Medicina Tradicional Chinesa

O que se entende normalmente por Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é uma ciência que incorpora cinco áreas principais:

Acupuntura e Moxabustão – terapias muito antigas, onde a primeira usa agulhas introduzidas em pontos específicos do corpo humano e induzem ao equilíbrio energético, e a segunda usa o calor da queima de ervas nos pontos de acupuntura.

Fitoterapia – uma complexa gama de conhecimentos utilizando-se ervas, extratos e preparados vegetais

Tui-Ná– milenar técnica chinesa de massagem

Exercícios Terapêuticos – possuem vários tipos, incluindo o Chi Kung e o Tao-In;

Dieta – a alimentação correta é muito importante para os chineses e faz parte de sua medicina.

É importante notar que a MTC trabalha com uma espécie de energia vital que os chineses chamam de Chi. Todas as técnicas envolvidas utilizam-se desta energia, procurando atingir o equilíbrio energético no paciente, fortalecendo seu organismo e tratando dessa forma o mal que o acomete. A MTC não trabalha diretamente com órgãos e sistemas do corpo como a medicina ocidental, mas sim com o Chi de cada órgão, suas variações e manifestações. Sendo assim, a Medicina Tradicional Chinesa (MTC), multi-milenar, não possui qualquer relação com a medicina alopática ocidental e seus princípios.

Pequena História da MTC e Acupuntura

A MTC é realmente muito antiga, com resquícios de instrumentos de pedra datando de períodos anteriores a 4.000 a.C. As técnicas de acupuntura se desenvolveram mais no leste da China, lugar mais ameno, enquanto o norte, normalmente muito frio, favoreceu o desenvolvimento de técnicas quentes como a moxabustão.

O grande livro de base da MTC é o Livro do Imperador Amarelo (Huang Di Nei Ching), atribuído à figura lendária de Huang Di (2.697-2597 a.C.). Nele, o Imperador Amarelo confabula com conselheiros sobre os vários métodos para atingir a plena saúde e a longevidade. É considerado o livro básico da acupuntura e MTC.

Por volta de 1.000 a.C. surgiram os primeiros ideogramas identificando as ciências da acupuntura e da moxabustão, demonstrando o grau de maturidade dessas técnicas já nessa época remota. Mesmo depois da difusão do uso de metais como o bronze e a confecção de agulhas desse metal, os instrumentos principais de tratamento ainda eram feitos de pedra. Nesse período começaram a ser aplicadas as teorias do Yin/Yang e Cinco Movimentos (elementos) no tratamento de enfermidades.

Entre o Período dos Estados Guerreiros (475 a.C.-221 a.C.) e a Dinastia Han do Oeste (206 a.C.-24 d.C.), a MTC e em particular a acupuntura, tiveram grande desenvolvimento. Foi um período de guerras e revoltas, culminando na primeira unificação do Império chinês através da Dinastia Qin. Agulhas de metal finalmente suplantaram sua similares de pedra e as técnicas médicas tiveram um notável avanço nos vários campos de batalha. Foram desenvolvidas agulhas com metais diferentes, como prata e ouro, para diferentes aplicações. Ao todo, havia cerca de 9 tipos de agulhas diferentes.

A escavação de um túmulo de 113 a.C. na província de Hebei, em 1968, revelou um conjunto de agulhas de ouro e um outro de prata, mostrando que já naquela época havia especialização nos instrumentos da acupuntura. Uma outra tumba descoberta nessa mesma época nos revelou os trajetos dos meridianos principais e colaterais, escritos em seda no século III a.C. Dessa dinastia também aparecem os primeiros livros versando sobre a MTC, incluindo já o uso de ervas. Uma das mais antigas formas de tratamento de enfermidades, o uso de ervas, atingiu notável sofisticação na velha China, ao ponto de Hua To, um célebre médico do Período dos Três Reinos (220-265), usar um composto de ervas como analgésico, em conjunto com a acupuntura, e realizar operações cirúrgicas.

Na Dinastia Jin e nas Dinastias do Norte e do Sul (265- 581) apareceram os primeiros diagramas esquemáticos com os meridianos completos e pontos de acupuntura. Durante as Dinastias Sui (581-618) e Tang (618-907), a cultura e as artes tiveram um notável desenvolvimento, levando consigo grandes avanços na já sistematizada Medicina Chinesa. Na Dinastia Tang houve também uma completa reformulação e reavaliação de todo o material referente a MTC e acupuntura, iniciativa do próprio governo imperial, além da redação de novos e importantes tratados, especialmente sobre a moxabustão.

À partir do século X a prática da MTC foi grandemente impulsionada pelo uso constante da imprensa, que permitiu grandes tiragens dos livros anteriormente escritos à mão, um por um. À partir da Dinastia Ming (1368-1644) a acupuntura entra definitivamente para o ramo das ciências, com escolas organizadas e sistemas de tratamento mais complexos, com base nos 14 meridianos, Yin/Yang, Cinco Movimentos (Elementos), Zang-Fu (órgãos e vísceras) e outros conceitos que conhecemos e aplicamos hoje na MTC. A Dinastia Qing (1644-1912) promoveu uma regressão nesses valores, com uma grande ênfase na fitoterapia e uma diminuição no status da acupuntura e moxabustão, até aproximadamente a Guerra do Ópio (1840), quando essas terapias retornaram com toda a sua força, embora sem chegarem à importância anterior. Até hoje, na china, a Fitoterapia é a terapêutica principal nos tratamentos pela MTC.

Em 1899 tem início a moderna acupuntura, com a publicação de “Acupuntura em Modelos de Bronze com Referências na Medicina Moderna” (Zhong Xi Hui Can Tong Ren Tu Shuo), de Liu Zhongheng, a primeira obra a relacionar a MTC com a anatomia e fisiologia médicas ocidentais. À partir da Revolução de 1949, a MTC e Acupuntura se tornam o grande aliado do governo na ampliação da saúde de uma população superior a 1 bilhão de pessoas. Em 1951 é fundado o Instituto Experimental de Terapia por Acupuntura, vinculado ao Ministério da Saúde. Depois disso a prática da MTC foi se espalhando por universidades e centros de estudo por toda a China, promovendo saúde e bem-estar para toda a sua população.

Em novembro de 1987 é fundada a World Federation of Acupuncture-Moxibustion Societies (WFAS), uma entidade que visa promover o entendimento e cooperação mútua sobre Acupuntura e Moxabustão entre grupos espalhados por todos os cantos do mundo e desenvolver a ciência da Acupuntura-Moxabustão, contribuindo para a saúde de toda a humanidade através de uma prática ética e de alto nível técnico.

Hoje a Acupuntura e a MTC estão difundidos por todo o planeta, trazendo muitos benefícios para milhões de pessoas e tendo seu uso homologado pela Organização Mundial de Saúde, órgão da ONU de âmbito mundial.

Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Acupuntor, Terapeuta e Escritor, estudando cultura e filosofia oriental desde 1977. Como Taoísta, se preocupa em divulgar a filosofia e as artes taoístas, como I Ching, Feng Shui e Qigong, para melhoria da qualidade de vida das pessoas. Veja mais textos do autor em Taoismo.org

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#Medicina

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Perturbando os Mortos

Gilberto Antônio Silva

Escrevi esse artigo para nossa nova edição da revista eletrônica Daojia, sobre Taoismo. Mas devido ao teor da matéria e sua importância, achei por bem publicar aqui no portal em primeira mão.
Acredito que vivemos hoje uma preocupante crise de bom senso. E digo bom senso, mesmo, que não é questão de instrução nem “diplomas”, pois o bom senso nada mais é que uma maneira simples e objetiva de entender uma situação através de experiência e conhecimentos adquiridos.

Um cemitério sempre foi o lugar de “descanso dos mortos”, onde os falecidos encontram seu repouso eterno. Você já ouviu essas definições, sem dúvida. Cemitérios são lugares interessantes pela paz, pelo silêncio e por uma forte impressão de quietude. Quem consegue sentir as energias, o Qi do ambiente, percebe que ele é mais denso e pesado nestes locais e se move muito pouco, lentamente. É um local de quietude.

Para o Feng Shui tradicional chinês existem basicamente dois tipos de locais, chamados de “residências” (zhai): os Yin Zhai, que são locais de energia Yin, de repouso e contemplação, que incluem igrejas, templos e cemitérios, e os Yang Zhai, que possuem energia Yang, movimento, vida, e que são nossas residências familiares, comércio, indústria. Um contempla o Invisível, o Mistério, e o outro o mundo manifestado, a vida cotidiana e ativa das pessoas. Essa diferença é extremamente importante dentro do Feng Shui, que possui escolas especificas para cada tipo de residência e técnicas adequadas à configuração dos locais de acordo com sua utilização. Um Feng Shui para um túmulo é diferente do Feng Shui para sua casa, por exemplo.

Isso ocorre porque lidam com polaridades energéticas diferentes, uma o Yin (repouso) e outra o Yang (atividade). Seus objetivos também são diferentes: um busca estabelecer uma ligação entre nosso mundo manifestado e o Invisível, criando uma ponte de energia harmoniosa que permita haver uma interação benéfica entre os dois mundos; o outro procura harmonizar os fluxos de energia dinâmicos que permeiam nossas casas e nossas vidas em uma torrente de movimento e atividade.

Visitando o jazigo de meu pai há algum tempo, notei que havia uma quantidade exorbitante de cata-ventos colocados nos túmulos. O fato de ser um cemitério do tipo jardim, com vastos gramados, facilitava a colocação dos apetrechos pelos familiares. A geografia acidentada induzia ventos constantes que serviam de força motriz para os brinquedos, que giravam sem cessar em suas facetas multicoloridas. Um espetáculo bonito, se não estivessem em um cemitério. E isso se tornou algo muito comum, basta pesquisar “cata-ventos em cemitérios” no Google.
O Yin é caracterizado como repouso, concentração, imobilidade, alta densidade, enquanto o Yang aparece como movimento, dispersão, leveza. O que acontece quando se gera imobilidade em um ambiente Yang e movimento em um ambiente Yin?

No primeiro caso temos o que é chamado na Medicina Chinesa de “estagnação de Qi”. A energia não circula como deveria e isso gera um problema, seja em uma pessoa, seja em um imóvel. Uma das principais preocupações do Feng Shui é garantir um livre e harmonioso fluxo de Qi pelo imóvel, tanto interna quanto externamente. Qualquer obstrução ou impedimento nesse fluxo é caracterizado como problema e deve ser solucionado.

No segundo caso colocamos movimento e energia em um local onde deveria vigorar o repouso e a imobilidade. A consequência clara é a perturbação dessa energia Yin, que se agita e adquire características Yang, que não são adequadas.

Túmulos são elementos altamente importantes para os chineses. Sua harmonia ou desarmonia pode influenciar todas as gerações posteriores daquela família, por isso todo cuidado é pouco na sua elaboração. Na China continental, hoje, devido à população elevada, o governo tem como norma a cremação dos mortos para reduzir a enorme área destinada a cemitérios que seria necessária se todos fossem enterrados. Ocorre que as famílias precisam, por motivos culturais, enterrar seus mortos em túmulos regidos pelo Feng Shui para que suas futuras gerações tenham paz, harmonia e prosperidade. Com isso instituiu-se no sul da China, especialmente, um comércio clandestino de corpos. Pessoas sem parentes ou indigentes que morrem tem seus corpos vendidos para famílias que os repassam ao governo como se fossem os parentes falecidos, para cremação oficial, enquanto os verdadeiros corpos são enterrados em túmulos secretos, feitos de acordo com as regras tradicionais. Essa é a importância do túmulo para os chineses.

Voltando ao nosso problema, os túmulos aqui não possuem as mesmas necessidades que os chineses buscam, pois nossa cultura é diferente. No entanto, o aspecto de energia é o mesmo, pois independe de fatores culturais. E nossa tradição coloca os cemitérios como lugar de respeito, de repouso, de paz, o que mostra que a percepção energética de nossos antepassados era muito boa. Eles intuíam que é uma área de energia Yin que não deve ser perturbada.

Para bagunçar o Yin precisamos trazer aspectos Yang como movimento, ruído alto, cores vibrantes. Quase tudo que um inocente cata-vento fornece. Quando se colocam cata-ventos nos túmulos estão injetando energia Yang no campo de energia Yin e causando uma distorção. O movimento e as cores que irradiam alegria ao invés da muda contemplação perturbam a energia do local. Sabemos que existem vestígios energéticos dos falecidos sob vários aspectos e é necessária a tranquilidade do Yin para que se conclua esse trânsito entre as esferas. Quando você incute movimento, você atrapalha essa transição e coloca mais energia nos remanescentes energéticos que estão por ali, alimentando um estado que deveria se dissipar naturalmente. A rigor, se está perturbando os mortos.

Colocar cata-ventos nos túmulos é o equivalente a dar um show de rock no cemitério. Não seria estranho e desrespeitoso? Pense então que um show de rock duraria algumas horas e acabaria. Um cata-vento está lá, girando, 24 horas por dia, sete dias por semana. Desconheço a intenção precisa por detrás disso, se é justamente quebrar o clima de tristeza desse ambiente, mas é preciso manter separado o tratamento que damos aos mortos e o que fazemos por nós. A tristeza que nos invade nestes casos é fruto do apego e do egoísmo latente nos seres humanos e precisamos trabalhar isso usando ferramentas filosóficas e espirituais voltadas para nós. Não se resolve um cisco em nosso olho colocando colírio no olho do cara ao lado. Não se combate a tristeza pessoal pela perda de um ente querido “alegrando” o cemitério.

