Bibliografia sobre vampiros

Clássicos da literatura:

 

• Cid Vale Ferreira (org.). – Voivode, Estudos sobre o Vampirismo, da mitologias às sub-culturas urbanas. Ed. Via Lettera. 2002.
• Gomes Leal. O Estrangeiro Vampiro – Carta a el-rei D. Carlos I. Empresa Literaria Lisbonense Libanio & Cunha, 1897. [Romance reproduzido sem a longa introdução em “Voivode”].
• J. Sheridan Le Fanu. O Vampiro de Karnstein. Edições GRD. (Reeditado em “O Vampiro de Karnstein e Outras Histórias”, Círculo do Livro. Também: Sheridan Le Fanu. Carmilla. Tradução de Cascais Franco. Europa-América.)
• Bram Stoker. Drácula. Tradução de Theobaldo de Souza. L&PM editores. Pág. 295-30. [Essa é a melhor tradução “não esgotada” do mercado].
• Bram Stoker. O Monstro Branco. Global Ground. (Com introdução de Tony faivre).
• Vários autores. Histórias de Vampiros. Coleção Livro B n º 21. Estampa.
• Vários autores. Histórias de Vampiros. Hemus. (Não é o mesmo livro, apesar de ter o mesmo nome).
• Vários autores. Vampiros. Relatos cortos. Seleção de Victoria Robins. (Em espanhol)
• Conan Doyle. O Vampiro de Sussex. Ediouro.

História:

• Raymond T. McNally & Radu Florescu. Drácula: Mito ou Realidade? Livraria José Olympio Editora.
• Raymond T. McNally & Radu Florescu. Em Busca de Drácula e Outros Vampiros. Mercuryo.
• Valentine Penrose. A Condessa Sanguinária. Paz e Terra.

Antropologia:

• Gordon Melton. O Livro dos Vampiros – a Enciclopédia dos Mortos Vivos. Makron Books.
• Richard Francis Burton. Vikram e o Vampiro. Círculo do Livro. (Stoker conheceu o tradutor desse livro… Excelente curiosidade sobre vampirismo indiano…)
• Anônimo. Contos do Vampiro. Martins Fontes. (Versão de Somadeva de “Vikram e o Vampiro”)
• Nathan Wachtel. Deuses e Vampiros. Edusp. (Excelente estudo antropológico)

Ocultismo:

• Robert Amberlain. O Vampirismo. Bertrand. (Para leitores avançados)
• Migel Angel Nieto (ed.). Profecias, Lendas e Personagens Malditos. Coleção As Ciências Proibidas. Vol. 16. Edições Século Futuro.
• Colin Wilson. O Oculto. Francisco Alves.
• H. P. Blavatsky & Mario Roso de Luna. Paginas Ocultistas y Cuentos Macabros. Editorial Eyras. (Em espanhol).
• Helena Petrovna Blavatsk. Isis sem Véu. Ed. Pensamento. Livro II. Capítulo XII (principalmente as págs. 141 a 149). [Para ver mais um caso relevante à Teosofia consulte Dr. Franz Hartmann. An Authenticated Vampire Story. Reeditado por Leslie Shepard em The Dracula Book of Great Vampire Stories. JOVE]
• Aleister Crowley. De Arte Mágica. Madras. [Ou leia minha tradução revisada do capítulo em “Vampirismo Rosacruz”]
• Dion Fortune. Autodefesa Psíquica. Pensamento.
• Kenneth Grant. Renascer da Magia. Madras.
• Konstantinos. Vampiros, a Verdade Oculta. Editorial Estampa. (Tendencioso mas interessante… A parte sobre vampirismo de cemitério está coberta de erros)

Religião:

• Caio Fábio. Nephilim. Razão Cultural. [Romance evangélico… Fala de vampirismo…]
• J. Herculano Pires. Vampirismo. Paidéa. (Livro espírita)
• XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz. Ditado pelo Espírito André Luiz. 23. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1991. 347 p. (Série André Luiz, 4)

Romances:

• Todos das Crônicas Vampiriescas de Anne Rice.
• Whitley Strieber. Fome de Viver. Nova Cultural.
• F. Paul Wilson. O Fortim. Record. (Acreditem… Esse romance consegue meter medo…)
• Colin Wilson. Vampiros do Espaço. Francisco Alves. (Apesar de ser um romance, desenvolve a tese apresentada em “O Oculto”)
• Roderick Anscombe. A Vida Secreta de Laszlo, Conde Drácula. Editora Beste Seller.
• Martin Cruz Smith. Terrores da Noite. Círculo do Livro. (romance sobre Morcegos vampiros e deuses indígenas da morte)
• Stephen King. A Hora do Vampiro. Nova Cultural. [Romance… Muito bom]
• Carlos Queiros Teles. “A Marca da Serpente” em Sete Faces do Terror. Editora Moderna. (Conto)
• Antonio Carlos de Mello. A Metáfora de Drácula. Livraria José Olympio Editora. (Conto)
• Flávia Muniz. Os Noturnos. Editora Moderna. (Romance baseado no filme Garotos Perdidos)
• Tono Collins. Um Vampiro em Nova York. Nova Cultural. (romance. Quem gosta de Anne Rice vai adorar este aqui)

Variados:

• José Luiz Aidar & Márcia Maciel. O Que é Vampiro? Brasiliense.
• Ivan Cardoso & R. F. Lucchetti. Ivampirismo. O Cinema em Pânico. (Sobre cinema brasileiro).
• Jaques Bergier. O Livro do Inexplicável. Tradução de Francisco de Sousa. Hemus. [Ver ‘Quarta Parte: Fenômenos Fortianos’. Págs. 204 a 208]

Shirlei Massapust

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/bibliografia-sobre-vampiros/

E Se Lovecraft Estivesse Certo?

Quando pensamos em Howard Philips Lovecraft, não tem como não nos perguntarmos, mesmo que aparentemente não passe de uma brincadeira ou tolice, “E se Lovecraft estivesse certo?”

Para aqueles que ainda não o conhecem de maneira resumida podemos dizer que Howard Philips Lovecraft foi um dos maiores, se não o maior de acordo com alguns, escritores de horror e ficção da história. Agora a diferença entre ele e outros escritores de horror é que por inúmeros motivos algumas pessoas começaram a acreditar que o que ele escrevia era real. Para entender isso basta ter em mente que como grande parte dos gênios, Lovecraft não foi reconhecido em sua época, ele escrevia para revistas de horror e ficção, ganhava com isso o suficiente para ter uma vida extremamente simples e modesta – ou seja tinha um pouco de comida, e não dormia na rua. Na época, além dos fãs que conquistava com seus contos acabou atraindo vários escritores que se maravilhavam com os mundos e criaturas descritos por sua pena, esses escritores acabaram expandindo esse universo, emprestando personagens, lugares e até escrevendo em parceria, e então Lovecraft morre, e anos depois ele se torna cult e seus contos viram livros e ele ganha um universo de fãs, e um universo de seguidores.

Mas como dissemos muita gente acabou acreditando que aquilo que ele escrevia era real, que as criaturas que enlouqueciam, e voavam, e matavam – às vezes tudo ao mesmo tempo – de fato estavam à espreita. Apesar de Lovecraft por mais de uma vez desmentir que seus tomos malditos e lugares sombrios existissem em seus sonhos, criou-se muita especulação de até onde esses sonhos seriam “apenas sonhos”. E assim criou-se o Mito de Cthulhu ou simplesmente o Mito.

Várias pessoas ao longo dos anos começaram a questionar até onde a ficção escrita por aquele jovem acanhado e problemático da Nova Inglaterra não teria seus reflexos sombrios na nossa realidade, desde céticos cínicos como LaVey que dedicou parte de seu Rituais Satânicos ao Mito, deixando um texto sugestivo na como introdução intitulado Metafísica Lovecraftiana:

“Os Innsmouth e Arkhams de Lovecraft possuem suas contra partes em pequenas vilas praianas e áreas costeiras abandonadas ao redor do mundo, e para localizá-los não precisamos de nada além de nossos sentidos. Aonde houver pessoas onde a terra firme sede lugar a água completando a transição para os mares e oceanos com medo e desejo mesclados em seus corações a promessa de Cthulhu existe.”

Até magos mais “crentes” ao redor do mundo que tendem a ter uma visão mais ligada ao sobrenatural como nos mostra Stephen Sennitt em seu texto Co-Herdeiros do Caos.

“H. P. Lovecraft através de seus sonhos pode ter tido acesso ao universo paralelo que o permitiu relatar profecias a cerca da destruição do nosso mundo através de forças advindas do Caos. As perguntas a cerca das datas relacionadas a esse terror cósmico foram feitas desde sua morte em 1937.”

E isso nos deixa em um lugar interessante. Até hoje quando pensamos em fenômenos estranhos os ligamos mais às pessoas que os viram do que ao próprio fenômeno. Três crianças presenciam a aparição de Nossa Senhora e o que vem à mente não é a questão: “O que a mãe de Cristo fazia em Portugal, descalça, no meio do mato?” e sim: “Mas só as crianças viram? Tinha mais gente? Crianças tem imaginação fértil! Cada um vê o que quer, o meu tio quando está lelé conversa com o Chacrinha!” e por ai a fora. Parece que fenômenos estranhos são sempre relatados por pessoas que por mais confiáveis acabam se mostrando abaladas, ou então registrados de maneira sinistra como fotos borradas, bolinhas de luz num zoom extremo de uma câmera sem resolução, ou algo que parece um mecânico vestindo uma roupa de macaco andando no meio da floresta. E terminamos, ou a maioria de nós, com a coisa resolvida da seguinte maneira: “É ver pra crer! Não sei se existe, nunca vi um! Se isso acontecesse iriam ter mais fotos ou registros, é tudo coisa de nego chapado!”

Mas ai voltamos à questão: e se Lovecraft estivesse certo? ou pior ainda: e se aqueles que falam que aquilo que Lovecraft escrevia é real estivessem certos?

Bem, vamos dar uma rápida viagem para descobrir como seria um mundo assim, só por diversão, como seriam as manchetes de jornal local e os registros históricos para os seguintes casos:

– Yog-Sothoth – a.k.a. “Yog-Sothoth conhece o portal. Yog-Sothoth é o portal. Yog-Sothoth é a chave e o guardião do portal. Passado, presente, futuro, todos são um em Yog-Sothoth. Ele sabe onde os Antigos se libertaram no passado e sabe onde se libertarão de novo no futuro. Sabe por onde eles cruzaram a terra e sabe onde eles ainda vivem, e porque ninguém pode percebê-los quando as cruzam hoje” –  resolvesse dar as caras enquanto você leva sua filha para a escola de manhã:

Dia 9 de dezembro de 2009:

ESPIRAL MISTERIOSA NO CÉU NA NORUEGA

ESPIRAL DE LUZ NA NORUEGA DEIXA A POPULAÇÃO SURPREENDIDA: NÃO HÁ EXPLICAÇÃO OFICIAL

MYSTERY AS SPIRAL BLUE LIGHT DISPLAY HOVERS ABOVE NORWAY
(MISTÉRIO QUANDO UMA LUZ AZUL EM ESPIRAL FLUTUA SOBRE NORUEGA)

Uma misteriosa espiral de luz pairou nos céus da Noruega na noite de 9 de Setembro, deixando centenas de residentes no norte do país intrigados.

Segundo reportagem do Daily Mail, das cidades de Trøndelag a Finnmark, moradores disseram ter presenciado as estranhas luzes, que acreditam ser um meteoro ou um teste de foguetes russo.

O fenômeno começou quando uma luz azul surgiu de trás de uma montanha, parou no meio do ar e começou a girar. Em segundos, uma espiral gigante teria se formado e coberto o céu.

Então, um feixe azul-esverdeado de luz saiu de seu centro, durando entre dez e 12 minutos antes de desaparecer completamente. A reportagem afirma que, segundos após o incidentes, o Instituto Meteorológico da Noruega foi inundado de telefonemas – e que muitos astrônomos não acreditam que as luzes estejam ligadas às auroras, fenômenos comuns na região.

O Controle Aéreo de Tromsø alegou que o acontecimento durou apenas dois minutos, mas admitiu que foi muito tempo para ser um fenômeno astronômico.

Em entrevista à imprensa norueguesa, o pesquisador do Observatório Geofísico de Tromso Truls Lynne Hansen disse ter certeza de que a luz foi causada por um lançamento de míssil – que, provavelmente, teria perdido o controle e explodido.

O porta-voz da Defesa Norueguesa Jon Espen Lien teria dito que os militares do país não sabiam do que se tratava, mas que era provavelmente um míssil russo.

No entanto, ainda segundo o Daily Mail, a Rússia negou ter feito qualquer teste de mísseis na região.

videos:

video 1

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– Cthulhu – a.k.a. “Em sua morada em R’lyeh Cthulhu, morto, espera sonhando” “Não está morto aquele que pode eternamente jazer, embora, em estranhas eras, até a morte virá a morrer” – despertasse de sua soneca e tentasse, de novo, se libertar para tornar os seres humanos assim como os antigos, livres e selvagens, criaturas além do bem e do mal, se livrando de suas leis e morais, matando e exultantes de alegria:

Verão de 1997:

SOM SUBMARINO INTRIGA PESQUISADORES

Som submarino de frequência ultra-baixa extremamente poderosa detectado pelo National Oceanic and Atmospheric Administration várias vezes durante o verão de 1997. Sua origem continua sendo um mistério.

A localização de seu rastreamento foi de algo em torno de 50° S 100° W, a mesma localização dada por Lovecraft para a cidade submergida de R’lyeh.

Uma afirmação frequente é que ele corresponda ao perfil de áudio de uma criatura viva. Sendo que esta visão é defendida principalmente pelas pessoas da área da criptozoologia, não é popular entre os principais cientistas. Se o som veio de um animal, ele teria que ser várias vezes o tamanho do maior animal conhecido na Terra, a baleia-azul.

Há vários casos de sons desconhecidos registrados, assim o Bloop, como ficou conhecido, não é um fenômeno único.

Ouça o Bloop


– A cor que caiu do céu – a.k.a. “A cor indescritível e tóxica que veio do espaço, tornando a região que atingiu estéril e que enquanto não pode ser explicada por cientistas enlouquecia e matava a todos que entraram em contato com ela – realmente caísse do céu:

1947:

CIENTISTAS AINDA DEBATEM A NATUREZA DO EVENTO DE TUNGUSKA

2008:

QUEM OLHA ATUALMENTE PARA A PLANÍCIE DE TUNGUSKA ESTÁ LONGE DE IMAGINAR O QUE ALI SE PASSOU HÁ QUASE CEM ANOS.

O ano é 1908, e já são 7 horas da manhã. Um homem está sentado na varanda de uma agência dos correios em Vanara, na Sibéria. Ele não sabia, mas em poucos momentos ele seria atirado de sua cadeira e o calor que sentiria seria tão intenso que ele poderia jurar que suas roupas pegavam fogo. Ele estava sentado a 60km de distância do ponto de impacto. Hoje passados cem anos do acontecido, cientistas ainda debatem o ocorrido.

Quem olha atualmente para a planície de Tunguska, na Rússia, está longe de imaginar o que ali se passou há quase cem anos. No dia 30 de Junho de 1908 uma explosão de uma intensidade tremenda abalou a terra. Na época o fenómeno passou quase despercebido internacionalmente, talvez devido ao isolamento da região, situada em pleno coração da Sibéria. É provável que tenham sido feitas explorações no local mas a turbulência dos anos que se seguiram (a 1ª Guerra Mundial e a Revolução Russa, seguida de uma guerra civil) deve ter apagado todo e qualquer registo do acontecimento. Foi preciso esperar por 1920 para que uma expedição científica consistente fosse enviada a Tunguska, liderada pelo mineralogista russo Leonid Kulik. É a ele que devemos grande parte do conhecimento acerca deste fenómeno, ainda que nebuloso, de que dispomos atualmente.

A primeira expedição teve início em 1921 e, durante mais de uma década, outras se lhe seguiram. Kulik ouviu e registou os relatos dos habitantes da região. Referiam ter observado um rasto luminoso azul a cruzar o céu, um flash muito brilhante, um ruído de trovão e ondas de choque que abalaram a terra e partiram vidros. Durante as várias noites que se seguiram o céu brilhou e cintilou. Os testemunhos não coincidiam nem na sequência nem na duração dos acontecimentos.

Kulik tentou também delimitar toda a zona onde ocorreu o fenómeno, denunciada pela destruição de cerca de 80 milhões de árvores num raio de 50 Km tombadas radialmente a partir de um ponto central, de onde parecia provir a força que as deitou abaixo. Uma observação aérea revelou que possuía a forma de uma borboleta e que correspondia a uma área de 215 000 hectares literalmente arrasada. No entanto, não foi encontrado um único vestígio de uma cratera.

As observações feitas levaram Kulik a propor a teoria que permanece, ainda hoje, a mais consistente, pese embora as inúmeras especulações que têm surgido: a explosão de um meteorito ou de um asteróide a poucos quilómetros do solo. Imagens captadas recentemente dão conta de uma região que ainda não recuperou o seu aspecto normal mas as fotografias feitas pelas expedições de Kulik foram o único testemunho de um ambiente devastado e insólito como nunca até então se tinha visto no planeta.

Assista o documentário

– Durante os festivais pagãos sons cósmicos inundassem a terra ensurdecendo pessoas, enlouquecendo-as e fazendo-as participar de rituais para se comunicarem com os antigos em sonhos e alucinações, como os percebidos por Walter Gilman no conto: Sonhos na Casa da Bruxa.

Maio de 2009:

VOCÊ JÁ OUVIU O ‘HUM’?

Por décadas, centenas de pessoas ao redor do mundo tem sido vítimas de um zumbido elusivo conhecido como o ‘Hum’. Algumas delas culpam os encanamentos da linha de gás ou de energia, outros acham que tem problemas auditivos. Algumas outras ainda acham que isso é o resultado de forças sinistras em ação.

“É como uma tortura, às vezes você tem vontade de gritar”, afirma Katie Jacques, uma das pessoas atormentadas pelo Hum.

O elemento essencial que define o Hum é ser um som persistente, de baixa frequência, ouvido tanto dentro de prédios e casa quanto nas ruas e ao ar livre. Muitos dizem que sentem também vibrações que o acompanham e podem ser sentidas por todo o corpo. Equipamentos de proteção como plugs auriculares são inúteis para fazer o som sumir. O Hum é percebido com maior frequência e maior intensidade à noite. Além do fato de não poder ser ouvido por qualquer pessoa.

Os Hums já foram registrados em várias localidades ao redor do mundo e para completar não podem ser sempre gravados. E não se tem certeza de sua origem ou localização exatas.

Foi durante a década de 1990 que o fenômeno Hum começou a ser reportado nos Estados Unidos e se tornou conhecido do grande público, mas o mesmo fenômeno já havia sido registrado nas décadas de 1980 e 1970. Não se sabe até hoje se o Hum registrado nas décadas de 70 e 80 é o mesmo fenômeno do da década de 1990, mas no início desde século, durante a última década, o hum passou a ser registrado também em outros locais, como o Havai (que apesar de ser território americano está muito distante do continente), Canadá, Europa, Austrália e outras regiões do mundo.

Criaram-se muitas teorias sobre a sua origem, desde uma origem no próprio sistema nervoso da pessoa que o ouve, a um efeito acústico causado pelo formato das orelhas de algumas pessoas até ondas do oceano. Mas não existe ainda uma explicação final sobre o assunto.

Katie Jacques também diz que ela não tem mais um momento de paz e silêncio, e que dormir se tornou impossível.

“É pior à noite. Você não consegue se desligar do som, e eu fico ouvindo-o, como um som de fundo que não termina e não desliga, e eu não consigo dormir e fico me virando na cama, e quanto mais eu ouço, mais agitada eu fico.”

As pessoas que a visitam não escutam nada, mas para ela o som é constante, presente e agonizante:

“Ele tem um ritmo, fica mais alto e mais baixo. Quase se parece com um carro movido a dísel, que você ouve à distância, e dá vontade de ir lá pedir para a pessoa desligar o motor, mas isso não é possível”.

Katie fez inúmeros testes médicos e constatou que seu sistema auditivo está perfeito não sofre de nenhum mal que explique o ruído, como tinnitus, um som produzido pelo próprio organismo que segue a pessoa onde quer que ela vá. Assim como ocorre com outras vítimas do hum, katie apenas ouve o zumbido em um lugar específico, no caso dela a própria casa.

Apesar de morar no mesmo local por mais de 50 anos o hum só se manifestou recentemente, nos últimos 30 meses.

Ouça aqui uma simulação do Hum tornado auditível.


– Os Grandes Antigos – a.k.a. seres extraterrenos muito (MUITO) antigos, imbuídos de poderes e tamanho descomunais, adorados por cultos humanos dementes, além de por outras raças extra terrenas antigas. Foram aprisionados por seus inimigos, os Veneráveis antigos, alguns debaixo do mar, outros no interior da terra e outros em sistemas planetários distantes, além de muitos se encontrarem não nos espaços conhecidos, mas na região entre os espaços. – começassem a sinalizar para alguns de seus adoradores que pretendem retornar.

Agosto de 1977:

SINAL VINDO DO ESPAÇO SURPREENDE PESQUISADORES DO SETI.

Na noite de 15 de agosto de 1977 o astronômo Jerry Ehman, da Universidade de Ohio observava a saída dos dados que informavam a potência e a duração dos sinais recebidos pelo radiotelescópio Big Ear.

A maior parte dos sinais já eram de conhecidos objetos celestes naturais que produzem sinais de rádio como galáxias e satélites mas então repentinamente um pequeno sinal começou a crescer até atingir seu máximo e então decrescer e sumir. No total o sinal teve um tempo de duração de 72 segundos, mas o mais surpreendente era sua intensidade, era tão forte que o a agulha extrapolou os limites o papel de registro.

Completamente atônito, sem muito tempo para pensar em descrições cientificamente precisas, Ehman escreveu ao lado do código que representava, na impressão feita pelo computador, a intensidade do sinal:

“WOW !”

A imagem da impressão original, a região circulada indica o sinal “WOW”:

(os números são códigos que indicam a intensidade e outras características do sinal )

A radiação provinha da direção de Sagitário, e de uma faixa de freqüência em torno de 1.42 Giga Hertz (parte da conhecida como a “janela da água” em radioastronomia). Esta freqüência é exclusiva a radioastronomia, acordos internacionais não permitem que transmissões terrestres sejam feitas nesta frequência

A estrela mais próxima nessa direção está a uns 220 anos luz, assim se o sinal provinha dali, deve ter sido um acontecimento astronômico de enorme potência e jamais identificado pela ciência.

Mas uma caracteristica intrigante do sinal Wow o torna especialmente interessante: a maneira como este cresceu e diminui de intensidade ao longo dos 72 segundos.

E por que isto é interessante?

Pq a pesquisa do céu pela Universidade de Ohio manteve o telescópio fixo, deixando à rotação diária da terra a função de pesquisar os céus através do feixe estreito do telescópio. O “feixe”, claro, seria o alongado caminho do céu para o qual o telescópio seria sensivel – a direcção da qual o telescópio poderia receber sinais cósmicos. A sensibilidade era maior no centro do feixe, diminuindo para cada um dos lados. Assim, sempre que uma fonte de radio celestial passava, aumentava em aparência quando a rotação da Terra trazia essa fonte para o centro do feixe, chegava a um pico no centro, e depois diminuia gradualmente até desaparecer. Dado o tamanho do feixe deste telescópio a subida e diminuição do feixe deveria demorar 72 segundos.

E para o sinal Wow, demorou.

Agora contraste isto com aquilo que seria de esperar se o telescópio tivesse sido meramente inundado por um sinal interferente terrestre. A intensidade iria rapidamente ter valor máximo e passado algum tempo apenas se desligaria. Mesmo que a interferência fosse devido a um satélite terrestre, uma fonte que iria subir e descer gradualmente de intensidade, não seria de esperar que durasse precisamente 72 segundos.

Outra possibilidade é a de que alguém interessado em “entusiasmar” ou “enganar” os cientistas do Big Ear, forjando transmissões clandestinas na faixa da “janela d’agua”.

O grande problema com esta hipótese é a característica do sinal.

Como explicado acima uma antena de radiotelescópio possui um feixe de recepção que mais ou menos estreito conforme o diâmetro da antena. Assim a antena do radiotelscópio de Big Ear possui um “cone” de recepção de 8 minutos de arco ( 1 minuto de arco = 1/60 de grau , a lua cheia compreende ½ grau ou 30 minutos de arco no céu ), isto representa que o Big Ear capta sinais de uma área muito estreita do céu.

A sensibilidade deste cone de recepção aumenta conforme o sinal de rádio aproxima-se do centro do cone. Assim para uma fonte que esteja provindo do céu esteja fixa ( uma estrela por exemplo ) espera-se que o sinal comece fraco ao atingir a “borda” do cone a aumente sua potência ao centro, diminuindo sua força ao se aproximar da outra “borda” do feixe de recepção. Outro ponto a ser levado em conta é que a antena permanece fia apontada em uma direção do céu esperando que o movimento da Terra faça com que as fontes de rádio celestes ( estrelas, galáxias, etc ) passem na frente do feixe da antena.

O sinal WOW apresentou este “crescimento, potência máxima e diminuição” do sinal e além disso atravessou o feixe dentro do tempo estimado para que uma fonte fixa cruzasse o feixe devido ao movimento da Terra.

Assim ao que tudo indica o sinal realmente proveio de uma fonte fixa no céu.

O que é levantado ( pelo próprio observatório ) como hipótese alternativa a origem do sinal é que um sinal de rádio emitido na Terra coincidentemente refletiu na carcaça de algum satélite geoestacionário e foi captado pelo radiotelescópio. O problema é que nenhum satélite geoestacionário encontrava-se naquela posição do céu naquele momento.

Por estas razões, o sinal Wow é um forte e credível sinal candidato SETI já que ela definitivamente veio do céu e não de interferências terrestres.

Além do sinal WOW, até hoje foram captados 37 sinais que não foram explicados.

– Tsathoggua – a.k.a. “O ser que se assemelha a um Deus, mas achatado com um enorme ventre inchado e uma cabeça monstruosa que lembra mais um sapo do que um Deus, com o corpo todo coberto com uma imitação de pêlos curtos, dando uma sensação vaga de se parecer tanto com um morcego quanto com um bicho-preguiça. Ele permanece em sua caverna, e não sai dali nem quando afligido pela fome, mas aguarda em sua preguiça divina pelo sacrifício” – ou Atlach-Nacha – a.k.a. “A aranha gigante com cabeça humana, que vive em uma caverna profunda, onde tece uma enorme teia que une as Terras dos Sonhos e o mundo desperto, e que quando estiver terminada trará o fim ao nosso mundo” – resolverem sair de seu planeta Cykranos, conhecido por nós como Saturno, e vir dar um rolê pela terra, através de seus portais de geometria não euclidiana.

10 de Dezembro de 2009:

SONDA CASSINI CAPTA FIGURAS GEOMÉTRICAS EM HEXÁGONO DE SATURNO

A sonda Cassini da Nasa e da Agência Espacial Europeia (ESA) captou imagens de círculos concêntricos e outras formas geométricas que não tinham sido detectadas até agora no polo norte de Saturno, informou hoje o Laboratório de Propulsão a Jato (JPL, na sigla em inglês).

As figuras estão em um misterioso formato hexagonal no polo norte desse planeta e foram descobertas pela sonda Voyager da Nasa há 30 anos.

“Trata-se de uma das coisas mais estranhas que já vimos em todo o sistema solar”, indicou Kevin Baines, cientista em temas atmosféricos de JPL.

As imagens do hexágono, criado pelos feixes de luz que surgem do polo, revelam círculos concêntricos e outras formas geométricas que ainda não tinham sido detectadas.

O hexágono onde estão localizadas as figuras fica no polo norte de Saturno, a 77 graus de latitude, e seu diâmetro seria duas vezes o da Terra.

Acredita-se que os jatos que dão forma se deslocam cem metros por segundo.

