Deus como Consciência-Sem-Um-Objeto

by John C. Lilly

Nos últimos dois anos, conheci um homem e seu trabalho que contrariaram minhas próprias simulações e por quem fui influenciado para além de quaisquer influências anteriores. Em 1936, Franklin Merrell-Wolff escreveu um diário que mais tarde foi publicado como Pathways Through to Space (Pathways Through to Space). Em 1970 ele escreveu outro livro chamado The Philosophy of Consciousness- Without-an-Object (A Filosofia da consciência-sem-objeto). Ao estudar suas obras e a crônica de sua experiência pessoal, cheguei a alguns lugares novos para mim.

Wolff passou pelo treinamento do Vedanta, pela filosofia de Shankara; ele conhecia a filosofia de Kant e outros do mundo ocidental; e ele passou vinte e cinco anos trabalhando para alcançar um estado de Nirvana, Iluminação, Samadhi e assim por diante. Em 1936 ele conseguiu essa transformação e com sucesso variável a manteve nos anos seguintes. Ele é um homem incrivelmente pacífico agora em seus oitenta anos. Ao conhecê-lo, senti a influência de sua transformação, de seus reconhecimentos, de uma espécie de corrente fluindo através de mim. Senti uma paz que não senti em minhas próprias buscas; um certo tipo peculiar de contentamento altamente indiferente ocorreu e, no entanto, o estado estava além do contentamento, além da felicidade humana usual, além da bem-aventurança, além do prazer. Este é o estado que ele chama de estado de “Alta Indiferença”. Ele experimentou isso em seu terceiro nível de reconhecimento, além do Nirvana, além da Bem Aventurança no Pathways Through to Space. Suas percepções neste estado são relatadas em The Philosophy of Consciousness.

Em seu capítulo “Aforismos sobre a consciência-sem-objeto”, Merrell-Wolff expressa suas descobertas em uma série de frases semelhantes a sutras. A primeira é: “A consciência-sem-um-objeto é”. A culminação da série é que a Consciência-sem-objeto é ESPAÇO. Esta é provavelmente a maneira mais abstrata e ainda mais satisfatória de olhar para o universo que encontrei em qualquer lugar. Se alguém persegue esse tipo de pensamento e sentimento e entra nos espaços introceptivos, o universo se origina em um solo, um substrato da Consciência-Sem-objeto: o tecido básico do universo além do espaço, além do tempo, além da topologia, além a matéria, além da energia, é a Consciência. Consciência sem forma, sem reificação, sem realização.

Em certo sentido, Merrell-Wolff está dizendo que o Criador das estrelas é a Consciência-Sem-objeto. Ele não dá dicas de como os objetos são criados a partir da Consciência-Sem-objeto. Ele não dá dicas de como uma consciência individual é formada a partir da Consciência-Sem-objeto. Os detalhes desses processos não eram seu principal interesse. Seu interesse principal aparentemente era chegar a um conjunto básico de suposições sobre as quais tudo o mais pudesse ser construído. Nesse sentido, ele é como Einstein, trazendo o fator da relatividade para o universo a partir dos absolutos de Newton.

Se somos uma manifestação da Consciência-Sem-objeto, e se, como diz Wolff, podemos voltar à Consciência-Sem-objeto, então minha visão bastante pessimista de que somos apenas animais barulhentos estava errada. Se houver alguma maneira de trabalharmos nossas origens fora do fundamento básico do universo, ignorando nossas idéias de que o processo evolutivo nos gera gerando nossos cérebros – se houver algum contato, alguma conexão entre nós e a Consciência-Sem-Objetos e o Vazio, e se pudermos fazer esse contato, essa conexão conhecida por nós mesmos individualmente, como afirma Wolff, então é possível que haja muito mais esperança e otimismo do que eu jamais acreditei no passado. Se o que ele diz for verdade, temos um potencial muito além do que imaginei que poderíamos ter. Se o que ele diz é verdade, podemos ser e realizar nosso ser como parte do Criador das estrelas.

Pode ser que Wolff, como todos nós, esteja supervalorizando suas próprias abstrações. Pode ser que ele esteja gerando, isto é, auto-metaprogramação, estados de sua própria mente e de outros nos quais os ideais da raça são reificados como objetos de pensamento, como programas, como realidades, como estados de consciência. Pode ser que isso seja tudo o que podemos fazer. Se isso é tudo o que podemos fazer, talvez seja melhor fazê-lo e ver se há algo além disso ao fazê-lo.

Se, entrando em um estado de Alta Indiferença, de Nirvana, Samadhi ou Satori, podemos funcionar como um exemplo pedagógico para os outros e pode ser que, se um número suficientemente grande de nós compartilhar esse conjunto particular de metaprogramas, possamos ser capazes de sobreviver aos nossos próprios espaços dicotômicos alternativos de iras e disputas. Se a ira justificada for uma programação que não colabora com a sobrevivência da espécie humana, então pode ser que a Alta Indiferença seja uma alternativa razoável.

Estabelecer uma hierarquia de estados de consciência com Alta Indiferença no topo, Nirvana em seguida, Satori em seguida, Samadhi em seguida e Ananda na base é um jogo interessante, especialmente quando se torna capaz de se mover por todos esses espaços e permanecer um tempo suficiente em cada um para conhecê-lo.

Isso pode ser um jogo melhor do que matar nossos vizinhos porque eles não acreditam em nossas simulações de Deus. Pelo menos aqueles que defendem esses estados afirmam que esses estados estão acima de qualquer outra aspiração humana; que uma vez que alguém os tenha experimentado, ele é quase impróprio para a ira, para o orgulho, para a arrogância, para o poder sobre os outros, para a pressão do grupo exercida sobre si mesmo ou sobre os outros. Torna-se apto apenas para ensinar esses estados àqueles que estão prontos para aprendê-los. O voto de bodhisattva não é mais necessário para aqueles que tiveram experiência direta. A pessoa se torna o bodhisattva sem o voto. A pessoa se torna Buda sem ser Buda.

A pessoa se contenta com as necessidades mínimas de sobrevivência em sua viagem ao planeta;  reduz o uso de artigos desnecessários – máquinas, aparelhos e dispositivos. Ele não precisa mais de filmes, televisão, lava-louças ou outros luxos. Já não precisa de muito do que a maioria das pessoas valoriza acima de tudo. Não precisa mais da emoção da guerra. Não é mais necessário ser escravo de pensamentos ou ações destrutivas. A pessoa não precisa mais se organizar.

A história do Diabo de Krishnamurti é pertinente aqui. Laura Huxley me forneceu uma cópia dele. O Diabo estava andando pela rua com um amigo, e eles viram um homem pegar algo, olhar com atenção e colocar no bolso. O amigo disse ao Diabo: “O que é isso?” O Diabo disse: “Ele encontrou um pouco da verdade”. O amigo disse: “Isso não é ruim para o seu negócio?” O Diabo disse: “Não, vou providenciar para que ele tente organizá-la.”

Portanto, não nos convém organizar nem os métodos nem os estados que Wolff descreve tão bem. É melhor não tentar inventar grupos, técnicas, igrejas, lugares ou outras formas de organização humana para encorajar, fomentar ou impor a outros esses estados. Se esses estados vão fazer alguma coisa com a humanidade, eles devem “rastejar por contágio”, por assim dizer, de um indivíduo para o outro.

Deus como consciência-sem-objeto, se real, será percebido e introceptado por mais e mais de nós à medida que nos voltamos para as realidades internas dentro de cada um de nós. Se Deus como Consciência-Sem-objeto habita cada um de nós, eventualmente veremos isso. Nós nos tornaremos universalmente conscientes. Perceberemos a consciência como estando em toda parte e eterna. Perceberemos que a Consciência-Sem-objeto em cada um de nós é preconceituosa e tendenciosa porque está ligada a um cérebro humano.

REFERÊNCIA
1. Merrell-Wolif, Franklin, Pathways Through to Space e The Philosophy of Consciousness-Without-an-Object, ambos New York: Julian-Press, 1973.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/yoga-fire/deus-como-consciencia-sem-um-objeto/

Aleister Crowley: a genial biografia da Besta

Tamosauskas

Imagine ser um cristão e não saber como Cristo morreu, um muçulmano que não conhece a vida de Maomé ou um judeu que nunca ouviu falar da infância de Moisés. Parece um absurdo, mas imagine então ser um ocultista no século XXI que não sabe nada sobre a vida de Aleister Crowley. Assim como os personagens citados antes, ele foi o profeta e comentador de uma revelação religiosa, teve uma passagem pela Terra igualmente interessante e transformou para sempre o cenário magístico do planeta, seja você thelemita ou não. Esta é a importância do livro “Aleister Crowley: a biografia de um mago” de Johann Heyss, o primeiro tomo da trilogia thelema da editora Presságio. Sem Crowley não haveria wicca, magia de maat, satanismo moderno, luciferianismo,  magia do caos ou igreja elétrica. E estes são apenas alguns dos nomes dos seus muitos filhos.

Johann é por si só figurinha carimbada no meio thelemita. O autor já escreveu outros dois livros sobre o Tarô de Thoth, vários sobre numerologia além de diversas obras de ficção e poesia. Mais recentemente encabeçou a tradução do Livro da Lei comentado por Aleister Crowley também pela Presságio Editora. Além de escritor e tradutor é ainda é músico, carreira na qual igualmente deixa transparecer suas influências ocultistas.

Nesta biografia, que é única escrita originalmente em português, Johann conta toda a trajetória  do mago inglês, desde seus primeiros anos como o pequeno Edward Alexander Crowley, filho de um casal evangélico até seu leito de morte como A Grande Besta regado de trovões e ventania. O livro passa ainda por sua movimentada vida como bissexual, inseparável de sua vasta obra mágika e literária e diversos rumores de zoofilia, sadomasoquismo, diabolismo, canibalismo, coprofagia, de ser espião de guerra e pai de Barbara Bush, futura primeira dama dos Estados Unidos. Algumas dessas lendas -e várias outras – são reais, mais você terá que ler o livro para saber. O livro conta ainda com apêndices contendo citações importantes sobre Crowley, seu mapa astral e uma lista com toda a sua bibliografia produzida.

Entre o não tão inocente Alexander e o nada inocente To Mega Therion, uma vida de descoberta, aceitação (não sem certa hesitação) e desenvolvimento da Thelema, uma nova religião trazendo uma nova lei para a humanidade baseada nos preceitos de “Faze o que tu queres  de ser tudo da Lei” e “Todo homem e toda mulher é uma estrela”. Esta nova religião talvez nunca chegue a ser uma religião das massas, mas sem dúvida nenhuma as massas já são influenciadas por ela.”Que meus servidores sejam poucos & secretos: eles deverão reger os muitos & os conhecidos. ” No meio ocultista sei impacto é crescente e na literatura inspirou nomes como Fernando Pessoa,  Jorge Luis Borges e Alan Moore. Na música nomes que vão de Beatles a Jay-Z (passando por Ozzy, David Bowie, Raul Seixas e Klaxons), levaram seus preceitos para as multidões.

O livro de Johann conta com detalhes toda a história e contexto no qual o Livro da Lei foi escrito e todo o esforço que Crowley fez para levar esta mensagem ao mundo, mas conta também todo desenvolvimento biográfico anterior e posterior a este ponto culminante.  A obra é dividida em cinco partes. Na primeira vemos sua infância infernal e sua a rápida rejeição a religiosidade da época vitoriana até o inicio de seu interesse pelo esoterismo.  Na segunda parte testemunhamos sua conturbada passagem pela Golden Dawn. Na terceira está descrito o início do Novo Éon com o recebimento do Livro da Lei e demais livros sagrados de Thelema e sua ascenção ao status de celebridade magicka.

Mas nem tudo são flores para a Besta. Como se  “o pior homem do mundo” demonstrasse na própria carne o que afirmou a dizer que “Os ‘senhores da terra’ são aqueles que estão realizando sua vontade. Não quer dizer necessariamente que sejam indivíduos com diademas e automóveis: muitos deles são os mais pesarosos escravos do mundo.” Assim no quarto e quinto capítulo sentimos o cheiro de pólvora e o coice da arma que disparou o éon de hórus passar por dificuldades financeiras, judiciais, de relacionamento, depressão e problemas com vício em heroína. Contudo nesses mesmos capítulos temos o desenvolvimento de alguns de seus principais livros, seu aprimoramento na magia sexual, sua entrada e reformulação da Ordo Templi Orientis, seu encontro com Leah Hirsig, “a mulher escarlate definitiva”, fundação da  Abadia de Thelema – primeira das Sociedades Alternativas – e a criação de seu famoso tarô com Frieda Harris. Prenúncios de que a nova era não seria fácil, mas seria muito criativa.

Aleister Crowley: a biografia de um mago” nem por um segundo tenta esconder os defeitos de Frater Perdurabo. Pelo contrário, demonstra que ele tinha defeitos comuns aos homens de seu tempo e também defeitos muito particulares. O autor faz uma leitura crítica de sua vida e convida o leitor a fazer o mesmo sem com isso desmerecer o impacto de sua mensagem para o mundo. Citando Johann Heyss: “Aleister Crowley é como um cartão em branco, no qual você ode escrever sua própria definição, a qual será, ao menos em parte, verdadeira. Partindo da perspectiva do processo iniciático, é possível perceber o fio de coerência que permeia os disparates deste personagem hoje lendário, à parte qualquer aprovação ou desaprovação.”

Durante sua vida Crowley foi descrito como a Grande Besta do Apocalipse, “o escolhido sacerdote  & apóstolo do espaço infinito” cuja revelação rasgou os véus do templo vitoriano, mas também como um belo filho da puta ou ainda como um ser humano capaz de errar e de sofrer. Alguém em busca do império da verdadeira Vontade, mas também levado pela vida a pagar contas e chorar a morte dos filhos. Em muitos sentidos uma pessoa além do seu tempo e em muito outros um homem de sua época. A biografia feita por Johann Heyss é sem dúvida a mais completa que temos.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/aleister-crowley-biografia/

A Filosofia do Templo da Chama Ascendente

O CAMINHO DO DRAGÃO:

O Caminho Draconiano é baseado na magia auto-iniciativa do Lado Noturno. Ele contém o mistério da transição iniciática da alma de um ser mortal para a forma de Deus encarnada através da morte espiritual e renascimento no Ventre do Dragão e na lareira do Fogo Draconiano. Através do trabalho sucessivo e da comunhão com os Deuses e Espíritos da Corrente, a consciência se expande e a alma desenvolve seu potencial para receber, manter e ancorar esta energia. Cada passo no Caminho revela novos segredos, novas possibilidades, novos mistérios a serem perseguidos. No Caminho do Dragão, o Iniciado é continuamente desafiado e testado. À medida que as chaves para a transmutação da alma são reveladas e os portais para os poderes esquecidos são desbloqueados, a mente é gradualmente sintonizada com as energias da Corrente e a alma é forjada no Fogo Draconiano, para que possa entender e aproveitar esse poder. O Iniciado do Caminho Draconiano é um emissário e uma manifestação viva do Dragão, um mensageiro dos Deuses primordiais.

Este é o trabalho de auto-capacitação e ascensão da alma. Ajuda na compreensão da Gnose de Lúcifer e Suas manifestações no mundo. Ela prepara o corpo, a mente e a alma para a quantidade de poder e conhecimento que serão liberados durante o trabalho com essas forças primordiais. Eleva a alma além de todas as expectativas. O Caminho do Dragão abrirá as portas para os poderes que você deseja alcançar e para muitos mais. Através do trabalho sucessivo, sua alma se integrará totalmente com a Corrente e você se tornará uma manifestação viva do Dragão, o Deus Encarnado. Uma vez abertos, esses portais estarão para sempre conectados à sua alma. Este é um caminho para a origem da Corrente, a fonte de todo poder e todo conhecimento, a descida ao Vazio para enfrentar o Dragão e se tornar uma manifestação da força draconiana primordial.

O Caminho Draconiano é individual e diferente para cada viajante. Você está convidado a entrar em contato conosco e participar de nossos projetos abertos e do Curso Introdutório que preparará seu corpo e mente para o fluxo da Corrente e para a abertura dos portões da alma para a força do Dragão. Nosso Trabalho é abrir as portas da alma para o Fogo transformador do Portador da Luz, as Chamas do Dragão. Quando isso for feito, você será guiado pelo próprio Lúcifer, Lilith, a Rainha da Noite, e pelos Deuses e Espíritos da Corrente. No entanto, se você quiser continuar seu trabalho de auto-iniciação participando de nossos projetos internos, você também receberá assistência do Templo e terá a oportunidade de conversar com Iniciados mais avançados no Caminho, compartilhando e trocando sua experiência em sucessivos níveis de sua ascensão pessoal.

Templo da Chama Ascendente é um templo de Lúcifer. Ele é o símbolo e o patrono da Era do Despertar. Ele permanece como o portão e o guia para o Caminho da Auto-Deificação, iluminação, liberdade do espírito, despertar da alma do sono da ignorância. Ele é a fonte de toda iluminação e um dos deuses draconianos primitivos. Ele é o Iniciador da Chama Ascendente (Desejo Humano de Transcendência que potencializa a ascensão espiritual) e o Deus patrono do Templo que foi fundado para trazer a Corrente do Portador da Luz e a Gnose do Vazio. Esta é a Gnose do Dragão que ao longo dos tempos foi esquecida, perdida, mal interpretada e distorcida, e agora está sendo trazida de volta ao mundo na forma da Corrente Draconiana primordial que está sendo aterrada através de indivíduos capazes de receber e canalizando esse conhecimento.

OS DEUSES DRACONIANOS E O CAMINHO DO LADO NOTURNO:

Deuses e Espíritos Draconianos são nossos aliados e guias no Caminho. Eles revelam e abrem os Portões da Alma e os Caminhos do Lado Noturno através do processo iniciático individual, para que o Homem possa se tornar Deus Encarnado. A Obra iniciática do Templo está, portanto, centrada em abrir a consciência para a natureza de seu poder e preparar a alma para a comunhão com suas energias primordiais.