Acho que já está na hora de prestarmos mais atenção ao que fazemos e usarmos o bom senso como diretriz para nossas ações. Na dúvida recorremos à tradição, pois é um conhecimento passado através de gerações e que possui muito valor. Nem sempre o que é novo é necessariamente bom.
Que os que partiram encontrem seu descanso no intervalo de seu eterno caminhar e que os que ficaram possam respeitar mais as regras básicas do Universo e promover seu próprio autodesenvolvimento.

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Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica filosofia e cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo, incluindo “Os Caminhos do Taoismo” e “Dominando o Feng Shui”. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br

#Tao #taoísmo

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Ge Hong

gehong

Por Gilberto Antônio Silva

Vida

Muito do que se sabe de sua vida provém de uma autobiografia na qual revela descender de uma longa linhagem de intelectuais e pessoas ligadas à corte imperial por ao menos dez gerações. Seu pai, Ge Ti, era um intelectual que ascendeu a altos postos, incluindo governador de província. Na infância Ge Hong não gostava de brincar como as outras crianças, nem se interessava por estudos mais sérios. Apenas depois da morte do pai, quando contava 12 anos, começou a se interessar pelos clássicos confucionistas. A partir dos 14 anos começou a ampliar suas leituras e a compor poesia e textos curtos, sob a tutela de Zheng Yin, um intelectual com mais de 80 anos que dominava os clássicos, a música e artes divinatórias e alquimia. Ele também recebeu de seu tutor três escrituras da tradição taoista da Suprema Pureza (Taiqing), uma importante ramificação taoista do norte da China e pouco conhecida no local onde morava, além de conhecimentos-chave transmitidos por via oral. Esses conhecimentos mais profundos e fechados foram passados a Ge Hong principalmente pelo fato de seu tutor manter estreitas relações com sua família, tendo sido discípulo de seu tio-avô, Ge Xuan.

Aos 20 anos começou a carreira pública pelo serviço militar, tendo estado em combate algumas vezes contra rebeldes. Vencidos os rebeldes ele deu baixa no serviço de forma honrosa e foi à capital, Luoyang, em busca de livros raros. Por volta de 306, prestou serviços para Ji Han, então Inspetor Regional de Guangzhou e autor de obras sobre medicamentos e fármacos. O serviço durou pouco pois Ji Han foi morto quando ia assumir novo posto.

Desempregado, Ge Hong viveu oito anos como recluso no Monte Luofu, voltando para sua província natal em 314. A temporada em Luofu foi muito proveitosa, pois travou amizade com Bao Jing, um alto funcionário governamental e estudioso de artes esotéricas que lhe ensinou medicina e artes alquímicas, tendo casado sua filha com Ge Hong. Também nesse período Ge Hong escreveu profusamente e, embora muito desse trabalho tenha se perdido, foi a época em que escreveu Baopuzi e o Shenxian zhuan, duas de suas principais obras.

De volta à sua terra natal foi conselheiro do Primeiro-ministro Sima Rui até 316. Depois de revoltas internas, Sima Rui se autoproclamou Imperador Yuan, iniciando a Dinastia Jin do Leste (317-420). Ge Hong serviu em vários postos administrativos até 331, quando aos 49 anos pediu para ser designado para Julou, atual Vietnã. Lá ele esperava encontrar materiais e substâncias para seus experimentos alquímicos. Começou a mudança com toda a sua família mas foi impedido por um governador que não desejava que saísse do território do império Jin. Ge Hong acabou por se instalar novamente no Monte Luofu, dando por encerrada sua vida administrativa. A partir desse instante, por volta de 339, ele se dedicou integralmente aos estudos, pesquisas alquímicas e escritos. Em 343 Ge Hong morre no Monte Luofu. Posteriormente a região ficou conhecida pela influência taoista e diversas escolas importantes como a tradição Quanzhen estabeleceram sua sede naquele local.

Obra

Uma de suas obras mais importantes é Shenxian Zhuan (“Biografias dos Imortais Divinos”), com forte orientação taoista. Junto com seu Yin Yi Zhuan (“Biografias de Reclusos”), representam as mais importantes obras biográficas de mestres e reclusos taoistas, usadas como fonte histórica até hoje.

Mas o que é considerado sua obra principal é o Baopuzi (“O Mestre que Abraça a Simplicidade”), escrito em 70 capítulos divididos em “Capítulos Internos” (Nei Pian) versando sobre filosofia, alquimia e transcendência e “Capítulos Externos” (Wai Pian), versando sobre crítica literária e social. Os capítulos internos são mais esotéricos e tratam de imortalidade, transcendência, alquimia, elixir, meditação, daoyin (qigong) e demonologia. Os capítulos externos são exotéricos e lidam com coisas do cotidiano como literatura, a Escola Legalista, política e sociedade, tendo um viés mais confucionista. Embora sejam publicados geralmente juntos, muitos consideram as duas partes como independentes e estudiosos tendem a considerar como Baopuzi apenas os capítulos internos. Ge Hong relaciona o Tao como o Mistério e o livro insiste na necessidade de se ter um Mestre adequado (“Mestre Iluminado”, em suas palavras) para se progredir rumo à imortalidade. Nele Laozi é colocado como o fundador do Taoismo.

Seu livro de medicina mais conhecido é o Zhouhou Beijifang (“Manual de Prescrições para Emergências”), que norteou a pesquisa da Dra. Tu. Foi a primeira obra na história a documentar a varíola (posteriormente os chineses criaram uma vacina) e o tifo, além de disenteria, malária e cólera, desenvolvendo métodos de prevenção e cuidados especiais incluindo a quarentena para os infectados.

Outras obras de medicina são Zhou hou jiu zu Fang (“Precrições para Resgatar Moribundos depois da Leitura do Pulso”), Yu han fang (“Prescrições da Caixa de Jade”), Jin gui (Receitas do Armário Dourado).

Legado

Acredita-se que sua obra tenha influenciado de maneira consistente a Tradição Taoista Lingbao (Tesouro Luminoso), que pregava que o adepto não tinha apenas que cultivar a si mesmo de modo a alcançar a imortalidade (o Tao), mas deveria ajudar as outras pessoas a obtê-lo também. Essa tradição afirmava que suas escrituras foram concebidas por Ge Xuan, sobrinho-neto de Ge Hong, e compiladas por Ge Chaofu (outro membro da família de Ge Hong) durante o período entre 397–402. Essa escola fez uma síntese das principais correntes taoistas de seu tempo, incorporando elementos das tradições Zhengyi e Shangqing, além do Budismo. Causou grande impacto na formalização dos rituais taoistas, enfatizando a prática litúrgica especialmente nos Ritos de Purificação (zhai) e nos Ritos de Oferenda (jiao), também conhecidos como Rituais de Renovação Cósmica. Os rituais taoistas seriam formas de se harmonizar o mundo humano com o invisível. O Taoismo Lingbao acabou por ser totalmente absorvido pelas tradições Zhengyi e Quanzhen, desaparecendo como linhagem autônoma mas deixando uma forte influência nestas escolas.

