Feitiços de Envultamento

Shirlei Massapust

Tomei a liberdade de compilar alguns rituais bizarros somente para estudo folclórico-antropológico. Além de antiéticos, os crimes de perturbação de cerimônia funerária, violação de sepulturas, destruição e vilipêndio a cadáver estão todos tipificados do artigo 209 ao 212 do Código Penal Brasileiro.

Agulha Encantada

Fonte: Livro Vermelho e Negro de São Cipriano (versão de Murzin G Gemwy).

São Cipriano, propositalmente, tornava suas mágicas bem difíceis de preparar, a fim de evitar que caísse na mão de pessoas ignorantes ou mal intencionadas. Hoje, que o povo está mais evoluído, há mais instrução, pode-se publicar as fórmulas mágicas sem aqueles obstáculos propositais.

A mágica da agulha falava em passar uma agulha com um fio de linho galego por três vezes, pela pele da barriga de um defunto. No original grego São Cipriano fala “epiderme” (επιδερμίδα) significando “em cima da pele”. (…) Referia-se pois, São Cipriano à mortalha do defunto e não ao seu corpo. (…) Para fazer esta mágica deve-se oferecer para ajudar a costurar a mortalha ou a roupa de um defunto. Leve uma agulha virgem e use-a para isso. Enquanto costura a peça concentre-se nas seguintes palavras: “Fulano (o nome do morto) esta agulha na tua pele vou passar, para que fique com força de encantar”. Terminado leve a agulha para casa e guarde-a muito bem, pois servirá para muitas mágicas.[1]

Para que um morto nos livre de uma doença

Fonte: Livro do Touro Negro.

Aproximai-vos de um defunto que esteja para ser enterrado, e dizei: “Fulano (dizei o nome do morto), já que estás indo embora, leva contigo esta minha doença (dizei o nome da doença), para que eu dela fique livre, e nunca mais volte a sofrer dela nem de coisa parecida[2].

Trabalho aos pés de um morto para matar alguém

Fonte: O Livro de São Cipriano.

Deve-se dirigir a um cemitério em que esteja acontecendo um velório (…) sendo que de preferência o defunto seja amigo ou conhecido, mas se não o for que saiba-se o nome do mesmo. (…) Aproximando-se do defunto, o que deverá ser feito pelos pés do defunto, finge-se que se está arrumando as flores que por certo estarão cobrindo o cadáver, e com muito cuidado e concentração, mentaliza-se o nome da pessoa que se quer despachar para o “outro mundo” e, com um pedaço de papel branco em que já deverá ter sido escrito o nome completo dessa pessoa, enterra-se no meio das flores. Ao fazê-lo, como se falasse a si próprio, pede-se ao defunto que, ao partir para a eternidade leve com ele a tal pessoa. A seguir dever-se-á dirigir para o lado em que se encontra a cabeça do defunto e, curvando-se como se ao seu ouvido algo fosse dizer, pronuncia-se novamente o nome da pessoa que se quer despachar e pedir, mais uma vez, ao morto, que a leve desta para outra vida. (…) Ao sair dirigi-se imediatamente ao Cruzeiro das Almas e acende-se uma vela preta em homenagem a seu Omulu e pede-se ao mesmo que tome conta da pessoa que se quer despachar.[3]

Circunstância Despenalizadora (Consentimento do Ofendido)

Em 13/10/2012, o Programa do Pedro Augusto, na Rádio Tupi, noticiou uma ocorrência policial inusitada. Logo depois que a mãe de uma mulher chamada Jussara faleceu, a filha escreveu dezessete nomes de desafetos num papel, abriu a boca do cadáver e colocou a lista dentro. As pessoas cujos nomes estavam escritos no feitiço ficaram sabendo e tentaram roubar o cadáver durante o velório para retirar o papel. A polícia impediu e a falecida foi enterrada enquanto as pessoas medrosas tentavam inutilmente explicar para a polícia que colocar o nome de alguém na boca de um cadáver faz com que o inimigo morra… Isso é interessante porque se a mãe, sabendo que ia morrer, deu permissão para a filha fazer isso, não existe crime de vilipêndio a cadáver. É o mesmo caso da pessoa que doa o corpo para autópsia educativa em faculdades de medicina ou para finalidade artística (ao exemplo de certo amante das artes cênicas que só conseguiu realizar o sonho de ser artista de teatro depois da morte, doando o próprio crânio em testamento para fazer o papel do pai de Hamlet).

