A Nova Aurora do Alquimista

Cambridge, 1936 : lord Rutherford, o maior físico experimental de seu tempo, que descobriu e realizou a transmutação dos elementos, dá os últimos retoques ao manuscrito que publicará no ano seguinte, nas edições da Universidade de Cambridge. É o cômputo geral de todas as suas descobertas. Dá o título: The Newer Alchemy (A Mais Recente Alquimia).

Marrakech, 1949 : na praça Djema el Fna, um velho árabe, usando turbante verde dos hadj, está atarefado perto do forno que aquece uma bola de vidro hermeticamente fechada. A seu lado, o professor Holmyard (Oxford) segue a experiência com atenção e respeito; por fim, diz:

— Mestre, agradeço por me deixar ver o que podia ser visto por um profano sobre a muito santa alquimia.

Paris, 1967: o editor Jean-Jacques Pauvert reimprime o Livre Muet de l’Alchimie (Mutus Liber). Na primeira página lê-se: “Primeira impressão integral da edição original de La Rochelle, 1677. Introdução e comentários por Eugène Cànseliet, F. C. H., discípulo de Fulcanelli”. Ontem, hoje, em todos os países, os homens não deixaram de estudar a alquimia. Mas que alquimia, e para quê?

Há quem veja na alquimia uma idéia ultrapassada, uma espécie de pré-química ingênua do tempo em que os conhecimentos eram raros e confusos. Essa foi a atitude do nacionalismo clássico no século 19. Pré-química ingênua? Seria mais ou menos tão exato como dizer que a Paixão de Cristo foi a primeira forma ingênua do Grand Guignol. Não. A alquimia é outra coisa. Uma grande coisa. Sem entrar em detalhes, ten-taremos esclarecer seu sentido, que é também seu objetivo.

Todos nós acreditamos saber o que é a matéria. Por toda parte ela nos envolve. Impõe-se a nós. Mas, que é matéria? O drama é que no mais das vezes os filósofos ignoram tudo sobre a ciência, e por muito tempo não viram na matéria senão uma coisa morta, sem propriedades suscetíveis de interessá-los. Enquanto isso, a ciência progredia a passos de gigante e depois do começo do século começou a descobrir os segredos — pelo menos alguns deles — da matéria. Teria sido necessário criar uma nova filosofia, mas isso não foi feito. Um homem — Lenine — teria podido realizar essa tarefa capital, se tivesse vivido mais tempo e não tivesse outras coisas para fazer.

Em Materialismo e Empiriocriticismo escreveu que a matéria era inesgotável e que nem uma eternidade de pesquisas científicas chegaria a revelar todos os segredos. As pesquisas atuais confirmam essa asserção. Fred Hoyle, em Frontières de 1’Astronomie, disse que a matéria é o domínio mais fascinante, mais milagroso, mais extraordinário sobre o qual o pensamento humano pode se exercitar. E que nossa medíocre vida terrestre é bem pouca coisa ao lado do que se passa na matéria universal, tanto no seio das es-trelas, nas regiões longínquas do cosmo, como no grande vazio que separa as estrelas das estrelas, as galáxias das galáxias e talvez as metagaláxias ou universos de outros universos.

Sim, teria chegado o tempo de conceber uma nova filosofia, materialismo verdadeiro ao lado do qual o materialismo ingênuo do século 19 seria apenas caricatura. Porque nós vemos — como escrevia o grande sábio e grande alquimista Isaac Newton — que até agora nada fizemos senão “apanhar algumas pedras na praia”. Para além, encontra-se um imenso oceano de saber.

Ora, esse oceano foi explorado e alguns homens traçaram o mapa dos continentes desconhecidos da ciência que aí se encontram. É esse saber, ao lado do qual nossa ciência é bem pouca coisa, que se chama alquimia.

De onde provêm esses conhecimentos? Não se sabe, e o adágio afirma: — “Aqueles que sabem não falam, aqueles que falam não sabem”. Darei simplesmente minha opinião nacionalista: a alquimia é o resíduo da ciência e da tecnologia pertencentes á uma civilização desaparecida. Não creio absoluta-mente em outras hipóteses: revelação divina, extraterrestre, que trouxe aos homens o fogo, o arco, o martelo, a alquimia etc.

Penso que a civilização desaparecida desencadeou forças fantásticas que perturbaram os continentes, derreteram os gelos e destruíram aquele mundo altamente evoluído. Traços de cultura teriam, contudo, subsistido por muito tempo, explicando certa permanência de conhecimentos até nossa própria civilização. Assim Newton certamente teve contato com os últimos mantenedores dos grandes segredos.

Newton foi o último mágico.

Este aspecto pouco conhecido de sua vida foi especialmente estudado pelo célebre economista e filósofo inglês John Maynard Kaynes, que escreveu:

“Newton não foi o primeiro nacionalista. Foi o último mágico, o último sobrevivente da época da Suméria e da Babilônia, o último grande espírito que olhou o mundo visível e invisível com os mesmos olhos que começaram a reunir nossa herança intelectual há pouco menos de 10 mil anos. Por que chamei-o mágico? Porque ele via o universo inteiro como um enigma, como um segredo que pode ser compreendido, aplicando o pensamento puro a certas provas. Ele pensava que os indícios que podem conduzir à solução do enigma estavam parcialmente no céu e na constituição dos elementos (por essa razão, ele é erroneamente tomado por experimentador cientifico), mas também em certos documentos e certas tradições que percorreram os tempos, sem interrupção, como uma corrente que nunca foi partida desde as primeiras revelações enigmáticas feitas na Babilônia”.

Depois de Newton, houve uma espécie de brecha no conhecimento. A orientação da pesquisa científica mudou e, em particular a partir dessa época, a idéia de que o conhecimento implica em perigo, como acreditavam fundamentalmente os alquimistas, foi completamente negligenciado.

Hoje retorna-se a essa atitude. Inúmeros sábios acreditam que a difusão de certos conhecimentos pode pôr em perigo toda a humanidade. Assim, no Science Journal, revista científica das mais influentes de nossa época, de dezembro de 1967, o editorialista Gordon Rattray Taylor cita uma carta do dr. E. Orowan :

“A grande maioria da população da Terra considera a ciência e a tecnologia como perigo mortal crescente para sua vida. Sentem-se impotentes, à mercê de uma minoria, como se, numa mesa de operações, estivessem entre as mãos, não de pessoas que curam, mas de irresponsáveis levados pela curiosidade ou o que é ainda pior — pelo desejo de prestígio e promoção … Seria bom os sábios entenderem que estão em vias de dançar sobre um depósito de pólvora”. E Gordon Rattray Taylor acrescenta : “A desculpa habitual dos sábios, segundo a qual ninguém é obrigado a aplicar as descobertas científicas senão o desejar, não é mais válida . . . Os sábios chocam-se a responsabilidades inquietantes, que deverão enfrentar cada vez mais”.

Vê-se, pois, reaparecerem no mundo científico contemporâneo as velhas idéias dos alquimistas: ciência e moral são associadas e o segredo é às vezes uma necessidade.

Mas, em seu tempo, como poderiam os alquimistas saber que a ciência podia conduzir à ruína? Não se sabe; contudo, a idéia desse perigo parece ter sempre sido de seu conhecimento. A alquimia é, em todo caso, muito antiga; já existia na China, 4 500 anos antes de Cristo. Célebre texto, muito mais recente deve datar mais ou menos do século 12 —, A Mesa de Esmeralda, retoma os grandes princípios dessa “ciência” merece ser citado por extenso:

“Ë verdade, sem mentira, certo e muito verdadeiro: o que está embaixo é como o que está em cima, e o que está em cima é comoque está embaixo, para realizar os milagres de uma só coisa.E assim como todas as coisas provieram e provêm do Um, assim todas as coisas nasceram da coisa única, por adaptação. O Sol é o pai, a Lua é a mãe, o vento a carregou em seu ventre, a Terra é a nutriz. O Thelema (telesma, perfeição) de todo o mundo está aí.Seu poder não tem limites sobre a Terra. Tu separarás a terra do fogo, o sutil do espesso, cuidadosamente, com grande habilidade. Ele sobe da terra para o céu, e torna a descer para a terra e reúne a força das coisas superiores e inferiores. Terás assim toda a glória do mundo, eis por que toda a obscuridade se afastará de ti : é a força forte de toda força, pois ela vencerá toda coisa sutil e penetrará toda coisa sólida. Assim o mundo foi criado.Eis a origem de admiráveis adaptações aqui indicadas. Foi assim que fui chamado Hermes Trismegista, possuindo as três partes da filosofia universal. O que eu disse da operação do Sol está completo”.

Este texto é importante, mesmo se à primeira vista parece obscuro, porque expõe a teoria da unidade cósmica, ao mesmo tempo que a “receita” da obra filosofal. O autor parece saber que as estrelas tiram sua energia da transmutação dos elementos. O que chama “operação do Sol” é a própria base da construção da bomba 3 F (fissãofusão-fissão), que ameaça destruir a humanidade hoje. Ora, se podemos realmente fabricar tais bombas por meios relativa-mente simples, é preferível que a “receita” permaneça secreta. Os alquimistas são desconfiados. Nossos sábios, enfim, encontram-se com eles nesse ponto.

Mas pode-se dizer que os alquimistas escreviam muito. É verdade: há milhares, centenas de milhares de livros de alquimia. É assim que se preservam os segredos? Na minha opinião, os livros de alquimia não contêm qualquer segredo diretamente transmissível. Formam apenas a “biblioteca do alquimista”, e aí uma iniciação seria inutilmente procurada. Quer dizer, esses livros não são úteis e compreensíveis senão àqueles que já conhecem a alquimia. Um exemplo esclarece a idéia. Quem quer que se ocupe atualmente de energia atomica aplicada possui em sua biblioteca o livro fundamental de John R. Lamarsh , Introduction to Nuclear Reactor Theory (Addison-Wesley Publishing Company Inc.). Mas o livro básico não pode ser compreendido senão por aqueles que já conhecem a matemática; foi feito para leitores especializados. Em nenhum lugar se apresenta como tratado, retomando os princípios básicos. Somente os atomistas podem tirar proveito. Assim também, somente os alquimistas podem compreender e utilizar os livros de alquimia.

É a pedra filosofal a alegoria da radioatividade?

Mas então como pode alguém tornar-se alquimista?

Como se chega a esse conhecimento? Como aí chegaram os alquimistas se não há livros de iniciação?

Aqui só posso emitir minha opinião pessoal. Não sou um iniciado, não faço parte de qualquer sociedade secreta, mas estudei a alquimia durante perto de 40 anos. Fiz alguns contatos, procedi a algumas experiências. No total, que sei?

Como já disse, minha convicção profunda é de que, antes de nós, em nosso planeta existia uma civilização muito adiantada, que desapareceu. Os mapas de Piri Reis são alguns dos últimos vestígios, a alquimia é um outro. Não temos senão indícios e algum pouco mais para nos guiar.

Essa civilização havia se elevado a nível muito alto e devia certamente possuir conhecimentos, sobre a estrutura da matéria, mais adiantados que os nossos. Essa é a opinião de Frederick Soddy, Prêmio Nobel, grande físico atómico, que descobriu os isótopos e lhes deu o nome. Em seu livro O Rádio, Interpretação e Ensinamento da Radioatividade, escreveu:

“É interessante refletir, por exemplo, sobre a notável lenda da pedra filosofal, uma das crenças mais antigas e universais; por mais longe que acompanhemos seus traços no passado, nunca encontraremos a verdadeira fonte. Atribui-se à pedra filosofal o poder não só de efetuar a transmutação dos me-tais, mas também de agir como elixir da vida. Ora, qualquer que seja a origem dessa associação de idéias aparentemente despida de qualquer sentido, ela se mostra, na realidade, como expressão muito correta e apenas alegórica de nossa atual maneira de ver. Não é necessário grande esforço de imaginação para se chegar a ver na energia a própria vida do universo físico: e hoje sabemos que é graças à transmutação que surgiram as primeiras fontes da vida física do universo.Não é, então, simples coincidência, esta antiga aproximação do poder de transmutação e o elixir da vida? Prefiro crer que seria antes um eco vindo de uma das inúmeras idades quando, nos tempos pré-históricos, antes de nós, os homens seguiram a mesma estrada por onde hoje caminhamos. Mas esse passado é provavelmente tão longínquo que os átomos seus contemporâneos tiveram tempo de desintegrar-se totalmente”.

Antigamente a ciência levou a imenso desastre E o grande sábio (com quem mais de uma vez falei sobre alquimia) prossegue: “Deixemos ainda um instante nossa imaginação vagar livremente por essas regiões ideais. Suponhamos que seja verdadeira essa hipótese que a nós se apresente por si própria, e que podemos confiar no tênue fundamento constituído pelas tradições e superstições transmitidas até nós através dos tempos pré-históricos. Não poderíamos neles ver justificativa para a crença de que homens de alguma raça extinta e esquecida alcançaram não só os conhecimentos recentemente por nós adquiridos, mas ainda capacidades que ainda não possuímos?”

Por meu lado, compartilho a opinião de Soddy, de que uma civilização muito evoluída existiu antes dos tempos históricos. Mas, que pode ter acontecido para que esse mundo desaparecesse sem nos deixar a totalidade de sua herança? Creio que em certo momento essa ciência levou a um imenso desastre. Deve ter havido um conflito, no qual foram utilizadas armas muito mais poderosas que nossas melhores bombas atômicas: armas cujo efeito fizeram deslizar os continentes, rasgando-os na face da Terra, deslocando os pólos magnéticos, modificando as cinturas de radiação que protegem do vento solar, suprimindo a camada de ozone que antepara os raios ultra-violeta, enfim, perturbando o campo gravitacional da Terra.

Todos os estudos atuais parecem com efeito mostrar que, em dado momento, produziram-se importantes modificações ou perturbações das leis naturais que conhecemos. É mesmo provável que até o fim do século 20 possamos datar a grande catástrofe com a margem de alguns ,mil anos. Provavelmente será colocada a uns 100 mil anos.

Por mais grave que tenha sido a catástrofe, por mais graves que fossem seus efeitos em todos os sentidos, alguns homens devem ter sobrevivido, que possuíam fragmentos do saber antigo: conhecimentos positivos, a idéia de que a ciência era perigosa, lendas também. O “pecado original” da religião cristã seria assim explicado.

Depois passaram dezenas de milhares de anos, as geleiras invadiram uma parte do mundo, depois, por sua vez, recuaram. As civilizações que conhecemos começaram a formar-se. Há 10 mil anos ainda existiam guardas do segredo, quer dizer, detentores da tradição. A alquimia na fonte, e desde então, não cessou de fazer sonhar os homens. São inúmeros os que tentaram reencontrar o grande segredo, que quiseram “fabricar o ouro”.

Mas a lenda apagou o famoso segredo. Muitas fábulas identificaram a alquimia com a fabricação do ouro, quando parece que os verdadeiros iniciados não faziam muito caso desse metal. Para eles, o ferro era muito mais importante. Entre os sábios que estudaram a questão, o historiador francês de origem romena, Mircea Eliade, foi um dos raros a notá-lo. Em seu livro Forgerons et A lchimistes chamou a atenção para a importância do ferro nas operações de alquimia. Contudo não sabia, na época em que escreveu, o que logo iria ser demonstrado pela astrofísica e pela química destes últimos anos: que o ferro é uma espécie de eixo à volta do qual gira o mundo.

O ferro, sabemos agora, é com efeito o único elemento do qual não se pode tirar qualquer energia: nem por fissão, nem por fusão. Em termos técnicos está no zero da ausência de massa. O que quer dizer que se pode obter energia dos elementos mais leves que ele, adicionando-os por fusão: assim funciona o Sol… ou a bomba de hidrogênio. E pode-se obter energia de ele-mentos mais pesados que o ferro, decompondo-o por fissão: é o caso da pilha de urânio ou da bomba A. Mas do próprio ferro, que é zero, nada se pode tirar. Ele está na origem da alavanca do universo. Um alquimista alemão escreveu: “Eisen trãgt das Geheiminis des Magnetismus und das Geheiminis des Blutes”. Quer dizer: “O ferro é portador do mistério do magnetismo e do mistério do sangue”.

O ferro é portador de um terceiro mistério, o da alquimia, e não é sem motivo que se fala da pirita de ferro na elaboração da pedra filosofal. Pode-se compreender o interesse que os alquimistas demonstravam pelo ferro, pelo cálculo cabalístico que há em Les Noces Chimiques (1616) : A = 1, L= 12, C=3, H = 8, I=9, M= 13, I = 9, A = 1, total = 56. Ora, 56 é precisamente o peso atômico do principal isótopo de ferro. Poderíamos objetar que o autor de Noces Chimiques devia provavelmente ignorar os pesos atômicos. Nem por isso deixa de ser uma coincidência bastante curiosa, que, se em lugar de indicar que a alquimia = o ferro, o autor tivesse desejado indicar que a alquimia = o ouro, ser-lhe-ia fácil encontrar no arsenal das metáforas de seu tempo uma imagem para fazê-lo compreender.

Mais curioso ainda é notar que o ferro é indiscutivelmente um elemento capital do universo. Qualquer livro de ciência elementar ensina que assim é: o ferro contém magnetismo, é um elemento essencial da hemoglobina, quer dizer, da vida, e constitui material básico do cosmo. É encontrado por toda parte. La Table d’Emeraude diz muito justamente: “O que está no alto é como o que está em-baixo”. Quer dizer, o universo não foi construído ao acaso, feito aos pedaços. É altamente organizado e obedece a leis que podem ser encontradas tanto no exame de uma gota de orvalho, de um grão de areia, como no corpo humano. Essa é a grande lição da alquimia. E isso os homens já sabiam há 10 mil anos, antes dos zigurates e das pirâmides.

Em todas as civilizações encontramos homens que conservaram vestígios do segredo. Mas, à medida que o tempo passou, o segredo diluiu-se, misturado de misticismo, associado a diversas religiões. Alguns sub-produtos foram, contudo, entregues aos homens: a porcelana, a pólvora, os ácidos, os gases. A eletricidade era conhecida no século 2 antes de Cristo, pelos alquimistas de Bagdá. Os da China produziram o alumínio no século 2 por método absolutamente desconhecido. E Newton pôde escrever em carta datada de 1676: “Existem outros segredos além da transmutação dos metais, e os grandes mestres são os únicos a compreendê-los”.

O grande público, como os príncipes, não se interessou senão por uma possibilidade: a dissociação da matéria em elementos muito pequenos que chamaremos partículas elementares, depois sua reconstituição para a fabricação do ouro. Essa operação de dissociação tem, na tradição, o nome de “preparação das trevas”. Foi ao estudá-la que, na China, descobriram a pólvora para canhão. Os livros asseguram, naturalmente, que a invenção deve-se a certo monge chamado Berthold Schwartz. Mas é um gracejo: schwartz quer dizer preto em alemão, e é certamente o símbolo da “preparação das trevas”. Preto também (ou azul-preto) é ainda a cor do gás eletrônico, estrutura quase imaterial que é a própria base dos metais e confere suas propriedades. Podemos observá-lo dissolvendo um metal no amoníaco líquido, a muito baixa temperatura. Vê-se a cor azul-preto que é comum a todos os metais, e qualquer um pode assistir hoje à “preparação das trevas”.

Em alquimia a fase seguinte consiste em juntar alguns grãos de ourio para se obter certa quantidade desse metal . A operação é chamada “sementeira”. Quanto ao catalisador que serviu para dissociar a matéria em subelementos, sabemos que os alquimistas chamam-no pedra filosofal. Pode ser obtido pela pirita de ferro, e já emiti a hipótese de que se tratava do elemento 310, de número atômico 136. A teoria dos números mágicos mostra que esse elemento deve ser estável.

Mas, à medida que se espalhava o boato de que era possível fabricar ouro à vontade, os príncipes deram caça aos alquimistas. Logo começaram a ser torturados e mortos. Barbárie das épocas recuadas, diriam. Não estou certo. O mundo vibra de novo pelo ouro. A libra foi desvalorizada, o dólar vascila, por toda parte as Bolsas vêem importantes negociações em torno do precioso metal. Se aparecesse um homem asseverando poder fabricar ouro, posso apostar que em breve encontrariam seu corpo em alguma floresta ou no fundo de um lago. Os interesses em jogo são por demais importantes.

Então, qual pode ser o destino do alquimista? Sob os governos atuais, como sob os faraós ou os imperadores da China, o alquimista é, foi, permanecerá, um homem só. Quer isto dizer que existem hoje (ou existiram) sociedades secretas de alquimia? Para responder à pergunta, precisamos lembrar em algumas palavras a história dos rosa+cruzes.Quando se fala nos rosa+cruzes, é preciso, para começar, citar suas origens. Com efeito, há dois séculos que se delira a esse respeito. Por meu lado, referir-me-ei ao livro de Arthur Edward Waite, The Brother-hood of the Rosy Cross, edição de 1966 (University Books, New York).

Waite, que morreu em 1940, publicou seu livro pela primeira vez em 1924. Cético feroz, atacou com bastante violência aqueles que se diziam representantes dos rosa-cruzes em sua época. Mas sua obra foi e continua apreciada pelos especialistas, graças à seriedade da informação e à fidelidade das referências. Cito-o por minha vez com a maior exatidão. Segundo Waite, nos séculos 16 e 17 houve um surgimento de avisos, panfletos e livros anunciando que detentores dos segredos dos alquimistas estavam prontos a admitir novos membros e a compartilhar de seus conhecimentos. Esses homens davam-se o nome de rosa+cruzes. Pretendiam vir de Damasco, de Fez e de “certa cidade oculta” (Waite, p. 37). Nada prova que esses indivíduos pertencessem a uma sociedade secreta, mas Waite salientou certos fatos perturbadores, mostrando que não eram simples escroques.

Esses desconhecidos demonstravam gran-de interesse por certas estrelas, principalmente pelas novas das constelações da Serpente e do Cisne (pp. 17, 42, 149). Na época, ninguém havia manifestado a idéia sacrílega (os astros eram tidos como eternos) de que as estrelas pudessem explodir. Certamente a nova da Serpente foi observada em 1604, e a do Cisne, em 1602, mas foi a ciência de hoje que, ao analisar tais explosões, descobriu as fontes de rádio no céu e os quásars. Ora, os rosa+cruzes sustentaram formalmente que essas estrelas novas eram uma das chaves da alquimia. Isto autoriza a pensar que possuíam conhecimentos mais avançados que os dos sábios oficiais de seu tempo.

Os rosa+cruzes pretendiam possuir dois instrumentos excepcionais (p. 261). O “cosmoloterentes” que permitia .destruir qualquer fortaleza com um só golpe, e a “astroniquita”, com a qual podiam ver as estrelas através das nuvens. Esses “instrumentos” são hoje nossos conhecidos. O primeiro é o explosivo nuclear; o segundo, um aparelho que utiliza a luz polarizada, como a pedra mágica dos vikings. Como os rosa+cruzes possuíam esses conhecimentos?

Os rosa+cruzes haviam construído uma miniatura da Terra, reproduzindo com exatidão todos os movimentos do nosso globo (p. 135). Isto não era inteiramente novo: fragmento de mecanismo .semelhante foi encontrado em uma ânfora do século 2, ao largo da ilha Anticitara, e o professor Dereck J. Solla Price, que o reconstituiu, escreveu no Scientific American que a perfeição da invenção era espantosa e abalava as nossas idéias sobre as tecnologias do passado. Mas tanto no século 2 como nos séculos 17 e 18, de onde provinha o conhecimento dos rosa+cruzes sobre os movimentos da Terra?

A 28 de maio de 1776, os rosa+cruzes fizeram uma demonstração de transmutação da água por efeito de radiação. Para isso utilizaram água que cristalizou a temperatura ordinária, formando cristais semelhantes a flores, que emitiam luz insustentável. Como esse alótropo do gelo pôde ser obtido?

No final somos levados a pensar que o saber dos rosa+cruzes vinha do passado. . . uma vez que não podia vir do futuro. Que saber era esse? Seus possuidores sempre afirmaram que o essencial de tais conheci-mentos residia na alquimia, uma alquimia tomada, bem entendido, no sentido lato, da qual a transmutação dos metais não era senão um aspecto:

Nos séculos 16 e 17 parece ter havido o renascimento desse antigo saber. As lendas sobre os rosa-cruzes dizem que possuíram até lâmpadas de luz fria que ficavam acesas sem interrupção, e registros mecânicos da música e da voz humana. Estes últimos pontos são, contudo, contestados, notadamente por Waite. Segundo um manifesto de 1623, Instruction à la France sur la Vérité de l’Histoire des Frères de la Rose-Croix (Instrução à França Sobre a Verdade da História dos Irmãos da Rosa-Cruz), esse ressurgimento visava ao recrutamento: queriam aumentar o número de iniciados. Depois veio de novo o silêncio, com uma exceção: sempre segundo Waite, no século 18 entraram em contato com Leibniz, que teve que passar por um exame e foi nomeado secretário de um grupo de estudos ocultos, em Nuremberg. Fontenelle conta o fato em Eloges des Académiciens.

Enfim, é preciso atribuir aos rosa+cruzes o impulso que permitiu criar duas companhias muito importantes: a Sociedade Real de Ciências, da Inglaterra. . . e a franco-maçonaria. Mas afastamo-nos do assunto.Ainda mais importante — pelo menos para a história da alquimia — parece ter sido a publicação em 1677 do Livre Muet de l’Alchimie, espécie de estenograma ou tábua de logaritmos para uso daqueles que realizaram a grande obra da alquimia. A obra estava assinada Altus, pseudônimo que não foi desvendado. E. Canseliet, no prefácio que acaba de dar à reedição do livro, aproxima o autor a Joseph Duchene, que desde 1609 compreendeu que havia azoto no nitrato pois, afirmava,
“Há um espírito no sal de pedra que é da natureza do ar e que, contudo, não pode manter a chama, sendo-lhe antes contrária”.

O misterioso Altus, representando Duchêne ou outros sábios desconhecidos, foi, de qualquer maneira, violentamente atacado pelos racionalistas da época. O Journal des Savants, da segunda-feira, 26 de agosto de 1677, menciona nestes termos a publicação do Mutus Liber:”O autor da obra é um desses homens que cavam a quimera para precipitar-se na indigência. Teimando na descoberta da pedra filosofal, possuem ciência bastante para se arruinar, e não bastante, como é preciso, para ver os limites do espírito humano que jamais atingirá a transmutação dos metais”. Contudo, para os alquimistas modernos o Mutus Liber continua precioso. Como todos os outros livros que tratam da grande obra, este não é um conjunto de receitas. É apenas um conjunto de sinais destinados àqueles que já sabem. Esses sinais foram, aliás, espalhados por toda parte pelos alquimistas, principalmente nas catedrais. Hoje continuam a escrever secretamente, um pouco por toda parte. Eis por que, nos anos 20, Pierre Dujols, o famoso livreiro especializa-do em ciências ocultas, podia afirmar: “Os reis reinam, mas não governam, segundo célebre aforismo. E parece, às vezes, que há ainda nos bastidores alguma eminência cinzenta que puxa os cordéis. As famosas águas-furtadas do templo talvez não este-jam destruídas como se supõe. E poderia ser escrito um livro surpreendente sobre a filigrana das notas de dinheiro e das siglas das moedas”. Quer dizer, nossa sociedade, como a do passado e como a natureza toda, é uma vasta mensagem que pode ser decifrada.

O Mutus Liber é uma arte dessa mensagem, uma espécie de memorando para os inicia-dos de ontem e de amanhã. O aviso ao leitor, que o precede, afirma claramente: “E também o mais belo livro jamais impresso sobre o assunto, pelo que dizem os sábios, contendo coisas que nunca foram ditas por ninguém. E preciso ser verdadeiro filho da arte para conhecê-lo. Aí está, caro leitor, aquilo que acreditei dever dizer-lhe”.

O livro não é inteligível por completo senão para os filhos da arte, assim como os dia-gr amas de circuitos de um aparelho de televisão só são compreensíveis às pessoas familiarizadas com eletrônica. Quer dizer que ninguém jamais escreverá um livro sobre alquimia ao alcance do comum dos mortais? No prefácio do Mutus Liber, Canseliet responde desta forma:

“Pediram-me muitas vezes e continuam pedindo para escrever um livro elementar que exponha simples e claramente em que consiste a alquimia.Não desejaria ser descortês, mas parece que muitos dos que nos fazem o pedido não leram os livros de Fulcanelli, Deux Logis Alchimiques, Les Douze Clés de la Philosophie e, recentemente, o nosso Alchimie, que ainda pode ser interrogado sobre a natureza, os meios e o fim da antiga ciência de Hermes. E preciso compenetrar-se plenamente, e não esquecermos jamais que a alquimia é, antes de tudo, a disciplina esotérica por excelência, que exige, por base, um estado de alma e de consciência onde o desapego seja igual ao constante desejo de amar e de conhecer. Amoroso da ciência! É a expressão familiar muitas vezes utilizada pelos mais antigos autores e que designa da mesma forma o filósofo, o alquimista e especialmente o artista”.
Canseliet esclarece aqui esta profunda e terrível verdade: a manipulação da matéria pela alquimia, resíduo de uma civilização mais adiantada que a nossa, distingue-se de nossas ciências e técnicas, da mesma maneira que a arte se distingue da decoração mecânica feita por meio de moldes. Há a mesma diferença entre a alquimia e nossa ciência atual, que entre a Gioconda e um papel pintado. . . E por isso que não se deve esperar ver um dia a alquimia industrializada. Não seria possível. Não seria útil.

Historicamente vê-se que os alquimistas entregam ao público, de vez em quando, algumas parcelas de seu saber, ajudando o progresso científico e técnico. A próxima parcela, que nos será assim atirada como alimento, penso que será a manipulação da matéria: não mais a simples transmutação (agora conhecemos o segredo), mas a receita de substâncias novas que não constam de nenhuma tábua periódica dos elementos.

Partindo do ferro, sabemos que Fulcanelli havia obtido metaelementos que não cor-respondiam a nada conhecido pelos químicos. Nossos sábios agora fabricam alguns desses metaelementos: o positrônio, os átomos muônicos etc. São, infelizmente, corpos instáveis, de vida muito curta. Alguns gramas de metaelemento estável fariam progredir nossa ciência de um século. No dia apropriado, tenho certeza, um alquimista nos fará essa revelação.

Enquanto esperamos, não poderíamos pelo menos fabricar ouro? Já dissemos o quanto seria perigoso, impossível mesmo, através das vias da alquimia promovidas à categoria de técnica industrial. Uma operação de alquimia, por definição, não é reproduzível. É uma obra de arte e um pintor não pode pintar duas vezes o mesmo quadro.

Mas àqueles que conservam a paixão pelo ouro, posso assinar a técnica descoberta já há 30 anos, por André Helbronner e eu próprio ( Jacques Bergier ). Podemos seguramente fabricar ouro, partindo do boro e do tungstênio.

A reação é escrita: 5 B 11 + 74 W 186 = 79 Au 197.

Estou persuadido de que, com a técnica moderna do plasma, esse método poderia ser industrializado e o ouro seria produzido por aproximadamente 60% de seu preço de custo ordinário. Seriam necessários, evidentemente, meios consideráveis para montar uma indústria, mas um governo poderia tomar essa iniciativa. Os Estados Unidos, talvez, se seu problema de reservas metálicas se agravasse. . .

Mas tudo isso não passa de alquimia, e a lição que ela nos dá hoje ainda é de outra natureza. Há mais e melhor a fazer do que ouro. Neste mundo cruel, onde a morte ronda a todos, resta ao homem encontrar as fontes da vida. A atitude da alquimia é sempre um exemplo. Ela pode ser um guia, tornar-se uma esperança.

Dia virá, talvez, em que os homens chegarão à plena consciência da alquimia, quer dizer, não apenas a uma ciência, mas a uma ética. Sempre que se pretendeu separar esses dois fatores do progresso humano, a humanidade caminhou com um pé só. Lindos pulos, às vezes, mas também escorregões!

Sim, um dia, talvez. . . A humanidade fará sem dúvida a grande mutação predita por Stapledon ou Teilhard de Chardin. Então a alquimia progredirá a descoberto. Terá conseguido sua última vitória.

 

Extraido de um texto de Jacques Bergier – 1974


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[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-nova-aurora-do-alquimista/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-nova-aurora-do-alquimista/

A Pluralidade de Ritos Maçônicos no Brasil e no Grande Oriente do Brasil

De fato, é um laurel da Maçonaria Brasileira a Pluralidade de Ritos, porque o exercício de Ritos Regulares faz com que a nossa Obediência abrigue, generosamente, as várias correntes Filosóficas e Doutrinárias do Mundo Maçônico, desde o Agnosticismo até o Teísmo. Seria um atentado à História e à Justiça se, em obediência a imposições ilegítimas e alienígenas, criássemos agora obstáculos aos Ritos” (Álvaro Palmeira, Grão-Mestre Geral do Grande Oriente do Brasil – 1963/1968)

1 – A Gênese dos Ritos

Conceituamos rito como sendo um cerimonial próprio de um culto ou de uma sociedade, determinado pela autoridade competente; é a ordenação de qualquer cerimônia e, por extensão, designa culto, religião ou seita. Maçonicamente é a prática de se conferir a Luz Maçônica a um profano, através de um cerimonial próprio. Em seiscentos anos de Maçonaria documentada, uma imensidade de ritos surgiram. Mas, de 1356 a 1740, existiu um rito apenas, ou melhor um sistema de cerimônias e práticas, ainda sem o título de Rito, que normatizava as reuniões maçônicas. Somente a partir de 1740 é que uma infinidade de ritos varreu o chão maçônico da Europa. Para evitar heresias, um Rito deve ter conteúdo que consagre algumas exigências bem conhecidas: o símbolo do Grande Arquiteto do Universo, o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso sobre o altar dos juramentos, sinais, toques, palavras e a divisão da Maçonaria Simbólica em três graus. Não há nenhum órgão internacional para reconhecer ritos. Acima do 3º Grau, cada Rito estabelece sua própria doutrina, hierarquia e cerimonial.

