A Arte de produzir Ferramentas Mágicas – Yann França

O Boteco do Mayhem (Marcelo Del Debbio, Thiago Thamosauskas, Rodrigo Elutarck, Ulisses Massad, Paulo Jacobina, Tales de Azevedo, Barbara Nox, Ivan de Aragão e Robson Belli) conversam com Yann França sobre A arte magica de produzir ferramentas da magia

Os bate-Papos são gravados ao vivo todas as 3as, 5as e sábados com a participação dos membros do Projeto Mayhem, que assistem ao vivo e fazem perguntas aos entrevistados. Além disto, temos grupos fechados no Facebook e Telegram para debater os assuntos tratados aqui.

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Os Illuminati e o Dia do Trabalho

Weishaupt era Maçom versado nos diversos campos da filosofia de sua época. Seu caráter foi marcado pela extrema liberdade de pensamento e independência de opinião. Graduou-se em Direito na Universidade de Ingolstadt onde, mais tarde, foi professor titular de Direito Canônico e decano da Faculdade de Direto. Foi iniciado nos antigos Mistérios de Elêusis e nos ensinamentos secretos dos Pitagóricos. Obteve conhecimentos secretos para fundar os Illuminati através da seita do Xeque persa Hassan Sabbath, conhecido como o “Velho da Montanha”.

Adam Weishaupt escolheu o dia 1º de maio para fundação dos Illuminati, ordenando certos números para que formassem uma cifra poderosa. O primeiro de maio sempre fora comemorado pelas sociedades primitivas na Primavera Pagã. Entendia-se, portanto, que a data estava carregada do simbolismo da fertilidade do solo e, por analogia, a fecundidade do pensamento político.

Weishaupt utilizou ainda um sistema cabalístico associado à numerologia: sendo maio o quinto mês do ano (o número 5, em nossos estudos, está relacionado com as mudanças e com a evolução) somado ao número 1 (1º dia) temos SEIS (arcano da Liberdade). Em seguida, Weishaupt acrescentou a soma dos algarismos do número do ano, 1776, obtendo o resultado VINTE E UM (arcano da Busca da Felicidade e Caminho da Alma).

Detalhes sobre as operações utilizadas por Adam Weishaupt não cabem no âmbito deste artigo. Basta considerarmos que as chamadas “adições” e “reduções teosóficas” consistem nas somas da série natural dos números começando pela unidade até incluir o número proposto; ou reduzir a um único dígito a soma dos algarismos que compõem determinado número.

Os Illuminatti acreditaram que as combinações de 3, 5, 7 , 9, 21 e a escolha desta data para fundação da Ordem, eram essenciais para que seus planos obtivessem absoluto sucesso. Faltavam menos de vinte anos para a Revolução Francesa. Os arcanos numéricos, interpretados pelos Illuminatti, apontavam para o grande Renascimento do Homem mediante o arcano da Justiça.

Adam fez contato com a Loja Maçônica de Adolf Von Knigge e juntos fundaram a Ordem dos Iluminados da Baviera na Noite Mágica de Walpurgis (deusa Viking da primavera), entre 30 de abril e 1 de maio de 1776. O Rito de Weishaupt foi introduzido na Grande Loja da Baviera (Walpurgisnacht) e depois nas Lojas do Grande Oriente da maçonaria francesa que já se referia abertamente aos Illuminatti.

Os primeiros desses Illuminatti eram dirigidos por um conselho Areópago (correspondente aos modernos Kadosch) presididos por um Mestre cujo título era “Spartacus”.

Havia três graus: I- Aprendiz, ou Sementeira; II- Maçom de Simbologia e Ciências; e III- o Grau dos Mistérios Menores e Maiores. Depois, os Mestres do Terceiro Grau eram elevados aos 12 Graus Superiores que culminavam no XII cujo título era Rex Ordinis.

George Washington conheceu Adam Weishaupt e esteve, durante algum tempo, associado aos Illuminatti. Mas, quando em 1789 começaram os movimentos da Revolução Francesa, Washington preferiu se afastar, mantendo sua filiação exclusivamente na Maçonaria.

Não há dúvida que os ideais de Adam Weishaupt influenciaram a França entre 1789 e Novembro de 1799. O aparecimento público da Deutsche Einheit (Unidade Alemã) expandiu a propaganda dos Illuminatti entre os círculos de leitores donde nasceu o grito de guerra: “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”.

Cerca de 90 anos mais tarde, as idéias dos Illuminatti ressurgiam vigorosamente na América. O fato de o 1º de maio ser mundialmente consagrado aos trabalhadores não foi uma coincidência. O 1º de maio de 1886 fazia ressonância dos planos de Weishaupt para o renascimento dos ideais de Liberdade. Aquele movimento nas ruas de Chicago fez lembrar o ano de 1776, a mesma data que aparece no dólar americano, em algarismos romanos sob uma pirâmide, como selo da Novus Ordo Seclorum.

#Illuminati #Maçonaria

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As Pesquisas de Michel Gauquelin

Além da pesquisa centrada no zodíaco, que não foi favorável à astrologia, embora, como veremos em outro artigo, seu planejamento tenha sido no mínimo discutível, outro experimento, que mostrava a distribuição no espaço dos planetas do sistema solar, mais o Sol e a Lua, obteve um extraordinário sucesso. Calcularam-se as posições desses corpos celestes no horário de nascimento de médicos eminentes da Academia de Medicina da França, num total de 576 profissionais, tendo como resultado uma interessante correlação. Dois anos depois, repetiu-se o mesmo tipo de experiência, dessa vez com outros 508 médicos, e novamente as correlações se confirmaram. A grande “descoberta” foi que, dividindo a esfera celeste em doze setores, os planetas Marte e Saturno, e só eles, apareciam com maior freqüência próximo ao nascer (surgimento no horizonte) e à culminação superior (passagem pelo meridiano local) no horário em que os futuros médicos vieram ao mundo. Essa freqüência em dois dos setores demarcados superava em muito o que seria o esperado numa distribuição aleatória. O resultado, como veremos no segmento que explica a experiência, mostrava-se estatisticamente muito significativo, ou seja, a probabilidade de que esses dados fossem obra do acaso era remotíssima.

Outras profissões também foram avaliadas em relação aos planetas. Correlações significativas surgiram igualmente no nascer e na culminação de Marte para atletas, de Júpiter para atores e políticos, de Saturno para cientistas e da Lua para escritores e também para políticos. Entre 1956 e 1958, Gauquelin reproduziu o mesmo procedimento com amostras de outros países europeus: Alemanha, Bélgica, Holanda e Itália. Mais uma vez observou o mesmo efeito, os mesmos planetas apareciam com freqüência bem maior do que o normal nas proximidades do horizonte leste e da culminação superior no momento em que nasciam indivíduos que, no futuro, viriam a ser profissionais bem-sucedidos numa área específica. Havia também um pequeno aumento da freqüência próximo ao ocaso e à culminação inferior. Os outros planetas do sistema solar, bem como o próprio Sol, componentes fundamentais da análise astrológica, não apresentaram correlação com nenhuma das profissões pesquisadas. Em 1960, Gauquelin publica Les Hommes et Les Astres, apresentando todos esses novos resultados.

Continuando a pesquisa, em 1966 ele publica o livro L’Hérédité Planetaire, mais um marco em sua carreira. Aqui são comparadas as posições dos astros na hora de nascimento de pais e filhos, segundo o mesmo método de divisão da esfera diurna utilizado para as profissões. Os planetas que ocupam a região em torno do nascer e da culminação superior no momento em que nascem os pais tendem a reproduzir essas posições no caso dos filhos. Estatisticamente, os valores novamente são muito significativos e o efeito planetário na hereditariedade vem reforçar o significado das experiências anteriores. Desta vez, o planeta Vênus também aparece como significativo nas correlações. Gauquelin ainda encontraria uma outra correlação interessante: entre a atividade geomagnética e a intensidade do efeito planetário na hereditariedade em termos de casos positivos. De acordo com os cálculos efetuados, o efeito planetário era aproximadamente duas vezes mais forte quando a criança nascia em dias de maior perturbação magnética, ou seja, as correlações envolvendo pais e filhos eram mais freqüentes nesses dias. E se o parto (dos filhos) fosse por cesariana em vez de normal, a correlação diminuía sensivelmente.

No final da década de 60, Gauquelin deu um novo rumo a suas pesquisas. Os resultados de duas décadas de trabalho pareciam apontar numa direção bem mais promissora. Melhor do que relacionar profissões com planetas seria vincular esses corpos celestes com traços de personalidade típicos de pessoas que são bem-sucedidas numa determinada carreira. Afastava-se, assim, a incômoda idéia de destino, do “estar escrito nas estrelas”, que dava lugar a predisposições de natureza psicológica. Para alguém ter êxito numa profissão, e a pesquisa de Gauquelin nesse sentido só encontrou correlações estatisticamente válidas nos profissionais de alto nível, naqueles que atingiram o topo da carreira, é preciso possuir certas características praticamente indispensáveis a um desempenho competente no ofício. Por exemplo: executivos devem ter iniciativa e dinamismo (Marte), cientistas precisam ser disciplinados e introspectivos (Saturno), atores via de regra são extrovertidos (Júpiter), e assim por diante.

Antes de examinarmos com mais detalhes esta última etapa do trabalho de Michel Gauquelin, sem dúvida a mais importante, explicaremos alguns conceitos de astronomia necessários ao entendimento da metodologia utilizada. Depois poderemos apresentar a elaboração dos experimentos e, em seguida, qual o impacto que os resultados tiveram na comunidade científica, se é que houve algum.

O Movimento Diurno

Devido à rotação da Terra sobre seu próprio eixo, um observador pode ver, no céu, o Sol, a Lua, os planetas e as estrelas descreverem uma trajetória na esfera celeste, cujo tempo aproximado é de 24 horas. Esse movimento segue no sentido do leste para o oeste, já que nosso planeta gira no sentido contrário. Na Figura 1, Gauquelin dá um exemplo do movimento diurno de Marte para o dia 24 de maio de 1956, em Paris. Nesse dia, o planeta vermelho nasceu, isto é, surgiu no horizonte leste, à 0h44, culminou às 5h33 e se pôs no horizonte oeste às 10h22.

Vemos nessa figura dois grandes círculos perpendiculares que são o horizonte e o meridiano do lugar. O movimento de Marte é marcado pelo círculo ABCDA. O ponto A assinala o momento em que este corpo celeste aparece no horizonte leste, portanto quando cruza a linha do horizonte, à 0h44. Continuando sua trajetória, ele se eleva no céu, com uma certa inclinação, até atingir a culminação, ou seja, seu ponto mais alto na esfera celeste, o ponto B, às 5h33. Daí ele começa a descer, chegando ao ponto C, na intersecção com o horizonte oeste, às 10h22. A partir dessa posição, Marte segue abaixo do horizonte até alcançar o ponto D, onde cruza o meridiano em sua culminação inferior, localizada a 180 graus da culminação superior. Desse ponto ele voltará para o ponto A, nascendo novamente. Softwares de astronomia ou de astrologia fornecem a posição dos demais planetas, além do Sol e da Lua, entre o horizonte e o meridiano para um determinado momento. Assim, pode-se fazer um estudo de correlação envolvendo todos eles.

O que interessava a Gauquelin era justamente determinar a posição de um planeta, do Sol e da Lua no momento em que uma pessoa nascesse. Para fazer um cálculo estatístico da freqüência de nascimentos nas diversas posições possíveis, era preciso dividir o círculo do movimento diurno em partes iguais. Desta maneira, são computados separadamente todos os nascimentos ocorridos

O número de médicos nascidos no momento em que Marte e Saturno ocupavam os setores 1 e 4 era maior que 16,7% da amostra, indicando uma “preferência” pela proximidade com o Ascendente e o Meio-do-Céu, os dois pontos mais importantes de uma carta astrológica.

Quando um planeta estava numa determinada região da esfera celeste. Assim, seguindo com o exemplo de Marte, o movimento diurno deste planeta é dividido em 12 partes ou setores. Não confundir esta divisão com a divisão astrológica das Casas Terrestres, embora as posições do Ascendente e do Meio-do-Céu (culminação superior) sejam as mesmas. Futuramente, Gauquelin adotaria o sistema de Casas astrológicas de Plácido.

Na Figura 2, vemos que Marte esteve acima do horizonte durante 9 horas e 38 minutos (578 minutos). Logo, permaneceu abaixo do horizonte por 862 minutos, num total de 1440 minutos, ou seja, 24 horas. Dividiu-se então o arco diurno do planeta em seis setores iguais, cada um com 96 minutos de arco; o mesmo para o arco noturno, cada setor com 144 minutos de arco. Numerados os setores de 1 a 12, o primeiro começa exatamente ao nascer à 0h44, o segundo às 2h20, depois passando pela culminação às 5h33, pelo ocaso às 10h22, e assim sucessivamente. Se nesse dia uma pessoa nasceu à 1h10, Marte estava no setor 1, pouco acima do horizonte. Se o nascimento foi às 5h15, Marte aproximava-se da culminação superior, ainda no setor 3. O mesmo procedimento vale para a posição dos outros corpos celestes. Em amostras de alguns milhares de nascimentos, os planetas e os luminares estarão distribuídos entre esses setores, ocupando cada um deles com uma determinada freqüência.

Procedimentos Experimentais

Teoricamente, espera-se que cada corpo celeste, ou operador celeste astrológico, passe um dozeavos (8,33%) do tempo em cada setor, embora existam variáveis astronômicas e demográficas, devidamente controladas nas pesquisas de Gauquelin, que alteram um pouco esse valor, daí a necessidade de um grupo de controle, tomado aleatoriamente e formado por indivíduos que nasceram no mesmo intervalo de tempo e na mesma região das pessoas que compõem a amostra. Assim é possível conhecer a distribuição média e compará-la com o resultado obtido. Se a distribuição dos nascimentos pesquisados estiver dentro dessa média, portanto com um número praticamente igual de nascimentos em cada setor, então não há problema nenhum, trata-se de uma distribuição aleatória. É o que deve acontecer. Ou pelo menos deveria. Para analisar estatisticamente as amostras, Gauquelin utilizou o teste do qui-quadrado, uma medida que compara freqüências observadas com freqüências teoricamente esperadas e indica a extensão da discrepância entre os dois conjuntos de dados, e a distribuição normal padronizada (z score), que dá a distância relativa da média em unidades de desvio padrão.

Essa distribuição, ou seja, quantas vezes um planeta encontra-se presente num certo setor para uma determinada amostra, pode revelar se existe de fato uma correlação estatisticamente significativa entre a posição do planeta e a natureza específica de um conjunto de nascimentos. Como já dissemos, o primeiro experimento bem-sucedido do casal Gauquelin foi com a amostra que reunia o horário de nascimento de 576 médicos ilustres. O número de médicos nascidos no momento em que Marte e Saturno ocupavam os setores 1 e 4, ou seja, quando estes planetas se elevavam no horizonte leste ou pouco depois de cruzarem o meridiano do lugar, era maior que 16,7% da amostra, indicando uma “preferência” pela proximidade com o Ascendente e o Meio-do-Céu, os dois pontos mais importantes de uma carta astrológica. A freqüência encontrada era bastante significativa. Sendo a amostra relativamente grande – 576 indivíduos -, o resultado era altamente improvável se atribuído ao acaso.

Gauquelin repetiu o experimento com outra amostra, desta vez com 508 médicos ilustres, uma quantidade também adequada para fins estatísticos. O resultado novamente confirmou uma freqüência bastante significativa de nascimentos quando Marte e Saturno ocupavam os setores 1 e 4, que mais tarde passariam a ser chamados de setores-chave.

A associação encontrada por Gauquelin entre medicina e os planetas Marte e Saturno corrobora os significados tradicionais que a astrologia atribui a esses dois planetas ao vinculá-los, especialmente no caso de Marte, à medicina e aos médicos. As observações empíricas dos antigos já detectavam uma correlação que só no século XX viria a ser redescoberta, embora a ciência oficial continue com seus ataques histéricos contra a astrologia.

Sendo ele um pesquisador sério e honesto, qualidades nem sempre aplicáveis a seus detratores, Gauquelin sabia que deveria continuar repetindo essas experiências para assegurar-se da validade do fenômeno. Pois tudo poderia não passar de uma combinação fortuita. Depois de muitos malogros, alguma vez ele poderia fatalmente sair com um resultado positivo – apenas por acaso. Assim, seguiu em frente, agora recolhendo dados de nascimento de franceses que se destacaram nos esportes, na política, na guerra, enfim, nas mais diversas atividades. As informações sobre cada pessoa, ele as obtinha de dicionários biográficos; o horário de nascimento, de cartórios de registro.

Mais uma vez, alguns planetas confirmavam seus significados tradicionais. Aqueles mesmos setores – às vezes também outros, quando se dividia o movimento diurno em 18 ou 36 setores – apresentavam uma freqüência maior que a esperada, e agora Gauquelin chegava a resultados ainda mais impressionantes, principalmente naquilo que ficou conhecido como o Efeito Marte e sua altíssima freqüência no caso de esportistas eminentes. Em um dos experimentos, para uma freqüência esperada de 253 nascimentos nos setores-chave, ou zona de acréscimo, como ele a chamou, a freqüência observada foi de 327 nascimentos, numa amostra de 1485 campeões. Dado o tamanho da amostra, a diferença em relação à freqüência teórica, mesmo sendo relativamente pequena torna-se extremamente significativa. Aqui temos um desvio de 29,2% para mais. A probabilidade do resultado ser obra do acaso é de menos de 1 para 1 milhão!

