A Batalha pela sua Mente

Eu sou Dick Sutphen e esta fita (aqui transcrita) é uma gravação de estúdio, uma versão expandida de uma conferência que fiz na Convenção do Congresso Mundial de Hipnotizadores Profissionais em Las Vegas, Nevada. Embora a fita traga um copyright para protegê-la de duplicações e vendas ilegais, neste caso, eu convido os indivíduos a fazer cópias e dá-las aos amigos ou qualquer pessoa em posição de divulgar esta informação * .

Embora eu tenha sido entrevistado acerca deste assunto em muitos locais, rádios e programas de entrevistas em TV, os meios de comunicação de massa parecem estar bloqueados, porque isto poderia resultar em desconfiança e investigações dos meios de divulgação e de seus patrocinadores. Algumas agências governamentais não querem que esta informação seja divulgada. Nem os movimentos de Novos Cristãos, os cultos, e mesmo muitos treinadores de potencial humano.

Cada uma das coisas que vou relatar apenas exporá a superfície do problema. Eu não sei como o abuso destas técnicas pode ser parado. Eu não penso que seja possível legislar contra algo que freqüentemente não pode ser detectado; e se os próprios legisladores estão usando estas técnicas, há pouca esperança de o governo usar leis assim. Sei que o primeiro passo para iniciar mudanças é gerar interesse. Neste caso, apenas um movimento subterrâneo poderia provocar isto.

Falando deste assunto, estou falando acerca de meu próprio negócio. Eu sei disto, e sei quão efetivo isto pode ser. Eu faço fitas de hipnose e [de técnicas] subliminares, e, em alguns de meus seminários, uso táticas de conversão com os participantes para torná- los independentes e auto-suficientes. Mas, sempre que uso estas técnicas, eu ressalto que estou usando-as, e todos podem escolher entre participar ou não. Eles também sabem qual será o resultado desejado.

Então, para começar, eu quero declarar o que é o fato mais básico de todos acerca de lavagem cerebral: EM TODA A HISTÓRIA DO HOMEM, NINGUÉM QUE TENHA SOFRIDO LAVAGEM CEREBRAL ACREDITARÁ OU ACEITARÁ QUE SOFREU TAL COISA. Todos aqueles que a sofreram, usualmente, defenderão apaixonadamente os seus manipuladores, clamando que simplesmente lhes foi “mostrada a luz”…ou que foram transformados de modo miraculoso.

O Nascimento da Conversão

CONVERSÃO é uma palavra “agradável” para LAVAGEM CEREBRAL…e qualquer estudo de lavagem cerebral tem de começar com o estudo do Revivalismo Cristão no século dezenove, na América. Aparentemente, Jonathan Edwards descobriu acidentalmente as técnicas durante uma cruzada religiosa em 1735, em Northampton, Massachusetts. Induzindo culpa e apreensão aguda e aumentando a tensão, os “pecadores” que compareceram aos seus encontros de reavivamento foram completamente dominados, tornando-se submissos. Tecnicamente, o que Edwards estava fazendo era criar condições que deixavam o cérebro em branco, permitindo a mente aceitar nova programação. O problema era que as novas informações eram negativas. Ele poderia então dizer-lhes, “vocês são pecadores! vocês estão destinados ao inferno!”. Como resultado, uma pessoa tentou e outra cometeu suicídio. E os vizinhos do suicida relataram que eles também foram tão profundamente afetados que, embora tivessem encontrado a “salvação eterna”, eram também obcecados com a idéia diabólica de dar fim às próprias vidas.

Uma vez que um pregador, líder de culto, manipulador ou autoridade atinja a fase de apagamento do cérebro, deixando-o em branco, os sujeitos ficam com as mentes escancaradas, aceitando novas idéias em forma de sugestão. Porque Edwards não tornou sua mensagem positiva até o fim do reavivamento, muitos aceitaram as sugestões negativas e agiram, ou desejaram agir, de acordo com elas.

Charles J. Finney foi outro cristão revivalista que usou as mesmas técnicas quatro anos mais tarde, em conversões religiosas em massa, em Nova Iorque. As técnicas são ainda hoje utilizadas por cristãos revivalistas, cultos, treinadores de potencial humano, algumas reuniões de negócios, e nas forças armadas dos EUA, para citar apenas alguns. Deixem-me acentuar aqui que eu não creio que muitos pregadores revivalistas percebam ou saibam que estão usando técnicas de lavagem cerebral. Edwards simplesmente topou com uma técnica que realmente funcionou, e outros a copiaram e continuam a copiá-la pelos últimos duzentos anos. E o mais sofisticado de nosso conhecimento e tecnologia tornou mais efetiva a conversão. Sinto fortemente que esta é uma das maiores razões para o crescimento do fundamentalismo cristão, especialmente na variedade televisiva, enquanto que muitas das religiões ortodoxas estão declinando.

As Três Fases Cerebrais

Os cristãos podem ter sido os primeiros a formular com sucesso a lavagem cerebral, mas teremos de ir a Pavlov, um cientista russo, para uma explicação técnica. Nos idos de 1900, seu trabalho com animais abriu a porta para maiores investigações com humanos. Depois da revolução russa, Lênin viu rapidamente o potencial em aplicar as pesquisas de Pavlov para os seus próprios objetivos.

Três distintos e progressivos estados de inibição transmarginal foram identificados por Pavlov. O primeiro é a fase EQUIVALENTE, na qual o cérebro dá a mesma resposta para estímulos fortes e fracos. A segunda é a fase PARADOXAL, na qual o cérebro responde mais ativamente aos estímulos fracos do que aos fortes. E a terceira é a fase ULTRA-PARADOXAL, na qual respostas condicionadas e padrões de comportamento vão de positivo para negativo, ou de negativo para positivo.

Com a progressão por cada fase, o grau de conversão torna-se mais efetivo e completo. São muitos e variados os modos de alcançar a conversão, mas o primeiro passo usual em lavagens cerebrais políticas ou religiosas é trabalhar nas emoções de um indivíduo ou grupo, até eles chegarem a um nível anormal de raiva, medo, excitação ou tensão nervosa.

O resultado progressivo desta condição mental é prejudicar o julgamento e aumentar a sugestibilidade. Quanto mais esta condição é mantida ou intensificada, mais ela se mistura. Uma vez que a catarse, ou a primeira fase cerebral é alcançada, uma completa mudança mental torna-se mais fácil. A programação mental existente pode ser substituída por novos padrões de pensamento e comportamento.

Outras armas fisiológicas freqüentemente utilizadas para modificar as funções normais do cérebro são os jejuns, dietas radicais ou dietas de açúcar, desconforto físico, respiração regulada, canto de mantras em meditação, revelação de mistérios sagrados, efeitos de luzes e sons especiais, e intoxicação por drogas ou por incensos.

Os mesmos resultados podem ser obtidos nos tratamentos psiquiátricos contemporâneos por eletrochoques e mesmo pelo abaixamento proposital do nível de açúcar no sangue, com a aplicação de injeções de insulina.

Antes de falar sobre exatamente como algumas das técnicas são aplicadas, eu quero ressaltar que hipnose e táticas de conversão são duas coisas distintas e diferentes — e que as técnicas de conversão são muito mais poderosas. Contudo, as duas são freqüentemente misturadas … com poderosos resultados.

Como os Pregadores Revivalistas Trabalham

Se você desejar ver um pregador revivalista em ação, há provavelmente vários em sua cidade. Vá para a igreja ou tenda e sente-se acerca de três-quartos da distância ao fundo. Muito provavelmente uma música repetitiva será tocada enquanto o povo vem para o serviço. Uma batida repetitiva, idealmente na faixa de 45 a 72 batidas por minuto (um ritmo próximo às batidas do coração humano) é muito hipnótica e pode gerar um estado alterado de consciência, com olhos abertos, em uma grande porcentagem das pessoas. E, uma vez você esteja em um ritmo alfa, você está pelo menos 25 vezes mais sugestionável do que você estaria, em um ritmo beta, de plena consciência. A música é provavelmente a mesma para cada serviço, ou incorpora a mesma batida, e muitas das pessoas irão para um estado alterado de consciência quase imediatamente após entrarem no santuário. Subconscientemente, eles recordam o estado mental quando em serviços religiosos anteriores, e respondem de acordo com a programação pós- hipnótica.

Observe as pessoas esperando pelo início do serviço religioso. Muitas exibirão sinais exteriores de transe — corpo relaxado e olhos ligeiramente dilatados. Freqüentemente, eles começam a agitar as mãos para diante e para trás no ar, enquanto estão sentadas em suas cadeiras. A seguir, o pastor assistente muito provavelmente virá, e falará usualmente com uma simpática “voz ritmada”.

Técnica da Voz Ritmada

Uma “voz ritmada” é um estilo padronizado, pausado, usado por hipnotizadores quando estão induzindo um transe. É também usado por muitos advogados, vários dos quais são altamente treinados hipnólogos, quando desejam fixar um ponto firmemente na mente dos jurados. Uma voz ritmada pode soar como se o locutor estivesse conversando ao ritmo de um metrônomo, ou pode soar como se ele estivesse enfatizando cada palavra em um estilo monótono e padronizado. As palavras serão usualmente emitidas em um ritmo de 45 a 60 batidas por minuto, maximizando o efeito hipnótico.

Agora, o pastor assistente começa o processo de “acumulação”. Ele induz um estado alterado de consciência e/ou começa a criar excitação e expectativas na audiência. A seguir, um grupo de jovens mulheres vestidas em longos vestidos brancos que lhes dão um ar de pureza, vêm e iniciam um canto. Cantos evangélicos são o máximo, para se conseguir excitação e ENVOLVIMENTO. No meio do canto, uma das garotas pode ser “golpeada por um espírito” e cai, ou reage como se estivesse possuída pelo Espírito Santo. Isto efetivamente aumenta a excitação na sala. Neste ponto, hipnose e táticas de conversão estão sendo misturadas e o resultado é que toda a atenção da audiência está agora tomada, enquanto o ambiente torna-se cada vez mais tenso e excitado.

Exatamente neste momento, quando a indução ao estado mental alfa foi conseguido em massa, eles irão passar o prato ou cesta de coleta. Ao fundo, em uma voz ritmada a 45 batidas por minuto, o pregador assistente poderá exortar, “dê ao Senhor…dê ao Senhor…dê ao Senhor…dê ao Senhor”. E a audiência dá. Deus pode não obter o dinheiro, mas seu já rico representante, sim.

A seguir, vem o pregador fogo-e-enxôfre. Ele induz medo e aumenta a tensão falando sobre “o demônio”, “ir para o inferno”, e sobre o Armageddon próximo.

Na última dessas reuniões que assisti, o pregador falou sobre o sangue que brevemente escorreria de cada torneira na terra. Ele também estava obcecado com um “machado sangrento de Deus”, o qual todos tinham visto suspenso sobre o púlpito, na semana anterior. Eu não tinha nenhuma dúvida de que todos o tinham visto — o poder da sugestão hipnótica em centenas de pessoas assegura que entre 10 a 25 por cento verão o que quer que lhes seja sugerido ver.

Na maioria da assembléias revivalistas, “depoimentos” ou “testemunhos” usualmente seguem-se ao sermão amedrontador. Pessoas da audiência virão ao palco relatar as suas histórias. “Eu estava aleijado e agora posso caminhar!”. “Eu tinha artrite e ela se foi!”. Esta é uma manipulação psicológica que funciona. Depois de ouvir numerosos casos de curas milagrosas, a pessoa comum na audiência com um problema menor está certa de que ela pode ser curada. A sala está carregada de medo, culpa e intensa expectativa e excitação.

Agora, aqueles que querem ser curados são freqüentemente alinhados ao redor da sala, ou lhes é dito para vir à frente. O pregador pode tocá-los na cabeça e gritar “esteja curado!”. Isto libera a energia psíquica, e, para muitos, resulta a catarse. Catarse é a purgação de emoções reprimidas. Indivíduos podem gritar, cair ou mesmo entrar em espasmos. E se a catarse é conseguida, eles possuem uma chance de serem curados. Na catarse (uma das três fases cerebrais anteriormente mencionadas), a lousa do cérebro é temporariamente apagada e novas sugestões são aceitas.

Para alguns, a cura pode ser permanente. Para muitos, irá durar de quatro dias a uma semana, que é, incidentalmente, o tempo que dura normalmente uma sugestão hipnótica dada a uma pessoa. Mesmo que a cura não dure, se eles voltarem na semana seguinte, o poder da sugestão pode continuamente fazer ignorar o problema… ou, algumas vezes, lamentavelmente, pode mascarar um problema físico que pode se mostrar prejudicial ao indivíduo, a longo prazo.

Eu não estou dizendo que curas legítimas não aconteçam. Acontecem. Pode ser que o indivíduo estava pronto para largar a negatividade que causou o problema em primeiro lugar; pode ser obra de Deus. Mas afirmo que isto pode ser explicado com o conhecimento existente acerca das funções cérebro/mente.

As técnicas e encenações variarão de igreja para igreja. Muitos usam “falar línguas” para gerar a catarse em alguns, enquanto o espetáculo cria intensa excitação nos observadores.

O uso de técnicas hipnóticas por religiões é sofisticado, e profissionais asseguram que elas tornaram-se ainda mais efetivas. Um homem em Los Angeles está projetando, construindo e reformando um monte de igrejas por todo o país. Ele diz aos ministros o que eles precisam, e como usá-lo. Sua fita gravada indica que a congregação e a renda dobrarão, se o ministro seguir suas instruções. Ele admite que cerca de 80 por cento de seus esforços são para o sistema de som e de iluminação.

Som potente e o uso apropriado de iluminação são de importância primária em induzir estados alterados de consciência — eu os tenho usado por anos, em meus próprios seminários. Contudo, meus participantes estão plenamente conscientes do processo, e do que eles podem esperar como resultado de sua participação.

Seis Técnicas de Conversão

Cultos e organizações [que ensinam] potencial humano estão sempre procurando por novos convertidos. Para conseguí-los, eles precisam criar uma fase cerebral. E geralmente precisam fazê-lo em um curto espaço de tempo — um fim-de-semana, até mesmo em um dia. O que se segue são as seis técnicas primárias usadas para gerar a conversão.

O encontro ou treinamento tem lugar em uma área onde os participantes estão desligados do resto do mundo. Isto pode ser em qualquer lugar: uma casa isolada, um local remoto ou rural, ou mesmo no salão de um hotel, onde aos participantes só é permitido usar o banheiro, limitadamente. Em treinamentos de potencial humano, os controladores darão uma prolongada conferência acerca da importância de “honrar os compromissos” na vida. Aos participantes é dito que, se eles não honram seus compromissos, sua vida nunca irá melhorar. É uma boa idéia honrar compromissos, mas os controladores estão subvertendo um valor humano positivo, para os seus interesses egoístas. Os participantes juram para si mesmos e para os treinadores que eles honrarão seus compromissos. Qualquer um que não o faça será intimado a um compromisso, ou forçado a deixá-los. O próximo passo é concordar em completar o treinamento, deste modo assegurando uma alta porcentagem de conversões para as organizações. Eles terão, normalmente, que concordar em não tomar drogas, fumar, e algumas vezes não comer…ou lhes são dados lanches rápidos de modo a criar tensão. A razão real para estes acordos é alterar a química interna, o que gera ansiedade e, espera-se, cause ao menos um ligeiro mal-funcionamento do sistema nervoso, que aumente o potencial de conversão.

Antes que a reunião termine, os compromissos serão lembrados para assegurar que o novo convertido vá procurar novos participantes. Eles são intimidados a concordar em fazê-lo, antes de partirem. Desde que a importância em manter os compromissos é tão grande em sua lista de prioridade, o convertido tentará trazer à força cada um que ele conheça, para assistir a uma futura sessão oferecida pela organização. Os novos convertidos são fanáticos. De fato, o termo confidencial de merchandising nos maiores e mais bem sucedidos treinamentos de potencial humano é “vender com fanatismo!”

Pelo menos muitos milhares de pessoas se graduam, e uma boa porcentagem é programada mentalmente de modo a assegurar sua futura lealdade e colaboração se o guru ou a organização chamar. Pense nas implicações políticas em potencial, de centenas de milhares de fanáticos programados para fazer campanha pelo seu guru.

Fique precavido se uma organização deste tipo oferecer sessões de acompanhamento depois do seminário. Estas podem ser encontros semanais ou seminários baratos dados em uma base regular, nos quais a organização tentará habilmente convencê-lo — ou então será algum evento planejado regularmente, usado para manter o controle. Como os primeiros cristão revivalistas descobriram, um controle de longo prazo é dependente de um bom sistema de acompanhamento.

Muito bem. Agora, vamos ver uma segunda dica, que mostra quando táticas de conversão estão sendo usadas. A manutenção de um horário que causa fadiga física e mental. Isto é primariamente alcançado por longas horas nas quais aos participantes não é dada nenhuma oportunidade para relaxar ou refletir.

A terceira dica: quando notar que são utilizadas técnicas para aumentar a tensão na sala ou meio-ambiente.

Número quatro: incerteza. Eu poderia passar várias horas relatando várias técnicas para aumentar a tensão e gerar incerteza. Basicamente, os participantes estão preocupados quanto a serem notados ou apontados pelos instrutores; sentimentos de culpa se manifestam, e eles são tentados a relatar seus mais íntimos segredos aos outros participantes, ou forçados a tomar parte em atividades que enfatizem a remoção de suas máscaras. Um dos mais bem sucedidos seminários de potencial humano força os participantes a permanecerem em um palco à frente da audiência, enquanto são verbalmente atacados pelos instrutores. Uma pesquisa de opinião pública, conduzida a alguns anos, mostrou que a situação mais atemorizante na qual um indivíduo pode se encontrar, é falar para uma audiência. Isto iguala-se à lavar uma janela externamente, no 85º. andar de um prédio. Então você pode imaginar o medo e a tensão que esta situação gera entre os participantes. Muitos desfalecem, mas muitos enfrentam o stress por uma mudança de mentalidade. Eles literalmente entram em estado alfa, o que automaticamente os torna mais sugestionáveis do que normalmente são. E outra volta da espiral descendente para a conversão é realizada com sucesso.

O quinto indício de que táticas de conversão estão sendo usadas é a introdução de jargão — novos termos que tem significado unicamente para os “iniciados” que participam. Linguagem viciosa é também freqüentemente utilizada, de propósito, para tornar desconfortáveis os participantes.

A dica final é se não há nenhum humor na comunicação…ao menos até que os participantes sejam convertidos. Então, divertimentos e humor são altamente desejáveis, como símbolos da nova alegria que os participantes supostamente “encontraram”.

Não estou dizendo que boas coisas não resultem da participação em tais reuniões. Isto pode ocorrer. Mas afirmo que é importante para as pessoas saberem o que aconteceu, e ficarem prevenidas de que o contínuo envolvimento pode não ser de seu maior interesse.

Através dos anos, tenho conduzido seminários profissionais para ensinar às pessoas a serem hipnotizadores, treinadores e conselheiros. Tive [como alunos] muitos daqueles que conduzem treinamentos e reuniões, que vêm a mim e dizem, “estou aqui porque eu sei que aquilo que faço funciona, mas não sei o por quê”. Depois de mostrar-lhes o como e o por quê, muitos deles tem deixado este negócio, ou decidido abordá-lo diferentemente, de uma maneira mais amorosa e humana.