“A longevidade do hexágono o transforma em algo especial, como as estranhas condições meteorológicas que dão origem à Grande Mancha Vermelha descoberta em Júpiter”, disse Kunio Sayanagi, cientista de Cassini no Instituto Tecnológico da Califórnia.

As câmeras de luz visível da sonda, que têm maior resolução que as registradas pela Voyager, registraram as imagens do hexágono em janeiro, quando o planeta chegava a seu equinócio.

Os cientistas do JPL combinaram 55 imagens para criar um mosaico.

Os cientistas querem descobrir agora o que provoca a formação do hexágono, de onde surge sua energia e por que se manteve durante tanto tempo.

– Sarcófagos – a.k.a. Criaturas carnívoras horrendas, com olhos vermelhos, que andam sobre duas patas, cobertas de pêlos, maiores do que um homem com uma aparência meio canina meio humanóide – saíssem dos subterrâneos para passear nas cidades de noite.

13 de fevereiro de 2009:

JOVEM DO RS AFIRMA TER SIDO ATACADA POR “LOBISOMEM”

Segundo descrição da vítima, criatura era parecida com cachorro grande. Polícia procura suspeito que teria usado fantasia para atacar mulher.

Moradores de São Sepé (RS) têm um motivo a mais para temer esta sexta-feira (13). Além do azar e dos estranhos acontecimentos atribuídos ao dia, um ‘lobisomem’ estaria à solta. Uma das possíveis vítimas, de 20 anos, registrou ocorrência na delegacia.

Segundo a Polícia Civil, Kelly Martins Becker afirma ter sido atacada, na noite de 28 de janeiro, por um bicho parecido com um cachorro grande, que ficava apoiado nas patas traseiras e andava como se fosse um homem. Ela chegou a fazer um rascunho para descrever a criatura.

De acordo com a ocorrência registrada, o agressor teria arranhado o rosto e os braços da vítima. A polícia informou que Kelly foi submetida a um exame de corpo de delito, no qual foram constatadas as escoriações.

A polícia afirma que irá investigar se alguém está usando uma fantasia de lobisomem para assustar a população. Nenhum suspeito foi detido até a manhã desta sexta-feira.

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Vítima de ‘lobisomem’ fez desenho do agressor (Foto: Lauro Alves/Diário de Sta. Maria/Ag. RBS)

Outros casos semelhantes ao de São Sepé foram registrados. Na zona rural de Tauá (CE), moradores procuraram a polícia em julho de 2008, assustados com aparições de um indivíduo “meio homem e meio lobo”, que estaria furtando ovelhas e arrombando residências.

Moradores da zona rural de Tauá (CE) estão assustados com a ação de um ‘lobisomem’ que está furtando ovelhas e arrombando residências na região. Dois casos foram registrados pela Polícia Civil da cidade na quarta-feira (9).

Apesar de ser lua nova na segunda-feira (7), uma mulher afirmou à polícia ter visto um indivíduo “meio homem e meio lobo”. Na terça-feira (8), um garoto de 12 anos também disse aos policiais que viu uma figura semelhante perto de sua casa.

Ambos os relatos indicam que a figura é “muito feia e exala cheiro de enxofre”. “Acredito que se trata de uma pessoa que usa uma máscara de lobisomem para assustar os moradores da região, que acreditam muito em folclore. São pessoas inocentes e ingênuas”, disse Marcos Sandro Lira, delegado regional de Tauá.

Ele confirmou ter registrado dois boletins de ocorrência sobre o caso. “Estamos investigando um possível grupo que está agindo dessa maneira para cometer crimes, mas nada que seja sobrenatural”, disse Lira.

Pastor distribui crucifixo para afugentar homem misterioso (Foto: Duda Pinto/Zero Hora/Ag. RBS)

Na época, a Polícia Civil investigou o caso, suspeitando de uma quadrilha que estaria usando fantasias para assustar os moradores e cometer crimes. O caso, apelidado de “o mistério da meia-noite”, passou a ser tratado com humor na cidade.

– Se “aquilo” que inspirou Abdul al Hazred – a.k.a. “o poeta árabe louco” – a escrever o Necronomicon – a.k.a. “o tomo maldito Al Azif, o som noturno dos gritos de demônios e zumbidos de insetos do deserto” – decidisse procurar outros escritores para ditar suas histórias:

no século XIII:

“As areias que cantam, às vezes enchem o ar com o som de todo tipo de instrumentos musicais, e também com o som de tambores e com a marcha de exércitos”

Marco Polo, que deixou o registro acima, assim como muitos viajantes junto com ele, registraram que os sons do deserto eram malignos e causados por espíritos cruéis e impuros. Esses espíritos criavam músicas mas também sons de berros, gritos de ajuda, que tentavam desviar nômades de seu caminho, e enchiam a noite de zumbidos e chiados que podiam durar mais de 15 minutos e eram ouvidos a mais de 10 quilómetros de distância.

Ouça o cantar e o zumbir dos demônios do deserto

– Se as anotações de Herbert West – a.k.a. “Reanimator, o brilhante, narcisista e obcecado cientista, cuja arrogância e falta de respeito pela vida (e pela morte) o levam a desenvolver uma solução especial, o “reagente” que pode trazer os mortos de volta para a vida” – caíssem nas mãos de outros cientistas:

Março de 1934:

CIÊNCIA: LAZARO, MORTO E VIVO

Robert E. Cornish foi uma criança prodígio, se graduando na Universidade da Califórnia com honras com a idade de dezoito anos, com vinte e dois anos recebeu seu doutorado. Em 1932 ele se interessou na idéia de que poderia devolver a vida aos mortos. Para isso desenvolveu um equipamento que bombeava sangue de volta no corpo daqueles que tivessem morrido recentemente, em 1933 ele tentou ressuscitar vítimas de ataques cardíacos, afogamento e eletrocussão com seu equipamento, mas não obteve nenhum sucesso. Cornish decidiu então aperfeiçoar seu método com animais e em 1934 e 1935 conseguiu trazer de volta da morte dois cachorros, batizados de Lázaro II e Lázaro III. Ele ligou os corpos em sua máquina, fazendo sangue circular pelo corpo enquanto injetava uma solução de epinefrina (adrenalina) e anti-coagulantes.

Em 1934 a revista LIFE fez uma matéria a respeito de suas experiências, nela o repórter descreve como o pequeno fox terrier, asfixiado até a morte, foi ligado na máquina do Dr. Cornish, em um laboratório do Campus da Universidade da Califórnia. Depois de seis minutos morto foi injetavo com uma solução salina saturada de oxigênio, adrenalina, heparina e um pouco de sangue canino sem nenhuma fibrina (a substância coagulante). O cão recebeu respiração artificial. Depois de alguns minutos as máquinas registraram uma pulsação fraca, as pernas do animal tiveram pequenas convulsões e o coração voltou a bater sozinho. Sua respiração a início fraca e hesitante se estabilizou. Lazaro II estava vivo.

Por oito horas e 13 minutos o cachorro permaneceu em um coma, gemendo e ganindo, como se estivesse sofrendo de pesadelos. Ansioso em acelerar a recuperação do animal o Dr. Cornish administrou uma solução com glicose. Um coagulo sanguíneo se formou e Lazaro II morreu novamente, desta vez de maneira definitiva.

O Dr. Cornish então selecionou outro animal, o matou e o ressuscitou da mesmo forma, mas desta vez não administrou a glicose, o animal acabou morrendo depois de cinco horas. “Se o segundo animal tivesse permanecido morto por apenas dois minutos ao invés de oito, eu acredito que ele conseguiria se recuperar. Nós tentaremos novos experimentos nos próximos dias.”

Alguns meses depois Cornish foi notícia dos jornais, quando os cães Lázaro IV e Lázaro V foram de fato trazidos de volta à vida. O cão Lázaro IV aprendeu a se arrastar, latir, sentar e consumia quase um quilo de carne por dia. O cachorro ficou cego depois de voltar da morte, e não consegue se erguer sozinho. Lázaro V, morto da mesma forma que seus predecessores, foi trazido de volta depois de 30 minutos que sua respiração havia parado. O Dr. Cornish disse que Lazaro V havia retornado à sua forma normal depois de quatro dias.

Agora, porque essas experiências pararam no passado? Se o bom doutor conseguiu trazer os cães de volta da morte, porque não ouvimos mais falar disso? Provavelmente porque simplesmente não procuramos mais. Este é o site do Centro Safar de Pesquisas de Ressurreição.

por Rev. Obito

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/e-se-lovecraft-estivesse-certo/

Bibliografia nacional sobre lobisomens

João Ribeiro, em O Folklore, publicação de 1919, no capítulo VI, escreve que “O pan-animismo da natureza não distingue os seres, nem os classifica; nem os compreende senão como inteiramente humanos. A Lua, o Sol, a folha, a montanha ou a pedra, tudo é humano. Se um rochedo acaso afeta qualquer parecença com outro ser, logo surge uma história etiológica que nos explica a metamorfose. Dessas mutações que passaram depois à poesia e à ficção, algumas ficaram como superstições resistentes, tenazes e refratárias à morte. Tal é o caso do Lubisomem, da transformação do homem em lobo, que se funda realmente num estado de loucura melancólica e religiosa, caso patológico bem averiguado desde os médicos antigos. A licantropia ou a cinantropia é freqüentemente confessada pelos próprios doentes como uma possessão pelos demônios. No Brasil, certas vítimas do amarelão, quando esgotadas de anemia, são havidas por Lubisomens. Uivam, ladram, e amam as excursões noturnas fora de horas. Tal é o caso da legenda arcádica de Licaon entre os gregos. Na Índia, desde os Vedas, há a moléstia mental dos homens-tigres, homens-cobras, convictos da própria metamorfose. O licantropo acredita que vira a pele para dentro e a parte interna para fora, ficando ora homem, ora lobo, e por isso entre os latinos lhe chamavam versipellio… por essa inversão do tegumento. O Lubisomem começa a tremer, a ganir e a ladrar, no momento da transformação, com aquele ar estranho e hórrido do Dr. Jekill, o homem duplo, do terrível conto de Stephenson. Também Sachetti, numa das suas Novelle, 122, escreve: “E come io sona per diventare lupo, comincia a sbagliare e a tremare forte”.1… O povo acredita ainda nos que viram Lubisomem, durante a noite.”

Leoncio C. de Oliveira, em Vida Roceira, edição de 1918, SP., descreve o Lobisomem como “caboclo opilado, extremamente descorado, ressequido e de sombrio aspecto, produto de sétimo parto, que às sextas-feiras, à meia noite, procura os galinheiros, onde se espoja nas fezes e alimenta-se das mesmas, metamorfosea-se em um grande cão, de enormes e pendentes orelhas que estralam no calor da carreira na qual sai o desgraçado para percorrer sete cidades antes do nascer do dia, em cumprimento do seu triste fado

…Sendo uma mulher casada com um Lobisomem, só lhe soube a sina quando, certa noite, despertou sobressaltada com enorme cão dentro do quarto. Gritou apavorada pelo marido, que julgava a dormir e o cão, enfurecido, atacou-a, esfacelando-lhe a dentes a saia de baeta vermelha que vestia. Na manhã seguinte, ao surpreender entre os dentes do marido filamentos de lã de sua saia, compreendeu-lhe, horrorizada, o desgraçado destino. Abandonou-o e levou o resto da vida a penitenciar-se do tempo que coabitou com o horrível duende.”

Cornélio Pires, em 1927, apresenta o Lobisomem através da descrição de um caipira. “O Lubisóme é um cachorrão grande, preto, que sai tuda a sexta-fera comê bosta de galinha, ‘daquelas preta, mole, que nem sabão de cinza… Ele sai e garra corrê mundo nu’a toada, cabeça-baxa, esganado e triste… Você arrepare in tuda a casa de sítio; in baxo das jenela tá tudo ranhado de Lubisóme. Ele qué íntrá p’ra cumê as criança que inda num fôro batizado…”

Aluísio de Almeida, em 142 Histórias Brasileiras, relata uma variante paulista da Estória do Labisomem: “Uma moça casou-se com um rapaz que tinha o fadário de ser Lobisome; viviam em harmonia, porém ela, muito simples, nada percebia, porque o marido costumava sair sempre à noite dar uma prosa com amigos que moravam um pouco retirados, e a convidava. Às vezes, ela ia também; e de outras não, e quando não, ia deitar-se e quando o marido voltava a encontrava dormindo, de modo que às sextas-feiras ele saia cumprir o fadário sem que ela desconfiasse. Uma sexta-feira, sem pensar, ele a convidou para saírem, e ela eceitou; mas, quando foram passando por uma tapera, lembrou-se que era noite de cumprir o fadário, mas estava com a mulher. Que fez ele? disse para a mulher que o esperasse ali, porque precisava dar um recado a um amigo que morava ali perto; e seguiu por um trilhozinho que ficava no fundo da tapera. Como estava escuro e a mulher ficasse com medo de cobras ou aranhas, pois era um gramado, achou melhor trepar em um galho arcado de uma árvore, à pequena altura do chão. Já ia alta a noite, o marido não aparecia, ela com muito medo, pois nunca ficara assim sozinha em tapera. De repente, ela ouviu um bater de orelhas que vinha pela estrada para aonde deviam caminhar, e um cachorrão farejando o chão veio onde ela estava e, enxergando-a, começou a dar pulos para mordê-la, e nesses botés só conseguia pegar a barra da saia de baeta e tirava pedaços nos dentes.

Ela começou a gritar pelo marido, mas ele não aparecia; depois de muito tempo ele apareceu e perguntou o que eram aqueles gritos? ela disse: – você vai e não voltava mais; apareceu um bruto cachorrão e queria me morder, mas só alcançou o meu vestido e a saia de baeta. Não querendo descobrir-se, e para disfarçar, disse: – eu fui lá e convidaram-me para cear; eu aceitei e me entretive na prosa, e quando vinha vindo ouvi vossos gritos e vim depressa; como já é tarde, eles aonde nós iamos já estarão dormindo; voltaremos uma outra noite qualquer; é a mesma coisa. No outro dia ele não foi trabalhar; e quando o sol estava um pouco alto, disse: – fulana! ponha uma esteira no terreiro e traga uma tripeça, e você senta-se, e eu ponho a cabeça no vosso colo e me faz um cafuné. A mulher fez o que ele disse; e pondo a cabeça no seu colo e ela fazendo cafuné, começou a roncar com a boca aberta, e então a mulher viu os fiapos de baeta nos vãos dos dentes do marido, e ficou muito assustada, mas nada lhe disse. Chamou depois um seu irmão, e contou o caso todo muito direitinho. O irmão disse: fulana! teu marido é Lobisome; mas não se assuste, eu vou cortar-lhe o fadário; sexta-feira eu vou esperá-lo; levo meu facão folha de espada e quando ele passar, eu o cotuco com a ponta do facão para tirar sangue, e ficará cortado o fadário; não tenha medo, não vou matá-lo. No dia determinado o rapaz foi esperá-lo; levou o facão, uma garrucha de dois canos, vestiu o poncho e pôs um chapéu de abas largas, e ficou na beira da estrada. A horas tantas o rapaz ouviu o paca, paca, das orelhas e quando o Lobisomem ia passando, riscou-Ihe as costelas com a ponta do facão; ele deu um salto e virou homem outra vez; e encarando o cunhado disse: ah! você cortou o meu fadário, espere aí que eu vou em casa buscar um presente para te dar, em agradecimento! O rapaz, que sabia o que era o presente, tirou o poncho e o vestiu em uma arvorezinha, pôs o chapéu em cima e ficou do outro lado, esperando. Dai a pouco volta o homem e diz: – meu amigo! aí vai o presente! e descarrega os dois canos da espingarda, que só atingiu o poncho, e o rapaz respondeu: Amigo! quem dá presente recebe um ‘Deus Ihe pague’ – e descarregau ambém os dois canos da garrucha, mas sem intenção de atingi-lo.

Ele fugiu, de carreira. No outro dia se encontraram, e o cunhado mostrou o poncho furado pelos bagos de chumbo e disse: eu tenho o corpo fechado; chumbo não cala no meu corpo, e nem bala também; vamos fazer as pazes, porque comigo você não pode; o outro acreditou e fizeram as pazes e o casal continuou vivendo em harmonia. Nota: Era crença que os Lobisomens, quando conheciam os seus desencantadores, tratavam de vingar-se, porquanto, desencantados daquela maneira, teriam de cumprir o fadário depois da morte com tempo dobrado. Contada por Eugênio Pilar França.”

Em 50 Contos Populares de São Paulo, o mesmo autor relata que “num certo lugar do qual não é preciso dizer o nome, houve há tempos um homem mau, que judiava muito da mulher, a ponto de causar-lhe a morte, por ruins tratos. O castigo que ele teve foi de virar Lobisomem todas as noites de sextas para sábados. Resolvendo casar-se de novo, tratou de ser melhor para a segunda mnlher, a ver se acabava o seu fadário. Era mesmo uma coisa triste paraele, sair à noite, chovesse ou fizesse frio, pelos caminhos silenciosos, com as grandes orelhas caídas, procurando baeta para mastigar. Depois do casório, continuou a mesma coisa. A mulher percebeu logo que nas noites de sextas-feiras ele saía, e voltava cedo, noutro dia, muito cansado e triste, amarelo, sem ânimo para o trabalho. Uma noite dessas, portanto, ficou acordada, e viu o marido, mastigando a baeta do cobertor, com uma cara tão feia que nem teve coragem para lhe dizer nada. Quando deu meia noite, ele procurou a chave, mas estava tudo bem trancado, por artes da mulher. Então, ele foi ficando fininho, que nem uma linha, e passou pelo buraco da fechadura. A mulher não pôde dormir mais. Chamou gente. O homem apareceu de madrugada com uns fiapos de baeta vermelha nos dentes e muito envergonhado. Era a hora. Mal ele acabava de entrar, a mulher, sem dizer nada, zás! joga-lhe água benta em cima. Depois fizeram sete rezas, sete noites, com sete velas acesas, e ele desecantou e viveu feliz”…

Ruth Guimarães, em Os Filhos do Medo, escreve que “não pode o Lobisomem ver os olhos nem as unhas de alguém, porque isso o irrita.” E conta que “um menino foi mordido por um grande cão negro. Um dia, quando o boi do carro que estava guiando, urinou, ele tirou a roupa e se espojou no chão sobre a urina. Na mesma hora virou Lobisomem.”

No Estado de São Paulo (Mogi das Cruzes e Laranjal Paulista) existe a versão do Lobisomem como homem que vem pedir ou aceita sal, na sexta-feira.

Quem nascer no dia 12 do mês 12, às 24 horas, quando tiver 12 e 24 anos, vira Lobisomem, escreve Geraldo Brandão, em Monografia Folçlórica – Mogi das Cruzes.

Em Minas Gerais, Hermes de Paula apresenta o Lobisomem como Fantasma da Quaresma, em Montes Claros: Sua História, Sua Gente E Seus Costumes.

“O nosso Lobisomem apresenta-se em duas formas: de cachorro; ou lobo e porco. Vagueia nas noites das sextas-feiras da Quaresma; os cachorros latem para ele de longe, mas de perto encolhem-se ganindo baixinho, transidos de medo. Eles não vêm do outro mundo; são homens que viram. Rolam na areia ou chiqueiro três sextas-feiras seguidas para conseguir a transformação; quando se utilizam da areia transformam-se em cachorro; no caso do chiqueiro viram porcos. Vários individuos daqui eram apontados, às escondidas, como viradores de Lobisomens. O cego Ventura mesmo era um deles; vivia amarelo… Em um sábado da Quaresma chegamos a enxergar entre seus dentes os fiapos da baeta vermelha – sinal insofismável de que ele virara Lobisomem. Contam que balas não lhe entram no corpo; o único lugar vulnerável é o dedo mindinho do pé (5° artelho); ferido neste ponto, o encanto se quebra e o Lobisomem vira homem, na mesma hora e fica com muita raiva. Antonio Xavier de Mendonça, passando pela vargem às duas horas da madrugada de uma sexta-feira da Quaresma, foi agredido por um porco enorme e alvejou o ponto fraco do animal. Foi a conta; o bicho desvirou e, para surpresa sua, era um seu compadre e amigo, que muito alegre se mostrou, reconhecido pelo bem a ele sucedido e pediu-lhe que esperasse ali, que ele iria em casa buscar-lhe um presente. O velho Mendonça desconfiou da pressa do compadre em lhe retribuir o favor; com o paletó e o chapéu vestiu um tronco seco de árvore existente ali e escondeu-se para observar melhor. Daí a pouco veio chegando o compadre com uma espingarda e tacou fogo no tronco vestido…”

Saul Martins, em Os Barranqueiros, dá o Lobisomem como “Bicho resultante da metamorfose de pessoa do sexo masculino condenada em razão da sua própria origem; ou em razão de transformação voluntária. Para tanto, despe-se numa encruzilhada ou debaixo de um pé de goiabeira, à meia noite, Sexta-feira da Paixão, espojando-se na roupa às avessas.”

O pé de goiabeira, como local propício à transformação; não apareceu, nesta pesquisa, em outro lugar. O mesmo com referência à transformação voluntária, no Brasil.

Em Folclore da Januária, Joaquim Ribeiro diz que “O Lubisono é o sétimo filho macho de um casal que só tinha fêmeas. Tem de cumprir sina. As sextas-feiras mete-se no chiqueiro, espoja-se e grunhe como porco. Para quebrar o encanto, é necessário tirar sangue. Quem é Lubisono é pálido, magro, sorumbático e tristonho. Quando vira bicho, os dentes aumentam, os pêlos crescem e o corpo toma a forma de um quadrúpede monstruoso. Não há uniformidade na descrição do Lubisono: é um monstro proteico, de várias formas.” Essa descrição é resultante de pesquisa em São João das Missões.

No Boletim Trimestral da Comissão Catarinense de Folclore Ano I n° l, lê-se que, no município de Caçador, “O sétimo filho quando não batizado, vira Lobisomem – ou quando casa será estéril” e em Biguaçu, “criança que nasce com os dedos tortos fica lobis-homem.” Na mesma publicação, Ano III n° 12 e em Aspectos Folclóricos Catarinenses, Walter F. Piazza denomina o Lobisomem Uma Velha Assombração e diz que no município de Tijucas, “se nascerem consecutivamente, numa família, sete filhos varões, o último deverá ser chamado Bento, do contrário ficará Lobisomem.”… ” Já em outros lugares são apontados como inimigos da honra, tal como nos afiançou velho caboclo: é indivíduo de má índole, autor de algum bárbaro crime, especialmente contra a honra ou contra gente fraca: crianças, mulheres grávidas e velhos.” No oeste catarinense, em Caçador, surge como “um horrendo Lobisomem-dragão, com cerca de três metros de comprimento, tem dorso de dragão e formidável boca provida de agudíssimos dentes. Pelas ventas dilatadas lança um bafio nauseabundo.” Esse monstro, conhecido como Lobisomem dos Correias, alimenta-se do sangue dos que morreram sem confissão e quem ouvir seus uivos morrerá dentro de curto prazo. A perversidade é característica desses amaldiçoados e “os cachorros uivam e o perseguem, latindo e mordendo; o gado, quando solto nos pastos, corre que nem louco e quando está preso torna-se inquieto e procura disparar das mangueiras… e toda a pessoa que tiver a infelicidade de ser mordido pelo excomungado do bicho, não tem que ver, na primeira sexta-feira de lua cheia, vira em seguidinha Lobisomem. Isso bem perto da capital catarinense, no município de Biguaçu.” E continua: “mas o nosso pescador de camarões da Ilha de Santa Catarina pede a Deus que o livre do coisa-ruim!” No interior catarinense dizem que ele “suga o sangue das criancinhas, especialmente das que, ainda, se amamentam. Desvirgina as donzelas.” E, para a maior parte do povo, do que ele gosta, mesmo, é de sangue. No município catarinense de Porto Belo, “se tem algum inimigo, homem, andando pela estrada; pega-o na certa para a sangria mais violenta no pé do ouvido. Ou na batata da perna.” Quanto à forma como se apresenta, informa o A., que, “em NovaTrento, parte do território catarinense, é um homem de olhos afogueados, pêlo eriçado, ventre aberto e sangrando, unhas aguçadas e que expele fogo pela boca.”

Em Santa Catarina o encantamento dá-se, de preferência, nos dias de lua cheia, principalmente durante a Quaresma e no dia 13; também em quarto-minguante. O Lobisomem desencanta no final da fase lunar, ou quando o galo canta no terreiro.

Walter Piazza, em Aspectos Folclóricos Catarinenses, apresenta o seguinte documento versificado sobre o Lobisomem:

I

Quando aqui era deserto
Poucos moravam neste sertão.
Existiam brancos e negros cativos
Era tempo de escravidão
Branco era batizado.
E preto morria pagão.

II

O povo já tinha mêdo
Que isto desse confusão
Apareceu logo um gritadô
Já viram que era visão,:
Era o tal do “Lubizóme”
Esprito de negro pagão.

III

Tinha uma negra sete filhos,
Todos os sete bem negrinhos
Se o mais velho não fosse batizado
O mais moço virava lubizomezinho;
O mais velho morreu sem batismo
E deu destino ao pequenininho.

IV

A mãe dos meninos – chorando
Sem êste destino podê cortá.
Viu o mais velho virá lubizôme
E o menorzinho boitatá:
O resto não digo nada
Tenho medo inté de contá!

V

Contando um pouco desta história
Ví êsse monstro aqui no sertão
Não sei se morto ou vivo
Só sei que horrível visão
Estava em um cemitério
Sexta feira da paixão.

VI

Eu fui pagá promessa.
Que há muitos anos devia:
Ir a um cemitério, em horas mortas
Quando todo o povo já dormia
E sem ouvir o cantar do galo
Perguntá ao morto o que queria.

VII

O povo já me prevenira
Uns quantos dias atrás
Que nestas encruzilhadas transitava
O Pé Redondo ou Satanaz;
Que por êstes lados à noite
Ninguém pode caminhar, em paz.

VIII

Eu devia essa promessa
E só tinha que pagar
Por mais que custasse a vida
Prá Deus não me castigar
Ir sozinho ao cemitério
Chamar mortos e ouvi êles falar

IX

Afinal foi chegando o tempo
Até chegou o dia –
Sexta feira da paixão,
Serrando as aves-marias;
Era noite, a noite de falá c’os mortos
De ir pagar o que eu devia
Promessa era de salvar minha vida,
Por outro nêste mundo eu não fazia.

X

A cidade já silenciosa dormia
Escura noite trovejando
Com meu aparelho de fotografia
Fui pouco a pouco caminhando;
Relâmpagos alumiavam; aos poucos
Do cemitério fui me aproximando.

XI

Abrí a porta do cemitério
E sobre cruz ajoelhei no chão,
Acendi umas velas; fechei os olhos
E silencioso pensei no Irmão;
Sepulto moveu-se e um gemido ouvi,
Estou perdido, Deus meu Deus, perdão!

XII

Que assombro, que medo, que horror
Um rosnar, um gemido escutei!
Uma estranha visão acenava
Qué isso, meu Deus, eu não sei.
No correr disparou-me uma chapa,
Corri pelo escuro e afinal escapei.

XIII

Eu contando direito esta história
Representa inté um sonho,
A fótografia é que lhe vai provar
Si é lubizôme ou demonho.
Não caminho mais de noite, e promessa não faço
Nestas embrulhadas nunca mais me ponho!

Caçador, 22 de Maio de 1946.

