Cronologia da Formação Bíblica

Ao contrário do que possam pensar num primeiro momento a Bíblia não desceu dos céus carregada por anjos. Ela é fruto do trabalho e centenas, senão milhares de pessoas que a escreveram, definiram, copiaram, traduziram, editaram, formataram e distribuiram até chegar nos formatos que hoje conhecemos. Confira essa evoluçao século a século.

SÉCULO 10 A.C

Tradições orais javistas e eloistas.

Surgem os primeiros escritos.

SÉCULO 9 A.C

Com a monarquia de Israel, o Rei Davi estabelece primeiro canon judaico (Genesis e Exodus) unificando as tradições do sul e do norte

SÉCULO 4 A.C

Esdras reestrutura o judaismo e forma a versão final da Torah e dos Profetas

SÉCULO 3 A.C

Os judeus de Alexandria produzem a Septuaginta, uma coleção de manuscritos contendo a tradução grega do que hoje conhecemos como a Bíblia Ortodoxa contento todo o antigo testamento usado pelos católicos mais sete livros.

Traduções em aramaico da Septuaginta se espalham pela Judéia, na Samária e  Galiléia

SÉCULO 1

Os autores do novo testamento terminam de ser escritos.

Samaritanos consideram apenas o Pentateuco como sagrado

Sabemos pelos manuscritos do mar morto que os judeus essenios liam Isaias e o Apocalipse de Lamech

O Sinédrio de Jamnia define que o canon: o manuscrito deve ter sido escrito na Palestina, em Hebraico, anterior a Esdras e de acordo com a doutrina dos fariseus. Estes critérios eliminam o que hoje conhecemos como deuterocanonicos mas também Ester, Daniel e Cântico dos Cânticos

O historiador judeu Flávio Josefo descreve em Contra Apião descreve o canone dos fariseus

SÉCULO 2

Marcião, gnóstico, defende que os cristãos deveriam usar apenas o Evangelho de Lucas e as cartas de Paulo. Como reação Irineu, bispo de Lião (Lucas+Paulo) estabelece pela primeira vez os 4 evangelhos.

Concílio de Nicéia provavelmente canoniza os 4 evangelhos e as cartas paulinas

O fragmento de Muratori fala de quatro evangelhos e cita os de Lucas e João, os Atos, e as cartas de João e Paulo (com exceção de Hebreus). Também cita Sabedoria de Salomão e Apocalipse de Pedro.

SÉCULO 3

Explosão de novos manuscritos apócrifos.

SÉCULO 4

A carta de Atanásio, bispo de Alexandria, define os livros do novo testamento como hoje conhecemos. Seus critérios são que deveriam ser escritos por apostolos (considerando Paulo um apóstolo) e serem tradicionalmente usado pelas igrejas. Fica de fora a Antilegomena.

Concílio de Hipona promulga a lista dos livros da Bíblia Católica.

Não temos nessa época ainda um livro, nem mesmo livros separados, mas a chamada Vetus Latina, uma coleção de pergaminhos com cópias feitas de cópias dos textos históricos.

SÉCULO 5

O Midrash Rabbah define o Cânone Judaico como composto de 24 livros que se agrupam em 3 conjuntos: A Lei , Profetas e Escritos.

Jerônimo organiza e traduz os manuscritos da vetus Latina e cria Vulgata, a primeira bíblia como um livro só. Na época o latim era bem difundido, e quem sabia ler, sabia ler latim. Essa tradução é feita direto do hebraico, grego e aramaico e inaugura a traição de separar o Antigo e o Novo Testamento. Ao perceber a diferença entre o canonê alexandrino do palestino ele opta por separar sete de seus livros no final do antigo testamento sob o título de apócrifos. Jeronimo é também o primeiro a chamar esta coleção de bíblioteca divina, mais tarde biblia.

SÉCULO 6

A Escola de Massorá define o Texto Massorético: coleção de livros considerados sagrados para o judaísmo moderno, bem como sua forma correta de leitura.

SÉCULO7

As passagens do Alcorão corroboram a bíblia como livro sagrado.

SÉCULO 9

Cirilo inventa o alfabeto cirillico para poder escrever o novo testamento para os povos eslavos.

SÉCULO10

Os quatro evangelhos são traduzidos na Saxônia

SÉCULO 12

Papa Inocêncio III proibe traduções não autorizadas da bíblia.

SÉCULO 13

1250 – Bible moralisée, primeira bíblia com ilustrações

1280 – Biblia alfonsina traduz a Vulgata é traduzida de forma autorizada para o espanhol.

1297 – A Bible historiale em francês é a primeira Bíblia de Estudos (com comentários e cronologia)

SÉCULO 14

1360 – Vulgata é traduzida de forma autorizada para o Checo

1377 – Vulgata é traduzida de forma autorizada para o francês, Bible de Charles V

1382 – John Wycliffe traduz a Vulgata para o inglês. Acusada heretica pelo bispo de Londres passa a circular ilegalmente.

SÉCULO 15

1455 – Gutemberg faz a primeira impressão da Vulgata e acaba a era dos copistas.

1466 – Bíblia de Mentelin primeira da Vulgata no vernaculo alemão

1471 – Bibbia del Malermi traduz a da Vulgata para o italiano

SÉCULO 16

1516 – Erasmo de Roterdão compila o Textus Receptus, uma compilação do novo testamento baseada em mais de 5000 manuscritos bizantinos que seria a base para quase todas as traduções protestantes seguintes.

1522 – Lutero faz sua tradução direto hebraico e grego para o alemão. Inicialmente coloca os apocrifos (junto com Ester) em um apêncide no AT e as cartas de João e o apocalipse em um apêndice do NT.

1522 – Bíblia de Tyndale, traduz o novo testamento para o inglês. Apesar de ter a obra condenada tornou-se a primeira impressão em massa dos evangelhos.

1540 – O Concílio de Trento estabelece a Vulgata Clementina. Unificando todas as variações existentes da Vulgata.

1570 – Após a Morte de Lutero os luteranos removem os apêndices do AT e retornam os livros do NT

1576 – Devido a Inquisição um grupo de teólogos protestantes se refugiam na Suiça onde produzem a Biblia de Genebra, uma revisão do novo testamento de Tyndale e uma nova tradução dos escritos hebraicos. É a primeira bíblia com separação por versículos, introduções por capítulos, referências cruzadas, mapas e tabelas.

SÉCULO 17

1611 – Para combater a popularidade a Bíblia de Genebra, repleta de comentários calvinistas, Rei James, anglicano. encomenda a produção de uma nova tradução para o inglês e para isso mobiliza uma comissão de 54 estudiosos.

1666 – King James Bible  passa a remover os apocrifos de suas edições

SÉCULO 19

1804 –  É fundada a ‘Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira’ com a missão de  tornar a Bíblia acessível a todos os povos. Traduções se intensificam.

1866 – Bíblia francesa é a primeira a ser vertida ao braille

1898 – Eberhard Nestle publica o ‘Novum Testamentum Graece’  utiizando o método da crítica textual e os Textos Minoritários anteriores ao Textus Receptus. Por seu rigor científico passa a ser o texto base de muitas traduções mais recentes da Bíblia.

1899 – Fundado os Gideões internacionais dedicados a distribuição de Bíblias, nos prisões, hotéis, motéis, escolas, hospitais, repartições públicas, militares, aeronaves e navios.

SÉCULO 20

1945 – A Sociedade Bíblica Internacional tornasse a Sociedade Bíblica Unida presente agora em 200 paises e territórios e dedicada a tradução, edição e distribuição da Bíblia e sempre que preciso alfabetização.

1946 – É fundada a “Sociedades Bíblias Unidas” pela união de 146 Sociedades Bíblicas ao redor do mundo Tradução, edição, distribuição e alfabetização.

1950 – King James Bible vira primera biblia em audio na voz de Alexander Scourby

1969 – Apolo 14 leva a bíblia a lua em microfilme.

1970 – A Traduction œcuménique de la Bible é a primeira tradução ecumenica. Comissão interdisciplinares de mais de 100 especialistas,, incluindo judeus, católicos, protestantes e ortodoxos.

1975 – Após o Concílio Vaticano II revisa a tradução da Vulgata Clementina e publica a Nova Vulgata como a Bíblia oficial da Igreja Católica

1993 – Biblegateway.com é o primeiro site a colocar a Bíblia na internet com ferramenta de busca e diversas traduções sincronisadas e ligações de hipertexto.

SÉCULO 21

2008 – Lançado o YouVersion, aplicativo que permite consulta de varias traduções, incluindo versões em audio, com recursos de notas compartilhadas e estudos em rede.

2009 – Al Jazeera expõe o Bagram Bible Program ao público

2025 – Previsão da Wycliffe Global Alliance para ter projetos de tradução da Bíblia para todos os idiomas falados atualmente.

 

Postagem original feita no https://mortesubita.net/jesus-freaks/cronologia-da-formacao-biblica/

Azazel

Azazel é um termo de considerável controvérsia, e pode se referir a (a) um poder maligno ou (b) a um local. Até mesmo o significado do nome é um tópico de considerável controvérsia. Se presumirmos que a ortografia sofreu algum tipo de corrupção, provavelmente significa a “Ira de Deus”.

Azazel aparece com destaque no ritual do Yom Kippur, o Dia da Expiação descrito na Torá, e conhecido pelos leitores modernos como o ritual do “Bode Expiatório”. Nesta cerimônia, o sumo sacerdote transfere os pecados do povo para um bode, e então o solta no deserto, “para Azazel”. Não está claro, no entanto, se a palavra se refere a uma entidade ou um lugar, talvez um reino infernal, para o qual o bode expiatório é enviado (Levítico 16:8-10, TNM):

“8 – E Arão tem de tirar sortes sobre os dois bodes, uma sorte para Jeová (YHWH) e a outra sorte para Azazel.

9 – E Arão tem de apresentar o bode sobre o qual recaiu a sorte para Jeová (YHWH) e tem de fazer dele uma oferta pelo pecado.

10 – Mas o bode sobre o qual recaiu a sorte para Azazel deve ser posto vivo perante Jeová (YHWH) para fazer expiação por ele, a fim de ser enviado ao ermo, para Azazel.”

Alguns estudiosos acreditam que o termo Azazel se refere a uma zona árida e rochosa no deserto. Outros teorizam que Azazel era um demônio-bode, ou sátiro, um remanescente das crenças israelitas pré-monoteístas (Levítico 17:7, TNM):

“7 – De modo que não devem mais oferecer os seus sacrifícios aos demônios caprinos com que têm relações imorais. Isto vos servirá de estatuto por tempo indefinido, nas vossas gerações.”

Ambas as interpretações da palavra continuam a ter validade pós-bíblica. A expressão “L’ Azazel” torna-se um coloquialismo para “vá para o inferno!” Por outro lado, dada a crença geral do Oriente Próximo de que o deserto/ermo era a morada de Lilith e de outros demônios.

Lilith, de acordo com as tradições místicas judaicais, foi a primeira mulher criada por Deus do pó da terra simultaneamente com Adão. Lilith discutiu com Adão devido a fato de ela sempre ter que ficar por baixo dele nas relações sexuais, assim Lilith disse que queria também ficar por cima e argumentou que tanto ela como Adão foram criados do pó da terra, logo, ambos tinham direitos iguais. Adão não concordou com os argumentos de Lilith e quando ele procurou ela para ter relações sexuais, Lilith se recusou, e como Adão insistisse em manter relações, ela pronunciou o Tetragrammaton, o nome divino de Deus (YHWH), o que lhe conferiu poderes, assim, ela voou para longe do Jardim do Éden e acabou habitando nos desertos que cercam o Mar Vermelho, onde conheceu Samael e manteve relações sexuais com ele, assim Lilith tornou-se a rainha dos demônios.

Após essa breve referência acerca do mito sobre Lilith, não é surpreendente ver Azazel aparecer como um anjo caído ou um demônio em vários textos pós-bíblicos, como os Manuscritos do Mar Morto (Documento II de Damasco) e no Apocalipse de Abraão e o Livro de I Enoque. A tradição mais famosa o identifica como um dos anjos que caíram do céu porque se apaixonou por mulheres mortais, tais relações sexuais entre os anjos e os humanos deram origem aos Nefilins, um dos motivos pelos quais Jeová (YHWH) enviou o Dilúvio, poupando apenas as oito pessoas da família de Noé (Gênesis 6:1-3, TNM):

“1 – Ora, sucedeu que, quando os homens principiaram a aumentar em número na superfície do solo e lhes nasceram filhas.

2 – então os filhos do [verdadeiro] Deus começaram a notar as filhas dos homens, que ela eram bem-parecidas; e foram tomar para si esposas, a saber, todas as que escolheram.

3 – Depois disso, Jeová (YHWH) disse: “Meu espírito não há de agir por tempo indefinido para com o homem, porquanto ele é carne. Concordemente, seus dias hão de se somar cento e vinte anos.”

4 – Naqueles dias veio a haver os nefilins na terra, e também depois, quando os filhos do [verdadeiro] Deus continuaram a ter relações com as filhas dos homens e elas lhes deram filhos; eles eram os poderosos da antiguidade, os homens de fama.

5 – Por conseguinte, Jeová (YHWH) viu que a maldade do homem era abundante na terra e que toda inclinação dos pensamentos do seu coração era só má, todo o tempo.

6 – E Jeová (YHWH) deplorou ter feito os homens na terra e sentiu-se magoado no coração.

7 – De modo que Jeová (YHWH) disse: “Vou obliterar da superfície do solo os homens, que criei, desde o homem até o animal doméstico, até o animal movente e até a criatura voadora dos céus, porque deveras deploro tê-los feito.”

8 – Mas Noé achou favor aos olhos de Jeová.”

No livro de I Enoque, Azazel é o anjo que ensinou à humanidade as artes impuras da guerra, lapidação e cosméticos. No final, ele é exilado para o deserto desolado (I Enoque 9, 10, 13, TDS):

“Azazel ensinou os homens a fazerem espadas, e facas, e escudos e couraças, e a mostrar-lhes sua utilização; a [manufatura] de trabalhos em arte: os braceletes, os ornamentos, e o uso de pinturas, e o embelezamento das sobrancelhas, e [o uso] de todo o tipo de pedras preciosas, e toda a sorte de corantes e os metais da terra.

A impiedade foi aumentada, a prostituição multiplicada; e eles se perderam e corromperam em todos os seus caminhos.”

Além de discussões etimológicas sobre o significado da palavra, Azazel aparece como um demônio no Talmude (Yoma 67b; comentário do RaSHI) e em fontes midráshicas medievais, como o Yalkut Shimoni. Em um texto, Azazel é considerado como sendo a serpente que enganou Adão e Eva no pecado. Alguns afirmam que Azazel é um nome alternativo para outras personalidades demoníacas, como Samael. Em um Midrash, a oferta de bodes a Azazel no Yom Kippur é um suborno que Deus exige que Israel dê a Satanás/Samael todos os anos para que ele entregue um bom relatório sobre a conduta de Israel quando Azazel for chamado à corte celestial (Me’am Loez, Achrei Mot-Kedoshim).

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Fontes:

Azazel.

The Encyclopedia of Jewish Myth, Magic and Mysticism, by Rabbi Geoffrey W. Dennis.

TNM – A Bíblia Sagrada, Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas.

TDS – I Enoque, Tradução das Testemunhas dos Deuses Santos.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/cabala/azazel-2/

Movimentos Messiânicos: Os Messias Judeus

O trabalho de Messias não é nada fácil. Nunca foi. Claro que se formos totalmente honestos sobre o assunto, o currículo requerido de alguém que deseja assumir para si este papel não é lá muito exigente, de acordo com a tradição ele deve cumprir cinco requisitos:

1- Ele deve descender do Rei Davi;
2- Deve se tornar soberano sobre o povo de Israel;
3- Deve conseguir reunir os judeus dos quatro cantos do mundo;
4- Uma vez reunidos, deve restaurar sobre eles a total observância da lei da Torah;

e por último, mas não menos importante:

5-Deve trazer a paz para o mundo!

E com isto em mente surge a questão: por que diabos alguém desejaria se tornar um Messias? Se olharmos o exemplo mais famoso isso significava, de forma resumida, fazer afirmações que deixariam o seu povo puto e desconfiado, então sair vagando e conversando com desconhecidos, e nem todos seriam gentis. Eventualmente teria convencido muita gente que você falava sério, e teria deixado muita gente importante puta com você, isso significa que se fosse muito longe se tornaria uma pedra no sapato de gente poderosa, e se isso acontecesse esses poderosos iriam atrás de você e não apenas para te jogar na cadeia ou te matar. Eles te usariam de exemplo, te desmembrariam ou crucificariam depois de um circo público e então iriam atrás de sua família, filhos e herdeiros. Algo nada agradável como você pode supor.

Então porque alguém desejaria se tornar um Messias?

Antes de mais nada um pouco de história. A palavra Messias tem origem judaica, Messias ou מָשִׁיַח ‎[mâshıyach] deriva de משׁח [mâshach], מָשַׁח [maw-shakh] uma raiz linguística primitiva que significa: esfregar com óleo, ungir, pintar. מָשִׁיַח, Mashíach por extenção significa o ungido, aquele é esfregado com óleos. Para compreender o que realmente isso significa devemos procurar no livro do Êxodo as conversas que “EU SOU O DEUS DE ABRAHÃO” tinha com Moisés. Quando Moisés libertou o povo Judeu da escravidão do Egito, além de finalmente dar sossego para o Faraó e o povo dele, que haviam caído vítimas das brincadeiras do Divino que “endurecia o coração de Faraó” apenas para continuar com o desfile de pragas e finalizando com a morte por afogamento de grande parte do exército dele com o objetivo de se exibir para Seu povo [1], também recebeu de Deus as novas leis e regras que deveriam ser observadas e seguidas. No capítulo 30 do livro Êxodo, nos versículos 23 a 25, encontramos uma receita, passada por Deus diretamente a seu servo de como fazer um “um óleo sagrado para unções, um perfume composto segundo a arte do perfumista; este será o óleo sagrado para unções.” (Ex. 30:25). Este óleo tinha uma função muito especial, era o óleo utilizado para se ungir aquilo que era sagrado, as coisas apontadas por Deus. Este óleo então era utilizado pelos sacerdotes, também apontados por Deus, para consagrar algo, ou seja dedicar, tornar sagrado. Como isto é interessante, vamos repetir: algo que era ungido era algo que havia sido escolhido e apontado pelo próprio Deus. A seriedade disso era tanta que O Próprio afirma que “O homem que compuser um perfume como este, ou que com ele ungir a um estranho, será extirpado do seu povo.” (Ex. 30:30), e por extirpado do seu povo podemos ler: “se tornará seu inimigo” – você iria descobrir o que a expressão “estar no sal” significa.

Ser o Ungido, como vimos, simplesmente queria dizer que a pessoa, no caso um líder Judeu, havia recebido a atenção especial de Deus. Aarão foi ungido (Ex. 29:4-8), Salomão (1 Cr 29:22), etc. Mas ao contrário do que pode parecer o ritual da unção não foi criado pelos judeus, esse costume já era muito antigo no Oriente Médio. Na Babilônia e na Assíria, óleo de gergelim era derramado sobre a cabeça de noivas, de pessoas que realizavam certas negociações comerciais e de escravos que haviam sido liberdados. Havia os pašîšû, que eram sacerdotes ungidos, e mesmo a arca no épico Gilgamesh é ungida antes do dilúvio chegar. Mas aparentemente o costume de ungir reis era títipo dos judeus. Um detalhe interessante, que vale a pena ser notado, é que nunca houve uma distinção clara entre sacerdotes, reis e profetas; lembre-se que na antiguidade não havia pessoas votando no próximo rei, muito pelo contrário: a realeza era ligada à religião. Por isso não é surpresa lermos sobre o rei Davi agindo como sacerdote em 2Samuel 6:12-19 ou prevendo o futuro em 2Samuel 23:1-7. Da mesma forma os sumo-sacerdotes podiam se comportar como reis, o exemplo mais famoso é Melquisedeque, que preparou a ceia para Abrahão e lhe serviu pão e vinho em Gênesis 14:18, e a partir de 152 a.C. quando os sumo-sacerdotes eram a mais alta autoridade, combinando autoridade real e sacerdotal.

Mas isso não responde nossa pergunta do porquê alguém gostaria de vestir essa carapuça e para respondê-la nós temos que olhar para dois fatos reais e inegáveis:

1- Embora grande parte dos textos sagrados comentem sobre reis e profetas que foram Ungidos (receberam a atenção do Divino), haviam passagens que falavam de um governante diferente, idealizado, com uma missão maior do que todos os outros goverantes. Por exemplo o Salmo 2:2-9:

“Os reis da terra se levantam, e os príncipes conspiram contra o Senhor e contra seu Ungido, dizendo: Rompamos os seus laços e sacudamos de nós suas algemas. Ri-se aquele que habita os céus; o Senhor zomba deles. Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá. Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião. Proclamei o decreto do Senhor: Ele me disse ‘Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança e as extremidades da terra por tua possessão. Com vara de ferro as regerás e as despedaçarás como um vaso de oleiro’”

Outras passagens também se referem a um ungido idealizado que destruiria os inimigos de Israel em nome da justiça e em várias passagens, como no Salmo 2, ele é chamado de “filho de Deus”, apesar de textos deste tipo não serem raros naquela região (os faraós egípcios afirmavam descender do Deus Ra e se gabavam de ser capazes de destruir qualquer inimigo com a ajuda dos deuses; os persas possuem a história de como Darius I foi escolhido pelo deus Ahuramazda para destronar o usurpador Gaumâta em 522 a.C).

2- O mundo chegava cada vez mais perto de seu fim. Deus havia criado tudo, e tudo terminaria. A contagem começara com Adão e Eva, e a idéia é que acabaria 6000 anos depois disso. E no século VI a.C. quando o mundo tinha já aproximadamente 4.400 anos, começam as especulações de que o governante especial, aquele que seria conhecido como filho de Deus deveria estar chegando.

E como chegaram a estas conclusões? Simples!

De acordo com o que se acreditava nos séculos I a.C. e I d.C o mundo havia chegado à idade de 5000 anos. O judaismo sempre acreditou que a Tanak era muito mais do um livro resgistrando a história dos judeus e as crenças de seus antepassados, eles “sabiam” que aqueles livros eram o registro feito por Deus sobre a sua criação (o universo, os anjos, o mundo e tudo o que existe nele, incluindo a raça humana) e a Sua relação com o povo escolhido (os próprios judeus). Os livros não apenas são um registro, mas está permeado de informações e “dicas” escondidas no próprio texto, por isso desenvolveram métodos de extrair as informações que não estavam explicitas, com técnicas de gematria, Notaricon e Temurá era possível ao estudar o texto sagrado, palavra por palavra, encontrar relações, significados ocultos e indicações da vontade do Criador. Era como viver em um prédio e estudando a composição de suas paredes, as fiações e encanamentos conseguir recriar a planta usada para construí-lo e com isso não apenas compreender sua estrutura mas prever seu comportamento e descobrir o destino que lhe aguardava, por exemplo ao descobrir que ele era feito de concreto e gesso avaliar sua vida útil, saber que se os encanamentos fossem de metal prever quando eles deveriam ser substituídos e desta forma quando as águas que saíssem das tornerias se tornassem turvas deveriam chamar um encanador para trocar os canos por novos.

Assim, Gematria é uma metatesis da palavra grega Grammateia. É baseada no relativo valor numérico das palavras. As palavras de valores numéricos similares supostamente são interpretadas mutuamente, e esta teoria se estende às orações e frases completas. Notaricon é uma palavra derivada do latim que significa Notario. Do Notaricon derivam duas formas. Na primeira, cada letra de uma palavra é tomada como abreviação de outra palavra, assim, com as letras de uma palavra é construída uma frase, A segunda forma do Notaricon é exatamente o contrário da primeira. Qualquer das letras que formam uma frase podem dar origem a uma palavra ou a outra frase. E a Temurá é a permutação. De acordo com certas regras uma letra pode ser substituída por outra que a anteceda ou que a preceda no alfabeto, e desta maneira dar forma a uma nova palavra.

Um exemplo de exercício para isso é o seguinte: pode-se destacar que as três primeiras letras das primeira palavra da Bíblia, BRAShITH – no princípio -, ou seja, BRA, são as iniciais dos nomes que constituem a Trindade: BN, Ben, o Filho; RVCh, Ruach, o Espírito e AB, Ab, o Pai. Mas ainda, a primeira letra do Antigo Testamento é B, inicial de BRKH, Berakhah, bendição, e não A, que é a inicial de ARR, Arar, condena. O valor numérico da palavra Berashith, em sua máxima expressão, nos indica os anos de medida entre a Criação e o Nascimento de Cristo: B=2000, R=200, A=1000, Sh=300, I=10, Th=400, total=3910 anos em números redondos. Picus de Mirandola fez o seguinte trabalho com Berashith: unindo a terceira letra A, com a primeira B, obteve AB, Ab, o Pai. A primeira letra repetida B, mais a segunda R, dão BBR, Bebar, Através do Filho. Tomando-se todas as letras, tirando a primeira, temos RAShITH, Rashith, o Princípio. Conectando a lera Sh com a primeira B e a última Th, temos ShBTh, Shebeth, o Fim ou o Resto.

Com as três primeiras obtemos BRA, Bera, Criado. Omitindo a primeira e pegando as três seguintes temos RASh, Rash, Cabeça. Se omitimos as duas primeiras e tomamos apenas as duas seguintes temos Ash, Ash, Fogo. Tomando a quarta e a última temos ShTh, Sheth, fundação. Pegando a segunda e colocando-a anteposta a primeira temos RB, Rab, Grande. Colocando antes da terceira colocamos a quinta e a quarta, temos AISh, Aish, Homem. Juntando as duas primeiras com as duas últimas temos ThB, Theb, que comumente é utilizada como TVB, Thob, Bom. [2]

Desta forma ao analisar o livro da Gênesis utilizando estas ferramentas, ficou claro para os estudiosos que se Deus havia criado o mundo em 6 dias, consagrando o último a Si Mesmo, então o mundo duraria 6.000 anos, um período equivalente a 1000 anos para cada dia que levou para ser criado. Isso lhes deixava com apenas mais mil anos de existência. Além disso a crença era de que surgiria um Messias que reinaria por mil anos antes que o mundo acabasse. A matemática era simples, o Messias deveria estar batendo à porta a qualquer instante.

Mas de onde surgiu essa crença? Como vimos, existem algumas menções a um salvador nos textos bíblicos, era tudo uma questão de saber quando ele surgiria.

Uma das tentativas mais intrigantes de datar a vinda exata do prometido pode ser encontrada no Primeiro Livro de Enoque, um texto complexo, organizado em cinco livros que foi composto entre o terceiro século a.C. de  a primeira metade do primeiro século d.C. A primeira parte, conhecida como O Livro das Sentinelas (os anjos que observam), foi escrita no século III a.C. e relata uma descrição da visão que o Patriarca Enoque teve dos céus. No capítulo 10 o autor escreve:

“Quando todos [os anjos caídos e] seus filhos se tiverem matado uns aos outros, e quando eles virem a destruição de seus queridos, aprisiona-os por setenta gerações, sob os montes da terra, até o dia de seu julgamento e de seu fim, até que o julgamento, que é por toda a eternidade, seja consumado.” [1 Enoque 10.12]

Isto implica que existiriam setenta gerações desde Enoque até o Dia do Julgamento (ou setenta e sete gerações desde a criação, já que Enoque é um membro da sexta geração desde Adão). O Primeiro Livro de Enoque era bem conhecido dos judeus, chegando a ser aludido na Epístola de Judas 14: “E destes profetizou também Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos;”

Acredita-se hoje que o texto que serviu de modelo para esta passagem foi o texto de Daniel 9:24-27, que menciona a vinda do Messias, do príncipe (nasi), sete “semanas” (de sete anos cada) após a ordem de Deus de restaurar Jerusalém. De acordo com Jeremias 30:18, esta ordem foi dada em 586 a.C. e como consequência disso podemos identificar o Messias com Ciro, o rei da Pérsia.

“24 Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo, e sobre a tua santa cidade, para cessar a transgressão, e para dar fim aos pecados, e para expiar a iniquidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia, e para ungir o Santíssimo. 25 Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos. 26 E depois das sessenta e duas semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações. 27 E ele firmará aliança com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador, e isso até à consumação; e o que está determinado será derramado sobre o assolador.” Daniel 9:24-27

O restante da profecia permanece ainda mais difícil de ser interpretada, mas vários estudiosos chegaram a identificar o segundo Messias com Onias, um sumo sacerdote que foi morto em 171 a.C., isso nos mostra um aspecto constante em uma caça de Messias, textos proféticos confusos sendo combinado com fatos históricos, mas de uma forma que contorne alguns “detalhes”, já que se Onias fosse o segundo Messias a destruição do segundo santuário teria que ser associada com a perseguição liderada por Antíoco IV Epifânio, que de fato durou “meia semana” (três anos e meio), mas que tem que ignorar o fato de que entre o retorno do exílio babilônico e a morte de Onias não se passaram “sessenta e duas semanas”.

