Hieros Gamos e Magia Sexual

“I am all that has been, that is, that shall be,

and none among mortals has yet dared to raise my veil.”

Hoje vamos falar de algo que certamente vai interessar para todo mundo (ou quase todo mundo). Sexo!

Na Antiguidade, entre os estudiosos, sacerdotes e iniciados, o sexo era considerado algo sagrado e uma maneira de se reconectar com o EU divino que habita cada um de nós, como uma das formas mais bonitas de “Religare” e sempre esteve associado a muitas comemorações e rituais de fertilidade.

O reino do sexo mágico é o domínio e o poder do feminino.

Antes de começar, quero deixar claro que sempre existiu o sexo “vulgar” ou profano, que a maioria das pessoas conhece e pratica normalmente. O sexo sagrado, conforme eu comecei a explicar na semana passada, envolve todo um ritual de entrelaçamento das energias entre os chakras fortes masculinos e femininos durante o ato sexual entre dois iniciados. Durante esta relação, o casal canaliza e amplia suas energias através de seus chakras, desde o Muladhara na penetração, despertando a Kundalini (serpente sagrada), florescendo por entre os nadis dos amantes até o Sahashara, gerando um fluxo gigantesco das energias telúricas e projetando-as para o universo, ou utilizando estas sobras de energia para a realização de determinados rituais.

Através do sexo sagrado, o corpo da mulher se torna um templo a ser venerado e o enlace entre o sacerdote (que assume o papel de um deus) e a sacerdotisa (que assume o papel de uma deusa) adquire uma conotação ritualística capaz de despertar grandes energias e até fazer com que eles cheguem à iluminação (e a orgasmos muito mais fortes!).

Suméria

Os rituais sexuais existem desde os primórdios da humanidade e estiveram presentes em todas as grandes culturas da humanidade. As primeiras referências a eles, e também a mais famosa, é o Hieros Gamos, ou “Casamento Sagrado”. Este ritual era realizado na Suméria, 5.500 anos atrás. Nele, a alta sacerdotisa assumia o papel do Avatar da grande deusa Inanna e fazia sexo com o rei ou imperador, que assumia o papel do deus Dumuzi, para mostrar sua aceitação pela deusa como governante justo daquela região.

Isto era feito diante da corte, pois naquele tempo não haviam tabus para se praticar sexo em público se fosse em uma cerimônia religiosa. O símbolo desta união era um chifre, também chamado de “cornucópia” (uma referência clara à vagina da Grande Deusa em sua abertura e o falo do grande deus em seu chifre), do qual brotavam frutas, verduras e toda a fartura dos campos. Era uma associação óbvia entre os rituais sexuais de fertilidade e as colheitas que se originavam das plantações energizadas por tais rituais. O símbolo da cornucópia foi eternizado na Mitologia grega, através dos ritos Dionísios com sua forte presença no Olimpo, e mantém-se até os dias de hoje como símbolo de fartura.

Além desta Ordem, existia a Ordem dos Mistérios de Ísis, voltada apenas para MULHERES. Estas ordens lidam com a energia lunar, com o Yin, com a intuição, com a sedução, com as emoções sutis que pertencem ao campo do feminino. Da mesma forma, era proibida a presença de homens em uma loja de Ísis. Ísis recebeu vários nomes em seus cultos: Islene, Ceres, Rhea, Venus, Vesta, Cybele, Niobe, Melissa, Nehalennia no norte; Isi com os hindus, Puzza entre os chineses e Ceridwen entre os antigos bretões.

O terceiro tipo de Ordem eram as Ordens de Ísis e Osíris, ou as ordens mistas. Estas eram ordens espirituais, preocupadas com o estudo das ciências e dos fenômenos naturais. Pode-se dizer que foram as primeiras ordens de cientistas do planeta, estudando ao mesmo tempo fenômenos físicos, matemáticos e espirituais. Destas ordens, Grandes iniciados como o faraó Tuthmosis III, Nefertitti, Akhenaton (ou Amenhotep IV) e Moshed (ou Moisés para os íntimos) estabeleceram as bases de praticamente todas as escolas iniciáticas que surgiram, inclusive todos os ramos das Ordens Rosacruzes.

Cada templo era formado por até 13 membros (do sexo masculino/solar, feminino/lunar ou misto, com qualquer número de homens e mulheres, dependendo da ordem). Quando haviam mais iniciações, estas lojas eram divididas em mais grupos contendo 5, 7 ou 11 estudiosos. Era comum que membros da Ordem do Sol ou da Lua participassem nestas ordens mistas, assim como até hoje é comum maçons ou wiccas participarem das ordens rosacrucianas.

Treze pessoas em um grupo era considerado o ideal, pois constituía um CÍRCULO COMPLETO, cada um dos iniciados representando um dos signos do zodíaco, ao redor do Grande Sacerdote. Como veremos mais para a frente, isto será válido em outras culturas como a celta, romana, bretã e até africana.

Um quarto grupo era formado por sacerdotes especialmente escolhidos do Templo do Sol e do Templo da Lua, para as festividades das Cheias do Nilo, Morte e Ressurreição de Osíris, Início do ano e várias outras celebrações importantes. Estas celebrações eram Hieros Gamos, onde um sumo-sacerdote coordenava (mas não participava!) do sexo ritualístico entre 6 casais (totalizando 13 pessoas). Estes casais eram geralmente (mas não obrigatoriamente) casados e assumiam suas posições no círculo formando o hexagrama, com o sacerdote ao centro. Estes rituais poderiam ser realizados em um Templo ou em alguns casos, dentro de pirâmides, que estavam ajustadas para as freqüências que eles desejavam ampliar para o restante da população (ou do planeta). Mais tarde, o mesmo princípio será usado nos festivais celtas, mas já chegaremos lá.

Em grandes festividades, outros iniciados participavam (fora do círculo principal, que era formado pelos casais mais poderosos), formando um segundo círculo externo ou grupos, dependendo do número de pessoas. Estas sacerdotisas assumiam a representação da deusa Meret, a deusa das danças e das festividades, e os sacerdotes assumiam a representação de Hapi, deus da fecundidade e das cheias do Nilo.

É importante ressaltar que nestes rituais cada sacerdote transava apenas com a sua parceira.

Era comum o uso de máscaras (com cabeças de animais representando os aspectos relacionados ao ritual/deus que estava sendo realizado), o que mais tarde dará origem ao Baile de Máscaras (que secretamente abrigavam Hieros Gamos) e posteriormente ainda os Bailes de Carnaval. Após as festividades, havia dança, celebrações e sexo não-ritualístico/hedonista.

Estas sacerdotisas eram chamadas de Meretrizes, nome que mais tarde foi deturpado pela Igreja Católica.

Do lado complementar das Meretrizes estavam as Virgens Vestais, que eram virgens que trabalhavam um tipo diferente de energia e eram consideradas as Protetoras do Fogo Sagrado. Elas existem desde o Egito mas ficaram mesmo conhecidas no período grego e romano. Falarei sobre elas daqui a pouco.

Paralelamente aos ritos egípcios, existiam rituais sexuais ligeiramente diferentes na Índia, mas baseados nos mesmos princípios de união dos chakras para despertar a kundalini.

Tantra

O principal ritual de sexo tântrico é chamado de Maithuna. Neste ponto, existem 3 vertentes do Tantra: o Caminho da mão esquerda, que prega a realização destes rituais com estranhos, para atingir um máximo de erotização, voltado para o prazer e que deu origem a livros e textos como o Kama-Sutra, o Caminho da mão direita, que prega que o Maithuna deve ser feito apenas com sua companheira, o que gera uma intimidade maior e uma energia muito maior no ritual e finalmente o Caminho do Meio (meu favorito) que prega um meio termo: rituais sexuais para serem desenvolvidos com uma parceira, mas não excluindo a participação de amigas ou conhecidas no processo.

Rituais Tântricos

Ao contrário da ritualística egípcia, que é extremamente rígida em relação a escolha dos parceiros, as festas tântricas eram basicamente hedonistas (voltadas para o desenvolvimento do ser humano através do prazer e felicidade), podendo haver troca de parceiros (caminhos central e da mão esquerda somente), mais de uma parceira/parceiro em uma transa, etc. As palavras chaves nestas festas são o respeito entre todos os participantes e a consensualidade. Pode-se dizer que estes grupos mantiveram-se sempre de maneira secreta em praticamente todas as sociedades, até os dias de hoje nas casas de swing (ou “troca de casais”, como a mídia adora colocar, dando a falsa impressão que as mulheres nestes locais nada mais são do que “moedas de troca” quando uma idéia melhor seria “compartilhar” – É… eu sou muito chato com os termos corretos, porque palavras têm poder). Hoje muito do conceito destas festas foi distorcido e estragado (com direito até a pessoas que contratam garotas de programa para montar casais falsos e participar das putarias), embora dentro deste universo existam ainda grupos que agem como verdadeiras Sociedades Secretas, com regras de conduta muito rígidas e mantém as idéias originais das FESTAS HEDONISTAS com o respeito e a seriedade que elas deveriam ter.

Grécia e Roma

O culto a Ísis e Osíris migrou do Antigo Egito para a Grécia, onde Toth tornou-se Hermes e os misterios de Osíris tornaram-se o culto a Dionísio (Dyonisus).

Antes de mais nada, quem era Dionísio? Nascido de Zeus e Perséfone, Dionísio atraiu a fúria de Hera, que enviou os titãs para mata-lo. Zeus o protegeu enviando raios e trovões para despedaçar os titãs, mas quando conseguiu derrota-los, sobrou apenas o coração de Dionísio. Zeus colocou seu coração no ventre de Semele, uma de suas sacerdotisas, que se tornou sua segunda mãe… portanto Dionísio era conhecido como o “nascido duas vezes”. Curioso não?

Novamente temos o culto a morte e ressurreição de Osíris na iniciação e os rituais que demonstravam claramente a vida após a morte. Interessante notar que Semele era uma sacerdotisa do culto a Zeus, e portanto uma virgem vestal. Vocês perceberão que ao longo da história, muitos iniciados nasceram de “virgens” (cujo termo possuía o significado real de “espiritualmente pura”). A título de curiosidade, Hórus, Rá, Zoroastro, Krishna, Platão, Apolônio, Pitágoras, Esculápio e aquele outro cara famoso na Bíblia também nasceram de “virgens”.

