Principais Tradições Taoistas

Gilberto Antônio Silva

O conhecimento de algumas das principais tradições taoistas é muito importante, pois cada uma delas possui características particulares. Saber alguma coisa sobre essas características nos auxilia a seguir o fio condutor das práticas taoistas e a compreender melhor seus conceitos e costumes.

Taoismo Huang-Lao: é uma escola de pensamento formada entre os séculos IV e II a.C. que traria principalmente a filosofia de Huangdi, o Imperador Amarelo, e de Laozi, autor do Tao Te Ching. Incorporou também elementos da alquimia e da religião tradicional chinesa (Shendao) e outras escolas como a Naturalista e a de Zhuangzi. Embora a Tradição Huang-Lao em si não possua doutrinas religiosas nem ensinamentos sistemáticos, foi nesse caldeirão que se moldou o Taoismo que viria a se difundir na Dinastia Han do Leste (25-220) e dar início às correntes religiosas taoistas. Era eminentemente filosófico e tinha a alquimia e a busca da imortalidade como de grande importância. Dentro dessa tradição a Medicina Chinesa teve um grande desenvolvimento, reunindo conceitos e fórmulas e sistematizando-as.

Taoismo Zhengyi (Unidade Ortodoxa): também conhecida como “Taoismo dos Mestres Celestiais” (Tianshi Dao). Fundada por Zhang Daoling em 142, foi a primeira organização taoísta e é ainda hoje uma das maiores e mais importantes. Seu fundador dizia ter recebido por transmissão divina do próprio Laozi a “Poderosa Comunidade da Unidade Ortodoxa” (Zhengyi Meng Wei). Teve seu quartel-general no Monte Longhu (Montanha do Dragão e do Tigre).

Eles crêem no Tao como centro de criação e seu representante, Lord Lao. Tem o Rei de Jade como representação da Consciência Universal que rege o cosmos. Possui diversos preceitos a serem seguidos como não praticar o mal, não se considerar sempre certo, não reverenciar a fama, ser sempre modesto e humilde, não desperdiçar sua essência e Qi, não matar ou falar sobre matar. Seus sacerdotes podem se casar e viver em casa com sua família, além de poder comer carne e beber vinho.

Existem duas ramificações principais: Hongtou (“Cabeça Vermelha”) e Wutou (“Cabeça Preta”). Essa diferença inicialmente se deve a ornamentos usados na cabeça durante as cerimônias. O termo “preto” significa que o sacerdote cuida dos mortos, faz cerimônias fúnebres. Já o “vermelho”, cor especial para os chineses, indica que ele lida com o sobrenatural mas também faz cerimônias de cura para os vivos..

Taoismo Shangqing (Suprema Pureza): segue principalmente a escritura “Livro Perfeito da Grande Caverna da Suprema Pureza” (Shangqing Dadong Zhenjing). Foi iniciada por uma mulher, Wei Huacun, filha de um alto oficial da corte Jin e assistente da Escola dos Mestres Celestiais. Mas o patriarca que organizou a tradição foi Tao Hongjing (456-536). Esta é uma importante linhagem que tomou parte na maturação do Taoismo que ocorreu na Dinastia Tang. Seu quartel-general era em Maoshan

Sua criação atraiu grande número de aristocratas e pessoas de grande educação. A ênfase se deu no desenvolvimento individual através da leitura e recitação de textos e na meditação e visualização, afastando-se de práticas místicas como talismãs e alquimia. Ele inova no sentido de aproximar o divino e sagrado do praticante de modo direto, sem intermediários como sacerdotes, por meio principalmente da compreensão e recitação dos textos da linhagem. A comunhão com o Tao torna-se um processo interno conduzido pela quietude.

Taoismo Lingbao (Tesouro Luminoso): tinha como escritura principal o “Livro dos Cinco Talismãs do Tesouro Luminoso” (Lingbao Wufu Jing) e a “Escritura da Salvação do Tesouro Luminoso” (Lingbao Duren Jing). Essa tradição pregava que o adepto não tinha apenas que cultivar a si mesmo de modo a alcançar a imortalidade (o Tao), mas que tinha que ajudar as outras pessoas a obtê-lo também. Seu quartel-general era no Monte Gezao.

Causou grande impacto na formalização dos rituais taoistas, enfatizando a prática litúrgica especialmente nos Ritos de Purificação (zhai) e nos Ritos de Oferenda (jiao), também conhecidos como Rituais de Renovação Cósmica. Os rituais taoistas seriam formas de se harmonizar o mundo humano com o invisível.

O Taoismo Lingbao acabou por ser totalmente absorvido pelas tradições Zhengyi e Quanzhen, desaparecendo como linhagem autônoma mas deixando uma forte influência nestas escolas.

Taoismo Lou Guan (Torre de Observação): floresceu durante a Dinastia Sui e na Dinastia Tang. Sua origem remontava a Yin Xi, guarda de fronteira que recebeu o Tao Te Ching de Laozi. A escola enfatizava especialmente os ensinamentos de Laozi e foi responsável pela criação do primeiro mosteiro taoista. Dentre suas regras administrativas e normas de conduta figuravam cinco principais, fruto da influência budista sobre a estrutura monástica taoista: proibição de matar, roubar, mentir, praticar sexo desregrado e se intoxicar por bebida ou outro produto. Posteriormente essa escola declinou e foi absorvida pela Tradição Quanzhen.

Taoismo Quanzhen (Realização Completa): fundada por Wang Zhe, depois chamado de Mestre Chongyang, em 1170 na província de Shandong. Seu objetivo era conseguir unir o melhor das três tradições chinesas em voga – Taoismo, Budismo e Confucionismo – e incorporá-las em uma versão taoista. Para isso se afastou da confecção de talismãs, das cerimônias elaboradas e dos exercícios intrincados e colocou ênfase no autocultivo principalmente através da meditação sentada e da alquimia interna.

Ele enfatizou especialmente a simplicidade e a naturalidade encontrada em textos de Laozi e de Zhuangzi, incluindo o conceito de wuwei. Do Budismo aproveitou os conceitos de Karma e reencarnação (chamado pelos taoistas de “transmigração”). Estes acabaram influenciando outras linhagens. Também incentivava a leitura do “Clássico da Piedade Filial”, de Confúcio, que encoraja ajudar os outros e promover boas ações sempre que possível.

Valorizando a alquimia interna, Mestre Chongyang considerava que o “elixir dourado” era nossa verdadeira natureza e ajudar os outros e permanecer com o espírito tranqüilo e transparente era muito importante para isso. As pessoas que desejavam cultivar sua verdadeira natureza não deveriam buscar fama, riqueza e lucros, mas eliminar raiva e preocupação, além de se abster de sexo e álcool.

A atual sede da Tradição Quanzhen é no Templo da Nuvem Branca, em Beijing.

Taoismo Longmen (Porta do Dragão): a mais importante das ramificações criadas pelos discípulos de Mestre Chongyang. Fundada por Qiu Chuji, o 5º líder da Tradição Quanzhen, que passou anos meditando na Caverna da Porta do Dragão, daí o nome da linhagem. Durante o início da Dinastia Qing, o 7º patriarca da Tradição Longmen introduziu o sistema de iniciações abertas, uma novidade no Taoismo. Caracteriza-se pela importância no cultivo do Tao, principalmente através da alquimia, e sua popularidade ainda é muito grande.

Taoismo de Wudang: o Monte Wudang sempre foi lugar de eremitas e reclusos que formaram pequenas comunidades para cultivar o Tao. Durante a Dinastia Ming foram, construídos dez grande mosteiros e pavilhões para cultivo do Tao e da alquimia interna. Foi lá que Zhang Sanfeng, o lendário criador do Tai Chi Chuan, viveu como eremita. Ainda hoje os templos de Wudang são morada de uma tradição taoista vigorosa e muito importante, bem como lar das artes marciais internas. O Taoismo de Wudang cresce a cada dia, com pessoas de todo o mundo se dirigindo à montanha para estudar as artes e práticas milenares taoistas, em especial as artes marciais e o Qigong.

* Este artigo é o resumo de um dos capítulos do livro “Os Caminhos do Taoísmo”, disponível para download gratuito em www.taoismo.org

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Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo e Jornalista. Como Taoista, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica cultura chinesa. Site: www.taoismo.org

#Tao

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/principais-tradi%C3%A7%C3%B5es-taoistas

Antonin Artaud

1896 -1948

Rodrigo Emanoel Fernandes com Liege Seraphin e Maíra Silvestre

Artigo originalmente escrito para a disciplina “Interpretação II” do curso de Graduação em Artes Cênicas da Universidade Estadual de Londrina – UEL, sob orientação da Prof. Thaís D’Abronzo.

Onde outros propõem obras eu não pretendo senão mostrar o meu espírito.

A vida é queimar perguntas.

Não concebo uma obra isolada da vida. Não amo a criação isolada. Também não concebo o espírito isolado de si mesmo. Cada uma de minhas obras, cada um dos planos de mim próprio, cada uma das florações glaciares da minha alma interior goteja sobre mim.

Reconheço-me tanto numa carta escrita para explicar o estreitamento íntimo do meu ser e a castração insensata da minha vida, como num ensaio exterior a mim próprio, que me surja como uma gestação indiferente do meu espírito.

Sofro por o espírito não estar na vida e por a vida não ser o espírito, sofro por causa do espírito-órgão, do espírito-tradução ou do espírito-intimidação das coisas para as fazer entrar no espírito.

Este livro, suspendo-o na vida, quero que seja mordido pelas coisas exteriores, e em primeiro lugar por todos os sobressaltos cortantes, todas as cintilações do meu eu por vir.

Todas estas páginas se arrastam como pedaços de gelo no espírito. Perdoe-se-me a minha liberdade absoluta. Recuso-me a estabelecer diferenças entre qualquer um dos momentos de mim mesmo. Não reconheço no espírito nenhum plano.

É preciso acabar com o espírito, tal como com a literatura. Afirmo que o espírito e a vida comunicam a todos os níveis. Gostaria de fazer um livro que perturbasse os homens, que fosse como uma porta aberta e os conduzisse onde nunca teriam consentido ir, uma porta simplesmente conectada com a realidade.

E isso é tão pouco um prefácio a um livro, quanto, por exemplo, os poemas que o balizam ou a enumeração de todas as raivas do mal-estar.

Isto não é senão um pedaço de gelo mal digerido.

(Artaud: O Umbigo dos Limbos, in: O Pesa-Nervos; 1991, pg.13-14)

1. DOR… TEATRO… SOLIDÃO…

Antonin Maria Joseph Artaud (um nome completo raramente mencionado e surpreendentemente sugestivo), nasceu em 4 de setembro de 1896 na cidade de Marselha. Primogênito de uma família de nove irmãos, dos quais apenas três chegaram a idade adulta, em 1901 é acometido de uma grave meningite, da qual não se salvará sem seqüelas. Apenas o início de uma vida de constantes sofrimentos físicos e psíquicos originados de distúrbios no sistema nervoso central. Esse sofrimento, que Artaud nunca desistiu de tentar descrever das mais variadas formas, é de fundamental importância para a compreensão de seu teatro e suas idéias. Constantemente afligido por dores e uma sensação de opressão na cabeça, ombros e pescoço, Artaud afirmava ter sérias dificuldades em ordenar seus pensamentos e dar-lhes uma forma exterior.

A horrível compressão da cabeça e do alto da coluna vertebral, o peito opresso, as visões de sangue e de morte, os torpores, as fraquezas sem nome, o horror geral em que me encontro mergulhado com um espírito no fundo intacto, tornam inútil esse espírito.

(Artaud citado por Virmaux: Artaud e o Teatro;1978, pg10)

Esse “espírito intacto” era o que lhe garantia a lucidez necessária para a criação e para a capacidade de expor seu mal sem, entretanto, conseguir alivia-lo. Com o passar dos anos, Artaud torna-se obcecado com a idéia de que sua agonia (que não deixou de ser um estímulo cruel à sua necessidade imperativa de expressão que acabaria por leva-lo à arte e ao teatro) tinha uma origem metafísica:

Eu não tenho vida!!! Minha efervescência interna está morta! (…) Asseguro-te que não há nada em mim, nada naquilo que constitui a minha pessoa, que não seja produzido pela existência de um mal anterior a mim mesmo, anterior à minha vontade, nada em nenhuma das minhas mais hediondas reações, que não venha unicamente da doença e não lhe seja, em qualquer dos casos, imputável.

(Artaud citado em: Artaud e o Teatro;1978, pg.11)

Essa deterioração corporal e psíquica tornava extremamente difícil seu convívio social e a criação de elos verdadeiros com seus semelhantes. Artaud usa o teatro e sua capacidade única de expressão física, intelectual e – como não cansa de reiterar – metafísica, como seu meio privilegiado de comunicação, de grito. Sua prática teatral é permanentemente voltada para a idéia de uma “cura cruel”, para si mesmo e para a raça humana. Seu “corpo sem órgãos”, seu corpo novo, reconstruído, imortal, finalmente senhor de seu próprio destino e de sua própria anatomia.

Os primeiros passos no teatro dão-se a partir de 1920, quando muda-se para Paris, depois de passar por constantes internamentos em sanatórios, particularmente para desintoxicações, necessárias para manter em níveis aceitáveis a dependência do ópio, adquirida por ocasião dos primeiros tratamentos.

Preciso encontrar uma certa quantidade cotidiana de ópio. (…) pois tenho o corpo ferido nos nervos das medulas e isto é irremediável, incurável, absolutamente irremissível, não existe operação cirurgical que possa restituir ao organismo os nervos que ele perdeu.

(Artaud citado em: O Artesão do Corpo Sem Órgãos; 1999, pg.79)

Apesar de seu estado de quase miséria, sobrevivendo muitas vezes graças à cortesia de amigos que lhe ofereciam abrigo e comida, Artaud mantém uma atividade intelectual e profissional frenética, atuando em diversos espetáculos, publicando artigos e poesias e obtendo uma posição de destaque no movimento surrealista (que, posteriormente, criticaria por seu posicionamento político, de forma lúcida, porém cortante). O período de 1920 até 1932 viu o nome da Artaud crescer como uma figura ímpar e polêmica do teatro e da poesia francesas. Trabalhou em todas as frentes da atividade teatral: ator, encenador, cenógrafo, iluminador, escritor, sonoplasta e produtor, participando de inúmeras companhias sem pertencer realmente a nenhuma, exceto – em termos – o conhecido experimento do “Teatro Alfred Jarry”, cujos frutos foram quatro espetáculos e oito representações, entre 1926 e 1930. Além disso, não lhe faltaram oportunidades para trabalhar no cinema, em filmes notórios e raros como “A Paixão de Joana d’Arc”, de Dreyer (1928) e “Napoleão”, de Gance (1925-1927), interpretando Marat. Sem contar o desenvolvimento de roteiros de sua própria autoria, como “A Concha e o Clérigo”, mas suas relações com cinema serão sempre tumultuadas e frustrantes.

Em meros doze anos, Artaud notabilizou-se como um artista enérgico ao defender suas idéias. Suas críticas ao teatro de cunho psicológico, centrado no texto, deixando a encenação em último plano, eram correntemente reiteradas em seus artigos e manifestos, publicados nos periódicos artísticos da época.

(…) apresso-me em dize-lo desde já, um teatro que submete ao texto a encenação e a realização, isto é, tudo o que é especificamente teatral, é um teatro de idiota, louco, invertido, gramático, merceeiro, antipoeta e positivista (…)

(Artaud: O Teatro e Seu Duplo; 1993, pg.35)

Evidentemente, idéias defendidas de forma tão apaixonada e agressiva raramente passavam despercebidas, mesmo quando rechaçadas por críticos tão veementes quanto antiquados. Apesar das polêmicas, Artaud era um artista respeitado, muito embora esse reconhecimento não tornasse as coisas mais fáceis para um homem eminentemente solitário, morando em quartos alugados e tendo pouquíssimos amigos e, muito menos, amores (seu relacionamento com a atriz Génica Athanasiou teria sido sua paixão mais intensa e, em muitos aspectos, a mais frustrante).

Evocando o comportamento quotidiano de Artaud durante a época de sua participação no grupo surrealista, André Masson enfatizou “seu lado dandy, seu lado não gregário que o fazia chegar após os outros, partir antes de todo mundo, sempre só” (…). É também o testemunho de Anaïs Nin: “Irritável. Gagueja em alguns momentos. Sempre sentado em algum canto isolado, ele se afunda em uma poltrona como em uma caverna, como se estivesse na defensiva”(…)

(Virmaux: Artaud e o Teatro; 1978, pg. 161)

Esses fatores contribuíram para que, até o fim de sua vida, as cartas fossem uma de suas formas favoritas de expressão e onde sutilezas de sua obra podem ganhar aspectos esclarecedores.

2. CRUELDADE… ORIENTE… PESTE… TEATRO… E SEUS DUPLOS…

Mas foi a partir de 1931 que a crescente carreira de Antonin Artaud começou a tomar o rumo que o tornaria uma figura única na História do Teatro. Durante a Exposição Colonial, em Paris, assiste a uma apresentação de um grupo teatral de Bali. Esse contato com o Teatro Oriental marcará profundamente seu pensamento, quase como uma revelação. Nas evoluções dos “atores/bailarinos”, nos gestos perfeitamente codificados e nas temáticas de caráter metafísico e arquetípico, Artaud encontra os elos que faltam na formulação de suas próprias idéias sobre o Teatro e seu papel na Arte. Para Artaud, um teatro eficaz é aquele capaz de refazer a vida, o que não seria possível sem refazer profundamente a cultura no Ocidente. Toda a sua obra é guiada pelo desejo incessante de reencontrar um ponto de utilização mágica das coisas, recusando uma consciência estética fundada em simulacros e aparências face à realidade empírica das coisas. Ele coloca a questão da linguagem e da manipulação de signos em termos de forças mágicas e da relação mantida, através deles, com o cosmos e com o divino. Para Artaud, o Ocidente europeu é doente pois perdeu sua ligação com o divino, com a consciência cósmica.

Entre 1932 e 1935 publica em diversas revistas os textos que seriam futuramente organizados na forma do livro “O Teatro e Seu Duplo”, editado em 1938. Neles Artaud desenvolve seu projeto maior de refazer o Teatro Ocidental, apontando de maneira contundente os seus vícios, camisas de força e denunciando o abandono dos espetáculos por um público ansioso por emoções verdadeiras que não mais consegue encontrar num teatro que não representa verdadeiramente sua época.

O teatro de Bali revelou-nos uma noção de teatro física, não verbal, na qual o teatro está contido nos limites de tudo o que pode acontecer num palco, independentemente do texto escrito, enquanto que, tal como nós o concebemos no Ocidente, o teatro se aliou ao texto e por ele se encontra limitado. Para o teatro ocidental a Palavra é tudo e não há, sem ela, possibilidade de expressão; o teatro é um dos ramos da literatura, uma espécie sonora da linguagem e mesmo que admitamos uma diferença entre o texto falado no palco e o texto lido pelos olhos, se restringirmos o teatro ao que acontece entre as deixas, não conseguimos, mesmo assim aparta-lo da noção de um texto representado.

(Artaud: O Teatro e Seu Duplo; 1999, pg. 75)

Diante dessa “ditadura do texto”, Artaud responde com uma proposta ampla de reestruturação da linguagem teatral, devolvendo ao teatro os elementos que considera “naturais” (no sentido de “primordiais”) na encenação e que foram, pouco a pouco, abandonados por um ocidente por demais atado às limitações do racionalismo.

Para mim, a questão que se impõe é de se permitir ao teatro reencontrar sua verdadeira linguagem, linguagem espacial, linguagem de gestos, de atitudes, de expressões e de mímicas, linguagem de gritos e onomatopéias, linguagem sonora, mas que terá a mesma importância intelectual e significação sensível que a linguagem das palavras. As palavras serão apenas empregadas em momentos determinados e discursivos da vida como uma luz mais preciosa e objetiva aparecendo na extremidade de uma idéia”

(Artaud:Linguagem e Vida; 2004, pg. 80)

Refazer a linguagem teatral para trazer o teatro de volta as suas origens ritualísticas. Nada de espetáculos de entretenimento, nada de psicologismos e narrativas sobre indivíduos. Artaud concebe um teatro para além do imediatismo político, social, psicológico ou moral, um teatro que expresse questões metafísicas (termo constantemente empregado em “O Teatro e Seu Duplo”).

Enquanto a alquimia, através de seus símbolos, é como um duplo espiritual de uma operação que só tem eficácia no plano da matéria real, também o teatro deve ser considerado como o duplo não dessa realidade cotidiana e direta da qual ele aos poucos se reduziu a ser apenas uma cópia inerte, tão inútil quanto edulcorada, mas de uma outra realidade perigosa e típica, onde os Princípios, como os golfinhos, assim que mostram a cabeça apressam-se a voltar à escuridão das águas.

(Artaud: O Teatro e Seu Duplo; 1999, pg 49)

No “Manifesto do Teatro da Crueldade”, Artaud propõe a sua visão à comunidade teatral. De forma compacta e desconcertantemente direta, oferece os enunciados básicos de uma prática teatral que sempre se apressou a considerar “mais fácil de fazer do que de dizer”. Um teatro que utilizaria de uma linguagem de imagens e signos para oferecer uma “cura cruel” ao público, numa experiência mágica coletiva, na qual cada elemento da encenação – voz, corpo, iluminação, som, figurino, cor – seria meticulosamente planejado para levar o espectador a um estado de transe, uma transformação. Artaud concebe um espetáculo circular, através de um palco giratório, onde os espectadores ficam no centro e toda ação se dá ao redor, não havendo espaços vazios, integrando o espectador à própria encenação. Temas de caráter universal, uso de textos clássicos (como tragédias) como uma simples base para uma total re-criação em cena, personagens ampliadas à dimensão de deuses, de heróis, monstros, presença no palco de manequins gigantes, máscaras e objetos desproporcionais representando os duplos de ações, eventos e personagens acentuando o caráter metafísico da encenação, um jogo cuidadosamente planejado aonde nada pode ser deixado ao acaso, sob pena de sacrificar os efeitos mágicos específicos que o espetáculo deve provocar. Artaud, portanto, defende veementemente o domínio do encenador para orquestrar cada pequeno aspecto de uma montagem, numa época em que aquilo que se refere como parte da encenação, em contrapartida ao texto, costumava ser alvo de desprezo pela comunidade teatral. Para além dos temas e objetivos, o teatro de Artaud é um teatro que começa e se realiza no palco, com uma linguagem que se dá exclusivamente no palco, sendo o encenador (e não o autor de um texto pré-escrito) o responsável pela “escrita” dessa linguagem.

Nesse contexto, o ator é um elemento essencial mas passivo, já que sua iniciativa pessoal deve estar submetida às exigências da encenação.

O ator é, ao mesmo tempo um elemento de primeira importância, pois é da eficácia de sua interpretação que depende o sucesso do espetáculo, e uma espécie de elemento passivo e neutro, pois toda iniciativa pessoal lhe é rigorosamente recusada. Este é, aliás, um domínio em que não há regras precisas; e, entre o ator a quem se pede uma simples qualidade de soluço e aquele que deve pronunciar um discurso com suas qualidades de persuasão pessoais, há toda a distância que separa um homem de um instrumento.

(Artaud: O Teatro e Seu Duplo; 1995, pg. 95)

Nos capítulos “Um atletismo afetivo” e “O Teatro de Seraphin”, Artaud procura esboçar as técnicas e qualidades que o ator do Teatro da Crueldade deve buscar. No ator existe uma musculatura de atleta físico e uma outra musculatura que corresponde a localizações físicas dos sentimentos. Essa musculatura afetiva funciona como um duplo da outra, embora não atue no mesmo plano, e deve ser exercitada através da respiração. Para cada alteração dos sentimentos, existe uma respiração apropriada.

O ator, ao mostrar um sentimento, um estado de espírito, fisicamente pode parecer estar delirando, mas na verdade está consciente de tudo o que está fazendo, mantendo o controle através da respiração. O uso da memória emotiva ocorre apenas num primeiro momento, guardando as imagem das reações físicas e da respiração provocadas no corpo para usa-las num segundo, num terceiro, e em vários momentos, constituindo um repertório para o ator. Os sentimentos não devem ser interpretados como abstrações, mas como elementos “materiais”, palpáveis, sob as quais ele pode ter um domínio. “Através da respiração o ator pode representar um sentimento que ele não tem”, ou seja, ele pode chegar num sentimento através da respiração, e a respiração pode nascer de um sentimento.

Saber que a paixão é matéria, que ela está sujeita às flutuações plásticas da matéria (…) Alcançar as paixões através de suas forças ao invés de considerá-las como puras abstrações, confere ao ator um domínio que o iguala a um verdadeiro curandeiro. Saber que existe uma saída corporal para a alma permite alcançar essa alma num sentido inverso e reencontrar o seu ser através de uma espécie de analogia matemática.

(Artaud: O Teatro e Seu Duplo; 1995, pg. 131)

Saber reconhecer o tempo do sentimento é saber reconhecer o tempo da respiração, e essa respiração pode ser dividida em três tempos, que Artaud denominou NEUTRO, MASCULINO e FEMININO.

A respiração FEMININA é uma respiração mais prolongada, interiorizada, baseada no diafragma, que se localiza na região do plexo solar, tendo várias características que essa região contém, como abandono, angústia, apelo, invocação, súplica. A respiração MASCULINA ou melhor, de tempo masculino, é uma respiração mais pesada, rápida, torácica, focada na localização dos rins, que é fisicamente, onde o homem joga a força multiplicada de seus braços. As características que correspondem aos rins, no físico afetivo são: culpa, depressão, humor, impaciência, indecisão, isolamento, obsessão, paranóia, solidão, vitimização e heroísmo.

Esse treinamento baseado na respiração, que Artaud formulou tanto a partir de suas experimentações pessoais quanto de seus estudos da cabala, alquimia e disciplinas orientais, foi constantemente praticado por Artaud até o fim de sua vida e através dele o ator seria capaz de reconstruir não apenas sua arte mas sua própria constituição física e espiritual, tornando possível as visões de Artaud para seu Teatro.

Como Craig, Artaud baseia a sua teoria do ator no princípio da despersonalização. Não só o personagem, no sentido tradicional da palavra, é expulso desse teatro, mas também a personalidade do ator é ocultada pelo tipo de intervenção (não se ousa mais falar em desempenho) que ele exige. Em última instância, o ator artaudiano não é mais um indivíduo de carne e emoções, mas suporte e veículo de um complexo sistema semiótico articulado em torno de uma convenção hieroglífica – a expressão é freqüentemente repetida nos escritos de Artaud – do figurino, do gesto, da voz, etc.

(Roubine: A Linguagem da Encenação Teatral;1998, pg189)

Paralelamente à escrita e organização desses textos, Artaud dedica-se de maneira apaixonada a pôr em prática seu projeto, mas esbarra constantemente nas crescentes dificuldades. Primeiramente as de cunho filológico, os mal-entendidos e acusações a respeito do uso do termo “crueldade”, que Artaud responde de maneira clara na primeira das “Cartas sobre a Crueldade” em “O Teatro e Seu Duplo”. Mas o pior e mais incisivo são as dificuldades técnicas e financeiras de uma proposta teatral de tamanha complexidade. Desde as montagens do Teatro Alfred Jarry até as tentativas frustradas de tirar do papel sua encenação de “A Conquista do México”, mencionada no “Segundo Manifesto do Teatro da Crueldade”, suas tentativas de convencer o público (e, particularmente, os investidores) eram constantemente mal-entendidas embora representassem experimentos “performáticos” notáveis numa visão retroativa, particularmente a conferência que resultaria no texto de “O Teatro e a Peste” que foi relatada por Anaïs Nin, em seus diários:

De forma quase imperceptível Artaud largava o fio que seguíamos e começava a interpretar o papel de um homem a morrer de peste. Ninguém viu em que momento começou a faze-lo. Para ilustrar a conferência, representava uma agonia. (…) Tinha o rosto em convulsões e os cabelos ensopados de suor. (…) Estava em plena tortura. Berrava. Delirava. Representava a sua própria morte, a sua própria crucificação. As pessoas começaram a ficar com a respiração cortada. Depois desataram a rir. Toda a gente ria! Assobiava. Por fim as pessoas foram saindo uma a uma em meio a um grande ruído, a falar alto, a protestar. Ao saírem batiam com a porta. (…) Mais protestos. E vaias também. Mas Artaud continuava até o último suspiro. E lá ficou, no chão.

(Nin citada por Virmaux em sua introdução para: História Vivida de Artaud-Momo; 1995, pg.17)

Tudo isso para fazer a platéia compreender – fisicamente, portanto efetivamente – o que linhas como essas pretendem expressar:

Tal como a peste, o teatro é uma crise, que tem o desenlace na morte ou na cura. E a peste é um mal superior porque é crise completa e depois da qual não resta mais nada do que a morte ou uma extrema purificação. De igual forma, o teatro é um mal porque equilíbrio supremo só alcançável com destruição. Convida o espírito a um delírio que lhe exalta as energias; e, para terminar, podemos ver que a ação do teatro, como a da peste, sob o ponto de vista humano é benéfica porque levando os homens a verem-se como são faz cair a máscara, põe a mentira à mostra, e a baixeza, a hipocrisia; sacode a inércia asfixiante da matéria que tudo ganha até às mais claras certezas dos sentidos; e revelando às coletividades o seu poder sombrio, a sua força oculta, convida-as a assumir perante o destino uma atitude heróica e superior que, sem isso, nunca teriam tido.

(Artaud: O Teatro e Seu Duplo; 1999, pg 28-29)

O ápice dessas tentativas de materialização do “Teatro da Crueldade” foi a montagem de “Os Cenci” (1935), projeto ambicioso de uma tragédia na qual os preceitos da visão artaudiana de um teatro que constituísse uma “cura cruel” revelou-se uma grande decepção, para o público, para os envolvidos e, acima de tudo, para o próprio Artaud, que viu-se incapaz de enfrentar os inúmeros percalços financeiros, materiais e humanos que se interpuseram à realização de seus ideais numa montagem real.

3. PEYOTE… MAGIA… ELETRICIDADE… TEATRO… JULGAMENTO DE DEUS…

Essa frustração acabou servindo de combustível para a concretização de um antigo sonho: uma viagem ao México em busca de contato com o culto do Peyote com os índios Tarahumaras, que resultaria na publicação do apaixonado livro “Viagem ao País do Tarahumaras”, editado em 1945. Artaud desde cedo dedicara-se ao estudo de disciplinas esotéricas, cabala, alquimia, magia (estudos que sempre apareceram de maneira clara e sem disfarces nas suas atividades teatrais, sendo largamente citados em “O Teatro e Seu Duplo”) e sua estadia entre os Tarahumaras foi quase uma conseqüência natural desse pensamento, bem como uma tentativa violenta de encontrar respostas para seus tormentos existenciais indizivelmente vivenciados no plano físico.

E foi no México, no alto da montanha, entre Agosto e Setembro de 1936, que eu comecei a me encontrar completamente…Eu procurava o peyote não como um curioso mas, ao contrário, como um desesperado…, contrariamente ao que se podia pensar, eu nunca busquei o supra-normal. Ora, eu não ia ao peyote para entrar, mas para sair… sair de um mundo falso. Vivemos num odioso atavismo fisiológico que faz com que mesmo no nosso corpo, e sozinhos, nós não somos mais livres, pois, cem pai-mãe pensaram e viveram por nós, antes de nós, o que poderíamos em um dado momento, na idade da razão, encontrar por nós mesmos, a religião, o batismo, os sacramentos, os rituais, a educação, o ensino, a medicina, a ciência se apressam em nos tirar. Eu ia, pois, ao peiote para me lavar.

(Artaud citado em: O Artesão do Corpo Sem Órgãos; 1999, pg.96-97)

Recebido com simpatia pelos escritores mexicanos, Artaud faz conferências em universidades e, após vários percalços consegue participar das cerimônias sagradas com os índios. A experiência leva-o a um processo que os místicos chamariam de transfiguração, uma iniciação nos mistérios sagrados, um retorno a um vazio primordial do qual ele retorna permanentemente transformado.

