Cursos/Palestras – Out/Nov – 2008

Este é um post sobre um Curso já ministrado!

Se você chegou até aqui procurando por Cursos de Hermetismo, Kabbalah, Astrologia ou Tarot, vá para nossa página de Cursos ou conheça nossos cursos básicos!

– 18/10 – Astrologia Hermética

– 19/10 – Kabbalah

– 25/10 – Tarot (Arcanos Menores)

– 02/11 – Chakras, Kundalini e Magia Sexual

– 09/11 – Magia Prática

– 15/11 – Tarot (Arcanos Maiores)

– 16/11 – Astrologia Hermética (Intermediário/Avançado)

Informações: marcelo@daemon.com.br ou tel (11) 5539-1122

Palestras

Grande Oriente de São Paulo
http://www.cursosepalestrasgscem.blogspot.com/

As palestras acontecem aos sábados, as 10h00

Endereço: r. São Joaquim, 457

11 de Outubro: Palestra: Medicina Tradicional Chinesa – Com Marcus Rene Magalhães

25 de Outubro: Leonardo Da Vinci: Vida, Obra, Verdades e Mentiras – Com Carlos Brasílio Conte

6 de Dezembro: Caminhos pelo Mundo: Santiago de Compostela, Macchu Picchu, Assis – Com Omar João Zacharias

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Exclusivo para Maçons

18 de Outubro: Liderança para Mestres Instalados – Com Armando Ettore do Vale

08 de Novembro: Introdução à Maçonaria para Candidatos – Com Carlos Brasílio Conte

29 de Novembro: Oratória para Maçons – Com Carlos Brasílio Conte

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AMORC e Organismos Afiliados (SP)

Locais: http://saopaulosp1.amorc.org.br/PALESTRAS.html

HEPTADA MARTINISTA SÃO PAULO

A CABALA PRÁTICA: CONSTRUINDO O PILAR DO MEIO

Data: 18 outubro – 14h00

PALESTRANTE: Marcos Rogério Chaves da Silva

LOJA ROSACRUZ SANTANA

CONHECE-TE A TI MESMO, UMA VISÃO MARTINISTA

Data: 18 de outubro – 18h

PALESTRANTE: Silvia Munoz, Mestre da Heptada Martinista São Paulo

LOJA ROSACRUZ TATUAPÉ

O SENTIDO MÍSTICO DA PASCOA

Data: 31 outubro – 20h30

Palestrante: Joyce Setti Parkins

LOJA ROSACRUZ LAPA

CURSO DE CRIAÇÃO MENTAL

Data: todas as terças feiras- 20h00

Palestrante: Nelson Alonso, FRC

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RIO DE JANEIRO

Círculo de Estudos Egregore

19/10*SEMINÁRIO: “Mudras e Chakras:O poder em suas mãos” Por Allan Trimurti

Av. Lobo Junior, 1513 – Penha circular – das 10h as 17h.

26/10-Manhã:Departamento de Paganismo.Tarde:Palestra “ASTROLOGIA Você através do espelho” por Thaiana da Silva

09/11*WORKSHOP: “Magia do Amor” por Cleverson Fleming

23/11-Departamento de Paganismo

30/11-Palestra: “A magia que vem do Mar” por Gilson Júnior

07/12-2º Ritual dos 144 OMS por Caciano Camilo

14/12-Trabalho Voluntário

21/12-Caminhada Mística na Floresta da Tijuca Guiada por Cleverson Fleming e Atma

#Cursos

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/cursos-palestras-out-nov-2008

Dez Razões da Queda do Ocultismo Popular

cassandra

Os dias de glória do Hermetismo aberto para as massas está chegando ao fim. Mesmo aqueles que tentam a todo custo manter as luzes da sabedoria acesa estão achando a conta de luz cada vez mais cara e menos satisfatória. Recentemente, pesquisando sobre as Nuances da Árvore da Vida para o livro de Kabbalah, me deparei com saltos de conhecimento enormes a respeito da geometria da Árvore da Vida, das correlações dos deuses de diversos pontos do tempo-espaço da cultura terrestre e sua relação com os tradicionais Nomes de Deus, estruturas maçônicas e rosacruzes e toda o entrelaçamento disto com a Astrologia, Tarot e a Arte. Mas, ao contrário dos anos anteriores, eu não estou com tesão de escrever mais sobre isso publicamente ou postar estas informações para fora do círculos que envolvem meus irmãos de ordem ou alunos dos meus cursos.

A razão é que, assim como muitos que nos acompanharam durantes os últimos vinte ou trinta anos dentro do ocultismo, estou cada vez mais percebendo que os dias de Hermetismo para grandes escalas acabou. O “Real Deal” ainda existe, mas tende a ficar cada vez mais fechado e oculto do que tem sido. O grande experimento da Golden Dawn de deixar as informações esotéricas semi-públicas falhou miseravelmente… a idéia de que se você colocar toda a informação existente disponível fará com que a humanidade evolua é uma falha completa. Tudo que um livro ou uma página da net pode fazer é apresentar uma opinião – uma sombra na parede. Isso não nos torna magos, da mesma forma que ler receitas online não nos torna grandes cozinheiros.

Claro que algumas idéias e técnicas podem ser encontradas na internet ou nos livros, mas o conhecimento sério está espalhado, como peças de um quebra-cabeças que demorara anos para ser colocado no lugar. Mesmo com o auxílio de um bom professor ou uma Ordem Hermética, no final cada um de nós precisa montar o quebra-cabeças sozinho…

Historicamente, o hermetismo aparece e desaparece continuamente, e o florescimento que aconteceu no início do século XX está diluindo. Acredito que em duas gerações estará extinto novamente. O material continuará ali, mas cada vez menos pessoas estarão interessadas; a maioria apenas seguirá quaisquer movimentos religiosos que aparecerem nos próximos 20 anos…

E o problema não é com o Hermetismo. Os ensinamentos estão por ai há milênios. O problema é que o conhecimento verdadeiro nunca será popular. É muito intelectual para ser popular. É muito prático para ser popular. É muito desgastante e profundo para ser popular. A queda do Esoterismo acontecerá da mesma maneira que ocorreu no século V, quando o paganismo filosófico foi substituído por uma versão muito mais organizada e simples chamada cristianismo.

DEZ RAZÕES DA QUEDA DO OCULTISMO POPULAR

1. A contaminação do Ocultismo pelas baboseiras New Age. O hermetismo têm sido sistematicamente aguado por esquisoterices, fantasias e fraudes. O hermetismo nunca poderá ser simplificado em regrinhas básicas que podem ser seguidas como um “jogo da vida” por qualquer um. Coisas como “o Segredo”, PNL, Magia do Caos, New Age, Teoria da Prosperidade, pactos pactorums e outras besteiradas dão esta falsa impressão de que magia é receita de bolo. Elas incentivam uma pesquisa rasa dos chamados “turistas” ao invés de “buscadores” dentro do hermetismo e estas pessoas logo constatam que os sistemas não funcionam (não por que eles não funcionem, mas porque a técnica apresentada está tão ruim que não vai funcionar mesmo…)

2. Contaminação pelos intelectualóides. Apesar de parecer uma contradição com a razão 1, na verdade isso causa uma polarização extrema do que temos visto no ocultismo hoje em dia e que está matando as discussões e debates. Se por um lado temos os esquisotéricos e suas invencionices, do outro temos os chamados “magos da poltrona” (Armchair Occultists) que ficam no Facebook discutindo “a pronúncia correta do trigésimo sexto aethyr enochiano comparado à Qabbalah judaica de acordo com autor X ou Y da Golden Dawn” mas que, na prática, nunca sequer pisaram em um terreiro. Ler milhares de livros sobre natação não faz você atravessar uma piscina. Magia é prática constante. E esses debates intelectualóides sobre minúcias causam brigas e dogmas entre as poucas ordens que tentam continuar a propagação dos exercícios mágicos a troco de massagens no ego.

3. Contaminação pela Psicologia. A Psicologia coincidiu com a elevação do hermetismo no século XX e ambos pegaram emprestados conceitos um do outro. Porém, por volta da década de 60, a psicologia começou a espalhar que a magia (e as idéias religiosas) existiam “apenas na mente”, confundindo “mediunidade” e “conjurações” com “esquizofrenia” e “multiplas personalidades”. Isso é uma vergonha, pois a psicologia pode ajudar a explicar a compreensão de diversos símbolos internos e consegue manter parâmetros para objetivar o que poderia ser considerado subjetivo (como por exemplo, dez pessoas terem a mesma “alucinação” ao mesmo tempo). Mas com os extremos de achar que tudo se passa na mente, muita coisa que poderia ser aprofundada se torna apenas masturbação intelectual.

4. Contaminação pelo fundamentalismo esotérico. O Século XX tem sido bastante aleijado pela maldição do fundamentalismo – movimentos que tentam purificar uma tradição pela interpretação literal dos seus escritos – O hermetismo e espiritualismo não estão sendo diferentes. Por exemplo, o Kardecismo, que começou como um estudo científico, hoje está mais embolorado e dogmático que muitas igrejas evangélicas em suas regras e verdades absolutas e inquestionáveis. No hermetismo, isso se tornou uma verdadeira “guerra pokemon dos mestres”, onde cada estudante, ao invés de estudar comparativamente todas as doutrinas e entender os pontos lógicos e ilógicos de cada um, abraça com cegueira fervorosa os textos do mestre X ou Y como se fossem times de futebol, cada vez mais literais e afastados uns dos outros. “Meu mestre é melhor que o seu” é seu lema. Assim como seus amiguinhos evangélicos, os fanáticos ocultistas tendem a ser seletivos sobre quais pontos acreditam ou desacreditam serem literais dentro dos textos de cada autor.

5. Contaminação por líderes não hermetistas. O começo do século XXI viu o surgimento de uma série de aventureiros, charlatões e picaretas que só queriam ganhar uma grana ou chiconelar as meninas. Poucos conseguiram se instalar na comunidade, pois não tinham estudos ou grupos capazes mas, neste processo a confiança das pessoas nas ordens e ensinamentos foi destruída. Estudantes assumem que, por causa desses trambiqueiros, todos os professores e ordens são picaretas ou charlatões. Místicos de auto-ajuda, gurus da prosperidade, centros holísticos de quintal e toda sorte de aventureiros da fé alheia abundam pela internet, cada um se achando a única verdade do universo.

6. A Falha dos estudantes modernos em estudar ou se empenhar em qualquer coisa. Os chamados “magos do facebook” colecionam milhares de fatos, textos, pdfs, ensinamentos e grupos (geralmente só os gratuitos), mas não praticam, lêem ou estudam nada. Treinar Hermetismo e autoconhecimento é como treinar uma arte marcial. Leva tempo para se acostumar, praticar e aperfeiçoar… mas, assim como nas artes marciais, a imensa maioria não leva suas práticas como prioridade… sempre tem algo mais importante para fazer… gente que tem preguiça de seguir em uma ordem mágica só porque precisa dirigir 40 minutos para chegar lá… ler livros de verdade, então, só para concurso público e olhe lá… para ter uma idéia do volume dessa preguiça, em uma Ordem tradicional como o Arcanum Arcanorum, das mais de 7.000 pessoas que se inscreveram, receberam e começaram os estudos no grau de Átrio, menos de 10% sequer teve capacidade para completar os exercícios da primeira monografia… conversei com o Frater Goya, Fernando Maiorino, Sérgio Pacca, Rubens Saraceni, Alexandre Cumino e outros magisters de Ordens tradicionais e sérias e a porcentagem é mais ou menos a mesma… de cada 100 pessoas que entram em um grupo de estudos, menos de 1% vai chegar a um Círculo Interno.

