Existe diferença entre Felicidade e Paz Interior?

Retirado do livro O poder do agora, de Eckhart Tolle:

Existe diferença entre felicidade e paz interior?
Existe. A felicidade depende de circunstâncias consideradas positivas, ao passo que a paz interior não precisa delas.

Há possibilidade de só atrairmos coisas positivas para as nossas vidas? Se a nossa atitude e o nosso pensamento forem sempre positivos, só haverá situações e acontecimentos positivos, não é mesmo?
Você pode afirmar, com certeza, o que é positivo e o que é negativo? Já fez o levantamento completo? Muitas pessoas devem ter aprendido bastante com as suas próprias limitações, seus fracassos, suas perdas, suas doenças e sofrimentos. Tudo isso ensinou-as a se desfazer das imagens falsas que tinham de si mesmas, dos desejos e objetivos superficiais ditados pelo ego e lhes deu profundidade, humildade e compaixão. Fez delas pessoas mais reais. Sempre que acontece alguma coisa negativa, há sempre uma lição embutida, embora nem sempre se perceba isso na hora. Uma doença ou um acidente pode mostrar o que há de real ou irreal em uma situação, aquilo que é importante e o que não é.

De uma perspectiva mais elevada, as circunstâncias são sempre positivas. Para ser mais preciso, elas não são positivas nem negativas. São do jeito que são. E quando aceitamos as coisas como são, o “bem” ou o “mal” deixam de existir em nossas vidas. Só o que existe é um bem supremo, que inclui o “mal”. Mas, pela perspectiva da mente, existe o bem e o mal, o igual e o diferente, o amor e o ódio. É por isso que no Livro do Gênesis está escrito que Adão e Eva não tiveram mais permissão para habitar o “paraíso” quando “comeram da árvore do conhecimento do bem e do mal”.

Lembre-se de que não estamos aqui tratando de felicidade. Por exemplo, quando a pessoa amada acabou de morrer, ou se sentimos a nossa própria morte se aproximar, não podemos nos sentir felizes. É impossível. Mas podemos estar em paz. Pode até haver tristeza e lágrimas, mas, se deixarmos de resistir, conseguiremos perceber uma profunda serenidade por baixo da tristeza, uma calma, uma presença sagrada. Isso é a emanação do Ser, isso é a paz interior, o bem que não tem opositores.

Parece que a maioria das pessoas precisa vivenciar uma grande carga de sofrimento antes de abandonar a resistência e aceitar, isto é, antes de perdoar. Com o perdão, acontece o milagre do despertar da consciência do Ser, através do que aparenta ser o mal: a transformação do sofrimento em paz interior. Todo o mal e todo o sofrimento do mundo vão nos forçar a descobrir quem somos realmente. Assim, aquilo que, de uma perspectiva limitada, percebemos como o mal é, na verdade, parte de um bem maior que não tem opositores. Entretanto, isso só se torna uma verdade através do perdão. Sem ele, o mal permanece como mal.
Através do perdão – que significa reconhecer a falta de consistência do passado e permitir que o momento presente seja como é -, acontece o milagre da transformação, não só no lado de dentro, mas também do lado de fora. Um espaço silencioso de uma presença intensa surge dentro de nós e à nossa volta. Quem quer e o que for que penetre no campo da consciência será afetado, algumas vezes de forma clara e imediata, outras em níveis mais profundos, com mudanças só notadas algum tempo depois. Você dissolve a discórdia, cura o sofrimento, desfaz a inconsciência, sem fazer nada, simplesmente sendo e sustentando essa freqüência de presença intensa.

A impermanência e os ciclos da vida

Enquanto permanecermos na dimensão física e em conexão com a psique humana coletiva, o sofrimento, embora raro, ainda pode acontecer. Não devemos confundi-lo com o sofrimento emocional. Todo sofrimento é criado pelo ego e fruto de uma resistência. Além disso, nessa dimensão, ainda nos sujeitamos à natureza cíclica e à lei da impermanência de todas as coisas, mas já não vemos mais o sofrimento como uma coisa “má”. Ele simplesmente é.

