Enteogenos e Magia – Vinicius Rosa

Bate-Papo Mayhem 233 – 14/09/2021 (Terça) 21h30 Com Vinicius Rosa – Enteogenos e Magia

Os bate-Papos são gravados ao vivo todas as 3as, 5as e sábados com a participação dos membros do Projeto Mayhem, que assistem ao vivo e fazem perguntas aos entrevistados. Além disto, temos grupos fechados no Facebook e Telegram para debater os assuntos tratados aqui.

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#Batepapo

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Financiamento coletivo trás obra completa de Austin Osman Spare em português

Imagine um livro reunindo as obras (conhecidas e desconhecidas) de Austin Osman spare. E não estamos falando apenas dos textos mas dos desenhos e pinturas – todas em alta definição. Todos os textos traduzidos de maneira primorosa para o português em uma edição de mais de 500 páginas, capa dura e tudo mais que o avô da Magia do Caos merece.

livro spare

Calma, segurem seus sigilos, o livro já está em pleno processo de materialização através da Oficina Palimpsestus.

Eles reuniram uma equipe de profissionais que se dedicaram a uma pesquisa minuciosa para trazer para você, num volume único, os escritos de Spare sobre magia e suas reflexões filosóficas, além, é claro, de ilustrações, desenhos e pinturas.

desenho spare

O livro “Arte e magia do caos: obra reunida de Austin Osman Spare” terá encadernação em capa dura, será impresso em papel Pólen, que promove uma experiência suave de leitura, e em papel Couché, para destacar a qualidade das imagens, além das mais de 500 páginas. Uma obra que vai deixar a Bíblia da sua avó, e a sua própria avó, com inveja!

O projeto foi lançado no Catarse dia 10/10. Você pode ver mais detalhes e os valores visitando a página deles aqui.

A previsão de impressão para o livro e as recompensas de quem participar é o final de fevereiro de 2021.

Dividido em três partes, a primeira traz dois ensaios: um, escrito por Rogério Bettoni, introduz o leitor à vida e obra de Austin Osman Spare e o outro, assinado por Matt Lee, doutor em filosofia pela Universidade de Sussex e professor de filosofia da Universidade de Brighton, que faz uma aproximação entre o sistema mágico de Spare e a filosofia dos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari.

A segunda parte contempla toda a obra pública de Spare, tanto escrita quanto visual, e um caderno com ilustrações e reproduções de suas obras. A terceira parte é dedicada à cronologia e notas.

E não é só isso, como um bônus eles também estão publicando as CARTAS SURREALISTAS PARA PREVISÃO DE CORRIDAS [Obeah Cards], um baralho de 25 cartas feito por Spare para prever resultado de corridas de cavalo. As cartas foram feitas para sua amiga Ada Millicent Pain, que o acolheu depois que seu estúdio foi bombardeado pelos nazistas.

cartas obeah

As cartas serão uma recompensa exclusiva para os apoiadores do projeto no Catarse, e você terá a opção de escolher um conjunto de cartas numeradas de 25 a 50, como criadas por Spare, ou sem numeração para que você possa usá-las para prever resultados de diferentes eventos. Nas palavras de Phil Baker, biógrafo do autor: “As cartas surrealistas de previsão […] são uma obra de arte baseada no jogo; uma rara combinação. Nesse sentido, a única comparação real no cânone da história da arte – conceitual, um tanto jocosa, mas supostamente prática – só poderia ser o sistema de roleta de Marcel Duchamp”.

Mas o que exatamente você encontrará no livro?

* Terra Inferno [Earth Inferno] (1905)
* Livro dos sátiros [A Book of Satyrs] (1907)
* Livro dos prazeres (amor-de-si): psicologia do êxtase [The Book of Pleasure (self-love) – The Psychology of Ecstasy] (1909-1913)
* O foco da vida: murmúrios de Aaos [The Focus of Life: The Mutterings of Aaos] (1921)
* Anátema de Zos: sermão aos hipócritas [The Anathema of Zos] (1927)
* O livro do repugnante êxtase [The book of Ugly Ecstasy] (1996)
* Livro de desenhos automáticos [A Book of Automatic Drawing] (1972)
* O vale do medo [The Valley of Fear] (2008)
* Sabá das bruxas [The Witches’ Sabbath]
* Mente a mente e como [Mind to Mind & How] e Cartas de previsão de corridas surrealistas [Surrealist Racing Forecast Cards]
* O livro de Zos vel Thanatos [The Book of Zos vel Thanatos]
1. Logomaquia de Zos [The Logomachy of Zos]
2. Grimório zoético de Zos : a fórmula de Zos vel Thanatos [The Zoetic Grimoire of Zos (The Formulae of Zos vel Thanatos)]
3. A palavra viva de Zos [The Living Word of Zos]

O livro contará ainda com um caderno especial de imagens de alta resolução com dezenas de ilustrações e pinturas de Spare.

quadros spare

Quer uma belezinha dessas na sua estante? Clique aqui e veja como garantir a sua!

👌

Puta merda!

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/financiamento-coletivo-tras-obra-completa-de-austin-osman-spare-em-… […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/popmagic/financiamento-coletivo-tras-obra-completa-de-austin-osman-spare-em-portugues/

Enteogenos e Magia – Priscilocibina

Bate-Papo Mayhem #249 – gravado dia 16/11/2021 (Terça) 21h30 – Com Priscilocibina – Enteogenos e Magia

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Hierarquia, Dualismo e Evolução Espiritual

Eu não acho que exista um problema no dualismo ou na hierarquia em si, como ideia. São meras sistematizações. Há muitos exemplos em que se pode utilizar esses sistemas com sucesso e inclusive eles ajudam para a organização.

Meu ponto é que pode ser que em alguns casos essa ideia traga problemas. Por exemplo, como se tornou recorrente citar Platão desde o lançamento de “Epoch: The Esotericon & The Portals of Chaos”, seu “Mundo das Ideias” deu origem a um tipo de idealismo que dividiu o mundo em dois: um mundo espiritual e melhor, e outro material e pior; uma alma superior e um corpo inferior, etc.

Um dos problemas é que o universo criado por Platão é estático, em que tudo tem o seu lugar determinado. Essa ideia era inclusive usada para reforçar o sistema de castas e a escravidão. Claro que seria um pouco precipitado culpar a hierarquia e os dualismos por causa disso, considerando-os fadados ao conservadorismo e preconceitos. Eu não acho que seja esse o caminho.