Enquanto isso, na França, amigos dão prosseguimento à editoração de “O Teatro e Seu Duplo”, livro que, mesmo em meio às suas viagens místicas, Artaud nunca relega ao abandono, tendo oportunidade, inclusive, de corrigir os originais quando de seu retorno à Paris. A obra, uma vez publicada, torna-se uma referência importante para os realizadores de teatro, para o bem ou para o mal, alimentando de maneira incontrolável o chamado “mito-artaud” que começara a crescer desde o momento em que partiu da França até muito além de sua morte. Artaud, o “homem-teatro”, Artaud, o bruxo, Artaud, o louco, Artaud que ganhou uma espada mágica de um feiticeiro em Cuba, Artaud que vagou entre os índios e viu a face de Deus, Artaud, o profeta da fecalidade, Artaud que empunhou o cajado mágico de São Patrick, patrono dos irlandeses, na cidade de Dublin.

Anaïs Nin fala, no seu Diário, de uma visão que Artaud teve, nessa época, em Paris,no restaurante Dôme: “Ele levanta, vociferando, brandindo sua bengala mágica mexicana, como um bruxo”.

(Lins: O Artesão do Corpo Sem Órgãos; 1999, pg.98)

Entre o mito e a realidade, sabe-se que Artaud retornou à França, uma figura ainda mais excêntrica e imprevisível do que era então. Suas dores físicas e o consumo de ópio continuam a crescer, obrigando-o a submeter-se a desintoxicações sempre que tem condições de pagar. Seu interesse em astrologia e tarô acentua-se, chegando a fazer consultas para figuras ilustres da intelectualidade parisiense. Em 1937, Artaud parte para a Irlanda “guiado” pelo cajado de São Patrick, afim de devolvê-lo ao seu lugar de origem e de encontrar traços da cultura celta. Vivendo em condições precárias, em um país onde ele mal domina o idioma, Artaud vive pregando nas ruas com seu bastão, em condições de quase indigência.

Passeava eu tranqüilamente ao pé do jardim público de Dublin, quando um polícia provocador à civil me agrediu de repente e esmagou a coluna vertebral e a dividiu em duas com uma terrível pancada de barra de ferro.

Cambaleei mas não caí.

Houve qualquer coisa que deve ter parecido um milagre porque ainda agora pode ver-se em mim a fractura, mas nem sequer caí no chão, e os dois pedaços soltos voltaram instantaneamente a ficar colados.

Voltei-me para trás, com uma bengalada deitei o polícia provocador ao chão e a batalha ficou acesa. Apareceram polícias fardados que tomaram o meu partido contra os polícias à civil e às ordens do Intelligence Service.

(Artaud: História Vivida de Artaud-Momo; 1995, pg.50-51)

Acusado de ser um agitador e vadio, é preso e extraditado para a França. Um incidente ocorrido durante a viagem de barco faz com que seja internado como louco em estabelecimentos psiquiátricos. Do sofrimento pelo isolamento, brutalidades e privações da vida em um manicômio, adicionou-se com a Ocupação alemã em maio de 1940, as carências alimentares. Assim, em Ville-Évrard, além de sua dignidade e de sua liberdade, Artaud começou a ser privado de seu corpo. Subnutrido, ele se torna um esqueleto vivo, uma sombra dolorosa que tenta manter a vida.

Passei nove anos num asilo de alienados.

Fizeram-me ali uma medicina que nunca deixou de me revoltar.

Essa medicina chama-se eletro-choque, consiste em meter o paciente num banho de eletricidade, fulmina-lo

e pô-lo bem esfolado a nu

e expor-lhe o corpo tão externo como interno à passagem de uma corrente

que vem do lugar onde se não está nem deveria estar para lá estar.

O eletro-choque é uma corrente que eles arranjam sei lá como,

Que deixa o corpo, o corpo sonâmbulo interno, estacionário

para ficar sob a alçada da lei

arbitrária do ser,

em estado de morte

por paragem do coração.

(Artaud: Eu, Antonin Artaud; 1988, pg.76)

Artaud passou por diversos asilos até ser transferido para Rodez, em 1943 de onde só foi libertado três anos depois. Durante esse período escreveu as célebres “Cartas de Rodez”, na maioria endereçadas ao seu médico e diretor do asilo, Dr. Gaston Ferdière.

No Hospital Psiquiátrico de Rodez, quando esteve internado por três anos, depois de passar por vários manicômios franceses, Artaud escreve cartas a seu médico, dr. Ferdière. Aprisionado e maltratado por eletrochoques que prejudicaram sua memória, seu corpo e seu pensamento, “as cartas escritas de Rodez são, para Artaud, um recurso para não perder a lucidez. São o diálogo de um desesperado com seu médico e, através dele, com toda sociedade”.

(Programa da peça “Cartas de Rodez”, dirigida por Ana Teixeira, com atuação de Stephane Brodt. Prêmio Shell, direção e ator, e Mambembe, melhor espetáculo 98.)

Até sua chegada em Rodez o paradeiro de Artaud era desconhecido na França. Sua mãe visitou a maioria dos sanatórios do país em busca do filho desaparecido, os amigos escreveram cartas às autoridades buscando notícias. A guerra assolava a Europa e Antonin Artaud (cujo “Teatro da Crueldade” espalhava-se pelas ruínas, quartéis e campos de concentração) jazia isolado entre loucos e tratamentos desumanos que mais torturavam do que curavam. Até mesmo o psiquiatra Jacques Lacan estudou o “caso Artaud” e seu veredicto não poderia ser mais catedrático: “Viverá até oitenta anos, não escreverá mais uma linha”. Futuramente, o autor de “Para Acabar de Vez com o Juízo de Deus” fez cair por terra as previsões lacanianas.

Apesar das condições em Rodez serem um tanto quanto mais toleráveis (principalmente por Ferdière ser um admirador da obra de seu paciente e procurar encoraja-lo a produzir – embora isso não o tenha impedido de também aplicar-lhe sessões de eletrochoque), foi com horror que os amigos reencontraram um Artaud completamente distinto da figura insolente e carismática de outrora.

Marthe e eu decidimos ir visitar Antonin Artaud, esquecido por todos, isolado no hospício de Rodez desde o começo da guerra. Encontramos Artaud muito fraco, aterrado. A certa altura caem à nossa frente alguns livros que pertencem ao Dr. Ferdière (…), Artaud quer apanhar os livros mas não consegue, todo seu corpo treme, temos que ajuda-lo. Conta-nos seu cotidiano em Rodez, acusa o Dr. Ferdière de o aterrorizar: – “Se não se porta bem, Sr. Artaud, temos de voltar a dar-lhe eletrochoques”. No trem de regresso Marthe chora e juramos tirar Artaud de Rodez.

(Arthur Adamov citado por Lins: O Artesão do Corpo Sem Órgãos; 1999, pg. 108)

Finalmente, em 28 de maio de 1946, Artaud foi libertado e retornou a Paris onde procurou dar continuidade aos escritos e práticas já iniciados em Rodez. Seu projeto de um “Teatro da Cura Cruel”, evolução natural de seu “Teatro da Crueldade” crescia e assumia novas formas em meio à uma prática vocal intensa e quotidiana, na qual Artaud exercitava sua respiração e seu corpo, praticando cantos e giros conjuratórios (que também lhe serviam como proteção contra as “bruxarias” de que sentia-se vítima). A energia que ele produzia, as forças que emanavam de seu corpo enfraquecido, as incríveis variações de altura que obtinha de sua voz, a intensidade e a duração dos gritos aconteciam como um fenômeno de operação mágica. Uma prática teatral que dispensava tanto o palco quanto os recursos técnicos que Artaud sempre quis utilizar de maneira plena e constituir como parte de uma legítima linguagem para o Teatro, mas cujo controle escapou de suas mãos nos tempos do Teatro Alfred Jarry e “Os Cenci”. Cantos, gritos, gestos que pareciam absolutamente insanos para os médicos dos hospitais psiquiátricos, ignorantes das teorias que o próprio Artaud já tentara esboçar nos anos 30 nos textos “Um Atletismo Afetivo” e “O Teatro de Seraphin”, avidamente lidos por uma classe teatral que, pouco a pouco, transformava “O Teatro e Seu Duplo” em objeto de culto enquanto seu autor permanecia isolado do mundo. Não foram poucas as ocasiões em que essas práticas serviram de justificativa para as alegações de insanidade de médicos, autoridades e mesmo de leigos, fato que enfurecia Artaud, mas que, após sua libertação, levou-o a assumir tal “carapuça”. De fato, Artaud não deixou de divertir-se fazendo-se de louco e usando do choque e do horror (que ele sempre apreciou utilizar para tirar seu público da apatia, sendo num palco, num restaurante ou na rua) para dizer as verdades que acreditava.

Afirmaria que o próprio corpo do Homem, “desconectado” de suas origens, é o resultado de uma manipulação perpétua e perversa de forças malignas que oprimem a espécie humana (tais forças podem ser entendidas de várias maneiras, podem ser interpretadas como políticas, sociais, culturais, morais, enfim, mas fica claro em seus escritos que Artaud as entendia de maneira mais absoluta e cósmica, num sentido metafísico), em conseqüência a anatomia humana, ao deixar de corresponder à sua natureza, deve ser refeita. No fim de sua vida, Artaud amplia suas concepções do “Teatro da Crueldade” para um grandioso projeto ético-político de insurreição física: trata-se de transformar não apenas o Teatro, mas o Homem. A revolução não é apenas social ou cultural, mas física. O ator (e o Homem) torna-se senhor de seu destino, capaz de refazer sua própria anatomia, juntamente com seu espírito, erigir o “corpo sem órgãos”, invulnerável aos miasmas e “feitiços” do mundo contra a essência individual do ator. Decomposição e recomposição do corpo, desarticulação dos automatismos que condicionam e bloqueiam o indivíduo e o impedem de agir realmente, de modo consciente e voluntário, em cena ou na vida.

A necessidade de afirmar seu pensamento foi o combustível que moveu Artaud nesses últimos anos. Por sua própria natureza, esse pensamento não pode ser expresso meramente com palavras, verdade que Artaud sempre repetiu desde a juventude ao denunciar a limitação do texto como centro da encenação e do discurso. Suas pesquisas de linguagem ganham um ímpeto novo, a busca de uma expressão vocal primitiva, anterior à linguagem articulada, sons que remetem a sentimentos, idéias e forças metafísicas. São inúmeros os exemplos registrados dessa pré-linguagem:

ratara ratara ratara

atara tatara rana

otara otara katara

otara retara kana

ortura ortura konara

kokona kokona koma

kurbura kurbura kurbura

kurbata kurbata keyna

pesti anti pestantum putara

pest anti pestantum putra

São poemas que vão além da significação, apelando para a força dos sons e vocábulos por si mesmos, constituindo verdadeiros “encantamentos” que Artaud utilizava de maneira mística e causava um efeito profundo nas testemunhas. Durante a gravação de sua novela radiofônica “Para Acabar de Vez com o Juízo de Deus”, em 1948, Artaud deu grandes mostras de seu “humor louco”, um humor que provocava medo. Maria Casarès, testemunha da gravação, deixou o seguinte depoimento:

Artaud começou a gritar. Começou a falar como “um cachorro” ou como um “galo” e Roger Blin respondia-lhe, imperturbavelmente, na mesma linguagem. Tudo isso deveria fazer rir a platéia. Ora, nem mesmo um só técnico ria. Estavam paralisados. Num canto da sala, uma mulher chorava.

(Casarès citada por Lins: O Artesão do Corpo sem Órgãos; 1999, pg.120)

A emissão da novela radiofônica foi proibida pela censura pouco antes de ir ao ar. Mais um dos inúmeros fracassos das tentativas de Artaud de tornar real o seu pensamento e seu Teatro. Mas, como Alain Virmaux continuamente repete em seu livro “Artaud e o Teatro”, o fracasso, em Artaud, é tão revelador quanto o sucesso poderia ser. Mesmo interditada, a novela constitui um elemento importantíssimo no “mito-Artaud”, tanto quanto foi “Os Cenci” ao ser visto retroativamente e guardando as limitações impostas pelas circunstâncias. Depois dos internamentos, Artaud tornou-se uma quase vedete da intelectualidade francesa. Mostras foram realizadas em sua homenagem, o “Teatro e Seu Duplo” era reeditado e ganhava cada vez mais atenção, nunca antes Artaud foi tão ouvido, embora o estado doentio em que se encontrava tenha causado o afastamento de velhos amigos que não suportavam lidar com sua presença e o efeito que provocava. Ainda assim, como a solidão já era parte integrante de sua existência desde jovem, Artaud trabalhava freneticamente, escrevendo, compondo, ciente de que a morte rondava, aos 50 anos de idade, com um estado de saúde cada vez mais precário. “Para Acabar de Vez com o Juízo de Deus” foi seu projeto concreto mais ambicioso no período. Na gravação é possível identificar, de maneira subjetiva e indistinta (como não poderia deixar de ser) o essencial de seu pensamento: o trabalho do ator, a visão do encenador, o feiticeiro, o peregrino regresso das terras do tarahumaras. No “Rito do Sol Negro”, na “Procura da Fecalidade”, Artaud expressa seu ideal de reconstrução do homem e do corpo.

Onde cheirar a merda

cheira a ser.

O homem poderia muito bem deixar de cagar,

deixar de abrir a bolsa anal,

mas preferiu cagar

como poderia ter preferido viver

em vez de consentir em viver morto.

É que para não fazer cocô

teria que aceder

a não ser,

mas ele é que não foi capaz de se resolver a perder o ser,

isto é a morrer vivo.

(Artaud: Para Acabar de Vez com o Juízo de Deus; 1975, pg 29)

Idéias indigestas, expressas de modo ainda mais indigesto, que Artaud já havia desistido de, tentar explicar verbalmente desde a histórica conferência no Vieux-Colombier, um ano antes, quando um recém libertado Antonin Artaud surgiu diante de um público parisiense de artistas, intelectuais e curiosos (entre os quais, Sartre, Picasso, Camus, além dos amigos Blin, Adamov e Gide) num evento preparado para reintroduzi-lo no universo das letras francesas. O texto dessa conferência sobreviveu e foi editado como “A História Vivida de Artaud-Momo”, narrando desde as experiências com o peyote até a violência dos tratamentos nos sanatórios e suas idéias metafísicas. Mas Artaud jamais terminou a conferência, abandonando-a quando os papéis caíram de suas mãos e ele não quis (ou não pôde) reorganiza-los, partindo para um aparente improviso recheado de silêncios, ofensas, gritos e feitiços. O que ocorreu nessa conferência é assunto controverso. Fala-se tanto de um fracasso deprimente quanto de um êxito soberbo. Virmaux (que assina o texto introdutório de “A História Vivida de Artaud-Momo”) defende que foi no Vieux-Colombier que Artaud, pela primeira e única vez, encenou o “Teatro da Crueldade”, vivido por um único homem, o personagem Antonin Artaud, e todas as testemunhas concordam que, entre vaias e ovações, ninguém saiu indiferente do teatro. Em um testemunho célebre, Gide descreve o evento com as seguintes palavras:

A razão batia em retirada; não unicamente a sua mas a razão de toda a assistência, de todos nós, espectadores desse drama atroz, reduzidos ao papel de comparsas malévolos, debochados e grosseiros. Oh! não, mais ninguém na platéia, tinha vontade de rir (…) Artaud nos havia atraído para seu jogo trágico de revolta contra tudo aquilo que, admitido por nós, para ele permanecia mais puro e inadmissível:

Nós ainda não nascemos.

Ainda não estamos no mundo.

Ainda não existe mundo.

As coisas ainda não se fizeram.

A razão de ser não foi achada…”

Ao sair dessa memorável sessão o público se calava. Que se poderia dizer? Acabávamos de ver um homem miserável, atrozmente sacudido por um deus, como que no liminar de uma gruta profunda, antro secreto da sibila, onde nada de profano é tolerado, onde, como em um Carmelo poético, um vate é exposto, oferecido aos raios, aos abutres vorazes, ao mesmo tempo sacerdote e vítima… Todos se sentiam envergonhados de retomar lugar em um mundo no qual o conforto é formado de compromissos.

(Gide in Virmaux: Artaud e o Teatro; 1978, pg 366)

Embora talvez supervalorizando os fatos através de uma veia poética, o testemunho passa uma noção do impacto da sessão, que o próprio Artaud em parte teria explicado numa carta ao amigo André Breton:

Não creio que o palco do Vieux-Colombier ou outro palco de teatro já tivesse visto o que mostrei e dei a ouvir naquela noite; tanto mais que acresce o facto de toda a gente ter podido verificar, de se ter podido ver como o suposto conferencista que eu realmente não era, de qualquer forma o suposto homem de teatro, renunciava ao seu espetáculo, fazia as malas e ia-se embora; porque, na verdade, eu tinha reparado que já bastava de palavras e até mesmo de rugidos, e o necessário eram bombas; ora, eu não as tinha nas mãos nem nos bolsos.

(Artaud: A História Vivida de Artaud-Momo; 1995, pg 26)

Um basta às palavras, portanto, um último ato em “Para Acabar com o Juízo de Deus”, um recolhimento para aguardar o fim. Diagnosticado um câncer inoperável no reto, Artaud sabia que tinha seus dias contados. Ainda assim não deixava de trabalhar e fomentar projetos, mesmo sofrendo cada vez mais agudamente com as dores. A morte, que Artaud nunca deixou de afirmar ser um estado inventado, apenas mais uma máscara a que o homem se submete por renunciar a ser o senhor de seu destino, chegou num quarto da clínica de Ivry, em 14 de março de 1948, poucos meses após a proibição da peça radiofônica. O fim através de um câncer – uma falência do organismo que muitos médicos e místicos afirmam ter uma origem psicossomática – ou, talvez por um suposto suicídio, parece fazer um estranho sentido para um homem que afirmava ter tido a espinha partida e depois recomposta na Irlanda e ter morrido e voltado numa mesa de eletro-choque em Rodez:

(…) Simplesmente te disse e repito que eu, Antonin Artaud, com os cinqüenta que já cá cantam, me lembro do Gólgota. Lembro-me dele como me lembro de estar no asilo de Rodez no mês de Fevereiro de 1943, morto por um eletrochoque que me foi imposto contra vontade.

– Se estivesse morto, não continuaria lá.

– Estou morto, realmente morto, e a minha morte foi clinicamente verificada

E voltei depois, como um homem que regressa do além.

Eu também me lembro desse além.

(Artaud: A História Vivida de Artaud-Momo; 1995, pg 53)

De qualquer forma, Artaud faleceu deixando um legado praticamente mítico. Suas idéias, seus textos, especialmente “O Teatro e Seu Duplo” se tornaram uma referência obrigatória para encenadores do mundo inteiro, sendo aceitas ou não. Os anos 60 e 70 testemunharam o surgimento de um verdadeiro culto à imagem do criador do “Teatro da Crueldade”, um culto muitas vezes exagerado e desprovido de bases sólidas, movido muito mais pela paixão e o pseudo-misticismo ligado ao pensamento artaudiano do que a uma real compreensão de suas idéias. As últimas décadas testemunharam uma releitura mais atenta e menos delirante de sua obra, devolvendo as contribuições de Artaud, tanto para o Teatro quanto para os estudos de linguagem, de volta à sua real proporção.

São inúmeros os grupos, atores e teóricos que deram continuidade aos trabalhos de Artaud, de forma direta ou indireta. Autores como Ionesco e Beckett mostram uma clara influência, bem como às origens do conceito de happening. Peter Brook e o Living Theatre desenvolveram grandes espetáculos assumidamente dentro de uma estética artaudiana, bem como o teatro-laboratório de Jerzy Grotowski, que de forma hábil e lúcida, ajudou a criticar e esclarecer muitas das propostas teatrais de Artaud e lhe dedicou um dos capítulos de “Em Busca de Um Teatro Pobre”: “Ele não era inteiramente ele”.

Deve-se repetir mais uma vez: se Artaud tivesse tido à sua disposição o material necessário, suas visões teriam se desenvolvido do indefinido para o definido. Ele poderia tê-las convertido numa forma, ou, melhor ainda, inclusive numa técnica. Estaria então em condições de antecipar todos os reformadores, pois teve a coragem e o poder de ir além da corrente lógico-discursiva. Tudo isso poderia ter acontecido, mas não aconteceu.

(Grotowski: Em Busca de um Teatro Pobre; 1976, pg.71-72)

Mas aconteceu nos anos que seguiram a morte do “homem-teatro”. É fascinante notar que hoje muito do que era polêmico e alvo de estranhamento nas propostas de Artaud é prática corrente e “comum” nas atividades teatrais: o uso de espaços alternativos, o cuidado especial na composição da iluminação e sonoplastia, o domínio do encenador como regente máximo do espetáculo, o fim do domínio absoluto do texto, o uso de signos, a integração do público à cena, enfim, se o Teatro da Crueldade” só pôde se tornar real em raríssimas e pontuais ocasiões (se é que realmente o foi, ao menos na forma pura que Artaud pregava) ao menos seus diversos elementos integraram-se de maneira efetiva no fazer teatral.

Assim, as palavras finais de Artaud a respeito do Teatro, escritas na “Última Carta Sobre o Teatro”, endereçada à Paule Thévenin em 25 de fevereiro de 1948 (tendo Artaud morrido em 4 de março), definitivamente não ficaram sem um eco:

Paule, estou muito triste e desesperado

meu corpo dói de todos os lados

mas sobretudo tenho a impressão de que todos se decepcionaram

com a minha emissão radiofônica.

Lá onde está a máquina

é sempre o abismo e o nada

há uma interposição técnica que deforma e aniquila aquilo que se faz.

As críticas de M. e A. são injustas mas devem ter tido sua base em um defeito de transmissão

é por isso que eu jamais voltarei ao Rádio

e consagrarei doravante exclusivamente ao teatro

como o concebo

um teatro de sangue

um teatro que a cada representação proporcionará

corporalmente

alguma coisa a quem representa

como a quem vem assistir a representação

aliás,

não se representa,

age-se

o teatro é na realidade a gênese da criação.

Isto se fará.

Tive uma visão hoje à tarde

vi aqueles que me seguirão e aqueles que ainda não tem um corpo

porque os porcos como aqueles dos restaurante de ontem a noite comem demais.

Existe quem como demais

e outros como eu que não podem mais comer sem escarrar

em vocês.

(Artaud citado em Virmaux: Artaud e o Teatro, 1978, pg 334-335)

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

ARANTES, Urias Corrêa. Artaud: Teatro e Cultura. Campinas: Editora da UNICAMP. 1988. 212 p.

ARTAUD, Antonin (1896-1948). Linguagem e Vida. Org. J. Guinsburg, Sílvia Fernandes Telesi, Antonio Mercado Neto. São Paulo: Perspectiva. 2004

ARTAUD, Antonin (1896-1948). O Pesa-Nervos. Trad. Joaquim Afonso. Lisboa: Hiena Editora. 1991. 91p.

ARTAUD, Antonin (1896-1948). O Teatro e Seu Duplo. Trad. Teixeira Coelho. 2.ªed. São Paulo: Martins Fontes. 1999.

ARTAUD, Antonin (1896-1948). Para Acabar de Vez com o Juízo de Deus – seguido de O Teatro da Crueldade. Trad. Luiza Neto Jorge e Manuel João Gomes. Lisboa: Publicações Culturais. 1975.

ARTAUD, Antonin (1986-1948). Eu, Antonin Artaud. Trad. Aníbal Fernandes. Lisboa: Hiena Editora. 1988. 111 p.

ARTAUD, Antonin (1986-1948). História Vivida de Artaud-Momo. Lisboa: Hiena Editora. 1995. 73 p.

ARTAUD, Antonin (1986-1948). Os Sentimentos Atrasam. Trad. Ernesto Sampaio. Lisboa: Hiena Editora. 1993. 73 p.

ASLAN, Odette. O Ator no Século XX. São Paulo: Perspectiva, 1994

COELHO, Teixeira. Antonin Artaud – Posição da Carne. São Paulo: Brasiliense. 1982, 120p. (Coleção Encanto Radical; 16)

FELÍCIO, Vera Lúcia. A Procura da Lucidez em Artaud. São Paulo: Perspectiva, FAPESP. 1996, 202p. (Coleção Estudos; 148)

GROTOWSKI, Jerzy. Ele não era inteiramente ele, in: Em Busca de um Teatro Pobre. Trad. Aldomar Conrado. 2.ªed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 1976. (Coleção Teatro Hoje, Série: Autores Estrangeiros/Vol.19)

LINS, Daniel. Antonin Artaud: O Artesão do Corpo Sem Órgãos. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999. (Coneções/2)

ROUBINE, Jean-Jacques. As Metamorfoses do Ator, in: A Linguagem da Encenação Teatral. Trad. Yan Michalski. 2.ªed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 1998.

SONTAG, Susan. Abordando Artaud, in: Sob o Signo de Saturno. São Paulo: L&PM. 2.ªed. 1973.

VIRMAUX, Alain. Artaud e o Teatro. Trad. Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São Paulo: Perspectiva, FAPESP. 1978, 388p. (Coleção Estudos; 58)

“Quem sou eu?

De onde venho?

Sou Antonin Artaud

e basta que eu o diga

Como só eu o sei dizer

e imediatamente

hão de ver meu corpo

atual,

voar em pedaços

e se juntar

sob dez mil aspectos

diversos.

Um novo corpo

no qual nunca mais

poderão esquecer.

Eu, Antonin Artaud, sou meu filho,

meu pai,

minha mãe,

e eu mesmo.

Eu represento Antonin Artaud!

Estou sempre morto.

Mas um vivo morto,

Um morto vivo.

Sou um morto

Sempre vivo.

A tragédia em cena já não me basta.

Quero transportá-la para minha vida.

Eu represento totalmente a minha vida.

Onde as pessoas procuram criar obras

de arte, eu pretendo mostrar o meu

espírito.

Não concebo uma obra de arte

dissociada da vida.

Eu, o senhor Antonin Artaud,

nascido em Marseille

no dia 4 de setembro de 1896,

eu sou Satã e eu sou Deus,

e pouco me importa a Virgem Maria.”

 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/antonin-artaud/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/antonin-artaud/

Feng Shui – 風水 – Acupuntura para ambientes

Feng Shui 風水, (pronuncia-se fon-suei) significa, em chinês, literalmente “Vento” e “Água”.

O Feng Shui é uma espécie de Acupuntura dos Ambientes ou medicina das habitações e imóveis; ele propõe um método de vida baseado num relacionamento harmonioso com o meio ambiente e suas linhas de energia, e relaciona-se intimamente com a busca de lugares ideais para a instalação do ser humano, que, segundo os chineses, pode alterar sua sorte, trazendo o conceito de que uma casa tem um “funcionamento metabólico” o qual deve ser estudado, respeitado e modificado segundo determinados critérios. As influências invisíveis explicam por que certas edificações ou áreas em uma cidade que são bem ocupadas enquanto outras são evitadas pelos habitantes, viram guetos, etc. Em sumo, ela é uma técnica que ajuda a obtermos espaços agradáveis e energeticamente harmonizados.

O Feng Shui opera com o princípio de que a paisagem é animada por forças ocultas e linhas de energia que são causadas pelas formas dos objetos que nos cercam, pelas dimensões e cores das estruturas físicas que constituem essa mesma paisagem [“A forma é que dá qualidade à energia, mas por outro lado, a forma sem a energia também é neutra” (Carl Gustav Jung, “Psicologia do Inconsciente”, p. 71). “(…) A idéia de energia não é de uma substância que se movimenta no espaço, mas um conceito abstraído das relações de movimento. (…)”em “A Energia Psíquica”.

Alguns tipos de energia são auspiciosas, favoráveis e causadoras de condições harmoniosas (a que os chineses se referem como “Respiração Cósmica do Dragão” ou Sheng Chi), outras perniciosas, insalubres e geradoras de discórdias (que representam com o termo “Sopro da Morte” ou Shar Chi). A posição de nossa residência, ou lugar de trabalho e a distribuição, cor material etc. dos objetos com que nos rodeamos podem afetar nossa atitude e inclusive nossa psique [para um aprofundamento no conceito das Energias das Formas recomendamos um estudo sobre Radiônica].

Nesse sistema tradicional, tudo o que seja construção, habitação ou comércio é desenhado, instalado e decorado em função de certos critérios topográficos e magnéticos.

Segundo o princípio essencial do Feng Shui, tudo o que há no Universo emana energia, e tem um importante papel de troca. O padrão desta troca acompanha o ritmo da Natureza e pode ser expresso de forma análoga entre as áreas e partes das edificações e as partes, órgãos e funções do organismo com áreas da vida em geral. Assim, modificando o design e a distribuição interna e externa dos móveis nos ambientes, estamos interagindo com o Fluxo Energético que nos banha e nos cerca, alterando os rumos que nossa vida seguirá a curto, médio e longo prazo.

Toda mudança externa no ambiente proporciona uma mudança interna em nós mesmos. A casa não é estática, ela tanto influência seus moradores como é influenciada por eles; ela acompanha suas transformações e influi sobre elas! Quando mudamos algo em nossas casas estamos trabalhando com nossas emoções, com nosso estado de humor, com nossa percepção a nível inconsicente. Cada objeto novo que entra ou cada objeto velho que sai está intimamente relacionado a mudanças interiores profundas, que podem ser detectadas pelo método psicanalítico das associações de idéias. Utilizando determinados objetos, cores, formas, distribuição, direções, texturas, plantas, luzes, sons… Podemos criar um ambiente equilibrado e vitalizante. Alguns objetos são arquétipos, e requerem maior atenção (mesa, cama, espelho etc) .

A forma e as cores dos ambientes, dos objetos e dos móveis têm grande influência sobre as energias. Por isso, podemos melhorar alguns aspectos de nossa vida apenas com a mudança de certas coisas de lugar ou adicionando e eliminando outros objetos. Estamos ligados a todo sistema da vida, e nossa experiência não pode ser separada das forças vitais à nossa volta (por isso o consultor de Feng Shui examina toda a área externa próxima ao imóvel). Mesmo quando não podemos perceber isso, cada parte da vida depende de outra para criar o todo. Quando uma parte é destruída, toda a unidade se desfaz. Não ter essa ligação prejudica a nossa vida.

Interiores com bom Feng Shui alimentam o Chi dos moradores, e com isso eles progredirão no mundo exterior e darão conta de lidar com circunstâncias hostis. A harmonia universal deve começar pelo seio familiar…

As orientações obtidas através de uma análise do Feng Shui ambiental exerce um profundo efeito sobre a família, melhorando o relacionamento entre todos, atraindo boa saúde, promovendo prosperidade, protegendo as crianças e animais de estimação. Nos negócios, traz novas oportunidades, aumenta o fluxo de clientes, eleva o prestígio, estimula a criatividade.

Por isso propomos algumas modificações ao adotarmos o Feng Shui Oriental. Não somos chineses, de modo que a simbologia que lembra o som em chinês do nome de um objeto nada terá a nos retratar – assim como a simbologia do som em português do nome de um objeto não terá nenhuma implicação no Feng Shui oriental! É um abuso do bom senso pretender que um ideograma qualquer tenha algum efeito sobre as condições psíquicas de um ocidental que sequer sabe diferenciar um destes símbolos gráficos de outro. OS IDEOGRAMAS* NÃO TÊM EFEITO SOBRE A PSÍQUE OCIDENTAL, ou melhor, se o têm, melhor seria usarmos símbolos análogos mas que sejam representantes da nossa cultura, da nossa religião. A maioria dos assim chamados “Instrumentos de Cura do Feng Shui”** são, por este e outros motivos, ineficientes ou ineficazes, simplesmente porque estão imbuídos de elementos religiosos, simbólicos, fonéticos, etc de outra cultura, e muitas vezes têm atributo distinto em nossa cultura. Exemplo? A figura do dragão (que no Oriente e um ente divino, e no Ocidente representa o demônio – basta ver as imagens de São Jorge matando o dragão).

