Pra não dizer que não falei da política

Eu não gosto de política. Eu não entendo quase nada de política. Por isso eu quase nada escrevo sobre política. Já me disseram algumas vezes que eu deveria me interessar mais por política, que “a política é essencial na formação do cidadão”. Porém, normalmente entende-se por cidadão aquele membro pertencente a uma determinada nação ou estado, com seus direitos e deveres… O meu problema, portanto, é que antes de ser cidadão eu sou poeta – e poetas são cidadãos do mundo todo, não compreendem como tantos enxergam essas fronteiras invisíveis onde tudo o que há são florestas e aves a voar e, quando muito, um rio a fluir. Eu sou cético quanto a essas alucinações, até hoje ninguém fotografou uma fronteira (fotografaram grades e muros, mas esses a gente passa por cima).

Há pouco tempo, finalmente encontrei um motivo para falar de política, e aqui segue o meu depoimento…

Ocorre que descobri que um dos heróis da resistência contra a ditadura militar que perdurou no país por pouco mais de 20 anos (vocês se lembram não?) foi exatamente um poeta, e sua arma foi a poesia:

Esta música de Geraldo Vandré, “Pra não dizer que não falei das flores”, foi entoada como um hino pela liberdade por legiões de jovens e admiradores do ser humano. Como dizia que os soldados eram ensinados “a morrer pela pátria e viver sem razão”, foi censurada, e Vandré foi um dos inúmeros “formadores de opinião” forçado a se exilar fora do Brasil em 1969.

Mesmo após seu retorno ao país, em 1973, Vandré nunca mais foi filmado em um palco nem participou de algum show ou comemoração musical que a relevância de sua obra requeria. Isolou-se como se nunca tivesse existido… Isso foi o suficiente para que surgissem boatos de que ele havia sido torturado física e mentalmente pelos militares, que estava louco ou que sofrera lavagem cerebral… Para muitos radicais da época (e até hoje), Vandré era uma espécie de “Che Guevara brasileiro” – ocorre que ele nunca pegou numa arma, nem tampouco morreu em alguma revolução.

Na verdade, Vandré não foi torturado. Na verdade, Vandré não queria fazer revolução alguma… Um dos motivos de nunca ter retornado a carreira artística de forma pública (pois compõe músicas até hoje) foi exatamente porque se sentiu incomodado com essa fama de “mártir revolucionário”… Vandré não era apenas um “Che Guevara”, era muito mais do que isso – era antes um poeta revolucionário.

Sua música que se tornou hino era muito mais uma poesia sobre a condição humana, e não sobre uma ditadura militar dentre tantas outras na história da América do Sul. Para Vandré, tanto os cidadãos quanto os militares eram todos soldados, alguns armados com fuzis, outros apenas com a razão e a intuição – sempre muito mais poderosos. Porém, todos irmãos, todos fadados à caminhar juntos, de mãos dadas, rumo ao futuro em comum.

O poeta nada tinha contra os militares, muito pelo contrário – era apaixonado por aviação desde criança, e ainda nos dias de hoje é quase sempre visto nas ruas próximas a seu apartamento em São Paulo vestindo uma camisa branca com um símbolo da aeronáutica no peito. Vocês podem não acreditar, e por isso mesmo eu acho interessante verem este outro vídeo, onde ele acompanha um sargento cantar seu hino atemporal, e depois vai até ele para abraçá-lo… Se você chegou até aqui sem compreender que não existe nem nunca existiu uma nação dividida entre militares e cidadãos, é provável que tão cedo não compreenda:

Da mesma forma, a política trata da organização e administração dos interesses comuns de um dado grupo de pessoas. Moisés fez política ao trazer suas tábuas para o povo no deserto. Os gregos fizeram política ao decidir condenar Sócrates a beber cicuta. Gandhi fez política ao livrar todo um país da opressão estrangeira com um aceno de paz e uma grandiosa alma a irradiar-se por milhões e milhões de irmãos… O fim da política é resolver os interesses comuns da melhor forma possível – a questão é que muitas vezes os homens, esses animais políticos, não dispõe da ética e da poesia necessárias para alçarem vôos às regiões mais ensolaradas do reino da liberdade e da fraternidade universal.

Ainda crêem que partidos políticos significam divisões eternas, e que o inimigo está sempre do outro lado… Ora, o inimigo é a própria noção profundamente ignorante de que existe um inimigo. O inimigo é achar que o mundo divide-se entre esquerda e direita, branco e preto, e não nas mais variadas gradações de cores e culturas.

Assim como nas religiões os seres ignorantes digladiam-se em nome de um Deus que só poderia pertencer a todas elas, na política muitas vezes os homens elegem deuses os seus próprios sistemas políticos, e há alguns que se autodenominam avatares desses deuses fajutos. Ora, o único sistema político que predomina e sempre predominou é aquele que atende aos desejos da maioria pensante, ou seja, aquela que foi ensinada a pensar…

Em “1984”, George Orwell retratou um futuro sombrio onde as ditaduras políticas tomaram o controle da maioria dos países, e onde toda liberdade à informação é cerceada. Já Aldous Huxley foi um pouco mais perspicaz, e previu um futuro superficialmente mais ameno, mas no fundo muito pior – um futuro onde seríamos de tal forma atordoados por uma overdose de informações irrelevantes, que não seria sequer necessária à censura, pois os possíveis revolucionários seriam reduzidos à passividade e ao egoísmo. O primeiro temia que o medo nos arruinasse, o segundo previu que o desejo seria nossa maior ruína.

Quando Vandré retornou ao país, percebeu que o povo que cantarolava suas poesias não existia mais… Não porque havia sido exterminado pela ditadura militar, mas simplesmente porque havia sido domado pela cultura massificada e irrelevante que ele já previra desde décadas atrás…

Bem, talvez Vandré seja muito mais revolucionário do que sequer poderíamos imaginar que a idéia de ser revolucionário algum dia poderia significar. Ele não estava interessado em salvar um sistema político, mas um sistema poético. Poetas são conhecidos por tirar as pessoas de suas vidas anestesiadas por breves momentos – mas será que a poesia pode fazer-nos despertar do “Admirável Mundo Novo” de Huxley? Isso somente nós mesmos é quem poderemos responder, no único espaço que jamais pôde ser controlado ou censurado, nem tampouco cercado por muros e grades – na consciência de quem pensa por si mesmo.

Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

***

Obs: Eu propositalmente iniciei este artigo falando de meu desgosto pela política, mas eu me referia a política dos corruptores e corruptíveis, e não a Política dos poetas, filósofos e grandes líderes como Gandhi. O texto é uma tentativa de analisar essas diferenças entre a política e a Política – embora continue sem pretensão nenhuma de ser um grande conhecedor do assunto.

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

Ad infinitum

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#Música #poesia #política

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/pra-n%C3%A3o-dizer-que-n%C3%A3o-falei-da-pol%C3%ADtica

Admirável Mundo Novo ou 1984: qual distopia foi mais visionária?

Neste vídeo vamos comparar as duas obras distópicas mais lidas desde o seu lançamento no século passado: “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, e “1984”, de George Orwell. Veremos como, embora possa não parecer à primeira vista, tais obras guardam similaridades importantes, apesar de uma focar exclusivamente no campo político, enquanto a outra também abre espaço para uma reflexão aprofundada da espiritualidade humana. Afinal, Huxley também foi um perenialista.

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#aldoushuxley #georgeorwell

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Demônios da Carne: O Guia Completo para a Magia Sexual do Caminho da Mão Esquerda

Por Nikolas & Zeena Schreck.

Introdução 

Para a Ordem de Babalon, a Ordem de Sekhmet e seus aliados. Dedicado às memórias do Barão Julius Evola, que começou o trabalho de despertar o caminho da mão esquerda no Ocidente, e Cameron, que serviu como avatar para a força Shakti adormecida do Ocidente. Nossos agradecimentos às muitas pessoas que nos ajudaram durante as fases de pesquisa e preparação deste livro, incluindo DM Saraswati, Janet Saunders, Ananda Parikh, Kevin Rockhill, Brian G. Lopez, Michael A. Putman, Curtis Harrington, Kevin Fordham, Nancy Hayes, Lorand Bruhacs, Forrest J Ackerman, Peter-R. Koenig, Dr. Stephan Hoeller, Walter Robinson, Laurie Lowe, Jeanne Forman, Dr. George Grigorian, The Vienna and Paris WO Dens, a equipe da Biblioteca Estadual de Berlim, Tibet House, Leon Wild e James Williamson.

Isenção de Responsabilidade:

As atividades sexuais e mágicas descritas neste livro destinam-se exclusivamente à aplicação de adultos que atingiram a maioridade, e só devem ser realizadas de forma consensual por indivíduos que possuam boa saúde física e mental. Recomendações sugerindo que o leitor realize treinamento adequado em atividades físicas que possam ser prejudiciais são intencionadas seriamente. Nem os autores nem o editor deste livro podem assumir qualquer responsabilidade por qualquer dano que possa ocorrer ao leitor como consequência dos experimentos descritos aqui.

Os Demônios da Carne: O Guia Completo para a Magia Sexual do Caminho da Mão Esquerda

 

 Vamos falar sobre o assunto mais misterioso de todo sexo. O sexo é um fenômeno eletromagnético.

– William S. Burroughs.

O desejo é a grande força.

– André Breton

Das Ewigweibliche zieht un hinan. (O Eterno Feminino nos atrai.)

– Dr. Fausto, no Fausto II de Goethe.

Preliminares:

O livro diante de você é um guia no sentido de que irá acompanhá-lo em uma jornada.

A rota que faremos passa por paisagens de estranha beleza e por abismos perigosos. É conhecido como o caminho da mão esquerda. Poucos percorreram esta estrada e menos ainda chegaram ao seu destino final e distante.

Infelizmente, a maioria dos mapas disponíveis anteriormente deste terreno misterioso foram elaborados por aqueles que nunca pisaram no caminho. No entanto, eles vão avisá-lo dos terríveis perigos enfrentados ao longo do caminho, sugerindo que sua árdua passagem só leva ao mais sombrio dos becos sem saída. Esses cartógrafos defeituosos irão adverti-lo de que as únicas almas que podem ser encontradas nesta via mal iluminada são tolos, lunáticos, canalhas e ladrões. (De fato, pode haver alguma verdade nessa última advertência, mas o aventureiro nato não será dissuadido tão facilmente.)

Existem outros mapas, oferecidos por almas um pouco menos tímidas, que se assemelham mais à realidade. No entanto, esses guias apontam alegremente apenas as atrações turísticas mais reconfortantes do roteiro turístico. Todos os becos escuros, bairros de má reputação e distritos da luz vermelha são mantidos com segurança fora de vista, considerados impróprios para consumo público. Tal escrúpulo permite ao explorador apenas uma visão cuidadosamente expurgada. Além disso, as especificações encontradas neste tipo de mapa são frequentemente tão complicadas que o viajante não sabe qual é o lado para cima.

Por fim, há o mapa elaborado por aqueles que se declaram não apenas como guias turísticos, mas também reivindicam com orgulho esta via à esquerda em sua totalidade, saudando-a como o melhor lugar para se estar. No entanto, se o viajante incauto consultar esses mapas, mesmo para as direções mais simples, imediatamente se torna aparente que houve alguma confusão. Essa confusão, ao que parece, se deve a uma simples, mas duradoura apropriação indevida de nomenclatura. A área nesses mapas marcada tão claramente como “o caminho da esquerda” acaba, em uma inspeção mais próxima, ser um caminho completamente diferente.

Os Demônios da Carne, projetado em parte como um corretivo para as falsas pistas e desvios descritos acima, traça esse caminho até então mal interpretado de uma perspectiva muito diferente. Em nosso mapa, mostramos claramente o plano rodoviário completo em toda a sua topografia e complexidade tridimensionais, a partir de seu antigo ponto de origem oriental remoto. Também rompemos a superfície visível desta calçada para revelar as camadas arqueológicas ocultas da corrente sinistra à medida que ela percorreu o tempo. Acompanhando você nesta viagem, oferecemos sugestões práticas para navegar na estrada da esquerda em um mundo ocidental contemporâneo que não oferece bússola confiável.

