Camelot, Guinevere e Lancelot

Eu era rainha e perdi a minha coroa,

Mulher e quebrei os meus votos;

Amante e arruinei quem amava:

Não há maior massacre.

Há poucos meses atrás eu era rainha,

E as mães mostravam-me os seus bebês

Quando eu chegava de Camelot a cavalo.

*Guinevere de Sara Teasdale

Como a quarta parte deste pequeno estudo sobre as lendas esotéricas do Rei Arthur, comentaremos sobre o elemento TERRA, representado nas lendas arthurianas por Camelot e pela Távola Redonda.

Para quem chegou agora no blog, recomendo que leiam antes os textos a respeito dos outros elementos:

FOGO (Merlin, José de Arimatéia e o Bardo Taliesin), ÁGUA (O Santo Graal e a Linhagem Sagrada e AR (Rei Arthur e Sabres de Luz).

Desde os mais remotos períodos, o Elemento Terra está associado aos rituais de fertilidade e prosperidade. No Egito e na Babilônia, era a partir da uva e do trigo que se realizavam os rituais de plantação, chegando até a consagração final do ritual de prosperidade do pão e do vinho, que eram repartidos entre os companheiros (esta palavra vem de “Companionem”, ou aqueles que dividem o pão). Jesus, como sacerdote essênio, realizou este mesmo ritual no Pessach, que ficou conhecido pela posteridade como a “Santa Ceia”.

Apesar de hoje ele ser sempre lembrado como cristão, a origem deste ritual é babilônica. Dos ritos Osirianos até os essênios, a tradição do pão e do vinho dividido entre os sacerdotes pode ser encontrada ao final das grandes celebrações. E com Yeshua e seus apóstolos não seria diferente.

Páscoa, Pão, Vinho e Hieros Gamos

Na cultura Celta, antes da Igreja destruir este culto e transformá-lo no que se conhece hoje em dia como “bruxaria”, este período entre Abril e Maio era marcado pelas celebrações da Primavera, ou comemorações em homenagem à deusa Eoste (de onde vem a palavra “Easter”). Os camponeses iam para os bosques de carvalhos à noite e acendiam enormes fogueiras para a Deusa, o que tornou esta festividade conhecida como “As Fogueiras de Beltane”.

Nesta época e local, os princípios morais vigentes eram outros, a mulher era um ser livre e não havia o machismo como hoje se conhece. As sociedades possuíam um equilíbrio entre os sexos, cada um desempenhando uma função dentro do todo. Sendo assim, nesta noite de Beltane, as moças virgens (e mesmo as casadas, que poderiam ir para as florestas com seus maridos ou não), iam para os bosques na celebração do que se chamava “Hieros Gamos” onde os rapazes copulavam com as moças sob a lua cheia guiados pelo instinto num ritual de fecundidade e vida. Eu já falei sobre o Hieros Gamos em colunas antigas.

As crianças que fossem geradas nesta noite eram consideradas sagradas e, normalmente, as meninas viravam sacerdotisas vestais e os meninos magos/druidas. Além disso, o ritual era consagrado à Deusa para que esta trouxesse sempre boas colheitas através da fertilidade da Terra. Embora o culto fosse predominantemente feminino, não se excluía, de forma alguma, o papel do Deus, pois, a essência de Beltane, sendo a fecundação, impunha sempre, a presença do feminino e masculino.

Sendo assim, no Beltane, os meninos tinham a sua cerimônia de passagem da adolescência para a maturidade. O rapaz personifica o Deus Cornífero e a virgem, a Deusa. Na escolha de um rei, o rapaz veste a pele de um Gamo (um veado real) e desafia um gamo de verdade, o líder da manada, e luta com ele até a morte de um deles.

Se o rapaz for o vencedor, terá sido escolhido Rei representando o Deus, o Gamo Rei e terá uma noite com a Virgem que representa a Deusa onde um herdeiro será concebido. O novo herdeiro, um dia deverá disputar com o pai pelo trono. O Gamo Novo e o Gamo Velho… A capa vermelha tradicional do rei e a coroa nada mais são do que resquícios deste antigo ritual de sobrevivência.

Se eu não me engano, no livro das “Brumas de Avalon” a escritora descreve este ritual realizado por Arthur (me corrijam se eu estiver errado, eu não li o “Brumas”, uma amiga me contou isso).

Mas o que isto tem a ver com a lenda do Rei Arthur?

Calma Padawan… tudo a seu tempo… Esta característica cultural dos celtas e principalmente das Rainhas Guerreiras/sacerdotisas (cuja linhagem das Damas do Lago vai até os primórdios das ilhas britânicas e através das bacantes gregas e prostitutas sagradas da babilônia) era extremamente chocante para os religiosos puritanos de Roma.

Imagine saber que a rainha, enquanto o rei estava fora em campanha, possuía um ou mais “concubinos” responsáveis por satisfazê-la sexualmente na ausência de seu esposo? Esta é uma das prováveis origens do termo “levar os chifres”. Os romanos diziam que os guerreiros celtas, enquanto estavam na floresta “levando os chifres para casa”, suas esposas estavam aquecidas na cama com outros homens.

E chegamos finalmente à relação entre Guinevere, Arthur, a Távola Redonda e Lancelot.