Ge Hong fez importante aproximação entre Taoismo, Confucionismo e Legalismo. Ensinou que os conhecimentos do mundo e os transcendentais são ambos importantes para o aperfeiçoamento humano até atingir a imortalidade.

Seus trabalhos médicos são, ainda hoje, matéria de estudo nas universidades chinesas.

*** Artigo publicado na primeira edição da revista Daojia, a primeira revista brasileira sobre Taoismo e suas técnicas. Baixe gratuitamente seu exemplar em nosso site: www.laoshan.com.br

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Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br

#Tao #taoísmo

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Taoísmo e Umbanda

Taoísmo e Umbanda – Irmãos separados no tempo e espaço

Por Gilberto Antônio Silva

É difícil imaginar que duas religiões aparentemente distantes como o Taoísmo chinês e a Umbanda tenham raízes comuns tão profundas. Quase poderíamos dizer que o Taoísmo é uma “Umbanda oriental” ou que a Umbanda é um “Taoísmo ocidental”, tamanha a semelhança entre seus princípios.

Aparentemente isso se deve às raízes xamânicas que ambas têm em comum. Seus alicerces estão estruturados em culturas ancestrais, das mais antigas da Humanidade. Como taoísta, sinto-me completamente à vontade em uma sessão de Umbanda. Sem choques de egrégora ou cruzamento de linhas espirituais, que sabemos serem extremamente danosas.

Nessa introdução coloco algumas características do Taoísmo religioso e sua relação com a Umbanda. Acredito que as diferenças sejam devidas mais em virtude da antiguidade do Taoísmo do que pelas culturas diferentes. A religião taoísta foi fundada há 1.800 anos e a Umbanda há pouco mais de 100 anos. Acredito que, com o passar do tempo, mais parecidas elas se tornarão. Afinal, a Verdade é uma só sob o Céu, como diriam os chineses.

Sincretismo: a Umbanda nasceu do sincretismo religioso entre catolicismo, cultos africanos e o espiritismo. O Taoísmo brotou do sincretismo entre a filosofia taoísta e antigas práticas religiosas chinesas com o Budismo e o Confucionismo.

Fundador: ambas as religiões tiveram um fundador humano, ligado às entidades espirituais. A Umbanda foi fundada pelo Pai Zélio de Morais (1891-1975) em 1908, quando da incorporação do Caboclo das 7 Encruzilhadas. O Taoísmo foi fundado pelo Mestre Celestial Zhang Daoling (33-156 d.C.) no ano de 142, quando ele presenciou uma aparição de Laozi. Em ambos os casos houve a transmissão de uma mensagem mostrando a necessidade de uma nova religião para auxiliar as pessoas do mundo.

Natureza: tanto a Umbanda quanto o Taoísmo se dedicam a compreender e seguir as leis naturais do Universo e a utilizar a Natureza e suas forças como fonte de inspiração e atuação.

Divindades: ambas cultuam divindades representativas de qualidades e aspectos naturais e universais. Apesar do panteão taoísta ser muito mais amplo do que o da Umbanda, devido à sua antiguidade, as características dos orixás estão presentes e podem ser correlacionadas (Rei de Jade – Oxalá, Kwan Di – Ogum, Kwan Yin – Oxum, etc…).

Variações: assim como existem muitas variações de culto e linhas diferentes dentro da Umbanda, o Taoísmo possui muitas diferenças entre um ramo e outro (em 1910 havia 86 ramificações registradas oficialmente na China).

Mediunidade e incorporação: o Taoísmo também possui mediunidade de incorporação. Essa prática é mais comum no Sudeste da Ásia, particularmente na Malásia e Cingapura. O ritual de incorporação taoísta é muito similar ao da Umbanda, incluindo atendimento à população através de conselhos, respostas a perguntas, cura e “exorcismo” (o equivalente ao “descarrego” da Umbanda).

Pontos riscados: de extrema importância, os pontos riscados no Taoísmo utilizam tinta e papel, ao invés da pemba (tipo de giz usado na Umbanda). São escritos normalmente com pincel em um papel amarelo. Desenhos muito comuns nos pontos taoístas são ideogramas, espirais, desenhos geométricos e linhas sinuosas, bem como setas e tridentes em algumas vezes.

Defumação: o Taoísmo utiliza como defumação principalmente a fumaça de incensos, presença obrigatória em todos os rituais. Mas em determinadas épocas ou rituais específicos pode-se utilizar a queima de ervas diversas, utilizando pó de sândalo como combustível ao invés do carvão. Defumam-se as pessoas e o local, da mesma forma como é feito na Umbanda.

Lado obscuro: a Umbanda também cultua o “Outro Lado”, na forma de Exus e Pomba-Giras. Sabemos que não existe nada de “maligno” ou “demoníaco” nisso, mas apenas a manifestação de uma outra polaridade da Natureza. Da mesma forma, o Taoísmo cultua Divindades Yang e Divindades Yin, sendo que estas estão presentes na obscuridade e representadas nos “infernos” chineses sob a terra. As Divindades Yin tem o mesmo poder e recebem o mesmo tratamento respeitoso que as Divindades Yang.

Guardiões: na Umbanda os Guardiões são os Exus e no Taoísmo são os regentes dos infernos, como o popular Zhong Kui, Rei dos Fantasmas, representado em muitas portas de entrada para proteção contra forças negativas e espíritos nefastos.

Musicalidade: os rituais no Taoísmo não usam atabaque, mas outros instrumentos para marcar o ritmo dos cânticos. É interessante notar que na incorporação taoísta existe uma música para cada divindade que se deseja chamar e outra para enviá-lo de volta, exatamente como ocorre na Umbanda.

Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo e Jornalista. Como Taoísta, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica filosofia-religião chinesa. Site: www.taoismo.org

#Tao

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Talismãs Taoistas

Os talismãs são recursos adotados pelos taoistas desde seus primórdios, chamados de Fu (符) ou Shenfu (神符). Consistem basicamente em uma composição de ideogramas convencionais, escrita arcaica, selos e carimbos, e desenhos diversos. A origem documentada dentro da tradição se encontra em algumas escrituras taoistas, como representações de sinais do Céu para trazer sua energia para a Terra ou relacionado às divindades taoistas. Seu uso é fundamental em rituais taoistas e em diversas artes mágicas. Um dos mitos chineses sobre suas origens afirma que uma gigantesca tartaruga negra saiu das águas do Rio Amarelo carregando um talismã em sua boca e o deixou em um altar diante do Imperador Amarelo (Huangdi), retornando ao rio.

Existem muitas formas de se fazer um talismã e muitas maneiras de empregá-lo. Em geral se utilizam tintas preta e vermelha sobre um papel amarelo. O talismã pode ser utilizado em uma cerimônia e queimado em seguida, pregado na parede para proteger o local ou expulsar espíritos nefastos, carregado pela pessoa para garantir proteção ou usado por um doente para recuperar a saúde. Também podem ser queimados e suas cinzas misturadas com água e bebido, especialmente para fins terapêuticos.