No nível da forma existe nascimento e morte, criação e destruição, crescimento e dissolução de espécies aparentemente independentes. Podemos ver isso em tudo: no ciclo da vida de uma estrela ou de um planeta, em um corpo físico, em uma árvore, em uma flor. Existem ciclos de sucesso, como quando as coisas acontecem e dão certo, e ciclos de fracasso, quando elas não vão bem e se desintegram. Você tem de permitir que elas terminem, dando espaço para que coisas novas aconteçam ou se transformem. Se nos apegamos às situações e oferecemos uma resistência nesse estágio, significa que estamos nos recusando a acompanhar o fluxo da vida e que vamos sofrer. Não é verdade que o ciclo ascendente seja bom e o ciclo descendente seja ruim, a não ser no julgamento da mente. O crescimento é, em geral, considerado positivo, mas nada pode crescer para sempre. Se o crescimento nunca tivesse fim, poderia acabar em algo monstruoso e destrutivo. É necessário que as coisas acabem, para que coisas novas aconteçam.

O ciclo descendente é absolutamente essencial para uma realização espiritual. Você tem de ter falhado gravemente de algum modo, ou passado por alguma perda profunda, ou algum sofrimento, para ser conduzido à dimensão espiritual. Ou talvez o seu sucesso tenha se tornado vazio e sem sentido e se transformado em fracasso. O fracasso está sempre embutido no sucesso, assim como o sucesso está sempre encoberto pelo fracasso. Nossa energia física também está sujeita a ciclos. Não consegue estar sempre no máximo. Teremos momentos de baixa e de alta energia. Em alguns períodos, estaremos altamente ativos e criativos, mas em outros tudo vai parecer estagnado, teremos a impressão de não estarmos indo a lugar nenhum, nem conseguindo nada. Um ciclo pode durar de algumas horas a alguns anos e dentro dele pode haver ciclos longos ou curtos. Muitas doenças são provocadas pela luta contra os ciclos de baixa energia, que são fundamentais para uma renovação. Enquanto estivermos identificados com a mente, não poderemos evitar a compulsão de fazer coisas e a tendência para extrair o nosso valor de fatores externos, tais como as conquistas que alcançamos. Isso torna difícil ou impossível para nós aceitarmos os ciclos de baixa e permitirmos que eles aconteçam. Assim, a inteligência do organismo pode assumir o controle, como uma medida autoprotetora, e criar uma doença com o objetivo de nos forçar a parar, de modo a permitir que uma necessária renovação possa acontecer.

A natureza cíclica do universo está intimamente ligada à impermanência de todas as coisas e situações. Buda fez disso uma parte central de seu ensinamento. Todas as circunstâncias são altamente instáveis e estão em um fluxo constante, ou, como ele colocou, a impermanência é uma característica de cada circunstância, de cada situação com que vamos nos deparar na vida. Elas vão se modificar, desaparecer, ou deixar de proporcionar prazer. A impermanência também é um ponto central dos ensinamentos de Jesus: “Não acumule tesouros na terra, onde as traças e a ferrugem arruínam tudo, onde os ladrões arrombam as paredes para roubar…”

