Sepher Yetzirah – Capítulo I

Tradução de Papus:

É com as trinta e duas vias da sabedoria, vias admiráveis e ocultas, que IOAH (h w h y) DEUS de Israel, DEUS VIVO e Rei dos Séculos, DEUS de Misericórdia e de Graça, DEUS Sublime tão Exaltado, DEUS vivendo na Eternidade, DEUS santo, grava seu nome por três numerações: SEPHER, SEPHAR e SIPUR, isto é o NÚMERO, O QUE NUMERA e o NUMERADO (Também traduzido por Escritura, Número e Palavra – Abendana), contido nas dez Sefirotes isto é, dez propriedades, com exceção do inefável, e vinte e duas letras.

As letras são constituídas por três mães, mais sete duplas e doze simples. As dez Sefirotes com exceção do inefável (EN SOF), são constituídas pelo número dez, como os dedos das mãos, são cinco mais cinco, mas no meio deles está a aliança da unidade. Na interpretação da língua e da circuncisão encontram-se as dez Sefirotes com exceção do inefável.

Dez e não nove, dez e não onze, compreende isto em tua sabedoria e saberás dentro de tua compreensão. Exercita o teu espírito sobre elas, pesquisa, relaciona, pensa, imagina, restabelece as coisas em seus lugares e assenta o Criador no seu Trono.

Dez Sefirotes com exceção do inefável, cujas dez propriedades são infinitas: o infinito do princípio, o infinito do fim, o infinito do bem, o infinito do mal, o infinito em elevação, o infinito em profundidade, o infinito ao Oriente, o infinito ao Ocidente, o infinito ao Norte, o infinito ao Sul (Meio-dia). Só o Senhor está acima; Rei fiel, ele domina tudo do alto do seu Trono pelos séculos afora.

Vinte e duas letras fundamentais, três mães: Aleph, Mem, Shin (c m a), elas correspondem ao prato do mérito, ao prato do demérito e à balança da lei que conserva o equilíbrio entre eles; sete duplas, b Beth, – g Ghimel – d Daleth – k Caph – p Phé – r Resh – t Thau, que correspondem à vida, à paz, à sabedoria, à riqueza, à posteridade, à graça, à dominação; doze simples: h He- w Vau- z Zain – j Cheth – f Teth – y Iod – l Lamed – n Nun – s Samech – u GHain – x TTsade – q Cuph, que correspondem à vista, ao ouvido, ao olfato, à palavra, à nutrição, à coabitação, à ação, ao caminhar, à cólera, ao riso, ao pensamento e ao sono.

Pelo qual Yah, Eterno Sabaoth, Deus de Israel, Deus Vivo, Deus Onipotente, elevado, sublime, vivendo na Eternidade e cujo nome é santo, propagou três princípios e suas posteridades, Ar, Água e Fogo, sete conquistadores e suas legiões (Os Planetas e as Estrelas), doze arestas do cubo (O nome y s b l a – não parece significar diagonal…).

A prova das coisas é dada por testemunhos dignos de fé, o mundo, o ano e o homem, que tem a regra das dez, três, sete e doze; seus prepostos são o dragão, a esfera e o coração.

#Kabbalah #SepherYetzirah

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/sepher-yetzirah-cap%C3%ADtulo-i

Ventura

Para se ler com a imaginação…

Texto do poeta inglês John Galsworthy, nobel de literatura de 1932, traduzido do original (Felicity) por Rafael Arrais [1].

Quando Deus é tão bom para os campos, de que uso são as palavras – essas pobres cascas de sentimento! Não há como se pintar a Ventura nas asas! Nenhum meio de passar para a tela a glória etérea das coisas! Um único botão-de-ouro dos vinte milhões em um campo vale mais do que todos esses símbolos secos – que não poderão nunca expressar o espírito da neblina espumosa de Maio a se chocar com os arbustos, o coral dos pássaros e das abelhas, as anêmonas a se perder de vista, as andorinhas de pescoço branco em sua Odisséia.

Aqui apenas não existem cotovias, mas quanta alegria de sons e de folhas; de estradas a refletir o brilho das árvores, os poucos carvalhos ainda em dourado amarronzado, e a poeira ainda espiritual! Apenas os melros-pretos e os sabiás podem cantarolar este dia, e os cucos no topo da montanha. O ano fluiu tão rápido que as macieiras já deixaram cair quase todas as suas flores, e nos prados alongados, a grama verde já deixou crescer suas “adagas”, ao lado dos estreitos córregos ensolarados. Orfeu senta-se por lá em alguma pedra, quando ninguém passa por perto, e toca sua flauta para os pôneis; e Pan pode eventualmente ser visto dançando com suas ninfas nos bosques onde é sempre crepúsculo, se você se deita e permanece calmo o suficiente no barranco da outra margem.

Quem pode acreditar em envelhecer, enquanto estamos envoltos nesse manto de cores e asas e sons; enquanto esta visão inimaginável está aqui pronta para ser observada – os carneiros de face lisa ali ao lado, e os sacos de lã secando pendurados na cerca, e grandes números de patos ainda pequenos, tão confiantes que os corvos já pegaram vários.

Azul é a cor da juventude, e as flores azuis têm uma aparência enigmática. Tudo parece jovem, muito jovem para trabalhar. Existe apenas uma coisa ocupada, um passarinho, bicando larvas para sua pequena família, acima de minha cabeça – ele deve precisar fazer esse vôo umas duzentas vezes por dia. As crianças devem ser bem gordinhas.

Quando o céu é tão aventurado, e as flores tão luminosas, não parece ser possível que os anjos de luz deste dia possam passar à escuridão da noite; que lentamente essas asas devam se fechar, e o cuco se colocar para dormir. Insetos enlouquecidos dançam junto à tardinha, a grama se arrepia com o orvalho, o vento morre, e nenhum pássaro canta…

Ainda assim, acontece. O dia se foi – o som e o glamoroso farfalhar de asas. Lentamente, o milagre do dia passou. É noite. Mas a Ventura não se retirou; ela apenas trocou o seu manto pelo silêncio, o veludo, e a pérola da lua. Tudo está adormecido, exceto uma única estrela, e as violetas. Porque elas gostam mais da madrugada do que as outras flores, eu não faço idéia. A expressão em suas faces, quando uma se curva ao crepúsculo, é mais doce e astuciosa do que nunca. Elas partilham algum acordo secreto, sem dúvida.

Quantas vozes se renderam ao fantasma da noite e desistiram de cantar – restou apenas o murmúrio do córrego lá fora, na escuridão!

Com que religiosidade tudo isso tem sido feito! Nenhum botão-de-ouro aberto; as coníferas com as sombras derrubadas! Nenhuma traça apareceu ainda; está muito cedo no ano para os noitobós; e as corujas estão quietas. Mas quem poderia dizer que neste silêncio, nessa luz macilenta a pairar, nesse ar privado de asas, e de todos os odores exceto o frescor, existe menos do incomensurável, menos disto que as palavras são ignorantes em explicar?

É estranho como a tranqüilidade da noite, que parece tão derradeira, é habitada, se alguém permanece calmo o bastante para perceber. Um pequeno cordeiro está choramingando lá fora preso a sua amarra; um pássaro em algum lugar, dos pequenos, a cerca de trinta metros, assobia da maneira mais deliciosa. Existe um cheiro também, por debaixo do frescor doce das roseiras, eu acho, e das nossas madressilvas; nada mais poderia se espalhar de tal forma delicada pelo ar. E mesmo na escuridão as rosas têm cor, talvez mais belas do que nunca. Se as cores são, como dizem, apenas o efeito da luz em variadas ondas, alguém poderia pensar nelas como uma melodia, o som de agradecimento que cada forma entoa, para o sol e a lua, para as estrelas e o fogo. Essas rosas coloridas pela lua estão cantando um som bem silencioso. De repente eu percebo que existem muitas outras estrelas ao lado daquela ali, tão vermelha e observadora. O falcão passou por ali com seus sete amigos; ele se aventurou muito alto e profundamente na noite, na companhia de outros voando ainda mais distantes…

Essa serenidade da noite! O que poderia parecer menos provável de prosseguir, e se metamorfosear novamente no dia? Certamente agora o mundo encontrou o seu sono eterno; e o brilho de pérola da lua irá perdurar, e este precioso silêncio nunca mais irá renunciar ao seu reinado; a uva-flor deste mistério nunca mais irá brilhar novamente na luz dourada…

E ainda assim, não é o que ocorre. O milagre noturno se passou. É manhã. Uma luz pálida desponta no horizonte. Estou à espera do primeiro som. O céu ainda é nada mais do que papel acinzentado, com a sombra dos gansos selvagens a passar. As árvores não passam de fantasmas. E então começa – o primeiro canto de um passarinho, espantado em descobrir o dia! Apenas uma chamada – e agora, aqui, ali, em todas as árvores, repentinamente todas as respostas vêm em socorro, e o coral mais doce e despretencioso ecoa. Seria a irresponsabilidade alguma vez tão divina quanto isso, o piar dos pássaros? Então – açafrão no céu, e silêncio uma vez mais! O que será que os pássaros fazem após o primeiro Coral? Pensam em seus pecados e seus negócios? Ou apenas dormem um pouco mais? As árvores estão rapidamente soltando a imaginação, e os cucos começam a chamar. As cores estão queimando nas flores; o orvalho as saboreia.

