Ectoplasma – Descobertas de um Médico Psiquiatra

O mercado editorial brasileiro de esoterismo e ocultismo encontra-se muito bem servido com o livro “Ectoplasma – descobertas de um médico psiquiatra”, publicado pela Editora Conhecimento em 2008. Frutos de intensa experiência clínica do Dr. Luciano Munari, as pesquisas e hipóteses trazidas à baila na obra são estimulantes para o estudioso do oculto, embora o próprio autor abrace claramente o espiritismo kardecista como se deduz do seu “ferramental” conceitual. A feliz coincidência dos objetivos dos militantes espiritas – calcados na caridade e na assistência ao próximo – e a ambição nitidamente ocultista de conhecer a fundo os fenômenos não explicados da natureza realizaram bodas felizes nesta ocasião, sendo conveniente anunciar a “boa nova” (nem tão nova assim mas cuja qualidade só agora se percebeu) aqui neste blog.

O raciocínio do Dr. Munari desenvolve-se com peculiar elegância e sem afetação desnecessária de estilo em torno do caráter do “ectoplasma”(de “ektos”, fora e “plasma”, formação) segundo a doutrina espírita. Desfia sucintamente o histórico dos casos de materialização no mundo e no Brasil, papel cumprido pelo ecotoplasma enquanto fluído vital – por meio do qual se manifestavam “aparições”-; sua bioquímica e vinculação com doenças psicossomáticas e, como corolário, sua “fabricação” indevida no organismo – o que possibilita inorportuno manuseio por formas desencarnadas ou “presenças do passado” que desejam se vingar do indivíduo vivo como ajuste de “contas cármicas” de vidas anteriores.

Já o famoso criminologista italiano e tardio prócer do espiritismo, Cesare Lombroso, considerava o ectoplasma como um tipo de substância ou protoplasma gelatinoso, inicialmente amorfo, que saía do medium e tomava forma mais tarde. A análise de diversos autores e a experiência e as demonstrações em centenas de sessões espiritas demonstrava que esta substância saía pelos orifícios humanos e um caso tornado célebre fora analisado pelo próprio Lombroso em sua “opus magna”, “Hipnotismo e Mediunidade: o da médium italiana Eusápia Paladino. O ectoplasma era visto, enfim, como substância manipulada por espíritos, geralmente inodora, frio, húmido, por vezes vezes viscoso e semilíquido, raramente apresentando-se seco e duro e neste estado formando cordões fibrosos e nodosos de modo a dilatar-se e expandir-se como uma “teia de aranha”.

Em sua vida como profissional o Dr. Munari testemunhou que vários pacientes exibiam quadros de transtorno de somatização como “nós na garganta”, que se davam em situações de tensão emocional. Outros sintomas  recorrentes eram tonturas, angústias no peito, falta de ar súbita (com sensação de sufoco), dores articulares ou generalizadas além de sensação de peso nos ombros e nas panturrilhas e também era dores de cabeça, embaçamento visual, náuseas ou dor abdominal. Observando a caso da paciente que apelidou de “Senhora Gioconda”, o médico decidiu em certo momento abandonar sua renitente postura ortodoxa, realizando um curso de terapia passada em que, pela primeira vez, tomou contato com a ideia das chamadas “presenças do passado”, as quais poderiam manipular os ectoplasma e produzir diversos síntomas. Diz então que:

O que seria esse tal de ectoplasma? Uma substância semi material/semi-espiritual que, portanto, permeia tanto o mundo material como mundo espiritual; faz a ponte entre os dois mundos. È ele que permite a atuação dos espíritos sobre o mundo físico. Ele é a substância de que eles os espíritos se utilizam para impressionar o mundo físico e causar, por exemplo, os fenômenos de poltergeist, ou de materialização

Ao aproximar-se de conhecido médium e espírita, o Sr. Manoel Saad e ao utilizar com mais intensidade a técnica de regressão, tornou-se paulatinamente evidente para nosso autor que “uma gama enorme de sintomas físicos era decorrente da ação espiritual sobre o corpo físico. Eram os mais variados sintomas: dores nas diversas partes do corpo, falta de ar, palpitações, ou mesmo sintomas que eu associava a uma doença orgânica, como por exemplo as dores articulares da jcitada artrite reumatóide”. A mais clássica dor era aquela que afetava a região da cabeça, mas havia inúmeras outras, como já mencionamos.

Neste ponto, aliando novas teorias à constatação clínica, Munari cunha o termo “Síndrome Ectoplasmática” para dar conta deste espectro de sinais e sintomas que englobaria até mesmo a síndrome de tensão pré-menstrual. A produção de ectoplasma parecia, a princípio, ligada à ingestão de carboidratos, principalmente vinculada à alimentação artificial (refrigerantes, enlatados, alimentos benefeciados ou “refinados”, dieta carnívora etc). Ao voltar-se para a literatura de medicina ortomolecular, notou a correlação entre a deficiência de vitaminas do complexo B e a população que se alimenta de produtos artificiais ou industrializados, deduzindo que, de certa maneira, a produção excessiva de ectoplasma poderia estar associada deficiência de vitaminas desta classe, obtendo resultados palpáveis ao usar megadoses deste complexo vitamínico em pacientes. Outra constação do Dr. Munari foi de que muitos pacientes com quadro depressivo apresentavam a síndrome ectoplasmática.

Como consequência do relativo êxito na comprovação destas hipóteses, passou a tomar força para o autor a tese de que o órgão-chave do ectoplasma talvez fosse o fígado, responsável pela oxidação existente no corpo, pela síntese proteica (albumina), lipídica (e o responsável pela produção de 70% do colesterol circulante no sangue) e metabolização e desintoxicação de substâncias, como, por exemplo, os medicamentos. A água, veículo portador de fluidos etéricos que vitalizam o corpo segundo a medicina antroposófica talvez tivesse também alguma correlação com o ectoplasma, sendo notável que muitos depressivos exibissem ingestão reduzida de água. Assim, escreve Munari:

O fígado é o principal responsável pela produção de ectoplasma. Vitaminas do Complexo B e estimulantes da secreção da bile aliados a uma dieta saudável são os principais responsáveis pela produção de ectoplasma em níveis adequados e pela ausência dos sintomas típicos da “síndrome ectoplasmática”.

Evidências empurravam para se pensar no fígado. Decidi, então, baseado no pensamento de que hnum fígado preguiçoso nos portadores da síndrome ectoplasmática, utilizar medicamentos que pudessem estimular suas funções, quer fossem da antroposofia ou da halopatia. Utilizei medicamentos chamados de coleréticos e colagogos (eles estimulam a produção de bile pelo figado, assim como sua secreção pela vesícula biliar que onde fica armazenada para do duodeno), e observei uma diminuição nas queixas sintomáticas: o paciente sentia-se mais “leve”. Estavam então formadas associações entre síndrome ectoplasmática, trantorno de somatização, depressão, síndrome da tensão pré-menstrual e insuficência funcional hepática”.

O fígado assume a condição ímpar de “grande usina de fabricação” do ectoplasma. Munari explica esta “dinâmica ectoplasmática” ao longo do trajeto de produção desta misteriosa substância. Em termos simples, os alimentos provenientes de diversos reinos da natureza (mineral, vegetal ou animal) portam qualidades diferentes de ectoplasma, que passa ser aproveitado no reino “hominal” quando é “humanizado” ou transformado por algum órgão do corpo, a fim de que seja utilizado pelos espíritos como no fenômeno de poltergeist que depende de “doador” ou epicentro para ocorrer. Faz-se necessário para que algo desta magnitude se dê que esteja presente no ser humano um tipo mais “refinado” de ectoplasma do que o encontrado de forma bruta nos alimentos, ou na natureza.

Uma vez ingerido o alimento e ainda no tubo gastrintestinal, este sofrerá a ação dos sucos gástrico, pancreático e bile, sendo transformado em açúcares, lipídeos e aminoácidos. Tais nutrientes de ordem física, bem como o ectoplasma que ‘acompanha” as suas moléculas “serão conduzidos pelo sangue até o fígado pela veia porta, onde serão “desintoxicados” e “humanizados”, como se diz na medicina antroposófica, para que não sejam rejeitados pelo sistema imunológico. Do fígado é que o sangue os levará (nutrientes e ectoplasma) para o coração, para que sejam distribuídos ao restante do corpo”. Para autores como o Dr. Jorge Andréa, citado por Munari, há participação do elemento fósforo na composição do ectoplasma, tal como é utilizado pelo organismo, como forma de armazenagem energética (adenosina trifosfato, também denominada ATP, o “combustível” da célula).

A produção de ectoplasma pode ser normal ou não. Do grau de “normalidade” neste processo  – como descrito pelo autor – depende a intensidade da “síndrome ectoplasmática” ou mesmo a sua manifestação. Estes níveis de produção normal de ectoplasma ocorrem quando há nutrição celular adequada em termos de micro e macronutrientes, registrando-se ausência de fatores intervenientes no metabolismo da glicose para gerar o ATP. Pelo contrário, se há deficiência qualitativa e quantitativa de nutrientes para a formação do ATP (ou presença de produtos tóxicos) produzir-se-ia “um desvio para uma via ectoplasmática que levaria a uma produção anormal, podendo chegar a nível prejudicial”.

Mas como se observa a ocorrência da “síndrome ectoplasmática” no cotidiano? Ela é mais comum do que se pensa, podendo-se associá-la a determinados tipos de indivíduos segundo o local em que se deposita o ecotoplasma no corpo humano. Como veremos logo adiante, a maneira como este ectoplasma é conduzido e direcionado para determinada parte do organismo físico do homem depende da influência das denominadas “presenças do passado” e da qualidade de nossas vibrações pois a atuação destas “presenças” é influenciada sobremodo pela raiva ou emoções negativas.

Com efeito, Munari acentua que existe no homem um “(…) corpo espiritual que sobrevive à morte do corpo físico, e é nele que ficam registradas nossas vidas passadas. Como tivemos vários experiências, e nelas podemos ter apresentadas lesões físicas (Por exemplo, a enxaqueca ou um traumatismo craniano), estas ficam registradas no corpo espiritual. É o que chamamos “cicatrizes do corpo espiritual”. Justamente nestas cicatrizes concentra-se o ectoplasma, retransmitindo lesões do passado para o corpo físico ao fazer a ligação deste como “corpo espiritual”, isto é, “reativa-se a dor do traumatismo de uma existência pretérita”.

Construída por Munari, a tabela seguinte relaciona os subtipos de ectoplasma ao tipo de temperamento do homem, elemento predominante, órgão chave e níveis de densidade.

Subtipo de Ectoplasma

Tipo de Temperamento

Elemento

Órgão Chave

Densidade de Ectoplasma

Craniano

Colérico

Fogo

Coraçao

Aérea

Torácico

Sanguíneo

Ar

Rins

Líquida

Gastrintestinal

Melancólico

Água

Fígado

Muscular

Sural

Fleumático

Terra

Pulmões

Óssea

Em síntese pode-se assim definir os termos constantes do quadro:

A) Subtipos de Ecotoplasma quanto à localização

  • Craniano – expressões alérgicas no revestimento nasal e oral e na trompa de Estáquio (o canal que comunica a garganta com o ouvido medido) e no ouvido médio. Favorece fenômenos como rinites, sinusites, otires e laringite e também a alergia do conduto auditivo externo.-

  • Torácico – expressão do ectoplasma ocorre como se fosse algo que “sobe”, como uma onda que se origina na região entre o abdome e o tórax e segue ascendente para a cabeça; contudo, localiza-se em nível cardíaco, levando a uma dor opressiva, constritiva, e às vezes até com caráter “esmagante”.

  • Gastrintestinal – costuma causar impressão de abdome distendido entre outros sintomas (gases etc).

  • Sural – depósito de ectoplasma ocorre mais na região sural, que nada mais é senão que a região das panturrilhas (batatas da perna)

B) Classificação baseada na maior ou menor afinidade do ectoplasma por áreas de maior ou menor densidade orgânica

  • Aérea – sensação de falta de ar e/ou nó ou bola na garganta, dando impressão de asfixia

  • Líquida – deposita-se no líquido sinovial (líquido entre as articulações), causando dores articulares ou próximo a estas, sem sinais inflamatórios,(fibromialgia). Pode também depositar-se no sangue, acometendo órgãos mais sensíveis como o labirinto.

  • Muscular/parenquitomosa : deposição nas “batatas da perna”.

  • Óssea – mais rara, ocasionando as dores do crescimento nas crianças, ou dores de friagem nos idosos.

    C) Classificação quanto aos Tipos de Temperamentos

    – Colérico – comportamento enérgico,

    –  Sanguíneo – pessoa alegre, não se atêm a determinado fim;]

    – Melancólico – indivíduo de ar tristonho e cansado, tendendo revolver o passado (preocupado e negativista).

    – Fleumático – indivíduos “lentificados”, possuem forma facial arrendonda, ou “duplo queixo”; com olhar alegre e simpático. Apreciam o bom paladar e desfrutam com enorme satisfação da alimentação.

Do ponto de vista da interação dos sintomas da “síndrome ectoplasmática”, verifica-se que a concentração de ectoplasma em determinado órgão ou área do organismo depende da convergência de fatores como:

  1. Ingestão de alimentos com maior quantidade de ectoplasma;

  2. Tipo de alimentação que produziria maior ou menor quantidade de ectoplasma;

  3. “Leveza/peso” do ectoplasma;

  4. Sua afinidade por locais de maior ou menor densidade;

  5. Cicatrizes espirituais;

  6. Atuação de “presenças” espirituais, manipulando o ectoplasma para concentrá-lo em determinada cicatriz espiritual.

O ponto “f” é de suma importância neste elenco de fatores. O ecotoplasma pode ser compreendido como “matéria-prima” da síndrome, ao passo que as “’presenças’ são a ‘mão-de-obra’ a trabalhar para a construção do sintoma num ambiente propício – a cicatriz espiritual”. O fator desencadeante destes “males” está vinculado a um profundo desequilíbrio entre o “pensar e agir” na pessoa que é afetada por entidades deste tipo, possuindo vínculos estreitos com a idéia da mediunidade do paciente que recebe os efeitos da atuação destas “presenças” devido a seu mal uso ou desconhecimento de suas leis de atuação.

Tomando a analogia com aparelho de TV, o autor chega a advertir-nos ser preciso, portanto, evitar uma mesma “freqüência no modo de pensar e sentir e que se assemelha ao das “presenças” (que cobram do desafeto encarnado a ação errônea por ele cometida)”. Este é um caminho básico para evitar-se a contaminação pela “doença”. Mas há outros abertos a quem humildemente progrida na senda individualíssima da espiritualidade.

O mercado editorial brasileiro de esoterismo e ocultismo encontra-se muito bem servido com o livro “Ectoplasma – descobertas de um médico psiquiatra”, publicado pela Editora Conhecimento em 2008. Frutos de intensa experiência clínica do Dr. Luciano Munari, as pesquisas e hipóteses trazidas à baila na obra são estimulantes para o estudioso do oculto, embora o próprio autor abrace claramente o espiritismo kardecista como se deduz do seu “ferramental” conceitual. A feliz coincidência dos objetivos dos militantes espiritas – calcados na caridade e na assistência ao próximo – e a ambição nitidamente ocultista de conhecer a fundo os fenômenos não explicados da natureza realizaram bodas felizes nesta ocasião, sendo conveniente anunciar a “boa nova” (nem tão nova assim mas cuja qualidade só agora se percebeu) aqui neste blog.

