Referencias Herméticas em Promethea – Parte 2

Por Octávio Aragão

Leia primeiro Referencias Hermeticas em Promethea – Parte 1

As raízes e as ramificações de todos os mundos possíveis
O conceito da “árvore da vida” que serve como esteio do mundo é uma constante em várias mitologias e, além disso, um dos conceitos básicos da cabala. Yggdrasil, a árvore nórdica cuja seiva alimenta os deuses e que sustenta Asgard sobre seus ramos [9], é o conceito sobre o qual Alan Moore estruturou a série Glory, originalmente desenvolvida para a Awesome em 1997, mas apenas publicada em 2001, pela Avatar Press.

A princesa Glorianna, filha da deusa grega Deméter, nada mais era que um clone indisfarçado da Mulher Maravilha, da DC Comics, com sua ilha povoada apenas por mulheres e poderes muito semelhantes à personagem original. Moore repetiu a fórmula bem sucedida com Supreme, assumindo a semelhança entre as duas, mas transcendendo a mera cópia ao acrescentar elementos mitológicos, mais ou menos como Stan Lee e Jack Kirby fizeram em Thor, durante a década de 60. Glory passou a ter uma vida dupla: de dia garçonete de beira de estrada; à noite, princesa guerreira trajando uma escandalosa roupa-armadura colante. Mas a obviedade termina por aí, já que Gloria West, a garçonete, acredita que “sonha” ser Glory, a deusa.

Nada de identidades secretas ou cabines telefônicas para essa heroína, mas a constante dúvida a respeito da própria sanidade. Glory surge quando necessitada e trata Gloria como uma casca, um disfarce útil para seus momentos na Terra, quando não está no reino de sua mãe Deméter ou visitando o pai, o demônio Silverfall.

Moore estabelece Ultima Thule, o reino de Deméter, Ceres, Geb e outras divindades ligadas ao elemento terra, no patamar inferior da árvore da vida, como se Yggdrasil fosse um edifício onde cada andar abrigasse uma esfera de influência elemental relativa aos vários níveis de percepção da realidade. Imediatamente acima de Ultima Thule, está a Esfera Lunar, relativa à inconsciência, aos sonhos, à fantasia, governada por Selene, Diana, Ártemis e outras deusas ligadas à Lua, e logo seguida pela Terra da Magia, da linguagem, da ciência, da comunicação, sob a batuta, mais uma vez, de Hermes, Thot e Odin. Na seqüência, vem o Reino do Amor e das Emoções, território de Vênus, Afrodite, Nike e todas as divindades oriundas da paixão dos sentidos; sucedido pelo lar de Apolo, Horus, Baldur, Osiris e Jesus, as divindades solares. Trata-se do Reino do Espírito, da Unidade, sobreposto pela morada de Marte, Ares e Tyr, os deuses da guerra e do conflito, e pelas terras gerenciadas Júpiter, Thor, Indra e Jove, o território das figuras paternas, do casamento bem-sucedido entre matéria e espírito.

Sobre todos esses feudos espirituais vem o Abismo, e após, as últimas três esferas, sendo que a mais alta de todas é a morada de Yaveh, do Allah islâmico, de todas as divindades supremas, os Deuses Vivos das religiões monoteístas. A árvore da vida ainda abrigaria sobre suas raízes, as terras das sombras, os Hades/Infernos/Submundos, de onde veio o pai de Glory, Silverfall. O governo deste mundo que não é necessariamente ‘mau’, ficaria sob o encargo de Plutão, Hades e outras divindades sombrias, e margeando tudo ainda haveria lugar para um imenso corpo de água, “Chromoceano’, rio de luz presente em várias culturas.

Esse cenário amplo e detalhado serviria como manancial quase inesgotável para várias histórias de Glory, mas, infelizmente, a série foi interrompida no número três, sem previsão de continuidade por causa das baixas vendas. Moore, porém, não abandonaria um trabalho tão complexo que, obviamente, exigiu muita pesquisa e concentração, guardando-o para o futuro. Esse futuro chegou em 1999, encarnado em Promethea.

A outra volta do caduceu
Com a falência definitiva de Liefeld e da Awesome em 1998, Alan Moore descobriu-se cheio de novos conceitos, projetos inéditos e cercado por jovens ilustradores ansiosos para trabalhar em parceria, mas sem um meio para desagüar tantas idéias represadas. Entra em cena Jim Lee, artista contemporâneo de Rob Liefeld na Image Comics, com outra proposta faustiana: Moore teria carta branca para criar os títulos que quisesse, para que fossem englobados num selo próprio, o America’s Best Comics, e publicados pela WildStorm, de Lee, na época ainda sócio da Image. Moore aceitou e começou a trabalhar imediatamente, mas logo o projeto pareceu ameaçado com a venda da WildStorm para a DC Comics, para quem Moore havia jurado nunca trabalhar outra vez.

Desta vez, as condições de trabalho oferecidas a Moore pela DC eram extremamente positivas, mantendo o escritor como detentor dos direitos de todos os personagens concebidos e com uma boa percentagem de retorno advindo de qualquer projeto derivado das séries, tais como produções cinematográficas ou linhas de brinquedos. Era uma proposta irrecusável e o roteirista lançou cinco títulos em 1999: The League of Extraordinary Gentlemen, uma brincadeira steampunk [10] sobre os personagens da literatura vitoriana; Tom Strong, que reaproveitava vários conceitos originalmente pensados para Supreme; Top Ten, uma série policial misto de Hill Street Blues com super-heróis; Tomorrow Stories, uma antologia de várias HQs de estilos diferentes e independentes entre si sob o mesmo título, e Promethea; o título mais ambicioso dos cinco, que Moore utilizaria como palco para uma aula de esoterismo, usando a cabala como vertente principal.

Alexandria, 411 A. D. Uma menina foge de padres fanáticos que acabaram de chacinar seu pai, acusando-o de feitiçaria. Ele, para surpresa de seus algozes, morre feliz, agarrado a seu bordão em forma de caduceu[11].

Nova York, 1999 (não exatamente a Nova York de nossa realidade, mas um lugar onde discos voadores são um meio de transporte trivial, juntamente com táxis munidos de dispositivos antigravitacionais e outros aparelhos nada comuns aos habitantes de qualquer megalópole). Sophie Bangs, jovem estudante, prepara uma pesquisa sobre uma figura folclórica chamada Promethea. Sophie descobriu que o mesmo personagem, em várias épocas diversas que abrangem um período entre 1780 e 1999, foi tema de obras diferentes, em diversas mídias tais como poemas, romances, pulp fiction e até fotonovelas, por autores que nunca se conheceram e agora conseguiu marcar uma entrevista com a viúva do último artista a trabalhar no conceito. A reunião, porém, termina precocemente com um aviso da mulher:

“Listen, kid, you take my advice. You don’t wanna go looking for folklore. And especially don’t want folklore to come looking for you.” [12]

Mas certas palavras já foram ditas, certos nomes pronunciados. O mal está feito e a roda do universo gira em velocidade tal que logo Sophie Bangs é apresentada pessoalmente ao objeto de sua pesquisa: uma mulher obesa e decadente, porém poderosa, que a salva do ataque de um Smee, entidade fantasmagórica e letal enviada para evitar que a pesquisadora vá mais fundo em seu trabalho.

A narrativa dá um salto de volta a Alexandria, em 411 A.D. Vemos a criança fugitiva do início da história, perdida no deserto, confrontando as figuras colossais de Thot, deus egípcio da comunicação, cuja cabeça tem a forma de um pássaro, o íbis, e Hermes, que porta um imenso caduceu ornado por serpentes vivas. Thot, por sua vez, traz na mão um Ankh, símbolo egípcio do deus único Aton. Eles são a encarnação de uma divindade dupla, Thot-Hermes, e oferecem abrigo e segurança à menina, contanto que ela atravesse com eles o véu que separa o mundo físico de seu reino, um lugar chamado Immateria, onde “ela viverá eternamente, como as histórias”.

Immateria, segundo as entidades, não é muito longe, mas está sempre “onde você se encontra” e, uma vez lá, a criança deixará de ser um ser humano e passará a ser uma “história” eterna e que, possivelmente, dentro de determinadas condições, poderá transpor o portal para o mundo físico, pois, afinal, “algumas vezs, se uma história é muito especial, ela pode arrebatar as pessoas”. Só então as divindades gêmeas se lembram de perguntar o nome da criança. “Promethea”, ela responde, antes de desaparecer no ar[13].

Se ela não existisse, teríamos de inventá-la
Podemos ver claramente a conexão entre Glory e Promethea. Immateria nada mais é que a Terra da Magia descrita anteriormente, reino da linguagem, da ciência, da comunicação, governado por Thot-Hermes. A partir daqui, Moore irá aprimorar os conceitos cabalísticos apresentados anteriormente, adaptando-os à genealogia de Promethea numa evolução do que concebeu para Glory, sem medo de utilizar uma linguagem menos acessível ao grande público e distanciando-se cada vez mais da iconografia super-heroística. Assim como o caduceu que herdou de Thot-Hermes, Promethea é uma personagem transcendente e, em conseqüência, rebela-se contra gêneros e catalogações.

O primeiro arco de histórias da série, que vai do número 1 ao 6, além de apresentar Sophie Bangs e o elenco de coadjuvantes, inicia, a partir do terceiro fascículo, a viagem de auto-conhecimento de Promethea, explorando o reino de Immateria. No arco seguinte, as várias esferas já apresentadas na sinopse de Glory serão visitadas. A peregrinação durará até o final do terceiro arco, no episódio 23, mas os primeiros seis números estarão focados nos diversos aspectos da entidade. O primeiro termina explicitando que Sophie é a nova encarnação de Promethea, em substituição à personagem obesa que confronta o Smee. Essa mulher, Barbara Shelley, explica à estudante quem realmente foi a Promethea original, a filha de um acadêmico hermético egípcio – ou melhor, um sacerdote de Hermes – que viveu no século V, e dá os nomes de cinco artistas que serviram como veículo para a conjuração da divindade.

Esses criadores, um poeta, uma cartunista, uma ilustradora, um quadrinista e um romancista, foram o canal por meio da qual a entidade atravessava até o mundo físico, mas o “combustível” que a alimenta é o amor. “Qualquer um com imaginação e entusiasmo suficiente pela personagem pode trazê-la de Immateria, apenas pensando em si próprio ou em outra pessoa encarnando o papel”[14], diz Barbara, viúva do último artista a conjurar Promethea, deixando claro que a mistura de imaginação, talento artístico e amor é o gatilho capaz de materializar um sonho.

Avatares desbocados
Maurice Merleau-Ponty afirma que, diferente da crença geral, a linguagem vira as costas à significação, não se preocupa com ela. Ou seja, há uma independência subjacente à comunicação, cuja característica principal é uma diferenciação e sistematização de signos, seja nos fonemas, nas palavras ou em toda uma estrutura linguística. Uma coisa até pode levar à outra, mas isso não quer dizer que a função primordial dos signos seja estar à disposição dos significados. Os signos, ao que parece, têm uma agenda própria.

“Num certo sentido, a linguagem jamais se ocupa senão de si mesma. Tanto no monólogo interior como no diálogo não há ‘pensamentos’: trata-se de palavras suscitadas por palavras, e, na medida mesmo em que ‘pensamos’ mais plenamente, as palavras preenchem tão exatamente nosso espírito que nele não deixam um canto vazio para pensamentos puros e significações que não sejam de linguagem”[15]

Essa independência entre signo e significado parece ser a mola motriz da série como um todo e aparece muito claramente quando, no terceiro número da série, no capítulo intitulado Misty Magic Land, ao visitar pela primeira vez o reino de Immateria, Promethea encontra uma encarnação física de Chapeuzinho Vermelho, que, apesar de aparecer como uma doce e angelical menina loura de dez anos de idade, fuma muito e fala palavrões como uma prostituta de beira do cais.

Moore parece fascinado por essa contradição já que esta é apenas a primeira de uma série de guias que Promethea irá encontrar em suas diferentes jornadas pelos planos cabalísticos. Esses avatares desbocados serão, em diferentes momentos, velhos feiticeiros garanhões, anjos em forma feminina e roupas masculinas, doces travestis transsexuais e até as duas serpentes do caduceu trocam gracinhas pouco condizentes com sua condição de entidades cósmicas. No capítulo seguinte, A Faerie Romance, somos apresentados às quatro últimas versões de Promethea, todas vivendo em Immateria e cada uma representando uma característica da personagem: musa, guerreira, amante e professora, todas passando a Sophie uma diferente significação para o uso do “verbo” como instrumento transformador. Se brandidas como lâmina, palavras cortam, separam os corpos dos homens de suas cabeças; por outro lado, durante as guerras, palavras podem ser a última inspiração, uma taça de esperança. Mas palavras também pertencem ao mundo material, são moedas para troca, compra, liberação de prazer físico e, finalmente, palavras podem ser um bastão, símbolo fálico masculino, varinha mágica, poder. Lâminas, taças, moedas e varas. Espadas, copas, ouros e paus. As cartas estão na mesa e, a partir do episódio 12, o jogo cósmico começa.

Anagramas arcanos
Depois de dois números, respectivamente 8 e 9, onde combate as forças combinadas do inferno num clima ‘super-heroístico’ – quase como um lembrete aos leitores de que, no fundo, a revista faz parte dessa tradição – , Promethea dá uma guinada sem precedentes nos quadrinhos comerciais publicados nos Estados Unidos. Moore dedica uma revista inteira a uma cena de sexo tântrico entre a heroína e o vilão Jack Faustus na história entitulada Sex, Stars and Serpents. Não que isso fosse alguma novidade para o autor: quem lembra de sua fase áurea em Swamp Thing, da DC, nos anos 80, sabe que ele já havia abordado o tema ‘sexo entre diferentes’ de forma bastante ousada para a conservadora mídia estadunidense, com sucesso. Mas dessa vez Moore, com o auxílio do ilustrador J. H. Williams III, foi bem mais longe, com cenas explícitas de cunilíngüus, variações de posições e orgasmo, sem, contudo, escorregar no mau gosto pornográfico. Essa edição, que narra passo-a-passo um intercurso sexual pautado sobre citações mais ou menos óbvias tais como a serpente kundalini, o poder simbólico de camas e cavernas e como a humanidade pode comungar através do ato, foi indicada ao Eisner 2001 como melhor história individual.

Após a pausa para descanso, temos mais uma aventura do tipo “heroína-derrota-o-vilão-do-mês”, no número 11, que serve de preparação para a grande jornada que virá a seguir, com Promethea percorrendo todos os 12 reinos que congeminam as casas do zodíaco e os arcanos maiores do tarô, um por mês, durante um ano.

Logo no primeiro número da saga, Moore utiliza um artifício para relacionar a personagem a cada carta do tarô, produzindo anagramas com a palavra Promethea relacionados às 21 imagens ou aos conceitos inerentes durante as 24 páginas da edição.Assim, Metaphore é o termo representativo do Louco; Pa Theorem remete ao Mago; Mater Hope é a Sacerdotisa; A Pert Home casa com a Imperatriz e Rope Thema é o Imperador; Ape Mother é o Hierofante; Me Atop Her é a carta dos Amantes; O Mere Path, o Carro; A Pro Theme vem com a Temperança; Here Tempo, o Eremita; Eh, Tempora é a Roda da Fortuna; A carta Força corresponde a O Harem Pet; Hm Operate é oEnforcado, enquanto a Morte é O Reap Them; A Arte é Emote Harp, o Diabo é The Mop Era, a Casa de Deus é Metro Heap; A Estrela é Map O Ether, a Lua, Earth Mope, e o Sol é Meth Opera; O Julgamento é Meet Harpo, e, finalmente, o Mundo é Heart Poem.

Cada uma dessas reescrituras do nome “Promethea” descortina um dos sentidos dos arcanos e ajuda a traçar um resumo da história da humanidade desde seus primórdios até o fim inadiável – que, segundo as serpentes do caduceu, ocorrerá no ano 2017 – até o recomeço, quando o a carta do Louco mais uma vez for descartada do baralho. Sophie, assim como o leitor, tem agora um panorama, um mapa do futuro. Basta decidir que caminho seguir.

Notas
9. “Supunha-se que todo o universo era sustentado pelo gigantesco freixo Yggdrasil, que nascera do corpo de Ymir – o gigante do gelo -e tinha raízes imensas, uma das quais penetrava em Asgard, outra no Jotunheim (morada dos gigantes) e a terceira no Niffleheim (regiões das trevas e do frio). Ao lado de cada raiz havia uma fonte que a regava. A raiz que penetrava em Asgard era cuidadosamente tratada por três Norns, deusas consideradas como donas do destino. Eram Urdur (o passado), Verdande (o presente) e Skuld (o futuro). A fonte ao ldao de Jotunheim era o poço de Ymir, no qual se escondiam a sabedoria e inteligência, mas a do lado de Niffleheim alimentava Nidhogge (escuridão), que corroía a raiz perpetuamente. Quatro veados corriam sobre os ramos da árvore e mordiam os brotos; representavam os quatro ventos. Sob a árvore, ficava estendido o Ymir e, quando ele tentava livrar-se de seu peso, a terra tremia.” BULFINCH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia, Histórias de Deuses e Heróis. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 2000 – 9ª edição, p.
381/382

10. Steampunk é um derivado da ficção científica literária, geralmente ligado ao subgênero da história alternativa, que tem como características os cenários vitorianos e as tecnologias de caráter retrô, tais como locomotivas e dirigíveis, geralmente ligadas ao uso do vapor e da eletricidade como fonte de energia. Tem como alguns expoentes literários os autores Tim Powers (The Anubis Gates), Kim Newman (Anno Dracula) e a dupla William Gibson e Bruce Sterling (The Difference Engine), que foram considerados os inventores do Cyberpunk. Já nos quadrinhos, além de Moore, temos Joe Kelly e Chris Bachallo (Steampunk), Boaz e Erez Yakin (The Remarcable Works of Professor Phineas B. Fuddle), Randy e Jean-Mark Lofficier (Robur) entre muitos outros.

11. O caduceu, varinha portada por Hermes em torno da qual duas serpentes aparecem enroladas, é um símbolo de transcendência e terapêutica, tanto que até hoje é considerado um representativo da classe médica, já que Asclépius, filho de Apolo e deus da medicina, também a utilizava como instrumento de cura. O caduceu, ou herma, também é considerado como um símbolo de fertilidade, sendo constantemente associado a falos eretos, mas também à fertilidade do espírito, da transcendência. A mescla da serpente, animal rasteiro, com o capacete e as sandálias aladas ajudam a compreender o caráter composto da divindade Hermes, que faz a comunicação das coisas terrenas com a esfera superior.

12. “Olha, garota, siga o meu conselho. Você não quer ir atrás de folclore. E de preferência não queira que o folclore venha procurar por você.” In: MOORE, Alan. Promethea #1: The Radiant Heavenly City. USA: America’s Best Comics, 1999 – 1ª edição, p. 9.

13. O cerne da lenda de Prometeu, o titã que ousou roubar o fogo celeste e terminou acorrentado e com o fígado picado por uma éguia eternamente, manteve inalterado durante séculos, mas certas evoluções concernentes à personalidade do mito foram notadas a partir do Prometeu Acorrentado, de Ésquilo, escrito entre 467 e 459 A. C. O dramaturgo helênico foi o primeiro a emprestar ao titã transgressor uma característica civilizatória: ele haveria roubado o fogo de Zeus para cedê-los aos homens, para dar-lhes oportunidade de evolução. Parece-nos que foi esse o viés escolhido por Alan Moore ao construir sua Promethea, que também é portadora de um caduceu, cujas serpentes vivam e convolutas resplandecem com brilho interior. Uma entidade que, apesar de fisicamente superior ao homem comum, se manifesta por meio do princípio criador da humanidade, a chama artística, e se levanta contra o obscurantismo, as forças do caos desordenado, caixa de Pandora representada por vários personagens vilanescos, principalmente o enlouquecido ‘omnipata’ andrógino Painted Doll e o prefeito da cidade, Sonny Baskerville, cuja mente é lar de toda uma comunidade infernal. Ao combater essas forças, a Promethea de Moore não apenas aproxima os céus do homem, mas funciona como termômetro para o caminho contrário, evidenciando a evolução constante da humanidade em direção ao divino.

14. MOORE, Alan. Promethea #1: The Radiant Heavenly City. USA: America’s Best Comics, 1999 – 1ª edição, p. 24

15. MERLEAU-PONTY, Maurice. O Algoritmo e o Mistério da Linguagem, in A Prosa do Mundo. São Paulo, SP: Cosac & Naify Edições, 2002 – 1ª edição, p. 147

#HQ #Kabbalah

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/referencias-herm%C3%A9ticas-em-promethea-parte-2

O Caso de Baía do Sul

Foi nas ilhas de Belém, onde as águas do Tocantins e do Amazonas se encontram majestosamente com o o oceano, 1 grau ao sul do Equador, que em 1977 a onda brasileira atingiu o auge.  E foi ali que pela primeira vez se obteve a prova da existência do fenomeno. Mais especificamente, como revelou Daniel Ribeiro Giese, a onda concentrou-se em um período de três meses , entre julho e setembro de 1977, na ilha de Colares e na praia de Baía do Sul, na ilha de Mosqueiro.

Encontramos pescadores que testemunharam a presença dos objetos, e uma médica que tratou das doenças de dúzias de
pessoas atingidas pelas luzes dos chupas. Ela confirmou que um dos pacientes morreu  depois da  experiencia. Diversas
testemunhas  disseram ter visto dois grupos de militares brasileiros filmando os objetos e tentando contato com eles.

A pua verdade: ninguém pode negara onda de 1977. Ela começou em junho, perto do cabo Gurupi, ao norte da cidade de Vizeu, e prosseguiu em duas direções , pela costa. No sentido de São Luiz, a leste, e para Bélem, a oeste, durante os meses de junho  e julho. Atingiu o pico em setembro e outubro.

A razão para a impossibilidade de se negar o fenomeno é muito simples: os OVNIs apareciam todas as noites, vindos do norte. Em alguns casos, surgiam no céu. Em outros, emergiam do oceano. Vi uma foto de um objeto com um halo luminoso branco, saindo da água salobra ao entardecer.

Eles voavam sobre as ilhas a baixa altitude, circulando na área. Desciam, como se quisessem pousar. Faziam loops e aceleravam repentinamente. Pairavam sobre as casas e investigavam o interior com faróis. Saiam de objetos maiores e voltavam para dentro deles. E tudo isso aconteceu com hora marcada, todas as noites, durante três meses.

Era difícil imaginar o pânico na ilha de Colares, segundo uma testemunha ocular que acompanhou a tragédia. Os moradores com condições de ir embora fugiram , inclusive o dentista e os professores escolares, que abandonavam seus empregos. Quem tinha familia no continente mudou. O delegado fugiu.

Os objetos jamais chegavam sozinhos. Nas numerosas fotografias tiradas por jornalistas , apareciam acompanhados por luzes menores. Possuiam formas diversificadas, capazes de deixar maluco um engenheiro aeronáutico. Variavam de tamanho, desde pequenas estrelas até objetos maiores do que dois 737 juntos. Os avantajados eram mais frequentes do que os pequenos. Eles pairavam no céu, aparentemente seguros de que ali, no meio da neblina e dos mangues , na foz do Amazonas, ninguem iria perturba-los. Talvez soubessem que a Força Aérea Brasileira emitira um comunicado confidencial, desviando todo o tráfego aéreo para longe da região.

Não havia nada de enganoso nos objetos . Não se tratava de fenômenos rápidos frequentemente descritos nos livros
norte-americanos, ou manifestações fantásticas descritas por sequestradores , que se tornavam ainda mais incríveis no momento das regressões hipnóticas. Havia uma tecnologia superior em ação sobre Colares , e a única coisa que os observadores podiam fazer era filmar e acompanhar tudo boquiabertos.

A doutora Wllaide Cecim Carvalho de Oliveira, que permaneceu na ilha durante todo o período de duração da onda, concordou em falar comigo. Como diretora do centro de saúde no arquipélago de Marajó ( população 6 mil ) , ela havia sido citada no relatório de Daniel Rebisso Giesse. Ela detalhou as informações anteriores sobre os casos médicos na área.

A pura verdade: a dra. Carvalho trabalhava em Colares há oito meses, quando começou atender pacientes que se queixavam dos ataques de luzes estranhas. Até então ela considerava tais histórias produto de alucinações e bebedeiras. Foi obrigada a rever suas conclusões quando descobriu que os pacientes apresentavam sintomas similares:

  •   Sensação de fraqueza; alguns mal conseguiam  andar
  • Tonturas e dores de cabeça
  • Perda de sensibilidade em locais determinados. Confusão e tremores
  • Palidez
  • Baixa pressão arterial
  • Anemia, com níveis baixos de hemoglobina
  •  ele enegrecida nos pontos atingidos pela luz, com diversos circulos vermelho-arroxeados, quentes e doloridos, com      diametro entre 2, 5 e 2,7 cm
  •  Duas marcas de picadas dentro dos circulos vermelhos, como picadas de mosquito, duras no toque
  • Os pelos nas áreas escurecidas caíam e não cre3sciam novamente, como se os folículos tivessem sido destruidos
  • Náusea ou diarréia

A doutora declarou que na época não tinha acesso a laboratórios sofisticados para realizar exames complementares , mas
conseguiu detectar uma queda dos glóbulos vermelhos em todos os pacientes . Ela colocava as vítimas em observação por quatro ou cinco dias.

Cerca de vinte pacientes , com idades variando entre 18 e 50 anos, grande parte deles ainda jovens, foram tratados. Todos contaram a mesma história : estavam descansando na rede quando a luz veio de cima . Ficaram imobilizados imediatamente, como se houvesse um peso imenso sobre o peito. O facho tinha cerca de 8 centimetros de diametro e era de cor branca. Nunca os perseguia , aparecia de repente e os atingia.

Não conseguiam gritar , por mais que tentassem. Os olhos permaneciam abertos. A luz dava uma sensação de calor, “como uma queimadura de cigarro”, quase intolerável. Depois de alguns minutos a coluna de luz se retraía lentamente e desaparecia .