Os cultos solares eram mais populares em cidades como Esparta, cujos exércitos voltados para o aperfeiçoamento do corpo e da mente usavam os treinamentos físicos desenvolvidos pelos Guardiões do Templo, incluindo muitos ritos de iniciação (especialmente um dos mais importantes, que é mostrado no filme/HQ “300 de Esparta”, quando Leônidas precisa, quando jovem, enfrentar um período de tempo no deserto/montanha e matar um lobo com as próprias mãos, trazendo sua pele para comprovar o feito de coragem). Mais tarde falaremos novamente sobre capas vermelhas nos celtas.

As reuniões destes grupos recebiam o nome de Orgion (palavra em grego que significa “ritual secreto”) e eram presididas pelo Orgiophanta. Da latinização surgiu a palavra Orgia, e nem preciso dizer o que aconteceu com o significado desta palavra.

Em 180 AC, o senado editou o “Senatus consultum de Bacchanalibus” estabelecendo regras claras para a realização destas festividades e ritos. Desnecessário dizer que os cultos secretos continuaram, apenas caíram na clandestinidade dentro das Ordens Secretas. Os Hieros Gamos continuaram ocorrendo, com a latinização dos deuses envolvidos.

As principais festas aconteciam nos Solstícios e Equinócios, especialmente o Sol Invictus (quem assistiu aquele filme “de Olhos bem fechados” pode ver um ritual de Hieros Gamos moderno, ocorrendo justamente no Natal/Dies Natalis Solis Invicti… quer dizer, uma pequena parte dele).

As Vestais

Além dos cultos solar e lunar, existiam também as Vestais (sacerdos vestalis) que eram as sacerdotisas da deusa Vesta e encarregadas de manter aceso o Fogo Sagrado de Vesta. Este fogo era o santuário mais importante de cada cidade romana e deixar uma chama destas apagar era passível de pena de morte. Caso uma chama se apagasse, os sacerdotes precisavam acender uma tocha em um templo vestal em uma cidade próxima e trazer este fogo sagrado até o altar.

Se você pensou em “tocha olímpica”, acertou… é a origem da tocha. Agora algo que você não sabia: A origem sagrada deste fogo remonta ao fogo que Prometeu roubou dos deuses e que lhe custou o castigo eterno.

As Vestais tinham de ser virgens, pois a energia e os chakras delas vibram e podem ser trabalhados de maneira diferente. Os ocultistas chamam isto de Chastitas, de onde vem a palavra castidade. Na rosacruz chamam estas meninas de columbas e elas são responsáveis por algumas das partes mais bonitas da ritualística.

A Chastitas não precisa envolver a falta de amor. Aliás ele desenvolve nas sacerdotisas/sacerdotes que escolhem este caminho a virtude do Ágape, ou amor pela humanidade. O iniciado Platão foi um dos que mais estudou este tipo de ritualística, de onde se originou o termo “amor platônico”.
Sócrates estudou este processo e desenvolveu o chamado Chastitas Pederastia, que é uma relação de amor casto entre um jovem e um adulto do mesmo sexo (normalmente um guerreiro mais velho e o aprendiz de soldado, especialmente nos exércitos gregos). Mas este “amor” a que ele estava se referindo não era o amor homoerótico (que incluía sexo), mas sim o amor fraternal de um Mestre de Guilda para com o Aprendiz. Para tentar traçar um paralelo, pode-se pensar na relação entre o Batman/Robin, o sr. Miagui/Daniel-san e jedi/padawan.

A Igreja deturpou a palavra “pederasta” como sinônimo pejorativo para homossexual. Disto seguem aquelas lendas absurdas que os soldados gregos eram gays. Também foi uma das acusações mentirosas que a Inquisição usou contra os Templários, já que esta tradição da pederastia se estendeu para o conceito de Cavaleiro/escudeiro ou Mestre/aprendiz.

A Castidade funciona através de uma alquimia diferente, transformando o que seria o desejo carnal e sexual em uma energia espiritual através do desenvolvimento dos chakras superiores e do controle dos chakras inferiores. Exemplos deste tipo de iluminação incluem os monges budistas, monges shaolins, os padres da Igreja, algumas santas e outros eremitas da literatura religiosa e ocultista.

(tá… essa dos coroinhas foi brincadeira… )

Bom… o texto está ficando enorme e eu ainda estou na metade… semana que vem a gente continua com os Celtas, Bruxarias, os “sacrifícios de virgens” inventados pela Igreja.

#Chakras #HierosGamos

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/hieros-gamos-e-magia-sexual

Considerações sobre o Hermetic Kabbalah Tarot

HKT2-cards

Há alguns dias, com o lançamento dos aguardados pôsteres impressos (sim esperamos quatro anos até chegarmos ao momento certo de trazê-los ao físico), temos aos poucos mostrado alguns detalhes do HKT2.

No meio tempo em que este projeto está em andamento, algumas demandas surgiram, fazendo com que o projeto tomasse alguns rumos novos. A princípio seria uma edição atualizada, também em PVC com as mesmas características da primeira, mas com a possibilidade do lançamento de uma versão independente em inglês. Algumas alterações foram feitas.

A principal diferença estrutural é o formato, que teve que ser adaptado para uma faca padrão para o mercado “gringo”. O tarot novo é ligeiramente diferente, mais próximo de um deck da LoScarabeo do que a primeira edição (que usou o formato original do Thoth Tarot, do Crowley). A caixa que foi demonstrada, era um modelo para essa versão. Vejam na arte que os textos estão em inglês. Esta caixa também já está obsoleta, foram feitas algumas alterações, deixando-a mais escura para melhor aproveitamento do texto. A imagem neste post é da versão final da caixa.

Estamos aguardando as provas desta edição chegarem no Brasil para que a loja online dos tarots em outras línguas seja liberada. Mas o que isso muda para a versão nacional? Estive ontem conversando com o Marcelo e, atendendo a alguns pedidos, estamos cotando uma versão em papel como os tarots normais. Mas por quê? Vou deixar aqui a minha defesa.

O projeto inicial era que o HKT fosse um deck que superasse o uso oracular, dando também um excelente suporte magístico. Nossas próprias observações e o relato de inúmeros usuários nos mostram quem fomos bem sucedidos. O deck passou por dezenas de provas, rituais sofisticados, técnicas de meditação e visualização, longas viagens, tiradas ao público, dentre outras coisas. E mesmo tendo sido atingido por água, vinho, sangue, terra, areia da praia, respingos de vela, etc, ele ainda passou ileso. Ele só não resistiu a chama direta, portanto recomendamos que você coloque um pires se quiser acender uma vela sobre as cartas.

Antes de lançar a primeira edição, acreditava que a maioria dos decks fosse comprado pelo pessoal mais avançado em tarot, mas ocorreu um fenômeno contrário. Muitos novos estudantes adquiriram o deck. Para facilitar mais este aspecto (e por consequência o uso oracular), foram adicionados símbolos planetários nas Sephiroth, a relação dos elementos na Escada de Jacó, o nome das Runas e uma marca d´agua baseada na edição original do Rider-Waite-Smith.

Isso dá ao deck uma familiaridade a mais para quem já possui literatura especializada e para quem faz uso oracular da ferramenta. Como muitos dos que aguardam o deck já possuem a primeira edição, não há mais a necessidade de um deck em PVC; já existe a ferramenta para uso magistico e ritualístico. Entra agora a ferramenta que se foca no campo dos estudos, simbolismo e tiradas.

Outro fato importante, lembrado pelo Marcelo é que vamos tentar reduzir o custo desta edição, e isso com o PVC é impossível. Com o tarot no formato europeu, o valor final ficou em R$ 75,00. E, claro, para quem nos apoiou no HKT1, faremos uma promoção Show de bola.

Por Rodrigo Grola

Publicado no Facebook dia 17/11

#KabbalisticTarot #Tarot

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/considera%C3%A7%C3%B5es-sobre-o-hermetic-kabbalah-tarot

A Literatura Mágica e Religiosa – Allan Trindade

Bate-Papo Mayhem #104 – 17/11/2020 (Terça) Com Allan Trindade – A Literatura Mágica e Religiosa

Os bate-Papos são gravados ao vivo todas as 3as, 5as e sábados com a participação dos membros do Projeto Mayhem, que assistem ao vivo e fazem perguntas aos entrevistados. Além disto, temos grupos fechados no Facebook e Telegram para debater os assuntos tratados aqui.

Faça parte do Projeto Mayhem aqui:

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#Batepapo

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O último voo de Saint-Exupéry

O Pequeno Príncipe, um clássico adorado por pessoas grandes e pequeninas, completa 70 anos…

Em Abril de 2014 a exposição The Little Prince – A New York Story, em plena Nova York, trouxe os manuscritos originais de Antoine de Saint-Exupéry, o francês autor da obra. Pouca gente sabe que ele morou em Nova York por dois anos, durante a Segunda Guerra Mundial, e escreveu o livro enquanto residia na América. A primeira edição foi publicada, em 1943, por uma editora americana, e não francesa.

A curadora da exposição, Christine Nelson [1], diz que a ideia para o livro sempre esteve rondando a cabeça de Saint-Exupéry, e prossegue, “Desde que era pequeno, gostava de desenhar, mas nunca foi um desenhista profissional, e nunca havia ilustrado um livro antes. Mas você via frequentemente em seus manuscritos alguns pequenos desenhos nas margens, e muitas vezes o desenho retratava uma pequena pessoa. E chegando perto da publicação de O Pequeno Príncipe, os traços dessa pequena pessoa passaram a tomar a forma do personagem.”

Tais ilustrações também se pareciam muito com o próprio autor. Diz a lenda que foi uma amiga sua de Nova York que o incentivou a transformar o personagem em um livro. A amiga se chamava Elisabeth Reynal, e era casada com o dono da editora (Reynal & Hitchcock) que veio a publicar o livro.

Saint-Exupéry escreveu sua obra mais famosa em vários lugares da metrópole norte americana. Tinha um apartamento ao sul do Central Park, escreveu um pouco ali; tinha uma amante – Silvia Hamilton – na Park Avenue, em Upper East Side, e escreveu muito por lá também; tinha um grande amigo da escola de artes – Bernard Lamat –, que tinha um lindo estúdio de arte, e ele também escreveu parte de sua obra por lá; e, finalmente, também trabalhou em Long Island, numa casa que alugou durante um verão.

O tempo que passou em Nova York, entretanto, foi mesmo breve. Saint-Exupéry era um piloto da força aérea francesa, e havia atuado em missões diversas, principalmente no Marrocos. Aos 43 anos, estava prestes a deixar a América para voltar à África como piloto, e foi exatamente neste período que o livro veio a ser publicado. De fato, foi quase na mesma semana, em Abril de 1943, em que ele voltava a atuar como piloto da aeronáutica francesa, que o livro chegava às livrarias de Nova York.