O raciocínio do Dr. Munari desenvolve-se com peculiar elegância e sem afetação desnecessária de estilo em torno do caráter do “ectoplasma”(de “ektos”, fora e “plasma”, formação) segundo a doutrina espírita. Desfia sucintamente o histórico dos casos de materialização no mundo e no Brasil, papel cumprido pelo ecotoplasma enquanto fluído vital – por meio do qual se manifestavam “aparições”-; sua bioquímica e vinculação com doenças psicossomáticas e, como corolário, sua “fabricação” indevida no organismo – o que possibilita inorportuno manuseio por formas desencarnadas ou “presenças do passado” que desejam se vingar do indivíduo vivo como ajuste de “contas cármicas” de vidas anteriores.

Já o famoso criminologista italiano e tardio prócer do espiritismo, Cesare Lombroso, considerava o ectoplasma como um tipo de substância ou protoplasma gelatinoso, inicialmente amorfo, que saía do medium e tomava forma mais tarde. A análise de diversos autores e a experiência e as demonstrações em centenas de sessões espiritas demonstrava que esta substância saía pelos orifícios humanos e um caso tornado célebre fora analisado pelo próprio Lombroso em sua “opus magna”, “Hipnotismo e Mediunidade: o da médium italiana Eusápia Paladino. O ectoplasma era visto, enfim, como substância manipulada por espíritos, geralmente inodora, frio, húmido, por vezes vezes viscoso e semilíquido, raramente apresentando-se seco e duro e neste estado formando cordões fibrosos e nodosos de modo a dilatar-se e expandir-se como uma “teia de aranha”.

Em sua vida como profissional o Dr. Munari testemunhou que vários pacientes exibiam quadros de transtorno de somatização como “nós na garganta”, que se davam em situações de tensão emocional. Outros sintomas  recorrentes eram tonturas, angústias no peito, falta de ar súbita (com sensação de sufoco), dores articulares ou generalizadas além de sensação de peso nos ombros e nas panturrilhas e também era dores de cabeça, embaçamento visual, náuseas ou dor abdominal. Observando a caso da paciente que apelidou de “Senhora Gioconda”, o médico decidiu em certo momento abandonar sua renitente postura ortodoxa, realizando um curso de terapia passada em que, pela primeira vez, tomou contato com a ideia das chamadas “presenças do passado”, as quais poderiam manipular os ectoplasma e produzir diversos síntomas. Diz então que:

O que seria esse tal de ectoplasma? Uma substância semi material/semi-espiritual que, portanto, permeia tanto o mundo material como mundo espiritual; faz a ponte entre os dois mundos. È ele que permite a atuação dos espíritos sobre o mundo físico. Ele é a substância de que eles os espíritos se utilizam para impressionar o mundo físico e causar, por exemplo, os fenômenos de poltergeist, ou de materialização

Ao aproximar-se de conhecido médium e espírita, o Sr. Manoel Saad e ao utilizar com mais intensidade a técnica de regressão, tornou-se paulatinamente evidente para nosso autor que “uma gama enorme de sintomas físicos era decorrente da ação espiritual sobre o corpo físico. Eram os mais variados sintomas: dores nas diversas partes do corpo, falta de ar, palpitações, ou mesmo sintomas que eu associava a uma doença orgânica, como por exemplo as dores articulares da jcitada artrite reumatóide”. A mais clássica dor era aquela que afetava a região da cabeça, mas havia inúmeras outras, como já mencionamos.

Neste ponto, aliando novas teorias à constatação clínica, Munari cunha o termo “Síndrome Ectoplasmática” para dar conta deste espectro de sinais e sintomas que englobaria até mesmo a síndrome de tensão pré-menstrual. A produção de ectoplasma parecia, a princípio, ligada à ingestão de carboidratos, principalmente vinculada à alimentação artificial (refrigerantes, enlatados, alimentos benefeciados ou “refinados”, dieta carnívora etc). Ao voltar-se para a literatura de medicina ortomolecular, notou a correlação entre a deficiência de vitaminas do complexo B e a população que se alimenta de produtos artificiais ou industrializados, deduzindo que, de certa maneira, a produção excessiva de ectoplasma poderia estar associada deficiência de vitaminas desta classe, obtendo resultados palpáveis ao usar megadoses deste complexo vitamínico em pacientes. Outra constação do Dr. Munari foi de que muitos pacientes com quadro depressivo apresentavam a síndrome ectoplasmática.

Como consequência do relativo êxito na comprovação destas hipóteses, passou a tomar força para o autor a tese de que o órgão-chave do ectoplasma talvez fosse o fígado, responsável pela oxidação existente no corpo, pela síntese proteica (albumina), lipídica (e o responsável pela produção de 70% do colesterol circulante no sangue) e metabolização e desintoxicação de substâncias, como, por exemplo, os medicamentos. A água, veículo portador de fluidos etéricos que vitalizam o corpo segundo a medicina antroposófica talvez tivesse também alguma correlação com o ectoplasma, sendo notável que muitos depressivos exibissem ingestão reduzida de água. Assim, escreve Munari:

O fígado é o principal responsável pela produção de ectoplasma. Vitaminas do Complexo B e estimulantes da secreção da bile aliados a uma dieta saudável são os principais responsáveis pela produção de ectoplasma em níveis adequados e pela ausência dos sintomas típicos da “síndrome ectoplasmática”.

Evidências empurravam para se pensar no fígado. Decidi, então, baseado no pensamento de que hnum fígado preguiçoso nos portadores da síndrome ectoplasmática, utilizar medicamentos que pudessem estimular suas funções, quer fossem da antroposofia ou da halopatia. Utilizei medicamentos chamados de coleréticos e colagogos (eles estimulam a produção de bile pelo figado, assim como sua secreção pela vesícula biliar que onde fica armazenada para do duodeno), e observei uma diminuição nas queixas sintomáticas: o paciente sentia-se mais “leve”. Estavam então formadas associações entre síndrome ectoplasmática, trantorno de somatização, depressão, síndrome da tensão pré-menstrual e insuficência funcional hepática”.

O fígado assume a condição ímpar de “grande usina de fabricação” do ectoplasma. Munari explica esta “dinâmica ectoplasmática” ao longo do trajeto de produção desta misteriosa substância. Em termos simples, os alimentos provenientes de diversos reinos da natureza (mineral, vegetal ou animal) portam qualidades diferentes de ectoplasma, que passa ser aproveitado no reino “hominal” quando é “humanizado” ou transformado por algum órgão do corpo, a fim de que seja utilizado pelos espíritos como no fenômeno de poltergeist que depende de “doador” ou epicentro para ocorrer. Faz-se necessário para que algo desta magnitude se dê que esteja presente no ser humano um tipo mais “refinado” de ectoplasma do que o encontrado de forma bruta nos alimentos, ou na natureza.

Uma vez ingerido o alimento e ainda no tubo gastrintestinal, este sofrerá a ação dos sucos gástrico, pancreático e bile, sendo transformado em açúcares, lipídeos e aminoácidos. Tais nutrientes de ordem física, bem como o ectoplasma que ‘acompanha” as suas moléculas “serão conduzidos pelo sangue até o fígado pela veia porta, onde serão “desintoxicados” e “humanizados”, como se diz na medicina antroposófica, para que não sejam rejeitados pelo sistema imunológico. Do fígado é que o sangue os levará (nutrientes e ectoplasma) para o coração, para que sejam distribuídos ao restante do corpo”. Para autores como o Dr. Jorge Andréa, citado por Munari, há participação do elemento fósforo na composição do ectoplasma, tal como é utilizado pelo organismo, como forma de armazenagem energética (adenosina trifosfato, também denominada ATP, o “combustível” da célula).

A produção de ectoplasma pode ser normal ou não. Do grau de “normalidade” neste processo  – como descrito pelo autor – depende a intensidade da “síndrome ectoplasmática” ou mesmo a sua manifestação. Estes níveis de produção normal de ectoplasma ocorrem quando há nutrição celular adequada em termos de micro e macronutrientes, registrando-se ausência de fatores intervenientes no metabolismo da glicose para gerar o ATP. Pelo contrário, se há deficiência qualitativa e quantitativa de nutrientes para a formação do ATP (ou presença de produtos tóxicos) produzir-se-ia “um desvio para uma via ectoplasmática que levaria a uma produção anormal, podendo chegar a nível prejudicial”.

Mas como se observa a ocorrência da “síndrome ectoplasmática” no cotidiano? Ela é mais comum do que se pensa, podendo-se associá-la a determinados tipos de indivíduos segundo o local em que se deposita o ecotoplasma no corpo humano. Como veremos logo adiante, a maneira como este ectoplasma é conduzido e direcionado para determinada parte do organismo físico do homem depende da influência das denominadas “presenças do passado” e da qualidade de nossas vibrações pois a atuação destas “presenças” é influenciada sobremodo pela raiva ou emoções negativas.

Com efeito, Munari acentua que existe no homem um “(…) corpo espiritual que sobrevive à morte do corpo físico, e é nele que ficam registradas nossas vidas passadas. Como tivemos vários experiências, e nelas podemos ter apresentadas lesões físicas (Por exemplo, a enxaqueca ou um traumatismo craniano), estas ficam registradas no corpo espiritual. É o que chamamos “cicatrizes do corpo espiritual”. Justamente nestas cicatrizes concentra-se o ectoplasma, retransmitindo lesões do passado para o corpo físico ao fazer a ligação deste como “corpo espiritual”, isto é, “reativa-se a dor do traumatismo de uma existência pretérita”.

Construída por Munari, a tabela seguinte relaciona os subtipos de ectoplasma ao tipo de temperamento do homem, elemento predominante, órgão chave e níveis de densidade.

Subtipo de Ectoplasma

Tipo de Temperamento

Elemento

Órgão Chave

Densidade de Ectoplasma

Craniano

Colérico

Fogo

Coraçao

Aérea

Torácico

Sanguíneo

Ar

Rins

Líquida

Gastrintestinal

Melancólico

Água

Fígado

Muscular

Sural

Fleumático

Terra

Pulmões

Óssea

Em síntese pode-se assim definir os termos constantes do quadro:

A) Subtipos de Ecotoplasma quanto à localização

  • Craniano – expressões alérgicas no revestimento nasal e oral e na trompa de Estáquio (o canal que comunica a garganta com o ouvido medido) e no ouvido médio. Favorece fenômenos como rinites, sinusites, otires e laringite e também a alergia do conduto auditivo externo.-

  • Torácico – expressão do ectoplasma ocorre como se fosse algo que “sobe”, como uma onda que se origina na região entre o abdome e o tórax e segue ascendente para a cabeça; contudo, localiza-se em nível cardíaco, levando a uma dor opressiva, constritiva, e às vezes até com caráter “esmagante”.

  • Gastrintestinal – costuma causar impressão de abdome distendido entre outros sintomas (gases etc).

  • Sural – depósito de ectoplasma ocorre mais na região sural, que nada mais é senão que a região das panturrilhas (batatas da perna)

B) Classificação baseada na maior ou menor afinidade do ectoplasma por áreas de maior ou menor densidade orgânica

  • Aérea – sensação de falta de ar e/ou nó ou bola na garganta, dando impressão de asfixia

  • Líquida – deposita-se no líquido sinovial (líquido entre as articulações), causando dores articulares ou próximo a estas, sem sinais inflamatórios,(fibromialgia). Pode também depositar-se no sangue, acometendo órgãos mais sensíveis como o labirinto.

  • Muscular/parenquitomosa : deposição nas “batatas da perna”.

  • Óssea – mais rara, ocasionando as dores do crescimento nas crianças, ou dores de friagem nos idosos.

    C) Classificação quanto aos Tipos de Temperamentos

    – Colérico – comportamento enérgico,

    –  Sanguíneo – pessoa alegre, não se atêm a determinado fim;]

    – Melancólico – indivíduo de ar tristonho e cansado, tendendo revolver o passado (preocupado e negativista).

    – Fleumático – indivíduos “lentificados”, possuem forma facial arrendonda, ou “duplo queixo”; com olhar alegre e simpático. Apreciam o bom paladar e desfrutam com enorme satisfação da alimentação.

Do ponto de vista da interação dos sintomas da “síndrome ectoplasmática”, verifica-se que a concentração de ectoplasma em determinado órgão ou área do organismo depende da convergência de fatores como:

  1. Ingestão de alimentos com maior quantidade de ectoplasma;

  2. Tipo de alimentação que produziria maior ou menor quantidade de ectoplasma;

  3. “Leveza/peso” do ectoplasma;

  4. Sua afinidade por locais de maior ou menor densidade;

  5. Cicatrizes espirituais;

  6. Atuação de “presenças” espirituais, manipulando o ectoplasma para concentrá-lo em determinada cicatriz espiritual.

O ponto “f” é de suma importância neste elenco de fatores. O ecotoplasma pode ser compreendido como “matéria-prima” da síndrome, ao passo que as “’presenças’ são a ‘mão-de-obra’ a trabalhar para a construção do sintoma num ambiente propício – a cicatriz espiritual”. O fator desencadeante destes “males” está vinculado a um profundo desequilíbrio entre o “pensar e agir” na pessoa que é afetada por entidades deste tipo, possuindo vínculos estreitos com a idéia da mediunidade do paciente que recebe os efeitos da atuação destas “presenças” devido a seu mal uso ou desconhecimento de suas leis de atuação.

Tomando a analogia com aparelho de TV, o autor chega a advertir-nos ser preciso, portanto, evitar uma mesma “freqüência no modo de pensar e sentir e que se assemelha ao das “presenças” (que cobram do desafeto encarnado a ação errônea por ele cometida)”. Este é um caminho básico para evitar-se a contaminação pela “doença”. Mas há outros abertos a quem humildemente progrida na senda individualíssima da espiritualidade.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/espiritualismo/ectoplasma-descobertas-de-um-medico-psiquiatra/

As Sete Consonâncias

Excelente texto enviado pelo músico Alvaro Coutinho

Astrologia e música são dois estudos que aparentam ser bem diferentes, afinal de contas, que relação há entre os astros celestiais e uma orquestra? Estranhamente, a correlação entre essas duas matérias sempre existiu, o que é de certa forma bem conveniente, ambas tratam de assuntos que sempre influenciaram o subconsciente do homem. A fascinação de uma pessoa ao olhar o céu estrelado pode se comparar a alguém escutando a Nona Sinfonia pela primeira vez.

Pitágoras, e a Musica Universalis

Esta associação vem de muito tempo, talvez o primeiro, ou mais notório filósofo a estudar isso viveu na Grécia cerca de 2.500 anos atrás, chamava-se Pitágoras de Samos, filósofo, matemático e místico que proporcionou grandes avanços para a humanidade em inúmeras ciências, matemática, astrologia, política, ética, geometria, metafísica… enfim, a lista segue. Todo mundo conhece por exemplo o seu teorema mais famoso (a² + b² = c²), mas essa equação é completamente eclipsada quando comparamos a importância dos estudos sobre música e sua magnum opus, a Musica Universalis.