A luz nunca atingia as vitimas nos braços ou nas mãos , sempre acertava no torso e no pescoço. A descoloração e as marcas apareciam imediatamente. Os pelos do corpo caíam depois. E tudo costumava voltar ao normal depois de sete dias.

Houve várias exceções: em um dos casos uma mulher de 48 anos ficou seriamente ferida . Ela acordou durante a noite e foi fazer croche para passar o tempo, quando a luz repentinamente a atingiu no peito. Quando a luz foi embora, ela procurou os médicos militares, que lhe deram um tranquilizante  (Somalium) e 5 miligramas de Diazepan , o que a fez dormir. Na manhã seguinte foi ao centro de saude para ser tratada , mas nunca se recuperou totalmente, e apresenta os mesmos sintomas até hoje: tonturas e enjôos.

Em outro caso, um homem de 32 anos teve um destino semelhante . E uma mulher  morreu no dia seguinte à exposição, que parece ter agravado uma deficiência cardíaca preexistente.

A pura verdade: quando a série de relatos e problemas de saúde chegou ao centro da cidade, as pessoas entraram em panico. Não dormiam, com medo dos ataques noturnos . Sómente o padre, o prefeito e a médica ficaram para trás, quando as pessoas importantes da comunidade fugiram. Os ônibus partiam lotados de gente que se mudava . Os pescadores recusavam-se a sair para pescar. Em pouco tempo não havia o que comer. A população ficou restrita à comida enlatada e generos trazidos do continente.

As pessoas passavam a noite tomando café para não dormir. Quando viam algo anormal voando, soltavam rojões  e batiam panelas para afugentar o objeto. O governo federal enviou um grupo  de militares , com ordens estritas de observar sem interferir. Uma testemunha  com que conversamos conhecia todos os membros do grupo. Eles montaram uma base na praia e outra na estrada, em local mais alto. Faziam rodízio. Havia biologos, físicos , médicos , químicos  –  um total de quarenta homens, com barracas , gravadores , câmeras e telescópios . Vinham do sul, a patente mais alta era de capitão. Possuiam caminhões, remédios, termometros e medidores de pressão. Eles tratavam as pessoas durante a noite, quando estavam acordados, esperando pelos objetos.

A pura verdade : perguntamos sobre a observação feita  pela própria dra. Carvalho, que  aconteceu às 18 horas , e ela disse que foi a coisa mais linda que viu na vida. Mesmo agora, ao fechar os olhos, ela consegue fazer com que a imagem reapareça .

—    Esqueci de muitas coisas com o passar dos anos    —    declarou    —     , mas nunca esquecerei daquilo!

Era um cilindro grande, brilhante , com uma luz avermelhada no alto e no fundo, brilhando em anéis concêntricos . O objeto voava baixo pela rua , dançando, fazendo círculos majestosos durante o percurso. Não havia portas nem janelas. Sua empregada desmaiou quando viu o objeto, mas a dra. Carvalho a ignorou e seguiu a coisa em estado “quase de extase”, segundo sua descrição , devido à beleza da visão. Ela esperava que pousasse e a levasse embora.
Um grupo de pessoas chegou a cidade, batendo tambores e panelas , soltando fogos. O objeto continuou a danças , cada vez mais alto , e foi embora. Algumas noites depois, um dos objetos aproximou-se e pousou no campo de futebol. Os militares correram para lá, esperando fazer contato, mas a multidão chegou primeiro, batendo tambores, e o objeto decolou.

Quanta ironia. Tentamos a comunicação com seres alienigenas, e não conseguimos estabelecer a comunicação entre nós
mesmos. Os militares e civis não conseguem chegar a um acordo sobre a existencia do fenomeno, os dados não podem ser compartilhados pelos médicos, pesquisadores, países envolvidos.

Todos os dados médicos coletados durante nossa viagem aparentemente são compativeis com a conclusão de que os OVNIs conseguem localizar seres humanos selecionados  com um facho de radiação que contém , entre outros elementos , microndas pulsantes capazes de interferir no sistema nervoso central. Este facho luminoso pode provocar tonturas, dores de cabeça, paralisia , formigamento e alheamento, como descrito por inúmeras testemunhas. Também pode gerar mudanças de comportamento a longo prazo, alterações no sono e mesmo episódios enganosos e alucinações. Toda a fenomenologia dos casos de contato com OVNIs precisa ser revista em função disso.

Onde estão as provas de tudo? O leitor tem o direito de perguntar, como Janine e eu  (Jacques Valeé) fizemos , quando
encontramos as pessoas que passaram por esta experiencia na praia de Baía do Sol. A resposta me deu o que pensar. Não há apenas uma, mas duas séries de fotografias, filmes e gravações feitas no periodo. O grupo militar, agindo abertamente, compilou, ao que consta , um grosso volume de relatório com uma série de medições físicas. O relatório foi enviado para as autoridades superiores de Brasília, onde teria desaparecido em uma gaveta.

O segundo grupo era formado por jornalistas e operadores de câmeras , quase tão bem equipados quanto os militares. Eles conseguiram fotos excelentes, como pode ser visto noa arquivos dos jornais no período. Infelizmente, como foi dito antes, apenas os negativos possuem valor cientifico potencial. E todos os negativos das fotos tiradas pelos grupos de jornalistas saíram do Brasil, adquiridas dos proprietários dos jornais por uma empresa norte-americana desconhecida.

Alguém , nos EUA , possui uma coleção de registros que contém a prova da existencial do fenômeno.

A pura verdade: existe uma razão bem simples para a falta  de interesse acadêmico no fenômeno dos OVNIs. E, como foi visto nesse livro, esta razão não é a falta de provas.

Muito pelo contrário

As provas obtidas até agora pelas principais potencias são tão boas que possuem implicações devastadores para os sistemas militares do futuro. Sendo assim, tomou-se a decisão de manter tudo em segredo, trancado a sete chaves, permitindo o exame apenas a grupos altamente especializados , com acesso restrito, definido. Na minha opinião, o trabalho destes grupos está condenado ao fracasso, como vem acontecendo desde 1953, apesar de todos os recursos destinados a eles e apesar da absurda operação de desinformação que rodeia a questão, para mante-la em segurança.

O fenômeno dos OVNIs não pode ser mantido em um compartimento. Ele é global por natureza , e toca todos os setores do conhecimento humano   —   do folclore à astrofísica, da etnologia às microondas, das partículas à parapsicologia.

A pura verdade: o que aconteceu na Baía do Sol pode acontecer novamente, em qualquer lugar, amanhã mesmo. Detesto saber que estaremos despreparados. Mais uma vez. . .

Jacques Vallé,  Confrontos

Postagem original feita no https://mortesubita.net/ufologia/o-caso-de-baia-do-sul/

Hellboy

Hellboy é jovem em relação a outros quadrinhos e, apesar disso, conseguiu muito destaque e fama.

O gênio por traz dele é Mike Mignola , que fez algo totalmente original , colocando um ser que sempre é ligado ao “mal” (demônio) fazendo o “bem” , tendo uma vida dedicada a ser herói e resolver casos ligados ao sobrenatural ao redor do mundo.

A história começa em 1944 , Hellboy era um pequeno demônio , filho de um dos príncipes do inferno com uma bruxa , ele veio para terra quando o Monge Rasputin abriu um portal para o inferno perto do final da Segunda Guerra Mundial , com o objetivo de dar início ao projeto Ragnarock para usar magia negra para ganhar a guerra.

Metade demônio e metade criança , com cauda , pequenos chifres , pele vermelha e um braço direito enorme a pequena criaturinha é encontrada pelos aliados nas ruínas de um local longe do ritual dos nazistas e ganha o nome de Hellboy.

Mesmo sendo “diferente” é adotado pelo professor Trevor Bruttenholm , estudioso de paranormalidade , membro da sociedade paranormal britânica e conselheiro de assuntos desse tipo do presidente Roosevelt.

Por ser um demônio ele se tornou adulto rápido e depois se torna um agente da Bureau de Pesquisas e Defesa Paranormal , organização do governo fundada pelo Professor Trevor na mesma época em que Hellboy é encontrado , o objetivo era combater os planos dos nazistas ocultistas e posteriormente resolver casos paranormais ao redor do mundo.

Lá ele trabalha com diversos agentes , alguns bem singulares como Abe Sapien um homem anfíbio com poderes telepáticos , Liz Sherman uma mulher que possui a capacidade de produzir fogo , Roger o homúnculo e Johann Kraus um homem que possui apenas o corpo ectoplasmico.

Mas chega de spoiler né???

Mike Mignola escreve um tanto devagar o que faz existir uma quantidade não muito grande de edições de Hellboy e no Brasil menos ainda , mas uma quantidade até razoável , algumas bem curtas, fora as histórias solo da Bureal.

Cada edição é uma obra de arte , principalmente as capas , fora os traços de Mignola um estilo muito original.

As histórias de Hellboy giram em torno de contos , lendas urbanas ou não , folclores , mitologias , fatos históricos e ocultismo , tudo isso de várias partes do mundo .

Hellboy também é um “Ocultista Fodão” pois nem sempre resolve as coisas com porrada , mas também com magia.

Como foi dito essa hq envolve fatos históricos , como ter como personagem o monge Rasputin que realmente existiu entre outras personagens.

Baba Yaga , bruxa do folclore russo aparece em algumas histórias , também aparecem lobisomens , vampiros , zumbis , demônios , humúnculos , fantasmas , dragões e outros diversos tipos de criaturas.

Além disso também temos um assunto muito explorado , os nazistas e ocultismo , a sociedade Thule(que realmente existiu/existe) e que Hitler patrocinava pesquisas relacionadas a ocultismo.

Também explorando lendas urbanas como foi dito por exemplo a existência de uma área do governo especializada em assuntos paranormais , uma base militar estilo área 51.

Misturando suspense , aventura , terror e ficção científica Mike Mignola cria Hellboy , mostrando que ele entende de ocultismo também.

Também não podemos esquecer os dois filmes dirigidos Guillhermo del Toro (Labirinto do Fauno) ,Hellboy e Hellboy II e o Exército Dourado e também tem animações e aparentemente o terceiro filme está sendo produzido.

Quem interpretou Hellboy foi Ron Perlman , uma escolha muito boa e quem interpretou Abe Sapien foi Doug Jones que também se encaixou muito bem no papel.

#HQ

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/hellboy

O Poder das Flores: Romance com Lobisomen

Por Denny Sargent.

Quando comecei a pesquisar as raízes históricas da Magia do Lobisomem, fiquei chocado que, desde a pré-história, havia tanto romance quanto coisas de lobos selvagens mencionados. Havia muitos templos de lobisomens antigos com metamorfos e ritos claramente sensuais, como o Monte Lykaion na Grécia. Os festivais de lobisomens eram ainda mais selvagens e eróticos, como a orgia bêbada de quatro dias da Lupercália romana, onde os Luperkal ou “sacerdotes lobisomens” corriam em um frenesi incentivando muito comportamento público fora de controle pelo qual você seria preso hoje. Grande parte dessa festa louca e selvageria era (e ainda é – veja meus livros) sobre invocar a magia do lobisomem para liberar o êxtase de deixar seu Eu Animal primordial livre, de modo a se revitalizar e fortalecer a si mesmo (e, acrescentarei, sua libido também).

Essa conexão sexy do lobisomem não era algo que eu esperava encontrar ao pesquisar, mas logo descobri que era uma coisa porque, para minha surpresa, descobri alguns documentos antigos que literalmente explicam como atrair um amante sexy lobisomem! Embora isso parecesse um pouco arriscado na época para as mulheres (ou homens) vitorianos, aparentemente a crença de que os lobisomens são grandes amantes resistiu ao teste do tempo, começando com os ritos da Roma antiga. O segredo de tais feitiços, é o que se diz, é – espere por isso – flores. Sim está certo. E, se você pensar sobre isso, faz “sentir o cheiro”, já que o cheiro é algo que todos os lobos são muito sensíveis e responsivos. Lobisomens, ainda mais!

Então, se você está procurando um novo amante lobisomem, independentemente de suas preferências, e não está muito preocupado com um pouco de jogo de amor áspero, incluindo algumas marcas de garras, você pode querer experimentar esta magia de flores românticas. Pense em se encontrar com um lobisomem sexy para um encontro romântico com um lobo ou um encontro de lobisomem quente sem usar um aplicativo. Afinal, que ótimo “namorado lobisomem” (ou namorada) para se ter! Tão Querido! Que protetor! Diversão nas festas! Por que não? Nesta era de relacionamentos abertos, furries e poli, por que procurar um novo amigo com pelos e presas reais ou proverbiais deve ser negligenciado, tudo com flores? O folclore nos diz que certas flores realmente atrairão um lobisomem para você com alguns feitiços simples. O fato de tais lendas existirem há muito tempo é a prova de que esse desejo de amor romântico por lobisomem existe há algum tempo. Muitas pessoas amam meninos ou meninas selvagens e selvagens, mas alguns aparentemente os querem rosnando e uivando com angústias. Interessado? Leia.

A seguir estão algumas flores de lobisomem que você precisará encontrar ou comprar com antecedência. Ambos os feitiços devem ser feitos em uma noite quente, o mais próximo possível da lua cheia, melhor quando a lua estiver brilhando no céu. Os feitiços dizem para manter a janela do quarto e a porta da sua casa destrancadas após o feitiço, mas isso é com você. Eu abria a janela e mantinha a porta trancada (qualquer lobisomem decente deveria ser capaz de ignorar a porta e pular pela janela aberta, eu diria). Alguns de vocês que são mais aventureiros podem preferir passear pelos bosques ou campos ou pelo centro segurando seu buquê enquanto fazem o feitiço, ou sentados na varanda bebendo vinho chablis ou talvez pendurados em um clube – sua decisão. Se o seu objetivo for mais intenso, use também um perfume de flores que lhe dê emoção (apenas certifique-se de que é totalmente natural – os lobisomens têm focinhos sensíveis!).

Aqui estão as “flores que atraem lobisomens” listadas que encontrei originalmente em um feitiço antigo. Misture e combine como quiser. Estas flores incluem:

  • Lírios-do-vale: Traz uma profunda amizade de lobisomem ou amor romântico.
  • Tagetes: Traz uma parceria de lobisomem ou interação cheia de aventura e verdade.
  • Azaleias Vermelhas: A melhor para atrair um lobisomem de fortes paixões e emoções.

O Feitiço:

À luz da lua, monte seu buquê de atração de lobisomens e coloque-o no peitoril da janela aberta do seu quarto em um vaso transparente, ou carregue o buquê com você se você planeja sair para passear na floresta ou dançar em um clube. Quando estiver pronto para chamar seu amor de lobisomem para você, espero que com a lua cheia no céu, cante o seguinte feitiço tradicional de atração de lobisomem:

“Oh suavemente venha nas patas das sombras

Com vinho de saudade e mandíbulas ofegantes

Pele de amor e cauda de felicidade

Oh besta do desejo, venha para isso!”

Termine com três uivos sensuais, românticos e cadenciados. Se você for persistente, faça isso por três noites e deixe as flores, sussurrando “Assim seja!” e espere que um amante lupino venha até você. Cuide-se e divirta-se, seja selvagem e despreocupado e evite aquelas presas, ou um lobisomem que você será!

Aqui está outro feitiço tradicional de “Magia do Jardim” para buscar um novo amor selvagem.

Necessário: Flores de phlox para plantar perto de sua porta, o mais vermelho possível, e sete flores de phlox cortadas para deixar na sua porta ou no peitoril da janela do seu quarto aberto.

Faça isso em uma lua cheia, se possível, ou em um dia santo especial, como o Midsummer (o Solstício de Verão) ou Lammas.

Leia o feitiço três dias seguidos, colocando novas flores cortadas a cada dia, dizendo a cada dia com profundo desejo:

“Sobre colinas, através de bosques e ao longo do tempo

Lobo amante eu te chamo, com coração e rima

Três vezes três, assim seja

Ó amor feroz, venha agora a mim!”

Gentilmente, amorosamente, uive três vezes.

Quer mais? Aqui estão algumas plantas que atraem ou fortalecem lobisomens que encontrei em várias fontes diferentes, variando de textos medievais a vitorianos.

Plantas importantes usadas na Magia de Lobisomem: Milefólio, Arruda, Carvalho, Alecrim, Casca de Cedro, Seiva ou Agulhas de Pinheiro.

Estas são flores tradicionais de lobisomem, ervas e óleos naturais.

Para atrair lobisomens ou para aqueles que procuram se tornar um praticante de magia de lobisomem e metamorfose: Girassol, Alfazema, Arruda, Folhas de Louro, Manjericão, Sálvia, Cinquefoil, Tomilho, Musgo de Carvalho.

Sobre o Almíscar: Muitas fontes mais antigas referem-se ao almíscar como o perfume da magia de lobo ou lobisomem. Por causa da maneira horrível como o almíscar tradicional foi (e em alguns lugares, ainda é) tomado, matando cervos almiscarados e removendo suas glândulas, eu digo não. Hoje, a maior parte do almíscar que você pode obter é sintético, inútil para esta magia, já que qualquer coisa artificial está fora. Existem, no entanto, plantas que oferecem um perfume selvagem “almiscarado” semelhante que pode ser útil em qualquer trabalho sexy de lobo; eles incluem a flor de almíscar, almíscar ou sementes de almíscar da Índia. Minha sugestão é que você use a erva de cheiro muito almiscarado Arruda, sagrada para todos os tipos de deuses selvagens como Pan.

Fonte: https://www.llewellyn.com/journal/article/3038

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/o-poder-das-flores-romance-com-lobisomen/

A Verdadeira História do Papai Noel

A figura e a característica de portador de presentes do Papai Noel, mundialmente conhecido por diferentes nomes [veja lista adiante] foi, portanto, forjada com elementos lendários de diferentes culturas. No caso específico do folclore cristão, foi incluído o personagem de Santa Klaus ou São Nicolau, nascido na segunda metade do século III, morto em 6 de dezembro de 342. Ele foi bispo de Mira [na Turquia]. É o santo padroeiro da Rússia, da Grécia e da Noruega, patrono dos guardas noturnos na Armênia e dos coroinhas na cidade de Bari, na Itália.

Dia a lenda que um homem muito pobre vivia amargurado porque não tinha dinheiro os dotes nupciais de suas três filhas, destinadas, assim, a ficar “solteironas”. O então bispo Nicolau, tomando conhecimento do caso, secretamente, depositou bolsas recheadas de moedas de ouro nas meias das moças que observara, postas a secar diante da lareira. A história se espalhou; todos falavam sobre o misterioso benfeitor que  salvara as moças do “encalhamento”. Diziam que ele tinha entrado na casa descendo a chaminé. Nicolau aproveitou a idéia e passou a beneficia, anonimamente, outras pessoas carentes, especialmente crianças.
Ao longo dos séculos, associando elementos daquelas várias cultura em torno das festividades de fim de ano, a imagem do Papai Noel globalizado foi se definindo até alcançar a configuração que tem hoje: idoso obeso e barbudo vestido com casaco, calças e gorro vermelhos, debruados com pelugem branca e calçando botas altas. Em 1866, a concepção do artista alemão Thomas Nast, criada para a revista Harper’s Weeklys caiu no gosto popular contemplando a imagem atual: um duende na terceira idade, norte-europeu que engordou e cresceu demais.

Observemos que segundo os padrões estéticos e sanitários “politicamente corretos” da pós-modernidade o excesso de tecido adiposo, gordura, banha mesmo! do velhinho poderá ser banido como característica do design posto que a obesidade, atualmente, é considerada doença ou sinal de preguiça, desleixo pessoal. Aliás, nem sempre ele foi representado com excesso de peso. O Papai Noel rechonchudo pode estar com os dias contados tal como aconteceu no carnaval baiano de 2008, quando os poderes públicos rejeitaram a tradição-mau exemplo dos gordos e escolheram um rei Momo magro, o Sr. Clarindo Conceição. Sim, tudo muda, a cultura é uma força viva. Meditemos.

O Papai Noel globalizado tem endereço certo: mora na Lapônia, cidade de Rovaniemi – Finlândia, onde mantém seu escritório e a suposta oficina. Ele tem uma equipe de anões ajudantes, recebe pedidos pelo correio: Santa Claus – FIN-96930 Arctic Circle – Rovaniemi – Finlândia e tem um site na internet: . Viaja em um trenó puxado por nove renas mágicas: a rena guia, cujo nariz vermelho brilha como uma lâmpada na escuridão, Rudolph [Rodolfo], Dasher [Corredora], Dancer [Dançarina], Prancer [Empinadora], Vixen [Raposa], Comet [Cometa] Cupid [Cupido], Donner [Trovão] e Blitzen [Relâmpago]. Estas renas foram acrescentadas ao mito do Papai Noel no século XIX.
Outro elemento mágico da lenda, diz que o personagem, à semelhança de um vampiro [!?] pode entrar em qualquer residência, ainda que esta  não tenha chaminé: ele se transubstancia em fumaça e pode passar por qualquer fresta ou buraco de fechadura [com saco e tudo!]Mas os presentes do velho Noel não são para todos: somente aqueles que, durante o ano, foram “bons meninos e meninas” ganham. E não adianta tentar mentir ou abafar o caso sobre sua má conduta. O Papai Noel tem um telescópio e espiões encantados espalhados em todo lugar. [Esse Papai Noel devia trabalhar na polícia!]

Nome do Papai Noel em várias línguas

Alemanha: Nikolaus (ou Weihnachtsmann – literalmente, “homem do Natal”)
Brasil: Papai Noel [Noel significa Natividade/Natal em francês]
Chile: Viejito Pascuero
Costa Rica: Colacho
Cuba e Republica Dominicana: Santa Claus, pronunciado como Santi Clo
Dinamarca: Julemanden
El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicaragua y México: Santa Claus (no México se pronuncia Santaclós)
Espanha, Argentina, Colômbia, Paraguai , Peru e Uruguai: Papá Noel
Estados Unidos: Santa Claus
Finlândia: Joulupukki
França: Père Noël
Hungria: Télapó
Inglaterra: Father Christmas
Itália: Babbo Natale
Islandia: Jólasveinn
Macedónio: Dedo Mraz
Noruega: Julenissen (literalmente “Duende da Natividade”)
Países Baixos: Kerstman (literalmente, “homem do Natal”) ou Sinterklaas
Panamá: Santa Claus.
Portugal: Pai Natal
Porto Rico: Santa Claus (pronunciado como Santa Clo’)
República Dominicana: Santa Claus (pronunciado como Santa Clo ou, às vezes, Santi Clo)
Romênia: Moş Crăciun
Rússia: Ded Moroz [Avô do Frio, ou do Inverno]
Suécia: Jultomte
Venezuela: San Nicolás o Santa Claus (pronunciado como “Santa clos”)
Costa Rica: Colacho

por Ligia Cabús

Postagem original feita no https://mortesubita.net/paganismo/a-verdadeira-historia-do-papai-noel/

O Lobisomem no Folclore Brasileiro

Shirlei Massapust

Nunca vi rastro de cobra
Nem couro de lobisomem
Se correr o bicho pega
Se ficar o bicho come
~ Ney Matogrosso, Homem com H.

Doente de amor

Como se cura um Lobisomem? Na maior parte dos filmes importados, somente uma bala de prata no coração poderá eliminar o problema. Porém, no folclore brasileiro, há mais de uma forma de tratar o fado sem sacrificar o homem.

No livro Estórias e Lendas do Brasil o poeta Décio Gonçalves transcreveu relatos compilados pelo palhaço Arrelia durante uma excussão, junto a várias crianças, que tinha por objetivo ensiná-las sobre o folclore e costumes das diversas regiões do Brasil.

Na parte final, o grupo chega a uma fazenda no interior do Estado de São Paulo onde um empregado, Nhô Zico, assegura que existe um modo de desencantar um lobisomem: Na hora em que o dito começa a se transformar novamente em homem – coisa que só acontece no cemitério, na madrugada de sexta feira – a rapariga que o ama deve espetá-lo com o espinho de uma laranjeira que tenha sido plantada numa sexta-feira à meia noite.[1] Durante o tempo que viver o desencantador, ele não mais se transformará em bicho.[2]

A escolha desta planta para o desencantamento traduz curiosa metáfora das núpcias, pois, tanto em Portugal quanto no Brasil, a noiva tecia sua grinalda com flores de laranjeira para usar no dia do casamento.

Em Assombrações do Recife Velho (1955), Gilberto Freyre descreve outra forma de cura:

Também se diz, no Recife, do lobisomem, que chupa sangue: Sangue de moça e sangue de menino. Sangue de moça bonita e sangue de menininho cor de rosa. (…) Em Berberibe, contam os antigos que há muitos anos houve um lobisomem assim, velhote de família conhecida e famoso pelo perfil nobremente aquilino. Família aparentada com a de um presidente da República e com mais de um barão do tempo do Império. (…) Era o velhote branco como um fantasma inglês que nunca tivesse visto o sol do Brasil. (…) Sua brancura dava nojo. (…) Vinha espojar-se nas areias do Salgadinho e até nas lamas de Tacaruna. (…) Desse lobisomem se conta que se curou mamando leite de mulher. Leite de cabra-mulher. Uma mulata de peito em bico e de filho novo teria sido seu remédio. Montou o velhote casa para a cabra-mulher que lhe dava leite de peito como a um filho. O homem foi ganhando cor até deixar de correr o fado. Branco exagerado não deixou de ser nunca. Mas perdeu o ar de chuchado de bruxa e os traços do seu rosto dizem que voltaram a ser os de brasileiro fidalgo e bom. Tudo graças ao leite da mulata mamado no próprio peito da mulher de cor.[3]

Em obra datada de 1956, Viriato Padilha narra a estória de seu camarada, Cândido, colega de Juca Bembém, residente de Iguassu ou Itaguaí, que testou com sucesso uma fórmula mais agressiva para desencantar certo Joaquim Pacheco, um dos sete filhos varões do velho Pacheco, negociante de secos e molhados em Maripicu. Em sua concepção o lobisomem é “o dízimo do Diabo”. Se uma mulher tiver sete filhos machos “pode ter certeza que um deles vira lobisomem”. E, sendo sete meninas, uma, mais cedo ou mais tarde, vira Bruxa.[4] Cândido sempre trazia no pescoço “uma oração que é mesmo um porrete bendito para tudo quanto é coisa má”.[5] Mas Juca Bembém foi mais corajoso e enfrentou o bicho na luta corporal. “É crença geral que fazendo-se sangue na pessoa, quando ela se acha transformada nesse animal fantástico, o Diabo vem lamber o sangue, considera-se pago do seu dízimo, e a pessoa isenta-se do seu sombrio fadário[6]”.