As bases históricas e lendárias de Guinevere

O nome Guinevere vem de Gwenhwyfar (cujo nome significa “Fantasma Branco”) e aparece pela primeira vez nas histórias chamadas “Triad of the Island of Britain”, do século VIII, onde Arthur se casa não com uma, mas com três Gwenhwyfars (Uma delas era filha do rei Cywryd, outra Gwenhwyfar era filha do rei Gwythyr Ap Greidiol e finalmente Gwenhwyfar filha de Ogrfan Gawn). Malditos celtas que fugiram da fila onde estavam sendo distribuídas as vogais…

Estes três casamentos, com três fases distintas da “fantasma branca” estão relacionadas diretamente com o casamento do Hieros Gamos do rei Sol com a rainha Lua, em suas três fases (a chamada “Tríplice lunar”), em diversas recorrências na mitologia celta.

Ela também aparece no Mabinogion, nos contos de Culhwch and Olwen mencionada algumas vezes como Gwenhwy-fawn. Em latim, é chamada de Gwanhumara ou Genebra (nome que deu origem à capital da Suíça).

Em alguns dos textos mais antigos, a rainha, antes de se tornar esposa de Arthur, é retratada como tendo um concubino chamado Medrawd, em textos do século VI (que mais tarde, nos primeiros textos que serviram de protótipo para a lenda de Arthur, especialmente os textos de Geoffrey de Monmouth “Historia Regum Britanniae”, o chamam de Mordred e o colocam como “amante” de Guinevere que, graças a esta desgraça, causou a destruição de Camelot.

E nunca mais as rainhas tiveram direito a concubinos!

O casamento de Arthur com Guinevere firmou a sua corte. Como dote Guinevere recebeu a lendária Tavola Redonda e o casal real tornou-se o centro do brilhante circulo dos cavaleiros de Arthur.

A herança de Guinevere varia conforme as diferentes lendas. De acordo com Malory, Guinevere (em galês Gwenhyvar) era filha do Rei Leodegrance de Cameliarde. Na tradição galesa, o seu pai chamava-se Gogrvan ou Ocvran. Na peça de Thelwall “The Fairy of the Lake” (1801) é posta a hipótese de ela ser filha de Vortigen. Em algumas histórias, ela tinha uma irmã chamada Gwenhwyvach e uma lenda francesa fala de uma irmã gêmea chamada Guinevere the False. Em outro conto, ela tinha um irmão que se chamava Gotegrin.

Como vocês podem ver, a falta de “copyrights” durante o período antigo/medieval fez com que o que chamamos de “Histórias do Rei Arthur” seja, na verdade, um samba do crioulo doido de autores que escreviam seus poemas de acordo com suas visões e interesses.

Assim que Arthur subiu ao trono e apesar dos avisos de Merlin que ela um dia o haveria de traír, Arthur escolheu Guinevere para sua mulher. Como dote, ela recebeu do pai de Arthur a grandiosa Tavola Redonda, feita por Merlin, a qual tinha capacidade para sentar 150 cavaleiros (em outras lendas, esta távola já estava pronta e seria um presente de casamento do pai de Guinevere).

Guinevere e Perséfone

Em “Gawain and the Green Knight” é afirmado que Morgan le Fay enviou o Cavaleiro Verde para Camelot para assustar Guinevere. Uma das razões foi a velha rivalidade entre elas, ocorrida no início do reinado de Arthur, em que Guinevere expulsou da corte um dos amantes de Morgana. Outra razão invocada foi o fato de Guinevere e Morgana serem duas deusas de aspectos muito diferentes. Morgana, originalmente como personagem de Morrighan (ou Morrigu), é uma deusa negra que representa as poderosas qualidades do Inverno e da guerra. Por outro lado, Guinevere é chamada “the Flower Bride” (a noiva das flores), representando a Primavera e o desdobramento da vida. Como tal, estas duas mulheres são o oposto uma da outra. Lancelot, o defensor de Guinevere, tornou-se o amargo adversário de Gawain que é o Cavaleiro da Deusa – defensor de Morgana.

Simbolicamente, esta versão trata da permanente disputa entre o Inverno e o Verão.

Quando as lendas Arthurianas foram rescritas por escritores cristãos, após o período da Vulgata, tanto Guinevere, a deusa das flores e da luz, como Morgan, a Deusa Negra, permaneceram, durante algum tempo, num convento de freiras (?!?!).

Como “Noiva das Flores”, o mito diz que Guinevere é raptada por um dos seus pretendentes, sendo depois salva por outros opositores astuciosos, com a mudança das estações. Um exemplo disso é descrito em “Life of Gildas” de Caradoc de Llancarfan. Nesse texto, Melwas of the Summer Country raptou Guinevere, sendo, mais tarde salva por Arthur. A cena do rapto volta a repetir-se em diversos contos em que o raptor é Meliagraunce, o cavaleiro que desejava Guinevere. Neste conto, o salvador é LANCELOT, em vez de Arthur.

Neste segundo ciclo, mais voltado para a simbologia Greco-romana, temos uma releitura do rapto de Perséfone por Hades e seu retorno posterior para o mundo dos vivos, e Lancelot passa a fazer o papel do Sol, trazendo novamente a primavera para o ciclo do ano.

Guinevere e Sir Lancelot apaixonam-se. A Falsa Guinevere ocupou o lugar de Guinevere enquanto ela procurava amparo em Lancelot em Sorelois. A Falsa Guinevere e o seu cavaleiro Bertholai admitiram por fim a sua fraude e, depois da morte desta, a verdadeira Guineve é entregue a Arthur. Nessa altura, Guinevere e Lancelot já estavam irremediavelmente apaixonados e a luta de Lancelot com a sua consciência mantinha-o longe de Camelot.