Nosso universo possui uma linguagem simbólica, por vezes inconsciente para nós. O Feng Shui evidencia os “diálogos” entre o ser e o ambiente e todo processo pessoal que isso implica. Os símbolos são imagens ligadas ao indivíduo através de uma verdadeira ponte de emoções, por isso ele é significativo e possui o poder da transformação. O F.S. utiliza elementos simbólicos como estimulação inconsciente e usufrui de seus poderes transformadores. Encontramos argumento similar ao adotado pela Teoria do Feng Shui na Psicologia, através dos seus psicotestes projetivos, em especial no teste denominado H.T.P. (House-Tree-Person, ou teste do desenho da Casa, da Árvore e da Figura Humana – criado por John N. Buck, em 1948), especialmente no que diz respeito ao significado simbólico dos elementos contidos no desenho da casa (portas, janelas, cortinas, jardim chaminé, etc). Cada elemento do desenho da casa, no caso, representa uma estrutura psíquica, e os adornos que se coloca nos desenhos retratam as condições destas estruturas.

Ao mudarmos elementos externos do nosso cotidiano estamos (potencialmente) modificando aspectos internos e ao trabalharmos com elementos simbólicos estamos ativando nosso inconsciente e buscando transformações [várias formas de terapia trabalham com esse contexto. A exemplo a Grafoterapia, que modificando os traços da escrita pretende implementar os respectivos traços de caráter, personalidade, humor etc.. no paciente]. Utilizando determinados objetos, cores, formas, distribuição, direções, texturas, plantas, luzes, sons… Podemos criar um ambiente equilibrado e vitalizante.

Para nós o mais importante é a “engenharia psicológica” envolvida na criação e na disposição dos móveis num determinado ambiente. Por isso somos, pessoalmente, defensores da causa da criação de conceitos para um Feng Shui Brasileiro. Os argumentos e razões para isso consideram:

A questão do idioma

Não faz o menor sentido usarmos quadros com ideogramas chineses de prosperidade, amor, sorte… Uma vez que tais símbolos não têm nenhuma conexão com nossa cultura, com a estruturação da nossa linguagem e com o simbolismo do nosso inconsciente coletivo. Tomemos como exemplo o símbolo do Dragão; considerado sagrado pela maioria dos povos do oriente, mas símbolo representativo do mal no mundo Ocidental Cristão. Imaginemos agora uma pessoa devota de São Jorge com uma imagem de um dragão chinês exposta na sua sala… Certamente a vida dessa pessoa irá “desandar”. Precisamos respeitar e usar os símbolos próprios de nossa cultura, ou daquela que descendemos ou que tomamos contato (nesse caso podemos usar os símbolos hebreus, druidas, etc.). Uma grande dificuldade encontrada no estudo de alguns conceitos orientais é que às vezes o mesmo termo pode significar conceitos diferentes, em função do contexto onde se insere.

A questão topográfica

Se para a economia da China Antiga as condições climáticas (ventos) e fluviais (rios) eram essenciais, na economia do nosso país outros critérios são mais importantes, e consideramos também que embora o fluxo magnético da Terra sirva igualmente para todos, há variações no fluxo desse campo segundo a localização hemisférica e a latitude terrestre.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/feng-shui-%e9%a2%a8%e6%b0%b4-acupuntura-para-ambientes/

A Monada Hieroglifica de John Dee

Uma das cifras mais poderosas em toda história da alquimia é um glifo obscuro de aparência bastante estranha. Há quem diga, entre eles seu criador, que este e é o símbolo da Pedra Filosofal, não apenas simbolicamente, mas que incorpora alguns dos poderes da Pedra sempre que é desenhada. Em outras palavras, acredita-se que a cifra carrega seu próprio espírito ou inteligência, que é evocada toda vez que é escrita ou construída. Este não é um espírito qualquer, mas a própria Alma do Mundo.

O nome dessa cifra é Mônada Hieroglífica, e foi criada pelo Dr. John Dee , o grande sistematizador da magia enochiana.

Sobre John Dee

Dee foi um verdadeiro homem da Renascença que alcançou renome mundial como matemático, cartógrafo, criptógrafo, mágico, filósofo,  astrólogo e alquimista. Entre suas qualidades estava a da obstinação.

“Eu estava tão decidido a estudar”, disse Dee sobre seu tempo em Cambridge, “que durante esses anos eu mantive inviolavelmente esta ordem: apenas dormir quatro horas todas as noites; permitir que me encontrem, comam e bebam comigo duas horas por dia; e das outras dezoito seriam todas gastas em meus estudos e aprendizado.”

Com uma intensa pureza de intenção e motivo, Dee embarcou em um plano sistemático para descobrir a Pedra Filosofal. Ele a via tanto como uma filosofia quanto como um objeto físico. Em sua opinião, a Pedra era “a força por trás da evolução da vida e o poder universal que une mentes e almas em uma unidade humana”.

Enquanto a maioria dos alquimistas de seu tempo procuravam a Pedra por sua capacidade de transmutar metais básicos em ouro, Dee queria possuí-la como fonte de transmutação espiritual também.

Em pouco tempo, o Dr. Dee percebeu que poderia representar todos os poderes e características da Pedra Filosofal em um símbolo mágico matematicamente corrente. Após sete anos de intenso estudo de símbolos alquímicos, ele encontrou o que procurava. Em apenas 13 dias em janeiro de 1564, Dee entrou em um estado de profunda concentração e completou uma prova matemática passo a passo chamada Monas Hieroglyphica (Mônada Hieroglífica).

Sobre a Mônada

Segundo o filósofo grego Pitágoras, a Mônada foi a primeira coisa que veio a existir no universo. Pode ser descrito como o átomo ou ovo espiritual que deu origem a todo o cosmos. Para os filósofos gnósticos, a Mônada era o único ser espiritual superior (a Mente Única) que criou todos os deuses menores e poderes elementais. Em termos junguianos, é o primeiro arquétipo que contém todos os outros arquétipos. Hoje podemos vê-lo como um mega computador que contém todo o software do universo.

Quando os alquimistas representavam a Mônada, costumavam acrescentar a legenda latina In Hoc Signo Vinces (Neste signo você vencerá). Todas as cifras codificadas dos alquimistas eram consideradas peças da Mônada Hieroglífica e, como veremos, a partir de John Dee isso tornou-se geometricamente verdadeiro.

Teria dito Dee que esta prova “revolucionaria a astronomia, a alquimia, a matemática, a linguística, a mecânica, a música, a ótica, a magia e o adepto”. Ele até pediu aos astrônomos que parassem de espiar através de seus telescópios tentando entender os céus e, em vez disso, passassem o tempo meditando em sua Mônada.

Dee acreditava que sua cifra era a verdadeira Pedra Filosofal. O frontispício de sua Mônada Hieroglífica é uma explicação sucinta da própria cifra, e o frontispício foi considerado tão importante nos tempos elisabetanos que ficou conhecido em todo o mundo como o Grande Selo de Londres.

No centro do frontispício está a cifra da Mônada dentro de um ovo invertido cheio de fluido embrionário e conhecido como Ovo Hermético. O fluido representava a Primeira Matéria; a gema é representada como um círculo e aponta para o centro da figura. O círculo com um ponto central é a cifra do ouro e do sol.

O símbolo do crescente lunar da lua cruza a parte superior da gema amarela do sol. Assim, o sol e a lua estão unidos em ouro neste nível, que representa a perfeição ou o fim da Grande Obra. Dentro da moldura ao redor da Mônada encontram-se os Quatro Elementos e os Três Essenciais do Enxofre (o sol no pilar esquerdo), Sal (a lua no pilar direito) e Mercúrio (o símbolo central).

Dois crescentes lunares arredondados ou ondas representando o Elemento Água estão na parte inferior da Mônada. Eles se juntam para formar os chifres de carneiro do signo de Áries, que significa Fogo. Áries, o primeiro signo do zodíaco, está associado à explosão de força vital na primavera, quando começa a Grande Obra. “Para começar o Trabalho desta Mônada”, escreveu Dee, “é necessário o auxílio do Fogo”.

Uma cruz, conhecida como a Cruz dos Elementos, conecta a parte inferior e a parte superior da cifra. Aqui se desenrola o funcionamento da realidade manifestada. Nesta seção da Mônada, todos os glifos dos cinco planetas visíveis, juntamente com os símbolos do sol e da lua, se cruzam. Os metais também são indicados, pois na alquimia, as cifras para o planeta e seu metal são os mesmos (Saturno/Chumbo, Júpiter/Estanho, Marte/Ferro, Vênus/Cobre, Mercúrio/Mercúrio, Lua/Prata e o Sol/Ouro). Ao traçar as linhas e arcos de conexão de diferentes maneiras, pode-se localizar todos os símbolos dos planetas e seus metais e, assim, revelar as forças invisíveis por trás da Natureza.

As cifras planetárias fundidas são organizadas da esquerda para a direita e de cima para baixo ao redor da Cruz dos Elementos. De acordo com Dee, ao colocar as cifras planetárias em seu relacionamento adequado, os símbolos astronômicos são imbuídos de uma “vida imortal”, permitindo que seu significado codificado seja expresso “de maneira mais eloquente em qualquer língua e qualquer nação”. Nesse arranjo, o sol é o único símbolo que é sempre o mesmo e, nesse sentido, incorruptível como o ouro. Não importa para que lado a Mônada seja virada – de cabeça para baixo, da esquerda para a direita, da direita para a esquerda ou sua imagem espelhada – a cifra do sol e do ouro é sempre exatamente a mesma.

O coração da Mônada e a cifra que engloba todas as outras é Mercúrio. Na alquimia, Mercúrio representa o próprio princípio da transformação. Assim como descrito na Mônada, Mercúrio faz parte de todos os metais e Elementos da alquimia e funde-os juntos como um. Dee incorporou o espírito de Mercúrio no coração de seu símbolo mestre e acreditava ter capturado com sucesso as essências de todos os elementos e metais arquetípicos.

Dee acreditava que sua Mônada carregava o segredo da transformação de qualquer coisa no universo, mas nunca falou de abertamente de seu significado publicamente porque achava que a Mônada era poderosa demais para ser compartilhada com os não iniciados. Ele disse a outros alquimistas em particular que seu símbolo não apenas descrevia a inter-relação precisa das energias planetárias, mas também mostrava o caminho para a transmutação dos metais, bem como a transformação espiritual do alquimista.

Dee teve a palavra final, no entanto. “Aquele que se dedica sinceramente a esses mistérios”, disse ele, “verá claramente que nada pode existir sem a virtude de nossa Mônada Hieroglífica”. E deu este conselho a quem quisesse ler a sua prova: “Quem não entende deve aprender ou calar-se”.

~ Denis Wiliam Hauck

Α

Mônada Hieroglífica

John Dee, Antuérpia, 1564

Teorema I

E pela linha reta e pelo círculo que o primeiro e mais simples exemplo e representação de todas as coisas devem ser demonstrados, sejam essas coisas inexistentes, sejam apenas ocultas sob o véu da Natureza.

Teorema II

Não podem ser produzidos artificialmente nem o círculo sem a linha, tampouco a linha sem o ponto. E, portanto, pela virtude do ponto e da Mônada que todas as coisas começam a emergir a princípio. Aquilo que é afetado na periferia, não importando quão grande seja, não pode de forma alguma carecer do suporte do ponto central.

Teorema III

Por conseguinte, o ponto central que vemos no centro da Mônada produz a Terra, em torno da qual o Sol, a Lua e os outros planetas seguem seus respectivos caminhos. O Sol tem a suprema dignidade, e nós o representamos como um círculo que possui um centro visível.

Teorema IV

Embora o semicírculo da Lua esteja disposto sobre o círculo do Sol e podendo parecer superior, não obstante sabemos que o Sol é Rei e senhor. Vemos que a Lua, com sua forma e sua proximidade, rivaliza como Sol em sua grandeza, que é aparente ao homem ordinário; porém, sua face, ou uma semiesfera da Lua, sempre reflete a luz do Sol. Ela deseja tão intensamente ser impregnada com os raios solares e assim transformar-se em Sol que por vezes desaparece completamente dos céus e alguns dias depois reaparece, e nós a representamos pela figura dos Cornos (Cornucópia).

Teorema V

E, de fato, eu concluí a ideia do círculo solar adicionando um semicírculo à Lua, pois a manhã e o entardecer foram o primeiro dia, e foi, portanto, no primeiro (dia) que a Luz dos Filósofos foi feita (ou produzida).

Teorema VI

Notamos aqui que o Sol e a Lua são sustentados pela Cruz retangular. Esta Cruz pode significar muito profundamente, e com razões suficientes em nosso hieróglifo, tanto o Ternário quanto o Quartenário. O Ternário é composto pelas duas linhas retas tendo um centro copulativo.

O Quartenário é produzido pelas quatro linhas retas encerrando quatro ângulos retos. Qualquer um destes elementos, as linhas ou os ângulos retos, repetidos duas vezes, consequentemente, fornecem-nos da maneira mais secreta a Octada, a qual eu não creio ter sido conhecida por nossos predecessores, os Magi, e a qual deveis estudar com grande atenção. A magia tripla dos primeiros Patriarcas e dos sábios consistia em Corpo, Alma e Espírito. Portanto, temos aqui o primeiro Setenário manifesto, ou seja, duas linhas retas com um ponto comum, os quais são três, e as quatro linhas que convergem para formar o ponto central separando as duas primeiras.

Teorema VII

Quando os Elementos estão distantes de seus locais familiares, as partes homogêneas são deslocadas, e isto um homem aprende pela experiência, pois é ao longo das linhas retas que eles retornam natural e efetivamente a esses mesmos locais. Portanto, não será absurdo representar o mistério dos quatro Elementos, no qual e possível reduzir cada um a sua forma elemental, por quatro linhas retas estendendo-se em quatro direções contrárias a partir de um ponto comum e indivisível. Aqui notareis particularmente que os geômetras ensinam que uma linha é produzida pelo deslocamento de um ponto: nós notificamos que deve ocorrer algo semelhante aqui, e por uma razão similar, porque nossas linhas elementares são produzidas por uma contínua cascata de gotículas como um fluxo no mecanismo de nossa magia.

Teorema VIII

Além disso, a extensão cabalística do Quartenário, de acordo com a fórmula comum de notação (porquanto dizemos um, dois, três e quatro), é uma fórmula abreviada ou reduzida a Década. Isto ocorre porque Pitágoras tinha o hábito de dizer: l +2 + 3 + 4 fazem 10. Não é por acaso que a cruz de ângulo reto, ou seja, a vigésima primeira letra do alfabeto romano, a qual considerava-se como sendo formada por quatro linhas retas, foi usada pelos mais antigos dos Filósofos romanos para representar a Década. Posteriormente, eles definiram o ponto em que o Ternário conduz sua forca até o Setenário.

Teorema IX

Vemos que tudo isto está perfeitamente de acordo com o Sol e a Lua de nossa Mônada, porque, pela magia dos quatro Elementos, deve ser feita uma separação exata em suas linhas originais; em seguida, a conjunção circulatória no complemento solar pelas periferias dessas mesmas linhas é realizada, pois não importa quão longa uma dada linha possa ser, é possível descrever um círculo passando por seus extremos, seguindo as leis dos geômetras. Portanto, não podemos negar quão úteis o Sol e a Lua são para nossa Mônada, em conjunção com a proporção decimal da Cruz.

Teorema X

A seguinte figura do signo de Áries, em uso entre os astrônomos, é a mesma para todo o mundo (um tipo de ereção ao mesmo tempo cortante e pontuda), e entende-se que ela indica a origem da triplicidade ígnea naquela parte do céu. Portanto, adicionamos o signo astronômico de Áries para indicar que na prática desta Mônada o uso do fogo é requerido.

Terminamos a breve consideração Hieroglífica de nossa Mônada, a qual somamos em um único contexto hieroglífico:

O Sol e a Lua desta Mônada desejam que os Elementos, nos quais a décima proporção florescerá, sejam separados, e isto é feito pela aplicação do Fogo.

Teorema XI

O signo do Carneiro, composto de dois semicírculos conectados por um ponto comum, e justamente muito atribuído ao lugar do nictêmero equinocial, porque o período de 24 horas dividido pelo equinócio denota as mais secretas proporções.

Isto eu tenho dito em respeito a Terra.

Teorema XII

Os antiquíssimos sábios e Magi transmitiram-nos cinco signos hieroglíficos dos planetas, todos os quais são compostos pelos sinais usados para a Lua e para o Sol, com o signo dos Elementos e do signo hieroglífico de Áries, o Carneiro, o qual se tornara óbvio para aqueles que examinarem essas figuras:


Não será difícil explicar cada um desses signos de acordo com a maneira Hieroglífica em vista de nossos princípios fundamentais, já colocados. Para começar, falaremos em paráfrases dos que possuem as características da Lua; em seguida, dos que possuem caráter solar. Quando nossa natureza lunar, pela ciência dos Elementos, tiver completado a primeira revolução ao redor da Terra, então ela foi chamada, misticamente, Saturno. Depois, na revolução seguinte, foi chamada Júpiter, e possui uma figura muito secreta. Então a Lua, desenvolvida por ainda mais uma Jornada, foi mais uma vez representada muito obscuramente pela figura que se costumava chamar Mercúrio. Vê-se como neste ciclo Lunar que ela deve ser conduzida por meio de uma quarta revolução, e não é algo contrário a nosso desenho secreto, não importa o que certos sábios possam dizer. Dessa maneira o puro espírito mágico, por sua virtude espiritual, realizará a obra de albificação no lugar da Lua; apenas para nos e como estava no meio de um dia natural ele falará hieroglificamente sem palavras, introduzindo e imprimindo estas quatro figuras geogênicas da pura Terra muito simplesmente preparada por nós.


Esta última figura estando no meio de todas as outras.


Teorema XIII

Agora falemos sobre a característica mística de Marte. Não é ele formado pelos hieróglifos do Sol e de Áries, o magistério dos Elementos intervindo parcialmente? E o de Vênus — eu gostaria de saber —, não é ele produzido pelo do Sol e dos Elementos de acordo com os melhores expoentes? Portanto, os planetas tornam-se para a periferia solar e para a obra de revivificação.

Na progressão notaremos que este outro Mercúrio aparecerá e é verdadeiramente o irmão gêmeo do segundo: pois, pela magia Lunar e Solar completa dos Elementos, o Hieróglifo desse Mensageiro fala-nos muito distintamente, e deveríamos examiná-lo cuidadosamente e escutar o que ele diz. E (pela vontade de Deus) ele é o Mercúrio dos Filósofos, o grandemente celebrado microcosmo e ADÃO. Portanto, alguns dos mais experientes inclinaram-se a colocá-lo em uma posição e dar-lhe um grau de distinção igual ao do próprio Sol. Isto nós não podemos fazer na presente época, a menos que adicionemos a esta obra de cristal coralíneo uma certa ALMA separada do corpo por uma arte pirofágica. É muito difícil conseguir isso e também muito perigoso por causa da fragrância que o fogo e o enxofre contém. Mas certamente esta ALMA pode realizar coisas maravilhosas. Por exemplo, junte-a, por meio de amarras inseparáveis, ao disco da Lua (ou ao de Mercúrio) por Lúcifer e pelo Fogo. Em terceiro lugar, é necessário que mostremos (a fim de demonstrar nosso número Setenário) que este é o próprio Sol dos Filósofos. Vós observareis a exatidão, bem como a clareza com a qual esta anatomia da Mônada Hieroglífica corresponde àquilo que é o significado do arcano destes dois teoremas.

Teorema XIV

Está portanto claramente confirmado que todo o magistério depende do Sol e da Lua. O Grandiosíssimo Hermes disse-nos isso repetidamente afirmando que o Sol é o pai e a Lua a mãe, e nos sabemos de fato que a terra vermelha (terra lemnia) é nutrida pelos raios da Lua e do Sol, os quais exercem uma influência singular sobre ela.

Os princípios da Astronomia inferior, mostrados na anatomia de nossa Mônada.

Teorema XV

Sugerimos, portanto, que os Filósofos considerem a ação do Sol e da Lua sobre a Terra. Eles notarão que, quando a luz do Sol entra em Áries, a Lua, quando entra no próximo signo, ou seja, Touro, recebe uma nova dignidade na luz e é exaltada naquele signo em relação às suas virtudes naturais. Os Antigos explicavam esta proximidade dos astros — a mais notável de todas — por um certo signo místico sob o nome do Touro. É muito provável que seja a exaltação da Lua, a qual os astrônomos dos tempos mais remotos testemunham em seus tratados. Este mistério pode ser compreendido apenas por aqueles que se tornaram os Pontífices Absolutos dos Mistérios. Pela mesma razão eles disseram que Touro é a casa de Vênus, ou seja, do amor conjugal, casto e prolífico, pois a natureza regozija-se na natureza, como o grande Ostanes ocultou em seus mistérios mais secretos. Estas exaltações são adquiridas pelo Sol, porque ele próprio, após ter sofrido muitos eclipses de sua luz, recebeu a força de Marte, e é dito como exaltado nesta mesma casa de Marte, que é o nosso Carneiro (Áries).

Este mistério secretíssimo é claro e perfeitamente mostrado em nossa Mônada pela figura Hieroglífica de Touro, o qual é aqui representado, e pela de Marte, que indicamos no Teorema XII e Teorema XIII pelo Sol unido a uma linha reta na direção do signo de Áries. Nesta teoria oferece-se outra análise cabalística de nossa Mônada, pois eis a real e engenhosa explicação: as exaltações da Lua e do Sol são feitas por meio da ciência dos Elementos.

Nota: Há duas coisas que devem ser particularmente observadas; primeiro, que a figura Hieroglífica de Touro é a mesma do ditongo dos gregos, o qual era sempre usado na terminação do singular; segundo, que por uma simples transposição de lugar mostramos a letra alfa duas vezes, por um circulo e um semicírculo, sendo simples tangentes que tocam uma a outra, como mostrado.

Teorema XVIora, tendo em vista nosso tema, filosofar brevemente a respeito da Cruz. Nossa Cruz pode ser formada por duas linhas retas (como dissemos) que são iguais, ou seja, não podemos separar as linhas, exceto partindo-as de modo que se consigam comprimentos iguais. Mas na distribuição mística dos componentes de nossa Cruz, queremos usar partes que sejam tanto iguais como desiguais. Estas partes mostram que uma virtude está oculta sob o poder da divisão da (Cruz Equilateral em duas partes, pois elas são de igual grandeza. Em geral, a Cruz deve ser composta de ângulos retos, já que a natureza da justiça exige a perfeita igualdade das linhas usadas na interseção. De acordo com essa justiça, propomos um exame cuidadoso do que segue a respeito da Cruz Equilateral (a qual corresponde à vigésima primeira letra do alfabeto latino).

 


Se, por meio do ponto comum no qual os ângulos opostos se encontram em nossa Cruz Retilínea, Retangular e Equilateral, imaginarmos uma linha reta dividindo-a em duas partes, então em cada lado da linha assim transversa notamos que as partes são perfeitamente iguais e similares.

E essas partes são similares em forma aquela letra dos romanos que corresponde a quinta vogal e que era frequentemente usada pelos mais antigos Filósofos Latinos para representar o numero V. Isso, suponho, não era feito por eles sem uma boa razão, pois é de fato a metade exata de nossa Década. Dessas partes da figura, assim duplicadas pela divisão hipotética da Cruz, podemos concluir que é razoável que cada parte represente o quinário, embora uma esteja de pé e a outra ao contrário, a semelhança da multiplicação da raiz quadrada que entra aqui de maneira maravilhosa como o número circular, ou seja, o quinário, do qual notamos que o numero 25 é produzido (porquanto esta letra é a vigésima do alfabeto e a quinta das vogais).


Consideraremos agora outro aspecto desta mesma Cruz Equilateral — o seguinte é baseado na posição mostrada em nossa Cruz Monádica. Suponhamos que uma divisão similar da Cruz em duas partes seja feita como no desenho. Agora vemos a forma germinante de outra letra do alfabeto latino — uma de pé e a outra ao contrário. Esta letra é usada (segundo o antigo costume dos latinos) para representar o número 50. Dai, parece-me, estabelecemos nossa Década da Cruz, pois é colocada no topo de todos os mistérios, e segue-se que esta Cruz é o signo hieroglífico da perfeição. Portanto, incluso na forma do quinário está o poder da Década, de onde provém o número 50 como seu próprio produto.

Ó, meu Deus, quão profundos são estes mistérios! E o nome ELE (EL) é dado a esta letra! E por esta mesma razão, vemos que esta responde a virtude decimal da Cruz, porque, começando da primeira letra do alfabeto, L é a décima letra, e contando de trás para frente, com base na letra X, descobrimos que ele cai no décimo lugar, e desde que mostramos que há duas partes da Cruz, e considerando agora sua virtude numérica, fica bem claro como o número cem é produzido. E se pela lei dos quadrados essas duas partes forem multiplicadas, elas resultam num produto igual a 2.500. Este quadrado, comparado com o quadrado do primeiro número circular e aplicado a ele, resulta numa diferença de cem, que é a própria Cruz explicada pelo quadrado de sua Década, e é reconhecida como cem. Portanto, como isto está contido na figura da Cruz, também representa a unidade. Pelo estudo destas teorias da Cruz, a mais digna de todas, somos assim induzidos a utilizar esta progressão, a saber: um-dez-um-cem, e esta é a proporção decimal da Cruz como se apresenta a nós.

Teorema XVII

Após um estudo apropriado do sexto teorema é lógico proceder para uma consideração dos quatro ângulos retos da Cruz, para cada qual, como mostramos no teorema precedente, atribuímos o significado do quinário de acordo com a primeira em que estão colocados, e transpondo-os para uma nova posição, o mesmo teorema mostra que eles tornam-se signos hieroglíficos do numero 50. É muito evidente que a Cruz é vulgarmente usada para indicar o número 10, e também é a vigésima primeira letra, seguindo a ordem do alfabeto latino, e é por esta razão que os sábios entre os Mecubales designaram o numero 21 pela mesma letra. De fato, podemos fazer uma consideração muito simples deste signo para descobrir que outras virtudes qualitativas e quantitativas ele possui. Baseados em todos estes fatos vemos que podemos seguramente concluir, pela melhor das computações cabalísticas, que nossa Cruz, por uma maravilhosa metamorfose, pode significar 252 para os Iniciados. Por conseguinte: quatro vezes cinco, quatro vezes cinquenta, dez, 21, os quais somados resultam em 252. Podemos extrair este número mediante dois outros métodos, como já mostramos anteriormente; recomendamos aos cabalistas, que ainda não fizeram experimentos para produzi-lo, não apenas estudá-lo em sua concisão, mas também formar um julgamento digno de filósofos a respeito das várias permutações e engenhosas produções que surgem do magistério deste número. E não esconderei de vós outra memorável mistagogia: considerai que nossa Cruz, contendo tantas ideias, oculte duas outras letras se examinarmos cuidadosamente suas virtudes numéricas depois de uma certa maneira, de modo que, por um método paralelo seguindo sua força verbal com esta mesma Cruz, reconheçamos com suprema admiração que é daqui que a LUZ é derivada (LUX), a palavra final do magistério, pela união e conjunção do Ternário dentro da unidade da Palavra.

Teorema XVIII

Dos nossos Teoremas XII e XIII pode-se inferir que a astronomia celestial é a fonte e o guia da astronomia inferior. Antes de elevarmos nossos olhos ao céu, cabalisticamente iluminados pela contemplação destes mistérios, devemos perceber com exatidão a construção de nossa Mônada, como é mostrada para nós não apenas na LUZ, mas também na vida e na natureza, pois ela revela explicitamente, por seu movimento interno, os mais secretos mistérios desta análise física. Contemplamos as funções celestiais e divinas deste Mensageiro celestial, e aplicamos agora esta coordenação à figura do ovo.

É bem sabido que todos os astrólogos ensinam que a forma da órbita traçada por um planeta é circular, é porque os sábios deveriam entender como uma simples alusão, é assim que o interpretamos no hieróglifo mostrado, o que concorda em cada detalhe com aquilo que já foi dito. Aqui vós notareis que os miseráveis alquimistas devem aprender a reconhecer seus numerosos erros e entender o que é a água da clara do ovo, o que é o óleo da gema do ovo e o que queremos dizer com cascas de ovos calcinadas. Esses impostores inexperientes devem aprender em seu desespero a compreender o que realmente querem dizer estas e muitas outras expressões similares. Aqui nos mostramos praticamente todas as proporções que correspondem à própria Natureza. Este é o mesmo Ovo de Águia que o escaravelho quebrou anteriormente por causa da injúria que a crueldade e a violência deste pássaro causaram aos tímidos homens primitivos, pois este pássaro perseguiu alguns deles que estavam entrando na caverna onde o escaravelho habitava para implorar por seu auxílio. O escaravelho ponderou como poderia ele sozinho vingar tamanha insolência e, possuindo caráter veemente, preparou-se para levar a cabo seu propósito por meio de constância e determinação, pois não lhe faltavam nem poder nem inteligência. O escaravelho perseguiu a águia resolutamente e fez uso desta, extremamente perspicaz: ele derramou seu excremento no seio de Júpiter onde o ovo estava depositado, fazendo com que o Deus, ao tentar livrar-se dele, lançasse o ovo ao chão, onde ele se quebrou. O escaravelho teria, desta maneira, exterminado toda a família das águias da Terra não fosse Júpiter, a fim de evitar tamanha calamidade, resolver que, durante aquela parte do ano, quando as águias chocavam seus ovos, nenhum escaravelho deveria voar próximo a eles. Portanto, aconselho aqueles que forem maltratados pela crueldade deste pássaro que aprendam a utilíssima arte destes insetos solares (Heliocantharis) que vivem ocultos e escondidos por longos períodos de tempo. Por estas indicações e sinais, pelas quais deveriam ser muito gratos, eles próprios serão capazes de obter vingança contra seus inimigos. E eu afirmo (ó Rei!) que não é Esopo, mas Edipo quem me vem à lembrança, pois ele apresentou estas coisas a almas valorosas e aventurou-se pela primeira vez a falar desses mistérios supremos da Natureza. Eu sei perfeitamente que houve certos homens que, pela arte do escaravelho, dissolveram o ovo da águia e sua casca em puro albume e fizeram desse modo uma mistura de tudo; subsequentemente eles reduziram esta mistura a um líquido amarelo, por um processo notável, a saber: por uma incessante circulação, assim como os escaravelhos rolam suas bolotas de terra. Por este meio a grande metamorfose do ovo foi alcançada; o albume foi absorvido durante muitas revoluções ao redor das órbitas heliocêntricas, e foi envolvido no mesmo líquido amarelo. A figura Hieroglífica mostrada aqui, desta arte, não desagradará os que são familiarizados com a Natureza.


Lemos que, durante os primeiros séculos, essa arte foi muito celebrada entre os mais sérios e antigos Filósofos como certa e proveitosa. Anaxágoras realizou o magistério e extraiu dai uma excelente medicina, como podeis ler em seu livro Sobre a Natureza.

Aquele que se devota sinceramente a esses mistérios verá claramente que nada é capaz de existir sem a virtude de nossa Mônada Hieroglífica.

Teorema XIX

O Sol e a Lua irradiam sua força corpórea sobre os corpos dos Elementos inferiores muito mais do que todos os outros planetas. É este fato que mostra, com efeito, que na análise pirognômica todos os metais perdem o humor aquoso da Lua, assim como a solução ígnea do Sol, pelas quais todas as coisas corpóreas, terrestres e mortais são sustentadas.