Mas chega de metáforas sobre mapas e caminhos. Vamos encarar, você pegou este livro para ler sobre sexo.

E certamente há muito sexo para ser encontrado nestas páginas, narrando uma infinita diversidade de experiências eróticas. Da alquimia do sangue menstrual e do sêmen ao culto ritual da vagina. Sexo com monges promíscuos e prostitutas sagradas, do Tibete à Babilônia. Sexo necrofílico em locais de cremação. Sexo coprofílico na Sicília. Sexo incestuoso na Índia. Sexo vampírico na China. O orgasmo como sacrifício. O orgasmo prolongado. Sexo com Deusas. Transexualismo psíquico. Sexo com seres desencarnados. Escravidão sexual. Domínio sexual. Transe sexual. Sexo anal egípcio antigo entre Set e seu sobrinho Hórus. Sexo oral. Sexo autoerótico. Sexo em grupo. Sexo telepático. Todos os tipos de seitas sexuais. Sexo tântrico. Sexo gnóstico. Sexo satânico. Sexo com jovens virgens. Sexo com idosos. Sexo com as esposas de outros homens. Até sexo com Jesus.

No entanto, o panorama multicorporal de deleite polimorfo que escorre deste livro não é apresentado apenas para estimular os voluptuários ennuyé (entediados) cansados ou excitados com novos desvios que ainda não experimentaram. É importante estabelecer que há uma diferença significativa entre o prazer profundo da sexualidade desfrutada por si mesma como uma experiência fisiológica e estética, e a sexualidade utilizada para propósitos mágicos ou iniciáticos autênticos – o núcleo do caminho da mão esquerda. Tirados de seu contexto apropriado, os boatos aparentemente lascivos pressionados entre estas páginas podem – e provavelmente serão – ser mal interpretados se essa distinção não for levada em conta.

Ao mesmo tempo, deve-se salientar que todo o tópico da magia sexual foi cercado por uma tremenda hipocrisia, emanando tanto dos magos sexuais praticantes quanto daqueles que meramente observam suas atividades. Por exemplo, muitos curiosos pesquisaram casualmente o nível mais superficial da magia erótica, na esperança de aprender algumas dicas de sexo para apimentar uma vida amorosa sem brilho. Na maioria das vezes, esse jogo equivocado de magia sexual é apenas uma perda de tempo, gerando pouco em termos de excitação física e absolutamente nada em termos de magia. Mas alguns magos sexuais hipócritas assumiram a posição da escola de que esse fenômeno bastante comum é “imoral” ou “espiritualmente prejudicial”, ou mesmo que a magia sexual deve ser realizada sem uma centelha de luxúria ou emoção para ser legítima. Por outro lado, o não-mágico pode zombar de toda a ideia de magia erótica, descartando-a como algum tipo de piada suja, recusando-se a aceitar que os magos do sexo estão fazendo algo mais profundo do que saciar seus apetites carnais comuns sob o pretexto de doutrina esotérica.

Por trás dessas atitudes hipócritas está a horrível banalidade a que Eros foi reduzido no mundo ocidental moderno.

Nesse espírito, alguns de nossos leitores podem imaginar que um guia para a magia sexual do caminho da mão esquerda fornecerá as emoções furtivas e baratas da pornografia velada. Literalmente falando, essa palavra tão difamada pornografia, do grego porno (puta) e graphia (escrita) significa simplesmente “escrever sobre putas”. Então, para aqueles de vocês que esperavam fervorosamente que este livro fosse pornográfico, há de fato textos suficientes sobre prostitutas nestas páginas para se qualificar tecnicamente. Claro, as prostitutas com as quais nos preocuparemos são as transportadoras daquela ars amatoria (arte amadora) há muito perdida da prostituição sagrada. Se a prostituição já serviu uma função nobre e até sagrada, então por que não uma pornografia sagrada? Tal forma seria algo muito mais subversivo e poderoso do que a repetição estereotipada de convenções que costumamos associar ao gênero. A autora britânica Angela Carter, cujos contos cruéis geralmente eram tingidos de uma sexualidade inquietante e surreal, certa vez sugeriu as possibilidades:

“O pornógrafo moral seria um artista que usa material pornográfico como parte da aceitação da lógica de um mundo de absoluta licença sexual para todos os gêneros, e projeta um modelo de como tal mundo poderia funcionar. Seu negócio seria a total desmistificação da carne e a posterior revelação, através das infinitas modulações do ato sexual… essas relações, para restabelecer a sexualidade como um modo primário de ser em vez de uma área especializada de férias do ser e mostrar que os encontros cotidianos no leito conjugal são paródias de suas próprias pretensões.

De muitas maneiras, a descrição de Carter do “guerrilheiro sexual” que derruba tabus e que desmistifica totalmente a carne é uma excelente introdução ao trabalho do magista sexual do caminho da mão esquerda que este livro ilustra. Para os magi (magos) do caminho da mão esquerda, a sexualidade é ainda mais do que “um modo primário de ser” – o estado alterado de êxtase erótico extremo é um modo de ser potencialmente divino, a dança caótica de duas energias opostas magneticamente atraídas que permite a criação de um terceiro poder transcendendo o humano. O casal que liberar esse poder oculto e psiquicamente remanifestante do caminho da mão esquerda dentro de seus organismos sob o jugo do orgasmo em toda a sua intensidade achará difícil retornar à existência pré-programada que eles levaram uma vez. O homem e a mulher que mesmo uma vez experimentam a liberdade do caminho da esquerda, expressa através de seus ritos sexuais autodeificantes, saíram do jogo humano como normalmente é jogado.

Se o caminho da mão esquerda é perigoso – um ponto com o qual tanto seus detratores quanto seus defensores concordam – um de seus principais riscos é o perigo da liberdade em um mundo quase instintivamente comprometido em esmagar a liberdade sob qualquer forma que possa aparecer. Todas as autocracias dominaram restringindo severamente o pleno desenvolvimento do poder sexual em seus súditos. O caminho da mão esquerda, um método de ativação consciente de níveis de energia erótica quase desconhecidos nas relações sexuais convencionais, deve ser visto como uma ameaça a qualquer hierarquia que procure frear o desenvolvimento do homem em deus. A gnose sexual do caminho da mão esquerda tem o potencial de forjar indivíduos heroicos e autodeterminados a partir da carne balida do rebanho humano.

As pesquisas do excêntrico (alguns diriam insano) psicólogo Wilhelm Reich sobre os mistérios inexplorados do orgasmo na consciência humana concordam parcialmente com os antigos ensinamentos do caminho da mão esquerda. Em seu Psicologia de Massas do Fascismo, Reich reconheceu a ameaça que a total liberdade erótica representaria para qualquer mecanismo de controle social. Em consonância inconsciente com a veneração do caminho da mão esquerda de Shakti, o poder sexual divino da mulher, ele escreveu: “Mulheres sexualmente despertas, afirmadas e reconhecidas como tal, significariam o colapso completo da ideologia autoritária”. George Orwell, em seu romance distópico 1984, que continua sendo um diagnóstico agudo para o culto moderno do controle, também entendeu que a limitação do poder sexual era uma das armas mais insidiosas da autocracia. Orwell faz Julia, a heroína de 1984, perceber o segredo de Eros: “Ao contrário de Winston, [ela] entendeu o significado interno do puritanismo sexual do Partido. Não foi apenas que o instinto sexual criou um mundo próprio que estava fora o controle do Partido e que, portanto, deveria ser destruído, se possível. O mais importante era que a privação sexual induzia a histeria, o que era desejável porque podia ser transformado em febre de guerra e adoração de líderes.”

O adepto do caminho da esquerda, radicalmente individuado e separado das ilusões da multidão através da transgressão sistemática do tabu e do “mundo próprio” da sexualidade transcendente, dificilmente será arrastado pelas paixões impensadas das massas. Na primeira manifestação histórica da corrente sinistra que investigaremos, a Vama Marga da Índia, esse elemento de desafio social torna-se evidente. A recusa do iniciado do caminho da esquerda indiana em seguir as restrições religiosas de sua sociedade contra o sexo entre as castas, o consumo de vinho, o consumo de certos alimentos “impuros”, é a base sobre a qual ele eventualmente transgrede o estado humano e torna-se divino. Em seitas mais extremas do caminho da esquerda, como os Aghori, a transcendência de tabus internos profundamente arraigados vai muito além. Embora esse fator crítico de subversão social tenha sido ignorado ou branqueado por intérpretes mais moderados do caminho da esquerda do que nós, você descobrirá que essa recusa em seguir as regras ditadas por outros é um dos fatores universalmente definitivos que separam a esquerda caminho da mão de formas mais brandas e menos antagônicas de magia sexual.

Seria fácil interpretar erroneamente esse desafio ao costume social e religioso como uma declaração puramente política. No entanto, uma vez libertado de um conjunto de antolhos psíquicos, o magista do caminho da mão esquerda não os troca simplesmente por um novo conjunto. Ele ou ela se esforça para alcançar um estado de espírito em que todas as formas de ortodoxia devem ser questionadas e rejeitadas.

Mesmo neste estágio inicial, o leitor perspicaz terá percebido que quando falamos de magia sexual da mão esquerda, não estamos preocupados apenas com o funcionamento da genitália para algum propósito feiticeiro. Sim, sua ferramenta central de iluminação é a sexualidade desperta. Mas a tradição do caminho da mão esquerda na verdade fornece uma abordagem para todos os aspectos da existência, uma filosofia – ou “amor de Sophia” – que posta em ação pode transformar a totalidade da estrutura psicobiológica humana, não apenas seu pênis ou vagina.

Pode-se dizer que a magia sexual do caminho da mão esquerda é uma forma de iniciação conscientemente projetada para um mundo irremediavelmente fodido. A filosofia do caminho da mão esquerda postula que é o método mais adequado para os tempos apocalípticos e fora de ordem em que a humanidade existe atualmente, uma era que a tradicional disciplina indiana do caminho da mão esquerda reconhece como Kali Yuga. São necessárias medidas excepcionais para despertar a plena consciência sob condições tão desfavoráveis. O primeiro passo é rejeitar a tristeza e o desespero que esses tempos podem inspirar e abraçar com alegria o caos do mundo em desintegração, esse espetáculo ilusório e cintilante que emana da vulva da escura Kali. E uma das grandes ferramentas de transformação sobre as quais Kali preside é a carne, especialmente quando submetida à chama do desejo.

Fora da tradição do caminho da mão esquerda propriamente dita, a antiguidade pré-cristã reconhecia claramente que os estados mentais transformadores e misteriosos atingíveis através da sexualidade fazem parte do reino dos Deuses. De fato, muitos termos comuns que denotam sexualidade na linguagem moderna ainda carregam os traços indeléveis daquela antiga apreciação da natureza mágica – até mesmo religiosa – da sexualidade humana. O erótico remete ao deus Eros, o afrodisíaco refere-se à deusa Afrodite, assim como o venéreo é derivado de Vênus. As origens mágicas da palavra “fetiche” também são bastante conhecidas – deriva do português feitico (feitiço), para feitiçaria ou encanto. Quem pode negar que o poder poderoso em que um fetiche sexual escraviza o fetichista não é nada além de um fascínio, um glamour, de natureza inteiramente mágica? O caminho da esquerda, em todas as suas formas, conscientemente devolve Eros ao lugar outrora exaltado que ocupava na vida humana, reconhecendo a divindade adormecida do sexo mesmo em práticas que os profanos rejeitam como sórdidas e vergonhosas.

Sob seu exame às vezes contraditório de símbolos e premissas de magia sexual de várias tradições culturais e religiosas, Os Demônios da Carne postula um fenômeno biológico universal aparentemente conectado à consciência e sexualidade humanas. Como veremos, a expressão tântrica indiana caminho da mão esquerda descreve essa anomalia psicossexual com grande precisão. No entanto, também usamos a frase “corrente sinistra”, que indica sua existência não indígena, onipresente, não apenas em uma tradição cultural específica, mas como uma força localizada no próprio corpo.