Muitos destes treinadores tem se tornado meus amigos, e marcou-nos a todos ter experimentado o poder de uma pessoa com um microfone na mão em uma sala cheia de pessoas. Some um pouco de carisma, e você pode contar com uma alta taxa de conversões. A triste verdade é que uma alta porcentagem de pessoas quer ceder o seu poder – eles são verdadeiros “crentes”!

Reuniões de culto e treinamentos de potencial humano são um ambiente ideal para se observar em primeira mão o que é tecnicamente chamado de “Síndrome de Estocolmo”. Esta é uma situação na qual aqueles que são intimidados, controlados e torturados começam a amar, admirar e muitas vezes até desejar sexualmente os seus controladores ou captores.

Mas permitam-me deixar aqui uma palavra de advertência: se você pensa que pode assistir tais reuniões e não ser afetado, você provavelmente está errado. Um exemplo perfeito é o caso de uma mulher que foi ao Haiti com Bolsa de Estudos da Guggenheim para estudar o vudu haitiano. Em seu relatório, ela diz como a música eventualmente induz movimentos incontroláveis do corpo, e um estado alterado de consciência. Embora ela compreendesse o processo e pudesse refletir sobre o mesmo, quando começou a sentir-se vulnerável à música ela tentou lutar e fugir. Raiva ou resistência quase sempre asseguram conversão. Poucos momentos mais tarde ela sentiu-se possuída pela música e começou a dançar, em transe, por todo o local onde se realizava o culto vudu. A fase cerebral tinha sido induzida pela música e pela excitação, e ela acordou sentindo-se renascida. A única esperança de assistir tais reuniões sem sentir-se afetado e ser um Buda, e não se permitir sentimentos positivos ou negativos. Poucas pessoas são capazes de tal neutralidade.

Antes de prosseguir, vamos voltar às seis dicas de conversão. Eu quero mencionar o governo dos Estados Unidos, e os campos de treinamento militar. O Corpo de Fuzileiros Navais (the Marine Corps) afirma que quebra o moral dos homens antes de “reconstruí-los” como novos homens – como fuzileiros (marines)! Bem, isso é exatamente o que eles fazem, da mesma maneira que os cultos vergam o moral das pessoas e as reconstróem como felizes vendedores de flores nas esquinas. Cada uma das seis técnicas de conversão é usada nos campos de treinamento militar. Considerando as necessidades militares, não estou fazendo um julgamento quanto a se isto é bom ou ruim. É UM FATO, que as pessoas efetivamente sofrem lavagem cerebral. Aqueles que não querem se submeter devem ser dispensados, ou passarão muito de seu tempo no quartel.

Processo de Decognição

Uma vez que a conversão inicial é realizada, nos cultos, no treinamento militar, ou em grupos similares, não pode haver dúvidas entre seus membros. Estes devem responder aos comandos, e fazer o que estes lhes disserem. De outra forma, eles seriam perigosos ao controle da organização. Isto é normalmente conseguido pelo Processo de Decognição em três passos.

O primeiro passo é o de REDUÇÃO DA VIGILÂNCIA: os controladores provocam um colapso no sistema nervoso, tornando difícil distinguir entre fantasia e realidade. Isto pode ser conseguido de várias maneiras. DIETA POBRE é uma; muito cuidado com Brownies e com Koolaid. O açúcar `desliga’ o sistema nervoso. Mais sutil é a “DIETA ESPIRITUAL”, usada por muitos cultos. Eles comem somente vegetais e frutas; sem o apoio dos grãos, nozes, sementes, laticínios, peixe ou carne, um indivíduo torna-se mentalmente “aéreo”. Sono inadequado é outro modo fundamental de reduzir a vigilância, especialmente quando combinada com longas horas de intensa atividade física. Também, ser bombardeado com experiências únicas e intensas consegue o mesmo resultado.

O segundo passo é a CONFUSÃO PROGRAMADA: você é mentalmente assaltado enquanto sua vigilância está sendo reduzida conforme o passo um. Isto se consegue com um dilúvio de novas informações, leituras, discussões em grupo, encontros ou tratamento individual, os quais usualmente eqüivalem ao bombardeio do indivíduo com questões, pelo controlador. Durante esta fase de decognição, realidade e ilusão freqüentemente se misturam, e uma lógica pervertida é comumente aceita.

O terceiro passo é PARADA DO PENSAMENTO: técnicas são usadas para causar um “vazio” na mente. Estas são técnicas para alterar o estado de consciência, que inicialmente induzem calma ao dar à mente alguma coisa simples para tratar, com uma atenta concentração. O uso continuado traz um sentimento de exultação e eventualmente alucinação. O resultado é a redução do pensamento, e eventualmente, se usado por muito tempo, a cessação de todo pensamento e a retirada de todo o conteúdo da mente, exceto o que os controladores desejem. O controle é, então, completo. É importante estar atento que quando membros ou participantes são instruídos para usar técnicas de “parar o pensamento, eles são informados de que serão beneficiados: eles se tornarão “melhores soldados”, ou “encontrarão a luz”.

Há três técnicas primárias usadas para parar o pensamento. A primeira é a MARCHA: a batida do tump, tump, tump literalmente gera auto-hipnose, e grande susceptibilidade à sugestão.

A segunda técnica para parar o pensamento é a MEDITAÇÃO. Se você passar de uma hora a uma hora e meia por dia em meditação, depois de poucas semanas há uma grande probabilidade de que você não retornará à consciência plena normal beta. Você permanecerá em um estado fixo alfa tanto mais quanto você continue a meditar. Não estou dizendo que isto é ruim – se você mesmo o faz. Pode então ser benéfico. Mas é um fato que você está levando a sua mente a um estado de vazio. Eu tenho testado quem medita, com máquinas EEG, e o resultado é conclusivo: quanto mais você medita, mais vazia se torna a sua mente, principalmente se usada em excesso ou em combinação com decognição; todos os pensamentos cessam. Alguns grupos espiritualistas vêem isto como nirvana – o que é besteira. Isto é simplesmente um resultado fisiológico previsível. E se o céu na terra significa não-pensamento e não-envolvimento, eu realmente pergunto por que nós estamos aqui.

A terceira técnica de parar o pensamento é pelo CÂNTICO, e freqüentemente por cânticos em meditação. “Falar em línguas” poderia também ser incluído nesta categoria.

Todas as três técnicas produzem um estado alterado de consciência. Isto pode ser muito bom se VOCÊ está controlando o processo, porque você também controla o que vai usar. Eu pessoalmente use ao menos uma sessão de auto-hipnose cada dia, e eu sei quão benéfico isto é para mim. Mas você precisa saber, se usar estas técnicas a ponto de permanecer continuamente em estado alfa, embora você permaneça em um estado levemente embriagado, você estará também mais sugestionável.

Verdadeiros Crentes & Movimentos de Massa

Antes de terminar esta seção de conversão, eu quero falar sobre as pessoas que são mais susceptíveis a isto, bem como sobre os Movimentos de Massa. Eu estou convencido que pelo menos um terço da população é aquilo que Eric Hoffer chama “verdadeiros crentes”. Eles são sociáveis, e são seguidores… são pessoas que se deixam conduzir por outros. Eles procuram por respostas, significado e por iluminação fora de si mesmos.

Hoffer, que escreveu O VERDADEIRO CRENTE, um clássico em movimentos de massa, diz: “os verdadeiros crentes não estão decididos a apoiar e afagar o seu ego; têm, isto sim, uma ânsia de se livrarem dele. Eles são seguidores, não em virtude de um desejo de auto-aperfeiçoamento, mas porque isto pode satisfazer sua paixão pela auto-renúncia!”. Hoffer também diz que os verdadeiros crentes “são eternamente incompletos e eternamente inseguros”!

Eu sei disto, pela minha própria experiência. Em meus anos de ensino e de condução de treinamentos, eu tenho esbarrado com isto muitas vezes. Tudo que eu quero fazer é tentar mostrar-lhes que a única coisa a ser buscada é a Verdade interior. Suas respostas pessoais deverão ser encontradas lá, e solitariamente. Eu sempre digo que a base da espiritualidade é a auto-responsabilidade e a auto-evolução, mas muitos dos verdadeiros crentes apenas respondem que eu não possuo espiritualidade, e vão em seguida procurar por alguém que lhes dará o dogma e a estrutura que eles desejam.

Nunca subestime o potencial de perigo destas pessoas. Eles podem facilmente ser moldados como fanáticos, que irão com muito prazer trabalhar e até morrer pela sua causa sagrada. Isto é um substituto para a sua fé perdida, e freqüentemente lhes oferece um substituto para a sua esperança individual. A Maioria Moral é feita de verdadeiros crentes. Todos os cultos são compostos de verdadeiros crentes. Você os encontrará na política, nas igrejas, nos negócios e nos grupos de ação social. Eles são os fanáticos nestas organizações.

Os Movimentos de Massa possuem normalmente um líder carismático. Seus seguidores querem converter outros para o seu modo de vida ou impor um novo estilo de vida – se necessário, recorrendo a uma legislação que os force a isto, como evidenciado pelas atividades da Maioria Moral. Isto significa coação pelas armas ou punição, que é o limite em se tratando de coação legal.

Um ódio comum, um inimigo, ou o demônio são essenciais ao sucesso de um movimento de massas. Os Cristão Renascidos tem o próprio Satã, mas isto não é o bastante – a ele se soma o oculto, os pensadores da Nova Era, e mais tarde, todos aqueles que se oponham à integração de igreja e política, como evidenciado pelas suas campanhas políticas contra a reeleição daqueles que se oponham às suas opiniões. Em revoluções, o demônio é usualmente o poder dominante ou a aristocracia. Alguns movimentos de potencial humano são bastantes espertos para pedir a seus graduados para que associem-se a alguma coisa, o que o etiquetaria como um culto – mas, se você olhar mais de perto, descobrirá que o demônio deles é quem quer que não tenha feito o seu treinamento.

Há movimentos de massa sem demônios, mas eles raramente alcançam um maior status. Os Verdadeiros Crentes são mentalmente desequilibrados ou mesmo pessoas inseguras, sem esperança e sem amigos. Pessoas não procuram aliados quando estão amando, mas eles o fazem quando odeiam ou tornam-se obcecados com uma causa. E aqueles que desejam uma nova vida e uma nova ordem sentem que os velhos caminhos devem ser destruídos antes que a nova ordem seja construída.

Técnicas de Persuasão

Persuasão não é uma técnica de lavagem cerebral, mas é a manipulação da mente humana por outro indivíduo, sem que o sujeito manipulado fique consciente do que causou sua mudança de opinião. Eu somente tenho tempo para apresentar umas poucas das centenas de técnicas em uso atualmente, mas a base da persuasão é sempre o acesso ao seu CÉREBRO DIREITO. A metade esquerda de seu cérebro é analítica e racional. O lado direito é criativo e imaginativo. Isto está excessivamente simplificado, mas expressa o que quero dizer. Então, a idéia é desviar a atenção do cérebro esquerdo e mantê- lo ocupado. Idealmente, o agente gera um estado alterado de consciência, provocando uma mudança da consciência beta para a alfa; isto pode ser medido em uma máquina de EEG.

Primeiro, deixem-me dar um exemplo de como distrair o cérebro esquerdo. Políticos usam esta poderosa técnica todo o tempo; advogados usam muitas variações, as quais eles chamam “apertar o laço”.

Assuma por um momento que você está observando um político fazendo um discurso. Primeiro, ele pode suscitar o que é chamado “SIM, SIM”. São declarações que provocarão assentimentos nos ouvintes; eles podem mesmo sem querer balançar suas cabeças em concordância. Em seguida vem os TRUÍSMOS. Estes são, usualmente, fatos que podem ser debatidos, mas uma vez que o político tenha a concordância da audiência, as vantagens são a favor do político, que a audiência não irá parar para pensar a respeito, continuando a concordar. Por último vem a SUGESTÃO. Isto é o que o político quer que você faça, e desde que você tenha estado concordando todo o tempo, você poderá ser persuadido a aceitar a sugestão. Agora, se você ler o discurso político a seguir, você perceberá que as três primeiras sentenças são do tipo “sim, sim”, a três seguintes são truísmos, e a última é a sugestão.

“Senhoras e senhores: vocês estão indignados com os altos preços dos alimentos? Vocês estão cansados dos astronômicos preços dos combustíveis? Estão doentes com a falta de controle da inflação? Bem, vocês sabem que o Outro Partido permitiu uma inflação de 18 por cento no ano passado; vocês sabem que o crime aumentou 50 por cento por todo o país nos últimos 12 meses, e vocês sabem que seu cheque de pagamento dificilmente vem cobrindo os seus gastos. Bem, a solução destes problemas é eleger-me, John Jones, para o Senado dos E.U.A.”

Eu penso que você já ouviu isto antes. Mas você poderia atentar também para os assim chamados Comandos Embutidos. Como exemplo: em palavras chaves, o locutor poderia fazer um gesto com sua mão esquerda, a qual, como os pesquisadores tem mostrado, é mais apta para acessar o seu cérebro direito. Os políticos e os brilhantes oradores de hoje, orientados pela mídia, são com freqüência cuidadosamente treinados por uma classe inteiramente nova de especialistas, os quais estão usando todos os truques – tanto novos quanto antigos – para manipulá-lo a aceitar o candidato deles.

Os conceitos e técnicas da Neuro-Lingüística são tão fortemente protegidos que eu descobri que, mesmo para falar sobre ela publicamente ou em impressos, isto resulta em ameaça de ação legal. Já o treinamento em Neuro-Lingüística está prontamente disponível para qualquer pessoa que queira dedicar o seu tempo e pagar o preço. Esta é uma das mais sutis e poderosas manipulações a que eu já me expus. Uma amiga minha que recentemente assistiu a um seminário de duas semanas em Neuro-Lingüística descobriu que muitos daqueles com quem ela conversou durante os intervalos era pessoal do governo.

Uma outra técnica que eu aprendi há pouco tempo é inacreditavelmente escorregadia; ela é chamada de TÉCNICA INTERCALADA, e a idéia é dizer uma coisa com palavras, mas plantar um impressão inconsciente de alguma outra coisa na mente dos ouvintes e/ou observadores.

Quero dar um exemplo: suponha que você está observando um comentarista da televisão fazer a seguinte declaração: “O SENADOR JOHNSON está ajudando as autoridades locais a esclarecer os estúpidos enganos das companhias que contribuem para aumentar os problemas do lixo nuclear”. Isto soa como uma simples declaração, mas, se o locutor enfatiza a palavra certa, e especialmente se ele faz o gesto de mãos apropriado junto com as palavras chaves, você poderia ficar com a impressão subconsciente de que o senador Johnson é estúpido. Este era o objetivo subliminar da declaração, e o locutor não pode ser chamado para explicar nada.

Técnicas de persuasão são também freqüentemente usadas em pequena escala com muita eficácia. O vendedor de seguro sabe que a sua venda será provavelmente muito mais eficaz se ele conseguir que você visualize alguma coisa em sua mente. É uma comunicação ao cérebro direito. Por exemplo, ele faz uma pausa em sua conversação, olha vagarosamente em volta pela sua sala, e diz, “Você pode imaginar esta linda casa incendiando até virar cinzas?”. Claro que você pode! Este é um de seus medos inconscientes, e quando ele o força a visualizar isto, você está sendo muito provavelmente manipulado a assinar o contrato de seguros.

Os Hare Krishna, ao operarem em um aeroporto, usam o que eu chamo técnicas de CHOQUE E CONFUSÃO para distrair o cérebro esquerdo e comunicarem-se diretamente com o cérebro direito. Enquanto estava esperando no aeroporto, uma vez eu fiquei por uma hora observando um deles operar. A sua técnica era a de saltar na frente de quem passasse. Inicialmente, sua voz era alta; então ele abaixava o tom enquanto pedia para que a pessoa levasse um livro, após o que pedia uma contribuição em dinheiro para a causa. Usualmente, quando as pessoas ficam chocadas, elas imediatamente recuam. Neste caso, eles ficavam chocados pela estranha aparência, pela súbita materialização e pela voz alta do devoto Hare Krishna. Em outras palavras, as pessoas iam para um estado alfa por segurança, porque elas não queriam confrontar-se com a realidade à sua frente. Em alfa, elas ficavam altamente sugestionáveis, e por isto aceitavam a sugestão de levar o livro; no momento em que pegavam o livro, sentiam-se culpadas e respondiam a uma segunda sugestão: dar dinheiro. Nós estamos todos condicionados de tal forma que, se alguém nos dá alguma coisa, nós temos de dar alguma coisa em troca – neste caso, era dinheiro. Enquanto observava este trabalhador incansável, eu estava perto o bastante para perceber que muitas das pessoas que ele parara exibiam um sinal externo de que estavam em alfa – seus olhos estavam dilatados.

Programação Subliminar

Subliminares são sugestões ocultas que somente o nosso subconsciente percebe. Podem ser sonoras, ocultas por entre a música; visuais, disfarçadas em cada quadro e mostrados tão rapidamente na tela que não são vistos; ou espertamente incorporados ao quadro ou desenho.

Muitas fitas de áudio de reprogramação subliminar oferecem sugestões verbais gravadas em baixo volume. Eu questiono a eficácia desta técnica – se as subliminares não são perceptíveis, elas não podem ser efetivas, e subliminares gravadas abaixo do nível de audição são, por esta razão, inúteis. A mais antiga técnica de áudio subliminar usa uma voz que segue o volume da música de tal modo que as subliminares são impossíveis de detectar sem um equalizador paramétrico. Mas esta técnica é patenteada, e, quando eu quis desenvolver minha própria linha de audiocassetes subliminares, negociações com os detentores desta patente provaram ser insatisfatórias. Meu procurador obteve cópias das patentes, as quais eu dei a alguns talentosos engenheiros de som de Hollyhood pedindo-lhes para criarem uma nova técnica. Eles encontraram um modo de modificar psico- acusticamente e sintetizar as subliminares de tal modo que elas fossem projetadas no mesmo acorde e freqüência que a música, assim dando- lhes o efeito de fazerem parte da música. Mas nós descobrimos que usando estas técnica, não há maneira de reduzir as freqüências para detectar os subliminares. Em outras palavras, embora eles possam ser ouvidos pela mente subconsciente, não podem ser monitorados mesmo pelos mais sofisticados equipamentos.

Se nós pudemos criar esta técnica tão facilmente como o fizemos, eu posso somente imaginar quão sofisticada a tecnologia se tornou, com fundos ilimitados do governo e da publicidade. E eu estremeço só de pensar na manipulação dos comerciais de propaganda a que estamos expostos diariamente. Não há simplesmente nenhuma maneira de saber o que há por trás da música que você ouve. E pode mesmo ser possível esconder uma segunda voz por trás da voz que você está ouvindo.

As séries de Wilson Bryan Key, Ph.D., sobre subliminares em publicidade e campanhas políticas documentam bem o abuso em muitas áreas, especialmente na publicidade impressa em jornais, revistas e posters.