Teorema XX

Mostramos suficientemente que por razões muito boas os Elementos são representados por linhas retas em nosso Hieróglifo, portanto damos uma conjetura bastante exata a respeito do ponto que colocamos no centro de nossa Cruz. Este ponto não pode de maneira alguma ser subtraído de nosso Ternário. Se qualquer pessoa que ignore esta sabedoria divina disser que nesta posição de nosso Binário o ponto pode ser ausente, nós responderemos que ele pode supô-lo ausente, mas aquele que permanecer sem ele certamente não será nosso Binário; pois o Quartenário é imediatamente manifesto porque, removendo o ponto, descontinuamos a unidade das linhas. Agora, nosso adversário pode supor que por este argumento reconstruímos nosso Binário; que de fato nosso Binário e nosso Quartenário são uma e a mesma coisa, de acordo com essa consideração, o que é manifestadamente impossível. O ponto precisa necessariamente estar presente, pois com o Binário constitui nosso Ternário, e não há nada que possa substituí-lo. Entretanto, ele não pode dividir a propriedade hipostática de nosso Binário sem anular uma parte integrante deste. Assim demonstra-se que ele não pode ser dividido. Todas as partes de uma linha são linhas. Isto é um ponto, e isto confirma nossa hipótese. Portanto, o ponto não forma parte de nosso Binário e, entretanto, forma parte integrante de nosso Binário. Segue-se que devemos tomar nota de tudo que esta oculto na forma hipostática e compreender que não há nada supérfluo na dimensão linear de nosso Binário. Mas porque vemos que essas dimensões são comuns a ambas as linhas, considera-se que elas recebam uma certa imagem secreta deste Binário. Dessa maneira, demonstramos aqui que o Quartenário está oculto no Ternário. Ó Deus, perdoa-me se pequei contra Tua Majestade revelando tão grande mistério em meus escritos que devem ser lidos por todos, mas creio que apenas os que são realmente dignos o compreenderão.

Continuamos, portanto, a expor o Quartenário de nossa Cruz como temos indicado. Procure diligentemente descobrir se o ponto pode ser removido da posição na qual primeiramente o encontramos. Os matemáticos ensinam que ele pode ser deslocado com muita facilidade. No momento em que é separado o Quartenário permanece, e torna-se muito mais claro e distinto aos olhos de todos.

Esta não é uma parte de suas proporções substanciais, mas apenas o ponto confuso e supérfluo que é rejeitado e removido.

Ó Divina Majestade Onipotente, como nós Mortais somos constrangidos a confessar quão grande Sabedoria e inefáveis mistérios residem na Lei que Tu fizeste! Por todos estes pontos e letras os segredos mais sublimes, e mistérios arcanos terrestres, assim como as múltiplas revelações deste ponto único, agora colocadas na Luz e examinadas por mim, podem ser fielmente demonstradas e explicadas. Este ponto não é supérfluo dentro da Divina Trindade, ainda quando considerado, por outro lado, dentro do Reino dos quatro Elementos onde ele é negro, portanto corruptível e insípido. É quatro vezes felicíssimo, o homem que atinge este ponto (quase copulativo) no Ternário, e rejeita e remove aquela parte sombria e supérflua do Quartenário, a fonte de vagas sombras. Assim, após algum esforço, obtemos as vestes brancas brilhantes como a neve.

Ó, Maximiliano, que Deus, por meio dessa mistagogia, faça de você ou de algum outro descendente da Casa da Aústria o mais poderoso de todos quando me chegar a hora de repousar tranquilo em Cristo, afim de que a honra de Seu formidável nome possa ser restaurada nas abomináveis e intoleráveis sombras que pairam sobre a Terra. E agora, por temor de que eu próprio possa dizer demais, devo retornar imediatamente ao fardo de minha tarefa, e porque ja terminei meu discurso para aqueles cujo olhar está centrado no coração, é agora necessário traduzir minhas palavras para aqueles cujo coração esta centrado nos olhos.

Aqui, portanto, podemos representar em alguma medida na figura da Cruz o que já dissemos. Duas linhas iguais são igual e desigualmente cruzadas a partir do ponto de necessidade que se vê em A. As quatro linhas retas, como em B, produzem um tipo de vácuo em que são retiradas do ponto central, que era sua condição comum, em cujo estado não eram prejudiciais, de uma para a outra. Este é o caminho pelo qual nossa Mônada, progredindo pelo Binário e Ternário no Quartenário purificado, é reconstituída dentro de si mesma, unida em proporções iguais, e que agora mostra que o todo é igual a suas partes combinadas, pois durante o tempo em que isto ocorre nossa Mônada não admitirá outras unidades ou números, porque é autossuficiente, e assim exatamente dentro de si mesma; absoluta em todos os números na amplitude da qual está difusa, não apenas magicamente, mas também por um processo um tanto vulgar empregado pelo artista, que produz grandes resultados de dignidade e poder dentro desta mesma Mônada, que é resumida à sua própria primeira matéria; enquanto o que é estranho a sua natureza e às suas proporções naturais hereditárias é segregado com a máxima cautela e diligência e rejeitado para sempre entre as impurezas.

Teorema XXI

Se o que está oculto nas profundezas de nossa Mônada for trazido à luz, ou, ao contrário, se as partes primárias que são exteriores em nossa Mônada forem fechadas no centro, vós vereis até onde a transformação filosófica pode ser produzida. Exporemo-vós agora outra comutação local de nossa Mônada mística, usando as partes dos caracteres hieroglíficos dos planetas superiores que são imediatamente oferecidas a nós. Cada um dos outros planetas por este motivo e, por sua vez, elevado a uma posição que lhes foi frequentemente apontada por Platão; portanto, se eles forem convenientemente tornados nesta posição e neste ponto em Áries, Saturno e Júpiter estão em conjunção. Descendo, a Cruz representa Vênus e Mercúrio, seguidos pelo próprio Sol com a Lua abaixo. Isto será refutado em outros círculos; entretanto, como não queremos esconder o tesouro filosófico de nossa Mônada, resolvemos dar uma razão para que a posição da Mônada seja dessa maneira deslocada. Mas veja! Ouça estes outros grandes segredos que conheço e revelarei para assisti-los no que concerne a esta posição, que posso explicar em poucas palavras. Distribuímos nossa Mônada, agora vista de um aspecto diferente e analisada de uma maneira diferente, como visto em B, D, C. Neste novo Ternário as figuras C e D são conhecidas por todos os homens, mas a figura designada por B não é de fácil compreensão.

É necessário dar cuidadosa atenção as conhecidas formas D e C, que mostram que as essências estão separadas e distintas da figura B: também vemos que os Cornos da figura C estão virados para baixo em direção a Terra. A parte de D que ilumina C esta também direcionada à Terra, ou seja, para baixo, no centro da qual o solitário ponto visível é em verdade a Terra; finalmente, estas duas figuras D e C viradas em direção a extremidade inferior dão uma indicação Hieroglífica da Terra. Portanto, a Terra é feita para representar, hieroglificamente, estabilidade e fixação. Deixo para vós julgardes o que se quer dizer com C e D: do que vós notareis um grande segredo. Todas as qualidades que primeiramente atribuímos ao Sol e a Lua podem ter aqui uma interpretação perfeita e muito necessária, estas duas estrelas até agora tendo sido colocadas na posição superior com os cornos da Lua virados para cima; porém, já falamos a este respeito.

Examinaremos agora, de acordo com os fundamentos de nossa Arte Hieroglífica, a natureza desta terceira figura B. Primeiro, carregamos a Coroa o crescente duplo da Lua que é nosso Áries, convertido de uma maneira mística. Então se segue o signo hieroglífico dos Elementos, que está anexado a ele. O porque de usarmos a Lua dupla pode ser explicado que isto está de acordo com a matéria, o que requer uma quantidade em dobro da Lua. Falamos destes graus dos quais os Filósofos em seus experimentos puderam encontrar apenas quatro, entre todas as substancias criadas, ou seja, ser, viver, sentir e compreender (esse, vivere, sentire et entelligere). Dizendo que os dois primeiros destes Elementos são encontrados aqui, dizemos que eles são chamados argent vive (lunas existens, viva), princípios de movimento. A Cruz que está anexa implica que neste artífice os Elementos são requisitados. Nós lhes dissemos muitas vezes que em nossa teoria o hieróglifo da Lua é como um semicírculo, e pelo contrário o círculo completo significa o Sol, enquanto aqui temos dois semicírculos separados, mas tocando-se em um ponto comum; se estes estão combinados, como o podem ser por uma certa arte, o produto pode resultar na plenitude circular do Sol. De todas estas coisas que consideramos, o resultado é que podemos resumir e, em uma forma Hieroglífica, oferecer o seguinte:

Argent vive, que deve ser desenvolvido pelo magistério dos Elementos, possui o poder da força solar pela unificação destes dois semicírculos unificados por uma arte secreta.

O círculo, o qual falamos e que designamos na figura pela letra E, é assim realizado e formado. Vós lembrareis que dissemos que o grau solar não nos é entregue prontamente em mão pela Natureza, mas que é artificial e não produzido pela Natureza, estando-nos disponível em seu primeiro aspecto de acordo com sua própria natureza (como em B) em duas partes separadas e dissolvidas, e não solidamente unido o corpo solar. De fato, o semidiâmetro destes semicírculos não é igual ao semidiâmetro de D e C, mas muito menor. Todos podem perceber isto pela forma como os desenhamos no diagrama, onde está claro que este mesmo B não tem uma amplitude tão grande quanto D e C. As proporções na figura confirmam isto, sendo desta maneira transformada num círculo de B a E. Portanto, aparece ali diante de nossos olhos apenas o signo de Vênus. Já demonstramos por estes silogismos hieroglíficos que de B não podemos obter o verdadeiro D, e que o verdadeiro C não é e não pode estar completamente dentro da natureza de B; portanto, ele por si mesmo não é capaz de tornar-se o verdadeiro Argent Vive. Vós podeis duvidar do sujeito desta vida e deste movimento, se é que é possível, de fato, possuí-lo naturalmente ou não. Todavia, como já explicamos aos sábios, todas as coisas que são ditas a respeito de B, de maneira similar serão pelo menos analógicas, e tudo o que ensinamos brevemente a respeito de C e D pode ser muito bem aplicado, por analogia, a este mesmo B acompanhado pelos Elementos.

De fato, o que anexamos à natureza de Áries deveria servir perfeitamente para este caso, pois ele carrega esta figura B, embora ao contrário, em seu ápice, é o que está anexado a figura B e a figura mística dos Elementos. Portanto, vemos por meio desta anatomia que apenas do corpo de nossa Mônada, separado desta maneira por nossa Arte, este novo Ternário é formado.

Disto não podemos ter dúvidas, pois os membros que a compõem reagrupam-se e formam entre si por sua própria vontade uma união e simpatia monádica que é absoluta. Por este meio descobrimos entre estes membros uma força que é tanto magnética como ativa.

Finalmente penso ser bom notar aqui, por recreação, que este mesmo B apresenta muito claramente as mesmas proporções na mal formada e rústica letra na qual carrega pontos visíveis em direção ao topo e na frente, e que estas letras são três em número, de outro modo seriam em número de seis, sumariando três vezes três: elas são brutas e mal-formadas, instáveis e inconstantes, feitas de tal maneira que parecem ser formadas por uma serie de semicírculos. Mas o método de tornar estas letras mais estáveis e firmes está na mão dos peritos literários. Eu coloquei aqui diante de vossos olhos uma infinitude de mistérios: introduzo um jogo, mas para interromper a teoria. Entretanto, não compreendo o esforço de certas pessoas em levantarem-se contra mim. Nossa Mônada sendo reconstituída em sua primeira posição mística e cada uma de suas partes sendo ordenada pela Arte, eu os advirto e exorto a buscarem com zelo pelo fogo de Áries na primeira triplicidade, que é nosso fogo equinocial e que é a causa pela qual nosso Sol deve ser elevado acima de sua qualidade vulgar. Muitas outras coisas excelentes deveriam ser estudadas também em felizes e sabias meditações.


Agora passaremos a outro assunto; queremos apontar o caminho, de maneira não apenas amigável, mas também fiel, para os outros segredos sobre os quais devemos insistir, antes que caíamos em silêncio e os quais, como dissemos, compreendem uma notável infinitude de outros mistérios.

Teorema XXII

Será prontamente entendido que os mistérios de nossa Mônada não podem ser extraídos, a menos que se esteja inclinado a farmácia da mesma Mônada, e que estes mistérios não sejam revelados a não ser aos Iniciados. Eu ofereço aqui para a contemplação de vossa Serena Alteza os vasos da Arte Sagrada que são verdadeira e completamente cabalísticos. Todas as linhas que unem as diversas partes de nossa Mônada são muito sabiamente separadas; nós atribuímos a cada uma delas uma letra especial, a fim de distingui-las umas das outras, como vereis no diagrama.

Informamos-vos que em A é encontrado um certo vaso artificial, formado por A e B com a linha M. O diâmetro exterior é comum a ambos, A e B, e este não é diferente, como vemos, desta primeira letra do alfabeto grego, exceto por uma única transposição das partes.

Ensinamos a verdadeira simpatia mística primeiro pela linha, o círculo e o semicírculo, e, como dissemos anteriormente, esta simetria pode apenas ser formada com base no círculo e no semicírculo, que estão sempre juntos pelo mesmo propósito

mas de outros vasos. Ou seja, X  é feito de vidro e 8 é feito de terra (cerâmica ou argila). Em segundo lugar, X  e 8 podem lembrar-nos do Pilão e do Almofariz que devem ser feitos como a substantia adequada, nos quais pérolas imperfuráveis artificias, lamelas de cristal e berilo, crisólita, rubis preciosos, carbúnculos e outras pedras artificiais raras podem ser transformadas em pó.

Por fim, o indicado pela letra w é um pequeno vaso contendo os mistérios, que nunca está distante desta última letra do alfabeto grego agora restaurada a sua mistagogia primitiva, e que é feita de uma única transposição de suas partes componentes, consistindo de dois meio-círculos de tamanho igual. A respeito dos objetos e necessidades vulgares que são requeridos em adição aos vasos, e o material dos quais eles devem ser moldados, seria inútil tratar disso aqui. Entretanto, deve ser considerado como buscar pela ocasião para realizar sua função por uma circulação espiral muito secreta e rápida e um sal incorruptível pelo qual o primeiro princípio das coisas seja preservado, ou melhor, que a substantia que flutua no vitríolo após sua dissolução mostre ao aprendiz uma espécie primordial, mas muito transitória de nossa obra, e se ele for atento, uma maneira muito sutil e mais efetiva de preparar a obra ser-lhe-á revelada. Dentro de X, o vaso de vidro, durante o exercício desta função particular, todo o ar deve ser excluído ou será extremamente prejudicial. O corolário de w é o homem agradável, ativo e bem disposto o tempo todo. Quem, então, não está agora apto a procurar os frutos doces e salutares desta Ciência, que, digo, cresce do mistério destas duas letras?

Alguns dos que os afastariam de nosso Jardim de Hespérides, e nos fariam ver isto um pouco mais próximo como num espelho, dizem que está estabelecido que este não é formado a não ser por nossa Mônada.

Mas a linha reta que aparece em Alfa e homologa aquela que, na separação da análise final de nossa Cruz, já foi designada pela letra M. Pode-se descobrir desta maneira de onde as outras foram produzidas. Veja o esquema delineado a seguir.

Nestas poucas palavras, eu sei que dou não só os princípios, mas também a demonstração ao aos que podem ver neles como fortificar o vigor ígneo e a origem celestial, de modo que possam emprestar uma orelha ao grande Demócrito, certos de que não é um dogma mítico e sim místico e secreto, de acordo como qual está a medicina da lama, a libertadora de todo o sofrimento, e está preparado para os que o desejam e como ele ensinou; deve ser buscado na Voz do Criador do Universo, de maneira que os homens, inspirados por Deus e gerados novamente, aprendam pela perfeita disposição das línguas místicas.

Teorema XXIII

Apresentamos agora de forma diagramática as proporções já observadas por nós na construção de nossa Mônada, as quais devem ser vistas por aqueles que desejam gravá-las sobre seus selos e anéis, ou para utilizá-las de qualquer outra maneira. Em nome de Jesus Cristo crucificado sobre a Cruz, eu digo que o Espírito escreve estas coisas rapidamente por meu intermédio; eu espero e creio que eu seja apenas a pena que traça esses caracteres. O Espírito impele-nos agora para nossa Cruz dos Elementos, com todas as medidas seguintes que devem igualmente ser obtidas por um processo de raciocínio, de acordo com o tema que for proposto para discussão. Tudo que existe abaixo do céu da Lua contém o princípio de sua própria geração em si mesmo e é formado pela coagulação dos quatro Elementos, a menos que seja a própria substancia primária, e isto de várias maneiras não é conhecido pelos vulgares, não havendo nada no mundo criado em que os Elementos existam em igual proporção ou igual força. Mas, por meio de nossa Arte, eles podem ser restituídos à igualdade em certos aspectos, como bem sabem os sábios; portanto, em nossa Cruz, tornamos as partes iguais e desiguais.


Outra razão é que podemos promulgar tanto a similitude quanto a diversidade, a unidade ou a pluralidade, ao afirmarmos as propriedades secretas da Cruz equilateral, como foi dito anteriormente.

Se tivéssemos de expor todas as razões que conhecemos, para as proporções estarem estabelecidas desta maneira, ou se tivéssemos que demonstrar as causas por meio de outros métodos que ainda não tenhamos usado, embora tenhamos feito o suficiente para os sábios, deveríamos transcender os limites da obscuridade que temos prescrito, não sem razão, em nosso discurso.

Tome um ponto qualquer, o ponto A, por exemplo; desenhe uma linha reta passando por ele em ambas as direções, como CAK. Divida a linha CK em A comum a linha formando ângulos retos, a qual chamaremos DAE. Agora selecione um ponto qualquer na linha AK, que seja ele o ponto B, e obtém-se assim a medida primária de AB, a qual será a medida comum de nossa obra. Tome três vezes o tamanho de AB e marque a linha central de A a C, que será AC. Agora tome duas vezes a distância entre AB e marque-a na linha DAE na altura do ponto E e novamente em D, de maneira que a distancia entre D e E seja quatro vezes a distância entre A e B. Assim forma-se nossa Cruz dos quatro Elementos, ou seja, o Quartenário formado pelas linhas AB, AC, AD, AE. Agora na linha BK tome uma distância igual a AD na linha central ate o ponto I. Tendo o ponto I como centro e IB como o raio, descreva um círculo que corte a linha AK em R: do ponto R em direção ao ponto K marque uma distância igual a AB, que sera RK. Do ponto K desenhe uma linha formando ângulos retos na linha central, formando um ângulo em cada lado de AK, que será PFK. Do ponto K meça na direção de F uma distância igual a AD, que será KF: agora com K como centro e KF como raio descreva um semicírculo FLP, de forma que FKP seja o diametro. Finalmente, no ponto C desenhe uma linha formando ângulos retos em AC suficientemente longa em ambas as direções para formar OCQ. Agora na linha CO medimos a partir de C uma distância igual a AB, que é CM, e tendo M como centro e MC como raio descrevemos um semicírculo CHO. E da mesma maneira em CQ, do ponto C mediremos uma distância igual a AB que será CN, e do centro N com CN como raio, traçamos um semicírculo CGQ, do qual CNQ é o diâmetro. Agora afirmamos, com base nisso, que todas as medidas requeridas foram explicadas e descritas em nossa Mônada.

Seria bom notar, vós que conheceis as distâncias de nosso mecanismo, que toda a linha CK é composta de nove partes, das quais uma nós é fundamental, e que de outra maneira é capaz de contribuir para a perfeição de nossa obra; então, mais uma vez, todos os diâmetros e semidiâmetros devem ser designados aqui por linhas hipotéticas escondidas ou ocultas, como dizem os geômetras. Não é necessário deixar nenhum centro visível, com exceção do centro solar, que aqui é marcado pela letra I, onde é desnecessário adicionar qualquer letra. Entretanto, os que são adeptos de nosso mecanismo podem adicionar algo à periferia solar, como ornamento, e não por virtude de qualquer necessidade mística; por esta razão esta possibilidade não foi anteriormente por nós considerada. Este algo é um anel fronteiriço, necessariamente uma linha paralela à periferia original. A distância entre estas paralelas pode ser fixada em um quarto ou um quinto da distância AB. Pode-se também dar ao crescente da Lua uma forma que é frequentemente assumida por este planeta no céu, após sua conjunção com o Sol — ou seja, na forma de Cornos, que você obterá se, do ponto K na direção do ponto R, medir a distância mencionada; a quarta ou quinta parte da linha AB, e se do ponto assim obtido, como um centro, traçar com o raio lunar original a segunda parte do crescente lunar, a qual junta-se nas extremidades ao final do primeiro semicírculo. É possível realizar uma operação similar com respeito às posições M e N quando se eleva a perpendicular até cada um destes pontos centrais; podemos usar a sexta parte de AB ou um pouco menos, de cada ponto, como o centro, descrevemos dois outros semicírculos, usando o raio dos dois primeiros, MC e NC.

Nosso Cânone de Transposição

Tome a mesma proporção que é mostrada em números quando escritos na ordem natural, após a primeira Mônada; então, do primeiro ao último, faça uma multiplicação contínua, ou seja, o primeiro pelo segundo, o produto destes dois pelo terceiro, e este produto pelo quarto, e assim por diante, até o último; o produto final determina todas as Metastáses possíveis, com respeito a proporção no espaço, e pela mesma razão em proporção a diversos objetos de acordo com o que desejares.

Eu te digo, ó Rei, esta operação será útil para ti em muitas circunstâncias, seja no estudo da Natureza, seja nos afazeres do governo dos homens; pois é ela que eu costumo usar com enorme prazer no Tziraph ou Themura dos hebreus.

Eu sei que muitos outros números poderosos podem ser produzidos com base em nosso Quartenário, pela virtude da aritmética e do poder dos números. Ainda assim aquele que não entende que uma grande obscuridade foi por este método iluminada por aqueles números que eu tracei, os quais tem natureza e distinção entre uma infinidade, não será capaz de estimar seu significado, o qual é obscuro e não óbvio. Quantos encontrarão em nossos números a autoridade que prometemos pelo valor dos Elementos, pelas afirmações a respeito das medidas do tempo e pela certeza das proporções que podem ser atribuídas aos poderes e as forças das coisas? Tudo isso vós deveis estudar nos dois diagramas precedentes.

Pode-se deduzir muitas coisas dos diagramas que, preferivelmente, devem ser estudadas silenciosamente em vez de divulgadas abertamente por meio de palavras. Entretanto, vos informaremos de uma coisa, entre muitas outras, reveladas agora para nós pela primeira vez, em relação a esta nova Arte; por entendimento, estabelecemos aqui uma causa racional por virtude da qual o Quartenário com a Década, de certa maneira, terminam a série numérica. Afirmamos que esta causa não é exatamente a que foi descrita pelos Mestres que nos precederam, mas é exatamente como começamos aqui. Esta Mônada foi restaurada integral e fisicamente a si mesma, ou seja, ela é realmente a Mônada Unitíssima, a unidade comprovada das imagens; e não está contida no poder da Natureza, nem tampouco podemos por qualquer arte promover nela qualquer movimento ou progressão, a menos que por meio de quatro ciclos ou revoluções supra celestiais, e desta Mônada é gerado o que gostaríamos de denominar como a maneira e o curso de sua eminência; e por esta razão, não há no mundo elemental, nem nos mundos celestial ou supra celestial, qualquer poder ou influencia criado que não possa ser absolutamente por ela favorecido ou enriquecido.

Foi por causa do verdadeiro efeito disto que quatro homens ilustres, amigos da Filosofia, estiveram juntos na grande obra em uma ocasião.

Um dia eles foram surpreendidos por um grande milagre neste assunto, e, após isso, passaram a dedicar-se a cantar encômios a Deus e a orar ao Todo Poderoso porque Ele havia lhes conferido tamanha sabedoria e poder e um grande Império sobre todas as criaturas.

Teorema XXIV

Da mesma forma que iniciamos o primeiro teorema deste pequeno livro com o ponto, a linha reta e o círculo, e os estendemos do ponto Monádico ao efluxo extremamente linear dos Elementos em um círculo, quase análogo ao equinocial onde faz uma revolução em 24 horas, assim agora por fim nós consumamos e terminamos a metamorfose e a metástase de todos os conteúdos possíveis do Quartenário definido pelo número 24 em nosso presente vigésimo quarto teorema, para a honra e Glória dEle, como testemunhado por João, o Arquiprior dos Mistérios Divinos, no quarto e no último capítulo do Apocalipse, o qual está sentado em Seu Trono, ao redor e em frente de quatro animais, cada um com seis asas, que cantam noite e dia sem repouso: “Santo, Santo, Santo é o Senhor, Deus Onipotente, o qual foi, é e virá a ser”, assim como os 24 anciões nos 24 assentos colocados no círculo o adoram e prostram-se, tendo derribado por terra suas Coroas de ouro, dizendo: “Digno es Tu, ó Deus, de receber Glória, Honra e Virtude, porque Tu criaste todas as coisas, e por Tua Vontade foram elas criadas”.

Amem.

Diga a quarta letra.

Aquele a quem Deus conferiu a vontade e a habilidade de saber neste caminho o mistério Divino por meio dos monumentos eternos da literatura e acabar com grande tranquilidade esta obra no dia 25 de janeiro, tendo encetando-a no dia 13 do mesmo mês.

Ano de 1564, Antuérpia.

CONTRACTUS AD PUNCITUM

Aqui os olhos vulgares hão de enxergar apenas a Obscuridade e desesperar-se-ão consideravelmente.

Ω

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-monada-hieroglifa-de-john-dee/

O Sufismo

Escrito por Robert Graves, para o livro “Os Sufis”, de Idries Shah

Os sufis são uma antiga maçonaria espiritual cujas origens nunca foram traçadas nem datadas; nem eles mesmos se interessam muito por esse tipo de pesquisa, contentando-se em mostrar a ocorrência da sua maneira de pensar em diferentes regiões e períodos. Conquanto sejam, de ordinário, erroneamente tomados por uma seita muçulmana, os sufis sentem-se à vontade em todas as religiões: exatamente como os “pedreiros-livres e aceitos”, abrem diante de si, em sua loja, qualquer livro sagrado – seja a Bíblia, seja o Corão, seja a Torá – aceito pelo Estado temporal. Se chamam ao islamismo a “casca” do sufismo, é porque o sufismo, para eles, constitui o ensino secreto dentro de todas as religiões. Não obstante, segundo Ali el-Hujwiri, escritor sufista primitivo e autorizado, o próprio profeta Maomé disse: “Aquele que ouve a voz do povo sufista e não diz aamin (amém) é lembrado na presença de Deus como um dos insensatos”. Numerosas outras tradições o associam aos sufis, e foi em estilo sufista que ele ordenou a seus seguidores que respeitassem todos os “Povos do Livro”, referindo-se dessa maneira aos povos que respeitavam as próprias escrituras sagradas – expressão usada mais tarde para incluir os zoroastrianos.

Tampouco são os sufis uma seita, visto que não acatam nenhum dogma religioso, por mais insignificante que seja, nem se utilizam de nenhum local regular de culto. Não têm nenhuma cidade sagrada, nenhuma organização monástica, nenhum instrumento religioso. Não gostam sequer que lhes atribuam alguma designação genérica que possa constrangê-los à conformidade doutrinária. “Sufi” não passa de um apelido, como “quacre”, que eles aceitam com bom humor. Referem-se a si mesmos como “nós amigos” ou “gente como nós”, e reconhecem-se uns aos outros por certos talentos, hábitos ou qualidades de pensamento naturais. As escolas sufistas reuniram-se, com efeito, à volta de professores particulares, mas não há graduação, e elas existem apenas para a conveniência dos que trabalham com a intenção de aprimorar os estudos pela estreita associação com outros sufis. A assinatura sufista característica encontra-se numa literatura amplamente dispersa desde, pelo menos, o segundo milênio antes de Cristo, e se bem o impacto óbvio dos sufis sobre a civilização tenha ocorrido entre o oitavo e o décimo oitavo séculos, eles continuam ativos como sempre. O seu número chega a uns cinqüenta milhões. O que os torna um objeto tão difícil de discussão é que o seu reconhecimento mútuo não pode ser explicado em termos morais ou psicológicos comuns – quem quer que o compreenda é um sufi. Posto que se possa aguçar a percepção dessa qualidade secreta ou desse instinto pelo íntimo contato com sufis experientes, não existem graus hierárquicos entre eles, mas apenas o reconhecimento geral, tácito, da maior ou menor capacidade de um colega.

O sufismo adquiriu um sabor oriental por ter sido por tanto tempo protegido pelo islamismo, mas o sufi natural pode ser tão comum no Ocidente como no Oriente, e apresentar-se vestido de general, camponês, comerciante, advogado, mestre-escola, dona-de-casa, ou qualquer outra coisa. “Estar no mundo mas não ser dele”, livre da ambição, da cobiça, do orgulho intelectual, da cega obediência ao costume ou do respeitoso temor às pessoas de posição mais elevada – tal é o ideal do sufi.

Os sufis respeitam os rituais da religião na medida em que estes concorrem para a harmonia social, mas ampliam a base doutrinária da religião onde quer que seja possível e definem-lhe os mitos num sentido mais elevado – por exemplo, explicando os anjos como representações das faculdades superiores do homem. Oferecem ao devoto um “jardim secreto” para o cultivo da sua compreensão, mas nunca exigem dele que se torne monge, monja ou eremita, como acontece com os místicos mais convencionais; e mais tarde, afirmam-se iluminados pela experiência real – “quem prova, sabe” – e não pela discussão filosófica. A mais antiga teoria de evolução consciente que se conhece é de origem sufista, mas embora muito citada por darwinianos na grande controvérsia do século XIX, aplica-se mais ao indivíduo do que à raça. O lento progresso da criança até alcançar a virilidade ou a feminilidade figura apenas como fase do desenvolvimento de poderes mais espetaculares, cuja força dinâmica é o amor, e não o ascetismo nem o intelecto.

A iluminação chega com o amor – o amor no sentido poético da perfeita devoção a uma musa que, sejam quais forem as crueldades aparentes que possa cometer, ou por mais aparentemente irracional que seja o seu comportamento, sabe o que está fazendo. Raramente recompensa o poeta com sinais expressos do seu favor, mas confirma-lhe a devoção pelo seu efeito revivificante sobre ele. Assim, Ibn El-Arabi (1165-1240), um árabe espanhol de Múrcia, que os sufis denominam o seu poeta maior, escreveu no Tarju-man el-Ashwaq (o intérprete dos desejos):

“Se me inclino diante dela como é do meu dever E se ela nunca retribui a minha saudação Terei, acaso, um justo motivo de queixa? A mulher formosa a nada é obrigada”
Esse tema de amor foi, posteriormente, usado num culto extático da Virgem Maria, a qual, até o tempo das Cruzadas, ocupara uma posição sem importância na religião cristã. A maior veneração que ela recebe hoje vem precisamente das regiões da Europa que caíram de maneira mais acentuada sob a influência sufista.

Diz de si mesmo, Ibn El-Arabi:

“Sigo a religião do Amor.
Ora, às vezes, me chamam
Pastor de gazelas [divina sabedoria]Ora monge cristão,
Ora sábio persa.
Minha amada são três –
Três, e no entanto, apenas uma;
Muitas coisas, que parecem três,
Não são mais do que uma.
Não lhe dêem nome algum,
Como se tentassem limitar alguém
A cuja vista
Toda limitação se confunde”

Os poetas foram os principais divulgadores do pensamento sufista, ganharam a mesma reverência concedida aos ollamhs, ou poetas maiores, da primitiva Irlanda medieval, e usavam uma linguagem secreta semelhante, metafórica, constituída de criptogramas verbais. Escreve Nizami, o sufi persa: “Sob a linguagem do poeta jaz a chave do tesouro”. Essa linguagem era ao mesmo tempo uma proteção contra a vulgarização ou a institucionalização de um hábito de pensar apropriado apenas aos que o compreendiam, e contra acusações de heresia ou desobediência civil. Ibn El-Arabi, chamado às barras de um tribunal islâmico de inquisição em Alepo, para defender-se da acusação de não-conformismo, alegou que os seus poemas eram metafóricos, e sua mensagem básica consistia no aprimoramento do homem através do amor a Deus. Como precedente, indicava a incorporação, nas Escrituras judaicas, do Cântico erótico de Salomão, oficialmente interpretado pelos sábios fariseus como metáfora do amor de Deus a Israel, e pelas autoridades católicas como metáfora do amor de Deus à Igreja.