Diferentemente dos maus tratos a animais, inclusive sapos, que ganharam penalidades severas com o artigo 32 da Lei Federal nº. 9.605/98, o consentimento do moribundo por codicilo ou testamento pode fazer com que não haja crimes de perturbação de cerimônia funerária, violação de sepultura, destruição e vilipêndio a cadáver, todos tipificados do artigo 209 ao 212 do Código Penal Brasileiro. E como o crime de “tentativa de homicídio” não prevê pena para feitiço, logo não existe ato ilícito quando se enterra pessoa que deixa testamento ou codicilo autorizando rituais exóticos.

Outro trabalho ao pé de um morto

Fonte: Mandinga ensinada por Márcia Cristina Neves.

Pegue um boneco de pano ou de cera e o batize em uma cachoeira com o nome da pessoa a ser atingida. Vá ao cemitério, segure o boneco com a mão esquerda e vá espetando alfinetes e agulhas virgens no boneco. A cada parte do boneco que for espetada, deve-se dizer: Com este alfinete estou atingindo fulano na perna, na cabeça e assim por diante. Depois de espetar todas as partes do corpo, enfie uma agulha no coração do boneco e diga as mesmas palavras. A seguir, enterre o boneco aos pés de um defunto fresco e peça a este que o leve com ele.[4]

Trabalho para que todos os mortos persigam alguém

Fonte: Mandinga ensinada por Márcia Cristina Neves.

Obtenha uma amostra do cabelo da vítima, e coloque-a num pequeno caixão. Enterre-o num cemitério. Em três dias a pessoa morrerá.[5]

Exemplos de Casos Concretos

Fonte: Pesquisa de campo de Clarival do Prado Valladares.

O achado mais estranho nessas pesquisas ocorreu no velho cemitério, de cripta, no antigo Convento de São Francisco, de Vila Velha de Alagoas, hoje Deodoro. O cemitério em desuso, com entrada de alçapão pela Capela do Sacramento, consta de uma cripta de cerca de 4 X 6 m em correspondência às dimensões da capela, com carneiros construídos nas paredes laterais e lajes de campas. Sua coberta tem a altura máxima de 2,5 m. Fizemos a documentação fotográfica com um refletor que providencialmente nos serviu para o exame detalhado das inumeráveis inscrições de nomes de pessoas e datas recentes, até de 1965, em letras de imprensa e de uma mesma caligrafia, enchendo totalmente o forro abobadal da cripta. De maneira alguma aquelas inscrições, feitas a fumo de velas, contra o reboco, poderiam corresponder aos nomes dos sepultados. Praticamente todas as datas já estavam fora do seu uso, e nem há sinais nem notícias de sepultamento nestes últimos decênios. Encontramos urnas de restos mortais trasladados, violadas, com os ossos, cabelos e fragmentos de vestes, espalhados sobre um batente.

As freiras que dirigem o educandário instalado no antigo convento franciscano de Deodoro nada sabem informar porque é uma ocorrência antes da presença delas. Em nossa interpretação trata-se de prática de feitiçaria, com uma caligrafia idêntica para várias inscrições, cujos nomes não parecem ser de mortos, mas de indiciados do fetichismo. Nada mais podemos indicar sobre esses achados, ignorados pelas pessoas locais, senão a evidência das fotografias.