Então a reposta para a pergunta: “por que diabos alguém desejaria se tornar um Messias?” se torna simples, criou-se a espectativa de um salvador, um enviado. A cada dia que passavam todos se encontravam a um dia mais próximos do fim e por isso a um dia mais próximos da chegada do salvador. E essa espera começou a gerar uma enorme expectativa, e isso começou a pirar muita gente. Era um cargo aberto esperando que algúem o reclamasse, o Messianismo se tornou então, para várias pessoas uma questão de oportunidade, “por que não eu?”. Logo, por que alguém desejaria se tornar um Messias? Simples, porque com alguma ginástica matemática e genealógica qualquer um poderia ser um messias, a resposta se torna: “porque eu posso!”

O povo Judeu sempre teve aqueles que o reunia e o libertava e que restauravam a todos a observância da Torah. Podemos inclusive resumir, sem nenhuma pretensão ou falta de respeito, o Antigo Testamento da seguinte forma: o povo está espalhado. Surge um Patriarca que os une, tem filhos e estabelece a observação das leis, ele é seguido e consegue terras e prosperidade pra seu povo. O tempo passa e o povo se torna desregrado e adota novos deuses, vem a miséria e a servidão. Surge um novo líder que os reúne, lhes mostra que devem seguir ao Senhor, restaura a observância da Lei, todos prosperam e ganham uma terra. O tempo passa, eles deixam os costumes e práticas religiosas de lado e ai se tornam escravos de alguém assumindo as crenças dos captores que os maltratam de forma abusiva; o povo se lamenta, surge um novo líder que o reúne, lhe restitui a observação, o liberta, e uma vez que todos voltam às práticas antigas são guiados para uma nova terra onde prosperam. Esse “loop” é a constante que move os judeus do Antigo Testamento. Mas o tempo está passando e o povo está inquieto. Desde o nascimento de Abrahão os judeus foram cativos no Egito, foram levados para a Babilônia, caíram sob o domínio dos Persas, dos macedônios, dos ptolomeus, dos selêucidas. Conforme os ponteiros do Grande Relógio se aproximam do momento do Grande Fim, o povo clama por sossego, por poder voltar para a terra santa e viver em paz até o fim dos dias, afinal eles são os escolhidos, ou não?

E assim torna-se claro como passagens sobre alguém que seria filho de Deus, seria enviado por Ele para liberar a todos e conquistar os inimigos começam a se tornar populares.

Um reflexo disso fica claro quando nos atentamos para o uso do termo “ungido” aplicado a várias pessoas como os Reis de Israel, os Juízes e mesmo o Sumo Sacerdote, até os patriarcas eram considerados “ungidos” – mesmo antes de Moisés receber a receita o Óleo Sagrado e o ritual de unção. Este termo era bem próximo do termo Messias, mas não era exatamente a mesma coisa. Apesar de “ungido” surgir várias vezes e ser atribuído a várias pessoas (inclusive àlgumas que viveram antes do ritual de unção) o termo específico “Messias” aparece apenas duas vezes no Antigo Testamento, no livro de Daniel, capítulo 9 versículos 25 e 26:

“25 Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar, e para edificar a Jerusalém, até ao Messias, o Príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; as ruas e o muro se reedificarão, mas em tempos angustiosos. 26 E depois das sessenta e duas semanas será abatido o Messias, mas não para si mesmo; e o povo do príncipe, que há de vir, destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas as assolações.”

Diferente do que muitos possam imaginar o conceito do Messias não faz parte do judaísmo bíblico e se desenvolveu como um folclore informal que possui muitas variantes e pode ser compreendido de diferentes formas. O Messias é personagem de inúmeros contos folclóricos e músicas hassídicas (Hassídico ou Chassídico é um dos movimentos dentro do Judaísmo que existiu praticamente desde sempre na história judaica). Um dos conceitos do Messias pode ser encontrado nos comentários de Maimonides, como era conhecido o Rabi Moshe ben Maimon, escritos no século XII sobre o Talmude Babilônico:

“A era Messiânica será quando os judeus ganharem novamente sua independência e todos retornarem à terra de Israel. O Messias será um grande rei, ele alcançará grande fama e sua reputação entre as nações gentis será ainda maior do que a do Rei Salomão. Sua bondade, sobriedade e as maravilhas que realizará farão com que todas as pessoas estabeleçam a paz com ele, e todas as terras o servirão… Entretanto nada mudará na era Messiânica, a não ser os judeus que ganharão novamente sua independência. Ricos e pobres, fortes e fracos ainda existirão. Entretanto será muito fácil para as pessoas ganharem a vida e com muito pouco esforço serão capazes de realizar muito… será um tempo quando o número de homens sábios crescerá… não haverá mais guerras e as nações não erguerão mais suas espadas umas contra as outras… A era Messiânica será marcada por uma comunidade formada pelos corretos e dominada pela bondade e sabedoria. Ela será governada pelo Messias, um rei correto e honesto, que se sobressairá através de sua sabedoria e será muito próximo a Deus. Não pense que o mundo ou as leis da natureza mudarão, isto não é verdade. O mundo continuará como é. O profeta Isaias predisse: “o lobo viverá com a ovelha, o leopardo se acomodará aos pés das crianças”. Isto, é claro, não passa de uma alegoria que mostra que os judeus viverão em segurança, mesmo convivendo com nações que outrora foram cruéis. Todas as nações se voltarão para a religião verdadeira (o monoteísmo, mas não necessariamente o judaísmo) e não mais roubarão ou oprimirão. Note que todas as profecias a respeito do Messias são alegóricas – Apenas na era Messiânica nós compreenderemos o significado de cada alegoria e o que virá nos ensinar. Nossos sábios e profetas não esperam pela era Messiânica para reinar sobre o mundo ou dominar os gentis… a única coisa que desejavam era que os judeus fossem livres para se envolver com a Torah e a sabedoria que ela traz.”

É claro que esse não é o consenso geral dentro do judaísmo, um século mais tarde, Maimonides foi contestado por Nachmanides, que rejeitava o nacionalismo do primeiro e afirmava que Isaias estava sendo literal: que quando chegasse a Era Messiânica até mesmo os animais selvagens se tornariam criaturas domésticas de temperamento doce. Outro Judeu, nosso contemporâneo, Woody Allen, complementou essa visão dizendo que: “as ovelhas e os lobos viverão juntos, mas as ovelhas não conseguirão pregar os olhos à noite.”

Agora, nos tempos bíblicos a idéia da restauração de Israel e o fim dos problemas por que passavam ganhava muitos adeptos sempre que a situação ficava preta, e se lembrarmos o nosso resumo do Antigo Testamento podemos ver que o povo hebreu poderia ser comparado a um cardume que sempre nadou dentro de um balde de piche. Quando se tornaram cativos da Babilônia (séc VI a.C.), dos Romanos (séc II a.C.), quando houve o reinado de Hadrianus (séc. I e II), durante a conquista árabe (séc. VII d.C.) e durante mais ou menos toda a Idade Média (séc V ao XV), para citar alguns momentos. E com um agravante, conforme o prazo de validade estipulado para as velhas profecias vencia, surgiam novas idéias para explicar porque o Salvador não havia surgido ainda e para adaptar a influência do Messias e suas características aos novos tempos. Lembre-se que já no século VI a.C. o Filho de Deus era esperado, um erro de alguns séculos poderia ser esperado, afinal não haviam indicações precisas de quando ele viria, mas conforme os séculos passavam a aflição pela espera e a grandiosidade dos seus atos cresciam. Muitos começaram a crer que com o seu surgimento os mortos ressuscitariam, que ele marcaria o início dos Fins dos Tempos e tudo resultaria na supremacia do judaísmo. Com o tempo surgem diferentes categorias de Messias, como o Messias Efraínico, descendente de Efraim que surgiria antes do Messias Davídico, descendente de Davi, para anunciar sua chegada.

Desta forma, criou-se visão sobre-humana daquele que assumiria o papel de Messias no Judaísmo dando-lhe características quase divinas. Lhe atribuíram milagres e maravilhas, a capacidade de converter todos a uma única religião, a criação de paz mundial – esses feitos, ironicamente, posteriormente foram associados ao Anti-Cristo no texto canônico da Revelação de São João, conhecida também como o Apocalipse.

Isso fez com que muitos judeus se tornassem cautelosos em relação ao advento Messiânico e mesmo céticos e cínicos em relação àqueles que o anunciam. O sábio Rabban Yochanan ben Zakkai chegou a dizer no primeiro século: “Se por acaso você estiver com uma muda de planta em sua mão e lhe disserem que o Messias chegou, primeiro plante a muda e então vá para as ruas e saúde o Messias”. Uma velha história judaica também fala de um Judeu russo que recebia um rublo por mês do conselho municipal para aguardar do lado de fora da cidade para que fosse a primeira pessoa a saudar o Messias quando este chegasse. Quando um amigo lhe perguntou por que fazia aquilo já que “o salário era tão baixo” o homem respondeu: “é verdade, mas o trabalho é permanente”.

E com isso chegamos a um grande problema, na verdade um impasse: mesmo com a ironia, as anedotas e o ceticismo, a crença no Messias e na era Messiânica está entranhada no judaísmo. Como então reagir diante destas crenças? O Messias de fato virá? Como reconhecê-lo? Como agir?

A resposta mais simples é: todos os atos atribuídos ao Messias podem apenas ser julgados depois de realizados, não podemos afirmar hoje, diante da presença de alguém que tenha esse status, que ele trará a paz e reunirá o povo de Israel, é apenas com o tempo que veremos se essas coisas de fato aconteceram graças a ele e ai sim afirmar que o papel foi cumprido. No momento presente as pessoas tem apenas a própria crença, ou seja isso se torna uma questão de fé. E é essa crença pessoal, esta fé,  que pode levar uma pessoa a acreditar que alguém, em determinado momento é o Messias fazendo-a seguir essa pessoa, mas não pode servir como afirmação de que aquela pessoa de fato é o prometido. É como dizer que o Messias, por exemplo, será seguido por multidões, mas nem todo aquele que de fato conseguir se seguido por multidões será o Messias, a reação do povo e as ações que ele realizar podem ser um termômetro, mas nunca uma prova final de sua natureza.

O maior exemplo disso tiramos da própria história, nos últimos quatro mil anos o nome “Israel” foi usado para designar não apenas a Terra de Israel como toda a nação judaica. O artefato arqueológico mais antigo a mencionar Israel não como um simples nome vem de uma estela egípcia documentando campanhas militares em Canaã, datada do XIII século a.C. onde se refere a um povo, às pessoas que habitavam aquela terra. A Terra de Israel, Eretz Yisrael, é um local sagrado para os judeus desde a época bíblica, já que foi prometida aos três patriarcas por Deus, para se tornar seu lar. Durante o período dos reinados israelitas e o século das conquistas muçulmanas, séc VII d.C., a Terra de Israel foi conquistada e dominada pelos Assírios, Babilônios, Persas, Gregos, Romanos, Sassânios e Bizantinos. A presença judaica na região diminuiu drasticamente após o fracasso da revolta de Bar Kokhba contra o império romano em 132 d.C. e do massacre conduzido pelo imperador Heraclitus em 628 e 629. Depois de perder a terra para os Muçulmanos em 636 d.C. o domínio da região mudou de mão em mão entre os Omíadas, os Abássidas, os cruzados, os Cosméricos e os Mongóis por mais de seis séculos, até cair nas mãos do sultanato Mameluco em 1260. Em 1516 a Terra de Israel se torna parte do império Otomano que dominou a região até o século XX.

Durante todo este tempo os judeus da diáspora desejavam retornar ao Sião e à Terra Prometida, mas a primeira grande onda de imigração, conhecida como a primeira Aliyah só teve início em 1881. Três anos depois, em 1884 o governo Turco-Otomano emite o documento que ficou conhecido como Édito de Tolerância, permitindo que os judeus retornassem à Terra Santa. A segunda Aliyah ocorreu entre 1904 e 1914 quando mais de 40.000 judeus ocuparam a Palestina e entre 1919 e 1929 ocorreram a terceira e quarta Aliyah, levando mais de 100.000 imigrantes para a região; esta época coincide com o mandato concedido sobre a região da Palestina pela Liga das Nações à Inglaterra, a partir de 1921 a Inglaterra cria cotas de imigração para os judeus. Em 1930 o surgimento do Nazismo acabou criando a quinta Aliyah e um influxo de mais de 250.000 judeus para a Terra Prometida, o que causou a revolta árabe de 1936 a 1939 e fez com que a Inglaterra proibisse as imigrações. Como países ao redor do mundo começaram a não aceitar e a denunciar fugitivos do holocausto teve início um movimento conhecido como Aliyah Bet para levar clandestinamente judeus para a Palestina, com o fim da Segunda Guerra os judeus formavam mais de 33% da população da Palestina. Nesta mesma época o Reino Unido entrou em um conflito violento com os judeus, e chegou à conclusão, em 1947, de que era incapaz de criar uma solução aceitável tanto para os árabes quanto para os judeus, foi então que a recém criada Nações Unidas estabelece em novembro de 1947 a divisão do país em dois estados um para cada povo que habitava a região. A comunidade judaica aceitou a idéia, mas os árabes não. Dois dias após a criação dos estados, os árabes começam a realizar ataques a alvos judeus, e assim teve início uma guerra civil na região. Na década de 1950 começam os conflitos na Faixa de Gaza e a batalha pela conquista do Canal de Suez. Em 1967 o Egito, a Síria e a Jordânia enviaram tropas para fechar todas as fronteiras Israelitas. No período de 1969 a 1970 Israel esteve em guerra contra o Egito. Seguindo esses eventos podemos destacar ainda o ataque Egípcio/Sírio no Yom Kippur em 1973. Em 1981 e 1982 Israel interveio na guerra civil Libanesa. Em 1987 surge a primeira Intifada, um levante Palestino contra Israel; com a guerra do golfo em 1991 muitos Palestinos apoiaram Saddam Hussein e o Iraque fez vários ataques com mísseis a Israel. Em 2006 um grupo de artilharia do Hezbollah realizou ataques contra israelitas.

… e durante toda esta bagunça surgiram várias pessoas que se proclamaram ou foram proclamados Ungidas, as Escolhidas por Deus e que chegaram a atrair multidões.

Com isso podemos ver que mesmo que muitos dos Messias que surgiram tenham afirmado descender do Rei David, embora muitos tenham sido reconhecidos como líderes do povo de Israel, ao menos por parcelas dele, e ainda tenham conseguido, em certos momentos, causar uma imigração de judeus para se reunirem e tenham também afirmado a importância da total observância da lei da Torah, até hoje não temos um que tenha conseguido trazer a paz ao mundo, seja ela uma paz mundial ou simplesmente um sossego para o Povo Escolhido, nem mesmo um consenso entre os vários ramos surgidos dentro do judaísmo, e assim a própria história mostra que nenhum dos Messias conseguiu levar o cargo até o fim, cumprindo os 5 requisitos.

É por esta dificuldade, a de apenas observar e julgar um ato depois dele ter acontecido, aliada à ansiedade que o povo judeu teve por vezes acreditando que o Messias estava a um passo de suas portas, que encontramos inúmeros Messias na história, pessoas que, por um motivo ou por outro, ganhavam a simpatia e confiança de inúmeros seguidores que acreditavam nele e tinham esperanças de estar diante daquele que surgiu para cumprir as profecias, lendas e contos folclóricos.

Como vimos, durante o séc. VI a.C. os judeus exilados na babilônia criaram expectativas sobre um Ungido que os libertariam e os lideraria de volta para seu lar, inúmeras profecias se realizaram quando o rei Persa Ciro o Grande permitiu que eles retornassem a sua terra de origem. No séc. II a.C. os judeus novamente sofreram repressão e as antigas profecias se tornaram relevantes novamente. Algumas pessoas esperavam por um líder militar que derrotaria os inimigos romanos e criaria o reino judaico, outros, como os autores dos Salmos de Salomão, diziam que o Messias seria um professor carismático que ensinaria a todos a interpretação correta da Lei Mosaica, restauraria Israel e julgaria a humanidade.

Graças aos pergaminhos e textos encontrados nas cavernas de Qumran, conhecidos como os manuscritos do Mar Morto, chegou até nós uma cultura messiânica muito rica, nos mostrando inúmeras teorias sobre quem seria o Messias vindouro. No Manuscrito da Guerra o Messias é um profeta e não toma parte na guerra entre “os filhos da luz” contra “os filhos das trevas”, ele seria identificado como “o príndipe da comunidade”. Em outros textos o Messias surge como um senhor da guerra. Isto por si já deixa claro que haviam muita confusão quanto a natureza do Messias esperado.

Ainda existem vários textos atribuídos hoje aos membros da seita de Qumran como, por exemplo, o Documento de Damasco e a Regra Messiânica. Os textos da seita são interessantes porque nos mostram que seus membros não esperavam a vinda de um Messias, mas de dois. Isto pode ser o reflexo de um povo tentando compreender todas as divergências sobre a figura que viria libertá-los.

A origem desta idéia é possivelmente o texto deixado em Zacarias 6:12-13:

“12 E fala-lhe, dizendo: Assim fala e diz o SENHOR dos Exércitos: Eis aqui o homem cujo nome é Renovo; ele brotará do seu lugar e edificará o templo do SENHOR. 13 Mesmo edificará o templo do SENHOR, e levará a glória, e assentar-se-á, e dominará no seu trono, e será sacerdote no seu trono, e conselho de paz haverá entre ambos.”

Apesar deste texto se referir ao príncipe Zerubbabel e ao alto-sacerdote Joshua ele poderia ser compreendido como uma profecia Messiânica no início do período Hasmoneu, como vemos nas passagens do texto Testamentos dos doze patriarcas:

“Minhas crianças, sejam obedientes a Levi e a Judá. Não se exaltem acima destas duas tribos, pois dentra elas surgirá o Salvador enviado por Deus. Pois o Senhor irá erguer de Levi um sumo sacerdote e de Judá um rei. Ele salvará todos os gentis e a tribo de Israel.” (Testamento de Simeão 7:1-2)

“A mim [Judá] Deus entregou um reinado, e para ele [Levi] um sacerdócio. E ele sujeitou o reinado ao sacerdócio. A mim Ele entregou os assuntos terrenos e para Levi os assuntos celestiais. Assim como o céu está acima da terra, o sacerdócio de Deus está acima do reino da terra. (Testamento de Judá 21:2-4a)

Apesar da palavra “Messias” não ser usada, os membros da seita esperavam por um Messias de Israel e um Messias de Davi, que cumprissem a descendência real e sacerdotal de Judá e Levi.

O primeiro texto ao qual daremos atenção é o documento de Damasco, que como acontece com a maioria dos achados de Qumran, é uma combinação de textos. A primeira parte é uma história teológica que prova que a seita, identificada por muitos como os Essênios, é o povo verdadeiro de Israel e que Deus recompensará o fiel; então segue um trecho de lei com uma código penal adicionado como apêndice. A primeira parte não menciona o Messias, mas pode ser interpretada como um texto de tradição Messiânica, já que faz alusão à profecia de Balaão:

“E a estrela é aquele que busca a lei, que veio para Damasco; como está escrito A estrela partiu de sua jornada de Jacó e um cetro de ergue de Israel. O cetro é o Príncipe de toda a congregação, e com sua chegada ele porá por terra todos os filhos de Set.” (Documento de Damasco 7:18-21)

E assim temos a crença em dois Messias vindouros, um o líder militar o outro um sábio, se nos atentarmos ao termo “aquele que busca a lei” encontramos similaridades com o Mestre da Retidão (título dado ao fundador da seita de Qumran), o fato deste título ser usado para apontar o Messias indica a crença da seita de que seu fundador retornaria um dia.

Na primeira citação a palavra “Messias” não é utilizada, mas o documento de Damasco às vezes se mostra mais explícito:

“[…] e durante o período de trevas até o surgimento do Messias de Aarão e Israel […]”(Documento de Damasco 12:23-13:1)

“Este é a afirmação exata das ordenanças que serão seguidas por eles até o Messias de Aarão e Israel apareça e expie sua iniquidade.” (Documento de Damasco 14:18-19)

“Aqueles que atentarem a Ele serão os humildes do rebanho; eles serão salvos no tempo de Sua visitação. Mas os outros serão entregues à espada quando vier o Messias de Aarão e Israel.” (Documento de Damasco 19:33-20.1)

E em pelo menos um texto encontramos um terceiro personagem na Era Messiânica: o profeta. Ele é mencionado no Manual de disciplina. Este texto é curioso por usar o termo plural “os Messias de Aarão e Israel” ao invés de “o Messias de Aarão e Israel” como no Documento de Damasco, com isso temos a crença em pelo menos dois e talvez três Messias:

“E eles não partirão de nenhum concelho da lei para caminhar com teimosia em seus corações, mas serão governados pelas primeiras ordenanças nas quais os membros da comunidade iniciaram suas instruções, até a vinda do profeta e dos ungidos de Aarão e Israel.” (Manual de disciplina 9:9b-11)

Assim como o Messias rei de Israel e o Messias sacerdote de Aarão, o profeta é um personagem Messiânico e não é difícil imaginar que a biblioteca de Qumran possuísse textos de cunho messiânico que defendessem a vinda de três Messias. Afinal de contas reis, sacerdotes e profetas eram os únicos que podiam ser ungidos.

Mas o texto mais interessante de todos pode ser encontrado na Regra Messiânica, também chamada de Regra da congregação. Ele descreve a arrumação da mesa durante uma refeição messiânica sagrada. Uma das particularidades do texto é a hierarquia entre os dois Messias. Esta é a posição dos homens de renome chamados para a assembléia do conselho da comunidade quando Deus lhes enviar o Messias.

“O Sacerdote entra liderando toda a congregação de Israel, então entram todos os líderes dos filhos de Aarão, os sacerdotes, chamados para a assembleia e homens de renome. E eles deverão se sentar diante dele, cada um de acordo com sua posição.”

“Então o Messias de Israel deve entrar, os chefes das tribos de Israel devem se sentar diante dele, cada um de acordo com sua posição nos campos e durante suas marchas, e então todos os líderes das famílias da congregação, juntamente com os sábios, devem se sentar diante deles, todos de acordo com sua posição.”

“E eles devem se reunir na mesa comunal ou para beber o vinho e preparar a mesa e misturar o vinho para o consumo, que ninguém toque o pão ou o vinho antes do Sacerdote. pois é ele que deve abençoar o pão e o vinho. E então o Messias de Israel deve tocar o pão. E então toda a congregação deve abençoar cada um de acordo com sua posição.” (1Q28a 2.11-21)

Vale ressaltar que a idéia de múltiplos Messias não desapareceu com a seita (que teve seu fim durante a guerra entre os judeus e os Romanos entre 66 e 70).

Flávio Joséfo, o historiador e apologista judaico-romano que registrou in loco a destruição de Jerusalém, em 70 d.C., relata em seu Antiguidades Judaicas que no primeiro século antes da destruição do Templo, alguns Messias surgiram, prometendo o alívio da opressão romana e tendo encontrado seguidores:

“Outro corpo de homens malvados também se levantou, mais limpos nas suas mãos, mas mais malvados nas suas intenções, que destruíram a paz da cidade, não menos do que o fizeram estes assassinos os Sicarii. Porque eles eram impostores e enganadores do povo, e, sob a pretensa iluminação divina, eram pela inovação e por mudanças, e conseguiram convencer a multidão a agir como loucos, e caminharam em frente deles pelo descampado, afirmando que Deus lhes iria ali mostrar sinais de liberdade”.

Vamos ver então quem foram esses outros Messias que durante a história do Judaísmo tentaram vestir as sandálias do Salvador.

Judas o Galileu

Um deles foi Judas, o Galileu. Surgiu nos dias do recenseamento, pregando contra a dominação de Roma, criticando a subserviência dos governantes ao Império Romano e incitando o povo a se rebelar, se recusando a pagar tributos, dizendo que a carga tributária cobrada pelo Império era o mesmo que a escravidão, ele conquistou milhares de seguidores. Percorria os vilarejos da Galiléia denunciando as arbitrariedades (e atrocidades) praticadas pelo exército romano contra homens, mulheres e crianças, pressionando todos a lutar pela liberdade política, econômica e administrativa.

Sobre ele Josefo escreve: “[tratava-se de um revolucionário], pois, censurava a população por esta pagar impostos aos romanos e a incitava ao levante, à luta armada”.

Citado pelo rabino Gamaliel I, neto do grande educador judeu Hillel, o Ancião, líder dentre as autoridades do Sinédrio no meio do século I, reconhecido mestre e Doutor da Lei, em um discurso enquanto defendia Pedro, o Pescador e Paulo de Tarso disse: “(…) levantou-se Judas, o Galileu, [contra o Império Romano] nos dias do alistamento, e levou muito povo após si”.

Judas e um fariseu chamado Saduc lideraram várias ações contra o Império, inclusive executando os publicanos, judeus contratados por Roma para cobrar os impostos, que eram chamados de infiéis e traidores. Criaram um grupo que ficou conhecido como Zelotes (significa literalmente alguém que é ciumento em nome de Deus, ou seja, alguém que demonstra excesso de zelo) e os Sicários (por causa de um punhal, chamado “sica”, que usavam), e realizaram inúmeros ataques de sucesso, que só fizeram aumentar a simpatia popular com a sua causa. Foram talvez os pioneiros em táticas de terrorismo e guerrilha na Palestina.

Um dos recursos do qual faziam uso como forma de intimidação era o graffiti. Em vários lugares, em especial nas muralhas e nos arcos das pontes sobre o Tiropeon, grafitavam frases provocadoras contra os romanos. A mais comum delas era “Poncio cattivo” (Pôncio o mau), parodiando o insulto que os habitantes de Cápri dirigiam ao maligno imperador então reinante: Tibério. Outras frases comuns eram “Pôncio, o escravo de Segano”; “Soldado, tua vida vale dez asses?” se referindo ao salário diário de um legionário, fixada por Júlio César de 225 denários anuais ou o equivalente a dez asses por dia.

Ná no séc. V d.C. os Zelotes assumiam o porte de um exército de guerrilheiros contando inclusive com uma facção encarregada de execuções de autoridades romanas e judeus ricos simpatizantes dos romanos. Mas a revolução mudou quando pessoas comuns, comerciantes donas de casas e até crianças se tornaram vítimas desses assassinos tendo inicio assim uma época de medo e terror nas ruas da Palestina, especialmente na região leste.

Os romanos por fim conseguiram sufocar a revolta e crucificaram Judas, os membros de sua família, seus seguidores conservaram vivo o espírito de resistência aos Romanos. Dois de seus filhos foram crucificados pelo procurador Alexandre (c. 46 d.C.), enquanto que um terceiro filho, Manaém, foi o líder da Primeira Rebelião Judaica (66-70 d.C.). O último baluarte Zelote, Massada, caiu em Maio de 73 d.C., mas, mesmo depois, o seu espírito não foi extinto. Os zelotes continuaram a opor-se aos romanos, argumentando que Israel pertencia apenas a um rei judaico descendente do Rei Davi.

Simão, filho de José

Foi um ex escravo de Herodes o Grande se rebelou, e foi morto no ano 4 a.C. Ele foi identificado como o Messias da Revelação de Gabriel, um tablete de pedra de um metro de comprimento contendo uma coleção de profecias curtas, escritas na primeira pessoa e datada do século I a.C.

Conta a história, que Simão de Paraea se corou como rei, afirmando ser o redentor de Israel, o Messias. Ele comandou uma rebelião contra Roma no ano 4 a.C., antes da Páscoa, e ateou fogo a um dos palácios de Herodes e a várias de suas residências reais. Logo após este episódio, Simão foi capturado em um desfiladeiro e então decaptado. Seu corpo foi abandonado para apodrecer entre as pedras, já que para os judeus da época não ter o corpo queimado era uma das maiores humilhações pela qual alguém poderia passar. Depois de sua morte, inúmeros seguidores foram caçados e crucificados.

A seu respeito Flavius Josefus escreveu:

“Também houve Simão, que foi escravo do Rei Herodes, mas que de outra forma era uma pessoa de feições atraentes de corpo alto e robusto; ele era uma pessoa muito superior em relação às outras de sua classe, e tinha muitas responsabilidades. Este homem foi levado a um turbilhão de coisas e foi corajoso o suficiente para colocar em sua própria cabeça um diadema, quando um certo número de pessoas estava em sua presença e por elas foi declarado rei, e ele se considerou mais merecedor daquela dignidade do que qualquer outro.

Ele queimou até a sfundações o palácio de Jericó, e saqueou o que restou nele. Ele ateou fogo também a muitas outras casas do rei em vários lugares do país, as destruindo totalmente, e permitiu que aquilo que sobrasse fosse feito presa por aqueles que o seguiam. Ele teria feito muitas coisas grandiosas, mas foram tomadas medidas para o reprimir imediatamente. (O comandante da infantaria de Herodes) Gratus, se uniu a alguns soldados romanos, e reunindo suas forças foi de encontro a Simão. E após uma longa e grandiosa luta, um grande número daqueles que vieram de Perasea (um grupo desordenado de homens, brigando mais com coragem do que com técnica) foi destruído. E apesar de Simão ter se salvado, fugindo por um vale, foi encontrado por Gratus e então decaptado.”