(ass.) Altino Bueno de Oliveira

Ainda na publicação citada, Ano 8 n ° 23/24, Carlos George du Pasquier em Notas ‘Folclóricas Sobre o Município de Biguaçu diz que “É difícil saber-se ao certo quando se encontra um Lobisomem, pois nem sempre ele toma a forma de um porco preto: dizem que a forma do primeiro animal em cuja cama ainda quente se rebola. Alguns afirmam que para mordida de Lobisomem não há cura, e na primeira sexta-feira de lua cheia, nas proximidades do anoitecer, a pessoa que foi mordida principia a mostrar-se inquieta até sair em desabalada carreira rumo ao mato, onde se embrenha para tomar a forma do maldito.” Conta ainda que há muitos anos existia no Alto Biguaçu uma família vinda da Alemanha, que não era completamente feliz, porque sabia o destino do caçula, sétimo filho: Certa noite; quando jantavam, foram surpreendidos pelos latidos de um cãozinho, que para eles avançou tentando mordê-los. A mãe, agoniada, correu ao berço do menino; mas encontrou-o vazio, como pressentia. Apanhou o cachorrinho nos braços e espetou um alfinete na sua patinha. O sangue brotou em pequenas gotas e então; aos poucos, entre gemidos e contorsões, o animalzinho retornou à forma humana, na figura do nenê da família. Para a mordida do Lobisomem não há cura, segundo dizem, mas para evitá-la, pode-se usar o alho”.

Seguem-se estes versos:

1

“O povo do lugá
por valente conhecido,
tem medo que se pela
do bicho desconhecido

2

É sempre ao meio dia
que falam no danado;
quando anoitecer principia
fica tudo bem calado

3

Pois não é brincadeira
encontrar um lobisome
o bicho que morde gente
e inté criança come

4

O bicho só despenca
do alto da morraria
perseguido pelos cachorros
em terrível gritaria

5

Correndo como doido,
se cortando nos espinho,
ele não respeita nada
que encontra no caminho

6

Na sua triste sina
de correr a noite inteira,
Deus livre quem o encontra
numa escura sexta-feira

7

Mordido vira logo
lobisomem também
e na outra sexta-feira
é um outro que o mundo tem

Em Poranduba Catarinense, Lucas Alexandre Boiteux oferece esta variante da Estória do Lobisomem: “Os praieiros de Canavieira dizem que existia, no distrito de Ratones, uma senhora casada que tinha um filho. Todos os dias, logo que o marido se ausentava, ia ela banhar a criança numa gamela. Na ocasião, aproximava-se um cachorrinho que tentava morder o menino. Enxotava-o, mas ele teimava em voltar. Certo dia, bateu no animal que; enfurecido, avançou e estraçalhou-lhe a saia de baeta. Ao levantar-se, na manhã seguinte, viu com grande assombro os dentes do marido cheios de fiapos do tecido. Foi assim que ele, sendo um Lobisomem, perdeu o encantamento.” Lá, o Lobisomem ou Lambisome pode ser o primeiro ou o sétimo filho.

Em 1913, J. Simões Lopes Netto, em Lendas do Sul, descreve o Lobisomem segundo a voz do povo. “Diziam que eram homens que havendo tido relações impuras com as suas comadres, emagreciam; todas as sextas-feiras, alta noite, saíam de suas casas transformados em cachorro ou em porco, e mordiam as pessoas que a tais desoras encontravam; estas, por sua vez, ficavam sujeitas atransformarem-se em Lobisomens…”

No Guia do Folclore Gaúcho, Augusto Meyer descreve o homem que se transforma em Lobisomem como “magro, alto, macilento e doente do estômago. Metamorfosea-se em animal semelhante ao cachorro ou porco.”

Walter Spalding, em Tradições e Superstições do Brasil Sul, diz que “ser Lobisomem é conseqüência de pragas rogadas ou produto de maldades de homem ou mulher que nunca procuraram fazer o bem. Transforma-se em conseqüência de pragas rogadas ou malefícios feitos pela vítima.” É um grande cão negro que aparece às sextas-feiras, principalmente na primeira de cada mês.

Francisco Augusto Pereira da Costa, em Folk-lore Pernambucano, edição de 1908, escreve que “O Lobisomem, que no maravilhoso da imaginagão popalar é um homem extremamente pálido, magro e de feia catadura, é produto, ou de um incesto, ou nasceu logo depois de uma série de sete filhos. Este infeliz… cumpre o seu fadário em certos dias, saindo de noite e, ao encontrar com um lugar onde um cavalo ou um jumento se espojou, espoja-se também, toma a sua forma, e começa a divagar em vertiginosa carreira. Nesse tristíssimo fadário, que começa à meia-noite e se prolonga até quase o amanhecer do dia, ao ouvir o cantar do galo, percorre o Lobisomem sete cidades e chegando, de volta já ao lugar do seu encantamento, espoja-se de novo, retoma a sua forma humana e recolhe-se a casa, abatido e extenuado de forças…” Oferece ainda estas estrofes, mencionadas por Silvio Romero, de um conto intitulado O Lobisomem e a menina.

– Menina, você aonde vai?
..Eu vou à fonte.
– Que vai fazer?
..Vou levar de comer
..A minha mãezinha.
– O que levas nas costas?
..meu irmãozinho.
– O que levas na boca?
..cachimbo de cachimbar.
…………………………………..

Ai! meu Deus do céu,
O bicho me quer comer!
O galo não quer cantar,
O dia não quer amanhecer,
Ai, meu Deus do céu!

Escreve Câmara Cascudo, em Geografia das Mitos Brasileiros, que “Para o norte já não há razões morais. O Lobisomem uma determinante do amarelão (ancilóstomo), da maleita (paludismo). Todos os anêmicos são dados como candidatos à licantropia salvadora. Transformados em lobos ou porcos, cães ou animais misteriosos e de nome infixável, correm horas da noite atacando homens, mulheres; crianças, todos os animais recém-nascidos ou novos; como cachorros, ovelhas, cabrinhas, leitões etc. Derribada a vítima, o Lobisómem despedaça-lhe a carótida com uma dentada e suga-Ihe o sangue. Essa ração de sangue justifica, na impressão popular, a licantropia sertaneja. Se o hipoêmico não conseguir a dose de sangue necessária ao seu exausto organismo, morrerá infalivelmente.”

Citando, entretanto, Coriolano de Medeiros, o mesmo autor apresenta outro aspecto dessa assombração, na interpretação do povo, mencionando o Lobisomem paraibano, que conserva a característica da punição, pois é amaldiçoado por pais e padrinhos. “O Lobisómem, crê-se, é sempre um indivíduo excomungado pelos pais, ou por algum padrinho. Pelo fato da maldição, tem instinto de tornar-se animal; principia por segregar-se da sociedade, até que um dia de sexta-feira, à noite, vai na encruzilhada dum caminho, semeia o solo de cascas de caranguejo, tira a camisa, dá um nó em cada ponta, estende-a por sobre os restos dos crustâceos, formando um leito e começa a cambalhotar sobre ele murmurando: ‘encoura mas não enchuxa, diabo?’ repete o estribilho muitas vezes e à proporção que o repete, que dá cambalhotas, a voz vai se tornando átona, o corpo cobre-se de pelos compridos, as orelhas crescem, a cara se alonga tomando a forma de um morcego, as unhas se transformam em garras. Uma vez metamorfoseado sai a correr mundo e suga o sangue de todo menino pagão que encontra e na falta deste ataca qualquer indivíduo. Mas tem um medo terrível do chuço; casa que tem instrumento deste, Lobisomem não vai. As três horas da madrugada; quando o galo canta, o Lobisomem volta à primitiva forma.”

O Lobisomem da Paraíba do Norte aparece também na obra citada de Walter F. Piazza, que recolheu informações referentes ao litoral e sertão paraibanos em Ademar Vidal e referentes ao brejo, em José Leal. São apresentadas três versões da forma usada para a metamorfose. A do litoral: é “preciso procurar uma encruzilhada, cheia de mariscos de praia, onde se despe, dando vários nós na camisa e no lenço. Deita-se no chão; espojando-se como quadrúpede. Uns dizem que ele engole os mariscos do mar. Outros contestam essa versão. Depois entra a fazer desarticulações com as pernas e braços, encostando a cabeça nos pés, remexendo-se para a direita e esquerda, dizendo palavras à-toa. ‘- Encoura, desencoura, encoura, desancoura, encoura’. A do sertão. “Sai de casa à procura de algum recanto de estrada onde se deite. Espoja-se, requebra-se, faz trejeitos, até virar um bezerro negro de longas orelhas.” “……é bezerro negro . . . .. ostenta couro cabeludo de fazer cachos, além de cascos pequeninos, olhar fuzilante e; depois, dotado de força e agilidade extraordinárias.” A do brejo: “. . . rebolando-se o aspirante na cama de um animal, ainda quente do corpo deste, cuja forma tomará. É condição imprescindível para a transformação que, no momento, os raios de Lua incidam diretamente sobre o homem que estiver deitado na cama do irracional, manifestando-se, de início, pelo crescimento dos dentes que dão perfeita semelhança com o animal modelo: Adquire desde logo os instintos animalescos.” No brejo paraibano, “descrevem-no como homem normal, que, em certas horas e em dias determinados e sob determinadas condições, toma o aspecta de um animal e sai a correr o fado, cumprindo o castigo imposto pela Divina Providência, pelo pecado de adultério de compadre com comadre, de devota com padre, dos incestuosos e blasfemos.”

O escritor cearense Gustavo Barroso, mencionado por Câmara Cascudo na obra citada, diz que para se transformarem em Lobisomem; os homens “viram a roupa às avessas, espojam-se sobre o estrume de qualquer cavalo ou no lugar em que este se espojou.”

Um cão sem cabeça, é como a assombração aparece em Alagoas. Lá, para se transformar, “tira a camisa e dá-Ihe sete nós. Esconjura pai, mãe, padrinho e madrinha, o nome de Deus e de Nossa Senhora”, segundo informa Cascudo; calcado em Théo Brandão (Mitos Alagoanos).

Em Geografia dos Mitos Brasileiros, autor já mencionado, lê-se que “Na noite de quinta para sexta-feira, despido, o homem dá sete nós em sua roupa e, em algumas partes, urina em cima.” ‘”Se esconderem a roupa que o Lobisomem deixou na encruzilhada ou desfizerem os sete nós, ficará ele todo o resto da sua existência um bicho fantástico.” Quando corre na praia, evita molhar-se na água do mar, que é sagrada. “O Lobisomem é invulnerável a tiro. Só se a bala estiver metida em cera de vela de Altar onde se haja celebrado três Missas da Noite de Natal.” Na mesma obra, encontram-se dois relatos que, em resumo, vão transcritos:

Francisco Teixeira, apelidado seu Nô, declarava publicamente desacreditar de Lobisomem e até caçoava do assunto. Um seu companheiro de trabalho, João Severino, zangava-se com essa atitude e avisou-o de que qualquer dia se arrependeria. Os companheiros alertaram-no: João Severino virava; ele que se prevenisse e andasse armado. Seu Nô tinha a faca na cintura. Uma noite, atravessava uma pequena várzea, quando lhe pulou em cima um bicho preto, do porte de um bezerro: Lutou furiosamente, conseguindo esfaquear e tirar sangue do animal. Ferida no pescoço, a besta correu para o mato. O homem, morto de medo, voltou para casa. No dia seguinte, sentiu falta do companheiro João Severino. Indagando, soube que estava doente. Foi visitá-lo. Encontrou-o de cama, gemendo e tomando remédios, com a nuca ferida.

O outro é um caso contado pelo próprio protagonista, João Francisco de Paula, de Santa Cruz, RGN. Todas as semanas, na noite de quinta para sexta-feira, era aquele barulhão, ladrar e uivos de cão, assim que a Lua subia; lá pelas onze horas da noite: Certa vez abriu a janela para espiar e vislumbrou o vulto de um animal meio baixo, roncando e batendo as orelhas. Dias depois um comboio arranchou-se na fazenda. Era a noite propicia. Contou o que sabia e os companheiros se dispuseram a caçar o bicho. Um deles tinha, justamente, cera benta consigo. Bezuntou as balas da sua arma com elas e ficaram todos de tocaia. Quando a Lua ia alta, ouviram a trovoada dos cães de caça e o barulho do animal pesado, acuado por eles. O vaqueiro escondeu-se perto da barranca do rio, agora seco pelo verão. De repente, o bicho passou. Descarregou a espingarda; conseguindo atingi-lo. Correram todos para ver. O animal, com terrível ronco, caíra barranca abaixo: A luz dos archotes que levavam, viram um Lobisomem – ainda era meio animal – como um porco com garras, da cintura para baixo; da cintura para cima era um homem moreno claro, cabelos encaracolados. Ali mesmo o enterraram, sem cruz, sob um montão de pedras, marcando o lugar daquela tragédia inacreditável.

A bibliografia consultada declara a inexistência de Lobisomem feminino, nas Américas.

Na verdade, a forma mais comum é a do Lobisomem masculino. Mas não a única. Documento encontrado em Os Barranqueiros, autor citado (A onça cabocla) e o doc. n° 41, de Serra Pelada, MT, comprovam a existência da licantropia feminina, no Brasil e, portanto, nas Américas.

“A Onça Cabloca

Há muitos anos morava numa choça de cascas de pau, a alguns metros do barranco do Rio São Francisco, uma velha tapuia, feiticeira e má. Alimentava-se de sangue humano e comia o fígado de suas vítimas, quando não se fartava de sangue.

Lá um ou outro caçador surpreendia-a, ocasionalmente, no meio da catinga, ou à boca de uma furna, ao pé da serra.

Quando tinha fome, primeiro despia-se, estendendo os trapos no chão, às avessas; depois, deitando-se neles, espojava-se.

Virava onça.

Assim transformada marchava contra pobres criaturas indefesas, de preferência mulheres e crianças. Apaziguada a fome, volvia ao ponto de partida, rebolando-se de novo sobre os andrajos.

Virava gente.

Certa vez, porém, chegou-lhe o castigo, tendo então se arrenegado de quem inventou a mandinga. Um pé de vento arrebatou-lhe os molambos e os atirou nas águas do rio e ela não pôde desencantar-se. Ficou onça para sempre e lá existe.”

1- E como estou para me transformar em lobo, começo a me atrapalhar e a tremer fortemente.

Lobisomem: assombração e realidade
Maria do Rosário de Souza Tavares de Lima

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/bibliografia-nacional-sobre-lobisomens/

Demônios da Carne: O Guia Completo para a Magia Sexual do Caminho da Mão Esquerda

Por Nikolas & Zeena Schreck.

Introdução 

Para a Ordem de Babalon, a Ordem de Sekhmet e seus aliados. Dedicado às memórias do Barão Julius Evola, que começou o trabalho de despertar o caminho da mão esquerda no Ocidente, e Cameron, que serviu como avatar para a força Shakti adormecida do Ocidente. Nossos agradecimentos às muitas pessoas que nos ajudaram durante as fases de pesquisa e preparação deste livro, incluindo DM Saraswati, Janet Saunders, Ananda Parikh, Kevin Rockhill, Brian G. Lopez, Michael A. Putman, Curtis Harrington, Kevin Fordham, Nancy Hayes, Lorand Bruhacs, Forrest J Ackerman, Peter-R. Koenig, Dr. Stephan Hoeller, Walter Robinson, Laurie Lowe, Jeanne Forman, Dr. George Grigorian, The Vienna and Paris WO Dens, a equipe da Biblioteca Estadual de Berlim, Tibet House, Leon Wild e James Williamson.

Isenção de Responsabilidade:

As atividades sexuais e mágicas descritas neste livro destinam-se exclusivamente à aplicação de adultos que atingiram a maioridade, e só devem ser realizadas de forma consensual por indivíduos que possuam boa saúde física e mental. Recomendações sugerindo que o leitor realize treinamento adequado em atividades físicas que possam ser prejudiciais são intencionadas seriamente. Nem os autores nem o editor deste livro podem assumir qualquer responsabilidade por qualquer dano que possa ocorrer ao leitor como consequência dos experimentos descritos aqui.

Os Demônios da Carne: O Guia Completo para a Magia Sexual do Caminho da Mão Esquerda

 

 Vamos falar sobre o assunto mais misterioso de todo sexo. O sexo é um fenômeno eletromagnético.

– William S. Burroughs.

O desejo é a grande força.

– André Breton

Das Ewigweibliche zieht un hinan. (O Eterno Feminino nos atrai.)

– Dr. Fausto, no Fausto II de Goethe.

Preliminares:

O livro diante de você é um guia no sentido de que irá acompanhá-lo em uma jornada.

A rota que faremos passa por paisagens de estranha beleza e por abismos perigosos. É conhecido como o caminho da mão esquerda. Poucos percorreram esta estrada e menos ainda chegaram ao seu destino final e distante.

Infelizmente, a maioria dos mapas disponíveis anteriormente deste terreno misterioso foram elaborados por aqueles que nunca pisaram no caminho. No entanto, eles vão avisá-lo dos terríveis perigos enfrentados ao longo do caminho, sugerindo que sua árdua passagem só leva ao mais sombrio dos becos sem saída. Esses cartógrafos defeituosos irão adverti-lo de que as únicas almas que podem ser encontradas nesta via mal iluminada são tolos, lunáticos, canalhas e ladrões. (De fato, pode haver alguma verdade nessa última advertência, mas o aventureiro nato não será dissuadido tão facilmente.)

Existem outros mapas, oferecidos por almas um pouco menos tímidas, que se assemelham mais à realidade. No entanto, esses guias apontam alegremente apenas as atrações turísticas mais reconfortantes do roteiro turístico. Todos os becos escuros, bairros de má reputação e distritos da luz vermelha são mantidos com segurança fora de vista, considerados impróprios para consumo público. Tal escrúpulo permite ao explorador apenas uma visão cuidadosamente expurgada. Além disso, as especificações encontradas neste tipo de mapa são frequentemente tão complicadas que o viajante não sabe qual é o lado para cima.

Por fim, há o mapa elaborado por aqueles que se declaram não apenas como guias turísticos, mas também reivindicam com orgulho esta via à esquerda em sua totalidade, saudando-a como o melhor lugar para se estar. No entanto, se o viajante incauto consultar esses mapas, mesmo para as direções mais simples, imediatamente se torna aparente que houve alguma confusão. Essa confusão, ao que parece, se deve a uma simples, mas duradoura apropriação indevida de nomenclatura. A área nesses mapas marcada tão claramente como “o caminho da esquerda” acaba, em uma inspeção mais próxima, ser um caminho completamente diferente.

Os Demônios da Carne, projetado em parte como um corretivo para as falsas pistas e desvios descritos acima, traça esse caminho até então mal interpretado de uma perspectiva muito diferente. Em nosso mapa, mostramos claramente o plano rodoviário completo em toda a sua topografia e complexidade tridimensionais, a partir de seu antigo ponto de origem oriental remoto. Também rompemos a superfície visível desta calçada para revelar as camadas arqueológicas ocultas da corrente sinistra à medida que ela percorreu o tempo. Acompanhando você nesta viagem, oferecemos sugestões práticas para navegar na estrada da esquerda em um mundo ocidental contemporâneo que não oferece bússola confiável.

Mas chega de metáforas sobre mapas e caminhos. Vamos encarar, você pegou este livro para ler sobre sexo.

E certamente há muito sexo para ser encontrado nestas páginas, narrando uma infinita diversidade de experiências eróticas. Da alquimia do sangue menstrual e do sêmen ao culto ritual da vagina. Sexo com monges promíscuos e prostitutas sagradas, do Tibete à Babilônia. Sexo necrofílico em locais de cremação. Sexo coprofílico na Sicília. Sexo incestuoso na Índia. Sexo vampírico na China. O orgasmo como sacrifício. O orgasmo prolongado. Sexo com Deusas. Transexualismo psíquico. Sexo com seres desencarnados. Escravidão sexual. Domínio sexual. Transe sexual. Sexo anal egípcio antigo entre Set e seu sobrinho Hórus. Sexo oral. Sexo autoerótico. Sexo em grupo. Sexo telepático. Todos os tipos de seitas sexuais. Sexo tântrico. Sexo gnóstico. Sexo satânico. Sexo com jovens virgens. Sexo com idosos. Sexo com as esposas de outros homens. Até sexo com Jesus.

No entanto, o panorama multicorporal de deleite polimorfo que escorre deste livro não é apresentado apenas para estimular os voluptuários ennuyé (entediados) cansados ou excitados com novos desvios que ainda não experimentaram. É importante estabelecer que há uma diferença significativa entre o prazer profundo da sexualidade desfrutada por si mesma como uma experiência fisiológica e estética, e a sexualidade utilizada para propósitos mágicos ou iniciáticos autênticos – o núcleo do caminho da mão esquerda. Tirados de seu contexto apropriado, os boatos aparentemente lascivos pressionados entre estas páginas podem – e provavelmente serão – ser mal interpretados se essa distinção não for levada em conta.

Ao mesmo tempo, deve-se salientar que todo o tópico da magia sexual foi cercado por uma tremenda hipocrisia, emanando tanto dos magos sexuais praticantes quanto daqueles que meramente observam suas atividades. Por exemplo, muitos curiosos pesquisaram casualmente o nível mais superficial da magia erótica, na esperança de aprender algumas dicas de sexo para apimentar uma vida amorosa sem brilho. Na maioria das vezes, esse jogo equivocado de magia sexual é apenas uma perda de tempo, gerando pouco em termos de excitação física e absolutamente nada em termos de magia. Mas alguns magos sexuais hipócritas assumiram a posição da escola de que esse fenômeno bastante comum é “imoral” ou “espiritualmente prejudicial”, ou mesmo que a magia sexual deve ser realizada sem uma centelha de luxúria ou emoção para ser legítima. Por outro lado, o não-mágico pode zombar de toda a ideia de magia erótica, descartando-a como algum tipo de piada suja, recusando-se a aceitar que os magos do sexo estão fazendo algo mais profundo do que saciar seus apetites carnais comuns sob o pretexto de doutrina esotérica.

Por trás dessas atitudes hipócritas está a horrível banalidade a que Eros foi reduzido no mundo ocidental moderno.

Nesse espírito, alguns de nossos leitores podem imaginar que um guia para a magia sexual do caminho da mão esquerda fornecerá as emoções furtivas e baratas da pornografia velada. Literalmente falando, essa palavra tão difamada pornografia, do grego porno (puta) e graphia (escrita) significa simplesmente “escrever sobre putas”. Então, para aqueles de vocês que esperavam fervorosamente que este livro fosse pornográfico, há de fato textos suficientes sobre prostitutas nestas páginas para se qualificar tecnicamente. Claro, as prostitutas com as quais nos preocuparemos são as transportadoras daquela ars amatoria (arte amadora) há muito perdida da prostituição sagrada. Se a prostituição já serviu uma função nobre e até sagrada, então por que não uma pornografia sagrada? Tal forma seria algo muito mais subversivo e poderoso do que a repetição estereotipada de convenções que costumamos associar ao gênero. A autora britânica Angela Carter, cujos contos cruéis geralmente eram tingidos de uma sexualidade inquietante e surreal, certa vez sugeriu as possibilidades:

“O pornógrafo moral seria um artista que usa material pornográfico como parte da aceitação da lógica de um mundo de absoluta licença sexual para todos os gêneros, e projeta um modelo de como tal mundo poderia funcionar. Seu negócio seria a total desmistificação da carne e a posterior revelação, através das infinitas modulações do ato sexual… essas relações, para restabelecer a sexualidade como um modo primário de ser em vez de uma área especializada de férias do ser e mostrar que os encontros cotidianos no leito conjugal são paródias de suas próprias pretensões.

De muitas maneiras, a descrição de Carter do “guerrilheiro sexual” que derruba tabus e que desmistifica totalmente a carne é uma excelente introdução ao trabalho do magista sexual do caminho da mão esquerda que este livro ilustra. Para os magi (magos) do caminho da mão esquerda, a sexualidade é ainda mais do que “um modo primário de ser” – o estado alterado de êxtase erótico extremo é um modo de ser potencialmente divino, a dança caótica de duas energias opostas magneticamente atraídas que permite a criação de um terceiro poder transcendendo o humano. O casal que liberar esse poder oculto e psiquicamente remanifestante do caminho da mão esquerda dentro de seus organismos sob o jugo do orgasmo em toda a sua intensidade achará difícil retornar à existência pré-programada que eles levaram uma vez. O homem e a mulher que mesmo uma vez experimentam a liberdade do caminho da esquerda, expressa através de seus ritos sexuais autodeificantes, saíram do jogo humano como normalmente é jogado.

Se o caminho da mão esquerda é perigoso – um ponto com o qual tanto seus detratores quanto seus defensores concordam – um de seus principais riscos é o perigo da liberdade em um mundo quase instintivamente comprometido em esmagar a liberdade sob qualquer forma que possa aparecer. Todas as autocracias dominaram restringindo severamente o pleno desenvolvimento do poder sexual em seus súditos. O caminho da mão esquerda, um método de ativação consciente de níveis de energia erótica quase desconhecidos nas relações sexuais convencionais, deve ser visto como uma ameaça a qualquer hierarquia que procure frear o desenvolvimento do homem em deus. A gnose sexual do caminho da mão esquerda tem o potencial de forjar indivíduos heroicos e autodeterminados a partir da carne balida do rebanho humano.

As pesquisas do excêntrico (alguns diriam insano) psicólogo Wilhelm Reich sobre os mistérios inexplorados do orgasmo na consciência humana concordam parcialmente com os antigos ensinamentos do caminho da mão esquerda. Em seu Psicologia de Massas do Fascismo, Reich reconheceu a ameaça que a total liberdade erótica representaria para qualquer mecanismo de controle social. Em consonância inconsciente com a veneração do caminho da mão esquerda de Shakti, o poder sexual divino da mulher, ele escreveu: “Mulheres sexualmente despertas, afirmadas e reconhecidas como tal, significariam o colapso completo da ideologia autoritária”. George Orwell, em seu romance distópico 1984, que continua sendo um diagnóstico agudo para o culto moderno do controle, também entendeu que a limitação do poder sexual era uma das armas mais insidiosas da autocracia. Orwell faz Julia, a heroína de 1984, perceber o segredo de Eros: “Ao contrário de Winston, [ela] entendeu o significado interno do puritanismo sexual do Partido. Não foi apenas que o instinto sexual criou um mundo próprio que estava fora o controle do Partido e que, portanto, deveria ser destruído, se possível. O mais importante era que a privação sexual induzia a histeria, o que era desejável porque podia ser transformado em febre de guerra e adoração de líderes.”

O adepto do caminho da esquerda, radicalmente individuado e separado das ilusões da multidão através da transgressão sistemática do tabu e do “mundo próprio” da sexualidade transcendente, dificilmente será arrastado pelas paixões impensadas das massas. Na primeira manifestação histórica da corrente sinistra que investigaremos, a Vama Marga da Índia, esse elemento de desafio social torna-se evidente. A recusa do iniciado do caminho da esquerda indiana em seguir as restrições religiosas de sua sociedade contra o sexo entre as castas, o consumo de vinho, o consumo de certos alimentos “impuros”, é a base sobre a qual ele eventualmente transgrede o estado humano e torna-se divino. Em seitas mais extremas do caminho da esquerda, como os Aghori, a transcendência de tabus internos profundamente arraigados vai muito além. Embora esse fator crítico de subversão social tenha sido ignorado ou branqueado por intérpretes mais moderados do caminho da esquerda do que nós, você descobrirá que essa recusa em seguir as regras ditadas por outros é um dos fatores universalmente definitivos que separam a esquerda caminho da mão de formas mais brandas e menos antagônicas de magia sexual.

Seria fácil interpretar erroneamente esse desafio ao costume social e religioso como uma declaração puramente política. No entanto, uma vez libertado de um conjunto de antolhos psíquicos, o magista do caminho da mão esquerda não os troca simplesmente por um novo conjunto. Ele ou ela se esforça para alcançar um estado de espírito em que todas as formas de ortodoxia devem ser questionadas e rejeitadas.

Mesmo neste estágio inicial, o leitor perspicaz terá percebido que quando falamos de magia sexual da mão esquerda, não estamos preocupados apenas com o funcionamento da genitália para algum propósito feiticeiro. Sim, sua ferramenta central de iluminação é a sexualidade desperta. Mas a tradição do caminho da mão esquerda na verdade fornece uma abordagem para todos os aspectos da existência, uma filosofia – ou “amor de Sophia” – que posta em ação pode transformar a totalidade da estrutura psicobiológica humana, não apenas seu pênis ou vagina.