O Dragão do Vazio é Leviathan, a Serpente Primal enrolada ao redor do Universo, segurando-o em um abraço atemporal. O próprio Vazio é o Ventre do Dragão, vomitando mundos e devorando-os em um ciclo interminável de morte e renascimento. É a força primordial existente fora das estruturas da Criação, sem nome e indefinida, pois não tem forma e todas as formas ao mesmo tempo, sua forma e nome diferem dependendo de uma tradição mágica e sistema iniciático. O Dragão existe fora da Árvore Cósmica, que é o Pilar da Ascensão Espiritual. A Árvore, tanto em seu aspecto brilhante quanto na negatividade do lado escuro, é uma manifestação da consciência humana, projeção da mente consciente e interior, de acordo com o antigo princípio “Como acima é abaixo”: Tudo o que existe Dentro também existe Fora. O homem é Deus em potencial, manifestação do Dragão, parte dessa força eterna e atemporal que permeia toda a Criação e se expande além, no Infinito. O propósito da jornada iniciática através do Pilar da Ascensão é perceber e compreender este potencial e, consequentemente, transformá-lo em Divindade. Vista como a “emanação da Divindade”, a Árvore constitui a percepção humana da consciência deificada. A conclusão do Caminho é o coroamento do processo de Auto-Deificação. A Árvore também é uma manifestação do Dragão, pois a força Draconiana é a fonte de toda a Criação. Mas o Dragão é mais do que a Árvore em si. E para alcançar a própria fonte desse poder primordial, o Homem tem que dar um passo além da Árvore, no Vazio, o Ventre do Dragão. Enquanto trabalhamos com determinados caminhos e zonas da Árvore Cósmica, às vezes temos vislumbres dessa força atemporal, e podemos encontrar portas para o Útero do Dragão no Abismo Cabalístico, mas o verdadeiro Portal para o Vazio existe no reino de Thaumiel, dentro do Trono de Lúcifer, onde o Homem se torna Deus completando a Ascensão através do Pilar da Elevação da Alma. O último passo da humanidade para a Divindade é o passo além da Árvore, na liberação final da ilusão do mundo manifestado.

O Trono de Lúcifer existe em Thaumiel, o último reino antes de entrar no Vazio. Portanto, Ele é o Portão e o Símbolo da Alma Deificada, o Deus patrono do Caminho. Ele é a força solar e iluminadora que tem alimentado a evolução da consciência humana desde o nascimento da humanidade. Ele é Força, Fogo e Fúria. Ele capacita e eleva a alma através de Seu Pilar de Ascensão de fogo. Sua contraparte feminina na magia iniciática draconiana é Lilith. Ela é Paixão, Desejo e Sedução. Ela seduz as almas e as atrai da Luz para o Lado Noturno, o lado avesso da Árvore, desperta a Luxúria e a Fome por conhecimento e poder que só crescem a cada passo no Caminho, e acende a centelha da Divindade que progressivamente se torna a Chama Ascendente de Lúcifer. É o Fogo da Transformação, a própria essência da Divindade. Ambos constituem o Arquétipo do Adversário: O Diabo e o Salvador.

PORTANTO, OS FUNDAMENTOS DA MAGIA DRACONIANA DENTRO DO TEMPLO ESTÃO CENTRADOS NESSES TRÊS ARQUÉTIPOS PODEROSOS: LÚCIFER – O SENHOR DAS CHAMAS, FORÇA DA EVOLUÇÃO E ASCENSÃO; LILITH – O FOGO DRACONIANO DA TRANSFORMAÇÃO, PRINCÍPIO DA PAIXÃO E DESEJO; E LEVIATÃ – O DRAGÃO DO VAZIO, FONTE PRIMORDIAL DE TODA MANIFESTAÇÃO.

A Corrente de Lilith é uma parte do Trabalho iniciado em 2002 pelo grupo ritual draconiano anteriormente conhecido como Loja Magan e continuou ativamente ao longo da década seguinte. O propósito do Trabalho foi o Re-Despertar do Dragão, a força primordial Dentro e Fora, auxiliando nas iniciações e introduzindo potenciais Iniciados na Tradição Draconiana. Em 2012, esta tarefa foi assumida pelo Templo da Chama Ascendente e estendida pela conjugação da Corrente Draconiana de Lilith com a Corrente Adversarial de Lúcifer e Deuses Draconianos das Qliphoth. A Obra central do Templo é introduzir o aspirante a Iniciado no Caminho Draconiano e na magia Qlifótica e auxiliar no processo iniciático no Caminho do Dragão.

OUTROS ARQUÉTIPOS USADOS DENTRO DO TEMPLO:

HÉCATE: A professora de feitiçaria e a guia para o “submundo” pessoal, as profundezas da psique.

ARACHNE: A Deusa Aranha da Atlântida e a rainha dos labirintos Qliphóthicos sob a Árvore Cósmica.

BELIAL: O intermediário entre os espíritos do Lado Noturno e o mago, a porta de entrada para o poder de Goetia.

SET: O Arquétipo do Adversário, o Deus da Tempestade e da Mudança, o princípio da transformação dinâmica.

O OBJETIVO DO TRABALHO:

O objetivo do Trabalho com a Corrente Draconiana é abrir os portões da alma e despertar a consciência, para que o Iniciado possa contemplar o Infinito e viajar ao Coração do Vazio para abrir o Olho de Lúcifer, o Olho do Dragão, e ilumine o Caminho que conduz à Divindade. O Trabalho iniciático do Templo o ajudará a recuperar a consciência primordial e o poder draconiano primordial que detém o potencial de toda criação e toda destruição. Nosso Curso Introdutório irá prepará-lo para a Iniciação na Corrente Draconiana e para o trabalho adicional no Caminho da Auto-Deificação e projetos mais avançados inspirados na Tradição Draconiana e Magia Atlante. Nossos projetos e trabalhos individuais irão ensiná-lo a manifestar sua Vontade no mundo e formar manifestações de seu Desejo a partir de energias primordiais do Vazio.

Para viajar ao Ventre do Dragão e não ser consumido pela imensidão do Vazio, você precisa fortalecer sua alma invocando e se tornando a Chama Ascendente de Lúcifer. Isso prepara sua consciência para o Trabalho com a Corrente. O propósito do Templo é auxiliar o Iniciado neste processo e preparar sua alma para o fluxo do poder transformador do Dragão e a visão do Vazio no processo de transformação iniciática através das energias dos Deuses primordiais.

Isso pode parecer abstrato no início, mas a Iniciação Draconiana é uma experiência íntima e pessoal e é diferente para cada Iniciado. A Mudança sempre se manifesta nas áreas mais pessoais de sua vida. A cerimônia de Iniciação será conduzida por outro Iniciado Draconiano e abrirá os portais internos de sua mente para a Gnose da Corrente. A auto-iniciação também é possível e igualmente válida como uma iniciação presencial e nós o ajudaremos e orientaremos tanto nos preparativos quanto nos procedimentos de iniciação. Então você estará livre para perseguir sua própria Visão e receberá mais orientação dos Deuses e Espíritos do Caminho, que atuarão como iniciadores e aliados em estágios específicos de sua Ascensão. Uma vez que os portais sejam abertos, a Corrente fluirá através de sua consciência, aprimorando suas habilidades mágicas e transformando sua vida.

Há apenas uma Iniciação feita pelo Templo – preparação e iniciação na Corrente Draconiana. Este é o Objetivo Primário do Templo. Assim que você alinhar sua alma com a Corrente, Deuses e Espíritos irão guiá-lo e inspirá-lo. O Caminho Draconiano faz parte da tradição do Caminho da Mão Esquerda, que é em sua essência solitária e pessoal. O núcleo principal da Obra é feito individualmente, como uma comunhão solitária e pessoal com os Deuses e Espíritos da Corrente. No entanto, compartilhar e discutir o Trabalho com outras pessoas também oferece uma oportunidade de aprender e progredir mais rápido e evitar certos erros na prática mágica.

O QUE ACONTECE DEPOIS DA INICIAÇÃO?

Após a Iniciação você tem duas opções:

1) Você é bem-vindo para ficar e trabalhar conosco – para explorar e fortalecer a Corrente de Lúcifer, ou para iniciar o processo de ascensão pessoal no Caminho do Dragão de acordo com nossos projetos internos que o introduzirão na auto-iniciação draconiana magia e ensiná-lo a projetar e desenvolver seus próprios rituais, meditações e todos os aspectos necessários do Trabalho.

2) Você pode seguir caminhos separados e trabalhar com a Corrente como um praticante solitário.

O INICIADO DRACONIANO:

Ser um Mago Draconiano é viver sua vida de acordo com o Caminho. Não é algo que você faz no seu tempo livre, de vez em quando, em eventos sociais ou como meio de recreação. É a vida, vivendo o Caminho e estando ciente de sua Visão e Desejo em cada momento da existência. Trilhar o Caminho é uma escolha para toda a vida. Cabe a você optar por permanecer um diletante, sempre procurando desculpas para pular a prática diária, atrasar ou desistir da busca de sua Visão, deixar de lado o trabalho com a magia do Caminho quando não a encontrar conveniente, ou se você foca sua vida, tempo e energia na verdadeira evolução espiritual. Não é nada fácil. A maioria de nós tem emprego e família, todos nós lutamos com problemas ocasionais de saúde ou problemas financeiros, etc. Mas a chave para ter sucesso no Caminho é encontrar o equilíbrio entre sua vida mundana e espiritual e não deixar que essas coisas atrapalhem. Isso pode significar que você terá que reorganizar toda a sua vida para se adequar ao Caminho, e se você não estiver pronto para tal mudança, provavelmente não terá sucesso além do nível básico de avanço mágico. Esteja ciente disso quando der seus primeiros passos no Caminho do Dragão. Mesmo que essa mudança não seja necessária desde o início, ela se tornará uma necessidade em etapas posteriores de sua evolução pessoal. Como você faz isso, depende exclusivamente de você. Mas uma vez que você esteja no caminho certo, quando você deixar sua alma voar nas asas do Dragão e ascender com a Chama de Lúcifer, todas as coisas começarão a se encaixar, trazendo-lhe mais saúde, prosperidade, amor, emoção e alegria. inspiração do que você já teve em sua vida. Este é um processo difícil, muitas vezes doloroso e traumático, mas também emocionante e recompensador.

Não há restrições para que ninguém tenha sucesso na ascensão espiritual. A maioria dos magos falha em seu Caminho iniciático quando escolhe existência passiva, preguiça e auto-piedade em vez de desafio, paixão e experiência; segurança sobre o risco; o limitado sobre o infinito; o mundano sobre o espiritual; o sono da alma e a ignorância irracional sobre o despertar e a iluminação. Você terá que encontrar novas maneiras de interagir com o mundo, as antigas serão quebradas no processo. Mas, novamente, este é um caminho para poucos, não para muitos.

Você não precisa de experiência prévia ou habilidades mágicas avançadas, mas precisa de potencial e vontade para desenvolver ambos. Você precisa ser dedicado e apaixonado pelo seu trabalho mágico. É importante ter cuidado, mas é ainda mais importante deixar-se conduzir pelo Desejo, manter o coração aberto para novas experiências, novas missões a perseguir, novos mistérios a descobrir. Sem ele, você NÃO terá sucesso no Caminho do Dragão. Ser cuidadoso não deve, no entanto, ser confundido com medo, relutância ou ceticismo em trilhar o Caminho. Você precisa ser capaz de deixar ir, deixar-se consumir pelo Fogo de Lúcifer e inflamar seu Caminho através da Escuridão do Vazio. Abrace a nova experiência e divirta-se. Aproxime-se com antecipação e excitação, não com medo, ceticismo ou nervosismo. O Caminho Draconiano é duro e difícil, mas também é uma bela aventura espiritual. É extático, desafiador e inspirador em todos os níveis possíveis de existência. Deixe sua alma voar através de mundos e dimensões em êxtase extático. Não perca a emoção e o entusiasmo concentrando-se apenas em treinos duros e exigentes, deixe-se fascinar e inspirar por cada mudança no mundo que ocorre por sua Vontade, por cada manifestação de seu Desejo. Não tenha medo de ser autoconfiante em seu trabalho, mas, novamente, não confunda autoconfiança com arrogância e auto-ilusão. É uma armadilha fácil de cair no Caminho da Mão Esquerda, que está em sua essência centrado no desenvolvimento de uma poderosa autoconsciência.

A magia draconiana tem tudo a ver com Trabalho: praticar, treinar, desenvolver, moldar, polir, aperfeiçoar, experimentar, descer às profundezas mais escuras do Inferno e subir até o Sol para derrubar as ilusões do mundo e alcançar poderes que podem parecer imaginários e míticos para o Ignorante, mas para o Iniciado eles podem ser ferramentas reais e tangíveis, se ao menos aprendermos como aproveitá-los e controlá-los. Não existe um mago draconiano teórico ou passivo. A magia draconiana é sobre invocar, canalizar e absorver o poder e manifestá-lo no mundo. Trata-se de reconhecer fraquezas e inibições e transformá-las em veículo de ascensão pessoal. Não há lugar para filosofias vazias que apenas estimulam o ego, mas não são fundamentadas na experiência real.

Além disso, todos os métodos e ferramentas de prática são bons se ajudarem em seu avanço espiritual, se puderem lhe dar acesso ao poder genuíno. Sacrifício, feitiçaria sexual, oferendas de sangue, instrumentos de dor e prazer, intoxicação, etc. fazem parte da Obra, em menor ou maior extensão. Alguns deles serão ensinados pelo Templo e empregados em certos projetos mágicos, outros serão deixados à escolha individual dos praticantes. VOCÊ NUNCA SERÁ FORÇADO A NADA COM O QUAL NÃO SE SINTA CONFORTÁVEL. O que é recomendado, no entanto, é não rejeitar nenhum desses métodos, pois eles podem ser úteis ou até necessários em etapas posteriores do seu Caminho. Você não será forçado a nada no decorrer do Trabalho, mas será constantemente desafiado a questionar seus valores e princípios, superar inibições e transformar seus medos e hesitações em força e ferramentas de poder.

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Fonte:

Philosopy of Temple of Ascending Flame.

http://ascendingflame.com/philosophy.html

Temple of Ascending Flame © 2012-2021

Postagem original feita no https://mortesubita.net/satanismo/a-filosofia-do-templo-da-chama-ascendente/

Sócrates, Asclépio e a oferenda do galo

Neste vídeo vamos analisar o que diabos Sócrates quis dizer, afinal, em suas últimas palavras no leito de morte. O que simbolizava o tal galo que ele devia a Asclépio? Quem era Asclépio? Teria isso a ver com ritos de cunho místico e iniciático? Vamos tentar responder tais questões.

Se gostaram, não esqueçam de curtir, compartilhar e se inscrever no canal!

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/s%C3%B3crates-ascl%C3%A9pio-e-a-oferenda-do-galo

Curso Completo de Tarot

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Completando a primeira parte do meu projeto de Ensino à Distância, está pronto o Curso Completo de Tarot. Com isso, consegui cumprir a meta que estabeleci no começo de 2015, de até o final do ano ter todos os cursos básicos de Hermetismo disponíveis para Ensino à Distância.

Com todas as responsabilidades que tenho junto à Maçonaria, ao Arcanum Arcanorum, à Rosacruz e à Ordem Demolay, está difícil organizar cursos presenciais nos finais de semana e vemos também que muita gente que acompanha o TdC mora longe do eixo SP-RJ.

Pensando nisso, gravamos e organizamos todos os Cursos Básicos na plataforma de Ensino à Distância (EADeptus), para que vocês possam estudar em suas casas, no seu horário e em seu próprio tempo. Os cursos digitais possuem muitas vantagens em relação aos presenciais: contam com mais imagens, vídeos e áudios; você pode pausar para fazer uma pesquisa, anotar alguma coisa ou assistir às aulas quantas vezes quiser; os cursos são apostilados e temos plantão de dúvidas por email, fórum e Facebook. Fora o preço mais em conta e possível de dividir no cartão em até 12x. Se você contabilizar passagens, hospedagem e alimentação quando viaja para SP para fazer um curso, poderá fazer todos os básicos!

Até agora, gravamos todos os cursos básicos de Hermetismo:

– Kabbalah Hermética

– Astrologia Hermética

– Tarot Completo (Os Cursos de Arcanos Maiores e Arcanos Menores podem ser feitos separadamente)

– Geomancia

Agora em 2016, começaremos a gravar os cursos intermediários e avançados: Runas, Qlipoth, Magia Prática, Alquimia, Geometria Sagrada, 72 Nomes de Deus, Goétia e Enochiano. Cursos mais demorados e complexos, que demandam exercícios práticos além da parte teórica. Sucesso é a Única Possibilidade!

Para quem prefere mesmo os cursos presenciais, já comecei a abri as turmas de Carnaval. Dias 6, 7, 8 e 9 de fevereiro teremos os Cursos de Kabbalah, Astrologia, Qlipoth e Magia Prática. Informações e reservas no email marcelo@daemon.com.br

Confira abaixo o conteúdo dos Cursos de tarot:

Aula 01 – História dos Oráculos

1.1 – Introdução ao Curso Online de Tarot – Arcanos Maiores

1.2 – História dos Oráculos – Parte 1 – Geomancia

1.3 – História dos Oráculos – Parte 2 – I-Ching

1.4 – História dos Oráculos – Parte 3 – Dados e Ossos

1.5 – História dos Oráculos – Parte 4 – Alquimia, Rosacruz e Hermetismo

Aula 02 – Arcanos Maiores I

2.1 – A Árvore da Vida

2.2 – O Louco

2.3 – O Mago

2.4 – Sacerdotisa

2.5 – Imperatriz

Aula 03 – Arcanos Maiores II

3.1 – Imperador

3.2 – Hierofante

3.3 – Enamorados

3.4 – Carro

3.5 – Força

Aula 04 – Arcanos Maiores III

4.1 – Eremita

4.2 – Roda da Fortuna

4.3 – Justiça

4.4 – Pendurado

4.5 – Morte

Aula 05 – Arcanos Maiores IV

5.1 – Temperança

5.2 – Diabo

5.3 – Torre

5.4 – Estrela

5.5 – Lua

Aula 06 – Arcanos Maiores V

6.1 – Sol

6.2 – Julgamento

6.3 – Mundo

6.4 – Consagração das Cartas e Tiradas

6.5 – Considerações Finais

ARCANOS MENORES

Aula 01 – Introdução

1.1 – A Origem dos Arcanos Menores

1.2 – O Yin e o Yang

1.3 – Os Quatro Elementos: Terra, Fogo, Ar e Água

1.4 – Estrutura da Árvore da Vida e Nomenclaturas

1.5 – Os Arcanos da Corte

Aula 02 – Árvore do Fogo

2.1 – O Naipe de Bastões

2.2 – Ás, Dois e Três de Bastões

2.3 – Quatro, Cinco e Seis de Bastões

2.4 – Sete, Oito, Nove de Bastões

2.5 – Dez de Bastões

Aula 03 – Árvore da Água

3.1 – O Naipe de Taças

3.2 – Ás, Dois e Três de Taças

3.3 – Quatro, Cinco e Seis de Taças

3.4 – Sete, Oito, Nove de Taças

3.5 – Dez de Taças

Aula 04 – Árvore do Ar

4.1 – O Naipe de Espadas

4.2 – Ás, Dois e Três de Espadas

4.3 – Quatro, Cinco e Seis de Espadas

4.4 – Sete, Oito, Nove de Espadas

4.5 – Dez de Espadas

Aula 05 – Árvore da Terra

5.1 – O Naipe de Moedas

5.2 – Ás, Dois e Três de Moedas

5.3 – Quatro, Cinco e Seis de Moedas

5.4 – Sete, Oito, Nove de Moedas

5.5 -Dez de Moedas

Aula 06 – Os Arcanos da Nobreza

6.1 – Os Arcanos da Nobreza

6.2 – Princesa, Príncipe, Rainha e Rei de Moedas

6.3 – Princesa, Príncipe, Rainha e Rei de Espadas

6.4 – Princesa, Príncipe, Rainha e Rei de Taças

6.5 – Princesa, Príncipe, Rainha e Rei de Bastões

Aula 07 – Utilizando o Tarot

7.1 – Consagrações

7.2 – Uma Carta

7.3 – Três Cartas

7.4 – A Cruz Celta

7.5 – Conclusões Finais

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/curso-completo-de-tarot

O Relógio Sintetizador de Personalidade de LaVey

Anton Szandor LaVey

Excertos de “The Satanic Witch”

Para analisar ou avaliar adequadamente um indivíduo que você planeja enfeitiçar, é imprescindível que você entenda certas regras. Para fins de feitiçaria, deve-se entender que cada pessoa tem duas personalidades – aquela que mostra para todos e aquela que ele carrega dentro de si. Na verdade, essas duas personalidades podem ser divididas em três camadas – a camada externa é a “capa do livro” pela qual os outros costumam “contar a história” e a camada interna que no entanto, que é tristemente negligenciada – mas está sempre lá e sempre aparente. A razão pela qual não é prontamente notada é a mesma razão do porque ignoramos as árvores quando olhamos para a floresta. A terceira personalidade representa o núcleo interno, a “reversão ao tipo”, e é um reflexo direto da caracterização que é mostrada na superfície, ou primeira camada.