Athronges

Foi o lider de uma rebelião, seguido por seus quatro irmãos, contra Herodes Arquelaus e os romanos, depois de se proclamar o Messias. Ele e seus irmãos foram eventualmente vencidos.

Assim como Simão, filho de José, Athronges não era uma pessoa eminente, não possuía nenhum antepassado importante nem tinha posses, era um simples pastor desconhecido, mas por ser um homem alto e mais forte do que todos que conhecia ele decidiu se declarar rei. Também se dedicou, com a ajuda de seus irmãos, a atacar os romanos, e os relatos dizem que embora a princípio ele fosse um homem gentil e justo, começou a se tornar violento, não apenas com os romanos, mas com todos.

E assim como Simão acabou tendo seu fim nas mãos de Gratus.

Theudas

Por volta de 44 d.C., surge um homem chamado Theudas, ou Teudas, que afirmava ser um profeta, encorajando que as pessoas o seguissem até o Jordão, que seria dividido por ele para seus seguidores.

Isto é digno de nota, pois apesar de não se declarar o Messias a idéia de profetas também é importante. Um profeta ou profetisa é uma pessoa capaz de predizer o futuro. Antes de receberem o nome de profetas essas pessoas eram chamadas de videntes, como nos mostra o livro I Samuel 9:9. Os profetas eram aqueles que falavam por inspiração divina ou em nome de Deus, e é sempre bom ter em mente que isso acontecia em uma comunidade que levava Deus muito a sério, tanto que de acordo com a Lei Mosaica uma pessoa acusada de ser um falso profeta recebia a pena de morte, e  naquela época não havia câmaras de gás, injeções letais nem nada que transformasse a morte em algo rápido e indolor.

Enquanto o Messias era alguém sagrado por Deus e enviado, o profeta era alguém escolhido por Deus para ser seu porta voz, como vemos na história, assim como onde há fumaça há fogo, Messias e Profetas nunca estiveram muito longe um do outro como veremos adiante.

Com o tempo Theudas conseguiu arrebanhar para si mais de 400 pessoas, todas perseguidas por Cuspius Fadus, que enviou homens a cavalo em perseguição ao  bando e a seu líder. Muitos deles foram mortos e outros foram tomados como cativos, juntamente com o seu líder, que foi decapitado.

Messias Egípcio

Ainda de acordo com Josefo, no séc. I surge um Messias egípcio que supostamente conseguiu agregar mais de 30 000 seguidores. Segundo Flávio Josefo, esse personagem se proclamava um “enviado de Deus”, e apareceu na Judéia no tempo do governador Marco Antônio Félix, arrebanhando um grande número de pessoas, e as levando para o Monte das Oliveiras, onde haveriam de presenciar um milagre: as muralhas de Jerusalém se desmantelariam, abrindo um caminho para a entrada triunfal de Yahweh, que viria para estabelecer seu reino na Terra. Isso, se de fato acontecesse, realizaria a profecia do profeta Zacarias, sobre a proximidade do Dia do Senhor: “Nesse dia, os seus pés [de Yahweh] pousarão sobre o Monte das Oliveiras, que fica em frente e a leste de Jerusalém; e o Monte das Oliveiras vai rachar-se ao meio, formando um vale enorme no sentido do nascente para o poente (…) Então virá Yahweh e todos os santos com ele” (Zc 14,4). Ele também é citado em Atos, no episódio em que Paulo se encontra com um tribuno, nos degraus da Fortaleza Antônia, e este lhe pergunta: “Por acaso você não é o egípcio que, dias atrás, subverteu e arrastou ao deserto quatro mil sicários?” (At 21,38). O governador Félix mandou uma tropa atacar a multidão e muitos foram mortos pelos legionários, mas o egípcio escapou durante a luta e nunca mais foi visto.

Dois outros Messias

Josefo ainda nos fala do surgimento de mais dois Messias naquela época: Um que prometeu ao povo “a libertação das suas misérias” se eles o seguissem até ao descampado. O líder e seus seguidores foram mortos pelas tropas de Festus, o procurador romano.

E outro surgido quando Jerusalém já estava sendo destruída pelos Romanos, um profeta subornado pelos defensores em uma tentativa para evitar que as pessoas desertassem, anunciou que Deus os comandava para virem ao Templo, onde receberiam sinais milagrosos da sua libertação. Ao invés de libertação os seguidores encontraram a a própria morte nas chamas.

Menahem ben Judah

Ao contrário daqueles Messias, que esperavam conseguir a libertação do seu povo através de intervenção divina, surge Menahem ben Judah, o filho de Judas da Galileia, e neto de Hezequiel, o líder dos Zelotes, que tinham irritado o Rei Herodes. Ele era um guerreiro e quando começou a guerra, atacou Masada com o seu grupo, armou os seus seguidores com as armas ali armazenadas, e partiu para Jerusalém, onde capturou a fortaleza Antónia, derrotando as tropas de Agripa II. Encorajado por este sucesso, ele comportou-se como Rei e clamou a liderança de todas as tropas. Espoletou por isso a oposição de Eleazar, outro líder Zelota que alguns historiadores acreditam ser irmão de Menahem, tendo sido assassinado como resultado de uma conspiração. Ele será provavelmente a mesma pessoa mencionada como Menahem ben Hezekiah no Talmud e ali chamado de “provedor de conforto que deverá aliviar”.

Nos Pergaminhos do Mar Morto lemos sobre um Messias que teria existido antes do primeiro século chamado Menahem, o essênio, que morreu em circunstâncias semelhantes às atribuídas a Jesus.

Bar Kochba

Com a destruição do Segundo Templo de Jerusalém em 70 d.C., temos uma pausa com a aparição de Messias. Foi uma época em que os judeus começaram a se espalhar pelo globo em busca de um lugar para viver. Mas sessenta anos mais tarde, um movimento político-messiânico de grandes proporções teve lugar, com Shimeon Bar Kochba (também Bar Kosiba) como líder. Este líder da revolta contra Roma foi saudado como o Rei-Messias pelo Rabi Aquiva, que se referiu a ele, como: “Uma quarta estrela de Jacob virá e o ceptro irá erguer-se fora de Israel, e irá golpear pelos cantos do Reino de Moab,”, e Hag. ii. 21, 22; “Eu irei sacudir os céus e a terra e destronar reinados…”. Apesar de alguns terem duvidado que fosse o Messias, ele parece ter conseguido o apoio generalizado na nação.

A revolta de Bar Kochba , de 133 a 135 d.C., que fez frente ao poder de Roma foi a terceira maior rebelião dos judeus que habitavam a província Iudaea (Judéia) e a última das guerras contra os romanos. A revolta estabeleceu um Estado Judeu sobre algumas regiões da Judéia por dois anos e meio. A função de administrador público foi assumida por Shimeon Bar Kochba, que assumiu o título de Nasi Israel (Governante, ou Príncipe de Israel). A “Era da redenção de Israel” foi anunciada, se criaram contratos e se cunharam moedas. O Rabi Akiva presidia a Sanhedrin e os rituais religiosos eram observados e os sacrifícios (korbanot) era realizados no altar.

Shimeon foi morto perto das muralhas de Bethar. O seu movimento messiânico acabou em derrota e na miséria dos sobreviventes. Em 135, a revolta foi esmagada pelo imperador romano Adriano. De acordo com Cassius Dio, 580,000 judeus foram mortos e 50 cidades fortificadas e mais de 980 vilas foram massacradas. Os sobreviventes dispersaram-se pela diáspora ou foram feitos escravos. Adriano decretou a expulsão de todos os judeus de Jerusalém, autorizando o seu retorno apenas por um dia ao ano, em Tisha Be’av, para demonstrar luto pela destruição do Templo. Após esta tremenda derrota dos judeus, a cidade de Jerusalém seria reconstruída pelos Romanos, tendo o imperador Adriano ordenado a mudança do nome de Jerusalém para Aelia Capitolina, e o nome da Judéia para Síria Palestina, para evitar qualquer associação judaica e com a terra de Israel.

O ocorrido marcou também uma nova etapa do cristianismo. Até então, os cristãos eram sobretudo judeus. A partir de aqui foram obrigados a dispersar-se para outras zonas. Se até então a psicologia dos líderes cristãos tinha uma perspectiva judaica, depois do ano 135 a maioria dos cristãos seriam gentios, e adquiririam uma perspectiva diferente, de pessoas que vivem na Grécia, ou então romanos e que mais facilmente adotariam posições antijudaicas.

Com a derrota de Bar Kochba passam-se alguns séculos em que não temos o registro de novos Messias.

A derrota da guerra de Bar Kochba foi um desastre que afetou negativamente o surgimento de Messias nos séculos seguintes, mas a esperança é a última que morre e de acordo com cálculos baseados no Talmude, o Messias seria esperado no ano 440. Esta expectativa, em ligação com os distúrbios no Império Romano em face das invasões, podem ter levado a incentivar o Messias que apareceu nesta época em Creta e que angariou o apoio da população judaica para o seu movimento.

Moisés de Creta

Em 448 eis que surge o autodenominado Moisés, prometendo liderar o seu povo, como o antigo Moisés, de volta à Palestina. Ele percorreu as comunidades judaicas da ilha anunciando que iria repetir “seu” feito de séculos passados – fazer o mar se abrir para dar passagem aos israelitas -, de maneira a conduzir os judeus cretenses de volta à Terra Prometida. Conseguiu arrebanhar muitos seguidores e os levou até o mar. Os seguidores, que haviam sido convencidos por ele a deixaram para trás suas possessões, aguardavam ansiosos pelo dia prometido, e quando este chegou, sob o  comando do Messias, muitos se lançaram ao mar. Alguns morreram, outros foram salvos. O “Salvador” desapareceu sem deixar rastros.

Após o afogamento em massa de centenas de judeus os Messias que se seguiram surgiram todos no Oriente e eram por vezes reformadores religiosos cujo trabalho influenciaria o Caraismo, uma das ramificações do Judaísmo que defende unicamente a autoridade das Escrituras Hebraicas como fonte de Revelação Divina, defendem a Crença Única e Absoluta em Deus e que sua Revelação Única foi dada através de Moshê (Moisés) na Torá (que não admite adições ou subtrações) e nos profetas da Tanakh. Confiam na Providência divina e esperam a vinda do Messias e a Ressureição dos Mortos. Seguem um calendário baseado no Abib e com ínicio de mês na lua nova vísivel, rejeitam o judaísmo rabínico como por exemplo o Talmud e a Mishná. Não seguem costumes judaicos rabínicos como o uso de kipá, peiot, tefilin e afins.

Ishak da Pérsia

No final do século VII, surgiu na Pérsia Ishak ben Ya’kub Obadiah Abu ‘Isa al-Isfahani de Ispahan. Ele viveu no reino do Califa Omíada Abd al-Malik ibn Marwan (684-705). Afirmou ser o último dos cinco precursores do Messias e ter sido nomeado por Deus para libertar Israel. De acordo com alguns, ele era o próprio Messias. Tendo reunido um grande número de seguidores, ele revoltou-se contra o califa, mas foi derrotado e assassinado em Rai. Os seus seguidores disseram que ele fora inspirado por Deus e mostraram como prova o fato de ter escrito livros apesar de ser analfabeto. Ele fundou a primeira seita a ter surgido do Judaísmo após a destruição do Templo.

O seu discípulo Yudghan, chamado Al-Ra’i (o pastor do rebanho do seu povo), que viveu na primeira metade do século VIII, declarou ser um profeta e foi visto pelos seus discípulos como um Messias. Ele era de Hamadã e ensinava doutrinas que afirmava ter recebido através da profecia. De acordo com Shahristani, ele opôs-se à crença do antropomorfismo, ensinou a doutrina da vontade livre, e sustentou que a Torah tinha um sentido alegórico em adição ao sentido literal. Ele preconizava que os seus seguidores levassem uma vida ascética, se abstivessem de carne e de vinho, e que rezassem e jejuassem frequentemente, seguindo nisto o seu mestre Abu ‘Isa. Ele afirmava que a observância do Shabat e de festividades era meramente uma questão de memorial. Após a sua morte, os seus seguidores formaram uma seita, os Iudghanitas, que acreditavam que o seu Messias não tinha morrido, mas sim que iria regressar.

Serene

Entre 720 e 723 um Sírio conhecido como Serene (o seu nome aparece em várias fontes como Sherini, Sheria, Serenus, Zonoria, Saüra) apareceu como o Messias, no reinado de Yazid II. Seu nome é uma forma latina (Serenus) de Shaáre Zedek; aparece também como Severus na obra Chronicon Syriacum de Gregorius bar Hebraeus.

A ocasião imediata para a sua aparição pode ter sido a restrição das liberdades dos judeus pelo Califa Omar II (717-720) e seus esforços de proselitismo. De uma perspectiva política, este Messias prometia a expulsão dos Muçulmanos e a restauração dos judeus na Terra Santa, de acordo com Isidoro Pacensis, muitos judeus na espanha abandonaram bens e propriedades para se juntarem a Serene. Como Abu ‘Isa e Yudghan, Serene foi também um reformador religioso. Ele era hostil ao Judaísmo Rabínico. Os seus seguidores não observavam as leis da alimentação, as preces instituídas por rabinos e a proibição contra o “vinho de libação”. Eles trabalhavam no segundo dia das festividades, não escreviam documentos para registrar casamentos e divórcios tal como as prescrições do Talmud, e não aceitaram as proibições do Talmud em relação ao incesto.

Serene foi preso e questionado pelo Califa Yazid II sobre suas qualidades messiânicas, não conseguindo responder às questões declarou que nunca teve nenhum plano real contra o Califa e que apenas desejava tirar um sarro dos judeus, aos quais foi entregue posteriormente para ser castigo. Os seus seguidores foram recebidos de volta a suas comunidades religiosas, graças a Natronai Gaon, após terem renunciado à heresia.

Inflamados com as chamas de Allah, após a morte de Maomé em 632 d.C., o exército árabe lançou-se com renovado fervor contra os povos que os dominavam. Após a vitória sobre os bizantinos e os persas, os muçulmanos recebem uma parte da Síria, a Palestina, o Egito e o norte da África, e então seguem para a Índia, ilhas mediterrâneas o sul da Itália e a Penísnula Ibérica. Os muçulmanos criam então um império gigante, marcado pelo desenvolvimento intelectual e artístico que entre em declínio durante o século IX. O domínio dos turcos sobre a Terra Santa já incomodava os cristãos do ocidente como uma ameaça que reprimia as peregrinações e os cristãos que viviam no oriente. Então em 1095, no concílio de Clermont, o papa Urbano II declara que um dos novos objetivos da Cristandade, como forma de penitência para ter deixado a Terra Santa cair nas mãos de muçulmanos, é tomá-la de volta. A multidão presente aceita a tarefa e inflamada pelo fogo do espírito santo monta um pequeno exército, identificado pela cruz vermelha pintada sobre suas roupas, o que lhes deu o nome de cruzados.

Um dos efeitos colaterais das cruzadas foi o aumento do números de Messias que surgiram. Maiomonides em suas cartas aos judeus Iemenitas (Iggeret Teman – אגרת תימן – ou epístola ao Iemen) cita três deles. Em 1087 surge um na França para ser assassinado pelos franceses, outro em 1117 na Província de Córdova e mais um em Fez em 1127.

Menahem

Em 1160 surge um novo movimento Messiânico na Pérsia, liderado por David Alroy.

Nascido em Amadia, no Curdistão, Alroy (também citado como Alrui) se tornou um estudioso da Bíblia e do Talmud, estudando os livros com Hisdai, o Príncipe do Exílio e Ali, o acadêmico chefe em Bagda. Ele era versado em literatura muçulmana e era conhecido por praticar magia.

Graças às cruzadas, o poder do Sultão da Ásia Menor e da Pérsia foi minado, e Alroy aproveitou as condições do Califado para assumir o nome “Menahem” e se declara o Messias enviado por Deus para libertar os judeus da opressão islâmica e levá-los de volta para Jerusalém, onde se tornaria Rei e todos viveriam em liberdade. Em todas as partes da região surgiam líderes muçulmanos criando novos estados independentes, desafiando a liderança do Califa. O surgimento de novas taxas abusivas criadas para serem pagas por todos os judeus homens com mais de 15 anos também foi um fator decisivo, usado por Alroy para fomentar a revolta. Agitando um grupo de judeus guerreiros que viviam nas montanhas de Chaftan no distrito vizinho de Adherbaijan, começou a formar seu grupo, conseguiu o apoio de seus correligionários em Mosul e Bagdá. Seu primeiro alvo foi um forte que existia em sua cidade natal.  A partir deste momento as lendas falam mais alto do que a história. Os pesquisadores da vida de Alroy dão, cada um, uma versão diferente do ocorrido, mas o resultado do ataque foi a derrota dele e de seus seguidores. O seu movimento falhou, e diz-se que teria sido assassinado, enquanto dormia, pelo seu próprio sogro. Mas a sua morte não chegou a destruir a crença em sua missão divina de redenção para o povo Judeu.

Logo após a morte de Alroy surgiram dois impostores, vindo de Bagdá, anunciando que traziam notícias do falecido Messias, que ele havia dito que em determinada noite seus seguidores deveriam se erguer nos ares e voar de Bagdá até Jerusalém e que no meio tempo deveriam entregar aos dois mensageiros suas propriedades. Esta fraude obteve um certo sucesso, mas podemos imaginar como terminou, e mesmo assim muitos seguidores continuaram surgindo em Khof, Salmas, Tauris, e Maragha, dando origem a uma seita conhecida como Menahemistas, para continuar reverenciando a memória do Messias de Amadia.

Doze anos após o surgimento e morte de David Alroy, em 1172, surge um suposto precursor do Messias apareceu no Iêmen. Nesta época os Muçulmanos estavam realizando certos esforços para converter os judeus que ali viviam. Ele declarou que as desgraças deste tempo eram um prognóstico da vinda do Reino Messiânico, e ordenava aos judeus que dividissem a sua propriedade com os pobres. Este pseudo-Messias foi tematizado pelo “Iggeret Teman” de Maimónides. Ele continuou com suas atividades por um ano, tendo depois sido preso pelas autoridades muçulmanas e decapitado após a sua própria sugestão, diz-se, de forma a poder provar a verdade da sua missão ao retornar à vida.

Abraão ben Samuel Abulafia

Com a chegada do século XIII os movimentos Messiânicos ganham uma nova ferramenta que antes não era muito utilizada, a Cabala. Em 1240 nasce na Espanha Abraão ben Samuel Abulafia, cabalista estudioso que, graças aos próprios estudos, acaba acreditando que é um profeta, e, em um livro profético publicado em Urbino em 1279, declara que Deus havia falado com ele. Foi para Messina, na ilha da Sicília, onde foi bem recebido e ganhou discípulos e em um trabalho que publicou em novembro de 1284 se declara o Messias, e anuncia 1290 como o ano do início da Era Messiânica. As pessoas, confusas apelam a Solomon ben Adret para analisar as afirmações de Abulafia, e tem como veredito a condenação do Messias, que passa a ser perseguido na Sicília por algumas congregações tendo que fugir para a ilha de Comino, próxima a Malta, em 1288, ainda convencido por seus estudos que estava em uma missão Messiânica. Dois dos seus discípulos, José Gikatilla e Samuel, ambos de Medinaceli, declararam mais tarde serem profetas e milagreiros. Samuel ficou famoso por profetizar em linguagem mística em Ayllon em Segóvia o advento do Messias.

Nissim bem Abraham

Um outro pretenso profeta foi Nissim ben Abraham, que viveu em Ávila, ele não chegou a se declarar o Messias, mas previu sua chegada. Seus seguidores diziam a seu respeito que apesar de ignorante e analfabeto, tinha sido iluminado subitamente por um anjo, e com o poder que recebeu, escreveu um livro místico “A maravilha da Sabedoria”. Novamente Solomon ben Adret é chamado para dar seu parecer sobre o novo profeta e novamente seu parecer é desfavorável e ele aconselha uma investigação cuidadosa. Nissim continuou com suas atividades e fixou até o último dia do quarto mês, Tammuz, 1295, como a data da vinda do Messias. Os crentes prepararam-se para o evento jejuando e dando para a caridade, e reuniram-se no dia designado. Mas em vez de encontrarem o Messias, encontraram pequenas cruzes presas aos seus vestimentos, talvez colocadas por descrentes para ridicularizar o movimento. Na sua decepção, alguns dos seguidores de Nissim ter-se-iam convertido ao Cristianismo. Não se sabe o que aconteceu ao profeta.

Moisés Botarel

Após o lapso de um século aparece um novo Messias. De acordo com Grätz o nome dele era Moisés Botarel de Cisneros, que teve como um de seus simpatizantes Hascai Crescas. A relação dos dois é discutida por Jerónimo da Santa Fé, o rabino Joshua Harloqui convertido por São Vicente Ferrer e que foi responsável pela Disputa de Tortosa em 1413 onde converteu muitos de seus correligionários.

Asher Lemmlein

Em 1502 surge um novo profeta predizendo a vinda do Messias, desta vez um profeta alemão. Asher Lemmlein (Lämmlein) apareceu em Ístria, perto de Veneza e anunciou a vinda do Messias para aquele mesmo ano, desde que os judeus fossem penitentes e praticassem a caridade, e então um pilar de nuvens e fumaça iria preceder os judeus no seu regresso a Jerusalém. Ele conquistou a simpatia e credibilidade de muitos seguidores, existem inclusive registro de muitos cristãos que acreditaram em suas profecias messiânicas. O cronista Ganz nos deixa o relato de seu avô destruindo um forno que era utilizado para se cozer o Matsá, pão ázimo sem levedura, o único que os judeus podem comer durante os oito dias de Pessah, por acreditar que na próxima celebração ele estaria em companhia do Messias na Palestina. Asher conseguiu reunir muitos seguidores na Itália e na Alemanha, vários deles cristãos. Por onde quer que ele passasse as pessoas jejuavam, rezavam e faziam caridade, aquele ficou conhecido como o “ano da penitência”. E então ele simplesmente desapareceu, e a agitação chegou a um fim.

David Reuveni e Salomão Molko

Em nossa lista de candidatos a Messias não podemos deixar de fora David Reuveni e Salomão Molko. O primeiro afirmou ser o embaixador e irmão do Rei de Khaibar. Khaibar era uma cidade no distrito de Hejaz, se encontrava a quatro dias de caminhada de Medina. Na época de Maomé o nome Khaibar era usado por toda a província e era habitada por inúmeras tribos judaicas, onde os descendentes das “tribos perdidas” de Rubem e Gad supostamente viviam.

Existem inúmeras tradições sobre a fundação da cidade pelos judeus, uma delas afirma que eles chegaram no local na época de Moisés (o patriarca, não o Messias grego), outra afirma que foi na époce de Saulo, que foi enviado para exterminar os Amalekitas), na época de Davi, quando ele fugiou diante de seu filho Absalon, mas a suposiçõa mais provável é a de Rapoport, que os judeus de Haibar são os descendentes de Jonadab b. Rachab, que os fez viver uma vida nômade.

David Reuvani ainda fez um apelo ao Papa e aos países europeus que lhe enviassem canhões e armas de fogo para iniciar uma guerra contra os muçulmanos, que impediam que os judeus que viviam em margens opostas do mar vermelho se reunissem. É interessante frisar que ele mesmo sempre negou veementemente ser um profeta ou um Messias, afirmava a todos que era apenas um guerreiro, mas a boa vontade com que foi acolhido pelo Papa em 1524 e a audiência que lhe foi concedida nas cortes portuguesas em 1525 (a convite do Rei D. João III), onde recebeu pela primeira vez a promessa de ajuda e a pausa temporária na perseguição aos Marranos, fez com que os Marranos Portugueses e Espanhóis acreditassem era aquele que anunciaria a vinda do Messias. Isso fez com que Selaya, o inquiridor de Badajoz, se queixasse ao Rei de Portugal que um Judeu vindo do Oriente vinha suscitando aos Marranos espanhóis a esperança de que o Messias chegaria e iria liderar os filhos de Israel de todas as suas terras de volta à Palestina, e que tinha mesmo encorajado que realizassem manifestações públicas. Um espírito de expectativa cresceu durante a estadia de Reuveni em Portugal. Uma mulher marrana da região de Herara, em Puebla de Alcocer declarou ser uma profeta, teve visões, e prometeu liderar os seus correligionários para a Terra Santa. Como era o costume na época, ela recebeu o tratamento que mulheres que diziam ter visões e causavam agitação recebiam: foi queimada viva, juntamente com quem acreditava nela.

Apesar disso o evento mais importante causado pela presença de Reuvani foi a conversão de Marano Diogo Pires (b. c. 1501; d. 1532) ao judaísmo. Marano nasceu cristão e Portugal, e recebeu o nome de batismo de Diogo Pires. Ele tinha o cargo de secretário em uma das cortes mais importantes em seu pais natal. Quando David Reuvani surgiu, vindo da África para Portugal, em sua missão política, Marano decidiu se unir a ele, e foi rejeitado. Ele então se circuncisou, o que não o fez cair nas graças de Reuvani, e emigrou para a Turquia, com um patrocínio farto. Adotou o nome de Salomão Molko. Era um visionário e acreditava em sonhos, estudou cabala com Joseph Taytazak e conheceu Joseph Caro. Ele então vagou como pregador através da Palestina onde conseguiu uma grande reputação e anunciou que o reino Messiânico chegaria em 1540. Em 1529 Molko publicou alguns de seus sermões sob o título e Derashot – ou Sefer ha-Mefo’ar. Quando rumou para a Itália encontrou a oposição de vários judeus proeminentes que temiam que ele confundisse seus correligionários, mas ele consegue o apoio do Papa Clemente VII, e de alguns cardeais anti-semitas em Roma. Muitos afirmam que ele previu para o Papa uma inundação que atingiu Roma e vários outros lugares.

Graças a seus estudos que envolviam a Cabala e outros tópicos estranhos, Molko sentiu que nada seria mais justo do que se proclamar o Messias, ou ao menos seu precursor. Acompanhado por David Reubeni, que ele conheceu na Itália, rumou para Ratisbon, em 1532 onde o imperador Charles V se encontrava realizando uma dieta. Nesta ocasião Molko carregou uma bandeira com a inscrição מכבי, uma abreviação do versículo 11 do décimo quinto capítulo do livro do Êxodo: O SENHOR, quem é como tu entre os deuses? (em hebraico a tradução desta passagem seria: Quem dentre os poderosos é como Deus?). O imperador aprisionou Molko e Reubeni, e os levou consigo de volta para a Itália. Em Mantua, uma corte eclesiástica sentenciou Molko à morte na fogueira. Quando estava amarrado no tronco o emperador ofereceu o perdão a ele, com a condição de retornar para a igreja, mas Molko recusou, pedindo pela morte de um Mártir.

Isaac Luria,  Hayyim Vital Calabrese e Abraão Shalom

Isaac Luria (Isaac ben Solomon Ashkenazi Luria), juntamente com Ḥayyim Vital Calabrese, seu maior discípulo e sucessor) foi o fundador da escola moderna da Cabala. Luria ensinava em seu sistema místico a transmigração e superfetação (Concepção de novo feto, quando já existe outro no útero) das almas, e acreditava ele próprio possuir a alma do Messias da casa de José e ter como missão apressar a vinda do Messias da linha de David através da evolução mística das almas. Tendo desenvolvido o seu sistema Cabalístico no Egito, sem no entanto conseguir ali muitos seguidores, ele foi para Safed, Israel, por volta de 1569. Foi ali que conheceu Hayyim Vital Calabrese, a quem revelou os seus segredos e através de quem assegurou muitos seguidores. A estes ensinou secretamente o seu messianismo, acreditando que a era messiânica teria início no princípio da segunda metade do segundo dia (do ano 1000) após a destruição do templo de Jerusalém, ou seja, em 1568.

Com a morte de Luria em 1572, Hayyim Vital Calabrese reivindicou ser o Messias Efraíta e pregou o breve advento da era Messiânica. Em 1574, Abraão Shalom, um pretendente a Messias Davídico, enviou um comunicado a Vital, dizendo que ele (Shalom) era o Messias da casa de Davi, enquanto que Vital era o Messias da casa de José. Ele pediu a Vital que fosse a Jerusalém e que ali ficasse pelo menos dois anos, com o que o espírito divino iria chegar-lhe. Shalom ainda disse a Vital, por fim, que não receasse a morte, o destino do Messias Efraíta, já que ele iria tentar salvá-lo dessa perdição.

Após quatro décadas encontramos um registro no “De Pseudo-Messiis”, no capítulo iv, parágrafo 15, outro Messias que teria aparecido em Coromandel em 1615.

