Alquimia e Harry Potter, parte I

Arianrhod.

Este artigo traçará a história antiga da alquimia, suas metas e objetivos, e explicará os sete estágios da transformação alquímica. Mais tarde, discutirei os livros um de cada vez, discutindo as imagens alquímicas e o simbolismo em cada um no que se refere aos Sete Estágios e ao enredo. Finalmente, tentarei fazer algumas previsões sobre o próximo livro com base nos princípios da alquimia e nos elementos necessários para que Harry termine sua jornada para a iluminação e imortalidade espiritual.

  1. Uma (Muito) Breve Introdução à Alquimia:

A alquimia é uma prática protocientífica inicial que combina elementos de química, física, astrologia, arte, semiótica, metalurgia, medicina, misticismo e religião. Dois objetivos entrelaçados procurados por muitos alquimistas eram a pedra filosofal, uma substância mítica que possibilitaria a transmutação de metais comuns em ouro; e a panaceia universal, um remédio que curaria todas as doenças e prolongaria a vida indefinidamente. A alquimia pode ser considerada como a precursora da moderna ciência da química anterior à formulação do método científico.

A palavra alquimia vem do árabe al-kimiya ou al-khimiya e da palavra grega khumeia, que significa “juntar”, “derramar”, “soldar”, “ligar”, etc. (de khumatos, aquilo que é derramado fora, um lingote”). Outra etimologia liga a palavra com “Al Kemi”, que significa “a arte egípcia”, já que os antigos egípcios chamavam sua terra de “Kemi” e eram amplamente considerados como poderosos magos em todo o mundo antigo.

Essa é a definição padrão dos livros didáticos de alquimia como ciência, que é encontrada literalmente em vários sites de alquimia. Como veremos, porém, os próprios alquimistas eram tudo menos malucos, pagãos e ocultistas. A alquimia era muito mais do que uma protociência infantil baseada em princípios quase científicos e impregnada de alegoria e metáfora, embora certamente tivesse muito disso.

Ninguém sabe realmente a idade da alquimia. De acordo com o alchemylab.com, há algumas evidências de que o advento da alquimia antecede a Revolução Agrícola, que ocorreu há cerca de 8.000 anos. Algumas fontes conectam alquimia com xamanismo e metalurgia; certamente era conhecido na Suméria, Egito e Babilônia e mais tarde na Grécia, misturando-se cada vez mais com metalurgia e adivinhação até o advento do cristianismo, quando se tornou uma filosofia de pleno direito por direito próprio. Muitos dos alquimistas medievais eram devotos cristãos ou muçulmanos e começavam todos os dias com orações e devoções.

A alquimia como filosofia (assim como o Tarô, a Cabala, a astrologia e todos os estudos ocultistas) deve sua existência a um único documento chamado A Tábua de Esmeralda, também conhecida como a Mesa Smaragdine, Os Segredos de Hermes ou a Tabula smaragdina de Hermes Trismegisto. É um texto curto e enigmático que pretende revelar o segredo da substância primordial e suas transmutações. Até o século XX, suas primeiras fontes conhecidas eram manuscritos latinos medievais, mas a fonte documentada mais antiga para o texto é o Kitab Sirr al-Asrar, um livro de conselhos para governantes de autoria de Abd al-Qadir al-Jilani por volta de 800 d.C. Esta obra foi traduzida para o latim como Secretum Secretorum (O Segredo dos Segredos) por Johannes “Hispalensis” ou Hispaniensis (João de Sevilha) por volta de 1140 d.C. e por Filipe de Trípoli por volta de 1243 d.C. 1

A palavra-chave aqui é “documentado”. As origens da Tábua de Esmeralda podem remontar a vários milhares de anos; foi traduzido para o grego por estudiosos alexandrinos e, na verdade, foi exibido no Egito em 330 a.C. Por volta do ano 400 d.C., teria sido enterrado em algum lugar no planalto de Gizé para protegê-lo de fanáticos religiosos que estavam queimando bibliotecas ao redor do mundo naquela época. Muitos acreditam que a tabuleta ainda está escondida lá, escondida sob um hipogeu sob as patas traseiras da Esfinge. Segundo a lenda, o deus egípcio Thoth construiu um Salão de Registros ali, armazenando todos os registros da humanidade antes do dilúvio universal.

Para esclarecer um ponto: Hermes Trismegisto não deve ser confundido com o deus grego Hermes. Enquanto o nome Hermes Trismegisto significa “Hermes Três Vezes Grande”, o nome é realmente uma combinação do deus grego e Thoth, o deus egípcio do conhecimento, sabedoria e escrita. Aliás, os gregos, e os romanos depois deles, se recusaram a identificar Thoth com Hermes ou Mercúrio, e Cícero notou vários indivíduos conhecidos como Hermes. Hermes e Thoth, no entanto, compartilhavam muitos traços semelhantes. Ambos são deuses da escrita, comunicação e magia, e ambos eram considerados psicopompos, ou deuses que agiam como guias para as almas na vida após a morte.

No século XIV, o alquimista Ortolano escreveu O Segredo de Hermes, que influenciou o desenvolvimento subsequente da alquimia. Muitos manuscritos desta cópia da Tábua de Esmeralda e o comentário de Ortolano sobrevivem, datando pelo menos desde o século XV. A Tábua também foi encontrada anexada a manuscritos do Kitab Ustuqus al-Uss al-Thani (O Segundo Livro dos Elementos da Fundação) atribuído a Jabir ibn Hayyan ou Geber, e o Kitab Sirr al-Khaliqa wa San`at al-Tabi `a (O Livro do Segredo da Criação e da Arte da Natureza), datado entre 650 e 830 d.C.

Desde o início do texto vem o lema dos alquimistas: Como em cima, assim embaixo. É uma metáfora para recriar o céu na terra através dos segredos dos antigos, que certamente sabiam muito melhor do que nós como fazê-lo. Da Tábua de Esmeralda:

Verdade! Certeza! Aquilo em que não há dúvida!

O que está em cima é do que está em baixo, e o que está em baixo é do que está em cima, operando os milagres de um.

Como todas as coisas eram de um.

Seu pai é o Sol e sua mãe a Lua.

A Terra o carregou em seu ventre, e o Vento o alimentou em seu ventre,

como Terra que se tornará Fogo.

Alimente a Terra com o que é sutil, com o maior poder.

Ele sobe da terra ao céu e se torna governante sobre o que está em cima e o que está em baixo.

E já expliquei o significado de tudo isso em dois desses meus livros.

  1. As Metas e os Objetivos da Alquimia: Harry Potter e Tom Riddle (Lord Voldemort):

Os alquimistas medievais perseguiram três objetivos:

1· A transmutação de metais básicos em ouro;

2· A imortalidade da alma e do espírito;

3· A criação de vida artificial.

Enquanto muitos alquimistas passaram décadas tentando transformar metais básicos em ouro por meio de uma substância vaga chamada Pedra Filosofal, outros, como William Lilly e Nicolau Flamel, buscaram a iluminação espiritual da alma. Embora esses objetivos possam parecer incompatíveis ou mesmo mutuamente exclusivos, é importante lembrar que a alquimia era tanto uma filosofia quanto uma ciência experimental, e a transmutação dos metais permitiu aos alquimistas tentar provar que o Acima poderia ser recriado no Abaixo; em suma, recriar o céu na terra e na alma. Vemos o genuíno espírito científico nas palavras de um dos alquimistas: “Quisera Deus… que todos os homens se tornassem adeptos de nossa Arte – pois então o ouro, o grande ídolo da humanidade, perderia seu valor, e deveríamos valorizá-lo apenas por seu ensino científico.” 2 Infelizmente, porém, poucos alquimistas chegaram a esse ideal; e para a maioria deles, a alquimia significava apenas a possibilidade de fazer ouro barato e ganhar uma riqueza incalculável.

O terceiro objetivo da alquimia “a criação da vida a partir do nada” pertencia quase inteiramente aos alquimistas islâmicos. Isso entrará em jogo mais tarde, quando discutirmos o Cálice de Fogo. Os alquimistas islâmicos, especialmente Jabir ibn Hayyan ou Geber, experimentaram os princípios dos elementos na esperança de produzir takwin, a criação artificial da vida, incluindo a vida humana, em laboratório. Até onde sabemos, Geber não teve sucesso, mas Mary Shelley tocou nesse tema em seu romance Frankenstein, assim como muitos outros autores da época. Eles chamaram suas criações de homunculus, ou o “pequeno homem”, e parece que o grande alquimista e médico medieval Paracelso cunhou o termo depois que ele supostamente criou um homem falso que tinha apenas cerca de 30 centímetros de altura. O conceito é semelhante ao golem judeu, que era a criação de vida a partir de objetos inanimados, e os homúnculos geralmente faziam o trabalho atribuído aos golens.

A alquimia contém um elemento profundamente místico, e quem tentar estudá-la com um ponto de vista moderno ou puramente científico não a compreenderá nem a apreciará. Os alquimistas sempre falaram de sua arte como um Dom Divino, cujos segredos não poderiam ser aprendidos em nenhum livro, e só poderiam ser alcançados por longos anos de estudo e devoção. A iluminação, quando e se veio, ocorreu de uma só vez e sem aviso prévio. Mais de um alquimista ficou maravilhado com a simplicidade da resposta e quanto tempo eles levaram para compreendê-la. A atitude mental correta com Deus foi o primeiro passo crucial para alcançar a Grande Obra (magnum opus), porque a alquimia é uma transformação tripla: física, espiritual e psicológica.

De acordo com The Hermetic House (A Casa Hermética): “Do ponto de vista ascético… o desenvolvimento da alma só é plenamente possível com a mortificação do corpo; e todo o verdadeiro misticismo ensina que se alcançarmos o objetivo mais elevado possível para o homem – união com o Divino – deve haver um abandono de nossas próprias vontades individuais, um rebaixamento da alma diante do Espírito. E assim os alquimistas ensinaram que para a realização da magnum opus no plano físico, devemos despojar os metais de suas propriedades exteriores para desenvolver a essência interior, como diz Helvetius:

“… As essências dos metais estão escondidas em seus corpos exteriores, como o núcleo está escondido na noz. Todo corpo terrestre, seja animal, vegetal ou mineral, é a habitação e morada terrestre daquele espírito celestial, ou influência, que é seu princípio de vida ou crescimento. O segredo da Alquimia é a destruição do corpo, que permite ao Artista obter e utilizar para seus próprios propósitos, a alma viva.” Essa morte da natureza externa das coisas materiais deveria ser provocada pelos processos de putrefação e decadência; daí a razão pela qual tais processos figuram tão amplamente nas receitas alquímicas para a preparação do “Magistério Divino”. 3

O buscador deve entrar em seus estudos com um coração puro. Aqueles que não o fizerem “usar a alquimia para obter poder ou ganho financeiro” nunca alcançarão a perfeição espiritual e a imortalidade. Suspeito que foi isso que aconteceu com Tom Riddle. Em sua busca por conhecimento sobre as Horcruxes e em seus experimentos para se tornar imortal, seu coração e seus motivos não eram puros. Ele usou seu ganho para mutilar sua alma, um ato que ia contra as leis da natureza e de Deus. E ele pagou por isso: No capítulo “O Pedido de Lord Voldemort”, vemos o resultado de sua loucura. Sua boa aparência se foi “ainda não como uma cobra, mas apenas uma sombra do que eles eram uma vez. O exterior espelha o interior. Uma alma mutilada e difamada não pode ser encerrada em um belo pacote:

“Em primeiro lugar, que todo químico e estudante devoto e temente a Deus e estudante desta Arte considere que este arcano deve ser considerado, não apenas como uma arte verdadeiramente grande, mas como uma arte santíssima (vendo que ele tipifica e obscurece a mais alta bem celestial). Portanto, se alguém deseja alcançar este grande e indizível Mistério, deve lembrar-se de que ele não é obtido pelo poder do homem, mas pela graça de Deus, e que não nossa vontade ou desejo, mas apenas o misericórdia do Altíssimo, pode concedê-la a nós.

“Por esta razão, você deve primeiro limpar seu coração, levantá-lo somente a Ele, e pedir-Lhe este dom em oração verdadeira, fervorosa e indubitável. Só Ele pode dar e outorgar.” 4

Thomas Norton em seu Orindall of Alchemy coloca isso muito bem quando diz:

“… Uma graça e dom singular do Todo-Poderoso

Que nunca foi encontrado, como testemunha podemos,

Nem esta ciência jamais foi ensinada ao homem…

TAMBÉM NENHUM HOMEM DEVE ESSA CIÊNCIA ENSINAR

Pois é tão maravilhoso e tão isolado

Que deve ser ensinado de boca em boca,

Também ele deve (se ele nunca for tão relutante),

Receba-o com um juramento mais sagrado,

Que, ao recusarmos grande dignidade e fama,

Então ele deve necessariamente recusar o mesmo…

Para que por dúvida de tanto orgulho e riqueza

Ele deve tomar cuidado com o que esta ciência ensina

Nenhum homem, portanto, pode alcançar este presente

Mas ele tem virtudes excelentes.” 5

Tom Riddle também buscou o conhecimento dos alquimistas; ele também buscou a imortalidade da alma e do espírito para permanecer aqui na terra. A diferença entre Riddle e Harry, no entanto, são suas motivações para buscar o conhecimento para começar. Tom queria poder e ganho enquanto Harry não. Um excelente exemplo disso é um dos capítulos finais do primeiro livro “O Espelho de Ojesed”. Dumbledore, ele próprio um alquimista, estava bem ciente do princípio do amor e da iluminação, e escondeu a Pedra em um lugar onde apenas os puros de coração poderiam obtê-la. O professor Quirrell podia se ver com a Pedra Filosofal, mas não conseguia pegá-la. Por quê? Porque ele queria isso para ganho material e poder” para devolver seu mestre à força. Harry, por outro lado, queria que a Pedra a mantivesse segura; de forma alguma ele pretendia usá-lo para si mesmo. É por isso que ele conseguiu pegar a Pedra do Espelho.

Este é o caminho no qual Harry se encontra – o caminho para a iluminação. Somente buscando aquela parte de si mesmo “sua bondade e amor” ele encontrará os meios para destruir Voldemort de uma vez por todas. Ele deve se tornar a personificação física da Pedra Filosofal, alcançando a perfeição espiritual e a imortalidade, antes de finalmente se libertar do vínculo entre ele e Tom Riddle.

III. A Pedra Filosofal e o Elixir da Vida:

Mencionado pela primeira vez por Zósimo, o Tebano, no século III a.C., o conceito da Pedra Filosofal é verdadeiramente antigo. É conhecida por muitos nomes em muitas civilizações, mas o conceito ainda é o mesmo: a Pedra Filosofal é um meio pelo qual os humanos podem alcançar a perfeição espiritual e a imortalidade. Representa a força por trás da vida e o poder universal de ligação entre a mente e o corpo.

Uma das manifestações mais antigas da Pedra é tão antiga quanto a própria civilização. A água da vida suméria, agora conhecida como álcool ou aqua vitae, também era chamada de “água viva”, ou a “água com espíritos” e era usada na alquimia como agente de destilação. Foi mencionado na Epopeia de Gilgamesh e apresentada com destaque no mito do renascimento da deusa Inanna depois que sua irmã Eriskegal, a esposa do deus da morte, a assassinou no submundo.

A Pedra Benben da lenda egípcia também era chamada de “a pedra que caiu do céu” (lapsit ex caelis). Era o símbolo do sol, de forma piramidal, e residia no Templo do Sol em Heliópolis, o centro da religião e da astronomia no antigo Egito. Dizia-se que a Pedra Benben tinha os segredos da vida inscritos nela. A tradução latina da Pedra Filosofal/Elixir da Vida é ex lapis elixir, que é estranhamente semelhante ao nome que Wolfram von Esenbach dá ao Santo Graal em seu romance arturiano Parzival (lapsit exillis). Na verdade, Wolfram se esforça para descrever o Graal como uma pedra, e sua escolha de palavras não parece coincidência. O termo lapsit exillis também pode ser traduzido como lapsit ex caelis: a “pedra que caiu do céu”, o que implica que tanto a Pedra quanto o Graal podem ser rastreados pelo menos até o antigo Egito, embora provavelmente seja muito mais antigo do que isso.

Algumas das outras manifestações da Pedra incluem:

1· Lia Fáil, Irlanda/A Pedra do Destino, Escócia

2· Caldeirão da Imortalidade de Keridwen, Irlanda

3· A Pedra de Jacó, Bíblica

4· Caldeirão do Renascimento de Bran, País de Gales

5· O Santo Graal, Europeu.

6· A Kaa’ba, no Islã.

A Pedra era vista como uma substância mágica que poderia aperfeiçoar imediatamente qualquer substância ou situação. A Pedra Filosofal tem sido associada a muitos outros exemplos e fenômenos místicos e religiosos, incluindo o Sal do Mundo, o Corpo Astral, o Elixir e até mesmo Jesus Cristo. O Elixir dos alquimistas tem essencialmente a mesma capacidade de aperfeiçoar qualquer substância. Como a panaceia universal, o Elixir cura doenças e restaura a juventude.

Se a criação da Pedra Filosofal foi difícil, a criação do Elixir da Vida foi quase impossível. O Elixir da Vida deve conter os quatro elementos (fogo, terra, ar e água) mais os três princípios do animal, vegetal e prima materia (tan). Para trabalhar com esses ingredientes, muitos achavam que era necessário usar fígados de crocodilo, esqueletos humanos, raízes de mandrágora e vesículas biliares de antílopes, além de outros ingredientes bizarros.

Acredita-se que a prima materia ou tan seja o mineral cinábrio, ou sulfeto de mercúrio, também conhecido como Sangue de Dragão. Aprendemos em A Pedra Filosofal que Alvo Dumbledore era o parceiro de Nicolau Flamel, que possuía “a única Pedra Filosofal conhecida”. Como veremos, Flamel foi um dos melhores alunos de alquimia, e que Dumbledore era seu parceiro certamente não é por acaso da parte de Rowling. Dumbledore estava então familiarizado com o conhecimento dos alquimistas, suas metas e objetivos, e a atitude necessária para ter sucesso em sua busca. Rowling credita a Dumbledore a descoberta dos doze usos do Sangue de Dragão, que é um ingrediente crucial na construção da Pedra Filosofal. Muito usado pelos antigos como uma droga de longevidade, o cinábrio é extraído desde os tempos antigos e é altamente tóxico devido ao seu teor de mercúrio.

Sangue de Dragão também é o nome de uma planta, Dracaena draco, que é nativa das Ilhas Canárias, e outra planta, D. cinnabari, que é encontrada apenas na ilha de Socotra, na costa sul da Arábia. Acreditava-se que a resina seca dessas plantas tinha propriedades mágicas devido à sua cor vermelha brilhante. O Sangue de Dragão agora é usado em uma variedade de aplicações industriais” como verniz e em fotogravura, entre outros. Ainda é usado na Índia para fins cerimoniais. Embora tenha muito mais de doze usos, nenhum deles é limpador de forno!

O cinábrio, também chamado de vermelhão, combinava as duas substâncias importantes na alquimia: mercúrio e enxofre. Segundo Paracelso:

“A NATUREZA gera um mineral nas entranhas da terra. Existem dois tipos dele, que são encontrados em muitos distritos da Europa. figura do mundo maior, e está na parte oriental da esfera do Sol. A outra, na Estrela do Sul, está agora em sua primeira eflorescência. As entranhas da terra a empurram através de sua superfície. em sua primeira coagulação, e nele se escondem todas as flores e cores dos minerais. Muito se escreveu sobre isso pelos filósofos, pois é de natureza fria e úmida, e concorda com o elemento água.

No que diz respeito ao seu conhecimento e experimentação, todos os filósofos antes de mim, embora tenham mirado nele com seus mísseis, foram muito longe do alvo. Eles acreditavam que o Mercúrio e o Enxofre eram a mãe de todos os metais, nunca sequer sonhando em fazer menção a um terceiro; e, no entanto, quando a água é separada dela pela arte espagírica, a verdade é claramente revelada, embora fosse desconhecida para Galeno ou Avicena. Mas se, por causa de nossos excelentes médicos, tivéssemos que descrever apenas o nome, a composição; a dissolução e coagulação, como no início do mundo a Natureza procede com todas as coisas em crescimento, um ano inteiro dificilmente me bastaria, e para explicar essas coisas, nem mesmo as peles de numerosas vacas seriam adequadas.

Agora, afirmo que neste mineral se encontram três princípios, que são o Mercúrio, o Enxofre e a Água Mineral que serviu para coagular naturalmente. A ciência espagírica é capaz de extrair este último de seu próprio suco quando não está totalmente amadurecido, no meio do outono, como uma pera de uma árvore. A árvore contém potencialmente a pera. Se os astros celestiais e a natureza concordam, a árvore, antes de tudo, dá brotos no mês de março; em seguida, brota os botões e, quando estes se abrem, a flor aparece, e assim sucessivamente, até que no outono a pera amadurece. Assim é com os minerais. Estes nascem, da mesma maneira, nas entranhas da terra. Que os Alquimistas que estão procurando o Tesouro dos Tesouros observem isso cuidadosamente. Eu lhes mostrarei o caminho, seu começo, seu meio e seu fim. No tratado a seguir descreverei a Água adequada, o Enxofre adequado e o Bálsamo adequado. Por meio desses três, a resolução e a composição são coaguladas em uma…” 6

Como sabemos, a Pedra Filosofal e o Elixir da Vida eram os principais objetivos dos alquimistas. A Pedra Filosofal era a substância que poderia transformar chumbo barato em ouro e criar uma panaceia universal que tornaria os humanos imortais – o Elixir da Vida. A Grande Obra, ou Magnum Opus, refere-se à busca por esta pedra. Além disso, a fabricação da Pedra Filosofal era entendida como conferir um tipo de iniciação ao aluno, e essa iniciação é a culminação adequada da Grande Obra. A Pedra Filosofal é um símbolo para a jornada para a iluminação, quebrando e recombinando elementos dentro de nós (solve et coagula).

Embora houvesse tradicionalmente sete etapas para a conclusão da Pedra Filosofal, outros autores colocam o número mais alto. De acordo com o Pergaminho Ripley, havia 12 etapas envolvidas na fabricação da Pedra Filosofal. Basílio Valentino escreveu As Doze Chaves. A diferença nos sistemas é que o sistema tradicional de sete etapas remonta a Tábua de Esmeralda, enquanto o sistema de 12 etapas lida mais com arquétipos astrológicos.

Ripley escreveu sobre os quatro elementos conhecidos: fogo, terra, ar e água:

Você deve fazer Água da Terra, e Terra do Ar, e Ar do Fogo, e Fogo da Terra.” 7

De acordo com a Wikipédia, os alquimistas acreditavam que todos os quatro elementos eram interdependentes uns dos outros e que qualquer processo produziria os quatro elementos. Essa ideia remonta aos filósofos, especificamente Empédocles de Agrigento (440 a.C.), que consideravam que havia quatro elementos – terra, água, ar e fogo. Aristóteles acrescentou o chamado Quinto Elemento, “o éter”. (alt: aether) Esses elementos eram considerados, não como diferentes tipos de matéria, mas como diferentes formas de uma única matéria original, pela qual manifestavam diferentes propriedades. Pensava-se que isso se devia às quatro propriedades primárias de secura, umidade, calor e frio, com cada elemento tendo duas dessas propriedades: fogo era equiparado a quente e seco, quente e úmido ao ar, úmido e frio à água, e seco e frio para a terra. Assim, corpos úmidos e frios (a maioria dos líquidos) foram chamados de “águas”. Além disso, como esses elementos não eram considerados diferentes tipos de matéria, os alquimistas pensavam que a transmutação era possível. Na verdade, é possível, mas foi preciso o desenvolvimento da fissão nuclear para tornar realidade os sonhos dos alquimistas.

De acordo com Rowling, as quatro Casas de Hogwarts são usadas para representar esses quatro elementos. Grifinória é Fogo, Corvinal é Ar, Lufa Lufa é Terra e Sonserina é Água. Mas e o Quinto Elemento de Aristóteles, o éter? É aqui que entra Harry. O éter, ou quintessência, está sozinho acima dos outros elementos. É puro e incorruptível, a presença essencial de algo ou alguém. A quintessência combina o Acima e o Abaixo, o mental e o material. Pode ser pensado como a encarnação etérea da força vital que encontramos em sonhos e estados alterados de consciência. Segundo os gregos, o éter era o fogo celestial na visão grega, a pura essência em que os deuses viviam e respiravam, e os gregos o comparavam ao calor radiante do sol, que podia se mover no espaço vazio; isso levou Aristóteles a afirmar que “a natureza abomina o vácuo”. 8

Os elementos clássicos são frequentemente usados juntos tematicamente na fantasia moderna, ficção científica, cinema e televisão. Normalmente, um mago, mago ou alguém capaz de usar magia tem a habilidade de influenciar um dos elementos, ou pode usar os elementos para afetar o mundo ao seu redor. O quinto elemento ou quintessência está incorporado no herói, que geralmente é o epítome do amor, e do amor puro. Exemplos deste tema incluem Capitão Planeta, onde o Capitão Planeta é invocado combinando o poder de cinco anéis que representam cada um dos quatro elementos clássicos, bem como um anel que representa o “Coração”; A série The Sword of Truth (A Espada da Verdade) de Terry Goodkind e o programa de televisão infantil Avatar, onde quatro nações representando os quatro elementos estão em guerra. Os “magos” de cada nação têm a capacidade de controlar o elemento para o qual sua nação é nomeada. O Avatar, Ang, uma criança pequena, é o único que pode controlar todos os quatro elementos e trazer as nações de volta à harmonia. Ainda outro exemplo é o longa-metragem O Quinto Elemento, onde o personagem principal (interpretado por Bruce Willis) deve usar os quatro elementos para alimentar uma arma para a defesa da Terra, juntamente com o amor, o “quinto elemento”. Exemplos mais recentes incluem dois filmes populares do ano passado: Os Incríveis e O Quarteto Fantástico (que originalmente era uma história em quadrinhos).

Harry está em busca da quintessência dentro de si mesmo. Ele é aquele que pode unir as quatro casas como uma. Ele sozinho contém todas as quatro características dentro de si mesmo. A busca da quintessência é a busca da Pedra Filosofal, seu despertar e imortalidade espiritual.

Em O Enigma do Príncipe, até encontramos Harry lendo um livro sobre a quintessência:

“Harry não respondeu, mas fingiu estar absorto no livro que eles deveriam ter lido antes de Feitiços na manhã seguinte, Quintessence: A Quest (A Quintessencia: Uma Busca). (US Deluxe HBP, p. 304).