Fios no dente

Apesar do aspecto amarelo pálido, Joaquim Pacheco “era um rapaz sem defeitos e com um começo de fortuna[7]”. Casou-se num sábado com Cecília, filha de Basílio Moura. Ela estranhou o fato do esposo sair toda sexta feira, à meia noite, e retornar muito alterado em fisionomia e modos.[8] Cecília o seguiu, testemunhou a transformação, deixou escapar um grito e ele a perseguiu:

Era noite de lua cheia e tudo estava claro. (…) Dez minutos durou a perseguição, e de uma vez o porco chegou a deitar-lhe os dentes no roupão de lã que se rompeu com o esforço empregado pela moça. Afinal dona Cecília, sem afrouxar a carreira, chegou à beira de um regato que atravessava o caminho e o transpôs de um salto. O mostro ia-lhe ainda ao encalço, mas ao ver a água estacou e retrocedeu, sempre batendo os dentes.[9]

No dia seguinte o sogro encontrou fiapos do roupão de lã cinzenta da sua filha nos dentes do genro lobisomem. Fiapos de pano constituem a prova clássica fartamente repetida no folclore brasileiro. Por exemplo, Nhô Zico narrou igualmente ao palhaço Arrelia sobre como uma jovem da região descobriu que o segredo do namorado:

Imaginem a surpresa da moça quando um bicho enorme saiu do mato, os dentes arreganhados que dava medo. Embora a Ritinha nunca tivesse visto aquilo, não teve dúvida: Era um lobisomem. Quis fugir, mas o bicho mordeu-lhe o braço. Sorte que pegou somente o pano da sua blusa vermelha. O pano rasgou, e a Ritinha conseguiu fugir. (…) No dia seguinte (…) a moça havia notado um fio de sua blusa entre os dentes do Arlindo.[10]

Parece que os lobisomens nunca acertam o alvo e não escovam os dentes! O sogro de Joaquim Pacheco enviou Juca Bembém para tomar providências. Quando o penitente se transformou novamente ele recebeu um golpe na orelha e foi curado, mas não gostou de ter uma parte do corpo amputada. Ao invés de agradecer Joaquim voltou com uma espingarda carregada, disparou contra seu benfeitor e fugiu para os sertões de Minas ou de Goiás. O imóvel onde residia permaneceu abandonado, sendo apelidado de “Casa do Lobisomem[11]”. Anos depois Viriato Padilha se admirou ao “ver em tal estado de abandono uma morada que parecia oferecer regular conforto, quando miseráveis palhoças, esburacadas e mal cobertas, achavam-se atulhadas de gente[12]”.

A proteção da Rainha do Mar

A sugestão da atividade sexual aparece na famosa música de Zé Ramalho, Mistérios da Meia Noite, em cujo enredo, ambientado nos “impérios de um lobisomem”, uma menina desamparada se entrega ao seu amor, “seu professor”, porque não quis ficar como os beatos… Os escravos e seus descendentes temiam os brancos a ponto de imaginar que uns e outros eram inumanos. Outro relato compilado por Gilberto Freyre foi narrado por volta de 1930, por uma negra idosa chamada Josefina Minha-Fé, atacada por “um lobisomem doutor” no Poço da Panela, numa noite escura e chuvosa de Sexta-feira.

Josefina era então negrota gorda e redonda de seus 13 anos. E não se chamava ainda Minha-Fé. Ao contrário: Havia quem a chamasse “Meu Amor” e até “Meus Pecados” — Josefina Meus Pecados — arranhando com a malícia das palavras sua virgindade de moleca de mucambo. E quem assim a chamava não se pense que era homem à toa, porém mais de um doutor. (…) Lobisomem era assombração. E assombração parecia a Josefina, já menina moça, conversa de negra velha e feia, de que negra nova e bonita não devia fazer caso. (…) Seguia assim Josefina para a venda, quase sem medo de lobisomem nem de fantasma, quando, no meio do caminho, sentiu de repente que junto dela parava um não-sei-quê alvacento ou amarelento, levantando areia e espadanando terra; um não-sei-quê horrível; alguma coisa de que não pode ver a forma; nem se tinha olhos de gente ou de bicho. Só viu que era uma mancha amarelenta; que fedia; que começava a se agarrar como um grude nojento ao seu corpo. Mas um grude com dentes duros e pontudos de lobo. Um lobo com a gula de comer viva e nua a meninota inteira depois de estraçalhar-lhe o vestido. (…) Ela gritava de desespero. (…) O que salvou Josefina foi ter gritado pela Senhora da Saúde, da qual o lobisomem, amarelo de todas as doenças e podre de todas as mazelas, tinha mais medo do que do próprio Nosso Senhor. Aos gritos da negrota, acudiram os homens que estavam à porta da venda. Inclusive, o português que, não acreditava em bruxas, passou a acreditar em lobisomem. A negra foi encontrada com o vestido azul-celeste em pedaços. Metade do corpo de fora. Os peitos de menina-moça arranhados.[13]

A mãe de Josefina era escrava dos Baltar. Foi ela quem encontrou pedaços do vestido azul da filha enquanto lavava a roupa de um doutor de “cartola, croisé, pince-nez e rubi no dedo magro” que “dizia ter mais raiva de negro do que de macaco”. O doutor era tão branco que chegava a ser pálido “de um amarelo de cadáver velho[14]”. Vivia tomando “remédio de botica e remédio do mato, feito por mandingueiro ou caboclo” para ganhar sangue e cor de gente viva.[15] Uma vez identificado, o bacharel pálido tornou-se o terror da gente pobre, moradora nos mucamos daquelas margens do Capibaribe. Mesmo admitindo não haver visto quem atentou contra seu pudor no escuro, Josefina confia e confirma as descrições das lendas onde o lobisomem é um pecador terrível que saí a correr pelos matos, pelos caminhos desertos, pelos ermos: “Tomava forma de cão danado, mas tinha alguma coisa de porco. Toda noite de Sexta-feira estava (…) cumprindo seu fado nas encruzilhadas. Espojando-se na areia, na lama, no monturo. Correndo como um desesperado. Atacando com o furor dos danados a mulher, o menino e mesmo o homem que encontrasse sozinho e incauto, em lugar deserto[16]”.

Chafurdando na lama

É comum dizer-se que o mito do lobisomem chegou ao Brasil trazido da Europa pelos colonizadores portugueses, pois não há lobos em nosso país. Porém o mito naturalizou-se de tal forma que acabou transmutado numa coisa à parte. Todo lobisomem brasileiro apresenta a mesma palidez amarelada de um enfermo de ancilostomíase. Por isso ele também é chamado pelo nome popular da doença “amarelão”. Somente aqui é possível curar um lobisomem fornecendo uma mulher para lhe exaurir o ímpeto sexual enquanto ele possuir forma humana. Em nenhum outro lugar a besta precisará rasgar todas as roupas de cor azul antes de fazer o que tem de fazer caso a vítima grite pelo nome de Iemanjá. Conforme conceituado por N. A. Molina, lobisomens “são homens que à meia noite das sextas-feiras se transformam em lobos e saem à procura de gente para sugar-lhe o sangue”, com ou sem lua cheia.[17] Nhô Zico complementa:

Quando é sexta-feira, à meia-noite, ele procura uma encruzilhada, atira-se ao chão e começa a rolar na poeira. Logo se transforma em lobisomem. (…) Faz lembrar um enorme cachorro e tem as unhas muito grandes. (…) Como ele precisa de sangue, depois que se transforma em lobisomem anda a cata de algum leitãozinho, cachorro novo e até criança de colo. Em último caso ataca mesmo gente grande. Antes de amanhecer, o lobisomem sempre procura um cemitério e lá consegue voltar à forma humana.[18]

Se houvesse espaço geográfico disponível “o encantado corria sete freguesias, e das sete os cemitérios delas, em igual número, quando encantado estava, de noite. Antes do amanhecer retornava ao ponto de partida onde, de novo, virava gente[19]”. A necessidade de chafurdar na lama é outra peculiaridade do folclore brasileiro. De acordo com a tese defendida pela professora Maria do Rosário de Souza Tavares de Lima perante a banca examinadora na Escola de Folclore de São Paulo, antes de assumir a forma de animal “o condenado chafurda num lugar sujo, como um chiqueiro ou o chão de um galinheiro[20]”. Na narrativa de Viriato Padilha, por exemplo, quando Cecília Pacheco seguiu o marido até o chiqueiro ela testemunhou coisa extraordinária:

Dirigiu-se lento, cabisbaixo e muito triste na direção de um telheiro onde dormiam os porcos; e ao aproximar-se dele começou a emitir os singulares grunhidos que tanto haviam apavorado a moça. (…) Sempre grunhindo, Quincas Pacheco aproximou-se do telheiro e os porcos ao pressentirem-no levantaram-se e fugiram. Então Quincas Pacheco tirou a roupa, e atirando-se na poeira que servia de leito aos bacorinhos, espojou-se durante longo tempo, sempre grunhindo ferozmente. (…) Viu Quincas Pacheco erguer-se, não sob a figura humana, porém sim transformado em um grande porco, de cerdas eriçadas e presas salientes, o qual pôs-se logo de pé e começou a bater os dentes e a abanar as orelhas de uma maneira horrível! Os olhos dessa coisa monstruosa luziam como brasas, a dentição branca, cerrada e pontiaguda destacava-se no negrume dos pêlos.[21]

Pormenores específicos parecem análogos àqueles de criaturas similares de outras partes do planeta, como o Witiko ou Wendigo de origem algonquiana (povo índio da América do Norte), que é um índio canibal transformado em ente fabuloso. “O Witiko não usa roupas. (…) Tem o hábito de se coçar, como os animais, contra os abetos e outras coníferas resinosas. Depois de coberto de resina e de goma, rola na areia[22]”. Um hábito similar é atribuído aos Chenoo de Passamaquoddy, que se esfregam inteiramente com resina odorífera de pinheiro para em seguida rolar sobre o solo, de tal forma que tudo se adere a seu corpo. “Este hábito faz pensar fortemente nas armaduras de pedra dos Iroqueses, gigantes canibais sedentos de sangue, que se cobriam diligentemente com breu e rolavam em seguida na areia ou nas encostas das dunas[23]”.

Impossível não lembrar do oneroso banho de lama em fontes termais incorporado aos costumes dos brancos ricos de todo o mundo desde que o pioneiro Samuel Brannan, na época da corrida do ouro, mergulhou nos ancestrais banhos de lama da tribo Wappo:

Hoje muitos dos melhores spas oferecem o serviço de banhos de lama em luxuosas banheiras para esfoliar e rejuvenescer a pele… Mas na falta da lama limpa destas termas especiais o lobisomem rola sobre a areia da praia, lama comum, poeira de estrada, esterco ou qualquer outra coisa capaz de formar uma crosta sobre seu corpo, dificultando o reconhecimento por parte dos transeuntes que eventualmente o vejam andando nu.

Curioso notar que o sujeito será chamado de lobisomem (macho), mulher lobo (fêmea) ou lobanil (macho ou fêmea) mesmo que se transforme num porco ou num monstro de forma híbrida indefinida. Não existe consenso sobre como surge o lobisomem. Geralmente ele é o sétimo filho homem nascido após seis meninas ou seis outros meninos. “O lobisomem é o sétimo filho de um casal: O caçula[24]”. Mas há variantes dessa superstição onde ele pode ser qualquer um dos sete filhos varões e não necessariamente o último a nascer.[25] Outra versão assegura que “se uma família tiver 13 filhos, todos homens, o último será lobisomem, e sairá de casa todas as sexta feiras à meia-noite[26]”. Segundo a folclorista Maria do Rosário, “homens chamado Bento ou Custódio, batizados pelo irmão mais velho, seriam os mais sérios candidatos à maldição[27]”.

Nos romances gráficos do gênero terror quem é mordido por um lobisomem sempre vira lobisomem. Para melhor explicar isto ele é normalmente um monstro hematófago, como um vampiro, pois se fosse carnívoro e devorasse a vítima não sobraria muita coisa para converter em novo monstro… No romance O Coronel e o Lobisomem (1964) de José Cândido de Carvalho o personagem principal, coronel Ponciano de Azeredo Furtado, resolve contar histórias de assombrações para meter medo em seu amigo Juca Azeredo:

Desencovei um livro de São Cipriano que vivia amedrontado no fundo do gavetão dos meus charutos. (…) Puxei o lobisomem do livro de São Cipriano para dentro dos ouvidos dele. Uma assombração danada de um cristão lidar com ela. Uivava de cortar o coração mais de pedra. Digo que fiz chicana de doutor velho, pois não segui tintim por tintim o que a letra de forma estipulava. Pulei, misturei, inventei em favor do lobisomem maldade de arrepiar. Juquinha amarelou e no fundo da cadeira mais parecia um rato assustado. E eu no serviço do mal-assombrado. Quando, lá para as tantas, fiz a apresentação do amaldiçoado em tamanho natural, olho em brasa e dente cerrado, o parceiro Juquinha não agüentou. Pregou na testa o sinal-da-cruz e mergulhou o corpanzil no corredor.[28]

Ponciano continou a fazer chacota do “tal lobisomem do livro de São Cipriano” até a besta aparecer numa noite de sexta feira para tirar vingança do coronel trocista que, apesar de tudo, saiu vitorioso da luta corporal… O que pouca gente sabe é que, ironicamente, o livro verdadeiro citado neste texto fictício repreende a credulidade excessiva, informando que “há lugares onde se fala tão-só da existência de bichos, como se a menção da palavra lobisomem fosse bastante para delimitar o aparecimento de um. Alias, é crença muito espalhada entre camponeses que não se deve chamar as doenças nem o demônio pelo nome certo, pois aquele que pronunciar o nome de uma doença poderá contraí-la e aquele que pronunciar o nome do diabo está convidando-o a aparecer para fazer das suas. Daí o recorrem os campônios a várias palavras para indicar o diabo e as doenças, contanto que não digam o nome correto. Aplica-se o mesmo raciocínio para o lobisomem, e talvez para outras entidades[29]”.

Qual a causa remota do fado?

Se o lobisomem é um penitente ele paga promessa ou purga exatamente o que? Não pode ser algum pecado cometido em vida posto que antes de nascer o sétimo filho já estava condenado. Tampouco tratar-se-ia de maldição hereditária visto que os pais do lobisomem não são necessariamente lobisomens! Herbnerto Sales solucionou o mistério num engenhoso conto onde a personagem D.ª Aninha vê frustrada sua pretensão de ter um filho homem. Embora seja uma católica praticante, deus não atendeu suas preces, pondo em risco a continuidade do sobrenome da família sem um herdeiro varão. Após conceber sete meninas indesejáveis a matriarca resolve ter esse filho “nem que seja com a ajuda do Diabo[30]”. Consultou Honorina, uma negra velha que jogava búzios, e escutou que o próximo rebento a nascer seria filho homem, mas teria de cumprir um fado, “que é o fado de todo filho homem nascido depois de sete filhas[31]”.

Homem-bicho, bicho-homem, lobisomem. (…) Quando o menino completasse 13 anos, o fado ia se cumprir. Era um encanto, que estava nas mãos da mãe quebrar, tirando sangue do encantado, pelo meio que ela quisesse ou pudesse, na hora. Vigiasse na Quaresma, de Sexta para Sábado, e preparada ficasse; ela, a mãe, melhor que ninguém, embora qualquer pessoa pudesse fazer a mesma coisa. Com faca, ou pau (…), ou mesmo com um simples alfinete, enfim: Com o que pudesse servir para tirar sangue do encantado, sem risco de morte, na hora do encanto.[32]

O menino cresceu perrengue, amarelo e tristonho. “Era aquela cor de opilado”. Não havia mezinha ou remédio que o animasse. Acabou se transformando às doze badaladas da meia-noite numa sexta feira após a data marcada.

[D.ª Aninha] viu o vulto do filho sair pela janela do quarto e vir andando, meio agachado, até o lugar onde o jumento se espojara. (…) O filho chegou a tirar a roupa; e quando ela pensou que ele ia ficar assim nu, como tinha nascido, ele vestiu de novo a roupa, pelo avesso. Depois, se deitou no chão, bem na espojadura do jumento, e começou a se espojar, igualzinho ao dito animal (…) rolando para cá e para lá, na areia. (…) O filho ela não mais viu, naquele lugar; mas um bicho, menor que um bezerro e maior que um cachorro, os dois misturados no feitio, animal esquisito e orelhudo. Um sopro ela ouviu, que nem de fole, mas sendo de bicho resfolegando, continuado e feroz. (…) E assim, no assopro, saiu o filho andando, de quatro, em bicho já transformado.[33]

Mãe e filho travaram luta corporal até ela conseguir sangrá-lo enfiando um espeto de pau “na altura da perna direita do bicho” e, assim, curá-lo do fadário ao qual ela mesma deu causa ao solicitar auxílio das artes negras para a concepção de um herdeiro varão. “Mal o sangue saiu, escorrendo perna abaixo, o dito bicho, com um gemido, estrebuchou-se, rápido e todo, como para tirar de cima de si uma coisa incômoda, um peso. E lobisomem já não sendo, por efeito do sangue derramado, tornou a virar gente, de novo feito em filho, tal e qual como era em antes[34]”.

Um mito em mutação

A arte nacional soube aproveitar o mito. No filme Quem Tem Medo de Lobisomem? (1974) os personagens confundem o lobisomem com um vampiro e, a partir de então, muitos romances gráficos desenvolveram a mesma idéia. Dentre os maiores sucessos gravados por Ney Matogrosso consta as músicas O Vira (composta por João Ricardo, em 1973) e Homem com H (de Antônio Barros, 1981), contendo menções ao lobisomem.

A busca pelo lobisomem que assustava os habitantes da fictícia cidade de Asa Branca, ao som da música Mistérios da Meia Noite, de Zé Ramalho, foi uma das atrações da telenovela Roque Santeiro; escrita por Dias Gomes e Aguinaldo Silva, produzida e exibida pela Rede Globo de 24 de junho de 1985 a 22 de fevereiro de 1986. No último capítulo a identificação e transformação do professor Astromar Junqueira (Ruy Resende) marcou o pico de audiência do horário nobre. Posteriormente o ator Ruy Resende lançou o livro Um Lobisomem Passado a Limpo, narrando sua experiência na novela. (Atualmente o pastor Jorge Val, dito ex ialorixá e babalorixá Jorge de Oxossi, tem incluído em seu testemunho durante as pregações a afirmação de haver interpretado o lobisomem na novela Roque Santeiro, na qualidade de duble, sem apresentar nenhum meio de prova).

Em 2009, o ator Paulo Silvino criou e interpretou o personagem Lobichomem para um quadro semanal no programa de comédia Zorra Total, exibido na Rede Globo. Sempre que consegue conquistar uma linda mulher o machão vê a lua cheia, sente “aquela coceirinha particular” e se transforma num lobisomem gay sedento por carne masculina. Quando volta ao normal percebe que sua mulher fugiu e não entende o que aconteceu, pois ele não se lembra de nada.

Com a proclamação da república e subseqüente ascensão dos partidos políticos populistas as famílias nobres praticamente deixaram de existir. Enquanto isso os vampiros e lobisomens da ficção e folclore foram empobrecendo vez mais. Em 1989 a antropóloga Sheila Maria Doula defendeu a tese A Metamorfose do Humano em seu trabalho de pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP), onde tenta mostrar que os lobisomens de hoje são representados por seres humanos desajustados:

O novo lobisomem continua vivo, mas não é mais o mesmo, afirma Sheila. O lobisomem de agora, além de ser uma pessoa desajustada, está ausente da comunidade, não tem família, trabalho nem moradia. É pouco sociável e sofre de uma profunda apatia e indisposição. A cor amarelada e os olhos profundos talvez sejam os únicos vestígios que restam do lobisomem de outrora. Os lobisomens do século 20 percorrem as ruas das cidades mendigando um pedaço de pão.[35]

As lendas falam em outras características, como magreza, palidez, tristeza, orelhas grandes, nariz levantado.[36] Muitos homens possuem bastante cabelo no corpo. (Desde que o peludo ator Tony Ramos começou a atuar, seu nome passou a ser citado como exemplo de forma cômica quase sempre quando o assunto é lobisomem). As pessoas mais visadas são as que moram sozinhas, evitam o contato humano, mostram sinais de problemas mentais e tem pouco cuidado com a aparência pessoal.

Atitudes como deixar as unhas crescerem e desprezar cuidados corporais pode fazer com que um indivíduo adquira uma aparência e um cheiro animalesco. Acresça o habito de andar sorrateiramente pelo matagal ou cemitério, um temperamento agressivo, etc., e semelhante figura assustará mesmo quem nunca acreditou em lobisomem!

 Notas:

[1] RIBEIRO, Gonçalves. Estórias e Lendas do Brasil. Brasil, Formar, década de 70, Vol 5, p 36.

[2] RIBEIRO, Gonçalves. Obra citada, p 26.

[3] FREYRE, Gilberto. Assombrações do Recife Velho. Rio de Janeiro, Record, 1974, p 104-105.

[4] PADILHA, Viriato. O Livro dos Fantasmas. Rio de Janeiro, Spiker, 1956, p 45.

[5] PADILHA, Viriato. Obra citada, p 45.

[6] PADILHA, Viriato. Obra citada, p 54.

[7] PADILHA, Viriato. Obra citada, p 46.

[8] PADILHA, Viriato. Obra citada, p 47.

[9] PADILHA, Viriato. Obra citada, p 50-51.

[10] RIBEIRO, Gonçalves. Obra citada, p 33.

[11] PADILHA, Viriato. Obra citada, p 45.

[12] PADILHA, Viriato. Obra citada, p 43.

[13] FREYRE, Gilberto. Obra citada, p 48-50.

[14] FREYRE, Gilberto. Obra citada, p 51.

[15] FREYRE, Gilberto. Obra citada, p 51.

[16] FREYRE, Gilberto. Obra citada, p 48.

[17] MOLINA, N. A. Antigo Livro de São Cipriano: O Gigante e Verdadeiro Capa de Aço. Rio de Janeiro, Editora Espiritualista, p 216.

[18] RIBEIRO, Gonçalves. Obra citada, p 26.

[19] SALES, Herberto. O Lobisomem. Rio de Janeiro, Edições de Ouro, p 21.

[20] GOLDEFEDER, Sônia e LEITE, Mário. Pobres Vampiros. Em: Globo Ciência, ano 4, nº 40. Rio de Janeiro, Globo, novembro de 1994, p 53.

[21] PADILHA, Viriato. Obra citada, p 50-51.

[22] GUINARD, Reverendo Joseph E. O Witiko entre os Cabeças-redondas. Em: Primitive Man, nº 3, 1930. Citado por: BERGIER, Jacques. O Livro do Inexplicável. Trad. Francisco de Souza. São Paulo, Hemus, 1973, p 150.

[23] COOPER, John M. A Psicose Cree do Witiko. Em: Primitive Man, nº 6, 1933. Citado por: BERGIER, Jacques. Obra citada, p 150-151.

[24] RIBEIRO, Gonçalves. Obra citada, p 26.

[25] PADILHA, Viriato. Obra citada, p 45.

[26] KLOETZEL, Kurt. O Que é superstição. São Paulo, Brasiliense, 1990, p 7.

[27] GOLDEFEDER, Sônia e LEITE, Mário. Pobres Vampiros. Em: Obra citada, p 53.

[28] CARVALHO, José Cândido de. O Coronel e o Lobisomem. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1983, p 38.

[29] MOLINA, N. A. Obra citada, p 217.

[30] SALES, Herberto. Obra citada, p 19.

[31] SALES, Herberto. Obra citada, p 19.

[32] SALES, Herberto. Obra citada, p 20-21.

[33] SALES, Herberto. Obra citada, p 24.

[34] SALES, Herberto. Obra citada, p 25.

[35] LOBISOMEM: AINDA EXISTE? Em: FERREIRA, Fernando Mendes (editor). Axé. Brasil, Ninja, 1989, nº 1, p 38-39.

[36] GOLDEFEDER, Sônia e LEITE, Mário. Pobres Vampiros. Em: Obra citada, p 53.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/o-lobisomem-no-folclore-brasileiro/

O Diabo que Caminha

Na manhã do dia 16 de fevereiro de 1855, os moradores de londres leram no jornal The Times of London a seguinte materia:

“Uma grande comoção foi causada nas cidades de Topsham, Lympstone, Exmouth, Teignmouth e Dawlish, ao sul de Devon, por causa da descoberta de um vasto número de pegadas estranhas e misteriosas. Os superticiosos chegam ao ponto de crer que são as pegadas de Satã em pessoa; e a grande comoção causada nas pessoas de todas as classes pode ser julgada pelo fato do assunto ter chegado aos púlpitos locais.

Parece que na noite de quinta-feira houve uma grande nevasca na região de Exeter e no sul de Devon. Na manhã seguinte os habitants dessas cidades foram surpreendidos pela descoberta de rastros de um animal estranho e misterioso, embuído da capacidade de onipresença, já que as pegadas foram encontradas em muitos lugares inacessíveis – no telhado de casas, no alto de muros muito estreitos, em jardins e praças cercados por paredes e muros altos ou cercas fechadas assim como em campo aberto. Era raro um jardim em Lympstone onde as pegadas não estivessem presentes.

A julgar pelas trilhas, elas teriam sido causadas mais provavelmente por um animal bípede e não quadrúpede e o espaçamento entre os passos era de aproximadamente 20 centímetros. As impressões das pegadas se assemelhavam muito às das ferraduras de um jumento e mediam de 4 a 5 centímetros de uma ponta a outra. Aqui e ali elas tomavam a aparência de cascos fendidos, mas na sua maioria a forma de ferradura era constante e, pela neve acumulada no centro, apenas mostrando os contornos exteriores, as pegadas eram côncavas.