Na Figura 3, uma representação gráfica circular da distribuição de Marte no horário de nascimento de 2088 esportistas campeões. O círculo representa a distribuição teórica; a linha contínua, as posições de Marte; e a linha tracejada, a distribuição para Marte no nascimento de 717 esportistas comuns. Observa-se que a linha contínua apresenta picos pouco depois do nascer e da culminação superior. Para os esportistas medianos, porém, o padrão desaparece. Sistematicamente, Gauquelin constatou que esse resultado estatístico significativo só ocorria entre profissionais eminentes. Antes de apresentarmos a explicação que ele encontrou para essa discrepância, vejamos mais alguns gráficos de distribuição planetária.

A Figura 4 mostra as posições de Saturno para 3647 cientistas (linha contínua) e 5100 artistas (linha tracejada) . O planeta tradicionalmente associado à introspecção, disciplina, introversão, concentração, aparece com muito mais freqüência pouco depois do nascer e da culminação superior na amostra de cientistas. Ao contrário, entre os artistas, é como se ele evitasse essas posições e ali sua freqüência caísse abaixo da média esperada, representada pelo círculo.

Na Figura 5 podemos ver a distribuição de Júpiter para uma amostra de 993 políticos. O círculo tracejado corresponde ao resultado teórico de um grupo de controle. O mesmo padrão se repete. Na astrologia, esse planeta encerra características como extroversão, otimismo, sociabilidade, ambição, etc.

Traços de Personalidade

No começo da década de 60, houve um redirecionamento no trabalho de Gauquelin. Em vez de planetas e profissões, ele percebeu que existia uma relação subjacente mais efetiva, agora entre planetas e traços de personalidade. Esta nova relação podia explicar por que um padrão de distribuição recorrente só aparecia em amostras de profissionais de alto nível e não em pessoas comuns, medianas. Pessoas bem-sucedidas costumam apresentar certos traços de personalidade bem acentuados, o que justamente lhes permite destacar-se entre os demais. Aqueles estranhos resultados, que sugeriam algo como um destino estabelecido pelos planetas, talvez não fossem tão estranhos assim. Talvez estivessem indicando um certo tipo de comportamento associado ao desempenho em determinadas profissões. Assim, o planeta nada tinha a ver com esta ou aquela profissão, mas com certas características da personalidade de um indivíduo.

Assim, pessoas mais agressivas, bastante determinadas, preocupadas com a auto-afirmação, competitivas, que prontamente tomavam iniciativas teriam mais chance de se destacar em carreiras que exigissem atitudes dessa natureza: militares, executivos, atletas. Neste caso, pode-se dizer que predomina Marte nos setores 1 e 4 (na divisão por doze). Se predominar a Lua, os profissionais lunares serão escritores e/ou políticos: imaginação, sensibilidade, flexibilidade, popularidade são, entre outros, os traços que definem a natureza do nosso satélite. O mesmo acontece com Saturno e Júpiter e seus respectivos traços.

Para fundamentar sua hipótese – que a posição de um planeta no momento e local de nascimento está relacionada a determinados tipos de personalidade -, Gauquelin utilizou as informações biográficas dos profissionais eminentes cujos dados de nascimento ele já tinha em mãos. Partindo, portanto, de descrições elaboradas por terceiros, ele extraía do texto palavras que o autor usava para caracterizar a personalidade ou o comportamento do biografado. Termos como passional, sério, obstinado, agressivo eram exemplos de traços de personalidade que serviam para tipificar determinada pessoa. Consultando várias fontes, Gauquelin abria uma ficha para cada traço, e numa mesma linha escrevia o nome da celebridade e as posições dos planetas no nascimento.

Não é difícil imaginar o imenso trabalho envolvido numa pesquisa de tal magnitude. Durante dez anos, Gauquelin, a esposa Françoise e uma equipe de pesquisadores juntaram mais de 5.000 documentos biográficos de cerca de 2.000 pessoas famosas, num total de 6.000 traços para esportistas campeões, 10.000 para cientistas, 18.000 para atores e 16.000 para escritores. No começo, os dados eram tratados manualmente, mas depois puderam contar com os recursos da Astro Computing Services, em San Diego, Califórnia. Entre 1973 e 1977 foi publicada uma série de monografias com a análise final de todos os dados da pesquisa.

Para deixar bem claro que o que estava em jogo era uma correlação entre planetas e traços de personalidade, e não profissões, comparou-se o perfil de um profissional com os traços típicos de sua profissão – no caso, esportistas campeões, atores, cientistas e escritores – com o de outros que apresentavam um antiperfil. Em nascimentos de campeões bastante obstinados e de vontade férrea, Marte aparecia com freqüência duas vezes maior nos setores-chave do que no caso de campeões pouco determinados e inseguros. Atores muito sociáveis nasciam com Júpiter muito mais freqüente nos setores-chave do que aqueles menos comunicativos. Cientistas introspectivos nasciam em maior número quando Saturno se posicionava próximo ao nascer e à culminação superior do que cientistas mais extrovertidos. E, finalmente, a Lua comparecia maior número de vezes aos setores mencionados para os escritores realmente sensíveis e imaginativos.

Surgiam, portanto, quatro fatores planetários que de algum modo funcionavam como determinantes da personalidade; e o que é mais importante, esse tipos planetários reproduziam os significados da tradição astrológica. As observações dos antigos, conquanto empíricas e sem a sofisticação do método científico moderno, mostravam-se corretas. Para os astrólogos, é claro que não havia nenhuma surpresa. Há séculos que esses corpos celestes eram vistos como vinculados a certos temperamentos. E havia também os outros planetas e mais o Sol, para os quais Gauquelin não encontrou as evidências necessárias.

Pais e Filhos

Vencidas as dificuldades para obter os dados de nascimento de mais de 30.000 indivíduos, incluindo pais e filhos, passou-se para o cálculo das posições planetárias. Confirmou-se que os filhos apresentam a tendência a nascer no momento em que um determinado planeta, posicionado no nascer e na culminação superior, também ocupasse essa mesma região do espaço no nascimento de seus pais. As semelhanças valiam tanto para o pai quanto para a mãe. Se ambos nascessem com o mesmo planeta nas zonas 1 e 4, duplicava a tendência do filho acompanhar o padrão. A probabilidade de que a correlação fosse obra do acaso era de menos de 1 para 1 milhão. Onze anos depois, Gauquelin repetiu o experimento e novamente obteve resultados igualmente significativos. Não foram observadas correlações significativas para Mercúrio, Urano, Netuno e Plutão, e nem para o Sol.

Finalmente, Gauquelin observou que esse efeito de hereditariedade planetária não se manifestava quando a criança nascia de parto cirúrgico, ou se o nascimento de algum modo era induzido por meio de medicamentos apropriados. Vale dizer que apesar dessa constatação, a experiência astrológica, utilizando o mapa natal como um todo, não tem verificado nenhuma diferença nesse sentido. Os mapas de crianças nascidas de cesariana, por exemplo, prática extremamente comum no Brasil, mostram-se perfeitamente válidos e funcionais.

Na Figura 6, o gráfico mostra o efeito combinado da hereditariedade planetária. No eixo horizontal, a posição dos planetas e da Lua em 18 setores , no momento do nascimento. No eixo vertical, as freqüências observada e esperada para os cinco corpos celestes. A marca do zero corresponde à freqüência esperada ou teórica. Na Figura 7, uma comparação entre os dois padrões: profissões e hereditariedade. Na curva de cima, a distribuição combinada para Marte, Júpiter, Saturno e Lua no nascimento de profissionais bem-sucedidos. A curva inferior mostra a distribuição combinada de Marte, Júpiter, Saturno, Vênus e Lua no nascimento de crianças cujos pais nasceram com o mesmo planeta nos setores-chave.

O Difícil Diálogo com a Ciência

Gauquelin sempre publicou os resultados de suas pesquisas com todos os detalhes metodológicos, conforme as normas acadêmicas, esperando assim que o trabalho fosse lido e comentado pelos cientistas. Ledo engano. O tema em si trazia um estigma que simplesmente horrorizava o meio acadêmico.

Astrologia? Nem pensar. É superstição e ponto final. Para que perder tempo examinando experimentos que tratam de tamanha bobagem? Esqueça. Jean Rostand, um acadêmico francês, chegou a declarar que se a estatística demonstrara a veracidade da astrologia, então ele não acreditava mais na estatística!

De nada adiantava enviar os resultados de sua elaborada pesquisa estatística para as sábias otoridades da ciência ortodoxa. Ninguém dava a mínima. Não respondiam ou alegavam não ter tempo. Mas a obstinação de Gauquelin fez com que ele não parasse de insistir. O Comitê Belga de Investigação Científica de Fenômenos Ditos Paranormais, cujo lema era “Nada negue a priori, nada afirme sem prova” respondeu dizendo que “…é claro que os destinos humanos dependem de fatores humanos e não astrais”. E ponto final. Nem todos, porém, o desprezaram. O estatístico Jean Porte examinou os dados e, apesar de não aceitar a “influência astral”, reconheceu a validade do trabalho e disse não ter encontrado nenhum erro. Depois disso, Jean Dath, do próprio Comitê Belga, diria a mesma coisa sobre o método estatístico, mas, juntamente com seus pares, não estava convencido de que aquilo pudesse ser verdadeiro. Também não quiseram reproduzir o trabalho.

Passados cinco anos, Gauquelin voltou a procurar o Comitê Belga. Agora propôs a reprodução do experimento com um novo grupo de esportistas campeões belgas e franceses. Esperava, como das outras vezes, uma freqüência significativamente mais alta de Marte nos setores-chave. O comitê aceitou e de fato realizou a pesquisa nas condições propostas por Gauquelin. O resultado foi positivo. A amostra com 535 campeões confirmava as observações anteriores do psicólogo e estatístico francês (ver Figura 8). Só que agora Jean Dath colocava em dúvida o método de Gauquelin, o que não fizera antes. As discussões se arrastaram e, sintomaticamente, o tal Comitê acabou não publicando os resultados. O Professor Koenigsfeld, presidente do Comitê, teria escrito numa carta a um colega pesquisador: “De fato, verificamos os cálculos do sr. Gauquelin e concordamos com eles… Mas não concordamos com suas conclusões, que não podemos aceitar.” Interessante… não podemos aceitar.

Nem tudo foi decepção. Em 1975, ninguém menos que o psicólogo Hans Eysenck, da Universidade de Londres, assim elogiou o trabalho de Gauquelin: “Acho que em termos de objetividade de observação, significância estatística das diferenças, verificação da hipótese e reprodutibilidade, há poucos conjuntos de dados na psicologia que podem competir com essas observações”. Era um grande aliado. Em 1976, os dois submeteram um artigo ao XXI Congresso Internacional de Psicologia, sediado em Paris, mas o trabalho não foi aceito. Era o estigma novamente.

Naquele mesmo ano de 1975, além do famoso, autoritário e infantil manifesto anti-astrológico assinado por 186 cientistas, que na verdade nem sabiam direito o que estavam fazendo, publicava-se um artigo na revista Humanist criticando duramente o trabalho de Gauquelin. O estatístico Marvin Zelen, a pedido do editor da revista, comentou que os argumentos matemáticos do autor do artigo, um tal Lawrence Jerome, eram insignificantes, e propôs ele mesmo um experimento para verificar a validade do efeito Marte. Feito o teste, pela enésima vez o resultado confirmava o nosso incansável herói. Então estava tudo certo? Não! Depois disso, Paul Kurtz, o editor da Humanist, Zelen e o astrônomo George Abell escreveram um artigo em que manipulam espertamente os dados e ainda põem em dúvida a honestidade de Gauquelin. Uma professora de estatística escreveu uma nota para a revista, criticando os erros do artigo. A nota nunca foi publicada.

Em 1976, o mesmo Paul Kurtz anunciava a criação do infame e teratológico CSICOP ou Comitê de Investigação Científica das Alegações de Paranormalidade, que de científico não tinha absolutamente NADA. Tratava-se apenas de um clubinho de indivíduos, predominantemente machos, que odiavam fenômenos paranormais, religião, astrologia, esoterismo, misticismo, enfim, tudo que não fosse ortodoxia cientificista. E para “provar” que estavam certos e que detinham a posse da verdade inconteste, eram capazes de qualquer coisa. O impagável Paul Kurtz chegou mesmo a adulterar dados para “derrotar” Gauquelin. O ridículo e lamentável episódio ficou conhecido como O Caso STARBABY, que será tema de um artigo futuro. Interessante é que os céticos não contam essa história quando resolvem espinafrar a astrologia.

Conclusão

Apresentamos apenas uma visão geral do trabalho de Michel Gauquelin, uma verdadeira saga de quase 40 anos de pesquisa, infelizmente pouco reconhecida. Gauquelin enfrentou o preconceito tanto da comunidade acadêmica, por razões óbvias, quanto da comunidade astrológica, esta por falta de preparo científico e com a visão embaçada de magia, ocultismo e esoterismo. Se em muitas ocasiões Gauquelin interpretou mal a astrologia, a culpa foi mais dos astrólogos, que até então praticamente não haviam renovado os conceitos astrológicos, contentando-se em repetir os ecos da tradição, sem a necessária visão crítica. A astrologia parecia um dinossauro extemporâneo, insistindo numa terminologia arcaica e no pensamento mágico pré-científico, sem se preocupar com o método científico moderno, como se o tempo houvesse parado.

Gauquelin não provou que a astrologia funciona, como querem alguns astrólogos, nem tampouco que não funciona, segundo afirmam os céticos de carteirinha. É muito comum depararmos com leituras tendenciosas e superficiais da obra desse grande pesquisador. Os vieses parecem alimentar posições rígidas de ambos os lados. Portanto, é preciso ter cuidado. Seus experimentos são muito importantes para a astrologia, contanto que sejam minuciosamente examinados, analisados e possam assim contribuir para a elaboração de trabalhos mais bem orientados. O desenvolvimento de métodos de leitura mais ordenados e uma revisão profunda do que realmente significa a correlação entre o mapa astrológico e as diferenças individuais de personalidade, bem como fenômenos de outra natureza, é uma tarefa urgente para de fato entendermos a essência do fenômeno astrológico e projetarmos novos experimentos com o devido rigor científico.

Texto original do colega Mauro Silva

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Bibliografia

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– Glasnapp, D.R. e Poggio, J.P. Essentials of Statistical Analysis for the Behavioral Sciences. Charles E. Merrill Pub. Company, 1985.

– West, John Anthony. Em Defesa da Astrologia [Cap 3]. Ed. Siciliano, 1992.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/as-pesquisas-de-michel-gauquelin

Jacques DeMolay

Jacques DeMolay nasceu em Vitrey, uma pequena e próspera região em Haute Saone, França, no ano de 1244. Quase tudo o que temos conhecimento sobre sua vida se deve aos registros templários posteriores à sua entrada na Ordem e muito pouco se sabe a respeito de sua infância ou adolescência.

Hoje, completando a parte final sobre a série dos Templários, falaremos sobre a vida e a morte do último de seus Grãos Mestres.

Se você começou a ler esta série de posts agora, eu recomendo que leia antes os artigos sobre a Primeira Cruzada, sobre a Segunda e Terceira, sobre a Quarta Cruzada e os Cátaros, sobre a Quinta, Sexta e Sétima Cruzada pelo ponto de vista Templário.

Aos 21 anos de idade, Jacques DeMolay foi iniciado na Ordem dos Cavaleiros Templários. Até então, os Templários eram uma organização sancionada pela Igreja Católica Romana, com a função de proteger e guardar as estradas entre Jerusalém e Acre, um importante porto da cidade no Mar Mediterrâneo. A Ordem dos Cavaleiros Templários participou das Cruzadas e conquistou um nome de valor e heroísmo.

Apesar das derrotas sucessivas para os mamelucos, a situação das Ordens de Cavalaria na Europa estava muito boa. Muitos nobres e príncipes enviaram seus filhos para serem Cavaleiros Templários e isso fez com que a Ordem passasse a ser muito rica e popular em toda a Europa. Tradicionalmente, o filho mais velho permanecia junto aos reis porque era o herdeiro, o filho mais novo era mandado para a Igreja para fazer parte do clero e aos irmãos do meio, não havia outra saída que não fosse se alistar nos exércitos e tentar conquistar o seu próprio pedaço de terra. Muitos deles conseguiam doações substanciais de suas famílias para a causa Templária (ou hospitalaria ou teutônica) e aos poucos, a Ordem ergueu um complexo de riquezas que a tornou uma das organizações mais poderosas de todo o Planeta.

Em 1298, Jacques DeMolay foi nomeado Grande Mestre dos Cavaleiros, uma posição de poder e prestígio. Jacques DeMolay assumiu o cargo após a morte de seu antecessor Teobaldo Gaudini no mesmo ano (1298) e durante uma crise sem precedentes nos territórios ocupados pelos muçulmanos.

Jacques DeMolay passou por uma difícil posição pois as cruzadas haviam falhado miseravelmente em todos os sentidos e os ataques mamelucos estavam tomando cada centímetro do deserto, forçando os cavaleiros a recuarem cada vez mais. Nas últimas batalhas antes de sua posse, os mamelucos haviam tomado algumas cidades e portos vitais dos Cavaleiros Templários e os Hospitaleiros, restando apenas um único grupo do confronto contra os Sarracenos.

Enquanto Jacques e os outros marechais tentavam conseguir reforços na Europa, os Cavaleiros Templários começavam a se reorganizar. Eles foram forçados a se exilarem na a Ilha de Chipre após a queda do Acre, em 1291, esperando pelo público geral para levantar-se em apoio à outra Cruzada.

Demolay conseguiu acordos com o papa Bonifácio VIII, com Edward I (da Inglaterra), Jaime I (de Aragão) e Carlos II (de Nápoles) que garantiriam suprimentos e novos homens. A Igreja, porém, desejava que as Ordens Templária e Hospitalaria se fundissem em uma só organização, apesar de protestos dos dois Grãos Mestres. Jacques atendeu a dois encontros no Sul da França com líderes da Igreja e dos Hospitalários a respeito deste assunto, sem chegarem a um acordo.