O milagre acabou, pois a radiação iniciou seu trabalho; e o sol está desgastando essas asas negras e ocupadas com seu dourado. O dia chegou novamente. Mas sua face parece um pouco estranha, não mais como fora ontem. Estranho de se pensar, nenhum dia é como o dia que se foi e nenhuma noite como a noite que virá! Porque, então, temer a morte, que é noite e nada mais? Porque se preocupar, se o dia que virá trará uma nova face e um novo espírito? O sol iluminou o campo de botões-de-ouro agora, o vento acariciou os limoeiros. Alguma coisa me faz sombra, passando ali em cima.

É a Ventura em suas asas!

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Comentário

Até agora não havia publicado textos de outros autores aqui na minha coluna no Portal TdC, achei que esse seria ideal para inaugurar, primeiro pela qualidade literária, segundo pela mensagem (que desenvolvi no meu artigo Pequenas mortes), mas principalmente pelas sensações e imagens que Galsworthy é capaz de invocar com suas “cascas de sentimento” – particularmente nos que exercitam a imaginação.

[1] Admito que essa tradução estava bem além das minhas capacidades linguísticas, poéticas e zoológicas. Se você conhece inglês profundamente, recomendo ler o original – Felicity.

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Crédito da foto: Wikipedia (botões-de-ouro)

#Deus #Espiritualidade #morte #natureza

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/ventura-1

7 Passos Para Se Conectar Com As Fadas

Por Emily Carding.

No século XXI, o reino das Fadas é tão popular como sempre; ainda assim, em nossa cultura de gratificação instantânea e plataformas de mídia não moderadas, existem muitos caminhos falsos e armadilhas ilusórias para nos distrair e nos direcionar mal. Como, então, o verdadeiro buscador das Fadas pode ter certeza de que não está seguindo algum metafórico (ou às vezes literal) Fogo-fátuo em um pântano perigoso? Aqui estão os sete passos que você precisa seguir para ter certeza de que está vivendo autenticamente e em sincronia com nossas primas Fadas.

1. Conhecimento:

Leia amplamente e com sabedoria! É claro que os livros não são a única fonte de conhecimento, mas são um bom lugar para começar (e continuar – nunca devemos parar de aprender!), em equilíbrio com os passos mais experienciais a seguir. Encontre recomendações de pessoas que você respeita e familiarize-se com o folclore e a mitologia tradicionais, principalmente irlandeses, escoceses e galeses. Qualquer bom livro sobre as Fadas também deve ter uma boa bibliografia, que você pode explorar para leitura adicional e exploração mais profunda. Quanto mais variada for sua leitura, mais forte será seu discernimento e menos provável será que você seja desviado do verdadeiro caminho para a ilusão. Também é importante perceber que muitos seres feéricos são hostis e/ou imprevisíveis. Quanto mais você souber, mais preparado estará.

2. Expanda sua Consciência:

Pode ser muito fácil ficar preso em nossas cabeças e confundir o pensamento ilusório e a imaginação destreinada com a experiência real. Portanto, um dos passos mais importantes para a verdadeira conexão com as Fadas é expandir sua consciência energética fora de seu próprio corpo e no mundo ao seu redor. Aqui está um exercício que é apresentado tanto no Faery Craft (A Bruxaria das Fadas) quanto no meu novo livro, Seeking Faery (Procurando as Fadas).

“Exercício: Tornando-se a Árvore das Fadas:

Este exercício é projetado para conectá-lo às energias da terra e abrir o centro do seu coração para aumentar a sensibilidade à presença e às comunicações dos seres Fadas. Dependendo de suas capacidades físicas, isso pode ser feito em pé ou sentado, mas em ambos os casos você deve idealmente ter os pés descalços e no chão, em um espaço o mais natural possível, idealmente onde você não será perturbado. Mantendo-se ereto e relaxado, com os pés a uma pequena distância e as mãos ao lado do corpo, faça sete respirações lentas e profundas (pelo nariz, segure por três segundos e expire lentamente pela boca), enquanto permite a tensão e as preocupações de o dia para derreter.

Na próxima respiração, com as palmas das mãos voltadas para baixo, imagine seus pés lentamente se transformando em raízes de árvores e cavando a terra abaixo de você. Sinta a força da terra e a estabilidade e nutrição que as raízes lhe proporcionam. Mantenha isso por sete respirações profundas dentro e fora.

Agora, nas próximas sete respirações, mantendo suas raízes, levante lentamente os braços em forma de “v” e levante as palmas das mãos para o céu. Imagine que seus braços estão se tornando grandes galhos, alcançando a luz do Sol, da Lua e das Estrelas. Mantenha as raízes e os galhos por mais sete respirações profundas.

Mantendo os braços erguidos na posição “v”, agora imagine que suas raízes estão atraindo a luz verde esmeralda da terra em direção ao seu coração. Inspire e desenhe com sete respirações profundas. Agora imagine que seus galhos estão atraindo a luz prateada dos céus para o seu coração. Desenhe-o com sete respirações profundas. A luz verde e prateada se encontra em seu coração e se torna dourada e rodopiante, abrindo seu coração para as energias da Terra e conectando você acima e abaixo.

Para iniciantes, mantenha isso enquanto estiver confortável e, em seguida, libere as energias de volta através de seus galhos e para baixo através de suas raízes, abaixe lentamente os braços e lentamente puxe as raízes de volta para os pés e torne-se seu eu normal novamente. Sete respirações profundas para se recuperar. À medida que você se acostumar com este exercício, poderá descobrir que pode fazer versões mais curtas ou mais longas, conforme desejar.”

3. Oferendas:

Além de expandir sua consciência energeticamente, é possível alcançar e conectar-se de uma maneira mais tangível com ofertas apropriadas. Isso não apenas ajuda a formar uma ponte energética entre os mundos, mas também mostra sua vontade de colaborar e não simplesmente esperar presentes ou orientação sem esforço de sua parte. A escolha da oferta é significativa, assim como a certeza de limpar depois. É uma boa ideia, se possível, encontrar um local ao ar livre para suas oferendas, onde você sinta instintivamente que sua conexão com as Fadas é forte e onde você não será perturbado. Embora este possa ser um local sagrado estabelecido, pode ser mais poderoso encontrar uma conexão pessoal em um caminho menos trilhado. Considere o valor das ofertas que você traz e o impacto no meio ambiente. Se deixar comida de qualquer tipo, certifique-se de verificar se ela está limpa e não simplesmente deixada para apodrecer. Muitas vezes, essas oferendas serão consumidas por animais, o que é absolutamente bom (os seres Fadas às vezes emprestam essas formas físicas para aceitar oferendas) desde que você tenha certeza de que elas não contêm nada tóxico para a vida animal (por exemplo, chocolate).

4. Ética e Honra:

Você pode pensar que são as Fadas que geralmente são invisíveis, mas a verdade é que elas também podem ver através de você! Se houver qualquer engano ou falsidade em seu coração, eles o sentirão e o tratarão de acordo. Como qualquer caminho mágico, é de extrema importância conhecer a si mesmo e estabelecer um forte código de honra e ética que você siga em todos os aspectos de sua vida, não apenas em seu trabalho com as Fadas.

5. Expressão:

Para muitos, inclusive eu, a comunicação com as Fadas vem através da expressão criativa. Esta é uma comunicação direta de coração para coração ou de espírito para espírito, e esses canais devem ser livres e abertos para receber. Quaisquer pensamentos negativos sobre sua própria criatividade precisam ser superados simplesmente criando de qualquer maneira que você se sinta movido, seja arte, dança, poesia. Ninguém irá julgá-lo, a menos que você escolha compartilhar com o mundo, mas sua alma e seus aliados feéricos agradecerão.

6. Imaginação:

Ao trabalhar com seres e forças do Outro Mundo, a imaginação torna-se um sentido extra através do qual podemos perceber as coisas que estão ocultas aos nossos sentidos terrenos. As armadilhas aqui são claras e, portanto, é importante treinar a imaginação por meio de técnicas de visualização, meditação e jornada para que ela se torne um tradutor confiável de energias, em vez de um autoengano fantasioso.

7. Aterramento:

Sempre volte a isso. Após qualquer encontro ou trabalho com as Fadas, certifique-se de se ancorar em seu corpo e no mundo físico ao seu redor. Libere as energias do outro mundo para sua fonte, sinta seus pés na terra, saboreie boa comida e beba água. Regularmente, reserve um tempo para simplesmente estar na Natureza, ver a maravilha que é o mundo em que habitamos, e você não terá necessidade de ilusão – você simplesmente aprenderá a ver a magia em verdades mais profundas enquanto trilha o caminho das Fadas em paz, verdade e aproveite.

