A Inquisição Protestante

Muitos evangélicos falam da Inquisição Católica, mas poucos sabem sobre a Inquisição Protestante.

Alemanha

Bandos protestantes esfolaram os monges da abadia de São Bernardo, em Bremen, passaram sal em suas carnes vivas e depois os penduraram no campanário.

Em Augsburgo, em 1528, cerca de 170 anabatistas foram aprisionados por ordem do Poder Público. Muitos foram queimados vivos; outros foram marcados com ferro em brasa nas bochechas ou tiveram a língua cortada.

Em 1537, o Conselho Municipal publicou um decreto que proibia o culto católico e estabelecia o prazo de oito dias para que os católicos abandonassem a cidade. Ao término desse prazo, soldados passaram a perseguir os que não aceitaram a nova fé. Igrejas e mosteiros foram profanados, imagens foram derrubadas, altares e o patrimônio artístico-cultural foram saqueados, queimados e destruídos. Também em Frankfurt, a lei determinou a total suspensão do culto católico e a estendeu a todos os estados alemães.

O teólogo protestante Meyfart descreveu uma tortura que ele mesmo presenciou: “Um espanhol e um italiano foram os que sofreram esta bestialidade e brutalidade. Nos países católicos não se condena um assassino, um incestuoso ou um adúltero a mais de uma hora de tortura (sic). Porém, na Alemanha, a tortura é mantida por um dia e uma noite inteira; às vezes, até por dois dias; outras vezes, até por quatro dias e, após isto, é novamente iniciada. Esta é uma história exata e horrível, que não pude presenciar sem também me estremecer. “

Inglaterra

Seis monges Cartuxos e o bispo de Rochester foram sumariamente enforcados. Na época da imperadora Isabel, cerca de 800 católicos eram assassinados por ano e Jesuítas foram assassinados ou torturados. Um ato do Parlamento inglês, em 1562, decretou que “cada sacerdote romano deve ser pendurado, decapitado e esquartejado; a seguir, deve ser queimado e sua cabeça exposta num poste em local público”.

Suíça

O descobridor da circulação do sangue foi queimado em Genebra, por ordem de Calvino. No distrito de Thorgau, um missionário zwingliano liderou um bando protestante que saqueou, massacrou e destruiu o mosteiro local, inclusive a biblioteca e o acervo artístico-cultural.

Em Zurique, foi ordenada a retirada de todas as imagens religiosas, relíquias e enfeites das igrejas; até mesmo os órgãos foram proibidos. A catedral ficou vazia, como continua até hoje. Os católicos foram proibidos de ocupar cargos públicos; o comparecimento aos sermões católicos implicava em penas e castigos físicos e, sob a ordem de “severas penas”, era proibido ao povo possuir imagens e quadros religiosos em suas casas.

Ainda em Zurique, a Missa foi prescrita em 1525. A isto, seguiu-se a queima dos mosteiros e a destruição em massa de templos. Os bispos de Constança, Basiléia, Lausana e Genebra foram obrigados a abandonar suas cidades e o território. Um observador contemporâneo, Willian Farel, escreveu: “Ao sermão de João Calvino na antiga igreja de São Pedro, seguiram-se desordens em que se destruíram imagens, quadros e tesouros antigos das igrejas”.

Irlanda

Quando Henrique VIII iniciou a perseguição protestante contra os católicos, existiam mais de mil monges dominicanos no país, dos quais apenas dois sobreviveram à perseguição.

Escócia

Durante um período de seis anos, John Knox, pai do presbiteranismo, mandou queimar na fogueira cerca de 1.000 mulheres, acusadas de bruxaria.

O saque de Roma

O Saque de Roma foi um dos episódios mais sangrentos da Reforma Protestante.

No dia 6 de maio de 1527, legiões luteranas do exército imperial de Carlos V invadiram a cidade. Um texto veneziano, daquela época, afirma que: “o inferno não é nada quando comparado com a visão da Roma atual”. Os soldados luteranos nomearam Lutero “papa de Roma”. Todos os doentes do Hospital do Espírito Santo foram massacrados em seus leitos.

Os palácios foram destruídos por tiros de canhões, com seus habitantes dentro. Os crânios dos Apóstolos São João e Santo André serviram para os jogos esportivos das tropas. Centenas de cadáveres de religiosas, leigas e crianças violentadas – muitas com lanças incrustadas na região genital – foram atirados no rio Tibre. As igrejas, inclusive a Basílica de São Pedro, foram convertidas em estábulos e celebraram-se missas profanas.

Gregóribo afirma a respeito: “Alguns soldados embriagados colocaram ornamentos sacerdotais em um asno e obrigaram um sacerdote a conferir-lhe a comunhão. O sacerdote engoliu a forma e seus algozes o mataram mediante terríveis tormentos”.

Conta o Padre. Mexia: “Depois disso, sem diferenciar o sagrado e o profano, toda a cidade foi roubada e saqueada, inexistindo qualquer casa ou templo que não foi roubado ou algum homem que não foi preso e solto apenas após o resgate”. O butim foi de 10 milhões de ducados, uma soma astronômica para a época.

Dos 55.000 habitantes de Roma, sobreviveram apenas 19.000.

Os “Grandes Reformadores Protestantes” e o emprego da violência:

Lutero

Em 1520, escreveu em seu “Epítome”: (…) francamente declaro que o verdadeiro anticristo encontra-se entronizado no templo de Deus e governa em Roma (a empurpurada Babilônia), sendo a Cúria a sinagoga de Satanás (…) Se a fúria dos romanistas não cessar, não restará outro remédio senão os imperadores, reis e príncipes reunidos com forças e armas atacarem a essa praga mundial, resolvendo o assunto não mais com palavras, mas com a espada (…) Se castigamos os ladrões com a forca, os assaltantes com a espada, os hereges com a fogueira; por que não atacamos com armas, com maior razão, a esses mestres da perdição, a esses cardeais, a esses papas, a todo esse ápice da Sodoma romana, que tem perpetuamente corrompido a Igreja de Deus, lavando assim as nossas mãos em seu sangue?”

Em um folheto intitulado “Contra a Falsamente Chamada Ordem Espiritual do Papa e dos Bispos”, de julho de 1522, ele declarou: “Seria melhor que se assassinassem todos os bispos e se arrasassem todas as fundações e claustros para que não se destruísse uma só alma, para não falar já de todas as almas perdidas para salvar os seus indignos fraudadores e idólatras. Que utilidade tem os que assim vivem na luxúria, alimentando-se com o suor e o sangue dos demais?”

Em outro folheto, “Contra a Horda dos Camponeses que Roubam e Assassinam”, ele dizia aos príncipes: “Empunhai rapidamente a espada, pois um príncipe ou senhor deve lembrar neste caso que é ministro de Deus e servidor da Sua ira (Romanos 13) e que recebeu a espada para empregá-la contra tais homens (…) Se pode castigar e não o faz – mesmo que o castigo consista em tirar a vida e derramar sangue – é culpável de todos os assassinatos e todo o mal que esses homens cometerem”.

Em julho de 1525, Lutero escrevia em sua “Carta Aberta sobre o Livro contra os Camponeses”:

“Se acreditam que esta resposta é demasiadamente dura e que seu único fim e fazer-vos calar pela violência, respondo que isto é verdade. Um rebelde não merece ser contestado pela razão porque não a aceita. Aquele que não quer escutar a Palavra de Deus, que lhe fala com bondade, deve ouvir o algoz quando este chega com o seu machado (…) Não quero ouvir nem saber nada sobre misericórdia”.

Sobre os judeus, assim dizia em suas famosas “Cartas sobre a Mesa”: “Quem puder que atire-lhes enxofre e alcatrão; se alguém puder lançá-los no fogo do inferno, tanto que melhor (…) E isto deve ser feito em honra de Nosso Senhor e do Cristianismo. Sejam suas casas despedaçadas e destruídas (…) Sejam-lhes confiscados seus livros de orações e talmudes, bem como toda a sua Bíblia. Proíba-se seus rabinos de ensinar, sob pena de morte, de agora em diante. E se tudo isso for pouco, que sejam expulsos do país como cães raivosos”.

Em seus “Comentários ao Salmo 80?, Lutero aconselhava aos governantes que aplicassem a pena de morte a todos os hereges.

Melanchton, o teólogo luterano da Reforma, aceitou ser o presidente da inquisição protestante, com sede na Saxônia. Ele apresentou um documento, em 1530, no qual defendia o direito de repressão à espada contra os anabatistas. Lutero acrescentou de próprio punho uma nota em que dizia: “Isto é de meu agrado”. Convencido de que os anabatistas arderiam no fogo do inferno, Melanchton os perseguia com a justificativa de que “por que precisamos ter mais piedade com essas pessoas do que Deus?”

Calvino

Em seus “Institutos”, declarou: “Pessoas que persistem nas superstições do anticristo romano devem ser reprimidas pela espada”. Em 1547, James Gruet publicou uma nota criticando Calvino e foi preso, torturado no potro duas vezes por dia durante um mês e, finalmente, sentenciado à morte por blasfêmia. Seus pés foram pregados a uma estaca e sua cabeça foi cortada. Em 1555, os irmãos Comparet foram acusados de libertinagem, executados e esquartejados. Seus restos mortais foram exibidos em diferentes partes de Genebra.

Zwínglio

Em 1525, começou a perseguir os anabatistas de Zurique. As penas iam desde o afogamento no lago ou em rios, até a fogueira.

Protestantes versus Protestantes

Os reformadores também lutavam entre si..

Lutero disse: “Ecolampaio, Calvino e outros hereges semelhantes possuem demônios sobre demônios, têm corações corrompidos e bocas mentirosas”. Por ocasião da morte de Zwínglio, afirmou: “Que bom que Zwínglio morreu em campo de batalha! A que classe de triunfo e a que bem Deus conduziu os seus negócios!”, e também: “Zwínglio está morto e condenado por ser ladrão, rebelde e levar outros a seguir os seus erros”.

Zwínglio também atacava Lutero: “O demônio apoderou-se de Lutero de tal modo que até nos faz crer que o possui por completo. Quando é visto entre os seus seguidores, parece realmente que uma legião o possui”.

Acerca da Reforma, disse Rosseau: “A Reforma foi intolerante desde o seu berço e os seus autores são contados entre os grandes repressores da Humanidade”. Em sua obra “Filosofia Positiva”, escreveu: “A intolerância do Protestantismo certamente não foi menor do que a do Catolicismo e, com certeza, mais reprovável”.

Texto original de Marcelo “Druyan” Esteves.

#Protestantismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-inquisi%C3%A7%C3%A3o-protestante

13 Conselhos de Chuck Palahniuk sobre como Escrever

fight-club

Ela disse o comentário perfeito no momento perfeito, e eu lembro disso duas décadas depois porque isso me fez rir. Aquelas outras vitrines bonitas… Estou certo de que elas eram estilosas e de bom gosto, mas eu não tenho recordações claras de como elas eram.

