A Terra Oca

 Raymond Bernard

Em 1964 um livro causou uma certa polêmica sobre um assunto de certa forma já antigo. Escrito pelo Dr. Raymond Bernard, com Mestrado e Bacharelado em Artes, além de PhD, o livro trazia a afirmação de que a terra era oca, e não só isso, como também o interior oco do planeta seria habitado por uma raça avançada de seres.

Anunciado como: A MAIOR DESCOBERTA GEOGRÁFICA DA HISTÓRIA FEITA PELO ALMIRANTE RICHARD E. BYRD NA MISTERIOSA TERRA ALÉM DOS PÓLOS – A VERDADEIRA ORIGEM DOS DISCOS VOADORES

Este livro surgiu como a confirmação de uma história que, já desde a antiguidade, foi contada por inúmeras pessoas com crédito o suficiente para perdurar por séculos como uma possibilidade real. Desde os antigos costumes gregos do Hades, nórticos sobre o Svartalfheim, passando pelo Sheol Judaico, o Inferno Cristão e pela obra de Julio Verne, muitas pessoas sempre tiveram certeza de que o planeta que habitamos não era exatamente uma pedra flutuando no espaço. No fim do século XVII, Edmond Halley começou a dar um embasamento científico sobre a possibilidade dos mundos subterrâneos do planeta serem reais. Ele afirmou que a terra era na verdade uma casca oca de espessura aproximada de 800 Km e no seu interior haveria outro par de cascas, um dentro do outro, finalizando com um núcleo no centro de tudo. Cada casca oca seria separada por uma atmosfera própria e teriam rotações em velocidades próprias; ele considerou que cada camada de terra, que em sua visão se assemelhava a uma enorme boneca russa esférica, seria luminosa e possivelmente habitada.

Além de Halley inúmeros outros cientistas abraçaram esta probabilidade como algo realmente possível, Leonhard Euler, John Leslie, John Cleves Symmes Jr, e tantos outros, até mesmo durante o Reich de Hitler. afirmavam que não apenas nosso planeta não era sólido, mas também trazia, em seu interior, segredos e civilizações desconhecidas de nós. Outras tantas pessoas, impressionadas por esta possibilidade organizaram expedições, ou pediram que elas fossem organizadas, para que os pólos do planeta fossem explorados em busca de aberturas para o interior.

É ESTA A MAIOR DESCOBERTA DA HISTÓRIA?

É o que afirma o Dr. Raymond Bernard, não apenas dizendo que o interior do planeta já foi visitado por exploradores, como também trazendo evidências de que é do núcleo oco que vem os discos voadores avistados nas últimas décadas em várias localidades ao redor do mundo. Ele aponta que a verdadeira base dos discos voadores se encontra num imenso mundo subterrâneo, cuja entrada é uma abertura no Pólo Norte. Dr. Bernard acredita que no interior oco da Terra vive uma super-raça que não deseja manter contato com o homem da Superfície. Seus discos voadores somente foram lançados depois que o homem ameaçou o mundo com as bombas atômicas.

Hoje em dia tal afirmação parece ser a declaração de uma mente insana, mesmo assim não há como deixar de pensar que o insano é aquele que perdeu tudo, menos a razão. Julio Verne popularizou esta idéia na forna de um conto de ficção, e depois dele muitos escritores se apropriaram da idéia, o que lhe conferiu um ar de conto de fadas. Mas quando foi escrito, este livro foi levado muito a sério.

Reymond Bernard, era o pseudônimo de Walter Siegmeister, um americano filho de russos judeus, nascido em Nova Iorque em 1901. Seu pai foi um cirurgião que, quando viveu na alemanha, praticou a bioquímica. Walter conseguiu em 1932 seu título de Ph.D. em Educação, na New York University, mais tarde mudando seu sobrenome para Bernard e indo morar na Flórida. Walter era na época o que hoje conhecemos como um médico alternativo. Ele professava a religião Essênia, e escreveu sobre inúmeros assuntos de vanguarda na época, como a ciência desenvolvida por Hubbard, que mais tarde se tornaria a Cientologia, conhecida como Dianética, escrevia também sobre mistérios antigos, regeneração do corpo, longevidade, medicina alternativa, etc. Em 1941 Walter viajou para o Equador onde desejava criar um utopia paradisíaca e uma raça de super homens; seus planos foram por água a baixo quando o seu parceiro na época, John Wierlo, afirmou que não tinha interesse em criar uma super raça, queria apenas desenvolver um Acampamaneto de Santos. Quando retornou para os Estados Unidos, Walter adotou o nome de Dr. Robert Raymond por um período e então viajou novamente, desta vez para o Brasil, onde renovou seu interessa em OVNIs, lendas indígenas, nos mitos sobre Atlântida e na existência de inúmeros túneis neste país que serviriam de passagem para o núcleo oco e habitado do planeta. Durante este período adotou o nome de Dr. Uriel Adriana. Walter morreu um ano depois de ter publicado este livro, no ano de 1965, vítima de pneumonia.

Além do presente livro ele escreveu:

Agharta, O Mundo Subterrâneo,
Apolônio, O Nazareno – O Homem Misterioso da Bíblia
A Criação do Super-Homem
Discos Voadores do Interior da Terra
De Krishna até Cristo
O Grande Segredo do Conde de Saint Germain

entre outras dezenas de obras publicadas.

Agora, mesmo que este assunto tenha um tom de brincadeira de mal gosto, este livro não deve ser lido com leviandade. Ele resume idéias muito anteriores ao escritor e acrescenta alguns pontos contemporâneos, todos expostos por alguém que de fato acreditava no que estava sendo exposto.

Durante a história inúmeras pessoas consideraram a possibilidade deste planeta de fato ser oco e abrigar vida em seu interior, alguns afirmam que a vida é mais primitiva, outros que ela é absurdamente mais avançada. Religiões e cultos já foram, e são formados atá os dias de hoje, tendo esta idéia como base ou como parte de suas crenças. Como Hitler afirmou, quando foi questionado sobre a possibilidade da terra ser oca, e de se enviar tropas para se averiguar isso:

“Não temos a menor necessidade de uma concepção do mundo coerente. A terra pode mesmo ser oca.”

A obra foi dedicada:

“Aos Futuros Exploradores do Novo Mundo que existe além dos Pólos Norte e Sul, no interior oco da terra. Àqueles que repetirão o vôo histórico do Almirante Byrd, por 2.730 quilômetros além do Pólo Norte, e o da sua expedição, por 3.690 quilômetros além do Pólo Sul, penetrando num Novo Território Desconhecido, que não é mostrado em qualquer mapa, e sobre uma imensa superfície de terras, cujo tamanho total é maior do que o da América do Norte, constituindo-se de  florestas, montanhas, lagos, vegetação e vida animal. O aviador que for o primeiro a alcançar este Território Novo, desconhecido até que o Almirante Byrd o descobriu, ficará na história como um Novo Colombo, e até mesmo maior do que Colombo, porque enquanto Colombo descobriu um novo Continente ele descobrirá um Novo Mundo.”

Trazendo o lembrete de que:

O planeta Saturno é um mundo dentro de outro, e talvez mais. O mundo interno é achatado nos pólos e tem 120.000 quilômetros de diâmetro. Se fosse oco, a terra poderia girar dentro dele e todavia, permanecer a mais de 32.000 quilômetros das suas paredes.

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Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/a-terra-oca/

A História de Lilith no Othijoth ben Sira

Othijoth ben Sira Pergunta # 5 (23a-b)

Traduzido do hebraico para o inglês por Norman Bronznick (com David Stern e Mark Jay Mirsky) (Extraído do livro Rabbinic Fantasies: Imaginative Narratives from Classical Hebrew Literature) 1.

Breve comentário sobre o relato de Lilith no Alfabeto de Ben Sira (Othijoth ben Sira):

“O Alfabeto de Ben Sira é a forma mais antiga que conhecemos da lenda de Lilith, conhecida pela maioria das pessoas (isto é, pela maioria das pessoas que estão familiarizadas com Lilith).

É aqui que encontramos Lilith como a primeira esposa de Adão. Os estudiosos tendem a datar o alfabeto entre os séculos 8 e 10, CE. Se a história em si é mais antiga ou, se for, não é possível dizer quanto mais antiga.

Amuletos como o descrito no primeiro parágrafo são, obviamente, muito mais antigos.

O autor do Zohar , Rabino Moisés de León, estava ciente da versão do Alfabeto de Lilith, pelo menos de acordo com Gershom Scholem ( Principais Tendências no Misticismo Judaico, p. 174), mas ele também conhecia outras tradições de Lilith, provavelmente mais antigas, que não combinam bem com esta.

Nenhuma tentativa é feita, aparentemente, para harmonizá-las.

Para uma dessas outras tradições, e comentários sobre se o autor estava familiarizado com o alfabeto , consulte o Tratado sobre a Emanação Esquerda .

A ideia de Eva ter uma predecessora não surge em Ben Sira tendo em vista que ela pode ser encontrada no Gênesis Rabbah, texto que é mais antigo que o Alfabeto, contudo, essas tradições não fazem menção a Lilith e, de fato, não combinam bem com a versão de Ben Sira da história.”

Segue o relato de Lilith no Alfabeto de Ben Sira:

“Logo depois, o jovem filho do rei adoeceu, disse Nabucodonosor a Ben Sira: “Cure o meu filho. Se não o fizer, eu vou te matar.”

Ben Sira imediatamente se sentou e escreveu um amuleto com o Santo Nome, e ele inscreveu nele os anjos encarregados da medicina por seus
nomes, formas e imagens, e por suas asas, mãos e pés.

Nabucodonosor olhou para o amuleto e perguntou a Ben Sira: “Quem são estes?”

Ben Sira respondeu: ” Estes são os anjos que estão encarregados da medicina: Snvi, Snsvi e Smnglof.

Depois que Deus criou Adão, que estava sozinho, Ele disse: ‘ Não é bom para o homem ficar só'(Gênesis 2:18).

Ele então criou uma mulher para Adão, da terra, como Ele próprio criou Adão, e a chamou de Lilith. No entanto, Adão e Lilith começaram a discutir:

Ela disse: ‘Não vou deitar embaixo’, e ele disse: ‘Não vou deitar embaixo de você, mas apenas em cima. Pois você só serve para ficar na posição inferior, enquanto eu estou na posição superior. ‘

Lilith respondeu: ‘Somos iguais um ao outro, visto que ambos fomos criados da terra.’

Mas eles não quiseram ouvir um ao outro.

Quando Lilith viu isso, ela pronunciou o Nome Inefável e voou pelos ares.

Adão orou diante de seu Criador: ‘Soberano do universo!’ ele disse, ‘a mulher que você me deu fugiu.’

Imediatamente, o Santo, bendito seja Ele, enviou esses três anjos, Snvi, Snsvi e Smnglof, para trazê-la de volta.

“Disse o Santo a Adão: ‘Se ela concordar em voltar, ótimo. Do contrário, ela deve permitir que cem de seus filhos morram todos os dias.’

Os anjos deixaram Deus e perseguiram Lilith, a quem alcançaram no meio do mar, nas poderosas águas em que os egípcios estavam destinados a se afogar.

Disseram-lhe a palavra de Deus, mas ela não quis voltar. Os anjos disseram: ‘Nós afogaremos você no mar. ‘

“‘Deixai-me!’ ela disse. ‘Eu fui criada apenas para causar doenças aos bebês. Se o bebê for do sexo masculino, eu tenho domínio sobre ele
por oito dias após seu nascimento, e se feminino, por vinte dias.’

“Quando os anjos ouviram as palavras de Lilith, eles insistiram para que ela voltasse. Mas ela jurou-lhes pelo nome do Deus vivo e
eterno: ‘Sempre que eu ver você ou seus nomes ou suas formas em um amuleto, não terei poder sobre aquela criança. ‘

Lilith também concordou que cem de seus filhos morressem todos os dias.

Assim, todos os dias cem demônios morrem e, pelo mesmo motivo,
escrevemos os nomes dos anjos nos amuletos das crianças.

Quando Lilith vê seus nomes, ela se lembra do seu juramento, e a criança se recupera. ”

Fim do relato de Lilith conforme consta no Alfabeto de Ben Sira.

Referência:

1. Stern, David and Mirsky, Mark Jay. Rabbinic Fantasies: Imaginative Narratives from Classical Hebrew Literature (Yale Judaica Series). Philadelphia, Jewish Publication Society, 1990. Pp. 183-184. comment

Texto traduzido e adaptado do inglês para o português por Icaro Aron Soares.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/demonologia/a-historia-de-lilith-no-othijoth-ben-sira/

A Pedra de Sangue

Shirlei Massapust

Segundo o geólogo Walter Schumann, heliotrópio é uma calcedônia opaca verde escura pontilhada de machas vermelhas: “Foram-lhe atribuídos, durante a Idade Média, poderes mágicos, porque as pequeninas manchas vermelhas eram consideradas gotas de sangue de Cristo”.[1]

Uma edição do Les Admirables Secrets D’Albert Le Grand (1703), livro mais conhecido como Grande Alberto, diz-nos que os padres se serviam do heliotrópio, importado de jazidas “na Etiópia, em Chipre e nas Índias”, para adivinhar e interpretar os oráculos e as respostas dos ídolos.[2] A homonímia da planta e da pedra conduziu à ideia do uso conjunto como ingrediente de fórmulas milagrosas:

Os caldeus chamam a primeira erva Ireos, os Gregos Mutichiol e os Latinos Eliotropium. Esta interpretação vem de Hélios, que significa o Sol, e de Tropos, que quer dizer “mudança”, porque esta erva vira-se para o Sol. Tem ela uma virtude admirável, se a colhermos no mês de agosto, quando o Sol está no signo do Leão, porque ninguém poderá falar mal, nem prejudicar com más palavras quem a trouxer consigo, envolvida numa folha de loureiro com um dente de lobo, pelo contrário, não se dirá dele senão bem. Além disso, quem a puser sob a cabeça, durante a noite, verá e conhecerá aqueles que poderiam vir roubá-lo. Mais ainda, se se puser esta erva, da maneira que acima se disse, numa igreja onde estejam mulheres, aquelas que tiverem violado a fidelidade prometida aos seus maridos não conseguirão sair se não a tirarem da igreja.[3]

A versão do personagem Rabino Hebognazar no manuscrito da Chave de Salomão (1890), compilado por Stanislas de Guaïta e François Ribadeau Dumas, ensina a produzir um anel astronômico com aro forjado numa liga de ferro e ouro e adorno superior contendo “um retalho de folha de Heliotropium europaeum, outro de Aconitum napellus, um pedacinho de pele de leão, outro de pele de lobo, um pouco de pluma de cisne e de abutre e, acima de tudo, um rubi lapidado”.[4]

O Grande Alberto atribui aos “antigos filósofos” a afirmação de que a pedra possui grandes virtudes quando associada com a planta homônima. A tradição sugere que a união do heliotrópio mineral com o vegetal produz “outra virtude muito maravilhosa sobre os olhos dos homens, que é a de suspender sua capacidade, vivacidade e penetração, e de cegá-los de forma a não poderem ver a quem os levam”.[5] Ou seja, a gema untada adquire a propriedade prodigiosa “de confundir os olhos das pessoas a ponto de tornar o usuário invisível”.[6]

Tal ideia deriva da mitologia grega, onde os artefatos de invisibilidade são propriedade dos deuses e titãs. Platão narra uma história fantástica sobre Giges, rei do Hindustão (c. 687-651 a.C.), que usou um anel de invisibilidade encontrado junto ao corpo de um gigante para assassinar o monarca anterior, Candaules, e desposar a viúva deste:

Era ele um pastor que servia em casa do que era então soberano da Lídia. Devido a uma grande tempestade e tremor de terra, rasgou-se o solo e abriu-se uma fenda no local onde ele apascentava o rebanho. Admirado ao ver tal coisa, desceu por lá e contemplou, entre outras maravilhas que para aí fantasiam, um cavalo de bronze, oco, com umas aberturas, espreitando através das quais viu lá dentro um cadáver, aparentemente maior do que um homem, e que não tinha mais nada senão um anel de ouro na mão. Arrancou-lhe e saiu. Ora, como os pastores se tivessem reunido, da maneira habitual, a fim de comunicarem ao rei, todos os meses, o que se dizia respeito aos rebanhos, Giges foi lá também, com o seu anel. Estando ele, pois, sentado no meio dos outros, deu por acaso uma volta ao engaste do anel para dentro, em direção à parte interna da mão, e, ao fazer isso, tornou-se invisível para os que estavam ao lado, os quais falavam dele como se se tivesse ido embora. Admirado, passou de novo a mão pelo anel e virou para fora o engaste. Assim que o fez, tornou-se visível. Tendo observado estes fatos, experimentou, a ver se o anel tinha aquele poder, e verificou que, se voltasse o engaste para dentro, se tornava invisível; se o voltasse para fora, ficava visível. Assim senhor de si, logo fez com que fosse um dos delegados que iam junto do rei. Uma vez lá chegado, seduziu a mulher do soberano, e com o auxílio dela, atacou-o e matou-o, e assim se assenhoreou do poder.[7]

O homem invisível pode agir livremente, conforme sua vontade, pois está protegido das reprimendas e comentários maldosos do vulgo. Henri Cornélio Agrippa (1486-1535) atribuiu a Alberto Magno e Willian de Paris o registro de crenças medievais, segundo as quais o Heliotropium europæum confere glória constante e boa reputação a quem o carrega. Francis Barret interpreta a afirmativa de que “quem a usar terá uma boa reputação, boa saúde e viverá muito tempo[8]”, concluindo que o porte da planta e/ou da pedra “faz do usuário uma pessoa segura, respeitável e famosa, e contribui para uma vida longa”.[9]

O mago envolto em brumas

O anel de heliotrópio não deveria funcionar exatamente como o hipotético anel de Giges. Aparentemente, ele deveria envolver seu possuidor em névoa… Na versão do Magus (1801), Francis Barret omitiu um efeito citado por Cornélio Agrippa (1486-1535), segundo o qual o heliotrópio “tem admirável virtude sobre os raios do sol, pois diz-se que os converte em sangue. Quer dizer, faz o sol aparecer como em um eclipse, se lhe unta com uma erva que leva o mesmo nome e o coloca em vaso cheio d’água”.[10]

Presumo que a pedra deveria ser fervida com suco de heliotrópio até que a água em ebulição produzisse uma nuvem de vapor suficientemente densa para filtrar os raios solares. Apesar de incompleta, a descrição mais extensa deste rito aparece no Grande Alberto:

Para fazer com que o Sol pareça cor de sangue deve-se usar a pedra que se chama Heliotrópio, que tem a cor verde e que se parece com a Esmeralda e é toda pintalgada como que de gotas de sangue. Todos os necromantes lhe chamam comumente a pedra preciosa de Babilônia; esta pedra, esfregada no suco de uma erva do mesmo nome, faz ver o Sol vermelho como sangue, da mesma maneira que num eclipse. A razão disto é que fazendo ferver água em grandes borbotões em forma de nuvens, ela espessa o ar que impede o Sol de ser visto como de costume. Contudo, isto não pode fazer-se sem dizer algumas palavras com certos caracteres de magia.[11]

Se as palavras e caracteres de magia forem padronizados com aquela outra tradição da Chave de Salomão, onde se utiliza a erva, as palavras consistem na invocação voltada para o ocidente “no dia e hora de marte” dos anjos “Michael, Cherub, Gargatel, Turiel, Tubiel, Bael, os Silfos Camael, Phaleg, Samael, Och, Anael”.[12] Estes caracteres de magia são gravados no halo do anel:

O que se publicou em todos os manuais de magia editados desde o fim do séc. XIX até meados do séc. XX, que tive a oportunidade de consultar, foram apenas cópias, muitas vezes incompletas, dos textos supracitados.