Vamos, portanto, considerar a primeira e a terceira camadas como iguais, com uma grande camada de preenchimento entre elas que compõe a segunda. Esta segunda camada é o “outro lado” de nossa natureza, a mulher dentro do homem, o alter-ego, a “sombra” de nossa natureza, etc. É também a parte da personalidade que você deve aprender a reconhecer em cada pessoa que você planeja enfeitiçar. A Figura 1 mostra o que pode ser comparado, por exemplo, em um homem baixo e gordo.

Como você pode ver no diagrama, a camada número dois assume a forma de uma mulher alta, esbelta e de quadris finos. Se nosso homem baixo e gordo tivesse um melhor amigo, seria outro homem alto e esbelto com uma personalidade totalmente diferente da sua. Coloque uma peruca e um vestido no amigo alto e magrelo e você terá uma boa dica de como será a esposa ou namorada do homem gordo.

Você já notou como o melhor amigo de um homem sempre será seu oposto na aparência? A mulher que você sempre teve como melhor amiga foi sempre oposta a sua própria aparência, não foi? Se você é extremamente bonita, seu melhor amiga sempre foi aquela que você se viu tentando convencer os outros a aceitarem como bonita, mesmo que eles não pudessem fazê-lo. Se você for um tipo ativo, atrairá pessoas quietas. Se você for quieta, gravitará em direção aos tipos energéticos. Em suma, a razão pela qual os opostos se atraem é porque precisamos desses opostos para nos tornarmos inteiros.

Por mais que precisemos desse oposto de nós mesmos, sempre haverá uma vitória sobre nossa camada interior 2 conta as camadas 1 e 3 de nossa personalidade.

Esse grande desequilíbrio, que chamarei de “Eu Majoritário”, é aquela personalidade que  sempre ocorrerá quando o jogo estiver valendo. É a “reversão ao tipo”, aparência, personalidade e impressão geral que apresentamos aos outros à primeira vista. Para resumir, AO TRATAR COM HOMENS E MULHERES COMO REGRA GERAL VOCÊ PODE JULGAR UM LIVRO PELA CAPA.

Na prática da feitiçaria e sedução, no entanto, você deve apelar para a necessidade do outro de expressar e exercitar a segunda camada de sua personalidade. Este é o lado de sua natureza que raramente é satisfeito e, portanto, sempre faminto. Uma velha frase, uma vez popular nos círculos do submundo é: “Trate uma vagabunda como uma dama, e uma dama como uma vagabunda”. Tudo isso é muito bom e pode ser considerado uma simplificação profunda do que venho dizendo, mas é só metade da fórmula, como descobriram muitos gigolôs indigentes e reformadores altruístas.

A razão pela qual esse vulgarismo é apenas uma meia verdade é porque, em última análise, no final a dama vai recuperar seu decoro e se tornar tolamente indignada, e a puta será descoberta em um dos quartos do andar de cima – com seu o vestido Dior levantado em seus quadris, um convidado em cima dela, e mais dois esperando do lado de fora da porta.

Uma variante completa do clichê anterior para as bruxas satânicas lembrarem é: “Trate um mendigo como um príncipe, e um príncipe como um mendigo – um garotinho como um grande homem, e um grande homem como um garotinho – um professor como um lutador de boxe, e um lutador de boxe como um professor; mas nunca deixe o vagabundo esquecer que ele é um vagabundo – o príncipe que é um príncipe – o garotinho, que é um garotinho, etc.

Quando iniciar um encantamento, sempre se aproxime de sua presa com seu eu demoníaco em mente. Isso significa que você pode tanto abordá-lo como um “estranho”, que o tratará da maneira que seu Eu Minoritário deseja, como também você pode ser este Eu Minoritário, em uma forma feminina!

Voltando à nossa fórmula anterior, em vez de tratar o vagabundo como um príncipe e se preocupar em manter seu ego no nível adequado para controle, deixe seu Eu Majoritário como está e você aparecerá como uma princesa. Se o seu alvo é um empreendedor de sucesso, um importante financista, ou um grande editor de jornal – você deve surgir como uma doméstica, uma balconista, uma dançarina. Se ele é um Casper Milquetoast (N.T Personagem de quadrinhos de fala mansa que sempre acaba apanhando) com um trabalho modesto, apareça como uma mulher de negócios eficiente e dê a impressão de que tudo gira em torno de você no escritório. Se o seu alvo é um acadêmico altamente intelectual, apresente-se como uma potranca bastante atrevida e chamativa com mais coração do que cérebro. Se ele for um verdadeiro playboy com terno italiano de seda e um livro de endereços gordo, surja como um bibliotecária de cidade pequena curiosa, mas ingênua. Pegou a ideia? Esse Eu Minoritário, que você deve representar, não se limita aos tipos de personalidade, mas é facilmente observável no próprio físico e nos movimentos de sua presa.

Para ser uma bruxa de sucesso, é preciso aprender a reconhecer essas coisas, mas primeiro você deve conhecer a si mesma.

Para que você possa conhecer a si mesma e aos outros, devemos estabelecer um guia. Eu criei um sistema de análise de caráter, utilizando as melhores ideias de muitas fontes. Pesquisadores como Sheldon e Kretschmer ajudaram muito por suas classificações de tipos de corpo e personalidade. Sheldon definiu o físico humano em três categorias básicas: Ectomorfo, ou magro, cerebral e reto para cima e para baixo; Mesomorfo, ou em forma de cunha, prático e de ombros largos; e Endomorfo, ou rechonchudo, social e de quadril largo. A partir dessas classificações básicas, Sheldon definiu literalmente centenas de subclassificações, todas variantes dos três tipos. Kretschmer usou a mesma tipagem fundamental, exceto que os chamou de “Leptosômico”, “Atlético” e “Picnico”.

O método que usei por conveniência ao longo deste livro (N.T The Satanic Witch) chamo de “Sintetizador de Personalidade LaVey”. Ao estudar as áreas quase ilimitadas do comportamento humano e das correspondências, cheguei a certas capsulizações da personalidade humana. Além dos pesquisadores mencionados anteriormente, observei a maioria dos meus “sujeitos de pesquisa” em seu habitat natural. Minhas coletas foram obtidas, não como psicólogo ou sociólogo credenciado, mas como advogado do diabo, que passou a maior parte de sua vida profissional em salas de concerto, bares, trabalho policial, carnavais, treinamento de animais selvagens, com fotografia, hipnose clínica , caça de fantasmas, shows burlescos, parques de diversões, estúdios de arte, reuniões de avivamento e avançando a causa do satanismo e simplesmente olhando!

Conduzi o que os sociólogos podem chamar de “projeto de pesquisa sem financiamento”. Muito do que sintetizei em minhas buscas às vezes excessivamente dispersas, para muitos leitores, parecerá totalmente louco, ridículo e ultrajante. Muito se baseia na avaliação científica de outros. Talvez ainda sejam condenados por não terem “nenhuma base científica conhecida ou credenciada”. Processe-me. Tudo o que sei é que funciona. E se funcionar, estou certo. Se algumas das  teorias “malucas” que você ler funcionarem para você, você está à frente do jogo. Eu as apresento apenas pelo que descobri que podem fazer quando aplicados.

O Sintetizador de Personalidade de LaVey

Cada tipo humano tem seus traços de personalidade correspondentes e, como você pode ver, ocupa uma posição no círculo que pode aproximar os números do relógio. Para simplificar as coisas, usaremos este sistema de numeração de relógio quando nos referirmos aos tipos que discutiremos ao longo deste livro. Portanto, se for feita menção a um “tipo duas horas”, você saberá que a pessoa está a meio caminho entre um tipo mesomorfo e um tipo ectomorfo. Não estou aderindo completamente ao sistema de tipagem de Kretschmer e Sheldon, porque isso eliminaria muitas das oportunidades de longo alcance para uma análise rápida e fácil que este método permitirá.

Antes de prosseguirmos, a regra mais importante no uso desse método de análise deve ser declarada: o elemento demoníaco de todas as pessoas se manifesta na escolha de um parceiro. DEPOIS DE ENCONTRAR A PESSOA QUE DESEJA ENFEITIÇAR NO RELÓGIO, VOCÊ DEVE FAZER O MÁXIMO PARA RETRATAR A PESSOA DIRETAMENTE OPOSTA AO SEU ALVO

Você pode testar a autenticidade do gráfico simplesmente observando a escolha de um parceiro das pessoas que conhece . Onde quer que as pessoas encontrem um relacionamento difícil entre duas pessoas – especialmente de sexos opostos – você notará que elas estão próximas demais ou na mesma posição no relógio, e não opostas. As classificações que podem ser definidas são limitadas apenas pela miopia da bruxa. Usando este sistema, pode-se dizer mais sobre uma determinada pessoa do que com qualquer outro método já inventado.

As doze horas representam a contraparte masculina pura das seis horas femininas. Visto que esses tipos podem ser comparados a Adão e Eva, o sátiro e a ninfa, etc., (N.T: Anima e Animus) muito poucos indivíduos se encontrarão exatamente nessas marcas. Como se verá, não julgaremos tanto por três classificações básicas, mas por aproximações aos quatro quartos do círculo: doze, três, seis e nove.
Ao empregar essa síntese, descobrir-se-á que quanto mais ela for usada, mais elementos estritamente relacionados da personalidade serão vistos correndo concomitantemente com cada tipo no relógio.

Esses quatro pontos têm afinidades de personalidade com os elementos fogo, água, ar e terra, e suas cores: vermelho, azul, verde e amarelo. A forma do relógio tem sido usada de forma eficaz em muitas áreas onde a gradação é exigida de natureza contínua. Como a roda de cores, que empregaremos em conjunto com ela, o relógio permite gradações sutis, mas facilmente reconhecíveis.

Tipos Masculinos e Femininos

Se você nasceu mulher e está no extremo superior do relógio, isso indica que você é dominante em sua natureza e seu “Núcleo” assume a forma de um homem em vez de uma pessoa feminina. Aqui é onde nos deparamos com um problema se permitirmos que ele exista. A mesma situação, ao contrário, ocorre em homens que caem na metade inferior extrema do relógio. Digamos que a metade superior representa o Core masculino “ideal”, enquanto a metade inferior representa o Core “ideal” em uma mulher. Assim, as três camadas de personalidade em uma mulher ao meio-dia se pareceriam com seguinte figura:

Para simplificar, podemos dizer que a mulher das doze horas procurará (ou melhor, será procurada por) um homem das seis, e invariavelmente acabará com um, quer ela o queira ou não. O fato de ela ainda estar carregando um corpo de mulher exige uma busca ainda maior por um homem que seja mais forte do que ela, para que ela possa realmente “sentir-se como uma mulher”. Naturalmente, este é um pedido muito grande a ser feito, pois ela já está ocupando uma posição de doze horas no relógio.

Se uma mulher do meio-dia, acostumada a homens passivos bajulando-a, escolhe um homem extremamente dominante – um que é ainda mais dominante do que ela -, ela não pode esperar que tal homem se apaixone por ela, apesar de sua necessidades temporais para tal homem, porque para que essa mesma passividade temporal fosse satisfeita, o homem dominante, por natureza, a rejeitaria! Então, a garota do meio-dia geme e lamenta que o homem mais dominante do que ela não está correspondendo ao seu amor furioso! Ela é muitas vezes estúpida demais para perceber que a própria rejeição dele indica seu domínio sobre ela, sem o qual, não poderia haver atração por ele em primeiro lugar. Assim, ela não seria mais dependente de seu homem mais forte, mas estaria no controle da situação – como é seu padrão habitual ao lidar com seus pretendentes ofegantes. Se, no entanto, ela puder se afastar temporariamente de seus desejos cegos e perceber que suas necessidades de “sofrer” correm concomitantemente com a rejeição que ela experimenta de seu objeto de amor “brutal” e “insensível” – então, e só então, ela se tornará auto-realizada.

O paralelo a esta situação é o homem das seis horas (figura acima), que secretamente deseja uma mulher em quem possa mandar. Quando ele finalmente encontra tal pet, ela é tão totalmente parecida com ele em personalidade e tipo físico que ele não consegue se entusiasmar com ela, mas continua ansiando pelo domínio sobre uma “garota dos seus sonhos”, que, como você pode suspeitar, é de um tipo totalmente despreparado para ver quaisquer qualidades dominantes em tal homem! Pelo contrário, sua “garota dos sonhos” sempre será a mulher mais dominante que o mantém escravizado – não um tipo idêntico a ele, mas ainda mais subserviente! Então ele se vê amarrado e escravizado, como sempre, pelo tipo de mulher que ele lamenta não poder mandar. Mal sabe esse homem ignorante que é seu próprio padrão deixar-se dominar por uma mulher, e quando essa mulher deixar de dominá-lo, ele automaticamente se desviará para uma nova amante do chicote que possa fazê-lo!

Aqui discutimos dois tipos de seres humanos, que, geralmente desconhecendo sua verdadeira natureza, passam a vida reclamando de seu amor não correspondido – invariavelmente para ninguém menos que indivíduos que se tornam os objetos às vezes desdenhosos de seus desejos. Infelizmente, se seus latidos forem longos e altos o suficiente, e seus objetos de amor são bons o suficiente, mesmo que dominantes por natureza, um fenômeno muito curioso se desenvolve. O objeto de amor dominante, ao tentar “manter a paz” e desviar de graves traumas por parte de seu pretendente, torna-se literalmente vampirizado pela pessoa “mais fraca”! Assim, torna-se uma situação em que o mestre se encontra rapidamente se tornando o escravo – mas sem os benefícios de tal arranjo, já que o “escravo” recém-desenvolvido não baseou sua escolha de um “mestre” em qualquer natureza sexual ou atrações psicológicas!

Temperamento

Voltando ao relógio do sintetizador quando começamos à uma hora, encontramos a pessoa que é dominante por natureza, didática e com uma mente inquiridora, tornando-se ainda mais mental à medida que as duas horas se aproximam. Com dois, no entanto, algumas das afabilidades sociais diminuem, e no momento em que três são alcançados, encontramos uma inclinação para a arrogância e o cinismo. Essas pessoas são as menos agradáveis ​​quando se trata de aceitar qualquer coisa pelo valor aparente e e raramente são “sociaveis”. Como são pensadores, e não praticantes, há poucos absolutos em suas vidas. Conseqüentemente, esses tipos de três e quatro horas são os mais místicos e abstratos em seus pensamentos. Se seu elemento demoníaco puder se expressar, no entanto, através de um veículo não humano, como poesia, música, arte – grandes obras podem ser realizadas com mais frequência do que qualquer outra, e o típico “cabeça de ovo” é um puro quatro o ‘ relógio.

Os tipos de cinco horas são menos abstratos e mais práticos e têm a qualidade de poder ficar com as coisas desde que as coisas não fiquem muito difíceis. Por esta razão, eles são admiravelmente adequados para funções de escritório e trabalho clerical. Firmes e confiáveis, eles têm a flexibilidade necessária para continuar dia após dia.

Ainda mais consistente é a pessoa das seis horas. Na verdade, ele é o mais consistente no relógio. A devoção à causa e ao dever é a marca registrada do tipo das seis horas, e ele se orgulha muito de sua prontidão. Esses são os homens que ficam tanto tempo no emprego que tudo na empresa depende de sua presença. Estas são as mulheres que ficam com maridos que outras mulheres no relógio descartariam. Se um homem das seis horas se afasta de sua esposa, você pode ter certeza de que a responsável é outra mulher – invariavelmente uma do topo do relógio.  As pessoas das sete horas retêm muito das qualidades das seis, mas com mais inclinação social, e quando chega às oito, a ênfase está no fazer em vez de pensar.

Os tipos das oito e nove horas têm pouca utilidade para debates minuciosos e provavelmente farão um comentário bem-humorado sempre que as coisas ficarem muito sérias. Os oitos e noves mais agradáveis ​​e socialmente simpáticos cedem algumas dessas qualidades ao tipo dez horas, mas ainda têm o monopólio. No momento em que é alcançado, o temperamento assertivo da metade superior do relógio é trazido à tona. A necessidade de dominar se apresenta, e a afabilidade é muitas vezes sacrificada. O tipo dez horas não entende os “cabeças de ovo”, mas ironicamente seu melhor amigo é provavelmente um quatro horas ligeiramente pálido, cuja introspecção é “esquecida” pelas dez horas. Da mesma forma, sua esposa é provavelmente uma garota de quatro horas esbelta não muito doméstica, que pensa por ele.