Essa reflexão serve para alertar o magista sobre o seguinte: caso ele opte por utilizar um sistema idealista e dualista, derivado das tradições neoplatônicas (isso resume praticamente todo o ocultismo tradicional, especialmente os sistemas derivados das religiões judaico-cristãs como a cabala), ele deve ficar atento para não cair nas armadilhas que o dualismo pode gerar.

Evidentemente, cada sistema tem suas armadilhas, pontos fracos e problemas. O próprio caoísmo não é isento disso. Quem é caoísta pode cair na armadilha de confundir a imaginação com o mundo dos sentidos, de acreditar que tem superpoderes realmente extraordinários a ponto de comandar o universo, dentre outras conclusões precipitadas.

Não há respostas definitivas para essas questões, mas para concluir até onde pode ir, o caoísta deve testar: no seu dia a dia, a sua imaginação é tão poderosa a ponto de transformar completamente a realidade lá fora? E até que ponto a imaginação pode alterar suas emoções? Ele é realmente o rei do universo?

Há outras problemáticas em jogo. O magista não é somente mente; ele é corpo. O seu corpo possui aspectos fisiológicos que não devem ser ignorados. Os hormônios influenciam diretamente em suas emoções, não importa o quão forte seja sua mente. Ele precisa de comida, precisa de coisas materiais. Não irá transformar o mundo somente com o poder da mente. Esse poder existe, mas deve ser aliado ao próprio corpo e à realidade material lá fora.

Corpo e mente, mente e espírito, todas essas coisas estão tão conectadas que é difícil separá-las. Elas devem ser vistas e transformadas em sua totalidade. A magia deve ser realizada de forma holística e não pela metade.

Muitos sistemas de magia neoplatônicos que clamam ser o espírito superior à matéria não estão “errados”. Eles são verdadeiros, mas somente dentro de seus modelos. Lá eles funcionam, contanto que se enxergue esse dualismo somente como uma sistematização.

A própria Magia do Caos, ao falar de “caos” não está realmente clamando que não existem padrões na natureza e que eles são somente inventados pela mente. Nós não sabemos se há padrões, falta de padrões ou uma mistura dos dois. Porém, como não é possível viver ou fazer magia fora de um modelo, os caoístas geralmente optam por modelos que mostram uma realidade mais caótica, pois abre um universo de possibilidades. Em suma, cada modelo tem seus altos e baixos.

Claro que quando eu digo que não é possível fazer magia fora de um modelo, nem mesmo isso deve ser visto como uma afirmação absoluta. Eu uso até mesmo essa colocação meta-paradigmática como um paradigma.

Mas você não precisa ficar louco ao estudar teoria da magia, tentando entender o que realmente é a magia e como ela atua. Isso é difícil de descobrir, por isso no caoísmo nós optamos por ser pragmáticos: use a teoria ou a prática que te gere resultados interessantes.

O que é um resultado interessante? Isso cada magista deve descobrir. Cada um é livre para usar magia para o que bem entender. Sempre há os moralistas defendendo que magia só deve ser usada para A e não para B. Algumas vezes pode ser que eles estejam certos, mas os magistas também merecem a liberdade de explorar um pouco o que funciona até chegarem em suas próprias respostas.

E aqui nós caímos novamente na questão da hierarquia. Um sistema hierárquico já te deu estas respostas e já te colocou num ranking. Esse sistema te indicou o caminho que você deve seguir para “evoluir espiritualmente”, seguindo um passo a passo mais ou menos determinado. Isso é válido. Esse sistema pode ser usado com sucesso. Mas não é a única forma de fazer as coisas. Provavelmente não é a melhor, pois o que é melhor pode variar de pessoa para pessoa.

Eu particularmente não me sinto tão à vontade ao pensar em termos de melhor ou pior na magia. Para mim, a Magia do Caos permite descobertas, transformações e sobretudo autoconhecimento. Para alguns (note, não para todos!), é difícil haver autoconhecimento quando você já tem tudo pronto numa cartilha e não tem a liberdade de refletir, de questionar e de construir suas perguntas e respostas. Porém, cada pessoa é diferente e cada um tem a liberdade de conhecer a si mesmo da forma que bem entender e não precisa dar satisfações.

Acredito que a maior parte dos desentendimentos que existem no ocultismo é porque cada magista clama ter encontrado a forma “melhor” de fazer magia. A meu ver, não há uma forma melhor, pois cada indivíduo é único. Ou se realmente existe um caminho melhor, é difícil definir o que ele realmente seja através de nossa razão e de nossos sentidos. Essa primeira falha inerente à natureza humana é chamada de “ídolos da tribo” por Francis Bacon: tanto o intelecto quanto as percepções sensoriais estão sujeitos a enganos.

Alguns magistas podem dizer: “Eu li mais livros” ou “Consigo mover objetos com a mente” ou “Meus feitiços sempre funcionam” ou “Sou iniciado em dez Ordens diferentes” ou “Faço mais doações para instituições” ou “Sou ativo politicamente”.

Todas essas coisas são ótimas, mas eu acredito que não é nada disso que defina em absoluto o nível de magia, nível espiritual ou mesmo o caráter de uma pessoa. Simplesmente porque eu prefiro tentar olhar para a realidade como, por natureza, isenta de hierarquias. Para mim, pelo menos a maior parte dessas hierarquias foram artificialmente inventadas por nós.

Alguém pode clamar: “O certo e o errado, o bem e o mal, eles são absolutos, não são construções históricas e sociais”. Existe uma chance de isso ser verdade. Mas mesmo se for, quem realmente consegue diferenciar essas coisas se a mente e o mundo são tão complexos e existem tantos ídolos distorcendo nosso entendimento?

Vamos supor que, na maior parte das situações, sejamos capazes de diferenciar o bem e o mal. E provavelmente nós somos. Mas quem disse que isso é uma competição?

Há essa mania de competir, seja no mundo ou na magia. E isso não me surpreende. Somos incentivados a competir desde o colégio, com as notas. Na universidade, no trabalho. E os sistemas e teorias da magia foram construídos no interior de um mundo competitivo, que funciona como um jogo.

O jogo da magia é: “vamos evoluir espiritualmente. Vamos ver quem ganha. Vejamos quem é o mais bondoso e o mais poderoso”. Eu não sou contra competições saudáveis. Porém, como eu já mencionei antes, pode haver o risco de transformar uma boa intenção em algo perigoso, como a ideia de que existem os “escolhidos ou iniciados sábios” e a “massa ou o gado ignorante”. Um dualismo, a meu ver, bastante negativo. Em vez de desejar destruir a dualidade, queremos fazer parte dos “sábios” e manter a dicotomia. Como disse Paulo Freire, o sonho do escravo não é acabar com a escravidão, mas tornar-se um senhor que possui escravos.