  1. As Ferramentas da Alquimia e Harry Potter:

Os alquimistas acreditavam que a fórmula universal contida na Tábua de Esmeralda era a base para uma filosofia espiritual introduzida pela primeira vez no antigo Egito na remota antiguidade” algumas fontes dizem mais de 10.000 anos atrás. Esta fórmula consiste em sete operações consecutivas realizadas sobre a “matéria” – seja de natureza física, psicológica ou espiritual.

Basílio Valentim, em seu Azoth dos Filósofos, descreve o significado completo da Coisa Única, que é tanto a Caótica Matéria no início da Obra quanto a Pedra aperfeiçoada em sua conclusão. A palavra “Azoth” é da Tábua de Esmeralda; o “A” e o “Z” na palavra relacionada ao alfa e ômega gregos, que significa simplesmente o começo e o fim de todas as coisas. 9

No desenho acima, tirado de Os Sete Estágios da Transformação Alquímica, uma salamandra envolta em chamas e um pássaro em pé estão tocando as asas de um caduceu. Abaixo da salamandra está a inscrição Anima (Alma); abaixo do pássaro está a inscrição Spiritus (Espírito). Corpus significa Corpo. De acordo com o Alchemy Electronic Dictionary (O Dicionário Eletrônico da Alquimia), a alma é “a presença passiva em todos nós que sobrevive por toda a eternidade e, portanto, é parte da substância original (Primeira Matéria) do universo. Em última análise, é a Única Coisa do universo. A alma foi considerada além dos quatro elementos materiais e, portanto, conceituada como um quinto elemento (ou Quintessência). O espírito é “a presença ativa em todos nós que luta pela perfeição. O espírito busca manifestação material para expressão. Em última análise, é a Mente Única do universo”. Em outras palavras, a alma é aquilo com que nascemos; é o espírito e as escolhas que fazemos na vida que nos moldam em quem somos, um ponto que Rowling enfatiza repetidamente nos romances.

Spiritus, Anima e Corpus formam um grande triângulo invertido que fica atrás do emblema central. De acordo com McLean, juntos eles simbolizam as três forças celestes arquetípicas que os alquimistas chamavam de Enxofre, Mercúrio e Sal. Na filosofia da alquimia, não são produtos químicos, mas nossos sentimentos, pensamentos e corpo.

Antes de discutirmos os livros e como Rowling habilmente tece os fios da alquimia através deles, é necessário dar algumas breves definições e descrições das substâncias básicas usadas na alquimia. Havia sete metais conhecidos pelos alquimistas: ouro, prata, mercúrio, chumbo, cobre, estanho e ferro (ver figura 1). Cada um teve um papel específico na formação da Pedra Filosofal; no entanto, como veremos, os alquimistas nem sempre foram claros sobre os nomes das substâncias, muitas vezes expressando-os em metáfora e simbolismo. Além disso, antes do século XIX não havia um sistema de nomenclatura universal para os elementos químicos. O que um alquimista chamava de enxofre outro poderia chamar de mercúrio e vice-versa; isso torna a interpretação de seus textos extremamente difícil.

METAL/PLANETA REGENTE:

Ouro – Sol

Prata – Lua

Mercúrio – Mercúrio

Cobre – Vênus

Estanho – Júpiter

Ferro – Marte

Chumbo – Saturno

Figura 1: Os Sete Metais da Alquimia e seus planetas regentes.

Além dos sete metais, havia também outros elementos e compostos em uso: vitríolo, antimônio (o lobo cinzento ou estribita), salitre (nitrato de potássio), uma combinação de ácido sulfúrico e ácido nítrico (chamado aqua regis), ácido nítrico (aqua fortae), água, sal amoníaco (cloreto de amônio), alúmen (sulfato de alumínio e potássio) e sal, entre outros.

É importante lembrar que os elementos que possuíam as mesmas propriedades foram classificados sob o mesmo nome; por exemplo, os compostos mais combustíveis com os quais os alquimistas trabalharam receberam o nome de “enxofre”, embora claramente não sejam todos enxofre elementar. Mercúrio era bem conhecido por sua capacidade de se unir e era famoso por seu brilho e maleabilidade. Mas os alquimistas rotularam muitas substâncias como “mercúrio” – aquelas que eram macias, brilhantes e fáceis de trabalhar, o que inclui a maioria dos metais – e às vezes é difícil determinar exatamente do que eles estão falando. Mais uma vez, os próprios alquimistas nunca são claros sobre a qual “enxofre” ou “mercúrio” eles estavam se referindo, o que só agrava o problema da tradução.

As três substâncias mais importantes na alquimia eram mercúrio, enxofre e sal. Os alquimistas acreditavam que todos os metais eram compostos de mercúrio e enxofre, em diferentes proporções e graus de pureza. O mercúrio também era conhecido como mercúrio ou sangue de unicórnio e era usado para fazer óxido de mercúrio vermelho aquecendo-o em uma solução de ácido nítrico. Um espesso vapor vermelho pairava sobre a solução e cristais vermelhos brilhantes precipitavam no fundo. Isso convenceu os alquimistas de que o mercúrio transcendia os estados líquido e sólido e, consequentemente, tanto o céu quanto a terra, a vida e a morte. Mercúrio foi a causa da “perfeição” nos metais e deu ao ouro seu brilho. Um alquimista desconhecido, citando Arnold de Villanova, escreve: “O mercúrio é a forma elementar de todas as coisas fusíveis; pois todas as coisas fusíveis, quando derretidas, se transformam nela, e se mistura com elas porque é da mesma substância que elas. Tais corpos diferem do mercúrio em sua composição apenas na medida em que está ou não livre da matéria estranha do enxofre impuro”. 10 O “mercúrio filosófico”, presente na busca do buscador pela iluminação, era absolutamente necessário para a conclusão da Magnum Opus. Na alquimia, uma serpente ou cobra geralmente representa mercúrio.

Os alquimistas acreditavam que um excesso de enxofre nos metais causava impurezas. Ao eliminar o excesso de enxofre por meio de um processo de purificação, eles ficariam com mercúrio puro ou mercúrio. Geber chamou o enxofre de “a gordura da terra, por decocção temperada na mina da terra engrossada, até ser endurecida e seca”. 11 Ele considerava o excesso de enxofre como causa de imperfeição nos metais, e escreve que uma das causas da corrupção dos metais pelo fogo “é a inclusão de um enxofre ardente na profundidade de sua substância, diminuindo-os por Inflamação, e exterminando também em Fumo, com Consumo extremo, tudo o que Argentvive (a “prata viva”) neles é de boa Fixação.” 12 Ele assumiu, além disso, que os metais continham dois tipos de enxofre: enxofre incombustível e enxofre combustível, sendo o segundo aparentemente considerado uma impureza.13 Um alquimista posterior diz que o enxofre é “mais facilmente reconhecido pelo espírito vital nos animais, a cor nos metais, o odor nas plantas.” 14 Para piorar a situação, o termo enxofre também foi dado a qualquer substância de cores vivas.

De acordo com The Hermetic House: Alchemy Ancient and Modern (A Casa Hermética: Alquimia Antiga e Moderna), essa “teoria do enxofre-mercúrio dos metais foi defendida por alquimistas famosos como Roger Bacon, Arnaldo de Villanova e Raimundo Lúlio”. 15 O sal, por outro lado, foi uma adição tardia à alquimia. O sal foi o início e o fim da Grande Obra, e esse conceito que será extremamente importante em nossa análise dos livros. Assim como o mercúrio e o enxofre, os alquimistas não se referiam ao sal de mesa aqui. Qualquer substância que fosse resistente ao fogo era chamada de “sal”. Isaac da Holanda e Basílio Valentim tentaram explicar as diferenças nos metais pela quantidade de mercúrio, enxofre e sal que continham. Por exemplo, o cobre, que é brilhantemente colorido, contém um excesso de enxofre, enquanto o ferro, que é duro, contém um excesso de sal. Paracelso e outros aprovaram entusiasticamente a adição de sal à lista de substâncias alquímicas, embora o sal permanecesse menos importante que o mercúrio ou o enxofre.

O vitríolo é outra substância que encontraremos no decorrer de nossa análise. É o líquido mais importante na alquimia, sem exceção, servindo como catalisador para todas as reações subsequentes. Foi destilado a partir de uma substância oleosa e verde (sulfato de cobre) que se formou naturalmente a partir do desgaste do cascalho com enxofre. Este Vitríolo Verde é simbolizado pelo Leão Verde em desenhos alquímicos. Depois de recolhido, foi aquecido e decomposto em compostos de ferro e ácido sulfúrico. O ácido foi então separado por destilação. A primeira destilação produziu um líquido marrom que cheirava a ovos podres (enxofre), mas a destilação posterior produziu um óleo amarelo quase inodoro chamado simplesmente vitríolo. O nome também foi usado para vários sais de sulfato, como sulfato de cobre (vitríolo azul, ou raramente vitríolo romano), sulfato de zinco (vitríolo branco), sulfato de ferro (II) (vitríolo verde), sulfato de ferro (III) (vitríolo de Marte), ou sulfato de cobalto (vitríolo vermelho). O vitríolo dissolve facilmente o tecido humano e é severamente corrosivo para a maioria dos metais, embora não tenha efeito sobre o ouro. A importância do Vitríolo nos romances não pode ser subestimada; sem ela, Harry não pode passar pelos estágios de transformação para a iluminação, mesmo quando as coisas parecem irreprimivelmente sombrias.

O ácido sulfúrico reage com a maioria dos metais para produzir gás hidrogênio e um sulfato metálico. Essas reações fazem com que o ácido ferva e pode explodir. A única maneira de combater um incêndio de ácido sulfúrico é com espuma ou outros agentes de terra seca para evitar que ferva. Uma vez que ferve, libera gases ácidos que podem matar.

Em Harry Potter, essas quatro substâncias são simbolizadas pelos seguintes caracteres, e estes serão discutidos em maiores detalhes: Mercúrio=Dumbledore, Enxofre=Hagrid, Sal=Sirius e Vitriol=Snape. Os outros personagens também têm seus lugares. Três casais representam a união de enxofre e mercúrio ou o Grande Casamento: Tiago e Lílian; Ron e Hermione (o “casal briguento”); e Bill e Fleur. Além disso, o nome completo de Ginny, Ginevra, significa “espuma branca”. Como mencionado nos parágrafos sobre vitríolo, a única coisa que pode combater um incêndio de ácido sulfúrico é a espuma.

  1. Os Sete Estágios da Transformação Alquímica:

Segundo fontes tradicionais, havia sete estágios de alquimia, cujo produto final era a Pedra Filosofal. Os primeiros quatro passos ocorrem no Abaixo, no reino da matéria. Os últimos três passos acontecem no Alto, no reino da mente e da imaginação criativa. Embora cada livro represente um estágio na transformação, os ciclos de alquimia também estão presentes em cada livro, começando com Harry na casa dos Dursley (o Estágio Negro) e terminando com a importante conversa de Dumbledore e a viagem de trem para casa (o Estágio Vermelho).

Cada estágio está relacionado a uma cor, substância alquímica e metal, e cada um tem um lugar específico na criação da Pedra. De acordo com outras fontes, como George Ripley e Basílio Valentino, havia Doze Chaves ou Portões. Para os propósitos desta discussão, no entanto, vamos nos limitar aos sete estágios tradicionais e analisá-los como eles se relacionam com o mundo de Harry Potter. (veja a figura 2) As primeiras cinco fases juntas são chamadas do Estágio Negro ou melanose; o Estágio Branco é destilação ou leucose e o Estágio Vermelho é coagulação ou iose. A iose também é conhecida como fase roxa, porque o material fica roxo durante o processo de coagulação.

Ano 1: A Pedra Filosofal:

No universo de Rowling, a Pedra Filosofal e o Elixir da Vida desempenharam o papel principal no primeiro livro. Lord Voldemort, arrancado de seu corpo onze anos antes, precisa que a Pedra permaneça viva até que possa construir um novo corpo, reduzindo-se a se alimentar de sangue de unicórnio, uma caricatura tão horrível que a partir de então levará uma meia-vida amaldiçoada. Hogwarts se torna um lugar de intriga e perigo para Harry e seus amigos enquanto eles tentam desvendar o mistério do roubo no Banco de Gringotes e evitar que a Pedra caia em mãos erradas. Eventualmente, Harry consegue, no processo descobrindo dentro de si suas próprias habilidades e o segredo do sacrifício de sua mãe por ele. Voldemort não recebe a Pedra e é forçado a fugir para a Albânia, não melhor do que quando voltou para a Grã-Bretanha.

Este é o início da jornada de Harry. Ele começa como uma massa confusa, sozinho sob os cuidados de parentes abusivos, e então leva o choque de sua vida quando Hagrid lhe diz que é um bruxo. A partir daí, ele precisa quebrar (dissolver) tudo o que aprendeu e começar a construir novamente (coagular). Ele aprende no processo que não é apenas um mago; ele é O Menino Que Sobreviveu. Para que ele fique completamente livre de Voldemort, ele deve dissolver o vínculo entre eles, um processo que levará mais seis livros para ser concluído.

Conhecemos Harry pela primeira vez no Capítulo 2, abusado por seus parentes trouxas e confinado em seu armário embaixo da escada. A impressão que temos é a de um menino que está sozinho no mundo, sem um amigo e sem esperança de que sua situação mude. E então, de repente, todo o seu mundo muda. Ele descobre que é um bruxo. O agente dessa mudança profunda é Rúbeo Hagrid, que passará a desempenhar um papel crucial na série. O nome Rúbeo significa “vermelho”, e logo descobrimos que Hagrid tem uma queda por criaturas perigosas. Ele é atencioso e carinhoso, algo que não esperaríamos em um homem tão grande; que ele seja retratado como tal por Rowling não é por acaso, como veremos nos livros posteriores.

De acordo com Adam McLean em seu The Seven Stages of Transformation (Os Sete Estágios da Transformação), este primeiro estágio da Grande Obra, chamado calcinação, é a quebra da massa confusa (massa confusa) pelo fogo. É representado pelo ácido sulfúrico, um potente corrosivo que corrói a pele e reage com todos os metais, exceto o ouro. Os alquimistas criaram o ácido sulfúrico a partir do vitríolo, o agente altamente corrosivo discutido anteriormente. A massa confusa caótica tem que passar por um longo processo no qual é repetidamente dissolvida e coagulada (solve et coagula) e daí surge a prima materia, que é a matéria-prima para a fabricação do ouro. O psicólogo Carl Jung estava muito ocupado com os aspectos arquetípicos da alquimia e ficou impressionado com as semelhanças entre o opus magnum e o processo psicanalítico. Na psicanálise de Jung, a massa confusa do subconsciente é o instrumento primordial para alcançar um estado de equilíbrio e completude mental. A própria calcinação representava a quebra do ego e os apegos às posses materiais. Através deste processo o Buscador torna-se introspectivo e começa a avaliar a sua vida.

A massa confusa é descrita como uma cobra segurando sua cauda – o Ouroboros. A cobra era frequentemente usada como um símbolo para a dualidade – seu corpo alongado separando as polaridades da cabeça e da cauda. Às vezes, a figura de um dragão alado era usada aqui no lugar da cobra, para fechar o círculo com o dragão no início do trabalho. Quando a cobra ou dragão agarrou sua cauda, uniu as polaridades em um círculo, um símbolo para os alquimistas para alcançar a solidez entre as energias dualistas das forças da alma. A criação da Pedra Filosofal foi a formação de uma base interna sólida sobre a qual os filósofos alquímicos puderam construir suas personalidades e experimentar toda a potencialidade de serem humanos.16

Isso é o que Harry começa a experimentar desde o momento em que pisa no Expresso de Hogwarts. Ele está entrando em um mundo totalmente novo; um de magia e admiração, que o obriga a avaliar quem ele é e a que propósito serve. A plataforma 9 3/4 representa sua iniciação neste mundo de maravilhas, cruzando as fronteiras entre os reinos mundano e superior. Ele conhece Ron e Hermione, que imediatamente não gostam um do outro. Juntos, eles representam o Casal Brigante; rei e rainha, mercúrio e enxofre, ouro e prata, cujo Grande Casamento no final da Grande Obra permitirá que Harry alcance todo o seu potencial. Discutiremos isso mais adiante.

O nome de Hermione encontra suas raízes no deus grego Hermes, mas ainda mais importante em Hermes Trismegisto, o autor da Tábua de Esmeralda, da qual derivam todos os estudos de alquimia e ocultismo. Também é significativo que São Tiago (Potter) seja o santo padroeiro da alquimia, e o símbolo do Estágio Branco da transformação seja o lírio.

Neste ponto, encontramos dois dos personagens mais importantes de todo o livro: Alvo Dumbledore e Nicolau Flamel. As Cartas de Sapo de Chocolate de Ron são uma verdadeira fonte de informação para nós na primeira leitura do livro. Descobrimos que Dumbledore e Flamel eram parceiros; além disso, afirma-se inequivocamente que eles eram alquimistas. Dumbledore é creditado com a descoberta dos doze usos do Sangue de Dragão, que como vimos não é uma fantástica virada da imaginação de Rowling. Dumbledore repetidamente mostra-se bem familiarizado com os princípios alquímicos ao longo do livro e de fato ao longo da série.

Por outro lado, Nicolau Flamel é a pessoa mais importante em Harry Potter a nunca ser lembrada em um Cartão de Sapo de Chocolate. A razão para isso não está clara; o fato de ele ainda estar vivo não pode ser o motivo, já que Dumbledore está vivo e tem seu próprio cartão. Em todo caso, a vida de Flamel foi bastante real”sua casa em Paris, construída em 1407, ainda está de pé, na rue de Montmorency, 51, onde foi transformada em restaurante. Suas façanhas, no entanto, são lendárias entre os estudantes de esoterismo e ocultismo.

Este é o fim da Parte I. A Parte II discute a vida de Flamel, seu infame manuscrito e aborda a questão: Flamel realmente encontrou a Pedra Filosofal? Também traço o simbolismo alquímico na Câmara Secreta através do Enigma do Príncipe e além, fazendo algumas previsões para o destino dos personagens e o final da série.

Referências:

1. The Internet Sacred Text Archive. “History of the Tablet.” The Emerald Tablet of Hermes. 2005. The Internet Sacred Text Archive. 10 March 2006. http://www.sacred-texts.com/alc/emerald.htm

2. Waite, A. E. “’EIRENÆUS PHILALETHES’: An Open Entrance to the Closed Palace of the King.” The Hermetic Museum. vol. ii. London. 1893. p. 178

3. Redgrove, H. Stanley. Alchemy: Ancient and Modern. London: William Rider & Son, LTD, 1922. http://www.geocities.com/andymak252/AlchemyAncientModern.htm

4. Geber; Richard Russel. “Of the Sum of Perfection.” The Works of Geber. London : Printed for William Cooper,1678. pp. 69 – 70

5. Norton, Thomas. The Ordinal of Alchemy. London ; New York : Published for the Early English Text Society by the Oxford University Press, 1975.

6. Mileusnic, Dusan Djordjevic. Paracelsus: The Treasure of Treasures for the Alchemists. London: J.H. Oxon, 1659. The Alchemy Web Site. McLean, Adam. 1996. levity.com. 10 March 2006. http://www.levity.com/alchemy/paracel1.html

7. McLean, Adam. The Ripley Scrowle. 1450-1500. The Alchemy Web Bookshop. 10 March 2006. http://www.alchemywebsite.com/bookshop/ripley_scroll.html

8. Wikipedia. “Classic Elements.” Wikipedia Encyclopedia. 2005-06. Wikmedia. 18 Feb. 2006. http://en.wikipedia.org/wiki/Classical_elements

9. De Giorgio,Dr. Laura. “The Seven Stages of Transformation.” Alchemy. 2001-2005. Deep Trance Now. 10 March 2006. http://www.deeptrancenow.com/exc3_7operations.htm

10. Waite, A. E. “The Golden Tract concerning the Stone of the Philosophers” The Hermetic Museum vol. i. London. 1893. p. 17.

11. Geber; Richard Russel. “Of the Sum of Perfection.” The Works of Geber. London : Printed for William Cooper,1678. pp. 69 – 70

12. Ibid, p 156.

13. Ibid, p 160.

14. Waite, A. E. The Hermetic Museum. The New Chemical Light, Part II. Concerning Sulphur. vol. ii. London. 1893. p. 151

15. Redgrove, H. Stanley. Alchemy: Ancient and Modern. London: William Rider & Son, LTD, 1922. http://www.geocities.com/andymak252/AlchemyAncientModern.htm

16. De Giorgio,Dr. Laura. “First Stage – Calcination.” The Seven Stages of Transformation. 2001-2005. Deep Trance Now. 10 March 2006. http://www.deeptrancenow.com/exc3_calcination.htm

Original: http://www.the-leaky-cauldron.org/features/essays/issue1/alchemypart1/

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/alquimia-e-harry-potter-parte-i/

Hermes Trismegistus

“O que está em cima é como o que está embaixo.

E o que está embaixo é como o que está em cima”

O que é magia? Esta é uma questão que, mesmo em círculos esotéricos, levanta muita discussão. Vários autores e filósofos em todas as épocas teceram variadas interpretações a respeito do assunto. Entretanto, os elementos-chave de todas as definições existentes parecem concordar em apenas um ponto: Magia (ou Magick) envolve o uso da mente humana para causar uma alteração: Mudança no mundo, mudança do próprio indivíduo, mudança para com os outros. Aleister Crowley definiu mágica como “a Arte ou Ciência de causar uma mudança. Para que esta ocorra em conformidade com a Vontade”. Doreen Valiente define magia como “a ciência do controle das forças secretas da natureza”. Scott Cunningham chama a magia de “o movimento de energias naturais para criar uma mudança necessária”. Mas é Margot Adler que tem a definição que considero ser a mais interessante de todas. Ela diz:

“Magia é uma palavra conveniente para toda uma coleção de técnicas, todas as quais envolvem o uso da mente. Neste caso, veremos que todas estas técnicas envolvem a mobilização da confiança, vontade e emoção, direcionadas a partir do reconhecimento da necessidade, do uso das faculdades da imaginação, principalmente através da habilidade de visualizar, a fim de entender como outros seres funcionam na natureza para que possamos usar este conhecimento de forma a atingir os fins necessitados”.

Magia, portanto, é um instrumento da mente e, como tal é mental por natureza. Magia é um meio através do qual a vontade (Thelema), a emoção (Emotionem) e a imaginação (Imaginatio) criam uma mudança verdadeira no mundo físico. Como, porém, pode um instrumento mental e não físico criar uma alteração no mundo físico e corpóreo? A resposta está na Verdade de que o universo em si mesmo é Mental por natureza e que a mente é a chave para abrir os poderes do Cosmo.

“Substância” pode ser definida como aquilo que está por dentro de todas as manifestações exteriores. Atrás de toda aparência exterior neste mundo e em todos os outros mundos, deve existir uma realidade substancial. Um imenso Panteão de deuses e deusas mostra-nos como o homem tentar dar nome a esta realidade substancial.

Como John Barnes afirmou certa vez, “O Todo é a Realidade Substancial que está escondida em todas as manifestações de vida. O Todo é a Grande Avó -Avô que criou a si mesmo, que sempre existiu e que irá existir para sempre”

Uma das chaves para entender como o Universo funciona nos foi dada por Hermes-Toth, também conhecido como Hermes Trismegistus. Algumas pessoas o consideram um deus, outras um grande iniciado, e algumas ainda acreditam que este nome represente uma das primeiras Ordens Iniciáticas do Antigo Egito e Grécia, cujos trabalhos de seus Iniciados perduram até os dias de hoje, através da ciência conhecida como Hermetismo. A seguir, falarei um pouco sobre quem foi esta figura e o que ele nos deixou de legado.

Toth

Toth (ou Thoth) é considerada uma das divindades mais importantes do Egito. Também chamado de “O escriba dos Deuses”, ele é geralmente descrito como tendo a cabeça de um Íbis.

Sua contraparte feminina era Maat, deusa da Justiça, e seu principal templo ficava em Khemennu (que os gregos chamavam de Hermopolis e os árabes de Eshmunen). Mas Toth também tinha templos iniciáticos em Abydos, Hesert, Urit, Per-Ab, Rekhui, Ta-ur, Sep, Hat, Pselket, Tamsis, Antcha-Mutet, Bah, Amen-heri-ab e Ta-kens. Nestes templos, seus discípulos aprendiam as bases do que chamamos de “Livro de Toth”, ou como é conhecido pelos profanos, o Tarot. As 78 lâminas, também chamada “Espelho da Alma”, são capazes de reproduzir simbolicamente todos os fluxos de energia que permeiam uma situação (as pessoas acreditam que o Tarot serve para “prever o futuro” mas isto não é verdade. Seu uso principal é para autoconhecimento). Falarei mais sobre Tarot em posts futuros.

Ele era considerado o coração e a língua de Rá, assim como a vontade de Rá traduzida para a fala (o Verbo). Dentro do Panteão Egípcio, ele possuía diversas funções muito importantes (entre elas, ensinar a escrita, magia, ciência, astrologia e ajudar no julgamento dos mortos).

Toth também é responsável pelo governo dos Planetas e das estações. È chamado de “Senhor das palavras Sagradas” pois foi ele quem inventou os hieroglifos e os números. Por ter sido o primeiro magista, Toth possuía mais poder até mesmo do que Osíris ou Rá.

Em algumas representações, podemos vê-lo com a crescente lunar sobre sua cabeça e sua figura carregando uma palheta e cinzel. Toth possuía duas esposas, Seshat e Nehmauit. Seu festival principal acontecia no décimo nono dia do mês de Toth, alguns poucos dias após a lua cheia do começo do ano.

Toth é considerado deus da Magia, escrita, invenções, profecia, música, tarot, conhecimento, ciências, medidas, matemática, fala, oráculos, julgamento, desenhos, arquitetura, gramática, teologia, hinos, aprendizado, livros, registros Akashicos, paz e orações.

Hermes

Hermes também é tido como uma das mais importantes divindades gregas do Panteão Olímpico. Considerado o mais jovem dos deuses, ele é o protetor de todos os viajantes e ladrões, é o mensageiro dos deuses, responsável por levar a palavra dos deuses até os mortais (qualquer semelhança com Prometeu ou Lúcifer NÃO é mera coincidência); Hermes é o deus da eloqüência, ao lado de Apolo, é o Deus dos diplomatas e da diplomacia (que era chamada de Hermeneus pelos gregos) e é o deus dos mistérios e interpretações (da onde vem a palavra Hermenêutica). Além disto, era um dos únicos deuses que tinha permissão para descer ao Hades e partir quando desejasse. Todos os outros (incluindo Zeus) estavam sujeitos às leis de Hades.