No velho Cemitério de N. S. do Rosário (1875), das ruínas de Iguaçu Velha, além da prática de macumba em torno do Cruzeiro, que tem ação votiva e de apelo nas viscitudes dos crentes, há os restos de um luxuoso e impotente jazigo de cerca de cinco metros de altura construído em base de alvenaria revestida de laje de mármore, pedestal e nicho em colunatas de mármore. Próximo deste jazigo encontram-se os restos da base de uma capela-jazigo cuja entrada foi fechada por parede de alvenaria e na qual, posteriormente, se fez uma abertura de 40 X 50 cm. Examinando o interior desta capela-jazigo, com o foco de uma lanterna, encontramos uma quantidade espantosa de objetos de uso pessoal (roupas, cartas, retratos, vidros, terços, etc.) e todas as paredes preenchidas com nomes e datas de pessoas riscadas a carvão, grafite, tinta, e também a fumo de vela. Há uma certa semelhança entre esta observação e aquela outra de Deodoro, de Alagoas. Nossa cautela está em diferenciar a prática ingênua da macumba, em termos de ação votiva e de apelo, com esta outra de caráter de feitiçaria demonológica capaz de atingir a criminalidade do vandalismo, do sacrifício e do infanticídio que não é tão desconhecido do próprio noticiário dos jornais brasileiros.[6]

Trabalho para matar alguém

Fonte: Mandinga compilada pela revista Homem Mito e Magia.

Em 1939, teria chegado mais uma receita, procedente de Illinois, Estados Unidos: “Uma maneira segura de matar um homem é colocar sua imagem sob uma cantoneira do telhado da casa de quem executa o feitiço, durante tempo chuvoso, e deixar que a água pingue sobre ela”.[7]

O Maléfico da Figura de Cera

Fonte: Mandinga ensinada por N. A. Monina.

Pegue um pedaço de cera virgem, amolece-o em água quente, modela então com ele uma figurinha, pensando intensamente nas pessoas que queres enfeitiçar: “Fulano de Tal, à tua semelhança faço esta efígie para que tu fiques amarrado a ela de tal maneira que teu corpo seja seu corpo e o seu seja lugar de todas as sensações”.

Se tens cabelos, algum dente ou aparas de unhas provenientes da pessoa que estás enfeitiçando, põe na figura e, se possuis roupas ou peças interiores usadas pela vítima, faze com elas um vestuário que o relembre quanto seja possível.

Disposta assim a figura, uma noite à hora de Saturno atravessa-a em todos os sentidos, com agulhas ou espinhos envenenados, cobre-a de injúrias e maldições em nome de Guland, imaginando firmemente que tens à tua frente a mesma pessoa de corpo e alma; joga por fim o boneco no fogo.

Se tudo isto fizeres como digo, pondo toda tua fé e força de vontade, não duvides de que, como a cera se derreterá e consumirá, assim se consumirá a pessoa sofrendo dores agudas em todas as partes correspondentes às feridas feitas na figura.

Eis a descrição do enfeitiçamento clássico, que se encontra com ligeiras variações na maioria dos antigos grimórios. Em alguns, à descrição copiada, acrescenta-se: “A figurinha de cera pode ser substituída por um sapo vivo” mas as imprecações são as mesmas. Outra prática requer que o sapo seja amarrado com cabelos da vítima e, depois de ter cuspido sobre ele, enterra-se sob a entrada da casa da pessoa enfeitiçada ou em outro sítio sobre o qual a pessoa tenha que passar com freqüência.[8]

Castigo de Amor

Fonte: Livro Vermelho e Negro de São Cipriano (versão de Murzin G Gemwy).

Para se castigar alguém que não cede às nossas solicitações amorosas, se for mulher, consiga um sapo e, segurando-o com a mão direita, estando inteiramente nua, passe-o pela barriga, até o sexo, por sete vezes, dizendo: “Sapo, sapinho, assim como eu te passo na minha vagina, assim também (fulano) não tenha sossego nem descanso, enquanto não me procurar para praticar aquilo que desejo, ficando sob meu poder, de corpo e alma”.

Pega-se linha de retroz verde, com uma agulha bem fina, e costura-se as pálpebras do sapo, com o máximo cuidado para não cegá-lo (se isso acontecer poderá cegar a pessoa a quem se destina a magia) dizendo: “Assim como este sapo deixará de ver, (fulano) também deixará de ver outras mulheres, tendo olhos só para mim”.

Guarda-se o sapo em uma gaiola onde se deverá alimentá-lo até ter conseguido tudo. Depois disso, com uma tesourinha de unha, corta-se a linha e solta-se o sapo em alguma lagoa.[9]

Como fazer uma mulher apaixonar-se por um homem

Fonte: Picatrix.