Para Pitágoras era simples, matemática e música existem em tudo, afinal de contas “tudo é feito de números”, e como a música funciona por meio de funções, então logo, toda a matéria tem a sua música. Sabemos que a matéria reage a vibrações, ou a frequências diferentes, alguns ainda sugerem que matéria é energia condensada em vibrações fracas, logo, como toda vibração tem a sua “nota” específica, tudo o que existe emite um som e reage a sons diferentes. Na música sabemos que relações entre intervalos formam uma harmonia ou uma consonância.

Na época helênica clássica, não existia o conceito atual de notas, mas sim funções numéricas para cada relação de nota. Então, o que hoje seria, por exemplo, um intervalo de oitava (Dó a Dó) era antes uma função de 2:1, ou seja, a vibração emitida por uma corda é o dobro da frequência (Hz) emitida por uma outra coda afinada a uma oitava mais baixa, um intervalo de quinta (Dó a Sol) é 3:2, e por aí vai. Para fazer os seus estudos Pitágoras usava um instrumento chamado monocórdio, que era basicamente uma corda presa sobre uma caixa acústica e com uma ponte móvel, para assim formar notas diferentes.

Pitágoras percebeu então, que se ele dividisse a corda em diferentes regiões e tocasse ambas simultâneamente, ele teria uma combinação de notas que formaria a tal da consonância (do latim, soar junto, bem auto explicativo).

Mudando para a segunda área do assunto, os estudiosos da escola Pitagórica, tinham desenvolvido um conceito ancestral do héliocentrismo, ou seja, já sabiam que cada planeta possuia uma órbita padrão em relação ao sol que poderia ser expressada como uma razão numérica. Então, se ligarmos os pontos, podemos entender que cada planeta formaria uma consonância que influenciaria o comportamento humano e suas emoções. Para nós estudantes de astrologia isso soa bem familiar não?

Surgia assim a teoria da Música das Esferas. Seria Platão posteriormente que afirmaria, astronomia e música são estudos gêmeos em relação aos nosso sentidos: Astronomia para os olhos e Música para aos ouvidos. Claudius Ptolomeu seria o próximo a estudar e desenvolver novas ideias em cima da teoria de Pitágoras. E por fim, talvez o mais genial astrólogo e astrônomo de todos os tempos, Johannes Kepler [1].

Kepler, e a Harmonices Mundi

Kepler, com a sua incessante busca de tentar encontrar a linguagem de Deus no universo, estudou diversas áreas. Sua obra mais memorável, Mysterium Cosmographicum, constava a utilização de geometria, os Sólidos Platônicos para ser mais exato, para criar um modelo do sistema solar. Ele acreditava que estes cinco poliédros seriam sagrados e perfeitos por natureza, e que o criador teria utilizado-os para desenvolver o plano do universo.

Porém, suas pesquisas não se limitaram somente a geometria, ele logo se deparou com a antiga ideia da Música das Esferas. Enquanto os pensadores da sua época utilizavam esta teoria de forma metafórica, Kepler descobriu a harmonia presente dentro do movimento dos planetas analisando sua velocidade angular (este estudo está presente dentro do seu Harmonices Mundi), criando assim a forma final e mais aceita da música das esferas.

Após analisar as proporções musicais e os padrões orbitais, Kepler atribui aos planetas tais intervalos:

(Tradução: Divisões Harmônicas de uma corda, Estas são razões matemáticas para se criar intervalos que Kepler encontrou experimentando ambas consonâncias a respeito de uma corda inteira e a cada outra.) (Notem que não há os intervalos de 2ª, 7ª e 5ª dimunuta, o motivo disso é que estes intervalos não eram considerados harmônicos dentro da divisão) (Na imagem acima a razão de 6ªm está incorreto, na verdade ela é 3:5, não 4:5)

Intervalo (razão) – Planeta, aspecto/função harmônica.

Terça Menor (5:6) – Saturno, aspecto negativo/mediante.

Terça Maior (4:5) – Júpiter, aspecto positivo/mediante.

Quarta Justa (3:4) – Marte, aspecto neutro/sub-dominante.

Quinta Justa (2:3) – Terra, aspecto neutro/dominante. [2]

Sexta Menor (5:8) – Vênus, aspecto negativo/super dominante.

Sexta Maior (3:5) – Mercúrio, aspecto positivo/super dominante.

Oitava (2:1) – Sol, aspecto neutro/tônica. [3]

Esta classificação pode variar de autor para autor, Kepler não foi o único que realizou este estudo, porém, por ter sido um astrólogo extremamente genial, eu considero esta como a mais aceita, devemos levar em consideração também, que ele foi mais fiel as ideias de Pitágoras.

Outra questão a ser levada em conta é o fato de que a afinação padrão atual (A=440hz) é diferente da utilizada nos tempos de Pitágoras e até mesmo de Kepler, antigamente era utilizada a afinação de A=432hz (que por sinal se chama afinação pitagórica), então sim, nem sempre a música feita pelo homem soou da mesma forma, mas esse é assunto para um outro dia…

Considerações Finais

A beleza do nosso universo não se limita somente em leis de física e equações, nem mesmo a luzes brilhantes no céu, planetas girando e estrelas queimando, há muito mais para se sentir no cosmo. O universo por sua totalidade canta uma ópera que nossos limitados ouvidos não podem ouvir, mas que agem sobre todos nós de uma forma misteriosa e silenciosa.

Procuramos na música feita pelo homem uma beleza que não se pode expressar por imagens ou toques, a música é a arte mais abstrata que existe, e talvez por esta razão, a que mais toca a alma das pessoas. Tentamos alcançar a perfeição feita pelo universo (ou criador, ou natureza, quem ou o que fez não importa) porque assim nos sentiremos mais reconfortados, nos sentiremos como uma parte mais expressiva desta imensidão.

Cada um de nós é, afinal, um amontoado de notas mudas tentando se encaixar na grande sinfonia cósmica.

[2] Em algumas fontes o intervalo de quinta justa é associado ao Sol, enquanto a Terra em si não possui um intervalo definido.

[3] Também é comum associar a Lua ao intervalo de oitava.

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#Espiritualidade #Astronomia #Arte #Música #Astrologia #Ciência

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Um antropólogo em Vênus

» Parte 2 da série “Xamãs ancestrais” ver parte 1

Ayahuasca é uma bebida produzida a partir de duas plantas amazônicas: Banisteriopsis caapi e Psychotria viridis. O nome significa, literalmente, a “Videira dos Mortos”. Os cientistas sabem que a ayahuasca produz visões, principalmente por ser rica em DMT, um alucinógeno de ação extremamente rápida. Entretanto, os xamãs ancestrais têm conhecimento considerável do que ocorre após bebermos a ayahuasca, enquanto os cientistas não, principalmente porque a maioria jamais experimentou.

O tempo passa sem que eu tenha noção. Fecho meus olhos, e um grande desfile de visões subitamente se inicia… Começo a prestar atenção em uma imagem em particular, ou, mais exatamente, a uma área de meu campo visual interno, onde complexos padrões geométricos entrelaçados provam, numa inspeção mais cuidadosa, ser parte de uma grande serpente, aparentemente viva, com sua cabeça e sua cauda afastadas de mim. Posso distinguir as escamas individuais, retangulares, como janelas… Existe um círculo no centro de cada retângulo, círculos púrpura, girando como fogos de artifício, brilhando com a luz escura de um outro mundo onde agora estou… Aqui? Onde é aqui? Por que é um lugar onde vejo cores que não existem na vida cotidiana?

O xamã recomeça a entoar seu ritual. A cantoria inicia em tom mais baixo, mas aumenta, e aumenta… As serpentes são muito grandes, e todo corpo, da cabeça à cauda, é claramente visível para mim. Agora as cores castanho e amarelo predominam. Lendo sobre o assunto, antes de vir a Amazônia, aprendi que pessoas em regiões e culturas diversas, de todo o mundo, encontram serpentes na jornada da ayahuasca… Elas agora formam padrões de rodas e espirais entrelaçados, se fundem e depois se dividem em duplas individuais serpenteando em volta uma da outra, como a dupla hélice do DNA… A náusea chega com força e estou agora vomitando na escuridão…

Saio do círculo ritual e volto após vomitar, agora minha cabeça está aliviada. Então, de repente, dois seres completamente feitos de luz branca surgem a minha frente. São pequeninos – cerca de 1,20m de altura –, mas estou ciente apenas da parte superior de seus corpos, não vejo os pés. Sua faces têm mais ou menos o formato de um coração, com grandes testas e queixos estreitos e pontudos. Narinas e bocas, se é que as tem, são apenas fendas em suas feições suaves. Seus olhos são completamente negros e aparentemente sem pupilas… Eles parecem querer se comunicar. A tentativa de comunicação, que me parece telepática, não está funcionando por alguma razão. Sinto ansiedade e… frustração da parte deles. A náusea retorna, os seres de luz se vão, eu volto a vomitar na escuridão…

Os três últimos parágrafos são trechos (selecionados por mim) dos depoimentos de Graham Hancock [1], pesquisador e escritor britânico que resolveu participar dos rituais xamânicos de povos indígenas da Amazônia e de regiões da África. Em seu monumental Sobrenatural, Hancock parte da análise dos signos e símbolos pictóricos da arte rupestre para fazer uma associação fortuita desse tipo de imagem com as visões “psicodélicas” usualmente experimentadas em tais rituais, pelo menos por aqueles que efetivamente experimentam a ayahuasca, a iboga, e outras bebidas rituais que “trazem visões do outro mundo”. Esta associação não foi ideia original sua, mas sim de David Lewis-Williams, um professor, antropólogo e pesquisador de arqueologia cognitiva sul africano.

Segundo o modelo neuropsicológico de Lewis-Williams, a real origem da arte rupestre e, por conseguinte, da religião primal dos povos da pré-história, poderia ser mais profundamente explicada e compreendida se levarmos em consideração que o que estava sendo ali representado eram visões provenientes de estados de transe e consciência alterada, originários de experiências rituais extremadas (como danças até a exaustão e/ou a repetição de ritmos musicais durante horas e horas de ritual) e, principalmente, da ingestão de bebidas e substâncias naturais alucinógenas. Esta era, segundo sua teoria, a maneira mais simples e lógica de justificar o porquê da arte rupestre ter características tão enigmáticas, não encontradas na natureza, mas que estão representadas tanto em cavernas europeias quanto em inúmeras regiões africanas, distantes milhares de quilômetros, e milhares de anos na história, umas das outras.

Diferentemente das outras teorias propostas pelos antropólogos em quase um século, esta está baseada em evidências bastante sólidas… Que por muito pouco não se perderam para sempre.

Até 1927, ano em que foi dada a última permissão oficial para se caçar bosquímanos, era legal para os brancos da África do Sul assassinar os san, cujas partes dos corpos eram exibidas orgulhosamente como troféus pelos matadores… Não, os bosquímanos, os san, não eram animais, eram seres humanos, como nós. Na realidade, faziam parte de uma das culturas mais ancestrais e persistentes de nossa história, e até meados do final do séc. XIX, ainda praticavam a arte rupestre. Os san eram, portanto, os continuadores de um estilo de arte que perdurou por dezenas de milhares de anos, até que fossem praticamente extintos pelos “grandes colonizadores racionais”. Poderíamos saber, afinal, se a teoria de Lewis-Williams faz mesmo sentido, desde que encontrássemos algum xamã san ainda vivo, e que ainda conhecesse os antigos rituais que originavam as visões representadas na arte rupestre. Alguns xamãs, algum conhecimento, ainda restou, mas o povo san não é mais o mesmo – seu espírito se foi, e com ele, qualquer esperança para que a arte rupestre pudesse continuar sua longa jornada.

Felizmente, alguma evidência restou, mais precisamente cerca de cem cadernos com notas escritas a mão, descrevendo a cultura e os rituais do povo san no final do séc. XIX, quando ainda praticavam sua arte nas pedras e cavernas. As entrevistas foram conduzidas pelo filólogo alemão Wilhelm Bleek e sua cunhada, Lucy Lloyd, dois acadêmicos muito adiante do seu tempo, que anteciparam com muita clareza a aniquilação que então pairava sobre o povo e a cultura san. O conteúdo de seu estudo permaneceu oculto da Academia até a década de 1930, quando um jornal sul africano fez uma breve referência aos cadernos. Apenas em meados das décadas de 1960 e 1970 os cadernos foram novamente mencionados na mídia especializada, até que Lewis-Williams finalmente colocou seus olhos neles: “mas que estranha experiência, folhear 12 mil páginas de cadernos de notas ancestrais, sobrenaturais” – descreveu o antropólogo acerca do evento.

De posse dos registros de uma cultura ancestral perdida, Lewis-Williams finalmente tinha a evidência que faltava para talvez a única teoria científica sólida jamais postulada acerca da real origem dos signos rupestres. Ainda assim, quando Hancock encontrou pessoalmente com o professor sul africano, não resistiu a lhe indagar:

“Afinal, o senhor já experimentou entrar em transe por meio de danças e batuques ritmados de tambor, ou jejuou por 40 dias até delirar, ou tomou o chá da ayahuasca ou qualquer outra substância natural psicoativa?”

Diante da negação veemente, Hancock perguntou o porquê, e Lewis-Williams deu de ombros:

“Não quero fundir minha cuca e não estou nem um pouco interessado na experiência.”

Vênus, com sua superfície uniforme e seu brilho incomparável no céu noturno, sempre despertou o sonho da humanidade. A estrela vespertina parecia, certamente, um céu prometido, um mundo de luz… Entretanto, hoje sabemos que sua superfície é inóspita e, na realidade, bem mais próxima dos lagos de enxofre do inferno. Assim, também sabemos, ocorre com as drogas: num primeiro momento são estupendas, maravilhosas, mas depois viciam, e podem nos levar a ruína psíquica… Por tudo o que sabemos acerca delas, não é difícil compreender os motivos que levaram Lewis-Williams a evitar os chás alucinógenos e os estados de transe.

A questão é: os povos antigos sabem muito bem desse perigo, e por isso mesmo jamais se utilizaram de suas plantas sagradas como diversão ou mera busca do prazer. Seus rituais sempre foram controlados, e seus xamãs sempre foram raros, escolhidos a dedo por sabe lá qual entidade… E, exatamente por isso, por terem sido tão poucos e tão especiais, hoje praticamente não existem mais.

Os xamãs ancestrais já se foram há muito, e nem mesmo entre os san restou algum. O espírito de um povo desaparece, e o deixa perdido, atordoado, procurando o suicídio, há menos que tal espírito retorne para os auxiliar, como a estrela da manhã… Mas não é fugindo de Vênus que vamos vislumbrar qualquer esperança de um dia os compreender melhor. Tal qual a ciência enviou sondas robô a estrela vespertina, e hoje a compreende muito mais do que há séculos atrás, os exploradores da mente não têm outra alternativa que não mergulhar neste outro mundo, repleto de serpentes, padrões geométricos, seres de luz e armadilhas na escuridão…

Mas, para tal, sondas e robôs não nos servem, precisamos realizar a travessia por nós mesmos. Graham Hancock teve a coragem de mergulhar no próprio lago em que empreendeu seu extensivo estudo – ele é o nosso antropólogo em Vênus.

» Na continuação: Quimeras mentais, homens feridos, e o delicioso Vin Mariani…

***

Leitura recomendada: Sobrenatural, de Graham Hancock (Nova Era).

