Quando Israel era menino, parte 1

Texto de Mircea Eliade em “História das crenças e das ideias religiosas, vol. I” (Ed. Zahar) – trechos das pgs. 162 a 165. Tradução de Roberto Cortes de Lacerda. Algumas das notas ao final são minhas.

A religião de Israel é acima de tudo a religião do Livro. Esse corpo de escrituras é constituído de textos de idade e orientação diversas, que representam, por certo, tradições orais bastante antigas, mas reinterpretadas, corrigidas, redigidas durante vários séculos e em diferentes meios [1]. Os autores modernos começam a história da religião de Israel por Abraão. Na verdade, segundo a tradição, ele é o escolhido de Deus para se tornar o ancestral do povo de Israel e tomar posse de Canaã. Mas os 11 primeiros capítulos do Gênese relatam os acontecimentos fabulosos que precederam a eleição de Abraão, desde a Criação até o dilúvio e a Torre de Babel. A redação desses capítulos é, como se sabe, mais recente que muitos outros textos do Pentateuco. Por outro lado, alguns autores – e dos mais notáveis – afirmaram que a cosmogonia e os mitos de origem (Criação do homem, origem da morte, etc.) desempenharam papel secundário na consciência religiosa de Israel. Em suma, os hebreus interessavam-se mais pela “história santa”, isto é, pelas suas relações com Deus, que pela história das origens.

[…] Isso pode ser verdadeiro a partir de determinada época e, sobretudo, para certa elite religiosa [2]. Mas não há razão para concluir que os antepassados dos israelitas fossem indiferentes às questões que apaixonavam todas as sociedades arcaicas. […] Ainda em nossos dias, depois de 2.500 anos de “reformas”, os acontecimentos referidos nos primeiros capítulos do Gênese continuam a alimentar a imaginação e o pensamento religioso dos herdeiros de Abraão.

Na abertura do Gênese, temos este passo célebre: “No princípio, Deus (Elohim) criou o Céu e a Terra. Ora, a Terra estava vazia e vaga, as trevas cobriam o abismo, e um vento de Deus pairava sobre as águas” (I:1-2) [3]. A imagem do oceano primordial sobre o qual paira um deus criador é muito arcaica [4]. Entretanto, o tema do deus sobrevoando o abismo aquático não é atestado na cosmogonia mesopotâmica, ainda que o mito relatado no Enuma elish fosse provavelmente familiar ao autor do texto bíblico. (De fato, o oceano primordial é designado, em hebraico, tehôm, termo etimologicamente solidário do babilônico tiamat [5]). A Criação propriamente dita, ou seja, a organização do “caos”, é efetuada pelo poder da palavra de Deus. Ele diz: “Haja luz”, e houve luz (I:3). E as etapas sucessivas da Criação são sempre realizadas pela palavra divina. O “caos” aquático não é personificado (cf. tiamat) e, por conseguinte, não é “vencido” num combate cosmogônico.

[…] O mundo é “bom” e o homem é uma imago dei; ele habita, tal como seu Criador e modelo, o paraíso. Entretanto, como o Gênese não tarda a salientar, a vida é penosa, apesar de ter sido abençoada por Deus, e os homens já não habitam o paraíso. Mas tudo isso é o resultado de uma série de erros e pecados dos antepassados. Foram eles que modificaram a condição humana. Deus não tem responsabilidade alguma nessa deterioração de sua obra-prima. Assim como para o pensamento indiano pós-upanixádico, o homem, mas exatamente a espécie humana, é o resultado de seus próprios atos [6].

O outro relato, javista [ver nota 1], é mais antigo e difere claramente do texto sacerdotal que acabamos de resumir. Já não se trata da Criação do Céu e da Terra, mas de um deserto que Deus (Javé) tornou fértil por meio de uma onda que subia do solo. Javé modelou o homem (âdâm) com a argila do solo e animou-o insuflando “em suas narinas um hálito de vida”. Pois Javé “plantou um jardim em Éden”, fez brotar todas as espécies de “árvores boas” e instalou o homem no jardim “para o cultivar e o guardar” [7]. Em seguida, Javé deu forma aos animais e às aves, levou-os a Adão e este lhes deu nomes. Finalmente, depois de tê-lo adormecido, Javé tirou uma de suas costelas e formou uma mulher, que recebeu o nome de Eva (em hebraico hawwâh, vocabulário etimologicamente solidário do termo que significa “vida”).

Os exegetas observaram que o relato javista, mais simples, não opõe o “caos” aquático ao mundo das “formas”, mas deserto e seca a vida e vegetação. Parece plausível que esse mito de origem tenha nascido numa zona desértica. Quanto à formação do primeiro homem com argila, o tema era conhecido na Suméria. Mitos análogos são atestados quase no mundo inteiro, desde o antigo Egito até as populações “primitivas”. A ideia básica parece a mesma: o homem formou-se de uma matéria-prima (terra, madeira, osso) e foi animado pelo hálito do Criador. Em muitos casos, tem a forma de seu autor. Em outras palavras, mediante sua “forma” e sua “vida”, o homem comparte, de algum modo, a condição do Criador. Só o seu corpo é que pertence à “matéria” [8].

