitérios para não deixar espíritos irados trespassarem os limites da necrópole e também deu origem à lenda de que fadas e elementais não podem tocar ferro frio, o que é uma verdade).

Ervas
As plantas também possuem duplo-etérico e consequentemente, uma aura. Quando falamos de “banho de ervas”, queremos dizer que as ervas em questão precisam ser maceradas (esfareladas com suas próprias mãos e deixar a seiva – que é o SANGUE da planta – misturar com água). Qual a ciência por trás disso? Normalmente o Guia ou médium é capaz de enxergar alguma perturbação no duplo-etérico da pessoa e recomenda uma erva adequada para estabelecer o equilíbrio (de onde surgiu a lenda a respeito de determinados orixás serem senhores de determinadas plantas). Com esta seiva misturada à água, o banho fará com que ambos os campos eletromagnéticos sutis entrem em contato e se equilíbrem. As plantas mais comuns para estes banhos são a arruda e o manjericão, mas existem dezenas de tipos de banhos de ervas diferentes, de acordo com o tipo de problema. Algo importante e que quase ninguém sabe é que após tomar um banho de ervas não devemos nos enxugar, mas apenas secar levemente nosso corpo, deixando-o terminar de secar naturalmente.
Da mesma maneira, existem os chás de ervas, nos quais as ervas são fervidas e bebidas posteriormente, com efeitos curativos dos mais diversos.

Cristais
Com o conhecimento de que nossos corpos são máquinas eletromagnéticas, muitas doenças nada mais são do que o desequilíbrio energético nos nadis (dutos) em nosso duplo-etérico. Neste sentido, o que acupuntura faz é direcionar estes fluxos energéticos de maneira adequada e equilibrar o balanço de prana dentro do organismo, eliminando a causa da doença logo em seu estágio inicial.
Os cristais funcionam de forma análoga; eles geram campos magnéticos sutis que ressoam com os campos eletromagnéticos de cada chakra específico, auxiliando o fluxo de prana e reestabelecendo o equilíbrio e saúde.

MAS eu preciso fazer uma mega-hiper-super ressalva aqui. São ALGUNS cristais específicos, aplicados em alguns pontos certos do corpo e da maneira apropriada. Não é éssa loucura alucinada dos misticóides da Nova Era e suas feiras de badulaques exotéricos (com “X”). Comprar cristais “Além da Lenda” e deixá-los em cima do seu corpo não vai adiantar em NADA. Um dia eu faço uma matéria só sobre cristais, desmistificando essas loucuras que a gente vê por ai.

Desnecessário dizer que nada disso é reconhecido pela ciência ortodoxa mas, para ser sincero, eu prefiro assim, pois se do jeito que está já existem uns 90% de charlatões místicos, imagine se alguém emite um certificado das otoridades dizendo que funciona mesmo… imagine que, se com conselhos sérios como o CRM já existem milhares de charlatões se passando por médicos e trocentos problemas de cirurgias e picaretagens que vemos por ai nos jornais (sem falar dos “misticos”), que caos acontecerá com seres irresponsáveis do gado posando de “doutores em cristais”…

Além disso, existe o desinteresse natural da “ciência médica” em relação a métodos gratuitos de cura e saúde… quantos bilhões são gastos anualmente fabricando drogas que não precisamos? quem lucra com isso não tem o menor interesse que as populações sejam “equilibradas energeticamente”… aliás, fazem o possível para isso ser o mais ridicularizado possível. Para quê se equilibrar com Ioga, respirações e alimentação adequada quando você pode simplesmente ficar doente e gastar dinheiro com remédios caros!

Como eu costumo dizer, as superstições são os cadáveres das antigas práticas religiosas e mágicas… Quando se remove a razão e o conhecimento dos motivos, sobra apenas a repetição cega e a crendice.