Enquanto a mente julgar uma circunstância “boa”, seja um relacionamento, uma propriedade, um papel social, um lugar, ou o nosso corpo físico, ela se apega e se identifica com ela. Mas nada dura muito nessa dimensão, onde as traças e a ferrugem devoram tudo. Tudo acaba ou se transforma: a prosperidade de hoje se torna o consumismo vazio de amanhã. O casamento feliz e a lua-de-mel se transformam no divórcio infeliz ou em uma convivência infeliz. A mente não consegue aceitar quando uma situação com a qual ela tenha se apegado muda ou desaparece. Ela vai resistir à mudança. É quase como se um membro estivesse sendo arrancado do seu corpo. Buda ensinou que até mesmo a felicidade pessoal é dukka – uma palavra da língua páli que significa “sofrimento” ou “insatisfação”. Ela é inseparável do seu oposto. Significa que a felicidade e a infelicidade são, na verdade, uma coisa só. Somente a ilusão do tempo as separa. Isso não significa uma negatividade. É simplesmente reconhecer a natureza das coisas, para não viver atrás de uma ilusão pelo resto da vida. Nem quer dizer que você não deva mais apreciar os objetos e as circunstâncias agradáveis e bonitas. Porém, usá-los para procurar aquilo que não podem dar – uma identidade, um sentido de permanência e satisfação – é uma receita para a frustração e o sofrimento.

Toda a indústria da propaganda e a sociedade de consumo entrariam em colapso se as pessoas se tornassem iluminadas e deixassem de tentar encontrar as suas identidades através dos objetos. Quanto mais usarmos esse caminho para encontrar a felicidade, mais estaremos nos iludindo. Nada lá fora vai conseguir nos trazer satisfação, exceto por um tempo e de modo superficial. Mas talvez você precise passar por muitas decepções antes de perceber a verdade.

Nada é o que parece ser. O mundo que você criou e vê através da mente pode parecer um lugar bem imperfeito, até mesmo um vale de lágrimas. Mas o que quer que você perceba é somente uma espécie de símbolo, como uma imagem em um sonho. É o jeito pelo qual a sua consciência interpreta e interage com a dança de energia molecular do universo. Essa energia é o material bruto da assim chamada realidade física. Você a vê em termos de corpos e de nascimento e morte, ou como uma luta pela sobrevivência. Existe um número infinito de interpretações diferentes, de mundos completamente diferentes, tudo dependendo do que a consciência percebe. Cada ser é um ponto focal da consciência e cada ponto focal cria o seu próprio mundo, embora todos esses mundos se interliguem. Existe um mundo humano, um mundo das formigas, um mundo dos golfinhos, etc. Existem incontáveis seres cuja freqüência de consciência é tão diferente da nossa que provavelmente não temos consciência da existência deles, assim como eles não têm da nossa. Seres altamente conscientes da ligação que mantêm com a Fonte habitam um mundo que para nós pareceria com um domínio celeste. Mas ainda assim todos os mundos são basicamente um só.

A alegria não tem uma causa e brota dentro de nós como a alegria do Ser. É uma parte essencial do estado de paz interior, conhecido como a paz de Deus. É o nosso estado natural, não algo por que tenhamos de lutar para conseguir. As pessoas, em geral, não percebem que a “salvação” não está em nada do que façam, possuam ou consigam. Aquelas que percebem ficam, muitas vezes, enfastiadas do mundo e deprimidas. Se nada pode lhes dar um verdadeiro prazer, será que resta alguma coisa por que se empenhar? Com que objetivo? O profeta do Velho Testamento deve ter chegado a essa conclusão quando escreveu: “Tenho visto tudo o que se faz debaixo do sol e eis que tudo é vaidade e uma luta contra o vento”. Quando você chega a esse ponto, está a um passo do desespero e um passo mais longe da iluminação.

Todos os males são efeito da inconsciência. Podemos aliviar os efeitos da inconsciência, mas não podemos eliminá-los, a menos que eliminemos sua causa. A verdadeira transformação acontece no interior, não no exterior. Sem uma profunda mudança na consciência humana, o sofrimento é um buraco sem fundo. Se você quiser realmente ajudar, atue no efeito, mas principalmente na causa.