Pode-se dizer que a magia sexual do caminho da mão esquerda é uma forma de iniciação conscientemente projetada para um mundo irremediavelmente fodido. A filosofia do caminho da mão esquerda postula que é o método mais adequado para os tempos apocalípticos e fora de ordem em que a humanidade existe atualmente, uma era que a tradicional disciplina indiana do caminho da mão esquerda reconhece como Kali Yuga. São necessárias medidas excepcionais para despertar a plena consciência sob condições tão desfavoráveis. O primeiro passo é rejeitar a tristeza e o desespero que esses tempos podem inspirar e abraçar com alegria o caos do mundo em desintegração, esse espetáculo ilusório e cintilante que emana da vulva da escura Kali. E uma das grandes ferramentas de transformação sobre as quais Kali preside é a carne, especialmente quando submetida à chama do desejo.

Fora da tradição do caminho da mão esquerda propriamente dita, a antiguidade pré-cristã reconhecia claramente que os estados mentais transformadores e misteriosos atingíveis através da sexualidade fazem parte do reino dos Deuses. De fato, muitos termos comuns que denotam sexualidade na linguagem moderna ainda carregam os traços indeléveis daquela antiga apreciação da natureza mágica – até mesmo religiosa – da sexualidade humana. O erótico remete ao deus Eros, o afrodisíaco refere-se à deusa Afrodite, assim como o venéreo é derivado de Vênus. As origens mágicas da palavra “fetiche” também são bastante conhecidas – deriva do português feitico (feitiço), para feitiçaria ou encanto. Quem pode negar que o poder poderoso em que um fetiche sexual escraviza o fetichista não é nada além de um fascínio, um glamour, de natureza inteiramente mágica? O caminho da esquerda, em todas as suas formas, conscientemente devolve Eros ao lugar outrora exaltado que ocupava na vida humana, reconhecendo a divindade adormecida do sexo mesmo em práticas que os profanos rejeitam como sórdidas e vergonhosas.

Sob seu exame às vezes contraditório de símbolos e premissas de magia sexual de várias tradições culturais e religiosas, Os Demônios da Carne postula um fenômeno biológico universal aparentemente conectado à consciência e sexualidade humanas. Como veremos, a expressão tântrica indiana caminho da mão esquerda descreve essa anomalia psicossexual com grande precisão. No entanto, também usamos a frase “corrente sinistra”, que indica sua existência não indígena, onipresente, não apenas em uma tradição cultural específica, mas como uma força localizada no próprio corpo.

Indicamos agora quão central é o papel que o sexo desempenha no caminho da mão esquerda, mas, presumivelmente, você pode estar se perguntando onde entra a “mágica” mencionada no subtítulo deste livro. inerente ao prazer sexual foi reduzido ao seu estado atual de degradação, assim como a outrora real arte da magia sofreu um declínio semelhante no mundo moderno. Se não se associa imediatamente a palavra com truques e prestidigitação do show business, então ela evoca o ocultista consumidor vulgar, vestido com o manto “mágico” obrigatório, recitando credulamente feitiços “mágicos” doutrinários, geralmente esperando em vão invocar o dinheiro que ele ou ela não tem as habilidades para ganhar, ou para atrair um determinado objeto de desejo sem adquirir as graças sociais para sequer iniciar uma conversa. Em outras palavras, a magia, pelo menos no mundo ocidental, tornou-se um brinquedo exótico para perdedores, a atuação de pensamentos ilusórios para alcançar objetivos transitórios mais eficientemente realizados através do desenvolvimento mundano da competência pessoal.

A magia, da perspectiva do caminho da esquerda descrita aqui, está muito distante da mercadoria bruta que se tornou no meio ocultista moderno. Estamos focados aqui na Grande Obra, a transformação sexual-alquímica do humano em semidivindade, não no desenvolvimento de alguns truques de salão. No caminho da mão esquerda indiana, os maiores magos são os divya ou bodhisattva, que não precisam recorrer a nada que se assemelhe a um ritual para criar uma transformação radical de maya, a substância da qual a mente e a matéria são compostas. Os poderes mágicos, como entendidos no Ocidente, às vezes são uma consequência da iniciação erótica, mas são secundários à remanifestação radical do eu para modos superiores de ser, que é a raison d’etre (razão de ser) do caminho da mão esquerda. Nas antigas tradições helênicas e gnósticas também consideraremos como expressões da corrente sinistra, um divya é conhecido como um magus (mago), um ser cujo poder mágico se baseia no cultivo interno do eu a níveis demoníacos de consciência.

Como esse estado de ser é o objetivo de todos os sinistros magos sexuais atuais, não fornecemos ao leitor feitiços, maldições ou rituais pré-programados. Nós também não fornecemos nomes de demônios garantidos para cumprir todos os seus comandos, nem feitiços infalíveis que atrairão os alvos de sua luxúria. Se você for ingênuo o suficiente para procurar por tais panaceias instantâneas, nossa ênfase na importância do trabalho mágico autodirigido como um processo interno de autodeificação provavelmente será extremamente frustrante. Este livro deixará claro os métodos perenes do caminho da mão esquerda que ativam o curso eterno do desenvolvimento tomado pelo divya ou o magus (mago) do caminho da mão esquerda, mas ele deliberadamente se abstém de conduzir o leitor mecanicamente através de uma lista de truques externos. Você não encontrará nada como: 1) Vagina aberta. 2) Insira o pênis. 3) Diga a palavra mágica com convicção.

Esse tipo de coisa é inútil, para não dizer um insulto à inteligência do magista iniciante. Instruções dogmáticas, para nossa experiência, não podem ser feitas para grandes magistas – elas apenas provam que o leitor pode obedecer obedientemente aos comandos. Esses atalhos e simplificações não fornecem nenhum atrito necessário para o estudante do caminho da esquerda, sem o qual nenhum esforço abrasivo necessário para iniciar a si mesmo pode ser desencadeado. Os Demônios da Carne, que somos imodestos o suficiente para classificar como um Tantra para o século XXI, é construído para fornecer esse atrito, em vez de destilar o caminho da mão esquerda em um leite materno fácil de engolir para o lactente. . Por esta razão, embora métodos práticos de procedimento sejam sugeridos, este não é tanto um livro de “como fazer” – seu foco está em “por que fazer”. Em nossa opinião, uma marca do verdadeiro magista do caminho da mão esquerda é a capacidade de integrar sistemas simbólicos complexos, sintetizá-los com a experiência pessoal e criar a partir dessa síntese sua própria direção única no caminho da mão esquerda.

Uma crença comum, mas errônea, sobre magia sexual, caminho da mão esquerda ou não, é que sua prática consiste em nada mais do que fazer um forte desejo focado durante o orgasmo. Se fosse esse o caso, dificilmente seria necessário um livro inteiro sobre o assunto – essa última frase seria suficiente para uma educação sexual-mágica completa. Este é, na verdade, apenas um dos menos sofisticados métodos de feitiçaria sexual, e embora o magista do caminho da mão esquerda possa experimentá-lo como um meio de testar a insubstancialidade de todos os fenômenos mentais, não pode ser comparado ao método da mão esquerda, muito mais essencial. métodos de caminho de iluminação sexual, como Kundalini, que remodelam a consciência para níveis supernos de realização que transcendem inteiramente o modelo pueril do “bem dos desejos” da magia sexual popular.

Talvez a prevalência dessa ideia, mesmo entre aqueles que deveriam saber melhor, se baseie no fato de que muito tem sido escrito sobre a “magia sexual” de Aleister Crowley, que em sua própria prática cotidiana consistia em pouco mais do que coordenar desejos e chegando. Mas Crowley, apesar de sua ascensão póstuma como o “nome de marca” mais reconhecível no campo da magia sexual ocidental, não é a essência da magia sexual. A ideia do orgasmo mágico não explodiu espontaneamente das entranhas de Crowley um dia. De fato, como mostraremos, os agora obscuros precursores pseudorrosacruzes de Crowley, como o magista sexual afro-americano PB Randolph e o espermófago alemão Theodor Reuss originaram muitas das ideias que se acredita que a Grande Besta 666 “descobriu”, assim como vários de seus contemporâneos e antecedentes desenvolveram essas mesmas ideias em direções mais pertinentes do que o próprio Mestre. Também tentaremos resolver a espinhosa questão de saber se Crowley é de fato um magus (mago) do caminho da esquerda.

Neste último aspecto, deve-se dizer que a prática da magia sexual por si só não qualifica um magista para o caminho da mão esquerda. Todo maluco oculto que alguma vez proclamou seu orgasmo como um evento mágico de primeira ordem não é necessariamente um iniciado no caminho da mão esquerda. Da mesma forma, a ausência de sexualidade na prática mágica de alguém é um sinal seguro de que não se está mais lidando com o caminho da esquerda em seu sentido clássico.

Colocamos a magia sexual da mão esquerda em um contexto histórico, analisando algumas das figuras históricas coloridas que praticaram a taumaturgia orgástica no Ocidente moderno. Mas devemos deixar claro que não é nossa intenção inspirar nossos leitores a imitar as vidas e lendas desses indivíduos. O caminho da esquerda está firmemente focado na autodeificação – a idolatria fanática e a adoração de heróis inculcadas por tanta literatura oculta para as “estrelas” do passado estão totalmente fora de lugar com os objetivos do caminho da esquerda. Se há uma atitude apropriada no caminho da mão esquerda a ser tomada com os famosos e infames professores de magia sexual do passado, certamente é a irreverência, não a santificação piedosa. De fato, no processo de transformar-se de consciência humana em divina por meio da iniciação erótica, é obrigatória uma irreverência saudável direcionada às próprias pretensões.

O mundo está cheio de pessoas que devoraram mil livros mágicos e ainda assim nunca realizaram um único ato genuíno de magia. Esse fenômeno é tão prevalente que a síndrome até ganhou um nome: o mágico da poltrona. Certamente não é nossa intenção criar através deste livro algo ainda pior – o mágico do sexo à beira da cama. Assumindo que você está lendo isso como uma visão geral introdutória da magia sexual do caminho da mão esquerda, e não simplesmente como uma diversão perversa, os princípios descritos aqui devem ser promulgados em sua própria carne, através da ação no mundo real, em oposição à abstração cerebral .

Claro, houve outros livros que tentaram comunicar algo dos mistérios da magia sexual. No entanto, do nosso ponto de vista, a maioria desses volumes anteriores errou o alvo. Gostaríamos de pensar que nosso objetivo será mais preciso. Na maioria das vezes, os textos de magia sexual anteriormente disponíveis suavizaram o poder penetrante disponível para o magista erótico em uma espuma pegajosa de romantismo insípido. As ofertas mais recentes foram voltadas para as sensibilidades fracas e chorosas do chamado movimento da Nova Era. Esses guias medrosos têm oferecido uma magia sexual totalmente desfigurada e domesticada a seus leitores. Este volume ficará desconfortável na prateleira com aqueles trabalhos mais suaves e menos diretos. Se sua compreensão da magia sexual foi adquirida apenas a partir desse corpo de trabalho doentio, esperamos que este livro sirva como um antídoto de purga para equívocos anteriores.

Não menos importante dos equívocos que visamos é a compreensão totalmente incoerente e historicamente inválida da natureza exata do caminho da esquerda que prevaleceu no século passado ou mais no mundo ocidental. Um dos desafios ao escrever este livro foi definir adequadamente um assunto que tantos já pensam que entendem, mas na verdade não entendem – pelo menos não por qualquer padrão objetivo que possamos identificar Ao tentar esclarecer o que a esquerda O caminho da mão é que estamos apenas começando a tarefa maior de estabelecer um modelo de trabalho congruente da corrente sinistra no Ocidente. Construído, como deve ser, sobre as ruínas da confusão do passado, esse modelo de trabalho pode levar outros cinquenta a cem anos para realmente se firmar.

Embora nós mesmos estejamos praticando magos sexuais do caminho da mão esquerda, este livro não é de forma alguma concebido como um meio de conversão ou como um dispositivo de recrutamento. Como deixaremos claro, o caminho da esquerda é, apesar de todos os seus elementos antiautoritários, uma forma elitista de iniciação. Com isso, não queremos dizer que os adeptos do caminho da esquerda necessariamente se considerem superiores aos não iniciados – apenas que a corrente sinistra não é para todos, e nunca pode ser um caminho para milhões. Ler este livro pode esclarecer para você que você não seria adequado para esta escola de iniciação.

A sexualidade é a expressão no mundo material do conceito metafísico de polaridade – o yin e yang, Shiva e Shakti, a rosa e a cruz, a união e transcendência dos opostos. Os Demônios da Carne é exatamente o que descreve, na medida em que pode ser entendido como uma magia sexual funcionando por si só. Como uma criança criada pelas energias eróticas polarizadas da sexualidade masculina e feminina gerada por seus autores, este livro ilustra como a força sexual combinada de dois magos pode criar uma terceira entidade demoníaca. Ao moldar as palavras e perspectivas colaborativas de dois magos em um todo coeso, pretendemos criar um elemental mágico que ganha uma certa vida própria, independente de seus criadores. Sempre que dois magos trabalham juntos, o resultado é a criação de tal força elementar; William S. Burroughs e Brion Gysin se referiram a esse fenômeno como “a terceira mente”. Assim como a magia erótica do caminho da esquerda cria um espaço numinoso no qual as energias muito diferentes de masculino e feminino podem se comunicar e ver além dos limites do gênero, a voz dupla deste livro fala de um ponto de vista que transcende masculino e feminino.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/demonios-da-carne-o-guia-completo-para-a-magia-sexual-do-caminho-da-mao-esquerda/

Dissecando Cthulhu

26 de Outubro de 2012.

Eu sou amigo do proprietário do Miskatonic Press (MRP) que generosamente me entregou cópias de todos os seus livros. Dissecting Cthulhu – Dissecando Cthulhu – editado por S.T. Joshu é o primeiro de uma série de ensaios críticos sobre H.P Lovecraft, August Derleth e da natureza do Mito de Cthulhu.

 

O primeiro capítulo, Some Overviews, pode soar como um tópico bem amplo mas na verdade é uma série de ataques minuciosos a Derleth. Incia-se com Richard L. Tieney que argumenta sobre a frase  “Cthulhu Mythos” é um termo impróprio criado por Derleth mas atribuído a Lovecraft. Com isso retira a primeira camada de críticas ao legado de Derleth: as atribuições elementais de Cthulhu et al, a aplicação de camadas de ordem no universo caótico de Lovecraft e o tricotar cuidadoso de tudo isso numa malha coesa. Dirk W. Mosig despareia as contribuições de Derleth de Lovecraft com uma nova frase, “Yog-Sothoth Cycle of Myth” e é uma tentativa valiosa de corrigir os escritos de um pupilo que Lovecraft chamou de “Observador terreno cego”. E aqui chegamos a uma das maiores ligas de contenção com “Little Augie Derleth” que foi responsável por espalhar uma citação incorreta atribuída a Lovecraft:

 

“Todas as minhas histórias, desconexas que possam ser, são baseadas na crença fundamental na lenda de que este mundo outrora foi habitado por uma outra raça que, praticando magia negra, perderam seu rumo e foram despejados, no entanto vivem numa periferia, de prontidão para voltar e possuir esta terra novamente.”

Lovecraft nunca disse isso. Harold Farnese, que ensaios mais velhos mostram que tinham uma memória não muito confiável, citou erroneamente Lovecraft para Derleth. Segue o que ele realmente escreveu:

 

“Todos os meus contos são baseados na premissa fundamental de que as leis humanas comuns e seus interesses, bem como emoções não têm validade alguma ou significado em comparação com o a imensidão do cosmo… Para atingir a essência da realidade externa, tanto de tempo e espaço, como de dimensão, precisa-se esquecer tais coisas como vida orgânica, bem e mal, amor e ódio, e todos os atributos locais de uma raça temporária chamada “Humanos” existam realmente. Estas duas citações são repetidas diversas vezes no texto. David E. Schultz e Simon MacCullouch continuam a instigar Derleth enquanto Joshi vai clareando as coisas. Joshi mais tarde denigre a idéia de que os “Deuses” de Lovecraft eram elementais, que o Deus Ancião era poderoso o bastante para se opor a eles e que o Mito, como um todo, era um paralelo para o Cristianismo. Ou para colocar em outras palavras, acabamos dissecando Derleth.

 

Somente Steven J. Mariconda aponta que todo este furduncio está confuso, pra começar. Lovecraft frequentemente se contradizia. O exemplo mais brilhante é Cthulhu (Tulu) descrito no “O Monte/A Colina” como um “espírito de harmonia universal antigo e simbolizado como o Deus com cabeça de polvo que trouxe a raça humana das estrelas.” Mariconda mira em todo mundo, incluindo em Robert Price. Curiosamente Mariconda é uma das poucas acadêmicas que inclui na mistura as contribuições do RPG, que é algo para ser notado com significância, como as contribuições de Chaosium e seus autores. Chaousium tem uma visão ampla e inclusiva do Mito, por conta de elaborar um universo muito mais produtivo para se jogar, com objetivos cruzados, unidos a uma estreita e indefinida visão de mundos compartilhados originalmente lançados por Lovecraft.

 

O Segundo capítulo cobre “The Books” – Os Livros – aqueles esotéricos que detonam com a sanidade e que foram buscas recorrentes de inspiração por Lovecraft e seu legado de ficção: O Necronomicon, De Vermis Mysteriis, Cultes dês Goules, e Chaat Aquadigen. Price, um bibliotecário e estudante de Lovecraft, não resiste em fazer uma compação entre o Necronomicon e a Biblia, fazendo um paralelo entre os Apócrifos e o “verdadeiro” Necronomicons. Dan Clore examina as raízes de “Paratext” de Lovecraft e como ele criou um universo fictício compartilhado que outras publicações acabaram criando suas próprias ficções.

 

O terceiro capítulo detalha “The Gods” – Os Deuses. Price lidera o caminho aqui, desnudando os termos “Deuses Anciões” e  “Grandes Antigos”, comentando que eles são invenções de Derleth exclusivamente e nunca foram envisionados como um grupo coerente por Lovecraft. Will Murray mergulha na identidade por trás de Nyarlathotep o que é fascinante. Mas então tece uma “Indústria Artesanal Crítica” acerca da identidade de Nug e Yeb em “Joking Allusions in private correspondence” como Mariconda coloca. Existem tantos outros Deuses Antigos (que Price diz não existirem como tais) que poderiam ter sido mais focados, mas somente Nyarlathotep é revelado neste capítulo.

 

O quarto capítulo cobre “The Landscape” – A Paisagem. Inicia-se com Robert D. Marten atacando Murray por uma série de artigos intitulados “In Search of Arkham Country”, no qual ele postula as verdadeiras inspirações e locações das cidades na literatura de Lovecraft. Consiste em um texto de 35 páginas, sarcástico, bajulador e puramente arrogante contra Murray. Seria muito melhor se pudéssemos ler a resposta de Murra, mas somente a Marten foi concedido este privilégio. “Dissecting Cthulhu” teria se beneficiado muito com a inclusão de mais artigos que Marten considera ofensivo. Teremos que nos satisfazer então com o texto excelente de Murray “Where Was Foxfielf?” que como Mariconda, Edwards W O’Brien, Jr faz um excelente trabalho mostrando como Lovecraft escreveu duas versões diferentes de Arkham como pedia a maré de sua história.

 

O último capitulo detalha as influências de Lovecraft. Marco Frenschkowski faz um ótimo trabalho explicando as origens de Hali, Jason C. Eckhardt por outro lado trabalha dobrado para ligar o trabalho de Lovecraft com a mitologia nórdica. Schultz retorna para a “Magia Negra”, que foi erroneamente citada por Farnese e mais tarde por Derleth. Price compartilha das contribuições de Robert E. Howard sobre a mitologia de Lovecraft. Stefan Dziemianowicz termina juntando tudo escavando ainda mais os escritos de Derleth mais desta vez mostrando sua influência em autores mais contemporâneos como Lin Carter e Brian Lumley.

 

Tem muitos acadêmicos apontando o dedo em “Dissecting Cthulhu” acerca das indignações perpetuadas por Derleth sobre o trabalho de Lovecraft. Somente Mariconda e Dziemianowicz fazem a conexão de Derleth com a homogenização e dissolução do trabalho de Lovecraft e como com isso atingiu a cultura popular. Algumas vezes enfurecedor mas sempre esclarecedor, este é um livro que deve ser lido por qualquer um que quer saber mais do legado de Lovecraft.

Trad. por Pythio

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/dissecando-cthulhu/

Amantes de Demônios, Espada de Poder: Os Outros Filhos de Adão

Por Rabbi Geoffrey W. Dennis.

Um conto esotérico judaico frequentemente repetido sobre o primeiro homem, Adão, é que ele se separou de Eva após a morte de Abel e o exílio de Caim [os processos de separação não são uma invenção moderna – também aconteceram com Abraão e Sara – ver Gênesis, capítulos 22-23]. Foi durante este tempo que as súcubos vieram até ele, seduziram-no durante o sono e, através dele, o fizeram pai de demônios e de filhos “changelings”, isto é, filhos híbridos nascidos de humanos com íncubos ou súcubos, que têm a aparência de demônios.

Aqui está um relato especial (há muitas versões desta tradição popular) do Midrash Akbir que se lê como uma versão infernal na lista de gerações encontrada no capítulo 5 do Gênesis. e depois continua para contar sobre a ascensão e queda dos filhos demoníacos de Adão:

“Quando o Primeiro Homem (Adão) viu que a morte havia chegado até ele pela mão de Caim…ele se separou da Mulher (Eva) e dormiu sozinho, de modo que uma lilit que se chamava Piznai o encontrou e despertou sua luxúria com sua beleza…. e ela gerou dele djinns[1] e lilin [2]. Ela gerou dele 92 mil multidões de djinns e lilins, e o primogênito [changeling ou criança demonóide] do Primeiro Homem recebeu o nome de Agrimas. Então Agrimas foi e levou a lilit Amarit [3]; ela gerou para ele 92 mil multidões de djinns e lilins, e o primogênito de Agrimas recebeu o nome de Avalmas. Ele foi e levou a lilit Gofrit, e ela gerou para ele 88 mil multidões de djinns e lilins. O primogênito de Avalmas, seu nome era Akrimas. Ele foi e levou Afizana filha de Piznai (uma mulher mais velha?) e…[eventualmente] o Santo Abençoado (Deus) entregou os Ímpios a Matusalém o justo, que escreveu o nome explícito de Deus (YHWH) em sua espada e matou 900.000 deles num único momento, até que Agrimas, o primogênito do Primeiro Homem, chegou até ele. Então ele se apresentou diante de Matusalém e apelou para que ele o recebesse [4]. E ele (Agrimas) escreveu e deu-lhe os nomes dos djinns e lilins [5] e [por sua vez] eles (os sheidim) deram aos (humanos) ferro para conter [os espíritos] e eles deram suas letras em proteção [6], então os remanescentes (os espíritos sobreviventes) esconderam-se nas montanhas mais remotas e nas profundezas do oceano (Margoliot, Malachei Elyon 204, a tradução é minha).

Soa como a inspiração para a história do enredo do Hellboy II, não é mesmo? Espadas maravilhosas apareceram em contos judeus desde o momento em que os Querubins receberam a sua primeira espada flamejante no capítulo 3 do Gênesis. Quanto ao motivo pelo qual o antediluviano Matusalém poderia poupar um clã de demônios, eu sugeriria o seguinte. Primeiro, parece haver a implicação de que pelo menos algumas dessas criaturas eram quase humanas (e parentes, para começar). E a segunda pode ser que o autor pense em sheidim mais na veia dos djinn do que como demônios; espíritos elementais malignos mais do que encarnações malignas do mal radical. Muitas fontes judaicas sobre os sheidim os descrevem de uma forma análoga aos relatos árabes dos djinn: Os Sheidim reconhecem a autoridade de Deus, eles estudam a Torá, e até mesmo observam a lei judaica. Muitas vezes trazem o infortúnio, mas aqueles sábios em seus caminhos também podem levá-los a servir a bons fins.

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Notas:

[1] Eu traduzo a palavra hebraica sheid como “djinn”, ao invés do mais convencional “demônio”. Veja a discussão final acima. Veja também o artigo útil, “Gênio”, na Wikipédia.

[2] Aqui lilit e lilin [plural] tem a conotação de uma súcuba, um espírito feminino que molesta sexualmente os homens durante o sono (os djinns femininos, conhecidos como jinniyah, também são notórios por serem intrusos sexuais). Em outras fontes, o mesmo termo lilit refere-se aos espíritos maliciosos de ambos os sexos que causam doenças e infortúnios.

[3] Fico impressionado com o fato de que os nomes dos espíritos malignos femininos para estas duas gerações terminam todos na estrutura “-rit”. Isto me faz pensar imediatamente naqueles djinns conhecidos em árabe como “If-rit”. O porquê dos nomes dos machos terminarem todos em “-mas” não tem nenhuma associação ou significado óbvio para mim.

[4] Presumo que seu apelo foi baseado ou em seu status de filho de Adão, e/ou em alguma noção de parentesco com Matusalém. Ele tem a sensação de uma reivindicação de lealdade ao clã do Oriente Médio, caso contrário não vejo a motivação de Matusalém para poupá-lo e ao resto de sua família espiritual. Em qualquer caso, o que se segue são os termos de capitulação à humanidade que permitem que a descendência impetuosa de Adão escape com suas vidas.

[5] Os nomes são importantes porque conhecer os nomes dos espíritos dá uma autoridade sobre eles. Com a lista, as pessoas podem agora controlar os espíritos e refrear suas atividades nocivas [Ver. O Testamento de Salomão].

[6] O ferro tem propriedades antidemoníacas, por isso acho que isto se destina a fornecer uma explicação para como a humanidade adquiriu primeiro o conhecimento da fundição de ferro (presumivelmente a espada de Matusalém era de bronze). Em Enoque, afirma-se que os anjos caídos ensinaram tudo à humanidade, desde a feitiçaria até a fabricação de ferro e a perfumaria. Letras e palavras também têm poder construtivo, revelando assim seu alfabeto ou – mais provavelmente – seus símbolos mágicos/angélicos [que se tornaram um item básico dos amuletos medievais], agora dá à humanidade uma contramedida adicional contra as djinni e as súcubos.

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Sobre o autor:

Geoffrey W. Dennis é rabino da Congregação Kol Ami e ensina Cabala e Literatura Rabínica no Programa de Estudos Judaicos da Universidade do Norte do Texas. Ele é o autor de The Encyclopedia of Jewish Myth, Magic, and Mysticism, finalista do National Book Award de 2007 e ganhador de uma Menção Honrosa pelo Jewish Library Council Book Award de 2007. Ele escreveu inúmeros artigos. O mais recente, “Purity and Transformation: The Mimetic Performance of Scriptural Texts in the Ritual of Taharah”, está no Journal of Ritual Studies 26 (1), 2012.

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Fonte:

DENNIS, Geoffrey W. Demon Lovers, Sword of Power: The Other Children of Adam. Jewish Myth, Magic, and Mysticism, 2008. Disponível em: <https://ejmmm2007.blogspot.com>. Acesso em 4 de março de 2022.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/demonologia/amantes-de-demonios-espada-de-poder-os-outros-filhos-de-adao/

Bibliografia Estrangeira sobre lobisomens

Em La Genèse des Mythes, Alexandre Krapper (Paris, 1915) escreve:

“Diz uma lenda búlgara que o Diabo faz o corpo do lobo, mas não consegue animá-lo. É preciso que Deus o faça:

Na Escandinávia, o deus Tir tem sua mão direita arrancada pelo lobo Fenrir.

O lobo é comumente obra do espírito das trevas.”

Não obstante, cultos endeusaram o animal desde tempos muito antigos. A figura do lobo, como se sabe, esteve sempre presente tanto na mitologia clássica como na folclórica. Nesta, emprestou seu nome e seu aspecto ao Lobisomem.

Ele chegou até aqui vindo da Europa, na época da colonização. Tem-se notícia de sua existência já em era muito remota e o mundo todo o conhece, com variações.

O Lobisomem apresenta-se – no contexto da cultura erudita – na tradição clássica da Grécia, de onde se transportou para Roma.