7. Falha em apoiar financeiramente professores, escritores e ordens. No século XIX e XX, as Ordens Ocultistas eram apoiadas por seus membros. A Golden Dawn, Inner Light, BOTA, White Eagle, Theosophy, SOL, AMORC, etc todas recebiam ricos donativos de seus membros e sobreviviam. Seus professores podiam viver de escrever e ensinar dentro da Ordem, mas isso parou por volta da década de 1970. Os professores começaram, então, a escrever para fora de seus grupos fechados e até que conseguiam sobreviver, mas recentemente isso também está acabando. Os professores têm de escolher cada vez mais em “coelhizar” seus textos para atingir um mínimo de público semi-analfabeto funcional, ou “satanizar” seus textos para atingir os adolescentes que querem posar de malvadinhos na internet. Ordens conhecidas de fora, como a Aurum Solis ou Dragon rouge não juntam nem 20 membros aqui no Brasil e muitas ordens sérias às vezes mal juntam o suficiente por mês para pagar o salário da faxineira. Perdi a conta de quantos espertalhões me escrevem pedindo pdfs grátis dos livros que escrevo. E o pior de tudo é que mesmo se esses jumentos conseguissem os tais livros, provavelmente eles ficariam apenas guardados na coleção dentro do ipad, sem nunca sequer serem lidos…

8. O Colapso das Ordens e do Sistema de Ensino. Antigamente, as Ordens e os Professores estavam todos equilibrados. Os professores davam as aulas e auxiliavam o desenvolvimento pessoal dos alunos que, por sua vez, precisavam se esforçar para obter cada grau. Pelas razões que citei acima, está cada vez mais difícil trabalhar com ordens herméticas, pois os alunos não respeitam mais seus professores ou grupos. Os que tentam sobreviver querem quantidade em cima de qualidade, abrindo turmas para 100-120 alunos pagando pouco e se esforçando menos ainda para pegar graus e titulos (todos saem do curso com o grau de “mestre”, por exemplo). Alguns chegam ao absurdo de anunciar iniciação maçônica via SPAM ou anúncio de Facebook até mesmo em comentários em sites (!!!) Com medo de arrumar encrenca com os alunos, já vi professores sofrendo bullying nas mãos de alunos ignorantes por não querer dizer que a baboseira quantica que o aluno estava falando era algo completamente esquisotérico! Até mesmo no TdC já tive posts que as pessoas me escreviam depois perguntando se valia mesmo à pena comprar briga com X ou Y por falar a verdade sobre numerologia pitagórica, sagrado masculino, homeopatia, portais alienígenas, Saint German, qualquer baboseira “Quantica”, maçonaria galática, dança do ventre masculina, pactos com lucifer, almas gêmeas, pactum pactorum, amarração, civilização pleidiana, sistema arcturiano de cura dimensional, lilith, quíron, ceres, juno, sputnik, ciência Keylontica, Sacerdócio de Melchizedek, cristais etéricos akashicos, mesa quantica radiônica prateada, reiki kahuna viking, Nibiru e outras invencionices cada vez mais e mais picaretas.

9. A internet deixou o Ocultismo acessível demais. Hoje em dia, se você quer uma informação de alguma “personalidade” do ocultismo, voce pode pesquisar no google e enviar um email para ele. E a maioria desses caras são gente-boa e acabam respondendo. O problema com isso é que o estudande acaba se achando muito importante e que informações vindas de uma fonte valiosa podem ser obtidas a apenas um SMS mal escrito de distância. A maioria das perguntas que me mandam poderia ser respondida nas primeiras 4 monografias do AA, fazendo o curso básico de Kabbalah Hermética ou lendo com atenção diversos posts no blog. Ao contrário do que os gurus de auto ajuda pregam, EXISTEM SIM perguntas estúpidas… e dentro do hermetismo, fazer a pergunta certa é realmente importante… por exemplo, se você tivesse a chance de conversar com Aleister Crowley ou Arthur Waite, iria ficar perguntando a eles sobre quais são os quatro elementos? As pessoas hoje em dia não querem direcionamento para aprofundar os estudos, querem respostas prontas para dúvidas primárias, sem ter de mexer a bunda da cadeira para pesquisarem sozinhos.

10. A qualidade das informações está ficando cada vez pior. Aqui no Brasil, principalmente. Para cada livro ou texto importante, temos uma centena de porcarias, cópias mal feitas ou escrita para retardados. Foi uma das principais razões pelas quais eu simplesmente parei de colocar qualquer fonte das pesquisas no TdC e tirei as que tinham das matérias. Os blogs exotéricos que abundam por ai copiavam meus textos na cara dura e colocavam as referências do TdC como se eles tivessem pesquisado lá (até o site Whiplash fez isso uma vez!). Tenho visto por ai ex-alunos meus querendo dar aula como se fossem mestres autoiniciados e autodidatas, sendo que mal começaram os estudos 5 ou 6 anos atrás. Vi um sujeito que teve aulas de PNL e hipnose poucos anos atrás e que ja começou a inventar seu próprio método (!?!) para dar cursos… pessoas anunciando que “estudam ocultismo desde os 10 anos de idade” mas, pela idade, vemos que acabaram de completar 18-19 anos e ja querem dar cursos; “professor” anunciando ritual de iniciação em motel; perfumes da prosperidade; pingentes de sangue menstrual; vemos livros a rodo publicados como panfletos nesses sites de self-publishing; rituais e tradições wiccas inventadas… isso quando o cara não finge que é rabino, cabalista, maçom, enochiano, sacerdotisa wiccana, templária do sagrado feminino, iniciado no Haiti e por ai vai… para cada podcast sério, tem cem programas alucinados na Radio Mundial, para cada site sério, tem uma centena de esquisoterices quanticas de Saint German do calendário maia, para cada buscador, cem turistas.

Todos estes fatores criaram um abismo onde as vozes dos estúpidos possuem o poder de abafar aqueles que sabem do que estão falando. Um lugar onde todo mundo pensa que é “mago” mas nem 1% quer estudar de verdade. Um universo onde boas ordens herméticas são destruídas por não terem apoio de alunos cada vez mais preguiçosos e mimados da internet. O resultado disso é que o interesse do público no hermetismo real irá lentamente se dissolver, com poucos ou nenhum estudioso real para preencher o vazio que está ficando, até que nem mesmo esses consigam preencher as expectativas dos alunos cada vez mais mimados e preguiçosos, até que o ocultismo retorne para as Sombras novamente.

#MagiaPrática

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/dez-raz%C3%B5es-da-queda-do-ocultismo-popular

Uma Noite Bruxa às Margens do Danúbio

Nick: Há um outro elemento, sujeito à controvérsia entre as pessoas que falam sobre bruxaria – e que é sobre o papel da hoste caída – em particular, Lúcifer. Em seu livro Balkan Traditional Witchcraft  você menciona que o próprio Lúcifer caiu em uma árvore na região da Valáquia, ao leste da Sérvia. Para mim, isso diria que a raiz real de uma Tradição Luciferiana propriamente está localizada na Valáquia, mas como você entende esse fenômeno?
Rade: Isso é difícil de explicar em uma entrevista. Portanto, estamos falando sobre a região no leste da Sérvia, onde os valaquianos vivem. Eles falam uma forma de latim e são muito conectados com os antigos romanos. A presença de Lúcifer como a Estrela Matutina é uma ocorrência normal em suas crenças. Eles têm costumes como colocar pedras brancas de rio no bolso dos falecidos para que Lúcifer possa iluminar a jornada da alma ao céu. Mas Lúcifer também está ligado com os dragões nos Bálcãs. Ele é um dos dragões! Na verdade, ele é o mestre de todos os dragões. A estória fala que os dragões caíram sobre os Bálcãs há muitos séculos atrás. Eles caíram no que hoje chamamos de chuva de meteoros. Por causa disso, ainda hoje as bruxas e camponeses conectam dragões com meteoros, como foi observado por muitos etnólogos sérvios.

Alguns desses dragões caíram no rio Danúbio, como Timok e Pek, e outros caíram em florestas e montanhas. Aqueles que haviam caído em rios continuaram a viver neles, sob as águas. Eles se parecem com homens-sereias, com os cabelos meio longos, grandes olhos e narizes – e longos dentes caninos. Aqueles que caíram nas florestas habitavam grandes árvores, principalmente velhas faias com buracos. É duro dizer como eles se parecem, pois algumas bruxas alegam que eles são somente grandes luzes, e outras que eles são serpentes antropomorfas com asas que se transformam em grandes luzes somente quando eles começam a voar. Aqueles que caíram nas montanhas habitam cavernas e se parecem com o que entendemos ser dragões. Assim, a estória se passa – e conta de uma determinada árvore no leste da Sérvia, na qual a Estrela da Manhã (Lúcifer) ou Danica – como ele é chamado em sérvio, vive dentro após sua queda. Aquela árvore é objeto de culto. Todas as bruxas locais respeitam aquela árvore, ou melhor, o que reside dentro dela. Elas trabalham com Danica como fonte de conhecimento e poder, mas elas não o adoram! O que é interessante aqui é que Lúcifer está conectado com os dragões, porque ele é – como todos os dragões – uma estrela que caiu e vive em árvores como os outros dragões fazem. O que podemos concluir de tudo isso é que essas estórias são muito semelhantes às que encontramos no Primeiro Livro de Enoque. Temos certeza que o Primeiro Livro de Enoque e da forma que trata dos guardiões, ou anjos caídos, e de como eles dormiram com as mulheres e tiveram filhos foi muito importante entre Bogomilos Gnósticos dos Bálcãs. O que encontramos no Segundo Livro de Enoque – que foi descoberto em Belgrado – fala sobre a guerra no céu e Lúcifer. O Segundo Livro de Enoque também é chamado de Enoque Eslavo, porque foi encontrado na Sérvia e escrito na antiga linguagem litúrgica sérvia. Estórias sobre dragões e sangue-bruxo que encontramos dentre as bruxas da Sérvia são muito semelhantes aos do Livro de Enoque, embora elas não falem sobre anjos caídos, mas de dragões. Mas podemos concluir que nesta região anjos caídos e dragões são a mesma coisa. É por isso que este fenômeno não é estranho para mim.

Nick: Eu iria um pouco mais longe em dizer que este é um elemento comum em várias correntes da Bruxaria européia, a idéia do dragão-meteorito e sua importância. Também devo confessar que tinha dúvidas sobre a existência de uma Tradição Luciferiana como tal, até que você me introduzisse a este legado. Ainda assim, a Tradição Luciferiana nas terras da Valáquia é surpreendentemente diferente do significado que a maioria das pessoas dá ao legado Luciferiano. Mas, qual é, em sua opinião, o ponto de encontro entre a arte bruxas e Lúcifer como anjo caído na Sérvia?
Rade: A crença é que esses dragões, ou anjos caídos, após suas quedas seduziram as mulheres e tiveram filhos com elas. Esta não foi uma tarefa difícil para eles porque eles também são metamorfos. Então, quando eles queriam seduzir as mulheres, assumiam a aparência de belos homens e as seduziam. Foi assim que tudo começou. As crianças nascidas destas relações tornam-se meio humanos, meio dragões. O mais importante é que através deste processo as crianças herdaram alguns poderes e habilidades de seus pais. Isso significa que eles têm alguns poderes básicos, e esses poderes são diferentes de pessoa para pessoa, mas todos eles têm um poder supremo, e este poder era que eles possuíam uma alma diferente, e é por isso todas as bruxas possuem a capacidade de deixar seus corpos quando querem. Quando a bruxa sai do corpo podemos ver como ela realmente se parece. Elas se parecem com seres humanos, mas com pele de cobra ou com pêlos por todo o corpo, e lógico, com asas de morcego. Por causa deste “poder”, todas elas são capazes de contatar o outro mundo e suas forças ocultas, que seriam visíveis para elas somente quando elas deixam seus corpos. Este contato lhes proporciona conhecimentos adicionais de magia. Durante seus vôos noturnos, elas podem entrar em contato com fadas, outros dragões, ancestrais e muitos outros seres espirituais.

Nick: Da forma que entendo você está abordando aqui ainda outra controvérsia, ou seja, o sangue-bruxo. Sendo assim, como a bruxa se funde com este sangue antigo, como é que uma bruxa chegar à conclusão de que ela é algo “diferente”?
Rade: Ao ouvir as histórias sobre esses mistérios que são passadas de gerações a gerações. Normalmente descobrimos que esta é uma linhagem consangüínea dentro de uma família e, portanto, seus membros preservam esses contos e lendas. Este é seu legado, sua história, da mesma forma que outras famílias podem ter outras histórias sobre suas origens. Alguns explicam que tudo começou quando alguns dragões seduziram as avós de suas avós, e de como elas conceberam filhos que possuía poderes estranhos, e como seus filhos, por sua vez, também possuíam algumas habilidades extraordinárias e assim por diante. Tudo isso é explicado em meu artigo “Fadas, Dragões e Sangue-Bruxo”.