Por exemplo, Gérard Encausse (1865-1916) reproduz “um tratado muito curioso sobre pedras extraído de um livro sob os nomes de Evax e de Aaron”, igual aos tratados de Agripa e Kircher, adicionando-lhe a classificação das pedras “conforme as relações planetárias”.[13] A “pedra heliotrópio” foi relacionada com o Sol.[14]

Embora N.A. Molina conhecesse e recomendasse uma versão integral do Grande Alberto publicada “por um ocultista muito conhecido na Espanha e na América sob o nome de Mago Bruno[15]”, ele preferiu copiar a cópia imperfeita de Gérard Encausse com todos os seus rearranjos e omissões, conforme a tradução para português pré-existente, em seu Antigo Livro de São Cipriano.[16]

Anel de pedra heliotrópio em aro de prata forjado pelo meu finado amigo Afrânio, fazedor de joias e artigos de umbanda. Foi untado com extrato de heliotrópio.

O anel do vampiro

Waldo Vieira, fundador do Instituto Internacional de Projeciologia, autor de obras psicografadas junto com Chico Xavier, foi também um dos maiores colecionadores de gibis do Brasil. Em 1978 ele selecionou e forneceu a maioria das “histórias antológicas” publicadas pelo editor Otacílio D’Assunção Barros no número especial sobre vampiros da revista Spektro. É claro que o nível de informação nas entrelinhas subiu à estratosfera!

Um dos romances gráficos cuidadosamente seletos entre dez mil exemplares foi publicado pela primeira vez no Brasil em julho de 1954, no n º 44 de O Terror Negro. No enredo um personagem acerta uma lança no coração de um vampiro possuidor de um “anel com um morcego”.[17] Ataíde Brás incrementou o motivo num novo roteiro onde o vampiro Paolo coloca “um anel, com um morcego como enfeite” no dedo de sua amada e, imediatamente, “os caninos dela começam a crescer”.[18]

Parece que esta variante do mito surgiu de um equivoco. Todos os filmes da Hammer em que Christopher Lee interpretou Drácula terminaram com a morte do conde. O corpo, as roupas e até mesmo o castelo do nobre vampiro dissolviam-se, restando apenas um anel.  Ninguém sabia por que a joia escapava intacta nem qual era o seu significado. Todos os fãs queriam ter aquilo. Os mais crédulos desejavam que o suposto amuleto existisse e tivesse poderes mágicos.

Poucos conheciam a explicação de Christopher Lee sobre o valor emocional do apetrecho: O anel com aro de prata e pedra vermelha gravada com as iniciais B•L era mera réplica de outra joia enterrada no dedo do finado ator Bela Lugosi, que também interpretou Drácula, sendo usada pelo sucessor em sua memória.[19]

Enquanto durou a polêmica, Robert Amberlain afirmou ter encontrado manuais de feiticeiros alemães descrevendo a confecção de um anel especial:

Um Vampiro gravado na pedra heliotrópio transforma-a numa pedra de sangue. Ela dará a quem a transportar, segundo os ritos convenientes, o poder de comandar os demônios íncubos e súcubos. Ela assisti-lo-á nas suas conjurações e nas suas evocações.[20]

Juro pela alma de Nicolae Paduraru que não existe um manual de feitiçaria contendo semelhante rito ou que, se existe, é um livro particular que nunca foi editado, certamente escrito entre 1958 e 1978 por um feiticeiro fã de vampiros cinematográficos que achou que a descrição do mago envolto em brumas, no Grande Alberto, parecida com a do Conde Drácula virando névoa.

O jornalista fantástico Jean-Paul Bourre também procurou o tal livro e ouviu o seguinte quando entrevistou Vladimir S, membro da seita veneziana Ordem Verde:

Casanova foi encarcerado em Veneza, nas celas do palácio ducal. E sabem os motivos? Foi preso pela Santíssima Inquisição a seguir a uma denúncia em que foi acusado de magia negra. Manuzzi, espião dos inquisidores de Veneza, mandou apreender em sua casa os livros e manuscritos ocultos, entre os quais se contavam os seguintes: Clavículas de Salomão, as obras de Agrippa e o Livro de Abramelin o Mágico. Quais eram então as atividades ocultas do jovem veneziano? Ele afirmava, na sua correspondência, que não praticava a Cabala, mas a arte do Kab-Eli, isto é, a arte da “pedra do sol”. Esta pedra é nossa conhecida. É o heliotrópio (…), os nossos adeptos chamam-lhe “pedra de sangue”, uma vez que permite evocar os defuntos e originar o aparecimento dos vampiros. Outrora tinha também uma função medicinal ligada ao sangue: Ajudava a neutralizar as hemorragias.[21]

Essa estória vingou e se desenvolveu. De acordo com Robert Amberlain e Jean-Paul Bourre, usando isto se podia distinguir “os espectros, os manes e os Vampiros” quando o Sol aparecia vermelho por traz dos vapores. O anel mágico destinado às operações de vampirismo devia ter a pedra montada sobre prata (metal lunar, noturno), enquanto o anel de proteção seria forjado em ouro vermelho (símbolo solar, diurno).

Pela razão de que é verde (cor do astral ou do ‘mundo’ imediato dos mortos) e verde escura (os mortos maléficos), raiada de traços vermelhos (o sangue), esta pedra liga-se aos mistérios da morte, do vampirismo e do sangue. (…) Outrora era tida como capaz de parar as perdas de sangue, as hemorragias, e como proteção contra os venenos e mordeduras dos Vampiros.[22]

Robert Amberlain reconhece que quando se penetra no domínio da magia, penetra-se igualmente no da superstição. Então, “no caso de se tratar de uma seita votada ao vampirismo” os nobres afligidos pela seita poderiam ser enterrados com o anel contendo a “pedra do sangue” na crença de que ele protegeria o túmulo, os despojos e o “duplo” durante as saídas e materializações. “Imaginavam que o uso do anel maléfico lhes evitaria uma acidental e desastrosa exposição aos raios do Sol”.[23]

Jean-Paul Bourre incluiu a proteção contra “o aparecimento de caçadores de vampiros, a estaca aguçada e o fogo que podia destruir em poucos segundos o corpo do não morto”.[24] Como isso? O amuleto protege o vampiro causando a morte de quem quer que pise “dentro do perímetro mágico”. A sorte do homem que penetra na zona sagrada se assemelha a dum inseto caído numa teia de aranha. “Uma pequena e subtil vibração basta para que toda essa teia seja sacudida”. A aranha desperta e abocanha o intruso. “Sua lei é inexorável”.[25]

Fada do Heliotrópio, ilustração de Cicely Mary Barker (1895-1973), parte duma coleção de 168 fadas com plantas botanicamente corretas, no livro Flower Fairies of the Garden (1944).

Sangue de dragão

Existem lendas sobre uma pedra impossível cuja descrição parece remeter ao jaspe sanguíneo, chamado “sangue de dragão”, que só um exímio caçador de dragões consegue obter. O frade Rogério Bacon (1214-1292) escreveu o seguinte:

 

Sábios etíopes vieram à Itália, à Espanha, à França, à Grã Bretanha e essas terras cristãs onde existem bons dragões voadores. E, por uma arte oculta, que possuem, excitam os dragões a saírem das suas cavernas. E tem selas e freios já prontos, e montam esses dragões e fazem-nos voar a toda a velocidade pelos ares a fim de amolecerem a rigidez da sua carne (…) e quando desse modo amaciam esses dragões, tem a arte de preparar a sua carne (…) que utilizam contra os acidentes da velhice, para prolongarem a sua vida e subutilizarem a sua inteligência de maneira inconcebível. Porque nenhuma doutrina humana pode fornecer tanta sabedoria como o consumo da sua carne.[26]

Esse é o tipo de estória mirabolante na qual ninguém acredita, mas que todos gostam de ouvir. A temática faz boa parelha com uma instrução obscura do talvez contemporâneo livro do Grande Alberto:

Para vencer os inimigos deve usar-se a pedra Draconite, que se tira da cabeça do dragão; é boa e maravilhosa contra o veneno e a peçonha, e quem a usar no braço esquerdo sairá sempre vitorioso dos seus adversários.[27]

Estas são estórias para divertir crianças, embasadas na interpretação literal da lenda cristã onde São Jorge ou o arcanjo Miguel mata um dragão.

Em 1222, o National Council of Oxford decidiu organizar um grande festival em honra ao santo, no qual o dragão foi apresentado, à guisa de satânico adversário da verdadeira fé, para ser dominado e vencido pelo herói do dia. Por todos esses motivos foram inúmeras as histórias ligando São Jorge ao dragão, naqueles tempos. A mais popular entre todas foi, talvez, a que contou Jacques de Voragine, arcebispo de Gênova (de 1236-1898), em sua Lenda Dourada (…) Segundo essa lenda, houve uma vez, na Líbia, uma cidade chamada Selene. Todos os campos em seu redor tinham sido devastados por um monstro terrível, que somente era impedido de atacar e devastar a cidade pela oferta diária de dois gordos carneiros. Mas chegou um tempo em que não havia mais nem um só carneiro para apaziguar a fome do monstro, que imediatamente começou a aumentar sua devastação em torno da cidade. Por isso, diariamente, eram sorteadas duas crianças até a idade de quinze anos e as indicadas pela sorte eram oferecidas em sacrifício ao monstro. Um dia a sorte apontou a própria filha do rei, Cleodolinda. Imediatamente o soberano ofereceu tudo o que possuía ao cidadão que se apresentasse para substituir a infeliz. Porém todos recusaram e Cleodolinda foi abandonada, só, fora das muralhas de Selene, a fim de seguir o seu triste destino. Um tribuno do exército romano, Jorge da Capadócia, surgiu cavalgando um cavalo branco e, ao saber da triste história da jovem princesa, decidiu, imediatamente, sair ao encontro do dragão, em nome de Jesus Cristo, a fim de matar a fera ou morrer nessa empresa.

 

O monstro se atirou contra o cavalheiro e tremenda luta se seguiu, até que Jorge, com ousadia e perícia sem par, varou o dragão com sua espada. Porém a fera não morreu imediatamente e Jorge disse a Cleodolinda que passasse seu próprio cinto em redor do pescoço do monstro, a fim de o conduzir em triunfo até a cidade. Ela assim fez e o monstro seguiu-a submisso. À chegada do estranho grupo, o povo, cheio de terror, tratou de fugir. Porém, Jorge a todos serenou e, depois de os ter reunido na praça principal, degolou o dragão. Foram necessários quatro juntas de bois para arrastar para fora da cidade a imensa carcaça.

 

O rei, a rainha, Cleodolinda e vinte mil cidadãos abraçaram o cristianismo. O rei ofereceu a Jorge a mão de sua filha em casamento. Porém o santo herói, cortesmente, declinou essa proposta e, após recomendar ao rei que honrasse a religião e amasse aos pobres, beijou-o nas duas faces e continuou viagem.[28]

Quanta imaginação para dizer que nem uma princesa virgem, nem um reino inteiro valem a quebra de um voto de castidade de um santo católico!

Pedrarias genéricas

A cultura da desinformação aconselha os brasileiros a nacionalizar toda e qualquer coisa pela substituição do antigo pelo novo, do raro pelo disponível, da economia pela ostentação. Em meados do século XX um famoso autor brasileiro – que eu me absterei de identificar pelo nome – aconselhou seu público alvo, os mandingueiros, a empapar seus objetos de uso pessoal com Helianthus annuus, óleo de girassol, ao invés de extrato perfumado de Heliotropium europaeum, de fragrância agradável e duradoura, que custava seis reais o frasco.

Na virada do milênio um quilo de pedra heliotrópio custava cinco centavos de dólar no atacado, no Rio de Janeiro. Mesmo assim faltava no estoque das lojas revendedoras onde pseudo-especialistas nos ofereciam o conteúdo da caixa etiquetada “bloodstone” que poderia conter jaspe sanguíneo, hematita e até mesmo pedra imã.

Eu tive de insistir e pagar adiantado pela lapidação de um heliotrópio, pois o especialista em produção de artigos para terapeutas alternativos relutou a crer que uma mulher pudesse preferir uma pedra barata a um rubi-zoisita. Algo parecido ocorreu algumas vezes no passado. Hebognazar intercambia heliotrópio e rubi em sua Chave de Salomão. Por que trocar um pelo outro? Naquela época o herói da mineralogia George Frederick Kunz (1856-1932) ainda não havia nascido nem catalogado um batalhão de pedras mágicas de baixo custo para a alegria do povo e felicidade geral da nação.

Sem ninguém para explicar aos soberbos que gosto não se discute pareceria um desperdício gastar um aro de ouro ou prata para equipar uma pedra adquirida ao custo de poucas moedas numa barraquinha de camelô. Uns e outros pensariam ser mais adequado portar uma gema digna de ser comercializada numa joalheria que fornece certificado de origem. O problema é que a troca prejudica a lógica ritualística pondo a perder a relação de homonímia entre erva e pedra, onde o semelhante reage com o semelhante.

Notas:

[1] SCHUMANN, Walter. Gemas do Mundo. Trad. Rui Ribeiro Franco e Mario Del Rey. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico, p 128.

[2] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trad. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 163.

[3] HUSSON, Bernard (org). Obra citada, p 149-150.

[4] CLAVÍCVLAS DE SALOMON: Libro de Conjuros y Fórmulas Mágicas. Trad. Jorge Guerra. Barcelona, Editorial Humanitas, 1992, p 93 do fac simile.

[5] AGRIPPA, Cornélio. La Filosofia Oculta: Tratado de magia y ocultismo. Trad. Hector V. Morel. Buenos Aires, Kier, 1998, p 42.

[6] BARRET, Francis. Magus: Tratado completo de alquimia e filosofia oculta. Trad. Júlia Bárány. São Paulo, Mercuryo, 1994, p 60.

[7] PLATÃO. A República. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1996, p 56-57.

[8] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trad. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 163.

[9] BARRET, Francis. Obra citada, p 60-61.

[10] AGRIPPA, Cornélio. Obra citada, p 42.

[11] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trad. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 163.

[12] CLAVICULAS DE SALOMON (1641). Barcelona, Humanitas, 1997, p 93 do fac simile.

[13] PAPUS. Tratado Elementar de Magia Prática. Trad. E. P. São Paulo, Pensamento, 1978, p 232-233.

[14] PAPUS. Obra citada, p 235.

[15] MOLINA, N. A. Nostradamus – A Magia Branca e a Magia Negra. Rio de Janeiro, Espiritualista, p 63 e 76.

[16] MOLINA, N. A. Antigo Livro de São Cipriano: O gigante e verdadeiro capa de aço. Rio de Janeiro, Espiritualista, p 131-135.

[17] A VILA DO VAMPIRO. Em: SPEKTRO: Especial dos vampiros. Rio de Janeiro, Vecchi, março de 1978, nº 5, p 82.

[18] BRAZ, Ataíde (roteiro) e KUSSUMOTO, Roberto (desenho).  A Noite da Vingança. Em: SPEKTRO: Especial dos vampiros. Rio de Janeiro, Vecchi, março de 1978, nº 5, p 68.

[19] AS VÁRIAS FACES DE CHRISTOPHER LEE. Brasil, Dark Side, 1996, DVD.

[20] AMBERLAIN, Robert. O Vampirismo. Trad. Ana Silva e Brito. Lisboa, Livraria Bertrand, 1978, p 213.

[21] BOURRE, Jean-Paul. O Culto do Vampiro. Trad. Cristina Neves. Portugal, Europa-América, p 137.

[22] AMBERLAIN, Robert. Obra citada, p 213.