Onze horas são os “He-Men” estereotipados cujas naturezas autoritárias só são superadas pelas doze horas, que deve ser o chefe em tudo o que faz, constantemente ou pelo menos periodicamente. Assim, os cargos de autoridade são preenchidos por doze horas que, por necessidade de serem notados, são sempre os pioneiros em qualquer nova empreitada. O que quer que eles comecem, cabe aos bons homens das seis horas manter funcionando.

Tradução Morbitvs Vividvs

Postagem original feita no https://mortesubita.net/satanismo/o-relogio-sintetizador-de-personalidade-de-lavey/

Características Vampíricas

Na Europa , a bruxaria e o vampirismo têm uma história entrelaçada desde os tempos remotos. Muitos vampiros apareceram primeiramente entre os seres demoníacos das religiões pagãs politeístas. Estavam incluídas aqui entidades como o lamiai grego e os sete espíritos malignos da mitologia assírio-babilônica. Com o crescimento do cristianismo, houve uma tendência de afastar as religiões pagãs e denunciar quaisquer alegações feitas pelos crentes pagãos. De um modo geral, o cristianismo pressupôs que as divindades pagãs eram irreais, que não existiam. Típico da posição da Igreja nesse sentido foi o relato do encontro do apóstolo Paulo com os filósofos gregos no Areópago, relatado em Atos dos Apóstolos 17: 16-34, no qual Paulo comparou o único Deus com os deuses representados pelas estátuas.

Os seguidores das religiões pagãs tinham uma série de nomes e termos que na língua portuguesa significam bruxa ou feiticeira. À medida que as religiões pagãs foram afastadas, assim também o foram, até certo ponto, as bruxas e as feiticeiras. A Igreja as via como adoradoras de divindades imaginárias.

A magia foi crucial para a crescente atitude concernente às religiões pagãs. A magia, ou a habilidade de causar mudanças pela invocação de seres sobrenaturais através de poderes sobrenaturais, era quase que aceita universalmente como real. As pessoas, incluindo os líderes religiosos, acreditavam que feitos maravilhosos eram possíveis ou pelo poder do Espírito Santo ou recorrendo-se a forças sobrenaturais ilegítimas. As bruxas, as praticantes pagãs, tinham a habilidade de realizar mágicas fora do alcance das pessoas normais. Entre essas havia muita coisa que até no paganismo eram consideradas malignas. Precisa ser lembrado que muitas das entidades pagãs existiam como uma explicação da maldade e da injustiça na vida da pessoa. Com a marginalização das bruxas e a destruição dos sistemas pagãos, as funções malignas das velhas entidades tenderam a ser transferidas para as bruxas. Assim, surgiu a strega na Roma antiga. A strega, ou bruxa, era inicialmente conhecida como strix, um demônio voador noturno que atacava recém-nascidos e matava-os sugando-lhe o sangue. Durante um certo tempo o strix era identificado como um indivíduo que tinha o poder de transformação para a forma de diversos animais, incluindo corujas e corvos, e nesse disfarce atacavam recém-nascidos. O strix se tornou, então, a strega da Itália medieval e os strigoi da Romênia.

No decorrer do primeiro milênio da era cristã a Igreja reteve seu conceito de que a bruxaria era imaginária. Ilustrando essa crença havia um documento, chamado Canon Episcopi. O Canon atribuía a crença pagã ao diabo, enfatizando que a finalidade deste era apresentar ao mundo imaginário do paganismo os seguidores da deusa Diana. A bruxaria era uma ilusão, portanto aqueles que:

“…acreditavam que qualquer coisa pode ser feita, ou que qualquer criatura pode, para melhor ou para pior, ser transformada em outra espécie ou similitude, exceto o próprio Criador que fez todas as coisas e através de quem todas são feitas, está além de qualquer infiel.” (citado em Russell)

A Igreja tinha uma atitude similar com os vampiros. Tinha descoberto a crença nos vampiros através de culturas anteriores e também tinha pressuposto que não era verdade. Essa perspectiva foi ilustrada em dois documentos legais, um do leste e outro do Ocidente. A primeira era um mandato autoritário que entrou em vigor no leste durante a Idade Média. Dizia o seguinte:

“É impossível que um homem se torne um vrykolakas (vampiro) a menos que seja pelo poder do Diabo que desejando escarnecer e enganar aqueles que incorreram na ira do Céu cause essas maravilhas escuras e tão freqüentemente à noite atira seu feitiço pelo que os homens imaginaram que os mortos, que conheciam anteriormente, aparecem e mantêm conversa com eles e que em seus sonhos também têm estranhas visões. Outras vezes poderão vê-lo na estrada, sim, na auto-estrada andando para lá e para cá ou permanecendo imóveis e mais ainda, que dizem ter estrangulado homens ou que os mataram. Imediatamente há problemas tristes e toda a vila está em pé de guerra e em distúrbio, de modo que correm para os túmulos desenterram o corpo de um homem (…) e o morto – aquele que está morto e enterrado a tanto tempo – aparece para eles como tendo carnes e sangue (…) para que possam juntar uma imensa pilha de gravetos e atear fogo a este corpo colocando-o sobre as chamas para que possam queimá-lo e destruí-lo por inteiro.” (citado por Summers)
Da mesma forma, em meados do século VIII, uma lei saxônia decretou a crença no strix (bruxas vampiras).

Posteriormente nesse século o decreto foi reforçado por uma lei estabelecendo a pena de morte para qualquer um que manifestasse crença no strix e qualquer um que, em virtude dessa crença, atacasse um indivíduo que se acreditasse ser um strix e que machucasse (atacasse, queimasse e/ou canibalizasse) esse indivíduo. Um debate legal surgiu no século XI na Hungria quando o Rei Stephen (997-1038) passou uma lei contra os strigae que andassem à noite e que fornicassem. Um de seus sucessores, o Rei Colomem (1077-1095) eliminou as leis dos livros baseados na noção de que coisas como os strigae existiam.

Fonte: O Livro dos Vampiros

Por Ernesto Nogueira, colaboraçao: cosmic girl

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/caracteristicas-vampiricas/

Excertos de ‘A Sociedade dos Vivos’

(Agradecemos aos leitores a retificação de autoria.)

morrer [Do lat. vulg. morrere, por mori.]

Perder a vida; falecer, finar-se, morrer-se, expirar, perecer [Sin., muitos deles bras., pop. ou de gíria: abotoar, abotoar o paletó, adormecer no Senhor, apagar, apitar, assentar o cabelo, bafuntar, bater a alcatra na terra ingrata, bater a(s) bota(s), bater a caçoleta, bater a canastra, bater a pacuera, bater com a cola na cerca, bater o pacau, bater o prego, bater o trinta-e-um, bater o trinta-e-um-de-roda, botar o bloco na rua, comer capim pela raiz, dar a alma a Deus, dar a alma ao Criador, dar à casca, dar à espinha, dar a lonca, dar a ossada, dar com o rabo na cerca, dar o couro às varas, dar o último alento, defuntar, desaparecer, descansar, descer à cova, descer a terra, descer ao túmulo, desencarnar, desinfetar o beco, desocupar o beco, desviver, dizer adeus ao mundo, embarcar, embarcar deste mundo para um melhor, empacotar, entregar a alma a Deus, entregar a alma ao Diabo, entregar a rapadura, espichar, espichar a canela, esticar, esticar a canela, esticar o cambito, esticar o pernil, estuporar(-se), expirar, fechar o paletó, fechar os olhos, fenecer, finar(-se), ir para a cidade dos pés juntos, ir para a Cacuia, ir para a Cucuia, ir para bom lugar, ir para o Acre, ir para o beleléu, ir para o outro mundo, ir-se, ir(-se) desta para melhor, largar a casca, passar, passar desta para melhor, passar desta para melhor vida, pifar, pitar macaia, quebrar a tira, render a alma ao Criador, render o espírito, vestir o paletó de madeira, vestir o pijama de madeira, virar presunto] (Verbete do Dicionário Aurélio Eletrônico – V.2.0).

O sexo nunca foi algo desconhecido para os seres humanos, mas a civilização moderna o colocou no centro de um dispositivo que o transformou em “sexualidade”. De acordo com Foucault, através desse mecanismo, o sexo acabou sendo um ponto denso das relações de poder na sociedade moderna. Sem eufemismo, hoje nos encontramos na época mais sexualizada de toda a História; do mesmo modo, a morte, que certamente nunca foi um fenômeno ignorado ou pouco central para a humanidade, está sendo alvo de um enorme dispositivo que a devassa sem piedade, transformando-a em outra coisa.

Sabemos que todas as grandes civilizações tiveram uma arte amatória, mas este não é o caso da sociedade ocidental moderna (que parece consolar-se desta carência, com a pornografia). Embora seja um fato menos conhecido, também se sabe que todas as culturas, exceto a cultura moderna, possuem uma ars moriendi (quem precisar uma prova acadêmica pode recorrer à Enciclopédia Britânica, onde, apesar do conhecido cuidado pela perspectiva histórica, da parte dos organizadores, não se encontrará nenhum verbete para apresentar a “arte de morrer”, nem sequer em relação às culturas orientais).

Na maioria das culturas pré-modernas, a arte de morrer tem uma hierarquia não menor que a arte de viver. Existem textos que mostram até uma maior centralidade da primeira, como no caso de O Livro Tibetano dos Mortos ou O Livro Egípcio dos Mortos. Mas a leitura deste tipo de textos nem sempre foi uma exceção no Ocidente. Durante todo o Renascimento e nas primeiras fases da modernidade, conservaram-se os ensinamentos para aprender a morrer, através da leitura de textos e tratados medievais (Evans-Wentz, 1988). De fato, várias igrejas primitivas do Cristianismo (como, por exemplo, a grega, a siríaca, a armênia e a copta) incorporaram em seus rituais muitos princípios da arte de morrer. Mas que tipo de ensinamento sobre a morte poderíamos pretender hoje se, como acontece, todos os esforços parecem estar dirigidos a ocultar a morte? É obvio que qualquer que seja a cultura, a existência deste tipo de ensinamentos ou de uma arte de morrer, de modo geral, supõe dar um grande valor a esse momento. Certamente, a modernidade aponta em outra direção.

A propósito da morte detectamos um “buraco negro”, uma zona obscura e mal resolvida da condição humana na sociedade moderna, talvez de maior importância que aquela referida à questão sexual. Pelo menos, com a saída da arte erótica, tivemos a entrada da ciência da sexualidade. Mas a saída da arte de morrer não foi substituída por nada, apenas pelo silêncio. Se queremos chamar “ciência da morte” a isto que se ensina aos pacientes nas salas dos hospitais, especialmente nas salas de terapia intensiva, certamente estaremos confundindo as coisas. Com dita ciência, aqueles que morrem são preparados a esperar sempre um pouco mais de vida, assim até o derradeiro minuto. Isto é, mal poderíamos chamar de “ciência da morte” a uma ciência médica que não tem nada a dizer sobre o fenômeno da morte, já que seu principal objetivo é encontrar a cura para todas as causas da morte.

Para comprovar o anterior, podemos ir a qualquer hospital e verificar que, por mais terminal que seja a condição do paciente, em qualquer circunstância, sempre se lhe fala sobre as alternativas de vida e nunca sobre as de morte (lembremos que o que acontece nos hospitais é decisivo para estudar este fenômeno, já que é aí onde morre a ampla maioria das pessoas .

A sociedade da alta modernidade parece promover a morte “pornográfica” no mesmo grau que oculta a experiência direta da morte. Neste sentido, é um sintoma ilustrativo de nossa cultura a profunda rejeição que sentem os adultos de falar sobre a morte com seus filhos ou de permitir que tenham contato com a morte de familiares, a fim de evitar-lhes o conhecimento de algo que acreditam fazer-lhes mal…

…o homem moderno encontra no silêncio dos hospitais a morte que ele “merece”, à qual corresponde a sua impossibilidade de encontrar um sentido individual para ela.

…(Edgar Morin (1997) observa que tão cedo como em 1969, num colóquio sobre problemas humanos da biologia (organizado em Nova York pelo Salk Institute), já era possível ouvir alguém pedir a constituição urgente de um Comitê pela Abolição da Morte, sem provocar risos ou espanto no público. Bauman (1997) nos ajuda a lembrar, a propósito de um conto de Borges, o que estamos tentando esquecer: que ser imortal é coisa comum, que todas as criaturas são imortais…)

Existem basicamente três formas de enfrentar a morte (cf. Elias, 1987). Muitas religiões interpretam a morte como passagem para outra vida (circunstância que – é bom lembrar – não necessariamente deve ser interpretada como uma boa notícia). Podemos também fitar os olhos da morte, considerando nossa finitude um dado essencial da existência humana (o ser humano é um “ser-para-a-morte”, definiu Heidegger (1951), e filosofar significa “aprender a morrer”, nas palavras de Montaigne (1948)). Temos boas razões para suspeitar que os “secularizados” seres humanos que vivem na sociedade moderna tendem a acreditar cada vez menos na primeira visão. Do mesmo modo, se consultados, diriam que a segunda perspectiva é, pelo menos, depressiva e fora de época (uma prova indireta disto é que nos amplos questionários aplicados pela equipe de Inglehart (1997) em 43 países, para medir mudanças de valores, não aparece nenhuma pergunta sobre a morte; o mesmo tipo de sinal aparece nos bancos de dados dos departamentos de filosofia das universidades, nos quais comprovamos que atualmente nem os filósofos se ocupam deste tema).

A terceira possibilidade ou alternativa é simples, deduz-se por exclusão (ou abandono) das anteriores. Consiste em evitar todo pensamento sobre a morte, ocultando e reprimindo a presença do fenômeno da morte quanto seja possível. Elias desdobra esta perspectiva em um inesperado recurso à imortalidade, para o qual – segundo ele afirma – existe uma forte tendência na sociedade moderna. Assim, a morte seria evitada não apenas pela repressão de sua presença, mas também pela crença na imortalidade pessoal (“outros morrem, mas não eu”). Este insight de Elias (pouco aproveitado por ele mesmo) me parece de fundamental importância para entender a condição humana na sociedade atual. Talvez seja necessária uma pergunta óbvia: como é possível imaginar a existência de uma tendência significativa de indivíduos que acreditam na imortalidade pessoal, vivendo numa “sociedade reflexiva”, numa sociedade que gira em torno da multiplicação constante de riscos que os indivíduos devem enfrentar com ajuda de sua própria razão, de uma forma ou de outra? Não encontramos, nas obras mais destacadas de autores importantes que pensam a modernidade (citemos o caso de Beck (1992) e Giddens (1991), por exemplo), alguma análise que possa explicar corretamente a hipótese de Elias.

O verdadeiro desafio não é hoje tornar mais sustentável ou mais reflexiva a sociedade moderna. A rigor, isto é secundário em face da necessidade de nutrir o homem contemporâneo com as vivências dos tempos antigos, quando a vida era um campo de amor e morte, sincrético e mutável, entre os deuses, os homens e a natureza (Leis, 1999).

Héctor Ricardo Leis

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/excertos-de-a-sociedade-dos-vivos/

H. P. Lovecraft, Charles Dexter Ward, Joseph Curwen e Necromancia

No início do ano de 1927, Howard Phillips Lovecraft escreveu o seu único romance, entitulado “O Caso de Charles Dexter Ward“, um romance que o autor não pôde ver publicado. A história foi impressa de forma resumida em 1941, quatro anos após a morte do escritor, nas edições de Maio e Julho da revista Weird Tales e em sua forma completa apenas dois anos depois, na coleção Beyond the Wall of Sleep publicada pela editora Arkham House.

O livro conta a história de Charles Dexter Ward, um jovem preso ao passado, especialmente à figura de seu tataravô Joseph Curwen, um feiticeiro que fugiu da caça às bruxas que tomou conta da cidade de Salem indo se estabelecer na província de Providência, na Ilha de Rodes. Joseph Curwen ganhou notoriedade em sua época por seus estranhos hábitos, como vagar por cemitérios, e pelas experiências alquímicas que realizava. A semelhança física que compartilha com o antepassado é motivo de espanto para Ward, que se torna obcecado em reproduzir as experiências cabalísticos e alquímicas registradas nos diários de Curwen e, pesquisando as anotações do mago, descobre uma forma de trazer de volta à vida qualquer ser já morto, e decide que conversar com seu ascendente renderia mais frutos do que apenas estudar sobre sua vida.

Apesar do resumo da obra, o primeiro presuposto deste texto é que o leitor já tenha lido o romance. Caso não seja o seu caso seria interessante parar agora para ler a obra antes de prosseguir, não apenas porque o texto que segue contém o que pode ser considerado como spoilers, mas também porque isso contribui com um compreendimento mais amplo sobre o que será apresentado. Você pode fazer o download do texto integral clicando aqui.

Antes de continuar é importante frisar que este tratado não defende de forma alguma que Lovercraft tenha se envolvido com o ocultismo, tenha participado de alguma ordem iniciática secreta ou que praticasse qualquer forma de magia além de sua própria escrita. Ele era um homem extremamente culto, um gênio até para os padrões modernos, e tinha acesso a muita informação. De mitologia a obras de ocultismo, que já eram de conhecimento geral como os escritos de Papus, Blavatsky e Eliphas Levi – todos esses livros que poderiam ser adquiridos por qualquer curioso na época. Lovecraft cresceu entre livros e aproveitou cada oportunidade que tinha para ler e estudar. Outro ponto que não será desenvolvido aqui é o argumento que defende que mesmo não sendo mago ele era um médium, um portal de contato com uma realidade maior e mais sombria. Sabemos que ele era vítima de sonhos e devaneios que lhe serviam de inspiração para muito do que escrevia, mas qualquer tentiva de desenvolver a hipótese de um dom de vidência do desconhecido merece um tratado próprio que desenvolva o assunto com a seriedade que merece.

 

Despertando os Mortos

Conforme a história se desenrola Ward, a princípio gradualmente e então de maneira brusca, vai perdendo a sanidade e a substituindo com rituais mágicos, evocações e experimentos alquímicos que o distanciam não apenas de seus entes mais próximos como também da realidade, atingindo seu clímax quando é realizado o ritual para trazer da morte Joseph Curwen. O ritual em si é descrito de forma simples mas traz implicações profundas.