Sabbatai Zevi e os Messias Cabalísticos

Um dos movimentos Messiânicos mais importantes surgiu na metade do século VII e em alguns lugares chegou a persistir por mais de 100 anos. Sabbatai Zevi nasceu no nono dia de Ab (dia 23 de julho de 1626), descendente de espanhóis, em Smyrna, e morreu dia trinta de setembro de 1676 em Duleigno, uma pequena cidade da Albânia.

De acordo com os costumes dos judeus orientais da época, Sabbatai deveria se tornar um estudioso do Talmude, quando jovem atendeu o yeshibah sob o tutelado do rabi veterano Joseph Escapa, mas ele nunca demonstrou muito interesse por esses estudos. Ele era fascinado pela Cabala e o sistema desenvolvido por Isaac Luria, especialmente pela Cabala prática com seu ascetismo e mortificação do corpo, práticas que, de acordo com seus praticantes, tornavam possível um contato com Deus e com os anjos, predizer o futuro e realizar todo o tipo de milagre. Ele teve uma infância solitária e de acordo com o costume da época se casou muito jovem, mas se recusou a realizar o ato sexual com sua esposa, de forma que ela pediu um divórcio e ele de boa vontade o garantiu. O mesmo aconteceu com sua segunda mulher. Quando começou a estudar mais profundamente a Cabala começou a se mortificar, a jejuar dia após dia e a viver em um constante estado de êxtase.

Paralelamente um outro fenônemo estava surgindo, desta vez graças aos cristãos. Durante a primeira metade do século XVII teve início a crença sobre a aproximação da Era Messiânica e a da redenção dos judeus e seu retorno a Jerusalém. Essa crença era difundida cada vez mais não apenas por judeus, mas por cristãos também, que acreditavam que o ano do apocalipse seria o de 1666. A crença era tão difundida e aceita que Manasseh ben Israel escreveu uma carta para Cromwell e para o Parlamento Inglês urgindo a readmissão dos judeus na Inglaterra, afirmando que “a opinião de muitos cristãos assim como a minha concordam aqui que ambos acreditamos que o tempo de restauração de nossa nação em seu pais nativo está muito próxima e à mão”. Além disso existe uma passagem muito popular entre os judeus no Zohar, que quando interpolada da maneira correta afirma que o ano da redenção de Israel pelo Messias seria o de 1648.

Esse conjunto de fatos e crenças teve um efeito muito forte na mente extasiada de Sabbatai e o levou à conclusão mais lógica que ele poderia chegar: ele era o Messias esperado por todos. E então com apenas 22 anos, em 1648, ele se revelou em Smyrna para aqueles que, impressionados com seus trabalhos com Cabala, carisma e atos fora do comum, o seguiam como o Redentor Messiânico enviado por Deus para acabar com os governos das nações e liderar Israel de volta para Jerusalém. O método que escolheu para se revelar foi pronunciar o Tetragrammaton em hebreu, um ato que só podia ser realizado pelo sumo sacerdote na Santuário no dia do Yom Kippur, o dia mais sagrado para os judeus. Apesar de sua ousadia a sua pouca idade não lhe garantiu muitos seguidores, mas dentre os primeiros que simpatizaram com sua empreitada estavam Isaac Silveyra and Moses Pinheiro. Sabbatai continuou em Smyrna por alguns anos, levando uma vida pia, mística e com certos atritos com a comunidade, mas quando suas pretensões messiânicas se tornaram muito evidentes o colégio dos Rabinos o baniu junto com seus seguidores.

O que se seguiu não é muito claro, em 1653 ou 1658 ele esteve em Constantinopla, onde conheceu Abraham ha-Yakini (um discípulo de Joseph di Trani, um homem de grande inteligência e reputação), que confirmou as declarações de Sabbatai. Neste época surgiu um documento entitulado “A Grande Sabedoria de Salomão”, que atestava o messianismo de Sabbatai, dizendo:

“Eu, Abrahão, fui confinado em uma caverna por quarenta anos, e ponderei muito sobre o tempo dos milagres, que não havia chegado ainda. Então uma voz se fez ouvir, proclamando: ‘Um filho nascerá no ano de 5386 (1626) para Mordecai Zevi; e ele será chamado de Shabbatai. Ele vencerá o grande dragão;… ele, o verdadeiro Messias, se sentará sobre o trono (de meu Deus).”

Munido deste documento, tido por muitos como uma revelação real, Shabbatai escolheu Salonica, na época um ponto de encontro de Cabalistas, como o seu campo de operações. Ali ele se proclamou novamente como o Messias, e ganhou muitos seguidores. Como consequência os Rabinos de Salonica o baniram da cidade, e ele segue seu caminho passando por Alexandria, Atenas, Constantinopla, Jerusalém, Smyrna e outros lugares, finalmente após uma longa jornada ele chega ao Cairo onde viveu por dois anos. Mas aparentemente Shabbatai não achava que o Egito era o local ideal para os acontecimentos que previa, o ano apocalíptico 1666 se aproximava e algo definitivo deveria ser feito para estabelecer que ele era o Messias sem deixar quaisquer sombras de dúvidas. Ele então deixa o Egito e ruma para Jerusalém, esperando que na cidade santa algum milagre acontecesse e confirmasse seu destino para todos. Chegando lá ele começa a meditar, jejuar, realizar atos de caridade para crianças e passa as noites cantando Salmos, isso faz com que ganhe a simpatia de muitas pessoas. Neste ponto um incidente inesperado o leva de volta ao Cairo, com a missão de arrecadar uma grande soma em dinheiro para reparar uma calamidade engendrada contra  Jerusalém por oficiais turcos. Shabbatai consegue arrecadar o dinheiro, o que lhe garantiu um prestígio ainda maior.

Carregado com o dinheiro e com uma esposa que encontrou no caminho (e um número crescente de seguidores) ele volta triunfante para a Palestina, atravessando a cidade de Gaza ele encontra Nathan Ghazzati, que se torna seu o braço direito e afirmava ser o Elijah, aquele que tomaria o lugar do Messias. Em 1665 Ghazzati proferiu que a Era Messiânica teria inicio no ano seguinte. Essa revelação surgiu com grandes detalhes, ele afirmava que o mundo seria conquistado por ele, O Elijah, sem derramamento de sangue, que então o Messias lideraria para a Terra Santa as dez tribos, “montado em um leão com sete cabeças de dragão em suas mandíbulas”. Tudo isso, é claro, foi aceito por todos. Finalmente no outono de 1665 Shabbatai ele é aclamado como Messias por todos.

No início de 1666 ele se dirige novamente para Constantinopla, esperando pelo milagre que realizasse a profecia de Ghazzati que dizia que Shabbatai colocaria a coroa do Sultão em sua própria cabeça. Tão logo colocou o pé na cidade foi preso ao comando do Grão Vizir, Ahmad Koprilli e foi jogado, acorrentado, na prisão. Seu aprisionamento, entretanto, não teve nenhum efeito negativo, nem para ele, nem para seus seguidores. Ao contrário o tratamento tolerante que recebeu apenas confirmou a fé de todos de que ele era o Messias. Após dois meses de encarceramento em Constantinopla, Shabbadai foi levado à prisão estadual no castelo de Abydos, onde recebeu um tratamento ainda mais condescendente e alguns de seus amigos ainda puderam acompanhá-lo. Em consequência disso os Shabbateanos deram à fortaleza o nome de Migdal ‘Oz (Torre da Força). No dia que foi levado para Abydos abateu um cordeiro para si e seus amigos, já que era o dia antes do Páscoa e o comeu com a gordura, o que era uma violação da Lei, e antes de comer o animal ele pronunciou: “Bendito seja Deus, que fez limpo o que era abominação”. Nesta época acontece um incidente que contribuiria com a queda de Shabbatai, que até o momento estava vivendo como um príncipe na fortaleza.

Dois estudiosos do Talmud, poloneses de Lemberg, que estiveram entre os visitantes de Shabbatai em Abydos, o informaram sobre um profeta originário de Lemberg, Nehemia ha-Kohen, que havia anunciado a vinda do Messias. Shabbatai ordenou que trouxessem o profeta à sua presença. Nehemia obedeceu, e chegou a Abydos em setembro de 1666 e a conferência entre ambos terminou com a insatisfação mútua e dizem que os Shabbateanos fizeram planos de assassinar o profeta rival.

Nehemiah, entretanto, escapou para Constantinopla, onde se converteu, tornando-se maometano e traiu Shabbatai. O Sultão Mohammed IV, foi tirado de Abydos e levado a Adrianopla, onde o médico do Sultão informou a Shabbatai que ele deveria abraçar o Islã como única maneira de se salvar. No dia 16 de Setembro de 1666 ele foi levado diante do sultão onde se desfez de suas vestes judaicas e colocou na cabeça um turbante, se convertendo. O sultão ficou muito satisfeito, e deu a Shabbatai o cargo de Effendi, e o contratou pagando um alto salário. A esposa de Shabbatai e alguns de seus seguidores também se converteram, e alguns dias após sua conversão ele escreveu para Smyrna: “Deus me tornou um ismaelita, Ele comandou e foi feito. O nono dia da minha regeneração”.

Os efeitos da conversão do Messias foram devastadores na comunidade judaica, rabinos proeminentes que era seguidores de Shabbatai se prostravam em vergonha. Entre as massas uma grande confusão reinou.

Por um tempo Shabbatai permaneceu fazendo um jogo duplo, em março afirmando ter sido tomado pelo Espirito Santo disse ter recebido uma revelação. Ele, ou um de seus seguidores, publicou um trabalho místico endereçado para os judeus afirmando entre outras coisas que ele era o Redentor, apesar de sua conversão, cujo objetivo real era converter para o judaísmo milhares de muçulmanos. Para o sultão ele dizia que suas atividades com os judeus eram para convertê-los ao islamismo. Esse jogo duplo entre judeus e muçulmanos não poderia durar muito e pouco tempo depois ele foi deprivado de seu salário e banido. Terminou seus dias em obscuridade em Dulcigno, um lugarejo na Albânia.

Após a morte de Shabbatai seguiu-se uma linha hereditária de Messias. Jacob Querido, filho de Joseph Filosof, e irmão da quarta mulher de Sabbatai, tornou-se líder dos Shabbatheanos em Salônica, sendo visto como a encarnação de Shabbethai. Ele afirmava-se filho de Sabbatai e adotou o nome Jacob Tzvi. Com 400 seguidores converteu-se ao Islã por volta de 1687, formando uma seita chamada Dönmeh. Ele próprio chegou mesmo a peregrinar a Meca (c. 1690). Após a sua morte, o seu filho Berechiah ou Berokia sucedeu-o (c. 1695-1740).

Vários seguidores de Shabbatai declararam-se eles próprios Messias. Miguel Abraham Cardoso (1630 – 1706), nascido de pais marranos, pode ter sido iniciado no movimento Shabbatheano por Moisés Pinheiro em Livorno. Ele tornou-se um profeta do Messias, e quando o último se converteu ao Islão, ele chamou-o de traidor, dizendo que é necessário que o Messias se conte entre os pecadores por forma a expiar a idolatria de Israel.

Ele aplicou a passagem de Isaías LIII a Sabbatai, e enviou epístolas que provariam que ele era o verdadeiro Messias, chegando mesmo a sofrer a perseguição por defender a sua causa. Mais tarde, considerou-se um Messias Efraíta, argumentando com alegadas marcas no seu corpo que o provariam. Pregou e escreveu sobre vinda em breve do Messias, marcando datas diferentes, até que acabou por morrer.

Outro seguidor de Shabbatai que lhe permaneceu fiel, Mordecai Mokia, ou Mordekay Mokiah (“o admoestador”) de Eisenstadt, que também afirmou ser um Messias. O seu período de atividade foi de 1678 a 1682 ou 1683.

Defendeu inicialmente que Shabbatai era o verdadeiro Messias e que a sua conversão tinha sido necessária por motivos místicos. Pregava que este não morrera mas que se iria revelar dentro de três anos após a sua suposta morte, e apontou para as perseguições de judeus em Oran (Espanha), na Áustria, e em França, e a pestilência na Alemanha como presságios da sua vinda.

Encontrou seguidores entre judeus da Hungria, Morávia e da Bohemia. Dando ainda um passo a mais, ele se declarou como o Messias Davídico. Shabbatai, de acordo com ele, passou apenas a ser o Messias Efraíta. Como tinha sido rico, significava que não poderia executar a redenção de Israel. Ele, Mordecai, sendo pobre, era o Messias verdadeiro e ao mesmo tempo a encarnação da alma do Messias Efraíta.

Judeus italianos, ouvindo falar dele, convidaram-no a ir até Itália. Viajou para lá por volta de 1680, tendo sido bem recebido em Reggio e Modena. Falou das preparações messiânicas que teria que fazer em Roma e deu a entender que talvez adotasse o Cristianismo exteriormente. Denunciado à Inquisição ou aconselhado a deixar a Itália, ele regressou à Bohemia, onde se diz que se tornou demente. A partir deste tempo, uma seita começou a tomar forma ali, e persistiu até à era Mendelsoniana.

Judas Leib (Leibele) (Löbele) Prossnitz foi um cabalista nascido no fim do século XVII em Brodi, na Galícia. Ele deixou sua cidade natal e seguiu para Prossnitz, na Morávia, onde se casou. Ele era extremamente pobre, vivendo em uma cabana abandonada, tida como mal assombrada por muitos e em uma noite ele afirmou que iria evocar Shekiná e fazê-la aparecer diante de uma multidão.

Shekiná, שכינה em hebraico, é no judaísmo a faceta da revelação divina aos homens, a “Divina Presença”, sendo também considerada a face “feminina” e “materna” dela. O vocábulo “shechiná” não aparece na Bíblia Judaica nem no Novo Testamento, de acordo com a concepção cabalística e do ramo hassidísmo do judaísmo, a Shechiná é uma energia cósmica poderosíssima em si mesma, que habita no “interior” do Universo e vivifíca-o, sendo a sua “alma” ou “espírito”. Apesar de não constar nas escrituras a Shekiná é uma idéia concreta na literatura rabínica. E para se entender a grandiosidade da promessa de Judas, esta faceta da divindade é o meio comunicativo entre o homem e Deus.

Para realizar o feito, Judas colocou uma cortina, atravessando seu quarto de ponta a ponta, atrás dela ele acendeu uma mistura de de álcool e querosene. Então, vestindo um manto branco ele ficou atrás da cortina e a luz atrás dele fazia a imagem das letras do tetragrammaton, que ele havia dependurado no peito, brilharem. Os espectadores se agitaram, estando na presença de um milagre, até que um dos presentes arrancou a cortina do lugar e revelou a fraude. Judas foi excomungado pelos rabinos da Morávia.

Apesar de tudo, Judas encontrou muitos seguidores dentre os Shabbateanos, ele se autoproclamou o Messias ben Joseph (Messias filho de José) e assinava seu nome como Joseph ben Jacob (José, filho de Jacó) e pregava que desde o surgimento de Shabbatai Zevi, Deus havia dado a ele a missão de guiar o mundo, quando ascendeu aos céus a missão foi passada a Jonathan Eybeschütz e finalmente caia nas mãos de Judas. Perambulou de cidade a cidade na Austria e Alemanha, onde arrecadava dinheiro de muitas pessoas. Em 1725 sua excomunhão foi renovada e ele se mudou para a Hungria. A história registra que ele morreu lá entre os não judeus.

Outro, Isaías Hasid (um cunhado do Shabbatheano Judah Hasid), que vivia em Mannheim, afirmou secretamente ser o Messias ressuscitado apesar de ter publicamente abjurado de quaisquer crenças Shabbatheanas.

Jacob Frank, fundador dos Franquistas, também afirmou ser o Messias. Na sua juventude tinha tido contato com o Dönmeh. Ele ensinava que era uma reencarnação de Shabbatai e do Rei Davi. Tendo conseguido alguns seguidores entre os judeus da Turquia e de Valáquia (na atual Romênia), ele veio em 1755 até a Podolia, onde os Shabbatheanos necessitavam de um líder, e revelou-se como a reencarnação da alma de Berechiah.

Enfatizou a ideia do “rei sagrado” que seria ao mesmo tempo Messias, tendo-se denominado apropriadamente de “santo señor”. Os seus seguidores afirmam que realizou milagres, tendo chegado mesmo a rezar para ele.

O seu objetivo (e o da sua seita) era o de acabar com uma vez por todas com o judaísmo rabínico. Foi forçado a deixar Podolia; e seus seguidores foram perseguidos.

Regressando em 1759, aconselhou os seus seguidores a converterem-se ao cristianismo. Cerca de 1000 deles converteram-se, tornando-se polacos gentios com origens judaicas. Ele próprio converteu-se em Varsóvia em Novembro de 1759.

Mais tarde a sua falta de sinceridade foi exposta e foi emprisionado por heresia, permanecendo no entanto, mesmo encarcerado, o líder de sua seita.

Moises Hayyim Luzzatto, o poeta, também acreditou ser o Messias. Ele havia sido iniciado na Cabala e, desiludido com a sua ocupação com o Zohar e influenciado pela atmosfera Cabalista em que vivia, ele acreditava que um espírito divino lhe havia dado uma iluminação nos mistérios e terminou acreditando que estaria destinado a redimir Israel graças ao “Segundo Zohar” que ele mesmo escreveu. Sua Cabala foi mantida, num primeiro momento, em um círculo fechado de discípulos, mas quando o segredo foi revelado Luzzato fez um juramento de que ele não escreveria, publicaria ou ensinaria mais suas doutrinas a não ser que fosse para a Palestina. Ele retornou com suas atividades Cabalistas e foi excomungado várias vezes. Mais ou menos em 1744 ele foi para a Palestina, onde poderia seguir com seus estudos sem ser incomodado, ou para realizar seu destino de Messias. Ele morreu lá.

Shukr Kuhayl

Shukr ben Salim Kuhayl I também conhecido como Mari (Mestre) foi um Messias do Iemem. Ele se revelou primeiro em San’a em 1861, como um mensageiro do Messias, em uma época que havia uma grande expectativa por parte do povo do surgimento do Prometido. Se divorciando de sua esposa ele deu início a uma vida de pregador intinerante para ter uma vida de pobreza e exortar a todos que se arrependessem. ENo Sabbath de maio de 1861 ele declarou que “Eu venho para avisar a todos e lembrá-los do arrependimento e da redenção”.

Ele aparentemente era um indivíduo pio, asceta e humilde, que se trajava com retalhos e vivia em solidão no Monte Tiyal, mas em algum momento ele começou a dar a entender que não era mais o mensageiro do Messias e sim o próprio. Ele escrevia fórmulas messiânicas em suas mãos e corrigia os textos sagrados, inserindo a si mesmo nas narrativas bíblicas. Um viajante judeu chamado Jacob Saphir registrou que quase todos os judeus do Iemem naquela época acreditavam nas proclamações messiânicas de Shur Kuhayl I.

Kuhayl morreu pouco depois disso, morto por árabes em 1865, supostamente a mando do imã que controlava a capital de San’a e que enxergava uma ameaça em Kuhayl, mas mesmo assim muitos de seus seguidores não aceitaram o seu fim e esperavam que ele retornasse em breve. E essa espera foi recompensada em pouco tempo com o surgimento de Judah ben Shalom, que afirmou a todos ser o mesmo Shur Kuhayl que havia sido morto e estava retornando.

Judah ben Shalom era um artesão de San’a e como seus antecessores era um cabalista. Em março de 1868 ele anunciou que era de fato Shukr Kuhayl I, que havia sido morto e decapitado por árabes três anos antes e ressuscitado por Elias.

O novo Shur Kuhayl continuou pregando as mensagens de arrependimento com que todos já estavam acostumados. Para os Judeus ele proclamava ser o Messias enviado para libertá-los, para os árabes ele anunciava ser um muçulmano enviado para anunciar a chegada do Mahdi. Realizar milagres não fazia parte de seu repertório, e ele chegou a notar isso em algumas de suas correspondências, mas acreditava que a principal causa para isso era que Deus ainda não havia liberado a permissão para a realização de milagres porque aguardava o momento em que todos os judeus se unissem e o aceitassem como seu Messias.

Diferente de sua primeira encarnação, Judah ben Shalom não era um pregador intinerante, ele chegou a desenvolver uma estrutura muito bem organizada que incluia centenas de funcionários, de seu quartel general ele mantinha vasta correspondência com líderes judeus em várias comunidades, principalmente com o propósito de angariar fundos.

Apesar de sua aceitação, Shukr Kuhayl II encontrou resistência de certas pessoas, especialmente aquelas que conhecial o primeiro Shukr e afirmavam que o seu novo estilo de vida cheio de luxos era incompatível com sua vida prévia.

Eventualmente foi Jacob Saphir, que refutou as alegações messiânicas de Judah e contou com apoio de vários rabinos de jerusalem para acabarem com o status de Kuhayl II perante os líderes das comunidades judias que o mantinham financeiramente. Quano o dinheiro parou de chegar ele foi obrigado a fazer empréstimos com os árabes e, por não conseguir pagar esses empréstimos, terminou na cadeia. Liberado depois de um tempo nunca mais foi capaz de reunir seguidores e morreu em estado de pobreza em 1878.

Uma das principais consequências desses movimentos messiânicos causados por Shabbatai e seus seguidores foi o da marginalização da Cabala. Aparente qualquer um que desejasse provar que era um profeta ou mesmo o Messias, com algum conhecimento desta ferramenta, poderia chegar a “provas” de que era legítimo. Depois desta época os estudos da Cabala foram ridicularizados pela maioria das pessoas e ela até hoje é tida como superstição dentre a maioria das comunidades judaicas.

Menachem Mendel Schneerson

Dentro do movimento Chabad Lubavitch do Judaísmo chassídico houve um crescente fervor messiânico nos finais da década de 1980 e princípios da década de 1990, devido à crença que o seu líder, Menachem Mendel Schneerson estaria prestes a revelar-se como o Messias.

Menachem Mendel Schneersohn, nascido em 1902, ficou conhecido por seus seguidores como O Rebe , foi um rabino ortodoxo, o sétimo e último Rebe do movimento Chabad Lubavitch. Em 1950, com a morte de seu sogro, o Rabbi Yosef Yitzchok Schneersohn,  ele recebe a visita de uma delegação de chassidim idosos com uma petição aceitando-o como seu Rebe, ele então colocou a cabeça entre as mãos e começou a chorar. “Por favor, me deixem” – suplicou ele. “Isso nada tem a ver comigo.” Após um ano de episódios como esse, finalmente aceitou o cargo. Assim mesmo, havia uma condição. “Eu ajudarei” – anunciou o Rebe – “mas cada um de vocês terá de cumprir sua própria missão. Não esperem ficar pendurados nas franjas de meu talit.” Desta forma ele assume a liderança do movimento Lubavitchiano até sua morte em 1994.

Em 1991 ele declarou a seus seguidores que: “Eu fiz tudo o que podia (para trazer o Messias), e agora estou passando para vocês (esta missão, façam tudo o que puderem para trazer o Messias.” Tem início então a uma campanha para que a era Messiânica tivesse início através de “atos de bondade e gentileza”.

Pouco antes de sua morte um número considerável de Chabad Hasidim acreditavam que ele logo se manifestaria como o Messias. Segundo seus seguidores, Rav. Menachem Mendel Schneersohn era dotado de grande sensibilidade, o que fazia com que fosse consultado por milhares de pessoas todos os anos, em busca de conselhos para suas vidas pessoais. Muitos destes conselhos e suas consequências acabaram por serem vistos como “milagres” por aqueles que os buscavam.

Surge então um movimento que acreditava ter a missão de convencer o mundo de que o Rebe era de fato o Messias e que assim que todos aceitassem isso ele seria levado à revelação de seu papel. Aqueles que aderiam a esse movimento eram chamados de Meshichistas, e era comum cantarem: “Yechi Adoneinu Moreinu v’Rabbeinu Melech haMoshiach l’olom vo’ed!” (“Vida longa a nosso mestre, professor e Rabi, o Rei Ungido, para sempre e sempre) quando estavam na sua presença.

A morte de Schneerson em 1994 abateu um pouco este sentimento, apesar de muitos seguidores de Schneerson ainda acreditarem que ele é o Messias e que irá regressar em devido tempo.

 

Notas:

[1] Êxodo capítulo 14

Versículo 4 – E eu endurecerei o coração de Faraó, para que os persiga, e serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, e saberão os egípcios que eu sou o SENHOR. E eles fizeram assim.

Versículo 8 – Porque o SENHOR endureceu o coração de Faraó, rei do Egito, para que perseguisse aos filhos de Israel; porém os filhos de Israel saíram com alta mão.

Versículo 17 – E eis que endurecerei o coração dos egípcios, e estes entrarão atrás deles; e eu serei glorificado em Faraó e em todo o seu exército, nos seus carros e nos seus cavaleiros,

Versículo 18 – E os egípcios saberão que eu sou o SENHOR, quando for glorificado em Faraó, nos seus carros e nos seus cavaleiros.

Versículo 26 – E disse o SENHOR a Moisés: Estende a tua mão sobre o mar, para que as águas tornem sobre os egípcios, sobre os seus carros e sobre os seus cavaleiros.

Versículo 28 – Porque as águas, tornando, cobriram os carros e os cavaleiros de todo o exército de Faraó, que os haviam seguido no mar; nenhum deles ficou.

Versículo 29 -Mas os filhos de Israel foram pelo meio do mar seco; e as águas foram-lhes como muro à sua mão direita e à sua esquerda.

Versículo 30 -Assim o SENHOR salvou Israel naquele dia da mão dos egípcios; e Israel viu os egípcios mortos na praia do mar.

Versículo 31 -E viu Israel a grande mão que o SENHOR mostrara aos egípcios; e temeu o povo ao SENHOR, e creu no SENHOR e em Moisés, seu servo.

E nós podemos ouvir as vozes perguntando: Por que, Senhor? Eles já estavam livres? Afogar aquela gente toda a troco de que?

[2] Aleister Crowley LIBER LVIII, GEMATRIA UM ARTIGO SOBRE QABALAH – THE EQUINOX I(5)

por Rev. Obito

Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/movimentos-messianicos-os-messias-judeus/

Enoque

(Texto original em inglês extraído da The Encyclopedia of Jewish Myth, Magic and Mysticism, de Rabbi Geoffrey Dennis)

Enoque, do hebraico “Chanokh”, é um dos ancestrais primordiais da humanidade.

Ele foi, significativamente, o sétimo nas primeiras dez gerações de humanos listados em Gênesis.

De acordo com as Escrituras, Enoque era o mais Justo dos antediluvianos e “foi com Deus … e ele não foi, porque Deus o levou”.

A partir dessas informações mínimas, muito é extrapolado.

Enoque aparece como uma figura importante em uma série de obras apócrifas (I Enoque; Jubileus; Livro dos Gigantes).

A ele é atribuída a criação da escrita, da astrologia e do recebimento do calendário solar oelos Anjos, calendário esse que era tão precioso para os sacerdotes que coletaram os Manuscritos do Mar Morto.

Para aqueles sacerdotes, ele era o protótipo de todos os escribas, sábios e sacerdotes (I Enoque 12, 14, 80–82, 106–7; Jubileus 4).

Ele também era um oniromante, isto é, um adivinhador de sonhos (Livro dos Gigantes).

Em alguns lugares, seu papel é tão exaltado que ele funciona como o principal canal do conhecimento divino para os mortais.

Algumas tradições judaicas sustentavam que Enoque ascendeu corporalmente ao céu, onde foi transubstanciado no príncipe angelical Metatron (III Enoque), embora haja pelo menos uma tradição que rejeita essa afirmação (Targum Onkelos de Gênesis 5:24; Gênesis Rabbah 5:24).

Junto com a mudança de nome, seu corpo material é consumido e substituído por um corpo de fogo supremo.

Ele é conhecido por vários títulos e nomes angelicais, incluindo Sar ha-Panim, o Príncipe do Rosto Divino e/ou Bar Enosh, “Filho do Homem”.

Os textos hebraicos sobre Enoque e sua translação angelical incluem Sefer Hechalot, Hechalot Rabbati e Sefer Chanoch.

Os Livros de Enoque

Existem vários livros em grego, hebraico e aramaico associados ao nome de Enoque, como III Enoque, o Livro dos Gigantes e Sefer ha-Razim de Chanoch.

Vários outros livros foram preservados apenas em traduções (eslavo e etíope).

Existem muitas variações entre os textos, e alguns se contradizem, mas o conjunto de elementos que se sobrepõem em diferentes versões é a história do papel terreno de Enoque antes do Dilúvio, sua ascensão ao céu, sua experiência de revelações apocalípticas lá, seu envolvimento nos assuntos dos anjos (caídos), e sua translação em anjo.

Abordaremos agora acerca dos livros existentes que são atribuídos a Enoque:

O Primeiro Livro de Enoque, também conhecido como I Enoque:

Este livro existe apenas em duas traduções variantes, grega e etíope.