[23] AMBERLAIN, Robert. Obra citada, p 214.

[24] BOURRE, Jean-Paul. Os Vampiros. Trad. Margarida Horta. Portugal, Europa-América, 1986, p 133.

[25] BOURRE, Jean-Paul. Idem, p 133-134.

[26] BACON, Rogério. Opus Majus: Vol. II. Oxford, J. H. Bridges, 1873, p 211. Em: HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trd. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 75.

[27] HUSSON, Bernard (org). O Grande e o Pequeno Alberto. Trd. Raquel Silva. Lisboa, Edições 70, 1970, p 167.

[28] SÃO JORGE: HISTÓRIA, TRADIÇÃO E LENDA. Em: EU SEI TUDO, nº 11. Abril de 1954, p 16-18.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/vampirismo-e-licantropia/a-pedra-de-sangue/

Inquisição – dos Dias de Amanhã até os Dias de Ontem

A verdade é que o amanhã é uma grande entropia.

Um dos grandes mistérios da neurociência é a nossa consciência. Não se sabe ao certo como ela ocorre e tudo que temos é pressupostos antigos baseados em experiências nazistas da segunda guerra. Essa brecha permite que nós consigamos acreditar no espiritual. Mas acreditar no espiritual nunca foi algo tão difícil para o ser humano, até porque aquilo que mais nos uniu para matar o próximo, foi ele. Ops, desculpe escrevi errado. Quis dizer “amar”.

Mas vamos para a Ásia. Depois voltamos a consciência. E pulamos para a inquisição.

Mas mundo moderno não seria o mesmo sem os árabes. Se hoje você abomina o ISIS, EL e afins, lembrem-se que muito antes de destruírem cidades antigas ou resolverem decepar cabeças,  o café que tomamos, a medicina, matemática, a química (até então chamada de alquimia), várias coisas do nosso dia a dia carregam em sua história, o DNA de um povo tão interessante.  Abu Saʿd al-ʿAlaʾ ibn Sahl (c. 940–1000) foi um deles. Ele não foi somente um matemático, físico e engenheiro óptico da Era dourada Islâmica,  Ibn Sahl foi quem descobriu a Lei da Refracção, ao qual em seu tratado On Burning Mirrors and Lenses, utilizado por outro árabe, Abū ʿAlī al-Ḥasan ibn al-Ḥasan ibn al-Haytham (965 – c. 1040), ou mais conhecido como Al-Haytham, foi o primeiro a perceber que os nossos olhos recebem a luz e então a traduzem, ao contrario do que os gregos pensavam até então, que nós emitíamos a luz.

Do mesmo modo que a consciência foi um mistério para os filósofos gregos, a principal “função” da consciência foi um mistério – a luz e a tradução da mesma. A neurologia evoluiu graças a experimentos bizarros da medicina, isso inclui abrir crânios com a pessoa viva, passando por espetar o cérebro dela enquanto observa as reações dos sortudos que caíram nessas experiências. Mas tudo isso não passava de uma única busca.

A nossa consciência.

O século X foi recheado de descobertas para os árabes e aprimoramentos de descobertas de outros povos, como o espelho, ao qual nosso amigo Ibn Sahl foi o criador do espelho parabólico. Os espelhos acompanham a humanidade desde 3000 A.C., os primeiros até então, eram apenas pedras e/ou metais polidos, porém  a criação de um espelho feito já com um revestimento de prata é atribuída ao químico alemão Justus von Liebig, quando decorria o ano de 1835. Mas durante toda história os espelhos foram recheados de mistérios. Os judeus antigos temiam que as mulheres olhassem para eles, com medo de que Lilith ou Zahriel, as demônias que viviam neles, pudessem despertar vaidade nelas. O maior problema de um espelho é que ele nos dá consciência de nós mesmos. A pessoa consciente então, iria se perguntar sobre sua origem e a questão novamente iria para o âmbito metafísico. É uma merda. Nunca fugimos disso.

Então vamos fazer o que a igreja sempre fez. Vamos queimar toda essa bruxaria.

Na França, no pequeno vilarejo de Treves, o arcebispo local condena 120 homens e mulheres à morte sob a acusação de que eles interferiam nos elementos da natureza, devido ao inverno duríssimo que enfrentavam. Todos foram queimados.

A confissão havia sido conseguida através de métodos violentos de tortura.

Uma histeria coletiva surgiu após a publicação do livro “O Martelo das Bruxas” (1486), pelos monges alemães Heinrich Kramer e Jakob Sprenger, por quase 300 anos, o continente europeu viveu sob as ferozes regras de queimar e caçar as pessoas acusadas de bruxaria.

Literalmente, era um manual de processo contra os acusados de bruxaria, que delineava os métodos mais eficazes de se descobrirem as bruxas.

Parece que a consciência da existência das bruxas tornavam elas reais.  “O TODO É MENTE” era o que diziam os antigos herméticos. Talvez seja por isso que, conforme a caça prosseguiu, mais e mais bruxas e pessoas ordinárias eram queimadas. Supostamente foram várias pessoas inocentes, livres da abominação da bruxaria. Mas nós sabemos que no fundo mesmo, tudo que queria era amar o próximo.

Ops, quis dizer matar o próximo.

A palavra consciência por si só carrega um axioma científico. Mas para um texto supostamente metafísico, vou utilizar a palavra espírito. Espírito, vem do latim, spiritus, que significa “ar, sopro”. O mesmo conceito se encontra na cabala em Ruach, o sopro da vida. Os egípcios acreditavam que o espírito entra no corpo do recém nascido a partir da primeira inspiração. E que saia na última. Esse mesmo espírito era sustentado pelo prana, a energia vital que aparece em diversas culturas sob nome de Chi, Ki, Mana… O espirito se mantém vivo se alimentando de prana. Em outras palavras sua consciência se mantém lúcida por causa da respiração. As coisas ganham uma clareza espetacular quando usamos um linguajar menos místico.

Coincidência ou não, exercícios respiratórios aumentam sua capacidade de lembrar seus sonhos. Os mais místicos vão dizer que é por causa do fluxo de prana, que fortalece seu espírito dando a ele uma melhor capacidade de relembrar. Os mais céticos vão dizer que seu cérebro apenas ganha mais lucidez por causa da hiperoxigenação dentro desses exercícios.

Consciência é uma coisa tão interessante, que o fato de ter consciência de algumas informações, já te torna perigoso. Apenas por estar vivo. Vamos relembrar alguns casos de ontem.

Uma das bruxas de São Paulo foi Maria da Conceição,  queimada em uma fogueira perto do Convento São Bento, morta em 1798, no centro antigo de São Paulo.  Por motivos incertos, ela arrumou problemas com um padre conhecido somente como padre Luis. Ao que parece, ele era radicalmente contra o que ela fazia e conseguiu levá-la a julgamento por bruxaria.

Maria era uma conhecida mulher da localidade, que preparava alguns remédios para curar doentes, algumas poções para atrair homens e gozava de uma certa reputação.

Consciência nos leva novamente ao espírito. E espírito nos leva a magia. Bruxas.

Uma bruxa consegue ser infinitamente pior que uma caça as bruxas. Alguém que consegue usar o próprio espírito para influenciar o espíritos dos outros é uma ideia no mínimo assustadora. Quantas outras poções são feitas e empurradas pela goela baixo dos homens que se perdem em suas núpcias com outras mulheres, que secretamente venderam a alma pro diabo? Alma, vem de anima, em latim, aquilo que anima. Ou seja, o espírito. Consciência. Então elas se venderam para o diabo. Mas a histeria coletiva não foi somente séculos atrás. Pelo contrario. Vamos relembrar um outro caso em que a consciência da população sobre uma bruxa levou a histeria.

Fabiane Maria de Jesus (1980-2014) uma falsa notícia publicada na web, utilizando um retrato falado de um caso criminal ocorrido no Rio de Janeiro, acusando a mulher retratada como sendo sequestradora de crianças para a prática da bruxaria e rituais de magia negra no litoral de São Paulo. Uma página da rede social Facebook divulgou essa imagem, que foi associado por populares à Fabiane Maria de Jesus. Ela foi cercada por uma multidão, espancada e torturada. Morreu horas depois. Sua inocência foi provada posteriormente.

Mas uma noticia de ontem. Precisamos de algo de amanhã, alguma noticia sobre amanhã.

Exercito evangélico destrói terreiros. Invade festivais wiccanos e uma briga generalizada. Evangélicos ganham cargos importantes no senado. Um presidente evangélico. Brasil para Cristo. Marginalização de praticas religiosas.

E a melhor parte de todas: eles estão certos. Existe uma teoria no mundo que quando uma pessoa acredita profundamente em algo, aquilo se torna real. Vocês todos já devem ter escutado sobre isso. É repetido dia após dia, entre exemplos místicos e mundanos – o poder da crença. Curas milagrosas feitas pela fé. Pedidos atendidos. Se até hoje a fé não moveu uma montanha sequer, ao menos gerou uma montanha de dinheiro para o Vaticano e posteriormente para o movimento milionário do evangelho.

Eu digo que eles estão certos porque eles acreditam que estão certos e que estão numa guerra contra o mal.

Quando você olhar num espelho, vai ver que o espelho serve de uma auto afirmação sobre quem você pensa que é e seu papel na terra. Isso vale para todas as vezes que você olhar em um espelho e lembrar que ele foi inicialmente feito por um árabe que não era do ISIS. E lembrar que o instinto bélico da Ásia sempre foi bem a flor da pele e que cortar cabeças, sodomizar inimigos ou queima-los era uma pratica na guerra. O que hoje o ISIS faz, foi feito ontem por outros povos que viviam ali mesmo.  Talvez logo tenha isso no Brasil novamente também, levando em conta que o amanhã está sendo consumido pelas ideias da entropia evangélica que comungando com zumbis, criaram um exercito que amanhã você vai ficar sabendo que é maior do que o pensamos hoje. E eles estão certos. A certeza fortalece o espírito e o espírito fortalece a carne. É a fé que mais uma vez não foi explicada tem um poder sobrenatural sobre a nossa consciência. As crenças refletem na consciência e na forma de agir.

No fim das contas, nossa atitude é uma prostituta a serviço de nossa crença.

LöN Plo

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Postagem original feita no https://mortesubita.net/mindfuckmatica/inquisicao-dos-dias-de-amanha-ate-os-dias-de-ontem/

Albert Mackey

Alguns autores e obras são citados constantemente na maioria dos livros pela sua importância cronológica e, mais ainda, pela contribuição imprescindível que deram na organização de nossa instituição. Poderíamos mencionar os trabalhos eternos de Joseph Paul Oswald Wirth, Robert Freke Gould, George Kloss, William Hutchinson, René Guénon, Wilhelm Begemann, Eliphas Levy, Alec Mellor e tantos outros não menos importantes. Trataremos aqui, de maneira breve, da obra de Albert Gallatin Mackey, possivelmente, o mais citado de todos os autores, fato este que se deve a especificamente um de seus legados.

O americano Albert Gallatin Mackey talvez tenha sido o mais importante historiador e jurista maçônico que aquela nação já produziu. Segundo seus próprios compatriotas, até hoje não se avaliou adequadamente as conseqüência que seus trabalhos tiveram sobre a maçonaria, não só americana, mas também de todo o mundo.

Dos Irmãos Americanos que conquistaram fama internacional no mundo maçônico, vários foram escritores cujos trabalhos ajudaram na formação e na extensão da luz maçônica, dentre estes nenhum escreveu tão volumosamente como o fez Mackey.

Nascido em 12 de março de 1807 na cidade de Charleston no estado americano da Carolina do Sul, Albert Mackey graduou-se com honras na faculdade de medicina daquela cidade em 1834. Praticou sua profissão por vinte anos, após o que dedicou quase que completamente sua vida à obra maçônica.

Recebeu o grau 33, o último grau do Rito Escocês Antigo e Aceito, e tornou-se membro do Supremo Conselho onde serviu como Secretario-Geral durante anos. Foi nesta época que ele manteve uma estreita associação com outro famoso maçom a americano, Albert Pike.

Participou como membro ativo de muitas lojas, inclusive a legendária “Solomon’s Lodge No. 1,” (http://www.solomonslodge.org/main.htm), fundada em 1734, que é, ainda hoje, a mais famosa e mais antiga loja operando continuamente na América do Norte. Ocupou inúmeros cargos de destaque nos mais altos postos da hierarquia maçônica de seu país.

Pessoalmente o Dr. Mackey foi considerado encantador por um círculo grande de amigos íntimos. Seu comportamento representava bem o que, entre os americanos, é chamado de cortesia sulista. Sempre que se interessava por um assunto era muito animado em sua discussão, até mesmo eloqüente. Generoso, honesto, leal, sincero, ele mereceu bem os elogios e qualificações que recebeu de inúmeros maçons de destaque.

Um revisor da obra de Mackey disse que, como autor de literatura e ciência maçônica, ele trabalhou mais que qualquer outro na América ou na Europa. Em 1845 ele publicou seu primeiro trabalho, intitulado Um Léxico de Maçonaria, depois disto seguiram-se: “The True Mystic Tie” 1851; The Ahiman Rezon of South Carolina,1852; Principles of Masonic Law, 1856; Book of the Chapter, 1858; Text-Book of Masonic Jurisprudence, 1859; History of Freemasonry in South Carolina, 1861; Manuel of the Lodge, 1862; Cryptic Masonry, 1867; Symbolism of Freemasonry, and Masonic Ritual, 1869; Encyclopedia of Freemasonry, 1874; and Masonic Parliamentary Law 1875.

Mackey esteve até o fim da vida envolvido com a produção de conhecimento maçônico. Além dos livros citados ele contribuiu com freqüência para diversos periódicos e também foi editor de alguns. Por fim, publicou uma monumental “History of Freemasonry”, que possui sete volumes. Um testemunho da importância e popularidade que os livros escritos por Mackey têm é o fato de que muitos deles são editados até hoje e estão à venda em livrarias, inclusive pela Internet. No Brasil, por exemplo, é possível encontrar pelo preço aproximado de R$54,00 um exemplar de “History of Freemasonry” (http://www.sodiler.com.br/index.cfm). No site da livraria Amazon (www.amazom.com), tida como a maior da Internet, é possível adquirir 26 edições diferentes quando se procura livros usando como referência as palavras Albert Mackey. Para quem tem habilidade de leitura em inglês, é possível ler um livro inteiro de Mackey disponível na internet. O título “Symbolism of Freemasonry” ou o Simbolismo na Maçonaria, de 364 páginas, que pode ser encontrado neste link. Dos muitos trabalhos que o Dr. Mackey legou à posteridade, um julgamento quase universal identifica a “Encyclopedia of Freemasonry” como a obra de maior importância. Anteriormente a publicação deste livro não havia nenhum de igual teor e extensão em qualquer parte do mundo. Esta obra teve muitas edições e foi revisada várias vezes por outros autores maçônicos.

A contribuição de Mackey para o pensamento e leis maçônicas, produto de sua mente clara e precisa, é tida como de fundamental importância. Praticamente toda a legislação maçônica fundamental é hoje interpretada com base em alguns de seus escritos. É verdade que algumas de suas obras contêm enganos, mas o conjunto é de extremo valor e, em particular, um trabalho tem especial destaque no mundo todo. A compilação feita por ele dos marcos ou referenciais básicos da maçonaria é adotada como fundamento em vários ritos e obediências. Estamos falando aqui dos tão mencionados e conhecidos “Landmarks”.

A primeira vez em que se fez menção à palavra Landmark em Maçonaria foi nos Regulamentos Gerais compilados em 1720 por George Payne, durante o seu segundo mandato como Grão-Mestre da Grande Loja de Londres, e adotados em 1721, como lei orgânica e terceira parte integrante das Constituições dos Maçons Livres, a conhecida Constituição de Anderson, que, em sua prescrição 39, assim, estabelecia:

“XXXIX – Cada Grande Loja anual tem inerente poder e autoridade para modificar este Regulamento ou redigir um novo em benefício desta Fraternidade, contanto que sejam mantidos invariáveis os antigos Landmarks…”

A tradução da palavra Landmark do inglês para o português resulta no substantivo “marco”, que, caso consultemos o dicionário Aurélio, tem o seguinte significado: marco [De marca.] S. m. 1. Sinal de demarcação, ordinariamente de pedra ou de granito oblongo, que se põe nos limites territoriais. [Cf. baliza (1).] 2. Coluna, pirâmide, cilindro, etc., de granito ou mármore, para assinalar um local ou acontecimento: o marco da fundação da cidade. 3. Qualquer acidente natural que se aproveita para sinal de demarcação. 4. Fig. Fronteira, limite: os marcos do conhecimento.

Estas definições exemplificam bem o contexto no qual o termo Landmark é utilizado, além de fazer uma referência quase explícita às origens operativas da maçonaria, quem já construiu algo em alvenaria sabe que a fixação dos marcos é um dos primeiros momentos da obra e um passo fundamental para a sua execução. Sem marcos bem estabelecidos fica muito difícil a obra ser bem executada.

Os Landmarks, que podem ser considerados uma “constituição maçônica não escrita”, longe de serem uma questão pacífica, se constituem numa das mais controvertidas demandas da Maçonaria, um problema de difícil solução para a Maçonaria Especulativa. Há grandes divergências entre os estudiosos e pesquisadores maçônicos acerca das definições e nomenclatura dos Landmarks. Existem várias e várias classificações de Landmarks, cada uma com um número variado deles, que vai de 3 até 54. Virgilio A. Lasca, em “Princípios Fundamentales de la Orden e los Verdaderos Landmarks”, menciona uma relação de quinze compilações.