Quando o avião e seu piloto desapareceram durante uma missão para coletar informações do movimento das tropas alemãs, durante a guerra, o seu livro ainda estava longe de alcançar o sucesso mundial que viria a ter mais tarde. Saint-Exupéry decolou o seu P-38 Lightning de uma base aérea na Córsega, em 31 de Julho de 1944, e nunca mais retornou… Passou a viver na memória e, sobretudo, no imaginário de seus leitores.

Levou mesmo um certo tempo para que a magia de O Pequeno Príncipe conquistasse a legião de admiradores que tem até hoje. Uma coisa importante que temos de lembrar é que quando Saint-Exupéry chegou aos Estados Unidos, no final de 1940, ele já era um escritor best-seller. Já tinha publicado Terra dos Homens e Piloto de Guerra, livros que foram grandes sucessos de venda na América daquela época. Quando O Pequeno Príncipe foi lançado em 1943, até alcançou um relativo sucesso de venda, mas ficou na lista dos mais vendidos por uma única semana, enquanto outros livros do autor chegaram a ficar até 20 semanas nesta mesma lista.

O livro não foi, portanto, um sucesso imediato. Foi construindo esse sucesso ao longo dos anos; o que, com certeza, aumentou após o desaparecimento do autor, e quando finalmente veio a ser publicado na França, sua terra natal, em 1946 [2].

Nelson, tentando explicar o sucesso da obra, nos diz que “O Pequeno Príncipe é um livro decepcionantemente simples a primeira vista. Tem uma história muito simples, ilustrações muito ingênuas e, no entanto, várias camadas de leitura. Ele tem uma mensagem muito simples que todos podem apreciar e compreender – claro que estou falando da mensagem da raposa que diz que o essencial é invisível aos olhos e só pode ser sentido com o coração. Uma criança pode apreciar e entender esta mensagem, assim como qualquer adulto.

A questão é que a cada vez que o pequeno príncipe encontra um personagem adulto em sua viagem pelo universo, ele representa algumas características que nós, humanos, enfrentamos ao longo da vida – a arrogância, a vaidade, o materialismo, e, no caso do homem que bebe demais, a vergonha. Isso tudo são características que adquirimos à medida que vamos crescendo e aprendendo a nos relacionar com as outras pessoas”. São “defeitos”, se formos analisar assim, que precisam ser trabalhados e, se tudo correr bem, domesticados.

Há muito de Saint-Exupéry no seu O Pequeno Príncipe, mas também há muito de Saint-Exupéry no personagem narrador da obra, o piloto. Ele também era piloto e também teve um acidente no deserto, como o narrador da história. O foco do livro e suas ilustrações, no entanto, é no narrador contando a história do pequeno príncipe. Então acompanhamos a sua viagem fantástica pela narrativa e as ilustrações, mas não há uma ilustração sequer do narrador, isto é, do piloto (Saint-Exupéry chegou a esboçar uma, mas não foi incluída na versão final).

Já a raposa é a chave para o segredo do pequeno príncipe. É este personagem quem o ensina o que é mais importante na vida: o essencial é invisível aos olhos. Quando eles se encontram, a raposa quer ser seduzida, quer criar um significado para a sua relação. E, em troca, ela o ensina a ser paciente, saber esperar, curtir o momento, e, finalmente, chegar a ter um vínculo, um vínculo especial, com outro ser que nos cativou, e que também cativamos.

Muita gente não gosta ou despreza esta obra, dizendo que é muito “sentimental”. Nelson ainda nos diz que “certamente este livro não atrai todo mundo, e isto está bom. Eu tenho convivido com este livro há alguns anos – lendo, relendo, e o estudando em todos os detalhes. Tenho o sentimento de que é uma história realmente profunda. Sim, é sentimental. Sim, tem uma mensagem muito simples. Tem uma moral, se preferir, mas acredito que seja uma bela moral. Penso que a história é contada com uma grande sabedoria. As camadas de melancolia e tristeza que estão por baixo são tão profundas, principalmente quando você lembra que a guerra estava ocorrendo, e qual era o sentimento de Saint-Exupéry em relação a ela, que o fato dele ter transformado a sua experiência da guerra, durante um período de tanto desespero no mundo, em uma história tão abundante de esperança, é um enorme triunfo!”

***

Quando partiu da Córsega em seu avião, Saint-Exupéry usava uma pulseira que foi encontrada anos depois do seu desaparecimento. Depois que ele sumiu, em 1944, não ficou claro, por muito tempo, o que exatamente havia acontecido. Mas, em 1998, um pescador na costa de Marselha encontrou em sua rede de pesca uma pulseira de prata, na qual estava inscrito o nome de Saint-Exupéry. Então se descobriu que essa era a pulseira que ele usava quando o avião caiu. Em 2004, os destroços do seu avião também foram achados numa localidade próxima – mas seu corpo jamais foi encontrado…

Em todo caso, quais eram as chances de um objeto tão pequeno ser pescado do mar? Tal achado possibilitou a confirmação do local onde Saint-Exupéry morreu, e também a recuperação dos destroços do seu P-38 Lightning; e foi também mais um incrível elemento a ser adicionado ao mito de Antoine de Saint-Exupéry, o homem que se tornou, ao menos no imaginário de muitos dos seus admiradores, o próprio pequeno príncipe.

Esta obra é, portanto, o seu último voo, um voo eterno pela imaginação das pessoas de todo o mundo – sejam elas grandes ou pequeninas.

Este é o Epílogo da minha tradução da obra mais famosa de Saint-Exupéry, que já se encontra à venda como livro digital na Amazon, com mais de 40 ilustrações de tela inteira, “pelo preço de um café”… Clique na imagem abaixo para acessar a obra à venda no site da Amazon:

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» Ler o capítulo XXI completo, na tradução de Rafael Arrais

***

[1] Os depoimentos de Christine Nelson foram retirados do programa GloboNews Literatura que foi ao ar em Abril de 2014, no canal de TV a cabo GloboNews.

[2] Segundo a Universia Brasil, O Pequeno Príncipe é o segundo livro mais traduzido do mundo (após a Bíblia Sagrada), com mais de 250 traduções. Também já vendeu, em todo mundo, mais de 140 milhões de exemplares.

#eBooks #Livros

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-%C3%BAltimo-voo-de-saint-exup%C3%A9ry

Kether

Trecho extraído de “A Cabala Mística”, de Dion Fortune

1. Kether, a Coroa, localiza-se na cabeça do Pilar Medial do Equilíbrio, e nele estão suspensos os Véus Negativos da Existência. Já comentei a utilização desses Véus Negativos como estrutura para o pensamento, de modo que não repetirei esse ponto, mas lembro ao leitor qúe Kether, a Primeira Manifestação, representa a cristalização primordial na manifestação do que era até então imanifesto e, por conseguinte, incognoscível. Nada podemos saber a respeito da raiz da qual brota Kether; mas, quanto à própria Kether, podemos adiantar alguma coisa. Ela pode representar para nós, em nosso estágio de desenvolvimento, o Grande Desconhecido, mas não é o Grande Incognoscível. A mente do mago pode abarcá-la em suas visões mais elevadas. Em minhas próprias experiências com a operação conhecida como Elevação nos Planos, que consiste em elevar a consciência pelo Pilar Médio, por meio da concentração nos sucessivos símbolos a nos Caminhos, Kether, numa ocasião em que lhe toquei as fímbrias, surgiu como uma cegante luz branca, anulando por completo o pensamento.

2. Não existe forma em Kether, apenas puro ser, qualquer que seja ele. Poderíamos dizer que se trata de uma latência que se encontra a apenas um grau da não-existência. Tais conceitos são necessariamente vagos a não estou capacitada para dar-lhes a precisão que devem ter, mas ficarei satisfeita se pudermos reconhecer os graus do devir, compreendendo que a rude diferenciação entre Ser a Não-Ser não representa os fatos. Quando a existência se toma manifesta, os pares de opostos penetram o ser; mas em Kether não existe divisáo nos pares de opostos, pois estes, para se manifestarem, precisam esperar a emanação de Chokmah a Binah.

3. Kether, portanto, é o Um, que existia antes mesmo de dispor de um reflexo de si mesmo, para apresentar-se como imagem na consciência e aí estabelecer a polaridade. Devemos acreditar que ela transcende todas as leis conhecidas da manifestação – apenas existe, sem reação. Cabe lembrar, contudo, que, quando falamos de Kether, não significa uma pessoa, mas um estado de existência, a tal estado de substância existente deve ter sido completamente inerte, puro ser, sem atividade, até iniciar-se a atividade, que emana Chokmah.

4. A mente humana, não conhecendo outro modo de existência além do da forma a da atividade, tem muita dificuldade para conceber um estado inteiramente informe de passividade, o qual é, não obstante, muito distinto do não-ser. Mas precisamos realizar esse esforço, se quisermos compreender os fundamentos da filosofia cósmica. Não devemos lançar os Véus da Existência Negativa à frente de Kether ou nos condenar a uma perpétua dualidade insolúvel; Deus e o demônio lutarão para sempre em nosso cosmo, e não há finalidade em seu conflito. Devemos treinar a mente para conceber o estado de puro ser sem atributos ou atividades; podemos pensar nele como a luz branca cegante, não diferenciada em raios pelo prisma da forma; ou como a escuridão do espaço interestelar, que é nada, embora contenha as potencialidades de todas as coisas. Esses símbolos, sobre os quais repousa o olho interior, constituem um auxilio mais proveitoso para a compreensão de Kether do que todas as definições da filosofia exata. Não podemos definir a Sephirah Kether; só podemos indicá-la.

5. Constitui sempre uma experiência iluminadora descobrir o extraordinário significado das pistas contidas nas tabelas de correspondências, e o modo pelo qual elas conduzem a mente de um conceito a outro. A Primeira Sephirah chama-se Coroa, não cabeça, note-se. A Coroa é um objeto que se põe sobre a cabeça, a esse fato nos dá uma clara indicação de que Kether pertence ao nosso Cosmo, embora não esteja nele.

Descobrimos também a sua correspondência microscómica no Lótus das Mil Pétalas, o chakra Sahamsara, que se localiza na aura, imediatamente acima da cabeça. Penso que isso nos ensina claramente que a essência espiritual mais íntima de alguma coisa, seja no homem ou no mundo, nunca está na manifestação real, sendo antes a base ou raiz subjacente de onde tudo brota a pertencendo, na verdade, a uma dimensão diferente – a uma ordem diferente de ser. Esse conceito dos diferentes tipos de existência é fundamental para a filosofia esotérica a devemos tê-to sempre presente quando consideramos os reinos invisíveis do mago ou do ocultista prático.