Indicamos agora quão central é o papel que o sexo desempenha no caminho da mão esquerda, mas, presumivelmente, você pode estar se perguntando onde entra a “mágica” mencionada no subtítulo deste livro. inerente ao prazer sexual foi reduzido ao seu estado atual de degradação, assim como a outrora real arte da magia sofreu um declínio semelhante no mundo moderno. Se não se associa imediatamente a palavra com truques e prestidigitação do show business, então ela evoca o ocultista consumidor vulgar, vestido com o manto “mágico” obrigatório, recitando credulamente feitiços “mágicos” doutrinários, geralmente esperando em vão invocar o dinheiro que ele ou ela não tem as habilidades para ganhar, ou para atrair um determinado objeto de desejo sem adquirir as graças sociais para sequer iniciar uma conversa. Em outras palavras, a magia, pelo menos no mundo ocidental, tornou-se um brinquedo exótico para perdedores, a atuação de pensamentos ilusórios para alcançar objetivos transitórios mais eficientemente realizados através do desenvolvimento mundano da competência pessoal.

A magia, da perspectiva do caminho da esquerda descrita aqui, está muito distante da mercadoria bruta que se tornou no meio ocultista moderno. Estamos focados aqui na Grande Obra, a transformação sexual-alquímica do humano em semidivindade, não no desenvolvimento de alguns truques de salão. No caminho da mão esquerda indiana, os maiores magos são os divya ou bodhisattva, que não precisam recorrer a nada que se assemelhe a um ritual para criar uma transformação radical de maya, a substância da qual a mente e a matéria são compostas. Os poderes mágicos, como entendidos no Ocidente, às vezes são uma consequência da iniciação erótica, mas são secundários à remanifestação radical do eu para modos superiores de ser, que é a raison d’etre (razão de ser) do caminho da mão esquerda. Nas antigas tradições helênicas e gnósticas também consideraremos como expressões da corrente sinistra, um divya é conhecido como um magus (mago), um ser cujo poder mágico se baseia no cultivo interno do eu a níveis demoníacos de consciência.

Como esse estado de ser é o objetivo de todos os sinistros magos sexuais atuais, não fornecemos ao leitor feitiços, maldições ou rituais pré-programados. Nós também não fornecemos nomes de demônios garantidos para cumprir todos os seus comandos, nem feitiços infalíveis que atrairão os alvos de sua luxúria. Se você for ingênuo o suficiente para procurar por tais panaceias instantâneas, nossa ênfase na importância do trabalho mágico autodirigido como um processo interno de autodeificação provavelmente será extremamente frustrante. Este livro deixará claro os métodos perenes do caminho da mão esquerda que ativam o curso eterno do desenvolvimento tomado pelo divya ou o magus (mago) do caminho da mão esquerda, mas ele deliberadamente se abstém de conduzir o leitor mecanicamente através de uma lista de truques externos. Você não encontrará nada como: 1) Vagina aberta. 2) Insira o pênis. 3) Diga a palavra mágica com convicção.

Esse tipo de coisa é inútil, para não dizer um insulto à inteligência do magista iniciante. Instruções dogmáticas, para nossa experiência, não podem ser feitas para grandes magistas – elas apenas provam que o leitor pode obedecer obedientemente aos comandos. Esses atalhos e simplificações não fornecem nenhum atrito necessário para o estudante do caminho da esquerda, sem o qual nenhum esforço abrasivo necessário para iniciar a si mesmo pode ser desencadeado. Os Demônios da Carne, que somos imodestos o suficiente para classificar como um Tantra para o século XXI, é construído para fornecer esse atrito, em vez de destilar o caminho da mão esquerda em um leite materno fácil de engolir para o lactente. . Por esta razão, embora métodos práticos de procedimento sejam sugeridos, este não é tanto um livro de “como fazer” – seu foco está em “por que fazer”. Em nossa opinião, uma marca do verdadeiro magista do caminho da mão esquerda é a capacidade de integrar sistemas simbólicos complexos, sintetizá-los com a experiência pessoal e criar a partir dessa síntese sua própria direção única no caminho da mão esquerda.

Uma crença comum, mas errônea, sobre magia sexual, caminho da mão esquerda ou não, é que sua prática consiste em nada mais do que fazer um forte desejo focado durante o orgasmo. Se fosse esse o caso, dificilmente seria necessário um livro inteiro sobre o assunto – essa última frase seria suficiente para uma educação sexual-mágica completa. Este é, na verdade, apenas um dos menos sofisticados métodos de feitiçaria sexual, e embora o magista do caminho da mão esquerda possa experimentá-lo como um meio de testar a insubstancialidade de todos os fenômenos mentais, não pode ser comparado ao método da mão esquerda, muito mais essencial. métodos de caminho de iluminação sexual, como Kundalini, que remodelam a consciência para níveis supernos de realização que transcendem inteiramente o modelo pueril do “bem dos desejos” da magia sexual popular.

Talvez a prevalência dessa ideia, mesmo entre aqueles que deveriam saber melhor, se baseie no fato de que muito tem sido escrito sobre a “magia sexual” de Aleister Crowley, que em sua própria prática cotidiana consistia em pouco mais do que coordenar desejos e chegando. Mas Crowley, apesar de sua ascensão póstuma como o “nome de marca” mais reconhecível no campo da magia sexual ocidental, não é a essência da magia sexual. A ideia do orgasmo mágico não explodiu espontaneamente das entranhas de Crowley um dia. De fato, como mostraremos, os agora obscuros precursores pseudorrosacruzes de Crowley, como o magista sexual afro-americano PB Randolph e o espermófago alemão Theodor Reuss originaram muitas das ideias que se acredita que a Grande Besta 666 “descobriu”, assim como vários de seus contemporâneos e antecedentes desenvolveram essas mesmas ideias em direções mais pertinentes do que o próprio Mestre. Também tentaremos resolver a espinhosa questão de saber se Crowley é de fato um magus (mago) do caminho da esquerda.

Neste último aspecto, deve-se dizer que a prática da magia sexual por si só não qualifica um magista para o caminho da mão esquerda. Todo maluco oculto que alguma vez proclamou seu orgasmo como um evento mágico de primeira ordem não é necessariamente um iniciado no caminho da mão esquerda. Da mesma forma, a ausência de sexualidade na prática mágica de alguém é um sinal seguro de que não se está mais lidando com o caminho da esquerda em seu sentido clássico.

Colocamos a magia sexual da mão esquerda em um contexto histórico, analisando algumas das figuras históricas coloridas que praticaram a taumaturgia orgástica no Ocidente moderno. Mas devemos deixar claro que não é nossa intenção inspirar nossos leitores a imitar as vidas e lendas desses indivíduos. O caminho da esquerda está firmemente focado na autodeificação – a idolatria fanática e a adoração de heróis inculcadas por tanta literatura oculta para as “estrelas” do passado estão totalmente fora de lugar com os objetivos do caminho da esquerda. Se há uma atitude apropriada no caminho da mão esquerda a ser tomada com os famosos e infames professores de magia sexual do passado, certamente é a irreverência, não a santificação piedosa. De fato, no processo de transformar-se de consciência humana em divina por meio da iniciação erótica, é obrigatória uma irreverência saudável direcionada às próprias pretensões.

O mundo está cheio de pessoas que devoraram mil livros mágicos e ainda assim nunca realizaram um único ato genuíno de magia. Esse fenômeno é tão prevalente que a síndrome até ganhou um nome: o mágico da poltrona. Certamente não é nossa intenção criar através deste livro algo ainda pior – o mágico do sexo à beira da cama. Assumindo que você está lendo isso como uma visão geral introdutória da magia sexual do caminho da mão esquerda, e não simplesmente como uma diversão perversa, os princípios descritos aqui devem ser promulgados em sua própria carne, através da ação no mundo real, em oposição à abstração cerebral .

Claro, houve outros livros que tentaram comunicar algo dos mistérios da magia sexual. No entanto, do nosso ponto de vista, a maioria desses volumes anteriores errou o alvo. Gostaríamos de pensar que nosso objetivo será mais preciso. Na maioria das vezes, os textos de magia sexual anteriormente disponíveis suavizaram o poder penetrante disponível para o magista erótico em uma espuma pegajosa de romantismo insípido. As ofertas mais recentes foram voltadas para as sensibilidades fracas e chorosas do chamado movimento da Nova Era. Esses guias medrosos têm oferecido uma magia sexual totalmente desfigurada e domesticada a seus leitores. Este volume ficará desconfortável na prateleira com aqueles trabalhos mais suaves e menos diretos. Se sua compreensão da magia sexual foi adquirida apenas a partir desse corpo de trabalho doentio, esperamos que este livro sirva como um antídoto de purga para equívocos anteriores.

Não menos importante dos equívocos que visamos é a compreensão totalmente incoerente e historicamente inválida da natureza exata do caminho da esquerda que prevaleceu no século passado ou mais no mundo ocidental. Um dos desafios ao escrever este livro foi definir adequadamente um assunto que tantos já pensam que entendem, mas na verdade não entendem – pelo menos não por qualquer padrão objetivo que possamos identificar Ao tentar esclarecer o que a esquerda O caminho da mão é que estamos apenas começando a tarefa maior de estabelecer um modelo de trabalho congruente da corrente sinistra no Ocidente. Construído, como deve ser, sobre as ruínas da confusão do passado, esse modelo de trabalho pode levar outros cinquenta a cem anos para realmente se firmar.

Embora nós mesmos estejamos praticando magos sexuais do caminho da mão esquerda, este livro não é de forma alguma concebido como um meio de conversão ou como um dispositivo de recrutamento. Como deixaremos claro, o caminho da esquerda é, apesar de todos os seus elementos antiautoritários, uma forma elitista de iniciação. Com isso, não queremos dizer que os adeptos do caminho da esquerda necessariamente se considerem superiores aos não iniciados – apenas que a corrente sinistra não é para todos, e nunca pode ser um caminho para milhões. Ler este livro pode esclarecer para você que você não seria adequado para esta escola de iniciação.

A sexualidade é a expressão no mundo material do conceito metafísico de polaridade – o yin e yang, Shiva e Shakti, a rosa e a cruz, a união e transcendência dos opostos. Os Demônios da Carne é exatamente o que descreve, na medida em que pode ser entendido como uma magia sexual funcionando por si só. Como uma criança criada pelas energias eróticas polarizadas da sexualidade masculina e feminina gerada por seus autores, este livro ilustra como a força sexual combinada de dois magos pode criar uma terceira entidade demoníaca. Ao moldar as palavras e perspectivas colaborativas de dois magos em um todo coeso, pretendemos criar um elemental mágico que ganha uma certa vida própria, independente de seus criadores. Sempre que dois magos trabalham juntos, o resultado é a criação de tal força elementar; William S. Burroughs e Brion Gysin se referiram a esse fenômeno como “a terceira mente”. Assim como a magia erótica do caminho da esquerda cria um espaço numinoso no qual as energias muito diferentes de masculino e feminino podem se comunicar e ver além dos limites do gênero, a voz dupla deste livro fala de um ponto de vista que transcende masculino e feminino.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/demonios-da-carne-o-guia-completo-para-a-magia-sexual-do-caminho-da-mao-esquerda/

1984: a origem do Big Brother

As Edições Textos para Reflexão retornam a George Orwell com uma das obras literárias mais importantes e lidas do século XX: 1984, traduzida por Rafael Arrais.

Em 1984, George Orwell reinventou o romance de ficção científica. Na sua obra, a sociedade está repleta de novas máquinas intrigantes: telas onipresentes que viciam e, ao mesmo tempo, vigiam constantemente seus cidadãos. As pessoas, no entanto, não sentem que são escravizadas. Como Orwell entendia tão bem, os regimes realmente inteligentes e assustadores do mundo moderno não são aqueles obviamente ditatoriais: eles são democráticos na aparência, mas, na realidade, cegam os seus cidadãos com distrações constantes.

Um ebook já disponível para o Amazon Kindle e na Google Play:

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» Veja também um trecho da tradução aqui.