As Potências Maçônicas latino-americanas, via de regra, adotam a classificação de vinte e cinco Landmarks compilada por Albert Gallatin Mackey. Deve-se a isto a frequência com que o Mackey é mencionado também entre nós.

Segundo estudiosos do assunto, a compilação de Mackey teve sucesso por que conseguiu ir ao passado e trazer as tradições e costumes imemoriais à prática maçônica moderna. Este trabalho estabeleceu a ordem em meio ao caos, fornecendo um ponto de partida para os juristas e legisladores maçônicos que o seguiram.

Fato é que o grande trabalho de Mackey em jurisprudência, e mesmo o que se estende além dos Landmarks ou da jurisprudência, sobreviveu ao teste do tempo. Ainda hoje ele é freqüentemente citado como uma autoridade final. Suas contribuições tiveram, e ainda tem, um efeito profundo e permeiam grande parte do pensamento maçônico moderno. Ao criar sua obra, este autor, estava na realidade criando os marcos sobre os quais foi possível edificar grande parte do conhecimento maçônico que se produziu posteriormente.

Albert Gallatin Mackey passou ao oriente eterno em Fortress Monroe, Virgínia, em 20 de junho de 1881, aos 74 anos. Foi enterrado em Washington em 26 de junho, tendo recebido as mais altas honras por parte de diversos Ritos e Ordens. Hoje existe nos Estados Unidos uma condecoração, a “Albert Gallatin Mackey Medal” , que é a mais alta condecoração concedida a alguém que muito tenha contribuído para a causa maçônica.

Bibliografia:

Este trabalho foi elaborado tendo como base a bibliografia listada abaixo, sendo que dela foram retirados as idéias centrais, referências e inclusive transcrições literais.

1-Publicação da Aug.’. Resp.’. Loj.’. Simb.’. São Paulo nº 43. (http://www.lojasaopaulo43.com.br/publicacoes.php)
2-Publicação da Gran.’. Loj.’.Maç.’.do Estado da Paraíba. (http://www.grandeloja-pb.org.br/legis_landmarks.htm)
3-The Grand Lodge of Free and Accepted Masons of the State of California (http://www.freemason.org/mased/stb/stbtitle/stb1936/stb-1936-02.txt)

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/albert-mackey/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/biografias/albert-mackey/

Chi, a Força de Vida do Homem

MIN TZU, excerto de CHINESE TAOIST SORCERY

Uma nova era está surgindo agora para a humanidade. À medida que a cortina se abre para um novo século, uma nova peça com novos artistas está prestes a substituir a que está atualmente em cartaz no cenário mundial. Após um período de mil e quinhentos anos, a ordem do poder está prestes a mudar drasticamente.

De agora em diante, aqueles que entendem os princípios do Chi, a energia vital do universo, governarão o mundo. O futuro de qualquer nação será medido em breve pelo nível de inteligência de seus cidadãos e pela força de sua energia Chi. Uma vez que a medida da inteligência de uma pessoa é proporcional à quantidade de energia Chi em seu corpo, o conhecimento necessário para aumentar o poder interno de um indivíduo em breve será de suma importância para todos.

Mas o que é a energia Chi? Chi é uma energia tão poderosa, complexa e indescritível que, por falta de uma palavra melhor, os taoístas deram-lhe o nome que também é o símbolo do útero universal que deu origem a todas as coisas. Os taoístas concluíram que não há nada no mundo tão precioso quanto o conhecimento do Chi.

Hoje, os não-chineses debatem se o homem possui ou não a energia Chi. No entanto, poucos percebem que ele não poderia viver sem ele. Chi é a energia vital que faz com que o sangue circule no corpo. A acupuntura chinesa e a arte da tomada de pulso baseiam-se na compreensão do modo como a energia Chi se move no corpo. Os princípios da energia Chi estão na raiz de todos os ramos do conhecimento taoísta, como medicina, religião, música, artes marciais, estratégia militar e até mesmo artes como pintura e literatura.

O homem entra em contato com o Chi mesmo antes do nascimento. Um feto humano é nutrido pela energia Chi de sua mãe, que chega até ele através do cordão umbilical. Ao nascer e cortar o cordão umbilical, ele emite seu primeiro choro e começa a respirar, nutrindo assim seu corpo pela primeira vez com o Chi da terra. Junto com a comida que ele consome, esse Chi se torna a força de sustentação de sua vida até a morte.

No momento de seu nascimento, o espírito do homem é puro e o esplendor de sua energia Chi é absolutamente inalterado. Esta pureza ainda não está manchada com pecados, Originais ou não. Sua força Chi é pura como ouro refinado e pode-se dizer que ele tem um pouco de Deus em seu corpo. Ele só aprende a pecar à medida que cresce e se contamina com os maus caminhos do mundo.  A quantidade de força interna natural que cada pessoa possui irá afetá-la à medida que envelhece. Pessoas com pequenas quantidades de Chi tendem a ser fracas, enquanto aquelas com grandes quantidades tendem a ser fortes.

Chi não faz distinção entre raça e cor; todos os seres humanos têm poder interno. Chi dá ao corpo vida, força, saúde e beleza. Mas a maioria das pessoas é criada com uma dieta pobre que reduz o Chi natural do corpo. O processo de envelhecimento também causa um enfraquecimento da energia Chi. Uma pessoa morre quando seu poder interno não pode mais sustentar seu corpo. Após sua morte, a energia Chi de uma pessoa deixa seu cadáver pelo topo de sua cabeça como um espírito que viaja para o além.

Se um objeto passa na frente dos olhos de uma pessoa muito lentamente, ela será capaz de percebê-lo claramente, mas não se ele passar muito rapidamente. Nos tempos modernos, o ritmo acelerado da vida impede as pessoas de se concentrarem em assuntos vitais, como o significado da energia Chi.

Infelizmente, o homem possui uma perigosa tendência a regredir e se autodestruir. Mas o tempo avança inexoravelmente e os poucos sobreviventes dispersos da próxima guerra mundial terão que ser tão fortes e inteligentes quanto seus ancestrais pré-históricos, porque novamente terão que viver em cavernas. Parece lógico que quando a civilização renascer, aqueles com conhecimento da energia Chi governarão o que resta deste mundo.

Enquanto isso, os praticantes de feitiçaria sabem que é essencial aumentar o poder interno e que, durante a realização dos rituais, os fantasmas são atraídos pelo brilho das luzes do altar e pela energia Chi do feiticeiro. O esplendor e a força desse poder interno assustam os maus fantasmas e atraem os bons. Chi é a única qualidade humana que os fantasmas temem e respeitam.

Pessoas com grandes quantidades de poder interno são as mais aptas para realizar rituais religiosos porque seu excesso de Chi lhes dá a vitalidade de corpo e mente necessária para enfrentar fantasmas em batalhas como exorcismos. Essa energia também atua como um escudo para o feiticeiro.

A razão pela qual as feiticeiras nem sempre são bem-sucedidas quando tentam realizar exorcismos, ritos funerários ou outras cerimônias poderosas é que elas possuem quantidades menores de Chi natural do que suas contrapartes masculinas. Essa diferença se deve à composição hormonal dos corpos masculino e feminino. Homens nascem com a energia física extra necessária para desafiar o mundo em uma idade muito jovem. As mulheres podem realizar a maioria dos rituais com o mesmo grau de eficiência que os homens, mas se tentarem combater feitiços malignos extremamente poderosos, podem não ter energia Chi suficiente para sair vitoriosas da batalha. Muitas igrejas entendem esse princípio taoísta e se recusam a ordenar sacerdotes do sexo feminino. Por outro lado, as mulheres são excelentes médiuns espirituais porque geralmente têm mais controle sobre sua força de vontade do que os homens.

Postagem original feita no https://mortesubita.net/asia-oculta/o-significado-de-chi-a-forca-de-vida-do-homem/

A história da humanidade segundo os chineses

MIN TZU, excerto de CHINESE TAOIST SORCERY

Deuses, demônios e espíritos são imortais. Eles não morrem, eles duram para sempre. Compostos de energia Chi, eles não precisam respirar, não têm forma definida e não projetam sombra.

Uma vez que o homem está posicionado de forma única entre o céu e a terra, ele naturalmente possui a intuição e os poderes extra-sensoriais necessários para se comunicar com os deuses. Ele usa muitos métodos para entrar em contato com as divindades, como meditação, oração, feitiçaria e adivinhação. Mas, infelizmente, nem todos acreditam nos efeitos da feitiçaria, o método mais rápido e eficaz de todos. Este lamentável ceticismo tem perseguido a humanidade desde o início de sua história e impedido muitas pessoas de desfrutar da felicidade que a feitiçaria pode conceder a elas.

Se a felicidade significa alcançar tudo o que o coração deseja, então a feitiçaria chinesa é capaz de tornar as pessoas felizes. A feitiçaria é um ramo do taoísmo religioso cujos princípios esotéricos foram compilados para ajudar aqueles que encontraram o infortúnio. Agravados e enfurecidos pelas injustiças da vida, esses indivíduos sofrem a cada dia, esperando um alívio de sua ansiedade. Este alívio é possível para aqueles que recorrem ao uso de feitiçaria.

A feitiçaria pode ser facilmente colocada em prática e foi testada e comprovada sem sombra de dúvida. Por milhares de anos, muitas pessoas experimentaram a feitiçaria chinesa em sua busca para provar o leite e o mel da vida, confiando nela para ajudá-los a alcançar seus objetivos. Deu-lhes a oportunidade de mudar suas vidas e obter os poderes esotéricos com os quais transformaram seus sonhos em realidade.

A feitiçaria, sem dúvida, existe, mas o processo invisível pelo qual ela funciona não foi desvendado por cientistas, filósofos ou antropólogos porque não pode ser totalmente explicado apenas pela lógica científica. Como resultado, quando confrontados com os mistérios divinos, os intelectuais só podem disfarçar sua falta de conhecimento sobre tais assuntos desprezando-os com desprezo como superstições primitivas. Mas o fato é que o homem pode manipular as forças divinas por meio de rituais.

Muito antes de Shakespeare expressar admiração pelo número infinito de coisas inexplicáveis ​​que existem no mundo, os feiticeiros chineses compilaram uma grande quantidade de informações sobre fenômenos místicos. Eles entenderam que poucas pessoas e ainda menos empresas poderiam ter sucesso sem a ajuda da feitiçaria. Eles também sabiam que era um sinal da generosidade do Céu para a humanidade que de todas as criaturas vivas, o homem é o único capaz de invocar deuses e demônios à vontade.

No entanto, aqueles que entram no reino da magia e feitiçaria pela primeira vez devem manter alguns princípios esotéricos em mente. Em primeiro lugar, os rituais têm uma natureza dupla: podem ser usados ​​para ajudar as pessoas ou para destruí-las. Orações aos deuses trazem coisas boas para o feiticeiro e maldições lançadas sobre os inimigos trazem sua ruína. Os antigos professores de metafísica advertiram contra o uso de rituais e feitiços para fins egoístas e desonestos. Idealmente, a feitiçaria deve ser empregada para manter a boa saúde, obter riqueza e contentamento e alcançar uma vida longa. Em segundo lugar, diz-se que a maneira mais segura de alcançar a autodestruição é contar ao seu pior inimigo ou melhor amigo sobre a fonte do seu sucesso. Afinal, os amigos de hoje podem ser os inimigos de amanhã.
Existem nove níveis progressivos de feitiçaria chinesa. Seus rituais fornecerão às pessoas poder oculto mais do que suficiente para permitir que lidem com a maioria das dificuldades da vida.

VER O SOL PELA PRIMEIRA VEZ

A teoria taoísta sobre o início do universo explica que originalmente nada existia além de um Grande Vazio. O Criador Perfeito preencheu o vazio com a energia Chi fundamental até que a luz emergiu da escuridão. Eventualmente, a matéria foi formada e o nascimento do que conhecemos como nosso universo ocorreu. Sob as influências do tempo, do espaço, da energia Chi e das forças Yin e Yang, tudo começou a ocupar seu lugar no vazio gigantesco. Galáxias, constelações, estrelas e planetas assumiram suas posições no espaço.
Neste planeta, a matéria estava dividida em um céu etéreo acima e uma terra sólida abaixo, mas todo o resto estava um caos. Vulcões constantemente entravam em erupção, cobrindo a superfície da terra com lava, e o mar se movia de um lugar para outro sem restrições enquanto a terra se inclinava para frente e para trás. Terremotos sacudiram a massa sólida de terra fazendo com que se separe em continentes e forme montanhas e vales. Fogo, terra e água constantemente contra-atacavam em ciclos de turbulência violenta.

Depois de milhões de anos, os elementos desencadeados deram forma ao nosso mundo e a Terra começou a se acalmar à medida que seu campo magnético se tornava mais estável. Orbitando em torno do sol, a terra agora era acompanhada por uma lua que dava ritmo e estabilidade aos movimentos do mar. Esse equilíbrio possibilitou que formas elementares de vida aparecessem na água. Iniciou-se um ciclo positivo-negativo dos elementos água, fogo, madeira, metal e terra que acabaria por gerar as Quatro Estações, formando florestas e desertos e fazendo a vida a florescer na terra e no mar.

Para os seres humanos, a vida na Terra começou de forma dura. A tradição chinesa sustenta isso há muito tempo, quando os ancestrais do homem abandonaram sua vida nas árvores por uma nas cavernas, a energia Chi da terra ainda estava perturbada e instável. A superfície da terra estava coberta por montanhas maciças, pântanos e uma densa neblina cuja escuridão não podia ser perfurada pela luz do sol. A névoa sempre presente impedia que a luz do sol aquecesse o solo e produzia uma umidade entorpecente. Vários tipos de seres semi-humanos evoluíram das primeiras criaturas semelhantes a macacos que deixaram as árvores para viver no chão. Alguns tinham duas cabeças, um rosto de macaco ou três olhos. Outros tinham apenas um olho ou a cabeça de um animal. Havia também gigantes e anões, assim como vários outros seres igualmente estranhos.

Muitas dessas criaturas foram vítimas do mau clima, das feras e pássaros predadores e das batalhas pela supremacia que travavam entre si. Nessas escaramuças, a maioria dos gigantes foi morta pelos
homens mais engenhosos nascidos do cruzamento que estava ocorrendo entre os grupos.

Esse novo tipo de ser humano era mais aguçado do que seus predecessores e não era nem muito alto nem muito baixo. Um dos princípios chineses da natureza afirma que um homem pequeno e compacto sobreviverá melhor do que um superdimensionado, e esse tipo de homem menor, mas mais robusto, sobreviveu a todos os outros.

Essa criatura primitiva buscou alívio do frio construindo fogueiras grosseiras. Ele acendeu os fogos com as faíscas geradas por fogos naturais, esfregando pedaços de madeira ou batendo uma pederneira com uma pedra. Dessa maneira, ele duplicou a espantosa maravilha dos incêndios que viu produzidos por erupções vulcânicas e relâmpagos. Estes foram os primeiros incêndios provocados pelo homem na história. Eventualmente, ele foi capaz de fazer tochas
que ele usava enquanto vagava pelo mundo sem luz ao seu redor.
O homem enfrentou um perigo adicional na forma de animais e pássaros monstruosos que governavam a terra. As florestas eram habitadas por feras com garras que provaram ser inimigas mortais do homem. Os pântanos estavam cheios de répteis de todos os tipos que matavam qualquer um que tropeçasse neles. Serpentes voadoras ferozes, agora conhecidas como dragões, abundavam, juntamente com inúmeros outros tipos de predadores, como cobras gigantes e criaturas que eram metade pássaros e metade animais. Sua presença forçou o homem primitivo a buscar a segurança em cavernas ou lugares elevados. Ele também aprendeu a se reunir em pequenos grupos para se defender desses predadores. Ainda hoje, essa luta entre o homem e a fera continua.

A presença de animais, a falta de luz do dia e os rigores das condições climáticas incontroláveis ​​impediam as pessoas de migrar à vontade. Eles viviam em um estado permanente de semi-escuridão e era impossível para eles acompanhar o tempo. Durante esse período, deuses e demônios ocasionalmente se revelavam ao homem de maneiras que, infelizmente, não são possíveis no mundo brilhante de hoje. Através desses encontros, ele aprendeu um pouco sobre a natureza e a forma de divindades e demônios menores, e também sobre Deus e o Diabo.

Eras mais tarde, quando as energias Chi do céu e da terra estavam um pouco estabilizadas, os vulcões entraram em erupção com menos frequência e os terremotos diminuíram. A espessa neblina que cobria o mundo desapareceu gradualmente, o sol brilhou com todo o esplendor, o ciclo rítmico das Quatro Estações foi estabelecido, as florestas começaram a crescer e os rios a fluir.

Neste agradável mundo novo, muitas formas de vida começaram a florescer e o homem até aprendeu a migrar. Quando ele se espalhou por todo o mundo, a raça humana havia se dividido em cinco categorias com base na cor da pele: amarelo, marrom, branco, preto e vermelho. Uma vez que o homem começou a migrar e viajar, ele foi submetido a mudanças na vegetação e no clima que nem sempre eram boas para sua saúde e muitas vezes ele ficava doente depois de comer vegetais crus e carne crua. Felizmente, sua dieta tornou-se mais diversificada depois que ele dominou a culinária. A subsequente invenção das panelas possibilitou métodos mais sofisticados e criativos de cozinhar e permitiu que ele viajasse longas distâncias porque conseguia se alimentar com uma dieta melhor.

Este homem antigo era engenhoso. Ele inventou ferramentas que usou para tornar seu ambiente mais habitável. Como suas mãos eram menos poderosas que as patas de um animal, ele inventou armadilhas e armas afiadas. Como não tinha pelos, cobria-se com peles de animais que o protegiam do frio e da chuva.

