Curso em Brasília e Cursos no Carnaval

Este é um post sobre um Curso já ministrado!

Se você chegou até aqui procurando por Cursos de Hermetismo, Kabbalah, Astrologia ou Tarot, vá para nossa página de Cursos ou conheça nossos cursos básicos!

Cursos de Fevereiro/2009

21/02 – SP – Sábado – Kabbalah.

22/02 – SP – Domingo – Astrologia Hermética.

23/02 – SP – Segunda – Tarot (Arcanos Maiores).

24/02 – SP – Terça – Chakras, Kundalini e Magia Sexual.

Uma alternativa para o Ziriguidum dos infernos que toma conta desta República de Bananas. Os interessados escrevam pro marcelo@daemon.com.br

Mais sobre a experiência dos cursos na continuação…

Queria agradecer à galera da Pendragon, que conseguiu o local, e ao pessoal que se dispôs a passar 16 horas estudando sobre coisas que até então faziam parte das suas vidas, mas que parecem estar espalhadas e desconexas… até que tudo faz sentido! Normalmente o pessoal sai com o cérebro zunindo deste curso e demora alguns meses para digerir todas as informações.

Uma vez um aluno me perguntou quanto tempo demorava para aprender toda a Kabbalah. “Algumas vidas” – respondi.

Como tudo começou…

Estou curtindo ministrar esses cursos. Antigamente eles eram abertos apenas para membros da maçonaria ou rosacruz, porque eu não tinha a menor paciência para ensinar estas coisas no método que as pessoas vêem nas “Escolas Ezotéricas” (com Z mesmo, porque nem X de “Exotérica” esse povo está merecendo hoje em dia). Conheci um pessoal de um desses centros holísticos da vida e fiz uma experiência:

ministrei um curso de tarot.

Apareceram umas vinte tias, e o curso era dividido em três meses, uma aula por semana… “tem de ser mastigado, senão o pessoal não entende” – me disse a dona do local – “É mesmo?“.

Nem preciso dizer que as tias apareciam aula sim, aula não.. e davam a impressão que, se o curso fosse de culinária ao invés de tarot, daria na mesma. Para elas, era como se fosse um passatempo.

Como eu gosto das coisas bem feitas, mandei esse esquema à merda e parei de dar aulas para profanos. Dentro das Ordens Iniciáticas, o pessoal que vai fazer estes cursos já sabe o que quer e tem a disciplina e a vontade de aprender, mesmo que não saibam NADA sobre o assunto em questão.

E assim foi durante alguns anos, até que o Eightbits me convidou para escrever a coluna no S&H e o pessoal começou a insistir para abrir estes cursos para os leitores.

Fiz a experiência em Dezembro do ano passado e devo reconhecer que têm sido muito legal. Conheci um pessoal que realmente está a fim de estudar, ler, pesquisar e ir a fundo nestes assuntos. Tanto que boa parte deles acabou se iniciando em ordens filosóficas e iniciáticas e hoje já seguem com as próprias pernas. Fico muito feliz e honrado de poder ter sido a pessoa que abriu estas portas para vocês.

Agora em 2009, com o pessoal mais adiantado, podemos abrir turmas de 72 anjos da Kabbalah, Goécia, Geometria Sagrada, Florais, I-Ching, Runas e Gematria, pois seria impossível ter grupos de estudos pegando um pessoal novato.

Justamente por isso, pensei em fazer a série com os 4 cursos que eu considero mais importantes ao estudante de Ocultismo. Eu já preparei toda a didática para quem não sabe nada a respeito destes assuntos ter as bases para estudar sozinho depois.

Kabbalah vai tratar da Árvore da Vida. A origem e a explicação de todas as escolas filosóficas e religiões, a resposta para a Vida, o Universo e tudo mais…
Astrologia Hermética já traz muitos aspectos práticos de autoconhecimento. Entender como funcionam os ciclos da natureza e como estas forças astrais podem ser utilizadas para impulsionar praticamente qualquer ação realizada no Plano Material é uma ferramenta básica de qualquer iniciado.

O Tarot é o meu oráculo favorito. Dispensa apresentações.

E por fim, Chakras, Kundalini e Magia Sexual eu considero muito importante para qualquer pessoa que já tenha alguma mediunidade, para casais que queiram estudar ocultismo juntos e para quem deseja lidar com aspectos de magia prática no futuro.

Mas já aviso antes… São cursos puxados, de 8h cada e com um volume enorme de material (mas se você prefere tudo mastigadinho, tudo bem, eu posso recomendar umas casas ezotéricas…)

#Cursos

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/curso-em-bras%C3%ADlia-e-cursos-no-carnaval

Cursos de Tarot, Astrologia e Kabbalah – Maio/2010

Este é um post sobre um Curso de Hermetismo já ministrado!

Se você chegou até aqui procurando por Cursos de Ocultismo, Kabbalah, Astrologia ou Tarot, vá para nossa página de Cursos ou conheça nossos cursos básicos!

Seguindo na minha tentativa de ficar mais organizado em 2010, seguem as datas e os cursos do final do mês de Maio, em SP.
Maio/2010

22/05 (sab) – Tarot – Arcanos Maiores Neste curso serão abordados 12 tipos diferentes de tarot (em especial o Rider-Waite, Toth/Crowley, Hermético, Mitológico, Marselha, Sephirótico, Africano e da Golden Dawn)

23/05 (dom) – Chakras, Kundalini e Magia Sexual

29 e 30/05 (sab e dom) – I-Ching – com o prof. Daniel Mendes Netto, que é um dos maiores especialistas em I-ching no Brasil. Finalmente conseguimos bater as agendas e farei este curso que é uma das minhas maiores curiosidades dentro do esoterismo oriental. Ele deixou abrir vagas pros leitores do blog também, então aproveitem.

Informações no email: marcelo@daemon.com.br

PS: Porto Alegre está confirmado cursos de Kabbalah e Astrologia para os dias 26/27 de Junho e Hoje de manhã consegui o lugar no RJ, estou acertando a data e anuncio assim que estiver tudo OK.

#Cursos

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/cursos-de-maio-2010

Caos e Ordem no I Ching

Por Gilberto Antônio Silva

Os hexagramas do I Ching sempre são lidos de baixo para cima, onde a posição “do pé” é a posição 1, a próxima é a posição 2 e assim por diante. A primeira posição, que é ímpar, é por definição uma posição “Yang”; a segunda posição, que é par, é “Yin”; a terceira posição, que é ímpar, é “Yang”, e assim por diante. Posições ímpares são Yang e posições pares são Yin. Quando temos uma linha inteira (que representa o Yang) em uma posição ímpar (também Yang), dizemos que é uma “linha correta”, o mesmo valendo para uma linha quebrada (Yin) em uma posição par (Yin). Se tiver uma linha Yin em uma posição Yang ou vice-versa dizemos que se trata de uma linha “incorreta”. Isso é muito importante para a interpretação geral do hexagrama. Isso posto, prossigamos.

Como dissemos anteriormente, a sequência dos hexagramas é cíclica sendo que o último hexagrama deve ser sucedido pelo primeiro, começando o novo ciclo. Mas aqui surge algo curioso: o nome do último hexagrama é “Antes da Conclusão”. Muitos se perguntam como pode o último hexagrama estar antes da conclusão. A confusão aumenta quando vemos que o penúltimo hexagrama é o “Depois da Conclusão”. Então você tem o “depois” na frente do “antes”, mas nenhuma conclusão em si. Complicados esses chineses!

Resta-nos ainda falar sobre caos e ordem, já que está no título deste artigo. Não ficarei divagando sobre os vários sentidos, ocultos ou não, do termo “caos”, especialmente nesse site. Aqui você tem acesso a todas as ideias possíveis sobre o assunto, portanto me restringirei ao pensamento chinês. “Caos” representa a desordem de um sistema antes de ser ordenado devidamente, quando sobrevém o que chamamos de “ordem”. Não é uma bagunça completa sem propósito nem uma “zona” total. Estabelecer a ordem não implica em retirar ou acrescentar nada, mas em ordenar o que já existe. Então dentro do caos já existem presentes todos os elementos do sistema, faltando apenas ordená-los.

Como falamos, o nome do último hexagrama (64) é “Antes da Conclusão” e o penúltimo hexagrama (63) é o “Depois da Conclusão”. Se analisarmos as linhas componentes veremos que o Hexagrama 63 possui todas as linhas corretas! Isso mostra que a ordem se estabeleceu por completo no sistema. Então podemos ver a sequência desses 63 hexagramas (1 a 63) como se fossem os movimentos para resolver um cubo mágico até chegar à ordem final. Mas falta um último hexagrama, que possui todas as linhas incorretas (!). Ele simboliza o caos que se estabelece no sistema gerando um novo ciclo de 63 hexagramas. Quando você termina um cubo mágico você o guarda na prateleira, orgulhoso, ou mistura tudo e começa novamente? O universo funciona do mesmo modo, pois não existe a perfeição total, a ordem absoluta e definitiva. Ao atingir o ápice há o declínio, como mostra o Taiji Tu. O Yang ao atingir o ápice começa a se tornar Yin e vice-versa. Quando a ordem é alcançada ocorre o caos e o ciclo se reinicia.

Isso também explica o porquê de não haver uma “conclusão”, já que conclusão significa término, fim, e os ciclos se alternam indefinidamente. Os acontecimentos fluem constantemente na correnteza do tempo, sem interrupção ou final.

Agora já sabe por que você arruma a casa no final do ano e um ano depois está tudo desordenado novamente. A culpa é do universo.

______________________________
Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, é um dos mais importantes pesquisadores e divulgadores no Brasil dessa fantástica cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br

#Tao #taoísmo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/caos-e-ordem-no-i-ching

Teoria da Magia – parte I

E essas mudanças, ocorrem aonde, em que Esfera ou Plano?

Segundo o mesmo Aleister Crowley, elas ocorrem no mundo material, portanto, no plano físico. Segundo Dion Fortune, uma das mais conhecidas ocultistas britânicas deste século, porém, essas mudanças ocorrem na consciência individual do Mago.

De qualquer corrente que abracemos, temos três coisas distintas e de suma importância:

Não importa qual definição usada para “Magia”, o resultado real é o mesmo;

O resultado obtido é de aparente mudança no mundo material, pouco importando se a mudança ocorreu no mundo material ou somente na psique do operador;

Magia funciona.

Para se ter uma idéia mais ampla do que exprime a palavra “Magia”, devemos separá-la da feitiçaria ou bruxaria. E como fazê-lo? Simples. Na feitiçaria/bruxaria, não se compreende a forma de operação dos Elementos da natureza, não se busca desenvolver adequadamente e de forma equilibrada o conjunto de qualidades herméticas do homem (e da mulher), além do que se busca nos elementos materiais mais densos (pedras, folhas, fogo material, etc.) a essência dos Elementos dos quais emanam. Quer dizer, usa-se uma fogueira para atrair a energia do Elemento Fogo, e assim por diante.

Para termos a Magia bem definida, deveremos compreender que a mesma não se divide simplesmente em “branca” ou “negra”, egoísta ou altruísta, e outras definições de cunho moral: divide-se, isto sim, em DOGMÁTICA e PRAGMÁTICA.

DOGMÁTICA é a forma de Magia que faz uso de símbolos alheios aos pessoais, simbologia essa díspar daquela pertencente ao sub-consciente do operador.

É a forma de Magia ensinada nas obras tradicionais do assunto, e nas Escolas idem.

PRAGMÁTICA é a que faz uso apenas dos símbolos pessoais, do fator de ressurgência atávica, do simbolismo presente no sub-consciente do operador.

Muitas Escolas de Magia têm-se mantido no sistema Dogmático, enquanto as mais modernas buscam no sistema Pragmático uma saída inteligente. Entre estas, podemos citar os seguidores dos Mestres FRANZ BARDON, PASCAL BEVERLY RANDOLPH, AUSTIN OSMAN SPARE e ALEISTER CROWLEY. Entre os seguidores de Aleister Crowley, que se auto-denominam “THELEMITAS” ou seguidores de Thélema (Vontade), há os que não entenderam bem seus ensinamentos, criando sistemas Dogmáticos. Há, porém, os que seguem de forma inteligente seus ensinamentos, pois ser Thelemita é ter sua própria “religião”, seu próprio Deus, posto que Aleister Crowley dizia “não existe Deus senão o homem”. Entre os mais brilhantes seguidores dos citados Mestres acima, destaco um grupo que se denomina “Círculo do Caos” ou I.O.T. (Illuminates of Thanateros, Iluminados de Thanateros), fundado pelo meu amigo Peter James Carroll, com a colaboração de outras cabeças especiais como Isaac Bonewitz, Adrian Savage, Frater U.: D.:, entre tantos outros.

Creio firmemente que a Magia Pragmática permitirá o resgate completo da “Ciência Sagrada”.

Os dois tipos de Magia, Dogmática e Pragmática, podem estar presentes em quaisquer dos Níveis Operacionais de Magia, como veremos abaixo:

1) Os “Cinco Atos Mágicos Clássicos”:

A) Evocação;

B) Divinação;

C) Encantamento;

D) Invocação;

E) Iluminação.

Os “Cinco Atos Mágicos Clássicos” podem estar presentes nos “Cinco Níveis de Atividade Mágica”:

2) Os “Cinco Níveis de Atividade Mágica”:

A) Feitiçaria;

B) Shamanismo;

C) Magia Ritual;

D) Magia Astral;

E) Alta Magia.

Para definir melhor o que foi dito nos dois itens acima, vejamos a seguir breves definições de ambos: (versão livre do “Liber KKK”, contido na obra “Liber Kaos”, de autoria de Peter James Carroll).

“Nível de Feitiçaria”

– Evocação – o Mago cria, artesanalmente, uma imagem, uma escultura, um assentamento; as funções podem ser as mais diversas, definidas pelo Mago; o fetiche é tratado como um ser vivo; pode ou não conter elementos do Mago.

– Divinação – um modelo simples do universo é preparado pelo Mago, para usá-lo como ferramenta divinatória; Runas parecem adequadas; Geomancia é o ideal; I-Ching e Tarot são bons também; usar bastante, em todas as situações, mantendo um diário com todos os resultados obtidos sendo anotados.

– Encantamento – para essa função pode-se utilizar uma série de instrumentos, mas em especial deve-se obter uma ferramenta especial, de significado distinto para o Mago; para fazer o encantamento, o Mago faz uma representação física do objeto do desejo, usando as ferramentas mágicas para realizar a teatralização do ato; por exemplo, o bonequinho representando a pessoa, é batizado ou coisa que o valha, depois roga-se pragas sobre o mesmo, então se espeta ele todo com alfinetes, representando ferimentos na vítima.

– Invocação – aqui o Mago testa os limites de sua habilidade de criar mudanças arbitrárias causadas por modificações estudadas do ambiente e de comportamento; por exemplo, decorar todo o Templo como se fosse um Templo de um Deus Egípcio, vestir-se como tal Deus, personificando-o durante determinado período de tempo. É o que os iniciados fazem quando “incorporam” seu Orixá.

– Iluminação – aqui o Mago busca a eliminação das fraquezas e o concomitante fortalecimento de suas virtudes. Algo como uma introspecção deve ser realizada, para conhecer as próprias qualidades e os próprios defeitos.

“Nível Shamânico”

– Evocação – o Mago busca estabelecer uma visualização de uma entidade por ele projetada, para realizar seus desejos; muitas vezes, pode-se visualizar a mesma Entidade que se “assentou” no nível de feitiçaria. Pode-se interagir com essas entidades em sonho, donde se tira o conceito do “parceiro astral”.

– Divinação – consiste, basicamente, em visões respondendo a questões específicas; o Mago interpreta a visão de acordo com seu simbolismo pessoal.

– Encantamento – o Mago tenta imprimir sua vontade no mundo exterior por uma visualização simbólica ou direta do efeito desejado.

– Invocação – aqui o Mago retira conhecimento e poder do atavismo, em geral do atavismo animal; para isso, o Mago deve ser “tomado” por alguma forma de atavismo animal. A imitação da atitude do animal em questão ajuda muito esta operação.

– Iluminação – o Mago visualiza sua própria morte, seguido do desmembramento de seu corpo; então, deve visualizar a reconstrução de seu corpo e a seguir seu renascimento. É a chamada “jornada” dos Shamãns.

“Nível de Magia Ritual”

– Evocação – o Mago pode evocar a Entidade já trabalhada nos dois níveis anteriores, ou então qualquer outra. Em geral, um sigilo desenhado em papel, simbolizando a Entidade evocada, é o que basta para criar o vínculo necessário entre a mente do Mago e a Entidade que se deseja evocar.

– Divinação – qualquer instrumento de divinação serve, mas o Mago deve, antes da prática, sacralizar os instrumentos da divinação, por meio de algum tipo de prática. Métodos complexos servem tão bem quanto os simples, mas uma atitude da mente, mantendo um estado de consciência algo alterado, é imprescindível.