Hermes tinha vários símbolos, mas os mais tradicionais eram as sandálias com asas, o caduceu (que curiosamente representa a Kundalini, duas serpentes enroscadas em um cajado) e a tartaruga (de cujo casco ele criou a primeira Lira).

Como inventor de diversos tipos de corrida e também das lutas, Hermes era considerado o patrono dos atletas. Finalmente, era tido como o inventor do Fogo (em alguns textos anteriores a Prometeu) e considerado um deus pregador de peças, que adorava aprontar com seus irmãos (isto desde seu nascimento, quando a primeira coisa que fez quando aprendeu a andar foi roubar os bois de Apolo e esconde-los). Hermes era patrono dos alquimistas, magos e filósofos.

Mercúrio

Para os romanos, Mercúrio surgiu da fusão do deus Turms (Etrusco) com as características de Hermes grego, em aproximadamente 400 AC. Mercúrio tornou-se assim o deus do comércio (em muitos países o símbolo do Caduceu é usado para indicar administração e não medicina), das estradas e das relações de diplomacia. Mercúrio não era tão popular entre os romanos como Hermes era entre os gregos, sendo considerado um deus menor dentro do Panteão romano.

Mercúrio era patrono do comércio, transportes, sucesso, magia, viagens, apostas, atletas, eloqüência, mercadores e mensageiros.

Hermes Trimegistus

Hermes Trismegistus é a tradução em latim e significa “Hermes, o três vezes grande”.

Trata-se do nome dado pelos neoplatônicos, místicos e alquimistas ao deus egípcio Toth ou Tehuti, identificado com o deus grego Hermes. Ambos eram os deuses da escrita e da magia nas respectivas culturas.

Toth simbolizava a lógica organizada do universo. Era relacionado aos ciclos lunares, cujas fases expressam a harmonia do universo. Referido nos escritos egípcios como “duas vezes grande”, era o deus do verbo e da sabedoria, sendo naturalmente identificado com Hermes. Na atmosfera sincrética do Império Romano, deu-se ao deus grego Hermes o epíteto do deus egípcio Toth.

Como “escriba e mensageiro dos deuses”, no Egito Helenístico, Hermes era tido como o autor de um conjunto de textos sagrados, ditos “herméticos”, contendo ensinamentos sobre artes, ciências e religião e filosofia – o Corpus Hermeticum – cujo propósito seria a deificação da humanidade através do conhecimento de Deus. É pouco provável que todos esses livros tenham sido escritos por uma única pessoa, mas representam o saber acumulada pelos egípcios ao longo do tempo, atribuído ao grande deus da sabedoria.

Segundo Clemente de Alexandria, eram 42 livros subdivididos em seis conjuntos. O primeiro tratava da educação dos sacerdotes; o segundo, dos rituais do templo; o terceiro, de geologia, geografia, botânica e agricultura; o quarto, de astronomia e astrologia, matemática e arquitetura; o quinto continha os hinos em louvor aos deuses e um guia de ação política para os reis; o sexto era um texto médico.

Também é creditado a Hermes Trismegistus, “O Livro dos Mortos” ou “O Livro da Saída da Luz” e o mais famoso texto alquímico – a “Tábua de Esmeralda”.

Os Escritos Herméticos

Os escritos Herméticos são uma coleção de 18 obras Gregas. Estes escritos contêm os aspectos teórico e filosófico do Hermetismo em seu aspecto teosófico. O período bizantino é marcado por uma outra coleção de obras herméticas, que também são relacionadas ao Hermes Trismegistus e contêm uma tradição hermética popular a qual é composta essencialmente por escritos relacionados a astrologia, magia e Alquimia. Esta versão popular encontra sustentação ou base nos diálogos Hermeticos, apesar dele se distanciar da magia.

A prática da magia entretanto não está distante das praticas realizadas no antigo Egito, a qual em uma última análise é a fonte de todos os diálogos herméticos, pois o Hermetismo lá floresceu e, portanto estabelece uma conexão entre as duas tradições Hermeticas: filosófica e magia.

Os ensinos de Hermes-Toth chegaram à atualidade baseados em escassos documentos que constituem o “Kabalion“, “A Tábua da Esmeralda“, “Pistis Sophia“, “Corpus Hermeticum“, e alguns outros papiros. Naturalmente que o acervo de ensinamentos de Toth estão contidos em muitos outros documentos que foram preservados e mantidos sob a guarda de Ordens Iniciáticas. Tratam-se de documentos originais e cópias que foram preservados do incêndio da Biblioteca de Alexandria. Entre os documentos preservados existem aqueles que deram base ao desenvolvimento da Alquimia.

As sete Leis Herméticas

As sete principais leis herméticas se baseiam nos princípios incluídos no livro Kabalion que reúne os ensinamentos básicos da Lei que rege todas as coisas manifestadas. A palavra Kabalion, na língua hebraica significa tradição ou preceito manifestado por um ente de cima. Esta palavra tem a mesma raiz da palavra Kabbalah, que em hebraico, significa recepção. De acordo com Hermes Trismegistus:

Lei do Mentalismo

O universo é mental ou Mente. Isso significa que todo universo fenomenal é simplesmente uma criação mental do TODO… Que o universo tem sua existência na Mente do TODO.

Uma outra maneira de dizer isso é: “tudo existe na mente do Deus e da Deusa que nos ‘pensa’ para que possamos existir. Toda a criação principiou como uma idéia da mente divina que continuaria a viver, a mover-se e a ter seu ser na divina consciência.”

“O Universo e toda a matéria são consciência do processo de evolução.”

Minha opinião é que toda a matéria são como os neurônios de uma grande mente, o universo consciente, que “pensa”.

Todo o conhecimento flui e reflui de nossa mente, já que estamos ligados a uma mente divina que contem todo o conhecimento.

É claro que não estamos conscientes de “todo o conhecimento” em qualquer momento dado, por que seria uma tarefa exorbitante manuseá-lo e processa-lo e ficaríamos loucos no processo.

Os cinco sentidos do cérebro humano atuam tanto como filtros como fontes de informação. Eles bloqueiam uma considerável soma de informação caso contrário seriamos esmagados por informações que nos bombardeiam minuto a minuto como sons, cheiros e até idéias, não seriamos capazes de nos concentrarmos nas tarefas especificas em mãos. Mas sob condições corretas de consciência podemos moderar, ou até desligar o processo de filtração, com a consciência alterada, o conhecimento universal (Registros Akáshicos) torna-se acessível.

Lei da Correspondência

“Aquilo que está em cima é como aquilo que está embaixo.”

Essa lei é importante porque nos lembra que vivemos em mais que um mundo.

Vivemos nas coordenadas do espaço físico, mas também vivemos em um mundo sem espaço e nem tempo.

A perspectiva da Terra normalmente nos impede de enxergar outros domínios acima e abaixo de nós. A nossa atenção está tão concentrada no microcosmo que não nos percebemos o imenso macrocosmo à nossa volta. O principio de correspondência diz-nos que o que é verdadeiro no macrocosmo é também verdadeiro no microcosmo e vice-versa.

Portanto podemos aprender as grandes verdades do cosmo observando como elas se manifestam em nossas próprias vidas.

Por isso estudamos o universo: para aprender mais sobre nós mesmos.

Na menor partícula existe toda a informação do Universo.

A Lei da Correspondência, em conjunto com a Lei da Causa e Efeito, é a explicação para o funcionamento perfeito do Tarot e da Astrologia, bem como de todos os outros oráculos.

Lei da Vibração

“Nada está parado, tudo se move, tudo vibra”

No universo todo movimento é vibratório. O todo se manifesta por esse princípio. Todas as coisas se movimentam e vibram com seu próprio regime de vibração. Nada está em repouso. Das galáxias às partículas sub-atômicas, tudo é movimento.

Todos os objetos materiais são feitos de átomos e a enorme variedade de estruturas moleculares não é rígida ou imóvel, mas oscila de acordo com as temperaturas e com harmonia. A matéria não é passiva ou inerte, como nos pode parecer a nível material, mas cheia de movimento.

A Lei da Vibração rege toda a comunicação entre espíritos e matéria, bem como a conjuração de elementais, devas, exús, orixás, anjos enochianos e qualquer outro tipo de serviçal astral. Também rege os princípios de atração e repulsão entre indivíduos, a harmonia e as egrégoras.

Lei da Polaridade

“Tudo é duplo, tudo tem dois pólos, tudo tem o seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todos os paradoxos podem ser reconciliados”

A polaridade revela a dualidade, os opostos representando a chave de poder no sistema hermético. Mais do que isso, os opostos são apenas extremos da mesma coisa. Tudo se torna idêntico em natureza. O pólo positivo + e o negativo – da corrente elétrica são uma mera convenção.

O claro e o escuro também são manifestações da luz. A escala musical do som, o duro versus o flexível, o doce versus o amargo. Amor e o ódio são simplesmente manifestações de uma mesma coisa, diferentes graus de um sentimento.

Lei do Ritmo

“Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés, tudo sobe e desce, o ritmo é a compensação”

Pode se dizer que o princípio é manifestado pela criação e pela destruição. É o ritmo da ascensão e da queda, da conversão da energia cinética para potencial e da potencial para cinética. Os opostos se movem em círculos.

É a expansão até chegar o ponto máximo, e depois que atingir sua maior força, se torna massa inerte, recomeçando novamente um novo ciclo, dessa vez no sentido inverso. A lei do ritmo assegura que cada ciclo busque sua complementação.

Lei do Gênero

“O Gênero está em tudo: tudo tem seus princípios Masculino e Feminino, o gênero se manifesta em todos os planos da criação”

Os princípios de atração e repulsão não existem por si só, mas somente um dependendo do outro. Tudo tem um componente masculino e um feminino independente do gênero físico. É semelhante ao principio com o principio animas animus que Carl Jung e seus seguidores popularizaram, ou seja que cada pessoa contém aspectos masculinos e femininos, independente do seu gênero físico, nenhum ser humano é 100% homem ou mulher, e isso é até astrologicamente explicado, uma vez que todos somos influenciados por todos os signos (uns mais, outros menos), e metade do zodíaco é feminino, enquanto que a outra metade é obviamente masculina (Esse é mais um argumento que suporta a igualdade entre Deus/Hochma e Deusa/Binah dentro das Esferas da Kabbalah).

Em todas as coisas existe uma energia receptiva feminina e uma energia projetiva masculina, a que os chineses chamavam de Yin e Yang.

Lei de Causa e Efeito

“Toda causa tem seu efeito, todo o efeito tem sua causa, existem muitos planos de causalidade mas nenhum escapa à Lei”

Nada acontece por acaso, pois não existe o acaso, já que acaso é simplesmente um termo dado a um fenômeno existente e do qual não conhecemos e a origem, ou seja, não reconhecemos nele a Lei à qual se aplica.

Esse princípio é um dos mais polêmicos, pois também implica no fato de sermos responsáveis por todos os nossos atos e é muito mais cômodo deixar os acontecimentos ao “acaso” ou ao “divino”. Também é conhecido como Lei do Karma.

Hermes/Toth na Kabbalah

A Árvore da Vida representa um mapa dos estados de consciência humanos. Vamos falar mais detalhadamente sobre isso em posts futuros, mas vou fazer a referência agora e vocês podem retornar e ler novamente este texto mais tarde, ok?

Em razão de sua eloqüência e inteligência privilegiada, Mercúrio está associado na Kabbalah à oitava esfera (sephira), chamada Hod (explendor). Hod representa a razão pura, a lógica, a matemática, o ceticismo e os desertos dos códigos rígidos e cartesianos, em contraste com Netzach (Vênus) que representa a Emoção Pura.

Hod está associado ao Planeta Mercúrio, ao metal mercúrio, ao incenso de sândalo, Mastic e Storax, à cânfora, lavanda, lírios, marjoran e mirtila e ao caduceu. Seu elemento é o Ar.

Hod influencia os Caminhos Shin (31), a Inteligência Perpétua, conectando a Razão ao Plano Material, servindo de filtro entre as idéias que permeiam o mundo material e o que pode ser aproveitada delas (este é literalmente o caminho do despertar dos céticos), Resh (30), o Sol, que conecta a Razão ao Plano Astral, perfazendo a segunda trilha que um mago deve percorrer na consciência, usando a razão de maneira questionadora no Plano Astral, Peh (27), a Torre, o caminho turbulento que conecta a esfera da Razão Pura à esfera da Emoção Pura. Imaginar este estado de consciência é como colocar um fanático cético com um fanático religioso para discutir. Mais cedo ou mais tarde, a estrutura vai rachar ao meio. Da conexão entre Hod e Tiferet (Sol) há o Caminho 26, Ayin, o Diabo, o caminho da iluminação através da razão ou através do Caminho da Esquerda, como vocês já devem ter ouvido falar por aí. O famoso “Faze o que tu queres há de ser o todo da Lei” e finalmente, o caminho 23, Mem, que liga a Razão às planícies de provação de Marte/Geburah, simbolizando a estagnação do Enforcado.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/hermes-trismegistus-1

A Ascensão Tifoniana: O Legado Mágico de Kenneth Grant

Matthew Levi Stevens

Onze anos após a morte do autor, ocultista e poeta britânico Kenneth Grant (1924-2011), estamos apenas agora começando a ver as primeiras tentativas de avaliar o impacto e o legado do homem que foi o último estudante e secretário do famoso Aleister Crowley, e que muitos acreditam ser seu sucessor natural.

Grant também foi um amigo próximo do mago artista Austin Osman Spare, apoiando-o em seus últimos anos, teve o padrinho de Wicca, Gerald Gardner, como um colega e às vezes rival, assim como durante seu tempo com Crowley e conheceu a Sacerdotisa da Nova Era, Dion Fortune. Como tal, Grant teve contato direto com quatro das figuras mais influentes do Renascimento Mágico e Místico dos meados do século XX.

Com relação a seu próprio trabalho, os nove volumes das três “Trilogias Tifonianas” de Grant escritos ao longo das três décadas de 1972 a 2003 – assim como vários volumes de ficção com temática oculta, e memórias das personalidades mágicas que ele encontrou – abrangem temas como Alquimia, Cabala, Controle de Sonhos, Egiptologia, Mitos de Cthulhu de H. P. Lovecraft, Caminho da Mão Esquerda, Magia Sexual, Surrealismo, Tantra, Thelema, Budismo Tibetano, Ufologia, Bruxaria e Vodu, que são um retrato único do Renascimento Oculto Moderno, assim como indiscutivelmente uma de suas correntes mais criativas.

Então, quem era exatamente Kenneth Grant?

Nascido em 23 de maio de 1924, muito pouco se sabe sobre os antecedentes de Grant ou sobre a sua biografia real. Ele era um homem intensamente reservado, que apesar – ou talvez até mesmo por causa – da natureza de seu trabalho e a notoriedade de seu mentor, Aleister Crowley, seguia uma rígida política de não divulgação, semelhante ao apagamento da história pessoal defendida nos livros de Carlos Castañeda.

Por sua própria natureza, algo como um jovem livreiro, sonhador, fascinado pela magia e pelo misticismo, o jovem Grant havia experimentado projeção astral e, aos 15 anos de idade, o que ele vivia eram contatos espontâneos de um ser que se chamava Aushik ou Aossic, que mais tarde identificaria como seu Santo Anjo Guardião. Grant tinha encontrado Magick In Theory and Practice (Magia em Teoria e Prática) de ‘Mestre Therion’ (um pseudônimo de Crowley’s) na livraria Charing Cross Road, Zwemmer’s, e, sentindo aqui talvez uma chave para entender – ou mesmo controlar – suas experiências, convenceu Michael Houghton, proprietário da Livraria The Atlantis Bookshop, a colocá-lo em contato com o autor. Houghton declinou, no entanto – as razões para isso não são claras – mas o que é um assunto de registro é que Grant, depois de escrever pela primeira vez, finalmente se encontrou com Crowley. Era dezembro de 1945, e quando eles apertaram as mãos pela primeira vez a música Shine On Harvest Moon estava tocando no rádio em segundo plano.

Foi assim que o jovem Kenneth Grant se tornou, por um tempo, um assistente-secretário do velho Magus ao abandonar Londres devastada pela Blitzkrieg, pela paz, tranquilidade e relativa segurança de uma hospedaria na costa sul. Foi em ‘Netherwood’ em Hastings, onde A Grande Besta terminou seus dias apenas três curtos anos depois, que Grant se tornaria aprendiz da Magia de Crowley a sério, e seria iniciado em sua Ordo Templi Orientis, conheceria pessoas como Dion Fortune, Gerald Gardner e Lady Frieda Harris, a artista talentosa que ilustrou o superlativo Livro do Tarô de Toth de Crowley. Ele também tomou conhecimento da ainda extensa rede de correspondência de Crowley com ocultistas no exterior – tais como Karl Germer e Eugen Grosche na Alemanha, e Jane Wolfe, W. T. Smith e Jack Parsons na América. Por um tempo, parece até que a Besta envelhecida estava preparando o jovem Grant para ser um possível sucessor, referindo-se a ele como um “Presente dos Deuses“, e anotando em seu diário:

“…o valor de Grant. Se eu morrer ou for para os EUA, deve haver um homem treinado para cuidar da OTO inglesa.”

Mas mesmo nesta fase inicial, a propensão de Grant para o devaneio e para o outro mundo desnorteou e frustrou o homem mais velho, que – afinal de contas – procurava assistência prática, no dia-a-dia, em primeiro lugar, e treinar um herdeiro, em segundo. Finalmente tudo se tornou demais – particularmente para Grant, que sentia falta de sua noiva Steffi – e Crowley o deixou ir, mas não antes de iniciar Grant no Grau IXO da O.T.O. e de fornecê-lo com uma Carta para montar um acampamento da Ordem.

Pouco antes da morte de Crowley, Grant também conheceu um homem que mais tarde provaria ser quase tão influente sobre ele quanto A Grande Besta: embora mais na forma de uma eminência parda, que influenciou Grant nos bastidores. Ele forneceu uma iniciação e inspiração que teve um impacto definitivo na reformulação da Thelema de Grant, no propósito e rituais do ramo da O.T.O. que ele fundou, e muito do foco das suas Trilogias Tifonianas. Seu nome era David Curwen.

Um alquimista praticante e aluno do Tantra, que havia dado o passo da devoção a um guru indiano – incomum para um ocidental na época – David Curwen foi mencionado pela primeira vez nas memórias de Grant de 1991, Remembering Aleister Crowley (Relembrando o diário Aleister Crowley):

“David Curwen foi mencionado pela primeira vez nos diários de Crowley, em 2.9.1944. Quando o conheci, pouco antes da morte de Crowley, ele era membro do IX° O.T.O. Sua paixão pela Alquimia era tão grande que ele quase morreu depois de absorver o ouro líquido. Seu conhecimento do Tantra era considerável. Foi através de Curwen que recebi, eventualmente, a iniciação completa em uma fórmula altamente recôndita do Tântrico vama marg.”

Ao discutir a tentativa de Crowley de formular um “elixir” como parte de seu trabalho da magia sexual, Grant menciona um detalhe de relevância fundamental para sua posterior tecelagem de Tantra e Thelema, que seria essencial para sua própria jornada de iniciação:

“Existe um documento relativo a esta fórmula compilado pelo antigo guru de Curwen, um tântrico do sul da Índia. É na forma de um extenso comentário sobre um texto antigo da Escola Kaula. Curwen emprestou a Crowley uma cópia do mesmo.”

O documento em questão era uma cópia do Anandalahari, ou a “Onda de Felicidade“, anotado pelo guru sul-indiano de Curwen e com um Comentário explicando o simbolismo fisiológico – e explicitamente sexual -. Isto forneceu a Grant a chave para desvendar os mistérios ocultos dos Textos Sagrados em Sânscrito, a partir dos quais ele foi capaz de desenvolver – com a ajuda de Curwen – uma visão mais profunda do Tantra do que seu antigo mentor jamais havia conseguido:

Nas instruções que acompanham os graus superiores da O.T.O., não há um relato abrangente do papel crítico dos kalas, ou emanações psicossexuais da mulher escolhida para os ritos mágicos. O comentário foi um abrir de olhos para Crowley, e explicou algumas de suas preocupações durante minha estada no ‘Netherwood’. Estas envolviam uma fórmula de rejuvenescimento. Faltava ao O.T.O. algumas chaves vitais para o verdadeiro segredo da magia que Crowley afirmava ter incorporado nos graus mais altos. Curwen, sem dúvida, sabia mais sobre estes assuntos do que Crowley, e Crowley ficou irritado com isso.

Apesar de suas credenciais externas como ocultista e às vezes transgressor, como um bissexual promíscuo e drogado, Aleister Crowley ainda era, em muitos aspectos, um produto de seu tempo: ele pode não ter sido um misógino, mas sofria de um chauvinismo masculino, todo típico de sua origem vitoriana, privilegiada e branca. Ele também tinha pouco ou nenhum conhecimento do autêntico Tantra de fontes originais, enquanto quando eu troquei cartas e me encontrei brevemente com Kenneth Grant em 1981, ele deixou claro que apesar de sua dedicação de toda sua vida a Crowley e à Lei de Thelema, realmente seu “primeiro amor”, espiritualmente falando, foi o Advaita Vedanta. Esta antiga filosofia hindu da não-dualidade afirma que Atman, ou o Verdadeiro Eu, não é essencialmente diferente do Princípio Universal mais Elevado, ou Brahman. Grant se tornaria por um tempo, nos anos 50, um seguidor do Sábio de Arunachala, Bhagavan Sri Ramana Maharshi, e via sua meditação essencial “Quem sou eu?” como equiparada à busca de Thelema de realizar a Verdadeira Vontade de alguém, escrevendo:

“O espírito natural do Oriente, em sua rotunda mais profunda, está em total concordância com a doutrina de Thelema. Que isto pode ser provado comparando os princípios básicos de Thelema com o Caminho Chinês do Tao, a doutrina Vedântica de Advaita e a filosofia central do Tantricismo Hindu e Budista.”

Vários artigos que Grant escreveu para as revistas anglo-indianas foram posteriormente reunidos e publicados como At the Feet of the Guru (Aos Pés do Guru).

Depois de um período de associação com Gerald Gardner – que também era membro da O.T.O., também com um estatuto para criar um acampamento (embora não haja evidências de que ele alguma vez o tenha utilizado) – Grant criaria um Grupo de Trabalho próprio, “evoluído… para fins de tráfego com os Outer Ones (Exteriores)”, do qual ele escreveu:

“Entre os anos 1955-1962, eu estava envolvido com uma Ordem oculta conhecida como New Ísis Lodge (Nova Loja Ísis). Ela funcionava como uma filial da Ordo Templi Orientis (O.T.O.), com sede em Londres. Fundei a Loja para canalizar transmissões de fontes transplutônicas… O corpo dessas transmissões forma a base das Trilogias Tifonianas.”

Isto causou uma briga com Karl Germer, chefe nominal da O.T.O. quando da morte de Crowley, que sentiu que Grant havia excedido sua autoridade. Houve também conflitos de personalidade porque a New Ísis Lodge havia emitido um manifesto em conjunto com o antigo Grão-Mestre da Fraternitas Saturni alemã, Eugen Grosche, com quem Germer havia se desentendido anteriormente – o resultado foi a expulsão de Grant da Ordem. Este Grant desconsiderou, entretanto, considerando sua autorização de ter vindo do próprio Crowley, e também seus próprios contatos dos “Planos Interiores”. Assim começou a separação dos caminhos entre a Ordem Tifoniana de Grant e o chamado ‘Califado’ O.T.O. reformulado na América por Grady McMurtry.

Uma chave para entender a noção de ‘Gnose Tifoniana é a identificação enfática de Kenneth Grant com Tifón – uma entidade monstruosa da mitologia grega, líder dos Titãs, que fazem guerra contra os deuses do Olimpo, e decididamente feminina – como a Mãe de Set. Grant não hesita em se apropriar deste gigantesco monstro ctônico, de múltiplas asas e membros de cobra, Tifón Primordial, como um avatar da Grande Mãe, ou seja, da própria “Mãe Natureza”, e ousadamente afirma:

“Ela tipificou a primeiro progenitora numa época em que o papel do macho na procriação era insuspeito. Como ela não tinha consorte, ela era considerada uma deusa sem um deus, e seu filho – Set – sendo sem pai, também não tinha deus e era, portanto, o primeiro ‘diabo’, o protótipo do Satã das lendas posteriores.”

Em relação a Set – uma figura sombria e primordial da potência bruta do Egito aborígine, pré-dinástico, mais tarde lançado como o assassino do deus-rei Osíris e depois protótipo do “Deus contra os deuses” – Grant escreveu no prefácio da edição de 1990 do que havia sido originalmente seu primeiro livro, O Renascer da Magia:

“Para nós, que temos o conhecimento interior, herdado ou vencido, resta restaurar os verdadeiros ritos de Átis, Adônis, Osíris, de Set, Serápis, Mitra, e Abel”.

Estas palavras de Aleister Crowley me inspiraram quando jovem e, imaginando-me como um daqueles a quem eram dirigidas, logo descobri que, por alguma razão, não fui capaz de entender que era o deus Set que eu estava sendo chamado a honrar. Assim, tomei a mim mesmo a tarefa de penetrar nos Mistérios deste, o mais antigo dos deuses, e traçar a história de seus ritos desde uma antiguidade indefinida até os dias de hoje.

Os Mistérios Egípcios formam em grande parte o núcleo da Tradição Mágica Ocidental e foram certamente a base para os mitos e rituais da  Hermetic Order of the Golden Dawn (Ordem Hermética da Aurora Dourada), onde Crowley tinha aprendido a maior parte do que precisava para seu desenvolvimento posterior. O Antigo Egito como fonte de poder sobrenatural sancionou seu papel como Profeta, e construiu sobre o Éon de Horus de Crowley e O Livro da Lei, tanto quanto Grant cuja principal fonte para sua Gnose Tifoniana foi o controverso trabalho do egiptólogo esotérico autodidata, Gerald Massey.