[1] Retirados do livro recomendado acima.

***

Crédito das imagens: [topo] Susan Seddon Boulet (mulher xamã dançando em ritual); [ao longo] Pinturas do xamã peruano Pablo Amaringo, que serviu também como “guia” de Hancock nos rituais com ayahuasca.

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#Antropologia #sabedoriaindígena #xamanismo

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Mapa Astral de Nelson Mandela

mapa-nelson-mandela

Nascido numa família de nobreza tribal, numa pequena aldeia do interior onde possivelmente viria a ocupar cargo de chefia, recusou esse destino aos 23 anos ao seguir para a capital, Joanesburgo, e iniciar sua atuação política. Passando do interior rural para uma vida rebelde na faculdade, transformou-se em jovem advogado na capital e líder da resistência não-violenta da juventude, acabando como réu em um infame julgamento por traição. Foragido, tornou-se depois o prisioneiro mais famoso do mundo e, finalmente, o político mais galardoado em vida, responsável pela refundação do seu país, como uma sociedade multiétnica.

Mandela passou 27 anos na prisão – inicialmente em Robben Island e, mais tarde, nas prisões de Pollsmoor e Victor Verster. Depois de uma campanha internacional, ele foi libertado em 1990, quando recrudescia a guerra civil em seu país. Em dezembro de 2013, foi revelado pelo The New York Times que a CIA americana foi a força decisiva para a prisão de Mandela em 1962, quando agentes americanos foram empregados para auxiliar as forças de segurança da África do Sul e para localizá-lo. Até 2009, ele havia dedicado 67 anos de sua vida à causa que defendeu como advogado dos direitos humanos e pela qual se tornou prisioneiro de um regime de segregação racial, até ser eleito o primeiro presidente da África do Sul livre. Em sua homenagem, a Organização das Nações Unidas instituiu o Dia Internacional Nelson Mandela no dia de seu nascimento, 18 de julho, como forma de valorizar em todo o mundo a luta pela liberdade, pela justiça e pela democracia.

Mapa Astral

Nelson Mandela possui Sol em Cavaleiro de Bastões (Cancer-Leão) na Casa 8, Ascendente e Caput Draconis em Sagitário, Lua em Escorpião na Casa 12, Mercúrio, Saturno e Netuno em Leão na Casa 9; Vênus em Gêmeos; Júpiter em Rainha de Taças (Gemeos-Cancer) e Urano em Aquário na Casa 3. Seu Planeta mais forte é a Lua em Escorpião na Casa 12. Os aspectos de Lua em escorpião com Ascendente em Sagitário indicam uma facilidade muito acima da média para a política e legislação, voltado principalmente para a área da espiritualidade/filosofia/caridade; some-se a isso um Marte forte em Libra, indicativo da Vontade gasta na área de diplomacia e os três planetas mais fortes de seu mapa indicam uma tendência natural para a politica/diplomacia. Sua essência de líder por aclamação e emocional (Cavaleiro de Bastões) e nada menos do que três planetas em Leão lhe conduziram rapidamente para posições de liderança (seu intelecto em Mercúrio, sua responsabilidade em Saturno e os Ideais espirituais de uma nação em Urano). Uma curiosidade é a conjunção de seu ascendente com o Caput Draconis em Sagitário, ambos levando Mandela inegavelmente para um líder filosófico acima de uma liderança política, em dois momentos de sua vida: Em uma primeira instância como líder de nobreza tribal e, após dominar sua Verdadeira Vontade, ao sair da prisão, retorna para o papel de líder político/espiritual.

Seu carisma é tão grande que conquistou o Prêmio Nobel por seus resultados; Mandela poderia ter se tornado facilmente um líder religioso (no sentido de dirigente-espiritual) mas ao invés disso abraçou a causa política contra o Apartheid. No dizer de Ali Abdessalam Treki, Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas, “um dos maiores líderes morais e políticos de nosso tempo”.

A análise de um mapa como este é muito interessante, pois mostra como a vida de Mandela caminhou entre estas energias, e podemos ver em diversos pontos onde ele teve a oportunidade de resolver diversos débitos de vidas passadas, nascendo negro na África do Sul; passando parte da vida na prisão e mesmo assim continuando firme em sua Grande Obra. Como vemos todos os dias no estudo do Hermetismo, as Ordálias que aparecem quando a pessoa decide trilhar a Verdadeira Vontade são muito pesadas (e proporcionais ao desafio), mas para quem se torna um Mago, são apenas partes indissolúveis do caminho a ser trilhado, sem esforço, e colher os frutos do resultado da Grande Obra no final.

Não nos resta dúvidas que Mandela conseguiu transformar seu chumbo em ouro e realizar sua essência divina no planeta, unindo a filosofia, liderança e instinto político e social.

#Astrologia #Biografias

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A Espiritualidade Queer na Europa Pagã: Os Celtas e Os Vikings

A CULTURA QUEER NA EUROPA PAGÃ:

Gênero e sexualidade na Europa pagã são frequentemente vistos hoje com emoções misturadas. Existem muitas evidências sobre as tendências LGBT+ das tribos e pessoas originais do continente, mas muitas dessas evidências vêm de fontes externas e observadores terceirizados. Normalmente, esses historiadores estrangeiros eram os gregos e os romanos, que relacionavam a natureza queer da Europa “bárbara” em termos de sua própria rígida dicotomia “ativo/passivo”, ou eram os cristãos imperiais, que difamavam qualquer forma de sexo não procriativo que testemunhassem. pagãos fazendo.

Ainda assim, há pouca menção às tendências LGBT+ dos próprios indígenas. Isso significa que sexualidade e gênero não eram um grande problema e eles estavam vivendo em uma utopia queer? Isso significa que qualquer coisa queer era um tabu tão terrível que ninguém ousava registrar sua existência em detalhes? Bem, ninguém realmente sabe com 100 por cento de certeza. Mas, como a maioria das histórias maculadas escritas por rivais e conquistadores, a verdade provavelmente está em algum lugar no meio. O que se preserva, no entanto, é a inegável natureza queer nas religiões de várias tribos pagãs, especialmente as dos celtas e dos vikings. Então, vamos novamente levar alguns grãos de sal conosco e começar olhando para os celtas.

A ESPIRITUALIDADE QUEER DOS CELTAS:

Os vários grupos de europeus pré-cristãos nativos fora da Grécia e Roma clássicas são comumente agrupados e conhecidos como os celtas (pronuncia-se “kelts”). Nesse sentido da palavra, os celtas eram as tribos da Europa que não falavam nem grego nem latim e adoravam divindades não greco-romanas. Em sua maior extensão, o povo celta compreendia muitas culturas e vivia em uma grande faixa de terra que se estendia desde os atuais Portugal e Espanha até a França, as Ilhas Britânicas, a Alemanha, a Escandinávia, as fronteiras da Europa Oriental do Mar Negro e até bolsões de Peru. Em vez de um único povo unificado, os celtas eram compostos por numerosas tribos que compartilhavam certos graus de semelhança cultural, e uma grande semelhança era o uso predominante da tradição oral para transmitir lendas, ensinamentos e modos de vida. Hoje em dia, porém, os celtas são principalmente associados ao povo da Irlanda, Escócia, País de Gales e à província francesa da Bretanha, onde suas culturas sobrevivem de forma mais vibrante.

Como mencionado anteriormente, muitos dos escritos sócio- e antropológicos sobreviventes que temos dos celtas vêm de outras pessoas que os encontraram. E no mundo clássico, os líderes militares gregos e romanos eram as principais pessoas a ter esses encontros múltiplos e contínuos. Com certeza pode ser esse o motivo pelo qual os celtas da antiguidade sempre foram descritos como guerreiros, já que era através da guerra que essas culturas se encontravam, mas o jeito do guerreiro também aparece bastante em sua própria mitologia. Na mitologia irlandesa em particular, figuras masculinas lendárias muitas vezes tinham um irmão de armas masculino especial ao lado de quem lutavam e com quem amavam ternamente.

As culturas celtas, como as sociedades humanas ao longo do tempo, tinham um sistema de classes estratificado da elite aristocrática e subdivisões de praticamente todo mundo. As classes superiores da sociedade celta masculina, de acordo com os gregos e romanos que os encontraram, eram conhecidas por terem relações sexuais com outros homens, mas como os gregos e romanos não queriam parecer semelhantes a esses “bárbaros”, os escritores da época enfatizavam que a aristocracia celta preferia outros homens a mulheres e até se envolvia em três vias masculinas. 112 Aristóteles até fez menção especial para apontar como essa homossexualidade preferida também tinha um viés para os homens dentro da mesma classe social – um severo não-não na sociedade grega. 113 Novamente, no entanto, a verdade está em algum lugar no meio.

Outra verdade intermediária é o desdém social deles por homens homossexuais “no fundo”. A suposição moderna para isso vem de como a cultura machista predominante dominou a sociedade celta. Ser fraco era ruim e, portanto, para um homem agir como o sexo fraco era ruim. Na verdade, ser um “passivo” homossexual era uma das piores coisas de que se poderia acusar um homem celta. Ironicamente, a frequência dessa acusação (especialmente no norte da Europa) prova que a homossexualidade era uma coisa na Europa pagã, uma vez que tal insulto só poderia ser entendido se fosse praticado com bastante frequência para que as pessoas comuns pudessem reconhecer a acusação.

Evidências semelhantes da semelhança da homossexualidade celta foram escritas nas Leis Brehon dos celtas irlandeses do século VII como uma razão legal pela qual uma mulher pode se divorciar de seu marido. A lei não menciona a homossexualidade em si, mas concede o divórcio legal a mulheres cujos maridos preferem fazer sexo com outros homens do que com ela. Estudiosos modernos acreditam que isso não é uma punição legal para homens gays, pois é uma garantia legal para as mulheres terem o direito de ter filhos, como evidenciado pela lei que continua a listar uma série de outros fundamentos legais para o divórcio, todos os quais giram em torno da incapacidade de um homem de engravidar sua esposa, como ser muito obeso para fazer sexo e infertilidade masculina total. Ainda assim, um homem preferindo a cama de outro homem deve ter ocorrido com frequência suficiente para que os celtas irlandeses o incluíssem em seu código de leis. 114

Quanto às próprias mulheres, não há muita evidência de lesbianismo romântico entre senhoras celtas. O mesmo vale para indivíduos transgêneros e bissexuais. A razão para isso é, novamente, os romanos. A maior parte da história sobrevivente dos celtas que nós, pessoas modernas, temos que continuar são os escritos dos militares romanos, que, em geral, tiveram contato principalmente com homens guerreiros celtas. E, além de não interagir muito com as mulheres celtas, os generais e historiadores romanos não teriam interesse particular nos assuntos privados dessas mulheres “bárbaras”, como evidenciado pela pouca estima que tinham por suas próprias mulheres “civilizadas”.

Há, é claro, uma exceção, embora controversa: Boudica, a lendária rainha guerreira ruiva dos celtas britânicos que liderou uma revolta bem-sucedida contra os exércitos romanos invasores. A polêmica está no fato de sabermos muito pouco sobre ela. O que sabemos é que Boudica era casada com o rei de uma tribo celta aliada de Roma. Após a morte de seu marido, o exército romano saqueou suas terras, estuprou suas filhas e a açoitou impiedosamente. Agora um inimigo declarado de Roma, ela foi eleita líder de uma resistência celta unida contra os invasores. Sob sua liderança, os celtas britânicos obtiveram sucesso militar após sucesso militar contra a máquina de guerra da Roma Imperial até que o exército romano obteve uma vitória decisiva em um local estratégico na Watling Street (principal rodovia de Roma na Grã-Bretanha). Após esta derrota irrecuperável, os relatos divergem quanto ao destino da rainha celta. Alguns escritos dizem que ela adoeceu na campanha e morreu, e outros dizem que ela cometeu suicídio por envenenamento auto-ingerido para não ser capturada e se tornar uma escrava romana. 115

Além das associações óbvias e estereotipadas de lesbianismo possuídas por Boudica, como ser um líder marcial, um guerreiro agressivo e impiedoso e dominar os homens tanto por comando direto quanto por conquista, os historiadores modernos acreditam que é bastante lógico que, após a morte de seu marido, Boudica tenha tido relações sexuais com outras mulheres, embora não cheguem a dizer que ela realmente o fez. O raciocínio é que, como líder de jure de sua tribo, o costume celta britânico de seu povo ditava que ela se deitasse com mulheres. 116 É verdade que esse costume foi provavelmente estabelecido com a suposição de que todos os seus líderes seriam homens, então era possível que o costume fosse ignorado devido ao gênero dela? Sim, é uma possibilidade. Mas também era possível que Boudica seguisse esse costume para manter as aparências como líder de seu povo? Sim, isso também é uma possibilidade. A verdade pode nunca ser totalmente conhecida.

O único outro relato da sexualidade feminino-feminina, além da suposta bissexualidade de Boudica, vem em uma breve passagem do antigo conto irlandês de “Niall Frossach” como escrito no Livro de Leinster do século XII. No conto, há menção direta de duas mulheres fazendo sexo uma com a outra, e é descrito como “acasalamento brincalhão”. Nada é dito sobre isso ser algo abominável ou mesmo estranho e incomum, e os personagens dentro do conto não reagem a isso de nenhuma maneira particular além de uma questão de fato/ ou um tipo de atitude de é-o-que-é-é. atitude. 117

A CONTRIBUIÇÃO CELTA:

A Comunicação Intrapessoal e Interpessoal:

A história queer dos vários povos celtas é escassa devido ao uso predominante da tradição oral, mas aí também está a lição: comunicar-se com as pessoas diretamente. Somos tímidos muitas vezes na magia e na vida queer. Não sabemos como alguém pode reagir se dissermos que praticamos magia ou que somos queer. Além disso, tanto praticantes de magia quanto pessoas queer são minorias, então há menos de nós com quem conversar. Isso leva a muita prática de magia solitária e aprendizado sobre a vida queer através de várias mídias. Agora, não me entenda mal, essas duas coisas são ótimas, mas não há nada como ser capaz de falar sobre coisas com pessoas reais ali mesmo.

O povo celta tinha uma grande consideração pela comunicação oral direta, mas hoje em dia a vemos como uma espécie de último recurso. Por que lidar com outras pessoas e suas falhas quando podemos obter todas as informações do mundo no conforto do nosso próprio quarto? Bem, a razão é porque a interação humana é uma parte mágica da vida. Além de sermos animais sociais, há uma certa sensação mágica e “saber” em falar diretamente com as pessoas. Comumente é chamado de “vibe” – aquele sentimento sutil e inexplicável que você tem sobre uma pessoa que só pode ser recebido pessoalmente. Você também pode pensar em qualquer data que você teve.

Conversando on-line por meio de texto, fotos ou vídeos, todos eles não podem dizer tanto sobre uma pessoa quanto estar na sala com ela em uma conversa. É aí que nossos sentidos mágicos entram em ação e nos permitem conhecer verdadeiramente uma pessoa.

Então, para sua próxima atividade mágica, saia e teste o quão bem você pode ler magicamente as vibrações de uma pessoa. Escolha uma pessoa aleatória que você vê e faça uma avaliação rápida de sua personalidade com base nas vibrações que você capta. Em seguida, converse com eles cara a cara. Uma escolha segura é fazer isso em uma loja e abordar um funcionário com o pretexto de ter algumas perguntas.