Na Grécia, o rei Licaon tentou matar Zeus. Em outra lenda, Licaon fez um sacrifício humano e a ira divina recaiu sobre ele. Ou Licaon serviu a Zeus carne humana. Ou ainda Licaon sacrificou ao deus o seu próprio filho. Em todas essas lendas, o final é o mesmo. O rei foi transformado para sempre em lobo, como castigo.. Mas se não se alimentasse de carne humana por dez anos, recuperaria o aspecto de homem.

É curioso notar, entretanto, que mesmo antes de tornar-se lobo, o rei já lhe portava o nome: Licus, Luko.

Na mitologia pré-helênica, para alguns, já teria havido um ZeusLicaeus; a mais antiga crença local. Outros indicam a evocação desse deus como sendo posterior à pena sofrida por Licaon. O ZeusLicaeus era o deus da luz (luke) e pode, também, ter havido confusão entre esse vocábulo e luko, lobo.

Também não seria despropositado supor-se a existência de um rito com oferendas ao deus-lobo, a fim de que ele poupasse os rebanhos e que esse culto se realizasse com os sacerdotes vestidos com a pele do animal-deus.

Em Roma, sempre houve veneração pelo lobo. Rômulo, o fundador da cidade e seu irmão gêmeo, Remo, abandonados ao nascer, foram amamentados por uma loba antes de serem recolhidos por Fáustolo e sua mulher Acca Laurentia. A loba de Roma, a deusa Luperca, era homenageada com festas denominadas Lupercais (festas do lobo), que, no ano 494 depois de Cristo, tiveram o nome mudado para Festa da Purificação.

No século I, na Roma de Nero, Tito Petrônio Arbiter escreve o Satíricon. No capítulo LXII, Niceros, no banquete de Trimalcion, relata a estória do soldado que se transforma em lobo.

Este é o mais antigo registro existente, em literatura erudita, da Estória do Lobisomem. Nessa estória, traduzida para o francês por M. Héguin de Guerle, Niceros narra a sua saída com um soldado, seu companheiro; em certa noite de Lua, tão clara como se fosse o meio-dia. Puseram-se a caminho ao primeiro canto do galo. Ao fim de uma estrada encontraram-se entre sepulturas. Subitaments, começou o soldado a conjurar os astros. Depois, despiu-se e colocou as roupas junto à estrada. Em seguida, urinou à volta delas e, nesse instante, transformou-se em lobo. Pôs-se então a uivar e embrenhou-se na mata. As suas vestes tornaram-se em pedras. Niceros, apavorado, saiu correndo e chegou à casa de Melisse. Esta, espantada por vê-lo ali a desoras, disse-lhe que, se tivesse chegado um pouco mais cedo, teria sido de grande valia; pois um lobo penetrara no curral e degolara todos os carneiros. Uma verdadeira carnificina! Mas, embora tivesse escapado, fora gravemente ferido no pescoço, por um criado. Intrigado e horrorizado, e como o dia já vinha clareando, voltou rapidamente pelo mesmo caminho. Ao passar pelo lugar onde as roupas haviam-se transformado em pedra, verificou que ali só restava sangue. Entrando no alojamento, encontrou o soldado estendido na cama; sangrava abundantemente e um médico o atendia, tentando estancar a hemorragia do pescoço. Foi então que percebeu tratar-se de um Lobisomem.

Nos primórdios da era cristã, tanto Ovídio como Petrônio registraram que o Lobisomem era fruto de penitência, de castigo, ou era uma transformação voluntária e temporária, como acontecera ao soldado da estória. Também em transformação voluntária fala o poeta clássico da antigüidade, Virgílio, nas Bucólicas, em tradução de Manuel Odorico Mendes.

“Meris estes venenos e estas ervas
Com eles Meris vi, tornado em lobo.”

…………………………………………………….

E ainda nas Éclogas, em versão de José Pedro Soares – Lisboa, 1800./
Meris me deu as ervas que sahia Os venenos de que Ponto abundava; Com eles ele lobo se fazia,
Nos matos, invisível se ocultava”.

…………………………………………………….

Os romanos, povo conquistador, divulgaram largamente o mito do Lobisomem pelas terras conquistadas. Para eles, o homem transformado em animal era Versipélio. Para os gregos, Liçantropo. É o Valkodlák dos eslavos, o Werewolf dos saxões, o Wahrwolf dos germanos, o Óbaroten dos soviéticos, o Hamrammr dos nórdicos, o Loupgarou dos franceses, o Lupo-mannaro dos italianos; o Luisán ou Lobisón dos Paraguaios, o Lobisome ou Lobizón dos argentinos, o Lobisomem da Península Ibérica e da América Central e do Sul com suas modificações para Lubizon, Lubisome, Lobisomi, Labisomi, Lambisome, Lubisono, Lobo-homem, Lobisa, Porcalhão.

Licantropia é o “estado de alienação em que o doente se imagina transformado em lobo. Licomania.’ (Dicionário de Termos Médicos – Dr. Pedro Alves Pinto). Por extensão, esse vocábulo designa, também, a mutação do homem em animal por meio de ritos, invocações ou poderes mágìcos, ou, ainda, como conseqüência de maldição.

O historiador Heródoto acreditava que povos do leste da Europa, onde se situa a Romênia, possuíam a faculdade de se transformar em lobo, durante alguns dias do ano. Retornavam depois à forma humana. Esses povos, denominados Neuros, durante o culto ao deus-lobo, atacavam traiçoeiramente pessoas desprevenidas, com fins de antropofagia e também bebiam sangue humano.

Nos bosques da Itália Central primitiva, sacerdotes do Sorano (um dos nomes de Plutão, rei dos infernos) do povo Sabino, que habitava essa regíão, entregavam-se ao seu culto envolvidos em peles de lobo, o animal do deus.

Lupo-mannara, o Lobisomem da Itália, ataca e devora pessoas,especialmente crianças.

No folclore lapão, se um homem comete um crime de morte e não se confessa culpado, pode ver-se transformado em lobo, por artes do Diabo. Lá se acredita também que é impossível matar um lobo com uma bala comum, a menos que houvesse permanecido no bolso de alguém que tivesse assistido à missa por dois domingos seguidos.

Certas tribos africanas são tidas como praticantes da mutação com complicadas iniciações secretas, e seus membros reproduzem o comportamento do tigre e do leopardo, mascarados com peles desses animais.

Na ilha Sumatra (Indonésia) os homens de uma tribo afirmam possuir a faculdade de se transformar em tigre. Por toda a Ásia, membros de determinadas Associações confessam abertamente que retêm o poder de metamorfose, com regressão ao estado anterior.

No folclore soviético, as alcatéias de lobos famintos que uivam, nas noites de inverno rigoroso, são Lobisomens cumprindo o seu fadário, após o que, um dia, voltarão ao convívio dos homens.

Na China, os Lobisomens, depois de mortos, conservam a forma do animal. Lá existe ainda o Lobisomem fêmea. A mãe de um general, acredita-se, transformou-se em loba aos setenta anos de idade.

No folclore chinês aparece também a estória de um camponês que se viu atacado ferozmente por um lobo. Para livrar-se, subiu em uma árvore. O animal, no entanto, dava-lhe botes e com isso rasgava-Ihe a calça. O homem, para se defender, deu-lhe uma machadada na cabeça. No dia seguinte, verificou que um seu conhecido estava ferido na cabeça, e tinha, nos dentes, fiapos do tecido de sua roupa.

O Lobisomem feminino é encontrado na África, na forma de hiena ou pantera e é uma penitência que a mulher que cometeu pecado mortal deve cumprir por sete anos. Na Armênia, uma pele de lobo cai sobre ela, que à noite devora os próprios filhos, os filhos de seus parentes mais chegados e outras crianças, retomando, ao amanhecer, a forma humana.

No folclore irlandês, “o fato do homem e da mulher transformarem-se em lobos a cada sete anos é por demais conhecido…” Lá, a fêmea do Lobisomem é chamada Conoel.

Encontra-se o Lobisomem fêmea também na Bretanha. Uma mulher saiu à noite e logo após, uma grande gata entrou em sua casa. O marido machucou-a, ao tentar espantá-la com um pedaço de lenha. Passados três dias a esposa retornou, com um corte em uma das mãos.

Segundo Sébillot, acreditava-se, na Bretanha de 1832, que os Lobisomens fossem homens transformados em lobo por estarem há dez anos afastados do confessionário. Outras vezes o castigo era atribuido ao fato da pessoa não ter mergulhado os dedos numa pia de água-benta pelo espaço de sete anos. Em 1870, dizia-se, na Baixa-Bretanha, que os Lobisomens vestiam-se com uma pele de lobo e então absorviam sua personalidade, correndo pelos campos e bosques, atacando pessoas e animais. Ao clarear o dia, escondiam sigilosamente essa pele e voltavam para casa. Havia uma grande afinidade entre a pele e o seu próprio corpo, de tal forma que, certa vez, um homem, que a escondera dentro do forno de sua casa, pôs-se a gritar que estava sendo queimado, quando a esposa acendeu o forno. Ainda em região da Bretanha, crê-se que para os homens se transformarem em animal basta que se untem com uma pomada fornecida pelo Diabo. Dessa forma transformam-se não só em lobos, mas ainda em vacas ou gatos.

Em sua Histoire de la Magique en France (História da Mágica na França), Garinet narra acontecimentos de 1573; quando Gilles Garnier foi a julgamento – acusado de ter devorado várias crianças ao se transformar em Lobisomem. Condenado, foi arrastado ao local da execução e queimado vivo.

Esse homem viu-se, um dia, a braços com problemas e, com o intuito de se acalmar, embrenhou-se na floresta. La encontrou um fantasma com forma humana que lhe propôs fazê-lo transformar-se em lobo ou qualquer outro animal. Escolheu a forma de lobo e conseguiu a metamorfose esfregando-se com um ungüento especial, como confessou durante o julgamento.

Outro caso deu-se com um menino de treze ou catorze anos, que confessou só não ter devorado sua amiga pastorinha Margarida, porque esta conseguira defender-se valenternente com um pau. Mas declarou já ter devorado algumas crianças, quando transformada em lobo. Ao lhe perguntarem por que artes conseguia essa transformação, relatou que um seu vizinho o apresentara ao Senhor da Floresta, que Ihe dera um ungüento para se esfregar e que esse ungüento ficava sob a guarda do Senhor, mas que ele podia usá-lo quantas vezes o desejasse, Este menino, Jean Grenier, foi declarado pelos juízes portador de licantropia e, por esse motivo, escapou à morte, sendo condenado à prisão perpétua.

Crê-se também que a metamorfose possa acontecer ao ingerir-se uma beberagem oferecida pelo Diabo. E se os Lobisomens não se recordarem do lugar ande deixaram a garrafa com a bebida, serão lobos para sempre.

Existe ainda a crença de que é preciso possuir duas garrafas: a primeira com a bebida para a metamorfose e a segunda para o retorno à forma humana.

Uma outra maneira de se obter a transformação na França, Inglaterra, URSS e certas regiões da Europa, é bater a parte baixa das costas repetidamente em porta de igreja, recitando uma fórmula mágica. Ou então utilizar um cinto confeccionado com a pele do animal.

no qual o indivíduo deseja transformar-se; ou cobrir-se com essa pele; beber água acumulada no seu rastro; comer alimentos abandonados pelo animal; comer carne na sexta-feira santa; partilhar o covil ou a ração de um lobo; untar-se com ungüento feito com um dos seguintes ingredientes: gordura de lobo, folhas de meimendro, de beladona, de papoula, de eleboro, de cânhamo ou de datura.

Para cessar o encantamento, retirar o cinto mágico; ficar cem anos de joelhos no local; ser publicamente acusado de Lobisomem; ser saudado com o sinal da cruz; ser chamado pelo nome de batismo; ser ferido, de forma a perder sangue; ao percorrer sete cidades, entre um local e outro mergulhar na água, ou espojar-se no orvalho.

Proteção contra o Lobisomem é participar-se, anualmente, de fogueira em festa de S. João. Há ainda um sem número de fórmulas mágicas a serem recitadas; com a mesma finalidade.

Em 1598, uma criança foi devorada, nos arredores de Angers. Caçadores depararam-se com uma criatura selvagem, não muito distante do cadáver. Esse selvagem confessou-lhes haver devorado a criança, juntamente com seu pai e seu primo, ambos Lobisomens, como ele. Condenado à morte, apelou, sendo declarado, então, mais louco do que criminoso e mandado para o hospital Saint-Germain-des-Pres.

Van Gennep, citado por Daniel Bernard, escreve que em Auvergne, o Lobisomem é um mortal que se levanta à noite e, coberto com uma pele de animal selvagem, corre loucamente, sobre pés e mãos, atravessando os campos. É invulnerável a balas. Se consegue devorar o primeiro animal que encontra no seu caminho, tornase inofensivo; do contrário, devasta tudo por onde passa e mata até crianças. Sua esposa, que esta a par dessa possessão, prepara-lhe uma pasta semelhante à dos parcos, que engole na volta, ao clarear o dia. Na manhã seguinte retoma suas ocupações habituais e nada trái sua infelicidade, a não ser a extraodrinária rugosidade das mãos. Se for ferido e sangrar durante a corrida da noite, cura-se; mas infeliz do amigo que lhe prsetar tal serviço: o Lobisomem será obrigado a fazê-lo em pedaços.

Os párocos possuíam o poder de transformar um criminoso, que não confessasse o seu crime, em Lobisomem. No primeiro domingo, advertiam o culpado; no segundo, se ele não se acusasse, era avisado do que lhe aconteceria no domingo seguinte; e neste, ficava ciente de que, após o terceiro aviso, a sentença seria pronunciada; sentença horripilante. Mulheres nervosas deveriam abster-se de assistir a tal cerimônia. Do alta do púlpito, o sacerdote lia a fórmula aterradora. Apagava então a chama do círio e gritava: Que a alma do culpado se apague como esta luz!

O criminoso transformava-se imediatamente em animal e começava sua corrida, que se prolongaria por sete anos, através de sete paróquias. Não podia, também, desvendar seu terrível segredo, sob pena de ser amaldiçoado por mais sete anos.

Em 1521, Pierre Burgot e Michel Verdung enfrentaram o juiz Bodin; demonólogo e inquisitor de feiticeiros. Confessaram haverem-se acasalado com fêmeas de lobo. Burgot teria assassinado um jovem, com patadas e dentadas de lobo; Michel teria matado uma jovem e, ambos, finalmente, declararam havèr devorado quatro moças. Foram condenados à fogueira, sem produção de outras provas.

Na Bretanha existem também os amestradores de lobos. Eles, quando assim o desejam, tomam uma bebida oferecida pelo Diabo e transformam-se em lobo. Têm grande domínio sobre esses animais. Quando metamorfoseados e feridos, assim que o sangue corre, voltam à forma humana. Sobre eles existe este relato:

Um homem perdido na floresta chegou a uma encruzilhada, onde encontrou um amestrador de lobos, com alguns à sua volta. Recebeu dois dos animais como guias e guardas e eles o conduzram fielmente até a casa, são e salvo. Mas teve que observar uma recomendação: não cair durante a caminhada è dar aos lobos, assim que chegasse, pão e galette de blé noir (bolo folheado, escuro, feito de grãos de centeio ).

A autora1 encontrou, em transcrição, uma narrativa de Alain Decaux intitulada La Bête de Gévaudan, a qual traduz livremente de forma abreviada.

A Fera de Gévaudan

O Gévaudan é a atual província de Lozère, abrangendo, também, uma parte do Alto-Loire. É uma região áspera, dura, de beleza selvagem. Situa-se entre gargantas de montanhas e montes calcários, pedregosos.

Sua principal riqueza é a pecuária e seus rebanhos de vacas, carneiros, cabras, cavalos e burros precisam pastar nos flancos dessas montanhas, pastoreados por crianças de seis a quinze anos, e por velhos.

Tudo começou na primavera de 1764, há mais de dois séculos, portanto. Mas o fato ainda é lembrado e comentado, nos nossos dias.

Através de documentos da época, Alain Decaux rememora os acontecimentos.

“Uma Fera monstruosa semeia o pavor e o desespero na região, atacando e matando sem cessar, especialmente crianças, adolescentes e mulheres.

A primeira vítima foi uma menina de catorze anos, Jeanne Foulet. Dentro de pouco tempo, mais adolescentes. Em seguida, uma mulher de trinta e seis anos, que cuidava do seu jardim, em frente a casa. Enfrentando o povo, calma, ousada, sem pressa, a Fera abocanhou-Ihe o pescoço, bebeu-lhe o sangue e, em seguida, devorou-a.

A Igreja declarou-a fruto da cólera divina, por pecados cometidos pelo povo: O pavor tomou conta de todos.

Os registros da época referem-se a animal desconhecido. De fato, os que o viram afirmaram categoricamente que não era um lobo. Lobos, eles os conheciam bem. As descrições apresentaram-no com esta aparência:

Tem o porte de um vitelo de um ano os olhos grandes como ele; é baixo na parte da frente e as patas são providas de garras; a cabeça é grande, terminando em focinho alongado; as orelhas são menores do que as de um lobo e espetadas, como chifres; o peitoral é largo e recoberto de pêlos acinzentados; os flancos são avermelhados; acompanhando a espinha, uma listra negra. Mas o que mais impressionava a todos era a sua goela, uma bocarra imensa e provida de afiadíssimas presas, capazes de decepar as cabeças das vítimas como uma navalha. Goela horrenda.

Descreviam-no ainda como tendo andar lento e correndo aos pulos, em velocidade inacreditável. Era visto ora num lugar e ora noutro, a distância que nenhum animal poderia percorrer dentro daquele espaço de tempo. Alguns concordavam que ele pudesse ser semelhante ao lobo; mas eram todos categóricos ao afirmar que não era, em absoluto, um lobo, mas uma fera jamais vista antes.

O número de vítimas aumentava assustadoramente. A população entrou em pânico.

Vieram para o local os Dragões – força armada, comandada pelo capitão Dúhamel: 57 homens, sendo 17 à cavalo. O capitão defrontou-se com a Fera. Atirou, feriu-a. Ela fugiu, mas ele teve tempo de vê-la bem. Declarou que deveria tratar-se de um produto híbrido, cujo pai seria um leão. Mas quem seria a mãe? Um mês se passou e ela não foi abatida. Retiraram-se os Dragões.

O Rei ofereceu alta recompensa a quem a capturasse ou matasse.

Na região, corriam notícias de que se tratava de um Lobisomem, pois uma mulher chegara à cidade, espavorida, relatando que, na estrada, ao ser ajudada a montar, por um desconhecido, observara-lhe as mãos e estas eram inteiramente recobertas de grossos pêlos.

Empreenderam marchas e emboscadas e seguiram os rastros da Fera. O resultado foi nulo. Parece que ela adivinhava a presença deles e desaparecia. Mas continuava fazendo vítimas, sem cessar, simultaneamente em lugares os mais distantes, parecendo ter o dom da ubiqüidade.

Um jovem fidalgo, avistando-a da janela do seu castelo, armou-se e, acompanhado de dois irmãos, partiu ao seu encalço. Defrontaram-se. A Fera não aparentava medo; pelo contrário, parecia atrevida, ousada. Foi, desta vez, ferida no pescoço e no peito. O sangue jorrou em abundância. Os três irmãos declararam que, embora tivesse fugido, não sobreviveria. Dois dias depois, entretanto, continuava a atacar e matar.

O lugar-tenente dos caçadores do Rei, senhor François-Antoine, veio para o local. A área onde a Fera corria era extensa e de matas fechadas. Mas um dia, afinal, Antoine, como ficou conhecido, encontrou as pegadas de uma loba e seus filhotes, que lhe pareceram enormes, e profundas, devido ao peso dos animais. E de repente, avistou o animal que, não tinha dúvidas, era a Fera!

Monstruosa, patas curtas, corpo muito comprido, goela assustadora, avançou para ele. Antoine estava sentado. Mirou, atirou. A bala atingiu o olho direito da Fera, atravessou a cabeça e fraturou-lhe a base do crânio. Que animal resistiria a isso? Ela caiu. Morta? Não. Levantou-se e avançou novamente. Mais um tiro e ela tombou. Desta vez, sim, morta.

Aproximou-se. Parecia um lobo. Mas um lobo como jamais alguém havia visto. Medonho, gigantesco, com flancos avermelhados e aquela listra negra no lombo. Foi, por centenas de testemunhas, reconhecido como a Fera.

Alívio geral. Empalharam-na e remeteram-na para a Corte, como prova da façanha. Pesou 65 quilos e mediu 1,43 m. do focinho às patas traseiras e 1,90 m. até a ponta da cauda.

Antoine foi condecorado e agraciado com uma pensão. Alguns dias mais tarde seguiu os rastros da fêmea. e matou-a, assim como aos filhotes. Parecia o fim do pesadelo, afinal.

Passados, entretanto, menos de dois meses, o horror recomeçou. A Fera lá estava de novo, atacando e matando.

Desesperado, o povo organizou uma romaria a Nossa Senhora D’Estours. Entre os peregrinos encontrava-se um cidadão maduro, porém sadio, vigoroso. Era Jean Chastel. Na chegada, entregou seu fuzil para benzer, juntamente com três balas.

O extraordinário é que exatamente nesse momento Jean Chastel terminara de ler as Litanias. Calmamente, sem pressa, retirou os óculos e guardou-os no bolso. Empunhou o fuzil. Mais extraordinário ainda é que a Fera, imóvel, o observava, como que obedecendo a um comando. Mirou. Atirou. Acertou o animal no quarto dianteiro. Ele não se mexeu. Mas quando os cães acorreram e saltaram sobre ele, caíu. A Fera, finalmente, estava morta.

Jean Chastel aproximou-se dela e murmurou:

– Fera, não mais devorarás.

E então, enfim, todos puderam dormir em paz.

Voltando ao passado: Informam os documentos da época que em 1762, dois anos antes, portanto, do aparecimento da Fera, havia, naquela região, uma família de amestradores de lobos. Usaram-nos certa ocasião para um assalto a viajantes, ordenando-lhes que os devorassem. Pelo crime foram condenados à forca. Seria Jean Chastel um dos filhos que escapou a tal morte?”

Bernard Alliot, em artigo no jornal francês Le Monde n.° 1738 – ano 1982 – tece comentários sobre a terrível Fera de Gévaudan, ainda viva na memória do povo, partindo dos mesmos documentos da época, que serviram de subsídio ao relato acima. Essa colaboração, intitulada Loup, y est-tu?2 (Lobo, estás aí?) informa que “não há mais lobo. Exterminado, desapareceu o sinistro canis lupus que semeou o terror durante séculos, nos campos . . . Ele é o símbolo do grande devorador; ao lado do Ogre. O terrível lobo de Sarlat3 tinha 42 dentes trinchantes e afilados dos quais 4 em forma de gancho. No século XVIII, Buffon, conhecido por sua serenidade, ressaltou que não há nada de bom nesse animal a não ser a sua pele. Mas Gengis Khan – e isso se compreende – gabava-se de ter um ancestral lobo. Hitler gostava de ser chamado oncle Wolf (tio Lobo).

Na mitologia judaica, o lobo é considerado um animal impuro, uma figura do Maligno. Portanto, não é de surpreender que na imaginação dos povos cristãos surja o Diabo com olhos de brasa…

Os testemunhos de pessoas atacadas, os massacres causados pelas feras, a esperteza e a resistência desses animais, a atitude da Igreja, associando o assalto dos lobos a uma punição divina, além da voz do povo, criaram em torno do animal uma atmosfera de terror e de feitiçaria. O homem introduziu-o em contos e estórias, apossando-se dos seus poderes maléficos. O amestrador de lobos, em troca de um pacto com Satã, detém o poder sobrenatural de comandá-los.

Lobisomens cobrem-se com a pele do animal maldito e perambulam à noite por árduos caminhos. Segundo a crença do povo, essas pessoas, vítimas de feitiçaria, são condenadas a vagar sob a Lua uivando como lobos.

Visando ao equilíbrio natural, ecologistas desejam reintroduzir na França alguns exemplares deste animal desaparecido. Deverão primeiramente, conseguir extrair do conceito popular o terror do lobo, ali fixado por toda uma marcante mitologia.”

A autora recebeu, da França, as duas publicações anteriores, a obra L’homme et Le Loup, (O homem e o Lobo), de Daniel Bernard e Daniel Dubois, e o Guide de L’Auvergne Mystérieux (Guia do Auvergne Misterioso), da coleção Guides Noirs (Guias Negros).

Esse volume, de Annette Lauras-Pourrat, apresenta interessante material sobre o Lobisomem, o Loup-garou dos franceses. Isso vem comprovar o interesse que o mito desperta, ainda hoje, pois trata-se de coleção destinada a turistas, sendo cada volume referente às principais curiosidades (de horror) de detèrminada região.

Auvergne é antiquíssima e situa-se no maciço central da França. Relata a História que no ano 52 a.C. foi anexada a Roma. É procurada pelos turistas especialmente pela beleza e imponência de suas vetustas construções acasteladas.

Eis alguns trechos dessa publicação; em tradução informal.

“Há séculos crê-se em Auvergne na existência de homens-lobos,os Lobisomens, com são chamados, ou ainda galipotes. Esses seres não tinham, na verdade, nada de humano e nem mesmo grande coisa de animal. Eram uma espécie de vulto negro quase sem mem bros, vislumbrados à noite, ao longo das sebes e dos muros. Atacavam retardatários, saltavam-lhes às costas e exigiam que se os carregasse.

Segundo se pensava, tratava-se de párias, cuja desgraça os teria levado a fazer um pacto com o Maligno. Na lua cheia viam-se transformados em lobos, e por tal eram tomados, pois revestiam-se da pele do animal, fornecida pelo Diabo. Corriam como quadrúpedes a uma velocidade que homem algum alcançaria. Assim que escurecia, eram acometidos de febre. Saltavam da cama e escapavam pela janela. Seu amo e senhor (o Diabo) estipulava que deviam correr, durante a noite, sete povoados. Soltavam-se pelos campos, em desabalada carreira, prontos para saltar sobre o primeiro caminhante. Nada os atemorizava, nem armas de fogo, a menos que as balas fossem bentas.

Se encontrássemos um Lobisomem, teríamos que feri-lo com faca, ou com pedrada, para tirar-lhe sangue, único meio de fazê-lo retornar à forma humana. Deve-se colocar sempre sob os berços um ramo de avenca; essa elegante folhagem que medra nos velhos muros tem o poder de afastar o Lobisomem.

No seu Discurso sobre as Feiticeiros, Boguet relata que, nos fins do século XVI, numa pequena aldeia de Auvergne, um nobre estava à janela, quando avistou um caçador seu conhecido. Pediu- lhe que, na volta, passasse por ali e lhe mostrasse o que caçara.

Assim foi prometido. Chegando à floresta viu um grande lobo caminhar ao seu encontro. Entraram em luta. O caçador decepou-lhe a pata direita, mas o animal conseguiu escapar. Depois, para honrar a palavra, levou o troféu .ao amigo. Mas, para sua surpresa, ao abrir o alforje, o que apareceu foi mão feminina, com um anel que o nobre reconheceu imediatamente, pois era de sua esposa.

Apressou-se a procurá-la. Encontrou-a junto à lareira, com o braço direito escondido sob um chale. Quando lhe mostrou a mão decepada, a infeliz não teve como negar que havia perseguido o caçador sob a forma de um lobo. O marido entregou-a à justiça e a dama feiticeira foi queimada em Riom.”

Ainda no mesmo volume encontra-se trecho, sob o título Dos Lobisomens aos Flammaçons (Franco-maçons).

“A História pouco se ocupou desses homens que não saíam da sombra dos bosques, onde toda a riqueza consistia em uma dúzia de porcos e três vacas, e cujo entretenimento era sangrar um javali ou desalojar uma ninhada de lobos.