Faz-se a imagem de cada um deles com pó de pedra, misturado com goma e, depois, colocam-se as imagens, frente a frente, em um vaso com sete brotos; queima-se o vaso no forno, a seguir acende-se o fogo na lareira e põe-se um pedaço de gelo no fogo; quando o gelo derrete, tira-se o vaso e a feitiçaria está completa. O fogo derretendo o gelo representaria o amor aquecendo os corações do homem e da mulher.[10]

 Magia negra ou feitiçaria que se faz com dois bonecos para fazer mal a qualquer criatura

Fonte: Antigo Livro de São Cipriano (versão de N. A. Molina).

Fazei dois bonecos. Um deles significa a criatura a quem se vai fazer o feitiço, e o outro significa o que vai enfeitiçar. Depois que os ditos bonecos estejam prontos, deveis uni-los um ao outro, de maneira que fiquem muito abraçados. Depois de tudo isto pronto, atrai-lhes a ambos uma linha em volta do pescoço, como quem os Está a esganar, e depois de feita esta operação pregai-lhe cinco pregos, nas partes indicadas:

1° Na cabeça, que vare um e outro.

2º No peito, da mesma maneira.

3° No ventre, que vare de um lado ao outro.

4° Nas pernas, que vare de um ao outro lado.

5° Nos pés, de modo que lhes fure de um lado ao outro.

Há ainda uma condição é que os ditos pregos devem ser empregados com acompanhamento das seguintes invocações nos diferentes sítios em que se espetam:

1° prego — Fulano ou fulana, eu, fulano, te prego e te amarro e espeto o corpo, tal e qual como espeto, amarro e prego a tua figura.

2º prego — Fulano ou fulana, eu fulano, te juro debaixo do poder de Lúcifer e Satanás que, de hoje para o futuro, não hás de ter nem uma hora de saúde.

3° prego — Fulano ou fulana, eu fulano, te juro debaixo do poder da mágica malquerença, que não hás de hoje para o futuro, ter uma só hora de sossego.

4° prego — Fulano ou fulana, eu fulano, te juro debaixo do poder de Maria Padilha, que de hoje para o futuro ficarás possesso de todo o feitiço.

5° prego — Fulano ou fulana, eu fulano, te prego e amarro dos pés à cabeça, pelo poder da mágica feiticeira.

Desta forma a criatura enfeitiçada nunca mais pode ter uma hora de saúde.[11]

Exemplo de caso concreto

Fonte: Pesquisa de campo de Letícia Matheus e testemunho de Glória Perez.

 

Os ossos da atriz Daniella Peres, assassinada em 28 de dezembro de 1992, foram transferidos pela família para um lugar não revelado, depois que foi constatada a violação do túmulo da atriz, no Cemitério São João Batista, em Botafogo. De acordo com a novelista Glória Perez, mãe da vítima, o túmulo foi aberto na semana do Natal, e, dentro dele, havia flores do cruzeiro. Ao lado, foram encontrados dois bonecos amarrados e espetados com alfinetes. Na lápide, uma inscrição indicava a data do assassinado. — “Havia um detalhe impressionante, que nos remete à noite do crime: bem junto ao corpo dela, havia ossos de um animal grande serrados. As pontas da sapatilha que enfeita o túmulo também foram cuidadosamente serradas” — contou Glória, revoltada com o vandalismo. (…) Na época do assassinato da atriz Daniella Perez, a escritora Glória Perez acreditava que ela teria sido morta num ritual de magia negra. Próximo ao seu corpo foram achados ossos e na casa onde Guilherme e Paula moravam, em Copacabana, a polícia encontrou uma imagem de um preto velho. Uma ex-empregada confirmou que o casal praticava rituais. (…) A tese de que a atriz teria sido morta num ritual ganhou as páginas dos jornais, mas a polícia não levou a sério a hipótese de a jovem ter sido assassinada em meio a um espetáculo macabro. Ao ser encontrada, Daniella tinha 18 perfurações no corpo.[12]

Para livrar alguém da perseguição dos fantasmas

Fonte: Livro do Touro Negro.