– Encantamento – aqui entram em ação as “Armas Mágicas”, que variam de acordo com o Mago, dentro, é claro, de um simbolismo universal. A concentração deve ser no ritual, ou no sigilo, ao invés de na realização do desejo; o sigilo é traçado com a ferramenta mágica, no ar, e a mente é levada a um estado alterado de consciência. Assim, entra em ação a mente inconsciente, mais poderosa nessas operações.

– Invocação – o Mago busca saturar seus sentidos com as experiências correspondentes a, ou simbólicas de, alguma qualidade particular que busca invocar; no caso, pode ser dos Arquétipos Universais, através da decoração do Templo e de sua pessoa com côres, aromas, símbolos, pedras, plantas, metais e sons correspondentes aquele Arquétipo desejado. O Mago tenta ser “possuído” pela Entidade em questão; as clássicas Formas-Divinas ou Posturas-Mágicas tem uso aqui; antes de qualquer Evocação Mágica, o Mago deve Invocar Deus, tornando-se ele.

– Iluminação – tem a característica de buscar (e encontrar) esferas de poder dentro de nós mesmos; aqui cabe o sistema de iniciação hermética ensinado por Franz Bardon em seu “Initiation Into Hermetics”.

“Nível de Magia Astral”

Todas as operações deste nível são idênticas a todas as praticadas nos três níveis anteriormente descritos, exceto que são realizadas apenas em âmbito mental, isto é, na mente do Mago. Portanto, tudo ocorre nos planos interiores do Mago, desde a construção de seu Templo, até as OPERAÇÕES mais práticas.

“Nível de Alta-Magia”

As operações neste nível são elevadas, devendo ser praticadas somente por quem já seja um Iniciado pelo sistema de Franz Bardon; as OPERAÇÕES neste nível são as cobertas pelos três trabalhos subseqüentes de Franz Bardon (Frabato The Magician; The Practice Of Magical Evocation, The Key To The True Quabbalah).

Se quisermos definir como o “Fluído Vital” emana e donde emana, permitindo a materialização das Energias Mágicas, deveremos estudar as três únicas formas de produzí-lo:

1) Emanação individual do Fluído Vital;

2) Sacrifício Vital;

3) Orgasmo Sexual.

E para compreender o alcance da Magia, poderemos definir sua envergadura de poder:

1) Microcosmos Interno – visando provocar transformações no próprio operador;

2) Microcosmos Externo – visando transformações em outros seres vivos;

3) Macrocosmos – visando transformações sociais ou globais (Cosmos, meio-ambiente, comportamento de grupos de animais ou de vegetais, coletividades, etc.).

Retirado do Site: http://www.mortesubita.org

autor: J. R. R. Abraão

#MagiaPrática

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/teoria-da-magia-parte-i

O Hexagrama

Figura composta de dois triangulos equiláteros superpostos, um com a ponta para cima, outro com a ponta para baixo, formando assim a figura de uma estrela de seis pontas, com um hexágono regular em sua interceção, é um dos simbolos mais universais. É um símbolo mandálico chamado satkona Yantra ou sadkona Yantra encontrado nos antigos templos hindus do Sul indiano construído há milhares de anos. A tradição indiana vê no hexagrama a união de Xiva e Xácti, ou seja, o hierograma fundamental. Ele simboliza a Nara-Narayana, na meditação é o estado de perfeito equilíbrio entre o homem e Deus, e caso se mantenha alcança-se “moksha“, ou “Nirvana“.

Entre os Hebreus e , cristãos e muçulmanos é conhecido como Selo de Salomão, Escudo Supremo de Salomão, ou, na transliteração do hebraico: Magen David, onde Magen significa broquel, defesa, governante, homem armado. O Substantivo Magen refere-se a um objeto que proporciona cobertura e proteção ao corpo durante o combate.

Há uma teoria sobre a origem da forma é que se trata simplesmente de 2 a 3 letras no nome David: hebraico, na sua grafia, David é transliterados como ‘DW-D ». Na bíblia hebraica, a letra “D” (Dalet) foi escrito em uma forma muito mais como um triângulo, semelhante à letra grega “Delta” (?). O símbolo pode ter sido uma simples família crista formada por justaposição e lançando os dois mais proeminentes letras no nome.

Alguns pesquisadores têm teorizado que o hexagram representa o gráfico astrológico no momento do nascimento de David ou anointment* como rei. O hexagram também é conhecido como o “Rei da Estrela” nos círculos astrológicos.

No campo da psicologia, na escola de Jung, essa união de contrários simboliza a ‘união dos mundos pessoal e temporal do Eu com o mundo nõa-pessoal e intemporal do não-Eu’. É em definitivo a união da alma com Deus, alvo de todas as religiões.

Entre as muitas obras de Aleister Crowley, há o chamado Hexagrama Unicurso, ao contrário do hexagrama tradicional, traçado pelo desenho de dois triangulos, este é traçado, como seu nome já diz, com uma unica linha, podendo ser desenhado sem retirara caneta do papel.

Também chamados hexagramas – figuras completamente diferentes – certos simbolos chineses típicos. Estão todos reunidos em um livro, o I-Ching, conhecido sob o nome de O Livrod as Mutações. Os hexagramas são compostas de seis traços cada uma, sendo esses traços ou linhas podendo ser contínuos ou descontínuos. Representam um tao ou princípio universal, que rege a ordem. São formados por dois trigramas, compostos cada um de três linhas, simbolizando o homem entre o céu e a terra. São ao todo 8 trigramas, e suas combinações resultando em 64 hexagramas.

Fonte:
Ocultura – Hexagrama
CHEVALIER, Jean, Dicionário de Símbolos

Leia também:
Do Coração do Magista
Suástica
Coelestium
Histórico Vampirico
O Muro de Cristal

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-hexagrama

Qi Gong [氣功]

Chi Kun (ou Qi Gong) é derivado da alquimia taoísta e foi introduzido em diversas artes marciais e na medicina oriental como prática preventiva e curativa. A prática do Chi Kun vem sendo experimentada há mais de cinco mil anos e sua origem está relatada no Nei-Ching que é o primeiro texto sobre Medicina Taoista.

Chi Kun é um ramo milenar da medicina chinesa, que reúne mais de 260 combinações de posições para diferentes tratamentos. Lembra o Tai Chi Chuan, com a diferença de incluir também meditação. O Chi Kun foi criado há três mil anos, na China, por Hwa-T’o, um cirurgião que vivia na corte do imperador Huang-T’i Para o médico, o ser humano não relaxa tanto quanto os animais porque não respira plenamente. Partindo desse princípio, ele inventou os primeiros exercícios do Chi Kun, que imitam os movimentos dos animais.

Na China, o método se chama Qi Gong (que significa prática de energia). No Ocidente, foi batizado de Chi Kun (respiração benéfica da terra). A palavra Chi significa sopro vital, ar, ou ainda energia. Kun significa exercício ou treinamento. Assim, Chi Kun pode ser entendido como exercício respiratório e energético, ou seja, exercícios respiratórios que estimulam a estrutura energética. Com tal prática, desenvolve-se os centros, os canais (Jing luo) e o campo energético.

A respiração ajuda a trazer mais energia, através do ar, para dentro do nosso corpo. A movimentação auxilia no deslocamento dessa energia para os locais onde se necessite. A mentalização, além de prover uma maior captação da energia externa para dentro do corpo, também auxilia a sua movimentação interna, podendo tanto aumentar a saúde corporal como desenvolver certas aptidões marciais, como é o caso da camisa e palma de ferro, e outras técnicas que conseguem reforçar o corpo de tal maneira, que se pode envergar barras de aço em diversas regiões do corpo (costelas, braços, abdômen e pescoço) e até evitar penetrações de objetos metálicos pontiagudos.

Chi Kun é uma ginástica energética hoje em dia praticada por cerca de 20% da população chinesa (como manutenção diária) e pelos convalescentes de grande parte dos hospitais chineses (como complemento terapêutico plenamente integrado pelo corpo médico).

Tal como acontece com outras técnicas da MTC, o objetivo do Chi Kun é desfazer ou prevenir os bloqueamentos de energia, para que esta flua plenamente e nas direções convenientes – com isso evitando a doença ou contribuindo para curá-la.

Há exercícios de Chi Kun sentado, em pé ou em movimento. A respiração controlada desempenha um papel de relevo, bem como a concentração num ponto que é considerado o centro da energia: o Tantien, cerca de quatro dedos abaixo do umbigo.

O movimento constante e fluido do Chi Kun estimula os sistemas circulatório e respiratório, além de dar ao corpo grande flexibilidade; beneficia o metabolismo e previne (ou atenua) a maior parte das doenças típicas da meia idade, como o endurecimento das artérias e articulações.

Pode-se dividir o Chi Kun em 02 tipos: para saúde e marciais. Os Chi Kun‘s para saúde geralmente são suaves.

Os Chi Kun‘s para desenvolvimento de aptidões marciais são executados de uma forma mais forte, exigindo maior reserva energética do praticante. No T’ai Chi o praticante deve desenvolver a energia interna, o que é feito através do treinamento de Chi Kun.

Por isto que muitos praticantes quando terminam sua prática, mesmo que sejam suaves, sentem-se cansados e esgotados. Sua técnica não está correta e não está conseguindo absorver e potencializar o Chi, enquanto outros praticam arduamente durante horas e sentem-se cada vez com mais disposição. Esta é uma das diferenças entre a técnica certa e a errada no T’ai Chi.

Um ponto a ser detalhado: o Chi Kun “marcial” também amplia a saúde do praticante, inclusive a um nível superior do que o específico para saúde.

Outros efeitos do Chi Kun, quando praticado regularmente:

  1. Melhora o autoconhecimento do corpo.
  2. Corrige a postura.
  3. Produz um progressivo relaxamento das zonas em tensão.
  4. Beneficia o sistema nervoso central.
  5. Desenvolve a capacidade de concentração.
  6. Regulariza o apetite.
  7. Torna a pele mais macia.
  8. Aumenta a energia e reduz o número de horas de sono necessárias.
  9. Torna a mente mais perspicaz e acalma o espírito.
  10. Reduz significativamente o stress.

Rotina Diária Completa de Qijong

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/qi-gong-%e6%b0%a3%e5%8a%9f/

Sugar Blues: O gosto amargo do açúcar

William Dufty

Sugar, em inglês significa açúcar. Blues, pode significar um estado de depressão e melancolia revestido de medo, ansiedade e desconforto. O título deste livro, Sugar Blues revela sua temática: a ampla gama de desordens físicas e mentais causadas pelo consumo de sacarose refinada. O açúcar, em suas diversas formas é celebrado por meio de presentes entre casais e dado a crianças como forma de recompensa. Não apenas isso, mas muitos produtos industrializados contam com a presença deste elemento. Quão danoso isso pode ser para todos nós?

O açúcar é um veneno que mata lentamente milhões de pessoas. Virtualmente toda nossa sociedade pode hoje ser considerada pré-diabética pelas estatísticas oficiais. Diversas estatísticas resultantes de pesquisas científicas evidenciam consideráveis vínculos entre o açúcar refinado e as mais alarmantes doenças modernas.Entretanto, esse antinutriente viciante é impunemente adicionada a tudo que comemos.

Sugar Blues também é um nome de um lamento musical dos negros americanos do início do século. É uma história trágica mas contada de um jeito melodioso. Da mesma forma o açúcar refinado causa diversos males, mas seu sabor doce o faz estar sempre presente em nossa sociedade. Neste livro você encontrará um relato detalhado das circunstâncias nefastas que permitiram a ascensão do açúcar como a grande droga legalizada de nossa época.

Este é um livro que poderá mudar sua vida. Ou sua morte.

O mercado branco

Por milhares de anos aquilo que chamamos açúcar continuou desconhecido. A maior parte dos seus antepassados evoluiu e sobreviveu sem ele. Nenhum dos livros antigos o menciona: nem a bíblia, nem o alcorão, nem o i-ching. Certamente que existia o mel e vegetais doces, mas não o açúcar refinado.

Atribui-se aos cientistas do Império Persa, no século VII a pesquisa e desenvolvimento do processo de refino do suco da cana, dando-lhe uma forma sólida como a de um tijolo, que poderia ser estocada sem fermentar, transportada e comercializada. Nessa época, um pedaço pequeno de saccharum era uma diversão rara e preciosa reservada a reis e imperadores. Quando as armas do Islam subjugaram os persas, um dos troféus da vitória foi a posse do segredo do processamento da cana e o controle do negócio.

Os árabes comercializam o concentrado doce pelo mundo. Foram também os primeiros a  terem quantidade suficiente de açúcar para suprir, tanto a corte quanto a tropa, com doces e bebidas açucaradas. Em retrospecto a obsessão, e uso  indiscriminado do açúcar pelos soldados pode ter colaborado com as derrotas militares do séculos seguintes.

Uma história sangrenta

Quando as cruzadas terminaram, Roma decidiu colocar as mãos nas taxas e tributos do comércio de açúcar. Seguiram-se sete séculos de crime organizado com direito a genocídio de escravos nativos em massa para mão de obra. Nessa época o historiador Noel Deerr disse que: ”Não seria exagero afirmar que o tráfico escravo atingiu a cifra de 20 milhões de africanos, dois terços dos quais estão sob a responsabilidade do açúcar.”

Portugal e Espanha enriqueceram como nunca até seu declínio. Só podemos especular sobre o fato desse declínio ter sido biológico, ocasionado pela embriaguez de açúcar ao nível da corte. Mas outros poderes estavam esperando para recolher os cacos e por volta de 1660 os ingleses estavam a ponto de ir à guerra com a França para manter seu monopólio. Assim escreveu o filósofo francês Claude Adrien Helvetius: ”Nenhum barril de açúcar chega à Europa sem que esteja banhado em sangue.”

O açúcar é o maior malefício que a moderna civilização industrial impôs à América, África e ao Extremo Oriente.

O corpo em crise

A moderna fabricação do açúcar nos trouxe doenças inteiramente novas. Nosso corpo foi formado em um processo evolutivo de bilhões de anos onde o açúcar não era um elemento a ser considerado. Seu consumo precisa ser resolvido pelo nosso organismo como uma verdadeira crise a ser enfrentada.

Para a máxima eficiência do corpo, o volume de glicose no sangue deve estar em equilíbrio com o volume de oxigênio. Quando tudo vai bem este equilíbrio é mantido graças às nossas glândulas supra-renais. Quando ingerimos o açúcar refinado, ele já está a um passo de se tornar glicose então escapa do processos bioquímicos do nosso corpo e vai diretamente para os intestinos, onde torna-se glicose. Esta, por sua vez, é absorvida pelo sangue onde o nível de glicose já havia sido estabelecido em equilíbrio com o oxigênio. Desta forma, o equilíbrio é rompido.

As cápsulas supra-renais expelem hormônios que conduzem todas as reservas químicas para enfrentar o açúcar: a insulina é produzida num antagonismo complementar aos hormônios supra-renais. O nível de glicose do sangue cai bruscamente e uma nova crise se inicia. O pâncreas e as supra-renais tem agora que reagir de modo a regular a reversão na direção química e tentar reestabelecer o equilíbrio.

Se isso ocorre vários durante vários dias, após alguns anos o resultado final é a avaria das glândulas adrenais. Elas se tornam gastas, não por trabalho excessivo, mas por contínuas surras. A produção global de hormônios é baixa, os volumes não se harmonizam. Este funcionamento irregular, desequilibrado, se reflete por todo o circuito supra-renal. O resultado mais nefasto é a falta de produção do hormônio cortical adequado e o desequilíbrio entre estes hormônios. Ao mexer com os hormônios a saúde mental é comprometida.

O cérebro em crise

Tudo isso se reflete na maneira como nos sentimos.  Diante de crises rotineiras, o cérebro poderá, em breve, ter problemas sérios. Quando as glândulas suprarrenais são violentadas chega o stress. Podemos nos tornar irritados e nervosos.  Ficamos em pedaços porque não mais possuímos um sistema endócrino saudável para enfrentá-lo. Nossa eficiência se esvai a cada dia, estamos sempre cansados, parece que nunca conseguimos terminar coisa alguma.

Enquanto a glicose está sendo absorvida pelo sangue, nos sentimos eufóricos. No entanto, essa onda de energia hipotecada é sucedida por períodos de depressão. Quando o nível de glicose do sangue cai ficamos apáticos, cansados; precisamos de um esforço maior para nos mover e até mesmo para pensar, enquanto o nível de glicose do sangue está novamente se elevando.

Por isso o  famoso endocrinologista John W. Tintera era enfático em dizer: ”É perfeitamente possível melhorar sua disposição, aumentar sua eficiência e alterar para melhor a sua personalidade. A maneira de fazer isso é evitando o açúcar de cana e de beterraba sob todas as suas formas e disfarces.”

De médico e de loucos

No século dezessete o consumo de açúcar disparou de duas pitadas num barril de cerveja, de vez em quando, para mais de um milhão de quilos a cada ano. A proliferação de doenças mentais e ”o grande confinamento dos loucos,” começou no fim do século dezessete e coincidiu com o uso em massa de açúcar refinado. A relação do consumo de sacarose com índices de saúde mental só foi descoberta na década de 1940.