Se quiser impedir que os seres humanos destruam uns aos outros e acabem com o planeta, lembre-se de que, assim como não consegue combater a escuridão, você também não pode combater a inconsciência. Se tentar fazer isso, a oposição polar vai se tornar fortalecida e mais profundamente arraigada. Você vai se identificar com uma das polaridades, vai criar um “inimigo” e será conduzido ao seu eu interior inconsciente. Eleve a consciência ao disseminar a informação, ou melhor, pratique a resistência passiva. Mas tenha a certeza de que você não carrega nenhuma resistência interior, nenhum ódio, nenhuma negatividade. “Ame os seus inimigos”, disse Jesus. O que, obviamente, significa: não tenha inimigos.

Uma vez um monge budista me disse: “Tudo o que aprendi nos vinte anos em que sou monge pode ser resumido em uma frase: Tudo o que surge, desaparece. Isso eu sei”. O que ele quis dizer foi o seguinte: aprendi a não oferecer qualquer resistência ao que é; aprendi a permitir que o momento presente aconteça e a aceitar a natureza impermanente de todas as coisas e circunstâncias. Foi assim que encontrei a paz.

A felicidade que provém de alguma coisa secundária nunca é muito profunda. É apenas um pálido reflexo da alegria do Ser, da paz vibrante que encontramos dentro de nós ao entrarmos no estado de não-resistência. O Ser nos transporta para além das polaridades opostas da mente e nos liberta da dependência da forma. Mesmo que tudo em volta desabe e fique em pedaços, você ainda sentirá uma profunda paz interior. Você pode não estar feliz, mas vai estar em paz.

#espiritualismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/existe-diferen%C3%A7a-entre-felicidade-e-paz-interior

Aceitação e Entrega

Essa semana me contaram um caso de uma mulher que, ao visitar a amiga, as plantas ao redor dela murchavam ou morriam. Acho que todo mundo conhece algum caso de “olho de seca pimenteira”, o tipo de pessoa que basta gostar ou elogiar alguma coisa viva de pequeno porte (planta, crianças, animal), que a “vítima” adoece ou fica fraca. É o caso onde a pessoa consciente ou inconscientemente rouba energia vital através do olhar. Daí que dizem pra vítima em potencial usar alguma peça de roupa ou detalhe vermelho-vivo, porque a atenção do “vampiro” (como qualquer outra pessoa) vai ser sempre atraída (ou perturbada) pela cor vermelha.

Esse negócio de planta é muito interessante!! É uma coisa que devia ser estudada pela ciência, pois ocorre NA SUA FRENTE, em pouco tempo. Não sei como funciona, mas deve ser o mesmo princípio pelo qual as plantas “sentem” o ambiente ao seu redor. Uma das plantas mais sensíveis é o manjericão, que, pelo menos na crença popular, atrai a energia ruim pra ela (evitando que vá pra alguma pessoa ou animal). Minha mãe de vez em quando usa na cozinha, onde todo mundo sempre fica tomando café e conversando, e a vida média dela num jarro com água é de alguns poucos dias, mas basta uma pessoa mais “carregada” chegar pra ela murchar COMPLETAMENTE em 1 hora apenas, não importando se ela estava verdinha e saudável 1 hora antes. Até mesmo os evangélicos estão usando essa sabedoria, quando distribuem aos seus fiéis a “rosa ungida” ou alguma coisa assim, pra levar pra casa e deixar num jarro. Eles dizem que deve-se trocar a rosa por uma nova toda vez que ela murchar, pois ela vai “limpando” a casa. É o mesmo princípio: se um parente (ou a própria pessoa) está perturbado (e comumente quem vai a centros religiosos vai em busca de paz na família e na própria vida) a rosa, tadinha, absorve aquilo e morre prematuramente. A pessoa vai continuar com seus problemas, mas pelo menos o ambiente da casa não vai ficando impregnado de fluidos mentais deletérios.