A criatura parece ter se aproximado das portas de inúmeras casas e então ter se afastado, mas ninguém foi capaz de descobrir os pontos de partida ou chegada do visitante misterioso. No ultimo domingo o reverendo Mr. Musgrave citou o ocorrido em um de seus sermões, e sugeriu a possibilidade das pegadas terem sido causadas por um canguru; mas isso dificilmente seria o caso, já que foram encontradas de ambos os lados do estuário de Exe.

Até o momento o acontecido permanence um mistério, e muitas pessoas supersticiosas que habitam as cidades já citadas estão realmente com medo de sair de suas casas depois que escurece.”

Essa material comenta os fatos ocorridos na madrugada do dia 7 para o dia 8 de fevereiro daquele ano. Essa material, entretanto, não mostrava todos os detalhes que foram enviadas para os jornais, como o Illustrated London News, pelos habitants da região.

Os fatos como foram experienciados seguem:

Levantando-se na manhã do dia 8 de fevereiro de 1855, os habitants de uma vasta região do sul do condado de Devon, na Inglaterra, constataram que, sobre a neve que cobria o solo, entrecruzavam-se um número enorme de rastros estranhos, pequenos e assemelhando-se a cascos de um animal e de uma incrível multiplicidade. Havia, provavelmente, mais de 160 km de rastros.

Os desenhos a seguir são reproduzidos daqueles publicados no Illustrated London News, no dia 3 de março de 1855, página 214. As pegadas mediam cada uma cerca de 10 centímetros de comprimento, por 7 centímetros de largura e estavam regularmente separadas de 20 a 22 centímetros.

Quem as tinha feito? Surgiram todo tipo de explicações: de cangurus a passarinhos (sem deixar de lado o eventual alienígena de passagem por nosso planeta).

Existem alguns pontos relativos ao problema de identificação de quem ou o que deixou essas pegadas, que não foram suficientemente ressaltados nos relatos já publicados. Merecem atenção:

1- Se as pegadas forem atribuídas a um animal terrestre qualquer (e aqui incluímos os pássaros), o elemento mais difícil de explicar é a sua colocação fantástica: “O misterioso visitante passou de modo geral apenas uma vez em cada local e o fez em quase todas as casas de numerosas partes das diferentes cidades, assim como nos ranchos isolados. Essa pista regular, passando em certos casos por sobre os tetos das casas ou por sobre os palheiros, ou por sobre muros muito altos (um com cerca de 4 metros e meio de altura), sem deslocar a neve nem de um lado nem do outro e sem modificar as distâncias entre as pegadas, como se o obstáculo não fosse absolutamente incômodo. Os jardins cercados de sebes altas ou de muros e com portas fechadas foram visitados, assim como aqueles que não tinha obstáculos nem eram fechados.”

Um cientista afirmou ter seguido uma mesma pista através de um campo até um palheiro. A superfície deste palheiro estava totalmente virgem de qualquer marca mas, do lado oposto, numa direção correspondente exatamente à pista traçada até aquele ponto, as pegadas recomeçavam.

O mesmo fato foi observado de um lado e de outro de um muro. Dois outros habitantes da mesma coluna seguiram uma linha de pegadas durante três horas e meia, passando sob um bosque de groselheiras e de árvores frutíferas em renques; perdendo em seguida o rastro e reencontrando-o sobre o teto de casas nas quais sua busca haviam começado.

O artigo publicado no Illustrated London News, 24 de fevereiro de 1855, página 187, indica igualmente que as pegadas passavam por uma “abertura circular de 30 cm de diâmetro” e em um “dreno de 15cm”. As pegadas pareciam atravessar um estuário de quase 3,5 Km de largura (não existe documentação hoje sobre o rio para confirmar se sua superfície se encontrava congelada ou não).

De nada serve atribuir a mais de um animal estes rastros, porque isto não explica como, qualquer que seja o animal e qualquer que seja seu número, possa “passar pelos muros” ou subir aos tetos como se eles não oferecessem nenhum obstáculo; e, também, ter capacidade de passar por pequenas valas de 30 cm de largura. É igualmente digno de nota que os rastros não pareciam voltar para trás e nem circular aleatoriamente.

2- Muitas pessoas que se interessaram pelo caso, propuseram como solução para o mistério um fenômeno natural da atmosfera sobre as marcas – que seriam rastros não tão fantásticos, que devido ao clima teriam mudado e ficado com aquela aparência, mas como seria possível que a atmosfera afetasse uma marca e não a outra? Na manhã em que elas foram observadas, a neve apresentava pegadas frescas de cães e gatos, coelhos, pássaros e homens, nitidamente definidas. Por que então um rastro ainda mais nitidamente definido – tão nitidamente que a fenda do meio de cada casco podia ser dicernida – por que então este traço em particular seria, somente ele, afetado pela atmosfera e todas as outras marcas deixadas como eram? Ademais, a circunstância mais singular levantada a esse respeito era a de, onde quer que aparecesse essa marca, a neve estava completamente revolta, como se tivesse sido talhada com diamante ou marcada com ferro quente, como se a neve tivesse sido tirada, e não pisada.

Em um caso, esta pista entrou num celeiro coberto onde a atmosfera não podia afetá-la e atravessou saindo por uma brecha na parede oposta. O autor desses registros (no mesmo artigo no Illustrated London News) passou cinco meses de inverno nas florestas do interior do Canadá e tem uma longa experiência em rastros de animais e de pássaros sobre a neve. Ele assegurou que “jamais viu uma pista tão nitidamente definida e nem uma pista que parecesse tão pouco afetada pela atmosfera”.

Estas circunstâncias são desconcertantes; os rastros são feitos por pressão e mostram sinais nítidos de compressão na neve que envolve cada pegada. Mas se elas são feitas por revolvimento da neve, como explicar esse fato?

3- Um outro pormenor, notado por Charles Fort, mas que não foi encontrado em nenhuma outro lugar, é que segundo uma descrição (se bem que feita 35 anos após o acontecimento), as pegadas do condado de Devon alternavam-se por “intervalos enormes, mas regulares, que pareciam ser marcas da ponta de um bastão” (O Livro dos Danados, capítulo 28). O que isso pode significar permanence extremamente problemático.

4- Charles Fort, Rupert T. Gould, Bernard Heuvelmans e Eric Franck Russel mencionaram descrições curiosamente similares provenientes de regiões muito afastadas geograficamente. Segue a lista dos incidentes relatados:

– Escócia, 1839-1840 (London Times, 14 de marco de 1840)

– Ilha Kerguelen, Oceano Índico 1840 (Viagem de descoberta e pesquisa dos mares do Sul e Oceano Antártico, Cap. Sir James Clark Ross)

– Polônia perto de 1855 (Illustrated London News, 17 de março 1855)

– Bélgica, 1945

– Brasil, data anterior a 1954

Os autores se referem a casos que podem ser ou não pertinentes. Um deles diz: “Após o sismo de 15 de julho de 1757, nas praias de Penzance, na Cornualha, numa zona de uma centena de metros quadrados, foram encontrados vestígios semelhantes a de cascos, salvo que estes não eram em crescente” (notar a proximidade do condado de Devon. Os vestígios do Brasil não eram em forma de crescente – esses rastros foram atribuídos à criatura conhecida como pé de garrafa). Uma menção, ainda mais obscura, diz respeito a um extrato dos anais chineses que se relaciona com o caso do condado de Devon: “Da corte de um palácio […] habitants do palácio, levantando-se uma manhã, encontraram o patio marcado com rastros, parecendo pegadas de um boi […] supuseram que o demonio os tivesse feito”. Convém notar que alguns desses depoimentos não falam de neve, mas de rastros encontrados na areia ou na lama.

O Diabo Passeia Novamente

Em 1957 o To Morrow publicou um caso sob o título de “O Diabo passeia novamente?”

O artigo estava assinado por Eric. J. Dingwall, o erudito autor ingles, que foi um dos colaboradores do Dr. Alfred Kinsey, bem conhecido por seus trabalhos antropológicos e suas pesquisas sexopsicológicas. “Entre todas as histórias estranhas que ouvi, escreve o Dr. Dingwall, esta foi uma das mais esquisitas e inexplicáveis.”

A história foi contada por um tal “Sr. Wilson”. Inglês de nascimento, Wilson veio rapazola para a América e prosperous em seus negócios em Nova York. Na quebra da Bolsa, perdeu muito dinheiro. Retornou para a Inglaterra onde se instalou em um vilarejo e montou, em pouco tempo, um bom negócio comercial.

Um dia, numa revista britânica, leu um artigo sobre “os rastros do Diabo”, em 1855, em Devon. Como o nome do Dr. Dingwall foi mencionado no artigo, Wilson escreveu-lhe uma carta. Até então ele estava tão dominado por sua aventura, que havia contado somente a três amigos de confiança.

O Dr. Dingwal visitou Wilson para uma entrevista. Wilson apareceu-lhe como um homem de alta estatura, solidamente constituído, de espírito prático. Não era “evidentemente um sonhador que imaginasse histórias inacreditáveis”.

Conta Wilson que, em outubro de 1950, ele decidira tirar ferias numa pequena cidade da costa oeste de Devon, onde passara a juventude. No ultimo dia de sua permanência, foi ver a antiga casa de sua família e a praia onde havia brincado quando criança. Esta praia era inteiramente orlada de falésias abruptas. Penetra-se nela por uma passagem estreita entre sob dois rochedos, cuja entrada é barrada por uma alta grade de ferro. No verão, as pessoas que vão a esta praia pagam uma taxa para entrar na caverna. Mas naquela tarde triste de outono a grade já estava fechada para o inverno.

A casa da infância do Sr. Wilson estava próxima. Lembrou-se que seria possível chegar até à praia passando pelo jardim, utilizando uma outra passagem. Tomou esse caminho e cedo se encontrava sobre a areia da praia deserta. O mar atingira a parte mais elevada da praia, porem quando ele chegou a mare era vazante, deixando a areia tão lisa como vidro. Foi então que Wilson fez sua apavorante descoberta.

Uma série de pegadas começava no alto da praia, bem abaixo de uma falésia vertical, e atravessava a praia em linha reta até o mar. Estavam extremamente nítidas “como se fossem esculpidas por um objeto cortante”. Espaçadas em cerca de 1,80m, elas pareciam ser os vestigios do casco de um bípede e assemelhando-se muito com o de uma forte pônei não-ferrado. Não eram fendidas e eram mais profundas que as pegadas feitas por Wilson, que pesava 80 quilos.

Um pormenor perturbou especialmente Wilson: a areia não havia sido “escavada”na borda das pegadas – “dir-se-ia que cada pegada havia sido recortada na areia com ferro quente”. Tentou compará-las com as suas, andando ao lado delas, depois tentou saltar de uma marca à outra, mas o passo era maior que o dele, ainda que fosse um homem de alta estatura e longas pernas. Não havia marcas regressando do mar e a estreita praia era limitada em cada extremo por pontas rochosas.

O Dr. Dingwal fez então algumas perguntas que ficaram sem resposta: Qual a criatura possível, terrestre ou marinha, capaz de deixar aquelas marcas? De que tamanho podia ser ela para possuir um passo tão longo? Se fosse animal marinho, por que teria cascos? Se fosse animal terrestre por que teria entrado no mar? Ou teria então asas?

O Sr. Wilson declarou que os rastros eram frescos e que a mare vazante estava justamente além da última pegada da pista. Que teria visto se chegasse um pouco antes? O Dr. Dingwal assinala que semelhantes sinais foram vistos em 1908, nos Estados Unidos, ao longo da costa de Nova Jersey, entre Newark e o cabo May. Elas foram atribuídas ao “Diabo de Jersey”. Ele acrescenta: “Existem ainda descrições de marcas como as do casco de um pônei na neve espessa e, também, as pegadas saltam cercas para depois continuarem do outro lado, mesmo quando as barreiras estavam a apenas polegadas umas das outras”.

O Dr. Dingwall conclui dizendo que quanto mais se fazem perguntas, mais o mistério se torna desconcertante.

Desta vez, um responsável

Em uma noite de Janeiro de 1909 E.P. Weeden acordou abruptamente quando ouviu alguém tentando arrombar a porta de sua casa. Ele fazia parte do concelho da cidade de Trenton, Nova Jersey, EUA. Assustado com o intruso ele correu para o andar de cima de sua casa para olhar o que estava acontecendo. Além do som das investidas contra a porta ele podia ouvir também o som de asas grandes batendo. Ao olhar pela sua janela ele não conseguiu ver o intruso, mas o que viu o apavorou: o que quer que fosse que tentava entrar em sua casa havia deixado um rastro na neve do telhado, e o que quer que a coisa alada fosse ela possuía cascos.

Na mesma noite, “aquilo” deixou pegadas na neve no Arsenal Estadual em Trenton, Nova Jersei. E logo depois John Hartman, na Center Street, conseguiu ver finalmente o responsável pelas pegadas circulando por seu quintal e então desaparecendo na noite. Os residentes de Trenton que viviam perto do rio Delaware foram assustados por sons altos, parecidos com o grito de um gato gigante, e ficaram em casa, com medo de sair para as ruas.

A diferença entre esse caso e os dois relatados anteriormente, é que desta vez a criatura responsável pelas pegadas misteriosas foi avistada, a semelhança é que novamente foram ligadas ao diabo.

O Diabo de Jersey, também conhecido como o Diabo Leeds (Leeds Devil), é uma criatura que muitos acreditam habitar a região de Pine Barrens ao sul de Nova Jersey. A criatura geralmente é descrita como um bípede voador, com cascos, mas além disso as descrições variam, como os seguintes registros mostram:

Russ Muits, Franklinville, NJ.

“Ele andava em suas patas traseiras e estava agaixado. As costas tinham pelo menos 1,20m de altura. Sua cor era cinza escuro, e os pêlos lembravam os de rato. Sua cauda parecia com a de um macaco e tinha pelo menos 60 centímetros de comprimento. Eu não consegui ver sua cabeça.”

Em 1909 surgem alguns avistamentos como o de George Snyder, em Moorestown, NJ. no dia 20 de janeiro.

“Ele tinha 90 centímetros de altura, pelos longos e escuros por todo o corpo, braços e mãos como as de um macaco, sua face lembrava a de um cão e possuia cascos fendidos, e uma causa com 30 centímetros de comprimento.”

E então Lewis Boeger, em Haddon Heights, NJ. no dia 21.

“No geral sua aparência lembra a de uma girafa… possui um pescoço longo, e a inpressão que tive ao vislumbrar a sua cabeça era a de traços horríveis. Ele possui asas de um bom tamanho, e no escuro, obviamente pareciam ser negras. Suas pernas são longas e de certa forma bem definidas e ficavam na mesma posição que as patas de um ganso quando ele voa… ele parecia ter 1,20m de altura.”

Apesar das descrições variarem, vários aspectos se mantém constantes, como o longo pescoço, as asas e os cascos. Muitos dizem que a criatura possui uma cabeça e cauda parecidas com a de um cavalo, sua altura varia de 90 cm a 2,10m, e claro muitos afirmam que a criatura possui olhos vermelhos que brilham e são capazes de paralizar um homem. Além disso ela solta gritos agudos, que parecem gritos de queixa como se algo a machucasse.

 

Origens da Lenda

Existem muitas origens possíveis para a lenda do Diabo de Jersey. As mais antigas vem do folclore nativo americano. As tribos Lenni Lenape sempre se referiram à área que cerca Pine Barrens como “Popuessenig”, que significa o “Lugar do Dragão”, mais tarde exploradores suecos batizaram a região com o nome de Drake Kill, Drake sendo a palavra sueca para dragão, e kill significando canal ou braço de água (rio, córrego, etc.).

Curiosamente, as histórias nativas que existiam foram substituídas por uma que se tornou muito popular entre os americanos ligando o Diabo com uma figura histórica conhecida como Mãe Leeds, e ela segue da seguinte forma:

Dizem que quando Mãe Leeds teve seu décimo segundo filho afirmou que se tivesse mais um seria o próprio diabo. E chega o ano de 1735 e Mãe Leeds entrava em trabalho de parto. Era uma noite chuvosa e ao redor dela estavam amigas ajudando no trabalho de parto. Supostamente, Mãe Leeds era uma bruxa e dizem que o pai da criança era o diabo em pessoa. Dizem que a criança nasceu normal, com a aparência de um bebê comum, mas então sua forma mudou. O recém nascido se transformou em uma criatura com cascos, uma cabeça de cavalo e uma cauda fendida, o monstro então rosnou e gritou; matou a própria mãe na frente de todos e depois correu para a chaminé por onde fugiu voando. Depois de circular a vila três vezes tomou o rumo do Pines. Em 1740 um clérigo exorcizou o diabo por 100 anos e ele não foi visto de novo até 1890.

Alguns historiadores identificam a Mãe Leeds como Deborah Leeds, esposa de Japhet Leeds. Essa identificação ganhou certo crédito graças ao testamento de Japhet, que deixou registrado em 1736, o nome de doze filhos. Temos então o sobrenome Leeds ligado a 12 descendentes, o décimo terceiro, que não constaria no documento seria a criatura.

Identificando o Diabo

Vários céticos acreditam que o demônio de Jersey não passa de uma manifestação da criatividade dos colonos ingleses. O local de Pine Barrens era evitado pela maioria dos colonos por ser desolado e ameaçador. Por ser relativamente isolado, o Barrens era um refugio natural para aqueles que desejavam permanecer escondidos como era o caso de dissidentes religiosos, traidores, fugitivos e desertores militares da época colonial. Um local denominado Barren é um região inóspita e estéril que não produz nada e evitada por todos, tida como desagradável. Tais indivíduos formavam grupos solitários chamados pejorativamente de “pineys”, dos quais muitos se tornaram bandidos notórios conhecidos como ladrões de pine. Os Pineys foram demonizados ainda mais quando dois estudos de eugenia no início do século XX os mostrou como idiotas congênitos e criminosos. É fácil imaginar o surgimento de contos de monstros horríveis surgindo da combinação dos relatos de animais reais como ursos, a atividade dos pineys e o medo do local.

Um caso curioso é o do naturalista Tom Brown Jr, que passou várias estações vivendo nos arredores de Pine Barrens. Ele conta as várias ocasiões quando caminhantes apavorados o confundiam com o Diabo de Jersey, depois de cobrir o corpo de lama para se proteger dos insetos.

Não é de se surpreender que a lenda do Diabo de Jersey continue a crescer a cada dia, alimentada por um sem número de relatos de testemunhas de reputação, que dizem ter encontraod a criatura, que vão da era colonial até os dias de hoje.

Muitas especialistas no Diabo de Jersey acreditam que ele pode se tratar de uma espécie rara e não classificada que instintivamente tem medo de humanos e por isso tenta evitá-los ao máximo. Os elementos que suportariam essa teoria incluem a similaridade geral da aparência da criatura (cabeça de cavalo, pescoço e cauda longos, asas de membrana, cascos fendidos e o grito de gelar o sangue), excetuando-se o tamanho e cor. Outro fator que suporta a teoria criptozoológica é o fato de que uma espécie poderia existir por um longo período de tempo, ao contrário de um indivíduo apenas que dificilmente teria uma espectativa de vida beirando os 500 anos.

Além deles existem aqueles que acreditam que muitas pessoas podem observar algum animal nativo e levadas pelo medo ou pela imaginação acabam confundindo-o com a figura mítica.

Algumas pessoas acreditam que o Grou Canadense é a criatura que serve de base para as histórias do Diabo de Jersey. O pássaro tem uma envergadura de asas que chega a alcançar 2,10m.

As descrições físicas do Diabo de Jersey parecem ser mais consistentes com alguma espécie de pterossauro como o dimorphodon, cujo nome significa ” Dentes de duas formas ” era um pterossauro que viveu durante o período Cretáceo há aproximadamente 105 milhões de anos atrás na Inglaterra, caçando insetos velozmente pelos ares, provavelmente viviam em grupos enormes para se protegerem melhor e obterem melhores êxitos nas caçadas.

Ainda existem aqueles que o associam com o Hypsignathus monstrosus, uma espécie de morcego da família Pteropodidae. Pode ser encontrada na África Ocidental e Central. Conhecidos também como cabeça-de-martelo, esses morcegos habitam florestas próximas de rios, pântanos e territórios semelhantes para habitar. O problema é que apesar de certa semelhança, o morcego apresenta um tamanho reduzido, variando entre 15 e 20 centímetros de envergadura de asa. Os machos, que são os maiores na espécie alcançam a média de 25 centímetros. Apesar de ser o maior morcego nativo da África, ainda é um animal pequeno se comparado com as descrições de um animal que pode ultrapassar 1,20 metros.

Mesmo assim, sendo real ou uma confusão criada pelos afoitos, muitas pessoas registram encontros com a criatura.

Encontros

Aqui vão alguns dos inúmeros registros de encontros com o Diabo de Jersey através da história:

Em 1778, o comodoro Stephen Decatur, um herói naval, visitou o Hanover Iron Works nos Barrens para fazer testes de disparos de canhão, onde ele supostamente avistou uma criatura voando acima no céu acima de onde estava. Usando um dos canhões Decatur supostamente atingiu a asa da criatura, rompendo a membrana, mas ela continuou voando, para a surpresa dos observadores. O problema com este relato é que Decatur nasceu no ano de 1779, e se este incidente de fato ocorreu deve ter sido entre 1816 e 1820, quando Decatur era o Comissário Naval responsável pelos testes dos equipamentos usados na construção dos novos navios de batalha.

Em 1840 o Diabo foi acusado de ser o responsável pela matança de vários animais de rebanhos. Ataques similares foram registrados em 1841, acompanhados de rastros estranhos e gritos sobrenaturais. Em 1859 o Diabo fez uma aparição em Haddonfield. Bridgeton foi testemunha de uma séria de avistamentos durante o inverno de 1873. Mais ou menos em 1887 o Diabo de Jersey foi avistado próximo de uma casa e apavorou uma criança, que chamou o Diabo de “aquilo”; ele também foi avistado nas florestas logo depois deste episódio, e assim como aconteceu no encontro de Decatur, ele foi alvejado na asa direita, mas continuou voando.

Em 1820, o irmão mais velho de Napoleão Bonaparte, Joseph, supostamente avistou a criatura enquanto caçava.

Agora, foi no mês de Janeiro de 1909 que houve o maior número de avistamentos do Diabo jamais registrado. Milhares de pessoas disseram ter sido testemunhas da existência da criatura na semana dos dias 16 ao 23. Jornais do pais todos acompanhavam as histórias e publicavam os relatos:

Sábado, dia 16 – A criatura foi avistada voando sobre Woodbury.

Domingo, dia 17 – Em Bristol, na Pensilvânia, várias pessoas viram a criatura e rastros foram encontrados na neve no dia seguinte.

Segunda-Feira, dia 18 – Burlington amanheceu coberta de rastros estranhos que pareciam desafiar a lógica; alguns foram encontrados em telhados, enquanto outros começavam e terminavam abruptamente, aparentemente sem uma origem ou destino. Pegadas semelhantes foram encontradas em várias outras cidades.

Terça-Feira, dia 19 – Nelson Evans e sua esposa, em Gloucester, disseram ver a criatura do lado de fora de sua janela, as 2:30 da manhã.

O registro do acontecido, dado por Evans é o seguinte: “Aquilo tinha aproximadamente 2,40m, a cabeça parecia a de um cão collie e tinha cara de cavalo. Um pescoço longo, asas com 60 centímetros de comprimento e suas pernas traseiras pareciam com a de um grou e tinha cascos como os de um cavalo. Andava em suas patas traseiras e tinha duas patas menores, como pequenos braços, com patas nas extremidades. Aquilo se movia sem o auxilio das patas dianteiras. Minha esposa e eu estávamos apavorados, eu lhes digo, mas eu consegui abrir a janela e gritei “XÔÔÔÔÔÔ!”, entào aquilo se virou para mim, latiu e voou para longe.

Dois caçadores de Gloucester seguiram os rastros da criatura por mais de trinta quilómetros, as pegadas pareciam pular por cima de cercas e se espremer por vãos de 20cm. Trilhas similares foram encontradas em várias outras cidades.

Quarta-Feira, dia 20 – Em Haddonfield e Collingswoow organizaram grupos para encontrar o Diabo. Eles supostamente viram a criatura voar em direção de Moorestown, onde foi avistada depois por mais duas pessoas.

Quinta-Feira, dia 21 – A criatura atacou um bondinho em Haddon Heights, mas foi afugentada. Bondes em várias outras cidades começaram a contratar o serviço de guardas armados, e vários fazendeiros encontraram suas galinhas mortas. Existe um registro que indica que o Diabo se chocou com um trem elétrico em Clayton, mas não foi morto. Um operador de telégrafo, próximo a Atlantic City disse que atirou no Diabo apenas para vê-lo fugir mancando e se embrenhar na floresta. Aparentemente a criatura não foi posta de ação e continuou sua marcha através da Filadélfia, Pensilvânia e West Collingswood, Nova Jersei (onde supostamente foi atingido por jatos d’água atirados pelo departamento de bombeiros local). O Diabo parecia pronto para atacar qualquer um que se aproximasse, as pessoas se defendiam atirando qualquer objeto que tivessem à mão contra ele. A criatura então subitamente fugiu voando – e foi avistada então em Camden onde feriu um cachorro, arrancando um pedaço da bochecha do animal, que foi salvo pelo dono ao espantá-la. Este foi o primeiro registro de um ataque do Diabo a uma criatura viva.

Sexta-Feira, dia 22 – O último dia dos avistamentos. Muitas cidades estavam em pânico, com muitas lojas e escolas fechadas por medo da criatura.

Durante este período o Zoológico da Filadélfia ofereceu uma recompensa de U$ 1.000.000 de dólares para quem capturasse a criatura. A proposta criou um sem número de fraudes, inclusive um canguru com asas artificiais. A recompensa está disponível até os dias de hoje.

Além desses encontros a criatura foi avistada voando sobre várias outras cidades. Desde a semana do terror em 1909 os avistamentos se tornaram muito menos frequentes.

Em 1951 houve um novo pânico em Gibbstown, Nova Jérsei, depois que alguns garotos afirmaram ter visto um monstro humanóide que gritava.