Eles corriam, nas noites de lua cheia, ridiculamente mascarados com uma pele de lobo. Ao longo dos séculos, existiram sempre esses homens envolvidos em peles. Dão, sobretudo, o que pensar, os textos que se referem aos Tuchins, durante a Guerra dos Cem Anos. Mataram todos os comerciantes, nobres e padres que puderam apanhar. Ninguém mais ousava sair, a menos que estivesse coberto com uma pele de animal. Essa pele era mais do que uma vestimenta: era algo como um emblema e, acima de tudo, um estado, uma condição. Mas os Tuchins perceberam o estratagema e mataram todos os que não tinham as mãos calosas.

Cogitaria o bando dos homens-lobos restabelecer nas montanhas seu antigo primitivismo? O certo é que foram cometidos muitos horrores antes que essa horda fosse dizimada.

Falava-se de cidades inteiras de feiticeiros, e de amestradores de lobos morando nas montanhas.

Sob a Restauração, como quase toda a burguesia dessas pequenas cidades fazia parte das lojas maçônicas, a imagem da horda misturou-se à da maçonaria.

Haveria ainda, nessa época, banquetes nas florestas? Talvez.

Em todo caso, os velhos assim acreditavam firmemente e indicavam os locais onde fulano e fulano, que eles haviam conhecido bem, tinham perecido, nesses festins à luz dos archotes.

Os Franco-maçons (Franc-maçons) eram homens que andavam pelos bósques carregando archotes. Como a letra R transforma-se muitas vezes em L no linguajar do povo, a pronúncia passou a ser Flammaçans, nome que lembrava chama (flame); archotes e reuniões à volta de uma fogueira, o que estaria vinculado aos Lobisomens, segundo Henri Pourrat em Le Loup-Garou et sa bancle (O Lobisomem e sua horda) Edit. Attinger, 1949.”

A mesma narrativa da esposa do nobre que tem a mão decepada, aparece em L’homem et Le Loup (O homem e o Lobo), de Daniel Bernard, e em Estranhas Superstições e Práticas de Magia, de Willian J Fielding – tradução de Silvia Mendes Cajado, com o comentário de que em setembro de 1573, o Parlamento, com assento em Dôle, teria autorizado os camponeses a se armarem e percorrer os bosques, com a finalidade de matar os Lobisomens.

Estes já haviam levado muitas criancinhas, que nunca mais foram encontradas, e atacado atguns cavaleiros, que só conseguiram salvar-se enfrentando grande perigo.

A Bête Bigarne (Fera Bigorne), bode horrendo e gigantesco, com garras, faz parte do folclore da França. Escreve Câmara Casudo que, em Auvergne, existe, no Castelo de Villeneuve, um afresco representando a sua figura.

Daniel Bernard, em L’hamme et le Loup (O homem e o Lobo), dedica um capítulo ao Lobisomem. Escreve que, na França, dependendo da região, sua denominação varia. Em Picardie é Leu-wareu; em Normandie, Varau; em Languedoc, Libérou; em Périgord,.Gâloup; em Bordelais, Galipaude. Reproduz trecho da obra Le Gâloup, de Claude Seignolle – que se poderia denominar lamentarão do Lobisomem -, aqui traduzido livremente:

Sete anos minhas patas me levarão às matas e aos apriscos; aos bosques gelados, aos tépidos currais.

Sete anos Lua Zarolha virá me vigiar com seu único olho pálido, que toma formas diversas, para me fazer acreditar que cada vez é uma curiosa diferente… E, sempre, me forçará a uivar contra sua impassível provocação.

Sete anos dolorosos como o frio dos ventos incolores; penetrantes como a água das nuvens impalpáveis.

Sete anos meu ventre doerá.

Sete anos os homens suplicarão e implorarão a outro Senhor que não o verdadeiro, coma se a seu Deus de doçura pudesse contra o meu, crivado de escamas e a revolver brasas.

Sete anos cortantes como sete espadas de aço, permanecerei amaldiçoado, sem nunca saber quem sou realmente; homem ou árvore; pássaro ou seixo.

Meus suspiros serão uivos; minha bebida, sangue; meu alimento, montanhas de animais tenros e mornos… E quando estes faltarem, alimentar-me-ei de homens…

Sete anos meu Mestre me reterá.

Sete anos permanecerei voraz, antes de estar quites com ele.É o meu castigo.

Sete anos somente.

Sete anos, ai de mim!

O próprio Demônio transforma-se em lobo. Assim parecia a São Maudet, pois todas as noites, as paredes do convento que ele estava construindo, eram derrubadas por mãos invisíveis. Certo dia, encontrou um lobo, que outro não era senão o Diabo. Conseguiu agarrá-lo pela cauda e jogá-lo ao mar. Daí por diante a construção prosseguiu normalmente.

No folclore da França, crê-se que o Lobisomem é obrigado, pelo Demônio, a devorar, em cada noite de maldição, sete cães.

Le marteau des sorciers (O martelo dos feiticeiros), espécie de manual-guia do caçador de Lobisomens, divulgado em 1486, continha duas indagações principais: Podem os feiticeiras transformar homens em animais? e Como os feiticeiros dão aos homens a forma da animais? Apoiando-se em Santo Tomás e Santo Agostinho, os autores declaram que os lobos, de tempos a tempos, partem de suas casas e devoram homens e crianças. E distanciam-se, vagando com tal astúcia, que nenhum ardil, nenhum poder é capaz de feri-los ou capturá-los. Tais coisas são causadas por um sortilégio diabólico. Deus, punindo uma nação por seus pecados, segundo o Levítico4 : lançarei sobre vós bestas ferozes que arrebatarão vossos filhos e matarão vosso gado. Quanto à questão: são lobos verdadeiros ou diabos sob essa forma? Respondemos que são lobos verdadeiros, mas possuídos pelo Diabo.”

Uma estória de Lobisomem, com grande repercussão, difundiu-se na Bavária, por volta de 1685. Um lobo que assolava a região, devorando pessoas e animais, foi identificado ao burgomestre, já falecido, que se teria encarnado no animal. Quando a fera foi capturada e morta, verificaram que sua carcassa estava revestida com um encerado cor de carne. Ao lhe cortarem o focinho, constataram a existência de uma cabeleira castanha e longas barbas brancas; ao mesmo tempo, um rosto semelhante ao do burgomestre apareceu no lugar da cabeça do lobo. Esse corpo foi enforcado na presença de grande público, e sua pele, empalhada, permaneceu exposta num museu, como prova concreta da existência do Lobisomem.

Na Dinamarca, acreditava-se que uma mulher que apanhasse uma placenta ao nascer um potro e a esticasse entre quatro paus e se arrastasse pela sua membrana, poderia dar à luz sem nenhuma dor e livrar-se de doenças. Mas, em tal caso, todos os meninos dela nascidos seriam Lobisomens.

Na Inglaterra, sob o reinado de Jaime I, quem fosse apontado como Lobisomem era condenado a morte artoz, único meio de extingui-lo. Esse monarca equiparava o werewolf aos feiticeiros e explicava o fenômeno como superabundância de melancolia.

Na Idade Média, foram incontáveis os julgamentos de pessoas acusadas de ser Lobisomem, para as quais a pena era a morte na fogueira.

A associação da Lua com o Lobisomem é um fato verificado não poucas vezes na literatura folclórica, na popularesca e na erudita. Arnold L. Lieber em The Lunar Effect (A Influência da Lua) diz que sociedades antigas reconheciam uma conexão entre a Lua e a violência, como no caso do Lobisomem. Para neutralizar essa violência, os pastores da antiga Arcádia costumavam enviar um homem aos lobos, como emissário. Este se transformava em Lobisomem por oito anos e durante esse período as alcatéias não atacavam os rebanhos. Na Alemanha antiga, os guerreiros selvagens eram denominados ûlfhêdhnar (homens com pele de lobo). Esses guerreiros existiam, também, nas sociedades secretas norte americanas e praticavam antropofagia ritual. Encontram-se Lobisomens na Alemanha de Hitler. Lá, onde o mito era bastante difundido, os nazistas fundaram a Organização do Lobisomem, na década de 20. Chama a atenção a coincidência do apelido do Führer ser exatamente, tio Lobo. “No final da Segunda Guerra Mundial, a Organização do Lobisomem deveria continuar, na forma de guerrilha, a luta contra os Aliados que estavam ocupando a Alemanha. Contudo, seus membros já tinham bastante dificuldade em, simplesmente, permanecer vivos. A regressão histórica foi um dos grandes temas da ideologia nazista, e o Lobisomem, com sua regressão a um modo de vida arcaico e violento, era uma escolha adequada para simbolizar a monstruosidade do regime.”

Como já se sabe, o Lobisomem chegou até o Brasil trazido da Europa, através de Portugal.

Oliveira Martins, em Sistema dos Mitos Religiosas, mostra o Lobisomem como sendo “aquele que por um fado se transforma de noite em lobo, jumento, bode ou cabrito montês.” E ainda: “Os traços com que a imaginação do nosso povo retratou o Lobisomem são duplos, porque também essa criatura infeliz, conforme o nome o mostra, é dual. Como homem, é extremamente pálido, magro, macilento, de orelhas compridas e nariz levantado. A sua sorte é um fado, talvez a remissão de um pecado . . . . Por via de regra, o fado é a moral – é uma sorte apenas. Nasce-se Lobisomem; em lugares são os filhos do incesto, mas, em geral, a predestinação não vem senão de um caso fortuito, e liga-se com o número que a astrologia acádia5 ou caldaica tornou fatídico – o número 7. O Lobisomem é o filho que nasceu depois de uma série de sete filhas. Aos treze anos, numa terça ou quinta-feira, sai de noite e topando com um lugar onde um jumento se espojou, começa o fado. Daí por diante, todas as terças e sextas-feiras, da meia-noite às duas horas, o Lobisomem tem de fazer a sua corrida visitando sete adros (cemitérios) de igreja, sete vilas acasteladas, até regressar ao mesmo espojadouro onde readquire a forma humana. Sai também ao escurecer, atravessando na carreira as aldeias onde os lavradores recolhidos não adormeceram ainda. Apaga todas as luzes, passa como uma frecha; e as matilhas dos cães ladrando perseguem-no até longe das casas. Diga-se três vezes Ave-Maria que ele dará um grande estoiro, rebentando e sumindo-se. O Sino Saimão6 (Signo de Salomão) é um fetiche contra o malefício. Quem ferir o Lobisomem quebra-Ihe o fado; mas que não se suje no sangue, de outro modo herdará a triste sorte.”

No Minho, é charnado Corredor e as fêmeas são denominadas Peeiras ou Lobeiras. Em Paços de Ferreira, é Tardo.

Jaime Lopes Dias, em Etnografia da Beira, registra a maldição tal como uma das versões na Brasil – “Se num casal nascem sete rapazes, o último será Lobisomem.” E ainda: “Se alguém muda, em proveito próprio, marcos ou divisórias de propriedades, jamais deixará de ser Lobisomem. Mesmo depois de morto, não deixará de aparecer no terreno que roubou, transformado em bezerro, em cão, sombra negra etc.”

Na mesma obra encontra-se uma narrativa sobre o Lobisomem. “Já lá vão muitos anos . .

Sabe-se lá. . . talvez séculos! . . .

Pelas ruas de Segura, a desoras, nas intermináveis noites de Inverno, surgia estranho ser em desordenado tropel que trazia amedrontada a população.

À sua aproximação, mesmo os mais animosos, sentiam levantar-se-lhes os cabelos! . . .

Sol posto, já ninguém saía à rua.

E o alegre povo raiano sofria e passava um verdadeiro castigo.

Um dia, um mocetão, valente e destemido, tomou a resolução de averiguar a causa de tão extraordinário fenômeno.

E colocou-se entre o postigo e a porta da casa de seus pais.

Chovia a potes.

O vento com seus estridentes assobios era medonho. Parecia impelido pelo demo!

E o mocetão, valente, firme em seu posto, esperou uns momentos; o bastante para se enregelar.

O tropel não se fez esperar, e uma sombra negra surgiu.

As pedras da calçada chispavam lume.

A sombra horrenda resvalava pelas valetas e escouceava para um e outro lado, fazendo com que as próprias ombreiras dos portados deitassem faíscas.

E o rapaz, agora um tanto assustado, colou-se bem à porta.

Parecia petrificado.

O estranho fenômeno avançava cada vez mais em correria vertiginosa, e o moço, embora, como se disse, um tanto amedrontado pôde verificar que se tratava de um monstro informe, metade cavalo, metade homem, ferrado de pés e mãos! Estava quase a arrepender-se da sua temeridade! . . .

Mas, o monstro, seguindo o seu caminho, desapareceu…

Que fazer depois do que vira? Calar-se?

E se contasse tudo a pessoas experimentadas; sabedoras e consideradas pela sua idade?

Procurou de facto um dos homens mais velhos da sua terra.

E expôs-lhe minuciosamente o que vira.

E o bom vizinho respondeu-lhe:

– O que tu viste, meu amigo, é um entcanto que só se desfará se alguém tiver coragem de, escandido atrás de uma das cruzes das ruas da nossa aldeia e munido de uma vara com aguilhão, picar o monstro por forma que o faça lançar de si muito sangue.

– Pois deixe o caso comigo. Se aí está o remédio . . . picalo-ei eu mesmo, respondeu o rapaz.

– Pois então, toma cuidado, que, se o não picares bem, grande perigo corres!…

O moço, forte e destemido, como se disse, disposto a dar mais uma prova do seu valor, e a livrar a povoação de tão grande desassossego, logo que anoiteceu, recolhidos todos os moradores e fechadas todas as portas, foi colocar-se, por entre vendaval formidável, atrás de uma das cruzes, tendo bem apertada na mão direita forte vara com grande aguilhão.

Começou a ouvir-se o tropel, pondo-se em breve à vista a infernal figura.

O rapaz tremia!

Perdera quase a noção de si mesmo!

Fugir?…

Bem se lembrava ele do conselho do velho: – Toma cuidado, que se a não picares bem; grande perigo corres! . . .

Recobrou ânimo: Estava ali para vencer ou morrer! Já agora levaria ao fim a sua empresa.

Esperou! O monstro avançava a todo o galope.

E passou; e, na passagem, o heróico mocetão cravou-lhe bem a grande aguilhada!

E o monstro, como por encanto, desapareceu.

O valente moço respirava; mas tremia ainda. O seu coração batia desordenadamente.

Foi deitar-se, mas não podia conciliar o sono! Que iria suceder?

Passaram algumas noites e o tropel não mais se ouviu.

– Que estranho facto se terá passado? inquiria a povoação. O rapaz (ninguém sabe até onde vai o poder de encantos e bruxarias) contara o seu feito, muito em segredo, só aos mais íntimos.

Volveram dias e noites, e o povo, de segredo em segredo, veio a saber o que se passara.

E perguntava: – Mas que figura seria essa, horrenda e disforme?

– Seria um Lobisomem?

– E quem seria o infeliz?

Passaram ainda mais alguns dias, até que um dos mais considerados moradores de Segura que havia desaparecido do convívio da população, apareceu sem um dos olhos.

Se ele era são e escorreito, se não constara na povoação qualquer desastre, como e onde teria ele perdido a vista? – perguntavam todos os moradores de Segura. Tirara-lha, evidentemente, o rapaz da aguilhada!

E o povo passou a afirmar, desde logo, como verdade incontestável, que o monstro, semi-homem e semi-cavalo que tanto o incomodara, era, por artes do demo ou mercê do encanto, o bom homem que aparecera, sem saber como, sem um dos olhos.”

No Paraguai há o Luisón como um cachorro preto, de cabeça grande, olhos brilhantes, muito peludo, que se alimenta de cadáveres dos cemitérios. Exala mau cheiro. Aparece à meia-noìte e percorre as vizinhanças, provocando latidos e uivos de todos os cachorros, que o temem. Para conjurá-lo, deve-se colocar sob a língua um pouco de terra de seus rastros e chamá-lo três vezes. Diz-se que Luisón é o último filho entre sete homens, a quem a mãe amaldiçoou ao morrer.

Ainda no Paraguai pode aparecer como um cão negro sem cabega. Felix Coluccio, no Diccionaria Folklorico Argentino apresenta o verbete “Lobisome – En Brasil y otros paises de América, corre este mito de origen europeo, según el cual el séptimo hijo varón seguido, se transforma en Lobisome, mientras que la séptima hija mujer seguida se convierte em bruja. Representan los paisanos al Lobisome como um animal mezcla de perro y de cerdo. A las 12 de la noche de los dias viernes se opera esta transformación, dirigiéndose para alimentarse a los estercoleros y gallineros, donde devora los excrementos. Igualmente se alimenta de ninos no bautizados. El Lobisome recobra su fisionomia humana se alguien sin conocerlo lo hiere, pero se expone también a ser muérto por el mismo debido a que este monstruo tratará de exterminar por todos los medios al que lo libra de su malefício. Libra-se de la fatalidad de ser Lobizón si se lo bautiza com el nombre de Benito – dice D. Granada – y si el padriznago lo realiza el mayor de los siete hermanos.

1- Maria do Rosário de Souza Tavares de Lima

2- Denominação, na França, do jogo de crianças “Seu Lobo está pronto?”

3- Região da França.

4- Um dos livros do Antigo Testamento

5- Dos acadianus, povos da Babilônia, antes do domínio assírio.

6- Estrela de seis pontas, formada por dois triângulos de metal, superpostos.

Lobisomem: assombração e realidade
Maria do Rosário de Souza Tavares de Lima

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/bibliografia-estrangeira-sobre-lobisomens/

Conexão ZosKia – Aliens

O contato imediato entre Magos e os seres de fora de nosso mundo é um fato há muito conhecido pelos interessados em Ocultismo. Quer seja o ser contatado do Espaço Sideral ou procedente de Espaços Interiores, eles representam em si aspectos da consciência que são a síntese do próprio Universo e que talvez seja o que há de perene nele: informação & dissolução, o velho jogo entre Thanatos e Eros. Sendo assim, cada magista que contata esses seres de outros mundos impregna de si a própria manifestação exterior do ser contatado. Isso explicaria o que seja popular e, digamos, erudito, em se tratando de contatos.

Essas visões e manifestações diferentes revelam também um pouco mais como a vida em seus diversos graus de evolução e consciência se dá como fenômeno e provam, talvez, que o próprio ser humano já fora alienígena à este mundo. Sejam deuses, anjos, demônios, gnomos, supermáquinas, todas estas visões foram se expressando de acordo com o lugar, época e pessoas que com elas fizeram contato. A interpretação que trata esses seres como Alienígenas, no atual sentido que compreendemos o termo, sempre existiu desde o antiqüíssimo passado. É o que vemos expressado, por exemplo, na Cabala e seu design de mundos interconectados; no Egito com seus deuses zoomórficos; no conhecimento sideral destes mesmos egípcios assim como dos Maias, dos Dogons da África, dos deuses astronautas dos Astecas, os seres divinos do Bön Po e da tradição Lamaista do Tibet relatado por Lobsang Rampa; assim como mais remotamente, na Suméria e sua tradição Tiphoniana.

Aleister Crowley e sua filosofia-mágicka, chamada Thelema, pertence à essa tradição Sumeriana, uma corrente mágicka que teve John Dee como antecessor direto de Crowley, como perscrutador de seus mistérios e busca de contato com seres ditos angelicais. E tanto Crowley como seus contemporâneos, principalmente aqueles que se engajaram nas fileiras renovadoras do que foi Thelema então, adentraram em uma verdadeira orgia de relações com seres alienígenas particularmente designadas então de “Inteligências Praeter-Humanas”.

No livro “Aleister Crowley e o Deus Oculto” Kenneth Grant escreve que Aleister Crowley “estava ciente da possibilidade de abrir portais espaciais e admitir a existência de uma corrente extraterrestre na onda vital do ser humano”, e que ao contrário do que outros iniciados de sua época chegavam a crer, essas forças não eram más e não queriam destruir a raça humana, mas investiam na expansão e evolução da consciência humana para torná-la cósmica, como salienta Robert Anton Wilson, que em seus escritos expõe tais conexões cósmico-consciência-thelemicas. Essa corrente leva consigo personagens como Ron Hubbard, Jack Parsons, Charles Stanfield Jones, Dion Fortune, Austin Osman Spare; assim como os expoentes mais recentes do ocultismo que inclui principalmente Kenneth Grant, Michael Bertiaux, tudo, pode-se dizer, seguidos de refrões de sucesso de Raul Seixas em parceria com Marcelo Motta.

Não podemos deixar de citar o background dos contos de H.P. Lovecraft que se interpenetra com H.P. Blavlastsk dando em J.J. Benitez, etc… Pensadores que fundiram espiritualidade e ufologia. Dentre todo o rol de magistas que tentaram contatos com seres extraterrestres, talvez aquele que tenha destilado a visão mais estranha destes seres alienígenas foi Austin Osman Spare. Encarando estes Aliens como seres interdimencionais, os quais viajam pelas frestas dos Universos, da matéria, do espaço, do tempo e da consciência, eles podem também podem possuir corpos como forma de traficar entre mundos sensações, conhecimento, energias e todo tipo de coisas que se pode trazer dos sonhos à carne e levar do Ser ao Não-Ser e vice-versa. A forma dos seres que se expressaram à Spare se aproxima bastante da descrição de entidades como o Mothman, que fora pesquisado por John Keel, ou como os alienígenas nomeados de Greys da casuística OVNI; seres extraterrestres que se relacionam intimamente no nível conciência-carne-medo-vácuo-matéria-caos… Seres sem nenhum vestígios de causalidade ou moral humana, seres que não podem ser compreendidos através da lógica, alcançando seus particulares objetivos somente se usando da loucura ou da crença cega que reflete a impotência da inteligência humana diante de tão dês-aforado lócus de ação por parte deles.

Particularmente em se tratando da criatura conhecida como Mothman que fez “fama” em suas aparições nos EUA no fim da década de 1960, é sabido que houve aparições deste em Londres nos idos do final do Século 19, mas precisamente na região de Piccadilly Circus Station, no centro de Londres. O que fazia lá, como fora atraído para o lugar, é como sempre uma questão que o pensamento humano comum não tem como responder, e talvez só se responda pela lógica da mística ou da própria loucura. Esses seres “entremundos” recordam-nos muito também os seres dos contos de Lovecraft, ligação que Kenneth Grant fez remetendo-se até a Anciã Paterson, iniciadora de Austin Osman Spare no culto da feitiçaria. Esses seres são feitos da mais pura essência do Necronomicon, o guia cósmico das aberrações interestelares. Seres, assim como a caracterização do Mothman feito por John Kell, parecem se alimentarem do próprio medo humano, vampiros psíquicos que se nutrem de emoções. Seres assim são citados inclusive pela tradição de alguns discípulos de Carlos Castãneda.

Tais parâmetros de contato e de seres, acrescido ao caráter especial de Austin Osman Spare, traz à tona o quanto mais tenebroso e intrínseco é o Fenômeno Alien e sua relação com o fator humano. É uma emanação que abarca Sexo, referência da lembrança humana de deuses, anjos e todo tipo de seres que desejaram e copularam com “as filhas dos homens”. Há também o congresso sempiterno da Carne que relembra o contato Alien carregado de mutilações e experiências cientificas com corpos humanos e animais, espécies de “êxtases feios”. Austin Osman Spare sempre aventa também o papel da Medicina, da Ciência, do Vírus, o que aproxima as referências aos agentes da desinformação no mundo OVNI, sempre munidos de tecnologia avançada e táticas de combate mental. Falamos dos misteriosos interventores conhecidos como Homens de Preto (MiB) e sua proximidade com os Irmãos Negros (Black Brothers), humanos que dedicam sua existência à construírem no Astral a engenharia necessária para a permanência indefinida de seu Ego (EU).

Em suas obras de arte, Spare retrata paisagens estranhas, de outros mundos onde habitam seres de uma estranheza inumana, parecendo seres vistos pela lente distorcida da mente que não os compreende em sua perfeição, uma carência estética humana talvez, ou simplesmente a distorção da compreensão máxima. Kenneth Grant escreve em “O Estranho Espírito de Zos vel Thanatos”, referente à Spare e o Culto de Zos Kia: “…Há um certo estado de consciência caracterizado por uma estranha perichoresis em que os sentidos mundanos, exaltados e infundidos com a Vontade magickamente carregada, i. e., dirigida, atraem influencias misteriosas do exterior.

A interação de elementos deste mundo com elementos de outro criam uma realidade ultradimensional Universo conhecido como Meon que só os artistas (ou Magos) mais sensíveis são capazes de responder de forma criativa…” Na obra que Spare busca representar aquilo que talvez seja o ponto de partida de sua inspiração místico-artística, tal obra é “Isis Sem Véu”, a figura dos mitos egípcios que representa o Infinito Espaço de Infinitas Estrelas, a morada dos Aliens. Enquanto que no livro-mor de Thelema, o Líber AL vel Legis (de 1904), já são explicitas as referências à alienígenas, outros mundos, tecnologia nuclear, et. al, já nos escritos de Spare tais referências são muitas das vezes subentendidas pelo véu da mística particular do Culto de Zos Kia. Assim podemos traçar uma linha de influência extraterrestre vindo através da Anciã Paterson, trazendo consigo a sabedoria de uma corrente mágicko-alienigena proveniente das paragens da América do Norte que fora herdada pelos nativos aos quais pertencia a anciã bruxa, tradição esta registrada pavorosamente nos escritos de Lovecraft e da qual Kenneth Grant pesquisou e descobriu ligações. A Sra. Paterson, como era usualmente chamada por Spare, migrou dos Estados Unidos para a Inglaterra, talvez fugindo do ambiente hostil de caça às bruxas das terras da outrora colônia, e então transmitiu ao jovem Spare essa diligência de outros mundos. Tal determinada espécie de conhecimento coincidentemente entraria novamente na vida de Spare quando mais tarde ele fora iniciado na Aurora Dourada e no pensamento de Thelema de Crowley. Conta-se que Spare só veio a aceitar de fato a revelação de “Líber AL” no fim de sua vida, mas Grant também nos revela que em certa fase de sua vida, Spare esteve totalmente devotado em fazer contato com seres alienígenas, buscando para isso os meio adequados. E esses meio segundo Grant, se revelam além dos grimórios que são cada uma de suas obras de arte e sigilos, mas também, e principalmente como sendo através da “Postura de Morte” como uma espécie de meio mediúnico para o contato interrealidades, uma forma de levar a consciência às plataformas de lançamento cósmicas para alcançar seres dispostos ao contato com os homens.

Dois parênteses: Primeiro, tais espécies de contatos a nível mediúnico, de forma mais tradicional, foram mais tarde efetuados com sucesso também pelo dito Grupo Rama nos Andes para contatar alienígenas e programar então avistamentos e até contatos do terceiro grau também. E segundo, em plena atividade nos dias de hoje, Michael Bertiaux, sacerdote Voodoo, identificou e em contatou, usando das mais diversas tecnologias mágickas-mediúnicas, os chamados Voltigeurs, seres esses que são caracterizados como reptilianos que saltam de mundo em mundo e que abarcam uma mística da lua. Parece-nos então que Austin Osman Spare foi um vetor muito especial de contatos com aliens, e seu Culto de Zos Kia então não poderia deixar de ser também um poderoso vortex que converge para si os portais de contato yóguicos da flexão da carne e da mente, uma espécie de crença astral e para o astral.

Com a influência Ameríndia através da Anciã Paterson e a influência Sumeriana via Aleister Crowley e Thelema, onde talvez o ponto de convergência seja não só o Necronomicon, mas também a própria ancestralidade humana neste mundo, que Spare explorou através da flexão dos atavismos, onde se pode perceber um verdadeiro rememoramento de “nomes mortos”. Então, do Oriente provém a Tradição Sumeriana via a síntese abrangente de Thelema, do Ocidente os eflúvios dos Mitos de Cthulhu, no meio de tudo isso o Greenwich de Zos Kia Cultus: a corrente xamânica que leva direto aos Alienígenas que sempre estiveram próximos ao seres humanos, em corpo, alma & Discos Voadores.