Acho que cada pessoa deve ser livre para explorar a magia no seu ritmo. Ir descobrindo a si e ao mundo pouco a pouco, de forma natural e divertida. O magista não precisa sacrificar a si mesmo pelo bem do mundo (pode ajudar os outros, mas sem prejudicar a si) ou treinar meditações ou feitiços horas por dia pelo desejo de se tornar “mais poderoso”.

Claro, como foi dito, na magia queremos ganhar o jogo: ser o mais sábio, o mais poderoso, o mais bonzinho, o mais qualquer coisa, contanto que seja “o mais”. Vamos ver quem leu mais livros, quem ganha as discussões, quem dobra o mundo material a seus pés com a magia ou quem é o redentor do mundo, para se tornar um herói e receber a aprovação dos outros.

Evidentemente, quem se diverte jogando o jogo, pode continuar, principalmente se os resultados forem positivos. Se a competição estimula o magista a estudar, praticar ou até a ser mais gentil, que legal! Então use a hierarquia de forma positiva. Isso é possível.

No entanto, devo dizer que eu, particularmente, prefiro tentar não jogar tanto o jogo da hierarquia. Não acho que “os fins justificam os meios”. Não acredito que seja justificável fazer as coisas certas pelos motivos errados (considerando o que é “certo” e “errado” dentro desse modelo).

Ainda acho mais válido simplesmente dizer: que tal deixarmos de lado a ideia de evolução espiritual? Para mim essa é uma ideia de Darwin que faz sentido na biologia (e até mesmo na biologia ela não é absoluta). A evolução não necessariamente se aplica tão bem ao ocultismo. A propósito, no livro “A Origem das Espécies” Darwin deixa claro que aplicou a teoria de Malthus (que posteriormente se mostrou incorreta) para desenvolver a ideia de luta pela sobrevivência. Não sei porque muitos colocam um status quase divino nas ideias de cientistas como Darwin e Einstein, já que a história nos mostra que tais teorias irão eventualmente se mostrar não tão corretas no futuro ou serão no mínimo complementadas por outras. São hipóteses verificadas pela experiência, mas que não descrevem de forma absoluta a realidade. Não há nenhuma razão, tampouco, para aplicar as teorias atualmente aceitas (que são temporais) para o que ocorreria ao nosso espírito, que, segundo se costuma dizer, seria atemporal.(Só abrindo um parênteses: isso não significa que devemos deixar de dar crédito à ciência.

Devemos considerá-la como divulgadora de verdades provisórias até que surjam teorias melhores. O método científico não é perfeito, mas é bom o bastante para confiarmos nele, com os devidos cuidados. É algo vivo e em constante transformação, sempre desafiando a si mesmo).

Não acho que devemos desesperadamente tentar fazer o bem para outras pessoas a custa de nossa saúde e sanidade ou estudar magia loucamente e sem parar para “estar na frente dos outros”. Deve haver um equilíbrio. Eu acho que os magistas formam um grupo múltiplo, vejo beleza na diversidade. Ninguém é melhor, mais poderoso, mais sábio ou mais “espiritualmente avançado” do que ninguém. As pessoas são apenas diferentes.

Claro que sempre podemos melhorar a nós mesmos, mas até essa ideia de “melhorar” a si não precisa ser vista de forma absoluta ou fatalista. Nós estamos sempre aprendendo, mas também desaprendendo. Acho duvidosa essa ideia de que gradativamente nos tornamos cada vez melhores. Até a evolução na biologia frequentemente atua de forma aleatória. Uma mutação pode até extinguir uma espécie. O nosso cérebro é seletivo, deleta informações o tempo todo, esquece coisas. Nossa memória engana. E um dia ela vai desaparecer.

Pode existir coisas como karma e alma imortal, mas não sabemos direito como isso funciona. O que sabemos é que, aparentemente, nosso corpo está vivo, nosso cérebro aprende e esquece coisas, passa os genes adiante e morre. Enquanto isso podemos criar, destruir, aprender coisas e esquecer. A magia entra aí no meio num contexto histórico e cultural, no meio da arte e da espiritualidade.

Nós criamos sentido para as coisas, inventamos padrões e hierarquias. Outros nós descobrimos, sem ter certeza se é uma ilusão ou a verdade. O padrão parece funcionar por um instante. Em outros momentos pode não funcionar mais, pois a realidade e a mente são dinâmicas.

A magia pode trazer grandes momentos de diversão, deleite e descobertas. Aprendizados e esquecimentos, que não são lineares. Para mim, não existe uma escadinha que marque uma evolução espiritual e que te faça subir até o céu. E se existir, ela pode ser tão diferente do que imaginamos que poderia se assemelhar mais a uma espiral ou a algo que aos nossos olhos pareceria um grande caos.

Portanto, a ideia de que estamos realmente “avançando” no entendimento da magia e do mundo ou “evoluindo”… será que faz sentido? A partir do Iluminismo muitos começaram a falar na ideia de progresso (criticada por Rousseau) e na supremacia da razão humana, no domínio sobre a matéria através da ciência. Até que estouraram as Grandes Guerras. Se estamos sempre progredindo, por que o sistema heliocêntrico de Aristarco de Samos foi retomado somente muitos séculos depois?

É bem aceito na biologia que o ser humano não é mais evoluído do que outros animais, mesmo possuindo a razão. Alguns animais voam, outros respiram embaixo d’água; existe a ideia de um ser mais adaptado ao ambiente em que vive e não um animal mais evoluído que todos, de forma absoluta. E se o ser humano não está mais evoluído que outro animal, por que um ser humano estaria mais evoluído que outro? Se isso faz sentido do ponto de vista biológico, faria ainda mais do ponto de vista espiritual, que seria mais subjetivo.

Para alguns a ideia de evolução espiritual pode soar simpática. Para outros, pode haver soluções melhores. Aconselho usar a visão que mais te agrada, que mais faz seu coração bater forte e seguir experimentando e compartilhando suas descobertas. Não somente por desejo de ser melhor ou de evoluir, mas pela alegria de se divertir com os amigos. No final, pode ser que todos esqueçam de tudo, seja ainda em vida ou na morte, mas ainda assim terá valido a pena.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/hierarquia-dualismo-e-evolu%C3%A7%C3%A3o-espiritual

O aspecto religioso dos Super-herois- Com Felipe Cazelli

Bate-Papo Mayhem #043 – Com Felipe Cazelli – Mito e Sagrado nas Historias em Quadrinhos – O aspecto religioso dos Super-herois

Bate Papo Mayhem é um projeto extra desbloqueado nas Metas do Projeto Mayhem.