Em sua forma mais avançada, a linguagem secreta emprega raízes consonantais semíticas para ocultar e revelar certos significados; e os estudiosos ocidentais parecem não ter se dado conta de que até o conteúdo do popular “As mil e uma noites” é sufista, e que o seu título árabe, Alf layla wa layla, é uma frase codificada que lhe indica o conteúdo e a intenção principais: “Mãe de Lembranças”. Todavia, o que parece, à primeira vista, o ocultismo oriental é um antigo e familiar hábito de pensamento ocidental. A maioria dos escolares ingleses e franceses começam as lições de história com uma ilustração de seus antepassados druídicos arrancando o visco de um carvalho sagrado. Embora César tenha creditado aos druidas mistérios ancestrais e uma linguagem secreta – o arrancamento do visco parece uma cerimônia tão simples, já que o visco é também usado nas decorações de Natal -, que poucos leitores se detêm para pensar no que significa tudo aquilo. O ponto de vista atual, de que os druidas estavam, virtualmente, emasculando o carvalho, não tem sentido.

Ora, todas as outras árvores, plantas e ervas sagradas têm propriedades peculiares. A madeira do amieiro é impermeável à água, e suas folhas fornecem um corante vermelho; a bétula é o hospedeiro de cogumelos alucinógenos; o carvalho e o freixo atraem o relâmpago para um fogo sagrado; a raiz da mandrágora é antiespasmódica. A dedaleira fornece digitalina, que acelera os batimentos cardíacos; as papoulas são opiatos; a hera tem folhas tóxicas, e suas flores fornecem às abelhas o derradeiro mel do ano. Mas os frutos do visco, amplamente conhecidos pela sabedoria popular como “panacéia”, não têm propriedades medicinais, conquanto sejam vorazmente comidos pelos pombos selvagens e outros pássaros não-migrantes no inverno. As folhas são igualmente destituídas de valor; e a madeira, se bem que resistente, é pouco utilizada. Por que, então, o visco foi escolhido como a mais sagrada e curativa das plantas? A única resposta talvez seja a de que os druidas o usavam como emblema do seu modo peculiar de pensamento. Essa árvore não é uma árvore, mas se agarra igualmente a um carvalho, a uma macieira, a uma faia e até a um pinheiro, enverdece, alimenta-se dos ramos mais altos quando o resto da floresta parece adormecido, e a seu fruto se atribui o poder de curar todos os males espirituais. Amarrados à verga de uma porta, os ramos do visco são um convite a beijos súbitos e surpreendentes. O simbolismo será exato se pudermos equiparar o pensamento druídico ao pensamento sufista, que não é plantado como árvore, como se plantam as religiões, mas se auto-enxerta numa árvore já existente; permanece verde, embora a própria árvore esteja adormecida, tal como as religiões são mortas pelo formalismo; e a principal força motora do seu crescimento é o amor, não a paixão animal comum nem a afeição doméstica, mas um súbito e surpreendente reconhecimento do amor, tão raro e tão alto que do coração parecem brotar asas. Por estranho que pareça, a Sarça Ardente em que Deus apareceu a Moisés no deserto, supõem agora os estudiosos da Bíblia, era uma acácia glorificada pelas folhas vermelhas de um locanthus, o equivalente oriental do visco.

Talvez seja mais importante o fato de que toda a arte e a arquitetura islâmicas mais nobres são sufistas, e que a cura, sobretudo dos distúrbios psicossomáticos, é diariamente praticada pelos sufis hoje em dia como um dever natural de amor, conquanto só o façam depois de haverem estudado, pelo menos, doze anos. Os ollamhs, também curadores, estudavam doze anos em suas escolas das florestas. O médico sufista não pode aceitar nenhum pagamento mais valioso do que um punhado de cevada, nem impor sua própria vontade ao paciente, como faz a maioria dos psiquiatras modernos; mas, tendo-o submetido a uma hipnose profunda, ele o induz a diagnosticar o próprio mal e prescrever o tratamento. Em seguida, recomenda o que se há de fazer para impedir uma recorrência dos sintomas, visto que o pedido de cura há de provir diretamente do paciente e não da família nem dos que lhe querem bem.

Depois de conquistadas pelos sarracenos, a partir do século VIII d.C, a Espanha e a Sicília tornaram-se centros de civilização muçulmana renomados pela austeridade religiosa. Os letrados do norte, que acudiram a eles com a intenção de comprar obras árabes a fim de traduzi-las para o latim, não se interessavam, contudo, pela doutrina islâmica ortodoxa, mas apenas pela literatura sufista e por tratados científicos ocasionais. A origem dos cantos dos trovadores – a palavra não se relaciona com trobar, (encontrar), mas representa a raiz árabe TRB, que significa “tocador de alaúde” – é agora autorizadamente considerada sarracena. Apesar disso, o professor Guillaume assinala em “O legado do Islã” que a poesia, os romances, a música e a dança, todos especialidades sufistas, não eram mais bem recebidas pelas autoridades ortodoxas do Islã do que pelos bispos cristãos. Árabes, na verdade, embora fossem um veículo não só da religião muçulmana mas também do pensamento sufista, permaneceram independentes de ambos.

Em 1229 a ilha de Maiorca foi capturada pelo rei Jaime de Aragão aos sarracenos, que a haviam dominado por cinco séculos. Depois disso, ele escolheu por emblema um morcego, que ainda encima as armas de Palma, a nossa capital. Esse morcego emblemático me deixou perplexo por muito tempo, e a tradição local de que representa “vigilância” não me pareceu uma explicação suficiente, porque o morcego, no uso cristão, é uma criatura aziaga, associada à bruxaria. Lembrei-me, porém, de que Jaime I tomou Palma de assalto com a ajuda dos Templários e de dois ou três nobres mouros dissidentes, que viviam alhures na ilha; de que os Templários haviam educado Jaime em le bon saber, ou sabedoria; e de que, durante as Cruzadas, os Templários foram acusados de colaboração com os sufis sarracenos. Ocorreu-me, portanto, que “morcego” poderia ter outro significado em árabe, e ser um lembrete para os aliados mouros locais de Jaime, presumivelmente sufis, de que o rei lhes estudara as doutrinas.

Escrevi para Idries Shah Sayed, que me respondeu:
“A palavra árabe que designa o morcego é KHuFFaasH, proveniente da raiz KH-F-SH. Uma segunda acepção dessa raiz é derrubar, arruinar, calcar aos pés, provavelmente porque os morcegos freqüentam prédios em ruínas. O emblema de Jaime, desse modo, era um simples rébus que o proclamava “o Conquistador”, pois ele, na Espanha, era conhecido como “El rey Jaime, Rei Conquistador”. Mas essa não é a história toda. Na literatura sufista, sobretudo na poesia de amor de Ibn El-Arabi, de Múrcia, disseminada por toda a Espanha, “ruína” significa a mente arruinada pelo pensamento impenitente, que aguarda reedificação.
O outro único significado dessa raiz é “olhos fracos, que só enxergam à noite”. Isso pode significar muito mais do que ser cego como um morcego. Os sufis referem-se aos impenitentes dizendo-os cegos à verdadeira realidade; mas também a si mesmos dizendo-se cegos às coisas importantes para os impenitentes. Como o morcego, o sufi está cego para as “coisas do dia” – a luta familiar pela vida, que o homem comum considera importantíssima – e vela enquanto os outros dormem. Em outras palavras, ele mantém desperta a atenção espiritual, adormecida em outros. Que “a humanidade dorme num pesadelo de não-realização” é um lugar-comum da literatura sufista. Por conseguinte, a sua tradição de vigilância, corrente em Palma, como significado de morcego, não deve ser desprezada.”
A absorção no tema do amor conduz ao êxtase, sabem-no todos os sufis. Mas enquanto os místicos cristãos consideram o êxtase como a união com Deus e, portanto, o ponto culminante da consecução religiosa, os sufis, só lhe admitem o valor se ao devoto for facultado, depois do êxtase, voltar ao mundo e viver de forma que se harmonize com sua experiência.

Os sufis insistiram sempre na praticabilidade do seu ponto de vista. A metafísica, para eles, é inútil sem as ilustrações práticas do comportamento humano prudente, fornecidas pelas lendas e fábulas populares. Os cristãos se contentame em usar Jesus como o exemplar perfeito e final do comportamento humano. Os sufis, contudo, ao mesmo tempo que o reconhecem como profeta divinamente inspirado, citam o texto do quarto Evangelho: “Eu disse: Não está escrito na vossa Lei que sois deuses?” – o que significa que juizes e profetas estão autorizados a interpretar a lei de Deus – e sustenta que essa quase divindade deveria bastar a qualquer homem ou mulher, pois não há deus senão Deus. Da mesma forma, eles recusaram o lamaísmo do Tibete e as teorias indianas da divina encarnação; e posto que acusados pelos muçulmanos ortodoxos de terem sofrido a influência do cristianismo, aceitam o Natal apenas como parábola dos poderes latentes no homem, capazes de apartá-lo dos seus irmãos não-iluminados. De idêntica maneira, consideram metafóricas as tradições sobrenaturais do Corão, nas quais só acreditam literalmente os não-iluminados. O Paraíso, por exemplo, não foi, dizem eles, experimentado por nenhum homem vivo; suas huris (criaturas de luz) não oferecem analogia com nenhum ser humano e não se deviam imputar-lhes atributos físicos, como acontece na fábula vulgar.

Abundam exemplos, em toda a literatura européia, da dívida para com os sufis. A lenda de Guilherme Tell já se encontrava em “A conferência dos pássaros”, de Attar (séc. XII), muito antes do seu aparecimento na Suíça. E, embora dom Quixote pareça o mais espanhol de todos os espanhóis, o próprio Cervantes reconhece sua dívida para com uma fonte árabe. Essa imputação foi posta de lado, como quixotesca, por eruditos; mas as histórias de Cervantes seguem, não raro, as de Sidi Kishar, lendário mestre sufista às vezes equiparado a Nasrudin, incluindo o famoso incidente dos moinhos (aliás de água, e não de vento) tomados equivocadamente por gigantes. A palavra espanhola Quijada (verdadeiro nome do Quixote, de acordo com Cervantes) deriva da mesma raiz árabe KSHR de Kishar, e conserva o sentido de “caretas ameaçadoras”.

Os sufis muçulmanos tiveram a sorte de proteger-se das acusações de heresia graças aos esforços de El-Ghazali (1051-1111), conhecido na Europa por Algazel, que se tornou a mais alta autoridade doutrinária do islamismo e conciliou o mito religioso corânico com a filosofia racionalista, o que lhe valeu o título de “Prova do Islamismo”. Entretanto, eram freqüentemente vítimas de movimentos populares violentos em regiões menos esclarecidas, e viram-se obrigados a adotar senhas e apertos de mão secretos, além de outros artifícios para se defenderem.

Embora o frade franciscano Roger Bacon tenha sido encarado com respeitoso temor e suspeita por haver estudado as “artes negras”, a palavra “negra” não significa “má”. Trata-se de um jogo de duas raízes árabes, FHM e FHHM, que se pronunciam fecham e facham, uma das quais significa “negro” e a outra “sábio”. O mesmo jogo ocorre nas armas de Hugues de Payns (dos pagãos), nascido em 1070 ,que fundou a Ordem dos Cavaleiros Templários: a saber, três cabeças pretas, blasonadas como se tivessem sido cortadas em combate, mas que, na realidade, denotam cabeças de sabedoria.

“Os sufis são uma antiga maçonaria espiritual…” De fato, a própria maçonaria começou como sociedade sufista. Chegou à Inglaterra durante o reinado do rei Aethelstan (924-939) e foi introduzida na Escócia disfarçada como sendo um grupo de artesãos no princípio do século XIV, sem dúvida pelos Templários. A sua reformação, na Londres do início do século XVIII, por um grupo de sábios protestantes, que tomaram os termos sarracenos por hebraicos, obscureceu-lhes muitas tradições primitivas. Richard Burton, tradutor das “Mil e uma noites”, ao mesmo tempo maçom e sufi, foi o primeiro a indicar a estreita relação entre as duas sociedades, mas não era tão versado que compreendesse que a maçonaria começara como um grupo sufista. Idries Shah Sayed mostra-nos agora que foi uma metáfora para a “reedificação”, ou reconstrução, do homem espiritual a partir do seu estado de decadência; e que os três instrumentos de trabalho exibidos nas lojas maçônicas modernas representam três posturas de oração. “Buizz” ou “Boaz” e “Salomão, filho de Davi”, reverenciados pelos maçons como construtores do Templo de Salomão em Jerusalém, não eram súditos israelitas de Salomão nem aliados fenícios, como se supôs, senão arquitetos sufistas de Abdel-Malik, que construíram o Domo da Rocha sobre as ruínas do Templo de Salomão, e seus sucessores. Seus verdadeiros nomes incluíam Thuban abdel Faiz “Izz”, e seu “bisneto”, Maaruf, filho (discípulo) de Davi de Tay, cujo nome sufista em código era Salomão, por ser o “filho de Davi”. As medidas arquitetônicas escolhidas para esse templo, como também para o edifício da Caaba em Meca, eram equivalentes numéricos de certas raízes árabes transmissoras de mensagens sagradas, sendo que cada parte do edifício está relacionada com todas as outras, em proporções definidas.

De acordo com o princípio acadêmico inglês, o peixe não é o melhor professor de ictiologia, nem o anjo o melhor professor de angelologia. Daí que a maioria dos livros modernos e artigos mais apreciados a respeito do sufismo sejam escritos por professores de universidades européias e americanas com pendores para a história, que nunca mergulharam nas profundezas sufistas, nunca se entregaram às extáticas alturas sufistas e nem sequer compreendem o jogo poético de palavras pérseo-arábicas. Pedi a Idries Shah Sayed que remediasse a falta de informações públicas exatas, ainda que fosse apenas para tranqüilizar os sufis naturais do Ocidente, mostrando-lhes que não estão sós em seus hábitos peculiares de pensamento, e que as suas intuições podem ser depuradas pela experiência alheia. Ele consentiu, embora consciente de que teria pela frente uma tarefa muito difícil. Acontece que Idries Shah Sayed, descendente, pela linha masculina, do profeta Maomé, herdou os mistérios secretos dos califas, seus antecessores. É, de fato, um Grande Xeque da Tariqa (regra) sufista, mas como todos os sufis são iguais, por definição, e somente responsáveis perante si mesmos por suas consecuções espirituais, o título de “xeque” é enganoso. Não significa “chefe”, como também não significa o “chefe de fila”, velho termo do exército para indicar o soldado postado diante da companhia durante uma parada, como exemplo de exercitante militar.

A dificuldade que ele previu é que se deve presumir que os leitores deste livro tenham percepções fora do comum, imaginação poética, um vigoroso sentido de honra, e já ter tropeçado no segredo principal, o que é esperar muito. Tampouco deseja ele que o imaginem um missionário. Os mestres sufistas fazem o que podem para desencorajar os discípulos e não aceitam nenhum que chegue “de mãos vazias”, isto é, que careça do senso inato do mistério central. O discípulo aprende menos com o professor seguindo a tradição literária ou terapêutica do que vendo-o lidar com os problemas da vida cotidiana, e não deve aborrecê-lo com perguntas, mas aceitar, confiante, muita falta de lógica e muitos disparates aparentes que, no fim, acabarão por ter sentido. Boa parte dos principais paradoxos sufistas está em curso em forma de histórias cômicas, especialmente as que têm por objeto o Kboja (mestre-escola) Nasrudin, e ocorrem também nas fábulas de Esopo, que os sufis aceitam como um dos seus antepassados.

O bobo da corte dos reis espanhóis, com sua bengala de bexiga, suas roupas multicoloridas, sua crista de galo, seus guizos tilintantes, sua sabedoria singela e seu desrespeito total pela autoridade, é uma figura sufista. Seus gracejos eram aceitos pelos soberanos como se encerrassem uma sabedoria mais profunda do que os pareceres solenes dos conselheiros mais idosos. Quando Filipe II da Espanha estava intensificando sua perseguição aos judeus, decidiu que todo espanhol que tivesse sangue judeu deveria usar um chapéu de certo formato. Prevendo complicações, o bobo apareceu na mesma noite com três chapéus. “Para quem são eles, bobo?”, perguntou Filipe. “Um é para mim, tio, outro para ti e outro para o inquisidor-mor”. E como fosse verdade que numerosos fidalgos medievais espanhóis haviam contraído matrimônio com ricas herdeiras judias, Filipe, diante disso, desistiu do plano. De maneira muito semelhante, o bobo da corte de Carlos I, Charlie Armstrong (outrora ladrão de carneiros escocês), que o rei herdara do pai, tentou opor-se à política da Igreja arminiana do arcebispo Laud, que parecia destinada a redundar num choque armado com os puritanos. Desdenhoso, Carlos pedia a Charlie seu parecer sobre política religiosa, ao que o bobo lhe respondeu: “Entoe grandes louvores a Deus, tio, e pequenas laudes ao Diabo”. Laud, muito sensível à pequenez do seu tamanho, conseguiu que expulsassem Charlie Armstrong da corte (o que não trouxe sorte alguma ao amo).

#sufismo

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-sufismo

A Medula da Alquimia

Contendo Três Livros, Elucidando a Prática

O Primeiro Livro

A Alquimia – que alguns chamam de Arte Dourada – trata-se não de uma fábula, como muitos quereriam, mas de uma verdadeira Ciência, como ficou por nós provado e por exemplos demonstrado na parte anterior deste tratado, Ciência esta cuja prática passaremos a elucidar nesta Segunda Parte, através da qual será possível obter grande provisão de prata e ouro. E para uma boa compreensão das nossas intenções considera correctamente, e com justeza pesa bem a razão da nossa Obra, caso contrário é mais certo que percas o teu tempo e dinheiro em vão, encontrando apenas esforço e despesa, tal como muitos já o fizeram.

De maneira que a Pedra que procuras, como já o dissemos e voltamos a afirmar é apenas ouro levado à máxima perfeição possível; pois embora se trate de um corpo firme e compacto é no entanto, através do engenho da Arte e operação da Natureza transformado num Espírito tingente que nunca se esgota que a Natureza, por si nunca teria conseguido produzir pois o ouro em si não possui o poder de se elevar a tal grau de perfeição antes se mantendo eternamente na sua constância.

Aquele que se presta a encontrar tal Essência deverá então, através da Arte, transformar o seu ouro em pó e fazer com que se converta numa água mineral, que então circulará com um bom fogo até que quando toda a humidade se seque esta seja fixada; a qual será com frequência embebida e fixada de modo a que o infante quede selado no ventre da sua mãe, e sendo alimentado até que se fortaleça e se torne suficientemente capaz de resistir aos seus robustos oponentes: então fermentando, deve por longo tempo residir em repetida negrura até que a Natureza apodreça e morra, que deves logo revificar, sublimar e exaltar, e de novo retornar à terra onde o deves deixar no calor o tempo necessário para que a negritude se transforme na mais pura brancura; o Rei, sendo então colocado sobre o seu Selo Real, brilhará como a chama faíscante e a pedra escondida a que chamamos enxofre. Isto tu deves multiplicar até que se transforme no elixir espiritual; que será então como juiz no Dia do Juízo Final, condenando ao fogo toda a escória que aderir à mais pura substância nos metais imperfeitos.

Donde que, sendo o nosso Sujeito o ouro, teremos que procurar o agente adequado para o abrir, o qual, se souberes procurar a variedade mais adequada, pouco trabalho terás a preparar; este será vil à vista e grandemente desprezado pelo seu aspecto exterior. Deste assunto poucos autores tratam e os que o fazem obscurecem esta chave o mais que podem, mas eu, querido leitor, serei de uma sinceridade como nunca viste; garanto-te no entanto que este não é trabalho para mentes opacas nem para aquele que desdenha trabalhar, pois a ociosidade é um verdadeiro obstáculo para esta Arte; mas se possuis uma mente tranquila e és trabalhador presta bem atenção ao que irei declarar, e que trata primeiramente daquilo que jaz escondido no nosso Agente ígneo.

A substância que tomamos primeiro em mãos é um mineral semelhante ao Mercúrio que coze na Terra um enxofre cru. Este é chamado de Filho de Saturno, parece de facto vil à vista mas o seu interior é glorioso. É cor de sable, com veios prateados misturados com o corpo cuja linha cintilante mancha o enxofre inato; é todo volátil e não fixo, no entanto, quando tomado na sua crueza nativa purgou o Sol de toda a sua superfluidade. A sua natureza é venenosa e muitos abusaram dele medicinalmente. Se pela Arte soltamos os seus elementos o seu interior aparece resplandecente, o qual então flui no fogo como um metal, embora nada exista de natureza metálica assim tão frágil.

Este é o nosso Dragão, que o Deus da guerra assaltou com uma armadura do aço mais robusto, mas em vão, pois logo uma Estrela nunca vista apareceu, de modo que quando Cadmus primeiramente sentiu esta força não conseguiu aguentar um tal poder, mas do seu corpo a sua Alma se separou. Oh força poderosa! Pois quando os Sábios a avistaram grandemente se surpreenderam e assim a chamaram o seu Leão Verde, cuja fúria com encantos esperaram com o tempo domar. Pelo que, deixando-o presa dos sócios de Cadmus, verificaram que pelo seu poder os derrotou e tendo a luta terminado, olhai, uma Estrela matutina foi vista a sair da Terra e após as carcaças terem sido removidas logo apareceu uma fonte corrente, onde se disse que a Besta saciou a sede até que o seu ventre estoirou. Mas pareceu-lhes deveras estranho que logo que este Dragão se tivesse aproximado da Fonte, as Águas se retirassem como que assustadas, pese embora o esforço de Vulcano em reconciliá-las. Então apareceram as Pombas de Diana com adornos ofuscantes, com cujas asas prateadas o ar se acalmou, no qual o Dragão dobrado para dentro perdeu a sua picadura. Então as Águas como uma inundação logo voltaram e engoliram a Besta, cuja cor se tornou negra como o carvão, e nisto o nosso Dragão fez com que a fonte exalasse um cheiro fétido onde ele morreu e que lhe serviu de sepultura. Mas com a ajuda de Vulcano este Dragão voltou à vida e recebeu dos Céus uma Alma, pelo que ambos se reconciliaram, aqueles que antes eram inimigos, sendo as suas almas agora unidas, deixaram os seus corpos e transformaram-se no verdadeiro banho das ninfas, e no nosso Leão Verde, pelo que nunca nada assim tinha sido visto antes.

Mas para não te manter mais em suspenso, iremos agora explicar claramente o significado destas alegorias, desatando estes nós cujo sentido obscuro poderá deixar perplexo o leitor.

Pelo que agora observa que o nosso Filho de Saturno deve ser unido a uma forma metálica e mercurial, pois é apenas azougue o agente que a nossa obra requer, mas o azougue comum não serve para a nossa Pedra; estando morto, presta-se no entanto a ser animado pelo sal da Natureza e verdadeiro enxofre que é o seu único cônjugue. Este sal, que se encontra no rebento de Saturno e é puro interiormente, tem o poder de penetrar o centro dos metais, e tem em abundância as qualidades necessárias para entrar no corpo do Sol, o qual divide em elementos e no qual reside após a dissolução. O Enxofre deves procurá-lo na casa de Aries, é este o fogo mágico dos sábios para aquecer o banho do Rei (que deves preparar numa semana). Este fogo está estreitamente escondido, mas podes revelá-lo numa hora e depois lavá-lo em chuva prateada.

Parecia deveras estranho que um metal suficientemente robusto e fixo para suportar o golpe atordoante de Vulcano e que não se abrandará em nenhum calor nem se misturará em fluxo com nenhum metal seja no entanto pela nossa Arte retrogradado neste penetrante licor mineral. Este trabalho real foi selado pelo Todo-Poderoso para ensinar os prudentes que o Infante Real é aqui nascido, a quem eles diligentemente procuram sendo pela Estrela guiados, mas os tolos procuram os nossos segredos em coisas sórdidas e sem sentido e o que encontram é apenas a própria ruína.

Esta substância tem uma natureza estrelada e completamente espiritual, sendo totalmente inclinada a fugir do fogo; a razão é que a alma de cada um é como um íman para o outro, e a isto nós chamamos a urina do velho Saturno. Este é o nosso aço, o nosso verdadeiro hermafrodita, a nossa Lua, assim chamada pelo seu brilho: este é o nosso ouro imaturo, que à vista é um corpo frágil e quebradiço, mas é domado por Vulcano e cuja alma se sabes misturar com Mercúrio nenhum segredo te será ocultado.

Não tenho necessidade de citar qualquer autor, pois eu vi e com as minhas mãos trabalhei este mistério, e por constantemente seguir a sabedoria da Natureza fui levado a tornar brando o corpo mais sólido e do corpo mais grosseiro fazer uma Terra tingente e fixa, que nunca se desvanecerá. E não sou o único que o diz, pois muitos outros o fizeram, cujos segredos aqui vos revelo. Artephius nomeou-o, mas o outro segredo não o revelou, antes disse que este deveria ser pedido a Deus, a não ser que o ensinasse um sábio Mestre.

Este é o enigma que tanto tem deixado perplexos os estudantes desta Arte. Assim Zeumon na Turba p.18, Ars Aurif: Vol.2, disse: A nossa Pedra é vil e no entanto é combinada com o mais precioso. É aquilo que é deitado à rua, nos caminhos, nas estrumeiras e nos lugares impuros que é a matéria que deveremos tomar como verdadeiro fundamento da nossa Arte. Ninguém pode viver sem ela, e há quem a aplique em usos sórdidos, o que demonstra que apenas com Marte ela pode ser associada. Em barcos ela flutua sobre os oceanos, e sem ela não há barco ou casa que possa ser construído, ou mercadoria que possa ser transportada; com ela aramos a nossa terra, ceifamos o nosso milho, vestimos, fervemos e cortamos a nossa carne, e com ela são ferrados os cavalos. Muitos mais usos ela tem os quais seria fastidioso enumerar e no entanto encontra-mo-la frequentemente num estado contemplativo sobre a terra, em velhos pregos sem cabeça, que pouco valem o achado, e que por isso como vil é estimado.

Para mais, Aries é conhecido da casa do robusto Marte, pelo qual todos os artistas dizem que deves começar a tua obra, o que pode ser mais claro? Dificilmente pode existir alguém tão ignorante que julgue que estas palavras ocultam ainda um outro significado, pois nunca até agora isto tinha sido tão claramente explicado. Belus na Turba, p.27, Ars Aurif: Vol.2, insta-nos a combinar o lutador com aquele que não deseja lutar; pelo qual a Marte o Deus da Guerra ele atribui Saturno em união, que se deliciava na paz e cujo reino não é necessário revelar uma vez que é de todos tão conhecido.

Repara na segunda figura do Rosarium Philosophorum Irne, p.212, Ars Aurif, Vol.2, na qual o Rei e a Rainha em vestes reais seguram entre ambos a nossa verdadeira Lunária que contém oito flores e no entanto não tem raiz. Entre ambos há um pássaro. Sob os seus pés o Sol e a Lua. O Rei tem na mão uma flor e a Rainha outra e o pássaro segura com o bico numa terceira, tendo também na cauda uma estrela que representa o nosso grande segredo, pois o pássaro alado representa Mercúrio combinado com a Terra Estrelada até que ambos se tornem voláteis e alados.

Assim parece que os antigos Sábios escolheram antes instruir o olho por imagens do que o ouvido por palavras. No entanto alguns dos seus discursos são tão simples que qualquer palerma poderá perceber o sentido que eles contêm, e para o mesmo propósito, sendo eu um filho da Arte, tenho na Cabala Sapientum a mesma explicação, para a qual remeto o leitor aplicado. Prosseguirei agora com o objectivo deste curso mostrando como obter esta Água, que tão poucos encontram, de onde retiramos a mais secreta semente do Sol, pelo que aplica-te diligentemente em aprender a obter esta Água, pois ela é o fundamento da nossa Quintessência.

Sabe então que todos os metais têm apenas uma matéria, que não é senão o Mercúrio; que como fundamento possibilitou primeiro a transmutação e por isto nós concluímos que a nossa muito secreta Água tem a mesma matéria que o vulgar Mercúrio. E se o Mercúrio bruto e todos os cinco metais imperfeitos se podem transformar em ouro, (sendo neste processo, e devido à sua crueza consumidos pelo fogo), a razão é então como todos os Sábios ensinam que todos os metais contêm em si o Mercúrio e todos são por conseguinte igualmente transmutáveis. Se o nosso Mercúrio, ao qual chamamos a nossa Água viva, for outro que não o ouro imaturo, então qualquer metal que seja pela Arte convertível em ouro deverá conter em si essa natureza, da mesma forma que pela Arte é feita o nosso Azougue.

Assim, se chumbo, estanho ou cobre fossem convertidos num verdadeiro Mercúrio, então poderia a Arte causar essas Águas, pois seriam já tão diferentes na forma que qualquer um deles se poderia enquadrar no nosso Mercúrio Filosófico. Mas para que precisaríamos disso se a natureza produz já uma Água ao alcance do artista, na qual através da Arte uma forma pode ser induzida de modo a comandar os nossos segredos? Atenta então bem para o que deverá ser o nosso Mercúrio que deseja ser o nosso mais secreto Menstruum, pois nós garantimos que ambos são Metálicos de peso e cor semelhante, e que ambos são fluídicos e voláteis sob o fogo mas, no nosso, deverá existir um Enxofre que não encontras no das minas, e este Enxofre purifica a matéria, torna-a ígnea e no entanto não deixa de ser uma Água. Pois a Água, que é o ventre, não tendo calor é totalmente inútil para a verdadeira geração, nem o nosso corpo será reduzido a um humor, nem produzirá a sua semente, enquanto não estiver sob a circulação do fogo, combinado pela Arte com um mercúrio que tenha em si Enxofre.

Este Enxofre deverá ter uma força, ou virtude, magnética, pelo que deverá ser ouro verdadeiro, embora imaturo, como também da mesma origem tanto a matéria como a forma, apenas com esta diferença, que é que enquanto o outro é fixo este deve ser volátil e alado, tendo o poder de abrir e soltar o primeiro. E só há um corpo na Terra suficientemente próximo do Mercúrio para o poder preparar para a nossa pedra secreta e para poder esconder o corpo sólido no seu ventre e este, como disse anteriormente, é o rebento de Saturno sobejamente conhecido por todos os magos, e que eu aqui te mostrei.

E embora alguns metais possam ser fixados com Azougue não penetram uns nos outros mais que à vista, e pelo calor podem facilmente ser separados, pois verás que eles nunca penetram o centro, nem são por isso melhorados. A razão é que o Enxofre que se encontra nos metais perfeitos encontra-se selado, ou nos outros partilha das fezes terrestres e impurezas que o Mercúrio abomina e com as quais nunca se unirá embora pareça à vista com eles se misturar. Se separares estas fezes encontrarás Mercúrio fluídico e um Enxofre cru que endureceram a humidade pela congelação bem como um Sal aluminoso mas todos eles são de natureza demasiado distante do ouro.

Mas o mineral que tanto estimamos, excepto as suas escórias (que são totalmente separáveis) contém um Mercúrio mais puro, que fará reviver os Corpos mortos de forma a que estes possam como todas as outras coisas gerar a sua espécie. Mas em si não contém nenhum Enxofre, embora, sendo quebradiço e negro com veios brilhantes esteja congelado num Enxofre ardente. Este Enxofre não tem nada de metálico, mas se correctamente separado segundo a Arte, as escórias sendo removidas, aparece uma noz de aspecto metálico (que poderás moer em pó) na qual se encontra fechada uma alma terna que se mostra como fumo sob um fogo suave, semelhante ao Azougue, levemente congelado, e que o fogo de facto evapora.