Em obras monumentais como o Natural Genesis and Ancient Egypt: The Light of the World (Gênesis Natural e o Egito Antigo: A Luz do Mundo), Massey expôs em termos inequívocos o que ele afirmava ser a base afrocêntrica e fisiológica da Gnose: “Os mais antigos símbolos e religiões têm origem na África”. Ele concebeu o Tifón como equivalente à Tauret egípcia, ou Ta-Urt, o hipopótamo “Senhora da Casa de Nascimento”. Ela era a Deusa das Sete Estrelas do Norte (A constelação da Ursa Maior), e seu filho era a Estrela da (Constelação) do Cão (Maior), Sothis ou Sírius (igualado a Set), cuja ascensão heliacal aparecia acima do horizonte pouco antes da inundação do Nilo. A palavra “Tifoniano” se referia àqueles que adoravam esta Deusa Primordial, e os membros de Seu Culto Estelar haviam fugido para o Oriente, levando sua sabedoria com eles, quando os adoradores do Culto Solar ganharam a ascendência. Em muitos aspectos, a maior inovação de Kenneth Grant foi ligar esta Tradição Tifoniana ao Ocultismo Moderno.

Enquanto Grant se baseava extensivamente nas obras de outros ocultistas que o precederam – Blavatsky, Crowley, Fortune, Grosche, Spare – e citou acadêmicos e estudiosos, do sexólogo pioneiro Havelock Ellis ao ‘Egiptosofista’ Gerald Massey, ele também tinha o curioso hábito de referenciar obras de ficção com a uma aparente mesma seriedade. Assim, as discussões sobre a Sabedoria Estelar e a sobrevivência do culto pré-dinástico do primeiro Egito podem incluir, assim como referências a fontes arqueológicas, também material especulativo extraído dos Registros Akáshicos. Comparações com escritos sobre Tantra e Vodu são todas misturadas com as histórias de terror de Bram Stoker, as pulp novels (romances de celulose) de Sax Rohmer, a ficção sobrenatural de Arthur Machen e os ‘Contos Estranhos’ de H. P. Lovecraft.

Grant tinha uma afeição especial por Lovecraft, aparentemente acreditando que ele estava “em alguma coisa” – que seu temido grimório, O Necronomicon, de fato existia no plano astral, e que HPL (Lovecraft) tinha apreendido isso através de seus sonhos, mas era incapaz de aceitar a “verdade” do que ele tinha discernido – que ele era, de fato, um mago inconsciente. Para aumentar a aparente confusão, em várias obras Grant deu relatos – alegadamente dos Anais de sua Nova Loja Ísis – que parecer como algo da prosa roxa de escritores de horror sobrenaturais, e falou de personagens fictícios como se fossem “reais” – e então em suas obras supostamente fictícias ele se baseou em elementos presumivelmente biográficos de sua própria vida, também personagens e locais “reais”.

A meu ver, este exame excessivamente literal de certos escritos, tais como Grant – ou mesmo Carlos Castañeda, com quem às vezes foi comparado – pode passar despercebido. Se Don Juan ‘realmente’ transformou Castañeda em um corvo, ou se eles saltaram da montanha juntos – ou se Crowley ‘realmente’ perguntou a Kenneth Grant se eles eram parentes distantes por meio de um primo compartilhado em um clã estendido, que por acaso estava de posse de uma herança de família na forma de um grimório documentando seu tráfego de gerações – com inteligências de outros mundos – não está nem aqui nem lá. O que Grant está tentando enfatizar – do que ele era um indubitável Mestre – é o uso da ficção ou literatura como uma forma de Glamour mágico.

As palavras podem tecer mundos, as palavras podem conjurar fantasmas – as palavras podem transportar, transformar, e alterar a consciência – o único limite sendo a imaginação. É preciso lembrar que a imaginação se preocupa com a criação de imagens, em cujo respeito está diretamente relacionada à Antiga Heka egípcia: uma palavra que significava tanto “Magia” quanto “a criação de imagens”. O rol de escritores que também eram magos – ou, alternativamente, ocultistas que empregam a ficção como meio de expressar conceitos mágicos – é longa e distinta.

O próprio Grant segue as pegadas de Aleister Crowley e Dion Fortune, ambos com um passado na Golden Dawn e seus descendentes, assim como Algernon Blackwood, J. W. Brodie-Innes, Arthur Machen, Sax Rohmer, Bram Stoker e A. E. Waite. Grant viu as implicações ocultas no trabalho de tais escritores como não sendo tão diferentes das suas próprias:

“Machen, Blackwood, Crowley, Lovecraft, Fortune e outros, frequentemente usaram como tema para seus escritos o influxo de poderes extraterrestres que têm moldado a história de nosso planeta desde o início dos tempos…”

Assim como outros poetas e escritores decadentes e simbolistas, como Baudelaire, Huysmans, Lautréamont e Rimbaud, pintores surrealistas como Salvador Dali, Paul Delvaux, Max Ernst e Yves Tanguy tem uma apreciação especial. Dali em particular foi elogiado como “Um dos maiores magos de nosso tempo” – com Grant passando a explicitar a comparação deste com Spare:

“Spare já havia conseguido isolar e concentrar o desejo em um símbolo que se tornou senciente e, portanto, potencialmente criativo através dos relâmpagos da vontade magnetizada. Dali, parece, levou o processo um passo adiante. Sua fórmula de ‘atividade paranóico-crítica’ é um desenvolvimento do conceito primordial (africano) do fetiche, e é instrutivo comparar a teoria de Spare de ‘sensação visualizada’ com a definição de Dali de pintura como ‘fotografia colorida feita à mão de irracionalidade concreta’. A sensação é essencialmente irracional, e sua delineação em forma gráfica (“fotografia a cores feita à mão”) é idêntica ao método de Spare de “sensação visualizada”.”

A ênfase no uso de tal criatividade, carregada de intenção mágica e dirigida pela vontade treinada, é um conceito chave da Gnose Tifoniana:

“Dion Fortune enfatizou a importância do devaneio conscientemente controlado. Baseando suas práticas em aspectos dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, ela demonstrou o valor mágico do “sonho verdadeiro”, uma expressão derivada do romance de George du Maurier, Peter Ibbetson. A teoria é que se alguém tece um sonho diurno com intensidade suficiente induz a uma abstração tão total dos sentidos que o sonhador se funde num sonho acordado, no qual ele é o criador e mestre de suas próprias fantasias. Se poderosamente formuladas, estas concretizam, reificam e assumem uma realidade igual em grau – e muitas vezes maior – àquela que é experimentada na consciência desperta comum. As vantagens de ser capaz de induzir tal estado são evidentes.”

Talvez mais do que qualquer outro escritor ocultista moderno, Grant enfatizou a importância, potencial e poder de tal criatividade, escrevendo em Aleister Crowley & O Deus Oculto que, “A Grande arte é sempre simples… a verdadeira arte expressa a Eternidade”. Desde o início, a arte de Austin Osman Spare e a esposa de Grant, Steffi, é essencial para a função das Trilogias Tifonianas – o texto ilustra as figuras tanto quanto as figuras ilustram o texto. Mais tarde, em Outside the Circles of Time (Fora dos Círculos do Tempo), Grant escreve a respeito de artistas como Dali, Sidney Sime, Spare, e Tanguy:

“Estes artistas deram um salto em outras dimensões e – este é o ponto importante – voltaram para registrar suas experiências extradimensionais… A arte, no sentido verdadeiro e vital, é um instrumento, uma máquina mágica, um meio de exploração oculta que pode projetar o vidente no reino do invisível, e lançar a mente desperta nos mares do subconsciente.”

Por mais que as obras de Kenneth Grant possam ser documentos inestimáveis da evolução do ocultismo contemporâneo – assim como registros da contribuição de muitas das figuras pioneiras com as quais ele teve contato pessoal – é de se esperar que a maior contribuição de seus livros seja como catalisadores mágicos para o leitor que está preparado para abordá-los sob a mesma luz. Como escreveu a antiga protegida de Grant, Sacerdotisa da Magia de Maat, Nema: “Estes não são apenas livros sobre Magia; são livros que são Magia”.

Usados como portais para o Nightside (Lado Noturno), os nove volumes das Trilogias Tifonianas – assim como os vários outros livros de Grant – podem finalmente servir como guias para aquele lugar de exploração e inspiração além de distinções como ‘fato’ e ‘ficção’ que ele gostava de chamar de “a Zona Malva”.

Como tal, eles podem servir como plataformas de lançamento ou mesmo veículos para aquele lugar que cada um de nós precisa encontrar por si mesmo: o lugar onde a Magia acontece.

Finalmente, para concluir, sei que uma imagem de Grant é frequentemente pintada como autocrático, até mesmo autoritário da “Velha Escola”, o que pode muito bem ter sido assim – várias pessoas me levaram a acreditar que ele era realmente mais fácil de lidar se você não fosse um membro da sua Ordem Tifoniana! – mas não há dúvida da sua óbvia dedicação ao Feminino Daemônico (ou Demoníaco). A  Fellowship of Isis (Irmandade de Ísis), que Grant apoiou, afirmou que ele era “totalmente a favor da Deusa”. Sua defesa da obra de Dion Fortune, de Marjorie Cameron – numa época em que a maioria das pessoas, se é que tinham conhecimento dela, apenas a consideravam como a “viúva de Jack Parsons” – seu encorajamento ativo às sucessivas gerações de mulheres fortes ocultistas, como Janice Ayers, Jan Bailey, Linda Falorio, Margaret Ingalls (a supracitada Nema), Mishlen Linden e Caroline Wise – assim como sua devoção vitalícia à sua esposa, a artista Steffi Grant, cujas obras complementam e ilustram vividamente seus livros – todas atestam isso.

Retrato de Steffi e Kenneth Grant, por Austin Osman Spare.

Sendo o último elo vivo* com Aleister Crowley, Gerald Gardner, Eugen Grosche e Austin Osman Spare, o legado de Kenneth Grant ainda está para ser totalmente avaliado e não voltaremos a ver algo semelhante a ele novamente.

* Kenneth Grant faleceu em janeiro de 2011 aos 86 anos.


Fonte: Tifon Rising: The Magical Legacy of Kenneth Grant.

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/a-ascensao-tifoniana-o-legado-magico-de-kenneth-grant/

A História do Manuscrito Voynich

O Dr. Dee era um colecionador encarniçado de manuscritos estranhos. Foi ele que, entre 1584 e 1588, ofereceu ao Imperador Rodolfo II o estranho manuscrito Voynich.

A história desse manuscrito foi contada muitas vezes, e em particular, por mim mesmo em O Homem Eterno e em Os Extraterrestres na História. Penso, entretanto, que será útil contá-la desde o início.

O Duque de Northumberland havia pilhado um grande número de mosteiros sob o reinado de Henrique VIII. Num deles, encontrou um manuscrito que sua família comunicou a John Dee, cujo interesse por problemas estranhos e testos misteriosos era bem conhecido. Segundo os documentos encontrados, tal manuscrito havia sido escrito por Roger Bacon. Roger Bacon (1214-1294) era considerado pela posteridade como um grande mago. Com efeito, ele se interessava sobretudo pelo que chamamos experimentação científica, da qual foi um dos pioneiros.

Predisse o microscópio e o telescópio, os navios com propulsão a motores, os automóveis e as máquinas voadoras. Interessava-se, igualmente, pela criptografia da qual falou na “Epístola sobre as obras secretas da arte e a nulidade da magia”. Dee podia pensar, perfeitamente, que um tal manuscrito inédito e cifrado por Roger Bacon podia conter espantosos segredos. Seu dilho, Dr. Arthur Dee, falando da vida de John Dee em Praga, cita “um livro contendo um texto incompreensível que meu pai tentou em vão decifrar”. Dee ofereceu o manuscrito ao Imperador Rodolfo. Após múltiplas atribulações, o documento parou no livreiro Hans P. Kraus, de New York, onde foi vendido em 1692, pela módica soma de 160.000 dólares. Não é caro, se tal livro contém todos os segredos do mundo, é muito caro se resumir, simplesmente, os conhecimentos do século XIII.

Falamos já do papiro egípcio que devia fornecer, em princípio, “todos os segredos das trevas”, e que indicava, unicamente, o método de resolução de equações do primeiro grau. É preciso desconfiar, mesmo do manuscrito Voynich. Penso, de minha parte, que esse manuscrito Voynich serve como bom exemplo de livro maldito que escapa à destruição, unicamente porque não se chega a decifrá-lo, e porque não constitui, por isso, um perigo imediato.

Aparece em forma de brochura de 15 por 27 cm, sem capa e, segundo a paginação, faltando 28 páginas. O texto é colorido em azul, amarelo, vermelho, marrom e verde. Os desenhos representam mulheres nuas, de pequeno talhe, diagramas (astronômicos?) e quatrocentas plantas imaginárias. A escrita parece uma escrita medieval corrente. O exame grafológico permite concluir que o escriba conhecia a língua que utilizava: copiou-a de maneira corrente e não letra por letra.

O código empregado parece simples, mas não se encontra maneira de decifrá-lo.

O manuscrito apareceu em 19 de agosto de 1666, quando o reitor da Universidade de Praga, Johannes Marcus Marci, enviou-o ao célebre jesuíta Athanase Kircher que era, entre outras coisas, especialista em criptografia e em hieróglifos egípcios, e em continentes desaparecidos. Era o homem a quem se deveria ter enviado o texto, realmente, mas ele não conseguiu decifrá-lo.

O manuscrito foi, em seguida, estudado pelo sábio tcheco Johannes de Tepenecz, favorito de Rodolfo II. Encontra-se uma assinatura de Tepenecz na margem, mas também este não decifrou o manuscrito. Kircher, tendo malogrado, guardou o manuscrito numa biblioteca jesuíta. Em 1912, um livreiro chamado Wilfred Voynich comprou o manuscrito da escola jesuíta de Mondragone, em Frascati, Itália. Levou-o aos Estados Unidos, onde muitos especialistas tentaram descobrir seu segredo. Não chegaram a identificar seu segredo. Não chegaram a identificar a maior parte das plantas. Nos diagramas astronômicos, foram identificadas as constelações de Aldebaran e Hyades, o que não mudou muita coisa. A opinião geral é de que o texto está cifrado, mas numa linguagem desconhecida. Os famosos arquivos do Vaticano foram abertos para auxiliar a procura. Nada se encontrou.

Numerosas fotografias circularam, foram remetidas a grandes especialistas. Nada.

Em 1919, fotocópias chegaram a William Romaine Newbold, deão da Universidade da Pensilvânia. Newbold tinha, então, 54 anos. Era especialista em lingüística e criptografia.

Em 1920, Franklin Roosevelt, então assistente no Ministério da Marinha, agradece-lhe por decifrar uma correspondência entre espiões, cujo segredo não pudera ser percebido por nenhum dos escritórios especializados de Washington. Newbold interessava-se, mais e mais, pela lenda do Graal e pelo gnosticismo. Era visivelmente um homem de grande cultura, capaz, se alguém no mundo fosse capaz, de decifrar o manuscrito Voynich.

Trabalhou durante dois anos. Pretendeu ter encontrado uma chave, depois tê-la perdido no curso das pesquisas, o que é singular. Em 1921 começou a fazer conferências sobre suas descobertas. O menos que se pode dizer de tais conferências é que foram sensacionais.

Segundo Newbold, Roger Bacon sabia que a nebulosa de Andrômeda era uma galáxia como a nossa. Sempre segundo ele, Bacon conhecia a estrutura da célula e a formação do embrião a partir do esperma e do óvulo. A sensação era mundial.

Não somente no meio científico, mas entre o grande público. Uma mulher atravessou todo o continente americano para suplicar a Newbold que expulsasse o demônio que a perseguia, utilizando as fórmulas de Roger Bacon.

Há também objeções. Não se compreende o método de Newbold, tem-se a impressão de que ele caminhava para trás, não se conseguem novas mensagens utilizando seu método. Ora, é evidente que um sistema de criptografia deveria funcionar nos dois sentidos. Se possui-se um código, dever-se-ia, também, traduzir nesse código mensagens em claro. A sensação continuou, mas Newbold tornava-se cada vez mais vago, menos acessível. Morreu em 1926. Seu colega e amigo, Roland Grubb Kent, publicou seus trabalhos. O entusiasmo do mundo foi considerável.

Depois, uma contra-ofensiva começou, conduzida em particular pelo Padre Manly. Não estava de acordo com a decifração de Newbold. Pensava que certos signos auxiliares eram deformações do papel. E bastante depressa não se falou mais nesse manuscrito.

É então que me separo de numerosos eruditos que estudaram a questão, e especialmente David Kahn, cujo admirável livro The Code-Breakers é a bíblia moderna dos peritos em criptografia. Aproveito a ocasião para agradecer a David Kahn ter citado uma de minhas aventuras pessoais no domínio da criptografia. Tendo, durante a ocupação alemã, necessidade de cinco tipos gráficos para terminar um trabalho, e encontrando-me à frente de jovens que fumavam como bombeiros, e que haviam sido privado de sua droga, acrescentei em minha mensagem as letras T A B A C. Londres compreendeu e 150 kg de tabaco caíram sobre nossas cabeças, de pára-quedas, logo na lua seguinte.

A hipótese que vou emitir é pessoal. Parece-me, pelo menos, que nunca vi em nenhum lugar e que, igualmente, já li tudo, sobre o manuscrito Voynich. Para mim, Newbold apagou a pista conscientemente, pois teria recebido ameaças. Tinha relações muito estranhas com todos os tipos de seitas. Sabia bastante para entender que certas organizações secretas são realmente perigosas. E estou persuadido que, a partir de 1923, foi ameaçado, e, temendo graves represálias, deu um passo para trás. Dissimulou o essencial de seu médico, e sua chave principal nunca foi encontrada.

Antes de examinarmos o que penso sobre o conteúdo do manuscrito de Voynich, preciso primeiro resumir, rapidamente, as tentativas de decifração posterior a Newbold. A maior parte são ridículas. Mas, a partir de 1994, um grande especialista em criptografia militar, William F. Friedman, morto em 1970, ocupou-se dessa questão. Utilizou um ordenador do tipo R.C.A. 301. Segundo Friedman, não só a mensagem é cifrada, mas está numa linguagem totalmente artificial. Como a língua enoquiana de John Dee. É uma hipótese interessante que, talvez, seja um dia provada.

Após a morte de Voynich em 1930, os herdeiros de sua mulher venderam o manuscrito à livraria Kraus. Está disponível por 160.000 dólares. A meu ver, se o manuscrito realmente interessou John Dee é porque ele reconheceu, como na Steganographie de Trithème, o código de uma linguagem que ele conhecia e que não era, talvez, uma linguagem humana. Roger Bacon, como outros antes e depois dele, teve acesso a um saber que provinha, seja de uma civilização desaparecida, seja de outras inteligências. Ainda uma vez, alguns pensaram, o pensam ainda, que uma revelação que venha muito cedo, relativa a segredos de uma ciência superior à nossa, destruiria nossa civilização.

Nesse caso, perguntar-se-á, por que o manuscrito de Voynich não foi destruído? A meu ver, percebeu-se muito tarde sua existência, por volta de 1920, e então já circulava tal número de fotografias do texto que seria impossível destruí-las todas. É a primeira vez que a fotografia intervém num caso de livros malditos, e parece, certamente, que ela vai tornar difícil, posteriormente, a tarefa dos Homens de Preto. Uma vez as fotografias divulgadas, não havia nada a fazer a não ser silenciar Newbold e isto sem despertar suspeitas.

Por isso ele não sofreu nenhum “acidente” e morreu naturalmente. Mas a campanha que visava desacreditá-lo e produzir traduções ridículas do manuscrito foi muito bem organizada.

Notemos, de passagem, para pessoas que se interessam pelo planejamento familiar que uma dessas falsas traduções, a do Dr. Leonell C. Strong, extraiu do manuscrito Voynich a fórmula publicada de uma pílula anticoncepcional. Mas o verdadeiro problema permanece.

Um dos objetivos da revista americana INFO, consagrada às informações de difíceis soluções, consiste na decifração do manuscrito Voynich. Até hoje, tal objetivo não progrediu muito. Parece-me que seria conveniente entregar-se mais ao manuscrito Voynich, e menos a outros problemas desse gênero. Quer se tratasse dos manuscritos de Trithème ou dos escritos incompletos de John Dee. No caso do manuscrito Voynich, parece tratar-se de um texto proibido completo. Entre as poucas frases que se encontram nas publicações de Newbold, uma faz, particularmente, sonhar. É Roger Bacon quem fala: “Vi num espelho côncavo uma estrela em forma de escaravelho. Ela se encontra entre o umbigo de Pégaso, o busto de Andrômeda e a cabeça de Cassiopéia.”

Foi exatamente ali que se descobriu a nebulosa de Andrômeda, a primeiro grande nebulosa extragalática que se conheceu. A prova foi anunciada após a publicação de Newbold que não pôde ter sido influenciado em sua interpretação do texto por um fato que ainda não fora descoberto.

Outras frases de Newbold fazem alusão ao “Segredo das Estrelas Novas”.

Se realmente o manuscrito Voynich contém os segredos das novas e dos quasares, seria preferível que ficasse indecifrável, pois uma fonte de energia superior à da bomba de hidrogênio e suficientemente simples de manejar para que um homem do século XIII possa compreendê-la, constituiria exatamente um tipo de segredo que nossa civilização não tem necessidade de conhecer. Sobrevivemos, penosamente, porque foi possível conter a bomba H. Se é possível liberar energias superiores, é melhor que não saibamos como, não ainda. Senão, nosso planeta desapareceria bem mais depressa na chama breve e brilhante de uma supernova.

A decifração do manuscrito Voynich deveria ser, a meu ver, seguida de uma censura séria antes de sua publicação. Mas quem aplicaria tal censura? Como diz o provérbio latino, “quem guardará os guardiães?” Pergunto-me se nunca se submeteu fotocópia do manuscrito Voynich a um grande intuitivo do tipo de Edgar Cayce, que poderia traduzi-lo sem usar o laborioso processo de decifração. Seria suficiente que ele encontrasse a chave, e os ordenadores fariam todo o resto. Pode-se encontrar uma foto de uma página do manuscrito Voynich, na página 855 do livro de David Kahn, já citado, edição inglesa Weidenfeld e Nicholson. Não se pode, evidentemente, deduzir dela o que quer que seja. Simplesmente, fica-se espantado com o número de repetições. Tais repetições foram aliás notadas por inúmeros especialistas de criptografia que tiraram daí conclusões contraditórias.

Mas o simples fato de se poder encontrar tais fotografias representa já uma vitória contra os Homens de Preto. E seria desejável que qualquer pessoa que tenha um documento desse tipo o difundisse, por fotografia, de maneira a mais ampla possível, evitando, dessa forma, sua destruição. Se a franco-maçonaria européia tomasse tal precaução antes da guerra de 1939-1945, documentos únicos não teriam sido destruídos. Tal destruição de documentos maçons foi efetuada por comandos especiais. Cada um desses comandos era dirigido por um nazista assistido por franceses, belgas e outros cidadãos do país onde a destruição se efetuava. Tais comandos eram muito bem treinados. E é de se notar que os franceses que deles participaram foram beneficiados com imunidades bem estranhas durante a depuração que se seguiu à libertação de 1944. Imunidade singular com efeito, não se aplicando a não se a esse tipo de colaboração. Enquanto colaboradores exclusivamente intelectuais, como o poeta Robert Brasillach, foram duramente castigados, especialistas da ação antimaçônica não foram tocados.

Voltando ao manuscrito Voynich, tenho excelentes razões para crer que uma versão desse manuscrito foi destruída. Com efeito, Roger Bacon tinha em sua posse um documento que, segundo ele, pertencera ao Rei Salomão e continha as chaves de grandes mistérios. Esse livro, constituído de rolos de pergaminho, foi queimado em 1350 por ordem do Papa Inocêncio VI. A razão que se deu foi que tal documento continha um método para invocar demônios.

Podemos substituir demônio por anjo, e anjo por extraterrestre, e compreender então muito bem a razão dessa destruição. É provável que se a igreja católica, em 1350, achasse o manuscrito Voynich, tê-lo-ia queimado.

Mas sabemos, agora, que estava escondido numa abadia, e que só com a pilhagem dessa abadia pelo Duque de Northumberland é que o manuscrito reapareceu, e foi levado ao conhecimento de John Dee. Segundo algumas notas de Roger Bacon, o documento que ele tinha e que provinha de Salomão, não estava em código, mas em escrita hebraica. Roger Bacon notou que o documento tratava mais de filosofia natural que de magia.

Bacon escreveu também: “Aquele que escreve a respeito de segredos, de forma não escondida ao vulgo, é um louco perigoso.” Escreveu em 1250 mais ou menos. Explicou em seguida esse método de escrita secreta que comporta a invenção de letras que não existem em nenhum alfabeto. Provavelmente foi o que fez para traduzir em código o que se poderia chamar de documento Salomão, mas que é mais cômodo chamar de manuscrito Voynich.

A língua básica desse manuscrito é, provavelmente, a mesma língua enoquiana que John Dee aprendeu através de sue espelho negro, e da qual ouviremos falar muito no capítulo seguinte, sobre a ordem da Golden Dawn.

Encontram-se, já, traços desse livro em Flávio Josefo. É preciso não confundi-lo com a “Clavícula de Salomão”, ou com “Testamento de Salomão”, ou com o Lemegeton. Todas essas compilações datam do século XVI e algumas do século XVIII.

A maior parte é totalmente desprovida de interesse e dá simplesmente listas de demônios.

O “Livro de Salomão”, que pertenceu a Roger Bacon e foi queimado em 1350, era, certamente, outra coisa. Seria essa obra, assim como algumas outras “fontes insuspeitadas e interditas” como disse Lovecraft, que Roger Bacon traduziu numa língua desconhecida, e que em seguida codificou. O infeliz Newbold, provavelmente ameaçado e aterrorizado, teve que inventar métodos de decifração e manter o mito de que o texto estava escrito em latim, apesar de não estar em latim, certamente, mas em língua enoquiana.

Como Bacon obteve esse documento? Não se pode, por ora, senão sonhar e imaginar que os Homens de Preto não constituem um grupo monolítico, mas que entre eles alguns querem revelar os segredos, e o conseguem ao menos parcialmente. Pode-se imaginar, também, que esses Homens de Preto formam uma organização terrestre localizada, que seres extraterrestres por vezes aparecem para auxiliá-los. E gostaria, a propósito, de chamar a atenção para o caso de Giordano Bruno.