Aproximar-se de pessoas aleatórias pode colocá-las em um clima defensivo ou desdenhoso, mas um funcionário espera isso e tecnicamente terá que responder a você. Quanto mais você fizer isso, melhor você se tornará em captar instintivamente e com precisão as energias das pessoas.

Consequentemente, ser capaz de ler essas energias irá ajudá-lo a fazer feitiços para outras pessoas, bem como dar-lhe um aviso na vida diária sobre em quem confiar e quem está apenas jogando.

A ESPIRITUALIDADE QUEER DOS VIKINGS:

Durante os séculos VIII a XI, as sociedades escandinavas da Europa pagã eram um povo belicoso. Famosos por seus ataques, ferocidade na batalha e agressão extrema, esses guerreiros do norte valorizavam a masculinidade alimentada pela testosterona e o poder físico que a acompanhava. Então, sem surpresa, eles não pareciam muito favoráveis à natureza queer. Muito parecido com os celtas ao sul, os vikings eram uma sociedade machista que valorizava a dureza masculina e desprezava a efeminação. Em certo sentido, não era a natureza queer em si que os nórdicos odiavam, mas sim a feminização de seus homens, que eles equiparavam à fraqueza.

No entanto, sabemos que a homossexualidade masculina era praticada pelos vikings. Além do fato óbvio de que pessoas LGBT+ existiram ao longo do tempo em todas as sociedades, o escárnio comum de homens homossexuais pelos vikings prova que eles estavam cientes disso e que era comum o suficiente para ser um insulto entendido. De fato, duas palavras em particular foram usadas como tal insulto: ergi e argr. Traduzidas grosseiramente, elas significam “não-masculinidade” e “não-masculinidade”, respectivamente. Em uma cultura tão machista, a masculinidade carregava consigo poder e influência social, então ser chamado desses nomes era um insulto extremo que poderia destruir permanentemente a reputação de um homem. Tão severas eram essas acusações que ser chamado assim era motivo para um duelo conhecido como holmganga. Se o acusado ganhou, então ele obviamente não era “não-masculino” e tinha direito a compensação, mas se ele perdesse, então era supostamente sua falta de masculinidade que o havia perdido no duelo. 118

Claro, porém, havia exceção à regra. Se você fosse o “ativo” penetrante durante uma rodada de relações sexuais masculinas, então você não era considerada feminina. E no rescaldo de uma batalha, esperava-se que um nórdico penetrasse sexualmente em seus inimigos derrotados. Nas conquistas vikings, o estupro era uma arma de guerra. Afirmava o domínio sobre o perdedor e efetivamente o feminizava, além de quebrar psicologicamente seu espírito. Fora da guerra, também era visto como certo que os machos vikings fizessem sexo com seus escravos/servos do sexo masculino, uma vez que afirmava seu domínio masculino, desde que fossem os “ativos”. Assim, não era a homossexualidade que os vikings abominavam, mas sim a falta de masculinidade associada a assumir o papel feminino durante o sexo e ser dominado por outro homem.

E não nos esqueçamos das senhoras. Assim como as outras culturas que discutimos anteriormente, não se sabe muito sobre a vida sexual privada das mulheres vikings porque as mulheres não eram vistas como importantes o suficiente para documentar suas vidas com tanta profundidade. Mas há evidências indiretas que sugerem que as mulheres vikings se envolveram no amor feminino do mesmo sexo com frequência suficiente para que os homens decretassem leis contra a masculinização das mulheres. Os sociólogos dizem que isso se deve ao valor escasso das mulheres; a proporção de mulheres para homens era drasticamente desigual, com muito menos mulheres e uma superabundância de homens — um importante efeito colateral de uma sociedade que valorizava fortemente os filhos em detrimento das filhas.

Semelhante à notoriedade outrora causada pela política do filho único da China moderna, as famílias vikings que davam à luz meninas muitas vezes as deixavam no deserto para morrer de exposição como uma maneira de apagar o “erro” e tentar novamente um filho. tendo poucas mulheres, e se algumas dessas escassas mulheres tinham aversão ao sexo heterossexual, isso deixava ainda menos mães em potencial para os homens se casarem e engravidarem. 119 Assim, foram promulgadas leis que desencorajavam as mulheres de assumir características masculinas, como cortar o cabelo curto, usar roupas masculinas, portar armas, etc. Basicamente, as mulheres precisavam agir como o sexo mais fraco para atrair um companheiro e gerar filhos, já que nenhum homem viking macho iria querer uma mulher que fosse mais masculina e dominante do que ele. Por outro lado, isso significava que as mulheres detinham muita autoridade no casamento, pois se se divorciassem do marido, a escassez de mulheres disponíveis dificultava encontrar outra esposa, um poder sobre os homens refletido em inúmeras sagas vikings. 120

Mas, novamente, do ponto de vista lógico da política sexual, se uma mulher viking realmente era lésbica ou mesmo bissexual, realmente não havia nada que seu marido pudesse fazer sobre isso. Afinal, seria imprudente divorciar-se dela devido à escassez de mulheres casáveis por aí. E se ele reclamasse disso, ela poderia ameaçá-lo com o divórcio, efetivamente calando-o. Realisticamente, desde que a mulher cumprisse seu dever de gerar os filhos do marido, quaisquer outras ligações que ela tivesse com mulheres eram sua prerrogativa. 121

Quanto aos indivíduos bissexuais e transgêneros na sociedade viking, quase nada se sabe. A noção viking de natureza queer não é a mesma que a nossa hoje. Para eles, a sexualidade era uma questão de posicionamento sexual e domínio psicológico, não os anseios internos e a identidade de um indivíduo. No entanto, é seguro presumir que, apesar da efemifobia desenfreada exibida na cultura nórdica, todos provavelmente eram um pouco bissexuais. Se você considerar que os guerreiros vikings machistas eram socialmente esperados para gerar filhos e dominar sexualmente seus inimigos de batalha, bem como a permissividade generalizada de escravos/servos masculinos sexualmente “passivos para os ativos”, então a bissexualidade era a norma para os homens vikings, pelo menos. Ainda assim, as façanhas e aventuras dos deuses nórdicos revelam uma boa quantidade de transexualismo e natureza queer geral, como testemunharemos daqui a pouco.

A CONTRIBUIÇÃO VIKING:

A Sacralidade do Masculino Divino:

Agora, antes que você dê um pulo e comece a gritar que sou um agente do patriarcado, é importante entender que qualquer coisa levada ao extremo é ruim, mas isso não significa que a coisa em si seja ruim. O culto da masculinidade reverenciado pelos vikings ainda está conosco em nossa cultura moderna, e a feminilidade ainda é vista como fraca. Embora isso seja lamentável e não seja uma coisa boa para a sociedade, temos que ter em mente que ser masculino ou gostar de pessoas e coisas masculinas não é ruim. Como falamos sobre juventude e beleza, a posse e atração pela masculinidade não é ruim, mas a expectativa de ser masculino certamente é.

No nível do dia-a-dia, temos que estar bem com a afinidade pessoal das pessoas pela masculinidade, seja em sua identidade ou no que as atrai. Hoje em dia, como um movimento reacionário ao patriarcado, homens queer envergonham outros homens queer que têm preferência sexual por homens masculinos. Supõe-se erroneamente que gostar de algo significa automaticamente não gostar de seu oposto. Afinal, um homem gay pode ter uma forte preferência por homens com barba, mas isso não significa que ele odeia ou não se sente atraído por caras barbeados. E uma lésbica pode ter preferência por mulheres com cabelo comprido, mas isso não significa que ela odeie ou não seja atraída por mulheres de cabelo curto.

Se um homem heterossexual prefere mulheres masculinas, isso não significa que ele tenha desdém por mulheres efeminadas. Se uma mulher heterossexual prefere homens efeminados, isso não significa que ela tenha desdém por homens masculinos. Se uma lésbica prefere sexualmente mulheres masculinas, isso não significa que ela tenha desdém por mulheres efeminadas. Se uma pessoa bissexual tem uma leve preferência sexual por homens, mesmo que ainda haja atração sexual por mulheres, isso não significa que haja desdém pelas mulheres. Se um transexual de mulher para homem prefere sexualmente homens, isso não significa que haja desdém pelas mulheres. Se um homem gay prefere sexualmente homens masculinos, isso não significa que ele tenha desdém por homens efeminados. Você vê onde eu estou indo com isso?

Todo mundo gosta de alguma coisa, e envergonhar nossa própria família queer por gostar do que eles gostam só nos derruba como um todo. E só porque alguém é atraído pela masculinidade não significa que odeia a efeminação; os dois não estão de mãos dadas. Desde que não prejudique ninguém, deixe as pessoas gostarem do que elas gostam. E magicamente, não seja adverso ao masculino divino só porque as religiões monoteístas dominantes mostram desdém pelo feminino divino.

Então, para sua próxima atividade mágica, faça um ritual com sua tradição que honre e adore a divindade mais estereotipada masculina em seu panteão. O próprio paganismo atrai muitas pessoas porque sua adoração ao feminino divino é uma lufada de ar fresco em um mundo que cultua o culto da masculinidade tóxica, mas o masculino divino é igualmente importante e não deve ser ignorado ou visto com aversão. Todas as divindades, mesmo as ultra-masculinas, podem nos ensinar algo se estivermos abertos ao aprendizado.

DIVINDADES E LENDAS QUEER:

Cú Chulainn:

Cú Chulainn é sem dúvida a mais homoerótica das divindades celtas irlandesas na consciência moderna, apesar de tecnicamente nunca ter sido oficialmente descrita como tal na tradição sobrevivente. O que o torna um membro do panteão internacional de divindades queer é seu relacionamento com o melhor amigo e irmão adotivo, Ferdiad. Eles cresceram juntos, treinaram juntos, experimentaram o amor físico juntos, e dizem que eram iguais em todas as coisas, exceto que Cú Chulainn era mais naturalmente adequado para “ofensiva” em batalha devido ao seu talento com uma lança, enquanto Ferdiad era mais natural. “defensivo” devido à sua pele dura e dura como armadura.

Através de uma série de eventos, eles são forçados a lutar uns contra os outros em uma batalha até a morte. A batalha se arrasta por dias até que um dia Cú Chulainn desfere o golpe mortal, enfiando sua “arma misteriosa” no ânus de Ferdiad, uma parte de seu corpo onde Cú Chulainn convenientemente sabia que a pele impenetrável de Ferdiad não cobria. Depois de sacar sua arma, Cú Chulainn lamenta muito o cadáver de seu querido amigo, uma cena imortalizada em inúmeras obras de arte. 122

Na adoração, os cães são sagrados para Cú Chulainn, assim como a lança e os aspectos do masculino divino.

Loki:

De todos os deuses nórdicos, Loki é talvez o mais reconhecido por possuir traços queer. Nas lendas, ele é frequentemente descrito como uma divindade trapaceira mercurial e que muda de forma e um agente do caos. A primeira coisa reveladora sobre ele é seu nome completo, Loki Laufeyjarson, que é único, pois mostra que ele recebeu o nome de sua mãe, em oposição à tradição machista viking de crianças recebendo o nome de seus pais.

Sua aparência é descrita como muito bonita, mas muitas vezes ele é encontrado se metamorfoseando em vários animais e, em três ocasiões, uma mulher. Uma história específica conta como Loki se transformou em uma égua e se permitiu engravidar do garanhão Svadilfari, eventualmente dando à luz o cavalo de Odin, Sleipnir. Diz-se também que ele engravidou comendo o coração meio cozido de uma mulher e deu à luz os demônios que atormentam a humanidade.

Em muitos outros contos, Loki vai além de mostrar sua habitual indiferença pelos papéis de gênero e revela seu desrespeito por sua própria identidade de gênero. Um dos exemplos mais populares disso conta como, em um esforço para fazer a giganta Skadi rir, Loki amarrou seus genitais à barba de uma cabra e começou a se castrar. Na cultura machista viking, onde o pênis de um homem era seu símbolo de poder, a tentativa de Loki de se castrar fisicamente para rir resume perfeitamente sua atitude em relação ao sexo e ao gênero. 123

Na adoração, as correspondências de Loki são cobras, sabugueiros e faias, chumbo, azeviche, incenso apimentado, a cor preta e participando de brincadeiras práticas e transgressoras.

Odin:

Uma das divindades escandinavas mais populares, Odin é principalmente um deus xamânico da batalha, morte e sabedoria espiritual que é cego de um olho e é o mestre da vida após a morte do guerreiro paradisíaco de Valhalla. Suas associações com a natureza queer são basicamente duplas. Primeiro, ele é frequentemente considerado um patrono dos párias por estar ideologicamente em desacordo com outros deuses devido ao seu apoio à amoralidade frenética, seja no campo de batalha como um berserker através da ingestão de plantas psicotrópicas ou mesmo como um fora-da-lei. Em segundo lugar, ele pratica as artes mágicas das mulheres. Em um conto famoso, Odin ridiculariza a efeminação de Loki chamando-o do insulto proibido argr, mas Loki então contra-ataca apontando que Odin também não é masculino porque ele é um praticante de seidr (um tipo de magia feminina), efetivamente colocando Odin em seu lugar porque era verdade. Embora as lendas não entrem em detalhes sobre o envolvimento ativo de Odin em seidr, o verdadeiro impulso do contra-ataque de Loki foi uma implicação irônica de que Odin não apenas abraçou sua feminilidade interior, mas também “foi passivo” durante o sexo. 124

Na adoração, suas correspondências são lobos, corvos, as cores preto, laranja e vermelho, incenso de sangue de dragão, samambaias, mandrágoras, teixos, cornalina, ônix e participando das artes de cura, bem como atos de altruísmo.

As Samodivi:

As Samodivi são divindades celtas da Europa Oriental que podem ser melhor descritas como um cruzamento entre uma ninfa, uma sereia e uma harpia. Visualmente, elas são altos, atraentes, loiros e usam vestidos longos, esvoaçantes e etéreos, semelhantes aos de Stevie Nicks da era Rumours, exceto cravejados de penas. Elas têm nomes diferentes dependendo de onde você está: Samodivi na Bulgária, Iele na Romênia, Vila na Polônia e Veelas nos Balcãs.

Elas são conhecidas por serem muito bonitas e muitas vezes são retratadas como bissexuais que flertam abertamente umas com as outras para atrair os homens para sua perdição.

As lendas folclóricas variam, mas geralmente contam como sua beleza e dança sedutora sem fim encantam os homens para se tornarem seus servos luxuriosos. Elas também são conhecidas por atrair mulheres propositalmente com sua linguagem corporal sáfica e sugestiva, mas ao contrário de suas vítimas masculinas, as vítimas femininas ficam tão ciumentas (por nunca possuir tanta beleza ou por alguém com tanta beleza) que se matam. Quem conhece a série Harry Potter vai ver que é das Samodivi que J. K. Rowling tirou sua inspiração para as personagens das Veela. A personagem Fleur Delacour, que representa a Escola de Beaubattons no Torneio Tribruxo é neta de uma Veela. 125

Bibliografia:

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  1. Snorri Sturluson, The Poetic Ecida, trans. Lee M. Hollander (Austin: University of Texas Press, 1986).
  1. Ronesa Aveela, “Samodivi—Witches of Darkness or Thracian Goddesses?” Mystical Emona, June 22, 2015, http://mysticalemona.com/2015/06/22/samodiviwitches-of-darkness-thracian-goddesses/goddesses/ (accessed Sept. 16, 2016).