O vídeo desta conversa está disponível em: https://youtu.be/sIIt094ppKQ

Todas as 3as, 5as e Sabados as 21h os coordenadores do Projeto Mayhem batem papo com algum convidado sobre Temas escolhidos pelos membros, que participam ao vivo da conversa, podendo fazer perguntas e colocações. Os vídeos ficam disponíveis para os membros e são liberados para o público em geral duas vezes por semana, às segundas e quintas feiras e os áudios são editados na forma de podcast e liberados uma vez por semana.

Faça parte do projeto Mayhem:

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-aspecto-religioso-dos-super-herois-com-felipe-cazelli

A Dança dos Paradigmas

Peter J. Carroll, Liber Null

É impossível viver completamente fora de um paradigma. Até mesmo a magia do caos, que é tida como um metassistema, no fundo também é um “sistema de criar sistemas” (já que poderiam ser criados outros metassistemas além da proposta do caoísmo). Por isso, se você considerar como verdade que “nada é verdadeiro, tudo é permitido” em vez de encarar esse pensamento como mais um paradigma dentre muitas outras opções, ele também poderá aprisioná-lo.

É mais ou menos como os cegos diante do elefante: você pode dizer que cada crença ou paradigma toca uma parte do elefante e todas elas, de certa forma, estão certas, dentro de seu respectivo ponto de vista. Mas essa forma de pensar também é um paradigma e você pode correr o risco de considerar que só você está certo ao pensar assim, se tomar isso como verdade absoluta.

Peter Carroll nos diz que é um erro considerar qualquer crença como mais libertadora do que outra, mas isso também é uma crença. Você tem o direito de questionar o pensamento de que uma crença liberta mais que outra, contanto que não considere que essa sua crença liberta mais que as outras. É uma pegadinha, mas a magia do caos está cheia delas. O livro Principia Discordia descreve bem as contradições que permeiam pensamentos como esses. Mas na maior parte das vezes os caoístas vivem à vontade com contradições, principalmente se geram uma boa piada.

Os magistas do caos são extremamente pragmáticos e usam o que funciona. Eles se importam com os resultados, embora possa haver debates sobre o que os termos “funcionar” e “resultados” significam, pois eles dependem do objetivo de cada um.

Os caoístas são artistas, mas eles também possuem um espírito investigativo que flerta com a ciência. Eles gostam de realizar testes e anotar resultados. Em geral, eles não estão em busca da verdade, mas de sensações.

Em Liber Kaos, Peter Carroll nos diz:

“A crença é uma ferramenta para atingir qualquer coisa que se considere importante e prazeroso, e a sensação não tem outro propósito além da sensação”.

O objetivo de criar um sistema não seria simplesmente inventar algo belo e inteligente para ser apreciado, mas para ser sentido: “Como eu me sinto dentro desse sistema que criei? Ele me faz sentir bem? Ele me faz sentir mal? Eu prefiro sempre me sentir bem ou percebo que me sentir mal em certos momentos pode gerar amadurecimento? Então devo incluir sensações ruins no meu sistema? Quais outros resultados ele me traz no mundo mental e material?”

Ninguém nasce com uma mente em branco. Todos somos educados dentro dos sistemas vigentes na época e no lugar em que vivemos. Por exemplo, muitos de nós fomos criados para acreditar no secularismo e no materialismo. Por isso é tão difícil para a maior parte de nós acreditar que magia existe e que ela funciona.

Carroll nos diz em Liber Kaos:

“Muito da parafernália e teoria da magia, incluindo essa teoria, existe parcialmente para convencer o magista de que ele ou ela é um magista, e magia é possível num clima cultural que é fortemente antagonista a tais noções”

O velho rebelde se revoltava contra o paradigma judaico-cristão e se tornava um ateísta. E, de fato, existem muitas possibilidades dentro do paradigma ateísta que o paradigma judaico-cristão não possui. Talvez a questão principal seja enxergá-los pelo que são: paradigmas diferentes, com suas vantagens e desvantagens em vez de classificá-los numa hierarquia e vê-los como um melhor do que outro ou como a verdade. A questão é se perguntar: “O paradigma X é melhor para quê?”. Dependendo do que você quer fazer, dos resultados que busca, pode escolher um deles, depois abandoná-los ou alterná-los, como ferramentas.

O novo rebelde descobre que o paradigma do ateísmo pode ter lá suas utilidades, mas também possui suas limitações, como qualquer outro. Talvez ele esteja entediado e ache mais divertido viver num mundo com unicórnios e fadas do que num universo frio e cinzento. E principalmente se ele é jovem, talvez nem esteja pensando numa religião que lhe dê consolo na morte e na dor. Pode ser que ele deseje fazer experimentos como um cientista, ou queira imaginar como um artista, e para isso deseje testar outras realidades e outros mundos possíveis.

Sendo assim, o novo rebelde é aquele que estuda cabala, tarot, religiões indianas, chinesas, ocultismo ocidental, talvez até qualquer coisa da Nova Era e simplesmente acha que acreditar em Deuses e fadas na vida real é mais interessante do que apenas fingir que eles existem jogando videogames e vendo filmes, sempre sonhando com uma aventura imaginária. Ele pode realmente vivê-la e existem muitos paradigmas inteligentes e interessantes que lhe permitem aceitar essa possibilidade.