Nick: Para mim, a bruxa é uma força da natureza, é indomada e desenfreada, e então a bruxa prosperaria melhor na natureza, mas isto é naturalmente aberto a debate. Qual é o seu entendimento sobre a natureza e civilização e em que medida a bruxa pertenceria ali?
Rade: A bruxa pertence em toda parte! A Bruxaria Tradicional não é uma religião e, por extensão, também não é necessariamente uma religião da natureza. Ele se encaixa em todos os ambientes. Espíritos estão por toda parte e até mesmo grandes cidades têm lugares muito poderosos. Às vezes você realmente precisa de floresta, cavernas ou um rio para seus rituais, mas outras vezes um porão escuro e úmido pode ser exatamente o que você precisa, assim como uma rua escura à noite, um cemitério ou uma encruzilhada. Tudo atrai algumas energias específicas e “portais” que poderiam nos ser útil e que podem ser encontrados em toda parte.

Santa Petka, ou Paraskeva

Nick: Eu gostaria de voltar um pouco para a natureza, o selvagem, porque em seu livro você escreve muito sobre a Mãe da Floresta. Parece-me que ela é de suma importância, e então quem é essa?
Rade: Ela desempenha um papel muito importante nos mistérios das bruxas. Ela é única, mas possui várias qualidades. Basicamente, ela se mostra em duas formas. Porque seu nome é Maria ou Mara, nós a chamamos – ou “elas” a chamam, Mara da Floresta e Mara Molhada, conectada com lagos e rios. A primeira é branca e está conectada à lua cheia. Ela é perigosa, mas é uma protetora feroz das mulheres, da fertilidade e coisas semelhantes. Ela se mostra nua ou com um vestido branco transparente. A outra é negra e lhe dá poderes mágicos. No entanto, ela é mortalmente perigosa. Ela é conectada com a lua negra. Assim, como a primeira é Eva e a segunda, Lilith; a primeira é a Virgem Maria e a segunda, Maria Madalena. Ambas podem se mostrar de forma tripla, mas sempre com a mesma aparência. Elas são conectadas à Hécate, cujo culto era forte aqui na antiguidade, onde ela era sempre representada com três jovens e o grande espírito de Destino. As bruxas trabalham principalmente a Maria branca, e usam o ícone da Virgem Maria como sua representação. Temos também um tipo de velha, mas ela é uma entidade totalmente separada. Ela é algo como uma fonte primordial. Sua representação é o ícone de Santa Petka ou Paraskeva, mas não é bom falar muito dela para que ela não venha…

Nick: Outro espírito que você dá muita atenção é Dabog ou Daba Manco. Ele parece ser misterioso, e seu mancar poderia indicar que ele próprio caiu – ou pelo menos tem um pé em ambos os mundos, você pode me dizer um pouco mais sobre ele?
Rade: É muito difícil descrevê-lo e ao seu significado. Ele não é somente um espírito, mas algo como um deus. Sua raiz deve ser traçada ao dualismo dos Bogomilos. Então ele não é algum deus pagão da tradição eslava – embora ele pudesse ser conectado com o Veles eslavo, que é o mestre do mundo subterrâneo, cujo oponente era o deus Perun, o mestre do céu. Da perspectiva dos Bogomilos, Dabog é o Deus na Terra e rei do mundo material. Existe um Deus no céu que governa o universo imaterial, mas Dabog é o rei do mundo. Ele é representado como um grande dragão negro ou em forma humana, como um homem alto com uma capa negra, usando um chapéu de aba longa que esconde sua face. Mais tarde na história a Igreja Ortodoxa o reconheceu como um Diabo. Hoje as pessoas o conhecem como o Daba manco, que é um outro nome para o Diabo. Um de seus símbolos é uma muleta que tem a mesma forma de um forcado.

Nick: Mais adiante em seu livro, como em nossas conversas aqui no Danúbio e nas terras da Valáquia você fala freqüentemente sobre o Bogomilos, como eles formaram a Bruxaria dos Bálcãs, qual foi sua contribuição?
Rade: Pessoalmente, penso que eles ajudaram na formação de toda a Bruxaria Tradicional que encontramos na Europa – e existem muitas razões que eu declare isto. Para explicar isto talvez seja melhor relembrar algumas partes de meu artigo “The Origin of the Coven structure” (“A Origem da estrutura de Coven”)

“Bogomilos. Quem eles são?” Pelos estudiosos, eles tomaram forma na Bulgária nos Bálcãs em algum momento por volta de 927-970. Isto é correto, mas somente se você observar aquele preciso momento, porque naquele tempo muitos países dos Bálcãs estavam sob ocupação Búlgara. A verdade é que os Bogomilos foram formados no país conhecido hoje como a antiga República Iugoslava da Macedônia. O fundador do movimento foi certo padre chamado Bogumil, que pregava este ensinamento por volta de 950 nas regiões em torno das cidades de Veles e Prilep.

Este movimento se estenderá muito rápido, principalmente em duas direções. Primeiramente ocupará toda a Bulgária, Sérvia, Bósnia e a região Dalmácia, que nos dias atuais é a Croácia. Depois, uma parte migrou para o leste da Rússia e outra para a Europa Ocidental. Na Europa Ocidental o Bogomilismo chegou através de duas direções, uma foi através da Bulgária Oriental, Sérvia, Bósnia, Dalmácia, Itália e França. A outra foi através da Bulgária Ocidental, Sérvia, Hungria e novamente para a França. Da França este movimento se espalhou para o sul da Espanha e oeste da Inglaterra, o qual somente algumas pessoas conhecem… Os Bogomilos eram um grupo muito interessante. Seus ensinamentos eram uma mistura de elementos indo-europeus, pagãos, cristãos e gnósticos. Eles eram algo como patriotas locais e não desejavam falar Latim nem Grego. Eles não queriam adotar nomes cristãos bizantinos, e preservaram os velhos costumes. Por causa de seu “patriotismo”, eles preservaram todas as crenças populares, a magia, rituais e festivais do povo. O melhor caminho para entender isto é lendo a seguinte citação no qual o Sínodo de Borila os acusava:

“Aqueles que no dia 21 de junho, o dia quando São João Batista nasceu, fazem magia e coletam plantas; e naquela noite fazem coisas misteriosas como nos ritos Helênicos; aqueles que dizem que Satanás criou todas as coisas, e aqueles que com ‘kumirs’ chamam a chuva e aclamam todas as coisas que vêm da Terra…”

P.Kemp concluiu que a doutrina dos Bogomilos influenciou as pessoas, da mesma forma que as crenças do povo tiveram influência sobre sua doutrina. E realmente, nos Bálcãs, especialmente naqueles tempos, a prática xamânica era muito viva. Xamãs eram indivíduos, homens e mulheres, e toda aldeia tinha pelo menos alguns deles. Sua obrigação mais importante era dar à comunidade sua medicina e auxílio mágico. Eles eram curandeiros, herbolários, clarividentes e lutadores contra criaturas antinaturais, demônios e condições meteorológicas. Além disso, eles eram guardiões das crenças do povo, mitos, conhecimento e sabedoria. Este tipo de xamãs solitários era bem conhecido na Europa inteira. Por exemplo, na tradição nórdica as Völvas praticavam seiðr, spá e galdr, práticas que englobavam xamanismo, feitiçaria, profecia e outras formas de magia e encantamentos. A situação era semelhante na Alemanha e outros países europeus. Na antiguidade as bruxas gregas e romanas tinham elementos bem similares. Todos estes xamãs compartilham algumas características importantes. Todos eram xamãs; usavam transe ritual, danças, máscaras, partes de corpos de animais, plantas, etc. Suas ferramentas usuais eram facas mágicas, bastões, caldeirões, vassouras, etc.

Eles executavam especialmente seus rituais durante à noite porque no xamanismo acredita-se que este é o tempo quando o mundo das pessoas e o mundo de deuses, espíritos, demônios e antepassados se cruzam. Eles executavam seus rituais em encruzilhadas, cemitérios, pelos rios e outros lugares importantes para eles. Assim estavam lidando com magia e eram os guardiões dos mitos e crenças do paganismo popular. Eles eram bruxos xamânicos clássicos! Contudo eles não tinham metas espirituais, uma tradição iniciática como tal, com estrutura organizada, trabalho em grupo, etc.

Muitos deles se tornaram Bogomilos nos Bálcãs. Bogomilos e xamãs solitários chegaram a trocar seus ensinamentos. Até mais adiante, os Bogomilos acabaram incorporando todos eles em seus próprios ensinamentos, e sabemos disso com certeza, porque muitos livros Bogomilos estão preservados até hoje. Nos Bálcãs estes livros são conhecidos como knjige starostavne, o que significa que foram escritos muito tempo atrás. Eles estão cheios de rituais mágicos, orações estranhas, métodos de adivinhação, astrologia, etc. Além disso, sabemos com certeza mais uma coisa, que Bogomilos não pagavam impostos e se recusavam a trabalhar. Eles começaram a viver como aqueles xamãs, trabalhando como curandeiros, herbolários, clarividentes e assim por diante. Eles negociavam seus serviços por comida, dinheiro, animais, roupas ou alguma outra coisa.

Nos Bálcãs os governantes e a Igreja começaram a chamar-lhes de Babajci, que significa “pessoas que seguem a religião da avó”, e esta é somente outra palavra para Bruxaria. Nos Bálcãs, principalmente as mulheres velhas eram xamãs e conforme previamente dissemos, elas eram guardiãs da memória da magia popular, assim este apelido para elas era bastante apropriado.

Então outra coisa aconteceu, os Bogomilos se recusaram diferenciar homens e mulheres. Eles se tornam os primeiros feministas na história e apoiavam a liberação sexual, em parte porque o gênero não era importante para eles. A razão para isto é que eles viam o corpo físico como uma parte do mundo material, assim como tudo ao nosso redor. Pelo seu sistema de crença todos os gêneros estão na mesma posição, porque todos eles estão no inferno, e o inferno é o mundo material. Assim eles olhavam para as mulheres como iguais, estávamos todos no Inferno.

Esta perspectiva era uma heresia tremenda na Idade Média e aos olhos da Igreja, então eles deram um passo adiante. Organizaram seus grupos pelas antigas regras passadas pelas “Avós” de “um Deus e 12 membros”, ou um líder de procissão e 12 participantes, e incluíram mulheres naqueles grupos. Até mais, mulheres podiam liderar rituais também. Este foi o momento em que os primeiro covens foram formados, bem como a Bruxaria Tradicional que reconhecemos hoje. A Bruxaria Tradicional real é uma amálgama do velho xamanismo, do paganismo popular e do gnosticismo. Aquele foi um momento quando elementos espirituais foram incorporados na Arte, como também metas espirituais. No fim das contas, aquele foi o momento quando a Bruxaria Tradicional nasceu nos Bálcãs, e acredito que este é o caso da Europa também.

Como tivemos a oportunidade de ver, o movimento dos Bogomilos floresceu muito rápido através de quase toda a Europa. Eles eram reconhecidos como um grupo perigoso e os governantes de alguns países começaram a processá-los. Começaram a caçar aqueles grupos de 13 membros à noite, em igrejas e cemitérios abandonados e outros lugares onde eles se reuniam. Claro, todos eles eram acusados de praticar bruxaria. Mais tarde, palavras como “bruxa” e “bruxaria” seriam denominadores comuns para a prática dos Bogomilos. E mais, esta palavra também foi usada para descrever praticantes solitários deste xamanismo popular mágico-herético. Durante o Renascimento muitas pessoas foram perseguidas por estas práticas, embora elas não tivessem nenhuma associação com a bruxaria ou gnosticismo.

Então, assim como podemos ver que a estrutura de coven tem sua origem no gnosticismo e é derivada, num nível geral, do cristianismo. Os primeiros covens que se parecem com “covens de bruxas” nasceram nos Bálcãs entre os Bogomilos, pois este foi o tempo em que as mulheres foram incluídas neles pela primeira vez. Além disso, os Bogomilos foram responsáveis em conectar o velho xamanismo europeu e o gnosticismo, o que trouxe para o mundo a Bruxaria Tradicional. Este gnosticismo medieval se espalhou por toda parte da Europa e com ele a clássica estrutura de coven de 13 membros. Os primeiros grupos que vieram a ser perseguidos são datados de 1022, em Orleans, França, e em 1175, em Verona, na Itália.