Um rito maçônico, usando simbolismo próprio, é um grande edifício. Deve ter projeto integrado, dos alicerces ao topo. Cada rito possui detalhes peculiares. A linha maçônica doutrinária, em cada Rito, deve ser contínua, dos graus simbólicos aos filosóficos. Cada Rito é uma Universidade doutrinária.

2 – Os Ritos praticados no Brasil

Conforme observamos, existem muitos Ritos Maçônicos praticados em todo o mundo. No Brasil, especificamente, são praticados seis, alguns deles reconhecidos e praticados internacionalmente e outros com valor apenas regional. São eles, o Rito Schröeder ou Alemão (pouco praticado no Brasil), o Rito Moderno ou Francês, o Rito de Emulação ou York (o mais praticado no mundo), o Rito Adonhiramita, o Rito Brasileiro e o Rito Escocês Antigo e Aceito (o mais praticado no Brasil).

O RITO SCHRÖEDER foi criado por Friedrich Ludwig Schröeder que, ao lado de Fessler, foi um dos reformadores da Maçonaria alemã. De acordo com o prefácio do ritual editado em 1960 pela Loja “ABSALON ZU DEN DREI NESSELN” (Absalão das Três Urtigas), Schröeder introduziu o rito em sua Loja a 29 de junho de 1801 e esse rito, desde logo, conquistou numerosas Lojas em toda a Alemanha e em outros países onde passou a ser praticado, principalmente por maçons de origem alemã. É um rito muito simples e trabalha, como o de York, apenas na chamada “pura Maçonaria” ou seja, na dos três graus simbólicos, já que não possui Altos Graus. No Rito Schröeder a expressão “Grande Arquitetodo Universo” é usada no plural – “Grande Arquiteto dos Universos (G.A.DD.UU.).

O RITO MODERNO, criado em 1761, foi reconhecido pelo Grande Oriente da França em 1773. A partir de 1786, quando um projeto de reforma estabeleceu os sete graus do rito – em contraposição ao emaranhado dos Altos Graus da época -, ele teve grande impulso espalhando-se por toda a França, pela Bélgica, pelas colônias francesas e pelos países latino-americanos, inclusive pelo Brasil. Já no início do século XIX, o Grande Oriente do Brasil – primeira Obediência brasileira – foi fundada em 1822, adotando o Rito Moderno, antes do Rito Escocês que só seria introduzido em 1832. Em 1817 houve a grande reforma doutrinária que suprimiu a obrigatoriedade da crença em Deus e da imortalidade da alma, não como uma afirmação do ateísmo, mas por respeito à liberdade religiosa e de consciência, já que as concepções religiosas de uma pessoa devem ser de foro íntimo, não devendo ser impostas. O Grande Oriente da França, que acolheu a reforma, queria demonstrar com isso o máximo de escrúpulos para com os seus filiados, rejeitando toda e qualquer afirmação dogmática. Essa atitude provocou uma rápida reação da Grande Loja Unida da Inglaterra que rompeu com o Grande Oriente da França. O caso envolveu não apenas uma questão doutrinária como ainda político-religiosa.

O RITO YORK
é considerado bastante antigo. A Grande Loja de Londres, durante muito tempo após a sua fundação, teve uma influência muito limitada, pois a grande maioria das Lojas britânicas continuava a respeitar as antigas obrigações, permanecendo livres sem aderir ao sistema obediencial. O centro de resistência à Grande Loja era a antiga Loja de York, de grande tradição operativa e que dava aos membros da Grande Loja o título de “Modernos”, enquanto eles próprios se autodenominavam “Antigos”, pelo respeito às antigas leis. O que os Antigos censuravam nos Modernos era a descristianização dos rituais, a omissão das orações e da comemoração dos dias santos, contrariando assim os mandamentos da Santa Igreja (Anglicana). O cisma entre os Antigos e Modernos durou até 1813, quando as duas Grandes Lojas fundiram-se formando a Grande Loja Unida da Inglaterra, que adotava o Rito dos Antigos de York. A Constituição desse Supremo Órgão foi publicada em 1815. O rito não possui Altos Graus, tendo além dos três simbólicos, uma quarta etapa designada de “Real Arco”, que é considerada uma extensão do Mestrado. O Rito de York, por ser teísta, está mais ligado aos países onde os cultos evangélicos predominam, pois o clero desses cultos tem dado à Maçonaria o apoio e o suporte necessário para a sua evolução e crescimento.

O RITO ADONHIRAMITA nasceu de uma polêmica entre ritualistas em torno de Hiram Abif, chamado de ADON-HIRAM (Senhor Hiram) e ADONHIRAM, o preposto das corvéias, depois da construção do Templo de Jerusalém, de acordo com os textos bíblicos. O rito, depois de uma época de grande difusão, acabou desaparecendo. Todavia, no Brasil (onde foi o primeiro rito praticado), ele permaneceu, fazendo com que o país seja hoje o centro do rito, que teve seus graus aumentados de treze para trinta e três. O Rito Adonhiramita é deísta.

O RITO BRASILEIRO teria sido criado em 1878, em Pernambuco, mas tem sua existência legal a partir de 23 de dezembro de 1914, quando foi publicado o Decreto nº. 500, do então Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil, Lauro Sodré, fazendo saber que, em sessão do Conselho Geral da Ordem havia sido aprovado o reconhecimento e incorporação do Rito Brasileiro entre os que compunham o Grande Oriente do Brasil. Depois o Rito desapareceria, para ressurgir em 1940 e novamente em 1962, praticamente desaparecer, até que em 1968, o Decreto nº. 2.080, de 19 de março de 1968, do Grão-Mestre Álvaro Palmeira, renovava os objetivos do Ato nº. 1617 de 3 de agosto de 1940, como o marco inicial da efetiva implantação do Rito Brasileiro. A partir daí, o rito teve grande crescimento no país.

O RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO, Começou a nascer na França, quando Henriqueta de França, viúva de Carlos I, decapitado em 1649, por ordem de Cromwell, aceitou do Rei Luís XIV asilo em Saint-Germain-en-Laye, para lá se retirando com seus regimentos escoceses e irlandeses e os demais membros da nobreza, principalmente escocesa, que passaram a trabalhar pela restauração do trono, sob a cobertura das Lojas, das quais eram membros honorários, o que evitava que os espiões de Cromwell pudessem tomar conhecimento da conspiração.Consta que Carlos II, ao se preparar para recuperar o trono, criou um regimento chamado de Guardas Irlandeses, em 1661. Esse regimento possuía uma Loja, cuja constituição dataria de 25 de março de 1688 e que foi a única Loja do século XVII cujos vestígios ainda existem, embora os stuartistas católicos devam ter criado outras Lojas. O termo “escocês”, já a partir daquela época, não designava mais uma nacionalidade, mas o partido dos seguidores dos Stuarts, escoceses em sua maioria. Assim, após a criação da Grande Loja de Londres, em 1717, existiam na França dois ramos maçônicos: a Maçonaria escocesa e stuartista, ainda com Lojas livres, e a inglesa com Lojas ligadas à Grande Loja. A Maçonaria escocesa, mais pujante, resolveu, em 1735, escolher um Grão-Mestre, adotando o regime obediencial, o que levaria à fundação da Grande Loja da França (Grande Oriente de 1772), embora esta designação só apareça em 1765. O escocesismo, na realidade, só se concretizou com a introdução daquilo que seria a sua característica máxima, os Altos Graus, através de uma entidade denominada “Conselhos dos Imperadores do Oriente e do Ocidente”. Este Conselho criou o Rito de Héredom, com 25 graus, o qual, incorporado ao escocesismo, deu origem a uma escala de 33 graus, concretizada do primeiro Supremo Conselho do Rito em todo mundo. O REAA, por ter sido um rito deísta, não foi unanimemente aceito nos países onde predominavam as Igrejas Evangélicas e vicejou mais nos países latinos onde predomina o Catolicismo. É necessário explicar que atualmente o caráter deísta do Rito Escocês Antigo e Aceito misturou-se ao teísmo, sendo que este acabou sendo redominante. O REAA tem o mesmo forte caráter teísta do Rito de York.

3 – Conclusão: A Unidade na Diversidade

A Maçonaria se caracteriza pela diversidade e sempre admitiu a pluralidade de ritos. O Sistema do Rito Único, caso existisse, não seria um bom sistema. A Ordem reuniu sistemas diversos formando uma unidade superior, perfeitamente caracterizada que é a Doutrina Maçônica. A Maçonaria convive com muitos ritos, uns teístas, outros deístas sem esquecer os agnósticos. Afinal, há muitas maneiras de se relacionar com Deus. Mas há um detalhe: o maçom não pode ser ateu. Em decorrência deste ecletismo, as manifestações maçônicas disseminadas no mundo ao longo do tempo, apresentam-se com grande diversificação, havendo Unidade na Diversidade. É possível que a máxima “E PLURIBUS UNUM” (A Unidade na Diversidade), inscrita no listel que envolve a parte superior do Selo dos EUA seja de origem maçônica. Afinal, todos os chamados “pais da pátria” daquele país foram maçons, a começar por George Washington.

Referências Bibliográficas:

1. CASTELLANI, José. Curso Básico de Liturgia e Ritualística. Londrina, Ed. “A TROLHA”, 1991;

2. FARIA, Fernando de. Rito Brasileiro de Maçons Antigos, Livres e Aceitos. “O SEMEADOR” nº 8 (2ª fase) Jul-Dez 1990;

3. OLIVEIRA, Arnaldo Assis de. Escocesismo. Trabalho para aumento de salário no Ilustre Conselho de Kadosch nº 22, 1992;

4. “EGRÉGORA” nº. 1/Jul-Ago 1993; nº. 2/ Set-Nov 1993; nº. 3/Dez 93-Fev 1994; nº. 4/Mar-Mai 1994; nº. 5/Jun-Ago 1994.

Ven. Irmão Lucas Francisco GALDEANO – Venerável Mestre da Loja “Universitária-Verdade e Evolução” nº.3492 do Rito Moderno (2005-2007), ex-Venerável da Loja Miguel Archanjo Tolosa nº.2131 do R.E.A.A.(1991-1993), ex-Grande Secretário Geral de Educação e Cultura do Grande Oriente do Brasil (1993-2001), Presidente do Conselho Editorial do Jornal Egrégora – Órgão Oficial deDivulgação do Grande Oriente do Distrito Federal.

Por Ven. Irmão Lucas Francisco GALDEANO

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Postagem original feita no https://mortesubita.net/sociedades-secretas-conspiracoes/a-pluralidade-de-ritos-maconicos-no-brasil-e-no-grande-oriente-do-brasil/

Doppelgangers: mau agouro na certa

Será que existe um clone seu em algum lugar do mundo ? Uma pessoa pode estar em dois lugares ao mesmo tempo? Existem muitos casos intrigantes ao longo da história, de pessoas que afirmam ter deparado-se com aparições de si mesmo – seus doppelgangers – ou sofreram o fenômeno da bilocação/desdobramento, estar em dois locais distintos ao mesmo tempo.

Doppelganger” é um termo alemão para algo que dificilmente teríamos uma boa tradução para o português; uma sombra/espírito que se pensa poder acompanhar cada pessoa e que têm sua aparência exata, embora sua imagem não tenha reflexos. Tradicionalmente, diz-se que só o dono do doppelganger pode ver este auto-fantasma, e que ele pode ser um prenúncio de morte. Ocasionalmente, no entanto, um doppelganger pode ser visto por uma pessoa da família ou amigos, resultando em casos muito confusos.

O Caso de Emilie Sagée

Um dos mais fascinantes relatos de um doppelganger vem do escritor americano Robert Dale Owen, que ouviu a história de um Doppelganger por Julie von Güldenstubbe, a segunda filha do barão von Güldenstubbe. Em 1845, quando von Güldenstubbe contava 13 anos de idade, ela foi enviada ao Pensionato von Neuwelcke, um colégio exclusivo para meninas; perto de Wolmar no que é agora a Letônia. Um de seus professores era uma francesa de 32 anos chamada Emilie Sagée.

Embora a administração da escola estivesse muito contente com o desempenho de Sagée junto aos alunos, ela logo se tornaria objeto de rumores e especulações estranhas. Sagée, ao que parece, possuía um Doppelganger que a perseguia por todos os lugares. O caso deixou de ser tratado como insanidade quando os próprios alunos de Sagée puderam ver ambas ao mesmo tempo, o que não é o mais comum, já que alguns estudiosos têm a opinião de que somente o próprio dono pode vê-los.

Um dia, no meio da turma na sala de aula, enquanto Sagée estava escrevendo no quadro negro, seu Doppelganger apareceu precisamente ao lado dela; copiando cada movimento da professora tal como ela escrevia, com a exceção de que não detinha qualquer pedaço de giz entre os dedos. O evento foi testemunhado por 13 alunos na sala de aula. Um incidente semelhante foi relatado em um jantar na qual seu Doppelganger foi visto em pé atrás dela, mimetizando os movimentos de sua alimentação, embora não utiliza-se nenhum dos utensílios como garfos ou facas.

No entanto, o Doppelganger nem sempre retrata o eco dos seus movimentos. Em várias ocasiões, Sagée seria vista em uma parte da escola, quando era conhecido de que ela estava em outro lugar, no exato mesmo horário. O mais espantoso exemplo do caso Sagée teve lugar em plena vista de todo o corpo estudantil de 42 alunos em um dia no verão 1846. As meninas estavam todas acomodadas no hall da escola para suas aulas de costura e bordado. A medida que sentaram-se ao longo das mesas de trabalho, elas podiam ver claramente Sagée no jardim da escola colhendo flores.

Um outro professor foi supervisionar as crianças. Quando este professor deixou a sala para falar com a diretora, o Doppelganger de Sagée apareceu em sua cadeira – enquanto a verdadeira Sagée ainda podia ser vista no jardim. As alunas observaram que os movimentos de Sagée no jardim pareciam muito cansados enquanto o doppelganger continuava sentado e imóvel na mesa da professora. Duas meninas munidas de uma coragem incomum para suas idades abordaram o “fantasma” na tentativa de tocá-lo, mas sentiram uma estranha resistência do ar em torno dela; quando finalmente consegui “tocá-la”, o Doppelganger então desapareceu lentamente.

Sagée alegou nunca ter visto seu próprio Doppelganger, mas que sempre era tomada por um extremo cansaço, como se suas forças estivessem sendo drenadas para fora de seu corpo; ela empalidecia e sentia fome, apesar de jamais conseguir comer após essas aparições.

Famosos Doppelgangers

Temos muito relatos de Doppelgangers envolvendo figuras ilustres:

  • Guy de Maupassant, o romancista francês em um de seus contos, alegava ter sido assombrado pelo seu Doppelganger perto do fim de sua vida. Numa ocasião, ele disse que esta “cópia” sua entrou no quarto, tomou um assento frente ao dele e começou a ditar o que ele deveria escrever. Ele menciona esta experiência, em seu conto “Lui”.
  • John Donne, poeta Inglês do século XVI, cujo trabalho muitas vezes aflorou assuntos voltados para metafísica, foi visitado por um Doppelganger enquanto ele estava em Paris – e não o seu, mas o de sua mulher. Ela apareceu-lhe para mostrar um bebê recém-nascido. Sua esposa estava grávida na época, mas a aparição foi um sinal de grande tristeza. Ao mesmo momento que o Doppelganger apareceu, sua esposa havia dado à luz um filho nati-morto.
  • Percy Bysshe Shelley, ainda considerado um dos maiores poetas da língua Inglesa, encontrou seu doppelganger na Itália. O fantasma silenciosamente apontou em direção ao Mar Mediterrâneo. Pouco tempo depois, e pouco antes de seu trigésimo aniversário, em 1822, Shelley morreu em um acidente na pequena vela em que navegava – morrendo afogado no mesmo mar Mediterrâneo.
  • Rainha Elizabeth I da Inglaterra ficou chocada ao ver seu Doppelganger repousando em seu leito. A rainha morreu pouco tempo depois. A ocasião foi assunto dos jornais da época.
  • Em um caso que sugere que Doppelgangers podem ter algo a ver com o tempo ou dimensões extra-sensoriais, Johann Wolfgang von Goethe, o poeta alemão do século 18, encontrou seu Doppelganger enquanto cavalgava por uma estrada rumo a Drusenheim. Cavalgando em direção a ele estava seu Doppelganger, mas usando um terno cinza com reluzentes detalhes em ouro. Oito anos mais tarde, Goethe novamente viajava pela mesma estrada, mas no sentido oposto. Ele então percebeu que ele estava vestindo o mesmo terno cinza que tinha visto em seu Doppelganger oito anos antes e repetindo os mesmíssimos movimentos. Teria Goethe visto o seu próprio futuro?

Irmã Maria de Jesus

A Bilocação parece mesmo ser a outra face da moeda Doppelganger. Um dos mais espantosos casos ocorreu no século XV. Em 1622, ao Padre Alonzo de Benavides foi confiada a missão catequizadora de Isolita; no que é agora o estado americano do Novo México. Ele ficou perplexo ao encontrar índios Jamanos que, apesar de nunca antes terem se deparado com povos europeus; pareciam ter aprendido todos os rituais e liturgias Católicos Romanos, havia altares e cruzes; orações, todas em sua língua nativa.

Benavides escreveu para ambos Papa Urbano VII e Rei Felipe da Espanha para saber quem tinha estado lá antes dele, evidentemente, para trabalhar no sentido de converter os índios ao cristianismo. A resposta foi que ninguém tinha sido enviado anteriormente. Os índios, disseram-lhe, que tinham sido instruídos no cristianismo por uma bela jovem “vestida de azul” que viera entre eles há muitos anos e ensinou-lhes esta nova religião na sua própria língua.

Ela também disse-lhes que as pessoas de pele branca iriam em breve chegar às suas terras. “Ela veio aqui para baixo vindo das alturas”, disseram os Índios “, ela nos ensinou a nova religião, permanecendo entre nós por algum tempo, ela nos disse que viriam e para que vocês fossem bem recebidos por nós, em seguida, ela se foi para longe. Isso todos nós sabemos. disseram, referindo ao que Benavides tentava lhes ensinar.”

Quem foi essa misteriosa mulher em azul? Padre Benavides sabia que as freiras dos conventos das Pobres Clarissas usavam hábitos azuis e logo associou a elas esta possibilidade. Ele encontrou uma pintura de uma freira e mostrou-a para o Jamanos. “Esta é a mulher?” ele perguntou. O vestido era o mesmo, os índios disseram a ele, mas esta não era a mulher. A mulher na pintura era bastante bonita, mas a senhora em azul que os visitou era muito jovem e muito bela.

Quando o padre retornou para a Espanha, voltou determinado a resolver o mistério. Como poderiam os índios encontrar uma freira Clarissa quando elas fossem enclausuradas a partir do dia em que tiveram seus votos confirmados e isso até a sua morte, as freiras nunca deixaram seus conventos, muito menos viajaram a terras distantes em missões catequizadoras. Sua investigação o levou a Irmã Maria de Jesus em Agreda , na Espanha, que alegou ter convertido índios norte-americanos – sem sair de seu convento. A freira então com 29 anos de idade; disse que ela tinha visitado os índios “não com seu corpo material, mas na sua essência, espiritualmente.”

Irmã Maria de Jesus disse que ela caía regularmente  em um transe cataléptico, depois ela recordava de “sonhos”, na qual ela era levada para um lugar estranho e muito selvagem, onde ensinava o evangelho. Como prova da sua alegação, ela foi capaz de fornecer todas as descrições detalhadas dos índios Jamano, incluindo a sua aparência, roupas e costumes, nenhum dos quais ela poderia ter aprendido através de alguma investigação anterior, uma vez que haviam sido recentemente descobertos pelos europeus. Como é que ela havia aprendido a sua língua nativa? “Eu não aprendi”, respondeu ela. “Eu simplesmente falei com eles – e Deus deixou-nos compreender mutuamente.”

Outros casos

  • Santo Afonso Liguori foi bispo de Santa Agata de Goti em 1774, quando ele sofreu sua primeira bilocação. Enquanto estava em repouso em seu palácio perto de Nápoles, o bispo caiu em um transe e então apareceu no Vaticano, em Roma, na câmara mortuária do Papa Clemente XIV, que estava agonizando. O bispo amparava todos aqueles que visitavam o Pontífice e rezou com todos os presentes. Ele permaneceu até o Papa morrer, em seguida, “acordou” de volta em seu palácio, capaz de descrever o que ele tinha acabado vivenciar, para espanto de todos que confirmaram a história.
  • Em 1905, Sir Gilbert Parker, um membro do Parlamento britânico, estava participando de um debate na Câmara dos Comuns. Durante o debate, ele observou que Sir Frederick Carne Rasch esteve também presente, sentado no seu local habitual. No entanto, isto era impossível uma vez que Sir Frederick estava acometido de uma terrível gripe e, de acordo com sua governanta, permaneceu na cama durante todo o dia sem comparecer ao parlamento. Aparentemente, o Doppelganger de Sir Rasch estava determinado a ouvir o precioso debate que ali deveria ocorrer e que muito interessava ao futuro político.
  • Um caso recente aconteceu em Beslan, na Rússia em Agosto de 2004, uma menina de 11 anos de idade passou a questionar a mãe se ela tinha uma irmã gêmea. Frente as negativas maternas, a menina insistia em afirmar que via uma “cópia” sua, que a perseguia do outro lado da calçada, sempre que retornava da casa da avó, que vivia a três quadras de sua residência. A cópia segundo a menina, não falava com ela, mas imitava seus movimentos, às vezes sorrindo zombeteiramente para ela, o que assustava a menina. Ao ser levada a um médico, o doutor Viktor Gushniev, psiquiatra local afirmou que a menina sofria de um problema neurofisiológico e foi “devidamente” medicada. Seguindo a rota dos acontecimentos em que afirma-se peremptoriamente, que ao se deparar com seu Doppelganger é sinal de tragédia a vista, a menina foi uma das vítimas do massacre de Beslan, um atentado terrorista que deixou 331 pessoas mortas, em sua maioria crianças. Gushniev que tinha conhecimento sobre a teoria Doppelganger, recusou-se a falar com a revista semanal alemã Der Spiegel sobre o caso. Mais de três anos após o caso, ele ainda se recusa a falar e reage com severa fúria quando é abordado sobre Beslan.

Por: Paulie Hollefeld

Postagem original feita no https://mortesubita.net/espiritualismo/doppelgangers-mau-agouro-na-certa/

O Sufismo

Escrito por Robert Graves, para o livro “Os Sufis”, de Idries Shah

Os sufis são uma antiga maçonaria espiritual cujas origens nunca foram traçadas nem datadas; nem eles mesmos se interessam muito por esse tipo de pesquisa, contentando-se em mostrar a ocorrência da sua maneira de pensar em diferentes regiões e períodos. Conquanto sejam, de ordinário, erroneamente tomados por uma seita muçulmana, os sufis sentem-se à vontade em todas as religiões: exatamente como os “pedreiros-livres e aceitos”, abrem diante de si, em sua loja, qualquer livro sagrado – seja a Bíblia, seja o Corão, seja a Torá – aceito pelo Estado temporal. Se chamam ao islamismo a “casca” do sufismo, é porque o sufismo, para eles, constitui o ensino secreto dentro de todas as religiões. Não obstante, segundo Ali el-Hujwiri, escritor sufista primitivo e autorizado, o próprio profeta Maomé disse: “Aquele que ouve a voz do povo sufista e não diz aamin (amém) é lembrado na presença de Deus como um dos insensatos”. Numerosas outras tradições o associam aos sufis, e foi em estilo sufista que ele ordenou a seus seguidores que respeitassem todos os “Povos do Livro”, referindo-se dessa maneira aos povos que respeitavam as próprias escrituras sagradas – expressão usada mais tarde para incluir os zoroastrianos.

Tampouco são os sufis uma seita, visto que não acatam nenhum dogma religioso, por mais insignificante que seja, nem se utilizam de nenhum local regular de culto. Não têm nenhuma cidade sagrada, nenhuma organização monástica, nenhum instrumento religioso. Não gostam sequer que lhes atribuam alguma designação genérica que possa constrangê-los à conformidade doutrinária. “Sufi” não passa de um apelido, como “quacre”, que eles aceitam com bom humor. Referem-se a si mesmos como “nós amigos” ou “gente como nós”, e reconhecem-se uns aos outros por certos talentos, hábitos ou qualidades de pensamento naturais. As escolas sufistas reuniram-se, com efeito, à volta de professores particulares, mas não há graduação, e elas existem apenas para a conveniência dos que trabalham com a intenção de aprimorar os estudos pela estreita associação com outros sufis. A assinatura sufista característica encontra-se numa literatura amplamente dispersa desde, pelo menos, o segundo milênio antes de Cristo, e se bem o impacto óbvio dos sufis sobre a civilização tenha ocorrido entre o oitavo e o décimo oitavo séculos, eles continuam ativos como sempre. O seu número chega a uns cinqüenta milhões. O que os torna um objeto tão difícil de discussão é que o seu reconhecimento mútuo não pode ser explicado em termos morais ou psicológicos comuns – quem quer que o compreenda é um sufi. Posto que se possa aguçar a percepção dessa qualidade secreta ou desse instinto pelo íntimo contato com sufis experientes, não existem graus hierárquicos entre eles, mas apenas o reconhecimento geral, tácito, da maior ou menor capacidade de um colega.

O sufismo adquiriu um sabor oriental por ter sido por tanto tempo protegido pelo islamismo, mas o sufi natural pode ser tão comum no Ocidente como no Oriente, e apresentar-se vestido de general, camponês, comerciante, advogado, mestre-escola, dona-de-casa, ou qualquer outra coisa. “Estar no mundo mas não ser dele”, livre da ambição, da cobiça, do orgulho intelectual, da cega obediência ao costume ou do respeitoso temor às pessoas de posição mais elevada – tal é o ideal do sufi.

Os sufis respeitam os rituais da religião na medida em que estes concorrem para a harmonia social, mas ampliam a base doutrinária da religião onde quer que seja possível e definem-lhe os mitos num sentido mais elevado – por exemplo, explicando os anjos como representações das faculdades superiores do homem. Oferecem ao devoto um “jardim secreto” para o cultivo da sua compreensão, mas nunca exigem dele que se torne monge, monja ou eremita, como acontece com os místicos mais convencionais; e mais tarde, afirmam-se iluminados pela experiência real – “quem prova, sabe” – e não pela discussão filosófica. A mais antiga teoria de evolução consciente que se conhece é de origem sufista, mas embora muito citada por darwinianos na grande controvérsia do século XIX, aplica-se mais ao indivíduo do que à raça. O lento progresso da criança até alcançar a virilidade ou a feminilidade figura apenas como fase do desenvolvimento de poderes mais espetaculares, cuja força dinâmica é o amor, e não o ascetismo nem o intelecto.

A iluminação chega com o amor – o amor no sentido poético da perfeita devoção a uma musa que, sejam quais forem as crueldades aparentes que possa cometer, ou por mais aparentemente irracional que seja o seu comportamento, sabe o que está fazendo. Raramente recompensa o poeta com sinais expressos do seu favor, mas confirma-lhe a devoção pelo seu efeito revivificante sobre ele. Assim, Ibn El-Arabi (1165-1240), um árabe espanhol de Múrcia, que os sufis denominam o seu poeta maior, escreveu no Tarju-man el-Ashwaq (o intérprete dos desejos):

“Se me inclino diante dela como é do meu dever E se ela nunca retribui a minha saudação Terei, acaso, um justo motivo de queixa? A mulher formosa a nada é obrigada”
Esse tema de amor foi, posteriormente, usado num culto extático da Virgem Maria, a qual, até o tempo das Cruzadas, ocupara uma posição sem importância na religião cristã. A maior veneração que ela recebe hoje vem precisamente das regiões da Europa que caíram de maneira mais acentuada sob a influência sufista.

Diz de si mesmo, Ibn El-Arabi:

“Sigo a religião do Amor.
Ora, às vezes, me chamam
Pastor de gazelas [divina sabedoria]Ora monge cristão,
Ora sábio persa.
Minha amada são três –
Três, e no entanto, apenas uma;
Muitas coisas, que parecem três,
Não são mais do que uma.
Não lhe dêem nome algum,
Como se tentassem limitar alguém
A cuja vista
Toda limitação se confunde”

Os poetas foram os principais divulgadores do pensamento sufista, ganharam a mesma reverência concedida aos ollamhs, ou poetas maiores, da primitiva Irlanda medieval, e usavam uma linguagem secreta semelhante, metafórica, constituída de criptogramas verbais. Escreve Nizami, o sufi persa: “Sob a linguagem do poeta jaz a chave do tesouro”. Essa linguagem era ao mesmo tempo uma proteção contra a vulgarização ou a institucionalização de um hábito de pensar apropriado apenas aos que o compreendiam, e contra acusações de heresia ou desobediência civil. Ibn El-Arabi, chamado às barras de um tribunal islâmico de inquisição em Alepo, para defender-se da acusação de não-conformismo, alegou que os seus poemas eram metafóricos, e sua mensagem básica consistia no aprimoramento do homem através do amor a Deus. Como precedente, indicava a incorporação, nas Escrituras judaicas, do Cântico erótico de Salomão, oficialmente interpretado pelos sábios fariseus como metáfora do amor de Deus a Israel, e pelas autoridades católicas como metáfora do amor de Deus à Igreja.

Em sua forma mais avançada, a linguagem secreta emprega raízes consonantais semíticas para ocultar e revelar certos significados; e os estudiosos ocidentais parecem não ter se dado conta de que até o conteúdo do popular “As mil e uma noites” é sufista, e que o seu título árabe, Alf layla wa layla, é uma frase codificada que lhe indica o conteúdo e a intenção principais: “Mãe de Lembranças”. Todavia, o que parece, à primeira vista, o ocultismo oriental é um antigo e familiar hábito de pensamento ocidental. A maioria dos escolares ingleses e franceses começam as lições de história com uma ilustração de seus antepassados druídicos arrancando o visco de um carvalho sagrado. Embora César tenha creditado aos druidas mistérios ancestrais e uma linguagem secreta – o arrancamento do visco parece uma cerimônia tão simples, já que o visco é também usado nas decorações de Natal -, que poucos leitores se detêm para pensar no que significa tudo aquilo. O ponto de vista atual, de que os druidas estavam, virtualmente, emasculando o carvalho, não tem sentido.

Ora, todas as outras árvores, plantas e ervas sagradas têm propriedades peculiares. A madeira do amieiro é impermeável à água, e suas folhas fornecem um corante vermelho; a bétula é o hospedeiro de cogumelos alucinógenos; o carvalho e o freixo atraem o relâmpago para um fogo sagrado; a raiz da mandrágora é antiespasmódica. A dedaleira fornece digitalina, que acelera os batimentos cardíacos; as papoulas são opiatos; a hera tem folhas tóxicas, e suas flores fornecem às abelhas o derradeiro mel do ano. Mas os frutos do visco, amplamente conhecidos pela sabedoria popular como “panacéia”, não têm propriedades medicinais, conquanto sejam vorazmente comidos pelos pombos selvagens e outros pássaros não-migrantes no inverno. As folhas são igualmente destituídas de valor; e a madeira, se bem que resistente, é pouco utilizada. Por que, então, o visco foi escolhido como a mais sagrada e curativa das plantas? A única resposta talvez seja a de que os druidas o usavam como emblema do seu modo peculiar de pensamento. Essa árvore não é uma árvore, mas se agarra igualmente a um carvalho, a uma macieira, a uma faia e até a um pinheiro, enverdece, alimenta-se dos ramos mais altos quando o resto da floresta parece adormecido, e a seu fruto se atribui o poder de curar todos os males espirituais. Amarrados à verga de uma porta, os ramos do visco são um convite a beijos súbitos e surpreendentes. O simbolismo será exato se pudermos equiparar o pensamento druídico ao pensamento sufista, que não é plantado como árvore, como se plantam as religiões, mas se auto-enxerta numa árvore já existente; permanece verde, embora a própria árvore esteja adormecida, tal como as religiões são mortas pelo formalismo; e a principal força motora do seu crescimento é o amor, não a paixão animal comum nem a afeição doméstica, mas um súbito e surpreendente reconhecimento do amor, tão raro e tão alto que do coração parecem brotar asas. Por estranho que pareça, a Sarça Ardente em que Deus apareceu a Moisés no deserto, supõem agora os estudiosos da Bíblia, era uma acácia glorificada pelas folhas vermelhas de um locanthus, o equivalente oriental do visco.