Uma carcaça bizarra em decomposição que lembrava vagamente as descrições do Diabo de Jérsei foi encontrada em 1957, fazendo muitas pessoas acreditarem que a criatura havia morrido. Entretanto desde aquele ano surgiram novos relatos de encontros e avistamentos.

Em 1960, os comerciantes de Camden ofereceram uma recompensa de U$10.000 dólares pela captura da criatura, chegando a oferecer a criação de uma jaula especial para guardar e exibi-la quando fosse capturada. Esta recompensa permanece até os dias de hoje.

Em 1991 um entregador de pizzas em Edison, Nova Jérsei, descreveu um encontro com uma criatura branca com características equinas.

Em Freehold, no ano de 2007, uma mulher supostamente avistou uma criatura enorme, com asas semelhantes às de um morcego, próxima de sua casa. Em Agosto do mesmo ano um jovem dirigindo para casa, perto da divisa estadual de Mount Laurel e Moorestown, em Nova Jérsei, registrou um encontro semelhante, dizendo que vi uma “criatura semelhante a uma gárgula com asas de morcego parcialmente abertas” enormes, pousada em árvores perto da estrada.

Em 23 de Janeiro de 2008 o Diabo de Jérsei foi visto novamente, desta vez em Litchfield, na Pensilvânia, por um residente local que afirma ter visto a criatura sair voando do telhado de seu celeiro.

No dia 18 de Agosto de 2008 surgiram rumores sobre o avistamento do Diabo na Ebenezer Church Road em Rising Sun, Maryland. Três adolescentes em um carro observaram a criatura passar voando perto do parabrisa e pousando a alguns metros de distância no campo de uma fazenda.

Existem hoje inúmeros sites e revistas como a NJ Devil Hunters  e Weird NJ que catalogam os avistamentos do Diabo.


Freak Show

Existe um termo em inglês nos circos, feiras e shows de beira de estrada usado para designar um item falso, usado pelo mestre de picadeiro para atrair pessoas para a barraca do show de aberrações. O termo é gaff, é um objeto manipulado, um falsificação taxidermista ou um objeto trabalhado para iludir as pessoas.

O Diabo de Jérsei e os gaffs andaram juntos por muito tempo. Um exemplo é o que ocorreu a mais de cem anos atrás na Filadélfia.

Em 1906 Norman Jefferies, gerente de publicidade do C.A. Brandenburg’s Arch Street Museum, na Filadélfia, encontrou um antigo livro que mencionava o filho curioso de Mãe Leeds e teve uma idéia.

Ele era um showman e o público para seus espetáculos estava diminuindo. Jefferies estava procurando a algum tempo por algo que trouxesse a multidão de volta. Infelizmente para ele os jornais da Filadélfia já o conheciam, e sabiam de suas propaganda um tanto exageradas e não iriam cooperar com ele. Então ele plantou a seguinte história em um periódico de uma cidadezinha ao sul de Jersei:

“O “Diabo de Jersei”, que não foi visto por essas partes em quase cem anos, surgiu novamente em suas andanças. A Sra. J. H. Hopkins, esposa de um fazendeiro digno de nosso condado, viu, sem sombra de dúvidas, a criatura, próxima do celeiro no Sábado passado e chegando ao celeiro examinou seus rastros na neve.”

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A matéria causou uma enorme comoção. Em todos os cantos do estado homens e mulheres começaram a andar olhando por cima dos ombros e passaram a trancar portas e janelas. Embora se mostrassem céticos em relação à nota, os habitantes de Jersei não queriam correr riscos.

E se o monstro fosse de fato real? Um “expert” da Smithsonian Institute não havia afirmado que “possuia uma teoria há muito estimada de que existem ainda, em cavernas escondidas e esconderijos secretos, lá dentro, no interior da terra, sobreviventes daqueles animais pre-históricos dos quais apenas fósseis restaram na superfície…”? O expert tinha certeza que o Diabo se tratava de um piterodáctilo.

Pouco tempo depois o animal foi capturado por um grupo de fazendeiros. Depois de se certificar que todos os jornais tivessem publicado a notícia, Jefferies levou o Diabo consigo para a Filadélfia e o colocou em uma exibição no Arch Street Museum. A multidão, enorme e sem um senso crítico, olhavam maravilhadas a coisa capturada – que de fato era um canguru com asas de bronze presas nas costas e listas verdes pintadas pelo corpo.

Jefferies confessou em 1929 que ele comprou o animal de um negociante em Buffalo, Nova Iorque, e que depois o soltou em uma floresta no sul de Jersei, onde certamente seria apanhado sem dificuldades.

O Woodbury Daily Times também acabou participando da história, publicando no dia 25 de Dezembro que o fazendeiro “William Hyman” matou um animal desconhecido depois que ele invadiu seu galinheiro. “Hyman descreve a fera”, dizia a notícia “como sendo tão grande quanto um Airedale adulto, sua pelagem negra parecia com lã; Pulava como um canguru, com as patas traseiras muito maiores do que as dianteiras e andava ereto, com uma postura corcunda e suas patas traseiras possuiam quatro dedos ligados por uma membrana de pele.

Herman Flegenheimer Jr.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/o-diabo-que-caminha/

Movimentos Messiânicos: Os Messias Judeus

O trabalho de Messias não é nada fácil. Nunca foi. Claro que se formos totalmente honestos sobre o assunto, o currículo requerido de alguém que deseja assumir para si este papel não é lá muito exigente, de acordo com a tradição ele deve cumprir cinco requisitos:

1- Ele deve descender do Rei Davi;
2- Deve se tornar soberano sobre o povo de Israel;
3- Deve conseguir reunir os judeus dos quatro cantos do mundo;
4- Uma vez reunidos, deve restaurar sobre eles a total observância da lei da Torah;

e por último, mas não menos importante:

5-Deve trazer a paz para o mundo!

E com isto em mente surge a questão: por que diabos alguém desejaria se tornar um Messias? Se olharmos o exemplo mais famoso isso significava, de forma resumida, fazer afirmações que deixariam o seu povo puto e desconfiado, então sair vagando e conversando com desconhecidos, e nem todos seriam gentis. Eventualmente teria convencido muita gente que você falava sério, e teria deixado muita gente importante puta com você, isso significa que se fosse muito longe se tornaria uma pedra no sapato de gente poderosa, e se isso acontecesse esses poderosos iriam atrás de você e não apenas para te jogar na cadeia ou te matar. Eles te usariam de exemplo, te desmembrariam ou crucificariam depois de um circo público e então iriam atrás de sua família, filhos e herdeiros. Algo nada agradável como você pode supor.

Então porque alguém desejaria se tornar um Messias?

Antes de mais nada um pouco de história. A palavra Messias tem origem judaica, Messias ou מָשִׁיַח ‎[mâshıyach] deriva de משׁח [mâshach], מָשַׁח [maw-shakh] uma raiz linguística primitiva que significa: esfregar com óleo, ungir, pintar. מָשִׁיַח, Mashíach por extenção significa o ungido, aquele é esfregado com óleos. Para compreender o que realmente isso significa devemos procurar no livro do Êxodo as conversas que “EU SOU O DEUS DE ABRAHÃO” tinha com Moisés. Quando Moisés libertou o povo Judeu da escravidão do Egito, além de finalmente dar sossego para o Faraó e o povo dele, que haviam caído vítimas das brincadeiras do Divino que “endurecia o coração de Faraó” apenas para continuar com o desfile de pragas e finalizando com a morte por afogamento de grande parte do exército dele com o objetivo de se exibir para Seu povo [1], também recebeu de Deus as novas leis e regras que deveriam ser observadas e seguidas. No capítulo 30 do livro Êxodo, nos versículos 23 a 25, encontramos uma receita, passada por Deus diretamente a seu servo de como fazer um “um óleo sagrado para unções, um perfume composto segundo a arte do perfumista; este será o óleo sagrado para unções.” (Ex. 30:25). Este óleo tinha uma função muito especial, era o óleo utilizado para se ungir aquilo que era sagrado, as coisas apontadas por Deus. Este óleo então era utilizado pelos sacerdotes, também apontados por Deus, para consagrar algo, ou seja dedicar, tornar sagrado. Como isto é interessante, vamos repetir: algo que era ungido era algo que havia sido escolhido e apontado pelo próprio Deus. A seriedade disso era tanta que O Próprio afirma que “O homem que compuser um perfume como este, ou que com ele ungir a um estranho, será extirpado do seu povo.” (Ex. 30:30), e por extirpado do seu povo podemos ler: “se tornará seu inimigo” – você iria descobrir o que a expressão “estar no sal” significa.

Ser o Ungido, como vimos, simplesmente queria dizer que a pessoa, no caso um líder Judeu, havia recebido a atenção especial de Deus. Aarão foi ungido (Ex. 29:4-8), Salomão (1 Cr 29:22), etc. Mas ao contrário do que pode parecer o ritual da unção não foi criado pelos judeus, esse costume já era muito antigo no Oriente Médio. Na Babilônia e na Assíria, óleo de gergelim era derramado sobre a cabeça de noivas, de pessoas que realizavam certas negociações comerciais e de escravos que haviam sido liberdados. Havia os pašîšû, que eram sacerdotes ungidos, e mesmo a arca no épico Gilgamesh é ungida antes do dilúvio chegar. Mas aparentemente o costume de ungir reis era títipo dos judeus. Um detalhe interessante, que vale a pena ser notado, é que nunca houve uma distinção clara entre sacerdotes, reis e profetas; lembre-se que na antiguidade não havia pessoas votando no próximo rei, muito pelo contrário: a realeza era ligada à religião. Por isso não é surpresa lermos sobre o rei Davi agindo como sacerdote em 2Samuel 6:12-19 ou prevendo o futuro em 2Samuel 23:1-7. Da mesma forma os sumo-sacerdotes podiam se comportar como reis, o exemplo mais famoso é Melquisedeque, que preparou a ceia para Abrahão e lhe serviu pão e vinho em Gênesis 14:18, e a partir de 152 a.C. quando os sumo-sacerdotes eram a mais alta autoridade, combinando autoridade real e sacerdotal.

Mas isso não responde nossa pergunta do porquê alguém gostaria de vestir essa carapuça e para respondê-la nós temos que olhar para dois fatos reais e inegáveis:

1- Embora grande parte dos textos sagrados comentem sobre reis e profetas que foram Ungidos (receberam a atenção do Divino), haviam passagens que falavam de um governante diferente, idealizado, com uma missão maior do que todos os outros goverantes. Por exemplo o Salmo 2:2-9:

“Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o Senhor e contra seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós suas algemas. Ri-se aquele que habita os céus; o Senhor zomba deles. Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá. Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião. Proclamei o decreto do Senhor: Ele me disse ‘Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão. Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro’”

Outras passagens também se referem a um ungido idealizado que destruiria os inimigos de Israel em nome da justiça e em várias passagens, como no Salmo 2, ele é chamado de “filho de Deus”, apesar de textos deste tipo não serem raros naquela região (os faraós egípcios afirmavam descender do Deus Ra e se gabavam de ser capazes de destruir qualquer inimigo com a ajuda dos deuses; os persas possuem a história de como Darius I foi escolhido pelo deus Ahuramazda para destronar o usurpador Gaumâta em 522 a.C).

2- O mundo chegava cada vez mais perto de seu fim. Deus havia criado tudo, e tudo terminaria. A contagem começara com Adão e Eva, e a idéia é que acabaria 6000 anos depois disso. E no século VI a.C. quando o mundo tinha já aproximadamente 4.400 anos, começam as especulações de que o governante especial, aquele que seria conhecido como filho de Deus deveria estar chegando.

E como chegaram a estas conclusões? Simples!

De acordo com o que se acreditava nos séculos I a.C. e I d.C o mundo havia chegado à idade de 5000 anos. O judaismo sempre acreditou que a Tanak era muito mais do um livro resgistrando a história dos judeus e as crenças de seus antepassados, eles “sabiam” que aqueles livros eram o registro feito por Deus sobre a sua criação (o universo, os anjos, o mundo e tudo o que existe nele, incluindo a raça humana) e a Sua relação com o povo escolhido (os próprios judeus). Os livros não apenas são um registro, mas está permeado de informações e “dicas” escondidas no próprio texto, por isso desenvolveram métodos de extrair as informações que não estavam explicitas, com técnicas de gematria, Notaricon e Temurá era possível ao estudar o texto sagrado, palavra por palavra, encontrar relações, significados ocultos e indicações da vontade do Criador. Era como viver em um prédio e estudando a composição de suas paredes, as fiações e encanamentos conseguir recriar a planta usada para construí-lo e com isso não apenas compreender sua estrutura mas prever seu comportamento e descobrir o destino que lhe aguardava, por exemplo ao descobrir que ele era feito de concreto e gesso avaliar sua vida útil, saber que se os encanamentos fossem de metal prever quando eles deveriam ser substituídos e desta forma quando as águas que saíssem das tornerias se tornassem turvas deveriam chamar um encanador para trocar os canos por novos.

Assim, Gematria é uma metatesis da palavra grega Grammateia. É baseada no relativo valor numérico das palavras. As palavras de valores numéricos similares supostamente são interpretadas mutuamente, e esta teoria se estende às orações e frases completas. Notaricon é uma palavra derivada do latim que significa Notario. Do Notaricon derivam duas formas. Na primeira, cada letra de uma palavra é tomada como abreviação de outra palavra, assim, com as letras de uma palavra é construída uma frase, A segunda forma do Notaricon é exatamente o contrário da primeira. Qualquer das letras que formam uma frase podem dar origem a uma palavra ou a outra frase. E a Temurá é a permutação. De acordo com certas regras uma letra pode ser substituída por outra que a anteceda ou que a preceda no alfabeto, e desta maneira dar forma a uma nova palavra.

Um exemplo de exercício para isso é o seguinte: pode-se destacar que as três primeiras letras das primeira palavra da Bíblia, BRAShITH – no princípio -, ou seja, BRA, são as iniciais dos nomes que constituem a Trindade: BN, Ben, o Filho; RVCh, Ruach, o Espírito e AB, Ab, o Pai. Mas ainda, a primeira letra do Antigo Testamento é B, inicial de BRKH, Berakhah, bendição, e não A, que é a inicial de ARR, Arar, condena. O valor numérico da palavra Berashith, em sua máxima expressão, nos indica os anos de medida entre a Criação e o Nascimento de Cristo: B=2000, R=200, A=1000, Sh=300, I=10, Th=400, total=3910 anos em números redondos. Picus de Mirandola fez o seguinte trabalho com Berashith: unindo a terceira letra A, com a primeira B, obteve AB, Ab, o Pai. A primeira letra repetida B, mais a segunda R, dão BBR, Bebar, Através do Filho. Tomando-se todas as letras, tirando a primeira, temos RAShITH, Rashith, o Princípio. Conectando a lera Sh com a primeira B e a última Th, temos ShBTh, Shebeth, o Fim ou o Resto.

Com as três primeiras obtemos BRA, Bera, Criado. Omitindo a primeira e pegando as três seguintes temos RASh, Rash, Cabeça. Se omitimos as duas primeiras e tomamos apenas as duas seguintes temos Ash, Ash, Fogo. Tomando a quarta e a última temos ShTh, Sheth, fundação. Pegando a segunda e colocando-a anteposta a primeira temos RB, Rab, Grande. Colocando antes da terceira colocamos a quinta e a quarta, temos AISh, Aish, Homem. Juntando as duas primeiras com as duas últimas temos ThB, Theb, que comumente é utilizada como TVB, Thob, Bom. [2]

Desta forma ao analisar o livro da Gênesis utilizando estas ferramentas, ficou claro para os estudiosos que se Deus havia criado o mundo em 6 dias, consagrando o último a Si Mesmo, então o mundo duraria 6.000 anos, um período equivalente a 1000 anos para cada dia que levou para ser criado. Isso lhes deixava com apenas mais mil anos de existência. Além disso a crença era de que surgiria um Messias que reinaria por mil anos antes que o mundo acabasse. A matemática era simples, o Messias deveria estar batendo à porta a qualquer instante.

Mas de onde surgiu essa crença? Como vimos, existem algumas menções a um salvador nos textos bíblicos, era tudo uma questão de saber quando ele surgiria.

Uma das tentativas mais intrigantes de datar a vinda exata do prometido pode ser encontrada no Primeiro Livro de Enoque, um texto complexo, organizado em cinco livros que foi composto entre o terceiro século a.C. de  a primeira metade do primeiro século d.C. A primeira parte, conhecida como O Livro das Sentinelas (os anjos que observam), foi escrita no século III a.C. e relata uma descrição da visão que o Patriarca Enoque teve dos céus. No capítulo 10 o autor escreve:

“Quando todos [os anjos caídos e] seus filhos se tiverem matado uns aos outros, e quando eles virem a destruição de seus queridos, aprisiona-os por setenta gerações, sob os montes da terra, até o dia de seu julgamento e de seu fim, até que o julgamento, que é por toda a eternidade, seja consumado.” [1 Enoque 10.12]

Isto implica que existiriam setenta gerações desde Enoque até o Dia do Julgamento (ou setenta e sete gerações desde a criação, já que Enoque é um membro da sexta geração desde Adão). O Primeiro Livro de Enoque era bem conhecido dos judeus, chegando a ser aludido na Epístola de Judas 14: “E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos;”

Acredita-se hoje que o texto que serviu de modelo para esta passagem foi o texto de Daniel 9:24-27, que menciona a vinda do Messias, do príncipe (nasi), sete “semanas” (de sete anos cada) após a ordem de Deus de restaurar Jerusalém. De acordo com Jeremias 30:18, esta ordem foi dada em 586 a.C. e como consequência disso podemos identificar o Messias com Ciro, o rei da Pérsia.

“24 Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para cessar a transgressão, e para dar fim aos pecados, e para expiar a iniquidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo. 25 Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos. 26 E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações. 27 E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador.” Daniel 9:24-27

O restante da profecia permanece ainda mais difícil de ser interpretada, mas vários estudiosos chegaram a identificar o segundo Messias com Onias, um sumo sacerdote que foi morto em 171 a.C., isso nos mostra um aspecto constante em uma caça de Messias, textos proféticos confusos sendo combinado com fatos históricos, mas de uma forma que contorne alguns “detalhes”, já que se Onias fosse o segundo Messias a destruição do segundo santuário teria que ser associada com a perseguição liderada por Antíoco IV Epifânio, que de fato durou “meia semana” (três anos e meio), mas que tem que ignorar o fato de que entre o retorno do exílio babilônico e a morte de Onias não se passaram “sessenta e duas semanas”.

Então a reposta para a pergunta: “por que diabos alguém desejaria se tornar um Messias?” se torna simples, criou-se a espectativa de um salvador, um enviado. A cada dia que passavam todos se encontravam a um dia mais próximos do fim e por isso a um dia mais próximos da chegada do salvador. E essa espera começou a gerar uma enorme expectativa, e isso começou a pirar muita gente. Era um cargo aberto esperando que algúem o reclamasse, o Messianismo se tornou então, para várias pessoas uma questão de oportunidade, “por que não eu?”. Logo, por que alguém desejaria se tornar um Messias? Simples, porque com alguma ginástica matemática e genealógica qualquer um poderia ser um messias, a resposta se torna: “porque eu posso!”

O povo Judeu sempre teve aqueles que o reunia e o libertava e que restauravam a todos a observância da Torah. Podemos inclusive resumir, sem nenhuma pretensão ou falta de respeito, o Antigo Testamento da seguinte forma: o povo está espalhado. Surge um Patriarca que os une, tem filhos e estabelece a observação das leis, ele é seguido e consegue terras e prosperidade pra seu povo. O tempo passa e o povo se torna desregrado e adota novos deuses, vem a miséria e a servidão. Surge um novo líder que os reúne, lhes mostra que devem seguir ao Senhor, restaura a observância da Lei, todos prosperam e ganham uma terra. O tempo passa, eles deixam os costumes e práticas religiosas de lado e ai se tornam escravos de alguém assumindo as crenças dos captores que os maltratam de forma abusiva; o povo se lamenta, surge um novo líder que o reúne, lhe restitui a observação, o liberta, e uma vez que todos voltam às práticas antigas são guiados para uma nova terra onde prosperam. Esse “loop” é a constante que move os judeus do Antigo Testamento. Mas o tempo está passando e o povo está inquieto. Desde o nascimento de Abrahão os judeus foram cativos no Egito, foram levados para a Babilônia, caíram sob o domínio dos Persas, dos macedônios, dos ptolomeus, dos selêucidas. Conforme os ponteiros do Grande Relógio se aproximam do momento do Grande Fim, o povo clama por sossego, por poder voltar para a terra santa e viver em paz até o fim dos dias, afinal eles são os escolhidos, ou não?

E assim torna-se claro como passagens sobre alguém que seria filho de Deus, seria enviado por Ele para liberar a todos e conquistar os inimigos começam a se tornar populares.

Um reflexo disso fica claro quando nos atentamos para o uso do termo “ungido” aplicado a várias pessoas como os Reis de Israel, os Juízes e mesmo o Sumo Sacerdote, até os patriarcas eram considerados “ungidos” – mesmo antes de Moisés receber a receita o Óleo Sagrado e o ritual de unção. Este termo era bem próximo do termo Messias, mas não era exatamente a mesma coisa. Apesar de “ungido” surgir várias vezes e ser atribuído a várias pessoas (inclusive àlgumas que viveram antes do ritual de unção) o termo específico “Messias” aparece apenas duas vezes no Antigo Testamento, no livro de Daniel, capítulo 9 versículos 25 e 26:

“25 Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos. 26 E depois das sessenta e duas semanas será abatido o Messias, mas não para si mesmo; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações.”

Diferente do que muitos possam imaginar o conceito do Messias não faz parte do judaísmo bíblico e se desenvolveu como um folclore informal que possui muitas variantes e pode ser compreendido de diferentes formas. O Messias é personagem de inúmeros contos folclóricos e músicas hassídicas (Hassídico ou Chassídico é um dos movimentos dentro do Judaísmo que existiu praticamente desde sempre na história judaica). Um dos conceitos do Messias pode ser encontrado nos comentários de Maimonides, como era conhecido o Rabi Moshe ben Maimon, escritos no século XII sobre o Talmude Babilônico:

“A era Messiânica será quando os judeus ganharem novamente sua independência e todos retornarem à terra de Israel. O Messias será um grande rei, ele alcançará grande fama e sua reputação entre as nações gentis será ainda maior do que a do Rei Salomão. Sua bondade, sobriedade e as maravilhas que realizará farão com que todas as pessoas estabeleçam a paz com ele, e todas as terras o servirão… Entretanto nada mudará na era Messiânica, a não ser os judeus que ganharão novamente sua independência. Ricos e pobres, fortes e fracos ainda existirão. Entretanto será muito fácil para as pessoas ganharem a vida e com muito pouco esforço serão capazes de realizar muito… será um tempo quando o número de homens sábios crescerá… não haverá mais guerras e as nações não erguerão mais suas espadas umas contra as outras… A era Messiânica será marcada por uma comunidade formada pelos corretos e dominada pela bondade e sabedoria. Ela será governada pelo Messias, um rei correto e honesto, que se sobressairá através de sua sabedoria e será muito próximo a Deus. Não pense que o mundo ou as leis da natureza mudarão, isto não é verdade. O mundo continuará como é. O profeta Isaias predisse: “o lobo viverá com a ovelha, o leopardo se acomodará aos pés das crianças”. Isto, é claro, não passa de uma alegoria que mostra que os judeus viverão em segurança, mesmo convivendo com nações que outrora foram cruéis. Todas as nações se voltarão para a religião verdadeira (o monoteísmo, mas não necessariamente o judaísmo) e não mais roubarão ou oprimirão. Note que todas as profecias a respeito do Messias são alegóricas – Apenas na era Messiânica nós compreenderemos o significado de cada alegoria e o que virá nos ensinar. Nossos sábios e profetas não esperam pela era Messiânica para reinar sobre o mundo ou dominar os gentis… a única coisa que desejavam era que os judeus fossem livres para se envolver com a Torah e a sabedoria que ela traz.”

É claro que esse não é o consenso geral dentro do judaísmo, um século mais tarde, Maimonides foi contestado por Nachmanides, que rejeitava o nacionalismo do primeiro e afirmava que Isaias estava sendo literal: que quando chegasse a Era Messiânica até mesmo os animais selvagens se tornariam criaturas domésticas de temperamento doce. Outro Judeu, nosso contemporâneo, Woody Allen, complementou essa visão dizendo que: “as ovelhas e os lobos viverão juntos, mas as ovelhas não conseguirão pregar os olhos à noite.”

Agora, nos tempos bíblicos a idéia da restauração de Israel e o fim dos problemas por que passavam ganhava muitos adeptos sempre que a situação ficava preta, e se lembrarmos o nosso resumo do Antigo Testamento podemos ver que o povo hebreu poderia ser comparado a um cardume que sempre nadou dentro de um balde de piche. Quando se tornaram cativos da Babilônia (séc VI a.C.), dos Romanos (séc II a.C.), quando houve o reinado de Hadrianus (séc. I e II), durante a conquista árabe (séc. VII d.C.) e durante mais ou menos toda a Idade Média (séc V ao XV), para citar alguns momentos. E com um agravante, conforme o prazo de validade estipulado para as velhas profecias vencia, surgiam novas idéias para explicar porque o Salvador não havia surgido ainda e para adaptar a influência do Messias e suas características aos novos tempos. Lembre-se que já no século VI a.C. o Filho de Deus era esperado, um erro de alguns séculos poderia ser esperado, afinal não haviam indicações precisas de quando ele viria, mas conforme os séculos passavam a aflição pela espera e a grandiosidade dos seus atos cresciam. Muitos começaram a crer que com o seu surgimento os mortos ressuscitariam, que ele marcaria o início dos Fins dos Tempos e tudo resultaria na supremacia do judaísmo. Com o tempo surgem diferentes categorias de Messias, como o Messias Efraínico, descendente de Efraim que surgiria antes do Messias Davídico, descendente de Davi, para anunciar sua chegada.

Desta forma, criou-se visão sobre-humana daquele que assumiria o papel de Messias no Judaísmo dando-lhe características quase divinas. Lhe atribuíram milagres e maravilhas, a capacidade de converter todos a uma única religião, a criação de paz mundial – esses feitos, ironicamente, posteriormente foram associados ao Anti-Cristo no texto canônico da Revelação de São João, conhecida também como o Apocalipse.