O original hebraico não existe mais, embora tenhamos encontrado fragmentos hebraicos/aramaicos entre os Manuscritos do Mar Morto.

A tradução etíope é um apocalipse dividido em cinco livros: o Livro dos Vigilantes, o Livro das Similitudes, o Livro do Curso dos Luminares Celestiais, o Livro dos Sonhos e a Epístola de Enoque.

O livro de I Enoque Inclui a lenda dos anjo caídos, visões de sonhos, visões do julgamento final e outras parafernálias e refugos literários

A versão grega de I Enoque compartilha alguns textos e tem apenas um terço do tamanho da versão etíope.

O Segundo Livro de Enoque, também conhecido como II Enoque:

II Enoque é uma obra pseudoepigráfica judaica, provavelmente escrita no Egito, do século I EC.

Apenas manuscritos eslavos antigos (em duas versões) sobreviveram até hoje.

Este livro bastante enigmático também é um apocalipse, revelando o funcionamento do céu, do inferno e do fim do mundo.

O livro é um dos primeiros a expor os sete céus e a dar uma descrição detalhada dos prazeres do Paraíso (e o primeiro a associar a vida após a morte celestial ao Éden) para os mortos justos.

O Terceiro Livro de Enoque, também conhecido como III Enoque:

III Enoque também é conhecido como Sefer ha-Hechalot, Sefer Chanoch ou “o Enoque Hebraico”, este livro descreve o processo de ascensão mística.

Ao contrário dos primeiros livros de Enoque, que refletem mais puramente uma espiritualidade sacerdotal, esta obra também está claramente enraizada no judaísmo rabínico.

Um Sábio Sacerdote talmúdico, Rabi Ishmael ben Elisha ha-Kohen, é a figura central, e o trabalho é provavelmente um produto dos místicos merkavá.

III Enoque foi agrupado com os outros livros enoqueanos anteriores principalmente porque Rabi Ismael encontra Enoque no céu, em sua forma angélica de Metatron.

Este texto narra a ascensão mística de Rabi Ismael aos sete céus e seus encontros lá com seres angélicos.

Ele detalha os passos da angelificação e transubstanciação de Enoque.

Inclui uma descrição do guf ha-briyot, o Tesouro das Almas e a transmigração das almas.

O Quarto Livro de Enoque, também conhecido como IV Enoque:

IV Enoque é uma obra aramaica fragmentária encontrada entre os Manuscritos do Mar Morto, que inclui muitas partes de outros livros enoquianos e pode de fato ser a versão mais antiga dessas obras que temos agora.

O Livro dos Gigantes também pode pertencer à biblioteca Enoqueana.

Traduzido e adaptado do inglês para o português por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/enoque/

As Origens de Lilith

 

Lilith (em hebraico: לִילִית, romanizado: Līlīṯ) é uma figura feminina na mitologia mesopotâmica e judaica, alternativamente a primeira esposa de Adão e supostamente a demônio primordial. Lilith é citada como tendo sido “banida” do Jardim do Éden por não obedecer e obedecer a Adão. Ela é mencionada no hebraico bíblico no Livro de Isaías, e na Antiguidade Tardia na mitologia mandeana e nas fontes da mitologia judaica a partir de 500 EC. Lilith aparece em historiolas (encantamentos que incorporam uma pequena história mítica) em vários conceitos e localidades que dão descrições parciais dela. Ela é mencionada no Talmude Babilônico (Eruvin 100b, Niddah 24b, Shabat 151b, Baba Bathra 73ª), no Livro de Adão e Eva como a primeira esposa de Adão, e no Zohar, Levítico 19a como “uma mulher ardente e quente que primeiro coabitou com o homem”.

O nome Lilith deriva de lilû, lilîtu e (w)ardat lilî. A palavra acadiana lilu está relacionada à palavra hebraica lilith em Isaías 34:14, que é considerada um pássaro noturno por alguns estudiosos modernos, como Judit M. Blair. Na antiga religião da Mesopotâmia, encontrada em textos cuneiformes da Suméria, Assíria e Babilônia, Lilith significa um espírito ou demônio.

A Lilith bíblica inspirou a autora e a primeira teóloga feminista judia Judith Plaskow a escrever, ‘The Coming of Lilith (A Vinda de Lilith)’ examinando o domínio patriarcal no judaísmo e no cristianismo, e a escrita de ‘Which Lilith (Qual Lilith)’ explorando as diversas identidades desse personagem por feministas, incluindo Enid Dame.

Lilith continua a servir como fonte de material na cultura popular de hoje, cultura ocidental, literatura, ocultismo, fantasia e horror, muitas vezes retratada como uma mulher lutando pela igualdade e pela justiça.

A HISTÓRIA DE LILITH:

No folclore judaico, como no satírico Alfabeto de Sirach (c. 700–1000 d.C.), Lilith aparece como a primeira esposa de Adão, que foi criada na mesma época e do mesmo barro que Adão. Compare esse relato com Gênesis 1:27, em que isso contrasta com Eva, que foi criada de uma das costelas de Adão). A lenda de Lilith desenvolveu-se extensivamente durante a Idade Média, na tradição da Aggadah, do Zohar e do misticismo judaico. Por exemplo, nos escritos do século 11 de Isaac on Jacob ha-Cohen, Lilith deixou Adão depois que ela se recusou a se tornar subserviente a ele e depois não retornou ao Jardim do Éden depois de se casar com o arcanjo Samael.

As interpretações de Lilith encontradas em materiais judaicos posteriores são abundantes, mas pouca informação sobreviveu sobre a visão suméria, acadiana, assíria e babilônica dessa classe de demônios. Embora os pesquisadores quase universalmente concordem que existe uma conexão, estudos recentes contestaram a relevância de duas fontes anteriormente usadas para conectar a lilith judaica a uma lilītu acadiana – o apêndice de Gilgamesh e os amuletos de Arslan Tash. (veja abaixo a discussão dessas duas fontes problemáticas). Em contraste, alguns estudiosos, como Lowell K. Handy, sustentam a opinião de que, embora Lilith deriva da demonologia mesopotâmica, a evidência da Lilith hebraica estar presente nas fontes frequentemente citadas – o fragmento sumério de Gilgamesh e o encantamento sumério de Arshlan-Tash sendo duas de tais evidencias – é escassa, se estiver presente.

Em textos de língua hebraica, o termo lilith ou lilit (traduzido como “criaturas da noite”, “monstro da noite”, “bruxa da noite” ou “coruja”) ocorre pela primeira vez em uma lista de animais em Isaías 34. A referência a Lilith em Isaías 34:14, não aparece na maioria das traduções comuns da Bíblia, como a KJV (Versão do Rei James) e a NIV (Nova Versão Internacional). Comentaristas e intérpretes muitas vezes imaginam a figura de Lilith como um perigoso demônio da noite, que é sexualmente libertina e que rouba bebês na escuridão. Nos Manuscritos do Mar Morto 4Q510-511, o termo ocorre pela primeira vez em uma lista de monstros. Inscrições mágicas judaicas em tigelas e amuletos do século VI Dc identificam Lilith como um demônio feminino e fornecem as primeiras representações visuais dela.

ETIMOLOGIA DA PALAVRA LILITH:

Na língua acadiana da Assíria e Babilônia, os termos lili e līlītu significam espíritos. Alguns usos de līlītu estão listados no Dicionário Assírio do Instituto Oriental da Universidade de Chicago (CAD, 1956, L.190), em Akkadisches Handwörterbuch de Wolfram on Soden (Ahw, p. 553), e Reallexikon der Assyriologie (RLA, página 47).

Os demônios femininos sumérios lili não têm relação etimológica com o acadiano lilu, “noite”.

Archibald Sayce (1882) considerou que o lilit hebraico (ou lilith) לילית e o anterior līlītu acadiano são derivados do proto-semítico. Charles Fossey (1902) traduz literalmente para “ser/demônio da noite feminino”, embora existam inscrições cuneiformes da Mesopotâmia onde Līlīt e Līlītu se referem a espíritos do vento portadores de doenças.

LILITH NA MITOLOGIA MESOPOTÂMICA:

Lilu:

Um lilu ou lilû é uma palavra acadiana masculina para um espírito ou demônio.

História:

Jo Ann Scurlock e Burton R. Andersen (2005) veem a origem do lilu no tratamento de doenças mentais.

Na Literatura Suméria e Acadiana:

Na literatura acadiana ocorre hlilu. Na literatura suméria ocorre lili. A datação de textos específicos acadianos, sumérios e babilônicos que mencionam lilu (masculino), lilitu (feminino) e lili (feminino) é casual. Em estudos mais antigos, como The Devils and Evil Spirits of Babylonia (Os Diabos e Espíritos Malignos da Babilônia, 1904), de R. Campbell Thompson, raramente são dadas referências de texto específicas. Uma exceção é K156 que menciona um ardat lili. Heinrich Zimmern (1917) identificou provisoriamente vardat lilitu KAT3, 459 como amante de lilu.

Uma inscrição cuneiforme lista lilû ao lado de outros seres perversos da mitologia e folclore da Mesopotâmia:

Os perversos Utukku que matam o homem vivo na planície.

Os perversos Alû que cobrem (o homem) como uma roupa.

Os perversos Edimmu, os perversos Gallû, que amarram o corpo.

Os Lamme (Lamashtu), os Lammea (Labasu), que causam doenças no corpo.

Os Lilû que vagueiam na planície.

Eles chegaram perto de um homem sofredor do lado de fora.

Eles provocaram uma doença dolorosa em seu corpo.

— Stephen Herbert Langdon 1864.

Na Lista de Reis Sumérios:

Na Lista de Reis Sumérios, diz-se que o pai de Gilgamesh é um lilu.

O ‘Espírito na Árvore’ no Ciclo Gilgamesh:

A Tabuinha XII, datada de c. 600 Ac, é uma tradução acadiana assíria posterior da última parte do sumeriano Epopeia de Gilgamesh. Ele descreve um ‘espírito na árvore’ referido a um ki-sikil-lil-la-ke.

Traduções sugeridas para a Tabuinha XII ‘espírito na árvore’ incluem ki-sikil como “lugar sagrado”, lil como “espírito” e lil-la-ke como “espírito da água”. Mas também simplesmente “coruja”, já que a pequena constrói uma casa no tronco da árvore.

O ki-sikil-lil-la-ke está associado a uma serpente e a um pássaro zu. Kramer traduz o zu como “coruja”, mas na maioria das vezes é traduzido como “águia”, “abutre” ou “ave de rapina”. Em Gilgamesh, Enkidu e Netherworld, uma árvore huluppu cresce no jardim de Inanna em Uruk, cuja madeira ela planeja usar para construir um novo trono. Depois de dez anos de crescimento, ela vem para colhê-lo e encontra uma serpente vivendo em sua base, um pássaro Zu criando filhotes em sua copa, e que um ki-sikil-lil-la-ke fez uma casa em seu tronco. Diz-se que Gilgamesh matou a cobra, e então o pássaro zu voou para as montanhas com seus filhotes, enquanto o ki-sikil-lil-la-ke com medo destrói sua casa e foge para a floresta.

Relação de Lilu com a Lilith Hebraica e com as Lilin:

É contestado se, se é que a palavra acadiana lilu ou seus cognatos estão relacionados com a palavra hebraica lilith em Isaías 34:14, que é considerada um pássaro noturno por alguns estudiosos modernos, como Judit M. Blair. O conceito babilônico de lilu pode estar mais fortemente relacionado ao conceito talmúdico posterior de Lilith (feminino) e lilin (feminino).

Samuel Noah Kramer (1932, publicado em 1938) traduziu ki-sikil-lil-la-ke como Lilith na “Tabuinha XII” da Epopeia de Gilgamesh. A identificação de ki-sikil-lil-la-ke como Lilith é indicada no Dictionary of Deities e Demons in the Bible (Dicionário de Divindades e Demônios na Bíblia, 1999). De acordo com uma nova fonte da Antiguidade Tardia, Lilith aparece em uma história de magia mandaica onde ela é considerada como representando os galhos de uma árvore com outras figuras demoníacas que formam outras partes da árvore, embora isso também possa incluir vários “Liliths”.

Uma conexão entre o ki-sikil-lil-la-ke em Gilgamesh e a Lilith judaica foi rejeitada por motivos textuais por Sergio Ribichini (1978).

A Mulher com Pés de Pássaro no Burney Relief (Relevo de Burney):

 

O Relevo de Burney, Babilônia (1800-1750 a.C.).

A tradução de Kramer do fragmento de Gilgamesh foi usada por Henri Frankfort (1937) e Emil Kraeling (1937) para apoiar a identificação de uma mulher com asas e pés de pássaro no disputado Burney Relief relacionado a Lilith. Frankfort e Kraeling identificaram a figura no relevo com Lilith. Pesquisas modernas identificaram a figura como uma das principais deusas dos panteões mesopotâmicos, provavelmente Ereshkigal, a deusa do submundo mesopotâmico, mais isso é assunto para um outro artigo.

Os Amuletos Arslan Tash:

Os amuletos Arslan Tash são placas de calcário descobertas em 1933 em Arslan Tash, cuja autenticidade é contestada. William F. Albright, Theodor H. Gaster e outros aceitaram os amuletos como uma fonte pré-judaica que mostra que o nome Lilith já existia no século VII a.C., mas Torczyner (1947) identificou os amuletos como uma fonte judaica posterior.

LILITH NA BÍBLIA HEBRAICA:

A palavra lilit (ou lilith) aparece apenas uma vez na Bíblia hebraica, em uma profecia sobre o destino de Edom, enquanto os outros sete termos da lista aparecem mais de uma vez e, portanto, são mais bem documentados. A leitura de estudiosos e tradutores é muitas vezes guiada por uma decisão sobre a lista completa de oito criaturas como um todo. [Veja Os animais mencionados na Bíblia, por Henry Chichester Hart, 1888, e fontes mais modernas; também entradas Brown Driver Briggs Hebrew Lexicon para tsiyyim, ‘iyyim, sayir, liylith, qippowz e dayah.] ​​Citando Isaías 34 (NAB):

(12) Seus nobres não existirão mais, nem reis serão proclamados ali; todos os seus príncipes se foram.

(13) Seus castelos serão cobertos de espinhos, suas fortalezas de cardos e sarças. Ela se tornará uma morada para chacais e um refúgio para avestruzes.

(14) Os gatos selvagens se encontrarão com as feras do deserto, os sátiros chamarão uns aos outros; Ali a Lilith descansará e encontrará para si um lugar para descansar.

(15) Ali a coruja aninha e põe ovos, choca-os e recolhe-os à sua sombra; Ali se reunirão os abutres, nenhum faltará ao seu companheiro.

(16) Olhem no livro do Senhor e leiam: Nenhum destes faltará, porque a boca do Senhor o ordenou, e o seu espírito os reunirá ali.

(17) É Ele quem lança a sorte para eles, e com Suas mãos Ele marca suas partes dela; Eles a possuirão para sempre, e habitarão ali de geração em geração.

Lilith no Texto Hebraico Massorético:

No Texto Massorético:

Hebraico:

u-pagšu ṣiyyim et-ʾiyyim, w-saʿir ʿal-rēʿēhu yiqra; ʾak-šam hirgiʿa lilit, u-maṣʾa lah manoaḥ

34:14 “E encontrarão gatos selvagens com chacais

o bode que ele chama de seu companheiro

lilit (lilith) ela descansa e ela encontra descanso [מנוח, manoaḥ, usado para pássaros como a pomba de Noé, Gen.8:9 e também humanos como o povo de Israel, Deut.28:65; Noemi, Rute 3:1.]

34:15 ali ela aninhará a grande coruja, e ela põe (ovos), e ela choca, e ela ajunta sob sua sombra: falcões [abutres, milhafres] também eles se reúnem, cada um com seu companheiro.

Nos Manuscritos do Mar Morto, entre os 19 fragmentos de Isaías encontrados em Qumran, o Grande Rolo de Isaías (1Q1Isa) em 34:14 apresenta a criatura no plural liliyyot (ou liliyyoth).

Eberhard Schrader (1875) e Moritz Abraham Levy (1855) sugerem que Lilith era um demônio da noite, conhecido também pelos exilados judeus na Babilônia. A visão de Schrader e Levy é, portanto, parcialmente dependente de uma datação posterior de Deutero-Isaías no século VI a.C., e a presença de judeus na Babilônia, que coincidiria com as possíveis referências ao Līlītu na demonologia babilônica. No entanto, essa visão é contestada por algumas pesquisas modernas, como Judit M. Blair (2009), que considera que o contexto indica animais impuros.

Lilith na Septuaginta, a Tradução Grega da Bíblia:

A Septuaginta traduz tanto a referência a Lilith quanto a palavra para chacais ou “animais selvagens da ilha” dentro do mesmo verso para o grego como onokentauros, aparentemente assumindo-os como referindo-se às mesmas criaturas e omitindo “gatos selvagens / animais selvagens do deserto” (assim, em vez dos gatos selvagens ou bestas do deserto se encontrarem com os chacais ou bestas da ilha, a cabra ou “sátiro” chorando “para seu companheiro” e lilith ou “coruja” descansando “lá”, é a cabra ou “sátiro” , traduzido como daimonia “demônios”, e os chacais ou bestas da ilha “onocentauros” se encontrando e gritando “um para o outro” e o último descansando ali, na tradução). Isaías 34:14: καὶ συναντήσουσιν δαιμόνια ὀνοκενταύροις καὶ βοήσουσιν ἕτερος πρὸς τὸν ἕτερον ἐκεῖ ἀναπαύσονται ὀνοκένταυροι εὗρον γὰρ αὑτοῖς ἀνάπαυσιν  Tradução: E os daemons encontrarão com os onocentauros, e eles irão gritar um ao outro: ali descansarão os onocentauros, tendo encontrado para si [um lugar de] descanso.]

Lilith na Vulgata, a Tradução Latina da Bíblia:

A Vulgata do início do século V traduziu a mesma palavra como lâmia, ou seja, lâmia.

et ocorrerent daemonia onocentauris et pilosus clamabit alter ad alterum ibi cubavit lamia et invenit sibi requiem

— Isaías (Isaías Propheta) 34.14, Vulgata.

A tradução é: “E demônios se encontrarão com monstros, e um peludo clamará ao outro; ali a lâmia se deitou e encontrou descanso para si mesma”.

Lilith nas Traduções da Bíblia para o Inglês:

A Bíblia de Wycliffe (1395) preserva a tradução latina lamia:

Is 34:15 Lamya viverá ali, e ali descansa para si mesma.

A Bíblia dos Bispos de Matthew Parker (1568) do latim:

Is 34:14 ali a Lâmia se deitará e terá o seu alojamento.

A Bíblia Douay-Rheims (1582/1610) também preserva a tradução latina lamia:

Is 34:14 E demônios e monstros se encontrarão, e os peludos clamarão uns aos outros; ali a lâmia se deitou, e encontrou descanso para si.

A Bíblia de Genebra de William Whittingham (1587) do hebraico:

Is 34:14 e ali descansará a coruja, e achará para si uma morada sossegada.

Em seguida, a versão King James (Versão do Rei James, 1611):

Isaías 34:14 As feras do deserto também se encontrarão com as feras da ilha, e o sátiro clamará ao seu companheiro; a coruja noturna também descansará ali, e achará para si um lugar de descanso.

A tradução “coruja noturna (screech owl)” da versão King James é, junto com a “coruja” (yanšup, provavelmente uma ave aquática) em 34:11 e a “grande coruja” (qippoz, propriamente uma cobra) de 34:15, uma tente traduzir a passagem escolhendo animais adequados para palavras hebraicas difíceis de traduzir.

Traduções posteriores incluem:

  • A coruja da noite (Young, 1898).
  • O espectro noturno (Rotherham, Emphasized Bible, 1902).
  • O monstro da noite (ASV, 1901; JPS 1917, Good News Translation, 1992; NASB, 1995).
  • Os vampiros (Moffatt Translation, 1922; Knox Bible, 1950).
  • A bruxa da noite (Versão Padrão Revisada, 1947).
  • Lilith (Bíblia de Jerusalém, 1966).
  • (a) lilith (New American Bible, 1970).
  • Lilith (Nova Versão Padrão Revisada, 1989).
  • (a) demônio da noite Lilith, maligna e voraz (A Mensagem (Bíblia), Peterson, 1993).
  • A criatura da noite (New International Version, 1978; New King James Version, 1982; New Living Translation, 1996, Today’s New International Version).
  • As aves noturnas (Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, 1984).
  • O pássaro noturno (versão padrão em inglês, 2001).
  • O pássaro noturno (NASB, 2020).
  • Os animais noturnos (New English Translation (NET Bible)).

LILITH NA TRADIÇÃO JUDAICA:

As principais fontes na tradição judaica sobre Lilith em ordem cronológica incluem:

  1. 40–10 a.C. Os Manuscritos do Mar Morto – Canções para um Sábio (4Q510–511).
  2. 200 A Mishná – não mencionada.
  3. 500 A Gemara do Talmude.
  4. 700-1000 O Alfabeto de Ben-Sira.
  5. 900 Midrash Abkir.
  6. 1260 O Tratado sobre a Emanação Esquerda, Espanha.
  7. 1280 O Zohar, Espanha.

Lilith nos Manuscritos do Mar Morto:

 

Reprodução fotográfica do Grande Rolo de Isaías, que contém uma referência ao plural lilyyot.

Os Manuscritos do Mar Morto contêm uma referência indiscutível à Lilith em Songs of the Sage (As Canções do Sábio, 4Q510-511) fragmento 1:

E eu, o Instrutor, proclamo Seu glorioso esplendor para assustar e aterrorizar todos os espíritos dos anjos destruidores, espíritos dos bastardos, demônios, Lilith, uivadores e habitantes do deserto… e aqueles que caem sobre os homens sem aviso prévio para desviá-los de um espírito de entendimento e para tornar seu coração e seu… desolados durante o presente domínio da maldade e tempo predeterminado de humilhações para os filhos da luz, pela culpa dos séculos dos que foram feridos pela iniquidade – não para a destruição eterna, mas para uma era de humilhação por transgressão.

Tal como acontece com o texto massorético de Isaías 34:14, e, portanto, diferente do plural liliyyot (ou liliyyoth) no rolo de Isaías 34:14, lilit em 4Q510 é singular, este texto litúrgico adverte contra a presença de malevolência sobrenatural e assume familiaridade com Lilith; distinta do texto bíblico, no entanto, esta passagem não funciona sob nenhuma agenda sociopolítica, mas serve na mesma capacidade de Um Exorcismo (4Q560) e Canções para Dispersar Demônios (11Q11). O texto é assim, para uma comunidade “profundamente envolvida no domínio da demonologia”, um hino de exorcismo.

Joseph M. Baumgarten (1991) identificou a mulher sem nome de A Sedutora (4Q184) como relacionada ao demônio feminino. No entanto, John J. Collins considera essa identificação como “intrigante”, mas é “seguro dizer” que (4Q184) é baseado na mulher estranha do Livro de Provérbios, capítulos 2, 5, 7, 9:

Sua casa afunda até a morte,

E seu caminho leva às sombras.

Todos que vão até ela não podem voltar

E reencontrar os caminhos da vida.

— Provérbios 2:18–19.

As suas portas são portas da morte, e desde a entrada da casa

Ela parte em direção ao Sheol.

Nenhum dos que ali entram jamais voltará,

E todos os que a possuem descerão ao Poço.

— 4Q184.

Lilith na Literatura Rabínica Primitiva:

Lilith não ocorre na Mishná. Existem cinco referências a Lilith no Talmude Babilônico na Gemara em três tratados separados da Mishná:

  • “Rav Judah citando Samuel decidiu: Se um aborto tivesse a semelhança de Lilith, sua mãe é impura por causa do nascimento, pois é uma criança, mesmo que tenha asas.” (Talmude Babilônico no Tratado Nidda 24b).
  • “[Explicando sobre as maldições da feminilidade] Em um Baraitha foi ensinado: As mulheres crescem cabelos compridos como Lilith, sentam ao urinar como uma fera e servem de travesseiro para o marido.” (Talmude Babilônico no Tratado Eruvin 100b).
  • “Para gira, ele deve pegar uma flecha de Lilith e colocá-la com a ponta para cima e derramar água sobre ela e beber. Alternativamente, ele pode pegar a água que um cachorro bebeu à noite, mas deve tomar cuidado para que não tenha sido exposta.” (Talmude Babilônico, tratado Gittin 69b). Neste caso em particular, a “flecha de Lilith” é provavelmente um fragmento de meteorito ou fulgurita, coloquialmente conhecido como “relâmpago petrificado” e tratado como medicamento antipirético.
  • “Rabbah disse: Eu vi como Hormin, filho de Lilith, estava correndo no parapeito da muralha de Mahuza, e um cavaleiro, galopando abaixo a cavalo não podia alcançá-lo. Uma vez eles selaram para ele duas mulas que estavam em duas pontes do rio Rognag; e ele pulou de uma para a outra, para trás e para frente, segurando em suas mãos duas taças de vinho, derramando alternadamente de uma para outra, e nem uma gota caiu no chão.” (Talmude Babilônico, tratado Bava Bathra 73a-b). Hormin que é mencionado aqui como o filho de Lilith é provavelmente o resultado de um erro de escriba da palavra “Hormiz” atestado em alguns dos manuscritos talmúdicos. A própria palavra, por sua vez, parece ser uma distorção de Ormuzd, a divindade da luz e da bondade no Zend Avesta, o livro sagrado do Zoroastrismo. Se assim for, é um tanto irônico que Ormuzd se torne aqui o filho de um demônio noturno.
  • “R. Hanina disse: Não se pode dormir em uma casa sozinho [em uma casa solitária], e quem dorme em uma casa sozinho é capturado por Lilith.” (Talmude Babilônico no Tratado de Shabat 151b).

A afirmação acima de Hanina pode estar relacionada à crença de que as emissões noturnas engendraram o nascimento de demônios:

  • “R. Jeremiah b. Eleazar declarou ainda: Em todos aqueles anos [130 anos após sua expulsão do Jardim do Éden] durante os quais Adão estava sob a proscrição, ele gerou fantasmas e demônios masculinos e demônios femininos [ou demônios noturnos], pois isso é dito nas Escrituras: E Adão viveu cento e trinta anos e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem, do que se segue que até aquele momento ele não gerou conforme a sua própria imagem… sua morte foi ordenada como punição ele passou cento e trinta anos em jejum, desvinculou-se de sua esposa por cento e trinta anos, e vestiu roupas de figo em seu corpo por cento e trinta anos. – Essa declaração [de R. Jeremiah] foi feito em referência ao sêmen que ele emitiu acidentalmente.” (Talmude Babilônico no Tratado Eruvin 18b).

A coleção Midrash Rabbah contém duas referências a Lilith. A primeira está presente em Gênesis Rabá 22:7 e 18:4: de acordo com Rabi Hiyya Deus passou a criar uma segunda Eva para Adão, depois que Lilith teve que retornar ao pó. No entanto, para ser exato, as referidas passagens não empregam a palavra hebraica lilith em si e, em vez disso, falam da “primeira Eva” (Heb. Chavvah ha-Rishonah, analogamente à frase Adam ha-Rishon, ou seja, o primeiro Adão). Embora na literatura e no folclore hebraico medieval, especialmente aquele refletido sobre os amuletos protetores de vários tipos, Chavvah ha-Rishonah fosse identificada com Lilith, deve-se ter cuidado ao transpor essa equalização para a Antiguidade Tardia.

A segunda menção de Lilith, desta vez explícita, está presente em Números Rabá 16:25. O midrash desenvolve a história da súplica de Moisés depois que Deus expressa raiva pelo mau relato dos espiões. Moisés responde a uma ameaça de Deus de que Ele destruirá o povo israelita. Moisés implora diante de Deus, que Deus não deve ser como Lilith que mata seus próprios filhos. Moisés disse:

[Deus,] não faça isso [ou seja, destruir o povo israelita], para que as nações do mundo não o considerem um Ser cruel e digam: ‘A Geração do Dilúvio veio e Ele os destruiu, a Geração da Separação veio e Ele os destruiu, os sodomitas e os egípcios vieram e Ele os destruiu, e também estes, a quem chamou de Meu filho, Meu primogênito (Êxodo IV, 22), Ele agora está destruindo! Como aquela Lilith que, quando não encontra mais nada, se volta contra seus próprios filhos, porque o Senhor não foi capaz de trazer este povo para a terra… Ele os matou’ (Núm. XIV, 16)!

Lilith nas Tigelas de Encantamento:

Uma tigela de encantamento com uma inscrição aramaica ao redor de um demônio, de Nippur, Mesopotâmia, entre o sexto e o sétimo século.

Uma Lilith individual, junto com Bagdana “rei dos lilits”, é um dos demônios a aparecer com destaque em feitiços de proteção nas oitenta tigelas de encantamentos ocultos judaicos sobreviventes da Babilonia, sob o Império Sassânida (séculos 4 a 6 d.C.) com influência da cultura iraniana. Essas tigelas eram enterradas de cabeça para baixo abaixo da estrutura da casa ou no terreno da casa, a fim de prender o demônio ou demônio. Quase todas as casas tinham essas tigelas protetoras contra demônios e demônios femininos.