Talvez seja mais importante o fato de que toda a arte e a arquitetura islâmicas mais nobres são sufistas, e que a cura, sobretudo dos distúrbios psicossomáticos, é diariamente praticada pelos sufis hoje em dia como um dever natural de amor, conquanto só o façam depois de haverem estudado, pelo menos, doze anos. Os ollamhs, também curadores, estudavam doze anos em suas escolas das florestas. O médico sufista não pode aceitar nenhum pagamento mais valioso do que um punhado de cevada, nem impor sua própria vontade ao paciente, como faz a maioria dos psiquiatras modernos; mas, tendo-o submetido a uma hipnose profunda, ele o induz a diagnosticar o próprio mal e prescrever o tratamento. Em seguida, recomenda o que se há de fazer para impedir uma recorrência dos sintomas, visto que o pedido de cura há de provir diretamente do paciente e não da família nem dos que lhe querem bem.

Depois de conquistadas pelos sarracenos, a partir do século VIII d.C, a Espanha e a Sicília tornaram-se centros de civilização muçulmana renomados pela austeridade religiosa. Os letrados do norte, que acudiram a eles com a intenção de comprar obras árabes a fim de traduzi-las para o latim, não se interessavam, contudo, pela doutrina islâmica ortodoxa, mas apenas pela literatura sufista e por tratados científicos ocasionais. A origem dos cantos dos trovadores – a palavra não se relaciona com trobar, (encontrar), mas representa a raiz árabe TRB, que significa “tocador de alaúde” – é agora autorizadamente considerada sarracena. Apesar disso, o professor Guillaume assinala em “O legado do Islã” que a poesia, os romances, a música e a dança, todos especialidades sufistas, não eram mais bem recebidas pelas autoridades ortodoxas do Islã do que pelos bispos cristãos. Árabes, na verdade, embora fossem um veículo não só da religião muçulmana mas também do pensamento sufista, permaneceram independentes de ambos.

Em 1229 a ilha de Maiorca foi capturada pelo rei Jaime de Aragão aos sarracenos, que a haviam dominado por cinco séculos. Depois disso, ele escolheu por emblema um morcego, que ainda encima as armas de Palma, a nossa capital. Esse morcego emblemático me deixou perplexo por muito tempo, e a tradição local de que representa “vigilância” não me pareceu uma explicação suficiente, porque o morcego, no uso cristão, é uma criatura aziaga, associada à bruxaria. Lembrei-me, porém, de que Jaime I tomou Palma de assalto com a ajuda dos Templários e de dois ou três nobres mouros dissidentes, que viviam alhures na ilha; de que os Templários haviam educado Jaime em le bon saber, ou sabedoria; e de que, durante as Cruzadas, os Templários foram acusados de colaboração com os sufis sarracenos. Ocorreu-me, portanto, que “morcego” poderia ter outro significado em árabe, e ser um lembrete para os aliados mouros locais de Jaime, presumivelmente sufis, de que o rei lhes estudara as doutrinas.

Escrevi para Idries Shah Sayed, que me respondeu:
“A palavra árabe que designa o morcego é KHuFFaasH, proveniente da raiz KH-F-SH. Uma segunda acepção dessa raiz é derrubar, arruinar, calcar aos pés, provavelmente porque os morcegos freqüentam prédios em ruínas. O emblema de Jaime, desse modo, era um simples rébus que o proclamava “o Conquistador”, pois ele, na Espanha, era conhecido como “El rey Jaime, Rei Conquistador”. Mas essa não é a história toda. Na literatura sufista, sobretudo na poesia de amor de Ibn El-Arabi, de Múrcia, disseminada por toda a Espanha, “ruína” significa a mente arruinada pelo pensamento impenitente, que aguarda reedificação.
O outro único significado dessa raiz é “olhos fracos, que só enxergam à noite”. Isso pode significar muito mais do que ser cego como um morcego. Os sufis referem-se aos impenitentes dizendo-os cegos à verdadeira realidade; mas também a si mesmos dizendo-se cegos às coisas importantes para os impenitentes. Como o morcego, o sufi está cego para as “coisas do dia” – a luta familiar pela vida, que o homem comum considera importantíssima – e vela enquanto os outros dormem. Em outras palavras, ele mantém desperta a atenção espiritual, adormecida em outros. Que “a humanidade dorme num pesadelo de não-realização” é um lugar-comum da literatura sufista. Por conseguinte, a sua tradição de vigilância, corrente em Palma, como significado de morcego, não deve ser desprezada.”
A absorção no tema do amor conduz ao êxtase, sabem-no todos os sufis. Mas enquanto os místicos cristãos consideram o êxtase como a união com Deus e, portanto, o ponto culminante da consecução religiosa, os sufis, só lhe admitem o valor se ao devoto for facultado, depois do êxtase, voltar ao mundo e viver de forma que se harmonize com sua experiência.

Os sufis insistiram sempre na praticabilidade do seu ponto de vista. A metafísica, para eles, é inútil sem as ilustrações práticas do comportamento humano prudente, fornecidas pelas lendas e fábulas populares. Os cristãos se contentame em usar Jesus como o exemplar perfeito e final do comportamento humano. Os sufis, contudo, ao mesmo tempo que o reconhecem como profeta divinamente inspirado, citam o texto do quarto Evangelho: “Eu disse: Não está escrito na vossa Lei que sois deuses?” – o que significa que juizes e profetas estão autorizados a interpretar a lei de Deus – e sustenta que essa quase divindade deveria bastar a qualquer homem ou mulher, pois não há deus senão Deus. Da mesma forma, eles recusaram o lamaísmo do Tibete e as teorias indianas da divina encarnação; e posto que acusados pelos muçulmanos ortodoxos de terem sofrido a influência do cristianismo, aceitam o Natal apenas como parábola dos poderes latentes no homem, capazes de apartá-lo dos seus irmãos não-iluminados. De idêntica maneira, consideram metafóricas as tradições sobrenaturais do Corão, nas quais só acreditam literalmente os não-iluminados. O Paraíso, por exemplo, não foi, dizem eles, experimentado por nenhum homem vivo; suas huris (criaturas de luz) não oferecem analogia com nenhum ser humano e não se deviam imputar-lhes atributos físicos, como acontece na fábula vulgar.

Abundam exemplos, em toda a literatura européia, da dívida para com os sufis. A lenda de Guilherme Tell já se encontrava em “A conferência dos pássaros”, de Attar (séc. XII), muito antes do seu aparecimento na Suíça. E, embora dom Quixote pareça o mais espanhol de todos os espanhóis, o próprio Cervantes reconhece sua dívida para com uma fonte árabe. Essa imputação foi posta de lado, como quixotesca, por eruditos; mas as histórias de Cervantes seguem, não raro, as de Sidi Kishar, lendário mestre sufista às vezes equiparado a Nasrudin, incluindo o famoso incidente dos moinhos (aliás de água, e não de vento) tomados equivocadamente por gigantes. A palavra espanhola Quijada (verdadeiro nome do Quixote, de acordo com Cervantes) deriva da mesma raiz árabe KSHR de Kishar, e conserva o sentido de “caretas ameaçadoras”.

Os sufis muçulmanos tiveram a sorte de proteger-se das acusações de heresia graças aos esforços de El-Ghazali (1051-1111), conhecido na Europa por Algazel, que se tornou a mais alta autoridade doutrinária do islamismo e conciliou o mito religioso corânico com a filosofia racionalista, o que lhe valeu o título de “Prova do Islamismo”. Entretanto, eram freqüentemente vítimas de movimentos populares violentos em regiões menos esclarecidas, e viram-se obrigados a adotar senhas e apertos de mão secretos, além de outros artifícios para se defenderem.

Embora o frade franciscano Roger Bacon tenha sido encarado com respeitoso temor e suspeita por haver estudado as “artes negras”, a palavra “negra” não significa “má”. Trata-se de um jogo de duas raízes árabes, FHM e FHHM, que se pronunciam fecham e facham, uma das quais significa “negro” e a outra “sábio”. O mesmo jogo ocorre nas armas de Hugues de Payns (dos pagãos), nascido em 1070 ,que fundou a Ordem dos Cavaleiros Templários: a saber, três cabeças pretas, blasonadas como se tivessem sido cortadas em combate, mas que, na realidade, denotam cabeças de sabedoria.

“Os sufis são uma antiga maçonaria espiritual…” De fato, a própria maçonaria começou como sociedade sufista. Chegou à Inglaterra durante o reinado do rei Aethelstan (924-939) e foi introduzida na Escócia disfarçada como sendo um grupo de artesãos no princípio do século XIV, sem dúvida pelos Templários. A sua reformação, na Londres do início do século XVIII, por um grupo de sábios protestantes, que tomaram os termos sarracenos por hebraicos, obscureceu-lhes muitas tradições primitivas. Richard Burton, tradutor das “Mil e uma noites”, ao mesmo tempo maçom e sufi, foi o primeiro a indicar a estreita relação entre as duas sociedades, mas não era tão versado que compreendesse que a maçonaria começara como um grupo sufista. Idries Shah Sayed mostra-nos agora que foi uma metáfora para a “reedificação”, ou reconstrução, do homem espiritual a partir do seu estado de decadência; e que os três instrumentos de trabalho exibidos nas lojas maçônicas modernas representam três posturas de oração. “Buizz” ou “Boaz” e “Salomão, filho de Davi”, reverenciados pelos maçons como construtores do Templo de Salomão em Jerusalém, não eram súditos israelitas de Salomão nem aliados fenícios, como se supôs, senão arquitetos sufistas de Abdel-Malik, que construíram o Domo da Rocha sobre as ruínas do Templo de Salomão, e seus sucessores. Seus verdadeiros nomes incluíam Thuban abdel Faiz “Izz”, e seu “bisneto”, Maaruf, filho (discípulo) de Davi de Tay, cujo nome sufista em código era Salomão, por ser o “filho de Davi”. As medidas arquitetônicas escolhidas para esse templo, como também para o edifício da Caaba em Meca, eram equivalentes numéricos de certas raízes árabes transmissoras de mensagens sagradas, sendo que cada parte do edifício está relacionada com todas as outras, em proporções definidas.

De acordo com o princípio acadêmico inglês, o peixe não é o melhor professor de ictiologia, nem o anjo o melhor professor de angelologia. Daí que a maioria dos livros modernos e artigos mais apreciados a respeito do sufismo sejam escritos por professores de universidades européias e americanas com pendores para a história, que nunca mergulharam nas profundezas sufistas, nunca se entregaram às extáticas alturas sufistas e nem sequer compreendem o jogo poético de palavras pérseo-arábicas. Pedi a Idries Shah Sayed que remediasse a falta de informações públicas exatas, ainda que fosse apenas para tranqüilizar os sufis naturais do Ocidente, mostrando-lhes que não estão sós em seus hábitos peculiares de pensamento, e que as suas intuições podem ser depuradas pela experiência alheia. Ele consentiu, embora consciente de que teria pela frente uma tarefa muito difícil. Acontece que Idries Shah Sayed, descendente, pela linha masculina, do profeta Maomé, herdou os mistérios secretos dos califas, seus antecessores. É, de fato, um Grande Xeque da Tariqa (regra) sufista, mas como todos os sufis são iguais, por definição, e somente responsáveis perante si mesmos por suas consecuções espirituais, o título de “xeque” é enganoso. Não significa “chefe”, como também não significa o “chefe de fila”, velho termo do exército para indicar o soldado postado diante da companhia durante uma parada, como exemplo de exercitante militar.

A dificuldade que ele previu é que se deve presumir que os leitores deste livro tenham percepções fora do comum, imaginação poética, um vigoroso sentido de honra, e já ter tropeçado no segredo principal, o que é esperar muito. Tampouco deseja ele que o imaginem um missionário. Os mestres sufistas fazem o que podem para desencorajar os discípulos e não aceitam nenhum que chegue “de mãos vazias”, isto é, que careça do senso inato do mistério central. O discípulo aprende menos com o professor seguindo a tradição literária ou terapêutica do que vendo-o lidar com os problemas da vida cotidiana, e não deve aborrecê-lo com perguntas, mas aceitar, confiante, muita falta de lógica e muitos disparates aparentes que, no fim, acabarão por ter sentido. Boa parte dos principais paradoxos sufistas está em curso em forma de histórias cômicas, especialmente as que têm por objeto o Kboja (mestre-escola) Nasrudin, e ocorrem também nas fábulas de Esopo, que os sufis aceitam como um dos seus antepassados.

O bobo da corte dos reis espanhóis, com sua bengala de bexiga, suas roupas multicoloridas, sua crista de galo, seus guizos tilintantes, sua sabedoria singela e seu desrespeito total pela autoridade, é uma figura sufista. Seus gracejos eram aceitos pelos soberanos como se encerrassem uma sabedoria mais profunda do que os pareceres solenes dos conselheiros mais idosos. Quando Filipe II da Espanha estava intensificando sua perseguição aos judeus, decidiu que todo espanhol que tivesse sangue judeu deveria usar um chapéu de certo formato. Prevendo complicações, o bobo apareceu na mesma noite com três chapéus. “Para quem são eles, bobo?”, perguntou Filipe. “Um é para mim, tio, outro para ti e outro para o inquisidor-mor”. E como fosse verdade que numerosos fidalgos medievais espanhóis haviam contraído matrimônio com ricas herdeiras judias, Filipe, diante disso, desistiu do plano. De maneira muito semelhante, o bobo da corte de Carlos I, Charlie Armstrong (outrora ladrão de carneiros escocês), que o rei herdara do pai, tentou opor-se à política da Igreja arminiana do arcebispo Laud, que parecia destinada a redundar num choque armado com os puritanos. Desdenhoso, Carlos pedia a Charlie seu parecer sobre política religiosa, ao que o bobo lhe respondeu: “Entoe grandes louvores a Deus, tio, e pequenas laudes ao Diabo”. Laud, muito sensível à pequenez do seu tamanho, conseguiu que expulsassem Charlie Armstrong da corte (o que não trouxe sorte alguma ao amo).

#sufismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-sufismo

Afinal de contas, o que torna o TdC Especial?

Por Frater Dybbuk,, Zelator do AA

Nos dias de hoje, onde qualquer estudante de primeiro ano de filosofia pode inventar para si um titulo pomposo e criar um blog esotérico para tentar impor suas verdades, e dezenas de blogs de magias e pactos e ordens e curiosos de todos os calibres esquisotéricos surgem a cada dia na internet, como podemos saber se determinado autor é confiável?

Eu me fiz essa pergunta oito anos atrás, quando encontrei com o Del Debbio pela primeira vez em uma loja Maçônica, em uma palestra sobre “Kabbalah Hermética” (que vocês ja devem ter assistido pelo menos alguma versão dela. São todas iguais, mas todas diferentes. Só assistindo duas para ver. Para quem não viu, tem um link de uma delas no youtube Aqui). Adoro essa palestra porque sempre os judeus tradicionais se arrepiam todo quando ele faz as correlações da árvore das vidas com outras religiões. E este, talvez, seja o maior legado que ele deixará na história do Hermetismo.

Mas o que o gabarita para fazer estas afirmações?

Talvez porque a história do MDD dentro das Ordens iniciáticas seja única. A maioria de nós, estudiosos do ocultismo pré-internet, começávamos pela revista Planeta, depois comprávamos os livros da editora Pensamento, entrávamos na Maçonaria, em alguma ordem rosacruz e seguíamos pela senda sem nunca travarmos contato com outras vertentes. Quem é da macumba, caia em um terreiro escondido no fundo de algum quintal e ficava por lá décadas, isolado. Cada um com suas verdades…

O DD começou em 1989 lá na Inglaterra. E ainda teve sorte (se é que alguém aqui ainda acredita que existam coincidências) de cair em um craft tradicional de bruxaria, com a parte magística da coisa (que inclui incorporações) e contato com o pessoal da SRIA, do AA e de outros grupos rosacruzes. Quando voltou para o Brasil, talvez tivesse ficado trancado em seu quarto estudando e nunca teríamos este blog… mas ele também foi um dos primeiros Jogadores de RPG aqui no Brasil. (RPG é a sigla de um jogo que significa “role playing games” ou jogos de teatro). Em 1995 publicou um livro que utilizava o cenário medieval de mitologias reais em um jogo que foi um dos mais vendidos da história do RPG no Brasil (Arkanun). Por que isso é importante?

Porque ele se tornou uma espécie de celebridade pop. E isso, como veremos, foi de importância vital para chegarmos onde estamos hoje (vai anotando as coincidências ai…).

Bem, o DD se graduou em arquitetura e fez especializações em história da arte, semiótica e história das religiões comparadas. De um trabalho de mais de dez anos de pesquisas, publicou a Enciclopédia de Mitologia, um dos maiores trampos sobre o assunto no Brasil.

Com a faculdade veio a maçonaria e aqui as coisas começam a ficar interessantes. Por ser um escritor famoso, ele conheceu o Grande Secretário de Planejamentos do GOB, Wagner Veneziani Costa, um dos caras mais importantes e influentes dentro da maçonaria, editor da Madras, uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço e fundador da loja maçônica Madras, que foi padrinho do Del Debbio. E aqui entra o ponto que seria crucial para a história do hermetismo no Brasil, a LOJA MADRAS.

No período de 2004 a 2008, a ARLS Madras contou entre seus membros com pessoas como Alexandre Cumino (Umbanda), Rubens Saraceni (Umbanda Sagrada), Johhny de Carli (Reiki), Cláudio Roque Buono Ferreira (Grão Mestre do GOB), Sérgio Pacca (OTO, Thelemita e fundador da ARLS Aleister Crowley), Mario Sérgio Nunes da Costa (Grão Mestre Templário), Adriano Camargo Monteiro (LHP, Dragon Rouge), José Aleixo Vieira (Grande Secretário de Ritualística), Severino Sena (Ogan), Waldir Persona (Umbanda e Candomblé), Carlos Brasilio Conte (Teosofia), Alfonso Odrizola (Umbanda, diretor da Tv espiritualista), Ari Barbosa e Cláudio Yokoyama (Magia Divina), Marco Antônio “Xuxa” (Martinismo), Atila Fayão (Cabalá Judaica), César Mingardi (Rito de York), Diamantino Trindade (Umbanda), Carlos Guardado (Ordem da Marca), Sérgio Grosso (CBCS), entre diversos outros experts em áreas de hermetismo e ocultismo. Agora junte todos estes caras em reuniões quinzenais onde alguém apresentava uma palestra sobre um tema ocultista e os outros podiam questionar e debater sobre o assunto proposto com seus pontos de vista e você começará a ter uma idéia do que isso representou em termos de avanço do conhecimento.

Entre diversas contribuições para a maçonaria brasileira, trouxeram o RER (Rito Escocês Retificado), O Rito Maçônico-Martinista, para o Brasil, fundando a primeira loja do rito, ARLS Jerusalem Celeste, em SP, e organizaram as Ordens de Aperfeiçoamento (Marca, Nauta, Arco Real, Templários e Malta). O Del Debbio chegou a ser Grande Marechal Adjunto da Ordem Templária em 2011/2012.

Em paralelo, tínhamos a ARLS Aleister Crowley e a ARLS Thelema, onde naquela época se estudava magia prática e trocávamos conhecimento com a OTO no RJ (Loja Quetzocoatl, com minha querida soror Babalon) e a Ordem dos Cavaleiros de Thelema (que, dentre outros, tivemos a honra de poder conversar algumas vezes com Frater Áster – Euclydes Lacerda – antes de seu falecimento em 2010). Além disso, tínhamos acesso a alguns dos fundadores do movimento Satanista em São Paulo e Quimbandeiros (cujos nomes manterei em segredo para minha própria segurança ).

Palestra no evento de RPG “SANA”, em 2006. Eu avisei que ele era subcelebridade, não avisei? Bem… nesse meio tempo, o MDD já estava bem conhecido dentro das ordens Iniciáticas, dando diversas palestras e cursos fechados apenas para maçons e rosacruzes. De dia, popstar; de noite, frequentando cemitérios para desfazer trabalhos de magia negra com a galera do terreiro. Fun times!

Ok, mas e a Kabbalah Hermética?

O lance de toda aquela pesquisa sobre Mitologia e suas correlações com a Cabalá judaica o levou a estudar a Torah e a Cabalá com rabinos e maçons do rito Adonhiramita por 5 anos, tendo sido iniciado na Cabalá Sefardita em um grupo de estudos iniciáticos coordenado pelo prof. Edmundo Pellizari (Ras Adeagbo). Apesar da paixão e conhecimento pela cultura judaica, ele escolheu não se converter (segundo palavras do próprio “Não tem como me converter ao judaísmo; como vou ficar sem filé à Parmigiana?“). Seus estudos se intensificaram entre os textos de Charles “Chic” Cicero via suas publicações na Ars Quatuor Coronatorum, nas Lojas Inglesas e os textos de Tabatha Cicero via Golden Dawn.

A idéia da Kabbalah associada aos princípios alquímicos, unificando tarot, alquimia e astrologia sempre levantou uma guerra com os judeus ortodoxos, que consideram a Cabalá algo profundamente vinculado à sua religião (por isso costumamos grafar estas duas palavras de maneira diferente: Kabbalah e Cabalá.

Em 2006, Adriano Camargo publica o “Sistemagia”, um dos melhores guias de referência de Kabbalah Hermetica, onde muitas das correlações debatidas em loja foram aproveitadas e organizadas.

No meio de todos estes processos de estudos, chegamos em 2007 em uma palestra na qual estava presente o Regis Freitas, mais conhecido como Oitobits, do site “Sedentário e Hiperativo”, que perguntou a ele se gostaria de ter um blog para falar de ocultismo. O nome “Teoria da Conspiração” foi escolhido pelo pessoal do S&H e em poucas semanas atingiu 40.000 leitores por post.

Del Debbio se torna a primeira figura “pública” dentro do ocultismo brasileiro a defender uma correlação direta entre os orixás e suas entidades com as Esferas da Árvore das Vidas e as entidades helênicas evocadas nos rituais da Golden Dawn “Apenas uma questão de máscaras que a entidade espiritual escolherá de acordo com a egrégora em que estiver trabalhando” disse uma vez em uma entrevista.

Estes trabalhos em magia prática puderam ser feitos graças ao intercâmbio de conhecimentos na ARLS Madras, pois foi possível que médiuns umbandistas estudassem hermetismo, kabbalah e cabalá em profundidade e, consequentemente, as entidades que trabalham com eles pudessem se livrar das “máscaras” africanas e trabalharem com formas mais adequadas, como alquimistas, templários e hermetistas. Com a ajuda dos terreiros de Umbanda Sagrada, conseguimos trabalhar até com judeus estudiosos da cabalá que eram médiuns, cujas entidades passaram grandes conhecimentos sobre correspondências dos sistemas judaico e africano, bem como de sua raiz comum, o Egito. A maioria deste conhecimento ainda está restrito ao AA, ao Colégio dos Magos e a outros grupos fechados mas, aos poucos, conforme instruções “do lado de lá”, estão sendo gradativamente abertos.

Em 2010, conhece Fernando Maiorino, diretor da Sirius-Gaia e ajuda a divulgar o I Simpósio de Hermetismo, onde participam também o Frater Goya (C.I.H.), Acid (Saindo da Matrix), Carlos Conte (Teosofia), Renan Romão (Thelema) e Ione Cirilo (Xamanismo). Na segunda edição, em 2011, participam além dos acima o monge Márcio Lupion (Budismo Tibetano), Mário Filho (Islamismo), Alexandre Cumino (Umbanda), Adriano Camargo (LHP), Gilberto Antônio (Taoísmo) e Lázaro Freire (projeção Astral).

A terceira edição ampliou ainda os laços entre os pesquisadores, chamando Felipe Cazelli (Magia do Caos), Wagner Borges (Espiritualista), Claudio Crow (Magia Celta) e Giordano Cimadon (Gnose).

O Blog do “Teoria da Conspiração” também cresce, agregando pensadores semelhantes. Além de textos de todos os citados neste post, também colaboram estudiosos como Jayr Miranda (Panyatara, FRA), Kennyo Ismail (autor do blog “No Esquadro” e um dos maiores pesquisadores contemporâneos sobre maçonaria), Aoi Kwan (Magia Oriental), Raph Arrais (responsável pelas belíssimas traduções da obra de Rumi), o Autor do blog “Maçonaria e Satanismo” (cujo nome continua em segredo comigo!), Tiago Mazzon (labirinto da Mente), Fabio Almeida (Música e Hermetismo), Danilo Pestana (Satanismo), Bruno Cobbi (Ciganos), PH Alves e Roe Mesquita (Adeptus), Frater Alef (Aya Sofia), Jeff Alves (ocultismo BR), Yuri Motta (HQs e Ocultismo), Djaysel Pessoa (Zzzurto), Leonardo lacerda e Hugo Ramirez (Ordem Demolay).

A ARLS Arcanum Arcanorum, braço maçônico da Ordem de Estudos Arcanum Arcanorum, que trabalha em conjunto com a SOL (Sociedade dos Ocultistas Livres), o Templo Aya Sofia, o Colégio dos Magos e o Teoria da Conspiração.

E os frutos desse trabalho se multiplicaram. Com o designer Rodrigo Grola, organizou o Tarot da Kabbalah Hermética, possivelmente um dos melhores e mais completos tarots que existem, além dos pôsteres de estudo. Hoje seus alunos estão desenvolvendo HQs, Livros, Músicas, dando aulas e até mesmo produzindo um Filme baseado nos estudos da Kabbalah Hermética (“Supernova”).

E o estudo de mitologias comparadas, kabbalah e astrologia hermética nunca mais será o mesmo. Isso se chama LEGADO.

E ai temos a resposta que tive para a pergunta do início do texto: Como saber se um autor é confiável? Oras, avaliando toda a história dele e quais são suas bases de estudo, quem são seus professores, quais as pessoas que o ajudam e quem são seus inimigos. Quais são os caras que ele pode perguntar alguma coisa quando tem dúvida? e quais são os caras que tentam atrapalhar o seu trabalho?

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Pronto. Aqui está o texto que eu tinha prometido sobre os doze anos de Blog. Parabéns, Frater Thoth, já passou da hora de alguém começar a organizar uma biografia decente sobre os seus trabalhos.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/afinal-de-contas-o-que-torna-o-tdc-especial

A origem secreta do Skull & Bones

A história começa em Yale, onde três tópicos da história social Americana – espionagem, tráfico de drogas e sociedades secretas – se entrelaçam em uma.

Elihu Yale nasceu perto de Boston, educado em Londres, serviu com a Companhia das Índias Ocidentais Britânica, eventualmente se transformou em governador no Forte São Jorge (Fort Saint George), Madras, em 1687. Ele acumulou uma grande fortuna com as trocas de mercadorias e retornou a Inglaterra em 1699. Yale ficou conhecido como um grande filantropo; recebendo um convite da Escola Collegiate (Collegiate School) em Connecticut, ele mandou uma doação e uma grande quantia de livros. Subsequentemente, por causa de suas heranças e doações, Cotton Mather sugeriu que a escola fosse nomeada Universidade de Yale (Yale College), em 1718.

A estátua de Nathan Hale esta erguida no Antigo Campus na Universidade de Yale. Existe uma cópia desta estátua na frente do quartel-general da CIA em Langley, Virginia. E ainda outra na frente da Academia Phillips em Andover, Massachusetts (onde George H.W (’48) estudou na infância e se juntou a sociedade secreta com doze anos).

Nathan Hale, junto com três outros graduados de Yale, foi um membro do “Culper Ring, ” uma das primeiras agencias de inteligência americana. Estabelecida por George Washington, na qual foi um grande sucesso na Guerra Revolucionaria. Nathan foi um dos operantes investigados pelos britânicos, e após seu famoso discurso de remorso, ele foi enforcado em 1776. Desde então a fundação da Republica, o relacionamento entre Yale e a “Comunidade de Inteligência” foram únicas.

Em 1823, Samuel Russell estabeleceu a Russell & Companhia com propósitos para adquirir ópio na Turquia e contrabandear para China. Russell & Companhia emergiu com o sindicato Perkins (de Boston) em 1830 e virou o líder número um de contrabando na américa. Muitas das grandes fortunas americanas e europeias foram construídas através da troca de ópio com a China.

Um dos chefes de operação da Russell & Companhia em Canton foi Delano Jr., Avô de Franklin Roosevelt. Os outros parceiros de Russell eram John Cleve Green (que financiou Princeton), Abiel Low (que financiou a construção de Columbia), Joseph Coolidge e as famílias Perkins, Sturgis e Forbes. (O filho de Coolidge organizou a United Fruit Company (Companhia das frutas unidas), e seu neto Archibald C. Coolidge, foi co-fundador do Conselho das Relações de Estrangeiros.

William Huntington Russell (’33), primo de Samuel Russell, estudou na Alemanha entre 1831-1832. Alemanha era o centro de novas ideias. O “método cientifico” estava começando a ser aplicada em todas as formas de estudos humanos. Prússia, que culpou napoleão pela derrota em 1806 começaram a pesquisar sobre o stress em campo de batalha, elevou os princípios estabelecidos por John Locke e Jean Rousseau e criaram um novo sistema educacional. Johan Fitche, em seu “ Endereço para o povo alemão, ” (Address to the German People) declarou que as crianças deveriam ser educadas e assumidas pelo Estado.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel tomou posse da cadeira da Universidade de Berlim em 1817 após Fitche, e foi professor até sua morte em 1831. Hegel foi o culminar da ideologia filosófica alemã sobre a escola de Immanuel Kant.

Para Hegel, nosso mundo é o mundo da razão. O estado é Razão Absoluta e o cidadão se torna livre somente com admiração e obediência ao estado. Hegel chamou isso de “marcha de Deus no mundo” e “seu ápice final” (final end). Esse final, disse Hegel, “ tem direito supremo contra o indivíduo, o dever supremo é ser membro do estado”. Ambos o fascismo e comunismo tem suas raízes filosóficas nos trabalhos de Hegel. A filosofia de Hegel foi muito influente na Alemanha durante o tempo de William Russell.

Quando Russell retornou para Yale em 1832, ele formou uma sociedade sênior com Alphonso Taft (’33). De acordo com informações adquiridas de um furto a “tumba” (o salão de encontro do Skull & Bones) em 1876, “ Bones é um capítulo sobre corporações na Universidade da Alemanha…General Russell, seu fundador, estava na Alemanha antes de completar seu último ano como Sênior e lá formou grandes amizades com os líderes da sociedade alemã. Ele trouxe consigo para a universidade, autoridade para fundar uma organização aqui”. William H. Russell, junto com outros quatorze amigos, foram os membros fundadores da “ A Ordem da Caveira e Ossos, ” (The Order of Scull and Bones).

A secreta Ordem da Caveira e Ossos (Order of Skull and Bones) existe somente em Yale. Quinze iniciantes (Juniors na universidade) são escolhidos todos os anos pelos veteranos (Sêniores na universidade) para iniciarem no grupo do ano seguinte. Alguns dizem que o iniciado ganha 15.000 dólares, após escolhido, e o relógio do avô. Longe de ser uma casa para diversão dentro do Campus, o grupo é voltado ao sucesso de seus membros no mundo pós-universitário.

Os nomes das famílias tradicionais e conhecidas da sociedade secreta seguem abaixo:                                        Lord, Whitney, Taft, Jay, Bundy, Harriman, Weyerhaeuser, Pinchot, Rockfeller, Goodyear, Sloane, Stimpson, Phelps, Perkins, Pillsbury, Kellogg, Vanderbilt, Bush, Lovett e entre outros.

William Russell se tornou general o legislador do estado em Connecticut. Alphonso Taft foi apontado como Ministro da Justiça dos EUA, Secretario de Guerra (um posto que muitos membros possuíram), Embaixador da Áustria, e Embaixador da Rússia (outro posto que muitos membros possuíram). Seu filho, William Howard Taft (’87), é o único homem a ocupar a Presidência dos Estados Unidos e chefe de Justiça da Suprema Corte.

 

Segredos da “Tumba”

A Ordem floresceu desde de o começo graças as ocasionais controvérsias. Existe uma discórdia entre alguns professores, que não gostavam do sigilo e da exclusividade. E existe uma discrepância dos estudantes, mostrando preocupação sobre a influência da Ordem sobre as finanças de Yale e o favoritismo de seus membros, os “Bonesmen”.

Em outubro de 1873, Volume 1, Número 1, do “O iconoclasta” (The iconoclasta) foi publicado em New Haven. Só foi publicado uma vez e foi um dos poucos artigos publicado para o “publico” sobre a Ordem Skull and Bones.