Dr. John Tintera descobriu a importância vital do sistema endócrino com o estupor cerebral. Ele descobriu que a principal queixa de seus pacientes era freqüentemente similar à encontrada em pessoas cujos sistemas eram incapazes de lidar com o açúcar: fadiga, nervosismo, depressão, apreensão, ânsia por doces, dificuldade para concentrar-se, alergias, baixa pressão arterial.

Um histórico da alimentação dos pacientes diagnosticados como esquizofrênicos revela que

a dieta de sua preferência é rica em doces, bolos, balas, café adocicado, bebidas cafeinadas e comidas  preparadas com açúcar. Estas comidas que sobrecarregam as glândulas adrenais, devem ser eliminadas ou severamente restritas. Isso porque não é só  a esquizofrenia mas o negativismo, a hiperatividade e o obstinado ressentimento à disciplina e até o alcoolismo tem sua raiz no hipoadrenocorticismo, o tipo endócrino causado pelo abuso crônico de açúcar.

Alergias refinadas

Dr. John Tintera também foi o primeiro a sugerir, numa revista de circulação ampla, que ”é ridículo falar-se em tipos de alergia quando existe apenas um tipo, constituído por glândulas supra-renais enfraquecidas… pelo açúcar.”

Embora hoje os médicos de todo o mundo repitam aquilo que Tintera anunciara anos antes sobre tratamento psiquiátrico e ninguém, realmente ninguém, tem mais permissão para iniciar qualquer tratamento a menos que seja submetido a um teste de tolerância de glicose, a questão da influência do açúcar na alergia ainda não é unanimidade.

Compreensível, seu argumento minaria as bases da indústria das almas alérgicas  que foram entretidas com fábulas sobre exóticas alergias – qualquer coisa, variando de plumas de cavalo a caudas de lagosta. Seria constrangedor admitir tão rapidamente que nada disso importa, e basta retirar o açúcar destas pessoas e mantê-las longe dele.

O processo de refinamento

O açúcar refinado pelo homem é oito vezes mais concentrado do que a farinha, e oito vezes mais artificial, e provavelmente oito vezes mais perigoso. É esta artificialidade que engana a língua e o apetite, conduzindo ao consumo excessivo. Quem comeria mais de um quilo de beterrabas por dia? Isto eqüivale, no entanto, a umas meras sessenta e poucas gramas de açúcar refinado.

O consumo excessivo produz diabetes, obesidade e trombose coronária, entre outras coisas. Além disso o processo de remoção das fibras vegetais naturais produz cárie nos dentes, doenças nas gengivas, problemas no estômago, veias varicosas, hemorróidas e doença diverticular.

O processo de refinamento do açúcar, seja da cana ou da beterraba elimina ainda todas as vitaminas encontradas nesses alimentos. Por essa razão a descoberta da ligação entre  entre açúcar e escorbuto foi descoberto séculos antes do conhecimento em relação a vitamina C. As proteínas também são eliminadas promovendo a aparição da úlcera péptica.

A civilização diabética

Não existem números sobre a incidência de diabetes na antigüidade. ”Para mim é difícil explicar porque Hipócrates nunca descreveu um único caso de diabetes”, observou o Dr. G. D. Campbell, autoridade sul-africana no assunto.

No século XVI,  Dr.Thomas Willi foi o primeiro a identificar os males presentes no corpo daqueles que possuem a urina tão doce a ponto de atrair as formigas.  O século dezenove assistiu a incidência destes males, antes próprios da nobreza atingir o restante da população. O diabetes  permaneceu um problema ocidental até que os missionários cristãos levaram o  açúcar para o Japão.

O século XX fez o consumo de açúcar dos séculos anteriores parecer uma brincadeira e assistiu o número de mortes por diabetes aumentar junto com consumo de açúcar, ano após ano. A descoberta da insulina foi o tipo de milagre médico que a indústria da doença gosta. A produção da insulina foi e ainda é uma benção para o ramo farmacêutico. Os diabéticos já no início do século representavam um mercado fácil de um milhão de pessoas. Cinquenta anos após sua inserção no mercado o número de diabéticos tem aumentado implacavelmente. Hoje o diabetes é a principal causa de cegueira, assim como um dos principais fatores das doenças cardíacas e renais.

Podemos dizer que hoje toda nossa sociedade é pré-diabética, com pessoas  sofrendo de hipoglicemia, hiperinsulinismo ou taxas anormais de glicose no sangue. Apelos para o autocontrole no sentido de controlar as doenças provocadas pelo açúcar são afogados pelo clamor por mais alguns milhões de dólares do fundo federal destinados à descoberta de uma poção, uma fórmula, injeção ou, talvez, um mágico pâncreas atômico pioneiro que poderá, um dia, vencer a doença. Queremos ter nossa saúde desde que possamos continuar comendo nossos doces.

Limpando a casa

Abandonar o hábito de açúcar não é fácil, mas pode ser divertido. Vai demorar, mais ou menos, um mês para mudar sua maneira de fazer compras, cozinhar e se divertir. Se você mora sozinho, a melhor maneira é recolher tudo que tenha açúcar e jogar na lata de lixo. Desta forma, se você ficar ansioso terá que tomar uma decisão na loja, em vez de ser tentado em casa. Se você não vive sozinho, largar o açúcar pode dar um pouco mais de trabalho. Por outro lado, fazê-lo acompanhado pode vir a ser delicioso. O resultado nas crianças é freqüentemente tão dramático que dá exemplo e motivação aos mais velhos.

Sorvetes sem açúcar

Se você tem um grande vício de sorvetes, não tente cortá-lo inteiramente. Existem sorvetes feitos apenas com mel. Uma vez que você se acostume ao sorvete com mel, corte a quantidade pela metade e vá diminuindo gradualmente. Deixe o sorvete como prêmio para ocasiões especiais; compre sempre pequenas quantidades.

Tomando Café

Se tomar café puro é muito forte para você, considere o chá como opção. Se você acha que não gosta de chá, talvez seja por causa do chá em saquinhos, tente, por exemplo, o banchá japonês. Tosta-se levemente o banchá numa panela e depois deixe-o em infusão num bule por uns quinze ou vinte minutos no fogo. Faça grandes quantidades e esquente quando quiser beber.  Compre uma bela garrafa térmica e leve para o escritório se preciso.

Aproveitando melhor os picnics

 

Uma das grandes alegrias de viver sem açúcar é poder deitar na praia, ou andar pelas montanhas, sem ser perturbado pelos mosquitos e outras criaturas. Uma vez que você fique sem comer açúcar por um ano, tente e veja se não é verdade. Não é por acidente que os primeiros caso de febre amarela, transmitida por mosquito, ocorreram na ilha açucareira de Barbados.

Cuidado com adoçantes

Existem hoje muitos adoçantes sintéticos, apregoados e comercializados como um inócuo substituto do açúcar. A sacarina e os ciclamatos têm muitos defensores na classe médica. Quando comparados ao açúcar, sempre se pode apresentar um caso científico demonstrando que eles são o menor de dois males. O problema que ocorre com todos os adoçantes sintéticos é que quanto mais tempo dependemos deles, tanto mais difícil se torna para nós apreciar a doçura natural dos alimentos. A dependência de adoçantes sintéticos, como a dependência de açúcar, insensibiliza nosso paladar.

Sopas sem açúcar

Parece brincadeira, mas quase todas as sopas industrializadas hoje levam uma boa porção de açúcar. Se você está largando o açúcar, terá que fazê-las você mesmo. O único trabalho é encontrar bons ingredientes.

Deixe a ervilha, a lentilha e os feijões de molho em água fria durante uma noite.  A sopa é a própria simplicidade.Comece com um bom óleo vegetal, óleo de gergelim ou milho não filtrado, ou uma combinação dos dois. Refogue uma cebola cortada. Adicione aipo cortado e talvez um pouco de cenoura. Despeje lentamente o feijão e a água em que ficou de molho. Leve a uma fervura branda e cozinhe em fogo lento por, aproximadamente, uma hora, até que os vegetais estejam macios e comíveis, mas não murchos. Deixe a sopa descansar. Na hora de servir, aqueça-a novamente.

Molhos de salada

O ketchup, a maionese e as outras várias combinações chamadas temperos russos, são

também carregados de açúcar. O açúcar está em todos os lugares, inclusive no pickles. Se você deseja abandonar o açúcar, deverá reconsiderar completamente a questão das saladas. Uma opção é a salada japonesa, mas fique sempre de olho nos ingredientes,

Frutas Secas

O açúcar concentrado da uva passa faz com que ela seja um adoçante natural ideal. A groselha seca não é tão doce, mas tem um sabor azedo muito especial. Existem também as maçãs secas, pêssegos, pêras, ameixas, damascos, cerejas, amoras e até bananas e abacaxis secos.

Secar a fruta na estação e guardá-la para os longos meses de inverno é um velho costume.

A fruta seca ao sol, sem preservativos químicos, tem um sabor espetacular. Muito diferente

da fruta em lata, açucarada. Conserva-se bem e ocupa pouco espaço. Quando você abandona o açúcar refinado pelo homem, se abre para uma gama de sabores completamente diferentes muitos dos quais, ironicamente, predominavam nos artigos do passado! As combinações são infinitas.

Crepes

O crepe é simples de ser feito e delicioso. Use farinha integral de trigo. Misture a farinha com uma pitada de sal marinho. Adicione duas ou três colheres de sopa de óleo de gergelim para cada xícara de farinha. Misture bem. Adicione leite cru, leite coalhado ou creme de leite e água ou mesmo água pura. Adicione um ovo, se desejar; se houver muita massa, adicione dois. Continue adicionando os líquidos até que a massa fique fina, mas não escorregadia.

O utensílio ideal para fazer um crepe é uma frigideira francesa leve. Despeje simplesmente sua massa na chapa aquecida, que tenha recebido uma camada leve de óleo de gergelim ou de milho. Deixe-a no fogo até que a parte de cima esteja completamente seca. Quando chegar a hora, vire-o para baixo.

Para um crepe de sobremesa os recheios são infinitos. Creme de maçã natural, sem açúcar;

maçã, castanha e passas misturadas; passas cortadas e cozidas em água ou damascos cozidos, amoras secas e cascas de limão batidos no liqüidificador.

Nozes, Amêndoas e Castanhas

Nozes descascadas, levemente polvilhadas com sal marinho, tostadas em fogo baixo e

servidas ainda quentes fazem um incomparável lanche ou sobremesa. Quase todo mundo

aprecia a diferença entre amendoins crus e tostados, mas não diga que viveu até ter experimentado nozes tostadas e ainda quentes.Outras nozes familiares, como a castanha de caju e a avelã, podem ser servidas da mesma forma. O truque é encontrar castanhas e nozes que tenham sido cultivadas, curtidas e estocadas sem produtos químicos.

Amêndoas descascadas, ainda com as membranas naturais, servem a um tratamento

japonês. Coloque as amêndoas numa panela de vidro e despeje o molho de soja por cima. Mexa a amêndoa e o tamari até que aquela fique revestida por uma camada de molho; a membrana absorverá o líquido. Ponha as amêndoas na chapa de grelha, em fogo brando. Fique observando e vire-as constantemente. Leva, em geral, de dez a vinte minutos até que a amêndoa esteja tostada o bastante para ser servida.

Castanhas quentes, tostadas em frigideira, com a pele aberta, são uma especialidade

vendida pelas ruas de Paris e outras cidades cosmopolitas. Castanhas secas podem ser

guardadas e conservadas indefinidamente. Farinha de castanha é frágil e deve ser

consumida assim que for moída. A castanha é, naturalmente, doce. Combina muito bem

com maçãs e passas para bolos, tortas ou compotas. A farinha de castanha também pode ser usada com farinha integral de trigo para fazer crepes, waffles, chapati ou sonhos.

Conclusões

  • Historicamente a indústria do açúcar é banhada por escravidão, genocídio e guerras.
  • O açúcar é uma novidade em termos biológicos e para enfrentá-lo o corpo entra em crise.
  • O açúcar gera dependência física e psicológica.
  • Os efeitos do consumo de álcool no corpo não são poucos e incluem a maior sensibilidade a alergias, pressão baixa, problemas de pele, fadiga,  doença das coronárias e o diabetes, com todas as suas complicações.
  • O número de diabéticos hoje é maior do que nunca e quase toda nossa sociedade é composta por pré-diabéticos.
  • Os efeitos do consumo crônico tem impacto negativo direto mental, causando apatia, nervosismo, stress e está ligado também a esquizofrenia e a depressão.
  • Largar o açúcar pode não ser fácil, mas pode ser divertido. Abra sua mente e seu paladar para novas rotinas e hábitos. Resgate sua saúde, sanidade e experimente novos sabores.

 

 

 

 

 

Postagem original feita no https://mortesubita.net/baixa-magia/sugar-blues-o-gosto-amargo-do-acucar/

Aprenda Cabala com Aleister Crowley

Anarco-Thelemita

No quarto capítulo de “Magick Without Tears”, Crowley enfatiza o estudo da cabala para qualquer pessoa realmente interessada na prática mágicka. De fato, este capítulo aparece quase imediatamente após aquele em que os postulados de sua Magicka são definidos. Mais do que isso, ele traça um itinerário de estudos breve de descrever, mas difícil de atravessar composto de três fases. São estes três atos que veremos abaixo de forma detalhada. Se você não tem nenhum conhecimento sobre cabala, veio ao lugar certo. Se já tem, leia mesmo assim, você pode ter algumas surpresas no final.

Ato 1: Alfabetização Mágicka

Crowley chama a cabala de “Alfabeto Magicko”, mas um alfabeto que consiste não de letras, mas de ideias, e numa observação mais atenta, ideias matemáticas. Contudo os números são apenas uma das formas com as quais essas ideias podem ser expressas.  Neste sentido é até uma boa coisa que o estudante não fale hebraico. Isso porque muitas palavras são em hebraico e sem referência o magista está impedido de fazer qualquer associação literal, tendo que desenvolver dentro de si a abstração necessária. Qualquer tentativa de traduzir os nomes das sephirot pode no final das contas mais atrapalhar do que ajudar. Nesse sentido o hebraico é para a cabala o que o francês é para o ballet ou o inglês para o marketing.

Cada uma dessas abstrações deve ser explicada, investigada, compreendida por meios muito diversos. Neste primeiro momento o estudante deve se preocupar apenas em criar em sua mente o esboço das letras hebraicas, seus valores numéricos e as 10 esferas por elas conectadas. Crowley não detalha como deve ser essa memorização mas uma boa ideia é simplesmente pegar um caderno novo e desenhe na primeira página a seguinte estrutura:

*Deixaremos de fora Daath por enquanto para que o estudante sério possa fazer suas próprias descobertas mais avançadas no futuro. 

Essa é a chamada “Árvore da Vida”. Por enquanto temos apenas números, nomes e posições. Cada um deles é uma sefira (no plural sefirot). Passe a semana consolidando esta estrutura em sua mente. Desenhe-a quantas vezes precisar até que sua ordem e números estejam internalizados. Só então para a próxima etapa. 

Feito isso temos que saber que cada sefira “se conecta” às demais por seus por meio de 22 ligações que também possuem seus nomes hebraicos. Estas ligações se somam às sephiras e se enumeram de 11 a 32. Concentre-se alguns dias em ter de memórias a estrutura a seguir:

Uma boa maneira de acelerar o processo é desenhar a árvore respeitando sua sequência numérica. Com isso você terá impresso na mente algo como uma planta do edifício que iremos construir a seguir. A Árvore da Vida deve ser aprendida de cor; você deve conhecê-lo de trás para a frente, de frente para trás, dos lados e de cabeça para baixo; deve se tornar o pano de fundo automático de todo o seu pensamento. Não negligencie esta etapa. Ela é semelhante ao aprendizado das notas musicais, do alfabeto e da tabuada. Só avance quando puder, a qualquer momento desenhar a árvore completa com todos os seus nomes e números.

Ato 2: o Código Fonte do Universo 

Contam às bocas prussianas que certa vez houve um diálogo entre Frederico Guilherme IV da Prússia e Argelander, seu astrônomo imperial. De forma provocativa o rei perguntou “Então, o que há de novo nos céus?” E o pesquisador respondeu: “Será que Vossa Majestade já conhece o que há de velho?”. Assim o próximo ato no desenvolvimento cabalistico deve ser um olhar atento para o passado.

A próxima etapa é atribuir a estes espaços alguns conjuntos de “elementos naturais”. Crowley admite que mesmo estes elementos são sempre arbitrariamente compostos, mas é a interação entre eles que fará toda máquina funcionar, principalmente quando o cabalista começa a perceber que toda e qualquer coisa no universo tem seu lugar no mapa da cabala. 

As primeiras atribuições sugeridas são aquelas que fazem conexão com outros três grandes campos de saber oculto: a astrologia, gematria e o tarô. Cada sefira tem uma correspondência astrológica, e portanto uma cor própria. Da mesma forma, cada uma das 22 ligações tem relação com uma das 22 letras do alfabeto hebraico (que é de onde tira seu nomes), mas também dos 22 Arcanos Maiores do Tarot. E para os caminhos próximos do Sol, um signo do zodíaco:

Só essas cinco atribuições iniciais (planetas, cortes, letras, valor gematrico e arcanos do tarô) já bastam para levar os estudos cabalísticos para outro patamar. Em particular às letras hebraicas darão um poder enorme por meio da prática da gematria no futuro.