É isto que dá penetração à nossa Água e lhe permite penetrar até ao centro dos corpos, invertendo-os completamente e reduzindo-os à sua verdadeira matéria primeira e isto deseja ser reunido com um verdadeiro Enxofre, que deverá ser procurado na casa de Aries. Através deste mineral apenas e com a habilidade do artista, é Marte retrogradado num mineral; como por muitos foi já ensaiado. Esta é a nossa verdadeira Vénus, a esposa do coxo Vulcano, e que é amada por Marte.

Primeiramente então faz com que Marte abrace este mineral, de forma que ambos se libertem das suas características terrenas, e em pouco tempo a substância metálica deverá brilhar como os céus, e como prova do teu sucesso deverás seguramente nela encontrar a impressão do selo de um rei estrelado. Este é o selo real, a marca que o Todo-Poderoso afixa neste estranho corpo. Este é o fogo celestial, no qual ao fazer despertar uma centelha, grandes mudanças ocorrerão nos corpos, de tal modo que a negritude é feita brilhar como uma gema cintilante, com a qual como um diadema o nosso jovem rei é coroado. A isto adiciona Vénus na proporção adequada, cuja beleza é admirada por Marte e que é conhecida por lhe ter grande amor e desejo de com ele se unir, assim que logo é inclinada ao movimento, sendo ela afim do ouro, Marte e da brilhante Diana, com quem ele concilia o amor e a verdadeira união.

Mas Vulcano ficará cada vez mais ciumento e é com desgosto que o coxo cornudo sente os cornos adornarem-lhe a cabeça, e na esperança de os destruir atira a sua rede sobre os amantes apanhando a esposa e Marte durante o acto, exibindo-os desta forma aprisionados.

No entanto, que isto não seja tomado como mera Fábula. Primeiro observa como Cadmus é devorado pela nossa besta feroz a quem Cadmus depois de a ter intrepidamente perfurado fez merecer nome de campeão, pois esta Serpente (de poder inquestionável) ele com a sua lança mortal trespassou contra um carvalho, perante o qual todos sentiram temor. Observa também a Estrela, que na realidade é Solar, como se pode provar, pois o ouro unido intimamente com o filho de Saturno cujas fezes foram purgadas quando tudo o que era perfeito se abateu no fundo, depois de fundido e vertido, ao arrefecer nos mostra uma Estrela, assim como faz Marte. Mas Vénus fornece uma substância metálica que só por si é desprezível, mas que ao ser unida com Marte, como que dobrados numa rede, aparece como agradável à vista, como descreveram os poetas misteriosos de vista apurada, de forma velada mas no entanto suficientemente clara para o Sábio.

De forma que a alma de Saturno, e Marte, são através da nossa Arte e com a ajuda de Vulcano intimamente misturados, mas ambos são semelhantes e voláteis, não sendo divisíveis até que a alma de Marte seja fixada e então deixe Saturno, e então um ensaio revelará o mais puro ouro, e uma tintura da mais pura e verdadeira. Mas esta mediação deve ser feita através de Vénus, caso contrário nenhum artifício humano seria capaz de os separar, nem os poderia reduzir a pó. No entanto após a sua união serão reduzidos apenas pela associação de Vénus, da qual Diana produz neles a separação.

Alguns para preparar esta Água usam as Pombas de Diana, o que é um trabalho tedioso em que por cada vez que o artista acerta há sempre duas em que falha: mas a outra forma (que é a mais secreta) nós recomendámos a todos os que desejam ser verdadeiros artistas.

Pelo que deverás assegurar que o vapor mais subtil da Água seja longa e repetidamente circulado, até que as almas de cada (deixando a matéria grosseira) se unam e voem juntas para o alto; onde não as deves deixar residir durante muito tempo, para que não congelem, pois de contrário laboras em erro.

Assim tira do Filho do velho Saturno duas partes, de Cadmus uma parte e estas purifica com a ajuda de Vulcano até que (sendo liberta das suas fezes) a parte Metálica seja a mais pura; o que deves fazer em quatro reiterações, cujas operações perfeitas te serão ensinadas pela Estrela.

Faz com que AEneis seja igual ao seu amado, purgando-os com arte até que a rede de Vulcano os envolva a ambos, pelo que deves então molhá-los bem com a água e mantê-los em calor e humidade até se tornem perfurados e a suas Almas sejam ambas glorificadas. Este é o Orvalho celeste, que deve ser alimentado durante tanto tempo quanto seja requerido pela natureza, pelo menos três vezes, ou até sete, assim os guiando através das ondas e chamas como a razão ordenará, mas atenta para que a terna natureza não fuja pela força de um fogo demasiado forte.

Sabe também com certeza que o Mercúrio, com o qual a obra deve ser iniciada, deve ser líquido e branco, mas toma cuidado para que não seques a humidade em pó devido a um fogo muito forte, de modo que se mostre vermelho, pois nesse caso o teu esperma feminino estaria corrompido e falharias o teu desejado objectivo. Nem faças com que o Azougue se torne numa clara e transparente goma, óleo ou unguento, pois caso tenhas perdido a proporção certa nunca chegarás a uma verdadeira dissolução mas serás obrigado a suspender o teu trabalho já sem esperança, e a adiá-lo para outra altura, pois procedeste de forma contrária às regras da Arte.

Preocupa-te apenas então em aumentar um espírito que falta ao Azougue comum, sublimar o grosseiro no firmamento e separar as escórias segundo a Arte; o que reiterado sete vezes deves então desposar com o ouro até que quedem ambos perfeitamente combinados.

Assim através da Arte e com a ajuda da Natureza é a verdadeira Donzela preparada, a qual sendo separada das fezes se faz um rebento celeste que tornou macio o corpo sólido do Sol e ao ser separado em átomos se tornou negro e putrefacto, que depois no entanto revive e se torna volátil.

Mas se eu aqui revelasse todos os segredos do fabrico desta nossa Água seria desprezado por todos os verdadeiros artistas, pois apenas àqueles a quem Deus deseja ensinar estes devem ser comunicados, enquanto que outros devem permanecer perdidos num labirinto de erros. Mas aquele que com sofrimentos e orações dedicadamente procurar este segredo, sem nessa busca ser excitado por desejos de cobiça, mas procurar apenas o conhecimento com candura, resolverá certamente este mistério, sobre o qual ninguém em nenhuma altura falou tão claramente.

Há alguns que através da Arte sabem preparar um maravilhoso Licor, que os Adeptos chamaram Fogo do Inferno, e cujas virtudes são tão estranhas e poderosas que (pela sua força) são capazes de resolver qualquer composto na sua Matéria primeira, ou Água; isto numa suave dissolução de Azougue tão uniforme que como gotas de cristal possa ser dela separado sem que nada seja depositado no fundo do vaso nem a sua virtude de qualquer maneira enfraquecida. Pois sendo repetidamente destilada deixa para trás o Azougue que como verás se assemelha a um sal fixo, de odor lembrando o almíscar, ou aroma, e de sabor semelhante ao mel tal é a sua doçura, que podes pulverizar como ferrugem e que nenhum fogo pode consumir, isto no ensaio com Saturno aparece tão fixo como a mais pura Luna.

Esta substância ao ser coobada cinco ou seis vezes com a dita Água (com digestão prévia) aparecerá como que um Óleo, e pouco tempo depois destila como um Espírito, que pela adição de um pequeno sujeito pouco a pouco se separa em duas substâncias distintas, que estando prontas serão guardadas separadamente, sendo a primeira um Óleo ou Tintura solúvel em Licor; a outra (se a fazes ferver) é através da Arte redutível em Mercúrio, cujo Azougue é uma substância tão maravilhosa que não se encontra igual debaixo dos céus.

Esta nem com sais ou água forte poderá ser corroída em precipitado, ou por circulação frequente pelo fogo ser combinada, ou sublimada, ou seca em pó, nem tão pouco ser fixada mas para sempre se manterá volátil. O grande Elixir não conseguirá transmutar mas de facto dissolve e destrói; é de tal forma estranha que todos os artistas surpreende, pois nenhum tem poder ou mestria para a alterar: e através da forma mencionada, poderá ser produzida de todos os corpos Metálicos.

No entanto na nossa Arte isto não serve de nada, pois nós procuramos multiplicar o Enxofre que é uma Hematina Solar e cuja cauda é lunar; são estes os únicos planetas que consideramos no nosso céu terrestre, rejeitando todos os outros e todas as outras artes. Pois se Ouro, que pela natureza é feito puro e perfeito puder através deste nosso fogo secreto ou Água ser retrogradado em Mercúrio e Enxofre, sendo completo em substância, e que antes não podia ser separado pela força do fogo mas firmemente nele residia. Quem não vê que tal Mercúrio está distante da nossa obra? Pois nós procuramos aumentar uma Tintura e apenas o Enxofre, que como uma capa envolve o Mercúrio e é agradável à natureza Metálica e sem o qual a Água não poderá reclamar o nome de um metal.

Este Enxofre encontra-se mais ou menos em toda a coisa Metálica, mas em algumas uma certa escória inquina a substância pura, pelo que deve ser destruída pelo fogo, pois tudo o que é grosseiro e inútil neste é consumido. Mas dos metais o Sol e a Lua são revestidos tão intimamente por um puro Enxofre que suportam grandemente a maior força de Vulcano, e nenhum Artifício humano poderá alguma vez dividir este Enxofre da sua Água exceptuando o mencionado licor, cuja virtude é tão poderosa que reduzirá até o Sol e a Lua do seu estado fixo e os tornará voláteis. Não apenas ele, mas também o nosso admirável Fogo podem fazer o mesmo ao ouro, e de uma forma directa e gentil forçar a sua retrogradação, e no entanto sem dividir o Enxofre do seu centro, antes o vestindo com uma veste Mercurial para que ambos habitem combinadas numa Água Dourada.

Mas o mencionado Licor estranho ao dissolver destrói a homogeneidade Metálica, pois ao separá-los causa um desentendimento e desunião, de modo que nenhum pode desfrutar do outro e portanto o Mercúrio Central ao ser separado do Licor tingido mantém-se em baixo de forma que a Hematina que antes no ouro tinha o Pondus de um Metal se encontra agora tão alterada que se torna num Azougue mais leve, à vista como que um Óleo ou mesmo um Sal untuoso, que é uma nobre medicina para os enfermos.

E assim parece que tanto mais uma substância Metálica seja dissolvida nesta humidade tanto mais é transformada de uma natureza Metálica cujo Enxofre, pela força deste Licor poderá (embora contra-vontade) ser pelo menos trazido até uma Água elementar; tal é o poder que este Licor tem sobre qualquer matéria.

Com isto todos os Filósofos concordam, e todos concluem que o nosso Mercúrio é apenas um, que humidifica apenas aquilo que é homogéneo nos metais, e que é a mãe da nossa Pedra e cujo segredo, se já não ignoras, deves calar; pois ninguém alguma vez sobre isto escreveu mais claramente.

Fim do Primeiro Livro

Por Ireneu Filaleto, Londres 1654. Tradução de Paulo Cruz.


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[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-medula-da-alquimia/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/alquimia/a-medula-da-alquimia/

Abracadabra

Assim como acontece com as salsichas, ninguém sabe a origem da paralavra Abracadabra. Essa palavra, que hoje é vista como a caricatura da magia, teve o seu registro mais antigo, pelo que sabemos atualmente, no livro De Medicina Praecepta, um livro escrito pelo médico Dr. Serenus Sammonicus no século II d.C.

Assim como aconteceu com o avião, depois que aquela tralha decolou todo mundo começou a disputar para si os créditos do primeiro vôo – americano, francês, brasileiro – hoje todo mundo disputa a origem da palavra Abracadabra. Como o crédito do primeiro vôo não faz com que brasileiros viajem com desconto ou não precisem de passaporte para entrar em outros países, essa discussão parece mera perda de tempo. Também não vamos nos perder aqui com um lista interminável que mostraria mais e mais significados e origens históricas da palavra – e também mostraria o que eu fico fazendo enquanto vocês trabalham, estudam, assistem televisão de tela plasma ou fazem sexo – e vou me concentrar apenas em uma, a mais foda: a aramaica. Mais foda porque o aramaico é que deu origem ao que conhecemos hoje como hebraico e como árabe. Mais foda porque essa foi provavelmente a língua que Jesus falava quando xingava as pessoas na rua. Mais foda porque “Aramaico” parece o nome de um robo gigante japonês que tem motosserras descomunais no lugar das mãos e solta lasers de fogo pelos olhos. Lasers de fogo, pensem nisso.

No aramaico as palavras  אברא כדברא – ou avra kedabra para vocês que são ignorantes – significam “Eu crio enquanto falo”.

Acredito que depois disso não restaria nada a ser dito, mas pouco me importa o que eu acredito. Digamos mais coisas.

Nós, enquanto seres humanos, somos pequenos milagres bizarros do Cosmos. Sejamos sinceros, se soubéssemos como criar vida a partir do nada sem usar nossos pintos, provavelmente já estaríamos criando toneladas de vida do nada. Nosso planeta é uma massa sólida que se formou graças à condensação de matéria no universo se agrupando em um ponto. Matéria essa que é constituída principalmente de moléculas, que por sua vez vem de átomos que por sua vez vem de estrelas. Todo mundo comigo?

Se a vida como a conhecemos quando olhamos no espelho ou assistimos national geographic fosse parte do processo normal de regurgitação estrelar – ou astrorregurgitação para aqueles que gostam de nomes científicos – então provavelmente haveriam outras formas de vida próximas a nós por todo o lado. Isso é fato. Para aqueles que pretendem começar a argumentar que é necessário que “na verdade” uma série de condições primárias exista, como temperatura, atmosfera, água, etc… um aviso. Este artigo se desenvolve em uma zona completamente livre de merda. Se duvida disso olhe o selo abaixo.

Viu? Livre de merda. Assim como não acatamos ao Papa dos cristãos, não acataremos a Papas de outras religiões bizarras como por exemplo o Ateísmo ou o Evolucionismo.

Parem para pensar. Se em 2008 vocês conseguissem a brochura do CERN sobre o LHC, veriam que o custo total para por o LHC em funcionamento, incluindo material e pessoal para trabalhar lá, o acelerador por completo, cerca de 15% de todos os detetores, e o cluster de computadores ficaria estimado em US$ 5.6 bilhões. Obviamente isso não é muito dinheiro para paises inteiros, mas já dá pra fazer uma festinha. O LHC foi criado com o objetivo de observarmos e constatarmos coisas que infelizmente não influenciam no aumento que você quer ganhar nesse emprego meia boca que tem, no preço dos ovos no mercado, nem no valor do seguro da sua casa. Claro que muitos dirão que o que for descoberto lá é impresncindível para nosso conhecimento e evolução enquanto macacos pelados, mas o ponto não é esse. Se gastam U$5.600.000.000 e mais alguns quebrados de dólares em um canudo gigante que anda em círculos e tem computadores medindo coisas que ninguém pode ver correndo dentro, não acha que não teriam investido já algo em se criar vida a partir do nada?

Nós estamos na Terra, onde a vida foi criada – a não ser que você acredite que fomos semeados aqui por cientistas de fora do nosso sistema – logo, já estamos com uma base das condições ideais. Se gastássemos os últimos 40 anos tentando recriar, por tentativa e erro, as condições primitivas, com certeza já teríamos esbarrado nelas. Sejamos realistas, hoje se é possível dizer qual a composição química, temperatura e estado de humor de nebulosas que estão a um porrilhão de quilómetros daqui, não é dificil usar espectrômetros e outras bugigangas, além de lógica científica e tentativa e erro para se chegarmos a uma estimativa se não correta muito próxima de como era nosso planeta alguns bilhões de anos atrás, e assim fazer surgir da lama de algum tubo de ensaio células famintas e taradas.

Além disso, se a vida já tivesse sido criada em tubos de ensaio a partir do nada, usando apenas uma combinação de minérios e de diferentes condições atmosféricas, para mostrar como se conseguimos as condições ideais ela simplesmente aparece, Richard Dawkins estaria hoje desfilando sem camisa, com piercings nos mamilos gritando THE POPE CAN KISS MY MONKEY ASS! em um megafone com um adesivo com a foto do Darwin. Isso não aconteceu ainda.

Assim voltamos à nossa idéia. Ninguém sabe como a vida surgiu, ou como a vida surge,Todos nós , por conseguinte, somos um milagre bizarro da cosmos. E quando digo nós estou falando de eucariontes e protozoários, de abelhas e formigas, de nós mesmos e tortas de maçã quente derretendo uma bola de sorvete. Não sabemos como surgimos, claro que muitos de nós, presos a nossa massa encefálica simiesca logo concluem que se não sabemos o “como” abviamente não sabemos o “por que”, e como existem perguntas devem haver respostas e assim todo mundo procura um sentido para a vida, já que logicamente deve haver um porquê. Como chegamos nisso é algo que me assuta, portanto deixemos isso de lado.

Logo que surgimos nesta bola de terra, começamos a nos replicar. Replica, replica, replica e logo houve a necessidade de sair da água porque nem todo mundo é peixe e não dá pra respirar dentro do mar. E passando por poucas e boas aqui estamos pagando dinheiro a uma companhia qualquer para termos o prazer de usar ondas de rádio que existem de graça ao nosso redor para nos comunicarmos.

O problema é que entre aquela primeira coisa que se dividiu pela primeira vez e o tataraneto do Kadafi que ainda não nasceu, algo de errado aconteceu! (se rima é porque é verdade)

Nós decidimos que éramos especiais porque resolvemos usar calças. Decidimos que éramos especiais porque proibimos mulheres de sair sem camisa na rua. Decidimos que éramos especiais porque começamos a vender comida, que não criamos do nada já que ela simplesmente brota do chão e literalmente nasce em árvores, para nossos iguais. E no meio disso tudo nos programamos para ser esses bostas que estão aqui hoje. Eu e você!

– Muito prazer bosta, eu também sou bosta!

Vamos… isso não é exagero. Um exemplo claro e prático: uma mulher sair sem blusa e soutien para ir trabalhar é algo inaceitável, mas ao mesmo tempo assinar PlayBoy não é. Ir a inferninhos ainda é algo meio cabreiro para se comentar com a família num almoço de domingo, mas ainda é mais aceitável do que ir trabalhar pelado, e pegar o ônibus ou o trem pelado. Proibimos algo para criar um mercado que venda isso. Isso é algo que só pode sair de bosta.

Nós somos milagres bizarros e grotescos do cosmos que por algum motivo deixou de se comportar como um milagre. Pegamos filas de bancos, vamos para o trabalho ou procuramos um trabalho, discutimos o preço da gasolina e pra quê?

Bem, está na hora de nos lembrarmos que somos milagres. Tortos, com um senso de humor péssimo. Com cáries e seborréia, mas ainda assim milagres.

Não importa o como surgimos, mas sim o como viramos isso que viramos, para que possamos reverter esse processo bostificador.

Para isso vamos encarar nossos cérebros como processadores, ao invés de software ou hardware vamos usar o termo wetware, porque sempre que tiramos o cérebro da cabeça de alguém com quem estamos conversando ele é meio molhado. Deixemos isso como uma homenagem a nossos profetas cyberpunk da década de 1980.

Assim como Deus criou o Homem à sua imagem, nós criamos os computadores à nossa imagem, ou algo póximo disso. Nosso wetware funciona como um computador electro-coloidal.

Quero deixar claro, antes de prosseguir, que ele não é um computador, muito menos um computador elétro-coloidal. Ele simplesmente funciona como um. Sempre que for usar comparativos lembre-se de que você não está dizendo que aquilo que está compando é a coisa com a qual está sendo comparada. Se queimar a língua bebendo café você vai dizer CARALHO ESSA MERDA TÁ QUENTE!, agora imagine se seu corpo, com você dentro, fosse atirado no sol. Esse “quente” a que nos referimos quando olhamos com raiva para a xícara fumegante de café é apenas um comparativo que quer dizer “é mais do que eu posso suportar!”. Você não trabalha com absolutos. Da mesma forma quando olhamos a planta de uma casa, não temos a ilusão de que aquela planta é a casa. Nunca ouvi falar de ninguém que olhando para a o desenho feito no papel começou a pular e rir e a pensar: “mas que idiotas… pra que pagar para pedreiros e engenheiros se o arquiteto já resolveu meu problema?”

Assim, quando digo que o cérebro funciona como uma computador eletro-coloidal, estou criando uma imagem vaga para continuar usando metáforas que possam ser compreendidas facilmente. E agora seguem as metáforas.

Para para pensar um instante. Apenas por um segundo na seguinte questão. A comparação do ser humano com um computador é válida correto? Assim como o computador temos partes físicas (o hardware) e partes não físicas (o software que o hardware lê). Se você parasse para pensar que parte sua associaria com o hardware do computador e que parte associaria com o software do computador?

Depois que pensar nisso pare para pensar no seguinte: sabe essa parte que pensou na questão anterior? Ela é o seu hardware ou é o seu software? Onde você, que está compreendendo este texto, se encontra? Essa questão já foi feita de forma mais poética no passado: quem enxerga aquilo que meus olhos vêem?

Bem, esse “eu” que existe dentro de cada um de nós, essa manifestação de consciência e personalidade, é o resultado direto de como nosso wetware processa os pacotes de programas que rodam nele. Sim, nosso cérebro roda programas como o seu computador roda também. Só que no caso do computador, quando você instala um programa como um Skype ou um Photoshop o maquinário permanece mais ou menos o mesmo. A voltagem dele não muda de 110v para 220v, as letras do teclado não trocam de lugar e o fio que o liga na tomada não fica maior ou menor. Em tese, se o programa for bem feito ele não afeta os outros programas que estão instalados, seu processador de textos continuará funcionando como antes e seu programas de receber e enviar e-mails também. Já nosso wetware… nosso wetware não funciona bem assim. Cada pacote de programas que recebemos muda a maneira como nossa personalidade se desenvolve, afeta a maneira como nosso corpo físico se desenvolve, afeta nossa percepção de certo e errado, de verde e de vermelho.

Hoje você é o que é e quem é porque seu wetware tem sido programado e continua sendo programado desde sempre, desde antes de você nascer. Isso dá um certo frio na espinha. Não é dizer que o indivíduo é um reflexo do meio em que vive, mas é dizer que o indivíduo – você – é reflexo daquilo que programaram na sua cabeça.

Mas não se desespere. Se pudéssemos descobrir a maneira com que nosso wetware é programado, qual a plataforma e a linguagem de programação, não poderíamos nos libertar dos códigos já inseridos e de certa forma passar a nos programar de forma consciente?

SIM!

BINGO!

Isso não seria maravilhoso? Não conseguir apenas controlar o rumo da sua vida, mas da sua própria evolução?

Esse seria um primeiro passo. Mas e quanto ao resto? Começamos a pensar já, pensemos grande então. Que tal não apenas conseguir manipular a própria evolução, mas a própria realidade? O mundo que nos cerca, as pessoas que existem por ai, o espaço tempo? Parece viagem, mas se acha essa proposta absurda não se preocupe. Não é você pensando. São os programas dentro da sua cabeça pensando por você, analisando o que leu e classificando como BESTEIRA. IGNORE. RETORNE À LINHA 12. Acredite, enquanto você não conseguir perceber o mundo como ele realmente é não vai ter idéia do que pode fazer nele e do que pode fazer com ele. Pense que a graças a um bando de gente que enxergava o mundo de um jeito diferente, pedaços de pedra fritaram Nagasaki e Hiroshima. Dá uma cosquinha né?

E se tivéssemos acesso então a esses programas que nos moldam e nos limitam, e se soubéssemos como eles funcionam para que pudéssemos hackeá-los?

Eu serei completamente sincero na resposta. Nós já temos! E já sabemos!

Cada pacote de programas se constituem de quatro partes ou componenetes básicos:

1- Imperativos Genéticos: São programas físicos, como placas de circuitos, nós os chamamos de instintos.

2- Impressões: São programas mais ou menos físicos que nosso wetware foi geneticamente projetado para aceitar, mas somente até certos momentos de nosso desenvolvimento. Esses “momentos” são conhecidos, na etologia, como momentos de vulnerabilidade de impressão.

3- Condicionamento: São programas criados para serem rodados nas Impressões. Eles são independentes e são relativamente fáceis de serem acessados e mudados quando usamos de descondicionamento e contra-condicionamento.

4- Aprendizado: É um programa ainda mais independente e “suave” do que o condicionamento. De forma geral eu já economizei um tempo precisoso para você colocando essas estruturas de programa em uma forma hierárquica. As impressões primordiais podem sempre anular e prevalecer sobre qualquer forma de condicionamento e aprendizado.Uma impressão é uma espécie de programa/software que acabou se tornando um hardware embutido no seu sistema; ela acaba sendo impressionada em nossos neurônios macios quando eles se encontram peculiarmente expostos e vulneráveis. Impressões são os aspectos “não negociáveis” de nossa individualidade. Dentre a infinidade de possíveis programas existentes como softwares potenciais de nosso wetware, a impressão estabelece os limites, parâmetros, perímetros dentro dos quais todos os subsequentes condicionamentos e aprendizados ocorrerão.

Sinistro pra cacete não é?

Saiba que antes da sua primeira impressão, a consciência do jovem infante é como o universo descrito na Bíblia, “vazia e sem forma”. Assim que ocorreu a primeira impressão formasse a primeira estrutura criativa nesse vazia sem forma, a mente em desenvolvimento se torna presa nessas estruturas e acaba se tornando a estrutura.

Cada nova impressão complica ainda mais a vida do software que programa nossa experiência – e que experienciamos como a “realidade”. Condicionamentos e aprendizados apenas servem para tornar essas estruturas mais intrincadas, como galerias de túneis passando por dentro desse leito desoftwares impressos. A estrutura resultante desse circuito cerebral é o que forma o nosso mapa do mundo. Tudo que aprendermos e experienciarmos e decidirmos que é real será limitado por esse mapa.

Por que religiosos acreditam em uma consciência externa a eles capaz de criar o universo?

Por que “céticos” modernos acham impossível que exista uma consciência externa a eles capaz de criar o universo?

Como é que dois tipos tão diferentes e vis de pessoas conseguem viver no mesmo mundo, cada uma tendo 110% de certeza de que sua visão pessoal de mundo é a única correta?

São os mapas mentais. E a maneira com que eles nos obrigam a enxergar o mundo.

Mas como vimos isso pode ser mudado.

Para se ter uma idéia, se nossos imperativos genéticos já foram programados por nossos bisavós, quando começam as primeiras impressões em nosso sistema?

A primeira impressão ocorre assim que a primeira coisa te alimenta na vida. E essa impressão é condicionada então por tudo o que te proteger e te ameaçar. Essa primeira impressão tem uma preocupação básica com sugar, se alimentar, se aconchegar e buscar segurança física para si mesma. Ela se afasta mecamente de qualquer coisa prejudicial ou predatória – ou de qualquer coisa associada (por impressão ou condicionamento) com algo prejudicial ou predatório.

Essas impressões e condicionamentos continuam acontecendo. Quando você começa a engatinhar e usar o penico, BUM! Quando aprende a falar, BUM! Quando aprende a desenhar e escrever, BUM! A primeira vez que se “acasala” ou tem um orgasmo, BUM!

E acredite, esses circuitos, impressões, condicionamentos e aprendizados te seguem pela vida toda, mesmo quando você não percebe, até que ABRACADABRA!

Chega a hora de fazer o computador trabalhar para você e não por você. Eu crio enquanto falo. Pare uma última vez para pensar, pare mesmo, e apenas reflita um tempo sobre o que lerá agora:

Um recém nascido veio ao mundo geneticamente preparado para aprender a compreender  e falar qualquer língua, desenvolver e dominar qualquer habilidade, assumir qualquer papel sexual. Quando é que você começou a se limitar? A mecânica e roboticamente se determinar a aceitar, seguir e mimetizar as ofertas limitadas do seu ambiente social e cultural?

Abracadabra!

Assim que terminar de responder às questões acima, perca mais um minutinho para ler o que o Sr. Robert A. Heinlein escreveu certa vez:

“Um ser humano deveria ser capaz de trocar uma fralda, planejar uma invasão, esquartejar um cachorro, projetar um edifício, invadir um navio, escrever um soneto, fazer um balanço das despesas, construir uma parede, reduzir uma fratura, confortar os moribundos, receber ordens, dar ordens, cooperar, agir sozinho, resolver uma equação, analizar um novo problema, empilhar esterco, programar um computador, cozinhar uma refeição saborosa, lutar com eficiência, morrer de modo galante. Especialização é para insetos.”

por LöN Plo

Muito bom !!!!!

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/abracadabra/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-do-caos/abracadabra/

A origem secreta do Skull & Bones

A história começa em Yale, onde três tópicos da história social Americana – espionagem, tráfico de drogas e sociedades secretas – se entrelaçam em uma.

Elihu Yale nasceu perto de Boston, educado em Londres, serviu com a Companhia das Índias Ocidentais Britânica, eventualmente se transformou em governador no Forte São Jorge (Fort Saint George), Madras, em 1687. Ele acumulou uma grande fortuna com as trocas de mercadorias e retornou a Inglaterra em 1699. Yale ficou conhecido como um grande filantropo; recebendo um convite da Escola Collegiate (Collegiate School) em Connecticut, ele mandou uma doação e uma grande quantia de livros. Subsequentemente, por causa de suas heranças e doações, Cotton Mather sugeriu que a escola fosse nomeada Universidade de Yale (Yale College), em 1718.

A estátua de Nathan Hale esta erguida no Antigo Campus na Universidade de Yale. Existe uma cópia desta estátua na frente do quartel-general da CIA em Langley, Virginia. E ainda outra na frente da Academia Phillips em Andover, Massachusetts (onde George H.W (’48) estudou na infância e se juntou a sociedade secreta com doze anos).

Nathan Hale, junto com três outros graduados de Yale, foi um membro do “Culper Ring, ” uma das primeiras agencias de inteligência americana. Estabelecida por George Washington, na qual foi um grande sucesso na Guerra Revolucionaria. Nathan foi um dos operantes investigados pelos britânicos, e após seu famoso discurso de remorso, ele foi enforcado em 1776. Desde então a fundação da Republica, o relacionamento entre Yale e a “Comunidade de Inteligência” foram únicas.

Em 1823, Samuel Russell estabeleceu a Russell & Companhia com propósitos para adquirir ópio na Turquia e contrabandear para China. Russell & Companhia emergiu com o sindicato Perkins (de Boston) em 1830 e virou o líder número um de contrabando na américa. Muitas das grandes fortunas americanas e europeias foram construídas através da troca de ópio com a China.

Um dos chefes de operação da Russell & Companhia em Canton foi Delano Jr., Avô de Franklin Roosevelt. Os outros parceiros de Russell eram John Cleve Green (que financiou Princeton), Abiel Low (que financiou a construção de Columbia), Joseph Coolidge e as famílias Perkins, Sturgis e Forbes. (O filho de Coolidge organizou a United Fruit Company (Companhia das frutas unidas), e seu neto Archibald C. Coolidge, foi co-fundador do Conselho das Relações de Estrangeiros.

William Huntington Russell (’33), primo de Samuel Russell, estudou na Alemanha entre 1831-1832. Alemanha era o centro de novas ideias. O “método cientifico” estava começando a ser aplicada em todas as formas de estudos humanos. Prússia, que culpou napoleão pela derrota em 1806 começaram a pesquisar sobre o stress em campo de batalha, elevou os princípios estabelecidos por John Locke e Jean Rousseau e criaram um novo sistema educacional. Johan Fitche, em seu “ Endereço para o povo alemão, ” (Address to the German People) declarou que as crianças deveriam ser educadas e assumidas pelo Estado.

Georg Wilhelm Friedrich Hegel tomou posse da cadeira da Universidade de Berlim em 1817 após Fitche, e foi professor até sua morte em 1831. Hegel foi o culminar da ideologia filosófica alemã sobre a escola de Immanuel Kant.