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Fonte:

7 Steps to Connect with Faery, by Emily Carding.

https://www.llewellyn.com/journal/article/2993

COPYRIGHT (2022) Llewellyn Worldwide, Ltd. All rights reserved.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/7-passos-para-se-conectar-com-as-fadas/

Eu Não Sei Na Verdade Quem Eu Sou

Se autoconhecer, buscar aquilo que chamamos de Eu Superior, saber quem somos de verdade, uma tarefa um tanto difícil, acredito que é necessário várias encarnações para descobrir a resposta, mas será que um dia vamos saber na verdade quem “Eu Sou”?

Quando iniciamos nossos estudos seja no ocultismo ou na espiritualidade de uma forma geral, a primeira regra que encontramos e que também é desprezada por muitos, é justamente buscar quem nós somos, entrar nesse escuro túnel cheio de segredos, medos, raivas, amores e paixões.

É então nesse momento que damos o primeiro passo para se autoconhecer, buscando calcular aquilo que chamamos de “Valores”, valores estes que guardamos, usamos, mostramos e até escondemos dos outros, já reparou como você age de uma maneira totalmente diferente quando está na presença dos seus pais, e quando está na presença dos seus amigos?

Sim, isto é o que chamamos de máscara, mas não é esse nosso intuito agora. Voltando aos valores pessoais, muito diferentes dos valores que as pessoas nos atribuem. Nossos grandes amigos, nossos familiares, aquela pessoa que amamos e que nos olha com um grande sorriso, o sorriso do amor.

É então que você descobre que é nesse sorriso que você se sente bem, se sente preenchido como no abraço do divino. Naquele momento que você nunca queria que acabasse, naquele sorriso que você divide com seus amigos num momento engraçado, naquele sorriso que seus pais lhe dão pelo orgulho do filho que eles têm, naquele sorriso da pessoa amada quando está completamente feliz ao seu lado. Entretanto, porque esquecemos tudo isso em certos momentos? Por que a gente é desse jeito? Criando conceitos pra tudo que restou?

Olhar para dentro é muito mais do que ser racional, olhar para dentro é se amar. É olhar com os olhos de D’us, com os olhos do Amor Incondicional. Meninas são bruxas e fadas, fazendo mágica com seus olhares, com seu jeito meigo, com sua feminilidade que não só seduz, mas cuida. A magia do sorriso delas que faz qualquer homem, por mais duro e insensível que seja, se derreter como o gelo em meio ao fogo.

Palhaço é um homem todo pintado de piadas. Vestimos, sentimos, somos por instinto seres felizes, seres alegres. Nascemos chorando eu sei, mas sorrimos com a alma para o mundo.

Quando bebes, achamos que tudo é uma piada. Quando crescemos, fazemos as piadas. Para isso, precisamos nos pintar, pintar e brincar de ser palhaços. Não digo palhaço no sentido daqueles que são usados ou subjugados pelos outros, e sim aquele que enxerga o colorido onde a maioria enxerga preto e branco. Aquele que enxerga o céu azul como o telhado do mundo inteiro.

E por que quando crescemos deixamos de sonhar como crianças, que vê e é feliz com suas fantasias? Que se acha o Super Homem apenas por colocar a toalha no pescoço, e isso já é o bastante para vê-la correndo de felicidade por todos os cômodos da casa.

O sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro.

No final das contas eu não sei na verdade quem eu sou!

Estamos perdidos nesse jogo que é uma ilusão. Não sabemos se terá fim ou se é apenas o começo. Encontramos uma porção de dificuldades, desafios, problemas. Familiares, financeiros, emocionais, profissionais…

Mas você sabe qual é o seu valor? Ainda não porque não sabemos na verdade quem somos nós!

Descobri da onde veio à vida. Por onde entrei, deve haver uma saída. Porém, tudo fica sustentado pela fé! Na verdade ninguém sabe o que é! Se acreditarmos naquilo que queremos, vamos realizar. Se acreditarmos naquilo que somos, vamos ser o que temos que ser.

Quando envelhecemos, deixamos de ser adultos e voltamos a ser crianças? Nem sempre isso é verdade, mas e se fosse verdade? Por que não deixamos a dureza da vida de lado? Você quer envelhecer como um livro de capa dura cheio de conhecimento e sem coração? Temos que ser crianças, pois os velhinhos são crianças nascidas faz tempo!

Ao ouvir sua música favorita, ao sentir a batida do coração, perceba que o coração foi o primeiro som que você ouviu antes mesmo de você ter noção de que estava vivo. Lá dentro do ventre de sua mãe, lá dentro, você ouvia a música, a batida da vida, a batida do coração dela. Da próxima vez que ouvir um tambor, pense “Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração!”.

Perceba que a cada minuto tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto. Tem louco pulando o muro, tem corpo pegando doença, tem gente rezando no escuro, tem gente sentindo ausência. Uma coisa é fato: todos nós viemos da centelha divina. Viemos de um mesmo lugar. Ao lado de cada pessoa há outra pessoa que está ligada em outra… Que estará ligada em você! E você poderá ser qualquer uma destas pessoas, formando um ciclo infinito. Nele, se unirmos todos em um só sentimento, teremos o amor, teremos o encontro com o divino.

O nosso paraíso é onde nós estamos.

Mas no final de tudo, eu não sei na verdade quem “Eu Sou”.

“O estudo não vem somente do raciocínio mizifio, vem também da sintonia com o coração”

#amor #Deus #Magia

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/eu-n%C3%A3o-sei-na-verdade-quem-eu-sou

‘Louis Claude de Saint-Martin

Louis Claude de Saint-Martin, o “Filósofo Desconhecido”, pensador profundo e grande iniciado, nasceu a 18 de janeiro de 1743 em Amboise, Tourraine, no centro da França, no seio de uma família nobre, mas pouco abastada e desconhecida. Logo depois do nascimento de Saint-Martin, sua mãe faleceu, e ele foi criado pelo pai e por uma madrasta, pessoa amável e de bom coração, que o iniciou na leitura de Jacques Abbadie, ministro protestante de Genebra. Com esse autor, apreendeu a conhecer a si mesmo, relegando a um plano secundário a análise decepcionante e estéril dos filósofos em voga na época.

“É à obra de Abbadie, A Arte de Conhecer a Si Mesmo, que devo meu afastamento das coisas mundanas; é a Burlamaqui que devo minha inclinação pelas bases naturais da razão; é a Martinez de Pasqually que devo meu ingresso nas verdades superiores; é a Jacob Böehme que devo meus passos mais importantes nos caminhos da Verdade.”(1)

Outro autor que influenciou o Filósofo Desconhecido desde sua juventude foi Pascal. Aos 18 anos, em meio às discussões filosóficas dos livros que lia, deu-se conta de que, existindo o Criador do Universo e uma alma, nada mais seria necessário para ser sábio. (2) Foi com base nessas concepções que fundou sua doutrina posterior. Na época de seus estudos no Colégio de Pontlevoi, o Ocultismo já fazia parte de suas meditações. Na Faculdade, igualmente, eram os estudos metafísicos que o atraíam. Estudou Direito conforme a vontade de seu pai, e esse ambiente proporcionou-lhe maior contato com o mundo filosófico e literário da época. Conheceu as obras de Voltaire, Rousseau, Montesquieu e outros autores não iniciados, mas sem ceder à inclinação dos enciclopedistas. “Li, vi e escutei os filósofos da matéria e os doutores que devastam o mundo com suas instruções; nenhuma gota de seus venenos penetrou-me; nem as mordidas de uma só dessas serpentes prejudicaram-me.”(3)

O jovem estudante procurava tudo o que pudesse conduzi-lo ao conhecimento da Verdade, particularmente as ciências e princípios exatos. Dedicou-se assim ao estudo filosófico dos números e, por algum tempo, esteve ligado a Lalande e sua escola filosófica, sintetizada em Ciência dos Números. Esse convívio, entretanto, não foi longo, pois seus pontos de vista eram divergentes e nosso Filósofo passou a estudar Jean Jacques Rousseau. Como ele, pensava ser o homem naturalmente bom; mas entendia que as virtudes perdidas originalmente, em razão da Queda, poderiam ser reconquistadas desde que o homem o desejasse ardentemente. Acreditava que o naufrágio no materialismo era conseqüência mais das associações viciosas e desvirtuadas do que do pecado original. E, nisso, afirma-nos seu discípulo Gence(4), ele se diferenciava de Rousseau, a quem considerava um misantropo por sua excessiva sensibilidade, ao olhar os homens, não como eram, mas como gostaria que fossem.

Saint-Martin amava a humanidade e considerava-a melhor do que parecia ser; e o encanto da sociedade da época levou nosso Filósofo a pensar que a vivência nas rodas sociais poderia levá-lo ao melhor conhecimento do homem e conduzi-lo à intimidade mais perfeita com os seus princípios. Assim, agiu conforme seu pensamento: freqüentou os saraus musicais e toda sorte de recreações da alta nobreza, desde os passeios ao campo até as conversas com amigos; os atos de gentileza eram a manifestação de sua própria alma.