Os racionalistas ligaram-se a esse mártir, e fizeram dele um homem de ciência, vítima de tendências as mais reacionárias da Igreja. Nada mais falso. Giordano Bruno era principalmente um mago apaixonado pela magia e praticante da mesma. Comparou a magia à uma espada que, entre as mãos de um homem direito, podia fazer milagres, e insistiu sobre o papel das matemáticas na magia. Para ele, a existência de outros planetas e a rotação da Terra ao redor do Sol constitui uma parte secundárias de sua obra que compreende sessenta e um livros, a maior parte de magia. A existência de outros planetas habitados faz, para ele, parte da magia. Porque sabia muito sobre isso foi que, atraído para Veneza por uma agente da Inquisição de nome Giovanno Mocenigo, foi entregue aos seus chefes.

Porque cria na magia e na existência de habitantes em outros planetas além da Terra, Giordano Bruno foi julgado herege impertinente e persistente, e queimado em Roma, no Campo dei Fiori, em 17 de fevereiro de 1600. Viveu na Inglaterra de 1583 à 1585, e não es´ta excluída a hipótese de ter conhecido os trabalhos de John Dee e o manuscrito Voynich. Segundo todos os registros que temos de Giordano Bruno, ele era um homem confiante e imprudente. Visivelmente, ele falou demais.

por Jacques Bergier

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/a-historia-do-manuscrito-voynich/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/a-historia-do-manuscrito-voynich/

Xamãs, Heróis e Dragões

Este texto é destinado principalmente a todos aqueles que sabem perfeitamente a diferença entre imaginação, fantasia e realidade, e exatamente por isso se sentiram “atraídos”, desde cedo, pelos mitos modernos – embora, talvez hoje saibam, estes sempre foram também uma parte dos mitos de outrora…

A chamada tradição oral é a preservação de histórias, lendas, usos e costumes através da fala. Origina-se do primórdio da história humana, quando ainda não havia a escrita e os materiais que pudessem manter e circular os registros históricos.

Na atualidade própria das classes iletradas, a tradição oral tem sido, contudo, muito valorizada pelos eruditos que se dedicam ao seu estudo e compilação (os contos dos Irmãos Grimm, por exemplo), ao considerarem que é na tradição oral que se fundamenta a identidade cultural mais profunda de um povo. Supõe-se, por exemplo, que a Ilíada e a Odisseia de Homero foram, inicialmente, longos poemas recitados de memória.

Joseph Campbell gostava de dizer que “o mito é algo que nunca existiu, mas que existe sempre”. Esse aparente paradoxo pode ser reconciliado se entendermos a tradição oral, mãe da mitologia, como a melhor forma com a qual o espírito humano pôde passar adiante suas experiências no contato com a essência das coisas, com o que há de eterno no mundo. Dessa forma, todas as variantes de um mesmo mito são, no fundo, uma mesma história. E toda mitologia é, no fundo, uma mesma mitologia, uma mitologia do espírito humano.

Mas hoje não vivemos mais em tribos e aldeias, e nem todos necessitam decorar tais histórias antigas. Além disso, não são os xamãs nem os anciãos quem nos passam os mitos, mas alguns poucos textos sagrados de outrora, que até hoje inspiram inúmeras variações na mente dos contadores de histórias modernos – a quem conhecemos, principalmente, como artistas. Existem mitos sendo recontados em todos os cantos: nos livros de vampiros adolescentes, nos filmes de Hollywood, nas séries de TV de fantasia, e até mesmo num gibi.

Desde pequeno eu fui imediatamente atraído pela mitologia dos super-heróis do século passado. E o meu predileto é Steve Rogers, o Capitão América, que era fisicamente fraco, mas ao passar pelo processo “mágico” do projeto do supersoldado, tornou-se um ser sobre-humano. No entanto, a maior força de Steve sempre foi sua honra e sua ética, sua compaixão pelos fracos – tão fracos e indefesos como ele fora um dia. Ora, essa história é um mito, e esse mito nada tem a ver com os Estados Unidos da América. Steve calhou de ter sido criado durante a Segunda Guerra, por quadrinistas americanos, e por isso serviu como um elemento patriótico na luta contra o nazismo. Mas a guerra acabou. As guerras passam, os mitos permanecem.

Por isso os heróis das histórias precisam continuar lutando suas guerras, e vivenciando suas aventuras e jornadas de heróis – tais histórias podem hoje terem se tornado superficiais, mitos “diluídos” em uma sociedade que em sua maior parte se esqueceu da espiritualidade antiga… Mas ainda continuam narrando, em essência, aquilo que está fora do tempo. Continuam se tratando de jornadas espirituais. Mesmo que não saibamos, estamos até os dias de hoje vivenciando a mitologia, apenas uma mitologia moderna, que nos chega através de gibis e filmes 3D, e não pela boca de um contador de histórias, próximo à fogueira no centro da aldeia, numa noite de céu estrelado – salpicado de super-heróis.

Essa reflexão pode não ter nada de aparentemente espiritual, mas isso é porque poucos interagem com os mitos. As histórias contadas da maneira antiga serviam principalmente para que cada homem e cada mulher se imaginassem como o herói ou heroína através de sua jornada. Não era algo para se ouvir e simplesmente decorar. Era algo para se ouvir, imaginar, experimentar, modificar, e só então passar adiante… Obviamente que as histórias foram alteradas, e seria estranho que não fossem. Mas, ainda mais estranho, é que tenham chegado aos dias atuais com sua essência inalterada – eis que são diversos modos de se abordar um mesmo mito, e o mito não se altera, pois sua essência reside fora deste mundo.

J. R. R. Tolkien foi um filólogo e escritor britânico que desde cedo se ressentiu do fato da maior parte da mitologia inglesa ter se perdido com o tempo. Ele decidiu resolver o problema criando uma nova mitologia inglesa. Claro que de nova ela não tinha nada, pois que todos os mitos são tão antigos quanto à humanidade, mas era uma mitologia moderna, uma mitologia que cativou seguidores em todo o mundo… Só para terem uma ideia, existem grupos que se reúnem para falar em quenya, um idioma fictício que existe apenas nas obras de Tolkien. Esses estão literalmente “entrando na história”, vivenciando o mito.

Mas foi através de Gary Gygax que encontramos uma forma totalmente inesperada de vivenciar mitos. Em 1974 ele adaptou, junto com seu amigo Dave Arneson, um jogo de guerra baseado no movimento de miniaturas em um tabuleiro. O tabuleiro passou a ser irrelevante, as partidas passaram a ocorrer principalmente na imaginação dos jogadores, e todos se tornaram contadores de histórias – novamente. No jogo de Gygax, o primeiro Role Playing Game da história (“Jogo de Interpretação de Personagens”), heróis enfrentavam jornadas épicas e aventuras sem fim, adentrando masmorras obscuras como labirintos de minotauros, e digladiando-se com dragões e outros seres mitológicos… Cabia ao jogador designado como mestre do jogo, um novo xamã da tribo, determinar o desenrolar da história – mas todas as escolhas dos heróis eram feitas por eles próprios, os jogadores. Todos estavam vivenciando a jornada.

Os resultados se suas ações eram determinados pelo resultado obtido em se arremessar poliedros regulares na mesa. Os famosos sólidos de Platão e Pitágoras continuavam a ser sagrados – são os rolamentos dos dados de 4, 6, 8, 12 e 20 faces que decidem o destino dos heróis (bem, existe também o dado de 10 faces, embora este não seja um poliedro regular). Todo jogo de RPG tem alguma coisa de experiência religiosa, mas foi só muito tempo depois de ter jogado a primeira vez, com cerca de 11 anos de idade, que me apercebi disso.

Cheguei a criar meu próprio mundo de fantasia e cenário de RPG. A mitologia moderna me atraiu, e não poderia ter sido de outra forma. Hoje compreendo: aquele jogo tão distinto, onde o tabuleiro existia principalmente em nossa mente, foi talvez a minha primeira experiência genuinamente espiritual.

E, se não lhes pareceu suficientemente profunda, gostaria de lembrar brevemente que quando um personagem com o qual jogamos RPG eventualmente morre na história, podemos ser ressuscitados por feitiços, mas também podemos ter de criar um novo personagem. E, não importa se este novo é um guerreiro ou ladrão, enquanto o antigo era um clérigo ou mago, nosso entendimento do jogo se desenvolveu, nosso potencial para jogar e interpretar cada vez melhor é hoje maior do que ontem. E, se tivermos de começar uma vez mais do nível 1, não significa que tenhamos perdido a experiência de um dia termos chegado, quem sabe, a um nível 13 ou 14… Um dia chegaremos finalmente ao nível 20, e depois quem sabe a semi-deuses, e depois a algum nível que nem mesmo Gygax descreveu nas regras. E teremos de criar novas regras nós mesmos.

Assim também ocorre com o espírito. Esta vida é meu mais novo personagem, e sinceramente não sei mais em que nível eu estou…

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Posts relacionados a este tema, no meu blog:

» Poesia em quadrinhos

» Arte, Magia e Moore

» Festa estranha (série de depoimentos pessoais da qual este texto faz parte)

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Crédito das imagens: [topo] Jason Thompson; [ao longo] Divulgação (Capitão América/Marvel)

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

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#Espiritualidade #Mitologia #Quadrinhos #RPG

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/xam%C3%A3s-her%C3%B3is-e-drag%C3%B5es

22 alternativas sensatas para a morte involuntária

A maioria dos seres humanos encaram a morte com uma ‘atitude’ de impotência, seja resignada ou com medo. Nenhum desses ‘ângulos de enfoque’ submissos e freqüentemente mal-informados, frente ao evento mais crucial da vida de uma pessoa, pode ser considerado como enobrecedor.

Atualmente, existem muitas opções práticas disponíveis para lidarmos com o processo de morrer. A passividade, a falha em aprender sobre estas opções, poderá ser o ultimo e definitivo engano. A famosa proposição de Pascal sobre a existência de Deus traduz-se em termos da vida moderna como uma aposta que não envolve riscos, apoiada sobre a habilidade da tecnologia. Por milênios, o temor da morte depreciou a confiança individual e aumentou a dependência na autoridade. Ora, o membro leal de uma família ou reservatório genético pode orgulhar-se da tenacidade e sucesso em sobreviver de seus iguais.

Mas com relação ao indivíduo, as perspectivas tradicionais são bem menos exaltadas. Vamos ser curtos e grossos aqui. Como podemos ficar orgulhosos de nossos sucessos passados, andarmos eretos e nos encaminharmos com entusiasmo para o futuro se, implacavelmente à nossa espera em alguma esquina futura, nos aguarda a Velha Senhora Morte, a Colhedora de Vidas?

Mas que trabalho de primeira linha os Construtores do Mundo fizeram ao transformarem esse Conceito de Morte em um Show-Espetáculo de Horror! A tumba. Mortificação. Extinção. Degeneração. Catástrofe. Perdição. Fim. Fatalidade. Malignidade. Necrológicos. O final.

Notemos a atitude de negativismo calculado. Morrer ‚ decair, entregar o espírito, morder o pé, chutar o balde, perecer. Tornar-se inanimado, sem vida, defunto, extinto, moribundo, cadavérico, necrótico. Um cadáver, uma rigidez, um corpo, uma relíquia, alimento para vermes, um corpo de delito, uma carcaça. Que fim miserável para o jogo da vida!

O Temor da Morte era uma Necessidade Evolutiva no Passado.

No passado, o dever genético reflexo de Controle Gerencial Total (aqueles que se encontram no controle social de v rios reservatórios genéticos = governantes, autoridades, instituições, etc.) era fazer com que os seres humanos se sentissem fracos, impotentes e dependentes frente à morte. O bem da raça ou nação era garantido a custo do sacrifício do indivíduo.

A obediência e submissão eram recompensadas num planejamento de pagamento através do tempo. Pela devoção dele ou dela, era prometida a imortalidade ao indivíduo, naquele centro-de-enxame pós-mortem variadamente conhecido como ‘céu’, ‘paraíso’ ou ‘Reino do Senhor’. Para poder manter a atitude de dedicação, os controladores do reservatório genético tinham de controlar os ‘reflexos de morte’, orquestrar os estímulosdisparadores que ativam os ‘circuitos de morte’ do cérebro. Isto foi obtido através de rituais que imprintam a dependência e docilidade, quando os sinais de alarme da morte disparam dentro do cérebro.

Talvez possamos compreender melhor esse processo de imprint ao considerar um outro conjunto de ‘rituais’, aqueles pelos quais o enxame humano controla os reflexos de concepção-reprodução. Uma discussão destes apresenta um menor potencial de alarmalo. E os mecanismos de controle impostos pela atuação dos mecanismos sociais são semelhantes em ambas as situações (morte e reprodução). Convidamos o leitor a ‘sair fora do sistema’ por alguns momentos, para ver vividamente aquilo que ordinariamente está invisível por estar tão entrincheirado dentro de nossas expectativas.

Na adolescência, cada grupo de iguais fornece rituais, tabus e orientações éticas destinadas à guiar a situação toda-importante do esperma-óvulo.

O controle efetuado pelo indivíduo dos mecanismos do DNA excitado sempre representa uma ameaça ao processo de reprodução do enxame. Padrões no vestir, namorar, corte, anticoncepcionais e de aborto são fanaticamente convencionados em sociedades tribais e feudalizadas. A inovação pessoal ‚ fortemente condenada e ostracizada. As democracias industriais variam em termos de liberdade sexual permitida aos indivíduos. Mas nos estados totalitários, como China e Irã, por exemplo, uma moralidade rigidamente conservadora controla os reflexos de acoplamento e governa as relações rapaz-moça. Debaixo do domínio do ditador Mao, o ‘romance’ foi abolido porque enfraquecia a dedicação ao Estado, isto, o reservatório genético local. Se os adolescentes pudessem pilotar e selecionar seu próprio acoplamento, então teriam maior probabilidade em fertilizar fora do enxame e uma maior probabilidade de insistir em dirigir suas próprias vidas e, pior de tudo, menor possibilidade de educarem seus filhos com uma lealdade cega de reservatório genético.

Mesmo os mais rígidos rituais de imprint social guardam os ‘reflexos de morte’ . O controle efetuado pelo enxame das respostas de ‘morte’ ‚ considerado como garantido em todas as sociedades pró-cibernéticas. No passado essa degradação conservativa da individualidade era uma virtude evolutiva. Durante épocas de estabilidade das espécies, quando as tecnologias tribais, feudais e industriais estavam sendo ainda dominadas, a sabedoria sofisticamente afinada estava centrada no reservatório genético, armazenada na consciência linguística coletiva, nos arquivos de dados raciais do enxame.

Uma vez que a vida individual ‚ curta, brutal, sem objetivos, aquilo que um indivíduo aprendia era quase irrelevante. O mundo estava mudando tão lentamente que o conhecimento podia apenas ser corporificado nas espécies. Na falta de tecnologias para o domínio pessoal da transmissão e armazenamento da informação, o indivíduo era, portanto, muito lerdo, muito pequeno para ter alguma importância. A lealdade ao coletivo racial era então uma virtude. A Criatividade, a individuação Prematura eram anti-evolucionárias naquela época. Uma distração estranha, mutante. Apenas os idiotas de Greenwich Village tentariam cometer um pensamento independente, não-autorizado.

Nas eras feudal e industrial, o Gerenciamento fez uso do temor da morte para motivar e controlar indivíduos. Atualmente, os políticos fazem uso dos artesãos da morte, os militares, policiais e a punição capital para proteger a ordem social. A religião organizada afirma o seu poder e riqueza ao orquestrar e exagerar o temor à morte.

Entre as muitas coisas que o Papa, o Ayatollah e os Protestantes Fundamentalistas concordam temos: uma compreensão confiante e um domínio auto-direcionado do processo de morte são a última coisa a ser permitida ao indivíduo. A própria noção de uma Inteligência Cibernética Pós-Social ou uma opção-consumista de imortalidade‚ um tabu, pecado. Pelas mesmas razões previamente v lidas de proteção do reservatório genético.

As religiões espertamente monopolizaram os rituais da morte para ampliar seu controle sobre os supersticiosos. Através da história, os sacerdotes e mullahs rodearam o ser humano agonizante como abutres negros. A Morte pertencia a eles.

À medida que encerramos o século vinte, somos sistematicamente programados sobre Como Morrer. Os hospitais são povoados com sacerdotes/ministros/rabinos prontos a realizarem os ‘últimos ritos’. Cada unidade do exército tem o seu capelão Católico para administrar o Sacramento da Extrema Unção (que frase, realmente!) ao soldado que expira. O Ayatollah o Mullah-Chefe do Culto de Morte Islâmico, manda os seus soldados adolescentes para os campos minados do Iraque com etiquetas garantindo imediata transferência para os Campos de Chegada de Allah. O Paraíso corânico. Um terrível acidente automobilístico? Chame os médicos. Chame os sacerdotes! Chame o Reverendo!

Na Sociedade Industrial, tudo torna-se parte do Grande Negócio. A morte passa a envolver a Cruz Azul, Medicare, Sistemas de Saúde de Grupo, a Administração de Finanças de Serviços de Saúde (HCFA), alas de pacientes terminais. Serviços funerários. Cemitérios. Os rituais de enterro.

Os monopólios da religião e das linhas de montagem do processo de Gerenciamento Total dos agonizantes e mortos ‚ ainda mais eficiente do que o dos vivos.

Recordemo-nos de que o conhecimento e escolha seletiva sobre tais assuntos do reservatório genético como a concepção, fertilização em laboratório, gravidez e aborto são demasiadamente perigosos aos pais da(s) igreja(s).

Mas o suicídio, o conceito de direito de morrer, a eutanásia, a expansão da vida, experiências fora do corpo, experimentos ocultos, cenários de viagens astrais, relatos de morte/renascimento, especulações extraterrestres, criogenia, bancos de esperma, bancos de DNA, Tecnologia de Inteligência Artificial capaz de conferir capacidades e poderes aos indivíduos – tudo que encoraje ao indivíduo vir a se engajar numa especulação especial e experimentação com a imortalidade – representa um anátema aos ortodoxos Pastores de Sementes das eras feudais e industriais.

Por que? Porque se o rebanho não teme a morte, então o controle do Gerenciamento Religioso e Político ‚ quebrado. O poder da ferramenta genética ‚ ameaçado. E quando o controle sobre o reservatório genético se enfraquece, inovações genéticas e visões mutacionais tendem a aparecer.

Alguns acreditam que a Era Cibernética a que estamos ingressando poderia marcar o início de um período de individualismo iluminado e inteligente, um tempo único na história, onde a tecnologia está a disposição de indivíduos para dar apoio a uma imensa diversidade de estilos de vida personalizados e culturas, um mundo de diversos grupos sociais interativos, cujo número de sócios-fundadores ‚ um (1).

A tecnologia da computação e comunicação em franca explosão oferece um delicioso festim de conhecimento e escolha pessoal dentro de nossas possibilidades. Debaixo dessas condições, a sabedoria atuante e o controle, naturalmente são transferidos dos reservatórios genéticos de poder antigos para localizarem-se nos cérebros em rápida modificação, cérebros de indivíduos capazes de lidarem com uma taxa da mudança em plena aceleração.

Com a ajuda de acessórios adaptados às necessidades do ser, pessoal e quantumlinguisticamente programados, o indivíduo poder escolher o seu próprio futuro social e genético. E talvez escolher não ‘morrer’.

 

A Teoria de Evolução por Ondas

 

As teorias correntes da genética sugerem que a evolução, como tudo o mais no universo, acontece em ondas. Assim – nos tempos da evolução Pontuada, de metamorfose coletiva, quando muitas coisas estão mutando ao mesmo tempo, então os dez mandamentos dos ‘antigos’ tornam-se dez outras sugestões Em tais momentos de rápida inovação e de mutação coletiva, o dogma conservador do enxame pode ser perigoso, suicida. A experimentação individual e a exploração, o desafio sério, metódico e científico dos tabus tornam-se a chave para a sobrevivência da escola genética.

 

Agora, à medida que ingressamos na Era Cibernética, chegamos a uma nova sabedoria que amplia nossa definição da imortalidade pessoal e de sobrevivência do reservatório genético: As opções pós-biológicas das espécies da informação. Um conjunto fascinante de escolhas-gourmet subitamente aparecem no menu desdobrante do Café Evolucionário.

 

Está começando a parecer que na Sociedade da Informação, o ser humano individual poder escrever o roteiro, produzir e dirigir sua própria imortalidade. Aqui encaramos o Choque Mutacional na sua forma mais geradora de pânico. E, como fizemos na compreensão das mutações anteriores, o primeiro passo a ser dado ‚ desenvolver uma nova linguagem. Não devemos impor os valores ou os vocabulários das espécies do passado sobre a nova Cultura Cibernética.

 

Você permitiria que o zumbido de um culto pró-literato paleolítico controlasse a sua vida? Ir deixar com que as superstições de uma cultura tribal-urbana (agora representada pelo Papa e pelo Ayatollah) o atire fora de cena? Ir deixar com que as táticas de obsolescência planejada, mecânicas, da Cultura Fabril controlem a sua existência?

 

Assim, não mais façamos piedosos e mansos cordeiros discursos sobre a morte! Chegou o momento para falarmos de maneira entusiasmada e fazermos piadas sobre a responsabilidade de controlarmos o processo de morrer. Para começar, vamos desmitificar a morte e desenvolver metáforas alternativas para a consciência abandonando o corpo. Vamos especular de boa vontade sobre opções pós-biológicas. Vamos ser corajosos ao abrirmos um amplo espectro de possibilidades pós-biológicas.

 

De início, vamos substituir a palavra morte por um termo mais neutro, preciso e científico: Coma Metabólico. E em seguida vamos seguir em frente ao sugerirmos que esse estado temporário de ‘coma’ pode ser substituído por: Auto-Metamorfose, uma modificação auto-controlada da forma corporal, onde o indivíduo escolhe mudar o seu veículo de existência sem qualquer perda de consciência.

 

Então, vamos estabelecer uma distinção entre o coma metabólico voluntário e involuntário. Vamos explorar essa ‘terra de ninguém’ fascinante – o período dentre a morte corporal e a neurológica em termos do processamento de conhecimentoinformação aqui envolvido. Vamos coletar alguns dados sobre aquela zona ainda mais intrigante que agora começa a ser pesquisada nos campos interdisciplinares da ciência, chamada de Vida Artificial (2).

 

Que capacidades de processamento de conhecimento-informação podem ser preservadas depois que ocorreram tanto o coma metabólico quanto o cerebral? Que sistemas naturais e artificiais, a partir do crescimento de estruturas minerais, até a auto-reprodução de autômatos matem ticos formais, representariam alternativas de candidatos promissores à biologia frente à manutenção da vida?

 

E vamos realizar o ultimo ato de Inteligência Humana. Vamos nos aventurar com uma tolerância calma, aberta, e com rigor científico, naquela perene terra incógnita e fazer a pergunta final: Que possibilidades de processamento de conhecimento-informação podem permanecer depois do fim de toda a vida biológica: somática, neurológica e genética?

 

Como pode a consciência humana ser abrigada em um hardware situado fora deste envoltório carnal úmido, gracioso, atraente e cheio de prazer que agora habitamos? Como pode a lagarta construída a base de carbono tornar-se uma borboleta de silicone?

 

Christopher S. Hyatt, Ph.D. e A.K. O’Shea sugeriram três estágios de Inteligência Pós- Biológica: 1. Reconhecimento Cibernético das miríades de variedades de processamento do conhecimento-informação envolvidas nos muitos estágios de morte; 2. Gerenciamento Cibernético, com o desenvolvimento de habilidades de processamento de conhecimento-informação enquanto em estado fora do corpo, fora do cérebro e além do DNA; 3. Tecnologia Cibernética, alcançando uma entre muitas das opções de imortalidade.

 

A Inteligência de Reconhecimento Cibernética

 

Reconhecemos que o processo de morte, amortizado por milênios pelos tabus e superstições primitivas, subitamente tornou-se acessível à inteligência humana. Aqui experimentamos as intuições súbitas sobre o fato que não devemos ir quieta e passivamente para aquela noite escura ou paraíso disneyano iluminado feericamente por neons ou música ambiente monótona da multidão de regressão a vidas passadas. Descobrimos que o conceito de coma metabólico irreversível, conhecido como morte‚ uma superstição feudal, uma estratégia de Marketing promotora de eficiência da sociedade industrial. Compreendemos que podemos descobrir dúzias de alternativas ativas e criativas frente ao ato de irmos de barriga para cima, agarrados aos logotipos das companhias da Cruz cristã, Cruz Azul, Cruz Crescente ou aos cartões de sociedade das Companhias de Saúde Privada.

 

O reconhecimento sempre ‚ o início da possibilidade de uma modificação. Depois que compreendermos que a ‘morte’ pode ser definida como um problema de processamento de conhecimento-informação, então soluções para esse ‘problema’, que existe há tanto tempo, podem surgir. Podemos descobrir que a coisa inteligente a ser feita ‚ tentar manter as nossas capacidades de processamento de conhecimento-informações por tanto tempo quanto possível. Em forma corporal. Em forma neutra. Nos circuitos de silicone e nos meios de armazenamento magnético dos computadores atuais. Na forma molecular, através do empilhamento atômico da nanotecnologia dos computadores do futuro. Em forma criogênica, como dados armazenados, lendas, mitos. Na forma de filhos que são ciberneticamente treinados em usar a Inteligência Pós-Biológica. Em forma de reservatórios genéticos pós-biológicos, info-reservatórios, formas virais avançadas residindo nas redes mundiais de computadores e matrizes de ciberespaços do tipo descrito nas novelas de William Gibson (3).

 

O segundo passo para alcançar a Inteligência de Reconhecimento Pós-Biológica‚ mudar de um modo passivo para um ativo. Os humanos da era industrial foram treinados em esperar docilmente o término e a devolução de seus corpos para serem enterrados aos sacerdotes e à fábrica (hospitais).

 

Nossa espécie agora está desenvolvendo habilidades cibernéticas para planejar antecipadamente; para fazer com que a vontade do indivíduo prevaleça. A coisa inteligente a ser feita ‚ ver o ato de morrer como uma mudança na implementação do processamento de informações: orquestra-la, gerencia-la, antecipar e exercer as muitas opções disponíveis. Consideramos aqui vinte e dois métodos distintos de evitar um modo de morrer submisso ou cheio de medo (4).

