As formas de se trabalhar com magia goética

“Existe muita mitificação sobre o sistema Goétia. Muitas pessoas falam sem autoridade alguma, e muitas autoridades no assunto preferem se manter caladas. Sem grandes mistérios, basicamente trata-se de um sistema de invocação multi-propósito.” -Morbitvs, Entendendo a Goetia

Quando o assunto é a magia goética, existem quatro formas de se trabalhar com esses espíritos.

Independente da cerimônia ser aplicada com triangulo, circulo, baqueta e quaisquer outros fetiches ou apenas mentalmente se concentrando no demônio e o acessando, essas formas são os subsídios para qualquer praticante.

A Petição

A mais recorrente dentre os praticantes se baseia em apenas contatar o espírito e entrar em comunhão com o mesmo. Quando digo comunhão, se baseia em ver se o espírito está com vontade de realizar aquilo que você pede. Geralmente, quando se tratado com respeito o mesmo pode simplesmente aceitar sem nenhuma delonga.

A petição é uma forma contraria a magia cerimonial, que não procura entender a vontade do espírito, apenas subjugando-o a realizar o efeito desejado. Ambas formas fazem efeito, porém se você encontrar um espírito que quer realizar aquilo que você precisa, os efeitos tendem a ser potencializados. Quando se obtém um “não”, o magista simplesmente procura outro espírito. Uma das formas comuns para se praticar isso, é desenhar os selos dos espíritos que estão associados aquilo que se deseja e então, com todos os selos na sua frente, perguntar em voz clara qual deles está disposto a trabalhar contigo. Pode ser que um, dois ou mais (assim como nenhum) responda. O ideal é que dentre os que responderem, o magista procure então selecionar qual sente maior afinidade para então contata-lo.

O espírito nem sempre pede algo em troca, muitas vezes apenas realiza porque está sendo alimentado diretamente do desejo do magista.

A Negociação

O famoso “trato”, “pacto” é costumeiro dentre os praticantes de goetia. Busca-se nessa forma, recompensar o espírito com algum tipo de sacrifício – que pode ser desde bebidas, incensos, velas a sangue ou fluidos. Dentro desta forma de trabalho, os praticantes alegam somente dar o alimento depois de cumprido o pedido. Já outros, dão uma parte na hora do trato e a outra depois que ele for cumprido. O LöN Plo permaneceu uns anos praticando essa forma – ele cortava a mão com estilete e vertia o sangue para o espírito,  prometendo dar mais sangue quando o espírito cumprir aquilo que foi solicitado.

Quando se negocia com o espírito pode-se fazer de duas maneiras – ou você oferta aquilo que deseja para ele ou pergunta o que ele quer em troca. Pode ser suficiente para alguns deles pedirem apenas uma única vela. Tudo depende do tamanho do pedido e da velocidade que deseja que ocorra a magia. Quando se há paciência para esperar um, dois ou três meses, a petição e negociação costumam ser as melhores maneiras para se trabalhar devido a economia de recursos gastos no interlúdio com o espírito.

A Ameaça

Uma das formas herdadas da stregheria e da magia popular católica, ameaçar o espírito também é um jeito de se conseguir aquilo que deseja. Os praticantes de goécia fazem um “vodu” do espírito com o selo do mesmo. Desenhando-o em um metal resistente e então machucando o metal, queimando-o como usualmente feito, para que o espírito sinta a dor do fogo e então se entregue a vontade do magista. Na goecia de Samuel Liddell “MacGregor” Mathers, essa pratica é feita colocando o selo com enxofre em uma caixa de metal, em cima do fogo.

Outra pratica de ameaça é feita chamando os superiores do espírito. Na Goécia, dois espíritos se destacam dizendo quem são seus superiores – Paimon e Belial. O livro de Johann Weyer, Pseudomonauchia Daemonum (de 1577), que foi a base para a construção da chave menor de Salomão – a Goetia – nos revela detalhes sobre essas relações. O livro pode ser lido aqui.