Quando Guinevere e Lancelot decidiram terminar o seu romance, para o bem do reino, Mordred, filho ilegítimo de Arthur, encontrou-os no quarto dela. Lancelot fugiu e Mordred forçou Arthur a condenar Guinevere à morte.

Lancelot acaba salvando-a da execução, matando acidentalmente Gareth e Gaheris, irmãos de Gawain, tendo começado assim a guerra entre os exércitos da França e da Inglaterra. Enquanto Arthur estava longe lutando com Lancelot, Mordred declarou o seu pai morto, proclamando-se rei e anuncia o seu casamento com Guinevere. Ela recusa o casamento e se auto-aprisionou-se a si própria na Torre de Londres. Arthur regressou para lutar, uma vez mais, com Mordred, tendo sido atingido mortalmente por uma lança. Neste ponto, já misturam ao ciclo passagens do “Rei Pescador” e do ciclo de contos do Graal (eu falei que as lendas do Rei Arthur eram uma salada de frutas, não falei?).

Depois da morte de Arthur, Guinevere foi para um convento de freiras em Amesbury, permanecendo lá até à sua morte. Um outro conto, de Perlesvaus, diz que ela morreu como prisioneira dos Pictos (habitantes celtas da antiga Escócia), tendo sido sepultada ao lado de Arthur.

Círculos de Pedra e a Távola Redonda

As descrições da Távola Redonda mais antigas diziam que ela acomodava sem maiores problemas 150 cavaleiros com suas respectivas armaduras ao seu redor. O curioso é que o texto não menciona que os cavaleiros estejam “sentados”, mas chegaremos a isto em breve…

Fazendo uma conta simples, temos que uma pessoa de armadura ocupe um espaço de 1m em uma mesa. Teríamos, então, uma mesa com o comprimento de 150m. Usando a fórmula mágica 2*PI*R = 150, temos que R = aprox. 23,87m, ou o Diâmetro de 47m.

Nos parece óbvio que a “Távola” que teria pertencido a Gwenhyvar não era exatamente um “mesa” nas lendas mais antigas celtas e britânicas. Mas o que exatamente poderia ser, que estivesse sob os domínios da Deusa-tríplice-lunar, que fosse utilizada para celebrações e que conseguisse reunir ao mesmo tempo os 150 cavaleiros?

Agora tudo faz mais sentido. As lendas celtas não falavam em castelos, mas sim em rituais de solstícios e equinócios envolvendo os círculos de pedra. Porém, à medida em que as lendas vão sendo atualizadas para os princípios cavaleirescos, o círculo de pedra se torna uma fortificação que se torna um castelo; a Távola se torna um “Castelo com o teto estrelado” e mais tarde ainda, apenas Camelot. Na próxima vez que você estiver em um Templo Maçônico, descendentes distantes dos Templários e dos Cavaleiros do Graal, olhe para cima.

Já desvendamos todos os principais mistérios do ciclo Arthuriano. O Santo Graal, Excalibur, Merlin e agora Camelot.

#ReiArthur

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/camelot-guinevere-e-lancelot

A Roda do Ano

Existem oito datas principais na Wicca, conhecidas como Festivais ou Sabás. Nos Festivais, os Wiccans fazem rituais de adoração e agradecimento aos Deuses.  Uma vez por mês, durante a Lua Cheia, nós também nos reunimos nos chamados Esbas. Esses encontros são usados para se discutir assuntos referentes ao grupo, para a realização de feitiços e rituais extraordinários, bem como para estudos e realização de exercícios de relaxamento, visualização, etc. Um Coven deve ser como uma grande família, portanto, ele também pode se reunir para passear, viajara, ir ao cinema, ao futebol, simplesmente para jogar conversa fora, ou para obras de melhoria do nosso Planeta, como trabalho em favor da Ecologia, dos Animais, dos Direitos Humanos ou de pessoas carentes. No fim desta obra é dada uma lista com endereços e sugestões de trabalho.

A Roda do Ano – Representada pelos oito Sabás, tem por objetivo sincronizar a nossa energia com as Estações do Ano, ou seja, com os ciclos do Planeta terra e do Universo. Ela descreve o caminho do Sol durante o ano, representando as várias fases do Deus: seu nascimento, crescimento, união com a Deusa, e, finalmente, seu declínio e morte. Da mesma forma que o Sol nasce e se põe todos os dias, e da mesma forma que a primavera faz a Terra renascer após o Inverno, o Deus nos ensina que a Morte é apenas um ponto no ciclo infinito de nossa evolução para podermos renascer do Útero da Mãe.

Para algumas tradições da Wicca, o ano se inicia no Solstício de Inverno. Outras consideram a noite do dia 31 de Outubro como início do ano. Essa data é conhecida como Halloween ou Dia das Bruxas, mas seu nome tradicional é Samhain, que significa “Sem Sol”, referindo-se ao tempo de Inverno. Essa época também é correspondente ao Ano Novo Judaico.