 

A Inteligência Pós-Biológica Programadora

 

Em outras publicações, autores definiram oito níveis de inteligência: biológica, emocional, mental-simbólica, social, estética, neurológico-cibernética, genética, atômico-nano-tecnológica. Em cada um desses estágios existe uma fase de reconhecimento, seguida por uma fase de programação ou reprogramação cerebral. Para reprogramar é necessário ativar os circuitos do cérebro que mediam aquela dimensão particular da inteligência. Uma vez que este circuito é ‘ativado’, torna-se possível reimprinta-lo ou re-programa-lo.

 

A neurologia cognitiva sugere que a forma mais direta de reprogramar respostas emocionais‚ de reativar os circuitos apropriados. Para reprogramar respostas sexuais‚ eficiente reativar e reexperienciar os imprints originais da adolescência e reimprintar novas respostas sexuais.

 

Os circuitos do cérebro que mediam o processo de ‘morte’ são rotineiramente experienciados durante as crises de ‘quase morte’. Por séculos as pessoas contaram: ‘A minha vida inteira passou num relance frente aos meus olhos enquanto eu afundava na água pela terceira vez’.

 

Essa experiência de ‘quase morte’ pode ser ativada através do uso de certas drogas anestésicas. Ou por um aprendizado suficiente dos efeitos das drogas indutoras de experiências fora do corpo, de forma que se pode fazer uso de técnicas hipnóticas para ativar os circuitos desejados sem que tenhamos de usar estímulos químicos externos.

 

Imediatamente vemos que os rituais intuitivamente desenvolvidos por grupos religiosos têm a intenção de induzir estados de transe relacionados com o ato de ‘morrer’. A criança sendo educada numa cultura Católica ‚ profundamente imprintada (programada) pelos ritos dos funerais. A chegada de um sacerdote solene para administrar a extremaunção torna-se um código de acesso para o estado Pós-Biológico. Outras culturas têm diferentes rituais para ativarem e depois, controlarem os circuitos de morte do cérebro. Até recentemente, muitos poucos tiveram a permissão de um controle pessoal ou personalizado para realizar uma escolha.

 

Talvez essa discussão dos ‘circuitos de morte do cérebro’ seja excessivamente inovativa. Algumas vezes‚ mais fácil compreender novos conceitos sobre a nossa espécie por referência a outras espécies. Quase todas as espécies animais manifestam ‘reflexos de morrer’. Alguns animais abandonam o rebanho para morrer isolados. Outros ficam de pernas separadas, estoicamente postergando o ultimo momento. Algumas espécies ejetam o organismo agonizante do resto do grupo social.

 

Para ganhar um controle navegacional sobre os nossos processos de morte, sugerem-se três passos fundamentais: 1. Ativar os reflexos de morte imprintado pela nossa cultura, experiencia-los, 2. Detectar as suas raízes e, 3. Re-programar.

 

O objetivo‚ desenvolver um modelo científico da cadeia de processos cibernéticos (conhecimento-informação) que ocorrem quando nos aproximamos deste estado metamórfico – e intencionalmente desenvolver opções para assumirmos uma responsabilidade ativa frente a estes eventos.

 

Alcançando a Imortalidade

 

Desde a origem da história humana, filósofos e teólogos especularam sobre a imortalidade. De maneira constrangida, reis envelhecidos ordenaram m‚todos para a extensão da duração da vida. Um exemplo dos mais dramáticos desse impulso antiquíssimo ocorre no velho Egito, que produziu a mumificação, as pirâmides e os manuais tais como o Livro Egípcio dos Mortos.

 

O Livro Tibetano dos Mortos (Budista) apresenta um modelo primoroso dos estágios pós-mortem e técnicas para guiar o estudante a um estado de imortalidade que‚ neurologicamente ‘real’ e sugere técnicas científicas para a reversão do processo de morte.

 

O novo campo de engenharia molecular está produzindo técnicas dentro do âmbito do atual consenso da Ciência Ocidental para implementar a auto-metamorfose. O objetivo do jogo ‚ derrotar a morte – dar ao Indivíduo o domínio disto seria a estupidez final.

 

UMA LISTA PRELIMINAR DE OPÇÕES DE IMORTALIDADE

(Para substituirmos o Coma Metabólico Involuntário e Irreversível)

 

I. TREINAMENTO DE TÉCNICAS PSICOLÓGICAS/COMPORTAMENTAIS

 

As técnicas dessa categoria não ajudam na obtenção da imortalidade pessoal por si mesmas, mas são úteis para adquirir a experiência da ‘morte experimental’, uma Exploração reversível e voluntária do território entre o coma corporal e cerebral, uma morte geralmente chamada de Experiência Fora do Corpo ou Experiência de Quase Morte. Outros a denominaram de Viagem Astral ou Memórias de Re-encarnações Prévias.

 

1.  Meditação e hipnose

 

Estas são as rotas iogues clássicas para explorarmos estados não-comuns da consciência. São bastante bem conhecidas e exigem tempo e esforços intensos. Para uma discussão mais completa e ampla dessas técnicas, recomendamos Crowley (5).

 

2.  Experiências psicodélicas cuidadosamente planejadas para induzir um estado de ‘morte’ e uma consciência genética (re-encarnação/pré-encarnação).

 

Não existe aqui, nenhum tipo de envolvimento com alguma teoria ocultista sobre a encarnação biológica. Nos referimos a técnicas que permitem o acesso à informação e aos programas operacionais armazenados no cérebro do indivíduo em estados de consciência normais, são sub-rotinas atuando abaixo do acesso voluntário (6).

 

3.  Experiências Fora do Corpo com o uso de anestésicos.

 

John Lilly escreveu amplamente sobre as suas experiências com pequenas dosagens de anestésicos(7). _ possível que os efeitos subjetivos ‘fora-do-corpo’ de tais substâncias são (meramente) interpretações de uma disrupção (perturbação) proprioceptiva. Ainda assim, as experiências relatadas por Lilly parecem indicar que existem informações disponíveis através dessas rotas de investigação.

 

4.  Tanques de Privação e Isolamento Sensorial.

 

Novamente, foi Lilly quem investigou esse assunto de forma mais completa(8).

 

5.  Exercícios de Re-Programação (suspensão de efeitos e substituição de imprints primitivos de ‘morte’ impostos pela cultura).

 

6.  Desenvolvimento de Novos Rituais para guiar as Transições Pós-Corporais.

 

Os nossos tabus culturais proibiram o desenvolvimento de trabalhos muito detalhados nesta área. Uma das poucas fontes disponível ‚ E.J. Gold(9).

 

7.  Exercícios de Pré-encarnação

 

Com estes, usamos o m‚todo preferido de alteração de consciência (drogas, hipnose, transe xamânico, ritual vudu, frenesi de nascer de novo), para criar roteiros futuros.

 

8.  ’Morte’ Voluntária Esteticamente Orquestrada.

 

Este procedimento foi chamado de suicídio, isto é, ‘auto-assassinato’, por autoridades que desejam controlar o processo de morte. O Sr. e Sra. Arthur Koestler, membros ativos do grupo britânico EXIT, têm um programa que providencia um coma metabólico muito digno e gracioso. Um californiano, HADDA, está tentando colocar uma emenda nas eleições do estado, para permitir com que pacientes terminais possam planejar um coma metabólico voluntário juntamente com seus conselheiros médicos. Os não-californianos podem sempre buscar por um médico iluminado, ou amigos adultos que concordem com isto e que possam atuar como guias para as Terras Ocidentais.

 

II. TÉCNICAS SOMÁTICAS PARA A AMPLIAÇÃO DA DURAÇÃO DA VIDA.

 

Técnicas para inibir o processo de envelhecimento compreendem o enfoque clássico da imortalidade. No estado atual da ciência, estas meramente ‘compram tempo’.

 

9.  Dieta

 

A pesquisa clássica sobre a dieta e longevidade foi desenvolvida por Roy L. Walford, médico (10).

 

10.  Drogas de Extensão de Vida

 

Estas incluem drogas anti-oxidantes e outras. Uma referência ‚ a ‘Expansão da Vida’, por Sandy Shaw e Durk Pearson.

 

11. Programas de Exercícios.

 

12. Variações de Temperatura.

 

13. Tratamentos de Sono (hibernação)

 

14. Imunização Contra o Processo de Envelhecimento.

 

III. PRESERVAÇÃO SOMÁTICA/NEURAL/GENÉTICA

 

Técnicas nesta classe não garantem o funcionamento contínuo da consciência. Elas produzem o coma metabólico potencialmente reversível. Elas são alternativas para a preservação de estrutura dos tecidos até que alcancemos uma época de um conhecimento médico mais avançado.

 

15. ‘Conserva’ Criogênica ou pelo Vácuo.

 

Por que permitir que o corpo ou cérebro degenerem, quando isto parece implicar em nenhuma possibilidade para o futuro? Por que permitir que o arranjo cuidadoso de crescimentos dendríticos em nossos sistemas nervosos, que poder ser o reservatório de todas as nossas memórias, seja comido por fungos? A preservação perpétua de seus tecidos está disponível atualmente a preços moderados(11).

 

16. Preservação Criônica do Tecido Neuronal, ou do DNA

 

Aqueles que não estão particularmente apegados aos seus corpos podem optar para a preservação apenas dos elementos essenciais: seus cérebros, juntamente com os códigos instrucionais capazes de fazer crescer novamente algo geneticamente idêntico a atual bio-maquinaria.

 

IV. MÉTODOS BIO-GENÉTICOS PARA A EXTENSÃO DA VIDA.

 

Existe qualquer necessidade em experienciar o coma metabólico, afinal das contas? Temos mencionado modos de ganhar controle pessoal da experiência, para evita-lo através de técnicas ‘convencionais’ de longevidade, para evitar a dissolução irreversível do substrato sistêmico.

 

Agora começam a emergir técnicas que permitem uma garantia muito mais vívida de uma persistência pessoal, uma transformação metamórfica em direção a uma forma diferente de substrato no qual o programa de computador da consciência roda.

 

17. Reparo Celular/DNA

 

A nanotecnologia ‚ a ciência e a engenharia mecânica de sistemas eletrônicos construídos em dimensões atômicas(12). Uma das habilidades previstas e da nanotecnologia ‚ o seu potencial para a produção de nano-máquinas replicantes no interior de células biológicas. Essas enzimas artificiais irão realizar o reparo celular, à medida que ocorre o dano oriundo de causas mecânicas, radiação e outros efeitos do envelhecimento. O reparo do DNA garante a estabilidade genética.

 

18. Clonização.

 

A replicação biológica de cópias pessoais geneticamente idênticas de você mesmo, em qualquer momento desejado, está começando a tornar-se possível. O sexo é divertido, mas a reprodução sexual é biologicamente ineficiente, adaptada apenas para a indução da variação genética em espécies que ainda evoluem através dos acidentes devidos ao acaso de uma combinação probabilística.

 

V – MÉTODOS CIBERNÉTICOS (PÓS-BIOLÓGICOS) PARA A OBTENÇÃO DA IMORTALIDADE (VIDA ARTIFICIAL EM SILÍCIO)

 

Como o autor cyberpunk neuromântico Bruce Sterling nota, a evolução movimenta-se em ondas, irradiando-se para fora numa diversidade omnidirecional, e não seguindo uma trajetória única e linear. Alguns visionários do silício acreditam que a evolução natural da espécie humana (pelo menos os ramos especiais dela) está a ponto de se completar. Não mais estão interessados em meramente procriar, mas em planejar seus sucessores.

 

O cientista em robótica de Carnegie-Mellon, Hans Moravec escreve: “Devemos nossa existência à evolução orgânica. Mas devemos a ela muito pouca lealdade. Estamos no limiar de uma modificação no universo, comparável à transição do não-vivo à vida”.(13)

 

A sociedade humana já alcançou um ponto de virada na operação do processo de evolução, um ponto no qual o próximo salto evolutivo da espécie está debaixo de nosso controle. Ou, colocando de forma mais correta, os próximos passos, que irão ocorrer em paralelo, resultarão de uma explosão da diversidade de espécies humanas. Não mais estamos dependentes de uma capacitação em qualquer senso físico para a sobrevivência; nossos aparelhos quânticos ou outros mais antigos, mecânicos, fornecem o necessários para isto em todas as circunstâncias. Num futuro próximo, os métodos (agora emergentes) de tecnologia computacional e biológica, irão fazer da forma humana algo totalmente determinável pela escolha individual.

 

Como espécie de carne e sangue estamos moribundos, presos num momento ‘local ótimo’, para tomar de empréstimo a teoria de otimização matemática. Além desse horizonte que a humanidade alcançou, existe o desconhecido, aquilo que até agora foi muito mal imaginado. Iremos planejar nossos filhos e co-evoluir intencionalmente com os artefatos culturais que são a nossa progênie.

 

Os seres humanos já vêm em alguma variedade de raças e tamanhos. Em comparação ao que ir significar ser ‘humano’ no decorrer do próximo século nós, humanos da atualidade, somos tão indistinguíveis uns dos outros quanto moléculas de hidrogênio. Nosso antropocentrismo irá diminuir.

 

Vemos duas categorizações de princípios da forma do ser humano no futuro, uma biológica: um híbrido bio/máquina de qualquer forma desejada e uma que sequer ser biológica: uma ‘vida eletrónica’ nas redes de computadores. Humanos como máquinas e humanos dentro de máquinas.

 

Destes, os humanos como m quinas talvez serão mais facilmente aceitos. Atualmente, já dispomos de implantes e próteses grosseiros, membros artificiais, válvulas e órgãos inteiros. Os contínuos progressos na tecnologia mecânica de velho estilo lentamente aumentam a totalidade da integração homem-máquina.

 

A forma de vida eletrônica do humano dentro da m quina ‚ ainda mais alienígena para nossas formas atuais de conceitos de humanidade. Através do armazenamento dos sistemas de crenças e valores de uma pessoa, em estruturas de dados ‘on line’, ativadas por estruturas de controle selecionadas (o análogo eletrônico da vontade?), o sistema neuronal de uma pessoa ir funcionar em silício da mesma maneira que o faz numa ‘rede úmida’ cerebral, embora muito mais rapidamente, corretamente, muito mais automaleável e, se desejado, de maneira imortal.

 

19. Informacional – Arquivístico

 

Uma maneira padronizada de se tornar ‘imortal’ ‚ deixar uma trilha de arquivos, biografias e nobres obras que merecem ser tornadas públicas. O aumento da presença de um meio reconhecidamente estável em nossa Sociedade Cibernética faz disto uma plataforma mais rigorosa para uma existência persistente. O conhecimento possuído pelo indivíduo ‚ capturado por sistemas especialistas e sistemas de hipertexto de escala mundial(14), assim garantindo a longevidade e acessibilidade de memes texturais e gráficos. Visto fora da perspectiva do ‘Eu’, a morte não é um fenômeno binário, mas uma função continuamente variável. Quão vivo está você em Paris neste momento? Na cidade em que vive? No local onde está lendo isso?

 

20. Treinador de Cabeça – Transmissão de Bancos de Dados de Personalidade

 

O Treinador de Cabeça ‚ um sistema de computação que está sendo desenvolvido por Futique Inc., um dos primeiros exemplos de uma nova geração de programas psicoativos. Permite com que o usuário (o atuante) venha a digitalizar e armazenar pensamentos numa base de rotina diária. Se uma pessoa deixa, digamos, vinte anos de registros diários de desempenho mental armazenados, seu bisneto, após cem anos poder ‘conhecer’ e recuperar seus hábitos informacionais e desempenhos mentais. Para fornecer um exemplo dos mais vulgares, se os movimentos num jogo de xadrez de um indivíduo forem registrados, os seus descendentes poderão reviver, passo a passo, um jogo de seu tataravô feito no passado.

 

À medida que a leitura passiva‚ substituída por um ‘reescrever ativo’ as gerações posteriores serão capazes de reviver, como percebíamos, os grandes livros de nosso tempo. Ainda mais intrigante ‚ a possibilidade e implementação do conhecimento extraído ao longo do tempo de uma pessoa: suas crenças, preferências e tendências, como um conjunto de algoritmos guiando um programa capaz de atuar de forma funcionalmente idêntica à pessoa. Avanços na tecnologia da robótica irão fazer com que essas ‘Criaturas de Turing’ deixem de ser meros ‘cérebros dentro de garrafas’ e gerar híbridos capazes de interagir sensorialmente com o mundo físico.

 

21. Armazenamento Informacional Nano-tecnológico: em Direção a uma Transferência Computador-Cérebro Direta.

 

Quando um computador torna-se obsoleto, não temos de jogar fora as informações que ele contém. O hardware ‚ meramente um veículo de implementação para as estruturas de informação. As informações são transferidas para outros sistemas, para continuar a serem usadas. Os custos decrescentes de armazenamento de informações, CD-ROM e sistemas de memória WORM implicam que nenhuma informação gerada nos dias de hoje ter de ser perdida.

 

Podemos imaginar a construção de um substrato computacional artificial tanto funcional quanto estruturalmente idêntico ao cérebro (e talvez, com relação ao próprio corpo) de uma pessoa. Como? Através das capacidades previstas para o futuro da nano-tecnologia (15).

 

Nano-máquinas comunicantes que permeiam o organismo poderão analisar a estrutura neural e celular e transferir a informação obtida para maquinaria capaz de reproduzir, tomo por tomo, uma cópia idêntica. Mas e a alma? De acordo com o dicionário: ‘alma‚ o princípio que anima e confere vitalidade ao homem, creditado com faculdades de pensamento, ação e emoção, concebida como formando uma entidade imaterial distinguível de, mas temporariamente coexistente com o seu corpo.”

 

Numa primeira leitura, essa Definição parece ser um exemplo clássico de uma bobagem teológica. Mas estudada a partir da perspectiva da teoria da informação, seremos capazes de lidar com esse religio-jargão dentro de uma área científica. Vamos mudar a palavra bizarra ‘imaterial’ para ‘invisível aos órgãos dos sentidos desacompanhados de qualquer instrumento’, isto ‚, atômicos/moleculares/eletrônicos. Agora a ‘alma’ se refere às informações processadas e armazenadas em pacotes microscópicos, celulares, moleculares. A alma torna-se qualquer informação que ‘vive’, isto é, capaz de ser recuperada e comunicada. não ‚ verdade que todos os testes para a ‘morte’ em todos os níveis de medida (nuclear, neural, corporal, galáctico) envolvem a verificação pela não resposta a sinais?

 

A partir deste ponto de vista, as 22 opções para a imortalidade tornam-se m‚todos cibernéticos de preservação da capacidade única de sinalização. Existem tantas almas quantos formas de armazenar e comunicar dados. A cultura tribal define a alma racial. O DNA ‚ uma alma molecular. O cérebro ‚ uma alma neurológica. O sistema de armazenagem eletr”nica cria a alma de silicone. A nanotecnologia torna possível a alma atômica.

 

22. Computacional-Viral

 

A opção precedente permitiu a sobrevivência pessoal através do mapeamento isomórfico da estrutura neural para o silício (ou outro meio arbitrário qualquer de implementação). Também sugere a possibilidade de sobrevivência de uma entidade naquilo que parece ser uma retificação do inconsciente coletivo de Jung: a rede global de informação.

 

No século 21 imaginado por William Gibson, cibernautas temer rios e os cibernautas irão não somente se armazenar eletronicamente, como farão isto na forma de um ‘vírus de computador’, capaz de atravessar redes de computadores e de se auto-replicar como uma Proteção contra um ‘apagamento’ acidental ou malicioso por outras pessoas ou programas. (Imagine este cenário algo ridículo; ‘O que há nesse CD?’ ‘Ah, apenas um Leary antigo. Vamos reformata-lo.’)

 

Dada a facilidade de cópia de informações armazenadas em computadores, podemos existir simultaneamente em v rias formas. Onde o ‘eu’ se encontra nesta situação‚ assunto para a filosofia. A nossa crença ‚ que a consciência ir persistir em cada forma, correndo independentemente de ( e ignorando cada uma das outras manifestações do ‘Eu’, a menos que esteja em comunicação com uma ou mais das outras formas), clonificada em cada ponto de ramificação.

 

Notas

1- Essa lista de opções para o Coma Metabólico Voluntariamente Reversível e autometamorfose não é mutuamente exclusiva. A pessoa inteligente precisa de muito pouco encorajamento para explorar todas essas possibilidades. E tentar planejar muitas outras alternativas novas contra ir de barriga para cima, em fila para os Arquivos-Mortos do Gerenciamento.

2. KON-TIKI NA CARNE: no futuro próximo, aquilo que atualmente é considerado como garantido na forma de uma criatura humana perecível ser uma mera curiosidade histórica, um ponto entre outros de uma inimaginável diversidade multidimensional de formas. Indivíduos ou grupos de aventureiros estarão livres para escolher reassumir a forma de carne e sangue, construída de acordo com a ocasião pela ciência apropriada.

Tais expedições históricas podem muito bem ser conduzidas no espírito das viagens do Kon Tiki de Thor Heyerdahl. Viajar naquilo que à luz da História revela ser uma forma objetivamente improvável, meramente para provar que é possível, ou tão improvável quanto parece.

Notas e Referências

1. Os autores dividem os estágios da história humana em: tribal, feudal, industrial e cibernética

2. Los Alamos, famosa como berço das armas atômicas, atualmente também aloja o Centro para Estudos Não-Lineares, onde um grupo tem realizado reuniões semanais para discutir os muitos aspectos técnicos do novo campo da Vida Artificial. O centro recentemente patrocinou um workshop internacional de uma semana de duração, o primeiro no mundo, onde cientistas encontraram-se para discutir as implicações e a fundamentação das teorias do campo. A reunião foi amigável, divertida e selvagemente trans-disciplinar. Os pioneiros da nano-tecnologia delinearam os potenciais para a engenharia molecular e o especialista em robótica, Hans Moravec apresentou argumentos convincentes de que uma transformação genética estava em pleno desenvolvimento, sendo que nossos artefatos culturais agora estavam evoluindo para além do ponto de simbiose com a espécie humana. Estruturas auto-replicantes, de minerais e vírus de computadores foram demonstrados.

3. William Gibson, ciberpunk e visionário sci/fi publicou Neuromancer, Contagem Zero e Cromo Queimando. São leituras recomendadas pela sua visão técnica e socialmente plausível da vida high-tech do baixo mundo das ruas.

4. Os místicos poderão se lembrar de que também existem 22 caminhos para os Cabalistas, na ‘Árvore da Vida’, associada com o Taro.

5. Aleister Crowley, ‘Oito Palestras sobre Ioga’, dividida em duas partes, respectivamente intituladas: ‘Ioga para Yahoos’ e ‘Ioga para Covardes’.

6. Martin Minsky delineou uma teoria de que a ‘mente’ emerge de uma coleção de entidades menores interagindo conjuntamente, elas mesmas, isentas de mente. Isto está apresentado em seu livro, ‘A Sociedade da Mente’, 1986.

7. John Lilly, O Cientista e Programando e Metaprogramando no Bio-Computador Humano.

8. John Lilly, O Eu Profundo.

9. E.J. Gold, O Livro Americano dos Mortos, a ser lançado proximamente pela Ed. Eleusis, ver também a Estória da Criação.

10. Roy L. Walford, médico, A Dieta dos 120 Anos, 1986 e Máxima Duração de Vida, 1983.

11. Uma das poucas companhias de preservação criogênica em funcionamento é a Alcor Foundation, (800) 367-2228.

12. O proponente mais visível e eloqüente da nanotecnologia ‚ K. Eric Drexler, da MTI e Universidade de Stanford. Seu livro, Máquinas da Criação fornece uma visão detalhada do campo. Outros trabalhos mais técnicos incluem:

– K. Eric Drexler, Engenharia Molecular: Um Enfoque ao Desenvolvimento das Capacidades Gerais de Manipulação Molecular, Proc. Natl. Acad. Sci, vol. 78 #9, September, 1981, pp. 5275-5278.

– K. Eric Drexler, Rod Logic & Thermal Noise in the Mechanical Nanocomputer, Proc. 3rd Intl. Symposium on Molecular Electronic Devices, Elsevier, North Holland, 1987.

– K. Eric Drexler, Molecular Engineering: Assemblers and future Space harware, Aerospace XXI, 33rd Annual meeting of the American Astronautical Society, paper AAS-86-415.

– Feynman, R., There’s Plenty of rooms at the Botton, in ‘Miniaturization’, H.D. Gilbert (ed.), Reinhold, New York, 1976, pp. 282-296. (Um dos trabalhos originais enfocando a engenharia em escala molecular, o ganhador do prêmio Nobel, Feynman é sem dúvida um dos mais brilhantes cientistas da atualidade).

13. Hans Moravec, Mind Children, 1988.

14. Um sistema global de hipertexto para permitir acesso instantâneo on-line a redes globais de conhecimento foi imaginado e descrito por Ted Nelson em Literary Machines, publicado pelo autor. Outras informações estão disponíveis em Computer Lib de Nelson (1974), republicado pela Microsoft Press (1987).

15. Particularmente nos desculpamos destas especulações situadas presentemente para além das capacidades tecnológicas. O cérebro ‚ uma máquina das mais complexas, com algo de 1020 células individuais, conforme as estimativas mais atuais. Ainda assim somos redimidos por aquilo que vemos como a inevitabilidade tecnológica da nanotecnologia.

 

 

Timothy Leary, Ph.D. & Eric Gullichsen, Tradução: NoKhooja

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/22-alternativas-sensatas-para-a-morte-involuntaria/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/22-alternativas-sensatas-para-a-morte-involuntaria/

13 Razões Pelas Quais As Ervas Daninhas São Benéficas

Por Rebecca Gilbert.

Eu sou apaixonada por plantas selvagens comuns, ou ervas daninhas, em parte porque elas podem nos ajudar de muitas maneiras diferentes; Aqui estão alguns dos meus favoritos. Mais detalhes, com receitas, técnicas específicas, exemplos e histórias, podem ser encontrados no livro Weedy Wisdom for the Curious Forager (Sabedoria das Ervas Daninhas para a Forrageira Curiosa), juntamente com o tipo de filosofia natural que surge quando as pessoas passam tempo na natureza, observando e imaginando.

Essas explorações foram inspiradas por uma série de aulas com um acampamento de verão para pessoas com habilidades variadas, muitas das quais em cadeiras de rodas. Por causa da maneira como esses campistas abordavam o forrageamento, nossas discussões eram adequadas para iniciantes e, ao mesmo tempo, aprofundavam de maneira incomum os significados da vida, sem timidez e sem evitar assuntos difíceis. Essa combinação de destemor divertido, mas de olhos claros, com a flexibilidade e a mente aberta dos iniciantes permitiu às plantas muito espaço para se comunicar, e as especificidades da comunicação das plantas são um dos focos do livro.