#eBooks #georgeorwell #Kindle #RafaelArrais

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/1984-a-origem-do-big-brother

A cultura gótica

Alguém não é dito gótico por estar de preto da cabeça aos pés, ter infindável amor pela literatura gótica, “spleen”, regar suas noites em cemitérios ao vinho, ou por ser fanático pelo obnóxio Marilyn Manson; este alguém é gótico porque em seu âmago arde uma fria chama gótica. O goticismo está profundamente ligado à psique humana, às reações, ao modo de filtrar os fatos ao seu redor. Toda produção artística tenebrosa e qualquer outro aspecto ligado ao goticismo é apenas a expressão da visão e do pensamento, manifestação da essência, e não o oposto.

O goticismo não é um estado de “depressão”, “síndrome do pânico” ou qualquer outra doença; alguém que acha que é gótico porque ouve Manson, ou porque é depressivo, ou porque gosta de coisas obscuras, ou suas roupas preferidas são pretas, ou Lorde Byron é seu ídolo ou qualquer fator análogo a esses é um poser. Não devemos, nem podemos, julgar alguém por isso ou por aquilo, mas, sim, acabei de fazê-lo e não há retorno.

O gótico é uma alma corroída, um ser recluso, uma mente brilhante e tenebrosa, não alguém com um rosto amargo que incessantemente atira no esgoto de pobres mentes palavras sobre a morte, lascivas, ou clichês e outras meras “reflexões” superficiais que leu em algum lugar; goticismo é um modo de ver a vida, uma linha de pensamento, é refletir e apurar toda dor e todo riso, é olhar para si mesmo e perguntar-se o porque de cada coisa, é extrair sabedoria de onde as pessoas só extraem lágrimas, extrair das lágrimas força e consciência para não dobrar os joelhos perante toda agonia que a existência os traz e ainda assim resistir diante da consciência da sina universal. Todo pensamento extrato da essência gótica reflete a experiência pessoal de cada indivíduo e não uma generalização, de uma linha em um ponto [quanto aos pensamentos extratos, isso varia de pessoa a pessoa, por isso cada um tem sua própria visão do que é goticismo; porque ele é algo essencial e não imposto].

O gótico, em relação à sociedade, é mais dissimulado do que expressivo, principalmente quando tratamos do sofrimento consciente; o gótico é retraído e isso não quer dizer que ele não fala com ninguém, nunca ri ou sofre de algum tipo de timidez excessiva. O gótico é retraído porque ele esconde sua real natureza, ele é retraído e é tímido, porque não quer que ninguém o conheça, ele é retraído porque ele sabe que as outras pessoas não suportariam seu fardo: o sofrimento consciente, a agonia existencial, o angst – isto é – o conhecimento adquirido nas longas e frias noites regadas às lágrimas, em que todos estavam acamados em aconchegantes leitos e somente ele estava no escuro, calado e sentado na dura e fria pedra, pensando sobre a vida, o amor, a injustiça, o ódio e a morte [pode ser que um dia aquele serelepe ser que você sempre viu acompanhado de raios de sol se revele uma mente extremamente reflexiva, forte, consciente e mórbida]. Não estou falando de ser falso ou mentir, mas existem certas coisas que não devem ser mencionadas, principalmente quando não se está em meio a amigos e iguais.

Se o gótico acredita em Deus, ou Satã, ou Wicca ou Set, Lóki, Zeus? Ou se ele deve ser ateu e adverso a qualquer crença ou religião? Tudo é uma mera questão de consciência. Muitos “góticos” dizem que o gótico deve ser ateu, “se não é ateu não é gótico”, mas eles mesmos se contradizem ao dizer que o gótico é um pensador livre. Que tipo de pensador livre é este que tem seus alicerces manipulados e para ser enxertado num estereótipo deve abandonar seus pensamentos? Que tipo de gótico abandona sua consciência em nome de um estereótipo?! O gótico é uma mente livre, cabe a ele e como ele vê a vida a decisão de servir a Satã, a Deus, Gautama Buda ou qualquer outra nume ou divindade! Esses “góticos” criam inúmeras regras para o goticismo, todas refletem sua experiência pessoal e jamais regra geral; e apenas tolos e posers seguem-nas, pessoas de mente realmente fraca, e de certo modo irracionais. Se não é ateu, não é gótico?! Afirmamos, se segue regrinhas e estereótipos tolos e irracionais não é gótico!

Na realidade, os godos (góticos) foram os povos que mais rapidamente assimilaram o cristianismo a sua cultura; sabe-se que os góticos do século XVIII eram cristãos, por mais que alguns deles fizessem menção à Satã ou a Natureza, e a maior parte dos góticos de hoje em dia veio de lares cristãos, querendo ou não, o cristianismo exerce uma grande influência em sua mentalidade. Para mim, o cristianismo é a religião que mais se liga ao goticismo, sendo o sonho concreto de cada gótico, mas falo disso depois.

Quanto a só vestir preto, ouvir música gótica, e ser depressivo; tudo está ligado ao gosto, estilo e personalidade de cada um. Devemos ressaltar apenas que a cultura é um subproduto da mente, da essência gótica; um gótico real sabe ser prudente no que busca. Em outras palavras, poderíamos ditar a regra: “nada de perder tempo com coisas que não vão desenvolver seu pensamento, sua visão, seus modos, sua cultura”; mas não devemos fazê-lo, pois poderíamos esquecer de nossa essência gótica, convertendo assim o goticismo num mero conjunto de regras tolas e irracionais, apenas a fim de enxertar ou enxotar pessoas de uma “tribo urbana”, formada por mentes medíocres.

Todos os motivos pelos quais alguns góticos só vestem roupas pretas, escutam este ou aquele estilo de música, são depressivos, fumam aquela marca de cigarro, bebem vinho, fazem tatuagens, são bissexuais, são homofóbicos ou jogam rpg, são considerações pessoais e jamais devem ser vistos como regras e etc., em contra partida, se não há um motivo real, considerando o seu agrado como um, não é subproduto da essência e sim regra manipulada, e isso é ser poser…
Muitos góticos carregam horríveis cicatrizes, mas, e é aí que se encontra a ironia, são motivados a continuar a busca por algo, justamente por isso alguns externam seus sentimentos, externam marcos que devem ser memoráveis, marcos que os motivam, ou fazem tudo de modo a fugir da realidade, tudo para esquecer: fazem tatuagens, escrevem poesia, bebem vodka, ou só vestem preto…

Justamente pelos incontáveis e inimagináveis motivos que assombram a consciência de cada um, não podemos tratar ninguém com preconceito. Seja por sua religião, sexualidade, estilo de música favorito, ideologia ou qualquer outra fator. Que tipos de pensadores são os góticos que desprezam o pensamento e a consciência dos outros? Onde está o respeito pela “liberdade” [mesmo que pela liberdade de escolha de ser manipulado] pelos outros? E pela natureza de cada um? Que divirjamos, e toleremos, jamais defendamos, mas respeitemos!

O goticismo pode ser resumido em uma pequena frase: “é a essência reflexiva, consciente, trágica e mórbida que faz do gótico o real gótico” a subcultura gótica é formada pelas produções e expressões de góticos reais, sendo residual.

Quanto ao suicídio, o gótico que suicida, ao meu ver, se revela um fracassado; não foi capaz de resistir diante do negro da vida e sucumbiu ao seu outono. Esta vida jamais deve ser o mais importante, mas desfazer-se dela é desfazer-se de sua natureza gótica; suicidar é destruir a essência gótica.

A Origem do Movimento Gótico

Era o final dos anos Setenta, o cenário era extremo. De um lado encontrava-se a contestação ao sistema de extrema direita, feita pelos punks. Do outro lado uma cultura jovem alienada e psicodélica das discotecas. Neste conturbado período os jovens que procuravam pela arte e a cultura, estavam desfalcados e procurando por um espaço próprio de expressão de suas idéias. Este espaço começou a surgir com o aparecimento do estilo musical “coldwave” (onda fria, em inglês), era um som mais frio, gelado e apropriado para estes jovens que se reuniam em casas abandonadas, cemitérios para discutirem sobre cultura, realizarem saraus literários e apreciarem um bom vinho ou absinto.

O “coldwave” aos poucos começou a atrair músicos de outros estilos, algumas bandas originalmente punks e os chamados ultra-românticos, desse modo formando os primeiros Darks nos primórdios dos anos oitenta. Neste período a coldwave se espalhou pelo mundo, originando bandas como Siouxie and the Banshees, Bauhaus, Joy Division, The Cure, Xmal Deutschland, The Sisters of Mercy e tantos outros.

Na virada dos anos oitenta para noventa, os primeiros darks saíram de cena e abriram espaço para os góticos. Estes chegaram com um visual mais complexo e estiloso, buscando ainda mais por um refinamento musical e assumindo uma atitude de estilo de vida sombrio.

A cultura gótica sempre esteve ligada com a arte. Não importando qual fosse essa, música, poesia, pintura, escultura, e vem manifestando-se ora como um sentimento nostálgico, ora melancólico, ás vezes tenebroso e sempre celebrando um lado sombrio da vida e da arte. Você não se torna gótico, você nasce como um desde o primeiro dia de sua vida, encontrando a arte na escuridão.

Literatura Gótica

Na literatura o termo gótico se refere a uma forma peculiar de romance popular do século XVIII. Romances góticos continuaram a serem escritos no século XIX e reapareceram com maior intensidade no século XX. É também conhecida como a “literatura do pesadelo”.

Esse tipo de literatura emergiu como uma forma de romantismo, mas procurando mostrar o lado mais negro e obscuro do ser. A literatura gótica impõe o sentido do pavor, uma fusão entre o medo, dor e melancolia.

A literatura Gótica faz uma grande distinção entre o bem e o mal. São muito citados nos textos góticos a noite, o pessimismo, a loucura, os sonhos, as sombras, as quedas, o medo, a decomposição, a atração pelo abismo, sem se esquecer da principal a morte e a vida.

Podemos citar diversos autores, não só aqueles obvimente citados entre os autores góticos, como também aqueles mais classificados como romancistas, expressionistas, surrealistas, etc… Anne Rice, H.P Lovecraft, Álvares de Azevedo, Adous Huxley, George Orwell, Edgar Allan Poe, Lord Byron… são apenas alguns nomes da extensa lista de autores do estilo gótico.

Entre as obras mais famosas desse gênero podemos citar: Frankenstein (Mary Shellley),
As Flores do Mal, Drácula (Bram Stoker), A Rainhas dos Condenados e Entrevista com o Vampiro (Anne Rice), entre muitos outras.

No Brasil, a literatura gótica foi conhecida como Segunda Geração do Romantismo, ou Geração do Mal-do-Século. Podemos destacar nela, autores como Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela, ambos influenciados por Lord Byron e Musset, chamada também de geração byroniana. Suas principais características, assim como a literatura gótica européia, era o egocentrismo, negativismo, pessimismo, dúvidas, desilusão adolescente e tédio constante. O tema preferido desses autores era a fuga da realidade, uma forma de manifesto e repúdio a sociedade da época e na exaltação da morte, outra forma de repúdio, mas através da liberdade que a morte traz em nos tirar desse mundo.

A Música Gótica

No final dos anos 70 e início dos anos 80, a raiva e a agressividde que incendiavam o movimento punk começam a ceder lugar a uma profunda depressão e um sentimento de insatisfação de um lado e falta de perspectiva do outro.

Na Inglaterra Margareth Tatcher assume o poder, triplica-se o desemprego e aumenta a inflação. Este é o cenário triste da chamada década perdida. Nas paradas musicais domina a pose e o “glamour” do pop inglês e da dance music com seus artistas poseurs e cintilantes.

Entretanto algo estava para acontecer em uma cidadezinha chamada Manchester, onde havia muita gente morando em subúrbios cinzentos recusando-se a enterrar o legado punk, e achando que aquele “pop poseur” tinha muito pouco a ver com a vida real na Inglaterra.