O ateísta pode argumentar que a pessoa está “fugindo” da realidade em todos esses paradigmas fantásticos, mas não é a arte também tanto uma fuga quanto uma realização? E que realidade é essa, afinal? Não permite diversas interpretações em vez de apenas uma? E mais de uma interpretação pode permitir que em vez de fugir conheçamos melhor o universo em que vivemos, sob diferentes pontos de vista, um complementando o outro e aprendendo com o outro. E paradigmas diferentes permitem que possamos atingir sensações e objetivos materiais diversos na prática. Isso jamais fica somente na imaginação. Ramsey Dukes diz em SSOTBME:

“É inútil perguntar a um magista se Deus, anjos ou demônios ‘realmente existem’. Simplesmente por dizer as palavras você os fez existir. Pergunte de novo se essas entidades abstratas podem produzir qualquer efeito no mundo físico e elas já fizeram: – elas fizeram você fazer perguntas”

O caoísta não está muito preocupado se Deus existe ou não, ou se ele/ela é monoteísta, panteísta ou politeísta. Ele pode ser um ateísta na segunda-feira, um budista na terça e um wiccano na quarta. Assim como teorias científicas, umas podem ser mais úteis que outras para objetivos diferentes, dependendo do paradigma em que foram criadas. Independente de se aceitar ou não que exista uma verdade, ela está aberta à interpretação. É verdade que eu estava usando um vestido vermelho e curto, mas quão vermelho e quão curto para que eu crie meu paradigma no qual nascerão meus comentários? É verdade que eu estou sentindo dor, mas eu fui criado para esconder minha dor e resistir a ela ou para mostrá-la abertamente em público e reclamar dela? Isso interfere na minha percepção objetiva da dor? E por que raios eu deveria envolver espíritos nessa discussão? Dukes explica:

“Senhor Dukes, por que nesse e em outros escritos você insiste em personificar problemas complexos como ‘demônios’ ou ‘espíritos’? Isso não é um retrocesso a superstições do passado? Isso depende se você acredita que o cérebro do homo sapiens foi desenvolvido para lidar com ferramentas ou relacionamentos sociais. Se você acredita que os processos mais complexos com os quais temos que lidar são nossos companheiros humanos, então um maior poder cerebral está disponível quando você os antropomorfiza”

Diz Peter Carroll em Liber Null:

“Ao buscar ideias que parecem bizarras, loucas, extremas, arbitrárias, contraditórias e nonsense, você irá descobrir que as ideias às quais você previamente se agarrava como razoáveis, sensíveis e humanitárias são na verdade tão bizarras, loucas e assim por diante”

“O intelecto é uma espada, e seu uso é para evitar identificações com qualquer fenômeno particular encontrado. As mentes mais poderosas se apoiam no menor número de princípios fixos. A única visão clara é a do topo da montanha de seus egos mortos”

Talvez a noção de que as coisas se encaixem e tenham um sentido (como na cabala e na magia tradicional em geral, fortemente influenciada pelo sistema judaico-cristão e pelo paganismo) pode ser útil, nem que seja como um jogo. Caso adotemos a perspectiva de que vivemos num mundo caótico e que é nossa mente que nos inclina a pensar que as coisas se encaixem (ou que as coisas tenham causa, como questiona Hume) também é possível fazer coisas divertidas com isso.

Mas esses dois são paradigmas. Pode ser que eu descubra uma teoria científica interessante num paradigma em que acho que as coisas se encaixam, e eu posso descobrir outra teoria ótima num paradigma em que elas não se encaixam. Ou, como costuma se dizer: onde havia ordem, encontrou-se caos; e onde havia caos, achou-se ordem.

Existem vantagens em se optar por permanecer um longo tempo num paradigma só (numa religião, num sistema de crença ateísta, etc) e tomá-lo como verdade. Uma dessas vantagens é que sua fé nesse sistema aumenta e você se torna muito bom em trabalhar nele. Quando você salta de um paradigma para outro não será tão habilidoso em cada um deles individualmente, mas você irá se acostumar a vestir diferentes peles e isso também possui lá suas vantagens, como ajudar a impedir que nosso pensamento se cristalize por muito tempo.

Você quer ser um cristal, uma flor ou uma batata? Fique à vontade para montar sua salada.

“Para aquele treinado por ‘Bob’, a Verdade pode ser encontrada numa batata” (O Livro do SubGenius).

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-dan%C3%A7a-dos-paradigmas

Além do Caos, a Obra de Phil Hine

Bate-Papo Mayhem 260 Marcelo Del Debbio e Rogério Bettoni conversam com Phil Hine sobre sua vida e obra, e os livros que serão traduzidos e publicados no Brasil – Além do Caos

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A personalidade mágica e a prática.

Você dorme mal, acorda cedo, trabalha muito, se desgasta, come porcarias com pressa, navega na internet sem rumo, sem foco e sem atenção, chega em casa acabado e o Frater Prophecy quer que você acorde as 4 horas da manhã para rezar ? E o Marcelo Del Debbio quer que você fique fazendo exercícios de visualização ?

Como superar a inércia ? Como travar esse combate com a preguiça física, mental e espiritual ?

Existem várias formas, mas poucas tão eficazes e eficientes como uma personalidade mágica.

Uma personalidade mágica basicamente é um personagem criado por você para realizar as tarefas que o seu Eu comum seria incapaz de realizar.

O mundo como se encontra hoje parece ser desenhado para dificultar seu trabalho espiritual e mágico impedindo o desenvolvimento das nossas práticas, seja antes (preparação), durante (realização) e depois (estudo).

Na prática funciona assim:

João chega em casa cansado e quer ver TV, mas comprometeu-se a realizar uma meditação de 10 minutos e anotar os resultados, para fazer isso ele precisa pelo menos tomar uma banho simples de limpeza e se alimentar de algo leve e saudável.

9 em cada 10 vezes João vai para a internet, e de lá para a cama.

Porque João faz isso ? Em uma próxima coluna abordaremos o conceito dos muitos “Eus” morando em cada um de nós, por ora basta dizer que João não conseguirá realizar seus rituais, porque João quer descansar do trabalho, fica pensando na conta que vai vencer, nos problemas na família e em todo tipo de poluição mental e emocional que o impede de dedicar 10 minutos para si mesmo.

João então pensa como seria bom se ele já fosse um mago sábio, diligente e poderoso. Então ele decide criar uma personalidade mágica, reúne qualidades que ele tem dentro de si mas que raramente usa, em conjunto ou separadamente, transcreve tudo isso e pensa num nome que lhe traga essa sensação de tudo que ele quer ser. Frater Hierofante.

No dia seguinte João chega cansando do trabalho e tem certeza que não vai conseguir realizar o ritual, então ele decide “invocar” o Frater Hierofante. Ele se sente meio esquisito e meio ridículo no começo, mas decide se esforçar para manter o padrão de pensamentos do Frater Hierofante, se ele era incapaz de tomar um bom banho antes, o Frater Hierofante agora toma um banho cheio de significados, imaginando que a água o limpa em vários níveis, físico, emocional e espiritual. Ele ingere uma fruta mas antes se concentra em dar alguma energia específica para a fruta. Como hoje será um trabalho de concentração ele vai comer um morango devidamente carregado de disciplina. Coloca suas roupas de Frater Hierofante e medita durante os 10 minutos, anotando todos os resultados em seu diário mágico.