Fazer um talismã é complicado e demanda muito conhecimento por parte do praticante, chamado de Fulu (符籙). Cada utilização requer elementos específicos e cada tradição possui uma forma de fazê-lo. Existem inclusive linhagens especializadas nesse tipo de construção. A Tradição Lingbao (Tesouro Luminoso), por exemplo, foi formada ao redor da ciência dos talismãs. Vários de seus textos principais se referem a essa ferramenta: Lingbao wufu xu (Introdução aos Cinco Talismãs do Tesouro Luminoso), Wupian zhenwen (Escrita Perfeita em Cinco Tabuletas) e Wucheng fu (Cinco Talismãs de Correspondência).

Sua confecção está envolta em rituais especiais para garantir e reforçar a energia necessária e impregná-lo com a intenção adequada para cumprir seus objetivos e pode levar até 30 dias para ser executado devidamente. O Alquimista e médico taoista Ge Hong (283-343) [já mencionado anteriormente nesta coluna] compilou uma bibliografia taoista em uma de suas obras que lista 55 tipos de talismãs empregados em sua época.

Seus desenhos e formas geométricas e mesmo palavras escritas não se destinam a serem lidos pelos mortais, mas pelas divindades. Para isso se utilizam muito da “escrita de selo”, uma forma arcaica de escrita chinesa com caracteres curvilíneos e bastante artísticos.

Para fechar esse tema gostaria de comentar que a energia emitida por determinados desenhos e formas geométricas é bem estudada pela radiestesia há mais de cem anos. Descobriu-se que desenhos e formas geométricas emitem uma “onda de forma” específica e que possui características e atuações muito particulares. Esse tipo de pesquisa é a base dos chamados “gráficos radiestésicos”. Um dos mais poderosos emissores conhecidos pela radiestesia é o Bagua do Céu anterior.

É interessante notar também que esses desenhos dos talismãs chineses se parecem muito e tem função muito semelhante, quando feitos pelos médiuns taoistas, aos pontos riscados da Umbanda.

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Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica filosofia e cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br

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O Som do Silêncio

Por Gilberto Antônio Silva

Hoje estava estudando um livro sobre aperfeiçoamento pessoal. Ao longo da leitura me dei conta do ruído do relógio de parede: tique-taque-tique-taque. Quando você consegue escutar o barulhinho desse tipo de relógio você percebe que existe um grande silêncio ao seu redor. De fato, é frequente que não se ligue rádio nem tv em minha casa. Simplesmente desfrutamos de algum livro ou trabalhamos no computador, sem ruídos externos. Talvez você estranhe esse procedimento, pois nossa cultura atual procura encher nossas vidas de barulho. Em geral a primeira coisa que se faz ao chegar em casa é ligar o rádio, colocar um CD ou ligar a TV (mesmo que ninguém vá assistir diretamente a ela).

Nesse tipo de cultura barulhenta, ficar quieto parece coisa do outro mundo. Vários alunos já manifestaram sua surpresa quando mencionei isso em aula. Ficar sentado, lendo, sem nenhum aparelho ligado tocando música ou outra coisa, se tornou algo raro. Acredito que meu prazer pelo silêncio se deva em grande parte à minha dedicação à cultura oriental e ao Taoismo. Os orientais procuram no silêncio as respostas que não aparecem no barulho. Quando silenciamos os ouvidos, a mente começa a prestar atenção nos pensamentos. A introspecção é parte fundamental das práticas orientais, pois é mais fácil procurar a Verdade dentro de nós do que no mundo exterior. Se muitas pessoas se voltassem para dentro de si mesmas ao invés de procurar respostas fora, teriam vidas mais tranquilas e fáceis.

Quando eu digo “silêncio” não quero dizer uma ausência absoluta de sons. Sabemos que isso é quase impossível, especialmente em nossos dias. Os ruídos externos são naturais e tendem a desaparecerem quando deixamos de prestar atenção neles. Os barulhos que nós provocamos é que causam grande transtorno. Silêncio total é muito raro. Me lembro de algumas vezes, quando era pequeno e passava férias na fazenda de parentes, de ficar parado no campo já arado e pronto para o plantio, e meus ouvidos zumbiam de tanto silêncio. É interessante, mas quando existe um silêncio tremendo escutamos nosso próprio corpo. Foi uma experiência que me marcou muito essa ausência quase total de som. Uma plantação já crescida tem muitos barulhos, de folhas ao vento, por exemplo. Mas na terra nua, arada e ainda vazia, nada perturba o silêncio.

O silêncio é importante na compreensão do Tao, pois nos remete ao Wuji, o Vazio Primordial. Sempre que se começa e termina uma forma de Tai Chi Chuan ou de Qigong, se permanece alguns instantes em pé (semelhante à posição militar de “sentido” para os ocidentais), mas relaxado, com os braços soltos ao longo do corpo e os olhos mirando à frente. Isso se deve ao fato de que começamos e terminamos as formas a partir do Vazio, começo e fim de cada ciclo. Um de meus mestres dizia que se deve “ouvir atrás” quando se coloca nessa posição, querendo dizer para se prestar atenção no mundo ao nosso redor, uma atenção passiva, vazia, como se isso tudo nada tivesse a ver conosco.

Quando ficamos em silêncio podemos contemplar nossa mente e compreender melhor nossos pensamentos, sentindo-nos ao mesmo tempo mais próximos do Tao. A importância disso deveria ser óbvia, pois somos o que pensamos. Procure diminuir o barulho ao seu redor e fique alguns minutos por dia, sentado no silêncio. Não precisa “meditar” propriamente dito, mas uma simples contemplação de seus pensamentos. Meditação nada mais é do que a ausência de “ruídos” em nossa mente. Existem três níveis para se atingir a hiperconsciência, segundo a filosofia indiana, que se aplicam perfeitamente ao Taoismo: Dharánna, Dhyanna e Samádhi – sucessivamente contemplação, meditação e transcendência. Comece pelo começo. Será uma experiência bastante enriquecedora.

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Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br

#Tao

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Dois Caminhos

Por Gilberto Antônio Silva

Ao entrarmos em uma seção de “filosofia oriental”, ou como geralmente se encontra, “esoterismo” e “auto-ajuda”, seja em uma biblioteca, livraria ou sebo, nos deparamos com uma infinidade de obras que mostram caminhos para o ser humano se conhecer e viver melhor, com mais “espiritualidade”. Isto causa uma certa confusão na pessoa que busca este tipo de conhecimento. Afinal, qual caminho devo escolher dentre esta miríade de escolas, linhas, culturas, filosofias, religiões?

Para ajudar a selecionar o que é melhor para você mesmo, mostrarei que praticamente todo este conhecimento se divide em dois caminhos principais que levam à “Iluminação”: a sabedoria e a devoção.