E é na mesma Manchester que surge o porta voz ideal destes angustiados de quarto, na figura de Ian Curtis, um dos primeiros a transformar toda essa melancolia e desilusão em música, através da sua banda Joy Division, que apesar da curta duração devido ao suicídio de Ian, seu vocalista, deixou como legado o rock mais melancólico e desesperado já feito, sendo uma das bandas mais representativas do movimento pós-punk, como ficou conhecido este substilo musical do rock, que apresentava elementos musicais do punk mas com uma dose de melancolia mais acentuada. E é dentro do pós-punk que encontramos as mais representativas bandas do chamado estilo gótico, que no Brasil também foi chamado de “dark”, devido a preferência por roupas pretas de seus adeptos.

É nos anos 80 que a morte será o tema mais recorrente nas canções, sendo igualmente comuns temas como melancolia, desespero, abandono, decepções amorosas e falta de perspectivas. Estes temas se fazem presentes nas músicas de um certo grupo suburbano de Crowley, Sussex, Inglaterra, chamado The Cure, cujo vocalista Robert Smith com seu jeito soluçante de cantar, cabelos desgrenhados e olhos pintados de preto, fez a “alegria” dos cultuadores de deprê em suas canções.

Entretanto a cristalização do gótico enquanto gênero esteve a cargo de um quarteto de Northampton (Inglaterra), que em seu primeiro single fala de um tal Bela Lugosi, famoso vampiro dos anos 30, e cujo vocalista Peter Murphy delirava pesadelos com sua voz soturna sob um baixo pesadão e efeitos macabros de guitarra, falando de temas como morte, vampiros, morcegos e rituais pagãos. O nome do grupo, Bauhaus era uma referência a escola alemã de arquitetura que na década de 1930 teve suas portas fechadas pelos nazistas devido a ligações com o expressionismo alemão, considerado por Hitler uma “arte degenerada”.

A voz igualmente soturna de Andrew Eldritch foi o selo definitivo do movimento gótico, sendo seu grupo, “The Sister of Mercy” considerado, com toda razão,um dos maiores representantes do gênero, além de possuirem até hoje uma influência marcante em tudo que diga respeito ao estilo. Dois ex-membros do SOM formaram ainda um outro grupo seminal do gótico em 1985, “The Mission”.

Não se pode também esquecer as musas, pra ser mais exata duas musas, madrinhas, divas e rainhas máximas do gótico: Siouxsie Sioux e Anja Howe.

Comecemos por Siouxsie, com seu estilo misto de diva dos anos 20 e de prostituta nos seus belos olhos extremamente maquiados. Siouxsie e seus banshees eram majestades únicas do reinado gótico. Guitarras distorcidas, batida tribal, harmonias fluidas e climas mórbidos se traduziam em pérolas como “A Kiss in the Dreamhouse”, “Kaleidoscope” e “Nocturne”. Siouxsie também foi uma das primeiras cantoras a liderar uma banda “mais pesada”. Nascidos no movimento punk,”Siouxsie & The Banshees” souberam fazer a perfeita transição para o gótico, sendo um dos precursores do estilo.

Quanto a sua majestade loira, Anja Howe, a vocalista da banda underground alemã “X-Mal Deutschland”, pode ser considerada pioneira do estilo gótico na terra de Goethe, com sua voz inconfundível, acompanhada de guitarras e baixo linha serra elétrica. Eram também comuns na banda o uso de recursos eletrônicos, criando sons viajantes que mesclados ao vocal sedutor criavam texturas delirantes num perfeito clímax lírico-depressivo, levando os “mortos vivos” à loucura através de obras primas como “Incubus Succubus”,”Tocsin” e a maravilhosa “Matador”.

Seria ainda uma grande injustiça da minha parte deixar de citar outras bandas igualmente seminais do estilo gothic e do darkwave como Clan of Xymox, Mission, Opera Multi Steel, Poesie Noire, Cult, Switchblade Symphony, Love is Colder than Death…bem são tantas que fica até difícil citar todas, em mais uma prova do quanto o estilo é prolífico.

No finalzinho da segunda metade da década de 1980 porém, o clima começa a tornar-se inóspito para morcegões e afiliados, e o estilo gótico começa a entrar em decadência, significando o fim de muitos grupos que consagraram o gênero, deixando orfãos e famintos de sangue muitos “nosferatus”, e fazendo as noites enevoadas de Londres perder muito de seu charme.

Por Beatrix Algrave

Gothic Metal

Quem disse que o gótico morreu no final da década de 80 estava muito enganado. Aqui está o gothic metal para provar o contrário.

Como uma fênix nascida das cinzas de um estilo praticamente acabado, a música gótica ganhou peso e uma nova roupagem, mas sem deixar de lado a melancolia e obscuridade que caracterizavam o estilo.

Na década de 90, várias bandas começam a fazer um som mais voltado para o lado do peso, mas ao mesmo tempo sem deixar de lado a raiz negra que caracterizava o estilo anos atrás. A melancolia, a depressão, a angústia, o clima mórbido das canções, tudo estava lá, ainda mais completo, contando com elementos da música clássica, tudo isso sem esquecer dos contrastes dos vocais líricos e os guturais.

Aliado a novos fatores agora a música gótica, em sua versão século XXI, vem acompanhada de outros estilos que completam ainda mais a sonoridade de cada banda. Podendo ser misturada ao black metal, ao death metal, ao power metal, a música gótica atual deixou de ser apenas um filho bastardo do movimento punk para ganhar seu próprio espaço dentro da música.

Uma das principais inovações do gothic metal é o famoso metal “Bela e a Fera”, que é uma característica muito comum na maioria das bandas góticas. Representando a ambivalência presente nesse estilo, é o mais perfeito contraste entre os doces e belos vocais líricos e dos nervosos vocais guturais.

After Forever, Within Temptation, Tristania, The Sins of Thy Beloved, Theatre of Tragedy, Sirenia, Epica, etc. são apenas algumas das diversas bandas que possuem os vocais “bela e fera”, claro que cada uma possui diversas outras características que tornam sua sonoridade única.

A banda sueca Therion também possui vozes masculinas e femininas, mas na fase atual da banda, esses vocais dividem-se em soprano e tenores.

A Finlândia é um dos países onde mais nascem bandas com influências góticas, talvez o clima frio seja propício para isso… Sendo a finlandesa Nightwish o mais perfeito exemplo disto. Eles fazem um metal gótico misturado ao power metal, sendo uma das mais influentes do estilo. Mas isso já era de se imaginar, a banda possui o belíssimo vocal lírico de Tarja Turunen, aliado as profundas composições de Tuomas Holopainen e ainda conta com músicos de altíssima qualidade para complementar ainda mais a sonoridade do Nightwish.

Saídos do mesmo território que o Nightwish não poderíamos deixar de lado o love metal das bandas HIM e To/Die/For.
Também não podemos esquecer do For My Pain, do tecladista do nightwish e músicos da extinta Eternal Tears of Sorrow, do Poisonblack de Ville Laihiala ex-sentenced, do próprio Sentenced, dos veteranos do The 69 Eyes, do Entwine, entre muitas outras, afinal as bandas finlandesas nunca param de aparecer…

O Brasil também possui diversas bandas que fazem um som de altíssima qualidade, apenas ainda não caíram nas graças das grandes gravadoras, mas esbanjam competência para isso. Bons exemplos de bandas góticas nacionais podemos ter com a Simphonia Nocturna e a santista Master of Darkness, que além de covers possuem trabalhos próprios e estão apenas esperando ser descobertos para compartilhar seu talento com o resto do mundo.

Portugal já contribuiu com o cenário gótico mundial com a maravilhosa Moonspell, que vem presenteando o mundo com as composições de Fernando Ribeiro desde 1989.

Dos países latinos a Itália também gerou o Lacuna Coil, que agora encanta ao mundo com a belíssima voz de Cristina Scabbia.

Recentemente temos ouvido falar muito de duas bandas, cujos líderes deixaram suas antigas bandas que já tinham conquistado seu lugar na cena gótica, para partirem para novos projetos.

É esse o caso do recém surgido Epica, do ex-After Forever Mark Jansen, com seu som inovador repleto de influências árabes, e a mais perfeita harmonia entre o vocal gutural e o lírico. Possui apenas um álbum full-length lançado, o The Phanton Agony, mas já conquistou inúmeros fãs em todos os cantos do mundo. É o caso também do Sirenia, que surgiu logo depois de Morten Veland deixar o Tristania. Morten sentiu se realizado com a banda, tanto como compositor quanto como músico. Compôs, arranjou e tocou os dois álbuns da banda, que existe deste 2001.

Por Daniele Ferreira
16 de Junho de 2004.

A arquitetura Gótica

A arquitetura gótica, em termos de estética, qualidade, estrutura e acabamento, é considerada uma das mais belas e fascinantes de todo o mundo.

O estilo gótico é identificado como o período das grandes catedrais. De fato, com suas construções começaram a ser definidos os princípios fundamentais desse estilo. O gótico teve início na França, novo centro de poder depois da queda do Sacro Império, emmeados do século XII, e terminou aproximadamente no século XIV, embora em alguns países do resto da Europa, como a Alemanha, se entendesse até bem depois de iniciado o século XV.

O gótico era uma arte imbuída da volta do refinamento e da civilização na Europa e o fim do bárbaro obscurantismo medieval. A palavra gótico, que faz referência aos godos ou povos bárbaros do norte, foi escolhida pelos italianos do renascimento para descrever essas descomunais construções que, na sua opinião, escapavam aos critérios bem proporcionados da arquitetura.

Foi nas universidades, sob o severo postulado da escolástica – Deus Como Unidade Suprema e Matemática -, que se estabeleceram as bases dessa arte eminentemente teológica. A verticalidade das formas, a pureza das linhas e o recato da ornamentação na arquitetura foram transportados também para a pintura e a escultura. O gótico implicava uma renovação das formas e técnicas de toda a arte com o objetivo de expressar a harmonia divina.

A arquitetura gótica se apoiava nos princípios de um forte simbolismo teológico, fruto do mais puro pensamento escolástico: as paredes eram a base espiritual da Igreja, os pilares representavam os santos, e os arcos e os nervos eram o caminho para Deus. Além disso, nos vitrais pintados e decorados se ensinava ao povo, por meio da mágica luminosidade de suas cores, as histórias e relatos contidos nas Sagradas Escrituras.

O século X encontra a Europa em crise. O poder real, enfraquecido, foi substituído pelo feudalismo. Invasões ameaçam a França. Desprotegidos, o povo se organiza em torno dos castelos feudais, únicas – e precárias – fortalezas. A tensão popular conttribui para que se espalhe a crença propagada pela Igreja de que se aproxima o juízo final: o mundo vai acabar no ano 1000. A arte românica, expressão estética do feudalismo, reflete o medo do povo. Esculturas anunciam o apocalipse, pinturas murais apavorantes retratam o pânico que invade não só a França mas toda a Europa Ocidental. Chega o ano 1000 e o mundo não acaba. Alguma coisa precisa acontecer.
Em 1905, surgem as primeira Cruzadas. O feudalismo ainda permanece, mas tudo indica que não poderá resistir por muito tempo. Novos pensadores fazem-se ouvir, propagando suas idéias. Fundam-se as primeiras Universidades. Subitamente, a literatura cresce em importância. Muitos europeus, até então confinados à vida nas aldeias, passam a ter uma visão mais ampla do mundo. Profunda mudança social está a caminho.

Pressentindo a queda do feudalismo, a arte antecipa-se aos acontecimentos e cria novo estilo, que irá conviver durante certo tempo com o românico, mas atendendo às novas necessidades. Verdadeiro trabalho de futuristas da época, o estilo gótico surge pela primeira vez em 1127, na arquitetura da basílica de Saint-Denis, construída na região de Ile-de-France, hoje Paris.

As Catedrais Góticas

A primeira diferença que notamos entre a igreja gótica e a românica é a fachada. Enquanto, de modo geral, a igreja românica apresenta um único portal, a igreja gótica tem três portais que dão acesso à três naves do interior da igreja a nave central e as duas naves laterais.

A arquitetura expressa a grandiosidade, a crença na existência de um Deus que vive num plano superior; tudo se volta para o alto, projetando-se na direção do céu, como se vê nas pontas agulhadas das torres de algumas igrejas góticas.

A rosácea é um elemento arquitetônico muito característico do estilo gótico e está presente em quase todas as igrejas construídas entre os séculos XII e XIV.