6. Na filosofia vedanta, Kether equivaleria sem dúvida a Parabrahmâ; Chokmah, a Brahman; a Binah, a Mulaprakriti. Nos outros grandes sistemas do pensamento humano, Kether equivale ao seu conceito primário, correspondendo ao Pai dos Deuses. Se foram estes que criaram o universo no espaço, então Kether é o Deus do céu. Se o universo se originou na água, Kether é o oceano primordial. Kether relaciona-se sempre com o sentido do informe a do eterno. Os deuses de Kether são deuses terríveis que devoram suas crianças, pois Kether, embora seja o pai de todos, reabsorve o universo ao final de uma época de evolução.

7. Kether é o abismo donde se originam todas as coisas, a para onde estas voltarão ao final de sua era. Nos caminhos exotéricos associados a Kether,descobrimos, por conseguinte, a implicação da não-existência. Nos conceitos esotéricos, contudo, aprendemos que esse conceito é errôneo. Kether é a forma mais intensa de existência, ser puro, não-limitado por forma ou reação; mas essa existência pertence a um tipo diverso daquele a que estamos acostumados, aparecendo-nos, portanto, como não-existência, porque não combina com nenhum dos requisitos que a nosso ver determinam a existência. A idéia da existência de outros modos de ser está implícita em nossa filosofia a devemos tê-la sempre em mente, porquanto é a chave de Kether, a Kether é a chave da Árvore da Vida.

8. O texto yetzirático descritivo de Kether, como todos os dizeres da Sepher Yetzirah, é uma sentença oculta. Afirma ele que Kether se chama Inteligência Oculta, a os diversos títulos conferidos a Kether na literatura cabalística confirmam essa denominação. Kether é o Segredo dos Segredos, a Altura Inescrutável, a Cabeça Que Não É. Temos aqui novamente a confirmaçáo da idéia de que a coroa está acima da cabeça do Homem Celestial, o Adão Cadmo; o ser puro está atrás de toda manifestação, a não é por ela absorvido, sendo antes a causa de sua emanação ou manifestação. Tal como nos expressamos em nossas obras, assim se expressa Kether na manifestação. Mas as obras de um homem não constituem a sua personalidade, sendo, ao contrário, a expressão de sua atividade natural. Ocorre o mesmo com Kether; seu modo de existência não é manifesto, mas constitui a causa da manifestação.

9. Temos até agora considerado Kether em Atziluth, isto é, em sua natureza essencial a primordial. Devemos considerá-la agora tal como aparece nos outros três Reinos distinguidos pelos cabalistas.

10. Cada Reino, ou plano de manifestação, tem sua forma primária: a matéria, por exemplo, é, com toda probabilidade, primariamente elétrica, a essa forma primordial, segundo os esoteristas, consiste no subplano etérico que subjaz aos quatro planos elementais: Terra, Ar, Fogo a Água; ou, em outras palavras, os quatro estados da matéria densa: sólido, líquido, gasoso a etéreo.

11. Os cabalistas concebem a Árvore em cada um dos quatro Reinos, a saber: Atziluth, espírito puro; Briah, mente arquetípica; Yetzirah, consciência imagética astral; a Assiah, o mundo material em seus aspectos densos e mais sutis. As operaçáes das forças de cada Sephirah são representadas em cada mundo sob a presidência de um Nome Divino, ou Mundo do Poder, e esses mundos dão as chaves das operações do ocultismo prático nos diversos planos. O Nome de Deus representa a ação da Sephirah no Mundo de Atziluth, espírito puro; quando o ocultista invoca as forças de uma Sephirah pelo Nome de Deus, isso significa que ele deseja entrar em contato com sua essência mais abstrata, pois está buscando o princípio espiritual que sustenta a condiciona esse modo particular da manifestação. Reza uma máxima do Ocultismo Branco que toda operação deve começar pela invocação do Nome Divino na Esfera em que ocorrerá a operação. Isso assegura que a operação estará em harmonia com a lei cósmica. Nunca se deve descurar o equilíbrio da força natural, pois o equilíbrio é essencial para que o mago conduza em segurança as operações de acordo com a lei cósmica; por conseguinte, o mago deve procurar compreender o princípio espiritual envolvido em cada problema a operá-to convenientemente. Toda operação, por conseguinte, precisa ter sua unificaçâo ou resolução final em Eheieh, o nome de Deus de Kether em Atziluth.

12. A invocação da divindade sob o nome de Eheieh, isto é, a afirmação do ser puro, eterno, imutável, sem atributos ou atividades, que tudo sustém, mantém a condiciona, é a fórmula primária de toda operação mágica. Somente ao ser penetrada pela compreensão desse ser imutável a sem fim, de extraordinária concentração a intensidade, pode a mente ter qualquer compreensão do poder ilimitado. A energia derivada de qualquer outra fonte é uma energia limitada a parcial. A fonte pura de toda energia localiza-se tão-somente em Kether. As operações do mago visando à concentração da energia (e que operação não o faz?) devem sempre começar por Kether, porquanto deparamos nessa Sephirah com a força emergente que brota do Grande Imanifesto, o reservatório do poder ilimitado. É graças a Kether, o Grande Imanifesto oculto atrás dos Véus da Existência Negativa, que o poder tem origem. Se extrairmos poder de qualquer esfera especializada da natureza, estaremos, por assim dizer, tirando de Pedro para dar a Paulo. O poder vem de alguma parte a vai para algum lugar, a deve ser responsável no ajuste de contas final. É por essa razão que se diz que o mago paga com sofrimento o que obtém por meios mágicos. Isso é verdade se sua operação é realizada em qualquer uma das esferas inferiores da natureza; mas se tal operação tem início com Kether em Atziluth, o mago estará extraindo força imanifesta para colocá-la na manifestação; ele aumenta as fontes do universo e, desde que as forças se mantenham em equilíbrio, nenhuma reação rebelde ocorrerá, bem como nenhum pagamento em sofrimento pelo use dos poderes mágicos.

13. Esse é um ponto de extraordinária importância prática. Os estudantes aprenderam que as Três Sephiroth – Kether, Chokmah e Binah estão fora do alcance de qualquer obra prática enquanto estamos encarnados. Na verdade, elas estáo fora do alcance da consciência cerebral, a constituem a base essencial de todos os cálculos mágicos. Se não operamos a partir dessa base, não temos nenhum fundamento cósmico, colocando-nos entre céu e a terra a não encontrando nenhum lugar de repouso seguro. Devemos, ao contrário, manter a tensão mágica que mantém vivas as formas astrais.

14. A grande diferença entre a ciência cristã a as formas mais rudes do novo pensamento e da auto-sugestâo consiste no fato de que a primeira inicia todas as suas operações pela vida divina; e, por mais irracionais que sejam suas tentativas para filosofar o seu sistema, seus métodos são empiricamente sãos. O ocultismo, e especialmente o praticante da Magia Cerimonial, se não foi instruído nessa disciplina, tende a começar sua operação sem qualquer referência à lei cósmica ou ao princípio espiritual; conseqüentemente, as imagens mentais que ele forma são como corpos estranhos no organismo do Homem Celestial, ou Macrocosmo, a todas as forças da natureza se dirigem espontaneamente para a eliminação dá substância estranha e para a restauração do equilíbrio normal das tensões. A natureza luta contra o mago com unhas a dentes; conseqüentemente, todo aquele que recorre à Magia não-consagrada jamais pode descansar sua espada, pois precisa estar sempre na defensiva a fim de manter o que conquistou. Mas o adepto que inicia sua obra com Kether em Atziluth, isto é, no princípio espiritual, e opera esse princípio de cima para baixo a fim de expressá-to nos planos da forma, empregando para esse propósito o poder extraído do Imanifesto, integra sua operação no processo cósmico, e a natureza se coloca a seu lado, em vez de hostilizá-lo.

15. Não podemos esperar entender a natureza de Kether em Atziluth, mas podemos abrir nossa consciência à sua influência, a esta é muito poderosa, conferindo-nos uma estranha sensação de eternidade e imortalidade. Podemos saber quando a invocação de Eheieh em seu puro esplendor branco é efetiva, pois compreendemos, com completa convicção, a impermanência a insignificáncia superior dos planos da forma e a supremá importância da Vida única, que condiciona todas as formas, tal como as mãos do oleiro moldam a argila.

16. A meditação sobre Kether confere-nos a compreensão intuitiva de que o resultado de uma operação tem pouco valor. “Que o sujo brinque com o sujo, se este lhe agrada.” Uma vez obtida essa compreensão, temos domínio sobre as imagens astrais e podemos operá-las à vontade. É apenas quando o operador não tem qualquer interesse pela operapão no plano físico que ele atinge esse completo domínio sobre as imagens astrais. Só a manipulação das forças lhe diz respeito, assim como a sua condução por meio da manifestação na forma; mas ele não cuida da forma que as forças podem finalmente assumir, a as deixa por si mesmas, visto que assumirão a forma mais afim a suas naturezas, sendo assim mais fiéis à lei cósmica do que a qualquer desígnio que seu limitado conhecimento poderia conferir-lhes. Essa é a chave real de todas as operações mágicas, a sua única justificativa, pois não podemos alterar o Universo para adaptá-to ao nosso capricho a conveniência, mas só nos justificamos na operação deliberada da Magia quando operamos com a grande maré da vida evolutiva a fim de chegarmos à plenitude da vida, seja qual for a forma que a experiência ou manifestação possa assumir. “Vim para que eles pudessem ter vida, a para que a tivessem em abundáncia”, disse o Senhor, a essas poderiam ser as palavras do mago.
Vida, a somente a vida, deveria ser a sua divisa, a não qualquer manifestação especializada dela como Sabedoria, Poder ou mesmo Amor.

17. Aqueles que seguiram atentamente a exposição precedente estarão em condições de descobrir algum significado nas palavras criptográficas do Texto Yetzirático atribuído a Kether. As palavras “Inteligência Oculta” dão uma pista da natureza imanifesta da existência de Kether, que é confirmada pela afirmação de que “Nenhum ser criado pode alcançar-lhe à essência”, ou seja, nenhum ser que utiliza, como veículo de consciência, um organismo dos planos da forma. Quando, contudo, a consciência foi exaltada ao ponto de transcender o pensamento, ela recebe da “Glória Primordial” o “poder de compreensão do Primeiro Princípio”; ou, em outras palavras, “Compreenderemos da mesma maneira pela qual somos compreendidos”.