A formação da mulher a partir de uma costela retirada de Adão pode ser interpretada como indicadora da androginia do homem primordial. Concepções similares são atestadas em outras tradições. […] O mito do andrógino ilustra uma crença bastante difundida: a perfeição humana, identificada no antepassado mítico, encerra uma unidade que é simultaneamente uma totalidade. […] É de salientar que a androginia humana tem por modelo a bissexualidade divina, concepção compartilhada por muitas culturas [9].

» Em seguida encerraremos com Caim, Abel, cultivadores e pastores…

***

[1] Nota do autor: […] As fontes dos cinco primeiros livros da tôrâh (Pentateuco) foram designadas pelos termos: javista, porque essa fonte, a mais antiga (séc. X ou IX a.C.), chama a Deus por Javé; eloísta (ligeiramente mais recente: utiliza o nome Elohim); e deuteronômica (quase que exclusiva do Deuteronômio).

[2] Não foi à toa, penso eu, que os primeiros livros da tôrâh eram conhecidos como “os livros da lei”. Eis o que nos diz Alan Dershowitz, professor de direito de Harvard, sobre o Gênese: “É sobre o mundo antes de haver lei. É sobre um Deus em aprendizagem, lutando para ser justo, sem regras (antecedentes). Deus não teve problemas em criar um universo físico, só precisou de seis dias. Ele teve mais dificuldade quando chegou à parte da justiça… O Gênese é sobre isso, sobre tentar fazer as coisas direito, com justiça”. Ou seja: a preocupação de uma suposta elite religiosa com a história somente a partir de Abraão, em detrimento dos mitos de criação, talvez se explique pelo fato de ser exatamente esta elite de legisladores quem debatia e elaborava as leis hebraicas.

[3] Somente este trecho traz inúmeros questionamentos. Por exemplo, o “vento de Deus” poderia ser traduzido (como normalmente o é, nas traduções modernas) como “espírito de Deus”. Ocorre que a palavra que se refere a “Deus” é usada duas vezes: Elohim seria tanto “Deus” quanto o “espírito de Deus”. No entanto, a palavra Elohim pode ser vista tanto no singular quanto no plural, quando normalmente se refere a “deuses” (por exemplo, em XXXV:2). Dessa forma, nada nos impediria de considerar uma tradução como: “No princípio, Deus criou o Céu e a Terra (…) as trevas cobriam o abismo, e os deuses pairavam sobre as águas”. Este tipo de interpretação indica que Deus já havia “tido filhos”, ou irradiado “outras criaturas” de si mesmo, ainda no princípio.

Mesmo aqui, ainda podemos alinhar a possível origem etimológica de “Elohim” ao deus “El”, o “pai dos deuses” das religiões e mitologia dos primeiros semitas a se estabelecerem em Canaã, pouco antes de 3 mil a.C. Até 1929, as informações sobre tais mitos eram fornecidas pelo Antigo Testamento e alguns escritores gregos. Ocorre que o AT trabalha exatamente para a “demonização” dos deuses pagãos, e deve ser visto com certa desconfiança neste contexto.

Mas felizmente, em 1929, uma grande quantidade de textos mitológicos foi descoberta em escavações em Ras Shamra, a antiga Ugarit, cidade portuária da costa Síria, que pode ter sido fundada ainda em 6 mil a.C. Embora a religião de Ugarit nunca tenha sido a religião de toda Canaã, é lá que se ouve falar, pela primeira vez, de El, o “pai dos deuses”, e de Baal, “o Senhor da Terra, que castra o pai e toma seu lugar como administrador do mundo”. Em XXXIII:20 ficamos sabendo que um dos nomes de Deus é exatamente “El”.

[4] Nota do autor: Em numerosas tradições, o Criador é imaginado sob a forma de um pássaro. Mas trata-se de um “endurecimento” do símbolo original: o espírito divino transcende a massa aquática, é livre para mover-se; portanto, “voa” como um pássaro.

[5] Ou seja, tanto o oceano primordial quanto a “serpente-dragão” (tiamat) representariam o caos. Coube a um “herói” mitológico, ou ao próprio Deus, “matar a serpente e a separar em dois”, ou separar os Céus da Terra, e criar todas as coisas a partir de um oceano disforme, um “caos primordial”.

Para outros temas “serpentuosos”, recomento lerem o artigo Serpentes.

[6] Segundo os upanixades, entretanto, a “culpa” não recai sobre o “pecado original” de um antepassado, mas é fruto dos erros dos próprios homens, quando em vidas passadas.

[7] O mito javista é ainda mais próximo do mito de criação do povo Bassari, da África Ocidental: “Unumbotte (Deus) fez um ser humano e seu nome era Homem, e depois fez muitos outros seres (Mulher, Serpente, Antílope, etc.). Então, deu-lhes sementes de todos os tipos e lhes disse: ‘Plantem todas essas sementes’…” – E nele também há o “fruto proibido” que, uma vez comido, faz com que Homem e Mulher sejam “expulsos do jardim”. Aqui também encontrarão maiores detalhes no artigo Serpentes.

[8] Dessa forma, as concepções de vida após a morte através da ressurreição de um “corpo incorruptível” não são somente uma abominação (ao menos em relação à quase totalidade da mitologia antiga), como um “ponto de vista” extremamente materialista em relação à espiritualidade em geral.