Para este ensaio, minha meta é colocar mais. Reunir um estoque de ideias ao estilo do Natal, com a esperança de que algo seja útil. Ou como se estivesse empacotando caixas de presentes para os leitores, colocando doces e um esquilo e um livro e alguns brinquedos e um colar, estou na esperança de que variedade o bastante é garantia de que algo aqui vai soar completamente estúpido, mas também de que alguma outra coisa poderá ser perfeita.

1: Dois anos atrás, quando escrevi o primeiro desses ensaios tratava-se do meu “método do cronômetro” de escrever. Você nunca viu esse ensaio, mas eis o método: Quando você não quiser escrever, programe um cronômetro para uma hora (ou meia hora) e sente-se para escrever até que o alarme toque. Se você ainda detesta estar escrevendo, estará livre em uma hora. Mas geralmente, ao momento em que o alarme tocar, você estará tão envolvido no seu trabalho, divertindo-se tanto com ele, que vai seguir em frente. Ao invés de um cronômetro, você pode colocar algumas roupas na máquina de lavar ou de secar e usá-los para cronometrar seu trabalho. Alternar entre o trabalho cerebral de escrever com o trabalho não-pensante da máquina de lavar roupas ou pratos te dará os intervalos que você precisa para que novas ideias e epifanias ocorram. Se você não sabe o que vem a seguir na estória… limpe seu banheiro. Troque os lençóis. Pelo amor de Cristo, tire a poeira do computador. Uma ideia melhor surgirá.

2: Seu público é mais esperto do que você imagina. Não tenha medo de experimentar com formatos de narrativa e mudanças temporais. Minha teoria pessoal é de que os jovens leitores se enjoam da maioria dos livros – não porque estes leitores sejam mais estúpidos que os leitores antigos, mas porque o leitor de hoje é mais esperto. Filmes nos tornaram muito sofisticados no quesito narrativa. E seu público é muito mais difícil de chocar do que você jamais poderia imaginar.

3: Antes de sentar e escrever uma cena, pondere sobre ela em sua mente e saiba o propósito daquela cena. Para quais tramas anteriores esta cena vai ser vantajosa? O que isso criará para as cenas seguintes? Como esta cena levará seu enredo adiante? Conforme você trabalha, dirige, se exercita, tenha apenas esta questão em sua mente. Tome algumas notas conforme tiver ideias. E apenas quando você decidiu a ‘coluna vertebral’ daquela cena – então, sente e escreva-a. Não vá até aquele computador chato e empoeirado sem algo em mente. E não faça seu se esforçar ao longo de uma cena na qual pouco ou nada acontece.

4: Surpreenda-se. Se você pode levar a história – ou deixar que ela o leve – a um lugar que te maravilha, então você pode surpreender seu leitor. No momento em que você visualizar qualquer surpresa bem planejada, muito provavelmente, o seu sofisticado leitor também o fará.

5: Quando você ficar preso, volte e leia suas cenas anteriores, procurando por personagens abandonados ou detalhes que você pode ressuscitar como “armas enterradas”. Quando terminava de escrever Clube da Luta, eu não tinha a menor ideia do que fazer com o edifício do escritório. Mas, relendo a primeira cena, eu encontrei um comentário aleatório sobre misturar nitroglicerina com parafina e como era um método duvidoso de fazer explosivos plásticos. Este detalhe bobo (… parafina nunca funcionou comigo…) criou a “arma escondida” perfeita para se ressuscitar no final e salvar meu rabo contador de histórias.

6: Use a escrita como sua desculpa para lançar uma festa toda semana – mesmo se você chamar aquela festa de “workshop.” Sempre que você puder passar tempo em meio a outras pessoas que valorizam e apoiam a escrita, isso vai balancear aquelas horas que você passou sozinho, escrevendo. Mesmo se algum dia você vender seu trabalho, nenhuma quantia de dinheiro vai compensá-lo pelo seu tempo gasto sozinho. Então pegue seu cheque adiantado, faça da escrita uma desculpa para estar entre pessoas. Quando você alcançar o fim da sua vida – confie em mim, você não vai olhar para trás e saborear os momentos que passou sozinho.

7: Deixe-se em companhia do Não Saber. Este pequeno conselho parte de centenas de pessoas famosos, de Tom Spanbauer até mim e agora você. O quanto mais você puder permitir que uma história tome forma, melhor ficará esta forma final. Não se apresse ou force o fim de uma história ou livro. Tudo o que você tem de fazer é a cena seguinte, ou as próximas cenas. Você não precisa saber de cada momento até o final. De fato, isso será chato para caramba de se executar.

8: Se você precisa de mais liberdade ao longo da história, rascunho a rascunho, mude os nomes dos personagens. Personagens não são reais, e eles não são você. Por mudar arbitrariamente seus nomes, você consegue a distância de que precisa para realmente torturar um personagem. Ou pior, apague um personagem, se é disso que a história realmente precisa.

9: Há três tipos de discurso – eu não sei se isso é VERDADE, mas ouvi em um seminário e fez sentido. Os três tipos são: Descritivo, Instrutivo e Expressivo. Descritivo: “O sol se ergueu bem alto…” Instrutivo: “Caminhe, não corra…” Expressivo: “Ai!” A maioria dos escritores de ficção usará apenas uma – no máximo, duas – dessas formas. Então use todas as três. Misture-as. É assim que as pessoas falam.

10: Escreva os livros que você deseja ler.

11: Tenha suas fotos de autor de livro vestindo jaqueta tiradas agora, enquanto você é jovem. E obtenha os negativos e direitos de imagem dessas fotos.

12: Escreva sobre os assuntos que realmente te desagradam. Estas são as únicas coisas sobre as quais vale a pena escrever. Neste curso, chamado “Escrita Perigosa”, Tom Spanbauer enfatiza que a vida é preciosa demais para passá-la escrevendo histórias mansas e convencionais com as quais você não tem nenhuma ligação pessoal. Há tantas coisa sobre as quais Tom falou mas que eu apenas me lembro parcialmente: a arte da “manumissão”, que eu não sei de cor, mas entendo que se refira à preocupação que você tem em mover um leitor ao longo dos momentos de uma história. E “sous conversation”, que eu interpretei como a mensagem escondida, enterrada dentro da história óbvia. Por eu não me sentir confortável descrevendo tópicos que eu apenas entendo pela metade, Tom concordou em escrever um livro sobre sua oficina literária e as ideias que ele ensina. O título é “Um buraco no coração”, e ele planeja ter um rascunho lido em Junho de 2006, com data de publicação no começo de 2007.

13: Outra história sobre uma janela no Natal. Quase todas as manhãs eu tomo meu café no mesmo restaurante, e nesta manhã um homem estava pintando as janelas com ilustrações de natal. Bonecos de neve. Flocos de neve. Sinos. Papai Noel. Ele ficou do lado de fora na calçada, pintando no frio congelante, sua respiração fazendo vapor, alternando pinceladas e passadas de rolo com diferentes cores de tinta. Dentro do restaurante, os clientes e garçons observavam conforme ele passava camadas de tinta vermelha, branca e azul na parte de fora das grandes janelas. Atrás dele a chuva se transformou em neve, caindo lateralmente com o vento.

O cabelo do pintor tinha todas as diferentes cores de cinza, e seu rosto era frouxo e enrugado como o bolso vazio de seu jeans. Entre cores, ele parava para beber alguma coisa num copo de papel.

Assisti-lo de dentro, comendo ovos e torradas, alguém disse que aquilo era triste. Um cliente disse que o homem era provavelmente um artista fracassado. Era provavelmente uísque no copo. Ele provavelmente tinha um estúdio cheio de pinturas fracassadas e agora ganhava a vida decorando janelas cafonas de restaurantes e lojas de doces. Apenas triste, triste, triste.

Um garçom passou pelo local, servindo café às pessoas, e disse, “Isso é tão bacana. Eu queria poder fazer isso…”

E a despeito de nós invejarmos ou sentirmos pena desse cara no frio, ele continuou pintando. Adicionando detalhes e camadas de cor. Eu não estou certo sobre quando aconteceu, mas em algum momento ele não estava lá. As figuras sozinhas eram tão ricas, elas preencheram as janelas tão bem, as cores eram tão vibrantes, que o pintor havia sumido. Fosse ele um fracasso ou um herói. Ele desapareceu, sumiu para qualquer lugar, e tudo o que nós estávamos vendo era seu trabalho.

Como lição de casa, pergunte a sua família e amigos como você era quando criança. Melhor ainda, pergunte a eles como eles eram quando crianças. Então, simplesmente escute.

#Arte #Blogosfera

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Movimentos Rosacruzes

Assim como a Maçonaria se intitulava uma Sociedade Secreta, assim também eram os Rosa-Cruzes [cada corrente adota uma maneira especial de grafia: Rosacruz, RosaCruz, Rosa-Cruz, Rosa Cruz]. Hoje, os movimentos Rosacruz são considerados uma Irmandade Secreta, ocultista-cabalística-teosófica, que pretende ter conhecimentos e sabedoria esotérica preservados do mundo antigo.

O tema central dos antigos rosa-cruzes era a reforma geral do mundo. A idéia da Reforma, que no âmbito da Igreja começou com Lutero e seus seguidores, mas que depois ficou atolada no pântano das instituições, teria de ser reavivada e difundida. Agora não se tratava mais de reformar a Igreja, mas na verdade, segundo princípios esotéricos, de reformar o mundo. Os rosa-cruzes assumiam a consideravam como oponentes os jesuítas e os que fossem contra a Reforma. Eles achavam que as pessoas inteligentes de todo o mundo deveriam unir-se para melhorar a sorte da humanidade e aprofundar seus conhecimentos sobre Deus e a Natureza.

Pode-se afirmar que o rosacrucianismo é um tipo de sociedade religiosa eclética, pois admite em seu quadro associativo pessoas de todas as religiões. Tem seus sinais de reconhecimento, palavras de passe e apertos de mão, e também diversos graus hierárquicos, havendo cerimônias especiais para a entrada nesses graus.

Alguns historiadores sugerem a sua origem num grupo de protestantes alemães, entre 1607 ou 1616, quando três textos anônimos foram elaborados e lançados na Europa.

O ano de 1582 foi o ano de mudança de calendário da humanidade. O calendário dito “juliano” cedeu ao “calendário gregoriano”: o dia 5 de outubro de 1582 passou a ser 15 de outubro de 1582. Este fato suscitou impressão sinistra nos povos europeus, já abalados pela revolução marítima, geográfica e histórica do séc. XVI: imaginaram alguns que o mundo estava para acabar, e sombrias profecias se espalhavam pela Europa Central… É sobre este pano de fundo apavorado e dado a alta imaginação que tem origem a Rosa-Cruz.