Mas, voltando ao assunto, imaginei que, se aquela mulher – sem sequer prestar atenção ao seu redor – consegue matar várias plantas, ela deve estar totalmente descompensada emocionalmente. O que se revelou uma verdade, já que ela perdeu o filho por suicídio. A dor de perder um filho deve ser a maior de todas, especialmente sendo mãe. A mulher então perdeu sua capacidade de ser auto-suficiente energeticamente e passou a ser um buraco-negro, pois aposto que tudo o que ela absorve se perde em elucubrações mentais e pensamentos que a exaurem. Recomendei então que ela fizesse trilhas, trekking, e tomasse banhos de cachoeira, para que entrasse em contato intensivo com a natureza a fim de poder pegar ao máximo energia (a floresta é GIGANTESCA fonte de energia) e, uma vez repleta (no curto espaço de tempo em que ela estivesse lá estaria “sadia”) o organismo espiritual pudesse se reequilibrar. Mas me disseram que ela detesta o contato com a natureza. Normal. Quem está deprimido só pensa em ficar trancado em casa, longe do sol. É uma forma de auto-sabotagem do ego, que simplesmente adora remoer pensamentos tristes. Por mais que a pessoa queira em sã consciência sair daquela situação, buscar uma luz, uma felicidade, a própria mente (identificada com o ego) vai trazer de volta aqueles pensamentos que você queria esquecer. Por que? Porque aquilo lhe define melhor do que qualquer coisa. A tristeza lhe traz um centramento, um recolhimento, que é o oposto da felicidade. Então, o que acontece aqui? Há um estado de negação, onde a pessoa se recusa a “largar o osso” (no caso, aceitar que deixou de ser a mãe daquele filho aqui na Terra, e tal). A solução é a entrega, a aceitação das coisas como elas são (e pra isso muitas pessoas gastam anos em terapias).

Novamente recorro ao livro de Eckhart Tolle “O poder do Agora” (eu já merecia uns mil reais pelas propagandas constantes) para ilustrar a idéia de entrega:

Para muitas pessoas, a entrega talvez tenha conotações negativas, como uma desistência, certa letargia, etc. A verdadeira entrega, entretanto, é algo completamente diferente. Não significa suportar passivamente uma situação qualquer que nos aconteça e não fazer nada a respeito, nem deixar de fazer planos ou de ter confiança para começar algo novo. A entrega é a sabedoria simples mas profunda de nos submetermos e não de nos opormos ao fluxo da vida. O único lugar em que podemos sentir o fluxo da vida é no Agora. Isso significa que se entregar é aceitar o momento presente sem restrições e sem nenhuma reserva. É abandonar a resistência interior àquilo que é. A resistência interior acontece quando dizemos “não” para aquilo que é, através do nosso julgamento mental e de uma negatividade emocional. Isso se agrava especialmente quando as coisas “vão mal”, o que significa que há um espaço entre as exigências ou expectativas rígidas da nossa mente a aquilo que é. Isso não quer dizer que não possamos fazer alguma coisa no campo exterior para mudar a situação. Na verdade, não é a situação completa que temos de aceitar quando falo de entrega, mas apenas o segmento minúsculo chamado o Agora.
Por exemplo: Você está andando por uma estrada à noite, com uma neblina cerrada, mas possui uma lanterna potente que corta a neblina e cria um espaço estreito e nítido na sua frente. A neblina é a sua situação de vida, que inclui o passado e o futuro. A lanterna é a sua presença consciente, e o espaço nítido é o Agora.

No estado de entrega, você vê claramente o que precisa ser feito e parte para a ação, fazendo uma coisa de cada vez e se concentrando em uma coisa de cada vez. Aprenda com a natureza. Veja como todas as coisas se realizam e como o milagre da vida se desenrola sem insatisfação ou infelicidade. É por isso que Jesus disse: “Olhai os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam”.

Se a sua situação geral é insatisfatória ou desagradável, separe esse instante e entregue-se ao que é. Eis aqui a lanterna cortando através da neblina. O seu estado de consciência deixa então de ser controlado pelas condições externas. Você não age mais a partir de uma resistência ou de uma reação.