Aquele que souber pintar ou desenhar poderá ver-se livre, muito facilmente, de algum fantasma que o perseguir. E é que, ao desenhar o fantasma, estará fazendo com que ele fique preso na tela ou no papel. E o que se desenhar ou pintar há de ser o mais possível semelhante ao fantasma que se vê, porque só assim ficará ele preso. E de outra maneira não ficará.[13]

Para livrar alguém da perseguição de vampiros

Fonte: Manual Prático do Vampirismo.

Os que se crêem perseguidos por vampiros devem pintar numa tela esses vampiros, ou desenhá-los num papel. Uma vez pintados ou desenhados, os vampiros ficam presos, e deixam de importunar os seres humanos. Quem tiver habilidade para pintar ou desenhar deve aproveitar essa habilidade para livrar-se dos vampiros que sugam o nosso sangue durante à noite.[14]

O Alfabeto Simpático

Fonte: Magia ensinada por Gérard Encause (1865-1916).

Este gênero de operação consiste em traçar algumas letras sobre o braço, por meio de uma agulha e em introduzir sangue de um amigo na incisão feita.

Esta operação deve ser praticada igualmente sobre o indivíduo com o qual se deve entrar em correspondência e, então, por muito afastado que esteja um do outro, podem ambos se comunicarem certos acontecimentos, dando o que avisa uma ligeira picada em certas letras de seu braço, e que será sentida imediatamente por aquele com quem se comunica.[15]

Feitiço contra distúrbio na produção de Oxitocina

Fonte: Wier, V. IX.

Para um homem que quer curar-se do amor infeliz que apaixonadamente devota a uma mulher, que ponha excremento mole dessa mulher no sapato, porque o seu cheiro fará diminuir nele progressivamente a chama![16]

Notas

[1] GEMWY, Murzim G. O Grande e Legítimo Livro Vermelho e Negro de São Cipriano. São Paulo, Edrel, p 77.

[2] BAKKATUYU, Sirih. Livro do Touro Negro. Rio de Janeiro, Ediouro, p 87.

[3] STAMM, Samuel. O Livro de São Cipriano. Rio de Janeiro, Rede Carioca, 2002, p 103.

[4] NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, p 85.

[5] NEVES, Márcia Cristina A. Do Vodu à Macumba. São Paulo, Tríade, 1991, 72.

[6] VALLADARES, Clarival do Prado. Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros: Um estudo da arte cemiterial ocorrida no Brasil desde as sepulturas de igrejas e as catacumbas de ordens e confrarias até as necrópoles secularizadas. Vol I. Rio de Janeiro, Departamento de Imprensa Nacional, 1972, p 439-1440.

[7] A MAGIA DA IMITAÇÃO. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p 44.

[8] LE DRAGON ROUGE. Em: N. A.MOLINA. Nostradamus, a Magia Branca e a Magia Negra. (2a edição). Rio de Janeiro, Espiritualista, p 122-124.

[9] GEMWY, Murzim G. O Grande e Legítimo Livro Vermelho e Negro de São Cipriano. São Paulo, Edrel, p 67.

[10] PICATRIX. Em: Homem, Mito & Magia. São Paulo, Três, 1973, p 45.

[11] N. A.MOLINA. Antigo Livro de São Cipriano: O gigante e verdadeiro Capa de Aço. (29a edição). Rio de Janeiro, Espiritualista, p 240-241.

[12] MATHEUS, Letícia. Túmulo de atriz é violado. Em: EXTRA, 2ª edição, 30/12/1999, p 12.

[13] BAKKATUYU, Sirih. Livro do Touro Negro. Rio de Janeiro, Ediouro, p 76.

[14] LIANO JR, Nelson e COELHO, Paulo. Manual Prático do Vampirismo. 1ª ed. Rio de Janeiro, ECO, 1986.

[15] PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trd. E. P. São Paulo, Pensamento, 1978, p 401.

[16] DUMAS, François Ribadeau. Arquivos Secretos da Feitiçaria e da Magia Negra. Trd. M. Rodrigues Martins. Lisboa, Edições 70, 1971, p 126.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/feiticos-de-envultamento/

Afinal de contas, o que torna o TdC Especial?