Para Hegel, nosso mundo é o mundo da razão. O estado é Razão Absoluta e o cidadão se torna livre somente com admiração e obediência ao estado. Hegel chamou isso de “marcha de Deus no mundo” e “seu ápice final” (final end). Esse final, disse Hegel, “ tem direito supremo contra o indivíduo, o dever supremo é ser membro do estado”. Ambos o fascismo e comunismo tem suas raízes filosóficas nos trabalhos de Hegel. A filosofia de Hegel foi muito influente na Alemanha durante o tempo de William Russell.

Quando Russell retornou para Yale em 1832, ele formou uma sociedade sênior com Alphonso Taft (’33). De acordo com informações adquiridas de um furto a “tumba” (o salão de encontro do Skull & Bones) em 1876, “ Bones é um capítulo sobre corporações na Universidade da Alemanha…General Russell, seu fundador, estava na Alemanha antes de completar seu último ano como Sênior e lá formou grandes amizades com os líderes da sociedade alemã. Ele trouxe consigo para a universidade, autoridade para fundar uma organização aqui”. William H. Russell, junto com outros quatorze amigos, foram os membros fundadores da “ A Ordem da Caveira e Ossos, ” (The Order of Scull and Bones).

A secreta Ordem da Caveira e Ossos (Order of Skull and Bones) existe somente em Yale. Quinze iniciantes (Juniors na universidade) são escolhidos todos os anos pelos veteranos (Sêniores na universidade) para iniciarem no grupo do ano seguinte. Alguns dizem que o iniciado ganha 15.000 dólares, após escolhido, e o relógio do avô. Longe de ser uma casa para diversão dentro do Campus, o grupo é voltado ao sucesso de seus membros no mundo pós-universitário.

Os nomes das famílias tradicionais e conhecidas da sociedade secreta seguem abaixo:                                        Lord, Whitney, Taft, Jay, Bundy, Harriman, Weyerhaeuser, Pinchot, Rockfeller, Goodyear, Sloane, Stimpson, Phelps, Perkins, Pillsbury, Kellogg, Vanderbilt, Bush, Lovett e entre outros.

William Russell se tornou general o legislador do estado em Connecticut. Alphonso Taft foi apontado como Ministro da Justiça dos EUA, Secretario de Guerra (um posto que muitos membros possuíram), Embaixador da Áustria, e Embaixador da Rússia (outro posto que muitos membros possuíram). Seu filho, William Howard Taft (’87), é o único homem a ocupar a Presidência dos Estados Unidos e chefe de Justiça da Suprema Corte.

 

Segredos da “Tumba”

A Ordem floresceu desde de o começo graças as ocasionais controvérsias. Existe uma discórdia entre alguns professores, que não gostavam do sigilo e da exclusividade. E existe uma discrepância dos estudantes, mostrando preocupação sobre a influência da Ordem sobre as finanças de Yale e o favoritismo de seus membros, os “Bonesmen”.

Em outubro de 1873, Volume 1, Número 1, do “O iconoclasta” (The iconoclasta) foi publicado em New Haven. Só foi publicado uma vez e foi um dos poucos artigos publicado para o “publico” sobre a Ordem Skull and Bones.

De O Iconoclasta:

“ Nós falamos através desta nova publicação, porque a imprensa universitária está fechada para aqueles que pretendem mencionar o “Bones” livremente…

De todas as classes a Skull and Bones aceita só homens. Eles foram para o mundo e tornaram-se, em muitas instancias, lideres dentro da sociedade. Eles obtiveram o controle sobre Yale. Os negócios são feitos por eles. O dinheiro pago para a Universidade passa por suas mãos, e você está sujeito a vontade deles. Sem dúvida alguma são homens de poder, mas muitos que os admiram, enquanto estão na Universidade, não esquecem que financiam a Ordem livremente. Os homens em Wall Street reclamam que os estudantes vêm a ajuda deles, dos homens de Wall Street, ao invés de pedir a sua parte para a universidade. A razão disto é um comentário feito por um dos primeiros estudantes de Yale e da Ordem: “Poucos vão dar, mas os homens da Ordem. E eles se preocupam muito mais com a sociedade do que a universidade…”

Ano após ano o mal mortal está crescendo. A sociedade nunca foi tão desagradável para a universidade quanto hoje, e é justamente este sentimento de doença que fechamos o bolso para os não-membros. Nunca antes foi visto tanta arrogância e sentimento de superioridade. O domínio da Imprensa Universitária e seus empreendimentos para dominar e fazer as regras. Não tem a dignidade de mostrar suas credenciais, mas agarram o poder com uma silenciosa consciência de culpa.

Para dizer o bem que a Universidade de Yale fez seria impossível. Para dizer o bem que ela fará seria ainda mais difícil. A questão, então, é reduzida a isto – em uma mão está a fonte de um bem incalculável – não outra uma sociedade culpada por seus crimes. Seria a universidade de Yale contra a Ordem Skull and Bones!!  Perguntamos a todos os homens, como uma questão de direito, quem deveria ter o direito de viver? ”

Primeiramente, a sociedade fazia suas reuniões em salões privados. Então em 1865, a “tumba”, foi construído um salão de pedra marrom, coberto de vinha e sem janelas, onde desde então os “Bonesmen” sustentam seus “ estanhos ocultistas” ritos de iniciação e se encontram todas Quintas e Domingos.

Em 29 de setembro de 1876, um grupo autodeclarado “ A Ordem do Arquivo e Garra” (The Order of File and Claw) invadiram o salão do Skull and Bones. Na “tumba” eles acharam um deposito – quarto 324 “ encoberta por veludos pretos, até mesmo as paredes eram cobertas com o material”. No andar de cima era o quarto 322, “ O santuario do templo…decorado com veludo vermelho com um pentagrama na parede”.  Na parede do salao estão “pinturas de fundadores da Bones em Yale, e membros da Sociedade na Alemanha, onde uma organização foi estabelecida em 1832”. O grupo de jovens encontrar outra cena interessante na sala de estar perto do quarto 322.

De A caída da Skull And Bones :

Na parede oeste, pendurada entre outras pinturas e fotografias, uma velha gravura representava um tumulo aberto, no qual, a tabua de pedra, continha quatro crânios humanos, agrupados sobre chapéus e sinos, um livro aberto, inúmeros instrumentos matemáticos, um velho papel, e uma coroa real. Nas paredes arqueadas sob o tumulo palavras significativas, em letras romanas, “ ‘We War Der Thor, Wer Weiser, Wer Bettler Oder, Kaiser?'(1) e abaixo do tumulo está gravado, in caracteres alemães, a sentença; ‘Ob Arm, Ob Beich, im Tode gleich.’ (2)

Nós era o Thor , que sabio , que mendigo Ou , o Imperador (1)

Se armar Se Beich , igual na morte (2)

A pintura é acompanhada por um cartão no qual está escrito, “ Da Organização Alemã. Presente de D.C Gilman de D. 50.”

Daniel Coit Gilman (‘52), junto com outros dois “Bonesmen, ” formando a troika na qual ainda a influencia na vida americana nos dias de hoje. Logo após suas iniciações na Skull and Bones, Daniel Gilman, Timothy Dwight (’49) e Andrew Dickinson White (’53) foram estudar filosofia na Europa na Universidade de Berlin. Gilman retornou da Europa e incorporou Skull and Bones assim como Russell Trust, em 1856, com ele mesmo exercendo a profissão de tesoureiro e William H. Russell como presidente. Ele passou os próximos quatorze anos em New Haven consolidando o poder da Ordem.

Gilman foi apontado como bibliotecário em Yale 1858. Através de uma manobra política perspicaz, ele adquiriu fundos para o Departamento Cientifico de Yale (Sheffield Scientific School) e foi capaz de introduzir a Morrill Bill no Congresso, passada a lei e finalmente assinada pelo Presidente Lincoln, depois de ter sido vetada pelo Presidente Buchanan.

Esta Morril Bill, “ doando terras públicas para o Estado Universitário para agricultura e ciências”, é agora conhecido como Land Grant College Act. Yale foi a primeira escola na américa a terras graças a esta lei federal e rapidamente se apossou de toda parte possível de Connecticut em seu tempo. Agradecidos pelas aquisições, Yale fez Gillman, o professor de Física Geográfica.

Daniel foi o primeiro Presidente na Universidade da Califórnia. Ele também ajudou a fundar, e foi o primeiro presidente de, John Hopkins. (Universidade de medicina).

Gilman foi o primeiro presidente na Instituição Carnegie e estava envolvida com a criação do Peadbody, Slater e Russell Sage fundações.

Seu amigo, Andrew D. White, foi o primeiro presidente da Universidade de Cornell (na qual recebeu toda parte de terras de New York pela Land Grant College Act), ministro dos Estados Unidos pela Rússia a Embaixador de Berlin e primeiro americano da Associação Histórica Americana (American Historical Association). White também foi Ministro da delegação americana para a Primeira conferência em Hague em 1899, na qual estabeleceu um judiciário internacional.

Timothy Dwight, um professor de Yale Divinity School, foi instaurado como presidente de Yale em 1886. Desde então todos os Presidentes, eram ou “Bonesmen” ou diretamente ligado a Ordem e seus interesses.

O trio Daniel/Gilman/White foram responsáveis por fundar a Associação Econômica Americana, a Sociedade de Química Americana, e a Associação Psicológica americana. Através de suas influencias sobre John Dewey e Horace Mann, este trio continua tendo um impacto enorme na educação, nos dias atuais.

 

Rede de Poder

Em seu livro Estabelecimento secreto da América (America’s Secret Establishment), Antony Sutton nos diz que a habilidade da Skull and Bones de estabelecer “correntes de influencias” tantos verticais quanto horizontais são enormes, assim assegurando a continuidade dos esquemas conspiratórios da Ordem.

O Link Whitney-Stimson-Bundy representa a “corrente vertical”.

W.C. Whitney (’63), que casou com Flora Payne (da Dinastia Oil Payne), foi Secretário da Marinha. Seu advogado foi um homem chamado Elihu Root. Root contratou Henry Stimson (’88), após ele terminar a escola de direito. Stimsom tomou o cargo de Root como Secretario de Guerra em 1911, apontado por seu amigo Bonesmen William Howard Taft. Stimson depois virou Governador de Coolidge – General das Ilhas Filipinas, Secretario do Estado de Hoover, e Secretario de Guerra durante a administração de Roosevelt e Truman.

Hollister Bundy (’09) foi o assistente

Os dois irmãos, de suas posições na CIA, no Departamento de Defesa e Departamento do Estado, e Assistentes Especiais dos Presidentes Kennedy e Johnson, exerceram um significante impacto no fluxo de informações e inteligência durante a Guerra do Vietnam. especial de Stimson e uma importante figura no Pentágono durante o Projeto Manhattan. Seus dois filhos, também membros da Skull And Bones, onde foram – William Bundy (’39) e McGeorge Bundy (’40) — dois membros muito ativos no governo americano.

William Bundy foi editor dos Negócios de Estrangeiros, que influenciou o Conselho de Negócios de Estrangeiros (CFR). McGeorge virou o Presidente da Fundação Ford.

Outro grupo interessante dos “Bonesmen” é o grupo Harriman/Bush. Averil Harriman (’13) “Ancião do Estado” do Partido Democrático, e seu irmão Roland Harriman (’17) foram membros ativos. De fato, quatro amigos de Roland que participavam da Ordem da classe de 1917 foram os diretores Brown Brothers, Harriman, incluindo Prescott Bush (’17), pai de George Bush.

Desde da virada do século, duas firmas de Investimentos – Fundo de garantia & Brown Brothers (Guaranty Trust & Brown Brothers), Harriman – foram ambas dominadas pelos membros da Skull and Bones. Estas duas firmas estavam fortemente envolvidas no financiamento do Comunismo e do Regime Nazista de Hitler.

Os “Bonesmen” compartilham uma afinidade pelas ideias de Hegel e sua dialética histórica, que debate o uso do conflito controlado – Thesis v.s Anti-Thesis- para criar uma pré-determinada síntese. A síntese de sua criação, onde o estado é absoluto e aos indivíduos são garantidas suas liberdades baseada na obediência do estado – Nova Ordem Mundial.

Financiamento e manobras políticas praticadas pela Ordem e seus aliados ajudaram os Bolcheviques a prevalecerem na Rússia.  Em provocação as leis federais, a indústria de finanças, bancos e depósitos de minerais e óleos (petróleo) uma parte de seus lucros eram revertidos em dinheiro para ajudar a USSR.

Depois, Averil Harriman, como ministro da Grã-Bretanha responsável pelo empréstimo para a Bretanha e Rússia, foi responsável por enviar fabricas inteiras para a Rússia.  De acordo com alguns pesquisadores, Harriman também supervisionou a transferência de segredos nucleares, plutônio e a falsificação de dólares para a USSR.

Em 1932, a Corporação Bancaria Unida (Union Banking Corporation) na Cidade de New York, alistou quatro diretores da central (’17) e dois banqueiros nazistas associados com Fritz Thyssen, que estava financiando Hitler desde 1924.

De George Bush: a Biografia Não-Autorizada:

“ Custodia da propriedade estrangeira do Presidente Franklin Roosevelt, Leo T. Crowley, assinou a Ordem de Carência Número 248 [17/11/1942] apreendendo a propriedade de Prescott Bush abaixo do Ato de Trocas Inimigas. A Ordem, publicada no livro de registros fora das notícias pelo governo obscuro, Nora #4 explicando nada sobre o envolvimento com os nazistas; somente que a Corporação dos Bancos Unidos (Union Banking Corporation) era comandada pela família Thyssen da Alemanha e/ou Hungria – “Nacionais…inimigas do pais”.

Decidindo que Prescott Bush e outros diretores da Corporação de Bancos Unidos (Union Banking Corporation) eram legalmente “os porta-vozes dos nazistas”, o governo evitou outras questões históricas importantes: No qual “ os nazistas de Hitler eram contratados, armados e instruídos por grupos exclusivos de New York e Londres no qual Prescott Bush era gerente executivo…

  1. New York Times, 16 de dezembro de 1944, na página 25 do artigo sobre o Departamento Bancário do Estado de Nova York. Somente a última sentença refere-se aos bancos nazistas, a frase se segue: “A Corporação de Bancos Unidas (Union Banking Corporation), na rua 39 Broadway, em Nova Iorque, recebeu autoridade para trocar sua instituição de lugar para a rua 120 Broadway. ” 

O Times omitiu o fato de que a Corporação do Bancos Unidos (Union Banking Corporation) foi apreendida pelo governo por suas trocas com o inimigo, e o fato que 120 Broadway tinha o endereço da Custodia de Propriedade Estrangeira do Governo. ”

Após a guerra, Prescott virou o Senador de Connecticut e se parceiro de golf era o Presidente Eisenhower. Prescott clama responsabilidade por ter colocado Nixon na política e recebe credito pessoal por trazer Dick a bordo assim como Ike como parceiro de campanha em 1952.

Motivos para a Conspiração

Então, por que uma agência de inteligência/sociedade secreta quer contrabandear drogas e assassinar O presidente Kennedy?

Bem, dessa forma, eles poderiam arrecadar grandes quantias financeiras, e ainda armazenar recursos de inteligência ao longo de sua participação nesses eventos. Ainda há uma análise racional de que o mundo é um lugar desagradável e inapropriado, e se você quer ser ‘o cara’ do pedaço, é melhor estar ciente do que está acontecendo ao redor. E qual a melhor maneira de saber o que está acontecendo além de controlar isso você mesmo? Ainda há aqueles que teorizam que o encoberto tráfico de drogas está de acordo com o plano de desestabilizar famílias americanas e a sociedade.  De forma desmoralizante e através da quebra do corpo político, eles poderiam impor suas vontades usando técnicas de desestabilização psicológica e a alquimia política da dialética Hegeliana para tal.

O artigo de James Shelby Downard  chamado Feitiçaria, Sexo, Assassinato e a Ciência do Simbolismo, um clássico ocultista, liga eventos históricos americanos com um bárbaro, numerológico e grandioso plano oculto “para nos tornar zumbis cibernéticos do mistério”. O assassinato do presidente estadunidense Kennedy, ao que o artigo alega, teria sido uma performance de um ritual ocultista público chamado O Extermínio do Rei, projetado para gerar um trauma em massa, um atentado de controle mental contra o corpo político nacional dos Estados Unidos.

Durante a Operação Sunrise , Operação Blowback e a Operação Paperclip , dentre outras, milhares de cientistas nazistas, pesquisadores e administradores foram trazidos para os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial. Muitos foram “contrabandeados” para o país contra ordens diretas, por escrito, do Presidente Harry S. Truman.

O Projeto Monarca ou Programação Monarca foi uma retomada de um projeto de controle mental chamado Marionette Programming, que começou na Alemanha nazista. O componente básico do Projeto Monarca é uma sofisticada manipulação da mente, usando traumas extremos para induzir ao Transtorno de Personalidade Múltipla.

James Downward presume que os responsáveis propositalmente assassinaram o Presidente Kennedy de modo a afetar a identidade nacional e a coesividade americana – para despedaçar a alma Estadunidense. Mesmo com a banalidade gritante de sua conspiração, ela foi projetada para mostrar a “superioridade deles” e “futilidade estadunidense”.

Ainda é possível que haja estudos que mostram a correlação entre o assassinato de Kennedy e o aumento de violência na sociedade, desconfiança em relação ao governo e outras extensões de patologias sociais.

Os Illuminati: Subvertendo o Corpo Político

Por que isso é um ataque ao corpo político estadunidense?

Em 1785, um relâmpago atingiu um mensageiro na rota de Paris à Frankfort. Um trato escrito por Adam Weishaupt, fundador dos Illuminati, Original Shift in Days of Illuminations , foi recuperado do mensageiro morto, contendo o plano de longo alcance da sociedade secreta para a “Nova Ordem Mundial através da revolução mundial”.

O governo da Bavaria declarou a sociedade como fora a da lei e em 1787 publicou os detalhes da conspiração Illuminati em The Original Writings of the Order da Sect of the Illuminati .

Nas palavras de Adam Weishaupt:

“Com esse plano, nós devemos direcionar toda humanidade sob essa conduta. E, pelas formas mais simples, devemos colocar tudo em movimento e em chamas. Os ofícios devem ser tão alocados e maquinados que nós devemos, em segredo, influenciar todas as transações políticas”. 

Existe uma discordância entre os intelectuais quanto ao fato ou não dos Illuminati terem sobrevivido ao seu banimento. Ainda assim, o grupo tem sido bastante êxito em atrair membros e ter se aliado com uma extensiva rede Massônica.

A Ordem Illuminati foi fundada publicamente no dia primeiro de maio de 1776 na Universidade de Ingolstadt, por Weishaupt, professor de Lei Canônica. Ela foi uma sociedade bastante erudita na época; Weishaupt atraiu primeiramente alguns dentre seus estudantes para se tornarem membros de sua nova ordem.

No dia 5 de dezembro de 1776, estudantes do William and Mary College  fundaram a sociedade secreta Phi Beta Kappa. Um segundo capítulo seria formado, em Yale, em 1780. O movimento anti-Massônico nos Estados Unidos manteve grupos como o Phi Beta Kappa na penumbra. Em razão da pressão sofrida, a sociedade se tornou pública. Isso é evidenciado por alguns pesquisadores como uma causa direta do aparecimento da Ordem Skull and Bones.

Em The Cyclopedia Of Fraternities , um gráfico genealógico geral das fraternidades universitárias influenciadas pela literatura grega nos Estados Unidos, mostra a Phi Beta Kappa como “um fonte antecessora de todas os sistemas de fraternidade na educação superior estadunidense”. Há apenas uma “vertente” linear de descendentes: O capítulo Yale de 1780. A linha depois continua para a Skull and Bones em 1832, e segue até as outras, também de Yale, sociedades seniores Scroll & Key e Wolf’s Head.

Phi Beta Kappa são as primeiras três letras gregas, para ‘Philosophia Biou Kubernetes’ ou ‘Amor pelo saber, o timoneiro da vida’. Um homófono para caveira (skull no inglês) é crânio (scull), um rápido e suave movimento, e parte da primeira nomenclatura da Skull & Bones.

John Robison, um professor de Filosofia da Natureza na Universidade de Edinburgh na Escócia e membro de uma Loja Macônica, disse que ele foi convidado a se juntar aos Illuminati. Depois de muitas pesquisas, ele concluiu que os propósitos dos Illuminati não eram para ele.

Em 1798, ele publicou um livro chamado Proofs Of A Conspiracy :

“Uma associação vem sendo formada com o propósito evidente de extirpar todos os estabelecimentos religiosos e derrubar todos os governos existentes…. Os lideres iriam reger o Mundo com poderes incontroláveis, enquanto todo o resto seria empregado como ferramentas da ambição de seus regentes desconhecidos”.

Proofs of A Conspiracy foi enviado a George Washington. Respondendo ao remetente do livro com uma carta, o presidente Americano disse que ele estava ciente que os Illuminati haviam ido para os Estados Unidos. Ele imaginava que os Illuminati tinham “princípios diabólicos” e que seu objetivo era “a separação das pessoas de seus governos”.

Em Proofs Of A Conspiracy, Robinson publicou a cerimônia de iniciação do “grau Regente” no Illuminismo . Nele, um esqueleto é apontado para ele [o iniciado], no pé, onde é colocada uma coroa e uma espada. Ele é questionado ‘se o esqueleto é de um rei, de um nobre ou de um mendigo’. Como ele não pode decidir, o presidente do encontro diz ao iniciado, ‘O caráter de um ser humano é a única coisa de valor”.

Isto é, essencialmente, o mesmo que está escrito na “sepultura” da Ordem Skull & Bones:

“Wer war der Thor, wer Weiser, Bettler oder Kaiser? Ob Arm, ob Reich, im Tode gleich.”

Onde se lê:

“Quem foi tolo, quem foi homem sábio, mendigo ou rei? Quer seja pobre ou rico, todos serão o mesmo na morte”

Skull & Bones = Illuminati?

Seria a Ordem Skull & Bones parte dos Illuminati?

Quando uma pessoa é iniciada na Skull & Bones, elas são dadas um novo nome, prática que é similar ao dos Illuminati. E muitos membros Illuminatis registrados podem ser evidenciados como tendo contato e/ou fortes influências com muitos dos professores que ensinaram os “Bonesmen ” em Berlim.

Quando uma sociedade secreta conspira contra a soberania de um rei, eles precisam se organizar, levantar fundos, fazer seus planos operacionais, e esperançosamente, trazê-los à fruição.

É possível ter, nos Estados Unidos, uma sociedade secreta que usou o “Estado de Segurança Nacional” para dar cobertura para seus planos nefastos?

De George Bush: The Unauthorized Biography :

“Esse setembro [1951], Robert Lovett  substituiu Marshall  como Secretário de Defesa. Enquanto isso, Harriman  foi nomeado diretor da Agência Mútua de Segurança , tornando ele o líder dos Estados Unidos na aliança militar anglo-americana. Dessa forma, a Brown Brothers , através de Harriman, era tudo, apenas não era comandante chefe.

O foco central do regime de segurança de Harriman em Washington (1950-53), foi a organização de operações de encobrimento e ‘guerra psicológica’. Harriman, junto a seus advogados e sócios de negócios, Allen e John Foster Dulles, queriam que o serviço secreto do governo conduzisse extensivas campanhas publicitárias e experimentos de psicologia de massas dentro dos Estados Unidos, e campanhas paramilitares no exterior… 

O regime de segurança de Harriman criou o Conselho de Estratégias Psicológicas  em 1951. O homem apontado para ser o diretor do PSB [foi] Gordon Gray … O irmão de Gordon, Bowman Gray Jr., presidente da R.J. Reynolds  na época, foi também um oficial da inteligência naval estadunidense, conhecido em Washington como o ‘fundador da inteligência operacional’. Gordon Gray se tornou um amigo próximo e aliado político de Prescott Bush ; e o filho de Gray posteriormente, se tornou advogado e um escudo da política de encobrimento de George, filho de Prescott.”

Então temos o clã Whitney/Stimson/Bundy e os rapazes Harriman/Bush empunhando uma quantia tremenda de influência na política, economia e nos assuntos sociais dos Estados Unidos e no mundo. Depois você tem o companheiro de Prescott e Bush, Richard Nixon como um vice-presidente ativista. Depois, um assassinato deprimente para a nação, um tempo sob LBJ  com os Bundy mantendo as coisas na linha, depois Nixon como presidente com os assessores “Bonesmen” Ray Price (’51) e Richard A. Moore. Após isso, um tempo fora para um presidente democrata trilateralista leviano, seguido pelo filho de Prescott como um vice-presidente ativista inferior a Regan. Depois, temos um presidente Skull and Bones que declara a “Nova Ordem Mundial” enquanto ataca fortemente seu parceiro de negócios, Saddam Hussein.

Depois de doze anos de administrações republicanas, Bush passa seu reinado para seu companheiro contrabandeador de drogas do Arkansas, Bill Clinton, que estudou na Escola de Legislação de Yale. De acordo com alguns pesquisadores, Clinton foi recrutado como um operário para a CIA enquanto ainda estava na Escola Rhodes em Oxford. Poderia esse ser o “velho processo histórico dialético hegeliano?

História Mundial: Plano ou Acidente?

Iremos nós ter outra fracassada administração democrática? Um escândalo tão vergonhoso como a queda de Nixon? Quando Robert P. Jonhson (William Barr)  disse a Clinton, num bunker no Arkansas, que “você é nosso rapaz louro, mas você tem competição para o emprego que você procura. Nós nunca iriamos botar todas as nossas fichas numa única máquina. Você e seu estado tem sido nossa maior posse…. O sr. Casey queria que eu te passasse que, a menos que você ferre com tudo ou faça algo estupido, você é o número um de nossa pequena lista para te lançar ao emprego que você sempre quis.

Então, você tem William Casey – Diretor da CIA, gerente de campanha de George Bush e Cavalheiro Soberano da Malta – falando direto como representante do último procurador geral George Bush para o rival de Bush, nas eleições federais estadunidenses de 1992. Isso é tudo apenas uma demonstração fraudulenta para a plebe estadunidense?

Talvez então, se de fato existe um tipo de controle sobre o processo eleitoral como dito por Mae Brussell e o livro reprimido VoteScam, escrito por Jim e Ken Collier:

“… Seu voto e o meu podem agora ser um bocado de energia sem sentido direcionado por computadores pré-programados que podem ser fixados para selecionar certos candidatos pré-ordenados e sem deixar pegadas ou rastros de papel.”

Em resumo, computadores estão reciprocamente roubando seu voto.

Por quase três décadas o voto estadunidense tem sido objeto para o roubo eletrônico patrocinado pelo governo.

O voto tem sido roubado do povo pelo cartel de burocratas da “segurança nacional” federal, que inclui seus superiores na Agência Central de Inteligência (CIA), dentre os líderes de partidos políticos, dentre os congressistas, jornalistas cooptados – e os donos e gerentes – da maioria dos estabelecimentos de notícias e da mídia, que tem decidido em acordo o como o voto estadunidense é contado, por quem ele é contado e como o resultado é verificado e entregue ao público é, como um deles coloca, ‘Não é uma área adequada de inquérito’.

Por meio de uma não-oficial corporação privada chamada News Election Service (NES), a imprensa tem atualmente controle físico da contagem e disseminação do voto, e se recusa a deixar o púbico saber como isso é feito”

Seria o eleitorado estadunidense sujeitado à cíclica propaganda, candidatos e vencedores pré-selecionados e campanhas psicológicas para alienar o país das instituições estabelecidas para servi-los pela constituição? Seriam os partidos Democratas e Republicanos usados como um experimento hegeliano num conflito controlado?

Pamela Churchill Harriman, esposa de Averil, é uma das maiores arrecadadoras de fundos para o partido dos Democratas. Ela uma vez deu a Bill* um emprego como o diretor de sua “PAM PAC” , quando ele perdeu a disputa para governador em 1980. Bill retribuiu o favor designando ela como sua Embaixadora na França mais tarde.

Outro amigo de Harriman/Bush, Eugene Stetson (’34), foi um assistente de gerencia de Prescott Bush na Brown Brothers, o escritório de Nova Iorque de Harriman. Ele organizou a fundação H. Smith Richardson. Fundação esta que no fim dos anos 1950, participou do MKULTRA, a criada doméstica da CIA que buscava cobrir a operação campanha psicológica. A fundação Richardson ajudou a financiar os testes de drogas psicotrópicas, incluindo LSD, no hospital Bridgewater em Massachusetts, o centro de alguns dos mais brutais experimentos da MK-ULTRA.

Durante as operações contra o Irã, a fundação H. Smith Richardson foi um “comitê de direção de doadores privados”, trabalhando com o Conselho Nacional de Segurança para coordenar o Escritório de Diplomacia Pública*. Esse foi um esforço para enfatizar as propagandas em favor e uma rápida cobertura para as operações contra o Irã, e para sincronizar os ataques publicados para os oponentes do programa.

A fundação H. Smith Richardson também comanda o Centro de Liderança Criativa em Langley para “treinar líderes da CIA”, bem como um outro centro perto de Greensboro, na Carolina do Norte, que treina agentes da CIA e do Serviço Secreto. Quase todos que chegam uma classificação militar de general também recebem esse treinamento.

Isso é apenas a ponta do iceberg. Também existe eugenia e controle de população, história e tecnologia suprimidas, toques de recolher anuais, sociedades lucrativas com ditadores brutais, acordos com “terroristas”, o envolvimento dos Cavalheiros da Malta, guerras de tráfico e exploração, controle de mentes, sociedades secretas para jovens, magia ritualística e mais – tudo girando em fios negros de uma teia de conspiração que nossa girante bola azul foi capturada.

Ainda há toda uma nova colheita de “Bonesmen” chegando, incluindo o filho de George H. W. Bush, George W. Bush (’68), que foi governador do Texas e presidente estadunidense.

Quando Don Schollander (’68), medalhista de ouro olímpico e o único membro da Skull & Bones conhecido vivo em Portland, foi contatado pelo repórter da Willamette Week, Jonh Schrang a respeito do seu envolvimento com a Ordem, ele disse, “isso é realmente algo que eu não posso falar sobre”.

Não é que não iria, mas sim que não “podia”.

Na vigilância das primeiras exposições inovadoras de Antony Sutton da Ordem, a autêntica Biblioteca de Yale se recusou a permitir qualquer outros acessos à pesquisas relacionadas aos documentos Russell Trust.

Daniel Gilman, como a maioria dos Bonesmen, não faz menções da Skull & Bones ou ao Russell Trust em suas memórias ou biografias.

Então, seria o povo estadunidense apenas uma “forragem” para uma sociedade secreta com sobretons satânicos que está tentando formar um governo mundial com eles mesmos no governo? Ou seria a Ordem Skull & Bones apenas um bando de garotos da fraternidade de Yale? Quer apostar seu futuro nisso?

Referências

[1] James Shelby Downard, foi um teórico da conspiração estadunidense, publicou muitos trabalhos pela Feral House sobre a sincronia entre eventos ocultistas e históricos no século XX.

[2] A Operação Sunrise é descrita como um conjunto de operações secretas entre a Alemanha Nazista e o Bloco Capitalista, no intuito de fazer a inimiga chegar a redenção no período da Segunda Guerra Mundial.

[3] A Operação Paperclip foi um conjunto de ações da política estadunidense durante a Segunda Guerra Mundial para levar secretamente cientistas da Alemanha Nazista aos Estados Unidos.

[4] Algo como Mudança Original em Dias de Iluminação.

[5] Algo como Os Escritos Originais da Ordem e Seita dos Illuminati.

[6] Atualmente uma universidade estadunidense renomada, dentre seus alunos passaram os presidentes Thomas Jefferson e James Monroe.

[7] Uma compilação de informações autenticas e resultados das investigações existentes de mais de 600 sociedades secretas nos Estados Unidos.

[8] Algo como Os Escritos Originais da Ordem e Seita dos Illuminati.

[9] Atualmente uma universidade estadunidense renomada, dentre seus alunos passaram os presidentes Thomas Jefferson e James Monroe.