Olhe para uma situação específica e pergunte-se: “Existe alguma coisa que eu possa fazer para mudar essa situação, melhorá-la ou me retirar dela?” Se houver, você toma a atitude adequada. Não se prenda às mil coisas que você vai ter que fazer em algum tempo futuro, mas na única coisa que você pode fazer agora. Isso não significa que você não deva traçar um plano. Planejar talvez seja a única coisa que você possa fazer agora. Mas certifique-se de que você não vai começar a rodar “filmes mentais”, se projetar no futuro e, assim, perder o Agora. Talvez a atitude que você tomar não dê frutos imediatamente. Até que ela dê, não resista ao que é.

Não se entregar endurece a casca do ego, e assim cria uma forte sensação de separação. O mundo e as pessoas à sua volta passam a ser vistos como ameaças. Surge uma compulsão inconsciente para destruir os outros através do julgamento e uma necessidade de competir e dominar. Até mesmo a natureza vira sua inimiga e o medo passa a governar a sua percepção e a interpretação das coisas. A doença mental conhecida como paranóia é apenas uma forma ligeiramente mais aguda desse estado normal, embora disfuncional, da consciência.

A resistência faz com que tanto a sua mente quanto o seu corpo fiquem mais “pesados”. A tensão se manifesta em diferentes partes do corpo, que se contrai para se defender. O fluxo de energia vital, essencial para o funcionamento saudável do corpo, fica prejudicado.

A negatividade é completamente antinatural. É um poluente psíquico e existe um vínculo profundo entre o envenenamento e a destruição da natureza e a grande negatividade que vem sendo acumulada na psique coletiva humana. Nenhuma outra forma de vida no planeta conhece a negatividade, somente os seres humanos, assim como nenhuma outra forma de vida violenta e envenena a Terra que a sustenta. Você já viu uma flor infeliz ou um carvalho estressado? Já cruzou com um golfinho deprimido, um sapo com problemas de auto-estima, um gato que não consegue relaxar, ou um pássaro com ódio e ressentimento? Os únicos animais que eventualmente vivenciam alguma coisa semelhante à negatividade, ou mostram sinais de comportamento neurótico, são os que vivem em contato íntimo com os seres humanos e assim se ligam à mente humana e à insanidade deles.

Vivi com alguns mestres zen – todos eles gatos. Até mesmo os patos me ensinaram importantes lições espirituais. Observá-los é uma meditação. Como eles flutuam em paz, de bem com eles mesmos, totalmente presentes no Agora, dignos e perfeitos, tanto quanto uma criatura sem mente pode ser. Eventualmente, no entanto, dois patos vão se envolver em uma briga, algumas vezes sem nenhuma razão aparente ou porque um pato penetrou no espaço particular do outro. A briga geralmente dura só alguns segundos e então os patos se separam, nadam em direções opostas e batem suas asas com força, por algumas vezes. Então continuam a nadar em paz, como se a briga nunca tivesse acontecido. Quando observei isso pela primeira vez, percebi, num relance, que ao bater as asas eles estavam soltando a energia acumulada, evitando assim que ela ficasse aprisionada no corpo e se transformado em negatividade. Isso é sabedoria natural. É fácil para eles porque não têm uma mente para manter vivo o passado, sem necessidade, e então construir uma identidade em volta dele.

#Espiritualidade #espiritualismo

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Não procure seu EU na mente

Os problemas da mente não podem ser solucionados ao nível da mente. Depois de ter compreendido a disfunção básica, não há muito mais a aprender ou a compreender. Estudar as complexidades da mente poderá fazer de você um bom psicólogo, mas isso não o levará para além da mente, tal como o estudo da loucura não basta para criar saúde mental. Já compreendeu o mecanismo básico do estado inconsciente: a identificação com a mente, a qual cria um falso eu, o ego, como substituto para o seu eu verdadeiro enraizado no Ser. Você torna-se como que um “ramo cortado da árvore”, como disse Jesus.