Por Frater Dybbuk,, Zelator do AA

Nos dias de hoje, onde qualquer estudante de primeiro ano de filosofia pode inventar para si um titulo pomposo e criar um blog esotérico para tentar impor suas verdades, e dezenas de blogs de magias e pactos e ordens e curiosos de todos os calibres esquisotéricos surgem a cada dia na internet, como podemos saber se determinado autor é confiável?

Eu me fiz essa pergunta oito anos atrás, quando encontrei com o Del Debbio pela primeira vez em uma loja Maçônica, em uma palestra sobre “Kabbalah Hermética” (que vocês ja devem ter assistido pelo menos alguma versão dela. São todas iguais, mas todas diferentes. Só assistindo duas para ver. Para quem não viu, tem um link de uma delas no youtube Aqui). Adoro essa palestra porque sempre os judeus tradicionais se arrepiam todo quando ele faz as correlações da árvore das vidas com outras religiões. E este, talvez, seja o maior legado que ele deixará na história do Hermetismo.

Mas o que o gabarita para fazer estas afirmações?

Talvez porque a história do MDD dentro das Ordens iniciáticas seja única. A maioria de nós, estudiosos do ocultismo pré-internet, começávamos pela revista Planeta, depois comprávamos os livros da editora Pensamento, entrávamos na Maçonaria, em alguma ordem rosacruz e seguíamos pela senda sem nunca travarmos contato com outras vertentes. Quem é da macumba, caia em um terreiro escondido no fundo de algum quintal e ficava por lá décadas, isolado. Cada um com suas verdades…

O DD começou em 1989 lá na Inglaterra. E ainda teve sorte (se é que alguém aqui ainda acredita que existam coincidências) de cair em um craft tradicional de bruxaria, com a parte magística da coisa (que inclui incorporações) e contato com o pessoal da SRIA, do AA e de outros grupos rosacruzes. Quando voltou para o Brasil, talvez tivesse ficado trancado em seu quarto estudando e nunca teríamos este blog… mas ele também foi um dos primeiros Jogadores de RPG aqui no Brasil. (RPG é a sigla de um jogo que significa “role playing games” ou jogos de teatro). Em 1995 publicou um livro que utilizava o cenário medieval de mitologias reais em um jogo que foi um dos mais vendidos da história do RPG no Brasil (Arkanun). Por que isso é importante?

Porque ele se tornou uma espécie de celebridade pop. E isso, como veremos, foi de importância vital para chegarmos onde estamos hoje (vai anotando as coincidências ai…).

Bem, o DD se graduou em arquitetura e fez especializações em história da arte, semiótica e história das religiões comparadas. De um trabalho de mais de dez anos de pesquisas, publicou a Enciclopédia de Mitologia, um dos maiores trampos sobre o assunto no Brasil.

Com a faculdade veio a maçonaria e aqui as coisas começam a ficar interessantes. Por ser um escritor famoso, ele conheceu o Grande Secretário de Planejamentos do GOB, Wagner Veneziani Costa, um dos caras mais importantes e influentes dentro da maçonaria, editor da Madras, uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço e fundador da loja maçônica Madras, que foi padrinho do Del Debbio. E aqui entra o ponto que seria crucial para a história do hermetismo no Brasil, a LOJA MADRAS.

No período de 2004 a 2008, a ARLS Madras contou entre seus membros com pessoas como Alexandre Cumino (Umbanda), Rubens Saraceni (Umbanda Sagrada), Johhny de Carli (Reiki), Cláudio Roque Buono Ferreira (Grão Mestre do GOB), Sérgio Pacca (OTO, Thelemita e fundador da ARLS Aleister Crowley), Mario Sérgio Nunes da Costa (Grão Mestre Templário), Adriano Camargo Monteiro (LHP, Dragon Rouge), José Aleixo Vieira (Grande Secretário de Ritualística), Severino Sena (Ogan), Waldir Persona (Umbanda e Candomblé), Carlos Brasilio Conte (Teosofia), Alfonso Odrizola (Umbanda, diretor da Tv espiritualista), Ari Barbosa e Cláudio Yokoyama (Magia Divina), Marco Antônio “Xuxa” (Martinismo), Atila Fayão (Cabalá Judaica), César Mingardi (Rito de York), Diamantino Trindade (Umbanda), Carlos Guardado (Ordem da Marca), Sérgio Grosso (CBCS), entre diversos outros experts em áreas de hermetismo e ocultismo. Agora junte todos estes caras em reuniões quinzenais onde alguém apresentava uma palestra sobre um tema ocultista e os outros podiam questionar e debater sobre o assunto proposto com seus pontos de vista e você começará a ter uma idéia do que isso representou em termos de avanço do conhecimento.