Para facilitar essa etapa, pegue aquele mesmo caderno e depois da primeira página, em que a árvore estará desenhada, dedique uma folha para cada sefira e caminho. No topo da folha coloque o número apropriado e abaixo delas suas atribuições

Transcreva de punho próprio no seu caderno os dados abaixo em suas páginas apropriadas:

Sefira Correspondência Astrológica Cor
1. Kether Netuno Branco
2. Chochmah Urano Cinza
3. Binah Saturno Preto
4. Hesed Júpiter Azul
5. Geburah Marte Vermelho
6. Tipheret Sol Amarelo
7. Netzach Vênus Verde
8. Hod Mercúrio Laranja
9. Yesod Lua Violeta
10. Malkuth Terra Marrom

 

Ligação Zodiaco Gematria Arcano
11. Aleph א 1 O Louco
12. Bet ב 2 O Mago
13. Gimel ג 3 A Sacerdotisa
14. Dalet ד 4 A Imperatriz
15. Heh ה Áries 5 O Imperador
16. Vav ו Touro 6 O Hierofante
17. Zayin ז Gêmeos 7 Os Enamorados
18. Het ח Câncer 8 A Carruagem
19. Tet ט Leão 9 A Volúpia (Força)
20. Yud י Virgem 10 O Eremita
21. Kaf כ 20 (500 no final) A Fortuna (A Roda da Fortuna)
22. Lamed ל Libra 30 Ajustamento (A Justiça)
23. Men מ 40 (600 no final) O Enforcado
24. Nun נ Escorpião 50 (700 no fina) A Morte
25. Samech ס Sagitário 60 Arte (A Temperança)
26. Ayin ע Capricórnio 70 O Diabo
27. Peh פ 80 (800 no final) A Torre
28. Tzady צ Aquário 90 (900 no final) A Estrela
29. Koof ק Peixes 100 A Lua
30. Reish ר 200 A Sol
31. Shin ש 300 Aeon (O Julgamento Final)
32. Taf ת 400 O Universo (O Mundo)

Você deve então iniciar seus estudos cabalisticos. As próximas atribuições que podem ser feitas devem vir por meio de pesquisa. Algumas sugestões incluem as runas nordicas, os trigramas do i-ching, os patriarcas de Israel, os deuses egípcios e alguns nomes hebraicos de Deus e seus anjos. Também é muito esclarecedor buscar quais vícios e virtudes se encaixam em cada espaço da árvore da vida.

Crowley admite que o impacto inicial pode não ser fácil: 

“A princípio, é claro, tudo isso será terrivelmente confuso; mas persista, e chegará o tempo em que todas as partes estranhas se encaixarão no quebra-cabeças, e você verá – com graça e admiração! – a beleza e a simetria maravilhosas do sistema cabalístico. E então – que arma você terá forjado! Que poder de analisar, ordenar, manipular seu pensamento!

Cada ideia, seja qual for, pode ser, e deve ser, atribuída a um ou mais desses símbolos primários; assim, o verde, em diferentes tons, é uma qualidade ou função de Vênus, da Terra, do Mar, de Libra e de outros. Assim, também é com ideias abstratas; desonestidade significa “um Mercúrio sob tensão”, generosidade um bom, embora nem sempre forte, Júpiter; e assim por diante.

Agora você está armado! E poderá perguntar a si mesmo coisas como: por que a influência de Tiphareth é transmitida a Yesod pelo Caminho de Samekh, uma cerca, 60, Sagitário, o Arqueiro, Arte, azul – e assim por diante; mas para Hod pelo Caminho de Ayin, um olho, 70, Capricórnio, a Cabra, o Diabo, Indigo, etc..

Estas atribuições não apenas começam a lhe dar um entendimento da cabala, mas os sinais passam a explicar uns aos outros. Entender o signo de Gêmeos é entender o arcano dos Enamorados. Você sabe agora que a letra Peh tem às mesmas qualidades do Arcano Maior da Torre, e entende o tipo de percepções que ocorre quando a ligação entre Hod, com suas qualidades Mercuriais e Netzach, com suas qualidades Venusianas são feitas. 

A partir daqui você pode também iniciar seus estudos de gematria. 

Nas palavras de Crowley em uma observação no final da introdução de Magicka sem Lágrimas: “Os métodos da gematria servem para se descobrir verdades espirituais. Números são a rede estrutural do Universo e suas relações a forma de expressão do nosso Entendimento sobre ele.” A gematria une o rigor da matemática com as inspirações da poesia e assim enxerga coisas que os artistas não enxergam por falta de coerência e os matemáticos não enxergam por falta de imaginação.

Por exemplo, a palavra hebraica Achad (Unidade) e a palavra Ahebah (Amor) tem ambas o valor 13:

echadאחד  ahavah אהבה 
א = 1 

ח = 8

ד = 4

———-

Total: 13

א = 1 

ה = 5

ב = 2

ה = 5

———-

Total: 13

No pensamento cabalistico isso significa que Amor e Unidade são em última instância uma coisa só. Porque Jesus Cristo se uniu a um grupo de 12 apóstolos, porque o 13º Arcano é o Enforcado, relacionado a sacrifícios e porque o Diabo surge quando você duplica 13 e obtém 26, são outros pensamentos que surgem.

Ou achar graça que Pai + Mãe = Filho, visto que אב‎ (Pai, numericamente equivalente a 3) + אמ (Mãe, equiv. a 41) = ילד (Filho, equivalente a 44). Mas note, a gematria hebraica é só uma das possíveis. Lembre que seja em grego, hebraico ou inglês os números são os mesmos não importa sua grafia.

Para estudos mais profundos no segundo ato temos em português s livros fantásticos como a enciclopédia “Kabbalah Hermética” de Marcelo del Debbio e “Sistemagia” de Adriano Camargo Monteiro. Entre os autores estrangeiros às obras “Cabala Mística” de Dion Fortune, A Arvore da Vida de Israel Regardie e Liber 777 e o Sepher Sefira do próprio Crowley como boas indicações de estudos. 

Estas e outras relações se tornaram mais claras conforme se estuda a cabala, tornando-se enfim um novo estilo de pensamento que o tornará muito mais perceptivo, criativo e perspicaz do que às pessoas comuns. Sua memória também será expandida pois se tornará cada vez mais fácil fazer associações entre tudo lhe rodeia. De fato Crowley afirma que a Cabala é “O Melhor Treinamento para a Memória” e no capítulo “Jornada Astral”, acrescente que “Não há melhor treinamento para a memória do que a Santa Qabalah” dando então um exemplo possível:

“Você sai para dar uma caminhada e a primeira coisa que vê é um carro; que representa o Arcano VII, a Carruagem, relacionado ao signo de Câncer. Então você chega a uma peixaria e nota certos crustáceos, novamente o signo de Câncer. A próxima coisa que você nota é um vestido cor de âmbar em uma loja; âmbar também é a cor de Câncer. Agora você tem um conjunto de três impressões que são unidas pela classe de Câncer a ligação 17.Zayin. Você então verá que irá lembrar-se de todos os três eventos com muito mais clareza e precisão do que poderia lembrar-se de qualquer um dos três individualmente.”

Você não apenas pode pensar melhor sobre o universo. Você passa a pensar como o universo pensa. Neste mesmo capítulo Aleister Crowley explica o porque:

“Todo mecanismo da memória consiste na união de dados independentes. Você pode ir adicionando de pouco em pouco, sempre relacionando as impressões simples com outras mais gerais até que todo universo é organizado como um cérebro ou sistema nervoso. Este sistema de fato, se torna o Universo. Quando tudo esta apropriadamente correlacionado sua consciência central entende e controla todos os pequenos detalhes.”

Mas saiba desde já que uma vez que não podem compreender seu raciocínio para estas pessoas qualquer associação ou discurso cabalístico será indistinguível do delírio.

Ato 3: Sua própria Cabala

A próxima etapa de estudos cabalísticos é tão extravagante que o próprio Crowley a reconhece como uma sugestão sórdida e bestial. Mas faz a sugestão mesmo assim. Quando seu pensamento estiver absolutamente imerso nas associações da árvore da vida, chegou a hora de construir sua própria Cabala!

Após alguns anos seu caderno de estudo estará repleto de associações importantes. E se você o fez bem será algo muito semelhante aos livros já escritos sobre cabala citados acima. Mas existem associações que ninguém pode fazer a não ser você pois dizem respeito à perspectiva única de sua vida. 

A partir deste ponto você deve constantemente pendurar tudo que vier em seu caminho em seu galho mais apropriado. Onde cabe nesta grande estrutura a história da sua vida, suas conquistas, amores e maiores derrotas? Na sua perspectiva única em que espaços da Árvore da Vida estão seus parentes? Seus amigos? Seus relacionamentos? As etapas do seu crescimento? Suas comidas, roupas, músicas e livros favoritos?  E o que a gematria lhe diz sobre todos estes nomes? 

Após isso, fique atento para novas impressões. Uma prática excelente é adquirir o hábito de incluir um nome no caderno sempre que fizer sua leitura matinal ou noturna ou do que quer lhe chame atenção durante uma caminhada ou afazer.

Mega Therion coloca a questão da seguinte forma:

“Ninguém pode fazer isso por você. Qual é o seu verdadeiro número? Você deve encontrá-lo e provar que está correto. No decorrer de alguns anos, você deveria ter construído um Palácio da Glória Inefável, um Jardim do Prazer Indescritível. Afinal, é bastante simples. Cada palavra que você encontrar, some-a, cole-a contra aquele número em um livro guardado para esse propósito. Isso pode parecer tedioso e bobo; por que você deveria fazer de novo o trabalho que já fiz por você?

Motivo: simples. Fazer isso vai te ensinar Cabala como nada mais poderia. Além disso, você não ficará entulhado de palavras que nada significam para você; e se acontecer de você querer uma palavra para explicar algum número particular, você pode procurá-la em meu próprio Sepher Sephiroth.

Por este método, também, você pode encontrar um rico reservatório de suas próprias palavras ou de conceitos que foram completamente ignorados por outros autores até agora.

Para começar, é claro, você deve escrever as palavras que estão fadadas a atrapalhar seu caminho. Sem dúvida, um Grande Professor teria dito: “Cuidado! Use meu Dicionário, e apenas o meu! Todos os outros são espúrios!” Mas eu não sou um R.G.T. desse tipo.

Se qualquer palavra, estímulo, evento ou nome lhe chamar atenção coloque-o em seu livro. Crowley sugere inclusive diz que devemos deixar estas associações serem guiadas por nosso trabalho no Plano Astral. Ao investigar o nome e outras palavras comunicadas a você por seres que você encontra em suas projeções ou invocar, muitas outras conexões adequadas surgirão. Em breve, você terá seus próprios Sepher Sephiroth pequenos e agradáveis. “Lembre-se de almejar, acima de tudo, a coerência.”, completa a Grande Besta.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/thelema/aprenda-cabala-com-aleister-crowley/

Curso Completo de Tarot

curso-de-taro

Completando a primeira parte do meu projeto de Ensino à Distância, está pronto o Curso Completo de Tarot. Com isso, consegui cumprir a meta que estabeleci no começo de 2015, de até o final do ano ter todos os cursos básicos de Hermetismo disponíveis para Ensino à Distância.

Com todas as responsabilidades que tenho junto à Maçonaria, ao Arcanum Arcanorum, à Rosacruz e à Ordem Demolay, está difícil organizar cursos presenciais nos finais de semana e vemos também que muita gente que acompanha o TdC mora longe do eixo SP-RJ.

Pensando nisso, gravamos e organizamos todos os Cursos Básicos na plataforma de Ensino à Distância (EADeptus), para que vocês possam estudar em suas casas, no seu horário e em seu próprio tempo. Os cursos digitais possuem muitas vantagens em relação aos presenciais: contam com mais imagens, vídeos e áudios; você pode pausar para fazer uma pesquisa, anotar alguma coisa ou assistir às aulas quantas vezes quiser; os cursos são apostilados e temos plantão de dúvidas por email, fórum e Facebook. Fora o preço mais em conta e possível de dividir no cartão em até 12x. Se você contabilizar passagens, hospedagem e alimentação quando viaja para SP para fazer um curso, poderá fazer todos os básicos!

Até agora, gravamos todos os cursos básicos de Hermetismo:

– Kabbalah Hermética

– Astrologia Hermética

– Tarot Completo (Os Cursos de Arcanos Maiores e Arcanos Menores podem ser feitos separadamente)

– Geomancia

Agora em 2016, começaremos a gravar os cursos intermediários e avançados: Runas, Qlipoth, Magia Prática, Alquimia, Geometria Sagrada, 72 Nomes de Deus, Goétia e Enochiano. Cursos mais demorados e complexos, que demandam exercícios práticos além da parte teórica. Sucesso é a Única Possibilidade!

Para quem prefere mesmo os cursos presenciais, já comecei a abri as turmas de Carnaval. Dias 6, 7, 8 e 9 de fevereiro teremos os Cursos de Kabbalah, Astrologia, Qlipoth e Magia Prática. Informações e reservas no email marcelo@daemon.com.br

Confira abaixo o conteúdo dos Cursos de tarot:

Aula 01 – História dos Oráculos

1.1 – Introdução ao Curso Online de Tarot – Arcanos Maiores

1.2 – História dos Oráculos – Parte 1 – Geomancia

1.3 – História dos Oráculos – Parte 2 – I-Ching

1.4 – História dos Oráculos – Parte 3 – Dados e Ossos

1.5 – História dos Oráculos – Parte 4 – Alquimia, Rosacruz e Hermetismo

Aula 02 – Arcanos Maiores I

2.1 – A Árvore da Vida

2.2 – O Louco

2.3 – O Mago

2.4 – Sacerdotisa

2.5 – Imperatriz

Aula 03 – Arcanos Maiores II

3.1 – Imperador

3.2 – Hierofante

3.3 – Enamorados

3.4 – Carro

3.5 – Força

Aula 04 – Arcanos Maiores III

4.1 – Eremita

4.2 – Roda da Fortuna

4.3 – Justiça

4.4 – Pendurado

4.5 – Morte

Aula 05 – Arcanos Maiores IV

5.1 – Temperança

5.2 – Diabo

5.3 – Torre

5.4 – Estrela

5.5 – Lua

Aula 06 – Arcanos Maiores V

6.1 – Sol

6.2 – Julgamento

6.3 – Mundo

6.4 – Consagração das Cartas e Tiradas

6.5 – Considerações Finais

ARCANOS MENORES

Aula 01 – Introdução

1.1 – A Origem dos Arcanos Menores

1.2 – O Yin e o Yang

1.3 – Os Quatro Elementos: Terra, Fogo, Ar e Água

1.4 – Estrutura da Árvore da Vida e Nomenclaturas

1.5 – Os Arcanos da Corte

Aula 02 – Árvore do Fogo

2.1 – O Naipe de Bastões

2.2 – Ás, Dois e Três de Bastões

2.3 – Quatro, Cinco e Seis de Bastões

2.4 – Sete, Oito, Nove de Bastões

2.5 – Dez de Bastões

Aula 03 – Árvore da Água

3.1 – O Naipe de Taças

3.2 – Ás, Dois e Três de Taças

3.3 – Quatro, Cinco e Seis de Taças

3.4 – Sete, Oito, Nove de Taças

3.5 – Dez de Taças

Aula 04 – Árvore do Ar

4.1 – O Naipe de Espadas

4.2 – Ás, Dois e Três de Espadas

4.3 – Quatro, Cinco e Seis de Espadas

4.4 – Sete, Oito, Nove de Espadas

4.5 – Dez de Espadas

Aula 05 – Árvore da Terra

5.1 – O Naipe de Moedas

5.2 – Ás, Dois e Três de Moedas

5.3 – Quatro, Cinco e Seis de Moedas

5.4 – Sete, Oito, Nove de Moedas

5.5 -Dez de Moedas

Aula 06 – Os Arcanos da Nobreza

6.1 – Os Arcanos da Nobreza

6.2 – Princesa, Príncipe, Rainha e Rei de Moedas

6.3 – Princesa, Príncipe, Rainha e Rei de Espadas

6.4 – Princesa, Príncipe, Rainha e Rei de Taças

6.5 – Princesa, Príncipe, Rainha e Rei de Bastões

Aula 07 – Utilizando o Tarot

7.1 – Consagrações

7.2 – Uma Carta

7.3 – Três Cartas

7.4 – A Cruz Celta

7.5 – Conclusões Finais

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/curso-completo-de-tarot

H. P. Lovecraft, Charles Dexter Ward, Joseph Curwen e Necromancia

No início do ano de 1927, Howard Phillips Lovecraft escreveu o seu único romance, entitulado “O Caso de Charles Dexter Ward“, um romance que o autor não pôde ver publicado. A história foi impressa de forma resumida em 1941, quatro anos após a morte do escritor, nas edições de Maio e Julho da revista Weird Tales e em sua forma completa apenas dois anos depois, na coleção Beyond the Wall of Sleep publicada pela editora Arkham House.