“Foram de sua intimidade as pessoas da mais alta classe, dentre as quais podemos citar o Marquês de Lusignan, o Marechal de Richelieu, o Duque de Orléans, a Duquesa de Bourbon, o Cavaleiro de Fouflers e tantos outros que seria longo enumerar. Devotou-se inteiramente à busca da Verdade e à prática das Virtudes, que foram o objeto constante de seus estudos, dos seus trabalhos e das suas realizações.”(5)

Iniciado, pois no estudo das leis e da jurisprudência, aplicou-se mais à pesquisa das bases naturais da Justiça, relegando a um plano secundário as regras da jurisprudência. Paralelamente, desenvolvia seus estudos sobre os mistérios ocultos e logo descobriu que não poderia dedicar-se inteiramente à magistratura, como desejava sua família. Não encontrando sua vocação no Direito, abandonou a magistratura que exerceu em Tours durante seis meses. Alistou-se aos 22 anos de idade no Regimento de Foix, então aquartelado em Boudeaux, onde pode encontrar mais tempo para dedicar-se ao estudo do Ocultismo, que era sua verdadeira vocação. Após ter lido os autores mais em evidência no gênero, procurou a iniciação de uma maneira mais efetiva.

Foi graças a um colega do Regimento, Grainville, que bateu às portas do Templo. Grainville era iniciado em uma sociedade oculta muito importante, cujo chefe era Martinez de Pasqually. Este era casado com uma sobrinha do maior, comandante do Regimento, que se encontrava na mesma cidade de residência de Martinez. A Escola de Pasqually, seu iniciador nas práticas teúrgicas, era a Ordem dos Elus Cohens do Universo (Sacerdotes Eleitos), revigorada mais tarde pela ação de Saint-Martin e Jean Baptiste Willermoz, sob a inspiração das obras de M. Pasqually e de J. Böehme e a partir de suas próprias pesquisas.

Em fins de 1768, Saint-Martin foi iniciado nos três primeiros graus simbólicos da referida Ordem pela espada de Balzac, avô de Honoré de Balzac, o famoso romancista francês das primeiras décadas do século XIX. Com efeito, em carta de 12 de agosto de 1771, dirigida a seu colega Willermoz, de Lyon, confirmou ter sido iniciado por Balzac e que recebera de uma só vez os três graus simbólicos. “Não é comum darem-se os três graus simbólicos ao mesmo tempo; deixam-se, ao contrário”, prosseguiu Saint-Martin na referida carta, “grandes intervalos de tempo entre um grau e outro, segundo o progresso de cada um.”(6)

Assim, Saint-Martin submeteu-se em seguida ao método iniciático de Pasqually, de quem se tornou secretário particular e discípulo zeloso. Mas não deixou, logo depois, de criticar seu primeiro Mestre, por não concordar com tudo o que era feito em tal sistema. Considerava supérfluas todas as manifestações físicas exteriores e todos os detalhes do cerimonial Cohen: “São necessárias todas essas coisas para orar a Deus?”, perguntou Saint-Martin a seu mestre Martinez. “É preciso que nos contentemos com o que temos”(7), respondeu o Grão-Mestre.

Na realidade, era necessário trabalhar mais profundamente no sentido interior para produzir a luz. Isso certamente Martinez teria feito dentro de seu próprio sistema, se não tivesse partido da França e falecido em seguida. Sua semente ficou, no entanto, e coube a Saint-Martin e a Willermoz cuidar da planta que deveria nascer. A Providência Divina não os deixou abandonados; inspirou-os constantemente, colocando em seu caminho homens que os ajudaram, direta ou indiretamente, e proporcionando-lhes o conhecimento do sistema de Jacob Böehme. Esse sistema confirmou as descobertas que tinham feito e abriu as portas para a obtenção das chaves ainda não encontradas.

Na época em que conheceu Pasqually, tinha pouco mais de vinte e cinco anos e acabava de debutar no Ocultismo, de sorte que nem todas verdades da Iniciação pode receber de seu primeiro mestre, com o qual permaneceu cinco anos. Soube reconhecer mais tarde sua grandeza (porque é bom que se afirme que Martinez de Pasqually foi um adepto de grande iluminação).

“Havia coisas preciosas em nossa primeira Escola”, relata Saint-Martin a seu discípulo Kircheberger. “Sou mesmo induzido a pensar que o Sr. Martinez de Pasqually, que era nosso mestre, possuía a chave ativa referente a tudo o que nosso prezado Jacob Böehme expõe em suas teorias, mas não julgava que fôssemos capazes de entender tão altas verdades, naquela época. Ele era sabedor de alguns pontos que nosso amigo Böehme não conhecia, ou pelo menos não revelou, como a resipiscência do ser perverso, contra o qual o primeiro homem teria tido a missão de trabalhar… Quanto à Sofia e ao Rei do Mundo, ele nada nos revelou, deixando-nos com as noções comuns de Maria e do Demônio. Mas não afirmarei que ele não teve conhecimento delas e estou convicto de que chegaríamos a esse conhecimento, se o tivéssemos conosco por mais tempo…”(8)

Saint-Martin nunca concordou com a iniciação realizada fora do silêncio e da realidade invisível, que chamava de centro ou via interior. Para ele, o interior deve ser o termômetro, a verdadeira pedra de toque do que passa fora…; e o estudo da Natureza exterior só teria sentido se conduzisse à senda interior, ativa. Esse estudo poderia, pois, ser útil na medida em que conduzisse à Verdade, mas a Iniciação, explicava ele a Kircheberger, deve agir no ser central.

“Não lhe ocultarei que anteriormente entrei nesse caminho externo, e através dele me foi aberta a porta de minha carreira. Meu condutor era um homem de muitas virtudes ativas, e a maioria daqueles que o seguiram, inclusive eu, receberam confirmações que talvez tenham sido úteis para nossa instrução e desenvolvimento. Todavia, em todos os instantes, eu sentia forte inclinação para o caminho intimamente secreto, o externo nunca me seduziu, nem em minha juventude.”(9)

Entendia Saint-Martin que todo o aparato exterior não era necessário para encontrar Deus e que, ao contrário, em muitas ocasiões dificultava essa busca. Discordava das numerosas e freqüentes comunicações sensíveis de todos os tipos, manifestadas nos trabalhos de que tomava parte na sua primeira Escola, embora o signo do Reparador sempre estivesse presente, manifestando a ação da Causa Ativa e Inteligente no mundo objetivo. Afirmava, no entanto, que sua senda interior, desenvolvida depois, proporcionava-lhe resultados mil vezes superiores aos produzidos pela senda que denominava exterior e que era preconizada por Pasqually.

Afirmava, no entanto, e é bom repetir, que deveria haver trabalhos internos da Ordem que não lhes foram transmitidos por causa de sua curta passagem pelo sistema e por não terem ainda passado pelos estágios iniciais. O Mestre não poderia ter agido de modo diferente, revelam-lhes os mistérios de ordem mais elevada. Acreditava, ademais, que os Princípios Divinos poderiam mesmo nascer naquele sistema, mas os trabalhos para esse efeito deveriam ser mais alguns anos com Pasqually.

Não apenas Saint-Martin discordava do sistema de Martinez, uma vez que os resultados não se produziam de imediato; todos os discípulos reclamavam resultados espirituais que, em verdade, dependiam deles próprios. Willermoz parece ter sido o primeiro a manifestar a Saint-Martin seu descontentamento no que dizia respeito ao desenvolvimento das faculdades adormecidas do ser humano; é o que constatamos através da leitura de uma carta endereçada por Saint-Martin, do Oriente de Bordeaux, com data de 25 de março de 1771.

“Quanto à confiança que vos dignais a testemunhar-me, abrindo-me sem escrúpulos vosso pensamento sobre nossas cerimônias, não me compete, tendo em vista nossa dignidade, fazer qualquer observação a respeito; e, diante de meu juiz, eu só deveria escutar e calar. Entretanto, as disposições puras que trazeis à Sabedoria fazem-me supor que poderíeis perdoar-me antecipadamente se ouso acrescentar, às vossas, algumas idéias próprias. Procuro, como vós, esclarecer-me… Confesso que o objetivo que buscamos na iniciação parece-me muito difícil de ser atingido.

Acredito que, mesmo nos encontrando nas melhores condições, quando todas as cerimônias são empregadas com a maior regularidade, a Coisa pode ainda guardar seu véu para nós tanto quanto quiser; ela está tão pouco à disposição do homem que ele não pode, jamais, apesar de seus esforços, estar certo de obtê-la. Ele deve esperar e orar sempre, eis nossa condição. O espírito conduz seu sopro onde quer, quando quer, sem que saibamos de onde vem e para onde vai… Se o poder não se manifesta agora, ele poderá ocorrer mais tarde; se não se opera pela visão, ele prepara a forma daquele que se mantém puro para receber as impressões salutares, quando o espírito assim quiser. Não atribuais, então, o estado em que vos encontrais a algum problema de vossa parte ou à invalidade das cerimônias.”(10)

Willermoz procurava obter por carta maiores esclarecimentos acerca dos problemas que iam surgindo no transcorrer de sua jornada iniciática. Pelo que constatamos, os resultados práticos da iniciação não apareciam tão rapidamente como os discípulos desejavam. Era necessário muito trabalho, como em qualquer sistema de iniciação, para que surgisse alguma manifestação de aprimoramento espiritual.