Isso fez com que muitos judeus se tornassem cautelosos em relação ao advento Messiânico e mesmo céticos e cínicos em relação àqueles que o anunciam. O sábio Rabban Yochanan ben Zakkai chegou a dizer no primeiro século: “Se por acaso você estiver com uma muda de planta em sua mão e lhe disserem que o Messias chegou, primeiro plante a muda e então vá para as ruas e saúde o Messias”. Uma velha história judaica também fala de um Judeu russo que recebia um rublo por mês do conselho municipal para aguardar do lado de fora da cidade para que fosse a primeira pessoa a saudar o Messias quando este chegasse. Quando um amigo lhe perguntou por que fazia aquilo já que “o salário era tão baixo” o homem respondeu: “é verdade, mas o trabalho é permanente”.

E com isso chegamos a um grande problema, na verdade um impasse: mesmo com a ironia, as anedotas e o ceticismo, a crença no Messias e na era Messiânica está entranhada no judaísmo. Como então reagir diante destas crenças? O Messias de fato virá? Como reconhecê-lo? Como agir?

A resposta mais simples é: todos os atos atribuídos ao Messias podem apenas ser julgados depois de realizados, não podemos afirmar hoje, diante da presença de alguém que tenha esse status, que ele trará a paz e reunirá o povo de Israel, é apenas com o tempo que veremos se essas coisas de fato aconteceram graças a ele e ai sim afirmar que o papel foi cumprido. No momento presente as pessoas tem apenas a própria crença, ou seja isso se torna uma questão de fé. E é essa crença pessoal, esta fé,  que pode levar uma pessoa a acreditar que alguém, em determinado momento é o Messias fazendo-a seguir essa pessoa, mas não pode servir como afirmação de que aquela pessoa de fato é o prometido. É como dizer que o Messias, por exemplo, será seguido por multidões, mas nem todo aquele que de fato conseguir se seguido por multidões será o Messias, a reação do povo e as ações que ele realizar podem ser um termômetro, mas nunca uma prova final de sua natureza.

O maior exemplo disso tiramos da própria história, nos últimos quatro mil anos o nome “Israel” foi usado para designar não apenas a Terra de Israel como toda a nação judaica. O artefato arqueológico mais antigo a mencionar Israel não como um simples nome vem de uma estela egípcia documentando campanhas militares em Canaã, datada do XIII século a.C. onde se refere a um povo, às pessoas que habitavam aquela terra. A Terra de Israel, Eretz Yisrael, é um local sagrado para os judeus desde a época bíblica, já que foi prometida aos três patriarcas por Deus, para se tornar seu lar. Durante o período dos reinados israelitas e o século das conquistas muçulmanas, séc VII d.C., a Terra de Israel foi conquistada e dominada pelos Assírios, Babilônios, Persas, Gregos, Romanos, Sassânios e Bizantinos. A presença judaica na região diminuiu drasticamente após o fracasso da revolta de Bar Kokhba contra o império romano em 132 d.C. e do massacre conduzido pelo imperador Heraclitus em 628 e 629. Depois de perder a terra para os Muçulmanos em 636 d.C. o domínio da região mudou de mão em mão entre os Omíadas, os Abássidas, os cruzados, os Cosméricos e os Mongóis por mais de seis séculos, até cair nas mãos do sultanato Mameluco em 1260. Em 1516 a Terra de Israel se torna parte do império Otomano que dominou a região até o século XX.

Durante todo este tempo os judeus da diáspora desejavam retornar ao Sião e à Terra Prometida, mas a primeira grande onda de imigração, conhecida como a primeira Aliyah só teve início em 1881. Três anos depois, em 1884 o governo Turco-Otomano emite o documento que ficou conhecido como Édito de Tolerância, permitindo que os judeus retornassem à Terra Santa. A segunda Aliyah ocorreu entre 1904 e 1914 quando mais de 40.000 judeus ocuparam a Palestina e entre 1919 e 1929 ocorreram a terceira e quarta Aliyah, levando mais de 100.000 imigrantes para a região; esta época coincide com o mandato concedido sobre a região da Palestina pela Liga das Nações à Inglaterra, a partir de 1921 a Inglaterra cria cotas de imigração para os judeus. Em 1930 o surgimento do Nazismo acabou criando a quinta Aliyah e um influxo de mais de 250.000 judeus para a Terra Prometida, o que causou a revolta árabe de 1936 a 1939 e fez com que a Inglaterra proibisse as imigrações. Como países ao redor do mundo começaram a não aceitar e a denunciar fugitivos do holocausto teve início um movimento conhecido como Aliyah Bet para levar clandestinamente judeus para a Palestina, com o fim da Segunda Guerra os judeus formavam mais de 33% da população da Palestina. Nesta mesma época o Reino Unido entrou em um conflito violento com os judeus, e chegou à conclusão, em 1947, de que era incapaz de criar uma solução aceitável tanto para os árabes quanto para os judeus, foi então que a recém criada Nações Unidas estabelece em novembro de 1947 a divisão do país em dois estados um para cada povo que habitava a região. A comunidade judaica aceitou a idéia, mas os árabes não. Dois dias após a criação dos estados, os árabes começam a realizar ataques a alvos judeus, e assim teve início uma guerra civil na região. Na década de 1950 começam os conflitos na Faixa de Gaza e a batalha pela conquista do Canal de Suez. Em 1967 o Egito, a Síria e a Jordânia enviaram tropas para fechar todas as fronteiras Israelitas. No período de 1969 a 1970 Israel esteve em guerra contra o Egito. Seguindo esses eventos podemos destacar ainda o ataque Egípcio/Sírio no Yom Kippur em 1973. Em 1981 e 1982 Israel interveio na guerra civil Libanesa. Em 1987 surge a primeira Intifada, um levante Palestino contra Israel; com a guerra do golfo em 1991 muitos Palestinos apoiaram Saddam Hussein e o Iraque fez vários ataques com mísseis a Israel. Em 2006 um grupo de artilharia do Hezbollah realizou ataques contra israelitas.

… e durante toda esta bagunça surgiram várias pessoas que se proclamaram ou foram proclamados Ungidas, as Escolhidas por Deus e que chegaram a atrair multidões.

Com isso podemos ver que mesmo que muitos dos Messias que surgiram tenham afirmado descender do Rei David, embora muitos tenham sido reconhecidos como líderes do povo de Israel, ao menos por parcelas dele, e ainda tenham conseguido, em certos momentos, causar uma imigração de judeus para se reunirem e tenham também afirmado a importância da total observância da lei da Torah, até hoje não temos um que tenha conseguido trazer a paz ao mundo, seja ela uma paz mundial ou simplesmente um sossego para o Povo Escolhido, nem mesmo um consenso entre os vários ramos surgidos dentro do judaísmo, e assim a própria história mostra que nenhum dos Messias conseguiu levar o cargo até o fim, cumprindo os 5 requisitos.

É por esta dificuldade, a de apenas observar e julgar um ato depois dele ter acontecido, aliada à ansiedade que o povo judeu teve por vezes acreditando que o Messias estava a um passo de suas portas, que encontramos inúmeros Messias na história, pessoas que, por um motivo ou por outro, ganhavam a simpatia e confiança de inúmeros seguidores que acreditavam nele e tinham esperanças de estar diante daquele que surgiu para cumprir as profecias, lendas e contos folclóricos.

Como vimos, durante o séc. VI a.C. os judeus exilados na babilônia criaram expectativas sobre um Ungido que os libertariam e os lideraria de volta para seu lar, inúmeras profecias se realizaram quando o rei Persa Ciro o Grande permitiu que eles retornassem a sua terra de origem. No séc. II a.C. os judeus novamente sofreram repressão e as antigas profecias se tornaram relevantes novamente. Algumas pessoas esperavam por um líder militar que derrotaria os inimigos romanos e criaria o reino judaico, outros, como os autores dos Salmos de Salomão, diziam que o Messias seria um professor carismático que ensinaria a todos a interpretação correta da Lei Mosaica, restauraria Israel e julgaria a humanidade.

Graças aos pergaminhos e textos encontrados nas cavernas de Qumran, conhecidos como os manuscritos do Mar Morto, chegou até nós uma cultura messiânica muito rica, nos mostrando inúmeras teorias sobre quem seria o Messias vindouro. No Manuscrito da Guerra o Messias é um profeta e não toma parte na guerra entre “os filhos da luz” contra “os filhos das trevas”, ele seria identificado como “o príndipe da comunidade”. Em outros textos o Messias surge como um senhor da guerra. Isto por si já deixa claro que haviam muita confusão quanto a natureza do Messias esperado.

Ainda existem vários textos atribuídos hoje aos membros da seita de Qumran como, por exemplo, o Documento de Damasco e a Regra Messiânica. Os textos da seita são interessantes porque nos mostram que seus membros não esperavam a vinda de um Messias, mas de dois. Isto pode ser o reflexo de um povo tentando compreender todas as divergências sobre a figura que viria libertá-los.

A origem desta idéia é possivelmente o texto deixado em Zacarias 6:12-13:

“12 E fala-lhe, dizendo: Assim fala e diz o SENHOR dos Exércitos: Eis aqui o homem cujo nome é Renovo; ele brotará do seu lugar e edificará o templo do SENHOR. 13 Mesmo edificará o templo do SENHOR, e levará a glória, e assentar-se-á, e dominará no seu trono, e será sacerdote no seu trono, e conselho de paz haverá entre ambos.”

Apesar deste texto se referir ao príncipe Zerubbabel e ao alto-sacerdote Joshua ele poderia ser compreendido como uma profecia Messiânica no início do período Hasmoneu, como vemos nas passagens do texto Testamentos dos doze patriarcas:

“Minhas crianças, sejam obedientes a Levi e a Judá. Não se exaltem acima destas duas tribos, pois dentra elas surgirá o Salvador enviado por Deus. Pois o Senhor irá erguer de Levi um sumo sacerdote e de Judá um rei. Ele salvará todos os gentis e a tribo de Israel.” (Testamento de Simeão 7:1-2)

“A mim [Judá] Deus entregou um reinado, e para ele [Levi] um sacerdócio. E ele sujeitou o reinado ao sacerdócio. A mim Ele entregou os assuntos terrenos e para Levi os assuntos celestiais. Assim como o céu está acima da terra, o sacerdócio de Deus está acima do reino da terra. (Testamento de Judá 21:2-4a)

Apesar da palavra “Messias” não ser usada, os membros da seita esperavam por um Messias de Israel e um Messias de Davi, que cumprissem a descendência real e sacerdotal de Judá e Levi.

O primeiro texto ao qual daremos atenção é o documento de Damasco, que como acontece com a maioria dos achados de Qumran, é uma combinação de textos. A primeira parte é uma história teológica que prova que a seita, identificada por muitos como os Essênios, é o povo verdadeiro de Israel e que Deus recompensará o fiel; então segue um trecho de lei com uma código penal adicionado como apêndice. A primeira parte não menciona o Messias, mas pode ser interpretada como um texto de tradição Messiânica, já que faz alusão à profecia de Balaão:

“E a estrela é aquele que busca a lei, que veio para Damasco; como está escrito A estrela partiu de sua jornada de Jacó e um cetro de ergue de Israel. O cetro é o Príncipe de toda a congregação, e com sua chegada ele porá por terra todos os filhos de Set.” (Documento de Damasco 7:18-21)

E assim temos a crença em dois Messias vindouros, um o líder militar o outro um sábio, se nos atentarmos ao termo “aquele que busca a lei” encontramos similaridades com o Mestre da Retidão (título dado ao fundador da seita de Qumran), o fato deste título ser usado para apontar o Messias indica a crença da seita de que seu fundador retornaria um dia.

Na primeira citação a palavra “Messias” não é utilizada, mas o documento de Damasco às vezes se mostra mais explícito:

“[…] e durante o período de trevas até o surgimento do Messias de Aarão e Israel […]”(Documento de Damasco 12:23-13:1)

“Este é a afirmação exata das ordenanças que serão seguidas por eles até o Messias de Aarão e Israel apareça e expie sua iniquidade.” (Documento de Damasco 14:18-19)

“Aqueles que atentarem a Ele serão os humildes do rebanho; eles serão salvos no tempo de Sua visitação. Mas os outros serão entregues à espada quando vier o Messias de Aarão e Israel.” (Documento de Damasco 19:33-20.1)

E em pelo menos um texto encontramos um terceiro personagem na Era Messiânica: o profeta. Ele é mencionado no Manual de disciplina. Este texto é curioso por usar o termo plural “os Messias de Aarão e Israel” ao invés de “o Messias de Aarão e Israel” como no Documento de Damasco, com isso temos a crença em pelo menos dois e talvez três Messias:

“E eles não partirão de nenhum concelho da lei para caminhar com teimosia em seus corações, mas serão governados pelas primeiras ordenanças nas quais os membros da comunidade iniciaram suas instruções, até a vinda do profeta e dos ungidos de Aarão e Israel.” (Manual de disciplina 9:9b-11)

Assim como o Messias rei de Israel e o Messias sacerdote de Aarão, o profeta é um personagem Messiânico e não é difícil imaginar que a biblioteca de Qumran possuísse textos de cunho messiânico que defendessem a vinda de três Messias. Afinal de contas reis, sacerdotes e profetas eram os únicos que podiam ser ungidos.

Mas o texto mais interessante de todos pode ser encontrado na Regra Messiânica, também chamada de Regra da congregação. Ele descreve a arrumação da mesa durante uma refeição messiânica sagrada. Uma das particularidades do texto é a hierarquia entre os dois Messias. Esta é a posição dos homens de renome chamados para a assembléia do conselho da comunidade quando Deus lhes enviar o Messias.

“O Sacerdote entra liderando toda a congregação de Israel, então entram todos os líderes dos filhos de Aarão, os sacerdotes, chamados para a assembleia e homens de renome. E eles deverão se sentar diante dele, cada um de acordo com sua posição.”

“Então o Messias de Israel deve entrar, os chefes das tribos de Israel devem se sentar diante dele, cada um de acordo com sua posição nos campos e durante suas marchas, e então todos os líderes das famílias da congregação, juntamente com os sábios, devem se sentar diante deles, todos de acordo com sua posição.”

“E eles devem se reunir na mesa comunal ou para beber o vinho e preparar a mesa e misturar o vinho para o consumo, que ninguém toque o pão ou o vinho antes do Sacerdote. pois é ele que deve abençoar o pão e o vinho. E então o Messias de Israel deve tocar o pão. E então toda a congregação deve abençoar cada um de acordo com sua posição.” (1Q28a 2.11-21)

Vale ressaltar que a idéia de múltiplos Messias não desapareceu com a seita (que teve seu fim durante a guerra entre os judeus e os Romanos entre 66 e 70).

Flávio Joséfo, o historiador e apologista judaico-romano que registrou in loco a destruição de Jerusalém, em 70 d.C., relata em seu Antiguidades Judaicas que no primeiro século antes da destruição do Templo, alguns Messias surgiram, prometendo o alívio da opressão romana e tendo encontrado seguidores:

“Outro corpo de homens malvados também se levantou, mais limpos nas suas mãos, mas mais malvados nas suas intenções, que destruíram a paz da cidade, não menos do que o fizeram estes assassinos os Sicarii. Porque eles eram impostores e enganadores do povo, e, sob a pretensa iluminação divina, eram pela inovação e por mudanças, e conseguiram convencer a multidão a agir como loucos, e caminharam em frente deles pelo descampado, afirmando que Deus lhes iria ali mostrar sinais de liberdade”.

Vamos ver então quem foram esses outros Messias que durante a história do Judaísmo tentaram vestir as sandálias do Salvador.

Judas o Galileu

Um deles foi Judas, o Galileu. Surgiu nos dias do recenseamento, pregando contra a dominação de Roma, criticando a subserviência dos governantes ao Império Romano e incitando o povo a se rebelar, se recusando a pagar tributos, dizendo que a carga tributária cobrada pelo Império era o mesmo que a escravidão, ele conquistou milhares de seguidores. Percorria os vilarejos da Galiléia denunciando as arbitrariedades (e atrocidades) praticadas pelo exército romano contra homens, mulheres e crianças, pressionando todos a lutar pela liberdade política, econômica e administrativa.

Sobre ele Josefo escreve: “[tratava-se de um revolucionário], pois, censurava a população por esta pagar impostos aos romanos e a incitava ao levante, à luta armada”.

Citado pelo rabino Gamaliel I, neto do grande educador judeu Hillel, o Ancião, líder dentre as autoridades do Sinédrio no meio do século I, reconhecido mestre e Doutor da Lei, em um discurso enquanto defendia Pedro, o Pescador e Paulo de Tarso disse: “(…) levantou-se Judas, o Galileu, [contra o Império Romano] nos dias do alistamento, e levou muito povo após si”.

Judas e um fariseu chamado Saduc lideraram várias ações contra o Império, inclusive executando os publicanos, judeus contratados por Roma para cobrar os impostos, que eram chamados de infiéis e traidores. Criaram um grupo que ficou conhecido como Zelotes (significa literalmente alguém que é ciumento em nome de Deus, ou seja, alguém que demonstra excesso de zelo) e os Sicários (por causa de um punhal, chamado “sica”, que usavam), e realizaram inúmeros ataques de sucesso, que só fizeram aumentar a simpatia popular com a sua causa. Foram talvez os pioneiros em táticas de terrorismo e guerrilha na Palestina.

Um dos recursos do qual faziam uso como forma de intimidação era o graffiti. Em vários lugares, em especial nas muralhas e nos arcos das pontes sobre o Tiropeon, grafitavam frases provocadoras contra os romanos. A mais comum delas era “Poncio cattivo” (Pôncio o mau), parodiando o insulto que os habitantes de Cápri dirigiam ao maligno imperador então reinante: Tibério. Outras frases comuns eram “Pôncio, o escravo de Segano”; “Soldado, tua vida vale dez asses?” se referindo ao salário diário de um legionário, fixada por Júlio César de 225 denários anuais ou o equivalente a dez asses por dia.

Ná no séc. V d.C. os Zelotes assumiam o porte de um exército de guerrilheiros contando inclusive com uma facção encarregada de execuções de autoridades romanas e judeus ricos simpatizantes dos romanos. Mas a revolução mudou quando pessoas comuns, comerciantes donas de casas e até crianças se tornaram vítimas desses assassinos tendo inicio assim uma época de medo e terror nas ruas da Palestina, especialmente na região leste.

Os romanos por fim conseguiram sufocar a revolta e crucificaram Judas, os membros de sua família, seus seguidores conservaram vivo o espírito de resistência aos Romanos. Dois de seus filhos foram crucificados pelo procurador Alexandre (c. 46 d.C.), enquanto que um terceiro filho, Manaém, foi o líder da Primeira Rebelião Judaica (66-70 d.C.). O último baluarte Zelote, Massada, caiu em Maio de 73 d.C., mas, mesmo depois, o seu espírito não foi extinto. Os zelotes continuaram a opor-se aos romanos, argumentando que Israel pertencia apenas a um rei judaico descendente do Rei Davi.

Simão, filho de José

Foi um ex escravo de Herodes o Grande se rebelou, e foi morto no ano 4 a.C. Ele foi identificado como o Messias da Revelação de Gabriel, um tablete de pedra de um metro de comprimento contendo uma coleção de profecias curtas, escritas na primeira pessoa e datada do século I a.C.

Conta a história, que Simão de Paraea se corou como rei, afirmando ser o redentor de Israel, o Messias. Ele comandou uma rebelião contra Roma no ano 4 a.C., antes da Páscoa, e ateou fogo a um dos palácios de Herodes e a várias de suas residências reais. Logo após este episódio, Simão foi capturado em um desfiladeiro e então decaptado. Seu corpo foi abandonado para apodrecer entre as pedras, já que para os judeus da época não ter o corpo queimado era uma das maiores humilhações pela qual alguém poderia passar. Depois de sua morte, inúmeros seguidores foram caçados e crucificados.

A seu respeito Flavius Josefus escreveu:

“Também houve Simão, que foi escravo do Rei Herodes, mas que de outra forma era uma pessoa de feições atraentes de corpo alto e robusto; ele era uma pessoa muito superior em relação às outras de sua classe, e tinha muitas responsabilidades. Este homem foi levado a um turbilhão de coisas e foi corajoso o suficiente para colocar em sua própria cabeça um diadema, quando um certo número de pessoas estava em sua presença e por elas foi declarado rei, e ele se considerou mais merecedor daquela dignidade do que qualquer outro.

Ele queimou até a sfundações o palácio de Jericó, e saqueou o que restou nele. Ele ateou fogo também a muitas outras casas do rei em vários lugares do país, as destruindo totalmente, e permitiu que aquilo que sobrasse fosse feito presa por aqueles que o seguiam. Ele teria feito muitas coisas grandiosas, mas foram tomadas medidas para o reprimir imediatamente. (O comandante da infantaria de Herodes) Gratus, se uniu a alguns soldados romanos, e reunindo suas forças foi de encontro a Simão. E após uma longa e grandiosa luta, um grande número daqueles que vieram de Perasea (um grupo desordenado de homens, brigando mais com coragem do que com técnica) foi destruído. E apesar de Simão ter se salvado, fugindo por um vale, foi encontrado por Gratus e então decaptado.”

Athronges

Foi o lider de uma rebelião, seguido por seus quatro irmãos, contra Herodes Arquelaus e os romanos, depois de se proclamar o Messias. Ele e seus irmãos foram eventualmente vencidos.

Assim como Simão, filho de José, Athronges não era uma pessoa eminente, não possuía nenhum antepassado importante nem tinha posses, era um simples pastor desconhecido, mas por ser um homem alto e mais forte do que todos que conhecia ele decidiu se declarar rei. Também se dedicou, com a ajuda de seus irmãos, a atacar os romanos, e os relatos dizem que embora a princípio ele fosse um homem gentil e justo, começou a se tornar violento, não apenas com os romanos, mas com todos.

E assim como Simão acabou tendo seu fim nas mãos de Gratus.

Theudas

Por volta de 44 d.C., surge um homem chamado Theudas, ou Teudas, que afirmava ser um profeta, encorajando que as pessoas o seguissem até o Jordão, que seria dividido por ele para seus seguidores.

Isto é digno de nota, pois apesar de não se declarar o Messias a idéia de profetas também é importante. Um profeta ou profetisa é uma pessoa capaz de predizer o futuro. Antes de receberem o nome de profetas essas pessoas eram chamadas de videntes, como nos mostra o livro I Samuel 9:9. Os profetas eram aqueles que falavam por inspiração divina ou em nome de Deus, e é sempre bom ter em mente que isso acontecia em uma comunidade que levava Deus muito a sério, tanto que de acordo com a Lei Mosaica uma pessoa acusada de ser um falso profeta recebia a pena de morte, e  naquela época não havia câmaras de gás, injeções letais nem nada que transformasse a morte em algo rápido e indolor.

Enquanto o Messias era alguém sagrado por Deus e enviado, o profeta era alguém escolhido por Deus para ser seu porta voz, como vemos na história, assim como onde há fumaça há fogo, Messias e Profetas nunca estiveram muito longe um do outro como veremos adiante.

Com o tempo Theudas conseguiu arrebanhar para si mais de 400 pessoas, todas perseguidas por Cuspius Fadus, que enviou homens a cavalo em perseguição ao  bando e a seu líder. Muitos deles foram mortos e outros foram tomados como cativos, juntamente com o seu líder, que foi decapitado.

Messias Egípcio

Ainda de acordo com Josefo, no séc. I surge um Messias egípcio que supostamente conseguiu agregar mais de 30 000 seguidores. Segundo Flávio Josefo, esse personagem se proclamava um “enviado de Deus”, e apareceu na Judéia no tempo do governador Marco Antônio Félix, arrebanhando um grande número de pessoas, e as levando para o Monte das Oliveiras, onde haveriam de presenciar um milagre: as muralhas de Jerusalém se desmantelariam, abrindo um caminho para a entrada triunfal de Yahweh, que viria para estabelecer seu reino na Terra. Isso, se de fato acontecesse, realizaria a profecia do profeta Zacarias, sobre a proximidade do Dia do Senhor: “Nesse dia, os seus pés [de Yahweh] pousarão sobre o Monte das Oliveiras, que fica em frente e a leste de Jerusalém; e o Monte das Oliveiras vai rachar-se ao meio, formando um vale enorme no sentido do nascente para o poente (…) Então virá Yahweh e todos os santos com ele” (Zc 14,4). Ele também é citado em Atos, no episódio em que Paulo se encontra com um tribuno, nos degraus da Fortaleza Antônia, e este lhe pergunta: “Por acaso você não é o egípcio que, dias atrás, subverteu e arrastou ao deserto quatro mil sicários?” (At 21,38). O governador Félix mandou uma tropa atacar a multidão e muitos foram mortos pelos legionários, mas o egípcio escapou durante a luta e nunca mais foi visto.

Dois outros Messias

Josefo ainda nos fala do surgimento de mais dois Messias naquela época: Um que prometeu ao povo “a libertação das suas misérias” se eles o seguissem até ao descampado. O líder e seus seguidores foram mortos pelas tropas de Festus, o procurador romano.

E outro surgido quando Jerusalém já estava sendo destruída pelos Romanos, um profeta subornado pelos defensores em uma tentativa para evitar que as pessoas desertassem, anunciou que Deus os comandava para virem ao Templo, onde receberiam sinais milagrosos da sua libertação. Ao invés de libertação os seguidores encontraram a a própria morte nas chamas.

Menahem ben Judah

Ao contrário daqueles Messias, que esperavam conseguir a libertação do seu povo através de intervenção divina, surge Menahem ben Judah, o filho de Judas da Galileia, e neto de Hezequiel, o líder dos Zelotes, que tinham irritado o Rei Herodes. Ele era um guerreiro e quando começou a guerra, atacou Masada com o seu grupo, armou os seus seguidores com as armas ali armazenadas, e partiu para Jerusalém, onde capturou a fortaleza Antónia, derrotando as tropas de Agripa II. Encorajado por este sucesso, ele comportou-se como Rei e clamou a liderança de todas as tropas. Espoletou por isso a oposição de Eleazar, outro líder Zelota que alguns historiadores acreditam ser irmão de Menahem, tendo sido assassinado como resultado de uma conspiração. Ele será provavelmente a mesma pessoa mencionada como Menahem ben Hezekiah no Talmud e ali chamado de “provedor de conforto que deverá aliviar”.