Yule – Solstício de Inverno (21 de Dezembro)

É desta data antiga que se originou o Natal Cristão. Nesta época, a Deusa dá à Luz o deus, que é reverenciado como CRIANÇA PROMETIDA. Em Yule é tempo de reencontrarmos nossas esperanças, pedindo para que os Deuses rejuvenesçam nossos corações e nos dêem forças para nos libertarmos das coisas antigas e desgastadas. É hora de descobrirmos a criança dentro de nós e renascermos com sua pureza e alegria. Coloque flores e frutos da época do altar. Se quiser, pode fazer uma árvore enfeitada, pois está é a antiga tradição “pagã”, onde a árvore era sagrada e os meses do ano tinham nomes de árvores. Esta é a noite mais longa do ano, onde a Deusa é reverenciada como a Mãe da Criança Prometida ou do Deus Sol, que nasceu para trazer Luz ao mundo. Da mesma forma, apesar de todas as dificuldades devemos sempre confiar em nossa própria luz interior

Candlemas – Festa do Fofo ou noite de brigit (02 de fevereiro)

Este Sabá é dedicado à Deusa Brigit, Senhora da Poesia, da Inspiração , da Cura, da Escrita, da Metalurgia, das Artes marciais e do Fogo. Nesta noite os Wiccans ceebram e cultuam estes pontos todos e colocam velas cor de laranja ao redor do círculo , e uma vela acesa dentro do caldeirão.  Se o ritual é feito ao ar livre, pode-se fazer tochas e girar ao redor do círculo com elas. o Wiccan mais jovem da Assembléia pode representar Brigit, entrando por último no círculo para acender, com sua tocha, a vela do caldeirão, ou a fogueira, se o ritual for ao ar livre, o que representaria a Inspiração sendo trazida para o círculo pela Deusa. Os membros do Coven devem fazer poesias, ou cantar em homenagem a Brigit. Pedidos, agradecimentos ou poesias devem ser queimados na fogueira ou no caldeirão em oferenda, no fim do ritual. o Deus está crescendo e se tornando mais forte, para trazer a Luz de volta ao mundo. É hora de pedirmos proteção para todos os jovens, em especial da nossa família de do Coven. Devemos mentalizar que o Deus está conservando sempre viva dentro de nós a chama da saúde, da coragem, da ousadia e da juventude. O altar deve ser enfeitado com flores amarelas, alaranjadas ou vermelhas. A consagração deve ser feita pelos membros mais jovens do Coven.

Equinócio de Primavera – Ostara (21 de Março)

Ostara é o Festival em homenagem à Deusa Oster, senhora da Fertilidade, cujo símbolo é o coelho. Foi desse antigo festival que teve origem a Páscoa. Os membros do Coven usam grinaldas, e o Altar deve ser enfeitados com flores da época. É um costume muito antigo colocar ovos pintados no Altar. Eles simbolizam a fecundidade e a renovação. Os ovos podem ser pintados crus e depois enterrados, ou cozidos e comidos enquanto mentalizamos nossos desejos. Nesse caso, não utilize tintas tóxicas, pois podem provocar problemas se ingeridas. Use anilinas para bolo, ou cozinhe os ovos com cascas de cebola na água, o que dará uma bela cor dourada. Antes de comê-los, os membros do Coven devem girar de mãos dadas em volta do Altar para energizar os pedidos. Os ovos devem ser decorados com símbolos mágicos, ou de acordo com a sua criatividade. Os pedidos devem ser voltados à “fertilidade” em todas as áreas.

Beltane – A Fogueira de Belenos, Festa da Primavera (01 de Maio)

Beltane é o mais alegre e festivo de todos os Sabás. O Deus, que agora é um jovem no auge da sua fertilidade, se apaixona pela Deusa, que em Beltane se apresenta como a Virgem e é chamada “Rainha de Maio”. Em Beltane se comemora esse amor que deu origem a todas as coisas do Universo. Beleno é a face radiante do Sol, que voltou ao mundo na Primavera. Em Beltane se acendem duas fogueiras, pois é costume passar entre elas para se livrar de todas as doenças e energias negativas. Nos tempos antigos, costumava-se passar o gado e os animais domésticos entre as fogueiras com a mesma finalidade. Daí veio o costume de “pular a fogueira” nas festas juninas. Se não houver espaço, duas tochas ou mesmo duas velas podem ter a mesma função. Deve-se ter o maior cuidado para evitar acidentes! Uma das mais belas tradições de Beltane é o MAYPOLE, ou MASTRO DE FITAS. Trata-se de um mastro enfeitado com fitas coloridas. Durante um ritual, cada membro escolhe uma fita de sua cor preferida ou ligada a um desejo. Todos devem girar trançando as fitas, como se estivessem tecendo seu próprio destino, colocando-nos sob a proteção dos Deuses. É costume em Wicca jamais se casar em Maio, pois esse mês é dedicado ao casamento do Deus e da Deusa.

Litha – Solstício de Verão (21 de Junho)

Nesse dia o Sol atingiu a sua plenitude. É o dia mais longo do ano. O deus chega ao ponto máximo de seu poder. Este é um dia de grande poder mágico e é tradicionalmente usado para o lançamento de rituais de ajuda, engrandecimento  e compaixão. É hora de pedirmos coragem, energia e saúde. Um dia de celebração do próprio senso de humor.
Mas não devemos nos esquecer que, embora o Deus esteja em sua plenitude, é nessa hora que ele começa a declinar. Logo Ele dará o último beijo em sua amada, a Deusa, e partirá no Barco da Morte, em busca da Terra do Verão. Da mesma forma, devemos ser humildes para não ficarmos cegos com o brilho do sucesso e do Poder. Tudo no Universo é cíclico, devemos não só nos ligarmos à plenitude, mas também aceitar o declínio e a Morte. nesse dia, costuma-se fazer um círculo de pedras ou de velas vermelhas. Queimam-se flores vermelhas ou ervas solares (como a Camomila) juntamente com os pedidos no Caldeirão.