A correspondência entre Saint-Martin e Willermoz, iniciada em 1768, estendeu-se até 1773. Em 1771, Saint-Martin abandonou a carreira militar para dedicar-se exclusivamente ao Ocultismo. Durante dois anos empregou todo o tempo disponível para trabalhar ao lado do mestre; foi durante esse período que se familiarizou com a ritualística dos Cohens e com a doutrina de Martinez, bem como com todas as suas práticas iniciáticas.

Partiu de Bordeaux em maio de 1773, na ocasião em que Martinez preparava-se para viajar para as Antilhas. Antes de se despedir, entretanto, Saint-Martin foi recebido no último grau dos Cohens, aquele de Réaux-Croix, como atesta uma carta de Martinez, datada de 17 de abril de 1772: “Após ter examinado e reexaminado os candidatos Saint-Martin e Seres, por nossa votação ordinária e em conseqüência das ordens que recebemos, nós os ordenamos Réaux-Croix…”(11)

Em 1773, finalmente, Saint-Martin conheceu Willermoz, em Lyon, após terem trocado correspondência durante cinco anos. Seu círculo de amizade limitava-se aos irmãos da Ordem: Grainville, Balzac, Hauterive, Bacon de la Chevalerie, o Abade Fournier e Willermoz. Permaneceu um ano em Lyon, seguindo para sua cidade natal e, posteriormente, para Paris. Em abril de 1785, Willermoz obteve sucesso com suas operações: a “Coisa ativa e inteligente” finalmente mostrou-se aos homens.

Saint-Martin, sabendo da notícia, partiu de Paris em junho do mesmo ano, com destino a Lyon, levando consigo uma bíblia em hebraico e um dicionário, para entreter-se na viagem. Ficou seis meses em Lyon, partindo mais tarde para Nápoles e Londres, onde tomou conhecimento das publicações de Willian Law, morto em 1761, e que pertencia à tradição de Jacob Böehme.

“Seríamos excessivamente prolixos se procurássemos seguir as pegadas do nosso Filósofo Desconhecido, ao longo de sua jornada terrena, onde a cada passo, não obstante, encontraríamos o exemplo dignificante e o traço indelével da imensa esteira de luz que marcou sua trajetória neste mundo. Difícil ainda seria penetrarmos na profundeza do seu pensamento, da sua filosofia, da sua doutrina de elevação e regeneração do homem na busca da iluminação e da paz…”(12)

Foi inicialmente de Lyon que o Filósofo Desconhecido procurou irradiar a luz, após a partida de Martinez para o Oriente Eterno. A direção da Ordem dos Elus Cohen não ficou com Saint-Martin nem com Willermoz, mas nas mãos de pessoas menos preparadas para levar adiante um sistema que ainda necessitava de aperfeiçoamento. Coube a Saint-Martin e a Willermoz a resignação de continuarem ocultamente a pesquisa da Verdade por suas próprias forças. O “Agente Incógnito” teria ditado inúmeras instruções e partes de um livro que Louis Claude de Saint-Martin publicou, destinado a lutar contra o materialismo vigente na época. (13)

Talvez por esse motivo Saint-Martin tenha iniciado uma série de viagens, verdadeiros apostolados, para realizar propaganda das idéias espiritualistas, recolher dados e informações iniciáticas e entrar em contato com discípulos e homens de ciência. Em todos esses contatos sempre conquistava novas amizades e discípulos para continuarem sua obra. Saint-Martin tinha uma conversa muito agradável, uma vez que seu verbo não fazia senão expressar sua paz interior, seus conhecimentos e a nobreza de sua alma.

Os salões mais aristocráticos de Paris disputavam sua presença. Essas qualidades eram agradáveis às mulheres, que não hesitavam em convidá-lo para as festas, pensando em casar suas filhas. Mas o Filósofo Desconhecido quis dedicar-se integralmente à sua obra de divulgação do Espírito. Em 1778, em Toulouse, esteve prestes a se casar; contudo, esse projeto desvaneceu-se como todos os demais a esse respeito. Afirmava sentir uma voz no seu interior que lhe dizia ser ele originário de um lugar onde não existem mulheres.

Agente Incógnito desapareceu de cena em 1788, época em que Saint-Martin retornou à Lyon, mas reapareceu em 1790 para destruir uma série de cadernos de instruções por ele próprio ditados: “Eu devolvi ao Agente“, conta-nos Willermoz, “a seu pedido, mais de 80 cadernos manuscritos inéditos, que destruiu.”

Com a morte de Pasqually, ocorrida em 1774 em São Domingos, o centro oculto da iniciação Cohen passou a Lyon e foi lá, como contam seus biógrafos, “que o Filósofo Desconhecido, armado com a Sabedoria Divina, passou a fazer oposição à doutrina materialista dos Enciclopedistas. Combatendo o materialismo revolucionário e sua doutrina errônea inserida em uma pretensa filosofia da natureza e da história, Saint-Martin chamou o homem de volta à Verdade, fundamentando-se no princípio do conhecimento de si mesmo e na natureza do ser inteligente”.(14)

Saint-Martin, entretanto, nunca ficou muito ligado ao rigor das instituições iniciáticas, mas, em razão da problemática da época, em pleno desenvolvimento da Revolução Francesa, procurou, para a salvaguarda das suas próprias doutrinas e das tradições de que então já era depositário, unir-se a grupos ou formar grupos cujos membros desejassem, sinceramente, dedicar-se ao culto da Verdade e à prática das Virtudes. Estudava, paralelamente, as doutrinas de Pasqually e de Swedenborg, as primeiras mostrando-lhe a ciência do Espírito e as segundas a ciência da Alma.

“A Revolução, em todas as suas fases, encontrou Saint-Martin sempre o mesmo, dedicado a seu objetivo. Por princípio, esteve acima das considerações de nascimento e opiniões, por isso não emigrou; enquanto se mantinha ao seu redor todo o horror das desordens e dos excessos, acreditou sempre que o bem podia surgir do terrível advento da Revolução Francesa, pela intermediação da Divina Providência; pensou ver um grande instrumento temporal no homem que se levantou para suprimir seus excessos.

“Foi em 1793, quando a família e a sociedade dissolviam-se, que vendeu as suas últimas posses para manter e cuidar de seu pai, velho e paralítico. Na mesma época, não obstante os estreitos limites a que ficou reduzida a sua fortuna, contribuiu para as necessidades públicas de sua comunidade. Retornando à capital, foi atingido pelo decreto de expulsão dos nobres. Saint-Martin submeteu-se e deixou Paris.(15)

Durante o terror revolucionário, era necessária muita prudência, mesmo para os assuntos iniciáticos. Saint-Martin recebeu um mandado de prisão, embora vivesse mergulhado nos estudos e na meditação, sem nunca ter feito política. Não subiu ao cadafalso porque Robespierre caiu em seguida. Havia a proteção do Alto, que o guiava na terra, obscurecida pela agitação dos homens.

“Uma corrente de prestígios inundou a inteligência humana em geral, e a dos parisienses em particular, porque a cidade, que comporta sábios e doutores de toda espécie, possui poucos que orientam seu pensamento na direção dos conhecimentos verdadeiros, e há menos ainda que buscam esses conhecimentos com um espírito reto. A maior parte deles não fazem mais que dissecar as cascas da Natureza, medir, pesar e enumerar todas as suas moléculas. Eles tentam, insensatos, a conquista de tudo que se encontra em composição no Universo, como se isso lhes fosse possível. Esses sábios, tão célebres e tão ruidosos, não sabem que o Universo (ou o Templo) é a imagem reduzida da indivisível e universal eternidade; eles podem contemplar e admirar, pelo espetáculo de suas propriedades e de suas maravilhas, … mas jamais poderão conquistar o segredo de sua existência.”(16)

Saint-Martin, para cumprir seu dever cívico, serviu na Guarda Nacional e, em Amboise, foi escolhido para ser um dos instrutores da Escola Normal Superior, que formava jovens professores; tomou parte em 1795 da primeira Assembléia Eleitoral, sem contudo tornar-se membro efetivo de qualquer corpo legislativo. O que buscava era o Conhecimento e a difusão de suas doutrinas. Jamais fez proselitismo e procurava ter por discípulos amigos fiéis da Verdade. Quem visse seu jeito humilde jamais poderia suspeitar de sua elevada espiritualidade. Sua docilidade para com o tratamento, sua serenidade, manifestava no entanto o sábio, O Novo Homem formado pela filosofia profunda do aperfeiçoamento moral e espiritual. A luz que irradiava de seu centro fazia justiça à sua condição de Homem-Espírito, o grande sol da transição ao século XIX.