É por isso que eles são tão importantes, mas infelizmente não existem informações suficientes sobre eles no ocidente.

Nick: Daqui entendo como a memória da terra, e então a partir deste rico legado Bogomilo que marcou a Europa, qual é a relação entre espíritos e terra? Refiro-me ao dragão Tarotor que possui um significado relacionado ao Rio Danúbio e outros locais que têm uma importância particular atribuída aos poderes encontrados lá. O que isto significa para nós, hoje em dia?
Rade: Bem, isso significa que às vezes devemos deixar a nossa casa, se quisermos fazer alguma coisa. Como você disse, alguns espíritos estão ligados a alguns lugares específicos e não querem deixá-los, ou mesmo que quisessem, não conseguiriam sair destes lugares. Isto é bem comum nos Bálcãs. Bruxas geralmente reconhecem dois tipos de lugares, os bons e os maus, porque a energia desses lugares é forte, ela atrai alguns espíritos ou os provê com certa energia para viver ali. Sempre me lembrarei de como minha avó me ensinou a reconhecer estes lugares. É simples. Locais com vegetação baixa, com muitas plantas mortas, ou aquelas que não são capazes de crescer e atingir o tamanho normal são lugares de má energia e más entidades. Aquelas vegetações verdes e prósperas são boas. É lógico que há mais, alguns lugares são significativos porque alguém morreu ali, ou possui uma edificação significativa, encruzilhadas, objetos, árvores, pedras ou qualquer coisa que realmente pode atrair, carregar e preservar energia.

Nick: Agora já discutimos a conexão entre Xamãs, Bruxas, Bogmomilos e Dragões. Mas, sentado aqui na cidade onde o infame Vlad Dracula defendeu contra o sítio otomano, é no mínimo apropriado perguntar sobre como os vampiros se encaixam nesse imaginário, porque as lendas vampíricas são ricas nos Balcãs.
Rade: Vou tentar responder isso de uma maneira curta, se isso é possível, mas isso vai ser explicado como deveria no meu terceiro livro “The Last European Shamans”.

Resumidamente, “vampiro” é a única palavra sérvia que entrou nas linguagens do mundo. Ela era usada somente na Sérvia antes de um grande escândalo no início do século XVIII, quando alguma epidemia estranha começou a matar soldados austro-húngaros na Sérvia. Naquela época estávamosem guerra. Elesdisseram aos seus superiores que soldados sérvios mortos os atacaram à noite, e que os teriam “comido”. Eles não haviam bebido seus sangues, mas consumido suas vitalidades. Então, alguns médicos de Viena chegaram e cavaram os túmulos dos suspeitos e descobriram que todos os corpos ainda estavam frescos. Assim, a notícia se espalhou por toda a Europa como rastilho de pólvora – e por esta palavra o vampiro ficou conhecido.

Oficialmente na nossa antropologia, vampiros são almas de pessoas más que atacam pessoas à noite. Seus corpos ficam frescos na cova porque durante a noite eles retornam a eles, após sua caçada noturna em busca de fluidos vitais e energia.

Mas isso está correto apenas em um sentido, porque sim, vampiros são as almas de bruxas mortas, homens-dragão e todos os outros que possuem “sangue de dragão”. Assim, durante o tempo de vida foram capazes de deixar seus corpos quando queriam, e de voar em sua forma real. Depois que eles morreram, eles se tornaram ainda mais perigosos, porque agora eles eram apenas espíritos que podiam dormir durante o dia em seus túmulos e se alimentar à noite com energia de outros humanos. Então, as pessoas têm muito medo deles… Por causa de sua aparência em sua forma de dragão, temos imagens reconhecíveis, asas de morcego, lobisomens e afins.

Radomir nos apresenta o Portal de São Pedro na Sérvia

Nick: Dabog, o Diabo, e este mundo como um Inferno habitado por Dragões e mestiços – e agora, vampiros, é muito fácil para as pessoas com uma mentalidade mais racional e moderna verem que aqui estamos pintando o Diabo sobre toda a Bruxaria, e então talvez um esclarecimento do papel do Diabo na Bruxaria Tradicional seja o mais adequado?
Rade: Mais uma vez, é muito difícil dar uma resposta boa, direita e curta para isso. Sim, o conceito do Diabo existe, bem como os conceitos de muitos Anjos e Santos. Assim, podemos encontrar personagens do cristianismo, bem como do paganismo popular, como as fadas, espíritos da natureza e de lugares, etc. Ele é muito importante em muitas tradições. Dizemos “muitas”, porque não há um culto central, e tudo está em nível regional. Mas ele não é de forma alguma um objeto de adoração! Isto é proibido. Bruxas podem trabalhar com ele, mas não como muitas pessoas pensam. Elas podem dar-lhe uma oferenda para curar alguém ou para a magia de amor, bem como para fins malignos. Em geral – e na maioria das tradições – ele é o Daba manco e é conhecido como um doador altruísta de todos os bens. O famoso antropólogo Veselin Cajkanovic escreveu um livro fantástico sobre o assunto.

Em muitos cultos, ele é o inventor e detentor dos conhecimentos ocultos. Ele tem dois espaços rituais fechados e dois abertos. Os fechados são: a forja onde a bigorna é o altar e o moinho, onde a mó é o altar. O primeiro espaço ritual aberto é a encruzilhada, e o segundo e a ponte. As tradições populares nos dizem que ele é o inventor da forja e do moinho, e assim ele é muito conectado a esses lugares. A forja e a bigorna estão conectadas a ele através de lendas. Dizem as lendas que ele aparece após a meia-noite na encruzilhada, porque estes lugares também são encruzilhada de mundos, e outros mitos nos dizem que ele havia sido acorrentado, após sua queda, sob uma ponte. Em algumas outras tradições ele é um guardião do Portal de São Pedro, o portão através do qual as almas dos mortos seguem para o céu.

Em uma tradição muito interessante que encontrei no leste da Sérvia, revelaram-me um segredo de quem ele é. Disseram-me que ele é um Cristo, porque Deus não pode ser material, mas Cristo foi, e então ele é imagem de Deus no mundo material… Considerando as conseqüências teológicas nesta declaração, preciso acrescentar que esta é uma pura declaração Bogomila?

Além disso, devo mencionar que, em muitas ocasiões, ele é aquele que tenta as pessoas e em muitas tradições sua presença na iniciação é uma obrigação, se alguém procura o sangue. Há muito, muito mais para contar sobre ele, o que fiz no “The Last European Shamans”, mas por enquanto isso é tudo.

Nick: E por último irmão, neste dia e era de tumulto e confusão, você acha que a bruxa tem uma missão ou propósito no mundo moderno, uma missão especial para levar a cabo? Se assim for, o que é?
Rade: Honestamente, eu não sei. Eu não tenho dado muita atenção a isso. Só posso repetir o que já disse. Bruxas são mediadores entre as pessoas e os espíritos deste ou de outros mundos. Elas devem ser o que são e fazer o que querem fazer. Alguns delas serão boas, outras más, mas todas elas são livres em suas almas. Durante esse processo algumas conseguem se divinizar e prosseguir nesta jornada perigosa…

E com isso terminamos ainda outro copo de Jelen, juntamente com outro Stomaklija, enquanto pedimos outra rodada destes abençoados fermentados sérvios. Acendemos mais um Cohiba, ponderando sobre o propósito da bruxa no mundo, enquanto meteoritos começam a cair do céu azul claro sobre o Danúbio…

– Por Nicholaj de Mattos Frisvold

Artigos recomendados:

– Ol’ Hornie e o Diabo

– A Tradição dos Proscritos

– A Bruxaria Tradicional e o Trabalho com os Demônios

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/uma-noite-bruxa-%C3%A0s-margens-do-dan%C3%BAbio

A doce e bela morte

» Parte 2 da série “Todas as guerras do mundo” ver parte 1

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais… Que vos desprezam… Que vos escravizam… Que ditam os vossos atos, as vossas ideias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois!

(Chaplin, em O Grande Ditador)

A Coreia do Norte está situada na parte norte de uma península no extremo leste do continente asiático, entre a China e o mar que a separa da ilha do Japão. Como alguns devem saber, a península foi governada pelo Império Coreano até ser anexada pelo Japão, após a Guerra Russo-Japonesa de 1905. Ela foi dividida entre zonas de ocupação norte-americana (sul) e soviéticas (norte) em 1945, após o final da Segunda Guerra Mundial. A Coreia do Norte recusou-se a participar da eleição supervisionada pelas Nações Unidas, feita em 1948, que levava à criação de dois governos coreanos separados para as duas zonas de ocupação. Ambos, Coreia do Norte e Sul, reivindicavam soberania sobre a península inteira, o que levou-os à Guerra da Coreia, em 1950. Um armistício de 1953 terminou o conflito; no entanto, os dois países continuam oficialmente em guerra entre si, visto que um tratado de paz nunca foi assinado.

A Coreia do Norte se autodenomina uma república socialista, mas na prática sabemos que se trata de uma ditadura comunista que ficou presa ao passado, e tem enormes dificuldades de dialogar com um mundo cada vez mais globalizado. Em 2009, os quatro loucos aventureiros que apresentam o programa Não Conta Lá em Casa, do canal de TV a cabo Multishow, e costumam visitar áreas de conflito para nos trazer uma visão genuinamente brasileira da situação, conseguiram adentrar a Coreia do Norte valendo-se de sua “diplomacia sem noção”, como eles mesmos alegam. A despeito das cenas surreais que foram mostradas no programa, como as guardas de trânsito da capital Pyongyang fazendo sinais para um trânsito inexistente (quase não há carros lá), ou quando dedilham rock & roll no violão numa escola de música, e percebem que os adolescentes de lá nunca haviam ouvido coisa igual, a cena que nos interessa aqui é a conversa que eles têm com algum oficial de alta patente do governo ditatorial.

Devemos dizer que eles não são tão “sem noção” assim – surpreendentemente, quem inicia a conversa é o próprio militar, que parece ter uma curiosidade genuína em aproveitar aquele raro momento de contato com jovens vindos de um país tão distante, teoricamente neutro na questão das Coreias (no que também poderia ser interpretado como um perigoso interrogatório). Em todo caso, papo vai e papo vem, um de nossos heróis “sem noção” levanta a questão mais espinhosa sem papas na língua: “É sabido que a China protege os direitos da Coreia de fazer testes nucleares. É mesmo tão necessário fazer esses testes tão perto do Japão?”. O oficial então responde com sua versão dos fatos: “Você sabe que tivemos uma péssima experiência como colônia do Japão por mais de 40 anos. A Alemanha compensou todos os países que atacou, mas o Japão não compensou nada. Todas as 200 mil mulheres que eles usaram como escravas sexuais e os 8 milhões usados como força de trabalho… Eles torturaram nosso povo. Ao menos que eles compensem nosso país, nossa relação não irá melhorar. Nossos testes nucleares não visam atacar nenhum outro país, mas defender o nosso”.

Finalmente, o militar pergunta: “Qual a melhor maneira de resolver a tensão em nossa península?”. Ao que nosso sábio “sem noção” responde: “Acho difícil para um brasileiro responder essa pergunta, pois não temos tantos episódios de guerra recentes, como vocês têm. Eu poderia dizer – esqueçam o passado –, mas imagino que seja muito difícil”…

Não sei se concordam comigo sobre a importância desse tipo de diálogo, mas em todo caso ele toca na essência do que manteve tantas e tantas guerras ocorrendo pelo mundo, com breves intervalos de paz entre elas. De certa forma, todas as guerras do mundo são uma mesma guerra, e o que devemos é tratar de tornar os intervalos de paz cada vez mais duradouros.