O livro conta a história de Charles Dexter Ward, um jovem preso ao passado, especialmente à figura de seu tataravô Joseph Curwen, um feiticeiro que fugiu da caça às bruxas que tomou conta da cidade de Salem indo se estabelecer na província de Providência, na Ilha de Rodes. Joseph Curwen ganhou notoriedade em sua época por seus estranhos hábitos, como vagar por cemitérios, e pelas experiências alquímicas que realizava. A semelhança física que compartilha com o antepassado é motivo de espanto para Ward, que se torna obcecado em reproduzir as experiências cabalísticos e alquímicas registradas nos diários de Curwen e, pesquisando as anotações do mago, descobre uma forma de trazer de volta à vida qualquer ser já morto, e decide que conversar com seu ascendente renderia mais frutos do que apenas estudar sobre sua vida.

Apesar do resumo da obra, o primeiro presuposto deste texto é que o leitor já tenha lido o romance. Caso não seja o seu caso seria interessante parar agora para ler a obra antes de prosseguir, não apenas porque o texto que segue contém o que pode ser considerado como spoilers, mas também porque isso contribui com um compreendimento mais amplo sobre o que será apresentado. Você pode fazer o download do texto integral clicando aqui.

Antes de continuar é importante frisar que este tratado não defende de forma alguma que Lovercraft tenha se envolvido com o ocultismo, tenha participado de alguma ordem iniciática secreta ou que praticasse qualquer forma de magia além de sua própria escrita. Ele era um homem extremamente culto, um gênio até para os padrões modernos, e tinha acesso a muita informação. De mitologia a obras de ocultismo, que já eram de conhecimento geral como os escritos de Papus, Blavatsky e Eliphas Levi – todos esses livros que poderiam ser adquiridos por qualquer curioso na época. Lovecraft cresceu entre livros e aproveitou cada oportunidade que tinha para ler e estudar. Outro ponto que não será desenvolvido aqui é o argumento que defende que mesmo não sendo mago ele era um médium, um portal de contato com uma realidade maior e mais sombria. Sabemos que ele era vítima de sonhos e devaneios que lhe serviam de inspiração para muito do que escrevia, mas qualquer tentiva de desenvolver a hipótese de um dom de vidência do desconhecido merece um tratado próprio que desenvolva o assunto com a seriedade que merece.

 

Despertando os Mortos

Conforme a história se desenrola Ward, a princípio gradualmente e então de maneira brusca, vai perdendo a sanidade e a substituindo com rituais mágicos, evocações e experimentos alquímicos que o distanciam não apenas de seus entes mais próximos como também da realidade, atingindo seu clímax quando é realizado o ritual para trazer da morte Joseph Curwen. O ritual em si é descrito de forma simples mas traz implicações profundas.

O ritual e seus elementos podem ser organizados da seguinte forma:

 

– Sais Essenciais

“Sobre a imensa mesa de mogno jazia virado para baixo um exemplar de Borellus, gasto pelo uso, trazendo muitas notas misteriosas escritas à mão por Curwen ao pé da página e entre as linhas”, este livro trazia um “trecho sublinhado” de “forma febril”. O trecho dizia:

“Os Sais Essenciais dos Animais podem ser preparados e preservados de tal forma que um Homem engenhoso possa ter toda a Arca de Noé em seu próprio Estúdio e fazer surgir a bela Forma de um Animal de suas próprias Cinzas a seu Bel-prazer; e, pelo mesmo Método, dos Sais essenciais do Pó humano, um Filósofo pode, sem recorrer à Necromancia criminosa, evocar a Forma de qualquer ancestral Falecido das cinzas resultantes da incineração de seu Corpo”.

 

– Um Local Reservado ou Afastado Para o Ritual

Conforme sua obcessão por seu antepassado, Curwen, crescia, Ward comprou uma “fazenda na Pawtuxet Road que havia sido propriedade do bruxo. Um lugar para onde se mudava, durante o verão. A propriedade era habitada apenas por duas pessoas, além do próprio Ward, um casal de índios da tribo Narragansett “o marido mudo e com curiosas cicatrizes, e a mulher com uma expressão extremamente repulsiva”, eles eram “seus únicos empregados, trabalhadores braçais e guardas”.

Em um anexo dessa casa ficava o laboratório onde era realizada a maior parte das experiências químicas. Os vizinhos mais próximos à fazenda se encontravam a uma distância de mais de um quarto de milha. Também existe menção “a um grande edifício de pedra, pouco distante da casa, com estreitas fendas em lugar das janelas”.

 

– Diagramas e figuras geométricas desenhados no chão

Dr. Willet, outro personagem central na história, quando investiga o sótão onde Ward passava tanto tempo, percebe “restos semi-apagados de círculos, triângulos e pentagramas traçados com giz ou carvão no espaço livre no centro do amplo aposento” e mais tarde, investigando o laboratório subterrâneo de que Ward montara no antigo bangalô de Curwen, em Pawtuxet, “um grande pentagrama no centro, com um círculo simples de cerca de noventa centímetros pés de diâmetro, entre este e cada um dos outros cantos”

 

– Invocação Per Adonai

Durante uma Sexta-Feira Santa, no fim do dia, “o jovem Ward começou a repetir certa fórmula num tom singularmente elevado” enquanto queimava “alguma substância de cheiro tão penetrante que seus vapores se expandiram por toda a casa”. A repetição da fórmula se prolongou por tanto tempo que a mãe de Ward foi capaz de reproduzí-la por escrito.

A fórmula descrita pela senhora Ward era:

Per Adonai Eloim, Adonai Jehova, Adonai Sabaoth, Metraton On Agla Mathon, verbum pythonicum, mysterium salamandrae, conventus sylvorum, antra gnomorum, daemonia Coeli God, Almonsin, Gibor, Jehosua, Evam, Zariatnatmik, veni, veni, veni. 

Depois de duas horas repetindo initerruptamente a evocação “se desencadeou por toda a vizinhança um pandemônio de latidos de cachorros”, tamanho foi o estardalhaço dos latidos que viraram manchetes de jornal no dia seguinte.

 

– A Invocação Dies Mies Jeschet

Então o pandemônio causado pelos cães da região foi sobrepujado por um “odor que instantaneamente se seguiu; um odor horrível, que penetrou em toda parte, jamais sentido antes nem depois” e então se seguiu “uma luz muito nítida como a do relâmpago, que poderia ofuscar e impressionar não fosse dia pleno”. Uma voz, “que nenhum ouvinte jamais poderá esquecer por causa de seu tonitroante tom distante, sua incrível profundidade e sua dissemelhança sobrenatural da voz de Charles Ward […] abalou a casa e foi claramente ouvida pelo menos por dois vizinhos, apesar do uivo dos cães”. A voz dizia claramente:

DIES MIES JESCHET BOENE DOESEF DOUVEMA ENITEMAUS 

 

– A Invocação Yi-nash-Yog-Sothoth

Logo após a poderosa voz declarar seu intento, “a luz do dia escureceu momentaneamente, embora o pôr-do-sol demorasse ainda uma hora, e então seguiu-se uma lufada de outro odor, diferente do primeiro, mas igualmente desconhecido e intolerável”. Ao mesmo tempo Ward volta a entoar de forma monótona uma nova fórmula, que era percebida como sílabas aparentemente sem sentido:

Yi-nash-Yog-Sothoth-he-lgeb-fi-throdog

Sendo seguida por um grito de YAH!, “cuja força desvairada subia num crescendo de arrebentar os tímpanos”.

Instantes depois um “grito lamentoso que irrompeu com uma explosividade desvairada e gradativamente foi se transformando num paroxismo de risadas diabólicas e histéricas”, este episódio foi seguido por um segundo grito, desta vez proferido certamente por Ward, se fez ouvir, ao mesmo tempo em que a risada continuava a ser ouvida.

 

Tão Morto Quanto Um Morto Pode Estar

Necromancia é uma forma de divinação que envolve os mortos. Na grécia antiga o objetivo do ritual era enviar o mago praticante para o mundo subterrâneo, onde ele consultaria os mortos e voltaria com o conhecimento adquirido. Com o passar do tempo a viagem às profundezas foi substituída por uma evocação, o morto era arrancado do domínio da morte e por momentos poderia se comunicar com os vivos em nosso mundo. Nekros, “morte”, e manteia, “divinação”, o termo foi adotado pelos povos cuja língua se derivou do latim, como os italianos, espanhois e franceses, como nigromancia, nigro significando também “negro”, uma forma negra, escura, de divinação; termo que deu origem a magia negra ou artes negras, uma prática que causava resultados maravilhosos graças à intervenção de espíritos mortos.

Conforme o cristianismo foi se tornando a crença dominante na europa, os espíritos dos mortos que se envolviam com tais rituais começaram a ser considerados espíritos cruéis, almas atormentadas e eventualmente demônios do próprio inferno. Se havia uma magia “negra”, em um mundo de dualidade com certeza haveria o seu oposto, a magia “branca”, se a primeira lidava com almas de mortos que habitavam o submundo e com demônios a segunda obviamente colocava o mago em contato com os espíritos dos Santos e com os Anjos de Deus. Em uma analogia ao Gênese bíblico ou ao Big-Bang moderno, a escuridão e trevas “nigro” deu origem à luz. Nesta aspecto a magia negra é muito mais antiga do que a sua contraparte branca.

 

Necromancia à Moda Antiga

A necromancia é encontrada com outras formas de divinação e magia em praticamente todas as nações da antiguidade, mas nada pode ser dito com certeza a respeito de suas origens. Strabo afirmou que era a principal forma de divinação dos Persas, ela também era praticada na Caldéia, Babilônia e Etrúria. O livro de Isaias, da Bíblia, se refere à prática entre os egípcios – 19:3 – e no livro de Deuteronômio – 18:912 – alerta os israelitas contra a sua prática, chamada de “abominação dos Cananeus”.

Como vimos, as práticas mais antigas eram de ir ao submundo buscar os mortos no reino do qual não podiam escapar, assim na Grécia e em Roma o ritual tinha lugar especialmente em cavernas ou vulcões, que supostamente tinham ligação com o submundo, ou próximo a lagos e rios, já que a água era vista como um “canal de acesso” de comunicação com os mortos, sendo o rio Acheron o mais procurado.

A menção mais antiga à prática da necromancia é a narrativa da viagem de Ulisses ao Hades e sua evocação das almas dos mortos através de vários rituais que lhe foram ensinados por Circe. Outra romantização da evocação de mortos está no sexto livro da Eneida, de Virgílio, que relata a descida de Enéas às regiões infernais, mas neste caso não existe um ritual, o herói vai fisicamente à morada das almas.

Além das narrativas poéticas e mitológicas existem inúmeros registros, por parte de historiadores, de praticantes da necromancia. Em Cabo Tenarus, Callondas evocou a alma de Archilochus. Periandro, o tirano de Coríntio, conhecido como um dos sete sábios da Grécia, enviou mensageiros para o oráculo do Rio Acheron para interrogar sua falecida esposa, depois de dois encontros os mensageiros conseguiram a resposta que buscavam. Pausanis, rei de Esparta, matou Cleonice ao confundí-la com um inimigo durante a noite, e como consequência não encontrava mais paz de espírito nem descanso, após tentativas infrutíferas de se livrar dos sentimentos que o afligiam ele se dirigiu para o Psicopompeion de Phigalia e evocou a alma da morta, recebendo a garantia de que assim que voltasse para Esparta seus pesadelos e medos desapareceriam, assim que voltou para a cidade ele morreu. Após sua morte os espartanos viajaram para Psicagogues, na Itália, para evocar e aplacar sua alma. Entre os romanos, Horácio constantemente alude à evocação dos mortos. Cícero testemunha que seu amigo Appius praticava a necromancia e que Vatinius conjurava as almas do além. O mesmo é dito a respeito do imperador Drusus, de Nero e de Caracalla.

Não existe certeza sobre os rituais realizados, ou os encantamentos feitos. A cada relato surgem descrições complexas e completamente diferentes entre si da maneira de chamar os mortos. Na odisséia Ulisses cava uma trincheira, entorna libações nela e sacrifica uma ovelha negra, cujo sangue será bebido pelas sombras, antes que elas lhe respondam a qualquer pergunta. Lucan descreve em detalhes inúmeros encantamentos e fala de sangue fresco sendo injetado nas veias de um cadáver para que ele retorne à vida. Cícero nos relata sobre Vatinius, que oferecia à alma dos mortos as entranhas de crianças e São Gregório fala de virgens e meninos sendo sacrificados e dissecados para que os mortos pudessem ser evocados ou para que o futuro pudesse ser visto.

Nos primeiros séculos depois de Cristo, os patriarcas da nova religião testemunharam a adoção da prática dentre seus novos convertidos, a necromancia era praticada em conjunto com outras artes mágicas que passaram a ser associadas com demônios, e passaram a advertir seus novos seguidores contra essas práticas nas quais: demônios se apresentavam como se fossem a alma dos mortos” (Tertuliano, De anima, LVII, em P.L., II, 793), mesmo assim, como seria de se esperar, muitos ignoravam os alertas e se entregavam à prática. Surgiram então os esforços das autoridades eclesiásticas, Papas e conselhos em suprimir por completo tal abominação. Leis criadas por imperadores cristãos como Constantino, Constantius, Valentino, Valens e Teodósio não se restringiam apenas à necromancia mas a qualquer forma de magia considerada pagã – precisamos nos lembrar que a igreja aceita que de acordo com a vontade de Deus as almas de pessoas mortas podem aparecer para os vivos lhes revelando coisas desconhecidas, ou que milagres podem ser realizados. Graças a este combate contra magia, rituais e superstição pagã, com o tempo o termo necromancia perdeu seu sentido estrito e passou a ser aplicado a toda forma de “magia negra”, se tornando associado com alquimia, bruxaria e magia. Mesmo com todos seus esforços, a igreja não conseguiu abolir essas práticas e a necromancia sobreviveu, se adaptando quando necessário, à Idade Média ganhando um novo ímpeto pela época do renascimanto.

 

As Raízes da Necromancia de Charles Dexter Ward

smackDuas coisas precisam ser levadas em consideração quando estudamos os rituais de necromancia apresentados por Lovecraft em sua obra, especialmente no Caso de Charles Dexter Ward.

Em primeiro lugar a superstição causada pela religião dominante. O cristianismo abominava qualquer ato religioso e ou mágico que não os rituais consagrados pela igreja e realizado por seus clérigos. Qualquer coisa além disso era vista de forma agressiva pelos religiosos, isso se refletiu no grande público frequentador de igreja e formado por uma sociedade criada a partir de uma moralidade cristã. O medo do sobrenatural acompanhou a raça humana desde seus primórdios, mas além deste sentimento natural houve, a partir do século IV, uma campanha focada em cristalizar esse medo e mudar seu status de característica humana em virtude humana. Isso é o motivo por até hoje religiões que não flertem diretamente com o cristianismo sejam vistas com preconceito, medo ou indiferença por uma sociedade religiosamente “morna”.

No início do século XX, a menção de rituais depravados era tabu. Ordens religiosas como a Golden Dawn, O.T.O., Maçonaria, Teosofia, Wicca e Rosa-Cruz, haviam mostrado para a Europa que cultos mágicos haviam sobrevivido ao feudo religioso da Idade Média, grimórios mágicos falavam sobre as práticas de evocação e negociação com espíritos vindo do inferno. E rumores sobre tais feitos e grupos chegavam através do oceano a um continente onde por anos a luta contra a feitiçaria havia sido uma realidade. A Inquisição teve seus ecos em solo americano, onde bruxas eram caçadas, torturadas e queimadas ainda com vida. Novas religiões nasciam em segredo e tinham que se afastar de áreas populadas para poderem ser seguidas – religiões que se derivavam do cristianismo, como os Mórmons por exemplo. Esses rumores assustavam muitas pessoas que consideravam estar a salvo da sombra do diabo e de seus seguidores.

Em segundo lugar havia a literatura gótica e fantástica. Escritores de contos de terror tinham inspiração de sobra na época. Cultos pagãos que haviam sobrevivido em segredo. Criaturas demoníacas que roubavam crianças recém nascidas e colocavam cópias maléficas em seu lugar. Livros que ensinavam a evocar o próprio demônio. Histórias que se aproveitavam dos temores mais profundos das pessoas e os exploravam para se tornarem fenômenos comerciais, em uma época, diga-se de passagem, em que o analfabetismo era a regra.

Dos principais temas góticos que se tornaram sucesso, e por isso recorrentes em inúmeros livros, temos o dos fantasmas que surgiam como pessoas vivas, interagindo com os protagonistas para apenas revelar sua natureza sobrenatural no clímax da obra, e o do alquimista que após concluída a aventura se revelava uma pessoa com séculos de idade, prolongada de forma artificial através de rituais, acordos e da química proibida. Esses livros inspiraram muito o trabalho de Lovecraft e estão presentes em muitos de seus contos como por exemplo Ar Frio, O Alquimista e A Coisa Na Soleira da Porta.