A história dos rosa-cruzes teve início na pequena cidade alemã de Kassel no ano de 1614, com a publicação de um pequeno manifesto anônimo de 38 páginas intitulado “Fama Fraternitatis R. C. – Reforma geral e comum de todo o amplo mundo” (ou Chamado da Fraternidade da Rosacruz), com um subtítulo, “Mensagem da Irmandade da altamente digna de louvor Ordem de Rosa-Cruz a todos os sábios e líderes da Europa” (vinda da tipografia de Wilhelm Wessel) – ainda que cópias manuscritas do mesmo já circulassem desde 1611, em determinados meios seletos. Ele foi seguido, um ano depois, pelo Confessio Fraternitatis (Confissões da Fraternidade) e, em 1616, por O Casamento Alquímico de Christian Rosenkreutz. Esses três documentos estabeleceram a história, os estatutos e o programa de uma fraternidade até então desconhecida, chamada de a “Ilustre Ordem dos Rosa-cruzes”. Em uma época de enorme tumulto político e religioso, esses documentos louvavam a importância da ética, da moral e da espiritualidade, que poderiam salvar o homem dos erros ocasionados pelos costumes mundanos. Os textos alcançaram um público crescentemente numeroso, e foram republicados em vários países. A Europa inteira tomou-se de entusiasmo pelo personagem que ocupava o centro desses novos ensinamentos, um personagem de perfil lendário: Christian Rosenkreutz.

Outros dois documentos sucederam-no: Confessio Fraternitatis (“Confissões da Fraternidade Rosacruz”) (1615), publicado simultaneamente em Kassel e Frankfurt, e Chymische Hockeit Christiani Rosenkreuz (“Núpcias Alquímicas de Christian Rozenkreuz”) (1616), publicado na então cidade independente de Estrasburgo (posteriormente anexada pela França, em 1681).

Essa declaração anônima causou um grande estardalhaço tanto na Corte como na cidade, conforme provado nas “memórias” e anais da época. Difundiram-se os boatos mais contraditórios.

A publicação destes textos provocou imensa excitação por toda a Europa, provocando inúmeras re-edições e a circulação de diversos panfletos relacionados com os textos, embora os divulgadores de tais panfletos pouco ou nada soubessem sobre as reais intenções do(s) autor(es) original(ais) dos textos, cuja identidade ficou desconhecida durante muito tempo.

A sociedade européia da época, dilacerada por guerras, tantas vezes originadas por causa da religião, favoreceu a propagação destas idéias que chegaram, em pouco tempo, até a Inglaterra e a Itália. A perturbação causada pela Guerra dos Trinta Anos que irrompeu na Europa deve ter tido algo a ver com isso também.

Em Paris, em 1622 ou 1623, foram colocados posters nas paredes, que incluiam o texto: “Nós deputados do principal colégio dos irmãos da Rosa-Cruz, constituímos residência visível e invisível nesta cidade, pela bondade do Altíssimo, para o qual estão voltados os corações dos justos. Mostramos e ensinamos a falar todas as espécies de línguas, para que possamos livrar os homens, nossos semelhantes, de erro mortal” (…) “Os pensamentos ligados ao desejo real daquele que busca irá guiar-nos a ele e ele a nós”. Em uma Europa dilacerada por guerras religiosas entre católicos e protestantes, o conteúdo dos manifestos rosa-cruzes encontrou solo fértil. Os panfletos circularam rapidamente e logo as idéias da fraternidade eram assunto de conhecimento geral.

Havia diversas razões para tal sucesso. Os objetivos da ordem correspondiam aos propósitos sociais, espirituais e intelectuais das novas elites literárias e científicas européias. Muitas pessoas se sentiam atraídas pela mentalidade progressista da fraternidade, visto que, quando se tratava de admitir novos membros, os rosa-cruzes não faziam distinção de raça, sexo ou posição social.

Muitos alquimistas e “místicos” puseram-se a procurar alguma sede da Rosa-Cruz para nela ingressar. Todavia ninguém encontrava núcleo algum da mesma. Aparentemente sem um corpo dirigente central, assumem-se como um grupo de “Irmãos” (Fraternidade). Em conseqüência, os admiradores mais hábeis tentaram organizar eles mesmos, e segundo os padrões indicados nas citadas obras anônimas, Sociedades Secretas ditas “Rosa-Cruz”. Principalmente na Renânia (Alemanha) fundaram-se numerosos grupos de Irmãos Rosa-Cruz. Nomes como Michael Maier e Robert Fludd apareciam como admiradores das doutrinas rosacruzes.

Logo após terem sido lançados, uma série de outros textos, livros e panfletos surgiram como resposta, alguns defendendo, outros atacando os textos originais.

Entre os anos de 1618 e 1625 existiram aproximadamente 20.000 publicações direta ou indiretamente relacionadas com o Rosacrucianismo editadas por admiradores externos que desejavam apoiar o movimento ou, na maioria dos casos, por inimigos tentando subvertê-lo e desacreditá-lo através da publicação de alegações que consideravam absurdas.

Durante esse período, uma série de organizações também teriam a sua vez nos anos que se seguiram a publicação dos primeiros manifestos rosacrucianos. O mito Rosacruz estava finalmente estabelecido

#Alquimia #Rosacruz

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/movimentos-rosacruzes

Mapa Astral do Felipe Neto

Salve,

Recentemente, o youtuber de cabelos coloridos fez uma postagem dizendo que “não acredita na Astrologia” e que Astrologia não funciona e que ninguém o convenceria do contrário. Ai como eu não estava fazendo nada agora de tarde, em 10 minutos farei e analisarei o mapa astral do Felipe Neto para vermos se ele tem ou não razão.

Dados: nascido em 21/janeiro/1988 no Rio de Janeiro.

Independente de você, leitor, gostar ou não do que ele fala, há de se convir que ele tem milhões de seguidores, ganha rios de dinheiro e parece gostar muito do que faz, portanto posso assumir que ele está trilhando sua Verdadeira Vontade, certo?

Para ser mais imparcial ainda, e não correr nenhum risco de fazer “leitura fria”, não darei MINHAS impressões, mas copiarei-colarei as palavras de Adrian Ross Duncan de um livro de 1985, portanto, escritas ANTES do Felipe Neto nascer.

Vamos ao mapa:

Sol em Aquario na Casa 10; “Muita gente acha você uma fonte de inspiração, e na verdade você se sente fortemente motivado a manter relacionamentos de amizade. Pode se sentir invadido por um sentido de igualdade social, e o seu trato com os outros será permeado pelo seu dom natural de humanidade e de justiça. Você é perfeitamente capacitado para lidar profissionalmente com grupos, e tem habilidade para tratar as pessoas como iguais.”

Lua em Peixes na Casa 11: “Com a sua maneira de ser naturalmente compassiva e a sua compreensão, pode obter sucesso em áreas criativas ou trabalhando com pessoas que precisem de verdadeira ajuda emocional.”

Mercúrio em Aquario, na casa 11: “Você é uma pessoa de pensamento claro, muito aberta e entusiástica por idéias novas, apesar de poder ser um pouco teimosa nas suas opiniões. Pode também ter gênio inventivo ou algum interesse especial e único, talvez ligado à percepção e ao conhecimento. Também existe em si a tendência para assumir pontos de vista contrários à norma geralmente aceite. Sente que é seu dever sacudir as idéias dos outros e criar renovação à sua volta. Embora tal atitude possa ser refrescante para todos os envolvidos, você corre o risco de ser marginalizado ou mal entendido. Trabalha bem em ambiente de grupo, em que haja muita agitação e pessoas interessantes e estimulantes. Você é uma força a favor da renovação e tem a capacidade de integrar novos progressos tecnológicos no seu trabalho”.

Vênus em Peixes, na casa 11: “A sua maneira de ser é extremamente afetuosa. Se sente realizado quer em trabalho criativo, quer quando pode realmente cuidar das necessidades dos outros. O interesse humano significa muito mais para você do que um mero incentivo material”

Marte em Sagitário, na casa 8: “Você adora a liberdade e tem muitas opiniões firmes sobre o que é certo e o que é errado. Tem forte motivação para alargar tanto os seus horizontes intelectuais quanto os geográficos. Conhecer o mundo é parte integrante e fundamental da sua instrução, de modo que poderá fazer um bom trabalho em um meio internacional. Precisa de uma profissão que o mantenha sempre em atividade e que lhe apresente desafios intelectuais. Não pode prosperar em situações que limitem o seu espaço, ou seja, a liberdade de fazer suas próprias conexões e formar suas próprias opiniões é fundamental para a sua maneira de ser. Podem surgir problemas quando participar de discussões. A diplomacia não é o seu forte e tem propensão para impor sem rodeios a verdade nua e crua, como é vista pelos seus olhos. Talvez esteja com a razão, como acontece muitas vezes, mas será que isso vai levá-lo a algum lugar? Cultivando o hábito de tratar com respeito as idéias dos outros, poderá conquistá-los para o seu lado e convencê-los do seu ponto de vista.”

Jupiter em Aries na casa 1: “Você tem aptidão para atingir muito rapidamente as metas a curto prazo e pode muitas vezes contar com a sorte do seu lado. Tem qualidades de liderança. Autoconfiança e uma fé irrestrita nas suas aptidões podem levá-lo longe. Para tirar o máximo partido possível dos seus dons naturais nessa área, é importante que formule objetivos para o futuro. Logo que o tenha feito, o simples ato de tomar qualquer iniciativa, aliado à certeza no resultado, certamente lhe assegurará o sucesso. Algumas pessoas podem considerar o seu estilo muito impulsivo, no entanto a atitude positiva, associada à ação – o ataque de surpresa – podem trazer incontáveis benefícios. As vantagens que você pode conseguir, tanto na sua vida profissional como na pessoal, nunca acontecem quando você fica passivo. Vá em frente!”

Saturno em Sagitário na casa 9: “Você tem capacidade para fazer estudos profundos e pode mostrar a outras pessoas um caminho de compreensão a partir de um sistema ou conjunto de regras filosóficas. Você tem muita consciência de seu lugar na hierarquia intelectual e é um pouco inflexível em suas opiniões ou percepção do que é a verdade.”

Bem, este conjunto de bases sobre o seu mapa retrata exatamente quem você é profissionalmente… comunicação, inovação, exploração de novas tecnologias para expor as idéias e agressivo na imposição dos seus ideais…

Caro Felipe, você pode não acreditar em astrologia, mas sua vida seguiu EXATAMENTE o que a teoria da Astrologia disse que você seguiria para a verdadeira Vontade. Deve ser coincidência.

Forte abraço e boa sorte na luta contra os evangélicos.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/mapa-astral-do-felipe-neto

Segunda e Terceira Cruzadas

Publicado no S&H dia 2/11/09,

Continuando a nossa saga pelas primeiras cruzadas e a Origem das Ordens de Cavalaria, seguimos com um texto rápido segunda e terceira cruzadas, apenas para dar entrada na parte que realmente interessa ao templarismo: A Quarta Cruzada, ou a Cruzada na qual cristãos matavam cristãos!