Fonte: Queer Magic, por Tomás Prower.

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/queer/a-espiritualidade-queer-na-europa-paga-os-celtas-e-os-vikings/

Como Praticar a Magia Sexual

Por Tahirah Olufemi

É importante esclarecer quaisquer equívocos sobre a magia sexual antes de pensar em usá-la. Não é um jogo nem é para apimentar uma vida sexual chata. Não é nem para ter prazer sexual ou fazer bebês. Dito isto, não é de todo impossível considerar que isso transformará muito a maneira como você faz amor. Sua intenção pode ser atrair dinheiro, obter elevação espiritual ou promover a cura.

Seus sentimentos e o que você está pensando são os materiais essenciais necessários para criar o resultado desejado usando o poder puro que é abundante no universo. Para usar com sucesso o sexo mágico, sua mente deve estar focada e suas intenções devem ser claras. Você já está em um estado elevado de consciência quando está perto do clímax sexual. Quando você pratica magia sexual, aumenta a aposta tremendamente. A magia sexual força você a experimentar um momento mente-corpo-espírito. Você cria a intenção com a sua mente, a energia é fornecida pelo seu corpo e o Espírito fará o resto.

Qualquer um pode trabalhar com essa energia poderosa! Você já pode ser um praticante de magia. Em caso afirmativo, simplesmente incorpore-a em seus rituais atuais. O básico é praticamente o mesmo que para qualquer outro tipo de magia.

Se você não é atualmente um praticante de magia ou acredita em alguma tradição mágica em particular, tudo bem. A energia sexual não tem favoritos, é neutra e funcionará para todos. Não tem um senso moral que dita o que é bom ou mau.

Você não precisa de um parceiro do sexo oposto para praticar magia sexual. Este tipo de trabalho ritualizado faz uso da energia feminina e masculina. Todo mundo, não importa seu gênero ou orientação sexual, tem energia feminina e masculina dentro de si. Casais gays e lésbicas também podem praticar magia sexual. Na verdade, um parceiro nem é obrigatório para realizar magia sexual. Sexo consigo mesmo (ou seja, masturbação) também funcionará. Provavelmente é uma boa maneira para começar antes de começar a praticar com um parceiro. Você pode até invocar a divindade de sua escolha para participar com você, se desejar.

Ser bom nisso é como qualquer outra habilidade. Requer prática e pode eventualmente se tornar uma arte. A primeira lição é desacelerar. Muitos de nós temos o hábito de apressar o ato, em vez de desfrutar de um ritmo relaxado durante o sexo. Ao prolongar o ato sexual e permitir que sua energia sexual construa seu poder mágico, será aprimorado. Aproveite seu erotismo. Permita que sua excitação chegue lentamente a um nível próximo ao orgasmo. Então pare. Respire profundamente e mentalmente mude o foco da estimulação em seus órgãos sexuais para outras partes do seu corpo. Isso pode ser suas costas, ombros, braços, etc. Quando a intensa sensação sexual diminuir, trabalhe lentamente seu nível de excitação de volta. até que você esteja novamente no ponto do clímax. Desacelere e volte a focar novamente. Continue assim, construindo e relaxando lentamente. O objetivo é praticar o suficiente para que você possa permanecer perto do pico por um longo período de tempo.

Quando estiver finalmente pronto para liberar sua energia acumulada, mantenha sua intenção forte e vívida em sua mente. Visualize como você se sentirá quando receber o que deseja. Permita que seu orgasmo ultrapasse você. Quando isso acontece, ela transporta sua intenção com ela, como uma onda do mar quebrando na praia. A energia que você produziu leva sua intenção diretamente para o universo, onde ela está nascendo para a realidade.

Depois de chegar ao seu ponto sem retorno, acalme-se e pense no resultado desejado. Desfrute da paz e do relaxamento que fluirão dentro de você. Está agora nas mãos da grande mãe universo.

Agora que você entende o essencial, eu o encorajo a experimentá-lo. A energia sexual é poderosa, de fácil acesso e natural. É o básico para a felicidade, saúde e riqueza. Está tudo ao seu alcance.

Tahirah Olufemi é autora de vários livros sobre espiritualidade, astrologia, sexualidade tântrica, relacionamentos, cura holística e nutrição.

http://www.sensualsacredlove.webs.com

Fonte do artigo:

https://EzineArticles.com/expert/Tahirah_Olufemi/1411138

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Fonte:

How To Do Sex Magic

By Tahirah Olufemi.

https://ezinearticles.com/?How-To-Do-Sex-Magic&id=7851539

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/como-praticar-a-magia-sexual/

Carta a um evangélico

Olá Sr. Evangélico, aqui quem fala sou eu, o Sr. Espiritualista.

Antes de mais nada, preciso lembrar-lhe de que somos irmãos, ou pelo menos não há nada explícito em nossas doutrinas que afirme o contrário…

Vejamos, então, a questão da espiritualidade africana. Tenho visto o senhor dizer que os orixás são demônios e que toda macumba é necessariamente coisa do Capeta… No entanto, é preciso que saiba: para o pessoal lá dos terreiros, macumba é só um instrumento musical, tipo reco-reco, sabe como é? Nem tem tanta importância assim, o som dos tambores é bem mais importante no ritual deles; E, já que falamos nos rituais, são coisas bem antigas, bem antigas mesmo! Muito antes dos termos “demônio” e “Capeta” terem sido inventados, já se faziam rituais para os orixás na África. Se ler um pouco de ciência e antropologia, saberá o que os cientistas já dão por quase certo: que viemos todos da África, o homo sapiens surgiu em algum ponto entre a parte sul e central do continente mãe.

O próprio deus bíblico deve muito ao deus que era cultuado na Mesopotâmia por povos que já eram bisnetos milenares dos primeiros africanos que batiam tambores em homenagem a Natureza. Sem El, Javé não seria muito mais do que o espírito ancestral de alguma tribo de hebreus perambulando por Canaã. Javé foi cultuado como um patriarca de homens, El foi compreendido como um deus cósmico, criador de tudo o que há [1]… Mais ou menos como Olorun, que criou o mundo, mas está tão acima de nosso plano de existência que não há nenhum xamã africano que tenha tido coragem de tratar diretamente com ele [2].

Foi muita engenhosidade dos hebreus esta que associou Javé a El, e com isso criou a ideia de um deus cósmico que, não obstante, poderia ser contatado como qualquer outro grande patriarca. O problema é supor que somente os rabinos podiam contatá-lo… Não foi exatamente por isto que Lutero lutou toda sua vida? Para que as pessoas comuns pudessem ler os textos sagrados e conhecer a Deus por si mesmas, sem a intermediação de Roma? Pois bem, pois os nossos irmãos africanos já falavam com Deus há muito mais tempo que a gente, e nem precisavam de livros para isso.

Quer dizer que todo o ritual que evoca orixás é coisa do bem? Claro que não, mas a maioria é. Maçãs podres, temos em qualquer pomar, e tenho certeza de que mesmo o neopentecostalismo tem as suas… Ou o senhor acha que abençoar talismãs com óleo ungido, ou derrubar fileiras inteiras de pessoas ao chão, é algo perfeitamente baseado nas Escrituras?

Tudo bem, vamos ser honestos: o que achamos um barato é essa tal experiência religiosa. Decerto Pentecostes foi uma loucura do Espírito Santo, mas quem garante que foi a primeira? Se até hoje os senhores procuram falar a língua dos anjos, porque encrencar com o caboclo que fala a língua dos espíritos da Natureza? Por mim, anjos e rios, cachoeiras e carruagens de fogo, florestas e sarças ardentes, se foram vistas pelas mentes que creem, se fizeram o bem para elas, que mal há? Onde o senhor vê o Capeta nessa história toda?

Por mim, se existe um ser assim, condenado a ser mal por toda a eternidade, ele não iria atuar sobre os verdadeiramente religiosos, mas antes optar pela via mais simples: tentar aqueles que já não creem, que não se dedicam, que nunca se arriscaram realmente a mergulhar neste Oceano de Amor que permeia todo o espaço e todos os tempos…

Me perdoe, eu tenho certeza que não é o seu caso, mas acaso nunca viu um cristaozão desses que bate no peito dentro da Igreja e diz: “Sou de Cristo!”, mas que começa a falar mal da sogra 5 minutos depois de terminar a oratória do pastor? De que adianta se achar um grande cristão ao chutar imagens de santos e orixás por aí, se ao chegar em casa chuta o seu cachorro e esbofeteia sua esposa? Será que Cristo falou numa espada para matar os infiéis, ou em oferecer a outra face para o agressor?

Os índios das Américas, coitados, também nunca tinham ouvido falar em Cristo. Os colonizadores europeus não deram muitas escolhas para eles: ou se convertiam, ou eram exterminados [3]. Até mesmo muitos que disseram ter se convertido foram exterminados do mesmo jeito, pois não serviam para o trabalho escravo… E o que há de cristão nisso tudo? Nas Cruzadas, o general francês perguntou ao representante do Papa como iriam identificar os cristãos dos não cristãos, na invasão de uma cidade onde cristãos, judeus e cátaros viviam em harmonia; Ele apenas disse isto: “Matem todos, que Deus escolherá os seus”… Ao que lhe pergunto: e quais deles não eram “de Deus”?

Ainda hoje, no Centro-Oeste do Brasil, há tribos indígenas sendo evangelizadas. Evangelizar não é o problema, pois ao menos estão dando a oportunidade para que esses indígenas se tornem parte de alguma outra comunidade que não a sua, e não vivam isolados, como párias, em um país construído sobre a invasão e o extermínio de suas terras ancestrais… O problema, este sim, é proibi-los de pintar o corpo de vermelho. “Vermelho é a cor do Capeta!”, seus colegas dizem… Mas, e o que diabos os índios tem a ver com o Capeta? Na maioria das mitologias indígenas, sequer existe um ser representante do mal, quanto mais um anjo caído… Eles nem sabem o que é um anjo! Se não podem se pintar de vermelho, vão se pintar de branco? Ou de verde? Ou lilás? Convenhamos, isso não faz o menor sentido.

Vamos tentar ser mais seguidores de El, e menos seguidores de Javé. Javé era um espírito ancestral, e precisava de barganhas e favores, e tinha ciúmes dos cultos de espíritos e deuses alheios, como foi o caso com Baal. Mas El não, El não tinha um oposto, pois o Tudo não tem oposto – o Nada não existe.

Dessa forma, se existe um Capeta, seria injustiça da parte de Deus que ele pudesse controlar a mente dos seres puros, corrompendo-os… Acho que faz mais lógica, além de estar mais de acordo com o que vemos na Natureza e na psicologia humana, considerarmos que o mal existe na alma de cada um de nós, e que é somente lá, precisamente lá, que precisamos fazer uso desta espada de que Cristo falou…

Para cortar a trave que obstruí nosso próprio coração. Para que nossa luz de amor transborde, e englobe os irmãos a nossa volta. Para que evangelizemos realmente uma boa nova, uma notícia de uma nova era, de uma nova sociedade, uma nova espiritualidade, uma nova religião… Assim, quem sabe, também poderemos ler, dentro de nossa alma, conectada a Alma do Mundo: “também eu sou da raça dos deuses, também eu trago o Pai dentro de mim, também eu farei tudo aquilo que o Cristo realizou, e talvez até mais”. E nem sequer precisaremos de um livro para guardar tal Verdade.

Cristo salva, afinal, todos aqueles que o encontram dentro de si mesmos… Mas Cristo é apenas uma palavra. O que salva é a fé, e não há fé mais profunda do que a fé no Amor. Pense nisso meu amigo, meu irmão. Pense, e reflita esta boa nova adiante!

***

[1] Maiores detalhes na série A roda dos deuses (esta teoria não é minha, mas de Mircea Eliade, um dos maiores especialistas em mitologia do séc. XX).

[2] Na mitologia Iorubá, talvez a de maior influência no Brasil, Olorun ou Olodumare é o criador do universo e mora no Orun (Céu). Embora reconhecido como Ser Supremo, não existe um culto ou templo que lhe é dedicado exclusivamente. Os orixás são os seus representantes em Aiye (Terra).

[3] Michel de Montaigne dá sua opinião, bem mais embasada do que a minha, nesta série de Reflexões sobre o sexo.

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#Cristianismo #Candomblé #sabedoriaindígena #Protestantismo #UmbandaSagrada #ecumenismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/carta-a-um-evang%C3%A9lico

A Quimbanda e o Povo Cigano

por T.Q.M.B.E.P.N

A sobrevivência da etnia cigana segue, como os lobos, as leis instintivas da horda!” (Oswaldo Macedo. Ciganos, natureza e cultura).

​Apesar da Quimbanda ter um domínio próprio para os espíritos ciganos, não existe uma liturgia sobre a extensão real do mesmo. Tudo que temos são fragmentos de experiências pessoais ou relatos recebidos por outros quimbandeiros. Dificilmente vemos um adepto da Sagrada Quimbanda Brasileira desenvolver a Linha Cigana e isso ocorre porque existem muitos terreiros de Umbanda que ‘praticam’ a Quimbanda e quando se desenvolvem com a Linha Cigana iniciam um ‘teatro’, onde médiuns maquiados, carregando sotaques latinos e expressões corporais que mesclam dança do ventre, cigana e indiana, interagem com as pessoas, entretanto, são proibidos de exercerem a verdadeira Magia Cigana e acabam atrelados à uma suposta Lei ordenada pelos Orixás.

​Entendemos que a Quimbanda é uma religião sem pré-conceitos, dessa forma temos liberdade para buscarmos dentro do Reino da Lira a Legião de Ciganos e Ciganas que serão encantados com a Lei do Sangue e poderão emanar plenamente suas essências. Temos plena ciência que os Ciganos são poderosos feiticeiros capazes de modificar o fluxo dos caminhos. Fechados, ardilosos e sábios, o Povo Cigano tem muito a contribuir com o desenvolvimento dos adeptos.

​O ícone dessa linha é a Pombagira Cigana. Glorificada em todas as casas de Quimbanda, esse espírito trás um movimento único quando é evocada para um ambiente. Senhora das Estradas e da Boa Sorte se divide por nomes que representam suas qualidades. Junto a essa Senhora, o responsável pela gestão é o Exu Cigano. Dono das rodas, esse espírito determina a evolução e o comércio de um grupo. Por vezes é agressivo e violento, mas torna-se cordial depois de alguns contatos. Todo Povo Cigano é cercado de mistérios e adoram exaltá-los como forma de confundir aqueles que não são parte de sua linhagem. Eles nos ensinam que existem formas diversas (manifestas pelas muitas cores que eles trabalham) de ludibriarmos o destino, imposições e limitações que consequentemente nos abatem.

​Existe um véu obscuro de cobre o grupo cigano: A descendência Caiinita. Segundo as lendas, os ciganos são os descendentes diretos de Cain. Por tal motivo vagam pela Terra em busca de seu espaço sagrado, donde edificarão o Reino do Primeiro Assassino. Outra lenda é que os ciganos foram responsáveis pela confecção dos pregos que prenderam Jesus na cruz. Se associarmos o Povo Cigano com a linhagem de Cain encontraremos a Tradição da forja, ensinada pelo Mestre Tubal-Cain (descendente) nos Ciganos Kovatsa. Isso não significa que os Ciganos fizeram os pregos, mas que certas relações esotéricas possivelmente estavam ocultas nas brumas dessa lenda.