Nos Pergaminhos do Mar Morto lemos sobre um Messias que teria existido antes do primeiro século chamado Menahem, o essênio, que morreu em circunstâncias semelhantes às atribuídas a Jesus.

Bar Kochba

Com a destruição do Segundo Templo de Jerusalém em 70 d.C., temos uma pausa com a aparição de Messias. Foi uma época em que os judeus começaram a se espalhar pelo globo em busca de um lugar para viver. Mas sessenta anos mais tarde, um movimento político-messiânico de grandes proporções teve lugar, com Shimeon Bar Kochba (também Bar Kosiba) como líder. Este líder da revolta contra Roma foi saudado como o Rei-Messias pelo Rabi Aquiva, que se referiu a ele, como: “Uma quarta estrela de Jacob virá e o ceptro irá erguer-se fora de Israel, e irá golpear pelos cantos do Reino de Moab,”, e Hag. ii. 21, 22; “Eu irei sacudir os céus e a terra e destronar reinados…”. Apesar de alguns terem duvidado que fosse o Messias, ele parece ter conseguido o apoio generalizado na nação.

A revolta de Bar Kochba , de 133 a 135 d.C., que fez frente ao poder de Roma foi a terceira maior rebelião dos judeus que habitavam a província Iudaea (Judéia) e a última das guerras contra os romanos. A revolta estabeleceu um Estado Judeu sobre algumas regiões da Judéia por dois anos e meio. A função de administrador público foi assumida por Shimeon Bar Kochba, que assumiu o título de Nasi Israel (Governante, ou Príncipe de Israel). A “Era da redenção de Israel” foi anunciada, se criaram contratos e se cunharam moedas. O Rabi Akiva presidia a Sanhedrin e os rituais religiosos eram observados e os sacrifícios (korbanot) era realizados no altar.

Shimeon foi morto perto das muralhas de Bethar. O seu movimento messiânico acabou em derrota e na miséria dos sobreviventes. Em 135, a revolta foi esmagada pelo imperador romano Adriano. De acordo com Cassius Dio, 580,000 judeus foram mortos e 50 cidades fortificadas e mais de 980 vilas foram massacradas. Os sobreviventes dispersaram-se pela diáspora ou foram feitos escravos. Adriano decretou a expulsão de todos os judeus de Jerusalém, autorizando o seu retorno apenas por um dia ao ano, em Tisha Be’av, para demonstrar luto pela destruição do Templo. Após esta tremenda derrota dos judeus, a cidade de Jerusalém seria reconstruída pelos Romanos, tendo o imperador Adriano ordenado a mudança do nome de Jerusalém para Aelia Capitolina, e o nome da Judéia para Síria Palestina, para evitar qualquer associação judaica e com a terra de Israel.

O ocorrido marcou também uma nova etapa do cristianismo. Até então, os cristãos eram sobretudo judeus. A partir de aqui foram obrigados a dispersar-se para outras zonas. Se até então a psicologia dos líderes cristãos tinha uma perspectiva judaica, depois do ano 135 a maioria dos cristãos seriam gentios, e adquiririam uma perspectiva diferente, de pessoas que vivem na Grécia, ou então romanos e que mais facilmente adotariam posições antijudaicas.

Com a derrota de Bar Kochba passam-se alguns séculos em que não temos o registro de novos Messias.

A derrota da guerra de Bar Kochba foi um desastre que afetou negativamente o surgimento de Messias nos séculos seguintes, mas a esperança é a última que morre e de acordo com cálculos baseados no Talmude, o Messias seria esperado no ano 440. Esta expectativa, em ligação com os distúrbios no Império Romano em face das invasões, podem ter levado a incentivar o Messias que apareceu nesta época em Creta e que angariou o apoio da população judaica para o seu movimento.

Moisés de Creta

Em 448 eis que surge o autodenominado Moisés, prometendo liderar o seu povo, como o antigo Moisés, de volta à Palestina. Ele percorreu as comunidades judaicas da ilha anunciando que iria repetir “seu” feito de séculos passados – fazer o mar se abrir para dar passagem aos israelitas -, de maneira a conduzir os judeus cretenses de volta à Terra Prometida. Conseguiu arrebanhar muitos seguidores e os levou até o mar. Os seguidores, que haviam sido convencidos por ele a deixaram para trás suas possessões, aguardavam ansiosos pelo dia prometido, e quando este chegou, sob o  comando do Messias, muitos se lançaram ao mar. Alguns morreram, outros foram salvos. O “Salvador” desapareceu sem deixar rastros.

Após o afogamento em massa de centenas de judeus os Messias que se seguiram surgiram todos no Oriente e eram por vezes reformadores religiosos cujo trabalho influenciaria o Caraismo, uma das ramificações do Judaísmo que defende unicamente a autoridade das Escrituras Hebraicas como fonte de Revelação Divina, defendem a Crença Única e Absoluta em Deus e que sua Revelação Única foi dada através de Moshê (Moisés) na Torá (que não admite adições ou subtrações) e nos profetas da Tanakh. Confiam na Providência divina e esperam a vinda do Messias e a Ressureição dos Mortos. Seguem um calendário baseado no Abib e com ínicio de mês na lua nova vísivel, rejeitam o judaísmo rabínico como por exemplo o Talmud e a Mishná. Não seguem costumes judaicos rabínicos como o uso de kipá, peiot, tefilin e afins.

Ishak da Pérsia

No final do século VII, surgiu na Pérsia Ishak ben Ya’kub Obadiah Abu ‘Isa al-Isfahani de Ispahan. Ele viveu no reino do Califa Omíada Abd al-Malik ibn Marwan (684-705). Afirmou ser o último dos cinco precursores do Messias e ter sido nomeado por Deus para libertar Israel. De acordo com alguns, ele era o próprio Messias. Tendo reunido um grande número de seguidores, ele revoltou-se contra o califa, mas foi derrotado e assassinado em Rai. Os seus seguidores disseram que ele fora inspirado por Deus e mostraram como prova o fato de ter escrito livros apesar de ser analfabeto. Ele fundou a primeira seita a ter surgido do Judaísmo após a destruição do Templo.

O seu discípulo Yudghan, chamado Al-Ra’i (o pastor do rebanho do seu povo), que viveu na primeira metade do século VIII, declarou ser um profeta e foi visto pelos seus discípulos como um Messias. Ele era de Hamadã e ensinava doutrinas que afirmava ter recebido através da profecia. De acordo com Shahristani, ele opôs-se à crença do antropomorfismo, ensinou a doutrina da vontade livre, e sustentou que a Torah tinha um sentido alegórico em adição ao sentido literal. Ele preconizava que os seus seguidores levassem uma vida ascética, se abstivessem de carne e de vinho, e que rezassem e jejuassem frequentemente, seguindo nisto o seu mestre Abu ‘Isa. Ele afirmava que a observância do Shabat e de festividades era meramente uma questão de memorial. Após a sua morte, os seus seguidores formaram uma seita, os Iudghanitas, que acreditavam que o seu Messias não tinha morrido, mas sim que iria regressar.

Serene

Entre 720 e 723 um Sírio conhecido como Serene (o seu nome aparece em várias fontes como Sherini, Sheria, Serenus, Zonoria, Saüra) apareceu como o Messias, no reinado de Yazid II. Seu nome é uma forma latina (Serenus) de Shaáre Zedek; aparece também como Severus na obra Chronicon Syriacum de Gregorius bar Hebraeus.

A ocasião imediata para a sua aparição pode ter sido a restrição das liberdades dos judeus pelo Califa Omar II (717-720) e seus esforços de proselitismo. De uma perspectiva política, este Messias prometia a expulsão dos Muçulmanos e a restauração dos judeus na Terra Santa, de acordo com Isidoro Pacensis, muitos judeus na espanha abandonaram bens e propriedades para se juntarem a Serene. Como Abu ‘Isa e Yudghan, Serene foi também um reformador religioso. Ele era hostil ao Judaísmo Rabínico. Os seus seguidores não observavam as leis da alimentação, as preces instituídas por rabinos e a proibição contra o “vinho de libação”. Eles trabalhavam no segundo dia das festividades, não escreviam documentos para registrar casamentos e divórcios tal como as prescrições do Talmud, e não aceitaram as proibições do Talmud em relação ao incesto.

Serene foi preso e questionado pelo Califa Yazid II sobre suas qualidades messiânicas, não conseguindo responder às questões declarou que nunca teve nenhum plano real contra o Califa e que apenas desejava tirar um sarro dos judeus, aos quais foi entregue posteriormente para ser castigo. Os seus seguidores foram recebidos de volta a suas comunidades religiosas, graças a Natronai Gaon, após terem renunciado à heresia.

Inflamados com as chamas de Allah, após a morte de Maomé em 632 d.C., o exército árabe lançou-se com renovado fervor contra os povos que os dominavam. Após a vitória sobre os bizantinos e os persas, os muçulmanos recebem uma parte da Síria, a Palestina, o Egito e o norte da África, e então seguem para a Índia, ilhas mediterrâneas o sul da Itália e a Penísnula Ibérica. Os muçulmanos criam então um império gigante, marcado pelo desenvolvimento intelectual e artístico que entre em declínio durante o século IX. O domínio dos turcos sobre a Terra Santa já incomodava os cristãos do ocidente como uma ameaça que reprimia as peregrinações e os cristãos que viviam no oriente. Então em 1095, no concílio de Clermont, o papa Urbano II declara que um dos novos objetivos da Cristandade, como forma de penitência para ter deixado a Terra Santa cair nas mãos de muçulmanos, é tomá-la de volta. A multidão presente aceita a tarefa e inflamada pelo fogo do espírito santo monta um pequeno exército, identificado pela cruz vermelha pintada sobre suas roupas, o que lhes deu o nome de cruzados.

Um dos efeitos colaterais das cruzadas foi o aumento do números de Messias que surgiram. Maiomonides em suas cartas aos judeus Iemenitas (Iggeret Teman – אגרת תימן – ou epístola ao Iemen) cita três deles. Em 1087 surge um na França para ser assassinado pelos franceses, outro em 1117 na Província de Córdova e mais um em Fez em 1127.

Menahem

Em 1160 surge um novo movimento Messiânico na Pérsia, liderado por David Alroy.

Nascido em Amadia, no Curdistão, Alroy (também citado como Alrui) se tornou um estudioso da Bíblia e do Talmud, estudando os livros com Hisdai, o Príncipe do Exílio e Ali, o acadêmico chefe em Bagda. Ele era versado em literatura muçulmana e era conhecido por praticar magia.

Graças às cruzadas, o poder do Sultão da Ásia Menor e da Pérsia foi minado, e Alroy aproveitou as condições do Califado para assumir o nome “Menahem” e se declara o Messias enviado por Deus para libertar os judeus da opressão islâmica e levá-los de volta para Jerusalém, onde se tornaria Rei e todos viveriam em liberdade. Em todas as partes da região surgiam líderes muçulmanos criando novos estados independentes, desafiando a liderança do Califa. O surgimento de novas taxas abusivas criadas para serem pagas por todos os judeus homens com mais de 15 anos também foi um fator decisivo, usado por Alroy para fomentar a revolta. Agitando um grupo de judeus guerreiros que viviam nas montanhas de Chaftan no distrito vizinho de Adherbaijan, começou a formar seu grupo, conseguiu o apoio de seus correligionários em Mosul e Bagdá. Seu primeiro alvo foi um forte que existia em sua cidade natal.  A partir deste momento as lendas falam mais alto do que a história. Os pesquisadores da vida de Alroy dão, cada um, uma versão diferente do ocorrido, mas o resultado do ataque foi a derrota dele e de seus seguidores. O seu movimento falhou, e diz-se que teria sido assassinado, enquanto dormia, pelo seu próprio sogro. Mas a sua morte não chegou a destruir a crença em sua missão divina de redenção para o povo Judeu.

Logo após a morte de Alroy surgiram dois impostores, vindo de Bagdá, anunciando que traziam notícias do falecido Messias, que ele havia dito que em determinada noite seus seguidores deveriam se erguer nos ares e voar de Bagdá até Jerusalém e que no meio tempo deveriam entregar aos dois mensageiros suas propriedades. Esta fraude obteve um certo sucesso, mas podemos imaginar como terminou, e mesmo assim muitos seguidores continuaram surgindo em Khof, Salmas, Tauris, e Maragha, dando origem a uma seita conhecida como Menahemistas, para continuar reverenciando a memória do Messias de Amadia.

Doze anos após o surgimento e morte de David Alroy, em 1172, surge um suposto precursor do Messias apareceu no Iêmen. Nesta época os Muçulmanos estavam realizando certos esforços para converter os judeus que ali viviam. Ele declarou que as desgraças deste tempo eram um prognóstico da vinda do Reino Messiânico, e ordenava aos judeus que dividissem a sua propriedade com os pobres. Este pseudo-Messias foi tematizado pelo “Iggeret Teman” de Maimónides. Ele continuou com suas atividades por um ano, tendo depois sido preso pelas autoridades muçulmanas e decapitado após a sua própria sugestão, diz-se, de forma a poder provar a verdade da sua missão ao retornar à vida.

Abraão ben Samuel Abulafia

Com a chegada do século XIII os movimentos Messiânicos ganham uma nova ferramenta que antes não era muito utilizada, a Cabala. Em 1240 nasce na Espanha Abraão ben Samuel Abulafia, cabalista estudioso que, graças aos próprios estudos, acaba acreditando que é um profeta, e, em um livro profético publicado em Urbino em 1279, declara que Deus havia falado com ele. Foi para Messina, na ilha da Sicília, onde foi bem recebido e ganhou discípulos e em um trabalho que publicou em novembro de 1284 se declara o Messias, e anuncia 1290 como o ano do início da Era Messiânica. As pessoas, confusas apelam a Solomon ben Adret para analisar as afirmações de Abulafia, e tem como veredito a condenação do Messias, que passa a ser perseguido na Sicília por algumas congregações tendo que fugir para a ilha de Comino, próxima a Malta, em 1288, ainda convencido por seus estudos que estava em uma missão Messiânica. Dois dos seus discípulos, José Gikatilla e Samuel, ambos de Medinaceli, declararam mais tarde serem profetas e milagreiros. Samuel ficou famoso por profetizar em linguagem mística em Ayllon em Segóvia o advento do Messias.

Nissim bem Abraham

Um outro pretenso profeta foi Nissim ben Abraham, que viveu em Ávila, ele não chegou a se declarar o Messias, mas previu sua chegada. Seus seguidores diziam a seu respeito que apesar de ignorante e analfabeto, tinha sido iluminado subitamente por um anjo, e com o poder que recebeu, escreveu um livro místico “A maravilha da Sabedoria”. Novamente Solomon ben Adret é chamado para dar seu parecer sobre o novo profeta e novamente seu parecer é desfavorável e ele aconselha uma investigação cuidadosa. Nissim continuou com suas atividades e fixou até o último dia do quarto mês, Tammuz, 1295, como a data da vinda do Messias. Os crentes prepararam-se para o evento jejuando e dando para a caridade, e reuniram-se no dia designado. Mas em vez de encontrarem o Messias, encontraram pequenas cruzes presas aos seus vestimentos, talvez colocadas por descrentes para ridicularizar o movimento. Na sua decepção, alguns dos seguidores de Nissim ter-se-iam convertido ao Cristianismo. Não se sabe o que aconteceu ao profeta.

Moisés Botarel

Após o lapso de um século aparece um novo Messias. De acordo com Grätz o nome dele era Moisés Botarel de Cisneros, que teve como um de seus simpatizantes Hascai Crescas. A relação dos dois é discutida por Jerónimo da Santa Fé, o rabino Joshua Harloqui convertido por São Vicente Ferrer e que foi responsável pela Disputa de Tortosa em 1413 onde converteu muitos de seus correligionários.

Asher Lemmlein

Em 1502 surge um novo profeta predizendo a vinda do Messias, desta vez um profeta alemão. Asher Lemmlein (Lämmlein) apareceu em Ístria, perto de Veneza e anunciou a vinda do Messias para aquele mesmo ano, desde que os judeus fossem penitentes e praticassem a caridade, e então um pilar de nuvens e fumaça iria preceder os judeus no seu regresso a Jerusalém. Ele conquistou a simpatia e credibilidade de muitos seguidores, existem inclusive registro de muitos cristãos que acreditaram em suas profecias messiânicas. O cronista Ganz nos deixa o relato de seu avô destruindo um forno que era utilizado para se cozer o Matsá, pão ázimo sem levedura, o único que os judeus podem comer durante os oito dias de Pessah, por acreditar que na próxima celebração ele estaria em companhia do Messias na Palestina. Asher conseguiu reunir muitos seguidores na Itália e na Alemanha, vários deles cristãos. Por onde quer que ele passasse as pessoas jejuavam, rezavam e faziam caridade, aquele ficou conhecido como o “ano da penitência”. E então ele simplesmente desapareceu, e a agitação chegou a um fim.

David Reuveni e Salomão Molko

Em nossa lista de candidatos a Messias não podemos deixar de fora David Reuveni e Salomão Molko. O primeiro afirmou ser o embaixador e irmão do Rei de Khaibar. Khaibar era uma cidade no distrito de Hejaz, se encontrava a quatro dias de caminhada de Medina. Na época de Maomé o nome Khaibar era usado por toda a província e era habitada por inúmeras tribos judaicas, onde os descendentes das “tribos perdidas” de Rubem e Gad supostamente viviam.

Existem inúmeras tradições sobre a fundação da cidade pelos judeus, uma delas afirma que eles chegaram no local na época de Moisés (o patriarca, não o Messias grego), outra afirma que foi na époce de Saulo, que foi enviado para exterminar os Amalekitas), na época de Davi, quando ele fugiou diante de seu filho Absalon, mas a suposiçõa mais provável é a de Rapoport, que os judeus de Haibar são os descendentes de Jonadab b. Rachab, que os fez viver uma vida nômade.

David Reuvani ainda fez um apelo ao Papa e aos países europeus que lhe enviassem canhões e armas de fogo para iniciar uma guerra contra os muçulmanos, que impediam que os judeus que viviam em margens opostas do mar vermelho se reunissem. É interessante frisar que ele mesmo sempre negou veementemente ser um profeta ou um Messias, afirmava a todos que era apenas um guerreiro, mas a boa vontade com que foi acolhido pelo Papa em 1524 e a audiência que lhe foi concedida nas cortes portuguesas em 1525 (a convite do Rei D. João III), onde recebeu pela primeira vez a promessa de ajuda e a pausa temporária na perseguição aos Marranos, fez com que os Marranos Portugueses e Espanhóis acreditassem era aquele que anunciaria a vinda do Messias. Isso fez com que Selaya, o inquiridor de Badajoz, se queixasse ao Rei de Portugal que um Judeu vindo do Oriente vinha suscitando aos Marranos espanhóis a esperança de que o Messias chegaria e iria liderar os filhos de Israel de todas as suas terras de volta à Palestina, e que tinha mesmo encorajado que realizassem manifestações públicas. Um espírito de expectativa cresceu durante a estadia de Reuveni em Portugal. Uma mulher marrana da região de Herara, em Puebla de Alcocer declarou ser uma profeta, teve visões, e prometeu liderar os seus correligionários para a Terra Santa. Como era o costume na época, ela recebeu o tratamento que mulheres que diziam ter visões e causavam agitação recebiam: foi queimada viva, juntamente com quem acreditava nela.

Apesar disso o evento mais importante causado pela presença de Reuvani foi a conversão de Marano Diogo Pires (b. c. 1501; d. 1532) ao judaísmo. Marano nasceu cristão e Portugal, e recebeu o nome de batismo de Diogo Pires. Ele tinha o cargo de secretário em uma das cortes mais importantes em seu pais natal. Quando David Reuvani surgiu, vindo da África para Portugal, em sua missão política, Marano decidiu se unir a ele, e foi rejeitado. Ele então se circuncisou, o que não o fez cair nas graças de Reuvani, e emigrou para a Turquia, com um patrocínio farto. Adotou o nome de Salomão Molko. Era um visionário e acreditava em sonhos, estudou cabala com Joseph Taytazak e conheceu Joseph Caro. Ele então vagou como pregador através da Palestina onde conseguiu uma grande reputação e anunciou que o reino Messiânico chegaria em 1540. Em 1529 Molko publicou alguns de seus sermões sob o título e Derashot – ou Sefer ha-Mefo’ar. Quando rumou para a Itália encontrou a oposição de vários judeus proeminentes que temiam que ele confundisse seus correligionários, mas ele consegue o apoio do Papa Clemente VII, e de alguns cardeais anti-semitas em Roma. Muitos afirmam que ele previu para o Papa uma inundação que atingiu Roma e vários outros lugares.

Graças a seus estudos que envolviam a Cabala e outros tópicos estranhos, Molko sentiu que nada seria mais justo do que se proclamar o Messias, ou ao menos seu precursor. Acompanhado por David Reubeni, que ele conheceu na Itália, rumou para Ratisbon, em 1532 onde o imperador Charles V se encontrava realizando uma dieta. Nesta ocasião Molko carregou uma bandeira com a inscrição מכבי, uma abreviação do versículo 11 do décimo quinto capítulo do livro do Êxodo: O SENHOR, quem é como tu entre os deuses? (em hebraico a tradução desta passagem seria: Quem dentre os poderosos é como Deus?). O imperador aprisionou Molko e Reubeni, e os levou consigo de volta para a Itália. Em Mantua, uma corte eclesiástica sentenciou Molko à morte na fogueira. Quando estava amarrado no tronco o emperador ofereceu o perdão a ele, com a condição de retornar para a igreja, mas Molko recusou, pedindo pela morte de um Mártir.

Isaac Luria,  Hayyim Vital Calabrese e Abraão Shalom

Isaac Luria (Isaac ben Solomon Ashkenazi Luria), juntamente com Ḥayyim Vital Calabrese, seu maior discípulo e sucessor) foi o fundador da escola moderna da Cabala. Luria ensinava em seu sistema místico a transmigração e superfetação (Concepção de novo feto, quando já existe outro no útero) das almas, e acreditava ele próprio possuir a alma do Messias da casa de José e ter como missão apressar a vinda do Messias da linha de David através da evolução mística das almas. Tendo desenvolvido o seu sistema Cabalístico no Egito, sem no entanto conseguir ali muitos seguidores, ele foi para Safed, Israel, por volta de 1569. Foi ali que conheceu Hayyim Vital Calabrese, a quem revelou os seus segredos e através de quem assegurou muitos seguidores. A estes ensinou secretamente o seu messianismo, acreditando que a era messiânica teria início no princípio da segunda metade do segundo dia (do ano 1000) após a destruição do templo de Jerusalém, ou seja, em 1568.

Com a morte de Luria em 1572, Hayyim Vital Calabrese reivindicou ser o Messias Efraíta e pregou o breve advento da era Messiânica. Em 1574, Abraão Shalom, um pretendente a Messias Davídico, enviou um comunicado a Vital, dizendo que ele (Shalom) era o Messias da casa de Davi, enquanto que Vital era o Messias da casa de José. Ele pediu a Vital que fosse a Jerusalém e que ali ficasse pelo menos dois anos, com o que o espírito divino iria chegar-lhe. Shalom ainda disse a Vital, por fim, que não receasse a morte, o destino do Messias Efraíta, já que ele iria tentar salvá-lo dessa perdição.

Após quatro décadas encontramos um registro no “De Pseudo-Messiis”, no capítulo iv, parágrafo 15, outro Messias que teria aparecido em Coromandel em 1615.

Sabbatai Zevi e os Messias Cabalísticos

Um dos movimentos Messiânicos mais importantes surgiu na metade do século VII e em alguns lugares chegou a persistir por mais de 100 anos. Sabbatai Zevi nasceu no nono dia de Ab (dia 23 de julho de 1626), descendente de espanhóis, em Smyrna, e morreu dia trinta de setembro de 1676 em Duleigno, uma pequena cidade da Albânia.

De acordo com os costumes dos judeus orientais da época, Sabbatai deveria se tornar um estudioso do Talmude, quando jovem atendeu o yeshibah sob o tutelado do rabi veterano Joseph Escapa, mas ele nunca demonstrou muito interesse por esses estudos. Ele era fascinado pela Cabala e o sistema desenvolvido por Isaac Luria, especialmente pela Cabala prática com seu ascetismo e mortificação do corpo, práticas que, de acordo com seus praticantes, tornavam possível um contato com Deus e com os anjos, predizer o futuro e realizar todo o tipo de milagre. Ele teve uma infância solitária e de acordo com o costume da época se casou muito jovem, mas se recusou a realizar o ato sexual com sua esposa, de forma que ela pediu um divórcio e ele de boa vontade o garantiu. O mesmo aconteceu com sua segunda mulher. Quando começou a estudar mais profundamente a Cabala começou a se mortificar, a jejuar dia após dia e a viver em um constante estado de êxtase.

Paralelamente um outro fenônemo estava surgindo, desta vez graças aos cristãos. Durante a primeira metade do século XVII teve início a crença sobre a aproximação da Era Messiânica e a da redenção dos judeus e seu retorno a Jerusalém. Essa crença era difundida cada vez mais não apenas por judeus, mas por cristãos também, que acreditavam que o ano do apocalipse seria o de 1666. A crença era tão difundida e aceita que Manasseh ben Israel escreveu uma carta para Cromwell e para o Parlamento Inglês urgindo a readmissão dos judeus na Inglaterra, afirmando que “a opinião de muitos cristãos assim como a minha concordam aqui que ambos acreditamos que o tempo de restauração de nossa nação em seu pais nativo está muito próxima e à mão”. Além disso existe uma passagem muito popular entre os judeus no Zohar, que quando interpolada da maneira correta afirma que o ano da redenção de Israel pelo Messias seria o de 1648.