A grande questão sobre subliminares é: eles funcionam? Eu garanto que sim. Não somente devido àqueles que usaram minhas fitas, mas também dos resultados de tais programas subliminares por trás das músicas das lojas de departamentos. Supostamente, a única mensagem eram instruções para não roubar: uma cadeia de lojas de departamentos da Costa Leste reportou uma redução de 37 por cento em furtos nos primeiros nove meses do teste.

Um artigo de 1984 no jornal “Brain-Mind Bulletin” declara que até 99 por cento de nossa atividade cognitiva pode ser “não-consciente”, de acordo com o diretor do Laboratório de Psicofisiologia Cognitiva da Universidade de Illinois. O longo relatório termina com a declaração, “estas ferramentas apoiam o uso de abordagens subliminares tais como sugestões gravadas em fita para perder peso, e o uso terapêutico da hipnose e Programação Neuro-Lingüística”.

Abuso das Massas

Eu poderia relatar muitas histórias que apoiam a programação subliminar, mas eu gastaria muito tempo para falar mesmo dos mais sutis usos de tal programação.

Eu experimentei ir pessoalmente, com um grupo, a reuniões no auditório de Los Angeles, onde mais de dez mil pessoas se reúnem para ouvir uma figura carismática. Vinte minutos depois de entrar no auditório eu percebi que estava indo e vindo de um estado alterado de consciência. Todos que me acompanhavam estavam experimentando a mesma coisa. Como este é o nosso negócio, nós percebíamos o que acontecia, mas os que nos rodeavam nada percebiam. Por cuidadosa observação, o que parecia ser uma demonstração expontânea era, de fato, uma astuta manipulação. A única maneira que eu podia imaginar pela qual se poderia fazer a indução ao transe era por meio de uma vibração de 6 a 7 ciclos por segundo que soava juntamente com o som do ar condicionado. Esta vibração em particular gera um ritmo alfa, a qual tornará a audiência altamente susceptível às sugestões. De 10 a 25 por cento da população é capaz de ir para um estado alterado de consciência sonambúlico; para estas pessoas, as sugestões do locutor, se não-ameaçadoras, podem potencialmente ser aceitas como “comandos”.

Vibrato

Isto nos leva a mencionar o VIBRATO. Vibrato é o efeito de trêmulo feito por alguma música instrumental ou vocal, e a sua faixa de freqüências conduz as pessoas a entrarem em um estado alterado de consciência. Em um período da história inglesa, aos cantores cuja voz possuía um vibrato pronunciado não era permitido cantarem em público, porque os ouvintes entravam em um estado alterado de consciência, quando então tinham fantasias, inclusive de ordem sexual.

Pessoas que assistem à ópera ou apreciam ouvir cantores como Mário Lanza estão familiarizados com os estados alterados induzidos pelos cantores.

ELF

Agora, vamos levar esta condição um pouco mais longe. Há também ondas de freqüência extra-baixa (ELFs) inaudíveis. Elas são eletromagnéticas por natureza. Um dos usos básicos das ELFs é a comunicação com nossos submarinos. O dr. Andrija Puharich, um altamente respeitado pesquisador, em uma tentativa de alertar os oficiais americanos acerca do uso pelos russos das ELFs, realizou uma experiência. Voluntários tinham conexões ligadas aos seus cérebros de modo a que as ondas pudessem ser medidas em um EEG. Eles eram isolados em uma sala de metal que era imune à penetração de qualquer sinal normal.

Puharich então irradiou ondas ELF para os voluntários. As ondas ELFs passam direto através da Terra, e, claro, atravessam paredes de metal. Os que estavam isolados não sabiam se o sinal estava ou não sendo enviado, e Puharich observou as reações em um aparelho: 30 por cento dos que estavam na sala acusavam o sinal de ELF em seis ou dez segundos.

Quando eu digo “acusavam”, eu quero dizer que o seu comportamento seguia as mudanças prevista para freqüências muito precisas. Ondas abaixo de seis ciclos por segundo causavam perturbações emocionais e até a interrupção de funções físicas. Para 8.2 ciclos, eles sentiam um bem alto…um elevado sentimento, como se estivessem em uma poderosa meditação, aprendida à custa de muitos anos. Onze até 11,3 ciclos induziam ondas de depressão e agitação, que conduziam a um comportamento turbulento.

O Neurofone

O dr. Patrick Flanagan é um meu amigo pessoal. No início dos anos 60, como um adolescente, Pat foi listado como um dos maiores cientistas do mundo pela revista Life. Entre os seus muitos inventos havia um dispositivo que ele chamou Neurofone – um instrumento eletrônico que podia, com sucesso, transmitir sugestões diretamente através do contato com a pele. Quando ele tentou patentear o dispositivo, o governou demandou para que ele provasse que era dele o invento. Quando ele o fez, a Agência de Segurança Nacional confiscou o neurofone. Pat levou dois anos de batalha legal para ter sua invenção de volta.

Usando o dispositivo, você não ouve ou vê nada; ele é aplicado à pele, a qual Pat afirma que é a fonte de sentidos especiais. A pele contém mais sensores de calor, toque, dor, vibração e campos elétricos do que qualquer outra parte da anatomia humana.

Em um de seus recentes testes, Pat conduziu dois idênticos seminários para uma audiência militar – um seminário em uma noite e outro na seguinte, porque a sala não era bastante grande para acomodar todos ao mesmo tempo. Quando o primeiro grupo provou ser muito pouco receptivo e relutante em responder, Patrick passou o dia seguinte fazendo uma fita de áudio especial para tocar no segundo seminário. A fita instruía a audiência a ser extremamente calorosa, sensível e para que as suas mãos “formigassem”. A fita foi tocada através do neurofone, o qual foi conectado por um fio que ele colocou ao longo do teto da sala. Não havia locutores, e assim nenhum som podia ser ouvido, e ainda assim a mensagem foi transmitida com sucesso através do fio diretamente para a mente dos que assistiam o seminário. Eles foram calorosos e receptivos, suas mãos formigaram e eles responderam à programação, com reações que não posso mencionar aqui.

Quanto mais procuramos descobrir sobre como os seres humanos agem, através da altamente avançada tecnologia de hoje, tanto mais aprendemos a controlá-los. E o que provavelmente mais me assusta é que o meio para dominá-los já está aí! A televisão em sua sala e quarto está fazendo muito mais do que apenas dar-lhe entretenimento.

Antes de continuar, deixem-me ressaltar alguma coisa a mais acerca do estado alterado de consciência. Quando você vai para um estado alterado, você passa a usar o lado direito do cérebro, o que resulta na liberação dos opiáceos internos do corpo: encefalinas e beta-endorfinas, que quimicamente são quase idênticas ao ópio. Em outras palavras, dá uma boa sensação, a qual você sempre irá querer mais.

Testes recentes feitos pelo pesquisador Herbert Krugman mostraram que enquanto as pessoas assistem à TV, a atividade do cérebro direito excede em número a atividade do cérebro esquerdo por uma relação de dois para um. Colocando de maneira mais simples, as pessoas estão em um estado alterado … e muito freqüentemente, em transe. Elas estão conseguindo a sua beta-endorfina “fixa”.

Para medir a extensão da atenção, o psicofisiologista Thomas Mulholland, do Hospital de Veteranos de Bedford, Massachusetts, ligou telespectadores jovens a uma máquina EEG que estava ligada a um fio que interrompia a TV sempre que o cérebro dos jovens produzisse uma maioria de ondas alfa. Embora lhes fosse pedido que se concentrassem, somente uns poucos puderam manter o aparelho ligado por mais do que 30 segundos!

Muitos telespectadores já estão hipnotizados. Aprofundar o transe é fácil. Um modo simples é colocar um quadro preto a cada 32 quadros do filme que está sendo projetado. Isto cria uma pulsação de
45 batidas por minuto, percebida somente pela mente subconsciente – o ritmo ideal para provocar uma hipnose profunda.

Os comerciais ou sugestões apresentados pelas emissoras seguindo esta indução ao transe-alfa são muito mais comumente aceitas pelos telespectadores. A alta porcentagem da audiência que atinge o sonambulismo profundo pode muito bem aceitar as sugestões como comandos – pelo menos enquanto estes não contrariarem suas convicções morais, a religião ou sua auto-preservação.

O meio para dominar está aqui. Até a idade de 16 anos, as crianças terão passado de 10.000 a 15.000 horas vendo televisão – o que é mais tempo do que ele passam na escola! Na média dos lares, o aparelho de TV fica ligado seis horas e 44 minutos por dia – um acréscimo de nove minutos sobre o ano passado, e três vezes a média de crescimento durante os anos 70.

Isto obviamente não está melhorando…nós estamos rapidamente nos movendo para um mundo nível alfa – muito possivelmente o mundo Orwelliano de “1984” – plácido, olhar vítreo e resposta obediente às instruções.

Um projeto de pesquisa de Jacob Jacoby, um psicólogo da Universidade Purdue, descobriu que de 2.700 pessoas testadas, 90 por cento entenderam mal até mesmo simples opiniões mostradas em comerciais e “Barnaby Jones”. Apenas alguns minutos depois, o típico telespectador esquece de 23 a 36 por cento dos assuntos que ele ou ela vê. É claro que eles estavam entrando e saindo do transe! Se você for para um transe profundo, pode ser instruído para relembrar – do contrário, automaticamente esquece tudo.

Eu toquei unicamente a ponta do iceberg. Quando você começa a combinar mensagens subliminares por trás da música, projetar cenas subliminares na tela, produzir efeitos ópticos hipnóticos, ouvir batidas musicais a um ritmo que induz ao transe…você tem uma extremamente eficaz lavagem cerebral. Cada hora que você passa assistindo a TV deixa-o cada vez mais condicionado. E, no caso de você pensar que exista uma lei contra tudo isto, esqueça. Não há! Existem muitas pessoas poderosas que obviamente preferem que as coisas permaneçam exatamente como estão. Será que elas planejam algo?

Dick Sutphen

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/baixa-magia/a-batalha-pela-sua-mente/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/baixa-magia/a-batalha-pela-sua-mente/

A História do Deus Mitra

Este estudo buscará enfocar o tema Mitra em cinco partes: a) as origens antigas do Deus; b) o culto e a liturgia do mitraísmo; c) a derrota frente ao cristianismo; d) resquícios mitraícos e sua influência sobre a maçonaria e e) como seria um mundo moderno mitraíco à guisa de conclusão. Utilizamos, para este trabalho, enciclopédias e diversos textos da Internet, principalmente o texto de Jean-Louis dB no “La parole circule”.

I – As Origens Antigas do Deus Mitra.

Existe muita controvérsia sobre a etimologia de Mitra. Na Índia védica, Mitra significava ‘amigo’, no persa avéstico era traduzido como ‘contrato’. Esta última definição é a que prevalece nos nossos dias, sendo pois Mitra a personificação do contrato. Segundo os etimologistas, Mit(h)tra é composto de um sufixo instrumental – “tra” – que significa instrumento de trabalho e de um prefixo “mi” que é encontrado em todas as línguas indo-européias sob diferentes raízes. “Mei” pode significar ainda “lugar, encontro”. Em sânscrito “mitram” significa “amigo”. Mitra significando, pois, ‘contrato’ e ‘amigo’ não se opõem realmente, visto que não existe amizade sem um engajamento mútuo. Não se fala em ‘pacto de amizade’? Mitra se encontra sob diferentes ortografias: Mihr, Meher, Meitros, etc.

Os trabalhos clássicos de Mircea Eliade e principalmente os de Georges Dumézil sobre a Índia védica demonstram uma estrutura fundamental da sociedade e da ideologia das diferentes sociedades indo-européias. A sociedade é dividida em três classes: sacerdotes, guerreiros e agricultores que correspondem a uma ideologia religiosa trifuncional: a função da soberania mágica, da sacrificadora e da jurídica (Varuna-Mitra, Rômulo-Júpiter e Odin); a função dos deuses da força guerreira (Indra, o etrusco Lucumão-Marte e Thor) e, finalmente, a das divindades da fecundidade e da prosperidade econômica (os gêmeos Nâsatya ou os Asvins, Tatius [e os sabinos]-Quirino e Freyr).

Encontra-se o Deus Mitra no Panteão Védico da Índia desde 1380 a. C. Este Proto-Mitra estaria associado a Varuna e forma uma dualidade antitética e complementar. Mitra seria a face jurídico-sacerdotal, conciliadora, luminosa, próxima da terra e dos homens enquanto Varuna seria o aspecto mágico violento, terrível e tenebroso. Mitra torna-se, pois, a garantia do compromisso, a força deliberante, enquanto Varuna o respeito ao bom direito pela força atuante. A antítese Mitra-Varuna encontra-se também em Roma com a oposição dos dois primeiros reis: Rómulo (Varuna-Júpiter), semi-deus violento e Tatius (ou Numa-Mitra), ponderado e sábio, instituidor das questões sagradas e das leis, ligado igualmente aos deuses da fertilidade e do solo. Mitra é o Deus soberano sob seu aspecto racional, claro, regrado, calmo, benevolente, sacerdotal. Seu papel é secundário quando esta isolado de Varuna, mas compartilha com este todos os atributos da soberania. O Sol é seu olho, nada lhe escapa. A conclusão de um acordo se fará através de um sacrifício ao Deus Mitra, mas um sacrifício incruento, pelo menos no início, pois, mais tarde, terminará por aceitar sacrifícios sangrentos. Esta evolução é metaforizada pelo papel de Mitra na história dos Deuses, pois terminará por ser associado à morte do Deus Soma. Na origem, Mitra recusa-se a participar da morte ritual, sendo amigo de todos, pois prestará sua ajuda para, no final, ser um ator ativo na morte ritual.

O Mitra avéstico, encontrado na religião iraniana, é o Mitra mais conhecido e divulgado e precede o monoteísmo zoroastriano. A influência da antiga religião iraniana para a formação religiosa do Ocidente é bastante significativa: o tempo linear, a articulação dos diversos sistemas dualistas – sejam cósmicos, éticos ou religiosos -, o mito do Salvador; a elaboração de uma escatologia ‘otimista’ que proclama o triunfo do Bem sobre o Mal; a salvação universal; a doutrina da ressurreição dos corpos; certos mitos gnósticos; a mitologia dos Magos etc.

Na religião dos aquemênidas, a oposição entre Aúra-Masda (o Bem) e os daêvas (o Mal) sempre foi presente, já que na Índia védica aconteceu o contrário: no conflito entre os devas e os asura, aqueles foram vencedores, pois tornaram-se os verdadeiros deuses, ao triunfarem sobre as divindades mais arcaicas – os asura – que nos textos védicos são considerados figuras ‘demoníacas’. Processo similar, ainda que com sinal trocado, aconteceu no Irã: os antigos deuses, os daêvas, foram demonizados (ai, dos perdedores!). Eliade argumenta que “pode-se determinar em que sentido se efetuou essa transformação: foram sobretudo os deuses de função guerreira – Indra, Saurva, Vayu – que se tornaram daêvas. Nenhum dos deuses asura foi ‘demonizado’. Aquele que, no Irã, correspondia ao grande asura proto-indiano, Varuna, torna-se Aúra-Masda”.

Aqui, a antítese Varuna-Mitra é substituída pelo duo Mitra-Aúra sendo que a função continua a mesma. Mitra é um deus da luz, da aurora, guardião que socorre as criaturas, onisciente e vitorioso. Aúra, tornando-se progressivamente Aúra-Masda, transforma, também, a significação de Mitra, metamorfoseando-o paulatinamente num deus guerreiro. Mitra continua deus do contrato e do acordo e assegura uma ligação entre os diferentes níveis da sociedade da qual é garantidor da ordem, representada pelo gado e a fecundidade. Interessante notar que aquela trilogia de Dumézil – sacerdote, guerreiro e agricultor – começa a ser baralhada. Este Mitra avéstico, mais do que o védico, beneficiará os sacrifícios, notadamente os do Touro. Seu papel de deus guerreiro, contudo, crescerá à medida que Aúra-Masda fortifica e torna dominante o seu lugar no Panteão dos Deuses. Tal ‘evolução’ é lógica, pois como deus garantidor da ordem, sempre estará ao serviço do respeito da lei e do contrato para aqueles que o reverenciam. Com o tempo metamorfoseia-se num deus violento e cruel. É um deus solar com mil olhos e orelhas e, como vimos, um deus da fertilidade dos campos e dos rebanhos. Atua, como Hermes, no papel de psicopompo, ou seja, condutor das almas dos mortos, pois como senhor dos Céus conduz as almas até o Paraíso.

Mitra foi adorados por quase todos os soberanos persas: Ciro o reverenciava; sob Dario houve um breve eclipse, pois este, segundo alguns especialistas, era partidário de Zoroastro; e reaparece com Artaxerxes. Na cerimonial da realeza persa, o dia de Mitrakana era o único dia em que o rei persa tinha o direito de embriagar-se, numa clara analogia com a morte védica.

Mitra retorna ao primeiro plano como deus do sol, dos juramentos e dos contratos, sob a influência dos Magos. Estes foram uma classe de sacerdotes dos antigos medas com um papel sacrificial importante e que entre os gregos antigos gozavam de uma reputação de serem depositários de uma sabedoria esotérica. No Panteão dos Deuses avésticos, Mitra seria filho de Anihata ou Anahita, a gênia feminina do fogo, uma espécie de Virgem Imaculada, Mãe de Deus. É a única figura feminina associada a Mitra, pois este permanecerá celibatário por toda a vida, exigindo de seus admiradores a prática do controle de si, a renúncia e a resistência a toda forma de sensualidade. Vale salientar que o maior Mithraeum (templo) construído em Kangavar na Pérsia Ocidental era dedicado a esta deusa. Segundo reza o Mihr Yasht, o extenso hino em honra a Mitra da saga religiosa persa, a história de Mitra é a seguinte: após ter sido promovido ao panteão dos Grandes Deuses, Aúra-Masda mandou construir-lhe uma mansão no cimo do Monte Hara, ou seja, no mundo espiritual, além da abóbada celeste. Postou-se aí como o protetor de todas as criaturas e não era adorado como todos os outros deuses menores com preces rotineiras. Aúra Masda consagrou Haoma como sacerdote de Mitra que o adorava e lhe oferecia sacrifícios. Aúra Masda cria e prescreve o rito próprio ao culto de Mitra no paraíso. Mitra, assim, retorna à terra para o combate contra os daêvas sem, contudo, conseguir vencê-los. Somente quando Mitra se une a Aúra Masda o destino dos daêvas será selado. Mitra será, a partir daí, adorado como a luz que ilumina todo o mundo.

No tocante aos babilônios, estes incorporarão o Deus Mitra no seu Panteão e, em troca, introduzirão, na religião persa, seu culto solar, tendo a astrologia como um dos seus pontos mais fortes. Convém salientar que a cultura judaica sofrerá uma influência marcante do dualismo zoroastriano a partir do cativeiro em 597 a.C. No judaísmo primordial, Iavé era concebido como o único criador do Mundo e do Universo, ou seja a totalidade absoluta do real, contendo inclusive o mal. O dualismo Iavé – HaShatan advém de uma crise espiritual que se seguiu ao cativeiro babilônico, personificando aspectos negativos da vida, sob a forma de Satã, que se tornará progressivamente também eterno. Satã seria, então, o fruto de uma cissão da imagem arcaica de Iavé combinado com as doutrinas dualistas iranianas. Esta tradição impactará fortemente o cristianismo nascente.