Na China, o homem começou a medir o tempo e o espaço. Ele também descobriu a maneira de plantar e colher muitos tipos de grãos. Ele aprendeu a prever o tempo observando os movimentos das estrelas e planetas, e do sol e da lua. Ele inventou a roda e foi capaz de calcular peso e medida usando sistemas elementares de matemática e geometria. Ele desenvolveu um método básico de registro de incidentes usando um cordão com nós. Ele também começou a perceber que ele tinha uma natureza especial que o diferenciava de todos os outros seres vivos e começou a enterrar seus mortos para evitar que seus cadáveres fossem expostos à selvageria de animais e aves de rapina. Em suma, o homem tornou-se o rei de todas as criaturas da terra e estava a caminho de se tornar civilizado.

A Infância Religiosa da Humanidade

Na China, o progresso do homem primitivo foi potencializado pelo desenvolvimento de uma cultura baseada na vida em grupo. Dentro dessa ordem cultural, diferentes clãs foram formados, cada um elegendo seu próprio líder. Essa prática continuou até que os chineses desenvolveram o conceito de governo imperial que propunha que o país fosse unificado sob um homem que atuaria como seu líder político, religioso e militar. Ele seria considerado o Primeiro Filho do Céu, o Pai do Povo.

Quando o Primeiro Imperador da China chegou ao poder, ele reuniu todos os clãs separados em uma nação. A monarquia começou com este imperador, há cerca de cinco mil anos, e terminou em 1912 com o governante manchu Pu Yi, o último imperador da China.

O Primeiro Imperador foi sucedido pelo Imperador do Céu, que promoveu o aprendizado entre as massas. Ele ensinou as pessoas a calcular as horas do dia usando uma variedade de dispositivos, como o relógio de água. Quando a duração exata da noite e do dia pode ser determinada, as pessoas podem organizar melhor seus horários de trabalho e descanso.

O Imperador do Céu foi sucedido pelo Imperador da Terra, que foi seguido pelo Imperador do Homem. O governante seguinte, o Imperador do Fogo, ensinou as pessoas a usar o fogo para limpar terras agrícolas, forjar metais, e para muitos outros fins. Depois, o Imperador da Madeira ensinou seus súditos a construir casas, barcos, ferramentas e muitos outros objetos de madeira.

O calendário lunar foi inventado durante o reinado do imperador Fu Hsi, combinando cálculos de tempo, o ciclo das quatro estações e os movimentos dos planetas. A partir daí, as constelações
foram descritos como figuras e animais conhecidos pelo homem. Fu Hsi também produziu a primeira versão do I Ching, ou Livro das Mutações, e inventou a rede de pesca. Ele instituiu os princípios básicos da propriedade privada e promoveu a criação do primeiro sistema de escrita. As regras do casamento e da família também foram estabelecidas nessa época, para fortalecer a sociedade.

O Imperador Dragão da Água promoveu o desenvolvimento e classificação de ervas medicinais. Esse conhecimento provou ser uma das maiores bênçãos já concedidas à humanidade. O bordado também foi inventado durante seu reinado, para embelezar a arte da confecção de tecidos. De fato, as vestes imperiais do Imperador Dragão da Água foram as primeiras a serem bordadas com símbolos astrológicos que mostravam um conhecimento de princípios astronômicos. Os governantes posteriores promoveram invenções como o arado, métodos agrícolas cada vez mais sofisticados, como irrigação, e comércio em pequena escala com base na troca.

O reinado do Imperador Amarelo foi caracterizado por grande progresso em todos os níveis. Foi uma época de grandes invenções, como a vela, e de avanços culturais, como fundição de metais, produção de seda, tiro com arco militar, criação e uso de moedas de metal como dinheiro, pesquisa e uso de substâncias químicas (ou alquimia) e o desenvolvimento dos princípios taoístas. Este imperador foi o primeiro a criar o cargo hereditário de Historiador da Corte, que era obrigado a registrar os bons e maus eventos que ocorreram dentro do Império, e as ações justas ou más do próprio imperador. Esses registros deveriam ser usados ​​para ajudar as gerações seguintes, permitindo-lhes aprender com os erros de seus ancestrais.

Tudo estava indo bem para a raça humana, mas por causa de alguma reviravolta cósmica, nove sóis adicionais se juntaram ao próprio sol da Terra e seu calor abrasador atingiu a terra com grande intensidade. Os horríveis e enormes animais e pássaros morreram com a dramática mudança de temperatura e clima. O pântanos secos pelo calor avassalador, plantações e vegetação queimadas, e fizeram com que a água evaporasse em alta taxa, causando secas maciças.

Para sobreviver às temperaturas de fogo, as pessoas tiveram que buscar a proteção e o frescor das cavernas profundas. Eles também aprenderam a arte de construir túneis para que pudessem viver no subsolo e escapar do calor assassino. Nesses túneis, eles aprenderam a cultivar sob a terra, minerar metais, construir poços e preservar alimentos.

Com o tempo, os sóis adicionais desapareceram e as pessoas puderam emergir de suas habitações subterrâneas. Em gratidão aos deuses, eles erigiram altas pirâmides nas quais adoravam o único sol remanescente que permitiu que a vida voltasse a prosperar na superfície da Terra.
Após a calamidade dos dez sóis, seguiu-se um período de chuvas intensas. As chuvas incessantes inundaram a terra. A elevação e o deslocamento do nível do mar causados ​​pelas chuvas torrenciais quase exterminaram a população e perturbaram o clima da Terra. Poucas pessoas escaparam deste desastre e quando as chuvas pararam, ficou óbvio para os sobreviventes que o eixo da terra havia mudado. Eles perceberam isso quando perceberam que as estrelas e constelações no céu não estavam mais em suas antigas posições.

As pessoas restantes dedicaram suas vidas a drenar a água deixada pelas chuvas. Depois, eles construíram barragens e diques e pântanos secos. Este trabalho continuou sem interrupção por centenas de anos.
Entre as pessoas que sobreviveram ao Dilúvio, algumas eram sensíveis à presença de divindades. Era mais fácil para essas pessoas talentosas contatar os deuses e demônios. Os chineses chamaram esses indivíduos de “os escolhidos”. Esses poucos homens foram educados com o único propósito de sacrificar diretamente às divindades e receberam treinamento especial para desenvolver suas habilidades sobrenaturais desde tenra idade. Suas vidas eram totalmente dedicadas à religião. Eles se comunicavam com o mundo dos espíritos por meio de cerimônias religiosas e atuavam como intermediários sagrados entre as pessoas e os deuses.

Quando os deuses se comunicaram com esses primeiros médiuns sacerdotes, eles lhes deram informações sobre o submundo. Os sacerdotes receberam detalhes sobre as origens da humanidade e a existência de forças poderosas no mundo além. Os deuses também revelaram os nomes e graus de divindades menores e maiores e seu grau de influência sobre o mundo do homem.

Em geral, o relacionamento pacífico que existia entre o homem e os deuses nessa época refletia as influências celestiais benevolentes predominantes na Terra. Nenhum lado exigia muito do outro; os deuses recebiam sacrifícios cerimoniais das pessoas e concediam seus desejos prudentes em troca.

Há cinco mil anos, durante o reinado do Imperador Amarelo, surgiu uma escola de conhecimento chamada Taoísmo. Continha informações sobre alquimia, religião e muitos outros ramos do conhecimento. O taoísmo religioso ensina que existem três forças principais que governam o mundo espiritual. Eles são os dois grandes poderes opostos, mas complementares – Deus e o Diabo – e seu governante, o Ser Supremo.

Deus é uma expressão benevolente da força universal do Chi, que deseja o bem ao homem e mantém a paz na terra. O Diabo é negativo por natureza, odeia a paz e só quer guerra, desordem e luta para reinar neste planeta. Essas duas forças divinas, também chamadas de Yin e Yang pelos antigos, travam uma batalha eterna, cada uma tentando vencer a outra. O Ser Supremo é o poder inigualável que mantém o equilíbrio entre Deus e o Diabo. Deus, o Diabo e todos os outros deuses e demônios menores estão subordinados a esse poder augusto e singular. Este Criador Perfeito é o começo e o fim de tudo que existe.

De acordo com o taoísmo, o bem e o mal não podem destruir um ao outro, caso contrário o equilíbrio universal seria rompido e a terra destruída. Esses dois poderes divinos possuem igual força e influência sobre o mundo do homem e se um se tornasse superior ao outro, ambos desapareceriam e o universo desapareceria junto com eles.

O Ser Supremo, Deus e o Diabo formam um Triângulo Sagrado que preside o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Homem, Terra e Céu formam outro triângulo que, quando combinado com o primeiro, cria a estrela de seis pontas. Este duplo triângulo é um dos símbolos mais conhecidos do misticismo taoísta.

Antigamente, as pessoas aprendiam rituais com os sacerdotes e tudo ia bem entre os homens e os deuses. Mas o Príncipe das Trevas ficou com ciúmes desse relacionamento acolhedor e começou a perturbar a harmonia espiritual prevalecente. Os primeiros sinais de sua influência perniciosa foram vistos quando algumas das pessoas que antes se contentavam com sua sorte egoisticamente começaram a usar rituais sagrados para pedir aos deuses poder pessoal, aparentemente sem medo da retribuição divina. Como as pessoas já possuíam alguns rituais de grande valor, os sacerdotes não conseguiram fazê-los exercer a prudência uma vez que provaram seu poder. A desordem religiosa se seguiu e durou muitos séculos.

Naquela conjuntura da história, cerca de dois mil anos atrás, os sacerdotes taoístas codificaram todos os rituais para evitar que caíssem nas mãos de indivíduos ambiciosos, fechando assim as portas do alto aprendizado religioso para todos, exceto alguns monges e sacerdotes. Ao fazê-lo, eles conseguiram centralizar o poder religioso, mas também geraram uma desordem religiosa inesperada porque, sem a devida direção, leigos inexperientes começaram a realizar rituais taoístas incompletos que apenas trouxeram espíritos malignos para este mundo.

China: O Reino do Meio

Desde o início da história chinesa até a virada do século XX, duzentos e oitenta imperadores governaram o Império Celestial. Durante esse tempo, uma incrível riqueza de conhecimento foi acumulada, conhecimento que teve uma influência significativa em outras nações.
Os chineses chamam seu país de Chung Kuo, ou Reino do Meio. Este nome é representado por escrito por dois ideogramas, um significando o centro de algo, como o alvo de um alvo, o segundo significando país. O nome indica que, pela riqueza de sua cultura, os chineses há milhares de anos consideram seu país o centro do universo.

Há muito tempo, Confúcio restabeleceu o conceito de ritual e estabeleceu as regras de conduta adequada a serem seguidas por todos os oficiais civis, militares e religiosos. Os deveres de todos os funcionários do governo foram claramente delineados dentro da hierarquia. Ele também separou as práticas puramente religiosas dos rituais de feitiçaria. Antes de seu tempo, os sacerdotes praticavam tanto a religião quanto a feitiçaria. Ele foi o primeiro a traçar uma linha de distinção entre os dois, afirmando: “Não vou falar de assuntos sobrenaturais. Respeito os espíritos, mas também mantenho distância deles”. Com base em seu ponto de vista profundo e pragmático, a prática da feitiçaria foi separada da prática da religião. Daquele ponto em diante, os sacerdotes tiveram que seguir uma ética religiosa claramente declarada.

Os princípios confucionistas de cerimônia também reafirmavam a estrutura da unidade familiar. Esse conceito enfatizou a importância do pai e dos membros mais velhos da família e esclareceu que o papel da família é permitir que todos os indivíduos consanguíneos com o mesmo sobrenome se reúnam e forneçam amor e apoio mútuos, protegendo uns aos outros do mundo exterior sem coração.

Princípios confucionistas de cerimônia também eram evidentes nos aspectos religiosos do protocolo real. Eles ditaram que apenas um homem que fosse o primeiro entre iguais poderia oferecer sacrifícios ao Céu em nome da nação. Como Filho do Céu, o imperador era o único mortal que podia oferecer sacrifícios diretamente ao Ser Supremo.
Como o imperador liderava seus súditos em todos os assuntos relativos ao céu, à terra e ao homem, ele se chamava “Pai do Povo”. Ele nunca se referia a si mesmo como um indivíduo, mas usava humildemente o pronome “nós”.

No passado distante, a maioria dos países fora da China não era muito esclarecida. Por exemplo, apenas alguns séculos atrás, a Inglaterra era uma nação bastante atrasada, enquanto agora é considerada um país avançado. Quando os primeiros marinheiros chineses começaram a viajar para o exterior há alguns milhares de anos, descobriram que, comparados ao progresso que os chineses haviam alcançado nas artes e nas ciências, os povos estrangeiros ainda estavam literalmente “vivendo em árvores”. Esses marinheiros plantaram as sementes da cultura em lugares tão distantes quanto o México. Muitos séculos depois, pessoas do Japão, Coréia, Pérsia e outros países muçulmanos foram para a China em busca de conhecimento. De acordo com registros chineses, mesmo os antigos gregos e romanos tiveram contato com a China há mais de dois mil anos.

Os europeus foram apresentados à sabedoria chinesa relativamente recentemente, inicialmente através dos escritos de árabes e persas. Quando os mouros invadiram a Espanha no século VIII d.C., trouxeram livros sobre ciência e literatura que haviam sido influenciados pelo pensamento chinês. Quando os espanhóis estudaram essas obras árabes e se tornaram filósofos famosos, eles habilmente atribuíram suas fontes aos escritos gregos.

No Oriente Médio, sacerdotes e mercadores também sabiam sobre a China há séculos, mas mantinham silêncio sobre isso. Quando seus colegas do Mediterrâneo viajaram para a China, perceberam que esse país era, na verdade, o “Poço do Conhecimento”. Naturalmente, eles também tentaram desviar a atenção do país que se tornaria a fonte do esclarecimento intelectual ocidental. Lembre-se, naqueles dias, a China era como os Estados Unidos são hoje, um país em que há uma convergência de grande riqueza e conhecimento.

Os historiadores modernos continuam a atribuir muitas coisas de origem chinesa a outras culturas, especialmente às culturas mediterrânea e japonesa. Desta forma, a importância da China em fornecer o elo perdido entre a Idade das Trevas Europeia e o Renascimento foi obscurecida.

O estudo mais superficial da história e da arte europeias revela até que ponto a China influenciou o Ocidente e quantas ideias e invenções chinesas foram incorporadas à cultura ocidental. Nos séculos passados, os europeus adotaram, entre outros, os princípios da fitoterapia, da carpintaria, dos uniformes militares, do uso da pólvora para fins militares, dos sistemas de classificação civil e militar, dos sinais e formações militares, da destilação do vinho, moda, bordados, alfaiataria, tinturaria e perfumaria. Eles aprenderam a construir casas com telhados triangulares elevados e juntas em cauda de andorinha, e a usar ferramentas como esquadro, compasso, martelo e carrinho de mão. Também copiaram brinquedos chineses como pião, pernas de pau, ioiô, balanço, pipa e carrossel, e brincadeiras infantis como pular corda e brincar de amarelinha.

No início do mundo europeu da moda, os estilos das dinastias Tang e Ming inspiraram muitos dos designs de roupas religiosas, militares e civis. A peça superior de gola alta Manchu mais tarde teve um grande impacto na moda européia que ainda pode ser visto hoje no estilo clássico dos uniformes militares europeus.

Sabe-se também agora que a astrologia ocidental não se baseia no antigo ensinamento “babilônico” e seus princípios de negociação foram combinados para agilizar e aumentar os negócios correntes.

Para os chineses, um dos benefícios de poder trocar ouro por papel-moeda era que lhes permitia queimar dinheiro espiritual verdadeiro para seus ancestrais. Antes dessa época, as pessoas colocavam moedas de ouro e outros tesouros nos caixões das pessoas para que seus espíritos tivessem dinheiro para pagar suas despesas no outro mundo.
De qualquer forma, como a China não tinha um escritório de patentes, qualquer coisa que os estrangeiros vissem naquele país era deles. Muitos europeus, de comerciantes a reis, dependiam do fluxo de invenções que vinham da China para manter e aumentar suas fortunas.
Nos primeiros dias, a maioria dos estrangeiros que visitavam a China podia obter facilmente a maior parte do conhecimento possuído pelas pessoas comuns, embora alguns métodos, como os usados ​​para fazer seda e porcelana, nunca fossem dados voluntariamente a estrangeiros.

Os chineses detinham o monopólio mundial na fabricação e comercialização desses itens e guardavam zelosamente as técnicas usadas para produzi-los. Invejosos de tais lucros, os governantes e mercadores europeus ofereciam grandes recompensas a qualquer um — comerciantes, diplomatas, padres ou outros espiões com destino à China — que conseguisse obter esses métodos secretos. Dois monges católicos foram os primeiros a trazer o cobiçado método de fabricação de seda para a Europa. Eles fizeram isso contrabandeando vários bichos-da-seda para fora da China dentro de seus cajados ocos. Uma vez que os ocidentais começaram a produzir seda, eles foram capazes de quebrar o domínio chinês no mercado. Até então, os chineses forneciam ao Ocidente a seda usada por todos que podiam pagar. Os registros mostram que até Júlio César usava mantos feitos de seda chinesa.