De 1299 a 1303, Jacques permaneceu no Chipre, planejando um contra-ataque aos Mamelucos com a ajuda das tropas cristãs, as forças armênias e um novo aliado: os Mongóis. Ghazan, o general mongol de Ikhanate, propôs uma aliança franco-mongólica para expulsar os mamelucos da Síria e do Egito. Durante gerações os mongóis tentaram, sem sucesso, expulsar os mamelucos para poderem ficar com aquele pedaço de terra e a aliança com as cavalarias cristãs parecia uma boa idéia.

A coalizão conseguiu uma vitória na batalha de Wadi-al-Khazandar, em dezembro de 1299, enquanto Jacques e o rei Henrique II de Jerusalém comandavam uma frota de 16 navios que realizavam ataques paralelos nas costas egípcias, enfraquecendo as defesas mamelucas.

Os Templários conseguiram dominar uma pequena base em Tortosa em 1300 mas os mongóis foram barrados e não conseguiram reforçar a posição em 1300, 1301 e 1302, quando as tropas mamelucas tomaram o castelo na Batalha deRuad, em 26 de setembro de 1302.

Enquanto isso, na Europa, continuava a pressão papal para que as duas Ordens se fundissem em uma…

Rei Felipe, o Picareta

Em 1305, o papa Clemente V, recém empossado, convocou os Grãos mestres para uma reunião na França para perguntar suas opiniões a respeito da fusão das duas ordens e da proclamação de uma nova cruzada. Demolay era contra a fusão das ordens já que, para ele, cada uma delas possuía missões diferentes. Também argumentava que precisariam de um movimento gigantesco para fazer frente aos mamelucos, já que pequenas tropas seriam apenas alvos fáceis para os exércitos muçulmanos.

Em 6 de junho, os dois Grãos Mestres foram oficialmente convocados para irem até Poitiers para uma reunião, mas esta reunião acabou adiada por duas vezes, por conta de uma doença do papa (o Deus católico é malvado, não perdoa nem o papa!).

Nesse meio tempo, o rei Felipe, o belo, estava atolado em dívidas com os Templários por conta de sua guerra contra a Inglaterra. Ele estava enchendo o saco do papa para que Clemente unisse as duas ordens sob uma bandeira e que ele, Felipe, ficasse como Rex Bellator (Rei Guerreiro). Além destas palhaçadas, Felipe estava arrumando encrencas com o papado ao ameaçar taxar as Igrejas na França. O papa Bonifácio VIII tentou excomungar Felipe, mas foi encontrado morto em circunstâncias misteriosas logo antes de assinar seu decreto. Seu sucessor, Benedito VIII, tentou contestar o rei, mas acabou morto, envenenado. Clemente, que era mais esperto que a maioria dos ursos, fez um acordo com o rei e abriu as pernas da Igreja Católica para os interesses da França. Ele chegou, inclusive a mudar o papado de Roma para Poitiers, na França, onde ficaria como um marionete do rei.

O Líder dos Hospitaleiros ficou detido na Terra Santa por conta de ataques contínuos a Rhodes, então Demolay ficou sozinho na França com o papa e o rei picareta.

Para mover seu plano astucioso, Felipe usou um nobre francês de nome Esquin de Floyran. O nobre teria como missão denegrir a imagem dos templários e de seu Grão Mestre Jacques DeMolay e, como recompensa Floyran receberia terras pertencentes aos Templários logo após derrubá-los.

Jacques conversa com o rei em 24 de junho de 1307 sobre a Ordem e se recusa a unir as duas potências. Em 14 de setembro de 1307, Felipe começa movimentar seus agentes contra os Templários em toda a França. Os agentes do rei avançam sobre os Templários e capturam suas fortificações, somando as riquezas que encontravam ao tesouro real.

O ano de 1307 viu o começo da perseguição aos Cavaleiros. Apesar de possuir um exército com cerca de 15 mil homens, Jacques Demolay havia ido a França para o funeral de uma Princesa da casa Real Francesa e havia levado consigo poucos homens, sendo esses todos nobres. Na madrugada de 13 de outubro (uma sexta-feira, de onde se originou a história de sexta-feira 13 ser um dia infame) Jacques DeMolay, juntamente a seus amigos, foram capturados e lançados nas masmorras pelo chefe real Guilherme de Nogaret.

Sete anos de torturas

Durante sete anos, Jacques DeMolay e os Cavaleiros sofreram torturas e viveram em condições subumanas. Enquanto os Cavaleiros não se dobravam, Felipe IV gerenciava as forças do Papa Clemente para condenar os Templários. Suas riquezas e propriedades foram confiscadas e dadas à proteção de Felipe.

Após três julgamentos, Jacques DeMolay continuou sendo leal para com seus amigos e Cavaleiros. Ele se recusou a revelar o local das riquezas da Ordem, e recusou-se a denunciar seus companheiros. Em 18 de Março de 1314, ele foi levado à Corte Especial. Como evidências, a Corte dependia de confissões forjadas, supostamente assinadas por Jacques DeMolay, mas em público, ele desmentiu as confissões forjadas. Sob as leis da época, a pena por desmentir uma confissão, era a morte.

O Conselho que começou em 1310 e se arrastou por quase dois anos, terminou com Jacques Demolay e Guy D’Auvergne sendo sentenciados a queimar em praça pública. Sua execução ocorreu em 18 de Março de 1314. Suas últimas palavras foram:

“Senhor,

Permiti-nos refletir sobre os tormentos que a iniqüidade e a crueldade nos fazem suportar. Perdoai, ó meu Deus, as calúnias que trouxeram a destruição à Ordem da qual Vossa Providência me estabeleceu chefe. Permiti que um dia o mundo, esclarecido, conheça melhor os que se esforçam em viver para Vós. Nós esperamos, da Vossa Bondade, a recompensa dos tormentos e da morte que sofremos para gozar da Vossa Divina Presença nas moradas bem-aventuradas.

Vós, que nos vedes prontos a perecer nas chamas, vós julgareis nossa inocência.

Intimo o papa Clemente V em quarenta dias e Felipe o Belo em um ano, a comparecerem diante do legítimo e terrível trono de Deus para prestarem conta do sangue que injusta e cruelmente derramaram.”

O primeiro a morrer foi o Papa Clemente V, logo em seguida o Chefe da guarda e conselheiro real Guilherme de Nogaret e, no dia 27 de novembro de 1314, morreu o rei Felipe IV com seus 46 anos de idade.

Em 2002, A Dra Barbara Frale encontrou uma cópia dos Pergaminhos de Chinon nos arquivos secretos do vaticano. Um documento que confirma explicitamente que o Papa Clemente Vhavia absolvido Jacques deMolay e outros líderes da Ordem, incluindo Geoffroi de Charney e Hughes de Pairaud. Ela publicou seus artigos no Journal of Medieval History, em 2004.

O tesouro Templário

Um documento, apreendido pelas tropas de Napoleão depois de terem invadido a cidade de Roma, em 1809 e referido por Gérard de Sede descrevia o testemunho de um templário, de nome Jean de Châlons aludindo a “três carroças enormes puxadas por cinquenta cavalos que haviam saído, na quinta-feira, 12 de Outubro de 1307 (a véspera da prisão dos templários), do Templo de Paris, conduzidas por Hughes de Châlons, Gérard de Villers e cinquenta outros cavaleiros, transportando “totum thesaurum Hugonis Peraldi” (Hugo de Pairaud, o grande Visitador de França). O mesmo templário teria afirmado que o conteúdo das três carroças teria sido embarcado no porto templário de La Rochelle e seguido em 18 navios da armada dos templários com destino desconhecido, mas que, certamente seriam paragens mais amistosas para a Ordem do que as de França…

A seguir: O fim dos Templários e o começo da Maçonaria.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/jacques-demolay

Templários, Hospitalários, Teutônicos

Publicado no S&H dia 30/9/09,

Semana passada vimos todas as bases históricas que acabaram gerando o Início das Cruzadas, incluindo a formação dos Cavaleiros Templários. Muita gente confunde Templários com Cruzados, misturando tudo em um mesmo saco, mas estas duas classificações militares eram MUITO, mas MUITO diferentes, tanto em sua origem quanto em seus propósitos:
Os Templários eram nobres (a maioria do Sul da França), iniciados nos conhecimentos do oriente e com uma visão de religiosidade muito mais próxima do Catarismo do que do Catolicismo; já os Cruzados eram uma massa de manobra do Vaticano, para tentar recuperar Jerusalém das mãos dos Muçulmanos, custe o que custar.

A Primeira Cruzada
Foi chamada também de Cruzada dos Nobres ou dos Cavaleiros. Ao pregar e prometer a salvação a todos os que morressem em combate contra os pagãos (leia-se, muçulmanos) em 1095, o Papa Urbano II estava a criar um novo ciclo na história mundial.
É certo que a idéia de juntar um bando de gente armados com espadas e tocha e mandá-los para matar os inimigos hereges não era algo totalmente novo, pois já no século IX se declarava que os guerreiros mortos em combate contra os muçulmanos na Sicília mereciam a salvação eterna. Mas desta vez a salvação não era prometida numa situação excepcional.
Urbano II declarou que não apenas todos os pecados dos cruzados seriam perdoados, mas que todo aquele que morresse nesta “Guerra Santa” teria seu lugar garantido no Céu. O problema com isso é que a Primeira cruzada acabou “recrutando” todo tipo de bandido, estuprador, mercenário e vilão que você puder imaginar. Todo aquele que era um pária na Europa enxergou na cruzada uma chance de desaparecer de seus algozes, ficar com a ficha limpa e ao mesmo tempo matar, pilhar e destruir à vontade “em nome de Jesus”. Tudo gente finíssima nas cruzadas…

Por volta de 1097, um exército de 30 mil homens, dentre eles muitos peregrinos, cruzou a Ásia Menor, partindo de Constantinopla. A cruzada dos cavaleiros, possuindo recursos, embora progredindo devagar, fizera um acordo com o imperador de Bizâncio de lhe devolver os territórios conquistados aos turcos. Esse acordo seria desrespeitado, claro, à medida que o mal-entendido entre as duas partes cresceria.

E quem eram os “nobres” das cruzadas?
Imagine que você seja um nobre europeu feudal do século X ou XII. O filho primogênito era tradicionalmente o herdeiro de tudo o que o seu pai tivesse, e era devidamente preparado para assumir as responsabilidades de vassalo ou nobre de acordo com a posição das terras de seu pai; o filho mais novo era, por tradição, destinado à Igreja ou ao Clero, para manter o povo sob o domínio do Cristianismo: eram enviados para os mosteiros para estudar ou para serem introduzidos no catolicismo (desculpem pelo trocadilho…). As nobres fêmeas eram leiloadas em grandes festas junto a outros nobres, dentro de acordos políticos e diplomáticos realizados entre os Senhores Feudais; fora do Sul da França e dos Territórios Celtas, as mulheres não tinham muito poder de decisão de nada, sendo valorizadas mais por sua beleza do que por seus atributos mentais (estas festas deram origem ao que hoje em dia chamamos de “Festas de Debutantes”). Aos irmãos “do meio”, sobrava um abraço e um aperto de mão: não tinham direito a nada.
Neste aspecto, as Cruzadas se ofereciam para eles como algo realmente tentador: comandar um monte de crentes, peregrinos, bandidos e assassinos “em nome de Jesus”, matar vários hereges e, quem sabe, virar um nobre dono de terras no Além Mar? Parecia uma ótima idéia!

As tensões entre os bizantinos e os cruzados
Os bizantinos queriam um grupo de mercenários solidamente enquadrados ao qual se pagasse o soldo e que obedecessem às ordens – não aquelas turbas de remelentos indisciplinados; por outro lado, os cruzados não estavam dispostos, depois de tantos sacrifícios, a entregar o que obtinham.
Apesar da animosidade entre os líderes e das promessas quebradas entre os cruzados e os bizantinos que os ajudavam, a Cruzada prosseguiu. Os turcos estavam simplesmente desorganizados. A cavalaria pesada e a infantaria franca não tinham experiência em lutar contra a cavalaria leve e arqueiros turcos, e vice-versa. No final das contas, a resistência e a força dos cavaleiros venceram a campanha em uma série de vitórias, a maioria muito difíceis.

Em 19 de Junho de 1097, os cruzados cercaram e tomaram Nicéia, devolvendo-a aos bizantinos, e logo tomaram o rumo de Antioquia. Em julho, foram atacados pelos turcos em Dorileia, mas conseguiram vencê-los e, após penosa marcha, chegaram aos arredores de Antioquia em 20 de outubro. A cidade de Antioquia somente cairia, após longo cerco, a 3 de Junho de 1098, com a ajuda de um sentinela armênio que facilitou a entrada dos cruzados nas muralhas da cidade. Seguiu-se um saque terrível da população muçulmana da cidade, que ficou na posse de Boemundo de Taranto, o chefe dos normandos.

Godofredo de Bulhão, após longo cerco, conquistou Jerusalém atacando uma guarnição fraca em 1099. A repressão foi violenta. Segundo o arcebispo Guilherme de Tiro, a cidade oferecia tal espetáculo, tal carnificina de inimigos, tal derramamento de sangue que os próprios vencedores ficaram impressionados de horror e descontentamento.
Conta-se que haviam rios de sangue correndo pelas ruas da cidade…

Godofredo de Bulhão ficou só com o título de protetor e, à sua morte, Balduíno, seu irmão, proclamou-se rei. Após a vitória, era preciso organizar a conquista. Para dividir os territórios conquistados entre os principais nobres que participaram da matança, surgiram quatro estados cruzados, conhecidos coletivamente como Outremer (“Ultramar”), do norte para o sul: o Condado de Edessa, o Principado de Antióquia, o Condado de Trípoli, e o Reino de Jerusalém.

O sucesso da primeira cruzada pelas tropas de Noobs foi até certo ponto uma surpresa e ocorreu porque os cruzados chegaram num momento de desordem naquela periferia do mundo islâmico. Uma vez conquistado o território ao inimigo, os cruzados, cujos desentendimentos com os bizantinos começaram ainda durante a campanha, não mais quiseram devolver as terras aos seus irmãos de fé cristã do Império Bizantino. Balduíno teria dito, inclusive, para o Imperador Bizantino a seguinte frase: “Perdeu, playboy”.

Muitos dos combatentes retiraram-se de Jerusalém (incluindo os grandes senhores), mas um núcleo ficou (cálculos chegam a falar de algumas centenas de cavaleiros e um milhar de homens a pé). As cidades principais (como Antioquia e Edessa) tornarem-se capitais de principados e reinos (embora Jerusalém fosse de certo modo o centro político e religioso), com outras marcas a protegê-los.
O sistema feudal foi transplantado para o oriente com algumas alterações: muitas vezes, em vez de receber feudos, os cavaleiros eram pagos com direitos ou rendas (modalidade que existia também na Europa). As cidades mercantis italianas tornaram-se fundamentais para a sobrevivência desses estados: permitiram a chegada de reforços e interceptar os movimentos das esquadras muçulmanas, tornando o Mediterrâneo novamente um mar navegável pelos ocidentais.

Mas os muçulmanos iriam reagir…
De qualquer modo, nos anos seguintes, com a euforia da vitória, mais voluntários seguiram para o Oriente. Os contingentes seguiam por nacionalidades, continuando pouco organizados. As motivações eram variáveis: se alguns pretendiam obter novos feudos, ou redimir-se das suas faltas, havia também aqueles que “apenas” pretendiam ganhar batalhas, cobrir-se de glória, bênçãos espirituais, e voltar para a sua terra.
Os governantes cruzados encontravam-se em grande desvantagem numérica em relação às populações muçulmanas que eles tentavam controlar. Assim, construíram castelos e contrataram tropas mercenárias para mantê-los sob controle. A cultura e a religião dos francos era muito estranha para cativar os residentes da região.

Por aproximadamente um século, os dois lados mantiveram um clássico conflito de guerrilha. Os cavaleiros francos eram muito fortes, mas lentos. Os árabes não agüentavam um ataque da cavalaria pesada, mas podiam cavalgar em círculo em volta dela, na esperança de incapacitar as unidades dos francos e fazer emboscadas no deserto. Os reinos cruzados localizavam-se, em sua maioria, no litoral, pelo qual eles podiam receber suprimentos e reforços, mas as constantes incursões e o infeliz populacho mostravam que eles não eram um sucesso econômico.

Ordens de monges cavaleiros foram formadas para lutar pelas terras sagradas. Os cavaleiros templários e hospitalários eram, em sua maioria, francos. Os cavaleiros teutônicos (Teutonicorum) eram germânicos. Esses eram os mais bravios e determinados dos cruzados, mas nunca foram suficientes para fazer a região ficar segura, ao contrário do que é ensinado nas escolas. Os reinos cruzados só sobreviveram por um tempo, em parte porque aprenderam a negociar, conciliar e jogar os diferentes grupos árabes uns contra os outros (mas onde que a educação escolar católica brasileira vai admitir que os “guerreiros de Deus” negociavam, manipulavam e conciliavam com os hereges?).