Foi em 1788, em Estrasburgo, que Saint-Martin tomou conhecimento das obras de Jacob Böehme, o Teósofo Teutônico, através de Rodolphe de Salzmann. Surpreso, constatou que essa doutrina combinava com a de seu antigo mestre Martinez de Pasqually, sendo idênticas em essência.. Coube a ele a tarefa de fazer o feliz casamento das duas correntes doutrinárias, elaborando um sistema sintático, capaz de satisfazer seus anseios e colocar à disposição de todos os Homens de Desejo um caminho seguro para chegar à Iluminação.

A síntese iniciática foi obtida em poucos anos de trabalho pelo nosso Filósofo Desconhecido, secundado que foi por seu colega Jean Baptiste Willermoz. Necessitava, entretanto, de uma transmissão iniciática da corrente de Böehme para associar à sua, advinha de Pasqually. Essa corrente alemã de Jacob Böehme foi obtida ao ser iniciada pelo Barão de Salzmann, em Estrasburgo, e confirmada na linha mais antiga dos Templários, ao associar-se com a Estrita Observância Templária, do Barão de Hund.

Willermoz foi o encarregado, em Lyon, de organizar o sistema maçônico do Rito Escocês Retificado, fruto do Convento de Wilhelmsbad de 1782. Coube a Saint-Martin a chefia e a realização de iniciações individuais da Ordem Interior dos Filósofos Desconhecidos. Vários alemães foram iniciados no novo sistema (muitos dos quais já eram discípulos de Martinez de Pasqually), ingressando na iniciação real que conduz à Iluminação e à Reintegração a partir deste mundo na Unidade Divina.

Saint-Martin considerava as obras de Jacob Böehme de uma profundidade e de um valor inestimáveis e não se achava digno nem de desatar as sandálias de Jacob Böehme; entendia que seria necessário que o homem se tivesse tornado pedra ou demônio para não tirar proveito de tais obras. (17)

Foi assim que passou a estudar o alemão, com quase 50 anos de idade, para melhor penetrar no sentido oculto e no pensamento do autor. Procurou traduzir para o francês as principais obras do Mestre. A partir de então, sempre que se referia a Jacob Böehme dizia que o Iluminado teutônico foi a maior luz que veio a este mundo depois daquele que era a própria Luz, isto é, o Cristo.

Após ter percorrido parte da Europa, estabeleceu seu apostolado em Toulouse, Versailles e Lyon, sempre lançando a semente espiritual em uma terra que se tornou fecunda, recolhendo ele próprio as doutrinas mais apropriadas para o seu espírito e seu sistema. Mais tarde, centralizou sua ação em três cidades: Estrasburgo, Amboise e Paris, que eram, como confessou, seu paraíso, seu inferno e seu purgatório. Fora dessas cidades possuía membros correspondentes de sua sociedade, como o Barão de Kircheberger, que não chegou a conhecer, mas a quem enviou um emissário, o Conde Divonne, para certamente lhe transmitir a iniciação. Kircheberger era grande admirador das obras de Saint-Martin; pertencia à Escola de Böehme, da qual tomaram parte igualmente Khunrath e Gichtel.

Kircheberger escreveu a Saint-Martin que, segundo uma lenda corrente em sua Escola, a Virgem Celeste, a Divina Sofia, nos dias das núpcias compareceu com seu corpo celeste de Glória e escolheu Gichtel, vindo à sua casa, colocando em ordem seus papéis e completando com seu próprio punho os manuscritos por ele deixados inacabados. Em vida teria igualmente recebido favores de sua esposa celeste, pois como general venceu o exército de Luiz XIV, que pretendia conquistar Amsterdã, cidade onde o adepto residia. Durante toda a batalha, o general não teria saído do quarto.(18)

Não somente Saint-Martin acreditava no relato de Kircheberger, como lhe pedia maiores detalhes sobre Gichtel. “Se estivéssemos um perto do outro, escreveu-lhe Saint-Martin, eu também teria uma história de casamento para vos contar. Os mesmos passos foram dados por mim, mas de um modo um pouco diferente, embora chegando aos mesmos resultados. Creio, com efeito, ter conhecido a esposa de Gichtel…, mas não de modo tão particular como ele. Eis o que me aconteceu por ocasião do casamento de que falei: eu estava orando… e me foi dito intelectualmente, mas de modo muito claro, o seguinte: Depois que o Verbo é feito carne, nenhuma carne deve dispor dela própria sem que Ele o permita. Essas palavras penetram profundamente em meu ser; ainda que não tenham significado uma proibição formal, recusei-me a toda negociação posterior.”(19)

Acredita-se que a chave da iniciação está no desejo do homem de purificar-se, de evoluir e de atingir a iluminação. Essa evolução é necessária para remediar a degradação a que o homem se submeteu após a Queda Original. Antes, o homem podia obrar em conformidade com a Vontade do Pai, sendo dessa maneira poderoso, mas após ter se revestido de um envoltório material, suas capacidades espirituais atrofiaram-se e a Vontade e a pureza de outrora aniquilaram-se. Foi na cidade de Estrasburgo que Saint-Martin deu a um discípulo a chave de O Homem de desejo, que, por extensão, serve para a própria Iniciação:

A Chave do Homem de Desejo.

Avant qu’Adam mangeât la pomme,
Sans effort nous pouviouns oeuvrer.
Depouis, L’oeuvre ne se consomme.
Qu’au edu pur d’un ardent supir;
La Clef de l’Homme de Désir
Doit naître du désir de l’homme.

Isto é, antes de Adão ter comido a maçã, o homem podia realizar sua obra sem esforço; depois, a obra não se concretiza a não ser com a ajuda do fogo puro, emanado de um ardente suspiro, advindo do grande esforço individual. Assim, a chave do Homem de Desejo deve nascer do desejo do homem.

Seu livro O Homem de Desejo, publicado pela primeira vez em 1790, são litânias no estilo do salmista, nas quais a alma humana evolui para o seu primeiro estágio, num caminho que o Espírito pode ajudá-la a percorrer.

Saint-Martin escreveu este livro por sugestão do filósofo religioso Thiaman, durante suas viagens a Estrasburgo e a Londres. Lavater, então clérico em Zurique, elogiou essa obra como um dos livros que mais tinha gostado, embora reconhecesse não ter tido condições de penetrar nas bases da doutrina exposta. Kircheberger, mais familiar aos princípios do livro, considerou-o como o mais rico em pensamentos iluminados. O próprio Saint-Martin concordou que nesse livro encontram-se os germes do conhecimento que ignorava até a leitura das obras de Jacob Böehme.

O objetivo de seu livro O Homem de Desejo é mostrar que o homem deve confiar na Regeneração, chamando sua atenção para a necessidade de retorno ao Mundo Divino de onde saiu e ao trabalho que deverá realizar para alcançar esse objetivo, isto é, concentrando suas forças pelo desejo ardente de aperfeiçoar-se e tornar-se um homem de vontade forte.

“Não há nenhum outro mistério para se chegar a essa sagrada iniciação, senão penetrando cada vez mais no fundo de nosso ser e não esmorecendo até que possamos produzir a viva e edificante raiz; porque, então, todos os frutos que haveremos de gerar, conforme nossa espécie, serão produzidos dentro de nós e sem nós, naturalmente; é o que ocorre com nossas árvores terrestres, porque elas aderem às próprias raízes e, incessantemente, retiram sua seiva.”(20)

Compreende-se, assim, que o ensinamento deixado por Saint-Martin, e que veio de Martinez de Pasqually e de Jacob Böehme, era muito profundo e de natureza divina. Constitui-se uma Escola de Homens de Desejo, ávidos por adquirirem conhecimentos, uma elite do pensamento, embaçada em um sistema filosófico iniciático, tendo como objetivo o desenvolvimento moral e espiritual do homem. Não é uma Escola de especulação abstrata, mas um centro onde os membros procuram conhecer a doutrina e a experiência dos mestres e onde procuram vivê-la na vida diária, para atingir a perfeição interior, através de um processo de autotransformação.

Os grupos de homens livres eram formados por um pequeno número de pessoas inteligentes e de mente sã, escrupulosamente examinadas, Saint-Martin dizia que as grandes verdades só podem ser bem ensinadas no silêncio. Todos aqueles que não sabem calar, que falam mais do que observam, não podem ser recebidos na senda interior. Saber guardar o silêncio é condição indispensável para que o homem se torne digno de receber outros ensinamentos cada vez mais profundos, emanados não apenas de seu iniciador, como do próprio Mundo Invisível. Para isso, necessitamos de treinamento, que se efetua guardando-se o silêncio em relação às pequenas coisas, mesmo profanas. Qualquer sociedade iniciática não pode ser aberta, pois assim perderia a força que porventura tivesse recebido do Alto. Guardar o silêncio significa fechar-se às influências exteriores, às opiniões contrárias que só trazem ações conflitantes. Fechar-se em torno de si mesmo é magnetizar-se; é evitar que as próprias forças divinas se dispersem na Natureza, passando por nós. É criar um pólo de atração; é tornar-se um receptáculo das influências celestes; é tornar-se a taça que recebe o influxo divino.