De todas estas escassas aproximações e fantásticos desdobramentos, a mente recua, mas as cartas estão na mesa. Anjos, Demônios ou Alienígenas, Inteligências Praeters-humanas, irradiações do subconsciente ou radiação do espaço sideral. Código Morse das estrelas refletida no DNA. Homens possuídos por deuses usando tecnologia e irremediando a realidade com vislumbres de outros mundo incapazes de habitarmos por simples leis físicas… Nikola Tesla pisou neste mundo… Heinrich Reich pisou nestas terras, Albert Einstein viveu aqui… Austin Osman Spare habitou aqui e lá, mas não viveu nem por isto e nem por aquilo. Ele traficou interrealidades através de uma arte alienígena a tudo, pois concretizou em caos e tinta sentimentos que não poderiam nunca coabitar com os homens sem pedir o pagamento do engrandecimento da visão humana que tem do vislumbre que é estar-aqui e do que está lá. A Ciência de mais baixa tecnologia que poderia haver abriu todos os canais de comunicação que poderiam existir com o Além/Alien, e essa ciência foi Arte, a expressão mais ferrenha e sem mentiras que possamos juntos fluir do Zos Kia Cultus.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/conexao-zoskia-aliens/

V de Vingança, Guia de Referências

Estas anotações sobre a série  V for Vendetta de Alan Moore foram preparadas por uma classe de graduação em Pesquisa Literária, sob a direção do Dr. James Means, da Universidade Estadual do Noroeste da Louisiana, durante a primavera de 1994. Na realização destas anotações, adotou-se um sistema que permite ao leitor seguir cada entrada facilmente.

O primeiro número indica a página na qual a entrada original pode ser achada. O segundo número indica a linha de arte, numerada de cima para baixo; a maioria das páginas tem três linhas de arte, enquanto algumas tem menos. Finalmente, o último número indica a coluna, numerada da esquerda para a direita.

PARTE 1

-, -, – Europa Depois do Reino (título – Na versão da Ed. Globo: O Vilão)

O título do primeiro livro refere-se à pintura Europa Depois da Chuva de Max Ernst, e retém dentro dela implicações de reviravoltas climáticas de um ataque nuclear próximo. Depois do Reino certamente se refere à dissolução da realeza com um certo anel ominoso, da mesma maneira que o título da pintura implica um grande peso em cima de todo continente. A imagem da página do título, de uma única mão enluvada (que com certeza indica tempo frio) colocando algo pesado e sombrio sob a superfície, contribui para a natureza ominosa. A pintura, intitulada L’Europe Apres la Pluie, foi criada entre 1940 e 1942. É descrita como uma cena fúnebre cheia de ruína e putrefação, povoada apenas por criaturas bestiais que vagam solitárias ao redor, (pg. 44-45). Ernst tinha criado trabalhos semelhantes que implicavam os arruinados, os fossilizados, os inanimados; superfícies parecem estar decadentes, corroídas por ácido e perfuradas com inúmeros buracos como a superfície de uma esponja, (pg. 44).
Durante algum tempo antes da Segunda Guerra (trabalhando na técnica chamada de decalcomania, datando de 1936, 37, 40 – será que foi realmente antes da guerra? Onde ele estava neste momento? Estava sendo posto em vários acampamentos, sendo reposto em outros, fugindo e finalmente voando para a América (pg. 94). Mas foi depois da sua “premonição de guerra traduzida em realidade” que ele fugido para a América. Lá, assombrado pelas recordações de uma Europa feita em pedaços, ele criou a composição também chamada Europa Nach dem Regen que se traduz como A Europa depois da Chuva ou A Europa depois da Inundação (pg. 44).
Ernst nasceu em 1891 em Bruhl, sul de Colônia, às margens do Reno (pg. 29). As suas pinturas descrevem freqüentemente um mundo no qual a história de gênero humano foi apagada completamente por um evento cataclísmico no Universo … ou pelo ato consciente de revolução que destruiu tudo (pg. 8). Em 1925, o melhor amigo dele, Paul Eluard escreveu sobre a atitude mental de Ernst, que buscou destruir toda a cultura que foi herdada ou não como resultado de experiência pessoal, como se fosse um tipo de esclerose na sociedade Ocidental: ‘Não pode haver nenhuma revolução total mas somente revolução permanente. Como o amor, é a fundamental alegria de viver’ (nota de rodapé, pg. 8).
Ernst participou de exibições dadaístas onde os observadores destruíram a sua arte e observaram seus pedaços pregados na paredes e espalhados no chão. Para alcançar a galeria onde se desenrolou o evento, espectadores atravessaram o lavatório de uma cervejaria onde uma menina vestida como uma beata que acabou de receber a comunhão recitava versos lascivos. A exibição foi fechada sob a acusação de fraude e obscenidade (baseado na estampa de Adão e Eva de D’rer, que tinham sido incorporada em um das esculturas de Ernst). Subseqüentemente, ela foi reaberta.
De acordo com Hamlyn, o evento foi realizado para embaraçar e provocar o público (nota, página 8). Este elemento de drama e provocação também é uma linha seguida em V de Vingança.

1, 1, 1, O 5 de Novembro…

Esta é a primeira referência ao dia de Guy Fawkes, o aniversário do dia em que Guy Fawkes foi pego no porão de Parlamento com uma grande quantidade de explosivos. Fawkes era um extremista católico e um herói militar que se distinguiu como um soldado corajoso e de fria determinação, através de suas façanhas lutando com o exército espanhol nos Países Baixos (Encyclopaedia Britannica 705). Ele foi recrutado por católicos insatisfeitos que conspiraram para explodir o Parlamento e matar o rei James I. James tinha trabalhado para instituir uma multa à pessoas que se recusassem a comparecer as missas anglicanas (Encyclopaedia Britannica 571), somando isso à opressão que os católicos já sofriam na Inglaterra. Um do conspiradores alugou uma casa que compartilhava parte de seu porão com o Parlamento, e o grupo encheu esse porão de pólvora. Fawkes foi escolhido para iniciar o fogo, e foi determinado que ele devia escapar em quinze minutos antes da explosão; se ele não pudesse fugir, ele estaria totalmente pronto para morrer por tão sagrada causa, (Williams 479). Um dos conspiradores tinha um amigo no Parlamento; ele advertiu o amigo para não estar presente na abertura durante o dia escolhido para o atentado, e o paranóico rei James imediatamente descobriu o complô. Fawkes foi pego no porão e foi torturado. Ele foi executado exatamente em frente ao Parlamento no dia 31 de janeiro de 1606.

2, 3, 2, Utopia (livro na estante)

Este foi o mais famoso trabalho de Sir Thomas em 1516 (Sargent 844) no qual ele esboçou as características humanitárias de um sociedade decente e planejada, (Greer 307) uma sociedade de comum propriedade de terra, liberalidade, igualdade, e tolerância (Greer 456).

2, 3, 2, Uncle Tom’s Cabin (livro na estante)

Escrito por Harriet Beecher Stowe e publicado em 1852, este romance fala sobre os deprimentes estilos de vida dos negros escravos no Sul dos EUA, contribuindo enormemente com o sentimento popular de anti-escravidão (Foster 756-66).

2, 3, 2, O Capital (livro na estante)

Este foi a obra máxima de Karl Marx, publicada em 1867. Foi seu maior tratado sobre política, economia, humanidade, sociedade, e governo; Tucker o descreve como a mais completa expressão (de Marx) de visão global.

2, 3, 2, Mein Kampf (livro na estante)

A biográfica proclamação das convicções do líder nazista Adolf Hitler, Mein Kampf (Minha Luta), foi escrita durante o seu encarceramento após a sua primeira tentativa de golpe contra o governo bávaro, em 1923 (Greer 512). Sem nenhuma dúvida, Moore quis ironizar ao colocar este trabalho próximo ao de Marx, Já que a extrema-direita nazista era forte oponente do comunismo.

2, 3, 2, Murder in the Rue Morgue (cartaz de filme)

Os Assassinatos da Rua Morgue. Este foi um filme de horror de 1932, produzido pela Universal. Foi uma importante adaptação da história de Edgar Allen Poe, estrelada por Bela Lugosi, um famoso ator do gênero. É sobre uma série de terríveis assassinatos que se supõe ser o trabalho de um macaco treinado (Halliwell 678). Esta referência pode conter alguns sinais sobre os métodos de investigação de V para os seus ataques contra o sistema, e suas características de serial killer.

2, 3, 2, Road to Morocco (cartaz de filme)

Este filme de 1942 da Paramount foi um de uma série de leves comédias românticas estreladas por Bing Crosby e Bob Hope como dois ricos playboys que viajam ao redor do mundo tendo tolas aventuras (Halliwell 825).

2, 3, 2, Son of Frankenstein (cartaz de filme)

O Filho de Frankenstein. Filme de horror de 1939 da Universal, Son of Frankenstein foi o último de uma trilogia clássica. Foi estrelado por Boris Karloff, um famoso ator de filmes de terror, e envolveu o retorno do filho do barão e seu subseqüente interesse por ele (Halliwell 906).

2, 3, 2, White Heat (cartaz de filme)

White Heat, feito em 1949 pela Warner, estrelado por James Cagney. O enredo envolvia um gângster violento com fixação por sua mãe que finalmente cai após a infiltração de um agente do governo em sua gangue (Halliwell 1073). Esta pode ser outra importante indicação, de como V também derruba o violento e disfuncional líder do partido se infiltrando através de suas fileiras.

3, 1, 3, …E novamente tornar a Bretanha grande!

Este é um sentimento tipicamente “nacionalista”. O nacionalismo europeu, que tem suas raízes na Guerra dos Cem Anos (Greer 269-275), é o conceito de que cada nação tem que manter em comum uma única cultura e uma única história e no qual se considera, inevitavelmente, que uma nação é melhor que as outras. Foi este sentimento, levado a seus extremos, que levou o partido nacional-socialista trabalhista de Hitler (o nazismo) a tentar livrar a Alemanha dos “não-alemães”. (Wolfgang 246-249).


4, 3, 3, The Multiplying vilanies of nature do swarm upon him… (de vilanias tão cumulado pela natureza…).

Esta é uma fala do Sargento no Ato I, cena II, de MacBeth, de Shakespeare (766).

7, 1, 1-2 Lembrai, lembrai do 5 de novembro, a pólvora, a traição, o ardil. Por isso, não vejo por que esquecer uma traição de pólvora tão vil.

Esta é uma versão de uma rima infantil inglesa. Em busca por um poema confirmatório, eu procurei no The Subject Index to Poetry for Children and Young People (1957-1975) que apresenta cinco coleções de poemas onde se incluiam versos sobre Guy Fawkes (Smith e Andrew 267). Um destes, Lavender’s Blue, incluiu a seguinte versão feita em, pelo menos, 1956:
Please to remember the fifth of November
Gunpowder, treason and plot
I see no reason why gunpowder treason
Should ever be forgot (Lines 161)
Cuja tradução é:

Agradeça por lembrar do 5 de novembro
A pólvora, a traição e o complô
Eu não vejo nenhuma razão por que tal traição de pólvora
Deveria para sempre ser esquecida (linha 161)
O Oxford Dictionary of Quotations atribui esta versão a uma canção de ninar infantil anônima de 1826 (Cubberlege 368), e as primeiras duas linhas como sendo tradicionais desde o século 17, (Cubberlege 9).

7, 1, 2, A explosão do Parlamento…

Nesta cena, V teve sucesso onde Fawkes falhou; a posição dele e de Evey em oposição ao Parlamento é, provavelmente, significativa, como se fosse a posição oposta ao Parlamento em que Fawkes foi enforcado (Encyclopaedia Britannica 705).

7, 2, 2, Os fogos de artifício em forma de V

Isto se refere à prática comum de explodir fogos de artifício no dia de Guy Fawkes como parte da celebração (Encyclopaedia Britannica, p.705). Também é provavelmente uma referência a ‘Arrependa-se, Arlequim!’ Disse o Ticktockman (algo como homem Tique-taque) por Harlan Ellison.
9, 3, 1, Inglaterra triunfa
Este sentimento parece muito com o impulso em um verso da peça Alfred: Uma Máscara, de James Thomson, de 1740 (Ato III, última cena):

When Britain first, at heaven’s command, Arose from
out the azure main,
This was the charter of the land, And guardian angels
sung this strain:
Rule Britannia, rule the waves; Britons never will be
slaves. (Cubberlege 545)
Cuja tradução é:

Quando a Inglaterra primeiro, ao comando do céu, Surgiu do
mar azul-celeste,
Esta foi a escritura da terra, E anjos guardiões
cantaram esta melodia:
Comande Britannia, comande as ondas; Bretões nunca serão
escravos. (Cubberlege 545).

12, 2, 3, Frankenstein (livro na estante)

Este é uma famosa explanação de ficção ciêntífica/social de 1818, por Mary Wollstonecraft Shelley. De acordo com Inga-Stina Ewbanks, é sobre o eterno tema da criação do homem que fica além de seu poder de controle, (5).

12, 2, 3, Gulliver’s Travels (livro na estante)

As viagens de Gulliver. Este foi um romance utópico escrito em 1726 por Jonathon Swift, um satírico escritor social inglês que passou a maior parte de sua vida na Irlanda (Adler ix-x).

12, 2, 3, Decline and Fall of…? (livro na estante)

Este, provavelmente, deve ser o trabalho de Edward Gibbs, The History of the Decline and Fall of the Roman Empire (A História do Declínio e Queda do Império Romano), mais comumente conhecido como The Decline and Fall of the Roman Empire (O Declínio e Queda do Império Romano). A coleção de seis volumes foi escrita entre 1776 e 1788, e é considerada como uma das melhores histórias já escritas (Rexroth 596).

12, 2, 3, Essays of Elia Lamb (livro na estante)

Elia, ou Charles Lamb, primeiro publicou seus famosos ensaios nas páginas da London Magazine, de 1820 a 1825, posteriormente encadernados em dois volumes, publicados em 1923 e 1833. Seus ensaios são considerados como pessoais, sensíveis e profundos (Altick 686-87).

12, 2, 3, Don Quixote (livro na estante)

Este foi um romance satírico sobre cavalaria, escrito por volta de 1600 (Adler) pelo autor espanhol Miguel de Cervantes. Seu herói é um caricatural cavaleiro romântico que é desesperadamente idealista (Greer 307).

12, 2, 3, Hard Times (livro na estante)

Charles Dickens escreveu este quase solitário ataque à… industrialização em 1854. Ele se justapõe aos sérios e aplicados industriais com um circo criativo e divertido que vem à cidade na qual o romance se desenrola (Ewbanks 786). Provavelmente pode ter servido de apelo ao senso de drama de V e sua vitória sobre as mazelas.

12, 2, 3, French Revolution (livro na estante)

Este volume pode ser sobre qualquer história passada durante a Revolução Francesa, ou sobre a própria Revolução Francesa, que ocorreu entre 1787 e 1792.

18, 2, 3, Faust (livro em estante)

O famoso poema de Goethe, Fausto, foi publicado no início de 1808. Ele reconta uma lenda renascentista sobre um doutor que barganha com o diabo por juventude e poder. A segunda parte, postumamente publicada, foi um tratado filosófico no qual a alma de Fausto é salva porque ele ama e serve tanto a Deus quanto a humanidade, apesar dos seus erros. Este Fausto é considerado como a encarnação do “moderno” ser humano (Greer 426).

12, 2, 3, Arabian Nights Entertainment (livro na estante)

As Mil e Uma Noites. Este livro é uma coleção de histórias folclóricas originárias da Índia, mas que foi levada para a Persia e para a Arábia. Embora iniciadas na Bagdá do século 8 ou 9, elas retêm muitos mais características do Egito do século 15, onde foram formalmente traduzidas (Wickens 164).

12, 2, 3, The Odessey (livro em estante)

A Odisséia. Um dos dois históricos poemas épicos gregos, feitos por volta de 800 A.C. e escritos por Homéro. Embora a identidade de Homéro seja incerta, e ele pode ter sido até mesmo um arquetípico personagem de si próprio, A Odisséia é uma aventureira história sobre o retorno de gregos que viram heróis que atravessam mares bravios (Greer 66).

12, 2, 3, V (livro em estante)

O romance V, escrito em 1963 por Thomas Pynchon, é considerado um dos primeiros importantes trabalhos pós-modernos. Ele combina pedaços de história, ciência, filosofia, e psicologia pop com personagens paranóicos e metáforas científicas. O trabalho de Pynchon é descrito como uma variação entre a ‘cultura intelectual’ e o meio termo da cultura pop underground das drogas, (Kadrey e McCaffery 19). Isto também pode ser dito tanto sobre a Galeria Sombria como sobre o próprio livro de V de Vingança.

12, 2, 3, Doctor No (livro na estante)

Ian Fleming, um ex-agente de inteligência britânica, escreveu este romance de espionagem em 1958. Os romances de Fleming eram supostamente baseados na vida que teve como um espião (Reilly 320).

12, 2, 3, To Russia With Love (livro na estante)

Outros dos romances de Fleming, este aqui foi escrito em 1957 (Reilly 320).

12, 2, 3, Illiad (livro na estante)

Outro poema de Homéro, A Ilíada fala sobre a violenta e sangrenta guerra de Tróia.

12, 2, 3, Shakespeare (2 volumes na estante)

Shakespeare foi um escritor elizabetano de peças de teatro cujos dramas e sonetos são considerados trabalhos clássicos do renascimento humanista (Greer 307).

12, 2, 3, Ivanhoe (livro na estante)

Um dos dramáticos romances históricos de Sir Walter Scott, Ivanhoe, foi escrito em 1820 (Greer 425).

12, 2, 3, The Golden Bough (livro na estante)

O exaustivo décimo terceiro volume do trabalho de James G. Frazer sobre superstições primitivas foi publicado primeiro em 1890. A estante de livros de V contém um único volume do trabalho.

12, 2, 3, Divine Comedy (livro em estante)

A Divina Comédia. Esta é uma obra-prima da literatura italiana, escrita por Dante Alighieri. Começada por volta de 1306 e terminada com a morte de Dante em 1321, ela trata da viagem do autor através da vida após a morte.

12, 3, 3, Martha and the Vandellas

Um grupo musical de Rhythm-and-Blues, produzido e distribuído pelo selo Motown Record entre 1963 e 1972. Eles tiveram seu começo como cantores de apoio de Marvin Gaye, outra estrela da Motown, e então se lançaram para uma carreira de sucesso como artistas agressivos e extravagantes. A canção Dancing in the Streets foi lançada em 1964. (Sadie 178).

12, 3, 3, Motown

Motown foi uma gravadora independente, de propriedade de afro-americanos, fundada em Detroit (também conhecida como Motortown, ou a Cidade dos Motores), Michigan. A palavra também descreve o distinto estilo de música pop-soul que trouxe sucesso à gravadora. Este Motown sound foi extraído do blues, do rhythm-and-blues, do gospel e do rock, mas diferente destes outros estilos musicais afro-americanos, também contou com algumas das práticas de música popular anglo-americana socialmente aceitas, e isto obscureceu algumas das mais vigorosas características da música afro-americana (Sadie 283).

13, 1, 2, Tamla e Trojan

Não consegui determinar nenhuma referencia para Tamla e Trojan. Como Motown se refere tanto a gravadora quanto para o estilo de música que ajudou a popularizar, eu não sei que relação Tamla teve com os outros grupos mencionados. Como os outros indivíduos mencionados são reais, eu acredito que Tamla e Trojan tenham existidos, mas não pude achar nenhum registro sobre eles.

13, 1, 2, Billie Holiday

Famosa Cantora de jazz, Billy Holiday foi extremamente popular entre os intelectuais brancos de esquerda de Nova Iorque. Ela gravou com alguns dos melhores do jazz, incluindo Benny Goodman e Count Basie. Ela acabou em um mundo de drogas, álcool e abusos, e morreu em 1959, com a idade de 44 anos (Sadie 409-410).

13, 1, 2, Black Uhuru

Este grupo foi uma das mais famosas bandas de reggae da Jamaica. Foi formada no ano de 1974 em Kingston (Sadie 46-47). Reggae é um típico estilo de dance music jamaicano, influenciado tanto pela música afro-caribenha quanto pelo Rhythm-and-Blues americano (Sadie 464).

13, 1, 2, A Voz do Dono…

O logo da RCA trazia um cachorro fitando o cone de um gramofone (um dos primeiro toca-discos), simbolizando o reconhecimento do animal pela voz de seu dono.

13, 3, 3, Aden

Aden tanto foi o outro nome para os habitantes da República democrática de Iêmen (o Iêmen do Sul) como a cidade da capital do país. O país que agora é fundido com o Iêmen do Norte, ocupou a extremidade Meridional da Península árabe, no sul de Arábia Saudita. Os britânicos o colonizaram, e mantiveram controle parcial ali até que o país se tornou uma república marxista em 1967 (Encyclopaedia Britannica 835). Embora a idade de Prothero não seja mencionada, ele parece ter cerca de 50 anos; é provável que ele tenha servido como soldado imediatamente antes da revolução de Iêmen. Assim, ele seria um jovem durante a revolução de 1967, e cerca de 40 durante os seus anos como chefe no Campo de Readaptação de Larkhill.

18, 3, 1, V num círculo

Este símbolo apresenta semelhanças com o sinal de anarquia de um A num círculo, e também com a dramática inicial de Zorro (Stolz 60).

19, 1, 2, Rosas “Violet Carson”

A Violet Carson é uma rosa híbrida introduzida em 1963 (Coon 201) ou 1964 (Rosas Modernas 7 432) por S. McGredy. É uma criada pelo cruzamento de uma Madame Leon Cuny com uma Spartan. É descrita como uma flor colorida, com creme (Coon 201) ou prata (Rosas Modernas 7 432) por sob as pétalas, e tem um arbusto robusto e espalhado. Não parece ser de uma variedade muito comum, e é listada em publicações de sociedades idôneas de rosas mas não em livros dirigidos a um leitor casual, assim é incerto como Finch pode tê-la reconhecido imediatamente.

20, 1, 3, The Cat (cartaz de filme)

O cartaz para um filme chamado The Cat pendurado na parede parece descrever um homem que segura uma arma. O único filme que pude achar com este título, porém, foi um drama francês de 1973 sobre a relação pouco comunicativa entre uma amarga estrela de trapézio e seu marido (Halliwell 168).

20, 1, 3, Klondike Annie (cartaz de filme)

Um filme de 1936 da Paramount, Klondike Annie foi estrelado por Mae West, como uma ardente cantora em fuga que, disfarçada como uma missionária, revitaliza uma missão no Klondike (Halliwell 542). Alguns dos filmes descritos nos cartazes parecem ter atraído V apenas por propósitos de entretenimento. Porém, este aqui pode dar o leitor uma pista sobre o caráter de V. Ele tanto está em fuga, disfarçado, quanto tenta revitalizar toda uma nação.

20, 1, 3, Monkey Business (cartaz de filme)

Este filme de 1931 dos irmãos Marx, feito pela Paramount, narra as artimanhas de quatro passageiros clandestinos em um navio que bagunçam uma festa social a bordo, onde eles capturam alguns escroques (Halliwell 666). Esta é outra pista, pois V é um clandestino num sistema social que bagunça o sistema e capturas vários inimigos.

20, 1, 3, Waikiki Wedding (cartaz de filme)

Waikiki Wedding foi produzido em 1937 pela Paramount. Seu enredo envolve um agente de imprensa que está no Havaí para promover uma competição de A Rainha do Abacaxi (Halliwell 1050).

21, 3, 2, Salve uma Baleia (camiseta)

Por causa da ameaça de extinção das baleias, muitas pessoas nos anos 70 começaram a usar camisetas e bottons proclamando que alguém deveria Salvar uma Baleia. Este sentimento veio a ser associado com política e ambientalismo “liberais”.

22, 1, 1, …Quando os Trabalhistas subiram ao poder…

De acordo com a Encyclopaedia Britannica, o Partido Britânico dos Trabalhistas é um partido reformista socialista com fortes laços institucionais e financeiros com os sindicatos. Em janeiro de 1981, devido a vastas mudanças internas, o Líder do partido trabalhista eleito foi Michael Foot, um militante socialista cuja política incluia o desarmamento nuclear unilateral, a nacionalização das indústrias-chaves, união de poder e pesados impostos (82), da mesma maneira que Moore descreve em Por Trás do Sorriso Pintado (271).

22, 1, 1, …Presidente Kennedy…

A implicação é que o presidente dos Estados Unidos ou é Ted Kennedy, senador democrata ou John Kennedy Jr, respectivamente, o sobrinho e o filho do ex-presidente John F. Kennedy.

23, 2, 1, Nórdica chama

Este provavelmente é o nome de um partido estadual, com todas as bandeiras e uniformes exibindo grandes N’s. Nórdica deriva dos nórdicos ou Vikings dos países escandinavos que invadiram a Europa nos séculos V e VI (Greer 183). Eles eram ferozes, fortes, e “arianos” – a população “idealizada” pelo partido nazista de Hitler: loira e de olhos azuis (Greer 513-514). A escolha desta imagem ajuda a identificar a política do governo.

27, 2, 3, O mundo é um palco!

Esta é uma citação da peça As You Like It, de Shakespeare, Ato II, cena VII. (Bartlett 211).
40, 2, 3, …voltamos às cinco.

Uma expressão popular para dar um intervalo vem de uma frase do show business, embora leis de sindicatos agora requeiram dez minutos de intervalo (Sergal 219).

46, 3, 2, Mea Culpa

Do latin eu confesso ou a culpa é minha (Jonas 69).

47, 1, 3 – Bring me my bow of burning gold, Bring me my arrows/ of desire, Bring me My spear, O clouds unfold, Bring/ me my chariot of fire…I will not cease from mental/ flight Nor shall my sword sleep in my hand ‘Till we/ have built Jerusalem In England’s green and pleasant/ land.


Este é parte do poema de William Blake, And Did Those Feet (E Fez Esses Pés), do prefácio à sua coleção Milton. O prefácio de Blake para este trabalho foi um chamado aos cristãos para condenassem os clássicos escritos de Homéro, Ovídio, Platão, e Cícero, venerados no lugar da Bíblia. Ele declarou: Nós não queremos modelos gregos ou romanos na Inglaterra; de preferencia, ele disse, seus companheiros Cristãos deveriam se esforçar para criar esses mundos de eternidade nos quais nós viveremos para sempre, (MacLagan e Russell xix). V está, a seu modo, tentando criar a sua idéia de Jerusalém, um mundo livre, na Inglaterra. A tradução é a seguinte:
Tragam meu arco de ouro candente,
Traga minhas flechas de desejo,
Tragam minha espada, ó nuvens que se desfraldam,
Tragam minha carruagem de fogo…
Eu não cessarei minha luta espiritual…
Nem descansarei a espada em minha mão…
Até termos erguido Jerusalém…
Nas terras verdes e aprazíveis da Inglaterra.

54, 2, 2, Por favor, deixe que eu me apresente. Eu sou um homem de posses… e bom-gosto!

Esta é a abertura da canção Sympathy for the Devil, dos Rolling Stones, lançada em 1968.
56, 3, 3, Eu sou o Demônio e vim realizar a obra demoniaca!
Finch descreve esta citação como vindo de um famoso caso de assassinato, quase vinte anos antes de 1997. Uma busca em almanaques dos anos 1974 a 1979 revela que o único caso famoso de assassinato naquele tempo foi o do Filho de Sam/David Berkowitz. Berkowitz foi condenado por matar seis pessoas e ferir outras sete em ataques aleatórios nas ruas de Nova Iorque entre 29 de julho de 1976 e 31 de julho de 1977. Não havia nenhum motivo aparente por trás dos assassinatos; Berkowitz os explicou dizendo que foi um comando. Eu tive um sinal e o segui (Delury, 1978, 942). Considerando esta citação, e a aparente insanidade de Berkowitz, na qual o fez interromper seu julgamento com violentos ataques, é provável que esta citação venha desse caso.

57, 2, 1-2: O Senhor é meu pastor: e nada me faltará; Em um lugar de pastos, ali me colocou. Ele me conduziu junto a uma água de refeição. Converteu minha alma, me levou pelas veredas da justiça, por amor de seu nome!