Lamas – Lughnasad ou Festa da Colheita (01 de Agosto)

Lughnasad era tipicamente uma festa agrícola, onde se agradecia pela primeira colheita do ano. Lugh é o Deus Sol. na Mitologia Celta, ele é o maior dos guerreiros, que derrotou os Gigantes, que exigiam sacrifícios humanos do povo. A tradição pede que sejam feitos bonecos com espigas de milho ou ramos de trigo representando os Deuses, que nesse festival são chamados Senhor e Senhora do Milho. Nessa data deve-se agradecer a tudo o que colhemos durante o ano, sejam coisas boas ou más, pois até mesmo os problemas são veículos para a nossa evolução. O outro nome do Sabá é Lammas, que significa “A Massa de Lugh”. Isso se deve ao costume de se colher os primeiros grãos e fazer um pão que era dividido entre todos. Os membros do Coven devem fazer um pão comunitário, que deverá ser consagrado junto com o vinho e repartido dentro do círculo. O primeiro gole de vinho e o primeiro pedaço de pão devem ser jogados dentro do Caldeirão, para serem queimados juntamente com papéis, onde serão escritos os agradecimentos, e grãos de cereais. O boneco representando o Deus do milho também é queimado, para nos lembrar de que devemos nos livrar de tudo o que é antigo e desgastado para que possamos colher uma nova vida.
Porém a parte mais importante desse dia é que é momento de cobrar a dívida com rituais de destruição, maldições e vingança.
A pessoa ou o grupo de pessoas que tem sido um obstáculo e uma malefício terá hoje um dia especial para receber a vingança a moda Wiccan, Por meio de rituais seremos o lei do três voltando para quem a quebrou, só desta forma estaremos livre de mal retornos. Rituais especificos serão dados mais adiantes porem devem sempre ser usados com a consciencia da justiça, ou o feitiço voltará para você multiplicado por três. O Altar é enfeitado com sementes, ramos de trigo, espigas de milho e frutas da época.

Mabon – Equinócio de Outono (21 de Setembro)

No Panteão Celta, Mabon, também conhecido como Angus, era o Deus do Amor. Nessa noite devemos pedir harmonia no amor e proteção para as pessoas que amamos. Está é a segunda colheita do ano. O Altar deve ser enfeitado com as sementes que renascerão na primavera. O chão deve ser forrado com folhas secas. O deus está agonizando e logo morrerá. este é o Festival em que devemos pedir pelos que estão doentes e pelas pessoas mais velhas, que precisam de nossa ajuda e conforto. Também é nesse festival que homenageamos os nossos Antepassados, queimando papéis com seus nomes no Caldeirão e lhes dirigindo palavras de gratidão e bênçãos. Os feitiços de ajuda social e amorosa são especialmente feitos nesta noite.

Samhain – Halloween ou Dia das Bruxas (31 de Outubro)

Este é um dos mais importante de todos os Festivais, pois, dentro do círculo, marca tanto o fim quanto o início de um novo ano. Nessa noite, o véu entre o nosso mundo e o mundo dos mortos se torna mais tênue, sendo o tempo ideal para nos comunicarmos com os que já partiram. os Wiccans não fazem rituais para receber mensagens dos mortos e muito menos para incorporar espíritos. O sentido do Halloween é nos sintonizarmos com os que já partiram para lhes enviar mensagens de amor e harmonia. A noite do Samhain (pronuncia-se SOUEN) é uma noite de alegria e festa, pois marca o início de um novo período em nossas vidas, sendo comemorado com muito ponche, bolos e doces. A cor do sabá é o negro, sendo o Altar adornado com maçã, o símbolo da Vida Eterna. O vinho é substituído pela sidra ou pelo suco de maçã. deve-se fazer muita brincadeiras com dança e música. Os nomes das pessoas que já se foram são queimados no Caldeirão, mas nunca com uma conotação de tristeza! No Altar e nos Quadrantes não devem faltar as tradicionais Máscaras de Abóbora com velas dentro.Antigamente, as pessoas colocavam essas abóboras na janela para espantar os maus espíritos e os duendes que vagavam pelas noites do Samhain. Essa palavra significa “Sem Luz”, pois, nessa noite, o Deus morreu e mundo mergulha na escuridão. A Deusa vai ao Mundo das Sombras em busca do seu amado, que está esperando para nascer. Eles se amam, e, desse amor, a semente da luz espera no Útero da Mãe, para renascer no próximo Solstício de Inverno como a Criança da Promessa.

Conclusão

Candlemas, Beltane, Lammas e Samhain são Grandes Sabás, enquanto os Solstícios e Equinócios são Pequenos Sabás. A Roda continua a girar para sempre. Assim, não há motivo para tristezas, pois aqueles que perdemos nessa vida irão renascer, e, um dia, nos encontraremos novamente, nessa jornada infinita de evolução. Lembran

As datas fornecidas acima são do Hemisfério Norte. Muitas pessoas preferem adaptá-las ao nosso hemisfério, mudando a ordem dos Sabás. Outras já acham que se deve manter a tradição e seguir as datas da Europa. Isso depende do gosto de cada um, mas, no Brasil, não existem quatro estações, sendo que muitas regiões têm um Verão permanente ou uma estação chuvosa, o que torna bem difícil adaptar os Sabás aos aspectos da Natureza. Eu prefiro seguir as datas tradicionais e homenagear certos s aspectos da Natureza no Altar. Por exemplo, se eu comemoro o Equinócio do Outono em Setembro, que para nós seria Primavera, eu coloco algumas flores da época no Altar em homenagem à Natureza, mas sigo os aspectos do Equinócio de Outono durante o Ritual. Para dizer a verdade, eu acho muito estranho se comemorar Beltane em 31 de Outubro, quando é dia das Bruxas, mas isso depende da vontade de cada um. Eu penso que os Wiccans comemoravam esses Sabás na mesma data há milhares de anos! Já pensou se cada país comemorasse o Natal num dia? Se perderia a Universalidade da data! O Lugar onde realizamos nossos rituais é um espaço consagrado entre os mundos, portando, dentro dele podemos criar o tempo e o espaço que quisermos!