A Segunda e especialmente a Terceira Cruzadas são importantes porque marcaram a presença de duas figuras muito conhecidas e lendárias: Saladino e Ricardo Coração de Leão. Para situar os leitores, os acontecimentos narrados neste post são também retratados no filme “A cruzada” (Kingdon of Heaven) de Ridley Scott.
A Segunda Cruzada

Durante a Primeira Cruzada os nobres peregrinos europeus criaram estados cruzados no chamado “Levante”, forjados em guerras, conquistas e massacres contra os povos muçulmanos que dominavam estas regiões.

Em 1144, Zengi, o governador das cidades de Alepo e Mossul, que controlava as regiões da Síria e do norte do Iraque, conquistou o Condado de Edessa das mãos dos cristãos. As últimas palavras que Joscelino, o governador de Edessa, escutou de Zengi antes de sua expulsão da cidade em 24 de dezembro de 1144, de acordo com historiadores locais, foram: “Perdeu, Playboy”.

Foi imediatamente lançado um apelo ao papa e, por toda a Europa, imediatamente se ouvem vozes clamando pela retomada do condado pelos cruzados. O Papa Eugênio III achou que já era hora de empreender uma segunda cruzada e convocou-a por meio de uma bula especial em 1145. São Bernardo de Claraval, a pedido do Papa Eugênio III, antigo monge cisterciense e discípulo do Santo, lhe pede que convoque os cristãos a empreenderem uma nova cruzada. Eugênio III havia tomado o lugar do Papa Lúcio II, eleito a 12 de março de 1144, mas morrera em 15 de fevereiro de 1145 com uma pedrada na cabeça ao tentar apaziguar um distúrbio popular.

Na Páscoa de 1146, em Vezelay, são muitos os franceses que se reúnem para escutar as palavras de Bernardo. A nova convocação atraiu vários expedicionários, entre os quais se destacaram o rei Luís VII de França, o imperador Conrado III do Sacro Império Romano-Germânico, além de Frederico da Suábia, herdeiro do império germânico, e dos reis da Polônia e da Boêmia.

Homens não faltavam: soldados flamengos e ingleses tinham conquistado Lisboa das mãos dos sarracenos e voltavam para casa, agora estavam sem ter o que fazer.

A situação no Oriente, porém, tornara-se ainda mais perigosa em virtude da presença de Zangi, governador de Mosul e conquistador de Edessa, que então governava em Alepo e ameaçava Constantinopla.

A cruzada

O imperador Conrado III do Sacro Império Romano-Germânico partiu para Constantinopla, onde chegou em Setembro de 1147. Ignorando o conselho do imperador bizantino Manuel I Comneno, atravessou a Anatólia e, em 25 de outubro, seu exército foi esmagado em Doriléia pelos turcos.

O imperador alemão, contudo, conseguiu escapar e refugiou-se na Nicéia. No começo do mês seguinte, Luís VII, acompanhado da esposa, Leonor da Aquitânia, chegou a Constantinopla, alcançando Nicéia em novembro e ali soube da sorte de Conrado. O que sobrou do exército de Conrado juntou-se aos franceses, com o apoio dos templários.

Com algumas dificuldades de transporte, mais uma vez uma parte do exército teve de ser abandonado para trás (sobretudo os plebeus a pé), e estes tiveram de abrir caminho contra os turcos.

Os franceses, entretanto, chegam a Antioquia em Março de 1148, rumando para Jerusalém com cerca de 50 mil soldados. Em Jerusalém, Luís VII e Conrado, depois de algumas discussões, decidem atacar Damasco. Em 28 de Julho de 1148, depois de cinco dias de cerco, concluíram tratar-se de uma missão impossível e acabaram tendo de recuar, terminando assim a segunda cruzada. Em mensagem enviada aos cruzados que se retiravam de volta à Europa, o governador de Damasco fez o seguinte comunicado: “Não sabe brincar, não desce pro Play”.

A Segunda Cruzada acabou se tornando uma autêntica fanfarronice, com os seus líderes regressando aos países de origem sem qualquer vitória. Porém, vale a pena notar que foi desta cruzada que saíram alguns dos líderes cruzados dos contingentes flamengos e ingleses para auxiliar Afonso Henriques na conquista de Lisboa em 1147, uma vez que eram concedidas indulgências para quem combatia na Península Ibérica, como relata nas suas cartas o cruzado inglês Osberno.

No final das contas, o resultado desta Cruzada foi algo próximo do miserável (se não considerarmos a conquista de Lisboa), tendo sucesso apenas em queimar ainda mais as relações entre os reinos cruzados, os bizantinos e os “amigáveis” governantes muçulmanos. O fracasso da segunda Cruzada permitiu a reunificação das potências muçulmanas com aquele ar de “Já ganhamos” e novas investidas contra algumas cidades na região.

Com a moral baixa, nenhuma nova cruzada foi lançada até que ocorreu um novo acontecimento: a conquista de Jerusalém pelos muçulmanos em 1187. Ficou no ar aquela sensação de “Ih, agora ferrou!” e desta vez os cristãos enfrentariam um adversário decidido: Saladino.

Crise no Reino Latino de Jerusalém

Na década de 1180, o Reino Latino de Jerusalém atravessava uma fase delicada. O rei Balduíno IV estava sendo devorado pela lepra e desafiado por um baronato cada vez mais petista. Os muçulmanos, pressentindo essa fraqueza, mantinham a pressão no máximo. Qualquer passo em falso seria catastrófico para os cristãos. E, claro, não tardou para que ele fosse dado, pelo cavaleiro Reinaldo de Châtillon, que atacou uma caravana na qual viajava a irmã do sultão Saladino. Até explicar para os muçulmanos o que estava acontecendo, na confusão que se seguiu, Saladino convocou uma jihad contra os infiéis…

Saladino captura Damasco em 1174 e Alepo, em 1183. Em 1187, avançou pela Galiléia e, nos Cornos de Hattin, travou a Batalha de Hattin contra um exército cristão. Do lado cristão, as tropas do francês Guy de Lusignan, o rei consorte de Jerusalém, e o príncipe da Galiléia Raimundo III de Trípoli. Ao todo, havia cerca de 60 mil homens – entre cavaleiros, soldados desmontados e mercenários muçulmanos. Já a dinastia aiúbida, representada por Saladino, contava com 70 mil guerreiros.

Quando os cruzados montaram acampamento em um campo aberto, forçados a descansar após um dia de exaustivas batalhas, os homens de Saladino atearam fogo em volta dos inimigos, cortando seu acesso ao suprimento de água fresca. A cortina de fumaça tornou quase impossível para os cristão se desviarem da saraivada de flechas muçulmanas. Sedentos, muitos cruzados desertaram. Os que restaram foram trucidados pelo inimigo, já de posse de Jerusalém (tomada em em Outubro de 1187).

Saladino poupou a vida de Guy, enquanto Raimundo escapou da batalha com sucesso. Isso desencadeou na cristandade uma nova onda de preocupação com a Terra Santa.

No cativeiro, Guy ouviu a frase mágica que se tornaria célebre: “Reis Verdadeiros não matam uns aos outros”, vindo de Saladino. Eventualmente, ele foi libertado em troca de um resgate.

Em 1189, Guy de Lusignan tentou reconquistar a cidade, num conflito que duraria anos e só seria resolvido com a chegada de um novo personagem: Ricardo Coração de Leão, o rei da Inglaterra.

Saladino e o começo da Terceira Cruzada

Saladino (1138 – 4 de março de 1193) foi um chefe militar muçulmano que se tornou sultão do Egito e da Síria e liderou a oposição islâmica aos cruzados europeus no Levante. No auge de seu poder, seu domínio se estendia pelo Egito, Síria, Iraque, Iêmen e pelo Hijaz. Foi responsável por reconquistar Jerusalém das mãos do Reino de Jerusalém, após sua vitória na Batalha de Hattin e, como tal, tornou-se uma figura emblemática na cultura curda, árabe, persa, turca e islâmica em geral. Saladino, adepto do islamismo sunita, tornou-se célebre entre os cronistas cristãos da época por sua conduta cavalheiresca, especialmente nos relatos sobre o sítio a Kerak em Moab, e apesar de ser a nêmesis dos cruzados, conquistou o respeito de muitos deles, incluindo Ricardo Coração de Leão; longe de se tornar uma figura odiada na Europa, tornou-se um exemplo célebre dos princípios da cavalaria medieval.

Por volta de 1185, Saladino já havia capturado quase todas as cidades dos cruzados. Ele tomou Jerusalém em 2 de outubro de 1187, após um cerco. Saladino inicialmente não pretendia garantir termos de anistia aos ocupantes de Jerusalém, até que Balian de Ibelin ameaçou matar todos os muçulmanos da cidade, estimado entre três e cinco mil pessoas, e destruir os templos sagrados do Islã na Cúpula da Rocha e a mesquita de Al-Aqsa se não fosse dada anistia. Saladino consultou seu conselho e esses termos foram aceitos. Um resgate deveria ser pago por cada franco na cidade, fosse homem, mulher ou criança. Saladino permitiu que muitos partissem sem ter a quantia exigida por resgate para outros. De acordo com Imad al-Din, aproximadamente sete mil homens e oito mil mulheres não puderam pagar por seu resgate e se tornaram escravos.

De todas as cidades, apenas Tiro resistiu. A cidade era então comandada pelo Conrado de Montferrat. Ele fortaleceu as defesas de Tiro e suportou dois cercos de Saladino. Em 1188, em Tortosa, Saladino libertou Guy de Lusignan e devolveu-o à sua esposa, a rainha Sibila de Jerusalém. Eles foram primeiro a Trípoli, e depois a Antioquia. Em 1189 eles tentaram reclamar Tiro para seu reino, mas sua admissão foi recusada por Conrado, que não reconhecia Guy como rei. Guy então começou o cerco de Acre.

Hattin e a queda de Jerusalém foram o estopim para a Terceira Cruzada, financiada na Inglaterra por um especial “dízimo de Saladino”. Essa Cruzada retomou a cidade de Acre. Após Ricardo I de Inglaterra executar os prisioneiros muçulmanos em Acre, Saladino retaliou matando todos os francos capturados entre 28 de agosto e 10 de setembro. Os exércitos de Saladino engajaram-se em combate com os exércitos rivais do rei Ricardo I de Inglaterra na batalha de Apollonia, em 7 de setembro de 1191, na qual Saladino foi finalmente derrotado. Apesar de nunca terem se encontrado pessoalmente, a relação entre Saladino e Ricardo era uma de respeito cavalheiresco mútuo, assim como de rivalidade militar; ambos eram celebrados em romances cortesãos. Quando Ricardo foi ferido, Saladino ofereceu os serviços de seu médico pessoal. Em Apollonia, quando Ricardo perdeu seu cavalo, Saladino enviou-lhe dois substitutos. Saladino também lhe enviou frutas frescas com neve, para manter as bebidas frias. Ricardo sugeriu que sua irmã poderia casar-se com o irmão de Saladino – e Jerusalém poderia ser seu presente de casamento.