Com o passar do tempo, inúmeras outras invenções, ideias, costumes, objetos e ferramentas chegaram à Europa. Eles incluíam: a imprensa; desenhos de armas de fogo; a ideia de usar impressões digitais para identificar indivíduos; o tear; passaportes para controlar a circulação de pessoas através das fronteiras; o esporão; o arreio do cavalo; os princípios de tributação, papel e fabricação de livros, hipnotismo, marionetes e patologia forense; a teoria da terra esférica; o conceito de circo e teatro de palco; métodos de fabricação de tinta; a ideia de usar o sal como moeda; o guarda-chuva; técnicas de construção de pontes; a ideia de que cidadãos comuns poderiam escrever memoriais de censura ao trono; os desenhos de jardins vistos em jardins europeus; técnicas de irrigação e meios de construção de poços e rodas d’água; instrumentos musicais de cordas; entrega de correio expresso; a lista de animais que poderiam ser domados para servir ao homem; técnicas de criação e equitação – ainda evidentes na escola espanhola de equitação; os princípios da perspectiva na pintura; e muitos outros.

A lista de maneiras pelas quais a China mudou a direção da civilização européia poderia continuar, mas o que foi dito é suficiente para permitir que se entenda por que a China significa “o centro da
universo.”

Postagem original feita no https://mortesubita.net/sociedades-secretas-conspiracoes/a-historia-da-humanidade-segundo-os-chineses/

A Peste Negra

A chamada peste negra foi talvez a pandemia que mais marcou a história a história universal. Seja por sua extensão territórial, seja por ter permanecido inexplicáel por muito tempo, ou mesmo pelo número assombroso de pessoas que matou, sua lembrança persiste até hoje no imaginário ocidental como uma genuina expressão da face da morte, comparável às das  grandes guerras mundiais.

No início de 1330 o primeiro foco da peste bubônica aconteceu na China. A peste afeta principalmente roedores, mas suas pulgas podem transmitir a doença para as pessoas. Uma vez infectada, o contagio a outras pessoas ocorre de maneira extremamente rápida. A peste causa febre e um inchaço doloroso das glândulas linfáticas chamadas de bulbos, daí o seu nome. A doença pode também causar manchas na pele que apresentam primeiramente uma cor avermelhada e então se torna negra.

Como a China era um das maiores nações comerciais, foi só uma questão de tempo até que a epidemia da peste se espalhasse pela Ásia oriental e pela Europa. Em outubro de 1347, vários navios mercantes Italianos retornaram de uma viagem ao mar negro, um dos elos no comércio com a China. Quando os navios aportaram Sicília muitos dos que estavam a bordo já estavam morrendo por causa da peste. Após alguns dias a doença se espalhava pela cidade e pelos arredores. Uma testemunha ocular conta o que aconteceu:

“Percebendo que um desastre mortal havia chegado a eles, as pessoas rapidamente expulsaram os italianos de sua cidade. Mas a doença permaneceu, e logo a morte estava por toda parte. Pais abandonavam seus filhos doentes. Advogados se recusavam a sair de casa e fazer testamento para os moribundos. Frades e freiras foram deixados para trás para tomar conta dos doentes e monastérios e conventos logo estavam desertos, pois eles também foram afetados. Corpos foram deixados em casa abandonadas, e não havia ninguém para lhes dar um funeral Cristão.”

A doença atacava e matava com terrível rapidez. O escritor italiano Boccaccio disse que as vítimas normalmente,

“almoçavam com seus amigos e jantavam com seus ancestrais no paraíso.”

Em agosto no ano seguinte, a peste havia se espalhado ao norte até a Inglaterra, onde as pessoas a chamavam de “A Morte Negra” por causa das manchas negras que ela causava na pele. Um terrível assassino estava solto na Europa, e a medicina medieval não tinha nada para combatê-lo.

No inverno a doença parecia desaparecer, mas somente porque as pulgas, grandes responsáveis pelo transporte da peste de pessoa para pessoa, estavam dormentes. A cada primavera a peste atacava novamente, fazendo novas vítimas. Após cinco anos 25 milhões de pessoas estavam mortas, um terço da população da Europa.

Mesmo quando o pior havia passado epidemias menores continuaram a acontecer, não só por anos mas por séculos. Os sobreviventes viviam em medo constante do retorno da peste, e a doença não desapareceu até o século XVII.

A sociedade medieval nunca se recobrou dos resultados da praga. Tantas pessoas haviam morrido que houveram sérios problemas de mão de obra em toda a Europa. Isso fez com que trabalhadores pedissem maiores salários. No fim do século XIV revoltas de camponeses aconteceram na Inglaterra, França, Bélgica e Itália.

A doença também cobrou sua dívida na igreja. Pessoas durante a era cristã rezaram com devoção para serem liberados da praga. Por que essas preces não foram atendidas? Um novo período de distúrbio político e questionamento filosófico surgiam à vista.

O Desastre Acontece

População estimada na Europa entre os anos 1000 e 1352

1000 38 milhões
1100 48 milhões
1200 59 milhões
1300 70 milhões
1347 75 milhões
1352 50 milhões

Calcula-se que a peste negra tenha matado mais de 25 milhões de pessoas entre 1347 e 1352. Ou seja, a peste bubônica sozinha dizimou cerca de 1/3 da população na Europa em apenas cinco anos. Isso sem contar a imensidão de orfãos e viúvas deixados no rastro da epidemia.

Um Relato Sobre o Início da Peste

“No começo de Outubro, no ano 1347 da encarnação do Filho de Deus, doze galeões Genoveses que estavam fugindo da vingança de nosso Nosso Senhor, vingança essa lançada contra seus feitos nefastos, entraram no porto de Messina. Em seus ossos traziam tão virulenta doença que qualquer um que tão somente falasse com eles enfrentaria seus sintomas mortais e logo sucumbiria sem esperanças de evitar a morte. A infecção se espalhou para todos que tiveram intercurso com os doentes. Os infectados se sentiam penetrados por uma dor que se fazia sentir por todo o corpo e, por assim dizer, indeterminada. Então desenvolviam em suas virilhas e em seus braços bolhas pustulentas. Estas infectavam o corpo inteiro e penetravam tão profundamente que o paciente ficava vomitando sangue violentamente. Esses vômitos de sangue se seguiam sem pausa por um período de três dias, sem haver como curá-lo, e então o paciente expirava. Mas não só aqueles que tinham intercurso com eles morriam, mas também aqueles que haviam tocado neles ou em qualquer uma de suas coisas.

“Em breve os homens se odiavam tanto que se um filho fosse atacado pela doença seu pai não cuidaria dele. Se, apesar de tudo, ele ousasse se aproximar também se contaminaria e estaria marcado para morrer em três dias. E isso não era tudo, todos aqueles habitando a mesma casa que ele o seguiriam à morte. Conforme o número de mortes crescia em Messina muitos desejavam confessar seus pecados aos padres e expressar seus últimos desejos colocando-os em seus testamentos. Mas eclesiásticos, advogados se recusavam a entrar nas casas dos doentes. Mas se algum deles colocasse um pé dentro da casa do doente ele era imediatamente abandonado para a morte súbita. Freiras, Dominicanos e membros de outras ordens que ouviam as confissões dos moribundos eram logo subjulgados pela morte tão rapidamente que alguns nem chegavam a abandonar o quarto do doente. Logo os corpos estavam largados pelas casas. Nenhum eclesiástico, nenhum filho, nenhum pai e nenhum parente ousava entrar, mas pagavam serventes altas taxas para enterrar os mortos. Mas as casas dos mortos permaneciam abertas, com todos os seus pertences, jóias e ouro e todo aquele que decidisse entrar para reclamá-las o fazia sem encontrar obstáculos, pois a praga atacava com tanta veemência que em pouco tempo havia uma falta de serventes e finalmente não havia nenhum.

“Quando a catástrofe alcançou seu clímax os Messienses se decidiram emigrar. Uma parte deles achou abrigo nos vinhedos e nos campos, mas uma parte maior procurou refúgio na cidade da Catânia, na esperança que a Santa Virgem Agatha de Catânia lhes pouparia de seu mal. Para esta cidade se dirigiu a Rainha da Sicília e de lá convocou seu filho Don Federigo. Em novembro os Messienses persuadiram o Patriarca, Arquebispo de Catânia, a permitir que as relíquias de santos fossem trazidas para sua cidade. Mas a população de Catânia não permitiriam que os ossos sagrados fossem removidos de seu lugar. Agora processões e pelegrinagens se dirigiam a Catânia para se apresentar a Deus, mas a praga atacava com mais veemência que antes. A fuga não era mais uma opção. A doença se escondia entre os fugitivos e os acompanhava por todo lugar onde fossem buscar ajuda. Muitos dos fugitivos caiam nas beiras de estradas e eram arrastados para o campo ou escondidos entre os arbustos para morrerem lá. Aqueles que alcançaram a Catânia tiverem seu último suspiro nos hospitais que haviam lá. Os cidadãos horrorizados demandavam que o Patriarca proibisse que os doentes recebessem uma banição eclesiástica e que fossem enterrados nos arredores da cidade, e então eles eram atirados em valas cavadas do lado de fora dos muros da cidade.

“A população de Catânia era tão tímida e atéia que ninguém dentre eles ofereceu (aos fugitivos) abrigo. Se alguns grupos em segredo não houvessem ajudado um pequeno número de pessoas de Messina, elas teriam sido abandonadas sem auxilio algum. Mesmo se espalhando por toda a ilha da Sicília, e junto com eles a peste, inúmeras pessoas morreram. Sempre que alguém em Catânia sofria de dores de cabeça e calafrios essa pessoa sabia que estava destinada a morrer dentro do prazo, então saia para se confessar com os padres e para fazer seus testamentos com os advogados. Quando a praga ganhou peso em Catânia o Patriarca delegou a todos os eclesiásticos, até os mais jovens, com todos os poderes sagrados para a absolsão dos pecados que ele como bispo e patriarca possuía. Mas a pestilência continuou atacando de outubro de 1347 a abril de 1348. O próprio patriarca foi um dos últimos a morrer. Ele morreu realizando seu trabalho. Ao mesmo tempo o Duque Giovanni, que havia evitado cuidadosamente cada casa infectada e pessoa doente morreu.”

Analisando a Peste

A variedade de respostas à praga talvez seja o que melhor nos mostre a natureza da sociedade medieval Européia na Idade Média.. Mas quando investigamos as respostas humanas à peste devemos considerar o seguinte:

É a natureza humana reagir e responder a diferentes eventos e circunstâncias. Uma boa técnica de entender os complexos eventos é analisar o comportamento humano separando-o em categorias distintas. Essas podem incluir respostas científicas e médicas, políticas, sociais ou religiosas. Essas categorias não são exclusivas e uma coisa pode cair em várias categorias, mas geralmente esse método faz que vários dados sejam organizados de maneira compreensiva.

Todas as civilizações sempre se preocuparam com a saúde e doenças. Todas tiveram curandeiros de um modo ou outro e forneceram explicações para a ocorrência de doenças. Veja agora os elementos da teoria e prática médica prevalecente na Europa e no Oriente Médio na época da praga.

Rumores do Anti-Cristo

Com tantas mortes ao seu redor, os europeus começaram a enxergar o fim do mundo, como a Bíblia Cristã previa. Uma das professias do Livro do Apocalipse dizia que o Anti-Cristo apareceria.

“Os rumores citados abaixo foram escritos em 1349, pelo Irmão William de Blofield na Inglaterra para um irmão Frade Dominicano em Norwich. Existem inúmeros profetas nos arredores de Roma, cujas identidades permanecem um segredo, que inventaram estórias como esta por anos. Eles dizem que neste mesmo ano, 1349, o Anti-Cristo vive com 10 anos de idade e é uma criança encantadora, tão bem educada em todas as áreas de conhecimento que nenhum ser vivo pode se igualar a ele. E eles também dizem que existe outro garoto, agora com 12 anos, e vivendo além das terras dos tártaros, que foi criada como um cristão e será ele que destruirá os saracenos e se tornará o maior homem no reinado cristão, mas seu poder logo será trazido para um fim pela chegada do Anti-Cristo.”

Teorias Médicas Medievais

A teoria médica medieval esteve em grande dívida com os antigos filósofos Gregos e Greco-Romanos. A medicina islâmica não somente se utilizava de práticas antigas, mas os filósofos islâmicos também desenvolveram um sofisticada teoria médica. A medicina européia do século XIV aplicava as tradições antigas assim como as islâmicas. Para a maioria dos europeus existiam três grandes autoridades que representavam essas tradições médicas, Hipócrates, Galen e Avicena.

Os documentos revelam as teorias médicas envolvendo as causas da peste e seus métodos de tratamento.

Naquele tempo a peste não se encaixava no conhecimento médico contemporâneo que em sua maioria afirmavam que doenças eram transmitidas através do “ar ruim”, que geralmente possuía um cheiro nauseabundo. Para prevenir que as doenças se espalhassem era comum a terapia de aromas. Isso podia incluir a queima de incensos ou a inalação de fragrâncias, como perfumes ou flores. Isso não afetou o avanço da peste e muitos curandeiros  fugiam ao primeiro sinal da doença.

Biologia da Peste Negra

Nós devemos nos lembrar que no século XIV, as idéias modernas de medicina ainda não haviam se desenvolvido. Não foi até o século XIX que os fisiologistas foram capazes de isolar a causa precisa da peste.

A causa da peste foi finalmente descoberta pela comunidade médica na última década do século. Como resultado da então nova teoria de germes causadores de doenças, pesquisadores acharam que a peste bubônica era de fato causada por uma infecção massiva da bactéria Yersinia Pestis. Somente com esta descoberta é que se tornou possível sintetizar os antibióticos necessários para combater esta doença.

O bacilo, Yersinia Pestis, é normalmente encontrado vivendo como um parasita dentro de ratos. Lá a bactéria pode se multiplicar, infectar a corrente sangüínea, órgãos e outros sistemas dos roedores hospedeiros. Pulgas vivendo nesses ratos ingerem o sangue infectado quando se alimentam, e assim se tornam infectadas pela bactéria. Normalmente essas pulgas vivem somente nos ratos, mas a peste também os afetou assim como aos humanos, e logo os ratos hospedeiros acabam morrendo. As pulgas devem então encontrar um novo hospedeiro e, por causa da proximidade entre as duas espécies devido principalmente às condições de vida da época, logo elas migraram para seus novos hospedeiros, os humanos. A infecção acontece quando a pulga começa a se alimentar de sangue humano e acaba passando a bactéria através de fluídos para o hospedeiro humano.

Este tipo de infecção acaba causando o tipo de peste denominada “bubônica”. A bactéria começa a se multiplicar na corrente sangüínea da pessoa infectada, chegando à veias e artérias e ao tecido dos pulmões. Como resultado, uma pessoa infectada normalmente exibirá uma descoloração na pele causada pela hemorragia nos capilares. Como resultados sua pele apresenta uma aparência pálida marcada por vários hematomas. A bactéria também ataca o sistema linfático. A infecção dos nódulos linfáticos é que dá a este tipo de peste o seu nome. Os nódulos linfáticos tentam criar anticorpos para combater a infecção, o que acaba resultando num inchaço do tamanho que varia de uma noz até o tamanho de uma maçã. Os inchaços resultantes, localizados nas axilas, pescoço ou virilha eram chamados de “bulbos” ou “bubões” pelos europeus medievais. Era geralmente este sintoma em particular que permitia com que os doutores contemporâneos detectassem a presença desta doença. A forma bubônica desta doença na maioria dos casos se mostrava fatal, mas existem registros de pessoas que se recuperaram completamente após ficarem seriamente doentes.

Existem outras duas formas desta doença, pneumônica e infecciosa. A primeira envolve uma infecção no tecido pulmonar que causa o acúmulo de fluído que acaba acarretando na morte do infectado. Evidência sugere que um pessoa pode contrair esta forma da doença ao inalar gotículas de saliva ou outro fluído corporal de uma pessoa infectada. A forma pneumônica parece causar uma taxa de morte que se aproxima a 100%. A Segunda forma da doença, infecciosa, envolve uma forma de infecção tão rápida e massiva que a morte acontece antes mesmo que os sintomas principais tenham tempo de aparecer. Esse tipo relativamente raro da peste pode ser encontrado em registros médicos indicando que a pessoa simplesmente morreu durante as epidemias de peste por nenhuma razão aparente.

Ambos os tipos desta doença afetaram a sociedade européia entre os anos de 1347-1348 e em epidemias que ocorreram nos anos seguintes. Infelizmente ainda é muito difícil se dizer qual das formas da doença estava presente em algumas das localidades e em alguns casos da peste. De fato ao que tudo indica alguns casos de epidemias da peste não passavam de casos de disinteria, por exemplo, e muitas outras doenças acabaram ganhando o rótulo da peste em epidemias que ocorreram mais tarde. Uma pista para se identificar a forma da doença depende da época do ano no qual determinada epidemia aconteceu. Por causa da temperatura e umidade do ar que permitem a população de pulgas a prosperar, a peste bubônica tendia a surgir nos meses de verão enquanto a pneumônica durante o inverno. A relação entre a forma da peste, o clima e a localização geográfica da epidemia entretanto é algo complexo, e um conhecimento biológico definitivo destes eventos históricos é difícil de se estabelecer.

Durante os períodos medievais e no início do período moderno somente o rato negro, ou rato de telhado, parece ter vivido na maior parte da Europa. O rato negro (Rattus rattus) vivia próximo de humanos preferindo, por exemplo, viver em sótãos ou telhados. O rato negro não encontrou dificuldades para se adaptar aos humanos já que pesavam 315 gr e chegavam a 17,5 cm. O rato marrom, ou rato de esgoto, tomou o lugar do rato negro em algum ponto do século XVIII. As pulgas do rato marrom (Rattus nirvegicus) são menos efetivas como transmissoras da bactéria e alguns historiadores alegam que essa mudança foi a responsável pelo, de outra maneira difícil de se explicar, desaparecimento das grandes epidemias na Europa nessa época.