[9] Nota do autor: A bissexualidade divina é uma das múltiplas fórmulas da “unidade/totalidade” representada pela união dos pares de opostos: feminino/masculino, visível/invisível, Céu/Terra, luz/escuridão, mas também bondade/maldade, criação/destruição, etc. A meditação sobre esses pares de opostos levou, em diversas religiões, a conclusões audaciosas referentes tanto a condição paradoxal da divindade quanto à revalorização da condição humana.
Meu complemento: Isto tudo tem muito a ver com hermetismo, Parmênides, estoicismo, Plotino e Espinosa. Mas, saindo do conceito de “Uno” e focando apenas nas “dualidades” (particularmente: essência/forma, permanência/impermanência, eternidade/tempo, etc.), chegaremos nas grandes religiões orientais – taoismo, budismo, e algumas interpretações do hinduísmo.

***

Crédito da foto: Damon Lynch

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#história #MirceaEliade #Mitologia #Religião

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/quando-israel-era-menino-parte-1

A roda dos deuses (parte 1)

Há uma lenda bastante difundida entre as religiões ocidentais que afirma, basicamente, que o monoteísmo, a “descoberta” do Deus Único, foi uma concepção originária do judaísmo. Segundo esta lenda, existem no mundo algumas poucas religiões monoteístas, derivadas da crença hebraica, e outras tantas que creem na existência de vários deuses de origem paralela – o chamado politeísmo.

A verdade, no entanto, pode ser mais profunda… Joseph Campbell foi um estudioso de mitos e religiões em todo o globo, e em O poder do mito ele deixa muito claro o que acredita ser a principal diferença entre as grandes religiões ocidentais, e as orientais: Enquanto a oeste do canal de Suez, a maioria das pessoas identifica Deus com a fonte da Alma do Mundo, a leste de Suez, a associação que se faz é a da divindade como o veículo desta energia transcendente.

Por isso as religiões ocidentais tendem a identificar a Deus como um Grande Senhor que, sabe-se lá de onde, mantém a fonte da vida em constante afluência, enquanto que as religiões orientais tendem a ver esta divindade por toda a volta – ela seria o próprio fluido em movimento, a habitar a essência de todos os seres e de todas as coisas.

O curioso é que ambas as visões são complementares, e parecem ser apenas formas diferentes de se observar este grande mistério: “porque existe algo, e não nada?” Para resolver tal questão ancestral, a mente humana tem se aventurado a observar os recônditos mais distantes do Cosmos, e a mergulhar cada vez mais profundamente dentro de si mesma… Este grande conjunto de dualidades, de opostos, emanados de uma única fonte, mas que preenchem a tudo o que há, é precisamente isto a roda dos deuses. Reflitamos:

O Uno

Conta-nos o estudioso de mitologia e religiões, Mircea Eliade [1], que os poetas criadores do Rig Veda hindu já se questionavam, provavelmente muito tempo antes dos hebreus, acerca do problema do ser, ou do incrível fato de, afinal, algo existir: “O Uno respirava por impulso próprio, sem que houvesse inspiração ou expiração (…) Afora isso, nada mais existia”. Depois, segundo eles, através de um ato de desejo e vontade, a “semente primeira” dividiu-se em “alto” e em “baixo”, num princípio masculino e noutro feminino, e depois irradiou ou emanou de si mesma, como um pensamento, tudo o que há.

Desta forma, os milhares de deuses hindus são, eles mesmos, uma “criação secundária”. Daí nasce o grande questionamento de um desses poetas hindus anônimos e ancestrais: “Será que aquele que zela por este (mundo) no lugar mais alto do firmamento é o único a saber (da origem da “criação secundária”) – ou nem mesmo ele sabe?”.

Se é verdade que nem todas as interpretações dos Vedas chegaram a tal profundidade, não é verdade que nenhum sábio hindu tenha chegado a conclusões muito próximas dos hebreus – tudo o que há haveria de ter sido criado ou irradiado de uma só fonte, de um só Deus. Dessa forma, a ideia básica do monoteísmo está longe de ser uma criação do judaísmo, ou pelo menos, apenas do judaísmo.

Esta mesma conclusão está presente no Antigo Egito (particularmente no hermetismo), na filosofia de Parmênides (e alguns filósofos pré-socráticos que não a desenvolveram com a mesma profundidade), no estoicismo, no pensamento de Plotino e, mais recentemente, na monumental obra de Espinosa, a Ética.

Mas, e seria este Uno um ser pessoal, ou alguma espécie de energia inefável, de força ou lei oculta da Natureza? Disto não podemos saber, apenas apostar… Mas, ainda que apostemos na hipótese da energia inefável, ainda aqui teremos sido precedidos por Lao Tsé em muitos séculos: “O Caminho é vazio e inesgotável, profundo como um abismo. Não sei de quem possa ser filho, pois parece ser anterior ao Soberano do Céu” (Tao Te Ching, verso 4).

A Deusa Mãe

A adoração do aspecto feminino, fértil e vivificador da divindade data da pré-história (o que pode ser comprovado pelas inúmeras estatuetas de uma “grande mãe” encontradas pelos arqueólogos em vários pontos do mundo).

Quase 3 mil anos antes de Cristo, na grandiosa cidade de Uruk, na Suméria, o templo de Ishtar dominava a civilização da primeira grande cidade. Ishtar, entretanto, era apenas mais um nome dado a Grande Deusa, que era adorada então por muitas outras culturas na Terra. Nada se comparava ao poder da mulher. Toda a vida provinha dela e sem seu alimento nenhuma vida sobreviveria. A Mãe era a vida. A Terra era a Mãe. Deus era Mulher. O matriarcado dominou grande parte do período em que se cultuou a Deusa Mãe.