Frater Hierofante deixa suas roupas e seu quarto e João pode surfar a vontade na internet com a sensação de trabalho bem feito.

Na magia do CAOS existe o conceito de “fake it, until you make it”, a ideia aqui é dissociar por alguns momentos a sua persona comum da sua persona mágica permitindo que você realize um trabalho bem feito, sem se preocupar com as frivolidades da sua vida profana.

É importante ter a consciência de que não basta escrever meia dúzia de palavras num papel, pensar num nome pomposo e achar que vai fazer as chamadas enochianas ainda hoje. A personalidade mágica é algo que precisa ser desenvolvido e cultivado com carinho e responsabilidade.

É como um Você melhorado, despido das justificativas do ego, tudo o que você tem de melhor, uma amalgama de todas as suas qualidade que despontam quando você fez aquele ritual com o coração, quando você teve aquela intuição, quando você superou um limite.

Praticamente uma incorporação de EU superior, e como incorporação deve ser treinada e levada a sério, não ao ponto de virar uma neurose de dupla personalidade mas um comprometimento consigo mesmo de não estragar essa coisa especial que você criou para si.

Comece com pequenos passos, não realize um ritual logo de primeira se você ainda não esta confiante, um banho ou uma refeição por exemplo, ainda que seja só uma ducha ou uma fruta.

Você pode assumi-la momentaneamente numa fila de banco para realizar um alinhamento de chakras ou uma respiração consciente, treinando-a e treinando você pouco a pouco para tirar melhor proveito dela.

Os desdobramentos da técnica são muitos mas todos com esses propósito: Realizar, Concretizar, Manifestar.

Eu espero que você faça bom proveito dessa técnica e caso tenha alguma dúvida ou queira compartilhar com os irmão suas experiências, é mais que bem vindo para utilizar o espaço dos comentários.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-personalidade-m%C3%A1gica-e-a-pr%C3%A1tica

A Originalidade na Magia do Caos

Por Wanju Duli

“Assim como é em cima, é embaixo, e também no meio”

– P.J. Carroll, “The Octavo”

Quando falamos em Magia do Caos, logo vêm à nossa mente nomes como Austin Osman Spare e Peter J. Carroll; o primeiro, idealizador dos sigilos e do Alfabeto do Desejo, enquanto o segundo ocupou-se de elaborar a IOT, uma Ordem particularmente exótica e ousada, tendo como base sua obra “Liber Null”.

Em Liber Null podemos encontrar excertos como Liber MMM e Liber LUX, que constituem as primeiras propostas desse sistema, com uma série de exercícios. Somos apresentados à Caosfera, o Sigilo do Caos, que seria um espelho de escuridão para comunicação entre os adeptos, segundo as palavras do autor. O termo “Caos” é escolhido, pois vocábulos como “Deus” ou “Tao” estariam condicionados às impressões mentais previamente atribuídas a tais expressões.

Nessa mesma obra, Carroll afirma que os Iluminados de Thanateros são os herdeiros mágicos do Zos Kia Cultus de Spare e da A.’.A.’. de Crowley. Ele inclusive cria um diagrama maluco para provar isso, demonstrando em que medida diferentes tradições mágicas se conectam a IOT.

Contudo, a ideia não era apenas desenvolver uma nova tradição mágica com a junção de diferentes elementos previamente existentes, como podemos ver nos seguintes trechos do autor:

“O intelecto é uma espada, e seu uso é para evitar a identificação com qualquer fenômeno particular encontrado. As mentes mais poderosas agarram-se ao menor número de princípios fixos. A única visão clara é do alto da montanha dos seus egos mortos “.

“É um erro considerar qualquer crença mais libertadora que outra. É a possibilidade de mudar que é importante. Cada nova forma de libertação está destinada a eventualmente se tornar outra forma de escravidão para a maioria de seus adeptos. Não há liberdade da dualidade neste plano de existência, mas podemos ao menos aspirar à escolha da dualidade”.

“A energia é liberada quando um indivíduo quebra as regras de condicionamento com algum ato glorioso de desobediência ou blasfêmia. Essa energia fortalece o espírito e dá coragem para atos de insurreição”.

A intenção mais profunda de Carroll era desenvolver uma magia que permitisse a mobilidade de sistemas de crenças, utilizando a crença escolhida somente como uma ferramenta para atingir determinado objetivo, dando mais ênfase ao resultado do que ao processo em si. Isso incluiria até uma possibilidade de inversão ou alteração em princípios éticos clássicos, pois, conforme o próprio autor diz, logo você descobrirá que ideias que nos parecem bizarras, loucas, extremas, arbitrárias e sem sentido são tão malucas quanto aquelas que antes julgávamos como razoáveis, sensíveis e humanitárias.

Com o texto “Truque da Mente em Demonologia”, apresentado em Liber Kaos, podemos sentir essa ideia:

“Liber Boomerang

Um deus ignorado é um demônio nascido.

Pensa você na hipertrofia de alguns egos à custa de outros?

O que é negado ganha poder, e busca formas estranhas e inesperadas de manifestação.

Negue a morte e outras formas de suicídio irão surgir.

Negue o sexo e formas bizarras de sua expressão irá atormentá-lo.

Negue o amor e sentimentalismos absurdos irão incapacitá-lo.

Negue a agressão, apenas para eventualmente fitar a faca ensanguentada em sua mão trêmula.

Negue medos e desejos honestos apenas para criar neuroses e avareza sem sentido.

Negue o riso e o mundo rirá de você.

Negue a magia apenas para se tornar um robô confuso, inexplicável até para si mesmo”.

No entanto, isso não significa que os caoístas destroem completamente a noção de moralidade, como nos relembra Phil Hine, em “Condensed Chaos”:

“Assim, apesar do glamour, os magos do Caos raramente são completamente amorais. Um dos axiomas básicos da filosofia mágica é que a moralidade cresce de dentro, uma vez que se começa a conhecer a diferença entre o que você aprendeu a acreditar e o que você quer acreditar”.

A ideia é quebrar noções pré-estabelecidas para começar a construir seus próprios castelos de areia nesse terreno fértil; estabelecer os fundamentos de suas ideias acerca da realidade; ou perceber que simplesmente não necessita de algo assim.