 

Postagem original feita no https://mortesubita.net/paganismo/a-roda-do-ano/

Os Corvos de Wotan, parte final

» Parte final da série sobre Odin ver parte 1 | ver parte 2 | ver parte 3

Bran estava caindo mais depressa do que nunca. As névoas cinzentas uivavam em seu redor enquanto mergulhava para a terra, embaixo. “O que você está me fazendo?” – [Bran] perguntou ao corvo, choroso. Estou lhe ensinando a voar.

“Não posso voar!”. Está voando agora mesmo. “Estou caindo!”. Todos os voos começam com uma queda, disse o corvo. Olhe para baixo. “Tenho medo…” OLHE PARA BAIXO!

Bran olhou para baixo e sentiu as entranhas se transformarem em água. O chão corria agora em sua direção. O mundo inteiro espalhava-se por baixo dele, uma tapeçaria de brancos, marrons e verdes. Via tudo com tanta clareza que, por um momento, se esqueceu de ter medo. Conseguia ver todo o reino e toda a gente que nele havia.

[…] Agora você sabe, sussurrou o corvo ao pousar em seu ombro. Agora você sabe por que deve viver.

(Trechos das páginas 120 e 121 de A Guerra dos Tronos, de George R. R. Martin. Publicado no Brasil pela Editora Leya).

Dentre as inúmeras e intrincadas histórias contadas por George R. R. Martin em seu épico As crônicas de gelo e fogo [1], a aventura de Bran, o menino aleijado que, não obstante, parece destinado a se tornar um grande xamã, está certamente entre as de maior importância para a trama geral. Ora, a imagem da própria família de Bran, os Stark de Winterfell, já nos remete a elementos nórdicos, mas será que Martin estudou apenas as descrições de experiências xamãnicas, ou ainda neste caso podemos falar em alguma influência do mito de Odin?

Ora, como eu já havia dito, Odin é também um deus de muitos nomes, e muitas facetas. Boa parte das mais de 200 denominações a Odin estão ligadas, pela raiz (no nórdico arcaico), às palavras vada e od, e, no antigo alto alemão, a Watan e Wuot, que significavam a princípio razão, memória ou sabedoria [2]. Há ainda a palavra Óðr (também do nórdico arcaico) que está mais diretamente associada à deusa Freyja (uma deusa dos vanir, que posteriormente foi associada à Odin como sua esposa), mas que também deu origem ao próprio nome “Odin”, e que poderia significar: mente, alma, espírito, além de poesia e inspiração artística.

O nome de Odin que mais nos interessa, no entanto, para esta associação com o corvo de três olhos dos livros de Martin, é o que deriva do nórdico arcaico Hrafnáss, ou do germânico latinizado Hrafnagud, ou seja: The Raven God, O Deus Corvo. Sabemos que Odin está intimamente ligado aos corvos, tanto que possuí dois corvos muitos especiais (dos quais falarei a seguir); além disso, sabemos que um olho em meio à testa, entre nossos dois outros olhos, significa o olho da mente, o olho da alma: o sentido pelo qual o xamã percebe o mundo espiritual… Ora, o primeiro ato de iniciação de Bran [3], nos livros de Martin, é exatamente ser bicado pelo corvo bem no meio dos olhos, e na altura da testa. Logo após o garoto acorda e acha que tudo “não passou de um sonho estranho”, mas no decorrer dos livros sabemos que não foi bem assim, não é mesmo?

Huginn e Muninn

Por causa de seu voo alto, o corvo foi, muitas vezes, visto como um mensageiro dos deuses. Inúmeras histórias, de diferentes partes do mundo, falam-nos de como um corvo orientou humanos em suas jornadas. Por exemplo: segundo uma tradição, foram corvos que orientaram os beócios rumo ao lugar em que deveriam fundar uma nova cidade – a Beócia. Teriam sido eles que, também, guiaram Alexandre o Grande, até o templo de Júpiter Amon, no oásis de Siwa, no Egito (e que, lá, predisseram sua morte). O imperador japonês Jimmu, teria marchado para a guerra, no século VII, guiado por um corvo dourado. Um corvo era o mensageiro do Rei Marres, do Egito… E as histórias assim se seguem.

Mas é exatamente na mitologia nórdica que o corvo está ainda mais diretamente associado à magia. Diz-se que o voo do corvo simboliza a viagem espiritual, através do Grande Mistério, onde ela se torna igualmente desejada e perigosa, pois pode tanto trazer a iluminação quanto a loucura, dependendo do cuidado com que é realizada. Obviamente isso tudo tem a ver, claramente, com o xamanismo.

Odin possui então esses dois corvos, Huginn e Muninn, cujos nomes significam, no nórdico arcaico: pensamento (Huginn) e memória (Muninn, que também pode significar mente). Diz-se que, todos os dias, enquanto Odin cuida de seus afazeres como governante de Asgard, seus corvos sobrevoam todo o mundo e depois retornam, na calada da noite, para se empoleirar em seu ombro e lhe cochichar tudo o que virem e ouviram. Dessa forma, o Granda Xamã conseguia manter-se bem informado de todos os eventos, e todos os segredos do mundo, enquanto governava seu grande reino mítico.