Os Templários
Oficialmente, a Ordem foi fundada por Hugo de Payens após a Primeira Cruzada, em 1119, com a finalidade de defender a Terra Santa dos ataques dos maometanos, mantendo os reinos cristãos que as Cruzadas haviam fundado no Oriente.
Os seus membros faziam voto de pobreza e seu símbolo passou a ser um cavalo montado por dois cavaleiros. Em decorrência do local de sua sede (junto ao local onde existira o Templo de Salomão, em Jerusalém) do voto de pobreza e da fé em Cristo surgiu o nome “Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão”. Sua bandeira consistia em uma cruz vermelha sobre um fundo mosaico preto-e-branco; nos templos, esta bandeira era representada pelo pavimento mosaico.
A regra dessa ordem religiosa de monges guerreiros (militar) foi escrita por São Bernardo. A sua divisa foi extraída do Livro dos Salmos: “Non nobis, Domine, non nobis, sed nomini Tuo da gloriam” (Sl 115,1) que significa “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Vosso nome dai a glória”.
O seu crescimento vertiginoso, ao mesmo tempo que ganhava grande prestígio na Europa, deveu-se ao grande fervor religioso e à sua incrível força militar. Os Papas guardaram a ordem acolhendo-a sob sua imediata proteção, excluindo qualquer intervenção de qualquer outra jurisdição fosse ela secular ou episcopal. Não foram menos importantes também os benefícios temporais que tal ordem recebeu dos soberanos da Europa.
O poder da Ordem tornou-se tão grande que, em 1139 que o papa Inocêncio II emitiu um documento declarando que os templários não deviam obediência a nenhum poder secular ou eclesiástico, apenas ao próprio papa.
Um contemporâneo (Jacques de Vitry) descreve os Templários como “leões de guerra e cordeiros no lar; rudes cavaleiros no campo de batalha, monges piedosos na capela; temidos pelos inimigos de Cristo, a suavidade para com Seus amigos“.
Levando uma forma de vida austera não tinham medo de morrer para defender os cristãos que iam em peregrinação a Terra Santa. Como exército nunca foram muito numerosos (não passavam de 400 cavaleiros em Jerusalém no auge da ordem), mesmo assim foram conhecidos como o terror dos maometanos.

Os Hospitalários
Por volta de 1099, alguns mercadores de Amalfi fundaram em Jerusalém, sob a regra de S. Bento e com a indicação de Santa Maria Latina, uma casa religiosa para recolha de peregrinos. Anos mais tarde construíram junto dela um hospital que recebeu, de Godofredo de Bulhão, doações que lhe asseguraram a existência, desligou-se da igreja de Santa Maria e passou-se a formar congregação especial, sob o nome de São João Baptista.
Em 1113, o Papa nomeou-a congregação, sob o título de São João, e deu-lhe regra própria. Em 1120, o francês Raimundo de Puy, nomeado Grão-Mestre, acrescentou ao cuidado com os doentes o serviço militar.
“Hospitalários” vem da palavra “Hospício”, que naquele tempo tinha a conotação de local para tratamento e/ou hospedagem de pessoas doentes ou pobres sem gratificação, monetária ou econômica, ao serviço prestado. Então quando vocês lerem por ai que os Hospitalários eram proprietários de vários hospícios (Hospices) na Terra Santa, não vão achar que eles eram psiquiatras! (se bem que… dada todas as condições de horror das batalhas, pensando bem, não era um nome tão inapropriado assim…). Do seu nome, vem a palavra “Hospital” que usamos até hoje como sinônimo para “Edifício onde se tratam os doentes”. Mais tarde, veremos que a Ordem irá mudar seu nome e local de sede por motivos alheios à sua vontade, adotando uma nova bandeira que hoje é mundialmente conhecida.

Os Teutônicos
Fundados no Acre a partir do século XII (mas cuja origem precisa remota a 1143, quando o Papa Celestino II pediu um destacamento especial de Hospitalários que falassem a língua germânica para tomar conta de um hospital especial para peregrinos alemães, o Domus Theutonicum), tinha originalmente o nome de “Cavaleiros Teutônicos do Hospital de Santa Maria em Jerusalém” (Ordo domus Sanctæ Mariæ Theutonicorum). Formados a partir de tropas germânicas, nunca tiveram um número muito grande de membros, pois todos os principais cavaleiros sempre tinham origem nobre. Durante os períodos mais complicados, eles recrutavam voluntários e mercenários, que não eram considerados do “Círculo Interno” da Ordem.
Seu primeiro grão mestre foi Henrich Walpot Von Bassenheim (governou de 1198 a 1200). Walpot recebeu em 1199 as regras de Monastério dos Templários das mãos deGilbert Horal, Grão mestre Templário na ocasião, e foi ele quem transformou a Ordem de médicos e protetores para monges guerreiros. Walpot morreu em batalha no Acre.
Os Teutônicos tiveram uma influência muito grande na defesa da região, mas quando os cristãos foram derrotados em 1211, os Teutônicos moveram sua sede para a Transilvânia, para ajudar a defender a Hungria dos ataques dos turcos muçulmanos.

A partir do próximo Post, farei as narrativas paralelas para que vocês entendam melhor as relações de amor e ódio existentes entre estas três Ordens Militares (e os Muçulmanos, e os Católicos, e os Cruzados e os Cátaros…)

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Textos relacionados no blog Teoria da Conspiração e na Wikipedia de Ocultismo.
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Outros textos interessantes:
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#Templários

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Zaratustra, Mithra e Baphomet – parte III

Publicada originalmente no S&H dia 14/5/2008,

Acompanhando esta série “desvendando a origem dos demônios”, cujos posts iniciais estão AQUI e AQUI, o tio Marcelo explicará hoje sobre como surgiram os conceitos de Bem x Mal, deturpados na Igreja Católica e por conseguinte nas Evangélicas e caça-níqueis afins, para providenciar um campo fértil de “nós versus eles” e permitir que agregassem melhor o gado.

E se existia um deus “do bem”, seria necessário inventar deuses “do mal” para servirem como opositores. Para entender como surgiram os demônios, precisamos entender quem eram os deuses das religiões “adversárias” (Shaitanicas).

E, de quebra, também desvendaremos os mistérios de Baphomet!

Diabo, Diabolos e Daimon

Antes de prosseguir, é necessário fazer um adendo. Muitos religiosos gostam de inventar traduções adaptadas às suas necessidades para certas palavras, normalmente de maneira tosca e grosseira, mas que dependendo da erudição com que são colocadas, acabam enganando os desavisados. Uma das favoritas dos fanáticos religiosos é relacionar Daemon, Diabo ou Diabolos com “Acusador” ou “Caluniador”.

Pois bem: Daimon ou Daemon significa “gênio” ou “espírito”. São os Anjos da Guarda da mitologia católica. A palavra em grego para Daimon é “??????”. Já caluniador se escreve “??????????” e acusador “???’??????”, ou seja, palavras BEM diferentes.

Já Diabo vem de Diabolos, cujo significado está atrelado a outra palavra bem conhecida: Símbolos. Diabolos significa “Aquilo que nos separa” enquanto Símbolos significa “Aquilo que nos une”. Desta maneira, uma seita “diabólica” significa, no sentido correto da palavra, “uma seita que nos separa”. Já a relação entre símbolo e união é bem fácil: basta imaginar um time de futebol. O símbolo do time é o brasão que une os torcedores.

Assim falou Zaratustra

Zaratustra, às vezes chamado de Zoroastro, é o fundador do Zoroastrismo. Ele foi um verdadeiro iniciado, nascido na Pérsia cerca de 1.000 anos antes de Cristo. Desde muito cedo, Zoroastro já demonstrava sabedoria fora do comum; aos 15 anos realizava valiosas obras religiosas e era conhecido e respeitado por sua bondade para com os pobres e pelo sistema religioso-filosófico que criou.

Seus sacerdotes, os Magi (sábios), eram vegetarianos, reencarnacionistas, espiritualistas e conheciam muito bem a astrologia. Zoroastro reformulou uma religião chamada Mazdeísmo, com uma visão mais positiva do mundo.

Para entender melhor esta religião, precisamos estudar a estrutura social da época: os persas estavam divididos em três classes; os sacerdotes, os guerreiros e os camponeses. Os Ahuras (“senhores”) eram venerados apenas pela primeira classe, Mithra era um Ahura venerado na classe dos guerreiros; e os camponeses possuíam seus próprios deuses da fertilidade.

O Zoroastrismo prega a existência de um Deus único, Ahura Mazda (“Divindade Suprema”), a quem se credita o papel de criador e guia do universo (Keter, na Kabbalah). Desta divindade emanam seis espíritos, os Amesas Spenta (Imortais Sagrados), que auxiliam Ahura Mazda em seus desígnios.

São eles: Vohu-Mano (Espírito do bem), Asa-Vahista (Retidão suprema), Khsathra Varya (Governo Ideal), Spenta Armaiti (Piedade sagrada), Haurvatat (Perfeição) e Ameretat (Imortalidade). Estes seres travam uma batalha dentro de cada pessoa contra o princípio do mal: Angra Mainyu, por sua vez acompanhado de entidades malignas: O Mau pensamento, a mentira, a rebelião, o mau governo, a doença e a morte.

A grande questão do bem e do mal, colocada por Zoroastro, se resolve DENTRO da mente humana. O bom pensamento cria e organiza o mundo e a sociedade, enquanto o mau pensamento faz o contrário. Esta opção é feita no dia-a-dia da pessoa e ninguém pode fazer uma opção definitiva, pois este é um processo dinâmico e progressivo.

O nome Mithra (Sol) era visto como o “Deus da Luz”. Os vedas o chamavam de Varuna e os persas de Ahura Mazda.

Zoroastro teve muitos problemas em tentar implementar a religião monoteísta, tentando se opor aos sacerdotes de Mithra e os sacrifícios sangrentos dos touros. Zoroastro foi assassinado por sacerdotes de Mithra no templo de Balkh.

Após este período, o culto a Mithra floresceu. Seu dia sagrado, o Solis Invictus, é comemorado a 25 de Dezembro, mesma data do nascimento de Hórus e celebrando a “vinda da nova luz” (claro que não existia o dia 25 de dezembro com este nome, pois o calendário gregoriano só seria inventado muitos séculos depois; a data era calculada pelas luas e pelos astros para cair no Solstício de Inverno, a noite mais longa do ano).

Mithra era considerado o “Filho de Deus”; filho de Ahura Mazda, recebeu a incumbência de matar o touro primordial. Mithra nasce em uma gruta (lembram-se do que falamos nas outras colunas sobre cavernas, certo?) e o céu é sua casa. Matar o touro é o motivo principal do culto mitraico.

Isto é tão importante para compreendermos várias coisas dentro de diversas culturas que eu vou repetir: “matar o touro é o motivo principal da religião mitraica”.

E tudo isto tem a ver com Astrologia e as precessões (você assistiu Zeitgeist, certo?). Então Mithra simboliza o signo de Áries (o guerreiro) substituindo o signo de Touro nas Eras Cósmicas.

Nos rituais Mitraicos, o boi era sacrificado e imolado (queimado), e sua carne e sangue eram oferecidos aos sacerdotes como oferendas de poder. Eles também consumiam vinho e realizavam rituais sexuais, onde através do sexo e do vinho, chegavam ao êxtase, ou a comunhão com Deus.

Do culto a Mithra também surge a história do Minotauro, onde a cada ano, sete pares de jovens eram oferecidos em seu sacrifício (representando os sete pecados capitais – falaremos mais sobre isto no futuro). Teseu, o guerreiro (Áries), encontra o caminho do labirinto e mata o minotauro (touro), restaurando a paz. A lenda de Teseu é uma derivação iniciática dos cultos a Mithra.

Outro aspecto cultural derivado do Mitraismo são as touradas. Nela, o guerreiro entra em uma arena (a arena representa a Terra) e precisa derrotar em combate o touro, tal qual Mithra fez com o touro primordial. No final da batalha, o touro é imolado e servido como banquete aos sacerdotes e guerreiros da irmandade.

Na bíblia temos referência ao touro quando Moisés desce do monte Sinai com os mandamentos (Kabbalah) e depara com os sacrifícios ao bezerro de ouro. Outra referência astrológica.

Posteriormente, os Essênios e Yeshua (Jesus) substituem o touro imolado e o sangue pelo pão e vinho egípcios: o pão representando o corpo de Osíris e o vinho o sangue de Osíris (“tomai e comei todos vós; este é o meu corpo e o meu sangue que é derramado por vós” é uma oração EGIPCIA e representa o sacrifício de Osíris). Jesus, como iniciado, estava celebrando o culto ao Deus-Sol na chamada “Santa Ceia”.

Com o tempo, as pessoas passaram a preferir a eucaristia vegetariana de Yeshua ao invés do banquete carnívoro de Mithra e o ritual de culto ao Deus-Sol acabou se transformando no que chamamos hoje de Eucaristia. Embora o ritual original tenha sido modificado e sobrevivido até os dias de hoje, de uma forma ou de outra.

Os celtas também tinham o costume de fazer sacrifícios ao Deus-Sol. Mas ao invés do touro, sacrificavam o Javali, símbolo do sol. Quem já leu as aventuras de Asterix sabe que toda vitória era comemorada com um grande banquete celebrado por toda a vila, em um Ágape Fraternal. O mesmo ocorria nas legiões romanas e entre os sacerdotes Mitraicos. Note que a távola redonda (ops, eu disse “távola”… eu quis dizer “Mesa”) ao redor da fogueira forma justamente o símbolo astrológico do SOL (um círculo com um ponto central).

Outro costume de Batismo de Fogo, muito popular entre os soldados romanos de alta patente, consistia no Taubólio, o ritual de sacrifício do touro. Sobre uma forte estrutura em forma de rede de aço, era imolado um touro pelos sacrificadores e seu sangue escorria sobre o iniciado, que fica abaixo desta estrutura, nu, em uma fossa escavada no chão. Ali recebe o sangue sobre a cabeça e banha com ele todo o seu corpo. Ao sair da fossa, todos se precipitavam à sua frente, saudando-o. Após a imolação, recolhiam-se os órgãos genitais do touro (cojones), que eram cozinhados, preparados e servidos ao iniciado.

Apesar de parecer nojento, o ritual é impressionante…

As tradições Mitraicas permaneceram em Roma até o século IV, coexistindo com o Cristianismo. Em 325 DC, o Concílio de Nicéia fixou o deus “verdadeiro” e iniciou-se a queda do culto a Mithra.
Mithra é o padrinho da Igreja Católica, já que roubaram sua festa de aniversário (25 de dezembro), seu dia de celebração (as missas são celebradas no Domingo de manhã – Dia do Sol e hora do sol), o chapéu que os papas, cardeais e bispos usam chama-se Mitra e o templo maior de Mithra ficava em um lugar conhecido como Colina Vaticano, que também foi “substituído” pela Igreja principal católica.

Tertuliano presenciou as cerimônias de culto à Mithra e chamou este ritual de “Paródia Satânica da Eucaristia”, ou “Missa Negra” e muitas das histórias bizarras inventadas sobre o “satanismo” foram derivadas destes cultos. Da distorção destas festividades surgiram as famosas “missas satânicas” nas quais se “usava uma mulher nua como altar, bebia-se sangue e comia-se carne ao invés de pão e vinho, os sacerdotes vestiam-se de preto e usavam o terrível pentagrama” e por ai vai. Uma mistureba de cultos celtas, gregos e mitraicos, com um pouco de criatividade mórbida para assustar os crentes e voilá.

No Concílio de Toledo, em 447, a Igreja publicou a primeira descrição oficial do diabo, a encarnação do mal: “um ser imenso e escuro, com chifres na cabeça e patas de bode”. Claramente uma mistura de Mithra, Pan e Cernunnus.

Claro que quase todos nós prestamos homenagens a Mithra até os dias de hoje: Festividades realizadas no dia dedicado ao Sol (Domingo – Sun-day), envolvendo sacrifícios de bois imolados cuja carne e sangue são consumidos pelos sacerdotes, junto com vinho ou cerveja. A Igreja Católica chama isso de “Paródia Satânica da Eucaristia”, mas as pessoas costumam chamar estas homenagens a Mithra de “Churrasco de Domingo”.

Baphomet

(agradecimentos ao irmão Cezaretti)

Para entender a criação e a falsa associação desta figura meio homem meio bode com a Maçonaria, teremos que seguir um longo e tortuoso caminho iniciando no século XII.

Depois da Primeira Cruzada, no ano 1119 em Jerusalém, surge um pequeno grupo de militares formando uma ordem religiosa tendo como seu principal objetivo proteger os peregrinos visitantes à Palestina. Ficaram conhecidos como os Cavaleiros Templários.

Falarei muito mais sobre eles em uma série de matérias futuras, mas por enquanto, basta sabermos que, devido à necessidade de enviar dinheiro e materiais regularmente da Europa à Palestina, os Cavaleiros Templários gradualmente desenvolveram um eficiente sistema bancário que nunca existira.

Assim, levando uma vida austera com uma forte disciplina, defendendo com desinteresse as Terras Santas, recebendo doações de benfeitores agradecidos, os Templários acumularam com o passar dos anos grande riqueza. Tais poderes, militar e financeiro, os tornaram respeitados e confiáveis para a população da época.

Os Templários financiavam, através de vultosos empréstimos, muitos reis da época. Porém, por volta de 1300 os Templários sofreram diversas derrotas militares, deixando-os em uma posição vulnerável e assim, suas riquezas se tornaram objeto de ganância e ciúme para muitos.

Na época o Rei francês Felipe IV (Felipe, o Belo) estava envolvido em uma tumultuada disputa política contra o Papa Bonifácio VIII e ameaçava com a possibilidade de embargar seus impostos ao clero. Tal agressividade do Rei contra o sumo pontífice era principalmente devido à corte francesa estar falida. Então o Papa Bonifácio em 1302 editou a Bula Unam Sanctam, uma declaração máxima do papado, que condenava tal atitude. Os partidários de Felipe então aprisionaram Bonifácio que escapou pouco tempo depois, mas veio a falecer logo em seguida. Em 1305 Felipe, com uma trama política e pressão militar, obteve a eleição de um dos seus próprios partidários, inclusive amigo de infância, como Papa Clemente V e o convenceu a residir na França, onde estaria sob seu controle todo movimento eclesiástico. (Este era o começo do denominado “Cativeiro Babilônico do Papado”, de 1309 a 1377, durante o qual os Papas viveram em Avignon e sujeitos a lei francesa).