Quando Lovecraft escrevia ele buscava transpor para o papel algo que despertasse no leitor seus medos mais ocultos e violentos, um temor puro e inexplicável de algo incompreensível para a mente humana. E assim ele combinou em um texto a ficção que admirava com a superstição que dominava as pessoas, e para isso ele buscou bases reais para seu romance.

 

Senhor Mather e Mestre Borellus

Durante o desenrolar da história o nome do livro de Borellus não é citado, e nem qualquer outra informação direta sobre seu autor, mas Lovecraft nos dá uma pista importante. Durante sua narrativa ele escreve uma passagem sobre uma carta escrita por Jebediah Orne, de Salem, para Curwen na qual lemos:

“[…]Não possuo as artes químicas para imitar Borellus e confesso que fiquei confuso com o VII Livro do Necronomicon que o senhor recomenda. Mas gostaria que observasse o que nos foi dito a respeito de quem chamar, pois o senhor tem conhecimento do que o senhor Mather escreveu nos Marginalia de______”

Aqui entram dois personagens importantes na solução do mistério, Mather e suas escritas marginais em algum livro.

Mather muito provavelmente se trata de Cotton Mather, o ministro puritano da Nova Inglaterra que teve grande influência nos tribunais de caças a bruxas nos Estados Unidos, especialmente na cidade de Salém. A mera citação do nome de Mather no texto é importante pois ajuda a dar credibilidade ao passado de Joseph Curwen, um bruxo que deixou Salém na época em que bruxos era perseguidos e se isolou para dar continuidade a seu trabalho, sem perder o vínculo com os feiticeiros de lá. Em 1702, a maior obra de Mather é publicada, o Magnalia Christi Americana – Os Gloriosos Trabalhos de Cristo na América, o livro traz biografias de santos e descreve o processo de colonização da Nova Inglaterra. A obra, composta de sete livros, traz também o livro entitulado “Pietas in Patriam:  A vida de Vossa Excelência Sir William Phips”. Pietas havia sido publicado anonimamente em Londres em 1697.

Aqui se faz necessária a apresentação de outro escritor, Samuel Taylor Coleridge. Coleridge foi um famoso poeta e ensaista inglês, considerado um dos fundadores do Romantismo na Inglaterra. Dentre de suas obras mais conhecidas se destacam Balada do Antigo Marinheiro – conhecida também por ter inspirado a música de mesmo nome da banda Iron Maiden – Kubla Khan e Cristabel. Lovecraft conhecia e admirava o escritor, como deixa claro em seu O Horror Sobrenatural na Literatura. Mas além de escrever os próprio poemas e prosas, Coleridge era famoso por suas marginália nos livros que possuia. Como todo leitor da revista MAD ou qualquer fã de Sérgio Aragonés já sabe, marginália (do latim marginalia, como também é usado – sem o acento) é o termo geral que designa as notas, escritos e comentários pessoais ou editoriais feitos na margem de um livro, o termo é também usado para designar desenhos e floreados nas iluminuras dos manuscritos medievais. Tantas foram que hoje existem volumes com suas anotações pessoais sendo impressos e um livro em particular se encaixa nesta obra de Lovecraft, o Magnalia Christi Americana de Mather. A Biblioteca de Huntington contém alguns dos livros que Coleridge cobriu com suas notas e comentários e um deles é a edição de 1702 do Magnalia. A principal característica dessas notas são o tom anti puritano e anti Mather, Coleridge se surpreende com a credulidade do ministro e se perturba com suas descrições sobre bruxaria, como detectar e tratar as acusadas de feitiçaria. Em um ponto Coleridge se aborrece com a incapacidade de Mather fornecer dados suficientes para que o poeta pudesse calcular a velocidade com que um fantasma se desloca.

Neste ponto é importante frisar que não há evidência de que Lovecraft tenha descoberto o livro de Mather por causa de Coleridge, existe uma chance dele próprio ter possuido uma cópia do Magnalia, ou ao menos do Pietas. Muitas das coisas descritas ali com certeza seriam de seu interesse, especialmente as alusões ao sobrenatural e à bruxaria, um tema também tratado por ele em muitos contos. Mas de fato este livro contém a chave para a identificação de Borellus. Mather o inicia com algumas palavras sobre a natureza da arte da biografia, comparando o biógrafo com a teoria defendida por Borellus de se evocar a forma dos ancestrais – Livro II, Capítulo XII. Na época de Mather viveu um químico, alquimista, físico e botânico francês que ganhou muita notoriedade escrevendo sobre ótico, história antiga, filologia e também sobre bibliografia, Pierre Borel (1620-1679). Não é difícil de se supor que Mather, também um biógrafo apaixonado, conhecesse Pierre Borel e sua obra. Dos muitos textos existentes de Borel não existe a passagem literal citada por Mather, o que leva a crer que Mather parafraseou o alquimista francês usando suas próprias palavras. Este ponto também é importante porque mostra que Lovecraft de fato teve acesso ao livro de Mather e não à obra de Borel, cujo nome em latim era escrito Petrus Borellius, ou simplesmente Borellus, já que atribui ao alquimista a passagem literal.

Fora isso, a menção de uma Marginalia de punho do próprio Mather pode servir como subterfúgio para indicar que Curwen e Jebediah possuiam anotações não publicadas de Mather, o que agrega ao romance um ar muito mais sinistro; uma das grandes contribuições de Mather para os tribunais de feitiçaria foi o incentivo do uso de provas sobrenaturais para acusar as supostas feiticeiras. Notas marginais de Mather em  um livro de evocações demoníacas seria o mesmo que um selo legitimando o ritual.

 

A Alquimia do Sal

“Se um químico renomado como Quercetanus, juntamente com uma tribo inteira de ‘trabalhadores no fogo’, um homem culto encontra dificuldades em fazer a parte comum da humanidade acreditar que eles podem pegar uma planta em sua consciência mais vigorosa, e após a devida maceração, fermentação e separação, extrair o sal da planta, que, como se encontra, no chaos, de forma invisível reserva a forma do todo, que é seu princípio vital; e que, mantendo o sal em um pote hermeticamente selado, podem eles então, ao aplicar um fogo suave ao pote, fazer o vegetal se erguer ao poucos de suas próprias cinzas, para surpreender os espectadores com uma notável ilustração da ressurreição, na mesma fé que faz os Judeus, ao retornarem das tumbas de seus amigos, arrancarem a grama da terra, usando as palavras da Escritura que dizem “Seus ossos florecerão como uma erva”: desta forma, que todas as observações de tais escritores, como o incomparável Borellus, encontrarão a mesma dificuldade de criar em nós a crença de que os sais essenciais dos animais podem ser preparados e preservados de tal forma que um homem engenhoso possa ter toda a Arca de Noé em seu próprio estúdio e fazer surgir a bela forma de um animal de suas próprias cinzas a seu bel-prazer: e, pelo mesmo Método, dos sais essenciais do pó humano, um filósofo pode, sem recorrer à necromancia criminosa, evocar a Forma de qualquer ancestral falecido das cinzas resultantes da incineração de seu corpo. A ressurreição dos mortos será da mesma forma, um artigo tão grandioso de nossa crença, mesmo que as relações desses homens cultos se passem por incríveis romances: mas existe ainda a antecipação da abençoada ressurreição, carregando em si algumas semelhanças a estas curiosidades, quando em um livro, como no pote, nós reservamos a história de nossos amigos que partiram; e ao aquecermos tais histórias com nosso afeto nós revivemos, de suas cinzas, a forma verdadeira desses amigos, e trazemos com uma nova perspectiva tudo aquilo que era memorável e reprodutível neles.”

Magnalia Christi Americana – Livro II, Capítulo XII

Como descrito por Mather, Borellus, Quercetanus e os membros da tribo dos “Trabalhadores no Fogo” afirmam que para ressucitarmos os mortos, precisaríamos apenas de um processo puramente químico, isso se torna evidente na passagem “sem recorrer à necromancia criminosa”. Mas, em sua história, Lovecraft sugere que Borellus, em seu livro misterioso, afirmava a necessidade de componentes ritualísticos. Na troca de correspondência entre Jebediah, Hutchinson e Curwen lemos:

Jebediah:

“Eu ainda não possuo a arte química para seguir Borellus…”

Curwen:

“As substâncias químicas são fáceis de serem conseguidas, eu indico para isso bons químicos na cidade. Doutores Bowen e Sam Carew. Estou seguindo o que Borellus disse, e consegui ajuda no sétimo livro de Abdul Al-Hazred.

Hutchinson:

“Você me supera em conseguir as fórmulas para que um outro o possa dizê-las com sucesso, mas Borellus supôs que seria assim, se apenas as palavras corretas fossem proferidas.”

Isso faria com que o processo alquímico da obtenção dos sais e da sua conseguinte restauração em suas formas originais deveria ser acompanhado de certos rituais, fórmulas pronunciadas, combinando a química com a Alta Magia.

 

Entra em Cena Eliphas Levi

A fórmula recitada por Ward na Sexta-Feira Santa, anotada por sua mãe foi identificada por especialistas como uma das evocações encontradas “nos escritos místicos de ‘Eliphas Levi’, aquele espírito misterioso que se insinuou por uma fenda da porta proibida e teve um rápido vislumbre das terríveis visões do vazio além”.

Eliphas Levi era o nome mágico do ocultistas francês Alphone Louis Constant (1810-1875), um dos grandes, se não o maior, responsável pelo renascimento do ocultismo moderno. Paracelso elevou a magia ao status de ciência, Cagliostro a incorporou na religião que buscava a regeneração da espécie humana, mas foi Levi que a tranformou em literatura. A atmosfera e densidade com que trata o ocultismo diferenciava as obras de Levi dos outros grimórios que existiam e circulavam na época. O assunto que parecia tomar a forma de livros de receitas demoníacas e angelicais, passou a ser tratado com reverência, como uma filosofia e um estudo no qual eram necessários anos de aprimoramento para se dominar.

Seu livro mais conhecido do grande público é o Dogma e Ritual da Alta Magia, e é exatamente nesta obra que encontraremos a fórmula usada por Ward, mas muito provavelmente não foi este livro que Lovecraft teve em suas mãos para inspirar esta passagem.

Crowley sempre fez questão de ser conhecido e lembrado como o mais depravado dos homens, o mago negro de sua geração, a Grande Besta 666, e fez um bom trabalho nisso. Mas como devemos chamar então o seu arqui-inimigo, aquele que inspirou a vilão Arthwate do livro Moonchild escrito por Crowley?

Arthur Edward Waite se tornou um místico muito menos popular do que Crowley, mas em alguns pontos muito mais poderoso. Durante sua vida escreveu extensamente sobre ocultismo e esoterismo. Foi um dos criadores do Tarô Raider-Waite, considerado um Tarô clássico até os dias de hoje. Ele fez parte da Ordem Hermética da Aurora Dourada, Sociedade Rosa-Cruz Inglesa, Sociedade da Cruz Rosada, dentre outras. Seus trabalhos atravessaram o atlântico e acabaram chegando às mãos de Lovecraft que inclusive o incluiu em um de seus contos, também como um vilão, o mago negro Ephraim Waite de A Coisa Na Soleira da Porta. Mas não foi com seus trabalhos que Waite influenciou O Caso de Charles Dexter Ward. Além de escrever sobre Tarô, divinações, esoterismo, os Rosacruz, Maçonaria, Cabala e alquimia, Waite também traduzia e publicava muitos livros ainda inéditos na língua inglesa, e Eliphas Levi havia se tornado uma celebridade entre os praticantes de magia cerimonial. Em 1886 Waite publicou um livro intitulado Os Mistérios da Magia, formado por vários artigos tirados de livros de Levi, posteriormente em 1896 conseguiu publicar as duas obras do ocultista francês, Dogma da Alta Magia e Ritual da Alta Magia, em uma versão em inglês, rebatizada para Magia Transcedental, Sua Doutrina e Rituais. Ambos os livros possuem um mesmo capítulo entitulado O Sabbat dos Feiticeiros, e neste capítulo encontramos a fórmula Per Adonai. Hoje não há como saber com certeza de qual livro de Waite Lovecraft tirou o encantamento, mas muitos pesquisadores apontam para o livro de coletânia de textos, o Mistérios da Magia.

O capítulo em questão, trata do que Levi define como “o fantasma de todos os espantos, o dragão de todas as teogonias, o Arimane dos persas, o Tifon dos egípcios, o Píton dos gregos, a antiga serpente dos hebreus, a vouivre , o graouilli , tarasque , a gargouille , a grande besta da Idade Média, pior ainda do que tudo isso, o Baphomet dos templários, o ídolo barbado dos alquimistas, o deus obsceno de Mendes, o bode do Sabbat”. Dentro do assunto tratado em seu romance, Lovecraft não podia ter escolhido uma fonte melhor de onde tirar a porção de magia cerimonial do ritual realizado por Ward. Mas apesar de tratar do ritual de adoração ao Diabo, Levi deixa clara sua visão quando afirma que “digamos bem alto, para combater os restos de maniqueísmo que ainda se revelam, todos os dias, nos nossos cristãos, que Satã, como personalidade superior e como potência, não existe. Satã é a personificação de todos os erros, perversidades e, por conseguinte, também de todas as fraquezas”. Indo mais a fundo em sua exposição, Levi classifica tais rituais em três grupos distintos:

– Os que se referem a uma realidade fantástica e imaginária;

– Aqueles que revelam os segredos expostos nas assembléias ocultas dos verdadeiros adeptos;

– Aqueles realizados por loucos e criminosos, tendo como objetivo a magia negra.

E prossegue:

“[…]e existiu realmente; até ainda existem as assembléias secretas e noturnas em que foram e são praticados os ritos do mundo antigo, e destas assembléias umas têm um caráter religioso e um fim social, outras são conjurações e orgias. É sob este duplo ponto de vista que vamos considerar e descrever o verdadeiro Sabbat , quer seja o da magia luminosa, quer o da magia das trevas.”

Levi então descreve a personalidade de alguém que será bem sucedido em suas evocações infernais. A pessoa deve ser teimosa, ter uma consciência ao mesmo tempo endurecida e acessível ao remorso e ao medo, acreditar naquilo que “a parte comum da humanidade” não acredita ser real. Para o ritual ter sucesso são necessários sacrifícios sangrentos.

Por toda a cidade se comentavam sobre os hábitos estranhos adotados pelo jovem ward, que incluíam encomendas de quantidades imoderadas de carne e sangue fresco fornecidas pelos dois açougues da vizinhança mais próxima, uma quantidade muito grande para uma casa em que habitavam apenas três pessoas.

Levi então diz que após os preparativos, que podem levar dias a evocação deve ser feita, de segunda para terça-feira ou de sexta-feira para sábado, o que coincide com o ritual realizado na Sexta-Feira Santa por Ward. A pessoa então deve traçar círculos e triângulos e os molhar não com o sangue de uma vítima, mas do próprio operador.

circulogoetico.gif

“A pessoa pronunciará, então, as fórmulas de evocação que se acham nos elementos mágicos de Pedro de Apono ou nos engrimanços, quer manuscritos, quer impressos. A do Grande Grimório , repetida no vulgar Dragão Vermelho , foi voluntariamente alterada na impressão. Ei-la como deve ser lida:

“Per Adonai Elohim, Adonai Jehova, Adonai Sabaoth, Metraton On Agla Adonai Mathom, verbum pythónicum, mystérium salamándrae, convéntus sylphórum, antra gnomórum, doemónia Coeli Gad, Almousin, Gibor, Jehosua, Evam, Zariatnatmik, veni, veni, veni ”.