18. Eheieh, Eu Sou O Que Sou, ser puro, é o Nome divino de Kether, e sua imagem mágica é um velho rei barbado visto de pèrfil. O Zohar afirma que o velho rei barbado só tem o lado direito; não vemos a imagem mágica de Kether em sua face plena, isto é, completa, mas apenas uma parte dela. Há um aspecto que deve sempre permanecer oculto para nós, como o lado escuro da lua. Esse lado de Kether é o lado que está voltado para o Imanifesto, que a natureza de nossa consciência manifesta nos impede de compreender, a que constitui um livro selado para nós. Mas, aceitando essa limitação, podemos contemplar o aspecto de Kether, o perfil do velho rei barbado, que se reflete para baixo na forma.

19. Velho é esse rei, o Antigo dos Antigos, o Velho dos Dias, que existe desde o início, quando o rosto não contemplava rosto algum. Ele é um rei, porque governa todas as coisas de acordo com sua suprema e inquestionável verdade. Em outras palavras, é a natureza de Kether que condiciona todas as coisas, porque todas as coisas surgiram dela. Ele é barbado porque, no curioso simbolismo dos rabinos, todo pêlo de sua barba tem um significado.

20. A manifestação das forças de Kether em Briah, o mundo da mente arquetípica, efetua-se por meio do arcanjo Metatron, o Príncipe das Faces, a quem a tradição atribui o papel de mestre de Moisés. A Sepher Yetzirah afirma a respeito do Décimo Caminho, Malkuth, que ele “emana uma influéncia do Príncipe dos Rostos, o arcanjo de Kether, e é a fonte de iluminação de todas as luzes do universo”. Aprendemos, assim, claramente, que não apenas o espírito flui para a manifestação na matéria, mas a matéria, por sua própria energia, lança o espírito na manifestação. Esse é um importante ponto para o praticante da Magia, pois afirma que este tem justificativas para as suas operações a que o homem não precisa esperar a palavra do Senhor, podendo invocar a Deus para ouvi-Lo.

21. Os anjos de Kether, operando no Mundo Yetziático, são os Chaioth ha Qadesh, as Criaturas Vivas a Sagradas, a esse Nome traz à mente a visão do Carro de Fogo de Ezequiel a as Quatro Santas Criaturas diante do Trono. O fato de que os quatro ases do Tarô, atribuídos a Kether, representam as raízes dos quatro elementos, Terra, Ar, Fogo a Água, confirma igualmente essa associação. Podemos, pois, considerar Kether como a fonte primordial dos elementos. Esse conceito esclarece muitas das dificuldades ocultas a metafísicas com que nos deparamos se limitamos sua operação ao plano astral a encaramos os elementais como seres pouco melhores do que os demônios, como parecem fazer algumas escolas de pensamento transcendental.

22. A questão dos anjos, archons a elementais é um tema muito discutido e muito importante no ocultismo, porque a sua aplicação prática à Magia é imediata. O pensamento cristáo pode tolerar com algum esforço a idéia dos arcanjos, mas os espíritos auxiliares, os mensageiros que são as chamas do fogo a os construtores celestes são estranhos à sua Teologia; Deus, sem ajuda a num átimo, fez os céus e a Terra. O Grande Arquiteto do Universo é também o pedreiro. A ciencia esotérica pensa de modo diferente. O iniciado conhece as legiôes de seres espirituais que são agentes da vontade de Deus e os veículos da atividade criativa. É por meio desses que ele opera, pela graça de seu arcanjo dirigente. Mas um arcanjo não pode ser conjurado por nenhum encantamento, por mais potente que este seja. Deveríamos mesmo dizer que, quando efetuamos uma operação da Esfera de uma Sephirah particular, o arcanjo opera por meio de nós para o cumprimento de sua missão. A arte do mago repousa, por conseguinte, em alinhar-se à força cósmica, a fim de que a operação que ele deseja realizar possa produzir-se como parte da operação de atividades cósmicas. Se ele for verdadeiramente puro a devoto, esse será o caso de todos os seus desejos; mas, se ele não for verdadeiramente puro a devoto, não será então um adepto, a sua palavra não será uma Palavra de Poder.

23. É interessante notar que, no Mundo de Assiah, o título da Esfera de Kether é Rashith ha Gilgalim, ou Primeiros Remoinhos, indicando, assim, que os rabinos estavam familiarizados com a teoria das nebulosas antes que a ciência tivesse conhecimento do telescópio. A maneira pela qual os amigos deduziram os fatos básicos da cosmogonia graças a meios puramente intuitivos a mercé da utilização do método de correspondências, séculos antes da invenção a aperfeiçoamento dos instrumentos de precisão que permitiram ao homem moderno realizar as mesmas descobertas de outro ângulo, será sempre um assunto de perpétua perplexidade para todo aquele que estuda a filosofia tradicional sem fanatismo.

24. Como em cima, tal é embaixo. O microcosmo corresponde ao macrocosmo, a precisamos, por conseguinte, buscar no homem a Sephirah Kether que está acima da cabeça que brilha com um puro esplendor branco em Adão Cadmo, o Homem Celeste. Os rabinos a chamam Yechidah, a Centelha Divina; os egípcios a chamam Sah; os hindus a chamam Lótus de Mil Pétalas – o núcleo do espírito puro que emana as múltiplas manifestações nos planos da forma, mas nelas não habita.

25. Enquanto estivermos encarnados, jamais poderemos nos elevar à consciência de Kether em Atziluth e reter o veículo físico intato antes de nosso regresso. Tal como Enoch caminhou com Deus e desapareceu, assim também o homem que tem a visão de Kether se desvanece no que respeita ao veículo da encarnação. Isso se explica facilmente se nos lembrarmos que não podemos entrar num modo de consciência a não ser reproduzindo-o em nós mesmos, assim como uma música nada significa para nós a menos que o coração cante com ela. Se, por conseguinte, reproduzimos em nós mesmos o modo de ser daquilo que não tem forma nem atividade, segue-se que devemos nos livrar da forma a da atividade. Se conseguirmos fazé-lo, o que foi reunido pelo modo de forma da consciencia desaparecerá a voltará aos seus elementos. Assim dissolvido, ele não pode ser reunido ao retornar à consciência. Por conseguinte, quando aspiramos à visão de Kether em Atziluth, devemos estar preparados para penetrar na Luz a nunca mais sair dela.

26. Isso não implica ser o Nirvana aniquilação, tal como uma tradução ignorante da filosofia oriental ensinou ao pensamento europeu; mas também náo implica uma completa mudança de modo ou dimensão. O que seremos, quando nos descobrirmos no mesmo nível das Criaturas Vivas a Sagradas, não o sabemos, a ninguém que alcançou a visão de Kether em Atziluth retomou para contar-nos; mas a tradição afirma que existem aqueles que o fizeram, a que eles estáo intimamente relacionados com a evolução da humanidade a são os protótipos dos super-homens, a respeito dos quais todas as raças têm uma tradição – uma tradição que, infelizmente, tem sido envilecida a degradada nos últimos anos pelos ensinamentos pseudo-ocultistas. O que quer que seja que esses seres possam ser ou não, é seguro dizer que eles não têm nem forma astral nem personalidade humana, mas são como chamas no fogo que é Deus. O estado da alma que atingiu o Nirvana pode ser comparado a uma roda que perdeu seu aro a cujos raios penetram e interpenetram toda a criação; um centro de radiação, a cuja influência não se pode determinar um limite, exceto o de seu próprio dinamismo, a que mantém a sua identidade como um núcleo de energia:

27. A experiência espiritual atribuída a Kether é a união com Deus. Esse é o fim e o objetivo de toda a experiência mística e, se procurarmos qualquer objetivo, seremos como aqueles que edificam uma casa no mundo da ilusão. Tudo o que pode reter o místico em seu caminho direto para esse objetivo produz-lhe a impressão de um grilhão, que o prende, e, que, como tal, deve ser quebrado. Tudo aquilo que sujeita a consciência à forma, todos os desejos que não sejam o da união com Deus são males para ele e, desse ponto de vista, ele está certo; agir de outra maneira invalidaria sua técnica.

28. Mas essa não é a única prova que o místico deve enfrentar; exigese-lhe que satisfaça os requisitos dos planos da forma antes de estar livre para começar sua retirada a escapar da forma. Há o Caminho da Mão Esquerda que conduz a Kether, a Kether das Qliphoth, que é o Reino do Caos. Se o adepto aspirante se aventura pelo Caminho Místico prematuramente, é para lá que ele vai, a não ao Reino da Luz. Para o homem que é naturalmente do Caminho Místico, a disciplina da forma é incompatível. E uma das mais sutis tentações é abandonar a batalha da existência na forma, a qual resiste ao seu domínio, a retirar-se pelos planos antes que o nadir tenha sido atravessado a as lições da forma tenham sido aprendidas. A forma é a matriz na qual a consciência fluídica é mantida até adquirir uma organização à prova de dispersão; até tomar-se um núcleo de individualidade diferenciada do mar amorfo do puro ser. Se a matriz for quebrada muito cedo, antes que a consciência fluídica se tenha formado como um sistema organizado de tensões estereotipadas pela repetição, a consciência se retrairá para o amorfo, assim como a argila retomará à lama se libertada do amparo do molde antes de ser queimada. Se há um místico cujo misticismo produz incapacidade mundana ou qualquer tipo de disposição da consciência, sabemos que o molde se quebrou muito cedo para ele, a ele deve retomar à disciplina da forma até que a sua lição tenha sido aprendida a sua consciência tenha alcançado uma organização coerente a coesa que nenhum Nirvana possa destruir. Que ele corte lenha a carregue água a serviço do Templo, se desejar, mas que não profane o local sagrado com suas patologias a imaturidades.

29. A virtude atribuída a Kether é a da consecução; a realização da Grande Obra, para utilizar um termo pedido de empréstimo aos alquimistas. Sem a realização não há consecução a sem consecução não há realização. Boas intenções pesam pouco na escala da justiça cósmica; é por nossa obra completada que somos conhecidos. Temos, é verdade, toda a eternidade para completá-la, mas devemos fazê-to até o Yod final. Não há misericórdia na justiça perfeita, a não ser a que nos permite tentar novamente.