Na goécia, Lúcifer é dito ser o “chefe” de todos os espíritos. Como pode ser visto no material citado acima, assim como em qualquer tradução moderna da goecia, quando se refere nos textos de Paimon e Belial, se revela essa ligação entre os espíritos e Lúcifer. Se Lúcifer não for convocado, o praticante pode apelar aos poderes divinos – conjurações aos arcanjos e nomes de deus para obrigar o espírito realizar aquele pedido. Interessante notar que, a pratica de goetia, cerimonialmente falando, se baseia quase que totalmente nisso – se traça um triangulo com o nome de Michael, conjura-se o Não Nascido e então pelos nomes de Deus, o espírito. Alguns praticantes são profundamente contra esse tipo de pratica, achando-a desnecessária e quase nunca efetiva. Nas palavras do LöN Plo, “antes xingar o pizzaiolo, lembre-se que ele está fazendo a sua pizza e que pode fazer o que quiser com ela. E nela.”

O Culto

Durante os anos de faculdade, Morbitvs praticou essa forma com Belial. Ele ofertava carne crua diariamente para o espírito e então pedia aquilo que desejava. Segundo ele, não houve nada nessa época que ele não conseguiu. A questão era que ele estava se viciando nisso e então perdendo o controle e portanto, cortou os laços com o espírito.

O culto pode ser feito de várias formas. Crowley praticava ofertando fluidos sexuais aos espíritos regularmente para realizar suas façanhas. Outros praticantes, podem usar sangue. Vinho, velas, incenso, frutas, água, pão, sangue… A oferenda fica a cargo do praticante, que regulariza os dias e horários em que pretende realizar seu culto ao espírito. Costuma-se estabelecer um “laço de amizade” com o espírito, que se mantém próximo ao operador, influenciando o mesmo. Alguns praticantes afirmam que o culto é a forma mais forte  e rápida de se conseguir resultados e que não existe oferenda – existe investimento.

A demonolatria moderna trouxe esse tipo de pratica, juntamente com altares e diversas associações aos espíritos. Alguns praticantes acreditam que os espíritos não precisam de nenhum tipo de oferta para realizar qualquer coisa que seja. Outros em discrepância, dizem que qualquer espírito precisa de energia para que realize algum pedido.

 

A experiência pessoal é a melhor autoridade quando é esse assunto. Magickamente não existe unanimidade, portanto o magista deverá se atrever a trabalhar e desenvolver suas próprias formas de trabalho dentre essas bases.

por King

Postagem original feita no https://mortesubita.net/demonologia/as-formas-de-se-trabalhar-com-magia-goetica/

O Caminho da Mão Esquerda e a Demonolatria

Bate-Papo Mayhem 147 – gravado dia 06/03/2021 (Sabado) 21h Marcelo Del Debbio bate papo com Zack Beckeb – O Caminho da Mão Esquerda e a Demonolatria

Os bate-Papos são gravados ao vivo todas as 3as, 5as e sábados com a participação dos membros do Projeto Mayhem, que assistem ao vivo e fazem perguntas aos entrevistados. Além disto, temos grupos fechados no Facebook e Telegram para debater os assuntos tratados aqui.

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Adoração do Diabo

Na história da adoração a essa entidade conhecida como diabo, muitos estudiosos, como Georg Waitz [1813-1886, alemão], Sir John Lubbock [1834-1913, inglês], Edward Burnett Tylor [1832-1917, inglês, antropólogo] reuniram informações das quais deduziram que em um estágio dos mais primitivos da religião, a adoração ou veneração ao Diabo [seus assemelhados, o mal] precedeu o culto a um Deus benevolente e moralizador, divindade do Bem.

As divindades malignas aparecem como as personagens mais importantes no passado remoto de quase todos os sistemas de fé. Demonolatria, cultos aos Diabos, são o primeiro estágio da evolução do pensamento religioso; porque os homens, muitos antes de pensarem em bênçãos, curvaram-se ao meio hostil. Os homens primitivos temiam o mal e não o bem. Assim, era natural que buscassem técnicas apaziguadoras que evitassem os infortúnios provenientes de um mal cuja origem não podiam alcançar.