A Guerra da Coreia não é propriamente um embate ideológico, mas uma luta por território e riquezas, como é afinal a razão de todas as guerras, mesmo as religiosas. O comunismo soviético e o capitalismo americano são apenas sistemas políticos, mas as nações não vão à guerra por achar que sua visão de mundo pode trazer benefício às nações vizinhas, seu real objetivo não é evangelizar ideologia alguma, mas pura e simplesmente conquistar mais território, e mais riquezas. Ao menos, é uma razão bastante simples de se compreender…

Mas, e qual é a melhor maneira de evitar que uma nação, necessitada ou não, invada outra em busca de riquezas? Ora, uma delas é estabelecer um claro equilíbrio de poder, onde o poderio militar de uma ou algumas nações forme uma ou mais potências muito superiores às demais, de modo que as outras nações se abstenham de arriscar invasões. O problema dessa “solução”, no entanto, é que ela não impede que as potências invadam outras nações, ou extraiam suas riquezas de forma autoritária (ou oculta, “maquiada” pela mídia). Uma solução que parece mais duradoura e, em todo caso, que é até hoje a melhor solução que os países encontraram, é estabelecer a diplomacia e um vigoroso mercado econômico entre as nações, de modo que a escassez de recursos de um país possa ser equilibrado pela venda de outros recursos que possua em excesso, e assim por diante… É claro que essa economia globalizada não é imune à manipulações, protecionismo, desequilíbrios e injustiças sociais, mas ao menos é muito melhor do que sangue, tiros de canhão e bombas nucleares.

O que um longo período de paz entre as nações pode nos permitir, entretanto, é que percebamos que, afinal, não existem nações, e que no fundo, todos nós somos bastante parecidos, quando estamos abertos para uma conversa amigável, amistosa, e quem sabe, “sem noção”. Fosse um dos quatro apresentadores do Não Conta Lá em Casa um descendente de japoneses que migraram ao Brasil após a Segunda Guerra, ele provavelmente teria enormes dificuldades em ter uma conversa tão amistosa com o oficial coreano. Mas, que impediria tal amistosidade, senão sua aparência nipônica, senão a pressuposição do coreano de que aquele brasileiro faria parte da “nação japonesa”, a mesma que estuprou suas mulheres e torturou seu povo há sabe-se lá quanto tempo? Tampouco o oficial nalgum dia refletiu sobre o fato de que, após a rendição do Japão aos EUA, eles ficaram proibidos de sequer ter um exército, e que por isso mesmo faz muitos anos que não nasce no Japão alguém que tenha qualquer coisa a ver com os estupros e torturas de quase um século atrás. O que mantém essas chagas abertas, afinal? O mito das nações!

Este é exatamente o título do livro de Patrick J. Geary [1], historiador americano, que basicamente defende a tese de que uma nação é um construto intelectual, ideológico, e não tem bases naturais nem tampouco científicas. Não é tão difícil de entender: assim como hoje vemos negros jogando em times de futebol de países europeus, pois são filhos de africanos que migraram para a Europa há décadas, e, portanto, já nasceram nos países que defendem, da mesma forma que ocorre no futebol, ocorre em tudo o mais. Se a nação fosse algo natural, deveriam haver raças no mundo, e os habitantes de um dado país europeu deveriam ser descendentes diretos dos ancestrais que colonizaram aquela dada região há milhares de anos atrás. Porém, a ciência e arqueologia modernas, juntamente com os testes de DNA, já provaram que só existe uma única raça humana, o homo sapiens, e nos deram fortes indícios de que ela provavelmente originou-se em alguma parte do continente africano, e depois migrou para toda a Terra. Se vamos falar em nação da maneira que Hitler e outros ditadores falavam, só podemos falar numa nação global, composto por todos os países e todas as regiões onde ainda caminham os homo sapiens.

Segundo Geary, “o processo específico pelo qual o nacionalismo emergiu [nos últimos séculos] como uma forte ideologia política variou de acordo com a região, tanto na Europa como em outras partes. Em regiões carentes de organização política, como na Alemanha, o nacionalismo estabeleceu uma ideologia com o fim de criar e intensificar o poder do Estado. Em Estados fortes, como França e Grã-Bretanha, governos e ideólogos suprimiram impiedosamente línguas minoritárias, tradições culturais e memórias variantes do passado em prol de uma história nacional unificada e língua e cultura homogêneas, que supostamente se estendiam a um passado longínquo”. E, não se enganem, “o ensino público de qualidade” também sempre foi à ferramenta ideal pela qual o mito das nações foi construído na era moderna… Hoje, porém, ele talvez não faça mais sentido, mas não significa que os currículos escolares estejam sendo atualizados.

Antes de encerrar, porém, devemos tomar cuidado com os termos aqui utilizados. Reflitamos… Nação, do latim natio, de natus (nascido), é a reunião de pessoas, geralmente do mesmo grupo étnico, falando o mesmo idioma e tendo os mesmos costumes, formando assim, um povo, cujos elementos componentes trazem consigo as mesmas características étnicas e se mantêm unidos pelos hábitos, tradições, religião, língua e consciência nacional.

Pois bem, esta é uma definição que pode se adequar as enciclopédias, mas não ao mundo real. Da mesma forma que um jogador negro da seleção de futebol alemã pode não ter a mesma cultura, a mesma religião, e muito menos a mesma cor de pele da maioria dos outros jogadores, ele é, não obstante, um alemão. Quando ele marca um gol, são todos os alemães do estádio que comemoram, todos os homo sapiens que decidiram torcer por aquele time de futebol. E assim é com tudo o mais: no fundo, tanto a seleção alemã quanto o Bayern de Munique são apenas times de futebol. É tão somente uma ilusão ideológica que determina que os times da Copa do Mundo precisam ter apenas jogadores nascidos ou naturalizados nesta ou naquela região do globo. Ninguém nunca viu uma fronteira na face da terra – mesmo assim, em nossas mentes, elas ainda existem.

Talvez fosse mais proveitoso usarmos outro termo… Pátria, do latim patria (terra paterna), indica a terra natal ou adotiva de um ser humano, onde se sente ligado por vínculos afetivos, culturais e históricos. O termo também pode significar somente o ambiente ou espaço geográfico em que discorre nossa vida. Em raízes ainda mais antigas, o termo liga-se ao latim pagus, que significa “aldeia”, e que também deu origem ao termo “pagão”. Ora, como muitos devem saber, toda nossa cultura e religião ancestrais nasceram de aldeias, e xamãs, e as práticas espirituais do paganismo. Além de anteceder a “nação” em milhares de anos, o termo ainda nos oferece a liberdade de considerar que nossa pátria não é somente o lugar onde nascemos, mas também todos os locais onde escolhemos um dia morar, e todos os amigos, e todos os amores que construímos pelo caminho.

Dulce et decorum est pro patria mori… Horácio [2] talvez estivesse certo: pode ser belo e doce morrer pela pátria, defendendo aqueles que realmente amamos daqueles que os querem dizimar; E não propriamente lutando em guerras supostamente ideológicas, baseadas em mitos acerca de povos que nunca foram exatamente o nosso, nos incitando a matar inimigos que, tampouco, jamais foram os nossos. Apenas para que um opressor obtenha o território e as riquezas de outro opressor.

A mais nobre função de um soldado é lutar pela paz, e pela liberdade daqueles que se encontram atrás dos muros dos castelos e das trincheiras nas fronteiras imaginárias. Até que um dia, muros e fronteiras, e balas e canhões, não tenham mais razões de ser. Esta sim, é a única beleza possível da guerra, seja na vitória, seja na morte.

» Na próxima parte, a estrela inimiga…

***

[1] O mito das nações, lançado no Brasil pela Conrad Editora.

[2] Poeta e filósofo romano (65 a.C. – 8 a.C.).

Crédito das imagens: [topo] Divulgação (apresentadores do NCLC na Coréia do Norte); [ao longo] Divulgação (Cacau, jogador brasileiro naturalizado alemão, comemora seu gol na Copa do Mundo de 2010, quando defendeu a seleção da Alemanha); Google Image Search/Anônimo

O Textos para Reflexão é um blog que fala sobre espiritualidade, filosofia, ciência e religião. Da autoria de Rafael Arrais (raph.com.br). Também faz parte do Projeto Mayhem.

Ad infinitum

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Bruxaria, Paganismo e Magia Sexual – parte II

Semana passada falamos sobre as origens da magia sexual, os Ritos na Suméria, o Hieros Gamos egípcio, as três principais divisões dos estudos iniciáticos e de como a Santa Igreja adora pegar expressões sagradas das outras religiões e transformar em palavras sujas.

Hoje vamos continuar nosso passeio através da história da magia sexual, de Roma até os dias de hoje.

Vou seguir com a narrativa por três pontos de vista diferentes: o masculino, do Templo Solar, que regeu basicamente os exércitos e guerreiros, o feminino, do Templo Lunar, que coordenava as sacerdotisas, e as Fraternidades Mistas, que formavam a maioria dos grupos envolvidos nas festividades pagãs do Hieros Gamos.

Prostitutas Sagradas

Muitas famílias nobres enviavam suas filhas para servirem como Harlots (o termo em inglês hoje em dia é utilizado com o sentido de prostituta, sem tradução para o português) por anos. A Harlot entrava em um templo como uma Virgem Vestal e sacrificava sua virgindade ritualisticamente para o sacerdote que a iniciaria nos mistérios do Hieros Gamos. Esta primeira relação era muito importante pois o sacrifício de sangue para Ishtar marcava a iniciação destas sacerdotisas e era algo considerado muito sério e muito importante (até os dias de hoje, dentro de algumas Ordens Invisíveis). O linho na qual ficavam as manchas de sangue era queimado e dedicado às deusas, consagrado em uma grande festa de acolhida.

Mais tarde, de uma maneira completamente deturpada pelos profanos, isto acabaria dando origem a dois costumes medievais: a “Prima Noche”, na qual o Senhor Feudal requisitava o direito de transar com qualquer mulher que fosse se casar e a exibição do lençol sujo de sangue como “prova” da virgindade da “mercadoria” com a qual o nobre havia se casado.

Outra curiosidade era que, se a garota não havia “dedicado” sua virgindade à deusa Ishtar, e transado sem as devidas ritualísticas (ou seja, fora do templo de Innana/Ishtar), dizia-se que havia “perdido” sua virgindade e não podia se tornar uma prostituta sagrada. Seu dote, obviamente, era muito menor do que o das Harlots.

As Harlots eram tão procuradas que, após este período de dedicação ao templo, havia muitos pretendentes que se apresentavam para pagar o dote destas garotas a fim de poder se casar com elas.

Curiosamente, apesar de todo o culto de sexo sagrado, Ishtar é reverenciada com o nome de “a virgem”, implicando com isso que seus poderes e sua criatividade não dependiam de nenhuma influência masculina. As mulheres detinham o poder e o controle. Para os gregos, era conhecida como Afrodite ou Vênus (para os romanos).

A partir do Código de Hamurabi, em aproximadamente 1750 AC, tudo isso mudou. A mulher passou a necessitar da permissão de seu marido ou pai para tudo, o poder das sacerdotisas foi massacrado e Innana e Ishtar perderam muito do prestígio que possuíam, tornando-se divindades menores e, posteriormente, demônios da luxúria. Muitos dos templos, para não serem fechados por ordem dos governantes, precisaram forjar casamentos falsos para que pudessem continuar funcionando, mas as mulheres passaram a ter de obedecer a estes maridos, o que acabou dando origem aos primeiros “cafetões”. Em menos de 100 anos, os Templos de Prazer acabaram se tornando algo muito mais parecido com o que temos hoje, com o afastamento da ritualística e apenas a troca de moedas por sexo (geralmente para as mãos do homem que controlava estes grupos). A adoção de escravas para suprir as necessidades dos homens e a degradação do valor das mulheres acabou jogando estes locais para a margem da sociedade, onde estão até os dias de hoje, infelizmente.

Enquanto isso, no mundo dos machos…

Conforme estávamos discutindo, o Culto Solar era composto apenas por homens e girava em torno do uso da magia para expandir as habilidades de batalha, capacidade de raciocínio matemático, engenharia, construções utilizando a geometria sagrada, táticas de combate e filosofia.

Na medida do possível, eles tentavam proteger as sacerdotisas, mas o próprio fato de não haverem mulheres nos exércitos e as Ordens serem quase totalitariamente militares tornava tudo muito complicado. As Ordens lunares tornaram-se secretas, abrigadas entre os celtas e romanos e bem longe das garras judaico-cristãs. Já as solares haviam adquirido um poder sem precedentes.

Linhas de Ley para marcar os principais locais de rituais e conectar outros monumentos nestas linhas invisíveis. Estes monumentos servem para ajudar a ajustar a Terra para permitir melhores colheitas, paz, harmonia e prosperidade nas regiões ao seu redor. Um Obelisco representa acima de tudo um Raio de Sol Petrificado (isso é bem óbvio, mas é uma coisa que as pessoas nunca param para pensar… ) que cai sobre a terra em um ponto específico.