Conjurações
Sempre existiu uma certa confusão entre os limites da mediúnidade e da magia de conjuração. Desde o xamanismo e suas manifestações tribais mais primitivas aborígenes e africanas, existiam duas classes de magistas. Em essência, ambos trabalhavam com o mesmo princípio, apenas variando as freqüências astrais de suas conjurações.
Ao contrário da mediunidade, onde o médium irá “receber” passivamente um espírito, na Magia cerimonial o magista irá ordenar ativamente que o espírito venha até sua presença e obedeça sua vontade.
E a palavra chave para tudo isso é “vontade”. Através do domínio de seu consciente e subconsciente, o magista é capaz de canalizar sua vontade através da Luz Astral e influenciar os corpos sutis tanto dos espíritos dos mortos (Thanatos) quanto as habilidades mediúnicas de outras pessoas (Hecate).

o Círculo e as Ferramentas
O círculo delimita o espaço de trabalho do magista. Ele é considerado uma manifestação da vontade do mago e uma extensão de seus domínios. Pode-se traçá-lo fisicamente no chão ou mentalmente no espaço (fisicamente será melhor para iniciantes, pois desta maneira se conseguirá manter a concentração mais facilmente, ainda mais quando a mente estiver ocupada com todos os outros detalhes da ritualística).
As ferramentas exigirão uma matéria apenas para elas. As mais comuns são o bastão, a espada, o athame, o pantáculo, a taça, o incensário, as velas, as roupas e o cetro (ou varinha). Com eles, o magista é capaz de direcionar sua vontade e canalizar suas manifestações mentais no astral com maior efetividade.

Fazendo a comparação com Thanatos: através da vontade, um magista consegue interferir no astral o suficiente para afetar quaisquer seres astrais/espíritos que estejam nas proximidades, seja removendo miasmas, seja afastando-os ou até mesmo aprisionando-os (as histórias a respeito dos gênios dentro de garrafas não são meras alegorias).
Fazendo a comparação com Hecate: através da vontade, o magista consegue interferir na mediunidade de uma pessoa, aumentando ou diminuindo a sensibilidade, cortando os canais de ligação entre os médiuns e os espíritos ou facilitando/simulando esta comunicação através de outros objetos (espelhos mágicos oraculares, por exemplo… “espelho espelho meu, você acha que o tio Waldisney colocou esta passagem à toa na Branca de Neve?”)

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Exercício Prático de Imaginação e Vontade
Pode ser feito em seu quarto ou local de descanso.
Em primeiro lugar, encontre o Leste.
Fique de pé, mantendo os pés em esquadro, o pé direito apontado para o leste. Deixe o braço esquerdo caído ao lado do corpo e junte os dedos polegar, indicador e médio da mão direita, formando o Kureba Mudra. A posição dos dedos no Kureba mudra parece como se você estivesse segurando um giz de cera invisível.

Respire calma e relaxadamente alguns instantes, até estar plenamente concentrado, e comece:
Trace um Pentagrama no Ar, localizado à sua frente, começando do 1 e seguindo a ordem numérica, de acordo com a imagem. Imagine que ele seja formado por uma luz azul muito forte e brilhante. INSPIRE enquanto traçar o risco de 1 para 2, EXPIRE quando traçar o risco de 2 para 3, INSPIRE quando traçar o risco de 3 para 4, segure a respiração quando traçar o risco de 4 para 5 e EXPIRE quando traçar o risco de 5 para 1.

Se você souber qual é, imagine agora o símbolo do ELEMENTO AR dentro do pentagrama, se não souber, vai pesquisar. Faça um ponto dentro do pentagrama e deslize seu corpo e o braço no ar 90 graus para a direita, ficando de frente para o SUL e traçando uma linha de luz azul na altura do seu ombro, ao seu redor, formando um círculo onde você estiver. É importante manter a concentração e inspire enquanto estiver traçando este círculo.
De frente para o SUL, repita o traçado do segundo pentagrama, seguindo as mesmas instruções de respiração do primeiro pentagrama.
Imagine o símbolo do ELEMENTO FOGO dentro do pentagrama.
Novamente, gire o corpo 90 graus para a direita, ficando de frente para o Oeste; trace o círculo começando do EXATO ponto onde parou no sul e continue até o oeste.
De frente para o OESTE, repita o traçado do terceiro pentagrama, seguindo as mesmas instruções de respiração do primeiro pentagrama.
Imagine o símbolo do ELEMENTO ÁGUA dentro do pentagrama.
Novamente, gire o corpo 90 graus para a direita, ficando de frente para o Norte; trace o círculo começando do EXATO ponto onde parou no oeste e continue até o norte.
De frente para o NORTE, repita o traçado do quarto pentagrama, seguindo as mesmas instruções de respiração do primeiro pentagrama.
Imagine o símbolo do ELEMENTO TERRA dentro do pentagrama.