Esta é a tradução feita da seguinte versão inglesa do 23º Salmo do livro bíblico dos Salmos, usada originalmente na versão em inglês de V de Vingança:
The Lord is my shepherd: therefore I can lack
nothing; He shall feed me in green pasture and lead
me forth beside the waters of comfort. He shall
convert my soul and bring me forth in the paths of
righteousness, for His name’s sake…
Esta parece ser uma estranha versão deste salmo. Não é nada parecida com a versão padronizada pelo Rei James:

The Lord is my shepherd, I shall not want. He maketh
me lie down in green pastures; He leadeth me
beside the still waters. He restoreth my soul: he
leadeth me in the paths of righteousness for his
name’s sake. (Bartlett 18)
Procurei em várias bíblias e descobri que cada uma tinha uma versão diferente. Em uma versão bastante comum, da Holy Bible (versão católica padrão da Bíblia), lê-se:

The Lord is my shepherd, I shall not be in want. He
makes me lie down in green pastures, he leads me
beside quiet waters, he restores my soul. He guides
me in paths of righteousness for his name’s sake. (310)

PARTE 2

9, 3, 1, The Magic Faraway Tree, por Enid Bla?? (na tradução da Ed. Globo – A Árvore distante)

Embora muitos dos livros em V de Vingança sejam reais, este aqui parece ser uma das invenções de Moore. Nem o Oxdford Companion to Children’s Literature, nem a Science Fiction Encyclopedia incluem o seu título.

15, 1, 3, Ouvi falar de um experimento…

A experiência, que não foi tão dramática quanto descrita em V de Vingança, foi administrada na Universidade de Yale em 1963 por Stanley Milgram. Os voluntários não estavam realmente acreditando que estavam matando as vítimas, e 65% (26 de 40 voluntários) continuaram administrando o que eles acreditavam ser perigosos e severos choques em suas vítimas (Milgram 376).

23, 2, 3, … uma mistura de extrato de Hipófise e Pineal.

Moore se refere-se a uma mistura de substâncias extraidas das glândulas Pituitária e Pineal, embora eu duvide que tal mistura apresente os efeitos que Moore descreve na série. Deve ser apenas uma criação de Moore.

24, 3, 3, fertilizante de amônia

Alguns fertilizantes contêm amônia que, na presença de certas bactérias, pode ser transformada em nitrato, que é usada pelas plantas (Chittenden 99).

24, 2, 2, gás mostarda

Este gás foi criado para ser usado como arma química durante a Segunda Guerra Mundial. Causa severas vesículas na pele e irritação nos olhos. Sua estrutura química é (Cl2CH2CH2)2S (sulfeto de 1,1-dicloro-etil) (Enciclopédia Americana 679).

24, 2, 3, napalm

Napalm é um explosivo derivado da gasolina, também usado durante a Segunda Guerra Mundial (Enciclopédia Americana 724). Não acho que uma pessoa possa fazer Napalm ou gás mostarda a partir de ingredientes de jardinagem. (N. do T.: Como foi apontado por outras pessoas, há a possibilidade de produzir tais substâncias com produtos de jardinagem, dependendo, é claro, das condições de produção. Mas como estamos falando de uma obra de ficção, o autor deve ter admitido que, devido a sua impressionante natureza mental, o personagem V seria capaz de tais façanhas científicas).

53, 3, 2, As Dunas de Sal

Este não é um filme real. Halliwell não dá nenhuma referência desse filme, e parece servir apenas como um ponto secundário do enredo, como um popular filme de Valerie Page.

57, 2, 3, Storm Saxon

Este programa de televisão é (felizmente) outra invenção. The Complete Encyclopedia of Television Programs de 1947-1979, não inclui nenhum programa parecido. A escolha do nome Saxon (saxão) é importante; o Saxões foram os descendentes dos conquistadores escandinavos que povoaram a França e a Inglaterra no século V (Greer 178-179). Note que a companheira de Storm é uma mulher branca de cabelos loiros chamada Heidi – o modelo de perfeição da Pureza ariana!

58, 2, 2, …na N.T.V um!

Aparentemente, N.T.V. significa Norse Fire Television (Televisão da Nórdica Chama), e é a substituição para a BBC – TV, a corporação estatal de televisão e radiodifusão britânica (Greene 566). O um se refere ao número do canal. A B.B.C. atualmente vai ao ar pelos canais Um e Dois (Greene 566).

62, 1, 3, …A gente paga, e pra quê?!

A BBC não é um canal comercial; é mantida pela venda das licenças de transmissão, pagas por donos de aparelhos de televisão e de rádio.

PARTE 3

4, 1, 2, Imagem espacial

Este é Neil Armstrong, caminhando na superfície da lua. Armstrong, a primeira pessoa a caminhar na lua, deu seu histórico passo em 1968.

6, 3, 1, Hitler

Um das imagens na colagem ao fundo é de Adolf Hitler, líder do Partido Nazista alemão, a linha de extrema-direita do governo que comandou a Alemanha de 1933 a 1945 e executou aproximadamente 6 milhões pessoas, entre judeus, ciganos, homossexuais e outros prisioneiros políticos (Sauer 248).

6, 3, 1, Stalin

O quadro de Josef Stalin está incluído porque, como Hitler e Mussolini, ele está associado com a tirania violenta. Ele controlou a antiga União Soviética de 1929 a 1953; durante os anos entre 1934 e 1939, ele prendeu e matou seus inimigos políticos, que eram quase todos membros das camadas militar, política e intelectual do país (Simmonds 571-74)

6, 3, 1, Mussolini

Benito Mussolini, outro líder apresentado na colagem, foi um líder italiano que era quase igual à Hitler em despotismo. Embora ele tenha começado como um socialista pacifista, durante a primeira grande guerra, ele formou o seu partido fascista de direita. Ele foi o ditador da Itália de 1922 a 1943, e controlou o norte da Itália de 1943 a 1945, antes de ser executado (Smith 677-78).

7, 2, 1, Imagem de tropas marchando (ao fundo)

Estas são as tropas nazistas do exército de Hitler.

A partir de agora, vamos acompanhar, por conveniência, a numeração das páginas do livro dois de V de Vingança, publicado pela Via Lettera.

17, 2, 1, … alguém que se espelha numa bandeira vermelha…

Historicamente, bandeiras vermelhas simbolizaram o movimento anarquista ou o comunista, ou ambos.

17, 3, 1, …Quero a emoção… da vontade triunfante…

 

Esta linha da canção no caberé se refere o famoso filme-documentário de propaganda nazista, The Triumph of the Will (O triunfo da Vontade, produzido por Leni Riefenstahl em 1934. O filme descreve um comício ao ar livre do partido nazista em Nuremburg como uma experiência mística, quase religiosa, da mesma maneira que a cantora está encenando (Cook 366).

18, 1, 2, …se um gato loiro…
Outra referência ao ideal da raça ariana.

18, 1, 2, O Kitty-Kat Keller

O nome da boate é uma referência ao clube burlesco Kit Kat Klub, do filme Caberet durante a subida de Hitler ao poder numa Alemanha pré II Guerra mundial. Ambos apresentam as iniciais KKK, que leva a uma inevitável associação com a infame organização racista Ku Klux Klan.

18, 3, 1, Faz ‘heil’ pra mim…

Mais uma referência ao nazismo; heil era a saudação verbal dada à Hitler com o braço direito levantado e a palma da mão virada para baixo.

43, 3, 2, …um show de marionetes muito especial…

O show que o pai de Evey menciona, e que vemos representado na página 34 é um tipo de show de marionetes conhecido como Punch & Judy, que se originou na Itália antes do século XVII. É um espetáculo extremamente violento; o boneco Punch geralmente bate nos outros personagens até a morte. Como V, Punch sempre destrói seus inimigos (Encyclopedia Americana 6).

PARTE 4

15, 2, 1, Arthur Koestler, As Raízes da Coincidência

Koestler foi um jornalista humanista e intelectual do início do século XX. Este trabalho trata de fenômenos paranormais [Enciclopédia Americana (530-31)].

34, 3, 1, 1812 Overtune Solennelle

Este peça musical, escrita em 1880 por Peter Ilich Tchaikovsky, foi a consagração da Catedral de Cristo de Moscou. A catedral foi construída em agradecimento à derrota de Napoleão em 1812. O trabalho incorporou um velho hino russo, e incluiu tanto o hino nacional francês, a Marseillaise, para representar a invasão de Napoleão e God Save The Czar (Deus Salve o Czar) para simbolizar a vitória de Rússia. Moore provavelmente escolheu este trabalho tanto pelo seu som revolucionário, quanto por um motivo incomum: a orquestração original incluía sons de tiros de um campo de batalha que o maestro produzia ao acionar interruptores elétricos (Adventures in Light Classical Music 34), uma ação que V imita com suas bombas.

48, 3, 1, Ordnung

Palavra alemã que significa, nesse caso, ordem, disciplina (Betteridge 452).
Aparentemente, na edição da Via Lettera, a grafia está errada: a palavra está escrita como Ordung.

48, 3, 2, Verwirrung

Palavra alemã que significa confusão, perplexidade, desordem (Betteridge 686).

49, 1, 1, Rodando em giro cada vez mais largo,/ O falcão não escuta o falcoeiro;/ Tudo esboroa…/… o centro não segura.

Estas palavras são do poema de William Butler Yeats, The Second Coming (A Segunda Vinda), que fala sobre uma figura que representa Cristo/anti-Cristo que sustenta a caótica história da humanidade (Donoghue 95-96). Isso ilustra visão de V de um mundo caótico, mas V acredita que como resultado do caos virá a ordem. Isto também está prenunciado, pois V representa um Cristo/anti-Cristo e Evey é a segunda vinda. O trecho em inglês do poema original é o seguinte:
Turning and turning in the widening gyre the
Falcon cannot hear the falconer.
Things fall apart…
the centre cannot hold.

54, -, – Todavia, como se diz, vale tudo no amor e na guerra. Como, no caso, trata-se de ambos, maior a validade./ Embora ostente os cornos de um traído, não serão/ eles uma coroa que usarei sozinho./ Como vê, meu rival, embora inclinado a pernoitar fora,/ Amava a mulher que tinha em casa./ Há de se arrepender/ O vilão que roubou meu único amor,/ Quando souber que, há muitos anos…/ Eu me deito com o seu.

V fala freqüentemente, como ele faz aqui, em pentâmetro iambico, que é um esquema rítmico. Cada linha consiste em cinco pés métricos, cada um dos quais contêm duas sílabas, uma breve (átona) e uma longa (acentuada), (Encyclopedia Americana 688). Simplificando, um pentâmetro iambico é uma coluna de cinco estrofes, cada uma formada por um iambo, que é uma medida – um pé de verso – constituído de uma sílaba breve e outra longa. Falando em versos brancos, característicos de peças Jacobeanas, V presta uma homenagem. Era comum que os dramas Jacobeanos fossem uma peça de vingança, que V imita em mortal adaptação ao longo da história. O texto original em inglês é o seguinte:
Still all in love and war is fair, they say,
this being both and turn-about’s fair play.
Though I must bear a cuckold’s horns, they’re not a crown that I shall bear alone. You see,
my rival, though inclined to roam, possessed
at home a wife that he adored. He’ll rue
his promiscuity, the rogue who stole
my only love, when he’s informed how
many years it is since first I bedded his.


56, -, – A Queda dos Dominós (imagem)

Os dominós, que V tem colocado em pé desde o começo, estão prontos para cair. Na pequena história de Harlan Ellison ‘Repent, Harlequin!’ said the Ticktockman ( Arrependa-se, Arlequim! disse o Homem-Tick-Tack), o primeiro ato de terrorismo do Arlequim é descrito dessa forma:
Ele tinha tocado o primeiro dominó na linha, e um após o outro, em um ‘chik, chik, chik’, tinham caído.
‘Repent, Harlequin!’ said the Ticktockman demostra uma ridícula distopia onde o tempo é tanto os meios quanto os fins para o facismo; nisto, o atraso é erradicado pela constante exigência da vingança bíblica: se um indivíduo está dez minutos atrasado, dez minutos são tomados do fim de sua vida. Neste mundo, o Arlequim, disfarçado com uma fantasia de palhaço, consegue perturbar o tempo derramando 150.000 dólares em balas de mascar em uma multidão de transeuntes que esperam em uma calçada móvel. As balas de mascar, que são um mistério já que foram deixadas de ser fabricadas há mais de cem anos (como os fogos de artifício de V e o badalar do Big Ben na página 145 de V de Vingança), literalmente impede o funcionamento da calçada e anula todo o sistema desse mundo por sete minutos. Este ato faz do Arlequim um terrorista contra o estado, e o Mestre Controlador do Tempo (o Homem-Tick-Tack do título) tem que descobrir a identidade do encrenqueiro antes do sistema ser totalmente destruído. Muitos dos truques de V são semelhantes aos do Arlequim: ambos usam fogos de artifício para se comunicar com as massas, e ambos aparecem sobre edifícios para zombar das massas com canções ou poemas. O Ticktockman sabe, como Finch, que a identidade do Arlequimé menos importante que o entendimento de o que ele é. O Arlequim e V fundamentalmente representam idéias opostas àqueles que dirigem seus mundos, e ambos, embora usem de destruição, semeiam os que detém o poder para demolir as realidades que os consomem. Ambos são, de certa forma, celebridades, e ambos são inimigos do estado porque eles querem ser reformadores deste [uma referência à Civil Disobedience (Desobediência Civil) de Henry David Thoreau].

PARTE 5

1, 2, 2, Dietilamida de Ácido Lisérgico

Também conhecido como LSD ou LSD-25, esta droga é um psicotrópico que induz a um estado de psicose. Foi isolada pela primeira vez em Basle, Suíça, em 1938 por Albert Hoffman, que a sintetizou a partir de um fungo que ataca cereais, causando uma moléstia conhecida como ferrugem de gramíneas (Stevens 3-4).

2, 1, 1, Quatro tabletes

Hoffman também foi a primeira pessoa a experimentar a LSD-25. No seu primeiro experimento, ele usou 250 miligramas (Stevens 4). Ele experimentou uma violenta viagem e as doses subseqüentes foram reduzidas para menos de dois terços da quantidade inicial (Stevens 10). Assim, os quatro tabletes de Finch, cada um com 200 miligramas, era uma quantidade muito, mas muito excessiva.

5, 3, 1, …in nomini patri, et filii, et spiritus sancti…

Latim, da missa Cristã: Em nome do Pai, e do Filho, e do espírito santo.

7, 2, -, La Voie… La Verite… La Vie.

Estas palavras são francesas, e significam, respectivamente, o caminho (ou a estrada), a verdade, a vida.

7, 3,1, Stonehenge

Um dos maiores e mais completos monumentos de pedra dispostas da Inglaterra. Sua origem e propósito são desconhecidos, mas se acredita que tenha sido ou um tipo de local de observação astrológica, ou um lugar para cerimônias religiosas, ou ambos.

9, 1, 3, Everytime we say goodbye…I die a little./ Everytime we say goodbye, I wonder/ why a little. Do the gods above me, who must/ be in the know think so little of me they’d/ allow you to go?

A citação é de uma canção de Cole Porter intitulada Ev’ry time we say goodbye (Toda Vez Que Dizemos Adeus), do espetáculo de Porter, Seven Lively Arts, de 1944. Porter (1891-1964) foi um compositor americano que escreveu trabalhos sinfônicos de jazz e musicais. Ele é mais lembrado por sua adaptação da peça de Shakespeare, The Taming of the Shrew (A Megera Domada), no musical Kiss me, Kate (Lax and Smith 611; Havelince 200).
Uma tradução livre para esse trecho da canção é a seguinte:
Toda vez que dizemos adeus… Eu morro um pouco. Toda vez que dizemos adeus, eu desejo saber um pouco porquê.
Será que os deuses acima de mim,
que sabem tanto de tudo, pensam tão pouco em mim,
a ponto de permitir que você se vá?

9, 2, 2, Faze o que quiseres, Eve. Essa será a única lei!

Esta é a Lei de Thelema, de Aleister Crowley, em sua publicação de 1904, The Book of the Law (O Livro da Lei). Crowley foi um controverso e mal-compreeendido mago e ocultista dos meados do século XIX e início do século XX. Ele declarou que esse livro foi ditado a ele por seu espírito guardião, um deus-demônio, a encarnação de Set, um deus egípcio, a quem Crowley chamava de Aiwas. Embora alguns interpretem a lei como permissão para fazer pura anarquia, pode na verdade significar que alguém tem que fazer o que deve fazer e nada mais (Guiley, 76).

13, 1, 1, … uma história de Ray Bradbury que você me leu, sobre um trigal…

A história é A Foice, do livro The October Country. O livro contém outros nove contos, e aqui no Brasil foi publicado com o nome de Outros Contos do País de Outubro.

15, 2, 1, Eu estou esperando o homem.

Esta é uma citação da canção de Velvet Underground Heroin (Heroína) sobre um viciado que espera por sua conexão que vai trazer mais de sua droga para lhe vender.

15, 3, 3, Adeus, Minha Adorada (Cartaz)

Este filme de 1945, cujo título em inglês é Farewell, My Lovely, foi produzido pela RKO. Foi um dos primeiros filmes noir, um estilo caracterizado pelo violência e depravação de suas personagens, seu enredos complexos e sua fotografia sombria e de alto-contraste. Este filme foi adaptado de um romance de Raymond Chandler, e trata da procura de um detetive particular pela namorada de um ex-condenado (Halliwell 314).

21, 2, 2, Eva Perón…, Evita…e Não Chores por mim, Argentina…
Eva Perón foi a esposa de Juan Perón, antigo presidente da Argentina,de 1946 a 1952. Eva Perón, também conhecida como Evita, controlou o sindicato trabalhista, e os purgou de seus líderes, fazendo-os assim completamente dependente do governo. Ela também suprimiu grupos que a insultavam. Porém, ela era bastante querida por muitos de Argentina. Eva Perón inspirou um musical, Evita, escrito por Andrew Lloyd Webber, e encenado pela primeira vez em Londres em 1978.

23, 1, 1, …e deu estes passos em tempos antigos…

As primeiras linhas do poema And Did Those Feets, de William Blake.

27, 2, – …então, como podes me dizer que estas sozinho…/ … e afirmar que o sol não brilha para ti?/ Dá-me tuas mãos e vem comigo pelas ruas de Londres./ Eu lhe mostrarei algumas coisas…/ … que te farão mudar de idéia.

Esta pode ser uma canção real; porém, Fui incapaz de determinar sua origem ou qualquer outra informação sobre ela.

41, 3, 1, … um funeral viking.

Os vikings enterravam seus mortos primeiro colocando o cadáver em um navio e, depois de atear fogo na embarcação, empurravam-na para dentro do mar.

41, 3, 1, Ave atque vale

Latim, que significa, Olá e adeus (Simpson 63, 70, 629).

52, 1, 2, Les Miserables (cartaz)

Este cartaz pertence a Les Miserables (Os Miseráveis), uma moderna peça de ópera de Claude-Michel Schonberg, baseada no romance de Victor Hugo e encenada pela primeira vez em Londres em 1980. Fala sobre um insignificante ex-criminoso que, saído da prisão, se torna um líder revolucionário (Behr 391).

55, 2, 2, As notícias de minha morte foram… exageradas.

Esta citação é de um telegrama enviado de Londres à Associated Press por Mark Twain, escritor americano, em 1897 (Bartletts 625).

Por Madelyn Boudreaux – 27 de abril de 1994.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/v-de-vinganca-guia-de-referencias/

Eu era xamã e não sabia

Zzurto

Quando mais novo eu sempre me impressionei com a natureza. Não entendia bem o por quê, mas tudo o qual fazia parte do que eu encarava como natureza era extremamente bem pensado. Passei por vários lugares e sempre me dediquei ao máximo em ver valor aonde muitos não viam utilidade. Cheguei a carregar pedras das mais variadas para casa e sempre tive o cuidado de reservar um espaço para tudo isso.

Cheguei a viver de certo modo envolto em paradigmas esotéricos e isso facilitou ainda mais essa visão da realidade. Meditava quase sempre em busca de um mundo do qual eu era o maior escritor. Contudo o caos das informações que recebia e trabalhava me davam a certeza de que tudo aquilo ali ocorria, e de fato ocorria.

Encontrei muitos espíritos* que me confundiram mais do que auxiliaram, mas isso ocorreu devido a falta de consciência minha em minhas práticas intuitivas. Fui xamã sem perceber.

Dedicava boa parte do meu tempo a coordenar energias das mais variadas e muitas vezes as lancei com a força de minha vontade, pura e simplesmente. Intervi na realidade por meio disso e por meio disso me tornei um indivíduo de ação, não necessariamente fisicamente falando, mas em outro plano.

Em minhas incursões meditativas invadi e vivi em regiões muito além da compreensão comum. Estive boa parte do tempo lidando com elementais dos quais certas literaturas prejudicam mais do que auxiliam. Eles enfeitam demais tais forças para se tornarem mais agradáveis aos olhos e esquecem que a realidade não quer agradar ninguém. Contudo eu aceitei sem pensar muito nisso.

Fui alvo de tantas coisas que não saberia por onde começar e criei laços com lugares e plantas das quais muitos não enxergariam mais do que um terreno baldio. Eu escutei o som do vento e muitas vezes fui capaz de captar emoções e pensamentos que vinham por meio deste. Quantas e quantas vezes não antecipei circunstâncias numa sincronicidade que só eu percebia. Quantas e quantas vezes não menti para mim dizendo que era devaneio.

No sonho eu era particularmente medroso e tive dificuldade em estar lá. Curiosamente claro. Entretanto ao aprender a voar nada mais me era impossível. Quantos e quantos sonhos me fizeram ser mais atento e cauteloso e quantas e quantas vezes o que falei não vinha de mim. Os outros achavam somente que eu era um garoto sensível por demais. Eu sabia que não era isso, eram as vozes do conhecimento que a todos pertence, já que não há paredes limitadoras determinando um alguém mais capaz ou menos de receber. E minha atenção dedicada a tudo isso criava claro um diferencial que me fazia um estranho aos olhos de tantos.

Amigos meus que viveram comigo nesse período e que chegaram a buscar tais coisas também muitas vezes me olhavam céticos. Poderia alguém ter e poder fazer tantas coisas, simples, mas coisas das quais estes não conseguiam? Seria de fato verdadeiro ou pura invencionice de um garoto mimado? Eu me calava, não sabia o que falar nesses casos para ser compreendido e demorei a perceber que ser compreendido não importa. Importa somente ser verdadeiro com o que sente. E muitas vezes temi o que senti, por perceber coisas demais que minha maturidade emocional pouco auxiliava em lidar com isso.

O que mais prejudicou tudo isso foi cair nas graças de pessoas que se fizeram passar por experientes. Curiosamente estes foram os que menos me ajudaram. Não tirando o crédito que há na ação desse tipo de pessoa que permite nos fazer achar que nossas compreensões são plausíveis para eles. Isso para mim era suficiente. Essa falsa sensação de liberdade que a atuação destes criava era a melhor coisa que eu tinha, pois nunca desejei estar só. Mas na verdade eu que buscava uma comprovação. Minha mente racional se rasgava de raiva por não conseguir conter tudo o mais que me ocorria. Eu era xamã sem saber e cheguei a achar que tudo não passara de um erro.

Deixei meus espíritos de lado, larguei em outros cantos os cristais que tinha achado. Parei de entender o som das árvores e o chiado do vento. Entristecia-me ao pensar que com minhas mãos eu poderia ajudar, sem nem tocar, tantos que eu não queria mais estar perto. Parei de me lançar neste outro mundo por vergonha de continuar sendo taxado de tolo, imaturo ou criativo demais. E tranquei meu altar durante meses num silêncio que só machucou a mim. E foi por meio disto que aprendi uma das coisas mais importantes que é a confiança. Quando percebi que certas coisas não deixaram de ocorrer. Quando vi que certos vultos continuavam a passar. Quando percebi que certas palavras que eu falava continham as informações que eu intuía, mesmo quando os receptores nem ao menos se lembravam de onde tinham vindo o conselho. E isso ocorria provavelmente por que eu era somente um mediador, mas isso não me chateava, sabia bem que o bem feito era mais valioso.

Entretanto me dediquei por demais em não aceitar pura e simplesmente. Havia em tudo ali uma ciência que demorei em compreender. Para me aceitar xamã tive de ser neófito hermético. Tive de acreditar tolamente em enfeites dos contos de fadas das tradições espiritualistas incompletas que possuímos aos montes enlouquecendo os crédulos. Tive de me aventurar pela árvore da vida e falar nomes sagrados. Tive de encarar o terror dos arcanos e de suas compreensões. Tive de não me importar com opiniões chulas de pessoas fracas que encontramos aos montes por ai. Tive de rejeitar a religião para perceber que o problema não são elas e sim as pessoas e seus medos. Tive de parar no meio do mato novamente, longe de todos os olhos que me observaram eternamente descrentes para me ver livre de minha própria dúvida. Tive de escrever para muitos achando provável que estava perdendo novamente meu tempo para perceber que nada se perde nesse caso.

E foi lendo um livro e outro que percebi que todas as minhas práticas, até as mais tolas eram práticas de grandes xamãs dos quais nunca tinha ouvido falar. Que meus jogos tolos mentais e minhas práticas no quintal de casa tinham mais valor do que o que certos gurus falavam ou faziam. E que o fato de eu nunca ter encontrado respostas nas palavras deles não era por falta de capacidade minha e sim por falta de visão deles com suas próprias ciências.

Hoje em dia vejo alguns diários que escrevi. Juntando vez ou outra informações das mais variadas para alcançar a compreensão da qual necessitava para entender, abarcar aquilo tudo, tão simples. E nunca algumas informações foram tão fortes como certas passagens dos livros de Eliphas. Foi assim que aprendi a me calar pois o que sabia só a mim me importava. E testei incansavelmente tudo, por fim me libertando da dúvida que me consumia. Hoje afirmo que sou um xamã, mas não qualquer xamã. Meus passos pelo ocultismo, hinduísmo, Zen, budismo, cristianismo, oráculos, magia, meditação, espiritualismo e afins não se perderam no meio do nada. Mas o xamanismo é tão livre e tão grande que não consigo separa-lo como um objeto exclusivo. Na verdade quando me refiro ao xamanismo não consigo formaliza-lo como um ponto no espaço. Quando digo que sou xamã, digo que sou tudo isso. E os espíritos nunca os perdi, só tive de reencontra-los.

E como um Dom Juan que bem conhecemos também me visto de terno e gravata. Contudo o nó que dou é muito mais divertido.

E é por meio disto que implico que somos o que buscamos ser, curiosamente abobalhados pela impressão de nunca termos sido antes. Assim é bem provável que no meio do mato eu trace no chão um desenho hermético qualquer olhando no céu alguma ave de rapina passando, sentindo no cheiro do vento a intuição de outrora. O ritual apenas começou e se escutar um cântico qualquer vindo de mim não se assuste quando for pronunciado nomes divinos para uma fogueira. Não se envergonhe ao me ver dançando sobre um pentagrama ou flutuando nas águas claras do outro espaço. Saberei bem sacar de minha bolsa um mantra, aforisma ou qualquer outra coisa para auxiliar-me, para nos auxiliar. Pois esta ciência é viva e me regozijo com prazer ao utiliza-la. Meu templo não tem portas, contudo sei bem como fecha-las. E em qualquer lugar podes me ver recitando umas frases soltas enquanto olho para bem mais longe.

Se não compreender o meu olhar o problema não está em mim ou noutro alguém. O problema está em não compreender o seu próprio olhar. E se tudo isso aqui não passar de devaneio, como poderia tuas práticas serem diferente para ti? Contudo não afirmo que para alçar voou terás que fazer assim ou assado. Afirmo somente que se quer lançar-se no universo é preciso antes de mais nada a capacidade do psiconauta. Este que sabe que todo e qualquer mundo é válido, quando é parte do caminho que alcançamos ao respeitarmos o coração.

Silêncio… é preciso escutá-lo. Silêncio… é preciso sê-lo. Silêncio.

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leia também:

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Uno consigo e com o mundo – parte I

Uno consigo e com o mundo – parte II

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#xamanismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/eu-era-xam%C3%A3-e-n%C3%A3o-sabia