O ritual e seus elementos podem ser organizados da seguinte forma:

 

– Sais Essenciais

“Sobre a imensa mesa de mogno jazia virado para baixo um exemplar de Borellus, gasto pelo uso, trazendo muitas notas misteriosas escritas à mão por Curwen ao pé da página e entre as linhas”, este livro trazia um “trecho sublinhado” de “forma febril”. O trecho dizia:

“Os Sais Essenciais dos Animais podem ser preparados e preservados de tal forma que um Homem engenhoso possa ter toda a Arca de Noé em seu próprio Estúdio e fazer surgir a bela Forma de um Animal de suas próprias Cinzas a seu Bel-prazer; e, pelo mesmo Método, dos Sais essenciais do Pó humano, um Filósofo pode, sem recorrer à Necromancia criminosa, evocar a Forma de qualquer ancestral Falecido das cinzas resultantes da incineração de seu Corpo”.

 

– Um Local Reservado ou Afastado Para o Ritual

Conforme sua obcessão por seu antepassado, Curwen, crescia, Ward comprou uma “fazenda na Pawtuxet Road que havia sido propriedade do bruxo. Um lugar para onde se mudava, durante o verão. A propriedade era habitada apenas por duas pessoas, além do próprio Ward, um casal de índios da tribo Narragansett “o marido mudo e com curiosas cicatrizes, e a mulher com uma expressão extremamente repulsiva”, eles eram “seus únicos empregados, trabalhadores braçais e guardas”.

Em um anexo dessa casa ficava o laboratório onde era realizada a maior parte das experiências químicas. Os vizinhos mais próximos à fazenda se encontravam a uma distância de mais de um quarto de milha. Também existe menção “a um grande edifício de pedra, pouco distante da casa, com estreitas fendas em lugar das janelas”.

 

– Diagramas e figuras geométricas desenhados no chão

Dr. Willet, outro personagem central na história, quando investiga o sótão onde Ward passava tanto tempo, percebe “restos semi-apagados de círculos, triângulos e pentagramas traçados com giz ou carvão no espaço livre no centro do amplo aposento” e mais tarde, investigando o laboratório subterrâneo de que Ward montara no antigo bangalô de Curwen, em Pawtuxet, “um grande pentagrama no centro, com um círculo simples de cerca de noventa centímetros pés de diâmetro, entre este e cada um dos outros cantos”

 

– Invocação Per Adonai

Durante uma Sexta-Feira Santa, no fim do dia, “o jovem Ward começou a repetir certa fórmula num tom singularmente elevado” enquanto queimava “alguma substância de cheiro tão penetrante que seus vapores se expandiram por toda a casa”. A repetição da fórmula se prolongou por tanto tempo que a mãe de Ward foi capaz de reproduzí-la por escrito.

A fórmula descrita pela senhora Ward era:

Per Adonai Eloim, Adonai Jehova, Adonai Sabaoth, Metraton On Agla Mathon, verbum pythonicum, mysterium salamandrae, conventus sylvorum, antra gnomorum, daemonia Coeli God, Almonsin, Gibor, Jehosua, Evam, Zariatnatmik, veni, veni, veni. 

Depois de duas horas repetindo initerruptamente a evocação “se desencadeou por toda a vizinhança um pandemônio de latidos de cachorros”, tamanho foi o estardalhaço dos latidos que viraram manchetes de jornal no dia seguinte.

 

– A Invocação Dies Mies Jeschet

Então o pandemônio causado pelos cães da região foi sobrepujado por um “odor que instantaneamente se seguiu; um odor horrível, que penetrou em toda parte, jamais sentido antes nem depois” e então se seguiu “uma luz muito nítida como a do relâmpago, que poderia ofuscar e impressionar não fosse dia pleno”. Uma voz, “que nenhum ouvinte jamais poderá esquecer por causa de seu tonitroante tom distante, sua incrível profundidade e sua dissemelhança sobrenatural da voz de Charles Ward […] abalou a casa e foi claramente ouvida pelo menos por dois vizinhos, apesar do uivo dos cães”. A voz dizia claramente:

DIES MIES JESCHET BOENE DOESEF DOUVEMA ENITEMAUS 

 

– A Invocação Yi-nash-Yog-Sothoth

Logo após a poderosa voz declarar seu intento, “a luz do dia escureceu momentaneamente, embora o pôr-do-sol demorasse ainda uma hora, e então seguiu-se uma lufada de outro odor, diferente do primeiro, mas igualmente desconhecido e intolerável”. Ao mesmo tempo Ward volta a entoar de forma monótona uma nova fórmula, que era percebida como sílabas aparentemente sem sentido:

Yi-nash-Yog-Sothoth-he-lgeb-fi-throdog

Sendo seguida por um grito de YAH!, “cuja força desvairada subia num crescendo de arrebentar os tímpanos”.

Instantes depois um “grito lamentoso que irrompeu com uma explosividade desvairada e gradativamente foi se transformando num paroxismo de risadas diabólicas e histéricas”, este episódio foi seguido por um segundo grito, desta vez proferido certamente por Ward, se fez ouvir, ao mesmo tempo em que a risada continuava a ser ouvida.

 

Tão Morto Quanto Um Morto Pode Estar

Necromancia é uma forma de divinação que envolve os mortos. Na grécia antiga o objetivo do ritual era enviar o mago praticante para o mundo subterrâneo, onde ele consultaria os mortos e voltaria com o conhecimento adquirido. Com o passar do tempo a viagem às profundezas foi substituída por uma evocação, o morto era arrancado do domínio da morte e por momentos poderia se comunicar com os vivos em nosso mundo. Nekros, “morte”, e manteia, “divinação”, o termo foi adotado pelos povos cuja língua se derivou do latim, como os italianos, espanhois e franceses, como nigromancia, nigro significando também “negro”, uma forma negra, escura, de divinação; termo que deu origem a magia negra ou artes negras, uma prática que causava resultados maravilhosos graças à intervenção de espíritos mortos.

Conforme o cristianismo foi se tornando a crença dominante na europa, os espíritos dos mortos que se envolviam com tais rituais começaram a ser considerados espíritos cruéis, almas atormentadas e eventualmente demônios do próprio inferno. Se havia uma magia “negra”, em um mundo de dualidade com certeza haveria o seu oposto, a magia “branca”, se a primeira lidava com almas de mortos que habitavam o submundo e com demônios a segunda obviamente colocava o mago em contato com os espíritos dos Santos e com os Anjos de Deus. Em uma analogia ao Gênese bíblico ou ao Big-Bang moderno, a escuridão e trevas “nigro” deu origem à luz. Nesta aspecto a magia negra é muito mais antiga do que a sua contraparte branca.

 

Necromancia à Moda Antiga

A necromancia é encontrada com outras formas de divinação e magia em praticamente todas as nações da antiguidade, mas nada pode ser dito com certeza a respeito de suas origens. Strabo afirmou que era a principal forma de divinação dos Persas, ela também era praticada na Caldéia, Babilônia e Etrúria. O livro de Isaias, da Bíblia, se refere à prática entre os egípcios – 19:3 – e no livro de Deuteronômio – 18:912 – alerta os israelitas contra a sua prática, chamada de “abominação dos Cananeus”.

Como vimos, as práticas mais antigas eram de ir ao submundo buscar os mortos no reino do qual não podiam escapar, assim na Grécia e em Roma o ritual tinha lugar especialmente em cavernas ou vulcões, que supostamente tinham ligação com o submundo, ou próximo a lagos e rios, já que a água era vista como um “canal de acesso” de comunicação com os mortos, sendo o rio Acheron o mais procurado.

A menção mais antiga à prática da necromancia é a narrativa da viagem de Ulisses ao Hades e sua evocação das almas dos mortos através de vários rituais que lhe foram ensinados por Circe. Outra romantização da evocação de mortos está no sexto livro da Eneida, de Virgílio, que relata a descida de Enéas às regiões infernais, mas neste caso não existe um ritual, o herói vai fisicamente à morada das almas.

Além das narrativas poéticas e mitológicas existem inúmeros registros, por parte de historiadores, de praticantes da necromancia. Em Cabo Tenarus, Callondas evocou a alma de Archilochus. Periandro, o tirano de Coríntio, conhecido como um dos sete sábios da Grécia, enviou mensageiros para o oráculo do Rio Acheron para interrogar sua falecida esposa, depois de dois encontros os mensageiros conseguiram a resposta que buscavam. Pausanis, rei de Esparta, matou Cleonice ao confundí-la com um inimigo durante a noite, e como consequência não encontrava mais paz de espírito nem descanso, após tentativas infrutíferas de se livrar dos sentimentos que o afligiam ele se dirigiu para o Psicopompeion de Phigalia e evocou a alma da morta, recebendo a garantia de que assim que voltasse para Esparta seus pesadelos e medos desapareceriam, assim que voltou para a cidade ele morreu. Após sua morte os espartanos viajaram para Psicagogues, na Itália, para evocar e aplacar sua alma. Entre os romanos, Horácio constantemente alude à evocação dos mortos. Cícero testemunha que seu amigo Appius praticava a necromancia e que Vatinius conjurava as almas do além. O mesmo é dito a respeito do imperador Drusus, de Nero e de Caracalla.

Não existe certeza sobre os rituais realizados, ou os encantamentos feitos. A cada relato surgem descrições complexas e completamente diferentes entre si da maneira de chamar os mortos. Na odisséia Ulisses cava uma trincheira, entorna libações nela e sacrifica uma ovelha negra, cujo sangue será bebido pelas sombras, antes que elas lhe respondam a qualquer pergunta. Lucan descreve em detalhes inúmeros encantamentos e fala de sangue fresco sendo injetado nas veias de um cadáver para que ele retorne à vida. Cícero nos relata sobre Vatinius, que oferecia à alma dos mortos as entranhas de crianças e São Gregório fala de virgens e meninos sendo sacrificados e dissecados para que os mortos pudessem ser evocados ou para que o futuro pudesse ser visto.

Nos primeiros séculos depois de Cristo, os patriarcas da nova religião testemunharam a adoção da prática dentre seus novos convertidos, a necromancia era praticada em conjunto com outras artes mágicas que passaram a ser associadas com demônios, e passaram a advertir seus novos seguidores contra essas práticas nas quais: demônios se apresentavam como se fossem a alma dos mortos” (Tertuliano, De anima, LVII, em P.L., II, 793), mesmo assim, como seria de se esperar, muitos ignoravam os alertas e se entregavam à prática. Surgiram então os esforços das autoridades eclesiásticas, Papas e conselhos em suprimir por completo tal abominação. Leis criadas por imperadores cristãos como Constantino, Constantius, Valentino, Valens e Teodósio não se restringiam apenas à necromancia mas a qualquer forma de magia considerada pagã – precisamos nos lembrar que a igreja aceita que de acordo com a vontade de Deus as almas de pessoas mortas podem aparecer para os vivos lhes revelando coisas desconhecidas, ou que milagres podem ser realizados. Graças a este combate contra magia, rituais e superstição pagã, com o tempo o termo necromancia perdeu seu sentido estrito e passou a ser aplicado a toda forma de “magia negra”, se tornando associado com alquimia, bruxaria e magia. Mesmo com todos seus esforços, a igreja não conseguiu abolir essas práticas e a necromancia sobreviveu, se adaptando quando necessário, à Idade Média ganhando um novo ímpeto pela época do renascimanto.

 

As Raízes da Necromancia de Charles Dexter Ward

smackDuas coisas precisam ser levadas em consideração quando estudamos os rituais de necromancia apresentados por Lovecraft em sua obra, especialmente no Caso de Charles Dexter Ward.

Em primeiro lugar a superstição causada pela religião dominante. O cristianismo abominava qualquer ato religioso e ou mágico que não os rituais consagrados pela igreja e realizado por seus clérigos. Qualquer coisa além disso era vista de forma agressiva pelos religiosos, isso se refletiu no grande público frequentador de igreja e formado por uma sociedade criada a partir de uma moralidade cristã. O medo do sobrenatural acompanhou a raça humana desde seus primórdios, mas além deste sentimento natural houve, a partir do século IV, uma campanha focada em cristalizar esse medo e mudar seu status de característica humana em virtude humana. Isso é o motivo por até hoje religiões que não flertem diretamente com o cristianismo sejam vistas com preconceito, medo ou indiferença por uma sociedade religiosamente “morna”.

No início do século XX, a menção de rituais depravados era tabu. Ordens religiosas como a Golden Dawn, O.T.O., Maçonaria, Teosofia, Wicca e Rosa-Cruz, haviam mostrado para a Europa que cultos mágicos haviam sobrevivido ao feudo religioso da Idade Média, grimórios mágicos falavam sobre as práticas de evocação e negociação com espíritos vindo do inferno. E rumores sobre tais feitos e grupos chegavam através do oceano a um continente onde por anos a luta contra a feitiçaria havia sido uma realidade. A Inquisição teve seus ecos em solo americano, onde bruxas eram caçadas, torturadas e queimadas ainda com vida. Novas religiões nasciam em segredo e tinham que se afastar de áreas populadas para poderem ser seguidas – religiões que se derivavam do cristianismo, como os Mórmons por exemplo. Esses rumores assustavam muitas pessoas que consideravam estar a salvo da sombra do diabo e de seus seguidores.

Em segundo lugar havia a literatura gótica e fantástica. Escritores de contos de terror tinham inspiração de sobra na época. Cultos pagãos que haviam sobrevivido em segredo. Criaturas demoníacas que roubavam crianças recém nascidas e colocavam cópias maléficas em seu lugar. Livros que ensinavam a evocar o próprio demônio. Histórias que se aproveitavam dos temores mais profundos das pessoas e os exploravam para se tornarem fenômenos comerciais, em uma época, diga-se de passagem, em que o analfabetismo era a regra.

Dos principais temas góticos que se tornaram sucesso, e por isso recorrentes em inúmeros livros, temos o dos fantasmas que surgiam como pessoas vivas, interagindo com os protagonistas para apenas revelar sua natureza sobrenatural no clímax da obra, e o do alquimista que após concluída a aventura se revelava uma pessoa com séculos de idade, prolongada de forma artificial através de rituais, acordos e da química proibida. Esses livros inspiraram muito o trabalho de Lovecraft e estão presentes em muitos de seus contos como por exemplo Ar Frio, O Alquimista e A Coisa Na Soleira da Porta.

Quando Lovecraft escrevia ele buscava transpor para o papel algo que despertasse no leitor seus medos mais ocultos e violentos, um temor puro e inexplicável de algo incompreensível para a mente humana. E assim ele combinou em um texto a ficção que admirava com a superstição que dominava as pessoas, e para isso ele buscou bases reais para seu romance.

 

Senhor Mather e Mestre Borellus

Durante o desenrolar da história o nome do livro de Borellus não é citado, e nem qualquer outra informação direta sobre seu autor, mas Lovecraft nos dá uma pista importante. Durante sua narrativa ele escreve uma passagem sobre uma carta escrita por Jebediah Orne, de Salem, para Curwen na qual lemos:

“[…]Não possuo as artes químicas para imitar Borellus e confesso que fiquei confuso com o VII Livro do Necronomicon que o senhor recomenda. Mas gostaria que observasse o que nos foi dito a respeito de quem chamar, pois o senhor tem conhecimento do que o senhor Mather escreveu nos Marginalia de______”

Aqui entram dois personagens importantes na solução do mistério, Mather e suas escritas marginais em algum livro.

Mather muito provavelmente se trata de Cotton Mather, o ministro puritano da Nova Inglaterra que teve grande influência nos tribunais de caças a bruxas nos Estados Unidos, especialmente na cidade de Salém. A mera citação do nome de Mather no texto é importante pois ajuda a dar credibilidade ao passado de Joseph Curwen, um bruxo que deixou Salém na época em que bruxos era perseguidos e se isolou para dar continuidade a seu trabalho, sem perder o vínculo com os feiticeiros de lá. Em 1702, a maior obra de Mather é publicada, o Magnalia Christi Americana – Os Gloriosos Trabalhos de Cristo na América, o livro traz biografias de santos e descreve o processo de colonização da Nova Inglaterra. A obra, composta de sete livros, traz também o livro entitulado “Pietas in Patriam:  A vida de Vossa Excelência Sir William Phips”. Pietas havia sido publicado anonimamente em Londres em 1697.

Aqui se faz necessária a apresentação de outro escritor, Samuel Taylor Coleridge. Coleridge foi um famoso poeta e ensaista inglês, considerado um dos fundadores do Romantismo na Inglaterra. Dentre de suas obras mais conhecidas se destacam Balada do Antigo Marinheiro – conhecida também por ter inspirado a música de mesmo nome da banda Iron Maiden – Kubla Khan e Cristabel. Lovecraft conhecia e admirava o escritor, como deixa claro em seu O Horror Sobrenatural na Literatura. Mas além de escrever os próprio poemas e prosas, Coleridge era famoso por suas marginália nos livros que possuia. Como todo leitor da revista MAD ou qualquer fã de Sérgio Aragonés já sabe, marginália (do latim marginalia, como também é usado – sem o acento) é o termo geral que designa as notas, escritos e comentários pessoais ou editoriais feitos na margem de um livro, o termo é também usado para designar desenhos e floreados nas iluminuras dos manuscritos medievais. Tantas foram que hoje existem volumes com suas anotações pessoais sendo impressos e um livro em particular se encaixa nesta obra de Lovecraft, o Magnalia Christi Americana de Mather. A Biblioteca de Huntington contém alguns dos livros que Coleridge cobriu com suas notas e comentários e um deles é a edição de 1702 do Magnalia. A principal característica dessas notas são o tom anti puritano e anti Mather, Coleridge se surpreende com a credulidade do ministro e se perturba com suas descrições sobre bruxaria, como detectar e tratar as acusadas de feitiçaria. Em um ponto Coleridge se aborrece com a incapacidade de Mather fornecer dados suficientes para que o poeta pudesse calcular a velocidade com que um fantasma se desloca.

Neste ponto é importante frisar que não há evidência de que Lovecraft tenha descoberto o livro de Mather por causa de Coleridge, existe uma chance dele próprio ter possuido uma cópia do Magnalia, ou ao menos do Pietas. Muitas das coisas descritas ali com certeza seriam de seu interesse, especialmente as alusões ao sobrenatural e à bruxaria, um tema também tratado por ele em muitos contos. Mas de fato este livro contém a chave para a identificação de Borellus. Mather o inicia com algumas palavras sobre a natureza da arte da biografia, comparando o biógrafo com a teoria defendida por Borellus de se evocar a forma dos ancestrais – Livro II, Capítulo XII. Na época de Mather viveu um químico, alquimista, físico e botânico francês que ganhou muita notoriedade escrevendo sobre ótico, história antiga, filologia e também sobre bibliografia, Pierre Borel (1620-1679). Não é difícil de se supor que Mather, também um biógrafo apaixonado, conhecesse Pierre Borel e sua obra. Dos muitos textos existentes de Borel não existe a passagem literal citada por Mather, o que leva a crer que Mather parafraseou o alquimista francês usando suas próprias palavras. Este ponto também é importante porque mostra que Lovecraft de fato teve acesso ao livro de Mather e não à obra de Borel, cujo nome em latim era escrito Petrus Borellius, ou simplesmente Borellus, já que atribui ao alquimista a passagem literal.