Certamente o advento da agricultura contribuiu ainda mais para que o mistério do nascimento ocupasse um ponto central das religiões antigas. A Terra era associada ao ventre e, como os vegetais, os homens nasciam do solo, e voltavam ao solo durante a morte. Provavelmente tais mitos tenham sido a fonte primária dos mitos de criação do homem a partir do solo, presentes não somente na mitologia hebraica como em alguns mitos africanos bastante similares.

Mas com o tempo, e o advento das primeiras cidades (com estoques de grãos), dos saqueadores de cidades, e dos exércitos que guardavam as cidades dos saqueadores, o mundo tornou-se mais bruto e violento, e o matriarcado foi sendo suprimido pelo patriarcado. A Deusa Mãe saía de cena…

O “deus do pai”

Ainda nos conta Mircea Eliade que a religião dos patriarcas hebreus, já desde Abraão, era muito próxima ao culto dos antepassados, prática comum tanto do paganismo como de doutrinas orientais, como o budismo e o xintoísmo. O “deus do pai” é primitivamente o deus do antepassado imediato, que os filhos reconhecem. É um deus dos nômades e pastores, que não está ligado a santuários fixos, mas acompanha e protege um grupo de homens. Ele “se compromete diante de seus fiéis por meio de promessas” – o que fica muito claro nas barganhas relatadas no Antigo Testamento (“faça isto por mim, que farei isto por você”) [2].

Mas ao penetrarem em Canaã, os patriarcas são confrontados com o culto do deus El (o Deus Criador nas culturas suméria e babilônica), e o “deus do pai” acaba por lhe ser identificado [3]. Dessa forma, obtém a dimensão cósmica que não podia ter como uma divindade de famílias e clãs.

O “deus do pai”, o deus dos patriarcas hebreus, torna-se o Deus Criador e, dessa forma, é também associado ao Uno, ao “único Deus”. Mas isto não foi “a origem do monoteísmo”, como dizem as lendas, mas tão somente um dentre muitos sincretismos religiosos similares, que ocorreram não somente em Canaã, como em diversas outras partes do mundo…

» Em seguida, a roda continua a girar com as entidades divinas e os avatares…

***

[1] Alguns dos trechos de livros sagrados nesta série de artigos foram retirados de seu livro, História das crenças e das ideias religiosas, vol I (Zahar).

[2] As barganhas religiosas, onde “se cobra a Deus por sua parte do trato”, existem até os dias de hoje. É surpreendente que certas igrejas, que teoricamente são protestantes, ainda hoje colaborem para esta prática de uma espiritualidade tão superficial.

[3] É por isso que o Deus hebreu ora é chamado de Javé, ora de Elohim. Javé seria o “deus do pai”, e Elohim seria sua associação a El.

Crédito da foto: Frederic Soltan/Corbis (O Templo do Sol de Konark, Orissa/Índia)

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#Hinduismo #Religiões #Mitologia #Judaismo #MirceaEliade #Paganismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-roda-dos-deuses-parte-1

A roda dos deuses (parte final)

« continuando da parte 1

Nós vinhamos falando do Uno, da Deusa Mãe e do “deus do pai”, e agora prosseguimos nesta roda ancestral…

Entidades divinas

Schiller talvez tenha nos presenteado com a melhor síntese do que seriam, afinal, os deuses de outrora, citando a mitologia grega:

“Naqueles dias do belo acordar das forças espirituais, os sentidos e o espírito não tinham, com rigor, domínios separados. […] Por mais alto que a razão subisse, arrastava sempre consigo, amorosa, a matéria, e por finas e nítidas que fossem as suas distinções, nada ela mutilava. Embora decompusesse a natureza humana para projetá-la, aumentada em suas partes, no maravilhoso círculo dos deuses, não o fazia rasgando-a em pedaços, mas sim compondo-a de maneiras diversas, já que em deus algum faltava a humanidade inteira. Quão outra é a situação entre nós mais novos. […] Eternamente acorrentado a uma pequena partícula do todo, o homem só pode formar-se enquanto partícula.” [1]

Todas as entidades divinas, como os deuses gregos, são mitos associados a aspectos da Natureza; o que certamente incluí a nossa natureza – a natureza humana. É óbvio que não existe, na natureza terrestre pelo menos, um homem que mora acima das nuvens e de vez em quando desce a Grécia para seduzir e copular com belas mulheres desavisadas; mas, por outro lado, a iconografia de Zeus é toda ela um imenso conjunto de símbolos, símbolos estes que existem e sempre existirão, ao menos enquanto existirem mentes com vontade de pensar sobre eles.

Os símbolos nada mais são do que imensas quantidades de informação reduzidas a uma única imagem ou história fantástica ou ícone que funcionam como uma chave mental para o acesso dessas informações e sensações, desde que a pessoa saiba, em seu pensamento, como usar esta chave de uma forma consciente. Você pode perfeitamente substituir a imagem (o símbolo) de Zeus por uma série de palavras (formadas por conjuntos de símbolos – as letras do alfabeto) a formar uma extensa lista: nobreza, inteligência, sabedoria, espiritualidade, sedução, magia, fúria, excitação, ciúmes, vingança, etc. É claro que, dependendo da interpretação de cada pessoa, e de cada tradição folclórica, essa lista pode variar imensamente, mas não absolutamente. Zeus é um conjunto de símbolos, ele serve para que acessemos tais ideias em nosso pensamento, sentimento e intuição, de forma simplificada e cada vez mais potente (o hábito faz o monge).