A Peste na Europa

No fim de 1347 a “Peste Negra” havia chegado no centro oeste e estava começando a se dirigir para a parte sul da Europa. Em seis meses, no início do verão, a doença havia se espalhado pela Itália, Europa Central e atingido a parte norte da Espanha. No Natal de 1348 o seu alcance atravessou o Canal da Mancha e os Alpes. Outros seis meses foram testemunhas do seu avanço para a Irlanda, interior da Inglaterra e para o norte da Europa. O inverno de 1349 trouxe a peste para a Escócia, partes da Escandinávia e aos Países Baixos. No ano seguinte a doença havia chegado na Suécia, norte da Alemanha e norte da Polônia. Nenhuma parte da Europa foi tão afetada como as cidades de Liege e Nuremberg, assim como algumas cidades do sul da França e da Alemanha central parecem ter sido ignoradas pela praga.

Durante a Era Medieval as rotas de comércio na Europa passavam pelo eixo norte-sul. Mercadorias dos mercados do Oriente Médio inundavam o sul da Europa chegando pelas cidades estados da Itália. De lá as rotas de comércio se ramificavam em direção ao norte seguindo os rios as passagens naturais nos Alpes. Como a tecnologia marítima ainda era muito precária as principais rotas eram terrestres.

A Peste Bubônica pode voltar?

como visto anteriormente, a peste bubônica é provocada por uma bactéria, a Yersinia Pestis, geralmente transportada por pequenos roedores (ratos) e transmitida ao homem pelas pulgas. Como facilmente se compreende, são os países das regiões mais pobres, com condições sanitárias e higiénicas mais desfavoráveis, os que estão à mercê deste tipo de doença.

Esta lógica tem elevado com frequência a preocupação da própria Organização Mundial de Saúde (OMS), quanto ao problema, especialmente depois dos anos 90 quando os relatados  de algumas dezenas de casos acoteceram na Índia. Neste mesmo país, entre os anos de 1889 e 1950 a Peste Bubonica já foi responsável por mais de 12,5 milhões de mortos.

As formas conhecidas como peste bubônica e peste pneumônica ainda existem no Brasil, especialmente na região nordeste. Apesar de dispormos de tratamento com antibiótico, este é eficaz quando o diagnóstico é feito precocemente. O diagnóstico precoce também é importante pelo caráter contagioso da forma pneumônica, que necessita isolamento respiratório do doente. Se tratado a tempo, este se recupera sem sequelas.

 

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/a-peste-negra/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/realismo-fantastico/a-peste-negra/

A Transcendência do Amor

Magia Sexual

Por Serge Hutin Quer

Este é o título de um livro escrito nos Estados Unidos, em meados do século XIX, por um homem curioso: o mago rosacruz Randolph.

Originalmente não era uma obra destinada à publicação, mas apenas apontamentos confidenciais que ele reservou para uns poucos discípulos e que só foram levados ao grande público após sua morte.

Seu conteúdo centra-se na magia que envolve o ato sexual resultante de uma união harmoniosa e os poderes regeneradores dele originários.

PRIMEIRA PARTE:
PASCHOAL BEVERLY RANDOLPH

Paschoal Beverly Randolph nasceu em Nova York, a 3 de outubro de 1825. Era filho de um homem pertencente a uma família economicamente bem situada na região e de uma mulher, Flora Beverly, que descendia de ingleses, franceses e malgaxes.

Esta mulher – segundo se dizia, descendente da família real de Madagascar – morreu quando Randolph tinha apenas 5 anos, e seu desaparecimento marcou a vida do jovem para sempre.

O pai deixou-o aos cuidados de uma descuidada meia-irmã, que o largou praticamente abandonado: durante anos Randolph não foi à escola, e sua educação foi inteiramente feita nas ruas. Mais tarde, Randolph chegou a se formar em medicina – mas seus estudos foram quase inteiramente dirigidos por ele mesmo.

Durante toda sua vida Randolph guardou a lembrança do amor maternal perdido tão cedo. Na sua autobiografia, ele escreveu: “Nasci no amor de uma mãe amorosa. Sou exatamente a contrapartida de seus sentimentos, de suas paixões vulcânicas, ardentes, de seu amor que parecia o céu, mais profundo que a morte. De sua agonia, terrível como mil instrumentos de tortura. De sua esperança e confiança. Por sua solidão fui um eremita toda minha vida, mesmo entre os homens. Em uma palavra: sou a expressão exata do estado do corpo do espírito, da emoção, da alma, das tendências, das aspirações desta mulher, quando ela tomou para si a encarnação daquele que agora escreve essas linhas.”

Randolph estendeu essa admi-ração a toda mulher, como poderemos ver. Mas esse lado malgaxe que tinha em si foi a origem, também, de uma série de problemas raciais. Desde cedo, foi maltratado por esse motivo. Aos 15 anos tornou-se grumete e, mais tarde, marinheiro. Tal fato levou Randolph a viajar por todo o mundo e conhecer países distantes.

Aos 20 anos, um grave acidente ocorrido quando ele cortava madeira obrigou-o a abandonar a carreira marítima. Passou então a exercer profissões diferentes, como tintureiro, cabeleireiro. Mas continuava a viajar, com os poucos recursos que conseguia reunir.

SEGUNDA PARTE: 
VIAGENS AO ORIENTE E A  AMÉRICA
Apaixonado desde a infância por ilusionismo e magia, ele foi, numa das suas viagens à Síria, um dos primeiros ocidentais a serem iniciados nos ritos secretos dos ansariehs. No seu retorno aos Estados Unidos, Randolph iria organizar uma seita ligada aos degraus superiores da rosacruz: os Sacerdotes de Aeth.

Na Europa, Randolph recebeu também os mais altos graus de um dos ramos mais ativos da comunidade rosacruz. Eliphas Levi, em pessoa, conferiu a Randolph o grau supremo da Fraternidade Rosacruz e também da Ordem do Lírio. Na Espanha, recebeu a iniciação secreta dos alumbrados, adeptos do Amor Puro.

Mas as viagens não pararam aí: ele visitou a América Latina, Inglaterra, novamente a França onde se tornaria amigo de Alexandre Dumas -, Grécia, Turquia, mais uma vez a Síria e Arábia.

De volta aos Estados Unidos, ele fez amizade com pessoas de posição na comunidade e adquiriu uma reputação sedutora e invejada nos meios maçônicos e rosacruzes da região. Entre os amigos maçônicos de Randolph estavam George Lippard, o general Ethan Ritchcock – autor de uma célebre pequena obra sobre os aspectos espirituais e psíquicos da alquimia, publicada em 1854 em Boston – e John Brown, autor da “cruzada antiescravagista”, surgida na década de 1850 na Virgínia e que antecedeu a Guerra de Secessão.
Randolph foi, também, uma espécie de consultor espiritual de Abraham Lincoln, e isso não é tão surpreendente: ambos eram maçons e rosacruzes, ambos verdadeiros self-made-men, oriundos de uma classe social humilde, até chegarem a uma condição social superior.
Ambos eram ardentes patriotas americanos, queriam abolir a escravatura e libertar os negros. No fim da Guerra de Secessão, Lincoln encarregou Randolph de supervisionar, em seu nome, obras educativas destinadas aos escravos emancipados.

Randolph se tornara Supremo Grão-Mestre da sociedade rosacruz segundo duas patentes: uma liberada em 1858, após uma reunião realizada em Paris e presidida por Eliphas Levi, e uma outra, interior, oriunda da Fraternidade Hermética de Luxor.

Mais ou menos em 1870, Randolph participava de um círculo chamado Fraternidade de Eulis. Essa fraternidade rosacruz, atualmente com sede em Beverly Hall, Pensilvânia (EUA), é atualmente uma das organizações rosacruzes mais atuantes nos Estados Unidos.

TERCEIRA PARTE:
MAGIA: O CONTATO COM OUTROS PLANOS

Apesar de seu grande sucesso nos meios ocultos, Randolph não teve jamais uma vida simples e feliz. Ele diria dele mesmo: “Cada gênio está destinado à miséria nessa vida, porque a sua vida nada mais é do que um desenvolvimento angular, unilateral.”

Randolph morreu bastante jovem, depois de ter passado por vários problemas bastante difíceis: surgiram ataques de todo lado, resultado da total confiança que ele depositava nas pessoas, na sua generosidade. De fato, Randolph era de uma ingenuidade quase infantil com todos aqueles que se relacionavam com ele.

Mas, ainda assim, Randolph teve tempo para deixar alguns outros tratados ocultos, além da Magia Sexual: por exemplo, o Relacionamento com os Mortos, Os Mistérios Secretos de Eulis, além de uma série de romances iniciatórios, como Asrotis, Dhoula-Bell, Magh-Theson.
Madame Blavatsky não tinha Randolph em boa consideração: para ela, o americano era uma espécie de mágico, suspeito, ávido de fama e poderes nefastos. Mas este é um julgamento apressado: seria um erro crer que o autor de Magia Sexual era um homem obcecado egoisticamente com o poder às custas dos outros.

Randolph, na verdade, queria conhecer as leis supremas do universo e da vida, adquirir conhecimentos. Ele mesmo explicou: “Acreditamos na natureza, que é para nós a manifestação da inteligência suprema, e proclamamos que Deus reside em tudo e em cada um de nós. O mundo das aparências físicas não é nem de longe o único a ter uma realidade palpável. Pela magia será possível obter o contato com as outras regiões da existência.”

Em “A Fraternidade de Eulis”, Randolph escreveu que crê nos mundos elétricos, etéreos e fluídicos, situados além das fronteiras do mundo material. Esses mundos, lembra ele, se estendem para o infinito, “povoados de belezas ofuscantes, ornados de nuvens e constelações insensatas, de paisagens sem limite.” Esses mundos são, para nosso universo, o que este último seria para uma cidade de formigas.


QUARTA PARTE:
A MAIOR FORÇA MAGICA DA NATUREZA

Mas, para Randolph, a revelação fundamental é uma só: o sexo é a maior força mágica da natureza. Mais ainda: do amor nascem, segundo as circunstâncias, as paixões, os arrebatamentos, os estímulos para a criação divina ou humana, o surgimento de deuses ou diabos.

Daí a possibilidade dessa magia simples e eficaz, que não precisa ser temida pelos não-iniciados, pelos que não foram predestinados. Esta força, quando desencadeada, pode ser comparada àquela que, na natureza exterior, origina a tempestade.

Apesar dessa aparente simplicidade da energia sexual, Randolph acredita que somente um iniciado será capaz de dominar essa força inteiramente. Diz ele: “Este caminho está destinado e é reservado aos homens de coragem e algumas poucas mulheres, que sabem utilizar a energia sexual de uma forma útil.”

Ele observa ainda que “as forças mágicas não repousam jamais nos grandes vazios das almas fracas, e elas não se revelam ao homem a não ser que as diferentes correntes de influências exteriores se acalmem, graças a uma vontade fria e paciente, comprovadas ritualmente”.

Para Randolph, sua Magia Sexual seria apenas um caminho, traçado sobre um plano: o interessado deve erigir ele mesmo a vela do seu barco e orientá-lo com sua própria mão, “na direção onde brilha o Sol”.

Longe de ser um libertino cínico, Randolph mais parece, aos olhos modernos, um homem rígido, se comparado às atuais lutas pela chamada liberação sexual. Exemplo disso é que ele concebia sua magia sexual praticada apenas por um casal carinhosamente unido e amantíssimo. 
São do próprio Randolph as palavras: “Não tome, para essa operação mágica, a prostituta, a virgem ignorante, nem a menor de 18 anos, nem a mulher de um outro, mas cumpra o ato solene com sua própria amada, esposa ou amante.”

Ele exalta o casal a observar um sábio equilíbrio higiênico: alimentar-se com simplicidade e, de preferência, com alimentos naturais, dormir num leito duro, com a cabeça para o norte, usando travesseiros baixos, num quarto fresco e bem arejado.

Isto não quer dizer que Randolph queira tirar toda a alegria e prazer do ato sexual: “O homem não deve, jamais, tocar uma mulher que não esteja emocionada, e ele não deve deixá-la antes que os dois frissons não tenham acabado.”

Ainda assim, seria falso acreditar que a multiplicação frenética das relações sexuais aumentaria os efeitos. Para Randolph, o contrário estaria mais perto da verdade. Escreve ele: “Não veja tão freqüentemente sua mulher e somente quando os dois estejam bem precisados. Durmam em quartos separados e uni-vos não mais que duas ou três vezes por semana.”

Mas é interessante reforçar o fato de que a união do casal não se reduz somente ao ato sexual: “Além do prazer carnal, esteja atento à união das almas, se quereis que vossa prece seja atendida.” Quando essa união atinge sua forma perfeita, ela é sagrada: “Que vosso amor vos una a Deus”, espera Randolph.

 

QUINTA PARTE:
SEXO: CAMINHO PARA O DIVINO

Aos olhos de Randolph, seria inteiramente inconcebível acreditar que um amor verdadeiramente sincero e total possa fechar o caminho dos parceiros ao Divino.

Para ele, existem certas posições sexuais que têm efeitos mágicos, mas seria mutilar singularmente seus ensinamentos acreditar que tudo se resume a uma série de posturas fisiológicas sexuais mais eficazes. Ao contrário: Randolph crê que o ato sexual é um verdadeiro ritual mágico onde intervêm, ao mesmo tempo, os gestos, os perfumes, as cores, os sons, Randolph precisa: “O ritual do amor mágico pode ser completado por objetivos tão variados como a vida mesma o é, mas não se pode esquecer jamais que a lei da polarização e reflexo devolve ao operador o bem e o mal que ele causa ao outro”.

Essa é a idéia clássica do choque do retorno sofrido pelo enfeitiçador. Segundo Randolph, seria possível utilizar a energia sexual para a realização de toda sorte de operações mágicas: “Se um homem deseja ardentemente um certo poder e guarda este desejo do instante que penetra a mulher até o instante que a deixa, seus votos necessariamente serão satisfeitos.”

Randolph desenvolveu um princípio, no qual afirma que se o ato sexual é perfeito, se a união entre o homem e a mulher se cumpre dentro de todas as esferas de seus respectivos seres, suas forças aumentam tanto mental quanto fisicamente. “E a prece, esta prece, é sempre satisfeita.”

E quais seriam os resultados práticos obtidos pela magia sexual? Randolph enumera os seguintes:

1) A regenerescência da força e da energia vital e o reforço do poder magnético;

2) A produção da influência magnética, em vista da submissão do homem à mulher, ou da mulher ao homem;

3) O refinamento do poder ou dos sentidos em geral;

4) A determinação, à vontade, do sexo da criança a conceber e o reforço de suas capacidades cerebrais ou corporais;

5) A criação de visões sobre-humanas, espirituais e sublimes;

6) A realização de um projeto ou de um desejo extremo, não importa em que ordem de idéias.

SEXTA PARTE:
AS PROJEÇÕES MÁGICAS

O livro consagra os capítulos XIX e XXII à confecção minuciosa de espelhos mágicos, magneticamente carregados pelo casal. Outra proposta de Randolph seria a de quadros magicamente animados pela projeção da energia psíquica.

Para ele, seria possível realizar a magia dos quadros animados, não somente de pessoas vivas, mas de seres do passado e do futuro – e para isso bastaria que o casal soubesse realmente usar a energia sexual. Ele descreve suas próprias experiências, coroadas de êxito, e garante que os resultados podem ser alcançados por todos os seus seguidores.

Randolph explica: “Você verá, enquanto estiver confortavelmente instalado ao lado da pessoa amada, o ar do quarto escurecer gradualmente até o negro profundo. A imagem surgirá na sombra e o corpo pintado na tela estremecerá de repente. Os braços e as pernas do retrato farão movimentos incertos, como se eles se assegurassem da realidade da sua vida, e depois, lentamente, a silhueta inteira se destacará do quadro até vocês.”

Uma operação como essa pode ser altamente perigosa, já que será muitas vezes suscetível de levar à materialização de entidades demoníacas, as quais tentarão seduzir a um ou outro dos operadores. Randolph, então, adverte: “Um minuto de prazer nos braços de um súcubo (o demônio feminino materializado) é um pacto assinado com o Diabo: toda sua vida pode ser sugada em um ano.”

Uma curiosidade: Claude d’Ygé, autor da Nouvelle Assemblée des Philosophes, publicada em 1954, na França, afirmou ter visto vários desses quadros animados descritos por Randolph durante as reuniões de uma seita mágica em um castelo da Tchecoslováquia, nos anos 20. Essa seita, criada a partir da Fraternidade de Randolph, foi fundada pela tradutora do livro, naFrança: a estranha, misteriosa Maria de Naelowska.

Publicado em: O Melhor de Planeta Vol. 3
Tradução e adaptação de Marco Antonio de Carvalho

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/a-transcendencia-do-amor/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/magia-sexual/a-transcendencia-do-amor/

A Abolição da Estupidez

Dois eminentes e inteligentes homens, R. Buckmisnter Fuller e Werner Erhard propuseram que nós poderíamos e deveríamos abolir a desnutrição até o final deste século. Este objetivo é racional, prático e desejável – portanto ele é naturalmente denunciado como utópico, fantástico e absurdo.

Eu desejo propor um objetivo semelhante que também é racional, prático e desejável e que, portanto, será igualmente denunciado como utópico, fantástico e absurdo. Eu sugiro uma Guerra Mundial contra a Estupidez.

Embora os estúpidos venham naturalmente a se ressentir disso, eu dirijo as minhas idéias para aqueles que não são completamente estúpidos ou aqueles que não são estúpidos o tempo todo, isto é, aqueles raros indivíduos que possuem momentos Iúcidos ocasionais.