O centro do interior da tigela retrata Lilith, ou a forma masculina, Lilit. Ao redor da imagem está a escrita em forma de espiral; a escrita geralmente começa no centro e segue até a borda. A escrita é mais comumente uma escritura ou referências ao Talmude. As taças de encantamento que foram analisadas estão inscritas nas seguintes línguas: aramaico judaico babilônico, siríaco, mandaico, persa médio e árabe. Algumas taças são escritas em uma escrita falsa que não tem significado.

A tigela de encantamento corretamente redigida era capaz de afastar Lilith ou Lilit da casa. Lilith tinha o poder de se transformar nas características físicas de uma mulher, seduzir seu marido e conceber um filho. No entanto, Lilith (feminina) se tornaria odiosa em relação aos filhos nascidos do marido e da esposa e tentaria matá-los. Da mesma forma, Lilit (masculino) se transformaria nas características físicas do marido, seduziria a esposa, daria à luz um filho. Tornar-se-ia evidente que a criança não foi gerada pelo marido, e a criança seria desprezada. Lilit iria se vingar da família matando os filhos nascidos do marido e da esposa.

As principais características da representação de Lilith ou Lilit incluem o seguinte. A figura é frequentemente representada com braços e pernas acorrentados, indicando o controle da família sobre o(s) demônio(s). O(s) demônio(s) é(são) representado(s) em posição frontal com toda a face à mostra. Os olhos são muito grandes, assim como as mãos (se retratadas). O(s) demônio(s) é totalmente estático.

Uma tigela contém a seguinte inscrição encomendada a um ocultista judeu para proteger uma mulher chamada Rashnoi e seu marido de Lilith:

Vós liliths, lili masculino e lilith feminina, bruxa e ghool, eu vos conjuro pelo Forte de Abraão, pela Rocha de Isaque, pelo Shaddai de Jacó, por Yah Ha-Shem por Yah seu memorial, para se afastarem deste Rashnoi b. M. e de Geyonai b. M. seu marido. [Aqui está] seu divórcio e mandado e carta de separação, enviados por meio de santos anjos. Amém, Amém, Selá, Aleluia! (imagem)

— Trecho da tradução em Aramaic Incantation Texts from Nippur (Textos de Encantamentos Aramaicos de Nippur), por James Alan Montgomery 2011, p. 156.

Lilith no Alfabeto de Ben Sira:

 

 

Lilith, ilustração por Carl Poellath, de 1886 ou anterior.

O pseudepigráfico Alfabeto de Ben Sira dos séculos VIII a X é considerado a forma mais antiga da história de Lilith como a primeira esposa de Adão. Não se sabe se esta tradição em particular é mais antiga. Os estudiosos tendem a datar o alfabeto entre os séculos 8 e 10 d.C. O trabalho tem sido caracterizado por alguns estudiosos como satírico, mas Ginzberg concluiu que foi feito com seriedade.

No texto, um amuleto é inscrito com os nomes de três anjos (Senoy, Sansenoy e Semangelof) e colocado no pescoço dos meninos recém-nascidos para protegê-los dos lilin até a circuncisão. Os amuletos usados ​​contra Lilith que se pensava derivar desta tradição são, de fato, datados como sendo muito mais antigos. O conceito de Eva ter uma antecessora não é exclusivo do Alfabeto, e não é um conceito novo, como pode ser encontrado em Gênesis Rabbá. No entanto, a ideia de que Lilith foi a antecessora pode ser exclusiva do Alfabeto.

A ideia no texto de que Adão teve uma esposa antes de Eva pode ter se desenvolvido a partir de uma interpretação do Livro de Gênesis e seus relatos de criação dual; enquanto Gênesis 2:22 descreve a criação de Eva por Deus da costela de Adão, uma passagem anterior, Gênesis 1:27, já indica que uma mulher havia sido feita: “Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” O texto do alfabeto coloca a criação de Lilith após as palavras de Deus em Gênesis 2:18 que “não é bom que o homem esteja só”; neste texto, Deus forma Lilith do barro do qual ele fez Adão, mas ela e Adão brigam. Lilith afirma que, como ela e Adão foram criados da mesma forma, eles eram iguais e ela se recusa a se submeter a ele:

Depois que Deus criou Adão, que estava sozinho, Ele disse: “Não é bom que o homem esteja só”. Ele então criou uma mulher para Adão, da terra, como Ele mesmo havia criado Adão, e a chamou de Lilith. Adão e Lilith imediatamente começaram a brigar. Ela disse: “Eu não vou deitar embaixo”, e ele disse: “Eu não vou ficar embaixo de você, mas apenas em cima. Pois você só serve para estar na posição inferior, enquanto eu sou o superior”. Lilith respondeu: “Somos iguais um ao outro, pois ambos fomos criados da terra”. Mas eles não ouviriam um ao outro. Quando Lilith viu isso, ela pronunciou o Nome Inefável e fugiu voando para o ar.

Adão ficou em oração diante de seu Criador: “Soberano do universo!” ele disse, “a mulher que você me deu fugiu.” Imediatamente, o Santo, bendito seja Ele, enviou esses três anjos Senoy, Sansenoy e Semangelof, para trazê-la de volta.

Disse o Santo a Adão: “Se ela concordar em voltar, o que foi feito é bom. Se não, ela deve permitir que cem de seus filhos morram todos os dias.” Os anjos deixaram Deus e perseguiram Lilith, a quem alcançaram no meio do mar, nas águas impetuosas onde os egípcios estavam destinados a se afogar (ou seja, o Mar Vermelho). Disseram-lhe a palavra de Deus, mas ela não quis voltar. Os anjos disseram: “Nós a afogaremos no mar”.

“Deixem-me!’ ela disse. “Eu fui criada apenas para causar doenças às crianças. Se a criança for do sexo masculino, eu tenho domínio sobre ele por oito dias após seu nascimento, e se for do sexo feminino, por vinte dias.”

Quando os anjos ouviram as palavras de Lilith, eles insistiram que ela voltasse. Mas ela jurou a eles pelo nome do Deus vivo e eterno: “Sempre que eu vir você ou seus nomes ou suas formas em um amuleto, não terei poder sobre aquela criança”. Ela também concordou em que cem de seus filhos morressem todos os dias. Assim, todos os dias, cem demônios perecem e, pela mesma razão, escrevemos os nomes dos anjos nos amuletos das crianças. Quando Lilith vê seus nomes, ela se lembra de seu juramento e a criança se recupera.

O pano de fundo e o propósito do Alfabeto de Ben-Sira não são claros. É uma coleção de histórias sobre heróis da Bíblia e do Talmude, e pode ter sido uma coleção de contos folclóricos, uma refutação de movimentos cristãos, caraítas ou outros movimentos separatistas; seu conteúdo parece tão ofensivo aos judeus contemporâneos que chegou a ser sugerido que poderia ser uma sátira antijudaica, embora, em qualquer caso, o texto tenha sido aceito pelos místicos judeus da Alemanha medieval.

O Alfabeto de Ben-Sira é a fonte sobrevivente mais antiga da história, e a concepção de que Lilith foi a primeira esposa de Adão só se tornou amplamente conhecida com o Lexicon Talmudicum do século XVII do estudioso alemão Johannes Buxtorf.

Nesta tradição popular que surgiu no início da Idade Média, Lilith, um demônio feminino dominante, tornou-se identificada com Asmodeus, o Rei dos Demônios, como sua rainha. Asmodeus já era bem conhecido nessa época por causa das lendas sobre ele no Talmude. Assim, a fusão de Lilith e Asmodeus era inevitável. O segundo mito de Lilith cresceu para incluir lendas sobre outro mundo e, segundo alguns relatos, este outro mundo existia lado a lado com este, Yenne Velt é a palavra em iídiche para este descrito “Outro Mundo”. Neste caso, acreditava-se que Asmodeus e Lilith procriavam infinitamente descendentes demoníacos e espalhavam o caos a cada passo.

Duas características primárias são vistas nessas lendas sobre Lilith: Lilith como a encarnação da luxúria, fazendo com que os homens sejam desencaminhados, e Lilith como uma bruxa assassina de crianças, que estrangula neonatos indefesos. Esses dois aspectos da lenda de Lilith pareciam ter evoluído separadamente; dificilmente há um conto em que ela englobe os dois papéis. Mas o aspecto do papel de bruxa que Lilith desempenha amplia seu arquétipo do lado destrutivo da bruxaria. Tais histórias são comumente encontradas no folclore judaico.

Lilith e a Influência das Tradições Rabínicas:

 

 

Adão agarra uma criança na presença da sequestradora Lilith. Fresco por Filippino Lippi, Basílica de Santa Maria Novella, Florença.

Embora a imagem de Lilith do Alfabeto de Ben Sira não tenha precedentes, alguns elementos em seu retrato podem ser rastreados até as tradições talmúdicas e midráshicas que surgiram em torno de Eva.

Em primeiro lugar, a própria introdução de Lilith na história da criação repousa no mito rabínico, motivado pelos dois relatos separados da criação em Gênesis 1:1-2:25, de que havia duas mulheres originais. Uma maneira de resolver a aparente discrepância entre esses dois relatos era supor que deve ter havido alguma outra primeira mulher, além daquela posteriormente identificada com Eva. Os rabinos, notando a exclamação de Adão, “desta vez (zot hapa’am) [esta é] osso do meu osso e carne da minha carne” (Gênesis 2:23), tomaram como uma insinuação de que já deve ter havido um ” primeira vez”. De acordo com Gênesis Rabbá 18:4, Adão ficou enojado ao ver a primeira mulher cheia de “poeira e sangue”, e Deus teve que lhe fornecer outra. A criação subsequente é realizada com as devidas precauções: Adão é feito dormir, para não testemunhar o processo em si (Sinédrio 39a), e Eva é adornada com joias finas (Gênesis Rabbá 18:1) e trazida a Adão pelos anjos Gabriel e Miguel (ibid. 18:3). No entanto, em nenhum lugar os rabinos especificam o que aconteceu com a primeira mulher, deixando o assunto aberto para mais especulações. Esta é a lacuna na qual a tradição posterior de Lilith poderia se encaixar.

Em segundo lugar, esta nova mulher ainda é recebida com duras alegações rabínicas. Novamente jogando com a frase hebraica zot hapa’am, Adão, de acordo com o mesmo midrash, declara: “é ela [zot] que está destinada a tocar o sino [zog] e falar [em contenda] contra mim, como você lê: ‘um sino de ouro [pa’amon] e uma romã’ [Êxodo 28:34] … é ela quem me perturbará [mefa’amtani] a noite toda” (Gênesis Rabbá 18:4). A primeira mulher também se torna objeto de acusações atribuídas ao rabino Josué de Siknin, segundo o qual Eva, apesar dos esforços divinos, acabou sendo “egoísta, sedutora, bisbilhoteira, fofoqueira, propensa ao ciúme, desonesta e farrista” (Gênesis Rabá 18:2). Um conjunto semelhante de acusações aparece em Gênesis Rabbá 17:8, segundo o qual a criação de Eva da costela de Adão e não da terra a torna inferior a Adão e nunca satisfeita com nada.

Terceiro, e apesar da concisão do texto bíblico a esse respeito, as iniquidades eróticas atribuídas à Eva constituem uma categoria separada de suas deficiências. Diz-se em Gênesis 3:16 que “seu desejo será para o seu marido”, ela é acusada pelos rabinos de ter um desejo sexual superdesenvolvido (Gênesis Rabbá 20:7) e constantemente seduzir Adão (Gênesis Rabbá 23:5). No entanto, em termos de popularidade e disseminação textual, o motivo de Eva copulando com a serpente primitiva tem prioridade sobre suas outras transgressões sexuais. Apesar do caráter pitoresco bastante inquietante desse relato, ele é transmitido em vários lugares: Gênesis Rabá 18:6 e BT Sotah 9b, Shabat 145b–146a e 156a, Yevamot 103b e Avodah Zarah 22b.

Lilith na Cabala:

 

 

A Queda do Homem, por Cornelis van Haarlem (1592), mostrando a serpente no Jardim do Éden como uma mulher.

O misticismo cabalístico tentou estabelecer uma relação mais exata entre Lilith e Deus. Com suas características principais bem desenvolvidas no final do período talmúdico, após seis séculos decorridos entre os textos de encantamento aramaico que mencionam Lilith e os primeiros escritos cabalísticos espanhóis no século XIII, ela reaparece, e sua história de vida torna-se conhecida em maiores detalhes mitológicos. Sua criação é descrita em muitas versões alternativas.

Uma versão menciona sua criação como anterior à de Adão, no quinto dia, porque as “criaturas viventes” com cujos enxames Deus encheu as águas incluíam Lilith. Uma versão semelhante, relacionada às primeiras passagens talmúdicas, relata como Lilith foi moldada com a mesma substância que Adão, pouco antes. Uma terceira versão alternativa afirma que Deus originalmente criou Adão e Lilith de uma maneira que a criatura feminina estava contida no homem. A alma de Lilith estava alojada nas profundezas do Grande Abismo. Quando Deus a chamou, ela se juntou a Adão. Depois que o corpo de Adão foi criado, mil almas do lado esquerdo (mal) tentaram se unir a ele. No entanto, Deus as expulsou. Adão foi deixado deitado como um corpo sem alma. Então uma nuvem desceu e Deus ordenou que a terra produzisse uma alma vivente. Este Deus soprou em Adão, que começou a ganhar vida e sua mulher foi anexada ao seu lado. Deus separou a mulher do lado de Adão. O lado feminino era Lilith, então ela voou para as Cidades do Mar e atacou a humanidade.

Ainda outra versão afirma que Lilith emergiu como uma entidade divina que nasceu espontaneamente, seja do Grande Abismo Superno ou do poder de um aspecto de Deus (o Gevurah de Din). Esse aspecto de Deus era negativo e punitivo, assim como um de seus dez atributos (Sefirot), em sua manifestação mais baixa tem afinidade com o reino do mal e é a partir disso que Lilith se fundiu com Samael.

Uma história alternativa liga Lilith com a criação de luminares. A “primeira luz”, que é a luz da Misericórdia (uma das Sefirot), apareceu no primeiro dia da criação quando Deus disse: “Haja luz”. Esta luz ficou escondida e a Santidade ficou cercada por uma casca do mal. “Uma casca (klippa) foi criada ao redor do cérebro” e essa casca se espalhou e trouxe outra casca, que era Lilith.

Lilith na Cabala Luriânica:

Nos ensinamentos do rabino Isaac Luria, diz-se que existem muitas Liliths. Manasseh Matlub Sithon disse que “muitos Liliths e demônios estão no exterior, e sobem e descem”.

A maior delas é a esposa de Adam Qadmon, um ser que Deus usou como avatar para criar o Universo em todas as suas dez ou mais dimensões, daí um multiverso.

Outra Lilith, mais demoníaca, conhecida como a mulher da prostituição, é encontrada no livro do Zohar 1:5a. Ela é a contraparte feminina de Samael (Satanás).

A Lilith com a qual a maioria está familiarizada é a esposa de Adão no alfabeto de Ben Sira (8 a 10 séculos EC), conhecido como Adam haRishon, “o primeiro homem”, entre os cabalistas.

Existem visões mistas de Lilith no Zohar. Em um relato ela é a contraparte de Samael e uma mãe de demônios. Em outro ela é vista seduzindo os anjos caídos como Naamah; os anjos Azza e Azazael depois de desafiarem a Shekhinah (a presença feminina de Deus) sobre a criação do homem. Isto é mencionado no livro do Zohar 1:19a-b, 23a-b, 27a-b respectivamente. Quando Lilith e Naamah (outro aspecto de Lilith) estavam com Adão em sua separação de 130 anos de Eva após a queda, elas tiveram filhas nascidas de sua união. Estas foram as nashiym, as liliyot(F), os espíritos liloth que foram os que seduziram os Vigilantes. Essas filhas, juntamente com Lilith e Naamah, são restauradas a Adão através da Sabedoria de Salomão, o aspecto da Shekhinah (referida como as duas prostitutas e as Nashiym nos capítulos 4 e 5 do Zohar, o Livro da Ocultação, o Sifri D Tsri-nita).

De acordo com a tradução do rabino Isaac Luria, Isaías 34:14-15 significa “O gato selvagem se encontrará com os chacais, E o sátiro clamará ao seu companheiro, Sim, Lilith descansará lá E encontrará para ela um lugar de descanso”. A partir dessas passagens, o rabino Isaac Luria acreditava que Lilith seria restaurada a Adão através do casamento de Lia com Jacó – Jacó era Adão, Lia era Lilith e Raquel era Eva. Esta deve ser entendida como uma das muitas interpretações sobre o Zohar e de Lilith.

Lilith no Midrash Abkir:

A primeira fonte medieval a retratar Adão e Lilith na íntegra foi o Midrash A.B.K.I.R. (c. século 10), que foi seguido pelo Zohar e outros escritos cabalísticos. Diz-se que Adão é perfeito até que reconheça ou seu pecado ou o fratricídio de Caim, que é a causa de trazer a morte ao mundo. Ele então se separa da santa Eva, dorme sozinho e jejua por 130 anos. Durante este tempo “Pizna”, um nome alternativo para Lilith ou uma filha dela, deseja sua beleza e o seduz contra sua vontade. Ela dá à luz multidões de djinns e demônios, o primeiro deles sendo chamado de Agrimas. No entanto, eles são derrotados por Matusalém, que mata milhares deles com uma espada sagrada e força Agrimas a dar-lhe os nomes dos restantes, após o que os lança longe para o mar e as montanhas.

Lilith no Tratado sobre a Emanação Esquerda:

A escrita mística de dois irmãos Jacob e Isaac Hacohen, o Tratado sobre a Emanação Esquerda, que antecede o Zohar em algumas décadas, afirma que Samael e Lilith têm a forma de um ser andrógino, de dupla face, nascido da emanação do Trono da Glória e correspondendo no reino espiritual a Adão e Eva, que também nasceram como hermafroditas. Os dois casais andróginos gêmeos se pareciam e ambos “eram como a imagem do Acima”; isto é, que eles são reproduzidos em uma forma visível de uma divindade andrógina.

  1. Em resposta à sua pergunta sobre Lilith, explicarei a você a essência do assunto. Sobre este ponto há uma tradição recebida dos antigos Sábios que fizeram uso do Conhecimento Secreto dos Palácios Menores, que é a manipulação de demônios e uma escada pela qual se ascende aos níveis proféticos. Nesta tradição fica claro que Samael e Lilith nasceram como um só, semelhante à forma de Adão e Eva que também nasceram como um só, refletindo o que está acima. Este é o relato de Lilith que foi recebido pelos Sábios no Conhecimento Secreto dos Palácios.

Outra versão que também era corrente entre os círculos cabalísticos na Idade Média estabelece Lilith como a primeira das quatro esposas de Samael: Lilith, Naamah, Eisheth e Agrat bat Mahlat. Cada uma delas é mãe de demônios e tem suas próprias hostes e espíritos imundos em grande número, para não dizer inumeráveis. O casamento do arcanjo Samael e Lilith foi arranjado pelo “Dragão Cego”, que é a contrapartida do “dragão que está no mar”. O Dragão Cego atua como intermediário entre Lilith e Samael:

O Dragão Cego monta (isto é, tem relações sexuais com) Lilith, a Pecadora – que ela seja extirpada rapidamente em nossos dias, Amém! – E este Dragão Cego traz a união entre Samael e Lilith. E assim como o Dragão que está no mar (Isaías 27:1) não tem olhos, assim também o Dragão Cego que está em cima, em aparência de forma espiritual, não tem olhos, ou seja, não tem cores… (Patai 81:458) Samael é chamado de Serpente Inclinada, e Lilith é chamada de Serpente Tortuosa.

O casamento de Samael e Lilith é conhecido como o “Anjo Satanás” ou o “Outro Deus”, mas não foi permitido que durasse. Para evitar que os filhos demoníacos de Lilith e Samael, os Lilin, enchessem o mundo, Deus castrou Samael. Em muitos livros cabalísticos do século XVII, isso parece ser uma reinterpretação de um antigo mito talmúdico onde Deus castrou o Leviatã masculino e matou o Leviatã feminino para impedí-los de acasalar e, assim, destruir a Terra com seus descendentes. Com Lilith sendo incapaz de fornicar com Samael, ela procurou acasalar com homens que experimentam emissões noturnas de sêmen. Um texto da Cabala do século 15 ou 16 afirma que Deus “esfriou” a Leviatã feminina, o que significa que ele tornou Lilith infértil e que ela é uma mera fornicação.

O Tratado da Emanação Esquerda também diz que existem duas Liliths, sendo a menor casada com o grande demônio Asmodeus.

A Lilith Matrona é a companheira de Samael. Ambos nasceram na mesma hora à imagem de Adão e Eva, entrelaçados um no outro. Asmodeus o grande rei dos demônios tem como companheira a Lilith Menor (mais jovem), filha do rei cujo nome é Qafsefoni. O nome de sua companheira (de Qafsefoni) é Mehetabel filha de Matred, e sua filha é Lilith (Menor).

Outra passagem acusa Lilith de ser uma serpente tentadora de Eva.

E a Serpente, a Mulher da Prostituição, incitou e seduziu Eva através das cascas de Luz que em si é santidade. E a Serpente seduziu a Santa Eva, e o suficiente é dito para quem entende. E toda essa ruína aconteceu porque Adão, o primeiro homem, se juntou a Eva enquanto ela estava em sua impureza menstrual – esta é a sujeira e a semente impura da Serpente que montou Eva (isto é, teve relações sexuais com ela) antes que Adão a montasse (isto é, tivesse relações sexuais com ela). Eis que aqui está diante de você: por causa dos pecados de Adão, o primeiro homem, todas as coisas mencionadas vieram a existir. Pois a Lilith Maligna, quando ela viu a grandeza de sua corrupção, tornou-se forte em suas cascas, e veio a Adão (isto é, teve relações sexuais com ele) contra sua vontade, e ficou quente com ele (ou seja, ficou grávida dele) e deu-lhe muitos demônios e espíritos e Lilin. (Patai 81:455f).

Lilith no Zohar:

As referências à Lilith no Zohar incluem o seguinte:

Ela vagueia à noite, e vai por todo o mundo e faz esporte com os homens e faz com que eles emitam sementes. Em todo lugar onde um homem dorme sozinho em uma casa, ela o visita e o agarra e se apega a ele e tem seu desejo dele, e carrega dele. E ela também o aflige com doença, e ele não sabe disso, e tudo isso acontece quando a lua está minguante.

Esta passagem pode estar relacionada à menção de Lilith no Talmude, Shabbath 151b (veja acima), e também ao Talmude, Eruvin 18b onde as emissões noturnas estão conectadas com a geração de demônios.

De acordo com Rapahel Patai, fontes mais antigas afirmam claramente que após a estada de Lilith no Mar Vermelho, mencionada também em Legends of the Jews (As Lendas dos Judeus, de Louis Ginzberg), ela retornou a Adão e gerou filhos dele, forçando-se sobre ele (ou seja, tendo relações sexuais com ele). Antes de fazer isso, ela se apega a Caim e lhe dá numerosos espíritos e demônios. No Zohar, no entanto, diz-se que Lilith conseguiu gerar descendentes de Adão mesmo durante sua curta experiência sexual. Lilith deixa Adão no Éden, pois ela não é uma companheira adequada para ele. Gershom Scholem propõe que o autor do Zohar, o Rabi Moisés de Leon, estava ciente tanto da tradição folclórica de Lilith quanto de outra versão conflitante, possivelmente mais antiga.

O Zohar acrescenta ainda que dois espíritos femininos em vez de um, Lilith e Naamah, desejaram Adão e o seduziram. O objetivo dessas uniões eram (a geração de) demônios e espíritos chamados de “as pragas da humanidade”, e a explicação usual adicionada era que foi através do próprio pecado de Adão que Lilith o subjugou a ter relações sexuais com ela contra sua vontade.

Lilith nos Amuletos Mágicos Hebraicos do Século XVII:

 

 

Amuleto hebraico medieval destinado a proteger uma mãe e seu filho de Lilith,

Uma cópia da tradução de Jean de Pauly do Zohar na Biblioteca Ritman contém uma folha hebraica impressa do final do século XVII inserida para uso em amuletos mágicos onde o profeta Elias confronta Lilith.

A folha contém dois textos dentro das bordas, que são amuletos, um para um homem (‘lazakhar’), o outro para uma mulher (‘lanekevah’). As invocações mencionam Adão, Eva e Lilith, ‘Chavah Rishonah’ (a primeira Eva, que é idêntica a Lilith), também demônios ou anjos: Sanoy, Sansinoy, Smangeluf, Shmari’el (o guardião) e Hasdi’el (o misericordioso). Algumas linhas no idioma iídiche são seguidas pelo diálogo entre o profeta Elias e Lilith quando ele a encontrou com seu exército de demônios para matar a mãe e levar seu filho recém-nascido que desejavam (‘beber seu sangue, chupar seus ossos e comer sua carne’), provavelmente no episódio da Viúva de Sarepta (1 Reis 17:8-24). Lilith diz a Elias que perderá seu poder se alguém usar seus nomes secretos, que ela revela no final: lilith, abitu, abizu, hakash, avers hikpodu, ayalu, matrota

Em outros amuletos, provavelmente informados pelo Alfabeto de Ben-Sira, ela é a primeira esposa de Adão. (Yalqut Reubeni, Zohar 1:34b, 3:19)

A porção do dicionário de Charles Richardson da Encyclopædia Metropolitana acrescenta à sua discussão etimológica da palavra lullaby (canção de ninar) “uma nota manuscrita escrita em uma cópia da Etymologicon Linguæ Anglicanæ de 1671, de Stephen Skinner, que afirma que a palavra lullaby (canção de ninar) se origina de Lillu abi abi, um encantamento hebraico que significa “Vá embora, Lilith!” recitado por mães judias no berço de uma criança. Richardson não endossou a teoria e os lexicógrafos modernos a consideram como uma etimologia falsa.

LILITH NA MITOLOGIA GRECO-ROMANA:

 

 

Lâmia (primeira versão), por John William Waterhouse, 1905.

No livro da Vulgata Latina de Isaías 34:14, Lilith é traduzida como lâmia.

De acordo com Augustine Calmet, Lilith tem conexões com visões iniciais sobre vampiros e feitiçaria:

Alguns eruditos pensaram ter descoberto alguns vestígios de vampirismo na mais remota antiguidade; mas tudo o que dizem sobre isso não chega nem perto do que está relacionado aos vampiros. As lâmias, as strigas, os feiticeiros que eles acusavam de sugar o sangue de pessoas vivas e assim causar sua morte, os magos que diziam causar a morte de crianças recém-nascidas por encantos e feitiços malignos, nada mais são do que o que entendemos pelo nome de vampiros; mesmo que se admita que essas lâmias e strigas realmente existiram, o que não acreditamos que possa ser bem provado. Admito que esses termos [lâmia e striga] são encontrados nas versões da Sagrada Escritura. Por exemplo, Isaías, descrevendo a condição à qual Babilônia deveria ser reduzida após sua ruína, diz que ela se tornará a morada de sátiros, lâmias e strigas (em hebraico, lilith). Este último termo, segundo os hebreus, significa a mesma coisa, como os gregos expressam por strix e lâmias, que são feiticeiras ou magos, que procuram matar os recém-nascidos. De onde vem que os judeus estão acostumados a escrever nos quatro cantos da câmara de uma mulher que acabou de dar à luz: “Adão, Eva, saia daqui, lilith”. … Os antigos gregos conheciam essas feiticeiras perigosas pelo nome de lâmias, e acreditavam que devoravam crianças ou sugavam todo o seu sangue até morrerem.

De acordo com Siegmund Hurwitz, a Lilith talmúdica está ligada à Lâmia grega, que, de acordo com Hurwitz, também governava uma classe de demônios-lâmias que roubavam crianças. Lâmia tinha o título de “assassina de crianças” e era temida por sua malevolência, como Lilith. Ela tem diferentes origens conflitantes e é descrita como tendo um corpo humano da cintura para cima e um corpo serpentino da cintura para baixo. Uma fonte afirma simplesmente que ela é filha da deusa Hécate, outra, que Lâmia foi posteriormente amaldiçoada pela deusa Hera para ter filhos natimortos por causa de sua associação sexual com Zeus; alternativamente, Hera matou todos os filhos de Lâmia (exceto Cila) com raiva por Lâmia ter dormido com seu marido, Zeus. A dor fez com que Lâmia se transformasse em um monstro que se vingava das mães roubando seus filhos e os devorando. Lâmia tinha um apetite sexual vicioso que combinava com seu apetite canibal por crianças. Ela era notória por ser um espírito vampírico e adorava sugar o sangue dos homens. Seu dom era a “marca de uma Sibila”, um dom da segunda visão. Zeus disse ter lhe dado o dom da visão. No entanto, ela foi “amaldiçoada” para nunca ser capaz de fechar os olhos para que ela ficasse para sempre obcecada por seus filhos mortos. Com pena de Lâmia, Zeus deu a ela a capacidade de remover e recolocar os olhos das órbitas.