[10] Uma compilação de informações autenticas e resultados das investigações existentes de mais de 600 sociedades secretas nos Estados Unidos.

[11] Algo como Os Escritos Originais da Ordem e Seita dos Illuminati.

[12] Atualmente uma universidade estadunidense renomada, dentre seus alunos passaram os presidentes Thomas Jefferson e James Monroe.

[13] Uma compilação de informações autenticas e resultados das investigações existentes de mais de 600 sociedades secretas nos Estados Unidos.

[14] Numa tradução livre George Bush: Uma Bibliografia Não Autorizada.

[15] Roberto Lovett foi o 4º Secretário de Defesa dos Estados Unidos, durante o governo de Harry S. Truman.

[16] George Marshall foi o 3º Secretário de Defesa dos Estados Unidos, substituído por Lovett durante o governo Truman.

[17] William Averell Harriman, foi um político e empresário do Partido Democrata estadunidense, foi também governador de Nova Iorque de 1951 a 1958.

[18] A Agência Mútua de Segurança foi estabelecida pelo congresso americano em 1951 e tinha o intuito de dar forças aos aliados dos Estados Unidos na Europa, através de assistência miliar e econômica, que renderia benefícios a longo prazo para o país.

[19] Brown Brothers Harriman & Co. é o maior e mais antigo banco privado americano. Geralmente apontado como tendo muita influência política e de interesses nos governos estadunidenses.

[20]  Psychological Strategy Board, ou PSB no inglês.

[2] Gordon Gray foi um oficial estadunidense associado à defesa nacional durante os governos de Harry Truman e Dwight Eisenhower.

[22] R. J. Reynolds é a segunda maior empresa de tabaco estadunidense.

[23] Prescott Bush foi senador dos Estados Unidos pelo estado de Connecticut e banqueiro de Wall Street junto com os Brown Brothers Harriman, ele também é pai do ex-presidente estadunidense George H. W. Bush.

[24] Lindon B. Johnson, ou popularmente chamado LBJ, foi o 36º presidente estadunidense, tendo assumido logo após a morte de Kennedy.

[25] William P. Barr foi um

[26] Pam Pac Machines Ltd. Empresa de embalagens estadunidense.

RantBrso, tradução Max Quintanilha Barison

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/sociedades-secretas-conspiracoes/a-origem-secreta-do-skull-bones/ […]

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Longevidade e Mortalidade

Gilberto Antônio Silva

Os temas “longevidade” e “imortalidade” são recorrentes dentro do Taoismo. Há milênios que os antigos chineses se debruçam sobre esses problemas, buscando soluções muitas vezes pitorescas. Mas qual seria a real importância de se obter a longevidade? E, quando falha a busca pela imortalidade, como lidar com nossa própria mortalidade? São questões que muito importam aos taoistas do século XXI.

A pouco mais de um mês perdi um professor e amigo, alguém muito importante e que possuía um conhecimento tremendo de Medicina Chinesa, Qigong e artes marciais internas. Foi algo inesperado, súbito e decisivo do tipo “uma hora está aqui e na outra não está mais”. E o que mais me marcou nesse evento foi, mais uma vez, a certeza de que todos estamos nesse mesmo processo e podemos ter nosso cartão carimbado a qualquer momento.

Existe uma ideia equivocada, mas muito difundida, de que mestres em artes taoistas vivem muitos anos a mais que a média das pessoas. Isso não é necessariamente verdade. Embora existam mestres de grande longevidade, isso não é uma norma. No Brasil, Mestre Liu Pai Lin fez seu passamento com 93 anos, enquanto Mestre Wu Jhy Cherng nos deixou aos 45 anos. Na verdade, Paramahansa Yogananda afirmou que, em geral, os mestres yogues vivem cerca de 60 anos, pouco mais. Então devemos enxergar algo de muito importante nisso: a longevidade deve ter um motivo e a imortalidade é relativa.

Dediquei o último capítulo de meu livro “26 Dicas de Saúde da Medicina Oriental” à longevidade. E o que digo lá repito aqui: a longevidade, em si mesma, nada representa; o importante é o que fazemos com nossa longevidade. Qual meta temos, quais objetivos almejamos, o que pretendemos fazer com nossos muitos anos a mais. Isso é de total importância nesse assunto. Bruce Lee viveu apenas 33 anos, mas seu trabalho servirá de inspiração e ensinamento por muitas décadas. Swami Vivekananda morreu com 39 anos, mas seu trabalho foi fundamental na introdução do pensamento indiano e do Yoga no Ocidente no início do Século XX. Então o período de vida de uma pessoa é relativo e a longevidade, se adquirida, deve ser utilizada para algum objetivo.

Do mesmo modo a imortalidade é relativa. No início, há cerca de 2.200 anos, era uma busca pela imortalidade física por meio de elixires feitos com substâncias químicas muitas vezes venenosas. Muitos alquimistas e alguns imperadores chineses morreram dessa forma (esse conhecimento chegou à Europa través dos árabes e levou a outro contingente de vítimas). John Blofeld encontrou reclusos taoistas na década de 1930 que ainda acreditavam na obtenção da imortalidade física. Apesar disso, a partir do segundo século de nossa era os alquimistas chineses perceberam que a imortalidade tinha mais a ver com o espirito do que com o corpo e que se integrar ao Tao após a morte seria uma maneira mais consistente de obter a tão sonhada imortalidade. Nascia a Alquimia Interna, que busca obter a realização com o Tao ao mesmo tempo em que promove a longevidade. É aí que nossa busca se afunila.

Obter a imortalidade pelo aprofundamento no Tao é algo complicado e que demanda grande esforço por muito tempo. Nada mais natural, portanto, que se busquem práticas que acentuem a saúde e prolonguem a vida de modo a ter tempo hábil para finalizar esse projeto ou, ao menos, adiantar o máximo possível.

Como ninguém sabe exatamente quando sua validade vence neste planeta, procurar se cuidar e se adiantar no Caminho é a coisa mais lógica a se fazer. Porque morrer é parte do processo, parte integrante do fluxo ininterrupto de ciclos a que estamos submetidos assim como todos nesse Universo Manifestado, que o Yi Jing já explicava há 3.000 anos.

Encarar nossa própria mortalidade faz parte da busca pelo Tao e mostra o quanto próximo estamos deste objetivo. Uma de minhas histórias preferidas é de Zhuangzi, um dos mais claros taoistas do Período Clássico chinês.

“A mulher de Zhuangzi morreu e Huizi chegou a fim de o consolar, mas Zhuangzi permaneceu sentado de pernas cruzadas, a bater numa bacia surrada e a cantar.

Huizi disse: “Viveste com ela como homem e mulher, e ela criou-te os filhos. Na morte o que pelo menos devias fazer seria sentir vontade de prantear, em vez de estares por aí a fazer da bacia um tambor e a cantar – isso não está certo.”

Zhuangzi respondeu: “Certamente que não. Quando ela morreu, decerto que fiz o luto tal como toda a gente! Contudo, recordei que ela já existia antes, num estado anterior ao do nascimento. Na verdade, não só antes que nascer, mas antes do seu corpo ser sequer criado. Não só sem forma como sem substância, mas antes mesmo do seu sopro vital ser adicionado ao seu corpo. E por meio do maravilhoso mistério da mudança foi-lhe atribuído o alento de vida. Esse alento vital forjou uma transformação e ela passou a possuir um corpo. O seu corpo gerou outra transformação e ela morreu. Ela assemelha-se às quatro estações, na forma como a primavera, o verão, o outono e o inverno se sucedem. Agora encontra-se em paz, a repousar no seu ataúde, mas se eu me entregar aos soluços e ao pranto decerto parecerá que eu não compreenda o destino. É por isso que me abstenho.”

Vemos que Zhuangzi percebeu ser uma incoerência tentar compreender o funcionamento do Universo e não estender esse conhecimento à morte de um ente querido. Mas, mesmo assim, passou pelo luto normal. Quando percebemos, ainda que muito superficialmente, as ações do Tao, ampliamos nossa compreensão das coisas ainda que não percamos totalmente nossa natureza emocional humana. Muitas pessoas acham que um taoista não deve se emocionar com o mundo, mas isso é falso. Por mais iluminados que sejam, não conseguem deixar de serem humanos. E isso não é apenas no Taoismo. Consta que o grande iniciado tibetano Milarespa chorou copiosamente a morte de um filho. Uma importante Mestra Zen, Sul, perdeu sua neta e chorou copiosamente. Ao ser questionada, disse que suas lágrimas ”eram maiores que todos os Sutras, que todas as palavras dos Patriarcas e de todas as possíveis cerimônias”. As pessoas próximas não entenderam, mas ela falava sobre a própria alma humana.

O que nos torna humanos é nossa capacidade de almejar elevados níveis espirituais enquanto convivemos com nossas fraquezas e, eventualmente, as sobrepujamos. Ser humano é apontar nossa cabeça para o Céu enquanto plantamos firmemente os pés na Terra. Obter longevidade é uma ferramenta poderosa para ter tempo de superar o ego e poder atingir a imortalidade na fusão com todas as coisas.

A busca pela imortalidade espiritual passa pela superação de nossa própria mortalidade humana.

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Gilberto Antônio Silva é Parapsicólogo, Terapeuta e Jornalista. Como Taoista, atua amplamente na pesquisa e divulgação desta fantástica filosofia e cultura chinesa através de cursos, palestras e artigos. É autor de 14 livros, a maioria sobre cultura oriental e Taoismo, Coordenador Editorial da Revista Brasileira de Medicina Chinesa e Editor Responsável da revista Daojia, especializada em filosofia e artes taoistas e cultura chinesa. Sites: www.taoismo.org e www.laoshan.com.br

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/longevidade-e-mortalidade

A História da Terapia Por Choque em Psiquiatria

As primeiras décadas do século XX testemunharam uma grande revolução na nossa compreensão e no tratamento das doenças mentais. Até então, pessoas portadoras de psicose eram simplesmente trancadas em asilos para loucos, onde recebiam apenas alguns cuidados simples e, algumas vezes, apoio social, sem que nenhuma terapia efetiva estivesse disponível para os “alienistas”, como os psiquiatras eram então denominados. Mesmo quando reformadores médicos bem-intencionados, tais como Phillipe Pinel, conseguiram amenizar em parte as aterrorizantes condições existentes nos asilos para loucos, ainda não existiam tratamentos de rotina realmente efetivos no começo do século XXI.

A primeira revolução na terapia científica da loucura foi baseada nas teorias da mente proposta pelo médico austríaco Sigmund Freud, o fundador da psicanálise. O valor dessa abordagem se tornou evidente para o tratamento de distúrbios mentais de gravidade leve ou média, particularmente nas neuroses; mas pouco representou de efetivo para o tratamento doenças mentais mais graves, como as psicoses. No entanto, isso começou a mudar no começo da década de 30. Os métodos psicoterapêuticos passaram a ser suplementados ou até substituídos por abordagens físicas, usando drogas, terapia eletroconvulsiva, e cirurgia.

O conhecimento de que o trauma encefálico, as convulsões e a febre alta podiam ser usados para amenizar distúrbios mentais não é novo em Medicina. Hipócrates foi o primeiro a notar que as convulsões induzidas por malária em pacientes insanos era capaz de curá-los. Na Idade Média, alguns médicos observaram os mesmos fenômenos após um severo surto de febre, tal como o que ocorreu durante epidemias de cólera em asilos para doentes mentais. Em 1786, um médico chamado Roess observou que pacientes mentais melhoravam após a inoculação com vacina contra a varíola. Além disso, muitos médicos ao longo dos séculos notaram que havia poucos epilépticos que também eram esquizofrênicos, e uma teoria biológica sobre a incompatibilidade entre as convulsões e doenças mentais gradualmente se desenvolveu.

É conhecido, também que durante muito tempo os médicos foram fascinados com a idéia de tratar doenças mentais e neurológicas usando a eletricidade.

Entre 1917 e 1935, quatro métodos para produzir choque fisiológico foram descobertos, testados e usados na prática psiquiátrica, todos no continente europeu:

  • Febre induzida por malária, para tratar paresia neurosifilítica, descoberta em Viena por Julius Wagner-Jauregg, em 1917;

  • Coma e convulsões induzidas por insulina, para tratar esquizofrenia, descoberta em Berlim por Manfred J. Sakel, em 1927;

  • Convulsões induzidas por metrazol, para tratar esquizofrenia e psicoses afetivas, descoberta em Budapest por Ladislaus von Meduna, em 1934, e

  • Terapia por choque eletroconvulsivo, descoberta por Ugo Cerletti e Lucio Bini em Roma, 1937.

O advento do tratamento das psicoses usando choque fisiológico aumentou a oposição entre duas escolas de pensamento em psiquiatria: a psicológica e a biológica.

A “escola psicológica” interpreta a doença mental como sendo devida a desvios na personalidade, problemas surgidos durante o crescimento, no controle de impulsos internos, e a outros fatores originados externamente. Esta escola, tipificada pelos psicanalistas, foi fundada por Sigmund Freud no começo do século XX.

A “escola biológica”, ao contrário, considera que as doenças mentais, particularmente as psicoses, são causadas por alterações patológicas, químicas ou estruturais do cérebro. Devido à essas diferenças, as abordagens terapêuticas adotadas por cada escola são marcadamente diferentes. O sucesso da terapia por choque, em virtude de, evidentemente, causar alguma alteração drástica no ambiente interno do cérebro, e, consequentemente, nas funções das células nervosas, foi um forte argumento a favor das causas biológicas de muitas doenças mentais.

Febre e Doença Mental

O primeiro pesquisador a investigar sistematicamente o elo entre febre e doença mental foi o médico austríaco Julius Wagner von Jauregg. Ele observou que pacientes loucos melhoravam consideravelmente após sobreviverem à febre tifóide, erisipela e tuberculose. Impressionado pela coincidência de que todos estes pacientes tinham episódios de febre alta e inconsciência, ele começou a fazer experimentos com vários métodos de induzir febre, tais como infecção por erisipela, injeções de tuberculina, tifóide, etc. sem muito sucesso.

O primeiro grande achado de Wagner-Jauregg aconteceu quando ele tratou a paresia generalizada, uma doença neuropsiquiátrica comum e extremamente grave, e que é causada por neurosífilis avançada (sua verdadeira causa era desconhecida na época). A paresia, também chamada de demência paralítica, era uma doença incurável e quase sempre fatal, e os asilos psiquiátricos estavam repletos de pacientes com ela, devido à inexistência de tratamentos efetivos para a sífilis. Esta doença é acompanhada por uma pronunciada degeneração progressiva, incluindo convulsões, ataxia (incoordenação motora), déficits na fala e paralisia geral. Na área mental, ela causa mania, depressão, paranóia e comportamento violento, incluindo suicídio, delírio, perda da memória, desorientação e apatia.

A descoberta de Wagner-Jauregg foi inspirada por uma série de revolucionárias descobertas médicas em microbiologia. Em 1985, Ronald Ross descobriu na Índia que a malária é causada por um parasita transmitido pelo mosquito Anopheles. Em 1905, Schaudinn, na Alemanha, descobriu o agente patológico para a sífilis, o Treponema pallidum. No mesmo ano, Karl Landsteiner provou que a febre era capaz de matar os espiroquetas que causavam a sífilis. No ano seguinte, Wassermann descobriu o teste sorológico para sífilis, o qual é usado até hoje para detectar precocemente a existência de infecção, e em 1908 ele foi usado pela primeira vez para testar o fluído cérebroespinhal. Em 1909, após 605 tentativas de achar uma quimioterapia para a sífilis, Paul Ehrlich conseguiu o sucesso com o salvarsan ou o “Composto 606”, a base de arsênico, o qual foi a primeira substância a ser cientificamente projetada para ser usada para combater micróbios, na história da Medicina. Finalmente, em 1913, Noguchi e Moore demonstraram que a paresia generalizada era de fato uma infecção do sistema nervoso pela sífilis, e esta foi a primeira vez na história médica que um tipo de distúrbio mental ou loucura pode ser atribuído a uma alteração biológica do cérebro! A escola biológica de psiquiatria tinha conseguido uma tremenda vitória.

Wagner-Jauregg, que era atento à qualquer associação que surgisse entre febre e paresia, não demorou muito em inocular, em julho de 1917, o sangue contaminado de um soldado malárico em nove pacientes com paresia crônica. O resultado foi impressionante: ele conseguiu recuperação completa em quatro desses pacientes e uma melhora em mais dois. Em seguida, ele elaborou e testou um complexo protocolo de tratamento em 275 pacientes sifilíticos que tinham o risco de adquirir paresia. Primeiro ele testou o sangue e líquido céfaloraquidiano desses pacientes, usando a reação de Wassermann, e em seguida os tratou com sangue malárico, seguido por doses de quinino (de modo a brecar a infecção pela malária), alternadas com injeções de neosalvarsan, para limpar o sangue de espiroquetas. Seu grau de sucesso foi notável: 83% dos pacientes ficaram livres de contrair paresia. Por esta descoberta, Wagner-Jauregg ganhou o Prêmio Nobel em 1927.

Atualmente, a demência paralítica é uma complicação rara da sífilis, e o tratamento de Wagner-Jauregg foi suplantado pelo uso de antibióticos.

Terapia Por Choque Insulínico

O segundo grande avanço no tratamento de psicoses por choque ocorreu em 1927, através da descoberta de um jovem neurologista e neuropsiquiatra polonês chamado Manfred J. Sakel.

Enquanto era residente do Hospital Lichterfelde para Doenças Mentais, em Berlim, ele provocou um coma superficial em uma mulher viciada em morfina, usando uma injeção de insulina, e obteve uma notável recuperação de suas faculdades mentais.

A insulina tinha sido descoberta em 1921 por dois pesquisadores médicos canadenses Frederick Banting e Charles Best, como o hormônio fabricado pelo pâncreas, responsável pela manutenção do equilíbrio de glicose no corpo. A falta de insulina causa diabetes, ou hiperglicemia (excesso de glicose), enquanto seu excesso natural ou artificial causa hipoglicemia, o qual leva ao coma e convulsões, devido ao déficit de glicose nas células cerebrais.

O motivo de Sakel usar insulina foi o seguinte:

“Minha suposição foi que alguns agentes nocivos enfraqueceriam a resistência e o metabolismo das células nervosas…uma redução no gasto de energia da célula, isto é, ao invocarmos uma menor ou maior hibernação nela, bloqueando a célula com insulina, isso a forçará conservar a sua energia funcional e armazená-la, de modo a ficar disponível para o reforço da célula.”

Sakel descobriu acidentalmente, ao causar convulsões com uma dose excessiva de insulina, que o tratamento era eficaz para pacientes com vários tipos de psicoses, particularmente a esquizofrenia. Em 1930 ele começou a aperfeiçoar aquilo que se tornou conhecido como a “Técnica de Sakel” para tratar esquizofrênicos, primeiro em Viena, na Clínica de Neuropsiquiatria da Universidade, e a partir de 1934, nos Estados Unidos, para onde fugiu do regime nazista. A comunicação oficial desta técnica foi feita em setembro de 1933, e foi entusiasticamente recebida. Até então, nenhum tratamento biológico para esquizofrenia estava disponível. A abordagem de Sakel foi um método fisiológico prático e efetivo para atacar a mais debilitante e cruel das doenças mentais. Esta foi uma das mais importantes contribuições jamais feitas pela psiquiatria.

De acordo com os achados de Sakel, mais de 70 % de seus pacientes melhoraram após a terapia por choque insulínico. Dois amplos estudos realizados nos EUA, em 1939 e 1942, deram a ele fama e ajudaram sua técnica a se expandir rapidamente ao redor do mundo. De acordo com o estudo de 1939, publicado pela American Psychiatric Association por R. Ross e Benjamin Malzberg, entre 1757 casos de esquizofrenia tratados por terapia por choque insulínico, 11 % tiveram uma pronta e total recuperação, 26.5 % apresentaram uma grande melhora e 26 % tiveram alguma melhora. O segundo estudo, realizado no Hospital da Pensilvânia, tiveram uma taxa de melhora de 63 %, com 42 % dos pacientes ainda em boas condições mentais após dois anos de seguimento.

O entusiamo inicial foi seguido pela diminuição no uso da terapia por coma insulínico, depois que estudos controlados adicionais mostraram que a cura real não era alcançada e que as melhoras eram na maioria das vezes temporárias. Contudo, como o método de Sakel é a mais amena e menos deletéria de todas as técnicas, estava ainda em uso até recentement,e em muitos países.

Convulsões Químicas e Esquizofrenia

Em 1933, no mesmo ano que Sakel anunciou oficialmente seus resultados com a terapia por coma insulínico, um jovem médico húngaro chamado Ladislaus von Meduna, trabalhando no Instituto Interacadêmico de Pesquisa Psiquiátrica, em Budapest, deu início àquilo que se tornaria uma abordagem inteiramente nova para o uso do choque fisiológico no tratamento da doença mental. Sem saber das investigações de Sakel, Meduna estudou os cérebros e as histórias de doença mental de esquizofrênicos e epilépticos, e notou que parecia existir um “antagonismo biológico” entre estas duas doenças do cérebro. Meduna raciocinou então que convulsões epilépticas “puras” induzidas artificialmente poderiam ser capazes de “curar” a esquizofrenia.

Ele então começou a testar vários tipos de drogas convulsivas em animais, e logo depois em pacientes, também. Seu ideal era alcançar convulsões reproduzíveis e completamente controláveis. A primeira substância que ele testou, em 1934, foi a cânfora, mas os resultados não foram significativos. Ele também testou estricnina, tebaína, pilocarpina e pentilenotetrazol (também conhecido com metrazol ou cardiazol), sempre injetando-as por via intramuscular. Sakel também usou muitas destas drogas junto com a insulina, afim de aumentar as convulsões, mas nunca sozinhas. Entretanto, o ideal de Meduna foi alcançado somente quando ele experimentou injeções intravenosas de metrazol. As convulsões ocorriam rápida e violentamente, e eram dose-dependentes. Após uma série de 110 casos, Meduna pôde registrar uma freqüência de altas de 50 %, com notável melhora e mesmos algumas “curas dramáticas”.

Meduna comunicou seus achados à comunidade psiquiátrica reunida em Münsingen, na Suiça, em 1937, para discutir a terapia por choque pioneiramente iniciada por Sakel. A partir daí, dois campos foram firmemente estabelecidos em relação à terapia por choque fisiológico: o daqueles que defendiam a terapia insulinica e o daqueles que eram a favor das convulsões induzidas por metrazol. O metrazol era mais barato, muito mais fácil de usar e mais propenso a induzir convulsões de forma repetível. O coma por insulina requeria cinco a nove horas de hospitalização e um seguimento mais trabalhoso, mas ela era facilmente controlada e terminada com injeções de adrenalina e glicose, quando necessário. Por sua vez, o metrazol era mais forte e mais difícil de controlar. A terapia por insulina causava poucos efeitos colaterais, enquanto que as convulsões por metrazol eram as vezes tão severas que causavam fraturas espinhais em 42 % dos pacientes !

Meduna foi forçado a imigrar para Chicago, nos EUA, em 1939, e de lá ele continuou suas pesquisas sobre convulsões por metrazol. Eventualmente, a comunidade científica reconheceu que a teoria de incompatibilidade biológica entre convulsões e esquizofrenia não era verdadeira, mas que as convulsões provocadas artificialmente tinham o seu valor em psiquiatria.

Em 1940, A.E. Bennett, um psiquiatra, combinou injeções de metrazol com curare para neutralizar as fortes contrações musculares que eram responsáveis por estes e outros incidentes. Curare é um agentes muscular paralizante que é extraído de plantas da América do Sul por índios, para fazer flexas e dardos envenenados. Ele ocupa os receptores nervosos nos músculos, bloqueando a ação normal do neurotransmissor acetilcolina, liberado pelas células motoras naquele ponto. Posteriormente, a escopolamina também foi usada em conjunto com metrazol e curare, para sedar o paciente e evitar o terror de estar sujeito a convulsões violentas enquanto conscientes (esta era uma vantagem da insulina).

Entretanto, em testes controlados, o metrazol pareceu ser menos eficiente do que a insulina no tratamento da esquizofrenia, particularmente na doença crônica. Ele foi mais efetivo em tratar as psicoses afetivas, tais como a doença maníaco-depressiva e da epressão psicótica, alcançando mais de 80 % de melhora nos pacientes.

Devido à aparência de muitos métodos para tratar doenças mentais, incluindo neurolépticos e terapia eletroconvulsiva, o metrazol foi gradualmente descontinuado no final dos anos 40 e não mais utilizado. Atualmente, sua importância é unicamente histórica.

A Terapia Por Choque Eletroconvulsivo

Em 1937, um neurologista italiano chamado Ugo Cerletti estava convencido que as convulsões induzidas por metrazol eram úteis para o tratamento de esquizofrenia, mas muito perigosas e incontroláveis para serem aplicadas (naquele tempo não havia um antídoto para parar as convulsões, como acontecia com a insulina). Além disso, os pacientes tinham muito medo da terapia.

Cerletti sabia que um choque elétrico aplicado à cabeça produzia convulsões, pois, como um especialista em epilepsia, ele tinha feito experimentos com animais para estudar as consequências neuropatológicas de ataques repetidos de epilepsia. Em Genova, e posteriormente em Roma, ele usou equipamentos de eletrochoque para provocar crises epilépticas em cães e outros animais. A idéia de usar o choque eletroconvulsivo em seres humanos ocorreu-lhe pela primeira vez ao observar porcos sendo anestesiados com eletrochoque, antes de serem abatidos nos matadouros de Roma. Ele então convenceu dois colegas Lucio Bini e L.B. Kalinowski (um jovem médico alemão) a ajudá-lo a desenvolver um método e um equipamento para ministrar breves choques elétricos em seres humanos.

Eles inicialmente experimentaram vários tipos de dispositivos em animais, até determinarem os parâmetros ideais e aperfeiçoarem a técnica, antes de iniciarem uma série de eletrochoques em sujeitos humanos (com esquizofrenia aguda). Após 10 a 20 eletrochoques em dias alternados, a melhora na maioria dos pacientes começou a se tornar evidente. Um dos benefícios inesperados do eletrochoque transcraniano foi que ele provocava amnésia retrógrada, ou seja, uma perda de todas as memórias de eventos imediatamente anteriores ao choque, incluindo a sua percepção. Assim, os pacientes não tinham sentimentos negativos relacionados à terapia, como acontecia com o choque por metrazol. Além disso, o eletrochoque era mais seguro e mais bem controlado, e menos perigoso para o paciente do que o metrazol.

Em 1939, Kalinowski começou um tour para anunciar a terapia por choque eletroconvulsivo ao redor do mundo, visitando a França, Suiça, Inglaterra e Estados Unidos. Pesquisadores que adotaram o método de Cerletti-Bini logo descobriram que ele parecia ter efeitos espetaculares sobre os distúrbios afetivos. De acordo com E.A. Bennett, 90 % dos casos de depressão severa que eram resistentes a todos os tratamentos, desapareceram após três ou quatro semanas de eletrochoques. Logo, o curare e escopolamina estavam sendo usados em conjunto com a terapia eletroconvulsiva, e gradualmente substituíram o choque induzido por insulina e metrazol.

O eletrochoque começava então a sua longa jornada como a terapia de choque de escolha, na maioria dos hospitais e asilos ao redor do mundo. Outros tipos de terapia por choque foram brevemente testados, tais como a indução de febre por meio de microondas radiomagnéticas, anóxia cerebral transitória induzida pela respiração de uma mistura de oxigênio e nitrogênio, e pela crioterapia (redução da temperatura do corpo). Os resultados foram dúbios na maioria das vezes, e estas técnicas foram logo abandonados em favor da terapia eletroconvulsiva, mais prática, efetiva e barata.

Aperfeiçoamentos significativos na técnica de eletrochoque foram feitos desde então, incluindo o uso de relaxantes musculares sintéticos, tais como succinilcolina, a anestesia de pacientes com agentes de curta duração, a pré-oxigenação cerebral, o uso de EEG para monitoração da crise, e melhores dispositivos e formas de onda para ministrar o choque transcraniano. Apesar destes avanços, a popularidade da terapia eletroconvulsiva diminiu grandemente nas décadas de 60 e 70, devido ao uso de neurolépticos mais efetivos e como resultado de um forte movimento politicamente antagônico ao eletrochoque em psiquiatria, como veremos abaixo. Entretanto, a terapia eletroconvulsiva voltou a ganhar evidência nos últimos 15 anos, devido à sua eficácia. É a única terapia somática da década dos 30 que permanece em grande uso hoje. Entre 100.000 e 150.000 pacientes são submetidos à terapia por eletrochoque anualmente nos EUA, em função de condições médicas estritamente definidas.

Muitas personalidades importantes foram submetidas à terapia por choque. Entre elas estão:

  • Terapia por coma insulínico: James Forrestal (primeiro Secretário de Defesa dos EUA, que cometeu suicidio em 1949), o dançarino de ballet russo Vaslav Nijinski, e Zelda Fitzgerald (mulher do autor Scott Fitzgerald).

  • Terapia por choque eletroconvulsivo: o escritor Ernest Hemingway (que se baleou na cabeça pouco tempo depois de se submeter ao tratamento na Mayo Clinic), os poetas Silvia Plath (que também cometeu suicídio) e Robert Lowell, o artista Paul Robeson, o estrela de rock Lou Reed, as atrizes de Holliwood Frances Farmer (que posteriormente foi lobotomizada) e Gene Tierney, os pianistas Vladimir Horowitz e Oscar Levant, e o animador de TV americano Dick Cavett.

A Reação Contra o Eletrochoque como aconteceu com a psicocirurgia, a terapia por eletrochoque foi muitas vezes usada de forma polêmica. Em primeiro lugar, ocorreram muitos casos em que o eletrochoque era usado para subjugar e controlar pacientes em hospitais psiquiátricos. Pacientes problemáticos e rebeldes recebiam várias sessões de choque por dia, muitas vezes sem sedação ou imobilização muscular adequadas.

O historiador médico David Rothman afirmou em uma reunião de Consenso Clínico do NIH sobre terapia por eletrochoque em 1985:

“A terapia por eletrochoque se destaca de forma praticamente solitária entre todas as intervenções médicas e cirúrgicas, no sentido em que seu uso impróprio não tinha a meta de curar, mas sim o de controlar pacientes para o benefício da equipe hospitalar”

Na década dos 70, começaram a surgir importantes movimentos contra a psiquiatria institucionalizada, na Europa e particularmente nos EUA. Juntamente com a psicocirurgia, a terapia por eletrochoque foi denunciada pelos partidários dos direitos humanos, e o mais famoso libelo de todos foi um romance escrito em 1962 por Ken Casey, baseado em sua experiência pessoal em um hospital psiquiátrico no Oregon. Intitulado “One Flew Over the Cuckoo’s Nest”, o livro foi posteriormente roteirizado em um filme de grande sucesso, dirigido pelo tcheco Milos Forman, que recebeu no Brasil o título de “Um Estranho no Ninho “, com o ator Jack Nicholson. Uma exposição desfavorável na imprensa e na TV desembocaram em uma série de processos jurídicos por parte de pacientes envolvidos em abusos da terapia por eletrochoque.

Em meados de 1970, a terapia por eletrochoque estava derrotada como prática terapêutica. Em seu lugar, os psiquiatras passaram a fazer um uso cada vez maior de novas drogas poderosas, tais como a torazina e outros fármacos antidepressivos e antipsicóticos.

Renato M.E. Sabbatini , PhD é neurocientista e especialista em informática médica, com doutorado em neurofisiologia pela Universidade de São Paulo, Brasil, e cientista convidado do Instituto Max Planck de Psiquiatria, em Munique, Alemanha. Ele é o diretor do Núcleo de Informática Biomédica e professor livre-docente e coordenador da área de informática médica da Faculdade de Ciências Médicas, ambos na Universidade Estadual de Campinas, Brasil. Email: sabbatin@nib.unicamp.br

Copyright 1997 Universidade Estadual de Campinas

Renato M.E. Sabbatini, PhD

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