Novamente, falarei mais sobre isso quando chegar a vez de falar sobre os Templários, mas por ora, basta sabermos que o Papa estava sob o controle total do rei Felipe, o Belo.

Agora com o Papa firmemente sob seu controle Felipe voltou-se para os Cavaleiros Templários e a fortuna deles, então denunciou os Templários à Igreja por heresia e esta aceitou tal denúncia. Então em 1307, com o consentimento do Papa, Felipe ordenou uma perseguição aos Templários prendendo-os e jogando-os em calabouços, incluindo o Grão Mestre Jacques de Molay que foi acusado de sacrilégio e satanismo. Em 1312, o Papa, agora um boneco do Rei, emitiu a ordem que suprimia a ordem militar dos Templários com subseqüente confisco da riqueza por Felipe. (Os recursos ingleses dos Templários foram confiscados de forma semelhante pelo Rei Edward II da Inglaterra, sendo a maior parte desta imensa fortuna para Portugal, onde foi criada mais tarde em 1319, a Ordem de Cristo).

Claro que os Templários já sabiam das intenções de Felipe e, quando seus exércitos invadiram os castelos templários, não acharam nem uma moeda sequer do fabuloso tesouro templário, nem a arca da aliança, nem o Santo Graal, que foram enviados em 12 galeões para fora da França.

Assim, os Templários deixaram de existir daquela data em diante e muitos de seus membros, inclusive Jacques de Molay foram torturados e obrigados a se declararem “réus confessos” para uma miríade de crimes, inclusive uma lista 127 acusações e 9 subitens! Estas incluíram tais coisas como a “reunião noturna secreta”, homossexualismo (embasado no símbolo da Ordem, que é dois soldados montando o mesmo cavalo), cuspir na cruz, negar a Cristo, etc…

Entre as acusações contra os Templários havia uma que haviam produzido algum tipo de “cabeça barbuda”. O tal do Baphomet.

Existem várias teorias, inclusive seria um relicário contendo a cabeça de João Batista ou a cabeça de Cristo, a Mortalha de Turin, uma imagem de Maomé (o pai da religião islâmica) entre outras.

Após ser torturado por 7 anos, o Mestre Jacques de Molay acabou, após sua prisão, queimado vivo em praça pública com fogo brando e muitos templários foram mortos também e outros fugindo para outros países. O que vem a ser exatamente o “Baphomet” nunca foi descrito pela Inquisição, mas é fácil perceber que se trata de uma mistureba feita pela Igreja dos ritos antigos egípcios, gregos e romanos, para variar.

Mas… e aquela imagem demoníaca?

Mais de 500 anos depois dos Templários, em 1810 na França, nasce Alphonse Louis Constant, filho de um sapateiro.

Bem cedo, ainda criança, ganhou as atenções de um padre da paróquia local que providenciou para que Alphonse fosse enviado para o seminário de Saint Nichols du Chardonnet e mais tarde para Saint Sulpice estudando o catolicismo romano com o objetivo ao sacerdócio.

Mas deixou o caminho do catolicismo para se tornar um ocultista. De qualquer forma enquanto vivo seguiu o caminho esotérico e adotou o pseudônimo judeu de Eliphas Lévi, que dizia ser uma versão judaica de seu próprio nome.

O trabalho de sua vida foi escrever volumes enormes sobre Magia que incluiam comentários extensos sobre os Cavaleiros Templários e o Baphomet. De todos seus trabalhos o mais conhecido é o que contém a ilustração (o desenho é cópia do original e observe que está assinado por Eliphas Lévi) e era usado como uma fachada para o livro “A Doutrina da Alta Magia” publicado em 1855. Levi também afirmava que se a pessoa reorganizasse as letras de Baphomet invertendo-as, adquiriria uma frase latina “TEM OHP AB” que é a abreviação de “Templi Omnivm Hominum Pacis Abbas“, ou em português, “O Pai do Templo da Paz de Todos os Homens”. Uma referência ao Templo do Rei Salomão, capaz de levar a paz a todos.

A palavra “Baphomet” em hebraico é como segue: Beth-Pe-Vav-Mem-Taf. Aplicando-se a cifra Atbash (método de codificação usado pelos Cabalistas judeus), obtém-se Shin-Vav-Pe-Yod-Aleph, que soletra-se Sophia, palavra grega para “sabedoria”.

E o que esta imagem significa?

Na Alquimia, o uso de alegorias e imagens é muito comum para expressar idéias e conceitos. Vamos analisar com calma a figura do Baphomet:

– A imagem possui a cabeça com características de chacal, touro e bode, representando os chifres da sabedoria, virilidade e abundância. O chacal representa Anúbis (o deus-chacal) e também o “Mercúrio dos Sábios”, o Touro representa o elemento terra e o “Sal dos Filósofos” e o bode representa o Fogo e o “Enxofre fixo”. Juntos, a cabeça da imagem representa os três princípios da Alquimia.

– A tocha entre seus chifres representa a sabedoria divina e a iluminação. Tochas estão associadas ao espírito nos 4 elementos e colocadas sobre a cabeça de uma imagem representam a inspiração divina. Isso pode ser observado até os dias de hoje, em personagens de quadrinhos que, quando tem uma idéia, aparece uma lâmpada sobre suas cabeças (grande Walt Disney!).

– O conjunto dos dois chifres também representam as duas colunas na Árvore da Vida e o fogo sendo o equilíbrio entre elas. A lua branca representa a magnanimidade de Chesed (Júpiter) e a lua negra o rigor de Geburah (Marte).

– O pentagrama na testa de Baphomet representa Netzach (Vênus), o Pentagrama, o símbolo da proteção e da magia. Importante notar que ele se encontra voltado com a ponta para cima. As pernas cruzadas associadas ao cubo representam Malkuth.

– Nos braços do Baphomet estão escritos “Solve” no braço que aponta para cima e “Coagula” no braço que aponta para baixo. Solve representa “dissolver a luz astral” e coagula significa “coagular esta luz astral no plano físico”. Em outras palavras: tudo aquilo que você desejar e mentalizar no plano astral irá se manifestar no plano físico. Alguém ai assistiu ao filme “The Secret?”

– Os braços nesta posição representam o “Tudo o que está acima é igual ao que está abaixo”, ou “O microcosmo é igual ao macrocosmo”, ou “Assim na Terra como no Céu”. É a mesma posição dos braços representada no Arcano do Mago no tarot.

– a imagem possui escamas, representando o domínio sobre as águas, ou emoções.

– a imagem possui asas, representando o domínio sobre o Ar, ou a razão.

– a imagem possui patas de bode, representando seu domínio sobre a Terra, ou o material. Também representam a escalada espiritual.

– a imagem possui fogo em seus chifres, representando o domínio sobre o Fogo.

– Os seios representam a maternidade e a fertilidade, e também o hermafroditismo, simbolizando que a alma não possui sexo e que não “somos” homens ou mulheres, mas “estamos” homens ou mulheres.

– a imagem está parcialmente coberta, parcialmente vestida (atenção, irmãos e fraters), representando que o corpo não está apenas no plano material (roupas), mas por debaixo da matéria está também o espírito (parte nua). Podemos perceber isto melhor nos arcanos Estrela e Lua no tarot.

– Baphomet está sentado sobre o cubo. O cubo e o número 4 representam o Plano Material, e estar sentado sobre ele representa o domínio sobre o plano material (vide arcanos Imperador e Imperatriz no tarot).

– O falo do Baphomet é o Caduceu de Hermes, representando a Kundalini e as energias sexuais ativadas, a virilidade e todo o desenvolvimento dos chakras.

– Finalmente, a figura representa a Esfinge, aquela que guarda os portais das iniciações, pela qual os covardes não passarão. Aquele que teme uma figura por pura ignorância nunca será um iniciado.

No tarot de Marselha, podemos observar algumas destas representações. O Diabo (Arcano XV) no tarot representa as Paixões, por isso o homem e a mulher acorrentados em Malkuth (a Terra, o gado) aos pés da imagem. No tarot de Rider Waite, no século XX, o diabo já aparece com a estrela invertida, por influência da Ordo Templi Orientalis (e que para os iniciados não significa nada “satânico”… falarei sobre pentagramas invertidos na próxima coluna).

Associações mentirosas com a Maçonaria

Para analisarmos como esta figura foi parar nas mãos dos ignorantes evangélicos e católicos, precisamos explicar quem foi Leo Taxil (seu verdadeiro nome era Gabriel Antoine Jogand Pagès).

Taxil havia sido iniciado na Maçonaria, mas fora expulso ainda como aprendiz. Por vingança, acabou por inventar uma ordem maçônica “altamente secreta” chamada Palladium (que só existia na imaginação fértil de Taxil) supostamente comandada por Albert Pike (o Grão Mestre da Maçonaria na época). Seu objetivo, então, era revelar à sociedade tal misteriosa e maléfica Ordem.

Ficou famoso com isso e ganhou uma audiência com o Papa em 1887. Assim, a Igreja Católica alegremente patrocinou e financiou a campanha de Taxil, inclusive a edição de seus livros.

Albert Pike (1809-1891) era um Brigadeiro General da Confederação na Guerra Civil Americana que, quase sozinho, foi responsável pela criação da forma moderna do Rito Escocês Antigo e Aceito. Abastado, literato e detentor de uma extensa biblioteca, foi o Líder Supremo da Ordem de 1859 até à data da sua morte em 1891, tendo escrito diversos livros de História, Filosofia e viagens, sendo o mais famoso “Moral e Dogma”.

O panfleto de lançamento do livro de Taxil pode-se ver Baphomet com algumas modificações e um avental maçônico cobrindo o falo. O livro “Os Mistérios da Franco Maçonaria” (lado esquerdo) descreve um grupo de maçons endiabrados que dançam ao redor do Baphomet puxado por um ex-padre, nada mais nada menos, que o famoso e falecido “Pai do Baphomet”, Eliphas Lévi (falecido em 1875). Leo Taxil ganhou muito dinheiro, inclusive do Vaticano, enganado todo tipo de crédulos.

Finalmente, em 19 de abril de 1897 em um salão de leitura, Taxil iria apresentar uma tal senhorita Vaughan, que na verdade nunca existiu, renunciando a Satã e convertendo-se ao catolicismo. A igreja ansiosamente aguardou tal apresentação. Na data o salão lotou de pessoas do clero católico, maçons e jornalistas. Depois de um palavreado enorme, cheio de volteios, Taxil então finalmente revelou que nada tinha a revelar, porque nunca havia existido tal “Ordem Palladium”. Foi um tumulto imenso. De fato, Gabriel Jogand tinha fabricado a história inteira como uma farsa monumental às custas da igreja. No final, foi chamada a polícia para os ânimos fossem controlados e tudo não acabasse em uma imensa briga e quebra-quebra. (Para ler a A Conferência de Leo Taxil na íntegra, clique AQUI). Taxil morreu dez anos depois, em 1907, com 53 anos.

Em suma, Baphomet nasceu de uma lenda dos Templários, ganhou forma nas mãos de Eliphas Leví e foi associado à Maçonaria por Leo Taxil.

E daqui, o resto é história. A fraude, apesar de ter sido revelada por seu criador, continua e é aceita como “verdade absoluta e incontestável” por novas gerações de religiosos ignorantes (ou de má-fé).

A Maçonaria é difamada por uma acusação absurda e também por aqueles que pensam ser religiosos corretos e acabam por perpetuar uma mentira inconscientemente.

#ICAR

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/zaratustra-mithra-e-baphomet-parte-iii

Grandes Iniciados – Melquisedec

MELQUISEDEC é um ser ainda mais enigmático que o próprio APOLÔNIO DE TIANA basta que se considere que no ritual de ordenação sacerdotal da Igreja Católica consta uma parte, que foi colhida nos ensinamentos de APOLÔNIO, que diz: Tu és “SACERDOCE IN AETERNUM SECUNDUM ORDINEM MELCHISEDEC”, Tu és um sacerdote eterno, segundo a Ordem de MELQUISEDEC. Existem muitos documentos que dizem haver sido JESUS um sacerdote da Ordem de MELQUISEDEC. Então Quem é MELQUISEDEC?

Os orientais falam muito do REI DO MUNDO, um ser enigmático, e por eles considerado a mais alta forma de Consciência Divina na terra vivendo num lugar oculto denominado Shambhala.

Dizem que esse ser quando se manifesta por alguns segundo na terra toda natureza para. É como se o tempo parasse, nada se ouve, os animais se põem quietos e os passarinhos nem ao menos gorjeiam. Tudo silencia, não se escuta nem o murmúrio dos rios, nem o farfalhar das folhas, nem o rumor das ondas do mar… tudo é paz e silêncio.

Em tais momentos uma pessoa bem equilibrada sente algo bem especial, tem uma sensação como que se tudo houvesse parado e o mundo inteiro ficasse envolto num manto de quietude e de imensa paz. Até o vento se torna quieto, nenhuma folha cai, nenhuma pedra rola, nenhum regato murmura, nem ao menos se ouve o murmúrio das fontes. Tudo é paz… harmonia… silêncio. É silêncio, mas ao mesmo tempo se percebe uma vibração sonora permeando todas as coisas.[1]

É o momento de GRANDE PAZ, aquele momento em que o REI DO MUNDO, o SUBLIME MELQUISEDEC abençoa a vida na Terra e revitalizando tudo. Em determinados momentos a natureza parece parar, o vento para, todos os elementos da natureza silenciam, os animais aquietam-se, tudo se torna sereno, e os sensitivos e iniciados percebem isto claramente em determinados momentos não muito freqüentes. Naquele momento os galos cantam.

Dizem os orientais, especialmente os da Índia e outros povos que vivem nos planaltos do Himalaia, que aquele é o momento em que o “Rei do Mundo” fala com Deus. Na verdade trata-se do momento em que Melquisedec, pelos orientais ligados a G. F. B. cujo nome de Sanat Kumara, ponto focal da manifestação divina no nosso Logos Planetário, pronuncia o Som Cósmico, o AUM, confirmando pelo Amén a Sua missão de mentor da Terra perante o Absoluto Deus. Com este som ele energiza todo o planeta expressando com perfeição a Parcela Divina de um Deus sem forma.

Em 1920 um polonês que trabalhava na Rússia, F. Ossendowski foi surpreendido pela revolução bolchevista e teve, então, que empreender uma fuga através da Sibéria, Mongólia, e Tibet. Sobretudo aquilo que ocorreu durante a viagem ele escreveu um livro, que se tornou um Best Seller mundial intitulado BESTAS, HOMENS E DEUSES. Um livro muito polêmico por envolver revelações inusitadas, coisas fora do comum no mundo ocidental que ele soube e testemunhou durante 18 meses de viagem por aquelas mais recônditas regiões do planeta. Como toda obra reveladora de conhecimentos incomuns o autor foi muito criticado e posto em dúvidas, mas com o passar dos anos ninguém conseguiu provar que a historia narrada, como um todo, seja apenas fantasia.

Descrevemos o que Ossendowsky conta naquela obra, entre muitas outras coisas interessantíssimas, quando ele estava atravessando a planície perto de Tangan Luc. … “O guia da caravana, um homem simples, bruscamente disse: Parem! Desceu do camelo, havendo este, sem qualquer ordem, do guia se deitado. O mongol também se prostrou com as mãos sobre no rosto em sinal de prece e começou a repetir o mantra sagrado do Tibet” OM MANI PADME HUNG. Os outros mongóis também desceram de seus camelos e começaram a rezar.

Que será que aconteceu, perguntava a mim mesmo enquanto observava em minha volta o verde brilhante do capim que se estendia até o horizonte, onde um céu sem nuvens recebia os últimos raios do sol.

Os mongóis rezaram durante algum tempo, conversaram entre si, e depois de apertar os arreios de seus camelos, prosseguiram a viagem”.

Então Ossendowsky indagou a respeito daquela parada e o guia respondeu: “Você notou como os camel os remexiam as orelhas de medo e como o rebanho de cavalos na planície ficou imóvel?Você viu que até os carneiros e o gado deitaram-se no chão? Você notou que as aves pararam de voar, as marmotas pararam de correr e os cães emudeceram? O ar vibrava suavemente e trazia, de longe, as notas de uma canção que penetrava no coração dos homens, dos animais e das aves. O céu e a terra não se movem, o vento não sopra e o sol pára sua trajetória; num momento como esse, o lobo, que está se aproximando sorrateiramente dos carneiros, não continua no seu propósito de rapina, o rebanho de antílopes apavorados para sua fuga precipitada; a faca cai da mão do pastor que está para sacrificar a ovelha, e o voraz arminho deixa de perseguir a confiante perdiz salga. Todos os seres vivos ficam assustados e rezam, esperando que se cumpra seu destino. Foi o que aconteceu agora; e o que acontece toda vez que o Rei do Mundo, em seu palácio subterrâneo, reza procurando saber o destino dos povos da Terra”.

Na Bíblia está escrito que Abrão foi abençoado por MELQUISEDEC numa fase de sua vida, por certo quando ele ainda não havia sido envolvido. Sabemos que na realidade Abrão recebeu a bênção do REI DO MUNDO numa época em que ele ainda não havia se comprometido, mas a descrição bíblica a respeito desse Grande Ser está mesclada propositadamente com inverdades que visam desviar a pessoa do real sentido do REI DA ETERNA PAZ.

Este é um dos muitos pontos em que a Bíblia sofreu alterações profundas. Vejamos, inicialmente, aquilo que está escrito a respeito de Melki-Tsedeq[1]

O Seu nome significa Rei da Paz, Rei da Justiça, ESTÁ FEITO ASSIM À SEMELHANÇA DO FILHO DE DEUS E PERMANECE SACERDOTE PARA SEMPRE.