Isso nos recorda um pouco das três metamorfoses do espírito de Nietzsche:

“Qual é este grande dragão a que o espírito já não quer chamar nem senhor, nem Deus? O nome do grande dragão é ‘Tu deves’. Mas o espírito do leão diz: ‘Eu quero.’”

Inicialmente somos um camelo, que carrega o peso dos valores. Devemos nos converter em leão para destruí-los. E, finalmente, nos tornarmos crianças para criar.

“Na verdade, irmãos, para jogar o jogo dos criadores é preciso ser uma santa afirmação; o espírito quer agora a sua própria vontade; tendo perdido o mundo, conquista o seu próprio mundo”.

Estamos esquentando? Pois bem. Que pegue fogo! Para começarmos a tentar compreender que é a Magia do Caos, sugiro algumas palavras de meu escritor favorito sobre o tema, o cavalheiro chamado Ramsey Dukes, Lionel Snell, o Rato que Gira, ou seja lá qual foi o codinome que esse senhor resolveu adotar dessa vez. Comecemos com SSOTBME (“Sex Secrets of the Black Magicians Exposed”):

“Magia do Caos é, com efeito, o mais seguro sistema mágico que existe. Paradoxalmente, no entanto, ganhou uma reputação vermelha e quente por ser a mais perigosa, sinistra e insana forma da loucura mágica remanescente”.

Quando assumimos a premissa de que “Nada é verdadeiro. Tudo é permitido”, pode ser realmente assustador. Você precisa lidar com sua imaginação e principalmente com um verdadeiro terror: sua liberdade.

“Um magista prático não tem interesse nos problemas filosóficos que atormentam o cientista que pergunta: ‘Tem certeza que foi a sua magia que a curou? Como você sabe que não foi apenas uma coincidência?’ Tal especulação é irrelevante para o Mago. Ele fez o feitiço, ela foi curada. Se fosse uma coincidência, não importa contanto que ele possa trazer tais coincidências “.

Um caoísta está mais preocupado com o resultado prático, as emoções geradas, o chacoalhar de paradigmas, do que em vestir robes, carregar espadas ou enredar-se em paradoxos ontológicos. Para isso, ele realiza uma profunda investigação acerca dos processos mágicos, com a intenção de desvendar os caminhos que o levam a ativar as engrenagens da magia.

Enquanto a magia tradicional possui força pelo peso de seu caráter inveterado, riqueza cerimonial e alto teor filosófico, o poder da Magia do Caos reside em adaptar sistemas conforme o gosto, para que a paixão do magista e sua metamorfose paradigmática inflamem sua vontade e gerem essa carga empírica de transformação.

“Assim, é inútil perguntar a um magista se Deus, anjos ou demônios ‘realmente existem’. Simplesmente ao dizer as palavras você os fez existir! Pergunte novamente se essas entidades abstratas podem produzir qualquer efeito no mundo físico, e eles já produziram – eles fizeram você fazer perguntas “.

Agora, veremos o que Dukes tem a nos dizer em sua obra “BLAST Your Way To Megabuck$ with my SECRET Sex-Power Formula”:

“Nós não podemos acreditar agora na dualidade antiga dos que estão trabalhando para o bem e dos que estão trabalhando para o mal, porque fazer qualquer mudança é invocar a incerteza. A nova dualidade é entre aqueles que desejam manter as coisas como estão, e aqueles que desejam mudá-las”.

“Eu quero ser rico, feliz, sexy, poderoso ….

Ei! Eu descobri essa coisa chamada ‘magia’ que pode torná-lo rico, feliz, sexy, poderoso …

Uau! Estive lendo sobre magia e descobri que é realmente muito simples se tornar rico, feliz, sexy, poderoso … contanto que você faça uma coisa – você deve se tornar perfeito primeiro.

Então, como você sabe quando se tornou perfeito?

Oh merda. Você sabe que é perfeito quando você já não QUER ser rico, feliz, sexy, poderoso …”

E, para finalizar, uma frase de Hugo C. St. J. l’Estrange:

“Quando a humanidade irá crescer fora de seu flerte com a ética cristã, e encarar o fato de que o Grande Princípio Cósmico não é fazer o que é certo e honrado, mas fazer o que é errado com ESTILO”.

Espere, eu disse “finalizar”? Esse é só o começo. Magia do Caos é muito mais do que brincar de utilizar vários estilos de magia previamente existentes e misturar tudo para se revoltar contra a autoridade. Quando você quebra seus conceitos não irá simplesmente preencher o espaço coletando vários pedaços de conceitos aqui e ali, como se estivesse num buffet em self-service, selecionando os pratos que lhe parecem mais saborosos para montar o seu.

Você pode até experimentar os diferentes pratos no começo, para aprender os sabores. Mas em algum momento o caoísta DEVE tornar-se um cozinheiro. Esse é o coração da Magia dos Caos: ser um verdadeiro chef de sistemas do ocultismo. Pois a Magia do Caos não é somente um novo sistema, um destruidor de sistemas ou um agregador deles. Antes, é um “sistema criador de novos sistemas”.

E aqui iremos resgatar alguns excertos do brilhante artigo de Frater Xon, membro da IOT North America, chamado “O Magista Eclético vs. O Magista do Caos”:

“Qualquer um pode ler um livro de magia e cuspir de volta o que está contido nele. Memorize gematria e livros de Crowley, e de repente você é um mago Hermético. Leia um livro de xamanismo, compre um tambor, e de repente você é um místico tribal. Dê algum dinheiro para as pessoas certas, memorize alguns cânticos e orações, e de repente você é um Santero. Maldição, vá em frente e leia Spare, desenhe alguns sigilos e puf! Instantaneamente ‘Magista do Caos’!”

“Estes são todos truques e ilusões mentais inexpressivos. Mesmo um papagaio pode repetir os sons que ouve sem compreendê-los “.

“O verdadeiro caoísta tem a capacidade de dar à luz coisas novas e incomuns. Eles podem criar novos sistemas, novos métodos e novos rituais fora do que já foi criado. O verdadeiro caoísta é essencialmente um artista “.

“Se você não pode criar algo novo para mim, então eu não estou particularmente interessado em você. Eu não me importo se você memorizou todos os livros de magia do planeta. Eu não me importo se você está sentado em seu templo realizando rituais pré-fabricadas doze horas por dia. Se você não consegue pensar numa única coisa nova para me oferecer, o que há de bom em você? Você é apenas um computador dizendo as mesmas coisas antigas que outras pessoas já disseram antes”.