Estes dois caminhos são tratados por todas as grandes culturas do mundo, seja de modo claro, seja de modo disfarçado. Para os indianos os dois caminhos principais são o Jnana, sabedoria, e o Bhakti, devoção. No Taoismo temos o Daojia (taoismo filosófico) e o Daojiao (taoismo religioso). Qualquer um destes dois caminhos pode ser a escolha principal de cada pessoa, de acordo com sua constituição e necessidade espiritual. Existe um debate dentro do Taoismo, onde muitos afirmam que não existe essa separação, religião e filosofia são uma coisa só. Eu concordo, em parte. Filosofia e religião não são uma mesma coisa, simplesmente, mas ênfases diferentes em um mesmo caminho. Uma pessoa que siga um dos ramos não é melhor nem pior que outra que se sinta amparado pela outra via, pois ambas levam ao mesmo destino. Mas é inegável que existe uma atitude diferente às duas trilhas.

A sabedoria é o caminho dos filósofos, daqueles que não abrem mão do raciocínio lógico. Para estes um bom livro e uma boa reflexão são as melhores ferramentas para a evolução espiritual. Compreender como o Universo funciona é seu principal estímulo. Santos e deuses são secundários em sua busca, pelo menos até um determinado nível de compreensão. Não é necessário participar de alguma linha específica de pensamento.

A devoção é o caminho dos crentes, daqueles que procuram a experiência arrebatadora da fé como princípio de espiritualidade. Para estes, acender uma vela e fazer uma oração são as melhores ferramentas para evoluir. Sentir a presença de um Ser Superior e estar integrado às forças do Universo é seu principal estímulo. A mera abstração lógica carece de interesse em contraste com o colorido dos estados alterados de consciência causados pela experiência religiosa, até um certo nível de compreensão. Aqui também não é necessário participar de alguma religião estabelecida.

Quando corretamente orientados, ambos os caminhos conduzem ao mesmo destino, pois se encontram em um dado momento. Portanto não existe necessariamente um correto e outro errado, mas sim o mais adequado a cada pessoa. Ela possui grande fé ou descrença nas Forças Superiores? Possui um raciocínio afiado e grande intelectualidade ou prefere experimentar sensações? Veja que optar por um dos caminhos é questão de escolha pessoal, com base em suas aptidões naturais. E essa opção pode ser reconsiderada a qualquer momento. Pode, inclusive, optar por estabelecer um equilíbrio entre ambas, ciente de que são partes integrantes da mesma Verdade.

No Taoismo, propriamente dito, existe uma convergência de interesses. Várias práticas são utilizadas por ambas as vias, como meditação e qigong, além de manterem profundo respeito pelo Universo e suas manifestações, sejam do mundo visível ou do invisível. A diferença, noto novamente, fica apenas na ênfase. Isso deixa o praticante bastante à vontade para perambular pelos meandros do Tao, da maneira como for melhor para sua compreensão. Sempre me refiro ao Taoismo como “a filosofia espiritualista da liberdade”.

Note que possuir um raciocínio lógico não significa ser um cético incurável, nem possuir um profundo sentimento religioso significa ser um místico fanático. Ambos são extremos que devem ser evitados, pois não conduzem a nada que seja útil. Apenas distorcem sua percepção, envenenam seu espírito e o direcionam contra outras pessoas.

E você? Procure descobrir suas características pessoais e se aprofunde no seu próprio caminho. Sem medo e sem culpa.

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Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br

#Tao

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Reverenciando os Mortos

Por Gilberto Antônio Silva

No próximo mês entraremos no sétimo mês lunar, quando ocorre o Festival dos Fantasmas Famintos. Essa festividade (Zhongyuan Jie) ocorre durante um mês (em 2017 será entre 22 de agosto e 19 de setembro), dentro do qual os Portões do Inferno se abrem e liberam os atormentados que estão por lá. É uma festividade muito importante para taoistas e também budistas, pois se trata da oportunidade de ajudar aqueles que já se foram a encontrar a paz e o caminho ao qual pertencem.

Nessa época do ano as pessoas fazem preces pelos falecidos e celebram rituais e oferendas para que tenham mais conforto e sigam seu caminho. Aquelas almas que não têm parentes ou alguém que possa fazer as oferendas para eles perambulam de templo em templo em busca de suas necessidades. Daí o adjetivo “faminto”, pois são espíritos que possuem alguma necessidade, ainda imersos no mundo de desejos e atados aos apegos que impedem sua entrada na roda de transmigração. Findo o festival, eles retornam a Fengdu, o Mundo Subterrâneo, para cumprir o que resta de sua sentença. As principais cerimônias ocorrem no 15º dia do 7º mês lunar (este ano, em 5 de setembro).

É um dos cinco festivais mais importantes da cultura chinesa. Música e apresentações da ópera chinesa são executadas ao ar livre. Comidas e bebidas são oferecidas à noite nos portões, nas calçadas ou praças, para manter os fantasmas fora das casas. Lanternas e velas são acesas para chamar sua atenção. É muito similar às oferendas da Umbanda e do Candomblé, ocorrendo também em cemitérios. Também queimam “dinheiro espiritual”, um fac-símile de dinheiro feito geralmente de papel jornal, para que o fantasma tenha algum dinheiro em Fengdu. A queima transforma o físico em etéreo e permite a esses espíritos a sensação da posse material de que tanto anseiam. Hoje estão mais modernos e também queimam automóveis, celulares e cartões de crédito de papel – a pessoa pode ficar mais rica na morte do que foi em vida. À primeira vista parece uma superstição tola, mas se pararmos para pensar que o espírito do falecido está desorientado justamente por ter muito apego, esses produtos-fantasma realmente podem lhe conceder algum conforto e facilitar sua compreensão. Somado às orações, mantras e cerimônias, isso pode ajudar bastante. Nesta festividade também entram homenagens aos ancestrais, que como sabemos é arte importante das crenças chinesas.

Esse importante festival se iniciou na Dinastia Liang (502-557) e se desenvolveu até os dias de hoje. Existem duas teorias para sua origem: uma afirma que nasceu como uma cerimônia taoista em homenagem a Di Guan, o Deus da Terra, em agradecimento às dádivas da terra e depois se expandiu para dar oferendas também aos fantasmas necessitados; outra versão afirma que tem origem budista, com um discípulo de Buda chamado Mu Lina. Sua mãe aprontou algumas em vida, incluindo homicídio, e quando morreu foi parar no 18º nível de Fengdu, lá no fundo. Compadecido de seu sofrimento, ele tentou ajudar sua mãe e levar-lhe alimento, mas falhou. Então pediu ajuda a Buda, que recomendou-lhe efetuar cerimônias com muita sinceridade no 15º dia do 7º mês e oferecer comida a todos os fantasmas. Estes ficaram tão agradecidos e tocados com essa bondade que liberaram sua mãe.