Na Pistis Sophia dos Gnósticos Alexandrinos, Melquisedec é citado como GRANDE RECEBEDOR DA LUZ ETERNA. Ele recebe a Luz inteligível, por um raio emanado diretamente do Princípio para refletir o mundo, que é o seu domínio. É por isso que Ele também é chamado FILHO DO SOL.

Na epistola aos Hebreus, Paulo diz que Melquisedec é o Rei da Paz; que não tem pai nem mãe nem genealogia, que não tem começo nem fim de vida, sendo, portanto feito á semelhança do filho de Deus e permanece sacerdote para sempre.

Forças negativas adulteram as citações constantes na Epistola aos Hebreus fazendo com que seja aceito que aquele que abençoou Abrão foi Melquisedec. Houve uma alteração fragrante do texto bíblico. Sendo Melquisedec Quem é, sacerdote do Deus Altíssimo, não corresponde àquele ser que como tal é citado na Bíblia. Sendo Ele, a manifestação da Justiça Divina na Terra, não cabe na posição daquele que abençoou Abrão. São duas naturezas totalmente distintas e opostas, senão vejamos:

Paulo – Epístolas – 7:1 – Este Melquisedec, rei de Salém, sacerdote de Deus altíssimo, que saiu ao encontro de Abrão, quando ele voltava de destruir os reis, e o abençoou; 7:2 a ele deu Abrão o dízimo de todos os despojos. Disse Paulo. Quanto ao seu nome, primeiramente se interpreta como ‘rei de Justiça’, e depois ‘rei de Salém’, que quer dizer rei de paz; (aparecendo) sem pai nem mãe, sem genealogia, sem princípio de dias, sem fim de vida, tornado assim semelhante ao filho de Deus, permanecer sacerdote para sempre.

Agora compare-o com Gênese 14-18, 14-19 e 14-20 onde fala de Melquisedec e é dito haver ele recebido 10% de tudo aquilo que havia sido tomado dos povos vencidos, dos despojos de guerra tomado aos reis que haviam sido vencidos por Abrão. Então onde o rei de justiça? -A parte que assinalamos em negrito mostra a natureza cósmica de Melquisedec e como podemos ver não combina absolutamente com a parte anterior.

Mais uma vez Abrão foi enganado quando pensou estar pagando o dizimo dos despojos de guerra a Melquisedec. Melquisedec é o “Grande Recebedor da Luz Eterna”, O “Representante da Justiça de Deus na Terra”, como então iria Ele receber dízimo, e ainda mais em se tratando de despojos de guerra, coisas espoliados dos povos vencidos em guerras sanguinárias?…

Melquisedec, Rei de Salém… Ora, Salém quer dizer PAZ, então como é que um rei da paz recebe despojos de guerra?

Existem documentos secretos que afirmam haver Jesus participado de cerimônias de iniciação. Podemos afirmar que sim e também que uma delas ocorreu junto à Ordem de Melquisedec. Por isso é que ser Jesus um sacerdote da Ordem de Melquisedec.

A Ordem de Melquisedec é também conhecida pelo nome de ORDEM DO SACERDÓCIO REAL, ou ORDEM DA JUSTIÇA DIVINA, pois Melquisedec representa a Superior Justiça Divina na Terra, o máximo do “Reino da Eterna Paz”.

Melquisedec é um Ser que sempre esteve presente neste planeta em todos os ciclos de civilização, sendo, portanto a manifestação perene do próprio PODER SUPERIOR na Terra.

Segundo afirmam os orientais é Melquisedec é Quem exerce a função de governo oculto a Terra nos Santo dos Santos de Shambhala. Como afirma Michel Coquet[2]: Melquisedec – Sanat-Kumara – ocupa assim o mais elevado lugar sagrado de nosso planeta onde se encontra a Tradição Primordial, o lugar onde o desígnio de Deus é conhecido…

Certa vez APOLÔNIO visitou o Reino de Agartha (Shambhala) quando esteve com o Rei do Mundo, MELQUISEDEC. Quando do regresso Apolônio introduziu a Eucaristia no seio do Cristianismo. A Eucaristia era um rito praticado na Suprema Ordem de Melquisedec.

O Rei do Mundo é representado por dois atributos essenciais: PAZ e JUSTIÇA. Ele não tem, como diz a Bíblia, genealogia por não ser humano e sim Divino.

Diz René Guénon baseado no que pesquisou, e no que disse Saint Yves d’Alveydre num livro intitulado “Missão da Índia” e publicado pela primeira vez em 1910 na França: O nome Melquisedec, ou mais exatamente Melki-Tsedeq, não é outra coisa do que o nome sob o qual a própria função do “Rei do Mundo” se encontra expressamente designado na tradição Judaico Cristã.

A tradição indiana, citada por René Guénon, em sua obra O Rei do Mundo, diz: “Ele é o Manu esse homem vivo que é Melki-Tsedeq, é Manu que continua, com efeito, perpetuamente (em hebreu leôlam), isto é, por toda a duração do seu ciclo (Manvantara), ou do mundo que ele rege especialmente. É por isto que ele não tem genealogia, porque a sua origem é não humana, visto que ele próprio é o protótipo do homem. E realmente ele foi feito à semelhança do Filho de Deus visto que, pela Lei que formula, é para esse mundo a expressão e a própria imagem do Verbo Divino”.

Ainda segundo as tradições da Mongólia, da Índia, do Tibet e de muitos outros povos orientais Melk-Tjedec (= Dharma-Râja) vive em uma “cidade”, que é conhecida como o nome de Agartha, segundo muitos situada possivelmente no Himalaia.

Existe um número muito grande de lendas a respeito de “Shambhala” (Agartha), especialmente quanto à sua localização e natureza, assim como sobre o povo e o modo de vida do povo que habita, assim como citações de pessoas disseram haver estado lá. Entre muitas lendas existe uma que diz que certa vez um caçador se defrontou com um portal escondido numa floresta nas montanhas por onde penetrou e chegou ao reino de Agartha. Ao regressar ele começou a narrar o que houvera visto, então os lamas arrancaram-lhe a língua para que ele não continuasse a falar sobre aquilo que houvera visto, para que não falasse dos “MISTÉRIOS DOS MISTÉRIOS”.

Diz a TRADIÇÃO que “os seres integrantes de Agartha possuem todas as forças visíveis e invisíveis da terra, do inferno e do céu, e que tudo podem fazer pela vida e pela morte dos homens. Eles podem ressecar os mares, mudar os continentes em oceanos ou reduzir as montanhas e os mares em desertos. Eles podem fazer as árvores, as sebes e a grama brotarem, sabem transformar em moços fortes os homens velhos e fracos, e podem ressuscitar os mortos”.

O Rei do Mundo conhece todas as forças da natureza, lê em todas as almas humanas no grande livro do destino e reina invisível.

Segundo tudo indica, o clássico romance de J. Hamilton, já transformado em filme, intitulado Shangrilá é uma obra inspirada em tudo aquilo que se diz de Agartha. A história do romance se baseia na existência de um lugar paradisíaco, um lugar de perene felicidade onde as pessoas nem sequer envelheciam, tal como se diz exatamente a respeito de Agartha. Shangrilá, um mito? Uma lenda?… um vale maravilhoso, encravado entre as altíssimas montanhas do Himalaia, um vale de clima ameno no seio de um mundo coberto de neves eternas onde reina uma eterna paz.

Segundo um outro mito o Reino de Agartha situa-se num mundo subterrâneo que ocupa grande parte do planeta e que somente pessoas dignas podem chegar até ele, como aconteceu com APOLÔNIO e mui­tos outros.

O reino sagrado de Agartha seria dirigido por Melquisedec, mas há outras fontes que O colocam num nível ainda mais elevado, assim podemos dizer que uma pessoa só pode chegar até onde reina o Rei do Mundo sendo conduzido, é impossível encontrar por si mesmo o acesso, pois certamente não se trata de um local físico na Terra e sim de um plano divino a nível da Terra. Somente pela pureza, pela vibração precisa é que o acesso se torna possível, portanto somente os justos podem chegar até lá.

Muitas vezes os pontífices de Lhasa e de Urga enviaram mensageiros ao Rei do Mundo, mas nunca conseguiram encontra-lo.

O “chiang-chumn Barão Ungern mandou o jovem príncipe Puntizig ao Rei do Mundo com uma mensagem, mas ele voltou apenas com uma carta do Dalai Lama. O barão então voltou a manda-lo, mas o jovem príncipe nunca mais voltou”.

Um dos Dalai Lama do Tibet e brâmanes da Índia em certa ocasião escalaram altas montanhas que nunca tinham sido pisadas pelos habitantes da região e encontraram inscrições gravadas nas rochas, mas tudo em vão para alcançar o mundo de Agartha e desvendar o misterioso enigma do Rei do Mundo. Podemos dizer que qualquer profano jamais chegou até lá. O próprio nome Agartha significa inatingível, inacessível, inviolável, morada da paz.

A história de Melk-Tsedeq sem dúvidas é um dos mais importantes enigmas da historia da humanidade. Certa vez Ossendowsky perguntou a um Lama bibliotecário de um famoso mosteiro, se alguém já havia visto o Rei do Mundo. Ele respondeu que depois da instalação do Budismo no Oriente o Rei do Mundo já havia aparecido cinco vezes durante os festejos do Budismo antigo no Sião e na Índia. Eis o que disse o Lama: “Ele estava numa esplêndida carroça puxada por elefantes brancos, enfeitados de ouro, pedras preciosas e seda; usava uma capa branca e levava na cabeça uma tiara vermelha, da qual caiam franjas de diamantes que lhe cobriam o rosto. Abençoava o povo com uma maçã de ouro encimada de um cordeiro [3], então os cegos voltaram a ver, os surdos voltaram a ouvir, os doentes voltaram a andar e até mortos saíram de seus túmulos nos lugares por onde o Rei do Mundo passou” Faz cento e quarenta anos que Ele apareceu em Erdeni-Dzu e depois visitou também os mosteiros de Sakia e Naranchi Kure”.

Em outra ocasião o Hutuktu falou para Ossendowsky: Você vê esse trono? “Numa noite de inverno, chegou um desconhecido que subiu ao trono e retirou seu bachlyk, o ornamento que levada na cabeça. Todos os Lamas então caíram de joelhos, porque, naquele desconhecido, tinham reconhecido o homem que as bulas sagradas do Dalai Lama, do Tashi Lama e de Bogdo Khã estavam anunciando desde muito tempo. A ele pertencia o mundo inteiro e todo os mistérios da natureza eram-lhe conhecidos e ele dominava o destino de todos”.

Existem muitas estórias a respeito das aparições de Melki-Tsedeq. Conta-se como verdadeira a seguinte estória: Em certa ocasião durante as cerimônias de posse de um piedoso monarca, inesperadamente toda a natureza parou, e então apareceu o Rei do Mundo montando um cavalo imaculada­mente branco[4]. Todos os presentes se prosternaram e o Rei do mundo abençoou o recém-empossado monarca e depois se retirou abençoando a todos num clima de profunda paz. Trazia na mão o seu símbolo sagrado, um bastão encimado por uma maçã de ouro sobre a qual a imagem de um cordeiro, com que abençoou a todos os presentes. Naquela ocasião com grande intensidade aquele fenômeno típico de quando o Rei do Mundo abençoa a Terra se fez presente.

Existe uma “Terra Santa”, uma “Terra de Salém”, protótipo de todas as terras santas e centro de irradiação cósmica, centro zelosamente guardado pelas autênticas Confrarias Iniciáticas. Todas as Tradições Autênticas confluem à uma fonte única, original, representada na linguagem de todas as tradições e que falam através de símbolos, lendas e mitos, da realidade dessa misteriosa “Terra Santa” e de seu Chefe Supremo, conhecido na Índia como o “Jagrat-Dwipa”. Contudo esse Ser Supremo possui outros nomes, porque as suas funções são múltiplas e complexas. Assim, o Soberano oculto dos seres da Terra é denominado pelos Tibetanos de Ryugden-Diyepo quando se referem ao Senhor Supremo das Ordens Iniciáticas Secretas autênticas de âmbito solar. De igual modo existem várias denominações para a Ordem, mas, embora haja nomes diferentes conforme a língua, existe na realidade uma única ORDEM SUPREMA e que na Tradição Judaico-Cristã é conhecida como Ordem de Melquisedec.

Melki-Tsedeq, na sua dupla função de Soberano e Pontífice é na realidade o alfa e o omega de toda a evolução em processo em nosso globo, como organizador supremo das instituições humanas de todas as civilizações, dado que determina até mesmo o biótipo dos seres.

Ou, como o ouviu do seu Guru o grande místico e erudito Jean Marquês de Rivière, autor da obra ” L’ombre des Monastères Thibétains: “… e agora, meu filho, mistério muito mais alto que tudo o mais: Sabei que reina sobre a Terra, e muito acima dela, o Lama dos Lamas. Aquele diante do qual o próprio Trach-Lama se prosterna na maior das reverências. Aquele a quem chamamos o Senhor dos Três Mundos. Mas seu reino terrestre mantém-se oculto à visão dos homens”.

Em muitas ocasiões o nome de MELQUISEDEC esteve ligado a um, outro grande enigma, ao não menos legendário Prestes João tido como dirigente da humanidade. Durante a Idade Média muito se falava de um grande reino dirigido por um ser de grande sabedoria chamado Prestes João. O período em que mais se falou do Reino de Preste João foi no tempo de São Luís, nas viagens de Carpin e de Rubruquis. Segundo contam inúmeras estórias, teria havido quatro personagens que usavam esse título: Precisamente no Tibet, na Mongólia, na Índia e na Etiópia. Na realidade são quatro representações de um mesmo PODER. Diz um mito que, quando de suas conquistas territoriais Gengis-Kan tentou atacar o Reino do Preste João, ele foi repelido por um raio que quase aniquilou por completo o exército invasor.

Afirma o “Parasana Maitri”, no “Vishnu-Purana”: “Coroado e exaltado pelos próprios deuses e pelos seres celestes que eternamente honram as suas virtudes excelsas, encontramos o Mantenedor do Mundo. Ele detém as Forças Cósmicas. Ele torna possível a existência do nosso Globo”.

Por José Laércio do Egito – F.R.C. e João Paulo Nunes do Egito – F.R.C.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/grandes-iniciados-melquisedec

Uma Noite Bruxa às Margens do Danúbio

Nick: Há um outro elemento, sujeito à controvérsia entre as pessoas que falam sobre bruxaria – e que é sobre o papel da hoste caída – em particular, Lúcifer. Em seu livro Balkan Traditional Witchcraft  você menciona que o próprio Lúcifer caiu em uma árvore na região da Valáquia, ao leste da Sérvia. Para mim, isso diria que a raiz real de uma Tradição Luciferiana propriamente está localizada na Valáquia, mas como você entende esse fenômeno?
Rade: Isso é difícil de explicar em uma entrevista. Portanto, estamos falando sobre a região no leste da Sérvia, onde os valaquianos vivem. Eles falam uma forma de latim e são muito conectados com os antigos romanos. A presença de Lúcifer como a Estrela Matutina é uma ocorrência normal em suas crenças. Eles têm costumes como colocar pedras brancas de rio no bolso dos falecidos para que Lúcifer possa iluminar a jornada da alma ao céu. Mas Lúcifer também está ligado com os dragões nos Bálcãs. Ele é um dos dragões! Na verdade, ele é o mestre de todos os dragões. A estória fala que os dragões caíram sobre os Bálcãs há muitos séculos atrás. Eles caíram no que hoje chamamos de chuva de meteoros. Por causa disso, ainda hoje as bruxas e camponeses conectam dragões com meteoros, como foi observado por muitos etnólogos sérvios.

Alguns desses dragões caíram no rio Danúbio, como Timok e Pek, e outros caíram em florestas e montanhas. Aqueles que haviam caído em rios continuaram a viver neles, sob as águas. Eles se parecem com homens-sereias, com os cabelos meio longos, grandes olhos e narizes – e longos dentes caninos. Aqueles que caíram nas florestas habitavam grandes árvores, principalmente velhas faias com buracos. É duro dizer como eles se parecem, pois algumas bruxas alegam que eles são somente grandes luzes, e outras que eles são serpentes antropomorfas com asas que se transformam em grandes luzes somente quando eles começam a voar. Aqueles que caíram nas montanhas habitam cavernas e se parecem com o que entendemos ser dragões. Assim, a estória se passa – e conta de uma determinada árvore no leste da Sérvia, na qual a Estrela da Manhã (Lúcifer) ou Danica – como ele é chamado em sérvio, vive dentro após sua queda. Aquela árvore é objeto de culto. Todas as bruxas locais respeitam aquela árvore, ou melhor, o que reside dentro dela. Elas trabalham com Danica como fonte de conhecimento e poder, mas elas não o adoram! O que é interessante aqui é que Lúcifer está conectado com os dragões, porque ele é – como todos os dragões – uma estrela que caiu e vive em árvores como os outros dragões fazem. O que podemos concluir de tudo isso é que essas estórias são muito semelhantes às que encontramos no Primeiro Livro de Enoque. Temos certeza que o Primeiro Livro de Enoque e da forma que trata dos guardiões, ou anjos caídos, e de como eles dormiram com as mulheres e tiveram filhos foi muito importante entre Bogomilos Gnósticos dos Bálcãs. O que encontramos no Segundo Livro de Enoque – que foi descoberto em Belgrado – fala sobre a guerra no céu e Lúcifer. O Segundo Livro de Enoque também é chamado de Enoque Eslavo, porque foi encontrado na Sérvia e escrito na antiga linguagem litúrgica sérvia. Estórias sobre dragões e sangue-bruxo que encontramos dentre as bruxas da Sérvia são muito semelhantes aos do Livro de Enoque, embora elas não falem sobre anjos caídos, mas de dragões. Mas podemos concluir que nesta região anjos caídos e dragões são a mesma coisa. É por isso que este fenômeno não é estranho para mim.