O grande problema do “uso dos mitos” é quando os entendemos como seres literais (e não metáforas), dispostos a barganhar conosco em troca de “favores espirituais”, “boa sorte”, “boa saúde”, etc. Isso é um problema porque, exatamente, a grande vantagem dos mitos é poder ativar a nossa vontade para que nós mesmos busquemos tais objetivos, que nós mesmos nos tornemos heróis a vivenciar a grande aventura da vida, que nós mesmos nos tornemos, enfim, deuses (“sois deuses, farão tudo o que faço e ainda muito mais” – disse o grande rabi da Galileia [2]).

Ainda em O poder do mito, Joseph Campbell nos ajuda a entender melhor a questão: “Todos os símbolos da mitologia se referem a você. Você renasceu? Você morreu para a sua natureza animal e voltou à vida como uma encarnação humana? Na sua mais profunda identidade, você é Deus. Você é um com o ser transcendental”…

Dizem os Upanixades hindus que “aquele que sabe que também é parte de Deus se torna, em sua Criação, um criador”. É claro que ninguém imagina que possa criar outros universos por aí, apenas pensando sobre eles, nem muito menos que é onipotente neste universo (ou ao menos, ninguém que manteve certa sanidade em sua crença); por outro lado, todo aquele que reconhece a fagulha divina dentro de si, pode potencialmente, como Cristo, tornar-se “um com o Uno”. Neste sentido, todos os mitos, todos os deuses, são apenas “atalhos no caminho”, símbolos que podem nos auxiliar em nossa religação ao Uno.

Para finalizar o assunto, é sempre proveitoso consultarmos a sabedoria de Alan Moore: “Na Cabala há uma grande variedade de deuses, mas acima da escala, da Árvore da Vida, há uma esfera que é o Deus Absoluto, a Mônada. Algo que é indivisível, você sabe. E todos os outros deuses, e, de fato, tudo mais no universo é um tipo de emanação daquele Deus. E isto está bem. Mas, quando você sugere que lá está somente esse único Deus, a uma altura inalcançável acima da humanidade, e que não há nada no meio, você está limitando e simplificando o assunto. Eu tendo a pensar o paganismo como um tipo de alfabeto, de linguagem. É como se todos os deuses fossem letras dessa linguagem. Elas expressam nuances, sombras de uma espécie de significado ou certa sutileza de ideias, enquanto o monoteísmo é só uma vogal, onde tudo está reduzido a uma simples nota, e que quem a emite nem sequer a entende.” [3]

Avatares e heróis

Um avatar (do sânscrito, aval) é “aquele que descende de Deus”. Ora, se formos considerar o que falamos até aqui, isto não será nenhuma novidade – todos nós descendemos de Deus, assim como todas as coisas descendem de Deus. Um avatar, entretanto, geralmente é também um ser mitológico, um herói ancestral dos antigos contos falados nas fogueiras das primeiras tribos, uma prática que se estendeu por todas as civilizações humanas.

Joseph Campbell também nos falou algo interessante sobre essas jornadas heroicas da mitologia antiga: “O reino de Deus está dentro de nós e, não obstante, também está fora de nós; Deus, todavia, não é senão um meio conveniente de despertar a bela adormecida, a alma. A vida é o seu sono; a morte, o despertar [4]. O herói, aquele que desperta a própria alma, não é mais do que o meio conveniente de sua própria dissolução. Deus, aquele que desperta a alma, é, nesse sentido, sua própria morte imediata.

Provavelmente o símbolo mais eloquente possível deste mistério seja o do deus crucificado, o deus oferecido “ele mesmo a si mesmo”. Entendido numa das direções, o sentido é a passagem do herói fenomênico para a supraconsciência: o corpo, com os cinco sentidos, fica pendendo da cruz do conhecimento da vida e da morte. […] Mas é igualmente verdadeiro que Deus desceu voluntariamente e colocou sobre si mesmo a carga de sua agonia fenomênica. Deus assume a vida do homem, que liberta o Deus que se acha em seu interior no ponto médio do cruzamento das hastes da mesma “coincidência de opostos”, a mesma porta do sol pela qual Deus desce e o homem sobe – Deus e o homem se alimentam mutuamente [5].”

Ora, se os xamãs da pré-história dedicaram-se com tanto sacrifício a realizar pinturas nas cavernas mais inacessíveis, eles de fato tinham uma boa razão: as experiências espirituais eram parte central de sua vida, de nossas primeiras tentativas de tatear a Natureza inefável. Seja caçando bisões ou imensos dragões, as jornadas dos heróis de outrora também diziam respeito a nossa própria jornada, a conquista de uma vontade devidamente conectada ao Cosmos, e não mais aos desejos desenfreados dos monstros subconscientes. Sim, pois aqui a mitologia e a psicologia se confundem, e fica muito claro, ao menos para quem tem olhos para ver, que a roda dos deuses tem girado, sobretudo, dentro da mente humana – esta grande desconhecida!