Esse conjunto de fatos e crenças teve um efeito muito forte na mente extasiada de Sabbatai e o levou à conclusão mais lógica que ele poderia chegar: ele era o Messias esperado por todos. E então com apenas 22 anos, em 1648, ele se revelou em Smyrna para aqueles que, impressionados com seus trabalhos com Cabala, carisma e atos fora do comum, o seguiam como o Redentor Messiânico enviado por Deus para acabar com os governos das nações e liderar Israel de volta para Jerusalém. O método que escolheu para se revelar foi pronunciar o Tetragrammaton em hebreu, um ato que só podia ser realizado pelo sumo sacerdote na Santuário no dia do Yom Kippur, o dia mais sagrado para os judeus. Apesar de sua ousadia a sua pouca idade não lhe garantiu muitos seguidores, mas dentre os primeiros que simpatizaram com sua empreitada estavam Isaac Silveyra and Moses Pinheiro. Sabbatai continuou em Smyrna por alguns anos, levando uma vida pia, mística e com certos atritos com a comunidade, mas quando suas pretensões messiânicas se tornaram muito evidentes o colégio dos Rabinos o baniu junto com seus seguidores.

O que se seguiu não é muito claro, em 1653 ou 1658 ele esteve em Constantinopla, onde conheceu Abraham ha-Yakini (um discípulo de Joseph di Trani, um homem de grande inteligência e reputação), que confirmou as declarações de Sabbatai. Neste época surgiu um documento entitulado “A Grande Sabedoria de Salomão”, que atestava o messianismo de Sabbatai, dizendo:

“Eu, Abrahão, fui confinado em uma caverna por quarenta anos, e ponderei muito sobre o tempo dos milagres, que não havia chegado ainda. Então uma voz se fez ouvir, proclamando: ‘Um filho nascerá no ano de 5386 (1626) para Mordecai Zevi; e ele será chamado de Shabbatai. Ele vencerá o grande dragão;… ele, o verdadeiro Messias, se sentará sobre o trono (de meu Deus).”

Munido deste documento, tido por muitos como uma revelação real, Shabbatai escolheu Salonica, na época um ponto de encontro de Cabalistas, como o seu campo de operações. Ali ele se proclamou novamente como o Messias, e ganhou muitos seguidores. Como consequência os Rabinos de Salonica o baniram da cidade, e ele segue seu caminho passando por Alexandria, Atenas, Constantinopla, Jerusalém, Smyrna e outros lugares, finalmente após uma longa jornada ele chega ao Cairo onde viveu por dois anos. Mas aparentemente Shabbatai não achava que o Egito era o local ideal para os acontecimentos que previa, o ano apocalíptico 1666 se aproximava e algo definitivo deveria ser feito para estabelecer que ele era o Messias sem deixar quaisquer sombras de dúvidas. Ele então deixa o Egito e ruma para Jerusalém, esperando que na cidade santa algum milagre acontecesse e confirmasse seu destino para todos. Chegando lá ele começa a meditar, jejuar, realizar atos de caridade para crianças e passa as noites cantando Salmos, isso faz com que ganhe a simpatia de muitas pessoas. Neste ponto um incidente inesperado o leva de volta ao Cairo, com a missão de arrecadar uma grande soma em dinheiro para reparar uma calamidade engendrada contra  Jerusalém por oficiais turcos. Shabbatai consegue arrecadar o dinheiro, o que lhe garantiu um prestígio ainda maior.

Carregado com o dinheiro e com uma esposa que encontrou no caminho (e um número crescente de seguidores) ele volta triunfante para a Palestina, atravessando a cidade de Gaza ele encontra Nathan Ghazzati, que se torna seu o braço direito e afirmava ser o Elijah, aquele que tomaria o lugar do Messias. Em 1665 Ghazzati proferiu que a Era Messiânica teria inicio no ano seguinte. Essa revelação surgiu com grandes detalhes, ele afirmava que o mundo seria conquistado por ele, O Elijah, sem derramamento de sangue, que então o Messias lideraria para a Terra Santa as dez tribos, “montado em um leão com sete cabeças de dragão em suas mandíbulas”. Tudo isso, é claro, foi aceito por todos. Finalmente no outono de 1665 Shabbatai ele é aclamado como Messias por todos.

No início de 1666 ele se dirige novamente para Constantinopla, esperando pelo milagre que realizasse a profecia de Ghazzati que dizia que Shabbatai colocaria a coroa do Sultão em sua própria cabeça. Tão logo colocou o pé na cidade foi preso ao comando do Grão Vizir, Ahmad Koprilli e foi jogado, acorrentado, na prisão. Seu aprisionamento, entretanto, não teve nenhum efeito negativo, nem para ele, nem para seus seguidores. Ao contrário o tratamento tolerante que recebeu apenas confirmou a fé de todos de que ele era o Messias. Após dois meses de encarceramento em Constantinopla, Shabbadai foi levado à prisão estadual no castelo de Abydos, onde recebeu um tratamento ainda mais condescendente e alguns de seus amigos ainda puderam acompanhá-lo. Em consequência disso os Shabbateanos deram à fortaleza o nome de Migdal ‘Oz (Torre da Força). No dia que foi levado para Abydos abateu um cordeiro para si e seus amigos, já que era o dia antes do Páscoa e o comeu com a gordura, o que era uma violação da Lei, e antes de comer o animal ele pronunciou: “Bendito seja Deus, que fez limpo o que era abominação”. Nesta época acontece um incidente que contribuiria com a queda de Shabbatai, que até o momento estava vivendo como um príncipe na fortaleza.

Dois estudiosos do Talmud, poloneses de Lemberg, que estiveram entre os visitantes de Shabbatai em Abydos, o informaram sobre um profeta originário de Lemberg, Nehemia ha-Kohen, que havia anunciado a vinda do Messias. Shabbatai ordenou que trouxessem o profeta à sua presença. Nehemia obedeceu, e chegou a Abydos em setembro de 1666 e a conferência entre ambos terminou com a insatisfação mútua e dizem que os Shabbateanos fizeram planos de assassinar o profeta rival.

Nehemiah, entretanto, escapou para Constantinopla, onde se converteu, tornando-se maometano e traiu Shabbatai. O Sultão Mohammed IV, foi tirado de Abydos e levado a Adrianopla, onde o médico do Sultão informou a Shabbatai que ele deveria abraçar o Islã como única maneira de se salvar. No dia 16 de Setembro de 1666 ele foi levado diante do sultão onde se desfez de suas vestes judaicas e colocou na cabeça um turbante, se convertendo. O sultão ficou muito satisfeito, e deu a Shabbatai o cargo de Effendi, e o contratou pagando um alto salário. A esposa de Shabbatai e alguns de seus seguidores também se converteram, e alguns dias após sua conversão ele escreveu para Smyrna: “Deus me tornou um ismaelita, Ele comandou e foi feito. O nono dia da minha regeneração”.

Os efeitos da conversão do Messias foram devastadores na comunidade judaica, rabinos proeminentes que era seguidores de Shabbatai se prostravam em vergonha. Entre as massas uma grande confusão reinou.

Por um tempo Shabbatai permaneceu fazendo um jogo duplo, em março afirmando ter sido tomado pelo Espirito Santo disse ter recebido uma revelação. Ele, ou um de seus seguidores, publicou um trabalho místico endereçado para os judeus afirmando entre outras coisas que ele era o Redentor, apesar de sua conversão, cujo objetivo real era converter para o judaísmo milhares de muçulmanos. Para o sultão ele dizia que suas atividades com os judeus eram para convertê-los ao islamismo. Esse jogo duplo entre judeus e muçulmanos não poderia durar muito e pouco tempo depois ele foi deprivado de seu salário e banido. Terminou seus dias em obscuridade em Dulcigno, um lugarejo na Albânia.

Após a morte de Shabbatai seguiu-se uma linha hereditária de Messias. Jacob Querido, filho de Joseph Filosof, e irmão da quarta mulher de Sabbatai, tornou-se líder dos Shabbatheanos em Salônica, sendo visto como a encarnação de Shabbethai. Ele afirmava-se filho de Sabbatai e adotou o nome Jacob Tzvi. Com 400 seguidores converteu-se ao Islã por volta de 1687, formando uma seita chamada Dönmeh. Ele próprio chegou mesmo a peregrinar a Meca (c. 1690). Após a sua morte, o seu filho Berechiah ou Berokia sucedeu-o (c. 1695-1740).

Vários seguidores de Shabbatai declararam-se eles próprios Messias. Miguel Abraham Cardoso (1630 – 1706), nascido de pais marranos, pode ter sido iniciado no movimento Shabbatheano por Moisés Pinheiro em Livorno. Ele tornou-se um profeta do Messias, e quando o último se converteu ao Islão, ele chamou-o de traidor, dizendo que é necessário que o Messias se conte entre os pecadores por forma a expiar a idolatria de Israel.

Ele aplicou a passagem de Isaías LIII a Sabbatai, e enviou epístolas que provariam que ele era o verdadeiro Messias, chegando mesmo a sofrer a perseguição por defender a sua causa. Mais tarde, considerou-se um Messias Efraíta, argumentando com alegadas marcas no seu corpo que o provariam. Pregou e escreveu sobre vinda em breve do Messias, marcando datas diferentes, até que acabou por morrer.

Outro seguidor de Shabbatai que lhe permaneceu fiel, Mordecai Mokia, ou Mordekay Mokiah (“o admoestador”) de Eisenstadt, que também afirmou ser um Messias. O seu período de atividade foi de 1678 a 1682 ou 1683.

Defendeu inicialmente que Shabbatai era o verdadeiro Messias e que a sua conversão tinha sido necessária por motivos místicos. Pregava que este não morrera mas que se iria revelar dentro de três anos após a sua suposta morte, e apontou para as perseguições de judeus em Oran (Espanha), na Áustria, e em França, e a pestilência na Alemanha como presságios da sua vinda.

Encontrou seguidores entre judeus da Hungria, Morávia e da Bohemia. Dando ainda um passo a mais, ele se declarou como o Messias Davídico. Shabbatai, de acordo com ele, passou apenas a ser o Messias Efraíta. Como tinha sido rico, significava que não poderia executar a redenção de Israel. Ele, Mordecai, sendo pobre, era o Messias verdadeiro e ao mesmo tempo a encarnação da alma do Messias Efraíta.

Judeus italianos, ouvindo falar dele, convidaram-no a ir até Itália. Viajou para lá por volta de 1680, tendo sido bem recebido em Reggio e Modena. Falou das preparações messiânicas que teria que fazer em Roma e deu a entender que talvez adotasse o Cristianismo exteriormente. Denunciado à Inquisição ou aconselhado a deixar a Itália, ele regressou à Bohemia, onde se diz que se tornou demente. A partir deste tempo, uma seita começou a tomar forma ali, e persistiu até à era Mendelsoniana.

Judas Leib (Leibele) (Löbele) Prossnitz foi um cabalista nascido no fim do século XVII em Brodi, na Galícia. Ele deixou sua cidade natal e seguiu para Prossnitz, na Morávia, onde se casou. Ele era extremamente pobre, vivendo em uma cabana abandonada, tida como mal assombrada por muitos e em uma noite ele afirmou que iria evocar Shekiná e fazê-la aparecer diante de uma multidão.

Shekiná, שכינה em hebraico, é no judaísmo a faceta da revelação divina aos homens, a “Divina Presença”, sendo também considerada a face “feminina” e “materna” dela. O vocábulo “shechiná” não aparece na Bíblia Judaica nem no Novo Testamento, de acordo com a concepção cabalística e do ramo hassidísmo do judaísmo, a Shechiná é uma energia cósmica poderosíssima em si mesma, que habita no “interior” do Universo e vivifíca-o, sendo a sua “alma” ou “espírito”. Apesar de não constar nas escrituras a Shekiná é uma idéia concreta na literatura rabínica. E para se entender a grandiosidade da promessa de Judas, esta faceta da divindade é o meio comunicativo entre o homem e Deus.

Para realizar o feito, Judas colocou uma cortina, atravessando seu quarto de ponta a ponta, atrás dela ele acendeu uma mistura de de álcool e querosene. Então, vestindo um manto branco ele ficou atrás da cortina e a luz atrás dele fazia a imagem das letras do tetragrammaton, que ele havia dependurado no peito, brilharem. Os espectadores se agitaram, estando na presença de um milagre, até que um dos presentes arrancou a cortina do lugar e revelou a fraude. Judas foi excomungado pelos rabinos da Morávia.

Apesar de tudo, Judas encontrou muitos seguidores dentre os Shabbateanos, ele se autoproclamou o Messias ben Joseph (Messias filho de José) e assinava seu nome como Joseph ben Jacob (José, filho de Jacó) e pregava que desde o surgimento de Shabbatai Zevi, Deus havia dado a ele a missão de guiar o mundo, quando ascendeu aos céus a missão foi passada a Jonathan Eybeschütz e finalmente caia nas mãos de Judas. Perambulou de cidade a cidade na Austria e Alemanha, onde arrecadava dinheiro de muitas pessoas. Em 1725 sua excomunhão foi renovada e ele se mudou para a Hungria. A história registra que ele morreu lá entre os não judeus.

Outro, Isaías Hasid (um cunhado do Shabbatheano Judah Hasid), que vivia em Mannheim, afirmou secretamente ser o Messias ressuscitado apesar de ter publicamente abjurado de quaisquer crenças Shabbatheanas.

Jacob Frank, fundador dos Franquistas, também afirmou ser o Messias. Na sua juventude tinha tido contato com o Dönmeh. Ele ensinava que era uma reencarnação de Shabbatai e do Rei Davi. Tendo conseguido alguns seguidores entre os judeus da Turquia e de Valáquia (na atual Romênia), ele veio em 1755 até a Podolia, onde os Shabbatheanos necessitavam de um líder, e revelou-se como a reencarnação da alma de Berechiah.

Enfatizou a ideia do “rei sagrado” que seria ao mesmo tempo Messias, tendo-se denominado apropriadamente de “santo señor”. Os seus seguidores afirmam que realizou milagres, tendo chegado mesmo a rezar para ele.

O seu objetivo (e o da sua seita) era o de acabar com uma vez por todas com o judaísmo rabínico. Foi forçado a deixar Podolia; e seus seguidores foram perseguidos.

Regressando em 1759, aconselhou os seus seguidores a converterem-se ao cristianismo. Cerca de 1000 deles converteram-se, tornando-se polacos gentios com origens judaicas. Ele próprio converteu-se em Varsóvia em Novembro de 1759.

Mais tarde a sua falta de sinceridade foi exposta e foi emprisionado por heresia, permanecendo no entanto, mesmo encarcerado, o líder de sua seita.

Moises Hayyim Luzzatto, o poeta, também acreditou ser o Messias. Ele havia sido iniciado na Cabala e, desiludido com a sua ocupação com o Zohar e influenciado pela atmosfera Cabalista em que vivia, ele acreditava que um espírito divino lhe havia dado uma iluminação nos mistérios e terminou acreditando que estaria destinado a redimir Israel graças ao “Segundo Zohar” que ele mesmo escreveu. Sua Cabala foi mantida, num primeiro momento, em um círculo fechado de discípulos, mas quando o segredo foi revelado Luzzato fez um juramento de que ele não escreveria, publicaria ou ensinaria mais suas doutrinas a não ser que fosse para a Palestina. Ele retornou com suas atividades Cabalistas e foi excomungado várias vezes. Mais ou menos em 1744 ele foi para a Palestina, onde poderia seguir com seus estudos sem ser incomodado, ou para realizar seu destino de Messias. Ele morreu lá.

Shukr Kuhayl

Shukr ben Salim Kuhayl I também conhecido como Mari (Mestre) foi um Messias do Iemem. Ele se revelou primeiro em San’a em 1861, como um mensageiro do Messias, em uma época que havia uma grande expectativa por parte do povo do surgimento do Prometido. Se divorciando de sua esposa ele deu início a uma vida de pregador intinerante para ter uma vida de pobreza e exortar a todos que se arrependessem. ENo Sabbath de maio de 1861 ele declarou que “Eu venho para avisar a todos e lembrá-los do arrependimento e da redenção”.

Ele aparentemente era um indivíduo pio, asceta e humilde, que se trajava com retalhos e vivia em solidão no Monte Tiyal, mas em algum momento ele começou a dar a entender que não era mais o mensageiro do Messias e sim o próprio. Ele escrevia fórmulas messiânicas em suas mãos e corrigia os textos sagrados, inserindo a si mesmo nas narrativas bíblicas. Um viajante judeu chamado Jacob Saphir registrou que quase todos os judeus do Iemem naquela época acreditavam nas proclamações messiânicas de Shur Kuhayl I.

Kuhayl morreu pouco depois disso, morto por árabes em 1865, supostamente a mando do imã que controlava a capital de San’a e que enxergava uma ameaça em Kuhayl, mas mesmo assim muitos de seus seguidores não aceitaram o seu fim e esperavam que ele retornasse em breve. E essa espera foi recompensada em pouco tempo com o surgimento de Judah ben Shalom, que afirmou a todos ser o mesmo Shur Kuhayl que havia sido morto e estava retornando.

Judah ben Shalom era um artesão de San’a e como seus antecessores era um cabalista. Em março de 1868 ele anunciou que era de fato Shukr Kuhayl I, que havia sido morto e decapitado por árabes três anos antes e ressuscitado por Elias.

O novo Shur Kuhayl continuou pregando as mensagens de arrependimento com que todos já estavam acostumados. Para os Judeus ele proclamava ser o Messias enviado para libertá-los, para os árabes ele anunciava ser um muçulmano enviado para anunciar a chegada do Mahdi. Realizar milagres não fazia parte de seu repertório, e ele chegou a notar isso em algumas de suas correspondências, mas acreditava que a principal causa para isso era que Deus ainda não havia liberado a permissão para a realização de milagres porque aguardava o momento em que todos os judeus se unissem e o aceitassem como seu Messias.

Diferente de sua primeira encarnação, Judah ben Shalom não era um pregador intinerante, ele chegou a desenvolver uma estrutura muito bem organizada que incluia centenas de funcionários, de seu quartel general ele mantinha vasta correspondência com líderes judeus em várias comunidades, principalmente com o propósito de angariar fundos.

Apesar de sua aceitação, Shukr Kuhayl II encontrou resistência de certas pessoas, especialmente aquelas que conhecial o primeiro Shukr e afirmavam que o seu novo estilo de vida cheio de luxos era incompatível com sua vida prévia.

Eventualmente foi Jacob Saphir, que refutou as alegações messiânicas de Judah e contou com apoio de vários rabinos de jerusalem para acabarem com o status de Kuhayl II perante os líderes das comunidades judias que o mantinham financeiramente. Quano o dinheiro parou de chegar ele foi obrigado a fazer empréstimos com os árabes e, por não conseguir pagar esses empréstimos, terminou na cadeia. Liberado depois de um tempo nunca mais foi capaz de reunir seguidores e morreu em estado de pobreza em 1878.

Uma das principais consequências desses movimentos messiânicos causados por Shabbatai e seus seguidores foi o da marginalização da Cabala. Aparente qualquer um que desejasse provar que era um profeta ou mesmo o Messias, com algum conhecimento desta ferramenta, poderia chegar a “provas” de que era legítimo. Depois desta época os estudos da Cabala foram ridicularizados pela maioria das pessoas e ela até hoje é tida como superstição dentre a maioria das comunidades judaicas.

Menachem Mendel Schneerson

Dentro do movimento Chabad Lubavitch do Judaísmo chassídico houve um crescente fervor messiânico nos finais da década de 1980 e princípios da década de 1990, devido à crença que o seu líder, Menachem Mendel Schneerson estaria prestes a revelar-se como o Messias.

Menachem Mendel Schneersohn, nascido em 1902, ficou conhecido por seus seguidores como O Rebe , foi um rabino ortodoxo, o sétimo e último Rebe do movimento Chabad Lubavitch. Em 1950, com a morte de seu sogro, o Rabbi Yosef Yitzchok Schneersohn,  ele recebe a visita de uma delegação de chassidim idosos com uma petição aceitando-o como seu Rebe, ele então colocou a cabeça entre as mãos e começou a chorar. “Por favor, me deixem” – suplicou ele. “Isso nada tem a ver comigo.” Após um ano de episódios como esse, finalmente aceitou o cargo. Assim mesmo, havia uma condição. “Eu ajudarei” – anunciou o Rebe – “mas cada um de vocês terá de cumprir sua própria missão. Não esperem ficar pendurados nas franjas de meu talit.” Desta forma ele assume a liderança do movimento Lubavitchiano até sua morte em 1994.

Em 1991 ele declarou a seus seguidores que: “Eu fiz tudo o que podia (para trazer o Messias), e agora estou passando para vocês (esta missão, façam tudo o que puderem para trazer o Messias.” Tem início então a uma campanha para que a era Messiânica tivesse início através de “atos de bondade e gentileza”.

Pouco antes de sua morte um número considerável de Chabad Hasidim acreditavam que ele logo se manifestaria como o Messias. Segundo seus seguidores, Rav. Menachem Mendel Schneersohn era dotado de grande sensibilidade, o que fazia com que fosse consultado por milhares de pessoas todos os anos, em busca de conselhos para suas vidas pessoais. Muitos destes conselhos e suas consequências acabaram por serem vistos como “milagres” por aqueles que os buscavam.

Surge então um movimento que acreditava ter a missão de convencer o mundo de que o Rebe era de fato o Messias e que assim que todos aceitassem isso ele seria levado à revelação de seu papel. Aqueles que aderiam a esse movimento eram chamados de Meshichistas, e era comum cantarem: “Yechi Adoneinu Moreinu v’Rabbeinu Melech haMoshiach l’olom vo’ed!” (“Vida longa a nosso mestre, professor e Rabi, o Rei Ungido, para sempre e sempre) quando estavam na sua presença.

A morte de Schneerson em 1994 abateu um pouco este sentimento, apesar de muitos seguidores de Schneerson ainda acreditarem que ele é o Messias e que irá regressar em devido tempo.

 

Notas:

[1] Êxodo capítulo 14

Versículo 4 – E eu endurecerei o coração de Faraó, para que os persiga, e serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, e saberão os egípcios que eu sou o SENHOR. E eles fizeram assim.

Versículo 8 – Porque o SENHOR endureceu o coração de Faraó, rei do Egito, para que perseguisse aos filhos de Israel; porém os filhos de Israel saíram com alta mão.

Versículo 17 – E eis que endurecerei o coração dos egípcios, e estes entrarão atrás deles; e eu serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavaleiros,

Versículo 18 – E os egípcios saberão que eu sou o SENHOR, quando for glorificado em Faraó, nos seus carros e nos seus cavaleiros.

Versículo 26 – E disse o SENHOR a Moisés: Estende a tua mão sobre o mar, para que as águas tornem sobre os egípcios, sobre os seus carros e sobre os seus cavaleiros.

Versículo 28 – Porque as águas, tornando, cobriram os carros e os cavaleiros de todo o exército de Faraó, que os haviam seguido no mar; nenhum deles ficou.

Versículo 29 -Mas os filhos de Israel foram pelo meio do mar seco; e as águas foram-lhes como muro à sua mão direita e à sua esquerda.

Versículo 30 -Assim o SENHOR salvou Israel naquele dia da mão dos egípcios; e Israel viu os egípcios mortos na praia do mar.

Versículo 31 -E viu Israel a grande mão que o SENHOR mostrara aos egípcios; e temeu o povo ao SENHOR, e creu no SENHOR e em Moisés, seu servo.

E nós podemos ouvir as vozes perguntando: Por que, Senhor? Eles já estavam livres? Afogar aquela gente toda a troco de que?

[2] Aleister Crowley LIBER LVIII, GEMATRIA UM ARTIGO SOBRE QABALAH – THE EQUINOX I(5)

por Rev. Obito

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A Cidade Invisível: Magia e Folclore Brasileiro

Bate-Papo Mayhem 146 – 06/03/2021 (Sabado) 18h Com Raphael Draccon – A Cidade Invisível: Magia e Folclore Brasileiro

Os bate-Papos são gravados ao vivo todas as 3as, 5as e sábados com a participação dos membros do Projeto Mayhem, que assistem ao vivo e fazem perguntas aos entrevistados. Além disto, temos grupos fechados no Facebook e Telegram para debater os assuntos tratados aqui.

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Oni

Onis, uma das criaturas mais populares do folclore japonês e uma das criaturas que mais sofre preconceito por estas bandas ocidentais. Simplesmente traduzido como “demônio”, um Oni é muito mais do que uma criatura com chifres e dentes afiados.

Se você está chegando agora e quiser conferir as partes anteriores, todas elas podem ser encontradas na categoria  Youkai.

A palavra Oni é composta de apenas um kanji, formado de uma imagem pictográfica de uma criatura com uma grande cabeça e pernas disformes. No idioma chinês, este kanji significa “fantasma”, e era usado antigamente para designar os espíritos das pessoas que faleceram.

Com o passar dos anos e com o sincretismo das crenças do oriente – quais sejam, hinduísmo, budismo, taoísmo, e, posteriormente, as escolas budistas japonesas, o shugendou, o onmyoudou e o xintoísmo –, a palavra “oni” passou a ser usada para designar criaturas semelhantes ao que nós conhecemos por ogros e por trolls aqui no ocidente, que possuem chifres, dentes afiados e grandes presas.

Com frequência, aparecem retratados no Jigoku, o inferno budista, trabalhando como servos de Enmma-Daioh, o Grande Rei Enma, um dos dez juízes do inferno, razão pela qual hoje são chamados de demônios pelos ocidentais.

Ozunu, também conhecido como En no Gyouja, tido como o fundador do Shugendou, uma seita asceta japonesa, derivada das escolas do budismo esotérico japonês (Shingon e Tendai), possuía dois onis como seus servos, Sekigan e sua esposa Koukou, que posteriormente mudaram seus nomes para Zenki e Goki.

No Feng Shui, a direção nordeste não é tida como auspiciosa, sendo chamada de “Portal do Oni”.

Para manter Onis afastados, era costume manter estátuas de macacos nos jardins e nos telhados das casas e dos templos, especialmente virados para nordeste.

No próximo post da seção “Criaturas Sobrenaturais”, veremos um pouco sobre os fantasmas japoneses, mais conhecidos como Yuurei.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/criptozoologia/oni/