Outros elementos característicos da arquitetura gótica são os arcos góticos ou ogivais e os vitrais coloridíssimos que filtram a luminosidade para o interior da igreja.

As catedrais góticas mais conhecidas são Catedral de Notre Dame de Paris e a Catedral de Notre Dame de Chartres.

A Pintura Gótica

A pintura gótica desenvolveu-se nos séculos XII, XIV e no início do século XV, quando começou a ganhar novas características que prenunciam o Renascimento. Sua principal particularidade foi a procura o realismo na representação dos seres que compunham as obras pintadas, quase sempre tratando de temas religiosos, apresentava personagens de corpos pouco volumosos, cobertos por muita roupa, com o olhar voltado para cima, em direção ao plano celeste.

Os principais artistas na pintura gótica são os verdadeiros precursores da pintura do Renascimento.

Giotto é um dos maiores e melhores representantes desse estilo, a principal característica do seu trabalho foi a identificação da figura dos santos com seres humanos de aparência bem comum. E esses santos com ar de homem comum eram o ser mais importante das cenas que pintava, ocupando sempre posição de destaque na pintura. Assim, a pintura de Giotto vem ao encontro de uma visão humanista do mundo, que vai cada vez mais se firmando até ganhar plenitude no Renascimento.

Suas maiores obras são os Afrescos da Igreja de São Francisco de Assis (Itália) e Retiro de São Joaquim entre os Pastores.

O pintor Jan Van Eyck procurava registrar nas suas pinturas os aspectos da vida urbana e da sociedade de sua época. Nota-se em suas pinturas um cuidado com a perspectiva, procurando mostrar os detalhes e as paisagens.

Suas maiores obras são: O Casal Arnolfini e Nossa Senhora do Chanceler Rolin.

A ilustração gótica

Iluminura é a ilustração sobre o pergaminho de livros manuscritos (a gravura não fora ainda inventada, ou então é um privilégio da quase mítica China). O desenvolvimento de tal genero está ligado à difusão dos livros ilustrados patrimônio quase exclusivo dos mosteiros: no clima de fervor cultural que caracteriza a arte gótica, os manuscritos também eram encomendados por particulares, aristocratas e burgueses. É precisamente por esta razão que os grandes livros litúrgicos (a Bíblia e os Evangelhos) eram ilustrados pelos iluministas góticos em formatos manejáveis.

Durante o século XII e até o século XV, a arte ganhou forma de expressão também nos objetos preciosos e nos ricos manuscritos ilustrados. Os copistas dedicavam-se à transcrição dos textos sobre as páginas. Ao realizar essa tarefa, deixavam espaços para que os artistas fizessem as ilustrações, os cabeçalhos, os títulos ou as letras maiúsculas com que se iniciava um texto.

Da observação dos manuscritos ilustrados podemos tirar duas conclusões: a primeira é a compreensão do caráter individualista que a arte da ilustração ganhava, pois destinava-se aos poucos possuidores das obras copiadas, a segunda é que os artistas ilustradores do período gótico tornaram-se tão habilidosos na representação do espaço tridimensional e na compreensão analítica de uma cena, que seus trabalhos acabaram influenciando outros pintores.

Os vitraios

O efeito milagroso dos vitrais, que foram usados em quantidades cada vez maiores à medida que a nova arquitetura começava a comportar mais janelas, de dimensão cada vez maiores. No entanto, a técnica do vitral já havia sido aperfeiçoada no período românico, e os estilo dos desenhos demorou a mudar, embora a quantidade de vitrais exigida pelas novas catedrais fizesse com que as iluminuras deixassem de ser a forma principal de pintura. Criar uma figura verdadeiramente monumental com as técnicas dos escultores, em si é algo como um milagre: os primitivos métodos medievais de manufatura de vidros não permitiam a produção de grandes vidraças, de modo que essas obras não de pintavam sobre vidro, mas sim “pintura com vidro”, com exceção dos traços em preto ou marrom que delineavam os contornos das figuras. Sendo mais trabalhosa que a técnica dos mosaicistas bizantinos, a dos mestres-vidreiros envolvia a junção, por meio das tiras de vidro, dos fragmentos de formas variadas que acompanhavam os contornos de seus desenhos. Sendo bastante adequado quando ao desenho ornamental abstrato, o vitral tende a resistir a qualquer tentativa de se obter efeitos tridimensionais.

O uso do arcobotante e dos contrafortes tornou possível o emprego de grandes aberturas preenchidas com belíssimos vitrais.

A função dos vitrais não se reduz à de mero complemento decorativo da igreja gótica. O vitral – parede translúcida – adquire caráter estrutural ao contribuir decisivamente para a configuração de um determinado sentido da arquitetura; mais exatamente do espaço interior.
Após 1250, houve um declínio da atividade arquitetônica, o que reduziu as encomendas de vitrais. Nessa época, entretanto, a iluminura adaptara-se ao novo estilo, cujas origens remontavam às obras em pedra e vidro.

Giotto

Giotto di Bondone, 1267-1337. O revolucionário tratamento que dava à forma e o modo que representava realisticamente o espaço “arquitetônico” (de maneira que as dimensões das figuras eram proporcionais às das construções e paisagens circundantes) assinalaram um grande passo adiante na história da pintura. A opinião generalizada é que a pintura gótica chegou a seu ápice com Giotto, o qual veio a ordenar, abarcar e revigorar tão esplendidamente tudo que se fizera antes.Pela primeira vez temos na pintura européia o que o historiador Michael Levey denomina “uma grande personalidade criativa”. No entanto, a verdadeira era das personalidades criativas foi a Renascença, e não sem motivo que os estudiosos desse período começam sempre por Giotto.Um gigante, ele encompassa as duas épocas, sendo homem de seu tempo e, simultaneamente, estando à frente dele.As datas, porém coloca-nos firmemente no período gótico, com sua ambiência de graça espiritual e um deleite primaveril no frescor das cores e na beleza do mundo visível. A realização das artistas góticos foi representar solidez da forma, ao passo que pintores anteriores mostravam um mudo essencialmente linear, carente de volume e pobre de substância (a despeito de seu vigor espiritual).

Para Giotto, o mundo real era a base de tudo. O pintor tinha verdadeira intuição da forma natural, criando uma maravilhosa solidez escultórica e uma humanidade sem afetações, características que mudaram os rumos da arte.

A Capela degli Scrovegni, em Pádua, Itália, está adornada com a maior das obras de Giotto que chegaram até nós, um ciclo de afrescos pintado por volta de 1305 para mostrar cenas da vida da Virgem e da Paixão.Os afrescos dão volta às paredes da capela.

Outros artistas sobressaíram na pintura gótica, sendo eles: Simone Martini (discípulo de Duccio), os irmãos Lorenzetti Pietro e Ambrogio (identificaram com Giotto).

Escultura Gótica

De modo geral a escultura do período gótico estava associada à arquitetura. Nos tímpanos dos portais, nos umbrais ou no interior das grandes igrejas, os trabalhos de escultura enriqueceram artisticamente as construções e documentaram na pedra, os aspectos da vida humana.

Os portais da fachada de Saint-Denis e os admiráveis portais principais da Catedral de Chartres trata-se, provavelmente, dos mais antigos e completos exemplos da escultura gótica. A simetria e a clareza substituíram os movimentos frenéticos e as multidões; as figuras não são mais emaranhadas entre si, mas eretas e independentes, de modo que se visualiza muito melhor o conjunto a grande distância. É particularmente admirável o tratamento dado às ombreiras da porta, onde se alinham os de alinham figuras esguias adossadas a colunas. Em vez de serem tratadas essencialmente como relevos esculpidos na cantaria, ou projetando-se a partir dela, são na verdade estátuas, cada qual com seu próprio eixo; pelo menos em teoria, poderiam ser destacadas das colunas que lhes servem de suporte. As suas cabeças já possuem uma suavidade humana que evidencia a busca por uma maior realismo.

Na Alemanha a arte gótica como a conhecemos até o presente, reflete um desejo de conferir aos temas tradicionais do cristianismo, um apelo emocional cada vez mais intenso, mas destinada a devoções particulares. A escultura gótica italiana, assim como a arquitetura, ocupa um lugar a parte em toda a Europa. Iniciou-se provavelmente no extremo sul, na Apúlia e na Sicília, que tinham preferências que favoreciam ao estilo clássico.

Cinema Gótico

A sétima arte está repleta de obras-primas do gênero terror-suspense, filmes que de uma forma ou de outra expressam e exibem a face obscura e irracional da imaginação humana.

O gênero de cinema gótico nos remete as mais diversas sensações, desde o horror até os mais profundos sentimentos humanos.

Os filmes de terror nasceram praticamente junto com a cinematografia. O primeiro filme do gênero surgiu em 1896 e chamava-se “Escamotage d’Une Dame Chez Robert Houdin”, e em 1912 veio “A conquista do pólo” no qual um expedicionário era devorado pelo abominável homem das neves.

Passando por clássicos como O gabinete do Dr. Caligari de Weine e Nosferatu de Murnau, até o sádico Freddy Krueger nos anos 80, o gênero é um dos mais prolíficos já inventados.

Dentre os muitos filmes do gênero gótico famosos em todo o mundo, podemos citar entre os mais antigos “Frankenstein” e “Nosferatu”, que se transformaram em mitos do cinema gótico através dos anos. Entre os filmes mais atuais, podemos citar “A Lenda do cavaleiro sem cabeça”, “Entrevista com o vampiro”, “A Rainha dos Condenados”, entre muitos outros.

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/musica-e-ocultismo/a-cultura-gotica/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/musica-e-ocultismo/a-cultura-gotica/

Matrix – o Deserto do Real

Para começarmos a entender Matrix, é fundamental que façamos a pergunta essencial do filme: O que é a Matrix? Nas telas do cinema, Matrix é um mundo de sonhos gerado por computador, o qual, por meio de uma realidade virtual, simula o nosso mundo como é hoje.

O fenômeno Matrix pode ser compreendido, se considerarmos as influências dos temas que aparecem, direta ou indiretamente, no roteiro do filme. Citarei alguns exemplos: distopia, esperança, filosofia, 1984 de George Orwell, artes marciais, cybercultura, agentes secretos, conspirações, romance, Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, messianismo, mitologia grega e céltica, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, ficção científica e assim por diante.

Poderia começar pelo messianismo — crença na vinda do Salvador, Jesus, Messias, Buda, Krishna, Noé, rei Artur… Mas começarei pela Filosofia, que, segundo o Aurélio: Filosofia 1. é o estudo que visa a compreensão da realidade, no sentido de aprendê-la na sua totalidade; 2. Razão; Sabedoria.

Vamos a Matrix! Morpheus tem aspectos diferentes; algumas vezes o relaciono com o “Mestre” da Grande Fraternidade Branca, que tem de ensinar o seu discípulo, Neo, a vencer a ilusão (Maya) para, desta forma, enfrentar a Matrix. Para que isso aconteça, Neo tem de transformar-se em Mestre. E é por meio dos softwares (programas) que começa seu aprendizado.

Por outro lado, Morpheus é um deus da mitologia grega, filho da noite e do sono, deus dos sonhos, filho de Hypnos. Deus que proporciona o repouso necessário ao homem fatigado para que este possa, por meio dos sonhos, libertar o adormecido de seus pesares.

Em sua missão, Morpheus leva Neo para conhecer o “Oráculo”, que logo lhe mostra a frase “Conhece-te a ti mesmo”, que no Templo de Delfos assim aparece inscrito: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o Universo e os deuses.”.

Pítia (ou pitonisa) era um “título” muito antigo e designava a sacerdotisa de Apolo que, no Oráculo de Delfos, entrava em transe para receber as profecias e as respostas do deus. O nome, talvez relacionado ao antigo nome de Delfos, Pitô, remonta, provavelmente, à época em que o oráculo era consagrado à Gaia e guardado pela serpente Píton, morta por Apolo.