Mas, o que é mais extraordinário nesta história, e o que a liga ainda mais profundamente ao xamanismo antigo, é o medo que Odin tinha de que seus corvos não retornassem de seus voos diários… Há um trecho da Edda Poética que fala exatamente dessa tal característica tão humana do deus nórdico:

Huginn e Muninn voam a cada dia
Sobre os grandes espaços de Midgard [4]
Eu temo por Huginn, que ele não consiga voltar,
Mas fico ainda mais ansioso pelo retorno de Muninn [5]

Me parece que esse é o mesmo medo de todo o xamã iniciante, de todo aquele que mergulha no Grande Mistério da própria alma, e teme se perder de seu corvo guia, e nunca mais encontrar o caminho de volta. Trata-se de uma belíssima metáfora não somente para a própria arte da magia, como para todo o risco que ela envolve… Ainda assim, Odin é o Grande Xamã, não mais habita nosso mundo (Midgard), mas o mundo espiritual (Asgard), e mesmo assim, mesmo do alto de toda sua sabedoria, ele ainda temia perder seus corvos. Mesmo um deus teme perder sua memória, e seu pensamento – sem estes, ele reduz-se a nada, ou quase nada. Um deus louco não é muito mais do que um xamã louco…

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Através desta nossa curta, porém espiritualmente profunda, viagem pelo mito de apenas um único deus, quantos ecos ocultos de nossa história não parecem ter vido a tona…

Não tenho dúvidas de que, assim como Odin, todo grande deus, todo grande mito, um dia foi homem: um grande e feroz guerreiro, um exímio caçador cuja lança jamais errava o alvo, um xamã ancião que intercedia no mundo espiritual para proteger e guiar sua tribo ou, quem sabe, apenas mais um que contemplou as estrelas, e tornou-se um artista, um poeta. Nossos mitos mais grandiosos provavelmente são as histórias das vidas de grandes homens e mulheres, mescladas com nosso temor e fascinação pelas forças da natureza, e com os aspectos psicológicos – nossas mais belas e profundas reflexões acerca do porque, afinal, estamos aqui neste mundo.

Eis porque nós mesmos também somos da raça dos deuses, e porque todos, deuses e homens, nada mais são do que emanações da Alma do Mundo, do Grande Mistério, do Oceano que somente alguns de nós se arriscaram até hoje em mergulhar, e de lá trouxeram as mais belas e aterrorizantes interpretações daquilo de oculto que sentiram – mas que, claro, seria impossível traduzir em palavras, em linguagem cognoscível.

Interessante como iniciamos este relato de Odin através das histórias em quadrinhos, onde o mito está mais diluído, mas é exatamente um escritor de quadrinhos que nos traz, atualmente, uma das definições mais completas da grande viagem dos corvos: “Magia é arte, a arte. E essa arte, seja a escrita, a música, a escultura ou qualquer outra forma, é literalmente magia. A arte é como a magia, a ciência de manipular símbolos para operar mudanças de consciência” – define Alan Moore no genial The Mindscape of Alan Moore.

Toda a arte nasceu da mitologia. A pintura e a gravura nasceram na arte rupestre, pré-histórica, xamãnica. A música também se desenvolveu conjuntamente com os rituais religiosos ancestrais. Mesmo o teatro surgiu na Grécia antiga, quando os cultos ao deus Dionísio acabaram evoluindo para peças teatrais onde os atores, tal qual aos xamãs, vivenciavam aos mitos. Já a poesia, é pura magia posta em palavras… É exatamente por isso que a magia é a arte, a primeira arte, pois foi através dela que nossos ancestrais puderam transportar suas ideias e pensamentos, seus símbolos, para este nosso mundo de carne e osso. E o que é a mitologia senão o arcabouço simbólico de toda a nossa arte?

Sob um ponto de vista, você poderá dizer: “poxa, mas a magia é apenas isso?”; ou poderá dizer, sob outro ponto de vista: “puxa, mas então a magia é tudo isso!”. O seu ponto de vista dependerá tão somente da altura na qual seus corvos conseguem voar…

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Há muito Heimdall não ouvia aquele pio tão familiar… De fato, há muitas eras nada se mexia – animal, homem ou deus – na ponte Bifröst; de modo que seu fogo havia quase se apagado, e suas cores se mesclado num acinzentado triste. “Eram os corvos”, o antigo guardião jamais se confundiria com tais sons, ainda que fosse difícil os escutar com o ouvido decepado, mergulhado na mesma fonte em que seu Senhor havia deixado um de seus olhos.

Soerguendo-se lentamente – algo que não fazia há gerações –, Heimdall tentou soprar seu berrante, mas faltou-lhe ar nos pulmões, e as aves negras adentraram a clausura dos deuses sem serem sequer anunciadas…

Não era necessário. Asgard estava morta, e todos os seus deuses e semideuses dormiam, algo que ansiavam há muito fazer. Há muitas eras nenhum pensamento chegara até ali, nenhuma invocação, nenhum pedido de boa colheita, nem mesmo um agradecimento… O Deus Corvo e sua linhagem estavam esquecidos, como estátuas antigas em meio à paisagem, das quais ninguém mais lembrava para que serviam, ou o que representavam…

Ainda assim, enraizado em seu trono, coberto pelo denso metal de sua ainda reluzente armadura, Odin dormia por detrás de sua extensa barba, branca como a neve do inverno. Quando o primeiro corvo pousou em seu ombro, foi o medo que o fez abrir lentamente o único olho que lhe restava: “Huginn está aqui, ele voltou, finalmente! Mas, onde está o outro, onde está Muninn?”