De O Iconoclasta:

“ Nós falamos através desta nova publicação, porque a imprensa universitária está fechada para aqueles que pretendem mencionar o “Bones” livremente…

De todas as classes a Skull and Bones aceita só homens. Eles foram para o mundo e tornaram-se, em muitas instancias, lideres dentro da sociedade. Eles obtiveram o controle sobre Yale. Os negócios são feitos por eles. O dinheiro pago para a Universidade passa por suas mãos, e você está sujeito a vontade deles. Sem dúvida alguma são homens de poder, mas muitos que os admiram, enquanto estão na Universidade, não esquecem que financiam a Ordem livremente. Os homens em Wall Street reclamam que os estudantes vêm a ajuda deles, dos homens de Wall Street, ao invés de pedir a sua parte para a universidade. A razão disto é um comentário feito por um dos primeiros estudantes de Yale e da Ordem: “Poucos vão dar, mas os homens da Ordem. E eles se preocupam muito mais com a sociedade do que a universidade…”

Ano após ano o mal mortal está crescendo. A sociedade nunca foi tão desagradável para a universidade quanto hoje, e é justamente este sentimento de doença que fechamos o bolso para os não-membros. Nunca antes foi visto tanta arrogância e sentimento de superioridade. O domínio da Imprensa Universitária e seus empreendimentos para dominar e fazer as regras. Não tem a dignidade de mostrar suas credenciais, mas agarram o poder com uma silenciosa consciência de culpa.

Para dizer o bem que a Universidade de Yale fez seria impossível. Para dizer o bem que ela fará seria ainda mais difícil. A questão, então, é reduzida a isto – em uma mão está a fonte de um bem incalculável – não outra uma sociedade culpada por seus crimes. Seria a universidade de Yale contra a Ordem Skull and Bones!!  Perguntamos a todos os homens, como uma questão de direito, quem deveria ter o direito de viver? ”

Primeiramente, a sociedade fazia suas reuniões em salões privados. Então em 1865, a “tumba”, foi construído um salão de pedra marrom, coberto de vinha e sem janelas, onde desde então os “Bonesmen” sustentam seus “ estanhos ocultistas” ritos de iniciação e se encontram todas Quintas e Domingos.

Em 29 de setembro de 1876, um grupo autodeclarado “ A Ordem do Arquivo e Garra” (The Order of File and Claw) invadiram o salão do Skull and Bones. Na “tumba” eles acharam um deposito – quarto 324 “ encoberta por veludos pretos, até mesmo as paredes eram cobertas com o material”. No andar de cima era o quarto 322, “ O santuario do templo…decorado com veludo vermelho com um pentagrama na parede”.  Na parede do salao estão “pinturas de fundadores da Bones em Yale, e membros da Sociedade na Alemanha, onde uma organização foi estabelecida em 1832”. O grupo de jovens encontrar outra cena interessante na sala de estar perto do quarto 322.

De A caída da Skull And Bones :

Na parede oeste, pendurada entre outras pinturas e fotografias, uma velha gravura representava um tumulo aberto, no qual, a tabua de pedra, continha quatro crânios humanos, agrupados sobre chapéus e sinos, um livro aberto, inúmeros instrumentos matemáticos, um velho papel, e uma coroa real. Nas paredes arqueadas sob o tumulo palavras significativas, em letras romanas, “ ‘We War Der Thor, Wer Weiser, Wer Bettler Oder, Kaiser?'(1) e abaixo do tumulo está gravado, in caracteres alemães, a sentença; ‘Ob Arm, Ob Beich, im Tode gleich.’ (2)

Nós era o Thor , que sabio , que mendigo Ou , o Imperador (1)

Se armar Se Beich , igual na morte (2)

A pintura é acompanhada por um cartão no qual está escrito, “ Da Organização Alemã. Presente de D.C Gilman de D. 50.”

Daniel Coit Gilman (‘52), junto com outros dois “Bonesmen, ” formando a troika na qual ainda a influencia na vida americana nos dias de hoje. Logo após suas iniciações na Skull and Bones, Daniel Gilman, Timothy Dwight (’49) e Andrew Dickinson White (’53) foram estudar filosofia na Europa na Universidade de Berlin. Gilman retornou da Europa e incorporou Skull and Bones assim como Russell Trust, em 1856, com ele mesmo exercendo a profissão de tesoureiro e William H. Russell como presidente. Ele passou os próximos quatorze anos em New Haven consolidando o poder da Ordem.

Gilman foi apontado como bibliotecário em Yale 1858. Através de uma manobra política perspicaz, ele adquiriu fundos para o Departamento Cientifico de Yale (Sheffield Scientific School) e foi capaz de introduzir a Morrill Bill no Congresso, passada a lei e finalmente assinada pelo Presidente Lincoln, depois de ter sido vetada pelo Presidente Buchanan.

Esta Morril Bill, “ doando terras públicas para o Estado Universitário para agricultura e ciências”, é agora conhecido como Land Grant College Act. Yale foi a primeira escola na américa a terras graças a esta lei federal e rapidamente se apossou de toda parte possível de Connecticut em seu tempo. Agradecidos pelas aquisições, Yale fez Gillman, o professor de Física Geográfica.

Daniel foi o primeiro Presidente na Universidade da Califórnia. Ele também ajudou a fundar, e foi o primeiro presidente de, John Hopkins. (Universidade de medicina).

Gilman foi o primeiro presidente na Instituição Carnegie e estava envolvida com a criação do Peadbody, Slater e Russell Sage fundações.

Seu amigo, Andrew D. White, foi o primeiro presidente da Universidade de Cornell (na qual recebeu toda parte de terras de New York pela Land Grant College Act), ministro dos Estados Unidos pela Rússia a Embaixador de Berlin e primeiro americano da Associação Histórica Americana (American Historical Association). White também foi Ministro da delegação americana para a Primeira conferência em Hague em 1899, na qual estabeleceu um judiciário internacional.

Timothy Dwight, um professor de Yale Divinity School, foi instaurado como presidente de Yale em 1886. Desde então todos os Presidentes, eram ou “Bonesmen” ou diretamente ligado a Ordem e seus interesses.

O trio Daniel/Gilman/White foram responsáveis por fundar a Associação Econômica Americana, a Sociedade de Química Americana, e a Associação Psicológica americana. Através de suas influencias sobre John Dewey e Horace Mann, este trio continua tendo um impacto enorme na educação, nos dias atuais.

 

Rede de Poder

Em seu livro Estabelecimento secreto da América (America’s Secret Establishment), Antony Sutton nos diz que a habilidade da Skull and Bones de estabelecer “correntes de influencias” tantos verticais quanto horizontais são enormes, assim assegurando a continuidade dos esquemas conspiratórios da Ordem.

O Link Whitney-Stimson-Bundy representa a “corrente vertical”.

W.C. Whitney (’63), que casou com Flora Payne (da Dinastia Oil Payne), foi Secretário da Marinha. Seu advogado foi um homem chamado Elihu Root. Root contratou Henry Stimson (’88), após ele terminar a escola de direito. Stimsom tomou o cargo de Root como Secretario de Guerra em 1911, apontado por seu amigo Bonesmen William Howard Taft. Stimson depois virou Governador de Coolidge – General das Ilhas Filipinas, Secretario do Estado de Hoover, e Secretario de Guerra durante a administração de Roosevelt e Truman.

Hollister Bundy (’09) foi o assistente

Os dois irmãos, de suas posições na CIA, no Departamento de Defesa e Departamento do Estado, e Assistentes Especiais dos Presidentes Kennedy e Johnson, exerceram um significante impacto no fluxo de informações e inteligência durante a Guerra do Vietnam. especial de Stimson e uma importante figura no Pentágono durante o Projeto Manhattan. Seus dois filhos, também membros da Skull And Bones, onde foram – William Bundy (’39) e McGeorge Bundy (’40) — dois membros muito ativos no governo americano.

William Bundy foi editor dos Negócios de Estrangeiros, que influenciou o Conselho de Negócios de Estrangeiros (CFR). McGeorge virou o Presidente da Fundação Ford.

Outro grupo interessante dos “Bonesmen” é o grupo Harriman/Bush. Averil Harriman (’13) “Ancião do Estado” do Partido Democrático, e seu irmão Roland Harriman (’17) foram membros ativos. De fato, quatro amigos de Roland que participavam da Ordem da classe de 1917 foram os diretores Brown Brothers, Harriman, incluindo Prescott Bush (’17), pai de George Bush.

Desde da virada do século, duas firmas de Investimentos – Fundo de garantia & Brown Brothers (Guaranty Trust & Brown Brothers), Harriman – foram ambas dominadas pelos membros da Skull and Bones. Estas duas firmas estavam fortemente envolvidas no financiamento do Comunismo e do Regime Nazista de Hitler.

Os “Bonesmen” compartilham uma afinidade pelas ideias de Hegel e sua dialética histórica, que debate o uso do conflito controlado – Thesis v.s Anti-Thesis- para criar uma pré-determinada síntese. A síntese de sua criação, onde o estado é absoluto e aos indivíduos são garantidas suas liberdades baseada na obediência do estado – Nova Ordem Mundial.

Financiamento e manobras políticas praticadas pela Ordem e seus aliados ajudaram os Bolcheviques a prevalecerem na Rússia.  Em provocação as leis federais, a indústria de finanças, bancos e depósitos de minerais e óleos (petróleo) uma parte de seus lucros eram revertidos em dinheiro para ajudar a USSR.

Depois, Averil Harriman, como ministro da Grã-Bretanha responsável pelo empréstimo para a Bretanha e Rússia, foi responsável por enviar fabricas inteiras para a Rússia.  De acordo com alguns pesquisadores, Harriman também supervisionou a transferência de segredos nucleares, plutônio e a falsificação de dólares para a USSR.

Em 1932, a Corporação Bancaria Unida (Union Banking Corporation) na Cidade de New York, alistou quatro diretores da central (’17) e dois banqueiros nazistas associados com Fritz Thyssen, que estava financiando Hitler desde 1924.

De George Bush: a Biografia Não-Autorizada:

“ Custodia da propriedade estrangeira do Presidente Franklin Roosevelt, Leo T. Crowley, assinou a Ordem de Carência Número 248 [17/11/1942] apreendendo a propriedade de Prescott Bush abaixo do Ato de Trocas Inimigas. A Ordem, publicada no livro de registros fora das notícias pelo governo obscuro, Nora #4 explicando nada sobre o envolvimento com os nazistas; somente que a Corporação dos Bancos Unidos (Union Banking Corporation) era comandada pela família Thyssen da Alemanha e/ou Hungria – “Nacionais…inimigas do pais”.

Decidindo que Prescott Bush e outros diretores da Corporação de Bancos Unidos (Union Banking Corporation) eram legalmente “os porta-vozes dos nazistas”, o governo evitou outras questões históricas importantes: No qual “ os nazistas de Hitler eram contratados, armados e instruídos por grupos exclusivos de New York e Londres no qual Prescott Bush era gerente executivo…

  1. New York Times, 16 de dezembro de 1944, na página 25 do artigo sobre o Departamento Bancário do Estado de Nova York. Somente a última sentença refere-se aos bancos nazistas, a frase se segue: “A Corporação de Bancos Unidas (Union Banking Corporation), na rua 39 Broadway, em Nova Iorque, recebeu autoridade para trocar sua instituição de lugar para a rua 120 Broadway. ” 

O Times omitiu o fato de que a Corporação do Bancos Unidos (Union Banking Corporation) foi apreendida pelo governo por suas trocas com o inimigo, e o fato que 120 Broadway tinha o endereço da Custodia de Propriedade Estrangeira do Governo. ”

Após a guerra, Prescott virou o Senador de Connecticut e se parceiro de golf era o Presidente Eisenhower. Prescott clama responsabilidade por ter colocado Nixon na política e recebe credito pessoal por trazer Dick a bordo assim como Ike como parceiro de campanha em 1952.

Motivos para a Conspiração

Então, por que uma agência de inteligência/sociedade secreta quer contrabandear drogas e assassinar O presidente Kennedy?

Bem, dessa forma, eles poderiam arrecadar grandes quantias financeiras, e ainda armazenar recursos de inteligência ao longo de sua participação nesses eventos. Ainda há uma análise racional de que o mundo é um lugar desagradável e inapropriado, e se você quer ser ‘o cara’ do pedaço, é melhor estar ciente do que está acontecendo ao redor. E qual a melhor maneira de saber o que está acontecendo além de controlar isso você mesmo? Ainda há aqueles que teorizam que o encoberto tráfico de drogas está de acordo com o plano de desestabilizar famílias americanas e a sociedade.  De forma desmoralizante e através da quebra do corpo político, eles poderiam impor suas vontades usando técnicas de desestabilização psicológica e a alquimia política da dialética Hegeliana para tal.

O artigo de James Shelby Downard  chamado Feitiçaria, Sexo, Assassinato e a Ciência do Simbolismo, um clássico ocultista, liga eventos históricos americanos com um bárbaro, numerológico e grandioso plano oculto “para nos tornar zumbis cibernéticos do mistério”. O assassinato do presidente estadunidense Kennedy, ao que o artigo alega, teria sido uma performance de um ritual ocultista público chamado O Extermínio do Rei, projetado para gerar um trauma em massa, um atentado de controle mental contra o corpo político nacional dos Estados Unidos.

Durante a Operação Sunrise , Operação Blowback e a Operação Paperclip , dentre outras, milhares de cientistas nazistas, pesquisadores e administradores foram trazidos para os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. Muitos foram “contrabandeados” para o país contra ordens diretas, por escrito, do Presidente Harry S. Truman.

O Projeto Monarca ou Programação Monarca foi uma retomada de um projeto de controle mental chamado Marionette Programming, que começou na Alemanha nazista. O componente básico do Projeto Monarca é uma sofisticada manipulação da mente, usando traumas extremos para induzir ao Transtorno de Personalidade Múltipla.

James Downward presume que os responsáveis propositalmente assassinaram o Presidente Kennedy de modo a afetar a identidade nacional e a coesividade americana – para despedaçar a alma Estadunidense. Mesmo com a banalidade gritante de sua conspiração, ela foi projetada para mostrar a “superioridade deles” e “futilidade estadunidense”.

Ainda é possível que haja estudos que mostram a correlação entre o assassinato de Kennedy e o aumento de violência na sociedade, desconfiança em relação ao governo e outras extensões de patologias sociais.

Os Illuminati: Subvertendo o Corpo Político

Por que isso é um ataque ao corpo político estadunidense?

Em 1785, um relâmpago atingiu um mensageiro na rota de Paris à Frankfort. Um trato escrito por Adam Weishaupt, fundador dos Illuminati, Original Shift in Days of Illuminations , foi recuperado do mensageiro morto, contendo o plano de longo alcance da sociedade secreta para a “Nova Ordem Mundial através da revolução mundial”.

O governo da Bavaria declarou a sociedade como fora a da lei e em 1787 publicou os detalhes da conspiração Illuminati em The Original Writings of the Order da Sect of the Illuminati .

Nas palavras de Adam Weishaupt:

“Com esse plano, nós devemos direcionar toda humanidade sob essa conduta. E, pelas formas mais simples, devemos colocar tudo em movimento e em chamas. Os ofícios devem ser tão alocados e maquinados que nós devemos, em segredo, influenciar todas as transações políticas”. 

Existe uma discordância entre os intelectuais quanto ao fato ou não dos Illuminati terem sobrevivido ao seu banimento. Ainda assim, o grupo tem sido bastante êxito em atrair membros e ter se aliado com uma extensiva rede Massônica.

A Ordem Illuminati foi fundada publicamente no dia primeiro de maio de 1776 na Universidade de Ingolstadt, por Weishaupt, professor de Lei Canônica. Ela foi uma sociedade bastante erudita na época; Weishaupt atraiu primeiramente alguns dentre seus estudantes para se tornarem membros de sua nova ordem.

No dia 5 de dezembro de 1776, estudantes do William and Mary College  fundaram a sociedade secreta Phi Beta Kappa. Um segundo capítulo seria formado, em Yale, em 1780. O movimento anti-Massônico nos Estados Unidos manteve grupos como o Phi Beta Kappa na penumbra. Em razão da pressão sofrida, a sociedade se tornou pública. Isso é evidenciado por alguns pesquisadores como uma causa direta do aparecimento da Ordem Skull and Bones.

Em The Cyclopedia Of Fraternities , um gráfico genealógico geral das fraternidades universitárias influenciadas pela literatura grega nos Estados Unidos, mostra a Phi Beta Kappa como “um fonte antecessora de todas os sistemas de fraternidade na educação superior estadunidense”. Há apenas uma “vertente” linear de descendentes: O capítulo Yale de 1780. A linha depois continua para a Skull and Bones em 1832, e segue até as outras, também de Yale, sociedades seniores Scroll & Key e Wolf’s Head.

Phi Beta Kappa são as primeiras três letras gregas, para ‘Philosophia Biou Kubernetes’ ou ‘Amor pelo saber, o timoneiro da vida’. Um homófono para caveira (skull no inglês) é crânio (scull), um rápido e suave movimento, e parte da primeira nomenclatura da Skull & Bones.

John Robison, um professor de Filosofia da Natureza na Universidade de Edinburgh na Escócia e membro de uma Loja Macônica, disse que ele foi convidado a se juntar aos Illuminati. Depois de muitas pesquisas, ele concluiu que os propósitos dos Illuminati não eram para ele.

Em 1798, ele publicou um livro chamado Proofs Of A Conspiracy :

“Uma associação vem sendo formada com o propósito evidente de extirpar todos os estabelecimentos religiosos e derrubar todos os governos existentes…. Os lideres iriam reger o Mundo com poderes incontroláveis, enquanto todo o resto seria empregado como ferramentas da ambição de seus regentes desconhecidos”.

Proofs of A Conspiracy foi enviado a George Washington. Respondendo ao remetente do livro com uma carta, o presidente Americano disse que ele estava ciente que os Illuminati haviam ido para os Estados Unidos. Ele imaginava que os Illuminati tinham “princípios diabólicos” e que seu objetivo era “a separação das pessoas de seus governos”.

Em Proofs Of A Conspiracy, Robinson publicou a cerimônia de iniciação do “grau Regente” no Illuminismo . Nele, um esqueleto é apontado para ele [o iniciado], no pé, onde é colocada uma coroa e uma espada. Ele é questionado ‘se o esqueleto é de um rei, de um nobre ou de um mendigo’. Como ele não pode decidir, o presidente do encontro diz ao iniciado, ‘O caráter de um ser humano é a única coisa de valor”.

Isto é, essencialmente, o mesmo que está escrito na “sepultura” da Ordem Skull & Bones:

“Wer war der Thor, wer Weiser, Bettler oder Kaiser? Ob Arm, ob Reich, im Tode gleich.”

Onde se lê:

“Quem foi tolo, quem foi homem sábio, mendigo ou rei? Quer seja pobre ou rico, todos serão o mesmo na morte”

Skull & Bones = Illuminati?

Seria a Ordem Skull & Bones parte dos Illuminati?

Quando uma pessoa é iniciada na Skull & Bones, elas são dadas um novo nome, prática que é similar ao dos Illuminati. E muitos membros Illuminatis registrados podem ser evidenciados como tendo contato e/ou fortes influências com muitos dos professores que ensinaram os “Bonesmen ” em Berlim.

Quando uma sociedade secreta conspira contra a soberania de um rei, eles precisam se organizar, levantar fundos, fazer seus planos operacionais, e esperançosamente, trazê-los à fruição.

É possível ter, nos Estados Unidos, uma sociedade secreta que usou o “Estado de Segurança Nacional” para dar cobertura para seus planos nefastos?

De George Bush: The Unauthorized Biography :

“Esse setembro [1951], Robert Lovett  substituiu Marshall  como Secretário de Defesa. Enquanto isso, Harriman  foi nomeado diretor da Agência Mútua de Segurança , tornando ele o líder dos Estados Unidos na aliança militar anglo-americana. Dessa forma, a Brown Brothers , através de Harriman, era tudo, apenas não era comandante chefe.

O foco central do regime de segurança de Harriman em Washington (1950-53), foi a organização de operações de encobrimento e ‘guerra psicológica’. Harriman, junto a seus advogados e sócios de negócios, Allen e John Foster Dulles, queriam que o serviço secreto do governo conduzisse extensivas campanhas publicitárias e experimentos de psicologia de massas dentro dos Estados Unidos, e campanhas paramilitares no exterior… 

O regime de segurança de Harriman criou o Conselho de Estratégias Psicológicas  em 1951. O homem apontado para ser o diretor do PSB [foi] Gordon Gray … O irmão de Gordon, Bowman Gray Jr., presidente da R.J. Reynolds  na época, foi também um oficial da inteligência naval estadunidense, conhecido em Washington como o ‘fundador da inteligência operacional’. Gordon Gray se tornou um amigo próximo e aliado político de Prescott Bush ; e o filho de Gray posteriormente, se tornou advogado e um escudo da política de encobrimento de George, filho de Prescott.”

Então temos o clã Whitney/Stimson/Bundy e os rapazes Harriman/Bush empunhando uma quantia tremenda de influência na política, economia e nos assuntos sociais dos Estados Unidos e no mundo. Depois você tem o companheiro de Prescott e Bush, Richard Nixon como um vice-presidente ativista. Depois, um assassinato deprimente para a nação, um tempo sob LBJ  com os Bundy mantendo as coisas na linha, depois Nixon como presidente com os assessores “Bonesmen” Ray Price (’51) e Richard A. Moore. Após isso, um tempo fora para um presidente democrata trilateralista leviano, seguido pelo filho de Prescott como um vice-presidente ativista inferior a Regan. Depois, temos um presidente Skull and Bones que declara a “Nova Ordem Mundial” enquanto ataca fortemente seu parceiro de negócios, Saddam Hussein.

Depois de doze anos de administrações republicanas, Bush passa seu reinado para seu companheiro contrabandeador de drogas do Arkansas, Bill Clinton, que estudou na Escola de Legislação de Yale. De acordo com alguns pesquisadores, Clinton foi recrutado como um operário para a CIA enquanto ainda estava na Escola Rhodes em Oxford. Poderia esse ser o “velho processo histórico dialético hegeliano?

História Mundial: Plano ou Acidente?

Iremos nós ter outra fracassada administração democrática? Um escândalo tão vergonhoso como a queda de Nixon? Quando Robert P. Jonhson (William Barr)  disse a Clinton, num bunker no Arkansas, que “você é nosso rapaz louro, mas você tem competição para o emprego que você procura. Nós nunca iriamos botar todas as nossas fichas numa única máquina. Você e seu estado tem sido nossa maior posse…. O sr. Casey queria que eu te passasse que, a menos que você ferre com tudo ou faça algo estupido, você é o número um de nossa pequena lista para te lançar ao emprego que você sempre quis.

Então, você tem William Casey – Diretor da CIA, gerente de campanha de George Bush e Cavalheiro Soberano da Malta – falando direto como representante do último procurador geral George Bush para o rival de Bush, nas eleições federais estadunidenses de 1992. Isso é tudo apenas uma demonstração fraudulenta para a plebe estadunidense?

Talvez então, se de fato existe um tipo de controle sobre o processo eleitoral como dito por Mae Brussell e o livro reprimido VoteScam, escrito por Jim e Ken Collier:

“… Seu voto e o meu podem agora ser um bocado de energia sem sentido direcionado por computadores pré-programados que podem ser fixados para selecionar certos candidatos pré-ordenados e sem deixar pegadas ou rastros de papel.”

Em resumo, computadores estão reciprocamente roubando seu voto.

Por quase três décadas o voto estadunidense tem sido objeto para o roubo eletrônico patrocinado pelo governo.

O voto tem sido roubado do povo pelo cartel de burocratas da “segurança nacional” federal, que inclui seus superiores na Agência Central de Inteligência (CIA), dentre os líderes de partidos políticos, dentre os congressistas, jornalistas cooptados – e os donos e gerentes – da maioria dos estabelecimentos de notícias e da mídia, que tem decidido em acordo o como o voto estadunidense é contado, por quem ele é contado e como o resultado é verificado e entregue ao público é, como um deles coloca, ‘Não é uma área adequada de inquérito’.

Por meio de uma não-oficial corporação privada chamada News Election Service (NES), a imprensa tem atualmente controle físico da contagem e disseminação do voto, e se recusa a deixar o púbico saber como isso é feito”

Seria o eleitorado estadunidense sujeitado à cíclica propaganda, candidatos e vencedores pré-selecionados e campanhas psicológicas para alienar o país das instituições estabelecidas para servi-los pela constituição? Seriam os partidos Democratas e Republicanos usados como um experimento hegeliano num conflito controlado?

Pamela Churchill Harriman, esposa de Averil, é uma das maiores arrecadadoras de fundos para o partido dos Democratas. Ela uma vez deu a Bill* um emprego como o diretor de sua “PAM PAC” , quando ele perdeu a disputa para governador em 1980. Bill retribuiu o favor designando ela como sua Embaixadora na França mais tarde.

Outro amigo de Harriman/Bush, Eugene Stetson (’34), foi um assistente de gerencia de Prescott Bush na Brown Brothers, o escritório de Nova Iorque de Harriman. Ele organizou a fundação H. Smith Richardson. Fundação esta que no fim dos anos 1950, participou do MKULTRA, a criada doméstica da CIA que buscava cobrir a operação campanha psicológica. A fundação Richardson ajudou a financiar os testes de drogas psicotrópicas, incluindo LSD, no hospital Bridgewater em Massachusetts, o centro de alguns dos mais brutais experimentos da MK-ULTRA.

Durante as operações contra o Irã, a fundação H. Smith Richardson foi um “comitê de direção de doadores privados”, trabalhando com o Conselho Nacional de Segurança para coordenar o Escritório de Diplomacia Pública*. Esse foi um esforço para enfatizar as propagandas em favor e uma rápida cobertura para as operações contra o Irã, e para sincronizar os ataques publicados para os oponentes do programa.

A fundação H. Smith Richardson também comanda o Centro de Liderança Criativa em Langley para “treinar líderes da CIA”, bem como um outro centro perto de Greensboro, na Carolina do Norte, que treina agentes da CIA e do Serviço Secreto. Quase todos que chegam uma classificação militar de general também recebem esse treinamento.

Isso é apenas a ponta do iceberg. Também existe eugenia e controle de população, história e tecnologia suprimidas, toques de recolher anuais, sociedades lucrativas com ditadores brutais, acordos com “terroristas”, o envolvimento dos Cavalheiros da Malta, guerras de tráfico e exploração, controle de mentes, sociedades secretas para jovens, magia ritualística e mais – tudo girando em fios negros de uma teia de conspiração que nossa girante bola azul foi capturada.

Ainda há toda uma nova colheita de “Bonesmen” chegando, incluindo o filho de George H. W. Bush, George W. Bush (’68), que foi governador do Texas e presidente estadunidense.

Quando Don Schollander (’68), medalhista de ouro olímpico e o único membro da Skull & Bones conhecido vivo em Portland, foi contatado pelo repórter da Willamette Week, Jonh Schrang a respeito do seu envolvimento com a Ordem, ele disse, “isso é realmente algo que eu não posso falar sobre”.

Não é que não iria, mas sim que não “podia”.

Na vigilância das primeiras exposições inovadoras de Antony Sutton da Ordem, a autêntica Biblioteca de Yale se recusou a permitir qualquer outros acessos à pesquisas relacionadas aos documentos Russell Trust.

Daniel Gilman, como a maioria dos Bonesmen, não faz menções da Skull & Bones ou ao Russell Trust em suas memórias ou biografias.

Então, seria o povo estadunidense apenas uma “forragem” para uma sociedade secreta com sobretons satânicos que está tentando formar um governo mundial com eles mesmos no governo? Ou seria a Ordem Skull & Bones apenas um bando de garotos da fraternidade de Yale? Quer apostar seu futuro nisso?

Referências

[1] James Shelby Downard, foi um teórico da conspiração estadunidense, publicou muitos trabalhos pela Feral House sobre a sincronia entre eventos ocultistas e históricos no século XX.

[2] A Operação Sunrise é descrita como um conjunto de operações secretas entre a Alemanha Nazista e o Bloco Capitalista, no intuito de fazer a inimiga chegar a redenção no período da Segunda Guerra Mundial.

[3] A Operação Paperclip foi um conjunto de ações da política estadunidense durante a Segunda Guerra Mundial para levar secretamente cientistas da Alemanha Nazista aos Estados Unidos.

[4] Algo como Mudança Original em Dias de Iluminação.

[5] Algo como Os Escritos Originais da Ordem e Seita dos Illuminati.

[6] Atualmente uma universidade estadunidense renomada, dentre seus alunos passaram os presidentes Thomas Jefferson e James Monroe.

[7] Uma compilação de informações autenticas e resultados das investigações existentes de mais de 600 sociedades secretas nos Estados Unidos.

[8] Algo como Os Escritos Originais da Ordem e Seita dos Illuminati.

[9] Atualmente uma universidade estadunidense renomada, dentre seus alunos passaram os presidentes Thomas Jefferson e James Monroe.

[10] Uma compilação de informações autenticas e resultados das investigações existentes de mais de 600 sociedades secretas nos Estados Unidos.

[11] Algo como Os Escritos Originais da Ordem e Seita dos Illuminati.

[12] Atualmente uma universidade estadunidense renomada, dentre seus alunos passaram os presidentes Thomas Jefferson e James Monroe.

[13] Uma compilação de informações autenticas e resultados das investigações existentes de mais de 600 sociedades secretas nos Estados Unidos.

[14] Numa tradução livre George Bush: Uma Bibliografia Não Autorizada.

[15] Roberto Lovett foi o 4º Secretário de Defesa dos Estados Unidos, durante o governo de Harry S. Truman.

[16] George Marshall foi o 3º Secretário de Defesa dos Estados Unidos, substituído por Lovett durante o governo Truman.

[17] William Averell Harriman, foi um político e empresário do Partido Democrata estadunidense, foi também governador de Nova Iorque de 1951 a 1958.

[18] A Agência Mútua de Segurança foi estabelecida pelo congresso americano em 1951 e tinha o intuito de dar forças aos aliados dos Estados Unidos na Europa, através de assistência miliar e econômica, que renderia benefícios a longo prazo para o país.

[19] Brown Brothers Harriman & Co. é o maior e mais antigo banco privado americano. Geralmente apontado como tendo muita influência política e de interesses nos governos estadunidenses.

[20]  Psychological Strategy Board, ou PSB no inglês.

[2] Gordon Gray foi um oficial estadunidense associado à defesa nacional durante os governos de Harry Truman e Dwight Eisenhower.

[22] R. J. Reynolds é a segunda maior empresa de tabaco estadunidense.

[23] Prescott Bush foi senador dos Estados Unidos pelo estado de Connecticut e banqueiro de Wall Street junto com os Brown Brothers Harriman, ele também é pai do ex-presidente estadunidense George H. W. Bush.

[24] Lindon B. Johnson, ou popularmente chamado LBJ, foi o 36º presidente estadunidense, tendo assumido logo após a morte de Kennedy.

[25] William P. Barr foi um

[26] Pam Pac Machines Ltd. Empresa de embalagens estadunidense.

RantBrso, tradução Max Quintanilha Barison

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/sociedades-secretas-conspiracoes/a-origem-secreta-do-skull-bones/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/sociedades-secretas-conspiracoes/a-origem-secreta-do-skull-bones/

Círculos ingleses – código ou arte?

Este trabalho apresenta as formas geométricas e as simetrias encontradas nos círculos ingleses, através de alguns de seus exemplos. Este fenômeno, estudado por vários cientistas, ainda encontra-se sem qualquer explicação cientifica concreta. Entretanto, a perfeição das construções geométricas de suas formas é incontestável.

Introdução

O fenômeno dos círculos ingleses, também chamados de Crop Circles, é uma maravilha, no mais verdadeiro sentido dessa abusada palavra. Tendo começado da maneira mais modesta, há cerca de vinte anos, a formação dos círculos, que se restringia principalmente aos campos de plantação de trigo da Inglaterra, teve seu número aumentado de maneira assustadora nos anos recentes e hoje existe numa complexidade, quantidade e beleza que chega a inspirar assombro. Suas origens encontram-se envoltas no mais profundo mistério, mas as formações mostram uma clara evolução em termos de desenho, com diversos exemplos individuais que registram algumas características surgidas posteriormente, durante o correr de uma estação de ano.

Nestes círculos, ou em sua proximidade, nunca foram encontrados quaisquer traços ou pistas que indicassem como foram feitos ou por quem. Não há pegadas de pessoas, ou marcas de pneus de veículos, nem sinal de que as plantas em seu interior tenham sido manipuladas por humanos. Simplesmente, os círculos surgem do nada, portando uma mensagem inexplicável e desafiando nossa inteligência e tecnologia. As regiões sul e sudeste da Inglaterra ainda são áreas de maior incidência do fenômeno, principalmente nos condados de Wiltshire, Hampshire e nas regiões próximas a Stonehenge, no mês de abril a agosto, quando se dá o verão europeu.

Muitas das formações dos círculos parecem surgir durante o horário noturno, sendo que a maior parte delas é descoberta por camponeses somente na manhã seguinte, onde nada havia na tarde anterior. São pouquíssimos os casos nos quais é possível demonstrar-se que o surgimento dos círculos ocorreu em pleno dia, mesmo que em muitos casos, obviamente, não se dispunha de nenhuma hora exata.

Em suma, é quase impossível resistir à impressão de que os círculos misteriosos seriam resultado da ação de algum tipo de inteligência, que estaria operando de acordo com processos físicos ainda desconhecidos. Associados aos círculos existem diversos tipos de fenômenos muito estranhos, dos quais um dos mais significativos é o dos sinais aleatórios de alta freqüência.