O Taoismo popular possui muitas festividades e cerimônias importantes que marcam a divulgação desta religião, especialmente no Sudeste da Ásia. É parte integrante e inseparável da Tradição Taoista.

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Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br

#Tao #taoísmo

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Contemplando o invisível

Por Gilberto Antônio Silva

Vivemos em um mundo cada vez mais materialista e cientificista. Qualquer coisa que sobressaia da atividade normal (ou reconhecida como tal) automaticamente é rejeitada e atacada. Apenas o que é visível, mensurável, demonstrável e “cientificamente comprovado” pode ser aceito. Mas sabemos que o Universo não se limita a isso.

Já tive oportunidade de mencionar anteriormente que a filosofia oriental é, em grande parte, ignorada pelo Ocidente, que acredita que se trata de meras superstições, crenças religiosas ou pensamentos irracionais (como se isso fosse possível). Apenas a filosofia ocidental, baseada na objetividade e na análise intelectual minuciosa de cada fragmento de pensamento ou ideia, é realmente uma “filosofia”.

Ocorre que a filosofia oriental possui esse mesmo enfoque racional, porém acrescido de uma dimensão subjetiva que não existe no pensamento ocidental moderno. Para os chineses, em especial, mesmo que algo não seja visível ou mensurável, ainda pode ser sentido, percebido e interpretado, portanto é real. Basta que aquilo faça algum sentido, em um sistema que Lin Yutang chama de “Espírito do Razoável”. É uma espécie de “bom senso chinês”, onde uma coisa é aceita se fizer sentido, independente de algum tipo de comprovação material. A reencarnação explicaria várias coisas sobre a vida humana na Terra, portanto é algo válido. Possessão por um Demônio das Águas seria real? Uma criança começa a manifestar atitudes estranhas e alheias à sua personalidade, junto com conhecimentos que não deveria ter e força sobre-humana, sendo que depois da sessão de exorcismo feita por um sacerdote taoista, ela volta ao seu normal. Por que isso não seria real?

Esse tipo de atitude perante o invisível, ao que não é testável nem mensurável, alarga em muito nossos horizontes. Repentinamente o Universo se expande para muito além do visível e palpável, até dimensões infinitas. Logo, perceber e acreditar no invisível enriquece nossa vida. Um aluno me perguntou um dia se isso não poderia ser apenas uma ilusão. Claro, o nosso próprio mundo sensorial poderia ser todo ele uma grande ilusão, como atestam hinduístas, budistas e taoistas. O que diferencia o pensamento oriental do ocidental é que no Taoismo e seus primos próximos você pode experimentar o invisível. Isso deixa de ser uma mera crença vazia para se tornar uma realidade palpável. Para isso existem meditações, rituais sagrados, livros enigmáticos que precisam de mais do que a mera intelectualidade para serem decifrados, mas uma imersão completa do corpo e da alma no contexto definido. Além das tradições orientais como o Taoismo, isso também é verdade para a Magia, a Umbanda, o Xamanismo e todas as doutrinas e escolas de pensamento esotéricas. Estamos todos juntos, mergulhados em um universo extremamente mais vasto do que aquele da ciência ocidental.

Não existe espiritualidade sem uma relação próxima com o invisível. Na medida em que seu progresso espiritual aflora, sua sensibilidade se amplia e sua consciência começa a reconhecer o invisível. Não existe outro caminho. Uma pessoa que se diz espiritualista e tem toda sorte de ceticismos tóxicos e negações vazias é, na verdade, uma mentirosa.

Espero que não esteja achando que eu estimulo algum tipo de credulidade cega. De modo algum. Eu mesmo tenho um ceticismo saudável graças à Parapsicologia. Mas devemos manter uma atitude chinesa e não duvidar de algo se aquilo fizer algum sentido. Se quiser mais comprovações pessoais, basta praticar. Absolutamente TUDO o que é dito sobre o Mundo Invisível pode ser experimentado. Claro que com muita dedicação, persistência e orientação adequada, o que nem todo mundo está disposto a fazer. É mais fácil e rápido rejeitar. Acho que isso é a cereja do “bolo esotérico”: você pode comprovar tudo o que é dito por experiência própria, desde que mantenha a mente aberta. Algumas experiências não são recomendáveis, mas podem ser feitas. Então não estamos falando sobre ilusão, crenças religiosas ou dogmas, mas sobre a realidade. Uma realidade maior do que se percebe no cotidiano, mas que afeta decisivamente nossas vidas, quer você creia ou não. Na verdade, os “descrentes” não fazem mais do que barulho, pois o Universo segue seu caminho, eterno e insondável.

No caso particular do Taoismo percebemos que Laozi já chuta o balde no primeiro capítulo do Tao Te Ching afirmando que “O Tao que pode ser expresso não é o Tao constante” e que “O Tao é o nome do inominável”. Pronto, se sua intenção é usar o puro raciocínio objetivo já pode se considerar derrotado, pois o intelecto puro não pode abranger o Tao. Ele transcende esse aspecto puramente mental e precisa ser experimentado pessoalmente.

A Tradição Taoista é extremamente rica em considerações sobre o mundo invisível. Isso é parte de nossa herança e de nossa força. E se você deseja realmente conhecer o Universo em toda a sua profundidade, deve se preparar para contemplar o invisível.

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Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, é um dos mais importantes pesquisadores e divulgadores no Brasil dessa fantástica cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br

#Tao #taoísmo

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Taoismo e os Cavaleiros Jedi

Por Gilberto Antônio Silva

A série de filmes de Guerra nas Estrelas (a trilogia original) foi um marco na história do cinema, não apenas pela sua importância cinematográfica, mas por criar uma mitologia que apenas cresce nesses quase 40 anos. Dentro dessa mitologia existe um grupo que se destaca: os Cavaleiros Jedi. Uma ordem de guerreiros-filósofos destinados a manter a paz e o equilíbrio na Galáxia e que possuem uma cultura com forte influência oriental, especialmente próxima ao Taoismo

A Força é o elemento principal dos Jedi. É ela que conduz as atitudes dos cavaleiros e lhes confere enormes poderes. Conforme Obi-Wan Kenobi em Guerra nas Estrelas: “A Força é o que dá ao Jedi seu poder. É um campo de energia criado por todas as coisas vivas. Ela nos cerca e nos penetra e une toda a Galáxia”. Essa descrição já nos fornece uma prova de sua essência: Qi. Todos que estudam ou trabalham com técnicas taoistas conhecem o poder do Qi. Com ele, os Jedi podem manipular objetos à distância (Psicocinese), ler e influenciar mentes (Telepatia), pressentir perigos e se manter em harmonia com o Universo. A Força é a base de sustentação dos Cavaleiros Jedi. Podemos ter um vislumbre da Força em ação nos vídeos de demonstrações e aulas do Grande Mestre Morihei Ueshiba. Principalmente no final de sua vida, Mestre Ueshiba não precisava sequer tocar fisicamente em seus alunos para poder dominá-los e repeli-los. A importância e o poder da Força foram claramente mencionados por Darth Vader em Guerra nas Estrelas: “A capacidade de destruir um planeta é insignificante perto do poder da Força”.