Entre diversas contribuições para a maçonaria brasileira, trouxeram o RER (Rito Escocês Retificado), O Rito Maçônico-Martinista, para o Brasil, fundando a primeira loja do rito, ARLS Jerusalem Celeste, em SP, e organizaram as Ordens de Aperfeiçoamento (Marca, Nauta, Arco Real, Templários e Malta). O Del Debbio chegou a ser Grande Marechal Adjunto da Ordem Templária em 2011/2012.

Em paralelo, tínhamos a ARLS Aleister Crowley e a ARLS Thelema, onde naquela época se estudava magia prática e trocávamos conhecimento com a OTO no RJ (Loja Quetzocoatl, com minha querida soror Babalon) e a Ordem dos Cavaleiros de Thelema (que, dentre outros, tivemos a honra de poder conversar algumas vezes com Frater Áster – Euclydes Lacerda – antes de seu falecimento em 2010). Além disso, tínhamos acesso a alguns dos fundadores do movimento Satanista em São Paulo e Quimbandeiros (cujos nomes manterei em segredo para minha própria segurança ).

Palestra no evento de RPG “SANA”, em 2006. Eu avisei que ele era subcelebridade, não avisei? Bem… nesse meio tempo, o MDD já estava bem conhecido dentro das ordens Iniciáticas, dando diversas palestras e cursos fechados apenas para maçons e rosacruzes. De dia, popstar; de noite, frequentando cemitérios para desfazer trabalhos de magia negra com a galera do terreiro. Fun times!

Ok, mas e a Kabbalah Hermética?

O lance de toda aquela pesquisa sobre Mitologia e suas correlações com a Cabalá judaica o levou a estudar a Torah e a Cabalá com rabinos e maçons do rito Adonhiramita por 5 anos, tendo sido iniciado na Cabalá Sefardita em um grupo de estudos iniciáticos coordenado pelo prof. Edmundo Pellizari (Ras Adeagbo). Apesar da paixão e conhecimento pela cultura judaica, ele escolheu não se converter (segundo palavras do próprio “Não tem como me converter ao judaísmo; como vou ficar sem filé à Parmigiana?“). Seus estudos se intensificaram entre os textos de Charles “Chic” Cicero via suas publicações na Ars Quatuor Coronatorum, nas Lojas Inglesas e os textos de Tabatha Cicero via Golden Dawn.

A idéia da Kabbalah associada aos princípios alquímicos, unificando tarot, alquimia e astrologia sempre levantou uma guerra com os judeus ortodoxos, que consideram a Cabalá algo profundamente vinculado à sua religião (por isso costumamos grafar estas duas palavras de maneira diferente: Kabbalah e Cabalá.

Em 2006, Adriano Camargo publica o “Sistemagia”, um dos melhores guias de referência de Kabbalah Hermetica, onde muitas das correlações debatidas em loja foram aproveitadas e organizadas.

No meio de todos estes processos de estudos, chegamos em 2007 em uma palestra na qual estava presente o Regis Freitas, mais conhecido como Oitobits, do site “Sedentário e Hiperativo”, que perguntou a ele se gostaria de ter um blog para falar de ocultismo. O nome “Teoria da Conspiração” foi escolhido pelo pessoal do S&H e em poucas semanas atingiu 40.000 leitores por post.

Del Debbio se torna a primeira figura “pública” dentro do ocultismo brasileiro a defender uma correlação direta entre os orixás e suas entidades com as Esferas da Árvore das Vidas e as entidades helênicas evocadas nos rituais da Golden Dawn “Apenas uma questão de máscaras que a entidade espiritual escolherá de acordo com a egrégora em que estiver trabalhando” disse uma vez em uma entrevista.