 

 

O Efeito Nas Plantas e No Solo

Os “círculos” só aparecem nas plantações de trigo, cânola e cevada. Os caules destas plantas, que normalmente quando entortados se quebram, nas áreas onde o fenômeno ocorre, chegam a ser entortados em cerca de 90 graus.

O entortamento dos caules se dá num ponto entre 20 e 80% da altura total das plantas. Às vezes, plantas situadas lado a lado na colheita, são entortadas em direções opostas dentro do mesmo fenômeno.

Uma característica deste fenômeno é que, quando entortadas, não é possível desentortá-las com o risco de quebrá-las, continuando seu crescimento rasteiro ao chão.

Duas organizações vêm fazendo estudo do solo dos círculos. Elas são o Center for Crop Circles Studies in England e uma organização conhecida como ADAS Ltd.., trabalhando com o Ministério da Agricultura Inglês. Uma das coisas que eles descobriram é que os solos adquirem uma quantidade anormal de hidrogênio após cada formação. O único modo desta quantidade de hidrogênio aparecer assim seria se o solo recebesse uma carga elétrica extremamente forte.

Fenômeno Secular – lenda ou realidade?

Os desenhos têm origem bem mais complexa e inusitada do que possamos imaginar. Documentos históricos fazem referências a estranhos fenômenos semelhantes aos sinais encontrados nas plantações há muitos séculos. Alguns estudiosos ingleses encontrarão na capa de um tablóide londrino, datado de 22 de agosto de 1678, uma narrativa que faz menção à lenda do Demônio Ceifador, relatando a existência de misteriosos círculos nas plantações inglesas já naquela época.

As imagens abaixo são bastante curiosas. À esquerda, um dos Círculos encontrados; à direita, um “fractal” (imagem geométrica criada matematicamente). A semelhança entre ambos é assombrosa, o que nos faz pensar, no mínimo, que alguma inteligência bastante avançada foi responsável pela elaboração da figura naquela plantação. O que pensar disto?

Belas e intrigantes, não só na Inglaterra, mas também na Alemanha, Holanda, Republica Tcheca, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Rússia, México e Brasil, sim, figuras foram encontradas no Brasil nos últimos anos. No dia 03 de dezembro de 1996, por volta das 17:00h, dois agricultores encontraram em um charco, á 100m da escola de Especialistas da Aeronáutica, na cidade de Guaratinguetá (SP), uma circunferência simétrica com cinco metros de diâmetro, em uma área pantanosa. A vegetação estava dobrada no sentido horário e os filetes do capim não estavam quebrados. Outro caso foi detectado no norte do Rio de Janeiro, nos canaviais das propriedades rurais de Campos dos Goitacazes.

A freqüência com que os círculos aparecem e sua diversidade nos provam que o enigma sobre sua origem e significado persiste, intrigando a todos que buscam uma resposta para o fenômeno.

As Fraudes

Estima-se que cerca de 30% dos círculos encontrados sejam falsos. Diversos motivos levam as pessoas a forjarem as figuras, entre elas estão a vontade de aparecer e ser notícia e principalmente a tentativa de desmoralizar os estudiosos do fenômeno. Há também aqueles grupos de pessoas que disputam entre si para ver quem faz o desenho mais bonito e mais próximo da realidade e para demonstrar suas habilidades artísticas.

O caso mais clássico de forjadores aconteceu há alguns anos. Dois velhinhos aponsentados de Preston Highs chamados Doug e Dave procuraram a imprensa britânica e reclamaram para si a autoria de alguns círculos descobertos na área de Alton Baines. Sua estória correu o mundo e muitos deram como encerrado o caso dos círculos ingleses, porém, quando diante dos jornalistas, os velhinhos mal conseguiram desenhar tais figuras, resultando em formas mal acabadas, sem qualquer precisão e com poucos metros de diâmetro.

Os estudiosos mais experientes dizem que os círculos forjados são mais facilmente identificados, pois são realizados de forma irregular, sem a simetria ou a perfeição geométrica dos círculos verdadeiros e ainda ficam repletos de vestígios de quem os fez e de como.

A geometria dos círculos ingleses – código ou arte?

Considerados verdadeiras obras de arte por estudiosos e especialistas, estima-se que cerca de 10 mil destas enigmáticas figuras já foram descobertas em todo o mundo, sobretudo no sudoeste da Inglaterra (próximo à região onde se situa Stonehenge), onde a percentagem de incidência destas figuras chega a 98% dos círculos já encontrados. Os outros 2% foram encontrados na Austrália, Estados Unidos, França e Canadá. Os círculos ingleses são na verdade um emaranhado de formas geométricas de diversos tamanhos dispostas de maneira organizada. Em alguns casos extremos, círculos compostos por mais de 200 figuras geométricas perfeitamente dispostas, numa extensão que vai além de 300 metros de comprimento, já foram encontrados sem que os estudiosos – incluindo os do governo britânico – tivessem a menor idéia de como foram feitos.

Os desenhos parecem ser específicos a cada ano, quase como capítulos num livro. Em 1994, houve uma proliferação do que se convencionou chamar de “insectogramas”, com figuras na forma de escorpiões, aranhas, teias de aranhas e outros insetos. Em 1995, os padrões pareciam sugerir sistemas solares, cinturões de asteróides e outras figuras planetárias. Em 1993, houve uma incidência de padrões geométricos.

Não obstante o nome, nem sempre os círculos são perfeitos, mas sim são elipses ou ovais, e a maior parte das formações mostra uma notável excentricidade ou desvio do centro do fenômeno alguns graus em direção à sua periferia (normalmente a relação entre o diâmetro máximo e o mínimo é de 0,9o). Esta característica parece excluir como causa uma montagem realizada mediante uma estaca fincada na terra e uma corda ou corrente presa a ela, onde se faz girar em círculo para produzi-lo, o que resultaria num círculo perfeito (sem excentricidades). Mas este não é o caso e os círculos nos levam a crer que sejam de fato produzidos por alguma inteligência superior.

Com o passar dos anos as figuras foram se tornando cada vez mais complexas, primeiro eram circunferências simples, depois surgiram circunferências duplas, triplas, quadruplas, quíntuplas, círculos concêntricos, com esferas e tracejados, círculos com anéis, além de diversos outros formatos como figuras triangulares, ovais, espirais, etc. E assim, o mistério continua, os círculos viraram símbolos e depois figuras complexas e extraordinárias. Em alguns casos extremos foram encontrados desenhos compostos por mais 200 figuras geométricas perfeitamente dispostas, com 300 m de comprimento, aproximadamente.

Aliás, desenhos extremamente elaborados, pois o próprio nome “círculos ingleses” não é suficiente para definir o fenômeno de fato, uma vez que há uma enorme gama de figuras geométricas complicadas que são interpostas umas às outras com uma incrível perfeição e simetria. Muitos deles têm que ser observados de uma posição aérea para que seja possível colocar toda a figura no campo de visão, e assim ser percebido o impressionante nível de elaboração matemática sob os quais eles foram formados. E com o aumento na quantidade e complexidade das figuras a cada ano, ficava evidente que aqueles misteriosos desenhos jamais poderiam ser feitos por mãos humanas, pois mesmo que tivesse uma multidão de pessoas desocupadas e interessadas em produzir tal fenômeno não iriam dar conta das centenas de círculos que já vinham sendo catalogados em todo o interior da Inglaterra.

A seguir, são apresentadas formações geométricas desenvolvidas a partir de polígonos de 3, 5, 6, 9 e 10 pontas.

Descobertas Significantes

Sabe-se hoje que cerca de 90% dos círculos genuínos surgem quase sempre nas mesmas áreas, ano após ano, e invariavelmente sobre ou muito perto de sítios arqueológicos de milhares de anos de idade.

Estes sítios arqueológicos às vezes estão enterrados e os estudiosos só se dão conta de que existem um determinado lugar quando surgem círculos lá. Um fator interessante a se notar é que um certo número de círculos têm aparecido perto de usinas nucleares, o que nos leva a crer que os responsáveis pelos círculos estão preocupados com a nossa loucura nuclear.

Outro fator é que algumas pessoas dizem ter sido afetadas depois de terem pisado dentro de uma destas formações. Alguns estudiosos comprovam estas estórias, como o Dr. Collete M. Dowell. Ele, como outras pessoas, diz que em algumas formações que entrou, se sentiu extremamente ansioso ou agitado. Em outras, se sentiu feliz, bobo e outras emoções.

Conclusão

Todo o mistério que se encerra sobre os círculos ingleses não é unicamente quanto ao agente causador desse fenômeno. Todas as características desses desenhos desafiam nosso conhecimento e nos levam a mais perguntas que respostas.

Existem diversos pesquisadores tentando interpretar o significado dessas figuras, alguns ligando os desenhos a símbolos matemáticos, outros associandos a sistemas astronômicos, além de compará-los a simbologia de civilizações antigas, como Persas, Druidas, Romanos, Celtas, Egípcios, etc. mas conseguem encontrar apenas uma pequena quantidade de desenhos e figuras nesse sentido, o que mostra que o significado dessas figuras seja algo bem mais complexo do que possamos imaginar.

O mistério dos círculos ingleses persiste, a cada ano que passa e a cada nova formação que surge o fenômeno se torna mais complexo e inexplicável. A simetria e a dimensão dessas figuras são algo extraordinário, alguns desses desenhos chegam a medir centenas de metros.

O enigma dos Círculos continua e parece não estar próximo de seu final. A cada ano vêm sendo catalogados cerca de trezentos novos desenhos, sempre nos meses de abril, maio, junho, julho e agosto, chegando a um total aproximado de dez mil figuras surgidas na Inglaterra nas décadas de 80 e 90. Esse mistério continua sem uma explicação definitiva, se tornando nos dois maiores enigmas deste último século. Como todo enigma não decifrado, existe um enorme número de especulações e toda a sorte de considerações absurdas que estão longe de elucidar tal fenômeno.

Quem quer que seja o autor, não apenas tem dotes artísticos sobrenaturais, como também a incrível capacidade de realizar o que quer que seja sem que as pessoas percebam. Por mais fantástico que isso possa parecer, o surgimento misterioso é um fato e não uma especulação e, sendo assim, qual outra explicação poderia ter para este fenômeno bizarro? Como alguém consegue realizar desenhos gigantescos à noite e com uma simetria tão perfeita sem fazer o menor ruído e com total ausência de luminosidade?

Colin Andrews, esse é o nome do homem que mais tem se dedicado à elucidação deste fenômeno. Financiado pela Fundação Lawrence Rockfeller, Colin criou uma equipe interdisciplinar para investigar o mais profundamente possível os círculos ingleses. Ele chegou a contratar ex-agentes policiais e detetives britânicos “top de linha” para se vasculhar minuciosamente o local em que surge um desses círculos a fim de descobrir quem ou o que tem sido o responsável por tais figuras. Quando surgia um novo desenho, imediatamente eles isolavam a área e passavam o “pente fino”. Este esforço acabou sendo um dos elementos que mais reforçam a hipótese alienígena. Excluindo em 30% os desenhos, nas quais ficou claro que era alguém tentando imitar os verdadeiros, não foi possível encontrar o menor vestígio de uma ação humana. “Isso significa simplesmente que, se os círculos não são feitos pelo homem, então temos que aceitar que alguém que não é da Terra os está plantando” – Colin quase que em tom de desabafo.

Pelo menos em uma coisa os estudiosos já se entendem: os círculos têm obrigatoriamente um componente não terrestre. Ou seja: não são construídos pela inteligência humana. De qualquer forma, o fenômeno dos “círculos ingleses” continua no reino das suposições.

Bibliografia

ALBINO, Wallacy. O mistério dos círculos ingleses. São Paulo: A. J. Gevaerd, 2002 ALBINO, Wallacy. “Misteriosa arte cósmica nas plantações da Inglaterra”. In: UFO – Revista Brasileira de Ufologia, no 74, Campo Grande, MS, outubro/2000.
NOYES, Ralph. O Enigma dos círculos. São Paulo: Mercuryo, 2000.

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Leonardo Alexander Venuto Souto

Postagem original feita no https://mortesubita.net/sociedades-secretas-conspiracoes/circulos-ingleses-codigo-ou-arte/

A História da Terapia Por Choque em Psiquiatria

As primeiras décadas do século XX testemunharam uma grande revolução na nossa compreensão e no tratamento das doenças mentais. Até então, pessoas portadoras de psicose eram simplesmente trancadas em asilos para loucos, onde recebiam apenas alguns cuidados simples e, algumas vezes, apoio social, sem que nenhuma terapia efetiva estivesse disponível para os “alienistas”, como os psiquiatras eram então denominados. Mesmo quando reformadores médicos bem-intencionados, tais como Phillipe Pinel, conseguiram amenizar em parte as aterrorizantes condições existentes nos asilos para loucos, ainda não existiam tratamentos de rotina realmente efetivos no começo do século XXI.

A primeira revolução na terapia científica da loucura foi baseada nas teorias da mente proposta pelo médico austríaco Sigmund Freud, o fundador da psicanálise. O valor dessa abordagem se tornou evidente para o tratamento de distúrbios mentais de gravidade leve ou média, particularmente nas neuroses; mas pouco representou de efetivo para o tratamento doenças mentais mais graves, como as psicoses. No entanto, isso começou a mudar no começo da década de 30. Os métodos psicoterapêuticos passaram a ser suplementados ou até substituídos por abordagens físicas, usando drogas, terapia eletroconvulsiva, e cirurgia.

O conhecimento de que o trauma encefálico, as convulsões e a febre alta podiam ser usados para amenizar distúrbios mentais não é novo em Medicina. Hipócrates foi o primeiro a notar que as convulsões induzidas por malária em pacientes insanos era capaz de curá-los. Na Idade Média, alguns médicos observaram os mesmos fenômenos após um severo surto de febre, tal como o que ocorreu durante epidemias de cólera em asilos para doentes mentais. Em 1786, um médico chamado Roess observou que pacientes mentais melhoravam após a inoculação com vacina contra a varíola. Além disso, muitos médicos ao longo dos séculos notaram que havia poucos epilépticos que também eram esquizofrênicos, e uma teoria biológica sobre a incompatibilidade entre as convulsões e doenças mentais gradualmente se desenvolveu.

É conhecido, também que durante muito tempo os médicos foram fascinados com a idéia de tratar doenças mentais e neurológicas usando a eletricidade.

Entre 1917 e 1935, quatro métodos para produzir choque fisiológico foram descobertos, testados e usados na prática psiquiátrica, todos no continente europeu:

  • Febre induzida por malária, para tratar paresia neurosifilítica, descoberta em Viena por Julius Wagner-Jauregg, em 1917;

  • Coma e convulsões induzidas por insulina, para tratar esquizofrenia, descoberta em Berlim por Manfred J. Sakel, em 1927;

  • Convulsões induzidas por metrazol, para tratar esquizofrenia e psicoses afetivas, descoberta em Budapest por Ladislaus von Meduna, em 1934, e

  • Terapia por choque eletroconvulsivo, descoberta por Ugo Cerletti e Lucio Bini em Roma, 1937.

O advento do tratamento das psicoses usando choque fisiológico aumentou a oposição entre duas escolas de pensamento em psiquiatria: a psicológica e a biológica.

A “escola psicológica” interpreta a doença mental como sendo devida a desvios na personalidade, problemas surgidos durante o crescimento, no controle de impulsos internos, e a outros fatores originados externamente. Esta escola, tipificada pelos psicanalistas, foi fundada por Sigmund Freud no começo do século XX.

A “escola biológica”, ao contrário, considera que as doenças mentais, particularmente as psicoses, são causadas por alterações patológicas, químicas ou estruturais do cérebro. Devido à essas diferenças, as abordagens terapêuticas adotadas por cada escola são marcadamente diferentes. O sucesso da terapia por choque, em virtude de, evidentemente, causar alguma alteração drástica no ambiente interno do cérebro, e, consequentemente, nas funções das células nervosas, foi um forte argumento a favor das causas biológicas de muitas doenças mentais.

Febre e Doença Mental

O primeiro pesquisador a investigar sistematicamente o elo entre febre e doença mental foi o médico austríaco Julius Wagner von Jauregg. Ele observou que pacientes loucos melhoravam consideravelmente após sobreviverem à febre tifóide, erisipela e tuberculose. Impressionado pela coincidência de que todos estes pacientes tinham episódios de febre alta e inconsciência, ele começou a fazer experimentos com vários métodos de induzir febre, tais como infecção por erisipela, injeções de tuberculina, tifóide, etc. sem muito sucesso.

O primeiro grande achado de Wagner-Jauregg aconteceu quando ele tratou a paresia generalizada, uma doença neuropsiquiátrica comum e extremamente grave, e que é causada por neurosífilis avançada (sua verdadeira causa era desconhecida na época). A paresia, também chamada de demência paralítica, era uma doença incurável e quase sempre fatal, e os asilos psiquiátricos estavam repletos de pacientes com ela, devido à inexistência de tratamentos efetivos para a sífilis. Esta doença é acompanhada por uma pronunciada degeneração progressiva, incluindo convulsões, ataxia (incoordenação motora), déficits na fala e paralisia geral. Na área mental, ela causa mania, depressão, paranóia e comportamento violento, incluindo suicídio, delírio, perda da memória, desorientação e apatia.

A descoberta de Wagner-Jauregg foi inspirada por uma série de revolucionárias descobertas médicas em microbiologia. Em 1985, Ronald Ross descobriu na Índia que a malária é causada por um parasita transmitido pelo mosquito Anopheles. Em 1905, Schaudinn, na Alemanha, descobriu o agente patológico para a sífilis, o Treponema pallidum. No mesmo ano, Karl Landsteiner provou que a febre era capaz de matar os espiroquetas que causavam a sífilis. No ano seguinte, Wassermann descobriu o teste sorológico para sífilis, o qual é usado até hoje para detectar precocemente a existência de infecção, e em 1908 ele foi usado pela primeira vez para testar o fluído cérebroespinhal. Em 1909, após 605 tentativas de achar uma quimioterapia para a sífilis, Paul Ehrlich conseguiu o sucesso com o salvarsan ou o “Composto 606”, a base de arsênico, o qual foi a primeira substância a ser cientificamente projetada para ser usada para combater micróbios, na história da Medicina. Finalmente, em 1913, Noguchi e Moore demonstraram que a paresia generalizada era de fato uma infecção do sistema nervoso pela sífilis, e esta foi a primeira vez na história médica que um tipo de distúrbio mental ou loucura pode ser atribuído a uma alteração biológica do cérebro! A escola biológica de psiquiatria tinha conseguido uma tremenda vitória.

Wagner-Jauregg, que era atento à qualquer associação que surgisse entre febre e paresia, não demorou muito em inocular, em julho de 1917, o sangue contaminado de um soldado malárico em nove pacientes com paresia crônica. O resultado foi impressionante: ele conseguiu recuperação completa em quatro desses pacientes e uma melhora em mais dois. Em seguida, ele elaborou e testou um complexo protocolo de tratamento em 275 pacientes sifilíticos que tinham o risco de adquirir paresia. Primeiro ele testou o sangue e líquido céfaloraquidiano desses pacientes, usando a reação de Wassermann, e em seguida os tratou com sangue malárico, seguido por doses de quinino (de modo a brecar a infecção pela malária), alternadas com injeções de neosalvarsan, para limpar o sangue de espiroquetas. Seu grau de sucesso foi notável: 83% dos pacientes ficaram livres de contrair paresia. Por esta descoberta, Wagner-Jauregg ganhou o Prêmio Nobel em 1927.

Atualmente, a demência paralítica é uma complicação rara da sífilis, e o tratamento de Wagner-Jauregg foi suplantado pelo uso de antibióticos.

Terapia Por Choque Insulínico

O segundo grande avanço no tratamento de psicoses por choque ocorreu em 1927, através da descoberta de um jovem neurologista e neuropsiquiatra polonês chamado Manfred J. Sakel.

Enquanto era residente do Hospital Lichterfelde para Doenças Mentais, em Berlim, ele provocou um coma superficial em uma mulher viciada em morfina, usando uma injeção de insulina, e obteve uma notável recuperação de suas faculdades mentais.

A insulina tinha sido descoberta em 1921 por dois pesquisadores médicos canadenses Frederick Banting e Charles Best, como o hormônio fabricado pelo pâncreas, responsável pela manutenção do equilíbrio de glicose no corpo. A falta de insulina causa diabetes, ou hiperglicemia (excesso de glicose), enquanto seu excesso natural ou artificial causa hipoglicemia, o qual leva ao coma e convulsões, devido ao déficit de glicose nas células cerebrais.

O motivo de Sakel usar insulina foi o seguinte:

“Minha suposição foi que alguns agentes nocivos enfraqueceriam a resistência e o metabolismo das células nervosas…uma redução no gasto de energia da célula, isto é, ao invocarmos uma menor ou maior hibernação nela, bloqueando a célula com insulina, isso a forçará conservar a sua energia funcional e armazená-la, de modo a ficar disponível para o reforço da célula.”

Sakel descobriu acidentalmente, ao causar convulsões com uma dose excessiva de insulina, que o tratamento era eficaz para pacientes com vários tipos de psicoses, particularmente a esquizofrenia. Em 1930 ele começou a aperfeiçoar aquilo que se tornou conhecido como a “Técnica de Sakel” para tratar esquizofrênicos, primeiro em Viena, na Clínica de Neuropsiquiatria da Universidade, e a partir de 1934, nos Estados Unidos, para onde fugiu do regime nazista. A comunicação oficial desta técnica foi feita em setembro de 1933, e foi entusiasticamente recebida. Até então, nenhum tratamento biológico para esquizofrenia estava disponível. A abordagem de Sakel foi um método fisiológico prático e efetivo para atacar a mais debilitante e cruel das doenças mentais. Esta foi uma das mais importantes contribuições jamais feitas pela psiquiatria.

De acordo com os achados de Sakel, mais de 70 % de seus pacientes melhoraram após a terapia por choque insulínico. Dois amplos estudos realizados nos EUA, em 1939 e 1942, deram a ele fama e ajudaram sua técnica a se expandir rapidamente ao redor do mundo. De acordo com o estudo de 1939, publicado pela American Psychiatric Association por R. Ross e Benjamin Malzberg, entre 1757 casos de esquizofrenia tratados por terapia por choque insulínico, 11 % tiveram uma pronta e total recuperação, 26.5 % apresentaram uma grande melhora e 26 % tiveram alguma melhora. O segundo estudo, realizado no Hospital da Pensilvânia, tiveram uma taxa de melhora de 63 %, com 42 % dos pacientes ainda em boas condições mentais após dois anos de seguimento.

O entusiamo inicial foi seguido pela diminuição no uso da terapia por coma insulínico, depois que estudos controlados adicionais mostraram que a cura real não era alcançada e que as melhoras eram na maioria das vezes temporárias. Contudo, como o método de Sakel é a mais amena e menos deletéria de todas as técnicas, estava ainda em uso até recentement,e em muitos países.

Convulsões Químicas e Esquizofrenia

Em 1933, no mesmo ano que Sakel anunciou oficialmente seus resultados com a terapia por coma insulínico, um jovem médico húngaro chamado Ladislaus von Meduna, trabalhando no Instituto Interacadêmico de Pesquisa Psiquiátrica, em Budapest, deu início àquilo que se tornaria uma abordagem inteiramente nova para o uso do choque fisiológico no tratamento da doença mental. Sem saber das investigações de Sakel, Meduna estudou os cérebros e as histórias de doença mental de esquizofrênicos e epilépticos, e notou que parecia existir um “antagonismo biológico” entre estas duas doenças do cérebro. Meduna raciocinou então que convulsões epilépticas “puras” induzidas artificialmente poderiam ser capazes de “curar” a esquizofrenia.

Ele então começou a testar vários tipos de drogas convulsivas em animais, e logo depois em pacientes, também. Seu ideal era alcançar convulsões reproduzíveis e completamente controláveis. A primeira substância que ele testou, em 1934, foi a cânfora, mas os resultados não foram significativos. Ele também testou estricnina, tebaína, pilocarpina e pentilenotetrazol (também conhecido com metrazol ou cardiazol), sempre injetando-as por via intramuscular. Sakel também usou muitas destas drogas junto com a insulina, afim de aumentar as convulsões, mas nunca sozinhas. Entretanto, o ideal de Meduna foi alcançado somente quando ele experimentou injeções intravenosas de metrazol. As convulsões ocorriam rápida e violentamente, e eram dose-dependentes. Após uma série de 110 casos, Meduna pôde registrar uma freqüência de altas de 50 %, com notável melhora e mesmos algumas “curas dramáticas”.

Meduna comunicou seus achados à comunidade psiquiátrica reunida em Münsingen, na Suiça, em 1937, para discutir a terapia por choque pioneiramente iniciada por Sakel. A partir daí, dois campos foram firmemente estabelecidos em relação à terapia por choque fisiológico: o daqueles que defendiam a terapia insulinica e o daqueles que eram a favor das convulsões induzidas por metrazol. O metrazol era mais barato, muito mais fácil de usar e mais propenso a induzir convulsões de forma repetível. O coma por insulina requeria cinco a nove horas de hospitalização e um seguimento mais trabalhoso, mas ela era facilmente controlada e terminada com injeções de adrenalina e glicose, quando necessário. Por sua vez, o metrazol era mais forte e mais difícil de controlar. A terapia por insulina causava poucos efeitos colaterais, enquanto que as convulsões por metrazol eram as vezes tão severas que causavam fraturas espinhais em 42 % dos pacientes !

Meduna foi forçado a imigrar para Chicago, nos EUA, em 1939, e de lá ele continuou suas pesquisas sobre convulsões por metrazol. Eventualmente, a comunidade científica reconheceu que a teoria de incompatibilidade biológica entre convulsões e esquizofrenia não era verdadeira, mas que as convulsões provocadas artificialmente tinham o seu valor em psiquiatria.

Em 1940, A.E. Bennett, um psiquiatra, combinou injeções de metrazol com curare para neutralizar as fortes contrações musculares que eram responsáveis por estes e outros incidentes. Curare é um agentes muscular paralizante que é extraído de plantas da América do Sul por índios, para fazer flexas e dardos envenenados. Ele ocupa os receptores nervosos nos músculos, bloqueando a ação normal do neurotransmissor acetilcolina, liberado pelas células motoras naquele ponto. Posteriormente, a escopolamina também foi usada em conjunto com metrazol e curare, para sedar o paciente e evitar o terror de estar sujeito a convulsões violentas enquanto conscientes (esta era uma vantagem da insulina).

Entretanto, em testes controlados, o metrazol pareceu ser menos eficiente do que a insulina no tratamento da esquizofrenia, particularmente na doença crônica. Ele foi mais efetivo em tratar as psicoses afetivas, tais como a doença maníaco-depressiva e da epressão psicótica, alcançando mais de 80 % de melhora nos pacientes.

Devido à aparência de muitos métodos para tratar doenças mentais, incluindo neurolépticos e terapia eletroconvulsiva, o metrazol foi gradualmente descontinuado no final dos anos 40 e não mais utilizado. Atualmente, sua importância é unicamente histórica.

A Terapia Por Choque Eletroconvulsivo

Em 1937, um neurologista italiano chamado Ugo Cerletti estava convencido que as convulsões induzidas por metrazol eram úteis para o tratamento de esquizofrenia, mas muito perigosas e incontroláveis para serem aplicadas (naquele tempo não havia um antídoto para parar as convulsões, como acontecia com a insulina). Além disso, os pacientes tinham muito medo da terapia.

Cerletti sabia que um choque elétrico aplicado à cabeça produzia convulsões, pois, como um especialista em epilepsia, ele tinha feito experimentos com animais para estudar as consequências neuropatológicas de ataques repetidos de epilepsia. Em Genova, e posteriormente em Roma, ele usou equipamentos de eletrochoque para provocar crises epilépticas em cães e outros animais. A idéia de usar o choque eletroconvulsivo em seres humanos ocorreu-lhe pela primeira vez ao observar porcos sendo anestesiados com eletrochoque, antes de serem abatidos nos matadouros de Roma. Ele então convenceu dois colegas Lucio Bini e L.B. Kalinowski (um jovem médico alemão) a ajudá-lo a desenvolver um método e um equipamento para ministrar breves choques elétricos em seres humanos.

Eles inicialmente experimentaram vários tipos de dispositivos em animais, até determinarem os parâmetros ideais e aperfeiçoarem a técnica, antes de iniciarem uma série de eletrochoques em sujeitos humanos (com esquizofrenia aguda). Após 10 a 20 eletrochoques em dias alternados, a melhora na maioria dos pacientes começou a se tornar evidente. Um dos benefícios inesperados do eletrochoque transcraniano foi que ele provocava amnésia retrógrada, ou seja, uma perda de todas as memórias de eventos imediatamente anteriores ao choque, incluindo a sua percepção. Assim, os pacientes não tinham sentimentos negativos relacionados à terapia, como acontecia com o choque por metrazol. Além disso, o eletrochoque era mais seguro e mais bem controlado, e menos perigoso para o paciente do que o metrazol.

Em 1939, Kalinowski começou um tour para anunciar a terapia por choque eletroconvulsivo ao redor do mundo, visitando a França, Suiça, Inglaterra e Estados Unidos. Pesquisadores que adotaram o método de Cerletti-Bini logo descobriram que ele parecia ter efeitos espetaculares sobre os distúrbios afetivos. De acordo com E.A. Bennett, 90 % dos casos de depressão severa que eram resistentes a todos os tratamentos, desapareceram após três ou quatro semanas de eletrochoques. Logo, o curare e escopolamina estavam sendo usados em conjunto com a terapia eletroconvulsiva, e gradualmente substituíram o choque induzido por insulina e metrazol.

O eletrochoque começava então a sua longa jornada como a terapia de choque de escolha, na maioria dos hospitais e asilos ao redor do mundo. Outros tipos de terapia por choque foram brevemente testados, tais como a indução de febre por meio de microondas radiomagnéticas, anóxia cerebral transitória induzida pela respiração de uma mistura de oxigênio e nitrogênio, e pela crioterapia (redução da temperatura do corpo). Os resultados foram dúbios na maioria das vezes, e estas técnicas foram logo abandonados em favor da terapia eletroconvulsiva, mais prática, efetiva e barata.

Aperfeiçoamentos significativos na técnica de eletrochoque foram feitos desde então, incluindo o uso de relaxantes musculares sintéticos, tais como succinilcolina, a anestesia de pacientes com agentes de curta duração, a pré-oxigenação cerebral, o uso de EEG para monitoração da crise, e melhores dispositivos e formas de onda para ministrar o choque transcraniano. Apesar destes avanços, a popularidade da terapia eletroconvulsiva diminiu grandemente nas décadas de 60 e 70, devido ao uso de neurolépticos mais efetivos e como resultado de um forte movimento politicamente antagônico ao eletrochoque em psiquiatria, como veremos abaixo. Entretanto, a terapia eletroconvulsiva voltou a ganhar evidência nos últimos 15 anos, devido à sua eficácia. É a única terapia somática da década dos 30 que permanece em grande uso hoje. Entre 100.000 e 150.000 pacientes são submetidos à terapia por eletrochoque anualmente nos EUA, em função de condições médicas estritamente definidas.

Muitas personalidades importantes foram submetidas à terapia por choque. Entre elas estão:

  • Terapia por coma insulínico: James Forrestal (primeiro Secretário de Defesa dos EUA, que cometeu suicidio em 1949), o dançarino de ballet russo Vaslav Nijinski, e Zelda Fitzgerald (mulher do autor Scott Fitzgerald).

  • Terapia por choque eletroconvulsivo: o escritor Ernest Hemingway (que se baleou na cabeça pouco tempo depois de se submeter ao tratamento na Mayo Clinic), os poetas Silvia Plath (que também cometeu suicídio) e Robert Lowell, o artista Paul Robeson, o estrela de rock Lou Reed, as atrizes de Holliwood Frances Farmer (que posteriormente foi lobotomizada) e Gene Tierney, os pianistas Vladimir Horowitz e Oscar Levant, e o animador de TV americano Dick Cavett.

A Reação Contra o Eletrochoque como aconteceu com a psicocirurgia, a terapia por eletrochoque foi muitas vezes usada de forma polêmica. Em primeiro lugar, ocorreram muitos casos em que o eletrochoque era usado para subjugar e controlar pacientes em hospitais psiquiátricos. Pacientes problemáticos e rebeldes recebiam várias sessões de choque por dia, muitas vezes sem sedação ou imobilização muscular adequadas.

O historiador médico David Rothman afirmou em uma reunião de Consenso Clínico do NIH sobre terapia por eletrochoque em 1985:

“A terapia por eletrochoque se destaca de forma praticamente solitária entre todas as intervenções médicas e cirúrgicas, no sentido em que seu uso impróprio não tinha a meta de curar, mas sim o de controlar pacientes para o benefício da equipe hospitalar”

Na década dos 70, começaram a surgir importantes movimentos contra a psiquiatria institucionalizada, na Europa e particularmente nos EUA. Juntamente com a psicocirurgia, a terapia por eletrochoque foi denunciada pelos partidários dos direitos humanos, e o mais famoso libelo de todos foi um romance escrito em 1962 por Ken Casey, baseado em sua experiência pessoal em um hospital psiquiátrico no Oregon. Intitulado “One Flew Over the Cuckoo’s Nest”, o livro foi posteriormente roteirizado em um filme de grande sucesso, dirigido pelo tcheco Milos Forman, que recebeu no Brasil o título de “Um Estranho no Ninho “, com o ator Jack Nicholson. Uma exposição desfavorável na imprensa e na TV desembocaram em uma série de processos jurídicos por parte de pacientes envolvidos em abusos da terapia por eletrochoque.