As necessidades do ego são inúmeras. Ele sente-se vulnerável e ameaçado e por isso vive num estado de medo e de carência. A partir do momento em que você compreende os mecanismo da disfunção básica, deixa de ser preciso explorar todas as inúmeras manifestações do ego, de fazer dele um problema pessoal complexo. É evidente que o ego adoraria isso. Andando sempre à procura de alguma coisa a que se agarrar, a fim de sustentar e fortalecer a sua ilusória sensação de identidade, o ego prontamente se agarrara aos seus problemas. É por isso que uma grande parte da sensação de identidade de tantas pessoas está intimamente ligada aos seus problemas e a última coisa que essas pessoas querem é livrar-se deles; porque isso representaria a perda do “eu”. Inconscientemente, o ego investe muito na dor e no sofrimento. Portanto, ao reconhecer que a raiz da inconsciência é a identificação com a mente, o que evidentemente inclui as emoções, você sai dela. Torna-se presente. Quando está presente, você pode permitir que a mente seja aquilo que é sem se enredar nela. A mente em si não é disfuncional. É um instrumento maravilhoso. A disfunção instala-se quando você procura nela o seu eu e faz dela a sua identidade. Torna-se então a mente egóica e dirige toda a sua vida.

Enquanto você estiver identificado com a sua mente, o ego dirigirá a sua vida, e uma parte intrínseca da mente egóica é uma sensação profundamente enraizada de falta de algo, ou de não estar completo, de não ser total. Em algumas pessoas, é uma sensação consciente, noutras inconsciente. Quando é consciente, manifesta-se na forma de um inquietante e constante sentimento de não ser digno ou suficientemente bom. Quando é inconsciente, só se sente indiretamente, sob a forma de uma intensa ânsia de possuir, de uma carência, de um precisar de qualquer coisa. Em qualquer dos casos, as pessoas começam muitas vezes a tentar satisfazer o ego de forma compulsiva e a procurar coisas com as quais se possam identificar, a fim de preencherem o vazio que sentem dentro de si. E lançam-se atrás de bens materiais, dinheiro, sucesso, poder, prestígio, ou um relacionamento especial, basicamente para se sentirem melhores consigo próprias, para se sentirem mais completas. Mas depois de alcançarem todas essas coisas, descobrem rapidamente que o vazio continua a existir, que ele não tem fim. É então que começam os problemas a sério, porque elas não se conseguem iludir mais a si próprias. Bem, na verdade conseguem, e até o fazem, mas torna-se muito mais difícil.

Já que o ego é uma sensação derivada do eu, precisa de se identificar com coisas exteriores. Precisa de ser defendido e alimentado constantemente. As identificações mais comuns do ego têm a ver com bens materiais, com o trabalho que você faz, o seu estatuto e prestígio social, os seus conhecimentos e educação, a sua aparência física, os seus relacionamentos, aptidões especiais, historial pessoal e familiar, convicções – incluindo as convicções políticas, nacionalistas, raciais, religiosas e outras identificações coletivas. Nada disso é você próprio.

NADA EXISTE FORA DO AGORA

Já algum dia experimentou, ou fez, ou pensou, ou sentiu alguma coisa fora do Agora? Pensa que algum dia isso acontecerá? Acha que é possível que alguma coisa aconteça ou seja fora do Agora? A resposta é óbvia, não é verdade?

Nunca nada aconteceu no passado; acontece no Agora.

Nunca nada acontecerá no futuro; acontece no Agora.

Aquilo que você considera o passado é uma memória, armazenada na mente, de um antigo Agora. Quando relembra o passado, você reativa uma memória – é o que você está a fazer agora. O futuro é um Agora imaginado, uma projeção da mente. Quando o futuro chega, chega como Agora. Quando pensa no futuro, você está a pensar agora. E óbvio que o passado e o futuro não possuem uma realidade que Lhes seja própria. Tal como a Lua não tem luz própria, mas só pode refletir a luz do Sol, também o passado e o futuro não passam de pálidos reflexos da luz, do poder e da realidade do sempiterno presente. A sua realidade é “pedida emprestada” ao Agora.