Novamente, gire o corpo 90 graus para a direita, ficando de frente para o Leste, onde você começou o exercício; trace o círculo começando do EXATO ponto onde parou no norte e continue até o exato ponto onde você começou a traçar o círculo.

Agora vem o exercício de imaginação e vontade: esta estrutura precisa ser mantida na sua imaginação com o máximo de detalhes possível: luz, o brilho azulado influenciando no físico, imaginar as paredes do local iluminadas fracamente por esta luz, os quatro pentagramas flutuando no espaço, ao redor dos 4 pontos cardeais no círculo e o próprio círculo luminoso contínuo.
Depois do exercício, você pode fazer o que quiser na sala, mas tente manter esta construção mental pelo maior tempo que conseguir. Se estiver fora do quarto, imagine a estrutura montada dentro dele; quando voltar, enxergue o conjunto. Se estiver em outro lugar e imaginar sua sala de estudos, imagine a estrutura dentro dela.

Mas tio Marcelo, isso é alguma forma de círculo de proteção?
Talvez… por enquanto é apenas um exercício de concentração e imaginação. Nada mais. e não esqueça de fazer os outros exercícios que eu passei nas colunas anteriores, em especial o da Vela e dos Chakras.

#Kabbalah

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/hermes-metais-ervas-e-pentagramas

Cristo Crucificado

(*) check out the english translation for this article on my blog

Um conto para se refletir durante esta época de festas…

Você que andou por esse mundo de homens quando os homens eram pouco mais do que feras bestiais, você que veio de longe, de onde mesmo a luz demora a viajar, você que esteve no reino iluminado, na morada da paz duradoura, e ainda assim decidiu retornar… Por nós!

Você que esteve presente na fundação da primeira tribo, e também da primeira civilização. Você que tem sido amigo dos homens há tantas e tantas eras. Você que tem cuidado para que o nosso fogo não se apague com os ventos gélidos das noites obscuras. Você, nosso amigo, e amigo do sol. Você é o que há de mais precioso em nossa existência e, ainda assim, é tão somente mais um de nós…

Não Deus, mas apenas mais um da raça dos deuses. Não Deus, mas apenas mais um da raça dos homens. Não Deus, mas apenas mais um ser que veio de algum lugar do infinito, e agora voa junto aos anjos do firmamento.

Nós o caçamos quando o avistamos no céu. Nós o arpoamos e o trouxemos para baixo, para o mesmo nível de pensamento, para o nosso fétido pântano de desejos desenfreados. Nós arrancamos suas asas e o fizemos gritar em agonia, e o que você nos ofereceu? A outra face!

Não obstante, você nasceu novamente homem, você cresceu novamente homem, você viveu uma vida de homem. Você correu entre as ovelhas do mundo como um jovem pastor que algum louco avistara dentre as colinas no final da tarde. Você se ajoelhou perante os grandes sábios do oriente e lhes disse: “ensinem-me”, mas eles lhe responderam: “não, ensina-nos tu, ó mensageiro!”

Não profeta, mas apenas alguém que já vira esta orbe girar por muitas eras. Não messias, mas apenas alguém que agora vai onde quer no Cosmos. Não mágico, mas apenas alguém que nos faz relembrar o amor. Não curandeiro, mas apenas alguém que nos faz reencontrar a saúde de nossa própria alma. Enfim, não Rei, mas Imperador do espírito.

Não obstante, nós cuspimos em sua mensagem de luz. Nós o açoitamos e lhes dissemos para ir-se embora daqui. E para nos certificarmos de que estava errado em sua vã esperança de uma era de amor, nós deixamos que o próprio povo, o seu querido povo, escolhe-se entre tu, ó cordeiro que sangra, e Barrabás, aquele imundo assassino, incitador de rebeliões e matanças. E eles não te escolheram, eles te deixaram sangrar até o fim…

Nós, os imperadores da terra, os conquistadores de reinos, a turba do Coliseu, o crucificamos e o banimos de nossas vidas. A tua esquerda deixamos um ladrão, e a tua direito ainda outro, e só deixamos que algumas mulheres te dessem adeus, por que todos sabemos o quanto choramingava na cruz. Você ainda teve a coragem de pedir perdão ao Cosmos, dizendo que não sabíamos o que estávamos a fazer. Mas todos sabíamos, sabíamos exatamente o que era realizado naquele dia!