Em meados de 1970, a terapia por eletrochoque estava derrotada como prática terapêutica. Em seu lugar, os psiquiatras passaram a fazer um uso cada vez maior de novas drogas poderosas, tais como a torazina e outros fármacos antidepressivos e antipsicóticos.

Renato M.E. Sabbatini , PhD é neurocientista e especialista em informática médica, com doutorado em neurofisiologia pela Universidade de São Paulo, Brasil, e cientista convidado do Instituto Max Planck de Psiquiatria, em Munique, Alemanha. Ele é o diretor do Núcleo de Informática Biomédica e professor livre-docente e coordenador da área de informática médica da Faculdade de Ciências Médicas, ambos na Universidade Estadual de Campinas, Brasil. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Copyright 1997 Universidade Estadual de Campinas

Renato M.E. Sabbatini, PhD

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/a-historia-da-terapia-por-choque-em-psiquiatria/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/a-historia-da-terapia-por-choque-em-psiquiatria/

Pi – Amor, Loucura e Formigas

Got to be a joker, He just do what he please

 

No início deste milênio – ou no final do milênio passado, depende se você é do tipo que conta ou mede o tempo – uma descoberta científica desconcertante, incrível, dessas que mudaram as bases daquilo que chamamos de realidade! Uma descoberta tão  SUPERFANTASTICABRITA que passou completamente desapercebida por você, por seus conhecidos, pelo fantástico e por mais de 99% da população do mundo (mais de 6.930.000.000 de pessoas se podemos acreditar na precisão dos informativos que vem impressos nas bandejas do Mac Donalds).

A descoberta foi realizada por Eamonn B. Mallon e Nigel R. Franks, do Centro de Matemática Biológica na inglaterra, e foi publicada no dia 22 de Abril no Proceedings of the Royal Society of London B.

Eamonn e Nigel estavam estudando um cordão da espécie Leptothorax albipennis e SIM!!! Este é um artigo sobre insetos que são mais fodas em matemática do que você – cordão é o coletivo de formigas.

Mas continue lendo.

As formigas Leptothorax albipennis habitam pequenas fendas nas rochas planas. Um cordão, ou colônia se preferir, consiste de uma única rainha, a sua ninhada, e de 50 a 100 trabalhadores. Quando um ninho é destruído, a colônia envia olheiros para avaliar possíveis novos locais de nidificação – puxa quantas palavras novas você está aprendendo hoje!

Se existem opções, há uma preferência por ninhos que possuam um determinado tamanho padrão – que está relacionado com o número de formigas da colônia. Isso só para começo de conversa já começa a ser meio assustador. Sabemos que animais tem certas “capacidades matemáticas” como contar e realizar operações, criar padrões fractais para optimizar caçadas, se utilizar de geometria para criar ninhos ou como forma de comunicação… mas calcular a área de uma toca?

Lembre-se que o ser humano padrão precisou perder o rabo, descer da árvore – não necessariamente nesta ordem – e desenvolver um super cérebro para poder começar a brincar de medir áreas. As formigas parecem ter achado que essa evolução toda era uma perda de tempo e resolveram usar aquilo que existe dentro de suas cabecinhas para fazer isso sem ter que esperar a invenção da calculadora para auxiliar.

Mas como elas fazem isso?

Mallon e Franks coletaram formigas de áreas próximas à costa de Dorset, na Inglaterra, e passou a criá-las em laboratório. Eles então transferiram as colionias para pratos de Petri quadrados grandes e ofereceram a elas várias opções de cavidades para formarem seus habitats; todas elas feitas a partir de pares de lâminas de microscópio com paredes de papelão preenchendo o espaço estreito entre o chão de vidro e teto de vidro.

“Usamos esses ninhos de lâmina de microscópio com cavidades de diferentes tamanhos, formas e configurações a fim de analisar as preferências”, afirmaram os desbravadores.

E o que eles perceberam?

Que experimentos que envolviam uma formigas marcadas individualmente mostraram que o olheiro – ou batedor se preferir um nome mais medieval – gastava em média 2 minutos correndo dentro de qualquer cavidade de forma aparentemente irrefletida e sem sentido. Outra coisa que perceberam é que o batedor acaba fazendo duas visitas a um local considerado aceitável para o futuro ninho, antes de recrutar seguidores.

E o que foi que eles notaram?

Que quando o batedor explora inicialmente um potencial ninho, ele cria uma trilha de ferormônio. Em sua segunda visita a sua corrida tresloucada na verdade serve para se criar uma pista diferente, uma que cruza várias vezes a trilha original.

Mallon e Franks então começaram a pensar que talvez o batedor consiga estimar a área do ninho em potencial detectando o número de intersecções entre o primeiro e o segundo conjunto de trilhas. A resposta se tornou clara!

As formigas não precisaram evoluir um cérebro para inventar calculadoras para medir áreas porque elas conseguem usar algoritmos para fazer isso. E você ai tentando se lembrar a diferença entre um algoritmo e um logaritmo! As formigas fariam isso de olhos fechado caso possuíssem pálpebras. Elas simplesmente sabem que uma área estimada, chamemos de A, de uma superfície plana é inversamente proporcional ao número de intersecções, chamemos de N, entre dois conjuntos de linhas, digamos que de comprimentos S e L, dispersos aleatoriamente na superfície. Ou para resumir, enquanto a maioria das pessoas tem dificuldade de calcular 20% de 35% de R$215,00 reais, formigas conseguem calcular A = 2SL/pN!

“Os resultados de nossos estudos, de que formigas individuais podem fazer avaliações precisas das áreas de nidificação com base em uma regra de ouro, mostram de uma forma única como animais usam algoritmos robustos para tomar decisões quantitativas bem embasadas”, concluiu a dupla. E vamos concluir, por enquanto, o assunto de formigas.

Como disse, essa descoberta passou desapercebida por provavelmente quase todo mundo. Afinal mais insetos ou animais fazendo coisas que envolvem matemática são chatos. Vamos voltar ao mundo real!

 

He say one and one and one is three, Got to be good looking, Cause he’s so hard to see

 

Todos sabemos – ou deveríamos saber – que a Bíblia é uma colcha de retalhos literários. Vários autores, que escreveram ou compilaram textos por séculos e que posteriormente foram unidos em um único pacote. Alguns livros sugerem seus autores, outros não; um exemplo é o Livro de Reis.

Tendo em vista todas as evidências à nossa disposição nos dias de hoje, o melhor que podemos fazer é atribuir este livro da Bíblia a um autor/compilador anônimo do século VI a.C. Não há como afirmar se ele era um profeta ou não, mas muito provavelmente o livro foi composto na Palestina entre a queda de Jerusalém (587/586 a.C.) e o decreto do rei Ciro da Pérsia, que permitiu que os hebreus retornassem à sua terra natal (539 a.C.). A data de 550 a.C. parece razoável para o registro Reis concluída.

O livro foi escrito para os judeus que tinham testemunhado a catástrofe de 587, e para os seus filhos, cuja fé estava oscilando. Ele tinha como objetivo instruir e incentivar, para extrair-lhes os atos de arrependimento por seus pecados passados e para renovar as suas esperanças para o futuro. Foi escrito, em suma, para responder às perguntas angustiantes levantadas pelos acontecimentos de 587.

Mas o interessante deste livro bíblico é uma passagem que pode ser encontrada hoje em 1Reis 7:23:

“Hirão fez também o mar de bronze, que tinha dez côvados de uma borda à outra, perfeitamente redondo, e com altura de cinco côvados; sua circunferência media-se com um fio de trinta côvados.”

Este mesmo versículo aparece também em outros cantos da Bíblia, como em IICrônicas 4:2, onde indica uma série de especificações para o Grande Templo de Salomão. E por que essa passagem é tão interessante?

O texto afirma que foi construído algo que era um “círculo perfeito”. De uma borda à outra 10 unidades de media. Logo o raio tinha 5 unidades. A circunferência tinha 30 medidas. Isso nos mostra que um texto datado de 550 a.C. colocava a razão entre a circunferência e o raio de um círculo perfeito em 3. Ou para ser mais claro, a Circunferência deste círculo perfeito é igual a duas vezes o Raio, vezes 3. C=2.R.3.

Lembra-se da época da escola? Provavelmente você fazia o mesmo cálculo usando símbolos mais complicados como C=2πR. Essa letra grega ai no meio é o PI. Compare as duas expressões, a sua e a da Bíblia, e você vê que para os judeus antigos π=3.

É muito fácil perceber este erro hoje, se é que alguém pára para pensar nisto, mas na época do Antigo Testamento era normal, e tudo culpa das bolas – ou círculos, se preferir.

Ninguém sabe ao certo o que fez com que as pessoas desejassem medir as coisas. Curiosidade, inveja, exibicionismo. . . mas o certo é que tão logo que foi percebido que se poderiam ser cobrados impostos de outras pessoas, simplesmente por possuírem um pedaço de terra, a arte de se medir foi elevada a novos patamares, nasciam os primeiros geômetras profissionais. Logo perceberam que se medir quadrados, retângulos, paralelogramas, triângulos era brincadeira de criança, mas quando surgiam curvas a coisa complicava. O que fazer?

Bem talvez pegando um círculo, que parece à primeira vista como a forma mais simples de curva, pudéssemos tirar algum segredo dai. Um círculo é composto de algumas partes básicas: um centro, um raio, um diâmetro, uma circunferência e uma área. O centro é o centro. O raio é a distância do centro até a borda do círculo. O diâmetro é a largura do círculo (que calha de ser igual a duas vezes o raio). A circunferência é a medida da borda e a área a parte de dentro. Como essas partes estariam relacionadas uma à outra? A relação raio diâmetro era bem simples. A área do círculo estava relacionada à circunferência. Qual a relação do raio (ou do diâmetro) com a circunferência?

Uma pergunta simples, uma pergunta cuja resposta chegou a beirar e ultrapassar a loucura ao longo da história.

Como descobriram o Pi? De onde ele vem? Bem, deixando gênios de lado, suponha que nosso antepassado primitivo tivesse a curiosidade de pegar um barbante, amarrar em um prego, fincar o prego no chão ou em uma tábua e com um giz preso na outra extremidade desenhar um círculo pode ter chegado a uma descoberta interessante: se depois de traçar o círculo soltasse o barbante – que teria o tamanho do raio do círculo – e começasse a colocá-lo sobre a linha traçada, marcasse onde ele chegava e colocasse de novo na continuação e de novo e de novo, com 6 operações dessas o barbante daria a volta completa! Voilá! Se você multiplicasse o raio por 6, teria a circunferência da figura! Ou então se multiplicasse o diâmetro por 3! Trabalho resolvido. Existe uma lei da natureza que afirmava que a circunferência de um círculo era igual a duas vezes o raio do círculo vezes 3. Mas o que era esse 3? O que importa! A conta dá certo.

Isso, é claro, se você não precisar ser MUITO preciso.

Isso explica a passagem Bíblica do livro dos reis. Se você usasse algum método de medição mais “físico” como cordas para se medir as coisas, chegaria numa aproximação muito boa. Para se ter uma idéia, nos século XII a.C. – quase 700 anos antes de escreverem o Livro de Reis – os chineses também arredondavam Pi para 3.

Mas de novo, o que é Pi? Por que alguém desejaria saber o valor de Pi?

Voltemos ao imposto de renda. Suponha que você comprou um terreno perto do mar e construiu um farol. O coletor de impostos precisava cobrar de você o espaço de terra que você estava usando. Como ele iria fazer isso? Para descobrir a área do circulo ocupado por sua construção ele precisaria conhecer a circunferência do seu farol. Ou suponha que você construísse carroças, e descobrisse que ao se colocar uma tira de metal ao redor das rodas de madeira, elas durariam muito mais. Ou que você construísse barris. Ou faróis, piscinas ou qualquer coisa redonda que não fossem buracos. Você teria que trabalhar com a borda, saber quanto de metal usaria nas rodas, ou nos aros para segurar os barris, ou em pedras para a borda da piscina. Lembre-se, eles eram nossos antepassados, mas também tinham orçamentos. Assim a forma mais rápida de se calcular o quanto teria a circunferência era multiplicar o diâmetro do círculo por 3. Esse número não tinha um nome, era uma medida prática de se trabalhar com círculos.

O problema começava a surgir quando você resolvesse pegar papel e lápis, porque ai notava que esse “3” não era exatamente exato. Se você precisasse ser extremamente preciso notaria que a tira de metal, que você encomendou baseada nas medidas que seu estagiário calculou, não se enrolava com perfeição ao redor da roda da carroça. Faltava um pouco de metal para ela se fechar perfeitamente. Ficava um pedacinho, bem pequeno, sem metal. Mas tudo bem, isso não afetaria o funcionamento da roda. Quem se importaria com essa diferença mínima?

Bem. Os babilônios se importavam. Os egípcios se importavam. Os babilônios conseguiram com seus cálculos descobrir que a razão entre a circunferência e o diâmetro do círculo não era de exatamente 3, e sim de 3.125. Os Egipcios – muito mais exagerados – usavam uma razão de 3.1605. E isso lá pelos idos de 2000 a.C.

No caso egípcio, encontramos uma menção a este número no Papiro de Ahmes – ou Rhind – mostrado como uma fração: 4x(8/9)^2, que se encontra no Papiro de Ahmes ou Rhind, gravado no segundo século a.C.. É este valor que se obtém experimentalmente, medindo a circunferência de latas, pratos e cestas e dividindo-a pelos diâmetros respectivos.

Já, para os Babilônios, o valor 3+(1/8) é encontrado em uma das Placas de Susa, o único exemplo conhecido nessas épocas do que parece ser uma familiaridade com um processo geral que, em princípio, permite determinações tão exatas quanto se queira.

Inclusive, depois de anos medindo e desmedindo as pirâmides do Egito, John Taylor propôs a idéia, em 1859, de que a grande pirâmide não era apenas uma construção sinistra e gigante no meio do deserto. Ao se dividir o perímetro da Grande Pirâmide de Khufu pela sua altura, o resultado se aproximava muito de 2.Pi – e ao comparar isso com o fato de que ao se dividir a circunferência de um circulo por seu Raio obtemos 2.Pi, declarou que talvez a Grande pirâmide tenha sido erguida como uma representação da “esfericidade” da Terra.

Legiões de escravos construindo por anos um Pi gigante, holográfico, feito de pedras que pesavam toneladas, no meio do deserto. Eis um baita sonho erótico para muitos matemáticos.

Mas foi quando gregos começaram a se importar com este número que a merda bateu no ventilador.

 

 

He say I know you, you know me, One thing I can tell you is, You got to be free

 

Os gregos antigos eram pessoas interessantes. Punheteiros de primeira linha. Eles não contentavam em se preocupar em porque se você gira um compasso cria um círculo. Eles queriam saber se o círculo era democrata, qual o prato favorito do círculo e que tipo de música ele gostava de escutar. Eles não se satisfaziam com aproximações toscas, eles queriam saber exatamente. Eles levaram a matemática de uma ferramenta prática de comércio e arquitetura para a ciência angustiante, massante, enfastiante e increvelmente maravilhosa.

Entre Arquimedes de Siracusa, no século III a.C.. Arquimedes era famoso por correr pelado pelas ruas gritando palavras gregas e em dizer que sua vara era capaz de abalar a Terra. Arquimedes era tão foda que ele era matemático, físico, engenheiro antes de inventarem números. E ele resolveu estudar esse número, razão entre a circunferência – ou perímetro – e o diâmetro de um circulo. Arquimedes mergulhou de cabeça no problema com expedientes novos, muito mais profundos. Ele se propôs descobrir um processo para a determinação deste número com a precisão que se desejasse.

Se utilizando de polígonos que tocavam um determinado círculo, respectivamente do lado de dentro e de fora, ele calculava a área dos polígonos, que podia ser calculada com exatidão, resultando em um limite superior e outro inferior para a circunferência procurada, pois o polígono externo parece ter uma área maior que o círculo, e o interno, um menor.

Quanto mais ângulos nos polígonos, mais próximo do círculo se chegaria. Arquimedes chegou ao polígono de 96 lados, através do qual obteve a seguinte aproximação:

3.1410 < p < 3.1428

Uma aproximação muito boa. Mas que infelizmente trouxe um terrível efeito colateral. Hoje quando ouvimos falar de caixa de Pandora, imaginamos que se trata de uma simples lenda, ou uma metáfora. Estudando a história de Pi eu acredito em segredo que a origem desta tragédia foi a matemática, e o círculo.

Assim que começaram a comparar polígonos com círculos os gregos libertaram no mundo uma maldição muito maior do que o simples cálculo da razão do perímetro do círculo.

Em algum momento um daqueles gregos pensou: se eu tenho um quadrado, consigo medir a área dele. Sabendo como traçar círculos com a área que eu quiser, usando o número mágico, quanto tempo eu levo para traçar um círculo com a mesma área do quadrado? Claro que os gregos possuíam apenas réguas e compassos para fazer isso. Antes de continuar lendo, pense a respeito deste problema. Você acha que consegue pensar em uma solução?

Tantas pessoas foram contaminadas por esta idéia que em 1755  a “Real Academia de Ciências de Paris” decidiu não aceitar mais nenhuma proposta para a solução. Este problema ficou conhecido como a quadratura do círculo, e as pessoas que se envolviam com ele acabavam desenvolvendo Morbus cyclometricus – a doença da quadratura. Essa doença chegou a contaminar desde ilustres desconhecido a figuras famosas como o cardeal Nicolau de Cusa e o filósofo Thomas Hobbes; Hobbes até se mostrou disposto a ignorar as mais crassas contradições de sua proposta na sede de chegar à resposta a tantos séculos esperada, chegando a afirmar que ele estava correto e o Teorema de Pitágoras errado.

Hoje sabemos que a quadratura do círculo não poder ser calculada é culpa de Pi. O número é irracional, portanto, não permite ser expresso pela divisão (fração) de dois números inteiros. Além disso, ele é transcendente, ou seja, não é raiz de nenhum polinômio com coeficientes fracionários cujo resultado seria π. Mas apenas em 1822 isso foi provado, por Ferdinand von Lindemann.

Mas o problema com o Pi, que oficialmente ganhou a nomenclatura de π apenas em 1706 do matemático William Jones, é que ele não se contenta em assombrar apenas círculos. Ele parece estar infiltrado em todas as áreas da nossa vida, nos espreitando e nos assombrando.

No início do século XVIII Georges Louis Leclerc, conhecido pelas mulheres da região como Conde de Buffon, foi uma das vítimas colaterais de π. Aparentemente quando criança, a mãe dele não lhe alertou sobre as crianças famintas da África, então ele desenvolveu um gosto por brincar com comida. Numa bela tarde ele estava sentado em uma cadeira brincando de jogar pães por cima do ombro para trás. O chão era feito de tábuas de madeira e quando se virou ele viu que alguns dos pães estavam em cima das linhas entre as tábuas e outros não. O problema é que além de Conde, Leclerc era matemático, e não tardou a perceber que sua brincadeira representava um problema de probabilidade geométrica, que pode ser traduzido da seguinte maneira:

Dado um objeto mais largo do que alto de largura 4cm – digamos que uma agulha -, quando jogado ao acaso num assoalho feito de tábuas de 4 cm de largura, qual a probabilidade de que a agulha caia atravessando uma das junções?

 

Bem, vamos considerar que X é a distância entre o centro da agulha e a junção mais próxima. Não é difícil constatar que nesse caso que X pertence ao intervalo [0, 2].

θ como o menor ângulo entre a agulha e uma reta perpendicular as junções.

Então, nesse caso θ pertence ao intervalo fechado…

Bem, resumindo a parte chata (caso queiram esclarecimentos da parte chata nos mande um e-mail), temos que a resposta é igual a 2/Pi. Quanto mais agulhas você atirar, mais perto de 2/Pi você chega. Em 1901 outro matemático, desta vez italiano, Mario Lazzarini, afirmou ter atirado uma agulha mais de 3400 vezes e obteve um valor de π igual a 355/113 – ou  3.1415929, que se afasta do valor real em menos de 0.0000003. Claro que quando paramos para pensar em como ele conseguiu atirar uma agulha mais de 3400 vezes de forma realmente aleatória, começamos a nos lembrar de comentários de outros matemáticos de como Mario trapaceou um pouco em seu experimento.

O escrutínio que teve início com os gregos, resultou em cálculos hoje que determinam π até a 8.000.000.000.000.000 casa decimal. Para se ter idéia do que isso significa em 2006, o japonês Akira Haraguchi, enumerou meras 100.000 casas decimais de π, exercício para o qual gastou 16 horas.

Hold you in his armchair, You can feel his disease

Agora, se acreditam que estou sendo exagerado, ou mesmo sensacionalista a respeito do π, me respondam: Se podemos calcular a circunferência de um círculo do tamanho do universo conhecido, com um grau de precisão que deixaria margem de erro do tamanho de um próton, precisamos de π até a 39a casa decimal, por que calcular a 8.000.000.000.000.000a casa decimal e além? Isso toma tempo e dinheiro dos contribuintes. Por que essa fixação?
π faz parte da identidade de Euler, reconhecida por muitos como a identidade mais bela da matemática.
e vendo esta foto eu concordo com a afirmação.
De acordo com o oficial florestal Mohd. Thayyab, da divisão florestal em A.P., Índia, afirmou que para se medir a altura de um elefante, do pé ao ombro, basta multiplicar o diâmetro do pé do paquiderme por 2π.
Os satanistas adoram quando afirmamos que se somarmos os primeiros 144 dígitos de π, o resultado é 666.

Mas afora isso, por que a fascinação?

Carl Sagan eu seu livro Contato trabalha coma idéia de que encontrarem π a assinatura de Deus. π é uma sequência de números infinita e irracional – uma bela definiçao de Deus, eu diria – e dentro dela estaria escondida tal assinatura.

Peter Boghossian e Richard Dankins discutiram certa vez o que poderia ser uma evidência da existência de Deus e obviamente em determinado ponto Contato entrou na discussão. Em um mail enviado para Peter eu disse que essa seria uma evidência pobre, já que os números de π são aleatórios, poderíamos, com muita paciência, encontrar qualquer padrão dentro dele, existe um site inclusive que localiza seu aniversário dentro de π. Surpreendentemente Peter respondeu o mail com uma questão:

“mas e se esta assinatura dentro de π aparecesse apenas uma vez, sem nunca se repetir?”Isso seria uma evidência?”

π é infinito. E aleatório. Isso esbarra em um problema de nossa mente: contemplar o que é infinito. Por um lado imaginamos que o infinito é algo tão grande que não pode sequer ser pensado. Mas isso não é sempre verdade, Cantor nos mostrou que existem infinitos de diferentes tamanhos.

Pegue uma régua. Ande com o dedo para 1 cm. Ande então metade do caminho, para 1,5cm. Ande novamente metade desta segunda distância – 0.5cm – distância na régua. E novamente metade desta metade. Continue adicionando essas metades infinitamente. Você logo percebe que esta é uma soma infinita, mas você nunca vai chegar no fim da régua. Na verdade você não chega a 3cm. Um infinito menor do que a tampa de uma caneta Bic, que você consegue segurar em sua mão.

Agora de fato, e se dentro de uma série aleatória e infinita surgisse apenas uma sequência uma vez? Pensei comigo mesmo, isso poderia ser feito. Neial Gaiman certa vez disse que todo livro tem um final feliz, basta você saber quando parar de ler. Assim uma sequência única poderia ser encontrada dependendo de quando você decidisse que ela começa e termina, seria uma trapaça.

Como buscar tal assinatura então sem trapaças? Se você está em um navio e ele está afundando, você não enviaria apenas um S.O.S. pelo rádio, no meio da estática eletromagnética da atmosfera apenas um S.O.S. se perderia. Você mandaria vário, a espaços regulares. Eu imagino que qualquer mensagem codificada dentro de π seria como uma sinal, ou uma série de números que se repetiriam sem parar. Um farol piscando na escuridão nos guiando.

Bem… um matemático amador, Hagar Dronbecker , descobriu que Pi se repete no nível hiper- milésimo. A idéia veio a ele enquanto estava comendo um sanduíche de tomate. Aparentemente , o padrão de meta- fractal da listra verde e vermelha dos tomates o levou a inferir que Pi poderia de fato se repetir no nível hiper-milésimo, graças ao fato de que Pi não poderia ser mais aleatório do que quase-repetição da curva de escaleno dos tomates.

Mais especificamente, o ponto de repetição em Pi ocorre quando ele começa a se mover em um conjunto controverso de números que os matemáticos chamam de “números NLNcHT” –  New Large Numbers Considered to be in the Hyper-Thousands ou Novos Grandes Números considerados em hiper-Milhares. A seqüência de repetição encontrada por ele é constituída pelos seguintes números: ” 949700010007949 “. Agora repare a beleza disso, uma assinatura que se repete e não apenas aleatória, mas um palíndromo numérico dentro de π. Um olho que brilha como uma maçã dourada que pode ser lida em ambos os sentidos…

Não seria interessante que houvesse mesmo uma assinatura embutida dentro de um círculo que nos avisasse que o criador nos espera em algum ponto da existência?

Não seria ainda mais interessante se essa assinatura fosse a responsável, de certa forma, por nossa evolução mental?

Até hoje não existe uma explicação racional de porque nossos cérebros se desenvolveram tanto. Em algum momento da história um catalizador fez com que parássemos de lamber nossas bolas e assássemos a medía-las, e medindo-as encontramos π, nos esperando.

Hanne Tügel já me disse certa vez que “dito de modo crasso, pi significa a colisão entre a inteligência humana e a Matemática”. Mas e se ele fosse mais? E se π estivesse já dentro dos seres mais simples, se fizesse parte da vida e de alguma forma estivesse esperando que alguma mente o questionasse para que ele respondesse, fazendo-a evoluir conforme ouvisse sua resposta?

Claro que esta é uma suposição tola. Afinal como afirmar que π está presente nas formas mais simples de vida esperando ser descoberto? Para afirmar isso eu teria que ter evidência que animais com cérebros estupidamente mais simples do que nós poderiam ter a mesma facilidade que temos para trabalhar com π nos níveis mais básicos da vida certo?

 

Come together, right now, Over me

O que dizer então das formigas, do início deste artigo, calculando o tamanho de seus ninhos. Desde sempre elas utilizam o algoritmo, sem perceber. É instintivo, elas o fazem sem notar a matemática que existe por trás de suas corridas.
Quando tempo demoraria para que elas notassem que o algoritmo que usam é belo, elegante, e uma forma de calcular π?
Eu não sei afirmar isso tendo como base a mente de uma formiga, mas nós humanos precisamos evoluir muito para só no século XVIII de nossa era conseguirmos isso. O experimento da agulha de Buffon, que calcula π como efeito colateral, se baseia no mesmo algoritmo das formigas. O que elas fazem desde que são formigas só se manifestou de forma consciente em nossa mente alguns séculos atrás. E nós tivemos que evoluir muito para perceber isso…
Que tal o número 949700010007949 agora? Cada vez que você o lê, percebe algum brilho diferente dentro de sua mente?

por LöN Plo

Postagem original feita no https://mortesubita.net/mindfuckmatica/pi-amor-loucura-e-formigas/

Enochiano: bases, estruturas, conceitos e fontes.