Os dois finalmente chegaram a um acordo sobre Jerusalém no Tratado de Ramla em 1192, pelo qual a cidade permaneceria em mãos muçulmanas, mas estaria aberta às peregrinações cristãs; o tratado reduzia o reino latino a uma estreita faixa costeira desde Tiro até Jafa.

Saladino morreu no dia 4 de março de 1193, em Damasco, pouco depois da partida de Ricardo. Quando o tesouro de Saladino foi aberto não havia dinheiro suficiente para pagar por seu funeral; ele havia dado a maior parte de seu dinheiro para caridade.

Templários e o Xadrez

Uma curiosidade bacana a respeito da segunda cruzada foi que, durante este período, as regras do que se conhecia como Shatranj acabaram sofrendo algumas modificações, derivando o que hoje conhecemos como as regras modernas do Xadrez.

Como este era um jogo Persa, até esta época, as Torres eram conhecidas como “Elefantes”, não haviam Bispos, as peças que se movimentavam na diagonal eram conhecidas como “Navios de Guerra”; também não existia Rainha; a peça era conhecida como “Vizir” e os peões, quando chegavam até o lado oposto do tabuleiro, tornavam-se “conselheiros”, com capacidade de se movimentar uma casa na horizontal, vertical ou diagonal. Como os Templários adoraram este jogo e acabaram levando-o para a Europa, os termos acabaram sendo modificados para um gosto mais Europeu, dando origem aos nomes das peças tal quais as conhecemos hoje. Os Bispos foram a contribuição do Vaticano ao jogo, por acharem que os clérigos deveriam ter um papel de destaque no xadrez…

A Terceira Cruzada

A Terceira Cruzada (1189-1192), pregada pelo Papa Gregório VIII após a tomada de Jerusalém por Saladino em 1187, foi denominada Cruzada dos Reis. É assim denominada pela participação dos três principais soberanos europeus da época: Filipe Augusto (França), Frederico Barbaruiva (Sacro Império Romano Germânico) e Ricardo Coração de Leão (Inglaterra), constituindo a maior força cruzada já agrupada desde 1095. A novidade dessa cruzada foi a participação dos Cavaleiros Teutônicos.

O imperador Frederico Barbarossa, atendendo os apelos do papa, partiu com um contingente alemão de Ratisbona e tomou o itinerário danubiano atravessando com sucesso a Ásia Menor, porém, afogou-se na Cilícia ao atravessar o Sélef (hoje Goksu), um dos rios da Anatólia. A sua morte representou o fim prático desse núcleo. FAIL.

Os franceses e ingleses foram por mar até Acre. Em Abril de 1191 os franceses alcançam Acre, no litoral da Terra Santa, e dois meses depois junta-se-lhes Ricardo. Ao fim de um mês de assédio, os cruzados tomam a praça e rumam para Jerusalém, agora sem o rei francês, que regressara ao seu país depois do cerco de Acre. Ainda em 1191, em Arsuf, Ricardo derrotou as forças muçulmanas e ocupou novamente Jaffa.

Se Ricardo Coração de Leão conseguiu alguns atos notáveis – a conquista de Chipre (que se tornou um reino latino em 1197), Acre, Jaffa e uma série de vitórias contra efectivos superiores – também não teve pejo em massacrar prisioneiros (incluindo mulheres e crianças). Ao garantir a volta do Acre para a mão da cristandade, Ricardo conquistou o título de Coeur de Lion (Coração de Leão, em francês).

Os combates contra os exércitos de Saladino terminaram em 1192, num acordo: os cristãos mantinham o que tinham conquistado e obtiveram o direito de peregrinação (desde que desarmados) a Jerusalém, que ficava em mãos muçulmanas. Isso transformou São João de Acre na capital dos Estados Latinos na Terra Santa.

Se esse objetivo principal falhara, alguns resultados tinham sido obtidos: Saladino vira a sua carreira de vitórias iniciais entrar num certo impasse e o território de Outremer (o nome que era dado aos reinos cruzados no oriente) sobrevivera. Com isso terminou a terceira cruzada, que, embora não tenha conseguido recuperar Jerusalém, consolidou os estados cristãos do Oriente.

Comandantes Templários no período:
– Everard des Barres (1147-1149) – Preceptor dos Templários na França, ocupava o maior posto quando Robert de Craon morreu em 1147. Assim que ocupou o cargo, acompanhou o rei LouisVII na Segunda cruzada. De acordo com historiadores, era extremamente piedoso e nobre. Após a falha ao cerco de Damasco em 1148, Louis VII retorna À França e Everard tem de acompanhá-lo, pois era o guardião dos tesouros reais. Os templários ficaram em Jerusalém e auxiliaram na defesa da cidade contra os turcos em 1149. na França, Everard abdica do comando (que estava com Bernard de Tremelay desde 1149, na prática) e se torna um monge em Clairvaux.
– Bernard de Tremelay (1149-1153) – Tornou-se comandante dos Templários quando Everard precisou retornar à França. O rei Balduíno III deixou que ele utilizasse das ruínas de Gaza, que foram reconstruídas como base templária. Em 1153, os Templários participaram da Batalha de Ascalon, na qual Bernard e outros trinta e poucos templários acabaram sendo capturados pelos muçulmanos durante a queda do muro principal da cidade. Todos os templários capturados foram decepados, seus corpos foram expostos nos muros da cidade e suas cabeças enviadas ao sultão.

– André de Montbard o substituiu e, com o auxílio das tropas de Balduíno, conseguiram derrotar os muçulmanos em Ascalon em algumas das batalhas mais sangrentas das cruzadas. Montbard foi descrito como um dos cavaleiros mais nobres e valentes que já lideraram os Cavaleiros Templários. André faleceu em Jerusalém em 1156, de causa desconhecida.

– Bertrand de Blanchefort (1156-1169) – Foi conhecido por suas reformas na Ordem, tornando-os mais negociadores e menos agressivos. Também modificou as estruturas da ordem, tanto na parte administrativa quanto ritualística, dando menos poderes aos Grãos Mestres e criando conselhos de Senescais para auxiliarem nas decisões do comandante.

– Phillipe de Milly (1169-1171) – O sétimo Grão Mestre Templário era filho de Guy de Mille, um cavaleiro que lutou na Primeira Cruzada e já era um dos lordes de Nablus. Phillipe, como sucessor de seu pai, participou de diversas batalhas naquele período, antes da morte de Bertrand, inclusive tendo sido voto vencido na infeliz idéia de atacar Damasco. Phillipe deixou o Grão mestrado em 1171, tornando-se monge (e acabou falecendo 3 anos depois).

– Odo de St. Armand (1171-1179) St. Armand tomou parte em diversas expedições, incluindo Naplouse, Jericó e Djerach, conquistando grandes vitórias junto aos Templários. Sua melhor conquista foi a vitória na batalha de Montgisard, onde seus cavaleiros derrotaram uma força três vezes maior de soldados de Saladino. Com ele, os Templários ganharam a fama de grandes guerreiros e conseguiram grandes doações para a Ordem na Europa. Odo acabou sendo capturado na batalha de Marj Ayun, onde Balduíno IV conseguiu escapar do cerco com a “Verdadeira Cruz de Cristo” (na verdade, era a cruz picareta que a mãe do Imperador Constantino disse que era a verdadeira, para que Constantino pudesse tomar conta da Bíblia em 312 DC… de qualquer maneira, não deixava de ser uma relíquia de quase 700 anos). Odo foi morto pelos muçulmanos em 1180.

– Arnold de Torroja (1179-1184) foi um grande líder militar, participando de diversas batalhas na Espanha e Portugal, tendo sido chamado como Grão mestre justamente porque estava além das politicagens de Jerusalém. Durante seu governo, os Hospitalários atingiram o pico de prestígio em Jerusalém, bem como as rivalidades entre as duas ordens. Mas com a presença constante dos muçulmanos, não havia espaço para disputas internas e Torroja sentou-se à mesa para negociar com o grão Mestre Hospitalário Roger de Moulin e conseguiram estabelecer um acordo entre as duas Ordens. Torroja faleceu em Verona, vítima de uma doença, em 1184.

– Gerard de Ridefort (1184-1189) – O décimo Grão Mestre Templário enfrentou diversos problemas políticos dentro de Jerusalém. Gerard participou, junto com Guy de Lusignan, da Batalha de Hattin (1187), onde ambos foram capturados pelos muçulmanos. Gerard ficou prisioneiro até 1188, enquanto a Ordem permaneceu sob o comando de Thierry de Tiro (alguns historiadores incluem Thierry como Grão Mestre Templário em suas listas, mas a lista mais comum inclui apenas os 23 Grãos Mestres tradicionais até Jacques de Molay). Em 1189, Gerald voltou a combater os muçulmanos no Cerco ao Acre, onde veio a falecer.

– Robert de Sablé (1189-1193) foi o Comandante Templário durante as batalhas finais do Cerco do Acre, recapturou diversas cidades que haviam caído sob o domínio muçulmano e participou da batalha de Arsuf, onde com a ajuda dos Hospitalários, conseguiu derrotar um dos maiores exércitos de Saladino. Ele foi o último Grão Mestre Templário a participar abertamente das batalhas, pois a exposição da cabeça de Ridefort como troféu nas frentes muçulmanas fez com que os Templários e Hospitalários votassem que seus Grãos Mestres não mais se arriscassem na linha de frente, porque o dano moral causado caso fossem capturados seria muito grande.

Pelo que eu vi, ele é um dos chefes de fase do jogo Assassins Creed…

Na semana que vem: “Matem todos, Deus escolherá os seus”

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#Templários

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/segunda-e-terceira-cruzadas

Quinta, Sexta e Sétima Cruzadas

Postado no S&H dia 4/12/09,

Estamos chegando na reta final das cruzadas (faltam apenas mais duas) e o conflito no Oriente Médio entre Cristãos e Muçulmanos atinge seu ápice. Neste post, comentarei sobre as cruzadas que normalmente são ignoradas pelos professores nas aulas de história.

A Cruzada das Crianças

Uma das lendas a respeito das cruzadas inclui a famosa “Cruzada das crianças”, que teria ocorrido em 1212. As diversas histórias que chegaram aos tempos modernos sobre a Cruzada das Crianças giram em torno de eventos comuns. Um rapaz na França ou na Alemanha começou a espalhar que teria sido “visitado por Jesus” que o teria instruído para liderar a próxima cruzada. Após uma série de milagres, juntou um considerável grupo de seguidores, incluído possivelmente cerca de 20 mil crianças. Conduziu os seus seguidores em direção ao Mar Mediterrâneo, onde as águas deveriam se abrir para eles poderem avançar até Jerusalém.