A Iniciação é um processo interior de aperfeiçoamento do homem, tornando-o apto a receber as forças divinas. O homem é a soma de todos os problemas da existência; é a síntese, o enigma dos enigmas, a pedra bruta que deve ser talhada e aperfeiçoada. Esse desenvolvimento deve ocorrer de tal modo que o ser criado se religue ao Criador, através da aproximação da natureza impura com a natureza pura. Por isso, a primeira deve ser trabalhada até ficar quase no mesmo estado da segunda; somente depois haverá uma atração tal, que a Natureza Superior descerá até a inferior, purificando-a em definitivo e deixando-a conforme ela mesma: é a Iluminação do Iniciado.

Aquele que possuir o conhecimento de si mesmo terá acesso à ciência do mundo, dos demais seres. O conhecimento de si próprio é somente em si que deve buscar. É no espírito do homem que se devem encontrar as leis que dirigem sua origem. É preciso, pois, que o iniciado encontre seu centro iniciático, a divindade em si, para adquirir o pleno conhecimento de si mesmo. É necessário conhecer suas fraquezas para melhor dominá-las e não voltar a praticar os mesmos erros. Jesus Cristo dizia aos homens para não pecarem mais menos, até o dia em que, tendo encontrado seu equilíbrio iniciático, possam chegar a não pecar mais. Sua luta deve ser constante, contra as paixões, suas contrariedades internas e a ira. A docilidade representa a presença de Deus no centro iniciático; a ira representa a sua ausência.

“O homem não pode ser integralmente livre da ira e do pecado porque os movimentos do abismo deste mundo tampouco são totalmente puros ante o coração de Deus; o amor e a ira sempre lutam entre si.”(21)

A doutrina de Saint-Martin difundiu-se na Alemanha e na Rússia, através de seus discípulos. Na Rússia, a doutrina martinista encontrou um grande divulgador em Joseph de Maistre, que afirmava a existência de Deus no interior de cada indivíduo e, por conseguinte, que o segredo de toda a iniciação consistia em descobrir o centro iniciático próprio, a senda interior, a fim de proceder ao próprio desenvolvimento espiritual. Assim, a iniciação é uma senda real, interior, individual, e não se encontra no exterior, nas sociedades ou no Enciclopedismo.

Em 1803, o Filósofo Desconhecido dava seus últimos passos em direção à Eternidade, pois sua saúde mostrava-se débil. Mas não se afligiu com essa perspectiva; ao contrário, dizia que a Providência sempre lhe havia dispensado muito cuidado, de modo que só poderia render-lhe graças.

Conta-nos Gence que certa vez, visitando um amigo comum, Saint-Martin confessou-lhe que estava partindo para o Oriente Eterno e no dia seguinte, visitando seu amigo o Conde Lenoir la Roche, em Aulnay, após leve refeição, retirou-se para o quarto; sofreu um ataque de apoplexia e partiu. Era o dia 13 de outubro de 1803. Foi então que seus discípulos e amigos perderam a convivência física com o Mestre, mas ganharam a eterna e permanente proteção espiritual que nos envia do Reino da Glória, através dos Mundos Invisíveis.

Hoje, a obra de Louis Claude de Saint-Martin continua através dos Grupos de Iniciados que seguem sua doutrina. A Conquista da Iluminação é o objetivo último de todos os Homens de Desejo, que encontram nas obras do Mestre e no seu exemplo, como Homem e como Iniciado, o respaldo necessário para prosseguir na senda sem desânimo.

Que cada um possa transformar-se em um Novo Homem, renascido pela Luz, que resplandece na alma de todos, e que engendrará, no futuro, o Homem-Espírito, o novo Sol que acalentará os corações de todos com seu procedimento e com sua serenidade.

OBRAS DE LOUIS CLAUDE DE SAINT-MARTIN

1-) Des Erreurs et de la Vérité, ou les Hommes Rappelés au Principe Universel de la Science. Edimbourg, 1775, 2 vol.

2-) Suite des Erreurs et de la Vérité. A Salomonopolis, Androphile, 1784.

3-) Tableau Naturel des Rapports qui Existent entre Dieu, l’Homme et l’Univers. Édimbourg. 1782.

4-) L’Homme de Désir. Lyon, 1790.

5-) Ecce Homo. Paris, Cercle Social, 1792.

6-) Le Nouvel Homme. Paris, Cercle Social, 1792.

7-) Letre à un Ami, ou Considérations Philosophiques et Religieuses sur la Révolution Française. Paris, Louvet, Palais, Égalité, 1796.

😎 Éclair sur l’Association Humaine. Paris, Marais, 1797.

9-) Le Crocodille ou la Guerre du Bien et du Mal, Arrivée sous le Règne de Louis XV. Paris, Cercle Social, 1798.

10-) Réflexiones d’un Observateur sur la Question Proposée por l’Institut: “Quelles sont les Institutions les plus Propres à Fonder la Morale d’un Peuple?. Paris, 1798.

11-) De l’Influence des Signes sur la Pensée (inserido incialmente no Crocodile). Paris, 1799.

12-) L’Esprit des Choses ou Coup d’Deil Philosophique sur la Nature des Étres et sur l’Objet de leur Existence. Paris, 1800, 2 vol.

13-) Le Ministère de l’Homme-Esprit. Paris, 1802.

14-) Oeuvres Posthumes de Saint-Martin. Tours, 1807, 2vol.

15-) Traité des Nombres. S/1, M. Léon, 1844.

16-) Correspondence de Saint-Martin avec Kircheberger, Baron de Liebisdorf, des annèes 1792 a 1799, S. n. t.

TRADUÇÕES DAS OBRAS DE JACOB BÖEHME

17-) L’Aurore Naissante ou la Racine de la Philosophie, de l’Astrologie et de la Théologie. Paris, 1800.

18-)Des Trois Principes de l’Essence Divine ou de l’Eternel Engendrement sans Origine de l’Homme, d’où il a été Crée et pour quelle Fin. Paris, 1802, 2 vol.

19-)Quarente Questions sur l’Origine, l’Essence, l’Etre, la Nature et la Propriété de l’Âme, suivies des “Six Poit”. Paris, 1807.

20-) De la Triple Vie de l’Homme selon de Mystère des Trois Principes de la Manifestation Divine. Paris, 1809.

NOTAS

1- SAINT-MARTIN, L. C. Oeuvres Posthumes; Portrait Historique et Phisosophique de Saint-Martin fait par lui-même, p. 58-59.

2- Id., t.1, p.5.

3- Id., t.1, p.78-9.

4- J. B. M. Gence foi discípulo de Saint-Martin e com ele conviveu longos anos: seu relato encontra-se no prefácio de Teosophic Correspondence between L. C. de Saint-Martin and Kircheberger, Baron de Liebistorf, P. V.

5- Id., p. VI.

6- PAPUS. L’Illuminismo en France, 1771-1803: Louis-Claude de Saint-Martin, as Vie, as Voie Theurgique, ses Oeuvrages, son Oeuvre, ses Disciples, suivi de la Publicatino de 50 Letters Inédites, p. 109.

7- MATER, M. Saint-Martin, le Philosophe Inconnu. Ed. d’Aujourd’hui, p. 20.

8- SAINT-MARTIN, L. C. Theosophic Correspondense, op. Cit. Carta XCII.

9- Id. Carta IV.

10- PAPUS. Louis Claude de S. Martin. 1902.

11- Id., p. 12.

12- Comentário deixado por Ary Ilha Xavier, profundo conhecedor das obras de Saint-Martin.

13- Des Erreurs et de la Vérité. Edimbourg, 1775, 2v.

14- Gence. Op. Cit., p. IV.

15- Id., p. VII.

16- SAINT-MARTIN, L.C. Le Crocodile, Canto XV, p.53.

17- SAINT-MARTIN, L.C. Mont Portrait. Op. Cit., p. 42.

18- SAINT-MARTIN, L.C. Theosophic Correspondence. Op. Cit. Carta LVIII.

19- SAINT-MARTIN, L.C. Theosophic Correspondence Op. Cit. Carta LXII.

20- SAINT-MARTIN, L.C. Theosophic Correspondence. Carta número CX.

21- BÖEHME, J. Confesiones, p. 44.

Original foi retirado do site da Sociedade das Ciências Antigas.

1743 – 1803

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/louis-claude-de-saint-martin/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/louis-claude-de-saint-martin/

A Oração ao Deus Desconhecido

“Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós!” [1]

Quem disse isso foi um dos bigodudos mais geniais da filosofia, e também um dos maiores escritores da história. Muitos “ateus militantes” tem elegido Friedrich Nietzsche, filósofo alemão que viveu no fim do século XIX, como um de seus grandes “heróis”. Talvez pelo fato de o próprio Nietzsche ter se auto-intitulado um ateu:

“Para mim o ateísmo não é nem uma consequência, nem mesmo um fato novo: existe comigo por instinto” [2]

Basear argumentos com base na opinião de escritores famosos não deixa de ser uma falácia do apelo à autoridade – não é muito diferente de defender a infalibilidade da bíblia com base no que algum papa antigo disse sobre o assunto -, mas funciona… As pessoas ficam impressionadas – “nossa, esse bigodudo escrevia muito bem, se ele falou que Deus está morto, é bem capaz de estar mesmo!”.