Uma segunda característica era muito importante dentro dos cultos solares, que era a iniciação de seus principais guerreiros e líderes. Como eu havia dito na outra coluna, esta iniciação dos comandantes era feita enviando-o para algum lugar bastante inóspito armado apenas com uma adaga e esperava-se que ele não apenas sobrevivesse como trouxesse uma prova de suas capacidades de caçador.

Esta prova era a pele do animal (um lobo, urso ou veado). Nos celtas, bretões e druidas, o mais tradicional eram os gamos ou alces, que o iniciado precisava também remover os chifres e traze-los presos em sua cabeça. A capa vermelha do rei simboliza a pele coberta de sangue do animal. As capas dos soldados romanos, dos exércitos de Esparta e dos guerreiros celtas (além das bandeiras nazistas) simbolizavam este poder. Nos nórdicos, eles vestiam as peles de ursos (Bersekir, da onde se originou o termo Berserker para designar os guerreiros imbatíveis do norte que lutavam sob o efeito de poderosos rituais xamânicos).

Os chifres na cabeça representam o deus das florestas encarnando naquele sacerdote/guerreiro, o que seria de vital importância no Hieros Gamos, pois mostraria que aquele iniciado estava apto a incorporar o avatar de Cernunnos/Baco/Dionísio/Dummuz nos rituais.

Tropa de Elite, osso duro de roer…

Estas ordens solares (e conseqüentemente a maioria dos exércitos da Antigüidade) estavam organizadas da seguinte forma: Cada Centurião (também chamado Hekatontharchos em grego) comandava uma Centúria, que era formada por 100 soldados, organizados em 10 conturbernium, e comandada por um Decurion. Estas contubernia eram formadas por 8 combatentes (chamados de octeto) e mais 2 não combatentes (que cuidavam dos cavalos, comidas, armas e armaduras do octeto). Estes grupos eram tão unidos que acabavam sendo punidos ou recompensados como um todo. Caso algum dos membros de um contubernium cometesse algum ato de covardia ou traição, o grupo todo era escolhido para pagar. Neste caso, os dez soldados pegavam palitos de trigo e aquele que tirasse o menor palito era apedrejado pelos nove colegas. Desta prática, chamada Decimatio, surgiu o conceito do “puxar o palito menor” como sinônimo de má sorte, além da origem da palavra “dizimar” como matança.

Cada seis centúrias formavam uma Cohorte e o conjunto destas cohortes formava a Legião. O Grão Mestre destas ordens era chamado de Monos Archen (que significa em grego “Um comandante”). Monosarchen é a origem da palavra Monarca (Monarch em inglês).

Ok… mas o que esta história sobre exércitos romanos têm a ver com a Teoria da Conspiração? MUITO… Mas por enquanto, não vou contar o por quê. No momento, basta que vocês saibam que uma Cohorte nos tempos de Jesus era formada por 600 homens pesadamente armados.

Celtas, Druidas e a Bruxaria

Fora dos cultos altamente secretos das Bacantes ou dos soldados do Templo Solar, o culto à natureza continuava a todo vapor entre os celtas, druidas e bretões.

Os druidas traçam suas raízes em 300 AC. Os primeiros registros deles foram feitos pelo escriba grego Sotion de Alexandria no século II AC. Os pitagóricos os chamavam de Keltois (Aquele que domina o carvalho). Em latim eram chamados de druides (que tem a mesma origem da palavra Dríade, que significam as “ninfas da floresta” na mitologia grega, que nada mais eram que as sacerdotisas celtas que realizavam seus ritos nas florestas).

Do Egito, os ritos migraram tanto para a Grécia quanto para as Ilhas. Da mesma maneira que os sábios gregos construíam panteões, templos e obeliscos utilizando-se da geometria sagrada, os bretões e celtas erguiam círculos de pedra com a mesma função. Enquanto os gregos realizavam as Bacchanalias, os celtas e bretões realizavam os festivais de Solstícios e Equinócios, bem como as Festas de Beltane e Samhain, onde eram celebrados os Hieros Gamos.

Nos ritos sagrados, o aspecto masculino da divindade era representado primariamente por dois deuses: Cernunnos e o “Green Man” (Homem Verde). Cernunnos é o Deus Chifrudo das florestas, representando todas as forças viris da natureza. Seus chifres podiam ser tanto de carneiro (com toda a simbologia fálica que eu comentei semana passada) quanto de gamos (representando a iniciação dos sacerdotes dentro da tradição solar). De qualquer forma, era a personificação do poder masculino do universo. O Grande Deus. Era sempre representado vestindo peles de animais e muitas vezes com o casco de bode. Cernunnos possui as mesmas atribuições do deus Pan (grego) e do deus Pashupati (hindu). A título de curiosidade, o nome Pan vem do grego Paon, que significa “Pastor”… ah, a ironia…

Agora… deus chifrudo? com pés de bode? Aparecendo nos Sabbaths?… onde a gente já ouviu falar disso? Ah, claro! A Igreja Católica espalhou pelo mundo afora que esta era a imagem do diabo !!! do tinhoso !!! do inominável !!! do coisa-ruim !!! que todos deviam temer e fugir. Estes ataques virulentos continuam até os dias de hoje, não apenas pela Santa Igreja mas também por todas as suas descendentes evangélicas. Eles diziam (dizem) até que as bruxas transavam com bodes, com o demônio e com os outros sacerdotes durante os rituais “satânicos”.

Da parte da Deusa, as sacerdotisas representavam o poder feminino. Eu vou falar mais sobre os ritos quando falar especificamente sobre Bruxaria e as origens da Wicca. Por ora, basta dizermos que mulheres peladas dançando ao luar associadas a livres pensadores não agradavam em nada ao controle da Igreja e, desta forma, a nudez e o sexo foram automaticamente associados ao PECADO (até os dias de hoje).

Devemos grande parte disto a um babaca chamado Santo Agostinho, que por volta de 400 DC reescreveu a gênesis associando a expulsão de Adão e Eva do Paraíso ao sexo e ao tal do “pecado original”.

A partir de então, bruxaria foi associada ao satanismo e qualquer desculpa era uma desculpa para mandar estas pessoas para a fogueira, e assim tem sido até os dias de hoje.

O Carnaval

Com a perseguição religiosa, os Hieros Gamos passaram a ser celebrados disfarçados de bailes de máscaras, também conhecidos como Carnavais. A origem do Carnaval remonta das Saturnálias, que eram festas romanas em honra ao deus Saturno, organizadas entre 23 de Dezembro e 6 de Janeiro, regadas a muito sexo, danças, sacrifícios aos deuses e troca de presentes entre as pessoas (Saturnalia et sigillaricia, que deu origem às trocas de presentes no natal). Para não coincidir com as festividades de Solis Invictus, os romanos acabaram jogando esta data mais e mais para a frente no calendário até chegar a janeiro/fevereiro.

Magia sexual homossexual

Para finalizar, infelizmente, sinto dizer que não existem rituais sexuais homossexuais, por uma razão que, se vocês acompanharam estes textos desde o capítulo dos chakras, deve estar evidente. Todo o fluxo de energias sexuais, do tantra ao Hieros Gamos, opera na diferença energética entre os chakras masculinos e femininos, como uma bateria eletromagnética onde os chakras de cada participante fazem as vezes de pólos positivos e negativos. No caso de APENAS pessoas do mesmo sexo (isso não vale, por exemplo, se estiverem duas mulheres e um homem ou dois homens e uma mulher em um ritual tântrico) esta conexão não funciona. É como tentar fazer uma bateria com dois pólos positivos ou negativos.

As mulheres possuem uma vantagem sobre os homens neste aspecto. Durante a magia, a utilização de fluídos corporais potencializa os resultados do ritual. Em ordem de poder temos: a saliva, sêmen, líquidos vaginais, sangue e, finalmente, o mais poderoso de todos: o sangue menstrual (chamado Menstruum).

Por isso, determinados ritos femininos (as Bacantes, por exemplo) eram realizados em certas luas (e as leitoras sabem que quando muitas mulheres convivem juntas, os ciclos menstruais tendem a se alinhar). Desta maneira, as sacerdotisas estariam em seus períodos menstruais em determinados rituais e este “extra” compensa a presença de um homem.

Talvez apenas o Dumbleodore saiba a resposta…

#Bruxaria #Chakras #HierosGamos

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/bruxaria-paganismo-e-magia-sexual-parte-ii

O Culto às Virgens Negras

Publicado no S&H dia 11/10/09,

Para compensar o atraso no post dos Hashashins, estou colocando um post extra esta semana, em um feriadão misto de peregrinação a locais santificados, do Dia das Crianças e, principalmente, ao Aniversário de Aleister Crowley. Feliz aniversário, grande magista!

Há, em algumas partes da Europa, África América do Norte, Central e do Sul (e Brasil, claro!), uma devoção incomum a certas imagens “de cor escura”, encontradas não apenas em basílicas, igrejas e pequenos santuários, mas também em grutas, nas encostas das montanhas ou na forquilha de árvores no meio de florestas. De onde se originam essas imagens, calculadas em cerca de 450 (cerca de 300 na França e 150 espalhadas pelo mundo)? Por que são negras ou escuras e tão veneradas? haveria algum tipo de conspiração por trás disto?

A Igreja Católica tem sua resposta na ponta da língua: “As imagens”, diz o clero, “eram claras, mas com o passar do tempo ficaram “bronzeadas”, em virtude da fumaça das velas dos seus devotos, por causa da poluição e até pelo fato de que muitas estiveram expostas às intempéries, mergulhadas na água ou enterradas”. Essa explicação, contudo, parece uma desculpa esfarrapada, porque hoje se sabe que as imagens espalhadas pelo mundo SEMPRE foram negras e as que se encontram na África seriam, por força das circunstâncias, escuras. Este fato é confirmado por documentos antigos datados de 1340, 1591, 1619, 1676 e 1778. Até mesmo um santo católico, São Luiz, fala das estatuetas escuras que conseguiu no Oriente e deixou em Forenz (França), num relatório escrito em 1235.

Outro santo católico, São Bernardo de Clairvaux (1090 – 1153), não por coincidência um dos grandes patronos e patrocinadores dos Cavaleiros Templários em seus primórdios, não só possuía sua própria Virgem Negra (que ele venerava), mas, segundo a lenda, a imagem entronizada em Chatillon (França) lhe teria dado três gotas do leite de seu seio. Este alimento foi tão poderoso que Bernardo transformou a pequena e moribunda Ordem de Cireaux numa poderosa multinacional, com centenas de abadias e mosteiros espalhados por diversos países pela Europa, todos dedicados a “Notre Dame”. Existem também algumas catedrais construídas pelos Templários dedicadas a “Notre Dame”, uma delas, a mais famosa, foi imortalizada nos textos de um maçom chamado Victor Hugo.
Mas quem seria esta “Notre Dame”?

Para conhecer esta resposta, em primeiro lugar, é interessante saber que, para incentivar a segunda cruzada, São Bernardo pregou na catedral de Metz (França), outrora um centro druida onde, até o século 16, havia uma estátua de Ísis, a deusa negra egípcia.
O povo do Sul da França sempre mostrou uma devoção incomum por essas imagens escuras, e isto é compreensível porque, segundo as lendas, elas não só curam, mas praticam milagres prodigiosos. Um deles é o poder que têm de ficar excessivamente pesadas quando não querem sair do lugar onde foram descobertas ou no qual se encontram no momento. E, quando mostram sua predileção por um determinado local, elas o defendem dos que perturbam a sua paz. Conta se que, em 1580, durante uma guerra, a Virgem Negra de Hal, entronizada na Igreja de St. Martin, em Bruxelas (Bélgica), interceptou os grandes petardos de ferro lançados pelos canhões inimigos, colocando-os em seu colo. Esses petardos ainda podem ser vistos naquela.
Outra Virgem Negra também serviu como defensora da cidade onde se encontrava. É Nossa Senhora de Vilvoorde, que há séculos se encontra num convento de carmelitas em Vilvoorde (Bélgica). Durante o sítio a que foi submetida aquela cidade, ela apareceu nas muralhas, de onde não pôde ser retirada em virtude de seu grande peso. De lá impediu a invasão das tropas inimigas e, em seguida, mudou de lugar para apagar o fogo que consumia a igreja e o convento. Essa imagem foi um presente da duquesa de Brabant ao convento, em 1247.