Como (obviamente) isto não aconteceu, dois mercadores teriam oferecido sete barcos para levar tantas crianças quantas coubessem… hummm não sei quanto a você, leitor, mas isso cheira a cilada, Bino!

Os crentes teriam entregado as crianças para os mercadores e foram, então, levadas para a Tunísia tendo morrido em naufrágios ou sido vendidas como escravos. Em alguns relatos, as crianças não terão mesmo chegado ao Mediterrâneo, morrendo no caminho de fome ou exaustão.

O que provavelmente ocorreu foram migrações de vilas inteiras de pobres por toda a Europa, motivadas pelas mudanças nas condições econômicas da época que forçaram muitos camponeses no norte de França e na Alemanha a vender as suas terras. Estes bandos eram chamados de pueri (“rapaz” em latim). Mais tarde as referências ao puer alemão Nicholas e ao puer francês Stephan, ambos liderando multidões em nome de Jesus, terão sido unificadas num único relato, tendo o termo “pueri” sido traduzido para “crianças”.

A Quinta Cruzada

A Quinta Cruzada (1217-1221), ocorreu pela iniciativa do Papa Inocêncio III, que a propôs em 1215 no quarto Concílio de Latrão, mas foi somente posta em prática por Honório III, seu sucessor no trono de São Pedro. O papado havia também contribuído para desacreditar o ideal das cruzadas, quando manipulou a fé das pessoas para esmagar os Cátaros do sul da França, na chamada Cruzada albigense. Mesmo assim, o papa Honório III conseguiu adesões para uma nova expedição.

A Quinta Cruzada foi liderada por André II, rei da Hungria; Leopoldo VI, duque da Áustria; Jean de Brienne, rei em título de Jerusalém e Frederico II, imperador do Sacro Império. O imperador Frederico II concordou em organizar a expedição.

Decidiu-se que para se conquistar Jerusalém era necessário conquistar o Egito primeiro, uma vez que este controlava esse território. Em maio de 1218, as tropas de Frederico II se puseram a caminho do Egito, sob o comando de Jean de Brienne. Desembarcados em São João D’Acre, decidiram atacar Damietta (hoje chamada de Dumyat), cidade que servia de acesso ao Cairo, a capital. Em agosto atacaram Damietta. Depois de conquistar uma pequena fortaleza de acesso aguardaram reforços. Em junho, foram reforçadas pelas tropas papais do cardeal Pelágio. Homem autoritário, Pelágio não quis subordinar-se a Brienne e também interferiu constantemente nos assuntos militares.

Depois de alguns combates, e quando tudo parecia perdido, uma série de crises na liderança egípcia permitiu os cruzados ocupar o campo inimigo. Porém, numa paz negociada em 1219 com os muçulmanos, o incrível aconteceria: Jerusalém era oferecida aos cristãos, entre outras cidades, em troca da sua retirada do Egito. Mas os chefes cruzados, nomeadamente o cardeal Pelágio, recusaram tal oferta (que, vou refrescar a memória do leitor, era o objetivo principal das Cruzadas): o papado considerava que os muçulmanos não conseguiriam resistir aos cruzados quando Frederico II chegasse com os seus exércitos.

Os cruzados começaram, então, a cercar o porto egípcio Damietta e, depois de algumas batalhas, sofreram uma derrota. O sultão renovou a proposta, mas foi novamente recusada. Depois de um longo cerco que durou de Fevereiro a novembro de 1219 a cidade caiu. A estratégia posterior requeria assegurar o controle da península do Sinai. Os conflitos entre os cruzados e muçulmanos tornaram-se praticamente diários e perdeu-se tanto tempo que os egípcios recuperaram as forças. Em julho de 1221, o cardeal ordenou uma ofensiva contra o Cairo, mas os muçulmanos levaram os cruzados a uma armadilha; quando os cristãos avançavam, os muçulmanos recuavam e levavam todos os alimentos (e envenenavam os poços)… sem comida e cercados, acabaram por ter de chegar a um acordo: retiravam do Egito e tinham as vidas salvas. Tiveram também de aceitar uma trégua de oito anos. #Fail

O principal motivo para a derrota cristã tem um nome: os reforços prometidos por Frederico II não chegaram. Razão pela qual ele foi excomungado pelo papa Gregório IX. Essa foi a última cruzada para a qual o papado mandou suas próprias tropas.

A Sexta Cruzada

A Sexta Cruzada (1228-1229), lançada em 1227 pelo imperador do Sacro Império Frederico II de Hohenstauffen, que tinha sido excomungado pelo Papa, só no ano seguinte ganharia forma.

Frederico, genro de Jean de Brienne, herdeiro do trono de Jerusalém, pretendia reclamar seus direitos sobre Chipre e Jerusalém-Acre. Depois que sua frota partiu, o imperador recebeu uma missão de paz do sultão do Egito, que retardou o seu avanço e acabou causando aquele vexame nas tropas cristãs…

Finalmente, no verão de 1228, depois de muita hesitação, acabou por partir ao Oriente para tentar se livrar da excomunhão que o papa lhe havia imposto, apesar de ser defensor do diálogo com o Islã, religião da qual era admirador, e preferir conversar em vez de combater.

Enquanto suas tropas estavam longe, o papa proclamou outra Cruzada, desta vez contra o próprio Frederico, e seguiu atacando as possessões do imperador na Península Itálica.

O minguado exército de Frederico II, auxiliado pelos cavaleiros Teotônicos, foi diminuindo com as deserções e uma semi-hostilidade das forças cristãs locais devido à sua excomunhão pelo Papa. Aproveitando-se das discórdias entre os sultões do Egito e Damasco, Frederico II conseguiu, por intermédio da diplomacia, um vantajoso tratado com o Egito de Malik el-Kamil, sobrinho de Saladino.

Pelo tratado de Jafa (1229), Jerusalém ganhou Belém, Nazaré e Sídon, um corredor para o mar, para além de uma trégua de dez anos. Em contrapartida, os cristãos reconheciam a liberdade de culto para os muçulmanos.

Por causa disso, o Papa excomunga Frederico II mais uma vez.

Frederico foi coroado rei de Jerusalém, mas por conta dos inúmeros ataques dos cruzados em suas terras e receoso de perder seu trono na Germânia e Nápoles, regressou à Europa. Retomou relações com Roma em 1230.

Sétima Cruzada

Após o fim dos dez anos da trégua de 1229 (assinada durante a Sexta Cruzada), uma expedição militar cristã, com poucos homens e poucos recursos, liderada por Ricardo de Cornualha e Teobaldo IV de Champanhe, encaminhou-se para a Terra Santa a fim de reforçar a presença cristã nos lugares santos. Não era exatamente uma “cruzada”, mas mais um reforço. Não pôde impedir, entretanto, que, em 1244, Jerusalém caísse nas mãos dos turcos muçulmanos. No ano seguinte dava-se o desastre de Gaza.

Nesse ano, quando o Papa Inocêncio IV abriu o Concílio de Lyon, o rei da França Luís IX, posteriormente canonizado como São Luís, expressou o desejo de ajudar os cristãos do Levante. Luís IX levou três anos para embarcar, mas o fez com um respeitável exército de 35.000 homens. O monarca francês aproveitou as perturbações causadas pelos mongóis no Oriente e partiu de Aigues-Mortes para o Egito em 1248. Escalou em Chipre em setembro de 1248, atacando depois o Egito

Em junho de 1249, Damietta foi recuperada para os cristãos e serviria de base de operação para a conquista da Palestina. No ano seguinte, quase conquista o Cairo, só não o conseguindo por causa de uma inundação do Nilo e porque os muçulmanos se apoderaram das provisões alimentares dos cruzados, o que provocou fome e doenças como o escorbuto nas hostes de São Luís. #Fail

Ao mesmo tempo, Roberto de Artois, irmão do rei, depois de quase vencer em Mansurá, foi derrotado devido a sua imprudência.

Perante este cenário, com seu exército dizimado pela peste de tifo, São Luís bateu em retirada. O rei é capturado e feito prisioneiro em Mansurá, sendo posteriormente libertado após o pagamento de um resgate de 800 mil peças de ouro (parecem números de MMORPG) e restituição de Damieta, em maio de 1250. Só a resistência da rainha francesa em Damietta, permitira que se conseguisse negociar com os egípcios.

Mas o pior ainda estava por vir…

Semana que vem: Corram para as colinas! Os mamelucos estão chegando!

#Templários

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/quinta-sexta-e-s%C3%A9tima-cruzadas

Harry Houdini

Harry Houdini foi um famoso mágico especializado em ilusionismo e escapismo. Na verdade, as técnicas de escapismo ele mesmo desenvolveu ao longo da carreira dele. Ao mesmo tempo, como pessoa pública, tanto pela coragem quanto pelo carisma, ele cultivou uma longa lista de desafetos, porque mesmo sendo mágico se permitia ao duro papel do cético e realista.

Houdini propôs desafios públicos, pagos com uma grande soma em dinheiro, a quem conseguisse provar a realidade da vida após a morte ao trazer uma mensagem verdadeira da sua falecida mãe.

Sejamos francos: Houdini, como tantos outros céticos (vide Padre Quevedo), não desacreditava da realidade espiritual, nem do Espiritismo ou Espiritualismo em si. A realidade espiritual – “O Mundo Mágico” – era crível, mas não provável à ótica materialista e acadêmica. E não há nenhum problema quanto a isso.

O que Houdini combatia não eram as sombras de um obscurantismo medieval, pré-Revolução Industrial. Não eram crenças e superstições comuns do povo, frutos da cultura religiosa e do imaginário popular. Houdini combatia era a luz. A luz cegante dos auto-declarados médiuns milagreiros, dos paranormais embusteiros e, principalmente, dos magos de palco.

O pior risco do Ocultismo é a vazão que ele dá para as pessoas o usarem de escapismo da realidade, como uma chance de se projetarem sombras de empatia e grandiloquência de seus egos e auto-estimas apequenadas pela simploriedade da vida que levam. Tudo por um jogo de luzes e contraste, a iludir a percepção do público crente de que este ou aquele indivíduo detém algum tipo de resposta ou solução magicamente acessível ou, quase sempre, onerosa.

No começo da minha jornada eu ficava muito insatisfeito com a percepção cética ou pessimista de algumas pessoas do cenário esotérico, quase como céticos, mesmo sabendo da realidade, a negar a existência do “Mundo Mágico” para as outras pessoas. Hoje, mais amadurecido pelas porradas que a vida me deu, acabei me tornando mais como um Houdini, e compreendendo melhor as coisas.