Conforme o Buda meditando ao lado de uma árvore, ou Jesus sendo tentado em pleno deserto, buscando despertar o Cristo que jazia em seu interior: todas essas histórias são símbolos transmitidos pelos sábios ancestrais, e ainda que não tenham transcorrido exatamente da forma como foram contadas, elas vem sendo incansavelmente reencenadas em seu palco mais primordial – a consciência humana. A questão, portanto, não é se os deuses e os avatares existem ou não, mas a experiência que provocam em nós. A experiência mística, religiosa, a reconexão ao sagrado, a vivência do amor: disto, todo verdadeiro religioso sempre teve convicção, e não precisou de experimentos comprovando aquilo tudo de que sabem lá dentro de suas almas.

O sagrado

Conforme o disco de Newton a girar, todos os pensamentos, mitos e histórias sagradas se revelam, em sua essência mais profunda, não como uma gama de deuses separados e rivais, mas como pontos de vista e reflexões de um só Deus, Uno.

Então chegamos ao primeiro paradoxo a ser reconciliado: o Uno não tem, nem nalgum dia teve, nem poderá um dia ter um oposto – pois o nada não existe. Da posse desta reconciliação, desta compreensão que em realidade não pode ser descrita por palavras ou linguagem, alcançaremos à experiência de reconhecer ao sagrado derramado sobre tudo o que há…

E poderemos, quem sabe, compreender que todos os outros opostos também vieram da mesma fonte, e todos os monstros e dragões em realidade nada mais eram do que atores deste teatro da alma. Uma vez compreendidos, reconciliados, também poderão ser nossos amigos – o lobo terá sido adestrado pelo amor.

Há essa ponte entre duas terras:
A terra onde tudo está separado em pequenas caixas, como segredos hermeticamente fechados;
E a terra onde tudo jaz junto, unido, conectado…

O amor é a ponte
O amor é uma fonte
Deus está a aguardar na outra margem
Deus não está a aguardar na outra margem
Deus é uma experiência

(Onde vivem os deuses, raph)

***

[1] Trecho de Cartas sobre a educação estética da humanidade (carta VI).

[2] João 10:34; João 14:12 (Novo Testamento). Compare-se com as frases gravadas nas pequenas tábuas de ouro utilizadas pelos antigos praticantes do orfismo: “Também eu sou da raça dos deuses”.

[3] Trecho de sua entrevista para o documentário The mindscape of Alan Moore.

[4] Este tipo de “morte espiritual” é antes um símbolo do renascimento, do despertar da alma, ainda nesta vida.

[5] Trecho de seu livro, O herói de mil faces.

Crédito das imagens: [topo] Google Image Search (busto de Zeus); [ao longo] Agni Comics (quadrinhos com deuses do hinduísmo)

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#Cristianismo #hermetismo #Mitologia #JosephCampbell #Budismo #AlanMoore

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-roda-dos-deuses-parte-final

Cursos Avançados – 72 Nomes de Deus e Goécia

Anjos-cabalisticos

Agora com os cursos básicos gravados em EAD, estou utilizando os poucos finais de semana disponíveis para ministrar os Cursos Intermediários e Avançados. Em Agosto, ministrarei dois cursos muito importantes para o estudioso de hermetismo: Shemhamphorash, os 72 Anjos Cabalísticos, e Goécia, os 72 Demônios Cabalísticos. Estes dois cursos complementares estudam as nuances e desdobramentos dos doze signos do Zodíaco dentro da Árvore da Vida, cujas Imagens Telesmáticas são utilizadas em diversos rituais de autoconhecimento. Os dois cursos possuem pré-requisitos de Kabbalah e Astrologia Hermética e pede-se para os alunos trazerem seus Mapas Natais para utilização durante o curso.

Dias 01 e 02 de Agosto, das 10h as 18h na Vila Mariana

informações: marcelo@daemon.com.br

Para quem está começando seus estudos agora, recomendo fazer os seguintes cursos, nesta ordem:

– Kabbalah Hermética

– Astrologia Hermética

– Tarot – Arcanos Maiores

– Geomancia

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/cursos-avan%C3%A7ados-72-nomes-de-deus-e-go%C3%A9cia

O Bem e o Mal

Geralmente, glorifica-se e valoriza-se pessoas que são “boazinhas”, enquanto as pessoas que são “ruins” ou, em outras palavras, rebeldes, desordeiras, agitadas, são denegridas, segregadas ou isoladas do restante da sociedade.

Acho muito importante a ação dessas pessoas ditas “ruins”.

Muitas vezes ouve-se dizer que, se Deus existisse, não deixaria o Mal existir.

Acontece que Deus é, em última instância, Tudo. Se Ele(a) é Tudo, então, é ao mesmo tempo o Bem e o Mal.

Parece bastante estranho esse conceito porque não estamos acostumados a ver essa Entidade, se é que podemos chamá-la assim, como sendo ambivalente, ou bipolar. Parece presunção afirmar algo sobre Sua Natureza, mas podemos chegar a certas premissas, como já foi explicado no Hermetismo – Ele(a) é o Todo.

O Bem é muito conhecido pelas suas propriedades Criadoras e Mantenedoras/Amparadoras. Tudo aquilo que Cria, que Une, que provê, que dá suporte, que Gera, é visto com bons olhos, sendo geralmente classificado como “do Bem”.

O Mal é associado a tudo aquilo ligado à destruição, à doença, à tristeza, à pobreza, à miséria, aos vícios, à morte. Ou seja, seria o exato oposto daquilo que é representado pelo Bem.