No interior do santuário, a pergunta do consulente era então transmitida à Pítia que, sentada sobre a trípode sagrada e com um ramo de loureiro (um dos atributos de Apolo) nas mãos, inalava os vapores de uma fenda, entrava em êxtase e transmitia a resposta de Apolo. A profecia, sempre enigmática e ambígua, era registrada pelos demais sacerdotes, interpretada por eles entre versos hexâmetros.

A cidade de Delfos fora consagrada a princípio à Terra, em seguida a Têmis (justiça), depois a Febe (a Lua mediadora), por fim a Apolo, o deus solar, o verbo solar, a palavra universal, o grande mediador, o Vishnu dos hindus, o Mithras dos persas, o Hórus dos egípcios, o Logos da Teosofia.

Aliás, Logos significa “espírito”, “razão” ou “linguagem”. Na Bíblia, o Logos aparece no Evangelho de João, no qual é traduzido como “Verbo”, e é um dos atributos de Deus: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. Os gnósticos interpretavam o Logos como uma denominação do verdadeiro Deus. Durante uma visão, o líder gnóstico Valentino viu o Logos sob a forma de um menino não muito diferente do órfão que fala a Neo a respeito da colher em Matrix. No Gnosticismo, o Arquiteto assemelha-se ao Demiurgo, um deus falso. Os gnósticos acreditavam que todos viviam em um mundo material e que despertaríamos para a realidade verdadeira.

Matrix também nos faz lembrar de Sócrates, esse sábio que mudou o panorama da Filosofia e da humanidade, fundador da ética ou filosofia moral. Por sua causa, as pessoas passaram a se interessar e a estudar, não apenas a realidade exterior, mas a interior.

Sócrates, em sua época, também procurou o “Oráculo”, e este vaticinou ser ele o homem mais sábio dos homens. Todas as pessoas achavam isso, menos Sócrates. No filme, todos acham que Neo é o “Escolhido”, menos ele.

Para Sócrates, a sabedoria consiste no reconhecimento da própria ignorância, o que envolve o abandono de idéias preconcebidas. Isso tem uma profundidade imensa. As pessoas não questionam, são ignorantes (não conhecem). Elas buscam um caminho um tanto controverso, sem nenhum fundamento, baseiam-se em livros sem começo e sem fim, de autoria desconhecida e com traduções duvidosas.

Em Matrix, algumas coincidências com as religiões são fáceis de serem percebidas. A ligação de Neo com o Messias é óbvia, tanto em sua ressureição como nas profecias da vinda do Salvador, que é preparada por Morpheus (na Bíblia, por João Batista); Nabucodonosor é a nave com o mesmo nome do rei babilônico responsável pela destruição do Templo de Jerusalém; na nave de Matrix existe a inscrição Mark III nº 11, em referência ao Evangelho de Marcos 3:11, que diz: “E quando os espíritos impuros o viam, se jogavam gritando: ‘Tu és o Filho de Deus’”.

Já que mencionei o número 11, voltemos ao início do filme, quando deixa gravado na tela por alguns instantes o número 506, que em sua soma tem como resultado o número 11. Este é considerado um número “mestre”.

O 11 é o despertador para a consciência Divina, um portal dimensional, o fogo sagrado presente em nosso ser. Este número está associado à carta “força” do Tarô, que representa a vitalidade, a força e o brilho de todos os seres. Indica energia transbordante. O 11 é o número de Nuit (Deusa da Noite).

Os maçons representam esse número com o Hexagrama Pentáfico, o pentagrama inscrito no Hexagrama. Para a tradição chinesa, o 11 é o número pelo qual se constitui, na sua totalidade, o caminho do Céu e da Terra, Tcheng. É o número do Tao. No hebraico, está relacionado à letra Teth, que significa serpente. É o asilo do homem, seu escudo e proteção. No caminho cabalístico, a letra Teth une e equilibra Chesed (a misericórdia) com Gueburah (a severidade). É a ponte que integra a polaridade da construção e da destruição. Diz Robert Wang: “É o caminho em que o fogo se torna Luz”. Sua atribuição astrológica é leão, signo do fogo e regido pelo sol.

No Sepher Yetzirah está escrito: “O décimo-primeiro é o número da consciência desejada e procurada (Sephel Hachafutz VeHaMevukash), e é assim chamado porque recebe o influxo Divino para outorgar sua bênção a tudo o que existe”.

Podemos ainda relacionar o número 11 a Lúcifer, o portador da Luz, phosphóros (= do grego), Vênus, a estrela matutina e vespertina, a luz mais brilhante.

No Hinduísmo, a figura da mulher é supervalorizada e há a união entre o masculino e o feminino, o yin e o yang. Na Antiguidade, a figura feminina era ligada à Deusa. Era à mulher que os deuses faziam as revelações (como à Pítia, por exemplo). Em Matrix, temos a figura de Trinity, que representa o número 3 e que, em português, significa Trindade — Pai, Filho e Espírito Santo — Brahma, Vishnu e Shiva, e assim por diante. Existe aqui, portanto, um outro ponto, um tanto menos masculino. Trinity é uma mulher e representa a Grande Mãe-Filha e o Espírito Santo. Outra vez o filme faz menção à Grande Fraternidade Branca, na qual a mulher é representada pela Mãe-natureza.

Segundo o pitagorismo, a essência de todas as coisas é o número, ou seja, as relações matemáticas, que afirmam poder explicar a variedade do mundo mediante o concurso dos opostos, que são: o limitado e o ilimitado, o par e o ímpar, o perfeito e o imperfeito.

Como a filosofia da natureza, assim a astronomia pitagórica representa um progresso sobre a jônica; afirmam a esfericidade da Terra e dos demais corpos celestes, denominando o conceito de harmonia, logicamente conexo com a filosofia pitagórica, e as práticas ascéticas e abstinenciais com relação à metempsicose e à reencarnação das almas.

“Simbolismo dos Números Pitagóricos: um é a razão, dois a opinião, quatro a justiça, cinco o casamento, dez a perfeição, etc. Um é o ponto, dois é a linha, três é a superfície, quatro é o volume. Cosmogonia. O Universo e os Planetas esféricos. A Harmonia das Esferas.”

Existem muitas divergências a respeito da verdadeira nacionalidade de Pitágoras, pois uns afirmam ter sido ele de origem egípcia; outros, síria ou, ainda, que ele seja natural de Tiro. Porém, o mais aceito por todos que estudam sua vida é que Pitágoras nasceu em Samos, entre 520 e 570 antes de nossa era. Na mesma época de Gautama — Buda, Zoroastro (Zaratustra), Confúcio e Lao Tse.

Seus Mestres foram Hermodamas de Samos, até os 18 anos; depois, Ferécides de Siros; foi aluno de Tales, em Mileto, e ouvinte das conferências de Anaximando. Foi discípulo de Sanchi, sacerdote egípcio, tendo também conhecido o assírio Zaratustra, na Babilônia, quando de sua estada na Metrópole da Antiguidade.

O hierofante Adonai aconselhou-o a ir ao Egito, recomendado ao faraó Amon, onde foi iniciado nos Mistérios Egípcios, no Santuário de Mênfis, Dióspolis e Heliópolis.

Eis o significado do nome Pitágoras (Píton = serpente; Ágora = espaço aberto onde os gregos se reuniam para conversar e mercadejar). A Serpente representa sabedoria e Ágora a “boca”. Em resumo, seu nome significa a “Voz da Sabedoria”.

Pitágoras ostentava em sua coxa esquerda uma grande marca dourada que os céticos julgavam ter sido um sinal de nascença, mas os iniciados sabem que se trata do sinal de Apolo.

“A ciência dos números e a arte da vontade são as duas chaves da magia, diziam os sacerdotes de Mênfis; elas abrem todas as portas do Universo.”

“O sono, o sonho e o êxtase são as três portas abertas do além, de onde nos vêm a ciência da alma e da arte da adivinhação. A evolução é a lei da vida. O número é a lei do Universo. A unidade é a lei de Deus.”

Não poderíamos falar em Matrix sem mencionarmos a figura de Icarus, um havercrafts que, como Nabucodonosor, de Morpheus, percorre os túneis subterrâneos em busca de um local para transmitir um sinal pirata para dentro da Matrix. Na mitologia grega, Ícaro era filho de Dédalo, o artesão que construiu o Labirinto do Minotauro em Creta, aquele com corpo de homem e cabeça de touro, que devorava os prisioneiros do rei. Dédalo e seu filho foram vítimas dessa prisão e sabiam que só conseguiriam sair dali se fosse pelo alto. Dédalo, então, confeccionou asas para ambos, coladas com cera de abelha, e conseguiram fugir. Mas Ícaro se embriagou pela sensação de voar e aproximou-se demais do Sol, que derreteu a cera de suas asas fazendo com que ele se despedaçasse de encontro ao solo. Os gregos passaram a ter Ícaro como símbolo do pior pecado que um humano possa cometer, Hybris, a tentação de igualar-se aos deuses.

A magnífica obra 1984, de George Orwell, escrita em 1948, fala de um mundo dominado pelo socialismo stalinista em 1984 (o inverso dos números do ano em que foi escrita). Em um mundo onde o Estado domina e nada é de ninguém, mas tudo é de todos, tudo o que resta de privado são os poucos centímetros quadrados do cérebro. E é aí que a batalha se desenvolve, entre o indivíduo e o Estado, lutando na tentativa de controlar a mente.

“Obediência não é o suficiente. A não ser que uma pessoa esteja sofrendo, como você pode ter certeza de que ela está obedecendo à sua vontade e não à dela? O poder está em infringir dor e humilhação. O poder está em rasgar mentes humanas em pedaços e colocá-las juntas de volta em novas formas escolhidas por você mesmo. Você começa a enxergar agora o tipo de mundo que estamos criando? (…) Não haverá lealdade, a não ser lealdade ao partido. Não haverá amor, a não ser amor ao Grande Irmão. Não haverá riso, apenas o riso de triunfo sobre um inimigo derrotado. Não haverá arte, literatura ou ciência. Quando formos onipotentes, já não haverá mais necessidade de ciência. Não haverá distinção entre a beleza e a falta dela. Não haverá mais curiosidade nem alegria no processo da vida. Todos os prazeres competitivos serão destruídos. Mas sempre – não se esqueça disso, Winston – sempre haverá a intoxicação do poder, sempre aumentando e sempre crescendo sutilmente. Sempre, a cada momento, haverá o tremor da vitória, a sensação de pisar num inimigo que já está sem esperança. Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota pisando num rosto humano – para sempre.”

Lembro-me, também, de Aldous Huxley e sua obra-prima, Brave New World (Admirável Mundo Novo), escrita durante quatro meses, no ano de 1931. Os temas nela abordados remontam grande parte de suas preocupações ideológicas como a liberdade individual em detrimento ao autoritarismo do Estado.

“A sobrevivência da democracia depende da capacidade de grandes maiorias de fazer escolhas de um modo realista, à luz de uma informação suficiente.”

É uma forma diferente de criticar a substituição das pessoas por máquinas: substituindo o lado humano, os sentimentos e emoções por sensações pré-programadas. Os seres humanos são produzidos em linhas de montagem (criadas por Henry Ford, no início deste século), como os produtos genéricos, e condicionados a aceitar uma série de dogmas sociais; são padronizados e, no entanto, continuam presos a dogmas, embora estes mudem de uma sociedade para outra, sendo atribuídos de formas diferentes: por um lado, por meio da educação infantil e, por outro, pelo condicionamento hipnopédico (em outras palavras, adestramento).

Quando Trinity beija Neo, ele revive (ressurreição) e, pelo amor, é feita a penetração do fluído sutil. Vemos que não há nada mais poderoso que o Amor. Sua ressonância dissolve toda ilusão, bem como o véu da separação; sua pureza cura todas as experiências passadas e mágoas profundas, formando um invencível campo de Luz.

Na grande maioria, nas iniciações das Ordens Secretas (entenda-se como secreta aquilo que não é público, não tem registro físico, jurídico, etc.), o neófito morre para o mundo profano e renasce “Iniciado”. Antigamente era normal batizá-lo com nome iniciático.