As pessoas não querem o “Mundo Mágico”. O que elas procuram, em sua maioria, é validar as próprias loucuras, reafirmar as próprias fraquezas como virtudes místicas, fugir da dura realidade do cotidiano, tudo a um preço acessível, uma passagem só de ida, quanto mais lisérgica, melhor, a uma “bad trip” controlada, com “on/off” para que ela possa ir na moitada ou se preocupar com o espiritual da mesma maneira que os fiéis vão a uma missa vez ou outra achando que limparam os pecados da lista daquele ano.

Houdini combatia os magos, e com razão. A sua maneira inquisidora, perseguiu e desmascarou os falsos magos, os embusteiros e os picaretas que se aproveitavam da credulidade alheia para extorquir a boa-fé e o dinheiro das pessoas.

E o arquétipo do mago é algo muito sedutor para estes indivíduos: arguição polida, domínio do jargão técnico, discursos motivacionais, métodos de indução e hipnose de um pastor protestante e um vendedor de bugigangas e, acima de tudo, uma aparência que os fizessem passar uma aura fidedigna de mago, projetada justamente do imaginário popular, de homens mais velhos, com uma espessa barba, vestidos de robes, em ambientes decorados com motivos mágicos e místicos mas, sobretudo um ambiente “noir”, soturno, para darem a impressão de serem misteriosos.

Uma vez projetados, se tornam figuras messiânicas difíceis de serem desconstruídas uma vez que o próprio público não se permite enxergar a própria realidade. Escondem-se detrás de robes – “o hábito não faz o monge”, mas para estes é imprescindível – escudados pelos que morreram e não podem mais falar em própria defesa, como Agrippa, Bruno, Salomão, e tantos outros.

Houdini viveu uma batalha virtuosa, mas inglória, contra os farsantes. Eles nunca vão deixar de existir. Mas seu exemplo ainda assim inspira alguns poucos – eu incluso – que se permitem a combater o senso comum com informação, a mistificação com conhecimento e as ilusões como fatos. E longe de mim ser um “inquisidor” ou “corregedor”, a fiscalizar o alheio. Esse é um erro ao qual não posso me dar o luxo.

Mesmo nas sombras, devemos fazer brilhar o real legado dos magos de outrora, o real tesouro do “Mundo Mágico”, que são os Princípios de uma dita “Arte Régia” com substância, mas sem nome. Não com fórmulas, com rituais, mas com os Princípios Divinos que se manifestam e são percebidos na própria Natureza interna e externa ao ser humano.

O bom combate de Houdini, como de tantos outros, ainda continua o mesmo, se não contra a luz ofuscante dos embusteiros de palco, contra a luz alienante dos magos de Youtube.

Kayque Girão – Vajra Jyotishi

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/harry-houdini

O Cérebro, os Rituais e o Tempo

O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos. Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma mobília, sem portas ou janelas, sem relógio… você começará a perder a noção do tempo.
Por alguns dias, sua mente detectará a passagem do tempo sentindo as reações internas do seu corpo, incluindo os batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede e pressão sanguínea. Isso acontece porque nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr do sol.

Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar: Nosso cérebro é extremamente otimizado. Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho. Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia. Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar conscientemente tal quantidade. Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do dia e portanto, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo.
É quando você se sente mais vivo. Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e ‘apagando’ as experiências duplicadas.
Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais rapidamente. Quando começamos a dirigir automóveis, tudo parece muito complicado, nossa atenção parece ser requisitada ao máximo.
Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os sinais ou até falando ao celular ao mesmo tempo. Como acontece? Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente); O cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências passadas e usa, no lugar de repetir realmente a experiência).
Em outras palavras, você não vivenciou aquela experiência, pelo menos para a mente. Aqueles críticos segundos de troca de marcha, leitura de placa… São apagados de sua noção de passagem do tempo… Quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente apaga a experiência repetida. Conforme envelhecemos, as coisas começam a se repetir as mesmas ruas, pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações…enfim…as experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com que seu dia pareça ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo.
Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década.
Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a… ROTINA.

Não me entenda mal. A rotina é essencial para a vida e otimiza muita coisa, mas a maioria das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de um só capítulo, repetido todos os anos.
Felizmente há um antídoto para a aceleração do tempo:
M & M (Mude e Marque). Mude, fazendo algo diferente e marque, fazendo um
ritual, uma festa ou registros com fotos. Mude de paisagem, tire férias com a família (sugiro que você tire férias sempre e, preferencialmente, para um lugar quente, um ano, e frio no seguinte) e marque com fotos, cartões postais e cartas. Tenha filhos (eles destroem a rotina) e sempre faça festas de aniversário para eles, e para você (marcando o evento e diferenciando o dia).
Use e abuse dos rituais para tornar momentos especiais diferentes de momentos usuais. Faça festas de noivado, casamento, 15 anos, bodas disso ou daquilo, bota-foras, participe do aniversário de formatura de sua turma, visite parentes distantes, entre na universidade com 60 anos, troque a cor do cabelo, deixe a barba, tire a barba, compre enfeites diferentes no Natal, vá a shows, cozinhe uma receita nova, tirada de um livro novo.
Escolha roupas diferentes, não pinte a casa da mesma cor, faça diferente. Beije diferente sua paixão e viva com ela momentos diferentes. Vá a mercados diferentes, leia livros diferentes, busque experiências diferentes… Seja diferente. Se você tiver dinheiro, especialmente se já estiver aposentado, vá com seu marido, esposa ou amigos para outras cidades ou países, veja outras culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos… … em outras palavras…. .. V-I-V-A. !!!

Porque se você viver intensamente as diferenças, o tempo vai parecer mais longo. E se tiver a sorte de estar casado(a) com alguém disposto(a) a viver e buscar coisas diferentes, seu livro será muito mais longo, muito mais interessante e muito mais v-i-v-o… do que a maioria dos livros da vida que existem por aí.
Cerque-se de amigos. Amigos com gostos diferentes, vindos de lugares diferentes, com religiões diferentes e que gostam de comidas diferentes.
Enfim, acho que você já entendeu o recado, não é? Boa sorte em suas experiências para expandir seu tempo, com qualidade, emoção, rituais e vida.

Por Airton Luiz Mendonça

#Rituais #Tempo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-c%C3%A9rebro-os-rituais-e-o-tempo

A Metamorfose, de Kafka

As Edições Textos para Reflexão trazem até vocês mais um clássico eterno da literatura mundial, pelo preço de um café!

Desta vez o autor escolhido foi Franz Kafka, e a obra, o seu conto mais lido e comentado, A Metamorfose, uma das histórias mais bizarras do século passado. Você já pode começar a ler em poucos minutos:

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À seguir, trazemos o Epílogo da edição (cuidado, pode conter alguns spoilers):

Um clássico da literatura mundial ou uma espécie de “pegadinha literária”, com o perdão do termo? De fato, Kafka foi genial por conseguir evitar, a todo momento, que o seu leitor conseguisse responder definitivamente a tal pergunta.

É perfeitamente compreensível que muita gente não o tenha compreendido, e que alguns tenham até mesmo se sentido enojados pela temática da sua Metamorfose, mas quem poderá dizer que este também não era o seu objetivo? Quem poderá dar por certo que esta grande brincadeira literária, por vezes doce, por vezes irritante, mas sempre primorosamente elaborada em palavras, não era justamente o que tinha em mente quando se sentava para escrever?

No entanto, há acadêmicos que se negam a admitir qualquer espécie de humor, seja oculto ou não, no texto kafkiano. Para muita gente a metáfora do trabalhador disciplinado, que faz de tudo para cuidar das finanças da família, mas que não tem de fato um sentido na vida, e termina por cair em profunda depressão, é perfeitamente compatível com o inseto estranho em que resulta a metamorfose, trancado em seu quarto escuro, sujo, e incapaz de alcançar sequer a sala da própria casa.

Mas me parece inegável haver alguma espécie de humor, seja ele doentio ou como queiram chamar, no simples fato de que, apesar do absurdo da sua situação, Gregor Samsa esteja quase sempre a pensar no cotidiano e em assuntos triviais, como quando se lamenta em ter de faltar ao trabalho, ou quando está tentando a todo custo se manter inteirado das fofocas do jantar. Gregor se encontra “perfeitamente feliz”, afinal, quando consegue se manter numa posição quase que de meditação, grudado no teto do seu próprio quarto… Ora, se isso não era para ser engraçado, mesmo que de alguma forma bizarra, definitivamente o senhor Kafka é um escritor indecifrável.

Seja como for, fato é que este pequeno conto, a sua obra mais lida, ainda será lida por muito tempo, em muitos cantos diversos e épocas futuras. Esperemos que até lá, mais gente se identifique com o Gregor que corre alegremente pelas paredes do que com o inseto esmagado pelo peso do mundo, incapaz de se arrastar sequer para baixo do sofá.

O editor.

#eBooks #Literatura

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-metamorfose-de-kafka

O Afogado Mais Bonito do Mundo

Os primeiros meninos que viram o volume escuro e silencioso que se aproximava pelo mar imaginaram que era um barco inimigo. Depois viram que não trazia bandeiras nem mastreação, e pensaram que fosse uma baleia. Quando, porém, encalhou na praia, tiraram-lhe os matos de sargaços, os filamentos de medusas e os restos de cardumes e naufrágios que trazia por cima, e só então descobriram que era um afogado.Tinham brincado com ele toda a tarde, enterrando-o e o desenterrando na areia, quando alguém os viu por acaso e deu o alarme no povoado. Os homens que o carregaram à casa mais próxima notaram que pesava mais que todos os mortos conhecidos, quase tanto quanto um cavalo, e disseram que talvez tivesse estado muito tempo à deriva e a água penetrara-lhe os ossos. Quando o estenderam no chão viram que fora muito maior que todos os homens, pois mal cabia na casa,mas pensaram que talvez a capacidade de continuar crescendo depois da morte estava na natureza de certos afogados. Tinha o cheiro do mar e só a forma permitia supor que fosse o cadáver de um ser humano, porque sua pele estava revestida de uma couraça de rêmora e de lodo.Não tiveram que limpar seu rosto para saber que era um morto estranho. O povoado tinha apenas umas vinte casas de tábuas, com pátios de pedra sem flores, dispostas no fim de um cabo desértico. A terra era tão escassa que as mães andavam sempre com medo de que o vento levasse os meninos, e os poucos mortos que os anos iam causando tinham que atirar das escarpas. Mas o mar era manso e pródigo, e todos os homens cabiam em sete botes. Assim, quando encontraram o afogado, bastou-lhes olhar uns aos outros para perceber que nenhum faltava.Naquela noite não foram trabalhar no mar. Enquanto os homens verificavam se não faltava alguém nos povoados vizinhos, as mulheres foram cuidando do afogado. Tiraram-lhe o lodo com escovas de esparto, desembaraçaram-lhe os cabelos dos abrolhos submarinos e rasparam a rêmora com ferros de descamar peixes. À medida que o faziam, notaram que a vegetação era de oceanos remotos e de águas profundas; e que suas roupas estavam em frangalhos, como se houvesse navegado entre labirintos de corais. Notaram também que carregava a morte com altivez, pois não tinha o semblante solitário dos outros afogados do mar, nem tampouco a catadura sórdida e indigente dos afogados dos rios. Somente, porém, quando acabaram de limpá-lo tiveram consciência da classe de homens que era, e então ficaram sem respiração. Não era só o mais alto, o mais forte, o mais viril e o mais bem servido que jamais tinham visto, senão que,embora o estivessem vendo, não lhes cabia na imaginação.