Creio que a maioria já ouviu falar da célebre frase, “A Luz não existiria se não houvesse a Escuridão”, e vice-versa. É um conceito bastante útil para o que estou tentando expor aqui.

O “Bem” e o “Mal”, do modo como estão sendo apresentados aqui são, por si próprios, forças divinas. Eles atuam igualmente, em todos os níveis e em todas as esferas, como agentes balanceadores e indicadores. Se só houvesse Criação, tudo estaria em excesso, desde os Reinos mais básicos até os mais complexos. Minerais, Vegetais, Animais. Montanhas imensas, rios e mares dominando e invadindo tudo. Sistemas Solares repletos de planetas chocando-se uns nos outros. Sóis e mais sóis, gerando energia demasiada, grandes tempestades cósmicas e SuperNovas ocorrendo a cada segundo. Em todos os níveis, uma superpopulação. Tudo acabaria soterrado, aglomerado, “entulhado”, por assim dizer, se não houvesse a ação controladora da Destruição.

A Destruição e a morte nada mais são do que formas de reciclagem. Como no texto anterior dos Ciclos Naturais, em que comentei sobre o símbolo cíclico do Ouroboros (a serpente devorando a própria cauda) a construção e a destruição são o início e o fim de um Ciclo de Existência de qualquer coisa. Quando algo é construído, utiliza-se diversas matérias-primas, organizando-a e dando forma à ela, e aglomerando cada vez mais diversificadas matérias-primas à obra. Quando a obra é completada, ela é destinada para a finalidade pela qual ela foi construída. Quando terminada sua missão, seu objetivo mais natural e proveitoso é de se reciclar, ou seja, de morrer, de ser destruído em seus componentes básicos iniciais, para que o Escultor possa Esculpir uma Nova Obra, que será utilizada para uma Nova Finalidade, que só Ele(a) sabe.

Há muitas outras bipolaridades que representam essas forças, como a saúde e a doença, a felicidade e a tristeza, a riqueza e a pobreza, entre muitas outras. Muitos sábios já disseram que o mundo em que vivemos é bipolar em sua essência, ou seja, está em todas as coisas, mas que ambos os lados dessas “moedas” existem por razões fundamentais. Tomemos a saúde e a doença, por exemplo. Como poderíamos saber se certos costumes contribuem para a manutenção da vida se não houvesse a balança da saúde/doença? Balanças são usadas para medir. Nem sempre é bom permanecer somente em um lado da balança, pois a tendência é esquecer da sua contraparte, ou de seu oposto. É sábio experimentar e verificar os resultados de nossas ações ao longo do tempo, para adquirirmos sabedoria dos fatos da vida. Ficar em um oásis de paz, felicidade e saúde o tempo todo não nos trará lições, nem nos motivará para conhecermos o que há além das dualidades e dos arquétipos.

Portanto, que conselhos poderiamos extrair de tudo isso? Arrisque-se. Tente. Faça. Vá. E tome nota de tudo o que sente, imagina, raciocina, intui e percebe com seus sentidos. Experimente tudo o que quiser. Traga Vida à própria Vida. Faça aquilo que você acha que não pode fazer. Dessa forma, você brilhará e saberá no seu íntimo o que é a vida, pois isso é algo que ninguém pode te dizer, é algo que tem de ser descoberto por si próprio. Moralidade é importante no que tange a vida em sociedade. Mas na vida individual, a liberdade, a coragem e a ação são os regentes para a verdadeira realização. Carpe Diem!

#Deus

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-bem-e-o-mal

‘A Prática da Evocação Mágica

Franz Bardon

Este é o segundo livro escrito por Franz Bardon. Em termos mágicos aqui ele oferece um guia prático para a comunicação com entidades elementais, espirituais e divinas. É possivelmente um dos mais completos estudos sobre evocação jamais escrito e uma das poucas maneiras de se contatar o que Bardon chamou de mestres universais.

Não apenas isso, mas o Guia de Evocação Mágica abre a porta para um fascinante universo espiritual e tudo aquilo que o adepto se preparou em sua jornada anterior na  Iniciação ao Hermetismo.

Índice

Preparações para a Evocação

O Processo da Evocação

As Entidades

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alta-magia/pratica-da-evocacao-magica/

Deus no Hermetismo, Maçonaria e Demolay

Estudar Deus segundo o hermetismo é como descobrir pontos que faltam para o nosso entendimento sobre o assunto.

Todos os seis Princípios Herméticos já citados ao longo dos textos são derivamos e se fundamentam no Primeiro Princípio, que é o “Princípio Mental”. Nesse Princípio é dada a chave para entendermos e interpretarmos “quem” e “o quê” é esse mistério que colocamos o nome de “Deus”.

O Hermetismo como uma ciência na área da filosofia tem o objetivo de descobrir o segredo de Deus, do Homem, da Natureza e do Universo. E a chave para essa descoberta é encontrada ao meditarmos sobre o Primeiro Princípio.

Aqui discutiremos Deus segundo o Hermetismo, a Maçonaria e a Ordem DeMolay.

PRINCÍPIO MENTAL – Deus no Hermetismo

O Primeiro Princípio Hermético afirma: “O Todo é MENTE; o Universo é Mental.”

Esse é o Princípio mais importante em toda sabedoria hermética. Vamos analisar cada palavra.