LILITH NO MANDEÍSMO:

Nas escrituras mandeanas, como Ginza Rabba e Qolasta, as liliths são mencionadas como habitantes do Mundo das Trevas.

LILITH NA CULTURA ÁRABE:

O escritor ocultista Ahmad al-Buni (d. 1225), em seu Sol do Grande Conhecimento (árabe: الكبرى المعارف شمس), menciona um demônio chamado “a mãe dos filhos” (الصبيان  ام), um termo também usado para “colocar em um lugar”. Tradições folclóricas registradas por volta de 1953 falam sobre um gênio chamado Qarinah, que foi rejeitada por Adão e acasalou com Iblis (O “Satã” do Islã). Ela deu à luz uma série de demônios e ficou conhecida como a mãe deles. Para se vingar de Adão, ela persegue crianças humanas. Como tal, ela mataria o bebê de uma mãe grávida no útero, causaria impotência aos homens ou atacava crianças pequenas com doenças. De acordo com as práticas ocultas da feitiçaria árabe, ela estaria sujeita ao rei demônio Murrah al-Abyad, que parece ser outro nome para Iblis usado em escritos mágicos. Histórias sobre Qarinah e Lilith se fundiram no início do Islã.

LILITH NA LITERATURA OCIDENTAL:

Lilith na Literatura Alemã:

 

 

Fausto e Lilith, por Richard Westall (1831).

A primeira aparição de Lilith na literatura do período romântico (1789-1832) foi na obra de Goethe de 1808, Fausto: A Primeira Parte de uma Tragédia.

Fausto:

Quem é aquela ali?

Mefistófeles:

Dê uma boa olhada.

Lilith.

Fausto:

Lilith? Quem é aquela?

Mefistófeles:

A esposa de Adão, sua primeira. Cuidado com ela.

O único orgulho de sua beleza é seu cabelo perigoso.

Quando Lilith enrola em torno de jovens

Ela não os solta tão cedo.

—  Tradução de Greenberg de 1992, linhas 4206–4211.

Depois que Mefistófeles oferece esse aviso a Fausto, ele, ironicamente, encoraja Fausto a dançar com Lilith, “a Bruxa Bonita”. Lilith e Fausto travam um breve diálogo, onde Lilith conta os dias passados ​​no Éden.

Fausto: [dançando com a jovem bruxa]

Um lindo sonho que sonhei um dia

Eu vi uma macieira de folhas verdes,

Duas maçãs balançavam em um caule,

Tão tentadoras! Subi para elas.

A Bruxa Bonita (Lilith):

Desde os dias do Éden

Maçãs têm sido o desejo do homem.

Como estou feliz em pensar, senhor,

Maçãs também crescem no meu jardim.

—  Tradução de Greenberg de 1992, linhas 4216 – 4223.

Lilith na Literatura Inglesa:

 

 

Lady Lilith por Dante Gabriel Rossetti (1866-1868, 1872-1873).

A Irmandade Pré-Rafaelita, que se desenvolveu por volta de 1848, foi muito influenciada pelo trabalho de Goethe sobre o tema de Lilith. Em 1863, Dante Gabriel Rossetti, da Irmandade, começou a pintar o que mais tarde seria sua primeira versão de Lady Lilith, uma pintura que ele esperava ser sua “melhor imagem até agora”. Os símbolos que aparecem na pintura aludem à fama de “femme fatale” da Lilith romântica: papoulas (morte e frio) e rosas brancas (paixão estéril). Acompanhando sua pintura Lady Lilith de 1866, Rossetti escreveu um soneto intitulado Lilith, que foi publicado pela primeira vez no panfleto-revisão de Swinburne (1868), Notes on the Royal Academy Exhibition.

Da primeira esposa de Adão, Lilith, conta-se

(A bruxa que ele amava antes da dádiva de Eva,)

Que, antes da serpente, sua doce língua pudesse enganar,

E seu cabelo encantado foi o primeiro ouro.

E ela ainda está sentada, jovem enquanto a terra é velha,

E, sutilmente contemplativa de si mesma,

Atrai homens para observar a teia brilhante que ela pode tecer,

Até que o coração, o corpo e a vida estejam em seu poder.

A rosa e a papoula são sua flor; Para onde

Ele não é encontrado, ó Lilith, a quem derramou perfume

E os beijos suaves e o sono suave aprisionarão?

Eis! Como os olhos daquele jovem queimaram nos seus, assim foi

Teu feitiço através dele, e deixou seu pescoço reto dobrado

E em volta de seu coração um cabelo dourado estrangulado.

— Collected Works, 216.

O poema e a imagem apareceram juntos ao lado da pintura de Rossetti, Sibylla Palmifera e do soneto Soul’s Beauty (A Beleza da Alma). Em 1881, o soneto de Lilith foi renomeado “Body’s Beauty (A Beleza do Corpo)” para contrastá-lo com a Soul’s Beauty (A Beleza da Alma). Os dois foram colocados sequencialmente na coleção The House of Life (A Casa da Vida, sonetos número 77 e 78).

Rossetti escreveu em 1870:

Lady [Lilith] … representa uma Lilith Moderna penteando seus abundantes cabelos dourados e olhando para si mesma no espelho com aquela auto-absorção por cujo estranho fascínio tais naturezas atraem outros para dentro de seu próprio círculo.

— Rossetti, W. M. ii.850, ênfase de D. G. Rossetti.

Isso está de acordo com a tradição folclórica judaica, que associa Lilith tanto com cabelos longos (um símbolo do perigoso poder sedutor feminino na cultura judaica), quanto com o poder de possuir mulheres entrando nelas através de espelhos.

O poeta vitoriano Robert Browning reimaginou Lilith em seu poema “Adão, Lilith e Eva”. Publicado pela primeira vez em 1883, o poema usa os mitos tradicionais em torno da tríade de Adão, Eva e Lilith. Browning retrata Lilith e Eva como sendo amigáveis ​​e cúmplices uma com a outra, enquanto se sentam juntas em ambos os lados de Adão. Sob a ameaça de morte, Eva admite que nunca amou Adão, enquanto Lilith confessa que sempre o amou:

Como o pior dos venenos deixou meus lábios,

Eu pensei: ‘Se, apesar dessa mentira, ele se despir

A máscara da minha alma com um beijo – eu rastejo

Sua escrava — alma, corpo e tudo!

— Browning 1098.

Browning concentrou-se nos atributos emocionais de Lilith, em vez das de suas antigas predecessores demoníacas.

O autor escocês George MacDonald também escreveu um romance de fantasia intitulado Lilith, publicado pela primeira vez em 1895. MacDonald empregou o personagem de Lilith a serviço de um drama espiritual sobre pecado e redenção, no qual Lilith encontra uma salvação duramente conquistada. Muitas das características tradicionais da mitologia de Lilith estão presentes na descrição do autor: longos cabelos escuros, pele pálida, ódio e medo de crianças e bebês e uma obsessão por se olhar no espelho. A Lilith de MacDonald também tem qualidades vampíricas: ela morde as pessoas e suga seu sangue para se sustentar.

O poeta e estudioso australiano Christopher John Brennan (1870–1932), incluiu uma seção intitulada “Lilith” em sua obra principal “Poems: 1913” (Sydney: G. B. Philip and Son, 1914). A seção “Lilith” contém treze poemas explorando o mito de Lilith e é central para o significado da coleção como um todo.

A história de 1940 de C. L. Moore, Fruit of Knowledge (O Fruto do Conhecimento), é escrita do ponto de vista de Lilith. É uma releitura da Queda do Homem como um triângulo amoroso entre Lilith, Adão e Eva – com Eva comendo o fruto proibido sendo nesta versão o resultado de manipulações equivocadas da ciumenta Lilith, que esperava que sua rival fosse desacreditada e destruída por Deus e assim recuperar o amor de Adão.

A coleção Full Blood (Plena de Sangue) de 2011 do poeta britânico John Siddique tem um conjunto de 11 poemas chamado The Tree of Life (A Árvore da Vida), que apresenta Lilith como o aspecto feminino divino de Deus. Vários dos poemas apresentam Lilith diretamente, incluindo a peça Unwritten (Não-Escrita), que lida com o problema espiritual do feminino sendo removido pelos escribas da Bíblia.

Lilith também é mencionada no livro As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, de C.S.Lewis. O personagem Sr. Castor atribui a ascendência do principal antagonista, Jadis, a Feiticeira Branca, à Lilith.

Lilith é um poema de Vladimir Nabokov, escrito em 1928. Muitos o conectaram à Lolita, mas Nabokov nega veementemente: “Leitores inteligentes se absterão de examinar essa fantasia impessoal em busca de qualquer ligação com minha ficção posterior”.

LILITH NO ESOTERISMO OCIDENTAL E NO OCULTISMO MODERNO:

A representação de Lilith no Romantismo continua a ser popular entre os Wiccanos e em outros Ocultismos modernos. Existem algumas ordens mágicas dedicadas à subcorrente de Lilith, apresentando iniciações especificamente relacionadas aos arcanos da “primeira mãe”. Duas organizações que usam iniciações e magias associadas à Lilith são a Ordo Antichristianus Illuminati e a Order of Phosphorus. Lilith aparece como uma súcubo em De Arte Magica de Aleister Crowley. Lilith também foi um dos nomes do meio da primeira filha de Crowley, Nuit Ma Ahathoor Hecate Sappho Jezebel Lilith Crowley (1904–1906), e Lilith às vezes é identificada com Babalon nos escritos thelêmicos. Muitos dos primeiros escritores ocultistas que contribuíram para a Wicca moderna expressaram uma reverência especial por Lilith. Charles Leland, no apêndice do livro Aradia, ou o Evangelho das Bruxas, associou Aradia à Lilith: Aradia, diz Leland, é Herodias, que era considerada no folclore da stregheria como associada à Diana como a líder das bruxas. Leland observa ainda que Herodias é um nome que vem do oeste da Ásia, onde denotava uma forma primitiva de Lilith.

Gerald Gardner afirmou que havia adoração histórica contínua de Lilith até os dias atuais, e que seu nome às vezes é dado à deusa sendo personificada no coven pela sacerdotisa. Esta ideia foi ainda atestada por Doreen Valiente, que a citou como uma deusa que preside a Bruxaria: “a personificação dos sonhos eróticos, o desejo reprimido por prazeres”.

Em alguns conceitos contemporâneos, Lilith é vista como a personificação da Deusa, uma designação que se acredita ser compartilhada com o que essas religiões acreditam serem suas contrapartes: Inanna, Ishtar, Asherah (Aserá), Anath, Anahita e Ísis. De acordo com uma visão, Lilith era originalmente uma deusa mãe suméria, babilônica ou hebraica do parto, das crianças, das mulheres e da sexualidade.

Raymond Buckland afirma que Lilith é uma deusa da lua escura a par com a deusa hindu Kali.

Muitos satanistas teístas modernos consideram Lilith como uma deusa. Ela é considerada uma deusa da independência por aqueles satanistas e muitas vezes é adorada por mulheres, mas as mulheres não são as únicas pessoas que a adoram. Lilith é popular entre os satanistas teístas por causa de sua associação com Satanás ou Satã. Alguns satanistas acreditam que ela é a esposa de Satanás e, portanto, pensam nela como uma figura materna. Outros baseiam sua reverência por ela em sua história como súcubo e a elogiam como uma deusa do sexo. Uma abordagem diferente para uma Lilith satânica afirma que ela já foi uma deusa da fertilidade e da agricultura.

A tradição de mistério ocidental associa Lilith com as Qliphoth da Cabala. Samael Aun Weor em seu livro, A Pistis Sophia Desvelada escreve que os homossexuais são os “sequazes de Lilith”. Da mesma forma, as mulheres que se submetem ao aborto voluntário e as que apoiam essa prática são “vistas na esfera de Lilith”. Dion Fortune escreve em sua Autodefesa Psíquica que: “A Virgem Maria é refletida em Lilith”, e que Lilith é a fonte de “sonhos luxuriosos”.

Devido ao fato do tema de Lilith no Esoterismo Ocidental e no Ocultismo Moderno ser bastante amplo e diverso, o mesmo será abordado em outros artigos.

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Fontes:

  • Charles Fossey, La Magie Assyrienne, Paris: 1902.
  • Siegmund Hurwitz, LilithSwitzerland: Daminon Press, 1992. Jerusalem Bible. New York: Doubleday, 1966.
  • Samuel Noah Kramer, Gilgamesh and the Huluppu-Tree: A reconstructed Sumerian Text.(Kramer’s Translation of the Gilgamesh Prologue), Assyriological Studies of the Oriental Institute of the University of Chicago 10, Chicago: 1938.
  • Raphael Patai, Adam ve-Adama, tr. as Man and Earth; Jerusalem: The Hebrew Press Association, 1941–1942.
  • Patai, Raphael(1990) [1967]. “Lilith”. The Hebrew Goddess. Raphael Patai Series in Jewish Folklore and Anthropology (3rd Enlarged ed.). Detroit: Wayne State University Press. pp. 221–251. ISBN 9780814322710OCLC 20692501.
  • Archibald Sayce, Hibbert Lectures on Babylonian Religion
  • Schwartz, Howard, Lilith’s Cave: Jewish tales of the supernatural, San Francisco: Harper & Row, 1988.
  • Campbell Thompson, Semitic Magic, its Origin and Development, London: 1908.
  • Augustin Calmet, (1751) Treatise on the Apparitions of Spirits and on Vampires or Revenantsof Hungary, Moravia, et al. The Complete Volumes I & II. 2016. ISBN 978-1-5331-4568-0.

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/cabala/as-origens-de-lilith/

Breve Introdução aos Manuscritos do Mar Morto

Em 1947 na Palestina, nos arredores do vilarejo de Khirbet Qumran, perto do lado ocidental do Mar Morto, foram encontrados por acaso uns antigos manuscritos que revelaram-se uma extraordinária descoberta arqueológica, cujas consequências ainda não estão completamente esclarecidas.

Infelizmente, por mais de 30 anos, os encontrados desta descoberta foram estritamente monopolizados, através de um verdadeiro sequestro, a fim de impedir o acesso ao mundo acadêmico internacional.

Serão preciso muitos anos, apesar do elogiável trabalho de pesquisadores independentes, para limpar nossos conhecimentos do material qumraniano das parcialidades interpretativas que ainda inundam o assunto.

Em 1947 quando o Estado de Israel ainda não tinha nascido, o lado leste do Mar Morto ficava em território jordaniano, e o lado ocidental sob o protetorado inglês.

Naquela época as ruas que levavam à lagoa eram poucas e muito ruins, e a região ao redor a pátria dos Beduínos, os quais mudavam para cá e para lá seus acampamentos e seu gado. Naquela altura, um jovem pastor árabe, Mohammed adh-Dhib, que estava iscando sua cabra, descobriu por acaso uma série de ingressos de grutas no flanco de uma perigosa escarpa, próxima da aldeia de Khibet Qumran.

O beduíno entrou e encontrou no interno muitos jarros abandonados. Voltou novamente com um amigo para recuperar os jarros (podiam ser usados para a água) quando os dois descobriram que nos jarros encontravam-se alguns rolos de pele embrulhados em tecidos consumidos.

A história da descoberta é obscura, não bem esclarecida, até que nunca poderemos saber quantos manuscritos foram originariamente encontrados pelos beduínos, nem se alguém tem ainda alguns manuscritos escondidos.

Em 1954 alguns manuscritos acabaram no cofre do hotel Waldorf Astoria de New York, de onde saíram quando o governo israelita os comprou por 250.000 dólares (ajudado por um rico benfeitor).

Outros manuscritos chegaram no Museu Rockfeller, na parte leste de Jerusalém, na época em mão jordaniana. Nasceram assim duas diferentes comissões independentes: uma chefiada por Yigael Yadin, em Israel, a outra, controlada por Padre de Vaux, um sacerdote católico, na Jordânia. Hoje, os manuscritos são conservados no Museu de Israel, no assim chamado Shrine of the Book (Trono do Livro).

Por causa do péssimo relacionamento entre os dois países, as comissões trabalharam sobre os manuscritos de forma completamente independente, sem possibilidade nenhuma de comunicação, com todos as desvantagens da situação. É claro que o resultado de cada comissão precisava ser confrontado com o da outra, mas isso era impossível.

O problema foi resolvido em 1967 quando, seguida a guerra dos seis dias, a parte leste de Jerusalém passou para as mãos israelitas e tudo o que aí se encontrava se tornou de propriedade do governo de Israel como despojos de guerra, inclusive os rolos de Qumran conservados no Rockfeller Museum. É engraçada e significativa a reação a este acontecimento do Padre de Vaux.

Se conta que, até o material permaneceu em mão jordaniana e que havia sido impedido que os hebreus tivessem acesso aos manuscritos, e que, quando eles passaram sob a autoridade israelita, de Vaux ficou literalmente enfurecido e aterrorizado pela ideia de perder o controle do material qumraniano.

Algum motivo estava pressionado-o a manter o material sob seu controle. Baigent, Leigh e Lincoln narram que de Vaux era um dominicano que tinha sido enviado, em 1929, à École Biblique de Jerusalém onde primeiro foi professor e depois diretor. Era um homem carismático, enérgico, autoritário e carola.

O governo israelita, que em 1967 estava ocupado em assuntos muitos diferentes que os manuscritos do Mar Morto, deixou a de Vaux a responsabilidade de supervisionar o trabalho de análise e lhe deu o encargo de formar e dirigir uma equipe internacional, com o compromisso de publicar o mais rápido possível os resultados das pesquisas.

Claramente, a expressão “equipe internacional” faz pensar numa precisa intenção de criar um grupo amplo, caraterizado pela presença de diferentes componentes que pudessem dar garantia de uma gestão não parcial do trabalho. Mas as coisas não andaram assim.

Os israelitas não foram convidados a fazer parte do grupo, e todos os componentes selecionados eram todos católicos, não laicos, e com uma ideologia com uma forte conotação: Franck Cross, do McCormick Theological Seminary. Chicago; monsenhor Patrick Skehan, diretor do Albright Institute; Padre Jean Starcky, da École Biblique; Padre Maurice Baillet, francês; Padre Josef Milik, polonês; apenas um tal John Allegro não era um personagem tão claramente enquadrado com os outros.

Mas a sua presença não foi tolerada por muito tempo. Logo foi extraditado e substituído por John Strugnell, que oferecia maiores garantias de alinhamento. Em prática se pode dizer que Padre de Vaux, expoente da asa mais tradicionalista e conservadora da igreja romana, criou um restrito grupo de católicos.

Os manuscritos encontrados a Khirbet Qumran abriram a porta de uma longa série de incômodas perguntas sobre os primeiros cristãos.? De fato, nos rolos se encontram elementos que, além de mostrar evidentes ligações com o cristianismo das origens, põem em seria discussão alguns fundamentos da mesma doutrina e da interpretação histórica da figura de Jesus Cristo.

Em 1992, depois de 25 anos de monopólio absoluto da equipe, a situação começou a mudar. Sobretudo pela enorme quantidade de críticas internacionais contra o absurdo de um pequeno grupo de pesquisadores, tratar como propriedade privada materiais arqueológicos daquela extraordinária importância, e muitos daqueles rolos acabaram sendo publicados.

Mas ainda assim fica a suspeita que parte dos documentos continuem ficando desconhecidos à coletividade. Para não falar da profunda influência cultural, que continua a condicionar o endereço interpretativo, causado por esses 25 anos de monopólio.

Serão precisos muitos anos para a situação se ajeitar até o ponto de poder avaliar o material de maneira objetiva baseada sobre posições realmente desinteressadas.. . .

OS MANUSCRITOS DE QUMRAN:

Entre os primeiros documentos publicados dos manuscritos do mar morto, é preciso lembrar o Manual de Disciplina (ou Regra da Comunidade), a Regra da Assembleia, o Documento de Damasco, a Regra da Guerra dos Filhos da Luz contra os Filhos das Trevas, o Comentário de Habacuque.

Neles aprendemos que o ritual do batizado, o eucarístico e a confissão dos pecados, eram parte integrante e essencial das práticas religiosas, é possível reconhecer muitos elementos que, nos textos evangélicos, são próprios do pensamento cristão: a iminência do reino, a exortação a converter-se nesta mesma prospectiva, a proibição de jurar, os conceitos expressos por Jesus no sermão da montanha, a terminologia usada etc….

Confrontamos, por exemplo, as seguintes palavras dos manuscritos :

“…Pelo sábio para que ele ensine os Filhos da Luz… Numa fonte de Luz está a origem da verdade, e numa fonte de Escuridão a origem da injustiça…”

“…na hora que os Filhos da Luz atacarem o partido dos Filhos das Trevas…” (Regra da Guerra)

com as palavras do Quarto Evangelho:

“…Andai enquanto tendes a Luz, para as Trevas vos não apanhem; pois quem anda nas Trevas não sabe para onde vai. Enquanto tendes a Luz, credes na Luz, para que sejais Filhos da Luz…” (Jo 12, 35-36)

“…a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica o verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestadas, porque são feitas em Deus…” (Jo 3, 19-21)

“…Eu sou a luz que vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas…” (Jo 12, 46)

Observe-se este trecho, que pertence ao manuscrito qumraniano “Regra da Comunidade”: “Do Deus muito sábio vem tudo o que é e será… dispus para o homem dois espíritos para que caminhe com eles até o tempo estabelecido da sua visita… concedeu um tempo determinado à existência da injustiça: no tempo estabelecido pela visita, ele a exterminará para sempre…”

E vamos a confrontá-lo com estas palavras do Evangelho de Lucas: “…Bendito o Senhor Deus de Israel, porque visitou e remiu o seu povo…” (Lc 1, 68)

“…se tu [Jerusalém] conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos. Porque dias virão sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te estreitarão de todas as bandas; E te derribarão, a ti e aos teus filhos que dentro de ti estiverem; e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo da tua visitação…” (Lc 19, 41-44)

Os mesmos tons de ameaça apocalíptica se encontram no manuscrito qumraniano “Rolo da Guerra”:

“…Ouça, Israel! Hoje vós vos aprestais a combater contra vossos inimigos… não temeis e não vos alarmais na frente deles. Pois vosso Deus caminha convosco para combater vossos inimigos e para salvar-vos… Na hora que, no vosso país chegar uma guerra contra o opressor que vos oprime, tocareis as trombetas e vosso Deus lembrará de vós e estareis salvos dos vossos inimigos…”

Que podemos comparar a estas palavras do Evangelho de Lucas:

“…[o Senhor Deus de Israel] nos levantou uma salvação poderosa na casa de Davi seu servo. Como falou pela boca dos seus santos profetas, desde o princípio do mundo; para nos salvar dos nossos inimigos e da mão de todos os que nos aborrecem; para manifestar misericórdia a nossos pais, e lembrar-se do seu santo concerto, e do juramento que jurou a Abraão nosso pai, de conceder-nos que, libertados da mão dos nossos inimigos, o serviríamos sem temor, em santidade e justiça perante ele, todos os dias da nossa vida…” (Lc 1, 68-75)

E ainda, sempre no manuscrito qumraniano “Regra da Guerra”:

“…Alegra-te muito, Sião! [Jerusalém] Exultais vós todos, cidades de Judá! Abre para sempre tuas portas, para fazer entrar em ti a riqueza das nações… Filhas do meu povo, gritais de felicidade, enfeitai de glória… até quando resplandecerá o rei de Israel para reinar pela eternidade…”

Para se confrontar com o episódio evangélico do ingresso messiânico de Jesus a Jerusalém:

“…no dia seguinte, uma grande multidão que viera à festa, ouvindo que Jesus vinha a Jerusalém, tomaram ramos de palmeiras, e saíram-lhe ao encontro, e clamavam: Hosana! Bendito o rei de Israel que vem em nome do Senhor, e achou Jesus um jumentinho, e assentou-se sobre ele, como está escrito: não temas, ó filha de Sião [Jerusalém]; eis que o teu Rei vem assentado sobre o filho de uma jumenta…” (Jo 12, 12-15)

Uma importante consideração a fazer é relativa ao nome que a seita qumraniana dava a si mesma e ao lugar onde estava instalada. Logicamente a denominação de Khirbet Qumran é moderna e pertence à língua árabe. Para conhecer como os qumranianos indicavam seu próprio lugar de auto – exílio, podemos utilizar as palavras do Documento de Damasco [imagem a direita]:

“…o poço é a lei, e aqueles que o escavaram são os convertidos de Israel, aquele que saíram da terra de Judá e se exilaram na terra de Damasco…” (Documento de Damasco VI, 4-5)

“…segundo a disposição daqueles que entraram no novo pacto na terra de Damasco…” (Doc. Damasco VI, 19)

“…a estrela é a intérprete da lei que verá a Damasco, como está escrito: uma estrela tem feito muita estrada desde Giacobbe, e um cetro se levanta de Israel…” (Doc. Damasco VI, 18-20)

É importante observar, neste último versículo, a citação de uma profecia messiânica [Num. 24,17], que o Novo Testamento afirma estar referida a Cristo (Mt 2, 1-12 e Ap. 22, 16), também em relação a imagem da “estrela” como astro nascente que anuncia a chegada do Messias. Isso torna ainda maior a ligação do movimento cristão originário com o qumraniano. E ainda:

“…Todos os homens que entraram no novo pacto na terra de Damasco, mas depois se foram, traíram e se afastaram do poço da viva água…” (Doc. Damasco VIII, 21)

Neste versículo também encontra-se uma correspondência com o Novo Testamento. A imagem do poço da viva água corresponde perfeitamente às palavras usadas por Jesus no diálogo com a samaritana, no Evangelho de João. E ainda:

“…o pacto com o qual se comprometeram com o país de Damasco, ou seja, o novo pacto…” (Doc. Damasco XX, 12)

Tudo isso leva a acreditar que expressões como Damasco e a terra de Damasco, eram utilizadas pelos qumranianos para indicar ora a si mesmos e a sua comunidade, ora o lugar ou os lugares dos seus rituais. Muitos estudiosos concordam com esta opinião, inclusive o mesmo Padre de Vaux (L’archeologie et les manuscrits de la Mer Morte, London 1961), além de J. Barthelemy, A. Jaubert, G. Vermes, N. Wieder e outros. Qual o motivo de os qumranianos adotarem esta denominação? Eles trouxeram inspiração num texto bíblico, Amos 5, 26-27, que de fato vem citado no mesmo Documento de Damasco (VII, 14-15), onde se fala da teologia da deportação e do exílio (veja também Jeremias e Ezequiel).

Em prática, Damasco é visto como um lugar de exílio, um lugar onde os homens pio e puros encontram um abrigo em frente a cólera de Deus. Jeremias e Ezequiel falam dos exilados em Damasco como a parte melhor do povo de Israel.

Os qumranianos, que se separaram autoexilando-se no deserto do Mar Morto para protesto contra a corrupção da classe sacerdotal de Jerusalém, explorando a similitude com os versos bíblicos, comparam a si mesmos aos “deportados na terra de Damasco”, e nomearam Damasco o próprio ritual.

Tudo isso tem um papel fundamental na leitura e interpretação do Novo Testamento. O Professor R. Eisenman (California State University), que acredita na identidade, ou pelo menos numa estrita parentela, entre a comunidade de Qumran e o movimento judeu-cristão primitivo, afirma que o famoso trecho dos Atos dos Apóstolos no qual Paulo é enviado a Damasco pelo sumo sacerdote em busca de cristãos para prendê-los, tenha que ser completamente reinterpretada, entendendo com Damasco não a célebre cidade da Síria, mas este sitio de Qumran.

De fato, é importante observar que na Síria, nem Paulo nem o sumo sacerdote de Jerusalém tinham alguma autoridade. A cidade de Damasco pertencia a outra administração e as autoridades de Jerusalém não tinham nenhum direito de efetuar ações de polícia na Síria. Tudo isso mostra claramente a quantidade de questões que podem nascer de uma atenta análise da origem cristã. E de quanto tenha sido manipulada a memória histórica.

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Fonte: http://mucheroni.br.tripod.com/mar_morto

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Texto adaptado, revisado e enviado por Ícaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/jesus-freaks/breve-introducao-aos-manuscritos-do-mar-morto/

Apocalipse das Semanas de Enoque

do  Livro de Enoch 93:1-10 , 91:11-17

(4 Qumran Henoc g (4Q212) III-IV § versão espanhol português E C M – enochm@terra.com.br 14/04/2001)

Enoch relembrou seu discurso dizendo: “A propósito dos filhos da Justiça e acerca do Eleito do mundo, que havia crescido de uma planta de verdade e de justiça, eles falaram e deram a conhecer a mim, Enoch, filhos meus, segundo o que me foi revelado todo o entendimento por uma visão celestial e pela voz dos anjos guardiães e dos santos. Nas tábuas celestiais é tudo lido e entendido “.