Fora isso, a menção de uma Marginalia de punho do próprio Mather pode servir como subterfúgio para indicar que Curwen e Jebediah possuiam anotações não publicadas de Mather, o que agrega ao romance um ar muito mais sinistro; uma das grandes contribuições de Mather para os tribunais de feitiçaria foi o incentivo do uso de provas sobrenaturais para acusar as supostas feiticeiras. Notas marginais de Mather em  um livro de evocações demoníacas seria o mesmo que um selo legitimando o ritual.

 

A Alquimia do Sal

“Se um químico renomado como Quercetanus, juntamente com uma tribo inteira de ‘trabalhadores no fogo’, um homem culto encontra dificuldades em fazer a parte comum da humanidade acreditar que eles podem pegar uma planta em sua consciência mais vigorosa, e após a devida maceração, fermentação e separação, extrair o sal da planta, que, como se encontra, no chaos, de forma invisível reserva a forma do todo, que é seu princípio vital; e que, mantendo o sal em um pote hermeticamente selado, podem eles então, ao aplicar um fogo suave ao pote, fazer o vegetal se erguer ao poucos de suas próprias cinzas, para surpreender os espectadores com uma notável ilustração da ressurreição, na mesma fé que faz os Judeus, ao retornarem das tumbas de seus amigos, arrancarem a grama da terra, usando as palavras da Escritura que dizem “Seus ossos florecerão como uma erva”: desta forma, que todas as observações de tais escritores, como o incomparável Borellus, encontrarão a mesma dificuldade de criar em nós a crença de que os sais essenciais dos animais podem ser preparados e preservados de tal forma que um homem engenhoso possa ter toda a Arca de Noé em seu próprio estúdio e fazer surgir a bela forma de um animal de suas próprias cinzas a seu bel-prazer: e, pelo mesmo Método, dos sais essenciais do pó humano, um filósofo pode, sem recorrer à necromancia criminosa, evocar a Forma de qualquer ancestral falecido das cinzas resultantes da incineração de seu corpo. A ressurreição dos mortos será da mesma forma, um artigo tão grandioso de nossa crença, mesmo que as relações desses homens cultos se passem por incríveis romances: mas existe ainda a antecipação da abençoada ressurreição, carregando em si algumas semelhanças a estas curiosidades, quando em um livro, como no pote, nós reservamos a história de nossos amigos que partiram; e ao aquecermos tais histórias com nosso afeto nós revivemos, de suas cinzas, a forma verdadeira desses amigos, e trazemos com uma nova perspectiva tudo aquilo que era memorável e reprodutível neles.”

Magnalia Christi Americana – Livro II, Capítulo XII

Como descrito por Mather, Borellus, Quercetanus e os membros da tribo dos “Trabalhadores no Fogo” afirmam que para ressucitarmos os mortos, precisaríamos apenas de um processo puramente químico, isso se torna evidente na passagem “sem recorrer à necromancia criminosa”. Mas, em sua história, Lovecraft sugere que Borellus, em seu livro misterioso, afirmava a necessidade de componentes ritualísticos. Na troca de correspondência entre Jebediah, Hutchinson e Curwen lemos:

Jebediah:

“Eu ainda não possuo a arte química para seguir Borellus…”

Curwen:

“As substâncias químicas são fáceis de serem conseguidas, eu indico para isso bons químicos na cidade. Doutores Bowen e Sam Carew. Estou seguindo o que Borellus disse, e consegui ajuda no sétimo livro de Abdul Al-Hazred.

Hutchinson:

“Você me supera em conseguir as fórmulas para que um outro o possa dizê-las com sucesso, mas Borellus supôs que seria assim, se apenas as palavras corretas fossem proferidas.”

Isso faria com que o processo alquímico da obtenção dos sais e da sua conseguinte restauração em suas formas originais deveria ser acompanhado de certos rituais, fórmulas pronunciadas, combinando a química com a Alta Magia.

 

Entra em Cena Eliphas Levi

A fórmula recitada por Ward na Sexta-Feira Santa, anotada por sua mãe foi identificada por especialistas como uma das evocações encontradas “nos escritos místicos de ‘Eliphas Levi’, aquele espírito misterioso que se insinuou por uma fenda da porta proibida e teve um rápido vislumbre das terríveis visões do vazio além”.

Eliphas Levi era o nome mágico do ocultistas francês Alphone Louis Constant (1810-1875), um dos grandes, se não o maior, responsável pelo renascimento do ocultismo moderno. Paracelso elevou a magia ao status de ciência, Cagliostro a incorporou na religião que buscava a regeneração da espécie humana, mas foi Levi que a tranformou em literatura. A atmosfera e densidade com que trata o ocultismo diferenciava as obras de Levi dos outros grimórios que existiam e circulavam na época. O assunto que parecia tomar a forma de livros de receitas demoníacas e angelicais, passou a ser tratado com reverência, como uma filosofia e um estudo no qual eram necessários anos de aprimoramento para se dominar.

Seu livro mais conhecido do grande público é o Dogma e Ritual da Alta Magia, e é exatamente nesta obra que encontraremos a fórmula usada por Ward, mas muito provavelmente não foi este livro que Lovecraft teve em suas mãos para inspirar esta passagem.

Crowley sempre fez questão de ser conhecido e lembrado como o mais depravado dos homens, o mago negro de sua geração, a Grande Besta 666, e fez um bom trabalho nisso. Mas como devemos chamar então o seu arqui-inimigo, aquele que inspirou a vilão Arthwate do livro Moonchild escrito por Crowley?

Arthur Edward Waite se tornou um místico muito menos popular do que Crowley, mas em alguns pontos muito mais poderoso. Durante sua vida escreveu extensamente sobre ocultismo e esoterismo. Foi um dos criadores do Tarô Raider-Waite, considerado um Tarô clássico até os dias de hoje. Ele fez parte da Ordem Hermética da Aurora Dourada, Sociedade Rosa-Cruz Inglesa, Sociedade da Cruz Rosada, dentre outras. Seus trabalhos atravessaram o atlântico e acabaram chegando às mãos de Lovecraft que inclusive o incluiu em um de seus contos, também como um vilão, o mago negro Ephraim Waite de A Coisa Na Soleira da Porta. Mas não foi com seus trabalhos que Waite influenciou O Caso de Charles Dexter Ward. Além de escrever sobre Tarô, divinações, esoterismo, os Rosacruz, Maçonaria, Cabala e alquimia, Waite também traduzia e publicava muitos livros ainda inéditos na língua inglesa, e Eliphas Levi havia se tornado uma celebridade entre os praticantes de magia cerimonial. Em 1886 Waite publicou um livro intitulado Os Mistérios da Magia, formado por vários artigos tirados de livros de Levi, posteriormente em 1896 conseguiu publicar as duas obras do ocultista francês, Dogma da Alta Magia e Ritual da Alta Magia, em uma versão em inglês, rebatizada para Magia Transcedental, Sua Doutrina e Rituais. Ambos os livros possuem um mesmo capítulo entitulado O Sabbat dos Feiticeiros, e neste capítulo encontramos a fórmula Per Adonai. Hoje não há como saber com certeza de qual livro de Waite Lovecraft tirou o encantamento, mas muitos pesquisadores apontam para o livro de coletânia de textos, o Mistérios da Magia.

O capítulo em questão, trata do que Levi define como “o fantasma de todos os espantos, o dragão de todas as teogonias, o Arimane dos persas, o Tifon dos egípcios, o Píton dos gregos, a antiga serpente dos hebreus, a vouivre , o graouilli , tarasque , a gargouille , a grande besta da Idade Média, pior ainda do que tudo isso, o Baphomet dos templários, o ídolo barbado dos alquimistas, o deus obsceno de Mendes, o bode do Sabbat”. Dentro do assunto tratado em seu romance, Lovecraft não podia ter escolhido uma fonte melhor de onde tirar a porção de magia cerimonial do ritual realizado por Ward. Mas apesar de tratar do ritual de adoração ao Diabo, Levi deixa clara sua visão quando afirma que “digamos bem alto, para combater os restos de maniqueísmo que ainda se revelam, todos os dias, nos nossos cristãos, que Satã, como personalidade superior e como potência, não existe. Satã é a personificação de todos os erros, perversidades e, por conseguinte, também de todas as fraquezas”. Indo mais a fundo em sua exposição, Levi classifica tais rituais em três grupos distintos:

– Os que se referem a uma realidade fantástica e imaginária;

– Aqueles que revelam os segredos expostos nas assembléias ocultas dos verdadeiros adeptos;

– Aqueles realizados por loucos e criminosos, tendo como objetivo a magia negra.

E prossegue:

“[…]e existiu realmente; até ainda existem as assembléias secretas e noturnas em que foram e são praticados os ritos do mundo antigo, e destas assembléias umas têm um caráter religioso e um fim social, outras são conjurações e orgias. É sob este duplo ponto de vista que vamos considerar e descrever o verdadeiro Sabbat , quer seja o da magia luminosa, quer o da magia das trevas.”

Levi então descreve a personalidade de alguém que será bem sucedido em suas evocações infernais. A pessoa deve ser teimosa, ter uma consciência ao mesmo tempo endurecida e acessível ao remorso e ao medo, acreditar naquilo que “a parte comum da humanidade” não acredita ser real. Para o ritual ter sucesso são necessários sacrifícios sangrentos.

Por toda a cidade se comentavam sobre os hábitos estranhos adotados pelo jovem ward, que incluíam encomendas de quantidades imoderadas de carne e sangue fresco fornecidas pelos dois açougues da vizinhança mais próxima, uma quantidade muito grande para uma casa em que habitavam apenas três pessoas.

Levi então diz que após os preparativos, que podem levar dias a evocação deve ser feita, de segunda para terça-feira ou de sexta-feira para sábado, o que coincide com o ritual realizado na Sexta-Feira Santa por Ward. A pessoa então deve traçar círculos e triângulos e os molhar não com o sangue de uma vítima, mas do próprio operador.

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“A pessoa pronunciará, então, as fórmulas de evocação que se acham nos elementos mágicos de Pedro de Apono ou nos engrimanços, quer manuscritos, quer impressos. A do Grande Grimório , repetida no vulgar Dragão Vermelho , foi voluntariamente alterada na impressão. Ei-la como deve ser lida:

“Per Adonai Elohim, Adonai Jehova, Adonai Sabaoth, Metraton On Agla Adonai Mathom, verbum pythónicum, mystérium salamándrae, convéntus sylphórum, antra gnomórum, doemónia Coeli Gad, Almousin, Gibor, Jehosua, Evam, Zariatnatmik, veni, veni, veni ”.

 

Veni, Veni, Veni

Como Levi afirma, a evocação Per Adonai já existia muito tempo antes dele a publicar em seu livro, dizendo que a do Grande Grimório, talvez mais antiga que tenha visto pessoalmente, foi reimpressa de forma alterada no Dragão Vermelho.
Apesar de na cabeça das pessoas a história dos grimórios, ou engrimaços, se perder no tempo, eles não são tão antigos assim. A maior fonte de todos os livros mágicos que surgiram na Europa até recentemente, foi a Bíblia. Os primeiros cinco livros das Escrituras Sagradas, conhecidos como Pentateuco, são atribuídos a Moisés. Muitas pessoas acreditavam que Moisés escreveu muito mais coisas do que apenas os cinco livros e não demoraram a aparecer cópias do livro entitulado o oitavo livro de Moisés. Esse livro, datado de aproximadamente IV d.C., trazia, supostamente, os ensinamentos de Deus que ficaram fora do Pentateuco, as maneiras de se chamar anjos e realizar maravilhas, curiosamente os manuscritos mais antigos retratavam Moisés como um egípcio e não um judeu. Outros textos que diziam ter sido escritos por Salomão, existiam na forma de um livro que circulava no primeiro século cristão. Outro autor bíblico que fazia sucesso era Enoque, haviam inúmeros manuscritos mágicos que descreviam o que Deus supostamente havia lhe ensinado sobre o controle das forças por trás da Criação. Todos esses livros, obviamente, não tinham ligação direta com os patriarcas bíblicos, mas eram muito populares porque as pessoas que os adquiriam acreditavam nisso, o que torna os primeiros grimórios excelentes exemplos de jogadas de marketing séculos antes do marketing sequer ser criado. Em 1436, com o advento da prensa móvel por Gutenberg, dezenas de grimórios “antigos” começaram a circular, dentre eles as Claviculas de Salomão, o Pequeno Alberto, o Grimório de Honório, o Sexto e Sétimo Livros de Moisés, o Galo Negro, Grande Grimório, Grimorium Verum e inúmeros outros. Os livros mais caros eram grandes, ilustrados, os mais baratos eram cópias mal feitas, com coletânias de textos vindo de outros livros sem muita explicação de como seguí-las, eram de fato livros de receitas em que anjos e demônios eram evocados em horas planetárias pré determinadas.
O Grande Grimório, citado por Levi, traz uma introdução que afirma que a obra foi impressa em 1552, mas não existem registros de publicações anteriores ao século XVIII. Seu autor é apresentado como Alibek, o Egípcio. Em sua página de introdução está escrito:
“Este livro é tão raro e procurado em nosso país que foi chamado, por nossos rabinos, de a verdadeira Grande Obra. Foram eles que nos entregaram este precioso original que muitos charlatães tentaram inutilmente reproduzir, tentando imitar a verdade que eles nunca encontraram, de forma a tirar vantagem de indivíduos ingênuos que tem fé em encontros com pessoas quando buscam a Fonte original.
Este manuscrito foi copiado de inúmeros escritos do grande Rei Salomão. Este Grande Rei passou muitos de seus dias na mais árdua busca atrás dos mais obscuros e inesperados segredos.”
Ao examinar o Grande Grimório é fácil perceber que a evocação Per Adonai não se encontra nele, a maior parte das evocações lá presentes são variantes da fórmula:
“Eu Te imploro, O grande e poderoso ADONAI, lider dos espíritos. Eu Te imploro, O ELOHIM, eu Te imploro O JEHOVA, O grande Rei ADONAI, seja condescendente e favorável. Que assim seja. Amém.”
Mas isso não é uma surpresa. Grimórios eram colchas de retalhos, hoje um exemplo disso é o Livro de São Cipriano, diferentes editoras o lançam com diferentes nomes, O Livro de São Cipriano, O Verdadeiro Livro de São Cipriano, São Cipriano da Capa Preta, São Cipriano da Capa Metálica, etc. Na época de Levi ainda havia o agravante de cada tradução ser uma versão diferente do grimório traduzido, partes eram introduzidas ou retiradas, assim quando mudava de língua, o livro mudava de conteúdo, não eram traduções e sim editorações de conteúdo. Outro problema era a origem do livro e seu nome real. Muitos grimórios afirmavam ser versões modernas inspiradas por livros mais antigos, no caso do Grande Grimório, há aqueles que acreditem que ele foi amplamente inspirado no livro conhecido como o Grimório Jurado de Honório, o Liber Juratus – não confundir com o Grimório do Papa Honório III. No Liber Juratos é possível se encontrar fórmulas muito mais próximas à de Levi, como por exemplo:
“HAIN, LON, HILAY, SABAOTH, HELIM, RADISH~~, LEDIEHA, ADONAY, JEHOVA, YAH, TETRAGRAMMATON, SADA!, MESSIAS, AGIOS, ISCHYROS, EMMANUEL, AGLA”
O que pode indicar que talvez o Grande Grimório ao qual Levi se referia seria na verdade o Liber Juratus. Levi o compara ao Dragão Vermelho, que se conecta de forma diferente aos dois livros, Grande Grimório e Liber Juratus. Muitos afirmam que o Dragão Vermelho e o Grande Grimório são os mesmos livros, outros afirmam que são livros diferentes, mas que o Dragão Vermelho, por seu conteúdo também era conhecido como um grande grimório, o maior e mais perverso de todos, dai o nome Grande Grimório ser mais um título no ranking dos maiores grimórios do que simplesmente o nome que trazia. Como Levi o descreve nos leva a crer que ao menos na França, onde circulava com o nome “Le Veritable Dragon Rouge” o Dragão Vermelho poderia ser uma versão mais popular do Grande Grimório original. Neste caso ele poderia ter alguma relação ao Liber Juratus e trazer uma versão mais próxima da fórmula apresentada, mas sem o livro que Levi tinha em mãos, não há como saber se a evocação se manteve fiel ao original ou não, mas hoje é sabido que Levi tinha uma estranha atração pelo livro, o que pesa a favor da fidelidade do texto, por outro lado Levi era um romancista e adorava “corrigir” textos que ele percebia haver chegado em suas mãos com desvios do original, assim essa evocação pode ter sido desenvolvida pelo próprio Levi para sua obra.
Independente de sua origem a evocação se consagrou, fazendo parte de inúmeros livros publicados posteriormente. Tais evocações, mesmo conflitantes entre si em sua formulação, eram muito comuns nos livros. Como grande parte dos os grimórios, se não todos eles, se derivaram da Bíblia, por mais nafasta que fosse a criatura evocada, ela deveria se curvar perante o poder de Deus, assim a fórmula era recitada, após os diagramas desenhados, para obrigar, em nome de Deus, que o espírito se materializasse.
Nas palavras de Cornelius Agrippa, quando fala sobre necromancia em seus Três Livros de Filosofia Oculta:
“Para a empreitada de chamar e compelir os maus espíritos, adjurando por um certo poder, especialmente aquele dos nomes divinos; pois sabemos que toda criatura teme, e reverencia, o nome de quem a criou, não é de admirar, se infiéis goetians, pagãos, judeus, sarracenos, e homens de toda seita profana e da sociedade, conseguirem controlar demônios ao se invocar o nome divino.”
Assim, a evocação Per Adonai traduzida se lê:
Por meu Senhor Deus, meu Senhor que Vive, meu Senhor Das Hostes Celestes, por Metraton[1] On[2] e o Senhor Eternamente Forte, pela quinta hora da noite, pela palavra profética, pelo mistério das salamandras, pelos espíritos das florestas, pelas cavernas dos gnomos, pela fortuna descrita nos céus pelos espíritos, por Almousin, Senhor da Força, por Jesus, por Evam[3], o Filho de Deus, VENHA, VENHA, VENHA.”
[1] Metraton é o príncipe dos Anjos, o único que fala diretamente com Deus, por isso chamado também A Voz de Deus.
[2] ON é outro nome de Deus.
[3] Evam é um termo que permanece incerto
O objetivo era, assim que um canal com o mundo dos mortos fosse aberto, obrigar, através da menção dos nomes/qualidades de Deus, o espírito escolhido a se manifestar. Mas, seguindo a lógica do texto de Lovecraft, as conversas trocadas pelo círculo de Curwen, o espírito deveria animar a forma, ou seja o corpo, criado alquimicamente a partir dos sais do corpo original, não apenas se manifestar em sua forma etérea. A alquimia criava um corpo físico, uma versão antiga da gentética de hoje, e a magia devolvia o espírito original a esse novo corpo.
E aparentemente Ward obteve sucesso em sua evocação, já que junto com seus clamores uma segunda voz lhe respondeu, uma voz que com certeza não era a sua.
Corta Para o Signore Pietro d’Abano
Também conhecido como Petrus De Apono ou Aponensis, viveu entre as décadas de 1250 e 1310, ele foi um filósofo italiano, que estudava astrologia e medicina em Pádua. Eventualmente, como toda pessoa culturalmente prolífera que não fazia parte da igreja, foi acusado de heresia e ateísmo e acabou caindo nas mãos da Inquisição, morrendo na prisão em 1315.
Durante sua vida estudou por muitos anos em Paris, onde recebeu os três graus de doutorado em filosofia e medicina, se tornando um médico talentoso e de muito renome, chegando a ser chamado de O Grande Lombardo. Foi em Pádua que ganhou sua reputação como astrólogo e físico e foi acusado pela primeira vez de praticar magia – diziam que com a ajuda do demônio ele conseguiu recuperar todo o dinheiro que gastou em sua educação e que possuia uma pedra filosofal, as pessoas que o acusavam disso não deviam saber dos honorários salgados que cobrava para exercer a medicina.
Pietro também gostava de escrever e registrar os conhecimentos que ia coletando, criando uma verdadeira enciclopédia de ciências ocultas, procurando sempre provar através de experimentos, aquilo que registrava sobre fisiognomia – diferente de fisionomia -, geomancia e quiromancia entre outros. E foi dentre esses estudos que registrou o seguinte:
pega saci“A peneira é sustentada por tenazes ou pinças que são erguidas pelos dedos médios de dois assistentes. Desta forma pode ser descoberto, com a ajuda de demônios, as pessoas que cometeram um crime ou que roubaram algo ou feriram alguém. A conjuração consiste de seis palavras – que não são compreendidas nem por aqueles que as proferem nem pelos que as escutam – que são DIES, MIES, JUSCHET, BENEDOEFET, DOWIMA e ENITEMAUS; uma vez que sejam pronunciadas elas compelem o demônio a fazer a peneira, apoiada nas tenazes, a girar no momento que o nome da pessoa culpada for pronunciado (pois o nome de todos os suspeitos devem ser pronunciados), tornando o culpado imediatamente conhecido.”
Mais de 200 anos depois da morte de Pietro, Agrippa começa a coletar o conhecimento ocultista existente até então em seus próprios escritos, que posteriormente foram coletanos em dois volumes entitulados Opera omnia em 1600 pela editora Lyons. Em seu total os volumes traziam seus três volumes do De occulta philo-sophia, De incertitudine et vanitate scientiartn argue artium declamatio, Liber de Iriplici ratione cognoscendi Dewn e In artem brevem Ravtnundi Lulli commentaria. Popularmente esse trecho foi apontado como saindo de algum dos três livros do Occulta, mas ele não se encontra neles, o que fez muitos pesquisadores modernos o atribuirem ao apócrifo quarto livro do Occulta philo-sophia, um livro que surgiu, escrito em latim, aproximadamente 30 anos após a morte do autor e que foi denunciado como fraude por Johann Weyer, um dos estudantes de Agrippa. Esse tipo de confusão entre D’Abano e Agrippa é comum já que um dos maiores tratados ocultos, o Heptameron – ou Elementos Mágicos – atribuído a D’Abano apareceu como apêndice no quarto livro de filosofia oculta atribuído a Agrippa. Em ambos os casos parece que os livros apenas foram atribuídos aos ocultistas como forma de marketing, já que parece que nenhum dos dois redigiu nenhuma das obras. Mas Agrippa faz menções a D’Abano em seu trabalho, especificamente em seu terceiro livro da Filosofia oculta, apontando o italiano como sendo sua fonte para o alfabeto Thebano, desenvolvido por Honório de Thebas, o suposto autor do Liber Juratus.
Assim um texto escrito por D’Abano se tornou famoso como sendo a Grande Evocação de Agrippa:
“Dies Mies Jeschet Boenedoesef Douvema Enitemaus”
As seis palavras, que antes surgiam como fórmulas mágicas individuais, agora são uma única frase, ou fórmula. Levi provavelmente a incluiu nesta parte de seu tratado por se tratar de uma fórmula de evocação ao demônio, e a associou ao ritual do sabbat, onde o diabo era supostamente evocado, mas como podemos ver, o objetivo original da fórmula não era chamar O diabo, e sim forçar algum diabo a identificar um malfeitor. Levi provavelmente teve acesso aos dois volumes do Opera omnia de Agrippa e reproduziu de lá a frase. E de lá cai nas mãos de Lovecraft.
Em seu texto sobre o Sabbat Levi esclarece:
“A grande evocação de Agrippa consiste somente nestas palavras: Dies Mies Jeschet Boenedoesef Douvema Enitemaus . Não temos a pretensão de entender o sentido destas palavras que, talvez, não têm nenhum, e ao menos não deve ter nenhum que seja razoável, pois que têm o poder de evocar o diabo, que é a soberana irracionalidade.”
Esta declaração talvez tenha tornado este trecho da obra de Levi irresistível a Lovecraft, pai dos livros que não podiam ser lidos, dos cultos inomináveis e dos nomes impronunciáveis. Giovanni Pico della Mirandola, o cabalista italiano do século XV, era outro que afirmava que  as palavras mais bárbaras e absolutamente ininteligíveis são as que produzem melhores resultados em rituais na magia negra. Até nas Mil e Uma Noites encontramos referências a tal prática, onde uma feiticeira apanha uma porção de água lago com as mãos e sussurra sobre ela “palavras que não podiam ser compreendidas”, e as Mil e Uma Noite foram uma das maiores fontes de inspiração de Lovecraft, tanto quando criança quanto quando adulto.
 