O Mitra irano-helenístico tem a sua gênese com as conquistas de Alexandre e a queda do império persa durante o ano de 330 a. C., pois Alexandre e 10.000 de seus soldados macedônios se casam com mulheres persas e mais, dentro do ritual persa. Sabe-se que alguns destes macedônios e seus filhos, iniciados pelas mães persas, introduziram o culto de Mitra na Macedônia e na Grécia. É deveras conhecido que a adoração deste Deus Mitra, advindo do inimigo persa, nunca obteve uma grande popularidade na Grécia, apesar de continuar a manter a influência junto à aristocracia meda e iraniana. Tanto assim que o nome Mitrídate (dado a Mitra) é encontrado em diversos reis partos, do Bósforo e do Ponto Euxino. A arqueologia tem descoberto diversos templos – Mitreas – na Armênia. Apesar da pouca influência junto ao povo grego, a religião iraniana entrou num vasto movimento sincrético junto à cultura helênica. Mitra era adorado em todo o império de Alexandre e os Magos continuavam a ser os sacerdotes sacrificadores. O culto repousava sobre uma cronologia escatológica de 7.000 anos, cada milênio sendo governado por um planeta. Daí advém a série dos 7 planetas, dos 7 metais, das 7 cores etc. Durante os 6 primeiros milênios, Deus e o Espírito do Mal combatem pela supremacia e, quando o Mal parecia vitorioso, Deus enviou o Deus solar Mitra (Apolo, Hélio) que domina o sétimo milênio. No fim deste período setenal, a potência dos planetas cessa e um incêndio universal recobre o mundo.

Curioso nesta época é a biografia do rei Mitrídate VI Eupator, rei do Ponto, anterior ao nascimento de Cristo. Seu nascimento foi anunciado por um cometa, um raio caiu sobre o recém-nascido, deixando-lhe uma cicatriz. A educação deste rei é uma longa série de provas iniciáticas. É visto durante sua coroação como uma encarnação de Mitra. A biografia real é muito próxima do Natal cristão. Ele será o último rei de uma longa lista de grandes reis Mitridates. Conquistou quase toda a Ásia Menor por volta de 88 a. C., mas foi derrotado pelos romanos em 66. Provavelmente aliou-se aos piratas Cilicianos dos quais falaremos a seguir. Foi, também, o primeiro monarca a praticar a imunização contra os venenos, a qual, segundo o Aurélio, se adquire por meio da repetida absorção de pequenas doses deles, gradualmente aumentadas, daí o nome mitridatismo.

A grande popularidade e o apelo do mitraísmo como uma forma refinada e final do paganismo pré-cristão foi discutida pelo historiador grego Heródoto, pelo biógrafo, também grego, Plutarco, pelo filósofo neoplatônico Porfírio, pelo herético gnóstico Orígenes e por São Jerônimo, um dos pais da Igreja.

O contato com o mundo helênico desenvolvia-se essencialmente a partir de Comageno na Ásia Menor. Daí surgem os primeiros testemunhos sobre Mitra, como um Deus dos Mistérios no primeiro século a. C., curiosamente, no seio dos piratas Cilicianos em luta contra os romanos. É dentro deste contexto de resistência e luta que Mitra pode tornar-se um Deus iniciático. Plutarco diz que celebravam em segredo ‘os mistérios de Mitra’. Sua capital era Tarso, onde nasceu S. Paulo, e Perseu era o seu Deus fundador. O símbolo da cidade era o combate do Leão com o Touro. Paralelamente a isto, os Magos medas se fixaram na Ásia Menor e na Mesopotâmia, infiltrando-se cultural e religiosamente no mundo helênico, principalmente, como vimos, na aristocracia. Cita-se que o rei Tiridate quando veio a Roma para ser coroado rei da Armênia por Nero, dirigiu-se ao imperador chamando-o por Mitra (Deus Sol).

O Mitra romano faz sua ‘rentrée’ no Império através dos Mistérios. O termo “mistério” possui um sentido muito preciso. Os mistérios gregos, e depois romanos, foram numerosos: Dionísio, Elêusis, Cibele, Átis e Deméter. Podem ser ainda citados os de Ísis, Sarápis, Sabázios, Júpiter Doliqueno etc. Uma certa bruma enigmática envolvia todos estas cerimônias dos mistérios, mas o comum entre eles, era o aspecto ‘solar’, apesar de todos esconderem sua identidade essencial. Desnecessário dizer que, por serem os mistérios, secretos e ocultos, poucos documentos escritos chegaram até nossos dias. O pouco que se sabe sobre eles advém da patrística cristã que, na ânsia de combater o mitraísmo, terminou por nos legar uma série de descrições sobre o mesmo. Alguns autores gauleses chegam a afirmar que assim como a maçonaria foi a religião clandestina da IIIª República Francesa, o mitraísmo sustentava subterraneamente a ideologia da Roma Imperial.

A inoculação do veneno mitraíco no seio do Império, segundo Plutarco (Vita Pompeu), foi o transplante, feito por Pompeu em 67 a. C., de 20.000 prisioneiros Cilicianos (uma província na costa sul oriental da Ásia Menor) que praticavam os “ritos secretos” de Mitra. Daí, a epidemia mitraíca se alastrou por todo o mundo romano, reforçada ainda pelos múltiplos contatos das tropas de ocupação romana com as outras culturas mitraícas, tendo atingido o seu zênite no século III, quando começou a travar uma luta de vida e morte com o cristianismo. Tanto assim que do século II ao IV da nossa era, os Mithrae (ou Mithraeum no singular) – templos dedicados ao culto do deus – chegaram a ser mais de 40 em Roma. Um dos maiores templos construídos podem ser encontrados hoje nos subterrâneos da Igreja de São Clemente, perto do Coliseu. Esta adoração não se restringia somente à capital do Império, mas principalmente às cidades portuárias da atual Itália: Óstia, Antium, no mar Tirreno; Aquiléia, no Adriático, Siracusa, Catânia, Palermo etc. Paralelamente, a propagação se dá na Áustria, na Germânia, nas províncias danubianas, na Polônia, na Hungria e Ucrânia e num movimento de volta, nas províncias da Trácia e da Dalmácia, num retorno à Grécia e a Macedônia. No terceiro século, encontram-se traços mitraícos na Criméia, no Eufrates, no Egito e sobretudo no Maghreb. Curioso é que a Espanha e Portugal sofreram pouquíssima influência. A Gália oriental, renana e belga, pagou o seu tributo, assim como também a Aquitânia. Encontram-se vestígios na região parisiense, como também em Boulogne sur Mer. Na Inglaterra, a concentração se dá em Londres e na região norte, ao longo do muro de Adriano, até Canterbury. Locais de adoração mitraíca foram encontrados também, na Bretanha, na Romênia, na Alemanha, na Bulgária, na Turquia, na Pérsia, na Armênia, na Síria, em Israel etc. No final do século III, Mitra era adorado da Escócia à Índia, chegando até a oeste da China, onde era conhecido como Amigo, nome que indica uma filiação védica.

Mitra passa a ser representado como um general militar. É o Amigo do homem durante a sua vida e seu protetor contra o mal após a sua morte. Mitra não é só propagado pelos militares romanos como também pelos funcionários, comerciantes, artistas, meio jurídico e financeiro e, principalmente nos círculos do conhecimento. Ao contrário da Grécia, penetra nos meios mais modestos e populares. Por mais de trezentos anos, os romanos adorarão Mitra.

Em meados do segundo século, seu culto atinge a cúpula militar. Os neófitos começaram a congregar-se sob os Flávios, espalhando-se o culto na época dos Antoninos e Severos. Os próprios Imperadores se fizeram iniciar nos mistérios, havendo suspeitas de que Nero tenha sido um deles. Contudo, é Cômodo (185-192) que parece ter sido o primeiro a se converter ao culto, seguido por Sétimo Severo. Caracala (211-217) encoraja o culto do Deus solar sob a forma de Sol invictus. O culto foi reintroduzido por Aureliano (270-275). O apoio oficial virá, entretanto, no reinado de Diocleciano em 307. Apesar destas emanações, não parece que Mitra tenha recebido uma preponderância imperial na corte dos Césares pagãos. Deve-se notar, ainda, que do mesmo modo que o cristianismo, sua influência não foi estendida ao meio rural. Alguns autores sugerem que isto se deveu à exclusão das mulheres nas funções litúrgicas.

II – Representações Litúrgicas e Ritualísticas do Deus Mitra

Mitra é um Deus de forma humana. É representado sob a forma de um jovem montado num touro e, com uma das mãos, empunha uma adaga para o degolar. Alguns afrescos, encontrados na parte mais central do Mithraeum (templo subterrâneo de adoração), representam Mitra com a cabeça voltada para o alto ou para o lado, significando desgosto com o que está fazendo. Sincreticamente, encontram-se ainda imagens de Teseu matando o Minotauro ou Perseu chacinando a Górgona ou, ainda, Hércules esfolando o Touro. Mitra está vestido em trajes orientais e muitas vezes circundado por dois meninos ou pastores que podem simbolizar o levante e o ocaso, o Outono ou a Primavera, as marés – montante e vazante – e ainda, a vida e a morte. A cena possivelmente se passa numa gruta. Um corvo, mensageiro do sol, está quase sempre na borda do rochedo. Vê-se ainda um cão se aproximando para beber o sangue da vítima, uma serpente enroscada dentro de uma pequena cratera e ao redor de um recipiente, um leão ameaçador, espigas de trigo sobre o rabo do touro e um escorpião que pica os testículos do animal morto.

A figura do touro tem sido exaltada através do mundo antigo pela sua força e vigor. Os mitos gregos falavam sobre o Minotauro, um monstro metade-homem metade-touro que vivia no Labirinto nos subterrâneos da ilha de Creta e que exigia um sacrifício anual de seis mancebos e seis donzelas antes de ter sido morto por Teseu. Peças de arte minóica representavam ágeis acrobatas saltando bravamente sobre o dorso de touros. O altar, em frente ao Templo de Salomão em Jerusalém, era adornado com chifres de touros que acreditavam ser portadores de poderes mágicos. O touro era também um dos quatro tetramorfos, ou seja um dos símbolos animais associados com os quatro evangelhos. A mística deste poderoso animal ainda sobrevive atualmente nas touradas da Espanha e do México, no rodeio dos ‘cowboys’ dos EEUU e agora, também, no Brasil.

Os estudos clássicos do belga Franz Cumont (1913) que provaram ser os mistérios mitraícos derivados das antigas religiões iranianas explica parcialmente como a cena da morte do Touro – conhecida como tauroctonia – inexiste na mitologia iraniana com a figura de Mitra. Cumont responde que teria encontrado textos que apresentavam o matador do touro como Ahriman, ou seja a força cósmica do mal na religião iraniana.

Somente a partir do Primeiro Congresso Internacional de Estudos Mitraícos (1971) levantaram-se novas hipóteses para explicar esta incongruência. A iconografia tauroctônica seria, na verdade, um mapa astronômico! Tais hipóteses, segundo os estudos de David Ulansey, baseiam-se em dois fatos: i) cada figura, na tauroctonia padrão, teria um paralelo com um grupo de constelações ao longo de uma faixa contínua no céu: o boi tem um paralelo com a constelação do Touro, o cachorro com o Cão Menor, a serpente com a Hidra, o corvo com o Corvus e o escorpião com Scorpio; ii) a iconografia mitraíca, em geral, é permeada por imagens astronômicas explícitas: o zodíaco, os planetas, o sol, a lua e as estrelas são permanentemente encontrados na arte mitraíca.

A pesquisa de Ulansey sobre cosmologia antiga, principalmente a astronomia greco-romana, focaliza o seu caráter “geocêntrico” no tempo dos mistérios mitraícos, no qual a terra era fixa e imóvel no centro do universo e tudo girava à sua volta. Nesta cosmologia, o universo era imaginado como estando contido numa grande esfera no qual as estrelas eram fixadas em várias constelações. Hoje sabemos que a terra tem um movimento de rotação sobre o seu eixo cada dia, mas na antigüidade acreditava-se que, uma vez por dia a grande esfera das estrelas fazia a sua rotação sobre a terra, oscilando num eixo que corria da abóboda do polo norte para o do sul. No seu giro, a esfera cósmica carregava o sol, explicando assim a oscilação do mesmo sobre a terra.

Além deste movimento, os antigos atribuíam um segundo movimento mais vagaroso. Enquanto hoje sabemos que a terra gira ao redor do sol durante o ano, na antigüidade acreditava-se que, durante o ano, o sol – que estava bem mais próximo do que as outras estrelas – viajava sobre a terra, traçando um grande círculo no céu tendo como fundo as outras constelações. Este círculo, traçado pelo sol durante o ano, era conhecido como o zodíaco, uma palavra significando ‘figuras vivas’, pois o sol passeava, durante o ano, sobre doze diferentes constelações que representavam diversas figuras de animais e formas humanas. Visto que os antigos acreditavam na existência real de uma grande esfera de estrelas, suas várias partes – tais como os eixos e os pólos – jogavam um papel crucial na cosmologia de seu tempo. Particularmente, um importante atributo da esfera das estrelas era muito mais bem conhecido do que hoje: o equador, denominado na época de equador celeste. Assim como o equador terrestre é definido como um círculo ao redor da terra eqüidistante dos pólos, também o equador celeste era entendido como um círculo ao redor da esfera das estrelas eqüidistante dos pólos desta mesma esfera. O círculo do equador celeste era visto como tendo uma importância especial por causa dos dois pontos em que ele cruzava com o círculo do zodíaco: estes dois pontos eram os equinócios, ou seja, o local onde o sol, no seu movimento através do zodíaco, cortava-o no primeiro dia da primavera e no primeiro dia do outono. Assim, o equador celeste era responsável pela definição das estações e, por esta razão, tinha uma significação concretíssima ao lado seu significado astronômico mais abstrato.

Um outro fato sobre este equador celeste é decisivo: como não estava fixo, possuía um movimento lento alcunhado de “precessão dos equinócios”. Este movimento, sabemos hoje, é causado por uma oscilação na rotação da terra sobre seu eixo. Como resultante desta leve oscilação, o equador celeste parece mudar sua posição no curso de milhares de anos. Este movimento é conhecido como a precessão dos equinócios por que o seu efeito observável mais facilmente é uma mudança na posição dos equinócios ou seja, os locais onde, como vimos acima, o equador celeste cruza o zodíaco. Desta maneira, esta precessão resulta num movimento vagaroso para trás ao longo do zodíaco, passando sobre uma constelação do zodíaco a cada 2.160 anos e percorrendo todo o zodíaco a cada 25.920 anos. Hoje, por exemplo, o equinócio da primavera está no final da constelação de Peixes, mas, em algumas dezenas de anos, estará entrando em Aquário – já se fala muito, atualmente, na Era de Aquário. A grosso modo, o equinócio da primavera estava em Touro entre 4.000 a 2.000 a.C. mais ou menos; em Áries de 2000 a.C. até o nascimento de Cristo, ou seja nos tempos greco-romanos; a Era de Peixes – o cristianismo –, da gênese do mesmo até a nossa mudança de milênio e de 2000 e poucos em diante, a tão decantada Era de Aquário.

Ulansey descobriu que, neste fenômeno da precessão dos equinócios, estaria a chave para desvendar o segredo do simbolismo astronômico da tauroctonia mitraíca. Para as constelações desenhadas nas tauroctonias mais comuns havia uma coisa constante: todos eles estavam posicionados no equador celeste como na época imediatamente precedente à Era de Áries dos tempos greco-romanos. Durante esta idade anterior, que podemos chamar de Era de Touro (como vimos durou mais ou menos de 4.000 a 2.000 a.C.), no equador celeste da época estavam Taurus (Touro, o equinócio da primavera), Canis Minor (o Cão), Hydra (a serpente), Corvus (o Corvo) e Scorpio (o Escorpião que estava no extremo oposto do Touro, ou seja, o equinócio do Outono). A coincidência é impressionante, todos estas constelações estão representadas nas tauroctonias.

Em muitas ilustrações tauroctônicas, a cabeça de Mitra é nimbada de estrelas. Assim, a morte do Touro representaria, no zodíaco, o fim da Era de Touro e o começo da Era de Aries no equinócio da primavera e Mitra, o deus Todo-Poderoso, que poderia reger e mudar todo o sistema cósmico. Nos escritos do filósofo neoplatônico Porfírio, encontra-se a alusão de que a caverna, onde se posiciona o Mithraeum e está desenhada a tauroctonia, na sua parte mais recôndita, seria, na verdade, uma ‘imagem do cosmos’.

Como curiosidade, Freud e Jung tiveram uma divergência básica sobre a interpretação psicanalítica do morte do touro, sendo um dos pontos básicos de divergência e conflito entre ambos, resultando, posteriormente, em separação definitiva.

Mitra, Deus solar, também é representado com a cabeça de um Leão quando é saudado com o título de Sol invictus. São os afrescos, encontrados em Mênfis, com as coxas peludas, patas de caprino e a cabeça radiada. Mitra Leoncéfalo, portando as chaves, é outra imagem lapidar, pois fora das cenas tauroctônicas, ele é representado em momentos de refeição ou de iniciação.

No tocante ao culto e à liturgia, estes se faziam no interior do Mithraeum e na presença dos fiéis. A liturgia constava de ofícios e orações; manducação de pão e sumpção de água e vinho, acompanhadas de fórmulas sagradas; danças de luzes e fórmulas de êxtase; orações ao nascer do Sol, ao meio-dia e ao ocaso. As festas realizavam-se no sétimo mês do ano, mas todos os meses se festejava uma semana inteira, sendo cada dia destinado a um planeta. Comemorava-se, de modo especial, o dia natalício do deus (Natalis Invicti), a 25 de dezembro. Os ofícios dos templos faziam-se à luz de velas, com toques de sinos e com hinos, cujo teor não se conhece, porque se perderam.

O Mithreum típico era uma pequena câmara retangular subterrânea (25x10m) com um teto arqueado. Um corredor dividia o templo ao meio, com bancos de pedra dos dois lados de 80 cm de altura no qual os membros do culto podiam descansar durante suas reuniões. Um mithraeum podia comportar de 20 a 30 pessoas. No fundo do templo, no final do corredor, havia sempre uma representação – normalmente um relevo entalhado e algumas vezes uma escultura ou pintura – do ícone central do mitraísmo: a tauroctonia ou a cena da morte do touro, conforme descrito acima. Outras partes do templo eram decoradas com várias cenas e figuras. Deveria ser implantado perto de uma fonte ou curso d’água ou, na falta destes, de um poço. Havia centenas, talvez milhares, de templos mitraícos no Império Romano.

Os adeptos de Mitra não se contentavam com um misticismo contemplativo. O seu culto encorajava a ação e um grande rigor moral. Para os soldados, a resistência ao mal e às ações imorais representavam uma vitória tão importante quanto as militares.