A filosofia dos Jedi também se aproxima bastante do Taoismo. O Mestre Yoda afirma, em O Império Contra-Ataca: “Um Jedi usa a força para ter conhecimento e para defesa. Nunca para o ataque”. A utilização dos conhecimentos marciais apenas para a defesa é o mote central da grande maioria das artes marciais orientais, com exceção da arte taoista do Xingyi Quan, que possui um forte ímpeto do ataque. Mais tarde, no mesmo filme, quando Luke Skywalker duvida da Força, Yoda diz: “O tamanho não importa. Olhe para mim. Julga-me pelo meu tamanho? E não deve, mesmo, pois a Força é minha aliada. E uma poderosa aliada”. Este é um dos itens básicos da estratégia: nunca subestimar ninguém, não importa se é homem ou mulher, fraco ou forte, alto ou baixo, magro ou gordo. Principalmente quando se utiliza a energia interior, qualquer um pode ser poderoso. Mas a filosofia de vida dos Jedi com a Força é ainda mais profunda, como prossegue Yoda: “A vida a cria e a faz crescer. Sua energia nos cerca e nos une. Somos seres de luz, não de matéria. Precisa sentir a Força em sua volta, aqui, entre você e eu, na árvore, na pedra, em tudo”.

O Taoismo ensina que tudo é feito de Qi e o Qi permeia tudo, fluindo em correntes energéticas por entre todas as coisas e fazendo as ações visíveis do Universo ocorrerem. “Somos todos um” não é apenas um bordão new age, mas uma verdade universal.

Obi-Wan Kenobi inicia o treinamento de Luke explicando o que é a Força e como funciona. Em seguida ele o adestra no manejo do sabre de luz, com técnicas muito similares à espada Samurai. Luke é levado a não confiar no que vê, mas no que sente. Esse tipo de colocação é semelhante à dos orientais. Para eles quem deve manipular a espada é o espírito, não a mente, através do estado mental de quietude (zanchin). Na seqüência final de Guerra nas Estrelas, Luke deixa a tecnologia de lado e usa a sua percepção desenvolvida para disparar os torpedos que destroem a Estrela da Morte. O Taoismo coloca que a arma se integre com o portador, tornando-se um só. Nas artes marciais taoistas o fluxo de Qi sobe pelo braço e não para na mão, prosseguindo até tomar conta da arma toda. Existe uma unicidade energética entre arma e guerreiro, que flui pelo Qi do universo. Você não luta com uma arma, mas com o Qi e, portanto, com o universo todo.

Quando Luke inicia seu treinamento com Yoda, este se ressente da teimosia e impaciência de seu aluno e de sua idade, muito avançada para os padrões Jedi de treinamento. As artes marciais também pregam o treinamento precoce como forma de desenvolver o verdadeiro guerreiro. E qual faixa branca não é descrente, impaciente e teimoso? Em meio a corridas com obstáculos, Yoda leva seu jovem aluno a uma determinada parte da floresta. Ali ele é deixado para que enfrente seus medos e temores, que assumem a forma de seu oponente, Darth Vader. Esse tipo de confronto mental é largamente utilizado pelos tibetanos no treinamento de seus discípulos e pelos japoneses do budismo esotérico Shingon, que denominam essa técnica de combates mentais como Dojutsu-Sempo. O medo, para os taoistas, é manifestação do desconhecimento. Só tememos o que não conhecemos, e ele está ligado ao sistema do Rim, que é sede da Essência (Jing). Então o medo não é apenas um problema em si, mas afeta todo o sistema energético humano. Esse desequilíbrio pode levar a um afastamento do Tao, neste caso, um mergulho no Lado Negro da Força.

O Taoismo também apregoa a existência de duas polaridades complementares: o Yin e o Yang. Para os Jedi também a força possui dois lados: o claro e o escuro. Embora tenhamos propensão a considerar o lado escuro como o mal, devemos nos lembrar que isto depende de um referencial e não pode ser considerado como uma verdade absoluta. Na realidade todos nós temos ambos os lados em nosso próprio íntimo. Isso é colocado de maneira muito clara na saga de Guerra nas Estrelas: qualquer um, a qualquer momento, pode se voltar para o Lado Negro da Força. Segundo Yoda, o Lado Negro é mais fácil, por isso mais atrativo. Realmente, na vida real podemos observar que fazer as coisas de forma considerada não-correta pela sociedade não é tão difícil quanto seguir as regras. Roubar é mais fácil do que trabalhar. Enganar é mais fácil do que fazer um trabalho sério. Esse é o grande atrativo do Lado Negro (que está cada vez mais seguido, hoje em dia…). Mas da mesma forma como é fácil cair no Lado Negro, o retorno ao Lado Claro é muito penoso. Em O Retorno de Jedi, Luke consegue finalmente trazer seu pai, Anakin Skywalker, de volta para o Lado Claro apelando para os bons sentimentos que ele ainda guarda dentro de si. Dessa forma, ele deixa de ser Darth Vader e volta a ser Anakin, o Jedi. Isso é mostrado no final do filme, quando aparecem Obi-Wan, Yoda e Anakin em forma astral. Ele finalmente conseguiu seu lugar ao lado dos Jedi.

Dentro do Taoismo, o mal existe como um afastamento do Tao. Isso está bem claro no Tao Te Ching:
Por isso, à perda do Caminho segue-se então a Virtude
À perda da Virtude segue-se então a Bondade
À perda da Bondade segue-se então a Justiça
À perda da Justiça segue-se então a Polidez
Assim a Polidez é o empobrecimento da fidelidade e da confiança

É o princípio da confusão
Daodejing, Cap 38
Perceba que ao afastamento do Caminho (Tao) segue-se uma contínua regressão moral. A Virtude, a Bondade e a Justiça nada mais são do que recursos utilizados para tentar compensar a perda do contato com o Absoluto. Essa passagem poderia ser mais claramente compreendida dessa forma: ao afastamento do Tao segue-se a Virtude; quando a Virtude não é suficiente, é necessário se apoiar na Bondade; quando a Bondade não é suficiente, é necessário prescrever leis e criar a Justiça; quando a Justiça e as leis não são suficientes e nem respeitadas, é necessário ao menos se apoiar na Polidez, uma polidez superficial que mesmo assim não é suficiente para manter alto o padrão moral humano. Quando a pessoa tem que se apoiar na superficialidade da Polidez, se instaura a “confusão”, ou seja, o caos na vida da pessoa, que passa a viver de aparências e sem o apoio de suas virtudes maiores.
O mergulho no Lado Negro da Força é um caminho que se profunda facilmente e do qual é muito difícil regressar.
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Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br

#StarWars #Tao #taoísmo

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