Na Maçonaria, isso era comum também, mas os céticos, intitulados historiadores, tentam todos os dias diminuir o universo oculto e místico que estão presentes na Ordem Maçônica. Que me desculpem os Irmãos que pensam diferente, mas contra fatos não há argumentos. Nossos Templos estão lotados de alegorias e símbolos, nossos rituais não são a respeito de política, nosso livro da Lei não está ali apenas para os nossos juramentos, enfim, faço questão de lembrá-los dos Mistérios Persas e Hindus; Mistérios Egípcios; Mistérios Gregos, de Ceres ou Deméter; Mistérios Judaicos de Salomão; Mistérios Gregos de Orfeu; de Pitágoras; dos Essênios e dos Mistérios Romanos. E ainda querem argumentar…

Assim como os Mistérios de Ísis, os Mistérios de Elêusis, na Grécia Antiga, também exerceram uma enorme influência no surgimento do Gnosticismo. Dedicados à deusa grega Deméter, os rituais de Elêusis rememoravam a peregrinação dessa divindade pelo mundo em busca da filha Perséfone, seqüestrada por Hades, o Senhor das Almas, que a levou para o mundo subterrâneo e tomou-a por esposa. Foi da filha de Deméter que a mulher de Merovíngio emprestou seu nome, o que faz do próprio Merovíngio um equivalente do Hades grego. O mundo subterrâneo, onde se localizava o Hades, por sua vez, remete ao mundo subterrâneo onde se localiza a cidade de Zion, em Matrix. Outra coisa que nos chama a atenção no filme é Zion — Sião em português. Poderíamos ir pelo caminho do Santo Graal, pois a cidade de Zion está situada no centro da Terra, ou até mesmo citar Júlio Verne em sua obra Viagem ao Centro da Terra.

Há aqui outra referência a respeito do mundo subterrâneo. O mundo de Jina ou de Duat, Agartha e Shamballah, que são reflexos do seio da terra dos três mundos superiores, esquematizado no Hexágono, o seis, o vau (arcano deste número).

Hermes Trismegisto diz: “O que está em cima é como o que está embaixo e o que está embaixo é como o que está acima, para a realização dos mistérios da causa única”.

O significado do nome de Hermes Trismegisto é: Hermes = o intérprete – Trismegisto = 3 megas = 3 vezes grande, ou o que possui os 3 reinos de sabedoria: mineral, vegetal e animal. Sua existência é atribuída no ano de 1900 a.C.; Hermes é o mesmo Thoth dos egípcios, e sua existência acompanha a vida religiosa do Egito.

Voltando à Agartha, foi para lá que Noé conduziu seu povo, a fim de salvá-lo do dilúvio. E podemos dizer ainda que seria a cidade submergida de Atlântida, a mesma de Platão.

Segundo Saint-Yves d’Alveydre, que viveu entre 1842 e 1909 e teve contato com seres desse lugar, é um verdadeiro mundo a quatro dimensões. Chamado de Venerável Mestre do G.O. (Governo Oculto) por seus discípulos, Saint-Yves, dentre suas obras, Mission dês Souverains, Mission dês Juifs e Mission de l’Inde, deixou uma de maravilhosa magnitude, O Arqueômetro, lançamento da Madras Editora.

O nome “sinarquia”, pela sua etimologia grega, pressupõe a realização de uma ordem sagrada num equilíbrio perfeito, de uma harmonia completa, que seria o reflexo das leis cósmicas. Está associado a uma das mais misteriosas sociedades secretas modernas de governantes invisíveis, tendo sido introduzido pelo grande esotérico Alexandre Saint-Yves. Ele recebeu do papa o título de Marquês de Alveydre e, por isso, tornou-se conhecido como Saint-Yves d’Alveydre. Viu-se, então, escolhido pelos governantes invisíveis do mundo para executar seus planos. Saint-Yves apregoava o ideal de uma sinarquia universal, a Sinarquia do Império, e não restam dúvidas de que manteve contato direto com os mais altos governantes secretos.

Na obra Animais, Homens e Deuses, Ferdinando Ossendowsky nos fala do Rei do Mundo, chefe supremo de todas as Ordens Secretas, conhecido na Índia como Jagrat-Dwipa. Na bíblia hebraica, o rei Melkitsedek é um ser mais enigmático que o próprio Apolônio de Tiana; no Tibete, é chamado de Rigden-Jyepo.

Os iniciados chineses da Ordem do Dragão de Ouro faziam referências a Agartha com Salem — A cidade Luz das tradições hebraicas e de vários povos.

René Guénon cita em sua obra, O Rei do Mundo, que Agartha é o centro oculto durante a Kali-Yuga (Idade Negra) de todos os movimentos filosóficos e espiritualistas na Terra. Na mitologia hindu, Kali, também conhecida como Durga, é a deusa-mãe, representada sob o duplo aspecto de nutridora (como aquela que dá a vida) e devoradora (a morte, destruidora de todas as coisas). Seu nome principal, Durga, em sânscrito significa “a que é difícil de abordar, a inacessível”, e na cosmogonia brahmânica, especialmente na filosofia de Sri Ramakrishna, ela é considerada uma personificação do real que se oculta por detrás do mundo das aparências. A palavra Kali, por sua vez, deriva do sânscrito kala, que quer dizer “tempo”. Sob seu aspecto negativo, Kali é a padroeira da Kali Yuga, a quarta e última etapa pela qual o mundo deve passar antes que, de acordo com o Hinduísmo, ele seja reabsorvido em sua origem Divina. Durante a Kali Yuga, o mundo ¬ mergulha quase que completamente nas trevas da ilusão (Maya), uma descrição bastante apropriada ao universo de Matrix. Cabe também ressaltar que Kali é tida como o lado feminino de Shiva, o Senhor da destruição e da renovação; pai de Ganesh, Senhor que remove os obstáculos de nossos caminhos.

Já nos antigos manuscritos indianos, a verdade das revelações globais estava contornada, como se vê da promessa do Espírito da Verdade quando, pela boca de KRISHNA, este diz a seu discípulo Arjuna, no Bhagavad-Gita, profecia que mais uma vez somos obrigados a repetir:

“Todas as vezes, ó filho de Bharata! que Dharma (a lei justa) declina, e Adharma (a lei injusta) se levanta, Eu me manifesto para a salvação dos bons e destruição dos maus. Para restabelecimento da lei, Eu nasço em cada Yuga (idade).”

Blavatsky confirmou que estamos passando por mudanças cíclicas, com as seguintes palavras:

“Em breve, chegaremos ao fim do ciclo. Os cataclismos se sucedem. Grandes forças estão sendo acumuladas, para esse fim, em diversos lugares.”

Com Jeoshua Ben Pandira, o Cristo, retificou-se a antiga tradição: “Eu não vim destruir a Lei, mas dar-lhe cumprimento”, reestabelecendo o Sanctum Santorum, a Grande Assembléia Universal, como a mansão do amanhecer, Cidade de Cristal, Agartha-Shamaballah.

Para conhecer mais a respeito de sociedades ocultas, sugiro a leitura da obra As Forças Secretas da Civilização, de Vitor M. Adrião, Madras Editora.

Sempre houve um elo profundo que unia, na Antiguidade, a adivinhação aos solares. O culto ao Sol é a chave de ouro de todos os mistérios ditos mágicos. Lembre-se de que, no filme, os Mamíferos (seres humanos) destruíam o Sol. Na verdade, o Sol é a fonte de Luz, de calor e de vida. Os sábios hindus viam-no como forma de Agni, o fogo universal que penetra em todas as coisas. Mitras é o fogo masculino e Mitra, a luz feminina. Para o iniciado de Mitras, o Sol é apenas um reflexo grosseiro da luz inteligível. Os egípcios iniciados procuravam o mesmo Sol sob o nome de Osíris. Hermes também reconhece, nas ondas etéreas, uma luz deliciosa. No Livro dos Mortos do Antigo Egito (Madras Editora), as almas vagam a duras penas para essa luz na barca de Ísis. Moisés também adotou essa doutrina na Gênese. “Elohim disse: ‘Que se faça a Luz, e a Luz se fez’”. Zoroastro está de acordo com Heráclito, Pitágoras, São Paulo, os cabalistas e Paracelso, que definem a luz que reina em toda a parte.

Quando Smith e seus agentes capturam Neo, colocam nele um chip. Acerca desse assunto, daria para escrever um livro, mas vou simplesmente pincelar, assim como os demais temas, para não deixar de comentá-lo.

Percebam que o chip se transforma numa espécie de crustáceo (que lembra um camarão) que faz a sua penetração pelo umbigo, que, por sua vez, está relacionado ao chacra abdominal (umbigo, plexo solar, o dom da razão). Sua cor é o amarelo, que no nível físico é uma cor quente, muito boa para entrar em contato com o seu próprio Poder. Mas o mais importante é que, segundo os espíritas, o cordão espiritual está ligado diretamente ao umbigo, ou seja, quando seu espírito sai de seu corpo (viagem astral), fica ligado ao umbigo físico por um cordão invisível.

Em Matrix Reloaded, conhecemos o Arquiteto como o criador da Matrix (Deus dos humanos). Vestido todo de branco, menciona que os seres humanos são anomalias e que estamos numa mistura entre Matrix e Zion. Primeiro fomos colocados na Matrix, e a maioria vive nela, representando um papel a cada encarnação, trocando de “nick” para esquecer-se do que são. Outros poucos encontram-se em Zion, onde todos acreditam que tudo é uma ilusão, onde não existe bem ou mal — uma sociedade alternativa…

Dá para perceber que houve um grande arrependimento desse deus ter criado os seres humanos.

Vários aspectos aqui nos chamam a atenção. Nosso Arquiteto de branco, como o chefe dos anjos, não é aquele ser barbudo nem seu coração está transbordando de amor pelas suas criaturas e muito menos perdoando-as de seus “pecados”. Que horror!

Buda, ao atingir seu estado de iluminação, Nirvana, libertou-se das ilusões do sansara, e falou: “Apanhei-te, Arquiteto. Nunca mais tornarás a construir”. De acordo com a filosofia budista, ele estava referindo-se ao ego, criador da pseudo-realidade em que vivemos.

Não comentei nada sobre Cypher, o traidor, o Judas. Mesmo sabendo que tudo era uma ilusão, ele quer retornar à Matrix e afirma: “A ignorância é maravilhosa”. Mas em Matrix Reloaded existe Haman, que foi um traidor do povo judeu. Na Bíblia, Haman é o grande vilão do Livro de Ester; ele odiava os judeu e tramava secretamente contra o povo, a fim de exterminá-lo. Mas seu plano foi descoberto por Ester, que o denunciou ao rei. Na festa judaica do Purim, é comemorada a derrota de Haman. Também confeccionam bonecos, como fazem os cristãos na malhação de Judas.

Um dos maiores heróis da religião hindu é o Senhor Rama, protagonista do poema épico Ramayana. Rama-Chandra é o sétimo avatar do deus Vishnu, um dos integrantes da Trindade Suprema (Brahma, Vishnu e Shiva), que periodicamente descia encarnado sob forma humana à Terra para libertar os humanos da ilusão.

Gostaria de poder escrever muito mais a respeito desta obra, na qual William Irwin compilou com maestria as diversas visões referentes a Matrix, elaboradas pelos respeitáveis acadêmicos: Barry Smith, Carolyn Korsmeyer, Charles I. Griswold, Cynthia Freeland, Daniel Barwick, David Mitsuo Nixon, David Rieder, David Weberman, Deborah Knight, George McKnight, Gerald J. Erion, Gregory Brassham, James Lawler, Jason Holt, Jennifer L. McMahon, Jonathan J. Sanford, Jorge J. E. Gracia, Martin A. Danahay, Michael Brannigan, Sarah E. Worth, Slavoj Zizek, Theodore Schick Jr. e Thomas S. Hibbis. Espero, entretanto, que com essas poucas palavras, tenha contribuído para que muitas pessoas não apenas vejam os filmes novamente, mas também “acordem” e procurem saber mais a respeito da fonte na qual os irmãos Wachowski foram saciar sua sede. Ou teria a fonte vindo até eles?

Por Wagner Veneziani Costa.

Introdução do livro “Matrix – Benvindo ao Deserto do Real”, da Editora madras.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/matrix-o-deserto-do-real