A argumentação para essa Noção Revolucionária são os pontos que se seguem:

1. Embora possamos parecer irônicos ao afirma-lo, este planeta parece estar controlado e amplamente populado por pessoas que não são homens ou mulheres razoáveis em muitos aspectos. Voltaire, é lógico, poderia estar exagerando quando disse que a única forma de compreender a conceito matemático do infinito era contemplar a extensão da estupidez humana; mas a situação parece ser realmente assim. Apenas para mencionar alguns exemples: Hitler assassinou seis milhões de judeus por razões que eram totalmente insanas; a Senador Joseph McCarthy liderou uma louca caça às bruxas contra os Comunistas que arruinou muitas pessoas inocentes e nunca teve nenhum sucesso em descobrir um único Comunista incontestável; Anita Bryant desencadeou uma cruzada do tipo Século Treze contra os homossexuais, etc.

Não é exagero dizer que milhões de humanos foram assassinados no curso de tais processos de ‘bode expiatório’ irracionais ao longe da história. Já que cada um de nós pertence, de uma forma ou outra, a algum grupo minoritário, qualquer um de nós poderá ser o alvo da próxima caça às bruxas e, se eles nos queimarem nada irá restar que possa ser preservado criônicamente …

A estupidez não é traço exclusivo do estúpido; você não necessita de uma ‘vocação’ para ser estúpido, como ocorre com o sacerdócio. Ela parece ser uma perturbação sóciosemântica que nos afeta vez por outra. Exemples notórios podem ser encontrados na vida dos ‘grandes’ tais corno Sinon Newcombe (o astrônomo que descobriu a planeta Netuno) que ‘provou’ matematicamente que o vôo mais pesado que o ar era impossível; a Academia Francesa recusando-se a estudar as evidências da existência de meteoritos no século dezoito, etc. (Alguns incluiriam as tentativas de Einstein de refutar a fator do acaso na mecânica quântica como mais um exemplo de estupidez numa mente de alta qualidade).

Mais amplamente, como Thomas Kuhn demonstrou na ‘Estrutura das Revoluções Científicas’, uma medida exata da extensão da estupidez dos eruditos é dada pelo fato que cada revolução científica parece demorar uma geração para se implantar. Corno Kuhn documenta abundantemente, esta defasagem de uma geração parece ser causada pelo fato de que os cientistas mais velhos dificilmente aceitam um novo modelo, por melhor que este seja, e a revolução somente ocorre quando uma segunda geração, com menos preconceitos, examina ambos os modelos, o velho e o novo, de forma objetiva e determina que o novo modelo é mais útil.

Mas se a ciência, o paradigma da racionalidade, está infestada com uma quantidade mais do que suficiente de estupidez para gerar esta defasagem generacional, o que poderia ser dito da política, economia e religião? Defasagens de milhares de anos parecem ser normais nessas áreas. Realmente, foi principalmente contemplando a história religiosa que Voltaire foi levado a concluir que a estupidez humana se aproximava do infinito. O estudo da política não parece ser mais inspirador e qualquer exame de um debate econômico sugere fortemente que o teólogo da Idade das Trevas ainda está no nosso meio, trabalhando agora num outro departamento.

Não desejamos prolongar este assunto, já que foi amplamente discutido por Jonathan Swift e Mark Twain, entre outros. Vamos apenas resumir a assunto dizendo que a estupidez assassinou e aprisionou mais gênios, queimou mais livros, dizimou mais populações e bloqueou o progresso com maior eficiência do que qualquer outra força na história. Não seria exagero dizer que a estupidez matou mais pessoas do que todas as doenças conhecidas pela medicina e psiquiatria.

Várias curas foram tentadas é lógico. Sócrates pensou tê-la encontrado na dialética, Aristóteles na lógica, Bacon no método experimental; o Século Dezoito na democracia universal e na alfabetização, Freud na psicanálise, Korzybski na Semântica Geral, etc. Embora todas essas invenções tenham sido benéficas para alguns de nós por algum tempo, elas não impediram as epidemias mundiais desta praga e não conseguiram mesmo abolir totalmente as recaídas ocasionais na estupidez dos seus mais evoluídos praticantes (no que o autor enfaticamente se inclui).

2. Se a inteligência pudesse ser amplificada então soluções óbvias seriam encontradas de forma mais rápida para os vários cenários de Apocalipse que presentemente nos ameaçam.

A. Por exemplo, se cada cientista trabalhando no problema dos recursos energéticos pudesse dobrar sua inteligência, o trabalho que exigiria dez anos poderia ser feito em cinco anos.

B. Se a estupidez humana diminuísse de forma generalizada, haveria menos oposição ao pensamento criativo e a novos enfoques para os velhos problemas.

C. Se a estupidez diminuísse, menos dinheiro seria gasto nas imensas imbecilidades organizadas tais como a corrida armamentista e guerras e maiores recursos poderiam ser finalmente destinados para projetos que visassem a melhoria das condições de vida.

Os mesmos argumentos podem ser aplicados para qualquer outro projeto de valia mundial: a abolição da fome e da pobreza; a descoberta da cura da câncer ou da esquizofrenia, etc. Não existe nada racionalmente desejável que não possa ser alcançado mais depressa se a racionalidade vier a aumentar. Isto é virtualmente uma tautologia; ainda assim nós raramente levamos em conta o seu corolário. O trabalho para atingir um grau maior de inteligência é um trabalho para atingirmos todos os nossos outros objetivos.

3. Embora a Dialética, a Lógica, o Método Experimental, a Democracia, a Cultura, a Psicanálise, a Semântica Geral e outras não impediram as epidemias mundiais de estupidez elas certamente criaram algum tipo de força contrária: alguns enclaves de (comparativa) racionalidade nas quais os humanos funcionam com (comparativamente) menos estupidez do que aquela que é o normal para esta espécie domesticada de primata. Nós como uma espécie sempre aprendemos algo de cada uma destas invenções.

Aqueles que têm prática na dialética não serão enganados pela retórica vazia dos demagogos mais vulgares. A lógica protege alguns de nós dos modismos ‘intelectuais’ (ou anti-intelectuais) mais absurdos da época na qual vivemos. 0 método experimental nos mostrou como fugir das armadilhas da lógica puramente abstrata e como conectar a teoria com a realidade.

A Democracia e a Alfabetização tornaram estas invenções, pelo menos potencialmente, disponíveis para as massas ao invés de uma pequena elite embora ainda permaneça a verdade de que você pode levar um burro até a sabedoria mas você não pode faze-lo pensar. A Psicologia nos mostrou que até mesmo o mais ‘racional’ dos seres pode ser dominado por um pensamento compulsivamente irracional. A Semântica Geral demonstrou os reflexos lingüisticos que tornam tão difícil ao ser humano abandonar um velho modelo e aceitar um novo e oferece alguns truques que podem nos ajudar um pouco na quebra destes reflexos.

Mas a Psicologia avançou um bocado desde Freud; a psiconeurologia, desde Korzybski e a Modificação Comportamental, desde Pavlov. Estamos no limiar de uma grande descoberta na guerra contra a estupidez tão certamente quanto estamos no limiar de adquirirmos A Expansão da Vida Humana e A Migração Espacial. A Revolução da Inteligência poderá se provar muito mais ampla nos seus efeitos do que os saltos quânticos da indústria espacial ou da ciência da longevidade.

4. 0 dr. Nathan Kline, que poderia ser chamado de um conservador na área da neurofarmacologia (numa escala onde o Dr. Timothy Leary é um radical e o Governo dos Estados Unidos é reacionário) previu no seu livro ‘As Drogas Psicotrópicas no Ano 2000’ que, nos próximos 10 a 20 anos teremos drogas para ampliar a memória, aumentarou diminuir a emoção, drogas para “apagar” lembranças desagradáveis, drogas para prolongar ou encurtar a infância, drogas para estimular ou eliminar o comportamento maternal, etc. Não é necessário ter muita imaginação para ver que tais produtos químicos nos darão um maior controle sobre o nosso próprio sistema nervoso do que qualquer outra coisa que existiu no passado. Obviamente as pessoas irão USAR E ABUSAR destas drogas de uma variedade de maneiras sejam desejáveis ou não, mas os MAIS INTELIGENTES IRÃO USA-LAS DA FORMA MAIS INTELIGENTE, isto é, para aumentar a sua própria liberdade neurológica, para desprogramar seus programas irracionais e para ampliar de forma generalizada a sua consiência e aumentar a inteligência.

O potencial implícito para uma revolução neurológica que podemos antever nestes avanços psico farmacológicos deveria ser evidente para qualquer pessoa que teve algum tipo de contato mesto com algo tão primitivo como o LSD. (Um dos fatos menos conhecidos sobre LSD é que o projeto mais longo feito com este produto químico nos Estados Unidos, no Hospital de Sprinq Grave em Maryland mostrou uma média de 10% de aumento da inteligência para todos os testados – vide a ‘Psychedelics Encyclopedia’ de Stafford).

Walter Doward documentou extensivamente na sua “Operação Controle Mental’ que a hipnose associada a neuroquímicos é mais eficiente do que a hipnose ordinária; que a modificação do comportamento associada a neuroquímicos é mais eficiente do que a modificação do comportamento ordinária, e que qualquer técnica de alteração da mente é mais eficaz com o uso dos neuroquímicos do que sem estes. As evidências de Doward são todas retiradas do mal uso ou da perversão destas técnicas nas pesquisas feitas pelo Exército Americano e na CIA sobre a lavagem cerebral , mas não existe razão pela qual pessoas libertárias e humanas não possam fazer uso de tal conhecimento para ‘decondicionar’ e ‘de-programar’ ao invés de meramente ‘re-condicionar’ e ‘re-programar’.

Princípios seguros e saudáveis para promover tal expansão da mente e a liberação da inteligência são dados em livros tais como os do Dr. John Lilly ‘Programing and Metaprograming in the Hunan Biocomputer’, ‘Neuropolitics’ pelo Dr. Leary e ‘LSD: The Problem-Solvinqg Psychedelic’ por Stafford e Golighty. Por favor observe que estes livros lidam apenas com a liberação mediada pelo LSD, mas estamos nos referindo a produtos químicos muito mais precisos e previsíveis. (Por favor releia a última frase novamente).

5. Se a psico farmacologia está começando a nos oferecer a chance de programar, desprogramar e reprogramar a nós mesmos, então estamos entrando num novo estágio da evolução. Mais do que a Psicanálise ou Semântica Geral ou Análise Transacional ou qualquer técnica antiga de alteração da mente que possamos abordar, a neuroquímica representa um verdadeiro salto quântico em direção a um novo plano de liberdade: o sistema nervoso humano se auto estudando e se auto aperfeiçoando; a inteligência estudando e aperfeiçoando a própria inteligência.

Para sermos ainda mais específicos e definidos sobre o assunto, consideremos a avaliação feita em 1975 pela Mcgraw-Hill sobre a opinião científica de que tipos de avanços poderiam ser esperados antes do ano 2000. A maioria dos neurocientistas na pesquisa previu drogas específicas para aumentar permanentemente a inteligência humana (Vide ‘No More Dying’, de Kurtzman e Sordon, p.4). Reservei esta informação para ser oferecida depois das previsões mais gerais de Kline para evitar dar a impressão de que estou apenas falando sobre o aumento do QI do terceiro circuito linear: existem sete outros tipos de inteligência.

Existe um circuito de retroalimentação entre a psico farmacologia e as outras ciências do cérebro, tais como a eletro estimulação do cérebro, o biofeedback e outras. Como Williams S. Burroughs diz: ‘Qualquer coisa que possa ser feita quimicamente pode ser feita de outras formas’. Jean Millay e outros demonstraram que a loga associada ao biofeedback produz um desligamento de padrões imprintados emocionais-perceptuais de maneira muito mais rápida do que apenas a Ioga de forma isolada. John Lilly duplicou efeitos do LSD com seus tanques de isolamento sensorial. José Delgado produziu com ESB muitos dos efeitos previamente só encontrados com drogas.

É lugar comum que os alarmistas nos avisem que a arsenal completo das neurosciências interagindo entre si, que estão emergindo atualmente, irá permitir com que governos inescrupulosos venham a fazer lavagem cerebral em populações inteiras com uma eficiência mais completa do que nunca antes. Nós precisamos perceber que a mesma tecnologia sabiamente utilizada pelos homens e mulheres inteligentes pode nos libertar de toda forma de rigidez neurótica e irracional, nos permitir lidar e focalizar o nosso sistema nervoso com a mesma facilidade que lidamos e regulamos a foco de um televisor, acendendo e apagando qualquer circuito que venhamos a desejar.

Por que permanecer deprimido quando você pode ser feliz, burro quando pode ser esperto, agitado e nervoso quando você pode ficar tranqüilo? Obviamente a maioria das pessoas estão deprimidas, burras e nervosas a maior parte do tempo porque lhes FALTAM AS FERRAMENTAS para consertar e corrigir os circuitos defeituosos ou danificados nos seus sistemas nervosos. A Revolução Neurológica (química, elétrica, biofeedback e outras) nos está dando estas ferramentas. Esta Revolução da HEAD (*HEAD= Hedonic Engineering And Development (Engenharia e desenvolvimento hedônico.) possui o princípio do prazer como seu combustível básico. Isto quer dizer: quanto maior a liberdade interna que você vier a possuir, tanto mais você deseja; é mais interessante estar feliz do que triste; é mais agradável escolher as suas próprias emoções do que têlas desencadeadas em si mesmo por processos glandulares mecânicos; é mais prazeroso resolver os seus problemas do que ficar preso a eles pela eternidade.

Em outras palavras, o Aumento da Inteligência significa a inteligência estudando a inteligência e a primeira coisa que a inteligência estudando a inteligência descobre é que quanto mais inteligente se fica mais divertido é se tentar ficar ainda mais inteligente. (O que é uma outra maneira de dizer que, pelo menos neurologicamente falando, quanto mais liberdade alcançamos tanto mais é divertido trabalhar para alcançar um grau ainda maior de liberdade). Ninguém nos é mais interessante do que aquele personagem misterioso que chamamos de ‘eu’: isto é o porquê da ‘auto libertação’, ‘auto realização’, ‘auto transcendência’, etc., serem os jogos sempre mais em voga. Este feedback hedônico explica o porquê de um indivíduo que tenha dado um único passo em direção à liberdade neurológica nunca se contenta em parar ali mas é levado para o próximo passo, para o seguinte, e assim para sempre – ou enquanto a Ampliação da Vida nos possa permitir.

7. Em suma, o Aumento da Inteligência é desejável porque cada problema que a humanidade enfrenta, ou é diretamente causado ou consideravelmente piorado pela estupidez prevalecente na espécie humana; é atingível devido aos modernos avanços nas técnicas de modificação do cérebro sejam elas químicas, elétricas ou psicológicas que nos permitem alterar qualquer reflexo imprintado condicionado ou aprendido que previamente nos restringia; é hedônico porque quanto mais inteligência e liberdade atingimos mais somos capazes de ver as vantagens de ainda maior grau de liberdade e maior inteligência. Isto pode acelerar o nosso progresso em direção à Migração Espacial e Extensão da Vida e também em direção a qualquer outro objetivo racional ao criar mais racionalidade para trabalhar na aquisição daqueles objetivos e ainda pode nos dar a sabedoria para que venhamos a evitar os ‘maus’ resultados da Extensão da Vida e da Migração Espacial sobre os quais os conservadores tanto nos avisam.

Como a morte e a pobreza, a estupidez esteve conosco por tanto tempo que a maioria das pessoas não pode conceber a vida sem ela, mas sabemos que a estupidez está rapidamente se tornando obsoleta. Apesar dos lucros que certos grupos de interesse (políticos, clero, publicitários, etc.) possam auferir da estupidez, a humanidade como um todo irá lucrar mais na abolição da estupidez. Daqui por diante nós deveríamos medir o nosso progresso em direção aos nossos objetivos pessoais e a nossa contribuição para o progresso global de toda a humanidade em termos de o quanto mais espertos ficamos no último ano, no último mês, na última semana, NA ÚLTIMA HORA.


Observação dos tradutores: embora o texto pareça dar a idéia de justificar o uso de drogas para a atuação sobre o cérebro, as pesquisas da neurologia e da neuroquímica cerebral feitas mais recentemente demonstraram que o uso de drogas com esta finalidade não somente é inútil e desaconselhável como perigoso para a saúde. Portanto, o texto é aqui apresentado apenas como um registro de opiniões importantes, mas não representa uma apologia ao uso de drogas de qualquer espécie.

Hagbard Celine foi educado em advocacia contratual e em engenharia naval mas afirma que adquiriu a sua real educação tocando piano num bordel. Ele é o capitão do maior submarino do mundo, o Leif Erikson e presidente da Sold and Appel Inc., uma firma de importação e exportação que freqüentemente despertou suspeitas das agências fiscais do governo (‘137 prisões e nenhuma condenação’, se vangloria Hagbard). Alguns afirmam que ele é um mestre dos disfarces e se fez passar com sucesso debaixo de identidades alternativas tais como Howard Cork, Hugh Crane, Capitão Nemo, etc., e apareceu em incontáveis épicos e aventuras.

Hagbard Celine é também um personagem criado por Robert Anton Wilson, que se define como ‘visionário, futurista, escritor de ciência popular, filósofo libertarista, um dos fundadores de Instituto para o Estudo do Futuro Humano e também diretor da Sociedade Prometheus. Possui Ph.D em psicologia e é autor de uma série de livros e novelas, sendo as mais conhecidas a trilogia ‘Iluminatus’ e ‘The Schroedinger’s Cat’ além de numerosos artigos para revistas e jornais.

 

Hagbard Celine (Robert Anton Wilson). Tradução NoKhooja

[…] Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/a-abolicao-da-estupidez/ […]

Postagem original feita no https://mortesubita.net/psico/a-abolicao-da-estupidez/