Continuou falando Enoch e disse: “Eu, Enoch, nasci o sétimo, na primeira semana, na época em que a justiça ainda era firme. Depois de mim, virá a segunda semana na que crescerá a mentira e a violência e durante ela terá lugar o primeiro Final, então, um homem será salvo. E quando esta semana haver acabado, a injustiça crescerá e Deus fará uma lei para os pecadores.


“Depois, haverá o final da terceira semana, um homem será eleito como planta de juízo justo, através do qual crescerá como planta de justiça para a eternidade. Logo, ao terminar a quarta semana, as visões dos santos e dos justos aparecerão e será preparada uma lei para gerações de gerações e um cercado.


“Depois, no final da quinta semana, uma casa de gloria e poder será edificada para a eternidade. Logo, na sexta semana, os que viverem durante ela serão cegados em seu coração, infielmente, se afastarão da sabedoria. Então um homem subirá ao céu no final desta semana, a casa de dominação será consumida pelo fogo e será dispersado todo a linhagem da raiz escolhida.


“Logo, na sétima semana surgirá uma geração perversa; numerosas serão suas obras, mas todas estarão no erro. E no final desta semana serão escolhidos os eleitos como testemunhas da verdade e da planta de justiça eterna. Será-lhes dada sabedoria e conhecimento por setuplicado. Para eles executarem o juízo arrancarão da raiz as causas da violência e nela a obra da falsidade.


“Depois disso virá a oitava semana, a da justiça, na qual se entregará uma espada a todos os justos para que julguem justamente aos opressores, que serão entregues em suas mãos. E ao final desta semana os justos adquirirão honestamente riquezas e será construído o templo da realeza d’O Grande, em seu esplendor eterno, para todas as gerações.


“Após isto, na nona semana se revelarão a justiça e o juízo justo à totalidade dos filhos da terra inteira e todos os opressores desaparecerão totalmente da terra e serão lançados ao pouso eterno e todos os homens verão o caminho justo e eterno.


“Depois disso, na décima semana, em sua sétima parte, terá lugar o Juízo Eterno. Será o tempo do Grande Juízo e Ele executará a vingança no meio dos santos. Então o primeiro céu passará e aparecerá um novo céu e todos os poderes dos céus se levantarão brilhando eternamente sete vezes mais. E depois disso, haverá muitas semanas, cujo número nunca terá fim, nas quais se fará o bem e a justiça. O pecado já não será mencionado jamais.”


O livro de Enoch é um texto apócrifo que é mencionado por algumas cartas do Novo Testamento (Judas, Hebreus e 2ª de Pedro). Até a elaboração da Vulgata, por volta do ano 400, os primeiros seguidores de Cristo o mencionavam abertamente em seus textos e o aceitavam como real. Após a Vulgata ele caiu no esquecimento. Entretanto, o livro é muito interessante e parece real. O livro de Enoch foi preservado somente em uma cópia, na totalidade, em etíope e, por esta razão, também é chamado de Enoch etíope. Este documento foi encontrado, incompleto, entre os Manuscritos do Mar Morto.

 

 

CAPITULO I

 Profecias sobre o fim dos tempos


“1 – Eis as palavras de Enoch pelas quais abençoou os eleitos e os justos que viverão no tempo da aflição, quando serão reprovados todos os maus e ímpios. Enoch, homem justo que caminha diante do Senhor, quando seus olhos foram abertos, e quando contemplou uma santa visão nos céus, fala e pronuncia: Eis o que me mostram os anjos,


2 – Esses anjos me revelarão todas as coisas e me darão a inteligência do que jamais vi, que não deve ocorrer nesta geração, mas numa geração afastada, para o bem dos eleitos,


3 – Foi por eles que pude falar e conversar com aquele que deve deixar um dia sua celeste morada, o Santo e Todo-poderoso, o Senhor desse mundo,


4 – Que um dia deve pôr em convulsão o pico do monte Sinai, aparecer em seu tabernáculo e se manifestar com toda a força de sua celeste potência.


5 – Todos os vigilantes serão surpreendidos, todos ficarão consternados.


6 – Todos serão tomados pelo medo e pelo espanto, mesmo nas extremidades da terra. As altas montanhas serão sacudidas, as colinas elevadas serão diminuídas, escoar-se-ão diante de sua face como o círio diante da drama. A terra será submersa e tudo aquilo que a habitar, perecerá, ora, todos os seres serão julgados, mesmo os justos.


7 – Mas os justos obterão a paz, Ele conservará os eleitos e sobre eles exercerá sua clemência.


8 – Então tornar-se-ão a propriedade do Senhor Deus, e serão por Ele cumulados de felicidade e bênçãos; e o esplendor da Divindade os iluminará.”

 

 

CAPITULO XLIV

 Profecias sobre Jesus, os tempos atuais e a perseguição aos cristãos


1 – Lá, vi então o Ancião dos dias cuja cabeça estava como que coberta de lã branca e com ele, um outro, que tinha a figura de um homem. Esta figura era plena de graça, como a de um dos santos anjos. Então interroguei a um dos anjos que estava comigo e que me explicou todos os mistérios relativos ao Filho do homem. Perguntei-lhe quem era ele, de onde vinha e porque acompanhava o Ancião dos Dias.


2 – Respondeu-me nessas palavras: “Este é o Filho do homem a quem toda justiça se refere, com quem ela habita, e que tem a chave de todos os tesouros ocultos; pois o Senhor dos espíritos o escolheu preferencialmente e deu-lhe glória acima de todas as criaturas.


3 – Esse Filho do homem que viste, arrancará reis e poderosos de seu sono voluptuoso, fá-los-á sair de suas terras inamovíveis, colocará freio nos poderosos, quebrará os dentes dos pecadores.


4 – Expulsará os reis de seus tronos e de seus reinos, porque recusam honrá-lo, de tornarem públicos seus louvores e de se humilharem diante daquele a quem todo reino foi dado. Colocará tormentos na raça dos poderosos; forçá-los-á a se deitarem diante dele. As trevas tornar-se-ão sua morada e os vermes serão os companheiros de sua cama; nenhuma esperança para eles de sair desse leito imundo, pois não consultaram o nome do Senhor dos espíritos.


5 – Desprezarão os astros do céu e elevarão as mãos contra o Todo-Poderoso; seus pensamentos serão voltados apenas para a terra na qual desejarão estabelecer sua morada eterna; e suas obras serão apenas obras de iniquidade. Colocarão suas alegrias em suas riquezas e sua confiança nos deuses fabricados por suas próprias mãos. Recusar-se-ão a invocar o Senhor dos espíritos, expulsá-lo-ão de seus templos.


6 – E os fiéis serão perseguidos pelo nome do Senhor dos espíritos.

 


CAPITULO XLV

 Profecias sobre o julgamento


1 – Nesse dia, as preces dos santos subirão da terra até ao pé do trono do Senhor dos espíritos.


2 – Nesse dia, os santos que habitam nos céus se reunirão e com voz unânime, rezarão, suplicarão, celebrarão, louvarão, exaltarão o nome do Senhor dos espíritos, pelo sangue dos justos, espalhado por ele; e essas preces dos justos elevar-se-ão incessantemente ao trono do Senhor dos espíritos, a fim de que lhes faça justiça, e que sua paciência pelos maus não seja eterna.


3 – Nesse tempo, vi o Ancião dos dias, sentado no trono de sua glória. O livro da vida estava aberto diante dele e todas as potências do céu se mantinham curvadas diante dele e ao seu redor.


4 – Então os corações dos santos estavam inundados de alegria, porque o tempo da justiça era chegado, a prece dos santos havia sido ouvida e o sangue dos justos havia sido apreciado pelo Senhor dos espíritos.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/jesus-freaks/apocalipse-das-semanas-de-enoque/

A Queda dos Anjos

Embora no Gênesis não esteja claro que os nefilins fossem maus, assim eles foram considerados nos livros apócrifos da época do Segundo Templo. Entre os achados arqueológicos mais importantes nesta área, encontra-se um texto em aramaico, descoberto no inverno de 1896-97 numa genizah de uma comunidade hebraica do Cairo e publicada, pela primeira vez, sob o título de Documento de Damasco, em 1910. Diz o seguinte:

«III – E, agora, ouvi-me, meus filhos, que eu descerrarei os vossos olhos para que possais escolher aquilo que Ele ama e desprezar tudo aquilo que odeia, para poderdes caminhar perfeitamente em todos os Seus caminhos e não errardes seguindo impulsos culposos ou deitando olhares de fornicação. Porque muitos foram os que se desviaram e homens fortes e valorosos aí escorregaram, tanto outrora como hoje. Caminhando com a rebelião nos corações, caíram os próprios guardas dos céus, a tal chegados porque não observavam os mandamentos de Deus, tendo caído também os seus filhos, cuja estatura atingia também a altura dos cedros e cujos corpos se assemelhavam a montanhas. Todo o ser vivo que se encontrava em terra firme, caiu, sim, e morreu, e foram como se não tivessem sido, porque procediam conforme a sua vontade e não observavam os mandamentos do seu Criador, de maneira que a cólera de Deus se inflamou contra eles.»

Vários fragmentos do Livro de Enoch, escritos em aramaico, foram descobertos nas célebres grutas de Qumran, no Mar Morto. Contudo, mesmo depois dos textos terem sido comparados e executado um árduo trabalho de reconstituição, ainda faltaram diversas lacunas. Tentei amenizar este problema tapando os buracos com passagens de uma tradução livre para o etíope quase idêntica ao original aramaico, encontrada na Abissínia (conhecida como Enoch Etíope ou I Enoch):

VI – 1 «Sucedeu que quando se multiplicaram naqueles dias os filhos dos homens, nasceram-lhe filhas formosas e belas. Os Vigilantes, filhos do céu, viram-nas, desejaram-nas e disseram uns aos outros: Vamos e escolhamos mulheres dentre as filhas dos homens e engendremos filhos. Porém Semihaza, que era o seu chefe, lhes disse: Temo que não queiras realizar esta obra, e seja eu sozinho culpável de um grande pecado. Responderam e lhe disseram todos:» «Juremo-nos todos e comprometamo-nos todos sob anátema. Uns com os outros, a não voltarmos atrás neste projeto até que tenhamos realizado esta obra. Então se juramentaram todos em uníssono e se comprometeram uns com os outros. Eram duzentos todos os que desceram no tempo de Jared sobre o cimo do monte Hermon. Chamaram o monte “Hermon”, porque juram e se comprometeram sob anátema uns com os outros nele. Estes são os nomes de seus chefes: Semihazah, que era seu chefe; ‘Ar’teqof, o segundo com relação a ele; Ramt’el, o terceiro com relação a ele; Kokab’el, o quarto com relação a ele; ???’el, o quinto com relação a ele; Ra’ma’el, sexto com relação a ele; Dani’el, sétimo com relação a ele; Zeq’el, oitavo com relação a ele; Baraq’el, nono com relação a ele; ‘Asa’el, décimo com relação a ele; Hermoni, undécimo com relação a ele; Matar’el, duodécimo com relação a ele; ‘Anan’el, décimo terceiro com relação a ele; Sato’el, décimo quarto com relação a ele; Shamsi’el, décimo quinto com relação a ele; Sahari’el, décimo sexto com relação a ele; Tumi’el, décimo sétimo com relação a ele; Turi’el, décimo oitavo com relação a ele; Yomi’el décimo nono com relação a ele; Yehadi’el, vigésimo com relação a ele. Estes são os chefes dos chefes de dezena.»

VI – 1 «Eles e seus chefes, todos tomaram para si mulheres, escolhendo entre todas, e começaram a ir a elas e a contaminar-se com elas, a ensinar-lhes bruxarias, encantos e o corte de raízes, e a revelar-lhes as plantas. Elas ficaram grávidas deles e pariram gigantes, altos uns três mil côvados, que nasceram sobre a terra conforme a sua infância, e cresceram de acordo com seu crescimento, e que devoravam o trabalho de todos os filhos dos homens, sem que os homens pudessem abastecê-los. Os gigantes conspiravam para matar os homens e para devora-los. Começaram a pecar […] contra todos os pássaros e animais da terra e contra os répteis que se movem sobre a terra e nas águas e no céu, e os peixes do mar, e a devorar uns a carne dos outros, e bebiam o sangue. Então a terra acusou os ímpios por tudo o que se havia feito nela.»

VIII – 1. «’Asa’el ensinou os homens a fabricar espadas de ferro e couraças de cobre e lhes mostrou o que se escava e como poderiam trabalhar o ouro para deixa-lo preparado; e quanto à prata, a lavrá-la para braceletes e outros adornos para as mulheres. Às mulheres revelou acerca do antimônio e acerca do sombreado dos olhos e de todas as pedras preciosas e sobre as tinturas [E assim grassava uma grande impiedade; eles promoviam a prostituição, conduziam aos excessos e eram corruptos em todos os sentidos.]» «Semihazah ensinou encantamentos e a cortar raízes; Hermoni ensinou a desencantar, a bruxaria, a magia e habilidades; Baraq’el ensinou os sinais dos raios; Kokab’el ensinou os sinais das estrelas; Zeq’el ensinou os sinais dos relâmpagos; ???’el ensinou os sinais de […]; ‘Ar’teqof ensinou os sinais da terra; Shamsi’el ensinou os sinais do sol; Sahari’el ensinou os sinais da lua. E todos começaram a descobrir segredos à suas mulheres.» «Como estava perecendo uma parte dos homens da terra, seu grito subia até o céu.»

IX -1 «Então Miguel, Sariel, Rafael, e Gabriel olharam para a terra do santuário dos céus e viram muito sangue derramado sobre a terra; e toda a terra estava cheia da maldade e da violência que se pecava sobre ela. Ouvindo isto, os quatro foram e disseram que o grito e o lamento pela destruição dos filhos da terra subia até as portas do céu. E disseram aos santos do céu: É agora a vós, santos do céu, a quem suplicam as almas dos filhos dos homens dizendo: “Levai nosso caso diante do Altíssimo e nossa destruição diante da majestade!” Foram Rafael, Miguel, Sariel e Gabriel, e disseram diante do Senhor do mundo: “Tu és nosso grande Senhor, tu és o Senhor do mundo; Tu és o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores e o Rei dos reis. Os céus são o trono de tua glória por todas as gerações que existem desde sempre, e toda a terra é o escabelo ante ti por toda a eternidade, e teu nome é grande e santo e bendito para sempre. [Tudo foi por Ti criado e conservas o domínio sobre todas as coisas. Tudo é claro e manifestado diante dos teus olhos. Tu vês tudo e nada pode ocultar-se na tua presença. Tu vês o que foi perpetrado por Azazel, como ele ensinou sobre a terra toda espécie de trangreções.]» «pois (eles) ensinaram os mistérios eternos que há no céu para que os praticassem os conhecedores dentre os homens. E (olha) Shemihaza, a quem deste autoridade para reinar sobre todos os seus companheiros. Foram às filhas dos homens da terra e dormiram com aquelas mulheres, contaminando-se com elas [e familiarizaram-nas com toda sorte de pecados. As mulheres pariram gigantes e, em conseqüência, toda a terra encheu-se de sangue e de calamidades. 6. Agora clamam as almas dos que morreram, e o seu lamento chega às portas do céu. Os seus clamores se levantam ao alto, e em face de toda a impiedade que se espalhou sobre a terra não podem cessar os seus queixumes. 7. E Tu sabes de tudo, antes mesmo que aconteça. Tu vês tudo isso e consentes. Não nos dizes o que devemos fazer.]”»

X – 1 «[Então o Altíssimo, o Santo, o Grande, tomou a palavra e enviou Uriel (= Sariel) ao filho de Lamech (Noé), com a ordem seguinte: “Diz-lhe, em meu nome: ‘Esconde-te’, e anuncia-lhe o fim próximo! Pois o mundo inteiro será destruído; um dilúvio cobrirá toda a terra e aniquilará tudo o que sobre ela existe.] Ensina ao justo o que deve fazer, e ao filho de Lamec a preservar sua alma para a vida e a escapar para sempre. E por ele será plantada uma planta e serão estabelecidas todas as gerações do mundo.» «[O Senhor] disse a Rafael: “Vai, pois, Rafael, e ata Azael de pés e mãos e arremessa-o nas trevas! [Cava um buraco no deserto de Dudael e atira-o ao fundo! Deposita pedras ásperas e pontiagudas por baixo dele e cobre-o de escuridão! Deixa-o permanecer lá para sempre e veda-lhe o rosto, para que não veja a luz! 4. No dia do grande Juízo ele deverá ser arremessado ao tremendal de fogo! Purifica a terra, corrompida pelos Anjos, e anuncia-lhe a Salvação, para que terminem seus sofrimentos e não se percam todos os filhos dos homens, em virtude das coisas secretas que os Guardiões revelaram e ensinaram aos seus filhos! Toda a terra está corrompida por causa das obras transmitidas por Azazel. A ele atribui todos os pecados!”]»; «E a Gabriel disse o Senhor: “Vai aos bastardos e aos filhos da fornicação e destrói os filhos dos Vigilantes dentre os filhos dos homens; mete-os em uma guerra de destruição, pois não haverá para eles longos dias. Nenhuma petição a seu favor será concedida a seus pais; pois esperam viver uma vida eterna, ou que cada um deles viverá quinhentos anos”. E a Miguel disse o Senhor: “Vai, Miguel, e anuncia a Shemihaza e a todos os seus amigos que se uniram com mulheres para contaminar-se com elas em sua impureza, que seus filhos perecerão e eles verão a destruição de seus queridos; acorrenta-os durante setenta gerações nos vales da terra até o dia grande de seu juízo. [Nesse dia, eles serão]» (condenados a) «tortura e ao fechamento na prisão eterna. Tudo o que seja condenado estará perdido desde agora; será acorrentado com eles até a destruição de sua geração. E no tempo do juízo com que eu julgarei, perecerão por todas as gerações. Destrói todos os espíritos dos bastardos e dos filhos dos Vigilantes, porque fizeram operar o mal aos homens. Destrói a iniqüidade da face da terra, faz perecer toda obra de impiedade e faz que apareça a planta da justiça; ela será uma bênção e as obras dos justos serão plantadas no gozo para sempre. Naquele tempo todos os justos escaparão e viverão até que engendrem milhares. Todos os dias de vossa juventude e de vossa velhice se completarão em paz.”»

VII – 1. [Enoch havia desaparecido, e nenhum dos filhos dos homens sabia onde ele se encontrava, onde se ocultava e o que era feito dele. O que ocorrera é que ele havia estado junto dos Guardiões e transcorreu os seus dias na companhia dos Santos. 2. Eu, Enoch, ergui-me e louvei o Senhor da Majestade e Rei do mundo. Então os Guardiões (santos) me chamaram, a mim Enoch, o Escriba, e disseram-me: “Enoch, tu, o Escriba da Justiça, vai e anuncia aos Guardiões do céu que perderam as alturas do paraíso e os lugares santos e eternos, que se corromperam com mulheres à moda dos homens, que se casaram com elas, produzindo assim grande desgraça sobre a terra; anuncia-lhes: ‘Não encontrareis nem paz nem perdão’. Da mesma forma como se alegram com seus filhos, presenciarão também o massacre dos seus queridos, e suspirarão com a desgraça. Eles suplicarão sem cessar, mas não obterão nem clemência nem paz!”]

XIII – 1. [Então Enoch encaminhou-se até eles e assim falou a Azazel: “Tu não terás a paz. Uma sentença severa recaiu sobre ti: deverás ser acorrentado. Não alcançarás indulgência nem será aceita a intercessão, por causa dos atos violadores que ensinaste a praticar, e por causa de todas as obras blasfemas, da violência e dos pecados que mostraste aos homens.” Então eu redigi a palavra a todos eles. Todos encheram-se de grande medo e foram tomados de pavor e tremor. Suplicaram-me que lhes escrevesse um rogo intercessório, para que pudessem obter o perdão, e que eu lesse o seu pedido na presença do Senhor dos céus. Pois a partir de então não lhes era mais permitido falar com ele nem levantar seus olhos para o céu, de vergonha pelos seus delitos, pelos quais foram castigados. Assim eu redigi o seu rogo] «com todas as suas petições, por suas almas, por todas e cada uma de suas obras e por todos o que pediam: que houvesse para eles perdão e longevidade. Fui e me sentei junto às águas de Dã, na terra de Dã, que está ao sul do Hermonim, ao seu lado oeste, e estive lendo o livro de anotações de suas petições até que dormi. Eis que me vieram sonhos e caíram sobre mim visões até que levantei minhas pálpebras às portas do palácio do céu […] E vi uma visão do rigor do castigo. E uma voz veio e me disse: Fala aos filhos do céu para repreendê-los. Quando despertei, fui a eles. Todos eles estavam reunidos juntos e sentados e chorando em Abel-Maya (a Fonte do Pranto) que está entre o Líbano e Senir, com os rostos cobertos.»; «Eu contei diante deles todas as visões que havia visto em sonhos e comecei a falar com palavras de justiça e de visão e a repreender os Vigilantes celestes.»

XIV 1. [Este é o] «livro das palavras da verdade e da repreensão dos Vigilantes que eram desde sempre, segundo o que ordenou o Grande Santo no sono que sonhei. Nesta visão eu vi em meu sonho o que agora digo com a língua carnal, com o alento de minha boca, que o Grande deu aos filhos dos homens para que falem com ela e para que compreendam no coração. Assim como Deus destinou e criou os filhos dos homens para que compreendam as palavras do conhecimento, assim me destinou e fez e criou a mim para que repreenda os Vigilantes, os filhos do céu. Eu escrevi vossa petição, Vigilantes, e numa visão me foi revelado que vossa petição não vos será concedida por todos os dias da eternidade, e que haverá juízo por decisão e por decreto contra vós; que a partir de agora não voltareis ao céu e não subireis por todas as idades; e que foi decretada a sentença para acorrentar-vos nas prisões da terra por todos os dias da eternidade; porém que antes vereis que todos os vossos queridos irão à destruição com todos os seus filhos; e as propriedades de vossos queridos e de seus filhos não as desfrutareis; cairão ante vós pela espada de destruição, pois vossa petição por eles não vos será concedida, como não vos é concedida por vós mesmos. Vós continuareis pedindo e suplicando. […] Não pronunciareis nem uma palavra do escrito que eu escrevi.»

Esses Vigilantes que “mudaram suas obras” e resolveram ensinar aos humanos ciências divinas foram responsabilizados não só pelas guerras (que naquele tempo nem sempre eram vistas como algo ruim) mas também por terem iniciado ou aperfeiçoado a própria civilização: Semihazah ensinou “bruxarias, encantos e o corte de raízes, e a revelar-lhes as plantas”. Nisso se incluía a antiga homeopatia (fabricação de remédios naturais), já conhecida e rigorosamente aperfeiçoada pelos egípcios desde tempos remotos; E também a fabricação de venenos – retirados das plantas – que era uma especialidade daquele período, herdada da dominação romana.

Menos eficazes, mas nem por isso menos populares, deveriam ser as “bruxarias” e “encantos”, aos quais alegava-se que serviam para praticamente tudo que se pudesse desejar, principalmente ganhar fama, fortuna e atrair o sexo oposto. Geralmente nessas práticas se ensina que quando o feitiço da errado é 1) porque o praticante não executou como devia ou 2) porque seu inimigo fez um contra feitiço anulando o primeiro. Assim Hermoni (et. Armaros) “ensinou a desencantar, a bruxaria, a magia e habilidades”… Uma segunda versão em etíope fala sobre outros Vigilantes que, juntamente com Semihazah, teriam ensinado magia: Kasdeja “ensinou aos filhos dos homens toda espécie de sortilégios dos espíritos e dos demônios, bem como os malefícios contra o fruto do ventre materno, para sua expulsão, e os contra a alma, feitiços contra a picada de cobra, contra a insolação e contra o filho da serpente, chamado Tabaet. – E esta foi a tarefa de Kasbeel, que desvelara aos Santos o Juramento supremo, quando habitava no alto da Glória e se chamava Bika. Este pedira a Michael para transmitir-lhe o Nome secreto, a fim de que pudesse ser conhecido e empregado nos juramentos, conquanto aqueles que ensinaram as coisas ocultas aos filhos dos homens tremessem em face desse Nome e desse Juramento.” (I Enoch LXIX)

Sobre culinária, alfabetização e leis, é dito que Penemue “ensinou aos filhos dos homens o doce e o amargo, bem como todos os segredos da sua sabedoria. Ele também instruiu os homens na escrita com tinta e sobre papel, e com isso muitos se corromperam, desde os tempos antigos por todas as épocas, até os dias de hoje. Pois os homens não foram criados para fortalecer sua honestidade dessa maneira, por meio de pena e tinta”. (I Enoxh LXIX)

Kokab’el “ensinou os sinais das estrelas. (et. Ciência das constelações)”. Isso sem dúvida é antiga Astrologia, que incorporava elementos da astronomia. Esta “ciência” era muito valorizada pois, na antigüidade, eram os astrólogos que ficavam encarregados de informar sobre a mudança das estações, da configuração de calendários e outras coisas de grande utilidade para a vida rural e economia dos reinos. Ainda no campo da astrologia, parece que Zeq’el, que “ensinou os sinais dos relâmpagos (Et. Observação das nuvens)” e Baraq’el que “ensinou os sinais dos raios” ficaram responsáveis pala previsão do tempo… Para completar o quadro astronômico/astrológico, Shamsi’el “ensinou os sinais do sol” e Sahari’el “ensinou os sinais da lua. (et. Fazes da lua)”.

Em auxílio da agricultura, ‘Ar’teqof “ensinou os sinais da terra”, se era boa ou ruim para o plantio, etc. Tudo isso gerava grandes facilidades na vida humana que, tendo menos trabalho e mais tempo livre podia se dedicar a cuidados pessoais, iniciar uma vida urbana e até mesmo pensar numa expansão através da guerra. É aqui que entra aquele que apesar de não ser o líder parece ter provocado o maior dano de todos: ‘Asa’el (hebr. et. e árabe Azazel) “Ensinou os homens a fabricar espadas de ferro e couraças de cobre e lhes mostrou o que se escava e como poderiam trabalhar o ouro para deixa-lo preparado; e quanto à prata, a lavrá-la para braceletes e outros adornos para as mulheres. Às mulheres revelou acerca do antimônio e acerca do sombreado dos olhos (Kohol) e de todas as pedras preciosas e sobre as tinturas”.

Aparentemente, se não fosse pelos insaciáveis filhos vampiros, parece que os ensinamentos dos Vigilantes não seriam tão condenáveis assim, já que trouxeram para a humanidade mais bem do que mal… Tanto que um dos chefes de dezena, Dani’el (et. Danjal) foi adotado posteriormente como anjo da misericórdia pela tradição cristã, ficando mundialmente conhecido. Outro mencionado em versões posteriores, Uzza, tornou-se anjo benéfico para os árabes. De fato, o livro apocalíptico dos Jubileus conta que os Sentinelas (= Vigilantes) vieram para a Terra e depois pecaram, mas que seu príncipe, Samael, teria tido a permissão de Iahweh para atormentar a humanidade. Entretanto, o judaísmo posterior e quase todos os primeiros escritores eclesiásticos viram nesses “filhos de Deus” anjos culpados.

Sobre a posterior condenação, a Segunda versão de I Enoch limita-se a dizer que «em conseqüência desse Julgamento, eles serão submetidos à angústia e ao estremecimento por terem desvelado aquelas coisas aos habitantes da terra.» (I Enoch LXIX).

Na verdade nenhuma das sete cópias fragmentadas do Livro de Enoch (nem das cinco do Livro dos Gigantes) encontrados nas cavernas de Qumran continha menção ao “abismo de fogo” descrito no Enoch Etíope, o que é significativo pois se trata de textos particularmente grandes. É possível que estes textos sejam acréscimos posteriores de escribas ou tradutores Coptas – mesmo porque eles se assemelham mais à doutrina cristã dos primeiros séculos d.C. do que à mitologia judaica/essênia da época em que foram escritos os Manuscritos do Mar Morto. Uma descrição mais detalhada deste local de condenação aparece no Livro das “Similitudes de Enoch” (II Enoch); Esta versão, descoberta na Rússia em um texto eslavo, foi provavelmente escrita no Egito no princípio da era cristã e fala da viagem de Enoch através das diferentes coortes do Paraíso.

Por Shirley Massapust

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/demonologia/a-queda-dos-anjos/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/demonologia/a-queda-dos-anjos/

Textos de Qumran: Os Manuscritos do Mar Morto – Rafael Daher

Bate-Papo Mayhem #105 – gravado dia 19/11/2020 (Quinta) Marcelo Del Debbio bate papo com Rafael Daher – Textos de Qumran: Os Manuscritos do Mar Morto

Os bate-Papos são gravados ao vivo todas as 3as, 5as e sábados com a participação dos membros do Projeto Mayhem, que assistem ao vivo e fazem perguntas aos entrevistados. Além disto, temos grupos fechados no Facebook e Telegram para debater os assuntos tratados aqui.

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