Reuniam-se, em pequenos grupos, unidos e solidários pelo ritual iniciático. Partilhavam o banquete sacramental com os deuses e finalizavam com uma aliança entre o sol e Mitra. O repasto, sobre os despojos de um touro, era seguido de um sacrifício, muitas vezes de um touro, ou de animais simbolizando o touro: cabras, javalis e/ou galináceos.

Consagrava-se o pão e a água, bebia-se o vinho que simbolizava o sangue do touro e comia-se a carne. O processo da iniciação mitraíca requeria a subida simbólica de uma escada cerimonial com sete degraus, cada um feito de um metal diferente para simbolizar os sete corpos celestiais. Simbolicamente galgando esta escada cerimonial através de sucessivas iniciações, o neófito podia atravessar os sete níveis do céu. Os sete graus do mitraísmo eram: Corax (Corvo), Nymphus ( Noivo), Miles (Soldado), Leo (Leão), Peres (Persa), Heliodromus (Corrida do Sol) e Pater (Pai); cada grau era protegido por um planeta (na cosmologia da época): Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, a Lua, o Sol e Saturno. Cada dignitário apresentava a vestimenta e a máscara correspondente ao seu grau. Como todo rito mitraíco a estrutura hierárquica era setenária. Os adeptos tinham a sua divisão de papéis: o chefe (pater), o papel de Mitra, o heliodromo (sol), o corvo apresentavam as carnes e as bebidas aos convivas dentro de uma ordem hierárquica. A carne era assada sobre os altares dentro da concepção do sacrifício do mundo greco-romano.

Os rituais iniciáticos constavam da admissão dos fiéis por “inductio”. Antes de serem admitidos, os candidatos eram interrogados, sondados, informados num local distinto do templo. Em seguida, eram submetidos a uma série de provas, nus e com os olhos vendados, marchavam às apalpadelas diante de um mistagogo para finalizar se ajoelhando diante de um personagem que portava uma tocha diante de seus olhos. A seguir, com as mãos atadas às costas, colocavam um joelho no chão ao mesmo tempo que um sacerdote cingia-lhes a cabeça com uma coroa. No final, prostravam-se como mortos. Tudo isto faz parte da tipologia iniciática das sociedades secretas em geral: olhos vendados, resistência física, morte simbólica, etc.

Reprova-se, nos adeptos de Mitra, a propensão aos sacrifícios humanos. Tal suposição advém de se ter encontrado, nos diversos Mithrae, restos de esqueletos humanos.

Apesar de todos os estudos antigos e modernos, conhece-se mal a “teodicéia” mitraíca. Sabe-se, contudo, que os “mistérios” da Antigüidade revelam um mito ou uma história santa que legitima a liturgia. É uma certa explicação do Mundo e da passagem do homem sobre o mesmo que dá toda a força aos “mistérios”, sejam eles de Mitra, de Elêusis, em suma de quase todos. A religião de Mitra se independentizou de suas origens orientais, agindo como um imã que atraiu diversos aportes: gregos, babilônicos, romanos etc. Finalizou como um Deus adaptado ao Império Romano, explicando assim o seu sucesso. Uma das grandes ironias da história é o fato de que os romanos terminaram por adorar um deus de um de seus maiores inimigos políticos: os persas. O historiador romano Quintius Rufus assinala no seu livro História de Alexandre que antes de ir batalhar contra os “países anti-mitraícos” de Roma, os soldados persas oravam a Mitra pela vitória. Sem embargo, tendo as duas civilizações inimigas estado em contato de conflito aberto ou latente por mais de mil anos, os adoradores de Mitra migraram dos persas, através do frígios da Turquia, até os romanos.

Numa análise simbólica final, o culto de Mitra revela uma história do Mundo. Saturno (ou Cronos, representando o Tempo) reinava soberano sobre o Mundo, quando entregou a Júpiter o raio, uma arma letal que serviu para derrotar os gigantes e gênios do mal. Alguns autores hipotetizam que este gênio do mal poderia ser o Oceano que cobria a Terra.

Mitra, Deus petrógeno, não descende aqui do Céu, pois surge miraculosamente de uma rocha com um barrete asiático, tendo em uma das mãos uma tocha luminosa e na outra, a adaga. Pastores assistem e ajudam este nascimento. Mitra, em seguida, é encontrado junto de uma árvore ceifando o trigo. Depois é visto atirando com um arco sobre uma parede rochosa onde jorra uma fonte que sacia os pastores. Alguns autores concluem que as forças do mal (Oceano?) tentaram aniquilar os humanos pela fome e pela sede e que Mitra, salvador dos homens e Deus protetor, interveio para os alimentar e saciar sua sede, não só dos homens como dos rebanhos. Nota-se, também, que o papel “justiceiro” das tradições asiáticas não desapareceu, pois Mitra vem em socorro do Mundo para fazer respeitar a Lei Divina.

Começa, agora, a perseguição ao Touro. O touro está em conjunção com a lua, seus dois chifres formam o crescente. O touro contem os elementos vivos (o esperma do touro purificado pelo raio da lua produzirá os espécimens animais). Mitra tem a missão de subtrair estas forças vivas das tentações maléficas. O touro se refugia numa construção mas dois pastores ateiam fogo ao local. Mitra alcança o animal, agarra os seus cornos e consegue cavalgá-lo. Depois, prende as patas traseiras do animal, arrasta-o até a gruta onde um corvo, mensageiro do Sol, impõe-lhe a tarefa de matar o animal insubmisso. A morte do touro atrai uma serpente e um cachorro que se apressam em sugar o sangue que jorra da ferida enquanto um escorpião (algumas vezes um caranguejo ou um ‘câncer’) fisga os testículos da vítima para aspirar sua força vivificante.

Cumont afirma que espigas de trigo saem da ferida, juntamente com o sangue que escorre da calda do touro. Do corpo da vítima moribunda nascem as ervas e as plantas salutares… De sua medula espinal germina o trigo que dá o pão, de seu sangue, a vinha que produz a beberagem sagrada dos mistérios.

É após a morte do touro que um conflito se abate entre Hélio e Mitra. O Sol, ajoelhado diante da tauroctonia, perde sua prerrogativa de astro soberano. Mitra torna-se o verdadeiro Sol Invictus que vem salvar a criação. O Sol reconhece a preeminência de Mitra pois se faz iniciar no grau de Soldado (Miles).

III – O Cristianismo Triunfante

O fim do mitraísmo coincide com o seu zênite no século III d.C. e vem acompanhado da entronização do cristianismo como religião do Império Romano. Como vimos, o mitraísmo sofria o passivo de praticar uma liturgia elitista em pequenas sociedades secretas na qual as mulheres eram excluídas. Não se propunha ser uma reli-gião de massa, aberto a todos, como o cristianismo. Era uma religião otimista e Mitra teve o grande defeito de não ter morrido para salvar o mundo.

Como os persas eram inimigos hereditários do Império Romano, os cristãos fizeram de tudo para ligar o mitraísmo a uma religião “inimiga”, persa por excelência, pois os romanos não deveriam adorar um deus importado do adversário. Apesar de tudo parece que Constantino manifestou uma certa simpatia pelo mitraísmo, principalmente na sua versão de “Sol invictus”. Quando este primeiro imperador cristão colocou todas as religiões pagãs na clandestinidade, poupou os mitraístas pois estes possuíam muita influência junto aos militares que eram o cimento do Império. O ‘punctus saliens’ no qual os cristãos atacavam os mitraístas era a sua propensão aos sacrifício animais. Quando estes sacrifícios foram interditados, bloqueou-se um dos fundamentos vitais do culto mitraíco.

O combate mortal entre o cristianismo e o Mitra pagão pode ser lido nos escritos de Tertuliano (160-220 d.C.) ao afirmar que esta religião utilizava indevidamente o batismo e a consagração do pão e do vinho. Dizia, ainda, que o mitraísmo era inspirado pelo diabo que desejava zombar sobre os sacramentos cristãos com o intuito de levá-los para o inferno. Não obstante, o mitraísmo sobreviveu até o século Vº em remotas regiões dos Alpes entre as tribos dos Anauni e conseguiu sobreviver no Oriente Próximo até os dias de hoje.

No curto reinado do imperador Juliano, sobrinho de Constantino, Gibbon afirma que se assistiu a um retorno temporário ao mitraísmo, tendo este Imperador se reconhecido até mesmo como adepto e chegando a construir um Mithraeum nos calabouços de seu palácio em Constantinopla. Seguiu-se um período de tolerância quando, sob o reinado de Teodósio (375-395), o cristianismo tornou-se religião de Estado e o paganismo foi definitivamente interditado. O mitraísmo sobreviveu em Roma até 394 sendo que a Basílica de São Pedro foi construída sobre o local do último culto mitraíco: o Phrygianum. A partir daí, o cristianismo construiu, boa parte de seus templos, acima de cavernas que continham Mithrae, seja em Roma seja nas províncias do Império. A catedral de Canterbury e a de São Paulo em Londres, o mosteiro do Monte Saint-Michel e algumas catedrais em Paris estão construídas sobre antigos Mithrae em ruínas.

Os pontos comuns entre o cristianismo e o mitraísmo são inúmeros. O nascimento de Cristo é anunciado por uma estrela assim como o de Mitridate Eupator. Ambos são nascidos de uma Virgem Imaculada que toma o nome de Mãe de Deus. A caverna, a gruta são os locais de nascimentos tanto de Cristo quanto de Mitra. A presença de pastores e de seu rebanho também estão presentes em ambos os nascimentos. A gruta de Belém é prenhe de luz e Mitra é um deus solar. Além do mais, o ouro, símbolo do Sol, tem uma importância crucial na liturgia cristã. Deus é Amor mas também Luz. O nascimento dos dois deuses foi a 25 de dezembro, solstício de Verão no Hemisfério Norte. Sabe-se que Cristo não teria nascido no dia 25 e que, somente com o fim do mitraísmo, a Igreja Cristã, “cristianizou” o dia como a festa do Natal. Tanto Cristo como Mitra eram castos e celibatários. Todas as duas religiões são fundadas sobre um sacrifício salvador do Mundo, mas com a morte de Cristo, o cristianismo tira a sua vantagem e sua superioridade. A morte do Touro encontra um símile na luta de São Jorge com o dragão. A vontade de neutralizar as potências do mal, a guerra entre as duas potências e a vitória do Bem. A consagração do pão e do vinho estão presentes entre os cristãos e os iniciados de Mitra. No grau de Soldado (Miles), o iniciado é marcado com uma cruz de ferro em brasa sobre a fronte. A imortalidade da alma e a ressurreição final. As igrejas antigas possuem criptas subterrâneas que evocam os templos mitraícos. A fraternidade e o espírito democrático das primeiras comunidades cristãs se assemelham muito ao mitraísmo. A fonte jorrando da rocha, a utilização de sinos, os livros e as velas, a água santa e a comunhão, a santificação do Domingo (fora da tradição judaica do Sábado), a insistência numa conduta moral, o sacrifício ritual, a angeologia, a teologia da luz, dualidade deus-diabo, o fim do mundo e o apocalipse são também comuns em ambas as religiões.

Outro símile interessante seria entre Mitra e Papai Noel. Vestimentas vermelhas e barrete frígio são comuns a ambos como também as velas incrustadas em árvores (de Natal) nas cerimônias natalinas.

IV – Sobrevivência Mitraíca e sua Influência na Maçonaria

Encontram-se traços mitraícos nas diversas gnoses e principalmente nas heresias dualistas cristãs. O esoterismo do gnosticismo cristão foi muito influenciado pelas religiões egípcias e iranianas. Os segredos, revelados aos “Perfeitos”, referiam-se aos mistérios da ascensão e descida de Cristo através dos Sete Céus habitados pelos anjos. Autores modernos chegam a afirmar que o gnosticismo é um fenômeno pré-cristão de origem iraniana que poluiu o cristianismo nascente. A influência dos cultos iranianos e especificamente mitraícos sobre a gnose de Mani são insofismáveis. Desde o século III d. C., o segredo mitraíco força as portas da barca de São Pedro. A pressão deste dualismo maniqueísta percorre toda a Idade Média. O bogomilismo da Europa Oriental inicia a sua trajetória a partir do século X colocando Satã no lugar de Deus, infligindo um poder considerável sobre as heresias Cátaras e Albigenses no alvorecer do século XII na Europa Ocidental. Estas heresias gnósticas cristãs professavam a asserção de que Deus não teria criado o Mundo, estando este sob o domínio de Satã – assimilado ao demiurgo Yahvista. O verdadeiro Deus estaria tão distante da Terra onde se dão estes embates entre o Bem e o Mal. Apesar disto teria enviado Cristo para salvar os homens ao mostrar-lhes o método da libertação.

Outra difusão de um mitraísmo mitigado estaria entre os Cavaleiros do Templo, pois estes sofreram a influência dos maniqueus. No culto a Baphomet, também conhecido como o filho de Mitra, havia um ícone representado por um Touro ornado com uma chama entre seus cornos…

O culto de Mitra enquanto sociedade iniciática tem certas semelhanças com a maçonaria propriamente dita. A fraternidade entre os membros, a exigência de uma conduta moral, a vontade de defender, de maneira ativa e não contemplativa, o bem e a virtude são, ao mesmo tempo, padrões maçônicos e mitraícos. A defesa da ordem política e social, o culto exclusivamente masculino são também pontos comuns. Ritualisticamente encontram-se os seguintes traços: a mania pelo número 7, a existência de graus iniciáticos, as velas, os altares, a Luz, as palavras de passe, etc. O templo maçônico pode ser visto como uma gruta mitraíca ou se não se quiser ir muito longe o símile poderá ser feito com a câmara de reflexões; o teto estrelado do templo tem profunda semelhança com os mitraícos. Os templários, a tradição judaica e cristã foram os grandes transmissores de símbolos mitraícos. Os dois São Joães – de Inverno e de Verão – tem profunda vinculação com os dois pastores da tauroctonia. O sacrifício ritual fundador de Hiram está muito próximo do sacrifício ritual do Touro. O corvo no acampamento militar, encontrado nos altos graus do escocesismo, é uma prova cabal da influência mitraíca.

Outro símile estaria no mais baixo grau de iniciação – o grau de Corvo (Corax) – simbolizava a morte do novo membro, o qual deveria renascer como um novo homem. Isto representava a fim de sua vida como um não-crente (ou descrente) e cancelava pretéritas alianças de outras crenças inaceitáveis. Curioso salientar que o título de Corax (Corvo) originou-se com o costume zoroástrico de expor os mortos em elevações funerárias para ser comido pelas aves de rapina. Este costume continua, até os dias de hoje, sendo praticado pelos Parsis da Índia, descendentes dos persas seguidores de Zaratustra.

O simbolismo sexual, encontrado em diversos rituais maçônicos, poder ter um paralelo com o touro, pois este era uma óbvia representação da masculinidade pela natureza de seu tamanho, de sua força e de seu vigor sexual. Ao mesmo tempo, o touro simbolizava as forças lunares em virtude de seus cornos e as forças telúricas em virtude de ter as quatro patas assentadas no solo. O sacrifício do touro simboliza a penetração do princípio feminino pelo masculino, a vitória da natureza espiritual sobre a animalidade, tendo um paralelo com as imagens simbólicas de Marduk destruindo Tiamat, Gilgamesh aniquilando Huwawa (grafia de Eliade), São Miguel dominando Satã, São Jorge vencendo o dragão, o Centurião lancetando Cristo e, por que não nos referirmos a um ícone moderno: Sigourney Weaver lutando contra o Alien?

Finalmente, o mitraísmo era, concomitantemente, um culto dos mistérios e uma sociedade secreta. Tal como os ritos de Deméter, Orfeu e Dionísio, os rituais mitraícos admitiam candidatos em cerimônias secretas cujo significado era do conhecimento somente do iniciando. Como todos os outros ritos de iniciação institucionalizados do passado e do presente, este culto dos mistérios permitia aos iniciados ser controlado e posto sob o comando de seus líderes. Ao ser iniciado, o neófito tinha que provar sua coragem e devoção nadando através de rio caudaloso, escalando um rochedo íngreme ou pulando através das chamas com suas mãos atadas e os olhos vendados. Ao iniciado era também ensinado o segredo das palavras de passe mitraícas que eram usadas para identificação mútua como também era auto-repetida freqüentemente como um mantra pessoal.

V – Como seria um Mundo Mitraíco à Guisa de Conclusão

O legado mitraíco resulta em comportamentos usados ainda hoje em dia, tal como o apertar as mãos e o uso da coroa pelo monarca. Os adoradores de Mitra foram os primeiros no Ocidente a pregar a doutrina do direito divino dos reis. Foi a adoração do sol, combinada com o dualismo teológico de Zaratrusta, que disseminou as idéias sobre as quais o Rei-Sol Luis XIV (1638-1715) na França e outros soberanos deificados na Europa mantiveram o seu absolutismo monárquico.

Alguns estudiosos afirmam que, durante o IIº e o IIIº século d.C., nunca a Europa esteve tão perto de adotar uma religião indo-ariana quando Diocleciano, oficialmente, reconheceu Mitra como o protetor do Império Romano, nem mesmo durante as invasões muçulmanas.

Especulações teóricas anglo-saxãs hipotetizam que se um golpe de estado, dado pelos centuriões adoradores de Mitra, tivesse impedido Constantino de estabelecer o cristianismo como a religião oficial do Império, o mitraísmo poderia possivelmente sobreviver através dos séculos seguintes com a assistência teológica da heresia maniquéia e seus epígonos, assumindo “ipso facto” que os ensinamentos de Jesus teriam, de alguma maneira, sido simultaneamente anulados e, talvez, com um número crescente de crucificações. Esta ausência do cristianismo, devido à continuação do mitraísmo no Ocidente, teria obstado o crescimento do Islã no século VII e a violência das Cruzadas necessariamente não teria ocorrido. Assumindo, ainda, que o Islã não teria, assim, conquistado religiosamente a Pérsia, a adoração de Mitra poderia ter continuado no panteão de Zaratrusta. Como conseqüência, o mitraísmo poderia ter penetrado com mais força nos panteões da Índia e da China e, possivelmente, teria aportado nos países do Extremo-Oriente.

Continuando com a especulação saxã que resultou na “lenda negra” da dominação espanhola no Novo Mundo, Colombo realizou os seus descobrimentos em pleno período da Inquisição, fenômeno este representativo da culminância de mais de mil anos de uma das maiores religiões monoteístas semítica – o cristianismo. Se o mitraísmo tivesse sobrevivido o milênio até o ano de 1492, os povos indígenas das Américas poderiam ter sido expostos à adoração de Mitra no lugar dos missionários católicos. Imaginaríamos, assim, o Taurobolium – ritual de regeneração ou sacrifício do touro, no qual o sangue do animal era derramado sobre o iniciado – sendo sido transposto e sincretizado com o ritual da caça do búfalo dos índios das planícies do Oeste americano e a cerimônia do sacrifício dos maias, incas e astecas, e provavelmente, estes impérios não teriam sido aniquilados pelos brutais conquistadores europeus em nome do Rei e de Cristo.