Não encontraram no povoado uma cama bastante grande para estendê-lo, nem uma mesa bastante sólida para velá-lo. Não lhe serviram as calças de festa dos homens mais altos, nem as camisas de domingo dos mais corpulentos, nem os sapatos do maior tamanho. Fascinadas por sua desproporção e sua beleza, as mulheres decidiram então fazer-lhe umas calças com um bom pedaço de vela carangueja e uma camisa de cretone de noiva, para que pudesse continuar sua morte com dignidade. Enquanto costuravam, sentadas em círculo, contemplando o cadáver entre ponto e ponto, parecia-lhes que o vento não fora nunca tão tenaz nem o Caribe estivera tão ansioso quanto naquela noite, e supunham que essas mudanças tinham algo a ver com o morto.Pensavam que, se aquele homem magnífico tivesse vivido no povoado, sua casa teria as portas mais largas, o teto mais alto e o piso mais firme, e o estrado de sua cama seria de cavernas mestras com pernas de ferro, e sua mulher seria a mais feliz. Pensavam que tivera tanta autoridade que poderia tirar os peixes do mar só os chamando por seus nomes, e pusera tanto empenho no trabalho que fizera brotar mananciais entre as pedras mais áridas, e semear flores nas escarpas. Compararam-no, em segredo, com seus homens, pensando que não seriam capazes de fazer, em toda uma vida, o que aquele era capaz de fazer numa noite, e acabaram por repudiá-los, no fundo de seus corações, como os seres mais fracos e mesquinhos da terra. Andavam perdidas por esses labirintos de fantasia, quando a mais velha das mulheres, que por ser a mais velha contemplara o afogado com menos paixão que compaixão, suspirou: __ Tem cara de se chamar Estêvão.Era verdade. À maioria bastou olhá-lo outra vez para compreender que não podia ter outro nome.As mais teimosas, que eram as mais jovens, mantiveram-se com a ilusão de que, ao vesti-lo,estendido entre flores e com uns sapatos de verniz, pudesse chamar-se Lautaro. Mas foi uma ilusão vã. O lençol ficou curto, mal cortadas e pior costuradas, ficaram apertadas e as forças ocultas de seu coração faziam saltar os botões da camisa. Depois da meia noite diminuíram os assobios do vento e o mar caiu na sonolência da quarta feira. O silêncio pôs fim às últimas dúvidas:era Estêvão. As mulheres que o vestiram, as que o pentearam, as que lhe cortaram as unhas e barbearam não puderam reprimir um estremecimento de compaixão quando tiveram de resignar-se a deixá-lo estendido no chão. Foi então quando compreenderam quanto devia ter sido infeliz com aquele corpo descomunal, se até depois de morto o estorvava. Viram-no condenado em vida a passar de lado pelas portas, a ferir-se nos tetos, a permanecer de pé nas visitas, sem fazer o que fazer com suas ternas e rosadas mãos de boi marinho, enquanto a dona da casa procurava a cadeira mais resistente e suplicava-lhe, morta de medo, sente-se aqui Estêvão, faça-me o favor, e ele encostado nas paredes, sorrindo, não se preocupe senhora, estou bem assim, com os calcanhares em carne viva e as costas abrasando de tanto repetir o mesmo, em todas as visitas,não se preocupe senhora, estou bem assim, só para não passar pela vergonha de destruir a cadeira, e talvez sem ter sabido nunca que aquele que lhe diziam não se vá, Estêvão, espere pelo menos até que aqueça o café, eram os mesmos que, depois, sussurravam já se foi o bobo grande,que bom, já se foi o bobo bonito. Isto pensavam as mulheres diante do cadáver um pouco antes do amanhecer.

Mais tarde, quando lhe cobriram o rosto com um lenço para que não o maltratasse a luz, viram-no tão morto para sempre, tão indefeso, tão parecido com seus homens, que se abriram as primeiras gretas de lágrimas nos seus corações. Foi uma das mais jovens que começou a soluçar. As outras, consolando-se entre si, passaram dos suspiros aos lamentos, e enquanto mais soluçavam, mais vontade sentiam de chorar, porque o afogado estava se tornando cada vez mais Estevão, até que o choraram tanto que ficou sendo o homem mais desvalido da Terra, o mais manso, o mais serviçal, o pobre Estêvão. Assim que, quando os homens voltaram com a notícia de que o afogado também não era dos povoados vizinhos, elas sentiram um vazio de júbilo entre as lágrimas. __ Bendito seja Deus __ suspiraram: __ é nosso!Os homens acreditaram que aqueles exageros não eram mais que frivolidades de mulher.Cansados das demoradas averiguações da noite, a única coisa que queriam era descartar-se deuma vez do estorvo do intruso, antes que acendesse o sol bravo daquele dia árido e sem vento.Improvisaram umas padiolas com restos de traquetes e espichas, e as amarraram com carlingas de altura, para que resistissem ao peso do corpo até as escarpas. Quiseram prender-lhe aostornozelos uma ancora de navio mercante para que ancorasse, sem tropeços, nos mares mais profundos, onde os peixes são cegos e os búzios morrem de saudade, de modo que as más correntes não o devolvessem à margem, como acontecera com outros corpos. Porém, quanto mais se apressavam, mais coisas as mulheres lembraram para perder tempo.

Andavam como galinhas assustadas, bicando amuletos do mar nas arcas, umas estorvando aqui porque queriam pôr no afogado os escapulários do bom vento, outras estorvando lá para abotoar-lhe uma pulseira de orientação; e depois de tanto sai daí mulher, ponha-se onde não estorve, olhe que quase me faz cair sobre o defunto, aos fígados dos homens subiram as suspeitas e eles começaram a resmungar, para que tanta bugiganga de altar-mor para um forasteiro, se por muitos cravos e caldeirinhas que levasse em cima os tubarões iam mastigá-lo, mas elas continuavam ensacando suas relíquias de quinquilharia, levando e trazendo, tropeçando, enquanto gastavam em suspiros o que poupavam em lágrimas, tanto que os homens acabaram por se zangar, desde quando aqui semelhante alvoroço por um morto ao léu, um afogado de nada, um presunto de merda. Uma das mulheres, mortificada por tanta insensibilidade, tirou o lenço do rosto do cadáver e também os homens perderam a respiração.Era Estêvão. Não foi preciso repeti-lo para que o reconhecessem. Se lhe tivessem chamado SirWalter Raleigh, talvez, até eles ter-se-iam impressionado com seu sotaque de gringo, com sua arara no ombro, com seu arcabuz de matar canibais, mas Estêvão só podia ser único no mundo e ali estava atirado, como um peixe inútil, sem polainas, com umas calças que não lhe cabiam e umas unhas cheias de barro, que só se podia cortar à faca. Bastou que lhe tirassem o lenço do rosto para perceber que estavam envergonhado, de que não tinha culpa de ser tão grande, nem tão pesado, nem tão bonito, e se soubesse que isso ia acontecer, teria procurado um lugar mais discreto para afogar-se, de verdade, me amarraria eu mesmo uma âncora de galeão no pescoço e teria tropeçado como quem não que nada nas escarpas, para não andar agora estorvando comeste morto de quarta-feira, como vocês chamam, para não molestar ninguém com esta porcaria de presunto que nada tem a ver comigo. Havia tanta verdade no seu modo de estar que até os homens mais desconfiados, os que achavam amargas as longas noites no mar, temendo que suas mulheres se cansassem de sonhar com eles para sonhar com os afogados, até esses, e outros mais empedernidos, estremeceram até a medula com a sinceridade de Estêvão.

Foi por isso que lhe fizeram os funerais mais esplêndidos que se podiam conceber para um afogado considerado enjeitado. Algumas mulheres, que tinham ido buscar flores nos povoados vizinhos, voltaram com outras que não acreditavam no que lhes contavam, e estas foram buscar mais flores quando viram o morto, e levaram mais e mais, até que houve tantas flores e tanta gente que mal se podia caminhar. Na última hora, doeu-lhes devolvê-lo órfão às águas, e lhe deram um pai e uma mãe dentre os melhores, e outros se fizerem seus irmãos, tios e primos, de tal forma que, através dele, todos os habitantes do povoado acabaram por ser parentes entre si.Alguns marinheiros que ouviram o choro à distância perderam a segurança do rumo, e se soube de que um se fez amarrar ao mastro maior, recordando antigas fábulas de sereias. Enquanto se disputavam o privilégio de carregá-lo nos ombros, pelo declive íngreme das escarpas, homens e mulheres perceberam, pela primeira vez, a desolação de suas ruas, a aridez de seus pátios, a estreiteza de seus sonhos, diante do esplendor e da beleza do seu afogado. Jogaram-no sem âncora, para que voltasse se quisesse, e quando o quisesse, e todos prenderam a respiração durante a fração de séculos que demorou a queda do corpo até o abismo. Não tiveram necessidade de olhar-se uns aos outros para perceber que já não estavam todos, nem voltariam a estar jamais. Mas também sabiam que tudo seria diferente desde então, que suas casas teriam as portas mais largas, os tetos mais altos, os pisos mais firmes, para que a lembrança de Estevão pudesse andar por toda parte,

sem bater nas traves, e que ninguém se atrevesse a sussurrar no futuro já morreu o bobo grande, que pena, já morreu o bobo bonito, porque eles iam pintar as fachadas de cores alegres para eternizar a memória de Estêvão, e iriam quebrar a espinha cavando mananciais nas pedras e semeando flores nas escarpas para que, nas auroras dos anos venturosos,os passageiros dos grandes navios despertassem sufocados por um perfume de jardins em alto-mar, e o capitão tivesse que baixar do seu castelo de proa, em uniforme de gala, astrolábio, estrela polar e sua enfiada de medalhas de guerra, e, apontando o promontório de rosas no horizonte doCaribe, dissesse em catorze línguas, olhem lá, onde o vento é agora tão manso que dorme debaixo das camas, lá, onde o sol brilha tanto que os girassóis não sabem para onde girar, sim, lá é o povoado de Estêvão.

Gabriel Garcia Marques
“A incrível e triste história da Cândida Erêndira e sua avó desalmada”, pág. 46 – 55.
Tradução de Remy Gorga, Filho
Editora Record, 22 edição.

Que as vossas Rosas floresçam na tua Cruz.

Sérvio Túlio é estudante de Letras, membro do Projeto Mayhem e autor do blog Jedi Teraphim.

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