Outra é a ênfase em por que forragear, e a ênfase em como fazer isso. Desde muito antes de sermos humanos, dependemos das plantas ao nosso redor, e a apreciação por nossos intrincados relacionamentos muitas vezes parece vir naturalmente quando somos lembrados. Uma vez que as pessoas se sintam inspiradas a forragear, as especificidades do quê, como, quando e onde se tornam muito mais interessantes e fáceis de lembrar. Segurança, saúde e risco são considerados, e algumas plantas “que abrem portais” amigáveis ​​são introduzidas. Plantas comuns não nativas, incluindo invasoras, são apresentadas porque são as que mais precisam ser colhidas – colhê-las nos move e nosso entorno em direção a uma maior diversidade e equilíbrio, não menos. É importante e gratificante encontrar nosso caminho para sermos membros úteis e valiosos de nossos ecossistemas, ao invés de arrogantes agentes de extinção. Comer plantas invasoras é uma maneira, e aqui estão algumas outras ideias.

13 Razões Pelas Quais Eu Preciso das Ervas Daninhas:

COMIDA:

1. Enchidos de Panela e Matadoras da Fome: Sempre que você quiser alimentar as pessoas, é bom saber que há comida grátis deliciosa ao seu redor. Um ensopado de raízes ou um mexidão de verduras é uma fonte de alimento de fácil acesso e muito nutritiva durante grande parte do ano, e é especialmente útil em uma crise.

2. Iguarias Sazonais e Locais: Ver as guloseimas amadurecendo ao seu redor é uma maneira muito agradável de se conectar com o meio ambiente. As forrageadoras experientes sabem quando verificar “seus” locais em busca de tesouros com base em colheitas anteriores. Cada estação traz suas delícias, com conexões com o tempo e o lugar que se aprofundam e enriquecem ainda mais a cada ano que passa.

3. Sabor: Ervas, especiarias e condimentos únicos expandem o paladar gourmet para incluir o que está crescendo ao nosso redor e adaptar receitas para incluir ingredientes forrageiros. As forrageiras podem selecionar à mão alimentos extremamente frescos, maduros, limpos, com vitalidade e sabor melhores do que qualquer coisa que possa ser comprada e que sejam especialmente compatíveis com outros produtos locais, compartilhando o que os franceses chamam de “terroir”.

4. Tradição: Todos os nossos ancestrais forrageavam plantas selvagens, e fazemos isso desde antes de sermos humanos, então servir esses alimentos é uma ótima maneira de se conectar com as estratégias de sobrevivência do passado. Eles também podem nos conectar aos ancestrais do lugar. É importante ser respeitoso, e as plantas podem nos dar insights sobre como se comportar para não ser invasivo. Quando você passa esse conhecimento para a próxima geração, você está participando de um ritual muito antigo.

MEDICAMENTO:

5. Primeiros Socorros: Conhecer algumas plantas que podem ajudar a prevenir a infecção pode ser muito útil quando não há acesso a antibióticos e você não precisa ser um herbalista completo. Para um iniciante, dois ou três são suficientes. Eu recomendo tanchagem e milefólio (o mil-em-rama). Ambos são comuns e não tóxicos. Quando usados ​​para prevenir a infecção, geralmente são triturados e aplicados externamente como cataplasma. O milefólio (mil-em-rama) ajuda a parar o sangramento também.

6. Nutrição: Às vezes, caldos e chás são mais fáceis de absorver do que sólidos, e os nutrientes em plantas selvagens, devido à nossa longa história juntos, tendem a ser mais biodisponíveis do que pílulas de vitaminas. Muitos desequilíbrios físicos respondem bem a alimentos complexos e concentrados, como verduras cozidas, por isso é uma boa ideia conhecer as plantas alimentares prolíficas comuns de sua região. As urtigas, por exemplo, são tão nutritivas que podem fazer com que o cabelo volte a crescer e as galinhas comecem a botar. (Por estranho que pareça, a urtiga é também uma planta comestível. Com o calor a substância urticante perde suas propriedades, de maneira que pode ser consumida tranquilamente. Por isso se encontram nos livros receitas de sopa de urtiga, salada e mesmo vinho e cerveja de urtiga).

7. Reparo do Microbioma: O microbioma, ou ecossistema pessoal, inclui toda a vida invisível em nós, dentro e ao nosso redor. É essencial para uma resposta imune saudável, mas pode ser danificada por antibióticos e outras drogas, estresse, tristeza, intolerâncias alimentares e muito mais. Tanto o pastoreio durante a colheita quanto as preparações tradicionais usando lactofermentação podem ajudar a repovoar um microbioma esgotado. A combinação de fermentos clássicos com alimentos frescos, não processados ​​e diversos não apenas fortalece o sistema imunológico – novas pesquisas indicam que o humor e as habilidades de resolução de problemas também melhoram.

8. Aroma: Os aromas e sabores fortes de muitas plantas selvagens têm poder curativo e restaurador em si mesmos e são tradicionalmente usados ​​em chás, defumados, vapores, banhos e bálsamos curativos. As flores são um presente especial, com uma beleza que vai muito além das exigências práticas da polinização. Talvez por isso tenham sido usados ​​como oferendas sagradas em tantos lugares. Recém colhidas, trazem cores, sabores e perfumes únicos para a mesa.

SABEDORIA:

9. Inspiração: Inspiração significa literalmente “inspirar”; lembramos que o oxigênio que inspiramos e o dióxido de carbono que expiramos fazem parte de uma constante troca de presentes com o mundo vegetal, para nosso benefício mútuo. Isso forma a base de todas as outras trocas. As ideias que surgem enquanto respiramos com as plantas podem nos inspirar como as histórias dos mais velhos.

10. Ciclos de Vida e Morte: As plantas fornecem exemplos constantes e modelos para as adaptações necessárias para a mudança de formas, seja através da morte e renascimento, da propagação de sementes ou do repouso na raiz. A podridão de um ser é o alimento de outro ser, e isso pode ser reconfortante. Encontrar nosso equilíbrio nesses ciclos contínuos é mais fácil com a orientação demonstrativa de plantas comuns.

11. Honestidade, Gratidão e Generosidade: Esses traços não são opcionais por natureza, e procurar alimentos silvestres comestíveis nos lembra de tais requisitos inerentes para uma boa vida. A natureza é sempre uma verificação da realidade, e tudo está sendo recebido ou devolvido. Reconhecer nosso lugar no quadro geral tende a aumentar a capacidade de sobrevivência das pessoas, bem como sua vitalidade e vigor.

12. Relação: A ideia equivocada de que somos seres conscientes movendo-se através de um universo inanimado provou ser falsa e perigosa – as plantas que nos alimentam e curam são um conjunto de parentes que podem nos lembrar do ridículo desse conceito. Eles são alguns dos mais amigáveis ​​e úteis, e podem ajudar a nos guiar para perspectivas e práticas mais realistas e saudáveis. Uma experiência de forrageamento, por menor que seja, pode ser um ambiente agradável para explorar nossos laços mais íntimos com o ambiente.

MAGIA:

13. Inspiração: As plantas selvagens são conhecidas por curar as pessoas em sonhos, passar mensagens entre mundos, manter espaço para a transferência de conhecimento ancestral e muitas outras realizações milagrosas. Eles são muito mais do que pacotes de produtos químicos verdes – converse com eles, honre-os, inclua-os em seus empreendimentos e você pode se surpreender com a generosidade de suas respostas. Como nossos mais velhos, eles sabem muito mais sobre nós do que nós sobre eles, e quando nos sentimos presos, podemos recorrer a eles em busca de nova coragem e novas ideias.

Espero que esta lista lhe dê algumas ideias sobre as maneiras pelas quais todos já estamos conectados a plantas selvagens comuns. Há sempre mais para aprender e algo novo para provar e descobrir. Eles são excelentes amigos e colegas de trabalho, e já estão por perto. Convido você a dar outra olhada nas ervas daninhas locais onde você está e ver o que elas têm a dizer. Você pode acabar, como eu, trazendo-os para sua casa, seu sustento, sua imaginação e sua atitude em relação à vida.

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Fonte:

13 Reasons Why Weeds Are Beneficial, by Rebecca Gilbert.

COPYRIGHT (2022) Llewellyn Worldwide, Ltd. All rights reserved.

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/paganismo/13-razoes-pelas-quais-as-ervas-daninhas-sao-beneficas/

Computadores – do paganismo à merdas que nem conseguimos imaginar

Os antigos romanos eram um povo muito próspero, diferente dos cristãos, por exemplo, que de tão pobres tinham apenas um Deus. Os romanos, pelo contrário, possuíam muitos deuses e muitas deusas para praticamente tudo o que se pudesse imaginar. Deuses grandes, pequenos, tortos, feios, bonitos; deuses famosos e deuses que foram esquecidos. O curioso é que diferente do Grande-Faz-Tudo-Pau-Pra-Toda-Obra judaico cristão, os deuses romanos eram especializados. Veja a agricultura. Eles não se contentavam apenas com uma deidade que presidisse sobre a agricultura em geral. Não os romanos. Se você fosse arar um campo agradecia a Obarator, se precisasse carpir um terreno ou se livrar de ervas daninhas fazia oferendas a Sarritor, se precisasse podar árvores falava com Puta.

O nome de Puta, como todos vocês sabem, se deriva do verbo “putare”, que significa cortar, especificamente cortar os ramos de uma árvore, podar; e naquela época, quando era a época da poda das árvores, as Sacerdotisas de Puta faziam festivais sagrado em honra à deusa. Se tivermos em mente que na Roma antiga “festival sagrado” era sinônimo de bacanal – putaria? – não é difícil imaginar como foi que “Puta” adiquiriu o significado que tem hoje, mas isso só mostra o quão dominado pelos cristãos o nosso cérebro se tornou.

 

Um Deus ignorado se torna um demônio. Uma mulher ignorada se torna algo que assusta o próprio capeta. Uma deusa ignorada… bem lembrem-se da guerra de Tróia e dá para começar a imaginar o que deusas ignoradas fazem. Com Puta não foi diferente. Putare, além de podar também significava “pôr ordem”, “pensar”, “calcular”. Deuses são ardilosos, deusas também, com a diferença de além de serem ardilosas também terem belas coxas. Puta resolveu abrir as dela. Se iam tentar jogá-la rumo ao esquecimento, ela decidiu que isso não aconteceria, iria simplesmente se tornar uma divindade presente não apenas em cada cidade ou em cada lar, mas em cada bolso, em cada mente.

Como ela fez isso?

Em 1613 surgiu o registro de uma nova palavra: “computador”. Até então “máquinas” usadas para se calcular não eram novidade, os ábacos sumérios eram populares em 2500 a.C. e eram bons. Em 1946 em uma competição de velocidade entre uma reprodução do ábaco sumério e uma máquina de cálculo moderna – ou o que era moderno no Japão em 1946 – o ábaco ganhou disparado. As réguas de cálculo criadas no ano de 1620 foram usadas na missão Apollo no fim da década de 1960. Havia o astrolábio grego inventado em 150 a.C.  e o mecanismo Antikythera, também do século I a.C., mas reparem, até o século XVII não existia um “computador”. Cada instrumento era usado para sua própria finalidade, cada um tinha uma especialidade, mas em 1613 um computador se tornou a palavra que indicava uma pessoa que lidava com cálculos ou, como eram chamados na época, cômputos. Logo o termo foi desassociado de meros seres-humanos e passou a ser aplicado a uma máquina ou mecanismo que lidasse com cômputos.

Putare. Podar. Pôr ordem. Computar.

Agora pense em uma máquina de cálculos que não possui um corpo físico. Um computador não físico mas que funciona. Difícil? Façamos um exercício.

Pegue um cubo mágico e coloque sobre uma mesa de madeira. Quantas faces do cubo você consegue enxergar dando a volta na mesa?

5.

Lembre-se de que uma das faces está voltada para baixo e que a mesa não é transparente.

Agora coloque outro cubo em cima do primeiro. Quantas faces você consegue contar agora?

9.

Assim que coloca o cubo em cima do primeiro você cobre uma das faces dele, mas ainda consegue ver 5 faces do novo cubo.

Agora responda rápido. Uma pilha de 213 cubos tem quantas faces visíveis?Você pode ficar contando acréscimo por acréscimo, ou pode parar para pensar, para computar.

O cubo do topo sempre exibe 5 faces, se existe apenas um cubo temos apenas 5 faces. Quando temos mais de um cubo, todo cubo que não o do topo mostra 4 faces, já que a de baixo e a de cima estão sempre ocultas. Então se multiplicarmos o número de cubos que não o do topo por 4 e adicionarmos as faces do cubo do topo – 5 – a esse resultado temos uma resposta. Uma simplificação ainda maior é multiplicarmos a quantidade total de cubos por 4 e adicionarmos 1 por causa da face extra do cubo do topo.

N.4+1=F

(onde N é o número de cubos e o ponto é o sinal de multiplicação e F o número de faces)

Vejamos como funciona:

1 cubo = 1.4+1 = 5 faces.

2 cubos = 2.4+1 = 9 faces.

Esses dois resultados batem com nossa experiência mental empírica. Vejamos se colocarmos o número que queremos para esse computador mastigar o que ele nos cospe:

213.4+1= 852+1 = 853.

Simples. Assustador.

Veja, se você sabe fazer a pergunta um computador te dá a resposta. Vejamos como isso pode facilitar a nossa vida. Assustadoramente.

Mas deixemos as meias palavras de lado.

O mercado têxtil era uma merda, a não ser que você gostasse de ficar bordando e fiando. Então Deus inventou a revolução industrial e fazer camisas, meias, tapetes e tecidos tornaram-se tarefas ainda mais ingratas. Havia os teares, mas a não ser que você quisesse um tecido liso dava um trabalho danado estampá-lo com padrões e desenhos, isso é, até José Maria Jacquard entrar em cena em 1801. Ele criou um tear que reconhecia cartões perfurados, esses cartões perfurados diziam ao tear onde começar e onde parar de introduzir fios. O Sr. Maria pode ser considerado não o primeiro programador, mas a primeira pessoa que ensinou uma máquina a fazer o que ele quisesse quando não estava por perto. Uma mesma máquina, que podia fazer coisas diferentes. Um macaco inteligente, fazendo máquinas fazerem coisas inteligentes.

Em 1837 Charles Babbage criou o conceito e começou a produzir o primeiro computador totalmente programável, que batizou de máquina analítica. O problema com Babbage é que ele era perfeccionista, ou simplesmente perdido e disperso, e estava duro na época, assim a máquina que ele começou a construir nunca foi finalizada, era constantemente implementada, mas nunca finalizada, e se não fosse por seu filho Henry, em 1888, sua invenção nunca teria visto a luz do dia. Nesta mesma época Herman Hollerin inventou uma forma de se gravar dados de maneira que pudessem ser lidos por uma máquina – na verdade, se formos completamente honestos, nada muito inovador se nos lembrarmos de Jacquard – mas Hollering modernizou o processo, criando cartões que podiam ser perfurados mais rapidamente com outras duas de suas invenções: o tabulador e a máquina de furar. Junte essas três invenções e jogue em uma tigela. Acrescente outras invenções do final do século XIX como a álgebra Booleana, fitas perfuradas, válvulas termiônicas a vácuo e a teleprinter e coloque no forno. Em alguns anos você tiraria de lá o que hoje reconhecemos como os dinossauros do computador moderno.

Por um momento paremos para olhar o mundo ao redor naquela época. Mesmo com o fim da Idade Média e o início do Iluminismo, a Igreja Cristã continuava de vento em popa. Até o século XV cruzadas ainda atravessavam a Europa. Na época ela ainda conseguiu criar uma de suas maiores franquias, a Inquisição Espanhola; conseguiram expulsar os Judeus da Espanha. No século XVI Martinho Lutero pregou suas teses na porta da Igreja tornando o protestantismo uma forma popular de cristianismo. Uma década antes do século XVII Michelangelo estava completando o domo da Basílica de São Pedro em Roma. A Bíblia havia sido traduzida do latim para o Inglês, se tornando o livro mais popular do mundo, ou do que era considerado mundo na época. No século XIX surgem os Mórmons, a Sociedade Bíblica Americana é fundada. Parecia que os seguidores do carpinteiro Nazareno estavam em um foguete rumo às alturas de onde jamais seriam retirados. Deus era o Super Star Supremo!

E então algo curioso aconteceu. Algo que se tornou a janela que Puta e outros Deuses de outrora estavam esperando.

Em 1830 Sir Walter Scott – o homem que recebeu o título de “criador do verdadeiro romance histórico”, tendo entre seus escritos Ivanhoe, Rob Roy e A Dama do Lago – escreve uma série de cartas concernentes à Demonologia e à Bruxaria – assuntos assustadores e escatológicos que atraiam e repeliam centenas de pessoas religiosas que temiam tanto a bruxaria quanto os demônios. Esses textos foram sua contribuição para uma série de livros publicados por John Murray, que se tornou popular entre os anos de 1829 e 1847. Quanto mais popular o Cristianismo se tornava, mais populares eram seus seguidores. Quanto mais populares os seguidores, mais simplistas e xucros eram os cristãos – isso não é maldade, é um fato de que a quantidade de algo afeta diretamente a qualidade deste mesmo algo. Quanto mais simplistas e xucros,  maior era o medo e o interesse das pessoas em assuntos como esses. Nada mais natural, então, do que o surgimento de livros que discutissem tais assuntos. Como Abravanel sempre disse, dê ao povo o que o povo quer, e lucre com isso.

Agora, as coisas começam a ficar estranhas! (preste atenção)

Na época em que tais textos foram publicados, a Inquisição Espanhola foi abolida, o ano era 1834. Em 1882 Nietzsche declara que Deus está morto. Em 1893 o livro Restos Romanos Etruscos na Tradição Popular, escrito por Charles G. Leland é publicado, seguido por Aradia, o Gospel das Bruxas em 1899.

Por algum motivo, quando começaram a explorar bruxas e demônios, os europeus parecem ter começado a criar bruxas e demônios, ou talvez simplesmente tenham aberto uma fissura em sua mente por onde eles começaram a se infiltrar novamente em nossa realidade.

Com o Deus opressor dos Cristãos posto de lado, essas obras prepararam o caminho para 3 grandes responsáveis pela volta das antigas divindades pagãs:

1- Em 1921 Margaret Alice Murray publica O Culto das Bruxas na Europa Ocidental, que não se preocupava muito com Deuses e Sacerdotes, mas com o culto das bruxas. Milhares de pessoas foram e eram acusadas de bruxaria na Europa, mas as bruxas seriam reais? E fadas e outras criaturas? Murray buscou evidências documentadas e desenvolveu um texto para responder a essas questões de forma objetiva.

2- Um ano depois Sir James Frazer publica O Ramo de Ouro, um estudo massivo sobre o ciclo mitológico do amante da Deusa, o Deus Solar, que morre e renasce.

Paralelo a isso, a evolução dos computadores ainda engatinhava, as máquinas eram analógicas, cada vez mais sofisticadas, mais ainda nada muito além de grandes calculadoras, eles ainda não possuíam vida própria, não possuíam voz e não eram muito precisas.

Neste momento da história em que chegamos as bases para duas das três coisas que todo Deus antigo precisa – altares e seguidores – já estavam erguidas, esperando apenas um grande mago para que se tornassem reais.

Este mago nasceu no dia 23 de Junho de 1912, seu nome Alan Mathison Turing. Turing se tornou um matemático, criptoanalista e cientista de computação. Tudo o que precisava para ser o sacerdote que Puta precisava. Em 1936 ele visualizou o que ficou conhecido como a Máquina de Turing, um dispositivo que formalizou o conceito de algoritmos e computação, o primeiro passo para o desenvolvimento de computadores digitais eletrônicos e da “Inteligência Artificial”. Um homem que combinava conceitos matemáticos com química e biologia, e ainda por cima era homossexual, não poderia ter um fim muito alegre. A Inglaterra, berçário dos grandes magos de nossa era, decidiu considerar o seu homossexualismo um crime, e, para evitar a prisão, Turing aceitou ser castrado quimicamente. Como todos os bruxos e bruxas que passaram pelas mãos da Inquisição, Turing nunca mais foi o mesmo e acabou morrendo ao comer uma maçã recheada de cianeto duas semanas antes de completar 42 anos, no ano de 1954.

Qualquer pessoa que já tenha lidado com Deusas, especialmente aquelas que deixam maçãs como cartão de visita, sabem que “coincidência” é a desculpa dos limitados. Assim não foi surpresa nenhuma quando, no mesmo ano do sacrifício de Turing, surge na mesma Inglaterra que o condenou a publicação do livro do terceiro grande responsável pelo Neo-Paganismo.

3- Gerald Brosseau Gardner publica o seu A Bruxaria Hoje, o livro que fez com que a Wicca – e com ela o paganismo – surgisse no mundo. A porta estava aberta, os Deuses voltavam a caminhar sobre a terra. E dentro dela, e debaixo dela.

Com o auto-sacrifício de Turing a tecnologia que lidava com cômputos passou a evoluir a uma velocidade sem precedentes. De 2500 a.C. até a década de 1940,  sempre existiram as engenhocas para se realizar cálculos lineares ou operações específicas, mas em menos de 20 anos surgiram máquinas capazes de realizar 50 multiplicações por segundo – o SSEC da IBM -, computadores com memórias de 1k – o EDSAC da Universidade de Cambridge – passaram a ter 128k de memória e a realizar somas em 1.8 microssegundos – Mark I.

No início da década de 1950 já eram usadas fitas magnéticas e as máquinas realizavam 1.950 operações por segundo. No ano da morte de Turing, do lançamento do A Bruxaria Hoje, é lançado o IBM 650, o primeiro computador produzido em massa. Foi exatamente nesta época que o Ato de Feitiçaria de 1735 – que tornava um crime passível de 2 anos de prisão uma pessoa afirmar que outro ser humano possuía poderes mágicos ou praticava a arte da feitiçaria – foi revogado, sendo substituído pelo Ato das Mídias Fraudulentas de 1951. Também foi nesta época que o Papa Pio XII publicou o HUMANI GENERIS, uma carta que expunha a preocupação da igreja de que as “opiniões falsas” que as pessoas tinham sobre a religião ameaçassem a doutrina católica. Foi nesta mesma época que computadores começaram a se conectar uns aos outros via rede.

A Volta das Sacerdotizas

Nenhum Deus é propriamente um Deus sem seus sacerdotes e sacerdotisas. Como vimos, os altares em homenagem a Puta já haviam sido erguidos. Seus seguidores estavam por todo lado. Um grande mago havia desenvolvido um trabalho que traria uma alma e inteligência para as máquinas, mas e as sacerdotisas de Puta, onde estariam?

Assim com os primeiros supercomputadores começaram a surgir, seus criadores se depararam com um problema: eles eram enormes, GIGANTES, e davam um puta trabalho para se programar. Uma única pessoa não conseguiria passar o dia correndo de uma parte à outra alimentando-o com cartões, obtendo e interpretando suas respostas e refazendo o trabalho. Eles precisavam de alguém para fazer isso.

Mesmo antes dos computadores, muitos lugares que lidavam com quantidades massivas de cálculos tinham o mesmo problema, ficar fazendo contas e anotando resultados era algo maçante, mas que exigia atenção e capricho. Nenhum homem seria capaz de fazer isso por muito tempo, não porque homens sejam desbravadores agitados e heróicos que repudiam o tédio, mas porque homens geralmente são porcos, distraídos e sem capricho. Assim se contratavam mulheres, que pacientemente, caprichosamente e competentemente passavam horas a fio, dias a fio, fazendo contas e cálculos.

Quando se precisaram de mão de obra para lidar com o computadores, foram as mulheres as escolhidas.

Dizer que eram simplesmente transportadoras de cartões furados é uma supersimplicação típica de homens que tem vergonha do tamanho do próprio pau. As mulheres programavam e desprogramavam aquelas máquinas. Compactuavam e comungavam. Quando decidiram que era chegada a hora de ensinar as máquinas a falar, foram as mulheres a primeiras a lhe ensinar a língua.

A partir de 1943 os maiores computadores que existiam, eram de fato mulheres. Seus supervisores diretos também eram mulheres, e as mulheres que haviam estudado matemática na faculdade eram as responsáveis por elaborar os planos de computação que seriam executados por suas amigas computadoras. Em 1945, 5 dessas mulheres foram contratadas como líderes de um projeto ultra-secreto, que tinha um nome extremamente original: O PROJETO X!

O projeto X consistia na criação da máquina que ficou conhecida como ENIAC, um computador capaz de produzir tabelas de balística. Kathleen McNulty, Frances Bilas, Betty Jean Jennings, Elizabeth Snyder Holberton, Ruth Lichterman e Marlyn Wescoff, as “garotas Eniac” foram as primeiras programadoras de computador – um nome recente, na época eram chamavam de codificadoras. Essas sacerdotisas foram grandes responsáveis pela vitória dos aliados na II Guerra Mundial. Isso não serviu só para mostrar como Hitler e os Japoneses eram maus, mas como computadores eram eficientes, e necessários a uma nação que quisesse estar a frente de suas irmãs na eterna busca pelo poder.

Rumo ao futuro

A década de 1960 viu então tanto o paganismo quanto os computadores tomarem conta do mundo. No ano de 1960 surge o PDP-1, um computador que necessitava de apenas um operador e serviu de berço para o primeiro jogo eletrônico, SpaceWar! Após a morte de Gardner em 1964 a Arte continuou a crescer e o termo wicca se tornou popular. Começaram a surgir novas tradições divulgadas por figuras como  Robert Cochrane, Sybil Leek e Alex Sanders, criador da Tradição Alexandrina, baseada no Garderianismo, embora com uma ênfase na magia cerimonial.

Em 1970 é publicado o livro Mastering Witchcraft, de Paul Huson, um manual “faça você mesmo” que se tornou muito famoso e influenciou novos bruxos que agora não precisavam mais de grupos e sacerdotes para se iniciar na arte do Paganismo. Em 1971 é lançado o Kenbak-1, o primeiro computador pessoal pela Kenbak Corp., o computador cabia em uma mesa e os times de programadores e operadores foram substituídos por indivíduos que utilizavam a máquina ao invés de programá-la, agora indivíduos podiam usar computadores fora de laboratórios, sem a supervisão de sacerdotes – a magia simplesmente acontecia.