Autor: Ven. Irmão WILLIAM ALMEIDA DE CARVALHO

#Mitologia #Religiões

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/a-hist%C3%B3ria-do-deus-mitra

‘Aforismos de Patañjali

Yoga Sutra de Patañjali

Os aforismos de Patanjali, também chamados de Yoga Sutra (O livro da União) formam o texto fundamental da Yoga. Seu autor, que empresta o nome a obra,  viveu entre 200 a.c e 400 d.c e foi posteriormente reconhecido como o pai da Yog e é ainda adorado na índia como uma das encarnações do seus serpente Ananta.

Dentro de sua obra ele legou a humanidade 196 aforismos divididos em quatro capítulos que tratam do método do hindu para libertar o praticante das limitações da mente vulgar despertando-o para sua real natureza.

Trata-se de um texto importante do misticismo oriental sendo recomendado por Aleister Crowley em ‘Magick in Theory and Pratice’ como literatura essencial para os interessados em se dedicar ao estudo e à prática mágicka.

 

Livro I

Sobre a Concentração

 

1. Agora iniciamos a exposição do Yoga.

2. Yoga é a restrição das modificações da mente.

3. Então o Observador permanece nele mesmo.

4. Em outros momentos, o Observador parece assumir a forma da modificação mental.

5. Elas (as modificações) Têm cinco variedades, das quais algumas são ‘Klista’ e o resto ‘Aklista’.

6. (São elas) Pramana, Viparyaya, Vikalpa, sono (sem sonhos) e recordação.

7. (Destas) Percepção, inferência e testemunho (comunicação verbal) constituem as Pramanas.

8. Viparyaya ou ilusão é o conhecimento falso formado a partir de um objeto como se ele fosse outro.

9. A modificação chamada ‘Vikalpa’ é baseada na cognição verbal, com relação a uma coisa que não existe. (É um tipo de conhecimento útil que advém do significado da pala vra mas que não tem uma realidade correspondente).

10. Sono sem sonho é a modificação mental produzida pela condição de inércia como o estado de vacuidade ou negação (do despertar e do adormecer).

11. Recordação é a modificação mental causada pela reprodução da impressão prévia de um objeto, sem adicionar nada de outras fontes.

12. Pela prática e o desapego isso pode ser restringido.

13. O esforço para adquirir Sthiti ou um estado tranquilo da mente, desprovido de flutuações, é chamado prática.

14. Esta prática, quando continuada por um longo tempo, sem interrupção e com devoção, torna-se firme em seus fundamentos.

15. Quando a mente perde todos os desejos por objetos vistos ou descritos nas escrituras, ela adquire um estado de absoluto não desejo que é chamado desapego.

16. Indiferênça para com as Gunas, ou princípios constituintes, alcançada através do conhecimento da natureza de Purusha, é chamado Paravaiaragya (desapego supremo).

17. Quando a concentração é conseguida com a ajuda de Vitarka, Vichara, Ananda e Asmita, é chamada Samprajnata-samadhi.

18. Asamprajnata-samadhi é o outro tipo de Samadhi que surge com a prática constante de Para-vairagya, que leva ao desaparecimento de todas as flutuações da mente, permanecendo apenas as impressões latentes.

19. Enquanto no caso de Videhas ou dos desincarnados e de Prakrtilayas ou dos que subsistem em seus constituintes elementares, é causada por ignorância que resulta em existência objetiva.

20. Outros (que seguem o caminho do esforço prescrito) adotam os meios da fé reverencial, energia, recordação repetida, concentração e conhecimento real (e assim alcançam Asamprajnata-samadhi).

21. Yoguis com intenso ardor alcançam concentração e seus resultados, rapidamente.

22. De acordo com a aplicação do método, vagarosa, média ou rápida, mesmo entre os yoguis que têm intenso ardor, existem diferenças.

23. Através de devoção especial a Isvara também (concentração torna-se eminente) 24. Isvara é um Purusha em particular, não afetado por aflição, ação, resultado das ações ou as impressões latentes que advém delas.

25. Nele, a semente da onisciência alcançou seu desenvolvimento maior, não havendo nada mais a transcender.

26. (Ele é) O professor dos primeiros professores porque com Ele não existe limite de tempo (para sua onipotência).

27. A palavra sagrada que o designa é Pranava ou a sílaba OM.

28. (Yoguis) a repetem e contemplam seu significado.

29. Disso vem a realização do Ser individual e os obstáculos são resolvidos.

30. Doença, incompetência, dúvida, desilusão, pregriça, não- abstinência, concepção errônea, não-alcance de qualquer estado yogui ou instabilidade para permanecer num estado yogui, estas distrações da mente são os impedimentos.

31. Tristeza, falta de entusiasmo, inquietação, inspiração e expiração advém de distrações prévias.

32. Para restringí-las (isto é, as distrações) prática (da concentração) em um princípio único, deve ser feita.

33. A mente torna-se purificada pelo cultivo dos sentimentos de amizade, compaixão, boa-vontade e indiferença respectivamente a criaturas felizes, miseráveis, virtuosas ou pecaminosas.

34, Pela expiração e restrição da respiração também (a mente é acalmada).

35. O desenvolvimento de percepção objetiva chamada Visayavati também traz tranquilidade mental.

36. Ou pela percepção que é livre de tristeza e é radiante (estabilidade mental também é produzida).

37. Ou (contemplando) uma mente que é livre de desejos (a mente do devoto torna-se estável).

38. Ou tomando como objeto de meditação as imagens dos sonhos ou dos devaneios (a mente do yogui torna-se estável).

39. Ou contemplando qualquer coisa que o indivíduo queira (a mente torna-se estável).

40. Quando a mente desenvolve o poder de estabilizar-se nos objetos de menor tamanho, assim como nos maiores, então a mente está sobre controle.

41. Quando as flutuações da mente são enfraquecidas, a mente aparenta tomar as formas do objeto da meditação – seja ele o que conhece (Grahita), o instrumento de cognição (Grahana) ou o objeto conhecido (Grahya) – como uma jóia transparente, e esta identificação é chamada Samapatti ou absorção.

42. A absorção na qual existe confusão entre a palavra, seu significado (isto é, o objeto) e seu conhecimento, é conhecida como Savitarka Samapatti.

43. Quando a memória é purificada, a mente parece estar desprovida de sua própria natureza (isto é, da consciência reflectiva) e somente o objeto (o qual está contemplando) permanece iluminado. Este tipo de abs orção é chamada Nirvitarka Samapatti.

44. Através disso (o que foi dito) as absorções Savichara e Nirvichara, cujos objetos são sutis, são também explicadas.

45. Sutileza pertencente aos objetos, culmina em A-linga ou o imanifesto.

46. Estes são os únicos tipos de concentração objetiva.

47. Ganhando proficiência em Nirvichara, pureza nos intrumentos internos de cognição é desenvolvida.

48. O conhecimento ganho neste estado é chamado Rtambhara (preenchido de verdade).

49 (Este conhecimento) é diferente daquele derivado do testimunho ou da inferência, porque relaciona-se a particularidades (dos objetos).

50. A impressão latente nascida de tal conhecimento é oposta à formação de outras impressões latentes.

51. Pela restrição disso também (por conta da eliminação das impressões latentes de Samprajnana), acontece a concentração sem-objeto, através da supressão de todas as modificações.

 

Livro II

Sobre a Prática

 

1. Tapas (austeridade ou vigorosa auto-disciplina – mental, moral e física), Svadhyaya (repetição de Mantras sagrados ou o estudo da literatura sagrada) e Isvara-pranidhana (completa rendição a Deus) são Kriya- yoga (yoga em forma de ação).

2. Este Kriya-yoga (deve ser praticado) para gerar o Samadhi e minimizar as Klesas.

3. Avidya (concepção errônea sobre a natureza real das coisas), Asmita (egoismo), Raga (apego), Dvesa (aversão) e Abhinivesa (medo da morte) são as cinco Klesas (aflições).

4. Avidya é o campo de crescimento das outras, sejam elas dormentes, atenuadas, interrompidas ou ativas.

5. Avidya consiste em considerar os objetos impermanentes como permanentes, impuros como puros; miséria como felicidade e o não-Ser como Ser.

6. Asmita é equivalente à identificação de Purusha ou Consciência Pura com Buddhi.

7. Apego é esta (modificação) que segue a lembrança do prazer.

8. Aversão é esta (modificação) que resulta da miséria.

9. Tanto no ignorante quanto no culto, o medo, firmemente estabelecido, da aniquilação, é a aflição chamada Abhinivesa.

10, As sutis klesas são abandonadas (isto é, destruidas) cessando-se a produtividade (isto é, desaparecendo) da mente.

11. Seus meios de subsistência ou seus estados densos são evitáveis pela meditação.

12. Karmasaya, ou a impressão latente da ação baseada nas aflições, torna-se ativa nessa vida ou na vida por vir.

13. Na medida em que as Klesas permanecem na raiz, karmasaya produz três consequências nas formas de nascimento, tempo de vida e experiência.

14. Por razão da virtude e do vício, essas (nascimento, período e experiência) produzem experiências prazeirosas ou dolorosas.

15. A pessoa que discrimina, apreende (por análise e antecipação) todos os objetos mundanos como marcados pela tristeza, porque eles causam sofrimento como consequência, tanto nas suas experiências aflitivas, quanto em suas latências e também por causa da natureza contrária das Gunas (que produzem mudanças a todo momento).

16. (É por isso que) a dor que está por vir deve ser evitada.

17. Unindo o Observador ou o sujeito com o visto ou o objeto, é a causa disso que deve ser evitado.

18. O objeto ou o que é passível de conhecimento é por natureza sensível, mutável e inerte. Existe na forma dos elementos e dos órgãos, e servem ao propósito da experiência e emancipaç ão.

19. Diversificada (Visesa), não-diversificada (Avisesa), indicador-somente (Linga-matra), e aquilo que não tem indicador (Alinga), são os estados das Gunas.

20. O Observador é o conhecedor absoluto. Apesar de puro, modificações (de Buddhi) são testemunhadas por ele como um espectador.

21. Servir como um campo objetivo para Purusha, é a essencia ou natureza dos objetos conhecíveis.

22. Apesar de deixar de existir em relação àquele que preencheu seu propósito, os objetos conhecíveis não deixam de existir por serem úteis para outros.

23. Associação é o meio de realização da verdadeira natureza do objeto do Conhecedor e do Possuidor, o Conhecedor (isto é, o tipo de associação que contribui para a realização do Obse rvador e do observado é esta conexão).

24. (A associação tem) Avidya ou ignorância como sua causa.

25. A ausência da associação que advém da falta dela (avidya) é liberdade, e este é o estado de liberação do Observador.

26. Conhecimento discriminativo, claro, distinto (desimpedido) é o meio para a liberação.

27. Sete tipos de insight vêm a ele (o yogui que desenvolveu a iluminação discriminativa).

28. Através da prática dos diferentes acessórios do yoga, quando as impurezas são destruidas, advém a iluminação, culminando na iluminação discriminativa.

29. Yama (restrição), Niyama (observância), Asana (postura), Pranayama (regulação da respiração), Pratiahara (restrição dos sentidos), Dharana (fixação), Dhyana (meditaç& atilde;o) e Samadhi (perfeita concentração), são os oito meios de se alcançar o yoga.

30. Ahimsa (não-violência), Satya (verdade), Asteya (abster-se do roubo), Brahmacharya (continência) e Aparigraha (abster-se da avareza), são as cinco Yamas (formas de restrição).

31. Estas (as restrições), no entanto, são um grande voto quando tornamse universais, não sendo restringidas por qualquer consideração de classe, lugar, tempo ou conceito de dever.

32. Pureza, contentamento, austeridade (disciplina mental e física), svadhyaya (estudo das escrituras e recitação de mantras) e devoção a Isvara, são as Niyamas (observâncias).

33. Quando estas restrições e observâncias são inibidas por pensamentos perversos, o oposto deve ser pensado.

34. Acões que advém de pensamentos perversos, como injúria etc, são realizadas pela própria pessoa, por outras ou aprovadas; são realizadas tanto pela raiva, quanto pela cobiça ou pela desilusão; e podem ser fracas moderadas ou intensas. Saber que são causadas por uma miséria e ignorância infinitas, é um pensamento-contrário.

35. Na medida em que o yogui se torna estabelecido na não-injúria, todos os seres que se aproximam (do yogui) deixam de ser hostis.

36. Quando a maneira de ser é verdadeira, as palavras (do yogui) adquirem o poder de fazerem-se frutíferas.

37. Quando o não-roubo é estabelecido, todas as jóias se apresentam (ao yogui).

38. Quando continência é estabelecida, Virya é adquirida.

39. Atingindo perfeição nas Yamas, advém conhecimento da existência passada e futura.

40. Da prática da purificação, desapego com relação ao próprio corpo é desenvolvido, e portanto o desapego se estende a outros corpos.

41. Purificação da mente, setimentos agradáveis, concentração, subjugação dos sentidos e abilidade para a auto-realização são adquiridas.

42, A partir do contentamento, felicidade transcendente é ganha.

43. Pensamentos de destruição das impurezas, prática de austeridades gera perfeição do corpo e dos órgãos.

44. Do estudo e repetição de Mantras, comunhão com a divindade desejada é estabelecida.

45. Da devoção a Deus, Samadhi é alcançado.

46. Uma forma agradável e pausada (de estar) é Asana (postura yogui).

47. Pelo relaxamento do esforço e meditação no infinito (asanas são aperfeiçoadas).

48. Disso vem a imunidade com relação a Dvandvas ou condições opostas.

49. Esta (asana) tendo sido aperfeiçoada, regulação do fluxo da inspiração e expiração é pranayama (controle da respiração).

50. Este (pranayama) tem uma operação externa (Vahya-vrtti), operação interna (Abhyantara-vrtti) e supressão (Stambha- vrtti). Isto ainda, quando observado de acordo com espaço, tempo e número torna-se lo ngo e sutil.

51. O quarto pranyama trnscende operações internas e externas.

52. Através disso, o véu sobre a manifestação (do conhecimento) é rarefeito.

53, (Então) a mente adquiri condições para Dharana.

54. Quando separados de seus objetos correspondentes, os órgãos seguem a natureza da mente (no momento), isto é chamado Pratyahara (restringir os órgãos).

55. Isto gera supremo controle dos órgãos.

 

Livro III

Poderes Sobrenaturais

1. Dharana é a fixação da mente (Chitta) em um ponto particular no espaço.

2. Nela (Dharana) o fluxo contínuo de modificação mental similar é chamado Dhyana ou meditação.

3. Quando o objeto da meditação sozinho brilha na mente, como que desprovido até mesmo do pensamento do’Eu’ (que está meditando), este estado é chamado Samadhi ou concentração.

4. Os três juntos no mesmo objeto é chamado Samyama.

5. Dominando isto (Samyama) a luz do conhecimento (Prajna) emerge.

6. Ela (Samyama) deve ser aplicada aos estágios (da prática).

7. Estas três práticas são mais associadas do que as mencionadas anteriormente.

8. Isso também (deve ser visto) como externo com relação a Nirvija ou concentração sem semente.

9. Supressão das latências das flutuações e aparecimento das latências do estado de pausa, acontecendo a cada momento de ausência do estado de pausa na mesma mente, é a mudança do estado de pausa da mente.

10. Continuidade da mente tranquila (no estado de pausa) é assegurado por suas impressões latentes.

11. Diminuição da atenção voltada para tudo e desenvolvimento da concentração (onepointedness) é chamado Samadhi-parinama, ou mutação da mente concentrada.

12. Lá (em Samadhi) ainda (no estado de concentração) as modificações passadas e presentes sendo similares é Ekagrata- parinama, ou mutação do estado estável da mente.

13. Assim explica-se as três mudanças, ou seja, dos atributos essenciais ou características, das características temporais, e dos estados das Bhutas e das Indriyas (isto é, todos os fenômenos conhecíveis).

14. Aquilo que continua a sua existência, através das várias características, nomeadamente: o inativo, isto é, passado; o emergente, isto é, presente; o imanifesto, (mas que permanece como força potente), isto é, futuro, é o substrato (ou objeto caracterizado).

15. Mudança de sequência (das características) é a causa das diferênças mutativas.

16. Conhecimento do passado e do futuro pode advir de Samyama sobre as três Parinamas (mudanças).

17. Palavra, objeto implicado, e idéia correspondente, produz uma impressão unificada. Se Samyama for praticada em cada um separadamente, conhecimento do significado dos sons produzidos por todos os seres, pode ser adquirido.

18 Pela realização das impressões latentes, conhecimento dos nascimentos prévios é adquirido.

19. (Pela prática de Samyama) em noções, conhecimento de outras mentes é desenvolvido.

20 O suporte (ou base) da noção não se torna conhecido, porque este não é objeto de observação (do yogui).

21. Quando a capacidade de percepção do corpo é suprimida pela prática de Samyama em seu caracter visual, desaparecimento do corpo é efetivado, por ficar ele além da esferea de percepção do olho.< BR> 22.

Karma pode ser rápido ou lento em sua frutificação. Pela prática de Samyama no Karma, conhecimento da morte pode ser adquirido.

23. Através de Samyama sobre a amizade, e outras virtudes similares, obtem-se força.

24. (Pela prática de Samyama) na força (física), a força de elefantes etc, pode ser adquirida.

25. Aplicando a luz efulgente da percepção superior (Jyotismati), conhecimento dos objetos sutis, ou coisas invisíveis ou colocadas a grande distância, pode ser adquirido.

26. (Praticando Samyama) sobre o sol (o ponto no corpo conhecido como a entrada solar), o conhecimento das regiões cósmicas é adquirido.

27. (Pela prática de Samyama) sobre a lua (a entrada lunar no corpo), conhecimento do arranjo entre as estrelas é adquirido.

28. (Pela prática de Samyama) na estrela Polar, o movimento das estrelas é conhecido.

29. (Pela prática de Samyama) no plexo do umbigo, advém conhecimento da composição do corpo.

30. (Praticando Samyama) na traquéia, fome e sede são restringidas.

31. Calma é alcançada por Samyama no tubo bronquial.

32. (Pela prática de Samyama) na luz coronal, Siddhas podem ser vistos.

33. Do conhecimento denominado Pratibha (intuição), tudo torna-se conhecido.

34. (Pela prática de Samyama) no coração, conhecimento da mente é adquirido.

35. Experiência (de prazer ou dor), vem da concepção que não distingue entre duas entidades extremamente diferentes: Buddhisattva e Purusha.

Tal experiência existe para um outro (isto é, Purusha). Esta é a razão de através de Samyama em Purusha (que observa todas as experências e também sua completa cessassão) conhecimento com relação a Purusha ser adquirido.

36. Portanto (do conhecimento de Purusha), advém Pratibha (intuição), Sravana (poder sobrenatural de ouvir), Vedana (poder sobrenatural de tocar), Adarsa (poder sobrenatural de ver), Asvada (poder sobrenatural gustativo) e Varta (p oder sobrenatural de cheirar).

37. Eles (estes poderes) são impedimentos ao Samadhi, mas são (vistos como) aquisições no estado normal-mutante da mente.