 

Veni, Veni, Veni

Como Levi afirma, a evocação Per Adonai já existia muito tempo antes dele a publicar em seu livro, dizendo que a do Grande Grimório, talvez mais antiga que tenha visto pessoalmente, foi reimpressa de forma alterada no Dragão Vermelho.
Apesar de na cabeça das pessoas a história dos grimórios, ou engrimaços, se perder no tempo, eles não são tão antigos assim. A maior fonte de todos os livros mágicos que surgiram na Europa até recentemente, foi a Bíblia. Os primeiros cinco livros das Escrituras Sagradas, conhecidos como Pentateuco, são atribuídos a Moisés. Muitas pessoas acreditavam que Moisés escreveu muito mais coisas do que apenas os cinco livros e não demoraram a aparecer cópias do livro entitulado o oitavo livro de Moisés. Esse livro, datado de aproximadamente IV d.C., trazia, supostamente, os ensinamentos de Deus que ficaram fora do Pentateuco, as maneiras de se chamar anjos e realizar maravilhas, curiosamente os manuscritos mais antigos retratavam Moisés como um egípcio e não um judeu. Outros textos que diziam ter sido escritos por Salomão, existiam na forma de um livro que circulava no primeiro século cristão. Outro autor bíblico que fazia sucesso era Enoque, haviam inúmeros manuscritos mágicos que descreviam o que Deus supostamente havia lhe ensinado sobre o controle das forças por trás da Criação. Todos esses livros, obviamente, não tinham ligação direta com os patriarcas bíblicos, mas eram muito populares porque as pessoas que os adquiriam acreditavam nisso, o que torna os primeiros grimórios excelentes exemplos de jogadas de marketing séculos antes do marketing sequer ser criado. Em 1436, com o advento da prensa móvel por Gutenberg, dezenas de grimórios “antigos” começaram a circular, dentre eles as Claviculas de Salomão, o Pequeno Alberto, o Grimório de Honório, o Sexto e Sétimo Livros de Moisés, o Galo Negro, Grande Grimório, Grimorium Verum e inúmeros outros. Os livros mais caros eram grandes, ilustrados, os mais baratos eram cópias mal feitas, com coletânias de textos vindo de outros livros sem muita explicação de como seguí-las, eram de fato livros de receitas em que anjos e demônios eram evocados em horas planetárias pré determinadas.
O Grande Grimório, citado por Levi, traz uma introdução que afirma que a obra foi impressa em 1552, mas não existem registros de publicações anteriores ao século XVIII. Seu autor é apresentado como Alibek, o Egípcio. Em sua página de introdução está escrito:
“Este livro é tão raro e procurado em nosso país que foi chamado, por nossos rabinos, de a verdadeira Grande Obra. Foram eles que nos entregaram este precioso original que muitos charlatães tentaram inutilmente reproduzir, tentando imitar a verdade que eles nunca encontraram, de forma a tirar vantagem de indivíduos ingênuos que tem fé em encontros com pessoas quando buscam a Fonte original.
Este manuscrito foi copiado de inúmeros escritos do grande Rei Salomão. Este Grande Rei passou muitos de seus dias na mais árdua busca atrás dos mais obscuros e inesperados segredos.”
Ao examinar o Grande Grimório é fácil perceber que a evocação Per Adonai não se encontra nele, a maior parte das evocações lá presentes são variantes da fórmula:
“Eu Te imploro, O grande e poderoso ADONAI, lider dos espíritos. Eu Te imploro, O ELOHIM, eu Te imploro O JEHOVA, O grande Rei ADONAI, seja condescendente e favorável. Que assim seja. Amém.”
Mas isso não é uma surpresa. Grimórios eram colchas de retalhos, hoje um exemplo disso é o Livro de São Cipriano, diferentes editoras o lançam com diferentes nomes, O Livro de São Cipriano, O Verdadeiro Livro de São Cipriano, São Cipriano da Capa Preta, São Cipriano da Capa Metálica, etc. Na época de Levi ainda havia o agravante de cada tradução ser uma versão diferente do grimório traduzido, partes eram introduzidas ou retiradas, assim quando mudava de língua, o livro mudava de conteúdo, não eram traduções e sim editorações de conteúdo. Outro problema era a origem do livro e seu nome real. Muitos grimórios afirmavam ser versões modernas inspiradas por livros mais antigos, no caso do Grande Grimório, há aqueles que acreditem que ele foi amplamente inspirado no livro conhecido como o Grimório Jurado de Honório, o Liber Juratus – não confundir com o Grimório do Papa Honório III. No Liber Juratos é possível se encontrar fórmulas muito mais próximas à de Levi, como por exemplo:
“HAIN, LON, HILAY, SABAOTH, HELIM, RADISH~~, LEDIEHA, ADONAY, JEHOVA, YAH, TETRAGRAMMATON, SADA!, MESSIAS, AGIOS, ISCHYROS, EMMANUEL, AGLA”
O que pode indicar que talvez o Grande Grimório ao qual Levi se referia seria na verdade o Liber Juratus. Levi o compara ao Dragão Vermelho, que se conecta de forma diferente aos dois livros, Grande Grimório e Liber Juratus. Muitos afirmam que o Dragão Vermelho e o Grande Grimório são os mesmos livros, outros afirmam que são livros diferentes, mas que o Dragão Vermelho, por seu conteúdo também era conhecido como um grande grimório, o maior e mais perverso de todos, dai o nome Grande Grimório ser mais um título no ranking dos maiores grimórios do que simplesmente o nome que trazia. Como Levi o descreve nos leva a crer que ao menos na França, onde circulava com o nome “Le Veritable Dragon Rouge” o Dragão Vermelho poderia ser uma versão mais popular do Grande Grimório original. Neste caso ele poderia ter alguma relação ao Liber Juratus e trazer uma versão mais próxima da fórmula apresentada, mas sem o livro que Levi tinha em mãos, não há como saber se a evocação se manteve fiel ao original ou não, mas hoje é sabido que Levi tinha uma estranha atração pelo livro, o que pesa a favor da fidelidade do texto, por outro lado Levi era um romancista e adorava “corrigir” textos que ele percebia haver chegado em suas mãos com desvios do original, assim essa evocação pode ter sido desenvolvida pelo próprio Levi para sua obra.
Independente de sua origem a evocação se consagrou, fazendo parte de inúmeros livros publicados posteriormente. Tais evocações, mesmo conflitantes entre si em sua formulação, eram muito comuns nos livros. Como grande parte dos os grimórios, se não todos eles, se derivaram da Bíblia, por mais nafasta que fosse a criatura evocada, ela deveria se curvar perante o poder de Deus, assim a fórmula era recitada, após os diagramas desenhados, para obrigar, em nome de Deus, que o espírito se materializasse.
Nas palavras de Cornelius Agrippa, quando fala sobre necromancia em seus Três Livros de Filosofia Oculta:
“Para a empreitada de chamar e compelir os maus espíritos, adjurando por um certo poder, especialmente aquele dos nomes divinos; pois sabemos que toda criatura teme, e reverencia, o nome de quem a criou, não é de admirar, se infiéis goetians, pagãos, judeus, sarracenos, e homens de toda seita profana e da sociedade, conseguirem controlar demônios ao se invocar o nome divino.”
Assim, a evocação Per Adonai traduzida se lê:
Por meu Senhor Deus, meu Senhor que Vive, meu Senhor Das Hostes Celestes, por Metraton[1] On[2] e o Senhor Eternamente Forte, pela quinta hora da noite, pela palavra profética, pelo mistério das salamandras, pelos espíritos das florestas, pelas cavernas dos gnomos, pela fortuna descrita nos céus pelos espíritos, por Almousin, Senhor da Força, por Jesus, por Evam[3], o Filho de Deus, VENHA, VENHA, VENHA.”
[1] Metraton é o príncipe dos Anjos, o único que fala diretamente com Deus, por isso chamado também A Voz de Deus.
[2] ON é outro nome de Deus.
[3] Evam é um termo que permanece incerto
O objetivo era, assim que um canal com o mundo dos mortos fosse aberto, obrigar, através da menção dos nomes/qualidades de Deus, o espírito escolhido a se manifestar. Mas, seguindo a lógica do texto de Lovecraft, as conversas trocadas pelo círculo de Curwen, o espírito deveria animar a forma, ou seja o corpo, criado alquimicamente a partir dos sais do corpo original, não apenas se manifestar em sua forma etérea. A alquimia criava um corpo físico, uma versão antiga da gentética de hoje, e a magia devolvia o espírito original a esse novo corpo.
E aparentemente Ward obteve sucesso em sua evocação, já que junto com seus clamores uma segunda voz lhe respondeu, uma voz que com certeza não era a sua.
Corta Para o Signore Pietro d’Abano
Também conhecido como Petrus De Apono ou Aponensis, viveu entre as décadas de 1250 e 1310, ele foi um filósofo italiano, que estudava astrologia e medicina em Pádua. Eventualmente, como toda pessoa culturalmente prolífera que não fazia parte da igreja, foi acusado de heresia e ateísmo e acabou caindo nas mãos da Inquisição, morrendo na prisão em 1315.
Durante sua vida estudou por muitos anos em Paris, onde recebeu os três graus de doutorado em filosofia e medicina, se tornando um médico talentoso e de muito renome, chegando a ser chamado de O Grande Lombardo. Foi em Pádua que ganhou sua reputação como astrólogo e físico e foi acusado pela primeira vez de praticar magia – diziam que com a ajuda do demônio ele conseguiu recuperar todo o dinheiro que gastou em sua educação e que possuia uma pedra filosofal, as pessoas que o acusavam disso não deviam saber dos honorários salgados que cobrava para exercer a medicina.
Pietro também gostava de escrever e registrar os conhecimentos que ia coletando, criando uma verdadeira enciclopédia de ciências ocultas, procurando sempre provar através de experimentos, aquilo que registrava sobre fisiognomia – diferente de fisionomia -, geomancia e quiromancia entre outros. E foi dentre esses estudos que registrou o seguinte:
pega saci“A peneira é sustentada por tenazes ou pinças que são erguidas pelos dedos médios de dois assistentes. Desta forma pode ser descoberto, com a ajuda de demônios, as pessoas que cometeram um crime ou que roubaram algo ou feriram alguém. A conjuração consiste de seis palavras – que não são compreendidas nem por aqueles que as proferem nem pelos que as escutam – que são DIES, MIES, JUSCHET, BENEDOEFET, DOWIMA e ENITEMAUS; uma vez que sejam pronunciadas elas compelem o demônio a fazer a peneira, apoiada nas tenazes, a girar no momento que o nome da pessoa culpada for pronunciado (pois o nome de todos os suspeitos devem ser pronunciados), tornando o culpado imediatamente conhecido.”
Mais de 200 anos depois da morte de Pietro, Agrippa começa a coletar o conhecimento ocultista existente até então em seus próprios escritos, que posteriormente foram coletanos em dois volumes entitulados Opera omnia em 1600 pela editora Lyons. Em seu total os volumes traziam seus três volumes do De occulta philo-sophia, De incertitudine et vanitate scientiartn argue artium declamatio, Liber de Iriplici ratione cognoscendi Dewn e In artem brevem Ravtnundi Lulli commentaria. Popularmente esse trecho foi apontado como saindo de algum dos três livros do Occulta, mas ele não se encontra neles, o que fez muitos pesquisadores modernos o atribuirem ao apócrifo quarto livro do Occulta philo-sophia, um livro que surgiu, escrito em latim, aproximadamente 30 anos após a morte do autor e que foi denunciado como fraude por Johann Weyer, um dos estudantes de Agrippa. Esse tipo de confusão entre D’Abano e Agrippa é comum já que um dos maiores tratados ocultos, o Heptameron – ou Elementos Mágicos – atribuído a D’Abano apareceu como apêndice no quarto livro de filosofia oculta atribuído a Agrippa. Em ambos os casos parece que os livros apenas foram atribuídos aos ocultistas como forma de marketing, já que parece que nenhum dos dois redigiu nenhuma das obras. Mas Agrippa faz menções a D’Abano em seu trabalho, especificamente em seu terceiro livro da Filosofia oculta, apontando o italiano como sendo sua fonte para o alfabeto Thebano, desenvolvido por Honório de Thebas, o suposto autor do Liber Juratus.
Assim um texto escrito por D’Abano se tornou famoso como sendo a Grande Evocação de Agrippa:
“Dies Mies Jeschet Boenedoesef Douvema Enitemaus”
As seis palavras, que antes surgiam como fórmulas mágicas individuais, agora são uma única frase, ou fórmula. Levi provavelmente a incluiu nesta parte de seu tratado por se tratar de uma fórmula de evocação ao demônio, e a associou ao ritual do sabbat, onde o diabo era supostamente evocado, mas como podemos ver, o objetivo original da fórmula não era chamar O diabo, e sim forçar algum diabo a identificar um malfeitor. Levi provavelmente teve acesso aos dois volumes do Opera omnia de Agrippa e reproduziu de lá a frase. E de lá cai nas mãos de Lovecraft.
Em seu texto sobre o Sabbat Levi esclarece:
“A grande evocação de Agrippa consiste somente nestas palavras: Dies Mies Jeschet Boenedoesef Douvema Enitemaus . Não temos a pretensão de entender o sentido destas palavras que, talvez, não têm nenhum, e ao menos não deve ter nenhum que seja razoável, pois que têm o poder de evocar o diabo, que é a soberana irracionalidade.”
Esta declaração talvez tenha tornado este trecho da obra de Levi irresistível a Lovecraft, pai dos livros que não podiam ser lidos, dos cultos inomináveis e dos nomes impronunciáveis. Giovanni Pico della Mirandola, o cabalista italiano do século XV, era outro que afirmava que  as palavras mais bárbaras e absolutamente ininteligíveis são as que produzem melhores resultados em rituais na magia negra. Até nas Mil e Uma Noites encontramos referências a tal prática, onde uma feiticeira apanha uma porção de água lago com as mãos e sussurra sobre ela “palavras que não podiam ser compreendidas”, e as Mil e Uma Noite foram uma das maiores fontes de inspiração de Lovecraft, tanto quando criança quanto quando adulto.
 
Eis o Professor de Aleister Crowley
O encontro de Darth Vader e Obi Wan Kenobi, no filme Uma Nova Esperança da saga Guerra nas Estrelas, se tornou um clássico do cinema, mas poderia ter sido plagiado da vida de dois outros grandes ocultistas: Samuel Liddell MacGregor Mathers e Aleister Crowley. Mathers, antigo amigo e mestre de Aleister Crowley nas artes mágicas, com o tempo se tornou um vilão para o ex-aprendiz.
Mathers era um Mestre Maçom, um membro da Societas Rosicruciana in Anglia e então em 1888 fundou a Ordem Hermética da Aurora Dourada. Ele também era um poliglota que dominava, entre outras línguas, o inglês, o francês, o latim, o grego, o hebraico, o gaélico e o copta, e dedicou parte da vida a traduzir e publicar antigos livros de magia em inglês, sua língua nativa. Um desses livros foi o grimório conhecido como A Clavícula Maior de Salomão – ou a Chave do Rei Salomão. Mathers aceitava a tradição que dizia que livro havia de fato sido escrito pela Rei Bíblico, mesmo que o manuscrito mais antigo que tenha estudado fosse datado do século XVI. Até a publicação da versão de Mathers o texto da Clavicula se encontrava fragmentado, partes dele circulavam em diferentes países até ser reunido em um único tomo na edição de 1889. No trabalho traduzido e publicado por Mather a evocação Dies Mies Jeschet aparece no capítulo IX do livro I no feitiço para “Como Saber Quem Cometeu o Roubo”, a fórmula aparece ligeiramente diferente e apesar de não haver uma tradução oferecida Mathers oferece, de forma discreta um possível significado:
“DIES MIES YES-CHET BENE DONE FET DONNIMA METEMAUZ; Deus Meu, Que liberou a santa Susanna da falsa acusação do crime”
Este feitiço descreve exatamente o mesmo procedimento do de D’Abano, se utilizando de uma peneira para descobrir quem realizou um roubo. Isso indica que Mathers pode ter tido acesso ou a algum texto de D’Abano ou a algum texto ao qual D’Abano teve acesso.
Curiosamente Lovecraft usa esta fórmula como uma resposta por parte do morto que foi trazido de volta a este mundo graças ao ritual realizado por Ward, ou talvez Lovecraft tenha achado interessante um espírito que volta da morte proferir as palavras usadas em rituais de demonologia antigos que ninguém sabe o significado. Mas historicamente Joseph Curwen e seus associados poderiam ter obtido a fórmula Dies Mies Jeschet tanto da Opera omnia de Agrippa, algum manuscrito que poderia fazer parte da Clavicula de Salomão.
Muito Trabalho, Sem Diversão
Tudo o que Jack Torrance precisou para resolver dar um fim em sua mulher e filho com um machado foi um tempo isolado nas entranhas do Hotel Overlook. De fato a isolação pode perturbar uma mente comum e ordinária, mas ela é ingrediente fundamental para a magia – tanto o isolamento quando a perturbação mental.
A magia é real e nos cerca, mas enxergá-la e lidar com ela é algo trabalhoso. O mago ou feiticeira deve aprender a percebê-la e a trabalhar com ela e para isso deve se distanciar da rotina que o cerca. Da mesma forma que um casal pode buscar lugares que despertem o desejo sexual e a inspiração luxuriante quando desejam novas experiências, o praticante deve buscar ambientes que tornem mais fácil para seus sentidos perceberem os poderes ocultos. Quando o ritual tem a ver com necromancia, o local de isolamento deve evocar sentimentos característicos no mago.
Levi recomenda “um lugar solitário e assombrado, tal como um cemitério freqüentado por maus espíritos, uma ruína temida no campo, os fundos de um convento abandonado, o lugar onde foi cometido um assassinato, um altar druídico ou um antigo templo de ídolos”.  Esta citação tem uma origem judaica, nos livros do antigo testamento que faz um alerta sobre rituais e sacrifícios realizados no alto de montanhas ou nos profundezas da terra.
Ward realizou rituais tanto no porão da casa da família, quanto no bangalô de seu antepassado, na cripta subterrânea. Curwen, antes dele, era conhecido também por vagar em cemitérios, e posteriormente construiu um laboratório subterrâneo em seu bangalô, sua “ruína no campo”.
Yog-Sothotheria: A Cabeça e a Cauda do Dragão
 