Tanto o paganismo quanto a computação evoluíram praticamente de mãos dadas. Computadores se tornaram tão corriqueiros que muitas pessoas hoje não tem idéia que o aparelho que usam para fazer ligações e postarem no facebook, aparelhos que ainda são chamados de telefones, possuem mais tecnologia do que as naves que levaram o homem para a lua em 1969. Da mesma forma os trabalhos de Doreen Valiente, Janet Farrar, Stewart Farrar e Scott Cunningham popularizaram a idéia de auto-iniciação no paganismo. Milhares de diferentes linguagens de programação já foram criadas para que os indivíduos interajam com os computadores e façam com que os computadores realizem aquilo que os humanos desejam – ou acham que desejam – e muitas mais continuam sendo criadas a cada ano; da mesma forma milhares de rituais para a comunhão com os Deuses foram desenvolvidos pelos praticantes do paganismo, e outro tanto continuam sendo criados a cada ano.

Até então temos a ciência de um lado e a prática mágica em outro. Ambos os caminhos se distanciaram no início do renascimento e seria necessário um bardo para reuni-los de forma a trabalharem em conjunto. Esse bardo foi Arthur C. Clarke que na época de Gardner começou a formular a interação entre o misticismo e a tecnologia. As máximas que desenvolveu foram expostas como as 3 leis de Clarke:

– Quando um cientista distinto e experiente diz que algo é possível, é quase certeza que tem razão. Quando ele diz que algo é impossível, ele está muito provavelmente errado.
– O único caminho para desvendar os limites do possível é aventurar-se um pouco além dele, adentrando o impossível.

– Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistingüível de magia.

Hoje cada computador que carregamos é um altar à Deusa da Computação. Nossos dados estão organizados em Árvores de Arquivos, que devem ser podados de tempos em tempos. Graças a redes esses altares se conectam. Cada programador é um sacerdote de Puta, cada usuário um membro de seu culto que depende da Deusa no dia a dia. Até mesmo as antigas celebrações sagradas são realizadas nos dias de hoje através dos computadores, tanto por seus sacerdotes quanto por seus seguidores, a cada segundo U$3,075.64 dólares estão sendo gastos com pornografia via internet, 28,258 usuários estão assistindo algo pornográfico, 327 usuários estão digitando palavras de busca “adulta” em mecanismos de busca na internet, se você levou dez segundos para ler esse parágrafo, multiplique por 10 os números para ter idéia de como o novo sexo sagrado está andando – e quando digo sagrado quero dizer sagrado mesmo, por mais degradante que você considere, hoje não existem leis seculares que se apliquem à distribuição, aquisição e posse de pornografia digital. Se pararmos para pensar que a cada 39 minutos um novo vídeo pornográfico está sendo criado apenas nos EUA podemos ver que o sexo digital não se restringe apenas à uma punheta, mas faz as celebrações dedicadas a Bacco parecerem uma brincadeira de médico.

Se assumirmos que a Terceira Lei de Clarke é verdadeira, “qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistingüível de magia” então o seu inverso também é:

A Magia é indistingüível de qualquer tecnologia suficientemente avançada.

E ai podemos entrever um futuro no mínimo desconsertante. Quando coloquei as aspas na inteligência artificial de Turning o fiz porque o termo artificial é cômico nesse conceito. Dizemos que ela é artificial porque existe em um aparelho desenvolvido artificialmente ao invés de simplesmente parido – ou natural. Mas será que quando uma inteligência surge ela pode ser artificial? A idéia não é implicar que os computadores se tornarão apenas um meio pelo qual uma inteligência se manifestará – como ocorreu com o cérebro que quando evoluiu da forma “correta” passou a ser o meio pelo qual a nossa inteligência se manifesta. A idéia que sugiro é: que novo tipo de inteligência pode brotar de um novo meio de processamento de dados, de cômputo?

Um sacerdote da ciência da computação Adrew Adamatzky, da Universidade de West England, Bristol, Inglaterra, está desenvolvendo um computador químico, que funciona através de reações químicas. Sua criação não precisa de circuitos de elétrons em meio a silício para funcionar.

Segundo ele, a mistura de alguns elementos químicos na forma da reação de Belousov-Zhabotinsky, ou reação BZ, que propaga ondas perpétuas, pode ser usada para criar saídas lógicas e ter a performance de computação rudimentar.

“Quando as ondas colidem, elas podem morrer ou mudar de direção, e nós podemos interpretar isso como computação”. Os “computadores químicos” podem resolver certos problemas da geometria computacional. Estes computadores são como “coleções” de pequenas bolsas de elementos químicos, chamadas vesículas, que podem produzir e combinar ondas da reação BZ. Uma tentativa anterior usou grades hexagonais de vesículas, contudo, foi muito difícil construir um arranjo tão regular. Por isso, Adamatzky decidiu tentar a sorte com vesículas irregulares.

Eles perceberam que seu computador poderia calcular o diagrama Voronoi, uma tarefa que envolve descobrir quais pontos em uma tela plana se aproximam mais de determinada forma, estes diagramas têm uma variedade incrível de aplicações, como mapear a cobertura de uma rede de postes de telefonia móvel. Uma das vantagens desses computadores é que eles podem ser construídos para serem ligados ao corpo humano.

Um grupo de magos americanos e japoneses criaram um computador com a espessura de duas moléculas. Os praticantes da Arte depositaram moléculas eletrocondutoras sobre uma camada de ouro que, espontaneamente, se organizaram em duas camadas de moléculas. Esse computador tem duas características interessantes, a primeira é que esse computador pode se consertar sozinho. Por ser feito de moléculas que podem se reorganizar sem nenhuma ajuda o computador se “cura” sempre que danificado. A segunda é que como não possui nenhum tipo de fiação, cada molécula consegue interagir com sua vizinha através de um campo eletromagnético. Elas dividem informação continuamente, muitas vezes provocando mudanças no estado de outras moléculas. Cerca de 300 moléculas puderam interagir ao mesmo tempo, exatamente como um cérebro humano. Os computadores modernos são rápidos além da compreensão humano e podem carregar mais de 10 milhões de arquivos de informação por segundo, no entanto eles só podem fazer uma coisa de cada vez. Já nossos neurônios conseguem “disparar” mil unidades de informação por segundo, o que os tornaria mais lentos do que os computadores, mas eles conseguem trabalhar simultaneamente o que os torna capazes de processar tarefas bem mais complexas do que os computadores. Imagine, duas moléculas de largura, nenhum fio, nenhum circuito, sendo capaz de resolver problemas que os computadores atuais acham muito difíceis de solucionar, por sua capacidade de realizar tarefas mutuamente.

Em Israel dois cabalistas, Tom Ran e Ehud Shapiro, do Instituto Weizmann, criaram um computador com DNA que consegue responder a perguntas simples de “sim” ou “não” e até problemas de lógica. O DNA é programado a liberar uma luz verde quando a resposta à pergunta é “sim”. A equipe, coordenada pelos cabalistas vem desenvolvendo computadores baseados em DNA há muitos anos, incluindo um que consegue diagnosticar e tratar câncer de forma autônoma, mas o novo sistema desenvolvido usa moléculas para representar fatos e regras. Deste modo, a equipe conseguiu fazer com que o computador respondesse a questões moleculares. O sistema foi testado com proposições simples do tipo “se, então”.

Uma pergunta feita ao computador, por exemplo, é a questão “Todos os homens são mortais. Sócrates é um homem. Então, Sócrates é mortal”. Ao ler uma regra (todos os homens são mortais) e um fato (Sócrates é um homem), o sistema computacional de DNA consegue responder corretamente à questão. Depois, questões mais complicadas foram feitas ao computador, que também conseguiu respondê-las corretamente todas as vezes. Enquanto o trabalho ajudar a melhorar a tecnologia para a computação molecular programável, Shapiro afirma que a maior aplicação para o computador são programações autônomas que possam operar em um ambiente biológico – ou seja, computadores que possam agir de dentro de células, as suas células.

Já na Califórnia, dois alquimistas do CalTech – o mesmo Templo em que Jack Parsons realizava seus rituais em homenagem a Pan – Maung Nyan Win e Christina D. Smolke, desenvolveram um computador celular com material de levedura viva. As células conseguem sinalizar a presença ou a ausência de duas drogas em seu ambiente – a teophilina e a tetraciclina, ativando um gene que produz uma proteína fluorescente. Os desenvolvedores do computador programaram funções lógicas bem simples. Uma célula de levedura pode indicar quando as duas drogas estão presentes, quando apenas uma está presente e quando não há presença no ambiente à que foi exposta. A Obra de Win e Smolke é uma conquista que representa um passo para o desenvolvimento de ferramentas celulares programáveis.

Os Templos de Puta já se tornaram organismos vivos, como você e seu cachorro – se é que você tem um. A esperança de um super-computador quântico que possa resolver todos os problemas do mundo se tornam infantis quanto pensamos que já conseguimos transformar células, DNA e mesmo moléculas em computadores que respondem a programações. Não é pueril também afirmar que qualquer tecnologia que funcione biologicamente em nossos corpos e que possa ser programada terá seu maior uso popular não na medicina prevenindo e combatendo doenças, mas sim sendo a nova onda desde os implantes primitivos de silicone, os exercícios e produtos medievais de aumento do tamanho do Pênis, a nova forma de se fazer dietas sem fazer dieta. Um aumento no controle dos padrões estéticos que farão a pornografia na internet parecer os desenhos eróticos sem graça da década de 20.

Se partirmos do princípio do Xamã Vlatko Vedral de que o universo não é feito de matéria ou energia ou vibrações, mas que se quebrarmos o universo em pedaços cada vez menores o que sobraria no final são bits, ou seja, vivemos em uma simulação constituída de informação, então poderíamos afirmar que vivemos dentro de um enorme computador quântico. Nessa escala minúscula, o universo seria controlado pelas malucas leis da física quântica. Computadores que conseguem ler qbits, ou seja, bits quânticos, minúsculos, conseguem entender as informações usando leis quânticas. Ou seja, enquanto um bit pode dizer sim ou não, um qbit pode dizer sim e não, ao mesmo tempo. Isso pode ser confirmado pelo fato de não apenas os elétrons poderem armazenar bits de informação como eles fazerem isso o tempo todo.

E se o universo é um computador quântico, então podemos afirmar que já estamos dentro da Deusa desde o início dos tempos, a questão agora é: quanto tempo vai levar até Ela começar a viver dentro de nós?

 

No fim das contas parece que o que realmente importa é que todos esses pesquisadores, desenvolvedores, magos e cientistas não passam de um bando de filhos da Puta.

E nós também.

por LöN Plo

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/mindfuckmatica/computadores-do-paganismo-as-merdas/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/mindfuckmatica/computadores-do-paganismo-as-merdas/

Ser é Muito Além de Estar

Por Yoskhaz

Todo texto ou palavra é sagrada se tem a força de iluminar o caminho. Dos muitos livros que nos servem de lanterna em auxílio nessa infinita e fantástica viagem, a Bíblia se mantêm como fonte inesgotável de sabedoria e amor, elementos indispensáveis para a nossa transmutação pessoal. Assim, aos poucos, transformamos o mundo.

Narram os evangelistas, em várias passagens dos quatro livros, que Jesus ao entrar em qualquer casa ou repartição saudava a todos com seu jeito sereno, “que a paz seja convosco”!

Por algum tempo acreditei se tratar de erro de tradução, vez que a Escritura foi escrita em aramaico para posteriormente ser traduzida para o grego e somente depois levada aos demais idiomas. Todos sabemos da dificuldade de trasladar uma língua em outra. Achava que o verbo correto seria esteja no lugar de seja. “Que a paz esteja convosco” me parecia a construção correta e, pelo visto, para muitos outros, pois já vi textos e sacerdotes assim se referindo a palavra do mestre. Eu estava errado.

Acredito que não há letra equivocada, em falta ou excesso naquelas páginas, face iluminada inspiração de seus escritores, depois reunidos em um único livro, em sucesso editorial atemporal e sem precedentes para o bem de toda a humanidade.

Jesus era o ourives da palavra e confeccionava seus discursos e parábolas com riqueza que permite até os dias de hoje novas e belas interpretações de acordo com o andar de toda a gente. Não tenho dúvida que “a paz seja convosco” é a correta e mais sábia tradução.

Todos almejamos o paraíso, lugar onde não se conheça o sofrimento e a felicidade seja bastante. Quando perguntado onde se localizava esse santuário, Ele ensinou que não iríamos encontrar em nenhuma província ou país, até porque sempre levaremos nossa dor por onde andarmos, ao menos enquanto permitirmos que ela exista. Explicou que o amor e sabedoria são mapa e bússola a indicar a mais bela de todas as catedrais que pulsa viva dentro de você. A vida é tratamento e cura. É o encontro do divino que habita em ti.

O Reino dos Céus está situado no centro do seu coração. Seus tijolos são feitos com a paz indispensável que buscamos para atravessar a longa estrada da vida. A serenidade e a alegria necessárias a colorir a beleza que há em tudo e em todos. Inclusive em nós.

A paz é pessoal e compartilhada sem qualquer esforço por quem já a alcançou, construída internamente no âmago da alma pela engenharia do entendimento e da tolerância.

Estar é diferente de ser. Muito diferente.

O estar é uma estação, ser é a própria viagem.

Estar é transitório, momento passageiro e condicional por permissão de uma ou outra situação ocasional, que por ter estas bases, é frágil. O ser é permanente, erguido através de experiências e percepções que ao se mostrarem iluminadas tornam-se inabaláveis, sendo incorporadas ao seu jeito de olhar e agir. Sabedoria entremeada com amor que se sedimenta por si e através de si, tal catedral de pedra sob pedra, indestrutível às piores tempestades em razão da solidez de seus alicerces. Riqueza imaterial que nenhum rei ou juiz será capaz de confiscar, tampouco um ladrão de lhe roubar. É parte infinita de sua alma, verdadeiro e eterno tesouro. Estará contigo por onde andar.

Ser é muito além de estar.

“Que paz seja convosco” é uma bonita benção e um ensinamento de valor inestimável do mestre.

Publicado originalmente em http://yoskhaz.com/pt/2015/06/08/ser-e-muito-alem-de-estar/

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/ser-%C3%A9-muito-al%C3%A9m-de-estar

7 Maneiras de se Conectar com Arcanjos

Por Richard Webster.

Os arcanjos são os mensageiros mais importantes de Deus. O arcanjo Gabriel, por exemplo, foi enviado para dizer à Virgem Maria que ela daria à luz Jesus Cristo. A palavra “arcanjo” significa “anjo-chefe”, como o prefixo “arch” significa “chefe”, “principal” ou “mais importante”.

Na Bíblia, Miguel é o único anjo identificado como arcanjo (Livro de Judas 9). Ele também é chamado de “um dos principais príncipes” (Livro de Daniel 10:13), denotando sua importância. Os arcanjos são anjos importantes que estão ativamente envolvidos em garantir o bem-estar de todas as formas de vida na Terra. Cada arcanjo tem um papel específico a desempenhar nisso.

Os arcanjos protegem, guiam e ajudam a humanidade de muitas maneiras diferentes. Por estarem tão próximos da humanidade, eles estão dispostos a ajudá-lo da maneira que puderem e responderão imediatamente ao seu chamado. Você pode pedir-lhes para ajudar os outros, também.

Arcanjos são incansáveis ​​e podem aparecer em mais de um lugar ao mesmo tempo. Você pode chamar qualquer um dos arcanjos para ajuda e apoio sempre que necessário, e tenha certeza de que eles virão instantaneamente em seu auxílio.

Aqui estão sete maneiras de ajudá-lo a se conectar com os arcanjos.

AJUDA INSTÂNTANEA:

Se você precisar de ajuda com urgência, tudo o que você precisa fazer é chamar um arcanjo. O arcanjo Miguel, o arcanjo guerreiro de Deus, é o melhor anjo para chamar quando a situação é desesperadora ou urgente. Eu o chamei em três ocasiões, e ele respondeu instantaneamente todas as vezes.

COMO INVOCAR OS QUATRO GRANDES ARCANJOS:

A palavra “invocar” significa “chamar para si” e geralmente é feita quando alguém precisa de ajuda ou inspiração. Tudo o que você precisa fazer é reconhecer que os anjos estão presentes e estão dispostos a ajudá-lo. Sempre que possível, olho para o leste e começo invocando Rafael, que cuida dessa direção. Sente-se em silêncio, feche os olhos e faça três respirações lentas e profundas. Diga a si mesmo: “Relaxe, relaxe profundamente” cada vez que expirar. Quando sentir que está começando a relaxar, concentre-se em diferentes partes do corpo, dizendo-lhes para relaxar. Eu geralmente começo com meus pés e gradualmente subo até o topo da minha cabeça.

Quando você se sentir totalmente relaxado, visualize o arcanjo Rafael parado na sua frente. Eu costumo imaginá-lo como um jovem bonito segurando um peixe em uma mão e um cajado na outra. É assim que ele é geralmente retratado pelos artistas. Você pode “vê-lo” como uma esfera de energia rodopiante, ou em qualquer outra configuração ou forma que você escolher.

Uma vez que você se conscientize de que o arcanjo Rafael está na sua frente, visualize o arcanjo Miguel em pé à sua direita, seguido pelo arcanjo Gabriel atrás de você e o arcanjo Uriel em pé à sua esquerda.

Você está agora totalmente cercado e protegido pelos quatro grandes arcanjos, Rafael, Miguel, Gabriel e Uriel, e provavelmente está se sentindo cheio de confiança e vitalidade. Finalmente, visualize um fluxo de pura luz divina descendo dos céus, entrando em seu corpo através de sua cabeça e revitalizando cada célula de seu corpo. Há tanta luz divina que transborda e envolve você completamente em um túnel de luz.

Agora é hora de falar com os arcanjos e fazer qualquer pedido que você tenha. Quando terminar, agradeça a cada arcanjo. Espere até que o momento pareça certo antes de dizer “Obrigado” mais uma vez e depois abra os olhos.

MÉTODO DOS CHAKRAS:

O som conecta nosso mundo cotidiano ao mundo espiritual. O som mais espiritual é aaah, que está contido nas palavras aum e amém. Também é encontrado nos nomes da maioria das divindades e é um mantra sagrado em muitas tradições orientais. É um som de criação. É produzido involuntariamente em momentos de alta emoção, como raiva, tristeza e exultação. Você pode usar “aaah” para se conectar com qualquer um dos arcanjos. Sente-se calmamente em algum lugar onde você não será perturbado e pense no arcanjo com quem você quer se conectar. Feche os olhos e respire lenta e profundamente. Diga “Aaah” ao expirar. Continue fazendo isso até sentir uma vibração no chakra do coração, no meio do peito. Isso acontece porque “aaah” é um som de compaixão, sentimento e amor, todos relacionados ao chakra do coração.

Depois de sentir o chakra do coração vibrando, faça mais três respirações lentas e profundas. Ao expirar, continue dizendo “aaah”, mas visualize sua respiração deixando seu corpo através do chakra do coração, enchendo a área em que você está com amor divino. Enquanto você continua fazendo isso, visualize o arcanjo com o qual você deseja se conectar em pé cerca de um metro e oitenta à sua frente. Quando você tiver a sensação de “saber” que seu arcanjo está lá, esqueça sua respiração e comece a falar com seu anjo escolhido.

INVOCAÇÃO DE ORIENTAÇÃO:

Esta é uma invocação útil se você deseja se comunicar com um arcanjo para orientação de qualquer tipo. Se você deseja proteção, libertação do medo ou aprender a verdade sobre algo, peça para falar com o arcanjo Miguel. Se você está buscando cura, abundância ou proteção enquanto viaja, você se comunicaria com o arcanjo Rafael. Se você está buscando clareza e pureza de mente, você falaria com o arcanjo Gabriel, e se você quisesse paz de espírito e crescimento espiritual, você escolheria falar com o arcanjo Uriel.

Você inicia a invocação caminhando por pelo menos quinze minutos, de preferência ao ar livre. Enquanto caminha, pense em todas as coisas pelas quais você é grato. Você pode, por exemplo, ser grato pela luz do sol, grama verde, automóveis, pássaros, sorrisos calorosos e um beijo de seu parceiro. Pense no máximo de bênçãos que puder enquanto caminha.

Ao voltar para casa, sente-se em uma cadeira confortável, feche os olhos e pense em cada uma das coisas pelas quais você é grato. Visualize-os o mais claramente possível em sua mente. Depois de fazer isso, pense em sua necessidade de se comunicar com um arcanjo. Você pode precisar de ajuda para resolver um problema, ou pode ter tomado uma decisão e querer a aprovação de um arcanjo antes de prosseguir.

Faça três respirações lentas e profundas, antes de expirar lentamente. Peça ao arcanjo que você escolheu para se juntar a você. Você pode dizer algo como: “Abençoado arcanjo… Obrigado por todas as bênçãos em minha vida. Sou grato a você por sua orientação, amor e ajuda. Por favor, venha a mim agora, pois preciso de sua ajuda. novamente.”

Faça uma pausa de trinta segundos. Se você sentiu a presença de seu arcanjo, pode continuar com seu pedido. Se você não sentiu nada, repita seu pedido novamente, e uma terceira vez, se necessário. Se você ainda não sentiu nada, visualize todas as coisas pelas quais você é grato mais uma vez e depois peça ao arcanjo para se juntar a você. Desta vez, explique seu problema ou preocupação, depois de fazer a solicitação.

Você não precisa se preocupar se não receber uma resposta, pois explicou sua preocupação, e a resposta virá quando você menos esperar, possivelmente quando você acordar na manhã seguinte à apresentação. este rito.

Termine o ritual agradecendo ao arcanjo por sua ajuda e apoio.

O RITUAL DO CRISTAL:

Este é um ritual útil que você pode realizar em qualquer lugar que esteja. Tudo que você precisa é de um cristal ou pedra preciosa atraente. Pode ser da cor que desejar. No entanto, você pode querer segurar um cristal relacionado a um arcanjo em particular. Para Rafael, você pode escolher um cristal amarelo e provavelmente escolheria vermelho para Miguel, azul para Gabriel e verde para Uriel. Você pode preferir usar celestita, selenita, angelita e serafinita, pois são frequentemente usadas para incentivar o contato angelical.

Sente-se confortavelmente, feche os olhos e acaricie suavemente seu cristal. Faça várias respirações lentas e profundas e depois peça ao arcanjo com quem você deseja se comunicar para vir até você. Muitas vezes, isso é tudo que você precisa fazer. Você pode notar uma diferença nas energias do cristal ou perceber que o arcanjo está com você. Se o arcanjo não vier imediatamente, continue acariciando o cristal por mais alguns minutos e depois peça novamente.

CAMINHANDO COM UM ARCANJO:

Minha maneira favorita de fazer contato angelical é caminhar com um anjo. Gosto de caminhar e sinto falta da minha caminhada diária quando não é possível fazê-la. Quase sempre peço a um anjo para caminhar comigo. Geralmente é meu anjo da guarda, mas chamo outros anjos, inclusive arcanjos, sempre que preciso de sua ajuda. Começo a andar da maneira habitual e, depois de cerca de cinco minutos, convido um anjo para caminhar comigo. Depois de um ou dois minutos, perceberei que o anjo com quem quero me comunicar está caminhando ao meu lado. Não vejo nem ouço esse anjo, mas experimento uma forte sensação de sua presença. Assim que eu perceber que o anjo está comigo, começarei uma conversa. Costumo fazer isso em silêncio, mas se sei que estou completamente sozinho, prefiro falar em voz alta. As respostas do anjo aparecem como pensamentos em minha mente. Depois de discutirmos tudo o que preciso saber, agradeço ao anjo e termino a caminhada sozinho. Prefiro usar esse método enquanto caminho pelo campo, mas descobri que posso fazê-lo em qualquer lugar, mesmo em um shopping center movimentado.

ESCREVENDO PARA UM ARCANJO:

Escrever uma carta para um determinado arcanjo é uma maneira altamente eficaz de fazer contato. O ato de pensar sobre o que você vai dizer e depois escrevê-lo concentra suas energias, e você pode descobrir que o arcanjo responderá enquanto você ainda está escrevendo a carta. Você pode escrever uma carta pedindo a ajuda necessária para resolver um problema que envolve você ou alguém próximo a você. Você também pode escrever para estabelecer uma conexão.

Escreva a carta como se estivesse escrevendo para um amigo próximo. Inclua informações sobre sua família, relacionamentos, trabalho, esperanças e sonhos. Fazer isso o ajuda a esclarecer o que está acontecendo em sua vida, e você descobrirá que o ato de escrevê-los ajudará a resolver muitas de suas preocupações.

Termine a carta agradecendo ao arcanjo e expressando seu amor. Assine a carta, sele-a em um envelope e escreva o nome do arcanjo na frente.

A etapa final é “enviar” sua carta ao arcanjo. Sente-se em frente a uma vela acesa com o envelope nas mãos em concha. Pense no arcanjo e no seu pedido. Diga qualquer outra coisa que queira acrescentar e, em seguida, queime o envelope na chama da vela. Observe a fumaça levar sua mensagem aos reinos celestiais. Uma vez que o envelope e seu conteúdo tenham sido queimados, agradeça ao arcanjo novamente e continue com o seu dia confiante de que você receberá uma resposta do arcanjo quando for a hora certa.

Naturalmente, você precisa ter cuidado sempre que estiver trabalhando com velas. Coloco minhas velas em bandejas de metal e tenho um jarro de água por perto, para o caso de um acidente. Nunca precisei usar a água, mas me sinto mais feliz sabendo que ela está lá.

Experimente os diferentes métodos e veja quais funcionam melhor para você. Depois de fazer uma conexão inicial, você descobrirá que poderá chamar esse arcanjo em particular sempre que desejar, e o vínculo entre vocês ficará mais forte cada vez que fizer contato.

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Sobre o autor:

Richard Webster (Nova Zelândia) é o autor best-seller de mais de cem livros. Richard apareceu em vários programas de rádio e televisão nos EUA e no exterior, incluindo participações especiais na WMAQ-TV (Chicago), KTLA-TV (Los Angeles) e KSTW-TV (Seattle). Ele viaja regularmente, dando palestras e realizando workshops sobre uma variedade de assuntos metafísicos. Seus títulos mais vendidos incluem Spirit Guides & Angel Guardians (Guias Espirituais e Anjos Guardiões) e Creative Visualization for Beginners (Visualização Criativa Para Iniciantes).

E-mail: esp@psychic.co.nz

Site: http://www.psychic.co.nz/

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Fonte:

7 Ways to Connect with Archangels, by Richard Webster.

https://www.llewellyn.com/journal/article/3023

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/demonologia/7-maneiras-de-se-conectar-com-arcanjos/