38. Quando as causas do aprisionamento são enfraquecidas, e os movimentos da mente conhecidos, a mente pode entrar em outro corpo.

39. Conquistando a força vital (da vida) chamada Udana, a possibilidade de imersão em água ou lama e envolvimentos dolorosos, são evitados, e a saida do corpo pela vontade é assegurada.

40 Conquistando a força vital chamada Samana, efulgência é adquirida.

41. Através de Samyama na relação entre Akasa e o poder de ouvir, capacidade divina de ouvir é adquirida.

42. Através de Samyama na relação entre o corpo e Akasa, e pela concentração na leveza do algodão ou da lã, passagem através do céu é assegurada.

43. Quando a concepção inimaginável pode ser mantida fora, isto é, não conectada com o corpo, é chamada Mahavideha ou a grande desencarnação. Através de Samyama nisso, o véu que cobre a iluminação (de Buddhisattva) é removido.

44. Através de Samyama no denso, no caracter essencial, no sutil, a inerência e a objetividade, que são as cinco formas de Bhutas ou elementos, maestria sobre Bhutas é conseguida.

45. Então desenvolve-se o poder de minimização assim como outras aquisições corpóreas. Deixa de existir também, resistência a suas características.

46. Perfeição do corpo consiste em beleza, graça, força e firmeza adamantinas.

47. Através de Samyama na receptividade, caracter essencial, sentido de Eu, qualidade inerente e objetividade dos cinco sentidos, maestria sobre eles é obtida.

48. Então advém poderes de movimentos rápidos da mente, ação dos órgãos independente do corpo e maestria sobre Pradhana, a causa primordial.

49. Para aquele estabelecido no discernimento entre Buddhi e Purusha, vem a supremacia sobre todos os seres assim como onisciência.

50. Através da renunciação mesmo disto (conquista de Visoka), vem a liberação em consequência da destruição das sementes do mal.

51. Quando convidado pelos seres celestiais, este convite não deve ser aceito, nem deve ser causa de vaidade, pois envolve a possibilidade de consequências indesejáveis.

52. Conhecimento diferenciado do Ser e do não-Ser advém da prática de Samyama no momento e sua sequência.

53. Quando espécie, caracter temporal e posição de duas coisas diferentes são indiscerníveis, elas aparentam iguais, no entanto podem ser diferenciadas (por este conhecimento).

54. O conhecimento do discernimento é Taraka ou intuitivo, compreende todas as coisas e todo o tempo, e não tem sequência.

55. (Se o discernimento discriminativo secundário é adquirido ou não) quando igualdade é estabelecida entre Buddhisattva e Purusha na sua pureza, liberação acontece.

 

Livro IV

Sobre o Ser-nele-mesmo ou Liberação

 

1. Poderes sobrenaturais advém com o nascimento, ou são consequidos através de ervas, encantamentos, austeridades ou concentração.

2. (A mutação do corpo e dos órgãos para aquele nascido em espécie diferente) acontece através do preenchimento de sua natureza inata.

3. Causas não colocam a natureza em movimento, somente a remoção de obstáculos acontece através delas. Isso é como um fazendeiro quebrando a barreira para permitir o fluxo de água. (Os obstáculos sendo removidos pelas causas, a natureza penetra por ela mesma).

4. Todas as mentes criadas são construidas a partir do sentido-de- -Eu.

5. Uma mente (principal) direciona as várias mentes criadas na variedade de suas atividades.

6. Delas (mentes com poderes sobrenaturais) as obtidas através da meditação não têm impressões subliminares.

7. As ações do Yogui não são nem brancas, nem pretas, enquanto as ações dos outros são de três tipos.

8. Então (das três variedades de karma) manifestam-se as impressões subconscientes apropriadas às suas consequências.

9. Em função da semelhança entre a memória e suas impressões latentes correspondentes, as impressões subconscientes dos sentimentos aparecem simultaneamente, mesmo quando são separadas por nascimento, es paço e tempo.

10. Desejo de bem-estar sendo eterno, segue-se que a impressão subconsciente da qual ele advém deve ser sem começo.

11. Em função de serem mantidas juntas pela causa, resultado e objetos suportes, quando isso se ausenta, as Vasanas desaparecem.

12. O passado e o futuro são em realidade, presente, em suas formas fundamentais, tendo diferenças apenas nas características das formas tomadas em tempos diferentes.

13. Características, que são presentes em todos os tempos, são manifestas e sutis, e são compostas das três Gunas.

14. Em função da mutação coordenada das três Gunas, um objeto aparece como uma unidade.

15. Apesar da semelhança entre os objetos, em função de haverem mentes separadas, eles (os objetos e seu conhecimento) seguem caminhos diferentes, essa é a razão deles serem inteiramente diferentes.

16. Objeto não é dependente de uma mente, porque se assim fosse, o que aconteceria quando ele não fosse mais cognizado por esta mente? 17, Objetos externos são conhecidos ou desconhecidos para a mente na medida em que colorem a mente.

18. Em função da imutabilidade de Purusha, que é mestre da mente, as modificações da mente são sempre conhecidas ou manifestas.

19. Ela (a mente) não é auto-iluminada, sendo um objeto (conhecível).

20. Além disso, ambos (a mente e seus objetos) não podem ser cognizados simultaneamente.

21. Se a mente fosse iluminada por uma outra mente, então haveria repetição ad infinitum de mentes iluminadas e inter-mistura de memória.

22. (Portanto) Intransmissível, a Consciência metempirica, refletindo sobre Buddhi torna-se a causa da consciência de Buddhi.

23. A matéria mental sendo afetada pelo Observador e o observado, torna-se toda-compreensiva.

24. Ela (a mente) apesar de marcada pelas inimeráveis impressões subconscientes, existe para um outro, desde que age conjuntamente.

25. Para aquele que conheceu a entidade distinta, isto é Purusha, inquirição sobre a natureza do próprio Ser, cessa.

26. (Então) A mente se inclina ao conhecimento discriminativo e naturalmente gravita em direção ao estado de liberação.

27. Através de suas ramificações (isto é, quebras no conhecimento discriminativo) surgem outras flutuações da mente devido às impressões latentes (residuais).

28. Tem-se dito que sua remoção (isto é, das flutuações) segue o mesmo processo da remoção das aflições.

29. Quando o indivíduo torna-se desinteressado mesmo pela onisciência, ele adquiri iluminação discriminativa perpétua de onde vem a concentração conhecida como Dharmamegha (nuvem que despeja virtude).

30. A partir disso, aflições e ações cessam.

31. Então em função da infinitude do conhecimento, livre da cobertura das impurezas, os objetos conhecíveis aparentam poucos.

32. Depois de sua emergência (nuvem que despeja virtude) as Gunas tendo cumprido seu propósito, a sequência de suas mutações cessam.

33. O que pertence aos momentos e é indicado pelo término de uma mutação particular, é sequência.

34. O estado do Ser-nele-mesmo ou liberação, realiza-se quando as Gunas (tendo promovido experiência e liberação para Purusha) não têm mais propósito a cumprir e desaparecem em sua substância causal. Em outras palavras, é Consciência absoluta estabelecida em seu próprio Ser.

 

 

[…] de muita de yoga, hipose, pela leitura textos como os de Robert Anton Wilson,  George Berkeley, Aforismo de Patanjali, mas também com um único e bem sucedido Salto […]

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/yoga-fire/aforismos-de-patanjali/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/yoga-fire/aforismos-de-patanjali/

 Magia de Motivação para Tempos Difíceis

Por Deborah Castellano.

Muitas pessoas agora me descrevem como uma pessoa altamente motivada, incluindo meu sobrinho de 11 anos (minha irmã e eu muitas vezes cantamos nosso mantra interminável para ele em uníssono: continue falhando melhor!). MamaFran, por outro lado, iria brindar você com histórias sobre mim na casa dos 20 anos — com fibromialgia, principalmente sem medicação (porque a medicação ainda não existia para isso). Muitas vezes não conseguia sair da cama devido à depressão e ao desespero existencial. Quando consegui sair da cama, fui manchada de purpurina e tequila barata enquanto dançava nas mesas. Eu quase não tinha noção de como o dinheiro funcionava, um forte desejo por coisas caras (uma característica que compartilho com meu amado tio) e uma ética de trabalho muuuuuuuito frouxa.

Meu marido, Jow, só tem uma vaga lembrança dessa época em que estávamos juntos pela primeira vez, quando eu estava saindo daquele antigo eu e entrando em algo mais próximo de quem sou agora. Certa vez, muito indignada, estava dizendo a ele que tinha um plano para algo, e sua resposta inteligente foi: “Relaxe. Nunca duvido que você tenha um plano, Batman”.

Eu nunca fui muito ativo fisicamente antes da pandemia. Comecei a me tornar mais ativo porque era uma das únicas coisas seguras de se fazer. Eu fui demitido; Jow estava na linha de frente, recém-saído da escola de enfermagem; e o EPI estava longe de ser perfeito e ainda não havia vacina, então nós dois nunca sabíamos se ele traria para casa uma doença que poderia me matar (sou imunocomprometido). Apenas algumas pequenas coisas para se estressar, certo? Tem sido o tom da vida para a maioria de nós nos últimos anos, embora sua chave possa ser um pouco diferente (perda de um dos pais, entes queridos enfrentando convulsões políticas, seus negócios falindo, desgosto relacionado a filhos, outros problemas mentais e físicos lutas de saúde). O que mais havia para fazer além de sair?

Minhas tias ocultas uma vez me disseram que eu acabaria por ver a roda do ano na terra que eu inibia, mas eu estava sempre muito ocupado correndo para todos os lugares para realmente vê-la até que fui forçado a desacelerar o suficiente para uma volta sólida do ano. Passei muito tempo com medo do meu corpo por tantos motivos, entre os quais, se eu antagonizasse demais, teria um fibroflare por dias, o que poderia afetar minha renda e haveria repercussões dramáticas que foi com isso. Eu gostava de dançar na minha juventude, claro, mas depois disso? Eu não confiava no meu corpo o suficiente para não me trair para ter nada além de um relacionamento muito ruivo com ele. Mas eu fui demitido, me preocupando com Jow e, sabe, tudo, então quando eu não estava andando lá fora comecei a fazer exercícios em casa.

Eu fiz aulas que antes tinha muito medo de fazer na minha academia porque era só eu fazendo isso sozinha virtualmente. Eventualmente, fomos autorizados a ter aulas na academia enquanto estávamos mascarados, mais espaçados na quadra de basquete. Foi assim que passei a gostar tanto da aula de spin que comprei sapatos para ela. Não havia efeitos especiais, a música era irregular e eu tive que aprender a fazer isso com uma máscara KN95, mas estava fazendo isso. Meu corpo estava fazendo coisas que eu nunca pensei que poderia fazer: às vezes às 6 da manhã em uma aula de spin antes de dar aula para meu sobrinho durante a escola virtual, depois parando para fazer compras pesadas no caminho de casa da minha irmã para casa que eu arrastava sozinho antes de começar meu trabalho doméstico e jantar para Jow enquanto eu tentava não enlouquecer de ansiedade sobre quando/se ele voltaria para casa. Antes da pandemia, isso era inimaginável. Mas era irreal descobrir o quanto eu poderia fazer quando precisava – destino contra a minha vontade como a música Echo and the Bunnymen vai.

Hoje, na minha aula de spin, tive um instrutor novo para mim. Ela estava dando a aula depois da primeira que eu fiz, então decidi que hoje seria o dia em que eu faria duas aulas consecutivas. Ela ficou surpresa quando voltei, e eu timidamente disse a ela que era meu primeiro dia fazendo aulas duplas (então, se eu começasse a morrer na minha bicicleta no meio da segunda aula, ela saberia por quê). No meio da segunda aula, quando comecei a considerar morrer na minha bicicleta como uma possível estratégia de saída, ela pulou da bicicleta e agachou-se cerca de um metro e oitenta na minha frente. Estávamos no nível dos olhos e encontramos o olhar um do outro com firmeza. Eu podia ver o fogo queimando nela, aquele mesmo fogo que faz algumas pessoas se afastarem lentamente de mim. Nós refletimos um para o outro até que ela gritou: “Hoje é o primeiro dia de Deborah fazendo duplas. Por que você está lutando hoje? O que. Você está. Lutando. Por. Hoje?” Nós nos encaramos um pouco mais e eu pensei sobre essa pergunta enquanto tentava não cair morta.

Eu terminei a aula. Dezoito milhas no total.

O primeiro passo na magia da motivação é a parte mais difícil. É aquela pergunta: Pelo que você está lutando hoje? O que vai continuar empurrando você para frente quando você quer deslizar pela porta dos fundos para longe do que estiver fazendo? Pode estar criando, pode estar pedindo um aumento, pode estar ajudando pacientes em uma clínica a obter os cuidados de saúde de que precisam enquanto você está gritando, pode ser o próximo passo no treinamento do penico, pode estar tentando ter a mesma discussão que você está tendo com um parceiro nos últimos cinco anos com um resultado diferente, pode ser tentar algo novo para sua saúde mental. Se algo disso é novo no seu dia, é assustador, o que nos faz não querer fazer isso. Por que você vai fazer isso de qualquer maneira? Se não é novo e você está arrasado pela realidade cotidiana e quer deitar em uma poça no chão, é menos assustador e mais existencial. Por que você vai fazer isso quando parece que não importa?

Refina-o em uma frase, um mantra, uma intenção, uma oração, um grito feroz no abismo. É aqui que a magia começa. Anote se sua memória estiver ruim, escreva em seu braço ou coxa em Sharpie se precisar de um visual. Desenhe-o como um sigilo se isso falar melhor com você. Cante-a até que ela seja incorporada ao seu cérebro. O que for melhor para você. Esta é a definição de intenção. É aqui que você se declara para o universo. É aqui que você pode começar a seguir o fio da sua intenção na tapeçaria dela e ver como e onde ela começa a tecer.

Sua respiração é mágica. Você não seria capaz de fazer magia em seu corpo físico sem ela, mesmo que por nenhuma outra razão você partiria deste mundo sem ela. Ele contém a essência de sua vida e sua morte. Cada vez que você respira, você tem uma respiração a menos, um momento a menos de sua vida mortal.

Pegue um pequeno frasco limpo com tampa. Escreva sua intenção em um pequeno pedaço de papel laranja. Coloque-o em seus lábios. Respire sete respirações nele. Coloque-o no fundo da jarra. Adicione sujeira de um lugar que revigore você. Adicione chips de olho de tigre para mantê-lo no impulso para a frente. Adicione grãos de café para obter energia e adicione paus de canela para manifestar sua intenção rapidamente. Adicione óleo essencial de hortelã-pimenta para que você possa ser focado e criativo. Adicione sal preto para absorver a energia negativa do mau-olhado lançado em você principalmente inconscientemente por outras pessoas (todo mundo tem dias ruins em que fica chateado com o progresso de outras pessoas). Se você quiser adicionar outros componentes, isso seria quando. Você é o capitão de seu próprio navio; esta é uma receita e você pode adicionar e subtrair o que quiser. Concentre-se em sua intenção enquanto se prepara para selar o frasco. Respire mais sete respirações no frasco. Sussurre sua intenção no frasco. Use um pequeno pedaço de tecido laranja sobre a tampa e um pouco de barbante para prender o tecido na tampa. Se você quiser um pequeno charme de algum tipo para adicionar ao barbante como um talismã de abelha rainha ou um osso da sorte de galinha ou o que quer que fale com você, você pode adicioná-lo aqui. Ao selar a jarra e dar três nós no barbante, diga: “Meus vasos e meus feitiços fornecem, meus encantos e tudo mais”. (Isso é baseado em um dístico de Macbeth). Esta seria uma boa oportunidade para fazer alguma adivinhação usando o método que você mais gosta para que você possa ver melhor o caminho do seu fio que você criou na tapeçaria do universo criando este trabalho mágico. Todas as manhãs, agite o frasco sete vezes e pense na sua intenção. Quando você atingir sua intenção, você pode agradecer ao universo enquanto abre o frasco e descarta o conteúdo. Você pode ser tradicional e enterrar o conteúdo em uma encruzilhada depois de escurecer ou você pode ser mais ecologicamente consciente e reciclar a jarra, colocar as ervas em uma pilha de compostagem ou recipiente e dar o olho de tigre, tecido, barbante e encantos para os amigos (apenas deixe-os saber que eles eram anteriormente componentes de bruxaria seus). Eu sei que alguns bruxos estão preocupados com o processo de descarte mais moderno que perturba os espíritos, mas em meus mais de vinte anos de prática pessoal, nunca tive nenhum problema com essa abordagem de uma perspectiva de bruxaria ou de uma perspectiva de vida cotidiana. É o seu trabalho; você está no comando do que parece certo para você e agindo de acordo.

Se nada mais, simplesmente lembre-se do que sempre digo ao meu sobrinho quando se trata de estar motivado para realizar tarefas desafiadoras: você não precisa gostar, apenas fazer.

Fonte: Motivation Magic for Troubled Times, by Deborah Castellano.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

 

Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/magia-de-motivacao-para-tempos-dificeis/

“Serpente Kundalini” e o Papel do Sexo em Gurdjieff

C. Baptista

Muitos dos candidatos à senda iniciática e os neófitos em ocultismo exalam suspiros ansiosos diante da simples menção da palavra “sexo”. O pronunciar do mantra “Kundalini” exerce efeito vibracional da mesma magnitude ou maior, sem dúvida ampliado quando conjugado ao vocábulo sânscrito “Tantra” ou junto ao supra sumo dos gurus orientais, a “Yoga”.

Isso resulta em “Kundalini Yoga” ou “Tantra Yoga”. Seria engraçado notar outras associações que só a risível mecanicidade dos homens explicaria mas não é outro nosso propósito que anotar o pensamento de P. D. Ouspensky contido em “Fragmentos de um Ensinamento Desconhecido – Em busca do Milagroso”, esta obra notável que, em que pesem as diferenças com o estilo argumentativo e a didática do mestre conserva em linhas magistrais o essencial de seu pensamento apresentado nas conferências a que compareceu P.D.O.

A visão de G (como chamaremos à moda usual de Georges Illitch Gurdjieff) começa a ser esboçada quando fala do repertório definido de pais que o homem representa habitualmente e como “(…) o estudo dos papéis que cada um representa é uma parte indispensável do conhecimento de si. O repertório de cada homem é extremamente limitado’. Esses papéis, como observa, exercem uma função prodigiosa nas relações entre homem e mulher (pg. 290) e demonstram como o tipo real, a essência, é escondida nestas mesmas relações pois elas se travam com base em uma espécie de “coincidência de gostos”, por assim dizer, correlacionada à personalidade (aparência e não à essência) do casal. “(…) o homem ‘mecânico’ não pode amar. Nele, isto ama ou isto não ama”.

A grosso modo, o “sistema” de Gurdjieff é fundamentada no pressuposto de que o homem é uma máquina e para estudá-lo é antes necessário compreender a mecânica que a psicologia em sentido estrito. Para o homem “tudo acontece” e ele dificilmente escapa ao conjunto de “leis da mecanicidade” por esforço próprio o que, não obstante, pode ser feito por um esforço consciente em grupo capaz de produzir “choques artificiais” adicionais que garantam a cristalização de algo mais sutil em si mesmo.