Estamos mesmo na era das generalizações apressadas, talvez porque com a internet os pequenos pedaços de informação tenham sido compartilhados de forma cada vez mais frenética… Faz muito efeito citar Nietzsche em 140 caracteres e completar com algo como #orgulhoateu ou coisa do gênero.

Você deve estar achando que eu estou aqui para criticar os ateus, mas não é bem esse o meu ponto: quero criticar nossa tendência a ler frases, e não parágrafos, páginas, livros, ou quem sabe até boa parte da obra e da biografia de um dado filósofo, e interpretar a crença alheia de forma super simplificada, tornando nosso próprio conhecimento um tanto quanto superficial.

E o pior de tudo é que muitos nem se dão ao trabalho de perder uns 30 minutos na própria internet para se inteirar mais sobre o assunto. É muito simples chegar a esta interpretação um pouco mais profunda da frase de Nietzsche, pesquisando na Wikipedia:

“A morte de Deus representa metaforicamente o fato dos homens não mais serem capazes de crer numa ordenação cósmica transcendente, o que os levaria a uma rejeição dos valores absolutos e, por fim, à descrença em quaisquer valores. Isso conduziria ao niilismo, que Nietzsche considerava um sintoma de decadência associada ao fato de ainda mantermos uma sombra, um trono vazio, um lugar reservado ao princípio transcendente agora destruído, que não podemos voltar a ocupar. Para isso ele procurou, com o seu projeto de transmutação dos valores, reformular os fundamentos dos valores humanos em bases, segundo ele, mais profundas do que as crenças do cristianismo.

Segundo ele, quando o cheiro do cadáver se tornasse inegável, o relativismo, a negação de qualquer valoração, tomaria conta da cultura. Seria tarefa dos verdadeiros filósofos estabelecer novos valores em bases naturais e iminentes, evitando que isso aconteça. Assim, a morte de Deus abriria caminho para novas possibilidades humanas.”

O bigodudo atacava a religião institucionalizada, baseada em dogmas “castradores do potencial humano”. Seu alvo era, sobretudo, as igrejas baseadas no cristianismo. Segundo o filósofo alemão, “o evangelho morreu na cruz”…

Ora, o que Nietzsche anunciou não era nada de novo, muitos antes dele já haviam anunciado a decadência da igreja, e uma nova oportunidade para a ascensão da religião livre, da espiritualidade genuína [3]. Poderíamos retornar até muito mais no tempo, mas bastará lembrar de Benedito de Espinosa, o grande filósofo holandês que foi excomungado do judaísmo. Espinosa, em sua Ética, havia chegado à conclusão de que “uma substância não poderia criar a si mesma, mas haveria de ter criado tudo o que há”.

A grande peça oculta do Iluminismo também foi acusado de ateísmo – mas é preciso ser racionalmente cego para acusar Espinosa de não acreditar em Deus. Toda sua obra foi dedicada a Deus… Conforme Borges bem disse em sua homenagem em forma de poema: “O feiticeiro insiste em esculpir a Deus com geometria delicada” – Mas, que espécie de Deus estaria visualizando Espinosa do alto de sua grandiosa racionalidade geométrica? Seria um Senhor dos Exércitos? Seria um deus que opera barganhas com os homens? Seria alguma espécie de avatar divino encarnado em algum profeta?

Embora possamos hoje chamar de ateu aquele que não acredita em um Criador nem tampouco em deus algum, na época de Espinosa, de Jesus, e até mesmo de Sócrates, ser acusado de ateísmo era ser acusado de não seguir a cartilha religiosa da igreja dominante, era ser acusado de subverter dogmas, de rezar secretamente, quem sabe, para “algum deus estranho e desconhecido, que ninguém sabe onde está e nem exatamente como é”… Ora, não se enganem: Espinosa foi excomungado por ser ateu! Jesus foi crucificado por ser ateu! Sócrates se viu condenado a beber veneno por ser ateu!

Mas, é claro, todos esses acreditavam em algum Criador… Esbarramos aqui em um profundo problema etimológico. É como pedir para um grupo de pessoas interpretar a frase “disciplina é liberdade” – cada qual vai interpretá-la, obviamente, de acordo com sua própria definição dos termos “disciplina” e “liberdade”. E, por mais que tais conceitos já sejam capazes de gerar uma imensidão de interpretações diversas, mesmo combinados eles mal chegam aos pés das quase infinitas interpretações para que se responda a pergunta “o que é Deus para você?”.

Nietzsche também era um filósofo profundamente espiritual, o que pode ser constatado facilmente em uma de suas obras primas, Assim falou Zaratustra. Mas, e qual seria a visão que o bigodudo tinha de Deus? Talvez este poema, que ele escreveu na juventude, possa nos dar uma boa pista:

Antes de prosseguir em meu caminho
e lançar o meu olhar para frente uma vez mais,
elevo, só, minhas mãos a Ti na direção de quem eu fujo.
A Ti, das profundezas de meu coração,
tenho dedicado altares festivos para que, em
cada momento, Tua voz me pudesse chamar.
Sobre esses altares estão gravadas em fogo estas palavras:
“Ao Deus desconhecido”.
Seu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegos.
Seu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo.
Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a servi-lo.
Eu quero Te conhecer, desconhecido.
Tu, que me penetras a alma e, tal qual turbilhão, invades a minha vida.
Tu, o incompreensível, mas meu semelhante,
quero Te conhecer, quero servir só a Ti.

Oração ao Deus desconhecido (traduzido do alemão por Leonardo Boff) [4]

Existem algumas interpretações bem detalhadas sobre o motivo de Nietzsche ter escrito um poema tão profundamente espiritual, e tão aparentemente teísta, mas o que nos importa aqui é reconhecer a complexidade inata da relação que cada ser tem com Deus – e, quanto mais sábio este ser, mais deliciosamente complexa será sua interpretação, pelo menos se a formos tentar resumir com meras palavras, que no fundo são apenas cascas de sentimentos…

Se você crê ou não nalgum Criador, contente-se com sua própria crença ou descrença, pois a não ser que faça parte de alguma comunidade eclesiástica profundamente ortodoxa e dogmática, é bem provável que a interpretação do que seja Deus de seus semelhantes, mesmo aqueles mais próximos e queridos, seja algo diversa da sua própria… Uns crêem em líderes militares que comandam povos escolhidos, outros em um pai bondoso muito velho e de barba perfeitamente branca, outros em um avatar que encarnou na Terra e ressuscitou 3 dias após ser crucificado, outros em alguma espécie de ser de pela azulada que gosta muito de música e dança, outros apenas em um conceito de libertação da mente do sofrimento mundano, outros na mãe natureza, outros em uma substância que abarca a tudo e a todos, outros num evento aleatório que gerou leis profundamente simétricas por todo o Cosmos… E, quem sabe, cada um deles tenha conseguido visualizar um pequeno pedaço do incompreensível, do desconhecido, do nosso mais profundo semelhante.

Mas não adianta apenas crer, é preciso se mover em sua direção. É preciso amar. Julguemos os seres por seus frutos, por suas obras; Pois julgá-los por suas crenças ou descrenças não é muito diferente de julgar que Nietzsche era apenas mais um louco, apenas porque achamos o seu imenso bigode um tanto quanto fora de moda…

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[1] Retirado de A Gaia Ciência, de Friedrich Nietzsche.
[2] Retirado de Ecce Homo, de Friedrich Nietzsche.
[3] Embora todo seguidor de igrejas seja religioso, nem todo religioso é um seguidor de igrejas. Religião vem do latim religare e significa “religação a Deus ou ao Cosmos”, enquanto que Igreja vem do grego ekklesia e significa algo como “a comunidade dos escolhidos por Deus”. É claro que é possível seguir uma doutrina eclesiástica ou algum dogma e ainda assim ser genuinamente religioso e espiritual, mas a maioria se contenta em repetir orações decoradas uma vez por semana, e esperar pelo tão aguardado céu de ócio eterno… A crítica de Nietzsche era endereçada diretamente e esses últimos.
[4] O texto em alemão pode ser encontrado em Die schönsten Gedichte von Friederich Nietzsche, Diogenes Taschenbuch, Zürich 2000, 11-12 ou em F.Nietzsche, Gedichte, Diogenes Verlag, Zurich 1994. Ver também o artigo Wotan, por Carl Jung; e também este trecho do livro Nietzsche, God and the Jews, por Weaver Santaniello.

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Crédito das imagens: [topo] Bettmann/Corbis (Nietzsche); [ao longo] Philippe Lissac/Godong/Corbis (imagem de Krishna quando criança)

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

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