Herbert Spencer [1820-1903, filósofo inglês], acreditava que o fundamento da religião é o Desconhecido, querendo com isso dizer que o que os selvagens adoravam [e adoram] é aquilo que eles não entendem. [Assim, o Desconhecido de Spencer é algo que não se entende e não algo que nunca se conheceu. Não é uma hipótese consistente. Um provérbio alemão diz: O que não conheço, não me preocupa; ou em português, algo como: O que os olhos não vêem o coração não sente

Aquilo que é absolutamente desconhecido não comove o homem. Os selvagens não reverenciam o trovão porque não sabem o que é, ou porque não sabem explicar o fenômeno. Porém, conhecem o suficiente o fenômeno subseqüente, o raio, e os estragos que ele pode causa: matar, machucar, queimar sua cabana. O selvagem tem medo dos trovões e dos raios. Então, em uma tentativa de controlar a ameaça, desenvolve reverência por essa força intangível na esperança de evitar suas manifestações.

Em Anthropologie, Waitz [Vol. III., pp. 182, 330, 335, 345], falando sobre os nativos norte-americanos das tribos da Flórida, observa que indivíduos daquelas culturas que não foram semi-cristianizados, têm, ainda [o autor escreve no século XIX, anos 1800] uma adoração [reverência] solene a um espírito do Mal, Toia – que atormenta suas vítimas com visões. Esses nativos pouco se preocupam com o Espírito do Bem, o qual, Ele mesmo, parece [para os nativos] pouco se importar com raça humana.

A mesma característica ocorre em tribos de amerabas, indígenas brasileiros. Esses indígenas têm a viva convicção de um Princípio do Mal [personificado na mitologia do encantado Anhangá – N. do T.] sobre eles; eventualmente, referem-se ao Bem; mas esse, o Bem, é muito menos reverenciado que o outro, o Mal. No contexto de seus esforços pela sobrevivência, os selvagens percebem o Ser Benevolente como uma entidade mais fraca, menos poderosa e/ou influente sobre o destino dos homens que que o Mal, que se manifesta diariamente [MARTINS Apud TYLOR, Primitive Culture II, p. 325]. Em 1605. o capitão John Smith, herói da colonização da Virgínia descrevia o culto a Okke [palavra que, aparentemente significa além do nosso controle] escreveu:

Existe na Virgínia uma tribo tão selvagem que não possui religião além da reverência a todas as coisas que, potencialmente, podem lhes produzir qualquer dano ou das quais dependem para se manter vivos. Tais coisas, seres e elementos são, por isso, objeto de culto. [É o pensamento religioso animista em busca de apaziguamento das forças da Natureza]. O fogo, a água, o raio, o trovão, cavalos, peixes, etc.. Mas seu Deus maior, a quem chamam Oke. Smith que Oke significa deuses e, assim, Oke é como um panteão resumido em uma imagem. Os nativos disseram que viram Oke e que se parece mais com eles mesmos [homens] do que poderiam imaginar. Nos templos dedicados a Oke, sua representação, entalhada, é assustadora; pintada e adornada com correntes, peças de cobre, contas. [Uma vez por ano 15 jovens são mortos, sacrificados para a gratificação de Oke…].

Práticas similares foram observadas entre quase todas as tribos caribenhas e amerabas, nas ilhas e no continente Sul-Centro-Americano. Em Hispaniola – Ilha de São Domingos [Caribe], a divindade fúnebre é Joacana. O ritual terrível faz desses indígenas alguns dos mais abomináveis entre esses primitivos adoradores do Mal. Entre os povos pré-colombianos do México, os mais civilizados da região, a idéia de um Deus de Paz e Amor não é inteiramente estranha porém, o medo do adversário, o horrendo Huitzilopochtli [imagem acima] ainda assustava o suficiente para que os nativos manchassem os altares de seus templos com o sangue de vítimas humanas.