Nick: Eu iria um pouco mais longe em dizer que este é um elemento comum em várias correntes da Bruxaria européia, a idéia do dragão-meteorito e sua importância. Também devo confessar que tinha dúvidas sobre a existência de uma Tradição Luciferiana como tal, até que você me introduzisse a este legado. Ainda assim, a Tradição Luciferiana nas terras da Valáquia é surpreendentemente diferente do significado que a maioria das pessoas dá ao legado Luciferiano. Mas, qual é, em sua opinião, o ponto de encontro entre a arte bruxas e Lúcifer como anjo caído na Sérvia?
Rade: A crença é que esses dragões, ou anjos caídos, após suas quedas seduziram as mulheres e tiveram filhos com elas. Esta não foi uma tarefa difícil para eles porque eles também são metamorfos. Então, quando eles queriam seduzir as mulheres, assumiam a aparência de belos homens e as seduziam. Foi assim que tudo começou. As crianças nascidas destas relações tornam-se meio humanos, meio dragões. O mais importante é que através deste processo as crianças herdaram alguns poderes e habilidades de seus pais. Isso significa que eles têm alguns poderes básicos, e esses poderes são diferentes de pessoa para pessoa, mas todos eles têm um poder supremo, e este poder era que eles possuíam uma alma diferente, e é por isso todas as bruxas possuem a capacidade de deixar seus corpos quando querem. Quando a bruxa sai do corpo podemos ver como ela realmente se parece. Elas se parecem com seres humanos, mas com pele de cobra ou com pêlos por todo o corpo, e lógico, com asas de morcego. Por causa deste “poder”, todas elas são capazes de contatar o outro mundo e suas forças ocultas, que seriam visíveis para elas somente quando elas deixam seus corpos. Este contato lhes proporciona conhecimentos adicionais de magia. Durante seus vôos noturnos, elas podem entrar em contato com fadas, outros dragões, ancestrais e muitos outros seres espirituais.

Nick: Da forma que entendo você está abordando aqui ainda outra controvérsia, ou seja, o sangue-bruxo. Sendo assim, como a bruxa se funde com este sangue antigo, como é que uma bruxa chegar à conclusão de que ela é algo “diferente”?
Rade: Ao ouvir as histórias sobre esses mistérios que são passadas de gerações a gerações. Normalmente descobrimos que esta é uma linhagem consangüínea dentro de uma família e, portanto, seus membros preservam esses contos e lendas. Este é seu legado, sua história, da mesma forma que outras famílias podem ter outras histórias sobre suas origens. Alguns explicam que tudo começou quando alguns dragões seduziram as avós de suas avós, e de como elas conceberam filhos que possuía poderes estranhos, e como seus filhos, por sua vez, também possuíam algumas habilidades extraordinárias e assim por diante. Tudo isso é explicado em meu artigo “Fadas, Dragões e Sangue-Bruxo”.

Nick: Para mim, a bruxa é uma força da natureza, é indomada e desenfreada, e então a bruxa prosperaria melhor na natureza, mas isto é naturalmente aberto a debate. Qual é o seu entendimento sobre a natureza e civilização e em que medida a bruxa pertenceria ali?
Rade: A bruxa pertence em toda parte! A Bruxaria Tradicional não é uma religião e, por extensão, também não é necessariamente uma religião da natureza. Ele se encaixa em todos os ambientes. Espíritos estão por toda parte e até mesmo grandes cidades têm lugares muito poderosos. Às vezes você realmente precisa de floresta, cavernas ou um rio para seus rituais, mas outras vezes um porão escuro e úmido pode ser exatamente o que você precisa, assim como uma rua escura à noite, um cemitério ou uma encruzilhada. Tudo atrai algumas energias específicas e “portais” que poderiam nos ser útil e que podem ser encontrados em toda parte.

Santa Petka, ou Paraskeva

Nick: Eu gostaria de voltar um pouco para a natureza, o selvagem, porque em seu livro você escreve muito sobre a Mãe da Floresta. Parece-me que ela é de suma importância, e então quem é essa?
Rade: Ela desempenha um papel muito importante nos mistérios das bruxas. Ela é única, mas possui várias qualidades. Basicamente, ela se mostra em duas formas. Porque seu nome é Maria ou Mara, nós a chamamos – ou “elas” a chamam, Mara da Floresta e Mara Molhada, conectada com lagos e rios. A primeira é branca e está conectada à lua cheia. Ela é perigosa, mas é uma protetora feroz das mulheres, da fertilidade e coisas semelhantes. Ela se mostra nua ou com um vestido branco transparente. A outra é negra e lhe dá poderes mágicos. No entanto, ela é mortalmente perigosa. Ela é conectada com a lua negra. Assim, como a primeira é Eva e a segunda, Lilith; a primeira é a Virgem Maria e a segunda, Maria Madalena. Ambas podem se mostrar de forma tripla, mas sempre com a mesma aparência. Elas são conectadas à Hécate, cujo culto era forte aqui na antiguidade, onde ela era sempre representada com três jovens e o grande espírito de Destino. As bruxas trabalham principalmente a Maria branca, e usam o ícone da Virgem Maria como sua representação. Temos também um tipo de velha, mas ela é uma entidade totalmente separada. Ela é algo como uma fonte primordial. Sua representação é o ícone de Santa Petka ou Paraskeva, mas não é bom falar muito dela para que ela não venha…

Nick: Outro espírito que você dá muita atenção é Dabog ou Daba Manco. Ele parece ser misterioso, e seu mancar poderia indicar que ele próprio caiu – ou pelo menos tem um pé em ambos os mundos, você pode me dizer um pouco mais sobre ele?
Rade: É muito difícil descrevê-lo e ao seu significado. Ele não é somente um espírito, mas algo como um deus. Sua raiz deve ser traçada ao dualismo dos Bogomilos. Então ele não é algum deus pagão da tradição eslava – embora ele pudesse ser conectado com o Veles eslavo, que é o mestre do mundo subterrâneo, cujo oponente era o deus Perun, o mestre do céu. Da perspectiva dos Bogomilos, Dabog é o Deus na Terra e rei do mundo material. Existe um Deus no céu que governa o universo imaterial, mas Dabog é o rei do mundo. Ele é representado como um grande dragão negro ou em forma humana, como um homem alto com uma capa negra, usando um chapéu de aba longa que esconde sua face. Mais tarde na história a Igreja Ortodoxa o reconheceu como um Diabo. Hoje as pessoas o conhecem como o Daba manco, que é um outro nome para o Diabo. Um de seus símbolos é uma muleta que tem a mesma forma de um forcado.

Nick: Mais adiante em seu livro, como em nossas conversas aqui no Danúbio e nas terras da Valáquia você fala freqüentemente sobre o Bogomilos, como eles formaram a Bruxaria dos Bálcãs, qual foi sua contribuição?
Rade: Pessoalmente, penso que eles ajudaram na formação de toda a Bruxaria Tradicional que encontramos na Europa – e existem muitas razões que eu declare isto. Para explicar isto talvez seja melhor relembrar algumas partes de meu artigo “The Origin of the Coven structure” (“A Origem da estrutura de Coven”)

“Bogomilos. Quem eles são?” Pelos estudiosos, eles tomaram forma na Bulgária nos Bálcãs em algum momento por volta de 927-970. Isto é correto, mas somente se você observar aquele preciso momento, porque naquele tempo muitos países dos Bálcãs estavam sob ocupação Búlgara. A verdade é que os Bogomilos foram formados no país conhecido hoje como a antiga República Iugoslava da Macedônia. O fundador do movimento foi certo padre chamado Bogumil, que pregava este ensinamento por volta de 950 nas regiões em torno das cidades de Veles e Prilep.

Este movimento se estenderá muito rápido, principalmente em duas direções. Primeiramente ocupará toda a Bulgária, Sérvia, Bósnia e a região Dalmácia, que nos dias atuais é a Croácia. Depois, uma parte migrou para o leste da Rússia e outra para a Europa Ocidental. Na Europa Ocidental o Bogomilismo chegou através de duas direções, uma foi através da Bulgária Oriental, Sérvia, Bósnia, Dalmácia, Itália e França. A outra foi através da Bulgária Ocidental, Sérvia, Hungria e novamente para a França. Da França este movimento se espalhou para o sul da Espanha e oeste da Inglaterra, o qual somente algumas pessoas conhecem… Os Bogomilos eram um grupo muito interessante. Seus ensinamentos eram uma mistura de elementos indo-europeus, pagãos, cristãos e gnósticos. Eles eram algo como patriotas locais e não desejavam falar Latim nem Grego. Eles não queriam adotar nomes cristãos bizantinos, e preservaram os velhos costumes. Por causa de seu “patriotismo”, eles preservaram todas as crenças populares, a magia, rituais e festivais do povo. O melhor caminho para entender isto é lendo a seguinte citação no qual o Sínodo de Borila os acusava:

“Aqueles que no dia 21 de junho, o dia quando São João Batista nasceu, fazem magia e coletam plantas; e naquela noite fazem coisas misteriosas como nos ritos Helênicos; aqueles que dizem que Satanás criou todas as coisas, e aqueles que com ‘kumirs’ chamam a chuva e aclamam todas as coisas que vêm da Terra…”

P.Kemp concluiu que a doutrina dos Bogomilos influenciou as pessoas, da mesma forma que as crenças do povo tiveram influência sobre sua doutrina. E realmente, nos Bálcãs, especialmente naqueles tempos, a prática xamânica era muito viva. Xamãs eram indivíduos, homens e mulheres, e toda aldeia tinha pelo menos alguns deles. Sua obrigação mais importante era dar à comunidade sua medicina e auxílio mágico. Eles eram curandeiros, herbolários, clarividentes e lutadores contra criaturas antinaturais, demônios e condições meteorológicas. Além disso, eles eram guardiões das crenças do povo, mitos, conhecimento e sabedoria. Este tipo de xamãs solitários era bem conhecido na Europa inteira. Por exemplo, na tradição nórdica as Völvas praticavam seiðr, spá e galdr, práticas que englobavam xamanismo, feitiçaria, profecia e outras formas de magia e encantamentos. A situação era semelhante na Alemanha e outros países europeus. Na antiguidade as bruxas gregas e romanas tinham elementos bem similares. Todos estes xamãs compartilham algumas características importantes. Todos eram xamãs; usavam transe ritual, danças, máscaras, partes de corpos de animais, plantas, etc. Suas ferramentas usuais eram facas mágicas, bastões, caldeirões, vassouras, etc.

Eles executavam especialmente seus rituais durante à noite porque no xamanismo acredita-se que este é o tempo quando o mundo das pessoas e o mundo de deuses, espíritos, demônios e antepassados se cruzam. Eles executavam seus rituais em encruzilhadas, cemitérios, pelos rios e outros lugares importantes para eles. Assim estavam lidando com magia e eram os guardiões dos mitos e crenças do paganismo popular. Eles eram bruxos xamânicos clássicos! Contudo eles não tinham metas espirituais, uma tradição iniciática como tal, com estrutura organizada, trabalho em grupo, etc.

Muitos deles se tornaram Bogomilos nos Bálcãs. Bogomilos e xamãs solitários chegaram a trocar seus ensinamentos. Até mais adiante, os Bogomilos acabaram incorporando todos eles em seus próprios ensinamentos, e sabemos disso com certeza, porque muitos livros Bogomilos estão preservados até hoje. Nos Bálcãs estes livros são conhecidos como knjige starostavne, o que significa que foram escritos muito tempo atrás. Eles estão cheios de rituais mágicos, orações estranhas, métodos de adivinhação, astrologia, etc. Além disso, sabemos com certeza mais uma coisa, que Bogomilos não pagavam impostos e se recusavam a trabalhar. Eles começaram a viver como aqueles xamãs, trabalhando como curandeiros, herbolários, clarividentes e assim por diante. Eles negociavam seus serviços por comida, dinheiro, animais, roupas ou alguma outra coisa.

Nos Bálcãs os governantes e a Igreja começaram a chamar-lhes de Babajci, que significa “pessoas que seguem a religião da avó”, e esta é somente outra palavra para Bruxaria. Nos Bálcãs, principalmente as mulheres velhas eram xamãs e conforme previamente dissemos, elas eram guardiãs da memória da magia popular, assim este apelido para elas era bastante apropriado.

Então outra coisa aconteceu, os Bogomilos se recusaram diferenciar homens e mulheres. Eles se tornam os primeiros feministas na história e apoiavam a liberação sexual, em parte porque o gênero não era importante para eles. A razão para isto é que eles viam o corpo físico como uma parte do mundo material, assim como tudo ao nosso redor. Pelo seu sistema de crença todos os gêneros estão na mesma posição, porque todos eles estão no inferno, e o inferno é o mundo material. Assim eles olhavam para as mulheres como iguais, estávamos todos no Inferno.

Esta perspectiva era uma heresia tremenda na Idade Média e aos olhos da Igreja, então eles deram um passo adiante. Organizaram seus grupos pelas antigas regras passadas pelas “Avós” de “um Deus e 12 membros”, ou um líder de procissão e 12 participantes, e incluíram mulheres naqueles grupos. Até mais, mulheres podiam liderar rituais também. Este foi o momento em que os primeiro covens foram formados, bem como a Bruxaria Tradicional que reconhecemos hoje. A Bruxaria Tradicional real é uma amálgama do velho xamanismo, do paganismo popular e do gnosticismo. Aquele foi um momento quando elementos espirituais foram incorporados na Arte, como também metas espirituais. No fim das contas, aquele foi o momento quando a Bruxaria Tradicional nasceu nos Bálcãs, e acredito que este é o caso da Europa também.

Como tivemos a oportunidade de ver, o movimento dos Bogomilos floresceu muito rápido através de quase toda a Europa. Eles eram reconhecidos como um grupo perigoso e os governantes de alguns países começaram a processá-los. Começaram a caçar aqueles grupos de 13 membros à noite, em igrejas e cemitérios abandonados e outros lugares onde eles se reuniam. Claro, todos eles eram acusados de praticar bruxaria. Mais tarde, palavras como “bruxa” e “bruxaria” seriam denominadores comuns para a prática dos Bogomilos. E mais, esta palavra também foi usada para descrever praticantes solitários deste xamanismo popular mágico-herético. Durante o Renascimento muitas pessoas foram perseguidas por estas práticas, embora elas não tivessem nenhuma associação com a bruxaria ou gnosticismo.

Então, assim como podemos ver que a estrutura de coven tem sua origem no gnosticismo e é derivada, num nível geral, do cristianismo. Os primeiros covens que se parecem com “covens de bruxas” nasceram nos Bálcãs entre os Bogomilos, pois este foi o tempo em que as mulheres foram incluídas neles pela primeira vez. Além disso, os Bogomilos foram responsáveis em conectar o velho xamanismo europeu e o gnosticismo, o que trouxe para o mundo a Bruxaria Tradicional. Este gnosticismo medieval se espalhou por toda parte da Europa e com ele a clássica estrutura de coven de 13 membros. Os primeiros grupos que vieram a ser perseguidos são datados de 1022, em Orleans, França, e em 1175, em Verona, na Itália.

É por isso que eles são tão importantes, mas infelizmente não existem informações suficientes sobre eles no ocidente.

Nick: Daqui entendo como a memória da terra, e então a partir deste rico legado Bogomilo que marcou a Europa, qual é a relação entre espíritos e terra? Refiro-me ao dragão Tarotor que possui um significado relacionado ao Rio Danúbio e outros locais que têm uma importância particular atribuída aos poderes encontrados lá. O que isto significa para nós, hoje em dia?
Rade: Bem, isso significa que às vezes devemos deixar a nossa casa, se quisermos fazer alguma coisa. Como você disse, alguns espíritos estão ligados a alguns lugares específicos e não querem deixá-los, ou mesmo que quisessem, não conseguiriam sair destes lugares. Isto é bem comum nos Bálcãs. Bruxas geralmente reconhecem dois tipos de lugares, os bons e os maus, porque a energia desses lugares é forte, ela atrai alguns espíritos ou os provê com certa energia para viver ali. Sempre me lembrarei de como minha avó me ensinou a reconhecer estes lugares. É simples. Locais com vegetação baixa, com muitas plantas mortas, ou aquelas que não são capazes de crescer e atingir o tamanho normal são lugares de má energia e más entidades. Aquelas vegetações verdes e prósperas são boas. É lógico que há mais, alguns lugares são significativos porque alguém morreu ali, ou possui uma edificação significativa, encruzilhadas, objetos, árvores, pedras ou qualquer coisa que realmente pode atrair, carregar e preservar energia.

Nick: Agora já discutimos a conexão entre Xamãs, Bruxas, Bogmomilos e Dragões. Mas, sentado aqui na cidade onde o infame Vlad Dracula defendeu contra o sítio otomano, é no mínimo apropriado perguntar sobre como os vampiros se encaixam nesse imaginário, porque as lendas vampíricas são ricas nos Balcãs.
Rade: Vou tentar responder isso de uma maneira curta, se isso é possível, mas isso vai ser explicado como deveria no meu terceiro livro “The Last European Shamans”.

Resumidamente, “vampiro” é a única palavra sérvia que entrou nas linguagens do mundo. Ela era usada somente na Sérvia antes de um grande escândalo no início do século XVIII, quando alguma epidemia estranha começou a matar soldados austro-húngaros na Sérvia. Naquela época estávamosem guerra. Elesdisseram aos seus superiores que soldados sérvios mortos os atacaram à noite, e que os teriam “comido”. Eles não haviam bebido seus sangues, mas consumido suas vitalidades. Então, alguns médicos de Viena chegaram e cavaram os túmulos dos suspeitos e descobriram que todos os corpos ainda estavam frescos. Assim, a notícia se espalhou por toda a Europa como rastilho de pólvora – e por esta palavra o vampiro ficou conhecido.