​Uns alegam que são ladrões e prostitutas que vagam pela Terra, outros que são os mais poderosos magos, ninguém sabe exatamente quem são os não os ciganos, pois não existe um controle de inserção nas comunidades. “Ou é Cigano de Sangue ou é Cigano de Alma, porém, sempre Cigano!” (Exu Cigano)

A história é marcada de passagens onde o sofrimento do Povo Cigano tomou proporções assustadoras. Assim como os Judeus, esse Povo foi perseguido na segunda guerra e morto em campos de extermínio, mas antes disso foi escravizado, perseguido e humilhado. Muitos Ciganos tinham que fingir serem cristãos para poder ter acesso às cidades, haja vista que na Europa as cidades tinham medo deles. Alguns grupos tinham dons musicais e promoviam-se através de espetáculos, outros mesclavam música com misticismo promovendo a leitura de cartas, quiromancia e trabalhos espirituais sentimentais, entretanto, dentro desses grupos temos relatos de ciganas que se prostituiam. Os homens ciganos acabaram se tornando mestres nos negócios, pois levavam novidades em suas carroças para todas as partes do mundo.

“Sua religião era desconhecida, apesar de se dizerem cristãos, mas sua ortodoxia era mais que duvidosa. De onde vinham eles? De que mundo maldito e desaparecido…? Eram os filhos das feiticeiras e dos demônios? Que salvador moribundo e traído os condenara a marchar para sempre? Era a família do judeu errante? Não seria o resto das dez tribos de Israel perdidas…?” LEVI, Eliphas (Alphonsus Louis Constant). História da Magia. [Trad. Rosabis Camayasar]. São Paulo: Pensamento, 2005.

​A pressão que o mundo exerceu sobre esse Povo foi tão intensa que dificilmente não iriam sucumbir. O cigano aprendeu sobreviver usando todas as artimanhas possíveis que vão desde a falsificação de documentos, roubos, venda de ouro e joias falsas, enfim, usam de todos os meios lícitos ou não para assegurarem sua existência. Não podemos generalizar essa questão, pois todos os documentos oficiais que encontramos para dar embasamento nesse texto assim apontam. Sabemos que não existe uma história oficial sobre eles e que quase tudo que foi escrito veio de pessoas que não eram ciganos, dessa forma relatamos com parcimônia certas questões.

​“Mas deixando de lado a correção noética dessas práticas, no que diz respeito aos ciganos, é um traço cultural revelador que permite afirmar com certeza: 1. a antiguidade desses nômades na escala do passado histórico. O conhecimento e domínio desses Oráculos, desses métodos divinatórios que, sabe-se são de origem bem remota, essas “artes” sendo mantidas como forte tradição entre os ciganos significa que muito possivelmente todas as hipóteses dos estudiosos estão certas: os Ciganos transitaram pelo mundo, na Antiguidade, desde a Índia, Mesopotâmia, Egito, oriente Médio e depois, Grécia, leste europeu, Ásia Menor, até buscarem as terras mais ao Ocidente da Europa já entre meio-fim da Idade Média.

“De cada lugar visitado, país, região, de cada terra que lhes serviu de pouso, eles absorveram um tanto de cultura. Ou seja, adotaram práticas, fizeram escolhas e apropriaram-se delas de acordo com sua própria necessidade e conveniência. Práticas, saberes, do linguajar, da religiosidade, das tecnologias, dos costumes alimentares, vestuário, artes (especialmente musicalidade), convenções sociais.” VILAS-BOAS DA MOTA, Ático. Ciganos: Antologia de ensaios. Brasília: Thesaurus, 2004

​Para a Quimbanda a história tem uma importância fundamental, pois sem fatos não poderíamos alicerçar nossas práticas e condutas. Assim, entendemos que devemos apresentar o Povo Cigano como mais uma Tradição vítima de pressão por parte do Sistema Vigente. Assim como africanos e nativos, os ciganos se dividiram entre aqueles que aceitaram e se adaptaram às imposições e os que se rebelaram e confrontaram o Sistema à sua forma. Chegaram em Terra Brasileiras através das naus portuguesas como condenados da Justiça ou do Santo Ofício por volta do século XVI. A primeira leva era da etnia calon e somente no século XIV vieram os romani, porém, de forma voluntária ou para se esconder de condenações.

​Esse dado é importantíssimo, pois desmistifica apenas a aparição de espíritos que mesclam língua espanhola com língua portuguesa, haja vista que os Calon adotaram a língua como oficial e apenas inseriram parte de um dialeto particular para diferenciá-los.

​Em Terras Brasileiras, apesar de chegarem extraditados, não foram escravizados como ocorreu em outras partes do mundo. Alguns Ciganos, ao contrário do que as pessoas pensam, dedicaram-se ao comércio de escravos e atingiram grandes fortunas. Mas essa não é a regra. Até a atualidade são um Povo excluído, analfabeto e que sofre pelas diferenças sociais.

​Os espíritos ciganos que foram atraídos pela imantação da Quimbanda certamente foram e são os mais arredios à pressão material. Esses foram assassinos, ladrões, estelionatários, vagantes sem fé, magos negros, feiticeiras implacáveis, curandeiros, prostitutas, chefes intransigentes e violentos que lutavam pela sobrevivência de um Povo massacrado pelo Sistema. Esses espíritos jamais se submeteriam às Leis da Umbanda ou de qualquer outra expressão religiosa que não fornecesse a verdadeira Luz de Lúcifer. Os Ciganos da Quimbanda são a máscara mais perfeita dentro do Culto de Exu, pois ludibriam, enfeitiçam, praguejam, amaldiçoam e libertam enquanto dançam e bebem.

​Muitos feitiços e práticas que usamos na Quimbanda Brasileira possuem fundamentos ciganos. Não temos a exata noção do tamanho dessa influencia, mas ao estudarmos a Magia Cigana antiga começamos vislumbrar muitas similaridades. O mais impressionante é que as influencias já haviam ocorrido antes do descobrimento do Brasil, principalmente na Europa e Ásia. O culto lunar, o uso de talismãs, objetos de poder (chaves, ferraduras, moedas, etc.), quiromancia, cartas, runas, enfim, a Magia Cigana está fortemente presente em muitas Tradições de Bruxaria. Para a formação da Quimbanda Brasileira destacamos a Tradição Ibérica e, consequentemente, as Bruxas e Bruxos extraditados pelo Santo Ofício para as Terras colonizadas por Portugal e Espanha. Também encontramos referencias ciganas na Tradição Stregheria (Italiana). Certo é que os Ciganos absorvem tudo que podem sobre a Cultura e religião dos lugares onde estão e direta ou indiretamente em suas andanças e peregrinações acabam influenciando outros Povos. Esotericamente, são portadores das sementes do conhecimento proibido que só comercializam-nas para as pessoas que tem a coragem de procura-los e desnuda-los.

​Desenvolver a Linha Cigana na Quimbanda não significa que os adeptos deverão zelar de mais um espírito, tampouco, incorpora-lo. O adepto deverá ser apresentado ao Exu Cigano e Pombagira Cigana – chefes do Sub-Reino (esses representam o Rei e a Rainha Cigana) e reverenciar esse Povo. Após fazer as oferendas corretas, serão iniciados nos mistérios do ‘Baralho Cigano’ que, dentro da Quimbanda Brasileira, é um poderoso oráculo.

​Existem casos em que o adepto deseja se aprofundar na Magia Cigana. Para esses, após um estudo profundo sobre sua espiritualidade, um espírito da corrente Cigana deverá ser eleito como Mentor (a). Se essa relação enraizar demasiadamente, o adepto deverá zelar desse espírito da mesma maneira que zela de seus Mestres Pessoais. É uma grande responsabilidade. Por isso, só fazemos essa apresentação nos adeptos que tenham controle sobre sua espiritualidade e já estejam em graus elevados de ‘simbiose’ com seus Mestres Pessoais.

​Para os adeptos que possuem uma ancestralidade espiritual emanada pela corrente Cigana os feitiços e magias desse Povo fluem com imensa facilidade. Geralmente esses adeptos tem uma boa intuição e conseguem se desenvolver nos oráculos muito melhor do que os demais adeptos. Mas a contraparte é que da mesma maneira que dons são favorecidos, outros aspectos nocivos podem aflorar se o adepto não aprender filtrar as energias canalizadas. O Povo Cigano é a expressão máxima de Liberdade, mas essa tem muitos níveis e em alguns deles o adepto pode se perder e criar labirintos psíquicos. Esse também é um dos motivos que Nossa Tradição entende como fundamental para só fazer o desenvolvimento Cigano nos adeptos mais experientes.

​Fonte: https://quimbandabrasileira.wixsite.com/ltj49/povo-cino

Postagem original feita no https://mortesubita.net/cultos-afros/a-quimbanda-e-o-povo-cigano/

As Nove Sinfonias de Beethoven

Primeira Sinfonia

Cada sinfonia possui sua própria nota-chave e a correlação com os degraus iniciáticos dos nove mistérios (observar as camadas da Terra no diagrama 18 do conceito Rosacruz do Cosmos).

Essas Sinfonias ainda têm sua própria nota-chave espiritual. Começando com a primeira sinfonia, sua nota-chave é o poder e é representado por uma coluna no alto, à direita – o primeiro símbolo da divindade, como foi adorado pelo homem primitivo, nos primórdios da civilização. Pode-se dizer também, que o número um significa o ego, o individual cujo propósito diário – através da evolução, é manifestar sua divindade interior. O mistério espiritual da primeira sinfonia envolve a terra física e os segredos ocultos de seu longo passado no desenvolvimento evolutivo. Esta sinfonia,na sua majestade descreve a tremenda transformação da Terra, e nos seus quatro movimentos, é como se o compositor estivesse transportando para a música as luzes criativas de Deus. (extrato mineral)
Segunda Sinfonia

A segunda sinfonia, tem por nota-chave espiritual o amor. O número dois é o “Princípio Materno de Deus”. Esse princípio feminino manifesta-se como “amor supremo ” , a vibração que anima inteiramente a segunda sinfonia , transmite a música tal beleza e ternura , que muitos simpatizantes desta sinfonia declaram-na a mais bela de todas. Através do segundo mistério , o aspirante aprende os segredos dos éteres que rodeiam a terra. Estes éteres tem muito a fazer com os segredos que envolvem os seres que habitam este reino, tais como os espíritos da natureza , os responsáveis pelo embelezamento da terra. E por este mistério que passando ao reino etérico e ao seu interior , estudam-se os mistérios das flores e plantas. ( extrato fluídico / regiões químicas e etérica do mundo físico )
Terceira Sinfonia

Com a união do poder ( primeira sinfonia ) e do amor ( segunda sinfonia ) , a terceira nota-chave espiritual torna-se uma perfeita liga de força. Beethoven foi capaz de trazer à sua terceira sinfonia um tema de suprema luta que enfrenta cada ser humano e a derradeira vitória do poder do espírito. Esta luta do homem é representada no terceiro mistério , quando o aspirante experiência o mundo dos desejos. É ali que ele começa a entender a estreita relação entre o homem e o planeta em que vive. Ele aprende o perigo de sua desregrada natureza de desejos com a qual ele influencia e utiliza certas forças sinistras internas correspondentes às camadas da terra. Beethoven descreve que apenas aquele que atingiu o completo domínio de si próprio , pode entrar e investigar o mundo dos desejos da terra. ( extrato vaporoso / mundo de desejos )
Quarta Sinfonia

A adição da força à combinação do valor vibratório do poder do amor , traz o resultado de uma emanação feminina chamada beleza que é a nota-chave da quarta sinfonia de Beethoven. Onde quer que haja amor espiritual existe também harmonia. A quarta sinfonia é descrita muito bem como “a sinfonia da felicidade ” e seus quatro movimentos são identificados como “as qualidades de serenidade , felicidade , beleza e paz “. Como o terceiro mistério esta relacionado com as consequências da natureza do desejo , o quarto mistério relaciona-se à espiritualização da mente. No reino do pensamento concreto – localizado na quarta camada da terra – o candidato à aprendizagem destes mistérios aprende a usar o poder do pensamento construtivo/criativo e a realização de que por este meio , ele constroi sua própria vida. ( extrato aquoso / região do pensamento concreto )
Quinta Sinfonia

“Beethoven enfrenta as ondas do mar e permanece no leito do oceano que para as nuvens no seu curso , dispersa as névoas e revela o puro azul do céu e a face escaldante do sol ” . São palavras de Richard Wagner ao descrever a gigantesca energia do primeiro movimento da quinta sinfonia.

Cada uma das quatro partes desta sinfonia, representa um dos quatro elementos da natureza ; fogo , ar , água e terra. Esta sinfonia canta a canção destes elementos com intensidade e poder. Com a nota-chave de liberdade , a quinta sinfonia é melhor conhecida como ” sinfonia da vitória ” e tem a interpretação espiritual da conquista do eu inferior. Durante este quinto mistério , é ensinado ao aspirante ler na memória da natureza os registros das vidas passadas e o trabalho dos átomos sementes , no mundo do pensamento abstrato . (extrato germinal / região do pensamento abstrato )
Sexta Sinfonia

Um hino sublime à natureza , é a descrição da expressão musical desta sinfonia. Com a nota-chave da unificação, o símbolo da sinfonia é correlacionado com a divina hierarquia zodiacal de virgo . Este signo feminino pertence à triplicidade terrestre e ligado à mãe natureza , expressando ” o serviço por meio da tonalidade da beleza “. O motivo musical é também caracterizado por esses atributos. A nota-chave da unificação é firmemente ligada ao número seis , que expressa luz , amor e beleza. No sexto mistério o aspirante penetra no mundo da consciência crística , onde todo senso de separatividade já foi transcendido e a verdadeira universalidade de toda a vida realiza-se.

A sexta sinfonia de beethoven , também é conhecida como “sinfonia pastoral “. ( extrato ígneo / mundo do espírito de vida )

Sétima Sinfonia

Exaltação é a nota-chave desta belissíma sétima sinfonia , com o número sete representando o fechamento de um ciclo , em termos de duração de tempo.