30. Kether, contemplada do ponto de vista da forma, é a coroa do Reino do Esquecimento. A não ser que compreendamos a natureza vital da Pura Luz Branca, sentiremos pouca tentação de lutar por essa Coroa que não é dessa ordem de ser; e, se tivermos essa compreensão, entáo estaremos livres da limitação da manifestação a poderemos falar a todas as formas como quem realmente tem a autoridade para fazê-lo.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/kether

13 Conselhos de Chuck Palahniuk sobre como Escrever

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Ela disse o comentário perfeito no momento perfeito, e eu lembro disso duas décadas depois porque isso me fez rir. Aquelas outras vitrines bonitas… Estou certo de que elas eram estilosas e de bom gosto, mas eu não tenho recordações claras de como elas eram.

Para este ensaio, minha meta é colocar mais. Reunir um estoque de ideias ao estilo do Natal, com a esperança de que algo seja útil. Ou como se estivesse empacotando caixas de presentes para os leitores, colocando doces e um esquilo e um livro e alguns brinquedos e um colar, estou na esperança de que variedade o bastante é garantia de que algo aqui vai soar completamente estúpido, mas também de que alguma outra coisa poderá ser perfeita.

1: Dois anos atrás, quando escrevi o primeiro desses ensaios tratava-se do meu “método do cronômetro” de escrever. Você nunca viu esse ensaio, mas eis o método: Quando você não quiser escrever, programe um cronômetro para uma hora (ou meia hora) e sente-se para escrever até que o alarme toque. Se você ainda detesta estar escrevendo, estará livre em uma hora. Mas geralmente, ao momento em que o alarme tocar, você estará tão envolvido no seu trabalho, divertindo-se tanto com ele, que vai seguir em frente. Ao invés de um cronômetro, você pode colocar algumas roupas na máquina de lavar ou de secar e usá-los para cronometrar seu trabalho. Alternar entre o trabalho cerebral de escrever com o trabalho não-pensante da máquina de lavar roupas ou pratos te dará os intervalos que você precisa para que novas ideias e epifanias ocorram. Se você não sabe o que vem a seguir na estória… limpe seu banheiro. Troque os lençóis. Pelo amor de Cristo, tire a poeira do computador. Uma ideia melhor surgirá.

2: Seu público é mais esperto do que você imagina. Não tenha medo de experimentar com formatos de narrativa e mudanças temporais. Minha teoria pessoal é de que os jovens leitores se enjoam da maioria dos livros – não porque estes leitores sejam mais estúpidos que os leitores antigos, mas porque o leitor de hoje é mais esperto. Filmes nos tornaram muito sofisticados no quesito narrativa. E seu público é muito mais difícil de chocar do que você jamais poderia imaginar.

3: Antes de sentar e escrever uma cena, pondere sobre ela em sua mente e saiba o propósito daquela cena. Para quais tramas anteriores esta cena vai ser vantajosa? O que isso criará para as cenas seguintes? Como esta cena levará seu enredo adiante? Conforme você trabalha, dirige, se exercita, tenha apenas esta questão em sua mente. Tome algumas notas conforme tiver ideias. E apenas quando você decidiu a ‘coluna vertebral’ daquela cena – então, sente e escreva-a. Não vá até aquele computador chato e empoeirado sem algo em mente. E não faça seu se esforçar ao longo de uma cena na qual pouco ou nada acontece.

4: Surpreenda-se. Se você pode levar a história – ou deixar que ela o leve – a um lugar que te maravilha, então você pode surpreender seu leitor. No momento em que você visualizar qualquer surpresa bem planejada, muito provavelmente, o seu sofisticado leitor também o fará.

5: Quando você ficar preso, volte e leia suas cenas anteriores, procurando por personagens abandonados ou detalhes que você pode ressuscitar como “armas enterradas”. Quando terminava de escrever Clube da Luta, eu não tinha a menor ideia do que fazer com o edifício do escritório. Mas, relendo a primeira cena, eu encontrei um comentário aleatório sobre misturar nitroglicerina com parafina e como era um método duvidoso de fazer explosivos plásticos. Este detalhe bobo (… parafina nunca funcionou comigo…) criou a “arma escondida” perfeita para se ressuscitar no final e salvar meu rabo contador de histórias.

6: Use a escrita como sua desculpa para lançar uma festa toda semana – mesmo se você chamar aquela festa de “workshop.” Sempre que você puder passar tempo em meio a outras pessoas que valorizam e apoiam a escrita, isso vai balancear aquelas horas que você passou sozinho, escrevendo. Mesmo se algum dia você vender seu trabalho, nenhuma quantia de dinheiro vai compensá-lo pelo seu tempo gasto sozinho. Então pegue seu cheque adiantado, faça da escrita uma desculpa para estar entre pessoas. Quando você alcançar o fim da sua vida – confie em mim, você não vai olhar para trás e saborear os momentos que passou sozinho.

7: Deixe-se em companhia do Não Saber. Este pequeno conselho parte de centenas de pessoas famosos, de Tom Spanbauer até mim e agora você. O quanto mais você puder permitir que uma história tome forma, melhor ficará esta forma final. Não se apresse ou force o fim de uma história ou livro. Tudo o que você tem de fazer é a cena seguinte, ou as próximas cenas. Você não precisa saber de cada momento até o final. De fato, isso será chato para caramba de se executar.

8: Se você precisa de mais liberdade ao longo da história, rascunho a rascunho, mude os nomes dos personagens. Personagens não são reais, e eles não são você. Por mudar arbitrariamente seus nomes, você consegue a distância de que precisa para realmente torturar um personagem. Ou pior, apague um personagem, se é disso que a história realmente precisa.

9: Há três tipos de discurso – eu não sei se isso é VERDADE, mas ouvi em um seminário e fez sentido. Os três tipos são: Descritivo, Instrutivo e Expressivo. Descritivo: “O sol se ergueu bem alto…” Instrutivo: “Caminhe, não corra…” Expressivo: “Ai!” A maioria dos escritores de ficção usará apenas uma – no máximo, duas – dessas formas. Então use todas as três. Misture-as. É assim que as pessoas falam.

10: Escreva os livros que você deseja ler.

11: Tenha suas fotos de autor de livro vestindo jaqueta tiradas agora, enquanto você é jovem. E obtenha os negativos e direitos de imagem dessas fotos.

12: Escreva sobre os assuntos que realmente te desagradam. Estas são as únicas coisas sobre as quais vale a pena escrever. Neste curso, chamado “Escrita Perigosa”, Tom Spanbauer enfatiza que a vida é preciosa demais para passá-la escrevendo histórias mansas e convencionais com as quais você não tem nenhuma ligação pessoal. Há tantas coisa sobre as quais Tom falou mas que eu apenas me lembro parcialmente: a arte da “manumissão”, que eu não sei de cor, mas entendo que se refira à preocupação que você tem em mover um leitor ao longo dos momentos de uma história. E “sous conversation”, que eu interpretei como a mensagem escondida, enterrada dentro da história óbvia. Por eu não me sentir confortável descrevendo tópicos que eu apenas entendo pela metade, Tom concordou em escrever um livro sobre sua oficina literária e as ideias que ele ensina. O título é “Um buraco no coração”, e ele planeja ter um rascunho lido em Junho de 2006, com data de publicação no começo de 2007.

13: Outra história sobre uma janela no Natal. Quase todas as manhãs eu tomo meu café no mesmo restaurante, e nesta manhã um homem estava pintando as janelas com ilustrações de natal. Bonecos de neve. Flocos de neve. Sinos. Papai Noel. Ele ficou do lado de fora na calçada, pintando no frio congelante, sua respiração fazendo vapor, alternando pinceladas e passadas de rolo com diferentes cores de tinta. Dentro do restaurante, os clientes e garçons observavam conforme ele passava camadas de tinta vermelha, branca e azul na parte de fora das grandes janelas. Atrás dele a chuva se transformou em neve, caindo lateralmente com o vento.

O cabelo do pintor tinha todas as diferentes cores de cinza, e seu rosto era frouxo e enrugado como o bolso vazio de seu jeans. Entre cores, ele parava para beber alguma coisa num copo de papel.

Assisti-lo de dentro, comendo ovos e torradas, alguém disse que aquilo era triste. Um cliente disse que o homem era provavelmente um artista fracassado. Era provavelmente uísque no copo. Ele provavelmente tinha um estúdio cheio de pinturas fracassadas e agora ganhava a vida decorando janelas cafonas de restaurantes e lojas de doces. Apenas triste, triste, triste.

Um garçom passou pelo local, servindo café às pessoas, e disse, “Isso é tão bacana. Eu queria poder fazer isso…”

E a despeito de nós invejarmos ou sentirmos pena desse cara no frio, ele continuou pintando. Adicionando detalhes e camadas de cor. Eu não estou certo sobre quando aconteceu, mas em algum momento ele não estava lá. As figuras sozinhas eram tão ricas, elas preencheram as janelas tão bem, as cores eram tão vibrantes, que o pintor havia sumido. Fosse ele um fracasso ou um herói. Ele desapareceu, sumiu para qualquer lugar, e tudo o que nós estávamos vendo era seu trabalho.

Como lição de casa, pergunte a sua família e amigos como você era quando criança. Melhor ainda, pergunte a eles como eles eram quando crianças. Então, simplesmente escute.

#Arte #Blogosfera

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/13-conselhos-de-chuck-palahniuk-sobre-como-escrever

Arcano 15 – Diabo – Ayin

Três personagens estão representados de pé. No meio, sobre um pedestal vermelho em forma de cálice, um hermafrodita com asas e chifres; embaixo, uma figura feminina e outra masculina, pequenas e dotadas de atributos animais, presas, por uma corda que lhes passa ao pescoço, a um aro que se encontra no centro do pedestal.

O personagem central, despido, veste somente um cinto vermelho; tem na cabeça uma curiosa touca amarela, da qual sobem dois chifres de veado; duas asas amarelas (ou azuis, na ed. Grimaud), de desenho semelhante à dos morcegos, brotam das suas costas. Tudo indica que o personagem é do sexo masculino, mas seus seios estão desenvolvidos como os de uma mulher. Suas mãos e pés apresentam características simiescas; a mão direita, erguida, mostra o dorso; a esquerda segura a haste de uma tocha. O par acorrentado é visto de três quartos. Estão completamente nus, mas têm uma touca vermelha da qual sobem chifres negros.

Têm rabo, patas e orelhas de animal e escondem as mãos atrás das costas. No nível em que se encontram, o chão é preto, mas na altura do pedestal torna-se azul (ou amarelo) com listas negras. O fundo é incolor.