Eis o Professor de Aleister Crowley
O encontro de Darth Vader e Obi Wan Kenobi, no filme Uma Nova Esperança da saga Guerra nas Estrelas, se tornou um clássico do cinema, mas poderia ter sido plagiado da vida de dois outros grandes ocultistas: Samuel Liddell MacGregor Mathers e Aleister Crowley. Mathers, antigo amigo e mestre de Aleister Crowley nas artes mágicas, com o tempo se tornou um vilão para o ex-aprendiz.
Mathers era um Mestre Maçom, um membro da Societas Rosicruciana in Anglia e então em 1888 fundou a Ordem Hermética da Aurora Dourada. Ele também era um poliglota que dominava, entre outras línguas, o inglês, o francês, o latim, o grego, o hebraico, o gaélico e o copta, e dedicou parte da vida a traduzir e publicar antigos livros de magia em inglês, sua língua nativa. Um desses livros foi o grimório conhecido como A Clavícula Maior de Salomão – ou a Chave do Rei Salomão. Mathers aceitava a tradição que dizia que livro havia de fato sido escrito pela Rei Bíblico, mesmo que o manuscrito mais antigo que tenha estudado fosse datado do século XVI. Até a publicação da versão de Mathers o texto da Clavicula se encontrava fragmentado, partes dele circulavam em diferentes países até ser reunido em um único tomo na edição de 1889. No trabalho traduzido e publicado por Mather a evocação Dies Mies Jeschet aparece no capítulo IX do livro I no feitiço para “Como Saber Quem Cometeu o Roubo”, a fórmula aparece ligeiramente diferente e apesar de não haver uma tradução oferecida Mathers oferece, de forma discreta um possível significado:
“DIES MIES YES-CHET BENE DONE FET DONNIMA METEMAUZ; Deus Meu, Que liberou a santa Susanna da falsa acusação do crime”
Este feitiço descreve exatamente o mesmo procedimento do de D’Abano, se utilizando de uma peneira para descobrir quem realizou um roubo. Isso indica que Mathers pode ter tido acesso ou a algum texto de D’Abano ou a algum texto ao qual D’Abano teve acesso.
Curiosamente Lovecraft usa esta fórmula como uma resposta por parte do morto que foi trazido de volta a este mundo graças ao ritual realizado por Ward, ou talvez Lovecraft tenha achado interessante um espírito que volta da morte proferir as palavras usadas em rituais de demonologia antigos que ninguém sabe o significado. Mas historicamente Joseph Curwen e seus associados poderiam ter obtido a fórmula Dies Mies Jeschet tanto da Opera omnia de Agrippa, algum manuscrito que poderia fazer parte da Clavicula de Salomão.
Muito Trabalho, Sem Diversão
Tudo o que Jack Torrance precisou para resolver dar um fim em sua mulher e filho com um machado foi um tempo isolado nas entranhas do Hotel Overlook. De fato a isolação pode perturbar uma mente comum e ordinária, mas ela é ingrediente fundamental para a magia – tanto o isolamento quando a perturbação mental.
A magia é real e nos cerca, mas enxergá-la e lidar com ela é algo trabalhoso. O mago ou feiticeira deve aprender a percebê-la e a trabalhar com ela e para isso deve se distanciar da rotina que o cerca. Da mesma forma que um casal pode buscar lugares que despertem o desejo sexual e a inspiração luxuriante quando desejam novas experiências, o praticante deve buscar ambientes que tornem mais fácil para seus sentidos perceberem os poderes ocultos. Quando o ritual tem a ver com necromancia, o local de isolamento deve evocar sentimentos característicos no mago.
Levi recomenda “um lugar solitário e assombrado, tal como um cemitério freqüentado por maus espíritos, uma ruína temida no campo, os fundos de um convento abandonado, o lugar onde foi cometido um assassinato, um altar druídico ou um antigo templo de ídolos”.  Esta citação tem uma origem judaica, nos livros do antigo testamento que faz um alerta sobre rituais e sacrifícios realizados no alto de montanhas ou nos profundezas da terra.
Ward realizou rituais tanto no porão da casa da família, quanto no bangalô de seu antepassado, na cripta subterrânea. Curwen, antes dele, era conhecido também por vagar em cemitérios, e posteriormente construiu um laboratório subterrâneo em seu bangalô, sua “ruína no campo”.
Yog-Sothotheria: A Cabeça e a Cauda do Dragão
 