Poucos compreendem, entretanto, a importância que desempenha o sexo no conjunto do sistema porque via de regra se resumem os “centros do homem” aos centros instintivo, motor, emocional e mental. O “centro sexual” cumpre um papel que é ignorado por muitos adeptos do “Quarto Caminho” (ou a escola introduzida por G. Gurdjieff no Ocidente) ou é entendido como a contrapartida conceitual da famosa “kundalini” hindu, ao qual difere em número, gênero e grau.

“Kundalini” para Gurdjieff em nada se aparenta à “serpente ígnea” que se aloja no chackra situado na base da coluna e o “despertar de kundalini” não se relaciona em absoluto ao acréscimo de faculdades desconhecidas ou poderes (“sidhis”) transcendentes. Na realidade:

“(…) é a potência da imaginação, a potência da fantasia, que usurpa o lugar de uma função real” (…). “Kundalini é uma força introduzida nos homens para mantê-los em seu estado atual”. Despertar para o homem significa ser “deshipnotizado”.

Kundalini é algo que foi colocado no homem “por fora” e serve para mantê-los escravizados, sujeitos ás leis mecânicos e reféns das influências planetárias, transformando-se em “alimento para a lua” de acordo com a utilidade quer forças de ordem cósmica reservaram à terra na economia da universo. Sem “Kundalini” o homem não é mais hipnotizado, não age como na velha fábula em que o cordeiro pensa que é um Leão.

Kundalini, posteriormente tratada nos “Contos de Belzebu a seu Neto” nada mais é que o estranho órgão “kundabuffer” que faz com que os homens e mulheres neste pequeno planeta, estes insólitos seres “tricerebrados” ajam de maneira tão estranha diante dos olhos do estupefato neto do velho e sábio Belzebu.

Como afirmava o velho caucasiano em suas conversas com os mais seletos discípulos,

Ao mesmo tempo, o sexo desempenha um papel enorme na manutenção da mecanicidade da vida. Tudo o que as pessoas fazem está em ligação com o sexo; a política, a religião, a arte, o teatro, a música, tudo é sexo”. (…) Essa é a principal fonte de energia de toda a mecanicidade. Todos os sonos, todas as hipnoses dela decorrem. Tentem compreender o que quero dizer. A mecanicidade é particularmente perigosa quanto as pessoas não a querem tomar pelo que é e tentam explicá-la por outra coisa. Quando o sexo é claramente consciente de si mesmo, quando não se esconde por trás de pretextos, não se trata mais de mecanicidade de que falo. Ao contrário, o sexo, que existe por si mesmo e não depende de mais nada já é uma grande realização. Mas o mal reside nessa perpétua mentira de si mesmo”.

O sexo é a principal fonte da escravidão humana e o laço que o ata em caráter quase irrevogável à mecanicidade, impedindo-o de ser algo mais que uma simples e previsível máquina. Contudo, há algo de positivo nele, desde que exploradas suas possibilidades enquanto fator de “transmutação” do homem.

Lembram-se do que foi dito a respeito das quarenta e oito leis? Não podem ser modificadas, mas é possível libertar-se de grande número delas. Quero dizer, há uma possibilidade de mudar. O estado de coisas para si mesmo pode escapar à lei geral. Aí, como em qualquer outra parte, a lei geral não pode ser mudada, tanto mais que a lei de que falo, isto é, o poder do sexo sobre as pessoas, oferece possibilidades muito diversas. O sexo é a principal fonte de nossa escravidão, mas também nossa principal possibilidade de libertação”.

Neste ponto ingressa-se no campo da alquimia enquanto ciência das transmutações e estudo da unidade da matéria. O sexo se torna ingrediente indispensável no processo que conduz ou ao nascimento de um novo corpo físico à base da união dos princípios masculino ou feminino ou à constituição de um corpo astral sem “bodas alquímicas”, sem o “sol e lua” como se pode dizer (Gurdjieff e Ouspensky não usavam essa notação alquímica.

O processo de Criação de um Novo Corpo Físico depende da forma como são manipuladas substâncias sutis, em especial a mais fina e rara que pode ser produzida pela fábrica humana (o corpo humano de três andares), o hidrogênio si 12. Por assim dizer:

O novo ‘nascimento’ de que falamos, depende da energia sexual tanto quanto o nascimento físico e a propagação das espécies”. “(…) o hidrogênio si 12 é o hidrogênio que representa o produto final da transformação do alimento no organismo humano. É a matéria a partir da qual o sexo trabalha e produz. É a ‘semente’ ou o ‘fruto’. “(…) si 12 pode passar ao dó da oitava seguinte com o auxílio de um ‘choque adicional’. Mas esse ‘choque’ pode ser de dupla natureza e duas oitavas diferentes podem começar, uma fora do organismo que produziu si, outra no próprio organismo. A união dos si 12 masculino e feminino – e tudo que a acompanha – constitui o ‘choque’ da primeira espécie e a nova oitava começada com a sua ajuda desenvolveu-se independentemente, como um novo organismo ou uma nova vida’.

“Essa é a maneira normal e natural de utilizar a energia de si 12. entretanto, no mesmo organismo há outra possibilidade. É a possibilidade de criar uma vida nova dentro do organismo onde si 12 foi elaborado, mas desta vez sem a união dos princípios masculino e feminino”.

Gurdjieff deixa claro que a energia sexual só pode ser gasta de duas maneiras legítimas, a vida sexual normal e a transmutação. “(…)Neste domínio, qualquer invenção é das mais perigosas”. Isso pode ser entendido como uma admoestação que visa coibir as chamadas práticas da “mão esquerda” (não entendidas, diga-se de passagem, à moda piegas de vários autores ocultistas, principalmente “teósofos” mas como um conjunto de ações que deturpam o caminho e aumentam a mecanicidade do homem).

O sexo, em si, se normal e bem utilizado é bom e saudável. O grande mal, o mais pernicioso é o “abuso do sexo” Como Gurdjieff entende a expressão “abuso do sexo”?

Ela designa o mau trabalho dos centros em suas relações com o centro sexual ou, noutros termos, a ação do sexo exercendo-se através dos outros centros e a ação dos outros centros exercendo-se através do centro sexual, ou para ser mais preciso, o funcionamento do centro sexual com o auxílio da energia tomada dos outros centros e o funcionamento dos outros centros com o auxílio da energia tomada do centro sexual”.

Abuso do sexo é qualquer situação que produz o mal funcionamento dos centros, sua desarmonia e desorganização. O centro sexual rouba energia dos demais centros (o motor, o emocional e o mental) e estes se alimentam, por seu turno, das energias do centro sexual. Nesse caso o homem se descontrola e tende a se tornar um ser horrendo e desprezível. O sexo como parte neutralizante do centro motor deixa de operar e seu centro, o centro sexual, passa a se “alimentar” de coisas mais impuras e grosseiras.

”(…) O centro sexual trabalha com o hidrogênio 12, disse ele desta vez. Isto é, deveria trabalhar com ele. O hidrogênio 12 é si 12 mas o fatoé que raramente trabalha com o seu hidrogênio próprio. As anomalias no trabalho do centro sexual exigem estudo especial”.

Além de tomar para si “hidrogênios inferiores”, o centro sexual começa adquirir caraterísticas que não são próprias dele, é contaminado por atributos dos demais centros e, em especial, do centro emocional. Como demonstra G.; no centro sexual, no centro emocional superior e no intelectual superior não há duas partes.

Tudo o que se relaciona com o sexo deveria ser, quer agradável, quer indiferente. Os sentimentos e as sensações desagradáveis provêm todos do centro emocional ou do centro instintivo”.

Mas em conseqüência do mau trabalho dos centros, acontece freqüentemente que o centro sexual entra em contato com a parte negativa do centro emocional ou do centro instintivo. A partir daí, certos estímulos particulares ou mesmo quaisquer estímulos do centro sexual, podem evocar sentimentos desagradáveis, sensações desagradáveis”.

O sexo é importantíssimo por fim pois é o mais rápido dos centros por trabalhar com o hidrogênio 12.

“(…) Isto significa que ele é mais forte e mais rápido que todos os outros centros. De fato, o sexo governa todos os outros centros (pq. 292)”.

“(…) Quando a energia do sexo é saqueada pelos outros centros, é esbanjada num trabalho inútil, nada resta para ele mesmo e deve, a partir de então, roubar a energia dos outros centros, que é de qualidade bem inferior à sua e bem mais grosseira”.

Mas quando o centro sexual trabalha com energia que não é a sua, isto é, com os hidrogênios relativamente inferiores, 48 e 24, suas impressões tornam-se muito mais grosseiras e ele cessa de ter no organismo o papel que poderia desempenhar. Ao mesmo tempo sua união com o centro intelectual e a utilização de sua energia pelo centro intelectual provocam um excesso de imaginação de ordem sexual e, por acréscimo, uma tendência a satisfazer-se com essa imaginação. Sua união com o centro emocional cria a sentimentalidade, ou, ao contrário, a inveja, a crueldade”.

As mais grandiosas obras em todos os terrenos são frutos inegáveis da ação do centro sexual. Essa energia se reconhece “(…) por um ‘sabor’ particular, por um certo ardor, por uma veemência ‘desnecessários”. O maior desafio do homem que trabalha sobre si mesmo no espírito do quarto caminho e compreender (e antes SER para COMPREENDER) como utilizá-la da forma correta e não fazer mal uso do sexo tornando-se um infra-sexual conforme ensina Ouspensky em “Um Novo Modelo do Universo”. Um demônio vil, asqueroso e perverso aguilhoado pela torpe sujeição aos mais abjetos prazeres que satisfaçam sua mecanicidade.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/serpente-kundalini-e-o-papel-do-sexo-em-gurdjieff/

A Espiritualidade Queer nas Comunidades Mágicas Modernas do Leste Asiático

O TAO DO ENTENDIMENTO OPOSTO:

Para uma abordagem mais prática do pensamento taoísta, serei seu convidado especial. Se você leu outros livros meus, pode se surpreender ao me ver como o representante do taoísmo, já que minha abordagem do espiritual é mais eclética e uma colcha de retalhos do que há de melhor. Mas cá entre nós, já que passamos tanto tempo juntos nessa jornada global, vou contar um pequeno segredo: no nível central da minha espiritualidade, sou mais taoísta do que qualquer outra coisa. Sim, sigo a filosofia hermética, tenho devoção à Santa Muerte e participo de práticas ecléticas de várias tradições, mas o taoísmo é o que me mantém fundamentado e atua como minha perspectiva básica a partir da qual vejo tudo isso e o mundo ao meu redor. Então, aqui estão algumas filosofias LGBT+ taoístas que eu usei e espero que você experimente pelo menos uma vez.

Como o Tao, tanto o gênero quanto a identidade são fluidos e impermanentes. Você pode se considerar masculino, mas isso é relativo, pois algumas pessoas podem ser consideradas mais masculinas ou menos masculinas do que você. Então, se a masculinidade não é sequer capaz de ser definitivamente identificada, a busca da masculinidade é, por sua própria natureza, uma tarefa absurda e impossível. O mesmo vale para a feminilidade. Como alguém pode realmente se chamar de masculino ou feminino quando esses ideais existem apenas em comparação com seus opostos, que, por sua vez, só existem em comparação com esses ideais iniciais?

Ainda assim, vivemos em um mundo onde os rótulos são uma necessidade. A vida é muito mais fácil quando podemos apontar para algo e saber imediatamente o que é e o que não é. Ao comparar o que não é, entendemos o que é. A masculinidade é assim porque não é feminina, e a feminilidade é assim porque não é masculina. Mas e tudo no meio? E o que é masculinidade/feminilidade afinal? Bem, o taoísmo tem uma abordagem única para entender os extremos e os espaços entre eles.

O capítulo 36 do Tao Te Ching expõe essa ideia de realização por meio de ações aparentemente opostas:

Se alguém deseja reduzi-lo
Deve-se primeiro expandi-lo
Se alguém deseja enfraquecê-lo
É preciso primeiro fortalecê-lo
Se alguém quiser descartá-lo
Deve-se primeiro promovê-lo
Se alguém quiser agarrá-lo
Deve-se primeiro dar-lhe
Isso é chamado de clareza sutil
O mole e o fraco superam o duro e o forte. 199

Aplicando esta lição na prática, a melhor maneira de entender nossa própria identidade de gênero é primeiro entender o oposto. Então, para se tornar mais masculino, primeiro você precisa se tornar mais feminino e vice-versa. Eu sei que parece ridículo no começo, mas se você pensar sobre isso, é verdade. Pense no homem ideal, um homem que sabe tratar bem uma mulher em todos os níveis: emocional, social, sexual. Ele só pode ser esse homem ideal porque entende os desejos e necessidades de uma mulher. Ser a mulher ideal é a mesma coisa; ela entende os desejos e necessidades de um homem. Quando você entende verdadeiramente a psique do sexo oposto, sabe como abordá-los e, assim, ser o ideal de um verdadeiro homem ou mulher aos seus olhos.

A maioria das pessoas não entende o sexo oposto porque não tem tempo para pensar fora da caixa de sua própria identidade de gênero. Então, o exercício taoísta para você é passar o tempo sendo o sexo oposto. Em um dia de folga do trabalho, viva um dia na vida. Se você se considera masculino, levante-se mais cedo para pentear seu cabelo de uma maneira especial, aplique maquiagem, use roupas femininas se tiver acesso a elas, assista a um “chick flick (gíria inglesa para filmes destinados geralmente destinados à audiência feminina, como Cinquenta Tons de Cinza, Crepúsculo, Aquamarine, Legalmente Loira, O Diabo Veste Prada, Titanic, Ghost, Ritmo Quente, O Guarda-Costas, para citar os mais conhecidos)” e saia e visite lojas e locais estereotipados como femininos (dentro/fora do drag, dependendo do seu nível de conforto e segurança).

Se você se considera feminina, passe o dia fazendo coisas estereotipicamente masculinas: sente-se com as pernas abertas e os cabelos compridos escondidos sob um chapéu, assista a um filme de ação brega, vá para uma quadra de basquete ou gaiola de rebatidas para praticar algum esporte, etc. Sim, estes são todos estereótipos, mas esse é o ponto. Ao viver os extremos ridículos do outro gênero, todas as outras diferenças começam a parecer menos ridículas em comparação.

E se sua reação imediata for “eu não vou fazer isso”, então eu te pergunto: por que não? Há algo de errado em ser feminino ou masculino? O que exatamente você tem que é tão contra essa atividade? Se você se considera de mente aberta, então este é o momento de falar.

Afinal, o importante a lembrar é que isso é mais do que fazer drag e fingir. Para ver como a outra metade vive, tente realmente incorporar o sexo oposto na mente e no espírito, não de maneira zombeteira, mas de uma maneira profundamente psicanalítica que promova a compreensão. Uma vez que você realmente experimente a feminilidade, você entenderá a masculinidade, e uma vez que você realmente experimente a masculinidade, você entenderá a feminilidade. Até então, você está realmente apenas adivinhando.
—Tomás Prower.

O CANTO DO MANTRA BUDISTA NICHIREN:

Voltar para dar outro exemplo é Nikko, nosso residente budista queer. Você já sabe como o budismo foi uma força transformadora para melhor em sua vida como homem gay. Aqui ele vai compartilhar um canto de mantra budista japonês para nós praticarmos por conta própria, o que pode nos levar a uma maior iluminação.

O mantra do Budismo Nichiren é “Nam-myohorenge-kyo,” também conhecido como daimoku. Cantar o daimoku é a principal prática de milhões de budistas Nitiren em todo o mundo. Esta prática, juntamente com o estudo dos escritos da tradição, é dita para ajudar os praticantes em sua busca para transformar suas vidas e atingir a iluminação.

Esta forma de budismo foi iniciada por um sacerdote japonês do século XIII chamado Nichiren. A busca de Nichiren era estabelecer uma prática que fosse facilmente acessível para todas as pessoas, independentemente de classe, ocupação, nível de educação ou sexo. Nichiren baseou seus ensinamentos no Sutra de Lótus, uma antiga escritura budista.

Cantar daimoku é como um treino espiritual para explorar a natureza de Buda. Nossa natureza de Buda pode ser vista como nosso potencial inerente caracterizado por uma condição de vida energizada com maior coragem, compaixão e sabedoria.

Há muitas camadas de significado para a frase “Nam-myoho-rengue-kyo”. Por uma questão de brevidade, pode ser traduzido como “Eu dedico minha vida à maravilhosa lei de causa e efeito” – que leva ao estado de Buda – ou “Eu me dedico ao ensinamento do Sutra de Lótus” – que é que todos nós tem a natureza de Buda.

Os curiosos interessados em testar a prática podem seguir os passos listados abaixo:

1. Faça uma lista de metas que deseja realizar. (O Budismo de Nichiren Daishonin leva em conta a realidade em que os leigos se encontram. Os desejos não são vistos como algo a ser eliminado, mas sim enfrentado e transformado.)

2. Escolha um lugar onde você possa relaxar e cantar confortavelmente em voz alta. Você pode estar sentado em uma cadeira, ajoelhado ou sentado com as pernas cruzadas. É com você. Basta estar confortável.

3. Escolha um ponto de foco em uma parede em branco ligeiramente acima do nível dos olhos. Mantenha os olhos abertos e concentre-se no ponto selecionado.

4. Segure as mãos com as palmas voltadas para dentro e se tocando (uma posição de oração frequentemente vista) na frente do peito.

5. Mantenha as costas o mais retas possível, mantendo-se confortável.

6. Não há necessidade de esvaziar a mente ou visualizar nada em particular. Seja você mesmo e concentre-se em suas esperanças e orações.

7. Comece a cantar “Nam-myoho-rengue-kyo”. As palavras são pronunciadas da seguinte forma:

• Nam (Nahm, Namu) = Nahm-moo (Nárm-mú)

• Myoho = Mee-yoh-hoh (Mí-io-rrô)

• Renge = Rain-gay (Reín-guêi)

• Kyo = Kee-oh (Kí-ô)

8. O ritmo recomendado de recitação é vigoroso e rápido.

Comprometa-se a cantar por 5 a 10 minutos duas vezes ao dia todos os dias por algumas semanas. As sessões de canto devem ser feitas pela manhã e à noite.

Estabelecer um ritmo duas vezes ao dia é importante. Yon também pode fazer cânticos extras sempre que tiver tempo livre ou estiver enfrentando um problema.

Deixe as palavras e suas vibrações penetrarem profundamente em sua vida. Permita que eles tragam sua sabedoria e reenergize você com a força para não ser derrotado e superar seus problemas e aflições. Depois de alguns dias ou semanas, observe como o canto o ajudou a alcançar seus objetivos ou os transformou em uma realidade mais construtiva.

Para realmente aproveitar ao máximo a prática, você deve ler, estudar e aplicar os escritos de Nichiren e o Sutra de Lótus. Estes podem ser encontrados online através de várias organizações budistas Nichiren.
—Nikko.

Bibliografia:

199. Lin, Tao Te Ching.

Fonte: Queer Magic, por Tomás Prower.

Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/a-espiritualidade-queer-chinesa/