Significados simbólicos

As provas e provações. As tentações e seduções.

Magias. Desordem. Paixão. Luxúria. Dependência.

Intercâmbio, eloqüência, mistério, força emocional.

Interpretações usuais na cartomancia

Paixões indomáveis. Atração sexual. Ação mágica, magnetismo. Capacidade milagreira. Poder oculto, exercício de influências misteriosas. Proteção contra as forças obscuras e os encantamentos.

Mental: Grande atividade, mas totalmente egoísta e sem preocupação pela justiça.

Emocional: Pluralidade, diversidade, avidez, inconstância. Busca em todas as direções para atrair tudo. Sem a menor preocupação com o próximo. Libertinagem.

Físico: Grande irradiação neste plano, em particular no domínio material e nas realizações concretas. Poderosa influência sobre os outros.

Forte atração pelo poder material.

Tem, contudo, uma deficiência: todos os sucessos a que promete serão obtidos por vias censuráveis. Desta forma a fortuna será feita e os delitos permanecerão na impunidade.

Inclui também a punição: de acordo com a sua relação com as outras cartas, pode significar que os sucessos serão efêmeros e que o castigo virá na seqüência.

Do ponto de vista da saúde: grande instabilidade nervosa, transtornos psíquicos; aparição de enfermidades hereditárias.

Sentido negativo: A ação parte de uma base má e seus efeitos podem ser calamitosos. Desordem, inversão de planos, coisas obstruídas. Do ponto de vista da saúde: ampliação do mal, complicações. Disfunção. Superexcitação, sensualidade. Ignorância, intriga. Emprego de meios ilícitos. Enfeitiçamento, fascinação repentina, escravidão e dependência dos sentidos. Debilidade, egoísmo.

História e iconografia
Durante a baixa Idade Média o Diabo era representado freqüentemente como um dragão ou uma serpente, imagem derivada sem dúvida de seu papel no Gênese. Por um processo simbiótico – característico da iconografia – Eva e o Diabo se fundiram com freqüência na figura da serpente com cabeça de mulher: isto pode ser visto quase sempre nas ilustrações dos mistérios franceses que falam da Queda.

O desenvolvimento antropomórfico, que levou o Diabo a se converter na figura que conhecemos tem sua origem, provavelmente, nas tradições talmúdicas e nas lendas pré-cristãs, segundo as quais a serpente edênica teria tido mãos e pés de homem, membros que perdeu como castigo por sua maldita intervenção no drama do Paraíso, ficando condenada a arrastar-se até o fim dos tempos.

De modo similar o Diabo aparece no Apocalipse de Abraão, onde o Tentador é descrito como um homem-serpente, descrição retomada por Josefo e por boa parte dos autores judeus dessa época.

Já no Antigo Testamento (Jó 1,6-12 e 2,1-7) menciona-se esta humanização de Satã, e em Mateus (4, 3-11) aparece com toda clareza o antropomorfismo do personagem. Ele é assim descrito num manuscrito de Gregório de Nicena, onde toma a forma de um homem jovem, alado e nu da cintura para cima.

É somente no fim do primeiro milênio que o Diabo sofre a mais cruel de suas metamorfoses; a que acabou por transformar o mais formoso dos anjos em sinônimo de abominação e horror. Van Rijneberk atribui aos miniaturistas anglo-saxões essa mudança iconográfica, que respondia à simplicidade analógica da época. Se o Diabo continha a soma de todos os pecados e escândalos, seria lógico, dessa forma, que fosse representado como o apogeu de feiúra e pavor.

O homem com garras das figuras mais tênues sofreu a inclusão de chifres, dentes enormes, pêlos, cascos de bode, seios enrugados, rabo que terminava em seta. Assim aparece nos manuscritos alemães dos séculos X e XI, e no Missel Oxonien do bispo Léofric (960-1050). O diabo da lâmina do Tarô – um morcego hermafrodita – mostra-se como herdeiro dessa representação.

Van Rijneberk destaca o sentido metafísico de Satã para os Pais da Igreja, longe ainda dessas representações. Entre os séculos III e IV, Atanásio relatou as fadigas que costumavam acompanhar os tentados: o aspecto do Maligno produzia mais angústia do que repulsa; sua voz era terrível e seu movimento oculto como o de um assassino.

Tanto Cirlot como Wirth – a partir dos seus respectivos planos de observação – evitam entrar no complexo campo da demonologia ao comentarem o Arcano XV.

Assim, o primeiro destes autores se limita a compará-lo ao “Baphomet dos templários, bode na cabeça e nas patas, mulher nos seios e braços” e a mencionar que o personagem tem como finalidade “a regressão ou a paralisação no fragmentado, inferior, diverso e descontínuo”. Wirth, por seu lado, diz que o Diabo é o inimigo do Imperador (IV) na luta política pelo poder no mundo material, e se pergunta quem é “que opõe os mundos ao Mundo, e os seres entre si”. Para Ouspensky, sua figura “completa o triângulo cujos outros dois lados são a morte e o tempo”, no sentido da formalidade do ilusório.

Ele dá origem ao terceiro e último setenário do Tarô, plano do mundo físico ou do corpo perecível do homem. Do ponto de vista da finitude temporal, não é menos importante do que o Prestidigitador para o reino do espírito, ou o triunfal protagonista de O Carro (VII) para a análise psicológica.

“Na medida em que sempre houve áreas sombrias e ainda desconhecidas para o conhecimento e que presumivelmente, os enigmas subsistirão sempre – diz Jaime Rest no seu artigo Satanás, Suas Obras e Sua Pompa —, o demoníaco foi e continuará sendo uma constante de nossa realidade, já que esta experiência parece nutrir-se primariamente de algo que se desdobra além do domínio humano, e cuja índole tremenda e estremecedora suscita em nós este abalo íntimo que os teólogos denominam temor numinoso”.

Baphomet
O estudo dessa figura pode incluir as metamorfoses sofridas pelo Diabo (incluindo a variabilidade do aspecto: da beleza resplandecente com que Milton e William Blake o imaginaram até o horror da sua corte nas telas de Goya) para retornar ao memorável ponto de partida de onde se concebe sem dificuldades a permanência do demonismo: Satã como “um desafio da ordem que os homens atribuíram a Deus”.

A figura do Tentador, por outro lado, é inseparável das legiões que o servem (ou seja, da idéia do Inferno), e o Tarô repete esta associação ao representá-lo junto com o casal acorrentado – seres que podem ser tanto seus prisioneiros como seus colaboradores. A repetição do esquema dantesco é atribuída por Carrouges à paralisia imaginativa dos séculos posteriores em relação ao tema; daí a fixação e o empobrecimento do ciclo mítico na literatura européia.

Esta visão demonológica contemporânea, que faz do Diabo uma metáfora conflitante da dignidade humana, não é menos importante que a tradicional. Impõe-se, ao menos, como mais uma referência para a análise atualizada do Tarô.

Os comentários reunidos até aqui, porém, estão longe de esgotar as indicações para o estudo deste personagem tão ambíguo. Vale a pena conhecer o que diz G. O. Mebes em Os Arcanos Maiores do Tarô, sobre o papel de Baphomet, enquanto representação “da bipolaridade do turbilhão astral”, passagem inevitável no processo evolutivo.

Por Constantino K. Riemma
http://www.clubedotaro.com.br/

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/arcano-15-diabo-ayin

A Metamorfose, de Kafka

As Edições Textos para Reflexão trazem até vocês mais um clássico eterno da literatura mundial, pelo preço de um café!

Desta vez o autor escolhido foi Franz Kafka, e a obra, o seu conto mais lido e comentado, A Metamorfose, uma das histórias mais bizarras do século passado. Você já pode começar a ler em poucos minutos:

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À seguir, trazemos o Epílogo da edição (cuidado, pode conter alguns spoilers):

Um clássico da literatura mundial ou uma espécie de “pegadinha literária”, com o perdão do termo? De fato, Kafka foi genial por conseguir evitar, a todo momento, que o seu leitor conseguisse responder definitivamente a tal pergunta.

É perfeitamente compreensível que muita gente não o tenha compreendido, e que alguns tenham até mesmo se sentido enojados pela temática da sua Metamorfose, mas quem poderá dizer que este também não era o seu objetivo? Quem poderá dar por certo que esta grande brincadeira literária, por vezes doce, por vezes irritante, mas sempre primorosamente elaborada em palavras, não era justamente o que tinha em mente quando se sentava para escrever?

No entanto, há acadêmicos que se negam a admitir qualquer espécie de humor, seja oculto ou não, no texto kafkiano. Para muita gente a metáfora do trabalhador disciplinado, que faz de tudo para cuidar das finanças da família, mas que não tem de fato um sentido na vida, e termina por cair em profunda depressão, é perfeitamente compatível com o inseto estranho em que resulta a metamorfose, trancado em seu quarto escuro, sujo, e incapaz de alcançar sequer a sala da própria casa.

Mas me parece inegável haver alguma espécie de humor, seja ele doentio ou como queiram chamar, no simples fato de que, apesar do absurdo da sua situação, Gregor Samsa esteja quase sempre a pensar no cotidiano e em assuntos triviais, como quando se lamenta em ter de faltar ao trabalho, ou quando está tentando a todo custo se manter inteirado das fofocas do jantar. Gregor se encontra “perfeitamente feliz”, afinal, quando consegue se manter numa posição quase que de meditação, grudado no teto do seu próprio quarto… Ora, se isso não era para ser engraçado, mesmo que de alguma forma bizarra, definitivamente o senhor Kafka é um escritor indecifrável.

Seja como for, fato é que este pequeno conto, a sua obra mais lida, ainda será lida por muito tempo, em muitos cantos diversos e épocas futuras. Esperemos que até lá, mais gente se identifique com o Gregor que corre alegremente pelas paredes do que com o inseto esmagado pelo peso do mundo, incapaz de se arrastar sequer para baixo do sofá.

O editor.

#eBooks #Literatura

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-metamorfose-de-kafka

O Balandrau na Maçonaria

Por Kennyo Ismail

Muitos são os maçons brasileiros defensores do balandrau. Mas afinal, qual a origem dessa vestimenta na maçonaria?

O célebre escritor José Castellani escreveu que o balandrau era a indumentária dos membros do “Collegia Fabrorum”, e que os maçons operativos medievais, do século XIII em diante, também utilizavam a túnica negra.