Estes trabalhos em magia prática puderam ser feitos graças ao intercâmbio de conhecimentos na ARLS Madras, pois foi possível que médiuns umbandistas estudassem hermetismo, kabbalah e cabalá em profundidade e, consequentemente, as entidades que trabalham com eles pudessem se livrar das “máscaras” africanas e trabalharem com formas mais adequadas, como alquimistas, templários e hermetistas. Com a ajuda dos terreiros de Umbanda Sagrada, conseguimos trabalhar até com judeus estudiosos da cabalá que eram médiuns, cujas entidades passaram grandes conhecimentos sobre correspondências dos sistemas judaico e africano, bem como de sua raiz comum, o Egito. A maioria deste conhecimento ainda está restrito ao AA, ao Colégio dos Magos e a outros grupos fechados mas, aos poucos, conforme instruções “do lado de lá”, estão sendo gradativamente abertos.

Em 2010, conhece Fernando Maiorino, diretor da Sirius-Gaia e ajuda a divulgar o I Simpósio de Hermetismo, onde participam também o Frater Goya (C.I.H.), Acid (Saindo da Matrix), Carlos Conte (Teosofia), Renan Romão (Thelema) e Ione Cirilo (Xamanismo). Na segunda edição, em 2011, participam além dos acima o monge Márcio Lupion (Budismo Tibetano), Mário Filho (Islamismo), Alexandre Cumino (Umbanda), Adriano Camargo (LHP), Gilberto Antônio (Taoísmo) e Lázaro Freire (projeção Astral).

A terceira edição ampliou ainda os laços entre os pesquisadores, chamando Felipe Cazelli (Magia do Caos), Wagner Borges (Espiritualista), Claudio Crow (Magia Celta) e Giordano Cimadon (Gnose).

O Blog do “Teoria da Conspiração” também cresce, agregando pensadores semelhantes. Além de textos de todos os citados neste post, também colaboram estudiosos como Jayr Miranda (Panyatara, FRA), Kennyo Ismail (autor do blog “No Esquadro” e um dos maiores pesquisadores contemporâneos sobre maçonaria), Aoi Kwan (Magia Oriental), Raph Arrais (responsável pelas belíssimas traduções da obra de Rumi), o Autor do blog “Maçonaria e Satanismo” (cujo nome continua em segredo comigo!), Tiago Mazzon (labirinto da Mente), Fabio Almeida (Música e Hermetismo), Danilo Pestana (Satanismo), Bruno Cobbi (Ciganos), PH Alves e Roe Mesquita (Adeptus), Frater Alef (Aya Sofia), Jeff Alves (ocultismo BR), Yuri Motta (HQs e Ocultismo), Djaysel Pessoa (Zzzurto), Leonardo lacerda e Hugo Ramirez (Ordem Demolay).

A ARLS Arcanum Arcanorum, braço maçônico da Ordem de Estudos Arcanum Arcanorum, que trabalha em conjunto com a SOL (Sociedade dos Ocultistas Livres), o Templo Aya Sofia, o Colégio dos Magos e o Teoria da Conspiração.

E os frutos desse trabalho se multiplicaram. Com o designer Rodrigo Grola, organizou o Tarot da Kabbalah Hermética, possivelmente um dos melhores e mais completos tarots que existem, além dos pôsteres de estudo. Hoje seus alunos estão desenvolvendo HQs, Livros, Músicas, dando aulas e até mesmo produzindo um Filme baseado nos estudos da Kabbalah Hermética (“Supernova”).

E o estudo de mitologias comparadas, kabbalah e astrologia hermética nunca mais será o mesmo. Isso se chama LEGADO.

E ai temos a resposta que tive para a pergunta do início do texto: Como saber se um autor é confiável? Oras, avaliando toda a história dele e quais são suas bases de estudo, quem são seus professores, quais as pessoas que o ajudam e quem são seus inimigos. Quais são os caras que ele pode perguntar alguma coisa quando tem dúvida? e quais são os caras que tentam atrapalhar o seu trabalho?

—-

Pronto. Aqui está o texto que eu tinha prometido sobre os doze anos de Blog. Parabéns, Frater Thoth, já passou da hora de alguém começar a organizar uma biografia decente sobre os seus trabalhos.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/afinal-de-contas-o-que-torna-o-tdc-especial