O tríplice espírito eleva-se triunfantemente sobre os quatro elementos da matéria. Franz Liszt viu na sétima sinfonia uma “apoteose à dança “. No sétimo mistério, o aspirante torna-se ciente do sétimo extrato da terra, conhecido como extrato refletor , e que esta intimamente ligado ao mundo do espírito divino. É neste reino que a terra reage acuradamente aos pensamentos e desejos do homem. Podem ser igualmente construtivos e destrutivos e relacionados com à lei de causa e efeito. Por isto é importante saber que o homem é um ser de constituição sétupla ; o tríplice espírito é ligado ao tríplice corpo pela mente. O principal propósito da peregrinação do homem pela terra , é capacitar o tríplice espírito a trabalhar sobre o tríplice corpo a fim de refiná-lo , espiritualizando os corpos inferiores e transmutá-los para que a alma possa usá-los amorosa e desinteressadamente. ( extrato refletor / mundo do espírito divino )
Oitava Sinfonia

Chamada de ” épico do humor ” , e descrita por alguns como ” a sinfonia que carrega a impressão da divindade ” , esta sinfonia tem a nota-chave da harmonia. É uma sinfonia que exprime alegria com fantástico humor . Um luminoso e divertido espírito de felicidade espalha-se por ela. O trabalho exaltado do oitavo mistério, é exemplificado na sua melodia , que é delicada , bela e preenchida de certa vibração mística que parece cantar a habilidade de acalmar os ímpetos da tempestade que remove montanhas de seus lugares. Esses mistérios estão na esfera celestial relacionado ocultamente ao mundo dos espíritos virginais. Temos estudado na Fraternidade Rosacruz , que Deus diferencia dentro de si mesmo as diversas ondas de vida , para – em suas jornadas evolutivas – alcançarem elevados estágios espirituais. ( extrato atômico / mundo dos espíritos virginais )
Nona Sinfonia

Esta é a sinfonia que representa o equilíbrio perfeito entre mente e coração , conhecida como casamento místico, e neste sublime ritual Beethoven descreve uma consumação (consumatun est ) ; o despertar do cristo interno no aspirante , que agora passa a ser um adepto. Esta é a única das sinfonias de Beethoven que possui coral , vozes humanas! ( expressão material do espírito terrestre / mundo de deus )

Links
Música: Origens e Concepções
J.S. Bach e os Rosacruzes
Conceito Rosacruz de Cosmos

Fabio Almeida é músico e autor do blog Sinfonia Cósmica.

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#Arte #Espiritualidade #Música #Rosacruz

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/as-nove-sinfonias-de-beethoven

BDSM e Magia Sexual

Em um curto espaço de tempo, os flagelantes da Peste Negra, terrível epidemia que varreu a Europa entre os anos de 1347 e 1350, transformaram-se de exemplo de temor a Deus a pervertidos morais. Só os membros da realeza e do clero, encontravam abrigo em castelos, palácios ou residências nas montanhas.

Onde a epidemia raramente chegava; aqueles homens misteriosos, munidos apenas de túnicas e capuzes negros, e seus inseparáveis chicotes, despertavam admiração e respeito, mas também a imaginação libidinosa das recatadas senhoras nas cidades e vilarejos por onde passavam. Da noite para o dia, o clero ( principalmente o alemão ) começou a enxergar um significado paralelo, nas andanças daqueles homens e do tipo de reação que causavam naqueles que presenciavam suas auto-flagelações em praça pública.

“Não há nada de santo nesse ato, apenas uma cruel perversão sensual que choca e oprime a imaginação destes pobres desesperados com a Peste; que vêem nestes homens, exemplos inócuos a serem seguidos.” disse historicamente Helmut Schaff, um frade alemão responsável por monitorar e vigiar os deslocamentos dos flagelantes no norte e noroeste do país. Logo surgiriam as denúncias.

Como os flagelantes viviam da caridade daqueles que davam alimento e abrigo entre um canto e outro, não faltavam línguas venenosas, especialmente de vizinhas vingativas (algo que se repetiria na caçada às bruxas ) – nas paróquias, furtivamente estas senhoras de respeito, vinham confessar seus pecados antes de entregar a alma a Deus via Peste Negra, mas também aproveitavam a ocasião para denunciar as rivais.

Testemunhos como estes podem ser encontrados em atas religiosas da Idade Média: “Um flagelante passou a noite abrigado na casa de V… acordei de madrugada ouvindo gritos e barulho de chicotadas. Vi pela janela que o flagelante era chicoteado por V… e depois copulavam. Tudo acompanhado por preces, cânticos e incensos do Diabo ( o que quer que isso possa significar ).”

Friederich von Spee, autor de Cautio Criminalis, o livro que denunciava os crimes dos inquisidores alemães, deu seu depoimento sobre o caso:

“Pura covardia. Sem precedentes na história do cristianismo. Basta que apareça algo que coloque em risco a pretensa autoridade espiritual do alto clero, e logo surge algo para minar as legítimas demonstrações de fé dos homens não consagrados pela Igreja.”

A epidemia arrefeceu e com ela o número de flagelantes; mas a identidade sadomasoquista; semeava as origens que dariam os frutos proibidos nas palavras de Sade e Masoch. Von Spee poderia ter razão quanto as calúnias provocadas pelo clero contra a maioria dos flagelantes, mas não poderia ignorar jamais, a atmosfera sensual, alimentada por eles. Durante as procissões, as mulheres eram ampla maioria na “platéia”. Elas fantasiavam com aquelas cenas: num ambiente onde quase sempre eram dominadas, maltratadas, submissas e sofredoras – a relação fé, espiritualidade, sensualidade e blasfêmia, travavam uma batalha inglória nas mentes e nos corações que esperavam a chegada da morte a qualquer minuto.

Basta lembrar que durante o pico da epidemia, o clero perdeu qualquer autoridade espiritual sobre os fiéis, os mais diversos tabus sexuais eram quebrados sem nenhuma cerimônia. Portanto, castigá-los e depois consolá-los com carícias mais íntimas e acolhedoras era algo extremamente excitante para aquelas mulheres; como atesta este relato atribuído a esposa de um Barão de Marselha; que fazia parte da compilação de material erótico relacionado ao período da Peste na França, de propriedade de Rétif de la Bretonne, inimigo número um do Marquês de Sade, de quem fez uma bem sucedida paródia de Justine e os Infortúnios da Virtude:

Eis o relato:

“A noite escura, mais escura das noites. Esta noite é a noite deles. Quão adorável é este homem. Com sua face crua e lisa, protegida pelo negro capuz. Por que escondê-lo ? Protegê-la das minhas mãos ? Minhas carícias ? Talvez uma pequena punição. Para tu ou para mim (…) Confesse menino ! Venha confessar seus pecados para mim ! Te darei alimento, proteção e o que mais precisar (…)” O texto é atribuído a esposa de um rico barão francês da cidade de Marselha.

Lamentavelmente, Bretonne morreu enquanto preparava aquela que certamente seria mais uma das tacadas de mestre que ajudariam a pôr ainda mais lenha no forno do governo e do clero francês.  Da Idade Média e Renascimento para cá, pouca coisa mudou. Fingimos vivenciar a liberação sexual que se manifestou nas décadas de 20 e 30, principalmente na Europa e na década de 60 nos Estados Unidos. Nestes períodos, surgiram os Spankin’ Clubs. Um deles funcionava adjacente a Igreja de Satã na Califórnia.

Locais freqüentados por satanistas que também faziam uso das práticas sadomasoquistas mescladas a práticas de magia sexual, embora elas ainda não fizessem parte de termos litúrgicos. Foi em locais como este que gente como Zeena Galatea LaVey, que adotou o sobrenome do marido Nikolas Schreck após romper com o pai, ajudaram a desenvolver as práticas BDSM misturadas com rituais satanistas e ocultistas em geral.

ENTREVISTA COM ZEENA SCHRECK

COMO VOCÊ ENCAROU O BLOQUEIO DO SITE ?

(Antigo WWW.SADELICIOUS.ORG, voltado para práticas sadomasoquistas mescladas com magia sexual.)

Como mais um ato covarde do fundamentalismo cristão americano. Eles são piores que os muçulmanos. Se pudessem, e temo que um dia poderão, pois trabalham incessantemente para isso, vão decepar os clitóris das mulheres americanas para que não sintam prazer. Eu nunca estive tão horrorizada na minha vida.

O SITE NÃO ERA ABERTO AO PÚBLICO, SÓ SE TINHA ACESSO MEDIANTE A UMA SENHA. QUANTOS ASSOCIADOS VOCÊS TINHAM ? QUANTOS DELES ERAM MEMBROS DA WEREWOLF ORDER ?

Não era um site para curiosos. Era necessário um convite formal. Era para pessoas interessadas em desenvolver sua espiritualidade com o auxílio de atividades BDSM. Tínhamos 17 mil acessos diários onde as pessoas trocavam experiências, davam seus depoimentos. Eu nunca fui membro do site mas apresentava aos membros da Werewolf a idéia para aqueles interessados em integrarem-se ao que eu chamo de “Left Hand Path Sex.” Todos os vídeos alí eram reais, experiências sadomasoquistas mediadas por um sacerdote satanista do Templo de Set.

VOCÊ CONCORDA QUE A MULHER PODE TER MELHORES RESULTADOS VIA BDSM DO QUE O HOMEM ? DESENVOLVER EXPERIÊNCIAS MAIS ENRIQUECEDORES ?

Acho que a mulher consegue ver além da prática do sexo em relações sadomasoquistas. Não resta dúvida que o limiar entre prazer e dor, amor e espiritualidade caminham de mãos dadas. Para os homens, especialmente no início das práticas, eles têm enormes dificuldades em se concentrar em questões espirituais, desperdiçam força e energia. Mas quando superam essa barreira, tornam-se grandes mestres, como o sadomasoquismo exige. É imperiosa a necessidade de alertar que a prática de BDSM mesclada a rituais satanistas, despendem uma grande quantidade de energia que se não for bem aproveitada, pode acarretar sérios danos tanto a pessoa submissa quanto aquele que submete. É uma forma de magia como qualquer outra.

A ALGOLAGNIA É A PRÁTICA DE SE TRANSFORMAR DOR EM PRAZER SEXUAL. COMO SE DÁ A TRANSFORMAÇÃO DO PRAZER SEXUAL EM  ENERGIA ESPIRITUAL ?

Pegamos o exemplo dos flagelantes: não há como duvidar que a experiência deles difundia uma experiência transcendental mediante a punição do corpo. O que é o uso do cilício pela Opus Dei senão uma experiência mágico-sexual ? Uma forma de extrair energia e libertar e concentrar energia ? Eu já vi muitos depoimentos de ex-membros da Opus Dei que afirmam liberar energia sexual pelo uso do cilício. A diferença é que ela não era reaproveitada por eles, diferente de nós que reutilizamos essa energia na forma de ritos e feitiços.

DÊ NOS UM EXEMPLO INICIAL. PARA AQUELES QUE DESEJAM PRATICAR O BDSM MEDIANTE AS PRÁTICAS SATANISTAS.

Não é necessário ser um satanista para praticar. É simples. Para começar você deve escolher: você inicialmente quer desenvolver uma relação espiritual ou física ? Suas necessidades mais urgentes no momento concernem à alma ou ao seu corpo ? Se é uma questão espiritual ? Opte pela submissão. Comece pela sua presença numa Missa Negra com seu altar particular, só então tome parte em rituais adjuntos ao BDSM. Se a operação é voltada para o lado físico e material, assuma a posição dominante.


O BRANDING TÊM LUGAR NAS MISSAS NEGRAS BDSM ?

É tudo uma questão de escolha. Boa parte dos membros do Templo de Set passaram pela experiência do Branding em práticas de sodomia principalmente; mas creio que só seja indicado para pessoas já acostumadas com práticas sadomasoquistas. Mas não tenho nenhuma dúvida que seja das práticas mais corajosas e que se assemelham as Satanistas. Embora eu já tenha dito que a maioria dos praticantes de BDSM não sejam Satanistas. Temos Wiccans, Pagãos tradicionais, até mesmo Cristãos.


PARTICIPEI DE ALGUMAS MISSAS NEGRAS BDSM E FIQUEI IMPRESSIONADO COM A NATURALIDADE COM QUE ELAS FLUEM. PARECEM TER SIDO INVENTADAS HÁ MILÊNIOS. O QUÊ VOCÊ ACHA ?

Elas foram criadas com os flagelantes da peste negra. Mediante o medo da morte, as pessoas se libertavam por meio da sexualidade reprimida. Se ainda hoje somos reprimidos sexualmente, imagine naquela época. Eu acho maravilhosa a transformação do prazer sexual em força espiritual. É como se eu tivesse caminhado por dias debaixo de um sol impiedoso e subitamente encontrasse uma cachoeira de águas cristalinas na qual eu pudesse me refrescar. Não é uma boa analogia eu sei ( risos ) mas é o melhor que encontrei no momento ( gargalhadas gerais )


O KAMA SUTRA E O TANTRISMO TERIAM LUGAR NAS MISSAS BDSM ?

Sim sempre. Os caminhos do ocultismo são muito ecléticos.


QUANTAS PESSOAS EM MÉDIA PARTICIPAM DAS MISSAS NEGRAS BDSM ?

Isso depende do número de seguidores de um culto. A liturgia é basicamente a mesma, com a única diferença da inserção de práticas SM nos rituais. O mais comum é a prática restrita a casais. E também é mais indicado para os iniciantes. Dando início a dois, no próprio lar, até se acostumar com as práticas.

EXISTEM PESSOAS QUE BUSCAM SIMPLESMENTE A ORGIA PURA NAS PRÁTICAS ASSOCIADAS ENTRE BDSM E MISSAS NEGRAS ?

Sim e não vejo nada de errado nisso. É uma forma de se libertar. Mas se a pessoa passa a não se interessar pelo lado mágico da história, fica bastante complicado prosseguir. A idéia de juntar as práticas do sadomasoquismo com a magia negra sexual, têm por objetivo principal confrontar as forças do ser humano. Por exemplo: quando você se encontra numa posição submissa, você é capaz de identificar e reconhecer a energia que você está dispersando. É possível capturá-la, analisá-la, saber se ela serve ou não para algum propósito mágico. Nesse caso é importante ter um dominante que te ajude a pressurizar essa energia.

VOCÊ LEU OS CONTOS ERÓTICOS DO RÉTIF BRETONNE SOBRE OS FLAGELANTES DA PESTE NEGRA?

Muitas vezes. Excitação a todo vapor. Tive muitos orgasmos naquelas páginas abençoadas. (risos)

VOCÊ JÁ LANÇOU FEITIÇOS ENQUANTO PRATICAVA OS RITUAIS DE BDSM ?

Claro. Essa é a idéia. Faço isso o tempo todo. Você têm nestes momentos toda a concentração de energia mental necessária para criar e lançar feitiços, sejam eles de amor ou ódio. Também é possível capturar energia de seu parceiro e usá-la em seus feitiços. Isso deve ser feito de comum acordo. Mas pode-se roubar energia sexual por meio de um parceiro de quem você queira se vingar por exemplo. O sexo pode e deve ser usado como plataforma de lançamento de feitiços ou maldições, é quando sua energia está mais crua e forte, apta a ser capturada.


ÍNCUBOS E SÚCUBOS SEXUAIS EXISTEM OU SÃO APENAS METÁFORAS ? QUAL A APLICAÇÃO DELES NO BDSM ?

É muito subjetivo. Incubos e Sucubos são termos criados pela igreja católica como forma de categorizar a sexualidade humana. No BDSM, Incubos e Súcubos têm aplicações semelhantes ao do Dominate e do Subsmisso. O importante na prática sexual mesclada as missas negras ou rituais de magia, é entender que o uso do BDSM é altamente recomendado quando têm-se a intenção de fornecer ou receber a maior quantidade possível de energia sexual para ser empregada em rituais de magia. Pode-se facilmente resumir as práticas de BDSM e magia a isso: transformação de energia sexual em feitiços de magia, seja ela negra ou branca.

Texto Paulie Hollefeld

 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/bdsm-e-magia-sexual/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/bdsm-e-magia-sexual/