Muitos milagres são descritos nos textos e documentos que ficam guardados nas igrejas ou santuários onde as imagens estão entronizadas. A Nossa Senhora de Vie, em Avioth (França), perto da fronteira belga, ressuscitava bebês mortos para que pudessem ser batizados e, assim, saíssem do limbo onde se encontravam. Debaixo do seu templo há uma fonte cujas águas tornam as mulheres férteis.
Mas as Virgens Negras, além de serem guerreiras, piedosas, curarem os doentes e ressuscitarem os mortos podem ser vingativas com os que profanam suas imagens. Conta se que a de Evaux les Bains (França) teve sua cabeça decepada e
o corpo lançado num poço por quatro incrédulos. Os profanadores foram duramente punidos: o que arrancou a cabeça da imagem cortou seu próprio pescoço; o segundo morreu ao cair de um penhasco; o terceiro, que se gabava de ter quebrado o queixo da estátua, teve sua língua decepada. O último morreu quando um raio o atingiu.
Claro que estas são apenas lendas, antes que os céticos e pseudo-céticos venham exigir provas científicas de que estes fatos ocorreram…

Maria Madalena, A Dama Venerada pelos Templários
Como eu já havia comentado em colunas antigas, após a retirada de Yeshua da cruz, seus companheiros levaram sua esposa, Maria Madalena, em segurança para o Egito, junto com a criança que estava para nascer (o Sangue Real). Os ciganos contam esta história com orgulho, pois a filha de Maria Madalena é ninguém menos do que Santa Sara Kali, protetora dos ciganos, que chegou com sua mãe no Sul da França em um barco e por ali ficaram.
A história da Santa que carregava em seus braços uma criança, vinda do Egito e de cor escura (ela não era realmente “negra”, mas imaginemos o contraste de uma judia de Jerusalém que passou um ano no Cairo em comparação com os europeus branquelos que viviam no sul da França naquele período).

Além da ligação das imagens com o paganismo, existem elos não religiosos associando as Virgens à dinastia dos merovíngios e a Maria Madalena. Observou-se que, onde há uma Virgem Negra, geralmente se encontra um santuário ou uma igreja onde Maria Madalena é venerada. Seus lugares sagrados são centros de energia telúrica, enlaçados com as “Linhas de Ley” e construídos com as regras da arquitetura sagrada. Desde os tempos remotos até hoje, multidões peregrinam a seus Santuários, mergulhando em seus mistérios e entregando-se a seus miraculosos trabalhos de cura, transformação interior e inspiração.

Os cátaros e os templários sempre estiveram envolvidos com o culto da Virgem Negra. Sabe-se que Igreja católica considerava os cátaros hereges e promoveu uma pré-Inquisição no século 12 que praticamente os aniquilou (veremos isto daqui alguns posts, quando eu chegar na Quarta Cruzada). Contudo, um pequeno grupo conseguiu escapar do massacre e asilou-se numa área perto dos Pirineus. Outro grupo de famílias cátaras se ocultou na zona entre Arques e Lirnoux (França) e é naquelas áreas que se encontram duas importantes Virgens Negras: a Nossa Senhora da Paz e a Nossa Senhora de Merceille. Os sobreviventes dos combates e perseguições foram mesclados às fileiras Templárias e ali obtiveram abrigo e proteção.

E como este culto chegou ao Brasil?
Uma imagem vale mais do que mil palavras… não vou me adiantar porque ainda quero explicar em detalhes como Pedro Álvares Cabral chegou a ser Grão Mestre Templário (Ordem de Sagres) e até mesmo há indícios de que se encontrou com Leonardo DaVinci antes de vir ao Brasil… mas isso fica para colunas futuras… ainda tem muito caminho até chegar no Descobrimento do Brasil.
O importante, agora, é observar este desenho das caravelas “Santa Maria”, “Pinta” e “Nina” (Caravelas da frota de Cristóvão Colombo) e ver se você reconhece o desenho que está nas velas destes três barcos… aposto que sua professora de história nunca explicou para você o que este símbolo significava, certo?

O Culto à Virgem Negra permaneceu entre os Templários e Beneditinos até que, em meados de 1717. (outra data cheia de significados, que marca inclusive o ano em que a Maçonaria decidiu se revelar ao mundo, mudando de Ordem Secreta para Ordem Discreta), um monge beneditino chamado Frei Agostinho de Jesus teria feito uma Virgem Negra que foi perdida em uma viagem de barco no rio Paraíba e encontrada posteriormente por pescadores.
A explicação católica pode ser lida na íntegra AQUI, mas a desculpa esfarrapada é a mesma dos católicos europeus:

“Pode ter sido originalmente pintada, mas depois de ficar anos no leito do rio o material escureceu, adquirindo uma cor castanho dourada”.

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Textos relacionados no blog Teoria da Conspiração e na Wikipedia de Ocultismo.
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#Templários

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/o-culto-%C3%A0s-virgens-negras

32 Papas e uma garrafa de Rum – parte II

Postado originalmente em 01.10.2008

Semana passada, começamos a esmiuçar a origem dos Templários, Rosacruzes e da Maçonaria, ligados aos cultos essênios, aos construtores do Templo de Salomão, passando pelos Pitagóricos e faraós egípcios, cuja tradição se estende até mais de 4.000 anos antes de Cristo. Chegamos nos conturbados séculos I ao IV, que formou as bases do que mais tarde seria conhecida como Igreja Católica Apostólica Romana.

Como é impossível separar a história dos Templários, Druidas, Cátaros e outros hereges da história da ICAR, pretendo intercalar um post a respeito de cada Igreja/religião, para que vocês mesmos possam traçar paralelos do que aconteceu e tirarem suas próprias conclusões.

Semana passada falei sobre o início das revoluções judaicas, da expansão do Império Romano e da guerra entre os Imperadores Romanos (que veneravam os deuses greco-romanos e acreditavam nos preceitos da cultura helenística) e os rebeldes que defendiam o tal do Jesus Cristo (Yeshua).

Acredito que a forma mais prática de entender o que aconteceu é fazer uma breve lista de todos os papas e suas contribuições para o esqueleto desta religião que estava se formando. Começaremos pelo primeiro papa:

Pedro (Petrus I) cuja mitologia católica o coloca como sucessor de Jesus. Na verdade, cada um dos doze apóstolos tomou os ensinamentos e espalharam-se pelo mundo para continuar o trabalho iniciático essênio e espiritualista que Yeshua fazia parte. São Pedro e São Paulo ficaram em Roma, onde Pedro se tornou “Bispo de Roma”, ou seja, o responsável por implantar a religião essênia dentro da boca do leão (literalmente). A palavra Bispo significa “supervisor”. Foi crucificado de cabeça para baixo pelos exércitos do imperador Tiberius Claudius. O símbolo de Pedro passou a ser a cruz de ponta cabeça. Assim como Yeshua, a história de Pedro foi “absorvida” para dar suporte aos interesses do catolicismo. Seus seguidores, porém, ao usar a cruz de ponta cabeça como símbolo, foram taxados de “satanistas”.

Lino I foi o segundo papa, coordenou o bispado de 67 a 76 e foi o responsável pelo decreto que obrigava as mulheres a cobrirem a cabeça dentro de um templo. A ICAR diz que ele morreu como mártir, mas evidências históricas dizem que isto é improvável, Foi substituído por Anacleto I, que teve muita sorte: neste período ocorreu a erupção do Vesúvio (79), com as cidades de Pompéia e Herculano soterradas e os relatos do começo do “fim do mundo” ajudaram a elevar a popularidade do cristianismo. Dele são atribuídos uma série de orientações que condenam o culto de objetos “mágicos e de feitiçaria” e de aceitarem comida oferecidas aos deuses pagãos. Também a ele é atribuída a instauração da “Saudação e Bênção Apostólica” na abertura das mensagens papais. Anacleto é perseguido pelo imperador Domiciano e morre nos leões.

Clemente I assume o bispado em 88. Neste pontificado ocorreu uma segunda perseguição aos cristãos, na época de Domiciano. Mais tarde, Clemente foi preso no reinado de Trajano. Condenado a trabalhos forçados nas minas de cobre de Galípoli, converteu muitos presos e por isso foi atirado ao mar com uma pedra amarrada ao pescoço. Clemente é importante porque foi ele quem primeiro passou a utilizar a palavra “Amém”, de origem dos rituais egipcios (onde significa “Assim seja!”) nas cerimônias cristitas.

O quinto papa, Evaristo (que ficou no bispado de 97 a 105) e o sexto papa Alexandre I (106 a 115) não fizeram grandes coisas e não são muito lembrados. Alexandre foi o bispo que absorveu o costume dos magistas romanos e gregos de utilizar água Lustral em seus rituais, que passou a chamar de “água benta” a partir de seu pontificado.

Durante este período, João Evangelista escreve seu evangelho, que ficou conhecido posteriormente como “Apocalipse” ou “Livro das Revelações”, um dos mais gnósticos e controversos textos da bíblia.

O sétimo papa foi Sisto I. Suas principais contribuições para a igreja cristita foram no sentido de sistematizar e normalizar os vários procedimentos sagrados nas cerimônias religiosas, como o de que qualquer objeto sagrado só poderia ser tocado por ministros sacramentados (este procedimento foi adaptado também dos ocultistas, que trabalham com a consagração de objetos sagrados, que não devem ser tocados por mãos profanas). É atribuída a Sisto a introdução do tríplice canto do Sanctus na missa (adaptado dos ritos de Eleusis), bem como as cartas apócrifas que tratam da doutrina da Trindade e ao Primado da Igreja de Roma. Também entrou em conflito com alguns procedimentos da Igreja da Ásia.

Sisto morreu em Roma e foi sucedido por São Telésforo. Os papas e os vários martirólogos dão-lhe o título do mártir, embora não haja registo histórico de tal evento. Sisto I estava mais para gnóstico do que para um seguidor das doutrinas da ICAR, então é quase um consenso entre historiadores que sua história foi maquiada para servir aos interesses da Igreja.

O papa Telésforo tem um mandato tranquilo, de 126 a 137. O seu reinado, embora desenrolado num período de paz, quando os imperadores Adriano e Antonino não publicaram editos de perseguição aos cristãos, foi marcado por conflitos com as comunidades não cristãs. Boa parte dos costumes católicos usurpados das religiões pagãs foi feito em seu bispado, como por exemplo: a celebração da missa do galo (também conhecida por Missa da Meia Noite, é a missa da Luz. Esta celebração é claramente inspirada nos cultos antigos, nomeadamente celtas, em que se escolhia o solstício do Inverno [22/23 de Dezembro] para prestar culto ao deus Sol. Neste ritual, os sacerdotes sacrificavam um galo em homenagem aos deuses solares), páscoa aos domingos, sete semanas de quaresma antes da páscoa (A Quaresma é uma celebração da morte de Tamuz; a lenda diz que ele foi morto por um javali selvagem aos quarenta anos. Portanto, a Quaresma celebra um dia para cada ano de vida de Tamuz) e o cancionar da Glória normalmente são atribuídos ao seu pontificado.

Em 136, é escolhido Higino como novo bispo. Ele passou maus bocados nas mãos dos gnósticos, especialmente Valentim e Cerdão. Higino mexeu nas estruturas hierárquicas e na cerimônia do batismo (adaptando-as para que ficasse mais próxima do batismo dos iniciados essênios), instituiu as ordens menores para melhorar o serviço da Igreja e preparação do sacerdócio. O décimo papa é chamado de Pio I. O seu pontificado foi marcado por questões envolvendo judeus convertidos e com heresiarcas como os gnósticos Valentino, Cerdão e Marcião, criador do Marcionismo. Procurou o diálogo com os filósofos e estudiosos heresiarcas gregos e egípcios que possuíam versões mais espiritualizadas dos evangelhos sagrados. Foi, provavelmente, martirizado em Roma e foi substituído por São Aniceto, cuja única contribuição foi a de proibir os padres de usarem cabelos compridos.

Em 166 é escolhido Sotero como o décimo-segundo papa. Esse não apenas teve de enfrentar as perseguições de Marco Aurélio como levou uma surra filosófica dos gnósticos, liderados por Montano, que formaram a seita dos Montanistas. A Igreja montanista se espalhou pela Ásia Menor, chegou a Roma e ao norte da África. Seu adepto mais famoso foi, sem dúvida, Tertuliano – o maior teólogo de então.