Oficialmente na nossa antropologia, vampiros são almas de pessoas más que atacam pessoas à noite. Seus corpos ficam frescos na cova porque durante a noite eles retornam a eles, após sua caçada noturna em busca de fluidos vitais e energia.

Mas isso está correto apenas em um sentido, porque sim, vampiros são as almas de bruxas mortas, homens-dragão e todos os outros que possuem “sangue de dragão”. Assim, durante o tempo de vida foram capazes de deixar seus corpos quando queriam, e de voar em sua forma real. Depois que eles morreram, eles se tornaram ainda mais perigosos, porque agora eles eram apenas espíritos que podiam dormir durante o dia em seus túmulos e se alimentar à noite com energia de outros humanos. Então, as pessoas têm muito medo deles… Por causa de sua aparência em sua forma de dragão, temos imagens reconhecíveis, asas de morcego, lobisomens e afins.

Radomir nos apresenta o Portal de São Pedro na Sérvia

Nick: Dabog, o Diabo, e este mundo como um Inferno habitado por Dragões e mestiços – e agora, vampiros, é muito fácil para as pessoas com uma mentalidade mais racional e moderna verem que aqui estamos pintando o Diabo sobre toda a Bruxaria, e então talvez um esclarecimento do papel do Diabo na Bruxaria Tradicional seja o mais adequado?
Rade: Mais uma vez, é muito difícil dar uma resposta boa, direita e curta para isso. Sim, o conceito do Diabo existe, bem como os conceitos de muitos Anjos e Santos. Assim, podemos encontrar personagens do cristianismo, bem como do paganismo popular, como as fadas, espíritos da natureza e de lugares, etc. Ele é muito importante em muitas tradições. Dizemos “muitas”, porque não há um culto central, e tudo está em nível regional. Mas ele não é de forma alguma um objeto de adoração! Isto é proibido. Bruxas podem trabalhar com ele, mas não como muitas pessoas pensam. Elas podem dar-lhe uma oferenda para curar alguém ou para a magia de amor, bem como para fins malignos. Em geral – e na maioria das tradições – ele é o Daba manco e é conhecido como um doador altruísta de todos os bens. O famoso antropólogo Veselin Cajkanovic escreveu um livro fantástico sobre o assunto.

Em muitos cultos, ele é o inventor e detentor dos conhecimentos ocultos. Ele tem dois espaços rituais fechados e dois abertos. Os fechados são: a forja onde a bigorna é o altar e o moinho, onde a mó é o altar. O primeiro espaço ritual aberto é a encruzilhada, e o segundo e a ponte. As tradições populares nos dizem que ele é o inventor da forja e do moinho, e assim ele é muito conectado a esses lugares. A forja e a bigorna estão conectadas a ele através de lendas. Dizem as lendas que ele aparece após a meia-noite na encruzilhada, porque estes lugares também são encruzilhada de mundos, e outros mitos nos dizem que ele havia sido acorrentado, após sua queda, sob uma ponte. Em algumas outras tradições ele é um guardião do Portal de São Pedro, o portão através do qual as almas dos mortos seguem para o céu.

Em uma tradição muito interessante que encontrei no leste da Sérvia, revelaram-me um segredo de quem ele é. Disseram-me que ele é um Cristo, porque Deus não pode ser material, mas Cristo foi, e então ele é imagem de Deus no mundo material… Considerando as conseqüências teológicas nesta declaração, preciso acrescentar que esta é uma pura declaração Bogomila?

Além disso, devo mencionar que, em muitas ocasiões, ele é aquele que tenta as pessoas e em muitas tradições sua presença na iniciação é uma obrigação, se alguém procura o sangue. Há muito, muito mais para contar sobre ele, o que fiz no “The Last European Shamans”, mas por enquanto isso é tudo.

Nick: E por último irmão, neste dia e era de tumulto e confusão, você acha que a bruxa tem uma missão ou propósito no mundo moderno, uma missão especial para levar a cabo? Se assim for, o que é?
Rade: Honestamente, eu não sei. Eu não tenho dado muita atenção a isso. Só posso repetir o que já disse. Bruxas são mediadores entre as pessoas e os espíritos deste ou de outros mundos. Elas devem ser o que são e fazer o que querem fazer. Alguns delas serão boas, outras más, mas todas elas são livres em suas almas. Durante esse processo algumas conseguem se divinizar e prosseguir nesta jornada perigosa…

E com isso terminamos ainda outro copo de Jelen, juntamente com outro Stomaklija, enquanto pedimos outra rodada destes abençoados fermentados sérvios. Acendemos mais um Cohiba, ponderando sobre o propósito da bruxa no mundo, enquanto meteoritos começam a cair do céu azul claro sobre o Danúbio…

– Por Nicholaj de Mattos Frisvold

Artigos recomendados:

– Ol’ Hornie e o Diabo

– A Tradição dos Proscritos

– A Bruxaria Tradicional e o Trabalho com os Demônios

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/uma-noite-bruxa-%C3%A0s-margens-do-dan%C3%BAbio

Resultados da Hospitalaria – Março 2012

Em Março tivemos 38 Mapas e 22 Sigilos.

Entidades auxiliadas:

– Creche Anjos da Guarda

– Cruz Vermelha da França

– Exército da Salvação

– Médicos Sem Fronteiras: www.msf.org.br

– Casas André Luiz: http://www.andreluiz.org.br

e 18 doações de sangue.

E pretendemos continuar o projeto de Hospitalaria. Quem estiver a fim de participar, é só seguir as instruções e pegar seu Mapa Astral ou Sigilo Pessoal via o TdC.

#Hospitalaria

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/resultados-da-hospitalaria-mar%C3%A7o-2012

A doce e bela morte

» Parte 2 da série “Todas as guerras do mundo” ver parte 1

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais… Que vos desprezam… Que vos escravizam… Que ditam os vossos atos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois!

(Chaplin, em O Grande Ditador)

A Coreia do Norte está situada na parte norte de uma península no extremo leste do continente asiático, entre a China e o mar que a separa da ilha do Japão. Como alguns devem saber, a península foi governada pelo Império Coreano até ser anexada pelo Japão, após a Guerra Russo-Japonesa de 1905. Ela foi dividida entre zonas de ocupação norte-americana (sul) e soviéticas (norte) em 1945, após o final da Segunda Guerra Mundial. A Coreia do Norte recusou-se a participar da eleição supervisionada pelas Nações Unidas, feita em 1948, que levava à criação de dois governos coreanos separados para as duas zonas de ocupação. Ambos, Coreia do Norte e Sul, reivindicavam soberania sobre a península inteira, o que levou-os à Guerra da Coreia, em 1950. Um armistício de 1953 terminou o conflito; no entanto, os dois países continuam oficialmente em guerra entre si, visto que um tratado de paz nunca foi assinado.

A Coreia do Norte se autodenomina uma república socialista, mas na prática sabemos que se trata de uma ditadura comunista que ficou presa ao passado, e tem enormes dificuldades de dialogar com um mundo cada vez mais globalizado. Em 2009, os quatro loucos aventureiros que apresentam o programa Não Conta Lá em Casa, do canal de TV a cabo Multishow, e costumam visitar áreas de conflito para nos trazer uma visão genuinamente brasileira da situação, conseguiram adentrar a Coreia do Norte valendo-se de sua “diplomacia sem noção”, como eles mesmos alegam. A despeito das cenas surreais que foram mostradas no programa, como as guardas de trânsito da capital Pyongyang fazendo sinais para um trânsito inexistente (quase não há carros lá), ou quando dedilham rock & roll no violão numa escola de música, e percebem que os adolescentes de lá nunca haviam ouvido coisa igual, a cena que nos interessa aqui é a conversa que eles têm com algum oficial de alta patente do governo ditatorial.

Devemos dizer que eles não são tão “sem noção” assim – surpreendentemente, quem inicia a conversa é o próprio militar, que parece ter uma curiosidade genuína em aproveitar aquele raro momento de contato com jovens vindos de um país tão distante, teoricamente neutro na questão das Coreias (no que também poderia ser interpretado como um perigoso interrogatório). Em todo caso, papo vai e papo vem, um de nossos heróis “sem noção” levanta a questão mais espinhosa sem papas na língua: “É sabido que a China protege os direitos da Coreia de fazer testes nucleares. É mesmo tão necessário fazer esses testes tão perto do Japão?”. O oficial então responde com sua versão dos fatos: “Você sabe que tivemos uma péssima experiência como colônia do Japão por mais de 40 anos. A Alemanha compensou todos os países que atacou, mas o Japão não compensou nada. Todas as 200 mil mulheres que eles usaram como escravas sexuais e os 8 milhões usados como força de trabalho… Eles torturaram nosso povo. Ao menos que eles compensem nosso país, nossa relação não irá melhorar. Nossos testes nucleares não visam atacar nenhum outro país, mas defender o nosso”.

Finalmente, o militar pergunta: “Qual a melhor maneira de resolver a tensão em nossa península?”. Ao que nosso sábio “sem noção” responde: “Acho difícil para um brasileiro responder essa pergunta, pois não temos tantos episódios de guerra recentes, como vocês têm. Eu poderia dizer – esqueçam o passado –, mas imagino que seja muito difícil”…

Não sei se concordam comigo sobre a importância desse tipo de diálogo, mas em todo caso ele toca na essência do que manteve tantas e tantas guerras ocorrendo pelo mundo, com breves intervalos de paz entre elas. De certa forma, todas as guerras do mundo são uma mesma guerra, e o que devemos é tratar de tornar os intervalos de paz cada vez mais duradouros.

A Guerra da Coreia não é propriamente um embate ideológico, mas uma luta por território e riquezas, como é afinal a razão de todas as guerras, mesmo as religiosas. O comunismo soviético e o capitalismo americano são apenas sistemas políticos, mas as nações não vão à guerra por achar que sua visão de mundo pode trazer benefício às nações vizinhas, seu real objetivo não é evangelizar ideologia alguma, mas pura e simplesmente conquistar mais território, e mais riquezas. Ao menos, é uma razão bastante simples de se compreender…

Mas, e qual é a melhor maneira de evitar que uma nação, necessitada ou não, invada outra em busca de riquezas? Ora, uma delas é estabelecer um claro equilíbrio de poder, onde o poderio militar de uma ou algumas nações forme uma ou mais potências muito superiores às demais, de modo que as outras nações se abstenham de arriscar invasões. O problema dessa “solução”, no entanto, é que ela não impede que as potências invadam outras nações, ou extraiam suas riquezas de forma autoritária (ou oculta, “maquiada” pela mídia). Uma solução que parece mais duradoura e, em todo caso, que é até hoje a melhor solução que os países encontraram, é estabelecer a diplomacia e um vigoroso mercado econômico entre as nações, de modo que a escassez de recursos de um país possa ser equilibrado pela venda de outros recursos que possua em excesso, e assim por diante… É claro que essa economia globalizada não é imune à manipulações, protecionismo, desequilíbrios e injustiças sociais, mas ao menos é muito melhor do que sangue, tiros de canhão e bombas nucleares.

O que um longo período de paz entre as nações pode nos permitir, entretanto, é que percebamos que, afinal, não existem nações, e que no fundo, todos nós somos bastante parecidos, quando estamos abertos para uma conversa amigável, amistosa, e quem sabe, “sem noção”. Fosse um dos quatro apresentadores do Não Conta Lá em Casa um descendente de japoneses que migraram ao Brasil após a Segunda Guerra, ele provavelmente teria enormes dificuldades em ter uma conversa tão amistosa com o oficial coreano. Mas, que impediria tal amistosidade, senão sua aparência nipônica, senão a pressuposição do coreano de que aquele brasileiro faria parte da “nação japonesa”, a mesma que estuprou suas mulheres e torturou seu povo há sabe-se lá quanto tempo? Tampouco o oficial nalgum dia refletiu sobre o fato de que, após a rendição do Japão aos EUA, eles ficaram proibidos de sequer ter um exército, e que por isso mesmo faz muitos anos que não nasce no Japão alguém que tenha qualquer coisa a ver com os estupros e torturas de quase um século atrás. O que mantém essas chagas abertas, afinal? O mito das nações!

Este é exatamente o título do livro de Patrick J. Geary [1], historiador americano, que basicamente defende a tese de que uma nação é um construto intelectual, ideológico, e não tem bases naturais nem tampouco científicas. Não é tão difícil de entender: assim como hoje vemos negros jogando em times de futebol de países europeus, pois são filhos de africanos que migraram para a Europa há décadas, e, portanto, já nasceram nos países que defendem, da mesma forma que ocorre no futebol, ocorre em tudo o mais. Se a nação fosse algo natural, deveriam haver raças no mundo, e os habitantes de um dado país europeu deveriam ser descendentes diretos dos ancestrais que colonizaram aquela dada região há milhares de anos atrás. Porém, a ciência e arqueologia modernas, juntamente com os testes de DNA, já provaram que só existe uma única raça humana, o homo sapiens, e nos deram fortes indícios de que ela provavelmente originou-se em alguma parte do continente africano, e depois migrou para toda a Terra. Se vamos falar em nação da maneira que Hitler e outros ditadores falavam, só podemos falar numa nação global, composto por todos os países e todas as regiões onde ainda caminham os homo sapiens.

Segundo Geary, “o processo específico pelo qual o nacionalismo emergiu [nos últimos séculos] como uma forte ideologia política variou de acordo com a região, tanto na Europa como em outras partes. Em regiões carentes de organização política, como na Alemanha, o nacionalismo estabeleceu uma ideologia com o fim de criar e intensificar o poder do Estado. Em Estados fortes, como França e Grã-Bretanha, governos e ideólogos suprimiram impiedosamente línguas minoritárias, tradições culturais e memórias variantes do passado em prol de uma história nacional unificada e língua e cultura homogêneas, que supostamente se estendiam a um passado longínquo”. E, não se enganem, “o ensino público de qualidade” também sempre foi à ferramenta ideal pela qual o mito das nações foi construído na era moderna… Hoje, porém, ele talvez não faça mais sentido, mas não significa que os currículos escolares estejam sendo atualizados.

Antes de encerrar, porém, devemos tomar cuidado com os termos aqui utilizados. Reflitamos… Nação, do latim natio, de natus (nascido), é a reunião de pessoas, geralmente do mesmo grupo étnico, falando o mesmo idioma e tendo os mesmos costumes, formando assim, um povo, cujos elementos componentes trazem consigo as mesmas características étnicas e se mantêm unidos pelos hábitos, tradições, religião, língua e consciência nacional.

Pois bem, esta é uma definição que pode se adequar as enciclopédias, mas não ao mundo real. Da mesma forma que um jogador negro da seleção de futebol alemã pode não ter a mesma cultura, a mesma religião, e muito menos a mesma cor de pele da maioria dos outros jogadores, ele é, não obstante, um alemão. Quando ele marca um gol, são todos os alemães do estádio que comemoram, todos os homo sapiens que decidiram torcer por aquele time de futebol. E assim é com tudo o mais: no fundo, tanto a seleção alemã quanto o Bayern de Munique são apenas times de futebol. É tão somente uma ilusão ideológica que determina que os times da Copa do Mundo precisam ter apenas jogadores nascidos ou naturalizados nesta ou naquela região do globo. Ninguém nunca viu uma fronteira na face da terra – mesmo assim, em nossas mentes, elas ainda existem.

Talvez fosse mais proveitoso usarmos outro termo… Pátria, do latim patria (terra paterna), indica a terra natal ou adotiva de um ser humano, onde se sente ligado por vínculos afetivos, culturais e históricos. O termo também pode significar somente o ambiente ou espaço geográfico em que discorre nossa vida. Em raízes ainda mais antigas, o termo liga-se ao latim pagus, que significa “aldeia”, e que também deu origem ao termo “pagão”. Ora, como muitos devem saber, toda nossa cultura e religião ancestrais nasceram de aldeias, e xamãs, e as práticas espirituais do paganismo. Além de anteceder a “nação” em milhares de anos, o termo ainda nos oferece a liberdade de considerar que nossa pátria não é somente o lugar onde nascemos, mas também todos os locais onde escolhemos um dia morar, e todos os amigos, e todos os amores que construímos pelo caminho.

Dulce et decorum est pro patria mori… Horácio [2] talvez estivesse certo: pode ser belo e doce morrer pela pátria, defendendo aqueles que realmente amamos daqueles que os querem dizimar; E não propriamente lutando em guerras supostamente ideológicas, baseadas em mitos acerca de povos que nunca foram exatamente o nosso, nos incitando a matar inimigos que, tampouco, jamais foram os nossos. Apenas para que um opressor obtenha o território e as riquezas de outro opressor.

A mais nobre função de um soldado é lutar pela paz, e pela liberdade daqueles que se encontram atrás dos muros dos castelos e das trincheiras nas fronteiras imaginárias. Até que um dia, muros e fronteiras, e balas e canhões, não tenham mais razões de ser. Esta sim, é a única beleza possível da guerra, seja na vitória, seja na morte.

» Na próxima parte, a estrela inimiga…

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[1] O mito das nações, lançado no Brasil pela Conrad Editora.

[2] Poeta e filósofo romano (65 a.C. – 8 a.C.).

Crédito das imagens: [topo] Divulgação (apresentadores do NCLC na Coréia do Norte); [ao longo] Divulgação (Cacau, jogador brasileiro naturalizado alemão, comemora seu gol na Copa do Mundo de 2010, quando defendeu a seleção da Alemanha); Google Image Search/Anônimo

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Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-doce-e-bela-morte