Seu outro corvo pousou imediatamente no outro ombro, e juntos eles lhe relataram tudo o que viram e ouviram nos últimos séculos, e sobre como o povo de Midgard, apesar de tudo o que foi dito a seu respeito, ainda o respeitava. E como, ainda hoje, alguns deles ainda tocavam as pedras antigas, e ainda invocavam a magia dos corvos… Foi então que, após tantas e tantas eras, o Grande Xamã sorriu uma vez mais, despiu-se de sua couraça metálica e, apanhando a mesma antiga capa com que perambulava pelo mundo ainda antes das civilizações, pôs-se a caminhar uma vez mais. Em sua mente, ecoavam os antigos sons que as pedras faziam…

Sigur Rós – Odin’s Raven Magic (ao vivo em Reykjavík/Islândia, 2002)

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[1] Apesar de ainda incompleta, os livros já publicados da série (5 de prováveis 7, ao todo) já inspiraram uma legião de fãs, e uma excelente série de TV produzida pela HBO, canal a cabo americano. A melhor (e ao mesmo tempo pior) coisa que podemos falar de Martin é que “ele é o novo Tolkien”: melhor, pois realmente se trata de um dos grandes escritores de literatura fantástica das últimas décadas; pior, pois o seu estilo literário quase nada tem a ver com o de Tolkien, sendo bem mais ancorado na história “real” do que na mitologia em si.
[2] Mais tarde tornaram-se equivalentes a tempestuoso ou violento, sentido que os cristãos faziam empenho de acentuar, procurando depreciar a figura do deus nórdico.
[3] Em gaélico antigo a palavra “bran” significa exatamente “corvo”. Há também um gigante gaulês antigo chamado Bran o Abençoado, que em sua mitologia foi o rei de toda a Bretanha, e que também era associado à imagem do corvo. Martin provavelmente também se interessou pela mitologia celta.
[4] Na mitologia nórdica Midgard é a Terra (este mundo), portanto Odin permanecia em Asgard, mas seus corvos sobrevoavam o nosso mundo.
[5] Traduzido da interpretação (em inglês) de Benjamin Thorpe, conforme aparece na Wikipedia.

Este post originalmente foi publicado numa quarta-feira, e agora novamente…

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Crédito das imagens: [topo] Daaria (Bran e o corvo de três olhos); [ao longo] Google Image Search (Odin e seus corvos)

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#Odin #Música #Mitologia #Magia #AlanMoore

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/os-corvos-de-wotan-parte-final

Taliesin

“Bom Elffin, cesse o seu lamento!

Falar em vão não faz bem a ninguém.

Não faz mal ter esperanças,

Nem nenhum homem vê o que lhe suporta,

A prece de Cynllo não é um tesouro vazio,

Nem Deus quebra suas promessas.

Nenhuma pescaria na rede de Gwyddno

Foi tão boa quanto a de hoje.

Bom Elffin, seque suas bochechas!

Tal tristeza não lhe faz bem,

Apesar de se sentir traído,

Tristeza em excesso não traz bem algum,

Muito menos duvidar dos milagres de Deus.

Apesar de ser pequeno, sou habilidoso.

Do mar e da montanha,

Das profundezas do rio,

Deus dá seus dons aos abençoados.

Elffin do espírito generoso,

Seu propósito é covarde,

Não deves ficar tão triste.

Bons agouros são melhores que maus.

Apesar de ser fraco e pequeno,

Nas ondas do mar revolto,

Serei melhor para você

Que trezentas cargas de salmão.

Elffin de nobre generosidade,

Não entristeça ante seu pescado.

Apesar de ser fraco no fundo da cesta,

Há maravilhas na minha língua.

Equanto eu estiver cuidando de você,

Nenhuma grande necessidade há de ter.

Lembre-se do nome da Trindade

E nada te vencerá.”

“Flutuando como um barco nas águas,

Fui jogado numa bolsa escura,

E num mar infinito, fiquei à deriva.

Logo quando estava sufocando, tive um bom agouro,

E o mestre dos céus me libertou.”

#Poemas

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/taliesin

O Caldeirão de Dagda

Na literatura celta, Dagda é o deus-druida, ou Ruad Ro-fhessa , o “Senhor da Ciência Integral”. O mais poderoso de todos os mágicos, temível guerreiro e habilíssimo artífice, mas de apetite voraz, Dagda possuía um caldeirão maravilhoso, a partir do qual se podiam alimentar todos os homens da terra, e que ninguém abandonaria sem nele se ter saciado. Assim, para além de conter o alimento material de todos os humanos, o Caldeirão de Dagda teria em si também todo o gênero de conhecimentos.

Possuía ainda o poder de ressuscitar os mortos, desde que os cadáveres fossem nele cozinhados de acordo com um ritual especial, do qual faziam parte ervas mágicas e aromáticas. Pensa-se que o mito do Caldeirão de Dagda teria estado na origem da ideia do Graal, que não só se lhe assemelha pela forma contentora, como nas descrições do conteúdo, já que pode saciar o corpo e o espírito, e conceder, senão a imortalidade, pelo menos o prolongamento e a ressurreição da vida humana.

#boardgames #Mitologia

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-caldeir%C3%A3o-de-dagda