O papa Eleutério sobe ao poder em 175. Eleutério resolveu a questão de origem judaica, sobre a distinção entre alimentos puros e impuros, libertando os cristãos de restrições alimentares. Quando morre, em 189, Vitor I assume. Vítor I estabeleceu que qualquer tipo de água, quer seja de um rio, mar ou outras fontes, pode ser utilizada no baptismo, no caso de faltar água benta (e começam as acoxambrações da ritualística). Outra contribuição na absorção das crenças alheias foi o estabelecimento do domingo (Dia do Sol, em substituição do sábado) como dia sagrado, copiando os costumes pagãos para anexar suas culturas mais facilmente. Ele também decide fazer as missas em latim ao invés de grego, para popularizar a religião em Roma. Foi substituído por são Zeferino (que introduziu o uso da patena e do cálice de cristal) e em 217 entra São Calixto I. São Calixto era tão picareta que Hipólito, o outro candidato ao papado, se proclama o primeiro Antipapa para combater seus abusos (e fica com a Igreja dividida por 20 anos). Calixto é morto em uma revolta popular que se originou nos próprios fiéis cristãos, tamanhos os desmandos que ele cometeu e é substituído por Urbano I.

Urbano I pegou uma época tranquila, coincidindo com a benevolência do Imperador Alexandre Severo, então passou mais do seu tempo discutindo filosofia com o antipapa do que temendo os romanos. Ponciano tornou-se papa em 230 e deu continuidade pelas brigas filosóficas com o antipapa Hipólito. O que foi uma tremenda burrice, porque eles haviam se acostumado com a moleza de Alexandre e baixaram a guarda…

Quando Maximino Trácio tornou-se imperador de Roma em 235, a primeira coisa que fez foi acabar com as briguinhas entre papas e antipapas e mandar todo mundo para as minas de trabalhos forçados na Sardenha. Ali morreram tanto o papa Ponciano quanto o antipapa Hipólito.
Antero, o décimo-nono papa, ficou pouco mais do que um mês com o poder e O Imperador fez com que se juntasse a seus amiguinhos nas minas de trabalho forçado. O papa seguinte foi um tal de Fabiano I.

Conta-nos Eusébio de Cesaréia que a eleição de Fabiano foi maravilhosa. Voltava ele de fora de Roma, com alguns amigos, quando a assembléia dos Cristãos deliberava sobre a sucessão do papa São Antero. Estavam divididos os votos e não se chegava a um acordo. Foi quando uma pomba branca, vinda não se sabe de onde, pousou sobre a cabeça do admirado Fabiano, que mais admirado ficou, quando, por unanimidade, os Cristãos romanos o apontaram como novo pontífice. Foi obrigado a obedecer. Recebeu ordens sagradas e tornou-se sucessor de São Pedro. Fabiano teve muita sorte, além da pomba… seu papado coincide com as mais sangrentas disputas pelo trono de Roma, e os Imperadores passavam mais tempo protegendo o próprio rabo do que perseguindo os cristãos. Ele sobreviveu a Maximiniano, os dois Górdianos, Pupiero, Balbino, Filipe (o árabe) e Décio.

Fabiano havia batizado o imperador Filipe, o que deu aos cristitas a esperança de uma Roma segura para os cristãos… mas quando o Imperador Décio tomou o poder, a primeira coisa que fez foi picar o papa em pedacinhos e mandá-lo para os leões, só para não perder o costume.

Cornélius I sentou-se no papado por menos de 3 anos. Para variar, a disputa pelo poder da Igreja fez com que o outro candidato, Novaciano, se declarasse papa também (anti-papa na terminologia técnica). Com o poder dividido (de novo), o novo Imperador Treboniano Galo, assim que pega o poder em Roma, manda os dois “papas” brigarem nas minas de trabalhos forçados de Civitavecchia, ondem morrem, para não perder o costume…

O 22º papa, Lucio I, durou cerca de 8 meses no poder. O período do Imperador Valeriano I (253-260) foi um dos mais terríveis para os cristãos (e um dos mais prósperos para os vendedores de pipoca do coliseu). Neste período, mais de 900 cristãos serviram de atração enfrentando gladiadores e leões. Além das perseguições, o papa teve de lidar com os hereges da seita Novaciana (discípulos de Novaciano)

Uma das coisas importantes que devem ficar bem claras é que os mártires acreditavam na REENCARNAÇÃO, de maneira muito semelhante aos kardecistas e espíritas dos dias de hoje. Por esta razão deixavam-se martirizar com tamanho afinco. Eles diziam que não importava quantas vezes os romanos os sacrificassem, eles retornariam para continuar pregando. Mais tarde, quando a ICAR absorveu esse “bônus” de 400 anos no catolicismo, ela “transformou” esses mártires em santos e defensores do catolicismo.

Os papas Estevão I e Sisto II passaram praticamente seus mandatos enfrentando os Novacianos e os romanos e não tiveram tempo hábil para organizar outros projetos.

Somente o 25º papa, São Dionísio, teve um respiro, pois seu papado coincide com os bárbaros tocando o terror no Império romano e os Imperadores mais preocupados com o Asterix e seus gauleses do que com festividades à base de alimentar leões com cristãos. Nos seus quase dez anos de papado, Dionísio conseguiu reorganizar os fiéis em Roma, derrotar os Novacianos e morrer em paz de morte natural, em 268. Note-se o total paganismo no nome do papa.

Felix I, o papa com o mesmo nome do gato do desenho animado, voltou a ter problemas com o Imperador. Juntou-se aos fiéis nas catacumbas, para escapar à perseguição do Imperador Aureliano. Iniciou o sepultamento dos mártires sob o altar e a celebração da missa sobre seu túmulos. Segundo a tradição, o papa de número 26 teria morrido martirizado em 30 de dezembro de 274.

O Papa Eutiquiano, próximo da fila, nasceu em Luni. Foi eleito em 4 de janeiro de 275, governou a Igreja durante oito anos. Ordenou que os mártires fossem cobertos pela “dalmática”, (o manto dos Imperadores Romanos), hoje vestimentas dos diáconos nas cerimônias solenes. Instituiu a benção da colheita nos campos, que é originalmente uma tradição celta e pagã. Ao invés do sexo ritualístico, foi instituída uma missa, trocando o pênis pelo hissope (nome do instrumento que é usado para aspergir água benta) e o sêmen pela água.

Caio I, que reinou de 283 a 296, foi um dos idealizadores do dízimo. Para tentar fazer média com o Imperador, foi o primeiro Papa a conseguir reunir emissários imperiais e fiéis em meio a uma acalorada discussão sobre a legitimidade de se cobrar tributos sobre os cristãos que conseguiu angariar algum tipo de simpatia do poder de Roma.

Tanto Caio I quanto seu sucessor, o papa Marcelino, sofreram perseguições do Imperador e ameaça de divisão da religião, desta vez pelos Donatistas (movimento que surgiu em 304 e condenada qualquer sagração feita por bispos corruptos. Afirmavam que a validade dos sacramentos dependia do mérito daquele que o administrava). Venceu a hipocrisia e Roma decidiu que não importa se o padre seja um pedófilo ou corrupto, seu sacramento continua valendo aos olhos da Igreja.
Marcelo I, meu xará, foi escolhido em 308 e martirizado menos de um ano depois. Decidiu que nenhum concílio poderia ser realizado sem sua presença. Tanto Eusébio (309-310) quanto Melquíades (311-314) tiveram poucos problemas com os Imperadores, pois este período foi marcado por grandes guerras na Europa, Inglaterra e Hispania, contra os celtas e gauleses, o que fez com que os cultos cristãos tivessem relativa paz para se tornarem cada vez mais populares.

Constanino, o marketeiro

O fato de Constantino (272-337) ser um imperador de legitimidade duvidosa foi algo que sempre influiu nas suas preocupações religiosas e ideológicas: enquanto esteve diretamente ligado à Maximiano, ele apresentou-se como o protegido de Hércules, Deus que havia sido apresentado como padroeiro de Maximiano na primeira Tetrarquia; ao romper com seu sogro e eliminá-lo, Constantino passou a colocar-se sob a proteção da divindade padroeira dos imperadores-soldados do século anterior, Deus Sol Invicto.

Constantino acabou, no entanto, por entrar na História como primeiro imperador romano a professar o cristianismo, na seqüência da sua vitória sobre Maxêncio na Batalha da Ponte Mílvio, em 28 de outubro de 312, perto de Roma, que ele mais tarde atribuiu ao Deus cristão: segundo a tradição, na noite anterior à batalha sonhou com uma cruz brilhante nos céus, e nela estava escrito em latim “In hoc signo vinces” (“sob este símbolo vencerás”), e de manhã, um pouco antes da batalha, mandou que pintassem uma cruz nos escudos dos soldados e conseguiu um vitória esmagadora sobre o inimigo.

Claro que isso foi uma pilantragem, para assegurar a simpatia dos cristãos. Assim como o Vidente Juscelino, Constantino comentou sobre suas visões DEPOIS que a batalha foi vencida.

Em 313, o Édito de Milão faz com que os cristãos tivessem legitimidade em Roma e os coloca em pé de igualdade com o Paganismo e com o Mithraísmo. Porém, como eram extremamente numerosos, o Imperador pretendia usá-los como massa de manobra para se legitimar no poder. Vale lembrar que Constantino NUNCA se converteu a nada, mantendo seu status de “Sumo Pontífice” até o dia de sua morte.

O próximo passo no circo foi o de inventar que Helena (mãe de Constantino) havia ido até Jerusalém e encontrado pedaços da Vera Cruz (a cuz onde o Jesus teria sido crucificado). Sobre o local, manda erigir a “Igreja do Santo Sepulcro” e a faz local de peregrinações.

Em 325, ocorre o famigerado Concílio de Nicéia, onde Constantino reune-se com 318 bispos (historiadores dizem que este número pode ter sido modificado para se ajustar com o número de criados de Abraão em genesis 14:14. É daqui que vem o número 318 que a Igreja Universal usa tanto em suas propagandas) e decide “colocar ordem no galinheiro”. A quantidade de seitas, heresias, divagações e subgrupos cristãos existentes beirava uma centena, com diversos escritos de discípulos de Yeshua.

Constantino precisava de um Jesus que agradasse aos romanos, aos membros do senado e aos pagãos que seriam em breve forçados a se converter. Lembram-se que explicamos que Yeshua era um revolucionário judeu que lutava CONTRA o Império Romano e foi crucificado por ordem do governador romano? Seria quase o mesmo que tentar angariar votos para Barak Obama usando como plataforma “o homem que adora Che Guevara”. Constantino precisava de um jesus que fosse palatável aos olhos dos cidadãos romanos.

Para tanto, reuniu todas as escrituras que haviam disponíveis e acabou se decidindo por todos os textos que o aproximavam de um “deus-solar”, como Apolo ou Mithra, muito mais agradáveis do que um “messias humano iniciado nos segredos do oriente que trouxe a busca pelo autoconhecimento”. O papa Silvestre I (de onde vem o nome da corrida de São Silvestre) não assistiu a nenhum dos Concílios, tendo de aceitar o que foi decidido. A partir de então, a Igreja recebe um NOME: Igreja Católica (católica quer dizer “universal”), Apostólica (fundamentada na doutrina dos apóstolos) Romana (porque sua sede ficará em Roma), ou a famigerada ICAR.

O papa Marcos I, que coordenou a reforma e os primeiros anos da nova Igreja “oficial”, começou a compilar a lista dos bispos e mártires, trabalhando para adaptar as necessidades históricas aos interesses do Imperador. Julio I fixa a data do “nascimento de Jesus” no dia 25 de Dezembro…

Com a morte de Constantino, seu poder se divide e surgem as Igrejas do Oriente (com sede em Constantinopla) e do Ocidente (com sede em Roma). Os cristãos que não ficaram satisfeitos com a pilantragem do Imperador começam a ser perseguidos como hereges, juntamente com os judeus, que começam a ganhar (má) fama como “o povo que matou jesus”.

#ICAR

Postagem original feita no https://www.projetomayhem.com.br/32-papas-e-uma-garrafa-de-rum-parte-ii