A essência do que lhe estou a dizer aqui não pode ser entendida pela mente. No momento em que você entender o seu significado, há uma mudança na consciência da mente para o Ser, do tempo para a presença. De repente, tudo parecerá vivo, irradiará energia, emanará o Ser.

A CHAVE PARA A DIMENSÃO ESPIRITUAL

Em situações de emergência, em que a vida é ameaçada, uma mudança na consciência, do tempo para a presença, acontece por vezes naturalmente. A personalidade, que possui um passado e um futuro, recua momentaneamente e é substituída por uma intensa presença consciente, muito serena, mas ao mesmo tempo muito vigilante. Seja qual for a resposta necessária, ela surgirá então desse estado de consciência.

A razão pela qual algumas pessoas gostam de se lançar em atividades perigosas, como por exemplo montanhismo, corridas de automóveis, ou outras parecidas, muito embora o possam desconhecer; é porque assim se sentem forçadas a entrar no Agora – esse estado intensamente vivo onde não há tempo, não há problemas, não há pensamento, não há o fardo da personalidade. Se esquecerem do momento presente, nem que seja por um segundo, poderão pôr em risco as suas vidas. Infelizmente, acabam por se tornar dependentes de uma determinada atividade para entrarem nesse estado. Mas você não precisa de escalar a face norte do Eiger. Pode entrar nesse estado agora.

Desde os tempos antigos que os mestres espirituais de todas as tradições apontam para o Agora como sendo a chave para a dimensão espiritual. Não obstante, parece que tal continua a ser um segredo. Não é de certeza ensinado nas igrejas nem nos templos. Se você freqüentar uma igreja, poderá ouvir leituras dos Evangelhos tais como “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo (Mat 6:34)”, ou “Ninguém que ponha as mãos no arado e olhe para trás é digno do Reino de Deus (Luc 9:62)”. Ou poderá ouvir a passagem sobre os lírios do campo que não se mostram ansiosos pelo amanhã, mas vivem à vontade no Agora intemporal e dos quais Deus toma conta. A profundidade e a natureza radical desses ensinamentos não são reconhecidas. Ninguém parece compreender que se destinam a ser vividas e a proporcionar assim uma transformação interior.

Toda a essência do Zen consiste em caminhar ao longo do fio da navalha do Agora – estar tão absolutamente e tão completamente presente que nenhum problema, nenhum sofrimento, nada que não seja quem você é na sua essência possa sobreviver em si. No Agora, na ausência do tempo, todos os seus problemas se desfazem. O sofrimento precisa do tempo; não pode sobreviver no Agora. Muitas vezes, para afastar do tempo a atenção dos seus estudantes, o grande mestre Zen, Rinzai, costumava levantar um dedo e perguntar lentamente: “O que é que está faltando neste momento?” Uma pergunta extraordinária que não exige uma resposta ao nível da mente. Destina-se a atrair fortemente a sua atenção para o Agora. Uma outra pergunta semelhante na tradição Zen é a seguinte: “Se não agora, quando?”

O Agora também é essencial nos ensinamentos Sufis, o ramo místico do Islão. Os Sufis têm um ditado: “O Sufi é filho do tempo presente”.
E Rumi, grande poeta e mestre Sufi, declara: “O passado e o futuro impedem-nos de ver Deus; queima-os a ambos com fogo”.
Mestre Eckhart, um mestre espiritual do século XIII, resume tudo de uma forma muito bela: “O tempo é aquilo que impede a luz de nos alcançar. Não há maior obstáculo para alcançar Deus do que o tempo.”

Fonte: O poder do Agora; Eckhart Tolle

#Alquimia

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