beautyful one
Seguindo a agenda de Ward, após a invocação Dies Mies, seguiu-se uma invocação a Yog-Sothoth, quando ele volta a entoar de forma monótona uma nova fórmula, que era percebida como sílabas aparentemente sem sentido:
“Yi-nash-Yog-Sothoth-he-lgeb-fi-throdog”
Sendo seguida por um grito de YAH!, “cuja força desvairada subia num crescendo de arrebentar os tímpanos”.
Esta nova fórmula descrita por Lovecraft não possui origem clássica; ou invés de se utilizar de um ritual tradicional Lovecraft parece ter inventado um ritual próprio dedicado a uma das deidades que apresentou ao público. A invocação a Yog-Sothoth criada por Lovecraft segue um padrão usado não apenas pelo autor, mas também por outros escritores, de se fazer valer da linguagem alienígena, batizada de Aklo, sempre que se tenta evocar, banir ou chamar algum de seus antigos. Essa “pseudo-liguagem” está presente em outros contos, como O Chamado de Cthulhu e o Horror de Dunwich e não possui um significado claro.
O Portão, a Chave e o Guardião
Em o Horror de Dunwich, Lovecraft nos oferece a seguinte descrição deste Antigo:
“Também não é para se pensar (dizia o texto, que Armitage ia traduzindo mentalmente) que o homem é o mais velho ou o último dos mestres da Terra, nem que a massa comum de vida e substância caminha sozinha. Os Antigos foram, os Antigos são e os Antigos serão. Não nos espaços que conhecemos, mas entre eles. Caminham serenos e primitivos, sem dimensões e invisíveis para nós. Yog-Sothoth conhece o portal. Yog-Sothoth é o portal. Yog-Sothoth é a chave e o guardião do portal. Passado, presente e futuro, todos são um em Yog-Sothoth. Ele sabe por onde os Antigos entraram outrora e por onde Eles entrarão de novo. Ele sabe por quais campos da Terra Eles pisaram, onde Eles ainda pisam e por que ninguém pode vê-los quando pisam […] Yog-Sothoth é a chave para o portal, onde as esferas se encontram.”
No conto Através dos Portões da Chave de Prata, Randolph Carter identifica Yog-Sothoth com a origem de todo o universo criado:
“Era um Tudo em Um e Um em Tudo de ser e existir ilimitado – não meramente uma coisa de um continuum de espaço-tempo, mas aliado à essência criadora máxima de toda a existência – aquele último ímpeto sem limites que não possui fronteiras e que transcende tanto a fantasia quanto a matemática. Foi, talvez, isso que certos cultos secretos da terra sussurraram como sendo Yog-Sothoth…”
Podemos dividir os seres do universo Lovecraftiano em alguns grupos. Existem aqueles que podem ser classificados como seres, indivíduos, como o próprio Cthulhu, Nyarlatothep, Shub Niggurath, e outros. Existem também as criaturas “menores” como Bronw Jenkings, shoggoths, o sabujo voador e entidades que fazem parte de uma história maior ou que estão ligadas a outros seres maiores. E existem aqueles que são como forças da natureza, Azathoth e Yog-Sothoth são exemplos desses. Eles cumprem uma função quase cósmica. Enquanto Cthulhu pode ser considerado um líder ou um sacerdote alienígena Yog-Sothoth está além da mera existência, ele não tem um propósito da forma que compreendemos propósitos. Em um primeiro momento Yog-Sothoth parece ser alguém excessivamente poderoso para ser usado apenas com o objetivo de se trazer alguém de volta da morte. Mas dentro da mitologia Lovecraftiana ele também se mostra uma escolha lógica para essa tarefa. Como vemos pela descrição do Horror de Dunwich, Yog-Sothoth é aquele que será usada pelos antigos “mortos”, como Cthulhu por exemplo, para retornarem à vida. Isso nos mostra que nossa compreensão de vida e morte é extremamente limitada, se comparada àquela de criaturas que mesmo mortas sonham, e com a afirmação de que até mesmo a morte um dia pode morrer. Assim, magos como Curwen talvez tenham enxergado uma vantagem em entrarem em contato com algo tão poderoso assim. Podemos acompanhar essa decisão na correspondência trocada por ele com outros magos de seu círculo:
“Mas eu estou disposto a enfrentar tempos difíceis, como lhe disse, e tenho trabalhado muito sobre a maneira de reaver o que perdi. Na noite passada, descobri as palavras que evocam YOGGE-SOTHOTHE e vi pela primeira vez aquele rosto de que fala Ibn Schacabac”.
Em uma carta escrita por Simon Orne encontramos a saudação “Yogg-Sothoth Neblon Zin” e mais adiante em outra escrita por Curwen lemos:
“Evoquei três vezes Yog-Sothoth e no dia seguinte fui atendido.”
Evidentemente o poder de Yog-Sothoth é reconhecido como algo que jamais poderia ser controlado após a primeira morte de Curwen, em uma carta escrita por Ezra Weeden, onde o escritor cita um aviso de Simon Orne enviado anteriormente para Curwen:
“Eu lhe digo novamente, não chame aquilo que você não possa dispensar depois; e com isso me refiro a ninguém que, por sua vez, possa evocar algo contra o senhor, algo contra o qual seus recursos mais poderosos não terão nenhuma eficácia. Busque os menores, para que aqueles que são grandes não respondam mostrando um poder maior do que o seu”.
Este não é o primeiro conto de Lovecraft onde Yog-Sothoth é evocado mas traz uma peculiaridade que não surge em nenhum outro lugar. A evocação usada por Ward, como mais tarde é descoberto por Willett, é uma das duas partes de um feitiço aparentemente maior. As fórmulas descobertas são:
Y’AI ‘NG’NGAH,
YOG-SOTHOTH
H’EE—L’GEB
F’AI THRODOG
UAAAH
OGTHROD AI’F
GEB’L—EE’H
YOG-SOTHOTH
‘NGAH’NG AI’Y
ZHRO
Assim como Willett percebeu, basta uma olhada cuidadosa em ambas as fórmulas para notarmos que uma é o inverso da outra. Se excluimos os dois gritos finais, UAAAH e ZHRO, uma fórmula é exatamente a outra com cada letra escrita de trás para frente, à excessão do nome de Yog-Sothoth. Os gritos finais são uma pista da funcionalidade das fórmulas – indicam o início e o fim, talvez uma aluzão ao A e ao Z do alfabeto, ao “Alfa et Ômega”. Junto com as  fórmulas encontramos dois símbolos:
caput e  cauda
conhecidos respectivamente como a Cabeça do Dragão e a Cauda do Dragão.
Esses dois conceitos estão presentes em três ciências que possuem ligações íntimas: a alquimia, a geomancia e a astrologia.
Quando Lovecraft escreveu o texto, seu personagem lidava com a alquimia, e nela o dragão tem um papel fundamental, como explicou Carl Gustav Jung em seu Psicologia e Alquimia:
“Quando o alquimista fala de Mercúrio ele está falando de duas coisas, superficialmente ele está falando do elemento químico mercúrio, mas de forma mais profunda ele se refere ao espírito criador do mundo que se encontra aprisionado na matéria. O dragão é provavelmente o mais antigo símbolo pictórico na alquimia que temos evidência. Ele surge como o Ouroboros, deverando a própria cauda, no Codex Marcianus, que data do século X ou XI, juntamente com a legenda ‘O Um o Todo’. Vezes sem fim o alquimista reafirma que a obra se origina no um e leve de volta ao um, que é como um círculo tal qual um dragão que devora a própria cauda. Por essa razão a obra já foi chamada de circulare (circular) e rota (roda). O Mercúrio está presente no início e no fim do trabalho: ele é a matéria prima (primeira matéria), o caput corvi, o nigredo; como o dragão ele também se devora, morrendo para então ressurgir no lápis.”
Assim um símbolo draconiano deixa claro o objetivo do trabalho, ou obra, que estava sendo realizado, seria um trabalho lidando com morte e renascimento. Algo que tanto Curwen quanto Ward estavam fazendo.
na geomancia ambos os símbolos tem uma relação oposta. Cauda Draconis está relacionada à má orientação, mau conselho, más companhias, engano, etc., já a Caput Draconis à boa orientação, bom conselho, bons contatos, boa dica. A geomancia é uma arte muito antiga, uma das ferramentas oraculares mais primitivas que se tem notícia. Suas origens remontam à Pérsia antiga, e traz consigo muitas semelhanças com o I-Ching chinês. Algumas pessoas mais exaltadas inclusive apontam para as passagens bíblicas que mostram Jesus escrevendo nas areias antes de responder aos questionamentos de alguns homens que o procuravam como evidências de Jesus ser um geomante. Os 16 símbolos geomânticos possuem hoje uma ligação direta com os planetas e signos da astrologia e com os Planetas da Alquimia.
A escolha dos símbolos atrelados à fórmula de evocação de Yog-Sothoth se mostram curiosos, pois apesar de existirem em tratados alquímicos antigos, como o Últimos Desejos e Testamento de Basil Valentine, publicado em 1671, traz um símbolo semelhante ao Caput Draconis com o significado de Sublimação ou o Medicinisch Chymisch und Alchemistisches Oraculum, publicado em 1755, que traz o símbolo equivalente ao Caput Draconis com o significado de purificação, estão ligados à astrologia a aos nodos lunares. Os dois símbolos usados na obra de Lovecraft se derivam, então, da astrologia.
A Cabeça e a Cauda do Dragão, ou Caput Draconis e Cauda Draconis, são os nomes dos dois nós ou nodos lunares; são pontos imaginários que mostram onde a órbita da lua ao redor da Terra atravessa a órbita que a terra faz ao redor do sol. Essas órbitas coincidem a cada 28 dias, em 2 momentos,como se fossem 2 nós, amarrando aquelas órbitas naquele momento específico.
Na interpretação astrológica, todos os signos têm os seus nós que em algum momento cortam a órbita ascendente e descendente. O nós ascendente é onde a lua atravessa o norte da elipse, o descendente onde cruza o sul, é por isso que as eclipses só podem ocorrer próximos aos nós lunares, os eclipses solares ocorrem apenas quando a lua cruza o nó em sua fase Nova e eclipses lunares quando a lua cruza o nó em sua fase Cheia.
Os nós recebem diferentes nomes em diferentes lugares do mundo. O nó ascendete, também chamado de nó norte, era conhecido na europa antiga como Cabeça do Dragão, ou Anabibazon, e representado pelo símbolo à esquerda. O nó descendente, ou sul, era chamado de Cauda do Dragão, ou  Catabibazon, e representado pelo símbolo da direita – uma inversão do primeiro.
Com a popularização da astrologia e seu distanciamento com a estronimia, esses nós acabaram se relacionando com aspectos ocultos e indicadores do destino das pessoas. A crença é que a Cabeça do Dragão se relacione com o caminho do destino da pessoa, enquanto a Cauda do Dragão se relaciona com o passado da pessoa, ou o Karma que traz consigo.
Não há como apontar uma obra específica que tenha inspirado Lovecraft a usar esses dois signos, mas com certeza ele estava familiarizado com eles de estudos que realizou e de contatos que tinha com entusiastas do assunto, como mostra este trecho de uma carta que escreveu para E. Hoffmann Price em fevereiro de 1933:
“Quanto a astrologia – como sempre fui um devoto da ciência real da astronomia, que tira todo o apoio no qual se baseiam os arranjos celestes irreais e aparentes todas nos quais se derivam todas predições astrológicas, eu desprezo essa arte de forma que não tenho interesse nela – exceto quando refutando suas afirmações pueris. Pelos idos de 1914 eu realizei uma pesada campanha contra um defensor local de astrologia em um de nossos jornais, e em 1926 eu li uma bela quantidade de livros astrológicos (desde então esquecidos em sua maioria) para que pudesses trabalhar como escritor fantasma em uma obra que expusesse de forma irrefutável a falsa ciência, tendo como cliente ninguém menos do que Houdini. Isto resume a soma do meu conhecimento astrológico – já que criar horóscopos nunca foi uma de minhas ambições. Se eu em algum momento me utilizar de qualquer subterfúgio astrológico em algumas de minhas histórias eu com todo o prazer lhe escreverei atrás de detalhes mais realistas”
Com o desenrolar da história a fórmula acaba se revelando não apenas a chave para de evocar o morto, para que possa se manifestar em nosso mundo, mas também a chave para despachá-lo de volta para a morte. Isso se reflete na escrita das duas chamadas, uma sendo o inverso da outra, a primeira cria a obra, a segunda a descria.
Curiosamente, o efeito reverso “Caput Draconis” parece ser muito mais poderoso do que a obra para se trazer o vivo e se recriar seu corpo a partir de seus sais. Qual o possível motivo disso?
E Se Eu Cortasse Seus Braços e Cortasse Suas Pernas?
Outro livro de ocultismo que com certeza fez parte da coleção de Lovecraft foi a Enciclopádia de Ocultismo de Lewis Spence. O artigo sobre necromancia no livro a define como “divinação através dos espíritos dos mortos”. Lovecraft foi muito além disso.
A história nos fala de duas pessoas que foram trazidas de volta: Curwen e Daniel Green.
Daniel Green foi trazido de volta por Curwen e posteriormente escapa de sua fazenda em Pawtuxet. O processo utilizado por Curwen difere em muito daquele descrito no livro de Spence, que escreve:
“Se o fantasma de uma pessoa morta deve ser chamado, a sepultura deve ser procurada à meia-noite e uma forma diferente de conjuração se faz necessária. Ainda outra é o sacramento infernal “todo corpo que já foi enforcado, afogado ou de outra forma liquidado”; e neste caso as conjurações são realizadas sobre o corpo, que finalmente se erguerá e, de pé, responderá com uma fraca voz oca as questões que lhe forem feitas.”
Parte do trabalho de Curwen reflete a necromancia clássica. Ele violou a sepultura de Green, que posteriormente foi encontrada vazia, e tinha o costume de interrogar o morto:
“A natureza das conversas pareciam sempre ser uma espécie de catequismo, como se Curwen estivesse tentando extorquir algum tipo de informação de horrorizados prisioneiros rebeldes […] a maior parte das questões que podia compreender eram de cunho histórico ou científico; ocasionalmente relativas a lugares e eras remotas.”
Mas sua obra não tinha como objetivo apenas prender uma alma a um corpo morto, ele desejava restaurar a vida ao corpo morto. Ao contrário dos processos descritos em outros livros que falam sobre necromancia, como O Livro da Magia Negra de A. E. Waite – que Lovecraft chegou a recomendar a um amigo escritor em uma carta escrita anos depois de ter terminado O Caso de Charles Dexter Ward -, o corpo utilizado por Curwen não precisava ser o de um suicida. O corpo não precisava ser de alguém que havia morrido há pouco tempo. Não necessitava ser revivido no local. O processo envolvia substâncias químicas que podiam ser obtidas de “bons químicos na cidade”
O morto deveria então ser incinerado para que seus sais – ou cinzas – fossem conseguidos antes que a operação tivesse início. A reanimação necessitava de grandes quantidades de sangue fresco, não importando se animal ou humano. Posteriormente quando revivido, Curwen diz para Ward que precisa de sangue humano por três meses – o que deu origem à série de ataques vampíricos.
O corpo revivido aparentemente pode permanecer vivo por longos períodos, mas não é imortal. Daniel Green, assim que foge da fazenda de Curwen é encontrado morto, se pelo frio ou pela falta de novas infusões de sangue não há como dizer. Curwen depois de ressuscitado viveu por mais de um ano.
A chave para esse ligação mais duradoura pode ser a presença de Yog-Sothoth, que é evocado com a fórmula da Cabeça do Dragão depois de longos rituais – Ward passou horas recitando a evocação Per Adonai, a fórmula Dies Mies, além de qualquer outra coisa que possa ter realizado que não foi percebida graças ao desmaio de sua mãe, a única testemunha do ocorrido.
E mesmo assim, o novo corpo recriado pelo trabalho com os sais não é perfeito: Daniel Green apresentava certas “peculiaridades” como um aparelho digestivo que parecia nunca ter sido usado, “enquanto toda a sua pele tinha uma textura grosseira e frouxa impossível de explicar”. Curwen também possuia os tecidos grosseiros e suas funções vitais eram mínimas, mesmo assim ele foi capaz de personificar e então tomar o lugar de seu descendente, Ward.
A necessidade constante de quantidades de sangue e a indicação de que o sistema digestivo dos novos corpos pareciam nunca ter sido usados sugerem que os novos corpos não possuiam um metabolismo próprio e necessitavam ser constantemente “alimentados”. Além da alquimia e do sangue a magia era parte fundamental de sua manutenção. Quando o Dr. Willet acaba se confrontando com Curwen, ele usa a fórmula OGTHROD AI’F, associada à Cauda Draconis, para desfazer o feitiço que mantinha a alma presa ao corpo, fazendo com que ele “morra” imediatamente. Isso indica que apesar de ser necessário muito trabalho e muita energia para se recriar e reviver alguém, apenas um encantamento pode desfazer o trabalho. Outra sugestão é que o corpo permanecesse funcional pela intervenção de Yog-Sothoth, e que a menção da fórmula Cauda Draconis encerra o acordo, Yog-Sothoth encerra seu contato, seja lá qual for, com o corpo e ele morre novamente, isso tornaria o papel de Yog-Sothoth no ritual muito mais importante do que uma mera evocação para liberar uma alma.

por Rev. Obito

Postagem original feita no https://mortesubita.net/lovecraft/h-p-lovecraft-charles-dexter-ward-joseph-curwen-e-necromancia/