Em meio a todo o movimento hermético e suas ramificações, iniciadas pela metade do século XV, podemos notar uma série de similaridades, que podem muito contribuir em nossa apreciação do posterior trabalho de John Dee.
Marsilio Ficino, por exemplo, foi o primeiro a dar impulso a este movimento, pois procurou polarizar o platonismo com o cristianismo, e em seus esforços procurou demonstrar que haveria uma sólida e consistente tradição, vinda desde Hermes Trimegistus até Platão, tendo passado por zoroastristas, órficos e pitagóricos afirmando a necessidade do homem de atingir a autoconsciência de sua própria imortalidade e divindade, através iluminação através de uma iluminação racional (ratio), intelectual (mens) e imaginativa (spiritus e fantasia), e procurando determinar via esta polarização, que todas as coisas existem no deus afirmado na bíblia, ou emanam do deus ali citado.
Já Giovanni Pico della Mirandola, que foi discípulo de Ficino, resolveu estudar a cabala e a torah e combiná-las a filosofia, e dentre outros detalhes afirmava que o deus citado na bíblia, torah, corão e talmud criou o homem para apreciar sua obra, sendo que Mirandola afirma que o homem ascende ao status angélico, sempre que folosofa e cai no estágios de vegetal e animal, quando falha em usar sua filosofia.
Giordano Bruno que nasceu em 1548 e.v., ou seja 50 anos após a morte de Ficino, desenvolveu conceitos bem peculiares, e foi perseguido ao extremo por conta dos mesmos.
Na teoria de Bruno, o Universo é infinito, povoado por incontáveis sistemas solares, e por vezes povoados por vida inteligente, sendo que deus citado no monoteísmo, seria em sua concepção a alma universal do mundo, da qual todas as coisas materiais são manifestações que teríam justamente nascido deste principio infinito.
Estes movimentos tem todos em comum o fato de terem nascido sob o período humano chamado de Renascimento, e serem imbuídos em muito dos conceitos dos filósofos antigos, mas que principalmente continham muito de Plotino – considerado o pai do neo-platonismo – como sua mola propulsora.
Mas haviam outras coisas movendo-se sob o pano de fundo da sociedade daquela época.
Um sentimento imenso de desconforto com o fato de que, em todos os textos observados e estudados, sempre pairava a sombra da impotência perante o povo eleito, conforme citações dos livros que afirmam o dógma monoteísta. Pois não importando o esforço feito em busca do entendimento e desenvolvimento do conhecimento, dentro da temática apresentada por Bruno, Ficino, Mirandolla e outros que os seguiram, sempre aos olhos dos estudantes e mestres fica a idéia da superioridade do povo eleito, sobre os demais povos.
Isso produziu em muitos um sentimento que por vezes se reveza a vergonha com a ira, ou mesmo a inveja com o ciúme, pois para um seguidor dos preceitos do dógma, mesmo quando se tratava de um filósofo, este empecilho sempre se fazia presente. O que em suas próprias concepções era algo inadmissível, uma vez que em maioria esmagadora dos casos, os estudantes e mestres, eram todos eles de ascedência celtica ou setentrional.
E foi sob a óptica das bases acima relatadas que John Dee, que viveu entre 1527 até 1609 da vulgar era cristã, ergueu seu tratado sobre o Enochiano.
No entanto, antes mesmo de alicersarmos nossa atenção sobre as notas deixadas por Dee, voltemos a mesma para o Hermetismo e suas estruturas.
A base deste movimento está no textos que teríam sido atribuidos a Hermes Trimegistus, chamados de “Corpore Hermeticum”, que originalmente foram traduzidos para o grego por Miguel Psellus e Ulf Ospaksson, em Bizâncio, e que depois sofreram uma posterior tradução ao latim por parte de Marsilio Fisino, acima citado, sendo que muito provavelmente o texto que procede dos Sabeanos sofreu consideráveis alterações, quando passou pelas mãos de seus tradutores, sobre tudo pelas mãos de Fisino.
Sabe-se que o “Corpore Hermeticum” é um texto de características similares aquelas encontradas por exemplo entre os trabalhos dos essênios e seus antecessores, os judeus hassídicos.
Os essênios professaram culto a mítica figura de Hermes Trimegistus, por eles identificado com Enoche, sendo que o texto apócrifo que cita o contato dos anjos com as mulheres humanas, que acaba gerando os Néphelins, é creditado a figura de Enoche.
Somado a isto, devemos notar um dado interessante eu somente vem somar informações a nossos objetivos.
Houve outro povo que adotou os costumes dos essênios, cuja cidade foi originalmente usada como um posto avançado da cidade suméria de Uruk, sendo portadores dos costumes astronômicos, religiosos e simbólicos naturais dos Sumérios e Babilônicos.
Este povo era o dos harranitas ou sabeanos, também conhecidos como sabinos, como depois foram conhecidos na região atualmente chamada de Iraque.
Sua cidade, Harran, situada no norte da Mesopotâmia, foi conquistada
pelos árabes entre 633 e.v. e 643 e.v., mas apesar de convertidos ao islã, os
harranitas mantiveram suas práticas pagãs, adorando a Lua e os sete planetas
então conhecidos. Tidos como neo-platônicos, escolheram, por imposição, da
religião dominante, a figura de Hermes Trimegistus para representá-los como
profeta. Um grupo de harranitas mudou-se para Bágdá, onde mantiveram uma
comunidade distinta denominada sabinos.
Devemos notar que a isto soma-se o fato de que ali já viviam os Curdos, que em sua origem eram Yezidis, e que ofereceram forte resistência aos árabes em toda a sua história, fato este que foi tomado como estratégico para os harranitas se estabelecerem na região de Bagda – e como sabemos os Yezidis contém elementos gnósticos e mitraicos em seu culto.
Tanto Harran como a comunidade dos sabeanos em Bagdá, eram constituídas de pessoas instruídas, que dominavam o grego e tinham grande conhecimento e literatura, filosofia, lógica, astronomia, matemática, medicina, além de ciências secretas relativas a culturas dos árabes e dos gregos. Os sabinos mantiveram sua semi-independência até o século XI, quando provavelmente foram aniquilados pelas forças ortodoxas islâmicas, pois não se ouve mais falar deles à partir do ano 1000 da era vulgar.
Por volta de 1041 da era vulgar, Miguel Psellus recebeu em Bizâncio uma grande quantidade de documentos dos Sabeanos e bem como de Harran, possivelmente levados para Bizâncio por parte de caravanas de mercadores, que sabiam da imensa biblioteca que havia na cidade.
Dentre os textos harranitas que para lá foram levados, havia o “…Corpore Hermeticum…”, que é a base para o conhecimento chamado de hermético nos tempos atuais.
John Dee que foi várias vezes acusado de bruxaria, entre tantas outras formas de perseguição, veio a estreitar laços de amizade com a então princesa Elisabeth, que viria a ser Elisabeth I, a primeira rainha protestante da Inglaterra, e depois tornou-se seu conselheiro, astrólogo particular, e trabalhou como um espião para o Império Britânico, durante a guerra anglo-espanhola – termo aliás que é de sua autoria.
Foi astrônomo, astrólogo, diplomata e em particular era especialista em línguas, e sua ascendência era galesa.
Nacionalista extremado, Dee procurou em toda a sua vida servir ao seu país, e devotar seu tempo livre ao estudo do que a seu ver, seria considerada a ciência sagrada e suprema, sendo que a parte final de sua vida foi designada exclusivamente para este último.
Neste contexto, entregou-se ao estudo do hermetismo e foi grandemente influenciado pelo seu sentimento de nacionalismo em seu trabalho.
Um caso que não é único, se observarmos que pouco tempo após a morte de Dee, os presbiterianos ligados a maçonaria, vieram a promulgar o Confessio Fraternitatis – publicado na cidade alemã de Kassel em 1615 e.v. – e os outros dois documentos que são a base do Rosacrucianismo, e procuraram refúgio contra igreja, em meio ao solo Boêmio.
Na verdade, a Inquisição foi uma mola propulsora para muitos descontentes procurarem refúgio em meio a protestantes, e em meio a estes fomentarem filosofias que embora atreladas ao dogma cristão, se opusessem em alguma medida ao vaticano.
John Dee, como foi citado acima, era Gales o que por si só nos leva a apontamentos diferentes do que pretendem a maioria.
Este povo permaneceu usando o idioma nativo, o galês, e permaneceu céltico jamais sendo invadido pelos anglo-saxões, devido a belicosidade de si e bem como da natureza montanhosa daquela região.
O nome da região provém do termo germânico Wales, que significa “estrangeiro”, ligando a região e o povo dali, a uma grande quantidade de contatos com migrações setentrionais vinculadas a célticas, que por ali tenham passado.
Este termo contém em si mesmo uma série de chaves para compreensão das bases do conhecimento, e da tradição antiga.
Fixemos nossa atenção para começarmos a entender este dado na sociedade celta.
A base da sociedade celta é a família no sentido extenso da palavra, comparável ao que foi observado nas cidades gregas e romanas. Essa família se chama “fine” entre os antigos gaélicos, e se observará que dito nome procede da mesma raiz que “Gwynedd”, nome do noroeste do País de Gales, e da palavra “veneti”, nome do povo gaulês que habitava o país de Vannes, Gwened em bretão.
Veneti ou Venedotia, é também como se conhece o termo para a Britânica Veneti, que é um nome tribal pelo qual os povos Belgas da costa do Atlântico foram conhecidos e citados até mesmo por Cesar, em seu intenso contato com as Ilhas Britânicas.
Seus ancestrais vieram dos Alpes à Norte, do Lago Venetico parte dos Bodensee, e da Bavária, potencialmente também dos Thuringios – que são a fonte dos mitos modernos sobre os Anões “…dwarfs…”, que são chamados de “…Walen…”.
Também há a sequência etimológica: Wealas que resulta em “…Welshmen…”, ou “Venezianer/Venediger/Veneder” na Suiça, Austria, Bavaria e Thuringia.
Os Illyrianos conheciam o nome também, possivelmente eles trouxeram-no como “…Veneti…”, que ocorre no Norte da Itália na região de Veneza.
Estes Vannen, de características célticas e vinculados ao Gwennwed, são a fonte regional para os Deuses Vanes da tradição Nórdica, os chamados Deuses da Terra.
Como sabemos, a presença dos germânicos e dos celtas implica em uma relação de inimizade respeitada, na qual a proximidade das culturas nunca superou a belicosidade de uma para com a outra, mesmo sendo esta proximidade vívida em meio as similaridades de sua cultura e religião, como é o caso da semelhança dos deuses Vanires dos Nórdicos, com os Sdhee dos Celtas, e bem como o uso do Oghimius, originado do contato com o Elder Futhark nórdico, por parte dos celtas, que ancestralmente já usavam o oghame para si.
Estes elementos somados aos dados acima citados, todos eles fortemente solidificados na natureza tanto inventiva quanto reticente de John Dee, formaram a base para que no devido tempo em sua vida, viesse a ganhar corpo aquilo que foi conhecido como “Sistema Angélico” ou “Sistema Enochiano.
O ardente desejo de reconhecimento por parte dos esforços intelectuais, para dar sentido ao sem sentido, que foi presente marca dentro do renascimento, e que foi freqüente meio usado pelos pensadores de então, para buscar uma solução filosófica para lidar com o dogma presente na bíblia, talmud e por vezes no corão, levaram ao aparecimento e desenvolvimento do hermetismo, mas também resultaram em um beco sem saída para estas mesmas mentes ardorosas.
Pois se é fato que seus esforços acabaram por levar em consideração os povos taxados de inferioridade pelo dogma, como é o caso dos helênicos, fonte da filosofia usada por Mirandola, Marcílio Fisino e outros. E que estes mesmos esforços somente foram possíveis, graças àqueles que fazem parte de povos que jamais guardaram qualquer contato com os povos descritos nos livros do monoteísmo, e mais, que foram terminantemente taxados de inferiores por estes mesmos livros, tamanha a quantidade de bruxos e bruxas que foram parar nas fogueiras, e em uma imensa maioria dos casos, por apresentarem Inteligência se contrapondo ao Fanatismo.

Como seria possível a qualquer ser munido dos princípios da filosofia supor a si inferior, por usar-se do que é chave para dar sentido ao dogma, por mais tortuoso e inconsistente que este o seja?

A questão acima torna-se ainda mais inquietante, quando levamos em consideração a natural perseguição contra discordantes, assim como contra concorrentes diretos, que foi muito utilizada pela igreja católica, e que foi assim absorvida e mantida pelos movimentos presbiterianos, protestantes e neo-pentecostais que se seguiram.
Notemos que Lutero foi responsável direto pela morte de 100.000 pagãos somente em solo alemão, e que ele mesmo atacou publicamente e estimulou a perseguição contra judeus, como podemos observar em “Von den Juden und ihren Lügen” – Sobre os judeus e suas mentiras, escrito em 1543, quando Lutero tinha 60 anos, ou “Vom Schem Hamphoras und vom Geschlecht Christi” – Sobre o schem Hamphoras e sobre o sexo de Cristo – de 1544.
Este ponto de vista de perseguição contra as correntes concorrentes e contra os opositores, este sempre presente em todas formas de monoteísmo, e ocorre entre elas umas com as outras – fervorosamente – e entre elas e religiões e formas de pensamento que sejam divergentes.
No caso do protestantismo que foi absorvido pelos ingleses, esta forma de sectarismo enraizou-se severamente, na mente das pessoas que formaram aquilo que pouco depois veio a ser chamado de Império Britânico por John Dee.
Desta forma o germe da discórdia do maior de todos os pontos considerados lugar comum, por parte de hermetistas e ocultistas mesmo nos tempos modernos, foi lançado no fértil solo da mente de John Dee.
O Sistema Enochiano, estava em gestação na mente de Dee já haviam muitos anos, houveram picos do que viria a ocorrer depois durante sua vida em várias ocasiões, sendo que talvez o maior destes tenha sido aquele que ocorreu em 1564 da era vulgar, quando desenvolveu um muito conhecido e importante trabalho seu chamado “Mônada Hieroglífica”, por volta dos tempos em que serviu como um conselheiro às viagens de descoberta da Inglaterra, fornecendo auxílio técnico na navegação e o no apoio ideológico à criação de sua maior ideal de devoção o nascente Império Britânico.
Quando Dee em meados de 1582 da era vulgar, veio a desenvolver este sistema de magia, com base no que foi acima exposto podemos tranquilamente dizer que estava imbuído do máximo de seus ideais de nacionalismo, combinados aos seus pontos de vista descontentes com o tratamento deferido a seu povo, a seu ver o mais elevado, por parte tanto do dógma religioso oficial, quanto das bases do hermetismo em si.
Desta forma, torna-se tanto interessante quanto mais fácil de entender, todos os apelos “angélicos” existentes no enochiano, contra o Goétia!
Estes apelos são muito similares a outro texto vinculado ao hermetismo, que muitas pessoas até o presente momento tem em alta conta, mesmo que seja mais um manual de sectarismo do que uma obra para desenvolvimento espiritual.
Trata-se do livro da “Magia Sagrada de Abramelin” do rabino Yaakov Moelin o qual viveu aproximadamente entre 1365 e 1427, da era vulgar.
Podemos citar a respeito deste texto, alguns dados que podem esclarecer estes fatos, uma vez que logo no início o praticante é incitado com as seguintes passagens:

“…Possa o único e santíssimo deus conceder a todos a graça necessário a serem aptos a compreender e penetrar os altos mistérios da cabala e da lei, mas devem se contentar com aquilo que o senhor lhes conferir…”!
“…Em Praga encontrei um homem malvado de nome Antonio, com vinte e cinco anos de idade, que efetivamente mostrou-me coiss maravilhosas esobrenaturais, mas preserve-nos deus de cair em tão grande erro, pois o infame asseverou-me ter feito pácto com o demônio, e a este se entregara de corpo e alma, enquanto Leviatã o ludibriador lhe prometere quarenta anos de vida para agir ao seu bel-prazer…”

Um pesquisador atento, ou um praticante cauteloso, saberão nos dias de hoje que o monoteísmo é tão somente uma invenção moderna perante tantas outras modalidades de tradições antigas, e foi galgado sobre os conhecimentos das mesmas, e bem como terá em mãos os meios de determinar a veracidade de quaisquer afirmações a respeito de páctos com demônios, que em verdade são uma renomada tolice em meios ocultistas menores, uma vez que demônio é tão somente um termo de origem grega que implica em espírito, e que Leviatã é uma expressão tardia reaproveitada na tradição rabínica, cuja fonte se encontra na luta de Baal contra Lotan, e de Marduk contra Tiamat.
Se ocorrer por parte do pesquisador ou do praticante, a idéia de voltar sua atenção para dados históricos, verá que a mais antiga citação sobre “…Daemoniun…” reside no demônio socrático ou platônico, que é um gênio inventivo ligado a genialidade humana e seu desenvolvimento, tal e qual o moderno conceito de Santo Anjo Guardião dentro do ocultismo mais esclarecido, que lida com o mesmo em grande parte, na mesma medida com a qual tratamos de assuntos ligados a individuação como era vista por Jung.
Voltando então a John Dee, verifiquemos agora os meandros que residem em seus inscritos, para podermos nos instruir na melhor forma de lidar com os mesmos.
Iniciemos então os mesmos pelo parceiro de estudos e práticas de John Dee, Edward Kelly.
Edward Kelly, ou Edward Talbot, viveu entre os anos de 1555 a 1597 da era vulgar, e foi considerado como um charlatão ou mesmo criminoso pela maioria das pessoas de sua época.
Em meados de 1582 e.v., entrou em contato com John Dee que por volta desta época já estava descontente com os sistemas ritualísticos de seu tempo, pois desejava ardentemente tomar contato apenas com o conhecimento sagrado e mais elevado, desdenhando imediatamente tudo que pudesse estar correlacionado com baixa magia ou demonologia, por seu ponto de vista pessoal.
Dee já se utilizava de uma vidente, procurando respostas a suas questões, mas não estava produzindo bons resultados em seu empreendimento naquele período.
Ocorre que Kelly soube que Dee desejava encontrar um médium para seus experimentos, e bem como sabia da influência e das vantagens que Dee possuía perante a corte britânica, por conta de sua ligação pessoal com a Rainha Elisabeth I.
Havia também outros pretendentes ao cargo de auxiliar para o Doutor Dee, mas Kelly aproveitou-se de uma distração e fez com que uma pedra escura aparecesse em um local estratégico, no momento mais oportuno, levando então John Dee a acreditar que ele seria a escolha perfeita para desenvolver seus experimentos. Esta pedra veio a ser o cristal usado nos experimentos vinculados a “Pedra da Observação”, usada no Sistema Enochiano, que inclusive é fonte para tantos e tantos livros e filmes contendo “…Bolas de Cristal…”, que chegaram ao conhecimento de toda a sociedade, até os dias de hoje.
É dito que ele fingiu estar em transe sob influência do Anjo Michael, e desta forma ter influência Dee a pagar-lhe uma verdadeira fortuna mensal, que seria o devido pagamento pelo julgamento do anjo, para honrar os serviços de “tão nobre auxiliar”, e bem como se diz que Kelly chegou a conversar via um espelho, com os 72 anjos herméticos, vinculados a um texto chamado “Chave Maior de Salomão”, que aborda os quinários da astrologia, sob o ponto de vista rabínico e hermético menor.
A maioria das pessoas sempre se pergunta, perguntou mesmo perguntará como é possível que alguém tão esclarecido para tantos assuntos como John Dee, pôde ser enganado tanto e por tanto tempo, pelas artimanhas de Kelly.
Quanto a isso, temos o talento de Edward Kelly – também conhecido como Edward Talbot, quando falsificava documentos – com um verdadeiro mestre na arte de representar, e também que no decorrer do tempo ocorreram coisas durante o contato de Dee e de Kelly, que fizeram até mesmo com que Kelly o mais conhecido falsário de sua época, sucumbisse a arroubos de insanidade, no final de sua vida.
Durante as etapas que se desenrolaram, sob a mediunidade de Kelly começaram a transcorrer contatos com várias entidades diferentes, taxadas por Dee e Kelly no transcurso do nascimento do Enochiano como anjos, como foi o caso de “…Ave…”, que instruiu Dee através de Kelly em vários momentos e em várias seções de invocação.
Em dado momento, os anjos assustaram tanto Kelly, que ele instigou Dee a desistir, dizia que na verdade estavam tomando contato com demônios, pois o que propunham era algo absurdo em todos os sentidos, tanto para época quanto para o dogma que regia a vida de ambos, pois através de Kelly chegou a deixar uma suspeita de que deveriam os dois deitarem-se juntos – coisa que acabou se desenvolvendo na famosa troca de esposas entre Dee e Kelly – e no último contato propriamente dito, o “anjo” se apresentou e deixou bem claro a ambos que “…o conhecimento que estavam desfrutando destruiria completamente a sociedade humana…”!
Este último golpe foi demais para tanto para Kelly quanto para Dee, sendo que ambos definitivamente se separaram em 1588 e.v. .
John Dee morreu em 1609 da era vulgar, não estando mais nas graças da coroa, pois o Rei James não era favorável as práticas de Dee, como foi o caso da Rainha Elisabeth I.
Kelly, contudo, faleceu bem antes em 1597 e.v., tendo vivido uma opulenta vida sob a corte do Rei Rudolf II em Praga, prometendo-lhe por muitos anos que produziria “…Ouro Alquímico…”, que se gabava constantemente saber produzir.
Rudolf cansou-se de Kelly e atirou-o em uma masmorra até que este viesse a produzir o tal “…Ouro Alquímico…”, quando falhou pela segunda vez foi novamente preso, desta vez no Castelo de Hněvín, e é da opinião da maioria que a corda que usou para tentar fugir era muito curta, e ele quebrou uma perna ao cair da torre, morrendo em decorrência dos ferimentos.
Dentre os mais interessantes detalhes do Enochiano e dos contatos que Dee e Kelly tiveram por meio dele, podemos citar as severas advertência contra o uso do Goétia, que pela óptica dos supostos anjos “foi o motivo da queda da humanidade”.
Isso é inquietante, por muitos motivos, e o mais interessante deles é que o ponto de vista comum sobre os assim chamados demônios, apresenta aos mesmos como sendo portadores de doenças, desvios de comportamentos e depravações, que são os meios usuais pelos quais em teoria arrastariam a alma dos humanos para o inferno.
Isso se choca diretamente com as observações dos ditos “anjos enochianos” que apareceram para Dee e Kelly, pois ambos afirmaram categoricamente que “nada seria motivo de pecado” e os instigaram a deitarem-se unidos, coisa que é inadmissível pelo dogma bíblico, talmúdico, corânico e bem como rabínico.
Outra coisa que é inquietante no texto, e que nos faz muito especular, são as afirmações que de que as adorações jamais deveriam se voltar a “Iaseus Christus” e sim a deus único, dentro do ponto de vista dos seres que tomaram contato com Kelly e Dee. Pois sabemos que houveram cultos heréticos que foram perseguidos com violência pela igreja católica, que afirmavam justamente isto, como foi por exemplo o caso do arianismo pregado pelo padre ário, que foi absorvido como culto pelos Visigodos quando vieram a entrar em decadência e se converteram ao monoteísmo, mas que não aceitavam em nenhuma hipótese prestar culto a “cristo”. E justamente este fato em si, encaixa-se como uma luva com o sentimento de ultra-nacionalismo de John Dee, assim como outros motivos acima citados.
Agora observemos a natureza essencial do enochiano, na forma como Dee e Kelly o apresentaram e destrincharam, pois por meio disto poderemos entender muitas chaves e elementos que até hoje não foram combinados aos mesmos, e que os explicam em todos os sentidos.
Durante os contatos com os “seres enochianos”, foram destilados extensos relatórios que Dee minuciosamente copiava, acerca de tudo que Kelly proferia ao observar o cristal escuro escolhido para as práticas, que foi acima citado.
Dentro destes relatórios que geraram detalhados grimórios e documentos, foram organizadas Letras do Alfabeto Enochiano, Chaves de Invocação, Detalhes sobre as Regiões Celestes Enochianas ou Aethyrs, Seres e Séquitos ou Cortes Enochianas, e metodologia que em todos os sentidos estava vinculada aos detalhes mais conhecidos do Hermetismo.
Quanto as Chaves Enochianas, foram organizadas em número de 19, sendo que a última serve exclusivamente para abrir os Aethyrs Enochianos, e as duas primeiras servem, na temática usada dentro da Golden Dawn e Aurum Solens por exemplo, para convocar todos os Aetryrs – Segunda Chave Enochiana – e a primeira para invocar os quatro Reis Enochianos e seus respectivos séquitos.
Esta visão também é partilhada por thelemitas.
No entanto, estudos mais apurados também apontam para formas diferentes de agir quanto ao enochiano, como por exemplo demonstra Donald Tyson ao lembrar aos leitores de seus trabalhos sobre este tema, de que nunca os ditos “anjos” deram permissão de uso e invocação da maioria dos detalhes que eram passados para Dee e Kelly, e que o método de trabalho se faria especificamente de forma invocativa, e sem círculo mágico, na versão original que ambos receberam dos seres enochianos, e que Dee e Kelly jamais usaram por não lhes ter sido dada a permissão para tanto.
Ambos os métodos, o original e o de uso das organizações mágicas, funcionam e atendem aos objetivos dos que praticam via o método enochiano, e isto muitos dizem que se deve a força da fonética da língua e mesmo dos símbolos vinculados ao caracteres do enochiano, que desencadeiam uma cadência naturalmente gutural em sua entonação, sem mencionar a violência natural contida na leitura da tradução das Chaves Enochianas, como por exemplo é o caso da Décima Chave Enochiana:
“…Coraxo chis cormp od blans lucal aziazor paeb sobol ilonon chis OP virq eophan od raclir, maasi bagle caosgi, di ialpon dosig od basgim; Od oxex dazis siatris od saibrox, cinxir faboan. Unal chis const ds DAOX cocasg ol oanio yorb voh m gizyax, od math cocasg plosi molvi ds page ip, larag om dron matorb cocasb emna. L Patralx yolci matb, nomig monons olora gnay angelard. Ohio! Ohio! Ohio! Ohio! Ohio! Ohio! Noib Ohio! Casgon, bagle madrid i zir, od chiso drilpa. Niiso! Crip ip Nidali…”
“…Os Trovões do Juízo da Ira estão numerados e descansam no Norte, semelhantes a um carvalho cujos ramos são ninhos, 22, de lamentações e lágrimas, caídas sobre a Terra, que queimam noite e dia, e vomitam cabeças de escorpiões e enxofre ardente misturado com veneno. Estes são os Trovões que 5678 vezes na 24ª parte de um momento rugem com centenas de poderosos terremotos e milhares de vezes tantas ondas que não descansam, e não conhecem qualquer tempo de calmaria. Aqui uma pedra produz 1000, da mesma forma que o coração do homem produz seus pensamentos. Maldita, maldita, maldita, maldita, maldita, maldita! Sim, maldita seja a Terra, pois a iniqüidade é, foi e será grande. Ide! Mas não vossos ruídos!…”
No entanto, exatamente aqui começamos a usar de outros métodos de entendimento, que podemos afirmar com razoável chance de êxito, terem sido os mesmos de John Dee e Edward Kelly, para compor a tradição enochiana.
Sabemos que tanto Dee quanto Kelly se interessavam por estudos sobre Hermetismo e sobre o Sobrenatural, mais especificamente voltados para a natureza dogmática que habitava em ambos.
E sabemos que Dee em seus estudos sobre hermetismo, como por exemplo atesta seu texto “Mônada Hieroglífica”, conhecia bem os documentos que engendraram o hermetismo, bem como o pensamento dos que foram seus progenitores nos tempos na verdade muito próximos aos dele mesmo, sendo que Marsilio Fisino fez uma cópia e tradução do “Corpore Hermeticum” – apenas 100 anos antes de Dee começar a suas pesquisas com Hermetismo – e que Miguel Psellus já havia traduzido para o grego este texto com o auxílio de Ulf Ospaksson, meio milênio antes.
Sabendo então que Hermes Trimegistus é chamado de Enoche pelos essênios e pelos que adotaram muitos dos costumes dos essênios em suas peregrinações até Bagda – os Harranitas ou Sabeanos – sem mencionar a própria natureza ligada ao mitraísmo e gnosticismo dos Curdos e Yezidis sob os quais foram se proteger dos árabes.
E principalmente que foram estes mesmos harranitas ou sabeanos que escreveram o texto que Psellus e posteriormente Marsilio Fisino, viriam a traduzir e que tem por nome “…Corpore Hermeticum…”.
Começa a ficar muito claro qual foi o principal ponto de motivação de John Dee para nomear seu sistema como “Enochiano”, ou angélico – dado o já conhecido fato ligando os Nefelins com as mulheres humanas creditado a história de Enoche, em um apócrifo.
Mas devemos ir muito além disto, devemos penetrar na mente do Doutor Dee, e seguir seus pontos de motivação pessoal, sua indignação, seu nacionalismo extremado e bem como sua idiossincrasia arraigada em seu ser, e cuja origem se mostrou presente em seu trabalho.

Como sabemos Dee era de origem “Wale” ou Galês , ou seja estrangeiro, e que este povo foi o último a perder o seu sentido de identidade e de língua em todo o império britânico, o que implica em Dee conhecer bem por parte de sua família a língua de seus ancestrais, coisa que deve lhe ter muito valido, pois ele era um especialista em línguas, e por conta disto e de seus conhecimentos em várias áreas, foi escolhido como diplomata e espião pela Rainha.
A necessidade natural de provar o próprio valor e o valor do povo, e da identidade fervorosamente arraigada naquilo que foi chamada de reforma protestante que começou com Lutero, para este mesmo conceito de império britânico, com o conteúdo de pleitear que o mesmo fosse entendido como a verdadeira nação sagrada, como verdadeiro povo eleito, são as peças de encaixe final que nos faltam para compreender uma parte do Sistema Enochiano.
Pois Dee ao entender melhor do que muitos em sua época, das raízes semânticas e lingüísticas de seus ancestrais, e de outros povos, viu a necessidade de expressar uma língua sagrada e um verbo sagrado, que fossem mais precisos a seu ver para demonstrar a natureza do povo eleito, conforme nossas suposições avançam – embora o façam embasadas na lógica e no raciocínio.
Desta forma não somente os textos e contatos acima, que parecem se alinhar ou com os processos da assim chamada reforma protestante, ou com os caminhos de cultos taxados como heréticos pela igreja católica. Mas também, muito do simbolismo usado, parece ter caminhado neste sentido.
Se observarmos outro ponto forte do Enochiano, seu Alfabeto, notaremos algumas coisas no mínimo estranhíssimas.
Vejamos que “Une”, que corresponde a fonética do “A”, liga-se a perspectiva de espírito e leveza, ao mesmo tempo que “Veh” que corresponde a fonética do “C” implica em fogo e criatividade.
E que este Alfabeto foi dividido em 3 grupos de 7 letras em cada um.
Até aqui tudo parece extremamente original, e para a maioria das pessoas assim o é.
Mas será que as coisas são assim mesmo?
Como já foi dito, John Dee conhecia muito bem línguas e bem como a língua de seus ancestrais, e que os mesmos eram os “Wales” uma palavra de origem Nórdica ou Germânica, que implica em estrangeiro, e que este povo foi o mais feroz em guardar sua língua e suas tradições, em meio a outros povos como os Escoceses e os Ingleses.
Se levarmos em consideração estes dados, e nos atermos simplesmente a história e etimologia, veremos que há também outro alfabeto que possuí um caractere de fonética “A” ligado a vento, espírito e leveza, da mesma forma que seu caractere de fonética “C”, liga-se ao fogo e a criatividade. E que este mesmo alfabeto igualmente se divide em 3 grupos, contudo de 8 letras, que são chamados na língua deste povo setentrional que dele se usa, de Aetts – extremamente similar a fonética Aethyr por sinal – e que inclusive tanto este povo é aparentado com os “Wales”, quanto influenciou na formação geral dos caracteres do Oghimius dos celtas na Europa.
Mas muitas questões serão levantadas contra isto, se não fosse a problemática da similaridade das afirmações enochianas sobre “Iaseus Christos” não dever ser adorado em nome de Iaida, termo enochiano para a palavra “Altíssimo”, como ocorreu com o arianismo abraçado pelos Viosigodos, que foi um fato de conhecimento apenas dos homens que puderam ter cultura na época de Dee, o que o incluí entre os mesmos.
Altíssimo é também um termo usado para designar o deus pai maior dos povos setentrionais, contudo ali chamado de “Har”, mas que se liga justamente ao caractere que dá nome aos deuses ali cultuados, aos “Ases” ligados ao caractere “As”, que foi absorvido e usado pelos Boêmios e outros hermetistas, para dar nome a raiz dos poderes de fogo, ar, água e terra dentro da temática do taro, e das permutações da escala platônica de fogo, ar, água e terra chamadas pelos herméticos de “Tetragrammaton”.
Em meio ao Enochiano nos deparamos com muitos termos e colocações, que em si mesmos não parecem corroborar com este ponto de vista – a primara vista é claro – mas logo chegamos ao termo enochiano “Mikaleso”, cuja raiz está no Old Norse “Miklas”, que tanto em enochiano quanto em Nórdico, quer dizer “Poderoso”.
Desta forma, John Dee procurou usar da temática que lhe era comum tanto por herança de família, como por julgar que esta seria a natureza mais acertada para dar impulso a sua visão de um império britânico, movido por um povo com uma verdadeira palavra e verbos divinos, que o movessem em direção a glória que em seu nacionalismo fervoroso, considerava como sendo de seu direito, e relegando o velho testamento e o novo testamento a uma visão ultrapassada, sob suas perspectivas, que deveria dar passagem a uma revelação mais coesa com os pontos de vista que estavam se formando na Europa daquele período, como acima foi citado, e sob a regência do nascente império britânico.
Notando a organização enochiana, onde aparecem Reis, príncipes e citações sobre o séquito dos mesmos, organizados e orientados nas 4 Tábuas Elementais somadas a Tábua da União, taxada como sendo a Tábua de Espírito, podemos perceber os elementos herméticos completamente dispostos nas mesmas.
Notando que 3 Chaves Enochianas já foram citadas acima, e a grosso modo seus usos dentro do enochiano, sobram então as Chaves que vão de 3 a 18, perfazendo um total de mais 16 Chaves Enochianas.
Pela óptica adotada dentro das organizações do passado e das atuais, e pela origem em grande parte hermética do trabalho do Doutor Dee, estas 16 Chaves Enochianas, se posicionam na escala de fogo, ar, água e terra usada dentro do hermetismo com base no cabalismo, cuja origem é neo-platônica em todos os sentidos.
E desta forma temos da 3ª até a 6ª Chaves justamente a escala de Ar do Ar, Água da Água, Terra da Terra e Fogo do Fogo.
Da 7ª até a 9ª Chaves teremos Água do Ar, Terra do Ar e Fogo do Ar.
Da 10ª até a 12ª Chaves teremos Ar da Água, Terra da Água e Fogo da Água.
Da 13ª até a 15ª Chaves teremos Ar da Terra, Água da Terra e Fogo da Terra.
Da 16ª até a 18ª Chaves teremos Ar do Fogo, Água do Fogo e Terra do Fogo.
Que são escalas totalmente atreladas ao desenvolvimento conseqüente das 20 letras entre as 4 Torres de Vigília Enochianas, as Tábuas Elementais, que foram utilizadas mais recentemente aos trabalhos de Dee, para formarem a Tábua da União, que encerra o maior segredo dentro das práticas cabalístico herméticas dos tempos atuais.
Estas letras foram organizadas de tal forma que formam os nomes de Ar (Exarp), Água(Hcoma), Terra (Nanta) e Fogo (Bitom).
As primeiras letras de cada um dos nomes em enochiano acima, são representações dos Reis Elementais e de sua Corte, e são explicitamente ativados pela entonação da Primeira Chave Enochiana, pela aplicação das Ordens.
As outras 16 letras, correspondem justamente as permutações de fogo, ar, água e terra que foram acima citadas, vinculadas a escala platônica que aparece na cabala com algumas diferenças, e que ao se utilizar de uma das 16 Chaves Elementais acima relatadas, ativam-se uma das Letras da Tábua da União no mesmo instante.
Que se vinculam por sua vez aos 16 sub-quadrantes elementais das 4 Torres de Vigília Enochianas, ou 4 Tábuas Elementais.
Estas quatro Tábuas Elementais, vinculadas as letras da Tábua da União, são dividias em uma proporção 12×13 quadrados em cada uma, 156 no total. Cada tábua é atribuída a um dos quatro elementos: Ar, Água – da esquerda para direita na área superior – Terra e Fogo – da esquerda para direita na área inferior.
Adicionalmente, cada Tábua possui quatro sub-quadrantes. Estes são arranjados em 5×6 e posicionados em cada canto da tábua em questão. Também são atribuídos aos quatro elementos.
Por exemplo, na Tábua do Ar, você terá um sub-quadrante do Ar correspondendo ao Ar do Ar; o sub-quadrante correspondente a Água do Ar; o sub-quadrante da Terra representando a Terra do Ar; e o sub-quadrante do Fogo para Fogo do Ar.
Cada sub-quadrante contém uma Cruz Sephirotica que é a 3ª Coluna e 2ª Linha do sub-quadrante. Contém os Nomes de Deus do sub-quadrante. Os quadros com letras na Cruz são chamados Quadros Sephiroticos.
A primeira linha de um sub-quadrante (com exceção da 3ª coluna) é chamado os Quadros dos Querubins.
Linhas 3-6 de um sub-quadrante (com exceção da Coluna 3) são chamadas os Quadros Servientes.
Com os sub-quadrante destacados, uma cruz é revelada no centro da Tábua. Esta cruz é atribuída ao elemento místico do Espírito e contém os nomes de Deus, o Rei (cujo nome obrigatoriamente tem 8 letras), e os 6 Senhores Enochianos (cujos nomes obrigatoriamente tem 7 letras), da Tábua em questão.
A 7ª Linha da tábua é chamada a Linha do Espírito Santo ou Linea Spiritus Sancti.
A 6ª Coluna da tábua é chamada a Linha do Pai ou Linea Patris.
A 7ª Coluna da tábua é chamada a Linha do Filho ou Linea Filii.
Quando as quatro tábuas elementares são colocadas junto como as Torres de Vigia, a divisórias entre as tábuas são chamadas a Cruz Negra e são atribuídas ao Espírito (Tábua da União).