Mas nem só os selvagens praticaram atrocidades como tributo em paga dos favores de divindades malignas. As antigas e clássicas civilizações também carregam esse feio passado em sua história. Os sacrifícios humanos são freqüentemente mencionados na Bíblia. Como no episódio do rei de Moab, que perdendo a guerra contra Israel e estando encurralado: Tomando então seu filho [dele mesmo, Moab] primogênito, que deveria reinar depois dele, ofereceu-o em holocausto sobre a muralha. Isso povocou uma tal indignação entre os israelitas que estes se retiraram e voltaram para sua terra [Reis II, 3:26]. Os profetas pregaram muitas vezes contra a prática pagã entre israelitas que, imitando a religião de seus vizinhos, sacrificavam seus filhos e filhas aos demônios ou então faziam-nos passar através do fogo de Moloch, para serem devorados pelas chamas.

As nações mais civilizadas do mundo preservam em suas mitologias a memória de, em um tempo primitivo de seu desenvolvimento religioso, imolarem seres humanos para tornar propícias as divindades irritadas. Quando Atenas estava no auge de sua glória, Eurípedes [485-406 a.C. ─ dramaturgo grego] representava o drama do trágico destino de Polixena, que foi sacrificada sobre o túmulo de Aquiles para acalmar o espírito do herói morto assegurando, deste modo, um retorno seguro dos guerreiros gregos.

Os sacrifícios humanos são uma característica central na adoração aos demônios [entidades malignas, personificações do mal]; Mas não é única. Existem outras práticas diabólicas baseadas na idéia de que este tipo de deidade tem prazer em testemunhar a tortura e a maior das abominações, o canibalismo. O canibalismo, como explicam os antropólogos, jamais resulta de uma escassez de comida; não. O canibalismo não é uma simples refeição. Antes, é um ritual religioso, justificado por superstições, crenças, especialmente a idéia de que partilhar o coração ou o cérebro do adversário proporciona absorver a coragem, a força e outras virtudes do sacrificado.

Esta relação entre comer o semelhante para apoderar-se de suas virtudes, esse pensamento que implica práticas tão brutais, ainda permanece diluída na simbologia mais importante da religião mais poderosa do planeta: o cristianismo. Em particular, o cristianismo católico, com sua cerimônia da Transubstanciação: o pão no corpo, o vinho no sangue de Jesus. Ainda que os padres apelem para todas as justificativas sejam teológicas, semióticas ou simplesmente misteriosas, essa referência ao beber sangue e comer o corpo é, no mínimo, uma coisa mórbida. A inocente transubstanciação operada nas missas serve como péssima inspiração para a deturpação da prática dando origem a seitas instituídas por psicopatas-criminosos de todo tipo.

A Religião nasceu do medo. A religiosidade dos selvagens demonstra isso muito bem. O medo do mal é notável e, por isso, os primeiros esforços no sentido de estabelecer uma relação amigável com os agentes do mal e do bem, porque o bem não causa transtornos. A demonolatria existe hoje. Está nas manchetes policiais do mundo inteiro; e vai continuar existindo até que o senso comum do homem mediano perceba ou resgate o significado das palavra Bem, Bom. O progresso espiritual, ou noético, ou, ainda, simplesmente, o progresso da inteligência lógica-analítica é lento em termos coletivos.

A Humanidade-rebanho é ignorante, assustadiça, acomodada e covarde [e porque não reconhecer, burra mesmo!]. São pessoas que ainda acreditam em bajular o inimigo para salvar a pele; ao menos durante algum tempo. Pessoas que procuram caminhos curtos, soluções rápidas e alívio para a sofreguidão se suas paixões mais bestiais. Hoje, mais do nunca, a demonolatria, só não é mais patética porque é imensamente trágica. Um demonólatra, hoje, não tem a desculpa do primitivismo desinformado um tupinambá. O demonólatra de hoje, é algo entre um doente e um monstro perigoso, candidato a hóspede de cadeia ou de hospício; alguém cujo grau de humanidade está baixo da média necessária para um ser vivo ser considerado gente.

Fonte: In Sacred-Texts. [www.sacred-texts.com/evil/hod/hod04.htm]

CARUS, Paul. Devil Worship. History of The Devil, 1900. [Trad. e Adaptação: Ligia Cabus]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/demonologia/adoracao-do-diabo/