“Mas, se você pode criar uma única coisa simples de pura criatividade que funciona, mesmo se não é a coisa mais incrível do mundo, isso ainda me impressiona muito mais do que todas as bibliotecas de magia do mundo.”

E aqui finalmente concluímos nossa introdução sobre a Magia do Caos, com muitas citações, refrescos e poderosas frases de efeito, para tentar agradar tanto aos mais tradicionais quanto àqueles que estão cansados do velho cadáver mágico, já tão desgastado e apodrecido. A Magia do Caos é uma vertente incrível e muito viva, que está em polvorosa na atualidade, tanto no cenário nacional quanto internacional, com propostas criativas, inovadoras e extraordinárias.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-originalidade-na-magia-do-caos

HermetiCAOS – Sobre a Disciplina

Eu acordo de manhã completamente disfuncional. Demoro algum tempo para pegar no tranco, caso não tenha nenhuma obrigação agendada. Se eu não tomar café, demora mais.

Ao longo do dia, tenho que conciliar a vida de pai, marido, eterno mestrando, minhas tentativas esporádicas de me enveredar pelas vias literárias, o trabalho como professor de filosofia e, agora, como coordenador, e a busca por dimensões superiores de existência. É muita coisa. Pra mim, é. Muitas vezes, algumas dessas coisas ficam comprometidas. Às vezes, todas elas ficam, pois o nosso mundo contemporâneo parece construído com o objetivo de nos afastar o máximo possível da excelência (areté), de sermos o melhor que podemos ser. E minha mente, com frequência perturbadora, se envereda por caminhos de procrastinação autodestrutiva, de recompensas e prazeres imediatos, que me distanciam de mim mesmo.

Assim, o que deveria ser disciplina, se torna preguiça e o que deveria ser motivação, se torna autoindulgência. Eu sei exatamente o que fazer. A disciplina mágica que eu tenho intenção de seguir se descortina perante mim e a sabedoria da Antiguidade me eleva a patamares mais altos, de maneira que eu possa vislumbrar meu Destino, lá longe, lá no final. Mas, como disse o Morpheus, “há uma diferença entre conhecer o Caminho e trilhar o Caminho”. Existe um tanto de Fé para que se trilhe esse caminho, porque há que se ter confiança na palavra dos Mestres quando eles dizem: “É pra lá”.

Quem não consegue desenvolver essa confiança, rapidamente se desfaz desses ensinamentos, acusando-os de charlatanismo, de ingenuidade infantil, de sei lá mais o quê. Mas, de alguma maneira, meu envolvimento com Magia, e Ocultismo de uma maneira geral, vem de um sentimento interior de que há Razão nesse trajeto. De que caminhar nessa direção de fato liberta, eleva, nos transforma em pessoas melhores. Esse é, de fato, o caminho que leva à Iluminação. E ele foi atestado por várias pessoas que se dispuseram a seguí-lo, e elas nos dizem: “Venha, você também pode”.

De minha parte, já vivi intensamente essa disciplina, pelo menos por algum tempo. Sei dos benefícios que ela traz. Posso dizer que a Magia é responsável por me tornar uma pessoa melhor. Mas e se eu não houvesse trilhado esse caminho, senão outro? Não seria tão bom quanto sou hoje? Sei lá. Pode ser que sim, pode ser que eu chegasse onde estou por inúmeras outras vias: psicoterapia, biodanza, coaching… Mas a Magia foi o método que eu escolhi, ou talvez, aquele que me escolheu. É o que eu achei mais divertido e o que inunda minha existência de Sentido. E sei que ainda tenho muito a caminhar, não sou uma pessoa iluminada, senão apenas mais um buscador, como tantos outros. A perspectiva adequada, conforme aprendi, é a de que “não somos seres materiais buscando uma experiência espiritual, mas sim seres espirituais vivendo uma experiência material”.

Entretanto, viver na matéria é um grande desafio, tanto mais difícil quanto mais se compreende o que significa isso e o que está em jogo. Transcender a matéria somente se dá através da própria matéria, não de sua negação. A disciplina do trabalho mágico leva a essa compreensão, que é fundamental ao caminho, mas é fugidia. Se a disciplina esmorece, a consciência desvanece. E parece que, quanto mais o tempo passa, mais difícil fica manter a disciplina. Dura uma semana, duas, três… na seguinte, eu falho. Outras coisas entram na frente. Obrigações, responsabilidades, cansaço, a consciência perdida em pequenos prazeres inúteis feitos sob medida para roubar toda a nossa energia. Daí, quando percebo a armadilha, me forço a reiniciar. Começo de novo. Quantas vezes forem necessárias. Foi quando eu entendi uma coisa fundamental.

Deixar de meditar, de conduzir rituais, de desenvolver trabalhos mágicos, enfim… largar a disciplina por um tempo, não é falhar. Falhar é parar de fazer para sempre. Falhar é abandonar o Caminho. Na estrada para o desenvolvimento da disciplina, pular um dia ou dois — ou uma semana ou duas, que seja — não significa que eu fracassei, pelo contrário: faz parte do processo. Se eu já fosse uma pessoa disciplinada, não precisaria praticar a disciplina. Se já fosse uma pessoa iluminada, não precisaria buscar a Iluminação. Se a pressa é inimiga da perfeição, então a senda deve ser seguida com calma. Porque sentar na beira do caminho para descansar não é desistir do caminho. E eu não estou apostando corrida com ninguém. O outro extremo da autoindulgência é a cobrança excessiva que desmotiva. Para nos tornarmos pessoas melhores, o primeiro passo é sermos melhores conosco mesmos. Aliás, aprendi também que só se pode ser verdadeiramente honesto consigo mesmo. O resto é ilusão. Venho corroborando isso com o passar dos anos. Talvez seja assim também com você.

Dessa maneira, todas as vezes que me esforço para recomeçar, mesmo acreditando que possa ter jogado toda minha dedicação anterior no lixo, percebo que é ali que se encontra minha força. Quando a luz na fresta da janela bate dentro do meu olho, quando falta energia em casa e me vejo refletido na tela desligada da TV, quando a angústia da existência vazia começa a querer cobrar seu preço, aí eu me levanto e começo de novo. Esse é o meu maior sucesso.

No mais, não faz muito tempo, “recebi” um certificado como o abaixo. Apareceu pra mim na leitura do livro “O Manual do Messias”, de Richard Bach. Acredito que você possa tomá-lo também como seu. Está à disposição de todo mundo, na verdade.

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/hermeticaos-sobre-a-disciplina