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Seguindo a agenda de Ward, após a invocação Dies Mies, seguiu-se uma invocação a Yog-Sothoth, quando ele volta a entoar de forma monótona uma nova fórmula, que era percebida como sílabas aparentemente sem sentido:
“Yi-nash-Yog-Sothoth-he-lgeb-fi-throdog”
Sendo seguida por um grito de YAH!, “cuja força desvairada subia num crescendo de arrebentar os tímpanos”.
Esta nova fórmula descrita por Lovecraft não possui origem clássica; ou invés de se utilizar de um ritual tradicional Lovecraft parece ter inventado um ritual próprio dedicado a uma das deidades que apresentou ao público. A invocação a Yog-Sothoth criada por Lovecraft segue um padrão usado não apenas pelo autor, mas também por outros escritores, de se fazer valer da linguagem alienígena, batizada de Aklo, sempre que se tenta evocar, banir ou chamar algum de seus antigos. Essa “pseudo-liguagem” está presente em outros contos, como O Chamado de Cthulhu e o Horror de Dunwich e não possui um significado claro.
O Portão, a Chave e o Guardião
Em o Horror de Dunwich, Lovecraft nos oferece a seguinte descrição deste Antigo:
“Também não é para se pensar (dizia o texto, que Armitage ia traduzindo mentalmente) que o homem é o mais velho ou o último dos mestres da Terra, nem que a massa comum de vida e substância caminha sozinha. Os Antigos foram, os Antigos são e os Antigos serão. Não nos espaços que conhecemos, mas entre eles. Caminham serenos e primitivos, sem dimensões e invisíveis para nós. Yog-Sothoth conhece o portal. Yog-Sothoth é o portal. Yog-Sothoth é a chave e o guardião do portal. Passado, presente e futuro, todos são um em Yog-Sothoth. Ele sabe por onde os Antigos entraram outrora e por onde Eles entrarão de novo. Ele sabe por quais campos da Terra Eles pisaram, onde Eles ainda pisam e por que ninguém pode vê-los quando pisam […] Yog-Sothoth é a chave para o portal, onde as esferas se encontram.”
No conto Através dos Portões da Chave de Prata, Randolph Carter identifica Yog-Sothoth com a origem de todo o universo criado:
“Era um Tudo em Um e Um em Tudo de ser e existir ilimitado – não meramente uma coisa de um continuum de espaço-tempo, mas aliado à essência criadora máxima de toda a existência – aquele último ímpeto sem limites que não possui fronteiras e que transcende tanto a fantasia quanto a matemática. Foi, talvez, isso que certos cultos secretos da terra sussurraram como sendo Yog-Sothoth…”
Podemos dividir os seres do universo Lovecraftiano em alguns grupos. Existem aqueles que podem ser classificados como seres, indivíduos, como o próprio Cthulhu, Nyarlatothep, Shub Niggurath, e outros. Existem também as criaturas “menores” como Bronw Jenkings, shoggoths, o sabujo voador e entidades que fazem parte de uma história maior ou que estão ligadas a outros seres maiores. E existem aqueles que são como forças da natureza, Azathoth e Yog-Sothoth são exemplos desses. Eles cumprem uma função quase cósmica. Enquanto Cthulhu pode ser considerado um líder ou um sacerdote alienígena Yog-Sothoth está além da mera existência, ele não tem um propósito da forma que compreendemos propósitos. Em um primeiro momento Yog-Sothoth parece ser alguém excessivamente poderoso para ser usado apenas com o objetivo de se trazer alguém de volta da morte. Mas dentro da mitologia Lovecraftiana ele também se mostra uma escolha lógica para essa tarefa. Como vemos pela descrição do Horror de Dunwich, Yog-Sothoth é aquele que será usada pelos antigos “mortos”, como Cthulhu por exemplo, para retornarem à vida. Isso nos mostra que nossa compreensão de vida e morte é extremamente limitada, se comparada àquela de criaturas que mesmo mortas sonham, e com a afirmação de que até mesmo a morte um dia pode morrer. Assim, magos como Curwen talvez tenham enxergado uma vantagem em entrarem em contato com algo tão poderoso assim. Podemos acompanhar essa decisão na correspondência trocada por ele com outros magos de seu círculo:
“Mas eu estou disposto a enfrentar tempos difíceis, como lhe disse, e tenho trabalhado muito sobre a maneira de reaver o que perdi. Na noite passada, descobri as palavras que evocam YOGGE-SOTHOTHE e vi pela primeira vez aquele rosto de que fala Ibn Schacabac”.
Em uma carta escrita por Simon Orne encontramos a saudação “Yogg-Sothoth Neblon Zin” e mais adiante em outra escrita por Curwen lemos:
“Evoquei três vezes Yog-Sothoth e no dia seguinte fui atendido.”
Evidentemente o poder de Yog-Sothoth é reconhecido como algo que jamais poderia ser controlado após a primeira morte de Curwen, em uma carta escrita por Ezra Weeden, onde o escritor cita um aviso de Simon Orne enviado anteriormente para Curwen:
“Eu lhe digo novamente, não chame aquilo que você não possa dispensar depois; e com isso me refiro a ninguém que, por sua vez, possa evocar algo contra o senhor, algo contra o qual seus recursos mais poderosos não terão nenhuma eficácia. Busque os menores, para que aqueles que são grandes não respondam mostrando um poder maior do que o seu”.
Este não é o primeiro conto de Lovecraft onde Yog-Sothoth é evocado mas traz uma peculiaridade que não surge em nenhum outro lugar. A evocação usada por Ward, como mais tarde é descoberto por Willett, é uma das duas partes de um feitiço aparentemente maior. As fórmulas descobertas são:
Y’AI ‘NG’NGAH,
YOG-SOTHOTH
H’EE—L’GEB
F’AI THRODOG
UAAAH
OGTHROD AI’F
GEB’L—EE’H
YOG-SOTHOTH
‘NGAH’NG AI’Y
ZHRO
Assim como Willett percebeu, basta uma olhada cuidadosa em ambas as fórmulas para notarmos que uma é o inverso da outra. Se excluimos os dois gritos finais, UAAAH e ZHRO, uma fórmula é exatamente a outra com cada letra escrita de trás para frente, à excessão do nome de Yog-Sothoth. Os gritos finais são uma pista da funcionalidade das fórmulas – indicam o início e o fim, talvez uma aluzão ao A e ao Z do alfabeto, ao “Alfa et Ômega”. Junto com as  fórmulas encontramos dois símbolos:
caput e  cauda
conhecidos respectivamente como a Cabeça do Dragão e a Cauda do Dragão.
Esses dois conceitos estão presentes em três ciências que possuem ligações íntimas: a alquimia, a geomancia e a astrologia.
Quando Lovecraft escreveu o texto, seu personagem lidava com a alquimia, e nela o dragão tem um papel fundamental, como explicou Carl Gustav Jung em seu Psicologia e Alquimia:
“Quando o alquimista fala de Mercúrio ele está falando de duas coisas, superficialmente ele está falando do elemento químico mercúrio, mas de forma mais profunda ele se refere ao espírito criador do mundo que se encontra aprisionado na matéria. O dragão é provavelmente o mais antigo símbolo pictórico na alquimia que temos evidência. Ele surge como o Ouroboros, deverando a própria cauda, no Codex Marcianus, que data do século X ou XI, juntamente com a legenda ‘O Um o Todo’. Vezes sem fim o alquimista reafirma que a obra se origina no um e leve de volta ao um, que é como um círculo tal qual um dragão que devora a própria cauda. Por essa razão a obra já foi chamada de circulare (circular) e rota (roda). O Mercúrio está presente no início e no fim do trabalho: ele é a matéria prima (primeira matéria), o caput corvi, o nigredo; como o dragão ele também se devora, morrendo para então ressurgir no lápis.”
Assim um símbolo draconiano deixa claro o objetivo do trabalho, ou obra, que estava sendo realizado, seria um trabalho lidando com morte e renascimento. Algo que tanto Curwen quanto Ward estavam fazendo.
na geomancia ambos os símbolos tem uma relação oposta. Cauda Draconis está relacionada à má orientação, mau conselho, más companhias, engano, etc., já a Caput Draconis à boa orientação, bom conselho, bons contatos, boa dica. A geomancia é uma arte muito antiga, uma das ferramentas oraculares mais primitivas que se tem notícia. Suas origens remontam à Pérsia antiga, e traz consigo muitas semelhanças com o I-Ching chinês. Algumas pessoas mais exaltadas inclusive apontam para as passagens bíblicas que mostram Jesus escrevendo nas areias antes de responder aos questionamentos de alguns homens que o procuravam como evidências de Jesus ser um geomante. Os 16 símbolos geomânticos possuem hoje uma ligação direta com os planetas e signos da astrologia e com os Planetas da Alquimia.
A escolha dos símbolos atrelados à fórmula de evocação de Yog-Sothoth se mostram curiosos, pois apesar de existirem em tratados alquímicos antigos, como o Últimos Desejos e Testamento de Basil Valentine, publicado em 1671, traz um símbolo semelhante ao Caput Draconis com o significado de Sublimação ou o Medicinisch Chymisch und Alchemistisches Oraculum, publicado em 1755, que traz o símbolo equivalente ao Caput Draconis com o significado de purificação, estão ligados à astrologia a aos nodos lunares. Os dois símbolos usados na obra de Lovecraft se derivam, então, da astrologia.
A Cabeça e a Cauda do Dragão, ou Caput Draconis e Cauda Draconis, são os nomes dos dois nós ou nodos lunares; são pontos imaginários que mostram onde a órbita da lua ao redor da Terra atravessa a órbita que a terra faz ao redor do sol. Essas órbitas coincidem a cada 28 dias, em 2 momentos,como se fossem 2 nós, amarrando aquelas órbitas naquele momento específico.
Na interpretação astrológica, todos os signos têm os seus nós que em algum momento cortam a órbita ascendente e descendente. O nós ascendente é onde a lua atravessa o norte da elipse, o descendente onde cruza o sul, é por isso que as eclipses só podem ocorrer próximos aos nós lunares, os eclipses solares ocorrem apenas quando a lua cruza o nó em sua fase Nova e eclipses lunares quando a lua cruza o nó em sua fase Cheia.
Os nós recebem diferentes nomes em diferentes lugares do mundo. O nó ascendete, também chamado de nó norte, era conhecido na europa antiga como Cabeça do Dragão, ou Anabibazon, e representado pelo símbolo à esquerda. O nó descendente, ou sul, era chamado de Cauda do Dragão, ou  Catabibazon, e representado pelo símbolo da direita – uma inversão do primeiro.
Com a popularização da astrologia e seu distanciamento com a estronimia, esses nós acabaram se relacionando com aspectos ocultos e indicadores do destino das pessoas. A crença é que a Cabeça do Dragão se relacione com o caminho do destino da pessoa, enquanto a Cauda do Dragão se relaciona com o passado da pessoa, ou o Karma que traz consigo.
Não há como apontar uma obra específica que tenha inspirado Lovecraft a usar esses dois signos, mas com certeza ele estava familiarizado com eles de estudos que realizou e de contatos que tinha com entusiastas do assunto, como mostra este trecho de uma carta que escreveu para E. Hoffmann Price em fevereiro de 1933:
“Quanto a astrologia – como sempre fui um devoto da ciência real da astronomia, que tira todo o apoio no qual se baseiam os arranjos celestes irreais e aparentes todas nos quais se derivam todas predições astrológicas, eu desprezo essa arte de forma que não tenho interesse nela – exceto quando refutando suas afirmações pueris. Pelos idos de 1914 eu realizei uma pesada campanha contra um defensor local de astrologia em um de nossos jornais, e em 1926 eu li uma bela quantidade de livros astrológicos (desde então esquecidos em sua maioria) para que pudesses trabalhar como escritor fantasma em uma obra que expusesse de forma irrefutável a falsa ciência, tendo como cliente ninguém menos do que Houdini. Isto resume a soma do meu conhecimento astrológico – já que criar horóscopos nunca foi uma de minhas ambições. Se eu em algum momento me utilizar de qualquer subterfúgio astrológico em algumas de minhas histórias eu com todo o prazer lhe escreverei atrás de detalhes mais realistas”
Com o desenrolar da história a fórmula acaba se revelando não apenas a chave para de evocar o morto, para que possa se manifestar em nosso mundo, mas também a chave para despachá-lo de volta para a morte. Isso se reflete na escrita das duas chamadas, uma sendo o inverso da outra, a primeira cria a obra, a segunda a descria.
Curiosamente, o efeito reverso “Caput Draconis” parece ser muito mais poderoso do que a obra para se trazer o vivo e se recriar seu corpo a partir de seus sais. Qual o possível motivo disso?
E Se Eu Cortasse Seus Braços e Cortasse Suas Pernas?
Outro livro de ocultismo que com certeza fez parte da coleção de Lovecraft foi a Enciclopádia de Ocultismo de Lewis Spence. O artigo sobre necromancia no livro a define como “divinação através dos espíritos dos mortos”. Lovecraft foi muito além disso.
A história nos fala de duas pessoas que foram trazidas de volta: Curwen e Daniel Green.
Daniel Green foi trazido de volta por Curwen e posteriormente escapa de sua fazenda em Pawtuxet. O processo utilizado por Curwen difere em muito daquele descrito no livro de Spence, que escreve:
“Se o fantasma de uma pessoa morta deve ser chamado, a sepultura deve ser procurada à meia-noite e uma forma diferente de conjuração se faz necessária. Ainda outra é o sacramento infernal “todo corpo que já foi enforcado, afogado ou de outra forma liquidado”; e neste caso as conjurações são realizadas sobre o corpo, que finalmente se erguerá e, de pé, responderá com uma fraca voz oca as questões que lhe forem feitas.”
Parte do trabalho de Curwen reflete a necromancia clássica. Ele violou a sepultura de Green, que posteriormente foi encontrada vazia, e tinha o costume de interrogar o morto:
“A natureza das conversas pareciam sempre ser uma espécie de catequismo, como se Curwen estivesse tentando extorquir algum tipo de informação de horrorizados prisioneiros rebeldes […] a maior parte das questões que podia compreender eram de cunho histórico ou científico; ocasionalmente relativas a lugares e eras remotas.”
Mas sua obra não tinha como objetivo apenas prender uma alma a um corpo morto, ele desejava restaurar a vida ao corpo morto. Ao contrário dos processos descritos em outros livros que falam sobre necromancia, como O Livro da Magia Negra de A. E. Waite – que Lovecraft chegou a recomendar a um amigo escritor em uma carta escrita anos depois de ter terminado O Caso de Charles Dexter Ward -, o corpo utilizado por Curwen não precisava ser o de um suicida. O corpo não precisava ser de alguém que havia morrido há pouco tempo. Não necessitava ser revivido no local. O processo envolvia substâncias químicas que podiam ser obtidas de “bons químicos na cidade”
O morto deveria então ser incinerado para que seus sais – ou cinzas – fossem conseguidos antes que a operação tivesse início. A reanimação necessitava de grandes quantidades de sangue fresco, não importando se animal ou humano. Posteriormente quando revivido, Curwen diz para Ward que precisa de sangue humano por três meses – o que deu origem à série de ataques vampíricos.
O corpo revivido aparentemente pode permanecer vivo por longos períodos, mas não é imortal. Daniel Green, assim que foge da fazenda de Curwen é encontrado morto, se pelo frio ou pela falta de novas infusões de sangue não há como dizer. Curwen depois de ressuscitado viveu por mais de um ano.
A chave para esse ligação mais duradoura pode ser a presença de Yog-Sothoth, que é evocado com a fórmula da Cabeça do Dragão depois de longos rituais – Ward passou horas recitando a evocação Per Adonai, a fórmula Dies Mies, além de qualquer outra coisa que possa ter realizado que não foi percebida graças ao desmaio de sua mãe, a única testemunha do ocorrido.
E mesmo assim, o novo corpo recriado pelo trabalho com os sais não é perfeito: Daniel Green apresentava certas “peculiaridades” como um aparelho digestivo que parecia nunca ter sido usado, “enquanto toda a sua pele tinha uma textura grosseira e frouxa impossível de explicar”. Curwen também possuia os tecidos grosseiros e suas funções vitais eram mínimas, mesmo assim ele foi capaz de personificar e então tomar o lugar de seu descendente, Ward.
A necessidade constante de quantidades de sangue e a indicação de que o sistema digestivo dos novos corpos pareciam nunca ter sido usados sugerem que os novos corpos não possuiam um metabolismo próprio e necessitavam ser constantemente “alimentados”. Além da alquimia e do sangue a magia era parte fundamental de sua manutenção. Quando o Dr. Willet acaba se confrontando com Curwen, ele usa a fórmula OGTHROD AI’F, associada à Cauda Draconis, para desfazer o feitiço que mantinha a alma presa ao corpo, fazendo com que ele “morra” imediatamente. Isso indica que apesar de ser necessário muito trabalho e muita energia para se recriar e reviver alguém, apenas um encantamento pode desfazer o trabalho. Outra sugestão é que o corpo permanecesse funcional pela intervenção de Yog-Sothoth, e que a menção da fórmula Cauda Draconis encerra o acordo, Yog-Sothoth encerra seu contato, seja lá qual for, com o corpo e ele morre novamente, isso tornaria o papel de Yog-Sothoth no ritual muito mais importante do que uma mera evocação para liberar uma alma.

por Rev. Obito

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/h-p-lovecraft-charles-dexter-ward-joseph-curwen-e-necromancia/

A Arte dos Algoritmos

Parte 1 da série “A ciência da inspiração”

Inspiração: 1. Ato ou efeito de inspirar; 2. Pensamento ou idéia que nos vem de repente; 3. Produto da imaginação ou entusiasmo criativo.

A ciência da computação nasceu com o conceito de algoritmo, criado conjuntamente em 1936 pelo experimento mental de Alan Turing, conhecido como Máquina de Turing, enquanto quase ao mesmo tempo Alonzo Church criava o cálculo lambda. Um algoritmo é uma seqüência finita de instruções bem definidas e não ambíguas, cada uma das quais pode ser executada mecanicamente num período de tempo finito e com uma quantidade de esforço finita.

O conceito de algoritmo é freqüentemente ilustrado pelo exemplo de uma receita, embora muitos algoritmos sejam mais complexos. Eles podem repetir passos (fazer iterações) ou necessitar de decisões (tais como comparações ou lógica) até que a tarefa seja completada. Um algoritmo corretamente executado não irá resolver um problema se estiver implementado incorretamente ou se não for apropriado ao problema.

Roger Alsin é um programador sueco bem menos conhecido, mas que aborda a arte dos algoritmos de uma forma impensável na época de seus criadores… No final de 2008, ele resolveu brincar um pouco com alguns algoritmos, mais precisamente algoritmos genéticos. Ele criou um pequeno programa que evolui cadeias de “DNA digital” para renderização de polígonos, eis as instruções aplicadas:

(0) Cria uma cadeia de DNA aleatoriamente (início do programa); (1) Copia a seqüência de DNA atual e aplica uma pequena mutação; (2) Usa o novo DNA para renderizar polígonos em uma tela; (3) Compara a tela com a imagem original (a ser copiada); (4) Se a imagem se parece mais com a imagem original do que a imagem gerada pelo DNA pai, substituir o DNA antigo pelo DNA atual; (5) Repetir a partir do passo 1.

Então, Alsin colocou como meta aos seus algoritmos tentar recriar (ou copiar da melhor forma possível) a Mona Lisa de Da Vinci usando apenas 50 polígonos semi-transparentes… Após 904.314 gerações, o algoritmo genético de Alsin chegou a uma imagem bastante próxima da original, se considerarmos que algoritmos não são exatamente mestres da pintura (ou pelo menos, ainda não são). Você pode ver a imagem final no início do artigo, ou ver as diversas gerações no weblog de Alsin.

Em 1992, John Koza – cientista da computação – usou algoritmos genéticos para desenvolver programas para realizar certas tarefas. Ele chamou seu método de programação genética. Koza foi pioneiro neste método de programação, que hoje é cada vez mais utilizado no mundo.

O aspecto mais bizarro e intrigante da programação genética é que seus algoritmos – verdadeiras “entidades de software” – não sofrem as restrições dos hábitos de pensamento e das inclinações intelectuais sutis dos programadores humanos. Como exploram irrefletidamente todo o espectro de soluções possíveis para um determinado problema, os algoritmos genéticos podem trazer soluções puramente alienígenas. Por exemplo, a NASA utilizou a programação genética para produzir o projeto ideal de um suporte a ser usado na Estação Espacial Internacional. Como relatou o U.S. News and World Report, o resultado parecia ter saído de um romance de ficção científica:

“Surgiu, de 15 gerações e 4.500 projetos diferentes, um suporte que nenhum engenheiro humano projetaria. O conjunto grumoso e com a extremidade arredondada lembrava o osso de uma perna, irregular e um tanto orgânico. Testes em modelos confirmam sua superioridade sobre os projetos humanos com suporte estável. Nenhuma inteligência fez os projetos. Eles apenas se desenvolveram.”

Outro exemplo espantoso da total estranheza da programação genética bem-sucedida é o código e computador que foi desenvolvido para ajudar um paciente a controlar uma mão protética com base em sinais nervosos erráticos captados por eletrodos presos ao pulso do paciente. O software desenvolvido analisava “misteriosamente” (ver link abaixo) os sinais nervosos e os traduzia com precisão perfeita nos movimentos que o paciente queria fazer.

Mas aqui está a parte realmente estranha – o método pelo qual o software realizou esse feito incrível está totalmente além da compreensão dos pesquisadores humanos. Como relatou a Scientific American:

“O código desenvolvido era tão confuso e indecifrável quanto um inseto esmagado. O programa que prevê os gestos consiste numa única linha de código tão longa que enche uma página inteira e contém centenas de expressões parentéticas embutidas. Ele nada revela sobre por que o polegar se move de uma certa maneira – só revela que se move.”

Eis que, como num passe de mágica, essas receitas de bolo que ajustam a si mesmas acabam por trazer resultados imprevisíveis, bolos de sabores que nós humanos jamais poderíamos imaginar.

Para alguns ateus entusiastas de inteligência artificial, esta é a prova cabal de que o argumento do Design Inteligente está descartado, e de que os problemas podem ser solucionados através de gerações aleatórias de algoritmos – assim como a vida pode ser explicada como uma evolução aleatória da matéria inorgânica que, de alguma forma, tornou-se orgânica.

Estão mal-informados, pois conforme o próprio Alsin – ele mesmo um ateu – explica em seu weblog, a programação genética não prova absolutamente nada além de que pode ser utilizada para resolver problemas além da atual capacidade humana:

(1) Não existe um objetivo claro nos algoritmos, pois o problema que estão tentando solucionar é o seu próprio meio-ambiente de desenvolvimento. Eles não possuem um sentido, são mero mecanismo de solução de um problema específico; (2) A réplica da Mona Lisa não é a imagem do DNA digital e muito menos do “corpo” dos algoritmos genéticos, ela apenas demonstra o seu nível de adaptação ao meio-ambiente, ou o quanto foram bem sucedidos na solução do problema; e finalmente: (3) A programação genética nada diz sobre o problema da Criação, pois toda ela foi desenvolvida por seres humanos, e nós fomos criados por um evento químico extremamente fortuito nos primórdios do planeta, ou por um ser (ou seres) além de nossa compreensão atual, mas certamente não por uma máquina humana!

Da mesma forma, a magnífica capacidade computacional de nossa tecnologia nada nos diz sobre o que diabos são a inspiração e a criatividade humanas. Nossas máquinas são produto de nossa criatividade, mas não podem (ao menos por enquanto) criar elas mesmas. Tudo o que podem fazer é computar informação, seguirem receitas de bolo e, quando muito, modificar tais receitas para trazer resultados inesperados. Mas quem dita à receita somos nós. Mesmo que um dia máquinas possam nos imitar quase que a perfeição, ainda assim serão imitadores, computadores, e não seres que interpretam e reavaliam a informação de forma subjetiva, única.

Ainda assim, o mistério, a magia das soluções trazidas pelos algoritmos genéticos permanece insondável. Isso irá requerer uma análise mais profunda sobre como exatamente à mente humana cria novos conceitos e idéias a partir de outros já existentes – ou algumas vezes, aparentemente a partir do nada…

» Na continuação, como a relação dos módulos da mente primitiva nos tornou humanos, demasiadamente humanos.

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Pequeno glossário de alguns termos técnicos utilizados no artigo:

Máquina de Turing – Modelo abstrato de um computador, que se restringe apenas aos aspectos lógicos do seu funcionamento (memória, estados e transições) e não à sua implementação física. Numa máquina de Turing pode-se modelar qualquer computador digital.

Cálculo lambda – O cálculo lambda pode ser considerado como uma linguagem de programação abstrata, isto é, as maneiras como funções podem ser combinadas para formar outras funções, é uma linguagem pura, sem efeitos colaterais, e sem complicações sintáticas.

Algoritmo – é explicado nos primeiros parágrafos do artigo 🙂

Polígono – Um polígono é uma figura geométrica plana limitada por uma linha poligonal fechada : p.e. o hexágono é um polígono de seis lados. A palavra “polígono” advém do grego e quer dizer muitos (poly) e ângulos (gon).

Mutação – Em Biologia, mutações são mudanças na sequência dos nucleotídeos do material genético de um organismo. No caso da programação dos algoritmos genéticos, as mutações são induzidas propositadamente (e não aleatoriamente) a cada nova geração.

Linha de código – Em Programação, são as linhas de código que contém as informações (código fonte) que determinam como um programa deve proceder. No caso do software que analisa sinais nervosos, todo o código está agrupado (desde a origem) em uma única linha, sendo incompreensível para a cognição dos próprios programadores (é o resultado dos algortitmos genéticos).

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Crédito das imagens: [topo] Roger Alsin (sim, pois foi ele quem criou o programa que copiou a Mona Lisa de Leonardo Da Vinci); [ao longo] Andrea Ruester/Corbis

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

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#Ciência #Criatividade #Linguagem #Matemática

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-arte-dos-algoritmos