Mas esse foi apenas o início de nossa vingança. Depois, ainda conseguimos erguer uma gloriosa Igreja de Eleitos sobre os corpos esquartejados de cada um de seus amados discípulos. Eles pregavam sua mensagem de que o Reino de Deus nos abarcava por todo lugar, dentre galhos partidos e debaixo de pequenas pedras ao longo das estradas… E nós lhes dissemos que não: “Todas as estradas levam a Roma, e somente a Igreja de Roma poderá lhes salvar da danação eterna!”

Você veio nos dizer que a existência era uma festa armada pelo Cosmos, e que tudo que havíamos de buscar era o amor. Mas nós lhes dissemos que todo ser nasce um pecador, que algum ancestral obscuro havia comido uma maçã podre em algum bosque fabuloso, e que por isso te crucificamos: para que pagasse o pecado sombrio de todos nós, de toda a humanidade!

E houve dia que nossa Igreja controlou os pensamentos de metade da humanidade. Nós que te crucificamos e que aplaudíamos enquanto sangrava, gota a gota, fizemos de seu momento de maior agonia, de seu calvário, nossa maior imagem de glória. Na entrada de cada um de nossos Templos de Ouro, erguidos em meio à pobreza e miserabilidade dos homens, mostramos o Cristo Crucificado em toda a sua grandeza…

Não obstante, você até hoje jaz crucificado, e até hoje lhe esquecem e clamam em turba: “Salvem Barrabás!”

Então eu lhe pergunto, meu amigo: quando finalmente sairá dessa cruz? Quando finalmente se instaurará um reino de vida, e não mais de morte, nesta terra? Quando finalmente irás ressuscitar dentre os mortos, para que tragas junto contigo todos aqueles discípulos de outrora, e todos os teus amigos que tem te amado nas orações noturnas, e salvo teus ensinamentos em pinceladas ocultas e vasos enterrados nos desertos?

Quando irá retirar os três pregos hediondos desta cruz monumental, e virá nos consolar novamente? Ou será que somos nós que precisaremos subir até sua cruz, para te libertar, e lhe trazer definitivamente para dentro de nosso coração?

Ainda existe luz aqui embaixo, ainda há luz em todo lugar… Tu venceste a noite de todas as almas… Apenas tu, ó invicto!

Por Rafael Arrais (2011)

#Espiritualidade #Cristianismo #Gnosticismo #Contos #Jesus

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/cristo-crucificado

Alice traduzida por Monteiro Lobato

As Edições Textos para Reflexão trazem o seu livro digital mais elaborado (com mais de 50 imagens) para ilustrar o clássico que refundou a literatura infantil e juvenil – Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll, com tradução de Monteiro Lobato e arte de John Tenniel e Arthur Rackham.

“Com este conto surreal e fantástico, muitas vezes sem sentido algum, noutras vezes carregado de sentido oculto e profundo, Carroll revolucionou para sempre a literatura.”

Um ebook já disponível para o Amazon Kindle e o Saraiva Lev:

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Abaixo, segue o Prefácio de Monteiro Lobato, tradutor da obra:

Muitos anos atrás um professor de matemática de Oxford, Lewis Carroll, muito amigo das crianças, fez um passeio de bote pelo rio Tâmisa com três menininhas. Para diverti-las, foi inventando uma história de que elas gostaram muito.

Chegando em casa teve a ideia de escrever essa história – e assim nasceu para a biblioteca infantil universal mais uma obra prima – Alice in Wonderland (Alice no País das Maravilhas).

O livro ficou famoso entre os povos da língua inglesa. Foi traduzido por toda a parte. Seu autor imortalizou-se.

Hoje aparece em português. Traduzir é sempre difícil. Traduzir uma obra como a de Lewis Carroll, mais que difícil, é dificílimo. Trata-se do sonho de uma menina travessa – sonho em inglês, de coisas inglesas, com palavras, referências, citações, alusões, versos, humorismo, trocadilhos, tudo inglês –, isto é, especial, feito exclusivamente para a mentalidade dos inglesinhos.