E é precisamente aqui que encontramos o maior fator de surpresa no hermetismo e no Sistema Enochiano, quando observamos a estrutura do universo que é apresentada no organograma das Torres e da Tábua da União, e na conjugação de seus símbolos.
É dito que um caractere enochiano que está sobrando na Torre Elemental da Água, cujo som seria o mesmo de “L” e a designação enochiana seria “Ure”, na verdade ali subsiste para entrar em União com as 20 letras da Tábua da União, e gerar desta forma os 3 nomes de 7 letras dos 3 Governadores do Aetryr do Abismo, cujo nome é Zax, e que é o maior terror dos praticantes de hermetismo, cabalismo e tradições ligadas ao ocultismo, pois o mesmo é tal e qual a Daath citada pela cabala, sobretudo a hermética, e mais, este abismo enochiano é o lar daquilo que se descreve como o mais poderoso “demônio” da criação, pelo ponto de vista monoteísta, ou seja “Choronzon”, a dissolução.
Em outras palavras, ao se lidar com cada parte do Enochiano, com cada elemento, cada ser ou cada letra, o estudante e praticante estão invocando a própria natureza do Abismo para dentro de si, e para sua volta, pois o lar de Choronzon, o abismo Zax, é e subsiste em cada uma e todas as coisas a sua volta, e pela óptica do Enochiano, assim o é mesmo quando não se está consciente do mesmo.
Se o abismo é tamanha fonte de terror para as mentes dos hermetistas praticantes ou não de enochiano, podemos então imaginar o horror dos mesmos quando finalmente se deparam em seus estudos e práticas com estes dados, e quando pesquisam a vida de John Dee e de Edward Kelly, e desembocam diretamente nas incitações dos ditos “anjos”, levando-os a práticas consideradas imorais para seu tempo, e afirmando blasfêmias inimagináveis para suas mentes dogmáticas, tais como a já citada frase que afirma a total destruição da sociedade que Dee e Kelly conheciam.
O que nos leva a concepção de que em meio aos esquemas e estratagemas de Kelly, e do fervor nacionalista de Dee, entremeado ao dogmatismo de ambos, o sistema que serviu de âncora para gerar o enochiano, justamente a raiz germânica acima citada, começou a resvalar na psique de ambos, e veio a se manifestar depois de algum tempo de invocações e usos de linguagem aproximada, causando os choques acima citados, e bem como os temores ligados aos mesmos.
Pois é fato conhecido que o puritanismo e preconceitos sexuais exigidos dentro do dogmatismo do monoteísmo, em verdade não existiam na sociedade original dos “Wales”e dos Nórdicos, e na verdade justamente os costumes destes povos nos dão uma pista muito interessante a respeito dos meios usados por Dee, para suas técnicas de observação e viagem pelos Aethyrs Enochianos, e bem como a respeito das tais advertências contra as práticas Goéticas, uma vez que por goéticas entendam-se todas as formas não monoteístas ou não cristãs, tanto para Kelly quanto para Dee.
Dentre os Celtas podemos encontrar o culto aos Sdhee, que é o termo pelo qual os deuses célticos são efetivamente conhecidos, sendo que os mesmos são também chamados pelos ingleses de Elfos, que é uma derivação do Old Norse do termo Alf, que implica exatamente na mesma coisa.
Este culto aos Sdhee é extremamente próximo e aparentado ao culto Vanir, inclusive a mais conhecida deusa setentrional vinculada ao panteão dos deuses da terra, entre os povos setentrionais, é Freija, que é chamada de Vanadis e bem como de Seidh Lady ( Senhora do Seidhr).
Seidhr é uma técnica de transe para viagem a outros mundos na tradição nórdica, e sua raízes é a mesma da palavra Sdhee, como acima citada, bem como da raiz da palavra indo-ária siddhi – que quer dizer virtude ou poder.
O transe seidhr implica em êxtase sexual como catalisador dos eventos em si.
Isto explica o motivo pelo qual o ser enochiano que tomou contato com Kelly e Dee, ter exigido que os dois se deitassem juntos, ou que suas esposas fossem trocadas. Pois havia entre os nórdicos ligados aos povos vanires, sacerdotes de Freir – deus vanir irmão de Freija – e de Freija que eram taxados como “Erg”, que quer dizer homossexual, e que se afeminavam para efetuar o transe seidhr como as seidkhonas – feiticeiras – o faziam.
Mas nos é muito interessante que um certo tema seja básico, tanto nos trabalhos ligados ao Enochiano, quanto naquilo que acima foi citado como o “…Abramelin…”. Este tema, como já se pode perceber é o que aborda os trabalhos acerca do Santo Anjo Guardião!
É comum que em todos os trabalhos ligados a gnose, hermetismo, ocultismo, thelemismo e bem como enochiano, o assunto do S.A.G. venha a tona.
É dito que sem o S.A.G., fazer uma invocação de qualquer tipo ligada tanto a ditos anjos quanto a ditos demônios, resultaria em auto destruição ou loucura para o praticante.
No entanto sabemos que todos os seres goéticos e demais seres que foram taxados de demônios pelas formas de monoteísmo que existem desde os atos de akhenaton, tendo-o como sua fonte, nada mais são do que as fontes reais para a sustentação do monoteísmo, uma vez que o politeísmo é o tema básico que com suas tradições, veio a alimentar os símbolos do monoteísmo, via os atos de sacerdotes inconseqüentes e inescrupulosos.
Desta forma, torna-se senão ridículo inútil permanecer com os pensamentos voltados a estes temas, ao abordar as artes cerimoniais.
S.A.G. liga-se aos assuntos abordados por Jung no que tratava como sendo o conceito de Individuação, apenas que em um nível muito mais intenso e mais alto do que ele mesmo poderia chegar a supor, apesar de ter usado o Bardo Todol, como uma de suas fontes principais de inspiração. E se viéssemos a estabelecer um procedimento para aferir o desenrolar do desenvolvimento de cada praticante, e bem como os efeitos disto em seu ser, teríamos necessariamente tanto que aferir quanto do cérebro o praticante passa a utilizar, quando o contato com seu inconsciente superior passa a banhar a relação do inconsciente inferior com o consciente, quanto aferir quanto do inconsciente passou a ser tanto conhecido como conscientemente experimentado pelo praticante.
Nesta conceituação entraríamos então na essência do que os atavismos se despertando no ser, realmente fazem ao mesmo, e isto em verdade lida com o que trazemos de herança antiga de nossos antepassados, o que em si é a fonte e a explicação para o Enochiano, que em si é uma criação com vistas ao nacionalismo extremado, pode tanto ser forte como é, quanto ser potente para várias modalidades invocativas, evocativas e experimentais, inclusive podendo ser combinado aos estilos que lidam com a temática dos centros psíquicos humanos.
Ou seja, que Kelly e Dee despertaram via seus trabalhos baseados na língua antiga dos “Wales” e em suas fontes etimológicas, e pelo uso do transe frente o cristal escuro, traços dos cultos antigos, que paulatinamente ganharam força e vida no decorrer dos trabalhos feitos, tanto no caso original de John Dee e Edward Kelly, quanto nos de tantos outros praticantes, como e principalmente é o caso de Aleister Crowley, que fez a façanha de percorrer e catalogar tudo o que pôde ver nos 30 Aethyrs Enochianos.
Desta forma, o Santo Anjo Guardião é plenamente compreendido quando se tem em mente suas ligações com os termos que geram a palavra Self – Sdhee e Alf – pois tal e qual o Xintoísmo, a tradição setentrional alerta para o fato de que tudo guarda vida em si, e bem como um wyrd próprio – destino próprio, aproximadamente como o carma – e tudo tem vida ou essência, sendo o Alf que dá vida a uma planta ou animal o conceito aqui citado. Fato este que colabora em muito para o nosso entendimento das correlações dos atavismos ligados as fontes do Enochiano, com as forças em si que ganharam passagem e vida por outras vias, emprestando-lhes sentido e força, exatamente como fizeram com o Sistema Mágico que John Dee e Eward Kelly “revelaram” ao mundo.
Agora, voltando a Aleister Crowley, poderemos estender esta abordagem sutil ao enochiano, contudo munidos do necessário para alçar entendimento além dos limites impostos até então.
Como foi acima citado, Crowley é celebrado como o primeiro – alguns dizem que o único – que viajou por todos os 30 Aethyrs, catalogou o que viu, e deixou indicações claras para quem quisesse se arriscar a seguir seus passos.
Contudo, notamos que o trabalho de Crowley seguiu a temática proposta por Dee, de guiar-se em direção a formula nacionalista apresentada por este, com base no conceito do império britânico.
Podemos dizer inclusive que ambos possuíam outros pontos em comum, além do fato de serem ingleses, pois se John Dee foi aceito entre os membros fundadores do Trinity College d Cambridge, Aleister Crowley, estudou no mesmo a partir de 1.985 e.v e lá se destacou em meios aos estudantes.
No Liber 418, Crowley cita a fórmula cabalística em meio a todos os Aethyrs, entremeados de recomendações e detalhes que são posicionados de tal forma que criem a temática da queda do Aeon de dos deuses dos escravos, o Aeon de Osiris, e bem como lentamente mostrem a ascensão do Aeon da Criança conquistadora e Orgulhosa, que é o centro de seus trabalhos mágicos, e por fim complementa os receios e temores vinculados ao abismo, quando aborda o Décimo Aethyr, ZAX, para apresentar uma ascensão pelos aspectos derivados da escala de atziluth, briah, yetzirah e assyah presentes na cabala, e que são mais uma vez uma apresentação da escala dos elementos platônicos de fogo, ar, água e terra.
Se apreciarmos as passagens abaixo, que são excertos retirados das citações contidas no Aethyr ZAX, dentro do Liber 418, poderemos compreender mais:
“…Se tu não podes comandar-me pelo poder do Altíssimo, saiba que eu indubitavelmente tentá-lo-ei e isso me causará arrependimento. Eu me curvo ante os grandes e terríveis nomes que usaste para me conjurar e confinar. Todavia, teu nome é misericórdia e eu brado por perdão. Que eu ponha então minha cabeça entre teus pés para que possa servi-lo. Porém, se tu me mandas obedecer pelos Sagrados nomes, eu não posso me curvar assim, pois seus primeiros sussurros são maiores que o ribombar de todas as minhas tempestades. Peça-me então para que chegue a ti e assim adorar-te e partilhar de tuas bênçãos. Não é infinita a tua misericórdia?…”
“…Eu me alimento nos nomes do Altíssimo. Eu esmago-os em minhas mandíbulas eu evacuo do meu fundamento. Eu não temo o poder do Pentagrama, pois sou o Mestre do Triângulo. Meu nome é trezentos e trinta e três que é três vezes um. Atentai, pois te previno que estou preste a ludibriar-te. Proferirei palavras que tu usarás para invocar o Aethyr e as escreverás pensando serem grandes segredos de poder Mágico todavia, não passarão de escárnio…”
Tal passagem acima teria sido citada por Choronzon, o Arqui-demônio que habita em ZAX, e que é a dispersão em si mesmo, encarnando em si todos os terrores que são citados a respeito da temática da Sephirah Daath, vista como uma entrada que dá diretamente no que a cabala chama de Árvore da Morte, composta por Qlipoth, que são os lares dos demônios citados dentro da bíblia, corão, talmud e torah.
As Sephiroth são citadas em uma tradução mais aproximada, como “…os papiros…”, e as Qlipoth, são citadas em tradução mais aproximada, como sendo “…as cascas…”, sendo que o termo rabínico usado para se referir as primeiras é “…Esposas…” e em relação as Qlipoth “…Prostitutas…”.
Sabe-se que isto implica apenas e tão somente no fato de que as ditas “…esposas…” são somente tocadas e manipuladas pelo esposo – dando margem a idéia cabalística de ruach e nephesh, alma e corpo, esposo e esposa – que é o sacerdote dentro da temática cabalística, e as “…prostitutas…” necessariamente são aquelas que vem a ser manipuladas pelas mãos de todos os outros, e que não tem vínculos exclusivos com o sacerdote, e mais que em nenhum momento o obedecem.
O Talmud vai além, e afirma que Qlipoth é o nome que é dado a alma dos que não fazem parte do povo eleito – coisa que explica em muito o antagonismo gerado contra o mesmo, por parte de outros estilos de monoteísmo, e presente na temática de muitos hermetistas, mesmo que sutilmente.
Desta forma, entenderemos que houve uma forma de adulteração na temática do contato coligado com o Enochiano, tanto em sua raiz quanto nos movimentos que posteriormente usaram-se dele.
Após o Aethyr 10º, vem a descrição de um Aethyr de nome ZIP que lida com a temática do adentrar na cidade das pirâmides, que é uma representação daquele que foi além da Daath da cabala, e entrou no local onde reside Aima Helohim e Ama Helohim, vistas como Babalon, ali mais uma vez ocorre referência ao tema da Rosa e da Cruz, que em verdade formam o Brasão de Armas de Luthero, algo que escapa aos usuários e que deveria ter sido repensado pelo modelo thelemico do período, por representar um modelo do Aeon dos Escravos.
Da mesma forma que houve sobreposições de muitos símbolos para compor as estruturas psicológicas da “…Visão e da Voz…”, precisamente as descrições do Liber 418, o modelo cabalístico serviu de suporte em alguns momentos, e a simbologia ligada ao número 8 e seu contexto em tanto quanto um modelo que se encaixa nos padrões, estruturas e natureza de Hermes o mensageiro dos deuses, também aqui o Aethyr Oitavo ZID, é descrito como o mensageiro dos deuses para o praticante, pois as instruções o coligam com a experiência do Santo Anjo Guardião, como acima foi citado, e isto é muito estranho uma vez que muito abaixo da escala do que é chamado de Três Sephiroth Supremas, o Contato e a Conversação com o Santo Anjo Guardião, são exigência mínima para conhecer a verdadeira vontade, e poder desta forma atravessar o Abismo ou ZAX.
No entanto, lembramo-nos que o “…Sdhee Alf…”, mensageiro da Lei pessoal e intransferível da divindade de cada homem ou mulher que o podem convocar, tem a missão de serem os portadores da Lei, e não a mesma, e desta forma o entendimento de que se trata do comprometimento final do ser com sua verdadeira vontade, brinda aos que estão atentos.
Em DEO, o Aethyr seguinte, citada é a Estrela Vespertina, Lúcifer, que é o planeta Vênus e bem como um símbolo do que é chamado de Netzach na cabala, em total sintonia com a idéia numérica do cabalismo, como acima já foi alertado, e que saturno exaltado em Libra contém também o seu contrário, no segundo decanato de capricórnio, regido por Astaroth, o qual é Astarte e Inanna, Deusa Suméria da Cidadela de Uruk, senhora escarlate da guerra, sexo e magia, celebrada também como Deusa-Mãe, e sendo venerada como Athirat, também chamada Asherah, Astarte ou Anat e, da mesma forma que no culto de Inanna, seus sacerdotes transexuais, os Qedshtu, extraíam seus órgãos sexuais para executarem os ritos, muitas vezes sexuais ligados a deusa da Estrela da Manhã.
O amor ali citado contém sua fonte nesta deusa e a chave real disto, que como podemos ver também se conecta nos conceitos ligados a Freia e a Freir, como foi acima citado, explica-nos todos os detalhes vinculados a idéia conectada com os chamados Irmãos Negros, ligados a este Aethyr, que dizem ser aquele até onde os mesmos podem atingir, pois estes que se negam a deixar seu sangue adentrar na copa das abominações de Babalon, na temática da visão do décimo primeiro grau como foi explanado por Crowley, não podem ser “…tais e quais noivas…”, que é um termo que conecta todos os praticantes dentro da Argentum Astrum, e muitos mistérios ligados a esta fórmula mágica do Amor, ou Ágape, correlacionam-se com o sacerdócio de Freir, e bem como o Sacerdócio Masculino de Inanna, que é a Senhora das Abominações da Babilônia. Desta forma as chaves ocultas para adentrar os sacramentos como Crowley os via, passam necessariamente pelo entendimento destes símbolos e em sua aplicação.
No entanto, esta é apenas uma visão a respeito dos sacramentos superiores, e não é nem a melhor e nem a única.
No Aethyr seguinte, MAS, Crowley usa-se de uma passagem bíblica retirada do genesis – 19:32-33,35 – sobre as filhas de Ló, que o embriagaram para se deitarem com ele, a título de “…povoar a terra…”:
“…Vem, demos de beber vinho a nosso pai, e deitemo-nos com ele, para que em vida conservemos a descendência de nosso pai. E deram de beber vinho a seu pai naquela noite; e veio a primogênita e deitou-se com seu pai, e não sentiu ele quando ela se deitou, nem quando se levantou. E sucedeu, no outro dia, que a primogênita disse à menor: Vês aqui, eu já ontem à noite me deitei com meu pai; demos-lhe de beber vinho também esta noite, e então entra tu, deita-te com ele, para que em vida conservemos a descendência de nosso pai…E deram de beber vinho a seu pai também naquela noite; e levantou-se a menor, e deitou-se com ele; e não sentiu ele quando ela se deitou, nem quando se levantou…”
Notemos a similaridade contida no texto deste Aethyr, para representar as ditas 3 Tradições Mágicas – Branca, Amarela e Negra – que na teoria hermética e cabalística, abrangeriam o mundo:
“…E uma voz diz: Maldito seja aquele que desnudou o Altíssimo, pois ele embriagou-se do vinho que é o sangue dos adeptos. E BABALON embalou-o, no seu colo e no sono ela sumiu e deixou-o nu chamando o seu filho para junto dizendo: Acompanha-me para zombarmos da nudez do Altíssimo. E o primeiro dos adeptos cobriu Sua vergonha com um pano, caminhando para trás e era da cor branca. E o segundo dos adeptos cobriu Sua vergonha com um pano, caminhando lateralmente e era amarelo. E o terceiro dos adeptos zombou de Sua nudez, caminhando para frente e era negro. Essas são as três grandes escolas dos Magi que também são os três Magi que dirigiram-se ao Local Sagrado e, por não possuir sabedoria, tu não saberás qual escola predomina, ou se as três escolas são uma. Pois os Irmãos Negros não ergueram suas cabeças na Sagrada Chokmah já que foram afogados no grande mar que é Binah, antes que a verdadeira vinha pudesse ser plantada no sagrado monte Sião…”
O mar de Binah é o Mar que subsiste citado na Lámina do Enforcado, e é uma representação das Qlipoth, implicando na incapacidade de ir além da Menstruação, que é símbolo da inexistência de vida na mulher, que na tradição monoteísta e fálico solar, é vista como tendo alma somente quando está preenchida pelo sêmen, que é o portador de Ruach – alma e símbolo para o “…esposo…”, acima citado – e está contido em Yod – letra hebraica que o cabalismo usa para identificar o elemento fogo e o falo.
Desta forma os finalmente entenderemos que os Irmãos Negros, como citados por Crowley, são os que não tem o que é entendido como sendo “…LUX, ou, LUZ…”, que implica em uma fórmula totalmente voltada para o espírito solar como algo solar, como foi dito pelo criador do monoteísmo, Akhenaton, e pelo ponto de vista da cidadela de “ON” ou “Heliópolis”, no Egito.
As 3 cores citadas como representantes da alquimia não estão aqui por conivência, mas antes devem ser necessárias para dar pano de fundo para o conceito de alquimia, e do elixir alquímico que é citado nas linhas acima. Desta forma Negro lida com os que ainda perfazem a fórmula levando em consideração o conceito de mulher e das Kalas do Tantrismo ligado aos Drávidas e a deusa Kali; Amarelo lida com o ponto que seria intermediário entre este primeiro e o seguinte, o qual é Branco, por lidar apenas e tão somente com a Luz ou os mistérios sexuais puramente masculinos, ocorre que isto lida com o antigo Aeon, pois o cristo do monoteísmo se auto proclama “…a luz, o caminho a verdade e a vida…”.
Destrinchados assim os símbolos aqui presentes, podemos avançar ainda mais a cerca da “…Visão e da Voz…”.
Lit desvela-se com o entendimento claro da atmosfera fálica espiritual da flecha, cuja ponto é Argentum Astrum , a Estrela de Prata ali mencionada.
O trocadilho de não há deus com “…Lá…”, o qual é a mesma composição de “…AL…”, que é o termo hebraico para deus, e que é o nome divino usado na Sephiroth de Chesed, a sephiroth da misericórdia, e que na verdade é o nome do deus pai supremo dos Fenícios “…AL…” que foi absorvido para uso pelos rabinos, dentro da temática do hebraico, nos dá o entendimento necessário, de que ali á afirmado que “…Lá…” o nada, é o deus naquele Aethyr, e que está é a chave do Aethyr dando a entender outro trocadilho simbólico com o Olho de Shiva, que aniquila o universo no “…Nada…”, e daí somos levados ao conceito da cabala que lida com “…Ayin…” o nada universal, representado também na lâmina de Baphometh, na Lâmina do Diabo, cuja letra hebraica é justamente “…Ayin…”, e sendo que o olho ali citado, também vai na direção de Horus, pois há o conceito dos dois olhos de Horus, o direito e o esquerdo, um deles os métodos de Crowley citam em combinação com o Ajna Chacra, que é o Olho de Shiva, e o outro é citado como sendo o Muladhara Chacra, vinculado a ponta do cóccix e que participa da fórmula dos sacerdotes de Freir e dos sacerdotes homossexuais do culto de Inanna, como acima foi citado.
Mesmo em PAZ, ocorre este fenômeno de justaposição pois os elementos da rosa e da cruz voltam a entrar em sena, e mais, caos e trevas cosmos e luz são ali citados, sendo o caos algo como uma representação do Olho de Ayin que é acima citado.
Há o trocadilho da palavra “…PAX…” com o nome do Aethyr “…PAZ…”, e no entanto ao colocar os dados acima mesclados a isto, a chave do que Crowley expressa como sendo a essência deste Aethyr esta neste excerto:
“…Abaixo de seus pés está o reino e em sua cabeça a coroa. Ele é o espírito e matéria, ele é paz e poder, nele está Caos e Noite e Pan e sobre BABALON sua concubina, que embriagou-se dos sangues dos santos que ela coletou em sua taça dourada tem ele originado a virgem que agora ele deflorou. E isso é o que está escrito: Malkuth será elevada e colocada no trono de Binah. E essa é a pedra dos filósofos que é posta como um selo na tumba do Tetragrammaton e o elixir da vida que é destilado do sangue dos santos e a força rubra opressiva dos ossos de Choronzon…”
Pois já foi citado no texto da “…Visão e a Voz…”, que a chave do termo hebraico para adão está em “…Adm…”, visto como um anagrama para a palavra enochiana “…Mad…”, que quer dizer deus.
Desta forma o “…Adm Kadmon…”, é a chave de entendimento para aquele que é cavalgado por Babalon no trecho acima citado, e que nele habita a essência do Aethyr “…PAZ…”, que é o Caos ou a Noite de Pan, isto se liga a emanação de Aiyn Soph Aour, “…LUZ…”, que se contrai para gerar Kether e dela gerar todo o restante da Ortz Chaim, Árvore da Vida, que é o próprio “…Adm Kadmon…”. Porém a pedra dos filósofos é mais uma vez um anagrama do Velho Aeon, ligada a cristo, que é citado como a pedra, ou a rocha, no cristianismo, e é dito do mesmo como o elixir e o selo do tetragrammaton, pelas conexões que o filho tem para com o pai, dentro do monoteísmo, em tanto quanto a relação de Ruach e Yod, vista na fórmula fálico solar acima citada.
Em “…ZOM…” o seguinte Aethyr, vemos uma fórmula vinculada a ascensão em direção a Kether, passando por Chokimah que é o falo e liga-se com o ponto de vista de Yod, Ruach e da fórmula fálico solar – uma vez que Marah o grande mar, é ligado a Binah e é o Mar de Sangue e Trevas que impropriamente e indevidamente o sistema fálico solar taxou de incorreto ou daninho.
Observemos então estes trechos:
“…E o olho de Sua benevolência se fecha. Que não seja aberto sobre o Æthyr para que as severidades sejam abrandadas e a casa desmorone”. A casa não cairá e o Dragão descerá? Todas as cousas foram de fato engolidas pela destruição; e Chaos abriu suas mandíbulas e esmagou o Universo como um Adorador de Baco esmaga uma uva entre seus dentes. A destruição não engolirá a destruição e a aniquilação confundirá aniquilação? Vinte e duas são as mansões da Casa de meu Pai, porém lá vem um boi cabeceando a Casa que cairá. Todas essas cousas não passam de brinquedos do Magista e o Criador de Ilusões que barra a Compreensão da Coroa…”
“…E por isso BABALON está sob o poder do Magista submetendo-se a obra e guardando o Abismo. Nela está uma perfeita pureza superior; ainda que seja enviada como o Redentor para os que se encontram abaixo. Não existe outro caminho para o Mistério das Supremas além dela e da Besta na qual cavalga; e o Magista é colocado além dela para ludibriar os irmãos das trevas para que eles não façam de si mesmos uma coroa; pois se houvessem duas então Yggdrasil, a antiga árvore, seria lançada no Abismo, extirpada e lançada no Mais Distante Abismo profanando o Arcanum que é o Adytum* e a Arca seria tocada e a Loja profanada por aqueles que não mestres e o pão do Sacramento seria as fezes de Choronzon e os vinho do Sacramento a água de Choronzon e o incenso seria espalhado e o fogo sob o Altar odiado. Erga-te, todavia, firma, goze o homem e contemplai! Será revelado a ti o Grande Terror, o inominado temor…”.
Acima vemos que nem mesmo Crowley pôde escapar dos símbolos mais antigos do conhecimento, pois em lugar do uso do termo comum da cabala para a Árvore da Vida, ele se usou do nome Setentrional e mais antigo da mesma, Yggdrasil, também conhecida como Eomersyl ou Yrminsul, o Pilar do Mundo.
Todos os símbolos de destruição lidam com o ponto onde ocorre a elevação em direção ao Nada, o Caos, saindo do ponto de Ordem mais próximo deste, que é o caos espermático do que chokimah é e representa, na teoria dos cabalistas.
Tolices são ditas sobre Taumiel, o dragão de duas cabeças que seria o oposto na árvore da morte, a árvore das qlipoths – que já vimos acima, que nada tem haver com os conceitos citados sobre ela pelo hermetismo comum – e a alegação de que O Magus estaria comandando-a para negar a força dos que não se curvam a luz de cristo, por ser este o caminho correto, desaba sobre si mesma, pois de fato são dois os potenciais mais altos que engendraram o universo, e são opostos e infinitos em si mesmos, e quando se tocam encontram limite, o qual é vida e o que os gregos chamaram de Cosmos, e são amplamente vislumbrados na antiga tradição original que a Yggdrasil que Crowley citou no texto deste Aethyr, apresenta como as mais antigas forças, anteriores ao universo conhecido.
No Aethyr seguinte, temos gratas surpresas!
Crowley cita a lenda suméria sobre os Sibilli Azag Aphikalluh, liderados por U-Na, ou Dagon, cuja forma é a do homem peixe que leva os códigos da civilização em amor aos humanos, e mantém relações com as mulheres, sendo esta a fonte original para os Nephelins citados no texto de Enoch. Notemos que o termo Azag é aparentado com Az, Ases e Aesir ou Ansjus, que já nos referimos acima.
Diz Crowley que a chave deste Aethyr está na idéia de Cain ser filho da Serpente e não de Adm, citando este último como um culto externo e destituído de vida, e tendo Cain uma marca em sua testa – que lida com o Olho de Shiva e com a temática acima citada sobre o mesmo – e que elimina Abel, de acordo com o texto da “…Visão e da Voz…” usando do Mjollnir o Martelo de Thor, e devemos nos lembrar que este deus é saudado tradicionalmente como o inimigo do cristo branco invasor, em uma das línguas dos povos setentrionais.
Crowley jamais suspeitou – ou jamais deixou que os que estavam a sua volta suspeitassem – que o símbolo que aparece neste Aethyr, das 3 flechas cruzadas nada mais é do que a Runa Gótica Hagalaz, que tem exatamente aquele diagrama, e que implica na idéia de despertar, desagregação do que é velho para dar lugar ao que é novo, e lida com a idéia de Hagal e de Haimdall, que é chamado de Aesir Branco.
E em seguida, somos brindados com as mesmas idéias implícitas, presentes no próprio texto deste Aethyr:
“…Então o fogo cobriu-me e ressecou-me, uma tortura. E o meu suor está amargo como veneno. E todo o meu sangue torna-se agro em minhas veias, como gonorréia. Parece que estou apodrecendo rapidamente e os vermes devorando-me vivo. Uma voz, não minha ou externa diz: Lembrai de Prometeus; lembrai de Ixion. Estou rasgando o nada. Não darei atenção. Pois até esse pó deve ser consumido pelo fogo. Embora não exista imagem ainda pelo menos resta uma sensação de obstrução, como se houvesse alguém puxando próximo a fronteira do Æthyr. Mas estou morrendo. Não consigo avançar ou esperar. Meus ouvidos agonizam, bem como minha garganta, e meus olhos parecem tão cegos há muito que não consigo lembrar que existe visão…”

E quando o texto cita Leviatã e o Mar, nos perguntamos se Crowley perversamente não escondeu os termos a cerca de Jourmungand ou Niddhog, a descrição que ali é dada afirma um, mas se expressa por meio dos outros dois.
Finalmente no Primeiro Aethyr, LIL, é apresentada a fórmula do Senhor do Aeon, Rá Hoor Khuit, apresentado ali apenas como Horus, e uma informação incorreta é ali dada.
“… Iaida…” não quer dizer “…Eu Sou…” e sim quer dizer “…Altíssimo…”.
Hoor ou Har, é o Senhor Altíssimo dos Céus de Leste a Oeste em meio a tradição mais antiga dos Egípcios, antes das bobagens osirianas corromperem o culto e apresentarem a Har como o filho de Osiris posteriormente, inclusive como as formulas usadas em Heliópolis apresentam.
No entanto esta primeira parte do texto em si nos dá outros elementos:
“…Eu sou o filho de tudo que é o pai de tudo, pois de mim veio tudo o que eu posso ser. Eu sou a fonte nas neves e sou o mar eterno. Eu sou o amante e sou o amado e sou os primeiros frutos do amor deles. Eu sou primeiro débil tremor da Luz e eu sou a roca onde a noite tece o seu impenetrável véu…”
“…Eu sou o capitão das hostes da eternidade, dos espadachins e dos lanceiros e dos arqueiros e dos aurigas. Eu liderei as forças do leste contra as forças do oeste e as forças do oeste contra as forças do leste. Porque eu sou Paz…”
“…Eu sou luz e sou noite e eu sou aquilo além deles. Eu sou a fala e eu sou o silêncio e eu aquilo além deles.Eu sou vida e eu sou morte e eu sou aquilo além deles. Eu sou guerra e eu sou paz e eu sou aquilo que está além deles. Eu sou a fraqueza e eu sou a força e eu sou aquilo que está além deles. Assim por nenhum deles pode o homem chegar a mim. Assim por cada um deles deve o homem chegar a mim…”

Crowley vê a força do Senhor do Aeon neste Aethyr e o descreve como o poder anterior a criação, e que move a tudo e todos inclusive causando guerra e paz, e bem como dando vida e morte a bel prazer.
Em seus elementos descritivos, somos forçados a questionar se os usos do Enochiano, que tem fortíssima descarga atávica dos elementos dos “…Wales…” e de suas tradições, usados por John Dee para dar corpo a esta tradição, não afetaram a Crowley a ponto de trazer finalmente os elementos profundos do senhor do Salão dos Eleitos, deus de guerra e de vida e morte, para dentro da descrição de “…Iaida…” o Altíssimo, como acima citado, uma vez que também seu nome é Har, e igualmente ao Har Egípcio ele é cego de um olho, sacrificado em nome do conhecimento?
O que podemos concluir de mais elementar em tudo isto, é que o poderio mágico do enochiano se deve a suas fontes atávicas serem tão fortes, que estão drenando usos das tradições antigas de onde retiram suas bases e essências, e que isto intoxica e causa êxtase a quem quer que o seja que use-se deste sistema, e que acabará se destruindo em Choronzon, ou antes disto, por conta de sua teimosia em lidar com pontos de vista do Aeon dos Escravos, quando deveria liberar-se disto e empunhar sua espada em função do Aeon dos Fortes e Orgulhosos, pois esta é a essência deste Aeon.
Desta forma, todos os trabalhos mágicos que tem sido praticados com o Enochiano, levaram seus praticantes ao portal do terror da negação do dogma, em função do poder e da veracidade, que sejam tanto históricas quanto espirituais, e alinhadas em si mesmas, de tal forma que por mais que o texto lide com uma direção, o praticante será encaminhado para outra, ou se destruirá no processo.
Visto desta forma, o alinhamento das fontes antigas do Enochiano, com os elementos thelemicos, torna-se mais que natural por mais que seja incidental sob certos aspectos, e nãos e choca em sua essência, por mais que se choque em sua aparência, uma vez que tanto uma realização espiritual quanto a outra, abominam o subserviente e miserável culto dos escravos, e contém entre si elementos de conexão que tanto são claros e visíveis a qualquer um, com contém também segredos velados que podem ser experimentados tanto pelo estudo, quanto pela prática, o mesmo se dando com o avanço do thelemismo em meio ao solo Enochiano, ou em meio ao núcleo ou tema central do thelemismo em si mesmo.

Por Grimm Wotan

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Postagem original feita no https://mortesubita.net/enoquiano/enochiano-bases-estruturas-conceitos-e-fontes/