O “Todo” da primeira frase refere-se ao que chamamos “Deus”, que é infinito e indefinível ao nosso nível de comunicação. Ao afirmar que esse Todo é “MENTE”, significa que Deus é, na verdade, a grande mente universal. Porém para entendermos realmente o que isso significa, devemos combinar o entendimento da segunda frase.

Como dissemos, todos os Princípios Herméticos são derivamos do Primeiro, e devemos recorrer ao Princípio da Correspondência (“o que está em cima é igual ao que está em baixo”) para compreendermos o Primeiro Princípio.

O Todo (“Deus”) é “o que está em cima” e o “Universo” é “o que está em baixo”. Isso significa que tudo manifesto é um reflexo do imanifesto, significa que o Universo é o Todo manifestado. Dessa maneira podemos dizer que o Hermetismo afirma que: o Universo é o corpo físico de Deus.

Sendo o Universo um corpo que está vivo, por trás existe uma mente. Esse é o motivo da expressão que “O Todo é MENTE”. Sendo o universo Seu corpo e o Todo uma Mente, o Universo material no qual vivemos é uma existência dentro da Mente do Todo. Por isso afirmar também que o Universo é Mental.

A matéria e tudo que compõe nosso universo, é somente um estado de vibração dentro da Mente do Todo – vemos aqui o Princípio da Vibração.

O universo ser o corpo manifestado do Todo e tudo estar dentro de Sua mente, concede ao Todo a característica de Onipresença, Onisciência e Onipotência. Eis um exemplo pelo qual falamos também que o Hermetismo é a fundamentação do simbolismo religioso.

Resumindo… o Hermetismo afirma que Deus (O Todo) é imanifestado, é uma MENTE, e que o Universo manifestado em que vivemos é um estado da sua mente (o material).

A tradição cabalista afirma que nós fomos feitos a imagem e semelhança de Deus, e isso é fundamentado também por esse Princípio. O Todo é Deus, e o Universo é também o ser humano. Pelo Princípio da Correspondência, nós somos a imagem e semelhança do Todo, do Universo manifestado. Somos um microcosmo.

Esse Princípio também nos ensina sobre a existência de outros planos de existência, afinal o universo material que estamos é somente uma vibração existente dentro da Mente do Todo. Lembrem-se que “Na casa de meu Pai há muitas moradas”.

Para terminar devemos compreender somente mais uma coisa: motivo do Hermetismo existir.

Nós somos a manifestação e estamos dentro da Mente do Todo, portanto estudar o mundo e decifrar os segredos da existência através da Ciência, penetrar dentro da nossa mente e descobrir os segredos que habitam dentro de nós, é desvendar a Mente do Todo, é conhecer Deus, é conhecer como o Universo e nossa vida funciona e seu papel na existência. Por isso que o antigo Oráculo de Delfos afirmou: “Conhece a ti mesmo e conhecerá os segredos dos Deuses e do Universo”, e esse é o objetivo do Hermetismo e por isso temos dentro da Alquimia o VITRIOL.

GADU – Deus na Maçonaria

O conceito de Deus como Arquiteto e Geômetra é antigo, remonta do tempo da filosofia grega e foi empregado com muita ênfase na tradição Hermética Cristã na Idade Média.

Na Idade Média, a Maçonaria como uma Ordem de construtores inspirados na Geometria Sagrada que trabalhava para a Igreja Católica Apostólica Romana, teve como base o Hermetismo e a Alquimia de tradição helênica que eram amplamente difundidos nesse meio, absorvendo assim esse conceito de Deus como o Grande Arquiteto Do Universo que tudo criou geometricamente harmônico.

O conceito de Deus na Maçonaria é muito bem explicado por Isaac Newton: “A maravilhosa disposição e harmonia do universo só pode ter tido origem segundo o plano de um Ser que tudo sabe e tudo pode. Isso fica sendo a minha última e mais elevada descoberta”.

Essa é a visão de Deus como Arquiteto existente no estudo da Geometria Sagrada.

Portanto a visão de Deus dentro da Maçonaria é ampliada pela maneira que o Maçom tem a oportunidade de conhecer e penetrar na Mente de Deus: através principalmente das Sete Artes Liberais e do Conhecimento de Si mesmo.

Ainda teremos estudos dedicados a esses temas para aprofundarmos melhor.

PAI CELESTIAL – Deus na Ordem DeMolay

“Pai Celestial” é como chamamos Deus, o Todo, GADU, na Ordem DeMolay.

A expressão refere-se a um Deus existente no céu, ou seja, tudo que forma o Universo. Tanto é verdade que o Pai Celestial sendo o criador do Universo, nosso Ritual expressa que toda a humanidade é filho de um único Pai Universal.

Enquanto o nome de Deus na Maçonaria faz referência diretamente a Geometria, os fundadores da Ordem DeMolay fizeram uma direta referência Arte Liberal da Astronomia em Seu nome.

A ideia de Pai Celestial que temos na Ordem DeMolay nos faz ter a responsabilidade de reconhecer que todos os homens tem a mesma origem e cada um é parte de um Todo, assim somos todos Irmãos e nos dá a responsabilidade de sermos algo de positivo à sociedade e ter fraternidade com todos os homens e mulheres do mundo.

Esse é o Deus no Hermetismo, na Maçonaria e no DeMolay. O mesmo Deus que está em todas as culturas, porém com um nome simbólico diferente.

#Demolay #hermetismo #Maçonaria

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/deus-no-hermetismo-ma%C3%A7onaria-e-demolay