O tradutor fez o que pôde, mas pede aos pequenos leitores que não julguem o original pelo arremedo. Vai de diferença a diferença das duas línguas e a diferença das duas mentalidades, a inglesa e a brasileira.

Há alguns anos o original manuscrito de Alice in Wonderland, do próprio punho do autor, apareceu num leilão de livros velhos em Londres. Vários pretendentes o disputaram, entre eles o British Museum, que havia destinado uma verba de 12.500 libras esterlinas para a sua aquisição. Essa verba foi insuficiente. Um americano apareceu e fez um lance maior, adquirindo o manuscrito pela quantia de 15.400 libras, ou 75.259 dólares, moeda do seu país. Qualquer coisa como mil e tantos contos, ao câmbio de hoje [Nota do Editor: há que se considerar que isso se deu nos anos 1930]. Isto mostra o alto grau de apreço no qual em certos países é tido o trabalho literário.

As crianças brasileiras vão ler a história de Alice por conta do pedido de Narizinho [a famosa personagem de Monteiro Lobato]. Tanto insistiu esta menina em vê-la em português (Narizinho ainda não sabe inglês), que não houve remédio; apesar de ser, como dissemos, uma obra intraduzível.

– “Serve assim mesmo” – disse ela ao ler a minha tradução – “Dá uma ideia, embora muito pálida, como diz Emília”…

Monteiro Lobato, em torno de 1931.

#eBooks #Kindle #MonteiroLobato

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/alice-traduzida-por-monteiro-lobato

Como Eu Aprendi Cabala

Por Ted Andrews

Eu sempre fui um leitor voraz. Durante a maior parte da minha infância, a biblioteca local tinha um limite no número de livros que você podia conferir a qualquer momento, e você tinha que devolvê-los dentro de duas semanas. Eu sempre verificava o limite e sempre os fazia ler dentro de três a quatro dias. Um dos meus momentos mais felizes foi quando a biblioteca me deu permissão especial para checar mais livros do que eles normalmente permitiam. Em uma dessas ocasiões, li um livro de contos e nele estava o conto de um grupo de homens. Estes homens usaram algo chamado Cabala para criar um monstro chamado Golem para se salvar dos nazistas.

Desde aquela época a Cabala (independentemente de sua grafia: Qabala, Cabala, Kabala, etc.) sempre teve um grande fascínio para mim. A palavra ressoava com uma parte de mim de uma forma misteriosa e assombrosa. Cresci em uma época em que os escritos metafísicos (fora de um contexto religioso tradicional) não estavam prontamente disponíveis. Sempre pude encontrar alguns sobre astrologia e yoga. Embora a ioga não me atraísse, fui capaz de ensinar a mim mesmo como erguer uma carta astrológica enquanto estava no ensino médio, incluindo como fazer as contas necessárias (isto foi muito antes de os computadores tirarem todo o trabalho tedioso).

Depois encontrei uma livraria no centro da cidade que começou a carregar livros esotéricos (como eram chamados naquela época). Eles estavam presos no canto mais distante, longe de tudo “normal”. Era uma miscelânea de literatura que não se enquadrava em nenhuma outra categoria. Foi aqui que eu sempre procurei mais informações sobre o reino místico e psíquico, especialmente sobre aquela coisa estranha chamada Cabala. Eu comprava qualquer livro que se assemelhasse a ele em seu título ou entre suas capas.

Naquela época, a maioria das informações sobre Cabala era tão vaga ou esotérica que nenhuma pessoa comum podia entendê-la ou supunha que você já tinha um conhecimento prático sobre ela. E certamente não havia nenhum professor por perto. Não seria até meu primeiro ano de faculdade que eu começaria a explorar seu significado e a experimentar maneiras de incorporá-lo em minhas próprias meditações e desenvolvimento psíquico.

Um sonho que muda a vida:

Foi então que surgiu o sonho. Este sonho se tornaria a chave para verdadeiramente compreender e aplicar a magia do Cabala na vida cotidiana. Este sonho me ajudou a perceber que as coisas mais poderosas do mundo são muitas vezes as mais simples. Parte deste sonho tornou-se a história introdutória encontrada no que seria meu primeiro livro, Simplified Magic: A Beginner’s Guide to the New Age Cabala (Magia Simplificada: Guia para Principiantes na Nova Era da Cabala), ou como é intitulado em sua mais nova edição, Simplified Cabala Magic (Magia Simplificada da Cabala). Através deste sonho, descobri que a Cabala não precisava ser tão complicada quanto muitos a tornaram.