Com todo o respeito ao saudoso Irmão Castellani e suas obras, que tanto acrescentaram para a literatura e cultura maçônica brasileira, permita-nos discordar de tal afirmação. Nos parece que se trata de teoria feita de forma inversa, ou seja, apenas para justificar um costume arraigado, ao invés de buscar sua origem. Afinal de contas, não existe qualquer indício de que os membros do Collegia Fabrorum ou mesmo os maçons operativos medievais realmente utilizavam balandrau. Em que se baseia essa afirmação? A impressão é de que apenas se afirmou o uso pelos membros da maçonaria operativa para justificar o uso pelos maçons especulativos, sem qualquer fundamento histórico para ilustrar tal teoria.

Em verdade, a origem do balandrau na maçonaria é outra. Podemos dizer que herdamos o balandrau de uma instituição “prima”: A Carbonária.

Analisando a “Carta de Bolonha” e tantos outros documentos existentes do segundo milênio, vê-se claramente que já no século XI a maçonaria operativa era dividida entre os que trabalhavam com “pedra” e os que trabalhavam com “madeira”. Em resumo, os que trabalhavam com “pedra”, que eram maiores em número e em serviços, eram os maçons operativos, dos quais somos os legítimos herdeiros. Enquanto que a Carbonária surgiu como herdeira daqueles que trabalhavam na madeira.

A Carbonária se fazia presente de forma itensa na Itália, França e Portugal, e era governada pelo General francês Joaquim Murat, cunhado de Napoleão Bonaparte e tido como rei de Nápoles. Os carbonários eram conhecidos pelo uso de uma túnica preta com a imagem do punhal de São Constantino bordada no peito esquerdo – Sim, um balandrau.

Joaquim Murat tratou de iniciar na Carbonária seu filho, “príncipe” Charles Lucien Murat. Em 1815, o príncipe Murat teve que se exilar por conta do assassinato de seu pai, vivendo então na Áustria, Veneza e por último nos Estados Unidos. Só conseguiu retornar à França em 1848. Em 1852, Murat assumiu como Grão-Mestre do Grande Oriente da França, cargo em que permaneceu até 1862.

Nesses 10 anos como Grão-Mestre, Lucien Murat realizou uma grande revolução no Grande Oriente da França, o qual cresceu como nunca em número de Lojas e notoriedade. Foi também nesse período que vários traços da antiga Carbonária foram implementados na maçonaria francesa, entre eles o uso do balandrau. Os maçons do Grande Oriente do Brasil, que tão estreitos laços possuiam e tanta influência sofriam da maçonaria francesa, a qual havia sempre servido de exemplo e fonte dos Ritos então praticados no Brasil – Escocês, Adonhiramita e Moderno – logo também aderiram ao balandrau.

Porém, em janeiro de 1862, o rei Napoleão III declara o Marechal Bernard Pierre Magnan, um profano, como Grão-Mestre do Grande Oriente da França. O Marechal Magnan é iniciado e elevado até ao grau 33 do Rito Escocês em apenas dois dias. Magnan desfaz muitas das mudanças promovidas por Lucien Murat. No entanto, o balandrau já havia caído nas graças dos irmãos brasileiros.

Uma das evidências que constata que o balandrau não teve origem no Collegia Fraborum ou na maçonaria operativa é de que é um traje totalmente desconhecido na maçonaria da Inglaterra, Irlanda, Escócia e Alemanha, países em que a maçonaria é tão antiga e originária das antigas Guildas quanto na Itália, França e Portugal, ao mesmo tempo em que esses primeiros não tiveram a presença da Carbonária em seus territórios, enquanto Itália, França e Portugal tiveram.

Com base em tais relatos e análises históricas, conclui-se que a afirmação de que o balandrau é uma herança da maçonaria operativa, apesar de valorizar simbolicamente o balandrau, é totalmente falsa. Fica evidente a influência que a Carbonária, através de Lucien Murat, exerceu sobre o Grande Oriente da França e, conseqüentemente, sobre a Maçonaria Brasileira, sendo o balandrau o mais visível indício disso.

Porém, não se deve deixar de concordar com o Irmão Castellani em uma coisa: a verdadeira vestimenta do maçom é o AVENTAL. Sem ele, o maçom não trabalha.

#Maçonaria

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-balandrau-na-ma%C3%A7onaria

Livro Brasileiro de Magia do Caos

Um livro pequeno, com apenas cem páginas, mas que trata de um grande número de tópicos, com linguagem acessível. Minha proposta foi apresentar um plano dimensional com casas de cura para diferentes males mentais. Ou seja: se em algum momento de sua vida sua mente parecer desordenada como um galho torto, basta acessar esse plano de consciência para tentar desentortá-la.

E isso dá certo? Bem, nem sempre! Nenhuma magia é 100% efetiva, e nossa solução é lidar com os fracassos mágicos com bom humor. Por isso os habitantes da Cidade Sucinta (os magos que moram nesse plano mental do qual falamos) jogam o Jogo de Agracamalas para passar o tempo. O objetivo desse jogo não é vencer, mas falhar. Em outras palavras: ganha o jogo quem envelhece, fica doente e morre mais rapidamente…

E para que serve um jogo tolo como esse? Não para te convencer a falhar, mas para te mostrar que nem sempre estamos no controle, e que isso não é realmente ruim. Quando você começa a analisar os lados bons do fracasso, passa a entender que até quando algo não dá certo, existe algo a ganhar. E mesmo quando ganha, há algo a perder.

Ou, como diriam os sucintos: “Quando você morre, você não perdeu o jogo. Apenas trocou de tabuleiro”. Que tal tentar realizar algumas formas de “magias reversas” para desafiar a sua mente? Se você falha, você vence. E se vence, ganha um brinde de consolação: um baú mágico com uma surpresa astral, que pode ser agradável ou desagradável, conforme o lado do tabuleiro no qual se encontra.

Com O Grimório das Casas você aprenderá diferentes formas de acessar a dimensão mental da Cidade Sucinta (por intermédio da visualização, evocação, divinação, dentre outros meios ainda mais improváveis) e descobrirá como realizar feitiços úteis ou completamente inúteis (dependendo do ponto de vista, ou da versão do jogo) do Jogo das Casas.

Mas não fique muito animado, pois o jogo ocorre dentro de um labirinto (a complexidade de sua mente). Como diria Peter J. Carroll: “Cada nova forma de libertação está destinada a eventualmente se tornar outra forma de escravidão”. Na Religião do Labirinto Sem Fim, praticada pelos sucintos, é impossível achar a saída do labirinto. A Casa da Saúde ou a Casa do Prazer podem parecer saídas. Até mesmo a Casa da Morte está disfarçada de libertação, mas todas elas apenas te levam a novos labirintos.

O que fazer quando sua mente está presa? Vamos pegar outra sugestão de Carroll: “Crie, destrua, aproveite, IO CAOS!”. Para quem enjoou de jogar o Jogo de Agracamalas ou o acha muito chato, há outras opções interessantes. Aprenda a criar diferentes formas de sigilos e servidores, convocar animais mágicos, montar sociedades secretas ou até transformar em magia os exercícios aparentemente mais banais (como estourar plástico-bolha). E se até isso soar entediante, te daremos uma receita simpática de como construir novos planos mentais, Deuses e mundos. E a magia mais fantástica (e mais difícil): construir uma nova mente.

Eu poderia citar dois livros que foram fontes de inspiração para a escrita de Agracamalas, embora não se pareça com eles. Quando eu li Macunaíma, de Mário de Andrade, apaixonei-me pela forma deliciosamente irreverente e genuinamente brasileira da obra (brasileira na maneira que apresenta variados aspectos de nossa multiplicidade cultural), escrita com uma linguagem repleta de informalidades e gírias. E após a leitura de O Jogo das Contas de Vidro, de Hermann Hesse (Hesse conquistou o Prêmio Nobel de Literatura com essa obra), decidi que eu queria inventar um jogo com um objetivo diametralmente oposto.

O Jogo de Avelórios de Hesse é um jogo extremamente complexo realizado com contas de vidro (muito popular em mosteiros beneditinos), utilizando linguagem oculta e que exige conhecimentos avançados de diversas ciências e artes, especialmente matemática, astronomia e música. Esse livro é evidentemente uma crítica aos intelectuais alienados que se dedicam à “beleza vazia dos saberes superiores”. A seguir, alguns trechos do livro de Hermann Hesse:

“– Devemos dar importância aos sonhos? – perguntou José. – Podemos decifrar seu significado?

O Mestre fitou-o nos olhos e disse concisamente:

– Devemos dar importância a tudo, porque tudo pode ser decifrado”

“A vida em seu conjunto, tanto sob o aspecto físico quanto espiritual, é um fenômeno dinâmico de que o Jogo de Avelórios no fundo só apreende o lado estético, e aliás o apreende de preferência na imagem dos processos rítmicos”.

“Quem chegasse a ter a vivência completa do sentido do Jogo não seria mais jogador, não estaria mais dentro da multiplicidade, e não lhe seria possível sentir prazer em nenhuma descoberta, nenhuma construção e combinação, porque ele conheceria uma espécie bem diversa de prazer e de alegria”.

Sendo assim, o Jogo de Avelórios buscava uma espécie de “sabedoria superior” ou “prazer superior” que ia se distanciando tanto do corpo e do mundo que chegava ao ponto de se afastar da própria vida. Uma espécie de beleza inexistente e inalcançável.

Decidi que o Jogo de Agracamalas devia ser o exato oposto: você não pode ser inteligente demais para jogá-lo ou começará a fazer muitas perguntas e elucubrações complexas, e esse ato faz com que você perca a essência do jogo, que é o sentir, o devir. Em vez do acúmulo de conhecimentos, valorizamos o esquecer (como quem esquece um sigilo e se ocupa de outras coisas, ou quem muda constantemente de paradigma) para que cada momento seja uma nova descoberta. E, finalmente, a meta não é o conhecimento e sim uma alegria despreocupada; não a seriedade, mas o riso.

Não o encaixar das artes, mas o desmontar delas, como num labirinto sem saída, mas repleto de surpresas mágicas e possibilidades infinitas.

Há muitas magias no grimório que são obviamente piadas. Mas a piada maior é que elas são possíveis de usar, contanto que você as leve a sério o suficiente para dar certo, mas não tão a sério a ponto de… usá-las de novo ou contar para alguém que você realmente fez isso.

Esperamos que o Grimório das Casas seja de seu interesse. Enquanto isso, você pode conferir algumas histórias minhas de graça no Wattpad. Também há contos espalhados pelo grimório, para sua inspiração e reflexão.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/livro-brasileiro-de-magia-do-caos