Acabaria por descobrir na Cabala um sistema prático para despertar as qualidades necessárias para acelerar o crescimento espiritual. Descobri um sistema de desdobramento espiritual e mágico que é seguro e prático. Encontrei um sistema que permite a exploração de nosso potencial mais elevado e abre novas dimensões sem nos sobrecarregar no processo.

Seja desenvolvendo habilidades psíquicas, percorrendo um caminho de cura, explorando dimensões espirituais, conectando-se com totens e a Natureza, ou comunicando-se com anjos, o antigo e místico Cabala é um mapa que nos permite realizar estes esforços de forma mais segura e mais poderosa. Ele também nos permite enfrentar nossas maiores fraquezas.

Estudos Espirituais e a Cabala:

O objetivo dos estudos espirituais não é ganhar poder psíquico, mas desenvolver a capacidade de olhar além das limitações, de aprender as possibilidades criativas que existem dentro das limitações, ao mesmo tempo em que as transcende. O propósito dos estudos espirituais é nos ajudar a redescobrir a maravilha, o espanto e o poder do divino e aprender como esse poder se revela e se reflete dentro de cada um de nós.

A antiga Cabala é um guia intemporal que nos permite olhar para dentro de nós mesmos para nossas respostas – para nossa magia e nossos milagres. Não encontramos essas respostas nos livros ou nos professores – embora elas sirvam a seus propósitos – mas no poço da verdade que está dentro de nós. A Cabala nos ensina que o caminho espiritual não é um caminho que leva a alguma luz divina na qual todos os nossos problemas são dissolvidos. Ao contrário, ela nos ensina como despertar a luz interior para que a possamos irradiar para fora de nós.

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Fonte: https://www.llewellyn.com/journal/article/495

COPYRIGHT (2003) Llewellyn Worldwide, Ltd. All rights reserved.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/cabala/como-eu-aprendi-cabala/

TRINTA E UM MILHÕES de Conspiradores!!!

Acabamos de chegar à marca de TRINTA E UM FUCKING MILHÕES de Pageviews neste blog… Nada mal para um blog de Hermetismo e Espiritualismo no país dos petistas versus bolsomínions. Como de costume, para quem gosta dos números ou estava procurando pelos links de tudo o que fazemos, ao todo, nesta caminhada desde 7/5/2008, foram exatos 3.616 posts publicados e 50.352 comentários.

Você deve ter percebido que no último mês voltamos à marca de pelo menos 2 ou 3 publicações diárias. Isso aconteceu graças ao retorno do Projeto Mayhem. Estamos reorganizando todas as postagens antigas do site, selecionando as melhores e organizando o conteúdo. Todos os dias olhamos os 2-3 posts mais antigos que sejam interessantes e os jogamos direto para a primeira página (e já os reviso e adiciono alguma imagem bacana), trazendo todos os dias novos posts clássicos do TdC. Isso me dá mais tempo para poder voltar a escrever posts sem o stress do “preciso algo pra postar hoje” e faz com que sempre tenhamos coisas novas pelo menos 2 vezes ao dia no site. Para quem nunca leu os posts, serão novidades; para quem já os leu, agora é hora de reler com olhos 7 anos mais experientes!

Além destes canais, temos o Facebook e até mesmo uma Conta no Instagram onde publico pequenas dicas de magia prática. Também gravamos 22 Videos com Entrevistas e bate-papo sobre Hermetismo.

Post sobre como tudo começou.

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Oito vezes ao ano realizamos os rituais de Roda do Ano em conjunto, onde ensinamos os membros a preparar suas ferramentas e instrumentos magickos.

A cada 3 meses, organizamos uma publicação com as melhores matérias, que os membros recebem em casa; além de instruções para realizar os rituais de Sabbat e consagrações junto com nosso grupo (cerca de 150 pessoas realizando os rituais ao mesmo tempo!) e de quebra ter descontos em todos os nossos financiamentos coletivos.

E temos agora um PODCAST onde falamos quinzenalmente sobre Magia, Hermetismo e Kabbalah.

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Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/trinta-e-um-milh%C3%B5es-de-conspiradores